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Textos de

Antropologia, Arqueologia e Patrimônio

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS EDITORIA - CADERNOS DO LEPAARQ

Editores Responsáveis:
Reitor: Rafael Guedes Milheira
Mauro Augusto Burkert Del Pino Fábio Vergara Cerqueira
Vice-Reitora:
Denise Petrucci Gigante Conselho Editorial:
Pro-Reitor de Graduação: Airton Pollini (Universite de Haute-Alsace, Mulhouse - França)
Alvaro Luiz Moreira Hypolito Ana Maria Sosa Gonzalez (Universidade Federal de Pelotas)
Pro-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Carolina Kesser Barcellos Dias (Universidade Federal de Pelotas)
Luciano Volcan Agostini Charles Orser Jr. (New York State Museum - EUA)
Pro-Reitora de Extensão e Cultura: Francisco Pereira Neto (Universidade Federal de Pelotas)
Denise Marcos Bussoletti Helen Gonçalves (Universidade Federal de Pelotas)
Pro-Reitor Administrativo: Jean-Louis Tornatore (Universite de Bourgogne - França)
Antonio Carlos de Freitas Cleff Lourdes Dominguez (Oficina del Historiador - Cuba)
Pro-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Luiz Oosterbeek (Instituto Politecnico de Tomar - Portugal)
Luiz Osorio Rocha dos Santos Maria Dulce Gaspar (Museu Nacional – Universidade Federal do Rio
de Janeiro)
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS Mariano Bonomo (Conicet - Faculdad de Ciencias Naturales y Museo
de La Plata - Argentina)
Marisa Coutinho Afonso (Museu de Arqueologia e Etnologia –
Diretor:
Universidade de São Paulo)
Sidney Gonçalves Vieira
Paulo Deblasis (Museu de Arqueologia e Etnologia – Universidade de
Vice-Diretor:
São Paulo)
Sebastião Peres
Pedro Paulo Abreu Funari (Universidade Estadual de Campinas)
Reinhard Stuperich (Universidade de Heidelberg - Alemanha)
LABORATÓRIO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA
Sandra Pelegrini (Universidade Estadual de Maringá)

Coordenador: Conselho Consultivo:


Rafael Guedes Milheira
Camila Azevedo de Moraes Wichers (Universidade Federal de Goiás)
Albérico Nogueira de Queiroz (Universidade Federal de Sergipe) Neli
Editora e Gráfica Universitária Teresinha Galarce Machado (Unidade Integrada Vale do Taquari de
R Lobo da Costa, 447 - Pelotas, RS CEP 96010-150 Ensino Superior)
Fone/fax:(53)227 3677 e-mail: Veronica Wesolowski de Aguiar e Santos ( Museu de Arqueologia e
Etnologia - Universidade de São Paulo)
[email protected]
Deisi Scunderlick Eloy de Farias (Universidade do Sul de Santa
Catarina)
Ficha catalográfica: Ayde Andrade de Oliveira - CRB 10/864 Ana Inez Klein (Universidade Federal de Pelotas)
Fernando Ozório (Universidade Federal de Sergipe)
Arno Alvarez Kern (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
Cadernos do LEPAARQ - Textos de Antropologia, do Sul)
Arqueologia e Patrimônio. Laboratório de Ensino e Pesquisa em Camila Gianotti (Centro Universitario Regional Este, Uruguai)
Claudia Turra Magni (Universidade Federal de Pelotas)
Antropologia e Arqueologia. Pelotas, RS: Editora da Universidade Edgar Barbosa Neto (Universidade Federal De Minas Gerais)
Federal de Pelotas, v.13, n.25,2016. Gustavo Peretti Wagner (Strata Consultoria)
Mártin César Tempass (Universidade Federal do Rio Grande)
Maria De Fátima Bento Ribeiro (Universidade Federal de Pelotas)
Semestral
Rafael Corteletti (Universidade de São Paulo)
ISSN impresso 1806-9118 Rafael Suárez Sainz (Facultad de Humanidades y Ciencas de la
Educación. Universidad de la República, Uruguai)
ISSeletronico 2316-8412
ISSN eletrônico 2316-8412 Renato Pinto (Universidade Federal de Pernambuco)

1. Arqueologia - Periodico. 2. Antropologia - Periodico. 3. Patrimonio -


1. Arqueologia - Periódico. 2. Antropologia - Periódico. 3. Patrimônio Secretaria Editorial:
Periodico. I. Laboratorio de Ensino e Pesquisa em Antropologia e
- Periódico. I. Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Rafael Guedes Milheira Carolina
Arqueologia. Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro
Arqueologia.

CDD 930.1 Editoração e Projeto Gráfico:


CDD 930.1 Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro
SUMÁRIO PÁGINA

EDITORIAL
3
Rafael Guedes Milheira

A TRADIÇÃO ITARARÉ - TAQUARA NA REGIÃO CENTRAL DO


6
ESTADO DE SÃO PAULO: O SÍTIO BENEDITO MACHADO, BOTUCATU
(SP) E SUAS POSSÍVEIS RELAÇÕES COM O BRASIL CENTRAL
Astolfo Mello Araujo

UMA AMOSTRA CERÂMICA DO CHAPADÃO DOS PARECIS, MT 24


ARTIGOS

Pedro Ignácio Schmitz

DE TUDO UM POUCO: O MATERIAL CERÂMICO ENCONTRADO EM 38


DOIS SÍTIOS MULTICOMPONENCIAIS DO BAIXO RIO MADEIRA
Jaqueline da Silva Belletti

A ETNOLOGIA DE SERGIO BAPTSTA DA SILVA 68


Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro

A TEATRALIDADE NA FESTA DE SAN JUAN BAUTISTA EN 78


NAIGUATÁ, ESTADO VARGAS DA RITE, ADORAÇÃO E MITO
Humberto Jose Mayora

ANTIGUIDADES RIO-GRANDENSES 102


TRADUÇÕES

August Kunert

PALEÓLITOS RIO-GRANDENSES 112


August Kunert
DOSSIÊARQUEOBOTÂNICA

EDITORIAL (PT-BR) 117


Rita Scheel-Ybert

DIETA NO SAMBAQUI JABUTICABEIRA-II (SC): CONSUMO DE


NA AMÉRICA DO SUL

131
PLANTAS REVELADO POR MICROVESTÍGIOS PROVENIENTES DE
CÁLCULO DENTÁRIO
Célia Helena Cezar Boyadjian, Sabine Eggers, Karl Jan Reinhard, Rita Scheel-
Ybert
162
ANALISES DE GRÃOS DE AMIDO E FITÓLITOS NAS TERRAS ALTAS
DO SUL DO BRASIL: REPENSANDO A ECONOMIA E MOBILIDADE
DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS
Rafael Corteletti, Ruth Dickau, Paulo DeBlasis, José Iriarte
GESTIÓN DEL MEDIO Y PRODUCCIÓN DE RECURSOS EN LAS 197
TIERRAS BAJAS DEL NORESTE DE URUGUAY: ANÁLISIS
PALEOETNOBOTÁNICO DEL SITIO PAGO LINDO
Laura Del Puerto, Camila Gianotti, Hugo Inda

RECONSTRUCTING PRE-COLOMBIAN AGRICULTURAL PRACTICES 223


IN THE BOLIVIAN SAVANNAH: STRATIGRAPHIC AND PHYTOLITH
EVIDENCE FROM RAISED FIELDS AT CAMPO ESPAÑA, WESTERN
LLANOS DE MOXOS
Ruth Dickau, José Iriarte, Timothy Quine, Daniel Soto, Francis Mayle

LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID


268
AND LATE HOLOCENE
José Iriarte, Rafael Corteletti, Jonas Gregorio de Souza, Paulo DeBlasis

ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO 303


QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS EN LOS
ULTIMOS 30 AÑOS
Maria Alejandra Korstanje

NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO


332
DE ALTURA
María del Pilar Babot

VESTÍGIOS MACROBOTÂNICOS CARBONIZADOS NA AMAZÔNIA


CENTRAL: O QUE ELES NOS DIZEM SOBRE AS PLANTAS NA PRÉ- 366
HISTÓRIA?
Francini Medeiros da Silva, Myrtle Pearl Shock, Eduardo Góes Neves, Rita
Scheel-Ybert

USE OF WOOD RESOURCES DURING THE HOLOCENE BY HUNTER-


386
GATHERERS OF THE CIDADE DE PEDRA, MATO GROSSO
Caroline Bachelet

ECONOMIA DE COMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIA DE FOGUEIRAS EM


401
SÍTIOS PROTO-JÊ DO SUL
Leonardo Waisman de Azevedo, Rita Scheel-Ybert

OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND 425


CULTURAL CHOICES IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND
SOUTHERN BRAZIL FROM C. 3000 TO 300 CAL YRS BP
Rita Scheel-Ybert, Caroline Fernandes Caromano, Leonardo Waisman de
Azevedo

TODOS LOS FUEGOS EL FUEGO. DISCUSIÓN EN TORNO A LAS


459
CATEGORÍAS MODERNAS EN LA INTERPRETACIÓN DE REGISTROS
ANTRACOLÓGICOS EN CONTEXTOS PREHISPÁNICOS Y COLONIALES
Bernarda Marconetto, Luis Eduardo Mafferra

APPORT DE L’EXPÉRIMENTATION À LA COMPRÉHENSION DES 484


PRATIQUES EN ANTHRACOLOGIE : GESTION ET UTILISATION DU
BOIS DE FEU DANS LES SOCIÉTÉS PRÉHISTORIQUES
Isabelle Théry-Parisot, Auréade Henry, Julia Chrzazvez

CONTRIBUIÇÃO DA EXPERIMENTAÇÃO À COMPREENSÃO DAS 510


PRÁTICAS SOCIAIS EM ANTRACOLOGIA: GESTÃO E USO DA LENHA
EM SOCIEDADES PRÉ-HISTÓRICAS
Isabelle Théry-Parisot, Auréade Henry, Julia Chrzazvez
EDITORIAL

Os Cadernos do LEPAARQ em seu volume 13, número 25 de 2016, traz um volume enorme de
trabalhos que ultrapassa as 500 páginas. São quatro artigos avulso, um dossiê com 14 artigos e duas
traduções, uma novidade que se inaugura nesse número. Em um cenário de crescimento da arqueologia
brasileira, cada vez mais são necessários trabalhos publicados que sejam utilizados nos cursos de graduação
e pós-graduação. Por isso, os Cadernos do LEPAARQ irão incentivar a tradução de artigos e capítulos escritos
em língua estrangeira, seja para uso em sala de aula, propiciando discussões aprofundadas de textos
internacionais, seja para o uso em pesquisas, tanto de produções recentes como clássicas.
Nesse número serão publicadas duas traduções de textos desconhecidos do público brasileiro,
feitas por Martin Norberto Dreher e revisadas por Francisco Silva Noelli. São artigos publicados originalmente
pelo arqueólogo August Kunert, em alemão. O primeiro título é “Antiguidades Rio grandenses”, tradução de:
Rio grandenser Alterthümer. Publicado nas Verhandlungen der Berliner Gesellschaft für Anthropologie,
Etnologie und Urgeschichte. Redigirt von Rud. Virchow. Jahrgang 1890. Berlin: Verlag Von A. Asher & Co,
1890, p. 31-37. (inserido na Zeitschrift für Ethnologie, 22. 1890). O segundo título é “Paleólitos Rio
grandenses”, tradução de: Riograndenser Paleolithen, In: Zeitschrift für Ethnologie. Organ der Berliner
Gesellschaft für Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte. Redactions-Comission: M. Bartels, R. Virchow,
A. Voss. Volume 32. Berlin: Verlag von A. Asher & Co, 1900, p. 348-352.
Entre os artigos avulso, o primeiro é assinado por Astolfo G. M. Araujo, Daniela D. Ortega, Thomas
J. Shrage, Mercedes Okumura e Gregório T. Ceccantini, intitulado: “Tradição Itararé-Taquara na região central
do Estado de São Paulo: o sítio Benedito Machado, Botucatu (SP) e suas possíveis relações com o Brasil
Central”. Versa sobre um sítio localizado em Botucatu, na região central de São Paulo, datado em torno de
700 anos AP, cuja cerâmica é típica da Tradição Itararé/Taquara, o que chama atenção pela sua semelhança
com cerâmicas meridionais.
Também com um estudo de caso, Pedro Ignácio Schmitz, Fernando Ribas e Ranieri Hirsch Rathke,
apresentam “Uma amostra cerâmica do Chapadão dos Parecis, MT”, proveniente do rio Juruena, MT,
apontando uma análise técnica da coleção e buscando uma atribuição étnica Arawak.
Também em um artigo coletivo Jaqueline Belletti, Alexandre Hering, Cássia Bars Hering, Gilmar
Henriques, Thiago Trindade, Catarina Ribeiro Calheiros e Raul Perigo Melo apresentam o trabalho “DE TUDO
UM POUCO: o material cerâmico encontrado em dois sítios multicomponenciais do Baixo Madeira”. Nesse
artigo os autores apresentam análises cerâmicas de dois sítios amazônicos associados a diferentes tradições
ceramistas do Baixo Madeira, suscitando questões sobre os processos de formação dos sítios
multicomponenciais.
Em um artigo solo, Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro faz uma interessante revisão teórica da obra do
consagrado antropólogo e Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul no trabalho intitulado “A
Etnologia de Sergio Baptista da Silva”. O objetivo desse trabalho é apontar como o autor é responsável por
romper com a barreira da etnologia clássica no Brasil, ao percorrer um caminho desde a pré-história brasileira
até a etnologia simétrica contemporânea.
A festa de San Juan Bautista, na Venezuela, é celebrada no artigo “La teatralidad de la fiesta de San
Juan Bautista en Naiguatá, estado Vargas desde el rito, culto y mito”, por Humberto José Mayora Guaita.
Trata-se de uma festa anual, generacional que compõe um patrimônio ritualizado, observado aqui, desde um
ponto de vista antropológico e com uma grande sensibilidade humanista.
O grande volume de trabalhos publicados nesse número comporta o dossiê “Arqueobotânica na
América do Sul”, organizado pela Professora arqueóloga do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Rita Schell-
Ybert. São diversos autores e autoras de diversos países: Brasil, Inglaterra, Uruguai, Argentina, Bolívia, França,
Estrados Unidos e Colômbia. A primeira parte é dedicada à Microarqueobotânica com sete artigos
apresentados. A segunda parte é dedicada à Antracologia e conta com seis artigos. A ideia do dossiê é
contribuir para o aprofundamento de discussões relacionadas à arqueobotânica, trazendo um
aprofundamento sobre temas técnicos e metodológicos, bem como modelos interpretativos baseados
sobremaneira em estudos microbotânicos e antracológicos. Essa é uma temática importante e bastante
carente no Brasil, visto que a arqueobotânica ainda busca se consolidar com linhas de pesquisa no cenário
nacional. A fim de facilitar e ampliar a divulgação do dossiê, o editorial do mesmo foi escrito em português e
inglês, assim como o artigo de uma das autoras estrangeiras, também foi traduzido do francês para o
português. Ambas as formas de publicação estão disponíveis no sistema.
No ano de 2016 o periódico Cadernos do LEPAARQ comemora um reconhecimento nacional com o
aumento de seu conceito nota no sistema Qualis-CAPES. Passamos de B5 para B3 e a tendência é qualificar
ainda mais nas próximas avaliações. Desde 2006 com uma nota negativa, os Cadernos do LEPAARQ, a partir
do ano de 2010, se reestruturaram retomando a periodicidade, revisando seu layout de capa e artigos,
buscando indexadores e renomeando todo seu corpo editorial. Foi importante também transformar o
periódico de revista impressa em revista eletrônica, visto que não há mais condições financeiras na
atualidade que permita a impressão e permuta. Com muito trabalho que envolveu professores e alunos
ligados ao LEPAARQ e centenas de pareceristas (a quem agradecemos imensamente) o periódico cresceu e
já é apontado como uma das principais revistas em Antropologia e Arqueologia no Brasil.
Como editor dos Cadernos do LEPAARQ, eu gostaria de agradecer a algumas pessoas que foram
fundamentais nessa retomada da revista. Primeiramente agradecer a Patrícia Borba, bibliotecária da UFPEL
e responsável pelo Projeto Guayaca, cujo objetivo é congregar os conhecimentos produzidos na Universidade
em periódicos, qualificando-os e tornando-os viáveis. Agradecer também a Chaiane Alves Quadrado, Josiel
Dos Santos e Bruno Ribeiro, alunos e amigos que contribuíram ou ainda contribuem DE GRAÇA, “NO AMOR
À CAMISETA” para a qualificação dessa revista. Sem palavras gurizada!

Desejo a todos uma boa leitura!

Rafael Guedes Milheira


Madrugada de 5 de junho de 2016.
A TRADIÇÃO ITARARÉ-TAQUARA NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DE SÃO PAULO:
O SÍTIO BENEDITO MACHADO, BOTUCATU (SP) E SUAS POSSÍVEIS RELAÇÕES COM O
BRASIL CENTRAL
THE ITARARÉ-TAQUARADA TRADITION IN THE CENTRAL REGION OF SÃO PAULO
STATE: THE BENEDITO MACHADO SITE, BOTUCATU (SP) AND ITS POSSIBLE RELATION
WITH CENTRAL BRAZIL

Astolfo Gomes de Mello Araujo


Daniela Dias Ortega
Thomas Johannes Shrage
Mercedes Okumura
Gregório Cardoso Tápias Ceccantini

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Tradição Itararé-Taquara na região central do Estado de São Paulo: o sítio Benedito
Machado, Botucatu (SP) e suas possíveis relações com o Brasil Central

Astolfo Gomes de Mello Araujo1


Daniela Dias Ortega2
Thomas Johannes Shrage3
Mercedes Okumura4
Gregório Cardoso Tápias Ceccantini5

Resumo: O Sítio Benedito Machado, localizado em Botucatu, região central do Estado de São Paulo, foi datado
por volta de 700 anos AP, e apresentou cerâmica característica da Tradição Itararé-Taquara. A análise da
cerâmica mostrou que o antiplástico mineral estava sempre presente na pasta, mas que 54% dos fragmentos
também apresentavam cariapé tipo A, dado inédito na literatura. São colocadas algumas hipóteses para explicar
a presença de cariapé nessa área geográfica, tendo em vista que tal antiplástico é virtualmente ausente na
cerâmica Itararé-Taquara dos estados sulinos.

Palavras-Chave: Arqueologia; Tradição Taquara-Itararé; Cariapé; São Paulo.

Abstract: Benedito Machado site, located in Botucatu, central São Paulo state, was dated around 700 years BP
and showed ceramics that can be attributed to the Itararé-Taquara Tradition. Our analysis showed that mineral
temper was always present in the ceramic sample, but 54% of fragments also showed type A cariapé, an
unprecedented data in the literature. Some hypotheses are advanced in order to explain the presence of
cariapé in this geographical area, given that such temper is virtually absent in Itararé-Taquara ceramics of the
southern states.

Keywords: Archaeology; Itararé-Taquara Tradition; Cariapé; São Paulo.

INTRODUÇÃO

O reconhecimento da presença de sítios arqueológicos associados a grupos ceramistas atribuíveis à


Tradição Itararé-Taquara no Estado de São Paulo se deve, originalmente, aos trabalhos de Tom O. Miller (1972)
na região de Rio Claro e, posteriormente, às informações coligidas por Prous (1979) na região de Itapeva. Em

1 Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo (MAE/USP), Brasil. E-mail: [email protected]
2 Acadêmica do 6º. Ano, Curso de Arqueologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC / Goiás), Brasil.
3 AESA-SE / Ministério das Minas e Energia.
4 Programa de Pós-Graduação em Arqueologia (PPGArq), Brasil; Departamento de Antropologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ), Brasil.


5 Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo (USP), Brasil.
ASTOLFO GOMES DE MELLO ARAUJO, DANIELA DIAS ORTEGA, THOMAS JOHANNES SHRAGE, MERCEDES OKUMURA E
GREGÓRIO CARDOSO TÁPIAS CECCANTINI

meados dos anos 1980, Robrahn (1988) trabalhou com os sítios Itararé-Taquara do médio Ribeira, cadastrando
mais de uma centena deles, todos com pequenas dimensões e idades entre 600 e 270 AP. No final dos anos 1990
Araujo (2001), trabalhando na região de Itapeva, no alto Paranapanema e, portanto, em região vizinha à
trabalhada por Robrahn, detectou mais 39 sítios atribuíveis a essa Tradição. Diferentemente dos sítios do médio
Ribeira, os sítios do alto Paranapanema são maiores e, aparentemente, mais antigos (vide ARAUJO 2001, 2007).
Apesar dos dados de Miller, o cenário parecia apontar para uma concentração de sítios na porção sudoeste do
Estado de São Paulo, corroborando a ideia da característica eminentemente sulina dessa Tradição. Mais
recentemente, com o aumento do número de trabalhos de arqueologia de contrato, este cenário vem sendo
modificado. Uma série de sítios relacionados à Tradição Itararé-Taquara foram detectados em regiões distintas
do Estado, tanto no interior como no litoral (CALDARELLI 2002; CALI 2000; ROBRAHN-GONZALEZ E ZANETTINI
2002), permitindo a proposição de um modelo que sugere uma relação mais direta entre a Tradição Itararé-
Taquara e a Tradição Una (ARAUJO 2007), prevendo uma continuidade crono-espacial entre ambas, o que
implicaria na presença de sítios Itararé-Taquara ao longo de um (ou vários) eixos ligando regiões ao norte de São
Paulo (Minas Gerais, Rio de Janeiro) aos estados sulinos, o que necessariamente implicaria na presença maciça
de tais sítios em território paulista. Neste trabalho iremos apresentar dados referentes ao Sítio Benedito
Machado, um sítio Itararé-Taquara detectado no Município de Botucatu, região central do Estado de São Paulo,
colocando-o no contexto dessa discussão.

LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DO SÍTIO

Do ponto de vista geomorfológico, a região de Botucatu está inserida no limite entre a Depressão
Periférica Paulista e as Cuestas Basálticas, em uma área onde os arenitos da Formação Botucatu e os basaltos da
Formação Serra Geral afloram em abundância, produzindo solos férteis e bem drenados. O Sítio Benedito
Machado (coords. 22°54'02" S e 48°25'30" W) está localizado em uma vertente voltada para NE, quase no topo
de uma colina ampla, em uma altitude de 880 m. Dista 480 m das cabeceiras do rio Bocaina, afluente do rio
Capivara pela margem esquerda (Figura 1), estando 50 m acima do nível de base local. O rio Capivara, por sua
vez, é afluente do rio Tietê pela margem esquerda. O sítio está localizado em terrenos altos da chamada Serra
de Botucatu, o que implica em um desnível de 360 m em relação ao vale do rio Capivara. A região é considerada
como sendo um ecótono, uma das áreas do estado em que manchas de cerrado e mata atlântica coexistiam.
Dados paleoambientais para essa região (BISSA et al. 2013) apontam para um aumento constante da mata
atlântica em detrimento do cerrado durante os últimos 3.700 anos.

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Figura 1: Localização do Sítio Benedito Machado, Município de Botucatu, SP.

O sítio foi detectado pelo Sr. Benedito Machado, morador de Botucatu, em uma área de plantação de
eucalipto. O informante entrou em contato com o diretor do Museu do Café da UNESP de Botucatu, Sr. José
Eduardo Candeias. O Museu do Café, por sua vez, notificou a equipe da empresa Zanettini Arqueologia, que
confirmou a existência de um sítio arqueológico no local e nos repassou a informação. Realizamos uma etapa de
campo no local, que serviu de sítio-escola dentro de uma disciplina de graduação do Museu de Arqueologia e
Etnologia da USP.

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INTERVENÇÕES REALIZADAS

As intervenções tiveram o objetivo duplo de delimitar a área de dispersão de vestígios e obter


material para datação. Isso foi realizado por meio de duas estratégias: sondagens sistemáticas e escavação.

Sondagens Sistemáticas
Foi executado um programa de sondagens sistemáticas de subsuperfície com cavadeira articulada,
cobrindo uma área de 32.400 m2, resultando em um total de 124 sondagens (Figura 2), com profundidades entre
60 e 100 cm. O intervalo máximo entre sondagens foi de 20m, e o mínimo de 5m. Dentre as sondagens realizadas,
47 apresentaram material arqueológico, na forma de fragmentos de cerâmica e pedra lascada. A maior parte das
peças foi detectada entre 15 e 50 cm de profundidade (média de 32 cm).

Figura 2: Localização das sondagens (círculos brancos) realizadas na área do sítio (n = 124).

Escavação
Tendo em vista os resultados obtidos pelas sondagens, decidiu-se abrir uma unidade de escavação de
1m2 (UE-1) em um local que apresentou alta concentração de fragmentos cerâmicos e carvão, representado pela
Sondagem 43/80N. A escavação foi aprofundada até 40 cm, e 59 fragmentos de cerâmica foram coletados nessa
unidade. A cor do solo passou de 10YR 3 / 4 (castanho escuro) nos primeiros 10 cm para 7.5 YR 4 / 4 (castanho)

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nos níveis inferiores. Foram observados alguns bolsões de solo mais avermelhado e compacto, provavelmente
resultantes de atividade intensa de queima, relacionada à ocupação pré-colonial (áreas de fogueira). Foi também
possível observar a presença de concentrações de carvão associados a fragmentos cerâmicos, utilizados na
datação do sítio.

ANÁLISE DA CERÂMICA

O material cerâmico do sítio Benedito Machado foi analisado tecnologicamente, mas devido à
característica fragmentária e erodida das bordas e bases presentes, a reconstituição das formas foi limitada.
Ainda assim, foi possível reconstituir três vasilhames, seguindo as formas apresentadas por Chmyz (1976) e Prous
(1979).
A análise tecnológica visa identificar um conjunto de atributos que definem também classes, com base
na composição da pasta e no modo como foram manufaturados os recipientes. Portanto, segundo Bicho (2011):

[...] o estudo das características tecnológicas permite apontar elementos acidentais


na diversidade e identificar quais os elementos resultantes das variações ao nível da tecnologia
ou da composição das pastas, reflectindo assim aspectos de opção cultural dos oleiros. Por fim,
com base nas pastas é possível construir-se uma tipologia (sic) simples de forma a identificar e
delimitar os tipos principais (BICHO 2011:451).

Essas diferenças culturais são evidentes nas variedades de antiplásticos utilizados pelos ceramistas pré-
coloniais. Esse atributo foi analisado com lupa binocular com aumento de até 40 vezes; com relação ao tipo, se
mineral ou vegetal; assim como a angulosidade desse mineral, o que pode indicar que os grãos tenham sido
processados antes de serem adicionados à pasta, ou não – no caso de grãos com alta esfericidade e
arredondamento.
Como resultado de um processo natural ou tendo sido adicionado intencionalmente (tempero) aos
argilominerais durante a manufatura da cerâmica (ORTON et al. 1997:87), o antiplástico é um importante
atributo da análise tecnológica, porque, segundo Shepard (1954:156-157), há uma grande variedade de
temperos utilizados, que podem ser identificados com exatidão. Além do mais, dentro dessa abordagem, a
análise dos fragmentos é tão satisfatória quanto os vasos inteiros, possibilitando uma maior obtenção de
informações das cerâmicas de superfície lisa e de formas simples.

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Métodos de Análise
A identificação da tecnologia de manufatura, tratamentos de superfície, engobo e decoração seguiu as
orientações de Shepard (1956) e definições de Chmyz (1976). A análise específica do antiplástico foi realizada no
Laboratório de Anatomia Vegetal do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências da USP averiguou-se
em microscópio fotográfico Leica DML (Câmera DFC 310FX) nove fragmentos contendo o antiplástico cariapé.
Foram também montadas lâminas delgadas com os fragmentos de cariapé retirados da cerâmica, referentes às
peças 84, 116, 171, 186 e 187. Tais lâminas foram sujeitas a análise e fotomicrografias.
Para a análise da queima, utilizou-se os seis tipos propostos por Rye (1981), definidos da seguinte
forma: Queima 1: sem presença de núcleo, com cor variando do laranja ao tijolo amarelo, oxidante. Queima 2:
sem núcleo, com cor variando do cinza-claro ao pardo, sendo igualmente oxidante. Queima 3: com núcleo central
escuro e superfícies interna e externa claras, tendo a queima iniciado em ambiente redutor e ao final oxidante.
Queima 4: sem a presença de núcleo, com cor variando do cinza-escuro ao preto, totalmente redutora. Queima
5: camada clara na parede externa e camada escura na parede interna. Queima 6: camada clara na parede interna
e camada escura externamente.

RESULTADOS OBTIDOS

Arranjo Espacial dos Materiais Arqueológicos


A partir dos resultados obtidos pelas sondagens, foi quantificada a frequência e peso das peças em
cada sondagem. Optamos por elaborar mapas de densidade de material arqueológico com base tanto no peso
como no número de fragmentos, tendo em vista que cada uma dessas medidas poderia apresentar um viés
diferente (fragmentação diferencial das peças versus poucas peças com grande peso). A observação dos mapas
(Figura 3) permite perceber que o sítio apresenta formato um tanto irregular, com dimensões de, no mínimo,
140m x 160 m. O sítio parece também ter sido truncado por vias de acesso em sua parte oeste e norte.

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Figura 3: Sítio Benedito Machado. Mapas de densidade de peças por número e por peso.

Caracterização da Cerâmica
A coleção cerâmica do Sítio Benedito Machado é constituída por 276 fragmentos, sendo 254 paredes,
19 bordas e três bases. Os fragmentos possuem, em geral, uma espessura fina, variando entre 4 e 13mm (média
de 6,3 mm, desvio padrão de 2,9 mm).
Dentre as bordas, oito são diretas, 10 reforçadas externamente, e uma introvertida, com a presença de
lábios arredondados, planos e apontados.
O antiplástico mineral (quartzo) está presente em todas as peças, sendo que em 54% delas há também
o cariapé tipo A (figuras 4, 5 e 6). Além disso, em alguns fragmentos foram identificados carvão e feldspato
(Tabela 1). Os grãos de quartzo são menores que 1mm, sendo arredondados em sua maioria.
Com relação ao cariapé, Fernández (2009) menciona que a parte orgânica das fibras vegetais
desaparece durante a queima, formando um molde, que pode ser observado ao microscópio. Foram levantadas
hipóteses quanto à procedência do antiplástico silicoso nas amostras observadas, havendo a possibilidade de
que sejam elementos de vasos de madeira ou os seus moldes em sílica, e até mesmo células epidérmicas de
gramíneas, ou Cyperaceae.

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Tabela 1: Frequência absoluta e relativa de diferentes antiplásticos na cerâmica do Sítio Benedito Machado.

Antiplástico n %
Mineral (Quartzo) 121 43,8
Mineral + Cariapé A 148 53,6
Mineral (Quartzo) + feldspato 3 1,1
Mineral + Cariapé A + carvão 4 1,4
Total 276 100,0

Figura 4: Cariapé A observado na superfície de um fragmento de cerâmica (no. BMC-116b) do sítio Benedito Machado.

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Figura 5: Fragmento de cariapé A retirado da peça BMC 187b e montado em lâmina.

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Figura 6: Fragmento de cariapé A retirado da peça BMC 116b e montado em lâmina.

A tecnologia de manufatura roletada foi identificada em 23% dos fragmentos cerâmicos. O tratamento
de superfície alisado é predominante interna e externamente, havendo estrias como evidência do uso de
alisadores. Há apenas uma ocorrência de polimento, em superfície externa.
No tocante à queima, como característica comum da Tradição Itararé-Taquara, a maior parte dos
fragmentos apresenta coloração que varia entre cinza claro / pardo e cinza escuro. A queima mais frequente é a
oxidante (queima 2, com 33 %) com coloração variando do cinza claro ao pardo; 25,7% apresentam queima 3,
redutora no núcleo e oxidante nas superfícies. Com a queima 4, que é totalmente redutora, temos 28,6 % da
cerâmica. Há ainda 7,2 % do material com a queima 5, oxidante na parte externa e redutora internamente; 3,6
% com a queima 1 que é oxidante com coloração do laranja ao amarelo; e 1,8 % oxidante externamente e
redutora internamente (Tabela 2; Figura 7).

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Tabela 2: Frequência absoluta e relativa dos tipos de queima observados na cerâmica do Sítio Benedito Machado.

Queima n %
1: oxidante (laranja / amarelo) 10 3,6
2: oxidante (cinza claro / pardo) 91 33,0
3: redutora (nucleo) + oxidante 71 25,7
4: redutora 79 28,6
5: oxidante (externa) + redutora 20 7,2
6: oxidante (interna) + redutora 5 1,8
Total 276 100,0

6: oxidante (interna) Queima


+ redutora
2%
1: oxidante (laranja /
amarelo)
5: oxidante (externa) 3%
+ redutora 2: oxidante
7% (cinza claro /
4: redutora pardo)
29% 33%

3: redutora (nucleo) +
oxidante
26%

Figura 7: Tipos de queima da cerâmica do Sítio Benedito Machado.

Há engobo branco na parte interna de duas peças, e em uma delas a ocorrência de decoração incisa,
mas tais fragmentos podem ser Tupiguarani. Não foram identificadas marcas de uso.
Três formas puderam ser reconstituídas por meio da projeção das bordas (Figura 8). A Tabela 3
apresenta os dados obtidos por meio da reconstituição.

Tabela 3: Dimensões e volumes de vasilhames reconstituídos – Sítio Benedito Machado.

No. Peça Diâmetro boca (cm) Diâmetro maximo (cm) Altura (cm) Volume (l)
BMC 011 20 23 23,5 3,03
BMC 180 16 21,4 21 2,25
20/60S 8 10 8,6 0,20

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Figura 8: Sítio Benedito Machado. Formas reconstituídas a partir de fragmentos de borda.

Idades obtidas
Foram coletados vários fragmentos de carvão durante a escavação da quadra UE -1, dois dos quais
foram enviados para datação no laboratório Beta Analytic, Inc, EUA. A amostra BMC 43/80N –L3 é proveniente
do Nivel 3 (20 a 30 cm de profundidade) e a amostra BMC 43/80N – L4 é proveniente do Nivel 4 (30 a 40 cm de
profundidade). Os resultados obtidos podem ser observados na Tabela 4. A calibração foi realizada por meio do
programa CalPal, utilizando a curva de calibração CalPal 2007 Hulu (Weninger et al. 2012).
Apesar da inversão dos resultados entre os dois níveis as idades são compatíveis e contemporâneas,
sugerindo que o sítio foi ocupado entre a segunda metade do século XIII e a primeira metade do século XIV. Estas
idades estão dentro da faixa conhecida para sítios da Tradição Itararé-Taquara no Estado de São Paulo, que se
estendem de 1.400 a 200 AP (ARAUJO 2007).

Tabela 4: Idades obtidas para o sítio Benedito Machado.


Material Idade 14C convencional Idade calibrada
No. Amostra No. Laboratório Delta 13C
Datado (anos AP) (anos AP)*
BMC 43/80N–L3 Beta 407430 Carvão -25.5 o/oo 840±30 760±40
BMC 43/80N–L4 Beta 407431 Carvão -28.3 o/oo 730±30 690±20
*Utilizando o programa CalPal (Weninger et al. 2012).

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DISCUSSÃO

A ocorrência de antiplástico cariapé tipo A na cerâmica do sítio Benedito Machado, inédita em termos
do que tem sido publicado a respeito da Tradição Itararé-Taquara, nos leva a postular algumas hipóteses que
devem ser levadas em consideração nas futuras discussões a respeito das rotas de expansão dos grupos proto-
Jê no sudeste e sul do Brasil.
Primeiramente, a presença de cariapé em sítios Itararé-Taquara no Estado de São Paulo pode ser bem
mais ubíqua do que tem sido notado, e torna-se necessária também uma revisão dos aspectos tecnológicos da
cerâmica proveniente dos estados sulinos, com o objetivo de entender qual a relação desse antiplástico com a
espacialidade e cronologia desta tradição cerâmica. Tal antiplástico, de uso comum em sítios do Brasil Central,
pode indicar laços culturais com a Tradição Una, conforme proposto por Araujo (2007). A presença de cariapé
como antiplástico em vasilhames da Tradição Itararé-Taquara, no entanto, parece ser inexistente de acordo com
a bibliografia (PARELLADA 2005, 2008).
Em segundo lugar, a datação recente obtida para o sítio pode se dever tanto a uma persistência
relativamente longa dessa “assinatura” do Brasil Central, como a deslocamentos rumo sul de grupos proto-Jê em
períodos relativamente recentes. Novamente, um diagnóstico a respeito da presença ou não de cariapé em
cerâmicas Itararé-Taquara ao longo do tempo e do espaço poderá auxiliar na solução desse problema. É
importante notar que Schmitz e Rogge (2008) relataram a presença de um sítio relacionado à Tradição Aratu em
Apucarana (norte do Paraná), datado em 590 ± 40 AP (598 ± 40 cal AP), com presença de alguns vasilhames
típicos da Tradição Itararé-Taquara que continham cariapé como tempero.
Dada a ocorrência de cariapé A em um sítio Tupiguarani por nós detectado na região (Sítio Sobrado,
coords. 22°39'45" S e 48°27'45" W), localizado 26 km a norte do Sítio Benedito Machado, existe também a
possibilidade de que o uso do cariapé tenha sido transmitido culturalmente entre os dois grupos, já no Estado
de São Paulo, e não represente uma relação com o Brasil Central, uma vez que há na literatura sobre o Estado
de São Paulo registros de cerâmica Tupiguarani com cariapé (MORAES 2007; FAVARELLI e FACCIO 2011). Não
temos nenhum dado cronológico para o Sítio Sobrado, mas a presença de alguns fragmentos de cerâmica
Tupiguarani no sítio Benedito Machado reforça o padrão de coexistência (pacífica?) já percebido em outros
contextos do Estado de São Paulo (AFONSO e MORAES 2006).
A escolha de um local alto para a implantação da aldeia parece ser outro fator recorrente na
implantação dos sítios Itararé-Taquara (ARAUJO 2001). O Sítio São Manuel 1, também filiado à Tradição Itararé-
Taquara (coords. 22°45'38"S e 48°42'33" W; ROBRAHN-GONZALEZ e ZANETTINI 2002), está localizado a 34 km
na direção NW do Sítio Benedito Machado, em média vertente, a uma altitude de 705 m. Outrossim, é

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interessante notar que o Sítio Sobrado está assentado em baixa vertente, na margem direita do rio Lavapés, um
pequeno afluente do Tietê, em uma altitude de 490 m. Apesar de não termos informações cronológicas para
estes dois sítios, a inserção topomorfológica de ambos sugere, novamente, mais uma instância em que se
percebe diferenças marcantes na escolha da implantação das aldeias por parte dos dois grupos culturais.
No tocante à forma do sítio, sua característica um tanto amorfa foi também percebida em outro sítio
da Tradição Itararé-Taquara, no Alto Paranapanema, o Sítio Boa Vista (ARAUJO 2001). Apesar dos poucos dados
disponíveis, podemos começar a supor que as aldeias Itararé-Taquara possuem uma estrutura menos
padronizada quando comparadas com as aldeias circulares Tupiguarani e Aratu, se levarmos em conta os
(poucos) dados obtidos no Estado de São Paulo, como o Sítio Bianco (ARAUJO 2002) e Sítio Água Branca (AFONSO
e MORAES 2006).

CONCLUSÕES

Nossos dados confirmaram a existência de antiplástico cariapé tipo A em cerâmica da Tradição Itararé-
Taquara no Estado de São Paulo, informação inédita na literatura. A presença desse antiplástico, comum em
cerâmicas provenientes do Brasil Central, pode ser um indicador material das relações entre os grupos proto-Jê
sulinos e congêneres setentrionais, já fortemente sugeridas pela linguística (SOUZA 2011). Isso se coadunaria
também com a proposta de uma possível continuidade cultural e geográfica entre a chamada Tradição Una e a
Tradição Itararé-Taquara (ARAUJO 2007). No entanto, tendo em vista o estado ainda fragmentário dos
conhecimentos atuais, é igualmente possível pensar em cenários alternativos; por exemplo, que o uso do cariapé
tenha sido transmitido a esses grupos proto-Jê pelos agricultores Tupiguarani que dividiram o mesmo território
ou, ainda, que a presença de sítios relativamente recentes como Benedito Machado na região central de São
Paulo seja relacionada a uma expansão tardia dos Kaingang rumo norte (MOTA 2007), que já teriam trazido o
uso de cariapé devido ao contato com populações Aratu (SCHMITZ e ROGGE 2008).
Torna-se necessária, portanto, uma revisão da análise dos antiplásticos na cerâmica Itararé-Taquara,
tanto em São Paulo como nos estados sulinos, para que esse panorama possa ser melhor compreendido. Além
disso, ressaltamos a necessidade de dados mais detalhados a respeito do tamanho e formas dos sítios Itararé-
Taquara, bem como de um maior investimento em datações. Pouco se tem avançado nessas questões centrais,
desde os trabalhos pioneiros do PRONAPA, no final dos anos 1960 (CHMYZ 1967, 1968).

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Agradecimentos
Agradecemos a José Eduardo Candeias, diretor do Museu do Café da UNESP de Botucatu, ao Dr.
Zacarias Xavier de Barros, do Departamento de Engenharia Rural da UNESP de Botucatu, pelo apoio institucional
e logístico, e ao Sr. Benedito Machado, pelas valiosas informações. Ao Dr. Paulo Zanettini e à Dra. Camila de
Moraes Wichers, pelas informações preliminares sobre o sítio. Aos Drs. Fabio Parenti, Rafael Corteletti e Luiz
Fernando Erig Lima pelo inestimável auxílio nas etapas de campo.

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Recebido em:15/04/2016
Aprovado em:09/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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UMA AMOSTRA CERÂMICA DO CHAPADÃO DOS PARECIS, MT
A CERAMIC SAMPLE FROM THE CHAPADÃO DOS PARECIS, MT

Pedro Ignácio Schmitz


Fernando Ribas
Ranieri Hirsch Rathke

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Uma amostra cerâmica do Chapadão dos Parecis, MT

Pedro Ignácio Schmitz1


Fernando Ribas2
Ranieri Hirsch Rathke3

Resumo: Os autores estudam uma amostra de cerâmica proveniente da Fazenda Luar do Sertão, no
Chapadão dos Parecis, alta bacia do rio Juruena, MT. Depois de breve análise técnica da coleção, eles a
contextualizam em termos de cultura e especulam a respeito do grupo étnico que a tenha produzido. A
cerâmica é classificada como da tradição Uru, atribuída a grupos indígenas cultivadores de mandioca nos
cerrados do Centro-Oeste Brasileiro. Um desses grupos, que deram o nome à região, são os Pareci, do tronco
linguístico Arawak. A pequena amostra pode tornar-se útil como testemunho arqueológico para um espaço
mal conhecido do Mato Grosso.

Palavras-chave: Chapadão dos Parecis. Cerâmica. Tradição Uru. Grupo étnico Pareci.

Abstract: The authors study a ceramic sample received from Fazenda Luar do Sertão, Chapadão dos Parecis,
on the upper basin of Juruena river, MT. After a brief technical analysis, they contextualize the collection
culturally and speculate about the ethnic group who produced the ware. The ceramic is classified in the Uru
tradition, attributed to the native manioc cultivators of the tropical savanna of Midwestern Brazil. One of
these populations, whose name identifies the region, is the Pareci, of the Arawak linguistic stock. The little
ceramic sample may turn out to be useful as testimony to the occupation of a great insufficiently known
space of Mato Grosso.

Key-words: Chapadão dos Parecis. Ceramics. Uru tradition. Pareci ethnic group.

INTRODUÇÃO

O objeto deste estudo é uma coleção de cerâmica proveniente da Fazenda Luar do Sertão, no
Chapadão dos Parecis, alta bacia do rio Juruena, um espaço sem pesquisa arqueológica publicada no Mato
Grosso.
Para outras bacias fluviais do Estado, tanto do conjunto platino, como do amazônico, existem
trabalhos significativos (OLIVEIRA e VIANA 1999-2000), dos quais indicamos alguns. Para a do rio Jauru,
afluente do rio Paraguai, na fronteira com a Bolívia: Martins e Kashimoto (1999), Funari e Oliveira (2000),
Pestana (2014). Para a do rio Paraguai, formador do Pantanal: Migliacio (2000). Para a do rio Cuiabá, afluente
do Paraguai: Wüst (1974, 1990), Vilhena Vialou (2005, 2006), Viana (2006). Para a do Araguaia: Robrahn
González (1996). Para a do Xingu: Simões (1967), Simonsen e Oliveira (1976), Becquelin (1993), Heckenberger

1 InstitutoAnchietano de Pesquisas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Brasil. PPG História. Pesquisador sênior do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil.
2 Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Brasil. Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC-CNPq), Brasil. História.


3 Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Brasil. Bolsista no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (PROBIC-FAPERGS). História.


PEDRO IGNÁCIO SCHMITZ, FERNANDO RIBAS E RANIERI HIRSCH RATHKE

(1998). Para a do Guaporé: Miller (1983), Wüst (2001), Fogaça, Sampaio e Moraes (2003). Estes trabalhos
referem-se principalmente a grupos ceramistas de diversas tradições. Em quase todos se registra a presença
da tradição cerâmica Uru, que também identifica a coleção em análise. Esta coleção vem preencher um
espaço para o qual ainda não tinha sido registrada a tradição Uru, isto é, a bacia do rio Juruena, afluente do
Amazonas.
A coleção será brevemente analisada do ponto de vista técnico, depois contextualizada em termos
culturais e étnicos, podendo tornar-se útil como testemunho arqueológico de um espaço mal conhecido.
A coleção vem da fazenda Luar do Sertão, pertencente a Edmar Kurt Ziech, localizada em torno de
40 km da sede do município de Campos de Júlio (13º53'58" S e 59º08'51" W), na bacia do rio Formiga,
afluente do Juína, que desemboca no rio Juruena pela margem esquerda, médio-norte do estado de Mato
Grosso, microrregião do Chapadão dos Parecis (Planalto dos Parecis). (Figura 01).
Este é o centro do Chapadão, com altitude entre 500 e 600 m. Este se inclina suavemente para o
norte, para onde fluem suas águas, terminando no Amazonas. O Chapadão é fechado no sul por altas rampas,
a partir das quais as águas fluem em direção ao Pantanal do rio Paraguai. O relevo geral da região dos altos
afluentes do rio Juruena é plano a suavemente ondulado.
Na região existiam originalmente as seguintes fitofisionomias florestais: Floresta ciliar, Floresta
Estacional e Savana floresta (cerradão).
Floresta ciliar apresenta vegetação composta por três estratos: arbóreo, arbustivo e herbáceo. O
relevo em que ela se encontra vai de sem declividade até declividade acentuada (40º). O solo tem textura
argilosa, sem pontos descobertos. A profundidade da camada de serapilheira varia entre 20 e 30 cm.
O Cerradão está localizado em ambas as margens do rio Formiga e a vegetação é composta de três
estratos bem definidos. O relevo é sem declividade ou baixa declividade (em torno de 5º). O solo tem textura
arenosa e coloração amarelada. A profundidade da camada de serapilheira varia entre 10 e 15 cm.
A Floresta Estacional, semidecídua, possui três estratos, com destaque para a cobertura do solo por
pteridófitas, musgos, lianas e epífitas. O dossel apresenta alta densidade, com ausência de clareiras. Não
ocorrem pontos de solo descoberto. O relevo apresenta declividade média, em torno de 25º. O solo tem
textura areno-argilosa; a profundidade média da camada de serapilheira é de 17cm.
A imagem de satélite (Google Earth, consultado dia 30.04.15) mostra que a região foi intensamente
modificada, em tempo recente, pela implantação uniforme de grandes fazendas de plantação de soja, as
quais mantêm a vegetação original somente ao longo dos cursos de água; todo o resto do terreno é
uniformemente cultivado. A fazenda Luar do Sertão é uma dessas fazendas.
A temperatura média anual em Campos de Júlio é de 21,1ºC. A pluviosidade média anual é de 1922
mm, com uma estação de chuvas e outra sem chuvas.

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
UMA AMOSTRA CERÂMICA DO CHAPADÃO DOS PARECIS, MT

Figura 01: Localização da área da qual provém a amostra.

O MATERIAL

A coleção compõe-se de 117 peças, representadas por 71 fragmentos de bordas, bojos e bases
simples, 40 fragmentos de bordas, bojos e bases pintados e 6 pedaços de suportes de panela. Todo o material
está bem conservado, com diversas fraturas recentes, provavelmente criadas pelo trator numa primeira
remoção da vegetação original; não se percebe nenhum tipo de erosão provocada por longa exposição à
intempérie, ou resultante de atrito por cultivos ou pisoteio de animais. A tabela 01 mostra o tamanho dos
fragmentos. Não acompanha nenhum material lítico.

Tabela 01: tamanho dos fragmentos.


Tamanho Pintados Simples
2,5 a 5 cm 7 7
5 a 7,5 cm 18 31
7,5 a 10 cm 5 20
Mais que 10 cm 9 12

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PEDRO IGNÁCIO SCHMITZ, FERNANDO RIBAS E RANIERI HIRSCH RATHKE

De bordas, 22 são de acabamento simples, 1 simples com apêndice em orelha, 1 simples com
apêndice retangular inciso e borda serrilhada, 5 são vermelhas. Das bases, 12 são simples, 4 vermelhas, 1
preta, 2 são pratos.

Figura 02: Fragmentos de bordas e bases da cerâmica.

Os simples, os pintados de vermelho e os pintados de preto seguem a mesma técnica de


manufatura, razão por que não criamos tipos diferentes, apenas indicamos e descrevemos as diferenças
observadas.
Manufatura: Os fragmentos quebraram de forma irregular. Só excepcionalmente se nota uma
fratura horizontal ao longo do rolete, numa vasilha que talvez seja intrusiva. Diversos fragmentos indicam
justaposição de placas que se manifestam como rachaduras verticais, vácuos verticais, ou fissuras,
assemelhando-se ao que Schmitz et al. (1982, p. 120) representaram para a fase Aruanã. A construção dos
reforços na borda e na base em pedestal também manifesta sobreposição ou acréscimo de massa em cima
da primeira formação, apresentando, muitas vezes, descontinuidade entre ambas as ações.
Antiplástico: é cariapé B (SCHMITZ et al. 1982), geralmente de grãos irregulares, angulosos, bem
visíveis a olho desarmado na superfície e nas quebras; outras vezes mais fino e diluído na pasta, pouco visível
a olho desarmado, mas bem visível sob a lupa binocular, com aumento de 10X; o antiplástico está
densamente distribuído na pasta.
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UMA AMOSTRA CERÂMICA DO CHAPADÃO DOS PARECIS, MT

A pasta pode ser regular e compacta, bem amassada, mas geralmente ela é mal amassada, irregular,
com numerosos vazios, fissuras e bolhas. A sobreposição de placas, mal aderidas, também ajuda para esta
impressão.
O alisamento das paredes geralmente é bom, às vezes muito bom; os contornos estão bem
definidos; estrias de alisamento aparecem principalmente na face interna; nela também são bastante
comuns superfícies rugosas consequência de alisamento com um tecido ou trançado, que deixou marcas
típicas como água encrespada. As bases costumam ser mais rugosas, com impressões variadas, irregulares,
produzidas pelo suporte sobre o qual foram apoiadas por ocasião da feitura. As vasilhas pintadas costumam
apresentar as superfícies externas bem alisadas.
A cor da parede interna e externa não pintada, no fator 7,5YR, é de 6/6 (Reddish Yellow) e 6/2
(Pinkish Gray) e no fator 10YR, de 7/4 (Very Pale Brown) e 6/2 (Light Brownish Gray). (Munsell Soil Color
Charts, 1975).
A cor da parede externa pintada de vermelho, no fator 2,5 YR, varia entre 3/4 (Dark Reddish Brown)
a 4/4 (Reddish Brown) e 4/6 (Red).
A cor da parede externa pintada de preto, no fator 2.5 YR é N 2,5/0 (Black). A pintura forma uma
camada espessa e uniforme, bastante resistente ao desgaste.
A cor da parede interna dos pintados, no fator 7,5 YR, é de 6/6 (Reddish Yellow) e, no fator 10YR,
de 7/4 (Very Pale Brown).
A queima é oxidante incompleta com largos núcleos escuros e pequenas paredes mais claras.
Dureza: 3 na escala de Mohs.
A maior parte das bordas indica vasilhas de bordas levemente infletidas, verticais ou levemente
inclinadas para dentro ou para fora, reforçadas externamente, com bases levemente salientes, ou em
pedestal, formando recipientes com pequena profundidade, semelhantes a bacias ou gamelas; mais
raramente vasilhas com borda não reforçada, introvertida; bases aplanadas ou levemente convexas. Pratos
rasos, com borda apenas esboçada são exceção. O lábio é plano, em bisel assimétrico, ou um pouco
arredondado (Figuras 03 e 04).
A espessura das paredes numa amostra de 70 fragmentos sem pintura é a seguinte: de 0,5 a 0,75
cm = 4 fragmentos; de 0,75 a 1 cm = 16 fragmentos; de 1 a 1,25 cm = 32 fragmentos; de 1,25 a 1,5 = 12
fragmentos; de mais de 1,5 cm = 6 fragmentos.
A espessura das paredes numa amostra de 39 fragmentos com pintura é a seguinte: 0,5 a 0,75 = 2
fragmentos; de 0,75 a 1 cm = 12 fragmentos; de 1 a 1,25 = 5 fragmentos; de 1,25 a 1,5 = 4 fragmentos; de
mais de 1,5 cm = 16 fragmentos.
A abertura da boca varia entre aproximadamente 30 cm e 90 cm, sendo mais comuns as aberturas
ao redor de 40 cm. A abertura da boca é circular.

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PEDRO IGNÁCIO SCHMITZ, FERNANDO RIBAS E RANIERI HIRSCH RATHKE

Os apêndices não são frequentes na amostra: existe um, em orelha, que forma continuidade com
a borda, e outro, um anexo retangular junto à boca, com borda serrilhada e incisões retilíneas na superfície.
Marcas de utilização: A parede interna, junto à base, algumas vezes está áspera, erodida; o lábio,
especialmente sua borda externa mais frequentemente apresenta desgaste por atrito, marcas que aparecem
mais claramente nas vasilhas pintadas, onde a pintura e às vezes também a massa apresentam desgaste. Não
se observaram crostas de resíduos alimentares.
Os suportes de panela, cilíndricos, são produzidos com a mesma pasta dos recipientes e não
apresentam pintura; a base de uma delas mostra impressões lineares convergentes que poderiam resultar
de uma pequena esteira circular (Figura 5).

Figura 03: Bordas.

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Figura 04: Bases.

Figura 05: Modelos de formas.

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PEDRO IGNÁCIO SCHMITZ, FERNANDO RIBAS E RANIERI HIRSCH RATHKE

Figura 06: Suportes de panela.

DISCUSSÃO

A cerâmica tem as características básicas da tradição Uru na composição da pasta, no uso do cariapé
como tempero, na construção das paredes, na forma e tamanho dos recipientes e nos suportes de panela
(SCHMITZ et al. 1982; SCHMITZ e SALES BARBOSA 1984; WÜST 1990; ROBRAHN GONZÁLEZ 1996; VIANA
2006).
A tradição se estende, por cima do planalto central, da bacia do Tocantins-Araguaia, no centro do
Brasil (SCHMITZ et al. 1982), até o rio Jauru, da bacia do Paraguai, na fronteira do país com a Bolívia (PESTANA
2014). Ela ocupa áreas de diversidade e tensão vegetal nos cerrados centro-ocidentais do Brasil, ambiente
do qual provém à amostra. Por suas características, costuma ser associada a grupos étnicos que têm no
cultivo e manipulação da mandioca amarga um elemento importante de sua economia. As vasilhas da coleção
se assemelham às dos indígenas do Alto Xingu estampadas no artigo de Lévi-Strauss (1963a): fig. 28 e 31,
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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
UMA AMOSTRA CERÂMICA DO CHAPADÃO DOS PARECIS, MT

produto que inicialmente era característico de grupos Arawak, mas que posteriormente foi assumido por
outras etnias, que passaram a ser seus principais fornecedores. Não temos documentos para inserir a
cerâmica da amostra numa coluna cronológica, nem para associa-la a um grupo étnico determinado. São
nossas deficiências para contextualiza-la adequadamente. Mesmo assim tentamos tomando como apoio e
referência os grupos étnicos que, em tempos históricos viveram na área.
Olhando o mapa etnográfico de Nimuendajú (1981) vê-se que na região havia dois grandes grupos
étnicos, produtores de cerâmica: os de língua Nambikuara (LOUKOTKA 1968), uma população
predominantemente caçadora e coletora, e os de língua Pareci, do tronco linguístico Arawak (LOUKOTKA
1968), cultivadores, que deram o nome à região: Chapadão dos Pareci.
Os Nambikuara, segundo Lévi-Strauss (1963a: 321-348), teriam seu território entre 10º e 15º de
latitude Sul e 57º e 61º de longitude Oeste e, até o contato com os europeus, teriam sido numerosos. O
autor, usando critérios linguísticos, distingue três grupos principais: os Nambikuara do leste; os do nordeste,
centro e sul; e os do oeste.
A cultura dos Nambikuara, segundo o mesmo autor (1963b: 362) é impressionantemente simples
quando comparada com a dos vizinhos Pareci e Tupi-Cawahib. Eles não têm redes, dormindo no chão;
produzem cerâmica tosca, quando produzem; ambos os sexos andam nus; são nômades, usando abrigos
temporários durante a maior parte do ano; a pobreza geral de sua cultura material e a simplicidade de sua
organização os diferencia das culturas mais desenvolvidas da área do rio Guaporé à qual, entretanto,
provavelmente pertencem.
Seu habitat é um baixo planalto, arenoso, com vegetação de cerrado, sem fertilidade, com exceção
das florestas de galeria ao longo dos rios. Nesse ambiente, eles têm um duplo padrão de subsistência:
durante a estação seca as mulheres e crianças coletam enquanto os homens vão à busca de caça maior. Na
estação das chuvas eles se estabelecem em aldeias temporárias e os homens abrem roças circulares na
floresta de galeria, onde cultivam mandioca amarga e doce, variedades de milho, feijões, cabaças, algodão,
urucum e tabaco. Também pescam.
Os Nambikuara do leste não produziam cerâmica. Nos outros grupos as mulheres faziam grosseiras
vasilhas de formas variadas. Para isto, elas temperavam a argila com cinzas, queimavam as vasilhas a céu
aberto, e as lavavam com uma infusão feita com casca resinosa, enquanto ainda estavam quentes.
Todas estas características nos levam a não atribuir aos Nambikuara à produção da cerâmica da
amostra.
No mesmo ambiente geral também viviam os Pareci. Segundo Métraux (1963), os Pareci, junto com
os Mojo e os Chané, representam o ramo mais meridional da família linguística Arawak. No Mato Grosso
eles se localizariam ao redor de 58º e 59º de longitude Oeste e 15º de latitude Sul, divididos em três grupos.
Antes do contato com o europeu eles teriam sido numerosos. No século XVIII eles estiveram muito expostos

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aos bandeirantes buscadores de escravos e de ouro, no século XIX aos seringueiros, posteriormente foram
aldeados e introduzidos na civilização ocidental.
Os Pareci do século XVIII, que, segundo o autor, provavelmente viviam mais para o norte, tinham
grandes campos de milho, feijão, batata doce e ananás. Os campos silicosos mais ao sul, ocupados
posteriormente, são menos férteis, sendo úteis para o cultivo apenas as florestas de galeria ao longo dos
cursos de água. Os Pareci nesse tempo cultivavam mandioca amarga e doce, milho, feijões, batata doce, cará,
tabaco e algodão e recolhiam frutas variadas. Também caçavam e pescavam.
A carne era assada em grelhas apoiadas sobre quatro estacas; a mandioca era ralada, peneirada e
assada em torradores. Cabaças e peneiras eram usadas como garrafas, tigelas e copos.
As aldeias dos antigos Parecis reuniam de 10 a 30 cabanas redondas, em forma de forno, as quais
mediam de 10 a 13 m de diâmetro. No começo do século XX as aldeias consistiam somente de uma ou duas
casas comunais, de planta oval e teto em cúpula, cobertas com folhas até o chão; abrigavam uma média de
seis famílias. As cabanas tinham em média 7,6 m de comprimento 5,4 m de largura e 3,6 m de altura.
Nelas dormiam e descansavam em redes de algodão ou de fibras de tucumã; vestiam-se
minimamente, mas se adornavam muito.
Os Pareci recentes, ao contrário de outras populações Arawak, possuíam uma cerâmica tosca, que
temperavam com cinza de casca de ‘katipe’ (cariapé, ou caripé) e um pó ferruginoso, comum na área.
Nas aldeias havia chefes e xamãs. Os habitantes das mesmas visitavam-se frequentemente e
mantinham ativas relações comerciais para o que o território era cruzado por veredas ligando os
assentamentos. Não tinham canoas.
Pelos dados acima, existe a possibilidade, não certeza, de que a cerâmica estudada provenha de
um assentamento Pareci, da família linguística Arawak. Como se indicou mais acima, inicialmente este tipo
de cerâmica era produzido principalmente por etnias desta família linguística, mas posteriormente outra
etnia se tornou a fornecedora, para todos os grupos, do produto agora conhecido como cerâmica do Alto
Xingu. Ela é característica de grupos que, no variado ambiente do cerrado, têm a base da economia em
cultivos variados, entre os quais a mandioca amarga, com seu típico tratamento para produção de farinha e
beiju.
Marlon Pestana (2014), em estudo arqueológico do vale do rio Jauru, na fronteira do Brasil com a
Bolívia, mostra como poderia ser o sistema de assentamento de um grupo indígena da tradição cerâmica
Uru: aldeias densas e estáveis, para cultivo, na proximidade do rio, onde a mata de galeria é fechada, o solo
úmido e fértil, e assentamentos temporários pouco densos, para coleta e caça, nos terrenos planos e
ascendentes próximos, onde predomina a vegetação de cerrado.

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CONSIDERAÇÃO FINAL

A reunião dessas informações, mesmo que não proporcione certeza a respeito da etnia dos
produtores, mostra a existência de populações cultivadoras da tradição Uru nos chapadões cobertos por
cerrados da alta bacia do rio Juruena, região para a qual não havia informações. É neste sentido que os
autores se sentem gratificados.

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UMA AMOSTRA CERÂMICA DO CHAPADÃO DOS PARECIS, MT

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Recebido em:17/04/2016
Aprovado em:11/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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DE TUDO UM POUCO: O MATERIAL CERÂMICO ENCONTRADO EM DOIS SÍTIOS
MULTICOMPONENCIAIS DO BAIXO MADEIRA
A BIT OF EVERYTHING: THE CERAMIC REMAINS FOUND IN TWO MULTI-
COMPONENTIAL SITES BY THE LOWER MADEIRA RIVER

Jaqueline Belletti
Alexandre Hering
Cássia Bars Hering
Gilmar Henriques
Thiago Trindade
Catarina Ribeiro Calheiros
Raul Perigo Melo

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


DE TUDO UM POUCO: o material cerâmico encontrado em dois sítios
multicomponenciais do Baixo Madeira

Jaqueline Belletti1
Alexandre Hering¹
Cássia Bars Hering¹
Gilmar Henriques¹
Thiago Trindade¹
Catarina Ribeiro Calheiros¹
Raul Perigo Melo¹

Resumo: Este artigo objetiva apresentar os resultados das análises cerâmicas realizadas com o material
oriundo dos sítios Terra Preta e Urucurituba Velho, localizados em áreas do atual município de Autazes
(AM). Os resultados dos trabalhos de campo e de laboratório apontaram para a presença de materiais
associados a diferentes tradições ceramistas encontradas no Baixo Madeira, bem como levaram a
indagações sobre os processos de formação de sítios multicomponenciais e as possíveis relações entre os
conjuntos cerâmicos dessa região com outras áreas da Bacia Amazônica.

Palavras Chave: Arqueologia Amazônica, Baixo Rio Madeira, sítios multicomponenciais, Análise cerâmica

Abstract: This article presents the results of the analyses of the ceramic material collected in the
archaeological sites Terra Preta and Urucurituba Velho, located in the region of Autazes (AM). Such results
attested the presence of a relevant quantity of material remains, associated to many different ceramic
traditions, in the Lower Madeira River region. These findings lead to new discussions about the possible
relations of the ceramic remains from the Lower Madeira area, and other regions in the Amazon Basin.

Key Words: Amazonian Archaeology, Lower Madeira River, multi-componential sites, pottery analysis

O Baixo Madeira é descrito nos relatos etnohistóricos como uma região densamente povoada e
com intensa mobilidade indígena (MENENDÉZ 1984/1985 e 1992). As pesquisas arqueológicas na região,
iniciadas no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônica (PRONAPABA)
(SIMÕES 1983; SIMÕES e LOPES 1987), e ampliadas e refinadas pelos trabalhos de Valle (2005) e Moraes
(2013), parecem em alguma medida corroborar os dados trazidos pela etnohistória, pois apontam para
presença de grande quantidade de sítios arqueológicos, muitos dos quais são multicomponenciais.
Nesse cenário de pesquisas, este artigo apresenta novos dados para a região através de análises do
material cerâmico proveniente dos sítios Terra Preta (UTM central 21M 280715E / 9614954N2) e Urucurituba

1
Arqueologika - Consultoria em Arqueologia e Negócios Sócioculturais
2
Todas as coordenadas colocadas neste trabalho estão referenciadas pelo DATUM WGS84.
JAQUELINE BELLETTI, ALEXANDRE HERING, CÁSSIA BARS HERING, GILMAR HENRIQUES, THIAGO TRINDADE, CATARINA
RIBEIRO CALHEIROS E RAUL PERIGO MELO

Velho (AM-CR-27) (UTM central 21M 286124E / 9608012N), localizados em áreas do atual município de
Autazes, Amazonas (figura 1). O objetivo deste artigo é enquadrar esses dados dentro da problemática de
pesquisa da região, discutindo assim aspectos como as classificações dos sítios arqueológicos na área do
Baixo Madeira, sua composição e processo de formação. Os materiais encontrados conduzem também a um
debate sobre as relações entre sítios dessa região com aqueles encontrados em outras áreas da Bacia
Amazônica.

Figura 1: Localização dos sítios em estudo. (Autor: Thiago Trindade).

CONTEXTO REGIONAL: OS CONJUNTOS ARTEFATUAIS CERÂMICOS DO BAIXO MADEIRA E ÁREAS


ADJACENTES3

As ações ligadas ao PRONAPABA demarcam o início das pesquisas arqueológicas sistemáticas na


região do Baixo Madeira. Mais precisamente abaixo do rio Manicoré até o encontro com o Amazonas, Simões
localizou dezenas de sítios, e definiu três conjuntos cerâmicos para região: a Fase Borba, que estaria
relacionada à Tradição Polícroma da Amazônia (TPA); e as Fases Axinim e Curralinho, que estariam vinculadas
à Tradição Inciso-Ponteado (TIP) (SIMÕES 1983; SIMÕES e LOPES 1987)4.
Trabalhos recentes na região realizados por Valle (2005) Moraes (2013) registraram novos sítios, e
uma revisão do quadro de fases da região. Moraes tem destacado a relação de proximidade entre a Fase

3
Os dados apresentados nesse item são oriundos da revisão bibliográfica de trabalhos realizados desde os anos de 1970
até o presente, sendo há claras diferenças nas nomenclaturas, bem como na construção das descrições realizadas pelos
autores. Sempre que possível foi procurado diminuir tais diferenças.
4
As Fases Borba e Axinim não foram datadas por carbono 14. Simões e Lopes (1987, p.122) estimaram que a Fase Axinim
era contemporânea à Fase Curralinho, que teria cronologia entre 800-1500 A.D. A Fase Borba foi considerada
contemporânea à TPA no Madeira, Fases Pupunhas e Marmelos, mas sem estimativa de datas.

40
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
DE TUDO UM POUCO: O MATERIAL CERÂMICO ENCONTRADO EM DOIS SÍTIOS MULTICOMPONENCIAIS DO BAIXO
MADEIRA

Axinim e a Fase Paredão da área de confluência dos rios Negro e Solimões (MORAES 2013: 20), associando a
primeira à Tradição Borda Incisa (TBI). Quanto a Fase Curralinho o autor propõe que esse não seja um
conjunto distinto dos outros, mas que os sítios usados para sua definição apresentariam tanto cerâmicas
associadas à Tradição Polícroma como cerâmicas com incisões finas e modelados, semelhantes ao material
Axinim (MORAES 2013: 144-148).
No sítio Vila Gomes5, Moraes (2013: 238) identificou um conjunto diferente das fases Axinim e
Borba. Segundo ele, esse material teria alguma semelhança com à Fase Jauarí, da Tradição Hachurado-
Zonado, identificada por Hilbert (1968) para o Baixo Amazonas. Contudo, as datas encontradas foram muito
recentes, 900 A.D, para que o material se enquadrasse no conjunto antigo da Tradição Hachurado-Zonado
(Tabela 1).

Tabela 1: Descrição e Cronologia dos conjuntos tecnológicos do Baixo Madeira.


Tradição/Fase Descrição Cronologia Referências
Tradição Pastas com predomínio de cauixí, seguido de cariapé.
Simões e
Borda Incisa Ocorrência de engobo ou banho vermelho, pintura 700-1200
Lopes 1987
Fase Axinim bicroma ou polícroma, inciso, modelado, modelado A.D
Moraes 2013
ponteado e polido, inciso (fino e largo).
Tradição Pastas com predomínio de cariapé, seguido pelo de
Inciso- cauixí. Engobo ou banho vermelho, polido, pintura
800-1500 Simões e
Ponteado polícroma, inciso (fino e largo), exciso e modelado.
A.D Lopes 1987
Fase
Curralinho
Tradição Pastas com predomínio de cariapé, seguido pelo de
Polícroma da cauixí. Engobo branco ou vermelho, pintura polícroma, Simões e
1200-1800
Amazônia inciso (fino, largo, dupla linha, vermelho, pintado e Lopes 1987
A.D
Fase Borba modelado), acanalado (simples e pintado), exciso, Moraes 2013
ponteado, modelado e polido.

Foi também no contexto do PRONAPABA que Eurico Miller (1979, 1987) deu início, nos anos 1970,
a suas pesquisas no Médio e Alto Madeira. O autor registrou mais de uma centena de sítios arqueológicos,
desde a divisa com a Bolívia até o rio Manicoré. Classificando diferentes conjuntos artefatuais líticos e
ceramistas, criou um extenso conjunto de diferentes fases para região. A partir dos anos 2000, as pesquisas
na região começam a ser desenvolvidas por outros pesquisadores, tanto no âmbito da arqueologia preventiva
como acadêmica (SCIENTIA 2008; DOCUMENTO 2012; ALMEIDA 2013; ZUSE 2014; TIZUKA 2013; MONGELÓ
2015).

5
Localizado na Bacia do rio Madeira, no município de Borba (AM).

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
JAQUELINE BELLETTI, ALEXANDRE HERING, CÁSSIA BARS HERING, GILMAR HENRIQUES, THIAGO TRINDADE, CATARINA
RIBEIRO CALHEIROS E RAUL PERIGO MELO

Almeida (2013), trabalhando no Alto Madeira, identificou quatro conjuntos cerâmicos6 na região.
Dois deles se enquadrariam entre as Tradições Jamari e Polícroma (Fase Jatuarana)7. Dos outros dois
conjuntos, um seria referente às cerâmicas antigas com pintura (se enquadrando na Tradição Pocó-Açutuba,
chamada pelo autor de Policrômica Antiga), e o outro a um conjunto que apareceria no sítio Teotônio em
estratos anteriores à cerâmica da Fase Jatuarana (por isso, foi temporariamente chamado de Pré-Jatuarana8).
Zuse (2014), realizando pesquisas em área próxima à de Almeida, entre a cachoeira de Santo Antonio e a foz
do rio Jaciparaná, define a presença de cinco conjuntos artefatuais diferenciados para a região, sendo esses:
cerâmicas antigas com pintura policrômica ou Inciso-Pintadas, semelhantes ao material Pocó-Açutuba;
cerâmicas antigas encontradas nos sítios Morro dos Macacos I, Foz do Jatuarana e Vista Alegre; Tradição
Borda Incisa; cerâmicas das ocupações mais recentes (do que a Borda Incisa) nas ilhas a montante; e Tradição
Polícroma da Amazônia (Tabela 2).
A calha do Baixo Amazonas9 também apresenta um contexto significativo, pois, nas análises
cerâmicas, apresentadas a seguir, foram encontradas coocorrências entre os materiais dessa área e dos sítios
em estudo. Simões e colaboradores (SIMÕES e MACHADO 1987; SIMÕES e CORRÊA 1987; MACHADO 1991)
identificaram diversos sítios entre os rios Uatumã/Jatapu e no Lago de Silves. Como resultado dessas
pesquisas, foi estabelecida a Tradição Regional Saracá (TRS) e suas Fases Iraci, Uatumã e Saracá10. Outras
fases foram relacionadas à Tradição Inciso-Ponteado (Fases Urucará, Jatapu, Garbe e Sabine) e a Fase Silves
foi relacionada à Tradição Borda Incisa. No rio Uatumã, foram também realizadas pesquisas quando da
instalação da Hidrelétrica de Balbina, nos anos 1980. Esse trabalho identificou mais de 150 sítios, entre os
quais predominam sítios rupestres, sendo apenas quatro cerâmicos. Esses foram associados à Tradição
Polícroma, em uma fase chamada Capuru (MILLER et al. 1992). A partir dos anos 2000, novas pesquisas na
região foram realizadas por Lima (LIMA e COSTA 2004 e 2007; LIMA 2013), e vários sítios foram identificados,
incluindo cemitérios associados à TPA.

6
Dado o enfoque na análise do material cerâmico, não serão detalhadas as fases compostas apenas por material lítico.
Essas podem ser vistas em Mongeló (2015).
7
Almeida (2013; 27) opta por nomear este material como Subtradição Jatuarana, após reelaborar a definição de Miller
et al (1992) para a mesma.
8
O prefixo “pré” não indica uma relação de continuidade entre esses conjuntos citados.
9
Aqui não nos referimos à toda a região do Baixo Amazonas, mas sim à área que vai até as proximidades do município
de Urucurituba, próximo à divisa dos estados do Amazonas e Pará.
10
A palavra “regional” foi adicionada ao nome da tradição não apenas por sua circunscrição geográfica, mas também
porque não pode ser relacionada direta ou estritamente a nenhum dos quatro grandes horizontes estilísticos (MEGGERS
e EVANS 1961) ou tradições (LATHRAP 1970), amplamente dispersas pela Bacia Amazônica (Hachurado-Zonado; Borda
Incisa; Polícroma e Inciso-Ponteado.)

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MADEIRA

Tabela 2: Descrição e Cronologia dos conjuntos tecnológicos do Alto Madeira.


Tradição/Fase Descrição Cronologi Referências
a
Pasta com adição de caraipé e carvão. Presença de
escovado, polimento, brunidura, barbotina, engobo
Tradição
vermelho, laranja, vinho e branco; pintura nos mesmos
Pocó-Açutuba
tons de cores, às vezes associadas a incisões; entre as Almeida
1000 A.C
decorações plásticas encontram-se o inciso, escovado, 2013;
no alto Madeira –
acanalado, ungulado, serrungulado, exciso; raros incisos
500 A.D
e ponteados, ponteados, modelados e apliques Zuse 2014
(Policrômica
zoomorfos. Morfologias com boca circular ou não, bordas
antiga)
ocorrem flanges labiais e mesiais bem como pontos
angulares.
Pastas com caraipé. Eventual uso de engobo vermelho e 550 A.C - Almeida
Tradição Jamari
rara decoração, formas simples e paredes mais espessas. 1720 A.D 2013;
Pasta com alta inclusão de grãos de quartzo associados a
óxido de ferro e feldspato. Presença de flanges labiais,
Cerâmicas
bordas expandidas, mas com predomínio de bordas
antigas nos
diretas inclinadas externamente, ocorrência de bocas
sítios Morro dos 01-100
elípticas. Presença de polimento e ausência de engobo. Zuse 2014
Macacos I, Foz A.D
Entre as decorações plásticas os incisos, modelados e
do Jatuarana e
ponteados, feitos na parte superior das vasilhas; incisões
Vista Alegre
largas. A pintura ausente e apliques mais abstratos que
zoomórficos.
Cerâmicas das
ocupações mais
Pasta com cauixí, ou mineral e caraipé. Fragmentos mais
recentes (do Sem
espessos. Bordas introvertidas e extrovertidas com ponto
que a cronologi Zuse 2014
angular e bordas expandidas. Decorações plásticas e
Barrancóide) a definida
pintadas ocorreriam em baixa frequência11.
nas ilhas a
montante
Pastas com caraipé; raras com cauixí. Paredes finas (6 e
10 mm). Bordas contraídas; poucas asas e alças. Presença
de alisamento fino, polimento, brunidura, barbotina e
Tradição Borda 500-1200
engobo vermelho. Decorações plásticas como inciso, Zuse 2014
Incisa A.D
ponteado, roletado, modelado no lábio e apliques em
forma de esferas ou zoomorfos. Pintura rara ocorrendo
em vermelho e branco.
Almeida
Cerâmicas Pastas com antiplástico mineral, um tratamento de
500 A.D 2013;
Pré-Jatuarana superfície mais rústico e decorações plásticas.

11
Para Zuse (2014), a evidenciação da intencionalidade da deposição de fragmentos desse material em diferentes sítios
teria uma semelhança contextual com os materiais das Fases Axinim e Paredão (localizadas no Baixo Madeira e
Amazônia Central, respectivamente), bem como com os da tradição Descalvados (Pantanal de Cáceres), onde estruturas
formadas pela deposição intencional do fragmentos cerâmicos também são encontradas. Em termos tecnológicos, esse
material do Alto Madeira teria pouca semelhança com as referidas fases e tradição; as similaridades entre os materiais
estariam relacionadas à presença de engobo vermelho e pintura em motivos geométricos, em linhas bastante finas
aplicadas diretamente sobre a superfície da vasilha, e à queima predominantemente oxidante, a algumas formas que
apresentaram gargalo, como ocorre em artefatos da fase Paredão.

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Tradição Pastas adição de caraipé. Superfícies bem alisadas e


Almeida
Polícroma da polidas, engobo branco ou vermelho. Pintura em
700-1600 2013;
Amazônia vermelho e branco ou preto e branco na face externa,
A.D
presença incisões finas em motivos complexos sobre a
Zuse 2014
Fase Jatuarana pintura branca.

No Baixo Amazonas, como vem sendo realizado no Alto e Baixo Madeira, as classificações dos
conjuntos artefatuais oriundas das décadas de 1970 e 1980 estão sendo revistas e refinadas. Esse trabalho
está sendo iniciado por Bassi (2016), que tem proposto uma rediscussão da Tradição Regional Saracá (TRS).
Para o autor, tais artefatos apresentam elementos decorativos característicos associados tanto à Tradição
Polícroma como as Tradições Borda Incisa e Inciso-Ponteado. Essa combinação de múltiplos elementos na
Tradição regional Saracá para Bassi (2016) reflete o papel de fronteira regional dessa área inicial do Baixo
Amazonas (Tabela 3).

Tabela 3: Descrição e Cronologia dos conjuntos tecnológicos do Baixo Amazonas


Tradição/Fase Descrição Cronologia Referências
Pastas com predomínio de cauixí, cauixí com cacos
Tradição Borda
moídos. Presença de escovado, banho e engobo SIMÕES E
Incisa
vermelho. Decorações plásticas como incisos (fino, 200 A.D MACHADO
largo, dupla-linha), modelado e ponteado. Pintura 1987
Fase Silves
bicrômica ou policrômica.

Fase 200 a 900 SIMÕES E


Uatumã Pastas com cauixí, e menor presença de caco-moído e A.D CORRÊA 1987
caraipé conforme a fase. Presença de escovado,
Trad polimento, banho e engobo vermelho. Decorações com
Regio. combinação de diferentes técnicas plásticas como SIMÕES e
Fase
Saracá12 incisos (fino, largo e em linha dupla), excisos, 300-900 A.D MACHADO
Saracá
acanalados, ponteados e modelados. Presença de 1987
pintura. SIMÕES e
Fase 300-900 A.D MACHADO
Iraci 1987
Fase Pastas com cauixí, entre as diferentes fases haveria
Sabani variação na ocorrência de outros antiplásticos como
Trad. SIMÕES e
caco-moído, cariapé e carvão. Presença de escovado, 900-1100 A.D
Inciso CORRÊA 1987
polimento, banho e engobo vermelho. Decorações
-
plásticas como incisos (fino, largo, dupla linha), excisos,
Pont.
Fase acanalados, modelados e ponteado. Pinturas bicrômicas SIMÕES e
ou policrômicas. 900-1000 A.D
Jatapu CORRÊA 1987
Tradição Polícroma Pastas com cariapé, areia e raramente. Decorações
MILLER et al
da Amazônia plásticas como acanalados e ponteados, pintura 800-1500 A.D
1992
Fase Capuru vermelha e preta sobre engobo branco.

12
Como as descrições de cada Fase das Tradições Saracá e Inciso-Ponteado para os contextos do Baixo Amazonas
apresentavam significativas semelhanças, manteve-se apenas as descrições gerais do que há em comum nas suas
tecnologias, deixando apenas as distinções das cronologias. Para maior detalhamento ver as publicações originais.

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A área de confluência dos rios Negro e Solimões é hoje um dos contextos mais bem conhecidos e
documentados da Amazônia. As pesquisas passam pelos trabalhos de Hilbert (1958, 1968) e Simões (1974)
até chegarem aos trabalhos do Projeto Amazônia Central (PAC) (NEVES 2012)13. Os trabalhos de Hilbert
definiram a ocorrência de pelo menos quatro fases na região: as Fases Manacapuru e Paredão, associadas à
Tradição Borda Incisa, a Fase Itacoatiara que faria parte da Tradição Inciso-Ponteado, e a Fase Guarita
pertencente à Tradição Polícroma da Amazônia. Os trabalhos do PAC geraram a identificação de um número
mais amplo de sítios, um aprofundamento sobre aspectos contextuais dos sítios na região e o detalhamento
e revisão das classificações na área. Como resultado das discussões realizadas no PAC hoje são conhecidas
quatro fases arqueológicas para região: Açutuba, filiada à Tradição Pocó-Açutuba; Manacapuru e Paredão,
associadas à Tradição Borda Incisa; e Guarita, pertencente à Tradição Polícroma (Tabela 4).

Tabela 4: Descrição e Cronologia dos conjuntos tecnológicos da área de confluência


Tradição/Fa
Descrição Cronologia Referências
se
Pastas variadas com predomínio de cauixí e outros
antiplásticos em menor frequência como quartzo e
hematita; o caraipé e nódulos de argila também podem
Tradição
ocorrer associados com cauixí mas raramente acontecem
Pocó-
como antiplástico principal. Presença de engobo
Açutuba
vermelho. Ocorrem também apliques, apêndices e 450 a.C. – Lima 2008;
flanges mesiais. Decorações plásticas em grande 360 d.C.
Fase
frequência, como incisões finas e largas e raramente
Açutuba
acanalados e excisões. Pintura sobre engobo branco em
faixas finas e largas e em tons de vermelho, laranja e
vinho. As bordas das vasilhas são espessadas e há grande
frequência de flanges labiais.
Pastas com de cauixí. Presença de polimento e
Tradição
enegrecimento. O engobo vermelho é frequente
Borda Incisa
ocorrendo geralmente associado às técnicas plásticas, 425 A.D – Lima 2008;
como incisos finos e largos e em pontas múltiplas. As 600 A.D
Fase
bordas das vasilhas são espessadas e com ocorrência de
Manacapuru
lábios expandidos e em menor frequência flanges labiais.
Pastas com predomínio de cauixí. Vasos com paredes
finas cuja coloração se destaca pelo tom alaranjado.
Tradição
Ocorrências de incisões finas e pinturas em linhas finas
Borda Incisa Lima 2008;
direto sobre a pasta, engobo vermelho em menor 750 A.D. –
Moraes 2006;
frequência. Presença de elementos anexos como alças e 1200 d.C
Fase
pedestais, além de apliques antropomorfos estilizados
Paredão
(as “cabecinhas Paredão”) associados contextos
funerários.

13
Esse projeto teve como resultados a elaboração de uma série de teses e dissertações e artigos. A síntese desses
trabalhos bem como suas referências completas podem ser vistas em Neves, 2012.

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Tradição Pastas com predomínio cariapé ou cauxí14. Bordas Hilbert 1958 e


Polícroma da reforçadas, decoração policroma com motivos 1968;
900-1600
Amazônia geométricos, decoração plástica acanalada, urnas Tamanaha
A.D
Fase funerárias antropomorfas, vasos com flange mesial, 2012;
Guarita ocorrência de engobo branco e vermelho.

Contexto Etnohistórico do Baixo Madeira


Como observado na revisão de dados apresentada brevemente acima, há na calha do Madeira,
tanto no alto como no baixo curso, uma série de datações arqueológicas relacionadas ao período pós-
colonial. Tais dados tornam necessária uma breve apresentação do quadro etnohistórico15 da área de
pesquisa para melhor compreensão de algumas reflexões colocadas ao longo deste artigo.
Um dos primeiros aspectos que se destacam nos registros da etnoshistória do rio Madeira é a
intensidade e diversidade de etnônimos indígenas encontrados nessa região entre os séculos XVI e XIX,
dentre eles: Zurinas; Cayanas; Hurutians; Anamaris; Guarinumas; Curarinaris; Erepunacas; Abacaxis; Irurizes;
Parapixanas; Aripuanas; Onicorez; Torizes; Pamas; Muras; Araras; Perurus; Guajaris; Capanas; Capipunas;
Mamis; Painintins; Mundurukus, entre muitos outros, além dos Tubinambaranas, encontrados entre a foz do
Madeira e do Tapajós. Segundo Menendéz (1992:281), mesmo que diferentes etnônimos correspondam a
um mesmo grupo, em regiões ou momentos diferentes, essa diversidade assinala, antes de tudo, uma alta
densidade demográfica para área.
Dentre todos os etnônimos encontrados no médio e baixo curso do rio Madeira, três aparecem de
forma mais recorrente, e é possível alcançar nas fontes um conjunto de informações mais amplo sobre eles,
sendo esses: os Iruris, Tupinambaranas e Muras.
Os Iruris ocupavam a margem direita do Baixo Madeira, compondo a “nação dos Irurizes”, a qual
também incluía os Paraparixas, Aripuanas, Onicorés e Torizes, que estavam em outras partes do curso do rio
e seus afluentes, como os rios Aripuanã e Manicoré (MENÉNDEZ 1984: 273, 1992: 282). A relação entre esses
grupos seria não apenas inferida pelos cronistas, mas relatada pelos próprios indígenas através de seu mito
de criação16.
Cada um desses grupos [da nação dos Irurizes] ocupava uma aldeia grande,
conjunto formado por povoado ou território maior habitado somente pelos próprios
membros do grupo (os principais) e quatro ou cinco roças (aldeias ou territórios menores)

14
Apesar da presença de caraipé como antiplástico ter sido considera como um dos elementos definidores da TPA
(MEGGERS e EVANS 1961; HILBERT 1958), como demonstrado por Tamanaha (2012), em alguns sítios dessa tradição o
material pode ter como antiplástico apenas caiuxí.
15
Os primeiros relatos para calha do Madeira remetem à viagem de Orellana (1542), registrada por Carvajal. Outras
narrativas aparecem com a viagem de Pedro Teixeira (1637), registrada por em Acunã (1639) e Heriarte (1662). A partir
do século XVII com a intensificação da presença Jesuíta na região o número de relatos aumenta, havendo também
alguns relatos “leigos”. No século XVIII, com o diretório pombalino, há uma redução da presença missionária e um
aumento da presença de “leigos”, trazendo uma alteração na natureza dos relatos (MENÉNDEZ 1981 e1982).
16
Segundo Porro (2007: 52) os grupos diziam-se descentes de uma ancestral mítica comum - uma mulher que teria
descido do céu grávida, e dado à luz a cinco filhos, cada um com o nome de um desses grupos.

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habitados por vassalos, que podem ter sido de outras etnias ou linhagens hierarquicamente
inferiores dos próprios Iruris (PORRO, 2007, p.52)

Os Irurizes, ao que tudo indica, falavam uma língua não pertencente ao tronco Tupi (MENÉNDEZ
1984:273, PORRO 2007:52). Segundo Menéndez (1981:348, 1984: 273), o relato de Heriarte aponta que estes
manteriam guerra e comércio com gentes dos rios Negro e Amazonas. Nesses intercâmbios seriam trocados
bens como algodão, milho, tabaco, cerâmica, ferramentas e escravos. O impacto da presença do colonizador
europeu foi intenso sobre esses grupos, e já no fim do XVII tornam-se escassos os relatos sobre Iruris17.
Os Tupinambararanas seriam grupos Tupi que fugindo da invasão europeia no litoral atlântico
(Pernambuco) empreendem forte marcha de migração para o interior, chegando às cabeceiras do Madeira.
Descendo o rio, alcançaram o Baixo Amazonas, onde se instalaram (MENÉNDEZ 1984:274, PORRO 2007:97-
98). O território ocupado por esses indígenas passou a ser conhecido como “Ilha Grande dos
Tupinambaranas”18. A chegada desses indígenas à região não deve ter ocorrido antes da segunda metade do
XVI, mas segundo alguns cronistas, teria ocorrido no começo do XVII (MENENDEZ 1981/1982 e 1984/1985:
273). Os Tupinambaranas desenvolveram uma série de relações de intercâmbio e confronto com os grupos
que já viviam no Baixo Amazonas, incorporando muitos desses sob seu domínio ou através de estratégias de
casamento. Esse contato teria sido tão intenso que teria tornado a língua Tupi dos Tupinambaranas
sutilmente diferente de outros Tupi (MENÉNDEZ 1984/1985:279, 1992:282). Mas esta intensa presença dos
Tupinambaranas parece não ter sido duradoura, pois, já nos relatos do fim do século XVII, registra-se o
abandono de suas aldeias e diminuição da população. No século XVIII é relatada a movimentação dos
Tupinambaras pelos jesuítas, bem como sua presença em cursos mais interioranos, entre o Tapajós e Madeira
(MENÉNDEZ 1984/1985: 278).
Ao fim do século XVII, várias áreas antes densamente ocupadas nas margens do Madeira estavam
quase despovoadas, tanto pelas mortes causadas pelas doenças e guerras com os brancos, como pelos
descimentos19. Essa nova configuração permitiu que grupos antes localizados mais acima no curso do rio
começassem um extenso processo de ocupação dessas áreas. Entre estes, destacam-se os Mura.
Os Muras foram registrados pela primeira vez no começo do século XVIII (relato do Jesuíta
Bartolomeu Rodrigues de 1714) localizados entre os rios Maici e Marmelos (MENÉNDEZ 1992:282). Desde os
primeiros contatos com o colonizador europeu, os Muras apresentaram forte resistência a esses. Além do
confronto e das atividades de corso fluvial, outra estratégia de resistência dos Muras foi a ocupação dessas
novas áreas, que se tornavam cada vez mais esvaziadas. Nesse processo de expansão, os Muras acabam

17
Os últimos registros a respeito dos Iruris foram feitos em 1784, quando poucos restantes deles estariam entre os
Mura (MENÉNDEZ 1984: 273), e 1789, quando alguns outros comporiam a população de Itacoatiara (PORRO 2007:52).
18
Segundo os mapas formulados por Menéndez (1981:329 e 359) essa área compreenderia toda a zona entre o rio
Amazonas de um lado, e os paranãs Canumã/Urariá/dos Ramos de outro.
19
Deslocamento de grupos inteiros para novas aldeias próximas aos portugueses (PERRONE-MOISÉS 1992:118)

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englobando outros grupos, fossem eles seus cativos ou indígenas fugidos, que buscavam refúgio. Este
processo ficou conhecido como “murificação”20. Como consequência dessa expansão os Muras são
encontrados na segunda metade do XVIII não apenas no Madeira, mas também no Negro, no médio Solimões
e Japurá (AMOROSO 1992:303). Todavia, intensamente perseguidos pela Igreja e pela Coroa, sofrendo com
as mortes epidêmicas e com a chegada dos inimigos Munduruku ao Madeira, os Muras acabam em 1784
cedendo às investidas de colonização, e passam a formar aldeias segundo as normas direcionadas pelos
colonizadores. Essa redução, entretanto, não conseguiu ser tão efetiva, sendo que diferentes relatos
apontam para a baixa densidade demográfica dos aldeamentos e para suas populações sempre flutuantes.
Os Muras ainda hoje constituem um dos grupos indígenas de mais significativa presença no Baixo Madeira21.
Os relatos sobre esses diferentes grupos tornam-se particularmente significativos quando
observados pela ótica da mobilidade indígena. Ao fazer essa análise, Menendéz (1981, 1982, 1984 e 1985)
constatou que apesar do impacto causado pelo colonizador europeu; a presença física ainda pouco intensa
desses até primeira metade do século XVII no Madeira permite inferir que as redes de troca e contato
intergrupal de longa distância, que foram registradas pelos cronistas da época, já existiam antes da presença
colonial.
Outro dado importante trazido por Menendez (1981/1982 e 1992) é a presença no Baixo Madeira
de comunidades multiétnicas e multilinguísticas. Esse fato foi documentado nos grupos anteriormente
descritos: os Mura, que incorporavam cativos de guerra, e com a pressão colonial, passam a abarcar inúmeros
contingentes de outros grupos dentro de suas aldeias; os Tubinambaranas, que estabelecem relações de
casamentos exogâmicos e de domínio sobre outros grupos; e os Irurizes, que são descritos como possuindo
um sistema de “vassalagem”, no qual outros grupos viviam sobre sua influência e lhes pagavam tributos.
As fontes etnohistóricas desenham um cenário densamente povoado e dinâmico para região, onde
relações de troca, conflitos, ou mesmo formações multiétnicas e multilinguísticas, estariam presentes. A
quantidade e tamanho dos sítios arqueológicos no Baixo Madeira apontam para uma presença populacional
contínua e extensa, enquanto a presença de sítios multicomponenciais suscita que o debate interpretativo
do processo de formação desses sítios tenha em vista as informações sobre as redes de troca e os sistemas
multiétnicos e multilinguísticos.
Os dados que serão apresentados abaixo são ainda escassos para uma discussão consistente dos
temas apontados acima. Contudo, permitem ao menos uma problematização teórica a ser levada em
consideração em etapas futuras desta pesquisa, que se encontra ainda em sua fase inicial. Ao mesmo tempo,

20
Segundo Amoroso (1992:308-309) a “murificação” pode ser entendida como a incorporação a sociedade Mura de
outros indígenas, seja de forma compulsória (guerras) ou voluntária.
21
Os Muras hoje possuem 41 terras indígenas demarcadas, contando com uma população de mais de 16.000 pessoas.
Destas, 16 terras indígenas localizam-se no município de Autazes-AM, abarcando uma população de mais de 4.200
pessoas (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL 2016).

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estes novos dados contribuem também para a reflexão e o enriquecimento de outros trabalhos porventura
realizados na região.

Novos dados para o Baixo Madeira


As análises ora apresentadas foram realizadas dentro do escopo de ações de trabalhos de
arqueologia preventiva. A área de estudos arqueológicos foi definida em 750 ha22 e englobou, na época,
também áreas fora dos limites dos sítios aqui apresentados.
Em campo23 foram identificadas algumas áreas com ocorrências arqueológicas isoladas e dois sítios
arqueológicos: o Urucurituba Velho (previamente identificado por Simões em 1983, definido na época como
unicomponencial da Fase Borba (TPA); e o sítio Terra Preta, identificado por este estudo. A pesquisa coletou
1.020 peças, sendo 994 fragmentos cerâmicos e 26 líticos24. No sítio Urucurituba Velho foram coletados 721
fragmentos cerâmicos e 23 peças líticas, e no sítio Terra Preta foram coletados, com a abertura de apenas
um poço-teste, 233 fragmentos cerâmicos e 3 peças líticas.
As atividades de laboratório dividiram-se em seis etapas: higienização, triagem, numeração,
análises tecnotipológicas, projeção de morfologias e desenhos dos motivos iconográficos. Por se tratar de
uma etapa inicial de pesquisa, foram analisados com maior grau de detalhamento apenas fragmentos
cerâmicos tidos como característicos de conjuntos artefatuais distintos25. Sendo assim, dos 994 fragmentos
triados, 71 foram submetidos a uma análise mais aprofundada (cerca de 7% do material). Estes incluíam
bordas, bases, paredes, e uma alça.
A análise tecnotipológica, de caráter qualitativo dado o baixo volume amostral, teve como objetivo
principal a compreensão e identificação das escolhas tecnológicas materializadas nos artefatos estudados.
Para sua realização, foi analisada a presença de diferentes atributos e suas correlações (com base nas
discussões propostas pelos trabalhos de Shepard (1956), Meggers (1970), Lima (2008), Trindade (2009),
Tamanaha (2012) e Bassi (2016). As características dos fragmentos permitiram a identificação de quatro
tradições ceramistas, sendo que 67% do total do material foi associado à Tradição Polícroma da Amazônia;

22
A pesquisa identificou também algumas coleções particulares moradores da região próxima aos sítios aqui citados.
Tais coleções ainda não foram alvo de análises pormenorizadas, porém dentre elas já foi possível identificar a presença
de alguns conjuntos artefatuais semelhantes aos encontrados nos contextos alvo de ações interventivas.
23
Estes se valeram de verificações de subsuperfície (poços-teste), dispostas sistematicamente em porções do terreno
eleitas para esse tipo de trabalho. Cada poço-teste foi aberto por meio do uso de cavadeiras articuladas, atingindo uma
profundidade que variou entre 100 e 140 cm. A escavação dos poços-teste deu-se por níveis artificiais de 20 cm de
espessura. Cada pacote de sedimento retirado passou pelo processo de peneiramento (malha 5 mm), sendo
cuidadosamente verificado. Quando encontrados vestígios arqueológicos, estes foram coletados, sendo devidamente
registrados. Alguns vestígios encontrados em superfície também foram coletados. No total, 595 poços-teste foram
abertos nessa etapa de pesquisa. Em um total de 41 deles foi verificada a presença de evidências arqueológicas, sendo
que em 12 destes foi verificada apenas a presença de solo antropizado (terra preta ou mulata), e em 29 deles foi
verificada a presença de materiais cerâmicos ou líticos.
24
Considerando-se a área total que sofreu ações interventivas.
25
Nesse caso, pertencentes a tradições cerâmicas distintas.

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16% foi associado à Tradição Regional Saracá; 6% foi associado à Tradição Borda Incisa; e 4% foi classificado
como de Tradição Inciso-Ponteado. Abaixo segue a descrição desses conjuntos.

Materiais Associados à Tradição Polícroma da Amazônia (TPA)


Nesse caso, bordas, bases e paredes apresentaram manufatura por roletado. O antiplástico
predominante nas pastas foi o cauixí26. Dentre as bordas e bases, a espessura teve pouca variação,
ocorrendo entre 8 e 12 mm. Nas paredes a espessura variou entre 3 a 14 mm, estando majoritariamente
entre 9 e 10 mm. Quanto às colorações de superfície, nas bordas e bases foram notados tons de laranja27 e
marrom28. As paredes também apresentaram variações desses dois tons, contudo, foi observada uma maior
amplitude, dentro dos padrões da tabela Munsell, tanto da coloração laranja29como da marrom30.
As bases não apresentaram decoração31, apenas alisamento. Todas tinham formas planas32. Nas
bordas, foi evidenciado o uso de engobo, pintura, e outros tipos de decorações plásticas (tais como a
incisão). O engobo foi encontrado em ambos os lados, sempre na coloração branca. A pintura ocorreu tanto
em ambas as superfícies como apenas na interna. Em ambas as situações ela apresentou coloração
avermelhada. As decorações plásticas obtidas a partir da técnica da incisão ocorreram na superfície externa
e no lábio. Nas paredes, quando havendo pintura, essa foi registrada quase unicamente na face externa,
aparecendo em apenas um fragmento em ambas as faces, e em outro apenas na borda. A cor predominante
da pintura foi o preto, ocorrendo em menor escala o vermelho. O engobo branco foi encontrado associado
tanto à pintura como a outros tipos de decoração plástica (Figura 2). Tanto nas bases, como nas bordas e a
paredes, foi registrada presença de fuligem.

26
Sendo que nos fragmentos tidos como bordas este foi encontrado associado com minerais e caraipé. Já nas bases e
paredes este esteve predominantemente associado a caco moído, e em menor quantidade também a minerais e
caraipé.
27
Cores entre 7.5YR 6/3 e 7/4 – Munsell.
28
Cores entre 7.5YR 4/1 e 3/3 – Munsell.
29
Cores entre 7.5YR 6/1 e 8/4– Munsell.
30
Cores entre 7.5YR 3/1 e 5/3– Munsell.
31
O termo “decoração”, aqui utilizado, é recorrentemente presente em trabalhos voltados à compreensão das
manifestações plásticas ligadas ao âmbito da Arqueologia Amazônica (tais como LIMA 2008, TAMANAHA 2012, BASSI
2013, OLIVEIRA 2014, PY-DANIEL 2015, entre muitos outros). Entretanto, deve ser aqui enfatizado que a utilização do
termo não implica em uma compreensão dos motivos iconográficos, ou expressões plásticas, como não sendo dotadas
de significado; ou seja: como sendo “meramente decorativas”. Nesta primeira etapa de pesquisa, não foram abordados
fatores que poderiam levar à compreensão de possíveis significados imbuídos nessas imagens. Entretanto, como visto
em Bars Hering (2015); Barreto (2008); Golte (2006); Hays-Gilpin e Hill (1999); Lopez Austin (1988 e 2003); Mathiowetz
(2011); Oliveira (2014); Ortman (2000 e 2011); Riley (2005); Roe (1995); Schaafsma (2000 e 2005); Schaafsma e
Schaafsma (1974); Schaafsma et al (2006); Taube (2001 e 2010); Taube e Houston (2000); Young (1988 e 1991), entre
tantos outros, as análises iconográficas podem ser de suma importância para a compreensão de diversos aspectos de
uma dada sociedade, e devem ser consideradas como uma importante ferramenta de investigação no campo da
arqueologia como um todo.
32
Nas bordas, as decorações ocorreram predominantemente em ambas as superfícies (interna e externa), mas também
foram observadas apenas na superfície externa em alguns casos. Já nas paredes, a decoração foi observada quase
unicamente na parte externa, sendo que apenas uma peça apresentou decoração em ambos os lados.

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Destaca-se que em um dos fragmentos proveniente do sítio Urucurituba Velho33 (figura 3), foi
identificado um elemento iconográfico também encontrado em materiais TPA em Manacapuru (OLIVEIRA
2014) e no médio Rio Negro (LOPES 2015). Para Lopes (2015: 59-60) esse motivo representa a minimalização
do diadema (“tiara”) que define o campo de colocação dos rostos antropomorfos nas urnas polícromas.

Figura 2: Peça encontrada no sítio Urucurituba Velho. Borda de formato reforçado externo, apresentando
acanalados na parte externa, e decoração de motivos geométricos. (Foto: Catarina Calheiros. Desenhos: Raul
Melo).

Figura 3: À esquerda: a) flange mesial da região de Manacapuru com motivo “Tiara” (in: OLIVEIRA 2014, anexo 7).
À direita: b) flange mesial do sítio Vila Nova II localizado no médio Rio Negro (In: LOPES 2015:59). Abaixo: c) desenho
da peça S041, analisada nesse trabalho, proveniente do sítio Urucurituba Velho. (Desenho de Raul Melo).

33
Esse motivo também foi encontrado em vários fragmentos provenientes de coleções mantidas por moradores locais.

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Materiais Associados à Tradição Regional Saracá (TRS)


Bordas e paredes apresentaram como técnica de manufatura o roletado, em ambos os casos, a
espessura variou entre 6 e 11 mm. O antiplástico predominante foi o cauixí, ocorrendo combinado com
minerais e carvão, ou com caco moído. As colorações de superfície variaram em tons de laranja e marrom34.
Nas bordas, as decorações ocorreram apenas na superfície externa, apresentando engobo ou
decorações plásticas obtidas por meio das técnicas de ponteado e acanalado combinados. O engobo foi
encontrado somente na coloração branca. As decorações identificadas nas paredes estavam na sua maioria
presentes na parte externa. Apenas uma peça apresentou decoração em ambos os lados. Também nas
paredes foram observados motivos obtidos por meio das técnicas de pontilhado e inciso largo. Tanto nas
bordas como nas paredes foi registrada presença de fuligem (Figura 4).

Figura 4: Fragmentos cerâmicos associados à TRS encontrados no sítio Urucurituba Velho, apresentando
decoração plástica por meio das técnicas de acanalado e do pontilhado. (Foto: Catarina Calheiros).

Materiais Associados à Tradição Borda Incisa (TBI)


Foram observadas bordas e paredes manufaturas por roletado, com espessura variando entre 7 a
10 mm. O antiplástico predominante nas pastas foi o cauixí35. As superfícies apresentaram colorações que
variaram entre tons de laranja36 e marrom37. Tanto nas bordas como nas paredes, as decorações ocorreram
apenas na superfície externa, com técnica de incisão fina em linhas horizontais. Não foi notificada presença
de fuligem (Figura 5).

34
Nas bordas, os tons de laranja estiveram entre as cores entre 7.5YR 6/3 e 7/4, e de marrom entre 7.5YR 4/1 e 3/3 -
Munsell. Já as paredes apresentaram tons de laranja entre 7.5YR 6/1 e 8/4, e de marrom entre 7.5YR 3/1 e 5/3.
35
Nas bordas o cauixí ocorreu combinado com minerais ou caraipé. Nas paredes, foi observada a combinação do cauixí
com caco moído.
36
Entre 7.5YR 6/3 e 6/6 - Munsell.
37
Entre 7.5YR 5/4 e 5/6 - Munsell.

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Figura 5: Fragmento cerâmico associado à Tradição Borda Incisa encontrado no sítio Urucurituba Velho,
apresentando incisões. (Foto: Catarina Calheiros. Desenho: Raul Melo).

Materiais associados à Tradição Inciso-Ponteado (TIP)


As bordas apresentaram técnica de manufatura por roletado e espessura de 9 mm. A alça
identificada foi produzida por modelagem, tendo 8 mm de espessura. O antiplástico predominante nas
pastas foi novamente o cauixí38. As superfícies das bordas tiveram coloração majoritariamente em tons de
marrom39, e a alça em tom de laranja40. Nas bordas as decorações ocorreram apenas na superfície externa,
por meio do pontilhado e lábio recortado. Apenas uma dessas peças apresentou fuligem (Figura 6).

Figura 6: Fragmento cerâmico associado à Tradição Inciso- Ponteado, encontrado no sítio Urucurituba Velho,
apresentando incisões (Foto: Catarina Calheiros. Desenho: Raul Melo).

Distribuição do material cerâmico


A partir dos dados de triagem foi possível esboçar alguns aspectos sobre a distribuição dos 994
fragmentos do sítio Urucurituba Velho. Em termos quantitativos (figura 7), pode-se dizer que a maioria dos

38
Nas bordas o cauixí ocorreu combinado com minerais ou minerais e caraipé. Na alça foi encontrado cauixí associado
a caco moído e caraipé.
39
Entre 7.5YR 4/1 e 5/6 - Munsell.
40
Entre 7.5YR 7/3 - Munsell.

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poços-teste apresentou até 10 fragmentos. Outros poços-teste apresentaram entre 11 a 20 fragmentos;


entre 21 a 50; entre 51 a 80; entre 81 a 110; e em apenas uma das intervenções foi observada a presença
de 163 fragmentos.

Figura 7: Distribuição quantitativa de materiais no sítio Urucurituba Velho. (Autor: Thiago Trindade).

A maioria dos poços-teste que apresentou até dez fragmentos está localizada mais afastada da
margem do rio Madeira, enquanto aqueles com maior número estão mais próximos dela (figura 8). É
possível também perceber duas concentrações de material, distantes entre si cerca de 250 m, denominadas
“Área 1” e “Área 2”. A “Área 1” apresentou menos pontos com material, porém, teve uma maior
concentração numérica de fragmentos por poço-teste.
Em termos estratigráficos (figura 8), observou-se uma maior concentração de material
arqueológico entre 0 a 40 cm, sendo que apenas quatro poços-teste apresentaram peças entre 60 a 80 cm.
Foi observado que os poços-teste que apresentavam material em menor profundidade estão mais ao
interior do sítio, enquanto que os que apresentaram material em maior profundidade estão localizados mais
próximos à margem41.

41
É preciso lembrar que este sítio está sobre o impacto natural do cheia e vazante do rio Madeira, que provoca por
vezes a queda de parte dos barrancos da margem do rio, fenômeno chamado terras caídas ou erosão lateral acelerada
(TAMANAHA 2010:24). Isto significa que parte do sítio já foi afetado.

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Figura 8: Distribuição estratigráfica de materiais no sítio Urucurituba Velho. (Autor: Thiago Trindade).

O material proveniente do sítio Terra Preta foi coletado em apenas uma intervenção, que
apresentou mais de 230 peças coletadas até 120 cm - profundidade bem maior que a observada no sitio
Urucurituba Velho. Nessa intervenção todos os níveis apresentaram quantidades similares de material, com
uma concentração um pouco maior entre 20-40 cm. Há 120 cm o material foi ainda numericamente
significativo (29 peças), indicando que a camada arqueológica na área deve ser ainda mais profunda.

Distribuição dos Materiais das Diferentes Tradições nos Sítios


Foram encontradas ocorrências isoladas das tradições em alguns pontos, bem como contextos
multicomponenciais (figura 10). No sítio Urucurituba Velho, a Tradição Inciso-Ponteado (TIP) ocorre sozinha
em dois pontos, mas coocorre com a TPA em outro. A Tradição Borda Incisa (TBI) ocorre sozinha em um
ponto, associada apenas à TPA em outro, e ainda associada tanto à TPA quanto à Tradição Saracá (TRS) em
outro. Essa última tradição ocorre junto com outros conjuntos apenas nesse ponto, nas outras duas vezes
em que ocorre foi observada isoladamente. A TPA ocorre sozinha em três pontos, e como colocado, aparece
associada apenas à TBI em um ponto, apenas à TIP em outro, e associada à TRS e TBI ainda em outro ponto.
Dessa forma, apesar da ocorrência dessas quatro tradições no sítio, os fragmentos característicos
identificados durante a análise não aparecem em coocorrência o tempo todo. Na maioria das intervenções
essas tradições ocorrem isoladamente. A coocorrência é identificada geralmente entre a TPA e uma das
outras tradições - dado esperado já que a maioria das peças foi associada à Tradição Polícroma. Apenas em
um dos poços-teste foi observada a presença concomitante da TPA, TBI e TRS. Já no sítio Terra Preta, o
contexto multicomponencial apresentou apenas fragmentos TPA e TPI.

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No sítio Urucurituba Velho materiais da TIP ocorreram entre 0-20 cm. Já a TBI, nos dois pontos em
que ocorreu sozinha, foi localizada entre 0-20 cm. Porém sua maior concentração ocorreu entre 60-80 cm,
em conjunto com a TRS e TPA. A TRS apresenta configuração muito semelhante à da TBI, pois nos dois
pontos onde ocorre sozinha está entre 0-20 cm, mas no ponto multicomponencial ocorre entre 40-60 cm.
A TPA ocorre em sua maioria em níveis mais superficiais. Sua presença em níveis mais profundos foi
observada em apenas um ponto multicomponencial.

Tabela 5: Peças por nível sítio Uricurituba Velho Tabela 6: Peças por nível sítio Terra Preta
Geral TPA TRS TBI TIP Geral TPA TRS TBI TIP
0-20 cm 11 2 0 3 0-20 cm 0 0 0 0
20-40 cm 15 0 2 0 20-40 cm 0 0 0 0
40-60 cm 1 8 1 1 40-60 cm 0 0 0 1
60-80 cm 8 0 4 0 60-80 cm 3 0 0 0
80-100 cm 0 0 0 0
100-120 cm 11 0 0 0

Figura 9: Distribuição de material diagnóstico na área do sítio Urucurituba. (Autor: Thiago Trindade).

Ao observar as figuras 9 e 10, nota-se que os materiais característicos das tradições não ocorrem
espacialmente de maneira uniforme. Nas áreas mais ao interior do sítio foi verificada uma menor presença
de peças características, muito provavelmente por apresentarem quantidade menor de artefatos. Contudo,

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vê-se uma significativa diferença entre as “Áreas 1 e 2”. A “Área 2” apresentou uma maior quantidade e
diversidade peças características das diferentes tradições.
No sítio Terra Preta a presença de materiais característicos só foi evidenciada a partir de 40-60
cm, onde foi encontrado material da Tradição Inciso-Ponteado. Nos níveis abaixo todas as peças foram
associadas à TPA. Nesse aspecto, o sítio difere também do Urucurituba Velho, onde a TPA tem maiores
concentrações até 0-40 cm e a TIP em 0-20 cm. A hipótese é de que essas diferenças podem estar
relacionadas ao processo de formação de um pacote muito mais profundo no sítio Terra Preta.

Figura 10: Ocorrência de pontos multicomponenciais na área do sítio Urucurituba. (Autor: Thiago Trindade).

SÍNTESE DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises dos materiais provenientes dos sítios arqueológicos Terra Preta e Urucurituba Velho
permitiram classificá-los como multicomponenciais. No Urucurituba Velho, apesar da menor profundidade
do pacote arqueológico, foram encontrados quatro conjuntos artefatuais distintos (TBI, TRS, TPA e TIP),
enquanto no sítio Terra Preta foram encontrados apenas dois conjuntos (TPA e TIP). Essa questão pode
estar relacionada a um viés amostral, pois no sitio Terra Preta foi possível realizar apenas uma intervenção
em subsolo. Novas ações interventivas serão realizadas para que haja uma melhor compreensão do
contexto do sítio Terra Preta e comparação com o sítio Urucurituba Velho.

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Os resultados para o sítio Urucurituba Velho diferem dos obtidos anteriormente por Simões e
Lopes (1987), que o classificaram como sendo “unicomponencial da Fase Borba”. Novas pesquisas têm
discutido, refinado e reelaborado as classificações artefatuais para a região do Baixo Madeira. Este trabalho
foi iniciado na região Moraes (2013), entretanto, esta discussão ainda precisa ser ampliada, visto que
envolve inerentemente um amplo debate realizado na arqueologia brasileira, sobre os sistemas
classificatórios e os problemas interpretativos derivados destes42.
Essa diversidade de conjuntos tecnológicos no Baixo Madeira, quando comparada a outras
regiões, traz reflexões sobre redes regionais de interação. Os horizontes ceramistas mais antigos – como
Pocó, Açutuba e Itacoatiara – vêm ganhando cada vez mais espaço nas pesquisas arqueológicas na
Amazônia. Contudo, para grande parte de suas regiões são ainda pouco conhecidos. Almeida (2013), ao
reestudar o sítio Teotônio, registrou a presença desses conjuntos no Alto Madeira - dado confirmado
posteriormente por Zuse (2014) em outros sítios da região. No Baixo Amazonas, a Fase Itacoatiara
inicialmente foi classificada como pertencente à Tradição Inciso-Ponteado (HILBERT 1958 e 1968), mas
atualmente é classificada como parte Tradição Pocó-Açutuba (LIMA 2008; NEVES 2012; NEVES et al. 2014).
No Alto Madeira, a presença de pintura sobre engobo branco em diferentes tons de vermelho (laranja,
vermelho e vinho) tem sido colocada como um dos principais elementos tecnológicos definidores desses
conjuntos antigos. Já na Fase Itacoatiara (1958), bem como na Fase Açutuba (LIMA 2008), destaca-se a
presença do rebuscamento das decorações plásticas. Além disso, as características tecnológicas comuns
esses materiais estariam associadas aos primeiros processos de formação de terra preta, sendo por vezes,
encontradas em áreas sem terra preta.
No Baixo Madeira, os trabalhos Simões e Lopes (1987) e Moraes (2013) não evidenciaram a
presença de conjuntos da Tradição Pocó-Açutuba. Todavia, peças encontradas nas coleções de moradores
locais do sítio Uricurituba Velho levantam a hipótese de haver também uma ocupação ceramista relativa à
Tradição Pocó-Açutuba (onde talvez haja uma distinção sutil entre as duas Tradições, como no caso das Fases
Açutuba e Manacapuru da área de confluência dos rios Negro e Solimões). Quanto aos conjuntos cerâmicos
antigos Moraes (2013:237-238) aponta para a existência no Baixo Madeira, de um conjunto similar à Fase
Jauarí do Baixo Amazonas, relacionado por Hilbert (1968) ao contexto antigo da Tradição Zonado-Hachurado.

42
A discussão sobre a problemática em se trabalhar pautado estritamente no reconhecimento de esquemas
classificatórios que definem “tradições”, “fases” ou outras divisões subsequentes, ou mesmo de se trabalhar guiado
por tais conceitos, já é bastante recorrente na literatura arqueológica atual, e mostra ser uma preocupação desse
campo de pesquisa de modo geral (sendo esta voltada a materiais cerâmicos, líticos ou outros). Tal preocupação se
reflete nos estudos produzidos no Brasil (tais como em DIAS 2007; SCHAAN 2007; SILVA 2007; GALHARDO 2010; BARS
HERING 2015, entre muitos outros). Segundo Dunnel, “essas noções não devem ser tomadas como um tipo de verdade
absoluta, ou mesmo como verdade num sentido mais limitado. Eles são dispositivos heurísticos e nada mais” (DUNNEL
2007:72). De qualquer modo, o termo “tradição” ainda é utilizado na arqueologia brasileira atualmente, e não deve
ser mais compreendido como representante de sociedades homogêneas, coesas ou massificadas. Como aponta Neves
(2010), as categorias de “Tradição” e “Fase” podem funcionar na Arqueologia Amazônica, desde que sejam pensadas
junto com outros elementos, como os aspetos contextuais.

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Entretanto, as datas conseguidas pelo autor para esse conjunto apontaram para um período por volta de 900
A.D, ou seja, bem mais recente que o esperado. Um dos objetivos das próximas etapas de pesquisa será
testar essa hipótese sobre a ocorrência de conjuntos antigos no Baixo Madeira e, caso confirmada, permitirá
a comparação de tais conjuntos antigos como aqueles registrados em outras áreas.

Figura 11: Um dos elementos definidores desses conjuntos antigos é a presença de rebuscados apliques
zoomorofos. Nessa figura vemos uma breve comparação entre os apliques de outras Fases desse horizonte antigo
e entre os apliques encontrados nas coleções de moradores do sítio Uricurituba Velho. a) Apliques da Fase
Itacoatiara (HILBERT 1968:219), b) apliques da Fase Açutuba (LIMA 2008:44), c) fotos de apliques provenientes das
coleções de moradores da comunidade Uricurituba Velho. (Fotos: Thiago Trindade).

Os materiais da Tradição Borda Incisa no sítio Uricurituba Velho têm bastante similaridade com
aqueles descritos por Moraes (2013) para a Fase Axinim. Isto implica que o material apresenta, de alguma
maneira, aspectos semelhantes aos das Fases Manacapuru (presença de cauixi e vasos naviformes) e Paredão
(presença de cauixi, pedestais, tripés e vasos naviformes). A Fase Silves do Baixo Amazonas, é ainda pouco
conhecida (identificada por SIMÕES e MACHADO 1987 em apenas três sítios, sendo um deles
multicomponencial), por isso muito pouco pode ser dito até o momento sobre sua relação com o material
do Baixo Madeira. Os materiais classificados por Zuse como pertencentes à Tradição Borda Incisa no Alto

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Madeira teriam também características semelhantes às das cerâmicas Manacapuru e Paredão. Todavia,
segundo a autora, o material chamado de “cerâmicas das ocupações mais recentes nas ilhas a montante43”
parece ser mais próximo tecnologicamente às cerâmicas Paredão e Axinim. Mesmo assim, essas semelhanças
seriam sutis, como a presença de pedestais e vasos com gargalo.
A cerâmica polícroma Alto Madeira (Fase Jatuarana), apresenta algumas peculiaridades em relação
às demais fases dessa tradição, como a ausência de flanges mesiais, acanalados menos destacados (mais
rasos e estreitos) e pintura frequentemente bicroma (vermelho e branco ou branco e preto). Os materiais
policromos no Baixo Amazonas têm apresentado um amplo problema classificatório para os pesquisadores
da região, tanto pela grande presença de sítios multicomponenciais, como pela presença de amplos fluxos
tecnológicos44 entre conjuntos locais e a Tradição Polícroma, que resultaram na formação da Tradição Saracá.
Em termos tecnológicos, a cerâmica da Fase Borba do Baixo Madeira parece mais similar à da Fase Guarita45
(da área de confluência dos rios Negro e Solimões), com ampla presença de flanges mesiais, policromia,
acanalados marcados, e determinadas morfologias como os chamados “pratos” e “vasos com pescoço”.
Um elemento bastante frequente em sítios com material polícromo do Baixo Madeira são as urnas
funerárias antropomorfas, e ao menos três delas foram registradas no sítio Uricurituba Velho. Todavia, essas
raramente são registradas na área de confluência do Negro e Solimões, enquanto são frequentes no Baixo
Amazonas46. No Alto Madeira, essas foram identificadas, até o momento, apenas na área da hidrelétrica de
Jirau47. Outra hipótese a ser testada nas próximas etapas é a proximidade do material polícroma do Baixo
Madeira com o de outras regiões - inicialmente esse parece mais próximo ao da área de confluência dos rios
Negro e Solimões e Baixo Amazonas do que com o Alto Madeira.
Dos conjuntos artefatuais identificados no sítio Uricurituba Velho, a presença da Tradição Inciso
Ponteada é aquela sobre a qual ainda restam dúvidas, pois uma amostra relativamente pequena foi
encontrada, e sua presença no Baixo Amazonas ainda não está clara. A tradição foi identificada na região por
Simões e Lopes (1987) como incorporando as Fases Axinim e Curralinho, mas segundo Moraes (2013:147), a
Fase Axinim pertenceria à TBI, e a Fase Curralinho não existiria, sendo esse material identificado pelos

43
“Mais recentes”, no caso, do que a Barrancóide.
44
Sobre a ideia de fluxos ver DeBoer (1990), Roe (1995) e Barreto (2010). Para a discussão de fluxos tecnológicos ver
Belletti (2015a).
45
Moraes e Neves (2012:144) sugerem chamar o material da Fase Borba e de outras fases da Tradição Polícroma apenas
de cerâmica Guarita, anulando assim a diferenciação das fases.
46
Apenas uma urna identificada como polícroma foi escavada em contexto na área de confluência dos rios Negro e
Solimões, entretanto, essa se difere bastante das demais. Segundo Moraes (2006) essa urna apresentaria uma mistura
de elementos polícromos e da Fase Paredão. Algumas outras urnas são conhecidas nos acervos dos museus de Manaus,
mas não há referência clara aos locais onde foram encontradas - muitas apresentam como referência apenas “entorno
de Manaus”. Sobre a distribuição das urnas funerárias polícromas, ver Belletti (2015a).
47
Vasos com cunho aparentemente ritual foram encontrados em outros sítios do rio Madeira, como a vasilha R1 do
sítio Ilha de Santo Antônio (ZUSE 2014; SILVA 2015). Contudo, as características tecnológicas afastam a possibilidade de
que os mesmos sejam urnas funerárias (BELLETTI 2015a).

