Rbecm: Revista Brasileira de Ensino de Ciências E Matemática
Rbecm: Revista Brasileira de Ensino de Ciências E Matemática
Rbecm: Revista Brasileira de Ensino de Ciências E Matemática
volume 4 - número 2
jul./dez. 2021
RBECM
REVISTA BRASILEIRA DE ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
ISSN 2595-7376
555 Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and
attitudes from science teaching
Adolescer em corpo, mente e afeto: um estudo sobre desenvolvimento de
valores e atitudes a partir do Ensino de Ciências
Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
Resumo
A célula é a menor unidade estrutural e funcional dos diferentes organismos vivos, sendo ca-
paz de existir de maneira independente. Todos os seres vivos são formados por uma ou várias
células que são extremamente pequenas; desta forma, só é possível analisar, compreender e
estudar com o auxílio de um microscópio. Os livros didáticos são uma das ferramentas mais
utilizadas nas escolas, tanto pelos alunos quanto pelos professores. O conteúdo de biologia
celular é apresentado de maneira detalhada e ricamente ilustrada nos livros didáticos; assim,
torna-se imprescindível conhecer o que as pesquisas recentes apontam sobre o estudo da bio-
logia celular mediado pelo livro didático. Para isso, a presente pesquisa de caráter bibliográfico-
-documental analisou as concepções de ensino de biologia celular e o papel atribuído ao livro
didático em oito dissertações e três teses. Sobre as concepções de ensino houve predominân-
cia da concepção emancipatória, seguida da prática. Não houve indícios da concepção técnica.
Os resultados apontam para uma tendência de ensino pautada na interação entre os sujeitos
mediada por processos reflexivos. Com relação ao papel atribuído ao livro didático, foi possível
identificar que os trabalhos expressam que ele tem função referencial e instrumental, ou seja, o
papel do livro didático é pôr em prática métodos de aprendizagem com atividades e exercícios,
sendo ele um fiel tradutor do programa curricular.
*
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências (PPGEC), Universidade Federal da Fron-
teira Sul, Campus Cerro Largo, RS (UFFS/Brasil). E-mail: [email protected]
**
Professora do Quadro Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências (PPGEC), Univer-
sidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Cerro Largo. Doutora em Ciências Biológicas: Neurociências/
UFRGS. E-mail: [email protected]
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Mariane Beatriz Karas, Erica do Espirito Santo Hermel
Introdução
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A célula no ensino de biologia: papel do livro didático e concepções de ensino
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Metodologia
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A célula no ensino de biologia: papel do livro didático e concepções de ensino
Quadro 2: Descrição das funções do livro didático aplicadas aos trabalhos analisados.
Função Descrição
Também chamada de curricular ou programática;
O livro didático é apenas uma tradução fiel do programa no qual está inserido,
Referencial ele é o suporte privilegiado dos conteúdos educativos, o depositário dos conheci-
mentos, técnicas ou habilidades que um grupo social acredita que seja necessário
transmitir às novas gerações.
O livro didático coloca em prática métodos de aprendizagem com a proposta e a
Instrumental execução de exercícios ou de atividades que, de acordo com o contexto no qual
estão inseridos, visam facilitar a memorização dos conteúdos.
O livro didático se afirmou como um dos principais vetores da língua, da cultura
Ideológica e e dos valores das classes dirigentes. Ao tornar-se um instrumento privilegiado de
cultural construção de identidade, geralmente é reconhecido como um dos símbolos da
soberania nacional e, nesse sentido, assume um importante papel político.
O livro didático pode fornecer, sem que sua leitura seja dirigida, um conjunto de
Documental documentos, textuais ou icônicos, cuja observação ou confrontação pode vir a
desenvolver o espírito crítico do aluno.
Fonte: Adaptado de Choppin (2004)
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Mariane Beatriz Karas, Erica do Espirito Santo Hermel
Resultados e discussão
Quadro 5: Dissertações e Teses com o tema biologia celular em livros didáticos encontradas na BDTD.
(continua...)
Código Referência
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A célula no ensino de biologia: papel do livro didático e concepções de ensino
(conclusão)
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SANTOS, L. G. dos. Obstáculos epistemológicos presentes nos livros didáticos de
biologia do PNLD 2015: um estudo sobre transporte celular. Dissertação (Mestrado
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em Educação em Ciências e Matemática) - Universidade Federal de Goiás. Goiânia, p.
130, 2018.
FRANZOLIN, F. Conhecimentos básicos de genética segundo professores e docen-
tes e sua apresentação em livros didáticos e na academia: aproximações e distan-
T1
ciamentos. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de
São Paulo. São Paulo, p. 674, 2012.
WIRZBICKI, S. M. As aprendizagens do conceito energia do metabolismo celular
nas interações entre professores e estudantes mediadas pelos livros didáticos de
T2 biologia do ensino médio. Tese (Programa de Pós-Graduação em Educação em Ci-
ências: Química da Vida e Saúde) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, p. 144, 2015.
NEVES, R. F. das. Abordagem do conceito de célula: uma investigação a partir das
contribuições do Modelo de Reconstrução Educacional (MRE). Tese (Programa de
T3
Pós-Graduação em Ensino das Ciências) - Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Recife, p. 264, 2015.
Fonte: Karas e Hermel (2019)
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sificar o uso de outros materiais e atividades, para além do LD, que auxiliem na
condução da aprendizagem.
A autora salienta que uma das dificuldades na aprendizagem é estar na meto-
dologia de resolução repetitiva de questões, em que os alunos “[...] acabam apenas
resolvendo problemas propostos como exercícios rotineiros, sem adquirir autono-
mia e reflexões sobre tais problemas” (D6, 2013, p.25, [grifos nossos]).
Em D7, Pinheiro (2018, [grifos nossos]) analisa como o processo histórico de
construção do conceito de célula é apresentado nos LDs de Biologia aprovados pelo
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Os resultados obtidos deixam evidente
que a construção do conceito de célula é permeada por meio de uma visão ontológi-
co-mecanicista da Biologia, na qual a Ciência é considerada linear, e a produção
científica, uma atividade individual. Sendo assim, “[...] esses livros precisam
integrar os conhecimentos por meio da contextualização, valorizando a função social
da escola e promovendo a construção e reflexão crítica dos conceitos científicos”
(p.125, [grifos nossos]). Com isso, a pesquisa contribui para desvelar o LD como um
recurso didático que pode levar a um trabalho docente alienante, já que revela o
modo de apresentação do conhecimento, que pode ser acrítico e a-histórico. As
funções atribuídas ao LD em D7 são referenciais e ideológica e cultural:
“O LD é ‘peça fundamental’ no processo de escolarização brasileira, sendo parte da
cultura e lembranças de muitas gerações. Sendo assim, é instrumento pedagó-
gico importante ao ensino e, por estar presente na maior parte das escolas, de certo
modo é o suporte no processo de formação da sociedade” (D7, 2018, p. 45, [grifos
nossos]).
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Ainda, a autora destaca que a relação dos docentes com os saberes não se reduz
a uma função de transmissão de conhecimentos já instituídos. A prática neces-
sita de reflexões críticas e muito estudo acerca de limitações e potencialidades
do professor e dos estudantes com quem interage. Com relação ao papel atribuído
ao LD, Wirzbicki (2015, p. 103, [grifos nossos]) aponta que:
[...] “o LD orienta os planejamentos e as ações mediadas pelo professor em sala
de aula. Esquece-se que este material foi pensado como um suporte didático para que
o aluno tenha acesso aos conceitos em momentos distintos ao da sala de aula, que
tenha no LD uma fonte de pesquisa, um recurso, mas não um orientador curri-
cular.”
Considerações finais
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Abstract
The cell is the smallest structural and functional unit of different living organisms, being able to
exist independently. All living things are made up of one or several cells that are extremely small,
so it is only possible to analyze, understand and study with the aid of a microscope. Textbooks
are one of the most widely used tools in schools by both students and teachers. The content of
cell biology is presented in a detailed and richly illustrated way in textbooks, so it is essential to
know what recent research points about the study of cell biology mediated by the textbook. For
this, the present research of documentary and bibliographic character analyzed the conceptions
of teaching of cellular biology and the role attributed to the textbook in eight dissertations and
three theses. Over the conceptions of teaching there was a predominance of the emancipatory
conception, followed by practice. There was no evidence of technical design. The results point
to a teaching tendency based on the interaction between the subjects mediated by reflexive
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processes. Regarding the role attributed to the textbook, it was possible to identify that the works
express that it has a referential and instrumental function, that is, the role of the textbook is to
put into practice learning methods with activities and exercises, being a faithful translator of the
curriculum.
Referências
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João Bosco Paulain Santana Júnior, Sidilene Aquino de Farias
Resumo
Este estudo teve por finalidade analisar as contribuições do tema socioambiental “Lixo em Meio
Aquático” para promover a reflexão e o posicionamento de estudantes do Ensino Médio frente
às relações ciência, tecnologia e sociedade no mundo contemporâneo. Para tanto, adotamos a
pesquisa qualitativa, que direciona para a compreensão dos fenômenos que ocorrem em situa-
ções de aprendizagem. A pesquisa contou com a participação de 18 alunos dos três níveis do
Ensino Médio de uma escola pública. Os dados foram coletados mediante o desenvolvimento
de um curso temático, por meio de produções textuais e discursos registrados em relação à
participação dos estudantes durante as atividades. Esses dados foram tratados de acordo com
os pressupostos da Análise Textual Discursiva e estruturados a partir de subtemas abordados
no curso. Os resultados obtidos indicam que a proposta contribuiu para que os estudantes
conseguissem estabelecer relações entre os saberes cotidianos e químicos a partir do tema tra-
balhado. Nesse sentido, a estratégia favoreceu a conscientização e reeducação socioambiental
dos participantes da pesquisa.
*
Doutorando em Química, com foco em Ensino de Química, pelo Programa de Pós-Graduação em Química, da
Universidade Federal do Amazonas (PPGQ/UFAM). Professor Mestre, do Ensino Médio na rede Estadual de
Educação do Amazonas, na cidade de Manaus, Brasil. E-mail: [email protected]
**
Doutora em Ciências, com foco em Química, pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora
Doutora, do Curso de Licenciatura em Química e do Programa de Pós-graduação em Química da Universidade
Federal do Amazonas (PPGQ/UFAM), Manaus/AM, Brasil. E-mail: [email protected]
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Introdução
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diz e ele seja capaz de atuar nos cenários em que se desenvolve. Portanto, torna-se
necessário a utilização de outras dinâmicas, caminhos e estratégias para que o
conhecimento seja construído, de modo que as abordagens tradicionais dialoguem
com aquelas denominadas “inovadoras”. Nesse sentido, Neves et al., (2019, p. 41)
declaram que enquanto “[...] numa face da moeda se tem uma tarefa de apresentar
os conteúdos de maneira completa, profunda e detalhada, na outra temos a força
e a responsabilidade de transformar alunos [...]” em pessoas capazes de analisar
problemas complexos, trabalhar em equipe, ter pensamento criativo, promovendo a
motivação para que o aluno continue buscando o aprendizado e o desenvolvimento
intelectual.
Dessa maneira, o processo de ensino e aprendizagem deve envolver uma
ação mais direta daquele que aprende, havendo espaço para questionamentos e
experiências. De acordo com Bacich e Moran (2018), as pesquisas no campo da
neurociência revelam a necessidade de substituir cada vez mais as estratégias
que tornam os alunos passivos – aqueles que apenas ouvem, anotam e mostram
o quanto aprenderam –, por ações que os tornem mais ativos, de maneira que o
professor fale menos, oriente mais e o aluno participe ativamente através das suas
ações e discursos, resultando em uma aprendizagem mais reflexiva, significativa
e prazerosa ao indivíduo.
Isto posto, percebe-se a importância da implementação de estratégias que inte-
grem o mundo da vida com o mundo da escola, derrubando barreiras que isolem os
conhecimentos científicos e os saberes cotidianos e evitando a percepção da Ciência
como um fragmento que não se relaciona com as questões do mundo, mas sim como
um saber que colabora para a leitura de fenômenos e compreensão do mundo vivido
(COSTA-BEBER; RITTER; MALDANER, 2015). No tocante a isso, a contextuali-
zação surge como uma alternativa válida e capaz de promover a articulação entre
os conhecimentos científicos e os saberes da vida cotidiana, pois consiste na busca
por relações entre àquilo que o aluno sabe sobre o contexto em questão e os conteú-
dos específicos que servirão de base para a explicação desse contexto (FIDELIS;
GIBIN, 2016).
Consequentemente, a contextualização contribui para facilitar a aprendizagem
porque aproxima os conteúdos científicos da vida cotidiana, propiciando significado
e sentido àquele que aprende (COSTA-BEBER; RITTER; MALDANER, 2015). Além
disso, essa abordagem desenvolve habilidades de análise, interpretação e avaliação,
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pelo uso cada vez mais intenso da matéria-prima, de energia e pela produção de
resíduos [...]”. Consequentemente, se gasta muito mais do que a capacidade de
produção natural e assimilação dos resíduos pelo ambiente.
Sobre esses conflitos socioambientais, podemos destacar a poluição aquática
como um dos problemas que mais afetam o mundo. A respeito disso, Oliveira e Molica
(2017) destacam que quando se tem um descarte de resíduos superior ao potencial
de degradação do ecossistema, as consequências são profundas e negativas. Muito
dessa poluição advém de esgotos não tratados e lixos descartados diariamente em
seus leitos, acarretando águas tão poluídas que em muitos casos não servem mais
para serem tratadas novamente (GRASSI, 2001; OLIVEIRA; MOLICA, 2017).
Nesse contexto, destacamos o tema socioambiental “Lixo em Meio Aquático”, que
está atrelado aos problemas inerentes ao despejo de lixo em corpos aquáticos como
rios, mares, oceanos, lagos, igarapés e águas subterrâneas. É um tema que além
oportunizar o desenvolvimento de ações contextualizadas de ensino e aprendiza-
gem com enfoque CTS, também possibilita que os conteúdos químicos de diferentes
níveis de escolaridade sejam explorados, propiciando a integração entre sujeitos de
diferentes níveis de ensino.
Em relação aos ambientes aquáticos, é válido destacar que a preservação da
água é primordial para a manutenção da vida, ocupando em média 70% do corpo
humano e entre 95% a 99% de seres como as águas-vivas (OLIVEIRA; MOLICA,
2017). No mundo, a água recobre 71% da superfície do Planeta, da qual, aproxima-
damente 97,4% consiste em água salgada e apenas 2,61% em água doce – sendo
que desta última, ¾ equivalem à água congelada dos polos (BRASIL; RESENDE;
ZIM, 2016). No Brasil, a maior quantidade de água doce encontra-se na Amazônia,
equivalendo a aproximadamente 80% de toda a água presente em terras brasileiras
(OLIVEIRA; MOLICA, 2017). Entretanto, apesar da importância da água para a
dinâmica da vida, questões como a exploração excessiva, aliado à falta de esgotos
domésticos, aterros sanitários e o descarte irregular de resíduos sólidos urbanos,
são alguns dos fatores que agravam a poluição aquática em contextos brasileiros
(BRASIL; RESENDE; ZIM, 2016). E mesmo não sendo um problema atual, vem
se agravando com o aumento gradativo de lixo descartado nesses ambientes, o que
desencadeia outros problemas, de natureza social, política e econômica, nas mais
diversas regiões do planeta (OLIVEIRA; MOLICA, 2017).
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Procedimentos Metodológicos
Esta pesquisa foi desenvolvida com base na abordagem qualitativa, que leva
em consideração o contexto em que o sujeito se encontra, levando em conta que o
ambiente tem influência sobre as ações e aprendizados dos indivíduos (CRESWELL,
2007). O interesse do pesquisador volta-se mais para os fenômenos que vão ocorrendo
nas situações de aprendizagem, ou seja, os significados atribuídos, as perspectivas,
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Os dados obtidos a partir das produções textuais feitas pelos estudantes foram
analisados com base nos pressupostos da Análise Textual Discursiva (ATD). Trata-se
de um método que tem por finalidade auxiliar na compreensão dos fenômenos que
estão sendo vivenciados e investigados. A ATD auxilia o pesquisador na organização
e busca por significados inerentes aos resultados obtidos. Essa técnica apresenta qua-
tro etapas gerais: unitarização dos dados, categorização das informações presentes
nas unidades estabelecidas, busca por significados nas categorias e reestruturação
sistemática dos dados (MORAES, 2003; GALIAZZI; SOUSA, 2019).
Partindo desses pressupostos, a análise das produções textuais nos fóruns
possibilitou a criação de quatro categorias: efeitos do consumismo; problemas
oriundos do descarte desenfreado de lixo em meio aquático; atitudes e
alternativas para minimizar os problemas do lixo em meio aquático; e,
relações entre a Química, lixo e efluentes (Quadro 2). Destacamos que o curso
teve um viés tecnológico, o que explica a presença de instrumentos tecnológicos na
proposição das atividades.
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Resultados e Discussão
Efeitos do consumismo
Sociedade do A sociedade vive num ciclo consumista gastando cada vez mais, respirando ar
Consumo poluído, adquirindo doenças e sendo manipulada (E7).
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Quadro 4: Problemas apontados pelos estudantes como resultado do descarte excessivo de lixo em
meio aquático.
Subcategorias Unidades Representativas
Desequilíbrios am-
Os entupimentos de bairros, enchentes devastadoras, poluição de rios (E7).
bientais
As consequências são as piores possíveis. Mal cheiro, poluição, alagamento,
Qualidade de vida
etc. Eu moro atrás de um igarapé e às vezes sofro muito com o mal cheiro (E18).
Obstáculo à eco-
Prejudica rios de navegação e transporte [...] Isso atrapalha a pesca (E14).
nomia
Se continuar no ritmo em que estamos daqui uns anos não haverá mais água
Escassez de água
potável para se consumir (E6).
Comprometimen-
Se a população de Manaus continuar a jogar lixo e as fábricas resíduos, os nos-
to dos recursos
sos rios serão os mais poluídos do mundo (E2).
hídricos
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representada pela resposta da aluna E13, na qual, ela destaca que “[...] o governo
da cidade deveria dar mais suporte para os rios serem mais limpos, poderiam fa-
zer um projeto ou algo do tipo para tentar minimizar os lixos nos meios aquáticos”
(E13). A respeito desse assunto, defendemos que projetos de educação ambiental
sejam promovidos em escolas e comunidades, contribuindo para conscientização da
população. Tão importante quanto a educação, é fundamental que as autoridades
busquem reestruturar ambientes precários de moradia, propiciando condições sa-
nitárias dignas aos cidadãos.
As demais subcategorias, “fiscalização, limpeza e preservação dos ambientes
aquáticos”, “diminuição, organização e destinação adequada do lixo” e “respeito às
leis ambientais”, também aparecem nos posicionamentos dos estudantes como ca-
minhos que podem minimizar o problema. Abaixo, são apresentados alguns recortes
que representam essas subcategorias.
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sentadas aos alunos durante o curso, cujo propósito seria minimizar o descarte e
desperdício dos mais variados tipos de materiais, contribuindo para a preservação
da natureza. Uma outra curiosidade relaciona-se com a fala do aluno E16, na qual,
ele aponta como alternativa a retirada de lixo dos meios aquáticos. Em Manaus
é comum que os órgãos governamentais promovam ações de retiradas de lixo dos
igarapés, portanto, o discurso do E16 pode ser proveniente de uma experiência
vivenciada pelo próprio estudante. Sobre isso, salientamos que apesar da ação de
retirada de lixo dos meios aquáticos ter sua relevância, trata-se de uma estratégia
com efeito passageiro, sendo primordial que haja uma conscientização ambiental da
população e o foco seja evitar que o lixo chegue aos ambientes aquáticos. Um viés
que contribui para a implementação dessa proposta é a difusão do conhecimento e
responsabilização social (CARVALHO; WATANABE, 2019).
Por fim, a sexta e última subcategoria está relacionada com a “diminuição do
consumo”. A participante E8 faz um resgate sobre o problema do consumismo,
destacando que “[...] o consumo consciente é importante para o Meio Ambiente”
(E8). Seu discurso sugere que ela enxergou na diminuição do consumo uma forma
de preservar o meio ambiente e reduzir a produção de lixo, o que pode indicar um
amadurecimento da estudante em relação ao assunto. Nesse cenário, sabe-se que as
crises socioambientais não resultam de causas naturais, mas das intensas ações do
homem sobre a natureza. Dentre essas ações está o consumismo, o que deveria nos
fazer repensar um novo sistema de produção e consumo, ou seja, novos paradigmas
de desenvolvimento (FREITAS; MARQUES, 2019).
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Abordagem do Tema Socioambiental “Lixo em Meio Aquático”: Uma Estratégia Reflexiva Com Enfoque CTS no...
Quadro 6: Relações estabelecidas pelos estudantes entre o conhecimento químico, lixo e poluição.
Subcategorias Unidades Representativas
Química como promo-
tora de conscientização A química estuda e realiza atividades colaboradoras do meio ambiente
e contribuinte na mini- (E2).
mização do problema
Eu nunca passei pelo igarapé e falei bem assim: nossa! Esse igarapé tá
Descarte de produtos
cheio de química. Eu nunca parei pra pensar. Eu olhava e falava: nossa,
químicos no meio am-
essa água tá poluída. Mas eu nunca pensei: ah, mano, tem cobre, tem
biente
zinco... eu nunca parei pra pensar (E6).
Influência dos produtos
A acidez da água poluída, os metais encontrados nas águas (E7).
químicos na água
As reações químicas usadas no processo de reciclagem, os gases que
são liberados para a atmosfera por meio do lixo, os metais pesados que
Fenômenos químicos
são liberados de pilhas e baterias, a temperatura de ebulição para derre-
ter o vidro e o metal, a decomposição desses materiais (E7).
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João Bosco Paulain Santana Júnior, Sidilene Aquino de Farias
não apenas a possível presença de metais encontrados nas águas, mas também que
a acidez dos corpos aquáticos pode ser influenciada pela poluição. Além disso, ela
expressa relações entre as reações químicas, o processo de reciclagem e os gases
oriundos da decomposição do lixo e incineração desses materiais. Em relação a essa
última ideia, é válido destacar que buscamos abordar saberes relacionadas ao lixão
e aterros sanitários, as fontes e tipos de poluição e a inserção de contaminantes nos
ambientes aquáticos, sendo assim, essas informações podem ter colaborado para
que a participante E7 conseguisse elaborar o seu discurso. Ela ainda cita conceitos
como “temperatura de ebulição” no processo de reciclagem do vidro e metal.
Esses dados sugerem que em certo grau os estudantes podem ter desenvolvido
uma atitude mais crítica e a capacidade de refletir e se posicionar sobre a inserção
da Química no problema estudado. Além disso, revelam a potencialidade do assunto
na reeducação ambiental dos participantes, pensando como sujeitos que são inte-
grantes do ambiente e, por isso, possuem responsabilidades e deveres no cuidado
com o ambiente. Em relação a isso, a educação pautada na perspectiva CTS deve
buscar transformar relações entre sujeito e ambiente em um processo de ação e
reflexão, visando também o remodelamento das relações sociais e da sociedade com
o ambiente (BUFFOLO; RODRIGUES, 2015).
Por fim, os dados indicam que o curso ajudou os estudantes a construírem novas
percepções sobre as questões trabalhadas a partir do tema socioambiental “Lixo em
Meio Aquático”, agregando esses saberes com conhecimentos científicos, tecnológicos
e sociais. Essa articulação contribuiu para o desenvolvimento de cidadãos capazes
de se posicionar e propor soluções, contemplando um dos principais objetivos do
ensino pautado na abordagem CTS.
Considerações Finais
Diante da necessidade de uma prática docente dinâmica, que rompa com a visão
do tradicionalismo em sala de aula, foi possível identificar indícios de que a propos-
ta socioambiental contribuiu para a promoção de alunos mais conscientes. Além
disso, o enriquecimento oriundo das relações entre o tema e os aspectos químicos
tornaram as situações de aprendizagem mais abrangentes, onde a Química como
área de conhecimento foi capaz de ajudar na compreensão dos fenômenos estuda-
dos. Isso mostra a relevância da implementação de metodologias que auxiliem na
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João Bosco Paulain Santana Júnior, Sidilene Aquino de Farias
Abstract
This study aimed to analyze the contributions of the socio-environmental theme “Waste in Aqua-
tic Environment” to promote reflection and the positioning of high school students in relation to
science, technology and society in the contemporary world. Therefore, we adopted qualitative
research, which directs towards understanding the phenomena that occur in learning situations.
The research included the participation of 18 students from the three levels of high school in a
public school. Data were collected through the development of a thematic course, through tex-
tual productions and speeches recorded in relation to student participation during the activities.
These data were treated according to the assumptions of Discursive Textual Analysis and struc-
tured from sub-themes covered in the course. The results obtained indicate that the proposal
contributed to the students being able to establish relationships between everyday and chemical
knowledge based on the theme being worked on. In this sense, the strategy favored awareness
and socio-environmental re-education of research participants.
Referências
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
Abstract
The National Curriculum Parameters (NCP) of the Third and Fourth Cycles of Elementary
Education in Natural Sciences refer to educational actions that signify adolescence considering
the necessary interaction between the organic brand, puberty, and the culturally and socially
produced senses on the body and identity at this stage of human development. Teaching in
Sciences implies the relational construction of knowledge, values and attitudes for an adolescent
who responds to the demands on himself, in a critical, cognitive, and affective way, to maintain
body integrity, reproductive health, and sexual behavior. This research aimed to analyze the
scope of actions and practices in Science Education in adolescence based on the content of
the speech of 9th grade students. For this, it was used as a method of data collection, the
Focus Group and as an analysis tool, the Content Analysis proposed by Bardin. Three categories
emerged: in the first, the gender factor is taken as a reference to indicate the variations of self-
image and self-value attributed to themselves by adolescents; in the second, self-assessment of
physical appearance is related to the cultural standards of beauty and ideal of the body, falling
on its values and judgments, potentiating feelings of inadequacy due to non-correspondence
to the expectations of the predominant model; and the third, indicates the absence of a reliable
source at the school for decision making. The research concluded, in this context, that the school
is not a place of speech for the adolescent, because it deals with themes related to adolescence
with impersonality, focusing on the biological bias of puberty and neglecting the psychosocial,
emotional and cultural issues that adolescents demand.
*
Graduted in Biology (Teacher Formation Program) from the UFT, Brazil. Email: [email protected]
**
Master Degree in Education from the UFPB, Graduated in Biology (Teacher Formation Program) from the
UFPB, Brazil. Email: [email protected]
***
Master Degree in Education from the UFPB, Graduated in Psichology (Bachelor Degree and Teacher Formation
Program) from the UFPB. She is a professor at the UFT, Brazil. Email: [email protected]
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
Introduction
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
Theoretical Foundation
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
Considering that each young person has his or her own time and pace of social,
physical, cognitive, and affective development, monitoring and orientating school
professionals is of paramount importance, as the behavior presented by young
people and their decisions reflect their relationship with their parents, their group
of friends, with society, and, especially, themselves.
These biological criteria, according to Campos (2012), does not imply an initial
milestone in adolescence, since the intrinsic individual factors should serve as a
guide as the chronological age does not directly correspond to the biological age.
In this research, adolescence is understood as “a sociological term that, under
a supposed biological basis, became of psychological use”4 (STEVENS, 2004, p. 27).
Thus, the understanding that adolescence refers to the “[…] psychological reactions
of young people to their physical changes brought by puberty and extends until a
reasonable definition of their personal identity”5 (CAMPOS, 2012, p. 15).
The importance of determining the subjective reaches that the physical
transformations may provoke in adolescence owns its broad reach also to the
educational processes in school – quality of interpersonal relationships, academic
performance, motivation to begin and maintain school activities.
The self-assessment of physical appearance has a connection with the cultural
standards of beauty and the ideal body, influencing the values and judgments about
oneself, and may generate feelings of inadequacy by not reaching the expectations
of the predominant model (SHAFFER; KIPP, 2012).
This adolescence body, full of new meanings, brings important psychological
impacts that will subsidize a (re)constitution of its image during the development
of the identity. According to Stice and Whitenton (2002), positive feelings regarding
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
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Adolescence in mind
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
The various ways of thinking about morality and of dealing with conflict
resolution modifies over the years according to the experience of children and
adolescents with parents, groups of friends, experiences in school and according to
their cultures, that is, contact with the world around them.
Characterizing the cognitive development of the adolescent is also considering
the changes in the processing of information in terms of speed and quality, since
it is in this period of human development that the cognitive capacities may be
intentionally controlled, and this implies that adolescents “[…] likely can hold in
mind several dimensions of a topic or problem simultaneously, whereas younger
children are more prone to focus on only one dimension” (SANTROCK, 2014, p. 102).
Thus, in terms of executive functioning in adolescence, the metacognition and
high-complexity cognitive processes as decision-making, cognitive control, and
flexible and critical thinking emerge through the maturation of the brain circuits and
assume quality in personal and interpersonal experiences in the social environment.
To comprehend the cognitive development in its fullness assists the understanding
of the adolescent behavior in the exposure to risk, in judgments, in self-regulation of
the learning process, and in the formation of critical positions against attitudinal,
educational, relational, and affective demands.
Adolescence in affection
The pressures of society, the transformations of body and mind, the contact
with different people, the phase of experimentation, the uncertainties, the fear of
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
social contact, anxiety, being under stress, family conflicts, drug abuse, and having
a history of depression among parents, among other factors, endanger the affective
dimension of adolescents. Thus,
[…] it is possible to think of affectivity as a broad process that involves the person in
its entirety. In the constitution of the affective structure, the different modalities of
discharge of the tone, interpersonal relations, and the affirmation of oneself contribute
significantly, made possible by relationship activities11 (WALLON, 1995, p. 14).
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
[…] the ‘contagious’ character of emotional states, teachers may be more attentive to
the group environment that they are able to establish in the classroom, as well as to
the importance of their own emotional manifestations, which will surely affect the
children under their care. We mean, therefore, that it is not about seeking the control
of the conditions in the classroom through coercion of the expressive manifestations
of the students, but of the better understanding of their meaning for a management
that, incorporating the affective dimension, enables an increase in the quality of the
learning process.12
Therefore, school educational actions, from the perspective of the complete person,
should allow teachers to comprehend themselves as a relational unit with the learner,
aware of their role as facilitators of the individuation, because, “[…] including in the
teacher’s decision not only considerations related to the cognitive, but also their impact
on the motor and the affective”13 (MAHONEY, 2010, p. 10), enhances the search for
new meanings and qualifies the evaluative perception of oneself.
Whereas school is the first formal education space, responsible for guiding
students in a gradual, active, and critical manner, the study of official educational
documents that guide the pedagogical actions is important as they consider the
dynamics of physical, cognitive, and social development of the human being.
The National Curriculum Parameters (1998) for Elementary and Middle School
in the field of Natural Sciences present concepts related to the human being and
to health so that educators may comprehend and have as a base the orientations
cited in this for the preparation of their classes.
The NCPs (BRASIL, 1998, p. 102) present some proposals that can explain the
current and relevant topics on the instruction and development of human beings in
their different phases, so that they are able to preserve their health and understand
the functions of each part of their bodies. The creation of pamphlets, collective texts,
communication of information, presentation of tables, anatomical atlas, experiments
and simulations, among others, are proposed.
Comprehending the existence of the human being also requires understanding
the space in which he is inserted and the other agents involved in the evolution,
that is, studying other living creatures. The NCPs (BRASIL, 1998, p. 103) suggests
that the students should learn the function of the cellular respiration of living
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beings and how the process of obtaining energy operates, whether by bacteria or
fungi in plants and animals, including the process of photosynthesis (use of light
and release of oxygen).
It is also important that the students understand the relationship between
sensation and emotion, and the regulatory processes and functions of the nervous
and glandular systems. For this to happen, guiding and coordinating the teacher
is fundamental, as it is possible to read in the NCPs:
Regarding the regulatory functions, the students will be able to investigate, again
with the coordination and help of the teacher, processes related to the balance of the
body and to the voluntary locomotion, to the circulation and breathing, processes
regulated and controlled by the nervous and glandular systems, closely linked to
sensory perceptions and emotions14 (BRASIL, 1998, p. 103).
Thus conceiving the integration among the most different systems of the body
and the influence that each one have on the other, the actions and reactions, as
well as the balance between them (BRASIL, 1998, p. 103).
The similarities and differences between the human being and other living
creatures are then possible to be perceived. One of the differences cited in the NCPs
(1998) is the capacity of reasoning by the human brain and its “[…] ability to process
and respond […]”15 to stimuli provoked to the human brain, triggering emotions,
behaviors, and habits (BRASIL, 1998, p. 104). Hence,
The context of studies of the brain, of the human mind, is also the field of behaviors,
emotions, the formation of habits, and other subjective issues, related to values, even
more evidently than in other studies of the human being16 (BRASIL, 1998, p. 104).
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such as the involvement with violence due to drug abuse (alcohol, barbiturates,
tranquilizers, antidepressants, and narcotics), and also unwanted pregnancy in
adolescence (BRASIL, 1998).
Hence the importance of orientating young adults, as the development of
the brain is bidirectional and based on the cognitive stimuli that is submitted
throughout its formation, so that the activities and experiences of the adolescent
are the determining factors (KUHN, 2006). In other words, when young adults are
stimulated to think orderly and to control their impulses, they will continue to act
as this even in adulthood.
The relevance of approaching controversial topics by teachers is also noted,
presenting the necessary information as well as discussing the values involved in
the attitude taken, emphasizing that the acts are voluntary, the body is a totality,
and the imbalance at a certain point affects the balance of the whole (BRASIL, 1998).
Numerous aspects regarding the human body may be identified in the NCPs
(1998), as its formation, breathing, generation and distribution of energy, nervous
and glandular systems, brain stimuli, balance and degeneration (diseases), besides
the comparison made with other living beings.
Characterization of human beings and the environment is understood from
the organization of cells (plasma membrane, cytoplasm, and genetic material) of
unicellular and multicellular organism as well as the maintenance and evolution
of species, and the reproductive process of both sexual and asexual beings.
Some key aspects are emphasized, such as asexual or sexual processes, existence of
specialized reproductive cells (gametes), internal or external fertilization, the various
forms of protection for the development of the embryo, and the care of parents with
their offspring, locating the human being in these discussions17 (BRASIL, 1998, p. 106).
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
[…] the information must be clear and objective combating prejudices that hinder
development and valuing respect for one’s own body, wills, and doubts, as well as
respect for the body and feelings of partners from the perspective of mutual respect
and coexistence in solidarity18 (BRASIL, 1998, p. 106).
Thus, many are the aspects mentioned in the NCPs that should be considered for
the formation of the human being in different areas and various sectors of society.
The human being in the biological, social, and cultural aspects, in the interpersonal
relations, in the relationship between the subject and the family, the group of friends,
and the development of ethical aspects for his role in society as a critical citizen.
Methodology
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Question 4: What are your references for right and wrong behaviors?
After collection, the data were enumerated, in which the presence of a significant
element was adopted as an indicator of meaning from the goals of the analysis. The
enumeration was followed by the categorization composed of two parts, the inventory
and the classification, this was necessary to ensure the condition of mutual exclusion,
homogeneity, relevance, objectivity and fidelity, and productivity.
As a method for data analysis, the Content Analysis by Laurence Bardin (2016)
was applied, and the intention was to bring to comprehension the speech of the
students, conceiving the language as transparent.
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
Franco (2018) indicates three assumptions for data analysis: a. Each message,
whether written, oral or even sensory, has potentially a large amount of information
about who originated it. Regarding their beliefs, world conceptions, “class interests,
psychological traits, social representations, motivations, expectation etc.”20 (FRANCO,
2018, p. 25); b. The message content is selected by the author based on social
references in which he/she is inserted, where education as social practice may be
included; c. The theory presented guides the conception of reality (conscious or
ideological) of the author, and this “[…] is filtered through the speech of the author
and results in extremely important implications, for those who propose to do content
analysis”21 (FRANCO, 2018, p. 26).
The analysis occurred in three stages established by Bardin (2016): Pre-analysis,
which sought the operationalization and systematization of ideas through the
elaboration of a scheme for the development of the successive operations, and
thus aimed at the organization; the Exploitation of the Material, which consisted
of coding operations, discounts, and enumerations; and the Results Treatments,
Inferences, and Interpretation, in which the raw data were treated in order to be
signified and validated.
Through Inference and Interpretation, the more in-depth contents presented
in the speech of the students were identified and comprehended.
The content was coded with the non-grammatical unit “The Theme”22 (BARDIN,
2016, p. 105) as record unit. Its choice is justified by being considered the most
useful record unit when it comes to content analysis, as well as the possibility of
analyzing entire documents, or parts, to determine values, beliefs, attitudes, among
others. On this, Franco (2018, p. 42) states that a
[…] thematic question incorporates, with greater or lesser intensity, the social
aspect attributed […] related to the meaning of a word and/or about the connotations
attributed to a concept. And this, of course, involves not only rational components,
but also ideological, affective, and emotional.23
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
This category has as its theme the articulation of biological and sociocultural
factors in the composition, both of the perceptions and of the behaviors, in response
to the stimuli of the environment. The following excerpt presents this connection:
I see a person who will have a bright future! A very bright future ahead! I believe in myself!
When I look at myself, I see that I need to have more and more confidence in myself,
right?! Because in the world we are living is hard to be confident. And the first character-
istic of being a person that has a well-being is to believe in yourself.24 (Focus Group 1).
For self-image, the research came across a high frequency of the theme body
image as defining adolescence, which points to a common connection, since much of
the existing literature points to this link of the phase with body image (SHAFFER;
KIPP, 2012; PAPALIA; FELDMAN, 2011).
However, despite the positive expression of acceptance, the content of the
speech of the students continues to oppose a linearity. Self-image gains a variation
according to the mood and this interferes with self-esteem. The fragments bellow
present this indication:
Yeah, it depends on the day, right? Because there’s that day that you say: girl, I need to
get my eyebrow fixed.
She gets stressed… Me, when I’m like this, I don’t want to be with me much… I’m just too
lazy to dress up. (Focus Group 2).
The indications of this content are that the declared self-image corresponds to
the perspective of biopsychosocial development, as emphasized by Cavalcanti (1988),
because it covers body, attitudinal, and emotional changes, which interacting with
the social environment, both how they see themselves and how they see reality
may be modified.
In this category, the perception of the body presents mood variations and shifting
states of mind, speech content corroborated by Aberastury and Knobel (1971), who
in their ten essential aspects to characterize adolescence, still add other aspects,
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“[…] 7) Fluctuations of the mood and the state of mind; 8) Contradictions in the
way of thinking and acting where, in this manner, the so called normal feelings of
grief in this stage of development are facilitated […]”25 (ABERASTURY; KNOBEL,
1971, p. 53).
The perception of the focus groups on the different production processes of
femininity and masculinity also emerged as an indicator factor of the development
of self-image. When questioned about their self-image, girls and boys were emphatic
in answering that gender determines individual capacities, their possibilities of
doing and being able to do.
Specifically for girls, the consequences of hormonal variation are introduced
as part of the theme and compose the multifaceted argument of conception of self-
image. The oscillation occurs, for example:
When we have cramps… We get more stressed.26 (Focus Group 2).
This is justified by the female members of the groups when they generalize from
the behavior of a colleague, as excerpt:
That’s right, teacher. That boy makes us laugh.
We may be on a bad day.28 (Focus Group 1).
The category brings us the reference to the field of Science Education and its
teaching objectives. These factors of variation of self-image and self-esteem referred
in the category must be met and discussed in the 9th grade, based on the principle
proposed in the NCPs – the reconstruction of a social conscience that exceeds
environmental questions in isolation, leading the students to “[…] perceive human
life, their own body, as a dynamic whole, which interacts with the environment in
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
a broad sense, because both biological heritage and cultural, social, and affective
conditions reflect in the body”29 (BRASIL, 1998, p. 22).
Since this is a study focused on Science Teaching, or the various forms of creating
connection between it and the events of life, as a way of making real the content to
be taught in classes, within the educational process, it is necessary to remember
that, according to what the NCPs (1998) formalize, they present concepts about the
human being and health so that teachers may understand and have as guidelines
the orientations mentioned in this for the preparation of their classes.
In this case, NCPs (1998) present some proposals that may explain current and
relevant topics on the instruction and development of human beings, previously
mentioned in this study, in their different phases, so that they are able to preserve
their health and understand the functions of each part of their body. The creation
of pamphlets, collective texts, communication of information, presentation of tables,
anatomical atlas, experiments and simulations, among others, were proposed.
Therefore, making use of pedagogical resources capable of bringing to the adolescent
students contents that favor the understanding of the biological and emotional
transformations that they undergo.
Thus enabling them to know themselves and recognize their responses to the
stimuli of the environment, the body transformations, and the interaction with social
and family organizations, in an attempt of making this period as smooth as possible.
This category emerged from the theme related to the asymmetry of the positions
that the bodies of boys and girls should occupy in society, separately.
In several occasions during the work with the focus groups emerged the idea
of girls being seen as objects of desire. This topic of debate is taken by Foucault
(1988), in what refers to power relations. For the author, the body within a power
structure is not able to find itself in position of exteriority relative to the other types
of relations, (economic processes, relations of knowledge, sexual relations), however,
these relations are close to it, producing instants effects of the shares executed by
the subject, causing inequality and imbalances, these internal conditions. Thus,
the power relations are the superstructures, able to exert the prohibitive role, of
restriction, or reduction, continuously producing this effect (FOUCAULT, 1988).
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
Based on this, it raises the question of the female adolescent body as an element
culturally removed from power, in asymmetric relations, evidenced in the behaviors
experienced in everyday life, almost not a position. The following excerpt presents
part of the speech of two girls in Focus Group 1:
The point is that, for a woman, it’s already discriminating…That these days they say
that women are sluts… Not for men, it’s like normal. But if you come and see a girl in the
conversation… That’s wrong… They’re hooking up… They’re doing something wrong…
It’s really hard out there, you guys.
That’s because people judge women, for example if there are five men and a woman,
they judge them… Then they say: that girl is there, that’s because she is interested in
someone, she’s a whore, a slut… They use these ugly names… Not for the man… He’s
a player… He’s a lady-killer. They see them different.30 (Focus Group 1).
For girls, it is taken here the liberty to name them, also the fact of seeing
them as objects of desires of others, this is a situation that although culturally
standardized, may represent a difficulty, a high stress factor and direct interference
to their self-image.
In this panorama relative to the adolescent body, the theme still emerges, the
feeling of inferiority in relation to their opposite, the male body. The excerpts present
the speech related to the prohibitions made to the female body.
Take off the shirt among people…
Women do that too…
Women don’t do that… Men can do… If a man has a nice body people praise him, now
if a woman takes off her shirt is absurd.31 (Focus Group 1).
What in fact became explicit in the speech of the focus groups was how much the
gender influence directly the realization of certain action, as quoted in this excerpt
where the student denotes the act of taking off a shirt a normal action for men and
something vulgar for women. Faced with this, we denote a question of social position
of the female body since it is seen as an object of sexual desire.
Also relevant is the adolescent relationship with the body, with what generates
satisfaction and fullness in relation to its measurements and appearance, presented
in the link: youth and aesthetics. Following there is an argument that illustrates
this question:
There was a girl who studied with us, who had the ideal body and emitted happiness
wherever she went, but she left school.32 (Focus Group 2).
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
This category clearly highlights the lack of reliable sources for decision-making.
Various students claimed to base their decision on experimentation for the lack of
this source.
Aspects related to the environment and the attitudes presented by people as
influencing factors in the behavior of adolescents were identified. The contents
that refer to the attitudes presented, behaviors that are influenced by figures and
representations able to support the decisions of adolescents.
That presented, it leads to the understanding that an emotional support is
something representative at this stage of life. The excerpt bellow, answer to the
question of the focus group mediator (But who, apart from your mother?), illustrates
exactly what makes this search for a decision making inaccurate, since the sources
are not reliable or often there are no sources.
Like… A teacher, a neighbor, when they’re someone older and have already been throu-
gh the same trouble I’m having…
And someone who will be able to guide me, right? Someone who will know how to explain
the situation, how to get out and… that’s it. A friend too. (Focus Group 1).34
According to this excerpt, it is evident that the affective and relational bonds can
be facilitated with the type of relationship established in a group or individually. In
the frequency of this unit of analysis, in both groups, differences emerged between
weights of bonds from safe sources for boys and girls, at different occasions,
conducted in the speeches. For girls, these bonds have different weight than they
have for boys, rather it is a different characterization, as, in the focus groups, it was
noted an inclination of young women to maternal figures, aunts, grandmothers, or
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female figures. The speech of the group denotes teachers as an alternative source
for decision-making.
The boys seek, as was evident in the focus groups, the father, or representative
male figure able of fulfilling this role. Related to this, the researcher questioned
about which representative figures they seek as a source of self-revelation, to which
the groups answered that only friends.
It was evident, however, a speech about the school as a place that does not
present reliable sources for decision-making. In the frequency of this theme, the
students declared that the school is not a place of adolescence, which is a difficult
period, according to them, of confrontation and which brings, according to the
speech of the groups:
[…] measure of daily sadness.35 (Focus Group 2).
For this environment, the criticism was harsh and considerable, as a space that
by virtue should offer safety and comfort to adolescents, however classified hostile.
That is, not a place of speech for adolescents. The following excerpt illustrates
a sequence of the speech of the adolescents related to the lack of educational
orientation in the school environment in response to the question proposed by the
researcher:
Does it exist or not? Your classmate said it exists… but do you feel free to expose pro-
blems, questions?36 (Researcher).
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These arguments complement the argument that the school could be a space of
confidence for the adolescent, but paradoxically does not fulfill this role:
Ah, I get it! […] Is school a safe place to talk about these adolescent issues?40 (Researcher).
No… No…
Not all of them…
Not always...
Not once…41 (Focus Group 1).
According to the excerpt, school deals with monthly themes impersonally and
students have daily and personal needs, seek school support and it does not have
adequate professionals able to deal with this theme. Students feel the necessity for
this support, as illustrated in the following excerpt:
[…] it is not a place of listening for adolescence. There is no professional who meets the
daily personal needs […]42 (Focus Group 2).
The neglect of the dimension of adolescence puts these young people under
the weight of an atmosphere charged with prejudice and incomprehension, which
generates suffering and mistakes concerning decisions that need to be made in this
period of life.
The focus groups denounced the lack of real involvement of the school with
the stage of development that the adolescents are experiencing, which allows us to
question how teacher training and teaching practice itself are sufficiently significant
to contribute to the educational actions of: physical development (issues related to
health, physical issues, sexuality, and reproduction), cognitive development (schemes
of thought organization and moral reasoning), still specifically, of social cognition
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Conclusion
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
these adjectives or it should be the responsibility of the science teacher, along with
school, to change that reality?
Considering that each young person has his or her time and form of development,
his or her social physical, and cognitive construction, is of paramount importance
counseling and guidance; the behavior of the adolescents reflect their relationship
with their parents, the group of friends, with society, and especially with themselves.
And in this sense, what has been the actions of teaching professionals, in Science
Education, related to adolescence for students in its multiple dimensions? To what
extent does education as a social practice intersect other educational agents (school
community, management, counseling etc.)?
It is then possible to perceive how biological and social factors influence the
personal, cognitive, educational and even professional formation of young people
from childhood, through adolescence and adulthood.
Lastly, it is understood that the theme is extremely important and the inquiry
is continuous, to comprehend the formation of the adolescent in different aspects,
to build an individual with better orientations for this stage, the adolescence.
Resumo
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
tomada de decisões. A pesquisa concluiu, neste contexto, que a escola não é um lugar de fala
para o adolescente, por tratar de temas ligados a adolescência com impessoalidade, centrando-
se no viés biológico da puberdade e negligenciando as questões psicossociais, emocionais e
culturais que o adolescer demanda.
Notas
1
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
2
“O Tema”.
3
1.Nos meninos: modificação no timbre da voz; aumento da largura dos ombros; aparecimento de pelos no
rosto, axilas e região pubiana; crescimento do pênis e testículos; e o surgimento da primeira ejaculação.
2. Nas meninas: desenvolvimento das glândulas mamárias; aumento dos quadris; aparecimento de pelos
na região pubiana; e o surgimento da primeira menstruação, chamada menarca.
4
“um termo sociológico que, sob uma suposta base biológica, tornou-se de uso psicológico”.
5
“[...] reações psicológicas do jovem a suas mudanças físicas da puberdade e se prolonga até uma razoável
resolução de sua identidade pessoal”.
6
“[...] é em torno desse ideal corporal que o adolescente vai se estruturando: entre o corpo temido e desconhe-
cido, e o corpo perfeito e idealizado [...]”.
7
“[...] tem de si mesmo nos mais diversos aspectos da vida [...]”.
8
“[...] o universo de representações que o estudante tem das suas capacidades, das suas realizações escolares,
bem como as avaliações que ele faz dessas mesmas capacidades e realizações”.
9
“[...] neste aspecto admite-se que o ser humano é levado a desenvolver uma espécie de fenómeno de espelho,
em que tende a observar-se da maneira como os outros o consideram [...]”.
10
As emoções pertencem a um meio diferente do meio puramente físico; é outro plano em que elas fazem
sentir seus efeitos. Sua natureza resulta expressamente de um traço que lhes é essencial: sua extrema
contagiosidade de indivíduo a indivíduo. Elas implicam relações interindividuais; dependem de relações
coletivas; o meio que lhes corresponde é o dos seres vivos.
11
[...] é possível pensar a afetividade como um processo amplo que envolve a pessoa em sua totalidade. Na
constituição da estrutura da afetividade, contribuem de forma significativa as diferentes modalidades de
descarga do tônus, as relações interpessoais e a afirmação de si mesmo, possibilitada pelas atividades de
relação.
12
[...] o caráter ‘contagioso’ dos estados emocionais, o professor pode manter-se mais atento ao clima de grupo
que ele tem condições de estabelecer em sua turma de alunos, bem como à importância de suas próprias
manifestações afetivas, que, seguramente, incidirão nas crianças sob sua tutela. Queremos dizer, portanto,
que não se trata de buscar o controle das condições em sala de aula a partir da coerção das manifestações
expressivas dos alunos, mas da melhor compreensão de seu significado para um manejo que, incorporando
a dimensão afetiva, possibilite uma melhor qualidade e aproveitamento da aprendizagem.
13
“[...] incluir em suas decisões não só considerações relativas ao cognitivo, mas também seu impacto sobre
o motor e o afetivo”.
14
Quanto às funções reguladoras, os estudantes poderão investigar, novamente com a coordenação e ajuda
do professor, processos ligados à equilibração do organismo e à locomoção voluntária, à circulação e res-
piração, processos regulados e controlados pelos sistemas nervoso e glandular, intimamente ligados às
percepções sensoriais e às emoções.
15
“[...] capacidade de processar e responder [...]”.
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
16
O contexto de estudos do cérebro, da mente humana, também é o campo dos comportamentos, das emoções,
da formação dos hábitos e de outras questões subjetivas, ligadas aos valores, de modo ainda mais evidente
que em outros estudos do ser humano.
17
Destacam-se alguns aspectos fundamentais, como processos assexuais ou sexuais, existência de células
especializadas para a reprodução (gametas), fecundação interna ou externa ao corpo, as várias formas de
proteção para o desenvolvimento do embrião e o cuidado dos pais com os descendentes jovens, localizan-
do-se o ser humano nessas discussões.
18
[...] as informações devem ser claras e objetivas combatendo preconceitos que atrapalham o desenvolvi-
mento e valorizando o respeito ao próprio corpo, às vontades e às dúvidas, bem como o respeito ao corpo
e aos sentimentos dos parceiros, na perspectiva do respeito mútuo e da convivência solidária.
19
“comparado à entrevista individual, se ganha em relação à captação de processos e conteúdos cognitivos,
emocionais, ideológicos, representacionais”.
20
“interesses de classe, traços psicológicos, representações sociais, motivações, expectativas etc.”.
21
“[...] é filtrada mediante seu discurso e resulta em implicações extremamente importantes, para quem se
propõe fazer análise de conteúdo”.
22
“O Tema”.
26
[...] questão temática incorpora, com maior ou menor intensidade, o aspecto pessoal atribuído [...] acerca
do significado de uma palavra e/ou sobre as conotações atribuídas a um conceito. E, isso, com certeza,
envolve não apenas componentes racionais, mas também ideológicos, afetivos e emocionais.
24
Eu vejo uma pessoa que terá um futuro brilhante! Um futuro muito brilhante pela frente! Eu acredito em
mim mesma! Quando eu olho em mim mesma, eu vejo que eu tenho que ter confiança cada dia mais em
mim, né?! Porque no mundo em que nós estamos vivendo é difícil ter confiança. E a primeira característica
de ser uma pessoa tem um bem-estar é acreditar em si própria.
25
“[...] 7) Flutuações de humor e do estado de ânimo; 8) Contradições no seu modo de pensar e agir onde,
desta forma, a elaboração de lutos ditos normais nesta fase do desenvolvimento é facilitada [...]”.
26
Quando tá com cólica... A gente fica mais estressada.
27
Eu nunca tô triste.
28
É verdade, professora. Esse menino faz a gente rir.
A gente pode estar num dia fracassado.
29
“[...] perceber a vida humana, seu próprio corpo, como um todo dinâmico, que interage com o meio em
sentido amplo, pois tanto a herança biológica quanto as condições culturais, sociais e afetivas refletem-se
no corpo”.
30
O caso é que para mulher já é discriminante... Que hoje em dia fala que mulher é rapariga... Já pro homem
não, é como se fosse normal. Mas se chegar e vê uma menina na conversa... Ali é uma coisa errada... Tão
ficando... Tão fazendo alguma coisa de errada... É muito difícil essa vida, gente.
31
É porque as pessoas olham pro lado das mulheres, por exemplo no caso de cinco homens e uma mulher, já
olham com olho de julgo (sic)... Aí já falam: Aquela menina tá lá, é porque ela tá com interesse em algum,
é uma puta, é uma rapariga... Usam esse nome feio... Já o homem não... É galanteador... É garanhão. Já
olha diferente.
Tirar a camiseta no meio do povo...
Mulher faz isso também...
Mulher não faz... Homem já faz... Se um homem tem um físico bonito já sai elogiando, agora se uma mulher
tira a camiseta é um absurdo.
32
Tinha uma menina que estudava com a gente, que tinha o corpo ideal e emitia felicidade por onde ela
passava, mas ela saiu da escola.
33
“[...] o campo dos comportamentos, das emoções, da formação dos hábitos e de outras questões subjetivas,
ligadas aos valores, de modo ainda mais evidente que em outros estudos do ser humano”.
34
Tipo... Um professor, um vizinho, quando é mais velho e que já passou pelo mesmo problema que eu...
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Adolescing in body, mind and affection: a study on developing values and attitudes from science teaching
E vai saber me orientar né? Vai saber me explicar a situação, de como sair e... é isso. Um amigo também.
35
[...] medida de tristeza diária.
36
Existe ou não existe? A colega disse que existe... mas vocês se sentem à vontade para expor problemas,
dúvidas?
37
Pra mim não.
Tem muitas coisas que tipo... ‘Eu não quero conversar com ela, nem com alguma pessoa da minha família’,
aí eu vou procurar um professor que eu confio.
Eu não gosto de falar...
38
Você não gosta de falar?
39
Não, não falo não.
Não é em todos os professores que eu confio.
Raramente...
E quando a escola fala, reduz a adolescência a puberdade ou trata da temática, bulliyng, depressão etc.,
com impessoalidade.
Já falaram aqui, mas... Alguns professores não gostaram não. Porque nós ficamos comentando depois,
depois da aula que a gente teve sobre puberdade, ficamos comentando... Porque a gente foi gostando do
assunto, tinham muitas dúvidas...
40
Ah, entendi! [...] A escola é um lugar seguro para conversar sobre essas questões adolescentes?
41
No… No…
Not all of them…
Not always...
Not once…
42
[...] não é lugar de escuta do adolescer. Não há profissional que atenda às necessidades pessoais diárias [...]
43
[...] considerando as vertiginosas mudanças que se estabelecem no funcionamento da sociedade, convém
questionar se o comprometimento do processo educativo especialmente do aluno adolescente, o que se
oculta, na verdade é a inatividade e a indolência em se buscar intervenções mais apropriadas aos impasses
que se apresentam nas diversas instituições sociais na atualidade, entre elas a escola.
References
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AGUIAR, S. F. A. de. O meu corpo e eu: a imagem corporal e a auto-estima na adolescência.
Lisboa: ISPA, 2014. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica, Instituto Universitário
Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, 2014. Available at: <http://repositorio.ispa.pt/
bitstream/10400.12/5028/1/18268.pdf>. Access in: Oct. 21, 2019.
AMARAL, V. L. do. Psicologia da Educação. Natal: EDUFRN, 2007.
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos,
1981.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12th ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Ciências Naturais. Terceiro e
Quarto Ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998.
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Gabriela Messias Silva, José Adriano Cavalcante Angelo, Jemima Queiroz da Silva
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
Resumo
Investigar diferentes possibilidades a partir do emprego do livro didático em sala de aula é
fundamental quando se reconhece a importância desse recurso didático, devido à ampla distri-
buição promovida pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). A abordagem de Aspectos
Sociocientíficos (ASC), dentre as várias concepções de ensino de Química, utiliza a contextuali-
zação com base em temas socialmente relevantes mobilizados pela discussão de controvérsias
e pautadas no conhecimento científico. Assim, investigar a presença de ASC nos livros didáticos
de Química pode auxiliar os professores a empregar essa concepção de ensino. Esta pesquisa
foi centrada na análise dos livros de Química destinados à segunda e terceira séries do Ensino
Médio aprovados pelo PNLD. A metodologia empregada foi a análise de conteúdo baseada nos
indicadores: tema global, presença de controvérsia e critérios de relevância para classificar os
textos em potenciais promotores de discussões sociocientíficas. Posteriormente, foi delimitado
o tipo de abordagem e o tipo de controvérsia apresentados. Em geral, a análise dos livros da
segunda série do ensino médio apresentou poucos fragmentos com potencial de abordagem
ASC. Além disso, é possível perceber que a maioria das obras têm algum potencial de fomentar
discussões ASC em sala de aula, embora os livros não tragam todos os elementos necessários
para que a discussão da controvérsia se desenvolva, fato que dependerá dos professores e
alunos. Como o esperado, a obra com maior incidência, ainda que não na maioria de suas uni-
dades de contexto, é a obra Química Cidadã, por ser construída nessa abordagem.
*
Mestre e doutorando em Ensino de Ciências e Matemática pelo Programa de Pós-Graduação em Formação
Científica, Educacional e Tecnológica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – campus Curitiba. Pro-
fessor do Colegiado de Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná – campus
Palmas. E-mail: [email protected].
**
Doutora em Ciências pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo. Professora
do Colegiado de Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná – cam-
pus Palmas. E-mail: [email protected].
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Análise de aspectos sociocientíficos em livros didáticos de química para a segunda e terceira séries do ensino médio
Introdução
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
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Análise de aspectos sociocientíficos em livros didáticos de química para a segunda e terceira séries do ensino médio
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
Encaminhamentos metodológicos
Assim como realizado no artigo que avaliou as obras destinadas à primeira sé-
rie do ensino médio (OS AUTORES), esta pesquisa é uma análise bibliográfica de
caráter qualitativo (GIL, 2010), pautada na análise de conteúdo (BARDIN, 2011)
e empreendida em três etapas: pré-análise, que consiste na escolha do corpus e
da elaboração dos indicadores de análise; análise, na qual a técnica é aplicado ao
corpus; e na síntese dos resultados, na inferência e na interpretação.
A etapa de pré-análise, que denominamos de análise preliminar das obras, con-
sistiu no contato inicial com os livros para estabelecer como se daria a comparação
entre os elementos do corpus que foram analisados. Nessa fase é realizada a leitura
superficial (dinâmica) do livro completo a fim de identificar como a obra é dividida
e, finalmente, como as obras poderiam ser comparadas em função dessa divisão.
Além disso, nesta primeira etapa, foram elencados os indicadores da análise:
a) corpus: os livros didáticos de Química disponibilizados pelo PNLD 2018,
destinados à segunda e terceira séries do Ensino Médio:
i) Livro 1: Química (REIS, 2016);
ii) Livro 2: Química (MORTIMER; MACHADO, 2017);
iii) Livro 3: Química Cidadã (SANTOS; MÓL, 2016);
iv) Livro 4: Ser Protagonista – Química (LISBOA, 2016);
v) Livro 5: Química (CISCATO et al., 2016);
vi) Livro 6: Vivá – Química (NOVAIS; ANTUNES, 2016).
b) unidade de registro: palavra;
c) regra de enumeração: presença;
d) critério de categorização: semântico;
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Análise de aspectos sociocientíficos em livros didáticos de química para a segunda e terceira séries do ensino médio
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
feita sua categorização com base nos indicadores elencados. O registro da análise
é composto por uma rápida descrição do fragmento, acompanhada da identifica-
ção dos elementos estabelecidos para classificá-las quanto à abordagem de ASC.
Nesta etapa, cada fragmento foi incluído em tabela de análise (que, por questões
de espaço foram anexadas como material complementar) para serem classificados
como fragmentos com potencial para a abordagem de ASC aqueles que apresentam:
relação com um dos temas globais; uma controvérsia; e ao menos um dos critérios
de relevância social de abordagem sociocientífica.
A terceira etapa consiste na construção dos resultados de análise e é apresentada
no próximo item deste artigo. É importante salientar que a análise de conteúdo,
mesmo contando com os critérios de caracterização das categorias, depende da in-
terpretação do analista frente aos fragmentos do corpus analisado. Em razão disso,
serão apresentados os motivos que levaram à classificação proposta, após as tabelas
de apresentação dos resultados da categorização. Quanto às tabelas de categori-
zação, elas são, em analogia, como o caderno de campo ou de laboratório, ou seja,
servem de anotação para as observações da pesquisa. Por isso, para a compreensão
da análise de modo integral, é interessante combinar a tabela de análise (material
complementar) e as sínteses aqui apresentadas.
Ainda, além da categorização com os indicadores propostos, este estudo atribuiu
mais duas características àqueles fragmentos que foram classificados com potencial
para abordagem de ASC. São eles: o tipo de abordagem (pontual; temática; ou por
questionamento), de acordo com o apresentado por Santos (2002); e o tipo de con-
trovérsia (justificativa de escolha ou tomada de decisão), trazido em Stadler (2015)
e (OS AUTORES). O objetivo desse movimento foi trazer mais elementos para a
caracterização de possíveis práticas sociocientíficas em sala de aula.
Resultados e discussões
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Análise de aspectos sociocientíficos em livros didáticos de química para a segunda e terceira séries do ensino médio
Análise preliminar
Essa etapa teve por objetivo identificar possíveis recortes nas obras do corpus
para que a categorização possa ser feita em partes para, ao final, caracterizar a
obra por completo. A partir da análise preliminar foi possível perceber que, de forma
semelhante à análise dos livros destinados à primeira série do ensino médio (OS
AUTORES), as obras não possuem estritamente a mesma organização, tornando-se
novamente necessária a opção da comparação das obras como um todo, ao invés de
compará-las por fragmentos. Assim, as obras foram fragmentadas como relatado
abaixo, da mesma forma como foram divididas para a análise dos livros da primeira
série do ensino médio (OS AUTORES):
• O livro 1 (REIS, 2016) foi fragmentado em: seção de abertura da unidade;
seção de abertura do capítulo; seção de conteúdo e seção de encerramento
do capítulo.
• O livro 2 (MORTIMER; MACHADO, 2017 foi fragmentado em: seção de
abertura do capítulo e seção de conteúdo.
• O livro 3 (SANTOS; MÓL, 2016) foi fragmentado em seção de abertura,
seção de conteúdo e seção de encerramento do capítulo.
• O livro 4 (LISBOA, 2016) foi dividido em: seção de abertura da unidade;
seção de abertura do capítulo; seção de conteúdo e seção de encerramento
do capítulo (subdividida).
• O livro 5 (CISCATO et al., 2016), por sua vez, apresenta estrutura bastante
singular quando comparado com às outras obras, pois traz capítulos divididos
em temas, em contraste a unidades e capítulos. Sendo assim, a obra foi frag-
mentada em: seção de abertura do capítulo (subdividida), seção de conteúdo
do tema, seção de encerramento do tema e seção de encerramento do capítulo.
É importante sempre atentar-se para a relação entre os capítulos dessa obra
com as unidades das demais (que possuem) e dos temas com os capítulos.
• Finalmente, o livro 6 (NOVAIS; ANTUNES, 2016) foi fragmentado em seção
de abertura da unidade; seção de abertura do capítulo; seção de conteúdo,
seção de encerramento do capítulo e seção se encerramento da unidade.
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
Análise aprofundada
Nessa etapa foi feita a busca, em cada unidade de contexto e suas subdivisões,
dos indicadores empregados para caracterizar a potencialidade de abordagem de as-
pectos sociocientíficos. Nos quadros é feita uma breve descrição do fragmento (com a
indicação de página das ocorrências principais), acompanhada da descrição do tema
global (SANTOS, 2002), da controvérsia, com a tipificação (STADLER, 2015), o cri-
tério de relevância social de abordagem sociocientífica (SOBRINHO-FERNANDES,
2014), a tipificação da abordagem, caso contenha todos os elementos precedentes
(HALMENSCHLAGER; DELIZOICOV, 2017; SANTOS, 2002) e, se necessário, comen-
tários do analista. É importante salientar que a tipificação da abordagem não é um
indicador, mas é um dado importante para a inferência sobre como as atividades com
potencialidades para a abordagem de ASC poderiam ser trabalhadas em sala aula.
Em relação aos temas globais de Merrifield (SANTOS, 2002), sua escolha refere-
-se ao fato de que as obras promovidas pelo PNLD, assim como os exames de larga
escala (nos quais os temas foram estudados), são destinados a uma população muito
heterogênea, de modo que é necessário buscar elementos de relevância social que
sejam o mais abrangente possível. A questão da relevância é corroborada pelos cri-
térios de relevância social na abordagem sociocientífica (FERNANDES-SOBRINHO,
2014), que são empregados na caracterização da controvérsia em temos de relevância
social. Em relação ao critério de relevância que envolve problemas locais e globais,
considerou-se que os problemas locais se referiam a problemas com impacto em certa
região (não sendo necessariamente a região de residência dos consumidores da obra)
e problemas globais eram relacionados a problemas reconhecidos em escala global.
Para realizar a tipificação da controvérsia em tomada de decisão, avaliação / jus-
tificativa de escolha (STADLER, 2015), debate e prática social (os últimos incluídos
em função do resultado da etapa anterior), foram considerados que no primeiro caso,
deve-se escolher entre alternativas possíveis para a solução de problemas ou escolher
um lado de uma discussão para seguir, enquanto que no segundo caso, deve-se usar
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Análise de aspectos sociocientíficos em livros didáticos de química para a segunda e terceira séries do ensino médio
valores e análises de custo benefício para avaliar ou justificar uma decisão tomada por
outrem (STADLER, 2015). Para os debates, considerou-se questões que não tivessem
uma pergunta norteadora, apenas a instrução de debater um assunto e, em relação à
prática social, foram elencadas nessa categoria atividades que envolviam ações com
outros grupos, além da sala de aula, ou apresentação de seminários para os colegas.
A seguir serão caracterizadas, qualitativamente, todas as unidades de contexto
de cada obra, de acordo com a sistematizado nos quadros do documento complemen-
tar. Na indicação das páginas é colocada a página inicial da unidade de contexto,
que pode se estender por várias páginas.
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
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Diante dos resultados das unidades de contexto é possível afirmar que o livro 1
(REIS, 2016) apresenta elementos relacionados a ASC, em sua maioria abordados
por questionamentos que não são tratados no livro de forma completa, ou seja, o
livro, sozinho, não contém todos os elementos necessários para uma discussão, os
quais deverão ser trazidos de outros meios. Todos os casos observados foram do
tipo debate, que dependerá muito da condução da atividade pelo professor para que
essa seja considerada efetivamente ASC. Também foi possível notar que o volume
2 apresenta menos potencial ASC que o primeiro (OS AUTORES).
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
Desse modo, tomando por base a análise nas descrições e no Quadro 2, foi possível
perceber que a obra não traz os elementos necessários para as discussões, apenas
propondo as atividades. O livro apresenta abordagem fortemente marcada pelo
estudo centrado no conceito científico, não explorando em profundidade questões
concernentes ao ASC. E que, como no caso anterior, há menos exemplos de atividades
potencialmente sociocientíficas que no volume 1 (OS AUTORES).
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Análise de aspectos sociocientíficos em livros didáticos de química para a segunda e terceira séries do ensino médio
Com base nos elementos apresentados acima, conclui-se que, em contraste com
o primeiro volume (OS AUTORES), este volume apresentou possibilidades consis-
tentes de iniciar a discussão ASC, embora sejam restritas a questionamentos.
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João Paulo Stadler, Mariana da Silva Azevedo
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Com base nas indicações feitas, é possível dizer que a obra apresenta poucos
elementos relacionados a ASC, por meio de questionamentos que não são tratados
no livro de forma completa, pois é requerida etapa de pesquisa externa.
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Na internet: (não foi citado, por não Questões preliminares: sem potencial para
oferecer questões que abordem ASC) discussão de ASC
Projeto: não trazem questões que abordam ASC
Fonte: autoria própria, a partir de Mortimer e Machado (2017)
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Diante dos resultados das unidades de contexto, é possível afirmar que a coleção
“Química” (REIS, 2016), no conjunto dos três volumes, apresenta poucos elementos
relacionados a ASC, em sua maioria abordados por questionamentos que não são
tratados no livro de forma completa. Foram observados casos de abordagem temática
no início de algumas seções, mas a discussão de ASC não foi estimulada do conjunto
do livro. É possível verificar a presença de perguntas isoladas que poderiam ser
motivadores da discussão ASC, mas sem o embasamento no restante da obra. Infe-
re-se que um professor adotante dessa obra não tenha elementos suficientes para
abordar ASC. Para a composição desta análise geral, foram empregados os dados
da análise dos livros destinados à primeira série apresentado em artigo anterior
(OS AUTORES).
Considerando os três volumes da coleção “Química” (MORTIMER; MACHADO,
2017), é possível perceber que a obra apresenta poucos elementos relacionados a
ASC, em sua maioria abordados por questionamentos que não são tratados no livro
de forma completa. O livro apresenta abordagem fortemente marcada pelo estudo
centrado no conceito científico, não explorando em profundidade questões concer-
nentes aos ASC, embora haja relação com contextualização com temas globais.
Foi possível concluir, após a análise dos três volumes da coleção “Química Cida-
dã” (SANTOS; MÓL, 2016), que esta se propõe a discutir ASC e é possível observar a
presença de tomadas de decisão de debates de maneira pontual e por questionamen-
tos em boxes separados. O texto de conteúdo traz tópicos de contextualização social
que poderia suscitar a discussão de ASC, mas não são apresentadas controvérsias
no texto. Em alguns casos, as atividades poderão tornar-se discussões de ASC ou
apenas informações.
Levando em consideração as análises dos três volumes da coleção “Ser Prota-
gonista – Química” (LISBOA, 2016), percebe-se que o livro não apresenta subsídios
para a discussão de ASC, traz poucos elementos potencialmente controversos e
poucas vezes aborda temas que podem ser, se conduzidos pelo professor, discutidos
de forma sociocientífica.
A partir da análise aprofundada dos três volumes da coleção “Química” (CIS-
CATO et al., 2016), foi possível estabelecer que apesar do livro ser organizado por
temas que levam a contextualização do início ao fim dos capítulos, os momentos que
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Considerações finais
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Abstract
The investigation of distinct possibilities of using the textbook in the classroom occurs for the
importance of this didactic resource, promoted by the National Textbook Program (PNLD). The
approach of Socio-scientific Aspects (ASC), among the various conceptions of teaching Chemis-
try, uses a contextualization based on socially relevant themes mobilized by the discussion of
controversies, based on scientific knowledge. Thus, investigating ASC in Chemistry textbooks
can help teachers to use this teaching concept. It centered this research on the analysis of books
of special Chemistry to the second and third grade of high school by PNLD. The method used
was a content analysis based on the indicators: global theme, presence of controversy and
classification criteria to classify the texts in potential promoters of socio-scientific case. Subse-
quently, the approach and the controversy oriented were delimited. An analysis of high school
second grade books showed few fragments with the potential for ASC approach. In addition, it
is possible to observe that most works have some potential to promote ASC in the classroom,
but the books do not provide all the basic elements for the discussion of the controversy to de-
velop, a fact that will depend on teachers and students. As expected, the work with the highest
incidence, although not in most of its context units, is the work “Química Cidadã”, for being built
on this approach.
Referências
BARDIN, Lawrance. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.
BRASIL. Lei Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, Brasília, 1996.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://ba-
senacionalcomum.mec.gov.br/images/BNC C_20dez_site.pdf. Acesso em: 22 de dezembro de 2017.
BRASIL. PNLD 2018: apresentação – guia de livros didáticos – ensino médio/ Ministério da
Educação – Secretária de Educação Básica – SEB – Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretária de Educação Básica, 2017.
CISCATO, Carlos Alberto Mattoso; et al. Química. São Paulo: Moderna, 2016
DELIZOICOV, Demétrio, ANGOTTI, José André, PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de
Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2018.
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Carla Busato Zandavalli, Lilian Andressa Oliveira Olegário, Brenda Tavella Oliveira
Resumo
O artigo retrata uma experiência pedagógica realizada no âmbito da disciplina de Teorias de
Aprendizagem, em um Curso de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências, de uma insti-
tuição pública federal de Mato Grosso do Sul. Foi solicitada aos pós-graduandos a escrita de
uma carta respondendo a uma das três Cartas presentes na obra “Pedagogia da Indignação:
Cartas pedagógicas e outros escritos”, de Paulo Freire. A atividade objetivou analisar a situação
atual de vida e formação dos professores, tomando como pressuposto a teoria freiriana, por
meio do gênero textual preferido de Freire: as cartas. Participaram da atividade 18 mestrandos,
a maioria professores convocados em redes públicas de ensino, que ministram disciplinas de
Biologia, Química, Física e/ou atuam nos anos iniciais do ensino fundamental, como profes-
sores regentes. A análise das cartas foi feita por meio da análise categorial de Bardin (2016),
observando-se a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a infe-
rência e a interpretação. Na exploração do material, primeiramente foi analisado o conjunto das
informações, buscando-se categorias, unidades de registro e sua frequência e, na sequência,
foram agrupadas em três grupos, tendo como referência a carta de Freire respondida pelos(as)
mestrandos(as). Foram identificadas as seguintes categorias: Paulo Freire, Educação, Esperan-
ça, Desesperança/medo; Mudanças/transformações; Democracia/democratização; Consciência
Humana; Professores/educadores; Alunos/ estudantes/crianças/ jovens; Riscos/perdas. Os diá-
logos dos(as) mestrandos(as) com o autor, por meio das cartas, denotaram a compreensão de
aspectos centrais da Pedagogia e da Epistemologia de Freire. As cartas denotam o desenvol-
vimento mais acentuado da consciência crítica dos(as) mestrandos(as), mediante a análise da
complexa realidade vivida por eles(as) e a compreensão e aplicação das categorias centrais da
obra de Freire, o que permite concluir que os objetivos da atividade foram alcançados.
*
Professora da Faculdade de Educação e dos Programas de Mestrado em Educação/CPTL e de Ensino de Ciências,
da UFMS. Campo Grande, MS, Brasil. [email protected]
**
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da UFMS. Campo Grande, MS, Brasil. lillianliz@
gmail.com
***
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da UFMS. Campo Grande, MS, Brasil. brendatavella@
hotmail.com
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
Introdução
Até bem pouco atrás
Poderíamos mudar o mundo
Quem roubou nossa coragem?
Legião Urbana2
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Carla Busato Zandavalli, Lilian Andressa Oliveira Olegário, Brenda Tavella Oliveira
e/ou estadual dos Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Em
razão do perfil do Curso, atuam nas disciplinas de Física, Química e Biologia nos
anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, bem como são professores
dos anos iniciais do ensino fundamental.
A atividade suscitou discussões sobre a situação de des(esperança) que profes-
sores e professoras das redes pública e privada vivem no Brasil hoje, bem como a
necessidade de refletir sobre a natureza das políticas públicas de formação inicial
e continuada dos professores.
Este artigo, portanto, contempla, tanto o relato de uma experiência pedagógi-
ca, quanto a análise teórica das informações trazidas pelos estudantes-professores
acerca das políticas educacionais atuais e das dificuldades crescentes que vêm
enfrentando. A análise das cartas escritas à Paulo Freire foi realizada por meio da
Análise de Conteúdo de Bardin (2016).
Foi realizada inicialmente a pré-análise, com a definição do material, ou seja,
as 18 cartas escritas a Paulo Freire. Na leitura flutuante as cartas foram lidas
inicialmente sem agrupamentos e depois, agrupadas, conforme a carta de Paulo
Freire escolhida pelos(as) mestrandos(as). Não houve delimitação de amostra, foi
tomado o conjunto das cartas, considerando-se que todas eram representativas do
grupo de mestrandos(as), que também são professores(as) da educação básica. Na
sequência foram formulados hipóteses e objetivos acerca da percepção dos(as) mes-
trandos(as) em relação às cartas de Freire, mas especialmente, à situação atual de
vida e formação dos professores. Na exploração do material, foram identificadas,
inicialmente, as categorias que emergiram do conjunto das cartas, suas unidades
de registro e frequência e depois, na análise agrupada, foram tomadas as respostas
a cada uma das três cartas. Mediante esse conjunto de informações foram feitas as
inferências e a interpretação, observando-se a emergência das mesmas categorias
e que coincidem com aspectos centrais da obra de Freire.
Nos itens a seguir são descritas as três cartas de Paulo Freire, seguidas da
contextualização da situação de vida e de atuação dos(as) mestrandos(as), das
respostas dadas pelos(as) mestrandos(as) à carta escolhida e respectivas análises.
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
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Carla Busato Zandavalli, Lilian Andressa Oliveira Olegário, Brenda Tavella Oliveira
Na terceira carta “Do assassinato de Galdino Jesus dos Santos – índio pataxó”,
que ficou inconclusa, Freire analisa a coisificação das pessoas e a soberania do valor
de mercado, a partir do assassinato cruel do índio pataxó que dormia num terminal
de ônibus em Brasília, realizado por adolescentes de classe média. Procura refletir
acerca dos lugares de vida e educação desses jovens e da brutalidade de sua escolha
em “brincar de matar gente” e retoma as ideias da primeira carta na qual trata do
risco da ausência do limite social, o uso indiscriminado de uma liberdade sem res-
ponsabilidade dada a filhos de certas camadas socioeconômicas. Analisa a construção
de valores desses jovens com base na ética do mercado, na qual a vida de alguém
vale pelo que se ganha no mês e destaca a urgência em se lutar por princípios de
uma ética universal que valorize a vida de seres humanos, animais, plantas.
A conclusão do texto inconcluso é essencial e, dada a sua atualidade, vale citá-la:
Não é possível refazer este país, democratizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brin-
cando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor.
Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade
muda.
Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equi-
dade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e
não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção.
Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que fizemos e o que fazemos.
Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os
outros, discriminado o índio, o negro, a mulher não estarei ajudando meus filhos a
ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros... (FREIRE, 2000, p. 67).
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
Tabela 4: Distribuição dos graduandos segundo cor ou raça em 2004, 2010 e 2014 (Em %)
Cor ou raça Graduandos Ifes (2004)1 Graduandos Ifes (2010)1 Graduandos Ifes (2014)2
Sem declaração 0,00 0,00 3,78
Amarela 4,50 3,06 2,34
Branca 59,40 53,93 45,67
Parda 28,30 32,08 37,75
Pretos 5,90 8,72 9,82
Indígenas 2,00 0,93 0,64
Fonte: Franco e Cunha (2015) a partir de dados do Fonaprace (2004, 2010); Cepes (2014).
Notas: 1 Pesquisas Fonaprace 2004 e 2010. 2 Cálculos dos autores, com base nos microdados do Cepes (2014).
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Os aspectos divergentes ficam por conta da média de idade, que é menor entre
os participantes do estudo, bem como o fato da maioria ser convocada e atuar em
mais de uma escola.
As condições de trabalho nas redes públicas de Mato Grosso do Sul vêm pioran-
do gradativamente nos últimos anos, observando-se em 2019, ações que trouxeram
maior instabilidade aos docentes.
Em 10 de julho de 2019, o governo do estado de Mato Grosso do Sul, sancio-
nou a Lei Complementar nº 266, que altera, acrescenta e revoga dispositivos à
Lei Complementar nº 87, de 31 de janeiro de 2000, que dispõe sobre o Estatuto
dos Profissionais da Educação Básica do Estado de Mato Grosso do Sul. Entre as
principais alterações, a Lei previu que os processos de convocação de professores,
obedeçam à classificação de um Banco de Reserva de Profissionais para a Função
Docente temporária, sendo esse banco constituído por meio de processo seletivo
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
É um privilégio ter a oportunidade de ler tuas cartas tão precisas e exatas, sem dúvidas
tu és um homem de grande sabedoria que deixou marcas históricas na vida de muitas
pessoas. [CA04].