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autores parte polícromo, parte Axinim. A hipótese a ser testada nas próximas etapas quanto a Tradição
Inciso-Ponteado é a confirmação ou não se sua ocorrência.
A Tradição Regional Saracá (TRS), identificada no sítio Uricurituba Velho, até o momento havia
apenas sido registrada no Baixo Amazonas entre o Lago de Silves e as Bacias dos rios Uatumã e Jatapu. Sua
identificação no Baixo Madeira amplia significativamente a área de dispersão desses materiais. As próximas
etapas de pesquisa devem ampliar o conhecimento sobre a ocorrência desse material na região.

Figura 12: Materiais associados à TRS: À esquerda desenho de vasilha TRS encontrada no Lago de Silves
(MACHADO, 1991, prancha II; b), à direita fragmento cerâmico associado à TRS encontrado no sítio Urucurituba
Velho, apresentando decoração plástica por meio da técnica do acanalado e pontilhado. (Foto: Catarina Calheiros.
Desenho: Raul Melo).

Não foram encontrados no sítio Uricurituba Velho, ou mesmo nos trabalhos de Simões e Lopes
(1987) ou de Moraes (2013), materiais que se assemelhem aos demais conjuntos do Alto Madeira
identificados por Almeida (2013) e Zuse (2014) (Tradição Jamari; cerâmicas antigas nos sítios Morro dos
Macacos I, Foz do Jatuarana e Vista Alegre, e o material Pré-Jaturana). Também não foi encontrado ainda
nenhum material similar ao chamado por Moraes (2013) de Hachurado-Zonado.
Essas questões referentes à relação de proximidade tecnológica entre os materiais do Baixo
Madeira com regiões adjacentes, bem como a própria multicomponencialidade dos sítios, remete aos dados
etnohistóricos analisados. Esses apontaram para uma intensa dinâmica pré e pós-colonial, referente não
apenas a redes regionais de troca, como também a existência de sistemas multiétnicos e multilinguísticos
(MENÉNDEZ 1981, 1982, 1984 e 1985).
Atualmente a compreensão do processo de formação de sítios multicomponenciais na Amazônia
é um tema latente, que vem ganhando cada vez mais espaço na formulação de modelos interpretativos
mais amplos. Sítios multicomponenciais foram durante longo período explicados como consequências de
processos de reocupação (MEGERS e EVANS 1961), ou de transformações graduais dos estilos cerâmicos
(LATHRAP 1970). Na atualidade, a ocorrência de sistemas multiétnicos, redes de troca, fluxos tecnológicos,
interações belicosas ou não belicosas, áreas de atividade, entre outros temas, têm sido considerados para
explicar o processo de formação desses sítios (ALMEIDA 2013; ZUSE 2014; BELLETTI 2015a e 2015b; BASSI
2016). As próximas etapas do projeto, com ampliação da área de intervenção e da amostragem artefatual,
devem discutir os processos de formação e a variabilidade artefatual dos sítios Uricurituba Velho e Terra
Preta a partir dessas novas premissas.

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Por fim, é preciso destacar, em concordância com Neves (2010:55), que a arqueologia da área de
confluência dos maiores formadores da Bacia Amazônica (rios Negro, Amazonas/Solimões e Madeira), onde
se localizam os sítios ora apresentados, é fundamental para a compreensão da arqueologia das Terras
Baixas, não apenas por ter sido utilizada como referência para elaboração de importantes modelos sobre a
ocupação humana na região, mas também pela sua localização estratégica geograficamente (central). Nesse
sentido, espera-se ter aqui contribuído com alguns dados e problematizações para os contextos ainda pouco
conhecidos do Baixo Madeira.

Agradecimentos
Agradecemos ao editor pelo espaço para publicação e aos pareceristas pelas contribuições trazidas
ao manuscrito original.

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DE TUDO UM POUCO: O MATERIAL CERÂMICO ENCONTRADO EM DOIS SÍTIOS MULTICOMPONENCIAIS DO BAIXO
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Recebido em:15/04/2016
Aprovado em:11/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
A ETNOLOGIA DE SERGIO BAPTISTA DA SILVA
THE ETHNOLOGY OF SERGIO BAPTISTA DA SILVA

Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


A Etnologia de Sergio Baptista da Silva

Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro1

Resumo: Neste artigo apresentarei uma breve síntese de alguns dos trabalhos mais recentes do antropólogo
Sergio Baptista da Silva e tentarei mostrar, partindo de uma leitura crítica e analítica destas obras, como o
autor promove uma ruptura com a dita “barreira” existente entre a etnologia clássica e os estudos sobre o
contato entre sociedades indígenas e a sociedade nacional. Para tanto, a partir de um breve exame de sua
trajetória acadêmica, busco apontar suas afiliações teóricas mais evidentes, as associações por ele realizadas
entre arqueologia pré-colonial e etnologia e seu posicionamento no escopo mais amplo da “antropologia
brasileira”.

Palavras-chave: Sergio Baptista da Silva; Etnologia; Arqueologia Pré-colonial; Antropologia Brasileira.

Abstract: In this paper I will offer a brief synthesis about some of the most recent works of the anthropologist
Sergio Baptista da Silva and try to show, from a critical and analytical reading of these works, how this author
promotes a rupture with the so called “barrier” between the classical ethnology and the studies of contact
between indigenous societies and the Brazilian society. To do so I will start with a brief analysis of his
academic career, from where I will highlight his most evident theoretical affiliations, the associations he
delineates between pre-colonial archaeology and ethnology and his standing in the larger frame of the
“Brazilian anthropology”.

Key-words: Sergio Baptista da Silva; Ethnology; Pre-colonial Archaeology; Brazilian Anthropology

INTRODUÇÃO

Neste trabalho discorrerei algumas páginas sobre a obra do antropólogo Sergio Baptista da Silva e
seu posicionamento no campo da antropologia brasileira. Para a realização deste breve artigo, parti de uma
análise do currículo Lattes do autor, dali selecionando quatro de suas publicações. Para tal seleção adotei os
seguintes critérios: 1) acessibilidade – estão todos disponíveis online; 2) Data de publicação e autoria –
priorizei trabalhos mais recentes cuja autoria não fosse compartilhada e 3) trabalhos de etnoarqueologia ou
que operam na interface entre os campos da etnologia e arqueologia. Assim, a análise apresentada a seguir
parte dos seguintes trabalhos: Contato interétnico e dinâmica sociocultural: os casos guarani e kaingang no
Rio Grande do Sul, de 2008; Iconografia e ecologia simbólica: retratando o cosmos guarani, de 2010;
Cartografia sociocultural de espaços e práticas educativas ameríndias: refletindo sobre a indigenização da
escola, de 2013 e Cosmo-ontológica mbyá-guarani: discutindo o estatuto de “objetos” e “recursos naturais”,
também de 2013.

1Graduando no curso de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil; Bolsista do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil; no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade
Federal de Pelotas (Lepaarq/UFPel), Brasil.
BRUNO LEONARDO RICARDO RIBEIRO

Antes de desenvolver sobre as obras e as afiliações teóricas de Sergio Baptista da Silva, cabe aqui
uma breve apresentação deste autor.
Sérgio Baptista é professor do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e Bolsista de Produtividade em Pesquisa nível 02 do CNPq, atuando
principalmente nas áreas de etnologia indígena e etnoarqueologia, dentre outras. Com Bacharelado em
Letras em 1980 pela UFRGS, adquiriu posteriormente, em 1989, título de Mestre em Antropologia Social no
mesmo centro universitário, sob orientação de Pedro Ignácio Schmitz, na área de Arqueologia, subárea
Arqueologia Pré-histórica, quando trabalhou com ocupações Tupiguarani e Proto-Jê. Obteve título de Doutor
em 2001, pelo programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo, com tese
sobre grafismos indígenas, sob orientação de Lux Boelitz Vidal e tema voltado à etnoarqueologia dos
grafismos Kaingang.

Enquadramento e afiliações teóricas


De modo geral e tomando por pauta a proposta de Roberto Cardoso de Oliveira (1988), poderíamos
inserir os trabalhos de Sergio Baptista da Silva no campo da Etnologia Clássica. Entretanto, tornou-se latente
durante a análise de seus trabalhos mais recentes sua preocupação com o contato interétnico entre as
populações indígenas estudadas e a sociedade brasileira, e os impactos que tais contatos impuseram sobre
as cosmologias, organizações sociais e visões de mundo destes povos nativos (por exemplo, BAPTISTA DA
SILVA 2008; 2013a).
Outro ponto interessante a ser ressaltado é a constante correlação que Sergio Baptista da Silva se
propõe a realizar, em seus trabalhos, entre a etnologia e a arqueologia, principalmente no que diz respeito
ao campo das artes indígenas, o que acaba por tornar suas publicações de elevado interesse tanto para
arqueólogos quanto para etnólogos que venham a se interessar pelo estudo de grafismos e manifestações
artísticas indígenas.
Essa peculiaridade manifesta de seus trabalhos, contudo, pode muito bem ser explicada pelo
próprio contexto de formação acadêmica do autor, mestre em Arqueologia e doutor em Antropologia.
Inclusive, os próprios temas de interesse inicial de Sergio Baptista da Silva – cultura material, grafismos,
simbologia e cosmologia indígena, e etc. – podem ter suas origens traçadas até seus trabalhos de Mestrado
e Doutorado, e seus orientadores.
Sob a orientação de Pedro Ignácio Schmitz, uma das maiores referências para o estudo
arqueológico de grupos pré-coloniais da região sul do Brasil, principalmente (mas não se resumindo) ao
estudo de grupos construtores de cerritos no estado do Rio Grande do Sul – tema no qual sua tese de livre
docência (SCHMITZ 2011 [1976]) é, até hoje, de importância notável – Sergio Baptista desenvolveu uma
pesquisa arqueológica voltada ao estudo da cultura material de grupos guarani e kaingang. Posteriormente,
orientado pela renomada antropóloga Lux Vidal, também uma das maiores referências brasileiras em sua

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A ETNOLOGIA DE SERGIO BAPTISTA DA SILVA

área de atuação, neste caso o de estudos de grafismos indígenas – com destaque para a obra “Grafismo
Indígena” (1992) – desenvolveu sua tese de doutorado em Antropologia sobre as manifestações artísticas
daqueles mesmos grupos indígenas que foram tema de sua dissertação.
Dado este contexto de inserção acadêmica do autor, consegue-se entender muito melhor as obras
aqui estudadas, com destaque para o excelente texto publicado no livro “Ceramistas Tupiguarani” (PROUS e
LIMA 2010), onde percebe-se, sumariamente, esta imbricada rede de influências teóricas e metodológicas
postas em prática.
No capítulo do livro supracitado, Baptista da Silva (2010) realiza um trabalho espetacular, buscando
interpretar motivos decorativos presentes em vasilhames cerâmicos, oriundos de coleções arqueológicas do
sul do Brasil e associados à cultura Guarani, a partir de grafismos presentes nas cerâmicas artesanais para
comercialização, pinturas corporais e relatos etnográficos por ele recolhidos dentre várias comunidades
Guarani (das parcialidades Mbyá, Nhandevá e Kaiowá) dispersas pelo sul e sudeste do Brasil.
Teoricamente falando, percebe-se também em seus trabalhos, forte influência da teoria
perspectivista, desenvolvida principalmente por Eduardo Viveiros de Castro (1996 e 2002b, para citar alguns),
e dentre as obras observadas, citaríamos como exemplo seu artigo publicado na Revista da SAB de 2013 –
Sociedade de Arqueologia Brasileira (BAPTISTA DA SILVA 2013b).
Neste artigo percebemos uma forte problematização, por parte do autor, dos critérios analíticos
etnocêntricos adotados, tanto por arqueólogos quanto antropólogos, no estudo dos “objetos inanimados”
presentes nas dinâmicas cotidianas de povos indígenas. Sua crítica dirige-se, essencialmente, às concepções
adotadas por nós, pesquisadores, que atribuímos um estatuto estritamente funcionalista e pragmático a tais
objetos enquanto que, no pensamento nativo, estes mesmos objetos desempenham papel ativo e interativo,
cosmologicamente, ontologicamente e cotidianamente falando. Colocado de outro modo, o autor aponta,
basicamente, que enquanto tratamos objetos como seres inertes e passivos, restritos ao mundo do natural
e à parte do humano, o pensamento nativo os entende como seres vivos, dotados de interioridade e
eminentemente culturais2, que interagem com, e influenciam na sociedade nativa e, inclusive, na própria
noção de vida humana e constituição dos corpos humanos.
Aqui cabe trazer à discussão, mesmo que superficialmente, as próprias noções de arte indígena e
de objeto que Baptista da Silva apresenta em sua conceitualização destes termos (BAPTISTA DA SILVA 2008;
2010 e 2013b). Seguindo na trilha de sua orientadora de Doutorado, Baptista da Silva entende as
manifestações artísticas indígenas como um sistema de signos cujo objetivo estaria voltado à comunicação e
caracterização de uma identidade étnica e cultural única e comum a um grupo específico. Da mesma maneira

2
Aqui é interessante ressaltar que quando aponto que tais objetos são entendidos como culturais, não estou parto da
percepção de objeto como um produto cultural ou como sinônimo de cultura material, mas sim partindo da
contraposição natureza/cultura, como apresentada por Viveiros de Castro em sua teoria perspectivista. Para maiores
detalhes ver: Viveiros de Castro 1996; 2002a e 2002b.
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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
BRUNO LEONARDO RICARDO RIBEIRO

o estatuto garantido aos “objetos”, à “cultura material” de modo geral, em seus trabalhos, é também
carregado de agência, numa caracterização fortemente influenciada pela corrente pós-processual da
arqueologia. Seguindo McCracken (2003, apud BAPTISTA DA SILVA 2011), Sergio contrapõe a cultura material
à linguagem como um sistema “alternativo” de comunicação de ideias, dotado de características específicas.
Ao mesmo tempo em que influenciam diretamente sobre o cotidiano da sociedade, como dito
anteriormente, a cultura material é também uma plataforma diferenciada para a transmissão de ideias que
a linguagem poderia subverter. Aquelas mesmas ideias que a arte e o grafismo indígena buscam comunicar.
De maneira um pouco similar a proposta de Webmoor e Witmore (2008, p. 59)3, para quem “nas coisas
achamos aquilo que há de mais durável sobre nós”4, Baptista da Silva argumenta que: “Em resumo, a cultura
material é limitada em seu leque expressivo, mas veicula o que tem peso substantivo, o que tem importante
significado cultural” (BAPTISTA DA SILVA 2011:5; ênfase minha).
Assim, através da convergência destes dois conceitos, Baptista da Silva argumenta, por exemplo,
não apenas sobre a diferenciação verificada nos vestígios arqueológicos cerâmicos por ele estudados e
associados a grupos Guarani e Kaingang, como também argumenta contra as ideias de uma presumida
inevitabilidade dos processos de perda de identidade étnica, propostas pelas teorias de aculturação e fricção
interétnica.
Sob sua ótica, durante um contato intenso entre etnias distintas, o movimento se daria, na verdade,
em caminho inverso ao das propostas de aculturação. O que aconteceria seria uma exacerbação e
reafirmação das identidades, culturas e tradições indígenas – aqui, cabe dizer que englobo também a teoria
da fricção interétnica no escopo “das propostas de aculturação”, pois, como colocado pelo autor, as
propostas de fricção interétnica, “apesar de aparentemente se oporem aos estudos de ‘aculturação’,
estavam também preocupadas em entender os mecanismos que possibilitariam a inevitável integração dos
índios na sociedade nacional” (BAPTISTA DA SILVA 2008:03; ênfase minha).
Como exemplo da validade destas perspectivas teóricas adotadas pelo autor, talvez possa citar os
resultados por ele obtidos ao exibir, para seus interlocutores Guarani de aldeias (Teko’a) do sul e do sudeste
do Brasil, alguns motivos decorativos presentes em cerâmicas arqueológicas da tradição policroma
amazônica. Além de boa parte destes padrões decorativos terem sido identificados por seus interlocutores-
artesãos e terem tido seus significados explanados ao pesquisador, muitos deles são até hoje utilizados na
decoração de potes cerâmicos, cestarias, adornos e outros objetos produzidos pelas comunidades estudadas,
com intuito de comercialização e venda à turistas (BAPTISTA DA SILVA 2010).

3
Cabe frisar que estou ciente da diferença verificada entre o tipo de “agência dos objetos” apresentada por Sergio
Baptista da Silva, muito mais alinhada à proposta de Alfred Gell (1998) de agência atribuída, que a defendida pelos
autores supracitados. Portanto, de modo algum entendo tais propostas como equivalentes.
4
“…with things we find that which is most durable about us.” (WEBMOOR e WITMORE 2008:59).

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A ETNOLOGIA DE SERGIO BAPTISTA DA SILVA

Visto o que foi apresentado até agora sobre a obra de Sergio Baptista da Silva pareceria ser bem
razoável o enquadramento deste pesquisador no âmbito daquilo que a corrente teórica da antropologia
brasileira tradicionalmente caracteriza como a “escola clássica” da etnologia brasileira. Contudo, como
pincelado em páginas anteriores, durante o exame das obras aqui analisadas pude perceber claramente o
interesse de Sérgio Baptista também por questões mais associadas aos ditos “estudos de contato”, e o
escopo “político” de seus trabalhos se torna evidente em algumas destas obras.
Neste quesito, duas delas merecem destaque. Primeiramente, seu artigo sobre a indigenização das
escolas presentes em terras indígenas e as práticas educativas ameríndias (BAPTISTA DA SILVA 2013a), um
esforço cuja representatividade e importância social me parece não carecer de demasiada explanação. Nesta
publicação, Sergio Baptista relata sobre sua experiência como ministrante de uma disciplina de metodologia
da pesquisa em um curso voltado à capacitação de professores do PROEJA INDÍGENA, cujos objetivos seriam
a legitimação dos conhecimentos indígenas e a orientação de políticas públicas através da simetrização dos
saberes.
Partindo de uma metodologia “horizontal” e “inclusiva” – que envolvia diretamente os
participantes indígenas –, Sérgio Baptista buscou municiar seus estudantes das ferramentas necessárias para
a elaboração de estruturas curriculares que incorporem e respeitem as práticas, os espaços e os saberes
tradicionais indígenas. Balanceando sua lógica, sua prática educacional e pedagógica e seus ensinamentos,
com aqueles euro-ocidentais já presentes no conteúdo escolar.
A segunda resultou da experiência do pesquisador durante a elaboração de laudos técnicos para a
identificação e delimitação de terras indígenas no estado do Rio Grande do Sul, atendendo a uma antiga
demanda de grupos Guarani da região, mediadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Apesar de
aparentemente ter por tema central uma discussão sobre o estatuto das coisas5 na cosmologia Mbyá-Guarani
(BAPTISTA DA SILVA 2013b), tal discussão poderia ser caracterizada como o “pano de fundo” de uma questão
política extremamente relevante: a reavaliação do que se caracteriza como território indígena.
Neste artigo, aparentemente, o propósito do autor ao discutir sobre o estatuto dos “objetos” e dos
“recursos naturais” na cosmo-ontologia Mbyá-Guarani seria o de promover uma interpretação mais
aproximada ao pensamento nativo, daqueles espaços que designamos como “território indígena”, durante a
elaboração de laudos e processos de demarcação de TI’s. Como resultado de sua pesquisa, Baptista da Silva
verifica que território, partindo da lógica Mbyá, possui um valor simbólico relacional que ultrapassa qualquer
delimitação espacial rígida ou valor material, e está mais associado as maneiras particulares pelas quais tais
grupos se apropriam da paisagem do que a simples quinhões de terra capazes de fornecer a subsistência do

5
Aqui, utilizo o termo coisa simplesmente como um conceito caracterizador e englobante da legião de seres não-
humanos que integram uma sociedade (e.g.: colares, cestos, vasilhas, “o mato” a areia e etc.; para citar algumas das
coisas apresentadas pelo próprio autor nas obras analisadas). Sigo na trilha de Webmoor e Witmore (2008), por
exemplo, dentre vários outros autores.
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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
BRUNO LEONARDO RICARDO RIBEIRO

grupo, como determina a matriz de pensamento colonialista. É um espaço/palco de interações e


manifestações tanto sociais quanto cosmológicas e ontológicas, que não se pauta pela dicotomia
ocidental/modernista entre sociedade e natureza. Nas palavras do pesquisador “ele [o território] constitui-
se em espaço vivido e vivenciado por grupos que nele constroem suas experiências de mundo, articulando a
memória de seus antepassados com a recriação e re-elaboração de suas tradições no cotidiano da
atualidade6” (BAPTISTA DA SILVA 2013b:52).
Retomarei agora a proposta inicial de realizar um exercício de “enquadramento” deste autor na
Antropologia brasileira. Como apresentado, ao mesmo tempo em que Sergio Baptista da Silva pode ser
caracterizado por seus interesses claramente relacionados ao campo de estudo da etnologia clássica –
voltados à observação e análise das cosmologias Guarani e Kaingang – também demonstra preocupações em
correlacionar seus resultados à dinâmica, externa a estes grupos, do contato com a sociedade brasileira, suas
demandas políticas e necessidades sociais. Estes apontamentos sobre contato seriam, para Alcida Rita Ramos
(1990), a “verdadeira” e mais “significativa” contribuição da antropologia brasileira à antropologia mundial.
Contudo, essa visão de Alcida Ramos, assim como de grande parte dos “pensadores” da
antropologia brasileira, parte de um pressuposto que enfatiza uma “dissociação” entre os estudos de
etnologia clássica e os estudos de contato com a sociedade brasileira, em função, basicamente, do presumido
caráter “envolvente” que a sociedade nacional assumiria frente às sociedades tradicionais, que as absorveria
e tornaria sem propósito ou pouco relevante, em certa medida, estudos puramente “clássicos” que não se
pautassem pela iminência desta absorção. Por outro lado, em resposta a Ramos, Viveiros de Castro (1999)
apresenta como argumento que tal barreira entre os estudos de etnologia clássica e os estudos de contato
seriam uma questão puramente teórica e epistemológica, me arrisco inclusive a dizer, embasada numa
antropologia de viés colonialista.
Isso posto, podemos perceber que a “etnologia de Sergio Baptista da Silva” tenta romper essa
dissociação entre etnologia clássica e os estudos sobre o contato entre as sociedades indígenas e brasileira,
realizando ao mesmo tempo tanto estudos caracterizados pela análise das cosmo-ontologias Guarani e
Kaingang, quanto estudos pautados pela atenção dedicada às transformações decorridas deste contato, e a
defesa das demandas sociais e políticas destes grupos.
Assim, e continuando no caminho proposto por Viveiros de Castro e tantos outros autores –
inclusive a própria Alcida Rita Ramos (2010), numa réplica ao texto de Viveiros de Castro anteriormente
citado –, percebemos como o autor aqui examinado rompe esta barreira entre os dois tipos de estudo e
realiza uma reaproximação entre estas duas “escolas”, num movimento cada vez mais de praxe na etnologia
brasileira.

6
Em linhas gerais, esta proposta de re-interpretação da ideia de território indígena defendida por Sergio Baptista me
parece muito similar ao conceito de “Place-Thought” apresentada e discutida por Vanessa Watts (2013). Para maiores
detalhes, favor consultar as obras citadas.

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A ETNOLOGIA DE SERGIO BAPTISTA DA SILVA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como tentei demonstrar neste “sobrevoo”, a etnologia de Sergio Baptista da Silva – mesmo que
este tenha sido um vôo “rasante” –, a obra deste autor se revela de extrema validade, por oferecer aportes
tanto teóricos quanto metodológicos (i.e. analogia etnográfica como viés interpretativo das manifestações
arqueológicas pretéritas de grupos indígenas atuais), para pesquisadores interessados em cultura material
ou grafismos indígenas de coletivos nativos do Rio grande do Sul, sejam eles arqueólogos ou antropólogos.
Por um lado, seus estudos sobre a atribuição de significado e representatividade dos simbolismos
presentes em vasilhames arqueológicos, através de relatos etnográficos, podem ser de extrema valia para
arqueólogos e etnólogos interessados em estudos sobre cultura material, arte indígena ou mesmo sobre a
relação entre tradição e contato. Por outro, sua afiliação a correntes teóricas contemporâneas, suas
propostas relacionadas às demandas indígenas como a de reinterpretação de território e de simetrização dos
saberes na elaboração de grades curriculares em escolas presentes em TI’s, ou ainda a associação, ou o
reencontro por ele mediado, entre a etnologia dita clássica e os estudos sobre sociedade nacional, podem se
revelar muito úteis também para pesquisadores mais interessados em questões relacionadas aos impactos
gerados pela expansão da sociedade ocidental sobre as sociedades indígenas.

Agradecimentos
Agradeço muitíssimo ao professor Sergio Baptista da Silva, da UFRGS, “objeto” desta análise, por
seus comentários e sugestões sobre as possibilidades de expansão e aprofundamento deste trabalho e,
principalmente, à Professora Flávia Rieth, pelo estímulo e incentivo à publicação deste breve ensaio.

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BRUNO LEONARDO RICARDO RIBEIRO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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sobre a indigenização da escola. IN: Espaço Ameríndio. Porto Alegre: v.7, n.2, 2013a, p. 227-238.
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OLIVEIRA, Roberto. Sobre o Pensamento Antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro/ Brasília: CNPq.
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PROUS, André. e LIMA, Tania Andrade (Org.). Os ceramistas Tupiguarani: eixos temáticos. Belo Horizonte:
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Fernando Dias. (orgs.): Horizontes das ciências sociais no Brasil: antropologia. São Paulo: ANPOCS. 2010,
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SCHMITZ, Pedro Ignácio. Sítios de pesca lacustre em Rio Grande, RS, Brasil. Tese de Livre Docência. São
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VIDAL, Lux Boelitz. Grafismo Indígena. São Paulo: Studio Nobel/Fapesp/Edusp. 1992.
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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
A ETNOLOGIA DE SERGIO BAPTISTA DA SILVA

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under the Banner of a “Social” Archaeology. IN: Norwegian Archaeological Review, v.41, n.1, 2008, p. 53-
70.
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1, 2013, p. 20-34.

Recebido em:14/04/2016
Aprovado em:10/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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LA TEATRALIDAD DE LA FIESTA DE SAN JUAN BAUTISTA EN NAIGUATÁ, ESTADO
VARGAS DESDE EL RITO, CULTO Y MITO
THE THEATRICALITY IN THE FEAST OF SAN JUAN BAUTISTA IN NAIGUATÁ, VARGAS
STATE FROM THE RITE, WORSHIP AND MYTH
(A TEATRALIDADE NA FESTA DE SAN JUAN BAUTISTA EM NAIGUATÁ, ESTADO VARGAS DESDE O
RITO, ADORAÇÃO E MITO)

Humberto José Mayora Guaita

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


La teatralidad de la fiesta de San Juan Bautista en Naiguatá, estado Vargas desde el
rito, culto y mito

Humberto José Mayora Guaita1

Resumen: Un rito en una manifestación tradicional y representa una grandeza ceremonial que ha transcurrido
diversas generaciones. El culto es una costumbre monumental de la espiritualidad humana, un hecho divino en
el mundo de las artes. Pero hace falta el mito, la narración que se vincula a un hecho sobrenatural realizado por
seres humanos, divinos, gloriosos y grotescos que se repite cada año en diversas tradiciones. El presente artículo
ampliará la interpretación de la Teatralidad en La Fiesta de San Juan Bautista en Naiguatá, estado Vargas desde
el rito, culto y mito Se investigarán sus símbolos, música, bailes y la famosa cuarta pared. Los cultores, miembros
de cofradía, feligreses, y asistentes en general participan desde el 23 al 25 de junio y le hacen sus respectivos
honores en la fiesta más importante de esta entidad.

Palabras-clave: Rito, culto, mito, San Juan Bautista, Naiguatá, teatralidad, cuarta pared.

Resumo: Um ritual em uma manifestação tradicional representa uma grandeza cerimonial que diferentes
gerações se passaram. O culto é um hábito monumental da espiritualidade humana, um fato divino no mundo
das artes. Mas é preciso o mito, a narrativa que está ligada a um evento sobrenatural por humanos, divina,
gloriosa e grotescos e é repetido todos os anos em várias tradições. Este artigo irá expandir a interpretação da
teatralidade na festa de San Juan Bautista em Naiguatá, estado Vargas dos símbolos rituais, mitos e culto, música,
danças e da famosa quarta parede foi investigada. Os agricultores, membros da guilda, paroquianos e
participantes em geral participar de 23 a 25 de junho e fez suas honras no mais importante festival desta
entidade.

Palavras-chave: Rito, adoração, mito, San Juan Bautista, Naiguatá, teatralidade, quarta parede.

Abstract: A ritual in a traditional manifestation represents a ceremonial grandeur that different generations have
passed. The cult is a monumental habit of human spirituality, a divine fact in the world of the arts. But it takes
the myth, the narrative that links to a supernatural event by human, divine, glorious and grotesques and is
repeated every year in various traditions. This article will expand the interpretation of theatricality on the Feast
of San Juan Bautista in Naiguatá, state Vargas from the ritual, myth and cult symbols, music, dances and the
famous fourth wall was investigated. The farmers, guild members, parishioners, and participants in general
participate from 23 to 25 June and made their honors in the most important festival of this entity.

Keywords: Rite, worship, myth, San Juan Bautista, Naiguatá, theatricality, fourth wall.

1Doctorando en Patrimonio Cultural. Msc Integración Regional-Perspectivas Comparadas América Latina y Europa de la La Universidad Latinoamericana y
del Caribe (ULAC), Venezuela. Licenciado en Ciencias Fiscales Mención Aduanas y Comercio Exterior. Docente a tiempo integral. Universidad Simón
Bolívar, Sede del Litoral, Valle de Camurí Grande, Estado Vargas en Venezuela. [email protected], [email protected]
HUMBERTO JOSÉ MAYORA GUAITA

INTRODUCCIÓN

Venezuela a lo largo de su historia comparte tradiciones culturales en sus diversos pueblos, algunos de
ellos ubicados muy cerca de las costas venezolanas, como es el caso de Naiguatá que abarca bailes, rituales,
danzas, música, gastronomía, entre otros. Estas formas tradicionales tienen su origen en la herencia cultural
dejada por los esclavos africanos, traídos por los colonizadores, quienes representaron una fuerza de trabajo
necesaria para la explotación de la agricultura, e impulsó el comercio en las primeras plantaciones de cultivos
como el cacao y el café propios de la economía colonial.
El estudio de estas tradiciones, en un momento previo pareció prácticamente olvidado, e indica que en
sus inicios tuvo un punto de fricción con la preeminencia de las diversas etnias presente en la conquista y
colonización de América. Resumiendo las palabras de Fernando VII, apéndice 75, del Tratado de abolición de la
esclavitud suscrito entre los Reyes de Inglaterra y España y expresa que la llegada de negros esclavos a la América
representó el desarrollo para estos pueblos. Con esta providencia y reconociendo la esclavitud y el aporte de
esta mano de obra que generó más que un beneficio a la economía colonial también demostró que los
aborígenes en comparación con los negros carecieron de las habilidades y las fortalezas para realizar trabajos
útiles y penosos y sin conocimientos para estos trabajos (ALEMÁN 1997:15).
Bajo este mismo tratado que destaca la crueldad que vivían los africanos para que sus semejantes
fuesen rescatados y salvarlos de la muerte, se les otorgaba el beneficio de conocer un Dios verdadero y practicar
una misma religión y se encaminara en una civilización para obtener su plena libertad. Estas poblaciones trajeron
además un modus vivendi, tradición, religión, un saber popular como parte de su cultura africana la cual, otra
cultura fue la del catolicismo. Este saber popular tiene mucho que ver con el lenguaje corporal, ritmos cargados
de percusión y con danzas que estremecen la agudeza visual. Por fortuna no murió, pero tuvo que amalgamarse
a los rígidos patrones de un catolicismo que sirvió de puente para que permaneciera siglos después y es por eso
que se observan distintas tradiciones culturales.
Este artículo propone comprender la interpretación de la Teatralidad en La Fiesta de San Juan Bautista
en Naiguatá, estado Vargas desde el Rito, Culto y Mito, en la población de Naiguatá, estado Vargas como proceso
multicultural, patrimonio inmaterial y expresión de teatralidad cuya memoria ancestral combina elementos
afrodescendientes con los ritos africanos con los ritos católicos traídos de Europa integrando una celebración
místico religioso. San Juan ha sido investigado desde la música, artes plásticas, documentales, por lo que en los
catálogos, casas de cultura y bibliotecas y vincularlo desde la teatralidad permitirá descubrir nuevos significados
de esta tradición.

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LA TEATRALIDAD DE LA FIESTA DE SAN JUAN BAUTISTA EN NAIGUATÁ, ESTADO VARGAS DESDE EL RITO, CULTO Y MITO

Se seleccionó la parroquia Naiguatá del Estado Vargas por ser la parroquia cultural de esta región que
cuenta con numerosas celebraciones y diversas festividades culturales que se inician en enero con la llegada del
año nuevo y el día de los reyes magos, los carnavales entre febrero y marzo, marzo con el entierro de la Sardina,
y la celebración de San José, entre marzo y abril con la Semana Santa; después la Cruz de mayo; junio, Corpus
Christi y los diablos danzantes de Naiguatá, San Antonio, San Pedro, entre otros y San Juan con los repiques de
tambores que atraen a lugareños y turistas, convirtiéndose en una comunidad plena de saberes populares y
tradiciones celebradas por sus pobladores. San Juan Bautista como parte importante en esta investigación tiene
un aporte religioso por la significación a las aguas y al bautismo y a continuación se narra el entorno religioso, el
cual se deriva de las sagradas escrituras.

Acercándonos al entorno social de Naiguatá en las Fiestas de San Juan Bautista


El estado Vargas ubicado en la zona geográfica centro-norte-costera de Venezuela tiene entre sus
manifestaciones la fiesta de San Juan Bautista; la cual se celebra todos los 24 de junio tanto en la parroquia
Naiguatá como otras regiones de Vargas donde se hace honor al rey de la paz, basada en un inmenso repique de
tambores que involucra al sincretismo religioso, es decir, una mezcla de religión y cultura. Lo cristiano y lo
“pagano”2. Donde se integra un onomástico católico con los ritmos africanos. No solo es un atractivo turístico
sino que además caracteriza una mayor identificación de los varguenses con sus tradiciones locales.
López y Sanabria (2010:15) explican: Se tomó la decisión de trabajar con una manifestación que se
desarrolla en torno a San Juan Bautista, por el hecho de que este santo, según el catálogo de patrimonio cultural
del Instituto de Patrimonio Cultural (IPC), está presente en catorce de los veinticuatro estados de Venezuela lo
cual constituye una presencia representativa en comparación con algún otro santo.
Por lo tanto se decide trabajar con esta manifestación abordando las siguientes perspectivas: la cultural
por reunir elementos transmitido de generación en generación; la identidad porque le confiere a la región su
identificación con su patrimonio cultural y manifestaciones tradicionales; la espiritual por el sentido mágico y
religioso que le imprimen los diversos actores y la más importante la perspectiva de las artes escénicas desde la
investigación cualitativa. Este complemento de teatralidad, danza y música en el rito y la repetición es la
reafirmación de lo que se realizará en la confluencia de un Patrimonio Cultural Inmaterial con el apoyo de las
artes escénicas y de nunca separar los elementos de esta manifestación.
La música se caracteriza por sus tambores que repican intensamente desde el 23 de junio por todo el
pueblo; los coros y danzas por todas las procesiones del pueblo cuando el santo hace los diversos recorridos y

2
Lo pagano era considerado en la antigüedad (antes del siglo XX) todo aquello no cristiano o católico, en la
contemporaneidad, con la apertura y respeto a la pluralidad, todo sistema de creencias es válido.

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HUMBERTO JOSÉ MAYORA GUAITA

las formas teatrales presentes en forma de rito que están representadas a lo largo de los honores previos hechos
al santo con los golpes de tambores que continúan el 24 de junio en la noche. La humanización del Santo
permanece en la tradición del pueblo de Naiguatá, el ritual se sigue de forma continua, en las vísperas se ultiman
detalles y en el imaginario colectivo se observa al santo para pasar a otro nivel, se despierta; pasa a un acto
litúrgico en la iglesia con los naiguatareños; luego se camina en una procesión y se retorna al lugar original.
Mientras se hace el recorrido del santo, los fieles le rinden honores con ofrendas de alabanza y alzan sus manos
con pañuelos, por lo general culmina su procesión en la casa de donde salió y es el punto de encuentro para
continuar la fiesta.
La música también se hace presente con los cantos y tambores. Ellos varían de una población a otra,
en Naiguatá la fiesta tuvo su origen con la llegada de la colonización y el surgimiento del tambor en ella. Un
espectador común al escuchar por primera vez este inmenso repique de tambores, se infiere en el detalle del
ritmo, y esta manifestación no se aísla bajo ninguna circunstancia de su música, de la esencia de sus tamboreros
la cual es persistente desde la mañana hasta la noche y solo existen ese inmenso sangueo en cada parada, pero
en la procesión disminuye la intensidad por las transiciones que dan los momentos en los patrones de repetición
de la manifestación.
En el sangueo algunas frases surgen en la procesión, por ejemplo en el primer repique del día 24 de
junio cuando el santo se encuentra dentro de la misa, en la iglesia de Naiguatá surgen frases “buen día”, “buen
día Juan” o “por siempre”…”por siempre” y están en sincronía con los golpes del tambor. Existe una armonía y
se marcan compases precisos de quienes cantan las frases incluso cuando se aceleran los ritmos, no se pierde la
teatralidad o forma teatral, el baile en el conocimiento colectivo que aunque parecen elementos distantes están
superpuestos en perspectiva y todos se complementan.
Esta festividad según el Ministerio del Poder Popular para la Cultura a través del Instituto de Patrimonio
Cultural, basado en las atribuciones de la Ley de Protección y Defensa del Patrimonio Cultural y la Providencia
Administrativa Nº 012/05 de fecha 30 de junio de 2005 certificó la inscripción a la Fiesta de San Juan Bautista
Naiguatá, municipio Vargas, estado Vargas. Esta certificación se emitió en Caracas el pasado 24 de marzo de 2014
declarándolo como un BIEN DE INTERÉS CULTURAL DE LA NACIÓN, inscrito en el Registro del Patrimonio Cultural
de Venezuela y protegido por Ley de Protección y Defensa del Patrimonio Cultural. Registro que se hizo en
reconocimiento al significado que la comunidad le otorga dicha manifestación.
La Unesco (2013) afirma: El patrimonio cultural no se limita a monumentos y colecciones de objetos,
sino que comprende también tradiciones o expresiones vivas heredadas de nuestros antepasados y transmitidas
a nuestros descendientes, como tradiciones orales, artes del espectáculo, usos sociales, rituales, actos festivos,
conocimientos y prácticas relativos a la naturaleza y el universo, y saberes y técnicas vinculados a la artesanía

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LA TEATRALIDAD DE LA FIESTA DE SAN JUAN BAUTISTA EN NAIGUATÁ, ESTADO VARGAS DESDE EL RITO, CULTO Y MITO

tradicional”...el patrimonio cultural inmaterial involucra a las artes escénicas o como bien lo dice la “Artes del
Espectáculo (como la música tradicional, la danza y el teatro). Las artes del espectáculo van desde la música vocal
o instrumental, la danza y el teatro hasta la pantomima, la poesía cantada y otras formas de expresión. Abarcan
numerosas expresiones culturales que reflejan la creatividad humana y que se encuentran también, en cierto
grado, en otros muchos ámbitos del patrimonio cultural inmaterial.
La Unesco las define como formas tradicionales vinculadas por la mezcla de danzas, música y formas
teatrales o casi teatrales y canto proyectada a un público con un considerable valor cultural que se inicia el 23
de junio con la adoración de la imagen de San Juan Bautista sumamente adornado en los altares de las
comunidades acompañado por la música que es el sonido de los tambores que provoca la ingesta de licor por
los danzantes y lugareños. Primero se realiza el velorio de San Juan. La mañana del veinticuatro se prepara la
salida del Santo donde esté guardado y el que sea su guardián va para la iglesia en procesión por fieles y devotos
hasta llegar a la iglesia que recibe los honores mediante la celebración de la santa misa y al finalizar se inician
nuevamente los tambores y procesión.
Sánchez, (2005:45) señala: El encuentro entre el Patrimonio se relaciona con la identidad a través de
una relación instrumental necesaria, para que ésta finalmente se resuelva, el sujeto colectivo requiere de la
construcción de un imaginario colectivo para alcanzar plena reafirmación de su “ser en el mundo”. En ella se
concreta su función social y, a partir de la cual, se legitima.
Solo destaca una imagen en particular, justamente la de San Juan Bautista Niño resguardada por la
familia Corro quien recrea una escenografía en su casa, denominada la Casa de San Juan. Esta imagen mide 45
centímetros, ataviada con cadenas y pulseras, flores y ofrendas.
López G. (2006:71) explica: “La globalización hace que las ciudades y los pueblos se parezcan más cada
día, con mismos hábitos de consumo, y que ancla en una realidad y ceder a los rasgos que nos identifican como
elemento de la cultura.”
Este tipo de patrimonio tiene una ventaja, la globalización, la cual influye en su duración que persiste
de acuerdo a las comunidades y su forma de preservación de tradiciones las cuales son transmitidas como la
herencia de costumbres urbanas y rurales de un determinado grupo cultural.
Según López G. (2006:73) El patrimonio es mucho más que el conjunto de edificaciones y de espacios,
es la organización social, el calendario ritual y el ceremonial. Son las fiestas, son las expresiones artísticas, los
espacios de convivencia; es todo aquello que, en conjunto, configura lo que realmente puede calificarse como el
ámbito vital que implica un medio cultural, así como un ambiente sano, saludable, que encuentra la armonía
entre cultura y medio ambiente.

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HUMBERTO JOSÉ MAYORA GUAITA

A primera vista se comprende al conjunto urbano, el contexto de sus habitantes, identidad, y su


solidaridad con sus valores religiosos, cívicos, sus plazas, casco histórico, entre otros. Por siglos y milenios han
acumulado una enorme cultura sin perder la perspectiva de lo social y urbano.
Está claro que donde se puede actuar es sobre la realidad inmediata; es ahí donde se pueden dar las
transformaciones, valiéndose del poder creador de la cultura como elemento activo que automáticamente se
refiere al grupo cultural. En el territorio de lo local las necesidades específicas y sus satisfactores apropiados
deben manifestarse de modo acorde con las especificidades y las características de la propia localidad. Estas
circunstancias reflejan inevitablemente los procesos históricos, regionales y locales que determinan al grupo
social.
La colonización de este pueblo permitió que la manifestación coexistiera con los ritos, ritmos de los
esclavos y con ella un sentido de espiritualidad permanece inmerso en un hecho divino que la naturaleza
proporciona abundancia. Con el agua se reafirma una perspectiva espiritual de que las plantas que se cosechan
también se les atribuyen milagros a sus fieles que imploran oraciones y plegarias en su altar principal como en
los altares domésticos en las Fiestas de San Juan. Las cofradías que son congregaciones religiosas fueron creadas
inicialmente en la Europa de la edad media y traídas en la colonia y permanecen en la memoria de los pueblos
con su simbología religiosa de consagración. Para esta fiesta, las cofradías se encargan de proteger al santo o la
imagen, vestirlo y decorar el altar y cuidando gran parte de la memoria ancestral y toda su simbología religiosa.
Desde otra perspectiva en el mismo hecho la trascendencia de Juan el Bautista ha sido esencial en los
ideales de artistas, cultores, poetas, entre otros, por ejemplo en el arte del imperio bizantino aparece con alas
igual a las de un ángel. Su encomienda en la tierra fue testimonio de solidaridad con Cristo en muchas de sus
conversaciones con sus discípulos (Jn 1:33-34) y transforma el ritual con la celebración de sus nacimientos Juan
en Verano con el 24 de junio y Cristo en invierno con el 24 de diciembre y más tarde quedaría sellada su misión
en un sacramento religioso como lo es el bautismo.
Estudiando el trasfondo histórico de la época, se encuentra que el tema central era lo religioso, debido
a la gran influencia que tenía la iglesia en familias de cierto nivel como los hacendados. Esto se refleja en el arte
y el misticismo de la época, lo corroboramos con un historiador de la pintura en Venezuela cuando dice:
Alfredo Boulton (1975), citado por Meneses, E. (2012:22)...la pintura que se hizo en Venezuela durante
los siglos XVI y XVII y XVIII fue idioma plástico español fruto de aquella compleja y estratigrafiada formación
humana. Fue la conjunción de su espiritualidad. Los elementos negativos, así como los positivos que los
integraron, fueron el reflejo de lo que constituyó el alma de aquel pueblo.
Esta interpretación de la pintura según Alfredo Boulton señala las complejidades de los pueblos a través
de una realidad plástica que resalta que la espiritualidad de estas comunidades coexistían con el frenesí de estas

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manifestaciones traídas de Africana con lo estricto y rígido sentido del cristianismo católico presente como
religión dominante. La Fiesta de San Juan Bautista desde la época colonial es una de las manifestaciones
tradicionales con mayor difusión y peregrinación en Venezuela. Es una forma de representación o manifestación
ritual como un santo de las fiestas religiosas tradicionales en Venezuela, que ingresó con gran liderazgo e hizo su
entrada con las costumbres, ritos y tradiciones de los colonizadores europeos que prosperaron con la fusión de
los ritmos indígenas pero sobre todo los afrodescendientes quienes desde el siglo XVI se propagaron en la amplia
franja de los estados costeros venezolanos y dio pie al mestizaje de culturas.
Para concluir este planteamiento una comunidad bien organizada puede promover la interpretación
del patrimonio y son encargados de hacer gobierno municipal con la instrumentación de políticas que permitan
reafirmar este Patrimonio Inmaterial con sus valores espirituales y tradicionales. Por lo tanto la visión
eurocéntrica del arte y la cultura que permanece en esta fiesta es muy destacada, sin embargo Venezuela y
Latinoamérica desde una perspectiva geográfica local también se expresan en sus propias características,
matices, sonidos y expresiones que la diferencian notablemente y esta propuesta se perfila hacia esa identidad
venezolana y latinoamericana que permanece en esta fiesta de San Juan Bautista.

Acercándonos a San Juan Bautista desde el entorno religioso


Desde una perspectiva histórico religiosa vinculado a la investigación; en los tiempos de Herodes había
un sacerdote llamado Zacarías y su mujer Isabel. A él le tocaba oficiar la palabra en el templo junto a los fieles
que oraban. Mientras Zacarías oficiaba el incienso y retirado del templo se le apareció un ángel, el cual le dijo:
Zacarías, no temas, tu mujer Isabel dará a luz un hijo al cual llamarás Juan. El pueblo de Dios se va a regocijar en
su nacimiento. Será concebido desde el espíritu santo mediante intervención divina en el vientre de su madre.
Zacarías le preguntó ¿Cómo podre saber esto? ¿Si yo soy un hombre viejo y mi esposa de una edad
avanzada? El ángel le respondió: yo soy Gabriel y estoy delante de Dios y como no crees en mis palabras ahora
quedarán mudo hasta que nazca tu hijo. Según las sagradas escrituras ambos eran unos ancianos con la
imposibilidad de concebir un hijo. Zacarías dudó por encima de la fe y como penitencia quedó mudo a pesar de
los mensajes del Ángel Gabriel. María la madre de Jesús, era prima de Isabel y compartían la dicha de estar
encintas y ser madres de dos hijos pródigos en la fe.
María visitó a Isabel y el bebé saltó en su vientre al escuchar a María plena del Espíritu Santo Isabel le
exclamó: “Bendita seas entre todas las mujeres y bendito el fruto de vientre”. María le dijo “el señor me ha
bendecido a mí por ser la madre de su hijo, porque el vendrá a salvar a los hombres de su pecado” y así quedó
estrecho el vínculo entre Jesús y Juan. Isabel y María estaban aguardaban al Bautista y al hijo de Dios. La unión
quedo así mostrada y hasta nuestros días siguen vinculados.

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Imagen 1: Zacarías y el Ángel Gabriel quien vaticina el nacimiento de Juan, tomada de


http://respuestasdefe.blogspot.com/2013_12_01_archive.html.

Al octavo día del nacimiento de Juan lo llevaron al templo para circuncidarle su padre Zacarías; El cual
exclamó “Oh bendito señor Dios de Israel y a esto da mi vejez y es todo un hijo quien prepara el camino del
salvador que vendrá a salvarnos de nuestros pecados”, Zacarías volvió a hablar y todos en el pueblo lo anunciaron
diciendo es un milagro. En agradecimiento a Dios por el futuro rol de Juan junto a Jesús le dijo “Y tu niño, serás
llamado profeta del Altísimo, pues irás delante del Señor, para preparar sus caminos, y dar a su pueblo
conocimiento de la salvación por el perdón de sus pecados…” (Lc 2-76-78).
Zacarías según el cristianismo escuchó que todo niño menor de 2 años y por orden de Herodes debía
morir, y corrió a su pueblo para decirle a Isabel que huyera con Juan y lo protegiera. Zacarías después de avisar
a Isabel, este volvió al pueblo y los soldados le empezaron a preguntar por su hijo y al no dar información fue
asesinado durante la masacre de los Santos Inocentes, e Isabel salvó a su pequeño hijo y lo escondió salvándolo
de tal masacre. Juan y Jesús estaban predestinados y Herodes ordenó la muerte de todos los niños evitando el
surgimiento de estos grandes seres que Isabel logró salvar. A ambos infantes que moraban en Nazareth jugando,
mientras el niño Juan se encontraba escondido en lugares desiertos, recibía regularmente la visita de su madre.
El niño crecía y se fortalecía en espíritu hasta el día de su manifestación.

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Imagen 2: Visita de María a su prima Isabel compartiendo la dicha de estar encintas, tomada de
http://mutiarasintetis.ga/images/La%20Visitacion.

Años más tarde Juan permaneció en el desierto viviendo con los Esenios manteniéndose limpio de
mente y espíritu y aguardaba la llegada del mesías y cumplió con la orden hecha por su padre desde que nació y

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empezó como predicador en el río Jordán; les pedía a sus fieles en acto de contrición la limpieza mediante el
bautismo. También pedía compartir el pan y las ropas; les aclaraba que vendría el mesías a quien él bautizará
con agua en compañía del Espíritu Santo y así fue. Una vez bautizado Jesús al salir del Río Jordán la apertura del
cielo y en forma de paloma bajó el Espíritu Santo sobre su cuerpo y resonó una voz a lo lejos afirmando “Este es
mi Hijo amado, en quien me complazco”. (Mt 3-16-17).
Años después Juan estuvo preso por mandato de Herodes Antipas y denunció su matrimonio por
incesto en relación con Herodías, esposa de su hermano y mamá de Salomé. Juan el Bautista fue degollado por
solicitud de Salomé y su cabeza fue presentada en una bandeja como regalo a Herodías. Sus discípulos le
sepultaron en Sebasté de Samaria y permaneció hasta el exterminio del lugar en el imperio Juliano el Apóstata.
Meneses, E. (2012:20) explica: Hay otro tipo de espiritualidad que se desprende de la Europa antigua
como se menciona a continuación. Específicamente, la espiritualidad del Imperio Romano durante los siglos III y
IV a.c, época en que se establece el calendario solar construido por los astrónomos babilónicos y declaró la fiesta
y los ritos paganos que celebraban la llegada de las estaciones de acuerdo al movimiento elíptico del sol
alrededor de la tierra. Entre esas fiestas se encuentran: el 25 de diciembre conmemoración del nacimiento de
Mitra, que era el Dios Sol para los romanos y que coincide con el solsticio de invierno y el rito del solsticio de
verano de Roma que era celebrado el 24 de junio.

Imagen 3: Bautizo a Jesucristo en el Río Jordán por Juan el Bautista, tomada de


http://lecturasdeldiadehoy.blogspot.com/2014/12/lecturas-y-liturgia-del-7-de-diciembre.html.

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Imagen 4: Salomé recibe la cabeza del Bautista, cuadro de Bernardino Luini, tomada de
http://www.biografiasyvidas.com/biografia/s/salome.htm .

Estas dos importantes celebraciones del año las trasladó el emperador romano Constantino al
cristianismo católico y el 25 de diciembre se celebra el nacimiento de nuestro Señor Jesucristo y el 24 de junio el
nacimiento de Juan el Bautista, tal y como las santas escrituras lo afirman. Es importante destacar que el
cristianismo tanto en la religión católica como la cristiana evangélica para solo citar como ejemplos se mantiene
la convicción de que el agua toma proporciones majestuosas en el sacramento del bautismo.
Meneses, E. (2012:20) dice: En el estudio de la fiesta de San Juan Bautista, confluyen dos vertientes
culturales consideradas anteriormente la africana y la cristiana católica, cada una de ellas tiene una cosmovisión
diferente, una estructura mítica propia, un lenguaje y unos referentes culturales que representan lo extremo y
en un sentido profundo encontramos un contenido donde se puede captar el sentido ideológico del mito.

Acercándonos al culto a San Juan Bautista


La religión cristiana católica incorporó a su representación santoral la imagen de Juan Bautista con
acompañamiento de los tambores africanos esenciales. En muchas de las comunidades y estados venezolanos
comienza con actos conmemorativos el 23 de junio, en el armado de los altares y repiques previos de tambores.
Al siguiente día, es decir el 24 de junio se realiza el primer ritual con la salida del santo a la iglesia en compañía
de sus fieles quienes son recibidos por el sacerdote quien oficiará su misa, la cual representa a nivel religioso una
devoción de amor y agradecimiento por el onomástico del santo que una vez culminada esta misa, sale el santo
con el repique de tambores y es el inicio de la procesión por toda la comunidad.

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Imagen 5: Celebración de la misa en la Iglesia de Naiguatá. Tomada por Humberto Mayora en junio 2015.

Imagen 6: Llegada del San Juan Niño a la celebración de la Santa. Tomado por Humberto Mayora en Junio 2015.

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Imagen 7: Casa de la Familia Corro, veneración de Juan el Bautista . Tomado por Humberto Mayora en junio 2014.

Imagen 8: Lugar de recepción de ofrendas en la casa de la Familia Corro. Tomado por Humberto Mayora en junio
2014.

Acercándonos a los ritos y mitos


Parte de la investigación de ritos y mitos ha sido desarrollada por una profesora de teatro de la
Universidad Nacional Experimental de las Artes, quien en una conferencia sobre el tema se delimitó a la
celebración de la manifestación de la fiesta de San Juan en la comunidad de Tarmas en el Estado Vargas y
compartió a través del siguiente enlace disponible en su blog personal
https://marisabelcontreras.wordpress.com/radio-y-conferencias/conferencia-ritos-y-mitos/.

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Marisabel Contreras (2008) expresa lo siguiente: Tenemos entonces que un rito, en tanto ‘costumbre’,
es una actividad repetida que realiza una comunidad. Ahora bien, uno podría preguntarse, ¿por qué se repite?
¿Por imposición de un individuo? ¿Por auto imposición de la comunidad? Desde luego que no. Un rito se repite
de manera espontánea; es más, muchas veces se repite a pesar de la prohibición de algún individuo o de las
costumbres más generales de la comunidad. Por ello, es mejor decir que un rito, en tanto ‘costumbre’ y
‘ceremonia’, es una actividad repetida que realiza una comunidad, asociada a algo grande. Es decir, enfatizar
que el rito está asociado con la grandeza.
La autora hace hincapié en lo importante del rito en una manifestación cultural, la de San Juan Bautista,
es un rito realizado por los miembros de una comunidad organizada que todos los años le atribuye una
magnificencia al Santo de manera espontánea, porque forman parte de su cultura, y lo llevan en la memoria de
sus generaciones familiares. La religión, la fe y lo propio de los ritos con la música y el baile complementan tal
grandeza.
Contreras (op. cit) afirma lo siguiente: Ahora piensen en una ceremonia pagana, por ejemplo en la
fiesta de San Juan; en el mundo entero, por miles de años, han sonado tambores a mediados de junio. ¡Cuán
grande ha debido ser aquello que dio origen a esos ritos!, ¿no les parece? …. Por otra parte, en la primera estrofa
del canto de San Juan de Tarmas, que se celebra aquí mismo, en el Estado Vargas, las mujeres le piden a una tal
Juana que abra una puerta, ¿de dónde salió esta Juana, caramba? Más adelante, un hombre le insiste a esa
misma Juana que abra la fulana puerta, y le explica además que viene mal herido; es más, que fue herido por su
marido. En detalle, las estrofas son las siguientes:

CANTO DE MUJERES CANTO DE UN HOMBRE


Ábreme la puerta, Juana. Ábreme la puerta, Juana.
Ábreme la puerta, Juana. Ábreme la puerta, Juana.
Ábreme la puerta, Juana, Ábreme la puerta, Juana,
y ábremela, corazón, mi Juan. Que yo vengo mal herido. Que
Ábremela, corazón. yo vengo mal herido.
Ábremela, corazón. Que yo vengo mal herido.
Que si la puerta no se abre Cuatro puñaladas traigo
échale un kilo e’jabón, mi Juan que me las dio tu marido

La autora señala que la sacralidad de los cantos han pasado diversas generaciones y estos cantantes ni
se imaginan de donde vienen, la grandeza se debe al rito y al culto permaneciendo una costumbre. En los cantos

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existe un Juan y una Juana que tiene marido, por lo tanto hay un adulterio o un triángulo amoroso. La autora
hace hincapié en el éxtasis, reverencia, veneración y alabanza como elementos presentes las humildes
tradiciones populares —los ritos o cultos— que los devotos realizan año tras año, generación tras generación,
aunque no sepan por qué, y tampoco les interese.
Dice Otto (S/F: 21) El culto como un todo pertenece a la categoría de las creaciones monumentales del
espíritu humano. Para dilucidarlo desde la perspectiva adecuada, hay que situarlo al lado de la arquitectura, las
artes plásticas, la poesía y la música, artes que un día estuvieron al servicio de lo divino. Es una de las grandes
lenguas con que la humanidad apela a lo excelso, y que no habla por ningún otro motivo más que porque tiene
que hablar. Lo excelso y lo divino no merecerían tal nombre si se limitasen a amedrentar al hombre y a obligarle
a hacerse acreedor de su benevolencia. La prueba de la grandeza es la fuerza que despierta. A la percepción de
su presencia debe agradecer el hombre lo más alto que ha alcanzado. Y eso más alto es la capacidad de
expresarse verbalmente, testimonio del magnífico encuentro mediante el cual la recibió y la desató. Cada
revelación abre también el ánimo humano, y la creación es su consecuencia inmediata. El hombre debe expresar
lo indecible que ha hecho presa de él. Lo hizo en su día mediante la construcción de los templos que nos han
acompañado hasta nuestro siglo, en las monumentales catedrales que poseemos. Pueden denominarse
viviendas de lo divino: con tal nombre sólo se abarca una parte irrelevante de su gran significado. Son espejo y
reflejo nacido de un espíritu obligado a crear cuando es tocado por el brillo de la grandeza.
Participar en una manifestación cultural de grandeza religiosa nos evoca la grandeza de muchos mitos
que se vienen transformando en ritos y ceremonias los cuales siempre han estado allí en parte de nuestro
imaginario, sacralidad y hierofanías las cuales al ser atribuidas un poder divino o religioso independiente la
religión tiene que convertirse en culto para que el año siguiente permanezca una costumbre que aviva las
virtudes del ser humano.
Kerényi (1999:79-80) expresa que Afrodita la diosa del amor sedujo a Adonis con la ayuda de su amiga
Helena. Ares, celoso, planeó matarlo transformado en toro. Afrodita, advertida de estos planes, intentó
convencer a Adonis para que estuviera con ella a todas horas, pero no lo logró. Mientras Adonis estaba de
cacería, Ares lo encontró y lo corneó hasta matarlo. Sin embargo, la versión más común es que un jabalí le
desgarró el corazón a Adonis antes de que Afrodita lo pudiera realmente poseer.
El Dragón de Hipatia (2012) expresa: Adonis es una de las figuras más complejas de la época clásica. Ha
tenido múltiples roles, y ha habido a través de los siglos muchos estudiosos interesados en su significado y
propósito en las creencias religiosas griegas. Dios de la vegetación, siempre joven, que renace cada año; una
deidad de vida-muerte-renacimiento, cuya naturaleza está ligada al calendario. Su nombre se usa a menudo en
los tiempos modernos para denominar a los jóvenes apuestos, de los cuales él es el arquetipo. Adonis es referido

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a menudo como el dios mortal de la belleza. Hesíodo, en un fragmento, creía que Adonis era hijo
de Fénix y Alfesibea. Cuando Adonis nació, era un bebé tan hermoso que Afrodita quedó hechizada por su
belleza, así que lo encerró en un cofre y se lo dio a Perséfone para que lo guardara, pero cuando ésta descubrió
el tesoro que guardaba quedó también encantada por su belleza sobrenatural y rehusó devolverlo. La disputa
entre las dos diosas fue resuelta por Zeus (o Calíope, según las versiones), quien decidió que Adonis pasase cuatro
meses con Afrodita, cuatro con Perséfone y los cuatro restantes del año con quien quisiera. Adonis sin embargo
prefería vivir con Afrodita, pasando también con ella los cuatro meses sobre los que tenía control. La versión
más detallada y literaria de la historia de Adonis se encuentra en el libro X de las Metamorfosis de Ovidio.
Afrodita es la Diosa del amor erótico, esposa de Hefesto y amante de Ares, en contrario con Adonis que
era mucho menor que Afrodita quien se enamoró perdidamente del joven y con quien quería consumar todas
las pasiones que vivía con su amante y esposo pero no fue así, nunca estuvo con él pero despertó la ira y los celos
de Ares quien no soportó esta posibilidad y convertido en Jabalí le causó la muerte al joven Adonis. Por eso parte
de las estrofas de este canto en hombres y mujeres antes descrito narra una súplica de Juan a Juana de Tarmas
por las 4 heridas de puñaladas que les dejo su marido. La trascendencia del mito se observa en los fieles que año
tras año le piden amor, mujer o marido, embarazos y en el apogeo de los tambores mujeres y hombres se
conectan con la energía de la atracción y el erotismo mediante el baile con en la aproximación de sus cuerpos en
los ritmos de tambor, otros con deseos de pedir salud, esperanza, prosperidad y abundancia.

Imagen 9: Afrodita y Adonis, tomada de https://lamitologiainlove.wordpress.com/2010/06/11/adonis-y-afrodita/

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El Dragón de Hipatia (Op.cit) señala; “Adonis murió destrozado por los colmillos de un jabalí enviado
por Artemisa como represalia por la implicación de Afrodita en la muerte de Hipólito. Otras versiones cuentan
que el jabalí era el celoso amante transformado de Afrodita, Ares. Afrodita roció néctar sobre su cuerpo, de
forma que cada gota de su sangre se convirtió en una flor roja llamada anémona. Cuando Afrodita corrió a
socorrerle se hirió con unas zarzas y sus gotas de sangre se transformaron en unas flores parecidas a las rosas
que se llamaron «adonis»”.
El Dragón de Hipatia (Op.cit) concluye: “Las Adonias eran fiestas que se celebraban en la antigüedad en
honor de Afrodita y Adonis. Eran guardadas con gran solemnidad entre griegos, egipcios y otras culturas
helenizadas. Duraban dos días y eran celebradas exclusivamente por mujeres. El primer día llevaban por las calles
estatuas de Adonis dispuestas como cadáveres, realizando todos los ritos propios de los funerales, golpeándose
y gritando lamentos, en imitación de los lloros de Afrodita por la muerte de su amado. El mito de Adonis, muerto
por un jabalí y posteriormente resucitado, representa el ciclo anual de la vegetación. Las Adonias eran un ritual
fúnebre en el que se celebraba la muerte del Dios y su posterior resurrección. En el tiempo de las Adonias (junio
o julio) las mujeres plantaban jardines de Adonis en canastas y tiestos planos, formados por trigo, cebada,
lechuga, hinojo y otras plantas de germinación rápida, que dejaban en los tejados de las casas. Las imágenes en
vasijas griegas muestran a las mujeres llevando estos pequeños jardines escaleras arriba hasta los tejados.
Cuidadas por las mujeres, que las regaban a diario, las plantas crecían velozmente, pero también morían
rápidamente debido a sus raíces poco profundas. Al final del octavo día los jardines se arrojaban al mar o a un
río, a veces junto con una imagen del fallecido Adonis”.

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Imagen 10: Adonis atacado por el jábali antes de morir, tomada de


http://www.eldragondehipatia.com/articulos/adonis/

ELEMENTOS DE LA TEATRALIDAD EN LA FIESTA DE SAN JUAN BAUTISTA

Los elementos que a continuación se definen permitirán ilustrar la relación de la Fiesta de San Juan
Bautista con los elementos de la teatralidad y están conectados para proporcionarnos claridad y precisión para
la comprensión de esta realidad.
Cuarta Pared: Pared imaginaria que separa el escenario de la sala. En el teatro ilusionista el espectador
asiste a una acción que supuestamente acontece al margen de él. Detrás de un muro translúcido. El público es
invitado a espiar a los personajes, los cuales a su vez se comportan como si el público no existiese, como si una
Cuarta Pared les protegiese. (PAVIS 1996:100). Cada vez que se le baila al santo en una parada en medio de una

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procesión esto ocurre parecido al teatro una pared derecha, una izquierda, una frontal donde bailan a San Juan
y la cuarta está en los espectadores que están a la expectativa en medio de mucha alegría.
Creación Colectiva: es una metodología muy desarrollada por el Nuevo Teatro Latinoamericano desde
los años 60s. En general, se parte de alguna idea o de un texto que sirve de base a las improvisaciones de los
actores, quienes diseñan situaciones, personajes, espacios, etc. Durante este proceso, se toman muchas notas y
luego se conforma un texto para la representación. A diferencia del teatro tradicional que parte del texto
dramático ya escrito por un autor, la creación colectiva parte de la actuación y llega al texto, como producto
final. Este texto es dramático y a la vez espectacular. Y por supuesto, no tiene un autor, sino muchos. En la
creación colectiva, además, los roles se distribuyen y diversifican, porque un espectáculo teatral requiere no sólo
de actores sino también de apoyos técnicos muy precisos. Muchos de los grupos que en América Latina trabajan
con esta metodología carecen, en general, de una base financiera importante (GEIROLA 2014).
Fiesta: regocijo público para que el pueblo se recree organizado comúnmente cuando se conmemora
una solemnidad. En las siguientes imágenes se observan estos tres elementos considerados como la expresión
de la teatralidad en estas fiestas.

Imagen 11: Salida del San Juan de la Iglesia, Imagen


Imagen 12: Lluvia de confetis en la salida del San Juan de
tomada por Humberto Mayora, junio 2014
la Iglesia, Imagen tomada por Humberto Mayora, junio
2014

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Imagen 13: Repique del primer toque de tambores frente Imagen 14: Baile a San Juan Bautista. Imagen tomada
a la iglesia, Imagen tomada por Humberto Mayora, junio por Humberto Mayora, junio 2014
2014

CONCLUSIONES

La colonización del pueblo de Naiguatá permitió que la manifestación coexistiera con los ritos, ritmos
de los esclavos y con ella un sentido de espiritualidad permanece inmerso en un hecho divino que la naturaleza
proporciona abundancia eso el mito. Con el agua se reafirma una perspectiva espiritual de que las plantas que
se cosechan también se les atribuyen milagros a sus fieles que imploran oraciones y plegarias en su altar principal
como en los altares domésticos en las Fiestas de San Juan, esto es una ceremonia. Las cofradías que son
congregaciones religiosas fueron creadas inicialmente en la Europa de la edad media y traídas en la colonia y
permanecen en la memoria de los pueblos con su simbología religiosa de consagración. Para esta fiesta, las
cofradías se encargan de proteger al santo o la imagen, vestirlo y decorar el altar y cuidando gran parte de la
memoria ancestral y toda su simbología religiosa derivando en un culto para todos los fieles.
Una vez realizado el artículo el autor concluye la importancia de la teatralidad en la Fiesta de San Juan
Bautista en atención a los tres elementos fundamentales descritos previamente. El rito como en toda
manifestación tradicional y más en este patrimonio cultural inmaterial el ritual del bautismo es fundamental la
simbología del agua que renueva un ciclo, trae abundancia, fertilidad y despierta en el ser humano la integración
a un sacramento fundamental en las religiones que nos acerca a nuestra espiritualidad como lo es el bautismo.
El culto una de las creaciones monumentales más impresionantes del ser humano nos permite recordar que
todos los años esa tradición se va a celebrar y con ella las promesas, intenciones, deseos, bailes, ofrendas que
muchos consideran al pasar el año prepararse para el siguiente. Aquellos que participan en las creaciones

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colectivas de esta manifestación tendrán el reto de superarse y tener en cuenta de que la fe de los feligreses los
acompañará y los apoyará en sus creaciones vinculadas a la ornamentación y logística de esta festividad. Por
último se destaca el elemento más importante producto de una rigurosa investigación hasta ahora no
relacionada con una deidad griega de lo cual se retoma una investigación de Marisabel Contreras para conectar
con Juan el Bautista y ese el mito de Adonis con el canto que Contreras donde se plantea en esta historia
celebrada en otra región del estado Vargas, específicamente en el pueblo de Tarmas señala la existencia de dos
Juanes y una Juana, donde uno de ellos sufrió 4 heridas o puñaladas por parte del marido de la mencionada. Esta
historia presenta una similitud mítica con Adonis y Afrodita cuyo amor sublime. En dos versiones Adonis muere
por Artemisa quien envía un jabalí para vengarse de Afrodita por la muerte de Hipólito y otra cuando Ares se
transformó en Jabalí por celos a éste y le quedaron 4 heridas en el corazón representando los 4 colmillos del
animal. Es imprescindible la resurrección en el mes de Junio específicamente en verano con la renovación de la
estación se celebraban estas fiestas denominadas las Adonias donde le rendían culto a Adonis con frutas y flores
donde el agua es imprescindible. Por eso estas fiestas en la actualidad se adoran con frutas, flores, obsequios a
un Santo Católico y por qué se lleva los honores San Juan en algo parecido a un sincretismo religioso y su origen
es Adonis pero se necesitó una representación relacionada al catolicismo tan fuerte como Jesucristo y que se le
rindiera el culto 6 meses después al nacimiento de nuestro Señor. Lo maravilloso es la exagerada ornamentación
y formas de adoración en cada región de Venezuela que en Naiguatá el ritmo de los tambores que se pensaba
que era muy venezolano también vino de Europa porque la adoración de San Juan nació en este continente y dio
mejores frutos acá y por eso la religión, la teatralidad permitieron que el rito, culto y mito se destacaran
enormemente. Que dicha es ver es este patrimonio anualmente donde todos nos sorprendemos y nos rendimos
al encanto de las Afroditas por nosotros los Adonis en grandes cortejos bailables rindiéndole culto al rey de la
paz San Juan Bautista.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LA TEATRALIDAD DE LA FIESTA DE SAN JUAN BAUTISTA EN NAIGUATÁ, ESTADO VARGAS DESDE EL RITO, CULTO Y MITO

RAUSSEO, N. La gestión en los procesos de producción y transformación morfológica de la ciudad. caso: parroquia
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Consulta: Agosto, 2014.

Recebido em:17/04/2016
Aprovado em:14/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
TRADUÇÃO: ANTIGUIDADES RIO-GRANDENSES
TRANSLATION: ANTIQUITIES FROM RIO GRANDE DO SUL

August Kunert

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


O substituto temporário do diretor da repartição etnológica do Museu Etnográfico, Senhor Grünwedel,
encaminha com carta de 9 do corrente mês, a pedido do Dr. Fabri em Godesberg, relato do Senhor Kunert, pastor
evangélico em Forromecco, município de São João do Monte negro, no Rio Grande do Sul, de agosto, tematizando

Antiguidades Rio-grandenses1,2
August Kunert

Há cerca de 50 anos começou-se aqui e acolá a fazer coleções de utensílios de pedra e de argila até
aqui ignorados dos primitivos habitantes desta província, cuja Idade da Pedra persistiu até sua recente
expulsão para o Norte. Quando se estuda detidamente certa quantidade de achados, pode-se distinguir duas
tribos principais, quais sejam indígenas do campo e da mata, e em terceiro lugar coletores de moluscos da
costa litorânea. Tem-se a propensão de situar o período dos coletores de moluscos em época bastante
remota, se possível no período dos “Kjökkenmöddings” dinamarqueses e groenlandeses e assim também
considerar aqueles “miseráveis coletores de moluscos” como os verdadeiros habitantes primitivos. Essa
visão, contudo, até agora não teve apoio plausível, nem mesmo a hipótese de que os indígenas da mata
sejam pertencentes a raça distinta dos coletores de moluscos.
Os resíduos deixados por aqueles “coletores de moluscos” constituem-se de grande quantidade de
montes de cascas de moluscos mais ou menos desintegrados que se encontram nos pântanos salgados da
costa plana do mar, acamadas nas dunas. Entre esses “resíduos da cozinha” foram encontrados ossos
humanos, em parte esqueletos bastante completos em postura natural, em parte restos humanos
incompletos. Deduz-se do fato que aquelas tribos tenham sepultado seus mortos entre os restos de
alimentos. Em todos os casos, nada está a indicar que tenham antes consumido a carne. As urnas, panelas e
armas de pedra encontradas em nada se distinguem dos achados da região da mata desta província,
pertencentes a período mais recente. É provável que se encontre naqueles sítios os vestígios da população
primitiva que permitam chegar-se até o período mais remoto.
O autor analisou especialmente quase todos os locais de achado de antiguidades na área do Cahy
e do Forromecco e montou coleção que oferece quadro bastante completo da habilidade daquelas antigas
tribos.
Os montes de cacos são frequentemente encontrados; num círculo de ¼ de hora muitas vezes de
50 a 100 acampamentos antigos. É impossível que aqueles montes de cacos tenham surgido ao mesmo
tempo. Temos, portanto, resíduos de diversas gerações muito próximas umas das outras. Mesmo assim, em

1
Título original: Rio grandenser Alterthümer. Publicado nas Verhandlungen der Berliner Gesellschaft für Anthropologie,
Etnologie und Urgeschichte. Redigirt von Rud. Virchow. Jahrgang 1890. Berlin: Verlag Von A. Asher & Co, 1890, p. 31-
37. (inserido na Zeitschrift für Ethnologie, 22. 1890).
2
A tradução procurou manter a pontuação, as maiúsculas e minúsculas fora de lugar e os maneirismos da redação de
August Kunert. A toponímia original foi mantida sem correções. Tradutor: Martin Norberto Dreher; revisão: Francisco
Silva Noelli.
AUGUST KUNERT

nenhum local é possível distinguir, em decorrência de motivos externos, o velho do novo. Na maioria das
vezes, esses montes de cacos são restos dos buracos de queima. Na mata virgem úmida, vasos de argila
recém confeccionados só secavam de forma inconsistente e muitos estouravam quando da queima, Disso
resultaram os muitos cacos. Junto ao Cahy (Bom fin) encontram-se seguidas vezes tais buracos de queima
com resíduos de carvão.
As panelas eram confeccionadas da seguinte maneira (fig. 1). A argila molhada era rolada para se
transformar em longas linguiças, estas eram colocadas sinuosamente sobre pedra em formato de cone (b)
(principiando pelo cimo), depois as beiradas eram prensadas para se alargarem e sobreporem. Assim que
fundo da panela estava pronto era retirado da pedra, virado e o trabalho era continuado a partir de cima.
Junto ao Cahy encontrei diversas dessas pedras ao lado de buracos de queima, elas se adaptavam
perfeitamente aos cacos que por ali se achavam. Em algumas panelas e em urnas maiores também podem
ser encontrados diversos degraus (fig. 2-3).
As urnas e panelas mais antigas foram ornamentadas com profusas impressões das unhas dos
dedos (fig. 4), a maioria dos trabalhos recentes são totalmente
lisos, sem embelezamento plástico. Trabalhos mais recentes
são considerados aqueles que pintados com barro mole e
ornamentados com estrias simétricas de argila vermelha (fig.
5).

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TRADUÇÃO: ANTIGUIDADES SUL-RIOGRANDENSES

Tais panelas só foram confeccionadas depois que os indígenas viram trabalhos ornamentados de
oleiros europeus. Alguns têm fundo plano. A maioria das ornamentações consiste de linhas retas e espirais.
Como em sua maioria as panelas tem fundo pontiagudo pouco apropriado para permanecer de pé, a maioria
das panelas é encontrada emborcada ou na terra. Em depósitos de cacos muito antigos consegui cacos
belamente trabalhados, mas jamais pintados.

É extremamente difícil determinar a idade dos achados. É verdade que é praticamente impossível
que tais cacos queimados de maneira insuficiente tenham permanecido por séculos no solo, sem que se
decompusessem totalmente. Da camada de desagregação das armas de pedra pode-se com maior facilidade
tirar uma conclusão, mesmo assim isso não se aplica a todos os casos. O período de formação das camadas
de aluvião dificilmente pode ser calculado. Quando a mata virgem ainda estava de pé (portanto à época dos
indígenas) as aluviões certamente aconteciam de forma mais lenta e constante do que na atualidade quando
as chuvas anuais de inverno levam enormes quantidades de terra solta para os vales, e como todos os
achados se encontram nas proximidades de pequenos córregos não nos podemos valer da informação de
que se encontrem a dois ou quatro pés de profundidade na terra. Durante anos estudei com interesse e
persistência as camadas mais profundas junto às barrancas dos rios e cortes de estradas, mas jamais
encontrei neles qualquer vestígio de atividade humana, de modo que cheguei à conclusão: ou o Rio Grande
só foi povoado muito tardiamente, e nesse caso não pode haver qualquer esperança de encontrar em outras
regiões achados de profundidade, - ou a pesquisa até aqui feita é muito recente para descobrir aqueles
resíduos antiquíssimos, em todos os casos muito escassos. Um colono encontrou uma única panela pequena
a quatro pés de profundidade em velha camada compacta de argila; como, porém, estava emborcada e
também não houvesse sinal de carvão é de se supor que tenha sido esquecida num buraco de queima.
Desfez-se em poeira. O vale é estreito e sujeito a frequentes deslizamentos de terra (Santa Clara). O formato
da panela era o usual.
Dos locais de achado por mim visitados, os seguintes são os mais dignos de serem mencionados:

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Na Linha Franzez próximo à estrada da Serra foram encontradas sob rocha eminente grandes
quantidades de cinza. Água jamais a havia tocado. Os colonos que descobriram o local haviam revirado tudo,
mas nada haviam encontrado, “a não ser o esqueleto de uma criança”. Eu encontrei ossos tostados e intactos
de bugio, alguns pequenos, mas grossos cacos de panela, uma moleta3 fina do tamanho de uma mão (muito
gasta), muitos pinhões tostados enrolados em barba de pau, resíduos de espiga de milho de milho torrada,
bem como algumas sementes de moranga. Na região até agora não se encontrou cacos ou armas de pedra.
No Morro Diable foram encontrados em vale lateral, quando da derrubada de gigantesca árvore
oca, em seu interior, cerca de 50 a 60 bacias grandes e pequenas (fig. 6) de belo e agradável formato e de
cuidadoso trabalho. Quando da queda da árvore a maioria quebrou, de modo que só pude obter três bacias
menores. Os machados de pedra, dos quais recebi 12 peças, haviam sido trabalhados com capricho e polidos
no fio. Não haviam sido (como acontece comumente) polidos até adquirir o formato, mas haviam sido
talhados. Alguns machados muito pequenos devem ter sido utilizados como brinquedo de crianças. Além
disso, foram encontrados uma série de cascalhos arredondados e planos
(pedras de fiação?), dos quais alguns haviam sido utilizados para bater, o
que fica evidente em sua beirada áspera. Na cinza ainda se encontrou
quantidade de ágatas queimadas horizontalmente estriadas, as quais
podem ter sido utilizadas na confecção de pontas de flechas.
Posteriormente me foi presenteada tal ponta de flecha maravilhosamente
bem trabalhada (fig. 7). As pontas de flecha mais velhas (fig. 8) são todas elas de ágata ou trabalhadas a partir
de uma espécie de arenito vitrificado4.
Interesse muito especial foi despertado por dois instrumentos de pedra cilíndricos afiados que me
foram entregues por moradores da terra lindeira. Esses instrumentos têm, considerados sua forma e a
camada de decomposição os mais evidentes vestígios de idade muito alta, eles não provêm dos indígenas
que produziram as bacias bem modeladas, mas com toda certeza já se encontravam há muitos séculos na
mata. O primeiro exemplar foi feito de basalto, o segundo de pórfiro vermelho, mas sofreram tanto os efeitos
do tempo que a camada superior pode ser facilmente raspada com a unha do dedo. A mesma alta idade tem
o fragmento de machado comum o qual foi encontrado no mesmo local no alto do Morro diable. Ao contrário
dos achados mais recentes, contudo, havia sido lapidado.

3
Nota revisor: Afiador em canaleta.
4
Em todos os casos, no passado quanto hoje os indígenas também se valeram de pontas de flecha feitas de ossos, no
entanto são desconhecidos exemplares mais antigos. Alguns indígenas inteligentes fazem para si em nossos dias pontas
de flecha de ferro com farpas, mas são tão acomodados que preferem valer-se de pregos velhos, dentes de garfo, pontas
quebradas de facas e assemelhados do que adaptar o ferro. Mesmo que para os indígenas seja atraente ter
instrumentos de ferro, pouco sabem deles se valer. É verdade que não podem aprender essa arte dos portugueses com
os quais atualmente convivem, talvez nem tenham a vontade de fazê-lo.

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TRADUÇÃO: ANTIGUIDADES SUL-RIOGRANDENSES

Também foram encontradas algumas bolas de arremesso (Bola) na mata (fig. 9a). Tais bolas de
arremesso que eram afixadas em maior quantidade em cordas (fig.9b), para lançá-las ao redor das patas do
animal selvagem são, na mata, a pior arma possível de se imaginar. Creio que tem sua origem em indígenas
do campo que foram expulsos para a mata por algum motivo.
3) Uma hora além do local antes descrito também se encontrava acampamento. Ali até agora nada
se encontrou que me pudesse ter sido entregue. Quando os primeiros colonos ali penetraram a mata ainda
encontraram os fogos de acampamento queimando, velha cabana feita de juncos e grande círculo do zodíaco
bastante pisoteado. (Eles designam, o local de bailão dos bugres5). Dentro desse círculo haviam estado
sentados os assistentes, o que é reconhecível nos afundamentos existentes no solo, e muito provavelmente
haviam executado música em flautas de bambu, pois em toda a parte
havia dessas flautas. Não havia rasto conduzindo para fora do círculo.
4) No vale do Forromecco (na terra do colono Geiss) foi
encontrada urna funerária grande sem adornos com tampa, em sua
forma semelhante à fig. 10b. Ao ser aberta, o esqueleto que nele se
encontrava em posição de cócoras se desintegrou. Os ossos foram
extraviados, eu somente recebi a urna avariada totalmente quebradiça.
Ela era tão grande que possivelmente se poderia colocar nela pessoa
gorda de cócoras. Após o sepultamento de um cadáver amontoava-se
terra ao redor e colocava a tampa por sobre. Em tais urnas, (tanto
quanto sei), não se encontrou até agora armas. Alguns, contudo,
afirmam, haver encontrado aí pedras menores de adorno e chapinhas
de prata.

5
Nota do revisor: “Buger-Tanzplatz” poderia ser traduzido mais formalmente como “local” ou “praça” de dança dos
bugres. Kunert denominou este “grande” espaço circular “bastante pisoteado” como Kreislaufspur (Círculo do Zodíaco),
sendo o único a descrever os aterros anelares que estão sendo objeto de pesquisa arqueológica na última década.

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AUGUST KUNERT

5) De Lomba grande, próximo a São Leopoldo, recebi urna decorada com tapa (fig.10) e restos de
esqueleto. Conforme me foi relatado, os ossos encontravam-se misturados na urna, a cabeça, porém,
surpreendentemente, encontrava-se depositada em bacia especial (da qual recebi fragmentos), deitada
sobre os ossos. Até agora se afirmava que os bugres cortavam seus mortos, para depositar os pedaços na
urna. Depois que os senhores von den Steinen tornaram conhecido que os indígenas do Xingu deixam as
formigas esqueletar o cadáver, antes que os ossos sejam depositados nas urnas, parece que também aqui o
enigma está resolvido.
Procurei adquirir outra urna de Petrópolis e ofereci ao que a achou preço considerável. O homem
desenterrou-a, mas como dormisse mal na noite seguinte, depositou a urna e o esqueleto em seu antigo
lugar. – De modo semelhante também pensou aquela velha senhora que não me queria vender machadinha
de pedra por estar firmemente convicta de que se tratava de “cunha de trovão”6 que deveria ser colocado
sobre o barrote do telhado para que o raio não caísse sobre o mesmo. – Mais inacreditável pode soar o fato
de pessoa adulta me haver perguntado: “dessas coisas também se pode fazer medicamento?” E tais heróis
iluminados ainda frequentaram ao todo cinco anos a escola na Alemanha. E quando tais pessoas veem
minhas coleções de cobras, lagartos, sapos, besouros, borboletas, pássaros empalhados, machadinhas de
pedras, panelas de indígenas, etc. perguntam interessadas “para que medicamento essas coisas são
utilizadas”, mas não querem ouvir explicação, afirmando sabichões: “ele não nos quer revelar o segredo!”.
6) Importância etnológica tem a caverna da Forqueta. Os senhores Von den Steinen queriam
(segundo nota de jornal) explorá-la quando de sua estada nesta província. Quis participar com eles, mas
fiquei sabendo que os senhores fizeram outro tour. Isso deve ser lamentado, pois dentre todos locais
visitados por estes senhores nesta província esta caverna teria sido a primeira a merecer ser visitada por
pesquisadores versados.
É verdade que muitos turistas, sociedades bailantes e cervejeiras já ali estiveram, muitos Antônios,
Ignácios, Manoéis ali gravaram seus nomes, mesmo assim verifiquei pessoalmente que ainda não foram
feitas escavações. A caverna foi descoberta há cerca de 30 anos pelo atual morador da terra (Pires), quando
realizava caçada. Perseguia pequena vara de porcos selvagens (peccari?) que se enfiaram em buraco rochoso
e despareceram. Segundo palavra do homem a abertura caverna era então tão pequena que uma pessoa só
conseguia penetrar com grande dificuldade. A entrada da caverna foi ampliada e o homem utilizou os blocos
arrancados para deles talhar pedras de moinho. Mas, como bons preguiçosos deixaram as pedras largadas
por ali mesmo. A caverna (fig. 11) tem 66 pés de profundidade na rocha de arenito e tem à direita uma

6
Nota do tradutor: “Donnerkeil”.

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TRADUÇÃO: ANTIGUIDADES SUL-RIOGRANDENSES

câmara lateral. Tem de 6 a 10 pés de altura. À luz das tochas


de gordura que havíamos levado encontramos nas duas
câmaras principais enormes monte de cinza antiga. A cinza já
não contém pedacinhos de carvão, mas consiste de pó de
cinza prensada de um pé de profundidade. No entremeio há
camadas largas de cinza branca e sob elas camada de areia de
3 cm de espessura. Sob essa camada de areia que encontramos nos dois fogos (Feuerplatz) havia novamente
camada de cinza mais antiga (fig. 12). Teria sido necessário trabalho cansativo demais dias realizar escavação
meticulosa; meus companheiros de trabalho, porém, tinham muita pressa para voltar ao caneco de cerveja
e nada mais me restou que consolar-me, pensando em exame futuro. Nada encontramos. Sobras de ossos
devem ter sido consumidos pelos porcos do mato.
Em rocha de arenito abaixo da caverna haviam sido gravadas linhas onduladas que tinham
semelhança desesperada com um W e um N. O proprietário, contudo, afirmou que esses sinais já se
encontravam na rocha quando da derrubada da mata.
7) Em dezembro de 1888 encontrei na Picada Feliz, (na terra do colono Fleck), antigo acampamento
ainda intocado. O solo estava coberto por cinza de um pé de profundidade, carvão vegetal e cacos. Por sobre
havia cacos de panela pintados de branco e bem curvados, com figuras vermelhas (fig. 13). Cacos sem pintura,
canelados foram encontrados em grande quantidade mais ao fundo, bem como alguns cascalhos do Cahy.
Provavelmente terão sido utilizados para alisar a parte interna das panelas. Entre os fragmentos de ossos,
encontramos: queixada de anta (tapir) bem como ossos da parte inferior da coxa, muito quebradiços,
queixada de gambá, bem como ossos de cânula de veado que haviam sido partidos ao meio para retirada do
tutano. Encontramos grande quantidade de ostras do Cahy, casas de lesma queimadas. Grande espanto
causou o fragmento de grande concha marinha que encontrei na cinza. Também cavei algumas conchas
marinhas pequenas como as que se encontra no sal marinho.
Já anteriormente, colonos me haviam trazido conchas
marinhas, das quais diziam tê-las encontrado na mata; eu,
porém, pensava que haviam sido trazidas por europeus e
perdidas. Tanto maior foi minha estupefação ao encontrar eu
próprio a comprovação de que os indígenas da mata daqui
visitaram a costa marítima ou que inclusive tivessem tido

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
AUGUST KUNERT

outrora ali sua morada. Além disso nos deparamos com: moletas de arenito com sulcos profundos, lascas de
ágata, uma cunha de pedra, uma faca de pedra de basalto.

No Rio Grande do Sul só existem ainda restos miseráveis dos antigos indígenas. Algumas pequenas
tribos residem na fronteira norte próximo a Noudhay7 e na mata da assim chamada Vaccaria. No passado
sacerdote português ocupou-se com essas pessoas; quando, porém, o governo do Estado não mais lhe pagou
o salário (deve ter ficado nas mãos dos funcionários), nada mais restou ao homem que abandonar os
indígenas. O fato de esses indígenas serem inteligentes e capazes de cultura foi comprovado pelo antigo
“Estado Jesuíta”, no Paraguai. Na mata virgem desta província, no oeste, encontram-se ainda hoje as ruínas
de impressionantes construções, como sinais de antiga civilização que poderia ter vindo a se tornar grande
bênção para os habitantes originais da América, caso não tivessem sido incompreensivelmente destruídas
por políticos fanáticos. Tirou-se aos jesuítas os frutos de seu trabalho e “libertou-se” os indígenas de suas
mãos para tirar-lhes a terra sem qualquer indenização, entregando-os às balas de homens brutos. É verdade
que as leis do Estado protegem esses seres humanos, mas não há advogado que represente seus direitos.
Um pedaço de mata após o outro é medido pelo governo e vendido a colonos, aos quais nem sequer se
concede proteção militar, ficando eles próprios responsáveis por se defenderem da vingança daqueles
“selvagens” enxotados e injuriados. Trata-se de negócio rentável anexar (roubar) terra e vendê-la a outros.
É verdade que no papel estão estabelecidas “indenizações”, e aqui e ali, realmente, podem ter sido doadas
algumas calças, camisas e facas aos indígenas, também se formula discursos humanos em prol dos “bugres”,
mas – ao mesmo tempo os roubos seguem, valentemente. – Os indígenas que residem nas proximidades de
brancos não são assimilados; mesmo que sejam pessoas fortes como gigantes não conseguem acostumar-se
a trabalho constante; aqui e ali se empregam como vaqueiros, mas são muito desconfiados em relação a
brancos em consequência de experiências negativas. Negociantes de gado me contaram que cerca de 1/3
dessas pessoas foram “batizadas”, que conhecem Santo Antônio e Inácio, mas que no mais desconhecem
qualquer conceito religioso. Dois terços ainda são pagãos.

7
Como Kunert enviou seu texto manuscrito, o impressor deve ter lido Noudhay ao invés de Nonohay.

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TRADUÇÃO: ANTIGUIDADES SUL-RIOGRANDENSES

As tribos que aqui residiam há 50 anos não foram dizimadas, mas recuaram para a Província Matto
Grosso, mas as sangrentas batalhas que ali terão sido travadas entre as tribos que inundavam a região,
certamente, não nos serão relatadas.

Recebido em:17/04/2016
Aprovado em:14/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
TRADUÇÃO: PALEÓLITOS RIO-GRANDENSES
TRANSLATION: RIO-GRANDENSE PALEOLITH INSTRUMENTS

August Kunert

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


O Sr. Pastor August Kunert escreve em carta dirigida ao senhor Rud. Virchow, em 30 de maio, do Forromecco,
a respeito de Paleólitos Rio-grandenses.

Paleólitos Rio-grandenses1

August Kunert2

Nos anos de 1890 – 92 enviei à Sociedade Berlinense de Antropologia e Pré-História algumas


pequenas comunicações a respeito de antiguidades rio-grandenses. Hoje estou em condições de
complementar e, parcialmente, corrigir minhas comunicações de então em decorrência de novas pesquisas.
Em antigos acampamentos indígenas também podemos encontrar ao lado das conhecidas
machadinhas de pedra afiadas instrumentos de pedra em talha bruta que eram utilizados como facas e
pedras de raspar. As pontas de flecha de ágata também jamais são polidas, mas talhadas com grande
maestria. Além disso, existem pedras talhadas de forma rudimentar que jamais foram utilizadas, mas foram
abandonadas nos locais de trabalho, pois eram consideradas peças mal sucedidas, imprestáveis. Tais pedras
trabalhadas de forma rudimentar, contudo, deixam entrever que deveriam ter vindo a se tornar machadinhas
de pedra e que, posteriormente, receberiam seu acabamento pelo polimento. Os nativos não se valiam
apenas de cascalho de rio para a confecção de suas armas, mas quebravam pedaços apropriados da rocha e
trabalhavam-nos, picando com outras pedras pelo tempo necessário até que a forma desejada fosse
alcançada. Somente após a confecção da forma bruta as machadinhas eram afiadas com arenito. O fio,
contudo, na maioria das vezes, era muito imperfeito e, certamente, jamais suficiente para cortar o couro de
animal caçado. Para essa finalidade, valiam-se das lascas do bambu, de lascas afiadas de pedra, de cristais de
basalto com cantos afiados ou de pedras de talha bruta, os quais jamais atingiam o tamanho de uma
machadinha de pedra. Também as pontas de flecha pétreas, nas quais se pode reconhecer o tipo mais
perfeito do paleolítico, testemunham de maneira claríssima que jamais se poderia sobreviver sem pedras
talhadas, pois a pedra talhada sempre tem canto mais afiado do que a polida. O tipo paleolítico existe
concomitante ao neolítico, - mas as pedras de talha bruta do período neolítico são relativamente pequenas
e feias, eram instrumentos auxiliares de significado de fato subalterno -, eram abandonadas no
acampamento, quando se saía em busca de novos campos de caça ou escolhia outra área de moradia. Esse
é o motivo de o pesquisador encontrar seguidas vezes acampamentos e antigos fogos nos quais há apenas

1
Título original: Riograndenser Paleolithen, In: Zeitschrift für Ethnologie. Organ der Berliner Gesellschaft für
Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte. Redactions-Comission: M. Bartels, R. Virchow, A. Voss. Volume 32. Berlin:
Verlag von A. Asher & Co, 1900, p. 348-352.
2
A tradução procurou manter a pontuação, as maiúsculas e minúsculas fora de lugar e os maneirismos da redação de
August Kunert. Tradutor: Martin Norberto Dreher; revisão: Francisco Silva Noelli.
AUGUST KUNERT

pedras talhadas, mesmo que as demais circunstâncias expressem com clareza que tais acampamentos são
recentes e pertenceram a tribos que fora de qualquer dúvida utilizavam armas de pedra polida.
Aqui, contudo, também existem paleólitos reais, pedras brutas utilmente talhadas que se
distinguem na forma e no tamanho das pedras talhadas de períodos mais recentes. Também se pode
constatar que são pertencentes ao período mais antigo da Idade da Pedra. De forma isolada já encontrei há
anos algumas dessas pedras maiores, especialmente no Morro do diabo, que haviam sido talhadas à moda
das pontas de flechas. À época, contudo, não soube reconhecer sua importância. Algumas dessas pedras
quase da grossura de um braço estavam tão decompostas que se podia arranhá-las com a unha do dedo e
quebrá-las sem dificuldade – experiência com a qual, infelizmente, destruí alguns belos exemplares
totalmente – outras feitas de material mais resistente estavam muito bem preservadas. Três dessas pedras
enviei ao Dr. [Otto] Wendt, em Elberfeld, o qual, tanto quanto sei, as enviou ao Museu do Paço de Viena3 ou
ao Museu de Florença. A princípio classifiquei essas armas como pertencentes ao período Neolítico, pois as
encontrei num distrito, no qual haviam sido encontrados os mais antigos neólitos, machados grandes em
forma cilíndrica de tipo muito peculiar. Depois que neste local foi derrubado e lavrado bom pedaço de mata
(plateau do Morro do diabo junto ao Forromecco), quando da primeira lavoura da terra apareceram cinco
paleólitos; encontravam-se a maior profundidade do que os velhos paleólitos encontrados na vizinhança e
que se achavam na companhia das pedras talhadas anteriormente mencionadas bem na superfície em fina
camada de argila. As cinco pedras de talha bruta encontravam-se a cerca de um pé de profundidade em
pequena depressão. Antes que se possa formar camada de solo de um pé de profundidade na mata virgem,
e ainda mais no plateau de alta montanha, devem ter passado longos períodos de tempo.
Os neólitos e paleólitos anteriormente encontrados estavam bastante decompostos, enquanto que
as pedras encontradas na depressão não apresentam forte decomposição ou fragmentação, a não ser leve
incrustação decorrente do solo argiloso. Alguns foram trabalhados em material duro como o vidro que de
modo algum aceita incrustação e muito dificilmente se decompõe, outros foram feitos de espécies de pedra
menos resistentes. A maior parte das pedras foi tirada pelos que as trabalharam de riacho próximo, cujo
cascalho ainda não havia sido tão fortemente arredondado em seus cantos quanto o cascalho cilíndrico de
rios maiores.
Mesmo que tenha sido possível constatar a idade aproximada dessas armas a partir das
circunstâncias geológicas, os momentos geológicos mesmo assim não permitem um cálculo da idade em
números. Procurei estabelecer cálculo em números, cujas fraquezas reconheço, da seguinte maneira.
Pudemos constatar na região do Rio Cahy e do Forromecco que o número dos acampamentos surgidos no
período pós-colombiano em relação ao número dos pré-colombianos é de 1 a 9 até 14. Se deixarmos de levar
em conta um século por causa do avanço dos europeus, mas supusermos o período pós-colombiano em 300

3
WeltMuseum, Viena.

114
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TRADUÇÃO: PALEÓLITOS RIO-GRANDENSES

anos, se, além disso, pudermos supor que a densidade populacional tenha sido em todas as épocas a mesma,
se pudéssemos ter a certeza absoluta de ter encontrado todos os acampamentos e que, considerando a
dificuldade de realizar o cálculo, não tivéssemos cometido nenhum erro, aí o resultado do cálculo de 2.700 a
4.200 ou em média 3.000 anos poderia ser aceitável. Quando se conta os locais de acampamento, muitas
vezes, há a inclinação de contabilizar como iguais armas de pedra e vasos de argila que se encontram
isoladamente em determinada área e tê-los por um grupo e pertencentes a um acampamento: daí procede
a oscilação do número de 9 – 14. Caso, porém, nos valermos apenas do número de relação seguro 1 a 9 como
base de nosso cálculo, se supusermos que a densidade populacional tenha diminuído progressivamente em
relação aos tempos mais antigos e que, em consequência, tenham surgido sempre menos acampamentos,
continuaremos a ter ainda assim um número maior do que 2.700 como resultado. – A constatação do número
de relação só é possível em colônias recém instaladas, pois após cultivo prolongado do solo os vestígios de
acampamentos mais antigos desaparecem por completo. Também não podemos esquecer que os indígenas
do período pós-colombiano se encontravam em situação de aperto; foram obrigados a transferir mais
seguidas vezes seus acampamentos do que em épocas anteriores, e essa situação dificulta por completo o
cálculo.
Nas camadas mais profundas do solo de aluvião dos vales dos nossos rios, mesmo tendo o máximo
cuidado, não encontrei vestígios de existência humana. Não posso afirmar, se os paleólitos encontrados vão
até o período plioceno; pois no plateau de alta montanha com camada de argila relativamente fina não se
pode constatá-lo. No entanto, eles comprovam o suficiente que a população mais antiga do Rio Grande não
imigrou apenas no período dos neólitos. É possível que na mata virgem tenham se mantido até o neolítico
algumas tribos que tenham se valido apenas de armas de pedra e que aqui paleólitos e neólitos tenham
coexistido; pois o “progresso” da pedra talhada até a pedra polida não é tão fenomenal que pudesse vir a se
transformar em questão existencial. No entanto, aqui junto ao Cahy e ao Forromecco não existiram tais
tribos. Aqui a história de nossa pré-história se apresenta da seguinte maneira:
O período paleolítico,
O período pré-colombiano primitivo, caracterizado por machadinhas longas de forma cilíndrica,
O período pré-colombiano tardio,
O período pós-colombiano.
Se na maioria dos locais de achado nos vales dos rios só pude constatar os períodos pós e pré-
colombiano e só reconheci períodos mais antigos fragmentariamente, no tocante aos acampamentos do
Morro do diabo estive em condições de reconhecer todos os períodos e estabelecer sua sequência. Sobre o
plateau desse planalto ainda moravam há 60 anos os indígenas; quando de sua retirada deixaram para trás
grande quantidade de machados de pedra, instrumentos de argila em forma de bacias, uma bola, diversas
pontas de flecha de pedra e um cachimbinho de tabaco. Reconheci os vestígios dessa tribo por causa de suas
bacias de argila características em um acampamento do Rio das Antas, onde também se verificou que esses

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
AUGUST KUNERT

indígenas ainda possuíam belas e grandes contas de vidro vétero-venezianas. Antes dessa época o vale do
Forromecco estava povoado por tribos, cujos instrumentos de pedra e de argila são do tipo antigo comum;
mas já essas tribos estiveram em confronto guerreiro com os europeus, pois em um acampamento foi
encontrado o cabo de espada antiga.
Além do vale encontra-se uma série de acampamentos nas encostas do Morro do diabo que
comprovam ser pré-colombianos por causa da ausência de achados acompanhantes de origem europeia, por
causa do desaparecimento de vestígios de carvão e cinza, de ossos e cascas de ostras. Esses locais são a
maioria e situo-os no período pré-colombiano tardio, mesmo que por causa da grande quantidade de objetos
se estenda bastante para o passado. Coloco nesse período todo o acampamento, cujos cacos de argila não
tenham se desintegrado totalmente.
Agora, também se encontra no plateau do Morro do diabo um circuito que fora de qualquer dúvida
também foi acampamento, mesmo que faltem por completo cinza, vestígios de carvão e cacos. Em troca
foram encontradas aquelas machadinhas longas bastante decompostas e uma série de machadinhas de
tamanho comum, cujo final polido era mais estreito do que seu final obtuso. É provável que em sua
proximidade tenham existido outrora também cacos de panela; mas eles se transformaram em pó durante
período, no qual a pedra se decompôs fortemente. Como, porém, aí foram encontrados alguns paleólitos
pensei em classificar também essas pedras de talha bruta no período pré-colombiano primitivo.
Nas vizinhanças destes neólitos mais antigos apareceram, recentemente, uma série de paleólitos.
Encontravam-se a cerca de um pé de profundidade no solo e o exame das condições do solo verificou serem
mais antigos que as machadinhas de pedra polidas. Os paleólitos encontravam-se em leve elevação do solo,
onde não aconteceu aluvião. Aí aparece solo firme de argila e, parcialmente, rocha. Essa camada de argila
vai em direção a uma depressão que foi fechada ao longo do tempo por argila farelenta e húmus. Na
superfície encontravam-se os neólitos mais antigos e estes na direção de pequena elevação, enquanto que à
profundidade de um pé sob o alúvio na camada de argila se encontravam os paleólitos recentemente
descobertos. Pode-se supor com bastante certeza que os paleólitos encontrados na elevação do solo, mesmo
que tenham estado à superfície sejam tão velhos quanto os que se encontravam na depressão; fora de
qualquer dúvida, porém, as pedras talhadas da depressão, mesmo que estejam menos decompostas
pertencem ao período mais antigo, ao período paleolítico.
Em nenhum outro local pude constatar a sequência dos períodos mais antigos com tanta certeza
como no Morro do diabo. Isoladamente, também encontrei paleólitos no vale do Cahy, mas em nenhum local
foi possível comprovar com exatidão a idade. Como agora me encontro nas pegadas da real situação, farei
novas pesquisas após o final da colheita das plantações e apresentarei relatório sobre o resultado. -
O autor entregou os paleólitos referidos ao Museu estatal, espera, contudo, poder enviar uma
fotografia dos mesmos, bem como todas as armas de pedra típicas.
O senhor Virchow agradece profunda e antecipadamente pela dádiva esperada.

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Recebido em:19/04/2016
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016 Aprovado em:16/05/2016
Publicado em:22/06/2016
DOSSIE ARQUEOBOTÂNICA NA AMÉRICA DO SUL
DOSSIER: ARCHAEBOTANY IN SOUTH AMERICA

Organização: Rita Scheel-Ybert

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


EDITORIAL

Arqueobotânica na América do Sul: Paisagem, subsistência e uso de plantas no


passado

Rita Scheel-Ybert1

Este volume especial dedicado às plantas em contexto arqueológico surgiu a partir de um


simpósio no XVII Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, em 2013, do qual participaram vários
dos autores aqui reunidos para discutir o tema Arqueobotânica. Desde então, a proposta foi ampliada
visando apresentar um panorama, ainda que incompleto, da produção acadêmica atual no continente,
evidenciando a importância e a diversidade dos dados culturais que podem ser obtidos através destes
estudos.
As origens da Arqueobotânica remontam ao século XIX. Os primeiros trabalhos de que se tem
notícia foram realizados por botânicos e geólogos que se interessaram por material arqueológico. Os
botânicos alemães Carl Sigismund Kunth e Georg August Schweinfurth analisaram restos dessecados de
plantas de contextos funerários egípcios (KUNTH 1826; SCHWEINFURTH 1887 apud CHEVALIER 2002). O
geólogo e naturalista suíço Oswald Heer, pioneiro da Paleobotânica, foi o primeiro a reconhecer a
importância do estudo de restos vegetais arqueológicos para a reconstrução da dieta e ambiente de povos
pré-históricos, e identificou numerosos vestígios vegetais preservados em sítios inundados em lagos dos
Alpes (HEER 1866; ver também JACOMET 2004). Botânicos franceses Charles Saffray, Alphonse de
Rochebrune, e alemão Ludwig Wittmack, identificaram fibras e outros macrorrestos vegetais de sítios
peruanos (SAFFRAY 1876; ROCHEBRUNE 1879; WITTMACK 1880-87). E o botânico norte-americano John
William Harshberger, pioneiro da Etnobotânica, identificou material proveniente de grutas do Colorado
(HARSHBERGER 1896) e de sítios do Peru (HARSHBERGER 1898).
Não pretendo retomar aqui um histórico detalhado da disciplina, tarefa que muitos autores já
realizaram, em diferentes contextos (e.g. RENFREW 1973; FORD 1979; HASTORF 1999; PEARSALL 2000;
FULLER 2002), cabendo apenas mencionar que inúmeros trabalhos foram feitos em diversas partes do
mundo desde então. Tanto no “Velho Mundo” como na América do Norte, a disciplina teve um grande
desenvolvimento a partir dos anos 1970, e particularmente após a década de 1990 (cf. HASTORF 1999;
PEARSALL 2000; FULLER 2002).
Na Europa, as bases teóricas e metodológicas da disciplina começaram a ser estabelecidas a partir

1Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. Departamento de Antropologia. Programa de Pós-
Graduação em Arqueologia. E-mail: [email protected]
RITA SCHEEL-YBERT

da intensificação dos estudos arqueobotânicos nos anos 1960, direcionados tanto a problemas locais como,
frequentemente, a investigações sobre as origens da agricultura no Oriente Próximo. Dentre os pioneiros e
os principais formadores destacam-se o dinamarquês Hans Helbaek, os alemães Maria Hopf e Karl-Ernst
Behre, o holandês Willem van Zeist, a polonesa Krystyna Wasylikowa, a suíça Stefanie Jacomet, entre
outros (e.g. HELBAEK 1959; HOPF 1969; VAN ZEIST 1967; WASYLIKOWA 1978; VAN ZEIST et al. 1991;
JACOMET et al. 1991; RÖSCH et al. 1992). Destaca-se ainda a importância da Escola de Paleoeconomia de
Cambridge, dirigida pelo arqueólogo britânico Eric Higgs, que devido a seu grande interesse em aspectos de
subsistência e análises de área de captação de recursos (VITA-FINZI e HIGGS 1970) incentivou grandemente
o desenvolvimento da flotação e os estudos arqueobotânicos (e.g. JARMAN et al. 1972).
Na América do Norte, o grande pioneiro da Arqueobotânica foi o biólogo e etnobotânico Volney
Jones. Ele trabalhou com Melvin Gilmore, eminente etnobotânico que desenvolveu importante trabalho
com os nativos americanos e também algumas identificações arqueobotânicas (e.g. GILMORE 1931). Jones
estabeleceu os princípios da disciplina em tanto que parte da Etnobotânica (JONES 1941) e foi responsável
pelo desenvolvimento de métodos de recuperação, análise e identificação para diversos tipos de vestígios,
além de ter criado uma extensa coleção etnobotânica contendo madeira, sementes e outras partes de
plantas de diversas regiões do mundo (FORD 1994; MAA 2016). Jones formou uma importante geração de
arqueobotânicos americanos, incluindo Richard Yarnell, Vorsila Bohrer e Richard Ford, os quais por sua vez
formaram novos profissionais e disseminaram a prática da disciplina, consolidando suas bases teóricas e
metodológicas (e.g. FORD 1979; GREMILLION 1997; PEARSALL 2000).
Em 1959 Helbaek propôs o termo “Paleoetnobotânica” como sendo “o estudo das interrelações
entre populações humanas e plantas através do registro arqueológico” (HELBAEK 1959). Este termo foi
rapidamente adotado nos Estados Unidos, país com uma larga tradição em Etnologia e Etnobotânica. Cabe
observar aliás que a própria origem do termo “Etnobotânica”, cunhado pelo norte-americano John
Harshberger em 1895 para se referir ao estudo das “plantas usadas por povos primitivos ou aborígenes”,
foi relacionada à análise de macrovestígios arqueológicos (HARSHBERGER 1896). Volney Jones definiu a
Etnobotânica como “o estudo das interrelações entre o homem primitivo e as plantas” (JONES 1941), mas
para Margareth Towle este conceito englobaria “o estudo das relações diretas entre o homem e o mundo
vegetal, independentemente de limites de tempo ou de nível de desenvolvimento cultural” (TOWLE 1961,
apud PEARSALL 2000). Posteriormente, em artigos seminais, Richard Ford diferenciou a “Etnobotânica”
(“estudo das interrelações diretas entre o homem e as plantas” – FORD 1978) da “Paleoetnobotânica”
(“análise e interpretação das interrelações diretas entre humanos e plantas com qualquer objetivo, desde
que manifestado no registro arqueológico” – FORD 1979).
Deste modo, na concepção da maioria dos autores norte-americanos, o conceito de
“Paleoetnobotânica”, definida como o estudo interpretativo das relações entre humanos e plantas
(“análise e interpretação de restos arqueobotânicos visando fornecer informações sobre as interações

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EDITORIAL
DOSSIE ARQUEOBOTÂNICA NA AMÉRICA DO SUL: PAISAGEM, SUBSISTÊNCIA E USO DE PLANTAS NO PASSADO

entre populações humanas e plantas” – POPPER e HASTORF 1988), se opõe à “Arqueobotânica”, que seria
apenas o método de tratamento e identificação dos restos vegetais em si (“métodos de coleta,
identificação e registro das amostras, e interpretações não-culturais das mesmas” – POPPER e HASTORF
1988).
Esta diferença, no entanto, não costuma ser reconhecida por pesquisadores europeus, que no
quadro da “Arqueobotânica” não se restringem a perspectivas taxonômicas e descritivas, mas estudam os
restos vegetais em contexto arqueológico buscando compreender as relações entre humanos e plantas em
seus mais variados enfoques – incluindo aspectos ecológicos, econômicos, sociais e ideológicos (e.g. BUXÓ
et al. 2005; FULLER e HARVEY 2006; MERCURI et al. 2010; MADELLA et al. 2014). O website do
“International Workgroup for Palaeoethnobotany” (IWGP) informa que: “Paleoetnobotânica (sinônimo:
Arqueobotânica) é a parte da arqueologia ambiental que se ocupa do estudo dos restos de plantas
preservados em, ou em associação com, sítios arqueológicos. A Arqueobotânica se interessa sobretudo
pelas atividades desenvolvidas por populações passadas.” (IWGP 2016).
Uma revisão da literatura especializada mostra que no “Velho Mundo” os dois termos costumam
ser usados indistintamente e que a denominação da disciplina não é uma questão muito discutida. Na
América do Norte, embora as definições acima sejam bem aceitas, a questão é frequentemente colocada,
devido à confusão que se cria por causa das diferentes interpretações dadas ao termo “Arqueobotânica”
dos dois lados do Atlântico (cf. HASTORF 1999). Cabe ressaltar, no entanto, que alguns pesquisadores
norte-americanos preferem utilizar ambos os termos como sinônimos (e.g. MIKSICEK 1987).
Na América do Sul, por outro lado, percebe-se que a questão da denominação da disciplina ainda
gera uma certa hesitação, e isso apesar de uma mesa redonda realizada em 2007 na “IV Reunión
Internacional de Teoría Arqueológica en América del Sur”, na Argentina, que discutiu extensamente o tema
do ponto de vista semântico, histórico, epistemológico e semiótico (cf. GIOVANNETTI et al. 2008;
KORSTANJE 2008; RODRÍGUEZ 2008). Aqui, provavelmente em virtude das múltiplas influências na
formação de seus pesquisadores, o conceito de “Arqueobotânica” nunca assumiu uma conotação
meramente técnica, sendo que no mais das vezes observa-se uma tendência à sinonimização dos termos.
Pessoalmente, considero que “Arqueobotânica” e “Paleoetnobotânica” são sinônimos estritos, e
logo perfeitamente intercambiáveis em qualquer contexto. Se por um lado é verdade que o prefixo “etno-“
remete ao aspecto humano, por outro lado há que se considerar que a Arqueologia é antes de tudo uma
ciência humana, e consequentemente o caráter cultural das interpretações arqueológicas é intrínseco e
indissociável da disciplina. Justamente por esta razão, inclusive, tendo a preconizar o uso de
“Arqueobotânica”, termo que enfatiza sua filiação arqueológica.
Pela mesma razão, proponho que o estudo dos fitólitos, grãos de amido e outros microvestígios
vegetais encontrados em contexto arqueológico, que passou recentemente a ser denominado
“Micropaleoetnobotânica” (e.g. DEL PUERTO et al. 2014), seja referido como “Microarqueobotânica”,

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RITA SCHEEL-YBERT

termo que carrega a dupla vantagem de ser mais curto e, mais uma vez, de enfatizar a filiação arqueológica
da disciplina.
Além disso, é importante observar que existe uma tendência recorrente, em particular fora da
comunidade especialista, em confundir o termo “Paleoetnobotânica” com “Paleobotânica”, o que só tende
a aumentar a confusão vigente. “Paleobotânica” é “o ramo da Paleontologia encarregado de estudar os
fósseis de plantas” (IANNUZZI e VIEIRA 2005), ou seja, é o estudo de restos vegetais que “sofreram
transformações físico-químicas em ambiente sedimentar ou diagenético”. A análise destes materiais releva
do domínio da Biologia e da Geologia e tem por objetivo compreender os processos de evolução da vida e
da Terra, além de permitir aplicações econômicas relacionadas ao setor energético (petróleo, carvão
mineral etc.) (IANNUZZI e VIEIRA 2005). Sendo assim, esta disciplina não tem nenhuma relação com plantas
encontradas em contexto arqueológico e, em consequência, este termo não pode ser empregado para se
referir ao estudo de vestígios associados com o passado humano e com questões culturais.
Na América do Sul, a Arqueobotânica é ainda relativamente jovem. Embora estudos de
macrovestígios dessecados venham sendo feitos desde os primórdios da disciplina, especialmente no Peru
(e.g. SAFFRAY 1876; ROCHEBRUNE 1879; WITTMACK 1880-87; HARSHBERGER 1898), estas análises foram
frequentemente conduzidas por pesquisadores estrangeiros e/ou por não-arqueólogos, e inicialmente não
se acompanharam do desenvolvimento de uma tradição arqueobotânica local relevante.
No Noroeste do continente, a evolução da disciplina foi marcada por uma longa tradição de
pesquisa de arqueobotânicos norte-americanos, destacando-se os trabalhos de diversos autores, como
Margareth Towle, Shelia Pozorski, Donald Ugent, Deborah Pearsall, Christine Hastorf, Sissel Johannessen no
Peru (e.g. TOWLE 1961; POZORSKI 1979; PEARSALL 1980; UGENT et al. 1982; HASTORF 1990;
JOHANNESSEN e HASTORF 1990), e Deborah Pearsall e Dolores Piperno, no Equador (e.g. PEARSALL 1978;
PIPERNO 1990). Mais recentemente, os estudos no Peru se diversificaram (cf. CHEVALIER 2002) e veio a
destacar-se o trabalho de arqueobotânicos colombianos como Inês Cavelier, Gaspar Morcote e Sonia
Archila (CAVELIER 1995; MORCOTE 1994; ARCHILA 2005).
No Cone Sul, os trabalhos pioneiros foram desenvolvidos por botânicos ou agrônomos, com forte
ênfase em questões relacionadas à domesticação de plantas (e.g. PARODI 1935; HUNZINKER 1943;
BURKART 1952; KRAPOVICKAS 1968; CÁMARA HERNÁNDEZ 1973 – apud YACOBACCIO e KORSTANJE 2007);
o interesse mais direto dos arqueólogos por estas questões teve início essencialmente a partir dos anos
1970, embora as identificações botânicas continuassem a ser feitas por não-arqueólogos (cf. YACOBACCIO
e KORSTANJE 2007; LEMA 2008). Este cenário começou a mudar a partir dos anos 1980, quando trabalhos
arqueobotânicos efetivos passaram a se desenvolver (e.g. POCHETTINO e SCATTOLIN 1991; CORTELLA e
POCHETTINO 1994), apoiando-se em preocupações metodológicas de campo e de laboratório (cf. LEMA
2008). No entanto, foi particularmente a partir dos anos 1990 que os estudos começaram a se multiplicar.
Observa-se então um forte investimento em análises com microvestígios, que se desenvolveram em

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EDITORIAL
DOSSIE ARQUEOBOTÂNICA NA AMÉRICA DO SUL: PAISAGEM, SUBSISTÊNCIA E USO DE PLANTAS NO PASSADO

paralelo ao importante crescimento das análises fitolíticas em várias áreas do conhecimento (cf. BERTOLDI
DE POMAR 1971; ZUCOL et al. 2008). Destacam-se as pesquisas microarqueobotânicas de Pilar Babot e
Alejandra Korstanje na Argentina (e.g. BABOT 1999; KORSTANJE e WÜRSCHMIDT 1999; KORSTANJE 2002;
KORSTANJE e BABOT 2007), Laura del Puerto e José Iriarte no Uruguai (e.g. DEL PUERTO e INDA 2003;
IRIARTE et al. 2004) e María Teresa Planella no Chile (e.g. PLANELLA e MCROSTIE 2006; PLANELLA et al.
2012); além de trabalhos com carvões e outros macrovestígios, como os de María Eugenia Solari, no Chile
(e.g. SOLARI 1990, 1993), e Aylen Capparelli, Bernarda Marconetto e Maria Fernanda Rodríguez, na
Argentina (e.g. CAPPARELLI e RAFFINO 1997; MARCONETTO 1999; RODRÍGUEZ 2004). Atualmente, uma
nova e produtiva geração de pesquisadores está se formando, com consequente multiplicação das
publicações e linhas de pesquisa.
No Brasil, a Arqueobotânica era virtualmente inexistente até o final da década de 1990,
excetuando-se apenas algumas identificações de macrorrestos vegetais realizadas a pedido de arqueólogos
(e.g. ROOSEVELT et al. 1996; MAGALHÃES 1998) e mais raramente agrônomos ou botânicos que se
interessaram pela disciplina (e.g. FREITAS et al. 2003). Os estudos mais sistemáticos se iniciaram a partir da
Antracologia (e.g. SCHEEL-YBERT 1999), sendo desde o início marcados por uma forte preocupação com
questões teóricas, metodológicas e interpretativas (SCHEEL-YBERT et al. 2003; SCHEEL-YBERT 2004). Eles
logo foram seguidos pelos primeiros estudos com microvestígios vegetais (WESOLOWSKI 2007; BOYADJIAN
2007; CASCON 2010). Análises baseadas em carporrestos (frutos, sementes e outras estruturas
relacionadas aos órgãos reprodutivos dos vegetais) e em órgãos subterrâneos, no entanto, ainda
permanecem mais raras (SHOCK 2010).
É interessante observar que uma especificidade do continente sul-americano é a integração da
Antracologia no seio das especialidades arqueobotânicas (e.g. SCHEEL-YBERT 2004; SOLARI 2007; BELMAR e
LEMA 2015), ao contrário da Europa, aonde ela é geralmente considerada como uma disciplina à parte.
Outra especificidade a se considerar é a própria definição da disciplina. A Antracologia foi inicialmente
definida como “o estudo dos carvões de madeira recolhidos de sedimentos arqueológicos ou naturais”
(CHABAL 1997), tendo por objetivo “principalmente a reconstituição da evolução da flora local, assim como
o ambiente vegetal no qual humanos viveram” (THIÉBAULT e VERNET 1987). Na prática sul-americana, no
entanto, e especialmente no Brasil, o estudo antracológico considera todos os vestígios carbonizados
conservados em contexto arqueológico (madeira, frutos e sementes, órgãos subterrâneos e outros),
permitindo assim englobar uma série de outras questões importantes para o saber arqueológico. Poder-se-
ia então definir a Antracologia, neste contexto (que na Europa é frequentemente chamado de
“Arqueoantracologia"), como a “análise e interpretação de restos vegetais carbonizados” com o objetivo de
“fornecer dados que contribuam para contar a história das relações entre humanos e paisagem e dos
modos de vida de populações passadas” (SCHEEL-YBERT 2013).
O panorama atual mostra que existe um forte investimento em Arqueobotânica em diversos

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RITA SCHEEL-YBERT

países da América do Sul – ainda que, infelizmente, nem todos estejam representados neste volume. A
partir da última década, percebe-se que a disciplina começou a mudar seu foco de preocupações
predominantemente metodológicas e aumentou seu interesse por questões teóricas (e.g. MARCONETTO et
al. 2007; ARCHILA et al. 2008; BELMAR e LEMA 2015), como também já aconteceu em outras partes do
mundo (cf. FULLER 2002). O presente volume visa apresentar os mais recentes desenvolvimentos da
disciplina trazendo um panorama incompleto, mas que espera-se abrangente, das pesquisas atuais.
Na primeira parte, dedicada à Microarqueobotânica, sete artigos são apresentados. Os primeiros
apresentam estudos de caso em sítios do sul do Brasil a partir de análises de grãos de amido e de fitólitos.
Análises de cálculos dentários de um sambaqui (BOYADJIAN et al.) e de artefatos cerâmicos de estruturas
semissubterrâneas (CORTELETTI et al.) revelaram uma grande diversidade de vestígios e conduziram à
identificação de amplas bases de subsistência para os dois grupos considerados, além de permitir
inferências sobre economia e mobilidade. Outros estudos de caso, em um cerrito e depósitos sedimentares
associados no Uruguai (DEL PUERTO et al.) e em campos elevados da Bolívia (DICKAU et al.) utilizam
análises de fitólitos. Ambos permitiram reconstruções da paisagem e forneceram inferências sobre
produção de alimentos e processos de formação de sítios, levantando questões sobre as interações entre
humanos e a paisagem e as estratégias utilizadas para lidar com o ambiente. Se seguem, finalmente, dois
artigos de síntese, apresentando a evolução da paisagem na Bacia do Prata desde o Holoceno Médio
(IRIARTE) e os conhecimentos acumulados sobre as plantas domesticadas do noroeste argentino
(KORSTANJE), além de uma reflexão sobre as plantas utilizadas na Puna salgada argentina nos últimos 10
mil anos (BABOT).
Na segunda parte, dedicada à Antracologia, seis artigos são apresentados. Um estudo de caso na
Amazônia oferece uma nova abordagem para a compreensão de práticas culturais a partir essencialmente
da quantificação de macrovestígios vegetais carbonizados (SILVA et al.). Dois estudos em sítios pré-
históricos do Brasil, abordando caçadores-coletores de abrigos de Mato Grosso (BACHELET) e ceramistas
Proto-Jê do Sul (AZEVEDO e SCHEEL-YBERT) permitiram reconstruções da paisagem, inferências sobre
economia do combustível e, no caso dos Proto-Jê do Sul, práticas de gestão do fogo. Em seguida, uma
síntese de dados provenientes de diversos sítios de populações ceramistas do Brasil (SCHEEL-YBERT et al.) e
um estudo em contextos pré-hispânicos e coloniais do noroeste argentino (MARCONETTO e MAFFERRA)
conduziram a interpretações alternativas dos dados de uso da madeira e paisagem, ancoradas não em
lógicas economicistas ou funcionais, mas em perspectivas ideológicas e culturais. Finalmente, o volume se
encerra com um artigo convidado de uma antracóloga francesa (THÉRY-PARISOT et al.), que propõe uma
abordagem socioeconômica da Antracologia e utiliza a experimentação como meio de compreender
práticas de gestão e uso da lenha na pré-história.
O conjunto destes textos vem reforçar a importância do estudo dos ecofatos, já largamente
estabelecidos como fontes de dados culturais, abordando questões que vão desde paisagem, subsistência,

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EDITORIAL
DOSSIE ARQUEOBOTÂNICA NA AMÉRICA DO SUL: PAISAGEM, SUBSISTÊNCIA E USO DE PLANTAS NO PASSADO

produção de alimentos e uso de plantas, até aspectos rituais e simbólicos, e inclusive processos de
formação de sítios. O presente volume demonstra também que, a exemplo do resto do mundo, a
Arqueobotânica da América do Sul no século XXI não se encontra mais na posição de uma mera técnica
analítica, nem de uma “disciplina associada” da Arqueologia. Ela é, sim, integralmente uma especialidade
arqueológica, no mais das vezes praticada por Arqueólogos, que buscam a partir dos vestígios biológicos
responder a problemáticas arqueológicas, identificando as ações, motivações, e processos sociais que
conduziram à presença destes vestígios em determinado contexto com vistas a compreender aspectos
culturais.