As suas obras nos levam à uma reflexão, pois já vivemos momentos tenebrosos e nunca
se perdeu a esperança de mudanças. Eu agradeço a sua grande contribuição para a
minha formação enquanto cidadão e professor. Obrigado! [CA06].
Reafirmo o encantamento ao ler seus escritos e digo que o exemplo dado sobre o Movi-
mento dos Sem-Terra, quanto ao seu determinismo e respeito pelo outro em suas lutas,
descrevendo a intenção destes em transformar o mundo para todos, desacreditados no
‘fatalismo neoliberal’ como ‘neobobismo’, reacende em nós a esperança de somarmos
força para lutar em prol de um país mais justo, mais fortalecido, principalmente no que
tange à educação. [CB02].
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Carla Busato Zandavalli, Lilian Andressa Oliveira Olegário, Brenda Tavella Oliveira
[...] quero externar a minha admiração pelo seu legado e pelo seu trabalho como pro-
fessor pesquisador na área da educação. Que suas obras continuem inspirando outros
profissionais para que as transformações sejam possíveis tanto quanto necessárias.
[CB04].
[...] gostaria de agradecer a sua coragem. Por meio dela nos tornamos mais fortes. Seu
discurso encorajou-nos e acordou em nós o sonho de mudança. O caminho é longo.
Mas você não parou, então não vamos parar. A educação vale a pena. A marcha vai
continuar, para manter os direitos que temos, e para conquistar o que é nosso por direito.
Viva a educação Freire! [CB07].
[...] Aqui no Brasil, infelizmente não conseguimos adotar seus ensinamentos, questões
políticas falam mais alto e a população ainda não conseguiu se libertar da ignorância,
logo, a opressão ainda impera em nosso país. Mas seu legado é valorizado, o mundo in-
teiro fala de você e respeita seu trabalho, todas as universidades do mundo reconhecem
a importância do seu trabalho, aqui você é Patrono da Educação e suas contribuições
são importantíssimas. [CD01].
Mudar o mundo continua sendo tão difícil quanto possível. Essas foram suas palavras
na primeira carta pedagógica do livro “Pedagogia da indignação” e nunca pensei que
suas ideias seriam tão atuais como estão sendo agora. Talvez seja por isso que você
ainda é alvo da tirania de um governo repressivo e autoritário, como esse que preside
o país. [CB04]
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Souza (2019, p. 57) situa outro ponto essencial para a análise desse movimen-
to social: “Saliente-se que na conjuntura da pós-verdade, os homens são levados a
considerar como mentira as coisas que não se coadunem com a própria ‘verdade’,
distanciando-se da intersubjetividade e da prática do diálogo”.
Entre os artigos da coletânea, destaca-se o de Leite (2019), que descreve os
problemas trazidos pelas fake news, relacionando-os com as ações impróprias em
eleições que permitiram o crescimento de partidos de direita e situa a importância
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Outro aspecto presente em várias cartas foi a indicação da atualidade das ideias
de Paulo Freire lançadas em 1977:
Gostaria de poder lê-lo com mais frequência e intensidade, pois as suas contribuições
transpassam gerações e épocas. Continuam muito atuais. Espero encontrá-lo novamen-
te por meio da leitura. Assim, continuarei a aprender com você. [CA01]
Estamos em 2019 e como educadora, inicio essa carta dizendo que pouca coisa mudou
por aqui desde a sua partida. [...]. Infelizmente o mundo continua pautado em uma ética
de mercado, uma ditadura mercantilista; poucos se baseiam na ética humana sem se
importar com a democracia autêntica e genuína. [CA05]
Assimilo as suas inquietações sobre o contexto social e político de sua época, o que é
tão oportuno para o período ao qual estamos vivendo no Brasil e mundo atualmente.
[...]. [CB01]
Talvez hoje não esteja tão diferente que [no] dia 21 de abril de 1997, [quando] onde [sic]
um índio foi assinado sem pudor. O sangue de inocentes continua sendo derramado
[...]. [CC01]
Lamento dizer que você previu com muita convicção os acontecimentos que assolam
os dias de hoje. Nesses vinte anos da sua partida, a educação sofreu muitas transfor-
mações no que diz respeito a avanços significativos e satisfatórios de acordo com a
sua percepção. Após uma década, parecia que as indignações reveladas por ti teriam
possíveis soluções em longo prazo; a esperança era maior. Contudo ainda havia falhas
como toda proposta. O século XXI assombra, traz medo e incertezas. [...] [CA02]
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Carla Busato Zandavalli, Lilian Andressa Oliveira Olegário, Brenda Tavella Oliveira
A guerra ideológica entre direita e esquerda nos leva a grandes perdas, as pessoas
não enxergam a gravidade e a complexidade dos problemas, e isso tem se refletido na
educação. O governo encara [como] gasto e não investimento, a carreira do professor é
desvalorizada, e o governo atual encara com desprezo, e isso cada vez mais aumenta a
desigualdade social. A concentração de renda está cada vez mais em pequenos grupos
que são responsáveis pela tomada de decisões, sem se preocupar com a grande parte
da sociedade. Tenho medo, a função da escola está fadada ao não cumprimento, é esse
o interesse de alguns políticos. [CA06]
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
São tempos nebulosos e tenho certeza de que, se estivesse vivo, sua luta pela cons-
ciência crítica e pelos ‘esfarrapados do mundo’ seria tão constante como foi no passado.
[...]. [CB04]
[...]. Nesses últimos três anos, o Brasil passou por transformações que estão acabando
com a cultura e o progresso do país e isso em diversos aspectos, como políticos, so-
ciais, ideológicos, educacionais, familiares, éticos, etc., estamos vivendo um período
de retirada de direitos e do enfraquecimento da luta social e isso, por causa de uma in-
tensificação da alienação de uma parte da sociedade brasileira, que acredita que essas
lutas não trarão mudança e se contenta com as migalhas que as grandes corporações,
políticos e mídia jogam a esses cidadãos. [CB05]
[...] O atual governo, tal como aquele operante em sua época, não deseja cidadãos
críticos, que tenham a noção de como são oprimidos. Querem reproduzir um discurso
de ódio e plena aceitação de uma realidade que prejudica a todos, inclusive a natureza.
Temos medo. Mas estamos alicerçados na ideia de que só tem coragem quem um dia
teve muito medo. [...].
[...] Nós, professores estamos sendo exilados. Exilados dentro de nosso país. Exilados
por não poder abordar temas significantes, exilados por não termos o reconhecimento
necessário, exilados dentro da cerca de ideologias violentas as quais fomos expostos.
[CB07]
[...] Estamos passando por tempos difíceis, com lutas intensificadas e recorrentes, mas
em muitas situações fadadas a falta de um objetivo em comum a todos os brasileiros.
Nesses últimos três anos, o Brasil passou por transformações que estão acabando com
a cultura e o progresso do país e isso em diversos aspectos, como políticos, sociais,
ideológicos, educacionais, familiares, éticos, etc., estamos vivendo um período de reti-
rada de direitos e do enfraquecimento da luta social e isso, por causa da intensificação
da alienação de uma parte da sociedade brasileira, que acredita que essas lutas não
trarão mudança e se contenta com as migalhas que as grandes corporações, políticos
e mídia jogam a esses cidadãos. [CB05]
Esses aspectos descritos nas cartas dos mestrandos e muitos outros são pon-
tuados nos escritos de vários autores (CÊPEDA, 2018; SANTOS; PEREIRA, 2018;
CESLAGHI, 2019; LEHER, 2019; MACEDO, 2019; TAFFAREL; NEVES, 2019;
REIS, 2019; SEVERO, 2019; NACIF; SILVA FILHO, 2019) que analisam as polí-
ticas educacionais brasileiras pós 2016 e destacam questões preocupantes. Alguns
dos elementos mais citados pelos autores são: os riscos à democracia e à liberdade;
a doutrinação ideológica conservadora proposta como ação neutra e marcada pelo
descrédito à ciência, pela crescente militarização e pela influência religiosa em as-
suntos educacionais; os cortes orçamentários e os problemas no financiamento da
educação dados pelo teto de gastos, contingenciamentos e descaso com o FUNDEB;
os ataques à ciência, à cultura, à educação e, por consequência, aos educadores e às
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escolas; o desencontro de ações do governo federal, movido por três grupos distintos
e dissonantes, que se materializa também no Ministério da Educação, que sofre
apagão operacional nunca visto.
Taffarel e Neves (2019, p. 317-319) ao analisarem a conjuntura educacional após
a eleição de Jair Bolsonaro, destacam parte desses aspectos, bem como os processos
de precarização e privatização da educação:
A avaliação da conjuntura educacional apresenta fatos que permitem afirmar que a
Educação Estatal, pública, inclusiva, laica, democrática, de qualidade e socialmente
referenciada, em patamares conseguidos nos últimos governos de Luís Inácio Lula
da Silva e Dilma Rousseff, está sendo destruída.
São evidências dessa destruição, a implementação da política neoliberal radicalizada
que preconiza privatizar, desmontar o patrimônio público, entregar as riquezas e
abrir o Brasil ao capital imperialista predatório e parasita.
São evidências: a aprovação de medida de entrega do pré-sal ao capital internacional;
o não cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação; a alteração dos perfis
dos componentes do Conselho Nacional de Educação – CNE e do Fórum Nacional
de Educação, com a entrada dos empresários do setor privatista da educação (Todos
pela Educação) e a indicação de um militar para a Secretaria Executiva do CNE; a
aprovação da Reforma do Ensino Médio; a aprovação da autoritária e esvaziadora do
currículo Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovação da Emenda Consti-
tucional 95/16 que institui o ajuste fiscal e limita investimentos em educação e saúde;
aprovação das medidas que permitem a terceirização sem limites, que precariza o
trabalho docente; a aprovação da reforma trabalhista, que atinge os trabalhadores
em geral e em especial os trabalhadores da educação, o exercício do magistério, o
trabalho docente, pois retira dos professores o atual modelo de aposentadoria au-
mentando o tempo mínimo de serviço necessário para que o docente tenha direito a
aposentadoria.
Mas, existem outras medidas específicas que estão atingindo a Educação, desde a
creche, passando pela educação de jovens e adultos e alcançando o ensino superior.
Elas estão relacionadas ao financiamento da Educação, da Ciência e da Tecnologia,
a gestão, a formação inicial e continuada dos professores e professoras, ao trato com
o conhecimento científico, ao currículo escolar, aos métodos e técnicas de ensino, à
censura nas escolas, à negação da ciência, ao projeto Escola Sem Partido, a educação
domiciliar, a militarização das escolas públicas, ao ataque ao direito de cátedra, ao
ataque a autonomia dos sistemas de ensino e, em especial, nas universidades, a au-
tonomia de gestão, administração, financeira e didático pedagógica.
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
Entendo que não há luta sem sonhos. E que esses sonhos são projetos pelos quais
almejamos e acreditamos. Assim, os tornaremos reais à medida que nos ampararmos
na autenticidade. Nessa perspectiva, caro Paulo, a tão sonhada mudança não tardará!
Prova disso são os movimentos sociais, que constituem a estratégia mais adequada de
luta e defesa dos direitos das pessoas, especialmente àquelas que não possuem poder
aquisitivo ou mesmo político. Refiro-me às minorias oprimidas da sociedade que fazem
desses movimentos a ponte de acesso à democracia. [CB01].
Percebi o quão é importante sonhar, mas um sonho embasado historicamente nas con-
dições dos contextos materiais, tecnológicos e científicos, nos quais estamos inseridos.
[...] .
É fato que o nosso passado deixou marcas que perduram até hoje, tais como a coloni-
zação e escravidão, que dificultam a mudança. Mas se decidirmos agir de forma pro-
gressista, não há hora e nem lugar e muito menos importa quem eu sou. O importante é
que eu saiba que a luta, seja ela ideológica, política, pedagógica ou ética, deve ter como
principal foco o respeito ao outro. [CB02]
Outro ponto fundamental tratado em sua carta pedagógica, professor Paulo, seria o
reconhecimento do ser humano enquanto projeto, o que remonta ao coerente enten-
dimento de que o ser humano não é uma obra acabada, isto é, podendo reformular-se
e reavaliar-se no decorrer da vida, o que, por interpretação, requer a aceitação de que
suas mutantes facetas e ações são instrumentos de transformação do mundo. [...].
Em sociedade e dentro de sala [de aula] atualmente, luto por melhorias para que meu
aluno possa ver além dos antolhos que lhes são colocados. É um processo lento e que
emana, analogicamente, trabalhar plantando as sementes e cuidar para que elas ger-
minem, gerando assim um cidadão capaz de atuar criticamente, que tenha consciência
de que é parte da sociedade, que suas ações causam consequências que atingem a
todos, pois ele faz parte desta em sua totalidade, para que assim esse indivíduo não
renuncie à capacidade de pensar, de conjecturar, de comparar, de escolher, de decidir,
de projetar e de sonhar. [CB05]
Apesar de parecer utópico, concordo com o senhor de que devemos sonhar mantendo
lealdade às condições históricas, materiais, aos níveis de desenvolvimento tecnológico
e científico do contexto vivenciado. Dessa forma, podemos criar projetos e lutar pelas
mudanças [acreditando] que, apesar dos diversos obstáculos, é preciso perseverar e ter
em mente que somos condicionados pelas estruturas econômicas e políticas, sendo que
apenas estando cientes disso, conseguiremos enxergar a realidade em que estamos
inseridos e nos tornar capazes de [nela] intervir. [CB06].
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[...] Particularmente me sinto motivado ao saber que faço parte do grupo que acredita no
sonho do amanhã e que busca modos de concretizá-lo, ao passo que também compre-
endo os fatores que tentam limitar o desenvolvimento da consciência crítica do oprimido,
frente à necessidade de controle dos opressores. [...].
Sigo concordando fielmente com a sua ideia de que o foco dessa educação crítica não
é a imposição ideológica e nem sobre uma única forma de ler o mundo, assim como eu
também não acredito que o papel da educação se restrinja ao ensino de conceitos. Não
posso silenciar as injustiças sociais do mundo e ser mero transmissor de conteúdos pro-
gramáticos, enquanto o poder da elite continuar maximizando essas injustiças. [CB04].
A gente acha que ainda tem jeito, e sabe que eu acho que tem mesmo. Na educação,
na forma de pensar, na união, na luta, é só não deixar de falar, e assim a gente vai indo
nesse mundo que parece tão feroz, a gente vai acreditando, nem que seja por um pin-
go, que ainda tem gente que pensa como nós, eu, educador, e como tu mesmo já dizia:
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade
muda”. [CC01]
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
Considerações finais
Por uma educação com esperança e por educadores(as) conscientes de seu papel
e compromisso social é que trabalhamos. Graças à Freire, marco essencial para a
educação de todos os povos e lugares, com maior consciência de nossa capacidade
de mudar a nós mesmos e ao mundo que nos cerca.
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Abstract
The article retract a pedagogical experience carried out within the scope of the Theories of
Learning, in a Professional Master’s Course in Science Teaching, from a federal public insti-
tution in Mato Grosso do Sul. The graduate students were asked to write a letter answering to
one of the three Letters present in the work “Pedagogy of indignation: teaching letters and other
writings”, by Paulo Freire. The activity had an objective to analyze the current situation of life
and education of teachers, assuming Freire’s theory, through Freire’s favorite textual genre: the
letters. Eighteen Master’s students participated in the activity, most of them teachers from public
schools, who teach Biology, Chemistry, Physics and/or work in the early years of elementary
school, as conducting teachers. The analysis of the letters was done through the categorical
analysis of Bardin (2016), observing the pre-analysis, the exploration of the material and the
treatment of the results, the inference and the interpretation. In the exploration of the material,
the set of information was first analyzed, looking for categories, units of record and their fre-
quency, and subsequently, they were grouped into three groups, having as reference Freire’s
letter answered by the master’s students. Have been identified to the following categories: Paulo
Freire, Education, Hope, Despair/fear; Changes/transformations; Democracy/democratization;
Human Consciousness; Teachers/educators; schoolboy/students/children/young; Risks/losses.
The dialogues of the master’s students with the author, through the letters, denoted the unders-
tanding of the central aspects of Pedagogy and Epistemology of Freire. The letters denote the
most accentuated development of the critical conscience of the master students, through the
analysis of the complex reality experienced by them and the understanding and application of
the central categories of Freire’s work, which allows concluding that the activity objectives have
been achieved.
Notas
1 Estudo desenvolvido com apoio da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Epígrafe colocada em uma das cartas escritas pelos mestrandos.
2
Houve uma abstenção. Não fecha 100%, pois há professores atuando em mais de uma rede simultanea-
3
mente.
As frequências serão inseridas apenas como referências, já que a análise de conteúdo trabalhada neste
4
zidos com a intenção de enganar aqueles que leem, aqueles que assistem, aqueles que ouvem também”.
Os trechos das cartas, para facilitar a identificação, serão transcritos nesse artigo com destaques diferentes
6
das citações, serão colocados em itálico, fonte 10 e com recuo de 1,5 cm.
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Cartas à Paulo Freire: (des)esperança de professores(as) em tempos desinteressantes
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Gleice Prado Lima, Adjane da Costa Tourinho e Silva, Divanizia do Nascimento Souza
Resumo
A vacina é um marco na história da humanidade, pois sua eficácia garantiu que diversas doen-
ças fossem erradicadas. Entretanto, é perceptível que o número de pessoas que buscam a
imunização vem decaindo, fazendo com que doenças, como o sarampo, ressurjam. Com o
intuito de engajar alunos em práticas que favorecem o processo de Alfabetização Científica,
este trabalho buscou analisar a construção de argumentos elaborados por alunos do 1º ano do
Ensino Médio nas aulas de Biologia, por meio de uma sequência de ensino investigativa basea-
da no tema vacina, já que temáticas que envolvem o enfoque científico e social mostram aos
alunos como ocorre a integração ciência, tecnologia e sociedade. A análise dos discursos orais
dos alunos evidencia o surgimento de ricos debates sobre o tema. Todavia, os textos escritos de
alguns evidenciam argumentos controversos, em que refutadores se opõem completamente às
conclusões. Verificou-se ainda argumentos semelhantes aos divulgados em canais de informa-
ção, em que a vacinação é apresentada como decisão individual.
*
Mestra em Ensino de Ciências e Matemática e Licenciada em Ciências Biológicas pela UFS. Docente do Colégio
Rezende (Nossa Senhora da Glória – SE, Brasil), atuando nas disciplinas de Ciências e de Biologia. E-mail:
[email protected]
**
Doutora em Educação pela UFMG, Mestre em Educação e Licenciada em Química pela UFS. Professora titular
aposentada da UFS e docente permanente do Núcleo de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática-
UFS e da Rede Nordeste de Ensino (RENOEN). E-mail: adjane@acadêmico.ufs.br
***
Doutora em Tecnologia Nuclear pela USP e Mestre em Física pela UFS. Docente do Departamento de Física
da UFS e docente permanente do Núcleo de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da UFS e
da Rede Nordeste de Ensino (RENOEN). E-mail: [email protected]
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
Introdução
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Gleice Prado Lima, Adjane da Costa Tourinho e Silva, Divanizia do Nascimento Souza
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
de acordo com este autor, o terceiro objetivo, possibilitando aos alunos o engaja-
mento nas práticas relativas à resolução de problemas científicos, desenvolvendo a
confiança no confronto com situações do chamado mundo real.
Santos e El-Hani (2017), por sua vez, consideram que o fazer ciência pode ser
visto como o objetivo primeiro da educação científica, como condição sine qua non
para o alcance dos demais objetivos de aprendizagem. Partindo da perspectiva
participacionista discursiva (SADLER, 2009), estes autores salientam que o fazer
ciência pode ser entendido como participar do discurso científico. Assim, se apren-
der é mudar a forma de participação numa prática discursiva, para aprender o
indivíduo precisa, primeiramente, estar participando dessa prática. Nesse sentido,
o fazer ciência pode assumir diferentes formas, desde novas maneiras de usar con-
ceitos e de combiná-los em teorias, incluindo novas habilidades em procedimentos
e técnicas, até o uso de teorias, técnicas e procedimentos como ferramentas para a
investigação científica.
Sendo assim, é recomendável que as aulas de Biologia prezem o ensino por
investigação, a fim de favorecer o processo de Alfabetização Científica, fornecendo
subsídios que auxiliem os alunos a compreender e discutir os significados construídos
pela ciência, bem como os modos dessa produção.
Na construção de significados que emergem nas relações que se estabelecem
por meio da linguagem no contexto da sala de aula, distintas práticas discursivas
devem ser valorizadas. Dentre elas, a argumentação, adquire destaque, já que é por
meio de um processo argumentativo que as conclusões oriundas de uma investigação
são legitimadas, bem como distintos pontos de vista são contrapostos e avaliados.
Isso certamente auxilia a aprendizagem dos alunos acerca da Natureza da Ciência,
bem como na tomada de decisão diante de questões sociocientíficas (QSC) (ROCHA;
SILVA, 2019). Portanto, a promoção de atividades que fomentem o desenvolvimento
da habilidade argumentativa no ensino de Biologia tem o potencial de favorecer a
compreensão de aspectos da cultura científica e suas relações com questões tecno-
lógicas e sociais.
Segundo Driver, Newton e Osborne (2000), nas aulas de Ciências pouco se tem
promovido a argumentação e, por conta disso, há um favorecimento da falsa im-
pressão que a ciência é feita por meio de fatos não problematizados, de forma que
existam apenas respostas corretas, sem controvérsias às questões científicas. Esse
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
Se D então, Q, C
Considerando B
Metodologia
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
Figura 2: Fases e subfases do ensino por investigação (Adaptado de Pedaste et al., 2015, p. 56)
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Os dados foram coletados por meio de gravações em áudio e vídeo das aulas
e questionários aplicados ao longo da SEI. Os registros em áudio e vídeo foram
armazenados em um computador e, posteriormente, transcritos. Após a transcri-
ção, as aulas foram fragmentadas em episódios que passaram por um processo de
seleção, visto que nem toda a fala produzida durantes os encontros traziam dados
relevantes para a pesquisa.
Neste trabalho, são analisados os argumentos produzidos pelos alunos no
Encontro 4, o qual tratou da questão central da SEI. Para a identificação e carac-
terização dos argumentos produzidos, foram considerados os elementos do modelo
de Toulmin (2006).
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
Resultados e discussões
No encontro 4, foram exibidos dois vídeos para que os alunos, ao final, expuses-
sem seus argumentos sobre vacinação. O vídeo 1, intitulado Pais que decidiram não
vacinar seus filhos1, ressalta como pais no mundo inteiro estão utilizando outras
práticas como método de prevenção de doenças. Nesse vídeo, são apresentadas,
ainda, posições de especialistas que defendem a vacinação e questionam os grupos
que se opõem a esse método de imunização. No vídeo 2, intitulado Governo e médicos
garantem que a vacina do HPV é segura2, é apresentado o drama de adolescentes
que receberam a vacina do HPV e que, por algum motivo, tiveram reações adversas
como paralisia cerebral e imobilidade, sendo que estas reações, passageiras, foram
definidas pelos médicos como reações psicológicas.
O objetivo dessa atividade foi estimular o senso crítico dos alunos em torno da
problemática do tema vacina, devido à resistência que vem crescendo na sociedade
para a adesão a este método de imunização, embora esteja registrada e divulgada
a sua importância ao longo dos séculos para a erradicação e prevenção de diversas
doenças.
Optou-se pelo uso de vídeos disponibilizados na internet por se considerar que
a utilização de recursos audiovisuais caracteriza práticas comunicativas e intera-
tivas da sociedade contemporânea, em que as ideias divulgadas por meio de tais
recursos podem promover a formação de opiniões e comportamentos (PADILHA;
SUTIL; MIQUELIN, 2013). Entendemos como importante que as aulas de ciências
favoreçam o posicionamento dos alunos diante das informações disponibilizadas
por tais meios de comunicação.
Após a visualização do vídeo 1, os alunos foram solicitados a expor suas opiniões
acerca dos seguintes questionamentos:1) Qual a opinião de vocês sobre essa práti-
ca de não vacinar os filhos? 2) Vocês acreditam que não vacinar pode gerar danos
sociais? 3) Por que ainda existe resistência quanto ao uso da vacina? No quadro 2
estão transcritos alguns excertos da discussão que ocorreu após a exibição deste
vídeo. Em tal quadro, o turno corresponde à fala de cada participante, a docente está
indicada por Prof. e os alunos estão indicados pela letra A seguida de um número.
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
Após a apresentação do dado, o aluno A12 (turno 9) concluiu que o uso da vacina
não deve ser opcional. Ele expressou que a recusa à vacinação ocorre devido ao con-
servadorismo das ideias de uma parcela da população. Tal concepção funciona como
garantia de inferência, uma vez que estabelece a relação entre o dado e a conclusão.
O aluno não explica o sentido atribuído ao termo conservadorismo mas, con-
siderando-se o que foi discutido em aulas anteriores e ainda, que ele relaciona tal
termo a aspectos culturais e religiosos, pode-se inferir que se refere ao fato de que
várias pessoas, seguindo uma tradição, ainda optam pela imunização natural, ou
seja, entendem que certas doenças não precisam ser evitadas, mas adquiridas para
que ocorra uma imunização que evita a reincidência da doença no indivíduo, sem
o uso de vacinas. O aspecto religioso relaciona-se a esse entendimento, já que a
interferência humana nesse processo pode ser vista como oposição à divina.
O argumento de A14 (turno 13), por sua vez, apresenta como elementos estrutu-
rais dado e conclusão, como identificado na Figura 4 a seguir. Os dados expressam
como a falta de conhecimento aliado à influência da divulgação de ideias em canais
de informação, a exemplo das mídias online, favorecem a divergência na tomada
de decisão quanto ao uso de vacinas. Assim, o aluno concluiu que esses fatores são
propulsores para que os pais não vacinem seus filhos.
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Gleice Prado Lima, Adjane da Costa Tourinho e Silva, Divanizia do Nascimento Souza
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
a professora questionou sobre até que ponto a reação às vacinas pode ser de ordem
psicológica e não física. A partir do que está transcrito no Quadro 4, tem-se que os
alunos defendem seus pontos de vista no debate utilizando dados obtidos dos meios
de comunicação e de experiências próprias.
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
Considerações finais
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
Abstract
The vaccine is a milestone in the history of mankind, as its effectiveness has ensured that
several diseases were eradicated. However, it is noticeable that the number of people see-
king immunization has been declining, causing diseases, such as measles, to resurface. In
order to engage students in practices that favor the process of scientific literacy, this work
sought to analyze the construction of arguments elaborated by students of the 1st year of
High School in Biology classes, through an investigative teaching sequence based on the
vaccine theme , since themes involving the scientific and social approach show students
how science and society integration occurs. Analyzing the students’ oral speeches, the
emergence of rich debates on the theme is evident. However, the written texts of some
students suggest controversial arguments, in which rebuttals are completely opposed to
conclusions. There were also arguments similar to those disclosed in information channels,
in which vaccination is presented as an individual decision.
Notas
Reportagem do programa Domingo Espetacular (revista eletrônica da Rede Record), exibido originalmente
1
Agradecimento
Referências
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Controvérsias sobre Vacinas: o que pensam os estudantes?
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Resumo
Há algumas décadas a sociedade passa por profunda transformação cultural pautada na infor-
mática. O uso intenso de tecnologia está presente em produtos, bens e serviços, sejam eles
para a mobilidade urbana, produção de alimentos, controle sanitário, produção de medicamen-
tos, ou uso pessoal como os computadores e os celulares, cada vez mais presentes na vida
dos jovens. Essa mudança cultural oferece oportunidades para o aprendizado da Matemática
no âmbito escolar. O jogo, e, portanto, o brincar, é um importante recurso para potencializar
o aprendizado dos estudantes no Ensino Fundamental. O presente trabalho investigou a ela-
boração de versões online e física do Jogo da Memória e seu uso como recurso pedagógico
para auxiliar a aprendizagem de conceitos de matemática utilizando a troca simbólica entre
algarismos indo-arábicos e egípcios. A pesquisa foi realizada com estudantes de duas Escolas
Estaduais de Campo Grande-MS. Os resultados apontam que a complexidade gradativa dos
caracteres e a exigência de realização de operações matemáticas podem alterar a tipologia
da resposta dos estudantes, por outro lado, diferentes atividades, independente do uso ou não
da informática, potencializam a aprendizagem dos conceitos matemáticos e a assimilação das
trocas simbólicas.
*
Escola Estadual Maestro Frederico Liebermann. Doutorando em Educação atemática, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUCSP), Brasil. E-mail: [email protected]
**
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Programa de Mestrado Profissional em Educação
Científica e Matemática (PROFECM). Centro de Estudos em Recursos Naturais (CERNA). Brasil. E-mail:
[email protected]
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O jogo da memória como recurso pedagógico
Introdução
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O jogo da memória como recurso pedagógico
O jogo como recurso pedagógico para o ensino da matemática, pelo exposto acima,
encontra ressonância nas pesquisas acadêmicas. Mas o que dizer de seu uso entre
os professores que atuam diretamente na Educação Básica?
Tenório, Rodrigues e Tenório (2015) realizaram investigação com 62 professores
de matemática do estado do Rio de Janeiro, com foco nas relações entre o uso de jogos
em simulações computacionais. Os autores apontam que os jogos mecânicos são mais
comumente empregados no ensino de matemática do que os digitais. Várias são as
razões indicadas pelos professores entrevistados para o não uso dos jogos digitais,
entre elas “Frequentar o laboratório de informática para empregar tecnologias de
software era incomum” (TENÓRIO, RODRIGUES e TENÓRIO, 2015, p.108). Nesse
mesmo estudo 55% acusam que nunca utilizaram o laboratório de informática e
outros 31% relatam que o espaço nem existe em suas escolas.
No presente trabalho de investigação avaliou-se o uso do Jogo da Memória
(elaboração própria), versões física e virtual, para estudantes do Ensino Funda-
mental, e suas correlações com possíveis ganhos na aprendizagem de Matemática
e/ou desdobramentos socioemocionais decorrentes da organização das atividades.
As atividades elaboradas foram concebidas a partir do pressuposto de que o
cotidiano da sala de aula de Matemática, mais do que recursos tecnológicos e/ou
pedagógicos, necessitam do engajamento do docente na compreensão e aprofunda-
mento acerca do uso desses recursos virtuais ou físicos para os processos inerentes
à apreensão do mundo, à aprendizagem.
Dessa maneira, o ensino, na perspectiva defendida no presente trabalho, se confi-
gura como um movimento essencialmente do protagonismo docente, cujo foco está na
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Metodologia
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Análise de Conteúdos
Os dados coletados foram organizados e analisados segundo o método conhecido
como Análise de Conteúdo (AC). A abordagem utilizada foi da pesquisadora francesa
Laurence Bardin que descreve o alcance de aplicabilidade de seu trabalho como:
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Diante do exposto, a escolha do método foi devido a natureza dos dados obtidos
se configurarem, em sua maior parte, em registros tácitos e frequentes de palavras e
símbolos, que à luz do tratamento proposto por Bardin podem ser categorizados de ma-
neira que as “mensagens” (ou os significados) permitam que os registros dos estudantes
(os dados) “falem” e, inferências possam ser realizadas a respeito dessas mensagens.
Considerando as características dos dados coletados e o conjunto de técnicas
da AC, optou-se pelo uso da técnica de análise categorial, que “cronologicamente é
a mais antiga; na prática é a mais utilizada. Funciona por operações de desmem-
bramento do texto em unidades, em categorias segundo agrupamentos analógicos”.
(BARDIN, 2016, p.201)
Uma vez definida a técnica a ser utilizada, de maneira geral, a aplicação é esta-
belecida, de acordo com Bardin (2011, p.95), através de um processo que compreende
três fases: 1) pré-análise; 2) exploração do material; 3) tratamento dos resultados.
A pré-análise compreende a fase de organização dos dados. Esse momento
corresponde a um “período de intuições, mas, tem por objetivo tornar operacionais
e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do
desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise.”. De maneira
gradativa, esse contato inicial, de caráter mais livre, com o material coletado per-
mitiu aos investigadores delimitar o alcance tanto dos próprios dados, quanto dos
desdobramentos possíveis a partir deles. (BARDIN, 2011, p.95)
Como o trabalho foi realizado em dois diferentes períodos cronológicos, feverei-
ro e junho, os dados produzidos pelos estudantes no primeiro momento (fevereiro)
permitiu alcançar, dentro da fase de pré-análise, os dois principais objetivos que a
técnica defende:
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A segunda etapa de atividades foi elaborada para cumprir dois objetivos: (1)
Reforçar a vivência dos estudantes com os elementos do jogo da memória e, ao
mesmo tempo (2) avaliar a percepção dos estudantes sobre a primeira etapa (Jogo
da Memória Virtual e Físico). As atividades abrangem três diferentes formas (ins-
trumentos avaliativos) de obter dados sobre o olhar dos estudantes em seu contato
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Na tabela, que foi fixada na lousa, à frente de todos os estudantes, foram dis-
postos os registros que continham alguns valores numéricos indo-arábicos. Tam-
bém, foram elaborados cartões dos símbolos egípcios para um sorteio. A atividade
consistia em verificar se o estudante havia assimilado a correspondência entre
os caracteres indo-arábicos e os egípcios. Posteriormente, de forma individual, e,
mediante sorteio de um cartão, os estudantes iriam à frente participar, através da
colocação justaposta dos numerais equivalentes entre os dois sistemas estudados.
Os cartões foram organizados em conjuntos de quinze perguntas.
Resultados e Discussão
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Com relação ao conjunto de dados das unidades de registro com valores percen-
tuais é verificado que o comportamento do número mínimo de jogadas (e também
do número máximo de jogadas) entre as fases 1 e 2, em ambas as escolas, são seme-
lhantes. O número mínimo de jogadas sofre redução percentual na fase 2, enquanto,
de maneira inversa, o número máximo de jogadas na fase 2 se eleva. Destaca-se que
na fase 1, em ambas as escolas, a amplitude é maior em relação à fase 2.
É possível inferir acerca dos resultados acima que, de maneira geral, os estu-
dantes encontraram maiores dificuldades quando o jogo elevou o grau de exigência,
incluindo a resolução de operações matemáticas, que além da exigência de iden-
tificar e reconhecer a correspondência entre os símbolos indo-arábicos e egípcios,
também, exige o uso do raciocínio lógico e matemático para efetuar as operações,
isto é, há a ampliação do número de caracteres e exigência de realização efetiva
de cálculo nas cartas da segunda fase. Por outro lado, a redução na amplitude na
fase 2, especialmente na escola B, pode indicar ganho na familiaridade acerca dos
símbolos e/ou da mecânica do próprio jogo.
O Jogo da Memória Físico, diferente de sua versão Virtual, procurou explorar
o trabalho colaborativo entre os estudantes e não o monitoramento do número de
jogadas. Organizados em grupos e considerando que as regras do jogo seriam as
mesmas da versão Virtual, o foco passou a ser a imersão (vivência) na concepção do
jogo através da confecção das cartas, e, posteriormente, a capacidade dos estudan-
tes de, entre si, estabelecer a arbitragem do jogo a partir da experiência anterior.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta como competência especí-
fica para a aprendizagem de Matemática nas séries finais do Ensino Fundamental:
Interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente no pla-
nejamento e desenvolvimento de pesquisas para responder a questionamentos e na
busca de soluções para problemas, de modo a identificar aspectos consensuais ou não
na discussão de uma determinada questão, respeitando o modo de pensar dos colegas
e aprendendo com eles. (BRASIL, 2018, p.267)
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Pelo exposto acima, O Jogo da Memória Físico entregou como resultado o es-
tabelecimento de momentos que propiciaram aos estudantes o fortalecimento das
relações interpessoais necessárias para o trabalho em grupo, e em decorrência do
processo de manipulação direta com a construção das cartas, maior familiaridade
com o tema. Tornou-se notório que esse ambiente estimulou o debate, a reflexão e
contribuiu para os estudantes sedimentarem maior domínio sobre a troca simbólica
e as operações matemáticas envolvidas na atividade.
Os resultados das atividades que representam a etapa “Percepção do estudan-
te sobre os Recursos Pedagógicos e a Atividade de Matemática” são apresentados
na sequência. O primeiro deles, o questionário, é apresentado na tabela 02. Duas
unidades de registro, familiaridade com a informática e familiaridade com o jogo,
foram definidas para avaliar o conjunto de respostas.
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de salas de tecnologia com os dados da presente pesquisa, até porque a soma das
outras duas categorias, DIVERTIDO e LEGAL, na Escola B, somam expressivos 70%.
De maneira geral, é possível afirmar com segurança, e os dados oferecem tal
suporte, que os estudantes de ambas as escolas avaliaram o Jogo da Memória como
possuidor das qualidades básicas de uma atividade de caráter lúdico para a idade
deles e, que também, é uma ferramenta que possibilita ganhos para a aprendizagem.
O terceiro instrumento de avaliação da etapa sobre a percepção dos estudantes
sobre o jogo da memória e atividades de matemática foi o Painel Palavra e Símbolo.
Na atividade os estudantes realizaram a montagem de um painel e se apresenta-
ram à frente (na lousa) mediante sorteio para identificarem a equivalência entre
caracteres indo-arábicos e egípcios, bem como cálculos matemáticos.
A atividade exigiu do estudante, através da justaposição de pequenos recortes de
papel, a confecção de um painel, uma espécie de tabela, em que os símbolos a serem
explorados poderiam confirmar o planejamento da associação entre os caracteres
egípcios, os indo-arábicos, as quantidades e operações matemáticas propostas pelo
professor. A figura 09 ilustra um dos estudantes à frente no painel.
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estudantes que admitiram que não sabiam identificar a flor de lótus foram 17%. O
algarismo egípcio que tem como símbolo a “flor de lótus” representa o número 1.000
no sistema indo-arábico, esse algarismo egípcio nitidamente é mais bem elaborado
do que os outros dois das questões 01 e 02.
Seria a complexidade do símbolo a razão do acentuado percentual de erros?
Seguramente não. Os resultados obtidos com o Jogo da Memória indicam que o
processo de identificação dos símbolos é indiferente a seu registro (seu desenho)
em si, e, que em geral, quando os estudantes se apropriam da habilidade de iden-
tificarem e reconhecerem a correspondência quantitativa entre os símbolos, tam-
bém, passam a diferenciarem e perceberem, com maior clareza, que os símbolos
são meras representações, isto é, eles substituem ou tomam o lugar de algo, e que,
o representado está além do mundo simbólico, o objeto de conhecimento, o objeto
matemático, a quantidade.
É certo que as questões do Quiz apresentaram um percentual de erros supe-
rior aos do Jogo da Cruzadinha. Ao analisar suas diferenças mais evidentes, duas
merecem destaque.
Uma diferença marcante entre os jogos é a sequência exigida para a identificação
e correspondência simbólica. Na Cruzadinha os símbolos egípcios são apresentados e
os estudantes identificam sua forma indo-arábica; diferentemente, no Quiz, os sím-
bolos indo-arábicos são apresentados e os estudantes identificam sua forma egípcia.
Outra diferença é que enquanto no Quiz perguntas são apresentadas indivi-
dualmente, e a resposta, também, é registrada separadamente das demais. Na
Cruzadinha há o entrelaçamento entre perguntas, que estão no mesmo formulário.
As respostas devem ser registradas em uma estrutura de grade que graficamente
permite o estudante correlacionar perguntas e respostas, devido o número de dígitos
que podem ser inseridos na grade.
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Foi a partir da consideração desses blocos que se definiu a ideia de que o con-
junto das unidades de registro expressavam em uma só categoria o “interesse” do
estudante pela atividade, seja pelo seu caráter lúdico ou intuitivo e simples, ou
ainda porque proporciona prazer ao aprender.
Finalmente, é possível inferir, a partir da categoria Desempenho, que o jogo
da memória, nos limites que foram apresentados nessa proposta, contribuiu para
a aprendizagem de matemática ao reafirmar aos conhecimentos de matemática
dos estudantes do sexto ano do Ensino Fundamental a habilidade de identificar
algarismos egípcios e suas quantidades, bem como realizar a correspondência com
algarismos indo-arábicos e operações matemáticas básicas. Também, foi possível
inferir, a partir da categoria “Interesse”, que o jogo da memória apresentou cará-
ter lúdico e motivacional, permitindo aos estudantes tecer um novo olhar sobre as
possibilidades do jogo para aprender matemática.
Considerações finais
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Abstract
For some decades, society has been undergoing a profound cultural transformation based on in-
formation technology. The intense use of technology is present in products, goods and services,
whether for urban mobility, food production, sanitary control, medicine production, or personal
use such as computers and mobile phones, increasingly present in young people’s lives. This
cultural change offers opportunities for learning mathematics in the school environment. Gam-
bling, and therefore joke, is an important resource for enhancing student learning in elementary
school. The present work investigated the elaboration of online and physical versions of the
Memory Game and its use as a pedagogical resource to help the learning of mathematical con-
cepts using the symbolic exchange between Indo-Arabic and Egyptian numerals. The research
was conducted with students from two state schools in Campo Grande-MS. The results indica-
te that the gradual complexity of the characters and the requirement to perform mathematical
operations can change the typology of student response. On the other hand, different activities,
regardless of the use or not of computer science, enhance the learning of mathematical concepts
and assimilation. of symbolic exchanges.
Keywords: Memory Game. Computer Science at School. Mathematics Learning. Egyptian Nu-
merals.
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O jogo da memória como recurso pedagógico
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Resumo
O Ensino de Química é comumente estruturado em torno de atividades que levam à memori-
zação de informações e repetição mecânica de conceitos, o que pode culminar na limitação do
aprendizado dos alunos. Dentro deste contexto, é necessário procurar executar novas propos-
tas e estratégias de ensino e aprendizagem, assim como materiais e instrumentos potencial-
mente significativos, a fim de viabilizar a amplificação da qualidade do ensino. Nesta perspec-
tiva, Mapas Conceituais apresentam-se como instrumentos flexíveis e dinâmicos, que podem
ser utilizados em sala de aula ou laboratório. Deste modo, o objetivo principal deste trabalho foi
a utilização de Mapas Conceituais com intuito de contribuir para uma aprendizagem mais signi-
ficativa dos alunos da parte experimental da disciplina de “Tecnologias Regionais II” do Curso
Técnico em Química do Instituto Federal Fluminense (IFFluminense) campus Campos Centro.
Os mapas foram elaborados a partir do software CmapTools, e posteriormente anexados ao
material didático de duas turmas do módulo IV do Curso Técnico em Química, os quais foram
utilizados durante o segundo semestre letivo de 2018. Em busca de evidências da eficácia da
utilização dos Mapas Conceituais para contribuir para uma aprendizagem mais significativa, foi
introduzido um Questionário de Opinião contendo perguntas mistas a fim de detectar a percep-
ção dos discentes acerca do instrumento de ensino utilizado. Mapas Conceituais também foram
utilizados como instrumentos de avaliação, os quais foram elaborados pelos estudantes em três
momentos distintos, sendo estes, ao início do semestre e ao final do primeiro e segundo bimes-
tres. Esses mapas tinham intuito de procurar indícios que apontassem para uma aprendizagem
*
Licenciada em Ciências e Química pelo Instituto Federal Fluminense – IFFluminense campus Campos Centro.
Brasil. E-mail: [email protected].
**
Doutor em Ciências Naturais – UENF. Professor do curso de Licenciatura em Ciências e Química do Instituto
Federal Fluminense – IFFluminense campus Campos Centro. R. Dr. Siqueira, 273 - Parque Dom Bosco,
Campos dos Goytacazes - RJ, 28030-130. Brasil. E-mail: [email protected].
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O Uso de Mapas Conceituais como Instrumento de Ensino e Avaliação da Aprendizagem Significativa dos Conceitos...
mais significativa, assim como, averiguar a evolução conceitual dos discentes. Por meio da aná-
lise dos questionários e dos Mapas Conceituais elaborados pelos educandos, observou-se, de
modo geral, uma evolução conceitual progressiva e sinais apontando para uma aprendizagem
mais significativa, além de indicar que materiais potencialmente significativos podem contribuir
para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem.
Introdução
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Metodologia
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O Uso de Mapas Conceituais como Instrumento de Ensino e Avaliação da Aprendizagem Significativa dos Conceitos...
queles que são submetidos aos fenômenos analisados (POLIT et al., 2004; SILVEIRA
e CÓRDOVA, 2009).
O presente projeto foi desenvolvido ao longo do segundo semestre letivo de 2018
e direcionado a duas turmas do Curso Técnico em Química do Instituto Federal Flu-
minense (IFFluminense) campus Campos Centro, localizado na Cidade de Campos
dos Goytacazes-RJ. Foram envolvidos 29 alunos no projeto, os quais estavam devi-
damente matriculados na parte experimental da disciplina “Tecnologias Regionais
II” (três tempos de 50 minutos por semana) do quarto módulo do referido curso.
Essa componente curricular é direcionada ao ensino de conteúdos relacionados à
perfuração, produção e análise de petróleo, sendo esses de extrema importância
para a economia da Região Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.
Etapas da Pesquisa
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Quadro 1: Experimentos presentes na disciplina de “Tecnologias Regionais II” que deram origem
aos Mapas Conceituais Elaborados nesta Pesquisa.
n Experimentos e Mapas Conceituais Elaborados nesta Pesquisa
1 Densidade do etanol pelo densímetro de bulbo e densidade do petróleo pelo densímetro digital.
2 Viscosidade do óleo cru pelo viscosímetro digital DV-1.
3 Estimativa do teor de asfaltenos em diferentes amostras de petróleo.
Avaliação de desempenho de desemulsificantes comerciais na separação da água produzida
4
do petróleo.
5 Água e sedimentos em petróleo (BSW) por centrifugação.
6 Determinação da salinidade em petróleo bruto.
7 Determinação do ponto de fulgor do petróleo e de outros combustíveis.
Teor de óleos e graxas (TOG) por espectrofotometria de absorção molecular e pelo método de
8
evaporação rotativa.
9 Teor de oxigênio dissolvido na água pelo kit chemets e medidor de oxigênio dissolvido POL-60.
10 Adensamento e redução da densidade de fluídos de perfuração de poços petrolíferos.
Caracterização reológica de fluidos e influência de viscosificantes sobre os parâmetros reológi-
11
cos e gelificantes.
12 Determinação da viscosidade Marsh de um fluido de perfuração.
13 Determinação do teor de areia de um fluido de perfuração.
Determinação dos parâmetros de filtração utilizando baixas temperatura e pressão (BTBP) e
14
determinação da salinidade de um fluido de perfuração à base de água.
Determinação do teor de água, óleo e sólidos por meio da destilação do fluido de perfuração
15
(retorta do fluido).
16 Estudos sobre a formulação de um fluido de perfuração à base água.
17 Avaliação da densidade e viscosidade de um fluido de perfuração à base água.
*n = Número dos Experimentos presentes na disciplina de “Tecnologias Regionais II” do curso Técnico em Química do IFFluminense.
Fonte: Elaboração própria
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ceitos deveriam ser ordenados hierarquicamente, ou seja, dos conceitos mais gerais
para os mais específicos.
A coleta de dados se deu por meio de duas formas. A primeira delas consistiu
na obtenção dos Mapas Conceituais elaborados pelos discentes nos três momentos.
Esses se configuraram como possíveis ferramentas de avaliação da aprendizagem
dos conceitos obtidos no decorrer da disciplina, a qual foi ministrada utilizando as
duas ferramentas selecionadas (Mapas Conceituais e Experimentos Descritivos).
Dentre os 29 alunos que realizaram os Mapas Conceituais, 14 construíram os
três mapas solicitados, 10 fizeram somente dois e 5 alunos construíram apenas
um. Neste sentido, optou-se por apresentar os dados obtidos pela análise dos Ma-
pas Conceituais dos alunos que elaboraram dois, ou os três mapas requisitados.
Esse fato foi realizado para que se pudesse analisar a evolução conceitual de um
educando por meio dos mapas elaborados. Dentre os 24 alunos que tiveram seus
mapas selecionados, um não apresentou características de Mapa Conceitual, pois foi
elaborado em forma de texto corrido e tópicos. Esse mapa possuía algumas poucas
setas relacionando os textos entre si, com ausência total de palavras de ligação. O
aluno em questão construiu todos os mapas com a mesma estrutura, mesmo estando
presente na aula em que foram elucidados os processos de construção dos Mapas
Conceituais. Desta forma, apenas 23 alunos tiveram os dados dos seus Mapas Con-
ceituais pontuados, os quais foram classificados de A a W.
Depois de selecionados os Mapas Conceituais foram analisados adotando-se os
critérios de Novak e Gowin (1996). Esse método de avaliação está de acordo com as
características principais apontadas por Moreira (2012), consistindo na avaliação
dos seguintes critérios: proposições, hierarquia, ligações cruzadas (ou transversais)
e exemplos. De acordo com as características de cada critério classificatório foram
concedidas pontuações a cada um dos mapas elaborados pelos discentes de acordo
com os valores reportados na literatura (NOVAK e GOWIN, 1996 apud MARTINS
et al., 2009, p. 5). É relevante ressaltar que, ao longo da avaliação dos critérios
classificatórios, foram contabilizadas como meio certo (0,5 ponto) as ligações entre
conceitos que não apresentaram palavras de ligação. Desta maneira, quando dois
conceitos ligados entre si apresentavam veracidade e coerência em sua relação,
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mas estavam desprovidos de palavras de enlace, atribuiu-se 0,5 ponto, o qual foi
posteriormente multiplicado à pontuação referente ao critério classificatório cor-
respondente (Tabela 1).
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Quadro 2: Questionário de Opinião aplicado aos discentes ao final da aplicação deste projeto.
Prezado(a) aluno(a), gostaríamos muito de contar com sua participação neste trabalho.
Por meio da realização deste questionário poderemos analisar a importância da utilização de Mapas
Conceituais no processo de ensino e aprendizagem.
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Resultados e discussão
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Ao final do semestre letivo, ou seja, após serem utilizados todos os Mapas Con-
ceituais elaborados, os alunos foram questionados, por meio de um questionário
contendo perguntas abertas e fechadas, sobre a intervenção realizada. As questões
iniciais desse mecanismo de avaliação eram direcionadas a primeira etapa desta
pesquisa, sendo possível compreender a opinião dos discentes no que se refere a
contribuição dos mapas elaborados.
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Quadro 3: Justificativas apresentadas por alguns discentes para a questão número 2 do Questionário
de Opinião.
(continua...)
Aluno Justificativa
“O mapa ajuda a focar em conhecimentos mais importantes de forma dinâmica, o que melhora o
A
aprendizado.”
B ---
C “O mapa conceitual ajuda no raciocínio e principalmente na organização para os estudos.”
“Acredito que contribuiu para um melhor entendimento porque faz uso de ‘palavras-chaves’, nos
D
ajudando a lembrar dos pontos importantes.”
E “Auxílio para as provas.”
F “Facilita no entendimento e auxilia no estudo para um melhor desempenho.”
“Sim, porque da para fazer um “resumão” da matéria toda, assim fica melhor para relacionar o
G
conteúdo.”
H “Sim, pois ajuda a entender a matéria e não fica tudo embolado.”
I “Os mapas conceituais facilitam na compreensão do conteúdo.”
J “È uma forma de estudar e revisar a matéria de maneira prática, ajuda a fixar conceitos.”
K “O Mapa Conceitual permite realizar um rápido estudo, de forma bem resumida.”
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(conclusão)
“Ele destaca os pontos importantes, resume a matéria ajudando a organizar as informações dando
L
uma melhor compreensão.”
M “Acredito que existam explicações mais elaboradas e, particularmente, mais eficientes.”
N “Sim, porque é um jeito mais fácil de resumir o conteúdo, fixa melhor.”
O “Ajudou para um melhor entendimento, facilitando o estudo.”
Q ---
R “Sim, porque com os mapas conceituais auxilia na hora de estudar e entender a matéria.”
T “Fica mais fácil de acompanhar o raciocínio, de visualizar conceitos e de entender a prática.”
U ---
“Os Mapas Conceituais ajudam a estabelecer uma linha lógica de estudo, principalmente quando
V feito pela mesma pessoa que estuda o conteúdo, pois os Mapas Conceituais também são uma
boa forma de revisão.”
W “Ajuda a assimilar o conteúdo e ajuda a memorizar as sequências ou etapas.”
Nota: Os alunos S e P não realizam o Questionário de Opinião, pois evadiram no 2º bimestre do curso.
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mesma pessoa que estuda o conteúdo” indica que a confecção dessa ferramenta edu-
cacional também pode auxiliar o processo de ensino e aprendizagem (MOREIRA et
al., 2008; DANTAS, et al., 2017; MARTINS, 2009a; MARTINS et al., 2009b).
Mapas Conceituais podem ser úteis como ferramenta para avaliação do apren-
dizado, pois possibilitam que o docente aponte ponderações relacionadas a estru-
tura proposicional apresentada pelo discente (NOVAK e GOWIN, 1996; PIVATTO,
2013). Esta ferramenta de ensino apresenta grande potencial para a promoção e
verificação da diferenciação progressiva e da reconciliação integrativa de conceitos,
dado que, as conexões horizontais nos mapas simbolizam o estabelecimento de re-
lações transversais entre os conceitos, característica da reconciliação integrativa.
Já a hierarquização é característica da diferenciação progressiva, a qual se observa
no mapa quando se “desce” dos conceitos e proposições mais gerais para os mais
específicos (MOREIRA, 2012; 2013).
Portanto, os Mapas Conceituais podem ser instrumentos que possibilitam que
os professores detectem evidências que apontem para uma aprendizagem mais
significativa. Deste modo, a análise da presença de ligações transversais e níveis
hierárquicos no Mapa Conceitual elaborado pelo aluno refletem a realização de
reconciliação integrativa e diferenciação progressiva, processos esses que fazem
parte da dinâmica da estrutura cognitiva e ocorrem no curso da aprendizagem
significativa (MOREIRA, 2012; 2013). Somado a esse fato, as palavras de ligação,
escritas sobre as linhas que conectam proposições válidas, também podem apontar
evidências desse tipo de aprendizagem, pois essas são importantes para explicitar
a natureza da relação que o discente deseja apontar, demonstrando que a referida
relação está nítida na sua estrutura cognitiva (MOREIRA e ROSA, 1986; MOREIRA,
2012). De maneira oposta, a ausência de palavras de enlace entre dois conceitos pode
indicar que a conexão entres as proposições não está totalmente clara na estrutura
de conhecimento de quem confeccionou o mapa. Em outros casos, essa ausência
pode apontar que o elaborador encontrou dificuldades em expressar relações entre
as proposições, ou ainda, simplesmente as esqueceu.
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Tabela 2: Pontuação obtida após análise dos Mapas Conceituais construídos pelos alunos de A a L.
(continua...)
Aluno A B C
Critérios1 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3
Proposições válidas e significativas 10 24 25 5 4,5 9,5 2 6,5 8,5
Hierarquia: cada nível válido 20 30 30 10 7,5 30 5 5 20
Ligações transversais válidas e
0 20 0 0 0 0 0 0 0
significativas
Ligações transversais válidas 0 2 0 0 0 0 0 0 0
Ligações transversais criativas 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Exemplos válidos 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Total 30 76 55 15 12 39,5 7 11,5 28,5
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(conclusão)
Aluno D E F
Critérios1 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3
Proposições válidas e significativas 5,5 16 16,5 8 14 24 21,5 33 29
Hierarquia: cada nível válido 15 15 22,5 15 15 22,5 17,5 25 30
Ligações transversais válidas e
0 0 0 0 10 10 0 0 0
significativas
Ligações transversais válidas 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Ligações transversais criativas 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Exemplos válidos 0 0 0 3 3 3 7 8 0
Total 20,5 31 39 26 42 59,5 46 66 59
Aluno G H I
Critérios1 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3
Proposições válidas e significativas 6 11,5 14,5 7 21 25 6,5 21,5 18
Hierarquia: cada nível válido 10 10 15 10 20 25 10 17,5 22,5
Ligações transversais válidas e
0 0 0 0 10 0 0 10 0
significativas
Ligações transversais válidas 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Ligações transversais criativas 0 0 0 0 1 0 0 0 0
Exemplos válidos 0 0 0 0 0 2 0 2 1
Total 16 21,5 29,5 17 52 52 16,5 51 41,5
Aluno J K L
Critérios1 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3
Proposições válidas e significativas 6 17 26 6 32,5 30 6,5 22 34
Hierarquia: cada nível válido 7,5 17,5 20 20 30 20 7,5 12,5 30
Ligações transversais válidas e
0 0 0 0 50 0 0 30 20
significativas
Ligações transversais válidas 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Ligações transversais criativas 0 0 0 0 1 0 0 1 1
Exemplos válidos 3 5 4 0 0 2 1 0 3
Total 16,5 39,5 50 26 113,5 52 15 65,5 88
1
Critérios Classificatórios dos Mapas Conceituais utilizados por MARTINS et al. 2009. 2 1º bimestre. 3 2º bimestre.
Fonte: Elaboração própria.
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Tabela 3: Pontuação obtida após análise dos Mapas Conceituais construídos pelos alunos de M a W.
Aluno M N O
Critérios1 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2 2° B3 Inicial 1° B2
Proposições válidas e significativas 13 25 31 10 16 28 6 10,5
Hierarquia: cada nível válido 10 17,5 45 15 22,5 30 10 17,5
Ligações transversais válidas e significativas 0 5 40 0 5 0 0 10
Ligações transversais válidas 0 0 0 0 0 0 0 0
Ligações transversais criativas 0 0,5 3 0 0 0 0 1
Exemplos válidos 20 0 0 1 2 0 2 6
Total 43 48 119 26 45,5 58 18 45
Aluno P Q R S
Critérios1 Inicial 1° B2 Inicial 1° B2 Inicial 2° B3 Inicial 1°B2
Proposições válidas e significativas 11,5 15,5 4 10 6,5 19 8 12,5
Hierarquia: cada nível válido 22,5 17,5 5 12,5 12,5 15 12,5 10
Ligações transversais válidas e significativas 5 0 0 0,5 0 0 0 0
Ligações transversais válidas 0 0 0 0 0 0 0 0
Ligações transversais criativas 0,5 0 0 0 0 0 0 0
Exemplos válidos 0 0 2 1 0 0 3 0
Total 39,5 33 11 24 19 34 23,5 22,5
Aluno T U V W
Critérios 1
Inicial 1° B Inicial 2°B
2 3
Inicial 1°B 2
Inicial 2°B3
Proposições válidas e significativas 5,5 21 9 11 8 12,5 5,5 9,5
Hierarquia: cada nível válido 10 30 15 12,5 10 20 7,5 10
Ligações transversais válidas e significativas 0 10 20 0 0 0 0 0
Ligações transversais válidas 0 0 0 0 0 0 0 0
Ligações transversais criativas 0 1 0 0 0 1 0 0
Exemplos válidos 0 0 0 0 1 0 0 2
Total 15,5 62 44 23,5 19 33,5 13 21,5
1
Critérios Classificatórios dos Mapas Conceituais utilizados por MARTINS et al. 2009. 2 1º bimestre. 3 2º bimestre.
Fonte: Elaboração própria.
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centes que produziram somente dois Mapas Conceituais foi observado que 6 (O, Q,
R, T, V e W) dentre os 9 apresentaram aumento na pontuação do primeiro para o
segundo mapa. Esses dados indicam uma reorganização construtiva na estrutura
cognitiva desses discentes, o que permite sugerir, junto com uma análise estrutural
qualitativa, uma contribuição para a aprendizagem significativa do discente. Esse
resultado pode estar associado ao formato da disciplina que utilizou dois diferentes
recursos, a saber a experimentação descritiva e os Mapas Conceituais para poten-
cializar o processo de ensino e aprendizagem. Além disso, por meio deste trabalho é
percebido que a introdução de novas estratégias educacionais motiva os discentes,
facilitando ainda mais a aprendizagem, permitindo o desenvolvimento de diferentes
competências e habilidades no educando (MARTINS et al., 2009a).
Os resultados obtidos pelos Mapas Conceituais nos três momentos foram cate-
gorizados em seis faixas distintas, assim como apresentado na metodologia desse
trabalho. Essas faixas serviram de orientação para conferir conceitos aos mapas
elaborados pelos discentes. A porcentagem de mapas em cada uma das faixas e
em cada momento é apresentada na Figura 3, sendo perceptível que ao final dos
bimestres os discentes confeccionaram Mapas Conceituais mais elaborados, com
destaque para o 2º bimestre, em que 53% dos Mapas Conceituais foram considera-
dos acima do esperado.
Figura 3: Faixas de pontuação obtidas pelos Mapas Conceituais dos discentes nos três momentos
de estudo dessa pesquisa (sendo, 1º B – 1º bimestre e 2º B – 2º bimestre).
60,0
52,2 53,0
50,0
40,0 35,0
(% )
30,0 26,0
23,5
20,0 20,0
20,0 17,6
15,0
13,0
10,0
10,0 5,9
4,4 4,4
0,0 0,0 0,0 0,0
0,0
0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 >50 0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 >50 0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 >50
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O Uso de Mapas Conceituais como Instrumento de Ensino e Avaliação da Aprendizagem Significativa dos Conceitos...
Apesar de alguns alunos que realizaram os três Mapas Conceituais não apre-
sentarem um aumento progressivo nas pontuações obtidas, eles elaboraram mapas
ricos em detalhes, principalmente ao fim de cada etapa. Dentre esses é possível
citar o aluno A, que apresentou um primeiro Mapa Conceitual com elevada riqueza
de conceitos e proposições válidas, além de um elevado nível hierárquico (Tabela
2). Os mapas elaborados ao final de cada um dos dois bimestres apresentaram
evolução nesses critérios quando comparados com o primeiro mapa. No entanto,
esses dois parâmetros permaneceram praticamente inalterados quando os mapas
finais foram analisados de forma comparativa. Esses dados indicam que o referido
aluno apresentou uma evolução conceitual mais pronunciada na primeira parte
da disciplina, ou não demonstrou toda sua potencialidade na confecção do último
Mapa Conceitual. Outro aspecto que merece ser evidenciado é a não observação de
nenhuma ligação transversal no último mapa elaborado pelo discente, contrapondo
as três observadas no Mapa Conceitual confeccionado ao final do primeiro bimestre
(Figura 4), acarretando assim, na diminuição da pontuação obtida pelo educando.
As ligações transversais válidas e significativas apresentadas no Mapa Con-
ceitual obtido ao final do primeiro bimestre pelo aluno A estão apresentadas em
vermelho na Figura 4, sendo uma delas criada entre a relação válida do processo
de sedimentação da matéria orgânica e a rocha reservatório. Já a segunda está
associada a interrelação entre a quantidade de asfaltenos e o preço do petróleo,
além de demonstrar a influência dessa classe de compostos químicos na densidade
desse fluido. A terceira ligação transversal encontra-se em azul na Figura 4, sendo
essa considerada apenas válida, visto que não foi considerado significativo para
um aluno do módulo IV de um Curso Técnico em Química, destacar que a água
interage com o sal. Neste caso, era requerido do discente que indicasse os motivos
que permitem essa interação. Ademais, o referido aluno utilizou palavras-chave em
todas as ligações entre conceitos na confecção dos três Mapas Conceituais.
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Figura 4: Mapa Conceitual do aluno A referente ao primeiro bimestre (Fonte: Elaboração própria).
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Figura 5: Mapa Conceitual do aluno D referente ao segundo bimestre (Fonte: Elaboração própria).
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Figura 6: Mapa Conceitual do aluno E referente ao primeiro bimestre (Fonte: Elaboração própria).
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Figura 7: Mapa Conceitual do aluno E referente ao segundo bimestre (Fonte: Elaboração própria).
Os dados obtidos pela análise dos Mapas Conceituais do aluno H também me-
recem destaque, visto que esses indicam a presença de uma evolução conceitual
significativa no que se refere às proposições e níveis hierárquicos do primeiro para
o segundo Mapa Conceitual. Todavia, observou-se uma evolução conceitual pequena
em relação a esses dois quesitos quando parte-se do segundo para o terceiro mapa.
O aprendiz apresentou uma ligação transversal no segundo mapa (Figura 8), a qual
foi considerada válida, significativa e criativa. A referida ligação não se repetiu no
último Mapa Conceitual (Figura 9), todavia, ambos os mapas apresentaram a mesma
pontuação total, visto que o nível hierárquico e o número de proposições válidas,
apresentados no terceiro mapa, foram superiores, o que suprimiu a pontuação
apresentada pela ligação transversal presente no segundo mapa.
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Figura 8: Mapa Conceitual do aluno H referente ao primeiro bimestre (Fonte: Elaboração própria).
Figura 9: Mapa Conceitual do aluno H referente ao segundo bimestre (Fonte: Elaboração própria).
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Figura 11: Mapa Conceitual do aluno K referente ao primeiro bimestre (Fonte: Elaboração própria).
Por fim, cabe destacar os Mapas Conceituais apresentados pelo aluno L. Dentre
todas as seis ligações transversais válidas e significativas, apresentadas por esse
aluno em seu segundo Mapa Conceitual, somente uma não foi apresentada pelos
demais discentes, as outras também foram relatadas pelos alunos A, K e H, as quais
foram discutidas anteriormente e são destacadas em vermelho na Figura 12. A úni-
ca que não foi apresentada por nenhum outro discente diz respeito à formação de
emulsões por meio do contato entre a água e o óleo, sendo esses fluidos produzidos
pela indústria petrolífera. Cabe ressaltar que o referido discente não apresentou
palavras de ligação entre as proposições presentes nas ligações transversais, o que
reduziu pela metade os valores acrescidos para esses tipos de ligações.
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Figura 12: Mapa Conceitual do aluno L referente ao primeiro bimestre (Fonte: Elaboração própria).
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Baseando-se nos Mapas Conceituais elaborados pelos discentes é possível
verificar que esse recurso se mostra bastante interessante como ferramenta de
avaliação, mesmo para cursos marcados por modelos tecnicistas de ensino, como
os cursos profissionalizantes de nível médio. Sendo assim, os dados coletados neste
trabalho estão de acordo com Struchiner e colaboradores (1999), que relatam que o
uso de Mapas Conceituais é uma forma muito eficiente de avaliar o conhecimento
estrutural do discente, os quais descrevem visualmente as correlações entre as
ideias do educando a respeito de um determinado conhecimento, representando
assim, sua estrutura cognitiva e as mudanças ocorridas nelas. Desta forma, a
análise dos Mapas Conceituais elaborados pelos discentes, mediante a observação
dos elementos constituintes da teoria da aprendizagem significativa de Ausubel,
possibilitou a detecção de conhecimentos apresentados pelos alunos em diversos
aspectos relevantes à sua formação científica e profissional.
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Prefiro não
opinar (9%)
Fácil (35%)
Muito Difícil
(17%)
Difícil (39%)
(Fonte: Elaboração própria).
Apesar de grande parte dos alunos terem destacado que conhecia os Mapas
Conceituais, durante a aplicação deste projeto foi perceptível a falta de familiari-
dade da maior parte dos discentes no processo de construção dessa ferramenta de
ensino. A falta de habilidade na confecção dos mapas possivelmente é devido a sua
pouca utilização como recurso educacional, o que está de acordo com Pivatto (2013).
O referido autor aponta que embora os Mapas Conceituais sejam instrumentos ade-
quados para utilização em sala de aula ou em laboratório, poucos professores fazem
uso desse instrumento, o que consequentemente resulta na falta de experiência
dos educandos no momento de expressar sua complexa rede de conhecimentos em
apenas um único mapa. Alguns alunos inclusive destacaram que tinham muitas
informações e conceitos para serem expressos em apenas uma única folha, o que
sugere um aumento substancial na estrutura cognitiva dos discentes a respeito dos
conteúdos ministrados pela disciplina. Portanto, a falta de contato habitual com os
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Quadro 4: Justificativas apresentadas por alguns discentes para a questão número 4 do Questionário
de Opinião.
Aluno1 Justificativa
“Particularmente, eu gostei da experiência, pois ela é prática e dinâmica, além de objetiva,
A
fazendo o tempo ser melhor usado.”
B “Os mapas conceituais são muito bons e bem resumidos, ótima ferramenta para o estudo.”
Esse projeto me ajudou a organizar os pontos para serem estudados, assim, a linha de
C
raciocínio fica mais fácil.
Gostei. Na minha opinião são “resumos” bem rápidos que ajudam nos estudos. No entanto,
D confesso que tenho dificuldade em criar mapas, quando eu dou conta copiei quase tudo do
que era pra resumir.
“A iniciativa foi boa, porém, a falta de tempo decorrido de muitas provas fez com que não
E
tivesse total aproveitamento do conteúdo. Entretanto, gostei.”
“De acordo com os questionários que recebemos, facilita o entendimento e o estudo, porém
F para nós mesmos elaborarmos, deveríamos ter mais tempo para o desenvolvimento. Na
hora de fazer o mapa faltou informações. Mas é uma ferramenta bem estruturada.”
G “Eu gostei do trabalho feito, foi bem desenvolvido e prático.”
H “Gostei, pois ajudou muito na hora de estudar para a prova.”
Os mapas são bem produtíveis, eles ajudam muito nos estudos pois trazem uma linguagem
I
simples e de maneira resumida, de forma que facilita na hora de estudar para a prova.
J “Foi interessante a experiência pois é uma ferramenta de estudo útil e que ajuda muito.”
Os mapas conceituais ajudaram a relacionar conceitos importantes da disciplina. Eles ajuda-
K
ram na obtenção de conhecimentos.
L “Gostei, facilita nos estudos e ajuda a entender o conteúdo.”
M --- 2
“A ideia foi boa, ajuda, não tenho nada contra, mas por eu ter focado mais em entender,
N
estudar a matéria, acabei dando pouca prioridade ao mapa.”
“Bom, os mapas conceituais só obtiveram pontos positivos. Foi de extrema ajuda nos estu-
O
dos, me permitiu entender melhor e também esclarecer algumas dúvidas.”
Q ---2
R “Sim gostei, pela facilidade no entendimento do tópico estudado.”
Inicialmente parecia algo que não faria diferença, mas com uma melhor visualização do
T mapa em conjunto com a aula, tornou-se uma ferramenta bastante útil para acompanhar e
entender todo o conteúdo.
U “Acho que o mapa conceitual apenas ajuda a decorar conceitos, e não a entender.”
“Os mapas deste projeto se mostraram muito úteis na hora de revisar o conteúdo e até en-
V tender os procedimentos e objetivos da etapa experimental. Os Mapas Conceituais tendem
a ser mais efetivos no meu caso por causa dos fluxogramas de fácil assimilação.”
“Gostei, achei interessante e ótimo para se fazer a revisão dos conteúdos abordados em
W
sala de aula ao final das práticas.”
Notas: 1Os alunos S e P não realizam o Questionário de Opinião pois evadiram no 2º bimestre do curso. 2 Os alunos M e Q não
apresentaram a justificativa, apesar de terem respondido o Questionário de Opinião.
Fonte: Elaboração própria.
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Conclusões
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Abstract
Chemistry teaching is commonly structured around activities that lead to the memorization of
information and mechanical repetition of concepts, which may culminate in the limitation of stu-
dents’ learning. Within this context, it is necessary to seek to implement new teaching and lear-
ning proposals and strategies, as well as potentially significant materials and instruments, in
order to enable the amplification of teaching quality. From this perspective, Concept Maps are
presented as flexible and dynamic instruments that can be used in classroom or laboratory.
Thus, the main objective of this work was the use of Concept Maps in order to contribute to a
more meaningful learning of students of the experimental part of the “Regional Technologies II”
subject of the Technical Chemistry Course at the Instituto Federal Fluminense (IFFluminense)
campus Campos Centro. The maps were prepared using the CmapTools software, and later at-
tached to the didactic material of two classes of module IV of the Technical Course in Chemistry,
which were used during the second semester of 2018. In search of evidence of the effectiveness
of the use of Concept Maps to contribute to a more meaningful learning, an Opinion Questionnai-
re containing mixed questions was introduced in order to detect the students’ perception about
the teaching instrument used. Concept Maps were also used as assessment tools, which were
prepared by the students at three different times, these being, at the beginning of the semester
and at the end of the first and second bimesters. These maps were intended to look for clues that
would point to more meaningful learning and to ascertain the conceptual evolution of students.
Through the analysis of the questionnaires and the Concept Maps prepared by the students,
it was observed, in general, a progressive conceptual evolution and signs pointing to a more
meaningful learning, indicating that potentially significant materials can contribute to assist in the
teaching and learning process.
Referências
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Os registros gráficos no contexto do Ensino de Ciências por Investigação: em foco o Programa de Residência...
Resumo
No contexto do Programa de Residência Pedagógica foram organizadas ações que possibili-
taram a discussão do Ensino de Ciências por Investigação (ENCI) nos anos iniciais do Ensino
Fundamental como uma ferramenta para a construção de habilidades científicas. Com essa
perspectiva, este trabalho objetiva investigar se o aluno, ao se engajar em atividades de cunho
investigativo, pode aprimorar o processo de produção de textos escritos. O percurso metodo-
lógico foi estruturado incluindo uma revisão bibliográfica e uma pesquisa qualitativa, com um
caráter de estudo de caso. Os dados foram categorizados de acordo com a técnica de Análise
de Conteúdo, a qual evidenciou a necessidade de ampliação de estudos teóricos e práticos que
fomentam discussões acerca do ENCI no âmbito da leitura e da escrita. Os registros, provenien-
tes de ações investigativas, podem favorecer a inserção da criança em processos associados
ao fazer científico, como a necessidade de escrever e comunicar seus achados, compreendida
como uma atividade inerente ao trabalho investigativo.
*
Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP de Marília. Pós-graduada em
Psicopedagogia e Neurociências pela Universidade Paulista – UNIP. Coordenadora Pedagógica na Escola
Waldorf Cora Coralina de Marília. E-mail: [email protected]
**
Doutora em Educação pela Faculdade de Educação – USP. Docente do Curso de Pedagogia vinculada ao
Departamento de Didática da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília. E-mail: tatiana.moraes@
unesp.br
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Introdução
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Pressupostos teóricos
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Para que essa proposta seja inserida de forma plena no cenário escolar, as
atividades investigativas devem, portanto, ser desenvolvidas com questões proble-
matizadoras, mas que estas tragam aspectos da vida dos alunos, ou seja, problemas
reais e desafiadores que podem ser vivenciados e refletidos no contexto escolar, com
a orientação do professor. É necessário que os alunos se interessem pelo problema a
ser investigado, de forma a se sentirem motivados a resolvê-lo (ZANON; FREITAS,
2007; ZOMPERO; LABARU, 2011).
Com essa perspectiva, compreende-se como atividade investigativa, conforme
salientado por Carvalho (2013), aquela em que o trabalho do aluno não se restringe
apenas à manipulação de objetos e observação dos mesmos, mas que ao contrário,
apresenta características do fazer científico, ou seja, permite ao aluno refletir, dis-
cutir, explicar, testar suas ideias e suposições bem como relatar sobre a atividade
investigada. A autora aponta que alguns elementos constitutivos da SEI contribuem
para instigar os alunos a partir de uma situação problema, fazendo-os pensar e
propor soluções para a mesma, incluindo o uso de leituras de textos, atividades
experimentais, debates, atividades em grupo, produção de desenhos e textos, entre
outros. A problematização do conteúdo científico também contribui para a reflexão,
para o desenvolvimento do pensamento crítico, capaz de auxiliar na resolução de
problemas e para a construção de conhecimentos, de forma muito mais consistente.
Em síntese, é indispensável que a escola desperte e desenvolva, nos alunos, o
interesse pela leitura e pela escrita, a partir de contextos investigativos e com o
uso de diferentes linguagens para ampliar o raciocínio e a argumentação do aluno,
permitindo que escrevam corretamente e desenvolvam as habilidades de interpretar,
compreender, tornando-o um leitor crítico, argumentativo e independente.
Pressupostos metodológicos
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temática foi sugerida pela professora da turma do 3º ano, por ser um tópico do con-
teúdo programático a ser ministrado. A professora da turma também fez sugestões
e adequações na estrutura final da SEI, considerando o conhecimento dos alunos
em questão, bem como agregando outros valores a esse processo formativo.
Os princípios éticos foram adotados com o envio e recolhimento de assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) dos pais dos alunos, bem
como os nomes dos sujeitos e da escola-campo foram preservados.
Análise de dados
Os dados obtidos nas duas fases desta investigação serão apresentados nas
seções seguintes, organizadas para o tratamento e análise dos dados bibliográficos
(3.1) e dos dados empíricos (3.2). Os dados bibliográficos foram analisados com base
na técnica da análise de conteúdo (BARDIN, 2011), na qual foram identificadas as
semelhanças entre os estudos para que fosse possível estabelecer agrupamentos
por meio de categorias temáticas, sendo identificadas duas categorias de análise: 1)
Escrita/leitura e o Ensino de Ciência por Investigação no contexto das intervenções
com alunos e 2) Escrita/leitura e Ensino de Ciência por Investigação no contexto
da formação de professores ou dos materiais pedagógicos.
Os dados empíricos também foram analisados com base na técnica de análise
de conteúdo (BARDIN, 2011). A partir da aplicação da SEI foram obtidos dados na
forma de registros gráficos das crianças (desenho e escrita), analisados com base
em eixos temáticos, a saber: 1) Registros de classificação e 2) Registros de atividade
experimental. Em decorrência de algumas dificuldades apresentadas pelos discentes,
importa destacar que não foi possível categorizar todos os registros.
Dados bibliográficos
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desse segmento de ensino. A autora aponta que o uso didatizado da Literatura Infan-
til é consistente, desde que os professores sejam levados a pensar na problemática
e busquem subsídios teóricos a fim de elaborarem estratégias de leitura. Os temas
relacionados ao Ensino de Ciências são representativos na Literatura Infantil e,
por isso, apresentam-se promissores para novas análises.
Em outro contexto, Melo (2017) caracterizou a concepção do Ensino de Ciências
da Natureza proposto no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC)
com o intuito de identificar as contribuições e limites dessa proposta para a disci-
plina em questão. A pesquisa empregada foi do tipo documental, com abordagem
qualitativa, a partir dos cadernos de formação continuada do PNAIC publicados em
2012, 2014 e 2015. O PNAIC propõe direitos inovadores de aprendizagem na área
de Ciências da Natureza, mas as práticas de ensino apresentadas pouco oportuni-
zaram momentos reais, capazes de potencializar substancialmente o planejamento
e reflexões críticas sobre as práticas de ensino de Ciências. As propostas para a
prática docente, geralmente, não estabelecem relações diretas com os direitos de
aprendizagem e vinculam nas atividades a concepção tradicional e, por vezes, o
ensino via redescoberta. Nesse contexto, o ensino de Ciências precisa ir além da
simples memorização das informações veiculadas em textos e exposição dos docen-
tes. É preciso promover o acesso efetivo dos discentes em práticas de investigação,
nas quais haja oportunidade efetiva de compreensão dos conhecimentos científicos
e tecnológicos.
A análise dos dados bibliográficos revela, para a primeira categoria, a organiza-
ção de situações de ensino investigativas que são promotoras de ações de leitura e,
sobretudo de registro. Alguns trabalhos objetivaram caracterizar esses registros, bem
como evidenciar sua importância no ato de comunicar as atividades investigativas
realizadas pelas crianças e registrar o processo de construção de conceitos científicos.
Ademais, foi evidenciado também possibilidades de integração entre as disciplinas
de Ciências e Língua Portuguesa, no contexto do ENCI. Sobre esse aspecto, Brandi
e Gurgel (2002) apontam a importância do processo de leitura e escrita no Ensino
de Ciências, com vistas à introdução da criança à cultura científica. Entretanto,
essas autoras destacam a necessidade de formação de professores como sendo um
elemento essencial para inserção desses aspectos nos anos iniciais do EF, fato que
corrobora com os poucos trabalhos representativos da segunda categoria.
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Alice Helena Bertola, Tatiana Schneider Vieira de Moraes
A análise dos dados indica que, dentre as hipóteses da criança a pena foi clas-
sificada como um elemento do “Grupo das plantas”, ou seja, do reino vegetal. Essa
confusão é plausível para a idade uma vez que esses conhecimentos estão sendo
construídos e consolidados pela criança e observar a pena como um elemento isolado
pode dificultar a visualização do animal como um todo. Jiménez-Aleixandre, Bugallo
Rodríguez e Duschl (2000) apresentam um conjunto de operações epistemológicas
(indução, dedução, causalidade, definição, classificação, apelos, consistências e
plausibilidade) que orientam a construção dos argumentos utilizados pelos alunos,
os quais contribuem para a inserção na cultura científica e no entendimento dos
diferentes aspectos das ciências, bem como no engajamento em discussões que en-
volvam temas científicos. Nesse entendimento, os autores apontam a classificação
como uma operação epistemológica para se fazer ciência na medida em que possibilita
o agrupamento de objetos ou organismos de acordo com critérios pré-estabelecidos.
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observadas pelo grupo. Importa destacar que apesar de ser um registro individual,
a criança reforça o caráter coletivo da construção do experimento quando utiliza
todos os verbos na terceira pessoa do plural.