Agradecimentos
Meu reconhecimento sincero aos alunos e colegas que leram este editorial e muito contribuíram
com sugestões e produtivas discussões; em especial, a Celia Boyadjian, Alejandra Korstanje, Pilar Babot e
Bernarda Marconetto. Agradeço muito a Rafael Milheira, editor, que encampou o projeto e viabilizou sua
concretização; a todos os revisores externos, que contribuíram enormemente para a melhoria dos artigos;
e sobretudo aos colegas que acreditaram neste projeto, submeteram artigos excelentes, cumpriram prazos,
e pacientemente aguardaram esta publicação.

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RITA SCHEEL-YBERT

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARCHILA, S. Arqueobotánica en la Amazonía colombiana. Un modelo etnográfico para el análisis de


maderas carbonizadas. Bogotá: Fundación de Investigaciones Arqueológicas Nacionales / Universidad de
los Andes / Centro de Estudios Socioculturales e Internacionales, 2005.
ARCHILA, S.; GIOVANNETTI, M. e LEMA, V. (eds.) Arqueobotánica y teoría arqueológica: Discusiones desde
Suramérica. Bogotá: Universidad de Los Andes, 2008.
BABOT, M.P. Recolectar para moler. Casos actuales de interés arqueológico en el Noroeste Argentino. In:
ASCHERO, C.; KORSTANJE A. e VUOTO, P. (eds.) En los tres reinos: prácticas de recolección en el cono sur
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BELMAR, C. e LEMA, V. (eds.) Avances y desafíos metodológicos en arqueobotánica. Miradas consensuadas
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Recebido em:16/04/2016
Aprovado em:10/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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DIETA NO SAMBAQUI JABUTICABEIRA-II (SC): CONSUMO DE PLANTAS REVELADO
POR MICROVESTÍGIOS PROVENIENTES DE CÁLCULO DENTÁRIO
DIET AT JABUTICABEIRA II (SC): PLANT FOODS REVEALED BY MICROREMAINS FROM
DENTAL CALCULUS

Célia Helena Cezar Boyadjian


Sabine Eggers
Karl Reinhard
Rita Scheel-Ybert

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Dieta no sambaqui Jabuticabeira-II (SC): Consumo de plantas revelado por
microvestígios provenientes de cálculo dentário

Célia Helena Cezar Boyadjian1


Sabine Eggers2
Karl Reinhard3
Rita Scheel-Ybert1
Resumo: A análise do conteúdo de cálculo dentário de coleções osteológicas é uma ferramenta poderosa
para a Arqueologia. Ela é particularmente importante para sítios a partir dos quais não foram recuperados
restos botânicos, caso de muitos sambaquis. Neste estudo, analisaram-se grãos de amido, fitólitos e
diatomáceas extraídos de cálculo de sambaquieiros de Jabuticabeira II. Sugere-se que plantas das famílias
Araceae (família do inhame), Arecaceae (palmeiras), Convolvulaceae (batata-doce), Dioscoreaceae (carás),
Maranthaceae (ariá), Myrtaceae (possivelmente pitanga) e Poaceae (incluindo milho), entre outras, eram
consumidas. Grãos de amido danificados foram observados, indicando processamento alimentar. Número e
distribuição dos grãos de amido variaram consideravelmente entre indivíduos, sugerindo uma dieta mais
diversificada para alguns. Porém, comparando-se as assembleias destes microrrestos por sexo, classe
etária, presença ou ausência de patologias e características dos sepultamentos, não houve diferença entre
eles. A identificação das diatomáceas reafirma o uso de recursos da paleolaguna próxima ao sitio. A
diversidade de tipos de microrrestos encontrados e a evidência de consumo de plantas domesticadas pode
indicar que este grupo vivia em um sistema de economia mista, em que a pesca e coleta eram associadas
ao cultivo de algumas espécies por meio de horticultura. Apesar de preliminares, os resultados
apresentados reafirmam a importância das plantas no cotidiano do grupo de Jabuticabeira II e trazem uma
importante contribuição para a Arqueobotânica brasileira.

Palavras-chave: Paleodieta, Cálculo dentário, Sambaqui, Microvestígios botânicos, Amido, Fitólito,


Diatomácea.

Abstract: Analysis of dental calculus contents from human osteological collections is a powerful tool for
Archaeology. It is particularly important for sites where archaeobotanical remains were not recovered, such
as certain sambaquis. In this study, we analyzed starch grains, phytoliths, and diatoms obtained from
calculus from sambaqui Jabuticabeira II. We suggest that plants from the families Araceae (taro), Arecaceae
(palms), Convolvulaceae (sweet potato), Dioscoreaceae (yams), Maranthaceae (leren), Myrtaceae (pitanga),
and Poaceae (including maize) were consumed. Damaged starches were recovered, indicating food
processing. Variations in the number and distribution of starch grains among the individuals suggest a more
diversified diet for some of them. However, no difference was found when comparing the starch
assemblage by sex, age class, presence or absence of certain pathologies, and burial characteristics.
Diatoms identification reaffirms the use of resources from the nearby paleolagoon. The diversity of plant
microremains found as well as evidence of use of domesticated plants as food might indicate that the
group lived in a system of mixed economy, where fishing and gathering were associated with horticulture.
Although preliminary, the results presented here reaffirm the importance of plants in the daily life of the
group from Jabuticabeira II and bring some important contributions to Brazilian Archaeobotany.

Keywords: Paleodiet, Dental calculus, Shell mound, Plant microremains, Starch, Phytolith, Diatom.

1 Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem, Departamento de Antropologia. Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de
Janeiro/RJ – Brasil.
2 Laboratório de Antropologia Biológica, Departamento de Genética e Biologia Evolutiva. Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP),

São Paulo/SP – Brasil.


3 School of Natural Resources. University of Nebraska, Lincoln – USA.
CÉLIA HELENA CEZAR BOYADJIAN, SABINE EGGERS, KARL REINHARD E RITA SCHEEL-YBERT

INTRODUÇÃO

Existem diferentes maneiras para reconstruir dieta, nutrição e padrão de subsistência do passado.
Contudo, a análise de coprólitos, conteúdo intestinal e cálculo dentário (tártaro) são as únicas que
fornecem evidencias diretas do que foi consumido (HOLT 1993; REINHARD e BRYANT 1992; REINHARD
1993; MIDDLETON e ROVNER 1994; REINHARD et al. 2001). Enquanto a preservação de coprólitos é rara na
maioria dos contextos arqueológicos, o cálculo (Figura 1) é encontrado em dentes de indivíduos
provenientes de muitos sítios, independentemente da cronologia.
De maneira simplificada, durante a vida do indivíduo, conforme a placa bacteriana4 absorve
minerais da saliva e fluido crevicular (gengival), ela vai aos poucos se mineralizando e formando o cálculo
dentário (GREENE et al. 2005; CHARLIER et al. 2010). Através da mastigação, ou quando os dentes são
utilizados como ferramentas para segurar, raspar, mascar plantas durante a produção de artefatos, por
exemplo, micropartículas vegetais (grãos de amido, fitólitos, fragmentos de tecidos vegetais, entre outros5)
ficam retidas na placa bacteriana, incorporando-se ao cálculo dentário (BOYADJIAN e EGGERS 2014;
BUCKLEY et al. 2014). Como essas micropartículas preservam suas características, permitindo identificação
taxonômica, é possível, através delas, determinar as plantas utilizadas (HENRY e PIPERNO 2008).
Além dos microrrestos vegetais, vestígios de diatomáceas, foraminíferos, fungos e outros
microorganismos presentes na cavidade oral também ficam retidos na matriz do cálculo, podendo ser
recuperados e analisados mesmo após milhares de anos. Sendo assim, potencialmente, tudo o que passou
pela boca de alguém pode ser detectado através dos rastros deixados no seu tártaro.
Portanto, a análise de conteúdo de cálculo dentário é uma ferramenta poderosa para a
reconstrução de dieta (para alguns exemplos veja: FOX et al. 1996; LIEVERSE 1999; HENRY et al. 2010;
WESOLOWSKI et al. 2010; ASEVEDO et al. 2012; BOYADJIAN 2012; DUDGEON e TROMP 2012; BOYADJIAN e
EGGERS 2014; POWER et al. 2014; SALAZAR-GARCÍA et al. 2014) mas, também, para investigação de outros
aspectos da vida no passado, incluindo a identificação de plantas medicinais e plantas usadas para
fabricação de artefatos (HARDY et al. 2012; BUCKLEY et al. 2014) e informações sobre saúde (WARINNER et
al. 2014).
Essa abordagem é particularmente importante em contextos arqueológicos onde informações
sobre o uso de plantas é ausente ou irrisório. Em casos de sítios cujas coleções osteológicas já foram
depositadas na reserva técnica de museus, os restos arqueobotânicos não foram recuperados, e novas
escavações não são mais possíveis, ela proporciona acesso a dados preciosos. No Brasil, esse seria o caso de
vários sambaquis.

4
A placa é um biofilme que recobre dentes e gengivas (GREENE et al., 2005)
5
Para maiores detalhes sobre as principais micropartículas botânicas encontradas no cálculo consulte: PIPERNO 2006;
TORRENCE e BARTON 2006; BOYADJIAN 2012; BOYADJIAN e EGGERS 2014.

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PROVENIENTES DE CÁLCULO DENTÁRIO

Figura 1: Cálculo dentário. a) Depósito de cálculo em dentes de um indivíduo do sambaqui Jabuticabeira II (Santa
Catarina, Brasil); b) imagem de um fragmento de cálculo do mesmo indivíduo obtida através de um microscópio
eletrônico de varredura; destaque para os microvestígios entremeados à matriz (Retirada de KUCERA et al. 2011).

Dieta e uso de plantas em sambaquis


Os grupos humanos associados aos sambaquis são hoje tidos como populações de pescadores-
coletores sedentários, com altas densidades demográficas e estrutura social possivelmente mais complexa
do que se admitia anteriormente (DEBLASIS et al. 1998, 2007; GASPAR 1998; LIMA 1999-2000). As
pesquisas dos últimos 20 anos demonstram que a dieta dos sambaquieiros era fortemente baseada em
recursos marinhos, predominando o consumo de peixes, enquanto os moluscos teriam papel secundário na
alimentação, sendo sua principal função a de material de construção dos sambaquis (BANDEIRA, 1992;
FIGUTI 1992; AFONSO e DEBLASIS 1994; DE MASI 1999, 2001; KLÖKLER 2001, 2008; VILLAGRAN et al. 2011;
BASTOS et al. 2014; COLONESE et al. 2014; GASPAR et al. 2014).
Mas qual era a importância das plantas para os sambaquieiros?
A partir dos resultados de análise de isótopos estáveis de colágeno aplicados a indivíduos de
vários sambaquis do Sul (e um do Sudeste) sugeriu-se que as plantas não teriam tanta importância na dieta
destes grupos quanto os recursos animais marinhos (DE MASI 2001; COLONESE et al. 2014). No entanto,
Bastos e colegas (2014), baseados em resultados de isótopos de colágeno e apatita, sugerem que plantas C3
teriam servido ao menos como suplemento na dieta dos sambaquieiros de Forte Marechal Luz (SC).
Embora a apatita seja considerada um bom indicador da dieta total, pois seu carbono deriva de
diferentes componentes dietéticos (carboidratos, proteína e lipídios) os isótopos do colágeno derivam,
primariamente, de proteínas (AMBROSE 1993). Dessa forma, o consumo de plantas é mais facilmente
detectável através da análise de isótopos em apatita (NORR 1995; KATZEMBERG 2001). Por isso, enquanto
uma análise baseada somente em colágeno tende a subestimar a fração vegetal na dieta do grupo
estudado e valorizar a contribuição de proteína animal (AMBROSE 1993; DRUCKER e HENRI-GAMBIER 2005;
BOCHERENS et al. 2005), a análise, em conjunto, das assinaturas isotópicas de colágeno e apatita é muito
importante para a compreensão do consumo de plantas, especialmente em grupos com intenso consumo

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de carne (LEE-THORP et al. 1989; AMBROSE 1993). Mas esse tipo de análise ainda é rara em sambaquis e a
contribuição das plantas na dieta desses grupos permanece muito subestimada.
Sabe-se que os sambaquis localizavam-se em áreas ricas em recursos, não somente faunísticos,
mas também botânicos que, disponíveis durante todo o ano, possibilitavam sustentar assentamentos fixos
e crescimento populacional (GASPAR 1991; LIMA 1999-2000; SCHEEL-YBERT 2001). Propôs-se, inclusive,
que tal abundância de recursos teria favorecido o aumento na complexidade social dos grupos
sambaquieiros, mesmo na ausência de produção de alimento (LIMA 1999-2000).
A questão da subsistência e consumo de plantas já foi investigada por alguns autores a partir da
presença de cerâmica nas camadas superiores de alguns sambaquis. Quando a existência deste tipo de
artefato em contexto arqueológico ainda era diretamente relacionada à prática do cultivo, foi sugerido que
sítios costeiros com cerâmica típica de grupos horticultores Jê do planalto seriam assentamentos de
cultivadores (BECK 1972; CHYMZ 1976; SCHMITZ 1988; LIMA 1999-2000). Pensou-se que alguns destes
sítios poderiam representar a ocupação de sambaquis por grupos produtores de cerâmica que, vindos do
planalto, teriam se adaptado ao litoral, passando a praticar pesca e coleta de moluscos (BECK 1972, 1978;
NEVES et al. 1984). Porém, à parte a presença de cerâmica nas camadas mais recentes de ocupação, estes
sítios “apresentavam ritual funerário e conteúdo faunístico e artefatual semelhantes aos da cultura
sambaquieira” (VILLAGRAN 2012:52). Por isso eles foram interpretados, também, como resultado da
intensificação do contato entre planalto e litoral com adoção da tecnologia cerâmica por parte dos grupos
costeiros sem que tivessem ocorrido mudanças em sua subsistência (BRYAN 1993; LIMA 1999-2000;
VILLAGRAN 2012).
No caso do sambaqui Forte Marechal Luz, resultados baseados em isótopos estáveis indicaram
que os indivíduos analisados nas camadas com cerâmica apresentavam maior consumo de plantas e
animais terrestres do que nas camadas sem cerâmica, apontando para uma diversificação na dieta nos
períodos mais recentes de ocupação deste sítio (BASTOS et al. 2014). Por outro lado, análises de
microvestígios realizadas neste e em outros sítios costeiros de Santa Catarina indicaram que o consumo de
vegetais amiláceos, incluindo espécies domesticadas, se dava independentemente da presença ou ausência
de cerâmica (WESOLOWSKI 2007). De fato, evidências do uso de plantas domesticadas e produção de
alimento por grupos sem cerâmica foram observadas em vários outros contextos americanos (PIPERNO et
al. 2000; IRIARTE et al. 2004; PERRY et al. 2006; DICKAU et al. 2007).
Mas, de modo geral, o que sabemos sobre os sambaquieiros a respeito de consumo e coleta de
plantas, manejo e cultivo, ainda é muito limitado. Em especial porque, até recentemente, os poucos
trabalhos que discutiam uso de recursos vegetais em sambaquis baseavam-se na presença de poucas
sementes e coquinhos queimados em alguns sítios, ou em evidências indiretas como, por exemplo, a
presença de artefatos líticos interpretados como ferramentas para processamento de vegetais (KNEIP 1977,
1994; OLIVEIRA 1991; GASPAR 1998).

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PROVENIENTES DE CÁLCULO DENTÁRIO

Felizmente, esse panorama vem mudando. A Antracologia, através da análise de fragmentos de


madeira, sementes e tubérculos carbonizados, permitiu reconhecer vestígios alimentares e apontar para a
importância do consumo de plantas para estes grupos (SCHEEL-YBERT 2001, 2013; SCHEEL-YBERT et al.
2009; BIANCHINI e SCHEEL-YBERT 2012). Estes estudos, associados a análises bioantropológicas e de
artefatos líticos, permitiram sugerir que o manejo, ou até mesmo o cultivo incipiente de algumas espécies,
podem ter sido praticados em alguns sambaquis do Sul e Sudeste do Brasil (SCHEEL-YBERT et al. 2003,
2009).
Muitas das sementes identificadas pertencem a grupos taxonômicos que produzem frutos
comestíveis (palmeiras, mirtáceas, anonáceas, cucurbitáceas) e foram encontrados, também, órgãos de
reserva de amido de algumas monocotiledôneas, incluindo carás (Dioscorea spp) (SCHEEL-YBERT 2001,
2013; BIANCHINI e SCHEEL-YBERT 2012). É muito importante, portanto, investigar o quanto estas e outras
plantas foram, de fato, utilizadas como alimento, sendo a recuperação de micropartículas botânicas
aderidas ao cálculo dentário um método privilegiado para isso (REINHARD et al. 2001; BOYADJIAN 2007,
2014; BOYADJIAN et al. 2007; WESOLOWSKI 2007; WESOLOWSKI et al. 2010; KUCERA et al. 2011;
BOYADJIAN e EGGERS 2014). Jabuticabeira II é um dos poucos sítios brasileiros em que esse tipo de análise
já foi aplicada.

Jabuticabeira II
O sambaqui Jabuticabeira II (2880±75–1805±65 BP6), um dos mais bem estudados do país, é
interpretado como resultado da construção intencional de um monumento através de rituais funerários
recorrentes e incrementais (DEBLASIS et al. 1998, 2007; FISH et al. 2000). Resultados antracológicos
demonstraram que o sítio estava localizado em região de restinga, ambiente rico em frutos, sementes e
tubérculos comestíveis (SCHEEL-YBERT 2001; SCHEEL-YBERT et al. 2009), e sugeriram que o grupo que o
construiu também pode ter recorrido à mata de encosta para obtenção de madeira (BIANCHINI et al. 2007).
Estudos de zooarqueologia e dados da análise de isótopos de carbono e nitrogênio apontam para
uma dieta rica em recursos marinhos, sendo que pelo menos alguns indivíduos deste sambaqui tinham
consumo mais intenso de itens terrestres (KLÖKLER 2008; COLONESE et al. 2014).
Evidências indiretas, como artefatos cujo uso parece estar relacionado ao processamento de
vegetais, indicam que os recursos botânicos tinham grande importância para o grupo associado a
Jabuticabeira II (SCHEEL-YBERT et al. 2009). A identificação de sementes de famílias de plantas que
produzem frutos comestíveis como Annonaceae (família da fruta do conde), Arecaceae (palmeiras),
Cucurbitaceae (família das abóboras) e Myrtaceae (família da goiaba e da pitanga) no sitio veio reforçar
esta hipótese. Como esses vestígios estavam associadas exclusivamente à área funerária, sugeriu-se que as

6
Lab ID: Az9880 e Az9884 (DEBLASIS et al. 2007). Datação calibrada: 3163–2779 cal BP a 1832–1537 cal BP.

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plantas também eram utilizadas para compor oferendas e/ou eram consumidas em festins fúnebres
(BIANCHINI e SCHEEL-YBERT 2012). Contudo, até recentemente ainda não haviam evidências diretas do
consumo dessas plantas pelos indivíduos associados ao sítio.
O objetivo do presente trabalho é, através de amostras de cálculo dentário provenientes de
indivíduos sepultados em Jabuticabeira II, explorar a questão do consumo de vegetais por este grupo,
ampliando o panorama sobre o uso de plantas em seu cotidiano. Sendo assim, as amostras foram
processadas para recuperação e análise de microvestígios. O foco da pesquisa foi o amido, visto que este
carboidrato está intimamente ligado à nutrição humana (TORRENCE 2006) e é o vestígio mais comumente
reportado em análises de cálculo dentário humano (HENRY e PIPERNO 2008). Foram analisados, também,
fitólitos e diatomáceas para informações complementares sobre dieta.

MATERIAL E MÉTODOS

O sambaqui Jabuticabeira II localiza-se no município de Jaguaruna (699489 / 6835694) e faz parte


de um conjunto de mais de 60 sambaquis situados no entorno da Lagoa do Camacho (Figura 2), no sul de
Santa Catarina (DE BLASIS et al. 2007).

Figura 2: Mapa mostrando a localização dos diversos sambaquis identificados na região do Camacho (Santa
Catarina, Brasil), incluindo o sítio Jabuticabeira II em destaque (adaptado de DEBLASIS et al. 2007).

Ao todo, foram exumados mais de 90 indivíduos deste sitio e eles se encontram no Laboratório de
Antropologia Biológica (IB-USP). Para este estudo, foram selecionados os indivíduos que apresentavam
dados mais completos quanto às características que se pretendia analisar, explicadas mais adiante. Logo,

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foram coletados fragmentos de cálculo de 19 adultos (7 mulheres, 9 homens e 3 cujo sexo não pôde ser
determinado).
Antes de serem coletadas as amostras, os dentes e a superfície dos depósitos de cálculo foram
limpos segundo protocolos estabelecidos para eliminar resíduos de sedimento e evitar contaminação (FOX
et al. 1996; PIPERNO e DILLEHAY, 2008; MICKLEBURGH e PAGÁN-JIMÉNEZ 2012). Fragmentos de cálculo
foram, então, extraídos do dente (um por indivíduo – Tabela 1) com uma cureta odontológica esterilizada e
transferidos para microtubos esterilizados de 2,0ml. As amostras foram submetidas a uma solução de ácido
clorídrico 10% e centrifugadas para a extração dos microvestígios. Após a centrifugação, o sobrenadante de
cada microtubo foi decantado e seguiu-se um processo de enxágue com água destilada (as amostras foram
agitadas, centrifugadas e o sobrenadante descartado) por duas vezes. Por fim, adicionou-se solução de
etanol 90% às amostras, que foram transferidas para pequenos frascos devidamente rotulados (para mais
detalhes sobre o método, vide WESOLOWSKI et al. 2010 e BOYADJIAN 2012).
Para cada indivíduo estudado foram montadas 3 lâminas de microscopia, cada um com 10µL de
amostra e uma gota de glicerol (25%). Optou-se por esta estratégia para se preservar material para estudos
futuros, quando métodos mais acurados para análise e quantificação dos microvestígios do cálculo
estiverem disponíveis. Essas lâminas foram, então, examinadas sob microscópio ótico (aumento de 400x)
com luz polarizada para a detecção e análise das microestruturas.
As micropartículas botânicas foram contadas, medidas, descritas e registradas através de
desenhos e fotografias digitais. Antes da identificação, os grãos de amido foram classificados em
morfotipos de acordo com forma, tamanho e características de superfície, mas também foram levadas em
consideração características relacionadas ao hilo, cruz de extinção, lamelas, fissuras e facetas de pressão
(LENTFER et al. 2002; TORRENCE 2006). Na tentativa de identificar os taxa, quando possível, tanto os grãos
de amido quanto os fitólitos foram comparados à nossa ainda incipiente coleção de referência e a imagens
e descrições disponíveis na literatura especializada (REICHERT 1913; UGENT et al. 1986; PIPERNO E HOLST
1998; PEARSALL 2000; PIPERNO et al. 2000; PERRY 2002; IRIARTE 2003; HORROCKS et al. 2004; PEARSALL et
al., 2004; PERRY 2004; PIPERNO et al. 2004; CHANDLER-EZZEL et al. 2006; FULLAGAR et al. 2006; PIPERNO
2006; TORRENCE E BARTON 2006; KORSTANJE e BABOT 2007; PIPERNO e DILLEHAY 2008; ZARRILLO et al.
2008; HENRY et al. 2009; REVEDIN et al. 2010; MESSNER 2011; MUSAUBACH et al. 2013; PEARSALL 2015).
Com o intuito de investigar processos de preparo de alimentos, como sugerido em outros estudos
de cálculo dentário (BUCKLEY et al. 2014; HENRY et al. 2010), os padrões de danos de grãos de amido
modificados também foram analisados e comparados com aqueles observados em experimentos realizados
em laboratório, bem como aos relatados por outros autores (BABOT 2003, 2006; SAMUEL 2006; HENRY et
al. 2009).
Para verificar variação dietética intragrupo, as assembléias de grãos de amido dos indivíduos
foram comparadas quanto a sexo, classe etária, presença e ausência de patologias (orais e esqueletais) e

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características dos sepultamentos (como acompanhamentos funerários sugestivos de diferença de status,


por exemplo). Os fitólitos não foram incluídos nestas análises, pois essa classe de microvestígios foi menos
expressiva do que os grãos de amido, impossibilitando resultados informativos.
Diatomáceas se revelaram como o terceiro grupo mais comum de micropartículas nas amostras
analisadas e, portanto, embora não sejam microvestígios botânicos, também foram consideradas nesta
análise. Essas estruturas foram contabilizadas, medidas e registradas da mesma forma como foi feito com
os outros microvestígios. Sua identificação foi baseada em estudo realizado por Amaral (2008).

RESULTADOS

Ao todo foram recuperados 133 microvestígios nas amostras de cálculo dentário processadas
nesta pesquisa: 90 grãos de amido, 29 fitólitos e 14 diatomáceas. Outras estruturas também foram
observadas mas, como foram muito raras, não serão tratadas aqui.
Grãos de amido foram recuperados de todas as amostras, com exceção da 113 (Tabela 1). A
amostra 112 apresenta um número de grãos de amido muito superior ao das demais (31 grãos). Fitólitos
foram encontrados nas amostras de 11 indivíduos (58%). As figuras 3 e 4 mostram alguns destes
microvestígios registrados na pesquisa.
Como as análises microarqueobotânicas são recentes no Brasil, o material de referência ainda é
escasso. Em consequência, a maioria dos grãos de amido encontrados aqui ainda não foi identificada. Por
isso, inicialmente foi realizada a verificação da variação e distribuição de morfotipos de amido, de acordo
com prática demonstrada na literatura internacional (BARTON 2006; LENTFER et al. 2002). Foi possível
classificar os grãos de amido em 31 morfotipos (Tabela 1).
A tabela 2 resume os grupos taxonômicos identificados com base tanto em grãos de amidos
quanto em fitólitos. A identificação dos microvestígios que ainda permanece em aberto poderá ser
estabelecida, futuramente, através da ampliação da coleção de referência.
Os grãos de amido danificados representam cerca de 20% do total de grãos observados e foram
encontrados em 60% das amostras de cálculo dentário. Como esses grãos apresentavam danos severos,
perdendo suas características diagnósticas, também não é possível identificar as plantas das quais
provieram.
A maioria desses grãos apresentou perda parcial ou deformação da cruz de extinção e muitos
apresentaram fissuras na superfície ou eram fraturados ou incompletos. Alguns dos grãos modificados
apresentavam hilo aberto e outros apresentavam uma cavidade central com bordas irregulares/projeções
na região do hilo (Figura 3e). Poucos grãos estavam gelatinizados.

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Tabela 1: Número e distribuição das principais classes de microvestígios encontrados nas amostras de cálculo dentário
de Jabuticabeira II.
Idade de Grãos de #
amostra Sepultamento Sexo Fitólitos Diatomáceas
óbito amido morfotipos de amido
105 12A L1.25 ♀ Ad. velho 2 - 5 1, 2, 3
106 12C L1.25 ♂ Ad. jovem 1 - 1 4
107 17A L1.05 ♂ Ad. médio 8 1 2 5, 6
108 34 L2.05 ♀ Ad. jovem - - 3 1, 8c
109 36A L2.05 ♂ Ad. jovem - - 1 -
110 40 L2.05 ♀ Adulto - - 3 23, 30
111 41A L2.05 ♂ Adulto - - 5 10, 11, 27, 31
8b, 8c, 10, 11, 13, 15,
112 43 L1.77 ♂ Ad. médio 1 1 31
19, 25, 28
113 3B L6B3(E3) ♀ Adulto - - - -
114 17A L2.05 ♂ Adulto - - 1 -
115 25A L2.65 ♀ Ad. médio - - 1 -
116 27A L2T15 Indet. Adulto 1 2 4 8d, 10, 11
118 28A L2T15 Indet. Adulto 5 4 2 10, 13
119 42A L1.76 Indet. Ad. médio - 1 6 8b, 8d, 8e, 14
120 102 L1.75 ♀ Adulto 1 - 3 8a, 15
121 108 L2.05 ♀ Ad. médio 1 2 4 8a, 8f, 17, 18
122 107 T18 ♂ Ad. velho 3 2 2 19, 20
8a, 8b, 8c, 8d, 21, 23,
123 110 L2 ♂ Ad. jovem 1 1 13
24
125 115B L6 ♂ Ad. velho 5 - 3 4, 8g, 29
Total - - - 29 14 90 31 morfotipos

Tabela 2: Taxa botânicos identificados das amostras de cálculo dentário do sambaqui Jabuticabeira II.
Identificação taxonômica microvestígios amostras sepultamentos
Araceae (?) Amido 110, 112, 118 40, 43, 28a
Arecaceae Fitólito 107 17aL1.05
Convolvulaceae – Ipomoea batatas Amido 112, 125 43, 115b
Dioscoreaceae – Dioscorea sp Amido 111 41ª
Myrtaceae – cf. Eugenia uniflora Amido 125 115b
Marantaceae – cf. Calathea sp. Amido 107, 112, 121 17aL1.05, 43, 108
Poaceae Amido e fitólito 107, 112, 121,122 17aL1.05, 43, 108,107
Poaceae – cf. Zea mays Amido 110, 112, 120,123 40, 43, 102, 110
Araceae, Marantaceae Amido 105, 108 12a, 34
Órgão de reserva subterrâneo (n.identif.) Amido 107 17aL1.05

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Figura 3: Alguns dos grãos de amido recuperados de amostras de cálculo do sambaqui Jabuticabeira II: a)
consistente com Eugenia sp. (Myrtaceae); b) Ipomoea batatas (batata-doce); c) mais provavelmente de Araceae; d)
Poaceae (semelhante a Zea mays); e-j) grãos não identificados; e) grãos não identificados com cavidade central; i)
grão fraturado; j) grão gelatinizado. Barras de escala: 10µm. As imagens escuras foram registradas sob luz
polarizada. Aumento de 400x.

Diatomáceas foram detectadas em fragmentos de cálculo dentário de oito indivíduos (42% do


total de amostras) e pertenciam a 5 grupos taxonômicos que foram seguramente identificados:
Actinoptychus senarius, Cyclotella striata, Coscinodiscus sp., Diploneis ovalis e Paralia sulcata. A figura 5
mostra imagens de algumas das diatomáceas encontradas em Jabuticabeira II.

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Figura 4: Fitólitos recuperados de amostras de cálculo de Jabuticabeira II: a-d) fitólitos da família das gramíneas
(Poaceae), a) bilobado da subfamília Panicoideae; b) trapezóide longo e ondulado da subfamília Pooideae; c) formato
de sela da subfamília Chloridoideae; d) fitólito cruciforme; e) fitólito esférico espinuloso de Arecaceae (palmeiras); f)
fitólito similar ao morfotipo encontrado no rizoma do gênero Calathea sp. (Marantaceae). Barras de escala: 10µm.
Aumento de 400x.

Figura 5: Diatomáceas encontradas em amostras de cálculo dentário de Jabuticabeira II: a) Actinoptychus senarius;
b) Paralia sulcata; c) Coscinodiscus sp.; d) Diploneis ovalis; e) fragmento não identificado. Barra de escala: 10µm.
Aumento de 400x. Identificação baseada em Amaral (2008).

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DISCUSSÃO

A grande abundância e variedade de grãos de amido, além dos fitólitos e diatomáceas


recuperados dos fragmentos de cálculos dentários coletados, reiteram o potencial do método. Enquanto
grãos de amido foram ubíquos e numerosos, fitólitos foram encontrados apenas em algumas amostras e
seu número era menos expressivo. Este padrão corrobora estudos similares realizados para grupos
culturais distintos de outras partes do mundo (HENRY e PIPERNO 2008; PIPERNO e DILLEHAY 2008; HENRY
et al. 2010; HARDY et al. 2012; MICKLEBURGH e PÁGAN-JIMÉNEZ 2012). Diatomáceas, no entanto,
raramente são reportadas em estudos de conteúdo de cálculo dentário, a exemplo de Dudgeon e Tromp
(2012) que identificaram diatomáceas em amostras da Ilha de Páscoa.

Variedade de plantas exploradas


O grande número e diversidade de morfotipos de amido encontrados (tabela 1) indicam que uma
grande variedade de vegetais amiláceos deve ter sido consumida pelo grupo associado a Jabuticabeira II.
Tal afirmação, no entanto, deve ser observada com cautela, visto que a relação entre a
quantidade e a diversidade de tipos de grãos de amido encontradas no cálculo (ou em qualquer outro
contexto e material arqueológicos) e a variedade de plantas exploradas não é simples e direta (MERCADER
et al. 2008; MICKLEBURGH e PAGÁN-JIMÉNEZ 2012). Além dos fatores relacionados à produção e
conservação dos vestígios, existem fatores específicos aos grãos de amido que podem interferir nas
estimativas do grau de variedade morfológica. Nem toda planta produz grãos de amido diagnósticos e
existe uma “redundância” de formas em diferentes taxa (MERCARDER et al. 2008; HENRY et al. 2010;
MICKLEBURGH e PAGÁN-JIMÉNEZ 2012), o que leva a uma subestimativa da diversidade explorada. Por
outro lado, algumas espécies são heteromórficas (PIPERNO e HOLST 1998; ICSN 2011), o que significa que
produzem diferentes morfotipos de grãos de amido. Os diferentes morfotipos podem ocorrer, tanto em
diferentes órgãos da mesma planta, quanto no mesmo órgão, como no caso do grão (semente) de trigo
(GOTT et al. 2006). Isso, por sua vez, leva à superestimativa.
Apesar dos fatores que podem conduzir a erros de estimativa, pode-se considerar que, em certa
medida, redundância (subestimativa) e multiplicidade (superestimativa) se compensam e que, de fato, uma
alta diversidade de morfotipos pode ser interpretada como alta diversidade de consumo.
Considerando-se, ainda, a rica região em que o sítio estava localizado e os resultados dos estudos
antracológicos para este sambaqui, o grupo não só teve acesso a uma abundância e variedade de recursos,
incluindo muitas espécies botânicas que poderiam servir como alimento, como de fato utilizou muitas
destas espécies (SCHEEL-YBERT 2001, 2013; BIANCHINI e SCHEEL-YBERT 2012). A diversidade de morfotipos
de amido encontrada nos cálculos dentários pode, então, claramente corresponder à exploração de uma
ampla variedade de plantas amiláceas como alimento.

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PROVENIENTES DE CÁLCULO DENTÁRIO

Além dos grãos de amido, também encontramos uma variedade de fitólitos, o que contribui para
a hipótese de que um amplo espectro de plantas pode ter sido explorado como alimento pelo grupo de
Jabuticabeira II.
Mesmo que os mecanismos pelos quais os microrrestos ficam presos na matriz do cálculo ainda
não sejam completamente compreendidos, não se questiona o fato de que a maioria deles derive da
mastigação do alimento. Entretanto, deve-se levar em conta, também, a possibilidade de que pelo menos
algumas das espécies botânicas representadas pelos grãos de amido, e principalmente pelos fitólitos,
tenham tido uso não alimentar, ou seja, tenham sido utilizadas com fins medicinais ou para produção de
artefatos, por exemplo. No segundo caso, os microrrestos poderiam ficar aderidos à matriz do cálculo
acidentalmente, a partir do processamento e manipulação cotidianos de plantas utilizadas como matéria
prima ou diretamente através do uso dos dentes como ferramentas para processar tais plantas (BOYADJIAN
2007; HARDY 2008; BOYADJIAN e EGGERS 2014).
Finalmente, deve-se considerar que a diversidade de morfotipos de amido detectada neste
trabalho possivelmente representa apenas uma parcela das plantas efetivamente consumidas. Muitas
plantas podem ter sido ingeridas sem deixar traços no cálculo. Nem todas as plantas consumidas podem
ser identificadas pela análise de grãos de amido, simplesmente porque nem todos os órgãos vegetais
contém amido. Algumas espécies produzem altas concentrações de óleos e gorduras, ou apresentam outra
forma de reserva de carboidrato, como os frutanos (MESSNER 2011), que não podem ser detectados
através da análise microscópica de vestígios no cálculo dentário. De modo a se reconstruir mais
adequadamente a interação entre plantas e pessoas, sempre que possível, deve-se integrar estudos de
macrovestígios botânicos, de amido, fitólitos, grãos de pólen e outros microvestígios, já que cada um deles
oferece uma linha diferente de evidências (MESSNER 2011).

Plantas utilizadas
A evidência baseada na tentativa de identificação dos grãos de amido e fitólitos através da
comparação com o material de referência e da literatura especializada (Tabela 2) indica que órgãos
subterrâneos de reserva, como tubérculos e raízes tuberosas, constituíam parte da dieta do grupo de
Jabuticabeira II, como previamente sugerido (SCHEEL-YBERT et al. 2003). Entre outros tipos possíveis,
foram observados grãos de carás (gênero Dioscorea) e grãos que podem ser de plantas da família Araceae
(família do inhame e da taioba), grãos consistentes com os de batata-doce (Ipomoea batatas), assim como
fitólitos similares ao tipo encontrado no rizoma de Calathea sp. (ariá), um gênero da família Marantaceae.
A análise de cálculo dentário de grupos provenientes de sambaquis da região norte de Santa Catarina,
datados entre 4300±50 AP e 850±100 BP, também indicou o consumo de plantas destes grupos botânicos,
exceto Calathea sp. (WESOLOWSKI 2007).

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Nas amostras de cálculo de Jabuticabeira II, também foram encontradas evidências de Arecaceae
(palmeiras), Myrtaceae (provavelmente pitanga) e Poaceae (gramíneas). No caso da família Poaceae, foram
encontrados tanto fitólitos quanto grãos de amido, sendo alguns deles possíveis grãos de amido de milho
(Zea mays).
Sementes de Myrtaceae e Arecaceae já haviam sido reportadas no sitio em associação ao ritual
funerário, e foi sugerido o uso de plantas destas famílias em oferendas e/ou seu consumo em festins
fúnebres (BIANCHINI e SCHEEL-YBERT 2012). A presença de vestígios de plantas destes grupos no cálculo
dentário de indivíduos do sítio reforçam a hipótese de consumo, seja ele cotidiano ou como parte do ritual
funerário.
Os fitólitos de Poaceae encontrados em Jabuticabeira II, por sua vez, são típicos de folhas e sua
presença no cálculo pode estar relacionada a uso não alimentar. Dados etnográficos indicam que folhas de
diversas plantas dessa família, incluindo espécies que ocorrem na Mata Atlântica, são utilizadas para o
preparo de infusões, decocções e até sucos com fins medicinais (DI STASI e HIRUMA-LIMA 2002). Durante o
processamento das folhas, fitólitos seriam liberados dos tecidos vegetais e permaneceriam como resíduo
nas preparações. Assim, seriam ingeridos, podendo ficar retidos no cálculo dentário do enfermo.
Além disso, uma grande quantidade de fitólitos de folhas de Poaceae, associados a madeira
carbonizada, foram detectados através de análises micromorfológicas em sedimento de Jabuticabeira II,
podendo indicar que gramíneas secas eram utilizadas para iniciar a combustão de fogueiras no sítio
(VILLAGRAN 2008). Sendo assim, fitólitos de folhas dessas plantas também poderiam ter sido ingeridos
acidentalmente junto com algum alimento preparado diretamente em brasas ou cinzas.
Quanto à possibilidade de consumo de milho em Jabuticabeira II, diversos estudos demonstram
que ele era parte da dieta de grupos de tradição Taquara/Itararé nas Terras Altas do Sul do Brasil no
Holoceno tardio (MILLER 1971; DE MASI 1999, 2007; BEHLING et al. 2005), e existe evidência de que já era
utilizado há cerca de 4000 anos no Uruguai (IRIARTE et al. 2004). Evidências arqueológicas indicam que o
milho estava sendo cultivado no Brasil, em Minas Gerais, ao menos desde de 4500 anos AP (PROUS 1992). E
estudos isotópicos sugerem que seu uso pode ter sido intensificado no litoral de Santa Catarina por tribos
Guarani aproximadamente 1000 anos antes do presente (DE MASI 2003). Parece bem estabelecido, então,
que no período de ocupação do sítio Jabuticabeira II, entre 3000 e 1000 anos atrás, o milho já era usado
como alimento na região, pelo menos por outros grupos.
Note, no entanto, que grãos de amido sugestivos de milho também foram encontrados em
amostras de cálculo de outros dois sambaquis da costa sul do país, Itacoara e Enseada (WESOLOWSKI et al.
2010). Amostras de cálculo destes mesmos sítios revelaram, também, grãos de amido e fitólitos de
sementes de pinhão (Araucaria angustifolia), espécie que ocorre somente nas terras altas do sul e durante
o inverno, o que permitiu sustentar a hipótese de contato sazonal entre grupos de sambaquis e populações
interioranas no sul (WESOLOWSKI et al. 2010). Pode-se supor, portanto, que a presença de vestígios de

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DIETA NO SAMBAQUI JABUTICABEIRA-II (SC): CONSUMO DE PLANTAS REVELADO POR MICROVESTÍGIOS
PROVENIENTES DE CÁLCULO DENTÁRIO

milho em Jabuticabeira II também esteja relacionada a trocas com grupos do interior, o que teria permitido
a obtenção deste alimento fortemente associado a sistemas agrícolas ou horticultores.
Contudo, não se pode descartar a possibilidade de que o milho fosse cultivado pelo próprio
grupo. Embora a evidência de consumo de milho, por si mesma, não indique que o milho era cultivado, se
levarmos em conta que os dados obtidos também indicam o consumo de outras plantas domesticadas,
além de plantas selvagens, existe a possibilidade de que alguma forma de cultivo, possivelmente a
horticultura7, tenha sido praticada pelos sambaquieiros de Jabuticabeira II.
Desse modo, a ampla variedade de recursos vegetais consumidos, representada pela variedade de
morfotipos já discutida anteriormente, pode não estar associada unicamente à coleta de recursos
diversificados por um grupo com acesso a ecossistemas ricos (como a restinga ou a mata atlântica), mas
sim derivar da associação da coleta com o cultivo de espécies diversificadas. Esta hipótese, no entanto,
precisa ser investigada com mais cautela através da continuação destes estudos e de outros indicadores.

Preparo do alimento
A análise do padrão de dano dos grãos de amido modificados indica processamento do alimento
antes do consumo. Embora não se possa descartar a possibilidade de que alguns dos grãos danificados
sejam resultado de modificação diagenética, como apontado por Collins e Copeland (2011), já que existem
muitos fatores que causam a degradação de grãos de amido em solos e em sedimentos arqueológicos
(HASLAM 2004), deve-se levar em consideração que os grãos de amido aqui analisados estavam
entremeados à matriz do cálculo e, portanto, protegidos em algum grau contra tais fatores (HARDY et al.
2009).
Os danos observados em alguns grãos, que são consistentes com aqueles oriundos de pressão
(fissuras e rachaduras na superfície, grãos fraturados ou incompletos), somado aos tipos de artefatos líticos
que foram encontrados no sítio (SCHEEL-YBERT et al. 2009), são evidências que indicam que o grupo
estudado processava mecanicamente, através de moagem ou maceração, órgãos vegetais amiláceos para o
consumo.
Também, alguns dos grãos danificados apresentaram alteração na birrefringência e,
principalmente, uma cavidade central com bordas irregulares na região do hilo (Figura 3e). Este tipo de
modificação foi relatado por Babot (2006) como sendo resultante da produção tradicional de farinha nos
Andes. O processo da produção desta farinha consiste no preparo de milho através de cozimento a seco
(assando-o diretamente em brasas ou cinzas ainda quentes) seguido de atrito mecânico (moagem). O

7
O termo horticultura utilizado neste trabalho se refere ao cultivo em pequena escala de espécies selvagens e
domesticadas próximo à região de assentamento (PIPERNO e PEARSALL 1998), em jardins ou hortas, por exemplo.

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padrão de dano observado em alguns grãos desta pesquisa pode indicar, então, que tenha ocorrido o
preparo de algumas plantas de forma semelhante em Jabuticabeira II.
O padrão de dano observado em muitos dos grãos danificados indicam que tubérculos, raízes e
outros órgãos vegetais amiláceos eram assados diretamente sobre brasas a céu aberto. A presença de
fitólitos de gramíneas relatada anteriormente (se for considerado que podem ter origem em folhas
utilizadas para iniciar a combustão de fogueiras) e a presença de fragmentos escuros (microcarvões)
observada em amostras de cálculo de um estudo anterior (BOYADJIAN e EGGERS 2014) apóiam esta
hipótese. Tais evidências também podem indicar o preparo do alimento em contato direto com o solo e
carvão em fornos escavados como sugerido para outros sambaquieiros do Sul a partir da observação de
areia e fragmentos escuros em cálculo dentário (WESOLOWSKI 2007).
Outros métodos de preparo de vegetais para o consumo incluem o seu cozimento em meio
líquido (fervura), que causa a gelatinização dos grãos de amido (BABOT 2006; HARDY et al. 2009).
Entretanto, nas amostras de Jabuticabeira II foram observados muito poucos grãos com sinais de
gelatinização, o que pode indicar que essa não era uma prática comum para o grupo. Além disso, mesmo o
preparo através de calor a seco pode provocar o aparecimento destas características semelhantes à
gelatinização em alguns grãos de amido devido à água existente no próprio alimento (RADLEY apud BABOT
2003).
A recuperação e análise de microvestígios da superfície dos artefatos líticos supostamente
utilizados para o processamento de vegetais, assim como a reprodução experimental, são os próximos
passos necessários para explorar melhor a natureza do preparo dos alimentos, tanto em Jabuticabeira II
quanto em outros sambaquis.

Variação dietética intragrupo


O número e distribuição de grãos de amido variou consideravelmente entre os indivíduos aqui
estudados (Tabela 1). Isto sugere que, mesmo que o grupo como um todo explorasse uma grande
variedade de alimentos amiláceos, a evidência para cada indivíduo compreende uma porção pequena e
variável do que estava disponível.
Estudos semelhantes também registraram diferenças na quantidade e tipos de grãos de amido
entre dentes de indivíduos do mesmo sitio arqueológico e, até mesmo, do mesmo indivíduo (BOYADJIAN et
al. 2007; HENRY e PIPERNO 2008; HENRY et al. 2010; BOYADJIAN e EGGERS 2014). Isto pode estar
relacionado à própria taxa de deposição de minerais na placa bacteriana durante a formação do cálculo
dentário, que sofre influência de muitas variáveis, podendo inclusive diferir entre indivíduos do mesmo
grupo (HAZEN 1995; LIEVERSE 1999; HENRY e PIPERNO 2008; MICKLEBURGH e PAGÁN-JIMÉNEZ 2012).
Contudo, muitas questões a respeito do mecanismo de formação do cálculo ainda permanecem
incompreendidas.

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PROVENIENTES DE CÁLCULO DENTÁRIO

Cabe lembrar que os grãos de amido entremeados à matriz do cálculo não refletem de maneira
simples o espectro de plantas consumidas por um indivíduo (MICKLEBURG e PAGÁN-JIMÉNEZ 2012). Por
um lado, o consumo de uma planta não garante, necessariamente, que seus grãos de amido ficarão retidos
no cálculo, embora o consumo frequente da mesma planta aumente as chances disso acontecer. Por outro
lado, deve-se considerar que há diferenças na produção de amido em diferentes grupos taxonômicos e em
diferentes órgãos vegetais. Desse modo, ainda é difícil (e até mesmo especulativo), estimar a frequência de
consumo de cada planta com base no seu registro no cálculo dentário de um indivíduo (MICKLEBURGH e
PAGÁN-JIMÉNEZ 2012).
Apesar de ser complicado inferir o montante e a variedade de alimentos vegetais consumidos por
indivíduos isolados através da análise de microrrestos botânicos do cálculo, a avaliação das amostras de
todos os indivíduos em conjunto permite uma aproximação do espectro de plantas consumidas pelo grupo
como um todo. Da mesma forma, é possível modelar características paleodietéticas de subgrupos
populacionais da mesma comunidade, como foi realizado aqui.
As assembléias de microrrestos dos indivíduos de Jabuticabeira II foram comparadas quanto a
sexo, idade de óbito, patologias orais, paleopatologias e características dos sepultamentos (os dados
completos encontram-se em BOYADJIAN 2012). Contudo, não foram encontradas diferenças, sugerindo
que não havia diferença no acesso aos recursos alimentares botânicos entre tais subgrupos. Porém, dentre
os 19 indivíduos estudados destaca-se o adulto do sepultamento 43 (amostra 112). Esse indivíduo é
peculiar, pois além de apresentar o maior número e variedade de morfotipos de amido, apresenta
características que parecem distingui-lo dos demais: exostose auditiva bilateral, grande robustez e estava
adornado com um singular colar de conchas. Tais características poderiam indicar que essa pessoa era
proveniente de outro grupo?
Colonese e colaboradores (2014), através da análise de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio,
detectaram variabilidade dietética entre os indivíduos de Jabuticabeira II. Estes resultados revelaram alguns
poucos indivíduos com maior consumo de proteína C3 terrestre, enquanto o resto do grupo tinha uma
alimentação rica em recursos marinhos, mas isso parece não estar relacionado a sexo ou idade. Os autores
sugerem que as pessoas com dieta diferenciada poderiam não ser locais, tendo sido incorporados ao grupo,
como já foi demonstrado para outro sambaqui de Santa Catarina, através da análise isótopos de estrôncio
(BASTOS et al. 2011). A análise deste isótopo poderia também trazer luz a esta questão em Jabuticabeira II.
Foi proposto, também, que a variação dietética detectada através da análise isotópica poderia ser
resultado de restrições alimentares impostas a apenas alguns indivíduos (COLONESE et al. 2014). Seguindo
essa linha de pensamento, pode-se sugerir, inversamente, que o indivíduo do sepultamento 43 gozava de
um status especial no grupo, o qual garantiria acesso distinto a recursos alimentares vegetais.
Inicialmente, sugeriu-se que a existência de um sistema social caracterizado pela desigualdade e
baseado na hierarquia, a exemplo de um sistema do tipo cacicado, poderia ter impulsionado as estratégias

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associadas, principalmente, à construção dos sambaquis da região do Camacho, região em que se encontra
Jabuticabeira II (DEBLASIS et al. 2007; DEBLASIS E GASPAR 2009). De acordo com essa idéia, “diferenças nas
dimensões dos sambaquis, em associação a sua distribuição regional” poderiam refletir “assimetrias
demográficas, ou então um padrão de hierarquização social ou política” (DEBLASIS et al. 2007). Apesar de
raros, sepultamentos mais elaborados e diferenciados foram encontrados em alguns sambaquis (HURT
1974; PROUS 1992), indicando que alguns indivíduos poderiam ter sido, sim, mais importantes que outros
(DEBLASIS et al. 2007).
Entretanto, a falta de evidências claras de desigualdade social e de variações relacionadas a sexo
ou idade nos sepultamentos de Jabuticabeira II, associados a outros fatores, conduziram DeBlasis e
colaboradores (2007) a propor a existência de um sistema social heterárquico e relativamente homogêneo
para os sambaquis registrados ao redor da lagoa do Camacho (incluindo o sítio Jabuticabeira II).
Os resultados obtidos para a análise de cálculo parecem não apontar para desigualdade no
consumo de recursos botânicos entre a maioria dos indivíduos estudados do sítio. Sugere-se, assim, que
não haviam subgrupos regulados por questões sociais, políticas ou econômicas; ou, se tais regulações
existiam, que elas não são identificáveis através de diferenças na evidência para dieta amilácea. Porém,
como os resultados ainda são preliminares e o tamanho amostral é pequeno, essas hipóteses devem ser
observadas com cautela e precisam ser investigadas mais a fundo.

Diatomáceas
A análise das diatomáceas pode ser extremamente útil para reconstruções paleoambientais. Estas
algas são encontradas em uma gama de ambientes diferentes, tem ampla distribuição geográfica e muitas
espécies são ecologicamente sensíveis, ocupando nichos específicos (MANN e DROOP 1996; STOERMER e
SMOL 2001; AMARAL 2008).
A carapaça silicosa destes organismos (frústula) é utilizada para determinação taxonômica
(COLLINS e KALINSKY 1977; STOERMER e SMOL 2001) e se preserva bem em sedimentos (YBERT et al.
2003), assim como na matriz do cálculo dentário (BOYADJIAN et al. 2007; GOBETZ e BOZARTH 2001;
DUDGEON e TROMP 2012). As diatomáceas presentes neste tipo de material fornecem informações
complementares interessantes sobre os recursos utilizados pelos grupos estudados, como demonstraram
Dudgeon e Tromp (2012), que detectaram grupos taxonômicos de água doce em amostras de cálculo de
Rapa Nui, sugerindo uso de diferentes fontes de água potável.
As diatomáceas observadas em Jabuticabeira II podem habitar o ambiente marinho, mas são
encontradas, principalmente, em água salobra. Isso significa que são comuns no ambiente estuarino (Paula
Amaral, comunicação pessoal), que caracterizou a região desde o Holoceno Médio (KNEIP 2004; DEBLASIS
et al. 2007) e no qual Jabuticabeira II está localizado. Assumindo que as diatomáceas foram ingeridas junto
com o alimento, o que parece razoável, estes dados corroboram os achados zooarqueológicos e de

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isótopos estáveis que indicam que os recursos aquáticos provinham da paleolaguna e da região litorânea
próxima ao sitio (KLÖKLER 2008), não do mar aberto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido à natureza exploratória deste estudo, muitos dos resultados apresentados aqui são
preliminares e muitas questões ainda permanecem abertas. Por enquanto, não foi possível identificar
muitos dos grãos de amido e fitólitos recuperados, o que, espera-se, seja resolvido através da expansão da
coleção de referência de espécies da região estudada. Isso não só permitirá ampliar o número de
microvestígios identificados, como promoverá maior grau de confiabilidade na sua determinação
taxonômica.
Por enquanto, os dados obtidos indicam que um amplo espectro de recursos botânicos era
utilizado como alimento pelo grupo de Jabuticabeira II. Alguns deles provinham de plantas com órgão de
reserva subterrâneos, como Araceae (família do inhame), Convolvulaceae (batata-doce), Dioscoreaceae
(carás) e Maranthaceae (ariá). Outros provinham de plantas produtoras de frutos ou sementes comestíveis,
como Arecaceae (palmeiras), Myrtaceae (provavelmente pitanga) e Poaceae (incluindo milho). A presença
dos vestígios de gramíneas também pode estar relacionada a uso não alimentar de plantas desta família.
Sugere-se, ainda, que a variedade de plantas consumidas pelo grupo era obtida tanto pela coleta de
recursos botânicos quanto, possivelmente, pelo cultivo de espécies domesticadas e selvagens em pequena
escala.
Além disso, as diatomáceas encontradas confirmam que os recursos aquáticos explorados
provinham do ambiente estuarino no entorno do sitio, e não do mar aberto.
Os dados apresentado aqui permitem propor que os sambaquieiros de Jabuticabeira II viviam em
um sistema de economia mista, onde a pesca e coleta de recursos da paleolaguna, a coleta de recursos
vegetais da restinga e da mata atlântica somados ao cultivo na forma de horticultura forneciam a sua
nutrição diária. Também é aventada a possibilidade de trocas com grupos do planalto, através das quais o
milho pode ter sido obtido.
O alimento vegetal era preparado através de processos como maceração ou moagem e do
cozimento sobre brasas ou cinzas ainda quentes ou em fornos escavados.
Aparentemente, não havia acesso diferenciado aos alimentos amiláceos no grupo estudado, visto
que não foi possível explicar, através de diferenças de sexo, idade, presença ou ausência de patologias ou
características dos sepultamentos, a variação das assembleias de grãos de amido detectadas.
Através deste estudo, o conhecimento sobre diversos aspectos a respeito do uso de plantas na
dieta dos sambaquieiros de Jabuticabeira II começa a tomar forma. Com o desenvolvimento do método e

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avanços no conhecimento sobre conteúdo de cálculo dentário, num futuro próximo, essa investigação
poderá ser expandida e diversas questões poderão ser melhor esclarecidas.
Ainda assim, os resultados desta pesquisa representam uma valiosa contribuição para a
Arqueobotânica brasileira, pois reafirmam a importância das plantas no cotidiano do grupo de
Jabuticabeira II, indicam que uma grande diversidade de plantas era consumida e oferecem indícios de
como o alimento era preparado, além de permitir aventar a possibilidade da prática de horticultura por
grupos sambaquieiros.

Agradecimentos
Somos extremamente gratos ao Prof. Dr. Paulo De Blasis e sua equipe (MAE-USP), responsável
pelo projeto arqueológico que recuperou os esqueletos analisados. Gostaríamos de agradecer, também, a
Profa. Dra. Veronica Wesolowski, pela ajuda inicial com a pesquisa e as professoras Karol Chandler-Ezell
(Stephen F. Austin State University), Linda Perry (The Foundation for Archaeobotanical Research in
Microfossils) e Paula Amaral (IO-USP), pelo auxilio com a classificação e identificação dos microvestígios.
Estendemos os agradecimentos ao Dr. Rodrigo Elias (LEEH-IBUSP) e Dra. Ximena Villagran (MAE-USP), pelo
auxilio direto com a pesquisa, e à equipe do Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem (Museu Nacional –
UFRJ) e a Luis Pezo (IB-USP), pelo auxilio com as plantas da coleção de referência. Essa pesquisa teve apoio
financeiro de: FAPESP (processo n. 2008/53351-7), CAPES (BEX 1279/09-2) e CNPq (processo
n.151120/2014-5).

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Recebido em:20/04/2016
Aprovado em:16/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
ANÁLISES DE GRÃOS DE AMIDO E FITÓLITOS NAS TERRAS ALTAS DO SUL DO BRASIL:
REPENSANDO A ECONOMIA E MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS
STARCH GRAINS AND PHYTOLITHS ANALYSIS IN THE HIGHLANDS OF SOUTHERN
BRAZIL: RETHINKING THE ECONOMY AND MOBILITY OF THE SOUTHERN PROTO-JÊ
PEOPLE

Rafael Corteletti
Ruth Dickau
Paulo DeBlasis
Jose Iriarte

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Análises de grãos de amido e fitólitos nas terras altas do sul do Brasil: repensando a
economia e mobilidade dos grupos proto-Jê meridionais

Rafael Corteletti1*
Ruth Dickau2*
Paulo DeBlasis1*
Jose Iriarte2*

Resumo: Este artigo apresenta os resultados das analises de grãos de amido e de fitólito de 14 fragmentos
cerâmicos recuperados em duas estruturas de cocção domésticas de uma casa semissubterânea dos proto-
Jê Meridionais no sítio Bonin (Urubici, Santa Catarina) que datam entre os anos 1280 e 1420 cal. AD e 1280 e
1400 cal. AD. A inédita aplicação de técnicas para estudos de microvestígios botânicos nesta região revelou,
pela primeira vez, o consumo da mandioca (Manihot esculenta), feijão (Phaseolus sp.), e, possivelmente,
cará (cf. Dioscorea sp.) além de milho (Zea mays) e abóbora (Cucurbita sp.). Estes resultados mostram que os
proto-Jê meridionais tiveram uma economia de subsistência baseada em uma ampla gama de alimentos de
origem vegetal e praticavam a produção de alimentos mais de um século antes da conquista européia. Ao
contrário dos modelos tradicionais sobre a mobilidade proto-Jê meridional, nossos dados sugerem que a
produção de alimentos pode ter permitido que estas populações permanecessem o ano inteiro no planalto
sul brasileiro, sem a necessidade de realizar movimentos sazonais para a encosta e para o litoral afim de
adquirir a maior parte dos recursos alimentares. Nossos dados complementam evidências arqueológicas que
apontam para o sedentarismo e a emergênica da complexidade social entre grupos proto-Jê do sul, incluindo
a construção de grandes e bem planejadas aldeias de casas semissubterrâneas, e a criação de uma paisagem
altamente estruturada no entorno de estruturas funerárias.

Palavras-chave: Análise de Grãos de Amido, Análise de Fitólitos, Economia de Subsistência Mista, Tradição
Taquara-Itararé, Proto-Jê Meridional, Horticultura, Sedentarismo.

Abstract: This article presents the results of starch grain and phytolith residue analyses from 14 ceramic
fragments recovered in two domestic cooking structures from a southern proto-Jê pit house at the Bonin site
(Urubici, Santa Catarina state, southern Brazil) dating to 1280 and 1420 cal. yr. AD and 1280 and 1400 cal. yr.
AD. The novel application of plant microfossil techniques in this region revealed, for the first time, the
consumption of manioc (Manihot esculenta), beans (Phaseolus sp.), and possibly yams (cf. Dioscorea sp.) in
addition to maize (Zea mays) and squash (Cucurbita sp.). These findings show that southern proto-Jê people
had a subsistence economy based on a broad range of plant foods and practiced food production more than
one century before European Conquest. Contrary to traditional models of southern proto-Jê mobility, our
data suggest that food production may have allowed populations to settle in the southern Brazilian highland
plateau year round without the need to carry out seasonal movements to escarpment and coast to acquire
the most part of food resources. Our data complement archaeological evidence for sedentism and social
complexity among southern proto-Jê groups, including the construction of large, well-planned pit-house
villages, and the creation of a highly structured landscape revolving around funerary structures.

Keywords: Starch Grain Analysis, Phytolith Analysis, Mixed Subsistence Economy, Taquara-Itararé Tradition,
Southern Proto-Jê, Horticulture, Sedentism.

1 Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo (MAE/USP), Brasil.


2Department of Archaeology, University of Exeter, Inglaterra.
* Contatos: [email protected] (R. Corteletti), [email protected] (R. Dickau), [email protected] (P. DeBlasis), [email protected] (J. Iriarte).
RAFAEL CORTELETTI, RUTH DICKAU, PAULO DEBLASIS E JOSE IRIARTE

INTRODUÇÃO

A pesquisa sobre o surgimento de sociedades complexas na América do Sul, foi tradicionalmente


concentrada no litoral e vales das montanhas andinas (BURGER 1992; MOSELEY, 2001; SOLÍS et al. 2001) e,
mais recentemente nas florestas de várzea e savanas da Amazônia (HECKENBERGER e NEVES 2009; MCKEY
et al. 2010; REDMOND e SPENCER 2007; SCHAAN 2012). Historicamente visto como uma área marginal em
relação a emergência de complexidades sociais, a Bacia do Prata no sudeste da América do Sul e sua zona do
litoral Atlântico adjacente é uma grande área pouco explorada e que está revelando uma sequência inicial de
trajetórias culturais únicas e complexas (BONOMO et al 2011, 2014; COPÉ 2006b; DEBLASIS et al. 1998, 2007,
2014; IRIARTE et al. 2004, 2013; LIMA e MAZZ 2000; OLIVEIRA 2004; STAHL 2004). Passando por grandes
zonas de diversidade ecológica e complexidade cultural, esta grande rede hidrográfica constitui um enclave
geográfico em que as grandes tradições culturais convergiram e interagiram durante a época pré-colonial
(DILLEHAY 1993; IRIARTE et al. 2008; NOELLI 2000; OTTONELLO e LORANDI 1987; SOUZA et al 2016).
O surgimento dos grupos proto-Jê meridionais durante o Holoceno Tardio na região montanhosa
do sul do Brasil e interior da floresta Atlântica é um desses exemplos. Datado do século I aC, esses grupos
ocuparam um vasto e ecologicamente diverso território que se estendia desde a costa do Atlântico até o Rio
Paraná, abrangendo os estados brasileiros de São Paulo (SP), Mato Grosso do Sul (MS), Paraná (PR), Santa
Catarina (SC), Rio Grande do Sul (RS), bem como a argentina província de Misiones (BEBER 2005; NOELLI
2004) (Figura 1A). Trabalhos arqueológicos recentes nas regiões de Pinhal da Serra, RS (COPÉ 2006b; IRIARTE
et al. 2013), São José do Cerrito, SC (SCHMITZ et al 2013) e Urubici, SC (CORTELETTI 2010, 2012, 2013)
sugerem a construção de uma paisagem altamente estruturada, onde comunidades locais foram organizadas
em torno de complexos cerimoniais compostos de recintos construídos em terra (aterros anelares) com
diferentes formas geométricas circundando montículos funerários e associadas com amplas e bem
planejadas aldeias de casas semissubterrâneas, sítios a céu aberto e de arte rupestre. Tais estruturas
funerárias/cerimoniais foram posicionadas em locais cuidadosamente escolhidos; apresentando recorrentes
oposições pareadas e potenciais alinhamentos ao longo de várias bacias de visibilidade em nível regional. O
mapeamento topográfico detalhado dos assentamentos de casas semissubterrâneas também sugere que
estes são bem planejados, com evidências de terraceamento, rotas internas de deslocamento e
alinhamentos particulares com outros aterros anelares ou montículos (COPÉ 2006a, 2006b; IRIARTE et al.
2008, 2013; SALDANHA 2005).
Apesar dos avanços nos estudos regionais, ainda sabemos muito pouco sobre a economia de
subsistência desses grupos, especialmente o componente vegetal de sua dieta. Poucos projetos têm aplicado
sistematicamente técnicas de recuperação arqueobotânica, resultando em uma escassez de dados primários
necessários para fornecer evidências diretas do uso de plantas. Como resultado, as interações humanos-

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ANALISES DE GRÃOS DE AMIDO E FITÓLITOS NAS TERRAS ALTAS DO SUL DO BRASIL: REPENSANDO A ECONOMIA E
MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS.

plantas-paisagem permaneceram em grande parte inferenciais, e muitos arqueólogos que trabalham na área
(por exemplo, SCHMITZ e BECKER 1991) alargaram a visão histórica, profundamente transformada, para
muito adentro do período pré-colonial. Essa percepção foi reforçada pela caracterização das terras baixas da
América do Sul como marginal ou periférica (MEGGERS e EVANS 1978; STEWARD 1946; STEWARD e FARON
1959), um local para versões deficientes de culturas mais "complexas" que existiam mais perto de centros de
civilização nos Andes. Os modelos tradicionais sustentam a hipótese de que os grupos proto-Jê do sul eram
sociedades de caçadores-coletores-pescadores sazonalmente móveis, que se deslocavam através de
ambientes diferentes durante o ciclo anual (LAVINA 1994; SCHMITZ e BECKER 1991), e que também
praticavam incipiente horticultura de coivara na primavera (SCHMITZ e BECKER 1991). Com base em dados
de escavação, mapas regionais de distribuição local, e informações etnográficas sobre os sistemas
econômicos, sociais e políticos dos Kaingang (SCHMITZ e BECKER 1991) e Xokleng (LAVINA 1994) no século
19 e início do século 20, tais modelos pressupõem a exploração de territórios e recursos estáticos específicos
para cada zona ecológica, que são consumidos exclusivamente em um determinado período do ano. Durante
o outono e o inverno (março a setembro) eles viveriam nas terras altas coletando pinhão (semente da
Araucaria angustifolia) e caçando; durante a primavera e o verão (outubro a abril) eles se mudariam para a
encosta da Serra Geral para realizar pequenos cultivos e um pouco mais além, para a zona litorânea, para
pescar.
No entanto, há evidências sugerindo que a produção de alimentos teve um papel maior na
economia dos grupos proto-Jê meridionais do que anteriormente considerado, o que, consequentemente,
teria permitido uma maior permanência nos assentamentos. Por exemplo, análises de isótopos de carbono
em resíduos carbonizados de vasos de cerâmica que datam entre os anos 2310 e 2230 cal. aC, 430 e 620 cal.
AD e 1280 e 1400 cal. AD (DEMASI 2007), e ossos humanos que datam entre os anos 645 e 680 cal. AD e 680
e 781 cal. AD (DEMASI 2001), mostram uma forte assinatura C4, consistente com a preparação e o consumo
do milho (Zea mays) (DEMASI 2007 2009). Espigas de milho e sementes de abóbora (Cucurbita sp.),
associadas a contextos funerários com material carbonizado com data entre os anos 1266 e 1409 cal. AD,
foram recuperadas no Abrigo do Matemático, Bom Jesus, RS (MILLER 1971). A partir de resíduos
carbonizados encontrados em vasos de cerâmica, foram recuperados fitólitos de espiga de milho no sítio
PM01, na província de Misiones, Argentina, datada entre os anos 1270 e 1470 cal. AD (IRIARTE et al. 2008).
Neste artigo, apresentamos as análises arqueobotânicas de resíduos de 14 fragmentos cerâmicos
encontrados em duas estruturas de cocção (doravante EC) de uma casa semissubterrânea dos proto-Jê
meridionais escavada no Sítio Bonin, em Urubici, planalto de Santa Catarina, e datadas entre os anos 1280 e
1420 cal. AD e 1280 e 1400 cal. AD. Nossa assembleia de dados indicou, pela primeira vez, o consumo de
mandioca (Manihot esculenta), feijão (Phaseolus sp.) e, possivelmente, cará (cf. Dioscorea sp.) e confirmou o
uso de milho e abóbora num contexto doméstico bem datado para sítios arqueológicos proto-Jê meridional

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localizado no planalto. Estes resultados, além das pesquisas recentes, mostram que os cultivos eram mais
importantes na dieta desses grupos do que considerado anteriormente, e esta evidência, junto com outros
correlatos arqueológicos (por exemplo, a arquitetura funerária monumental ou as aldeias de casas
semissubterrâneas), sugere que estas populações podem ter sido mais sedentárias do que anteriormente
inferido pelos modelos tradicionais. Argumentamos que por volta do século XIV, os grupos Jê do sul estavam
fazendo uso de uma economia mista, envolvendo o cultivo de uma diversidade de culturas em conjunto com
a caça, a pesca e a coleta de recursos silvestres (em particular, o pinhão), que teve o potencial para reduzir a
sua necessidade de mobilidade sazonal para encosta e para o litoral Atlântico e pode ter permitido a
permanência durante todo o ano no planalto.

CONTEXTO ARQUEOLÓGICO: AS TERRAS ALTAS DE URUBICI E O SÍTIO BONIN

A Tradição Taquara-Itararé e os povos proto-Jê Meridionais


Os proto-Jê Meridionais são amplamente identificados por uma cultura material compartilhada,
conhecida como tradição Taquara-Itararé, e por diferentes tipos de sítios arqueológicos diagnóstico (ver
BEBER 2005; IRIARTE et al. 2013; SILVA 2001 para mais detalhes). O prefixo proto é aqui utilizado para
englobar nessa tradição todos os ancestrais dos atuais grupos Jê do Sul, incluindo nesse bojo também os
falantes de línguas Jê meridionais extintas, como os Ingain e os Kimdá (conforme JOLKESKY 2010). O material
arqueológico desta tradição foi identificado desde cerca de 300 anos aC e está espalhada em diferentes
zonas ecológicas muito próximas e muito diferentes em função da variação de altitude, especialmente no
setor leste do planalto sul brasileiro (Fig. 1A). No estado de Santa Catarina, em especial, a zona do litoral
Atlântico caracteriza-se por um complexo de lagoas do Quaternário, dunas e praias. Mais para o interior, a
escarpa da Serra Geral (0-700 m de altitude) é dissecada por vales dominados pela Mata Atlântica, um dos
hotspots de biodiversidade do planeta (MITTERMEIER et al. 1999). O planalto (700-1850 m de altitude) é
dominado pela Floresta Ombrófila Mista e pelos Campos de Cima da Serra. Ainda mais a oeste, a elevação
diminui nas bacias do Paraná-Uruguai (150 m de altitude), caracterizada pela ocorrência da Floresta
Ombrófila Semidecídua (Fig. 1B). Estudos linguísticos (MAYBURY-LEWIS 1979; URBAN 1992; WIESEMANN
1978) apoiados por alguns dados arqueológicos (ARAÚJO 2001, 2007; NOELLI 2000, 2004) indicam que os
portadores dos objetos desta tradição migraram desde o Brasil Central até o sul durante o Holoceno tardio.
Os povos proto-Jê do sul são amplamente identificados arqueologicamente pela cerâmica
característica, pela construção de estruturas semissubterrâneas, pelos sítios a céu aberto, pelos enterros
coletivos em grutas, pela arte rupestre e pelos complexos funerários com aterros anelares e montículos. A
cerâmica é caracterizada por vasos simples, com paredes finas, de tamanho variando de pequeno a médio.

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Eles são geralmente temperados com areia e grãos de hematita dentro de uma pasta homogênea, e ateados
ao fogo em uma atmosfera de redução. A decoração inclui vários tipos de incisão, pontuação, bem como
impressões de unha e de cestaria (BEBER 2005).

Figura 1: A. Mapa parcial da América do Sul, com destaque para a região arqueológica da tradição Taquara-Itararé; B.
Mapa topográfico de Santa Catarina e a localização da região de Urubici; C. Mapa ilustrando o padrão de assentamento
na região de Urubici, ao longo do alto Rio Canoas; D. Detalhe monstrando o padrão de assentamento e a localização do
Sítio Bonin no vale.

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As aldeias de casas subterrâneas são construídas em solos lateríticos e em basalto decomposto.


Elas são geralmente encontradas acima dos 400 m de altitude, com a maioria ocorrendo entre 600 e 1200 m
de altitude, e normalmente estão associadas a moderna distribuição da floresta de araucária. Estas
estruturas semissubterrâneas são geralmente localizadas nas encostas mais elevadas do cumes de
interflúvios perto de pequenos riachos. Os diâmetros variam entre 2 m e 20 m, mas a maioria não excede 5
m. A organização dos assentamentos é variável: as estruturas podem ser encontradas isoladas ou em aldeias
contendo mais de uma centena de unidades (SCHMITZ et al. 2010). Mas sem dúvida esses assentamentos
são locais de habitação, contendo os vestígios de atividades diárias tais como: fogueiras, buracos de poste,
fragmentos de cerâmica, peças líticas e pinhão carbonizados (BEBER 2005; COPÉ 2006a; CORTELETTI 2008,
2012; RIBEIRO 2000; SCHMITZ et al. 1988).
Muitas regiões do planalto sul brasileiro também exibem sepultamentos coletivos em grutas.
Alguns deles são numerosos, como no Abrigo do Matemático, Bom Jesus, RS, onde um mínimo de 34
indivíduos foram identificados (BRENTANO e SCHMITZ 2010). Os recintos com montículos são caracterizados
por complexos de aterros circulares, ou elípticos, ou retangulares e ou em forma de fechadura contendo um
ou mais montículos em seu interior, e estão geralmente localizados nas colinas mais importantes da área. Os
montículos geralmente contêm múltiplos sepultamentos secundários cremados, mas podem haver também
sepultamentos primários únicos (SOUZA e COPÉ 2010). Os sítios a céu aberto foram interpretados como
prováveis áreas de atividade especiais, tais como áreas agrícolas e/ou pedreiras (conforme BEBER 2005;
DEMASI 2005; RIBEIRO e RIBEIRO 1985; SALDANHA 2005). Alguns sítios a céu aberto aparecem em altitudes
abaixo de 600 m, como os que ocorrem nas bacias hidrográficas do baixo Rio das Antas e do baixo Rio Pardo
(MILLER 1967, 1971), sendo caracterizados por discretas manchas circulares de terra preta que parecem ser
os restos de antigas aldeias que cobrem até 4000 m2. A arte rupestre também apresenta peculiaridades com
motivos gráficos também encontrados na decoração cerâmica (RIRIS e CORTELETTI 2015; SILVA 2001).
Além dessas características comuns na cultura material e padrões de assentamento, há um
crescente reconhecimento de que esta tradição engloba uma gama notável de variabilidades locais na
organização social e ritual nas diferentes regiões, tais como: as bacias dos rios Canoas e Pelotas (COPÉ
2006b; CORTELETTI 2012, 2013; DEMASI 2005; IRIARTE et al. 2013; KERN et al. 1989; SCHMITZ 2014; SOUZA
e COPÉ 2010); a província de Misiones, Argentina (IRIARTE et al. 2008, 2010; MENGHIN 1957); a costa
atlântica de Santa Catarina (DEBLASIS et al. 2007, 2014; SILVA et al. 1990); o noroeste do Paraná (CHMYZ
1971); o nordeste e sudoeste do Paraná (CHMYZ et al. 1968, 2013; PARELLADA 2005; SOUZA e MERENCIO
2013) e sul de São Paulo (AFONSO e MORAIS 2002; ARAÚJO 2001, 2007); e a porção sul do planalto sul
brasileiro (COPÉ 2006a, 2006b; CORTELETTI 2008; SCHMITZ et al. 2002).

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O ambiente e a arqueologia da região de Urubici


A região de estudo está localizada no planalto sul brasileiro, hoje dominado pela floresta com
araucária e campos de altitude (Fig. 1B). O clima é úmido durante todo o ano com temperaturas altas
durante o verão (máx. 30°C) e baixas no inverno (min. -7°C), com queda ocasional de neve. As nascentes dos
rios que irrigam a região estão em zonas úmidas de solo raso e pedregoso em torno de 1800 m de altitude e
escoam através de vales incisos florestados pela mata de araucária, até chegar ao rio Canoas que serpenteia
pelo meio de um vale largo e plano em torno de 1000 m de altitude.
Através de uma revisão da literatura publicada (PIAZZA 1966, 1969; ROHR 1971, 1984), juntamente
com o reconhecimento e mapeamento oportunístico da região, foram identificados 90 sítios arqueológicos
proto-Jê classificados em quatro tipos diferentes: engenharia de terra; sítios a céu aberto, arte rupestre e
sítios em substrato rochoso (Fig. 1D). A maioria dos sítios estão localizados ao longo do vale do rio Canoas,
muitas vezes perto da confluência de diferentes afluentes (Fig. 1C e 1D). O local preferido para os sítios de
habitação parece estar no fundo do vale, caracterizado por solos mais férteis e topografia mais plana do que
os compartimentos mais altos da paisagem. As datações de alguns sítios registra a ocupação da região de
Urubici por grupos proto-Jê desde o ano 300 dC até o período colonial, por volta do ano 1700 (CORTELETTI
2010, 2012).

O Sítio Bonin
O sítio Bonin é uma aldeia de casas subterrâneas composta por 23 estruturas semissubterrâneas,
distribuídas por 3 ha, localizada na várzea do rio Canoas, na UTM 22J 0642614 / 6902113 Datum WGS84 (Fig.
1D). Um total de 631 fragmentos cerâmicos foram recuperados a partir da escavação de 7 m 2 em duas EC
encontradas em duas estruturas semissubterrâneas geminadas. A análise cerâmica mostra que estes
fragmentos correspondem a, pelo menos, 23 vasos diferentes de vários tamanhos (muitos deles com
resíduos de cocção visíveis). Mesmo com a dificuldade de se recuperar vestígios zooarqueológicos nesse tipo
de contexto, foram encontrados na EC1 e EC2, respectivamente, um pequeno fragmento de osso
carbonizado não identificado e um fragmento de concha fluvial identificado como Mycetopodidae sp. Duas
amostras de carvão vegetal recolhidos da EC1 e EC2 renderam datas de radiocarbono entre os anos 1280 e
1420 cal. AD (Beta-298215) e 1280 e 1400 cal. AD (Beta-298216) (Tabela 1), sugerindo que ambas EC eram
contemporâneas. Este contexto, somado a hipótese de Reis (2007) e Schmitz et al (2010) de que as
estruturas semissubterrâneas geminadas são, na verdade, casas compartimentadas permitem sugerir que
estas EC eram duas áreas de cozinha dentro de uma mesma casa (CORTELETTI 2012).

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Tabela 1. Datas obtidas no Sítio Bonin

Data A.P. Data Cal. A.D. 13/12C ratio Lab código Prof. Material datado

610+-50 1300-1439 -26.5 Beta 298215 30-40cm Carvão da EC1

640+-40 1297-1414 -26.9 Beta 298216 60-70cm Carvão da EC2


As datas foram calibradas utilizando a curva atmosférica ShCal13, no programa OxCal disponível em http://c14.arch.ox.ac.uk/

DESCRIÇÃO DOS ARTEFATOS

Deste conjunto de 631 fragmentos cerâmicos, um total de 14 foram utilizados para extração e
analises de fitólitos e de grãos de amido. Foram selecionados fragmentos cerâmicos ocorreram em
aglomerados densos e exibiram resíduo carbonizado aderido às paredes dos vasos. Assim sendo, foram
examinados oito fragmentos cerâmicos da EC1 e seis fragmentos de cerâmica da EC2. Esses 14 fragmentos
pertencem a pelo menos dez potes diferentes, seis dos quais fomos capazes de reconstruir a forma (Fig. 2).
Os métodos de fabricação variam entre os potes. Alguns fragmentos mostram vasos feitos com
faixas largas de argila (F e J), mas outros indicam que o vaso foi modelado (B e S). Não encontramos
nenhuma evidência clara da utilização da técnica de roletado na fabricação. A pasta é geralmente bastante
homogênea e densa, com partículas finas e elevado teor de sílica no antiplástico. Na maior parte dos
fragmentos, as paredes internas e externas estão alisadas. Por vezes, a superfície exterior é brunida, gerando
um acabamento de superfície muito liso e ligeiramente brilhante (F e J). Menos de 7% da coleção tem
decoração incisa, e metade dela pertence a um único vaso (K), o que significa que poucos vasos foram
decorados. As formas dos potes incluem copos (S), tigelas (B), jarros (A e K) e vasos (F e J), com um
predomínio da forma cilíndrica com base globular e com parte superior ligeiramente aberta, sem lábio
reforçado (A e F), provavelmente utilizadas para cozinhar alimentos (Fig. 2). Na parte central do corpo,
alguns dos potes apresentam uma ligeira inflexão (como uma cintura – A, B, F e K), o que provavelmente
facilitava o transporte e manuseio, especialmente quando estavam quentes. Os valores volumétricos
aproximados de toda a coleção de potes fica entre 100 ml (S) e mais de 10.000 ml (M) e sugere que eles
representam vários usos em um contexto doméstico. A maioria dos fragmentos tem entre 6mm e 8 mm de
espessura (60,7%), mas a coleção tem amplitude entre 3 mm e 19 mm. Entre as marcas de uso encontrados
nos fragmentos, a presença de fuligem e resíduo carbonizado mostram que os potes foram expostos ao
fogo, os seus conteúdos fervidos, transbordando, queimando e aderindo às paredes (externa e interna) (Fig.
3 e 6C).

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Figura 2: A: Perfil estratigráfico da escavação das estruturas semissubterrâneas 4 (EC1) e 5 (EC2), onde 1: matéria orgânica e raízes; 2: solo amarelo claro; 3: porção
escavada da EC1; 4: extensão suposta para EC1; 5: cinzas compactadas, poucas raízes e cerâmica na EC2; 6: solo cinza escuro na EC2; e 7: camada natural de pequenos
seixos de basalto amarelado. B: Estruturas de cocção e posição da maior parte dos potes. A amostra de carvão da EC1 foi coletada entre os potes F, J e M; na EC2 a amostra
de carvão foi coletada entre os potes S, P e N.

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Figura 3: A: formas reconstituídas dos potes cerâmicos recuperados na EC 1 e 2. B: faces externa (esquerda) e
interna (direita) do pote A, mostrando resíduo carbonizado aderido as paredes. Perceba a grande quantidade
de resíduo carbonizado na parte central da face interna, e também próxima a borda na face externa.

MÉTODOS

Os artefatos foram processados para recuperar os grãos de amido e os fitólitos com base
em protocolos de extração padrão. Todos os fragmentos cerâmicos foram mantidos sujos antes do
processamento laboratorial, e manipulados apenas usando fórceps ou pinças esterilizadas para
evitar contaminação. Uma pequena amostra do resíduo carbonizado encontrado na superfície da
amostra Y148 foi raspada num tubo de ensaio e ali diretamente processada (ZARRILLO et al. 2008).
Todas as outras amostras foram lavadas em água destilada por escova húmida e, em seguida,

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mergulhadas em banho de ultrassom com água destilada durante 5 minutos. O resíduo foi
concentrado em tubos de ensaio com sessões de centrífuga e água destilada.
Primeiramente, o amido foi extraído do resíduo por flotação de líquido pesado
(CHANDLER-EZELL e PEARSALL. 2003; PEARSALL et al. 2004). Em função da elevada densidade do
carvão nas amostras, tentamos removê-lo usando o procedimento descrito por Zarrillo et al (2008),
utilizando peróxido de hidrogênio 10 volumes (H2O2) e uma flotação inicial das amostras com
metatungstato de sódio (Ca6 [H2W12O40]) preparado com uma densidade de 1,3g/cm3, mas que não
foram bem sucedidas. Com o objetivo de extrair os grãos de amido, foi preparado metatungstato de
sódio com uma densidade de 1,7g/cm3 e então adicionado e misturado ao resíduo das amostras com
um agitador (vortex). Depois de centrifugar a 1700 rpm durante 5 minutos, o resíduo foi pipetado a
partir da superfície da amostra e depositado em um novo, rotulado, tubo de ensaio esterilizado. O
resíduo extraído foi enxaguado várias vezes com água destilada, e montado em lâminas finas com
solução de glicerina a 10% para a observação em microscópio. As lâminas finas foram analisadas em
microscópio Zeiss AxioVision40 equipado com polarização de luz transmitida e câmera de imagem
digital.
Após a extração do amido, o resíduo remanescente foi lavado duas vezes e, em seguida,
processado para extração de fitólitos usando protocolos padrão (PIPERNO 2006). Os carbonatos
foram dissolvidos com ácido clorídrico a 10% (HCl), a matéria orgânica foi oxidada utilizando ácido
nítrico (HNO3), e os fitólitos foram flotados com brometo de zinco (ZnBr2) preparado com uma
densidade de 2,3g/cm3. Os fitólitos extraídos foram enxaguados quatro vezes para remover vestígios
de ZnBr2 e secos com a utilização de acetona, para, em seguida, serem montadas lâminas finas com
Entellan. As lâminas foram observadas usando o microscópio Zeiss descrito acima. Um mínimo de
200 fitólitos foi contado para cada amostra, e o restante da lâmina varrido em busca de Poaceae
‘cross-bodies’ e quaisquer outros fitólitos diagnósticos de espécies econômicas (por exemplo Zea
mays ‘rondels’, Cucurbita ‘scalloped spheres’). A nomenclatura em língua inglesa utilizada aqui para
designar os fitólitos segue o ICPN 1.0 (MADELLA et al. 2005). Os grãos de amido foram descritos
conforme o ICSN (2011). Os microvestígios foram documentados, fotografados e identificados
utilizando a coleção de referência de mais de 500 espécies sul-americanas de plantas do Laboratório
de Arqueobotânica da Universidade de Exeter (Reino Unido).

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ANALISES DE GRÃOS DE AMIDO E FITÓLITOS NAS TERRAS ALTAS DO SUL DO BRASIL: REPENSANDO A
ECONOMIA E MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

RESULTADOS

Análises de Grãos de Amido


No total, 55 grãos de amido foram recuperados a partir dos fragmentos de cerâmica
analisados. Muitos fragmentos continham amido de diferentes táxons, indicando que eles foram
usados no processamento de uma variedade de plantas selvagens e/ou domesticadas (Tabela 2).
Entre as plantas domesticadas, os grãos de amido consistentes com milho (Zea mays) foram
identificados em três potes (F, H e K) da EC1 e um copo (S) da EC2. Estes grãos apresentaram
morfologia sub-redonda para poligonal com um hilo central e fissuras de transversais a estreladas
(Fig. 4A-B). O tamanho médio foi de 15,45 μm ao longo do eixo mais longo. Isto encaixa com o
intervalo comparativo para amido de milho (11,1-15,8 μm), que é maior do que qualquer outra
espécie de Poaceae com características morfológicas semelhantes (HOLST et al. 2007).
A mandioca (Manihot esculenta) foi recuperada em dois potes (K da EC1 e S da EC2),
identificado pelos grânulos de amido diagnóstico em forma de sino, com uma superfície lisa, com
múltiplas facetas côncavas na base, hilo central com fissura estrelada, e um tamanho médio de
16,75 μm (Fig. 4E-F). Grãos de amido de feijão (Phaseolus sp.) foram encontrados nos mesmos dois
potes, identificados por sua forma suavemente oval a reniforme, com fissura longitudinal irregular,
alongada cruz de extinção e lamelas ocasionais visíveis próximas da borda externa. O tamanho
médio dos grãos foi 23,43 μm ao longo do eixo mais longo (Fig. 4C-D). É importante ressaltar que
esta é a primeira vez que se documenta a presença de mandioca e feijão para um estudo da
Tradição Taquara-Itararé.
Um grande grão de amido (44,55 μm) com forma ovóide a obovóide com lamelas e um hilo
excêntrico fechado foi recuperado no pote A da EC2, e foi, tentativamente, identificado como uma
espécie de cará (cf. Dioscorea sp., mas não a domesticada D. trifida) (Fig. 4G, 5H). Um grão de amido
também tentativamente identificado como Fabaceae foi recuperado do pote D. Este grão oval, com
18 μm de comprimento, tinha o hilo central e as lamelas pouco visíveis, mas faltava a grande
característica da fissura irregular dos Phaseolus (Fig. 4I-J). Além destes, outros vinte e dois grãos de
amido não identificados foram encontrados distribuídos em quatro potes (F da EC1 e B, D e S da
EC2). Cinco destes grãos não identificados compartilham características suficientemente distintas
dos outros grãos para permitir uma categorização em dois morfotipos. O Tipo 1 tem grãos em forma
piramidal subangular, com a superfície lisa, hilo central aberto, e sem fissuras ou lamelas (média
13,7 μm, n = 3) (Fig. 4K-G). O Tipo 2 é um grão de irregular a poligonal, com uma saliência curta ou
ápice, hilo central aberto sem fissuras, e uma superfície áspera, quase granular (média de 18,44 μm,
n = 2) (Fig. 4M-N).

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Um dos mais abundantes vestígios microbotânicos encontrados durante a análise de


amido, na verdade não foi um grão de amido, mas um zigósporo de Pseudoschizaea sp., um tipo de
alga verde de água doce (MEDEANIC et al. 2007) (Fig. 4H). Estas algas são encontradas em
sedimentos superficiais de turfeiras e sedimentos lagunares do Holoceno e são produzidos na beira
de córregos e lagos (MEDEANIC 2006).

Figura 4: Grãos de amido selecionados e zigospóro de alga (as gravuras mostram diferentes angulos do
mesmos indivíduos). A, B. Zea mays (amostra Y133WB). C, D. Phaseolus sp. (amostra M35SON). E, F. Manihot
esculenta (amostra Y133WB). G, H. cf. Dioscorea sp. (amostra Y148Carbon). I, J. Fabaceae (amostra Y29SON).
K, L. Grão de amido não identificado Tipo 1 (amostra Y133WB). M, N. Grão de amido não identificado Tipo 2
(amostra Y133WB). O, P. Zigósporo de Pseudoschizaea sp. (amostra L163WB).

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ECONOMIA E MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

Tabela 2: Grãos de amido recuperados por pote e por amostra.

Possível amido
Phaseolus sp.
cf. Dioscorea

cf. Zea mays

cf. Fabaceae

identificado
cf. Manihot
cf. Poaceae
AMOSTRA

esculenta

esculenta
Zea mays

Manihot

TOTAIS
POTE

POTE
Não
sp.
M36 1 1 3 2 7
F F
P5 2 2
H D29 2 1 3 H
L159
EC1
J L160 J
L163 1 1
M35 1 2 3
K K
G43 1 1 1 1 4
A Y148 1 1 A
B Y80 4 4 8 B
C Y82 C
EC2
D Y29 1 4 5 D
E Y81 E
S Y133 4 7 1 1 1 7 21 S
TOTAIS 1 7 10 4 1 4 1 2 22 3 55

Análises de Fitólitos
A análise de fitólitos documentou a presença de milho em dois dos recipientes cerâmicos
(D e J) com base na identificação de fitólitos ‘wavy-top rondel’, diagnóstico das estruturas do sabugo
e gluma (BOZARTH 1993; PEARSALL et al. 2003; PIPERNO e PEARSALL 1993) (Fig. 5N). A presença da
folha de milho foi determinada em seis potes (B, C, D, E, J, e S) pelo uso da análise de função
discriminante de fitólitos ‘cross-body’ produzidos em folhas de Poaceae (PEARSALL e PIPERNO 1990;
PIPERNO 2006). Fitólitos ‘scalloped’ de casca de abóbora foram recuperados em seis potes (B, C, D,
F, J, e S) (Fig. 5B). Muitos dos fitólitos de abóbora apresentam uma superfície altamente granular,
especialmente no aspecto da hipoderme, e uma morfologia comprimida consistente com a
Cucurbita maxima e seu antepassado selvagem C. maxima ssp. andreana (PIPERNO et al. 2002;
PIPERNO 2006; SANJUR et al. 2002). No entanto, esta identificação em nível de espécie permanece
provisória até que mais variedades nativas de outra espécie sul-americana, C. moschata, possam ser
examinados (Piperno, em comunicação pessoal, 2012). Embora o tamanho médio dos fitólitos de
abóbora (62,6 μm de comprimento e 40,1 μm de espessura, n = 16) esteja abaixo da média
(comprimento de 80 μm, largura 70 μm) estabelecida por Piperno (2006:68; ver também PIPERNO e
STOTHERT 2003) para identificação segura de espécies domesticadas, acreditamos que os fitólitos

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recuperados possivelmente representam uma pequena (PIPERNO et al. 2000:198), porém


domesticada, variedade de abóbora, devido ao contexto em que foram recuperados e pela ausência
de outra C. maxima ssp. andreana selvagem conhecida no sul e sudeste do Brasil. A gama de
espécies selvagens mais próxima é restrita ao pampa argentino (SANJUR et al. 2002).
Em adição a estas plantas domesticadas, o conjunto continha grandes quantidades de
fitólitos de gramíneas (Poaceae) e ciperáceas (Cyperacae), com quantidades menores de fitólitos de
árvores, incluindo palmas (Arecaceae) (Fig. 6). A presença destes fitólitos nos resíduos dos potes
indica que todos, incluindo sabugos, folhas e casca discutidas acima, são derivados de sedimentos
aderidos aos cacos e não são, necessariamente, representativos de atividades de cozimento.
A assembleia foi dominada por Poaceae, particularmente Panicoideae e Pooideae,
gramíneas com menores contribuições de Bambusoideae, Oryzoideae e Chloridoideae (Fig. 6).
Panicoideae são tipicamente gramíneas de clima quente e úmido (tropical), enquanto Pooideae são
gramíneas principalmente de clima temperado. Fitólitos queimados foram observados
principalmente nos Poaceae; com frequências variando entre 6 - 57% do total de Panicoideae, e 18-
68% do total de Pooideae. A assembleia também continha uma grande quantidade de Cyperaceae,
particularmente de Scirpus ‘achene bodies’ (Fig. 6). A alta frequência de Scirpus pode representar o
uso do junco como material construtivo ou de revestimento dentro das estruturas das casas
subterrâneas. Os zigósporos de Pseudoschizaea sp., mencionados anteriormente, e as diatomáceas
encontradas em algumas amostras podem ter sido levados para o ambiente doméstico junto com a
água fresca utilizada para cozer os alimentos ou, como outra hipótese, foram carregadas até ali por
estarem aderidas ao Scirpus.

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ANALISES DE GRÃOS DE AMIDO E FITÓLITOS NAS TERRAS ALTAS DO SUL DO BRASIL: REPENSANDO A
ECONOMIA E MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

Figura 5: Fitólitos selecionados. A, B. Cucurbita sp. ‘scalloped sphere’ (visão de cima e lateral). C, D. Zea mays
‘wavy top rondel’ (visão de cima e lateral). E. Panicoideae ‘bilobate’. F. Panicoideae ‘polybate’. G. Grande
Panicoideae Variante 1 ‘cross-body’. H. Chloridoideae ‘saddle-shape’. I. Gramínea Pooideae ‘wavy trapezoid’. J.
Gramínea queimada de Pooideae ‘rectangular trapezoid’. K. Scirpus ‘achene body’. L. Cyperus ‘achene body’.
M. Asteraceae ‘perforated opaque platelet’. N. Marantaceae esférica. O, P. Arecaceae ‘hat-shape body’ (visão
de cima e lateral). Q. Arecaceae ‘globular echinate’. R. Fitólito Arbóreo ‘globular granulate’. S. Diatomácea.

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Figura 6: Diagrama de percentagem de fitólitos oriundos dos fragmentos cerâmicos recuperados nas ECs do Sítio Bonin. Amostras no eixo Y representam diferentes
fragmentos de cerâmica, sem ordem estratigráfica. A abundância de fitólitos foi calculada como percentagem do total de fitólitos contados (>200). (+) indica frequência
menor que 2%. (●) indica a presença de folha de Zea mays, determinada pela análise discriminante de no mínimo 20 fitólitos de Poaceae em forma de cruz. As frequências
de fitólitos queimados não são mostradas. Amostras do mesmo pote ilustram a variabilidade na representação de fitólitos a partir dos processos de extração e análise. O
diagrama foi criado no software C2 (JUGGINS 2010).

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MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

DISCUSSÃO

Hipóteses anteriores relacionadas a subsistência, mobilidade e territorialidade dos grupos proto-


Jê do sul foram principalmente baseados em analogias com relatos históricos e etnográficos dos grupos Jê
do Sul durante os séculos XIX e XX. Por exemplo, Schmitz e Becker (1991) propõem que as populações Jê do
Sul tinham uma economia sazonal baseada na caça e coleta no planalto e na zona costeira, e no cultivo em
pequena escala na encosta da Serra Geral coberta por Mata Atlântica. O modelo de Lavina (1994) sugere
que o grupo Xokleng era caçador-coletor com alta mobilidade na primavera e no verão em áreas costeiras e
na encosta e baixa mobilidade no outono e inverno no planalto. Estes modelos sugerem uma suposta
época de escassez no planalto (primavera) que obrigava as populações a se deslocar para altitudes mais
baixas na primavera e no verão, para só voltar durante o outono para a coleta de pinhão. Embora
sublinhando a coleta de pinhão como a atividade de subsistência mais importante para estes grupos, esses
modelos ignoram a contribuição das culturas domesticadas para a sua economia. Em contraste com estes
modelos tradicionais, os resultados do nosso estudo demonstram que as populações proto-Jê do sul
praticavam a produção de alimentos e consumiam uma variedade de cultivares incluindo milho, abóbora,
mandioca, feijão e, possivelmente, cará. Nossos dados sugerem que esses grupos não tinham um sistema
econômico “altamente vulnerável” (SCHMITZ e BECKER 1991:82), e, portanto, eles não precisavam fazer
movimentos sazonais no período da alegada escassez primaveril no planalto para a encosta e litoral. Além
disso, nossos resultados permitem sugerir que os grupos proto-Jê do planalto do sul do Brasil pode ter sido
sedentários ou semissedentários, ou seja, estando metade do ano no mesmo local (conforme BELLWOOD e
OXENHAM 2008), com base na disponibilidade e previsibilidade de recursos alimentares durante todo o
ano, como descrito abaixo.
O cronograma de colheita da diversidade de culturas documentadas no sítio Bonin indica que a
primavera não era necessariamente um período de escassez na subsistência desses grupos, tal como
proposto anteriormente. A Tabela 3 mostra o calendário anual das plantas encontradas nos vestígios
microbotânicos recuperados no sítio Bonin incluindo plantio, colheita e armazenamento. As variedades
modernas de milho são plantadas no período de agosto a dezembro (primavera) e são colhidas 100-150
dias após, ou seja, no período de janeiro a maio (verão e outono). A mandioca cresce em clima quente e
úmido, o que sugere que ela seria plantada no verão e colhida entre 10-20 meses após (EMBRAPA 2010). As
abóboras param de crescer em temperaturas abaixo de 12°C e não toleram geadas. Eles são mais
produtivas em temperaturas de 18°C - 25°C, o que coincide com os meses de verão no planalto. A colheita
ocorre entre 120-150 dias após a germinação (EPAGRI 2011). O feijão é o cultivo mais flexível entre os que
registramos; ele pode ser plantado em diferentes épocas do ano e ainda assim produzir uma colheita; no
entanto, ele é mais produtivo quando plantado entre agosto e fevereiro e fica pronto dentro de 100-120
dias (MALUF et al. 2001). O cará inicia seu ciclo anual no fim do inverno, quando as novas hastes brotam a

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partir do tubérculo subterrâneo. Eles florescem por vários meses, até a chegada da próxima estação fria,
quando as videiras morrem e os tubérculos se tornam dormentes (CHU e FIGUEIREDO-RIBEIRO 1991). Os
tubérculos estão pronto para colher entre 7-9 meses após o início de um novo ciclo, e é possível armazenar
o tubérculo de 4-6 meses após a colheita (Oliveira, 2002). É provável que os moradores do sítio Bonin
plantavam estas culturas nas diferentes épocas do ano, da mesma forma que os Kaingang fazem
atualmente, como uma estratégia de aversão ao risco. Desta forma, se a colheita de uma cultura falha ou é
reduzida pelo excesso ou falta de chuva, uma família tem a possibilidade de colher das outras culturas que
foram plantadas em diferentes épocas (BALLIVIÁN et al. 2007:8).
O cronograma de colheita dos tipos de plantas documentadas no sítio Bonin também destaca o
fato de que o inverno, em particular o mês de julho, teria sido um período estressante, em termos de
variedade de recursos alimentares disponíveis. Esta é provavelmente a época do ano em que a mandioca
desempenhou um papel crucial. O único fator limitante para o cultivo de mandioca é que ela tem de ser
plantada em meses quentes para crescer, mas uma vez que amadurece ela pode ser deixada no solo,
colhida e consumida em qualquer época do ano. Portanto, é altamente provável que o consumo de
mandioca foi maior na primavera, porque este é o período entre a colheita de pinhão e das outras culturas,
como milho e feijão. O pinhão era um elemento importante na dieta dos povos indígenas que viveram nas
terras altas, etnohistoricamente e etnograficamente registrados (MABILDE 1988; MÉTRAUX 1946). Relatos
históricos também descrevem como áreas de floresta com araucária foram claramente demarcadas e
defendidas (MABILDE 1988). O pinhão é colhido principalmente durante os meses de outono (março a
junho), mas a produção é escassa durante a primavera e verão (outubro a fevereiro). No entanto, as
sementes podem ter sido armazenadas em cestas bem fechados e imergidas em água corrente por até um
mês e meio, ampliando a disponibilidade de pinhão para o início do inverno, e, assim, ajudar a mitigar a
escassez de alimentos durante estes meses. Registros de pólen indicam que houve uma rápida expansão da
floresta com araucária começando por volta de 1000 dC, que substituiu parte dos campos de altitude
existentes, possivelmente o resultado do manejo na floresta que a população proto-Jê do sul realizou para
torná-la mais produtiva (BITENCOURT e KRAUSPENHAR 2006; IRIARTE e BEHLING 2007). Isso teria
aumentado ainda mais a disponibilidade deste alimento armazenado durante o inverno.
Além do pinhão e das culturas domesticadas registradas no sítio do Bonin, há também uma
grande variedade de outros recursos que poderiam ter sido obtidos com a pesca, caça, e coleta como
ilustrado pelos recursos alimentares consumidos pelos povos Kaingang e Xokleng em tempos históricos
(AMBROSETTI 2006:42-46; KOCH e CORRÊA 2002:32; LAVINA 1994:56-59; MABILDE 1988; NOELLI 2000:245-
247; PARELLADA 2005:124-126; SANTOS 2009:8; VEIGA 2006:46-48; ZUCH DIAS 2004:122-128). Estes
incluem recursos faunísticos como anta (Tapirus terrestris), macaco (Allouata sp.), peixes (Salminus sp.,
Characidae) e aves (Penelope obscura, Crypturellus sp.), e outros alimentos coletados, como larvas de
insetos e mel. Além disso, há um grande conjunto de frutos de árvores comestíveis, como goiabeira-serrana

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MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

(Acca sellowiana), jabuticaba (Myrciaria truncifora), guabiroba (Campomamesia sp.), araçá (Psidium sp.),
ariticum (Annona montana), bem como os frutos da palmeira jerivá (Syagrus romanzoffiana), ou butiá
(Butia capitata; Butia eriosphata) e o palmitos da Euterpe edulis. O amido extraído da medula do jerivá é
relatado como um importante recurso alimentar (MÉTRAUX 1946:451; MEGGERS 2001). Como
mencionado, há menos recursos florestais disponíveis durante o mês de julho. Essa potencial escassez
poderia ser neutralizada pelas sementes armazenadas de pinhão e pela mandioca, mas também por outros
recursos florestais, como os frutos de jerivá e o palmito de Euterpe edulis (ver Tabela 4).

Tabela 3: Calendário da semeadura, colheita e armazenamento das plantas documentadas no sítio Bonin, além de
sementes de araucária (pinhão), e as condições climáticas gerais no Planalto Catarinense. Baseado em: EMBRAPA
(2010), EPAGRI (2011), Maluf et al (2001), Chu e Figueiredo-Ribeiro (1991) e Monteiro (2007).
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Época de semeadura de cada planta
Mandioca
Milho
Abóbora
Feijão
Cará
Época da colheita de cada planta
Mandioca
Milho
Abóbora
Feijão
Cará
Pinhão
Tempo de armazenamento após a última colheita anual de cada planta
Mandioca
Milho
Abóbora
Feijão
Cará
Pinhão
Médias climáticas para o planalto de Santa Catarina
Temperatura
16.9 17.1 15.9 13.3 11.0 9.5 9.4 10.4 11.3 12.8 14.5 15.9
média (°C)
Precipitação
174 163 120 110 108 124 146 157 165 161 131 132
média (mm)

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A recuperação de grãos de amido e de fitólitos de milho provenientes da cerâmica do Sítio Bonin


corrobora evidências, cada vez maiores, como isótopos de carbono encontrados em ossadas (DeMasi,
2001), ou em resíduos aderidos a cerâmica (DEMASI 2007; IRIARTE et al. 2008, 2010), e também o pólen de
milho encontrado em vários sedimentos lacustres (BEHLING et al. 2005, 2007; GESSERT et al. 2011), o que
indica que o milho foi um item importante no sul do Brasil. Esta evidência arqueológica é reforçada pela
existência de uma raça específica de milho Kaingang no sul do Brasil descrito por Brieger et al (1958) e o
fato de que os grupos Jê do sul modernos como os Kaingang têm mitos sobre a origem do milho, feijão e
abóbora (BORBA 1908). Além disso, relatos etnohistóricos (BORBA 1908) e etnográficos (VEIGA 2006)
descrevem o milho como um importante componente de bebidas consumidas durante os rituais. O uso de
milho em contextos rituais é apoiado por evidências arqueológicas: o milho foi encontrado em um
sepultamento no Abrigo do Matemático (MILLER 1971) e fitólitos de sabugo de milho foram identificados
em copos de cerâmica que se supõe terem sido usados durante festejos rituais no complexo funerário de
aterro anelar com montículo PM01 (IRIARTE et al. 2008, 2010). Embora, neste momento, não seja possível
avaliar o quanto o milho contribuiu para a dieta e se era um alimento básico, as evidências disponíveis
indicam um papel significativo para o milho tanto em contextos domésticos como em rituais, e mostra que
a produção de alimentos era mais importante do que anteriormente pensado.
Tangenciando essa via da investigação, apesar de termos identificado cascas carbonizadas de
pinhão durante a escavação das EC1 e EC2, há o problema da ausência de Araucaria angustifolia em nossas
amostras, tanto nas de grãos de amido, como nas de fitólitos. Alguns autores (WESOLOWSKI et al. 2007,
2010; TEIXEIRA-SANTOS 2010) já realizaram tentativas de identificar a araucária a partir de grãos de amido.
Porém, apesar da araucária produzir amido, as pesquisas comparativas em andamento sugerem que estes
grãos não são diagnóstico o suficiente para identificar claramente essa planta nas amostras arqueológicas
(Piperno, em comunicação pessoal, 2012). Junto dessa informação, é interessante observar que a produção
de fitólitos de folhas de Araucaria araucana é bastante pobre (0,85% do peso das cinzas secas, segundo
HODSON et al. 1997) e se limita a ocorrência de isolados fitólitos epidérmicos (SANGSTER et al. 1997).
Como Piperno (2006) diz que é pouco provável detectar qualquer índice menor que 0,5% em amostras
arqueológicas, e pelo fato de que o índice da Araucaria araucana está bem próximo desse limite, podemos
inferir que a produção de fitólito pode ser considerada “rara”, ao menos nestas espécies. E por último, Parr
e Watson (2007) realizaram tentativa de descrever formalmente os fitólitos de espécies australianas de
araucária (Araucaria bidwillii, Araucaria cunninghamii, Araucaria hetrophylla e Araucaria hunsteinii). Eles
descrevem um fitólito de folhas com formato cônico-perfurado (crater shaped), mas não encontramos
nada semelhante a isso em nossas amostras arqueológicas (diferente de CALEGARI et al 2014). Com base
nessas informações, podemos dizer que apesar da araucária produzir fitólitos de sílica (HODSON et al.
1997; SANGSTER et al. 1997; PIPERNO 2006; PARR e WATSON 2007), eles são raros (HODSON et al. 1997).

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MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

Em suma, nossos dados arqueobotânicos que sustentam um maior grau de permanência


residencial nas terras altas são corroborados por várias outras linhas de evidência arqueológica. Em termos
de padrões de assentamento regional, isto inclui: (1) uma maior densidade e diversidade de tipos de sítios
em comparação com a encosta da Mata Atlântica e com região do litoral atlântico (BEBER 2005; SCHMITZ e
NOVASCO 2013); (2) evidência de uma paisagem regional altamente estruturada que gira em torno de
monumentos funerários/cerimoniais que sugere um certo grau de hierarquização social (DEMASI, 2005;
IRIARTE et al. 2013; SALDANHA 2005); e (3) a presença de numerosas aldeias de casas subterrâneas
sugerindo o planejamento dos assentamentos e grande investimento de trabalho (BINFORD 1990). Além
disso, o número de sítios que datam do século XI em diante é maior do que em quaisquer outros períodos
anteriores (SCHMITZ e NOVASCO 2013), o que poderia indicar um suposto aumento na demografia e, como
consequência, uma maior redução na mobilidade destes grupos (BELLWOOD e OXENHAM 2008).
Coletivamente, os dados arqueobotânicos apresentados neste estudo, juntamente com os padrões de
assentamento e dados paleoecológicos, indicam que as populações proto-Jê do sul foram capazes de ter
um sistema assentamento sedentário ou semissedentário, onde a maioria da população manteve-se nas
terras altas durante o ano inteiro (KELLY 1992).

Tabela 4: Diversidade de itens consumidos pelos grupos Kaingang e Xokleng.


Nome Popular Nome Nativo Nome Científico
Anta óyôr Tapirus terrestris
Coati xê Nasua nasua
Graxaim hôighôig Lycalopex or Dusycion
Onça pintada e/ou Panthera onca e/ou Puma
Leão-baio concolor
Mamíferos Tatu fenéin Dasypus sp.
Caititu ou cateto ókxén, ógxâ Pecari tajacu
Queixada krâgh Tayassu pecari
Bugio gongue Allouata sp.
Macaco-prego caiêre Cebus apella
Cervídeos
Jacutinga Pipile jacutinga
Jacu Penelope
Macuco Tinamus sp.
Aves
Uru Odontophorus capueira
Papagaio Psittacidae
Nambu Crypturellus sp.
Dourado Salminus sp.
Pacu / Pacupeba Characidae
Surubim Pseudoplatystoma sp.
Peixes
Bagre Bagre sp.
Jaú Paulicea sp.
Pintado Pimelodus macalatus.
ngródngródn (na casca) e féniũ
Insetos Corós - larva Rynchophorus palmarum
(no cerne)

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Nome Popular Nome Nativo Nome Científico


Larva ou traça crisálida Morpheis smerinta
Cornitermes cumulans;
Cupins
Procornotermes striatus
Formigas Atta sexdens piriventris
Abelhas e vespas (fase
Muitas espécies
larval ou adulta)
Mel mãng
Abelha Guaraipo Mãngpẽ
Abelha Mirim ẽgpéi
Abelha Irapuá kuxé
Abelha Iratim Iâ
Abelha Mandassaia nhẽiwẽ
Mel
Abelha Manduri
Abelha Tubuna
Abelha Mombuca
Abelha Jeteí
Abelha Vorá
Abelha Caga-fogo
Pinhão Fâg fy Araucaria angustifolia
Algae
Jerivá Syagrus romanzoffiana
Pindo Arecastrum romanzoffiana
Macaúba Acrocomia aculeata
Jatobá Hymenea sp.
Palmito tõi jũn Euterpe edulis
Jaracatiá (mamão-
mõ Jaracatia dodecaphila
bravo)
Goiabeira-serrana kanê kriyne Acca sellowiana
Jaboticaba Myrciaria truncifora
Piúna Myrcia sp.
Guabiroba pẽnuá Campomamesia sp.
Araçá Psidum sp.
Plantas
Guaçatunga Casearia decandra Jacq.
Ariticum kukrei Rollinia sylvatica
Pitanga jymbi Eugenia uniflora
Banana Macaco Philodendron selloum
Guamirim fῖr Eugenia sp.
Butia capitata; Butia
Butiá tõirôr
eriosphata
Erva-Moura Fuá Solanum americanum
Folhas da Mandioca
kumῖ Manihot esculenta
brava
Folhas de Abóbora Cucurbita sp.
Mate kógwuῖn Ilex paraguaryensis
Bacupari Platonia insignis
Caraguatá / Gravatá Bromelia sp.
Tucum Astrocarium tucum
Cereja do mato Prunos brasiliensis
Umbu Spondias tuberosa

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MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

Nome Popular Nome Nativo Nome Científico


Erva-da-anta Psychotria laciniata
Plantas Fruta-de-pomba
Rhamnaceae
Medicinais (vacum)
Jaguarandi Piper pulvecens
Abóbora péhopẽ Cucurbita sp.
Mandioca Manihot esculenta
Batata doce Ipomea batatas
Batata Solanum tuberosum
Cultivos
Cará Dioscorea sp.
Milho ngẽr Zea mays
Feijão rẽngró Phaseolus sp.
Amendoim Arachis hypogaea

CONCLUSÕES

Semelhante a outros estudos arqueobotânicos recentes na região (BONOMO et al. 2011; IRIARTE
et al. 2004; WESOLOWSKI et al. 2007, 2010), nossa pesquisa mostra como a aplicação sistemática da análise
de microvestígios botânicos em sítios arqueológicos está revelando a importância do uso e consumo de
plantas em tempos pré-coloniais. Isso é importante não só para documentar os padrões de dieta, mas
também para compreender as estratégias de subsistência, de uso da paisagem e os padrões residenciais.
Nossos resultados expandem análises anteriores que documentaram, principalmente, o consumo
de milho. Mostramos que, além de milho, os grupos proto-Jê do sul consumiam uma variedade de outras
plantas domesticadas, como feijão, abóbora e mandioca, por volta do século XIV, como parte de uma
economia de subsistência que incluía também a caça, a pesca e a coleta de recursos florestais, como o cará.
Nossas evidências sugerem que esta sociedade desenvolveu uma economia mista, onde a diversidade de
opções foi o aspecto mais importante da dieta, combinando atividades extrativistas (caça, coleta e pesca) e
atividades de produção de alimentos. Isso difere dos modelos tradicionais, na medida em que descreve
uma organização social mais dinâmica e fluida em que é possível encontrar soluções de subsistência
quando a demanda surge, orientando os recursos em várias escalas de valor e disponibilidade em
diferentes épocas do ano, dependendo da abundância e escassez (VRYDAGHS e DENHAM 2007). Em
contraste com os modelos tradicionais que propõem que os grupos necessitavam fazer movimentos
sazonais para a encosta da Mata Atlântica e para o litoral atlântico, defendemos a confiança nesta
economia mista e dinâmica, o que permitiu aos grupos proto-Jê do sul a flexibilidade para permanecer
assentados nas terras altas durante todo o ano.
Nossos resultados também podem ser somados a um corpo crescente de dados que indicam que
as plantas domesticadas eram, desde tempos recuados, parte integrante da economia desses grupos, o que
põe em discussão a visão tradicional de que as plantas domesticadas foram trazidas durante o Holoceno

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tardio por imigrantes Tupi-Guarani para o sul do Brasil onde elas foram adotadas ad hoc por grupos
forrageiros adaptados a uma diversidade de ambientes (OTTONELLO e LORANDI 1987; RODRIGUEZ 1992;
SCHMITZ 1991; SCHMITZ et al. 1991). Nosso estudo também salienta que devemos ser cautelosos ao fazer
analogias históricas sobre a economia de subsistência pré-colonial com base nos grupos Jê do sul,
drasticamente transformados durante o período colonial, como os Kaingang e Xokleng. Certamente mais
pesquisa precisa ser feita para compreender a natureza das transformações que grupos proto-Jê do sul
sofreram durante o processo de conquista europeia na região, e não será nenhuma surpresa perceber que
esses grupos tornaram-se menos sedentários e menos dependentes da agricultura em face das campanhas
militares e das epidemias trazidas pela chegada dos europeus à região.
Por último, mas não menos importante, a identificação de uma variedade de culturas
domesticadas nas terras altas do sul do Brasil abre novos caminhos para novas pesquisas, incluindo: (1)
Qual é a antiguidade da produção de alimentos na região?; (2) Quais são as origens geográficas e
mecanismos da dispersão dessas culturas exógenas?; (3) Quantas calorias essas plantas forneciam para a
dieta dos povos proto-Jê do sul? As investigações em curso e também as futuras irão fornecer mais
detalhes sobre as interações ambientais e as estratégias de uso da paisagem pelos proto-Jê do sul,
refletindo que tipo de economia e de mobilidade eles realizavam nas terras altas, e como esses
mecanismos se desenvolveram, principalmente, após 1000 dC, época marcada pela grande expansão da
floresta de araucária e pelo surgimento da arquitetura monumental funerária (CORTELETTI 2012; IRIARTE
et al. 2013).