Silva (2017) aponta que os registros classificados como “relatos de experimentos”
representam um gênero textual típico da cultura científica e apresentaram mais
indícios da interação dos alunos com a cultura científica uma vez que evidenciaram,
de forma mais relevante, o uso da escrita, enquanto elemento do fazer científico.
Ademais a criança utiliza a linguagem do desenho e a linguagem escrita como
complementares. Com essa perspectiva, Derdyk (2004) aponta que as linguagens
verbal e gráfica participam de uma natureza mental, com suas especificidades e
particularidades, mas cada uma, à sua maneira, contribui para a formação de uma
ideia, imagem ou conceito.
Após análises dos registros produzidos por alunos ao término das aulas de
Ciências, cujo o foco foi a resolução de um problema, Oliveira e Carvalho (2005) e
Sasseron e Carvalho (2010) apontam que as crianças utilizam os desenhos como
apoio para auxiliar a compreensão das ideias apresentadas no texto escrito ou
complementar alguma informação que não conseguem expressar de forma escrita.
A criança elabora seu gênero do discurso (BAKHTIN, 2003), seu conteúdo, suas
escolhas para construir sua escrita. O registro de atividade experimental é uma
ação inerente à cultura científica, comumente utilizado na ciência para o registro do
conhecimento científico e, portanto, precisa ser apropriado na escola, local propício
para a articulação entre a linguagem escrita e a científica informada.
O engajamento com situações de registros, decorrentes de ações intencionalmente
planejadas em um contexto investigativo podem favorecer a inserção da criança em
processos associados ao fazer científico, representados no recorte desta pesquisa
pela necessidade da criança escrever e comunicar seus achados.
Considerações finais
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Agradecimentos
As autoras agradecem à CAPES pelo apoio financeiro, à escola campo vinculada ao Programa de
Residência Pedagógica, à professora e aos alunos da turma do 3º ano de 2019.
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Abstract
In the context of the Pedagogical Residency Program, actions were taken to enable the discus-
sion of Inquiry-Based Teaching Science (IBTS) in the early years of Elemenatry School to act as
a tool for the construction of scientific skills. With this perspective, this paper aims to investigate if
the student, by engaging in investigative activities can improve the production process of written
texts. The methodological path was structured including a bibliographical review and a qualitative
research, acting as a study case. All data were categorized using the Content Analysis techni-
que, which has evidenced the need to expand theoretical and practical studies that encourages
discussions about IBTS in the scope of reading and writing. The records, originated from inves-
tigative actions may favor the child’s insertion in processes associated with scientific activities,
such as the need to write and communicate its findings, acknowledged as an activity inherent of
investigative work.
Referências
ALMEIDA, K. S. Ensino por Investigação: Identificando Elementos de Escrita Científica
na Produção Textual de Alunos do Ensino Fundamental. 2015. 124 f. Dissertação (Mes-
trado), Departamento de Ciências da Educação, Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus,
Bahia, 2015.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à
teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.
BRANDI, A. T. E.; GURGEL, C.M.A. A Alfabetização Científica e o Processo de Ler e Escrever
em Séries Iniciais: Emergências de um Estudo de Investigação-Ação. Ciência & Educação, v.
8, n. 1, p. 113-125, 2002.
BRASIL. EDITAL CAPES nº 06/2018. PROGRAMA DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA. Cha-
mada Pública para apresentação de propostas no âmbito do Programa de Residência Pedagógica,
2018. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/
educacao-basica/programa-residencia-pedagogica. Acesso em: 10 jun 2021.
BRASIL. PORTARIA Nº 259, DE 17 DEZEMBRO DE 2019. Dispõe sobre o regulamento do
Programa de Residência Pedagógica e do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docên-
cia (PIBID). Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-259-de-17-dezembro-
-de-2019-234332362. Acesso em: 10 jun 2021.
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Larissa Carniel da Silva, Patrícia Ignácio, Tobias Espinosa
Resumo
O presente estudo buscou compreender quais são os entendimentos sobre o conceito, os su-
jeitos, o ensino e a aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos (EJA), de licenciandos de
um curso de licenciatura com habilitação em Física de uma universidade pública federal loca-
lizada na Região Metropolitana de Porto Alegre. Para isso, utilizou-se de entrevistas gravadas
em áudio, posteriormente, analisadas sob o olhar da Análise Temática, descrita por Braun e
Clarke (2006). De acordo com as análises realizadas, os achados da pesquisa mostraram que
os licenciandos: pouco sabem o que é a EJA; percebem os alunos da EJA como um público
diversificado; entendem que os alunos desta modalidade não possuem interesse pelos estudos;
acreditam que os alunos da EJA aprendem de forma lenta e dificultosa; mencionam a impor-
tância da realização de sondagem junto aos alunos, para o planejamento da aula; apostam,
preferencialmente, em metodologias tradicionais, sugerindo, também, metodologias ativas e a
mescla dessas. Por fim, os resultados apontam a necessidade de repensar os currículos dos
cursos de licenciatura em Física e de um maior investimento em pesquisas sobre o Ensino de
Física na EJA.
*
Mestranda em Ensino de Ciências Exatas pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Licenciada em
Ciências Exatas também pela FURG. Contato: [email protected]
**
Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em Educação pela Univer-
sidade Luterana do Brasil (ULBRA) e Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS). Contato: [email protected]
***
Doutor em Ensino de Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Ensino de
Física também pela UFRGS. Licenciado em Física pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Contato: [email protected]
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Perspectivas de licenciandos em Física sobre a Educação de Jovens e Adultos
Introdução
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Larissa Carniel da Silva, Patrícia Ignácio, Tobias Espinosa
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Perspectivas de licenciandos em Física sobre a Educação de Jovens e Adultos
a ‘função reparadora’, que se refere ao ingresso no circuito dos direitos civis, pela
restauração de um direito negado; a ‘função equalizadora’, que propõe garantir uma
redistribuição e alocação em vista de mais igualdade de modo a proporcionar maiores
oportunidades, de acesso e permanência na escola, aos que até então foram mais des-
favorecidos; por último, a função, por excelência da EJA, permanente, descrita no do-
cumento como a ‘função qualificadora’. É a função que corresponde às necessidades de
atualização e de aprendizagem contínuas, próprias da era em que nos encontramos.
Com isso, a EJA deixa de ter função de suprir, compensar a escolaridade perdida,
como na legislação anterior, e foca nas novas funções descritas pelo Parecer 11/2000.
A EJA pode ser ofertada nas seguintes modalidades: Proeja, Encceja e EJA a
distância. O Proeja se constitui no ensino da EJA oferecido junto com um curso
técnico de formação profissional ou vice-versa. O termo é encontrado com mais
frequência nos Institutos Federais de Educação Tecnológica do Governo Federal
(DECRETO nº 5.8405, 2006). O Encceja, segundo o Ministério da Educação (2018),
é o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos, que
visa a conclusão do Ensino Básico, através de exames, incluindo a certificação de
pessoas que moram no exterior e a população carcerária. Já a modalidade de EJA
a distância, segundo o Parecer 6/20106 (2010), surgiu como uma oportunidade para
os jovens e adultos concluírem o ensino básico. No Parecer 6/2010 (2010, p. 22) é
destacada a necessidade de se desenvolver estudos sobre a relação entre a EJA e
a EaD (Educação a Distância) “para obterem maior compreensão das reais possi-
bilidades da Educação a Distância em EJA”. Segundo Fajardo (2018), os estados,
os quais são responsáveis pela formação dos currículos, precisam da aprovação dos
conselhos locais para a adesão da EJA a distância, o que pode ocorrer ainda este
ano. Segundo o Parecer 11/2000 (2000, p. 39), a idade mínima para ingresso em
cursos da EJA no ensino fundamental “que também objetivem exames supletivos
desta etapa, só pode ser superior a 14 anos completos dado que 15 anos completos
é a idade mínima para inclusão em exames supletivos” e o “estudante da EJA de
ensino médio deve ter mais de 17 anos completos para iniciar um curso da EJA. E
só com 18 anos completos ele poderá ser incluído em exames” (BRASIL, 2000, p. 40).
Sobre o ensino nessa modalidade, o PNE (Plano Nacional de Educação) de 2001,
na seção 5.1, declara que “é necessária [...] a produção de materiais didáticos e téc-
nicas pedagógicas apropriadas, além da especialização do corpo docente”, tendo em
vista as suas especificidades. Além disso, a meta 11 da seção 5.1 do PNE de 2001
assinalava a relevância de
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Sabe-se que a EJA é destinada a jovens e adultos que não tiveram acesso à
escola na idade adequada, mas quem são eles, especificamente? Segundo o Censo
Escolar de 2018 (INEP, 2019), cerca de 52% dos alunos matriculados na EJA pos-
suem idades de 15 a 24 anos. Isso mostra que, atualmente, os frequentadores da
EJA são em sua maioria jovens.
Os dados do Censo Escolar de 2018 (INEP, 2019) ainda mostram que, 52% dos
frequentadores da EJA são homens, e os outros 48% são mulheres. Além disso,
39,09% são pardos, 16,05% brancos, 5,58% pretos, 0,75% indígenas, 0,35% amarelos
e 38,18% não é declarado.
Loch (2009) relata, através de sua experiência docente na EJA, que o público da
EJA poderá ser um morador de rua, um jovem deficiente, um adulto trabalhador,
avós de 70, 80 anos, negros, brancos, pardos, homossexuais etc.
Ao encontro disso, Haddad e Di Pierro (2000) explicam que, o grupo social cons-
tituído por jovens passou a ser maior número, na Educação de Jovens e Adultos, a
partir dos anos 80, e que possui uma trajetória escolar anterior mal sucedida. Em
relação à presença de jovens na EJA, Brunel (2008, p. 9) explica em seu livro que
os jovens, quando chegam nesta modalidade, em geral, estão desmotivados, desen-
cantados com a escola regular, com histórico de repetência de um, dois, três anos
ou mais. Muitos deles sentem-se perdidos no contexto atual, principalmente em
relação ao emprego e à importância do estudo para a sua vida e inserção no mercado
de trabalho.
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Em experiência com a EJA, vivenciada por parte dos autores deste artigo, pode-se
observar o elevado número de jovens advindos do ensino regular, nessa modalidade.
Esses alunos, geralmente, foram excluídos do ensino regular por não avançarem
ou por mau comportamento.
De acordo com Souza (2012, p. 15), os frequentadores da EJA “são pessoas que
possuem trajetória de vida marcada por exclusão, perdas e esperanças”. Ou seja,
são pessoas que, em alguns casos, já internalizaram a incapacidade de aprender.
Por isso, o educador da EJA deve ser capaz de reacender nessas pessoas a crença
na sua potencialidade em aprender.
Sobre os sujeitos frequentadores da EJA, Lise e Andreolla (2014) realizaram
um estudo cujo objetivo era identificar o novo7 sujeito dessa modalidade na Escola
Básica Municipal Rui Barbosa, da cidade de Chapecó. Para isso, os autores desen-
volveram um levantamento sobre a faixa etária dos alunos e realizaram perguntas
tais como: “Você trabalha?”; “Qual é o seu horário de trabalho?”; “Como você se
considera quanto a sua cor?”; e “Quantas pessoas da sua casa estudam, excluindo
você?”. Os resultados apontaram que, cerca de 39% tinham idades de 15 a 20 anos,
74% eram trabalhadores, 63% trabalhavam em horário comercial, 40% se conside-
ravam brancos, 38% se consideravam pardos e 39% não possuíam nenhum membro
da família que estudasse. Para os autores, a divulgação desses dados para a escola
possibilitaria que a mesma soubesse “quem é realmente esse ‘novo’ [...] sujeito, os
seus problemas, seus anseios, suas necessidades, suas facilidades” para assim, se
adequar para melhor receber esse aluno (LISE; ANDREOLLA, 2014, p. 72).
Em relação ao educando adulto, Pinto (2010, p. 86) diz que ele
é antes de tudo um membro ‘atuante’ da sociedade. Não apenas por ser um trabalha-
dor, e sim pelo conjunto de ações que exerce sobre um círculo de existência. O adulto
analfabeto é um elemento frequentemente de alta influência na comunidade.
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Para Lise e Andreolla (2014, p. 59), “um dos maiores problemas da EJA no mo-
mento atual é a falta de professores com formação específica na área para atender
a esse público diferenciado, de forma significativa e enriquecedora”. Ao encontro
disso, Machado (2008, p. 165) menciona que a formação de um profissional preparado
para trabalhar com jovens e adultos é importante e que essa deveria ser tratada na
formação inicial desses professores, pois
a maioria dos cursos de formação de professores nos prepara para atuar com o aluno
ideal - por que não dizer irreal. Aprendemos os conteúdos de nossas áreas, conhe-
cemos algumas ferramentas pedagógicas e metodológicas, mas estamos longe de
pensar a realidade concreta da escola na qual iremos atuar, ao assumir um contrato
temporário ou, mesmo, ao passar num concurso para cargos efetivos nas redes públi-
cas de ensino. É a primeira questão a ser enfrentada pela formação de professores da
EJA: há que se repensar os currículos dos cursos de licenciatura, para que a formação
inicial trate dessa modalidade de ensino.
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Dizendo de outro modo, é preciso ver seu aluno como um universo de possibili-
dades, um sujeito escolar capaz como todos os outros, um ser pensante e com uma
caminhada de inserção social, ao longo de toda a sua vida.
Ainda sobre a presença da EJA nas licenciaturas, Koch (2014) realizou uma
pesquisa com o objetivo de analisar a existência de elementos formativos relacio-
nados à EJA, desenvolvidos nos cursos de uma instituição de ensino superior da
Região de Chapecó. Com a análise das matrizes curriculares, observou que, dos 13
cursos de licenciaturas dessa instituição, 10 deles ofereciam de um a quatro crédi-
tos voltados à EJA. A partir da perspectiva da autora, concluiu-se que a formação
para a docência na EJA mostra muitas lacunas na formação inicial e continuada
dos educadores e que se deve cada vez mais discutir sobre a EJA nas licenciaturas.
Segundo Loch (2009), o educador deve sempre considerar que para elaborar o
planejamento e a avaliação na EJA se deve pensar: com os educandos, a sua vida,
as suas necessidades, os seus desejos e as suas aspirações articulados com a reali-
dade social e cultural em que vivem, num processo conjunto em que o ver, o ouvir
e o agir estão conectados. Assim sendo, percebe-se uma enorme tendência, entre
os estudiosos, em considerar os saberes e experiências do educando como parte
fundamental nos processos de ensino e de aprendizagem.
Em relação a isso, Giovanetti (2007, p. 247) busca ressaltar a extrema importân-
cia do olhar diferente que o educador da EJA precisa ter em relação aos seus alunos
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Quadro 1: Aspectos dos imaginários dos licenciandos (JESUS; NARDI, 2016, p. 67).
Aspectos dos imaginários de licenciandos em física quanto à EJA e ao ensino de física nessa
modalidade
a. Conhecem a expressão “EJA”, mas não sabem como essa modalidade se organiza;
b. Relacionam a educação de adultos apenas à alfabetização;
c. Caracterizam a EJA pela sua carga horária reduzida - se comparada ao ensino regular - sendo
este um fator preocupante;
d. Sugerem a simplificação dos conteúdos;
e. Preocupam-se em relacionar os conceitos científicos com o cotidiano dos alunos;
f. Vinculam a EJA à uma imagem negativa;
g. Reconhecem especificidade da modalidade;
h. Estabelecem interdiscursos com a legislação, para justificar a necessidade dos cursos de EJA;
i. Destacam interesses políticos e econômicos que possam estar envolvidos na modalidade.
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Caminhos metodológicos
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sujeitos que são licenciandos em Física; e, ainda, garantir maior sinceridade nas
respostas que foram dadas.
A pesquisa teve como campo de estudo uma universidade pública federal,
localizada em uma cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. A cidade é
considerada de zona rural e possui uma população de mais de 40 mil habitantes.
Os sujeitos da pesquisa foram todos os 12 alunos de um curso de licenciatura
com habilitação em Física, a partir do terceiro semestre. As 12 entrevistas tiveram
duração média de 10 minutos cada e todos os participantes assinaram um termo
de consentimento livre e esclarecido11.
A análise das entrevistas deu-se através da Análise Temática. Segundo Braun
e Clarke (2006, p. 79, tradução nossa), a análise temática é um método qualitativo
de análise de dados que busca “identificar, analisar e relatar padrões (temas) dentro
dos dados. Ela minimamente organiza e descreve o conjunto de dados em (ricos)
detalhes”. Conforme explicado por Braun e Clarke (2006), os temas emergentes
da análise temática podem variar de acordo com questões delineadas e devem ser
considerados antes e durante as análises. Levou-se em conta, neste estudo, que as
questões delineadas seriam categorias pré-definidas de análise, buscando responder
o objetivo geral deste trabalho. As categorias definidas foram: a) o conceito; b) os
sujeitos; c) o ensino; e d) a aprendizagem na EJA.
No quadro 3, Braun e Clarke (2006) apresentam os estágios da Análise Temática,
mas ressaltam não haver uma ordem fixa.
Quadro 3: Estágios da análise temática (BRAUN; CLARKE, 2006, p. 87, tradução nossa).
Estágio Descrição do processo
1. Familiarizando-se com
Transcrição dos dados, leitura e releitura dos dados, apontamento de ideias iniciais.
seus dados
2. Gerando códigos Codificação das características interessantes dos dados de forma sistemática em
iniciais todo o conjunto de dados, e coleta de dados relevantes para cada código.
Agrupamento de códigos em temas potenciais, reunindo todos os dados relevantes
3. Buscando por temas
para cada tema potencial.
Verificação se os temas funcionam em relação aos extratos codificados (nível 1)
4. Revisando temas
e ao conjunto de dados inteiro (nível 2), gerando um "mapa" temático da análise.
5. Definindo e nomeando Nova análise para refinar as especificidades de cada tema, e a história geral conta-
temas da pela análise; geração de definições e nomes claros para cada tema.
A última oportunidade para a análise. Seleção de exemplos vívidos e convincentes
6. Produzindo o relatório do extrato, análise final dos extratos selecionados, relação entre análise, questão
da pesquisa e literatura, produzindo um relatório acadêmico da análise.
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Por fim, iniciou-se o processo de escrita dos resultados encontrados (Estágio 6),
no qual realizou-se também uma revisão dos temas encontrados e uma melhor
definição dos mesmos (Estágio 4 e 5).
Resultados e discussões
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“eu achava que era pra alfabetizar, eu acredito que é pra alfabetizar jovens e adultos, no
caso, pessoas que não têm esse conhecimento, até porque se for só pra se formar tem
esses outros que são o NEJA14, isso, aquilo eu não sei se EJA, NEJA, e todas as coisas
são educação para jovens e adultos, a mesma coisa, mas, acredito que é voltado, princi-
palmente, para ensino de alfabetização, de aprender o básico, de conta” (licenciando J).
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Oito dos doze licenciandos sinalizaram que os sujeitos da EJA são maiores de
18 anos. Essa compreensão, porém, mostra certo desconhecimento da idade mínima
de ingresso de alunos na EJA, pois para o ensino fundamental é de 15 anos e para
o ensino médio é de 18 anos (BRASIL, 2000). Apenas o licenciando F mencionou a
idade inicial de 16 anos.
Apenas quatro, dos doze licenciandos, mencionaram “jovens”, em suas respostas.
Este dado chama a atenção, pois segue na contramão do que é apresentado no Censo
Escolar de 2018 (INEP, 2019), no qual cerca de 52% dos alunos matriculados na EJA
possuem idades entre 14 e 24 anos. Isso revela que, boa parte dos licenciandos em
Física acreditam que os alunos da EJA são, em sua maioria, adultos e/ou idosos.
A análise das entrevistas, também aponta que algumas das características des-
critas pelos licenciandos expressam um certo preconceito relacionado ao interesse
dos sujeitos frequentadores da EJA com os estudos, os quais remetem a entendi-
mentos de que estes alunos: não se interessaram em estudar antes (licenciando F),
não gostavam de estudar (licenciando A), não querem estudar e dormem nas aulas
(licenciando B), não fazem as atividades em casa (licenciando J), geralmente, não
estão interessados em aprender (licenciando H), possuem deficiência (licenciando
D) e só querem se formar (licenciando E). Oportuno destacar que esses olhares
negativos sobre os alunos da EJA - sete dos doze licenciandos - implicará na forma
como estes licenciandos irão elaborar, ministrar suas aulas e contribuir na formação
de seus alunos.
Segundo Pinto (2010, p. 91), ao subestimar a educação de um adulto, o professor
“supõe que a educação (alfabetização de adultos) consiste na ‘retomada do cresci-
mento’ mental de um ser humano que, culturalmente, estacionou na fase infantil.
O adulto é considerado, assim, um ‘atrasado’”. Em relação a isso, Giovanetti (2007)
diz que os educadores devem superar essa negatividade relacionada à EJA, para
que não se assuma uma postura preconceituosa e estigmatizada. Além disso, Arroyo
(2007, p. 7) destaca que
Quem convive com esses jovens e adultos deve se fazer essa pergunta: de onde esses
jovens e adultos que freqüentam a EJA estão mais próximos? Seria dos jovens e adul-
tos das camadas médias? Ao contrário, estão cada vez mais distantes. Na pobreza,
miséria, sub-emprego, vulnerabilidade.
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Perspectivas de licenciandos em Física sobre a Educação de Jovens e Adultos
que às vezes é difícil se deslocar, às vezes não tem motivação pra continuar, falta
recurso... financeiros e que geralmente, os alunos da EJA vêm de comunidades
mais pobres, sem incentivo. Onde, na grande maioria dos casos, o aluno não, não
decide continuar estudando, porque ele precisa trabalhar pra ajudar a família a se
manter”. Esse entendimento está de acordo com Souza (2012), quando afirma que
esses alunos têm trajetórias de vida marcadas por exclusão, perdas e esperanças.
Observou-se nos resultados certa relação entre as falas de ensino e aprendi-
zagem, pois entende-se que o modo como os licenciandos pensam que o aluno da
EJA aprende, implicará nas formas como planejarão e desenvolverão suas aulas.
Oportuno dizer que três, dos doze, licenciandos não falaram sobre a aprendizagem,
mesmo que uma das questões fizesse referência ao tema.
No que se refere à aprendizagem dos alunos da EJA, um terço dos licenciandos
entendem que essa aprendizagem ocorre de forma lenta (C, E, F e J). Já os licen-
ciandos A e H compreendem que a aprendizagem nessa modalidade se baseia em
memorização e, os licenciandos A e C, que esses alunos possuem mais dificuldades.
Segundo o licenciando F, os alunos da EJA aprendem mais lentamente “pelo
fato de que eles não estão mais tão acostumados com a sala de aula, eles têm outras
preocupações [...] então, eles têm trabalho, tem muitas outras coisas, então isso eu
acho que prejudica um pouco mais”. Já para o licenciando J, “é muito mais difícil
tu trabalhar a aprendizagem de um adulto e de um jovem, porque a cabeça dele
vai tá voltada para outras quinhentas coisas e não somente para aquilo que está
acontecendo em sala de aula [...], diferente da criança que ela consegue ocupar a
mente dela só com aquele conteúdo [...], então, a aprendizagem mais é demorada
por esse lado”.
Sobre a aprendizagem se dar através da memorização, o licenciando A fala que
“eu acho que é memorização, [...] talvez, aprender alguma coisa seja mais difícil,
então, talvez seja na base da memorização, da formulinha lá, tentar decorar for-
mulinha”.
Nota-se de forma reincidente a descrição de processos de ensino simplificados,
descrito por meio de ideias como, repetitiva (licenciando L), resumida (licenciando
D) e técnica (licenciando L), também são mencionadas como características da
aprendizagem de jovens e adultos.
Em relação ao ensino para a Educação de Jovens e Adultos, há certa concordân-
cia de que ele deve ser diferente do que é desenvolvido no ensino regular (licenciandos
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Larissa Carniel da Silva, Patrícia Ignácio, Tobias Espinosa
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Perspectivas de licenciandos em Física sobre a Educação de Jovens e Adultos
Ainda sobre isso, Loch (2009) lembra que os educadores da EJA devem consi-
derar os saberes e experiências do educando como parte fundamental no processo
de ensino e aprendizagem.
Como reflexo do entendimento de que a aprendizagem dos alunos da EJA ocorre
de forma lenta (licenciandos C, E, F e J), o Ensino de Física é pensado como “ma-
tematicamente mais leve” (licenciando A), facilitado (licenciandos H e L) e, ainda,
exigindo uma maior paciência aos professores (licenciando E).
Chama a atenção que a ideia de um ensino “matematicamente mais leve” (licen-
ciando A), também aparece nos resultados de Jesus (2012, p. 119) quando, na fala de
um entrevistado, é dito: “imagino que as aulas terem mais conceitos do que contas
e quando elas aparecem devem ser as mais simples”. A autora comenta que há um
equívoco nessas ideias, pois, os licenciandos “parecem relacionar esta abordagem
com a ausência da ferramenta matemática vista como um empecilho para o ensino
e que a exclusão desse instrumento irá facilitar a assimilação dos conceitos para
os estudantes” (JESUS, 2012, p. 139). Entretanto, diversos autores recomendam
que o Ensino de Física seja mais conceitual, por acreditarem que a aprendizagem
conceitual é imprescindível para um bom entendimento da Física e, inclusive, é
condição necessária para a resolução de problemas (SILVEIRA; MOREIRA; AXT,
1996; LASRY; MAZUR; WATKINS, 2008).
Falas como “depende muito de como é a turma pra mim planejar a aula” (licen-
ciando D) e “então, inicialmente, provavelmente, eu adotaria uma postura, assim,
mais de conhecer quem é a minha turma pra a partir de uns dois, três encontros,
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então, assim, a gente falou sobre. Mas entrar a fundo mesmo, eu ainda não entrei
em nenhuma cadeira. Didática que a gente debateu mais mesmo” (licenciando J).
Considerações finais
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Abstract
This study sought to understand what are the understandings of the undergraduate physics
students, from the Physics Undergraduate of the Metropolitan Region of Porto Alegre, about the
concept, the students, the teaching and learning in Youth and Adult Education (EJA, in Portugue-
se). For this purpose, we carried out interviews recorded in audio and subsequently analyzed
from the point of view of Braun and Clarke’s thematic analysis. According to the analyses perfor-
med, the findings pointed out that undergraduates: know little about EJA, except for those who
have had some family contact; perceive EJA students as a diverse group; presents a biased dis-
course disqualifying EJA students; tends to prefer traditional teaching strategies, also suggesting
active methods and a mixed approach; mention the importance of conducting an investigation
with students in order to plan the classes; believe that EJA students learn slowly and with diffi-
culty. Finally, the results point to the need to rethink the undergraduate physics curriculum and to
invest more in research on Physics Teaching in EJA.
Keywords: Youth and Adult Education, Physics Teaching, Physics Teacher Training, Teaching
and Learning in EJA, Thematic Analysis.
Notas
Segundo o documento de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores em Nível
1
Superior (BRASIL, 2015), os cursos de licenciatura habilitam para o exercício da docência na Educação
Básica, incluindo a EJA, uma das modalidades da Educação Básica.
O Parecer 1304/2001 define as Diretrizes Nacionais Curriculares para os Cursos Superiores de Física.
2
Permite ao pesquisador realizar outras perguntas, para além das que compõem o roteiro, conforme os
3
O Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006, institui, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração
5
Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos - EJA, nos aspectos relativos à duração dos cursos e
idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação
de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância.
Os autores utilizam o termo novo, pois esse seria o primeiro ano que a escola ofereceria a EJA.
7
8
Plano Nacional do Livro Didático.
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Perspectivas de licenciandos em Física sobre a Educação de Jovens e Adultos
9
Segundo Moreira (2011), a aprendizagem significativa de Ausubel diz que o conhecimento novo deve
sempre estar relacionado com algum conhecimento prévio do aluno e que esse sujeito precisa apresentar
uma predisposição e intencionalidade em aprender.
10
A avaliação tradicional, a qual a autora se refere, contou com 16 questões abordando os conceitos estu-
dados durante a intervenção, com o objetivo de investigar a compreensão dos alunos acerca da temática
Hidrostática.
11
Os termos de consentimento livre e esclarecido estão mantidos em arquivo físico, e, os outros dados da
pesquisa estão em arquivo digital, sob guarda e responsabilidade, por um período mínimo de cinco anos
após o término desta pesquisa.
12
Letra indicada para cada licenciando conforme a ordem de realização das entrevistas.
13
A expressão tirar aqui significa obter.
14
Núcleo de Educação de Jovens e Adultos.
15
De acordo com Silva (2005), o ensino tradicional está pautado na técnica, voltada para as ocupações
profissionais, no qual o papel do professor é o de detentor e transmissor do conhecimento aos alunos.
Segundo Becker (1994), na pedagogia diretiva, o professor entende que o aluno apenas aprenderá quando
ele transmite o conhecimento, sendo este o mito da transferência do conhecimento. Nota-se que para
esses licenciandos, o professor é quem transfere o conhecimento e o aluno apenas recebe as informações
transmitidas.
16
Os nomes de algumas disciplinas foram alterados para proteger a identidade do curso em questão.
Referências
ARROYO, M. Formar educadoras e educadores de jovens e adultos. In: SOARES, L. (org.). For-
mação de educadores de jovens e adultos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 17-32.
ARROYO, M. Balanço da EJA: o que mudou nos modos de vida dos jovens-adultos populares?
REVEJ@ - Revista de Educação de Jovens e Adultos, v. 1, p. 5-13, 2007.
BARBOSA, A. R. Atividades lúdicas no ensino de física: desafios e possibilidades para a EJA.
2018. Dissertação (Mestrado em Ensino de Física) - Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
BECKER, F. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Educação e Realidade, Porto
Alegre, v. 19, n.1, p. 89-96, 1994.
BRASIL. Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006. Institui o PROEJA e dá outras providên-
cias. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5840.
htm. Acesso em: 1 jan. 2021.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC,
SEB, DICEI, 2013. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&vie-
w=download&alias=15548-d-c-n-educacao-basica-nova-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 1 jan. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de Janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá
outras providências. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/L10172.pdf. Acesso em:
1 jan. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.005/2014, de 25 de Junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação
- PNE e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 1 jan. 2021.
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Processos Formativos e mediação em centros e museus de ciências: o caso de um centro de ciências de Vitória/ES
Resumo
A pesquisa tem por objetivo compreender os processos formativos que influenciam na consti-
tuição dos sujeitos quanto aos seus saberes e fazeres da mediação em um centro de ciências.
Para alcançar o objetivo assumimos como delineamento metodológico o estudo de caso e como
sujeitos os mediadores de um centro de ciências de Vitória – ES. Os dados foram produzidos
por meio da participação como mediador voluntário do primeiro autor dessa pesquisa que rea-
lizou duas rodas de conversa que foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. Os
dados foram analisados a partir do referencial freiriano em articulação com os saberes docentes
e os saberes da mediação em centros de ciências. Os resultados demonstraram influência das
mídias eletrônicas como fonte de inspiração bem como os processos de escolarização, princi-
palmente no que se refere aos saberes pedagógicos. Outro aspecto evidenciado é o processo
de formação centrado na autoformação dos mediadores.
*
Licenciado em Física, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo, Doutorando em Ensino
de Física no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências- USP. Brasil. E-mail: janjaco-
[email protected]
**
Licenciado em Física, Mestre em Educação e Doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Professor dos programas de Pós-Graduação em Educação (PPGE-UFES) e do Programa de Pós-Graduação
em Ensino de Física (PPGEnFis-UFES) da Universidade Federal do Espírito Santo. Brasil. E-mail: geidecoelho@
gmail.com
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Jonathan Pires Janjacomo, Geide Rosa Coelho
Introdução
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Processos Formativos e mediação em centros e museus de ciências: o caso de um centro de ciências de Vitória/ES
dores em centros e museus de ciências, notamos que boa parte das características
profissionais são adquiridas no exercício da atuação como educador museal e não
na formação inicial. Gomes e Cazelli (2016) refletem sobre a intencionalidade da
formação a partir da experiência, que ocorre quando os educadores compreendem
as demandas de seu ofício no conflito com a realidade –, questionando se essa se
constitui como um ato intencional da instituição ou se é influenciada por limitações
de tempo, orçamento e outros, dentro da formação inicial dos mediadores.
Ainda que alguns exemplos possam ser encontrados, “a literatura na área de
formação de educadores que atuam direta e indiretamente nos espaços de educação
não formal ainda é muito escassa no país” (COELHO; BREDA; BROTO, 2016, p.
528), dessa forma delineamos como objetivo central deste artigo compreender os
processos formativos que influenciam na construção dos sujeitos quanto aos seus
saberes e fazeres da mediação em um centro de ciências.
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Processos Formativos e mediação em centros e museus de ciências: o caso de um centro de ciências de Vitória/ES
A internalização dos saberes requer tempo, pois “a dimensão temporal está rela-
cionada com as situações de trabalho que exigem dos trabalhadores conhecimentos,
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Processos Formativos e mediação em centros e museus de ciências: o caso de um centro de ciências de Vitória/ES
e reuniões com todo o corpo docente, o que proporciona uma noção ampla de como
é/está a instituição educacional.
Na visão do autor, diversos saberes mobilizados pelos educadores em seu cotidiano
não são provenientes de suas formações especializadas para a prática profissional,
mas advêm de outros processos formativos. Pensar dessa forma exige que os edu-
cadores e educadoras se coloquem no papel de reflexão crítica sobre suas práticas a
fim de reconhecer os conhecimentos que são transformados em saberes necessários à
sua atividade educacional (ABRAHÃO, 2016). Podemos entender esses saberes como
provenientes de diferentes contextos socioculturais que influenciam nas atividades
de mediação realizadas e produzidas pelos sujeitos, ou seja, a matriz política, social
e cultural influencia e define a postura tomada pelos mediadores (FREIRE, 1979).
Dentre as fontes de conhecimento, há um consenso de que é no espaço de atuação
que se formam as principais bases para um trabalho transformador. No processo de
formação permanente, o momento da aprendizagem do educador é o da reflexão crítica
com a prática, o ato de se assumir como sujeito inconcluso em seu campo de atuação,
uma vez que “na concepção de Freire, teoria e prática são inseparáveis tornando-se,
por meio de sua relação, práxis autêntica, que possibilita aos sujeitos reflexão sobre
a ação, proporcionando educação para a liberdade” (FORTUNA, 2015, p. 65).
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é
o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de
ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessá-
rio à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a
prática (FREIRE, 2011, p. 40).
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Jonathan Pires Janjacomo, Geide Rosa Coelho
Um primeiro olhar para as categorias acima pode dar a impressão de que são as
mesmas, ou ao menos semelhante, às de Tardif (2002). Porém, a diferença está no
fato de que a formação do profissional na perspectiva freiriana tem como elemento
central o caráter político do ser educador.
A construção de um arcabouço de soluções oriundas de percursos pessoais e
profissionais tem o poder de mudar a concepção sobre o estar no mundo e, com isso,
tem mais relação com a prática de uma educação libertadora, educação que visa dar
subsídios para os enfrentamentos cotidianos. Dessa forma, “[...] ensinar já não pode
ser este esforço de transmissão do chamado saber acumulado, que faz uma geração
à outra, e aprender não é a pura recepção do objeto ou do conteúdo transferido”
(FREIRE, 1997, p. 5). O mediador como ser dialógico, deve saber escutar o que o
outro tem a dizer e saber dizer o que o outro precisa escutar, com a plena ciência
do momento de intervir para não atrapalhar, mas sim ajudar o
[...] indivíduo a “construir” a sua interpretação pessoal, individual, da realidade da
sua existência, o que, de forma alguma, implica numa contínua “reinvenção da roda”,
mas, isto sim, numa oportunidade do indivíduo dar significância à realidade que o
circunda [...] e que, por vezes, passa ignorada (CARVALHO, 2014, p. 40).
Delineamento metodológico
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sibilitou uma aproximação afetiva com os educadores que atuam no espaço, o que
foi de fundamental importância para evitar “desconfianças iniciais e estabelecer
uma relação franca, indispensável ao fornecimento, por parte dos investigados, de
dados o mais aproximado possível à sua realidade” (GALVÃO, 2005, p. 342).
Outro método utilizado foi a formação de rodas de conversa (MOURA; LIMA,
2014), ferramenta que possibilita a produção qualitativa de dados, uma vez que
no ato de conversar pode-se observar e refletir com as narrativas dos sujeitos e,
simultaneamente, possibilita um processo formativo para todos participantes, uma
vez que refletimos sobre a nossa prática pedagógica e profissional ao narrarmos
(ABRAHÃO, 2016).
No caminho que delineamos, a fuga do objetivo dos estudos esteve sempre
presente, uma vez que os mediadores conversavam não só sobre o tema proposto,
mas sobre tudo que tem relação com ser um mediador em um centro de ciência. A
conversa também possibilitou a abertura ao novo, encontros com o diferente enun-
ciado por seus colegas e interação com o próprio espaço, criando diversos pontos de
escape, mas que sempre retornavam de maneira fluida e natural.
De certa forma podemos dizer que as rodas de conversa se caracterizaram como
momentos em que os mediadores desataram alguns nós que estavam amarrados
em suas gargantas e que esse exercício de fala e escuta foram se construindo nas
idas e vindas das memórias de cada um. As narrativas produzidas nas rodas são
contextualizadas e locais, nos dando a possibilidade de responder ao nosso proble-
ma de pesquisa. Acreditamos que a ênfase do local onde foi realizada a pesquisa é
necessária, pois consideramos apenas os elementos do caso que estudamos, assim
não pretendemos generalizar para outros espaços, uma vez que “a generalização é
sempre problemática, não podem ser considerados gerais, fatos dizendo respeito a
contextos muito particulares” (GALVÃO, 2005, p. 331).
Foram realizadas duas rodas de conversa com os mediadores da ECF no próprio
espaço físico do acervo, nos dias vinte e nove (29) de julho de 2017 e dois (02) de
setembro de 2017. Além do pesquisador/mediador voluntário, na primeira roda de
conversa houve a presença de cinco mediadores e quatro mediadores na segunda.
As duas rodas de conversas foram gravadas em áudio para posterior transcrição
e análise. Todos os mediadores participantes da pesquisa assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido1.
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Podemos observar tanto atribuições que dizem respeito aos modos de funciona-
mento do espaço, tal como aparecem nos itens i) e j), quanto características voltadas
para as ações educacionais para a sociedade de uma maneira geral, como em h)
e l), quanto ações mais articuladas ao currículo formal das instituições escolares
vistas em a), b) e c)
A dimensão da ampliação da cultura e da educação pelo e para o patrimônio, tão
cara aos museus, deve ser contemplada e as oportunidades de interação entre esses
espaços devem levar à percepção de que os museus são mais do que complementos da
escola, pois possuem uma identidade própria (MARANDINO, 2001, p. 97).
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Para atuar aqui na Escola da Ciência – Física, o que é que vocês acham que foi
necessário aprender, o que vocês acham que, durante suas práticas quando vêm os
grupos de visitantes, o que vocês utilizam para poder fazer a mediação? (Pesquisador)
A partir dessa questão, deram-se início as conversas em roda. De maneira geral,
podemos “definir o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama,
mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes
disciplinares, curriculares e experienciais” (TARDIF, 2002, p. 36), e assim também
podemos definir os saberes da mediação como um conjunto de conhecimentos que
introjetados na prática de mediadores se torna fundamental para qualidade da
mediação.
Qualquer um que tenha entrado em um espaço científico-cultural pode se
remeter, a partir da fala de um mediador, a um momento de sua vida que lhe foi
marcante, um episódio que lhe chamou a atenção e que não obteve resposta.
É legal que as pessoas ficam “é tão simples, mas tão genial”, mas é exatamente isso
(Sólon)
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Jonathan Pires Janjacomo, Geide Rosa Coelho
Exatamente... Entreter, porque se a pessoa viesse aqui pra aprender sobre como cada
experimento funciona não precisaria de mediador... Só a placa já dava conta e era só
colocar um segurança pra não quebrarem as coisas e pronto... (Míson)
Aí eu volto a dizer... O pesquisador/ desculpa, o mediador ele tem esse papel de entreter
a pessoa... (Míson)
Aqui estamos nós. Nós e a profissão. E as opções que cada um de nós tem de se fazer
como professor, as quais cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de
ensinar. É impossível separar o eu profissional do eu pessoal (NÓVOA, 2000, p. 17).
A fala de Quílon contrasta com a de educadores que estão iniciando sua interação
com os educandos, pois é comum apresentar certa timidez, medo ou vergonha ao
iniciar a trajetória profissional enquanto educador, porém neste caso isso não foi
demonstrado, uma vez que a barreira existente no primeiro contato já havia sido
quebrada anteriormente na vida do mediador.