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MOBILIDADE DOS GRUPOS PROTO-JÊ MERIDIONAIS

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Recebido em:18/04/2016
Aprovado em:15/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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GESTIÓN DEL MEDIO Y PRODUCCIÓN DE RECURSOS EN LAS TIERRAS BAJAS DEL
NORESTE DE URUGUAY: ANÁLISIS PALEOETNOBOTÁNICO DEL SITIO PAGO LINDO
ENVIRONMENTAL MANAGEMENT AND RESOURCE PRODUCTION IN NORTHEASTERN
URUGUAY LOWLANDS: PALAEOETHNOBOTANICAL ANALYSIS AT PAGO LINDO SITE,
URUGUAY
(GESTÃO DO MEIO E PRODUÇÃO DE RECURSOS NAS TERRAS BAIXAS DO NORDESTE DO URUGUAI:
ANÁLISES PALEOETNOBOTÂNICAS DO SÍTIO PAGO LINDO)

Laura del Puerto


Camila Gianotti
Hugo Inda

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Gestión del medio y producción de recursos en las tierras bajas del Noreste de
Uruguay: análisis paleoetnobotánico del sitio Pago Lindo

Laura del Puerto1


Camila Gianotti2
Hugo Inda3

Resumen: Se presentan los resultados del análisis paleoetnobotánico del sitio arqueológico Pago Lindo,
departamento de Tacuarembó, Uruguay. La zona de estudio integra el área de dispersión de construcciones
tumulares en tierra conocidas regionalmente como “cerritos de indios” o “aterros”, que se extiende a
través de las tierras bajas del sur de Brasil y noreste y este de Uruguay. Se efectuaron análisis de partículas
biosilíceas en perfiles estratigráficos de un cerrito excavado, de depósitos de fondo de una laguna
colmatada y de distintos sectores del canal asociado. Se buscó contribuir a la comprensión de los procesos
de formación del sitio arqueológico desde una dimensión cultural y paleoambiental, aportando al
conocimiento del origen, uso, mantenimiento y variabilidad funcional de las distintas estructuras. Los
resultados obtenidos denotan la existencia de prácticas de manejo ecológico del medio desde hace unos
3000 años, involucrando la elevación de estructuras en tierra y posiblemente la construcción y/o
adecuación y mantenimiento de lagunas y canales, así como la producción y manejo de recursos vegetales.

Palabras Clave: Paleoetnobotánica, Uruguay, Tierras Bajas, Constructores de Cerritos, Gestión del medio,
Silicofitolitos.

Abstract: This contribution presents the results of palaethnobotanical analysis carried out at the Pago Lindo
archaeological site, Tacuarembó County, Uruguay. The location is comprised inside the dispersal area of
prehistoric mounds which extends through the lowlands of southeastern Brazil to the Northeast and East of
Uruguay. Biogenic opal silica analyses were performed on stratigraphic profiles of an excavated mound,
sediments from the bottom of a filled lagoon and over different zones of an associated channel. The main
goal was to understand the processes involved into the archaeological site genesis from a cultural and
palaeoenvironmental perspective, also considering activities linked with the use, maintenance and
functional variability of the whole site. Results evidenced the existence of ecological management
practices since 3000 years, which involved mounds erection, and probably also the
construction/fitting/maintenance of lagoons and channels as well as the production and management of
plant resources.

Keywords: Palaeoethnobotany, Uruguay, Lowlands, Mound builders, Environmental management, Opal


phytoliths.

1
Centro Universitario Regional Este, Universidad de la República. Rocha, Uruguay. [email protected]
2
Centro Universitario de la Región Este, Universidad de la República Uruguay. Rocha, Uruguay; Laboratorio de
Arqueología del Paisaje y Patrimonio (LAPPU), Universidad de la República. Montevideo, Uruguay.
[email protected]
3
Centro Universitario Regional Este, Universidad de la República. Maldonado, Uruguay. [email protected]
LAURA DEL PUERTO, CAMILA GIANOTTI E HUGO INDA

INTRODUCCIÓN

Las Tierras Bajas de América del Sur han sido escenario de experiencias singulares de manejo
ambiental desde la prehistoria, constituyendo ricos testimonios sobre la biodiversidad del territorio, así
como de la diversidad cultural constitutiva de este continente (por ejemplo, EREMITES DE OLIVERA 1995;
BALÉE y ERICKSON 2006; LÓPEZ MAZZ 2008; ERICKSON 2010; BONOMO et al. 2011). Prácticas de manejo
ambiental como clareos, dispersión de semillas, trasplante de propágulos, cuidado y favorecimiento de
especies y fuegos controlados, se remontan posiblemente al propio poblamiento humano del territorio y se
han mantenido hasta la actualidad entre varios grupos indígenas (POLITIS 1999; BALÉE 2006; RIVAL 2006). A
pesar de su baja intensidad, tienen un efecto acumulativo que, a los largo de miles de años, puede reportar
una importante antropización del ambiente (POLITIS 1999; BALÉE 2006; NEVES Y PETERSEN 2006). Junto a
estas, desde tiempos más recientes tuvieron lugar prácticas de manejo ambiental de mayor intensidad,
mucho más visibles en el registro arqueológico ya que han involucrado la manipulación de suelos y
drenajes, comúnmente con un fin productivo más específico e intencional (BALÉE 2006; ERIKSON Y BALÉE
14
2006; ERICKSON 2010). Las mismas se habrían vuelto frecuentes hacia el 3000 C AP., acentuándose y
generalizándose hacia comienzos del primer milenio de nuestra era (NEVES Y PETERSEN 2006). Los suelos
antropogénicos (como las Terras Pretas do Indio), la arquitectura en tierra (incluyendo túmulos,
plataformas, estructuras defensivas, campos elevados y camellones de cultivos), las obras de ingeniería
hidráulica (canalización, represamiento e irrigación), el desarrollo de prácticas piscicultoras y la
construcción de sistemas de comunicación fluvial y terrestre mediante obras que modificaron algunas
geoformas naturales, son claras manifestaciones arqueológicas comunes de las tierras bajas sudamericanas
(POSEY 2002; ERICKSON 2006, 2010; WALKER 2008; HECKENBERGER Y NEVES 2009; LOMBARDO Y
PRÜMERS 2010; ROSTAIN 2012).
En el sur del continente sudamericano las tierras bajas del Pantanal Matogrosense, del Delta del
Paraná y del Atlántico meridional, fueron escenarios de diversas experiencias y prácticas de manejo
humano que transformaron el medio con diferentes escalas e intensidades, en diferentes períodos de la
prehistoria. Entre ellas se destaca la construcción de miles túmulos en tierra – conocidos localmente como
“cerritos de indios”, “aterros” o terremotos de indios” – que sirvieron como superficies estables a salvo de
inundaciones periódicas para el asentamiento humano, así como espacios para el establecimiento de
pequeños huertos y como cementerios (EREMITES DE OLIVEIRA 1995; SCHMITZ Y BEBER 2000; BONOMO et
al. 2011; SANCHEZ et al. 2013).
En el actual territorio uruguayo, la práctica de construcción de túmulos habría comenzado en
torno al 5000 A.P. en la región sureste y al 3200 A.P. en el noreste (Figura 1), extendiéndose su uso hasta la
conquista europea (SANS 1985; BRACCO et al. 2000; LÓPEZ MAZZ 2001; BRACCO 2006; IRIARTE 2006a;
GIANOTTI y BONOMO 2013). Aislados o formando conjuntos numerosos, se distribuyen en los bordes de

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GESTIÓN DEL MEDIO Y PRODUCCIÓN DE RECURSOS EN LAS TIERRAS BAJAS DEL NORESTE DE URUGUAY: ANÁLISIS
PALEOETNOBOTÁNICO DEL SITIO PAGO LINDO

bañado, a lo largo de las planicies medias y altas o en sierras y lomadas que irrumpen como penínsulas
sobre las planicies inundables (LÓPEZ y BRACCO 1992; BRACCO et al. 2000). Internamente, en algunos
conjuntos se han observado ordenamientos conformados por diferentes construcciones antrópicas
(microrelieves, plataformas, cerritos, terraplenes) que podrían vincularse con distintas áreas de actividad
(CURBELO et al. 1990; LÓPEZ y GIANOTTI 1998; CABRERA y MAROZZI 2001; IRIARTE 2006a). Asimismo, en la
región noreste se han identificado otros rasgos al interior de los conjuntos (como pequeñas lagunas,
canales y zonas deprimidas) que exhiben ciertas características que podrían atribuirse a modificaciones por
la acción antrópica (GIANOTTI et al. 2009; GIANOTTI y BONOMO 2013).
Los resultados de la fotointerpretación y la prospección arqueológica en la cuenca de Caraguatá
(Tacuarembó) muestran cómo en las planicies de inundación aparecen de forma recurrente dentro de los
conjuntos de cerritos estos tres tipos de rasgos. En relación con las lagunas se identificaron, por un lado,
lagunas circulares que rondan entre los 30 y 40 m de diámetro y que suelen estar ubicadas en la planicie
entre cerritos. Por otro lado, se registraron lagunas irregulares de morfología variada (generalmente ovales
o alargadas) y mayores dimensiones alrededor de las cuáles se construyeron las estructuras monticulares.
Los canales se presentan asociados a algunas lagunas circulares y en algunos casos conectando varias de
ellas. Generalmente se encuentran bastante colmatados, aunque algunos canales antiguos han sido
reactivados para el drenaje de las planicies por parte de productores actuales (ie. sitios Paso de los
Ladrones, Pago Lindo, ver figuras VII.65 a 67 en GIANOTTI 2015: 335-337). La génesis y cronología de ambos
tipos de rasgos es objeto de actuales investigaciones que buscan caracterizar el funcionamiento y su
vinculación con el fenómeno cerrito.
En términos generales, el registro arqueológico de los montículos está compuesto principalmente
por artefactos líticos tallados, artefactos óseos, cerámica, restos de fauna, macrorestos vegetales y
enterramientos humanos, con mayor registro en la región este. En número reducido se hallan también
artefactos pulidos: molinos, manos y piedras con hoyuelos, entre otros. Las formas cerámicas dominantes
son globulares, cilíndricas y abiertas, siendo la decoración muy poco frecuente (BRACCO 2006). En la región
sureste, los enterramientos humanos presentan gran diversidad y datan de los últimos 2000 años (PINTOS y
BRACCO 1999; BRACCO 2006). El registro de silicofitolitos y granos de almidón evidencia un extenso uso de
recursos vegetales silvestres y una adopción temprana del cultivo (maíz, cucúrbitas y porotos) entre el
3.000 AP. en la región noreste (DEL PUERTO y INDA 2005) y el 4900 AP. en el este (IRIARTE et al. 2004). No
obstante, análisis isotópicos sobre la fracción orgánica y mineral de restos óseos humanos recuperados en
cerritos de la región este, evidencian una baja o nula incidencia del maíz en la dieta de estas poblaciones,
inclusive para el periodo tardío (BRACCO et al. 2000b; MUT 2015; DEL PUERTO 2015).
Las evidencias indican que estas estructuras tuvieron múltiples funciones, tanto en forma
sincrónica como diacrónica, extendiéndose algunas de ellas hasta la actualidad: zonas de habitación,
cementerios/estructuras ceremoniales, marcadores territoriales, monumentos, áreas de cultivo, zonas de

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LAURA DEL PUERTO, CAMILA GIANOTTI E HUGO INDA

concentración de recursos (islas de vegetación y cotos de caza), entre otros (ej. GIANOTTI 2000; LÓPEZ
2001; BRACCO 2006; IRIARTE 2006a). Asimismo, la conjunción de investigaciones arqueológicas y
paleoambientales ha permitido una concepción más integral de las interacciones humano-ambientales,
trascendiendo tanto la visión actualista y estática del ambiente como el rol pasivo del ser humano en su
configuración. Hoy se reconoce que los ambientes fueron dinámicos durante el Holoceno y que, lejos de
adaptarse pasivamente a esos cambios, las poblaciones prehistóricas fueron activas modeladoras de los
paisajes de las tierras bajas (ej. LÓPEZ 2001; IRIARTE 2006a; INDA et al. 2011; BRACCO et al. 2011). La
construcción de túmulos involucró una de las mayores modificaciones antrópicas del medio durante la
prehistoria de las tierras bajas sudamericanas, con consecuencias sobre los paisajes y la biodiversidad que
se extienden hasta nuestros días. En este sentido, constituye un claro ejemplo de las prácticas sociales de
manejo ecológico del medio (ej. ERIKSON 2010; GIANOTTI y BONOMO 2013).

Figura 1: Mapa con algunas de las principales zonas de distribución de cerritos en Uruguay.

Bajo este entendido, en el marco de las investigaciones arqueológicas en el noreste del Uruguay
se diseñó un programa de Paleoetnobotánica y Reconstrucción Paleoambiental con el objetivo de
profundizar en el conocimiento de la interrelación humano-ambiental en la prehistoria de la región. Dentro
de este programa se encuadran los análisis biosilíceos efectuados en el sitio Pago Lindo, cuyos principales
resultados se reportan en este trabajo.

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
GESTIÓN DEL MEDIO Y PRODUCCIÓN DE RECURSOS EN LAS TIERRAS BAJAS DEL NORESTE DE URUGUAY: ANÁLISIS
PALEOETNOBOTÁNICO DEL SITIO PAGO LINDO

Características y antecedentes del área de estudio y del sitio Pago Lindo


Las tierras bajas de la región noreste forman parte de la gran cuenca hidrográfica del Río Negro
medio a su paso por los departamentos de Tacuarembó, Cerro Largo y Rivera. Se caracterizan por la
existencia de humedales permanentes vinculados a las planicies de inundación de cursos fluviales
tributarios del Río Negro (Tacuarembó, Yaguarí, Caraguatá y Tacuarembó Chico), asociados a ecosistemas
fluviales, lacustres y de pastizales.
Las investigaciones arqueológicas efectuadas desde el año 2001 en las cuencas de los arroyos
Yaguarí y Caraguatá (Figura 2), han permitido localizar 1023 estructuras monticulares agrupadas en 97
conjuntos, asociados a las planicies de inundación de ambos cursos (GIANOTTI et al. 2009). Entre las
estructuras localizadas se identificaron cerritos circulares y alargados, microrelieves, plataformas y
terraplenes que unen montículos, así como pequeñas lagunas circulares con canales rectilíneos asociados
(GIANOTTI et al. 2009; GIANOTTI y BONOMO 2013).
En la cuenca del arroyo Yaguarí se efectuaron intervenciones arqueológicas en los sitios Lemos y
Cañada de los Caponcitos (Figura 2), desarrollándose en ambos investigaciones paleoetnobotánicas. En el
sitio Lemos, compuesto por 63 estructuras en tierra (52 cerritos y 11 microrelieves) se llevaron a cabo
análisis biosilíceos y antracológicos sobre materiales recuperados de la excavación del cerrito 27, así como
de sondeos efectuados en las planicies adyacentes. Los resultados de estos trabajos permitieron discutir
sobre los procesos de formación del cerrito y su dinámica constructiva, el manejo y cultivo de especies
vegetales y los principales cambios ambientales ocurridos durante los últimos 3000 años (DEL PUERTO y
INDA 2005).
En el sitio Cañada de los Caponcitos, formado por 23 microrrelieves, se efectuaron análisis
sedimentológicos y biosilíceos en tres de las estructuras y en la planicie circundante. Los resultados
obtenidos evidenciaron que los microrrelieves fueron construidos mediante la remoción y acumulación del
horizonte A del suelo circundante, siendo utilizados para la producción de maíz ca. 800 años AP (GIANOTTI
et al. 2013).
En la cuenca del arroyo Caraguatá se realizaron intervenciones arqueológicas en el sitio Pago
Lindo. El mismo se ubica en la planicie de inundación del curso medio del Caraguatá, sobre su margen
izquierda (Figuras 2 y 3). Es uno de los sitios más complejos relevados en la región, presentando una
importante densidad de cerritos de indios con una organización espacial compleja y gran variabilidad en
formas y dimensiones (hasta 300 m de largo por 30 m de ancho y casi 4 m de altura), además de contar con
otras geoformas asociadas. En particular, dentro del conjunto se localizaron dos lagunas circulares, una de
ellas asociada a un canal rectilíneo, que han llevado a postular la posible existencia de prácticas de manejo
prehistórico del agua (GIANOTTI 2015; GIANOTTI et al. 2009).

202
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
LAURA DEL PUERTO, CAMILA GIANOTTI E HUGO INDA

Figura 2: Distribución de sitios con montículos en las cuencas del arroyo Yaguarí y Caraguatá (región NE). Se destacan
los sitios excavados 1) Conjunto Lemos, 2) Conjunto Cañada de los Caponcitos y 3) Conjunto Pago Lindo.

El montículo excavado (PU061110Q23-25) es una estructura antrópica compleja en forma de U,


compuesta por la superposición y unión de varios montículos (circulares y alargados) de diferentes
dimensiones. Los resultados de la excavación permitieron reconocer diferentes momentos de actividad
humana desde el 3000 AP hasta el 600 AP. Estas actividades dieron lugar a la génesis y crecimiento de la
estructura, integrando depósitos no intencionales producto de la vida doméstica con episodios concretos e
intencionales de construcción y/o remodelación (GIANOTTI 2015; GIANOTTI y BONOMO 2013).
La cultura material está compuesta por fragmentos cerámicos y gran cantidad de desechos líticos,
así como ocre y carbón (GIANOTTI y BONOMO 2013). La cerámica es simple y utilitaria, de formas
globulares y abiertas, registrándose escasos tiestos decorados (VILLARMARZO 2009). La mayor frecuencia
de ocurrencia se asocia a la unidad estratigráfica UE002, ubicada cronológicamente hacia el 690 AP
(VILLARMARZO 2009; GIANOTTI 2015; GIANOTTI y BONOMO 2013). El material lítico se caracterizó por el
predominio de desechos de talla, con presencia de núcleos y escasos instrumentos. Predominan la caliza
silicificada y la calcedonia como materias primas, aunque se registra también xilópalo, cuarzo y arenisca
silificificada (BLASCO et al. 2011). En menor proporción, también se recuperaron instrumentos
pulimentados como morteros, manos de moler y sobadores.

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Figura 3: Vista aérea del conjunto Pago Lindo (arriba) con detalle de relavamiento plan-altimétrico y ubicación de los
sectores de excavación analizados (abajo).

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LAURA DEL PUERTO, CAMILA GIANOTTI E HUGO INDA

Las intervenciones efectuadas en ambas lagunas permitieron distinguir procesos de colmatación


diferentes que sugieren que los dos cuerpos pudieron tener origen y desarrollo distinto. La laguna
colmatada (sector 7) se encuentra rellena con 1 m. de materiales finos, con moderados contenidos en
materia orgánica. Los depósitos de la base del perfil fueron datados en 2894 + 35 a14C AP, lo que indica que
habría estado funcional en forma contemporánea a la construcción de la estructura monticular (GIANOTTI
2015; GIANOTTI et al. 2009). Por su parte, el sondeo practicado en el canal (sector 3) asociado a esta
laguna, permitió documentar la sucesión y discontinuidades entre unidades estratigráficas naturales y
antropogénicas, que aportan datos relevantes para comprender su origen y evolución.
Atendiendo a las características particulares del sitio, la investigación paleoetnobotánica tuvo el
objetivo principal de contribuir a la comprensión de los procesos de formación desde una dimensión
cultural y paleoambiental, aportando al conocimiento del origen, uso, mantenimiento y variabilidad
funcional de las distintas estructuras. En particular, se establecieron los siguientes objetivos específicos: a)
identificar recursos vegetales silvestres, manejados y/o cultivados; b) contribuir a la resolución
estratigráfica de las estructuras monticulares; c) caracterizar la naturaleza y génesis de rasgos del paisaje
(lagunas y canales) vinculados a las estructuras monticulares y d) generar información que contribuya a la
comprensión de la evolución paleoambiental.

MATERIALES Y MÉTODOS

Muestreo
En la Tabla 1 se presenta la información concerniente a la procedencia de las muestras analizadas
y las características del muestreo.
Tabla 1. Procedencia de las muestras analizadas.
Procedencia Código Muestreo N

Cerrito- Sector 1, Perfil N, esquina NE MU090226Q10 Muestras en columna cada 5 cm. 14

Sector 7-centro de Laguna Colmatada MU090216Q01 Muestras en columna cada 10cm 6


Sector 3- Canal Perfil N MU090220Q01 Muestras en columna cada 5 cm. 13
Sector 3- Canal Perfil E MU090220Q02 Muestras en columna cada 5 cm. 8

Procesamiento
Para la extracción del contenido biosilíceo, las muestras sedimentarias fueron sometidas a un
procedimiento estándar, modificado de Zhao y Pearsall (1998): eliminación de carbonatos mediante ataque
ácido con HCL (35%), eliminación de materia orgánica con Peróxido de Hidrógeno (30%) a Baño María,
defloculación en ultrasonido con Hexametafosfato de Sodio (4%), extracción de la fracción arena mediante

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tamizado y remoción de la fracción arcilla por decantación. Se realizaron preparados permanentes con
Entellan para la observación y análisis de las partículas biosiliceas.

Observación y análisis
La observación microscópica de todos los preparados se realizó a 400 y 1000 magnificaciones en
microscopio Nikon Eclipse 50i, adaptado a cámara Micrometrics 519CU para la captura y digitalización de
imágenes. Se procedió al conteo, clasificación e identificación de silicofitolitos en las muestreas analizadas,
a partir de la consulta bibliográfica y de la colección de referencia (DEL PUERTO 2011a, 2015; Figura 4),
actualmente depositada en el Centro Universitario Regional Este (UdelaR-Uruguay).

Figura 4: Principales morfotipos de silicofitolitos identificados en la colección de referencia y clave de nomenclatura


utilizada. Fuente: del Puerto 2015.

Para la identificación de fitolitos de hoja y caña de maíz se siguieron los criterios propuestos por
del Puerto (2015) a partir del análisis morfométrico comparativo de células cortas en forma de cruz en 75
especies de gramíneas de la región platense. Estos criterios fueron definidos para ser aplicados
específicamente a contextos multi-taxón (como sedimentos arqueológicos) y testeados en muestras de
suelo moderno de parcelas excluidas de pastoreo doméstico en distintos sectores de los Pastizales del Río
de la Plata (DEL PUERTO 2015). De acuerdo a estos estudios, fitolitos tetralobados mayores a 14 micras con
simetría bilateral (diferencia menor a 10% entre ancho y largo) en su forma general y en el cuerpo sin los

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lóbulos solo fueron registrados en Zea mays, considerándose representativo de la especie. Si bien la
aplicación de estos criterios puede sub-representar la presencia de maíz en contextos arqueológicos,
otorga mayor confiabilidad a las identificaciones positivas en sedimentos arqueológicos, donde el aporte
combinado de múltiples especies (que presentan a su vez multiplicidad y redundancia en la producción
fitolítica) dificulta la identificación por asociaciones de morfotipos.
Se identificaron las Zonas de Asociación de Silicofitolitos (ZAS) mediante métodos multivariados
(Stratigraphically Constrained Clustering) utilizando el índice de Morisita para medir la fuerza de la
asociación. Estos análisis se efectuaron con el software PAST 3.0 (HAMMER et al. 2001). Se calculó la
relación de fitolitos de células cortas de gramíneas C3:C4, como indicador de cambios en la temperatura
media anual y la precipitación en la estación cálida, según la calibración fitolitos-clima efectuada para la
región de los Pastizales del Río de la Plata (DEL PUERTO 2015; DEL PUERTO et al. 2014). Asimismo, para
cada muestra se calculó el índice D:P (dicotiledóneas:poaceas) para dimensionar cambios en la cobertura
vegetal (Alexandre et al. 1997, 1999), calibrado para el Este del Uruguay (DEL PUERTO 2011a). Finalmente,
se determinó la abundancia relativa de valvas de diatomeas, cistos de crisófitas y espículas de espongiarios.
En los registros de la laguna colmatada y el canal se calculó el cociente OSB:SF (otro sílice biogénico:
silicofitolitos) como indicador de cambios en el contenido de humedad, erosión de cuencas y posibles áreas
de aporte sedimentario.

RESULTADOS

Cerrito (MU090226Q10)
En la Figura 5 se presenta la distribución vertical de abundancia relativa de los principales
morfotipos de silicofitolitos identificados según los grupos taxonómicos asignados, los valores C3:C4 y D:P
calculados y las tres Zonas de Asociación de Silicofitolitos (ZAS) resultantes.
ZAS I: Comprende los 15 cm basales de la columna sedimentaria. Las muestras analizadas
presentaron una escasa concentración biosilícea, registrándose una marcada presencia de espículas de
carbón. Predominaron los fitolitos de gramíneas, dentro de los que se destacaron las células cortas de
gramíneas microtérmicas (C3), siendo las tribus Aveneae, Bromeae y Poeae (subfamilia Pooideae) las más
representadas. Este predominio determinó los máximos valores obtenidos para el índice C 3:C4 en toda la
columna estratigráfica, indicando condiciones de menores temperaturas medias anuales y menor
precipitación en la estación húmeda. Dentro de los fitolitos de gramíneas meso y megatérmicas, se destacó
la mayor proporción de células cortas de las tribus Chlorideae (subfamilia Chloridoideae) y Aristidae
(subfamilia Arundinoideae), sugiriendo también la existencia de déficit hídrico en la estación de
crecimiento. Fuera de las gramíneas, se observó una alta abundancia relativa de morfotipos atribuibles a

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palmeras (Arecaceae), así como a variadas dicotiledóneas leñosas. Esta abundancia, que se reflejó en altos
valores del índice D:P, sugiere la existencia de una importante cobertura arbórea/arbustiva. Finalmente, se
registró una escasa presencia de otras partículas biosilíceas, dominando ampliamente los silicofitolitos.

Figura 5: Distribución vertical de abundancia relativa de los principales morfotipos de fitolitos ordenados por grupo
taxonómico, de otras partículas biosilíceas, de los valores de los índices calculados y las zonas de asociación
resultantes.

ZAS II: Se extiende entre los 65 y 30 cm, abarcando diferentes unidades estratigráficas (Figura 5).
Se constató una mayor abundancia de partículas biosilíceas, dentro de las que continuaron dominando
ampliamente los silicofitolitos. Las células cortas de gramíneas fueron los morfotipos más representados,
con una mayor riqueza de taxones respecto a la ZAS anterior (Figura 5). Se registró un importante
incremento de las gramíneas megatérmicas, particularmente de andropogóneas y paníceas (C4),
repercutiendo en menores valores de la relación C3:C4. Conjuntamente, se destaca la aparición en el
registro de morfotipos de oríceas (Figuras 4 y 5), denotando la existencia de áreas anegadas o con alto
contenido de humedad. Esto se vio también reflejado en la mayor representación de fitolitos de ciperáceas
y cannáceas (Figura 5), así como de valvas de diatomeas y cistos de crisofitas, principalmente en el sector
superior de la ZAS. La vegetación leñosa se halla menos representada que en la zona subyacente, aunque
manteniendo altos valores que denotan la existencia de una importante cobertura arbóreo/arbustiva.
Finalmente, resultó particularmente relevante el registro de células cortas de gramíneas tetralobadas
simétricas (cruces), identificadas como Tt1 en las figuras 4 y 5. De acuerdo al análisis comparativo sobre 75
especies de gramíneas de la región (DEL PUERTO 2015) estos morfotipos se consideran característicos del

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maíz (Zea mays L.) cuando presentan tamaños mayores a 14 micras y evidencian también simetría en la
forma del cuerpo o istmo, sin los lóbulos. Como puede observarse en la Tabla 2, solo la muestra superior de
esta zona evidenció la presencia de morfotipos con tales características.
ZAS III: Comprende el sector superior de la columna sedimentaria, extendiéndose en las dos
primeras unidades identificadas como depósitos antropogénicos (Figura 5). El registro fitolítico es similar al
de la zona anterior, intensificándose las tendencias anteriormente registradas, tanto en referencia al
incremento de gramíneas meso y megatérmicas como al aumento de indicadores de ambientes de
humedal (oríceas, ciperáceas, cannáceas, diatomeas y crisofitas). La relación de gramíneas C3:C4 aportó los
mínimos valores para la columna sedimentaria, denotando mayores temperaturas medias anuales y
condiciones de humedad durante la estación cálida. El índice D:P mostró un leve decaimiento en el sector
superior de la ZAS, reflejando la disminución en la abundancia relativa de morfotipos atribuibles a
dicotiledóneas leñosas (Figuras 4 y 5). Este decrecimiento es extensivo a las palmeras, que presentaron los
menores valores registrados en el perfil. Dentro de los fitolitos de dicotiledóneas no leñosas se destaca la
presencia de fitolitos de bromeliáceas, aunque escasamente representados. Del igual modo, en la muestra
11 (30-25 cm), se registró un único fitolito subglobular facetado, atribuible a cucubitácea. Finalmente,
resultó igualmente relevante el registro de células cortas de gramíneas correspondientes al morfotipo Tt1
(Figuras 4 y 5), presentando tamaños medios superiores a las 14 micras y doble simetría (Tabla 2). Si bien
este morfotipo se observó también en el sector superior de la ZAS anterior, en esta zona se consolida su
registro.

Tabla 2. Abundancia relativa y características morfométricas de los morfotipos Tt1 registrados en el perfil norte del
cerrito.
Tt1 totales Tt1 >14 μm y cuerpo simétrico
Profundidad (cm)
Abundancia (%) Tamaño medio (μm) Abundancia (%) Tamaño medio (μm)
10-15 1,31 16,5 65,4 17,57
15-20 1,90 15,3 62,3 15,95
20-25 1,41 15,5 57,1 15,96
25-30 2,94 16,79 52,3 20,89
30-35 1,17 17,24 72,73 18,05
35-40 1,22 14,6 0 0
40-45 0,84 13,8 0 0

Canal
En la Figura 6 se presenta la distribución vertical de abundancia relativa de los principales
morfotipos de silicofitolitos por grupo taxonómico identificado en ambas secuencias sedimentarias del
canal (perfiles norte y este), los valores C3:C4, D:P y OSB:SF, así como las Zonas de Asociación de
Silicofitolitos (ZAS) resultantes.
En el perfil norte (MU090220Q01) se identificaron cinco ZAS:

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ZAS I: Corresponde a la base de la secuencia sedimentaria (65-60 cm). Se registró una muy escasa
abundancia de partículas biosilíceas, dentro de las cuales predominaron ampliamente los silicofitolitos.
Dentro de los silicofitolitos se constató el predominio de morfotipos atribuibles a gramíneas, entre los que
dominaron las células bulliformes y los apéndices dérmicos (Figura 6). Entre las células cortas de gramíneas
los morfotipos de especies microtérmicas resultaron más abundantes, especialmente dentro de las tribus
Aveneae, Bromeae y Poeae. Lo anterior se corresponde con los máximos valores de la relación C 3:C4 en
todo el perfil (Figura 6). Fuera de las gramíneas se registró la presencia de fitolitos de palmeras (Arecaceae)
y de dicotiledóneas leñosas, aportando altos valores para el índice D:P.

Figura 6: Distribución vertical de abundancia relativa de los principales morfotipos de silicofitolitos por grupo
taxonómico identificado en ambas secuencias sedimentarias del canal (perfiles norte y este), los valores C 3:C4, D:P y
OSB:SF, así como las Zonas de Asociación de Silicofitolitos (ZAS) resultantes.

ZAS II: Se extiende entre los 60 cm y el tope de la unidad estratigráfica basal, a los 40 cm de
profundidad. Se registró una mayor abundancia relativa de partículas biosilíceas, dentro de las que
continuaron dominando ampliamente los silicofitolitos. No obstante, se constató un leve incremento en la
abundancia relativa de valvas de diatomeas y espículas de esponjas. Dentro de los silicofitolitos
continuaron dominando los morfotipos de gramíneas, pero con una mayor abundancia de células cortas
silicificadas. Entre estas, los morfotipos más representados fueron los pertenecientes a las tribus
Andropogonae y Paniceae, repercutiendo en la disminución del valor de la relación C3:C4. Las dicotiledóneas

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leñosas mantuvieron altas abundancias relativas, con valores elevados del índice D:P. Los fitolitos de
palmeras, por el contrario, desaparecen del registro en esta zona (Figura 6).
ZAS III: Se desarrolla entre los 40 y 25 cm de potencia, abarcando la totalidad de la tercera unidad
estratigráfica relevada (Figura 6). Se distinguió de la zona anterior por el incremento en las células cortas de
gramíneas, las que mantuvieron una relación proporcional similar a la registrada en tramo inferior de la
columna sedimentaria. Se observó un incremento en los morfotipos de gramíneas oríceas, al tiempo que
también aumentó el registro de ciperáceas. Los fitolitos de palmeras volvieron a estar presentes en esta
asociación, en tanto se produjo una disminución de los tipos atribuibles a dicotiledóneas leñosas. Esto
repercutió en menores valores del índice D:P (Figura 6). Finalmente, el índice OSB:SF mostró una tendencia
en aumento hacia el tope de la zona, determinada por una mayor abundancia relativa de valvas de
diatomeas.
ZAS IV: Se extiende entre los 25 y 10 cm de profundidad, al interior de la segunda unidad
litoestratigráfica identificada (Figura 6). Se caracterizó por una mayor riqueza biosilícea, constatándose un
importante incremento en el contenido diatomológico (Figura 6), aumentando el valor OSB:SF. Además de
las valvas completas cuantificadas, se observó la presencia de numerosos fragmentos de diatomeas en
todas las muestras de esta zona. Los silicofitolitos fueron también más abundantes, registrándose la
presencia de formas articuladas. Continuaron incrementando los morfotipos de gramíneas megatérmicas
(Andropogonae, Paniceae, Chlorideae y Aristidae), destacándose asimismo la presencia del morfotipo
tetralobado simétrico (Tt1) en esta zona. Sin embargo, los valores morfométricos relevados no permiten
asignarlas a maíz (Tabla 3). La abundancia relativa de fitolitos de dicotiledóneas leñosas se mantuvo
constante, en tanto los fitolitos de palmeras desaparecieron nuevamente del registro en esta zona (Figura
6).

Tabla 3. Abundancia relativa y características morfométricas de los morfotipos Tt1 registrados en el perfil norte del
canal.
Tt1 totales Tt1 >14 μm y cuerpo simétrico
Profundidad (cm)
Abundancia (%) Tamaño medio (μm) Abundancia (%) Tamaño medio (μm)
0-5 1,82 15,01 33,33 17,13
5-10 2,08 14,79 28,57 18,25
10-15 1,05 14,2 0,00 0,00
15-20 2,45 13,15 0,00 0,00
20-25 0,63 13,6 0,00 0,00
25-30 0,59 12,7 0,00 0,00

ZAS V: Comprende el tope del perfil sedimentario, incluyendo el tapiz vegetal y los primeros 5 cm.
de la unidad estratigráfica subyacente. Presentó grandes similitudes con la ZAS anterior, distinguiéndose
principalmente por la mayor abundancia relativa de valvas de diatomeas (enteras y fragmentadas) y de
células cortas de gramíneas mega y mesotérmicas (Figura 6). Dentro de estas últimas se vuelve a registrar la

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presencia de tetralobados simétricos en este sector del perfil, presentando en algunos pocos casos
relaciones morfométricas que permitirían vincularlas al maíz (Tabla 3). Otros datos a destacar son la
reaparición en el registro de fitolitos de palmeras, junto a la disminución de morfotipos de dicotiledóneas
leñosas. Esto determinó que el índice D:P mantuviera la tendencia decreciente iniciada en la ZAS anterior.
Finalmente, se registra el aumento en la abundancia de oríceas y ciperáceas.
En el perfil este (MU090220Q02), ubicado en el centro del canal, se identificaron cuatro ZAS:
ZAS I: Comprende el sector basal de la secuencia sedimentaria, entre los 45 y 40 cm de
profundidad y se corresponde con la ZAS I identificada en el perfil norte (Figira 6). Se caracterizó por una
escasa presencia de partículas biosilíceas, las que presentaron signos de alteración física y química. Dentro
de los fitolitos se constató el predominio de morfotipos de gramíneas, destacándose la mayor abundancia
relativa de células bulliformes y apéndices dérmicos (Figura 6). Entre las células cortas de gramíneas se
registró una mayor abundancia de morfotipos de especies microtérmicas (C3) de la subfamilia Pooideae
(tribus Aveneae, Bromeae y Poeae). Esto definió el máximo valor de la relación C3:C4 para la secuencia de
este perfil (Figura 6). Las gramíneas mega y mesotérmicas se hallaron mayormente representadas por
morfotipos atribuidos a pníceas, andropogóneas, clorídeas y arundíneas. Fuera de las gramíneas, se relevó
la presencia de morfotipos producidos por dicotiledóneas leñosas, cuya relación de abundancia respecto a
las poáceas (índice D:P) corresponde a ambientes de pastizales arbustivos. Finalmente, se observaron
valvas de diatomeas y cistos de crisofitas en muy escasa abundancia. ZAS II: Se desarrolla entre los 40 y 30
cm de profundidad, extendiéndose también dentro de la unidad estratigráfica basal de la secuencia. Al igual
que la zona anterior, se caracterizó por la escasa presencia de silicofitolitos y por la abundancia de espículas
de carbón. Se constató un incremento en la representación de las células cortas de gramíneas, dentro de
las que predominaron nuevamente los morfotipos de especies microtérmicas C3 (principalmente de las
tribus Aveneae, Bromeae y Poeae). No obstante, las gramíneas megatérmicasse hallaron mejor
representadas que en la zona anterior, lo que se vio reflejado en menores valores del índice C 3:C4. Otros
grupos taxonómicos de gramíneas se incorporaron al registro en este sector, destacándose la presencia de
morfotipos de oríceas (tribu Oryzeae). Junto al registro de ciperáceas y el incremento de diatomeas y
crisofitas (Figura 6), la presencia de oríceas indica la existencia de ambientes de humedales en el área.
Finalmente, las dicotiledóneas leñosas se encuentran mejor representadas que en la zona anterior, al
tiempo que aparecen en el registro fitolitos atribibles a palmeras. Esto, junto al valor aportado por el índice
D:P, indica un mayor desarrollo de cobertura arbóreo/arbustiva en la cuenca.
ZAS III: Es la zona con mayor extensión en el perfil, desarrollándose entre los 30 y 10 cm de
profundidad y correspondiendo a la tercera unidad estratigráfica de este perfil, identificada como un
depósito de relleno del canal (Figura 6). Esta zona presentó una mayor riqueza biosilícea, particularmente
hacia el tope de la unidad, disminuyendo notablemente la presencia de espículas de carbón (Figura 6). Se
registró también una mayor riqueza de morfotipos respecto a las zonas anteriores, destacándose asimismo

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la presencia de formas articuladas. A diferencia de las zonas anteriores, se constató el predominio de


células cortas de gramíneas megatérmicas C4, dominando las formas panicoides (paníceas y
andropogóneas). Se observó también una tendencia e aumento de los fitolitos de oríceas y ciperáceas,
denotando el mantenimiento y/o extensión de los ambientes húmedos. La representación de fitolitos de
dicotiledóneas leñosas se mantuvo bastante constante, sugiriendo que no existieron cambios notables en la
estructura de la vegetación circundante. Finalmente, cabe notar que si bien el registro fitolítico identifica
este tramo como una única zona de asociación, la abundancia relativa de otras partículas biosilíceas
permite diferenciar dos sub-zonas bien marcadas. La primera comprende la mitad inferior de la ZAS y se
diferencia por la escasa presencia de valvas de diatomeas y cristos de crisofitas. La segunda, que
comprende la mitad superior, se distingue por un notable incremento de estos indicadores. Cabe agregar
que los valores graficados corresponden únicamente al registro de partículas completas, sin comprender
los numerosos fragmentos observados durante el análisis. En la sub-zona superior, en particular, se notó
una importante presencia de fragmentos de diatomeas.
ZAS IV: Corresponde al sector superior del perfil estratigráfico, comprendiendo la unidad
estratigráfica que se desarrolla por debajo del tapiz vegetal. Presentó una asociación fitolítica similar a la
registrada en el sector superior de la zona anterior, acentuándose el predominio de gramíneas
megatérmicas, así como el incremento de morfotipos de oríceas. La característica más notoria es la mayor
representación de valvas de diatomeas y cistos de crisofitas, aportando los mayores valores del índice
OSB:SF para toda la columna estratigráfica.

Laguna Colmatada (MU090216Q01)


En la Figura 7 se presenta la distribución vertical de abundancia relativa de los principales
morfotipos de silicofitolitos identificados en la secuencia sedimentaria de este perfil, agrupados según los
grupos taxonómicos atribuidos. Asimismo, se muestra la distribución vertical de abundancia relativa de
otras partículas biosilíceas, los valores C3:C4, D:P y OSB:SF y cuatro las ZAS resultantes.
ZAS I: Se extiende entre los 110 y 80 cm de profundidad. Se observó una alta abundancia de
partículas biosilíceas, con un importante contenido de diatomeas y crisofitas (Figura 7). Esto se vio reflejado
en altos valores de índice OSB:SF. En el caso de las valvas de diatomeas, se registró la presencia de frústulos
completos (valvas articuladas) e incluso de frústulos conectados (formas coloniales). Entre los fitolitos
dominaron las gramíneas, con una gran variedad de morfotipos y taxones representados. Si bien las células
cortas de gramíneas megatérmicas (tribus Aristidae, Andropogonae, Paniceae y Chlorideae) se hallan mejor
representadas, se relevó una importante presencia de morfotipos de especies microtérmicas (Aveneae,
Bromeae, Poeae, Stipeae). Esto determinó valores medios para el índice C3:C4, que a pesar de ello fueron
los más altos registrados en el perfil. La presencia de morfotipos de oríceas, ciperáceas y cannáceas
evidencia la existencia de comunidades hidrófilas, al menos desarrolladas estacionalmente. Por otra parte,

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PALEOETNOBOTÁNICO DEL SITIO PAGO LINDO

la alta representación de fitolitos de dicotiledóneas leñosas y el valor obtenido en la relación D:P (Figura 7),
son consistentes con un importante desarrollo de cobertura arbórea/arbustiva en la cuenca.
ZAS II: Se desarrolla entre los 80 y 50 cm de profundidad, comprendiendo el sector superior de la
cuarta unidad litoestratigráfica relevada en campo (Figura 7). Al igual que la zona anterior, se caracterizó
por un alto contenido biosilíceo, registrándose un incremento en la representación de valvas de diatomeas
y cistos de crisofitas (Figura 7). Esto repercutió en un aumento en los valores del índice OSB:SF. A nivel de
los silicofitolitos, se destacó el incremento de morfotipos de gramíneas mega y mesotérmicas, produciendo
la disminución de los valores aportados por la relación C3:C4 (Figura 7).
ZAS III: Corresponde a la tercera unidad litoestratigráfica del perfil, extendiéndose entre los 50 y
35 cm de profundidad. Esta zona exhibió los mayores valores de abundancia de valvas de diatomeas y
cistos de crisofitas (Figura 7), con un pico positivo en el valor de la relación OSB:SF. Respecto a los fitolitos,
se registró una disminución de morfotipos de gramíneas C4, determinando el aumento de la relación C3:C4.
Acorde a lo anterior, se observó una disminución de especies hidrófilas, como las ciperáceas y oríceas.
Finalmente, el valor del índice D:P denotó una leve caída, producto de una menor representación de
fitolitos de dicotiledóneas leñosas (Figura 7).

Figura 7: Distribución vertical de abundancia relativa de los principales morfotipos de silicofitolitos y otras partículas
biosilíceas identificados en el perfil del sector 7, los valores C3:C4, D:P y OSB:SF y las ZAS resultantes.

ZAS IV: Comprende el tope del perfile estratigráfico (35-0 cm), abarcando las dos unidades
litoestratigráficas superiores. La característica más notoria fue la disminución progresiva de valvas de
diatomeas y cistos de crisófitas, incrementando la abundancia de fitolitos hacia el tope del perfil. Entre
éstos vuelven a predominan los fitolitos de gramíneas mega y mesotérmicas, aunque con una buena
representación de morfotipos de taxones microtérmicos. Se destacó el aumento de la abundancia de

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morfotipos de oríceas, particularmente en el sector inferior de la zona. Los fitolitos de ciperáceas


mantuvieron valores similares a los de la zona anterior, en tanto que disminuyó la representación de las
dicotiledóneas leñosas y las palmeras desaparecieron del registro.

DISCUSIÓN

Cerrito (MU090226Q10)
Desde el punto de vista bioestratigráfico y paleoecológico se identificaron tres zonas principales
de asociación biosilícea. La primera zona, ubicada en el sector basal de la columna sedimentaria,
corresponde a un horizonte natural caracterizado por una muy baja concentración biosilícea compuesta
mayormente por silicofitolitos. Los mismos presentaron evidencias de erosión química, producto de la cual
predominaron morfotipos de mayor tamaño y densidad. Las asociación fitolítica relevada representa una
vegetación mixta, con pastizales mesotérmicos bien desarrollados y una importante extensión de monte
ripario y/o de parque con palmeras. Estas comunidades se habrían desarrollado bajo un clima templado,
subhúmedo o con precipitaciones estacionales.
La segunda zona identificada es de naturaleza mixta, comprendiendo tanto depósitos naturales
como antrópicos. Presentó un mayor contenido biosilíceos, con una amplia gama de morfotipos de
silicofitolitos representados. Dentro de las gramíneas se registró la presencia de nuevos taxones, como los
atribuidos a estípeas y oríceas, al tiempo que incrementó notoriamente la abundancia de otros grupos
como las ciperáceas y cannáceas. La asociación fitolítica refleja una comunidad vegetal compuesta por
pastizales mixtos (con especies microtérmicas y megatérmicas), monte ripario y/o de parque y áreas de
humedales. Estas formaciones se habrían desarrollado bajo un clima templado y húmedo, con escasa
estacionalidad en las precipitaciones.
La tercera y última zona identificada corresponde al tope de la columna sedimentaria,
comprendiendo depósitos de origen antrópico. Es la zona que presenta mayor cantidad y diversidad de
morfotipos de fitolitos, así como un mayor contenido de valvas de diatomeas y cistos de crisofitas. Desde la
perspectiva paleoecológica, la asociación fitolítica refleja un mayor desarrollo de las formaciones de
pastizales megatérmicos y de humedales, con disminución progresiva o contracción de las formaciones
leñosas. Estos cambios se vieron acompañados por el incremento en las temperaturas medias anuales y
con la existencia de déficit hídrico estacional, bajo un clima templado a cálido y húmedo a subhúmedo.
Desde una perspectiva paleoetnobotánica, resulta relevante la presencia de numerosos taxones
que pudieron vincularse a la subsistencia de las poblaciones prehistóricas del área. En primer lugar, se
destaca la presencia de fitolitos de plantas silvestre que cuentan con amplias referencias de uso en la
literatura etnográfica, etnohistórica y arqueológica para la Cuenca del Plata (recopiladas en DEL PUERTO

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GESTIÓN DEL MEDIO Y PRODUCCIÓN DE RECURSOS EN LAS TIERRAS BAJAS DEL NORESTE DE URUGUAY: ANÁLISIS
PALEOETNOBOTÁNICO DEL SITIO PAGO LINDO

2011b). Entre estas se destacan las ciperáceas, cannáceas, bromeliáceas, palmeras, oríceas silvestres e
incluso varias dicotiledóneas leñosas que no pueden ser identificadas a un nivel taxonómico más fino.
Una situación más clara está dada por la presencia de fitolitos atribuibles a recursos vegetales
manejados y/o cultivados, como las cucurbitáceas y el maíz. Estos aparecen en la zona superior de la
secuencia sedimentaria, asociados exclusivamente a depósitos de origen antrópico, con fechados de 900 +
14 14
35 a C AP. y 690 + 35 a C AP. Su hallazgo constituye una nueva evidencia del manejo y cultivo de
especies vegetales por parte de los grupos prehistóricos que ocuparon el área.

Canal Perfiles Norte (MU090220Q01) y Este (MU090220Q02)


La unidad litoestratigráfica basal de ambos testigos se formó en un ambiente terrestre, con una
sucesión de formaciones vegetales que fueron evolucionando con el clima. La asociación biosilícea más
antigua, que se habría desarrollado bajo condiciones más frías que las actuales, corresponde a un
ecosistema de pastizales predominantemente microtérmicos, con una importante presencia de
formaciones leñosas. A medida que el clima se fue tornando más templado, se produjo una sucesión a
pastizales mesotérmicos con formaciones uliginosas y una mayor expansión de las comunidades
arbóreo/arbustivas. Llama poderosamente la atención el alto contenido de espículas de carbón registradas
en la matriz sedimentaria, consistentes con las observaciones realizadas en el perfil fresco en campo.
Las unidades suprayacentes también se habrían formado en ambiente terrestre, pero con aporte
de elementos acuáticos producto de inundaciones estacionales. Estas se hallan evidenciadas por el mayor
contenido de valvas de diatomeas y cistos de crisofitas, así como por el incremento de fitolitos propios de
vegetación hidrófila (oríceas, ciperáceas). Conjuntamente a esta expansión de los humedales se constató
una reducción de los elementos leñosos, aunque continuaron siendo un componente muy importante de la
vegetación local. Estos cambios también acompañaron la transición hacia las condiciones climáticas
actuales, templadas a cálidas y húmedas, aunque con cierto déficit hídrico durante la estación estival.
Por encima de estas unidades, en el perfil Este se registró una asociación biosilícea que está
ausente en el perfil Norte. La misma se desarrolla en la tercera unidad estratigráfica relevada en campo y se
caracterizó por un mayor contenido de valvas de diatomeas, alcanzando los máximos valores en el índice
OSB:SF. Además de las valvas completas cuantificadas en el análisis, se registraron cuantiosos fragmentos
de diatomeas de distintos tamaños. Este grado de fragmentación sugiere la existencia de mecanismos de
transporte de alta energía, no consistentes con el ambiente léntico inferido en las unidades subyacentes. Se
deduce que esta unidad se habría depositado bajo condiciones acuáticas de alta energía, correspondientes
al funcionamiento activo del canal. Teniendo en cuenta que dicha estructura pudo haber sido sujeta a
actividades de mantenimiento y/o reactivación, es altamente probable que el registro sea fragmentario.
Finalmente, interesa destacar que en los 10 cm superficiales del perfil norte se registró la
presencia de fitolitos atribuibles a maíz. En este sector del perfil el horizonte A es más potente y

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LAURA DEL PUERTO, CAMILA GIANOTTI E HUGO INDA

seguramente esté alimentado por procesos erosivos (faldeo) del cerrito que está a escasos 3-5 m hacia el
NW (GIANOTTI et al. 2009). Es posible que los fitolitos de maíz provengan entonces de la estructura
monticular.

Laguna Colmatada (MU090216Q01)


El registro biosilíceo de la columna sedimentaria de la laguna colmatada denotó la existencia de
un sistema lacustre desde la base del perfil, datada en 2894 + 35 a14C AP, que parece haber estado en
expansión hasta su reciente eutrofización y progresiva colmatación. Esto indica que dicha laguna habría
estado funcional durante el periodo de construcción y ocupación del montículo analizado. Los fitolitos
evidencian un entorno de pastizales mesotérmicos con desarrollo de formaciones uliginosas y una
importante presencia de comunidades leñosas, desarrollada bajo condiciones climáticas templadas a
cálidas y húmedas con algunos períodos subhúmedos o estacionales.

CONCLUSIONES

Los resultados obtenidos aportan nuevos datos paleoetnobotánicos y paleoambientales para la


región NE que, junto a la información de los sitios Lemos y Cañada de los Caponcitos, permiten comenzar a
visualizar un panorama general sobre los cambios ambientales y las estrategias de manejo de recursos
vegetales durante el último tramo del Holoceno medio y el Holoceno tardío en la región. En este sentido, si
bien la información paleoambiental generada es aún limitada en términos cronológicos y espaciales, es
consistente con otras líneas de evidencia paleobotánicas para la región noreste (MOURELLE 2015) y con los
modelos paleoambientales generados para el este de Uruguay (por ejemplo, DEL PUERTO 2011a, 2015;
IRIARTE 2006b) al indicar el progresivo establecimiento de condiciones templadas a cálidas y húmedas
durante el Holoceno tardío.
Por otro lado, las nuevas evidencias sobre el uso de recursos silvestres y la producción de
vegetales cultivados contribuyen a discutir la naturaleza y alcance de las estrategias de gestión del medio
entre las poblaciones constructoras de cerritos. En particular, la identificación de fitolitos de maíz y
cucurbitáceas en el sitio analizado refuerza las identificaciones efectuadas para otros sitios del área y, en
conjunto, constituyen evidencias más sólidas para interpretar la antigüedad y la dispersión de prácticas
productivas al norte del Río Negro.
Asimismo, los datos generados mediante el análisis de la laguna colmatada y su canal asociado,
abren la discusión hacia nuevas formas de manejo ambiental que incluyen otras estructuras construidas o
modificadas antrópicamente. Por un lado, el registro de partículas biosilíceas (principalmente de
diatomeas) obtenido en ambos perfiles del canal, evidencia que el mismo estuvo activo y en conexión con

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GESTIÓN DEL MEDIO Y PRODUCCIÓN DE RECURSOS EN LAS TIERRAS BAJAS DEL NORESTE DE URUGUAY: ANÁLISIS
PALEOETNOBOTÁNICO DEL SITIO PAGO LINDO

la laguna. Por otro, la cronología obtenida en la base del perfil de la laguna indica que ésta estuvo en
funcionamiento en forma contemporánea a la construcción y ocupación de la estructura monticular desde
sus inicios, circa 3000 años AP. De acuerdo a los resultados del análisis biosilíceo en los depósitos de fondo,
la laguna habría mantenido un cuerpo de agua dulce hasta tiempos recientes, siendo que su colmatación se
registra en los 40 cm superiores del perfil.
Si bien el registro biosilíceo por sí solo no permite confirmar el origen antrópico de la laguna y el
canal asociado, aporta nuevos indicios en relación al uso y mantenimiento de ambas estructuras. La
integración de estos resultados con otros indicadores geomorfológicos, sedimentológicos, geoquímicos y
geocronológicos, permitirá mayor resolución en el análisis y la comprensión de estas formas de gestión
ecológica del medio, novedosas para la prehistoria de las tierras bajas del Uruguay.

Agradecimientos
Este trabajo se desarrolló gracias al proyecto de cooperación científica entre el Incipit (CSIC) y el
LAPPU (FHCE-CURE, Universidad de la República): “El paisaje arqueológico de las tierras bajas uruguayas”
(2005-2009), dirigido por Camila Gianotti y Felipe Criado y financiado por la Dir. General de Bellas Artes del
Ministerio de Cultura de España. Investigaciones actuales en el área de estudio se están desarrollando en el
marco del proyecto “Gestión de la Biodiversidad en la Prehistoria de las Tierras Bajas del Uruguay” (2015-
2017), dirigido por Laura del Puerto y César Fagúndez y financiado por el programa CSIC I+D.

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LAURA DEL PUERTO, CAMILA GIANOTTI E HUGO INDA

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Recebido em:18/04/2016
Aprovado em:15/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
RECONSTRUCTING PRE-COLOMBIAN AGRICULTURAL PRACTICES IN THE
BOLIVIAN SAVANNAH: STRATIGRAPHIC AND PHYTOLITH EVIDENCE FROM
RAISED FIELDS AT CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS
RECONSTRUINDO PRÁTICAS AGRÍCOLAS PRÉ-COLOMBIANAS NA SAVANA
BOLIVIANA: EVIDÊNCIAS ESTRATIGRÁFICAS E FITOLíTICAS DOS CAMPOS
ELEVADOS NO CAMPO ESPAÑA, LLANOS DE MOXOS OCIDENTAL

Ruth Dickau
José Iriarte
Timothy Quine
Daniel Soto
Francis Mayle

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Reconstructing pre-Colombian agricultural practices in the Bolivian savannah:
stratigraphic and phytolith evidence from raised fields at Campo España,
western Llanos de Moxos

Ruth Dickau1
José Iriarte1
Timothy Quine2
Daniel Soto3
Francis Mayle4

Abstract: Pre-Columbian inhabitants of the western Llanos de Moxos, Bolivia, transformed large
expanses of seasonally flooded savannah into a complex agricultural landscape. Extensive raised field
systems, along with associated canals and causeways, suggest a sophisticated approach to managing
land and water resources for permanent, intensive, agricultural production. However, the detailed
construction history, specific crops, and palaeoenvironmental impacts of these fields are poorly known.
To investigate these issues, we analyzed stratigraphy and phytoliths from two raised fields (camellones)
at the site of Campo España, western Beni, Bolivia. Results indicate that prior to field construction,
vegetation was mainly palm savannah. A decline in arboreal phytolith frequencies is associated with
human clearing and initial field construction. A peak in burnt grass phytoliths followed by an increase of
Asteraceae, suggests a period of regular field maintenance and intensive agricultural use. Maize (Zea
mays) and possibly manioc (Manihot esculenta) were grown. A small increase in arboreal phytoliths
suggests some forest recovery after field abandonment. This study demonstrates the utility of phytolith
and stratigraphic analyses in reconstructing construction, cultivation, and palaeoenvironmental histories
of raised field systems, and assessing their role within the advanced agricultural landscape management
practiced by pre-Columbian populations in the Bolivian Amazon.

Keywords: Raised fields, Agriculture, Palaeoenvironment, Phytolith Analysis, Stratigraphy, Amazonia.

Resumo: Os habitantes pré-colombianos de Llanos de Moxos ocidental, Bolívia, transformaram grandes


áreas de uma savana sazonalmente inundada em complexas paisagens agrícolas. Extensos campos de
plantação, assim como canais e caminhos associados, sugerem uma abordagem sofisticada para o
manejo da terra e dos recursos aquáticos para produção agrícola intensiva e permanente. No entanto,
detalhes sobre suas histórias construtivas, plantações específicas e os impactos paleoambientais destes
campos são pouco conhecidos. Para investigar estas questões, analisamos a estratigrafia e os fitólitos de
dois destes campos elevados (camellones) do sítio Campo España, oeste de Beni, Bolívia. Os resultados
indicam que antes da construção dos campos, a vegetação era majoritariamente uma savana com
palmeiras. O declínio na frequência de fitólitos arbóreos é associado com uma limpeza da área pela ação
humana e o início das construções dos campos. Um pico nos fitólitos de grama queimada seguido por

1 Department of Archaeology, Laver Bldg., North Park Rd., University of Exeter, Inglaterra;
2 Department of Geography, College of Life and Environmental Sciences, Hatherly Laboratories, Prince of Wales Rd., University of Exeter,
Inglaterra;
3 Museo de Historia Natural ‘Noel Kempff Mercado’, Universidad Autonomía Gabriel René Moreno, Bolívia;
4 Department of Geography and Environmental Science, University of Reading, Inglaterra.
RUTH DICKAU, JOSÉ IRIARTE, TIMOTHY QUINE, DANIEL SOTO E FRANCIS MAYLE

um aumento de Asteraceae, sugere um período de manutenção regular dos campos e uso agrícola
intensivo. Eram cultivados milho (Zea mays) e possivelmente mandioca (Manihot esculenta). Um
pequeno aumento dos fitólitos arbóreos sugere certo grau de recuperação da floresta após o abandono
dos campos. Este estudo demonstra a utilidade de análises de fitólitos e estratigráficas na reconstrução
dos processos de construção, cultivo e história paleoambiental dos sistemas de campos elevados e na
avaliação de seus papeis dentro do avançado manejo de paisagens agrícolas praticadas por populações
pré-colombianas na Amazônia boliviana.

Palavras-chave: Campos elevados, Agricultura, Paleoambiente, Análise de Fitólitos, Estratigrafia,


Amazônia.

INTRODUCTION

The Llanos de Moxos of lowland Bolivia are known for their extensive pre-Columbian
earthworks, including canals, causeways, large habitation mounds, and raised fields. The scale of these
earthworks suggest the area was home to a large, socially-complex population prior to European contact
(NORDENSKIÖLD 1913, 1924; DENEVAN 1966; DOUGHERTY and CALANDRA 1984; ERICKSON 2000a,
2000b; DENEVAN 2001; PRÜMERS 2004; WALKER 2004; ERICKSON 2006; ERICKSON and BALÉE 2006;
PRÜMERS 2006; ERICKSON 2008; WALKER 2008a, 2000b; PRÜMERS 2009a, 2000b; ERICKSON, 2010;
WHITNEY et al. 2013). Of the various types of earthworks documented in the region, raised fields (or
camellones) are among the most spatially extensive (PLAFKER 1963; DENEVAN 1970; LEE 1979;
ERICKSON 1980, 1995; LEE 1997; WALKER 2000, 2004; ERICKSON 2006; WALKER 2008a; NORDENSKIÖLD
and DENEVAN 2009; LOMBARDO 2010; LOMBARDO et al. 2011; RODRIGUES et al. 2014). In the Llanos
de Moxos they are found west of the Mamoré River, in the south around the modern towns of San Borja
and San Ignacio de Moxos, and north around the modern town of Santa Ana de Yacuma. These raised
fields are presumed to have been constructed by pre-Columbian people as a way to improve agricultural
productivity by draining areas of the landscape regularly affected by seasonal flooding (LEE 1997;
DENEVAN 2001; LOMBARDO et al. 2011), and improving soil fertility and growing conditions (LEE 1997;
SAAVEDERO 2006; ERICKSON 2006, 2008; WHITNEY et al. 2014; but see LOMBARDO et al. 2011).
Construction of raised fields may have occurred as early as 400 BC, based on dates obtained by Erickson
and colleagues (ERICKSON et al. 1991; cited in ERICKSON 1995, 2006) at the site of El Villar along the San
Borja-Trinidad highway. The raised fields at nearby Bermeo were in use as early as AD 570 (RODRIGUES
et al. 2014). Archaeological sites associated with fields in the Santa Ana de Yacuma area were inhabited
by AD 600 (WALKER 2004).

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Although most researchers agree that the raised fields were artificial platforms constructed for
growing agricultural crops, only recently have archaeobotanical studies been conducted to identify the
actual species cultivated on the fields, and the paleoecological consequences of cultivation (ERICKSON
1995; WHITNEY et al. 2014). Denevan (2001) proposed that raised fields would have been most suitable
for growing root crops, such as manioc (Manihot esculenta), but lacked empirical data to test his
hypothesis. Pollen from Bixa, Ilex, and Xanthosoma, along with a wide range of grasses, trees, and
aquatic plants, was recovered from fields examined by Erickson (1995) and colleagues at El Villar, which
suggest that the fields were used to cultivate both food and industrial crops. Phytolith analysis on raised
fields associated with the archaeological site of El Cerro in the Iruyañez-Omi area north of Santa Ana de
Yacuma documented evidence for the cultivation of maize (Zea mays) (WHITNEY et al. 2014).
Palynological analysis of cores from two nearby lakes confirmed the use of maize, and also indicated
that sweet potato (Ipomoea batatas, which does not produce phytoliths) was cultivated. Assessment of
the phytolith and pollen records showed a history of field construction, fire-use, cultivation, landscape
management, and later field abandonment before European contact (WHITNEY et al. 2014).
There is a good deal of variability in where raised fields are located on the landscape, their
shape and orientation, and soil type. They are found not only on clays of low-lying, inundated or
waterlogged savannah, but also on moderately fertile loam or silt soils of river levees and forested areas
(LOMBARDO et al., 2011; RODRIGUES et al. 2014). Lombardo et al. (2011) suggest that raised field
complexes in different areas were constructed for different purposes, related to local topography,
inundation patterns, and cultural needs, but mainly they were built for drainage purposes.
As part of the Leverhulme Trust funded project ‘Pre-Columbian land-use and impact in the
Bolivian Amazon’ investigating human-landscape interactions, we examined several raised field systems
from different locations in the western Llanos de Moxos in order to compare construction histories,
cultivation practices, and palaeoenvironmental impacts. In this article we present results from analysis
of raised fields at the Campo España site in the far western part of the Llanos de Moxos, approximately 3
km northeast of the modern town of San Borja (Fig. 1). The site is named after the ranch on which it is
located. It was first investigated by Erickson and Faldin in 1978 (ERICKSON 1980), who noted a complex
set of earthworks, including canals, causeways, mounds, an artificial walled reservoir, and raised fields
(camellones) covering an area of several square kilometers. In 2010, we visited the site and excavated
trenches across two of the raised fields and their adjoining channels, to investigate their stratigraphy
and construction, and to obtain sediment samples for analysis.

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Environmental Setting and Modern Vegetation


Campo España is situated near the western edge of the Llanos de Moxos, a vast (130,000 km2)
seasonally inundated landscape of mixed savannah and forest in the Beni Department of Bolivia, part of
the Amazon watershed. Vegetation around the site today is mostly open grassland with dispersed trees
and small patches (<20 m to 1 km across) of tropical cerrado and secondary evergreen forest. Current
land use is predominantly cattle pasture. Livestock grazing, along with periodic burning of the
grasslands during the dry season, keeps the vegetation more open than it would be without human
intervention. The topography is flat and drained by rivers that originate in the Andean foothills to the
west and in the dry-season are meandering and slow-moving. The site is approximately 3 km north of
the Río Maniqui, a tributary of the Río Rapulo, which eventually flows into the Río Mamoré. Numerous
infilled oxbows and lateral accretion deposits in the area evidence the meandering history of the river.
A botanical survey of the modern vegetation was conducted on the Campo España raised field
complex and surrounding area by JDS. Taxa encountered in the survey areas were identified and
recorded (Table 1), and voucher specimens placed in the herbarium of the ‘Noel Kempff Mercado’
Natural History Museum in Santa Cruz, Bolivia. Results of the survey show that modern vegetation on
the camellones is dominated by grasses and herbs, such as Aristida capillacea, Panicum discrepans,
Sauvagesia erecta, Hyptis sp., Desmodium triflorum, and Vernonia patens. Many of the species found on
the platforms are also found in the channels of the camellones, although several grasses tend to be
more abundant in the channels. These channels are dry during the dry season (May-October), which is
when the botanical survey was conducted. Occasionally, small cerrado-type trees or shrubs grow on the
camellón platforms. Vegetation in the nearby wetland areas includes aquatic herbs like Ludwigia
sedoides, Eichornia sp., and Diodia kuntzei.
Average annual temperature is 25 °C, and annual rainfall is 1500-1750 mm, most of which
occurs between November and April. Flooding can occur as the result of localized precipitation in the
San Borja region or heavy rainfall in the Andes (LOMBARDO et al. 2011). The landowner reported that
during the rainy season at Campo España, the major canals occasionally overflowed into the adjacent
channels between the raised fields, but the field platforms themselves remained above the water level.

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Table 1: Modern floristic inventory of the Campo España site.

Family Species Location Habit


Acanthaceae Ruellia bulbifera Lindau Camellón herb
Amaranthaceae Gomphrena sp. Canal herb
Anacardiaceae Astronium sp. Forest island tree
Annonaceae Annona dioica A. St.-Hil. Camellón shrub
Asteraceae Elephantopus sp. Camellón herb
Asteraceae Pterocaulona lopecuroides (Lam.) DC. Camellón herb
Asteraceae Stevia sp. Grassland, dispersed herb
Asteraceae Vernonia brasiliensis (Spreng.) Less. Camellón shrub
Asteraceae Vernonia patens Kunth Camellón shrub
Combretaceae Terminalia argentea Mart. Grassland, dispersed tree
Cyperaceae Cyperus sp. Camellón sedge
Fabaceae Aeschynomene pratensis Small Canal herb
Fabaceae Desmodium sp. Grassland, dispersed herb
Fabaceae Desmodium triflorum (L.) DC. Camellón herb
Fabaceae Mimosa xanthocentra Mart. Grassland, dispersed herb
Hydroleaceae Hydrolea spinosa L. Canal herb
Laminaceae Hyptis sp. Camellón shrub
Lythraceae Cuphea sp. Camellón herb
Malpighiaceae Tetrapterys sp. Camellón vine
Malvaceae LueheapaniculataMart. Camellón tree
Monimiaceae Siparuna sp. Grassland, dispersed shrub
Myristicaceae Virolase bifera Aubl. Grassland, dispersed tree
Myrsinaceae Myrsine laetevirens (Mez) Arechav. Grassland, dispersed tree
Ochnaceae Sauvagesia erecta L. Camellón herb
Onagraceae Ludwigia sedoides (Bonpl.) H. Hara Wetland aquatic herb
Poaceae Aristida capillacea Lam. Camellón grass
Poaceae Cynodon dactylon (L.) Pers. Canal and camellón grass
Poaceae Guadua sp. Forest island bamboo
Poaceae Panicum cf. dichotomiflorum Canal and camellón grass
Poaceae Panicum discrepans Döll Canal and camellón grass
Poaceae Paspalum cf. minus E. Fourn. Canal and camellón grass
Poaceae Paspalum cf. plicatulum Camellón grass
Polygalaceae Polygala molluginifolia A. St.-Hil. & Moq. Grassland, dispersed herb
Pontederiaceae Eichornia sp. Canal aquatic herb
Pteridaceae Adianthum sp. Camellón fern
Rubiaceae Diodia kuntzei K. Schum. Wetland aquatic herb
Sapindaceae Cupania cinerea Poepp. Grassland, dispersed tree
Solanaceae Solanum sp. Forest island herb

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METHODS

Excavation and Sampling


Two elongated platform-type raised fields, hereafter called ‘camellones’ (following the
common name in Spanish), and their adjacent channels were selected for excavation (Fig. 1). We use
the word ‘channel’ to refer the wide ditches between the elongated camellones, and reserve the word
‘canal’ to refer to the longer, usually larger and deeper, excavated features which dissect the landscape.
Both camellones excavated for this study were located in a group of roughly parallel fields oriented 50°
west of grid north. This group is divided into north, east, south, and west sections by a causeway
running southwest to northeast, and a major canal running northwest to southeast. This major canal
ends at a large, shallow, seasonally inundated depression, which forms the northern and eastern
boundary of the camellón cluster. At the northwest end of this depression is a small (ca. 2050 m 2),
circular permanent pond or reservoir, partly surrounded by a ca. 2 m high artificial embankment. It is
similar to circular walled reservoirs documented at the Salvatierra mound site in the southeastern part
of the Llanos (LOMBARDO and PRÜMERS 2010). A second major canal curves around the southern part
of the camellón cluster, and also empties into the seasonal wetland to the east. The study cluster is
situated to the south of a complex of earth mounds, causeways, and canals, which appear to be the
central zone of the Campo España site (Fig. 1). Additional clusters of camellones are located to the
north, east, and west of this zone.
Camellón 1 (S 14 49'37.9, W 66 43'15.2) is located in the north section of the cluster
approximately 50 m from the permanent reservoir, and separated from it by a well-preserved, elevated
causeway. It is 68.7 m long and averages ca. 4 m wide. A 7.0 x 0.5 m trench was excavated across the
camellón and the adjacent channel to the north, to expose the stratigraphic profile and permit column
sampling. The elevations of the camellones in this area are high, with the highest point of the field
platform approximately 70 cm above the current ground surface in the channel. Within the exposed
profile, two sediment columns were taken, one at the highest point of the field platform (Camellón 1),
and one at the lowest point in the channel (Channel 1). Samples were taken every 5 cm to a depth of
135 cm BS (below surface) in the field column, and every 5 cm to a depth of 90 cm BS in the channel.
Camellón 2 (S 14 49'40.1, W 66 43'16.3), measuring 171.6 m long by ca. 3.5 m wide, was
located in the west section of the cluster, approximately 72 m southwest of Camellón 1. The height of
the camellones here is significantly lower than in the north section: the highest point is approximately
30 cm above the channel surface at their southeast end, and their height gradually diminishes towards

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the northwest until they are undetectable. An 11.0 x 0.5 m trench was excavated across Camellón 2 and
its adjacent channel to the north. At the highest point of the field platform (Camellón 2), samples were
taken every 5 cm until 45 cm BS and every 10 cm thereafter to a depth of 95 cm BS. Within the channel
(Channel 2), samples were taken every 5 cm to a depth of 45 cm BS, and then every 10 cm to a depth of
65 cm BS. In addition, three sediment scatter samples were taken from subsurface contexts between
the middle point of Camellón 2 and its northwest end.
The stratigraphy exposed in the face of each excavated trench was recorded and each
stratigraphic unit was described in the field with respect to soil colour, mottling, structure, texture, and
the nature of the boundaries with adjacent units. These field descriptions formed the basis of the
interpretation of the stratigraphic units prior to phytolith analysis.

Figure 1: Map of the Campo España ranch showing location of excavated raised fields and surrounding earthworks.
Inset map shows the location of Campo España within the Llanos de Moxos (white). Base map from Google Earth
2014.

Phytolith Analysis
The following sediment samples were selected for phytolith analysis: In Camellón 1 and
Channel 1, samples from every 5 cm were analyzed from the top 35 cm of the columns, and then every
10 cm from 40 to 80 cm BS. In Camellón 1, two additional samples from deeper levels were analyzed:

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one at 105-110 cm BS, and one at the base of the excavation at 130-135 cm BS. In Camellón 2, samples
from every 10 cm were analyzed to a depth of 45 cm BS, and then a final sample at 75-85 cm BS near the
base of excavations. Within Channel 2, samples from every 5 cm were analyzed to a depth of 25 cm BS,
and then every 10 cm to a depth of 45 cm BS.
Phytoliths were extracted from sediments following standard protocols (PIPERNO 2006). One
hundred cubic centimeters of sediment per sample were pre-treated to remove clays through
deflocculation, agitation, and gravity sedimentation. Samples were divided into silt (A/B-fraction, < 50
μm) and sand (C-fraction, >50 μm) fractions, and the amounts of each fraction recorded, along with the
approximate amount of coarse sand/gravel (>250 μm). The sum of these fractions was subtracted from
the starting amount of sediment to determine the approximate amount of clay in the sample.
Three ml each of the A/B-fraction and the C-fraction were wet digested with 36% HCl to
remove carbonates, and 70% HNO3 to remove organics. Phytoliths were concentrated by heavy-liquid
flotation using ZnBr2 prepared to a density of 2.3 g/cm3. Approximately 10 mg of extracted phytolith
residue from each sample was mounted in Entellan® on a microscope slide. If processed samples yielded
less than 10 mg of residue, the entire amount was mounted and scanned. For the A/B-fraction,
phytoliths were examined, described, and photographed at 500× magnification. After a minimum of 200
phytoliths were counted, the rest of the microscope slide was scanned to identify any other diagnostic
morphotypes and to document Poaceae cross-bodies which were included in discriminant function (DF)
analysis to identify the presence of maize (see below). Among grass (Poaceae) phytoliths, only short
cells were counted, since long cells, bulliforms, and trichomes are of limited taxonomic value among
Neotropical grasses (Piperno, 1988; Piperno and Pearsall, 1998; Piperno, 2006). For the C-fraction, the
entire slide was scanned at 200× magnification and all diagnostic phytoliths counted.
With the exception of six samples from Camellón 1 (analyzed prior to the other samples), burnt
Panicoideae bilobates were counted in each sample to provide a preliminary perspective on burning on
the fields, since particulate charcoal levels have not yet been assessed for the profiles. Burnt phytoliths
were identified visually by a darkened colour and reduced transparency and opalescent qualities (PARR
2006). Burnt phytoliths were observed among morphotypes other than Panicoideae, including those
associated with herb, sedge, and arboreal taxa; however, these other morphotypes were not present in
sufficiently high numbers to permit a statistically robust calculation of burnt phytolith frequency.
Frequencies of morphotypes in the A/B-fraction were calculated as the number of a particular
morphotype divided by the total number of phytoliths counted in the sample (i.e. percentage). Burnt
Panicoideae bilobate phytoliths were calculated as a percentage of total Panicoideae bilobates. Because

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C-fraction samples often yielded fewer phytoliths than the A/B-fraction, and residue amounts were
variable, C-fraction frequencies were calculated as an index rather than a percent. This index was
calculated as: the number of a particular morphotype divided by the mass (mg) of residue extracted.
Data were plotted using the software program C2 (JUGGINS 2003).
Discriminant function (DF) analysis was applied to Poaceae cross-shaped phytoliths from each
sample to determine the presence of maize leaves. Cross-shaped phytoliths are produced in the leaves
of many grasses, but a discriminant function analysis developed by Pearsall and Piperno (PEARSALL and
PIPERNO 1990; PIPERNO 2006; see also IRIARTE 2003) uses size and three-dimensional morphology of
cross-shaped variants to statistically identify the presence of maize in soil phytolith assemblages from
the Neotropics. Cross-shaped phytoliths were classified to eight morphological variants based on three-
dimensional rotation (PIPERNO 2006). The width was measured using digital imaging software and the
mean calculated for each Variant. The discriminant function is as follows (PIPERNO 2006:55):
Maize Prediction: -1.96669 + 0.1597589 (mean width for Variant 1) -
0.0126672 (mean width for Variant 5/6) + 820956 -3 (% Variant 1)
Wild Prediction: 2.96669 - 0.1597589 (mean with for Variant 1) + 0.0126672
(mean width for Variant 5/6) - 8.20956 -3 (% Variant 1)
DF analysis was not applied to assemblages of less than 20 cross-shaped phytoliths.

RESULTS

Stratigraphic Analysis
The stratigraphy of Camellón 1 is complex, the product of construction, maintenance, and
erosion and further transformed by pedogenic processes over several centuries before and after field
construction (Fig. 2A). The tropical climate of warm temperatures and frequent rainfall provide
conditions for intense weathering, while seasonal inundation of the soils causes frequent changes in
redox conditions that control iron mobility. Within the field section of the profile, the basal stratigraphic
unit (Unit 1) of red blocks within a light brown-red clay loam matrix appears to be undisturbed pre-
construction subsoil, with structure and colour variation that reflect natural pedogenic processes
dominated by seasonal changes in soil moisture. Within the channel, this stratigraphic unit is not
encountered (although it may be present below the maximum depth excavated) and it seems probable
that it was dug out during initial construction and piled alongside to create the original field platform.

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The stratigraphic units overlying Unit 1 in the field section lack the large-scale structure and colour
differentiation seen in Unit 1 interpreted as indicative of undisturbed matrix. Therefore, we suggest that
these overlying units have either been re-worked in situ or moved to this location during field
construction and use. The presence of mottling in Unit 4 is indicative of iron mobility during seasonal
waterlogging of the sediments. The morphology and colour of Units 3, 4, and 6 are consistent with
mixing and accretion (either gradual or rapid) during the period of field use, followed by pedogenic
horizonation since abandonment.
As mentioned, Unit 1, interpreted as undisturbed subsoil, is not observed in the channel.
Therefore, the stratigraphic units of the channel are interpreted as accumulated sediments that post-
date field and channel construction. There is little strong morphological evidence for their origin,
although in Units 7 and 8 there is some tendency towards banding, potentially a product of incremental
in situ deposition. Given the time available for post-depositional disturbance and the potential for
bioturbation, the minimal nature of this evidence and the absence of layering in the surface horizon
(Unit 9) are not surprising. The main distinction between the stratigraphic units within the channel is
based on colour, and it is likely that this is dominated by pedogenic processes, especially the supply of
organic matter and the mobility of iron. There is little variation in texture between the units, all
comprised of clay loam. Therefore, while these units are interpreted as the product of gradual
sedimentation of the channel (potentially both during and after active field use), there is no strong
morphological evidence to assess the rate of deposition or if it varied over time. At the margins of the
field platform, there is stronger evidence of soil mobility in the bright wedges of yellowish brown silt
interspersed with light brownish grey silt evident in Unit 2.
Camellón 2 is not as high as Camellón 1, and the stratigraphy is less complex (Fig. 2B). It
appears that this camellón is either more degraded than Camellón 1 or was originally a lower relief
feature. The basal stratigraphic unit (Unit 1), consisting of reddish-brown blocks interspersed with a
whitish clay loam matrix, is interpreted as the pre-construction subsoil, like Unit 1 in Camellón 1. The
upper boundary of this unit follows the contours of the modern field surface; however, it has limited
lateral extent. If Unit 1 was originally more extensive, parts of it have been excavated from the channel.
The profile of Unit 1 suggests that the original camellón platform was at least 38 cm above the level of
the channel, and likely more. Unit 2 extends from the lateral margins of Unit 1 across the remainder of
the raised field and channel. It consists of a white clay loam matrix with orange mottles, indicative of
episodic iron mobility. It is interpreted as reworked soil from camellón construction, either in situ on
the field platform or transported into the channel. The surface unit (Unit 3) overlies both the field and

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the channel. It is a horizon of grey loam of relatively uniform thickness (ca. 10 cm), interpreted as being
of pedogenic origin, the colour reflecting organic matter input from the surface vegetation. The uniform
thickness suggests that the pedogenic environment that formed this horizon has operated on the land
surface since establishment of the current morphology.

Figure 2: Stratigraphic profiles of excavated raised fields. Vertical exaggeration X 2. See Tables 2 and 3 for
descriptions of soil horizons.

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Table 2: Camellón 1 stratigraphic units.


Unit Description Texture Colour 1 Interpretation
Overlies Unit 8 in channel and extends to surface; Clay Brown (7.5YR 5/3) with
9 Channel fill
diffuses laterally into Unit 5 of field. loam pale flecks (1.0x 0.5 cm)
Light grey (10YR 7/2)
Overlies Unit 7 in channel; some light horizontal Clay
8 with some orange Channel fill
banding. loam
mottling
Reddish yellow (7.5YR
Clay
7 Basal unit in channel; abuts Unit 1. 6/8) with a little light Channel fill
loam
grey streaking
Surface horizon over majority of field; very pale Clay Very pale brown (10YR
6
brown. loam 3/3)
Surface horizon over margins of field - looks
slightly greyer than over main part of field. Lower Light reddish brown
5
elevation and possibly higher organic material (2.5Y 6/4)
content; diffuses laterally into Unit 6.
Overlies Unit 3 over most of the field width and
Subsurface
diffuses laterally into Unit 2 at margins; around Brownish yellow (10YR
4 Loam horizon of
4.5/5 m mottling stops and distinction from 6/6) with scarce mottling
field
overlying horizon is problematic.
Stratigraphic unit overlying Unit 1 over most of the Light brownish grey
3 width of the field; browner than red of Unit 1 Loam (10YR 6/2) with red
below (and yellow/orange of Unit 2). patches
Bright wedge that extends from Unit 1 to below Yellowish brown (10YR
surface unit; greatest thickness near channel. 5/8) patches
2
Fades into Unit 4 towards centre of field; interspersed with light
underlain by Unit 3 at central limit. brownish grey (10YR 6/2)
Naturally
Basal unit in field section of excavation profile;
Red (10R 4/8) with light occurring
unit disappears in channel section - possibly the Clay
1 brownish red (10YR 6/2) subsoil,
cut bank of the channel. Red blocks of matrix with loam
between buried by field
light brownish red between.
material

Table 3: Camellón 2 stratigraphic units.


Unit Description Texture Colour Interpretation
Uniformly thick pedogenic horizon
3 Loam Grey Pedogenic surface horizon
with organic matter.
Extends from lateral margins of White with orange Reworked sediments of
2 Clay loam
Unit 1 across channel. mottles raised field
Uneven surface (following shape Red/brown with white
1 Clay loam Naturally occurring subsoil
of camellón). matrix between blocks

Phytolith Analysis
Phytolith preservation was very good in the two sampled camellones and their adjacent
channels. The diversity of the assemblages is noteworthy, with 61 morphotypes distinguished, although
several of these are of unknown taxonomic association (Table 4). A summary of phytolith results is
presented in Figure 3, allowing broad comparison between totals of grass (Poaceae), sedge

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(Cyperaceae), non-graminoid herb, and tree (arboreal) phytoliths. More detailed diagrams of the
phytolith results from each profile, as well as three surface scatter samples from Camellón 2, are
presented in Figures 4-8, with results from both the A/B-fraction (black bars) and C-fraction (shaded
bars). Raw absolute counts of morphotypes and total phytoliths counted for each sample are presented
in Appendix 1 (A/B-fraction, Table A1, and C-fraction, Table A2).

Camellón 1
Grass (Poaceae) phytoliths dominate almost the entire sequence from the Camellón 1 profile,
reaching their highest frequencies in the upper 10 cm (92% of total counted phytoliths in the A/B-
fraction in 0-5 cm BS, and 91% in 5-10 cm BS). Their lowest frequency (39%) occurs at the very base of
the excavation (130-135 cm BS), but they increase sharply to 80% at 80-85 cm BS. Thereafter, they
remain above 80% frequency for the remainder of the profile, except at 15-30 cm BS where they dip
slightly to 77-79% of total counted phytoliths (Fig. 4). Within the grass phytolith assemblage, bilobates
from the subfamily Panicoideae (Fig. 9A) are the most frequent, and their profile curve is similar to the
overall total Poaceae curve (Fig. 3). Panicoid grasses are typical of warm, humid conditions, such as
tropical and subtropical environments. Aristida-type bilobates (Fig. 9B) were found in low frequencies
(<2%) in the middle levels of the profile, but were not seen in the base or surface levels. On the other
hand, scooped bilobates from the subfamily Oryzoideae were found throughout almost the entire
profile in low frequencies (<2%). Arundinoideae-type trapezoidal forms (Fig. 9C) were rare, but noted in
several of the lower levels, in the upper section of Unit 1 and the base of overlying Unit 3. Saddle form
phytoliths from the subfamily Chloridoideae, grasses generally adapted to hot and dry conditions, were
also infrequent, but found throughout the profile in low levels (<2%), except for the upper 20 cm where
they were not observed. Frequencies of Bambusoideae phytoliths fluctuate throughout the profile,
from 15% in both 105-110 and 70-75 cm BS, to completely absent in 20-25 and 30-30 cm BS.
The presence of maize (Zea mays) is documented at 70-75 cm BS, on the basis of DF analysis of
cross-shaped phytoliths (Fig. 9D) produced in Poaceae leaves (PEARSALL and PIPERNO 1990; PIPERNO
2006; see Table 5). This level corresponds to the base of Unit 3, which appears to represent the lowest
level of soil profile disturbance associated with cultivation or field construction.
Overall, frequencies of sedge (Cyperaceae) phytoliths, including Cyperus/Kyllinga achene
plates and Cyperaceae conical bodies, remain relatively stable at low frequencies throughout the profile,
although Scirpus-type achene bodies are predominantly observed in the upper stratigraphic unit (Unit
6). Levels of phytoliths from herbaceous taxa other than grasses or sedges (non-graminoids), such as

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Asteraceae, Heliconia, Thalia-type, and other Marantaceae morphotypes, are also relatively stable
throughout the profile, except for a slight increase at 20-25 cm BS. This increase is driven mainly by an
increase in globular nodulose phytoliths from Marantaceae rhizomes (Fig. 9G). Thalia-type achene
bodies (Fig. 9F) were seen primarily in the upper 35 cm of the profile, both in the A/B-fraction and the C-
fraction. Thalia is a common species in the wet areas of the Llanos de Moxos today, occasionally
forming large stands on the shores of lakes and wetlands.
In the base level of the excavated profile where grass phytoliths are at their lowest frequency,
arboreal phytoliths are at their highest frequency (56%) (Fig.3). The majority of these are from palms
(Arecaceae), both globular echinate and conical (or ‘hat-shaped’) granulate morphotypes (Fig. 9H and
9I). The frequency of total arboreal phytoliths decreases rapidly in the overlying levels. There is a slight
increase to 14-16% between 15 and 30 cm BS, again due mainly to levels of palm phytoliths, primarily
globular echinate phytoliths. However, above this in the top 15 cm of the profile, frequencies of
arboreal phytoliths drop to their lowest levels, only 1-4% of the total counted phytoliths.

Table 4: Phytolith morphotypes counted and their taxonomic associations.


Phytolith Morphotype Taxonomic Association References a
Rounded lobe bilobate, polybate Panicoideae 1-6
Polybate Panicoideae 1-6
Sloped (trapezoidal) bilobate cf. Panicoideae 1-6
Thin, long-shanked bilobate cf. Aristida 2, 7, 8
Trapezoidal curved body cf. Arundinoideae 2
Scooped bilobate Oryzoideae 6, 9, 10
Saddle Chloridoideae 2-5, 11
Collapsed saddle Bambusoideae 2, 5, 12-14
Keeled bilobate Poaceae 2
Oval/square bilobate Poaceae 2
Cross-shaped body (Variant 1, Variant 2, Variant 3/8, Variant 5/6,
Poaceae 2, 5, 12, 16-20
Misc. Variant)
Spiked cross-shaped body cf. Poaceae
Rondel/trapezoid Poaceae 2-5
Blocky rondel with saddle top cf. Bambusoideae 2
Fringed rondel Poaceae 2
Tall rondel Poaceae 2, 5, 11, 21
Sinuous suborbicular with central protuberance Scirpus seed 22-25
Granulate polygonal platelet with central protuberance Cyperus/Kyllinga seed 22-25
Smooth conical body with satellites Cyperaceae 11, 23, 25-27
Granulate irregular cone with dendritic projections cf. Cyperaceae
Trough body Heliconia 5, 29, 30
Cylindrical with protuberances or decoration and central
Marantaceae seed 22
protuberance
Granulate cylindrical with central conical protuberance cf. Thalia 38
Nodulose or crushed decoration globular Marantaceae rhizome 5, 22

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AND PHYTOLITH EVIDENCE FROM RAISED FIELDS AT CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS

Large nodulose globular cf. Marantaceae 38


Marantaceae/
Anisopolar polygonal top, decorated cylindrical bottom 28
Commelinaceae seed
Trapezoidal polygonal plate cf. Dichorisandra
Opaque perforated plates Asteraceae achene 5, 12, 31
Druse cf. Zingiberales 15
Secretory cell Manihot esculenta 37
Globular echinate Arecaceae 5, 11, 30, 33-35
Conical echinate (hat-shaped) Arecaceae 5, 11, 30, 33-35
Large globular echinate cf. Arecaceae 38
Globular granulate Woody eudicot 5, 11, 36
Large globular granulate cf. woody eudicot
Irregular faceted Annonaceae 5
Sclereid Sclereid 5, 36
Irregular with narrow processes Unknown
Mammiform platelet Unknown
Irregular partitioned platelet (FG7) Unknown
Angularly crenate elongate (FG8) Unknown
Hair cell Unknown
Hair base Unknown
Irregular dendritic Unknown
Bispherical body Unknown
Blocky laminated Unknown
Brown verrucate Unknown
Dendritic rectangular body Unknown
Orbicular plano-convex verrucate Unknown
Epidermal tissue Unknown
a
References: 1. (Fredlund and Tieszen, 1994); 2. (Piperno and Pearsall, 1998); 3. (Twiss et al., 1969); 4. (Brown,
1984); 5. (Piperno, 2006); 6. (Metcalfe, 1960); 7. (Iriarte and Paz, 2009); 8. (Mulholland, 1989); 9. (Chaffey, 1983);
10. (Pearsall et al., 1995); 11. (Kondo et al., 1994); 12. (Piperno, 1988); 13. (Lu et al., 1995); 14. (Lu et al., 2006); 15.
(Watling and Iriarte, 2012); 16. (Piperno, 1984); 17. (Pearsall, 1978); 18. (Pearsall, 1982); 19. (Pearsall and Piperno,
1990); 20. (Iriarte, 2003); 21. (Zucol, 1999); 22. (Piperno, 1989); 23. (Ollendorf, 1992); 24. (Schuyler, 1971); 25.
(Honaine et al., 2009); 26. (Metcalfe, 1971); 27. (Wallis, 2003); 28. (Eichhorn et al., 2010); 29. (Tomlinson, 1969);
30. (Prychid et al., 2003); 31. (Bozarth, 1992); 32. (Honaine et al., 2005); 33. (Runge, 1999); 34. (Tomlinson, 1961);
35. (Bozarth et al., 2009); 36. (Scurfield et al., 1974); 37. (Chandler-Ezell et al., 2006); 38. (Dickau et al., 2013).

Evidence of burning, based on the frequencies of burnt Panicoideae bilobates, is low in the
base level of the profile (7%), but jumps to 44% by 105-110 cm BS. Burning peaks at 50-55 cm BS (63%),
and then declines. Unfortunately, burnt bilobates were not counted in the 0-5, 5-10, 10-15, 20-25, and
30-35 cm BS samples from Camellón 1 (samples marked by an asterisk in Figure 4), as these samples
were analyzed before we initiated the procedure of quantifying burnt Panicoideae phytoliths. Therefore
patterns of burning during more recent deposition events of Camellón 1 are currently unknown.
Cyperaceae phytoliths occur throughout the channel profile. Unlike in the field, Scirpus-type
achene phytoliths are found not only in the surface horizon, but continue to the base of the profile. An
unidentified phytolith morphotype, a granulated conical body with dendritic projections from the top of

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the cone (Fig. 9J), is possibly from Cyperaceae, and was only found between 5 and 25 cm BS in Unit 9.
Heliconia, Asteraceae, and Marantaceae phytoliths occur throughout the profile in the A/B-fraction.
However, there is a noticeable peak in Asteraceae at 50-55 cm BS in both the A/B- and C-fractions,
which corresponds to the base of Unit 8. Members of the Asteraceae are typically pioneering herbs and
indicators of disturbance (PIPERNO and JONES 2003; PIPERNO 2006; but see DICKAU et al. 2013). In the
C-fraction, Asteraceae levels remain relatively high throughout Unit 8, gradually declining until they
reach the same low frequency at the base of overlying Unit 9 that there were at in Unit 7. Thalia-type
achene bodies are mainly seen in the upper two stratigraphic units and absent in the lower levels, a
similar pattern to that observed in Camellón 1. This suggests either differential preservation in earlier
levels, or that Thalia was not part of the original vegetation prior to the construction of the raised fields.
Like Camellón 1, arboreal phytoliths are at their highest frequency in the lowest level of
Channel 1, and decrease towards the surface (Fig. 3). They reach their lowest frequency of 4% at 20-25
cm BS, and then very slightly increase to 11% at 5-10 cm BS, declining once more in the surface level. In
the lower half of the profile, arboreal phytolith types are represented relatively equally by palm
phytoliths and globular granulates produced by woody eudicots, but in the upper half of the profile,
palm phytoliths (primarily globular echinate types) make up more than half of the arboreal assemblage.

Camellón 2
Many of the same patterns seen in Camellón 1 are observed in Camellón 2. Grass phytoliths
are dominant throughout the profile. They occur at their lowest frequency (71%) in the bottom level,
and highest frequency (92%) in the surface level. At the base of the profile, arboreal phytoliths,
comprised of both palm and woody eudicot morphotypes, are at their highest frequency (26%).
Arboreal levels decline rapidly in the upper levels of the profile.
The grass phytoliths chiefly consist of Panicoideae, followed by Bambusoideae, and small
contributions of Oryzoideae, Chloridoideae, Arundinoideae, and Aristida-type phytoliths (Fig. 6).
Oryzoideae and Aristida-type are only seen in the top half of the profile above 35 cm BS, but still occur
within Unit 1, which appears to be the original field platform. Among the Panicoideae, levels of burnt
phytoliths peak at 77% at 40-45 cm BS, and then decrease to 30% in the surface level. Above this peak
are two levels (30-35 cm BS and 20-25 cm BS) with evidence of maize.

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FIELDS AT CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS

Figure 3: Summary of phytolith data. Burnt Panicoideae calculated as percentage of the total number of Panicoideae bilobates per sample. In Camellón 1,
burnt bilobates were not counted in samples marked with an asterisk (*). Taxa with frequencies <2% are marked with (+). The presence of Zea mays leaves,
calculated by discriminant function (DF) analysis of cross-shaped phytoliths, is marked with a solid black circle (see Table 5).

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Figure 4: Phytolith results from Camellón 1. For A/B-fraction, relative percent abundance of each taxon is represented by black bars, with the exception of
Panicoideae bilobates where total bilobates are represented by an outlined bar and the black section within represents burnt Panicoideae bilobates. Burnt
phytoliths were not counted in those levels marked with an asterisk (*). Frequencies <2% are marked by (+). The presence of Zea mays, based on DF analysis
of a minimum of 20 cross-shaped phytoliths, is marked by a solid black circle (see Table 5). C-fraction results (right side of graph), represented by shaded (grey)
bars, are presented as an index, calculated as total number of phytolith type counted per sample/amount (mg) extract. Index values <1 are marked by a star
symbol.

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Table 5: Discriminant function analysis of cross-shaped phytoliths.


N (All Maize Wild Grass
Sample cm BS Variants) X̄ Var 1 X̄ Var 5/6 % Var 1 Prediction Prediction
B-10-061 0-5 <20
B-10-062 5-10 35 13.8 13.1 25.7 0.28 0.72
B-10-063 10-15 <20
B-10-064 15-20 38 13.3 11.7 34.2 0.28 0.72
B-10-065 20-25 <20
B-10-066 25-30 50 14.5 14.2 26.0 0.39 0.61
B-10-067 30-35 21 14.7 11.4 28.6 0.48 0.52
B-10-069 40-45 36 14.5 13.9 33.3 0.45 0.55
B-10-071 50-55 36 15.4 13.0 16.7 0.47 0.53
B-10-073 60-65 50 14.5 13.3 24.0 0.38 0.62
B-10-075 70-75 68 15.8 13.1 32.4 0.65 0.35
Camellón 1

B-10-077 80-85 34 14.5 14.0 26.5 0.38 0.62


B-10-082 105-110 <20
B-10-087 130-135 <20
B-10-088 0-5 26 14.6 14.9 19.2 0.33 0.67
B-10-089 5-10 47 16.5 15.1 17.0 0.61 0.39
B-10-090 10-15 78 15.5 15.4 24.4 0.51 0.49
B-10-091 15-20 89 13.4 14.9 43.8 0.35 0.65
B-10-092 20-25 130 14.1 12.7 26.2 0.34 0.66
B-10-093 25-30 114 15.4 14.0 24.6 0.51 0.49
B-10-094 30-35 113 15.3 13.7 26.5 0.53 0.47
B-10-096 40-45 64 15.6 14.0 23.4 0.54 0.46
B-10-098 50-55 <20
B-10-100 60-65 <20
Channel 1

B-10-102 70-75 <20


B-10-104 80-85 <20
B-10-106 0-5 61 14.4 14.4 16.4 0.29 0.71
B-10-108 10-15 32 15.6 13.5 9.4 0.44 0.56
B-10-110 20-25 30 15.7 14.1 30.0 0.61 0.39
Camellón 2

B-10-112 30-35 51 15.3 14.9 31.4 0.54 0.46


B-10-114 40-45 <20
B-10-118 75-85 <20
B-10-120 0-5 63 13.7 13.1 28.6 0.29 0.71
B-10-121 5-10 57 14.6 13.4 33.3 0.47 0.53
B-10-122 10-15 54 14.2 12.5 25.9 0.36 0.64
B-10-123 15-20 62 13.9 12.1 27.4 0.32 0.68
Channel 2

B-10-124 20-25 39 17.2 13.0 17.9 0.76 0.24


B-10-126 30-35 29 14.7 13.6 34.5 0.50 0.50

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B-10-128 40-45 <20


B-10-132 Surface A 50 15.0 15.7 22.0 0.41 0.59
B-10-133 Surface B 48 14.1 13.6 18.8 0.26 0.74
B-10-134 Surface C 54 14.8 14.5 20.4 0.38 0.62
Notes: Maize Prediction = -1.96669 + 0.1597589 (mean width for Variant 1) - 0.0126672 (mean width for Variant
5/6) + 820956 -3 (% Variant 1). Wild Prediction = 2.96669 - 0.1597589 (mean with for Variant 1) + 0.0126672
(mean width for Variant 5/6) - 8.20956 -3 (% Variant 1). The larger score represents the discriminant function
prediction between maize and wild grasses and is bolded for each sample. DF analysis was not done on samples
with <20 total observed cross-shaped phytoliths.

As with the Camellón 1 field, Cyperaceae phytoliths occur throughout the profile, but in
Camellón 2, they are more common in levels above 35 cm. Scirpus-type phytoliths are once again
absent from the lower levels of the field, although they occur in very low frequencies (<2%).
Cyperus/Kyllinga phytoliths are also more frequent in the upper levels. Among non-graminoid herbs,
Heliconia and Asteraceae phytoliths occur in low frequencies throughout the profile. Marantaceae
morphotypes and a Zingiberales-type druse (Fig. 9K) are found only in the upper part of Unit 1, but
absent from the surface levels (Unit 3). Thalia-type achene bodies are very rare here, identified by a
single phytolith in 10-15 cm BS level in the A/B-fraction, and completely absent from the C-fraction. C-
fraction counts in general were much lower in Camellón 2 than they were in Camellón 1.

Channel 2
Like the other profiles, grass phytoliths dominate the assemblage of Channel 2 (Fig. 3). They
increase slightly in frequency from the base of the deposits to the surface, but this increase is much less
pronounced than the other profiles. Panicoideae bilobates actually show a decrease in frequency from
lowest level to surface, a trend not observed elsewhere (Fig. 7). Burnt Panicoideae bilobate frequencies
follow this same trend: the highest frequency of burnt phytoliths occurs in the lowest level analyzed, at
40-45 cm BS. Aristida-type, Arundinoideae, Oryzoideae, and Chloridoideae are all restricted to the
upper 25 cm of the profile, but still within both identified stratigraphic units (Units 2 and 3).
Bambusoideae phytoliths are found throughout the profile.
In terms of cultivars, maize is documented in only one level at 20-25 cm BS, within Unit 2,
rather than multiple levels as in Channel 1.
Cyperaceae phytoliths occur throughout the profile, but obtain their highest frequencies in the
upper levels, similar to the Channel 1. Once again, Scirpus-type phytoliths only occur in the upper 35 cm
of the profile (Fig. 7), but few levels from lower part of the profile have been analyzed. Heliconia and
Asteraceae phytoliths occur in low frequencies throughout the entire profile. Thalia is represented by a

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single achene phytolith 5-10 cm BS, echoing the low frequency seen in the adjacent field profile.
Marantaceae rhizome phytoliths are observed only in the lower stratigraphic unit, although large
verrucate globular phytoliths that may be from Marantaceae were identified in the upper levels.
Like the other profiles, arboreal phytoliths show the inverse trend of grass phytoliths,
decreasing in frequency from the base of the profile to the surface. They consist of both palm
morphotypes and globular granulates from woody eudicots. Within the C-fraction, most of the larger
phytoliths are found in the upper 25 cm, in very low frequencies.

Camellón 2 Surface Samples


Three surface scatter samples were taken at various points along the length of Camellón 2 to
test for spatial differences in cropping and camellón use (Fig. 8). No phytolith evidence of any cultivars
was observed in the samples; however, given the depth at which maize and manioc were found in the
excavated profiles, it is possible that the samples were not deep enough to recover evidence of crops.
The phytolith assemblage of these three samples shows that the vegetation across the camellón did not
vary a great deal. Poaceae, Cyperaceae, and arboreal phytolith levels are nearly the same for all three
samples. There are slight differences of several minor taxa, all present in low frequencies (often <2%).
For example, Dichorisandra-type polygonal plates (Fig. 9L) are only observed in sample B-10-132,
whereas Arundinoideae-type trapezoids and Chloridoideae saddles are only observed in B-10-134. These
small differences probably represent micro-local variations in vegetation, such as the presence of one or
two individuals of a particular species. In general, the phytolith assemblages are similar to those seen in
the surface levels of the excavated profiles, comprised of the same morphotypes.

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Figure 5: Phytolith results from Channel 1. See Figure 4 for diagram notes.

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Figure 6: Phytolith results from Camellón 2. See Figure 4 for diagram notes.

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Figure 7: Phytolith results from Channel 2. See Figure 4 for diagram notes.

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Figure 8: Phytolith results from Camellón 2 surface scatter samples. Samples (Y-axis) represent spatially distinct samples, not stratigraphic sequence as with
other phytolith diagrams. See Figure 4 for other diagram notes.

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Figure 9: Selected phytoliths. A) Panicoideae bilobate, B) Aristida-type bilobate, C) Arundinoideae-type bilobate,


D) Variant 1 Poaceae cross-shaped phytolith, E) Manihot esculenta secretory cell, F) Thalia-type achene body, G)
Marantaceae rhizome body, H) Arecaceae globular echinate, I) Arecaceae conical granulate (‘hat-shaped’ body), J)
Unidentified conical granulate with dendritic projections, K) Zingiberales-type druse, L) Dichorisandra-type
polygonal plate.

DISCUSSION

History of Field Construction and Use


Analysis of the stratigraphy and phytolith record of the two sampled camellones and channels
provides insights into the history of their construction, use, and possibly their later abandonment. In
the absence of radiocarbon dates with which to anchor this history, interpretations are based on the
stratigraphically-derived relative chronology.
The base stratigraphic units in both camellones exhibit blocky structure and are interpreted as
the original subsurface on which the fields were constructed. Overlying stratigraphic units lack this
structure, instead consisting of mixed clay loam sediments indicative of field construction and periodic
reworking. Initial construction of the fields occurred by the builders excavating linear channels and
depositing the soil alongside to form the camellón platforms. The truncation of the subsurface unit in
Channel 1 reflects this initial excavation of the channel, and is similar to the cut palaeosol (bAh)
observed in the stratigraphic profile of a camellón at Bermeo (RODRIGUES et al. 2014). After initial field
construction, cultivation practices likely reworked the camellón soils in situ. It is also possible that
subsequent building events, or periodic field maintenance or renewal via the addition of accumulated
silts from the channels (what LOMBARDO et al. 2011 and RODRIGUES et al. 2014 refer to as the

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Chinampas model), may have occurred, but in the context of continued cultivation this would not be
expected to leave physical stratigraphic evidence. High resolution dating, however, may reveal such
patterns. Faint horizontal banding in the lower stratigraphic units of Channel 1 suggests incremental
deposition (infilling) of sediments over time without significant disturbance or re-excavation. Regardless,
in either scenario, this mixing of sediments within the fields would have been relatively localized. With
cultivation, mixing was in situ. With field renewal, the sediments being added to the field were more
than likely the same sediments that had eroded from the field surface and slope into the nearby
channel. There is no evidence to suggest foreign material was brought in and deposited on the fields,
either during initial or later construction events. In addition, depending on the frequency of
maintenance activities, these mixed sediments would be restricted to a single stratigraphic unit
associated with field use, and therefore still generally within stratigraphic sequence.
In all four profiles, arboreal phytoliths are at their highest frequency in the base of the profile.
Although grass phytoliths are still dominant in these levels, grass short-cell phytoliths can sometimes be
over-represented in paleoecological samples due to their abundant production in glumes, stems, and
leaves, and generally robust preservation (NOVELLO et al. 2012; HODSON et al. 2005). However, studies
of phytolith assemblages under modern vegetation analogues elsewhere in lowland Bolivia show that
phytolith assemblages with high frequencies of Poaceae and small to moderate frequencies of arboreal
morphotypes represent open-canopy vegetation such as terra-firme wooded savannah or cerrado
(DICKAU et al. 2013).
After occurring in their higher frequency in the base levels at Campo España, arboreal
phytolith frequencies rapidly decrease, suggesting that prior to the construction of the camellones,
there were more trees on the landscape, and that many of these trees were cleared to make way for
field construction. This is similar to patterns observed at El Cerro, where phytolith records indicate the
removal of savanna trees prior to camellón construction (WHITNEY et al. 2014). The frequencies of
grasses, herbs, and palm phytoliths in the base levels at Campo España indicate that the original
landscape was likely a palm savannah that included some cerrado-type trees, based on phytolith
assemblages observed under modern vegetation analogues (DICKAU et al. 2013). This is particularly
visible in Unit 1 of Camellón 1, which is interpreted to represent the original subsurface on which the
field was constructed. The very low frequency of wetland markers like Oryzoideae, Cyperaceae, and
Thalia in this base unit suggest that during the formation of this subsoil, prior to the construction of the
fields, local conditions were drier than today. Rodrigues et al., (2014) suggest that a climatic shift
related to increased ENSO activity 1000-2000 years ago, resulting in changing precipitation patterns and

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RUTH DICKAU, JOSÉ IRIARTE, TIMOTHY QUINE, DANIEL SOTO E FRANCIS MAYLE

more frequent flooding events in southwestern Amazon, may have been the catalyst for the
construction of raised fields.
At Campo España, the initial clearing of vegetation prior to field construction may have
involved fire. However, the presence of burnt grass phytoliths throughout the entire profiles suggests
that fire was an ongoing occurrence, and that the most intensive burning did not occur prior to field
construction, but after it, during cultivation. It is likely that this burning was anthropogenic in nature
based on its frequency. In the Camellón 1 field profile, evidence of burning peaks at near the top of Unit
3, the first field platform created during initial construction. In the channel, the highest frequency of
burnt phytoliths is at the top of the first fill unit (Unit 7). While it is possible this reflects erosion of burnt
grass phytoliths into the channel from the nearby field surface, there is no evidence that the channels
remained permanently wet year-round, and therefore would have also been affected by fires during the
dry season. Similarly, in Camellón 2, the peak in burnt phytoliths occurs midway in the first stratigraphic
unit, interpreted to be within the original field platform, rather than at the base of the unit beneath the
constructed platform where it would be expected if burning occurred before field construction. The
only profile where there is a noticeable decrease in burnt phytoliths is Channel 1. After a peak at the
base of Unit 8, the frequencies of burnt phytoliths drop off quickly, despite evidence for cultivation of
maize. Like other areas in the Llanos de Moxos (WHITNEY et al. 2013; WHITNEY et al. 2014), levels of
burning at Campo España were higher in the past than they are today, but fluctuated over time. Future
collection of data on particulate charcoal and regional palaeovegetation patterns may show if this
represents possible fire suppression on the camellones, like that documented by Iriarte et al. (2012) in
French Guiana, or if fires were more common or even prescribed in the past during peak use of the
fields, as speculated by Erickson and Balée (2006). During cultivation periods, fire may have been used
to burn off old crop waste and control weeds, pests, and pathogens (STAB and ARCE 2000). However,
fire was not mandatory for camellón cultivation, based on the results from El Cerro, where two different
periods of landscape maintenance were defined based on different fire use strategies (WHITNEY et al.
2014).
In most of the profiles analyzed at Campo España, the frequency of Asteraceae is highest in the
levels just above peak burning. This is especially apparent in Camellón 1 and Channel 1. Many
Asteraceae species are pioneering herbs, adapted to colonizing disturbed areas, and for this reason
Asteraceae is a good indicator of human clearing and cultivation activities. Its presence indicates that
the camellones were being repeatedly cleared during the deposition of Unit 4 on Camellón 1 platform
and Unit 8 of Channel 1, and the upper part of Unit 1 of Camellón 2. Heliconia is another disturbance

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RECONSTRUCTING PRE-COLOMBIAN AGRICULTURAL PRACTICES IN THE BOLIVIAN SAVANNAH: STRATIGRAPHIC
AND PHYTOLITH EVIDENCE FROM RAISED FIELDS AT CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS

indicator, although some species, such as H. marginata are more indicative of wetland conditions.
Heliconia is present throughout the entire sequence of most of the profiles, and shows less evidence of
increasing frequencies during cultivation than Asteraceae. However, in Channel 1, Heliconia phytoliths
occur at higher frequencies throughout Unit 8, reflecting the pattern seen in Asteraceae.
This association of higher frequencies of Asteraceae with cultivation activities is confirmed by
the presence of maize in many of the same levels. Evidence of maize cultivation occurs after peak
burning in all profiles except Camellón 1. Here, the presence of maize is documented at the interface of
the original subsurface and the first layer of field building. This may represent the cultivation of maize
on the original land surface, prior to the construction of the raised fields. Maize is not detected in later
stratigraphic levels corresponding to the built field platform in this particular camellón, but it is seen in
multiple levels of the channel fill beside the platform, possibly the result of cultivation of the channels
during the dry season, or erosion of material from the slopes of the field. At El Cerro, maize was also
more frequently identified in the channels than in the camellón platforms (WHITNEY et al. 2014).
Cultivation of the fields continues in the upper levels of the profiles, where grasses remain the
dominant vegetation cover. Phytoliths from taxa adapted to wetland conditions, such as sedges
(including Scirpus) and Thalia, become more common in the upper levels, reflecting regular seasonal
inundation of the channels after construction and use of the fields. Not surprisingly, these wetland
indicators are most frequent in the channels, but they also occur on the fields, possibly the result of field
renewal with excavated sediments from the channels. Thalia-type phytoliths are frequent in the later
levels of Camellón 1 and Channel 1, but they are almost completely absent from Camellón 2 and
Channel 2. One explanation is that Camellón 1 is closer to the small pond or wetland to the northeast of
the field cluster. Moreover, Chloridoideae, which prefers hot and dry conditions, occurs in the upper
levels of Camellón 2, whereas it is absent from the upper levels of Camellón 1. It appears that Camellón
2 was drier in later periods than Camellón 1, which may also explain why it was not built as high. It may
have been less prone to inundation. Although the frequencies of these dry and wet indicator
morphotypes are very low, these differences between the two camellones, only 72 m away from each
other, show that terrestrial phytolith records are quite localized, and sensitive to small variability in
hydrology, micro-topography, and vegetation in the immediate vicinity.
There are some indications that the camellones were abandoned before the deposition of the
final surface level. Maize was not identified in the upper levels of any of the profiles, except Channel 1
where the highest it occurs is 5-10 cm BS. In the other profiles, it is restricted to 20-75 cm BS. Nor was it
seen in any of the surface scatter samples. This suggests that maize was no longer being cultivated on

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the fields when the most recent deposition event(s) occurred. Moreover, in all of the profiles, both
channel and field, there is a small, but visible increase in arboreal phytoliths around 5-20 cm BS, before
frequencies return to very low amounts in the surface level. This suggests a minor recovery of some
trees and shrubs on the raised fields, probably due to a cessation of field clearing and maintenance
activities, before the land was re-cleared for modern cattle ranching. Because we have no radiocarbon
dates to anchor the stratigraphy, we cannot say when precisely this forest recovery took place.
However, it likely reflects the abandonment of fields by pre-Colombian populations around the time of
European contact, or even possibly before contact, as appears to be the case at the site of El Cerro to
the north (WHITNEY et al. 2014). It is noteworthy that at El Cerro, the recovery of gallery forest (and
inferred abandonment of the fields) was observed in the pollen records from the nearby lakes
associated with the fields, but there was no evidence of this in the terrestrial phytolith records directly
from the fields themselves (WHITNEY et al. 2014). This suggests that at Campo España, even though the
increase in arboreal phytoliths near the top of the profile is slight, it potentially represents a significant
recovery of woody taxa in the area.

Agricultural Crops and Economic Plants


Maize was identified in all four profiles, on the basis of DF analysis of cross-shaped phytoliths
produced in Poaceae leaves (PIPERNO 2006). Although the presence of maize leaves was documented,
no diagnostic wavy-top or ruffle-top rondels from maize cobs were observed in any of the samples. This
may be in part due to their low production, but it may also reflect a situation where cobs were
harvested and removed from the fields, and the rest of the plant was left behind and reintegrated into
the fields as mulch, depositing cross-shaped phytoliths.
In addition to maize, manioc may have been cultivated on the fields or waste plant material
used for mulch, based on the identification of a secretory cell phytolith (CHANDLER-EZELL et al. 2006).
Unfortunately, only a single phytolith of this type was identified, therefore our interpretation of
potential manioc cultivation remains tentative. Manioc and other root crops have been proposed as the
major staples grown on the raised fields (DENEVAN 2001), and their cultivation was observed by the
Jesuits (MÉTRAUX 1948), but empirical archaeobotanical evidence of their cultivation is rare. This is
more likely the result of low production and preservation of diagnostic microfossils than an accurate
reflection of the contribution these crops to the agricultural economy. Starch analysis from the large
habitation mounds in the southeast part of the Llanos de Moxos (not associated with raised fields)
documented the use of manioc, along with maize, squash (Cucurbita sp.), and several other crops

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AND PHYTOLITH EVIDENCE FROM RAISED FIELDS AT CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS

(DICKAU et al. 2012). Nonetheless, the archaeobotanical evidence as it stands suggests that while
manioc may have been present on the raised fields at Campo España, maize was the most abundant
crop. In other archaeobotanical studies of raised field systems in the Llanos de Moxos, and elsewhere in
lowland South America, maize consistently appears to have been among the most frequently grown
crops (IRIARTE and DICKAU 2012). Phytolith evidence of other domesticates was not recovered from the
sediments at Campo España, but absence of evidence does not mean other crops were not grown. Some
cultivars do not produce diagnostic phytoliths. Additional archaeobotanical methods, such as pollen
analysis of sediment cores or starch analysis of domestic artifacts from the nearby mounds, would likely
provide a much more comprehensive picture of the agricultural economy at the site.
The depth of the maize in the profiles is noteworthy. Our previous analysis of the phytolith
assemblage from the fields at El Cerro to the north showed that maize was present in the top 20 cm of
profile of one of the channel profiles, and two shovel test pits (WHITNEY et al. 2014). At Campo España,
it found between 5 and 45 cm BS in the channels, and between 20 and 75 cm BS in the camellones. The
greater depth of the maize microfossils could reflect slower erosion rates at Campo España, or possibly
great deposition rates that buried the cultivation surfaces. Many fields in this area were significantly
higher than at El Cerro. In Camellón 1, the depth of the maize phytoliths and their stratigraphic position
at the base of Unit 3, identified as the first field platform, suggests that the land was being farmed even
before the construction of the raised fields. We note, however, that sediments comprising Unit 3 might
have been mixed during construction or cultivation of the fields, and therefore phytoliths may have
been moved within the stratigraphy. However, the local loam soils, primarily alluvial deposits of
sediment transported down from the Andes by the Maniqui River, were sufficiently fertile to support
agriculture without the raised fields. Rather than improving fertility, it appears that the primary purpose
of the fields was drainage during wet season flooding events, based on the depth of the channels and
the morphology of the fields, in an effort to extend the growing season and increase agricultural output
(Lombardo et al., 2011). It is also possible that as the dry season advanced and flood waters receded,
farmers took advantage of the residual moisture in the channel soils and began planting crops there.
This contrasts with El Cerro, where the poor, clayey soils are not as fertile, and one of the probable
benefits of the raised fields, in addition to flood mitigation, was improving soil quality and allowing the
cultivation of maize (WHITNEY et al. 2014).
In addition to the cultivars documented, it is possible that some of the other phytoliths
recovered may have come from economic taxa that were actively encouraged or managed on the
camellones. In particular, palm phytoliths were found throughout the profiles. Although genus and

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species-specific determinations are not usually possible within the palm family, particular palm genera
are marked by the presence of either granulate hat-shaped morphotypes (produced in Bactris,
Acrocomia, Astrocaryum, and others) or echinate globular (produced in Attalea, Euterpe, Oenocarpus,
and others) (TOMLINSON 1961; PIPERNO 2006; BOZARTH et al. 2009). Socratea and Lantania are the
only two genera known to produce both morphotypes (PIPERNO 2006). Many palm species are major
economic plants in the Neotropics, used for food, fuel, medicine, craft, and construction material, and
one, Bactris gasipaes, was domesticated and cultivated in Amazonia (BALICK 1984, 1988; CLEMENT
1988; KAHN 1993; CLEMENT 1999; MACÍA 2004). While we cannot determine if the palm phytoliths
recovered from the Campo España camellones represent naturally occurring vegetation or cultivated
individuals (or both), it is possible that some palm trees were maintained on or near the fields by the
pre-Columbian farmers to provide specific economic resources. Similarly, Marantaceae is a family with
numerous economic species. Although none of the phytoliths recovered were consistent with those of
domesticated species such as llerén (Calathea allouia) or arrowroot (Maranta arundinacea), it is possible
that other non-domesticated Marantaceae species were encouraged or cultivated on the fields.

CONCLUSIONS

Our analysis of stratigraphy and phytolith records from camellones at Campo España provides
insights into the construction and cultivation history of these fields. Prior to field construction, the
landscape was dominated by palm savannah. The alluvial loam soils potentially allowed seasonal maize
cultivation, but a need to increase agricultural production and/or cope with more frequent flood events
prompted people to construct camellones as growing platforms. Woody vegetation was cleared and
probably burned, and the fields created by excavating parallel channels and piling the soil alongside in
platforms 3-5 m wide. Elevation varied, depending on localized topography, flood height, and drainage
patterns. Over the history of field use, the cultivation surfaces may have been occasionally renewed or
built up with sediment from the channels, but based on the horizontal deposition visible in the channel
profiles, this does not appear to have been a regular practice. The primary function of the fields was
drainage, with little evidence of fertilization with silt from the channels (LOMBARDO et al. 2011). The
camellones were used to grow maize and possibly manioc, and appear to have been regularly burned,
perhaps as a method of weed and pest control. Cropping was practiced on the field platforms, but also
potentially within the channels during the dry season, since evidence of domesticates was found there

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AND PHYTOLITH EVIDENCE FROM RAISED FIELDS AT CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS

as well. An increase in arboreal phytoliths near the top of the stratigraphic profile of the fields is
interpreted as recovery of woody taxa due to abandonment by pre-Columbian farmers. Although we
currently lack absolute dates for the profiles, it is likely this abandonment of the fields occurred
sometime between 1200 and 1550 based on dates from other field systems in the Llanos de Moxos
(ERICKSON 1995; RODRIGUES et al. 2014; WHITNEY et al. 2014).
The complexity of other earthwork s at Campo España, including canals, causeways, a
reservoir, and several mounds, indicate a structured and sizable settlement of people associated with
the raised fields. The site holds significant potential for research into the economic production and
organization of the fields, and the socio-political structure that managed the fields and was in turn
supported by them. The pre-Colombian societies of the Llanos de Moxos created a vast agricultural
landscape through the sophisticated management of water and land resources. In depth, field-based
analyses such as this are essential to reconstructing the details of construction, the crops cultivated, and
the palaeoenvironmental context. In turn, this data can inform broader questions of human-landscape
interactions and the strategies people use to cope with a challenging and changing environment.

Acknowledgments
This research was made possible through a Leverhulme Trust research project grant
(F/00158/Ch) awarded to Francis Mayle and José Iriarte. Fieldwork logistical support was provided by
the ‘Noel Kempff Mercado’ Natural History Museum, Santa Cruz, Bolivia, and ‘Programa de
Conservación de la Paraba Barba Azul’, Trinidad, Beni Department, Bolivia. We thank landowner
Eduardo Cuellar for his hospitality and permission to survey and excavate on his property. Comparative
plant material generously provided by the ‘Herbario Regional del Oriente Boliviano’ at the Museo de
Historia Natural ‘Noel Kempff Mercado’. We thank the three reviewers for their helpful comments that
improved this paper.

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RECONSTRUCTING PRE-COLOMBIAN AGRICULTURAL PRACTICES IN THE BOLIVIAN SAVANNAH: STRATIGRAPHIC
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263
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
Channel 1 Camellón 1

Cat #

090
089
088
087
082
077
075
073
071
069
067
066
065
064
063
062
061

B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
B-10-
cm BS

0-5
0-5

135
110
130-
105-

5-10
5-10

10-15
80-85
70-75
60-65
50-55
40-45
30-35
25-30
20-25
15-20
10-15
Poaceae Cross Variant

7
2
4
2
1
1
3
6
2
6
3
2
2
5
2
3
1
1
Poaceae Cross Variant

1
1
1
2
2
Poaceae Cross Variant

1
1
2
4
7
5
3
3
3
3
1
1
3/8
Poaceae Cross Variant

4
3
7
9
1
6
3
4
1
6
5
5/6
Poaceae Other Cross –

2 15 2
5 11 3
5 14 3
3
3
5
3 12 2
3 13 2
3
4
3
1
1
3
1
3
shaped Body
Poacaeae Spiked Cross

8
6
0
6
7

47
14
13
18
19
17
Panicoideae Bilobate
Burnt Panicoideae

43 40
Bilobate
Panicoideae Polybate

7
Sloped Bilobate

4
40 25 1 13 17
65 31 1 37 38
Burnt Sloped Bilobate
Poaceae Keeled

66 21 3 54 31 2
52 28 2 53 34 1
85 34 1 59 24 1
67 34 3 17 31 1
29 35 1 51 68 1
36 39 3 29 81 1
37 51 1
30 28 1 42 29 2
51 36 1 65 27 1
Bilobate

1
3
2
1
1
1
1
2

Aristida-type Bilobate
Oryzoideae Scooped

3
3
1
1
4
4
1
1
1
3
4

10
Arundinaceae-type
Biolobate

1
3
1
2
Trapezoidal Curved

2
1

Body
Chloridoideae Saddle
Bambusoideae
Poaceae Saddle
CollapsedRondels/
35 7
23 9

5 22
1 17 20
1 44 23
3 50 19
1 17 16
31
31
3 33
5 31
4 25

Trapezoids

20 25 2
16 22 1
1 17 22 1
3 21 11 1
1 22 20 5
3

Poaceae Tall Rondel


Bambusoideae-type

4
4
3
2
6
3
6
2
1
6

10

Blocky Rondel with


Poaceae Fringed
Saddle Top
Scirpus-type
Rondel Sinuous

4
3
1
1
1
1
2
1
1
1
1

Cyperus/Kyllinga
Suborbicular with

264
Granulate Polygonal
Central Protuberance

5
2
1
4
4
3
5
5
6
3
2
6
2
1

16
10
Platelet with Central
Cyperaceae Conical

1
2
4
5
2
1

Protuberance
Bodies
Cyperaceae Burnt

8
6
1
3
7
4
2

11
1 14
1 10

Granulate
Conical BodyIrregular

2
5
Cone with Dendritic

4
3
2
4
7
5
2
2
8
4
1
1
2
2
3
5
1

Projections
Heliconia Trough Body
Asteraceae Opaque

1
3
1
3
1
1
1
1
1
1
1
3
1
7
2

Thalia-type Granulate
Perforated Plate
APPENDIX: RAW PHYTOLITH COUNTS

3
1
1
2
1
1
3
2
3

Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016


12

Cylindrical with Central


CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS

Marantaceae Nodulose
Conical Protuberance

2
7
6
3
2
1
1
3
1
5
2
2

13
23

Anisopolar Decoration
or Crushed Polygonal
Table 1: A/B-Fraction raw phytolith counts and totals.

1
1
2

Globular Body
Top, Decorated
Large Marantaceae-
1
1
1
1
1
1
1
2

Cylindrical
type NoduloseBottom
Globular
Zingerbales-type Druse
Arecaceae Globular
5
2
5
1

12

Echinate
Arecaceae Conical
14 3
26 7
18 4
15 4
19 3
1
22 6
40 1
3

Echinate (Hat-Shaped)
6
2
2
64 89 1
7 23 7
9
2
5
6
2
9
3
2
4

Globular Granulate
1
3
26 6 44 1
16 1 10 1
1
12 3 11 2
1
1
1
1
3
1

Globular Psilate
Manihot-like Secretory
Cell
1

Sclereid
Irregular With Narrow
1
1
1
4
1
1
1

Processes
1
4

Brown Verrucate
Hair Cell
Dendritic Rectangular
Dendritic Body
Orbicular Plano-
Convex
IrregularVerrucate
Partitioned
Platelet
Blocky Laminated
Unidentified
RECONSTRUCTING PRE-COLOMBIAN AGRICULTURAL PRACTICES IN THE BOLIVIAN SAVANNAH: STRATIGRAPHIC AND PHYTOLITH EVIDENCE FROM RAISED FIELDS AT

Total
330
315
305
276
285
267
324
303
298
294
230
250
226
309
264
271
234
RUTH DICKAU, JOSÉ IRIARTE, TIMOTHY QUINE, DANIEL SOTO E FRANCIS MAYLE

B-10-
15-20 8 1 7 1 79 42 1 56 24 2 1 5 28 22 2 5 6 11 6 1 2 1 1 1 1 14 2 2 332
091
B-10-
20-25 5 1 5 7 6 84 45 4 30 31 1 1 7 3 30 20 5 8 15 9 15 1 10 1 3 3 6 4 3 1 1 365
092
B-10-
25-30 2 4 14 5 71 20 2 18 7 1 1 13 2 1 42 43 4 18 5 11 6 4 7 1 6 11 1 1 10 2 6 1 2 1 1 344
093
B-10- 10
30-35 9 1 6 32 4 46 2 21 8 1 1 7 2 3 63 30 3 17 6 16 9 2 16 3 8 5 1 14 6 6 1 1 3 2 462
094 7
B-10-
40-45 5 1 7 2 89 45 2 19 16 2 1 7 4 42 38 1 11 3 12 1 11 17 16 1 3 1 26 1 16 1 1 2 404
096
B-10-
50-55 3 3 7 2 53 44 1 21 47 1 1 1 25 47 12 2 4 2 18 41 3 1 36 3 35 3 1 1 418
098
B-10-
60-65 1 1 4 37 44 12 28 1 3 1 29 30 2 3 1 9 6 1 1 31 4 49 3 301
100
B-10-
70-75 2 3 6 1 52 46 21 33 1 1 32 29 4 3 7 5 5 6 2 20 2 27 308
102
B-10-
80-85 1 2 32 23 1 14 24 4 24 36 2 3 1 13 6 5 2 59 1 26 279
104
B-10-
0-5 1 4 5 14 3 46 24 1 44 16 7 5 1 17 30 1 3 1 4 2 1 1 1 3 2 2 1 1 1 242
106
B-10-
10-15 1 1 2 9 2 46 27 1 61 45 2 1 4 21 29 5 1 7 4 6 4 1 1 2 1 3 5 4 1 1 1 299
108
B-10-
Camellón 2

20-25 1 1 1 37 22 2 82 66 2 1 1 13 24 1 2 1 5 1 4 1 1 1 1 4 2 1 1 1 1 281
110
B-10-
30-35 4 7 45 31 1 94 77 2 1 10 24 1 3 1 2 1 3 3 1 1 1 1 6 4 1 1 1 1 328
112
B-10- 10
40-45 1 2 20 47 2 24 2 1 9 37 2 2 1 1 1 1 1 1 14 1 12 1 1 289
114 5
B-10-
75-85 1 2 27 39 20 47 1 6 50 1 1 2 2 42 2 28 1 1 273
118
B-10-
0-5 7 6 17 2 21 75 14 4 24 6 4 4 4 1 11 59 8 7 4 16 11 1 1 1 2 3 1 2 1 317
120
B-10-
5-10 11 5 12 5 2 75 42 3 15 13 6 1 3 9 71 3 1 7 24 9 1 1 1 1 3 2 2 1 1 3 333
121
B-10-
10-15 1 3 10 1 1 62 22 2 27 20 3 1 2 75 3 3 30 4 1 1 1 1 5 1 1 2 1 284
122
Channel 2

B-10-
15-20 3 1 1 11 1 1 71 43 1 19 8 1 2 1 10 54 7 1 14 4 1 4 1 1 2 1 2 1 1 1 2 271
123
B-10-
20-25 37 48 1 27 20 1 1 1 7 69 1 1 18 3 2 1 2 10 1 6 2 1 1 261
124
B-10-
30-35 4 2 4 2 47 42 2 44 55 1 63 1 9 1 1 8 1 10 1 17 1 1 1 1 319
126
B-10-
40-45 2 1 28 64 1 28 45 3 42 3 2 5 3 1 21 1 11 1 1 1 264
128
B-10- Surface
4 2 1 15 4 1 54 17 1 63 25 4 2 7 42 1 6 1 4 13 1 1 1 1 1 5 2 1 1 1 1 4 5 292
132 A

265
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RECONSTRUCTING PRE-COLOMBIAN AGRICULTURAL PRACTICES IN THE BOLIVIAN SAVANNAH: STRATIGRAPHIC AND PHYTOLITH EVIDENCE FROM RAISED FIELDS AT
CAMPO ESPAÑA, WESTERN LLANOS DE MOXOS

B-10- Surface
5 2 3 11 2 1 47 27 1 48 27 4 10 51 1 1 4 5 3 2 1 1 5 2 1 1 266
133 B
B-10- Surface
3 2 21 1 60 24 1 61 29 1 5 2 1 7 51 1 3 1 9 5 4 2 1 1 1 4 4 2 1 2 1 311
134 C

266
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Table 2: C-Fraction raw phytolith counts and totals.

Cyperus/Kyllinga Granulate Polygonal Platelet with Central


Thalia-type Granulate Cylindrical with Central Conical

Marantaceae-type Decorated Cylindrical with Central

Dichorisandra-type Trapezoidal Polygonal Plate


Scirpus-type Sinuous Suborbicular with Central
Asteraceae Opaque Perforated Plate

Irregular With Narrow Processes

Irregular Partitioned Platelet


Angularly Crenate Elongate
Large Globular Granulate

Large Nodulose Globular


Large Globular Echinate

Mammiform Platelet

Irregular Dendritic

Blocky Laminated
Irregular Faceted
Brown Verrucate

Epidermal Tissue

Bispherical Body

Pilate Tracheid
Protuberance

Protuberance

Protuberance

Protuberance

Unidentified
Hair Base
cm BS
Cat #

Total
B-10-061 0-5 17 10 6 1 1 35
B-10-062 5-10 19 14 6 1 40
B-10-063 10-15 6 8 9 23
B-10-064 15-20 16 2 1 1 1 21
B-10-065 20-25 9 20 1 1 31
B-10-066 25-30 28 2 30
Camellón 1

B-10-067 30-35 13 1 2 16
B-10-069 40-45 60 3 1 1 2 1 5 73
B-10-071 50-55 1 1 2
B-10-073 60-65 21 21
B-10-075 70-75 15 1 16
B-10-077 80-85 13 13
B-10-082 105-110 2 2
B-10-087 130-135 1 1 2
B-10-088 0-5 19 33 1 1 1 8 1 3 3 2 2 1 1 76
B-10-089 5-10 29 138 2 18 7 1 1 196
B-10-090 10-15 60 64 7 8 26 1 1 38 205
B-10-091 15-20 39 26 6 10 1 6 1 28 117
B-10-092 20-25 47 37 6 1 16 4 1 4 1 117
Channel 1

B-10-093 25-30 103 90 4 5 1 3 206


B-10-094 30-35 204 71 3 1 279
B-10-096 40-45 152 11 1 164
B-10-098 50-55 75 75
B-10-100 60-65 17 17
B-10-102 70-75 10 10
B-10-104 80-85 3 3
B-10-106 0-5 3 1 4
B-10-108 10-15 6 1 7
Camellón 2

B-10-110 20-25 10 10
B-10-112 30-35 7 2 9
B-10-114 40-45 5 5
B-10-118 75-85 1 1
B-10-120 0-5 3 2 4 6 1 2 9 27
B-10-121 5-10 3 1 5 23 1 15 5 53
Channel 2

B-10-122 10-15 3 1 10 6 9 1 30
B-10-123 15-20 2 1 8 1 1 3 1 17
B-10-124 20-25 2 1 1 1 5
B-10-126 30-35 1 1
B-10-128 40-45 1 1
B-10-132 Surface A 6 1 12 10 13 1 43
B-10-133 Surface B 4 1 1 1 2 9
B-10-134 Surface C 10 1 1 3 1 1 1 1 19

Recebido em:17/04/2016
Aprovado em:15/05/2016
267 Publicado em:22/06/2016
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE
HOLOCENE
DINÂMICAS DE PAISAGEM NA BACIA DO PRATA DURANTE O HOLOCENO MÉDIO E
TARDIO

José Iriarte
Rafael Corteletti
Jonas Gregorio de Souza
Paulo DeBlasis

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Landscape dynamics in the La Plata Basin during the mid and late Holocene

José Iriarte1
Rafael Corteletti2
Jonas Gregorio de Souza1
Paulo DeBlasis2

Abstract: In this article, we focus on three case studies, which show how the climatic fluctuations that took place
during the mid and late Holocene had a major impact on the native groups that inhabited the La Plata Basin
region. First, we summarized the archaeological and the paleoenvironmental records of the mid-Holocene
related to the emergence of “Constructores de Cerritos” in south-eastern Uruguay. Then, we review the
evidence for a late Holocene more intense occupation of the southern Brazilian Highlands by the southern
proto-Jê groups and its association to the expansion of mixed Araucaria forest in this region. After that, we
review the evidence for sea-level fluctuations and changes in settlement patterns of the mid and late-Holocene
Sambaqui people that lived along the Atlantic coast of south-eastern Brazil. Finally, we briefly discuss the
implications of these environmental changes for the development and dynamics of these cultures in the La Plata
Basin region.

Keywords: Landscape, Archaeobotany, Palaeoecology, La Plata basin.

Resumo: Neste artigo vamos abordar três estudos de caso, avaliando como as variações climáticas que
aconteceram durante o Holoceno médio e tardio produziram grandes impactos sobre as populações nativas que
habitavam a região da Bacia do Prata. Primeiramente, é apresentado um resumo dos registros arqueológicos e
paleoambientais do Holoceno médio relacionados com a emergência das sociedades de “Construtores de
Cerritos” no Sudeste do Uruguai. Em seguida, são revisadas as evidências da mais intensa ocupação humana nas
terras altas do sul do Brasil, pelos grupos proto-Jê do Sul, e a associação destes com a grande expansão da
floresta de Araucária nesta região, durante o Holoceno tardio. Depois disto, resumimos as relações entre as
flutuações do nível do mar e as mudanças no padrão de assentamento dos grupos sambaquieiros ao longo da
costa do Atlântico, no sul brasileiro durante o Holoceno médio e tardio. Por último, é apresentada breve
discussão sobre as implicações destas mudanças ambientais no desenvolvimento e dinâmicas destas culturas na
região da Bacia do Prata.

Palavras-Chave: Paisagem, Arqueobotânica, Paleoecologia, Bacia do Prata.

1
Department of Archaeology, College of Humanities, University of Exeter, UK.
2
Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, Brasil.
JOSÉ IRIARTE, RAFAEL CORTELETTI, JONAS GREGORIO DE SOUZA E PAULO DEBLASIS

INTRODUCTION

The archaeology of the mid and late Holocene of the Río de la Plata Basin (hereafter LPB) and its
adjacent littoral Atlantic coast has received a new impetus in the last two decades through the development of
several new archaeological projects (e.g., BONOMO et al. 2011; BRACCO 2006; CÁRDENAS et al. 2015;
CORTELETTI 2012; DEBLASIS et al. 2007; DEMASI 2009; DURÁN and BRACCO 2000; GIANOTTI 2005; IRIARTE
2006a; MAZZ 2001; MAZZ et al. 2014; POLITIS et al. 2001; SCHMITZ et al. 2010; VILLAGRAN and GIANOTTI 2013)
(Figure 1). In parallel, new paleoecological work carried out in the region has substantially expanded and refined
our understanding of the mid- and late-Holocene environments (e.g., BEHLING 1995, 1997a, 1997b; BEHLING et
al. 2004, 2005; BRACCO et al. 2011; CRUZ JR. et al. 2005; IRIARTE et al. 2004; IRIARTE 2006b; LEDRU et al. 1998;
RODRIGUEZ 2005). These improved environmental reconstructions have in turn allowed archaeologists to
explore human-environmental dynamics in more precise ways similar to the work that is being carried out in
Amazonia (e.g., MAYLE and IRIARTE 2014).
In this article we focus on three case studies, which show how the climatic fluctuations that took place
during the mid and late Holocene in this region had a major impact on the native groups that inhabited the
region. First, we summarized the archaeological and the paleoenvironmental records of the mid-Holocene
related to the emergence of early Formative societies in southeastern Uruguay. Then, we review the evidence
for a late Holocene more intense occupation of the Southern Brazilian Highlands (hereafter SBH) by the southern
proto-Jê groups and its association to the expansion of mixed Araucaria forest in this region. After that, we
review the evidence for sea-level fluctuations and changes in settlement patterns of the mid and late-Holocene
Sambaqui people that lived along the Atlantic coast of southeastern Brazil. Finally, we briefly discuss the
implications of these climatic changes for the development and dynamics of these cultures in the region.

THE MID-HOLOCENE EARLY FORMATIVE SOCIETIES OF SOUTHEASTERN URUGUAY

14
The mound-builder native culture dating back to c. 4736 cal. yr BP (4190 C yr BP) are generally
referred to as ‘Constructores de Cerritos’ in Uruguay and are divided into the Umbu (Archaic Preceramic) and
Vieira (Ceramic) traditions in southern Brazil. They extend along the coastal and inland wetlands and grasslands
that occur in the Atlantic coast between around 28° and 36°S (DURÁN and BRACCO 2000; IRIARTE 2003; MAZZ
2001; MAZZ et al. 2014; SCHMITZ et al. 1991) (Figure 1). The southern sector of the Laguna Merin basin (Figure
2), is characterized by a patchwork of closely packed environments including wetlands, wet prairies, grasslands,

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riparian forests, large stands of Butia palms and sand dunes of the Atlantic Ocean coast. It has a subtropical
humid climate with high average temperatures of 21.58°C during the summer and low average temperatures of
10.88°C during the winter. Total annual rainfall averages 1123mm (PROBIDES 2000).

Figure 1: Map showing approximate locations of major archaoelogical traditions in southeastern South America during the
mid and late Holocene.

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Figure 2: Map of the southern sector of the Lagoon Merin basin showing India Muerta wetlands around archaeological sites
Los Ajos (1); Estancia Mal Abrigo (2); and Puntas de San Luis (3); The map also show the archaeological sites CH2DOA (4)
and Los Indios (5) and cores position of Los Ajos (LA) and Negra Lagoon (NL).

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

The ‘Constructores de Cerritos’ are divided into two main periods: a Preceramic Mound Period
(hereafter PMP), which begins around 4736 cal. yr BP (4190 14C yr BP) and ends with the appearance of ceramics
in the region around 3200 cal. yr BP (3000 14C yr BP) and a Ceramic Mound Period, which extends from around
3200 cal. yr BP to the Contact Period (BRACCO et al. 2000; IRIARTE 2003; MAZZ 2001) (see Figure 2 in IRIARTE
2006a:648).

Figure 3: Los Ajos phytoliths diagram (from Iriarte, 2006).

Paleoecological data from the region shows that as in other regions of the world, the mid-Holocene
was characterized by significant climatic and ecological changes (e.g., MAYLE and POWER 2008), and that these
perturbations were associated with important cultural transformations (e.g., SANDWEISS et al. 1999). The
combined pollen and phytolith records from the India Muerta wetlands indicate that the mid-Holocene between
c. 7516 and 4495 cal. yr BP (c. 6620 and 4020 14C yr BP) was a period of significant climate fluctuations marked
by increasing aridity (Figure 3 and 4). At around 4495 cal. yr BP a maximum drying episode occurred, as
evidenced by a massive spike of Amaranthaceae/Chenopodiaceae coupled with a sharp drop in wetland species.
The maximum drying episode that took place around 4495 cal. yr BP likely caused a decrease in the surface
water recharge to the inland wetlands and waterways, which in turn resulted in the desiccation of grasslands.
This caused increasing diminishing returns from grasslands, deepening the resource gradient between wetlands

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and grasslands. Although reduced in extent, wetlands became attractive places for native populations by
providing abundant, now more highly circumscribed plant and animal resources and a stable source of water.
Archaeological data from the Los Ajos mound complex (IRIARTE 2006a) suggest that during this period of
increased dryness, local populations did not disperse (e.g., disaggregate into smaller groups and increased
mobility) or out-migrate to other regions but appear to have opted for orienting their settlement towards the
upper freshwater wetlands where they established more permanent communities. A series of major social and
economic changes took place at that time during the PMP.
Los Ajos people began to live in a circular household-based community, partitioning the site into
discrete domestic and public areas characterized by the placement of residential units around a central plaza
area. Plant and animal remains at Los Ajos indicate that PMP people adopted a mixed economy shortly after
they began to live in more permanent villages. Phytolith and starch grain analyses documented seeds, leaves
and roots from a variety of wild and domesticated species marking the earliest occurrence of at least two
domesticated crops in the region: corn (Zea mays) and squash (Cucurbita spp.) shortly after 4736 cal. yr BP
(IRIARTE et al. 2004). The close association between large mound complexes and the most fertile agricultural
lands in the region suggest that PMP people likely practiced flood-recessional farming. During the spring and
summer months, organic soils are exposed on the wetland margins. These superficial peat horizons are highly
fertile, hold moisture and are easy to till. Furthermore, the floodwater of the nearby Cebollatí River periodically
inundates the area and replenishes the soils with nutrients, which makes the India Muerta wetlands an ideal
locale for the practice of wetland margin seasonal farming (IRIARTE 2003; 2007).
The exploitation of palms is evidenced by the recovery of palm nut endocarps from butia (Butia
capitata) and pindo (Syagrus romanzoffiana) in addition to the presence of abundant palm phytoliths in the
basal PMP at Los Ajos, Islas, and Estancia Mal Abrigo (Iriarte et al., 2001) (Figure 5). Dense stands of Butia palm
groves, whether wild, encouraged or cultivated, constitute an extremely rich seasonal resource for prehistoric
populations living in the area (MAZZ et al. 2014)
At a regional scale, we witness the development of large and spatially complex mound sites
circumscribed to wetland floodplains situated in ecotonal areas. In the more stable locations of the landscape,
like flattened spurs adjacent to wetland floodplains, which are secure from flooding and have immediate access
to the rich-resource and fertile wetlands, mound sites are large, numerous and spatially complex covering up to
60 ha (e.g., Estancia Mal Abrigo site; see Figure 6.1 in IRIARTE et al. 2001:64). These sites contain varied
mounded architecture geometrically arranged in circular, elliptical and horseshoe formats surrounding a central
communal space accompanied by vast outer sectors, which generally exhibit more disperse and less formally
integrated mounded architecture (IRIARTE 2003, 2013) (Figure 5). Collectively, the combined archaeological and

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Figure 4: Los Ajos pollen diagram (from Iriarte, 2006).

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paleoecological evidence from Los Ajos suggest that increased sedentism was a response to local resource
abundance in wetland areas in the face of regional resource scarcity produced by the drying trend of the mid-
Holocene.

Figure 5: Distribution of mound sites in the India Muerta wetlands in the southern sector of Laguna Merin

Along the Atlantic coast, Bracco et al. (2005) carried out a multi-proxy paleoenvironmental
reconstruction of the Negra lagoon covering the last four millennia. The gastropod and diatom records show
14
that the lagoon was a brackish water body between around 4000 and 2000 C yr BP and a freshwater one
between 2000 14C yr BP and the present. Based on the Twiss (1992) generalizations about the global distribution
of C3 and C4 grasses, these authors inferred regional climatic changes in temperature and humidity based on
the percentages of C4 Chloridoid – characteristic of warm and dry climates – vs. C3 Pooid phytoliths – common
in cool and humid conditions. Based on the high percentages of C4 Chloridoid phytoliths between around 4000
and 2000 14C yr BP, they inferred that this period was arid or highly seasonal with respect to the following two
millennia before present. More recently, Bracco and his collaborators (BRACCO et al. 2011) carried out a more
refined analysis of the Negra Lagoon, Blanca Lagoon and Rocha Lagoon, collectively dating them back to 7000 14C
14
yr BP. These records have a hiatus for the crucial period between 3500 and 2600 C yr BP. Using the same

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climatic indexes they arrived to similar conclusion as in their previous study: before 2000 14C yr BP the climate
was colder and dryer and after 2000 14C yr BP, the climate was hotter and more humid. However, they detected
that the Rocha Lagoon appear to present drier and colder conditions during the 5300 to 4500 14C yr BP interval
in comparison with the preceding period dated between 7000 and 5300 14C yr BP. In the Negra Lagoon, they also
documented two peaks of extreme humid and wet climate between at 1200 and 600 14C yr BP. They also noticed
that these coastal records are in partial agreement with the geomorphological models of Iriondo and Garcia
(1993) and Bombin and Klamt (1976), both of which are of extremely low chronological resolution. However,
their interpretations are in marked constrast with the higher resolution pollen and phytolith records from the
Los Ajos interior freshwater wetlands (IRIARTE 2006b; IRIARTE et al. 2004) and the pollen records from southern
Brazil (BEHLING et al. 2004, 2005), which indicate that a more humid period started after 4000 14C yr BP not
2000 14C yr BP.
These differences could be attributed to several factors. In the first place, it could be related to the fact
that these different reconstructions could be reflecting different local vegetation histories, i.e. the different
environmental histories of these Atlantic coast lagoons vs. the interior freshwater wetlands of India Muerta.
While phytoliths are generally deposited locally and thus tend to reflect local phytolith source areas (e.g.,
ALEMAN et al. 2013), pollen tend to produce a more regional signature of the vegetation (at least with respect
to wind-pollinated taxa such as Poaceae, Cyperaceae, Moraceae, Celtis) (e.g., JACOBSON JR. and BRADSHAW
1981). The size of lakes and wetlands also is associated with the pollen catchment area (e.g., SUGITA 1993); the
larger the lake, the larger the catchment area that it generally reflects. Unfortunately, the Los Ajos oxbow is
small and though multi-proxy pollen and phytolith records has been analysed, it only represent the local
vegetation history. Although the Negra Lagoon is larger, its phytolith record is likely to represent the local
vegetation history around the lagoon. In addition, the interpretations of the temperature and humidity indexes
made by Bracco and his collaborators (BRACCO et al. 2005, 2011) should be taken with extreme caution. As
previously argued by Iriarte and his collaborators (IRIARTE 2006b; IRIARTE et al. 2008a), salt marshes in the
region are dominated by particular Poaceae taxa specifically adapted to saline conditions that render a
distinctive phytolith signature dominated by Chloridoid and Pooid phytolith morphotypes in an otherwise
Panicoid dominated subtropical grasslands characteristic of the region. The presence of Chloridoid and Pooid
phytolith morphotypes in Bracco et al. (2005) study are likely to simply reflect the local dynamics of a salt marsh
between 4000 and 2000 14C yr BP in the Negra lagoon and should not be used as evidence for broader climatic
reconstruction in the region in terms of temperature and humidity. A more nuanced approach to phytolith
morphology like the one used by Puerto et al. (2013) should prove more fruitful – though these latter records
suffer from the same interpretative problems highlighted above. The local nature of the phytolith records from

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these coastal lagoons should prevent these authors to make generalisations about the broader region. The local
phytolith records from these coastal lagoons that were likely connected to the Atlantic Ocean during the mid-
Holocene cannot be used to infer the environmental conditions for the Merin Lagoon basin during the mid-
Holocene. Instead these data should be used to resolve the controversy about the timing and nature of the
relative sea-level during the Late Holocene in Uruguay (BRACCO et al. 2014; MARTÍNEZ and ROJAS 2013). From
the above discussion, it become clear that Bracco et al. (2005, 2011) conclusions about regional landscapes
derived from the phytolith records of these coastal lagoons should be revised. In turn, the Los Ajos record,
though local in nature, is certainly more appropriate to reveal this mid-Holocene environmental history, the
pivotal time when the ‘Constructores de Cerritos’ emerged.
Another contended issue that is crucial to understand human-environmental relationships in the
southern sector of the Merin lagoon basin are the sea-level fluctuations that took place during the Holocene.
Current data by Martínez and Rojas (2013) indicate that the present sea-level was reached in Uruguay by around
6000 cal. yr BP and that there was a major marine highstand attaining 3.75 m on average at around 5000 cal. yr
BP. However, this data is contested by (BRACCO et al. 2014). In southern Brazil, Angulo et al. (2006), claim that
the sea level has been above that of the present and has been smoothly declining since the last ca. 5000–5800
cal. yr BP, with a maximum height of no more than 4 m. Despite this controversy, a general pattern emerges
showing that the present sea-level was reached in the region between 6000 and 5000 cal. yr BP and that there
was a marine high stand of 5-3 m.a.s.l. at around 5000 cal. yr BP, which certainly converted the lower sectors of
Merin Lagoon basin closer to the Atlantic Ocean into salt lakes as shown in the gastropod record of the Negra
lagoon (BRACCO et al. 2005), where freshwater conditions only became dominant after 2000 yr BP. As the sea
levels become lower, we progressively see a colonization of the lower regions of the area by the ‘Constructores
de Cerritos’ (BRACCO et al. 2011). In this regard, the upper (15 m above sea level) freshwater wetlands of the
region, like the wetlands of India Muerta, which were not directly affected by these mid-Holocene marine
highstands had more favourable conditions during the mid-Holocene and promoted the aggregation of
populations along these restricted and limited resource-rich areas, which later expand to lower areas of the
basin as the marine waters recede.

SOUTHERN JÊ LANDSCAPES: THE LATE HOLOCENE EXPANSION OF ARAUCARIA FOREST

The second case study is related to the development of the southern proto-Jê groups, which spreads
along the SBH and the adjacent lowlands (Figure 1 – region B in the map). The SBH encompasses the southern

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Brazilian states of Rio Grande do Sul, Santa Catarina, and Paraná as well as part of Misiones Province, Argentina,
and Paraguay. The SBH decrease in altitude from east to west, from more than 1800 m close to the Atlantic
coastal plain to 100 m in the Paraná and Uruguay rivers floodplains. The climate is mesothermic very humid with
mean annual temperatures between 15-20°C and 1500-2500 mm of mean annual precipitation. Temperature is
mild in the central part of the plateau. The eastern area has higher elevations and a cold climate with sporadic
snowfall during the winter months. Four major vegetation types dominate the region including highland
grasslands (Campos), mixed Araucaria forest, semideciduous forest, and the Atlantic tropical forest (Mata
Atlântica) (Figure 6). Campos vegetation dominates the southern lowland portion of the area. Araucaria forest
mainly occurs above 400 m, but becomes more important as a canopy component above 600 m elevation.
Araucaria angustifolia (Paraná pine) species covers large areas between 24° and 30° S at elevations between
600 and above1700 m in southern Brazil, and in isolated islands between 18° and 24° at elevations 1400 to 1800
m in southeastern Brazil (HUECK 1953). Semideciduous subtropical forest grows along the Paraná and Uruguay
rivers’ systems and the southern escarpment of the plateau following the tributaries up to 500-800 m elevation
and the tropical Atlantic forest occurs in southern Brazil as a belt along the Atlantic coastal plain and in the
eastern slopes of the plateau at elevations up to 1000 m.
First defined by (MENGHIN 1957) as El Doradense in Misiones Province, this archaeological tradition is
known as Itararé and Casa de Pedra in Paraná (CHMYZ 1967) and Taquara in Santa Catarina and Rio Grande do
Sul states (MILLER 1967). In this article, we will refer interchangeably to the broadly defined Taquara-Itararé
archaeological tradition (BEBER 2005) as the southern proto-Jê. The prefix proto is meant to encompass in this
tradition all the ancestors of modern southern Jê people also including the former speakers of the extinct
southern Jê languages, Ingain and Kimdá (in JOLKESKY 2010; see also IRIARTE et al. 2013; SILVA 2001). Dating
14
back to c. 2220 cal. yr BP (2180 C yr BP) and extending to present, this broadly-defined tradition is mainly
characterized for its diagnostic ceramics, the construction of pit houses in the highlands, and its elaborated
mound and enclosure complexes. Details about the southern proto-Jê can be found in the literature published
by Brazilian researchers over the last two decades and our own research in the region (e.g., BEBER 2005; COPÉ
2006, 2015; CORTELETTI 2008, 2012; CORTELETTI et al. 2015; DEMASI 2009; DESOUZA et al. 2016; IRIARTE et al.
2008b, 2013; NOELLI 2000; RIBEIRO 1999/2000; SALDANHA 2005, 2008; SCHMITZ 1999/2000; SCHMITZ et al.
2002, 2010, 2013a). The reader is referred to these works for more detailed information.

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Figure 6: Southern Brazilian Highlands and its major vegetation types showing some archaeological localities and pollen
sites previously investigated (modified from IBGE, 1990). Key: Archaeological regions: A. Urubici; B. São José do Cerrito; C.
Lower Canoas River; D. Pinhal da Serra; E. Bom Jesus; F. El Dorado; Pollen cores: 1. Serra dos Campos Gerais*; 2. Serra de
Boa Vista; 3. Morro da Igreja; 4. Serra do Rio do Rastro; 5. Aparados da Serra; 6. Cambará do Sul*; 7. São Francisco de Paula;
8. Terra de Areia; 9. Lagoa dos Patos; 10. São Francisco de Assis*; 11. Cruce Caballero (* indicate sites cited in the text).

Southern proto-Jê ceramics are characterized by simple, tall, small vessels exhibiting fine walls. They
are generally tempered with sand and hematite grains, have homogenous paste, and reduced firing. Decoration
is more frequent in the southern Taquara phases and includes several incised types, punctuations, as well as
fingernail and basket impressions. The economy of these groups is thought to be based mainly on the
exploitation of Araucaria seeds complemented with horticulture, hunting, and fishing (BEBER 2005; CORTELETTI
2012; CORTELETTI et al. 2015; RIBEIRO 1999/2000; SCHMITZ 2001/2002).

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

Generally constructed on lateritic soils and decomposed basalt, pit houses are concentrated between
600-1200 m elevation closely overlapping the distribution of Araucaria forest (BITENCOURT and KRASPENHAR
2006). Pit houses are generally located in the upper slope and flat tops of interfluvial ridges close to small
streams. The diameter of a pit house ranges between 2 m and 25 m, but the majority do not exceed 5 m.
Pithouses are habitation sites containing the remains of everyday activities including hearths, post-holes,
ceramic sherds, lithic tools and debris, and charred Araucaria seeds. Pithouses may be isolated or form villages
of up to 107 houses. The ground plan of pit house villages may exhibit a linear layout paralleling a stream, may
be arranged in parallel lines, or form an approximate circle. Detailed topographical survey of pit house
settlements also suggests that these are well-planned settlements, with evidence of terracing, track ways and
particular alignments with others enclosures or mounds at the landscape level (COPÉ 2006, 2007; IRIARTE et al.
2008b, 2013; SALDANHA 2008). São José do Cerrito SC-CL-70/71 (Rincão dos Albinos) pit house village is one of
these examples. It is constituted by two groups of houses; one consists of 39 pits concentrated in an area of 50
m x 80 m (Schmitz, 2014); the other group has 68 pit houses organised in discrete clusters and accompanied by
mounds. Small clusters of houses have a linear or semi-circular layout, in one case surrounding a large mound.
Not far from the two groups of houses, in the highest part of the hill, there is a concentration of mounds
(SCHMITZ 2014). The site also exhibits early dates, around the 6th to 8th centuries AD. Reviewing the
palynological data, Schmitz et al. (2013b) have speculated that SC-CL-70/71 was located in an attractive area
during the early stages of expansion of Araucaria angustifolia, and that the many pit houses reflect a palimpsest
of small camps of Southern Jê groups that exploited the forest resources during part of the year, but were
otherwise still mobile. In this model, a permanent focus for these mobile groups would have emerged later in
the form of ceremonial sites, namely the mound and enclosure complexes, but also possibly the platform
mounds (SCHMITZ et al. 2010, 2013a).
Surface sites associated with pit house clusters are common and have been interpreted as probable
special-activity areas such as agricultural plots and quarry sites (e.g., BEBER 2005; DEMASI 2005; KERN et al.
1989; RIBEIRO and RIBEIRO 1985; SALDANHA 2005). At lower altitudes, in the upper river valleys and the
southern escarpment of the plateau where Araucaria forest is sparser and semidecidous forest dominates, pit
houses become rare and surface sites are more abundant. In some areas like the lower Antas and Pardo rivers,
situated below 600 m elevation, southern proto-Jê surface sites are characterized by discrete circular patches of
dark earth (‘terra preta’) forming villages that cover up to 4000 m2 (e.g., MILLER 1967).
Other types of site associated with southern proto-Jê people were characterized by circular, elliptical,
rectangular, and key-shape earthworks generally located in the most prominent hills of the area. The rims were
30-50 cm tall, 3-4 m wide, and 20-200 m in diameter. Their formal layout and lack of domestic debris indicate

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that these sites were ceremonial spaces where geographically dispersed groups came together to bury an
important chief, host inter-group gatherings, foster group reciprocity, forge inter-group alliances or perform
cyclical rituals (e.g., COPÉ et al. 2002; IRIARTE et al. 2008). Some of them, like the complex of earthworks in
ElDorado (Misiones, Argentina) are constituted by more than 8 circular enclosures (IRIARTE et al. 2008b;
MENGHIN 1957; WACHNITZ 1984). Recent work in Pinhal da Serra shows that these mound and enclosure
complexes have been positioned in carefully chosen locations in the landscape, exhibit recurrent paired
oppositions, alignments, orientations and viewsheds (DESOUZA and COPÉ 2011; IRIARTE et al. 2013; SALDANHA
2005, 2008). Furthermore, detailed topographical surveys of entire plateaus, like the Avelino locality (RS-PE-29),
are revealing a cultural landscape in which funerary/ceremonial structures and habitation pit-house villages
were carefully oriented and aligned (IRIARTE et al. 2013).
Eleven pollen sequences from the Brazilian states of Rio Grande do Sul, Santa Catarina, and Paraná and
Misiones Province, Argentina, document the beginning of a more humid period starting around 4480-3780 cal.
yr BP (4000-3500 14C yr BP), which became more intense between about 1410-900 cal. yr BP (1500-1000 14C yr
BP) depending on the region (Figures 6-8). Significantly, the archaeological data indicate that this pronounced
late-Holocene environmental change is associated with a more intense occupation of the SBH as evidenced by
the more intense occupation of the southern Brazilian plateau by the southern proto-Jê groups.
Located in the highlands of north-eastern Rio Grande do Sul state, Cambará do Sul (1040 m) (hereafter
CDS) provided one of the more recent and well-dated pollen sequences for the region (Figure 7) (BEHLING et al.
2004; BEHLING and PILLAR 2007). Similar to the records in the highlands of Paraná and Santa Catarina states, an
initial expansion of Araucaria forest, which at that time, formed gallery forests along streams within a landscape
14
dominated by grassland vegetation, was observed around 4320 cal. yr BP (3950 C yr BP). By that time, the
Atlantic forest was well established on the upper coastal slopes, located 6-10 km from the study site. Carbonized
particles abruptly increased in abundance during this period.
Between c. 1100 and 430 cal. yr BP (1140 and 410 14C yr BP), the representation of Campos pollen taxa,
primarily Poaceae, was markedly lower than in the previous period and its abundance continued to decrease
toward the top of the zone (from 55 to 24%). Pollen of Araucaria forest increased continuously (from 39 to 80%)
indicating a remarkably strong expansion of this forest, such that within a period of 100 years it replaced the
Campos vegetation. At c. 1100 cal. yr BP, there were fewer carbonized particles than before, although fires
continue to be frequent in the wider region where patches of grassland still existed (BEHLING et al. 2004). The
Figure 8 summarizes Araucaria angustifolia pollen curves from other representative pollen sequences from the
SBH.

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

Figure 7: Cambará do Sul pollen and particle charcoal diagram (from Behling and Pillar, 2007).

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Figure 8: Araucaria angustifolia pollen percentage curves from selected pollen diagrams.

The available 193 radiocarbon dates indicate that southern proto-Jê sites began to spread in the
second millennium BP, became more common around 1400 cal. yr BP and peaked between 900 and 600
cal. yr BP before the arrival of Europeans to the region and when the Araucaria forest was already fully
expanded. The proliferation of southern proto-Jê sites appears to be related to the exploitation of a newly
available, abundant, and rich resource: Araucaria seeds. Furthermore, unprecedented high magnitude
charcoal frequencies despite this more humid period appear to mark the onset of human landscape
transformation that could be associated with agricultural practices between around 4320 and 2980 cal. yr
BP (3950 and 2850 14C yr BP) (Figure 9).

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

Figure 9: Composite graph showing dates of all archaeological sites, mound and enclosure complexes, and oversized
pithouses combined with Araucaria forest and Campos (high altitude grasslands) pollen curves from Cambará do Sul
record (Behling et al. 2004). The composite graph illustrates the correlation of major cultural transformations
(increase in archaeological sites, appearance of oversize pit houses and the arrival of monumental architecture) with
the expansion of Araucaria forest.

Araucaria seeds, called ‘pinhão’, were a major element in the diet of the ethnohistorically and
ethnographically recorded indigenous people living in and around the range of the Araucaria trees
(MABILDE 1988; MÉTRAUX 1946). Araucaria trees are very productive. Each tree produces up to thirty large
cones, each of which contains an average of 112 seeds (5.8 cm long) (FAO 1986). Unfortunately, we do not
possess data about the modern density of Araucaria trees in different regions, but the pollen data suggest

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that they were very abundant in the SBH since c. 1410-900 cal. yr BP (1500-1000 14C yr BP). Araucaria seeds
are a good source of starch (37%), dietary fibre, Mg, and Cu. They also have a low content of protein (~3%)
and lipids (~1.3%), which is comparable to other starchy foods such as rice and beans (BELLO-PÉREZ et al.
2006; CORDENUNSI et al. 2004). The seeds are mainly harvested during the months of March and June, but
production is meagre during the spring and summer (October-February). However, the seeds of different
subspecies of Araucaria angustifolia are ripe during different months of the year, which potentially make
them available all year round (BEBER 2005). The seeds could be eaten raw, roasted, or grounded into a
paste. Ethnohistoric sources describe how pine nuts could be stored in tightly closed baskets soaked in
water for a month and a half (MABILDE 1988). Araucaria trees also provide an accessible and renewable
wood supply. Because Araucaria nuts are also an important item in the diet of several faunal resources
targeted by humans, including a variety of mammals, reptiles, and birds, its fruiting period should have
coincided with an increase in the availability of game.
As Araucaria forest began to expand in the highlands, pre-Hispanic groups may have been
motivated to migrate or foray seasonally to the highlands to collect Araucaria seeds in areas of
concentrated production. The replacement of grassland by Araucaria forest that took place between 1410
14
and 900 cal. yr BP (1500 and 1000 C yr BP) may have allowed higher permanent settlement in the
highlands. At some records, like Cambará de Sul, it happened in about 100 years, the rapidity and timing of
which raises the possibility of an anthropogenic cause (BITENCOURT and KRASPENHAR 2006; IRIARTE and
BEHLING 2007). The cultural development adapted to this new environment is inferred based upon the
proliferation of southern proto-Jê pit house villages. Sites located within ecotones comprised by Araucaria
forest, Campos (grasslands), and subtropical deciduous forests would have been privileged locations in
terms of abundance and diversity of resources. Ethnohistoric sources describe how paramount Kaingang
chiefs divided the Araucaria exploitation territories among their subordinates and determined their
settlements’ locations, therefore controlling access to important resources. The limits of the territories
were signalled in the bark of the Araucaria trees with carved motifs that also appeared in the decoration of
the Kaingang chiefs’ arrows (MABILDE 1988).
Recent data point to an increased role on domesticated plants than previously thought. Carbon
isotopes on human remains (DEMASI 1999) and on charred residues from ceramic containers (DEMASI
2007) dating to c. 1225 and 2285 cal. yr BP, respectively, show a strong C4 signature suggesting the
consumption and preparation of maize (Zea mays) by southern proto-Jê groups in Santa Catarina state,
Brazil. Maize cobs and squash seeds (Cucurbita sp.) associated to burial contexts dated to c. 1740 cal. yr BP
were recovered at the at the Matemático rockshelter in Bom Jesus, Rio Grande do Sul state (MILLER 1971).
Maize cob phytoliths from charred residue containers have been retrieved from PM01 site in Eldorado,
Misiones province, Argentina, dating between 680 and 480 cal. yr BP (IRIARTE et al. 2008b). In addition,
maize pollen grains have been documented in the São Francisco de Assis, Rio Grande do Sul, record at ca.

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

1814 cal. yr BP (Behling et al., 2005) and at the Morro Santana (Porto Alegre, Rio Grande do Sul) site
between 1239 and 580 cal. yr BP (BEHLING et al. 2007). Starch grain and phytolith residue analyses from 14
ceramic fragments recovered in two domestic cooking structures from a pit house at the Bonin site,
Urubici, Santa Catarina, dating to 1350 and 1340 cal. yr. A.D documented the consumption of manioc
(Manihot esculenta), beans (Phaseolus sp.), and possibly yams (cf. Dioscorea sp.) in addition to maize and
squash (CORTELETTI 2012; CORTELETTI et al. 2015). Overall, the combination of Araucaria-nut collection
and other wild plants, combined with the growing of tropical cultigens and hunting, would have been able
to support rather sedentary populations in the highlands. Contrary to traditional models of southern proto-
Jê mobility, these novel data suggest that food production may have allowed populations to settle in the
southern Brazilian highland plateau year round without the need for seasonal movements to the Atlantic
forest escarpment and the Atlantic coast environments to procure food (CORTELETTI 2012; CORTELETTI et
al. 2015). Collectively, the combined palaeoecological and archaeobotanical data complement
archaeological evidence for increased sedentism and social complexity among southern proto-Jê groups,
including the construction of large, well-planned pit-house villages, and the creation of a highly structured
landscape revolving around funerary/ceremonial structures.
The full expansion of Araucaria forest coincides with the development of novel forms of domestic
and ceremonial architecture which suggest changes in the social and political organisation of the southern
proto-Jê groups. Mound and enclosure complexes appear after c. 1060 cal. yr BP and become more
frequent between c. 600 and 300 cal. yr BP (CORTELETTI 2012; CORTELETTI et al. 2015; DESOUZA et al.
2016). Oversized pithouses, reaching 18 m to 20 m of diameter and sometimes accompanied by clusters of
smaller structures, appear between c. 1270 and 900 cal. yr BP (COPÉ 2006; DEMASI 2005; SCHMITZ et al.
2013). The abundance of resources represented by the Araucaria forest, coupled with a more intensive use
of domesticated plants, which are also present in the archaeobotanical record, might have provided the
basis for the mortuary feasting events at mound and enclosure complexes, as well as leading to increased
population density and territoriality, and the emerge of disparities in house size. All of those processes, plus
the foreign pressure of Tupiguarani groups, potentially relate to the foundations of political complexity
among the southern proto-Jê groups (COPÉ 2006; CORTELETTI 2012; DESOUZA et al. 2016; IRIARTE et al.
2008b, 2010).
To what extent did southern proto-Jê groups manipulate or encourage the expansion of Araucaria
forest is an important issue that requires further clarification through further research closely integrating
archaeology and paleoecology. During the late Holocene there is also a clear pattern in certain regions
characterized by the increase of carbonized particles when Araucaria and the tropical forest began to
expand and a decline in carbonized particles as climates became wet and less seasonal about 1410 and 900
cal. yr BP (1500 and 1000 14C yr BP). The Serra dos Campos Gerais (hereafter SCG) pollen record shows an
abrupt increase in charcoal particles between 2980 and 1440 cal. yr BP (2850 and 1530 14C yr BP) with a

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subsequent decline associated with the expansion of Araucaria forest beginning around 1440 cal. yr BP
(BEHLING 1997b). A similar pattern was recorded in the southern highlands at CDS, where the pollen
diagram showed a sudden rise in charcoal abundance between c. 4320 and 1100 cal. yr BP (3950 and 1140
14
C yr BP), followed by a sharp decline. The archaeological data indicate that this pronounced late-Holocene
environmental change is associated with a more intense occupation of the SBH as evidenced by the more
intense occupation of the southern Brazilian plateau by the Southern Jê groups.
Two aspects suggest that these fires were not natural and were predominantly set by humans.
The first was that by the time the fires increased dramatically in SCG and CDS, the climate was wetter and
less seasonal than previous periods; arguing against an increase in natural fires triggered by droughts. The
second was the frequency and magnitude of these charcoal increases. The abrupt and frequent occurrence
of charcoal particles at 4320 (CDS) and 2798 (SCG) cal. yr BP in systems that had not previously been fire
prone is a strong indicator of human occupation (BUSH et al. 2000; BUSH et al. 2007). These data may
represent the onset of slash-and-burn agriculture within the semideciduous forest that grew along the
major tributaries up to 500-800 m elevation, and in the Atlantic tropical forest in the case of CDS. However,
a more intriguing possibility to ponder is that the groups that inhabited the region before the southern
proto-Jê were employed fire to stop the advance of the forest. In addition, the decline in charcoal in
correlation with the increase in Araucaria forest may certainly represent the management of these forest
without the use of fire. Unfortunately, the archaeological record of that period is very incomplete and
poorly understood. New data from surface sites in the lower Canoas River dating to c. 2540 cal. yr BP (2450
14
C yr BP) appears to indicate that the occupation of the lowland by southern proto-Jê groups may have
preceded the colonization of the highlands. Further clarification of these patterns requires more
archaeological and palynological research in lowland areas.

COASTAL MID TO LATE HOLOCENE SOCIETIES FROM SOUTHERN BRAZIL

Sambaquis, or shell-mounds, of the Brazilian coast have been described since the sixteenth
century. Many have disappeared as a result of urban development and intensive mining for construction fill
and lime production. They occur all along the extensive Atlantic coast, usually clustering in rich bay or
lagoonal areas, where a range of land and aquatic resources is available. Sambaquis are more common
along the southern Brazilian coast, from Rio de Janeiro to Santa Catarina, including Paraná and São Paulo
(GASPAR 1998, 2000; LIMA and MAZZ 1999; PROUS 1992) (Figure 1). Shell mounds further north have only
occasionally been described (e.g., BANDEIRA 2008; CALDERÓN 1964; SIMÕES and CORREA 1971), while to
the south of this region the mounds become smaller and infrequent (PESTANA 2007; ROGGE and SCHMITZ

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

2010). Along the Atlantic coast of Rio Grande do Sul, Brazil and Uruguay, the mounds were replaced by the
Cerritos.
Sambaquis typically occur in highly productive bay and lagoon ecotones where the mingling of salt
and freshwater supports mangrove vegetation and abundant shellfish, fish, and aquatic fowl. This cultural
tradition spans a time interval roughly between c. 8000 and 1600 years ago, but the bulk of radiocarbon
determinations on coastal shell mounds are concentrated between approximately 5000 and 2000 cal yr BP,
which can be considered “the golden age” of the sambaqui culture (GASPAR et al. 2008; LIMA 2000; PROUS
1992) (Figure 10).

Figure 10: The sambaquis Figueirinha I and Figueirinha II, in Jaguaruna, Santa Catarina.

The Southern Brazilian shoreline conforms a long and narrow (10 to 20 km at most) lowland strip
between the ocean and the hilly country that rolls right before the escarpment of the highland plateau,
here designated as SBH. All along this strip, a series of lagoonal systems disperses among marine and eolian
depositional sequences and occasional rocky outcrops, where elongated strandplain beaches and dune
fields can be found (GIANNINI et al. 2010). Shellmounds are mostly located along these lagoonal areas, to
which they are closely related. A sample research area located at the southern coast of the Santa Catarina
State has been studied in considerable detail in terms of both regional settlement patterns and formation
processes (DEBLASIS et al. 2007; GASPAR et al. 2008), providing most of the data herein discussed.
Climate history on the coast is poorly known, but seems to follow closely the fluctuations
documented in the nearby SBH area described above. The area was densely covered by Atlantic rain forest

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(Mata Atlântica), and the forested sand strips (Restingas) show a rather distinctive vegetation composition.
Anthracological studies from one of the shell mounds revealed that, by 5000 cal. yr BP, mangrove
vegetation, extinct in the area today, was part of the natural setting at the lagoon, thus suggesting an
environment more open to the sea, and possibly warmer (SCHEEL-YBERT et al. 2006).

Figure 11: Coastal changes and sambaqui settlement evolution in the southern shores of Santa Catarina (images
from Assunção, 2010, chapter 5).

In fact, oscillation of the sea level seems to have influenced coastal landscape transformations
more than any other factor. Angulo et al. (2006) have provided a detailed curve for the sea level changes
for the study area, which has prompted the approximate reconstitution of the coastal changing
configuration along the sambaqui occupation era (GIANNINI et al. 2010; KNEIP 2004). By the maximum sea
transgressive episode (2.5 meters higher around 5700 BP), the area was formerly a deep bay wide open to
the sea, which has progressively evolved to a closed lagoon system; today, just a small canal connects the
lagoon to the sea. From even before the maximum transgressive, sambaqui occupation displayed a close
link to the fringe of the water bodies, a pattern that has continued throughout its occupational history
(Figure 11).

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

Thus the sambaquis have been recognized as a product of societies very well adapted to coastal
environments (GASPAR 2000), displaying demographic and organizational patterns much more complex
than thought until not long ago (DEBLASIS et al. 1998; GASPAR et al. 2008). Recent research has shown that
the sambaquis are long-lived mounded sites encoding messages with deep symbolic meaning (GASPAR et
al. 2014).
These mounds are built by means of recurrent and incremental deposition of food remains and
other cultural debris, associated to a very ritualistic programming of mortuary practices and periodical
return to these sacred places connected to the ancestors, both real and mythological (FISH et al. 2013;
GASPAR et al. 2008). Its complex stratigraphy includes remains of in situ activities as much as remobilized
materials from activity areas outside the mound itself, configuring intricate sequences of mounding
architecture, where habitation contexts seem to be absent (KLÖKLER 2008; VILLAGRÁN et al. 2009).
Chronology for the sambaqui culture goes as back in time as around 8000 cal. yr BP, intensifying around
5000 and 2000 yr BP approximately, with dozens of sites concomitantly active (DEBLASIS et al. 2007;
GIANNINI et al. 2010). Some of these mounds have been used for more than two thousand years, thus
acquiring gigantic proportions (up to sixty meters high). These long-standing funerary structures thus
configure an enduring cultural pattern on the same focal places into the open lagoonal landscapes, thus
becoming monumental references for ancestry, social memory and territoriality (FISH et al. 2013).
By two thousand years ago, shell mounds give place to “dark-earth” smaller heaps made of
massive food remains (mostly fish) enmeshed in darken sandy packages rich in organic matter and charcoal
(VILLAGRÁN et al. 2009). Besides the distinctive faunal profile, these sites are also marked by the presence
of Taquara-Itararé ceramics typical of the Je occupations at the hinterland plateaus and escarpments of
Southern Brazil, where these ceramic styles are associated to pit houses and earthen engineering (COPÉ
2007; CORTELETTI 2012; IRIARTE et al. 2013). Depositional sequences on the coast seem to display a long
connection and mutual influences between sambaqui and Je cultures, interrupted around six hundred years
ago by the abrupt arrival of the fierce Guarani people, which massively occupied the coastal plains from the
southern shores up to the arrival of the first European settlers (DEBLASIS et al. 2014; MILHEIRA and
DEBLASIS 2011).

FINAL WORDS

Recent archaeological and palaeoecological data in the southern portion of the Rio de la Plata
basin is allowing us to carry out much more informed comparative analyses between regional-scale cultural
sequences and their environments. The interdisciplinary project in southeastern Uruguay is showing that as
in other regions of the world (SANDWEISS et al. 1999), the mid-Holocene was characterized by significant

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climatic and ecological changes, and that these perturbations were associated with important cultural
transitions involving permanent mounded settlements situated within resource rich, circumscribed
wetlands. The Los Ajos record provide us with a detailed reconstruction of the Pleistocene/Holocene
transition, which will now allow for a broader consideration of the role that human–environment
interactions played in the peopling of Uruguay and later developments throughout the Holocene. Along
with other records in southeastern South America, the record from southern Uruguay shows that the mid-
Holocene was a time of profound environmental changes. In the region, this period of environmental flux
was associated to cultural transitions involving permanent mounded settlements situated within resource-
rich, circumscribed wetlands by people who subsisted on mixed economies and adopted major crop plants
such as maize and squash around 4000 14C yr BP (IRIARTE 2003; IRIARTE et al. 2001, 2004). This study also
reinforces the utility of using phytoliths as significant indicators of vegetation dominated by grasses and
non-grasses alike. Like in many other grass dominated and forested regions of the world, multiproxy studies
combining phytolith and pollen data will allow researchers to obtain finer-grained and more complete
reconstructions from archaeological and paleoecological contexts.
An examination of pollen cores from the SBHs coupled with the archaeological record for the
region indicates that the development of the southern proto-Jê is strongly associated with the advance of
Araucaria forest in the region during the late Holocene. The frequency of radiocarbon dates indicates a
more intense human occupation of the SBHs after c. 1410 cal. yr BP, which peaks after around 900 cal. yr
BP. Not only does the human occupation intensify during this period, but also novel forms of domestic and
ceremonial architecture make their appearance, suggesting important changes in the organisation of the
southern proto-Jê groups.
Our interpreations are in agreement with Araújo et al. (2005), who based on 273 dates from sites
of various archaeological traditions in the southern states of Brazil, shows that there are two major peaks
on the frequency of dates: an earlier one between 10500 and 9000 14C yr BP (12430 - 10190 cal. yr BP) and
a later one representing an increase ca. 1500 14C yr BP (1360 cal. yr BP). Araújo et al. (2005) argue that
these data is in good agreement with the paleoenvironmental scenario proposed for inland Southern Brazil
when the climate became moister and warmer through the Holocene, especially after 3000 14C yr BP (3210
cal. yr BP) and Araucaria forest started to expand.
The appearance of pithouse villages in addition to large and elaborate ceremonial centres appears
also to be a reflection of more permanent and territorial populations in the region. The increased
abundance of Araucaria seeds and a major reliance on food production appear to have played a major role
in the subsistence economy of these groups allowing them to settle the highlands more permanently and at
greater densities than before. Ecotonal areas where Araucaria forest, semideciduous forest, and grasslands
converge may have been particularly attractive places in terms of abundance and diversity of resources.
Mounting evidence also points to an increasing use of domesticated plants by these populations in addition

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LANDSCAPE DYNAMICS IN THE LA PLATA BASIN DURING THE MID AND LATE HOLOCENE

to the collection of Araucaria nuts, other wild plants, hunting, and fishing. The charcoal records from SCG
and CDS suggest that slash-and-burn agriculture at lower altitudes in the Atlantic forest started c. 4320 cal.
yr BP. Further clarification of these patterns requires more archaeological and palynological research in
lowland areas, something that we have already started to carry out (for more details see CÁRDENAS et al.
2015).
As regards the coastal moundbuilding societies from southern Brazilain shores, the evolution of
the dynamic Quaternary environment seems to have been quite steady and continuous, allowing for the
enduring sambaqui cultural permanence and development on rich ecotone areas of salty and fresh waters.
The progressive enclosuring of the lagoonal area must have caused considerable drifting of mangrove and
forest patches, but a regional overall stability as regards resource disponibility seems to have been in place
until, at least, around 2000 yr BP. Such a stability might have helped the contact with acknowledgeable
local species (both vegetal and animal), favoring the development of capture technologies and, possibly,
the use of domesticated plant foods, as suggested by micro remains present in dental calculus (BOYADJIAN
2007; WESOLOWSKI et al. 2007, 2010).

Acknowledgements
This paper was developed in the context of AHRC-FAPESP (2012/51328-3) project ‘Jê Landscapes
of southern Brazil: Ecology, History and Power in a Transitional Landscape during the Late Holocene’
coordinated by Jose Iriarte, Paulo DeBlasis and Francis Mayle. Jonas Gregório de Souza was funded by
CAPES and Rafael Corteletti by FAPESP (2014/ 07754-3). We thank the anonymous reviewers for the helpful
comments that helped improve the manuscript.

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Recebido em:19/04/2016
Aprovado em:15/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS
CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS
NARRATED ARCHAEOBOTANY AT NORTHWESTERN ARGENTINA: STORIES
DOMESTICATE PLANTS TOLD US IN LAST 30 YEARS
(ARQUEOBOTÂNICA RELATADA DO NOROESTE ARGENTINO: O QUE NOS CONTARAM AS PLANTAS
DOMESTICADAS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS)

Maria Alejandra Korstanje

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Arqueobotánica relatada del noroeste argentino: lo que nos contaron las plantas
domesticadas en los ultimos 30 años

Maria Alejandra Korstanje1

Resumen: Se repasa la historia de los últimos 30 años de la disciplina en el ámbito de las plantas
domesticadas reconocidas en el registro arqueológico, mencionando los temas que han despertado la
curiosidad de los investigadores y sintetizando los resultados obtenidos acerca de los principales grupos de
plantas utilizadas en el pasado prehispánico de la región.

Palabras Clave: Arqueobotánica – Noroeste Argentino – Historiografía de las Plantas domesticadas.

Abstract: The history of the last 30 years of the discipline related to domesticates found in the
archaeological record is reviewed, mentioning the issues that have convened researchers’ interests and
synthesizing the results on the major groups of plants used in the prehispanic past of the region.

Keywords: Archaeobotany – Northwestern Argentina – Historiography of Domesticated Plants.

INTRODUCCIÓN

Algunos arqueólogos/as no concebimos pretender conocer la historia de paisajes, gentes y


objetos sin tener en cuenta, a la vez, la historia desde donde se ha abordado dicho relato en términos
historiográficos. Esto en tanto es sabido que la ciencia es una construcción colectiva, donde paradigmas,
escuelas, tendencias y líneas de pensamiento se van entrecruzando, superponiendo, dejando en suspenso,
superando y a veces retomando, en un entramado cuya comprensión es tan importante como la
construcción de los datos mismos.
En el caso de la arqueobotánica argentina, sin embargo, no distingo hasta aquí planos o clivajes
donde se disputen reales discusiones teóricas. Podríamos decir que, hasta cierto punto, hubo una especie
de “pax teórica” en la armonía de la no explicitación, profundización, cuestionamiento, etc. de los
supuestos teóricos con los que nos manejamos. Hay excepciones por cierto, pero aun así, la discusión
general no pasa por cómo organizamos teóricamente el relato desde la arqueobotánica, sino de lo que tal o
cual hallazgo implica para la discusión teórica de otro tema más abarcativo. Hay también discusiones sobre
la preeminencia de un tema u otro y su forma de abordarlo, pero los planteos fuertes – las verdaderas

1
Instituto de Arqueología y Museo (UNT)/ Instituto Superior de Estudios Sociales (CONICET/UNT). Tucumán,
Argentina. [email protected]
MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

discusiones, digamos - están en torno a los temas metodológicos y técnicos. A veces se debaten dentro de
ellos situaciones muy puntuales y específicas como descriptores, clasificaciones, morfologías y usos
aceptados o cuestionados en temas de laboratorio, muestreo, conteos, etc., tanto presencialmente en los
congresos como en las publicaciones. Esto tiene una explicación - o varias -, donde parece bastante
plausible pensar que en una disciplina relativamente nueva en nuestra región, pero en permanente
crecimiento y desarrollo, lo metodológico debe ocupar en principio un lugar substancial.
Estoy claramente simplificando. Pero necesito hacerlo para mostrar la contracara de esta quietud
teórica. Que es la gran actividad en la producción de información que ha habido desde la práctica de la
disciplina en los últimos 30 años en la Argentina2. Por razones de espacio de este artículo y de afinidad con
mis investigaciones, me restringiré aquí al Noroeste argentino.
Las historiografías previas para la zona - generales o parciales sobre algún tema específico - se han
basado en la mención y evaluación de los hallazgos según esquemas de tipo evolucionistas (GONZÁLEZ y
PÉREZ 1968; TARRAGÓ 1980; LAGIGLIA 2001; OLISZEWSKI 2012); o de organización de contextos
arqueológicos (CASTRO y TARRAGÓ 1992; OLISZEWSKI 2004; KORSTANJE 2015); y sólo en algunos casos se
ha discutido algo de teoría y metodología general (YACOBACCIO y KORSTANJE 2007; LEMA 2014).
En esta oportunidad intentaré separarme de esos esquemas y, principalmente por la ausencia de
jaleos teóricos en esta arena, desisto de escribir una historiografía clásica. La historia que pretendo recrear
aquí no será una mirada sobre los autores, su derrotero, publicaciones y avances en el tema que nos
convoca - la arqueobotánica -, sino sobre las preguntas y los relatos mismos de la relación entre humanos y
plantas en el pasado que pretendemos conocer y contar. Pretendo brindar una mirada desde la trayectoria
de las preguntas, como si con ellas hubiéramos entrevistado directamente a las plantas mismas y no al
registro arqueológico. Así, concentrándonos en lo que las plantas “nos han ido contando acerca del pasado
prehispánico en la región”, de acuerdo a nuestros interrogatorios y los de nuestros colegas, pretendo
provocar un contrapunto más maduro entre las diferentes miradas de la ciencia y las distintas historias que
las plantas nos podrían contar.
Algo así como una historiografía de nuestras propias preguntas, quizás - y sólo quizás -, como otro
aliciente para aportar a fortalecer o repensar teóricamente algunos temas en ese futuro más maduro que
se vislumbra en el horizonte y que retomaré en las conclusiones.

2
Dicho esto, debo destacar que se están desarrollando algunos planteos teóricos tan interesantes que podrían, en
unos años, dar un despegue al estilo de una “nueva arqueobotánica” (no en el sentido de la “Nueva Arqueología”
específicamente, sino en el sentido de cualquier hito denominado “nuevo” en una disciplina.

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

LÍMITES DE ESTE TRABAJO Y PRIMERAS PREGUNTAS DESDE LA ESPECIALIDAD

Si bien hemos denominado “Paleoetnobotánica” al quehacer dentro de la arqueología que se


ocupa específicamente de los estudios de plantas y relaciones entre naturaleza y cultura, fue a partir del
año 2007 que, en un debate específico3, decidimos por convención denominarlo “Arqueobotánica” para
evitar las múltiples denominaciones que la especialidad iba tomando4. Sin embargo, es importante aclarar
que en esta oportunidad, por razones de espacio, tomo únicamente las discusiones de los arqueólogos/as
que buscan explicar la interrelación de los humanos con aquellas especies domesticadas - y no la de frutos
y semillas silvestres, ni maderas o partes de plantas utilizadas para artefactos, ni las de estudios
paleoambientales y otros que también pueden ser incluidos en esta categoría más amplia.
La región de análisis se circunscribe aquí al Noroeste argentino (en adelante: NOA) (FIG.1),
definida como un área específica dentro de los Andes Centro Sud por sus características ambientales y
culturales (GONZÁLEZ y PÉREZ 1983). No obstante esto, es bueno recordarnos que se trata de un recorte
arbitrario, sobre todo para temas donde las interacciones no solo son culturales, sino también naturales,
por colonización, mutaciones y transportes que no se originan en acciones humanas. Tomaré sólo el
abanico de plantas existentes pre colonización europea. Y por último, si bien en esta ocasión le daré el
protagonismo a las plantas mismas, está claro que aquellas de las que hablamos no existieron así, sin la
gente y sus prácticas, el paisaje vivido y construido, la naturaleza diaria, excepcional y catastrófica. Sin
poder abarcar todo aquí, espero que ellas logren darnos una idea amplia de todo esto en sus relatos…
Hace unos años hicimos un esquema historiográfico de las investigaciones sobre la domesticación
animal y vegetal en el NOA (YACOBACCIO y KORSTANJE 2007), que con algunas modificaciones reproduciré
aquí, ya que en líneas generales es un esquema de las investigaciones arqueobotánicas en la región
bastante coincidente con otros (LEMA 2008; BRUNO et al. 2014):
Los pioneros (ca. 1930-1970): Los primeros trabajos estuvieron incluidos en el marco de la
etnobotánica, pero incluyendo en ellos datos arqueológicos; mayormente fueron desarrollados por
botánicos o ingenieros agrónomos, “especialistas” en las identificaciones. Posteriormente, las
recapitulaciones que incluían aquellas especies domesticadas encontradas en diversos contextos
arqueológicos fueron realizadas por los arqueólogos.
La discusión de la domesticación entre arqueólogos (ca. 1970-1976): Se instala la discusión sobre
la domesticación en el NOA, principalmente en torno al problema del maíz. Sin duda, las ponencias en el
simposio del V Congreso Nacional de Arqueología Argentina, realizado en San Juan, dan cuenta de este

3
Plenario en Mesa Arqueobotánica. IV Reunión Internacional de Teoría Arqueológica en América del Sur. Inter-
congreso WAC. Catamarca, julio 2007.
4
Expongo mi punto de vista sobre el tema en Korstanje (2008).

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MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

fuerte impulso en aquellos años, ya que es el primero sobre esta temática específica en un congreso
nacional.
El silencio (1976-1983): Durante la última dictadura militar en Argentina - y las del Cono sur que la
acompañaron -, quedó marcada una fuerte ruptura en la investigación académica que golpeó
principalmente a los equipos de arqueología del Noroeste argentino insertos en la arqueología del cambio
social, relaciones de producción y de poder.
Nuevo auge y diferentes abordajes (ca. 1983-al presente): Los problemas arqueobotánicos fueron
retomados a partir de nuevos planteos teórico-metodológicos y se abrieron líneas de trabajo
interdisciplinarias.

Figura 1- Ubicación del Noroeste argentino en Sudamérica


Tomo en este trabajo sólo en la última etapa de este esquema historiográfico por tres motivos: a)
porque hemos superado el momento de la descripción e identificación de hallazgos botánicos como
objetivo final de la investigación; b) porque, por lo reciente, es el momento menos explorado como corpus

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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

historiográfico; y c) porque tengo la seguridad que todos ellos han realizado e incorporado la lectura crítica
de lo que fue generado en las etapas anteriores5.
Nombraré a las plantas de acuerdo al modo más agregativo posible, según las denominan los
sectores campesinos o los científicos, solo como excusa para ordenar la narración, ya que ni las
etnocategorías ni las clasificaciones de nomenclatura botánica son objeto de estudio en sí mismo en este
trabajo.
Por último, vuelvo a precisar que desarrollo la especificidad de esas preguntas y la profundidad de
las respuestas, pero no hago mención historiográfica-crítica a los aportes de las líneas metodológicas de
cada caso6, prefiriendo abrazar un enfoque que considere las implicancias de los datos generados para la
arqueología actual y para el conocimiento y uso de esto por los pueblos en general.

PREGUNTAS MADURAS, PLANTAS NARRADORAS

Las plantas han jugado un papel fundamental en la historia humana en tanto han sido buscadas,
juntadas, transportadas, modificadas y almacenadas por la gente desde antes de ser denominados gente y
plantas. O sea, toda nuestra historia humana, desde sus comienzos hasta hoy ha estado atravesada por la
búsqueda y recolección o producción de plantas, principalmente para alimentarnos pero también para
protegernos, curarnos, construir, embellecer nuestros cuerpos o a algún espacio en particular de nuestro
hábitat, entre tantas actividades que nos podemos imaginar.

¿Qué le hemos preguntado al maiz?


El maíz (Zea mays sp.) nos ha interesado especialmente porque ha sido considerado no sólo uno
de los alimentos principales de la América prehispánica, sino porque también se le han atribuido
importantes roles en rogativas, ceremonias y rituales a lo largo de esa historia. Por lo tanto, se ha buscado
consultarlo sobre su historia evolutiva, origen, relaciones filogenéticas, y dispersión desde las áreas de
domesticación hacia aquellas donde lo cultivaron o consiguieron. En nuestra región estas preguntas se
hicieron sondeando al entrevistado básicamente desde dos diferentes lugares: morfología y ADN.

5
Una síntesis de qué plantas se han recuperado en el NOA hasta el año 2009, ordenada por períodos cronológicos,
puede encontrarse en la tesis de Lema (2009:59 - 64).
6
Para quien busque un desarrollo metodológico actualizado del tema consultar los siguientes compendios:
Marconetto et al. (Eds) 2007, Archila et al. (Eds) 2008, Babot et al. (Eds) 2012, Belmar y Lema (Eds) 2014, y Del Puerto,
Korstanje e Inda (Eds) 2014.

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MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

Los estudios genéticos sobre microsatélites (ADN) de especímenes modernos y antiguos de maíz
local7 son recientes y comienzan a indicar que el pool genético andino de este cereal se habría expandido
por la zona desde por lo menos los últimos 1400 años, y no desde las tierras bajas sudamericanas, como
habían sugerido estudios anteriores (LIA et al. 2007). Esto es concordante con otra interpelación más
reciente realizada también por ADN a especímenes también primitivos-modernos y arqueológicos de
diferentes lugares de Sudamérica8, que han sugerido un modelo de dispersión inicial a lo largo de los
Andes, por el este de Bolivia y noroeste de Argentina, para desde allí expandirse hacia Paraguay y sur de
Brasil (GRIMALDO GIRALDO 2012).
Consultadas combinando morfología y ADN, la estructura de la población de razas de maíces
estudiadas por Lia et al. (op. cit.) y Grimaldo Giraldo (op. cit.) indican que la variación fenotípica entre las
mismas – así como entre maíces arqueológicos y modernos - no refleja variación genética (“no todo lo que
parece igual es igual y no todo lo que parece distinto es distinto”), y que el flujo de genes ha estado
ocurriendo a nivel macrorregional. Grimaldo Giraldo considera que las prácticas culturales y los contactos
culturales juegan un papel fundamental en la forma que adquiere el maíz en las áreas con afinidad
genética, a la vez que mantienen sus formas fenotípicas diferentes (op. cit.: 130-135). No obstante esto, el
caso del maíz pisingallo sería la excepción ya que los maíces arqueológicos estarían más relacionados a las
razas del Complejo Andino actual que a los reventones sudamericanos o a los de tierras bajas actuales (Lia
et al. op. cit.: 552). No hay evidencia alguna entonces de que los antiguos habitantes de nuestro territorio
hayan participado de su domesticación, pero en base a lo expuesto existe la idea de que pudo haber
llegado aquí tempranamente, probablemente proveniente de los Andes Centrales.
Desde los rasgos morfológicos, la pregunta por la domesticación y el origen del maíz no ha sido
frecuente en la región que nos ocupa. En cambio sí ha sido usual el acercamiento para inquirir sobre el
papel que las diferentes razas habrían representado en la vida social prehispánica, en tanto el maíz es la
especie que ofrece mayor ubicuidad en macrorrestos (OLISZEWSKI 2004) y es muy abundante también en
microrrestos. El maíz es reconocido como un elemento importante no sólo en la alimentación sino en la
ritualidad, por lo que el foco sobre sus variedades y la predominancia e importancia de cada una de ellas
según usos, costumbres y épocas ha sido una pregunta que se ha prolongado desde los momentos
anteriores de desarrollo disciplinar. Sobre ello se ha propuesto una tendencia general en la distribución
temporal de los maíces: hasta 1500 años A.P9 se observaría la presencia exclusiva de maíces del tipo duros

7
Sobre un total de 51 muestras de maíz prehispánico de diferentes sitios arqueológicos de Catamarca, en el noroeste
argentino y 167 maíces “primitivos” actuales de tierras altas y bajas en el norte de Argentina.
8
Sobre un total de 53 muestras de maíz prehispánico de diferentes sitios de Perú, Brasil y noroeste argentino (tres
sitios en el valle de El Bolsón, Catamarca, y Susques, Jujuy) y 112 maíces “primitivos” actuales de Sudamérica.
9
Se ha registrado presencia de maíz en forma de almidón, en contextos de molienda muy tempranos –ca. 4770 años
AP–, pero en tanto las evidencias aun son muy escasas, es un dato que por ahora se maneja con prudencia (BABOT
2005).

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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

reventadores, mientras que posteriormente se encuentra el resto de las variedades, de tipo


duros/semiduros, harinosos y dulces (OLISZEWSKI 2004, 2008, 2012; OLISZEWSKI y OLIVERA 2009). Esto es
coincidente con los estudios de ADN, pero quedan algunas dudas, dado que el maíz reventón o pisingallo
sería el único que se diferencia genéticamente y es afín a las poblaciones de maíces del este, mientras que
tanto Lia et al (op. cit.) como Grimaldo Giraudo (op. cit.) observan que desde el inicio el maíz del NOA es
afín al complejo andino.
El conocimiento que tenemos de estas razas a nivel arqueológico varía también según las áreas
(con el sesgo de la mayor o menor conservación) y según se hayan realizado o no estudios morfométricos
de sus macrorrestos10. Entre las regiones con mayor conservación podemos mencionar la región puneña
catamarqueña, donde en los años recientes se han reconocido en Antofagasta de la Sierra (FIG. 2) ocho
variedades arqueológicas de maíz: dos duros reventadores (pisingallo y rosita), tres semiduros (morocho,
amarillo y morocho amarillo), dos harinosos (capia y culli), y 1 dulce (chullpi)11. En la misma región, en
Tebequiche tres harinosos (chico, blanco y ocho rayas y una tercera que podría corresponder a un maíz de
tipo reventador12. En la puna y pre-puna jujeñas, se han registrado diez variedades: en la colección
Doncellas, cuatro semiduros (amarillo chico, amarillo grande, marrón, morocho amarillo); tres harinosos
(amarillo, culli y capia) y un duro reventador (pisingallo)13; en Huachichocana, un duro reventador
(chaucha) y dos semiduros (azul y amarillo)14 y en San Juan Mayo un semiduro (amarillo chico) y dos duros
reventadores (pisingallo y perla)15. En la región más baja de valles y bolsones de la Pcia. de Catamarca, a su
vez se han identificado prácticamente las mismas razas: pisingallo, rosita, chaucha, colorado, morocho y
capia (Tinogasta16); pisingallo, chullpi, garrapata, amarillo chico, amarillo grande, culli, azul y capia (valle de
Hualfin)17; un maíz de grano muy pequeño, posiblemente variedad rosita o pisingallo (Londres18),y amarillo
(valle de El Cajón19), y Zea mays var. microsperma y Zea mays var. oryzaea (Ambato20). En la misma región
eco-ambiental, en la Pcia. de Tucumán, están registrados pisingallo, culli y capia (Qº de Los Corrales21);
rosita y Zea mays var. minima Bonafus (valle de Tafí22).

10
Hasta el momento no se han clasificado razas a partir de los microfósiles (sea almidones o silicofitolitos) aunque
hay algunos intentos de realizarlo sobre los primeros (LANTOS et al. 2014).
11
cf. Rodríguez y Aschero (2007), Oliszewski y Olivera (2009).
12
cf. Quesada (2007).
13
cf. Killian Galván et al. (2010).
14
cf. Fernández Distel et al. (1995).
15
cf. López 2011.
16
cf. Lia et al. (2007).
17
cf. Balesta et al. (2014).
18
cf. Raffino et al. (2007).
19
cf. Calo (2014).
20
cf. Gordillo (2009).
21
cf. Oliszewski (2008).
22
cf. Carrizo et al. (1999).

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

A pesar de estas identificaciones de variedades (y con toda la discusión interna que hay para
identificarlas, nombrarlas, relacionarlas, etc.), las preguntas sobre la influencia de cada variedad de maíz en
las prácticas sociales y culturales aun no tienen respuestas para nuestra región NOA, en tanto no hay
asociaciones claras de ciertas razas con sectores sociales diferenciados, ni hay variedades introducidas por
los Incas tampoco. Sí han mostrado, en cambio, cierto peso en las preguntas relacionadas con la culinaria,
con los usos y costumbres. Por ejemplo, el reconocimiento de las razas de maíz presentes en el sitio Cueva
de Los Corrales 1 (Tucumán) ha permitido a los investigadores de la zona pensar actividades culinarias de
acuerdo a su dureza, momento de maduración, harinosidad, dulzura o posibilidades de fermentación
(OLISZEWSKI 2008).
También hay una gran gama de artículos y tesis cuyas preguntas a las plantas están relacionadas
con las prácticas de subsistencia junto con otros componentes del registro, y donde ellas no son indagadas
particularmente, sino en la generalidad. Sin desconocer la importancia de estos trabajos, no los
discutiremos aquí, dado al no focalizarse en las plantas, exceden los objetivos de este artículo.

Figura 2: Ubicación de las localidades arqueológicas o sitios citados

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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

Las preguntas por las comidas, las preparaciones, el procesamiento, los tipos de cocción han sido
destacables en estos últimos años. Su importancia se ha expresado en reuniones científicas y publicaciones
y genera interés más allá del ámbito académico, traspasando al turístico y patrimonial. Además,
particularmente en nuestra región, se han nutrido de preguntas dirigidas no sólo a los macrorrestos, sino a
los microrrestos y a los residuos de tipo ácidos grasos, lípidos y otros componentes sólo identificables
mediante estudios químicos. Aquí es difícil separar al maíz de otras plantas, condimentos e ingredientes
varios, por la misma característica multicomponente que requiere la mayoría de las preparaciones, pero la
intención es al menos presentar un panorama de cómo se van evaluando estas preguntas.
Las consultas sobre las comidas han sido abordadas desde la comprensión del funcionamiento de
las cocinas mismas, sus espacios, utensilios y residuos (WÜRSCHMIDT y KORSTANJE 1998/1999;CALO et al.
2012; CALO 2014); desde los residuos depositados por las prácticas molienda o trituración en distintos tipos
de molinos y morteros (BABOT 1999, 2004, 2009; GIOVANNETTI et al. 2010), y también recurriendo a dar
vida a las posibles combinaciones y preparaciones de los ingredientes usados en el pasado (BABOT et al.
2012). Uno de los avances metodológicos que ha permitido ahondar en estas respuestas desde los
instrumentos de cocina mismos ha sido el estudio de microfósiles23 - en sus formas de silicofitolitos y
almidones diagnósticos para el caso del maíz -. A partir de ellos se han contado muchas de las historias que
hemos escuchado estos años, dado que a la vez de informarnos sobre el uso de tal o cual planta, pueden
presentar características que hacen a la forma de manipulación (qué partes de una planta se toman),
procesamiento (cómo se pelan, trituran, descascaran, desaponifican, etc.) y cocción (tostado, hervido,
secado u otra combinación) de los alimentos. En ese sentido se ha ampliado también el rango de sitios con
bajas posibilidades de conservación de restos orgánicos que han mostrado la presencia de maíz. Además de
los sitios de puna, que solían predominar por este motivo, se han incorporado sitios de valles y bolsones de
zonas semiáridas y más húmedas y se han realizado ejercicios intelectuales prudentes sobre posibles
recetarios (sopas, cocidos, asados, harinas, etc.) (KORSTANJE 2005; BABOT 2009; BABOT et al. 2012; CALO
et al. 2012; FRANCO SALVI et al. 2012).
Otra de las preguntas que ha resonado en estos años ha sido el del rol de las plantas en la crianza
como horticultura, como cultivos, como agricultura. Esta pregunta ha girado en torno a varios temas, tales
como los usos del suelo y labores asociadas, tipos de cultivo, redes de irrigación, ciclos agrícolas; el
conocimiento de una agricultura realizada en ambientes considerados inviables por la agricultura moderna;
la conformación de los paisajes agrícolas y el trabajo campesino en tiempos prehispánicos; y la expansión
del poder y el control social del Estado24. También las preguntas sobre las razas o variedades de maíz
mencionadas arriba pueden tener implicancias interesantes también sobre la agricultura, ya que cada tipo

23
La tabla 4 de Korstanje y Babot (2007:47-50) da cuenta de las plantas útiles encontradas como macrorrestos en
sitios arqueológicos del Noroeste argentino y muestreadas para identificación de silicofitolitos y almidones.
24
Para una puesta al día de las discusiones sobre agricultura arqueológica hasta el año 2010, incluyan o no el estudio
de microvestigios vegetales, ver Korstanje y Quesada (Eds) 2010.

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MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

de maíz es sembrado en diferentes momentos del calendario y permitiría proponer los ciclos agrícolas en
cada eco-región (OLISZEWSKI 2012), pero es un tema aun no explorado en los campos de cultivo mismos.
Para poder indagar directamente a los cultígenos ha sido también aquí importante contar con las
herramientas procedentes de los microfósiles. Estos han brindado la ventaja de extraer información desde
los propios suelos antiguamente cultivados y evitar las incertezas sobre el origen, local o foráneo de los
macrorrestos hallados generalmente en contextos domésticos, o del abuso de analogías etnográficas e
históricas (KORSTANJE 2005). En los valles ese sentido y como es previsible, constatar presencia de maíz en
los campos de cultivo ha sido lo más recurrente como primera etapa (GÓMEZ AUGIER et al. 2008; FRANCO
SALVI et al. 2012; ZUCOL et al. 2012). Pero una vez constatada, las preguntas son redirigidas directamente a
la chacra, maizal, o sementera, y se puede indagar por su rol e importancia con respecto a otros cultivos
(KORSTANJE 2011); su expansión o intensificación como cultivo o no durante los diferentes momentos de
las periodificaciones del NOA (KORSTANJE 2005); su posibilidad de ser cultivado en andenes, canchones y
terrazas a distintos cotas altitudinales (KORSTANJE y CUENYA 2008, 2010; FIGUEROA et al. 2010).
La ausencia de maíz, fue un desafío a los estudios del maíz. A la vez que se registraba ausencia
casi absoluta de silicofitolitos y almidones de maíz en andenes tardíos e Inkas (Gualfin) y estructuras de
cultivo complejas tardías (Coctaca), y en cambio el hallazgo de abundantes almidones de tubérculos, se
comenzó a indagar sobre el relación de los distintos tipos de cultivos con el que hasta aquí se presumía casi
omnipresente (cf. el maíz) en base a su ubicuidad y preponderancia entre los macrovestigios (MALOBERTI
et al. 2005; KORSTANJE 2011). Acompañan estos datos también los fechados radiocarbónicos realizados
sobre los andenes con maíz en Qº de Los Corrales, que resultaron tardíos a pesar de la cercanía de las
ocupaciones tempanas (OLISZEWSKI 2012).
En la puna no tenemos aun datos sobre campos de cultivo mismos. Si bien Oliszewski y Olivera
(2009) proponen que la mayor variabilidad de razas de maíz está asociada a la mayor complejidad agrícola
del tardío e Inka, consideran a su vez que los cultivos de maíz en la puna no serían tan tempranos como los
hallazgos de macro o microrrestos en contextos domésticos.
Estas señales, emitidas desde los campos de cultivo mismos, están haciendo un estimulante
contrapunto con aquellas brindadas por los marlos y granos ya cosechados, movilizados y puestos en uso
en los contextos cotidianos o funerarios, que citábamos más arriba. En realidad, el panorama es aun
confuso: a mayor cantidad de razas y vestigios a nivel regional en épocas tardías, menor cantidad de sitios
donde se observe su cultivo in situ. Por el contrario, todos los sitios de cultivo tempranos (primer mileno
d.C.) de la región vailliserrana sondeados con este propósito, han arrojado presencia clara de maíz - en
forma de almidones o silicofitolitos - además de otra interesante variedad de cultivos (KORSTANJE y
CUENYA 2008, 2010; FIGUEROA et al. 2010; MALOBERTI 2012; FRANCO SALVI et al. 201425).

25
Recientemente también en Ancasti, Sofia Boscatto, com pers. 2014.

313
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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

Al maíz en los Andes también se lo ha interrogado sobre su rol en la ritualidad sagrada y social,
pero en nuestra región esta pregunta se ha hecho escasamente desde las plantas mismas, sino más bien
desde la etnografía, formas y tipos de contenedores cerámicos, dieta e isótopos estables. Recientemente se
están proponiendo para responder a estas preguntas, otras metodologías que permitan indagar desde la
cerámica, integrando el estudio de las pastas cerámicas arqueológicas en secciones delgadas con la
identificación de microvestigios de plantas entrampados en las mismas, en determinadas circunstancias
que permitirían su conservación a pesar del proceso de cocción a las que fueron sometidas (LAMBERTI y
CREMONTE 2013).
Hay algunos casos recientes, como el del sitio tardío Cerro Colorado de La Ciénaga (valle de
Hualfín, Catamarca), donde en uno de los recintos se constata la presencia de pozos circulares con
sedimento fino, de un conjunto de vasijas finas y ordinarias y de abundantes restos de maíz - algunos
especímenes se corresponden con variedades afines a la preparación de chicha, tales como amarillo y
morocho, chullpi y culli . Esto lleva a los autores a proponer que en dicho espacio se procesaron comidas y
bebidas, probablemente fabricación de chicha, dentro de un nivel de producción doméstico (BALESTA et al.
2014). También en Jujuy, en el sitio Pucará de Tilcara, se relacionó el hallazgo de mazorcas y algunas hojas
de planta de maíz en un contexto de abundante cerámica, como de uso para consumos rituales (TARRAGÓ
1992).
Otras perspectivas para estas preguntas son las que se llevan adelante con estudios químicos,
como ácidos grasos presentes en los residuos. Los resultados en la cuenca de San Francisco, combinados
con análisis de microfósiles, indicarían el uso de algunos contenedores cerámicos de tipo botellas, como
contenedores de chicha de maíz y aloja de algarroba (ORTIZ y HEIT 2013).
Hy autores que se han abocado a pensar cómo esas transformaciones de los alimentos podían
formar parte de su socialización en relaciones de comensalidad, de la integración de múltiples líneas de
evidencia, entre ellas las arqueobotánicas (PAZZARELLI 2013).
Por último, al maíz se lo ha consultado insistentemente en estas tres décadas desde el punto de
vista de la dieta humana prevalente en diferentes grupos poblacionales. Los estudios isotópicos, que
pueden separar como una de las dietas al maíz, son abundantes pero no los citaremos en este trabajo dado
que, si bien están relacionados, no se consideran dentro del ámbito arqueobotánico específicamente.
No obstante todo lo citado arriba, en general las preguntas que siguen descollando para el maíz,
al igual que para muchas otras plantas son: ¿qué hay? ¿qué son? ¿cómo se llaman? ¿qué hacen aquí?
¿cómo llegaron? En la mayoría de las excavaciones estas preguntas se responden con un inventario de
hallazgos y con un análisis pormenorizado que permita identificar a las mismas26.

26
Para quien esté interesado, una síntesis de algunos de estos hallazgos, no sólo del maíz sino del resto de las plantas,
puede encontrarse en (KORSTANJE y BABOT 2007; OLISZEWSKI 2004, 2012; LEMA 2011; CAPPARELLI 2014).

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MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

¿Qué le hemos preguntado a los tubérculos?


Los tubérculos son bastante más desconocidos que el maíz, pero esta carencia promete ser poco a
poco salvada ya que en este momento hay equipos de investigación en el NOA abocados a su estudio de
modo interdisciplinario. De algún modo, esto se debe a su escasa conservación como marcovestigios: sólo
algunos hallazgos en las décadas anteriores, como el de soldaque (Hypseocharis pimpinellifolia J.Rémy
Ann.) en Inca Cueva; oca (Oxalis tuberosa Mol) y achira (Canna edulis Ker-Gwal) en Huachichocana y Santa
Rosa de Tastil (KORSTANJE y BABOT 2007), recientemente un resto de epidermis disecada de papa
(Solanum sp.) en el sitio Los Viscos del valle de El Bolsón (YACOBACCIO y KORSTANJE 2007) y al caso de los
aleros con buena conservación de Pampa Grande, donde se destaca la gran cantidad de macrorrestos
disecados correspondientes a yacón (Smallanthus sonchifolium) (LEMA 2011), tubérculo dulzón que crece
en zonas cálidas.
En cambio, el hallazgo de almidones de tubérculos procedentes de contextos de molienda y
agrícolas son mucho más numerosos e introducen preguntas sobre las comidas, las preparaciones, el
procesamiento, los tipos de cocción (BABOT et al. 2012) y el rol de las plantas en la crianza como
horticultura, como cultivos, como agricultura (KORSTANJE y CUENYA 2008, 2010; KORSTANJE 2011;
MALOBERTI 2014). Pero dado que justamente maíz y tubérculos, especialmente papa, se combinan en
ambos tipos de contextos, prácticamente es la misma discusión y bibliografía que la del acápite anterior.
Quizás, lo descollante, por novedoso, es que entre los almidones de tubérculos empiezan a
hacerse visibles otros que hasta aquí sólo conocíamos por su presencia en otras regiones de los Andes.
Entre las encontradas en contextos de molienda que menciona Babot están: “a) silvestres: raíz tuberosa de
Soldaque (Hypseocharis pimpinellifolia J. Rémy, Ann) y tubérculos de especies de Cyperaceae; b)
domésticos: tubérculos de Oca (Oxalis tuberosa Mol.) y de Papa común (Solanum tuberosum L.) y rizomas
de Achira (Canna edulis) y c) silvestres o domésticos: raíces almacenadas del género Ipomoea. Asimismo,
algunos ejemplares han sido asignados a tubérculos/raíces no diferenciados” (BABOT 2009:17).

¿Qué le hemos preguntado a los pseudocereales? (quínuas y amarantos)


En tiempos pasados se ha postulado que la gente de esta región podría haber participado del
proceso de domesticación del complejo de chenopodiaceas que incluyen la quinua (Chenopodium quinoa
Willd.) y la kañawa (Chenopodium pallidicaule Aellen), dado que existen aquí los tempranos antecesores de
la misma y a que se los encuentran en los complejos maleza-cultivos. No así la kiwicha (Amaranthus
caudatus L.) que podría tener incluso una incursión en la zona andina incluso muy tardía (LÓPEZ 2011).
A diferencia de los maíces y las tuberosas comestibles, los pseudocereales llevan un derrotero
histórico particular relacionado a un fenómeno de prolongado uso y luego quasi desaparición. Esto es, que
si bien tiene una aparición temprana en el registro arqueológico y se encuentra abundantemente desde el

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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

momento aldeano inicial hasta la época incaica27, fue siendo olvidada post conquista europea y
reemplazada por el trigo en las sementeras. Esto llevó a que en algunas regiones, y por largos siglos, su
cultivo se abandonara e incluso su nombre desapareciera (en casi todas las localidades del NOA, excepto
Jujuy y algunos poblados de Catamarca, donde se mantuvo sólo como un alimento para la subsistencia
familiar). En las últimas décadas en cambio y, confirmadas sus altas propiedades alimenticias, la quinua ha
sido reintroducida o bien estimulada, para la venta en el mercado mercados, culinaria gourmet o
exportación.
Al igual que los tubérculos, los pseudocereales se han visto sub representados en el registro de
macrorrestos arqueológicos, pero en este caso no por un problema de conservación sino de muestreo
(tamaño de los especímenes vs. tamaño de las zarandas de recuperación). Hoy hay varios grupos abocados
a su estudio específico en el NOA y sur de Bolivia y, además, se han mejorado notablemente las técnicas de
recuperación, que incluso siguen evaluándose (LÓPEZ 2011; ARREGUEZ et al. 2014). Por lo tanto, también
las preguntas teóricas más complejas van recién desarrollándose, un poco rezagadas detrás del “¿qué hay?
y ¿cuánto y cómo?” inicial, salvo en el caso específico de López (2011), pero que tiene un fuerte
componente etnográfico. En las investigaciones arqueológicas, las preguntas que comienzan a despuntar
giran alrededor de la culinaria y el cultivo, abordados desde las diferentes prácticas asociadas a los
mismos. Podemos decir, sin temor a equivocarnos, que en estos últimos 30 años las Chenopodiáceas han
sido una de las destacadas novedades de la arqueobotánica regional, tanto en macro como en
microrrestos, habiendo sido su registro anterior casi nulo.
En la puna catamarqueña (específicamente en Antofagasta de la Sierra) se ha reportado una
considerable cantidad de semillas de quinua y rosetas obtenidas de su tostado así como también tallos de
amaranto en contextos arqueológicos tempranos, lo que ha llevado a comenzar a plantear en el cultivo
local de estas plantas y a pensar en las prácticas y mecanismos post cosecha involucradas, como la siega de
panojas (AGUIRRE y RODRÍGUEZ 2009). Es interesante - como aporte que puede despuntar nuevas
preguntas hacia los procesos de domesticación permanente y asociaciones planta-maleza -, que los
estudios anatómicos realizados a estos ejemplares comparados con los silvestres modernos sugieren que
las muestras arqueológicas serían fragmentos de alguna variedad de Chenopodium quinoa, cultivadas en
este sector de la Puna argentina, pero no afín a las poblaciones silvestres actuales de la misma zona (ARIAS
et al. 2014). También en la zona se han recuperado recientemente numerosos ejemplares de amaranto
silvestre identificados como Amaranthus hybridus subsp. hybridus (ARREGUEZ et al. 2014).

27
Un listado descriptivo de macrorrestos arqueológicos en el NOA, Bolivia, Chile y Perú hasta el año 2011, puede
encontrarse en la Tabla 1 de López (2011:62-66).

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Desde el punto de vista de los microvestigios, las Chenopodiáceas sólo pueden ser identificadas
desde los almidones - no producen silicofitolitos -, y aun así con dificultades28. Está muy discutida la
posibilidad de reconocer especie o grado de domesticidad por el momento, pero de todos modos, es
importante que se puedan identificar como Chenopodiáceas, ya que en algunos conjuntos de artefactos y
en campos de cultivo acortan el universo de hipótesis posibles.
Los resultados del análisis en residuos de uso de los artefactos estudiados por Babot para la puna
catamarqueña (molinos y herramientas agrícolas de piedra utilizadas para la siega) incluyen taxones que la
autora diferencia como granos de “pseudocereales domésticos: especies de Chenopodium aff. quinoa (C.
quinoa Willd.) y C. aff. pallidicaule (Cañigua) y Amaranthus spp. afín a los amarantos domésticos (A.
caudatus L./A. mantegazzianus Passer.29), así como también de Chenopodium/Amaranthus no
diferenciados” (BABOT 2009:20). En la puna jujeña también registran residuos de granos similares a los de
la quinua (Chenopodium quinoa) o la cañigua (C. pallidicaule), en una mano de moler, a los que identifican
con un probable descascarillado y/o molienda para la preparación de alguno de los guisos o sopas espesas -
combinados con otros ingredientes -, o probablemente la preparación de una de harina (BABOT et al.
2012).
En la zona de valles y bolsones, también hay numerosos nuevos reportes de presencia de estas
especies en sitios de diversos momentos de la periodificación regional. Dentro de las investigaciones
relacionadas a espacios de cocina en el valle del Cajón, se han encontrado signos reveladores de las
actividades cotidianas llevadas a cabo para la preparación, cocción y consumo de alimentos que han
incluido semillas de quenopodiáceas (Chenopodium sp.) (CALO et al. 2012).
En la Qº de los Corrales, “si bien se habían realizado estudios sobre gránulos de almidón que
produjeron formas diagnósticas de pseudocereales como quinua y/o amaranto (BABOT 2007), sólo
recientemente ha sido identificado un conjunto de semillas pertenecientes al grupo de las quenopodiáceas
entre las cuales se identificó Chenopodium quinoa Willd (N=38) y quenopodiáceas silvestres (N=381) (…).
También se recuperó un conjunto de semillas perteneciente al grupo de las amarantáceas (N=31) y un
único ejemplar posiblemente perteneciente a Amaranthus caudatus L.” (ARREGUEZ et al. 2014:63).
En el vecino valle de El Bolsón, también se recuperaron semillas de quinua y de amaranto, sin
distinguir por ahora su especificidad (KORSTANJE 2005) y almidones de pseudocereales también
probablemente de las mismas especies, en contextos de molienda dentro de una cocina y en un sitio de
actividades múltiples (BABOT 2004). En esta zona las preguntas generales están dirigidas a la agricultura
local, y en los campos agrícolas se ha podido distinguir algunos usos del suelo, prácticas agrícolas de
rotación de cultivos y abonado. Allí, la presencia de microfósiles de Chenopodiáceas es crucial para el

28
Una descripción de la presencia de almidones arqueológicos en el NOA, Bolivia, Chile y Perú hasta el año 2011,
puede encontrarse en la Tabla 2 de López (2011:67).
29
No queda claro cómo llega a la distinción de especies desde este proxy.

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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

entendimiento de la complejidad agrícola temprana de esta área, pero el grano de resolución no nos
permite saber aun qué especies son las que están presentes en esos campos de cultivo, por lo que pueden
pertenecer también al complejo malezas/cultivos (KORSTANJE y CUENYA 2008, 2010; MALOBERTI 2014). En
la zona de Puna también comenzó a aparecer la quinua en los campos de cultivo30, con el agregado de que
la evidencia de macrorrestos también refuerza este cultivo en la zona a partir de los hallazgos de tallos de
quinua (ARIAS et al. 2014).
Por último, es auspicioso saber que en las zonas más húmedas, de baja preservación de
elementos orgánicos, como el área de San Francisco, se pudieron reconocer almidones identificados como
pseudocereales de las familias de las Amaranthaceas y Chenopodiaceas, (ORTIZ y HEIT 2012).
La quinua nos empieza a contar así, quizás con mayor singularidad que ninguna otra planta, el
derrotero de despojo de las poblaciones prehispánicas, que recién hoy vuelven a recuperar plenamente
este alimento rico en proteínas y aminoácidos y de leves requerimientos de suelo y condiciones
meteorológicas para su cultivo.

¿Qué le hemos preguntado a las legumbres? (porotos, maníes, tarwi)


Las legumbres, y particularmente los porotos, han tenido un derrotero similar en la historia de las
investigaciones arqueobotánicas de nuestra región. Uno del los primeros caso de investigación
interdisciplinaria de esta cuarta etapa historiográfica fue el trabajo de Pochettino y Scattolin en la década
de 1990, donde las preguntas de identificación a nivel intraespecífico de especímenes arqueológicos
carbonizados incluyeron las variedades de porotos silvestres y domésticos, dando origen al planteo de la
recolección y consumo de semillas silvestres y cultivadas simultáneamente (YACOBACCIO y KORSTANJE
2007). El poroto común (P. vulgaris) presenta en la región dos variedades, una silvestre [P. vulgaris
Linnaeus var. aborigineus (Burkart) Baudet] y otra cultivada (P. vulgaris var. vulgaris) esta última también
conocida como “poroto común cultivado”, o “poroto común doméstico”. Otro avance interesante fue la
mirada interdisciplinar botánica y arqueológica (micro y macro) estudiando variaciones de utilidad
arqueobotánica en un conjunto amplio de caracteres cualitativos y cuantitativos de las variedades cultivada
y silvestre, identificando los caracteres diagnósticos específicos e intraespecíficos que serían de más
utilidad para este tipo de trabajos que estudian especímenes con diferentes grados de conservación
(BABOT et al. 2007).
Recientemente se volvieron a indagar los restos hallados en Huachichocana y en las siete cuevas
de Pampa Grande, donde en los años 1970 se encontraron ocupaciones domésticas y contextos funerarios
con un registro abundante y en excelente estado de conservación de gran cantidad de macrorestos
vegetales secos de Arachis sp, Phaseolus vulgaris y P. lunatus, entre otros taxones. Los resultados obtenidos

30
Escola, Quesada y Korstanje, en preparación.

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muestran la ausencia de un continuum de transformaciones en una transición lineal entre la forma silvestre
y domesticada. En su lugar, el registro arqueológico evidencia la existencia en el pasado de complejos
silvestre-maleza-cultivo, resultantes de prácticas de manejo y presiones selectivas que propiciaron la
diversidad por sobre la homogeneidad (LEMA 2009, 2011).
En Antofagasta de la Sierra, zona más alejada de los espacios de recolección y cultivo de los
porotos, los sitios arqueológicos han arrojado macrorestos de semillas identificadas como Phaseolus sp. sin
evidencias de exposición al fuego, en un contexto funerario y en otros sitios (BABOT 2009). Sin entrar a
repetir en cada caso las preguntas generales, dado que no están orientadas taxón por taxón, hay
asociaciones de microfósiles que indican la molienda o preparación de porotos que corresponden a semillas
(cotiledones) de poroto común (Phaseolus vulgaris L.) y poroto común cultivado y silvestre [P. vulgaris aff.
var. vulgaris L. y P. vulgaris aff. var. aborigineus (Burkart) Baudet] (BABOT 2009).
En la zona de valles y bolsones también se identificaron granos de almidón asignados a Phaseolus
vulgaris var. aborigineus, en la Falda Occidental del Aconquija (BABOT 2009); hallazgos de poroto común,
tales como en Qº de Los Corrales, (ARREGUEZ et al. 2010); valle de El Bolsón (KORSTANJE 2005); sitio El
Shincal (Londres) (LEMA 2009). Y combinación de poroto común Phaseolus vulgaris var. vulgaris y poroto
silvestre P. vulgaris var. aborigineus y P. vulgaris indeterminado en Campo del Pucará (OLISZEWSKI 2012);
valle de El Cajón (CALO et al. 2012 y CALO 2014).
Es interesante que empiecen a aparecer semillas de porotos en contextos de sitios de borde de
andes o pedemonte porque, dada la escasez de restos orgánicos preservados esto estaría indicando quizás
su predominancia en el registro (motivo que aumentaría sus chances de resguardarse). Hay especímenes
de poroto en el sitio Río la Viña del valle de Lerma (LEMA 2011), en el piedemonte de Tucumán (Santa
Rosa) se han identificado los primeros especímenes carbonizados de esta zona, identificados como
Phaseolus vulgaris var. vulgaris L. (MIGUEZ et al. 2012), y en el área de San Francisco, por primera vez
también, en forma de almidones (ORTIZ y HEIT 2012, 2013).
El maní, a pesar de que también entraba entre las plantas que podrían haber sido domesticado en
la zona, ha sido menos interrogado que el poroto porque casi no ha habido hallazgos de macro y
microrrestos que ameritaran estudios más profundos. Se han encontrado en Antofagasta de la Sierra
semillas identificadas como Arachis cf. monticola Krapov. & Rigoni) y los ya citados de Pampa Grande y
otros en Alamito pero que son hallazgos de la década de 1970 (KORSTANJE y BABOT 2007).
Otra legumbre que no es entrevistada son los lupines o tarwi, muy comunes en otras regiones
andinas. Aquí sólo han sido encontrados como macrorresto en la década anterior, en Huachichocana,
identificados como Lupinus mutabilis Sweet (KORSTANJE y BABOT 2007).

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EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

¿Qué le hemos preguntado a las cucurbitáceas? (zapallos, ancos y angolas)


Las Cucurbitáceas, a pesar de ser uno de los componentes clásicos de la tríada sudamericana
“maíz, papa y zapallo” anteriormente no habían tenido mayor atención más allá de las preguntas clásicas
¿qué? ¿cuánto? y ¿cómo? Por otro lado, al igual que para algunas Chenopodiáceas, la existencia de
ancestros silvestres de una de las Cucurbitáceas domésticas - C. maxima ssp. maxima - que crecen en la
región, ha sugerido desde los años 1960 que esta habría sido una zona de domesticación para el género a
partir de C. maxima ssp. andreana (LEMA 2009).
Ante esta posibilidad, la misma autora comenzó los estudios sobre domesticación de las
cucúrbitas desde una mirada más amplia que las variaciones estrictamente morfológicas y fenotípicas,
tomando el concepto de domesticación como un proceso abierto y permanente, considerando la existencia
pretérita de complejos cultivo-maleza-domesticado en el marco de prácticas de manejo, incluyendo la
recolección, que favorecieron la diversidad en el pasado de la región. El posible ancestro silvestre, C.
maxima ssp. andreana sólo ha sido encontrado en la localidad arqueológica de Pampa Grande junto con su
contraparte domesticada. “Las subespecies de C. maxima son simpátricas y no poseen barreras
reproductivas entre sí, lo que permite la existencia de sucesivas cruzas entre las mismas, generándose
formas híbridas y/o malezoides” (Lema 2011:64) Para eso, realizó también un estudio comparativo de
caracteres morfológicos de especímenes de sitios arqueológicos: de la colección de Pampa Grande, sobre
vestigios de pedúnculos identificados como Lagenaria siceraria, C. maxima ssp. maxima y C. ficifolia; del
sitio La Viña sobre semillas caracterizadas como C. maxima aff. ssp. maxima L. y C. maxima aff. ssp.
andreana L. (LEMA 2009 y 2011)31.
Desde los microfósiles en campos de cultivo y en contextos de molienda o cocina, los hallazgos
no han sido todavía tan importantes como la expectativa que los antecedentes en América central al
respecto en diversos trabajos de Piperno y su equipo32 generaron. Si bien son una familia que produce
silicofitolitos de tamaño grande y diagnósticos en los tejidos epidérmicos, son escasos aun en las mismas
colecciones de referencia. Esto es: la epidermis o cáscara (que es donde se producen los silicofitolitos
diagnósticos) arroja pocos fitolitos por centímetro cuadrado de muestra, y por lo tanto disminuyen las
oportunidades de encontrarlos.
Los casos hasta el momento en que se identificaron microfósiles de Cucurbitáceas en campos de
cultivo son todos en sitios del área valliserrana (Catamarca y Jujuy) donde las preguntas por la agricultura
incluyen usos del suelo, tipos de plantas cultivadas y prácticas campesinas: El Alto El Bolsón (KORSTANJE
2005)33, El Alto Juan Pablo (MALOBERTI 2012).

31
Un desarrollo de las características de los sitios con macrovestigios de Cucurbitáceas de la región valliserrana puede
encontrarse en Lema 2009:66-120.
32
cf. Piperno et al 2000. 2002, entre otros citados en Korstanje (2005).
33
En un primer momento los silicofitolitos de Cucurbitáceas no habían sido incluidos en las interpretaciones de
cultivos por ser muy pocos ejemplares, pero los hallazgos posteriores de Maloberti en una zona cercana, confirmaron

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¿Qué le hemos preguntado a los condimentos?


Poco. Casi nada. En realidad igual que con muchos otros componentes de una dieta, como no los
hemos encontrado, no nos hemos preguntado mucho por ellos. Sabemos poco de las tisanas, sabemos
nada de algún tipo de elemento que se haya utilizado para freír. Sabemos muy poco de la combinación de
elementos dulces, más allá de algún fruto.
Respecto a los condimentos es extraño que no sepamos más, porque el registro etnográfico da
cuenta de comidas muy condimentadas, antes y ahora en la región andina. Por ahora, sólo contamos con
los hallazgos de semillas de ajíes de la década de 1970: Capsicum sp. en Pampa Grande, retomados e
identificados en años recientes por diversos autores (LEMA 2011); también Capsicum baccatum o C.
chacoense Hunz en Huachichocana y C. frutescens en el Cementerio de la Falda, Jujuy (KORSTANJE y BABOT
2007).

A MODO DE REFLEXIÓN Y CONCLUSIONES

El relato de las plantas me hace pensar que las preguntas que los colegas les hicieron en estos
últimos treinta años son originales con respecto al período anterior. Si bien sigue existiendo una
predominancia por describir, identificar, contextualizar (“¿qué hay, qué es y junto a qué está?”, preguntas
que existirán siempre porque están en la matriz metodológica misma de nuestro quehacer), diría que las
preguntas nuevas se pueden sintetizar en:
¿qué implica pensar en la domesticación?
¿qué rangos de movilidad e intercambio intervinieron en el manejo de las plantas?
¿qué y cómo se cultivaba y cosechaba?
¿qué y cómo se procesaba?
¿qué y cómo se cocinaba?
¿quiénes, cómo y por qué tenían acceso a ellas?
Sería interesante poder definir si estas nuevas preguntas están en relación a los desarrollos
teóricos propios de cada proyecto de investigación que los incluyó o tienen que ver con otros factores, tales
como el desarrollo de la disciplina en otros países, o las nuevas posibilidades que el desarrollo
metodológico - cuantitativa y cualitativamente superior a todos los momentos anteriores de la disciplina -
dio a la creatividad de los/as investigadores.

su cultivo en la zona. En el caso de Coctaca se encontraron silicofitolitos de Cucurbitáceas en los canales antiguos y no
en el los campos de cultivo. Eso nos lo hace descartar de la muestra ya que pueden ser restos de cultivos más
modernos arrastrados por el agua, (MALOBERTI et al. 2005).

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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

Coincido con mis colegas cuando afirman que a fines de 1980, durante los 1990 y en la actualidad
se observa un incremento exponencial de las investigaciones arqueobotánicas, se diversifican los temas y
se especializan los profesionales (CAPPARELLI et al. 2007). No obstante esto, observo que no abundan en
estos años trabajos con una preocupación teórica profunda que los acompañe, que lleve a reflexionar
desde la disciplina misma los procesos que involucran a las plantas en su interacción con los humanos, los
animales, el paisaje y eventualmente entre ellas y otros agentes. No estoy hablando de reflexión
epistemológica sobre la disciplina (que si está presente, ver artículos compilados por ARCHILA et al. 2008);
ni de las discusiones y acuerdos metodológicos (ver BELMAR y LEMA 2014 entre otros ya citados), sino de
algo mucho más sutil - y a su vez más contundente -, que es el aporte a la teoría arqueológica de los
estudios de arqueobotánicos.
La disciplina ha sorteado ya la etapa meramente descriptiva y está transitando un celebrado
período de inquieta actividad, multiplicidad de aportes y desarrollos metodológicos; pero no parece aun
lograr ese despegue necesario para cerrar el círculo virtuoso: ejercitar el pensamiento teórico para la
comprensión de los procesos sociales donde las plantas no sólo están “involucradas” y “presentes”, sino
donde son generadoras de situaciones que aportan elementos a las ideas sobre el cambio social. Ejemplos
donde algún modelo teórico vigente es llevado a la contrastación desde la arqueología de las plantas - o
sea, en los que las ideas generales son chequeadas desde en un contexto arqueobotánico -, son más o
menos frecuentes (KORSTANJE 2005; OLISZEWSKI y OLIVERA 2009; FIGUEROA et al. 2010; entre otros), pero
no sucede lo mismo al revés.
Dentro de cada uno de los temas arriba referidos, el desafío teórico es mayor o menor según si se
trata del tema de investigación particular de algún investigador o si las plantas entran como parte de la
reflexión sobre otro problema arqueológico más general. En las preguntas por las comidas, por ejemplo,
hay jóvenes trabajos que muestran una mayor madurez en la reflexión teórica que hacen a los contextos de
comensalismo, ritualidad, subsistencia e interacción, incorporando la agencia de las plantas mismas en esas
transacciones sociales (PAZZARELLI 2013; CALO et al. 2012). Lo mismo sucede con los contextos agrícolas en
los que a través del reconocimiento de cultivos y usos de suelo se puede comenzar a sofisticar las
preguntas sobre paisajes agrarios, prácticas campesinas y reproducción social (FRANCO SALVI y BERBERIÁN
2011; MALOBERTI 2012). Otros contextos teóricos destacables son aquellos que buscan resolver
situaciones novedosas para la región, como las prácticas post cosecha, la manipulación de las plantas, el
trabajo relacionado a ellas (LÓPEZ 2011), pero aun están fuertemente imbuidos en investigaciones
etnográficas, por lo que su valor teórico para la arqueología es más bien a nivel de generación de. Por
último, también están los que tienen un desarrollo teórico que despunta con fuerza y genera entusiasmo,
aunque sean incipientes. A veces estos desarrollos están sorprendentemente entre las nuevas preguntas
que se hacen a viejos temas como, por ejemplo, la domesticación. Porque si bien podría objetarse que
también aquí hay una perspectiva arqueométrica nueva (básicamente los estudios de ADN), lo que atrapa

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MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

es el juego dialectico de un abordaje que re-interroga, complejiza, indaga, cuestiona sin conformarse con
que un modelo “cierre”: Observa desde otra perspectiva, rompe, re-arma, recurre, recusa y vuelve a dar las
cartas en una nueva mano sobre el mismo viejo juego. “El entendimiento en profundidad del proceso de
domesticación vegetal implica romper con dicotomías arraigadas en los estudios sobre el mismo tales como
silvestre- domesticado y recolector-agricultor. (…) Se entiende que dicha ruptura debe hacerse primero
desde lo conceptual, para luego plantear una metodología de investigación acorde. El quiebre conceptual
viene dado por el estudio de las prácticas de manejo sobre el entorno vegetal, las cuales se combinan de
diferente manera a lo largo del tiempo. Su detección en el registro arqueológico ha de hacerse a partir de la
implementación de diversas líneas de análisis tanto en el estudio del contexto arqueológico en general,
como de los restos vegetales en particular, para alcanzar una mejor resolución en la identificación de
formas intermedias o transicionales y analizar los rasgos que efectivamente están siendo modificados, a fin
de reconstruir de manera más ajustada los modos de relación de las poblaciones humanas con su entorno
vegetal” (LEMA 2011:57).
Dicho esto, y ya para cerrar, sostengo que los listados de taxones hallados que estábamos
acostumbrados a realizar en nuestras historiografías parciales (listados que prácticamente todos nosotros
hemos realizado alguna vez, y que incluso este mismo artículo en parte reproduce, aun habiéndolo querido
explícitamente evitar) deberían dejar de tener importancia por varios motivos:
El resto de las especialidades no hace inventarios de este tipo, que sólo pueden haber sido
significativas al inicio de las investigaciones.
Empieza a ser imposible compendiar en un artículo todo lo antes trabajado, porque el corpus de
información es realmente ya voluminoso.
Siendo este corpus voluminoso y teóricamente orientado, dejaría de tener importancia relatar
dónde, cuándo y cuántas plantas se hallaron del taxón estudiado.
En las conclusiones de un artículo uno suele esperar también que el autor/a arriesgue una
hipótesis sobre lo que falta, y en ese sentido, en este trabajo debería aportar qué preguntas están faltando.
Pero me parece que no es pertinente. Las preguntas pueden construirse en conjunto, en el andar codo a
codo con los colegas en la disciplina, pero también tienen que ver con la creatividad individual. Me parece
que la mejor conclusión es esa: el porvenir sigue abierto, las preguntas también. Sigamos caminando entre
y con las plantas. Ahora las plantas empiezan a hablarnos según preguntas específicas y no según su orden
de aparición, frecuencia regional ni inventario alguno. Celebremos este nuevo diálogo. El futuro está
echado a andar. Los síntomas están, sólo falta desarrollarlos. Seamos bienvenidos/as a otra etapa de la
disciplina.

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ARQUEOBOTÁNICA RELATADA DEL NOROESTE ARGENTINO: LO QUE NOS CONTARON LAS PLANTAS DOMESTICADAS
EN LOS ULTIMOS 30 AÑOS

Agradecimientos
Quiero agradecer especialmente a Rita Scheel-Ybert por su interés en la integración
latinoamericana de la disciplina; y a todos mis colegas, por sus motivadoras y entusiastas investigaciones.
Quién me enseñó a pensar en las plantas como agentes activos en contextos de convivencia con humanos
fue Christine Hastorf. Los errores son mios.

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MARIA ALEJANDRA KORSTANJE

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Recebido em:17/04/2016
Aprovado em:16/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA
NOTES ON THE ARCHAEOLOGY OF PLANTS IN A HIGH DESERT
(NOTAS SOBRE A ARQUEOLOGIA DAS PLANTAS EM UM DESERTO DE ALTITUDE)

María del Pilar Babot

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

María del Pilar Babot1

Resumen: La Puna es un desierto de altura que se extiende al norte de Chile y Argentina. En su porción
correspondiente al actual territorio argentino cuenta con una tradición de más de veinticinco años de
estudios de la flora desde perspectivas arqueológicas. Como parte de esta tradición, en la cuenca de
Antofagasta de la Sierra, especialmente en los últimos años se ha buscado contribuir a comprender el papel
de las plantas para sus antiguos habitantes en el largo plazo. Esto ha implicado pasar desde un estudio de los
componentes vegetales del registro arqueológico hacia una Arqueología de las plantas. Aquí proponemos un
recorrido reflexivo por ciertos temas y enfoques de los estudios sobre las plantas en este desierto de altura,
más que una síntesis exhaustiva de la historia de este campo disciplinar. Con ello pretendemos establecer,
desde nuestra experiencia de investigación, cómo puede variar el conocimiento que producimos sobre la
flora cuando cambian los marcos de referencia, intereses y objetivos de las investigaciones. También
deseamos sostener que una Arqueología de las plantas en el desierto sólo es posible si nos despojamos de
los preconceptos tradicionales sobre el páramo.