A esses saberes, construídos ao longo da vida do educador, podemos atribuir aos
processos da educação informal, uma vez que, segundo Gohn (2006, p. 29):
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Processos Formativos e mediação em centros e museus de ciências: o caso de um centro de ciências de Vitória/ES
Sólon nos mostra que a internet como meio de comunicação molda ações na
sociedade atual, entretanto a maneira como Sólon permite que este meio influencie
suas ações dá indícios da importância da conscientização sobre seus usos.
Notamos a transformação das novas gerações. Sua comunicação, maneira de
interagir, modos de brincar, entre outros aspectos, são alguns indicativos de que
não só a sociedade está em constante mudança, mas também os educadores, por
serem parte da sociedade e almejarem a democratização do conhecimento, devem
transformar as práticas educacionais. A internet e as redes sociais são instrumentos
que possibilitam essa articulação, não podendo ser negligenciadas como influentes
na subjetividade de qualquer educando.
Todos os dias novos vídeos surgem com piadas prontas, conhecidas nas redes
sociais como memes. Esses memes integram o discurso atual, sendo praticado muitas
vezes como uma linguagem paralela presente na oratória cotidiana. Pítaco utiliza
dessa artimanha para trazer os visitantes para conversa no momento das visitas.
Ele nos conta que a partir de como o grupo se comporta, é possível inserir elementos
dessa nova linguagem de modo que os visitantes o aceitem como um elemento do
grupo e fique mais fácil encaminhar a visita. Durante a visita, Píton tenta perceber
[…] o que que a galera gosta de falar, o que a galera gosta de ouvir... Aí você falando o
que eles gostam de ouvir sei lá piada, meme de internet, diversão […] você se divertir
com eles e acaba que eles vêm junto com você (Pítaco)
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Muitos são os saberes pessoais que se enraízam nas práticas dos mediadores
da ECF.
Será que esses trocentos professores que a gente já teve interferem em nossa
maneira de dar aula? Ou... se será que o certo mesmo é o aluno se espelhar neles?
Ou será que se eu for pegar por exemplo me debruçar numa pesquisa seja ela numa
literatura numa coisa escrita ou então vídeos eu vou encontrar pessoas que falam
sobre aquilo ou sobre como poderiam ser, entendeu? (Pesquisador)
Antes de cogitar ser educador em um centro de ciência, qualquer indivíduo que
pretenda ser mediador já possui em seu histórico estudantil mais de dez mil horas
em sala de aula como estudante da educação básica, tempo suficiente para elabora-
ção “de crenças, de representações e de certezas sobre a prática docente” (TARDIF,
2002, p. 261). É fácil recordar daquelas professoras/professores que nos marcaram
por sua dedicação à profissão, sua amorosidade ao ensinar e o zelo pela formação
de seus alunos como cidadãos. Por outro lado, a lembrança daquelas professoras/
professores que não se preocupavam com a aprendizagem, apenas copiava textos
no quadro e puniam como forma de avaliação também fica evidente na memória.
Outros exemplos poderiam ser apontados como processos formativos para um
educador antes mesmo que se identifique como tal, e “percebe-se que a maioria
dos dispositivos de formação inicial dos professores não conseguem mudá-los nem
abalá-los. Os alunos passam pelos cursos de formação de professores sem modificar
suas crenças anteriores sobre o ensino” (TARDIF, 2002, p. 261).
A gente já teve professores então a gente meio que já tem muitos moldes […] o que quis
dizer sobre usar um professor como molde é basicamente “esse cara dá uma aula boa
gostei do jeito dele” ou “esse cara dá uma aula ..., não posso fazer como ele”, tá ligado
(Pítaco)
Pítaco apresenta a influência exercida por professores que ele teve ao longo de
sua vida. Como seres inacabados, a formação acontece continuamente na vida do
educador, porém cabe refletir sobre o que carregar como elemento da cultura docente
nos encontros que ocorrem nas salas de aula.
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Tales aponta para uma reflexão que surgiu durante sua formação pedagógica e
que fora transportada para a ECF. Mediante essa demanda, é necessário reavaliar
a conexão (QUEIRÓZ et al., 2002) entre os equipamentos do local, é importante que
o mediador conheça o espaço para que não prive nenhum visitante das interações
objetivadas pelo museu.
Outra influência que pode ser associada à formação docente está presente na
narrativa de Sólon, referente à necessidade de se explicar os conceitos relacionados
aos objetos culturais, mesmo que em outros momentos os mesmos sujeitos tenham
apresentado uma visão diferente.
Eu vejo muito como etapas... Por exemplo, pra você explicar elétrica você tem que expli-
car o que é um átomo, e ter que explicar de onde vem o elétron numa turma de criança é
mais difícil [por]que você não pode chegar nem na primeira etapa, tu tem que se divertir
sem falar nada... Tu pode até deixar uma dúvida ou outras na criança, mas tu não tem
que explicar nada e isso é uma parada que é bem difícil, porque eu quero explicar as
paradas pra criança e eu sei que ela não vão entender (Sólon)
“Ter que explicar” está presente no discurso dos mediadores de uma forma que
é difícil de ser desvinculada. Na primeira roda de conversa, a qual teve duração de
pouco mais de duas horas, foram mencionadas vinte e cinco vezes a palavra “expli-
car” por parte dos mediadores, já a palavra “dialogar” não foi referida nenhuma vez
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e o termo “conversar” apenas uma vez, entretanto, o contexto em que esta última
apareceu não era o de conversar propriamente com o público.
Torno a fazer a pergunta que dá nome ao artigo de Gomes da Costa (2007) “os
‘explicadores’ devem explicar?”5, artigo que, inclusive, foi disponibilizado para os
mediadores da ECF enquanto o primeiro autor dessa pesquisa atuava no espaço
a fim de que problematizassem os processos de formalização necessários para o
atendimento no museu.
A questão é saber o que eles sabem e como sabem, e aprender a ensinar-lhes coisas
que elas ainda não sabem mas querem saber. A questão é saber se meu conhecimento
é necessário porque às vezes não o é. Outras vezes é necessário, mas essa necessidade
ainda não foi percebida pelas pessoas. Então, uma das tarefas do educador e educado-
ra é também provocar a descoberta de necessidade de saber e nunca impor um conhe-
cimento cuja necessidade ainda não foi percebida (FREIRE; HORTON, 2003, p. 86).
Por que não dialogar, levando em consideração os saberes trazidos pelos vi-
sitantes em vez de levar a eles uma base pronta? Uma questão que só pode ser
respondida pela via das transformações no ser educador.
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Jonathan Pires Janjacomo, Geide Rosa Coelho
Eu acho que na real, daqui o que eu menos aprendi foi conceito científico, foi mais como
se relacionar com as pessoas que chegaram aqui e que eu acabei de conhecer (Sólon)
E essa dimensão que Sólon traz é importante, uma vez que é fundamental
que mediadores em centros de ciências saibam conversar com o público. Uma vez
conhecida a ECF, sabemos que a formação curricular realizada a partir da leitura
do “Roteiro do Acervo: Pasta de Estudos dos Estagiários” (sobre essa pasta, ler a
seção seguinte) se confunde com as formações específicas. É comum que o mediador
ignore as horas em sala de aula de sua formação acadêmica quando eles estão con-
versando em roda e valorizando outros aspectos de sua formação, porém os textos
em si trazem para o diálogo interno os fenômenos e conceitos aprendidos.
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Processos Formativos e mediação em centros e museus de ciências: o caso de um centro de ciências de Vitória/ES
Eu fiz exatamente isso pesquisar na internet, ver os monitores antigos e ler o roteiro
(Sólon)
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Jonathan Pires Janjacomo, Geide Rosa Coelho
Acima podem ser observadas as falas de dois mediadores, entretanto cada su-
jeito ao narrar sua trajetória evidencia algum ponto novo, diferente dos demais. A
história de Tales é um pouco diferente, por ter começado a atuar na ECF antes dos
demais e num cenário que era outro.
Quando eu cheguei aqui foi chegar aqui no meio de ninguém que faz física, todo mundo
era biólogo, todos os estagiários eram biólogos e isso foi a melhor coisa que já aconte-
ceu. (Tales)
Nosso maior desafio aqui é levar isso ao público e fazer com que eles gostem realmente
que não fique algo maçante e eles realmente se sintam atraídos por essa área da ciência
(Bias)
Tales e Bias concordam com o objetivo do espaço como é proposto pelo respon-
sável e pela legislação vigente.
g) difundir conhecimentos científicos e o interesse pelo estudo do meio em que vive,
possibilitando ampliação do saber e visão de seu público; [...]
l) desenvolver capacidades de observação, evidenciando a amplitude e complexidade
do conhecimento científico e sua relação com vida social (VITÓRIA, 2017, p. 6-7).
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Considerações finais
durante a produção desta pesquisa foi possível constatar que a reflexão sobre
o processo formativo do mediador e da sua experiência com a divulgação científica
podem auxiliar de igual forma os futuros pesquisadores a compreenderem os proces-
sos formativos que influenciam na constituição dos saberes e fazeres da mediação
em um centro de ciência. Observamos que há muito mais na prática dos mediadores
do que pode oferecer o ensino formal ofertado pela instituição de ensino de cada
mediador, além de que, existem diversas esferas da vida que se constituem como
redes que sustentam a forma como o conhecimento científico circula em um espaço
característico da educação não formal.
Dentro dos processos formativos, os quais são fontes de saberes necessários
para a mediação, encontramos nas narrativas dos mediadores as origens de seus
saberes. Dentre elas, destacamos a influência que as mídias eletrônicas exercem,
como apontado por Sólon, quando este lembra que ao começar na ECF tinha o
costume de repetir jargões de youtubers e buscava nesses novos popularizadores
da ciência fonte de inspiração para suas práticas. Outro ponto marcante é quando
Tales relembra a reflexão conduzida por um de seus professores durante a formação
acadêmica sobre deficiência física, a qual aponta que não se deve pensar nas pessoas
como limitadas em termos de acesso ao espaço, mas sim que o espaço é deficiente
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Abstract
This study aims to understand the formative processes that impact on the constitution of one´s
knowledge and knowhow as mediators in a science center. This case study has as its subjects
the mediators of a Science Center in Vitória-ES. The participation of this article´s first author
as a volunteer mediator contributed to the data collection process. As part of the data, as the
transcriptions of the audios from two conversation circles conducted by the first author. The data
were analyzed using Freire´s framework in articulation with teaching knowledge and the media-
tion knowledge required in science centers. The interpretations highlighted the electronic media
influence as a source of inspiration, as well as the schooling processes, especially regarding
pedagogical knowledge. Another aspect highlighted, is the process self-training of mediators.
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Processos Formativos e mediação em centros e museus de ciências: o caso de um centro de ciências de Vitória/ES
Notas
Esta pesquisa compõe o projeto “Narrativas (auto)biográficas e reflexividade: contributos para a formação
1
assim sendo, poderemos verificar o uso da linguagem coloquial podendo conter o uso de gírias, dialetos e
vícios de linguagem dos sujeitos.
É importante sinalizar que ao dizer “era ridículo”, Sólon falava de uma maneira que era possível reconhe-
4
cer a mudança e a criação de uma personalidade própria, expressa logo em seguida e não uma crítica aos
canais do Youtube.
O termo explicador é uma tradução livre de explainers, que são mediadores na língua inglesa.
5
René (nome fictício) é professor de ciências na Prefeitura Municipal de Vitória e atua na coordenação
6
pedagógica da ECF, instituição em que é alocado desde 2002. Na ECF o coordenador pedagógico oferece
formação inicial para os mediadores, organiza as atividades de férias, dialoga com diferentes instâncias
e secretarias de educação. René não havia sido mencionado enquanto sujeito da pesquisa, entretanto o
caráter etnográfico, resultante da imersão do primeiro autor no campo estudado, imprime a participação
de diferentes sujeitos na produção dos dados.
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Questão sociocientífica sobre o uso medicinal da Cannabis sativa: uma proposta didática segundo a pedagogia...
Resumo
Este trabalho aborda a questão sociocientífica (QSC) sobre o uso medicinal da Cannabis sativa
e tem como objetivo apresentar e discutir uma proposta didática elaborada segundo a pedago-
gia histórico-critica (PHC), para ser implementada no Ensino Médio. Fundamentada no materia-
lismo histórico, esta pedagogia também forneceu os instrumentos, técnicas e procedimentos de
elaboração e análise dos dados. As aproximações e semelhanças que existem entre as QSC e
a PHC foram discutidas a partir da análise da proposta. Os resultados demonstraram a impor-
tância da educação em ciências que inova ao discutir assuntos científicos controversos que es-
tão presentes na sociedade, considerando aspectos históricos, culturais, econômicos, políticos,
científicos, religiosos, entre outros. Incentivar a participação dos estudantes é fundamental no
desenvolvimento da argumentação e autonomia.
*
Mestre em Educação em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática
da Universidade Federal de Goiás. Professora de Ciências e Biologia na Educação Básica em Goiânia, Goiás,
Brasil. E-mail: [email protected]
**
Doutora em Educação em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Uni-
versidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP. Professora da Faculdade de Educação e do
Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Universidade Federal de Goiás,
Brasil. E-mail: [email protected]
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Dezyrê Mendes Peixoto, Cinthia Leticia de Carvalho Roversi Genovese
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Questão sociocientífica sobre o uso medicinal da Cannabis sativa: uma proposta didática segundo a pedagogia...
Uma discussão que vem tendo destaque na mídia brasileira é o uso medicinal
da planta Cannabis sativa. Os estudantes assistem as notícias na televisão ou na
internet e geralmente fazem as mais diversas perguntas a seus professores sobre
esse assunto. Por este motivo, surgiu a pergunta deste trabalho: “Como abordar
o uso medicinal da Cannabis sativa para estudantes do Ensino Médio, sem fazer
nenhuma defesa ao uso de drogas?” Se essa questão não for discutida nas escolas,
esses estudantes podem obter informações equivocadas ou incompletas, como a
possível divulgação de que se trata de algo inofensivo e que o medicamento pode
ser usado por qualquer pessoa. (BONINI et al. 2018; ALSHERBINY; LI, 2019).
Neste sentido, Reis (1999, p. 108) explica que “[...] a discussão de assuntos con-
troversos ajuda os alunos a compreenderem as situações sociais, os actos humanos
e as questões de valores controversos por eles levantados”. Desta forma, a discussão
do uso medicinal das propriedades da Cannabis é um assunto que divide opiniões,
carregadas de preconceitos, medos, fé, desinformação e esperanças exacerbadas.
A planta polêmica
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Dezyrê Mendes Peixoto, Cinthia Leticia de Carvalho Roversi Genovese
A partir da década de 1960 vários estudos foram realizados para testar proprie-
dades medicinais da Cannabis sativa. Existem mais de 100 substâncias canabinoi-
des, e dentre elas, duas substâncias chamaram a atenção, no Brasil, de médicos,
mães, pacientes, jornalistas e políticos: o Tetra-hidrocanabinol (THC) e o Canabidiol
(CBD). O CBD tem chamado a atenção por não ter sido comprovada a sua depen-
dência química. (LESSA; CAVALCANTI; FIGUEIREDO, 2016). De acordo com os
autores, medicamentos que contêm essas substâncias são indicados pelos médicos
aos pacientes que apresentam vômitos e enjoos devido à quimioterapia, esclerose
múltipla, Síndrome de Dravet (epilepsia), perda de apetite em decorrência da AIDS
e dores crônicas devido ao câncer.
O uso de plantas medicinais para alívio da dor e tratamento de doenças ocorre
desde a pré-história. Atualmente, diversos medicamentos que utilizamos regular-
mente são de origem vegetal. Por exemplo, opioides como a morfina e a codeína
são extraídos da papoula, e a aspirina, um dos anti-inflamatórios mais utilizados
no mundo inteiro, é extraída da casca do salgueiro. (LESSA; CAVALCANTI; FI-
GUEIREDO, 2016). Sob esse aspecto, defendemos a necessidade de mais estudos e
discussões acerca das propriedades medicinais da Cannabis sativa no tratamento
de doenças, dentro das possibilidades e dos limites a respeito do assunto.
Com relação à legislação brasileira, destacamos dois Projetos de Lei (PL). O
primeiro é o PL nº 339/2015 da Câmara dos Deputados Federais, que permite a
comercialização no território nacional de medicamentos que contenham extratos,
substratos ou partes da planta Cannabis sativa, ou substâncias canabinoides (de-
rivadas da Cannabis) em sua formulação. O texto deste PL altera o Art. 2º da Lei
antidrogas, nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, que hoje proíbe em todo o território
nacional o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos
quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, com exceção de plantas de uso
estritamente ritualístico-religioso.
O segundo é o PL 5.295/2019, do Senado Federal, que propõe a liberação do
cultivo da planta exclusivamente para a produção de medicamentos e a realização
de pesquisas científicas. Nenhuma das propostas mencionadas permite o uso re-
creativo ou o plantio individual. O debate sobre o uso medicinal da maconha está
no Senado desde 2016. (BRASIL, 2019).
Em dezembro de 2019 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
analisou o PL nº 339/2015 da Câmara dos Deputados Federais, e aprovou o uso
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sobre determinada realidade. Desta forma, os sujeitos adquirem uma nova visão de
seu mundo, uma nova forma de pensar e agir em sua comunidade.
Para Aranha (2006, p. 342), “[...] a tarefa da pedagogia histórico-crítica insere-se
na tentativa de reverter o quadro de desorganização que gera uma escola excludente,
com altos índices de analfabetismo, evasão, repetência e, portanto, de seletividade.”
O saber precisa ser apropriado pela classe trabalhadora, que colocará este a serviço
de seus interesses, de maneira que para superar as heranças, é necessário começar
pelo acesso ao saber elaborado. Sobre o ensino pautado no princípio dialético:
“Reforça-se que o ponto de partida é a prática social do aluno, a qual, uma vez considera-
da, torna-se elemento de mobilização para a construção do conhecimento. Tendo o pen-
samento mobilizado, o processo de construção de conhecimento já se iniciou. É preciso
estar atento para que a elaboração da síntese do conhecimento, momento destacado na
metodologia dialética, não fique desconsiderada. Ela possibilita a volta à prática social
já reelaborada, uma vez que o aluno construiu, no pensamento e pelo pensamento, a
evolução do objeto de estudo pretendido”. (ANASTASIOU; ALVES, 2004, p. 74).
Proposta didática
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Dezyrê Mendes Peixoto, Cinthia Leticia de Carvalho Roversi Genovese
importantes na sociedade. Por meio desta proposta didática, os estudantes deverão ser
capazes de compreender que o tema abordado é uma questão sociocientífica complexa,
que envolve fatores científicos, sociais, morais, políticos e religiosos. Além disso, deverão
ser capazes de construir argumentos contra ou a favor da utilização das propriedades
medicinais da planta Cannabis sativa e da plantação e produção em território nacional.
Objetiva-se ainda o estímulo ao senso crítico, à discussão e à participação em
decisões coletivas que afetam a sociedade, a aprendizagem a despeito dos prejuízos e
efeitos nocivos de substâncias psicoativas no sistema nervoso e por fim, a formação
de atitudes de prevenção aos danos à saúde e à vida, a criminalidade e a violência
associada ao uso de drogas.
Os temas controversos ao serem trabalhados em sala de aula, precisam con-
siderar o interesse e a faixa etária dos alunos, e especialmente, precisam incluir
dimensões sociais, culturais, econômicas, políticas, éticas e morais que envolvem
a produção de conhecimento científico (TRIVELATO; SILVA, 2013), conhecimento
que, neste caso, se refere às pesquisas envolvendo a utilização de CBD e THC na
produção de medicamentos. Nesse sentido, a questão sociocientífica abordada
neste trabalho, pode ser descrita da seguinte forma: “Cannabis medicinal: be-
nefícios versus riscos”.
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dos estudantes fora do ambiente escolar, o que confere sentido à sua aprendizagem.
Desta forma, é possível conectar a escola às práticas sociais dos alunos. Além disso,
o próprio discente, por meio do portfólio torna-se autor de sua própria trajetória,
podendo revisitá-la sempre. O portfólio incentiva a escrita e beneficia todos os ti-
pos de alunos, revelando suas capacidades e potencialidades, o progresso de suas
aprendizagens e a defesa de suas posições ao longo do processo. (VILLAS BOAS,
2005). Por isso, em cada um dos cinco momentos do método, os estudantes serão
incentivados a registrarem suas observações em seus portfólios. As possibilidades
de ações, atividades e estratégias estão apresentadas e serão descritas a seguir.
A questão sociocientífica descrita anteriormente será apresentada aos estudan-
tes logo no início da Prática Social Inicial do Conteúdo. Este momento é muito
importante, porque o professor explica aos estudantes os objetivos da proposta
didática e os conteúdos que serão trabalhados. No entanto, ele vai além dessa apre-
sentação e busca motivar seus alunos, fazendo-lhes perguntas para saber qual é a
prática social imediata que possuem sobre o tema abordado. O quadro 1 sintetiza
e estrutura este primeiro momento da proposta:
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Dezyrê Mendes Peixoto, Cinthia Leticia de Carvalho Roversi Genovese
Os próprios livros didáticos abordam este tipo de conteúdo, como uma forma de
promover informações sobre o uso de drogas. Todavia, como aponta Teodoro et al.
(2017), essa abordagem ainda é insuficiente e descontextualizada para que se atinja
os objetivos determinados em relação à prevenção do uso e abuso de entorpecentes.
Os livros atuais não adotam mais uma abordagem baseada no medo ao lidar com o
tema drogas psicotrópicas e nem banalizam seu uso. Contudo, a abordagem sobre o
tema drogas é passível de adequações e melhorias, principalmente considerando a
apresentação de informações superficiais e descontextualizadas em relação a outras
questões como saúde, cultura, consumismo, demais aspectos sociais (políticas públi-
cas, violência, mídia) e econômicos (indústria farmacêutica, tráfico etc.) (TEODORO
et al. 2017, p. 39).
Para Saviani (2012), uma das tarefas primordiais de uma pedagogia revolucioná-
ria é a difusão de conteúdos vivos e atualizados, de modo que os estudantes tenham
acesso ao saber elaborado e historicamente construído. Dentro desta perspectiva, o
professor enquanto organizador do processo de ensino-aprendizagem, pode se valer
do tema para promover a apropriação dos conhecimentos científicos a respeito do
funcionamento do sistema nervoso, e, para além disso, promover uma discussão
contextualizada, atual e que faça sentido à prática social dos educandos sobre pre-
juízos do uso e abuso de drogas. “Ao fazer da experiência social concreta dos alunos a
própria trama do trabalho pedagógico, sobre a qual se introduz o conteúdo científico
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Quadro 2: Problematização
Problematização
Discussão sobre os principais problemas sobre a liberação do uso medicinal da maconha em
diferentes dimensões.
O que são drogas e como agem no sistema nervoso? Quais são os prejuízos do uso
de drogas? Quais são os efeitos no organismo de pessoas que fazem uso do óleo
medicinal para aliviar sintomas de doenças degenerativas? Que meios existem para
Científica
a obtenção dos medicamentos à base de Cannabis sativa? Quais são os riscos?
Quem são os responsáveis pelas pesquisas sobre essas substâncias? O que é im-
portante avaliar?
Quais as consequências sociais para as pessoas que fazem uso de drogas? Como
ajudar e obter ajuda? Os efeitos colaterais dos remédios à base de Cannabis podem
causar prejuízos à sociedade como os remédios derivados do ópio? Como diminuir o
Social
número de dependentes químicos? De que forma as famílias e os pacientes podem
ser beneficiados com o uso medicinal de propriedades da Cannabis sativa? Como
desconstruir os preconceitos em relação ao uso medicinal da maconha?
Quanto vai custar o medicamento feito à base de maconha nas farmácias? Como
Econômica garantir que as famílias de baixa renda tenham acesso ao medicamento de maneira
gratuita ou com preço acessível?
Há alguma Lei ou Projeto de Lei que auxilie as famílias mais carentes a obterem o
medicamento? Como a população pode solicitar aos políticos uma legislação que
garanta o acesso do remédio às famílias de baixa renda? Por que novos medica-
Política mentos não poderão ser produzidos em território brasileiro com substâncias canabi-
noides? Quais são os riscos?
Quais seriam as possibilidades e os limites da produção em território nacional? Por
que a maconha é proibida em alguns países e liberada em outros?
Qual é a posição das religiões sobre o uso medicinal da Cannabis no Brasil e em
Religiosa
outros países?
Quais os efeitos psicológicos do uso medicinal da Cannabis para os pacientes e
Psicológica
suas famílias?
Quando foram descobertos os benefícios do medicamento à base de Cannabis? Em
Histórica quais países há esta liberação e há quanto tempo este medicamento está liberado
em cada país?
Fonte: as autoras.
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Quadro 3: Instrumentalização
Instrumentalização
Leitura da Legislação, exposição dialogada do professor, palestra 1: “Canabinoides
Ações medicinais, epilepsia, autismo e câncer: perspectivas e esperanças” e palestra 2: “Pre-
discentes e venção ao uso de drogas: um compromisso com a saúde e o bem-estar”, pesquisa dos
docentes alunos sobre a legislação em outros países sobre o tema e sobre o posicionamento de
algumas religiões, discussão sobre os resultados da pesquisa, debate a favor ou contra
o uso de medicamentos à base da Cannabis, roda de conversa.
Recursos
materiais e Palestrantes, professor, alunos, revistas, jornais, sites, Legislação, livros.
humanos
Fonte: as autoras.
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Quadro 4: Catarse
Catarse
Síntese mental do -Registrar informações relevantes, escrever os principais argumentos utilizados nos deba-
estudante e sua tes e construir os próprios argumentos para a elaboração de uma dramatização.
apropriação do co- - Retomada da questão sociocientífica como orientação para a produção de uma carta di-
nhecimento recionada à sociedade, tendo como base os conhecimentos e argumentos aprendidos, re-
lacionando-os às dimensões científica, social, política, econômica, histórica, entre outras.
Fonte: as autoras.
De acordo com Foreman (2010), além de romper com as rotinas de sala de aula,
a dramatização pode gerar diversão e interesse verdadeiro, podendo ser considerada
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Questão sociocientífica sobre o uso medicinal da Cannabis sativa: uma proposta didática segundo a pedagogia...
Considerações finais
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Dezyrê Mendes Peixoto, Cinthia Leticia de Carvalho Roversi Genovese
Abstract
This paper study the socio-scientific issue (SSI) on the medicinal use of Cannabis sativa and
aims to present and discuss a didactic proposal elaborated according to the historical-critical
pedagogy (PHC), to be implemented in High School. Based on historical materialism, this pe-
dagogy also provided the tools, techniques and procedures for the elaboration and analysis of
data. The similarities and similarities that exist between SSI and PHC were discussed from the
analysis of the proposal. The results demonstrated the importance of science education that
innovates when discussing controversial scientific issues that are present in society, considering
historical, cultural, economic, political, scientific, religious aspects, among others. Encouraging
student participation is essential in the development of argumentation and autonomy.
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Resumo
A inclusão no âmbito escolar descende de muitos estudos e práticas que assegurem o direito
dos estudantes de construírem seus conhecimentos juntos. Para que esse direito seja garanti-
do, a escola deve oportunizar meios didático-pedagógicos para esse processo inclusivo acon-
tecer, buscando valorizar a heterogeneidade, tratando a todos com o princípio da equidade.
Este trabalho relata uma pesquisa desenvolvida em um curso de Ciências da Natureza Licen-
ciatura, a qual objetivou investigar a pertinência da aplicação de uma sequência didática sobre
a temática abelhas, no componente curricular de Ciências na Educação Básica. A metodologia
se caracterizou, quanto à abordagem, como qualitativa; quanto aos objetivos, exploratória e,
quanto aos procedimentos, como intervenção pedagógica. Teve como lócus uma escola da rede
pública municipal e o sujeito uma estudante com deficiência visual matriculada no sétimo ano da
escola. Os dados foram analisados segundo a metodologia de Linguagem de Descrição (BER-
NSTEIN, 2000). A pesquisa foi desenvolvida em quatro etapas, para melhor elucidação sobre o
contexto pesquisado. Como resultados, o estudo apresentou que a inclusão de estudantes com
deficiência visual no contexto escolar é uma realidade possível e o uso de materiais e recursos
adequados, elaborados a partir dos interesses, necessidades, potencialidades e da realidade
dos sujeitos, facilitam a interação em sala de aula, propiciando seu desenvolvimento pessoal por
meio do estímulo na busca pela construção do conhecimento.
* Licenciada em Ciências da Natureza pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa) – Campus Dom Pedrito.
Mestranda do PPG em Ensino de Ciências da Unipampa – Campus Bagé, Brasil. E-mail: [email protected].
** Doutora em Ensino de Ciências pela Universidade Franciscana (UFN). Professora Adjunta da Universidade
Federal do Pampa (Unipampa) – Campus Dom Pedrito, Brasil. E-mail: [email protected].
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Sequência didática para o ensino inclusivo de estudantes com deficiência visual: abordagem do tema abelhas
Introdução
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mente por meio de equações e/ou experimentos, o professor deve utilizar recursos
acessíveis que promovam a aprendizagem dos alunos com DV.
[...] é incompreensível que os estudantes com deficiência visual tenham grandes
dificuldades com a sistemática do ensino atual visto que o mesmo invariavelmente
fundamenta-se em referenciais funcionais visuais (CAMARGO; SILVA, 2003, p.1218).
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Abordagem metodológica
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ção interna, que compreende a teoria (ou conjunto de teorias) e seus conceitos e a
linguagem de descrição externa, representada pelos modelos gerados a partir da
linguagem de descrição interna. A seguir, tem-se a representação em diagrama da
metodologia de Bernstein utilizada para a análise dos dados.
Segundo Bernstein (2000), esta metodologia visa favorecer uma relação dialética
entre os conceitos constituídos por uma teoria (linguagem de descrição interna) e
os dados empíricos a serem analisados (linguagem de descrição externa). A partir
de mudanças originadas pelos dados empíricos, a linguagem de descrição externa
conduz a mudanças na linguagem de descrição interna.
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Figura 3: Capa do álbum seriado adaptado e de página interior mostrando o favo de mel com texturas
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O jogo associação das abelhas (Figura 4) tem o objetivo de relacionar fichas com
as características das abelhas: operária, rainha e zangão e suas funções na colmeia.
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Figura 5: Maquete tátil para associação das partes morfológicas das abelhas.
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O jogo caminho das abelhas, presente na SD, tem como objetivo identificar
conceitos fundamentais referentes à organização social das abelhas, à polinização
e à produção de mel e ao impacto por meio do uso de agrotóxicos e desmatamento,
ocasionando a diminuição de indivíduos dessa espécie. Os materiais utilizados para
a realização do jogo são um tabuleiro ampliado e adaptado em braile, com textura
demarcando o espaço das “casas”, dado com números ampliados e escrita numéri-
ca em braile, dois pinus com diferentes texturas e questões com fonte ampliada e
escrita em braile, conforme Figura 7.
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A sequência didática foi adaptada para estudantes com deficiência visual (baixa
visão ou cegueira), e foi aplicada em uma turma de sétimo ano do Ensino Funda-
mental da rede municipal de ensino, que continha uma estudante com baixa visão.
Os materiais que compõem a SD foram utilizados por todos os estudantes da turma,
mostrando a importância do uso de diferentes materiais que possibilitem o processo
de inclusão em sala de aula.
Resultados e discussões
O campo teórico permeou a coleta de dados, da mesma forma que os dados cole-
tados possibilitaram o enriquecimento das teorias adotadas, em processo dialético.
No Quadro 1, tem-se o detalhamento da análise dos dados:
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inclusão escolar. Galery (2017, p. 86) destaca a importância da prática docente: “[...]
a ação reflexiva da prática docente mobiliza-me cada vez mais para a necessidade
de nos unir na construção de uma escola para todos e cada um. Onde todos têm os
mesmos direitos e de fato a aprendizagem aconteça”.
Nesse contexto reflexivo sobre a prática docente em sala de aula, enfatiza-se
a importância da utilização de tecnologias assistivas (TA) que atendam às neces-
sidades dos estudantes incluídos e professores capazes contemplarem o processo
inclusivo em seus planejamentos. A utilização da TA, na visão de Bersch (2017),
visa auxiliar os estudantes atendidos na sala de recursos em atividades da vida
diária e prática, por meio de materiais pedagógicos que atendam às necessidades
deles. Bersch (2017) destaca a importância das TA possibilitando estratégias que
valorizem a individualidade do estudante aumentando sua capacidade de ação e
interação. A professora do AEE da escola busca atuar de forma criativa, procurando
alternativas que favoreçam o entendimento de conceitos pelos estudantes por meio
de diferentes recursos que permitam autonomia no processo de aprendizagem.
A escola da pesquisa contava em seu corpo docente com uma professora de
Ciências com graduação em Ciências do 1.° grau. Ela atuava com duas estudantes
incluídas nos anos finais do Ensino Fundamental: uma estudante surda e uma es-
tudante com baixa visão. O processo de inclusão em sala de aula é destacado pela
professora como um desafio, sendo difícil articular a prática do seu planejamento
às necessidades das estudantes incluídas em sala de aula. Em entrevista, esta
profissional destacou que “[...] utilizo muito em minhas aulas o livro didático, o que
dificulta a visualização do conteúdo para a estudante que tem baixa visão, pois a
fonte não é ampliada e muitas vezes tenho que atendê-la individualmente” (Relato
da professora de Ciências sobre a prática em sala de aula).
A falta de formação necessária para desenvolver um melhor trabalho acaba
dificultando o processo, que é amenizado pelo atendimento em turno inverso na
sala de AEE, único incentivo à prática inclusiva na escola. É importante destacar
até que ponto o atendimento na sala de AEE supre as necessidades nos processos
de ensino e aprendizagem de Ciências, uma vez que conceitos científicos precisam
ser desenvolvidos. Costa e Lorenzetti (2020, p. 43) destacam que “O domínio concei-
tual é importante no ensino de ciências, mas é crucial que os alunos transcendam a
abstração, sendo capazes de aplicar o conhecimento em seu contexto sociocultural e
ambiental. É imprescindível a apropriação do conhecimento para o posicionamento
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crítico frente a problemas científico”. Para que isso ocorra de maneira favorável,
precisa existir um trabalho colaborativo entre a professora da sala de AEE e a
professora de Ciências, ambas desenvolvendo ações capazes de colaborarem signi-
ficativamente à aprendizagem dos estudantes incluídos. Na escola pesquisada, não
ocorria essa união entre as áreas.
Nem sempre o ensino formal atende os objetivos para o Ensino de Ciências. Há
necessidades de mudanças indicando que várias situações precisam ser corrigidas,
a formação docente, tempo de aprendizagem, a interdisciplinaridade e, no caso da
educação inclusiva, a adaptação de recursos (MÓL, 2019). Em relação à atuação do
professor em sala de aula, cabe destacar que é necessário “[...] (re) afirmar que a
postura do professor transmissor de informações deve dar lugar à postura de media-
dor entre o sujeito e o objeto de conhecimento, parece ser redundante e insuficiente
aos anseios daqueles que estão se tornando professores ou cuja formação acadêmica
não favorece a prática pedagógica” (BACICH; MORAN, 2017, p. 91). Os autores
nos conduzem à reflexão sobre a importância de mediar as informações para que
os estudantes sejam atuantes no processo, o que, na maioria das vezes, não ocorre
principalmente na sala de aula que tem estudante incluído.
Na sequência do estudo, para a elaboração do material utilizado na aplicação e
os conceitos a serem abordados, investigou-se o interesse dos estudantes acerca da
temática abelha. Na primeira etapa, eles foram questionados sobre o que gostariam
de saber sobre as abelhas. Utilizando o aplicativo Word cloud®, cada estudante
respondeu ao questionamento com as principais curiosidades acerca da temática.
Conforme as curiosidades, uma nuvem de palavras era formada no aplicativo, que
destacou as mais citadas (Figura 8).
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Após essa primeira intervenção, que buscou identificar o interesse dos estudantes
sobre a temática, organizou-se a SD com o álbum seriado, jogos e maquetes, que foi
aplicada em três períodos, no turno da manhã, em uma turma de sétimo ano com
nove estudantes, sendo três meninos e seis meninas. Uma das estudantes apresen-
tava baixa visão e, de acordo com relato dela, havia dificuldade em acompanhar as
aulas, pois as professoras utilizavam o livro didático e o material impresso cuja fonte
não era acessível. A escola tinha impressora, ela se encontrava em manutenção há
algum tempo e os professores não conseguiam adaptar o material utilizado em aula.
Como forma de documentar a intervenção em sala de aula, foi utilizado o diário
de campo, no qual foram registrados os momentos da aplicação da SD permitindo,
além do registro, a reflexão sobre a aplicação da pesquisa. Macedo (2010) aponta
que a utilização do diário de campo:
Além de ser utilizado como instrumento reflexivo para o pesquisador, o gênero di-
ário é, em geral, utilizado como forma de conhecer o vivido dos atores pesquisados,
quando a problemática da pesquisa aponta para a apreensão dos significados que os
atores sociais dão à situação vivida. O diário é um dispositivo na investigação, pelo
seu caráter subjetivo, intimista (MACEDO, 2010, p. 134).
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mel. Um estudante destacou que o mel também pode ser utilizado na fabricação de
cosméticos e medicamentos. Durante a aplicação da SD, percebeu-se o envolvimento
dos estudantes em relação à temática, possibilitando a reflexão acerca da atuação do
ser humano no ambiente e as atitudes que podem extinguir espécies, acarretando
em um desequilíbrio ambiental.
Como proposto na pesquisa, a SD se constituiu de diferentes atividades práticas
em que os conceitos desenvolvidos partiram da curiosidade dos estudantes sobre a
temática abelha. Para Zabala (1998), a SD:
[...] pode indicar a função que tem cada uma das atividades na construção do conheci-
mento ou da aprendizagem de diferentes conteúdos e, portanto, avaliar a pertinência
ou não de cada uma delas, a falta de outras ou a ênfase que devemos lhe atribuir
(ZABALA, 1998, p. 20).
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devem ser reorganizados para que, de fato, a escola seja inclusiva. É relevante a
acessibilidade no ambiente escolar para que todos tenham acesso aos ambientes
da instituição, assim como a adaptação de materiais didáticos destinados aos es-
tudantes de modo a incluir as diferenças no contexto da sala de aula. Deve ocorrer
investimento em cursos de formação continuada aos professores da Educação Básica
com estudantes incluídos em suas turmas, pois os relatos identificados por meio da
pesquisa mostram a dificuldade de planejar e desenvolver as atividades em sala de
aula com esse público.
Embora tão complexo seja o processo inclusivo na escola, mesmo diante de
muitas falhas ainda existentes em relação à inclusão no nosso cotidiano, é preciso
incluir as diferenças e, para isso, os professores de Ciências devem repensar sua
prática em sala de aula. Esta pesquisa propôs investigar a pertinência da aplica-
ção de uma SD sobre a temática abelha, no componente curricular de Ciências na
Educação Básica. Analisou-se, por meio da aplicação de uma SD, uma dinâmica
diferenciada e ativa nas aulas de Ciências, motivando os estudantes e colaborando
com a professora, mostrando que, com a utilização de materiais didáticos adaptados,
é possível utilizar metodologias ativas nas aulas de Ciências.
Refletindo a partir dos resultados obtidos nessa pesquisa, em nenhum momento
houve a pretensão de apontar falhas em relação ao trabalho desenvolvido com a
estudante incluída. Tendo em vista que o trabalho da escola pública é se adaptar a
receber inúmeras diferenças no contexto escolar e, diante da inclusão, a escola está
cada vez mais buscando alternativas para atender a todos os estudantes.
A professora de Ciências participante da pesquisa apontou a importância do
processo inclusivo, mas destacou não se sentir apta a desenvolver um trabalho so-
zinha em relação a esse público. Com a estudante com baixa visão, percebeu-se a
importância e a fragilidade do que realmente é incluir em sala de aula. A estudante
relatou que gosta de Ciências e já ouviu muito a respeito, mas, nas aulas, muitas
vezes não enxergava o material disponibilizado e a dificuldade em ler esses recursos
acabava prejudicando seu entendimento sobre os conteúdos.
Percebe-se a complexidade do processo inclusivo, e nos relatos de todos os en-
volvidos na pesquisa, destaca-se que o contexto da sala de aula é uma rotina rápida
em que perceber as características e necessidades de cada estudante que está diante
de nós, não é tarefa fácil. O planejamento muitas vezes não está adequado a todos,
não contemplando a perspectiva inclusiva. Espera-se que os resultados da pesquisa
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Abstract
Inclusion in the school environment stems from many studies and practices which ensure the
right of students to build their knowledge together. For this right to be guaranteed, the school
must provide didactic-pedagogical means for the inclusive process to take place, seeking to
value heterogeneity, treating everyone with the principle of equity. This work reports a research
developed in a course in Natural Sciences Degree, which aimed to investigate the relevance of
applying a didactic sequence on the theme of bees, in the curriculum component of Science in
Basic Education. The methodology was characterized, as for the approach, as qualitative, as for
the objectives as exploratory and, as for the procedures, as pedagogical intervention. It had as a
locus a public school in the municipal network and as a subject a student with visual impairment
enrolled in the seventh year of the school. The data were analyzed according to the Descrip-
tion Language methodology (BERNSTEIN, 2000). The research was developed in four stages,
to better elucidate the researched context. As a result, the study showed that the inclusion of
students with visual impairments in the school context is a possible reality and that the use of
appropriate materials and resources, elaborated from the interests, needs, potentialities and the
reality of the subjects, facilitate interaction in classroom, enabling their personal development by
stimulating the search for knowledge construction.
Nota
Disponível em: <https://sebraers.com.br/apicultura/rs-e-o-principal-produtor-de-mel-ha-mais-de-uma-de-
1
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Resumo
A utilização de Trilhas Interpretativas (TI) em Unidades de Conservação (UC) tem sido utiliza-
das na educação básica e superior como alternativa viável para os conteudos ecológicos. O
objetivo da pesquisa foi investigar o ensino e aprendizado de Ecologia da Amazônia (EA) por
meio da utilização de TI em UC, valorizando seu(s) ponto(s) de atratividade(s) e o contato do
aluno com a (o) flora, solo e recurso hídrico. A metodologia utilizada teve abordagem qualitativa
e utilizou uma sequência didática composta por roteiros e fichas de campo como instrumentos
norteadores e questionários com mecanismo de coleta de dados. Os sujeitos da pesquisa foram
15 (quinze) alunos pertencentes ao Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas (LCB), do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM). As TI em UC de-
monstraram ser eficientes espaços pedagógicos para o processo de ensino e aprendizagem de
EA. Os alunos conseguiram compreender os conteúdos ecológicos, impossíveis de ocorrer em
uma aula formal em sala de aula, pois as vivencias em cada TI foram cientificamente enrique-
cedoras, despertando valor moral, consciência crítica e percepção individual frente aos vários
desafios que o Bioma Amazônia enfrenta para manter sua biodiversidade inalterada. O produto
educacional elaborado contribuiu para um novo olhar a ser concebido para as UC em termos
de utilização, colaborando para a instrumentalização de outros espaços com potencial para o
ensino, bem como para o desenvolvimento de aulas mais participativas.
*
Doutor em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA. Professor do Departamento
Acadêmico de Química, Ambiente e Alimentos - DQA e do Programa de Pós-Graduação em Ensino Tecno-
lógico - PPGET do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM, Brasil. E-mail:
[email protected]
**
Mestre em Ensino Tecnológico pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino Tecnológico - PPGET. Professora
da Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas - SEDUC - Amazonas, Brasil.
E-mail: [email protected]
***
Mestre em Ciências de Alimentos pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Professora do Depar-
tamento Química, Ambiente e Alimentos – DQA do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Amazonas - IFAM, Brasil. E-mail: [email protected]
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Trilhas interpretativas em unidade de conservação: espaço pedagógico para o ensino de ecologia
Introdução
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pontos de destaque que ocorrem no decorrer de uma trilha como potencial interpre-
tativo (BARRETO; MARQUES, AZEVEDO, 2019).
A concepção de utilizar TI como estratégia para o ensino de Ecologia da Ama-
zônia (EA) pode contribuir para melhorar o seu processo de ensino-aprendizagem
e, concomitantemente, potencializar ambientes regionais que possam fomentar tal
fim, com vistas à aprendizagem de componentes curriculares específicos. Sabe-se que
a disciplina EA é ofertada em cursos de graduação em Biologia. Por ser específica
desse curso, nas Instituições de Ensino Superior (IES) não há uma metodologia de
ensino padrão estabelecida de como abordar os seus conteúdos, os quais são es-
pecíficos do Bioma Amazônia (SANTOS, 2020). Portanto, utilizar trilhas se torna
uma ferramenta para desenvolver aulas teóricas, práticas, transpondo a barreira
do ensino fragmentado. Sendo possível abordar com mais eficácia componentes cur-
riculares que podem ser melhor compreendidos a partir do contato do aluno com o
meio ambiente.
Assim, o presente trabalho investigou o ensino e aprendizado de EA por meio
da utilização de TI em UC, valorizando seu(s) ponto(s) de atratividade(s) e o contato
do aluno com a flora, solo e recursos hídricos.
Metodologia
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Figura 1: Mapa da RPPN Dr. Daisaku Ikeda destacando com setas vermelhas as TI abertas.
A Pesquisa
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Cada trilha recebeu um nome específico conforme o seu principal recurso natural
a ser utilizado nas aulas de EA, conforme seus PA. Assim, em cada trilha avaliou-se
os indicadores de atratividade que foram utilizados para definir o tema das TI. Os
indicadores de atratividade foram analisados levando em conta o valor qualitativo
para aumentar a atratividade do local (GONZAGA; MARTINS, 2011).
Intervenção
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Cada TI possuía um roteiro e ficha de campo especifica, onde o aluno pôde regis-
trar suas observações. As aulas dialogadas-expositivas em cada trilha direcionavam
os alunos a observarem os potenciais ecológicos.
Os roteiros específicos e as fichas de campo utilizadas para cada trilha podem ser
visualizados http://repositorio.ifam.edu.br/jspui/handle/4321/356. Esses norteavam o
aluno a observar as características da TI e os seus pontos de maior importância educa-
cional registrando tais pontos por meio de fotos. Portanto, os objetivos e as estratégias
planejadas seguiram as especificidades de cada trilha, já que cada uma tinha um po-
tencial específico para ser utilizada no processo de ensino e aprendizagem (Quadro 1).
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Foi realizado uma oficina de sinalização em sala de aula (Figura 2A), onde os
alunos destacaram os principais PA que cada trilha visitada possuía quanto aos
conteúdos abordados (Figura 2B) para a construção das PI (Figura 2C).
2A 2B 2C
Fonte: Os autores (2020).
Assim, um piloto das PI foi construído previamente como forma de ser ava-
liado pelos alunos para que, posteriormente, as PI definitivas fossem construídas
e instaladas nas TI. Na avaliação preliminar os alunos responderam a seguinte
pergunta: “Você tem alguma sugestão para melhorar as PI”? Participaram desta
avaliação, 15 (quinze) alunos. Posteriormente, a instrumentalização definitiva das
TI foi realizada por meio da construção de PI de alumínio galvanizado com layout
segundo as instruções normativas do ICMbio (2020).
A validação final das 6 (seis) PI foi realizada com a participação dos mesmos 15
(quinze) alunos já mencionados, os quais responderam a seguinte pergunta: “qual
a importância das PI para a compreensão do conteúdo contido nas TI”?
Verificação da Aprendizagem
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as aulas expositivas e o contato dos alunos com o(a) flora, solo e recurso hídrico
contribuiu para o processo de ensino e aprendizagem de conteúdos abordados na
disciplina EA. Os dados foram transcritos, tabulados, analisados e categorizados,
segundo reagrupamento analógico (BARDIN, 2016).
Resultados e Discussão
Caracterização biofísica das TI
Nesta trilha foi necessário destacar o contexto histórico das leis ambientais 6.938
(Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA) e 9.985 (Sistema Nacional de Unidades
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Esta trilha foi uma oportunidade única para os alunos conhecerem as variações
no relevo/topografia no bioma amazônico, compreendendo a importância da ciclagem
de nutrientes na Floresta Amazônica e sua importância para a manutenção da fer-
tilidade do solo e biodiversidade da vegetação em diferentes posições topográficas
(platô, vertente e baixio). Marques et al. (2016) delimita para este bioma a topografia
em platô (90 à 120 m de altitude), vertente (75 à 90 m de altitude) e baixio (50 à 75
m de altitude). Esta temática é bem característica do Bioma Amazônia e propor-
cionou aos alunos um conhecimento sobre a dinâmica da ciclagem de nutrientes.
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Assim, a aula foi conduzida explanando sobre as diferenças nas diferentes posi-
ções topográficas. Foi explicado e visualizado pelos alunos que no platô, vertente e
baixo as características do (a) solo, vegetação e entrada de luz sofrem variações em
decorrência da posição topográfica (Tabela 3). Para elucidar melhor as diferenças
abordadas podemos visualizar na Tabela 3 os resultados das análises realizadas a
partir das amostras coletadas pelos alunos sob a orientação do professor.
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Figura 3: Fruto de buriti (A), Planta de buriti (Mauritia flexuosa) (B) e Plantas de açaizeiro
(Euterpe oleracea) (C).
A B C
Fonte: Os autores (2020).
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A14), bem como a hiperdominância que exercem sobre o local onde estão inseridas
(Questão 2). As respostas são satisfatórias e estão de acordo com o abordado ao
longo da aula dialogada na trilha, pois destacam a hiperdominância da vegetação
de palmeiras e cada aluno enfatiza um aspecto que explica esta característica como
pode ser visto nas respostas dos alunos A5, A8, A9, A10, A11: “[Sim, pois ela inibi o
crescimento........]” e A7: [“Sim esse tipo de vegetação (Palmeiras) são árvores...........]”.
Ribeiro, Araújo e Santana (2007) relatam que as palmeiras encontradas na Amazô-
nia, como Buriti, estão restritas ao Baixio. Para a dinâmica ecológica da Amazônia,
o solo de palmeiras é muito importante e é responsável pela concentração de pal-
meiras comestíveis, frutíferas, com valor econômico e que entender essa dinâmica
é de extrema relevância para os alunos. Nesses ambientes são comuns solos are-
nosos, justamente o que foi compreendido pelos alunos e transcrito nas respostas
da Questão 3, sendo visualizado nas repostas dos alunos A1, A3 e A9: “Solo com
mais umidade” e A12: [“A liteira é bastante espessa com a........]. Resultados sobre
o uso dos solos e sobre a vegetação como método didático-pedagógico foi encontrado
também por outros autores (OLIVEIRA; MARQUES, 2017).
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Figura 4: Alunos na TRSF observando a formação Alter do Chão (A), coleta de amostras
de rocha (B), coleta de amostras de solo no sopé da Falésia (C) e Manuseio da
Carta de Munsell no campo para identificação da cor do solo (D).
A B
C D
Fonte: Os autores (2020).
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Figura 5: Visão panorâmica do encontro das águas (A) sendo observado pelos alunos sentados
durante a aula (B).
A B
Fonte: Os autores (2020).
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Trilhas interpretativas em unidade de conservação: espaço pedagógico para o ensino de ecologia
A IA da TEA foi realizada a partir do histórico do local. Foi dito que aquele
ambiente recentemente tinha sido alvo de especulações para a construção de um
novo porto para a cidade de Manaus e de uma área de lazer, fato este uma realidade
local. Nesse aspecto, foi perguntado aos alunos se os mesmos concordavam com esse
tipo de obras. Por unanimidade, relataram que obras desse tipo poderiam trazer
degradação ao ambiente. Esses fatos foram ponderados para estimular a percep-
ção dos alunos sobre possíveis consequências para a conservação do ambiente, o
que resultou em uma discussão e apropriação de conceitos na TEA. Para Santos,
Flores e Zanin (2011), a IA é uma oportunidade de desenvolvimento humano que
estimula a capacidade investigadora, levando o homem a repensar seu modo de
ver e sentir o planeta como um todo, a partir da leitura e da percepção da reali-
dade ambiental. Dessa forma, a natureza se firma como ferramenta facilitadora
do aprendizado; concebe-se a educação biológica como estratégia para a proteção
dos recursos naturais.
As UC têm por objetivo a conservação da biodiversidade, a preservação de
locais de beleza cênica e dos ambientes históricos. Murta e Goodey (2005) falam
que interpretar não é apenas informar sobre algo, mas é um ato de comunicação.
Amaral, Carvalho e Coutinho (2020), em atividade multidisciplinar desenvolvida
em TI, destacaram que proporcionou aos discentes atividade física, ressignificação
de conceitos biológicos relacionados ao ensino de Botânica, auxílio mútuo, aprendi-
zagem, integração com a natureza.
No âmbito da ecologia, de uma forma geral, o Bioma amazônico é tão amplo
como complexo. Existe a necessidade de se estudar as características amazônicas
mais afundo com uma disciplina específica para tal, como EA. Como relatado
por Ab’Saber (2002), a Amazônia brasileira possui interesse científico e didático
e complementa dizendo que há noção erronia de que o ecossistema é formado
apenas por floresta:
O fato de a região ter sido apresentada sempre como o império das florestas equato-
riais, de disposição zonal, acarretou distorções sérias nos estudos dos ecossistemas
regionais. É certo que, em termos do espaço total amazônico, predominam esmaga-
doramente os ecossistemas de florestas dotadas de alta biodiversidade. Entretanto,
se levarmos em conta o conceito original de ecossistema, independentemente das
disparidades espaciais de sua ocorrência, chegaremos a um número bem maior de
padrões ecológicos locais ou sub-regionais (AB’SABER, 2002, p.7).
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Nessa perspectiva, a educação é a forma mais eficaz para alcançar uma gestão
de recursos ambientais equilibrada, pois possui a capacidade de desenvolver ações
educativas numa perspectiva de construir novas olhares, valores educacionais e
éticos nos alunos e na sociedade (LIMA; MARQUES, 2019).
Produto Educacional
Tabela 5: Relatos das sugestões dos alunos quanto à avaliação preliminar do piloto das PI construído.
Alunos “Você tem alguma sugestão para melhorar as PI”?
A1 As placas poderiam ser posicionadas para uma melhor visualização de grandes grupos.
Usar sempre um tamanho de fonte que seja agradável aos olhos quando forem lidas além
A2
de posicioná-las a uma altura adequada.
A3 As placas poderiam ter mais informações sobre a vegetação a ser encontrada na trilha.
A4 Identificar as espécies no decorrer da trilha indicando sua importância.
Falar sobre a qualidade das espécies de fauna e flora amazônicas e mostrar as interações
A5
que existem das espécies com outras espécies no âmbito ecológico.
As placas são bem elaboradas e contém informações relevantes que contribuem para uma
A6
melhor experiência na trilha.
Talvez visando questão da educação inclusiva as placas poderiam ter algo de Braille pelo
A7 menos as partes principais como tipo de vegetação encontrada, os números de emergência
as atividades da trilha isto é válido para libras.
A8 É uma sugestão bem básica a fonte das letras das informações deveria ser maior.
A9 As placas poderiam ser posicionadas para uma melhor visualização de grandes grupos.
Sim, nem tudo consta nas placas porque a biodiversidade da unidade é grande, mas os
A10
pontos principais da trilha estão nas placas.
Estender o público-alvo e considerar a educação inclusiva (através do uso de libras nas
A11
placas, por exemplo), seria uma opção válida.
Acredito que mostrar mais nas placas a biodiversidade dos animais na mesma reserva seria
A12
interessante também. Apesar de já conter, mas em menor foco.
Poderia haver descrição da vegetação predominante em todo o tipo de relevo e sua impor-
A13
tância.
A14 Identificar as espécies no decorrer da trilha indicando sua importância.
A15 Falar sobre as espécies de fauna e flora amazônicas.
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
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A maioria das sugestões foi considerada para a construção final das PI como
foi o caso das sugestões dos alunos no tocante ao posicionamento das placas (A1 e
A9), fonte das letras adequadas (A2 e A8) e as espécies existentes no decorrer da
trilha (A4 e A14). Entretanto, algumas sugestões foram parcialmente atendidas,
pois requeriam “[...mais informações sobre a vegetação.....]”, “[.....falar sobre a
qualidade das espécies da fauna e flora......]”, “[......descrição da vegetação.....]” e
“[falar sobre as......]”, respectivamente dos alunos A3, A5, A13 e A15. As PI devem
conter os pontos de maior atratividade percebido e visualizado na TI (BARRETO;
MARQUES; AZEVEDO, 2019). Na realidade as placas apresentam a quantidade
necessária de informações contidas nas TI, fato este, constatado pelos alunos A10
e A12. Portanto, todas as sugestões culminaram para a obtenção de PI bem ela-
boradas e adequadas para o ensino de EA (A6). Para o momento, não foi possível
atender as sugestões dos alunos A7 e A11 devido os recursos financeiros para a
construção das PI não serem suficientes para tal adaptação, mas concordamos que
são extremamente importantes e necessários a inserção da linguagem de sinais.
Atualmente, estamos buscando recursos junto a agencias financiadoras para pro-
mover tal adequação. Além disso, a continuidade dos estudos nas PI construídas e
instaladas podem promover o aprimoramento do que já foi desenvolvido com vistas
numa melhor interação dos conteúdos ecológicos contidos na disciplina EA com os
PA existentes nas TI.
Assim, apresentamos as 6 (seis) PI, elaboradas pelos alunos e professor, finca-
das permanentemente na entrada de cada TI estudada como produto educacional
desta pesquisa (Figura 6). Relembrando que esta instrumentalização foi realizada
para promover melhor compreensão dos alunos sobre os conteúdos relacionados à
EA (Quadro 1). Por outro lado, as PI auxiliarão a quem visitar a UC, contribuindo
para o processo de ensino e aprendizagem da sociedade como um todo.
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Figura 6: PI fincadas na entrada de cada TI. A) TER; B) TPT; C) TTPI; D) TVP; E) TRSF; F) TEA.
A) B)
C) D)
E) F)
Fonte: Produtos da pesquisa (2020).
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Tabela 6: Relatos de 15 (quinze) alunos quanto a importância das PI para a compreensão do con-
teúdo contido nas TI.
A1 “Pois, a placa está informando aquilo que vamos ver os cuidados que precisamos ter ao entrar na
trilha.”
“As placas são ótimas para nos preparar para as trilhas, tanto nos cuidados, como nas dificuldades.
A3 Também há informações sobre o tipo de solo da área e o que podemos encontrar em cada tipo.”
“A floresta Amazônica é diversa, então é muito importante as placas interpretativas para nos infor-
A4 mar particularidades daquela trilha como dificuldades, solo, animais e o que observar.”
“Com as placas interpretativas a absorção de informações fica mais fácil e melhor, além de incenti-
A5 var e aguçar a curiosidade e não deixar nenhum recurso natural passar despercebido.”
“É de suma importância parta melhor compreensão dos recursos ali encontrados para orientação
A7 do visitante, já que é uma área reflorestada e de abrigo para diversos animais e em local urbano e
como está se relaciona.”
“As placas interpretativas fornecem informações importantes no que diz respeito ao que está pre-
A9 sente nas trilhas e abre a mente para uma melhor reflexão das observações feitas.”
A10 “Sim, pois as trilhas interpretativas podem ser uma ferramenta importante na aprendizagem signi-
ficativa de discentes, explorando as vivências práticas sobre o conteúdo que é visto na teoria em
sala de aula.”
A11 “Sim, proporciona a sensibilização dos alunos no que se refere as questões ambientais.”
A12 “Sim, está relacionada aos conteúdos transversais e favorece a relação professor aluno através das
experiências das trilhas.”
A13 “Parcialmente, não dá para afirmar que contribui para a aprendizagem, pois a mesma é relativa.”
A14 “Sim, pois aborda os conceitos trabalhados em sala de aula de forma prática e objetiva.”
A15 “Sim, pois todos os públicos podem ser beneficiados com algum tipo de conhecimento ao entrar na
reserva.”
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
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como espaços adjacentes a sala de aula, rico de informações e imagens reais para
ensinar Ciências”.
Considerações finais
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Abstract
The use of Interpretative Trails (IT) in Conservation Units (CU) has been used in basic and
higher education as a viable alternative for ecological content. The objective of the research
was to investigate the teaching and learning of Ecology of Amazonian (EA) through the use of
IT in UC, valuing its point (s) of attractiveness (s) and the student’s contact with the flora, soil
and water resource. The methodology used had a qualitative approach and used a didactic
sequence composed of scripts and field cards as guiding instruments and questionnaires with
data collection mechanism. The research subjects were 15 (fifteen) students belonging to the
Biological Sciences Degree Course (BSD), from Department of Chemistry, Environment and Food at
the Federal Institute of Education, Science and Technology of Amazonas (IFAM, Brazil). The IT in CU
demonstrated to be efficient pedagogical spaces for the teaching and learning process of EA.
The students were able to understand the ecological contents, impossible to occur in a formal
class in the classroom, as the experiences in each IT were scientifically enriching, awakening
moral value, critical awareness and individual perception in the face of the various challenges
that the Amazon Biome faces to maintain its biodiversity unchanged. The educational product
elaborated contributed to a new look to be conceived for the CU in terms of use, collaborating for
the instrumentalization of other spaces with potential for teaching, as well as for the development
of more participatory classes.
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Trilhas interpretativas em unidade de conservação: espaço pedagógico para o ensino de ecologia
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Jean Dalmo de Oliveira Marques, Laís Cássia Monteiro de Souza Barreto, Elizalane Moura de Araújo Marques
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José Carlos Pinto Leivas
Resumo
Neste artigo, apresentou-se uma pesquisa qualitativa, a qual teve por objetivo geral investigar
visualização em uma construção fractal exploratória envolvendo geometria e formas, grandezas
e medidas. Quanto à fundamentação teórica, foram empregadas concepções sobre a habilida-
de de visualização, destacando-se como ela pode ser explorada na obtenção de dados sobre
sequências e padrões obtidos na construção da Árvore Fractal. A pesquisa foi realizada em uma
aula na modalidade de ensino remoto, devido ao período de pandemia no transcorrer da discipli-
na oferecida em um programa de ação continuada a nível de mestrado. A atividade em questão
foi dirigida a professoras com formação inicial em Pedagogia, todas em exercício. A aplicação
foi feita via plataforma digital online e os dados foram coletados por meio de textos e imagens
produzidas pelos seis participantes. Os resultados mostraram que é viável explorar uma outra
geometria, tanto na formação continuada quanto na atividade profissional das participantes.
*
Doutor em Educação (Matemática) pela Universidade Federal do Paraná. Professor do Programa de Pós-
-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática - Universidade Franciscana-UFN, Brasil. E-mail:leivasjc@
gmail.com
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Uma árvore diferente: fractal exploratório na formação continuada de professores pedagogos
Introdução
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José Carlos Pinto Leivas
Fischbein (1987), por sua vez, associa visualização à intuição para produzir
conhecimentos auto evidentes da seguinte forma: “É uma afirmação trivial que
se tende naturalmente a pensar em termos de imagens visuais e o que não se pode
imaginar visualmente é difícil de conceber mentalmente” (p. 103).
Assim sendo, em tempos de pandemia, em que atividades pedagógicas ocorrem de
forma remota, justifica-se uma pesquisa realizada em uma aula nessa modalidade,
destinada a professoras em ação continuada em um programa de mestrado profis-
sional voltado a profissionais pedagogos que atuam na Educação Infantil e Anos
Iniciais do Ensino Fundamental. Recursos materiais convencionais como esquadro
e compasso, devido ao momento pandêmico, não estavam presentes no ambiente
familiar, o que demandou improvisações e adaptações criativas para obtenção da
denominada ‘Árvore Fractal’. Portanto, preocupar-se com a formação do professor que
ensina Matemática é um campo da Didática da Matemática que merece investigação
nas seguintes temáticas: “Formação e desenvolvimento profissional do professor de
matemática; o professor de matemática e a(s) prática(s) do professor; formação e
desenvolvimento profissional do professor de matemática” (PONTE, 2020, p. 811).
Procedimentos metodológicos
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[...] Pode ser um slogan, uma tarefa, uma lista de tarefas, o planejamento, o programa
da matéria, a filmagem de uma aula, o registro escrito de uma aula, um livro e assim
por diante. Seja próprio ou de terceiros, o documento deve estar disponível em papel,
áudio ou vídeo, extraído da internet ou de outras fontes (p. 14)1.
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Fundamentos teóricos
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Geometria fractal
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José Carlos Pinto Leivas
Embora a coleta de dados possa parecer simples, ela foi relevante para os su-
jeitos da pesquisa, uma vez que os auxiliou na organização das tarefas e permitiu
que tirassem conclusões corretas no que diz respeito aos padrões e sequências que
podem ser obtidas nos objetos fractais. Particularmente, esses padrões ocorrem
naqueles fractais construídos matematicamente, os quais, no presente caso, foram
também explorados geometricamente, indo ao encontro do que preconiza a BNCC.
Assim, foram propostos os seguintes questionamentos:
Quantos segmentos foram construídos na segunda iteração? Quantos segmentos
seriam construídos na 5ª iteração? Qual é a razão (divisão) entre os segmentos na
1ª e na 2ª iteração? Qual é a razão entre os segmentos na 2ª e na 3ª iteração? Ain-
da, escreva a lei matemática que determina o número de segmentos em função do
número de iterações. No que segue, apresenta-se os dados e conclusões de algumas
participantes.
PP5
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José Carlos Pinto Leivas
Essa estudante destacou-se pela expressão correta das potenciações, tendo co-
meçado pela iteração 0 como sendo a primeira. Ao responder aos questionamentos,
explicita que, na segunda iteração, há 2 segmentos e na quinta, 16. Conclui que o
número de segmentos vai dobrando e indica corretamente a generalização, isto é,
2n+1. Ela fornece, ainda, a seguinte explicação: “De um galho central vão surgir ga-
lhos secundários e dos secundários surgem outros e assim por diante e normalmente
observa-se a diminuição do tamanho desses galhos”.
Ao analisar os dados fornecidos por PP3, retoma-se o indicado por Rodríguez
et al. (2016), ao afirmarem ser preciso recorrer aos elementos capturados em um
documento disponibilizado a partir da realização de uma aula. Essa análise do
documento fornecido por PP3 vai ao encontro da aquisição de habilidades visuais
como preconizado por Arcavi (1999), as quais promovem um processo de criação,
interpretação e uso de figuras e imagens reproduzidas em papel.
Para concluir as análises da atividade, foi pedido que as participantes indicas-
sem dificuldades na interpretação da tarefa; aspectos positivos; aspetos negativos;
conexões da atividade realizada com o que indica a BNCC; possibilidades de uso
na prática profissional das participantes. Apresenta-se os depoimentos de duas das
participantes.
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PP1
Dificuldades na interpretação da tarefa.
“No início da atividade que era a construção da árvore fractal parecia que era fácil a sua
construção, mas no decorrer da atividade não sei por que, ficou um pouco complicado
nas medidas das ramificações da árvore, o importante que no final deu tudo certo”.
Aspectos negativos
“Insegurança em relação ao que eu entendi e o que o professor esperava...”
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José Carlos Pinto Leivas
“De acordo com a BNCC este conteúdo pode ser trabalhado com o quinto ano do Ensino
Fundamental, observando a proporção, a partir do aumento do número de segmentos e
a diminuição do tamanho dessas iterações. (EF05MA18) Reconhecer a congruência dos
ângulos e a proporcionalidade entre os lados correspondentes de figuras poligonais em
situações de ampliação e de redução em malhas quadriculadas e usando tecnologias
digitais”.
“Essa atividade pode ser explorada nos anos iniciais de inúmeras maneiras, depen-
dendo do objetivo do professor. (EF05MA14) Utilizar e compreender diferentes repre-
sentações para a localização de objetos no plano, como mapas, células em planilhas
eletrônicas e coordenadas geográficas, a fim de desenvolver as primeiras noções de
coordenadas cartesianas”.
Considerações finais
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Outra razão pela escolha deste fractal é que ele permite explorar tanto geometria
e formas quanto grandezas e medidas, recomendadas nos conteúdos e habilidades
da BNCC. Assim, entende-se e pesquisa-se sobre habilidade de visualização e, nes-
sa situação, foi possível explorá-la na obtenção de padrões e sequências, inclusive
o envolvimento com potenciação, o que não é muito frequente na formação inicial
desses sujeitos.
Os resultados da pesquisa mostram que elementos visuais e conteúdos geomé-
tricos foram explorados e que permitiram aprimorar o nível de desenvolvimento de
pensamento geométrico das participantes. Por sua vez, o envolvimento desses sujei-
tos, avaliando a realização da atividade, apontando aspectos positivos e negativos e,
sobretudo, indicando sua viabilização junto às suas práticas profissionais, indicam
que a opção por tal metodologia na referida atividade com Geometria Fractal pode
ser utilizada em qualquer nível de escolaridade, desde que adaptada didaticamente.
Espera-se que tal pesquisa possa contribuir para que outros profissionais que
atuam no nível de ensino investigado possam fazer uso dessa atividade, aprovei-
tando-a como sugestão de como é possível ser realizada durante o ensino remoto.
Abstract
In this article, a qualitative research was presented, which had the general objective of investiga-
ting visualization in an exploratory fractal construction involving geometry and shapes, quantities
and measures. As the main theoretical foundation, conceptions about the ability of visualization
and how it can be explored in obtaining data on sequences and patterns obtained in the cons-
truction of the Fractal Tree were used. The research was carried out in a class, in the remote
teaching modality, due to the period of pandemic that occurred during the course offered in a
program of continuous action at the master’s level aimed at teachers with initial training in Peda-
gogy, all in exercise. The application was made through an online digital platform and data were
collected through texts and images produced by the six participants. The results showed that it
is feasible to explore a geometry other than Euclidean and to be developed in their practices.
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Notas
“[...] Puede ser una consigna, una tarea, un listado de tareas, la planificación, el programa de la materia,
1
la filmación de una clase, el registro escrito de una clase, un libro, etcétera. Ya sea de autoría propia o
ajena, el documento debe estar disponible en papel, audio o video, extraído de internet u otras fuentes”
A sigla PP foi utilizada com as iniciais das palavras Professor Pedagogo seguidas de índice numérico.
2
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Nayara Ricele da Costa Tavares, Jaílson Santos de Novais
Resumo
Diferentes áreas do conhecimento discutem sobre aquecimento global. A temática suscita mui-
tos debates devido ao dissenso entre pesquisadores e outros setores sociais sobre a existência,
as causas e os efeitos do aquecimento da Terra. A escola é um dos espaços onde esse debate
comumente ocorre. Considerando que a Amazônia desempenha um papel central na discussão
sobre o aquecimento planetário, neste trabalho, investigamos quais as principais fontes de infor-
mação sobre aquecimento global a que estudantes têm acesso, bem como se a escola aborda
esse assunto. Participaram da investigação 249 estudantes do ensino fundamental em duas
escolas municipais de Santarém, Pará, sendo uma na zona urbana e outra na zona rural. Um
questionário foi aplicado aos participantes durante aulas de ciências. Os resultados apontam
que a escola trabalhava a temática ambiental por meio de exercícios e leituras, principalmente
na disciplina geografia. Contudo, aparentemente não abordava alguns elementos estabelecidos
nos parâmetros curriculares nacionais e no programa de ensino da rede municipal de educação,
à época da pesquisa (2012). A televisão demonstrou ser um meio de difusão frequente da temá-
tica entre estudantes. Porém, outras fontes de informação foram relatadas, como a internet, na
zona urbana, e o livro didático, na zona rural. Informações da mídia podem ser um instrumento
útil de debate na escola, no entanto, o embasamento científico é fundamental para enriquecer a
discussão e questionar criticamente informações equivocadas.
*
Especialista em Sociedade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia pelo Centro de For-
mação Interdisciplinar da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Professora do Colégio Pitágoras.
Juruti, Pará, Brasil. E-mail: [email protected]
**
Doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Professor
do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Sosígenes Costa, da Universidade Federal do Sul da Bahia
(UFSB); do Programa de Pós-graduação em Ciências e Tecnologias Ambientais (UFSB/IFBA); e do Programa
de Pós-graduação em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida, da Universidade Federal do Oeste do Pará
(UFOPA). Porto Seguro, Bahia, Brasil. E-mail: [email protected]
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“Você já estudou sobre aquecimento global na escola?”: contrapontos de estudantes amazônidas do campo e...
Introdução
O ensino de ciências contribui para formar cidadãs e cidadãos críticos, que sejam
capazes de compreender o mundo ao seu redor, ao refletirem sobre o papel da ciência
nesse processo e de como ela influencia a nossa vida em sociedade. Nesse contexto,
a literatura aponta de forma praticamente consensual que o ensino de ciências e
suas metodologias, devido a esse caráter emancipatório e cidadão, estão sujeitos às
modificações históricas, econômicas e sociais, do nível global ao local (KRASILCHIK,
1987; KRASILCHIK; MARANDINO, 2004; ZAUITH; HAYASHI, 2013).
Ampliar o letramento científico da sociedade é um dos objetivos centrais do
ensino de ciências. Com isso, assim como Krasilchik e Marandino (2004), entende-
mos que:
[...] ser letrado cientificamente significa não só saber ler e escrever sobre ciência, mas
também cultivar e exercer as práticas sociais envolvidas com a ciência; em outras pa-
lavras, fazer parte da cultura científica. (KRASILCHIK; MARANDINO, 2004, p. 22).
Para que esse objetivo seja alcançado, é fundamental que o ensino de ciências,
tanto em espaços formais, quanto não formais, abarque temáticas e debates atuais
que permeiam a vida em sociedade, a exemplo de aquecimento global, bioética,
equidade, racismo, vacinas, dentre outros (VERRANGIA; SILVA, 2010; SILVA;
KRASILCHIK, 2013; BARBOSA; LIMA; MACHADO, 2019). Dessa forma, espera-se
que o ensino de ciências escolar prepare cada estudante para ser um(a) cidadão(ã)
informado(a) sobre a ciência (ALLCHIN, 2011), “[...] confiante para viver com a
ciência como uma importante fonte de conhecimento para a sociedade, e que sabe
como e quando a ela recorrer” (FENSHAM, 2014, p. 660, tradução nossa).
No presente estudo, centramo-nos na temática do aquecimento global antropo-
gênico, um fenômeno controverso do ponto de vista da discussão social, haja vista as
implicações predominantemente políticas e econômicas decorrentes dessa discussão.
Apesar disso, há aspectos consensuais no âmbito científico, no que tange à base física
desse fenômeno, conforme apontado por Junges e Massoni (2018, p. 471). Investigar
como estudantes em diferentes contextos compreendem essa temática é importante
para que se repense o ensino sobre aquecimento global nas escolas, a partir de um
planejamento voltado para a compreensão (WIGGINS; McTIGHE, 2019).
Diante disso, este trabalho investiga quais são as principais fontes de informação
sobre aquecimento global para estudantes de duas escolas públicas no município
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Método
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“Você já estudou sobre aquecimento global na escola?”: contrapontos de estudantes amazônidas do campo e...
Figura 1: Instrumento para coleta de dados aplicado a 249 estudantes do 8.º e 9.º anos do ensino
fundamental em escolas urbana e rural em Santarém, Pará, durante pesquisa sobre
aquecimento global
ESCOLA:__________________________________________________________________
IDADE: _______ anos completos SEXO: ( ) Masculino ( ) Feminino
TURMA: _______________________ TURNO: ____________________________
1. Marque abaixo os meios de comunicação pelos quais você já viu alguma informação sobre o
tema aquecimento global:
( ) Livro didático ( ) Revista ( ) Televisão. Que tipo de programa? ________
( ) Internet ( ) Filme ( ) Jornal impresso
( ) Desenho animado ( ) Outros. Quais? __________________________
Resultados
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meios pelos quais já adquiriram alguma informação sobre aquecimento global (Figu-
ra 2). Enquanto isso, as turmas de 9.º ano responderam que os principais meios de
comunicação pelos quais já acessaram alguma informação sobre aquecimento global
foram: televisão (24% das citações), internet (20%) e livro didático (16%) (Figura 2).
Os demais meios de comunicação – revista, jornal impresso, filme, desenho animado,
dentre outros – foram citados por menos de 15% das(os) estudantes participantes
da pesquisa em ambos os anos (Figura 2).
Figura 2: Percentual dos meios de comunicação pelos quais estudantes do ensino fundamental em
escola urbana de Santarém, Pará, já obtiveram alguma informação sobre aquecimento
global. (8.º ano, gráfico à esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
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“Você já estudou sobre aquecimento global na escola?”: contrapontos de estudantes amazônidas do campo e...
ram geografia (54%), estudos amazônicos (21%) e ciências (13%) (Figura 3). Outras
disciplinas escolares mencionadas pelas(os) estudantes e nas quais se trabalhou
aquecimento global foram português, religião e história (Figura 3).
Figura 3: Percentual das disciplinas escolares que já abordaram o tema aquecimento global em
sala de aula, segundo estudantes do ensino fundamental em escola urbana de Santarém,
Pará. (8.º ano, gráfico à esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
Sobre a maneira pela qual a temática foi trabalhada na escola, as respostas de estu-
dantes do 8.º ano mencionaram exercício (30%), leitura (21%) e palestra (18%) (Figura
4). Enquanto isso, para o 9.º ano, as alternativas mais citadas foram exercício (27%),
palestra (23%) e leitura (20%) (Figura 4). Outras formas de trabalhar o tema em sala
de aula incluíram aula expositiva, seminário, jogos, aula de campo e filmes (Figura 4).
Figura 4: Percentual das formas pelas quais a temática aquecimento global já foi abordada na es-
cola, segundo estudantes do ensino fundamental em escola urbana de Santarém, Pará.
(8.º ano, gráfico à esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
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Figura 5: Percentual dos fatores que contribuem diretamente para o aquecimento global, segundo
estudantes do ensino fundamental em escola urbana de Santarém, Pará. (8.º ano, gráfico
à esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
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Figura 6: Percentual dos meios de comunicação pelos quais estudantes do ensino fundamental
em escola rural de Santarém, Pará, já obtiveram alguma informação sobre aquecimento
global. (8.º ano, gráfico à esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
Figura 7: Percentual das disciplinas escolares que já abordaram o tema aquecimento global em sala
de aula, segundo estudantes do ensino fundamental em escola rural de Santarém, Pará.
(8.º ano, gráfico à esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
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Por outro lado, na questão “Se você já ouviu falar sobre aquecimento global na
escola, como isso foi trabalhado?”, as(os) estudantes do 8.º ano responderam que a
abordagem se deu por meio de exercícios em sala de aula (37% das citações), palestras
(26%) e leituras (16%) (Figura 8). Enquanto isso, estudantes do 9.º ano afirmaram
que exercícios (41% das respostas) e leituras (36%) são os instrumentos mais utili-
zados por docentes para trabalhar aquecimento global em sala de aula (Figura 8).
Figura 8: Percentual das formas pelas quais a temática aquecimento global já foi abordada na escola,
segundo estudantes do ensino fundamental em escola rural de Santarém, Pará. (8.º ano,
gráfico à esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
No que diz respeito aos fatores que contribuem diretamente para o aquecimento
global (como queimadas, desmatamento e queima de combustíveis fósseis), todas
as alternativas apresentadas no questionário foram citadas pelas(os) estudantes,
inclusive as que não estão diretamente relacionadas às causas, mas sim aos efeitos
do aquecimento global, como estiagem/seca (Figura 9). Dentre as alternativas mais
citadas por estudantes do 8.º ano estão a queima de combustíveis fósseis (26%), o
desmatamento (24%) e as queimadas (22%) (Figura 9). Quanto a tais fatores que
influem no aquecimento global, estudantes do 9.º ano acreditam que, dentre os
principais, se enquadram as queimadas (24% das citações), o desmatamento (24%),
a queima de combustíveis fósseis (21%) e o efeito estufa (19%) (Figura 9).
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Figura 9: Percentual dos fatores que contribuem diretamente para o aquecimento global, segundo
estudantes do ensino fundamental em escola rural de Santarém, Pará. (8.º ano, gráfico à
esquerda; 9.º ano, gráfico à direita)
Discussão
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“Você já estudou sobre aquecimento global na escola?”: contrapontos de estudantes amazônidas do campo e...
das citações entre 8.º e 9.º anos na escola urbana e 13,5% na escola rural, sendo que
o 9.º ano dessa última escola representou 19% das citações. Os demais fatores são
considerados contribuintes na emissão de gases de efeito estufa ou consequências do
aquecimento global. As(Os) estudantes têm noção de que o uso de combustíveis fósseis,
aliado ao desmatamento e às queimadas, tem influência sobre o aquecimento global,
mas, falta maior clareza na informação e conhecimento para explicar o processo.
De acordo com o IPCC (2007), a principal causa do aumento na concentração
de dióxido de carbono na atmosfera desde o período pré-industrial é o uso de com-
bustível fóssil, além da agricultura e do uso do solo, os quais também contribuem
com outros gases. Vários fatores também têm destaque para o aquecimento global
na região amazônica, como desmatamento, queimadas e construção de hidrelétricas
(SHARMA, 2012). Os impactos ambientais provenientes das mudanças climáticas
envolvem vários processos biológicos – como produção fotossintética, aumento da
transpiração das plantas causando estresse hídrico, proliferação de vetores patogê-
nicos – que podem alterar a vida no planeta levando a um desequilíbrio ambiental.