Palabras clave: Puna argentina, Arqueobotánica, desierto de altura, Arqueología de las plantas,
microvestigios botánicos.

Abstract: The Puna is a high desert that stretches north of Chile and Argentina, with a tradition of over
twenty five years of study of the flora from archaeological perspectives in the corresponding portion of the
Argentinean territory. As part of this tradition, particularly in recent years it has sought to contribute to
understand the role of plants to the ancient inhabitants of the basin of Antofagasta de la Sierra in the long
term. This has meant passing from a study of the plant components of the archaeological record to an
Archeology of plants. Here we propose a thoughtful tour of certain themes and approaches of studies on
plants in this high desert, rather than an exhaustive summary of the history of this disciplinary field. Our aim
is to establish, from our research experience, how can vary the knowledge we produce on flora when
frameworks, interests and objectives of the research change. We also want to argue that an Archaeology of
plants in the desert is only possible if we strip away the traditional preconceptions about the paramo.

Keywords: Argentine Puna, Archaeobotany, high desert, Archaology of plantas, botanical micro-remains.

“La vegetación de la Puna es una de las más pobres y mezquinas del mundo
entero. (…) No se puede imaginar nada más monótono que esta vegetación, cuyos tonos
sombríos se confunden con el gris y el amarillo sucio del suelo. Las plantas parecen
defenderse contra la violencia de las tempestades envolviéndose en sus ramas de follaje
pequeño y negruzco”
(BOMAN [1908] 1992:406)

1Instituto de Arqueología y Museo, Facultad de Ciencias Naturales e Instituto Miguel Lillo, Universidad Nacional de Tucumán, Argentina; Instituto Superior de
Estudios Sociales, Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas/UNT, Argentina.
E-mail: [email protected]
MARÍA DEL PILAR BABOT

INTRODUCCIÓN

La Puna es un desierto de altura que se extiende al norte de Chile y Argentina, formando un


continuo con el altiplano peruano-boliviano, pero con matices biogeográficos e históricos propios. Se trata
de un ámbito heterogéneo ya que presenta particularidades en ambas vertientes de Los Andes. En el actual
territorio argentino, también ocurren cambios al desplazarse latitudinalmente entre el sector norte o Puna
Seca y el sector sur o Puna Salada. Los estudios paleoambientales de este desierto y de las sociedades que lo
habitaron en el corto y largo plazo indican que además del mosaico ambiental-cultural actual existe otro
mosaico que representa la variación temporal. Esta se extiende a poco más de 11600 años AP que
corresponden al registro local de la experiencia humana documentada en la Puna (ASCHERO 2000; OLIVERA
et al. 2004, 2006). Adicionalmente, el pasado y la actualidad del desierto puneño y su gente no pueden ser
comprendidos sin ampliar la mirada al espacio regional en el que ha estado inserto. Este se extiende hacia el
este hasta la planicie chaqueña, englobando buena parte de la biodiversidad del Noroeste argentino
(BRUNIARD 1999), y hacia el oeste, hasta el océano Pacífico, atravesando toda la variación de la vertiente
occidental andina. Este es el escenario en el que ocurrieron distintos estudios sobre la flora desde
perspectivas arqueológicas y más recientemente el paso hacia una Arqueología de las plantas, objeto de
reflexión de esta contribución.

Aspectos de la biogeografía de la Puna


Con alturas entre los 3200-3500 y 4000 msnm, el paisaje de la Puna argentina está formado por un
bloque sobreelevado limitado por altos sistemas montañosos que pueden alcanzar los 6000 msnm. Se
caracteriza por la presencia de cuencas cerradas, salares, bolsones elevados y valles, separados por
montañas interiores de disposición submeridiana y suaves vertientes (BRUNIARD 1999) (Figura 1). Su
manifestación meridional, la Puna desértica o salada, presenta características de aridez más acentuadas que
la Puna septentrional. Esta última, también denominada semihúmeda o seca, posee muy magras
precipitaciones, bajas temperaturas y grandes oscilaciones térmicas diarias (BRUNIARD 1999) (Figura 2).
Ambos sectores se diferencian también por sus características estructurales, morfológicas y biogeográficas
distintivas (ALONSO et al. 1984). En la Puna salada, objeto de análisis en este trabajo, el clima es árido, de
tipo andino puneño, con un promedio de 100 mm concentrados en la estación cálida. La vegetación es típica
de la Provincia Puneña del Dominio Andino, con predominio de la estepa arbustiva baja y presencia de
estepa halófila, estepa herbácea y estepa psammófila (CABRERA 1976; RODRÍGUEZ 2013). Es un ámbito
apropiado para el cultivo de la quinua (Chenopodium quinoa Willd., Chenopodiaceae), variedades de maíz
(Zea mays L., Poaceae) resistentes a heladas y de tubérculos microtérmicos como la papa común (Solanum
tuberosum L., Solanaceae), la oca (Oxalis tuberosa Mol., Oxalidaceae) y el ulluco (Ullucus tuberosus Caldas,

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NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

Basellaceae) (MARTÍNEZ UNGRÍA 1989). Asimismo, posee una rica flora silvestre útil cuyo uso se ha
mantenido en el tiempo, aunque ha comenzado a ser documentada en detalle sólo en los últimos años
(AGUIRRE 2012; CUELLO 2006; LUND y BABOT 2014; OLMOS y BABOT 2014; OLIVERA 2006; PÉREZ 2006).

Figura 1: Principales referencias geográficas citadas en el texto.

Figura 2: Aspectos del ambiente de la Puna Argentina. a-c) Puna Seca. El Aguilar, Provincia de Jujuy, sobre los 3700
msnm: a) estepa arbustiva, tolar; b) Polylepis en asociación con tolar; c) estepa arbustiva en asociación con Cactáceas.
d-e) Puna Salada. Antofagasta de la Sierra, Provincia de Catamarca: d-e) Tolar muy abierto en pampa, sobre los 3500
msnm y transición campo-vega-tolar sobre los 3600 msnm, ambos en la Quebrada de Miriguaca; f) tolar en la periferia
de Laguna Colorada, actualmente, salinizada (Fotografías: cortesía de Salomón Hocsman).

La cuenca de Antofagasta de la Sierra, en donde tienen su eje nuestras investigaciones es un bolsón


irrigado por el sistema endorreico de los ríos Toconquis-Calalaste-Punilla que desagua en la laguna de
Antofagasta (Figura 1). Los numerosos afluentes y las variaciones altitudinales (3400-3900 msnm) coinciden

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con diferentes unidades vegetacionales que aportan heterogenidad al área (OLIVERA 2006). Se distinguen
cuatro unidades de acuerdo a su vegetación y ubicación topográfica (CABRERA 1976; CABRERA y WILLINK
1973; HABER 1992; RODRÍGUEZ 2013) (Figura 3):

Figura 3: Unidades vegetacionales distinguidas en la cuenca de Antofagasta de la Sierra. a-d) Vega: a-b) Quebrada de
Miriguaca, sobre los 3600 msmm; c) Quebrada Las Pitas, sobre los 3700 msnm; d) Quebrada de acceso a Laguna Cavi,
sobre los 3800 msnm. e) Transición entre espetas arbustivas de médanos, llanos y borde de vega correspondientes al
tolar y estepa herbácea en vega, Quebrada Las Pitas, sobre los 3650 msnm. f-g) Tolar ralo y muy abierto de
Acantholippia, respectivamente, Quebrada Las Pitas, sobre los 3600 msnm. h) Transiciones entre vega y vegetación
herbácea de campo y entre tolar y vegetación de huerta, Quebrada Miriguaca, sobre los 3600 msnm. i-j) Estepa
herbácea correspondiente a la unidad de campo, perímetro de Laguna Colorada y Confluencia, respectivamente, sobre
los 3500 msnm. k-l) Pajonal, Laguna Cavi, sobre los 3900 msnm (Fotografías: a-d, h-l, cortesía de Salomón Hocsman).

Pajonal, sobre los 3800 msnm, dominado por poáceas de los géneros Festuca L., Pappostipa (Speg.)
Romasch., P. M. Peterson & Soreng y Deyeuxia P. Beauv., con presencia de especies arbustivas de los

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géneros Adesmia DC. (Fabaceae), Baccharis L. (Asteraceae), Parastrephia Nutt. (Asteraceae) y Fabiana Ruiz &
Pav. (Solanaceae), generando una cobertura abierta.
Tolar: conformado por especies arbustivas y subarbustivas, en las que dominan los géneros
Parastrephia, Acantholippia Griseb. (Verbenaceae) y Atriplex L. (Chenopodiaceae) en terrenos llanos y
hoyadas, y Neosparton Fisch. & C. A. Mey. (Verbenaceae) y Senecio L. (Asteraceae), en médanos, con una
cobertura entre rala y muy abierta en las denominadas ‘pampas’ y baja presencia de herbáceas.
Vega: vegetación de borde de río y terrenos laterales, tupida, con presencia de juncáceas del
género Juncus L., ciperáceas y poáceas, como Distichlis; Festuca y Deyeuxia, esta última, a mayores alturas
sobre el nivel del mar.
Campo: estepa herbácea rala, mayormente de tipo anual, de los géneros Senecio, Xanthium L.
(Asteraceae) y Euphorbia L. (Euphorbiaceae) entre otros, con presencia esporádica de arbustos, ubicada en
sectores llanos, a ambos lados de vegas importantes.

El imaginario popular y el discurso científico sobre la Puna


La Puna ha sido retratada en el imaginario popular y en el discurso científico como un ámbito de
clima adverso caracterizado por sus salares y salinas, por su riqueza en rocas volcánicas y por presentar las
mejores condiciones para el manejo de camélidos silvestres (Vicugna vicugna Molina) y domesticados (Lama
glama L.) (ALBECK 2000; KORSTANJE 1998; OLIVERA 1992; RAFFINO 1999). Así, han dominado los arquetipos
de “paisaje mineral”, “paisaje animal” y “desierto”. Esto ha sido consistente con la imagen consolidada en los
relatos de viajeros y exploradores de fines del siglo XIX y comienzos del siglo XX, quienes dominaban los
discursos sobre estos espacios en momentos de la expansión territorial del estado nacional (HABER 2006:17;
KRAPOVICKAS 1984). Ellos también se referían a la Puna como “una geografía marginal, un paisaje
desolado”. Pero las raíces de la Puna como un ámbito extremo son aún más antiguas; se remontan a la visión
que se tenía de estas áreas “periféricas”, “hostiles” e “inaccesibles” desde las ciudades virreinales situadas
en los valles (HABER 2006 y otras obras citadas por este autor). Estos espacios, además, se publicitaron en
los relatos oficiales como “tierras vacas” o despobladas para permitir el derecho de usufructo mediante
mercedes reales, hacia el siglo XVIII (QUESADA y LEMA 2011).
El imaginario sobre la Puna también se vincula con la memoria reciente de este territorio como
ámbito esencialmente ganadero, arriero, de tráfico mular y vacuno, de parada y paso de mercancías y como
terreno de “enclaves extractivos” (HABER 2006:27). Esta memoria corresponde al lapso en el que las tierras
altas fueron un punto intermedio entre ambas vertientes de Los Andes, funcional a la maquinaria
mercantilista española desde fines del siglo XVIII y hasta buena parte del siglo XX (QUESADA y LEMA 2011;
QUIROGA 2003, 2005). Algunos textos han revisado el papel de los habitantes de la Puna en ese lapso,
demostrando su presencia continua en el área y adjudicándoles un rol activo en la negociación de nuevas

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MARÍA DEL PILAR BABOT

posiciones en razón de las circunstancias socio-políticas y económicas (QUESADA y LEMA 2011 y otras obras
citadas por los autores). Pero aún estas obras, han puesto el acento en las fincas ganaderas denominadas
“potreros”, en la explotación de la riqueza mineral y en la organización de las redes sociales que
posibilitaban ambas actividades, como elementos distintivos puneños.
En cambio, en el imaginario popular, las referencias a la flora en la Puna o a las prácticas sociales
sobre las plantas, son inexistentes o bien, refuerzan el carácter de “páramo” del desierto de altura. De
alguna manera, estas han quedado invisibilizadas ante la contundencia de lo animal y lo mineral del lugar.
La imagen de la Puna como espacio yermo, poco apto para la ocupación humana, esencialmente
ganadero, tiñió la interpretación científica del pasado anterior a la Colonia, desde los inicios mismos de la
disciplina arqueológica (AMBROSETTI 1902; BOMAN [1908] 1992). Esto condicionó durante largo tiempo la
valoración apropiada de la riqueza florística y de la capacidad humana para relacionarse prolífica y
creativamente con esta parte de la naturaleza, cargándola de sentidos. Como parte de esto mismo, lo
agrícola, por su carácter esencialmente productivo, fue más comúnmente asumido como impropio o ajeno al
lugar. Fue concebido como un impulso necesariamente adquirido o impuesto tardíamente desde otras áreas
consideradas “más fértiles” y centrales en el desarrollo y direccionamiento de tales procesos agrícolas
(MUSCIO 2001; OLIVERA 1992; TARRAGÓ 1980; entre otros). Estos argumentos encuentran ciertos paralelos
en los discursos civilizadores del estado nación decimonónico que diseñaron alternativas para “tornar
productivo” al páramo, venciendo sus resistencias e inercias (para una discusión del tema véase HABER
2006; KRAPOVICKAS 1984). También coinciden con la instantánea de la época que ofrecía el relevamiento de
la denominada “agricultura indígena” en el país hacia mediados del siglo XX, tal como fuera retratado en la
obra de Parodi (1999 [1966]), autoridad en la materia. El autor había documentado una mayor supervivencia
y diversidad en la flora agrícola macro, meso y microtérmica en los valles y sierras del Noroeste argentino, y
para entonces se había dado cuenta de numerosos ancestros silvestres en los ambientes situados al oriente
de la Puna. Esta última región contrastaba por la pobreza, menor escala y baja diversidad de sus procesos
agrícolas. En el sector meridional de la Puna el propio ordenamiento colonial del siglo XVII ya había
contribuido a marcar fuertes diferencias entre los valles, en donde se encontraban los principales poblados y
las “chacras”, estancias en las que se cultivaba, y las tierras altas, en donde se situaban los “potreros”,
dedicados a la ganadería (QUIROGA 2003, 2005).
El impulso creativo externo, la definición de la Puna como un ámbito de paso, “entre” otros
ámbitos, y la concepción de sus habitantes como “dependientes de estructuras políticas y económicas
extrapuneñas”, más que como protagonistas de su historia (ver discusión en QUESADA Y LEMA 2011: s/p),
han sido otros temas recurrentes, de manera tácita o explícita, en las interpretaciones arqueológicas del
pasado y parecen haber afectado en especial a la agencia referida a las plantas. Estos y los demás arquetipos
a los que nos hemos referido en este punto, corresponden a las sucesivas coyunturas que han atravesado al

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NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

espacio puneño en los últimos quinientos años de una trayectoria de más de once milenios. En ese lapso el
acento estuvo puesto en la riqueza mineral y animal de la Puna, desdibujándose su “lado verde”.

Historias sobre la gente y las plantas en la Puna salada


La Puna salada constituye una de las geografías “más extremas” del territorio nacional. Sin
embargo, es ahí, y más precisamente en su porción correspondiente al Noroeste de la provincia de
Catamarca (Figura 1), en donde diferentes temas de la arqueo y etnobotánica se han desarrollado más
intensamente y sin solución de continuidad desde hace un cuarto de siglo. Esta constituye una de las
tradiciones de estudios de la flora desde perspectivas arqueológicas más extensas e ininterrumpidas en el
país. Podemos decir que se remonta algunos años más atrás al considerar los trabajos críticos de Krapovickas
(1984 y obras anteriores del autor) sobre las posibilidades de una agricultura puneña en Antofalla, cuenca
paralela a la de Antofagasta de la Sierra. Esta ha sido más que una Arqueobotánica del desierto, al incluir a la
flora en el planteo de los problemas de la agricultura y el pastoreo prehispánicos.
Estos desarrollos no han sido homogéneos. Han estado diferencialmente orientados teórica y
metodológicamente y han sido dirigidos a la resolución de preguntas de distinto tipo. No obstante, han
producido conocimientos que con el tiempo se han complementado. Esta ha sido una trayectoria suficiente
como para volver sobre las contradicciones y los sesgos y el resultado actual es una comprensión más
madura, aunque aún en proceso, sobre las historias de las plantas en el área.
En la cuenca de Antofagasta de la Sierra, en la que nos detendremos aquí, los estudios iniciales de
la flora moderna desde perspectivas arqueológicas pusieron en evidencia la diversidad ambiental al interior
de una de las unidades arquetípicas del desierto en el país (ELKIN 1987, 1992; HABER 1987, 1992; OLIVERA
1992). Estos contrariaron la imagen homogeneizante del desierto, y proporcionaron información nueva
sobre las interacciones entre la gente y la flora, poco visitadas en otros sectores de la Puna argentina, al
referirse a las plantas útiles. Los estudios sobre la flora conforman un rico basamento para las
investigaciones modernas a las que encuadramos aquí en una Arqueología de las plantas. Pero, como
veremos a continuación, ambas se diferencian en sus objetivos y “lecturas” de los datos.
Desde paradigmas ecológico-culturales, en sus inicios, los estudios florísticos se enfocaron en
sostener la capacidad de sustentación del ambiente, o sus potencialidades para el desarrollo antiguo de
economías cazadoras-recolectoras y pastoriles, las que fueron largamente asumidas como opciones
naturales en el área y en general, en toda la Puna argentina (ELKIN 1987, 1992; HABER 1987, 1992; OLIVERA
1992, 2006; RODRÍGUEZ 1999, 2000, 2013). Al ser éstas las mejores estrategias en términos adaptativos,
dadas las características del ambiente en la Puna, el origen de otras opciones, como la agricultura,
necesariamente debía encontrarse en un impulso externo al área, localizado en los valles orientales

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MARÍA DEL PILAR BABOT

(OLIVERA 1992, 2001)2. Sus habitantes llegados a los pisos altos serían los responsables de la consolidación
del modo de vida agropastoril puneño. Todas estas investigaciones se orientaron a sostener un centro
independiente de domesticación de camélidos en los Andes Centro-Sur de Argentina y Chile, un tema
fundamental de la discusión arqueológica macrorregional del momento, aún vigente e indiscutido (ver
discusión en LEMA 2008). De este modo, los estudios sobre la flora constituyeron un insumo para ese tema
al destacar la calidad de las pasturas naturales de los humedales puneños.
Al igual que lo ocurrido con el planteo sobre la agricultura, en general, el origen de buena parte del
suministro vegetal de los cazadores-recolectores, antecesores de los pastores, que incluía objetos suntuarios
y algunos elementos de uso diario, había sido identificado en las tierras ubicadas a menor altura al oriente
de la Puna salada, por tratarse de materiales manufacturados sobre taxones no locales (RODRÍGUEZ 1999,
2004; RODRÍGUEZ y ASCHERO 2007; RODRÍGUEZ y MARTÍNEZ 2001)3. De este modo, los datos referidos a la
flora antigua originados en los propios restos arqueobotánicos macroscópicos, consolidaron un segundo
argumento, el de la circulación regional de bienes, recursos e ideas desde y hacia ambas vertientes de Los
Andes. En ese marco, la cuenca de Antofagasta de la Sierra se situaba en una posición intermedia. En la
trama de redes de interacción la agricultura valliserrana, anteriormente referida, encontraría un eslabón en
la Puna salada para alcanzar el área circumpuneña chilena (NÚÑEZ et al. 2009). La cuenca coparticiparía así,
de lo pastoril con la vertiente occidental y de lo agrícola-recolector con las tierras orientales del Noroeste
argentino. Toda esta última región sería a su vez, marginal y heredera de las áreas andinas centrales de Perú
y Bolivia de los procesos domesticatorios vegetales (OLIVERA 2001).
Especies leñosas combustibles y empleadas en la manufactura de artefactos y especies herbáceas
utilizadas para este último fin y en el acondicionamiento de los espacios de habitación (PÉREZ DE MICOU y
ANCÍBOR 1994; RODRÍGUEZ 1999, 2000, 2004, 2013, entre otras), eran consistentes con una economía de
cazadores-recolectores extractivos, que basaban su subsistencia en la caza de camélidos y otras presas
menores (ver análisis en BABOT 2011 y menciones al tema en HABER 2006). Los estudios de áreas de
captación de recursos realizados a partir de relevamientos de la flora moderna en relación a los sitios
arqueológicos (RODRÍGUEZ 1996/1998 2013) y los registros de utilidad recopilados durante los
relevamientos etnoarqueológicos apoyaban esta idea. En ellos abundan las referencias a la flora nativa
conformadora del paisaje “natural”, y registros de las plantas útiles mayormente acotados a los usos
forrajeros, combustibles, medicinales y constructivos (OLIVERA 1992, 2006 y obras citadas por el autor).
Durante años este panorama contribuyó a sostener los argumentos referidos a sociedades organizadas casi
exclusivamente en torno al recurso Camelidae. No se contaba con indicadores de aportes vegetales a la dieta

2
Paralelamente, en la Puna seca estas valoraciones se encuadraron en modelos de optimización, arribando a
conclusiones similares que asumen que el impulso agrícola se localizó en los valles debido a su potencial productivo
(LEMA 2008).
3
Esta situación se replica en la Puna seca (FERNÁNDEZ DISTEL 1986; ASCHERO y YACOBACCIO 1998/1999, entre otros).

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ni con elementos que permitieran sostener la ocurrencia de iniciativas autóctonas de manejo vegetal, al
menos hasta entrado el primer milenio D.C. (MUSCIO 2001; OLIVERA 2001; YACOBACCIO et al. 1997-98).
Las identificaciones de materias primas vegetales y los estudios de áreas de captación
constituyeron los inicios de una Arqueología de las plantas en el área. Claramente, el conocimiento sobre la
flora logrado desde estos enfoques, constituyó un insumo para la construcción de la identidad ganadera-
pastoril de las poblaciones locales del Holoceno tardío, para caracterizar el perfil extractivo de las economías
cazadoras-recolectoras previas y para enfatizar en aspectos de la circulación regional de materias primas
vegetales y objetos foráneos manufacturados sobre ellas. Al subordinar el estudio de las plantas a la
construcción y reafirmación de la identidad cazadora/pastoril de las sociedades ancestrales, no llevaron a un
cambio de perspectiva sobre su rol en el pasado. En mayor o menor medida, los arquetipos sobre la Puna
discutidos en acápites anteriores parecen haber influido en algunos de estos argumentos y enfoques.
En los últimos quince años y en especial, durante la última década, el conocimiento y los discursos
sobre la flora moderna y arqueológica en la porción de la Puna seca se han ampliado. Jugaron un papel
central en esto, los aportes de los estudios de procesamiento y consumo vegetal a partir de microfósiles en
artefactos (BABOT 2001 y trabajos posteriores), de dieta a través de isótopos estables (OLIVERA y
YACOBACCIO 1999 y trabajos posteriores), la caracterización molecular de arqueocultivos andinos (BABOT et
al. 2013a) y un interés en la recuperación y análisis de macrorrestos vegetales de importancia alimenticia
(AGUIRRE 2012; AGUIRRE et al. 2010; ARRÉGUEZ et al. 2013; BABOT et al. 2007, 2009, 2013b; BABOT y
HOCSMAN 2014; OLISZEWSKI y OLIVERA 2009; RODRÍGUEZ et al. 2006; entre otros). Estos datos se vieron
reflejados en revisiones y cambios en la valoración del papel de las plantas y en la expresión de la necesidad
de su mejor estudio (ASCHERO 2010; ASCHERO y HOCSMAN 2011; BABOT 2009a, 2011; HOCSMAN 2006;
OLIVERA 2006; OLIVERA y YACOBACCIO 1999; YACOBACCIO 2006).
Un hilo conductor en este proceso reciente ha sido el desarrollo de diseños de investigación
orientados desde perspectivas y preguntas arqueo y etnobotánicas y centradas en las interacciones entre las
plantas y las sociedades puneñas. Entre ellos se encuentran estudios referidos a la gestión pasada y presente
de los combustibles vegetales (AGUIRRE 2012; ESCOLA et al. 2013a); a historias culinarias, modos y saberes
técnico-artesanales sobre las plantas (BABOT 2008, 2009a, 2009b, 2011; BABOT y APELLA 2016; BABOT et al.
2012); al cultivo de altura y manejo local de plantas domesticadas (BABOT et al. 2013a, 2013b; ESCOLA et al.
2013b). También, ha habido una autocrítica, perfeccionamiento y búsqueda de complementariedad de las
metodologías arqueobotánicas de campo y laboratorio. Esto ha permitido identificar la “ausencia
metodológica” de ciertos taxa útiles (por ejemplo, AGUIRRE et al. 2010; ARRÉGUEZ et al. 2015; BABOT 2004,
2010; BABOT et al. 2013a, 2013c, 2014). A ello se han sumado otras perspectivas no arqueobotánicas, tales
como los estudios de las manifestaciones simbólicas de la agricultura en el arte rupestre mediante diseños
de “chacras” y campos (ASCHERO et al. 2006), y de los propios espacios de cultivo y canales de riego que

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MARÍA DEL PILAR BABOT

permitieron establecer su complejidad constructiva y manejo ambiental (SALMINCI et al. 2014;


TCHILINGUIRIAN y OLIVERA 2000, entre otros). Todos estos avances teóricos, metodológicos y también
empíricos han contribuido a revertir preconceptos, a integrar conocimientos antes ausentes en los discursos
arqueológicos regionales y finalmente, a comprender mejor el papel de las plantas para sus antiguos
habitantes, dándole profundidad temporal.
Paralelamente, estudios interesados en temas diversos como las tradiciones culinarias (BABOT et
al. 2012; LEMA et al. 2012), el cultivo de plantas silvestres y domesticadas (LEMA 2006, 2009), la agricultura
en campos y el cultivo de las vegas (QUESADA 2006; QUESADA y LEMA 2011), la arboricultura y
silvopastoralismo (MCROSTIE 2014) y la gestión de combustibles vegetales (JOFRÉ 2007; JOLY et al. 2009) se
han emprendido en otros sectores de la Puna salada, la Puna seca y la Puna chilena. Estos aportes y los
realizados desde la cuenca de Antofagasta de la Sierra se suman en esta apertura a pensar a las tierras altas
no desde su escasez sino ya desde su propia fertilidad y sus potencias.

Aportes para una Arqueología de las plantas en el desierto


Como fuera mencionado anteriormente, en nuestra área de estudio pueden identificarse dos
grandes movimientos en lo referente a las investigaciones sobre las plantas y la gente. Por un lado, un
cambio desde los estudios de la flora con fines arqueológicos hacia los estudios arqueobotánicos. Por otro
lado, un desplazamiento desde un desarrollo de la Arqueobotánica como insumo para la construcción de la
identidad cazadora/pastora hacia una Arqueobotánica que hace foco en el componente vegetal de la vida en
el desierto. En esta sección realizaremos un breve repaso por algunos de los enfoques que hemos
implementado en nuestras investigaciones en la cuenca de Antofagasta de la Sierra, con el propósito de
ilustrar desde nuestra experiencia, algunos de los puntos que se han sostenido en las secciones anteriores
del trabajo y reflexionar sucintamente en sus principales contribuciones a una Arqueología de las plantas en
el desierto.
Podemos sostener que gracias a todo el conocimiento acumulado en el área a largo de décadas de
trabajo, ha sido posible y necesario a la vez, realizar un cambio de énfasis hacia la recuperación de
conocimientos botánicos referidos a las múltiples interacciones de la gente con las plantas, orientado a
cambiar sentidos y complementar otros. Necesariamente, ello ha implicado mirar a los paisajes desde otras
perspectivas, considerar la posibilidad de otras imágenes que no son tan populares; volver a consultar a los
habitantes locales y a los documentos que se refieren al conocimiento botánico tradicional, pero esta vez,
haciendo búsquedas amplias; e interrogar a los registros arqueológicos y orales acerca del significado de los
datos negativos y de la firmeza o sostenibilidad de las ausencias. Este es un ejercicio periódico, en absoluto
acabado que, necesariamente, también ha interpelado a la producción propia, quedando ésta siempre sujeta
a revisión.

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NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

Los cambios de enfoques, en donde son las preguntas las que varían, son los que en definitiva nos
posicionan como observadores e intérpretes desde el momento mismo de la construcción de colecciones de
referencia en adelante (por ejemplo, BABOT y KORSTANJE 2008). En nuestro caso, esas fueron preguntas
tales como las siguientes: ¿Acaso las ausencias en los registros orales podrían explicarse por la falta de
demanda específica de información sobre ciertos taxa y ciertos usos, pues los interrogantes se orientaban
hacia otros aspectos de las sociedades puneñas que eran de principal interés cuando las entrevistas fueron
formuladas? ¿Estarían condicionadas por la especialización de los informantes y de los entrevistadores, por
sus preferencias? ¿Habría temas evitados en las entrevistas abiertas por cuestiones referidas a creencias o
tabúes pasibles de algún tipo de sanción social? ¿Ocurrirían cambios o pérdidas de conocimientos sobre las
plantas en la larga duración abarcada entre el presente y el pasado arqueológico del área que introdujeran
sesgos en lo referente a sus potencialidades, modos de uso y significados de las plantas? ¿Acaso las
ausencias en los registros materiales podrían responder a su invisibilización -aún estando presentes en los
contextos arqueológicos, no alcanzaban a ser evidentes como dato-? ¿Debido a eso, sería necesario trabajar
con otros proxies, ajustar los protocolos de campo y laboratorio, apreciar los procesos que podrían afectar la
preservación y luego, volver la mirada a los paisajes antropizados/intervenidos con nuevas preguntas? (por
ejemplo, AGUIRRE et al. 2010; BABOT 2011). Evitar asumir los negativos como ausencias efectivas a priori y
más bien, problematizarlos, inquirirlos y reintentar positivos por otros medios, fueron en nuestro caso,
algunas de las claves para superarlos, al menos en parte.
En trabajos previos nos hemos referido a distintos aspectos de los enfoques que asumimos en
nuestra investigación sobre el papel de las plantas útiles en el pasado (BABOT 2003, 2004, 2007, 2008,
2009a, 2010, 2011; BABOT et al. 2012, 2013c, 2014; ESCOLA et al. 2013b). Estos se sintetizan en la Figura 4
(tomada de BABOT 2009a:10), que ilustra como los datos sobre procesamiento y consumo, inicialmente y
más recientemente también, los referidos al cultivo, se integran en un abordaje metodológico multivariado y
multiescalar. De acuerdo con este abordaje, asumimos que las fuentes sobre los saberes tradicionales
(etnográficas, etnoarqueológicas, folclóricas e históricas) con su propio dinamismo, historicidad y
perspectiva y el registro arqueobotánico macro-regional que ya ha sido documentado, constituyen una base
apropiada para formular modelos acerca de las diversas trayectorias de las plantas útiles. Tales modelos nos
permiten generar expectativas para nuestros propios estudios de caso y también nos proporcionan un marco
interpretativo. Múltiples variables pueden ser analizadas a partir de los datos arqueobotánicos siguiendo ese
esquema: las modalidades de producción y procesamiento; los subproductos y desechos obtenidos; los
espacios de actividad; los utensilios y elementos no artefactuales asociados a la obtención, procesamiento,
manipulación y consumo; los actores involucrados; los ciclos y momentos en los que las actividades tienen
lugar y el carácter y significado de las mismas. Esta constituye una propuesta de perspectiva integral de las
prácticas tradicionales sobre las plantas que permite conectar los saberes del presente y del pasado

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arqueológico.

Figura 4: Múltiples variables para el análisis de trayectorias de recursos vegetales a partir de información actualística,
sus referentes materiales en los contextos arqueológicos y estrategias analíticas para su estudio (Tomado de: BABOT,
2009a:19).

Debido a la naturaleza fragmentaria del registro arqueológico, consideramos que para efectuar una
valoración completa de las trayectorias, modos de uso y roles de las plantas en circunstancias particulares,
es preciso trabajar a múltiples escalas en la documentación de los indicadores arqueológicos. Es decir, que se
requiere identificar los referentes materiales de esos aspectos que están presentes en: los restos
arqueobotánicos, sus contextos de hallazgo, las asociaciones que integran y los artefactos y áreas de
actividad vinculadas con su procesamiento (BABOT 2009a). Esto implica el poner a dialogar varias líneas de
evidencia, materialidades y técnicas arqueobotánicas, etnobotánicas, arqueométricas y experimentales
(Figuras 5, 6 y 7). En esta visión de conjunto el dato arqueobotánico es integrado con la data tecno-tipológica
de los artefactos -esencial al trabajar con microfósiles en residuos-, y con aspectos de la creación y
organización de los espacios habitados (por ejemplo, BABOT 2011; BABOT et al. 2012; BABOT et al. 2013c;
ESCOLA et al. 2013b). Es finalmente, el criterio de coherencia el que media en la interpretación y
construcción del discurso arqueobotánico, al igual que en otros ámbitos de la práctica arqueológica.

Figura 5: Trabajo de laboratorio. a) Valeria Olmos y Julia Lund, confección de colección de referencia para estudios de
microfósiles. b) Romina Piccón Figueroa, muestreo de artefactos arqueológicos para estudio de microfósiles. c)
Inspección de sedimentos tamizados en seco para la recuperación de pequeños restos arqueobotánicos.

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Figura 6: Trabajo etnobotánico en huertas de altura en Antofagasta de la Sierra. a-d) Huertas en la Quebrada del Río Las
Pitas, sobre los 3600 msnm: a) espacio bajo cultivo y otro en preparación, a la vera del río; b) Jacoba y Ramón Morales
junto al lado externo del cerco vivo de la huerta; e) Jacoba y Julio Morales, Carlos Aschero y Álvaro Martel junto a los
cultivos de quinua y papa en el interior de la huerta; d) huerta de la familia Morales sobre los 3700 msnm. e) Maíz en
huerta de la familia ¿?, Quebrada de Miriguaca, sobre los 3600 msnm. f) Quinua en la huerta de Rosa Salva, junto a
Richard Joffré, Daniel Bertero, Pilar Babot y Thierry Winkel, ciudad de Antofagasta de la Sierra, 3500 msnm (Fotografías
d-e, cortesía de Salomón Hocsman).

Figura 7: Trabajo experimental. a-d) Distintos momentos de la cocción experimental al rescoldo de tuberosas andinas
de los géneros Solanum, Oxalis y Ullucus. e-f) Tubérculos cocidos, previo al muestreo para la colección de referencia
experimental de microfósiles.

Entendemos que la clase de conocimiento logrado sobre las plantas depende en gran medida del
tipo de evidencias empleadas en su construcción. En la cuenca de Antofagasta de la Sierra por muchos años
tales evidencias fueron únicamente los macrorrestos arqueobotánicos, recuperados al término de su vida
útil. Desde la última década y media, el estudio de microrrestos, incluyendo a los microfósiles y residuos

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MARÍA DEL PILAR BABOT

químicos de origen vegetal ha permitido complementar a la data macro en varios aspectos. En la tabla 1
(anexo) se encuentra una síntesis de las contribuciones realizadas desde esta línea de evidencia.
Entre los aspectos que el estudio de microvestigios ha permitido abordar, podemos citar el acceder
a distintas etapas en las trayectorias de las plantas (prácticas pre y post-harvest), conocer los loci y las
materialidades asociadas a su historia de vida y en especial, vincularlos con los objetos empleados en su
manipulación. En su conjunto, ello ha posibilitado colaborar en una mejor caracterización de las decisiones
artesanales y de los antiguos modos de hacer y usar. Además, al situar a las prácticas de manejo en el lugar
en el que ocurrieron, han permitido postular la existencia de saberes ejercidos localmente. Esto es de
importancia en circunstancias históricas como las que corresponden a la Puna salada, en las que la
circulación regional de bienes, objetos e ideas ha sido una constante histórica.
De este modo, el estudio de los componentes arqueobotánicos microscópicos ha constituido un
insumo para encontrar puntos de encuentro entre los antiguos saberes locales sobre las plantas y los
saberes regionales actuales (ALDUNATE et al. 1981; ROMO et al. 1999; VILLAGRÁN y CASTRO 2003;
VILLAGRÁN et al. 1998a, 1998b, 1999, 2003). Estos permiten plantear la existencia de relaciones sociales de
largo plazo involucradas en los saberes compartidos que conforman tradiciones. Aquí nos referimos a un
“saber hacer” o saber puesto en práctica y a su transmisión intergeneracional, que va más allá del
intercambio de objetos terminados (BABOT 2009a, 2011; BABOT et al. 2012). Consideramos que es en la
posibilidad de dar profundidad temporal a estos saberes sobre las plantas y modos de hacer en donde la
Arqueobotánica encuentra una de sus mayores fortalezas. También, en la posibilidad de recuperar aspectos
tradicionales de las prácticas referidas a las plantas que se han perdido o invisibilizado (BABOT 2008), en
especial desde la Colonia en adelante, dando cuenta también de sus cambios y de las circunstancias que los
motivaron4. Estos constituyen insumos de importancia en la construcción de los discursos sobre el pasado,
de gran potencia en ciertos casos.
Nuestro trabajo se ha integrado a otros conocimientos producidos por diferentes colegas durante
este cuarto de década, contribuyendo a una construcción colectiva que tiende a dar cuenta de una íntima
relación entre las sociedades puneñas y las plantas en el pasado. Éstas impregnaban aspectos cotidianos y
extraordinarios de los habitantes del desierto:
Los adhesivos vegetales, identificados a partir de los residuos microfósiles y químicos en zonas de
enmangue de artefactos líticos tallados (BABOT et al. 2009, 2013c), indican que, junto con los intermediarios
y astiles manufacturados en maderas foráneas (RODRÍGUEZ y MARTÍNEZ 2001), formaban parte activa de la
cotidianeidad de la caza.
Los tejidos en hojas de palmas (BABOT 2009a; RODRÍGUEZ y ASCHERO 2007), la cestería en fibra
vegetal (PÉREZ de MICOU y ANCÍBOR 1994) y los tintes e insumos del proceso de tinción logrados a partir de

4
Ver por ejemplo en Castro (2009) la estigmatización de las plantas rituales durante los procesos de extirpación de
idolatrías en el área atacameña.

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la manipulación de plantas y detectados mediante técnicas físico-químicas (BABOT y APELLA 2016; BABOT et
al. 2006), constituyeron elementos de uso regular y excepcional, en el ritual.
También lo fueron otras artesanías en calabazas y semillas diversas, manufacturadas al menos en
parte, en la localidad (BABOT 2009a; RODRÍGUEZ 1999, 2000, 2004, 2013).
Las gramíneas y poáceas se incluyeron en el acondicionamiento de los pisos de habitación en aleros
rocosos (RODRÍGUEZ 2004, 2013) y se usaron en techumbres de las viviendas agropastoriles, según el indicio
proporcionado por microfósiles residuales de las quemas.
Los tubérculos, raíces tuberosas, granos andinos, legumbres y frutos silvestres integraron la
alimentación de los cazadores-recolectores y sociedades agropastoriles de la cuenca, conformando
tradiciones culinarias documentadas en residuos microscópicos de comidas y restos macro y microscópicos
de su procesamiento y consumo (AGUIRRE 2012; ARRÉGUEZ et al. 2013; BABOT 2004; 2009a, 2009b, 2011;
BABOT y HOCSMAN 2014; BABOT et al. 2012; RODRÍGUEZ et al. 2006).
Estos alimentos procedían en parte del cultivo local de especies domesticadas (BABOT et al. 2013;
ESCOLA et al. 2013b; TCHILINGUIRIAN y OLIVERA 2000) y de la colecta de flora silvestre (BABOT 2011; LUND
y BABOT 2014) y en parte, del intercambio, implicando un fino conocimiento de los ciclos de las plantas y la
implementación de mecanismos para su preservación (BABOT 2009a, 2009b, 2011).
También se llevó adelante una agricultura de vegas para la generación de pasturas (QUESADA y
LEMA 2011), constituyendo un manejo de la flora intrínsecamente ligado al pastoreo. Sabemos que el cultivo
inspiró la realización de ritos, posiblemente propiciatorios y colectivos (ASCHERO et al. 2006).
Las ofrendas de alimentos en situaciones de comensalidad con los antepasados y entidades
sobrenaturales (BABOT et al. 2009, 2012) y la ocurrencia de ritos de purificación -ofrendas, sahumados-
(AGUIRRE 2012; BABOT et al. 2007, 2009) han sido documentadas a partir del análisis de macro y
microrrestos; otras prácticas implicadas en la cura y el consumo de alucinógenos y estimulantes han
comenzado a abordarse (GONZÁLEZ BARONI y BABOT 2013; OLMOS y BABOT 2014).
La gestión de las plantas empleadas como combustibles para fines diversos (AGUIRRE 2012;
ESCOLA et al. 2013a) se ha guiado, incluso hasta el presente, mediante complejos criterios que están
comenzando a ser comprendidos.
Finalmente, la supervivencia de las memorias puneñas sobre las plantas hasta la actualidad, más o
menos puestas en práctica en el presente, conforman un sólido argumento sobre la estrechez de la
vinculación con el mundo vegetal, que se encuentra en pleno estudio en nuestra área (CUELLO 2006; LEMA
2006; LUND y BABOT 2014; OLIVERA 2006; OLMOS y BABOT 2014; PÉREZ 2006).

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PALABRAS FINALES

En las páginas anteriores se han visitado diferentes perspectivas que rigieron a los estudios
referidos a la flora presente y pasada en la Puna argentina desde enfoques arqueológicos, en especial, a lo
acontecido en los últimos veinticinco años en el sector correspondiente a la Puna salada. Como resultado del
trabajo pensado y repensado por sucesivos investigadores a lo largo de este tiempo, la flora ha comenzando
a aparecer como una entidad íntimamente relacionada a diferentes esferas de la vida, entretejida en
diversas prácticas, desde las más cotidianas hasta las más excepcionales, incluyendo a la caza y el pastoreo,
emblemas de la identidad puneña. Algunas de ellas continúan hasta la actualidad, en las memorias y en las
acciones en el espacio macro-regional, aunque se encuentran en parte invisibilizadas. Paralelamente, existe
un movimiento en el mismo sentido que se extiende a los colegas estudiosos de la Arquebotánica en la Puna
seca argentina y la Puna chilena, que acompaña en esta apertura a pensar al desierto de altura, ya no desde
su escasez sino desde su propia fertilidad y sus potencias.

Agradecimientos
Quisiera agradecer a Rita Scheel-Ybert por su invitación a participar en este volumen y a Rafael
Milheira, editor de Cuadernos del LEPAARQ. A la familia Morales, en especial a Jacoba, Vicente y Julio;
también a Rita Salva y Daniel Morales por compartir conmigo sus saberes sobre las plantas puneñas. A los
colegas y alumnos con los que compartimos trabajos de campo y laboratorio arqueobotánicos, en especial a
Gabriela Aguirre, Julia Lund, Valeria Olmos, Cecilia Haros, Lucía González Baroni, Romina Piccón Figueroa,
Verónica Bajales y Jimena Vildoza. A Salomón Hocsman y Carlos Aschero por ser activos interlocutores y por
su motivación. A Cristina Apella y Daniel Bertero por acompañarme en la lectura interdisciplinaria de las
plantas en el pasado. A S. Hocsman quien me facilitó numerosas fotografías que ilustran el artículo. Este
trabajo se desarrolló en el marco de los proyectos FONCYT-PICT 2013-1703 dirigido por S. Hocsman y PIUNT
G503 y PIP-CONICET Nº 464 dirigidos por C. Aschero.

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NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

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ANEXOS:

Tabla 1: Taxones vegetales registrados a partir de microfósiles en residuos de uso y consumo arqueológicos de Antofagasta de la Sierra.

Taxón o registro vegetal Referencia del


Parte de la planta / Localización del registro Uso
indicado a partir de Sitio Cronología y Referencia Modo de uso dato de
Clase de microfósil arqueobotánico atribuido
microvestigios microvestigios
Hypseocharis 1 mortero, 1 molino, 1
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
pimpinellifolia J. Rémy, Raíz tuberosa / granos mano de molino Probable asado y Babot, 2004,
Alimento
Ann (Oxalidaceae) – de almidón 1 mano de molino machacado 2009a, 2009b
Soldaque PCh1.3 415±40 AP (Hocsman, 2007)

1 punta/cuhillo ca. 5500-4500 AP (Aschero et al., Babot et al.,


QS3 Asado con piel y corte
enmangada 1991) 2012, 2013
1 mano de molino y de
PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) Babot, 2004,
Oxalis tuberosa Mol. Tubérculo / granos de mortero Probable asado y
Alimento machacado / 2011
(Oxalidaceae) - Oca almidón y calcifitolitos 1 molino PCh1.3 3680±50 AP (Hocsman, 2007)
deshidratación por
3 molinos, 1 mortero, 1 congelamiento (post.
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b) Babot, 2004,
mano de molino 2000 AP) 2009a, 2009b
1 mano de molino PCh1.3 415±40 AP (Hocsman, 2007)
1 mano de molino y de Babot, 2004,
Solanum tuberosum L. PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999)
Tubérculo / granos de mortero Probable asado y 2011
(Solanaceae) - Papa Alimento
almidón 1 mortero, 1 molino machacado Babot, 2004,
común PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
doble 2009a, 2009b
1 mano de mortero
PCh.1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996) Babot, 2004,
Rizoma / granos de doble
Probable asado y 2011
almidón, silicofitolitos 1 mano de molino PCh1.3 3490±60 AP (Hocsman, 2007) Alimento
machacado
y calcifitolitos 1 molino, 1 preforma de Babot, 2004,
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
mortero 2009a, 2009b
Canna edulis Ker-Gwal. 1 mano de mortero
Semilla / granos de PCh.1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996) Babot, 2004,
(Cannaceae) - Achira doble Artesanal Abradido o sostén
almidón y silicofitolitos 2011
1 mano de molino PCh1.3 3490±60 AP (Hocsman, 2007)
1 mano de molino, 1 Babot, 2004,
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
preforma de mortero 2009a
1 mano de mortero Desecho Babot, 2004,
Vaina / silicofitolitos PCh.1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996) -
doble de proc. 2011
1 mano de molino doble QS3 4510±100 AP (Aschero et al., 1991)
Tubérculo / 1 mano de molino y de Babot, 2004,
Cyperaceae Alimento Machacado
Silicofitolitos mortero PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) 2011

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NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

Taxón o registro vegetal Referencia del


Parte de la planta / Localización del registro Uso
indicado a partir de Sitio Cronología y Referencia Modo de uso dato de
Clase de microfósil arqueobotánico atribuido
microvestigios microvestigios
1 mano de molino CSa1 6250±70-7500±60 AP (Pintar 2004)
Probable asado y Babot, 2004,
1 mano de molino y machacado 2011
QS3 ca. 6100 AP (Aschero, 1999)
percutor
3 puntas/cuhillos ca. 5500-4500 AP (Aschero et al., Asado con piel y Babot et al.,
QS3
enmangadas 1991) corte 2012, 2013
1 mano de molino y
QS3 4770±80 AP (Aschero et al., 1991)
percutor
1 mano de molino doble QS3 4510±100 AP (Aschero et al., 1991)
Probable asado y Babot, 2004,
1 mano de molino y de 2011
PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) machacado /
mortero
deshidratación por
1 mano de mortero congelamiento y
PCh.1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996)
Tubérculos / raíces no doble machacado (post.
Tubérculo / raíz / 3 molinos, 1 molino Alimento 2000 AP)
diferenciados o no
granos de almidón doble, 1 preforma de y otros Babot, 2004,
identificados PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
mortero, 2 morteros, 3 2009a, 2009b
manos de molino
2 cuchillos/raderas de
CChM1 1670-1530 AP (Olivera, 1992)
gran tamaño Babot et al.,
1 desecho de Cosecha 2008; Escola et
mantenimiento de PP9.I 1430±60 AP (Babot et al,. 2006b) al., 2013
cuchillo/radedera
1 vasija mediana Babot et al.,
PP9.I 1430±60 AP (Babot et al,. 2006b)
2012
Tártaro dental de 2 Cocido e ingesta Gonzalez
1388±45 AP / 1306±44 AP (Gonzalez
individuos PP9.I Baroni y Babot,
Baroni, 2013)
2013
1 mano de molino y
QS3 4770±80 AP (Aschero et al., 1991)
percutor Babot, 2004,
1 mano de molino doble QS3 4510±100 AP (Aschero et al., 1991) 2011
Alimento Desaponificado,
1 mano de molino PCh1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996)
pelado (húmedo?) /
Aff. Chenopodium quinoa Semilla o grano / 2 molinos PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b) probable tostado y Babot, 2004,
Willd. / Ch. pallidicaule granos de almidón, 1 mano de molino molienda
PCh1.3 415±40 AP (Hocsman, 2007) 2009a
(Chenopodiaceae) - calcifitolitos y
Quínoa y Cañigua silicofitolitos 1 escudilla pequeña Babot et al.,
PP9.I 1465±29 AP (Babot et al., 2007) Ofrenda
2012
2 cuchillos/raederas de Babot et al.,
gran tamaño CChM1 1670-1530 AP (Olivera, 1992) Alimento Siega de la panojas 2008; Escola et
al., 2013

361
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
MARÍA DEL PILAR BABOT

Taxón o registro vegetal Referencia del


Parte de la planta / Localización del registro Uso
indicado a partir de Sitio Cronología y Referencia Modo de uso dato de
Clase de microfósil arqueobotánico atribuido
microvestigios microvestigios
1 cuchillo/radera de gran
aff. Chenopodium quinoa CChM1 1670-1530 AP (Olivera, 1992)
Tallos, hojas, panojas / tamaño Babot et al.,
Willd. / Ch. pallidicaule Raleo y siege de las
anillos de celulosa, 1 desecho de Alimento 2008; Escola et
(Chenopodiaceae) - panojas
calcifitolitos mantenimiento de PP9.I 1430±60 AP (Babot et al,. 2006b) al., 2013
Quínoa y Cañigua
cuchillo/radedera
Amaranthus caudatus L./ Semilla o grano / 1 mano de molino Babot, 2004,
PCh1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996)
A. mantegazzianus granos de almidón, Pelado (húmedo?) y 2011
Alimento
(Amaranthaceae) - “Coimi” calcifitolitos y 2 molinos, 1 mano de molienda Babot, 2004,
y “Chaclión” silicofitolitos PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
molino 2009a
Chenopodium / 1 mortero fijo
Amaranthus Semilla o grano / Pelado (húmedo?) y Babot, 2004,
PP9.II 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b) Alimento
(Chenopodiaceae / granos de almidón molienda 2001, 2009a
Amaranthaceae)
Tártaro dental de 1 Estimula Gonzalez
Chenopodiaceae / Calcinado (llipta) –
Tallos, hojas y otros individuos PP9.I 1388±45 AP (Gonzalez Baroni, 2013) nte / Baroni y Babot,
Amaranthaceae Aditivo para coqueo
curativo 2013
1 mano de molino doble QS3 4510±100 AP (Aschero et al., 1991) Babot, 2004,
1 molino 2011
PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) Probable tostado,
pelado (húmedo?) y
6 artefactos de molienda PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b) molienda Babot, 2004,
Cariopse / granos de 1 mano de molino PCh1.3 415±40 AP (Hocsman, 2007) 2009a
almidón 1 vasija mediana PP9.I 1430±60 AP (Babot et al., 2006b) Alimento
Tostado y molido /
Babot et al.,
2 vasijas pequeñas PP9.III 1460±40 AP (López Campeny, 2001) mezclado en frío con
2012
1 fragmento cerámico PP9.I 1240±50 AP (Babot et al., 2009) algarroba
Zea mays L. (Poaceae) –
Maíz Tártaro dental de 1 Gonzalez
individuos PP9.I 1388±45 AP (Gonzalez Baroni, 2013) Cocido Baroni y Babot,
2013
1 mano de molino y de Babot, 2004,
PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999)
mortero 2011
Brácteas y marlo / 1 molino PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) Desecho
Pelado (húmedo?)
silicofitolitos 2 molinos, 2 morteros, 1 de proc.
Babot, 2004,
preforma de mortero, 2 PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
2009a
manos de molino

362
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

Taxón o registro vegetal Referencia del


Parte de la planta / Localización del registro Uso
indicado a partir de Sitio Cronología y Referencia Modo de uso dato de
Clase de microfósil arqueobotánico atribuido
microvestigios microvestigios
1 molino, 1 molino doble, Probable pelado
Babot, 2004,
Phaseolus vulgaris L. 1 mano de molino PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b) húmedo y tostado,
Semilla / granos de 2009a
(Fabaceae) - Poroto Alimento molienda
almidón y silicofitolitos
común 1 vasija mediana PP9.I 1430±60 AP (Babot et al., 2006b) Babot et al.,
Tostado y molienda
1 vasija pequeña PP9.III 1460±40 AP (López Campeny, 2001) 2012
1 mano de molino CSa1 6250±70-7500±60 AP (Pintar 2004) Babot, 2004,
Lagenaria siceraria (Mol.) Corteza del fruto / 1 mano de molino y de 2011
PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) Abradido con
Standl. (Cucurbitaceae) – silicofitolitos y granos mortero Artesanal
probable uso de agua
Mate de almidón 1 molino doble, 2 manos Babot, 2004,
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
de molino 2009a
1 mano de molino y de Babot, 2004,
PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999)
mortero 2011
1 molino PCh1.3 3680±50 AP (Hocsman, 2007) Molienda con
1 molino doble, 1 mano probable uso de agua
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b) Babot, 2004,
Pulpa de vaina / granos de Molino
2009a
Prosopis sp. (Fabaceae) - de almidón, 1 mano de mortero PP9.II 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b) Alimento
Algarrobo calcifitolitos,
1 vasija mediana PP9.I 1430±60 AP (Babot et al., 2006b) Tostado y molido /
silicofitolitos, fibras Babot et al.,
2 vasijas pequeñas mezclado en frío con
PP9.III 1460±40 AP (López Campeny, 2001) 2012
maíz
Tártaro dental de 2 Gonzalez
1388±45 AP / 1306±44 AP (Gonzalez
individuos PP9.I Masticado Baroni y Babot,
Baroni, 2013)
2013
1 mano de molino CSa1 6250±70-7500±60 AP (Pintar 2004)
1 mano de molino y de
Fruto / hoja / PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) Alimento
mortero Babot, 2004,
silicofitolitos, / señal Probable molienda 2011
Fabaceae 1 molino PCh1.3 3680±50 AP (Hocsman, 2007)
calcifitolitos y anillos ambienta húmeda
de celulosa 2 molinos, 2 morteros, 3 l?
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
manos de molino
1 mano de molino PCh1.3 415±40 AP (Hocsman, 2007)
1 molino Babot, 2004,
Juglans australis Griseb. PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999)
Fruto / silicofitolitos y Probable uso de agua 2011
(Juglandaceae) - Nuez
anillos de celulosa 1 mano de molino y molienda Babot, 2004,
criolla PCh1.3 415±40 AP (Hocsman, 2007)
2009a

363
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
MARÍA DEL PILAR BABOT

Taxón o registro vegetal Referencia del


Parte de la planta / Localización del registro Uso
indicado a partir de Sitio Cronología y Referencia Modo de uso dato de
Clase de microfósil arqueobotánico atribuido
microvestigios microvestigios
1 mano de molino y
QS3 4770±80 AP (Aschero et al., 1991)
percutor
Babot, 2004,
1 mano de molino doble QS3 4510±100 AP (Aschero et al., 1991)
2011
Opuntia sp. (Cactaceae) - 1 mano de molino y de Probable uso de agua
Fruto / silicofitolitos PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) Alimento
Penca mortero y molienda
1 molino PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999)
1 molino doble, 1 Babot, 2004,
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
mortero 2009a
1 mano de molino CSa1 6250±70-7500±60 AP (Pintar 2004)
1 mano de molino y
QS3 ca. 6100 AP (Aschero, 1999)
percutor
1 mano de molino doble QS3 4510±100 AP (Aschero et al., 1991)
1 mano de molino y de
PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999) Babot, 2004,
mortero
2011
1 molino PP4 4100-3200 AP (Aschero, 1999)
1 mano de mortero
PCh.1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996)
Hoja y pecíolo de hoja doble Artesanal
/ silicofitolitos 1 mano de molino PCh1.1 3660±60 AP (Pintar, 1996) /
Probable uso de agua,
1 molino PCh1.3 3680±50 AP (Hocsman, 2007) Alimento
Poaceace molienda ? /
? / señal
1 mano de molino PCh1.3 3490±60 AP (Hocsman, 2007) Masticado
ambienta
5 molinos, 1 molino l?
doble, 1 mortero, 1
PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
preforma de mortero, 4 Babot, 2004,
manos de molino 2009a
1 mano de mortero PP9.II 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
1 mano de molino PCh1.3 415±40 AP (Hocsman, 2007)
Cariopse / hoja y
Gonzalez
pecíolo de la hoja / Tártaro dental de 3 1388±45 AP / 1306±44 AP (Gonzalez
PP9.I Baroni y Babot,
granos de almidón, individuos Baroni, 2013)
2013
silicofitolitos
1 mano de molino CSa1 6250±70-7500±60 AP (Pintar 2004) Babot, 2004,
2011
aff. Acrocomia sp. 1 mano de molino doble QS3 4510±100 AP (Aschero et al., 1991)
(Arecaceae) Hoja y/o pecíolo de Probable uso de agua
Artesanal
hoja / silicofitolitos 3 molinos, 1 mano de y machacado
Babot, 2004,
molino, 1 preforma de PP9.I 2000-1100 AP (Babot et al., 2006b)
2009a
mortero

364
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
NOTAS SOBRE LA ARQUEOLOGÍA DE LAS PLANTAS EN UN DESIERTO DE ALTURA

Taxón o registro vegetal Referencia del


Parte de la planta / Localización del registro Uso
indicado a partir de Sitio Cronología y Referencia Modo de uso dato de
Clase de microfósil arqueobotánico atribuido
microvestigios microvestigios
Hoja / granos de Tártaro dental de 2 Estimula Gonzalez
Erythroxylum sp. 1388±45 AP / 1306±44 AP (Gonzalez Insalivado junto a un
almidón, calcifitolitos, individuos PP9.I nte / Baroni y Babot,
(Erythroxylaceae) - coca Baroni, 2013) aditivo alcalino
fragmentos de tejido curativo 2013
Resinas y/o gomas 5 puntas/cuhillos ca. 5500-4500 AP (Aschero et al., Babot et al.,
QS3 Adhesivo Calentado y aplicación
Especies resinosas y vegetales / residuos enmangadas 1991) 2012, 2013
gomosas químicos y partículas 1 escudilla pequeña Sahumad Babot et al.,
con calcifitolitos PP9.I 1465±29 años AP (Babot et al., 2007) Quemado
o? 2012
Referencias. Abreviaturas de los sitios: QS3: Quebrada Seca 3, CSa1: Cueva Salamanca 1, PP4: Punta de la Peña 4, PCh1.1: Peñas Chicas 1.1, PCh1.3: Peñas Chicas 1.3, PP9.I: Punta de la Peña
9.I, PP9.II: Punta de la Peña 9.II, PP9.III: Punta de la Peña 9.III.

Recebido em:16/04/2016
Aprovado em:16/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
VESTÍGIOS MACROBOTÂNICOS CARBONIZADOS NA AMAZÔNIA CENTRAL: O QUE
ELES NOS DIZEM SOBRE AS PLANTAS NA PRÉ-HISTÓRIA?
CHARRED MACROBOTANICAL REMAINS FROM CENTRAL AMAZON: WHAT DO THEY
TELL US ABOUT PLANTS IN PREHISTORY?

Francini Medeiros da Silva


Myrtle Pearl Shock
Eduardo Góes Neves
Rita Scheel-Ybert

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Vestígios macrobotânicos carbonizados na Amazônia Central: o que eles nos dizem
sobre as plantas na pré-história?

Francini Medeiros da Silva1


Myrtle Pearl Shock2
Eduardo Góes Neves3
Rita Scheel-Ybert4

Resumo: O estudo sobre a ocupação humana na Amazônia Central privilegiou, até recentemente, a análise
de vestígios arqueológicos mais facilmente preservados no contexto tropical. Nos últimos anos este cenário
recebeu a contribuição de pesquisas com micro e macrovestígios vegetais. Neste contexto insere-se a
análise dos remanescentes macrobotânicos carbonizados dos sítios Osvaldo, Lago Grande e Açutuba,
estado do Amazonas, que evidenciou a presença de recursos alimentícios tais como fragmentos de
coquinhos, tubérculos, sementes e milho, além de fragmentos de madeira (lenho) carbonizados. A
distribuição destes elementos botânicos entre as camadas arqueológicas sugere que diferentes atividades
culturais foram responsáveis pela constituição do registro arqueológico dos remanescentes vegetais
carbonizados e que algumas destas prevaleceram em relação a outras em momentos distintos da ocupação
dos sítios.

Palavras-Chave: Arqueobotânica, Amazônia, macrovestígios.

Abstract: Until recently the study of human occupation in the Central Amazonia focused on the analysis of
archaeological remains with better preservation in this tropical context. The scenario has changed in recent
years with contributions from research on micro and macrobotanical remains. We add to this with the
analysis of charred macrobotanical remains from the archaeological sites of Osvaldo, Lago Grande, and
Açutuba, Amazonas State. In these sites, food resources such as palm nut fragments, tubers, seeds, and
maize were retrieved, in addition to wood. The distribution of these botanical elements in the archeological
layers suggests that different cultural activities were responsible for the composition of the record.
Moreover, they suggest that at different times during the occupation of these sites the usage of some types
of the charred plant remains prevailed over others.

Keywords: Archaeobotany, Amazon, macroremains.

INTRODUÇÃO

Os primeiros estudos com vestígios botânicos recuperados em contextos arqueológicos surgiram


em meados do século XIX, em regiões da Europa e da África (cf. MIKSICEK 1987; PEARSALL 2000;

1 Centro Nacional de Arqueologia, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNA/IPHAN), Brasil. E-mail: [email protected]
2 Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Brasil. E-mail: [email protected]
3 Laboratório de Arqueologia dos Trópicos, Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo (ARQUEOTROP - MAE/USP), Brasil. E-mail:

[email protected]
4 Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem, Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Departamento de Antropologia, Museu Nacional,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected]


FRANCINI MEDEIROS DA SILVA, MYRTLE PEARL SHOCK, EDUARDO GÓES NEVES E RITA SCHEEL-YBERT

RODRIGUEZ 2008; WRIGHT 2010). No Brasil, e em especial na Amazônia, a Arqueobotânica é uma disciplina
ainda pouco explorada em comparação com os estudos realizados com outros tipos de remanescentes
culturais, devido, em parte, às dificuldades em se recuperar vestígios botânicos nos sítios arqueológicos.
Os trabalhos desenvolvidos na região Amazônica têm procurado, nas últimas décadas, responder
a uma série de questões relacionadas à domesticação de plantas, à prática da agricultura, bem como ao
manejo da floresta e aos tipos de alimentos consumidos pelas antigas populações, utilizando-se, para isso,
a análise de diferentes vestígios arqueológicos, tanto orgânicos quanto inorgânicos (e.g. ARCHILA 2005;
BOZARTH et al. 2009; MORCOTE-RIOS e BERNAL 2001; MORCOTE-RIOS 2006; PERRY 2004, 2005; PIPERNO
1990; ROOSEVELT 1980; ROOSEVELT et al. 1996).
Estudos realizados nos últimos anos, com macro e microvestígios vegetais em sítios arqueológicos
na Amazônia Central, revelaram a presença de plantas com alto valor alimentício tais como milho, abóbora,
palmeiras, raízes e tubérculos, incluindo mandioca (BOZARTH et al. 2009; CAROMANO 2010; CASCON
2010). Além disso, tais estudos têm contribuído amplamente para evidenciar a intervenção humana sobre a
paisagem.
Neste sentido, a pesquisa desenvolvida com macrovestígios vegetais carbonizados recuperados
nos sítios arqueológicos Açutuba, Osvaldo e Lago Grande, localizados na Amazônia Central, cujos resultados
serão apresentados neste artigo, procurou contribuir com os estudos realizados até o momento. A
identificação de diversas estruturas orgânicas sugere que sua presença nos sítios arqueológicos é resultado
da prática de diferentes atividades culturais desenvolvidas continuamente, que resultaram na preservação
dos vestígios vegetais nos sítios arqueológicos.

AMAZÔNIA CENTRAL: OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS AÇUTUBA, OSVALDO E LAGO GRANDE

Os sítios arqueológicos Açutuba, Osvaldo e Lago Grande localizam-se próximos à confluência dos
Rios Negro e Solimões, no município de Iranduba, estado do Amazonas, uma região intensamente
explorada pelo Projeto Amazônia Central (PAC)5 (Figura 1). No âmbito deste projeto foram realizadas
diversas intervenções, nestes e em outros sítios localizados na região, cujas pesquisas contribuíram para o
estabelecimento do tamanho e da forma dos assentamentos e da duração das ocupações dos sítios
arqueológicos (LIMA e NEVES 2011), além do refinamento da cronologia proposta por Peter Hilbert na
década de 1960 (LIMA et al. 2006).

5
O Projeto Amazônia Central (PAC) foi criado em 1995 pelos professores Eduardo Góes Neves (Museu de Arqueologia
e Etnologia da Universidade de São Paulo), Michael J. Heckenberger (Departamento de Antropologia da Universidade
da Flórida) e James Petersen (Departamento de Antropologia da Universidade de Vermont).

368
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
VESTÍGIOS MACROBOTÂNICOS CARBONIZADOS NA AMAZÔNIA CENTRAL: O QUE ELES NOS DIZEM SOBRE AS PLANTAS
NA PRÉ-HISTÓRIA?

Nesta perspectiva, foi definida para a Amazônia central uma sequência cronológica composta
pelas fases cerâmicas Açutuba, Manacapuru e Paredão, vinculadas à Tradição Borda Incisa, e a fase Guarita,
vinculada à Tradição Polícroma da Amazônia (LIMA e NEVES 2011). Para além das diferenças tecnológicas e
a decoração dos artefatos, os estudos evidenciaram a presença de artefatos culturais correlacionados a
atributos paisagísticos observados nos sítios.
As pesquisas revelaram uma associação recorrente entre a cerâmica Açutuba, datada entre os
séculos III a.C a IV d.C, e “substratos profundos e matrizes de solo não antrópicas” (LIMA et al. 2006; LIMA
2008:263). As evidências ainda sugeriram a existência de assentamentos sedentários pouco densos e
concentrados, resultando em um registro arqueológico de baixa densidade cerâmica em áreas restritas
(LIMA 2008). As cerâmicas vinculadas à fase Manacapuru, datada entre os séculos VI a X d.C (LIMA et al.
2006), foram correlacionadas a “um gradual aumento demográfico, demonstrado pelo aumento de
tamanho, densidade e quantidade de sítios” (LIMA 2008:362), além do advento das terras pretas antrópicas
(NEVES 2010). Os sítios associados à fase Paredão, datada entre os séculos VII a X d.C (NEVES e PETERSEN
2005), foram associados à ocorrência de montículos artificiais, interpretados, inicialmente, como unidades
habitacionais distribuídas ao redor de uma praça central (MORAES 2006; LIMA 2008). A fase Guarita, por
sua vez, datada entre os séculos X até XVI d.C (NEVES e PETERSEN 2005), é relacionada a uma mudança na
organização do espaço nos sítios arqueológicos, como, por exemplo, a ocorrência de assentamentos
lineares, voltados para as margens dos rios (LIMA 2008), assim como, por vezes, à ausência de depósitos de
terra preta ou a depósitos pouco espessos (NEVES 2010).

Figura 1: Localização dos sítios arqueológicos na área de confluência dos rios Negro e Solimões (Mapa de base:
HydroSHEDS digital elevation model).

369
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
FRANCINI MEDEIROS DA SILVA, MYRTLE PEARL SHOCK, EDUARDO GÓES NEVES E RITA SCHEEL-YBERT

Sítio Açutuba (AM-Ir-02)


Este sítio está localizado às margens do Rio Negro, um rio de ‘água preta’, caracterizado por não
transportar muito sedimento (SOARES 1991), sendo este, em geral, constituído de areia e caolinita (JUNK
1983), contribuindo para a formação de solos arenosos. Trata-se de um sítio multicomponencial, “com uma
estratigrafia que indica a ocorrência regular de pelo menos quatro ocupações distintas” (LIMA et al.
2006:35), vinculadas às fases cerâmicas Açutuba, Manacapuru, Paredão e Guarita, em um contexto
cronológico de ocupação e reocupação do sítio que se estende do século XI a.C até o século XIV d.C (LIMA
2008).
Dentre as intervenções realizadas pelo PAC, foi escavada uma unidade de 1m² em uma área
periférica do sítio, a qual foi denominada de T9. A escavação dessa unidade atingiu 130 cm de
profundidade e revelou tratar-se de uma área de contexto unicomponencial associado à cerâmica Açutuba,
com ausência de terra preta antrópica (Figura 2). As pesquisas nas demais áreas do sítio evidenciaram a
presença de cerâmicas pertencentes às fases Manacapuru, Paredão e Guarita, associadas a outros tipos de
contextos (LIMA 2008), dentre os quais a ocorrência de terra preta antrópica.

Figura 2: Perfil estratigráfico da unidade T9 escavada no sítio Açutuba (Fonte: adaptado de LIMA, 2008:86).

Sítio Osvaldo (Am-Ir-09)


Este sítio está localizado na margem sul do Lago do Limão, um tributário da margem direita do rio
Ariaú, no topo plano de um morro cuja aparência lhe confere a característica de uma península de
orientação Norte-Sul, conectando-se com a margem do lago no seu limite norte, e sendo delimitado por
enseadas conectadas ao lago nos seus limites oeste, sul e nordeste (MORAES 2006; PORTOCARRERO 2007).
O tipo de solo característico dessa área é descrito como oxisol amarelo e argiloso com ph ácido e baixa

370
Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
VESTÍGIOS MACROBOTÂNICOS CARBONIZADOS NA AMAZÔNIA CENTRAL: O QUE ELES NOS DIZEM SOBRE AS PLANTAS
NA PRÉ-HISTÓRIA?

capacidade agrícola (PORTOCARRERO 2007). Assim como grande parte dos sítios arqueológicos
amazônicos, o sítio Osvaldo é caracterizado pela presença de terra preta antrópica.
Das diversas intervenções realizadas pelo PAC, uma unidade de 1 m² foi escavada na área de
maior concentração cerâmica do sítio, a qual foi denominada de S710 E1966. A escavação dessa unidade
atingiu 105 cm de profundidade, apresentando um depósito de terra preta antrópica de aproximadamente
80 cm de profundidade (PORTOCARRERO 2007:37) (Figura 3).
A análise do perfil estratigráfico e dos vestígios cerâmicos recuperados na unidade S710 E1966
confirmaram o que os estudos estabelecidos nas demais áreas do sítio sugeriram, ou seja, tratar-se de uma
ocupação unicomponencial associada à fase Manacapuru (LIMA 2008). As pesquisas evidenciaram, ainda, a
presença de fragmentos cerâmicos associados à fase Paredão, dispostos desde os níveis mais profundos
(70-80 cm) até os níveis mais superficiais (PORTOCARRERO 2007), e uma discreta ocorrência de fragmentos
cerâmicos vinculados à fase Açutuba entre os níveis 80-100 cm da unidade S710 E1966 (LIMA 2008).
As datações radiocarbônicas obtidas especialmente para esta unidade, em razão do maior
controle estratigráfico da coleta das amostras, sugeriram tratar-se “[...] de uma aldeia intensamente
ocupada entre fins do século VII e início do VIII d.C [...]” (LIMA 2008:239), caracterizada pela presença das
cerâmicas das fases Manacapuru e Paredão. Neste sentido, as pesquisas realizadas no sítio Osvaldo
sugeriram a existência de um assentamento filiado culturalmente à fase Manacapuru, onde a presença de
fragmentos cerâmicos vinculados à fase Paredão corroboraria a ideia de uma correspondência comercial
e/ou troca entre o sítio Osvaldo e sítios filiados culturalmente à fase Paredão, especialmente o sítio Lago
Grande, dada a proximidade territorial destes (PORTOCARRERO 2007).
Sítio Lago Grande (Am-Ir-12)
Este sítio encontra-se no topo aplainado de uma alta península às margens do lago homônimo
(LIMA 2008). Na época da cheia o lago é formado pela vazante do rio Solimões, e sua conexão com o rio
Negro é estabelecida através do rio Ariauzinho (DONATTI 2003). Assim como o sítio Osvaldo, o sítio Lago
Grande está localizado em uma região caracterizada pela predominância de solo argiloso com ph ácido, e
pela presença de terra preta antrópica.
Diferentemente do sítio Osvaldo, o sítio Lago Grande apresentou quatro montículos dispostos de
forma circular pelo sítio. Dentre as intervenções realizadas pelo PAC, foi escavada uma unidade de 1 m² em
um desses montículos, a qual foi denominada de N500 E500. A escavação dessa unidade alcançou 175 cm
de profundidade, apresentando um depósito de terra preta antrópica de aproximadamente 80 cm de
profundidade (Figura 4). A análise das cerâmicas recuperadas nesta unidade, bem como nas demais áreas
do sítio, revelaram a presença predominante de fragmentos cerâmicos associados à fase Paredão, e a
presença de escassos fragmentos vinculados à fase Manacapuru (DONATTI 2003).
A co-ocorrência da cerâmica Manacapuru e Paredão no sítio Lago Grande pode ser explicada pela
existência de um possível intercâmbio cultural, sustentado pelo comércio e/ou troca entre suas populações

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(DONATTI 2003). Outra perspectiva acredita numa relação mais complexa, onde “[...] pode-se chegar a
considerar sítios contemporâneos, sejam eles caracterizados por componentes arqueológicos semelhantes
ou distintos, dentro de um mesmo sistema de interação, que incluiria outros aspectos sociais que não
apenas relações de troca [...]” (LIMA 2008:249).

Figura 3. Perfil estratigráfico da unidade S710 E1966 escavada no sítio Osvaldo (Fonte: LIMA 2008:140).

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VESTÍGIOS MACROBOTÂNICOS CARBONIZADOS NA AMAZÔNIA CENTRAL: O QUE ELES NOS DIZEM SOBRE AS PLANTAS
NA PRÉ-HISTÓRIA?

A análise dos fragmentos cerâmicos evidenciados no sítio Lago Grande, em associação às


datações radiocarbônicas obtidas para a unidade N500 E500, sugeriu uma ocupação contínua do sítio entre
os séculos VIII e início do século XII d.C, tendo seu ápice em torno do século X, e seu posterior abandono
em algum momento do século XII (LIMA 2008).

Figura 4: Perfil estratigráfico da unidade N500 E500 escavada no sítio Lago Grande (Fonte: adaptado de LIMA 2008).

PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE

Coleta de sedimento para análises arqueobotânicas


A coleta de sedimento para análise arqueobotânica seguiu o procedimento usualmente utilizado
durante as escavações realizadas pelo Projeto Amazônia Central: em campo foram recolhidos sedimentos
de ¼ de uma unidade de 1m² a cada nível artificial de 10 cm, a partir dos 20 cm de profundidade 6, e sempre
obedecendo ao mesmo quadrante da retirada inicial. A escavação por níveis artificiais de 10 cm é realizada
na Amazônia devido à dificuldade em se perceber facilmente mudanças nos estratos naturais durante as
escavações (LIMA 2008).

6
Trata-se de uma prática corrente utilizada para todos os sítios escavados pelo Projeto Amazônia Central, cujo
objetivo é assegurar que as amostras foram coletadas de contextos menos perturbados.

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FRANCINI MEDEIROS DA SILVA, MYRTLE PEARL SHOCK, EDUARDO GÓES NEVES E RITA SCHEEL-YBERT

Para a presente pesquisa foram selecionadas as amostras de sedimentos recolhidas nas unidades
de 1m² escavadas nos sítios, por tratar-se de uma coleta mais sistemática e controlada dos níveis
escavados. Neste sentido, foram privilegiadas as amostras provenientes da unidade S710 E1966 do sítio
Osvaldo e da unidade N500 E500 do sítio Lago Grande, uma vez que estas foram as únicas unidades
escavadas. Já em Açutuba, onde foram escavadas quatro unidades de 1 m², foram privilegiadas as amostras
de sedimento recolhidas na unidade T9 em razão de seu contexto unicomponencial, assim como ocorre nas
unidades escavadas nos sítios Osvaldo e Lago Grande.

Recuperação dos macrovestígios vegetais


A recuperação dos macrovestígios vegetais dos sítios arqueológicos Açutuba, Osvaldo e Lago
Grande foi obtida, inicialmente, através do método de flotação7 associado ao uso do carbonato de sódio
(Na2CO3/barilha leve) em solução com água (SILVA et al. 2013). As frações foram separadas pela densidade
dos elementos presentes na amostra de sedimento, para facilitar a triagem dos materiais. O material
flutuante (fração leve) foi recolhido com a ajuda de uma peneira de 0,5 mm, enquanto que o material mais
denso que a água (fração pesada) foi retido na peneira de 2 mm localizada no interior da máquina de
flotação.
Posteriormente, em laboratório, para as amostras dos sítios arqueológicos Osvaldo e Lago Grande
que permaneceram ‘sujas’ após a flotação inicial, foi adotado o procedimento denominado de
‘microflotação’ em associação a outro defloculante, o hexametafosfato de sódio [(NaPO3)6] (SILVA et al.
2013). Os materiais flutuantes foram recuperados com a peneira de 0,5 mm utilizada na primeira etapa da
pesquisa, enquanto que para os materiais mais densos optou-se pela técnica de peneira molhada
(PEARSALL 2000), adotando-se a mesma peneira de malha 0,5 mm (SILVA et al. 2013).
As amostras da fração leve e da fração pesada, provenientes das etapas de flotação e de
microflotação, foram colocadas sobre folhas de polipropileno conhecido como tecido não tecido (TNT), de
pH neutro, onde permaneceram em temperatura ambiente (30 a 40° C) e/ou na estufa (30 a 40° C) até sua
secagem completa. Ao final do processo as amostras da fração leve e da fração pesada foram
acondicionadas separadamente em sacos plásticos com seu devido registro, para posterior triagem.

Triagem e classificação dos macrovestígios vegetais


A literatura reconhece que a coleta de sedimento por estratos naturais garante uma amostragem
mais fidedigna em relação ao contexto de deposição do material vegetal arqueológico, tendo em vista que
a coleta por níveis artificiais pode provocar a mistura de dois estratos. Considerando que a coleta de
sedimento em campo foi realizada em níveis artificiais, optou-se pela triagem e análise, em laboratório, das

7
Para a realização deste processo foi construída uma “máquina de flotação”, desenvolvida com referência à literatura
atual (STRUEVER 1968; PEARSALL 2000; SCHEEL-YBERT et al. 2005/2006).

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VESTÍGIOS MACROBOTÂNICOS CARBONIZADOS NA AMAZÔNIA CENTRAL: O QUE ELES NOS DIZEM SOBRE AS PLANTAS
NA PRÉ-HISTÓRIA?

amostras referentes aos estratos naturais observados no desenho do perfil estratigráfico dos sítios
arqueológicos (Figuras 2-4). Na ausência de amostras pertinentes a qualquer um dos estratos naturais
definidos no perfil estratigráfico, optou-se pela amostragem relativa à camada de transição consecutiva. O
volume de sedimento foi medido antes da flotação, visto que, nos anos intervenientes da escavação e
respectiva análise, parte do sedimento foi utilizado para outras finalidades. Na sua maioria as amostras
sujeitas à flotação tinham cinco litros de sedimento.
As amostras da fração leve e da fração pesada foram triadas e analisadas considerando apenas os
vestígios maiores que 2mm, pois fragmentos menores que este tamanho não apresentam características
essenciais para sua classificação. Os materiais foram separados nas seguintes categorias: macrovestígios
vegetais carbonizados (frutos, sementes, parênquima não identificado, tubérculos e lenho), lítico, cerâmica
e fauna. Para a análise dos macrovestígios vegetais carbonizados foi utilizado um estereomicroscópio Carl
Zeiss Stemi 2000-C e um microscópio de luz refletida Carl Zeiss Axioscope. Para a classificação destes
vestígios foram consultadas as coleções de referência de amostras de sementes atuais do Laboratório de
Arqueobotânica e Paisagem (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob coordenação da
Profa. Dra. Rita Scheel-Ybert) e do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos (Museu de Arqueologia e
Etnologia, Universidade de São Paulo, uma colaboração de Myrtle Shock, Francini Medeiros e Lígia
Trombetta) (SILVA et al. 2015), assim como a bibliografia especializada e os herbários virtuais.
Dentre os macrovestígios vegetais carbonizados, frutos e sementes foram inicialmente
reconhecidos a partir de características morfométricas em um estereomicroscópio. Fragmentos sem
caracteres morfológicos distintivos foram analisados em um microscópio de luz refletida e separados nas
subcategorias de semente, parênquima não identificado, tubérculo, coquinho e lenho (madeira), a partir da
observação de suas estruturas anatômicas.
Sementes e tubérculos são órgãos vegetais compostos essencialmente por parênquima. Este
tecido está presente em todas as partes das plantas, atuando principalmente como tecido de reserva mas
assumindo também outras funções como fotossíntese, respiração, digestão e condução (RAVEN et al.
2010). Suas células apresentam geralmente forma poliédrica (Figura 5-A), podendo aparecer sozinhas
(como no centro das sementes), ou associadas a feixes vasculares (nos tubérculos) (Figura 5-B); células de
parênquima ocorrem também no caule como parte da medula ou do xilema secundário (lenhos), caso em
que se apresentam associadas a diferentes tipos celulares como os vasos (Figura 6-B). Nos casos em que
não foi possível identificar com segurança o tipo de parênquima em questão, o fragmento foi atribuído à
categoria “parênquima não identificado”, que pode incluir diferentes órgãos vegetais, como sementes ou
tubérculos (SCHEEL-YBERT 2013).
Os fragmentos de coquinho são facilmente reconhecíveis por apresentar parede celular bastante
lignificada, o que confere a esta estrutura vegetal impermeabilidade, rigidez e resistência a ataques
microbiológicos e mecânicos, e contribui para sua conservação nos sítios arqueológicos. Quando

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carbonizado o endocarpo dos coquinhos apresenta superfície intensamente refringente (Figura 5-C), uma
característica bastante particular que facilita sua classificação. Fragmentos de lenho carbonizado, por sua
vez, são reconhecíveis por apresentar caracteres qualitativos como a presença de vasos, fibras e
parênquima, dispostos em uma organização geneticamente determinada (SCHEEL-YBERT 2004),
contribuindo para distingui-los facilmente dos demais vestígios vegetais (Figura 5-D).

Figura 5: Fragmentos de parênquima não identificado (A), tubérculo (B), coquinho (C) e lenho (D) recuperados em
contextos arqueológicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primeiras observações sobre os macrovestígios vegetais carbonizados nos sítios estudados


A identificação dos macrovestígios vegetais carbonizados e sua distribuição entre as camadas
arqueológicas dos sítios pesquisados nos sugere que o conjunto destes vestígios varia em associação com
elementos naturais e culturais dos depósitos. Da variabilidade infere-se que o conjunto dos macrovestígios
vegetais carbonizados reflete as atividades que formaram o registro arqueológico nos locais escavados. A
seguir são apresentados os dados obtidos a partir da análise de cada sítio, e os padrões observados nos
macrovestígios que permitiram sugerir diferentes atividades responsáveis pela composição específica de

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NA PRÉ-HISTÓRIA?

cada registro arqueológico. Para as análises, os dados quantitativos de todas as amostras foram
padronizados para o volume de um litro de sedimento.

Sítio Açutuba (Fase Açutuba – séc. III a.C a IV d.C)


Assim como em Lago Grande, a densidade e a distribuição dos macrovestígios vegetais
carbonizados nas camadas arqueológicas sugerem uma ocupação contínua da unidade T9 do sítio Açutuba.
Observa-se, claramente, um aumento de carvões lenhosos entre as camadas I e IV (Figura 6), sugerindo
uma intensificação das atividades humanas, corroborada pela elevada densidade de fragmentos cerâmicos
(Figura 7), porém sem formação de terra preta antrópica. A unidade T9 é caracterizada pela prevalência de
carvões lenhosos em detrimento dos demais remanescentes vegetais carbonizados, a saber, coquinhos,
semente/fruto8, parênquimas não identificados e tubérculos. Ainda que visivelmente baixa, destaca-se a
presença de vestígios de tubérculos na camada IV.
Enquanto as densidades dos fragmentos cerâmicos atingem seu ápice na transição das camadas I
e II, o padrão de ocorrência dos remanescentes botânicos carbonizados é inversamente proporcional,
sobretudo em relação aos carvões lenhosos, cujo ápice é verificado na camada IV. Considerando que as
densidades de materiais culturais e vestígios carbonizados não variam em conjunto, as diferenças sugerem
que atividades distintas contribuíram para a formação do registro arqueológico, em momentos diferentes,
e não simplesmente representam variações na intensidade do uso do espaço. Ainda, locais onde o depósito
arqueológico tem menor densidade de fragmentos cerâmicos podem corresponder às áreas periféricas do
sítio.

Figura 6: Densidades de macrovestígios botânicos por litro de sedimento no sítio Açutuba, unidade T9.

8
Em razão da pequena quantidade de sementes e frutos identificados optou-se por apresentá-los conjuntamente.

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Figura 7: Pesos dos fragmentos cerâmicos na unidade T9.

Sítio Osvaldo (Fase Manacapuru – séc. VI a X d.C)


A densidade e a distribuição dos macrovestígios vegetais carbonizados nas camadas arqueológicas
sugerem três momentos de ocupação da unidade S710 E1966. O primeiro, caracterizado pela baixa
densidade de remanescentes botânicos nas camadas II/I9 e II (Figura 8), e pela baixa densidade de
fragmentos cerâmicos (Figura 9), sugere um momento mais discreto de ocupação desta área do sítio.
O segundo momento é caracterizado pelo aumento dos macrovestígios carbonizados na camada
IIIA (Figura 8), em especial os coquinhos, e de um aumento significativo da densidade de fragmentos
cerâmicos (Figura 9), além da presença de terra preta antrópica. Estes elementos evidenciam a
intensificação das atividades humanas, as quais poderiam estar relacionadas ao descarte de resíduos
domésticos como consequência da prática de manter as áreas habitadas do sítio limpas, a partir do
acúmulo do lixo em locais mais afastados das casas e a posterior incineração dos mesmos.
O terceiro momento é caracterizado por um aumento vertiginoso de carvões lenhosos na camada
IIIB e pela ocorrência de dois fragmentos de espiga de milho (Zea mays) (Figura 10). Em associação a estes
elementos observa-se uma redução na densidade de fragmentos cerâmicos (Figura 9), sugerindo que esta
área do sítio teria adquirido novas funcionalidades, admitindo novas atividades, tais como aquelas
relacionadas ao cozimento de alimentos e a prática de acender fogueiras, corroborada pela elevada
concentração de carvões lenhosos.

9
Devido à ausência de amostragem da camada I optou-se por utilizar a amostra da “camada de transição II/I” como
representativa do momento mais recuado de uso do sítio.

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NA PRÉ-HISTÓRIA?

Figura 8: Densidades de macrovestígios botânicos por litro de sedimento no sítio Osvaldo, unidade S710 E1966.

Figura 9: Peso dos fragmentos cerâmicos da sondagem S710 E1966, sítio Osvaldo.

Figura 10: Fragmento de semente de milho (Zea mays) carbonizado, sítio Osvaldo.

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Sítio Lago Grande (Fase Paredão – séc. VII a X d.C)


A densidade e a distribuição dos macrovestígios vegetais carbonizados nas camadas arqueológicas
sugerem uma ocupação contínua e intensa desta área do sítio, cujas atividades humanas contribuíram para
a formação da terra preta antrópica (NEVES et al. 2004), e para a permanência destes vestígios no contexto
arqueológico. A presença de determinados vestígios em detrimento de outros, entre as camadas, pode
estar associada à prevalência de determinadas atividades em momentos distintos da ocupação desta área
do sítio.
Dentre os elementos vegetais carbonizados, o lenho apresenta densidades mais elevadas em
todas as camadas amostradas. Na camada III/II10, observa-se um aumento considerável de carvões lenhosos
em relação à camada II/I11, mantendo-se mais baixa nas camadas subsequentes (Figura 11). A elevada
densidade de lenho na camada III/II pode estar relacionada à presença de fogueiras próximas à unidade,
possivelmente decorrente de atividades domésticas, enquanto que as densidades mais elevadas de
coquinho e parênquima não identificado, e a presença de tubérculos nas camadas IV, V e VI, podem ser
decorrentes do descarte das partes dos vegetais não comestíveis nas fogueiras ou da perda acidental das
partes não comestíveis (Figura 11).

Figura 11. Densidades dos macrovestígios botânicos por litro de sedimento no sítio Lago Grande, unidade N500 E500.

10
Devido à ausência de amostragem da camada II optou-se por utilizar a amostra da “camada de transição III/II”.
11
Devido à ausência de amostragem da camada I optou-se por utilizar a amostra da “camada de transição II/I”.

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NA PRÉ-HISTÓRIA?

Os sítios arqueológicos observados conjuntamente


Os sítios analisados apresentam categorias de restos vegetais carbonizados semelhantes, algo
esperado se os mesmos recursos foram utilizados pelas populações que os habitaram. Os resultados
sugerem que os mesmos recursos contribuíram para o conjunto recuperado, porém a importância relativa
entre os componentes varia. Como observado até o momento, os sítios Lago Grande e Açutuba apresentam
distribuições muito próximas, dificultando a caracterização dos mesmos. Apenas a baixa representatividade
de sementes e frutos, e a elevada porcentagem de tubérculos no sítio Lago Grande é responsável pela
distinção deste em relação aos demais. O sítio Osvaldo é o que se mantém mais distante dos outros sítios,
principalmente no que se refere a relação entre lenho e coquinhos. O sítio Açutuba não apresentou valores
significativos que permitiram diferenciá-lo dos demais sítios, apenas registrou-se uma baixa ocorrência de
parênquima não identificado em todas as suas camadas.
Os tubérculos são uma fonte de alto valor alimentício e podem corresponder a diversas espécies
amazônicas que produzem órgãos de reserva. Sua presença foi registrada no sítio Lago Grande e, em menor
proporção, no sítio Açutuba. A ausência de tubérculos no sítio Osvaldo não significa que os mesmos não
faziam parte da vida de suas populações. Scheel-Ybert (2001, 2013) sugere que em razão do cozimento
desse alimento antes do seu consumo, poucos exemplares eram descartados, ou expostos diretamente ao
fogo, diferentemente dos restos de coquinhos que, depois de separado o fruto comestível, poderiam ser
utilizados como combustível adicional à fogueira, ou somente descartados nesta. Por este motivo, a
quantidade de tubérculos nos sítios arqueológicos é muito frequentemente irrisória se comparada à dos
demais remanescentes botânicos. Entretanto, a presença desse vestígio nos sítios Lago Grande e Açutuba
indica que as populações que habitaram o sítio fizeram uso desse recurso alimentício, possivelmente de
maneira bastante intensa.
Assim como os tubérculos, o milho é uma fonte de alto valor alimentício, principalmente por ser
rico em carboidratos. Este alimento pode aparecer com pouca frequência no registro arqueológico, em
razão da forma como fora consumido pelas antigas populações. Neste sentido, sua presença no sítio
Osvaldo pode ser entendida como de extrema relevância, uma vez que indica que este alimento foi
cultivado pelas populações que habitaram o sítio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A observação das estruturas orgânicas no registro arqueológico contribuiu significativamente para


os estudos arqueológicos na região, uma vez que este tipo de pesquisa ainda é incipiente em contextos
amazônicos, fornecendo dados para futuros questionamentos e abordagens. A análise dos carvões das
unidades amostradas identificou a presença de elementos como fragmentos de lenho, semente e fruto,

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parênquima não identificado, coquinho e tubérculo em diferentes densidades, distribuídas entre as


camadas arqueológicas dos sítios. Estas evidências sugerem que diferentes atividades, incluindo as
alimentares, contribuíram para a presença do conjunto de macrovestígios botânicos carbonizados nas áreas
amostradas nos sítios.
A presença de Zea mays na camada IIIB do sítio Osvaldo é extremamente relevante na medida em
que poucas evidências do uso deste recurso alimentício foram observadas na Amazônia, embora seja
reconhecidamente aceito pela academia o uso desse alimento entre as populações indígenas pré-coloniais.
A pesquisa com macrovestígios botânicos na Amazônia Central demonstrou a potencialidade do estudo
com este tipo de evidência, principalmente, em contextos argilosos e de terra preta, contribuindo para o
conhecimento sobre as populações indígenas pré-coloniais.

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NA PRÉ-HISTÓRIA?

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Recebido em:15/04/2016
Aprovado em:15/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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USE OF WOOD RESOURCES BY HOLOCENE HUNTER-GATHERERS OF CIDADE DE
PEDRA, MATO GROSSO, BRAZIL
USO DE RECURSOS LENHOSOS POR CAÇADORES-COLETORES HOLOCÊNICOS DA
CIDADE DE PEDRA, MATO GROSSO, BRASIL

Caroline Bachelet

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Use of wood resources by Holocene hunter-gatherers of Cidade de Pedra, Mato
Grosso, Brazil

Caroline Bachelet1

Abstract: Anthracology is a discipline based on the study and interpretation of dispersed or concentrated
charcoals discovered in archaeological sediments. Concentrated charcoal usually come from hearths used for
food preparation or specialized activities. The study provides information on the use of wood as fuel, and the
environment in which it was collected. This paper presents the results of anthracological analyzes of four
shelters (Ferraz Egreja, Morro Solteiro, Antiqueira, Pacifico) dating from middle to recent Holocene, located
in southwestern of Mato Grosso state. Analyses were performed on macro-remains carbonized sampled in
hearths, firebrands and concentrations. From taxonomic identifications of charcoals, the objectives are to
determine different uses of plant resources by hunter-gatherers and reconstruct the vegetation near to the
sites in the past. The results indicate that the groups were collecting firewood randomly, depending on the
availability of dry wood around the habitat. Vegetation was characterized by typical formation of the
Cerrado, as currently observed in the Cidade de Pedra, indicating some stability in the ligneous cover in the
region over the last 5.000 years.

Keywords: Anthracology, Paleoethnobotany, Prehistory, Brazil.

Resumo: Antracologia é uma disciplina baseada no estudo e interpretação de carvões encontrados dispersos
ou concentrados nos sedimentos arqueológicos. Os carvões concentrados vêm geralmente de fogueiras
utilizadas para a preparação de alimentos ou atividades especializadas. O estudo fornece informações sobre
o uso da madeira como combustível e o meio ambiente em que estes foram coletados. Neste trabalho
apresentamos os resultados das análises antracológicas de quatro abrigos (Ferraz Egreja, Antiqueira, Morro
Solteiro, Pacifico) datados do Holoceno médio até o Holoceno recente, localizados no sudoeste do Mato
Grosso. As análises foram feitas sobre macrorrestos carbonizados amostrados em fogueiras, tições e
concentrações. A partir das identificações taxonômicas dos carvões, os objetivos foram determinar as
diversas utilizações dos recursos vegetais por grupos caçadores-coletores e reconstruir a vegetação existente
próximo aos sítios no passado. Os resultados indicam que os grupos coletavam o combustível lenhoso de
maneira aleatória, dependendo da disponibilidade de madeira seca em torno do habitat. A vegetação foi
caracterizada por formações vegetais típicas do Cerrado, como observado atualmente na Cidade de Pedra, o
que indica certa estabilidade da cobertura lenhosa na região nos últimos 5.000 anos.

Palavras-chave: Antracologia, Paleoetnobotânica, Pré-História, Brasil.

1 Pós–doutoranda.
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil; Programa de Pós-Graduação em Arqueologia,
Departamento de Antropologia - Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem, Brasil. [email protected]
USE OF WOOD RESOURCES DURING THE HOLOCENE BY HUNTER-GATHERERS OF THE CIDADE DE PEDRA, MATO
GROSSO, BRAZIL

INTRODUCTION

Located in the southwest of the Mato Grosso state, about twenty kilometers from Rondonópolis
(Figure 1), the vast territory of ‘Cidade de Pedra’ (300km2) was continuously occupied since the mid-
Holocene by several groups of hunter-gatherers (VILHENA VIALOU 2006). Rock art, lithic industries, ceramics,
combustion remains (etc.) reflect their passages in the numerous archaeological sites discovered since 1984
during prospections. These have led to the discovery and inventory of 167 rock art sites (shelters, walls) and
open sites reflecting a significant use of the territory (VILHENA DE TOLEDO 2013). In 1997, IBAMA recognized
archaeological and environmental richness of this area and an ecological reserve named ‘RPPN Parque
Ecológico João Basso’ was created to protect and to preserve the fauna and flora typical of the cerrado
biome, and archaeological heritage of the Cidade de Pedra (VILHENA VIALOU and FIGUTI 2013).
Multidisciplinary researches from 1984 to 2013 allowed to highlight prehistoric settlements in their
cultural, paleoclimatic and chronological contexts. Many painted, engraved, drawn representations
(geometric signs, anthropomorphic and animal figures) on the rock walls of the shelters were recorded and
analyzed (PAILLET 2006; VIALOU 2013, 2006). The excavations of several shelters have revealed
archaeological sites occupied in the long time (Ferraz Egreja, Abrigos Vermelhos), temporary camps
(Arqueiros, Morro Solteiro, Pacífico, Antiqueira) and a burial site (Cipó) (VILHENA VIALOU 2009). Many lithic
and ceramic vestiges, colorants, ornamental elements were uncovered. Remains of hearths, embers (large
branches burnt) and charcoal concentrations (hearths cleaning, simple combustion area without stones
construction) were discovered in quantity more or less abundant in all sites. The presence of these
combustion remains indicates that human groups were collecting wood and bringing it in their shelters to
make fire and respond to their daily needs (light, cooking, protection, etc.). These carbonized macro-remains
(charcoal, seeds, fruits), result of anthropic activities, are the subject of the present work. Indeed, through
anthracology (study of charcoal found in archaeological context), it’s possible to obtain information both
paleoethnobotanical (use of woody vegetation by human groups in the past) as palaeoecological
(characterization of the natural environment, landscape and paleoclimate, where prehistoric people have
lived and developed) (CHABAL 1999; SCHEEL-YBERT 2004).
In this work, we present the results of anthracological analyzes of fireplaces, charcoal
concentrations and embers from four shelters in ‘Cidade de Pedra’. From the taxonomic identifications of
archaeological charcoals, we try to know: What were the firewood collection practices, the collected woody
species, the selection criteria, the firewood supply areas? How was the landscape, the environment in which
the hunter-gatherers lived at the beginning of the Holocene?

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CAROLINE BACHELET

Figure 1: Location of the “Cidade de Pedra” and the different biomes represented in the Mato Grosso state (fonte IBGE,
modif. C. Bachelet).

Archaeological context
Anthracological analyzes were performed from macro-remains carbonized from archaeological
sites Ferraz Egreja, Morro Solteiro, Antiqueira and Pacifico (Figure 2). These are four rock shelters occupied
several times since the middle Holocene by various human groups. In the present state of researches, Ferraz
Egreja is the only one presenting continuous occupation, of 6.000 years BP to 100 years BP. The three other
shelters were occupied more occasionally since 1.000 years BP (FONTUGNE 2013).
The first human groups that have settled in ‘Cidade de Pedra’, and more particularly in Ferraz
Egreja, did not produce ceramics. The lithics associated with them is abundant, and characterized by a
variety of rock fragments such as flint, silicified arenite, quartz and small flakes debited on site. No hearths
were discovered. However, some small charcoal concentrations associated with the archaeological material
were highlighted (BACHELET 2013).
In the following occupations, ceramics with varied shapes and decors, lithic industries (ax blades,
hammers, chips), ornament elements (beads, pendants), and a large quantity of colorants (hematite) have
been found. Currently, the oldest evidence of the use of ceramics is attested on Ferraz Egreja around 3.000
years BP (VILHENA VIALOU 2006). Embers, hearths, concentrated and dispersed charcoals in sediments are
present in all sites and in all archaeological layers in varying quantities.

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USE OF WOOD RESOURCES DURING THE HOLOCENE BY HUNTER-GATHERERS OF THE CIDADE DE PEDRA, MATO
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Figure 2: Map of archaeological sites discovered in the “Cidade de Pedra”. In dashed lines, the sites studied in this
article (VILHENA VIALOU and FIGUTI 2013).

Materials and methods


Three types of archaeological deposits have been identified and studied: hearths (built by stones);
charcoal concentrations; embers. All these carbonized deposits were uncovered in well-dated occupation
layers (Table 1). At Ferraz Egreja, 18 carbonized deposits (seven hearths, 11 charcoal concentrations) and six
embers, dated to 5.460 ± 40 years BP to 200 ± 70 years BP, were analyzed. In Morro Solteiro, the three
concentrations studied were sampled from the 3rd archaeological level (C1) dated to 320 years BP and the
5th and 6th archaeological levels (C2, C3) dated around 1.000 years BP. At Antiqueira, combustion remains
are few. No constructed hearth was found. Four concentrations (C1 to C4) dated between 1.300 years BP
and 500 years BP were analyzed. Finally, at Pacifico, one charcoal concentration dated at around 1.000 years
BP and one hearth dated 1.620 ± 30 years BP were studied.
All the material was water- or dry-sieved, sorted and studied. For this, each charcoal was manually
broken according to three wood anatomical sections (transverse, longitudinal tangential, longitudinal radial)
and observed under a reflected light microscope with bright and dark field (CHABAL 1992, 1997; PEARSALL
2000). All charcoal fragments over 4mm were analyzed. Taxonomic determination was performed from
multiple repositories: reference collection, literature, database.

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CAROLINE BACHELET

Table 1: Dating of carbonized deposits studied in the four archaeological sites in the ‘Cidade de Pedra’ (dating
conducted by the Gyf-sur-Yvette Laboratory).
Site Deposits N° laboratory Dating (yrs. BP) Dating (yrs. cal.BP)
C2 Gif-11732 830±30 667-744
Antiqueira
C4 Gif-12212 1305±30 1082-1271
F1 Gif-10046 200±70 -3-315
F2 Gif-10047 205±40 1-302
F3 Gif-9698 1110±50 915-1059
F4 Gif-11441 1585±35 1344-1521
F5 Gif-12344 1670±30 1409-1593
F6 Gif-9697 1900±40 1634-1882
T1 Gif-9044 460±40 329-534
T2 Gif-9044 460±40 329-534
T4 Gif-12431 1535±30 1301-1478
Ferraz egreja
T5 Gif-12215 1840±50 1562-1860
T6 Gif-12339 2820±30 2779-2949
C1 Gif-10044 420±40 324-505
C2 Gif-10048 780±20 656-721
C4 Gif-10049 1060±40 801-1045
C5 Gif-10050 1240±40 979-1239
C8 Gif-12000 2120±50 1893-2287
C10 Gif-12429 5120±35 5667-5913
C11 Gif-12428 5460±40 6017-6296
C1 Gif-12433 320±60 152-491
Morro solteiro
C2 – C3 Gif-12341 1005±30 797-927
Pacífico F1 Gif-12432 1620±30 1382-1531

RESULTS AND DISCUSSION

From about 3.136 charcoal fragments analyzed, 2.541 were determined. A total of 81 taxa were
identified: 68 at Ferraz Egreja, 19 at Antiqueira, 9 at Morro Solteiro and 12 at Pacífico. The number of taxa
varies from one to 17 by structure (Table 2). The deposits of the four shelters have relatively heterogeneous
composition. These results indicate the practice of diversified and opportunistic gathering of firewood,
rather than specialized on a botanical species in particular. Dry fallen wood, often abundant in vegetation
and easily accessible, probably provided most of the firewood. This type of wood is very common in the
cerrado sensu stricto and cerradão. Natural tree pruning generates a great quantity of dead wood easy to
pick up. By taxonomic determinations, we know that the wood used for human groups was mainly collected
from these two types of plant formations, during all occupation phases. Currently, species characteristic of
these plant formations are found from about 500m around the shelters. Therefore human groups were
probably supplying fuel in the nearest vegetation from their camp and mainly where the dry wood was most

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abundant. At Ferraz Egreja, the results cover a long chronological sequence. It’s possible to compare
firewood gathering behaviors of the groups that have occupied the shelter. Taxonomic identifications show
that the wood was collected in forests and wooded savannas characteristics of the study area. However, it
appears that the cerrado sensu stricto was privileged throughout the occupancy period of the site. These
data show that the firewood collection practices were relatively similar over the time.
Of the 78 taxa identified, only two were recognized in four sites: Curatella americana (lixeira) and
Aspidosperma sp. (peroba) (Figure 3). The first is typical of the cerrado sensu stricto vegetation. The wood
has a medium density, difficult to work and rarely used. Presently, it’s mainly exploited for charcoal
production. Honey flowers are used in traditional medicine against inflammation of the throat, cough, etc.
(LORENZI 2008). The second is characteristic of semi-deciduous forest, cerrado and transitional areas with
cerrado (LORENZI 2002, 2008). The wood is considered of good quality, medium to high density, and often
used in civil construction and fuel.
Other wood of good quality were also identified: Hymenaea sp. (jatobá), Anadenanthera sp.
(angico), Pterodon sp. (sucupira), Hirtella sp. (vermelhão), Terminalia sp. (capitão) etc. (Figure 3). On the
other hand, many species of Anacardiaceae, Annonaceae, Myrtaceae and Leguminosae families produce
edible fruits (LORENZI et al. 2006). Other species are also known and commonly used in traditional medicine:
Byrsonima sp. (murici), Brosimum sp. (algodãozinho), Virola sp. (sucuuba) etc. (LORENZI and ABREU, 2008).
It's interesting to note the presence of Anadenanthera sp. (angico) in various carbonized deposits of
Antiqueira, Morro Solteiro and Ferraz Egreja. It’s a dense wood, of good quality, and frequently used by local
population as fuel. Bark and flowers are used in the bronchitis treatment, throat inflammation, or breathing
problems. Tannin content in the bark is also used in crafts and leather work (LORENZI 2002, 2008; LORENZI
and ABREU 2008). Seeds of the A. colubrina species have hallucinogens and hypnotic properties (LORENZI
2008). Some studies indicate that these seeds were used in the past, and still are today, by indigenous
groups in Latin America during ritual ceremonies in powder inhalant called "yopo" (RODD 2002; CAROD-
ARTAL and VÁZQUEZ CABRERA 2007; PAGÁN-JIMÉNEZ and CARLSON 2014).
Analysis of embers, discovered only in Ferraz Egreja, allowed the identification of wood from
Leguminosae: Sweetia sp. (canjica), Dipteryx sp. (baru), Peltogyne sp. (pau roxo), Tachigali sp. (carvoeiro) and
Anacardiaceae families: Astronium sp. (aroeira) (BACHELET 2013; BACHELET et al. 2011). Except Tachigali sp.,
all embers are high density wood (QUIRINO et al. 2004, 2005) widely used as firewood by local communities.
They could be used as fuel to feed and maintain the fire burning. They could also be used for other reasons.
For example, the smoke from Peltogyne sp. wood acts as a repellent and is often used to repel mosquitoes.
Aroeira wood is employed for the construction of habitats and tools. Leaves, seeds, roots are used in crafts
(ornaments, dyeing) and traditional medicine (ointment, tea, etc.).

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Table 2: Presence/Absence of the determined taxa in all carbonized deposits studied in the four rock shelters and total number of taxa identified in each deposit (C: charcoal
concentration; F: hearth).
Morro
Archaeological Sites Antiqueira Pacífico Ferraz Egreja
Solteiro
C C C C C C C C F F F F F F F F C C C C C C C C C C C
Family Genus/species
1 2 3 4 1 2 3 1 1 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Anacardium sp. x x
Astronium sp.1
Astronium sp.2
Anacardiaceae Astronium sp.3 x x
cf. Astronium x
Spondias sp. x
Spondias/Tapirira
cf. Xylopia x x
Annonaceae
Rollinia sp. x
Aspidosperma sp. x x x x x x x
Aspidosperma sp. 2 x x
Apocynaceae cf. Aspidosperma x
Himathantus sp. x
Peschiera sp. x
Arecaceae - x x x x x x
Asteraceae Dasyphyllum sp. x
Bambusoideae - x
Bixaceae Cochlospermum sp. x
Chrysobalanaceae Hirtella sp. x x x x x
Combretacaeae Terminalia sp. x x x x x
Dilleniaceae - x
Curatella americana x x x x x x
Dilleniaceae
Doliocarpus sp. x
Euphorbiaceae Mabea sp. x x
Goupiaceae Goupia glabra x x
Humiriaceae Humiria balsamifera x
Lauraceae cf. Siparuna x
Nectandra/Ocotea x x
Lecythidiaceae Eschweilera sp. x
Leguminosae- Copaifera sp. x x x x x x x x

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Caesalpinioideae cf. Copaifera x


Hymenaea sp. x x x x x
cf. Hymenaea x x
Tachigali sp. x x
cf. Tachigali x
Albizia sp. x
Leguminosae- Anadenanthera sp. x x x x x x x x x x
Mimosoideae cf. Anadenanthera x
Inga sp. x
Andira/Ormosia x x
Bauhinia sp. x x
Leguminosae- Dipterix alata x
Papilionoideae Machaerium sp. x
Pterodon sp. x x x x
Sweetia sp. x x x x x
1 x
2 x
4 x
Leguminosae
6 x
7 x
8 x
Byrsonima sp. x x x x x x x x x x x x
Malpighiaceae
Heteropterys sp. x
Luehea sp. x
Malvaceae
Sterculia sp. x x x
Melastomataceae cf. Tococa x
Bagassa sp. x x x
Brosimum sp. x
Moraceae cf. Ficus x
cf. Cecropia x
Ficus sp. x x x x
Myristicaceae Virola sp. x x x
Myrsinaceae Myrsine sp. x x
Myrtaceae Type Eugenia sp. x x
Ochnaceae Cespedesia sp. x
Sapindaceae - x x

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CAROLINE BACHELET

Allophylus sp. x x x x x x x x
Sapindaceae Cupania sp. x x x x x
Magonia sp. x
Sapindaceae/
- x
Leguminosae
cf. Chrysophyllum x x
Sapotaceae Chrysophyllum sp. x x x x
Pouteria sp. x x x x
Qualea sp. x
Vochysiaceae
Vochysia sp. x x x
F x
G x
1 x
Indeterminate
18 x
19 x
17 x
Total Taxa/Structure
6 3 15 5 6 3 9 3 10 17 2 13 5 4 13 6 15 2 5 2 8 3 1 5 4 10 8

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Figure 3: Photographs of transverse sections of charcoal fragments from Ferraz Egreja (Scanning Electron
Microscope): (a) Astronium sp.; (b) Aspidosperma sp.; (c) Hirtella sp.; (d) Copaifera sp.; (e) Hymenaea sp.; (f) Allophylus
sp.

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CAROLINE BACHELET

The wood diversity identified in these sites suggests that there was no selection based on
taxonomic criteria, but maybe according to others parameters. Several species have specific ecological
properties and have been collected for various reasons (firewood, cooking, protection, light, crafts,
medicine, etc.). Criteria such as the condition and the size of wood (wet, dry, green, death, diameter) could
be considered. Some authors have indeed shown that according to these criteria, the wood has a different
behavior when put in the fire (THÉRY-PARISOT 2001). It can produce more flames, more smoke, or a
particular odor. However, ethnographic studies have shown that despite a great knowledge of the
vegetation, dead wood and wood availability near the habitat often determine the collection of firewood
(RAMOS et al. 2008). At Antiqueira, Morro Solteiro, Pacifico and Ferraz Egreja, the results suggest that
fallen dry wood was selected for the fire.
Anthracological analysis was conducted from concentrated deposits covering the last 5.000 years.
These charcoals are generally not considered the most appropriate for paleoenvironmental reconstitutions
(CHABAL et al. 1999). Nevertheless, they can to give a partial and punctual image of the paleovegetation
and paleolandscape. Taxonomic identifications has allowed highlighting taxa markers of various vegetation
formations (cerrado, cerradão, gallery forest, vereda) currently well represented in the study area. All the
results indicate that for nearly 5.000 years, human groups have collected and used characteristic species of
Cerrado biome for daily activities (BACHELET 2014). Therefore, the landscape and environment of Cidade
de Pedra was already very similar to what we see today, and current climatic conditions were already well
established in the region. These results are consistent with paleoclimatic data known from other parts of
Central Brazil that suggest that, after a dry period at the beginning of the Holocene, the current climatic
conditions are installed from 5.000 or 4.000 years BP (LEDRU et al. 1998, 2006).

FINAL CONSIDERATIONS

Analysis of combustion remains of four shelters has revealed firewood collection practices and
the privileged catchment areas by the occupants of Cidade de Pedra over the time. Hunter-gatherers were
collecting firewood for their daily activities in the vegetation around the shelter. They were probably
opportunistically collecting dry wood, the more easily accessible, and mainly in the cerrado and cerradão.
Firewood was not selected according to taxonomic criteria. Other parameters related to the activities and
the daily needs of hunter-gatherers probably played an important role in collecting firewood.

Acknowledgements
The author thanks the Agropastoril Jotabasso and CAPES Brazil for the concession of a research
fellowship which allowed to obtain and to present the results above.

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Recebido em:14/04/2016
Aprovado em:16/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
ECONOMIA DE COMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIA DE FOGUEIRAS EM SÍTIOS
PROTO-JÊ DO SUL
FUEL ECONOMY AND HEARTHS TECHNOLOGY IN SOUTHERN PROTO-JE
BRAZILIAN SITES

Leonardo Waisman de Azevedo


Rita Scheel-Ybert

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Economia de combustíveis e tecnologia de fogueiras em sítios Proto-Jê do Sul

Leonardo Waisman de Azevedo1


Rita Scheel-Ybert1

Resumo: O estudo de fogueiras de quatro sítios Proto-Jê do Sul da região de Pinhal da Serra (RS) permitiu
compreender questões relacionadas à economia de combustíveis e à tecnologia de fogueiras dessa
sociedade. As fogueiras foram analisadas a partir de uma perspectiva qualitativa, considerando suas
características estruturais e contextuais; os combustíveis foram analisados a partir de uma metodologia
antracológica. Foi possível reconhecer aspectos relativos às práticas de aquisição e uso do fogo, uso e
seleção de combustíveis, captação de recursos, vegetação e paisagem. Os resultados da pesquisa permitem
sugerir que as fogueiras tenham constituído um polo de atividades central em espaços domésticos e
cerimoniais. Suas características estruturais representam escolhas tecnológicas e um conhecimento amplo
do processo de combustão. Apresentam-se evidências do provável uso específico de palmeira, bambu e
Inga sp. que sugerem alguma forma de seleção de combustíveis. A coleta de lenha provavelmente era
realizada através do recolhimento de madeira morta caída na mata e da derrubada de árvores, em uma
região de Mata de Araucárias com vegetação alterada. Estes resultados trazem uma contribuição
significativa para a compreensão da ocupação Proto-Jê do Sul da região e para o entendimento das
relações desses grupos com seu meio vegetal no Planalto das Araucárias.

Palavras-chave: Proto-Jê do Sul, Fogueiras, Antracologia, Economia de combustíveis, Brasil Meridional.

Abstract: Analysis of hearths at four Southern Proto-Je settlements in Pinhal da Serra (RS) region has
allowed understanding issues related to fire technology and fuel economy in this society. The hearths were
examined from a qualitative perspective, considering its structural and contextual characteristics; fuels
were examined within an anthracological approach. The methodology allowed figuring out some traditional
practices related to the acquisition and use of fire, use and selection of fuels, resources gathering,
vegetation, and landscape. The results suggest that fire assumed a central role in domestic and ceremonial
spaces. The structural characteristics of each hearth represent technological choices and a large knowledge
of burning process. Possible evidence of specific uses of palm, bamboo, and Inga sp. might suggest some
kind of fuel selection. Firewood was probably acquired through the gathering of fallen dead wood in the
forest and logging, in an Araucaria forest with secondary vegetation. These results are an important
contribution to a better understanding of the Southern Proto-Je occupation and to the comprehension of
the relationships of these groups with their plant environment in the Araucaria Plateau.

Keywords: Proto-Jê do Sul, Hearths, Anthracology, Fuel Economy, Southern Brazil.

1
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia,
Departamento de Antropologia, Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão.
20940-040 Rio de Janeiro, RJ. Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected]
ECONOMIA DE COMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIA DE FOGUEIRAS EM SÍTIOS PROTO-JÊ DO SUL

INTRODUÇÃO

Os grupos Proto-Jê do Sul desenvolveram um complexo sistema de assentamento no Planalto das


Araucárias, no Brasil meridional, em que foram evidenciadas atividades domésticas, agrícolas e artesanais
em sítios com estruturas semi-subterrâneas, lito-cerâmicos, líticos de superfície e em abrigos rochosos,
além de registros de atividades cerimoniais e sepulcrais em aterros anelares, montículos, grutas e galerias
(exemplos de síntese em RIBEIRO 1999/2000; BEBER 2004; SCHMITZ e BECKER 2005). Estes sítios
conformavam pequenos territórios com centralização política, organizados de acordo com a topografia do
terreno local. Tratava-se de uma sociedade hierarquizada, com práticas de cultivo e que ocupava um
território bem estabelecido (ver, por exemplo: SALDANHA 2005; COPÉ 2006; SOUZA e COPÉ 2010; SOUZA
2012; CORTELETTI 2012; IRIARTE et al. 2013).
Nesse cenário, diferentes tipos de fogueiras foram evidenciados em associação a diversas
atividades: em estruturas semi-subterrâneas e sítios lito-cerâmicos, onde foram descobertas fogueiras
provavelmente utilizadas para aquecimento, preparação de alimentos, transformação de matérias-primas e
iluminação; e em estruturas de aterros anelares e grutas, onde foram identificadas fogueiras utilizadas em
cerimônias relacionadas à integração de populações e rituais de sepultamentos.
O fogo deveria ocupar aí uma posição importante. A quantidade de circunstâncias a que as
fogueiras estavam relacionadas nesse contexto é suficientemente diversa para sustentar o argumento de
que o fogo era um elemento essencial para todas as atividades em que se fazia presente. Além disso, existia
uma diversificação nas formas de utilização do fogo Proto-Jê do Sul que pressupõe a existência de um
conhecimento avançado que permitisse o controle da combustão adequada a cada atividade.
O estudo de fogueiras em quatro sítios arqueológicos localizados na região de Pinhal da Serra, Rio
Grande do Sul, buscou compreender fatores significativos em termos técnicos, sociais e simbólicos, de
comportamentos e conhecimentos tradicionais relacionados à produção e uso de fogueiras em contexto
Proto-Jê do Sul. Foram selecionados para análise sítios que compreendessem a divisão entre espaço
doméstico e cerimonial característica da paisagem da área estudada e dos tipos de fogueiras existentes no
contexto arqueológico local, datado entre cerca de 1150 e 300 BP (SOUZA 2012a).
Quanto aos espaços domésticos, foi analisado material de três sítios de tipos recorrentes nos
contextos habitacionais Proto-Jê do Sul em Pinhal da Serra – duas estruturas semi-subterrâneas (nos sítios
Ari I e Leopoldo V) e um sítio lito-cerâmico (Pedreira); quanto aos espaços cerimoniais, estudaram-se
evidências de um sítio cemitério – uma estrutura de aterro anelar (Leopoldo VII) (Figura 1). Esses sítios
foram escavados durante a década de 2000 pela equipe do Núcleo de Pesquisa Arqueológica da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NuPArq/UFRGS), em um projeto de pesquisas sobre o passado
Proto-Jê do Sul na região, coordenado pela Profª Drª Silvia Moehlecke Copé.

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LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO E RITA SCHEEL-YBERT

O material foi objeto de dois níveis de abordagem: o primeiro referente aos aspectos tecnológicos
da construção da fogueira, desenvolvido através da análise das próprias fogueiras a partir de uma descrição
qualitativa das estruturas de combustão; o segundo referente aos combustíveis utilizados, desenvolvido a
partir de uma análise antracológica do carvão coletado na escavação de cada um dos sítios.

Figura 1: Mapa hipsométrico e hidrográfico da região de Pinhal da Serra, com a localização dos sítios arqueológicos
conhecidos na área e dos sítios estudados nesta pesquisa. Datum SIRGAS 2000 (elaborado a partir de dados SRTM da
base TOPODATA).

SÍTIOS ESTUDADOS

Sítio Ari I, estrutura I


O sítio Ari I (RS-PE-41) é um conjunto formado por 10 estruturas semi-subterrâneas, seis
montículos de terra, uma área de concentração de material lítico e cerâmico em superfície, e um
terraceamento que limita a ocorrência das estruturas. Era um espaço doméstico (COPÉ 2008, 2009;
SANHUDO 2012).
A estrutura I, cujo material foi estudado neste trabalho, apresentou uma camada de ocupação
com base circular, com bancadas e um fundo rebaixado. Foram identificadas feições de uma possível
fogueira, lentes escuras de carvão e um possível buraco do esteio de sustentação do telhado. O material
arqueológico encontrado foi material lítico (COPÉ 2008; SANHUDO 2012).

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
ECONOMIA DE COMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIA DE FOGUEIRAS EM SÍTIOS PROTO-JÊ DO SUL

A fogueira foi escavada no piso de ocupação da casa subterrânea, em seu quadrante sudeste,
numa área de piso rebaixado cercada por bancadas moldadas nas paredes. Tratava-se de uma estrutura de
base côncava, com profundidade máxima de 20cm, forma circular e diâmetro aproximado de 50cm. Em seu
interior foram encontradas poucas pedras e material lítico, sem sinais de queima, que provavelmente se
dispuseram ali devido à ação de processos pós-deposicionais. Não foi coletado material carbonizado na
fogueira; o carvão analisado deste sítio foi recolhido disperso em toda área da camada de ocupação.