Considerações finais
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Abstract
Different knowledge areas discuss about global warming. The theme raises many debates due
to the dissent between researchers and other social sectors regarding the existence, causes
and effects of the Earth’s warming. The school is one of the spaces where this debate commonly
occurs. Since the Amazon plays a central role in the discussion about the planetary warming,
in this work, we investigated which are the main sources of information on global warming for
students, as well as if the school addresses this issue. A total of 249 elementary school students
were included in the investigation, from two municipal schools in Santarém, Pará State – one
in the urban area and another in the rural area. A questionnaire was applied to the participants
during Science classes. The results show that the school addressed the environmental theme
through exercises and readings, mainly in the Geography discipline. However, the school appa-
rently did not address some elements established in the national curriculum parameters and in
the teaching program of the municipal education secretary, when the research was carried out
(2012). Television proved to be a common way for disseminating the theme among students.
However, other sources of information were mentioned, such as the internet, in the urban area,
and the textbook, in the rural area. Information from the media may be an useful instrument for
debate at school; however, the scientific background is essential to enrich the discussion and
critically question misinformation.
Keywords: Education in the Amazon; Science education; Elementary education; Climate chan-
ges.
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A utilização de organizadores prévios para o ensino de estequiometria: uma proposta de unidade de ensino...
Resumo
Este trabalho apresenta uma proposta didática para o ensino de estequiometria com base na
teoria da aprendizagem significativa e organizada no formato de uma unidade de ensino poten-
cialmente significativa. O formato da sequência de aulas visa a promover um aprendizado de
qualidade, que difere do aprendizado mecânico, tendo em conta que o conhecimento prévio dos
alunos influencia fortemente a aprendizagem. Situações e problemas que envolvem o relacio-
namento com ingredientes e receitas culinárias são utilizados aqui para agregar novos conheci-
mentos. A justificativa para o desenvolvimento dessa estratégia de ensino é que a estequiome-
tria é identificada como um assunto desafiador devido à necessidade do uso e da interpretação
de linguagens químicas, físicas e matemáticas. Como resultado, espera-se que esta unidade
contribua para a melhor compreensão dos conceitos de estequiometria e promova o uso de
materiais de aprendizagem potencialmente significativos, além de demonstrar a construção de
relações lógicas com o conhecimento científico e o distanciamento do ensino de química com
base apenas na memorização de conteúdos.
*
Licencianda em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasil. E-mail [email protected]
**
Doutora em Educação em Ciências Docente do Instituto de Química e dos Programa de Pós-Graduação em
Educação em Ciências e PROFQUI da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasil. E-mail daniele.
[email protected]
***
Doutor em Química. Docente do Instituto de Química e do Programa de Pós-Graduação em Química da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Brasil. E-mail [email protected]
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Introdução
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A utilização de organizadores prévios para o ensino de estequiometria: uma proposta de unidade de ensino...
(LE MAIRE et al., 2018). Podem-se mencionar, também, nos casos avançados, os
compostos que não contêm moléculas discretas com composição atômica variável, os
quais são conhecidos como compostos não estequiométricos. (MYERS; MAHAN, 1995).
Kalantar (1985) declara que, durante anos, seus alunos tiveram problemas de
estequiometria envolvendo um reagente limitante, especialmente em casos em que a
estequiometria da reação não era de 1:1, mesmo compreendendo que as quantidades
estequiométricas de reagentes eram exceção, e não regra, e apesar dos tratamentos,
geralmente claros, apresentados nos textos. Muitos dos erros comuns cometidos pelos
alunos, ao determinar a quantidade de produto formado, envolvem: reconhecer o
reagente que está em menor quantidade como sendo o reagente limitante; calcular
a quantidade de produto como sendo o somatório das quantidades de reagentes; não
considerar os rearranjos dos átomos nas moléculas durante a reação química; resolver
o problema diretamente com quantidade em gramas, não convertendo para número
de mols; não perceber que haverá algum excesso de reagente no final da reação; e não
atribuir os coeficientes aos reagentes descritos. (SOSTARECZ; SOSTARECZ, 2012).
A estequiometria de reações é um ponto crítico, sobretudo quando se trata de
entender como funcionam as reações e a diferença entre condições de reação es-
tequiométrica e não estequiométrica, também conhecida como “estequiometria do
reagente limitante”. (LE MARIE et al., 2018). Isso ocorre devido ao fato de que os
problemas com reagente limitante não são apenas abstratos, mas também mate-
máticos. (STEINER, 1986).
Um método para favorecer o domínio dos alunos a respeito de condições este-
quiométricas e não estequiométricas são as “analogias ilustradas”. (LE MAIRE
et al., 2018). Segundo Gafoor e Shilna (2012), o uso de analogias é recomendado
porque fornece uma ponte entre um conceito desconhecido e o conhecimento que
os alunos têm, o que os motiva e facilita a visualização de conceitos abstratos por
comparações com objetos concretos. As ideias desses autores vão ao encontro do
predito pela Teoria da Aprendizagem Significativa, de David Ausubel.
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cesso por meio do qual uma nova informação (as ideias expressas simbolicamente)
interage de forma substantiva (não literal) e não arbitrária com aquilo que o sujeito
já sabe. (MOREIRA, 2013). A interação de forma literal está relacionada com a
aprendizagem mecânica, uma vez que esse tipo de interação, em geral, limita-se a
reproduzir o conhecimento de maneira idêntica à que foi apresentada ao aprendiz.
A aprendizagem mecânica fundamenta-se na memorização de novas ideias sem
estabelecer conexões. Em vista disso, trata-se de um aprendizado com menores
chances de permanecer na estrutura cognitiva do aluno a longo prazo. Contudo, se
há o estabelecimento de conexões entre a nova informação e o conhecimento prévio,
tem-se como resultado a construção de significados pessoais para essa informação.
A construção de significados pessoais é elaborada de forma “não literal”; desse
modo, se caracteriza como uma aprendizagem significativa. (TAVARES, 2004). A
interação não arbitrária não deve ocorrer com qualquer ideia prévia, mas, sim, com
algum conhecimento, especificamente relevante, já existente na estrutura cognitiva
do aprendiz. Esse conhecimento prévio, isto é, aquilo que o sujeito já sabe, é o que
Ausubel chamava de subsunçor ou ideia-âncora.
Em outras palavras, a nova informação ancora-se em conceitos ou proposições
relevantes já presentes na estrutura cognitiva. A importância dos subsunçores no
processo de aprendizagem é enfatizada por Ausubel, Novak e Hanesian (1980).
Segundo os autores, se tivessem que reduzir a um princípio único toda a psicologia
educacional, esse princípio seria: “O fator isolado mais importante que influencia a
aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece. Descubra o que ele sabe e baseie
nisso os seus ensinamentos”. (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p. 137).
Quando o aluno não dispõe de subsunçores adequados para a ancoragem da nova
informação, pode-se recorrer aos organizadores prévios. Organizador prévio é um
recurso que deve preceder o material de aprendizagem, ou seja, deve ser utilizado
antes da abordagem do conhecimento científico a ser desenvolvido. Esses organi-
zadores devem ter um nível mais alto de abstração, generalidade e inclusividade
em relação a este. Além de suprir a deficiência de subsunçores, os organizadores
prévios podem ser usados para auxiliar os alunos a perceberem a relacionabilidade
entre os novos conhecimentos apresentados e os seus conhecimentos pré-existentes.
(MOREIRA, 2013).
Assim, a aprendizagem significativa é considerada uma ampliação na estrutura
cognitiva que opera como âncora para novos conceitos e ideias, estabelecendo rela-
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Franciele Tatiana Haupt, Daniele Trajano Raupp, Vladimir Lavayen
estudado, buscando dar um sentido à temática. Podem ser sugeridas situações por
meio de simulações, demonstrações, vídeos, problemas cotidianos, matérias midiáti-
cas, exercícios clássicos, desde que tenham um nível acessível e problematizador. A
organização de uma situação-problema inicial é imprescindível para a aprendizagem
significativa. São as situações-problema que dão sentido aos novos conhecimentos.
Aprofundamento do conteúdo: O conhecimento deve ser apresentado a partir
da diferenciação progressiva, partindo-se de aspectos mais gerais, com uma visão
integrada dos elementos relevantes à matéria de ensino para a exemplificação de
pormenores específicos. Devem-se valorizar atividades colaborativas após a exposi-
ção do conteúdo, como práticas em grupos e apresentações. Conceitos estruturantes
devem ser apresentados em níveis crescentes de complexidade, sempre destacando
semelhanças e diferenças entre os exemplos, em uma reconciliação integrativa.
Nova situação-problema: A nova situação-problema deve propor questionamentos
com um nível de complexidade maior, evidenciando as correspondências e contradi-
ções entre os conceitos. As atividades devem valorizar ações colaborativas entre os
alunos, proporcionando maior interação e negociação de significados, sempre com
a mediação do professor. Podem-se propor tarefas como resolução de problemas,
construção de mapas conceituais, experimentos, elaboração de projetos, etc.
Aula integradora final: Abordam-se, aqui, as características mais relevantes do
conteúdo em questão, dando continuidade ao método de diferenciação progressiva
a partir de uma ótica integradora, buscando a reconciliação integrativa entre os
conceitos.
Avaliação da aprendizagem na UEPS: A avaliação, nessa perspectiva, deve
buscar evidências de compreensão de significados e capacidade de transferência
do conhecimento para diferentes situações. Inclui a avaliação formativa (situações,
tarefas em grupo, registros do professor), que visa a avaliar o progresso ao longo
do processo de aprendizagem, e a avaliação somativa individual, na qual deverão
ser propostas questões/situações, em geral, no formato de provas que demandem
a compreensão e evidenciem a captação de significados. (MOREIRA, 2011). A ava-
liação deverá estar baseada, em pé de igualdade, tanto na formativa quanto na
somativa individual.
Avaliação da UEPS: A fim de aprimorar e/ou validar as estratégias de ensino,
além da evolução conceitual dos alunos, deve ser considerada uma avaliação con-
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junta sobre a UEPS. Tal avaliação pode se dar por meio de uma roda de conversa
ou mesmo de um questionário avaliativo.
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ao grande grupo e servir como base para a avaliação formativa. Para auxiliar os
alunos nessa construção, podem ser feitas perguntas como: O que é estequiometria?
O que o preparo de uma receita tem a ver com química? Também podem ser lança-
das palavras-chave como: proporção, unidades de medida, conversão de unidades,
grandezas, equação química, coeficientes estequiométricos.
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Considerações finais
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Dessa forma, o uso das UEPS pode ser considerado uma alternativa prática e
viável para ser implementada em sala de aula, uma vez que propõe uma organi-
zação lógica e sequencial das atividades de ensino, com o emprego de situações em
ordem crescente de complexidade e com avaliação ao longo de sua implementação.
Essas são estratégias fundamentais para o processo de conceitualização e que irão
contribuir para que o aluno atribua sentido a esse novo conceito, promovendo uma
aprendizagem com significado.
Em outras palavras, trata-se de uma organização didática com vistas a uma
aprendizagem que não é limitada à memorização e à reprodução em uma avaliação,
pois objetiva a compreensão, a capacidade de explicar e aplicar o conhecimento
em novas e diferentes situações de forma processual. Espera-se que a UEPS aqui
apresentada e detalhada incentive o desenvolvimento e a implementação em sala
de aula de outras unidades de ensino potencialmente facilitadoras da aprendiza-
gem significativa, principalmente para os tópicos específicos que são considerados
mais desafiadores tanto pelos alunos quanto pelos professores. Ademais, a UEPS
aplicada estará sendo analisada como parte de um trabalho de conclusão de curso
de Licenciatura em Química.
Abstract
This work shows a didactic proposal for the teaching of stoichiometry based on the theory of
significant learning and organized in the format of a potentially significant teaching unit. The class
sequence format aims to promote quality learning, which differs from machine learning. Taking
into account that the previous knowledge of the students strongly influences learning. Situations
and problems involving the relationship with ingredients and culinary recipes are used here to
bridge new knowledge. The justification for developing this teaching strategy is because stoichio-
metry is identified as a challenging subject, due to the need for the use and interpretation of che-
mical, physical, and mathematical languages. As a result, we hope that this unit will contribute to
a better understanding of stoichiometry concepts and promote the use of learning materials that
are potentially significant and demonstrate the construction of logical relationships with scientific
knowledge and distancing of the chemistry teaching based solely on memorizing contents.
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Franciele Tatiana Haupt, Daniele Trajano Raupp, Vladimir Lavayen
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Alcedir Luis Finkler, Maurício de Campos, Paulo Sérgio Sausen, Airam Teresa Zago Romcy Sausen
Resumo
Na disciplina de máquinas elétricas, ofertada em cursos técnicos e cursos de engenharia volta-
dos à área elétrica, estuda-se um dos principais componentes utilizados em sistemas de gera-
ção de energia elétrica: a máquina síncrona. A compreensão do funcionamento dessa máquina
requer um conhecimento prévio de disciplinas como física e matemática. Física para o estudo
do momento de inércia, coeficiente de atrito, interação entre campos magnéticos, e matemática
para a compreensão das equações utilizadas na construção dos modelos. Logo, este tema,
além de ser muito importante para compreensão dos sistemas elétricos, envolve a aplicação
de conhecimentos adquiridos em diversas disciplinas dos respectivos cursos. Para a realização
das aulas, algumas atividades podem ser desenvolvidas em laboratório, porém, há alguns parâ-
metros nessas máquinas que são inacessíveis por meio de experimentação prática e precisam
ser analisados via simulação computacional. Entre os possíveis softwares para realização des-
sas simulações está o MATLAB/SIMULINK. Em uma proposta realizada com alunos do curso
Técnico Subsequente em Eletromecânica desenvolveu-se o presente trabalho, que reúne os
principais modelos matemáticos de máquinas síncronas e descreve a sua implementação em
MATLAB/SIMULINK. A atividade proposta permitiu aos alunos uma melhor compreensão do
princípio de funcionamento dessas máquinas.
*
Mestre em Modelagem Matemática e Computacional pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, Brasil. Docente EBTT do Instituto Federal Farroupilha, Brasil. E-mail: alcedir.finkler@iffarroupilha.
edu.br
**
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. Professor Adjunto I da
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected]
***
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. Professor Adjunto III da
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected]
****
Doutora em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. Professor Adjunto III da
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: [email protected]
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Uma implementação de modelos matemáticos de máquinas síncronas em MATLAB/SIMULINK como atividade...
Introdução
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Alcedir Luis Finkler, Maurício de Campos, Paulo Sérgio Sausen, Airam Teresa Zago Romcy Sausen
Figura 1: Bobinas máquina síncrona: (a) plano abc, (b) plano dq0.
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Uma implementação de modelos matemáticos de máquinas síncronas em MATLAB/SIMULINK como atividade...
Como neste trabalho o objetivo é comparar o ângulo de carga obtido com os di-
ferentes modelos, utilizou-se como entrada em Pm um sinal degrau. Em aplicações
práticas, devido a inércia dos equipamentos, é impossível a implementação de um
degrau a Pm, porém, em simulação, com objetivo de comparar diferentes modelos
matemáticos, este ensaio permite uma melhor visualização da dinâmica do modelo
à tal entrada quando comparada a entradas em rampa. Boldea (2016), no capítulo
Este artigo está licenciado com a licença: Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Alcedir Luis Finkler, Maurício de Campos, Paulo Sérgio Sausen, Airam Teresa Zago Romcy Sausen
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Uma implementação de modelos matemáticos de máquinas síncronas em MATLAB/SIMULINK como atividade...
ψ1Q, ψ2Q (no SIMULINK Psi1Q, Psi2Q) Fluxo magnético concatenado nos
bobinados fictícios 1 e 2 considerados sob eixo em quadratura;
H Constante de inércia;
Tm Torque mecânico;
V Tensão de linha da rede.
Os valores para esses parâmetros utilizados nas simulações estão listados no
Anexo A. Nas seções seguintes estão descritos os procedimentos para simulação dos
diferentes modelos apresentados por Krishna (2014).
O Modelo 2.2 apresentado por Krishna (2014), considera, no rotor, duas bobinas
posicionadas sob o eixo direto e duas bobinas sob o eixo em quadratura, conforme
ilustrado na Fig. 1b.
As equações das máquinas síncronas quando escritas em função das correntes,
tensões e fluxos magnéticos das bobinas de armadura, A, B e C, apresentam não
linearidades. Para contornar essas não linearidades, essas bobinas são substituídas
por duas bobinas fictícias, localizadas sob o eixo-d e eixo-q, que se movem alinha-
das às bobinas do rotor, conforme ilustrado na Fig. 1.b. Essa substituição é feita
por meio das transformadas de Park, também conhecidas como transformadas dq0
(KUNDUR, 1994).
As equações utilizadas para determinar os estados da máquina síncrona, escritas
em função dos parâmetros padrões em valores por unidade (p.u.), são apresentadas
de Eq (1) à Eq (10) (KRISHNA, 2014).
𝑑𝜓𝑑
= −𝜔ψ𝑞 − 𝜔𝐵 𝑅𝑎 𝑖𝑑 − 𝜔v𝑑 (1)
𝑑𝑡
(2)
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(3)
𝑑𝜓1𝐷 1
= −𝜓1𝐷 + 𝜓𝑑 (4)
𝑑𝑡 𝑇𝑑 "
𝑑𝜓1𝑄 1
= −𝜓1𝑄 + 𝜓𝑞 (5)
𝑑𝑡 𝑇𝑞 ′
𝑑𝜓2𝑄 1
= −𝜓2𝑄 + 𝜓𝑞 (6)
𝑑𝑡 𝑇𝑞 "
𝑑𝛿
= 𝜔 − 𝜔0 (7)
𝑑𝑡
𝑑𝜔 𝜔𝐵
= 𝑇 − 𝜓𝑑 𝑖𝑞 + 𝜓𝑞 𝑖𝑑 (8)
𝑑𝑡 2𝐻 𝑚
1 1 1 1 1
𝑖𝑑 = 𝜓𝑑 + − 𝜓𝐹 + − 𝜓1𝐷 (9)
𝑋𝑑 " 𝑋𝑑 𝑋𝑑 ′ 𝑋𝑑 ′ 𝑋𝑑 "
1 1 1 1 1
𝑖𝑞 = 𝜓𝑞 + − 𝜓1𝑄 + − 𝜓2𝑄 (10)
𝑋𝑞 " 𝑋𝑞 𝑋𝑞 ′ 𝑋𝑞 ′ 𝑋𝑞 "
As tensões nos eixos diretos e em quadratura são obtidas por Eq (11) e Eq (12).
𝑣𝑑 = −V𝑠𝑒𝑛(𝛿� (11)
𝑣𝑞 = V𝑐𝑜𝑠(𝛿� (12)
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Uma implementação de modelos matemáticos de máquinas síncronas em MATLAB/SIMULINK como atividade...
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Uma implementação de modelos matemáticos de máquinas síncronas em MATLAB/SIMULINK como atividade...
(13)
0 = −ψ𝑞 − 𝑅𝑎 𝑖𝑑 − v 𝑑
(14)
0 = −ψ𝑑 − 𝑅𝑎 𝑖𝑞 − v 𝑞
A implementação das equações relacionadas às bobinas do estator Eq (13) e Eq
(14) no SIMULINK é ilustrada na Fig. 7.
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Modelo 2.1
Uma simplificação no Modelo 2.2 pode ser obtida ao reduzir uma bobina no eixo
em quadratura do rotor fazendo Tq" = 0, ψ2𝑄 = ψ𝑞 , logo:
(15)
𝑑𝜓1𝐷 1
= −𝜓1𝐷 + 𝜓𝑑 (16)
𝑑𝑡 𝑇𝑑 "
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Uma implementação de modelos matemáticos de máquinas síncronas em MATLAB/SIMULINK como atividade...
𝑑𝜓1𝑄 1
= −𝜓1𝑄 + 𝜓𝑞 (17)
𝑑𝑡 𝑇𝑞 ′
𝑑𝛿
= 𝜔 − 𝜔0 (18)
𝑑𝑡
𝑑𝜔 𝜔𝐵
= 𝑇 − 𝜓𝑑 𝑖𝑞 + 𝜓𝑞 𝑖𝑑 (19)
𝑑𝑡 2𝐻 𝑚
1 1 1 1 1
𝑖𝑑 = 𝜓𝑑 + − 𝜓𝐹 + − 𝜓1𝐷 (20)
𝑋𝑑 " 𝑋𝑑 𝑋𝑑 ′ 𝑋𝑑 ′ 𝑋𝑑 "
1 1 1
𝑖𝑞 = 𝜓𝑞 + − 𝜓1𝑄 (21)
𝑋𝑞 " 𝑋𝑞 𝑋𝑞 ′
Para simulação do Modelo 2.1, o diagrama para obtenção dos fluxos magnéticos
no eixo em quadratura passa a ser conforme ilustrado na Fig. 10.
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Uma implementação de modelos matemáticos de máquinas síncronas em MATLAB/SIMULINK como atividade...
Modelo 1.1
Uma simplificação no Modelo 2.1 pode ser obtida reduzindo uma bobina no eixo
direto do rotor fazendo Td" = 0, ψ1𝐷 = ψ𝑑 , logo:
(22)
𝑑𝜓1𝑄 1
= −𝜓1𝑄 + 𝜓𝑞 (23)
𝑑𝑡 𝑇𝑞 ′
𝑑𝛿
= 𝜔 − 𝜔0 (24)
𝑑𝑡
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𝑑𝜔 𝜔𝐵
= 𝑇 − 𝜓𝑑 𝑖𝑞 + 𝜓𝑞 𝑖𝑑 (25)
𝑑𝑡 2𝐻 𝑚
1 1 1
𝑖𝑑 = 𝜓𝑑 + − 𝜓𝐹 (26)
𝑋𝑑 " 𝑋𝑑 𝑋𝑑 ′
1 1 1
𝑖𝑞 = 𝜓𝑞 + − 𝜓1𝑄 (27)
𝑋𝑞 " 𝑋𝑞 𝑋𝑞 ′
Para simulação do Modelo 1.1, o diagrama para obtenção dos fluxos magnéticos
no eixo direto e no eixo em quadratura passa a ser conforme ilustrado na Fig. 13.
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Modelo 1.0
Uma simplificação no Modelo 1.1 pode ser obtida ao reduzir uma bobina no eixo
em quadratura do rotor fazendo Td’ = 0, ψ1𝑄 = ψ𝑞 , logo:
(28)
𝑑𝛿
= 𝜔 − 𝜔0 (29)
𝑑𝑡
𝑑𝜔 𝜔𝐵
= 𝑇 − 𝜓𝑑 𝑖𝑞 + 𝜓𝑞 𝑖𝑑 (30)
𝑑𝑡 2𝐻 𝑚
1 1 1
𝑖𝑑 = 𝜓𝑑 + − 𝜓𝐹 (31)
𝑋𝑑 " 𝑋𝑑 𝑋𝑑 ′
1
𝑖𝑞 = 𝜓𝑞 (32)
𝑋𝑞 "
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positiva entre as variáveis, ou seja, quando uma aumenta a outra também aumenta.
Utiliza-se o comando corrcoef do MATLAB para comparar o vetor de referência aos
vetores de cada um dos modelos. O intervalo de tempo dos vetores é determinado
pelo passo de cálculo configurado no SIMULINK. Para as simulações aqui descritas
utilizou-se o passo de cálculo de 1E-5 s. Na Tabela 1 são apresentados os valores
dos coeficientes de correlação de Pearson obtidos pela comparação dos diferentes
modelos no intervalo de tempo de 10 a 25 segundos.
A Fig. 18 ilustra a comparação entre o ângulo de carga com os Modelos 2.2, 2.1,
1.1 e 1.0 no intervalo de tempo de 10 a 25 segundos. É possível observar que, em
regime permanente, todos os modelos convergem para o mesmo resultado.
Figura 18: Comparativo entre Modelo de referência, Modelo 2.2, Modelo 2.1, Modelo 1.1 e Modelo
1.0 no intervalo de tempo de 10 a 25 s.
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Figura 19: Comparativo entre Modelo de referência, Modelo 2.2, Modelo 2.1, Modelo 1.1 e Modelo
1.0 no intervalo de tempo de 10 a 22 s.
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Conclusão
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Abstract
In the discipline of electrical machines, offered in technical courses and engineering courses
focused on the electrical area, one of the main components used in electrical power systems
generation is studied, the synchronous machine. Understanding how this machine works re-
quires prior knowledge of subjects such as physics and mathematics. Physics for the study of
the moment of inertia, friction coefficient, interaction between magnetic fields, and mathematics
for understanding the equations used in the construction of the models. Therefore, this topic, in
addition to being very importance for understanding electrical systems, involves the application
of knowledge acquired in several disciplines of the respective courses. For the realization of clas-
ses, some activities can be developed in the laboratory, however, there are some parameters on
these machines that are inaccessible through practical experimentation and need to be analyzed
via computer simulation. Among the possible software to perform these simulations is MATLAB
/ SIMULINK. In a proposal made with students of the Subsequent Technical course in Electro-
mechanics, the present work was developed, which gathers the main mathematical models of
synchronous machines and their implementation is described in MATLAB / SIMULINK. The pro-
posed activity allowed students to better understand the principle of these machines operation.
Keywords: Load angle; Power system dynamics; Synchronous machine models; Power system
models; Power system monitoring;.
Referências
BOLDEA, I. Synchronous Generators. Boca Raton: CRC Press, 2016.
GHAHREMANI, E. I. K. Online state estimation of a synchronous generator using unscented
kalman filter from phasor measurements units. IEEE Transactions on Energy Conversion,
v. 26, n. 4, p. 1099–1108, 2011.
KRISHNA, S. An Introduction to Modelling of Power System Components. 1. ed. India:
Springer, 2014.
JHA, S. M.; CHAKRABARTI, E. K. Estimation of the rotor angle of a synchronous generator by
using PMU measurements. IEEE Eindhoven PowerTech, p. 1–6, 2015.
KUNDUR, P. Power System Stability and Control. New York: McGraw-Hill, 1994. (EPRI
Power System Engineering Series).
VENKATASUBRAMANIAN, V. R. G. K. (2004). Direct computation of generator internal dynamic
states from terminal measurements. In: 37TH ANNUAL HAWAII INTERNATIONAL CONFER-
ENCE ON SYSTEM SCIENCES, Big Island, HI, USA, Anais […], p. 6, 2004.
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Unidade de ensino potencialmente significativa para o estudo da água e poluição na perspectiva da educação...
Resumo
A poluição litorânea está na lista dos graves problemas ambientais que prejudicam a sociedade
e a manutenção dos ecossistemas. Considerando esse cenário e a complexidade que envolve
os problemas ambientais é importante que as escolas, não mais de forma ingênua, realizem
ações que conversem com os diversos saberes curriculares com uso de ferramentas e estraté-
gias de ensino que sejam potencialmente significativas. Nesse contexto, foi desenvolvida uma
Unidade de Ensino Potencialmente Significativa (UEPS) acerca da temática “Água e Poluição
na Educação Básica”. A UEPS foi idealizada utilizando uma sequência de ações de ensino de
modo interdisciplinar utilizando uma variedade de estratégias e ferramentas e com a avaliação
pautada na produção de mapas conceituais, tendo sido aplicada a estudantes do ensino médio
de uma escola da rede estadual de Pernambuco. Durante as estratégias didáticas utilizadas
foram encontradas evidências de que novos conceitos se ancoraram aos conhecimentos pré-
vios dos estudantes, sendo indício de uma aprendizagem significativa em curso. A aplicação
das diversas etapas da UEPS contribuiu para a formação de estudantes que passaram a ser
protagonistas juvenis, com a possibilidade de entenderem a complexidade da problemática da
poluição litorânea, além de desenvolverem responsabilidade ambiental, social e política.
*
Mestre em Ensino de Ciências Ambientais (ProfCiamb-UFPE). Docente da Secretaria de Educação do Estado
de Pernambuco. Brasil. E-mail: [email protected]
**
Membro permanente do Programa de Pós-graduação em Rede para o Ensino das Ciências Ambientais
(ProfCiamb-UFPE). Brasil. E-mail: [email protected]
***
Membro permanente do Programa de Pós-graduação em Rede para o Ensino das Ciências Ambientais
(ProfCiamb-UFPE). Docente do Colégio de Aplicação da UFPE. Brasil. Autor de correspondência. E-mail: aquino@
ufpe.br
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Introdução
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para ser efetiva, deve estar fundamentada numa perspectiva que estimule o pensar
e o agir crítico do estudante.
Loureiro (2007) expõe que as escolas utilizam práticas de Educação Ambiental
apenas com ações de sensibilização e/ou conscientização do convívio com a nature-
za, salvo raras exceções. Essa é a causa, segundo o autor, do frágil diálogo entre a
escola e a comunidade onde ela está inserida. O que também precisa ser levado em
consideração, de acordo com Carvalho e Toniol (2010), são os novos fenômenos que
reconfiguram as práticas tradicionais e que precisam ser incorporados aos temas
ambientais. A escola deve ser, portanto, um espaço aberto, que permita que as
questões socioambientais sejam discutidas mesmo nos ambientes mais vulneráveis,
fazendo, com isso, o encurtamento da distância entre as políticas públicas e o que
efetivamente acontece dentro das escolas (MACHADO; MORAIS, 2019).
Essa responsabilidade da escola fica muito evidente no mais recente documento
oficial nacional, que direciona a educação no país, a Base Nacional Comum Curri-
cular (BNCC) que, em uma de suas competências gerais, preconiza que o estudante
deve ser preparado para
Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e pro-
movam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável
em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado
de si mesmo, dos outros e do planeta (MARINI, 2018, p. 10).
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Metodologia
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Resultados e discussão
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e gera renda para os munícipes no mercado local, além de munir grande parte da
Região Metropolitana do Recife e do interior do Estado, sendo um dos estuários mais
importantes do litoral do Estado de Pernambuco. Com base na referida temática,
no Quadro 2 é apresentada a UEPS, objeto desse estudo.
Quanto à etapa 1 da UEPS, de posse das respostas ao questionamento feito aos
estudantes sobre as problemáticas ambientais locais, constatou-se que majorita-
riamente foi citada a poluição do canal que banha a cidade como principal proble-
mática a ser tratada. Esse resultado pode ser justificado tanto pelo fato da escola
estar em uma cidade estuarina, como também devido a ter vários estudantes que
são filhos ou parentes de pescadores. Cabe salientar que o tema pertence a um eixo
transversal Meio Ambiente que pode ser trabalhado em qualquer unidade e por
qualquer um dos componentes curriculares ofertados no Ensino Médio, conforme
os PCNs (BRASIL, 1997).
Neste contexto, emerge um dos princípios para a aprendizagem significativa, a
intencionalidade (AUSUBEL, 2003). Corroborando o que a TASC concebe, conforme
estudo de Masini e Moreira (2008), o estudante pode, através de sua percepção,
tematizar os assuntos a serem tratados e que, por sua compreensão, podem passar
a ter significado. Essa foi a intencionalidade da pergunta feita a eles, a busca pelos
significados. O que vai ao encontro do que diz Carvalho (2012), em relação à EAC,
quando a autora aconselha evitar o caminho apressado e superficial na abordagem
das questões ambientais, o que poderia reforçar uma consciência ambiental ingê-
nua. Foi importante perceber o amadurecimento que, mesmo sem um vocabulário
científico e/ou técnico, esses estudantes já conseguiam expressar sobre a temática
nessa primeira etapa. Não só citaram, como justificaram suas respostas, eviden-
ciando uma das premissas da AS que é a pré-disposição a aprender (Ausubel,1963).
Com relação à etapa 2, a estratégia escolhida foi a produção de mapas concei-
tuais em grupo para responder à pergunta foco “Qual é a relação da água com os
seres vivos?”. A principal função dos mapas de conceitos é evidenciar a associação
de significados (MOREIRA, 2005). Dos cinco mapas conceituais produzidos, apenas
dois mostravam um esboço de ligação do tema água com poluição. A Figura 1 mostra,
como exemplo, um desses mapas conceituais.
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As perguntas produzidas nesse quiz serviram para fomentar um jogo, via Kahoot.
O uso da plataforma Kahoot como um ambiente virtual de jogos proporcionou um
contexto motivacional e desafiador no cotidiano da sala de aula. A média geral de
acertos da turma foi de cerca de 85%, resultado que evidencia um aproveitamento
satisfatório das atividades realizadas até aquele momento, lembrando que a tec-
nologia sozinha não garante aprendizagem, assim como não irá transpor velhos
paradigmas (DIESEL et al, 2017).
O professor pesquisador observou que, no que se refere às questões elaboradas
sobre a problemática da poluição do Canal de Santa Cruz, os estudantes conseguiram
ressignificar o ingênuo conhecimento prévio sobre a poluição hídrica estuarina com
novos conceitos, com perguntas que partiram do geral para realidade local, como
por exemplo: impacto ambiental X estuário (específico); poluição dos ecossistemas
aquáticos X responsabilidade da coleta de resíduos sólidos no município (problema
existente no município); aterro sanitário X consequências da poluição dos ecossis-
temas aquáticos (no estuário em questão, poluição por resíduos sólidos); manguezal
como bioma que filtra impurezas X 60% do que se pesca nesse município vem do
estuário local (classe trabalhadora do município prevalentemente de pescadores);
destino final dos resíduos sólidos X importância das mudanças educativas (o que
estava sendo trabalhado na UEPS), e outras. O game também serviu para testar
controle, tempo de resolução de questões e equilíbrio emocional. Foram criados
novos laços dentro da sala de aula, o que proporcionou que os mais tímidos e intro-
vertidos externassem seu potencial, aproximando-se dos demais estudantes. Estes
resultados estão de acordo com Moya Fuentes et al. (2016) que compara a sala de
aula, temporariamente, a um espetáculo através do jogo.
Já na etapa 5, na perspectiva de apresentar situações mais complexas sobre a
temática em estudo, foram envolvidos os componentes curriculares de Português
e Artes. Procurou-se ir ao encontro do que diz Moreira (2010), sobre estruturar o
conhecimento através da presença de novas situações-problema que possam retomar
as características mais relevantes das temáticas trabalhadas nas etapas anterio-
res. Segundo Ausubel (1980), esse é o momento em que o que é mais significativo e
adequado interage com a nova informação. Nessa direção, no componente curricular
de Artes, por exemplo, os estudantes apresentaram uma exposição dos registros
fotográficos produzidos na aula de campo ao Canal de Santa Cruz (Etapa 3). A
intenção era observar se eles demonstrariam progressivo entendimento da com-
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alegria de todos, a carta foi respondida pelo gestor público, mostrando que ações
escolares podem ir além das discussões pedagógicas. A carta-resposta do governo
municipal mostrou que existe um vasto campo de possibilidades de parcerias que
podem acontecer entre o seguimento escolar e órgãos governamentais. “Essa cons-
tatação revela a necessidade de fortalecer os vínculos da escola com atores envolvi-
dos na gestão da Educação Ambiental e fora dela – entre os quais a comunidade,
universidades e poder público” (LOUREIRO, 2007, p. 58).
Para a etapa 6, destinada à promoção do processo de reconciliação integrativa,
foi organizada uma mesa-redonda com os principais atores relacionados à temática.
Participaram representantes do Governo Municipal (Secretária do Meio Ambiente
e Secretário de Limpeza Urbana), organizações não-governamentais (presidentes
da colônia de pescadores e da Associação de Catadores de Resíduos Sólidos) e os
estudantes como sociedade civil. As perguntas e a quem seriam endereçadas foram
elaboradas autônoma e previamente pelos estudantes, que inclusive presidiram o
evento tendo, ao mesmo tempo, algo prático e real ligado ao tema. Isto serviu de
parâmetro observacional de como estavam o nível de entendimento dos novos co-
nhecimentos dos estudantes nessa etapa da UEPS, pois, ao formular as perguntas,
os discentes iriam argumentar com base nos conceitos, concepções e informações
assimilados, reconciliando ideias e promovendo a TASC (MOREIRA, 2017).
O ensino da Biologia, na perspectiva da Educação Ambiental Crítica, tornou
possível aos estudantes a compreensão de que há uma ampla rede de relações entre
o que é visto na escola, como produção científica, e o contexto social com os contex-
tos econômico e político. Essa etapa da UEPS foi mais uma oportunidade para os
estudantes irem e voltarem com o conteúdo temático e demonstrarem se tinham
ancorado ou não novos conhecimentos aos já existentes (MOREIRA, 2011).
Várias perguntas foram elaboradas em uma prévia discussão entre as equipes
e evidenciaram o grau de maturidade dos estudantes sobre a temática, o que se
refletiu na postura crítica e autônoma que assumiram ao serem os protagonistas
ativos do evento. Esse resultado confirma o que Ausubel, Novak e Hanesian (1980)
discutem sobre a relevância de se identificar e organizar conceitos e proposições.
Todavia, essa relação entre as ideias não precisa ser rigorosamente escrita e unidi-
recional. Para um evento em que os estudantes precisariam fazer uso da criticidade
necessária ao momento e ao tema, eles se mostraram cognitivamente preparados
para essa fase da UEPS sem necessariamente estarem fazendo uma atividade
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escrita tradicional. Isso ficou claro ao observar o nível da abordagem feita por eles
conforme evidenciado nos exemplos abaixo:
• “Por que apenas uma parte da margem do Canal (próxima à praça central)
é limpa?”
• “O que a Secretaria de Limpeza Urbana tem feito para resolver o problema
dos resíduos sólidos depositados em locais indevidos na cidade?”
• “Educação Ambiental é um tema bastante falado. A colônia de pescadores,
a Associação de Catadores de Resíduos e a Secretarias aqui presentes têm
projetos sendo realizados sobre essa temática? Se tem, quais são?”
• “O que vocês estão fazendo para conscientizar as pessoas a não poluírem o
canal?”
Moreira (2012) sugere que avaliação de uma UEPS deve ser em termos de busca
de evidências, progressividade e não linearidade da aprendizagem. Nesse estudo, a
avaliação foi essencialmente formativa, considerando não comportamentos finais,
mas transformações, concepções e reflexões ao longo do processo e fazendo uso da
recursividade quando necessária, visto que as novas proposições evidenciaram uma
diferenciação progressiva dos conceitos que foram se contextualizando e se recon-
ciliando integralmente a um amadurecimento cognitivo exposto pela ferramenta
escolhida para avaliação (MOREIRA, 2011).
Nesta direção, para avaliação/validação da UEPS foi construído um segundo
mapa conceitual pelos mesmos estudantes das equipes que fizeram os primeiros
mapas. Segundo Novak e Cañas (2010) essa produção é uma forma de estimular
o desempenho cognitivo e, por esse motivo, sua utilização pode ser uma poderosa
ferramenta tanto de aprendizagem como de avaliação. Conforme Aquino e Chiaro
(2013), o mapa conceitual então se constitui em uma ferramenta de aprendizagem
para o estudante, à medida que auxilia no planejamento dos estudos, preparação
para avaliações e resolução de problemas. Assim, nessa última etapa da UEPS
foram produzidos um total de cinco mapas, sendo um deles mostrado na Figura
2. Este mapa foi construído pelo mesmo grupo que construiu o mapa da Figura 1,
para fins de comparação.
Na comparação entre os mapas das Figuras 1 e 2, observou-se que, conforme
indica Moreira (2012), ao se ancorar representações válidas da estrutura conceitual/
proposicional de um novo conhecimento ao já existente, torna-se tal estrutura mais
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Figura 2: Mapa Conceitual 2 produzido por estudantes do mesmo grupo responsável pelo mapa
conceitual 1, utilizando o CmapTools.
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Considerações finais
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Abstract
Coastal pollution is among the most serious environmental problems nowadays. Schools have
a fundamental role on promoting and improving environmental awareness for current and future
generations. With this aim, it is important they take actions that integrate different knowledge
fields with the use of teaching tools and strategies, which are potentially significant. With this
purpose, a Potentially Meaningful Teaching Unit (PMTU) was developed on the theme “Water
Pollution in Basic Education” and applied to high school students from a public school from
Pernambuco state. The PMTU was conceived using a sequence of teaching actions in an inter-
disciplinary way by using different strategies and learning tools. Learning evaluation was carried
out by using concept maps produced by the students before and after applying the PMTU. These
maps showed that the new concepts were anchored to the student’s previous knowledge, an in-
dication of meaningful learning was achieved. PMTU sequence helped the students to play major
roles in learning to better understand the complexity of the coastal pollution problem. In addition,
it also aided them in developing environmental, social, and political responsibility.
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Unidade de ensino potencialmente significativa para o estudo da água e poluição na perspectiva da educação...
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Cristiane Jussara da Silva, Helotonio Carvalho, Kátia Aparecida da Silva Aquino
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