Sítio Leopoldo V, estrutura B


É um sítio composto por 8 estruturas semi-subterrâneas, distribuídas de forma linear no topo de
um morro. Seus limites são definidos pela distribuição de material na área externa às estruturas e por um
terraceamento que nivela o terreno no entorno. Era um espaço doméstico (COPÉ et al. 2002; COPÉ 2003;
SALDANHA 2005).
A estrutura B, cujo material foi estudado neste trabalho, possuía uma fogueira escavada no centro
do piso de sua ocupação mais antiga, sobre uma área rebaixada e plana da casa subterrânea, cercada por
bancadas. No seu entorno, dispersos pelo piso da habitação, foram descobertos artefatos líticos e
fragmentos cerâmicos (estes últimos somente no interior da fogueira). A forma da base era côncava, com
profundidade máxima de aproximadamente 15cm. O carvão se distribuía por um espaço restrito de forma
irregular, quase circular, com aproximadamente 100cm de diâmetro. Em dois lados, era limitada por
termóforas de basalto. Em seu interior foi evidenciada uma concentração de pedras encostadas umas nas
outras, todas apresentando marcas de queima.

Sítio Pedreira
O sítio Pedreira é um sítio lito-cerâmico com material disperso em superfície, no qual a escavação
revelou uma área de concentração de material interpretada como evidência do fundo de uma cabana. A
cabana era provavelmente uma estrutura de formato semi-circular, com abertura voltada para o sul e
arranjada ao redor de uma fogueira situada em sua entrada. O telhado teria um formato radial, mais alto
na abertura e baixando em direção à periferia. Tratava-se provavelmente de uma estrutura que exercia
uma função doméstica no sistema de assentamento da região (COPÉ et al. 2002; SALDANHA 2005).
A fogueira tinha uma base côncava, com profundidade máxima de aproximadamente 15cm,
formato circular, com aproximadamente 50cm de diâmetro, e um alongamento irregular a noroeste. Em
seu interior foi evidenciada uma concentração de pedras sobrepostas, todas apresentando sinais de
queima.

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LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO E RITA SCHEEL-YBERT

Sítio Leopoldo VII, estrutura A


O sítio Leopoldo VII é composto por pelo menos duas estruturas de aterros anelares, com 15 e 20
metros de diâmetro cada uma, que contêm montículo central e estão associadas a uma área de material
lítico e cerâmico disperso (COPÉ et al. 2002; COPÉ 2003; SALDANHA 2005). Prospecções geofísicas
realizadas no local revelaram que, além destas, outras estruturas de aterros hoje imperceptíveis poderiam
ter existido no passado (SOUZA 2012). O sítio está localizado em uma área alta, de relevo plano, no mesmo
platô que o sítio de estruturas semi-subterrâneas Leopoldo V (COPÉ et al. 2002; COPÉ 2003; SALDANHA
2005).
Os aterros foram explicados como espaços funerários. A escavação de uma trincheira na estrutura
maior revelou a presença de uma fogueira sob o montículo central, onde foi encontrada uma grande
quantidade de fragmentos de ossos calcinados. Tratava-se de uma pira funerária (COPÉ et al. 2002; COPÉ
2003; SALDANHA 2005). A escavação deste sítio foi a primeira confirmação empírica de que as estruturas
de aterros anelares e os montículos Proto-Jê do Sul, interpretados há décadas pela arqueologia do planalto
como áreas cemiteriais, eram de fato espaços de sepultamento (COPÉ et al. 2002; COPÉ 2003; SALDANHA
2005).
A pira funerária possuía uma base de forma côncava e profundidade de aproximadamente 25cm.
Tratava-se de uma estrutura com contorno alongado, bastante irregular, delimitada por concreções de
sedimento calcinado e por carvão. A medida aproximada da fogueira, tomada a partir dos limites das
concreções e do carvão, era de 150cm no eixo maior e 100cm no eixo menor. Concreções de sedimento
calcinado foram encontradas ao redor e na base da fogueira.

ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

A produção do fogo está diretamente relacionada às intenções de uso a que se aplica e às suas
formas de preparo. As características estruturais de uma fogueira, como posição, forma, elementos
constitutivos e combustíveis, interferem diretamente no processo de combustão e nas possibilidades de
uso de uma estrutura, e, portanto, não são um acaso no processo de produção do fogo (JULIEN et al. 1987;
LEROI-GOURHAN 1988; TABORÍN 1989; GRAU ALMERO 1992).
Existia uma diversificação nas formas de utilização do fogo Proto-Jê do Sul que pressupõe a
existência de um conhecimento técnico avançado que permitisse o controle da combustão adequada a
cada atividade. As fogueiras desse contexto são o registro dessas técnicas, e informam sobre elas.
Assim, buscou-se compreender aspectos tecnológicos das fogueiras, considerando-as como um
testemunho de seu funcionamento. A partir das informações das escavações dos sítios estudados foi

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ECONOMIA DE COMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIA DE FOGUEIRAS EM SÍTIOS PROTO-JÊ DO SUL

possível discutir questões de ordem tecnológica relacionadas ao contexto das fogueiras, forma, dimensões,
elementos constitutivos e alterações de uso.
O conceito de economia de combustíveis abrange a produção do fogo de uma forma que vai da
coleta ao uso do combustível. Um estudo nesse sentido compreende questões quanto à área de captação e
a disponibilidade de recursos, as técnicas de coleta do combustível, preferências culturais específicas,
características do combustível utilizado na fogueira, motivação para a coleta (função da fogueira) e gestão
de combustíveis ao longo do tempo (THÉRY-PARISOT 2001).
Inferências sobre economia de combustíveis foram feitas a partir da análise do carvão
arqueológico seguindo uma metodologia antracológica, aplicada a amostras de carvão disperso na camada
de ocupação (sítio Ari I) e concentrado em estruturas de combustão (sítios Leopoldo V, Pedreira e Leopoldo
VII). A antracologia desenvolveu-se na arqueologia pré-histórica como uma disciplina de análise dos
depósitos de carvão vegetal, em estudos direcionados para duas vertentes: paleoecológica e
arqueobotânica (SCHEEL-YBERT 2004a).
Buscou-se identificar taxonomicamente as unidades de carvão arqueológico, a fim de constituir
uma representação da vegetação da paisagem local. A proporção de taxa identificados em uma amostra
depende da vegetação da área de captação de recursos para combustíveis (VERNET 1988; GRAU ALMERO
1992; BADAL GARCIAL 1992; CHABAL 1992, 1997; FIGUEIRAL 1992; SCHEEL-YBERT 1998, 2004a, 2004b). A
informação da identificação taxonômica foi aliada a uma estimativa do diâmetro aproximado da lenha
queimada e de seu estado, pela caracterização anatômica de cada unidade de carvão (THÉRY-PARISOT
2001; NELLE 2002; RANGEL 2009).
A identificação foi feita a partir da observação e caracterização anatômica das amostras de carvão
com um microscópio óptico de luz refletida, com campo claro e campo escuro, através da verificação dos
fragmentos de carvão nos três planos fundamentais da madeira (transversal, longitudinal radial e
longitudinal tangencial) (IAWA COMMITTEE 1989, 2004; BURGUER e RICHTER 1991). Os planos de corte
foram atingidos através da quebra manual do carvão (SCHEEL-YBERT 1998, 2004b). A identificação
taxonômica foi feita utilizando-se obanco de dados e a chave de identificação on-line Anthrakos, que está
em desenvolvimento pela arqueóloga Rita Scheel-Ybert (2014). A coleção de referência utilizada foi
desenvolvida por Scheel-Ybert (1998, 2016) como parte de uma tese de doutorado, e pertence ao
Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A legitimidade dos resultados da análise antracológica deve ser medida de acordo com sua
validade amostral. Para isso foram elaboradas curvas de saturação, que representam o número de
unidades antracológicas analisadas (unidades de carvão) na abcissa em função do número de taxa
identificados na ordenada. A estabilização da curva indica a riqueza da amostra, garantindo que o
contingente de carvão analisado corresponde de fato à diversidade de carvão constante originalmente na
fogueira (BADAL GARCIA 1992; CHABAL 1997; SCHEEL-YBERT 1998, 2005).

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LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO E RITA SCHEEL-YBERT

Essas informações permitiram vislumbrar um quadro hipotético da diversidade de lenha


disponível para queima na área de captação de recursos, e inferir elementos sobre técnicas de coleta e
preferências por tipos de lenha, características dos combustíveis e, em conjunto com os dados tecnológicos
das estruturas de combustão, das motivações para coleta de lenhas específicas e da gestão de combustíveis
(BADAL GARCIA 1992; THÉRY-PARISOT 2001; SCHEEL-YBERT 2004a, 2004b).
Admitindo-se a relação entre o registro arqueológico e os grupos Jê do Sul historicamente
conhecidos estabelecida pela bibliografia (ver, por exemplo: NOELLI 1999/2000; SILVA 2001), todas essas
questões puderam ser confrontadas com informações constantes em fontes etno-históricas e etnográficas
que auxiliaram na compreensão do contexto arqueológico e ampliaram as possibilidades de interpretação
da pesquisa.

RESULTADOS DA ANÁLISE ANTRACOLÓGICA

Foram analisados um total de 1239 fragmentos de carvão, dentre os quais identificou-se 23 tipos
determinados taxonomicamente e 5 tipos indetermináveis (ramo, casca, nó, podre e vitrificado) (Figura 2).
O resultado da análise antracológica do carvão disperso na camada de ocupação do sítio Ari I e
das amostras de carvão concentrado em fogueiras dos sítios Leopoldo V, Pedreira e Leopoldo VII revelou,
dentre os tipos determinados taxonomicamente, 12 famílias (Anacardiaceae, Annonaceae, Aquifoliaceae,
Asteraceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, cf. Melastomataceae, Rubiaceae, Sapindaceae, Arecaceae, Poaceae,
Podocarpaceae), 12 gêneros (Lithraea, Rolinia, Ilex, Eupatorium, Sclerolobium, Senna/Cassia, Inga,
Palicourea, Psychotria, Rudgea, Allophylus, Podocarpus), e quatro angiospermas indeterminadas (Liana tipo
1, Indet 1, Indet 2 e Indet 3) (Figura 2).
As curvas de saturação elaboradas a partir dos indivíduos taxonomicamente determinados
apresentaram um patamar estável bastante amplo em todas as amostras, demonstrando sua validade
(Figura 3). Isso significa que a quantidade de fragmentos analisados representou satisfatoriamente a
diversidade de tipos existentes na amostra arqueológica.
A verificação do diâmetro mínimo da lenha queimada em cada amostra dos sítios Leopoldo V,
Pedreira e Leopoldo VII não apontou nenhum padrão nesse quesito (para essas análises foram utilizados
apenas os resultados provenientes das amostras de carvão concentrado em estruturas de fogueiras). Na
estrutura B do sítio Leopoldo V, a maioria dos fragmentos eram provenientes de lenhas com um diâmetro
menor do que 2cm, e em menor quantidade de no máximo 10cm, sendo consideradas como lenhas de
baixo e médio calibre. Por outro lado, no sítio Pedreira e na estrutura A do sítio Leopoldo VII a maior parte
teria mais de 10 cm, sendo considerada lenha de alto calibre (Figura 4).

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Quanto ao estado da lenha, por sua vez, observou-se um padrão mais definido para todas as
amostras. Evidenciou-se o predomínio de lenha sadia, sem sinais de podridão ou de ataque de insetos
(Figura 5).

Ari-I Leopoldo-V Pedreira Leopoldo-VII

Lithraea
Rollinia
Annonaceae
Ilex
Eupatorium
Euphorbiaceae
Senna/Cassia
Sclerolobium t.1
Sclerolobium t.2
Inga
cf Melastomataceae
Palicourea
Psychotria
Rudgea
Rubiaceae
Sapindaceae
Indet 1
Indet 2
Indet 3
liana t. 1
Podocarpus
Arecaceae
Bambusoideae

Casca

Podre
Ramo
Vitrificado

0 10 20%

Figura 2: Diagrama antracológico de tipos identificados na análise antracológica. Sítio Ari I, Nt 340, Ni 300; sítio
Leopoldo V, Nt 287, Ni 266; sítio Pedreira, Nt 312, Ni 300; sítio Leopoldo VII, Nt 300, Ni 264. (Nt = numero total de
fragmentos de carvão analisados; Ni = numero de fragmentos de carvão identificados).

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO E RITA SCHEEL-YBERT

Figura 3: Curvas de saturação, demonstrando a validade das amostras. (a) Sítio Ari I, Ni 300; (b) sítio Leopoldo V, Ni
266; (c) Sítio Pedreira, Ni 300; (d) Sítio Leopoldo VII, Ni 264.

Figura 4: Frequências relativas das categorias de diâmetro mínimo da lenha, quando identificado nas amostras. (a)
sítio Leopoldo V, Nt 140; (b) Sítio Pedreira, Nt 300; (c) Sítio Leopoldo VII, Nt 273.

Figura 5: Frequências relativas do estado da lenha, quando identificado nas amostras. (a) sítio Leopoldo V, Nt 287;
(b) Sítio Pedreira, Nt 312; (c) Sítio Leopoldo VII, Nt 300.

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DISCUSSÃO

Posição e contexto das fogueiras


As fogueiras domésticas estudadas nesta pesquisa estavam posicionadas de maneira privilegiada
nos sítios em que foram acesas, colocadas na área central das estruturas e funcionando como polo de
atividades e de dispersão de material arqueológico.
Nas casas subterrâneas percebeu-se que as fogueiras ficavam numa área de piso rebaixado, entre
as bancadas laterais das estruturas. Este era um espaço de produção de alimentos e lascamento, de
convívio e atividades cotidianas. Todos os materiais aí encontrados correspondiam a ferramentas de uso
doméstico e aos detritos da produção de tais ferramentas. As fogueiras aí descobertas estariam, portanto,
associadas a estas atividades, e provavelmente em constante funcionamento.
A construção e o uso das fogueiras nesta posição estariam diretamente relacionados com seu
desempenho e potencial no processo de transferência de calor. Esse processo ocorre de três formas:
condução, convexão e irradiação (THÉRY-PARISOT 2001). Cada uma dessas formas acontecia nestas casas
subterrâneas.
A condução é uma forma de troca de calor entre materiais sólidos em contato. Ela é associada a
atividades de cozimento indireto, em que o alimento fica sobre uma base ou dentro de um recipiente, e à
preparação de matérias-primas (THÉRY-PARISOT 2001). A condução ocorreria durante o uso das fogueiras
para esquentar recipientes cerâmicos, placas e aquecimento e na preparação de materiais líticos para
lascamento.
A convexão se refere ao processo de aquecimento e elevação de massas de ar próximas ao fogo,
sendo associada ao aquecimento e desumidificação de espaços fechados (THÉRY-PARISOT 2001). A
convexão provavelmente funcionaria de forma ideal numa casa subterrânea, onde o fogo aceso no centro e
justamente na porção mais baixa ocasionaria a formação de correntes de convexão que manteriam todo o
espaço da casa quente e seco.
A irradiação, por fim, é um processo de transferência de energia à distância entre as chamas e o
que se encontra ao redor do fogo. Ela é associada a atividades de cozimento direto (como assados),
iluminação, aquecimento e secagem de corpos e espaços (THÉRY-PARISOT 2001).
Copé (2006a) chamou a atenção para a forma das casas subterrâneas. Segundo a autora, o
formato circular ou elipsoidal destas estruturas poderia ser compreendido como uma resposta à posição
das pessoas ao redor do fogo, no desempenho de atividades cotidianas. Tal formato explicaria a posição
central das fogueiras neste contexto, a qual permitiria uma melhor distribuição do calor para todos os
cantos da casa, e estaria associada a uma organização familiar fundada em famílias não extensas (COPÉ
2006a).

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No sítio lito-cerâmico Pedreira a distribuição de material arqueológico em sentido radial a partir


da fogueira permitiu a formulação de um modelo hipotético de cabana. Alguns registros do fogo aceso em
cabanas dos grupos Jê do Sul demonstraram a importância das fogueiras neste contexto. O fogo é sempre
um elemento congregador, que não pertence a nenhuma das metades do mundo Jê do Sul. No cotidiano, é
a fogueira acesa no chão batido que mantém a unidade familiar e reúne as pessoas ao seu redor, em uma
roda íntima onde se come, produz-se artefatos, conta-se histórias, e dorme-se com os pés voltados para o
fogo (BECKER 1976; HAVERROTH 1997; PARELLADA 2005; BREGALDA 2007). A fogueira escavada no sítio
Pedreira poderia corresponder às fogueiras de aquecimento descritas por Lavina (1994), acesas na abertura
de um abrigo em meia-água.
Na estrutura de aterro anelar A do sítio Leopoldo VII foi encontrada uma pira funerária enterrada
sob o montículo central.
O registro arqueológico das estruturas de aterros anelares é composto por um mosaico de
diferentes tipos fogueiras. Existiam grandes fogueiras centrais que serviam ao processo de incineração do
corpo do morto, fogueiras menores na área circundante ao montículo e grandes fornos subterrâneos
associados à produção de alimentos em festins funerários. Corteletti (2012) relacionou a organização de
ocorrências arqueológicas semelhantes àquelas descritas por Mabilde (1897/1899) para os Coroados do
século XIX, quando foram observadas fogueiras menores ao redor do morto durante um ritual de
sepultamento. O autor sugeriu uma correlação entre a organização espacial das cerimônias nos dois casos.
O fogo é um elemento sempre presente no ritual de sepultamento e culto aos mortos entre os
grupos Jê do Sul. Ele marca as etapas da cerimônia a cada vez que é aceso. Além disso, desempenha um
duplo papel, de guia para o espírito do morto e de protetor para os vivos. A fumaça da queima dos nós-de-
pinho provenientes das araucárias afasta os espíritos dos mortos, mantendo os vivos a salvo (CRÉPEAU
1994; BREGALDA 2007; SILVA 2011; PETRY et al. 2007). Muller (2008) citou ainda o uso do fogo em
sepultamentos Kaingang sem cremação como uma forma de limpeza da cova onde o morto seria sepultado.
A cova seria queimada com tufos de mato incendiado, e o carvão recolhido antes do enterramento.

Formas, dimensões e elementos constitutivos


Todas as fogueiras estudadas tinham uma base côncava, escavada no solo. As bases de forma
côncava potencialmente mantinham inalterada a posição central do fogo, controlando o avanço das brasas
e permitindo seu uso diversas vezes (ver DRON et al. 2003). Além disso, as bases constituíam um fator
determinante no desempenho das fogueiras durante o processo de combustão: bases côncavas permitem
um rendimento maior na quantidade de combustível utilizado, uma vez que graças a elas as fogueiras
atingem temperaturas maiores em menos tempo e com menos combustível (MARCH 1992). March (1992)
demonstrou que estruturas com base côncava consomem pouco mais de 1,5 kg/h de lenha para atingir

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ECONOMIA DE COMBUSTÍVEIS E TECNOLOGIA DE FOGUEIRAS EM SÍTIOS PROTO-JÊ DO SUL

temperaturas de 400º C, enquanto fogueiras de base plana consomem 3 kg/h para alcançar temperaturas
semelhantes.
As fogueiras domésticas dos contextos estudados apresentavam formato circular, e mediam entre
50 e 100cm de diâmetro na abertura, e 15 a 20cm de profundidade. Essas características, segundo Prevost-
Demarkar (2002), correspondem a formas e dimensões que estruturas escavadas no solo com instrumentos
produzidos em pedra ou madeira assumem naturalmente.
Foi constatada a presença de pedras com marcas de queima, ou termóforas, nas fogueiras
domésticas da estrutura B do sítio Leopoldo V e no sítio Pedreira. A existência de pedras relacionadas às
fogueiras representa mais de um tipo de prática frequentemente relacionada ao uso do fogo. Pedras com
marcas de queima podem, como argumentaram Dumarçay et al. (2008), ser partes estruturais das
fogueiras tanto quanto elementos utilizados em atividades de cozimento. Puderam-se conjeturar quatro
possibilidades de interpretação para elas:
A primeira possibilidade é a de que as pedras atuariam como uma forma de controle do processo
de combustão, servindo como proteção das chamas e labaredas de um fogaréu e evitando o espalhamento
das brasas. Além disso, as pedras absorveriam e acumulariam o calor da fogueira, continuando a liberar
essa energia mesmo depois que o fogo se apagasse, e aumentando assim o aproveitamento do potencial
energético da fogueira para o aquecimento do ambiente (PREVOST-DEMARKAR 2002).
A segunda possibilidade está de certa forma relacionada à primeira, por também tratar de uma
forma de controle do processo de combustão. Ela relaciona as fogueiras com concentrações de pedras a
um tipo de queima chamado por Coudret et al. (1989) de “combustão coberta”, em que a combustão
ocorreria sobre uma base côncava e, logo após seu início o fogo seria mantido em brasas e coberto por
pedras. As pedras concentram o calor, mantém as brasas e oferecem uma base de lajes para o
aquecimento indireto, como placas de aquecimento.
A terceira possibilidade é de que as pedras serviriam como apoio para recipientes utilizados
diretamente sobre fogo. Os recipientes, para que não tombassem, seriam encaixados entre as pedras. A
existência de fragmentos de cerâmica no interior da fogueira da estrutura B, sítio Leopoldo V, suporta este
argumento. Além disso, Lavina (1994) referiu-se ao uso de recipientes de cerâmica ou madeira colocados
diretamente sobre o fogo entre os Xokleng.
A quarta possibilidade, por fim, é de que as termóforas seriam pedras de aquecimento. Elas
seriam esquentadas e colocadas em recipientes com líquidos, para que estes atingissem um estado de
fervura através da transferência de calor direta com as pedras (ORILAC e ORILAC 1980; TABORIN 1987).
Existem registros do uso de pedras de aquecimento por grupos Jê do Sul em atividades domésticas e
rituais, para preparação de alimentos e bebidas (MÉTRAUX 1946; VIEIRA 2004).
A pira funerária escavada na estrutura A do sítio Leopoldo VII tinha um formato alongado, com
cerca de 150cm no eixo maior e 100 no menor, e estava orientada em sentido cardeal leste-oeste. Essa

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forma era devida, supõe-se, à disposição do corpo do morto sobre a pira, e a orientação cardeal da fogueira
devia-se à orientação do indivíduo durante a cerimônia de cremação.
A análise dos ossos realizada por Gambim Junior (2010) revelou que a posição dos ossos no
interior da pira indicava que o morto foi depositado inteiro, em posição semi-fletida, em decúbito dorsal, e
com os pés voltados para o poente. A orientação do corpo e da fogueira segundo as direções cardeais, com
os pés para o poente (Oeste) e a cabeça para nascente (Leste), é uma correspondência entre o registro
arqueológico e a organização cosmológica dual dos Jê do Sul, que também sepultavam seus mortos de
acordo com uma orientação cardeal (ver LAVINA 1994).

Arecaceae e Poaceae no processo de aquisição do fogo


A análise antracológica desenvolvida nesta pesquisa revelou a presença de dois taxa presentes
como combustível nas fogueiras que, supõe-se, seriam lenhas usadas para iniciar o processo de combustão.
São eles Poaceae Bambusoideae (bambu), e Arecaceae (tronco de palmeira).
Os vestígios de bambu foram descobertos no carvão dos sítios Ari I e Leopoldo V (Figura 2). A
identificação de fragmentos de bambu carbonizado em dois sítios, sendo que sua presença no Leopoldo V
foi intensiva, assinalou a possibilidade de este taxon ser selecionado e utilizado intencionalmente como
combustível de fogueiras.
Análises antracológicas em sítios do Brasil Central, levadas a cabo por Scheel-Ybert e Solari (2005)
e Bachelet (2011), identificaram grandes quantidades de bambu em fogueiras arqueológicas, e levantaram
a possibilidade de esta lenha ser especialmente selecionada para iniciar o fogo, devido à sua alta
inflamabilidade. Bambus são atualmente considerados uma lenha de má qualidade, por queimar muito
rápido e “estourar” (SCHEL-YBERT e SOLARI 2005). Entretanto, justamente esta característica, que resulta
em um fogo alto e efêmero, seria útil para acender uma fogueira. Supõe-se que na forma como foi
encontrado no registro arqueológico aqui estudado, o bambu era utilizado como combustível para auxiliar
no processo de ignição e aquisição do fogo. E provavelmente foi utilizado em grandes quantidades. Bambus
são extremamente frágeis e de difícil preservação, principalmente em estado carbonizado (BACHELET
2011), o que torna especialmente significativa a descoberta de tantos fragmentos deste taxon na fogueira
do sítio Leopoldo V.
Os fragmentos de palmeira foram descobertos no sitio Leopoldo V e também no sítio Leopoldo VII
(Figura 2). O caule das palmerias, como os bambus, é de difícil preservação, principalmente em estado
carbonizado. Sua constituição fibrosa e geralmente de baixa densidade o tornam bastante frágil (Bachelet
2011). Além disso, todos os fragmentos de palmeira identificados apresentaram sinais de podridão ou
ataque de insetos xilófagos, o que os deixa ainda mais frágeis. Assim como os bambus, a descoberta de
fragmentos de palmeira carbonizada em duas fogueiras estudadas, e em grandes quantidades no sítio

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Leopoldo V, assinalou a possibilidade de existência de alguma relevância em seu uso como combustível de
fogueira.
A associação entre palmeiras e fogo foi relatada em registros etno-históricos e etnográficos de
grupos Jê do Sul.
Mabilde (1897/1899) descreveu que os Coroados friccionavam uma broca de palmeira (a que o
autor chama “gerivazeiro”) seca e dura sobre um pedaço de palmeira com sinais de podridão, movendo-a
entre as palmas das mãos, para que ambas as partes se incendiassem. Eles então assopravam o fogo até
formar uma labareda, e com ela acendiam a lenha de suas fogueiras. Os registros de palmeira descobertos
na fogueira da estrutura B do sítio Leopoldo V e na pira funerária do sítio Leopoldo VII apresentaram
justamente as mesmas características, quanto ao estado de podridão, dos pedaços de palmeira descritos
por Mabilde. Por isso, supõe-se que este vestígio, na forma como foi encontrado no registro arqueológico,
seja uma evidência material das ferramentas utilizadas pelos grupos Proto-Jê do Sul no emprego de suas
técnicas de ignição.
Além do relato de Mabilde, Métraux (1946) observou que os Kaingang friccionavam entre as
palmas das mãos uma haste de madeira dura colocada sobre um pedaço de madeira macia, e utilizavam
folhas de palmeira seca como pavio.
Lavina (1994), em sua revisão de fontes etno-históricas sobre os Xokleng, fez referência ao uso da
técnica ignição baseada na fricção de uma haste sobre uma base, ambas de madeira, documentada em
cinco fontes. O pó gerado pela fricção no interior do orifício inflamava-se, e o fogo que surgia era
alimentado com pedaços de madeira e folhas de palmeira secas.
A associação entre palmeiras e fogo está presente também na mitologia Kaingang, que descreve
como os homens receberam o fogo de um ancestral mítico em um pedaço de palmeira incendiada. O mito
rememora proezas e perigos enfrentados pelo ancestral mítico em sua conquista do fogo (MÉTRAUX 1946;
DORVALINO et al. 2011).
Dificuldades na aquisição e no controle do fogo são uma constante em mitos de origem de
diversas culturas, como constatou Freud (1932) ao discutir o mito grego de Prometeu. Segundo o autor,
elas ilustram os reveses de uma renúncia do homem a um estado instintivo e primitivo, que é trocado pelos
benefícios que o fogo, quando conquistado, trouxe à civilização. Nesse mesmo sentido, Leroi-Gourhan
(1988) afirmou que o fogo, a partir do momento em que foi aprendido, tornou-se um elemento presente
na maior parte das técnicas de fabricação e consumo que compreendem as atividades humanas. O fogo é
sempre um elemento de intermédio entre natureza e cultura, e as fogueiras desempenhavam um papel
essencial nas atividades cotidianas das sociedades pré-históricas, seja pela diversidade de funções
associadas a elas ou por todo o movimento relacionado ao seu funcionamento.
Considerando essa perspectiva, que aponta a conquista do fogo como um marco no processo de
desenvolvimento social da civilização, talvez se possa ponderar a possibilidade de que a palmeira utilizada

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como combustível de fogueiras encontrada no registro arqueológico seja um elemento representativo de


uma identidade social Proto-Jê do Sul. Seu uso remeteria a um mito de origem que faz parte da formação
de uma sociedade Jê, referindo-se especificamente a um momento de abandono de um estado primitivo
em tempos mitológicos. A queima de palmeira no processo de ignição das fogueiras seria, talvez, uma
escolha destes grupos, como forma de recriar constantemente tal momento tão significativo de seu
desenvolvimento e da construção de sua identidade.

Paisagem e área de captação de recursos


A diversidade de taxa identificados na análise antracológica é bastante baixa, e certamente não
corresponde à estrutura da vegetação existente na região no período estudado (Figura 2). No entanto, as
curvas de saturação elaboradas demonstraram a suficiência das amostras (Figura 5).
Estes resultados não serviram ao objetivo inicial de se construir um quadro hipotético da
diversidade de lenha disponível para queima na área de captação de recursos para combustível. Pôde-se
apenas perceber alguns elementos da vegetação e da paisagem em que os sítios estudados estavam
implantados.
Dois aspectos apareceram como um padrão nos taxa determinados:
O primeiro é de que todos eles ocorrem na Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucárias) que
é parte do bioma Mata Atlântica. Isso era esperado para a região e está em conformidade com as
descrições de vegetação e reconstituições paleoambientais existentes na bibliografia (ver, por exemplo:
IRIARTE e BEHLING 2007; GUARINO 2010; GESSERT et al. 2011; SIDOL, 2014).
O segundo é de que a maioria dos taxa identificados são potencialmente vegetais pioneiros ou
secundários iniciais na Floresta de Araucárias. Vegetais desse tipo crescem na fase jovem de uma floresta,
em uma etapa de sucessão secundária que se segue a algum distúrbio (LORENZI 1992). Vegetais pioneiros
apresentam características que favorecem seu crescimento em áreas alteradas, seja por agentes naturais
ou antrópicos, e são as primeiras plantas a crescerem quando ocorre uma sucessão de estágios numa dada
comunidade vegetal (RAVEN et al. 1996; LORENZI 1992). Vegetais secundários são aqueles que
predominam em uma fase intermediária do desenvolvimento da floresta, entre a fase inicial de
recomposição e o clímax (LORENZI 1992).
Os taxa que foram identificados potencialmente como vegetais pioneiros foram Lithraea sp.,
Rolinia sp., Ilex sp., Sclerolobium sp., Senna/Cassia, Inga sp., Rudgea sp., Allophylus sp., Arecaceae e
Poaceae Bambusoideae. Os potencialmente secundários iniciais foram Rolinia sp., Ilex sp., Senna/Cassia sp.,
Inga sp., Psychotria sp., Rudgea sp. e Allophylus sp. (GALVÃO et al. 1989; KLAUBERG et al. 2010; LORENZI
1992, 2002; SAWCZUK 2009).
Considerando as questões sobre a construção de uma paisagem Proto-Jê do Sul, com diversos
elementos de transformação do espaço e da vegetação provavelmente levados a cabo por esses grupos, é

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plausível considerar-se que as alterações que derivaram na formação de uma vegetação em regeneração
foram o resultado de atividades antrópicas. Os Proto-Jê do Sul construíam terraços para implantação de
sítios de estruturas semi-subterrâneas, erguiam grandes estruturas de aterros anelares, provavelmente
abriam áreas de cultivo e realizavam queimadas, e manejavam a vegetação de uma forma que favoreceu a
expansão da mata de araucárias. Eram eles, portanto, o elemento de distúrbio que transformava a
vegetação e a paisagem local (por exemplo, COPÉ 2006; BITENCOURT e KRAUSPENHAR 2006; IRIARTE e
BEHLING 2007).
Com estas informações pôde-se formular uma hipótese de como seria a área de captação de
recursos combustíveis dos sítios estudados: Tratava-se provavelmente de uma paisagem bastante alterada
devido à intensidade da ocupação Proto-Jê do Sul no local, com uma Floresta de Araucárias em estado de
sucessão secundária próxima aos sítios, na área de impacto de suas ocupações.

Técnicas de coleta e preferências de lenha


A verificação do diâmetro mínimo da lenha queimada em cada amostra dos sítios Leopoldo V,
Pedreira e Leopoldo VII não revelou a existência de um padrão nesse quesito (Figura 4). Ao contrário,
quanto ao estado da lenha, foi evidenciado o predomínio de lenha sadia, sem sinais de podridão ou ataque
de insetos (Figura 5).
Estas constatações sobre tamanho e estado das lenhas queimadas informaram quanto à provável
prática de duas técnicas diferentes de coleta de combustível pelos grupos Proto-Jê do Sul. A
heterogeneidade dos calibres de lenha identificados e a presença de lenha sadia representada pela maior
parte dos fragmentos permitem supor que a coleta de combustível ocorresse tanto a partir do
recolhimento de madeira morta caída na mata quanto pela derrubada de árvores. Lavina (1994) descreveu
a derrubada de árvores entre os Xokleng como sendo provavelmente uma atividade masculina e realizada
sem maiores dificuldades, em diversas situações em que madeiras mais grossas se faziam presentes. Noelli
(1996) argumentou que os machados polidos e os grandes bifaces lascados da cultura material de grupos
Proto-Jê do Sul poderiam ser utilizados em atividades neste sentido, com funções ativas na derrubada de
árvores de porte variável.
Em termos taxonômicos, a análise destas amostras revelou que praticamente não existiam
repetições em tipos de lenha utilizadas. Os tipos evidenciados nas amostras de cada fogueira eram
majoritariamente ocorrências únicas, exceto pelo taxon Inga sp., que foi recorrente em todo o material
analisado, sempre com porcentagens muito significativas (Figura 2).
É possível que a queima de Inga sp. fosse uma preferência cultural, e que a ocorrência destes
taxon possa ser tratada como uma forma de seleção de combustíveis.
Apesar de as Fabaceae serem importantes na maior parte das formações vegetais brasileiras, os
levantamentos fitossociológicos desenvolvidos em regiões de Floresta de Araucárias não assinalaram

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espécies do gênero Inga entre as mais importantes em termos de ocorrência e densidade nesta formação
(GALVÃO et al. 1989; SILVA e MARCONI. 1990; BARDDAL et al. 2004; SERGER et al. 2005; CURCIO et al.
2006; CORDEIRO e RODRIGUES 2007; SAWCZUK 2009; KLAUBERG et al. 2010).
Desse modo, Inga sp. provavelmente não estava disponível em uma abundância tão significativa
que justificasse seu uso massivo como combustível em todas as fogueiras estudadas, caso a coleta fosse
aleatória. Esta planta era, portanto, provavelmente, intencionalmente procurada e coletada para esse fim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A identificação da existência de características específicas para as fogueiras de áreas domésticas e


para as de áreas cerimoniais no contexto Proto-Jê do Sul revelou informações significativas de formas e
conhecimentos aplicados na produção do fogo por esses grupos, que constituem exemplos da tecnologia
empregada nesta atividade.
A posição das fogueiras em cada sítio demonstrou ser um elemento chave para compreender seu
funcionamento e a organização do espaço interno dos assentamentos. Em áreas domésticas as fogueiras
eram sempre posicionadas em um espaço central, transformado em um polo de atividades e interações
sociais. Nos sítios cerimoniais as fogueiras também ocupavam uma posição central, e orientavam a
organização espacial do ritual ao mesmo tempo em que funcionavam como elementos de controle e ação
sobre o morto e sobre os vivos.
A respeito de questões estruturais, fogueiras de base côncava foram descritas em todos os casos.
Mas cada atividade exigia e causava a presença de elementos diferentes. A queima era feita de forma
controlada em todos os casos. Conheciam-se métodos de controle da temperatura em fogueiras
estruturalmente semelhantes, tanto para atingir temperaturas muito altas quanto mais baixas. Nas
fogueiras domésticas os conjuntos de pedras descobertos sugeriram processos de aquecimento controlado
de materiais e técnicas de controle da intensidade do fogo.
O emprego de uma metodologia antracológica para análise do carvão revelou a possibilidade de
se realizar inferências sobre a vegetação próxima aos sítios e sobre aspectos de uma economia de
combustíveis de fogueiras, observando pontos relativos à área de captação de recursos, preferências
culturais, motivação por necessidades específicas, conhecimento de propriedades combustíveis e técnicas
de ignição e coleta.
A lenha era coletada em uma área de Floresta de Araucárias, provavelmente já alterada por
atividades antrópicas. A coleta provavelmente ocorria de duas formas: uma baseada no recolhimento
seletivo de madeira caída na mata, e outra baseada na derrubada de árvores. Bambu e palmeira foram
encontrados em abundância no registro arqueológico e interpretados como combustíveis utilizados em

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atividades específicas, para iniciar o processo de combustão. A correlação com fontes etno-históricas e
etnográficas revelou uma possível relação entre o uso de palmeiras e o processo de aquisição do fogo entre
os Jê do Sul. A identificação taxonômica dos fragmentos de carvão revelou ainda a abundância de vestígios
de uma ou várias espécies de Inga, o que poderia configurar uma preferência destes grupos na escolha de
combustíveis.
A compreensão da vegetação como área de captação de recursos para queima, alterada e
explorada pelo homem de forma marcante, fortalece o argumento de que os Proto-Jê do Sul conheciam e
manejavam seu ambiente. Como argumentou Lévi-Strauss (1987), “poucos povos primitivos adquiriram um
conhecimento tão completo sobre as propriedades físicas e químicas de seu ambiente botânico quanto os
índios sul-americanos”.
Explorar questões relativas à tecnologia de fogueiras e economia de combustíveis se mostrou
muito proveitoso para a compreensão de questões culturais relativas ao uso do fogo por grupos Proto-Jê
do Sul. Da mesma maneira, contribuiu para o entendimento das relações desses grupos com seu meio
vegetal no Planalto das Araucárias. O estudo de fogueiras nesse contexto mostrou-se uma ferramenta útil e
com potencial para contribuir com a compreensão da ocupação Proto-Jê do Sul da região.

Agradecimentos
Agradecemos à Profª Drª Silvia Moehelecke Copé e à equipe do NuPArq (UFRGS) pelo
desenvolvimento das campanhas de campo cujos dados serviram a esta pesquisa e apoio na etapa de
laboratório desenvolvidas posteriormente. À equipe do Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem (Museu
Nacional, UFRJ) pelo apoio na etapa de laboratório. Esta pesquisa foi desenvolvida no quadro da
dissertação de Mestrado do primeiro autor no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu
Nacional, UFRJ, beneficiando de uma bolsa de mestrado do CNPq. A segunda autora é bolsista de
produtividade do CNPq.

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Recebido em:15/04/2016
Aprovado em:13/05/2016
Publicado em:22/06/2016
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OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND CULTURAL CHOICES
IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND SOUTHERN BRAZIL
FROM C. 3000 TO 300 CAL YRS BP
A FLORESTA E O QUINTAL: PAISAGEM, AMBIENTE E ESCOLHAS CULTURAIS NA
AMAZONIA, SUDESTE E SUL DO BRASIL ENTRE C. 3000 E 300 ANOS CAL BP

Rita Scheel-Ybert
Caroline Fernandes Caromano
Leonardo Waisman de Azevedo

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Of forests and gardens: landscape, environment, and cultural choices in Amazonia,
Southeastern and Southern Brazil from c. 3000 to 300 cal yrs BP

Rita Scheel-Ybert1
Caroline Fernandes Caromano2
Leonardo Waisman de Azevedo1

Abstract: Brazilian rainforests have long been considered pristine environments, ecologically representative
of primary forest. More recently, important discussions arised especially out of historical ecology studies
recognise that human populations significantly interfered in the landscape. Direct archaeological evidence
can be provided by anthracological analyses. Examples driven from sites of different pottery producing
cultural traditions in the Brazilian territory are given. Results from Southeastern and Southern Brazil, as well
as from Amazonia, demonstrate that human occupation promoted forest disturbance and created
anthropogenic environments. Each of the different studied groups has transformed the forest landscape by
creating areas of secondary vegetation and likely concentrating useful species. The secondary vegetation
domesticated spaces surrounding the settlements might be preferred for firewood gathering due to their
proximity, structure and/or social significance. We conclude interpreting the data according to the premise
that reconstructing landscape in archaeological sites implies overcoming merely economistic or naturalistic
interpretations as well as understanding the underlying cultural determinants to the data, while still not
neglecting their ecological significance.

Keywords: Landscape, Historical Ecology, Anthracology, Pottery-makers, Brazil, Amazonia.

Resumo: As florestas ombrófilas do Brasil foram durante muito tempo consideradas como ambientes
intocados pela ação humana e ecologicamente representativos de florestas primárias. Mais recentemente,
importantes discussões, surgidas especialmente no quadro da ecologia histórica, passaram a reconhecer que
populações humanas interferiram significativamente na paisagem, mas não existiam até o momento
evidências arqueológicas diretas. Análises antracológicas em sítios de diferentes tradições culturais que
ocuparam o território brasileiro vêm oferecendo tais evidências. Exemplos obtidos em sítios ceramistas do
Sudeste e do Sul do país e na Amazônia demonstram que a ocupação humana alterou a vegetação local
criando ambientes antropogênicos. Os diferentes grupos estudados transformaram a paisagem com a
criação de áreas de vegetação secundária e uma possível concentração de espécies úteis. Devido à sua
proximidade, estrutura e/ou significado social, os espaços de vegetação secundária domesticada no entorno
dos assentamentos eram possivelmente preferidos para a coleta de lenha. Conclui-se interpretando os
dados de acordo com a premissa de que estudar paisagem em sítios arqueológicos implica em, sem
negligenciar os significantes ecológicos, ultrapassar interpretações meramente economicistas ou naturalistas
e perceber os determinantes culturais subjacentes aos dados.

Palavras-chave: Paisagem, Ecologia Histórica, Antracologia, Ceramistas, Brasil, Amazonia.

1 Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ), Brasil. Departamento de Antropologia. Programa de Pós-Graduação em
Arqueologia (PPGArq/UFRJ), BRasil; Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem,Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected]
2 Laboratório de Estudos Evolutivos e Ecológicos Humanos do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (LEEH - MAE/USP),

Brasil. Programa de Pós-Graduação em Arqueologia. E-mail: [email protected]


OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND CULTURAL CHOICES IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND SOUTHERN
BRAZIL FROM C. 3000-300 CAL YRS BP

INTRODUCTION

Brazilian ombrophilous forests have long been considered pristine and untouched environments,
ecologically representative of primary forests. In the last decades, important discussions have arisen,
especially in the context of historical ecology, pointing to the fact that human populations largely interfered
in the landscape (e.g. POSEY 1985; BALÉE 1989, 1994; DENEVAN 1992; FAIRHEAD and LEACH 1995; POLITIS
1997, 2001; RIVAL 1998; BALÉE and ERICKSON 2006; TOLEDO and MOLINA 2007; OLIVER 2008; CLEMENT and
JUNQUEIRA 2010).
Clement and Junqueira (2010) suggest that the first anthropogenic environments in Amazonia were
created from the beginning of human occupation in the region. Particularly favourable spots combining
water, game, and plants availability might had been initially briefly occupied with the aim of collecting
seasonal (fruits, roots, fish, game) or perennial (fibers, wood, lithics) resources. Concentrations of useful
species might had grown thereafter in each camping area by means of seeds discharge. In time, such
anthropogenic ecosystems would become more attractive and allow longer dwelling periods. Dumping areas
(CLEMENT and JUNQUEIRA 2010) and paths (PIPERNO and PEARSALL 1998) would also favor the
establishment of new local and introduced useful secondary species as a result of soil enrichment due to
organic material deposition and higher light availability.
Ethnographical studies on the Nukak, for instance, foragers from the Colombian Amazon,
demonstrate the creation of cultivated islands into the forest, which contained palm trees and tubers from
horticultural activities that are believed to date back to 9000 years BP (POLITIS 1997, 2001; OLIVER 2008).
These plants management increased the ecological diversity in such environments. The Ka'apor, native
horticulturalists from Eastern Amazon, farm and handle the environment around them. They distinguish
vegetation types according to species composition and their uses, including game attraction (BALÉE 1989,
1994). The Huaorani, traditional foragers from Equatorian Amazon, are reported to impose strong territorial
control over "ancestral groves", considered a living reserve of planting seeds (RIVAL 1998). One of the most
frequent species in these areas is the peach palm (Bactris gasipaes), which assumed such importance for
Amazonian groups that it became the only fully domesticated palm in the region (RIVAL 1998; CLEMENT
1989).
Evidence of anthropogenic forests is often related to the occurrence of palm trees, and some
authors sustain that the strategy of dispersion of many palms might be associated with past human activities
(BALÉE 1989; BALÉE and ERICKSON 2006). However, the concentration of several tree species may attest
human manipulation. For instance, forests of Brazil nuts (Bertholletia excelsa) in eastern Amazon, in the
same way that the palm species Elaeis oleifera, are frequently correlated with anthropogenic disturbance,

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RITA SCHEEL-YBERT, CAROLINE FERNANDES CAROMANO E LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO

appearing over Amazonian dark earths3 associated with archaeological remains (BALÉE 1989).
High concentrations of useful and domesticated plants were identified on secondary forests upon
anthropogenic soils in Central Amazon (JUNQUEIRA et al. 2011). Eleven “ethnospecies” were recognised as
anthropogenic soil indicators, among which five palms. The authors argue that intimate and long-lasting
interactions between humans and dark earths have favored the maintenance of secondary forests in these
domesticated landscapes.
In spite of the accumulated evidence of human construction of the landscape, driven from
historical ecology and ethnographical approaches, direct archaeological evidence remains scarce. Such
evidence used to be considered difficult to acquire, considering the fragility of vegetation proxies among
archaeological remains. Palynology, the most traditional tool for palaeoecological reconstruction, may
provide many interesting results (e.g. BUSH and COLINVAUX 1988; IRIARTE and BEHLING 2007), although
mostly from indirect evidence, since pollen grains and spores are poorly preserved in archaeological
sediments. Important evidence may also be driven from phytolith analysis, in spite of its lower taxonomic
definition. Phytoliths are very well preserved in archaeological sites, however, most landscape studies
heretofore were performed on off-site lake or soil sediments (e.g. PIPERNO et al. 1991; PIPERNO and JONES
2003; MCMICHAEL et al. 2012; MAYLE and IRIARTE 2014).
Anthracology, in many ways complimentary to the abovementioned methods, is particularly
appropriate for this purpose by the very nature of its object of study, as charcoal fragments are almost
ubiquitous in archaeological sediments. The analysis of archaeological charcoal is now largely recognised as a
reliable tool for palaeoecological and landscape reconstruction (VERNET 1977, 1992; CHABAL 1997; SCHEEL-
YBERT 2000; THIÉBAULT 2002; FIORENTINO and MAGRI 2008; BADAL et al. 2012; DAMBLON et al. 2013). It
also provides diverse palaeoethnobotanical data, especially related to wood use in domestic and ritual
contexts (e.g. BEAUCLAIR et al. 2009; CARRIÓN et al. 2012; DOTTE-SAROUT et al. 2014; DUSSOL et al. 2016),
but also to other aspects such as site formation processes (SCHEEL-YBERT et al. 2009; BIANCHINI et al. 2011)
and indicators of people’s mobility in the landscape (BYRNE et al. 2013).
Although its use to reconstruct the vegetation surrounding a site, and therefore infer
anthropogenic disturbance, is still frequently criticised on the assumption that archaeological charcoal would
always be biased by human selection, this matter has already been extensively discussed in specialised
literature (e.g. CHABAL 1997; SCHEEL-YBERT 2000, 2004a; FIGUEIRAL and MOSBRUGGER 2000; THÉRY-
PARISOT et al. 2010). The reliability of palaeoecological reconstructions from archaeological charcoal is

3
Anthropogenic dark earths (“terra preta de índio” or TPI) are widespread in the uplands (terra firme) of Amazonia,
occurring in large patches up to several hundred hectares. The blacker form (terra preta) is interpreted as derived from
village middens consisting of ash and charcoal from kitchen fires, cultural debris, faeces, human and animal bone, and
house/garden waste. The lighter, dark brown form (terra mulata) is considered an outcome of spatially intensive
cultivation activities involving organic amendments and low-temperature near-surface fires (DENEVAN 2004; ARROYO-
KALIN 2010).

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OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND CULTURAL CHOICES IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND SOUTHERN
BRAZIL FROM C. 3000-300 CAL YRS BP

demonstrated both in temperate and tropical environments by (1) the high taxonomic richness of charcoal
samples; (2) good agreement between different anthracological analyses and between those and other
proxies’ results; and (3) good statistical correlation between anthracological spectra and extant vegetation
types (CHABAL 1997; SCHEEL-YBERT 2000, 2004a). This adequate representation of the local vegetation is
ensured by (1) the low selectivity of domestic firewood gathering (ASCH et al. 1972; VERNET 1990; CHABAL
1992; SCHEEL-YBERT 2000), and (2) the vast variety of wood choices likely associated with each function of
fire in a human settlement (heating, cooking, lighting, drying, smoking, transforming raw materials, keeping
animals away, taking part in ceremonies or ritual practices, etc.) (THÉRY-PARISOT et al. 2010). Therefore,
given a long duration of wood collection activities in a settlement, it is possible that all the species in the
different vegetation types around it will have, sooner or later, a chance to be collected, charred, and hence
preserved as charcoal.
In the last decades, the development of anthracological analyses in sites of several Brazilian regions
provided important evidence on the landscape occupied by human populations in the past (e.g. SCHEEL-
YBERT 2000, 2001; SCHEEL-YBERT and SOLARI 2005; SCHEEL-YBERT and DIAS 2007; BEAUCLAIR et al. 2009;
SCHEEL-YBERT et al. 2009; BIANCHINI et al. 2011; BIANCHINI and SCHEEL-YBERT, 2012; CAROMANO et al.
2013; SCHEEL-YBERT et al. 2014a). In this paper examples will be provided regarding
agriculturalist/horticulturalist pottery makers who inhabited different parts of the country from up to 3000
years before the present until around 1400-1650 AD, at the time of arrival of the first Europeans. The results
demonstrate that these groups interacted with the natural vegetation and transformed the landscape in
many ways, particularly by creating areas of secondary vegetation inside the forest.
In presenting these sets of data we aimed to put in evidence a pattern of environmental/landscape
settings related to ancient groups of different cultural affiliations who occupied the Brazilian territory.
Additionally, we aimed to attract attention to the potential of anthracology in paleoecological
reconstruction, as well as on the gathering of data of cultural significance such as landscape, wood use,
economic practices, ritual, and social evidence.

THE SITES

The Morro Grande Tupiguarani settlement (Southeastern Brazil)


The Morro Grande site, situated in the southeastern coastal plain of Rio de Janeiro State (Fig. 1), is
attributed to proto-Tupinambá agriculturalist and pottery producing populations (BUARQUE 2009, 2010). It
lies in an urban area, nowadays completely deforested, in the Atlantic rainforest phytogeographical domain.
The climate, Aw in the Köppen system, is tropical; annual precipitation is 993 mm, with rainy summers and
drier winters; mean annual temperature is 23 °C.

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RITA SCHEEL-YBERT, CAROLINE FERNANDES CAROMANO E LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO

Morro Grande is currently one of the best studied Tupiguarani sites in Southeastern Brazil,
presenting the oldest known dates for this region and standing out for its long occupation. Four periods of
occupation were identified, dated at: (1) 2920±70 yrs BP (3220-2840 cal yrs BP); (2) 2600±160 yrs BP (3000-
2150 cal yrs BP); (3) 1740±90 yrs BP (1820-1390 cal yrs BP); (4) 510±160 yrs BP (750-0 cal yrs BP) to 315±50
(415-215 yrs BP TL). The latter is possibly related to a reoccupation of the area by people of Guarani
affiliation, for it is associated with an urn of quite different cultural characteristics (BUARQUE 2009; SCHEEL-
YBERT et al. 2014a).

Figure 1: Location of the studied areas. (A) Morro Grande site, Araruama municipality, Rio de Janeiro State; (B)
Hatahara site, Iranduba municipality, Amazonas State; (C-E) Southern Proto-Je sites, Pinhal da Serra municipality, Rio
Grande do Sul State, (C) Ari-I, (D) Leopoldo-V and Leopoldo-VII, (E) Pedreira (source: Google earth, images date
04/09/2013 (A, B), 09/10/2013 (C-E); accessed 29/01/2015). The map of South America (adapted from DUARTE 2010)
shows political divisions and main rivers.

The archaeological area comprises c. 9 ha, presenting many archaeological features and well
preserved pottery (BUARQUE 2010). Five archaeological layers were identified in different loci. Each
archaeological locus comprises a funerary area, with the presence of a funerary urn surrounded by painted

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OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND CULTURAL CHOICES IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND SOUTHERN
BRAZIL FROM C. 3000-300 CAL YRS BP

vessels (the latter probably used for food offerings), and generally a domestic area. In the funerary area
pottery pieces presented painted decoration, frequently with elaborated patterns (e.g. skeletal, visceral) that
suggest they were made specially for the mortuary ritual (BUARQUE 2010). Farther from the funerary urn
and spatially isolated from the funerary area, features in domestic context are associated with fragments of
utilitarian, non-decorated or plastic decorated potsherds (for more information, SCHEEL-YBERT et al. 2014a).
The analysis presented here was performed upon samples from Locus 2, the more extensively
excavated, also with the most extensive sampling of dispersed charcoal (SCHEEL-YBERT et al. 2014a). The
three earlier periods of site occupation are represented in this locus, therefore dated between 3220-2840
and 1820-1390 cal yrs BP.

The Hatahara multicomponencial site (Central Amazon)


The Hatahara site (AM-IR-13), located on a high terrace next to a small lowland (várzea) area on the
left bank of the Solimões River, Amazonas State (Fig. 1), is considered an example of establishment of
sedentism related to food production (e.g. HECKENBERGER and NEVES 2009; ARROYO-KALIN 2010). It is a
very well-studied site on which multiple research approaches were applied, such as archaeometry
(REBELLATO 2007; NUNES 2009), soil analysis (MOREIRA 2007; BIRK et al. 2011; MADARI et al. 2011;
SCHMIDT et al. 2014), geoarchaeology (ARROYO-KALIN 2009, 2010), bioanthropology (PY-DANIEL 2009),
archaeobotany (BOZARTH et al. 2009; CASCON 2010; CAROMANO 2010; SHOCK et al. 2014), besides site
formation, settlement pattern, and artifacts analyses (LIMA 2008; LIMA and NEVES 2011; MACHADO 2005;
REBELLATO et al. 2009; NEVES 2011; TAMANAHA 2012) and others.
Hatahara site is located in an urbanised and deforested area, in the Amazon phytogeographical
domain. The main phytophisiognomies are dense ombrophilous forests (terra firme forests) and alluvial
dense ombrophilous forests (várzea forests), both presenting high species diversity (VICENTINI 2001). The
climate, Ami in the Köppen system, is tropical hot and rainy with a small and innefective dry season; annual
precipitation is 2500 mm; mean annual temperature is 27 °C (SUDAM 1984).
This site attains 16 ha of area, combining a privileged access to a large body of water to the vicinity
of a terra firme rain forest (MACHADO 2005). It features extensive layers of Amazonian dark earths, which
formation was probably initially associated with Manacapuru phase and latter intensified during the Paredão
phase. It also presents earthworks through mound construction and high density of pottery, polished stone
artifacts, concentrations of funeral urns, and direct burials. Fourteen artificial mounds built with TPI and
potsherds are distributed in four groups, each one presenting a roughly semicircular arrangement
(MACHADO 2005; PY-DANIEL 2009). It is suggested that these mounds were dwelling and burial places
(MACHADO 2005; MORAES 2007).
Four different ceramic phases with different spatial distribution were identified in this site
(MACHADO 2005; NEVES and PETERSEN 2006; REBELLATO 2007). The Açutuba phase, found in deeper

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deposits, is dated between c. 2250 and 1600 ysr BP (LIMA et al. 2006) and seems to have a wide spatial
distribution (REBELATTO 2007; LIMA 2008). The Manacapuru phase, dated between c. 1550 and 1050 yrs BP,
was identified in different areas of the site through potsherds and funerary urns (LIMA 2008). The Paredão
phase, dated between c. 1250 and 700 yrs BP, presents the largest spatial distribution and pottery density
and is associated with higher population densities (CAROMANO 2010), formation of deep layers of TPI, and
construction of artificial mounds (MORAES 2007; REBELLATO 2007). The Guarita phase, dated between c.
1050 and 400 yrs BP, is found closer to the surface. The artifacts associated with this phase are distributed
along a linear pattern that follows the river course, therefore corroborating chroniclers’ reports of numerous
linear villages along the Amazon river bed (REBELLATO 2007).
The anthracological analysis here presented concerns charcoal samples collected from an
excavation square of 1x1 m presenting three archaeological layers, besides an additional surficial layer highly
disturbed and therefore disregarded (CAROMANO 2010).
Layer-III (3-30 cm) is characterised by the presence of terra preta and the highest concentrations of
cultural material, especially pottery. This layer is attributed to the Paredão phase and indirectly dated of c.
1250-700 yrs BP. Layer-II (30-60 cm) presents terra mulata and lower pottery density. Layer-I (60-120 cm),
composed of a clayey yellow latossol, presented very little cultural material and was initially not entirely
considered an archaeological layer. However, the large quantity and high diversity of charcoal identified,
associated with the presence of seeds, palm endocarps, tubers, and even a cassava tuberous root, allowed
Caromano (2010) to demonstrate that it assuredly represented a cultural layer, even if it is not yet clear
whether it could represent a garden or a field rather than a dwelling space. As the two first layers were not
dated, not even relatively, it is presently impossible to know their chronology. Nevertheless, one can assume
they might be related to the Açutuba and/or to the Manacapuru phases, and therefore estimatively dated
from c. 2250/1550 to 1000 yrs BP.

The Southern Proto-Je sites (Southern Brazil)


Four archaeological sites associated with the Southern Proto-Je populations in northeastern Rio
Grande do Sul State were studied (Fig. 1). Sites are distributed along the left bank of Pelotas River, in a
region with relief and vegetation characteristics of the Brazilian Araucaria Plateau. The altitude ranges
between 500 and 1000 m above sea level. The vegetation is characterised by the occurrence of deciduous
forests closest to the river and of mixed rain forests and Araucaria forests interspersed by grasslands in
higher altitude areas further away. The climate is temperate hot, Cfb in the Köppen system, without dry
season; the annual precipitation is 1752 mm; mean annual temperature is 16° C, reaching under zero
temperatures in winter (IBGE 2010).
This region’s occupation by Southern Proto-Je groups was dated between c. 1200-300 yrs BP. The
archaeological record consists of ensembles of pithouses, funerary monuments, ceremonial centers, and

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OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND CULTURAL CHOICES IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND SOUTHERN
BRAZIL FROM C. 3000-300 CAL YRS BP

cultivation areas assigned to a farming society presenting well-defined social and political structures. Their
material culture consists of a pottery industry described as utilitarian, and a lithic industry characterised by
polished and flaked artifacts (for more information see AZEVEDO and SCHEEL-YBERT, this volume).
In this context, three dwelling sites – two of them composed of pithouses (Ari-I and Leopoldo-V)
and one litho-ceramic (Pedreira) – and a ceremonial site consisting of an earth mound (Leopoldo-VII) were
studied (AZEVEDO 2014; AZEVEDO and SCHEEL-YBERT, this volume). These sites were dated from 1200±40 to
350±40 yrs BP (SOUZA 2012), therefore representing all the occupation period known to the region.
The Ari-I site (RS-PE-41), dated at 1200±40 yrs BP (1178-964 cal yrs BP), is a dwelling space
composed of 10 pithouses, six earth mounds, surface concentrations of lithics and potsherds, and
earthworks limiting the structures (AZEVEDO 2014). The sample analysed here consists in dispersed charcoal
fragments evidenced throughout the occupation layer of an excavated pithouse.
The Leopoldo-V site (RS-PE-11), dated at 1140±40 yrs BP (1066-930 cal yrs BP), consists of 8
pithouses also considered a domestic area, linearly distributed on top of a hill and limited by earthworks
(COPÉ et al. 2002; SALDANHA 2005). A sample coming from a hearth excavated in the center of a pithouse
floor was analysed.
The Pedreira site (RS-PE-12), dated at 460±40 yrs BP (535-328 cal yrs BP), consists of a large circular
patch of darkened soil containing dispersed lithics and pottery. It is interpreted as the floor of a semi-circular
hut (COPÉ et al. 2002; SALDANHA 2005). Charcoal samples from a hearth of concave base, probably located
in the hut entrance, were studied.
The Leopoldo-VII site (RS-PE-21), dated at 350±40 yrs BP (486-300 cal yrs BP), is a ceremonial site
located at a high area in the same settlement system as Leopoldo-V. It comprises at least two mound
structures of 15 and 20 m in diameter each, both containing central mounds associated with dispersed lithics
and pottery (COPE et al. 2002; SALDANHA 2005). A funeral pyre excavated from this site provided the
charcoal samples analysed.

MATERIAL AND METHODS

Archaeological excavations in all sites were performed according to traditional methods. Morro
Grande and the Southern Proto-Je sites were extensively excavated in natural layers. At Morro Grande, all
the sediments removed from an extensive open-area excavation in Locus 2 were dry- or water-sieved and
the charcoal pieces were collected with supple tongs (SCHEEL-YBERT et al. 2014a), while in Southern Proto-
Je sites charcoal was collected alongside with other archaeological materials only when its presence was
identified in the sediments during the excavation (AZEVEDO 2014). In the Hatahara site, one test pit of 1 m2
was excavated in 10 cm-artificial layers; all sediments removed were water-sieved in the field and later

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RITA SCHEEL-YBERT, CAROLINE FERNANDES CAROMANO E LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO

flotated in the lab; charcoal pieces were collected from both light and heavy fractions (CAROMANO 2010).
All sieving and flotation were performed with 4-mm meshes. A synthesis of sites characteristics and
archaeological methods is presented in Table 1.
Charcoal identification was performed under reflected light brightfield/darkfield microscopes,
observing wood anatomical features along fresh hand-broken surfaces. Systematic determinations were
helped by a computerised key for wood determination associated with a database of anatomical characters
for Brazilian species (SCHEEL-YBERT 2012; SCHEEL-YBERT et al. 2014b), as well as by comparison with the
reference collection of modern carbonised wood from the Laboratório de Arqueobotânica e Paisagem do
Museu Nacional, UFRJ (SCHEEL-YBERT 2016) (both containing over 1200 species/2300 specimens of different
Brazilian vegetation types) and with the specialised literature. All results are presented in count of charcoal
pieces, according to methodological premises standard in anthracology and already previously justified
(CHABAL 1997; SCHEEL-YBERT 2000, 2004b).
Each sample consisted of a minimum of 200 (Morro Grande and Hatahara sites) or 300 (Southern
Proto-Je sites) charcoal pieces, except for samples with fewer pieces, in which case all available charcoal was
analysed. Only charcoal pieces above 4 mm were analysed, since smaller fragments generally lack a set of
anatomical diagnostic features large enough for determination.
Charcoal diagrams were plotted using program C2 Data Analysis (JUGGINS 2007) (Morro Grande
and Hatahara sites) or Excel (Southern Proto-Je sites). Diagrams were constructed with the relative
frequencies of the different taxa calculated on the basis of the number of identified fragments,
indeterminate pieces included (Ni). The total number of fragments analysed (Nt) comprises the Ni plus non-
identifiable pieces (e.g. knots, bark, poorly-preserved fragments) (SCHEEL-YBERT 2004b).
Statistical analyses and ecological measures (especially the Shannon diversity index4) were
calculated using the computing environment R (R Development Core Team 2007).
An estimate of the successional stages represented in each anthracological assemblage was
obtained by attributing the identified taxa to ecological groups (pioneer, early secondary, late secondary, or
climax), according to various authors who used this approach in phytosociological surveys from the
phytogeographical area of each site. Most archaeological taxa being determinated at genus level, the
ecological groups of the most frequent species in each region were considered.
The floristic composition, physiognomy, and structure of plant communities change over time
according to processes of ecological succession. The characteristics of different plant species in a given plant
community are related to these processes, and it is therefore possible to recognise successional stages
through the plants that occur in each community. Pioneer plants, heliophilous and resistant to drought, grow

4
The Shannon diversity index is frequently used in plant ecology to describe different plant communities by taking into account
species richness and uniformity in distribution. The higher the index, the greater the plant diversity, i.e., the higher the number of
species (richness) and the more evenly they are distributed (equitability), the greater the plant diversity.

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OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND CULTURAL CHOICES IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND SOUTHERN
BRAZIL FROM C. 3000-300 CAL YRS BP

in areas devastated either by natural or by anthropogenic agents, and are the first to develop on the
exposed soil. They are therefore the first to colonise a deforested land after disturbance, shortly followed by
early secondaries. Secondary plants are those that prevail in the initial and intermediate stages of forest
development or recovery. Late secondary plants would be the last to appear before the final stage of forest
development: the climax community, a ‘mature’ and relatively stable forest (or plant community) in
equilibrium with the physical environment (BUDOWSKI 1965).
One must keep in mind that the classification of plant species in ecological stages is not
straightforward. Several different classification schemes have already been proposed (cf. LONGHI et al.
2006). More recently, the very concept of “climax” came to be questioned, as it implies the existence of
supposed “untouched” vegetation. In spite of that, this approach can provide useful means of describing the
plant environment and understanding the vegetation.

Table 1: Synthesis of site characteristics, archaeological methods, and anthracological samples analysed in this paper
for each site (only conventional dates given here).
site
location / current archaeological associated excavation charcoal sample
site occupation/ studied sample
phytogeography context date method recovery size
studies layers

dispersed
Southeastern Domestic extensive dry- or
4 occupation charcoal Ni=549
Morro Brazil (RJ) 2920±70 to excavation water-
periods Nt=642
Grande – *plus concentrated samples and 1740±90 BP in natural sieving in
(3 studied) Nsp=51
Atlantic rainforest funerary context non detailed layers the field
here

Central Amazon
1m2 test
(AM) water-
4 occupation probably c. pits, Ni=585
– dispersed domestic or sieving in
Hatahara periods 2250/1550? 10cm- Nt=659
Amazon charcoal garden/field the field +
(3 studied) to 700 BP artificial Nsp=58
rainforest (terra lab flotation
layers
firme / várzea)

Ni=300
dispersed domestic
Ari-I 1200±40 BP Nt=340
charcoal (pithouse)
Nsp=8
Southern Brazil Ni=263
Leopoldo- (RS) domestic
Hearth 1140±40 BP extensive Nt =287
V – 1 occupation (pithouse)
excavation hand-picked Nsp=9
Mixed rain forest, period
in natural in the field Ni=300
Deciduous each site domestic
Pedreira Araucaria forest, Hearth 460±40 BP layers Nt=312
(lithoceramic)
Grasslands Nsp=4

Ni=264
Leopoldo-
funeral pyre ceremonial 350±40 BP Nt=300
VII
Nsp=9

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RITA SCHEEL-YBERT, CAROLINE FERNANDES CAROMANO E LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO

RESULTS
Morro Grande Site
Charcoal samples from different contexts in three loci of the Morro Grande site were analysed; the
complete results were already published (BEAUCLAIR et al. 2009; SCHEEL-YBERT et al. 2014a). From almost
4,000 charcoal pieces identified, 1,112 fragments related to dispersed charcoal from domestic contexts of
Locus 2 were used for palaeoecological interpretation, but only the results of a part of the locus with
exclusively domestic evidence (5 squares out of 17, which provided 642 charcoal fragments) will be more
detailedly presented here.
From these, 51 taxa in 26 families were identified, along with 20 indeterminate (Fig. 2). Taxonomic
composition and frequencies in the three analysed levels demonstrate the permanence of the Brazilian
Atlantic rainforest in the region between 3,220-2,840 cal yrs BP and 1,820-1,390 cal yrs BP. Taxonomic
richness increases, along with sample size, from earlier to later archaeological levels (20 taxa in 114 charcoal
pieces in level 1; 27 taxa in 223 fragments in level 2; and 35 taxa in 305 fragments in level 3). Shannon
diversity indices (H’) are relatively low (2.7-2.1-2.6, respectively). There is a high proportion of taxa of early
successional stages in all archaeological levels, although taxa of late ecological successional stages are also
recorded (Fig. 2). An increase in the proportion of early successional taxa in the third archaeological level
(L2-l.3, 1820-1390 cal yrs BP) points to a possible opening of the local vegetation after c. 2,000 yrs BP.
A positive linear correlation (0,7361) was verified between species richness and number of charcoal
pieces analysed in funerary and domestic hearths, confirming that taxonomic diversity increases in larger
samples (BEAUCLAIR et al. 2009). Larger samples obviously increase representativeness. However, all
available fragments were analysed.

Hatahara Site
In this site, the analysis of 659 charcoal pieces from one test-pit revealed 585 woody dicotyledons
and two monocotyledons (palms); 58 dicotyledon taxa were distributed in 36 families and 49 genera, along
with nine indeterminates (CAROMANO 2010) (Fig. 3).
All taxa are characteristic of the Amazon Forest; taxa characteristic both of the terra firme and of
the várzea forest occur, indicating a forested environment between c. 2250/1550 and 700 yrs BP. However,
as no direct date was obtained from the studied locus, this is an approximate chronology.
Taxonomic richness increases, along with sample size, from earlier to later archaeological levels (36
taxa in 148 charcoal pieces in level 1; 48 taxa in 221 fragments in level 2; and 58 taxa in 290 fragments in
level 3). Shannon diversity indices of 3.28, 3.42, and 3.67 H’, respectively, are consistent with the expected
for Central Amazon (varying from 3 to 5, according to MARTINS 1993). There is a high proportion of taxa of
early successional stages on all archaeological levels; taxa of late ecological successional stages were scarce;
some possibly cultivated taxa are present (Fig. 3).

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
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Figure 2: Morro Grande anthracological diagram (adapted from SCHEEL-YBERT et al. 2014a) – Ni (Number of identified wood charcoal pieces): L2l.1=282, L2l.2=197,
L2l.3=70; Nt (Total number of analysed charcoal pieces): L2l.1=305, L2l.2=223, L2l.3=114; Nsp (Number of species in each sample): L2l.1=35, L2l.2=27, L2l.3=20; H’ (Shannon
diversity index): L2l.1=2.6, L2l.2=2.1; L2l3=2.7 – Codes after the taxonomic names stand for their classification in ecological groups (see legend Fig. 5). Crosses indicate
presence of rarer taxa (< 2%).
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0 10 20%

Figure 3: Hatahara anthracological diagram – layer.1: Ni=129, Nt=148, Nsp=26, H’: l.1=3.28; layer.2: Ni=200, Nt=221, Nsp=35, H’: l.1=3.67; layer.3: Ni=256, Nt=290, Nsp=42,
H’: l.1=3.43 – Estimated dates between c. 2250/1550 and 700 yrs BP.
RITA SCHEEL-YBERT, CAROLINE FERNANDES CAROMANO E LEONARDO WAISMAN DE AZEVEDO

Southern Proto-Je
All charcoal pieces collected in each of the four studied sites were analysed, consisting of a total
of 1,239 fragments (AZEVEDO 2014; AZEVEDO and SCHEEL-YBERT, this volume).
Twenty-three taxa were identified, comprising 12 families, 12 genera, and four types of
indeterminate angiosperms, including one liana (Fig. 4). All taxa are characteristic of the Brazilian Atlantic
rainforest biome and occur in the mixed rain forest (Araucaria Forest), demonstrating the permanence of
this vegetation type during all the studied period, around c. 1178-930 cal yrs BP (sites Ari-I and Leopoldo-
V).and later around c. 535-300 cal yrs BP (sites Pedreira and Leopoldo-VII). A very low diversity was
observed in all studied sites, including, conversely to the expected, the dispersed charcoal sample from Ari-I
(8 taxa in 340 charcoal pieces in Ari-I; 9 taxa in 287 pieces in Leopoldo-V; 4 taxa in 312 pieces in Pedreira; 9
taxa in 300 pieces in Leopoldo-VII) (Fig. 4).
The high proportions of Inga sp in all studied sites possibly point to a fuelwood preference. This
taxon was largely predominant in samples Ari-I, Pedreira, and Leopoldo-VII (43, 62, and 52%, respectively),
while also well represented in Leopoldo-V (17%) (AZEVEDO 2014; AZEVEDO and SCHEEL-YBERT, this
volume).
High proportions of taxa of early successional stages were recorded in all samples.

Ari-I Leopoldo-V Pedreira Leopoldo-VII


1200±40 BP 1140±40 BP 460±40 BP 350±40 BP
Lithraea (PI/SI)
Rollinia (SI)
Annonaceae (SI/ST)
Ilex (PI/SI)
Eupatorium (PI)
Euphorbiaceae (SI to CL)
Senna/Cassia (PI/SI)
Sclerolobium t.1 (PI)
Sclerolobium t.2 (PI)
Inga (SI/ST)
cf Melastomataceae (PI/SI)
Palicourea (ST)
Psychotria (SI)
Rudgea (SI)
Rubiaceae (SI/CL)
Sapindaceae (PI/SI)
Dicot indet 1
Dicot indet 2
Dicot indet 3
liana t. 1 (SI)
Podocarpus (SI-CL)
Arecaceae (PI/SI)
Bambusoideae (PI)
0 10 20%

Figure 4: Southern Proto-Je sites anthracological diagrams – Ari-I: Ni=300, Nt=340, Nsp=8; Leopoldo-V: Ni=263,
Nt =287, Nsp=9; Pedreira: Ni=300, Nt=312, Nsp=4; Leopoldo-VII: Ni=264, Nt=300, Nsp=9 – Codes after the taxonomic
names stand for their classification in ecological groups (see legend Fig. 5).

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OF FORESTS AND GARDENS: LANDSCAPE, ENVIRONMENT, AND CULTURAL CHOICES IN AMAZONIA, SOUTHEASTERN AND
SOUTHERN BRAZIL FROM C. 3000-300 CAL YRS BP

DISCUSSION

Environment
Anthracological results for all studied sites demonstrated the existence of forested environments
around the settlements, in accordance with what would be expected in each phytogeographical area. The
assemblages of taxa identified point to the occurrence of the Atlantic Forest in the Southeastern region
between c. 3000 and 1500 cal yrs BP (Fig. 2); of terra firme and várzea forests in the Northern Central
Amazon from c. 2250/1550(?) to 700 yrs BP (Fig. 3); and of Atlantic Forest and Araucaria forest in the
Southern part of the country from c. 1180 to 300 cal yrs BP (Fig. 4).
Very high taxonomic richness was verified in Central Amazon and in Southeastern Brazil, even if
diversity indices were relatively low in the latter, pointing in both cases to a good representation of the
landscape and to long lasting occupations (Figs. 2-3).
The very low diversity from Southern sites is most probably explained by a bias of archaeological
sampling, which was asystematic, although cultural practices of cleaning or sweeping the dwelling area
before each new fire and/or cultural choice of specific taxa might also be implied (cf. AZEVEDO 2014;
AZEVEDO and SCHEEL-YBERT, this volume). However, the identification of key taxa characteristic of the
vegetation typical to this area in all samples (e.g. Podocarpus, Ilex) allow a qualitatively reliable landscape
reconstruction (Fig. 4).
In Central Amazon, the more prevalent families, either in number of taxa or in number of
individuals, were Melastomataceae, Fabaceae, Myrtaceae, Rubiaceae, Euphorbiaceae, and Sapotaceae,
which together accounted for more than 50% of the identified charcoal pieces (Fig. 3). Those families still
figure among the more important plants recorded in phytosociological studies in Central Amazon (e.g.
HOPKINS 2005; OLIVEIRA and AMARAL 2005). The high prevalence of Melastomataceae in this record
clearly evokes the secondary forests (“capoeiras”) currently so common in the Central Amazon near
Manaus, where plants of this family are conspicuous and compose a great part of the understory (personal
observation of the first author; also Junqueira, pers. comm.).
In the Southeastern, Fabaceae, Bignoniaceae, Myrtaceae, Sapotaceae, and Euphorbiaceae are the
most important families, both in number of species and of individuals (Fig. 2), paralleling what is presently
found in low altitude Atlantic forest facies (e.g. VAZ 1992; OLIVEIRA-FILHO and FONTES 2000). In this site,
high frequencies of Myroxylon and Handroanthus are remarkable. High frequencies of Handroanthus can
be consistent with an environmental natural condition, as species of this genus are frequently important
elements of the dense ombrophilous forest. Myroxylon, however, is a very rare plant, unlikely to ever have
been predominant in the Atlantic Forest phytosociology. Given their properties, it is unlikely that any of
these taxa was selected merely for firewood, for both plants are characterised by producing highly valuable
wood and important medicine. Besides, they are characteristically late secondary or climactic species,

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which should be searched farther from the settlement. The prevalence of these taxa might therefore be
explained by a particular exploitation of their wood. If so, the wood waste remaining from these activities
was probably set to fire, raising their frequencies in the anthracological spectrum (SCHEEL-YBERT et al.
2014a).
In the South, Fabaceae was clearly the best represented family, both in number of taxa and of
individuals, followed by Rubiaceae, Podocarpaceae, and Annonaceae (Fig. 4). However, in this case, the
results cannot be taken as representative of the phytosociological importance of these families in the
vegetation, because of the low diversity of the samples.
No significant palaeoenvironmental variation was recorded in any of the sites during the studied
periods, except for a possible opening of the local vegetation after c. 2,000 yrs BP in the Morro Grande site,
as demonstrated by an increase in the frequency of pioneer and early secondary plants (Fig. 5).
All sites bear in common a high proportion of taxa of early successional stages, attesting the
existence of secondary vegetation around the settlements (Fig. 5).

Morro Grande Hatahara


0,5 0,5

0,4 0,4

0,3 0,3
PI/SI PI/SI
0,2 0,2
SI/ST SI/ST
ST ST
0,1 0,1
ST/CL ST/CL
0 CL 0
cult
L2-l.1 L2-l.2 L2-l.3 layer-I layer-II layer-III
2920±70 BP 2600±160 BP 1740±90 BP (~2250/1550? - 1000 BP) ~1250-700 BP

0,8

0,6

0,4
PI/SI
0,2 SI/ST
ST
0 ST/CL
Ari-I Leopoldo-V Pedreira Leopoldo-VII CL
1200±40 BP 1140±40 BP 460±40 BP 350±40 BP

Figure 5: Histograms showing the distribution of taxa in ecological groups for all sites in frequency of the number of
taxa at each archaeological level. Pie charts represent the distribution of ecological groups in all analysed samples
(dispersed and/or concentrated charcoal in Morro Grande and the Southern Proto-Je sites, only dispersed charcoal
in Hatahara) (PI- pioneer; SI- early secondary; ST- late secondary; CL-climax; cult- cultivated).

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Besides the taxonomic evidence, wood anatomy aspects also point to early successional stages
taxa. Indeed, it is well known that ecological factors affect wood anatomy. On the one hand, there is a
genetic component that distinguishes the wood anatomy of trees occurring under certain environmental
conditions; on the other hand, individuals of the same species growing under different ecological
conditions will respond producing slightly different wood anatomical features (FISHER et al. 2007). It is
therefore possible to drive climatic and vegetational inferences from wood anatomy, as certain wood
anatomy features tend to be more common under particular ecological conditions (e.g. CARLQUIST 1977,
2001; CARLQUIST and HOEKMAN 1985; WIEMANN et al. 1998; ALVES and ANGYALOSSY 2000).
Vessels which are narrow and numerous, frequently grouped, and the presence of well-marked
growth rings are associated with xeromorphy and are expected in seasonal climate (dry or cold). On the
contrary, vessels that are wide and rarer, frequently solitary, and the absence of growth rings indicate
mesomorphy and are associated with humid environments (CARLQUIST 1977; CARLQUIST and HOEKMAN
1985). In the equatorial Amazon, and to a lesser degree in tropical Atlantic rainforests, trees presenting
large and unfrequent vessels are expected.
It was therefore quite surprising that most of the anatomical types identified in Hatahara site
presented rather small and frequent vessels, frequently grouped, conversely to what was to be expected in
such environment (cf. ALVES and ANGYALOSSY 2000) – the same pattern apply to the Morro Grande site,
where it was less unexpected (Figs. 6-7). Growth rings are rare in both sites, for there is no climatic
seasonality, but it is clear that these trees experienced a certain level of water restriction. This could be
explained if they were not growing inside the very humid environments of a rainforest, but rather in quite
open spaces characteristic of anthropogenic secondary vegetation, and thus submitted to higher insolation
and a lesser hydric availability.
These results point to the fact that human occupation, as might be expected, promoted forest
disturbance and created anthropogenic environments. The substantial earthworks and the extended
villages characteristic of the Central Amazon and Southern Proto-Je occupations, as well as the
anthropogenic dark earths in the former, and the complex settlement system in the latter, have already led
several researchers to highlight the importance of past populations in the landscape construction at these
regions (e.g. COPÉ and SALDANHA 2002; MACHADO 2005; SALDANHA 2005; COPÉ 2006a, 2006b; NEVES
and PETERSEN 2006; REBELLATO et al. 2009; SCHMIDT et al. 2014). However, the importance of human
influence on the vegetation has seldom been demonstrated, exception made to the possible management
of Araucaria pine, with important outcomes to the Southern landscape (COPÉ 2006a; BITENCOURT and
KRAUSPENHAR 2006; IRIARTE and BEHLING 2007).

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Figure 6: Transversal plans of some of the taxa identified in Hatahara site at reflected light microscopy. a.
Anacardiaceae; b. Annonaceae; c. Apocynaceae (Aspidosperma sp); d. Euphorbiaceae; e. Fabaceae; f. Humiriaceae; g.
Melastomataceae; h. Myrtaceae; i. Pentaphylacaceae; j. Rubiaceae (Psychotria sp); k. Salicaceae (Casearia sp); l.
Vochysiaceae (Qualea sp). All pictures taken at 100x increment.

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Figure 7: Transversal plans of some of the taxa identified in the Morro Grande site at scanning electron microscopy. a.
Chrysobalanaceae; b. Sapotaceae; c. Rubiaceae (Psychotria sp); d. Fabaceae (Machaerium sp); e. Myrtaceae; f.
Bignoniaceae (Handroanthus sp); g. Fabaceae (Myroxylon sp); h. Fabaceae (Bauhinia sp); i. Fabaceae (Copaifera sp); j.
Anacardiaceae. bars = 200 m (adapted from SCHEEL-YBERT et al. 2014a).

Plants use
The plant diversity represented in charcoal samples from the Morro Grande and Hatahara sites
undoubtedly demonstrates that, at least for most usages, the gathering of firewood for domestic firewood
was not selective. For both these sites, collection of the necromass (dead wood), carried out in spaces of

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secondary anthropogenic vegetation surrounding the settlements, but possibly also in fallows or swiddens,
is suggested.
Some particular species might be preferred for specific firewood uses, as it seems to be the case
in Southern Proto-Je sites, where Inga was possibly selected for its burning qualities and/or symbolic value.
Even if the possibility of some fuelwood preference is not opposed to the gathering of deadwood or tree
felling (the latter associated with swidden cultivation?) for a more general use as firewood, the very small
and probably biased samples from these sites do not allow for any more solid inferences.
Plants possibly bearing edible fruits, valuable wood and/or medicinal parts are very common in
the anthracological records of all studied sites (Table 2); other potentially useful taxa, such as
hallucinogenic or ritualistic plants, were also recorded, especially in Hatahara site.

Table 2: Potentially useful taxa recorded in Morro Grande, Hatahara, and in the Southern Proto-Je sites studied.
Taxon Use Morro Grande Hatahara Proto-Je
Anacardiaceae edible fruits X X X
Spondias (cajá) edible fruits X
Annonaceae edible fruits X X X
Aspidosperma sp valuable wood, medicine X X
Ilex sp beverage, medicine X
Eupatorium sp medicine X
Handroanthus sp valuable wood, medicine X X
Chrysobalanaceae edible fruits, cariapé X X
Diospyros sp edible fruits X
Lecythidaceae edible fruits X X
Copaifera sp valuable wood, medicine X
Inga sp edible fruits X X
Myroxylon sp valuable wood, medicine X
Melastomataceae edible fruits, medicine X X
Byrsonima sp edible fruits X X
Vantanea sp edible fruits X
Virola sp hallucinogenic X
Myrtaceae edible fruits X X
Rubiaceae edible fruits X X X
Genipa sp edible fruits, black dye X
Psychotria sp medicine / ritualistic X X X
Sapotaceae edible fruits X
Siparuna sp medicine / ritualistic X
Arecaceae (palms) edible fruits X X
Podocarpus medicine X

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Useful plants, presumably, only happen to be used as firewood when fallen dead branches are
collected, as in the case of dead wood gathering. However, this might also happen when the wood wastes
of a particular exploitation activity of the trees (e.g. for wood, medicine, dye, or any other reason) are set
to fire, as it was proposed by Scheel-Ybert et al. (2014a) to explain the high usage frequencies of
Myroxylon, Handroanthus, and Copaifera species (the latter in concentrated charcoal) in the charcoal
remains of Morro Grande.
On the one side, the presence of these plants can be interpreted as validating the hypothesis of
good representation of the plant environment in the anthracological record, along with the lack of
selectivity in firewood gathering. On the other side, the importance of secondary and useful plants around
the settlements might be an evidence of the domestication of the landscape, as it will be discussed latter.

Landscape
The concept of “landscape” means much more than merely the topographical and environmental
contexts around a settlement (THOMAS 2001; BENDER 2006). It may be defined as the space where human
activities are carried out, through which individuals recognize themselves and acknowledge their world
within culturally established rules and meanings (HODDER and HUTSON 2003). Hirsh (1995) argues that
while the landscape effectively provides a context for human life, it necessarily integrates a relationship
between lived realities and potential for other ways of being, which are metaphysical, imagined, or
idealised.
Recent approaches to human interaction with the environment frequently privileges the social,
emphasising the perception, experience, and symbolic attributes of the landscape, at expense of the
natural. McGlade (1995) argues that the debate opposing the landscape perceived as a hermeneutic entity
and the landscape as a physical fact is an oversimplification of facts. In reality, social practices occur whithin
the natural world and share with it a reciprocal dynamic – the social informs the natural and the natural
informs the social. The challenge of working with landscape is to take into account both the natural and the
social aspects of the question (THOMAS 2001). In considering the human-environment binomial as
inseparable, the concept of landscape therefore rejects any kind of binary relation between man and
nature (INGOLD 1993).
Following these premises, and since the mythological system is closely linked to the environment,
focusing as it does on the flora and fauna associated with particular places, one might therefore expect a
close correspondence between nature and culture, and a logic to the distribution of ancestral beings that
accords with the distribution of natural species (MORPHY 1995).
Recent studies aimed at providing a better understanding of landscapes as perceived through
anthracological research supply interesting examples. Dotte-Sarout (2010), in an ethnobotanical survey
related to the Kanak from New Caledonia, southwestern Pacific, identified four contiguous partitions of the

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territory, each associated with different ways of managing wood resources and occupation by traditional
populations. The domestic space, containing dwelling, gardens, and horticultural areas, is reserved to social
and ritual activities; previously cleared, it is replanted with trees strictly distributed according to food or
symbolic functions. A borderland assembles useful and symbolic woody plants between the domestic space
and the forest; it consists on secondary formations seemingly natural, but where all plants serve a
functional role (symbolic, food, raw materials, medicinal, etc). The humid forest is uncultivated, still not a
wild space, for it is used, managed, and exploited; this area is perceived as the dwelling of the ancestors’
spirits. Finally, the ‘deep forest’ – associated with higher altitude dense wet rainforests – is considered
dangerous, avoided, and out of the social world.
Picornell et al. (2011), in an ethnographical study of the Fang, a slash-and-burn society from
Equatorial Guinea, also described a topocentric organization of the world in which the village occupies the
center of social space. A network of paths connects the village with other areas of daily activities, such as
orchards (cultivation) and rivers (fishing). The forest, further away, is perceived as a space inhabited by the
spirits of plants, animals, and the ancestors, which are seen as an integral part of the social life of the
village; roads, pathways, orchards, and fallow land are a frontier zone between the center of social life and
the forest.
Reconstructing landscapes from archaeological remains is therefore passing beyond the merely
economicist and/or naturalistic interpretations to perceiving the underlying cultural determinants that
pervade the data, while still not missing their ecological significants. It is clear that the surroundings of the
settlements, possibly including not only the dwelling places but also paths interconnecting them with
gardens, orchards, cultivation fields, rivers, and exploited forests, were spaces of domesticated secondary
vegetation in all studied contexts. Scheel-Ybert et al. (2014a) have proposed that these anthropogenic
areas, for their characteristics of proximity, structure, and/or social significance, were probably preferred
for the firewood collection in the Morro Grande site (SE Brazil), as both the rather low diversity of charcoal
samples and the high proportion of taxa of early successional stages suggested a restricted site catchment
area for firewood. In view of the data presented here, it is possible to extend this proposition also to the
other studied sites, both in Northern (Hatahara site) and in Southern Brazil (Southern Proto-Je sites). It is
not possible to reconstruct the beliefs, ideologies, and particular precepts orienting each of these
populations’ choices – which anyway are certainly different in each case –, but it is clear that the gathering
of firewood took place in areas of anthropogenic secondary vegetation around the villages, the paths, or in
fallows/swiddens, and not in the mature forest.
Ethnographic analogy must be taken with extreme caution in any context, and most especially for
interpreting Brazilian prehistory. Indigenous lifeways have changed significantly after the colonization, due
to the establishment of new and different demographic, geographic, economic, and sociopolitical contexts
(Roosevelt, 1989). Besides, ethnological data on firewood use and on the reports of indigenous populations

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SOUTHERN BRAZIL FROM C. 3000-300 CAL YRS BP

with plant communities are extremely scarce.


Most studies available concern Amazonia. Settlements surrounded by garden plots, with the
uninhabited forest further away are reported for different indigenous cultural groups – such as the Ka’apor
(Tupi-Guarani) from Eastern Amazon (BALÉE and GÉLY 1989; BALÉE 1994), the Kuikuro (Arawak) from the
Upper Xingu (HECKENBERGER 2005), the Barafiri (Yanomami) from Venezuela and Brazil (SMOLE 1989), and
the Achuar (Jivaro) from Equator (DESCOLA 1986, 1993), among others.
In all cases, the forest outside the dwelling space, although uninhabited, is not unfrequented. It is
a collecting and hunting space, but it is also a strongly manipulated environment. Human manipulation of
resources – by relocating, protecting, planting, transplanting, semidomesticating, domesticating, and using
plants – is considered to be a central cultural factor in Amazonian adaptations (BALÉE 1989). Indigenous
Amazonian people therefore have, and have had, an important impact on rain forest structure and
composition, as they alter the course of natural succession by favouring the distribution of plant species
used for food, medicine, construction, manufacture, and firewood, through processes that Irvine (1989)
called “succession management” and Erickson (2006) called “domestication of landscape”.
One example of spatial organization is provided by xinguan Kuikuro settlements – whose
economy is essentially based on manioc cultivation and fishing. Villages follow a circular layout with rings of
houses and domestic activity areas around a central plaza. Radial paths lead out from the plaza to river
ports, bathing areas, lakes, fields, other villages, etc. Trash middens and home gardens extend out from the
backyard. Short-fallow swidden cultivation is practiced on the edge of the village (CARNEIRO 1978;
HECKENBERGER 2005; SCHMIDT 2009). The ensemble of gardens, groves, baths, paths and other places
around the village consists of a largely anthropogenic area, intermediate between the village itself and the
“deep forest”, place of spirits and ancestors. The latter is not really a “natural” world, but one where there
are campsites, special procurement areas, crossroads, and marks of previous land uses (HECKENBERGER
2005) – that is to say, a largely cultural landscape.
For the Kuikuro, firewood is provided essentially by swiddens, which are preferably made in areas
of different stages of secondary succession and may supply the settlements for several months (CARNEIRO
1978, 1986).
The Chácobo, a Panoan group from Bolivian Amazonia, collect firewood mostly in secondary
forests surrounding the settlement, but also in abandoned pastures. For them, any tree species can be used
as firewood, however, they recognise certain species as possessing burning qualities that make them
superior for certain specific applications (BOOM 1989).
These examples provide a possible frame in which to interpret the results from the prehistoric
sites studied here. Anthracological data from all of them provide evidence for practices of succession
management and creation of areas of secondary anthropogenic environments around the settlements
since the earliest occupations, meaning from c. 3000 to 1500 yrs BP in Southeastern Brazil (here probably

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increased after c. 2000 yrs BP), at c. 2250/1550(?)-700 yrs BP in Central Amazon, and from c. 1180 to
300 yrs BP in the Southern sites (Figs. 2-5). The very establishment of the settlements possibly created
spaces of domesticated secondary vegetation, but these results might also point to longer-term practices of
environmental manipulation in a landscape people had been visiting and slowly transforming even before
the installation of each one of these settlements.
These results support the studies based upon historical ecology approaches that have been
discussing anthropogenic forests and human influence on the environment (e.g. POSEY 1985; DENEVAN
1992; FAIRHEAD and LEACH 1995; TOLEDO and MOLINA 2007), many of them focusing on Amazonia (BALÉE
1989, 1994; BALÉE and ERICKSON 2006; POLITIS 1997, 2001; RIVAL 1998; OLIVER 2008; CLEMENT and
JUNQUEIRA 2010). These authors agree that much, if not all of the biosphere has already been affected by
human activity, which does not necessarily lead to degradation and extinction of species (BALÉE 1998). As
long as we consider traditional societies and land use at non-industrial scales, human disturbance, local
deforestation, and creation of secondary environments do not result in irreversible damage to local
biodiversity, due to the resilience of natural ecosystems and their ability of regeneration. Conversely,
human activities may actually increase natural biodiversity by forest management, planting, and/or
encouraging the growth of an assemblage of useful plants in certain forest spots (BALÉE 1994; RIVAL 1998;
POLITIS 2001; OLIVER 2008).

CONCLUSION

Discussing archaeological landscapes does not pertain, according to Ingold (1993), to ‘land’,
‘nature’, or ‘space’, neither does it to ‘cultural images’ or ‘pictorial ways of representing or symbolising
surroundings’. Landscape is the world as it is known to those who dwell therein, who inhabit its places and
journey along its paths. The distinction between landscape and environment is not easy to establish. We
agree with Ingold (1993) in believing that the environment is no more ‘nature’ than is the landscape a
‘symbolic construct’. These concepts are in reality intimately connected, and in reconstructing
archaeological environments one must necessarily take into account the cultural choices embodied in
them.
The data presented here were obtained from sites of different cultural affiliations, different
geographical settings, and different temporalities, yet, they bear in common similar indicators of human
influence in the landscape. Creating secondary environments is inherent to the establishment of human
populations. However, the ways people perceive the environment around them may vary, and that might
only become clear by taking into account a large set of archaeological indicators.
Besides demonstrating that the plant environment around the settlements was modified through

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human action, the results presented here also highlight cultural choices concerning the gathering and the
catchment area of firewood. Gathering of deadwood is suggested for Morro Grande (SE Brazil) and
Hatahara (Amazonia) sites, coupled, in Morro Grande, with the use of wood wastes from the specific
exploitation of some useful trees. In Southern Proto-Je sites firewood might be obtained by deadwood
gathering or wood felling, but selection of a particular species for technological and/or symbolic value is
also suggested.
While pointing to the collection of firewood in secondary vegetations probably surrounding the
settlements, the anthracological results from Amazonian, Southeastern, and Southern Brazilian sites
provide evidence for practices of succession management, resources manipulation, and creation of areas of
secondary vegetation around the settlements since at least 3000 years before present. The data provided
are an important contribution to a better understanding of the relationship between past Brazilian
populations and their landscapes. These people interacted with the natural vegetation, influencing and
transforming it in a series of ways – including the creation of area of secondary vegetation and possibly the
concentration of useful plants. The establishment and maintenance of sedentary or semi-sedentary
settlements, swidden cultivation, horticulture, plant gathering, exploitation of forest products, forest
management, hunting, ceremonial activities, and others, all interfere with the environment and shape the
landscape, either as a physical reality and as social constructs. These people have therefore adapted to the
environment while concomitantly adapting the environment to their necessities and signifying it
accordingly to their beliefs, creating landscapes that changed through time and were certainly very far from
the ideal of “pristine” Atlantic or Amazon Forests.

Acknowledgements
The authors are grateful to Drs. Angela Buarque, Eduardo Goés Neves, and Silvia Moehlecke Copé,
archaeologists responsible for the excavations at the studied sites, for data sharing and fruitful discussions,
to André Braga Junqueira for important insights on the ecology and uses of Amazonian plants, as well as to
two anonymous referees whose comments greatly improved the manuscript. R. Scheel-Ybert is a CNPq
fellowship holder. Scientific researches that made this paper possible were funded by National Counsel of
Technological and Scientific Development (CNPq) and Carlos Chagas Filho Foundation for Research Support
of the State of Rio de Janeiro (FAPERJ) projects.

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Recebido em:17/04/2016
Aprovado em:15/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
TODOS LOS FUEGOS EL FUEGO: DISCUSIÓN EN TORNO A LAS CATEGORÍAS
MODERNAS EN LA INTERPRETACIÓN DE REGISTROS ANTRACOLÓGICOS EN
CONTEXTOS PREHISPÁNICOS Y COLONIALES
TODOS LOS FUEGOS EL FUEGO: DISCUSSIONS AROUND THE MODERN CATEGORIES
OF ANTRACOLOGICAL RECORD INTERPRETATION IN PREHISPANIC AND COLONIAL
CONTEXTS
(TODOS LOS FUEGOS EL FUEGO: DISCUSSÕES EM TORNO DAS CATEGORIAS MODERNAS NA
INTERPRETAÇÃO DE REGISTROS ANTRACOLÓGICOS EM CONTEXTOS PRÉ-HISPÂNICOS E COLONIAIS)

Bernarda Marconetto
Luis Eduardo Mafferra

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


TODOS LOS FUEGOS EL FUEGO: Discusión en torno a las categorías modernas en la
interpretación de registros antracológicos en contextos prehispánicos y coloniales

Bernarda Marconetto1
Luis Eduardo Mafferra2

Resumen: En el presente texto discutimos los resultados de los análisis antracológicos de dos diferentes
tipos de contexto recuperados en Argentina. Las ocupaciones coloniales e hispano indígenas de la ciudad
de Mendoza iniciadas a mediados del siglo XVI, y del valle de Ambato, en el noroeste argentino, ocupado a
lo largo del 1er milenio por grupos que la arqueología definió como Cultura Aguada. Ensayamos aquí un
análisis que desplace la mirada de las plantas como meros recursos dialogando con algunas fuentes
etnográficas e históricas. Nos centramos particularmente en resultados “no esperables” en términos de
lógicas que enfatizan sobre cuestiones economicistas o funcionales.

Palabras Clave: Antracología, Modernidad, Categorías, Recursos.

Abstract: We discuss the results of the anthracological analysis of two different archaeological contexts in
Argentina. The colonial occupation of Mendoza city started in the mid-sixteenth century, and the valley of
Ambato in the northwest of the country, which was occupied during the 1st millennium by groups defined
as Aguada Culture. We try here a dialogue with some ethnographic and historical sources to discuss the
idea of plants as mere resources. We focus particularly on not expectable results in terms of logic that
emphasize over economistic or functional issues.

Keyword: Anthracology, Modernity, Categories, Resources.

INTRODUCCIÓN

Existe actualmente en Antropología un debate sobre la permeabilidad de los territorios


conceptuales de lo que en Occidente conocemos como Naturaleza y Cultura (DESCOLA 2012; LATOUR 1991;
VIVEIROS DE CASTRO 2004, 2012; entre otros). Esta dicotomía madre engloba otros pares de opuestos que
enfrentamos cotidianamente en nuestro quehacer arqueobotánico tales como, silvestre/domesticado,
autóctono/alóctono, nativas/introducidas o doméstico/ritual. Desde la nuestro campo de estudio
particular, reconocemos la dificultad de estudiar la problemática de la relación de las sociedades humanas
del pasado con las plantas desde categorías surgidas en la reciente Modernidad europea (MARCONETTO
2008; LEMA 2014). En este sentido y esperando contribuir al debate citado, proponemos analizar en dos
casos de estudio formas particulares de relación entre las esferas que separamos como lo humano y lo
ambiental. Como arqueólogos y antracólogos, hijos del Naturalismo en términos de Descola (2012),
solemos proponer abordajes e interpretaciones que replican nuestra propia concepción de la relación entre

1
Instituto de Antropología de Córdoba – CONICET – Universidad Nacional de Córdoba, Argentina.
2
SeCTyP, FFyL-IAE UNCuyo, IANIGLA-CCT-Mendoza, CIRSF – Argentina.
TODOS LOS FUEGOS EL FUEGO: DISCUSIÓN EN TORNO A LAS CATEGORÍAS MODERNAS EN LA INTERPRETACIÓN DE
REGISTROS ANTRACOLÓGICOS EN CONTEXTOS PREHISPÁNICOS Y COLONIALES

humanos y no humanos. La percepción de los no humanos como “recursos” es muy fuerte en nuestra
concepción y suele teñir fuertemente la discusión de nuestros resultados. Esta lógica prima en la sociedad
occidental moderna de la que somos parte, pero al ser extrapolada a las interpretaciones sobre el pasado,
da lugar a un uso de cierta analogía que no hace más que naturalizar por fuera de su contexto histórico
específico, los presentes modos extractivos de relación con el ambiente.
Este uso encubierto de la analogía hace natural pensar en la continuidad de las categorías de la
modernidad en la interpretación de contextos pasados. Comenzaremos con un caso colonial, donde la
cercanía temporal -y muchas veces espacial, ya que se trata de datos obtenidos en contextos arqueológicos
urbanos- inducen a pensar continuidades de los modos de relación modernos con el ambiente, para pasar
luego a un caso prehispánico que podríamos percibir como más alejado en lo temporal y cultural.
Pretendemos ensayar aquí un análisis de contextos arqueológicos con los que venimos trabajando
que desplace la mirada cartesiana, comenzando por un rastreo de resultados “no esperables” en términos
de nuestras propias lógicas, y dialogando con algunas fuentes etnográficas e históricas que den lugar a
quebrar sentidos propios y repensar los resultados de nuestro trabajo. Con este objetivo en mente,
discutiremos en el presente artículo algunos casos procedentes de investigaciones arqueológicas de dos
regiones del actual territorio argentino. Por un lado contextos recuperados en la ciudad de Mendoza
ubicada al pie de la Cordillera de los Andes, con ocupaciones coloniales e hispano indígenas iniciadas a
mediados del siglo XVI; y por otro, el valle de Ambato, en el noroeste argentino, provincia de Catamarca
ocupado a lo largo del 1er milenio de la era por grupos que la arqueología argentina definió como Cultura
Aguada.
Como en los cuentos de Julio Cortázar “Todos los fuegos, el fuego”, en el discurso dominante en
arqueología parecieran existir patrones que transgreden la división espacio-tiempo. Los personajes
coexisten como imágenes en un espejo, al igual que los restos del pasado parecen no poder reflejar más
que nuestra propia imagen. Aunque sólo parece.

DE MONTES Y HUERTOS EN LA MENDOZA COLONIAL

Discutiremos en primer lugar, las tendencias en los resultados de la identificación del registro
antracológico hallado en el sitio Ciudad de Mendoza, ubicado en la región del centro oeste argentino. Se
trata de una ciudad colonial, fundada en el año 1561 que se desarrolló durante exactamente tres siglos
hasta ser destruida por un terremoto en el año 1861. El sitio, abarca unas 25 manzanas que se encuentran
depositadas debajo de un sector urbano actualmente denominado “Cuarta Sección”. Los contextos
observados en esta oportunidad se encuentran todos en torno a la plaza fundacional, llamada hoy Pedro

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BERNARDA MARCONETTO E LUIS EDUARDO MAFFERRA

del Castillo, en un área de 3000 m2. Si bien el sitio cuenta con una secuencia ocupacional que abarca 2000
años hasta el presente, nos concentraremos aquí en contextos del período indígena tardío y colonial
temprano que transcurre desde la mitad del siglo XV a mediados del XVII y en contextos del periodo
colonial tardío, es decir, desde mediados del siglo XVII, hasta fines del siglo XVIII (CHIAVAZZA 2003;
CHIAVAZZA y PRIETO 2001; CHIAVAZZA y TAMIOZZO 2003, CHIAVAZZA et al. 2012). Los contextos
observados, se caracterizan por la presencia de las materialidades tanto indígenas como coloniales
mezcladas de forma compleja, dando lugar a tendencias donde las tensiones entre ambos colectivos se
expresan de forma poco lineal. Así, por ejemplo, desde momentos tempranos se han registrado restos de
objetos, fauna y plantas introducidas por los europeos; y hasta momentos tardíos restos de la materialidad
indígena, resaltando los de la cerámica tardía local denominada “Viluco” (CHIAVAZZA y MAFFERRA 2007;
CHIAVAZZA y PRIETO 2001; CHIAVAZZA et al. 2012; PRIETO OLAVARRÍA y CHIAVAZZA 2010).
Si bien en esta ocasión deseamos priorizar una reflexión sobre nuestros resultados, en las Tablas 1
y 2 presentamos el detalle de todos los datos aquí mencionados para el valle de Mendoza. En este sentido,
en la identificación de la madera carbonizada en dichos contextos3, observamos tendencias en momentos
prehispánicos de alta diversidad taxonómica con respecto a momentos posteriores. Además, destacan
algunas especies del monte que al parecer fueron seleccionadas de forma común, así, varios taxones
comparten las frecuencias de mayor abundancia, destacando los géneros Larrea, aff. Acacia/Prosopis, aff.
Acacia, Bulnesia, Geoffroea. Con respecto a estos, en los contextos coloniales tempranos observamos en
cambio una menor riqueza taxonómica, manifiesta tanto en una muestra poco heterogénea, como en la
dominancia de uno o dos taxones en la frecuencia de los conjuntos. Así también, las leñosas del monte
nativo cuyas tendencias de uso mostraron señales claras en momentos prehispánicos, aparecen en estos
contextos de manera irregular, es decir, mientras en algunos contextos se registran, en otros casos no;
destacando que los conjuntos proceden de contextos contemporáneos y muy próximos entre sí. Este
fenómeno lo hemos asociado al desconocimiento por parte de los colonos de las plantas del paisaje nativo
recién conocido (lo que ya había sido señalado por CHIAVAZZA y MAFFERRA 2007 y PRIETO 2000). Dicho
fenómeno, se ve matizado en contextos posteriores asociados al periodo colonial tardío donde observamos
tendencias con una diversidad taxonómica mayor y con índices de abundancia relativa más parejos entre
los taxones de la muestra. No obstante, en estos contextos los taxones nativos más usados son diferentes a
los registrados en momentos prehispánicos, destacando ahora Geoffroea, Boungainvillea, Bulnesia,
Prosopis aff. flexuosa y restos afines a Asteraceae, entre otros. Lo mismo, indica que existieron cambios en
los modos de selección y al parecer también en las formaciones forestales. Por otro lado, desde el período

3
Todos los casos observados aquí corresponden a contextos donde se interpreta que el carbón se hallaba depositado
en posición secundaria, ya sea acumulado en contextos de descarte o disperso en pisos de ocupación. Lo mismo
permite relacionar los datos obtenidos con las tendencias de uso de la leña durante el transcurso de ocupación.

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REGISTROS ANTRACOLÓGICOS EN CONTEXTOS PREHISPÁNICOS Y COLONIALES

colonial temprano, se registran árboles de introducción colonial, cuyas tendencias discutiremos más
adelante (MAFFERRA 2015).
Tabla 1: Frecuencia en la determinación de taxones en restos de carbón hallados en los contextos de la Ciudad de
Mendoza: MB, RSF y AeI, en base al número de fragmentos, el volumen (ml) y la representación porcentual de los
mismos (MAFFERRA 2015). *El dato de este taxón no fue promediado porque fue hallado como parte de un objeto.
Procedencia Taxón N° de Frag % de Frag Vol en ml % de Vol
MB Salix humboldtiana 2 0,54 2 1,02
Schinus 7 1,88 2,5 1,28
Bulnesia retama 42 11,26 25 12,79
aff. Acacia/Prosopis 75 20,11 45,4 23,23
aff. Acacia spp. 21 5,63 34,4 17,60
aff.Prosopis flexuosa 6 1,61 7 3,58
Geoffroea decorticans 47 12,60 21,1 10,80
Fabaceae aff. Parkinsonia 2 0,54 1,5 0,77
Larrea 97 26,01 39 19,96
aff. Prosopidastrum 1 0,27 0,3 0,15
aff. Anacardiaceae 1 0,27 0,4 0,20
Asteraceae aff. Tessaria 1 0,27 0,3 0,15
aff. Oleaceae 1 0,27 0,6 0,31
aff. Atriplex/Allenrolfea 7 1,88 2,3 1,18
Lycium chilensis 4 1,07 1,3 0,67
aff. Asteraceae* 33 8,85 45 -
aff. Proustia cuneifolia 1 0,27 1,5 0,77
aff. Caesalpinia gilliesii 5 1,34 2,2 1,13
Taxón 2 2 0,54 1,8 0,92
Taxón 5 1 0,27 0,4 0,20
Taxón 6 1 0,27 0,2 0,10
NI 6 4,29 6,2 3,17
Totales 373 240,4
RSF Schinus 1 2,70 0,2 1,32
Bulnesia retama 8 21,62 2,3 15,23
aff. Acacia/Prosopis 10 27,03 7,6 50,33
aff. Acacia spp. 1 2,70 0,3 1,99
aff.Prosopis flexuosa 1 2,70 0,1 0,66
Larrea 5 13,51 1,5 9,93
Asteraceae aff. Tessaria 4 10,81 1 6,62
aff. Atriplex/Allenrolfea 4 10,81 1,2 7,95
Rosaceae aff. Prunus persica 2 5,41 0,6 3,97
NI 1 2,70 0,3 1,99
Totales 37 15,1
AeI Salix humboldtiana 3 1,32 2,5 1,32
Schinus 5 2,19 1,2 0,64
aff. Acacia/Prosopis 59 25,88 56,9 30,12
aff. Acacia spp. 13 5,70 11 5,82
aff.Prosopis flexuosa 10 4,39 7,3 3,86
Geoffroea decorticans 3 1,32 2,3 1,22
Larrea 11 4,82 3,2 1,69
Fabaceae aff. Prosopidastrum 2 0,88 0,7 0,37
Asteraceae aff. Tessaria 4 1,75 3,1 1,64
aff. Atriplex/Allenrolfea 5 2,19 0,4 0,21
aff. Zuccagnia punctata 3 1,32 3 1,59
aff. Caesalpinia paraguarensis 61 26,75 43,3 22,92
Rosaceae aff. Prunus persica 43 18,86 47,1 24,93
Taxón 2 2 0,88 2 1,06
NI 4 1,75 4,9 2,59
Totales 228 188,9

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Tabla 2: Frecuencia en la determinación de taxones en restos de carbón hallados en los contextos de la Ciudad de
Mendoza: EPF y EPH. En base al número de fragmentos, el volumen (ml) y la representación porcentual de los mismos
(MAFFERRA 2015).
Procedencia Taxón N° de Frag % de Frag Vol en ml % de Vol
EPF Salix humboldtiana 4 1,66 2,6 2,38
Schinus 5 2,07 2,8 2,56
Bulnesia retama 25 10,37 11,1 10,16
aff. Acacia/Prosopis 45 18,67 21 19,23
aff. Acacia spp. 14 5,81 8,3 7,60
aff.Prosopis flexuosa 15 6,22 7,3 6,68
Geoffroea decorticans 29 12,03 13,7 12,55
Fabaceae aff. Parkinsonia 1 0,41 0,4 0,37
Larrea 53 21,99 21,7 19,87
aff. Prosopidastrum 3 1,24 0,8 0,73
aff. Caesalpinia gilliesii 28 11,62 11,6 10,62
aff. Zuccagnia punctata 5 2,07 2 1,83
Taxón 2 2 0,83 0,9 0,82
Taxón 5 1 0,41 0,4 0,37
taxón 6 1 0,41 0,25 0,23
NI 10 4,15 4,4 4,03
Totales 241 109,2
EPH Salix humboldtiana 2 1,23 2,25 2,56
Schinus 1 0,61 0,2 0,23
Bulnesia retama 10 6,13 7,3 8,30
aff. Acacia/Prosopis 3 1,84 1,5 1,71
aff. Acacia spp. 3 1,84 1,3 1,48
aff.Prosopis flexuosa 4 2,45 7,4 8,42
Geoffroea decorticans 29 17,79 13,8 15,70
Larrea 4 2,45 2,5 2,84
Fabaceae aff. Prosopidastrum 16 9,82 7 7,96
Bougainvillea spinosa 18 11,04 10,8 12,29
Asteraceae aff. Tessaria 6 3,68 4,5 5,12
Lycium chilensis 1 0,61 0,2 0,23
aff. Asteraceae 13 7,98 4,4 5,01
aff. Proustia cuneifolia 11 6,75 2,7 3,07
aff. Rosaceae
Cydonia/Malus/Pyrus 8 4,91 7,7 8,76
Rosaceae aff. Prunus persica 11 6,75 6,4 7,28
Tamarix gallica 2 1,23 1,6 1,82
Vitis vinifera 15 9,20 5 5,69
NI 6 3,68 1,35 1,54
Totales 163 87,9

De estos resultados de los análisis antracológicos, que hemos descripto de forma muy general,
deseamos en este caso centrarnos en algunos datos que podríamos catalogar como no esperados y en las
preguntas generadas por estos. En este sentido, deseamos discutir algunos tópicos comunes en las
interpretaciones del registro arqueobotánico tales como el dualismo entre lo silvestre y lo doméstico (que
en este caso tomará la forma de lo nativo y lo introducido); y el de la consideración de la leña como recurso

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combustible desvinculado de cualquier otro modo de relación que exceda la lógica de lo extractivo,
motivada por lo funcional y lo económico.

Las recién llegadas


Como anticipamos, en los contextos coloniales tempranos pudimos identificar restos de algunos
árboles frutales introducidos por los europeos. Si bien contábamos con datos que hacían esperable la
ocurrencia de estos hallazgos, tales como referencias documentales de su temprana introducción y el
hallazgo de carporrestos de árboles frutales introducidos, como por ej. endocarpos de durazno y olivo o
semillas de vid (CHIAVAZZA y MAFFERRA 2007; MAFFERRA 2010); fue sin embargo, inesperada la frecuencia
en la que los encontramos. Los restos de taxones introducidos, resaltaron así entre los más frecuentes en
algunos contextos coloniales, incluso en los más tempranos (MAFFERRA 2015).
Tal fue el caso de Alberdi e Ituzaingó (AeI), un contexto datado en 470±70 años AP. (CHIAVAZZA y
MAFFERRA 2007:137); en el que los restos de carbón de duraznero (Prunus aff. persica) se registraron entre
los más frecuentes. Estos, representan el 25% de la muestra, siendo el segundo taxón más usado luego de
aff. Acacia/Prosopis con el 30%. Dicha tendencia, puede verse nuevamente en un contexto posterior
llamado Edificio Plaza Huarpe (EPH) datado entre los 300±60 y 240±70 años AP. (PRIETO OLAVARRÍA y
CHIAVAZZA 2010:808). En éste, se identificaron nuevamente altas frecuencias de carbón de maderas de
árboles frutales introducidos; así hallamos además de restos de duraznero, también de membrillero,
manzano o peral (aff. Cydonia/Malus/Pyrus) y de vid (Vitis vinifera). Estos representan respectivamente el
7,28, el 8,76 y el 5,69% de la muestra; la que si bien expresa un índice de abundancia relativa parejo, deja a
estos frutales entre los más frecuentes luego de las nativas Geoffroea y Boungainvillea (con 15,7 y 12,29%).
Además recuperamos en este contexto algunos fragmento de carbón de tamarindo (Tamarix gallica) el cual
si bien no produce frutos comestibles, es otro árbol de introducción colonial (MAFFERRA 2015).
La tendencia descripta en el párrafo anterior, parece indicar que la madera de los árboles frutales
domésticos era seleccionada como leña, y en estos casos, tanto o más que la de otros árboles silvestres
nativos. Vale preguntarnos entonces ¿por qué se elegían estas maderas? sobre todo cuando su
disponibilidad en momentos tempranos debe haber sido limitada en comparación con la gran oferta de
leñosas presentes en el monte nativo. Para ensayar una respuesta, debemos en primer lugar comenzar a
considerar la vinculación de los colonos con las plantas y con los frutales de forma más amplia que la
supuesta en la simple formula de cultivo igual alimento, ya que en este caso también suponía la obtención
de madera para combustible. Proponemos por lo mismo cuestionar el carácter de la obtención de leña
como se lo hace generalmente asociándola de forma exclusiva con lo extractivo.
En ese sentido, los datos conseguidos en la identificación de la morfología de estos carbones,
indica la presencia de una cantidad mayor de restos de ramas pequeñas que de troncos en los frutales

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BERNARDA MARCONETTO E LUIS EDUARDO MAFFERRA

introducidos que en las especies nativas. Así observamos como las ramas representan el 50% en el caso de
las introducidas y el 25% en el caso de las nativas. Esto posiblemente esté señalando que más que a una
extracción de leña desvinculada de otras actividades; la importancia de la madera de los frutales como
combustible, quizás se deba a las prácticas de poda o cuidado que se les hacía a estos árboles frutales
(MAFFERRA 2015).
Creemos conveniente entender la vinculación con los árboles frutales como un todo donde
actividades de la vida cotidiana que nosotros como arqueólogos disgregamos estaban entramadas. Así,
posiblemente cultivo, silvicultura, cosecha y obtención de leña formaban juntas un mismo modo de
relación. Modo que seguramente se encontraba ligado también a las festividades que implicaban los ritmos
biológicos de las plantas con los modos de vida campesinos. Por ejemplo actualmente en zonas rurales de
nuestra región de estudio, el final del verano viene anunciado por las fiestas de las cosechas y el final del
invierno, luego de la época de poda de frutales y vides, por las grandes quemas que celebran San Pedro y
San Pablo. Práctica en la que, las fracciones más finas de la poda son quemadas en grandes montículos que
realiza cada familia amplia o grupos de ellas. No esperamos aquí vincular de forma directa los restos de
fogones hallados con celebraciones de este tipo, sino introducir el problema dentro de un marco de
interpretación que exceda lo puramente económico.
Siguiendo con esa premisa, si observamos que la leña de los frutales podría haber sido fruto de
prácticas de poda, que implicaban modos de relación amplios con estos árboles, y que al parecer diferían
de la relación tenida con los taxones nativos; podemos preguntarnos sobre el carácter de ese contraste.
Así, en este caso, la diferencia dada entre la relación con los frutales y con las plantas nativas ¿debe
pensarse como parte de una distinción establecida entre las plantas de ámbitos salvajes y domésticos?
Podríamos responder que sí, si entendemos la domesticación en términos amplios, como una forma de
relación o implicación entre plantas y humanos como proponen Terrel y colaboradores (2003). En este
sentido, podríamos esperar un trato diferencial hacia las plantas que se hallen socializadas respecto de las
que no lo están, no obstante la cuestión es más compleja.
Hemos observado como dentro de la cosmovisión medieval y renacentista que dominó la América
colonial, si bien se establece una distinción entre lo silvestre y lo doméstico –lo de afuera y lo de adentro
del huerto o la casa- dicha definición no implica formas de vinculación diferentes. Algunas referencias sobre
el tema pueden encontrarse en el Libro de los secretos de agricultura, casa de campo, y pastoril escrito por
el Fray Miguel Agustín en el año 1617. Si bien en esta obra se distinguen las plantas según deban plantarse
en el huerto, fuera de éste o en el bosque, se propone para todas ellas un mismo tipo de trato. Se afirma
así, que todas las plantas, incluso las del bosque, tanto las de leña para quemar como las que dan fruta,
necesitan de la agricultura, práctica que así definida, implica un modo de relación general entre humanos y
plantas (AGUSTÍN 1717:164). En este sentido, si bien Agustín aconseja que ciertas plantas deben cultivarse
dentro o fuera de los huertos, esto responde más a la sociología de las plantas entre sí, que a su condición

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de domésticas o silvestres. De esta forma, tanto dentro como fuera de los huertos se plantan
indistintamente de esta condición especies que para nosotros son cultivadas o silvestres. Por ejemplo, los
naranjos se dan mejor en el huerto y los olivos que si bien son también arboles domésticos, crecen mejor
de plantarse fuera de éste (AGUSTÍN 1717:105 y 122).
Como indicamos, el lugar especial que ocupan las plantas, tiene más que ver con las relaciones
que mantienen las plantas entre sí, que con las mantenidas con los humanos. Esto, se debe a que entre los
árboles existen afinidades sociales variables, lo que puede verse en las indicaciones dadas para plantarlos.
Lo mismo es remarcado cuando se aclara qué especies pueden plantarse juntas y cuáles no. Por ejemplo, el
laurel es enemigo de las vides pero buen amigo de los cerezos; del mismo modo el olivo es buen amigo de la
higuera y está muy alegre cerca de ella, pero si es plantado cerca de una encina no tardará en morir
(AGUSTÍN 1717:109). Mientras algunos árboles son muy sociables, otros no lo son tanto. Los nogales, son
muy celosos, aborrecen la hermandad y la compañía de otros árboles, hasta de los de su propia especie. De
plantarlos junto a otras plantas, las matan con su sombra; por lo que se aconseja deben plantarse
separados entre sí, ya que de insistir con querer acompañarlos reaccionaran dando los frutos huecos. Los
nogales, especialmente no deben estar junto a las encinas, ya que hay entre estas plantas una enemistad
muy antigua (AGUSTÍN 1717:125).
Por otro lado, en este contexto los arboles silvestres “se hacen domésticos” por el arte de los
injertos, con lo que se lograban árboles “más resistentes” y con las frutas “bellas hermosas y mejores”
(AGUSTÍN 1717:146). Desde momentos medievales e incluso actualmente se prefieren para los frutales los
pies silvestres de raíces más firmes y resistentes, para injertar variedades con frutos más deseados. De este
modo, gran parte de los árboles frutales son morfológicamente mitad silvestres, mitad domésticos. Por lo
que, hasta en el plano botánico, lo cultural y lo natural parecen mezclarse en este caso. Del mismo modo,
los árboles domésticos pueden hacerse silvestres. Es el caso del árbol de tamarindo, cuyo carbón vimos es
identificado en contextos coloniales. Allí, este posiblemente se sembraba en los ámbitos domésticos por su
valor ornamental y para usos medicinales (NATALE et al. 2008; ROIG 2001), pero en algún momento salió
de los huertos y actualmente se encuentra enredado de forma amplia en el paisaje nativo. Son comunes así
en las riveras de todas las lagunas y ríos y en zonas de inundación salinas o no; formando incluso en algunos
sectores bosques bien desarrollados (ROIG 1972).
Este ir y venir entre los ámbitos domésticos y silvestres, así como la existencia de vínculos de las
plantas entre sí, basadas en una intencionalidad análoga a la humana asignada al menos a ciertas especies,
nos lleva a poner en duda que las tendencias vistas en el caso de los frutales en el registro arqueológico se
liguen a un trato diferencial dado a las plantas domésticas entendidas en sentido tradicional. La diferencia
parece más bien girar en torno a otra dicotomía, la de paisaje nativo e introducido. Son comunes en los
documentos escritos generados desde momentos coloniales tempranos hasta el siglo XIX, las valoraciones

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negativas de los colonos y viajeros europeos sobre el paisaje nativo. Así, la relación con éste parece haber
estado teñida por percepciones donde claramente se desconocía su valor y en contraposición se
exageraban las ventajas de las plantas introducidas. Por ejemplo, los paisajes nativos de la región son
descriptos desde momentos coloniales tempranos como “miserabilisimos”, o tierras tan “agrias, frías”
como “inhabitables” (BIBAR 1952:137). En el mismo tono, en el siglo XVII se los describe como una tierra
“melancólica”, sin un árbol “que de alegría”, donde todo se “tiñe de tristeza y desgano”. Se especifica como
en ella abundan las tierras secas y estériles, donde no se cultiva, ni se siembra, ni se cría ganado, sino que
parecen tierras sobradas donde sólo existen “espinas” (OVALLE 1646:29). Estas espinas o espinos con las
que posiblemente se hace referencia a las especies nativas de Acacia o Prosopis, o a otros árboles o
arbustos del monte, son descriptos en otros documentos como “más ofensivos que provechosos”, a pesar
de que los naturales se sustenten con “su desabrida fruta”. Sobre su madera se dice que se aprovechan
poco, porque si bien es “muy dura”, es también “vidriosa” (PRIETO 2000:43). Se destaca además la ausencia
de árboles para la maderación de las casas (Lizárraga s.f. en CANALS FRAU 1946:24).
Por el contrario, cuando se describe el paisaje introducido, las mismas zonas antes valoradas
como pobres o ambientalmente desgraciadas, ahora se relatan como verdaderos vergeles donde “se dan
todas las frutas, árboles y viñas”; y donde había “poca comida y regalo” ahora son tierras “ennoblecidas”
por las muchas cabras que la pueblan y dan sustento (Proceso a Villagra en PRIETO Y WUILLOUD 1986:23).
Así, se dice que el nuevo paisaje es abundante de todo género de mantenimiento y de carnes europeas
(Lizárraga s.f. en CANALS FRAU 1946:24). Son comunes también las menciones a las grandes dimensiones
que alcanzan los árboles introducidos y lo sazonadas que llegan a ser sus frutas (ver por ej. las menciones
de JESUITA ANÓNIMO [1787] 1940: 28-29; MELLET [1824] 1959:66; OVALLE 1646: 56 y aun DARWIN [1838]
2003:396).

La Resistencia
Si bien como antracólogos, comenzábamos a habituarnos a que los restos de carbón de frutales
introducidos se registren de manera significativa, notamos que en otros contextos también coloniales
fueron menos frecuentes y en algunos no se registraron. En primer lugar, en Ruinas de San Francisco sector
Crucero (RSF datado en 440±40 años AP. CHIAVAZZA y PRIETO OLAVARRÍA 2001), si bien se observa una
señal clara en la frecuencia de duraznero, no se registró con tanta intensidad como en el caso de AeI o EPH,
representando sólo el 3,97% de la muestra. Así también, en otro contexto llamado Edificio Plaza
Fundacional (EPF) no se identificaron restos de carbón de plantas introducidas. Este conjunto fue hallado a
metros de AeI y si bien su datación es más moderna (230±60 años AP. PRIETO OLAVARRÍA 2010:205),
estratigráficamente ambos se encuentran a profundidades similares. Se hallaron aquí materiales cerámicos
de factura indígena, que por su rareza son especiales para la región. Resulta llamativo en este caso que
además de la ausencia de restos de árboles introducidos, las frecuencias en las que los diferentes taxones

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nativos fueron hallados se corresponden en cuanto a su diversidad y a los índices de abundancia relativa,
con los hallados en un sitio llamado Memorial de la Bandera (MB), ubicado a una distancia de tres km
dentro del mismo valle, pero alrededor de 800 años más antiguo (1230±60 años AP CHIAVAZZA et al.
2013:75). Así, EPF da cuenta de prácticas en las que no sólo se evitaban quemar maderas alóctonas, sino,
que se hacía un uso de las especies nativas muy similar al observado en momentos prehispánicos. Por su
parte, son claras las diferencias, en las frecuencias dadas en la diversidad y abundancia relativa de los
diferentes taxones identificados entre estos dos tipos de contextos antracológicos (MB y EPF) y todos los
otros analizados del periodo colonial (EPF, AeI, RSF y EPH). El hecho que la mayoría de ellos, salvo MB sean
contemporáneos y que estén ubicados muy próximos (dentro de un área de no más de 3000m 2), saca de
plano cualquier interpretación que vincule directamente las frecuencias observabas con la disponibilidad.
Más bien, el registro indica que la leña era seleccionada, podemos observar una continuidad en los modos
de uso entre MB y EPF y relacionarlos con una forma de vinculación con el paisaje forestal nativo que
debido a tener por lo menos 800 años de antigüedad (MAFFERRA 2015).
Con respecto a estas tendencias que muestran una continuidad entre momentos prehispánicos y
coloniales, ¿debemos pensarlo como una forma de resistencia? Puntualmente para el caso de EPF, no nos
es fácil pensar que haya existido una resistencia exclusiva en esta “modalidad” de uso de la leña desligada
de los modos de vida con los que se enredaba y que comenzaron a verse condicionados por el devenir de la
conquista. En este sentido, si bien vemos una continuidad en el modo de uso de la leña y la no
incorporación de las maderas de los arboles introducidos; si se registraron en este contexto carporrestos de
cereales europeos (Triticum sp., Secale sp., Hordeum sp., Avena sp. y Vitis sp.), huesos de animales
introducidos y objetos relacionados con la ocupación colonial (CHIAVAZZA y MAFFERRA 2007; MAFFERRA
2010). Lo mismo hace más llamativo aún las tendencias en el carbón y demuestra que los modos de la
resistencia se daban de forma mucho menos lineal y mucho más compleja de la que previmos en trabajos
anteriores, donde la presencia o ausencia de ciertas plantas era interpretada como reproducción o
resistencia de los valores implicados en la conquista (MAFFERRA 2010).
Esta tendencia nos abre nuevas preguntas tales como ¿pudo ser el uso de la leña un fenómeno
que de forma aislada haya motivado una resistencia aún más fuerte que la dada en relación a las comidas o
a los objetos cotidianos?, ¿cuáles fueron las causas que motivaron este modo de uso?, ¿eran estas
únicamente de carácter tecnológico o funcional? Siguiendo la línea de lo argumentado más arriba no
creemos poder responder de forma afirmativa estas preguntas, pero preferimos dejarlas abiertas en este
caso, sólo indicando que nuevamente consideramos necesario interpretar dicho problema de forma amplia
y en relación con modos de vida y de relación con el ambiente que se habrían puesto juego durante el
desarrollo de la conquista. Así, la convivencia colonial puso en pugna modos de relaciones con el ambiente
implicados en el modo de vida indígena y europeo. Asociados en el caso prehispánico a un paisaje que por

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la movilidad constante y la práctica de actividades múltiples (como la caza, pesca, recolección de frutos y
horticultura no permanente), era socializado de forma amplia y diversa; y frente a estos, los modos
europeos caracterizados por la preeminencia agrícola-pastoril y sedentaria que arribaron enredados con las
plantas y animales con los que venían vinculándose durante la larga tradición mediterránea.

DE ABUNDANCIAS Y AUSENCIAS EN AGUADA DE AMBATO

En los sitios excavados del valle de Ambato en la provincia de Catamarca se han recuperado
contextos asignados a Aguada (ver, GONZÁLEZ 1998; JUEZ 1991; PÉREZ GOLLÁN 1991; ASSANDRI 2001;
FABRA 2002; GASTALDI 2010; GORDILLO 2009; LAGUENS 2006 entre otros). En estas ocupaciones de aldeas
agro-pastoriles datadas entre los siglos V y X en el valle, se ha recuperado abundante madera carbonizada.
Esta abundancia es una de las particularidades del registro arqueológico trabajado hasta el momento.
Contamos con restos procedentes de diversas estructuras: de combustión, almacenaje y rellenos, y
también se han recuperado las maderas empleadas en la construcción conservadas debido a incendios que
afectaron varios de los sitios excavados (MARCONETTO 2008).
En los análisis antracológicos realizados para el valle de Ambato, el foco estuvo siempre puesto en
el concepto de selección. La selección entendida como factor de pauta cultural, e indisociada de todo lo
que implica la gestión del monte. Al registro antracológico, lo consideramos como el resultado material de
la selección entre las opciones percibidas por parte del hombre. Asumimos que las ideas de una población
acerca del ambiente y los seres que lo pueblan, estructura la vida hasta en los más mínimos detalles. Cuáles
elementos del monte entraron en las casas y cuáles no, viene siendo objeto de discusiones desde hace un
tiempo (MARCONETTO 2008; MARCONETTO y MORS 2010).
Nos interesa abordar aquí el caso de tres taxones en particular que tanto por su significativa
abundancia o remarcable ausencia en el registro presentan resultados tal vez no esperables en términos de
las lógicas clásicas de “explotación de recursos”.
Se trata de los algarrobos o “el árbol” (Prosopis sp); los quebrachos “blanco” (Aspidosperma
quebracho blanco) y “el colorado Santiagueño” u “horco quebracho - quebracho del cerro” (Schinopsis
lorentzii); y el árbol conocido como “San Antonio” o “Laurel de la falda” (Cinnamomum porphyrium). El
detalle de los datos discutidos en relación al valle de Ambato puede observarse en la Tabla 3 y en la Figura
1.

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Tabla 3: Frecuencia en la determinación de taxones en restos de carbón hallados en los contextos del Valle de
Ambato: Rec C Fogón 1, Rec C Fogón 2, Rec H Fogón 1, Rec H Fogón 2, Estructura 3 y 5 y Trinch N Sepultura. En base al
número de fragmentos, el volumen (cc) y la representación porcentual de los mismos (MARCONETTO 2008).
Procedencia Taxón Nro de Frag % de Frag Vol en cc % Vol en cc
Rec C Fogón 1 Schinus 29 44 21 38
Prosopis 18 27 16 29
Acacia 5 8 8 14
Schinopsis 3 5 2 4
Condalia 3 5 3 5
Jodimia 1 2 1 2
Geoffrea 7 11 5 9
66 56
Rec C Fogón 2 Celtis 5 16 5 17
Ziziphus mistol 7 23 7 24
Taxon I 7 23 7 24
Geoffrea 2 6 2 7
Phoebe 2 6 2 7
Jodina 4 13 3 10
Acacia 3 10 2 7
Prosopis 1 3 1 3
31 29
Rec H Fogón 1 Prosopis 56 82 371 87
Acacia 12 18 54 13
68 425
Rec H Fogón 2 Geoffrea 3 23 2 18
Prosopis 7 54 6 55
Acacia 1 8 1 9
Celtis tala 1 8 1 9
Indet 1 8 1 9
13 100 11 100
Estructura 3 Prosopis 40 100 90 100
Estructura 5 Prosopis 31 91 60 83
Schinopsis 3 9 12 17
34 72
Trinch N Prosopis 40 100 70 100
Sepultura Prosopis 6 50 10 77
Geoffroea 5 42 2 15
Acacia 1 8 1 8
12 13
Totales 304 766

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Figura 1: Gráfico de la frecuencia en la identificación taxonómica de restos de carbón en la Iglesia de los Indios y
Piedras Blancas (MARCONETTO Y GORDILLO 2008).
El Árbol y el Quiebra-hacha
Trataremos en conjunto el par “algarrobo-quebracho” que presenta un interesante contrapunto
entre escasez y abundancia en el registro arqueológico de la región de estudio, al tiempo que los discursos
de registros etnográficos y folklóricos del norte argentino les otorgan particularidades que nos interesa
recuperar en esta discusión.
Ambos taxones crecen actualmente en la zona (DE LA ORDEN y QUIROGA 1997), asimismo su
presencia durante la ocupación Aguada podemos inferirla tanto a través del registro como de estudios
paleoambientales que indican que la conformación vegetal actual data del 4000 AP para la región
(MARKGRAF 1985). Sin embargo más allá de su ubicuidad en el entorno, el vínculo con estos árboles por
parte de la población presenta sensibles diferencias.
Investigaciones que llevamos adelante desde fines de la década del 90, han demostrado que las
frecuencias del género Prosopis son llamativamente altas en prácticamente todos los contextos de los
sitios arqueológicos analizados en el valle de Ambato (MARCONETTO 2008). En las estructuras de
combustión alcanza frecuencias de 80 % y hasta 100 % en algunos, en los rellenos de los montículos
asociados a los sitios en los que se recuperó abundante madera carbonizada junto con otros restos, entre el
55% y el 85% corresponde a Prosopis. En cuanto a los restos de construcción de las estructuras
recuperadas, se emplearon algarrobos en los postes basales. Asimismo, frutos de Prosopis y microrrestos
fueron también determinados (PAZZARELLI 2011). Podemos afirmar con un buen grado de certeza que
durante el primer milenio de la era en el Ambato, los algarrobos fueron empleados para comer, construir y
quemar. La selección y preferencia de este taxón por sobre otros es clara, no se trata de la única opción
disponible puesto que la vegetación es diversa en árboles y arbustos de buenas cualidades. Diversos
fogones domésticos presentaron una composición heterogénea de taxones representada también en
menor frecuencia por los géneros Acacia, Celtis, Condalia, Geoffroea, Jodina, Cinnamomum, Schinopsis,
Schinus, Ziziphus.
Es recurrente la idea de que en los casos en que los árboles proveen otros recursos además de
madera, “el árbol no se mata” (DE LUCÍA 1983). En nuestro caso, tanto el género Prosopis, como los
géneros Ziziphus “Mistol” y Geoffroea “Chañar”, dan frutos que han sido utilizados y recuperados en
contextos asociados a espacios culinarios, y han sido también empleados como leña. En los casos de
Ziziphus y Geoffroea su leña no se encontró involucrada en actividades que impliquen necesariamente su
tala, sino que podrían haberse podado ramas o aprovechar la poda natural del monte. Los algarrobos por
su parte, debieron ser árboles buscados, valorados, y los que más productos ofrecían, lo que
consecuentemente siguiendo una lógica ecológica, podría tornar vulnerable su productividad. Este punto

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ha sido registrado por otros autores en otras regiones del mundo particularmente en ciertas especies
consideradas “sagradas” (MUSSELMAN 2003).
En el norte argentino se conoce popularmente al algarrobo como “el árbol”, en quechua taco o
tacu, cuya traducción es “árbol”. Esta denominación es muy interesante y nos lleva a preguntarnos por las
otras especies que definimos como arbóreas ¿no son árboles? Este sujeto designado como “árbol” es
aparentemente un dador –de alimento, de leña, de madera, de sombra…
Dar sombra, podríamos pensar es una propiedad de cualquier árbol, sin embargo, junto con los
algarrobos crecen árboles cuya sombra es mejor evitar. Hay árboles que “flechan” uno de ellos es el
quebracho colorado. Acercarse a estos árboles sin el debido protocolo puede generar peligros. El Páaj,
también llamado el aire del quebracho, la sombra del quebracho e incluso hay quien lo traduce
simplemente como Quebracho, es una dolencia ejecutada sobre los humanos -y también los no humanos- a
través del acto de “flechar”. Se ha registrado también el peligro que puede representar para mujeres
embarazadas circular entre los Quebrachales puesto que “el quebracho puede comerse al niño”, asimismo
partes de esta planta (Schinopsis) se emplean como abortivo. Estas cuestiones han sido registradas
recurrentemente en relatos folklóricos y en trabajos etnográficos (MARCONETTO et al. 2014).
Las ausencias en el registro arqueológico son difíciles de explicar o son explicadas en general
desde sentidos funcionales, económicos o aun políticos. La ausencia o muy baja frecuencia de quebrachos –
tanto colorado como blanco- en contextos arqueológicos de una zona en la que los mismos abundan, el
valle de Ambato, no deja de ser llamativa.
Hemos discutido oportunamente algunas potenciales explicaciones de índole funcional. No se
trata de un problema de calidad dado que son maderas de excelentes propiedades. Tampoco la tafonomía
da respuesta en tanto el carbón de las dos especies de quebracho presentes en la zona se preserva sin
problemas. Una evaluación de costo-beneficio podría tentarnos a pensar en el costo de trasporte desde los
piedemontes del Este del valle hacia el fondo del valle donde se encuentran varios de los sitios excavados.
Si consideramos, como trataremos más adelante, que la Iglesia de los Indios fue construida con maderas de
las Yungas –selvas de montaña a no menos de 40 km al noreste del valle- este razonamiento es poco
plausible. Y menos plausible si tomamos en cuenta que el sitio El Altillo se encuentra en medio de un
quebrachal, y la frecuencia de quebracho blanco fue muy baja (3%) entre el muy abundante material
recuperado. Como veremos en el apartado siguiente, sólo dos fragmentos de un tronco de quebracho
blanco se encontraron formando parte de la construcción del sitio Piedras Blancas. Si pensamos en el
perjuicio que sufrirían las herramientas al cortar estas duras maderas, esas mismas herramientas cortaron
duras maderas de algarrobos y acacias. Asimismo, la dureza del quebracho blanco es menor a la del
algarrobo.

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Las estructuras de combustión presentaron nula o muy baja frecuencia de estos taxones, sin
embargo. Un único contexto ha sido hallado en el sitio Piedras Blancas que presentó un 100% de
quebracho colorado. Se trata de un pequeño pozo de 15 cm de diámetro en el que se encontró carbón de
esta especie, ubicado dentro de un recinto en un sector junto al entierro de 3 niños (ZABURLIN 2001; CRUZ
2004).
Si bien anteriormente hemos interpretado los resultados obtenidos del análisis antracológico en
términos ligados a esferas puramente económicas y políticas (MARCONETTO 2008), el acercamiento a
fuentes etnográficas creemos permite abrir la puerta a otras posibles interpretaciones. No se trata de
establecer analogías etnográficas, sino de pensar en posibles relatos alternativos que fracturen nuestro
propio modo de concebir lo que llamamos recursos.
El par algarrobo-quebracho constituye un núcleo de interés sobre el cual continuar indagando. La
ausencia de uno y la abundancia del otro pueden ser parte de un relato indisociable. Podríamos
hipotéticamente considerarlo un par de opuestos. En Ambato, el algarrobo se come y se quema tanto en
fogones domésticos como artesanales, su madera se encuentra en cada hueco de poste que sostuvo los
techos de las estructuras que encontramos hoy quemadas. El algarrobo es “el Árbol”, se trata de un dador.
Por su parte, el quebracho parece ser un árbol que quita, que “flecha”, “que come”. Uno parece ser presa,
el otro predador. Trabajos etnográficos y arqueológicos actualmente en curso apuntan en esta dirección
que parece ofrecer un interesante potencial de diálogo entre los dos campos.

Llegado de lejos, el San Antonio en Ambato


Como hemos mencionado ya, otra de las dicotomías a las que nos enfrenta el quehacer
arqueobotánico es el de autóctono/alóctono. Estas categorías son particularmente difíciles de disociar en
tanto los criterios pueden ser múltiples. Podríamos seguir criterios ecológicos definiendo los límites en base
a asociaciones florísticas definidas por la botánica. Podríamos considerar posibles fronteras culturales que
contemplen los límites territoriales de los grupos estudiados. La presencia de un taxón en el registro de una
zona en la cual no crece, debería adscribirlo a la categoría de alóctona a partir de qué distancia? La
distancia debería establecerse en base a cuál criterio? El hecho de que un grupo tenga acceso y se vincule
con determinado taxón podría definir a este último como autóctono (o propio)?
Nos enfrenta a estas y otras preguntas la presencia de un taxón particular en la construcción de
dos de los sitios excavados en el valle, Piedras Blancas e Iglesia de los Indios Cinnamomum aff. porphyrium.
Es un árbol frondoso de gran porte de hasta 30 metros de altura que crece en selvas de montaña de Bolivia
y Argentina. Hacia el noreste del valle de Ambato a unos 50 km ingresa una ceja de la selva tucumano-
boliviana en la cual se encuentran ejemplares de este árbol que los pobladores locales llaman San Antonio.
Debido a los incendios que afectaron varios sitios de la región hacia el siglo X, el registro
arqueológico de Iglesia de los Indios, Piedras Blancas y otros sitios del fondo de valle presentan la

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particularidad de preservar gran parte de las maderas utilizadas en su construcción. En especial se


conservaron componentes de los techos y postes que colapsaron al interior de los espacios de vivienda.
Esta circunstancia ha hecho posible recuperar, entre otras cosas, abundantes muestras de maderas y, a
partir de su análisis, intentar aproximarnos a la relación de los grupos humanos que ocuparon la región con
determinados árboles (MARCONETTO y GORDILLO 2008; MARCONETTO y MORS 2010). Realizamos la
identificación taxonómica del material de muestras correspondientes a los 105 troncos recuperados en
excavación de los sitios Piedras Blancas e Iglesia de los Indios.
Respecto a la abundancia relativa de los géneros empleados en Piedras Blancas, observamos una
mayor frecuencia de los géneros Prosopis sp. (33%) y Acacia aff. visco (33%), seguida por Geoffroea
decorticans (18%), y en menor proporción los géneros Aspidosperma quebracho blanco (9%), Cinnamomum
aff. porphyrium (5%) y Anadenanthera aff. colubrina (2%). Se trata de cuatro maderas locales (Prosopis,
Acacia, Geoffroea y Aspidosperma) y dos que crecen fuera del valle (Cinnamomum y Anadenanthera), en la
mencionada zona de acceso a las selvas de montaña o Yungas.
La madera empleada en los cinco postes del interior del recinto como los fragmentos de dos
postes insertos en los muros corresponden en su totalidad al género Prosopis, al igual que se observa en
casas actuales y subactuales de la zona. Este género se encontró en parte en su posición original (dentro de
los huecos de poste) y también disperso sobre el piso de ocupación, dada su posición asumimos que parte
de los troncos dispersos pudieron corresponder a partes de postes caídos. En cuanto al género Acacia, se
recuperaron abundantes troncos que creemos debieron corresponder a vigas mayores y secundarias del
techo, lo mismo para los ejemplares de Aspidosperma, en tanto el género Geoffroea presentó menores
diámetros en algunos casos por lo cual ha sido en su mayoría asignado a vigas menores o secundarias
(MARCONETTO y MORS 2010). En estos cuatro casos, parecería resultar clara la función estructural que
cubren los diferentes taxones.
Por su parte, la presencia de los géneros Cinnamomum y Anadenanthera, merecen una
consideración aparte tanto por estar presentes en baja frecuencia como por corresponder a géneros que
no crecen en el valle. En cuanto a Cinnamomum, los fragmentos recuperados corresponderían a 3
secciones de una misma pieza de poco menos de 2 m. En el caso de Anadenanthera se recuperó un sólo
fragmento de 30 cm de largo y un diámetro de 7 cm. No hemos podido asegurar que este material esté
ligado a la construcción o simplemente estaba guardado bajo el techo al igual que varios ítems
recuperados. Posiblemente la entrada de este taxón a la casa se vincule a otras esferas puesto que, se trata
de un árbol cuyas semillas son utilizadas para preparar un potente polvo alucinógeno de uso difundido en
el mundo prehispánico (PÉREZ GOLLÁN 1986; PÉREZ GOLLÁN y GORDILLO 1993) y cuya madera ha sido
identificada como materia prima para la fabricación de tabletas vinculadas al consumo de este alucinógeno
(SPROVIERI y RIVERA 2014).

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Paralelamente, la abundancia relativa de géneros en Iglesia de los Indios indica una alta
frecuencia de Cinnamomum aff. porphyrium 72%, seguida en menor medida por Alnus aff. jorullensis 18%;
una baja frecuencia de Acacia sp 5% y Prosopis sp 5%. Cabe destacarse que al igual que en Piedras Blancas
el género Prosopis, fue identificado en material correspondiente a bases de poste, y en cuanto a la parte
aérea de las construcciones, está representada por el resto de los taxones mencionados. Los ejemplares de
mayor diámetro corresponden a Cinnamomum y los menores a Alnus. El dato más significativo en la
comparación de ambos sitios es el hecho de que en el caso de la Iglesia de los Indios, la abundancia relativa
indica que el 90 % del material identificado corresponde a taxones que no crecen dentro de las formaciones
forestales del valle de Ambato. En tanto que Piedras Blancas, ubicado a sólo 300 m de distancia, fue
construido empleando un 93% de maderas presentes en los alrededores del sitio.
Una interpretación previa de estos resultados (MARCONETTO y GORDILLO 2008) se centró en que
estos podrían ser vinculados a la emergencia de niveles de desigualdad y heterogeneidad social propuestas
para la ocupación Aguada en el valle (LAGUENS y PÉREZ GOLLÁN 2001; LAGUENS 2006). Teniendo en
cuenta la proximidad y la estrecha correspondencia temporal y cultural, así como las particularidades de
ambos sitios, esta idea resultó plausible. Piedras Blancas un sitio de habitación compuesto por diversos
patios y recintos y un montículo adosado con una superficie total de 1774,62m² (ASSANDRI 2001); la Iglesia
de los Indios, cuenta con una superficie notablemente mayor, 12933,33m², se destaca como un lugar
diferenciado y único en ese conjunto, pero que en términos de proximidad se vincula con las instalaciones
vecinas (GORDILLO 2009). Está constituido por una gran plaza orientada al oeste, limitado al sur por un
montículo o pirámide, y al norte y este por recintos rectangulares. El sitio involucró un uso como espacio
residencial, doméstico, familiar y multifamiliar, con habitaciones y patios pequeños al interior, el tiempo
que se trató de un espacio comunitario, público, escenográfico y ceremonial con su plaza central y
estructuras macizas circundantes (op. cit, 2009).
La particularidad de la Iglesia de los Indios en el marco de las ocupaciones del valle, invita a
reflexionar acerca de su también particular empleo de madera de San Antonio para su construcción.
La etnografía ha dado sobrada cuenta de estrechos vínculos entre determinados árboles y los
humanos entre diversos grupos, tanto para América como en diversos puntos del planeta (CHAUMEIL y
CHAUMEIL 2004; RIVAL 1998, 2004; CLOKE y JONES 2002; MUSSELMAN 2003; GREEN 2013; entre muchos
otros). Por un lado asignación de ánimo e intencionalidad a diferentes especies, y por otro el vínculo a
través de rasgos análogos (por ejemplo, asociación a la fertilidad de plantas cuyos frutos presentan formas
fálicas; uso de accesorios de maderas de gran dureza para forjar un carácter duro, etc.). Tanto la asignación
de ánimo a seres no humanos, como las cadenas de significados análogos, generan prácticas específicas
cuya materialidad se expresa en el registro arqueológico.
Vínculos particulares con los no humanos han sido discutidos para la arqueología del valle de
Ambato. Desde el tratamiento corporal semejante a humanos y animales a partir de la alimentación, los

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contextos de entierro de camélidos juveniles similares a los de infantes humanos, o de tratamiento similar
de los restos óseos habiéndose registrado el hervido en casos de humanos y camélidos (LAGUENS y
GASTALDI 2008; SOLARI et al. 2013). Respecto a la representación de plantas se ha discutido la dificultad de
establecer recortes entre animales, plantas y humanos en la iconografía Aguada (MARCONETTO 2014). En
el marco de estos debates, estamos en condiciones de afirmar que una indagación profunda acerca del San
Antonio, será necesaria para abrir el abanico de interpretaciones ligadas a su presencia en el registro
arqueológico local. A su vez, estos hallazgos evidencian que debió existir un acceso efectivo de los
ocupantes del valle a la selva Tucumano-Boliviana a finales del primer milenio. Un análisis de este espacio
tan diferente sensorialmente al espacio valliserrano, aportará asimismo a esta discusión.

CONSIDERACIONES FINALES

Lo esperable en términos arqueológicos suele ligarse en general a la lógica extractiva tan anclada
a la mirada occidental. Las discusiones de los resultados en antracología mayormente se vinculan a las
calidades de los taxones identificados en términos de su utilidad como recursos. Mientras tanto, debates
en antropología han dado cuenta de que esta visión de lo no humano responde puramente a una muy
particular concepción del mundo: la concepción occidental y moderna, de corta data sobre el planeta.
Entendiendo que los registros con los que trabajamos corresponden a la materialización de prácticas
surgidas en mundos no modernos, pensamos que podía resultar enriquecedor intentar desplazar nuestra
mirada y salir de nuestra zona de comodidad.
La forma de entender la relación de las plantas entre sí que muestra el Fraile Agustín a comienzos
del siglo XVII, nos remite a aquella observada en algunas sociedades indígenas como los Yagua, donde los
árboles pueden ser buenos amigos o mantener luchas encarnizadas (CHAUMEIL y CHAUMEIL 2004).
También la etnografía andina da cuenta de relaciones entre las plantas análogas a las humanas (LEMA
2014). Ciertamente la excepción -o la rareza- respecto a este punto lo constituye el occidente moderno.
Como señala Viveiros de Castro (2014) el desierto antropológico de los occidentales dónde no hay
comunicación contrasta con el exceso de comunicación de los amerindios en donde todo comunica, todo es
persona: animales, plantas, truenos…
Al mismo tiempo la percepción del entorno, como vimos en el caso de la Mendoza colonial deja su
firma en el registro. Los vínculos con las plantas europeas o americanas estuvieron mediados por modos de
relación de europeos e indios con sus propios paisajes construidos. Estos diversos modos de relación, con
sus divergencias y convergencias diluyen a veces y ponen en cuestión otras veces nuestras categorías de
análisis tales como silvestre doméstico o nativas e introducidas.

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BERNARDA MARCONETTO E LUIS EDUARDO MAFFERRA

En cuanto al interés de los resultados no esperables, pensamos abren un abanico de posibilidades


para explorar lógicas ajenas. Los casos aquí abordados, si bien no tienen puntos de contacto entre sí,
siendo contextos temporales, geográficos y culturales diferentes convergen en el hecho de ser registros
materiales producto de prácticas nacidas fuera de la modernidad, lejos de la escisión ontológica entre
naturaleza y cultura. En los ejemplos traídos aquí, los resultados de nuestros análisis creemos participan de
complejos entramados a los que hemos intentado acercarnos desde algunas hebras.
Nos propusimos aquí en base a ejemplos trabajados por nosotros hacer el ejercicio de discutir
nuestros resultados en diálogo con voces etnográficas y documentos históricos. Este ejercicio abre así una
agenda a temas sobre los cuales profundizar y a repensar el diálogo con fuentes etnográficas e históricas
con el objeto de no replicar en espejo nuestra mirada del mundo al abordar contextos arqueológicos.

“Cuando se pone un espejo al oeste de la Isla de Pascua, atrasa. Cuando se pone


un espejo al este de la Isla de Pascua, adelanta. Con delicadas mediciones puede
encontrarse el punto en que ese espejo estará en hora, pero el punto que existe para ese
espejo no es garantía de que sirva para otro, pues los espejos adolecen de distintos
materiales y reaccionan según les da la real gana”. Conducta de los espejos en la Isla de
Pascua. Historias de Cronopios y de Famas. Julio Cortázar.

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TODOS LOS FUEGOS EL FUEGO: DISCUSIÓN EN TORNO A LAS CATEGORÍAS MODERNAS EN LA INTERPRETACIÓN DE
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Recebido em:15/04/2016
Aprovado em:15/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
APPORT DE L’EXPERIMENTATION A LA COMPREHENSION DES PRATIQUES
SOCIETALES EN ANTHRACOLOGIE : GESTION ET UTILISATION DU BOIS DE FEU
DANS LES SOCIETES PREHISTORIQUES
EXPERIMENTATION AS A TOOL FOR IDENTIFYING FIREWOOD USES AND
MANAGEMENT IN PREHISTORIC SOCIETIES
(CONTRIBUIÇÃO DA EXPERIMENTAÇÃO À COMPREENSÃO DAS PRÁTICAS SOCIAIS EM
ANTRACOLOGIA: GESTÃO E USO DA LENHA EM SOCIEDADES PRÉ-HISTÓRICAS)
Isabelle Thery-Parisot
Auréade Henry
Julia Chrzavzez

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Apport de l’expérimentation à la compréhension des pratiques sociétales en
anthracologie : gestion et utilisation du bois de feu dans les sociétés
préhistoriques

Isabelle Thery-Parisot
Auréade Henry
Julia Chrzavzez

Résumé: Le développement des approches socio-économiques appliquées à l’anthracologie permet de


répondre aux questions relatives à l’acquisition et à l’utilisation du combustible ligneux qui intéressent
particulièrement les archéologues. D’après l’ethnologie, les critères de choix qui président à la collecte du
bois par les sociétés, ne peuvent être réduits à la seule sélection de l’essence. D’autres paramètres de
forme et d’états (calibre, états phénologiques et physiologiques), dont le rôle est déterminant en termes de
propriétés combustibles, peuvent faire l’objet de la sélection. C’est pourquoi il est important de pouvoir les
mesurer. L’objectif de cet article est de faire un état des lieux des nouvelles méthodes dédiées à la
caractérisation, à l’échelle anatomique, de la forme et des états du bois utilisé comme combustible par les
sociétés de la Préhistoire. Ces méthodes sont adossées à la création de référentiels expérimentaux réalisés,
en laboratoire, dans des conditions contrôlées et d’observations qualitatives et quantitatives de signatures
anatomiques.

Mots clés: Anthracologie, Gestion du Bois, Expérimentation, Foyer, Signatures Anatomiques.

Abstract: The development of socioeconomic approaches applied to charcoal analysis has made it possible
to focus on topics related to firewood use and management. Ethnographic studies remind us that the
criteria according to which a society chooses its firewood cannot be reduced to a “simple” taxonomic
selection: other characteristics, such as the calibre or the state of the wood (i.e. green, seasoned, rotten)
are at least as important as the species. The framework of this paper is to present a synthesis of recent
tools developed to improve the potential of charcoal analysis for the study of firewood uses and
management. Standardized laboratory experiments on Scot Pine (Pinus sylvestris) combining both muffle
furnace and open fireplace combustions allowed proposing new methods of identifying the calibre and the
state of the wood based on anatomical signatures. Thanks to these methods, it becomes possible to
contribute to a better knowledge of the technical traditions linked to the use of fire, from wood gathering
to specialized hearths on archaeological charcoal samples.

Keywords: Charcoal Analysis, Fuel Management, Experimentation, Hearth, Anatomical Signatures.

INTRODUCTION

Vers une approche socio-économique de l’anthracologie


Depuis de nombreuses années, les recherches en Préhistoire mettent l’accent sur l’étude des
comportements socio-économiques des sociétés préhistoriques en décrivant les activités qui sont menées,

*CEPAM UMR 7264, CNRS-UNS Campus Saint-Jean-d'Angély 3. 24, avenue des Diables Bleus, F-06357 Nice Cedex 4, França.
ISABELLE THERY-PARISOT, AURÉADE HENRY E JULIA CHRZAVZEZ

en s'intéressant aux territoires parcourus par ces populations et au rôle joué par les sites au sein de ce
territoire. Longtemps inscrites dans une perspective paléobotanique (VERNET 1973; BADAL-GARCIA 1988,
1992; THIEBAULT 1988; CHABAL 1990, 1992, 1997; HEINZ 1990; HEINZ et al. 1992), les études
anthracologiques se sont plus récemment intéressées à ces pratiques sociales, intégrant les questions
relatives à l’acquisition et à l’utilisation du combustible ligneux en tant que composante de l’économie des
sociétés pré- proto et historiques (THERY-PARISOT 2001 ; THIEBAULT 2002; FIORENTINO et MAGRI 2006;
THERY-PARISOT et al. 2009; BADAL GARCIA et al. 2014). Mais comment aborder les pratiques en
anthracologie ? Pour les sites Paléolithiques en particulier, on souhaiterait pouvoir mettre en évidence des
pratiques de collecte du bois (e.g. ramassage du bois mort plutôt que l’abattage), ou des sélections (espèce,
calibre, état du bois) en vue d’une activité particulière, parce qu’elles alimentent une réflexion générale sur
la fonction des sites et la saisonnalité des occupations. Mais, ces informations sont-elles enregistrées dans
les restes que nous étudions ?
L’identification taxinomique des charbons de bois permet de déduire la signature écologique d’un
spectre de fréquence à partir d’essences clés ou d’un ensemble de taxon dont l’écologie est connue, de
définir les biotopes exploités, les territoires parcourus pour la collecte du bois et de discuter de l’utilisation
de certains taxons au regard de propriétés déduites de leurs caractéristiques physiques et chimiques. Mais,
les questions relatives à la gestion des ressources elles-mêmes, les pratiques de la collecte du bois, le choix
des combustibles sont des aspects difficiles à appréhender par l’identification taxonomique seule. Par
exemple, si les propriétés combustibles d’une essence relevaient uniquement de leurs propriétés physiques
et chimiques, alors il serait possible de combiner les informations de forme des structures de combustion
et de contenu floristique pour identifier la fonction des foyers. Or, à de rares exceptions près, le spectre de
fréquence des essences identifiées dans un foyer permet rarement de remonter à sa fonction pour deux
raisons principalement : les propriétés combustibles dépendent peu ou pas de l’espèce et les critères de
sélection peuvent relever de préférences ou des croyances qui échappent totalement à l’anthracologue
(THERY-PARISOT 2001, 2002b). De plus, d’autres marqueurs, a priori mesurables et interprétables, reposant
sur la forme (calibre et morphologie des branches) et les états phénologiques et physiologiques (bois mort,
bois sur pied, bois altéré, bois vert) semblent plus à même de documenter les pratiques. Cet article propose
une synthèse des méthodes dédiées à l’identification de ces états et formes du bois, lesquelles reposent sur
la création de référentiels, par l’expérimentation.

Une approche expérimentale des processus : la création de référentiels en conditions contrôlées


L’expérimentation sur du matériel actuel permet de produire des référentiels issus de lots de bois
dont les caractéristiques ante combustion sont connues. Une difficulté est ici de prendre en compte la
diversité d’un matériau bois dont la variabilité relève de paramètres multiples. La composition chimique du
bois, ses caractéristiques physiques et mécaniques, sa densité, son anatomie, relèvent à la fois de ses

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APPORT DE L’EXPERIMENTATION A LA COMPREHENSION DES PRATIQUES SOCIETALES EN ANTHRACOLOGIE : GESTION
ET UTILISATION DU BOIS DE FEU DANS LES SOCIETES PREHISTORIQUES

conditions de croissance (nature et type de sol, altitude, exposition), de l’âge de l’individu ou du rang de
l’axe, de la saison de coupe et, enfin, de la génétique (variations populationnelles ou taxinomiques),
lesquels conditionnent ensuite le comportement au feu. La préparation d’expériences doit donc intégrer
cette variabilité, faute de quoi une variable cachée de l’expérimentation pourrait influencer les résultats. Le
choix de la structure de combustion doit répondre à des exigences de conformité vis-à-vis des processus
que l’on veut étudier, tout en limitant l’interférence de paramètres non contrôlables. L’expérimentation en
conditions les plus proches possible de la réalité des sociétés passées est, a priori, le meilleur moyen de
comprendre les processus que l’on étudie. Pourtant, s’agissant de foyer en plein air, les paramètres
extrinsèques comme le vent, la pression atmosphérique ou l’humidité de l’air ont une telle importance sur
le déroulement de la combustion qu’ils masquent presque complètement l’effet des variables dont on
cherche à mesurer l’effet. C’est pourquoi nous utilisons souvent un foyer de laboratoire. Ainsi, en limitant
l’incidence des paramètres extrinsèques et en standardisant au maximum les expériences, il est possible
d’étudier le processus de la combustion, et ce, indépendamment de facteurs environnementaux. Le four à
moufle est cependant utilisé pour certaines expériences nécessitant un contrôle rigoureux des
températures et des durées de la combustion. Cette procédure tend à homogénéiser les résultats,
l’échantillon y est chauffé de manière homogène, ce qui n’est jamais le cas dans une structure ouverte. La
signification d’expériences réalisées en four à moufle doit donc être questionnée. Mais, les deux structures
sont complémentaires et la duplication des expériences four à moufle/foyer ouvert permet de comparer les
phénomènes et d’apporter davantage de précisions sur la compréhension des processus. Tous les
référentiels ont été réalisés à partir de lots de pin sylvestre (Pinus sylvestris L.), principal taxon des
assemblages anthracologiques pléistocènes auxquelles ces méthodes sont appliquées.

UN MODELE DISCRIMINANT ABATTAGE/RAMASSAGE

Enjeux
Dans le contexte des occupations préhistoriques, un objectif de l’étude anthracologique est de
mettre en évidence les modalités d’acquisition du bois de feu en distinguant les pratiques d’abattage et de
ramassage du bois dont on suppose qu’elles nous renseignent sur le statut des occupations. De fait, les
modes de vie préhistoriques se caractérisent par une importante mobilité, une occupation des sites de
type saisonnière, depuis la très courte durée jusqu’au camp de base multi-saisonnier, et un équipement
technique relativement limité, spécificités dont on suppose qu’elles contraignent la gestion de la ressource
bois (THERY-PARISOT 2002a, 2002b). Au-delà des contraintes techniques de l’abattage, ce postulat repose
sur une caractéristique physiologique du bois : sauf usage spécifique lié à des activités spécialisées (e.g.
fumage, traitements thermiques de matières premières), le bois de feu doit être sec. On oppose alors

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ISABELLE THERY-PARISOT, AURÉADE HENRY E JULIA CHRZAVZEZ

schématiquement le ramassage de bois mort facile à collecter, déjà sec, d’usage immédiat, et le bois
d’abattage d’usage différé (de 18 à 36 mois de séchage selon les modalités de stockage et les conditions
climatiques) qui relève à la fois de techniques et de stratégies plus complexes à mettre en œuvre, et qui
sous-tend anticipation, stockage prévisionnel et réoccupation du site. L’abattage et le ramassage
constituent par conséquent deux modalités de la collecte du bois de feu qu’il convient de différencier. La
distinction entre ces deux pratiques repose en partie sur la mesure des calibres du bois utilisé comme
combustible.
Dans un peuplement en équilibre, le bois mort au sol est majoritairement constitué de
branchages provenant de l’élagage naturel des arbres et, plus ponctuellement, d’arbres entiers tombés à
terre. Un peuplement d'arbres sur pied présente une plus grande diversité de diamètres des tiges et
l’éventail de ces calibres témoigne de cette diversité (tous les calibres sont représentés, y compris les plus
grands). Par conséquent, les calibres du bois utilisé comme combustible ont des chances de refléter les
modalités de la collecte.

Etat de la recherche
Appliqués aux charbons de bois archéologiques, les premiers travaux en ce domaine ont permis
de mettre au point une méthode de mesure du calibre extrapolé à partir de la courbure du dernier cerne
visible. Ils sont d’abord fondés sur l’utilisation d’une simple cible (WILLERDING 1971; ALIX 2002; NELLE
2002; MARGUERIE et HUNOT 2007) puis sur le développement d’outils numériques d’analyse d’image
(CHRZAVZEZ 2006; DUFRAISSE et GARCIA-MARTINEZ 2011; GARCIA-MARTINEZ et DUFRAISSE 2012;
PARADIS-GRENOUILLET et al. 2013) (Figure 1). Pour autant, en raison de la fragmentation du bois au cours
de la combustion ou de la réduction en cendres sur le pourtour des tiges, le dernier cerne visible
correspond rarement au dernier cerne de la branche dont il est issu, et peut provenir indifféremment de
n’importe quelle partie de celle-ci (DUFRAISSE 2005). Par conséquent, le dernier cerne visible enregistre le
diamètre minimum de la branche dont provient le charbon mais ne nous dit rien sur le calibre de la tige.
Seul le développement de méthodes analytiques plus poussées incluant des modélisations autorise le
passage de mesures individuelles de cernes sur des fragments isolés au calibre d’un lot de bois supposé.
Les méthodes de restitution des calibres développées relèvent de deux approches distinctes. La
première repose sur un modèle théorique fondé sur la géométrie des cylindres (DUFRAISSE 2005, 2006).
Cette méthode prend en compte les effets de la fragmentation et cherche à corriger la distribution des
diamètres des fragments d'un échantillon en distribution des calibres des tiges dont ils proviennent. Mais la
correction proposée ne permet pas réellement de remonter aux calibres d'origine (THERY-PARISOT et al.
2011). La seconde est une méthode qualitative basée sur des référentiels expérimentaux. Ils permettent de
comparer des histogrammes de fréquence des diamètres mesurés sur des lots de charbons de bois

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APPORT DE L’EXPERIMENTATION A LA COMPREHENSION DES PRATIQUES SOCIETALES EN ANTHRACOLOGIE : GESTION
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archéologiques, avec des histogrammes de référence dont on connaît la composition, en termes d'éventail
des calibres d'origine mis au feu (NELLE 2002; LUDEMANN 2008).

Figure 1: Méthode de mesure du diamètre du bois en microscopie optique à réflexion couplée avec l’analyse d’image
(logiciel Image Pro-Plus). L’estimation du calibre repose sur la trigonométrie R = (d/2)/(sin α/2) (adapté de PARADIS-
GRENOUILLET 2013).

Les travaux présentés ici s’inscrivent clairement dans la lignée des études de Nelle et Ludemann,
avec l’objectif de dépasser l’approche qualitative et de proposer un modèle quantitatif (THERY-PARISOT et
al. 2011; CHRZAVZEZ et al. 2012). Le processus de fragmentation des charbons de bois au cours de la
combustion étant homogène (CHABAL 1992; THERY-PARISOT et al. 2010a, 2010b; HENRY 2011; CHRZAVZEZ
et al. 2014), les histogrammes de proportion des calibres, obtenus à partir de diamètres mesurés sur des
fragments, doivent refléter les lots de bois dont ils proviennent. C’est donc l’allure de l’histogramme et non
les valeurs individuelles de chaque classe de l’histogramme qui est discriminante (Figure 2). En
conséquence, il doit être possible d’estimer la probabilité d’appartenance d’un échantillon archéologique à
un histogramme de référence et d’en déduire les calibres d'origine du bois. La création d’histogrammes de
proportions de calibres de référence, à partir de lot de bois brûlés de calibres connus, repose sur
l’expérimentation.

Matériel et méthode
L’expérimentation poursuit plusieurs objectifs :
− étudier la relation entre la répartition en classes de calibres avant et après combustion ;
− vérifier la fidélité des histogrammes à l’égard de lots identiques dont ils proviennent ;
− tester la différence statistique entre des lots distincts ;
− proposer un modèle statistique pour l’étude d’échantillons archéologiques.

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Figure 2: Une hypothèse: le profil de l’histogramme des diamètres mesurés est une fonction des calibres du bois mis
au feu.

La complexité de mise en œuvre de l’expérimentation et le caractère chronophage des mesures


de diamètres, nous ont amenés à travailler dans un premier temps sur des lots de bois volontairement
simples, le but n’étant pas de tester toutes les situations mais d’évaluer la pertinence de la méthode.
Trois séries d’expériences ont été réalisées : une première série (série 1 ; > 25 cm) de 4
combustions composées de lots de bois de calibre supérieur à 25 cm refendus ; une deuxième série (série
2 ; 7 à 10 cm) de 5 combustions composées de lots homogènes de faible calibre (7 à 10 cm); une troisième
série (série 3 ; arbre) issue du débitage d’un arbre entier dont l’éventail des calibres est compris entre 1 et
20 cm, divisée en deux lots identiques de composition hétérogène (soit 2 répliques pour cette modalité).
Au terme des combustions, 5500 charbons ont été mesurés en analyse d’image en couplant les
méthodes de Chrzavzez (2006) et Paradis-Grenouillet et al. (2013), soit 500 charbons de bois par
combustion. Pour chaque feu, la mesure individuelle du dernier cerne visible sur chacun des fragments
étudiés permet d’établir un histogramme de classes de diamètres représentées (4 classes de diamètres
d’amplitude 5 cm).

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APPORT DE L’EXPERIMENTATION A LA COMPREHENSION DES PRATIQUES SOCIETALES EN ANTHRACOLOGIE : GESTION
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Résultats (Figure 3)
Avant combustion, la série 1 (> à 25 cm) est composée uniquement de rondins de calibre
supérieur à 25 cm. Au terme de la combustion, la fragmentation du bois entraîne une redistribution au sein
des différentes classes de diamètres, qui ne semble pas suivre un modèle linéaire. La redistribution est
globalement homogène dans toutes les classes même si on observe en moyenne une légère
surreprésentation de la classe [5-10cm]. La classe [15-20cm], qui représente la classe que nous appellerons
la classe "attendue", c'est-à-dire conforme aux calibres avant combustion, rassemble au mieux 30% des
effectifs. Les résultats de la deuxième série (7 à 10 cm) sont homogènes, la classe attendue des lots est
toujours sous-représentée, voire non représentée (3/5 feux). La classe 5 à 10 atteint au mieux 3 % des
effectifs. Avant combustion, les lots de la troisième série qui correspond au débitage d’un pin sont
composés de 20% de calibres [15 à 20 cm], de 37% de calibres [10 à 15 cm], de 3% de calibres [5 à 10 cm]
et de 40% de calibres [0 à 5cm]. La comparaison des deux histogrammes post combustion fait état d’une
redistribution semblable au sein des différentes classes. Les classes [10-15cm] et [15-20 cm] sont
systématiquement sous-représentées après la combustion alors que la classe [5-10cm], à peine
augmentée, représente assez fidèlement les fréquences ante combustion ; la classe [0-5 cm] est
surreprésentée avec près de 85% des effectifs post combustion contre 40% ante combustion.
La fragmentation du bois au cours de la combustion entraîne une redistribution au sein des
différentes classes de diamètres. Par conséquent, les mesures individuelles ne reflètent pas le calibre initial
des lots du bois mis en feu mais le résultat de la fragmentation. La classe supérieure est systématiquement
sous-représentée alors que la classe inférieure est toujours surreprésentée [0-5cm]. Les effets combinés du
retrait radial et du processus de combustion du bois depuis la périphérie jusqu’au cœur suffisent à
expliquer la sous-représentation de la classe supérieure. La fragmentation est à l'origine de la
surreprésentation systématique de la classe inférieure, [0-5cm], quel que soit le calibre du bois mis au feu.
À cette dissemblance de représentation des classes ante et post combustion s’oppose la ressemblance des
résultats entre répliques d’une même modalité. Cette reproductibilité de la mesure observée de manière
systématique dans nos trois séries suggère le caractère non aléatoire de l’allure de l’histogramme qui
reflète bien la composition du lot de bois dont il est issu.
Certaine analyses multivariées permettent de tester statistiquement la différence entre les lots.
L’analyse factorielle discriminante (AFD) est une méthode descriptive et explicative, apparentée à l’analyse
en composantes principales (ACP), s’appliquant à des données quantitatives sur lesquelles est déjà définie
une typologie ou partition, ce qui correspond bien à nos données. La population statistique est composée
des différentes combustions réalisées ; les variables correspondent à la valeur individuelle de chaque classe
de calibre pour chacune de ces combustions. Cette méthode permet de tester à la fois la similitude des
résultats d’une même modalité et la dissemblance des modalités entre elles (Figure 4). D’après l’analyse, la
différence entre les barycentres des 3 groupes est significative (Test du Lambda de Wilks), le classement

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des lots a posteriori est identique au classement a priori c’est-à-dire à la partition en trois groupes due à
notre protocole. Conformément à notre hypothèse, les trois lots sont bien discriminés. On peut donc
confirmer que la valeur individuelle de chaque classe de diamètres ne représente pas le lot de bois dont il
provient mais que la distribution en classes est fonction de la composition du lot de bois mis au feu.

Figure 3: Profil des histogrammes des classes de diamètres obtenus expérimentalement.

Discussion
Le référentiel expérimental a permis: d’étudier la relation entre la composition (éventail des
calibres) de lots de bois et le profil des histogrammes de classes de diamètres des fragments qui en
résultent après combustion; de montrer l'absence de différence statistique entre les profils des
histogrammes des différentes répliques; de montrer que les lots de bois de composition différente sont
statistiquement discriminés par le profil des histogrammes de classes de diamètres basé sur les mesures de
chaque charbon après combustion.
En conséquence, sur son principe, le modèle est transposable aux contextes archéologiques. Une
des applications de l’AFD porte sur la possibilité d’affecter statistiquement un assemblage archéologique à
un modèle de partition établi à partir d’un référentiel et donc d’en déduire le calibre moyen du bois utilisé
comme combustible. Deux conditions permettront de systématiser son application; d'une part, un
référentiel expérimental plus large devra nourrir le modèle pour rendre compte d'un plus grand nombre de
combinaisons de calibres, en vérifiant aussi si d'autres espèces que le Pin confirment ces profils (robustesse

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ET UTILISATION DU BOIS DE FEU DANS LES SOCIETES PREHISTORIQUES

du modèle); d'autre part, il faudra montrer que des lots de bois très différents entre eux ne conduisent pas
à des histogrammes de même profil. Enfin, un outil statistique n’est pas un outil décisionnel, il est le
support à la formulation d’hypothèses et d’interprétations archéologiques qui sont toujours étayées par
d’autres données.

Figure 4: Distribution des profils d’histogramme dans le plan factoriel (Analyse Factorielle Discriminante).

Une première application du modèle a été proposée pour l’étude des charbons de bois du
gisement Paléolithique de Fumane (Vénétie, Italie) (CHRZAVZEZ 2006; CHRZAVZEZ et al. 2012). Les résultats
de l’analyse supportent l’hypothèse d’une collecte préférentielle de bois de faible calibre correspondant à
un ramassage, hypothèse qui cadre bien avec le caractère ponctuel des occupations du Paléolithique
privilégiant l’immédiateté des besoins en bois. Le bois de ramassage (bois mort sur l’arbre ou au sol, bois
flotté de faible calibre) déjà sec et facile à collecter, semble plus adapté aux occupations brèves (activités
journalières ou sites spécialisés) mais également à des occupations plus longues lorsque la nécromasse le
permet (camp de base résidentiel). On parlerait alors de gestion opportuniste de bois est mort et sec qui
n’exclut pas pour autant une sélection (essences, calibre) au sein de la nécromasse. A l’inverse, le bois
d’abattage, qui relève à la fois de techniques et de stratégies plus complexes à mettre en œuvre, serait
plutôt associé à des occupations « longues » du type camp de base résidentiel ou à des occupations plus
ponctuelles lorsque la nécromasse est peu abondante ou inaccessible (e.g. sous la neige).

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BOIS MORT/BOIS ALTERE: QUELLES SIGNATURES ANATOMIQUES ?

Enjeux et état de la recherche


La caractérisation anatomique du bois sain/mort/altéré s’inscrit dans la perspective de décrire les
modalités de la collecte du bois de feu, en mettant en évidence : (i) deux pratiques opposées : le ramassage
(bois mort potentiellement altéré par l’activité de dégradation biologique) et l’abattage (bois sain sur
pied) ; et (ii) l’emploi de bois altéré pour des activités spécialisées, pratique observée actuellement,
notamment chez les Evenk de Sibérie (HENRY 2011).
La distinction entre le bois sain et le bois mort est tributaire de la préservation post-combustion
de signatures anatomiques dues à l’activité de dégradation biologique ante-combustion. Les travaux
antérieurs ont porté sur quelques critères de caractérisation anatomique du bois mort (BLANCHETTE et al.
1997; BLANCHETTE 2000; THERY-PARISOT 2001; THERY-PARISOT et TEXIER 2006; ALLUE et al. 2009;
MOSKAL-DEL HOYO et al. 2010). Mais les descripteurs proposés, toujours qualitatifs, posent problème dès
lors que l’on cherche à interpréter un assemblage archéologique, notamment en raison de la faiblesse d’un
argumentaire qui repose principalement sur la présence/absence d’altérations visibles. L’observation
d’altérations sur les charbons de bois du site Mésolithique du Clos de Pujol (Massif Central, France) a
conduit au développement d’un nouvel outil d’analyse (HENRY 2011; HENRY et THERY-PARISOT 2014).
L’objectif était d’établir un référentiel actuel prenant en compte un gradient d’altérations et de proposer
une approche quantitative transposable aux assemblages archéologiques.

Matériel et méthode
L’échantillonnage de bois ou charbon de bois, destiné au référentiel, a été réalisé au sein de deux
ensembles distincts : d’une part, des lots de bois prélevés sur pied ou au sol au sein de peuplements
actuels de Pinus sylvestris (Causse du Larzac, France) ; d’autre part, des charbons de bois prélevés dans des
foyers traditionnels Evenks de Sibérie, dans le cadre d’une mission ethno-archéologique.
Le référentiel « Bois » distingue quatre séries qui présentent un gradient d’altérations
macroscopiques allant de non altéré à très altéré: deux lots de bois sain de référence (H1, H2), deux lots de
bois mort sur pied ne présentant pas d’altération macroscopique (noté SD1, SD2), trois lots de bois mort au
sol présentant localement des altérations macroscopiques (FD1, FD2, FD3) et trois lots de bois mort au sol
présentant des altérations macroscopiques majeures (HRST, R1, R2).
Le référentiel « ethno-anthracologique » se compose de charbons de bois issus de deux types de
foyers : le Samnin (noté S - Evenk smudge), foyer extérieur de fumigation destiné à protéger les animaux
domestiques des moustiques, majoritairement composé de bois vert et de « tout-venant », mélange de
mélèze sous différents états phénologiques et physiologiques ; le Njučinak (N - Evenk smoke) : foyer

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ET UTILISATION DU BOIS DE FEU DANS LES SOCIETES PREHISTORIQUES

spécialisé dans le boucanage des peaux, alimenté de mélèze très altéré, pulvérulent, de couleur rouge
sombre, et allumé par adjonction de braises ardentes de mélèze a priori sain ou peu altéré.
Les échantillons du référentiel « Bois » ont été traités selon deux modalités: une série de témoins
cuits en four à moufle sous forme de rondelle, à 500°C pendant 30 mn (9 échantillons de référence) et une
série issue de combustions en foyer ouvert de laboratoire (10 combustions). Après la carbonisation, les
échantillons sont observés au microscope à réflexion (grossissement 100, 200 et 500 fois) (plus de 900
charbons). Les observations portent sur les marqueurs d’altération à l’échelle de la microstructure et leur
généralisation au sein d’un même charbon. Elles sont notées de 0 à 3 selon l’intensité de l’altération (pour
une description des altérations se reporter à HENRY et THERY-PARISOT 2014).
Les charbons ethno-anthracologiques sont observés au microscope à réflexion sans préparation.
Ils font l’objet des mêmes observations.

Résultats (Figure 5)
Les altérations de la structure anatomique sont visibles en section transversale autorisant une
caractérisation rapide de l’état d’altération ; l’examen des plans longitudinaux n’apporte pas d’information
supplémentaire. La définition d’un indice d’altération (A.L. = 0 à 4) permet de classer chaque charbon de
bois dans une classe d'altération, puis de quantifier les proportions de ces classes dans l'échantillon. Nous
noterons A.L.(i) l'indice d'altération égal à i. Les observations sont faites sur un échantillon de 150 charbons
prélevés au hasard dans chaque lot (soit un total de 1500 observations).

Figure 5: Fréquence des altérations (A.L. O à 3) observées sur le référentiel actuel et ethnoachéologique.

Les échantillons actuels


Les observations réalisées sur les lots de bois actuels montrent que les proportions des différents
types d’altération se stabilisent autour de 100 charbons. Les échantillons témoins (H1, H2) sont très
faiblement altérés, respectivement 84 et 86% pour A.L. (0). On note toutefois quelques échantillons

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présentant un A.L. plus élevé. Les lots de bois mort sur l’arbre et mort au sol (SD1, SD2, FD1, FD2, FD3) ne
sont pas discriminés, ils présentent en moyenne 42 % de charbons altérés type A.L. (1). Les échantillons
issus de bois "très altéré" (HRST, R1 et R2) présentent effectivement des indices d’altération très forts, soit
plus de 80 % de A.L. (3).

Le matériel ethnographique
Comme pour le bois du référentiel, les résultats se stabilisent après observation de 100
charbons de bois. Le njučinak évenk (boucanage des peaux) présente 80 % de charbons altérés (A.L. = *),
et une plus forte proportion d’altérations de type A.L. = 3. Le samnin (éloignement des moustiques)
présente un taux d’altération plus faible (34 %) avec une majorité d’altérations de type A.L. (1). Le test de
Mann-Whitney confirme la différence statistique entre les deux groupes.

Définition d'un indice d'altération


Les résultats de l’expérimentation montrent que l’observation de 100 charbons de bois tirés au
hasard est un sous-échantillonnage représentatif du lot de bois étudié. Les altérations de la structure
anatomique sont préservées après carbonisation. Le bois d’apparence saine n’échappe pas à la colonisation
par les agents de dégradation, les fortes intensités d’altération ne sont pas exclusives des échantillons les
plus altérés à l'échelle macroscopique, et réciproquement. Le test des comparaisons multiples (Dunn)
permet de tester la différence statistique entre les lots. La classification discrimine quatre groupes : un
groupe non altéré correspondant au bois sain (H1, H2) et au foyer de fumigation (S); un groupe composé
des lots de bois mort sur l’arbre (SD1 et SD2), et au sol moyennement altéré (FD1 à FD3) et un groupe
constitué de bois mort très dégradé (HRST, R1 et R2) et du foyer de boucanage (V).
Sur la base de ces résultats, un indice d’altération, nommé AI, dont le but est de proposer un
critère quantitatif de caractérisation des charbons de bois archéologiques peut être calculé (Figure 6). Cet
indice permet de prendre en compte à la fois l’intensité et la fréquence des altérations : AI =
(nA1x1+nA2x2+nA3x3)/n(0 à 3)x3).
Par convention, si 100% des charbons de bois ont une altération nulle, AI = 0. Selon cette
classification, un indice faible (<0.15) correspond à un lot de bois sain. Des valeurs moyennes (de 0.2 à
0.34) signent un assemblage issu de bois mort (collecté sur l’arbre ou au sol) ; enfin, des valeurs
supérieures à 0.5 caractérisent un lot de bois très dégradé, de type foyer de boucanage. Appliqué au
matériel ethno-anthracologique, les charbons de bois se classent correctement au sein du référentiel: le
samnin, composé de « tout venant » sans sélection particulière se classe entre le référentiel bois sain et le
référentiel bois mort peu altéré, le njučinak, composé de bois très altéré se classe bien dans la catégorie
très altéré.

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Figure 6: Calcul d’un Indice d’altération (AI).

Discussion: du calcul d’indice à l’interprétation


Le calcul de l’indice d’altération permet d’identifier l’état du bois lors de sa mise au feu. Un indice
très faible ou au contraire très élevé fournit une indication relativement précise de l’état phénologique du
combustible employé. Ce n’est pas le cas des valeurs moyennes, interprétées comme résultant d’un
mélange de valeurs extrêmes ou du cumul de valeurs moyennes. C'est alors plutôt l’aspect des différentes
courbes de proportions des états d’altération qui permet une compréhension du degré d’altération. In fine,
c’est la prise en compte du contexte socio-économique global, de la nature du site et du dépôt
anthracologique, qui permettent de proposer une interprétation précise du dépôt.
Un travail préliminaire comparable a été réalisé sur des échantillons de chêne (Quercus fc). À des
stades de décomposition macroscopiques équivalents, les indices d’altération du chêne sont bien inférieurs

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à ceux obtenus pour le pin et le mélèze. Néanmoins, moyennant des tests adéquats, les lots de bois
faiblement altérés, moyennement altérés et fortement altérés se discriminent bien.
Appliqué à des échantillons archéologiques, l’indice d’altération permet de discuter des modalités
de la collecte du bois (ramassage, stockage, abattage). Il permet également de mettre en évidence la
spécialisation des structures de combustion, par exemple en lien avec l’emploi de bois très altéré
présentant des caractéristiques thermiques qui peuvent avoir été recherchées. Une application de la
méthode a été proposée par Henry pour l’étude du site mésolithique du Clos de Poujol. D’après les
résultats, la collecte du bois est orientée majoritairement vers le ramassage de bois mort au sol
moyennement altéré. Ce qui est en concordance avec les indices saisonniers qui concourent à la mise en
évidence d’occupations du site plutôt à la bonne saison, durant laquelle l’ensemble de la biomasse au sol
est directement accessible (HENRY 2011; HENRY et BOBOEUF 2016).

SEC OU FRAIS ? COMMENT IDENTIFIER L’ETAT DU BOIS MIS AU FEU ?

Enjeux et état de la recherche


Certains assemblages anthracologiques présentent des altérations notables de la structure
anatomique, dues notamment à la présence de fentes de retrait, dont l'apparition sur le matériel carbonisé
est apparentée à celle observée sur le "bois rond" lors du séchage du bois. Elle correspond à un
phénomène bien connu de rétraction des cellules due à l’évacuation de l’eau liée, en dessous du point de
saturation des fibres, lequel se situe autour de 30% d’humidité et à l'incompatibilité du retrait tangentiel
(de 8 à 10%) et du retrait radial (4 à 5%) lors du séchage du bois (MAC GINNES et al. 1971 ; BEALL et al.
1974 ; MOORE et al. 1974; SCHWEINGRÜBER 1978; SLOCUM et al. 1978; CUTTER et al. 1980; ROSSEN et
OLSON 1985; STIMELY et BLANKENHORN 1985). La carbonisation, dont la première phase correspond à
l’évacuation de l’humidité du bois, amplifie ce phénomène de rétraction (PRIOR et ALVIN, 1986; PRIOR et
GASSON 1993; SCOTT et al. 2000; KUMAR et al. 2006; MCPARLAND et al. 2009; PASTOR-VILLEGAS et al.
2007). La présence de fentes de retrait visibles sur la section transversale des charbons de bois signe un
fort taux d’humidité du bois. Les interprétations en sont classiquement l’utilisation préférentielle de bois
vert en lien avec des activités spécialisées (e.g. fumage et fumigation) et s’inscrivent dans le cadre des
travaux qui portent sur la fonction et le fonctionnement des foyers préhistoriques.
Néanmoins, aucun des travaux antérieurs n’a permis d’établir un lien direct entre le taux
d’humidité du bois et le nombre d’occurrences de retrait dans les échantillons ou le nombre des fentes de
retrait par échantillon. Une précédente étude avait notamment mis l’accent sur l’hétérogénéité
interspécifique des résultats obtenus, sur la variabilité intra-spécifique et l’absence de loi entre
température/humidité et fentes de retrait (THERY-PARISOT 2001). Or, dans ces expériences, un paramètre

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du protocole établi pour la préparation des échantillons pouvait avoir induit une variabilité incontrôlable,
les échantillons « verts » ayant été saturés artificiellement d’eau avec une pompe à vide. Pour cette raison,
une étude complémentaire impliquant du matériel vert à l’état naturel a été menée.

Matériel et méthodes
L’objectif de l’expérimentation était d’établir un référentiel à partir de lots de bois dont le taux
d’humidité est parfaitement contrôlé, puis de préciser la relation entre l'occurrence du retrait (exprimée en
nombre d'échantillons affectés par un retrait), le nombre de fentes de retrait par échantillon, l’amplitude
des fentes de retrait (longueur et largeur), et le taux d’humidité avant combustion (Table 3). Les mesures
sont rapportées à une surface d’observation toujours identique de 1cm². Dans les mesures, nous noterons
"FR" les fentes de retrait ("RC": radial cracks, en anglais).
Le référentiel a été réalisé à partir de lots de pin sylvestre sains secs et vert fraîchement abattus.
Afin de prendre en compte la variabilité stationnelle et intraspécifique, les lots proviennent de plusieurs
stations et de plusieurs axes d’un même individu.
Les échantillons ont été traités selon deux modalités (Voir THÉRY-PARISOT et HENRY 2012, pour la
description précise du protocole) :
– en four à moufle sous forme de rondelles, permettant de contrôler le déroulement de la
carbonisation et d’intégrer une variable de température (12 échantillons frais / 12 échantillons secs à
350°C, 12 échantillons frais / 12 échantillons secs à 500°C, 12 échantillons frais / 12 échantillons secs à
650°C), soit 36 échantillons frais et 36 échantillons secs;
– en foyer de laboratoire, quatre combustions standardisées (chaque feu est composé de 6
bûches de 33 cm, non refendues, de calibre 7 à 8 cm), plus proches des conditions archéologiques : deux
combustions de bois vert et deux combustions de bois sec.
Au terme des combustions, les mesures ont été réalisées en analyse d’image sur la face
transversale de chaque échantillon (logiciel image pro-plus®).
Les résultats portent sur un total de 272 échantillons traités (72 en four à moufle et 200 en foyer
ouvert).

Résultats

Le référentiel en four à moufle (Figure 7a)


Le premier résultat porte sur la fréquence d’occurrences du retrait. La totalité des échantillons
présente des fentes de retrait visibles, quel que soit le taux d’humidité initial du bois. L’analyse de la
variance montre que les variables température et humidité ont un effet significatif sur le nombre de fentes
de retrait par échantillon. L’élévation de la température entraîne une augmentation du nombre moyen de

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fentes de retrait avec un effet plus important sur les échantillons de bois vert (en moyenne 12 FR/cm2 à
300°C, 30 FR /cm2 à 500°C et 40 FR /cm2 à 650°C). Néanmoins, la variable température a moins d’incidence
que la variable humidité. L’analyse de la variance montre en effet que les échantillons verts sont nettement
discriminés des lots secs (p<0.0001) et présentent en moyenne dix fois plus de fentes de retrait.

Figure 7: Effet du taux d’humidité sur le nombre de fentes de retrait/cm², en four à moufle (a) en foyer ouvert (b)
(ANOVA et test PLSD Fisher).

Les mesures systématiques montrent que les températures n’ont pas d’incidence sur la longueur
et la largeur des fentes de retrait dont les variations de taille sont aléatoires dans un même lot (sec ou
vert). Inversement, la variable « humidité » discrimine la longueur (p < 0.0002) et la largeur (p < 0.0073)
des fentes de retrait : elles sont plus longues et plus larges sur les échantillons secs, plus courtes et moins
développées sur les échantillons verts (Figure 8).
En résumé, la fréquence d’occurrences de fentes de retrait n’est pas en soi un indicateur du taux
d’humidité du bois : tous les échantillons présentent du retrait. La température a un effet significatif sur le
nombre de fentes de retrait mais cet effet est moins important que le taux d’humidité. Le nombre
d'occurrences de fentes de retrait est dix fois plus élevé sur les échantillons verts mais il est essentiel de
prendre en compte aussi la longueur et la largeur des fentes. Les fentes de retrait sont plus nombreuses et
moins développées sur les échantillons verts, moins nombreuses mais plus développées sur les échantillons
secs.

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APPORT DE L’EXPERIMENTATION A LA COMPREHENSION DES PRATIQUES SOCIETALES EN ANTHRACOLOGIE : GESTION
ET UTILISATION DU BOIS DE FEU DANS LES SOCIETES PREHISTORIQUES

Figure 8: les fentes de retrait sont nombreux et peu développées sur le bois vert (a, b), elles sont moins nombreuses
et plus développées sur le bois sec (c, d,).

Le référentiel en foyer ouvert (Figure 7b)


Les températures sont enregistrées par une série de 12 capteurs répartis dans le foyer. Elles sont
sensiblement identiques pour toutes les expériences. Seule la durée des combustions distingue les lots secs
des lots verts (4h40 en moyenne pour le bois sec contre 6h en moyenne pour le bois vert).
Dans nos expériences, 70% des échantillons présentent des fentes de retrait, quel que soit le taux
d’humidité initial du bois. La fréquence d’occurrences de retrait ne présente, ici encore, aucune valeur
diagnostic de l’état du bois mis au feu. En revanche, le nombre de fentes de retrait discrimine les
échantillons secs et verts (p ¼0.0166) ; les fentes de retrait sont en moyenne quatre fois plus nombreuses
sur les échantillons verts que sur les échantillons secs (avec respectivement 8 FR/cm2 et 2 FR/cm2).
Inversement, il n’y a pas de différence statistique entre les dimensions des échantillons sur bois sec et sur
bois vert.

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Synthèse et discussion
D’après nos résultats, la totalité des échantillons présente des fentes de retrait visibles quel que
soit le taux d’humidité initial du bois. Les variables température et humidité ont un effet significatif sur le
nombre de fentes de retrait par échantillon. L’élévation de la température entraîne une augmentation du
nombre moyen de fentes de retrait avec un effet plus important sur les échantillons de bois vert, en foyer
ouvert comme en four à moufle. En four à moufle la variable humidité prévaut sur la variable température.
Les échantillons verts sont nettement discriminés des lots secs (p<0.0001) et présentent en moyenne dix
fois plus de fentes de retrait en structure fermée et en moyenne quatre fois plus en foyer ouvert. Les
températures n’ont pas d’incidence sur la longueur et la largeur des fentes de retrait dont les variations de
taille sont aléatoires. La variable humidité discrimine la longueur (p < 0.0002) et la largeur (p< 0.0073) des
fentes de retrait en four à moufle mais pas en foyer ouvert. Les résultats sont moins tranchés en four à
moufle, probablement en raison des conditions intrinsèques et extrinsèques plus hétérogènes de la
combustion en foyer ouvert.
Nos observations montrent que le calcul d’un simple pourcentage des fentes de retrait sur un
assemblage archéo-anthracologique ne peut en aucun cas servir à en déduire le taux d’humidité du bois,
puisque ni la fréquence d'occurrences du retrait, ni l’amplitude des fentes n’ont de valeur diagnostique du
taux d’humidité du bois.
Les variations dimensionnelles du bois se produisent dans le domaine hygrométrique, c'est-à-dire
entre l’état anhydre (0% d’humidité) et le point de saturation de fibres, soit 30% d’humidité (AIESB, 2013).
C’est donc l’évaporation de l’eau liée qui entraîne le phénomène de fissuration. Or, le bois, même
parfaitement sec, contient toujours une proportion d’eau liée résiduelle (12% au minimum). L’évacuation
de l’eau liée pendant la première phase de la combustion engendre un stress interne qui se traduit par
l’apparition de fentes de retrait indépendamment du taux d’humidité du bois. En revanche, le nombre
moyen de fentes de retrait au sein de l’échantillon semble être une bonne estimation du taux d'humidité
du bois. Le phénomène est mieux marqué en four à moufle mais, dans les deux cas, les lots secs et verts
sont statistiquement discriminés (1.4 à 2.5 FR/cm2 sur sec vs de 6.8 à 8.2 FC/cm2 sur vert).
L’effet des températures sur le nombre de fentes de retrait est probablement surestimé par notre
protocole en four à moufle qui induit un choc thermique et non une montée progressive en température. Il
s’agit donc d’un phénomène difficile à lier à un processus naturel de combustion en structure ouverte. En
revanche, il s’agit probablement d’un facteur à prendre en compte pour l’étude de charbons provenant de
structures fermées, de type artisanal, où les températures sont plus élevées, même si le taux d’humidité
est toujours un facteur prépondérant dans la fréquence du retrait.
La transposition directe de ces résultats à l’étude de charbons de bois archéologiques reste une
étape délicate. Sur le matériel archéologique, et plus encore sur les charbons d’âge pléistocène, la surface
d’observation est généralement réduite ce qui limite sensiblement l’observation du phénomène. De plus, si

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ET UTILISATION DU BOIS DE FEU DANS LES SOCIETES PREHISTORIQUES

l’essentiel de la fragmentation du matériel se produit dans les zones à forte densité de fentes de retrait, les
plus fragiles, on ne pourra plus les observer. Enfin, comment interpréter des valeurs intermédiaires ?
Comme un mélange de bois sec et de bois vert au sein d’un même feu ou comme la combustion successive
de bois vert puis de bois sec ? Cette méthode d‘évaluation du taux d’humidité du bois est optimale pour
l’étude de dépôts concentrés, témoignant d’un événement de combustion bien identifié et dont on pourra
discuter la fonction. Inversement, les dépôts synthétiques sont plus difficilement éligibles à ce type
d’étude, précisément si les résultats sont peu tranchés.
Les études antérieures témoignent de la forte hétérogénéité des mesures de fréquences de
fentes de retrait, notamment pour les Angiospermes dont la variabilité anatomique est plus grande que
pour les Gymnospermes (THERY-PARISOT 2001). Les conditions stationnelles qui peuvent induire une
variabilité intraspécifique représentent un facteur d’hétérogénéité peu contrôlable. Enfin, la position de
l’échantillon dans la branche constitue également un facteur de variabilité, les tensions induites par la
combustion étant plus importantes près du cœur qu’en périphérie.

CONCLUSIONS

L’observation conjointe et systématique de signatures anatomiques appliquées aux charbons de


bois archéologiques couplées à l’anthraco-analyse et à l’étude des autres combustibles permettent de
formuler un certain nombre d’hypothèses, qui portent sur les modalités d’acquisition et de gestion du bois
de feu. Ils permettent notamment d’identifier des pratiques de collecte (bois d’abattage/ bois de
ramassage), de discuter la fonction des foyers au regard de la nature du combustible utilisé (bois sain/ bois
vert/ bois altéré) et d’apporter des éléments à la définition du statut des occupations (e.g. occupations
brèves, sites spécialisés). Il convient toutefois de s’interroger, au cas par cas, sur l’applicabilité de ces
méthodes aux assemblages qui sont étudiés. L’’état de conservation des charbons de bois peut constituer
une limite à l’observation des signatures anatomiques. En section transversale, les surfaces d’observation
trop petites (< 2mm) ne permettent pas une lecture optimale et l’information trop localisée ou
fragmentaire conduirait à une surinterprétation.
Il est également indispensable de s’interroger en amont sur la nature du dépôt, lequel n’est pas
toujours adapté à l’application de ces méthodes. On distingue classiquement: (i) les dépôts bien calés
chrono-stratigraphiquement en relation avec une activité spécialisée; (ii) les dépôts dit «synthétiques»
composés de charbons dispersés, déposés sur un plus ou moins long terme (CHABAL 1992; THERY-PARISOT
et al. 2010a). Pour les dépôts bien calés, la mise en évidence de bois vert ou très altéré, de petits calibres,
peut nous renseigner sur les spécificités thermiques de la structure étudiée (charbonnage ou fumigation,
boucanage, par exemple) ; alors que dans le cas de dépôts synthétiques, ce que nous pourrions identifier

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comme une pratique est souvent une représentation moyenne de collectes de bois de feu multiples, sans
valeur de constante en termes de stratégie d’acquisition et d’utilisation.
Bien entendu, l’amélioration des référentiels reste un objectif à court et moyen terme. Afin de ne
pas lier les résultats à un seul taxon (le pin) dont l'arrangement cellulaire sous-tend nécessairement son
comportement au feu, nous avons élargi le référentiel à l’étude d’autres taxons, dont les réultats, en cours
de traitement, font état de similarités mais également de spécificités qui méritent d’être confirmées par
des analyses complémentaires. La modélisation de la relation entre calibres avant combustion et calibres
post combustion, impliquant des modalités intermédiaires permettant de définir un plus large panel
d’histogrammes de références, et également d’autres taxons, permettra de proposer des interprétations
plus fines des pratiques de la collecte et d’élargir à un plus grand nombre de contextes.
Pour autant, ces outils d’analyse ou grille de lecture ne se suffisent pas à eux-mêmes et
contribuent à la formulation d’hypothèses sur les pratiques, au même titre que les méthodes plus
classiques et que l’ensemble des données contextuelles, celles du site, et que les résultats qui portent sur
l’étude d’autres matériaux. Même si les interprétations doivent rester inhérentes au contexte
archéologique elles apportent toujours un éclairage plus original et plus large que l’étude taxinomique
seule. Il est maintenant établi que les référentiels fondés sur des observations de la structure anatomique
du bois développés ou en cours de développement permettent d’élever le potentiel interprétatif de
l’anthracologie. Ces méthodes commencent pour certaines à être appliquées en routine sur des
assemblages préhistoriques (CARUSO-FERME 2011, 2012). Les perspectives de recherche offertes par la
chimie analytique nous amènent également à envisager d’autres pistes et la prise en compte d’autres
marqueurs pour la caractérisation des pratiques d’acquisition et de gestion des combustibles.

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charbons de bois principalement, Paléobiologie Continentale, v 4, n.1, 1973, 190p.
WILLERDING, U. Methodische probleme bei der Untersuchung und Auswertung von Pflanzenfunden. und
frühgeschichtlichen Siedlungen. Narchr aus Neidersachsens Urgesch, p. 180–198, 1971.

Recebido em:14/04/2016
Aprovado em:13/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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Cadernos do LEPAARQ Vol. XIII | n°25 | 2016
CONTRIBUIÇÃO DA EXPERIMENTAÇÃO À COMPREENSÃO DAS PRÁTICAS SOCIAIS
EM ANTRACOLOGIA: GESTÃO E USO DA LENHA EM
SOCIEDADES PRÉ-HISTÓRICAS
EXPERIMENTATION AS A TOOL FOR IDENTIFYING FIREWOOD USES AND
MANAGEMENT IN PREHISTORIC SOCIETIES

Isabelle Thery-Parisot
Auréade Henry
Julia Chrzavzez

Vol. XIII | n°25 | 2016 | ISSN 2316 8412


Contribuição da experimentação à compreensão das práticas sociais em
antracologia: gestão e uso da lenha em sociedades pré-históricas

Isabelle Thery-Parisot
Auréade Henry
Julia Chrzavzez

Resumo: O desenvolvimento de abordagens socioeconômicos aplicadas à antracologia permitiu abordar


temas relacionados com a utilização e gestão da lenha. Estudos etnográficos nos lembram que os
critérios segundo os quais uma sociedade escolhe sua lenha não podem ser reduzidos a uma seleção
taxonômica "simples": outras características, tais como o diâmetro ou o estado da madeira (verde, seco,
podre) são pelo menos tão importante quanto a espécie. Este artigo apresenta uma síntese das recentes
ferramentas desenvolvidas para aumentar o potencial da antracologia para o estudo dos usos e gestão
de lenha. Experimentos de laboratório padronizados sobre amostras de pinheiro silvestre (Pinus
sylvestris), combinando forno mufla e combustões em lareira aberta, permitiram propor novos métodos
para identificar o diâmetro e o estado da madeira com base em assinaturas anatômicas. Graças a estes
métodos, é possível contribuir para um melhor conhecimento das tradições técnicas ligadas ao uso do
fogo, desde a coleta de madeira até fogueiras especializadas, a partir de amostras de carvão
arqueológicas.

Palavras-chave: Antracologia, Gestão de Lenha, Experimentação, Fogueira, Assinaturas Anatômicas.

Abstract: The development of socioeconomic approaches applied to charcoal analysis has made it
possible to focus on topics related to firewood use and management. Ethnographic studies remind us
that the criteria according to which a society chooses its firewood cannot be reduced to a “simple”
taxonomic selection: other characteristics, such as the diameter or the state of the wood (i.e. green,
seasoned, rotten) are at least as important as the species. The framework of this paper is to present a
synthesis of recent tools developed to improve the potential of charcoal analysis for the study of
firewood uses and management. Standardized laboratory experiments on Scot Pine (Pinus sylvestris)
combining both muffle furnace and open fireplace combustions allowed proposing new methods of
identifying the diameter and the state of the wood based on anatomical signatures. Thanks to these
methods, it becomes possible to contribute to a better knowledge of the technical traditions linked to
the use of fire, from wood gathering to specialized hearths on archaeological charcoal samples.

Keywords: Charcoal Analysis, Fuel Management, Experimentation, Hearth, Anatomical Signatures.

*CEPAM UMR 7264, CNRS-UNS Campus Saint-Jean-d'Angély 3. 24, avenue des Diables Bleus, F-06357 Nice Cedex 4, França.
CONTRIBUIÇÃO DA EXPERIMENTAÇÃO À COMPREENSÃO DAS PRÁTICAS SOCIAIS EM ANTRACOLOGIA: GESTÃO E
USO DA LENHA EM SOCIEDADES PRÉ-HISTÓRICAS

INTRODUÇÃO

Para uma abordagem socioeconômica da Antracologia


Por muitos anos, as pesquisas em Pré-História têm privilegiado o estudo de comportamentos
sócioeconômicos das sociedades pré-históricas, descrevendo as atividades realizadas, investigando os
territórios percorridos por estas populações e o papel desempenhado pelos assentamentos no seio
deste território. Por muito tempo inscritos numa perspectiva paleoecológica (VERNET 1973; BADAL-
GARCIA 1988, 1992; THIEBAULT 1988; CHABAL 1990, 1992, 1997; HEINZ 1990; HEINZ et al. 1992), os
estudos antracológicos passaram mais recentemente a se interessar por estas práticas sociais,
integrando questões relacionadas com a aquisição e utilização do combustível lenhoso como parte
integrante da economia de sociedades pré- e proto-históricas (THERY-PARISOT 2001; THIEBAULT 2002;
FIORENTINO e MAGRI 2006; THERY-PARISOT et al. 2009; BADAL GARCIA et al. 2014). Mas como abordar
tais práticas em antracologia? Para os sítios Paleolíticos em particular, é importante evidenciar as
práticas de coleta de lenha (p.ex., coleta de madeira morta ao invés de corte de árvores) ou práticas de
seleção (por espécie, tamanho, ou condição da madeira), na medida em que a identificação de tais
atividades alimenta uma reflexão geral sobre a função dos sítios e a estacionalidade das ocupações. Mas
estarão estas informações registradas nos vestígios que estudamos?
A identificação taxonômica do carvão vegetal permite deduzir a assinatura ecológica de um
espectro de frequência a partir de espécies-chave ou de um conjunto de taxa cuja ecologia é conhecida,
definir os habitats explorados, os territórios percorridos para a coleta de lenha, e discutir o uso de
determinados taxa considerando suas propriedades físicas e químicas. Mas questões relacionadas com
a gestão de recursos em si, as práticas de coleta de lenha e a escolha de combustíveis são aspectos
difíceis de apreender somente a partir da identificação taxonômica. Por exemplo, se as propriedades
combustíveis de uma madeira decorressem somente de suas propriedades físicas e químicas, bastaria
combinar as informações sobre forma das estruturas de combustão e conteúdo florístico, a fim de
identificar a função das fogueiras. No entanto, com raras exceções, o espectro da frequência das
espécies identificadas em uma fogueira raramente conduz a uma reconstituição da sua função, por duas
razões principais: as propriedades combustíveis dependem pouco ou nada das espécies, e os critérios
de seleção podem decorrer de preferências ou crenças que escapam totalmente ao antracólogo
(THERY-PARISOT 2001, 2002b). Mas outros marcadores, a priori mensuráveis e interpretáveis, como a
forma (tamanho e morfologia dos ramos) e os estados fenológico e fisiológico (madeira morta, árvore
ereta, madeira alterada, madeira verde) podem ser usados para documentar tais práticas. Este artigo
propõe uma síntese dos métodos que podem ser utilizados para identificação destes estados e formas
da madeira, os quais são baseados na criação de referenciais, através da experimentação.

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Uma abordagem experimental dos processos: a criação de referenciais em condições controladas


A experimentação com material atual permite produzir referenciais a partir de amostras de
madeiras cujas características antes da combustão são conhecidas. Uma dificuldade aqui é considerar a
diversidade de um material como a madeira, cuja variabilidade decorre de inúmeros parâmetros. A
composição química da madeira, suas características físicas e mecânicas, sua densidade e mesmo sua
anatomia dependem tanto das condições de crescimento (natureza e tipo de solo, altitude, exposição à
luz), da idade do indivíduo ou da estação de corte, como da genética (variações populacionais ou
taxonômicas), condições que determinarão o comportamento no fogo. A preparação dos experimentos
deve portanto integrar esta variabilidade, caso contrário, uma variável escondida no experimento
poderia influenciar os resultados. A escolha da estrutura de combustão deve atender às premissas do
processo que se quer estudar, devendo-se limitar ao máximo a interferência de parâmetros
incontroláveis. A experimentação em condições tão próximas quanto possível da realidade de
sociedades passadas é, a priori, a melhor maneira de compreender o processo que está sendo
estudado. No entanto, no que se refere a fogueiras ao ar livre, parâmetros extrínsecos como vento,
pressão atmosférica ou umidade do ar são tão importantes para o processo de combustão que eles
podem mascarar quase completamente o efeito das variáveis que se procura analisar. Por esta razão,
muitas vezes utilizamos fogueiras de laboratório, em ambiente controlado, visando assim limitar o
impacto de parâmetros extrínsecos e padronizar ao máximo as experiências, a fim de estudar o
processo de combustão independentemente de fatores ambientais. O forno mufla é no entanto
utilizado para algumas experiências que requerem um controle rigoroso da temperatura e dos tempos
de combustão. Este procedimento tende a homogeneizar os resultados, pois a amostra é aquecida de
forma homogênea, o que nunca é o caso em uma estrutura aberta. O significado das experiências
realizadas em forno mufla deve portanto ser questionado. Entretanto, os dois procedimentos são
complementares e a duplicação das experiências em forno mufla e fogueira aberta, permite comparar
os fenômenos e fornecer mais detalhes para a compreensão dos processos. Todos os referenciais aqui
apresentados foram realizados a partir de amostras de pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris L.), que é o
principal táxon dos espectros antracológicos pleistocênicos aos quais estes métodos foram aplicados.

UM MODELO DISCRIMINANTE PARA CORTE DE ÁRVORES / COLETA

Premissas
No contexto das ocupações pré-históricas, um objetivo do estudo antracológico é evidenciar
as formas de aquisição da lenha procurando distinguir entre as práticas de corte de árvores e a coleta
de lenha, na medida em que se presume que estas práticas informam sobre o tipo de ocupação. De

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USO DA LENHA EM SOCIEDADES PRÉ-HISTÓRICAS

fato, os modos de vida pré-históricos se caracterizam por uma elevada mobilidade, uma ocupação
estacional dos assentamentos – variando desde a ocupação de curto prazo ao acampamento de base
recorrente – e a um equipamento técnico relativamente limitado, especificidades estas que, presume-
se, limitam as possibilidades de gestão do recurso lenhoso (THERY-PARISOT 2002a, 2002b). Além das
limitações técnicas do corte de árvores, este postulado é baseado em um condicionante fisiológico da
madeira: salvo usos específicos relacionados a atividades especializadas (p.ex., defumação, tratamento
térmico de matérias-primas), a lenha deve estar seca. Existe assim uma oposição primária entre a coleta
de madeira morta, fácil de coletar, já seca, de uso imediato, e a madeira de corte, de uso diferido (de 18
a 36 meses de secagem de acordo com as condições de armazenamento e as condições climáticas), a
qual depende não somente de técnica como de estratégias mais complexas a implementar, e que
subentende antecipação, armazenamento provisório e reocupação do sítio. Corte e coleta consistem,
portanto, em duas modalidades de coleta de lenha diferenciadas. A distinção entre estas duas práticas
baseia-se em parte nas medidas dos diâmetros da madeira utilizada como combustível.
Em uma população em equilíbrio, a madeira morta no solo consiste principalmente de ramos
de poda natural das árvores e, ocasionalmente, de árvores caídas. Uma população de árvores vivas tem
uma maior diversidade de diâmetros de tronco, de modo que a variedade destes diâmetros reflete esta
diversidade (ou seja, todos os diâmetros estão representados, incluindo os maiores). Portanto, os
diâmetros da madeira utilizada como combustível tendem a refletir as modalidades de coleta.

Status da pesquisa
Aplicados aos carvões arqueológicos, os primeiros trabalhos neste campo permitiram
desenvolver métodos para estimativa do diâmetro da lenha, extrapolado a partir da curvatura do último
anel de crescimento visível. Os primeiros métodos desenvolvidos se baseavam do uso de um
transferidor (WILLERDING 1971; ALIX 2002; NELLE, 2002; MARGUERIE e HUNOT 2007) até serem
desenvolvidas ferramentas digitais para análise de imagens (CHRZAVZEZ 2006; DUFRAISSE e GARCIA-
MARTINEZ 2011, GARCIA-MARTINEZ e DUFRAISSE 2012; PARADIS-GRENOUILLET et al. 2013) (Figura 1).
No entanto, em virtude da fragmentação da madeira durante a combustão e/ou da redução a cinzas na
periferia das toras, o último anel de crescimento visível raramente corresponde à última camada de
crescimento do ramo do qual ela se originou, e pode provir na verdade de qualquer parte dele
(DUFRAISSE 2005). Portanto, o último anel visível registra o diâmetro mínimo do ramo do qual provém
este carvão, mas não nos diz nada sobre o diâmetro do fuste. Apenas o desenvolvimento de métodos
analíticos mais avançados, incluindo modelizações, permitirá a inferência do diâmetro de um conjunto
de ramos de madeira a partir da medida individual dos anéis de crescimento em fragmentos individuais.
Os métodos de reconstituição já desenvolvidos se enquadram em duas abordagens distintas. A primeira
se baseia em um modelo teórico desenvolvido a partir da geometria dos cilindros (DUFRAISSE 2005,

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2006). Este método leva em conta os efeitos da fragmentação e visa estimar os diâmetros originais da
madeira queimada a partir do cálculo dos diâmetros dos fragmentos de uma amostra, com um modelo
de correção. No entanto, a correção proposta não permite de fato conhecer os diâmetros originais
(THERY-PARISOT et al. 2011). O segundo modelo é um método qualitativo baseado em referenciais
experimentais, que permite comparar os histogramas de frequências dos diâmetros em amostras de
carvões arqueológicos com histogramas de referência de composição conhecida, em termos de gama de
diâmetros da lenha queimada (NELLE 2002; LUDEMANN 2008).

Figura 1: Método de medição em carvão sob microscopia de luz refletida associado a sistema de análise de
imagem (software Imagem Pro-Plus). O raio é estimado através de uma fórmula trigonométrica R = (d/2)/(sin α/2)
(adaptado de PARADIS-GRENOUILLET 2013).

Os trabalhos aqui apresentados se alinham claramente com os modelos de Nelle e Ludemann,


com o objetivo de ultrapassar a abordagem qualitativa e propor um modelo quantitativo (THERY-
PARISOT et al. 2011; CHRZAVZEZ et al. 2012). O processo de fragmentação dos carvões durante a
combustão sendo homogêneo (CHABAL 1992; THERY-PARISOT et al. 2010a, 2010b; HENRY 2011;
CHRZAVZEZ et al. 2014), os histogramas de proporção dos diâmetros, obtidos a partir dos diâmetros
mensurados dos fragmentos, devem refletir as amostras de madeira das quais provêm. Portanto, é a
forma do histograma que é discriminante, e não os valores individuais de cada classe do histograma
(Figura 2). Em consequência, deve ser possível estimar a probabilidade de uma amostra arqueológica
pertencer a um histograma de referência e assim deduzir os diâmetros originais da madeira. A criação
de histogramas de proporções de diâmetros de referência, a partir de amostras de madeira carbonizada
de tamanhos conhecidos carbonizada, depende da experimentação.

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USO DA LENHA EM SOCIEDADES PRÉ-HISTÓRICAS

Figura 2: Uma hipótese: o perfil dos histogramas de classes de diâmetro após combustão é função do processo de
aquisição de lenha.

Materiais e métodos
A experimentação tem vários objetivos:
- Estudar a relação entre a distribuição em classes de diâmetro antes e depois da combustão;
- Verificar a representatividade dos histogramas em relação às amostras das quais eles
provêm;
- Testar a diferença estatística entre amostras distintas;
- Propor um modelo estatístico para o estudo de amostras arqueológicas.
A complexidade da implementação da experimentação e a natureza extremamente demorada
das medições de diâmetros nos levaram a trabalhar inicialmente com amostras de madeira
deliberadamente simples, não sendo o objetivo testar todas as situações possíveis, mas sim avaliar a
relevância do método.
Foram realizadas três séries de experimentos: uma primeira série (série 1: > 25 cm) de quatro
combustões, compostas por amostras de madeira de diâmetros superiores a 25 centímetros cortada em
achas; uma segunda série (série 2: 7-10 cm) de cinco combustões, compostas de amostras homogêneas
de pequeno diâmetro (7-10 cm); uma terceira série (série 3: eixo) proveniente do corte total de uma

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árvore inteira na qual a gama de diâmetros se encontra entre 1 e 20 cm, divididos em duas amostras
idênticas de composição heterogênea (ou seja, 2 réplicas para este experimento).
Após as combustões, 5500 carvões foram medidos por análise de imagem associando-se os
métodos de Chrzavzez (2006) e Paradis-Grenouillet et al. (2013), ou seja, 500 carvões por cada queima.
Para cada fogueira experimental, a medida individual do último anel visível em cada um dos fragmentos
estudados permitiu estabelecer um histograma para as classes de diâmetro representadas (4 classes de
diâmetro com amplitude de 5 cm).

Resultados (Figura 3)
Antes da combustão, a série 1 (> 25 cm) era composto unicamente por achas de diâmetro
superior a 25 cm. Após a combustão, a fragmentação da madeira provocou uma redistribuição dentro
das diferentes classes de diâmetros, que não parece seguir um modelo linear. A redistribuição é
globalmente homogênea em todas as classes, embora se observe uma discreta super-representação da
classe [5-10cm]. A classe [15-20cm], que consiste na classe "esperada", ou seja, a que melhor
representa os diâmetros antes da combustão, corresponde a no máximo 30% dos fragmentos. Os
resultados da segunda série (7-10 cm) são homogêneos, sendo que a classe “esperada” das amostras
sub-representadas ou não representados (3/5 das fogueiras). A classe [5-10cm] agrupa no máximo 3%
dos fragmentos. Antes de combustão, as amostras da terceira série, que corresponde ao corte de um
pinheiro, eram compostas por 20% de diâmetros [15 a 20 cm], 37% de diâmetros [10 a 15 cm], 3% de
diâmetros [5 a 10 cm] e 40% de diâmetros [0 a 5 cm]. A comparação dos dois histogramas pós-
combustão mostra uma redistribuição semelhante nas diferentes classes. As classes [10-15cm] e [15-20
cm] são sistematicamente sub-representadas após a combustão, enquanto a classe [5-10cm],
levemente aumentada, representa bem as frequências antes da combustão; a classe [0-5 cm] é super-
representada, com quase 85% dos fragmentos após a combustão, contra 40% antes.
A fragmentação da madeira durante a combustão provoca uma redistribuição no seio das
diferentes classes de diâmetro. Consequentemente, as medidas individuais não refletem o diâmetro
inicial das amostras de madeira queimadas, mas são resultado da fragmentação. A classe mais alta é
sistematicamente sub-representada, enquanto a classe mais baixa é sempre super-representada ([0-
5cm]). Os efeitos combinados da contração radial com o processo de combustão da madeira a partir da
periferia até o cerne bastam para explicar a sub-representação da classe superior. A fragmentação é a
causa da super-representação sistemática da classe mais baixa ([0-5cm]), independentemente do
tamanho original da madeira queimada. A dissimilaridade na representação das classes ante e pós-
combustão contrasta com a similaridade dos resultados entre as réplicas de cada experimento. A
reprodutibilidade das medições sistematicamente observadas nas três séries de experimentos

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realizadas sugere uma natureza não aleatória da forma do histograma, que reflete bem a composição
da amostra de madeira original que foi carbonizada.

Figura 3: Perfis de histogramas do referencial experimental pós-combustão.

Análises estatísticas multivariadas permitem testar a diferença entre os dois conjuntos. A


análise discriminante (AFD) é um método descritivo e explicativo, semelhante à análise de componentes
principais (ACP), que se aplicam a dados quantitativos para os quais se pode definir uma tipologia ou
partição, o que corresponde bem aos nossos dados. A população estatística consiste nas diferentes
combustões realizadas; as variáveis correspondem ao valor individual de cada classe de tamanho para
cada uma destas combustões. Este método permite testar tanto a semelhança entre os resultados em
cada categoria como a diferença das categorias entre si (Figura 4). De acordo com a análise, a diferença
entre o centróide dos três grupos foi significativa (teste do Lambda de Wilks), sendo a classificação das
amostras a posteriori idêntica à sua classificação a priori, isto é, à distribuição em três grupos de acordo
com o nosso protocolo. De acordo com o esperado pela nossa hipótese, os três lotes foram bem
discriminados. Pode-se então confirmar que o valor individual de cada classe de diâmetro não
representa a amostra de madeira da qual ela provém, mas que a distribuição de classes é função da
composição, em diâmetros, da amostra de madeira queimada.

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Figura 4: Distribuição do referencial experimental no plano discriminante (Análise Fatorial Discriminante).

Discussão
O referencial experimental permitiu (1) estudar a relação entre a composição (diversidade de
diâmetros) das amostras de madeira e o perfil dos histogramas de classes de diâmetro resultante após a
combustão; (2) mostrar a ausência de diferença estatística entre os perfis dos histogramas das
diferentes réplicas; (3) mostrar que as amostras de madeira de composição diferente são discriminadas
estatisticamente pelo perfil dos histogramas de classes de diâmetros com base nas medições de cada
carvão após a combustão.
Deduz-se que, em princípio, o modelo pode ser passível de transposição a contextos
arqueológicos. Uma das aplicações da AFD consiste na possibilidade de atribuir estatisticamente um
espectro arqueológico a um modelo de distribuição estabelecido a partir de um referencial e
consequentemente deduzir o diâmetro médio da madeira utilizada como combustível. Duas condições
permitirão sistematizar esta aplicação; em primeiro lugar, um referencial experimental maior precisa
alimentar o modelo para explicar uma maior diversidade de combinações de diâmetro, além de verificar
se outras espécies de plantas suportam a robustez deste modelo; em segundo lugar, deve-se
demonstrar que conjuntos de amostras muito diferentes entre si não conduzam a histogramas com um
mesmo perfil. Finalmente, uma ferramenta estatística não é uma ferramenta de tomada de decisão,
mas apenas um apoio à formulação de hipóteses e a interpretações arqueológicas que devem ser
sempre apoiadas por outros dados.

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Uma primeira aplicação deste modelo foi proposta para o estudo de carvões dos sítios
Paleolíticos de Fumane (Veneto, Itália) (CHRZAVZEZ 2006; CHRZAVZEZ et al. 2012). Os resultados da
análise suportam a hipótese de uma coleta preferencial de madeira de pequeno calibre correspondente
a coleta aleatória, hipótese que se encaixa bem com o caráter pontual das ocupações no Paleolítico, que
privilegiavam o imediatismo da demanda de madeira. A coleta de madeira já seca e fácil de coletar
(madeira morta no chão ou na árvore, troncos à deriva de pequeno diâmetro), parece mais adequada
para ocupações curtas (atividades cotidianas ou assentamentos especializados), mas também a
ocupações mais longas quando a necromassa o permite (acampamento residencial). Podemos falar
então de um manejo oportunista de madeira morta e seca, o qual não exclui necessairamente uma
possibilidade de seleção (espécie, tamanho) dentro da necromassa. Ao contrário, a madeira de corte,
que depende tanto de técnicas quanto de estratégias mais complexas a serem implementadas, seria
preferencialmente associada a ocupações de longa duração do tipo residencial ou a ocupações mais
pontuais quando a necromassa é escassa ou inacessível (por exemplo sob a neve).

MADEIRA MORTA / MADEIRA ALTERADA: QUAIS ASSINATURAS ANATÔMICAS?

Premissas e estado das pesquisas


A caracterização anatômica de madeira sã / morta / alterada se inscreve na perspectiva de
descrever os modos de coleta de lenha, buscando evidenciar: (i) duas práticas opostas: coleta (madeira
morta, potencialmente alterada por atividades de degradação biológica) e corte de árvores (árvore viva,
madeira saudável); e (ii) o uso de madeira alterada para atividades especializadas, prática observada
atualmente, especialmente entre os Evenk da Sibéria (HENRY 2011).
A distinção entre madeira sã e madeira morta depende da preservação de assinaturas
anatômicas devidas à atividade de biodegradação antes da combustão. Trabalhos anteriores abordaram
alguns dos critérios que permitem a caracterização anatômica de madeira morta (BLANCHETTE et al.
1997; BLANCHETTE 2000; THERY-PARISOT 2001; THERY-PARISOT e TEXIER 2006; ALLUE et al. 2009;
MOSKAL-DEL HOYO et al. 2010). Mas os descritores propostos, sempre qualitativos, são problemáticos
na medida em que se procure interpretar um conjunto arqueológico, em parte por causa da fraqueza de
um argumento que se baseia essencialmente na presença/ausência de alterações visíveis. A observação
de alterações na assembleia de carvões do sítio mesolítico de Clos de Pujol (Maciço Central, França)
levou ao desenvolvimento de uma nova ferramenta de análise (HENRY 2011; HENRY e THERY-PARISOT
2014). O objetivo foi estabelecer um referencial atual que considerasse um gradiente de alterações e
propor uma abordagem quantitativa aplicável a conjuntos arqueológicos.

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Materiais e Métodos
Amostragem de madeira ou carvão para o referencial foi realizada em dois conjuntos distintos:
em primeiro lugar, amostras de madeira coletadas em árvores vivas ou no solo dentro de populações
atuais de Pinus sylvestris (Causse du Larzac, França); em segundo lugar, carvões coletados em fogueiras
tradicionais dos Evenk da Sibéria, no quadro de uma missão etnoarqueológica.
O referencial "Madeira" consiste em quatro séries que apresentam um gradiente de
alterações macroscópicas que vai de inalterado a muito alterado: dois lotes de madeira de referência
saudável (H1, H2), dois lotes de madeira morta na árvore sem nenhuma alteração macroscópica (SD1,
SD2), três lotes de madeira morta no solo com alterações macroscópicas pontuais (FD1, FD2, FD3) e três
lotes de madeira morta no solo com alterações macroscópicas de grande amplitude (HRST, R1, R2).
O referencial "etnoantracológico" consiste em carvões coletados em dois tipos de fogueiras: o
Samnin (‘S - Evenk smudge’), fogueira ao ar livre de fumigação destinada a proteger os animais
domésticos dos mosquitos, composta principalmente por madeira verde e por madeira não selecionada,
uma mistura de lariço (Larix) em diferentes estados fenológicos e fisiológicos; e o Njučinak (‘N - Evenk
smoke’), fogueira especializada para o tratamento de peles, alimentada com madeira de Larix muito
alterada, pulverulenta, de cor vermelho escuro, e acesa por adição de brasas ardentes de Larix a priori
saudável ou pouco alterado.
As amostras de referencial "Madeira" foram tratadas de duas maneiras: uma série de
amostras de controle carbonizados em rodelas em forno de mufla, a 500 °C durante 30 min (9 amostras
de referência) e uma série carbonizada em fogueira aberta no laboratório (10 combustões). Após
carbonização, as amostras foram observadas em microscópio de luz refletida (ampliação:100, 200 e 500
vezes) (mais de 900 fragmentos de carvão). As observações buscaram identificar marcadores
microestruturais de alteração e sua generalização no mesmo carvão. O grau de alteração foi classificado
de 0 a 3 de acordo com sua intensidade (para uma descrição detalhada das alterações ver HENRY e
THERY-PARISOT 2014).
Os carvões etnoantracológicos foram observados ao microscópio de luz refletida sem
preparação. Eles foram sujeitos às mesmas observações.

Resultados (Figura 5)
As alterações da estrutura anatômica são visíveis na seção transversal, o que permite uma
rápida caracterização do estado de deterioração. A análise dos planos longitudinais não acrescenta
nenhuma informação adicional. A definição de um índice de alteração (A.L. = 0 a 4) permitiu classificar
cada carvão numa classes de alteração, para em seguida quantificar as proporções destas classes em
cada amostra. Cada índice de alteração “i” foi notado A.L.(i). As observações foram feitas em uma
amostra de 150 carvões tirados ao acaso de cada lote (um total de 1.500 observações).

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USO DA LENHA EM SOCIEDADES PRÉ-HISTÓRICAS

Figura 5: Síntese dos resultados das amostras experimentais e etnoarqueológicas: proporção de A.L. por amostra.

As amostras atuais
As observações feitas em lotes de madeira atuais mostram que as proporções dos diversos
tipos de alteração se estabilizam a partir de cerca de 100 carvões. As amostras de controle (H1, H2) são
pouco alteradas, apresentando, respectivamente, 84 e 86% de A.L.(0). Ocorreram, no entanto, algumas
amostras com maior A.L. As amostras de madeira morta na árvore e morta no solo (SD1, SD2, FD1, FD2,
FD3) são semelhantes entre si, apresentando, em média, 42% de carvões alterados do tipo A.L.(1). As
amostras de madeira "muito alteradas" (HRST, R1 e R2) apresentaram de fato índices de alteração
muito fortes, ou seja, mais de 80% de A.L.(3).

O material etnográfico
Como no caso da madeira do referencial, os resultados destas amostras se estabilizaram a
partir da análise 100 carvões. O Evenk njučinak (tratamento de peles) apresentou 80% de carvões
alterados (A.L.=*), com uma maior proporção de alterações do tipo A.L.(3). O samnin (para afastar
mosquitos) apresentou uma menor proporção de alteração (34%), com predominância de alterações do
tipo A.L.(1). O teste de Mann-Whitney confirmou que existe uma diferença estatística entre os dois
grupos.

Definição de um índice de alteração


Os resultados da experimentação mostraram que a observação de 100 carvões numa sub-
amostragem aleatória é representativa do conjunto das madeiras estudadas. As alterações da estrutura
anatômica são preservadas após carbonização. A madeira de aspecto saudável também pode
apresentar colonização por agentes de degradação; alterações de forte intensidade não são exclusivas
das amostras alteradas numa escala macroscópica, e vice-versa. Um teste de comparações múltiplas
(Dunn), visando testar a diferença estatística entre os lotes, permitiu discriminar quatro grupos: um

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grupo não alterado correspondente à madeira sadia (H1, H2) e à fogueira de fumigação (S); um grupo
composto pelas amostras de madeira morta na árvore (SD1 e SD2) e no solo (FD1 a FD3),
moderadamente alteradas; e um grupo constituído pelas amostras de madeira morta muito degradada
(HRST, R1 e R2) e pela fogueira de tratamento de peles (V).
Com base nestes resultados, foi calculado um índice de alteração, denominado Al, cujo
objetivo é propor um critério quantitativo para a caracterização de carvões arqueológicos (Figura 6).
Este índice permite considerar tanto a intensidade como a frequência de alterações:
AI = (nA1x1+nA2x2+nA3x3)/n(0 à 3)x3).

Figura 6: Classificação das amostras de carvão de acordo com o Índice de alteração (AI).

Por convenção, se 100% de carvão tiver zero alteração, AI = 0. Segundo esta classificação, um
índice baixo (<0,15) corresponde a um lote de madeira saudável. Os valores médios (0,2 a 0,34)
assinalam uma assembleia proveniente de madeira morta (coletados no chão ou na árvore); ao passo
que valores superiores a 0,5 caracterizam um lote de madeira muito degradada, do tipo fogueira

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especializada. Aplicada ao material etnoantracológico, este índice permite classificar corretamente os


carvões de acordo com o referencial: o samnin, composto de madeira não selecionada coletada
aleatoriamente, se classifica entre o referencial “madeira sã” e o referencial “madeira morta pouco
alterada”, enquanto o njučinak, composto de madeira muito alterada, se classifica no referencial desta
categoria.

Discussão: do cálculo do índice à interpretação


O cálculo do índice de alteração permite identificar o estado da madeira quando ela foi levada
ao fogo. Um índice muito baixo ou, ao contrário, muito elevado, fornece uma indicação relativamente
precisa do estado fenológico do combustível utilizado. Este não é o caso dos valores médios,
interpretados como resultado de uma mistura de valores extremos ou de uma acumulação de valores
médios. Neste caso, será mais o aspecto das diferentes curvas de proporção dos estados de alteração
que vai permitir uma compreensão do grau de alteração. Em última análise, deve-se considerar o
contexto sócioeconômico global, a natureza do sítio e do depósito antracológico, visando propor uma
interpretação precisa do contexto.
Um trabalho preliminar semelhante foi realizado em amostras de carvalho (Quercus fc). Em
estágios de decomposição macroscópica equivalentes, os índices de alteração do carvalho são muito
inferiores aos obtidos para pinheiros e Larix. No entanto, utilizando testes adequados foi possível
discrimar os lotes de madeira pouco, moderadamente e altamente alterados.
Aplicado a amostras arqueológicas, o índice de alteração permite discutir as modalidades de
coleta de lenha (coleta aleatória, armazenamento, corte de árvores). Ele pode também ser útil para
evidenciar o uso de estruturas de combustão especializadas, por exemplo relacionadas com a utilização
de madeira altamente alterada com propriedades térmicas específicas que podem ter sido
selecionadas. Uma aplicação do método foi proposta por Henry no estudo do sítio mesolítico Clos de
Poujol. Os resultados demonstraram que a aquisição de madeira foi orientada predominantemente para
a coleta de madeira morta no solo, moderadamente alterada. Esta interpretação é consistente com os
indicadores sazonais que sugerem que ocupações estacionais do sítio na estação favorável, durante a
qual toda a biomassa do solo está diretamente acessível (HENRY 2011; HENRY e BOBOEUF 2016).

SECO OU FRESCO? COMO IDENTIFICAR O ESTADO DA MADEIRA QUEIMADA?

Premissas e estado das pesquisas


Algumas assembleias antracológicas apresentam alterações significativas na estrutura
anatômica, em especial devido à presença de fendas de retração, cujo aparecimento no material

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carbonizado é semelhante ao observado em achas redondas durante a secagem da madeira. Elas


correspondem a um fenômeno bem conhecido de retração celular devido à evacuação da água de
ligação, abaixo do ponto de saturação das fibras, que é de cerca de 30% de umidade e à
incompatibilidade da contração tangencial (de 8 a 10%) e da contração radial (4 a 5%) durante a
secagem da madeira (MAC GINNES et al. 1971; BEALL et al. 1974; MOORE et al. 1974; SCHWEINGRÜBER
1978; SLOCUM et al. 1978; CUTTER et al. 1980; ROSSEN e OLSON 1985; STIMELY e BLANKENHORN
1985). A carbonização, cuja primeira fase corresponde à evacuação da umidade da madeira, amplifica
este fenômeno de retração (PRIOR e ALVIN 1986; PRIOR e GASSON 1993; SCOTT et al. 2000; KUMAR et
al. 2006; MCPARLAND et al. 2009; PASTOR-VILLEGAS et al. 2007). A presença de fendas de retração
visíveis na seção transversal dos carvões aponta para um elevado teor de umidade da madeira. As
interpretações mais correntes as relacionam com o uso preferencial de madeira verde relacionado a
atividades especializadas (p.ex., defumação, fumigação), no quadro de trabalhos visando interpretar a
função e o funcionamento de fogueiras pré-históricas.
No entanto, nenhum dos trabalhos anteriores permitiu estabelecer uma relação direta entre o
teor de umidade da madeira e a ocorrência ou o número de fendas de retração em uma amostra. Um
destes estudos mostrou uma alta heterogeneidade interespecífica nos resultados, a qual foi explicada
pela existência de uma grande variabilidade intra-específica e pela ausência de relação entre
temperatura/umidade e fendas de retração (THERY-PARISOT 2001). No entanto, nestas experiências,
um parâmetro do protocolo estabelecido para a preparação de amostras pode ter induzido uma
variabilidade incontrolável, já que as amostras "verdes" foram artificialmente saturadas com água em
uma bomba de vácuo. Por esta razão, foi realizado um estudo adicional utilizando material verde no seu
estado natural.

Materiais e Métodos
O objetivo do experimento foi estabelecer um referencial a partir de amostras de madeira
com taxas de umidade perfeitamente controladas, visando identificar a relação entre a ocorrência de
retração (expressa em número de amostras afetadas pela retração), o número de fendas de retração
por amostra, a amplitude das fendas de retração (comprimento e largura), e o teor de umidade antes da
combustão (Tabela 3). As medições foram feitas considerando uma superfície de observação idêntica de
1 cm². Nas medições, denominamos "FR" às fendas de retração ("RC": radial cracks, em Inglês).
O referencial foi realizado a partir de amostras de pinheiro-silvestre saudáveis, secos e verdes,
recém abatidos. Visando considerar a variabilidade estacional e intra-específica, as amostras foram
coletadas em diferentes estações e em vários eixos de um mesmo indivíduo.
As amostras foram processadas de duas formas (ver THÉRY-PARISOT e HENRY 2012, para uma
descrição detalhada do protocolo):

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- Em um forno mufla sob a forma de discos, visando monitorar o progresso da carbonização e


considerar a variável temperatura – 36 amostras frescas e 36 amostras secas (12 amostras frescas / 12
amostras secas a 350 °C; 12 amostras frescas / 12 amostras secas a 500 °C; 12 amostras frescas / 12
amostras secas a 650 °C);
- Em uma fogueira de laboratório, quatro combustões padronizados (cada fogueira composta
por 6 achas de 33 cm, não divididas, de diâmetro 7-8 cm), mais próximo a condições arqueológicos:
duas combustões de madeira verde e duas combustões de madeira seca.
Ao final das combustões, as medições foram realizadas com um sistema de análise de imagem
na face transversal de cada fragmento (programa Image-Pro Plus).
Os resultados concernem um total de 272 amostras analisadas (72 em forno mufla e 200 em
fogueira aberta).

Resultados

O referencial em forno mufla (Figura 7a)


O primeiro resultado diz respeito à frequência de ocorrência de fendas de retração. Todas as
amostras apresentaram fendas de retração visíveis, independentemente do teor de umidade inicial da
madeira. Uma análise de variância mostrou que as variáveis temperatura e umidade têm efeito
significativo sobre o número de fendas de retração por amostra. O aumento da temperatura provoca
um aumento no número médio de fendas de retração com um efeito maior em amostras de madeira
verde (em média 12 FR/cm2 a 300 °C, 30 FR/cm2 a 500 °C e 40 FR/cm2 a 650 °C). No entanto, a variável
temperatura tem menos impacto do que a variável umidade. Uma análise de variância mostra que as
amostras verdes são claramente discriminadas das amostras secas (p <0,0001), apresentando em média
dez vezes mais fendas de retração.
Medidas sistemáticas mostram que as temperaturas não afetam o comprimento e a largura
das fendas de retração cujas variações de tamanho são aleatórias dentro de um mesmo grupo (seco ou
verde). Inversamente, a variável "umidade" discrimina o comprimento (p<0,0002) e a largura (p<0,0073)
das fendas de retração: elas são mais longas e mais largas nas amostras secas, mais curtas e menos
desenvolvidas nas amostras verdes (Figura 8).
Em resumo, a frequência de ocorrência de fendas de retração não é em si um indicador do
teor de umidade da madeira, na medida em que todas as amostras apresentam retração. A temperatura
tem efeito significativo sobre o número de fendas de retração mas este efeito é menos importante do
que o teor de umidade. A ocorrência de fendas de retração é dez vezes superior nas amostras verdes,
mas é essencial considerar também o comprimento e a largura das fendas. As fendas de retração são
mais numerosas e menores em amostras verdes, menos numerosas mas maiores em amostras secas.

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Figura 7: Efeito do teor de umidade sobre o número de FR/cm2 no forno mufla (a) e na fogueira aberta (b) (ANOVA
e teste PLSD Fisher).

Figura 8: As fendas de retração são numerosos e menos desenvolvidos em amostras de madeira verde (a, b), e
menos frequentes e mais desenvolvidas em amostras de madeira seca (c, d).

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O referencial fogueira aberta (Figura 7b)


As temperaturas foram registradas por uma série de 12 sensores distribuídos na fogueira, os
quais substancialmente idênticas em todas as experiências. Apenas a duração da combustão diferenciou
as amostras secas das amostras verdes (4h40 em média para a madeira seca, contra 6h em média para
a madeira verde).
Em nossos experimentos, 70% das amostras apresentaram fendas de retração,
independentemente do teor de umidade inicial da madeira. A frequência de ocorrência de retração não
apresentou nenhum valor diagnóstico do estado incial da madeira queimada. Em contraste, o número
de fendas de retração discrimina as amostras secas e verde (p ¼0.0166); as fendas de retração são, em
média, quatro vezes mais numerosas em amostras verdes do que em amostras secas (respectivamente
8 FR/cm2 e 2 FR/cm2). Por outro lado, não há diferença estatística entre os tamanhos das amostras de
madeira seca e madeira verde.

Síntese e Discussão
De acordo com nossos resultados, todas as amostras apresentaram fendas de retração visíveis,
independentemente do teor de umidade inicial da madeira. As variáveis temperatura e umidade
tiveram um efeito significativo sobre o número de fendas de retração por amostra. O aumento da
temperatura provoca um aumento no número médio de fendas de retração com um efeito maior nas
amostras de madeira verde, tanto em fogueira aberta como no forno mufla. No forno mufla a variável
umidade prevalece sobre a variável temperatura. As amostras verdes são claramente discriminadas das
amostras secas (p <0,0001) e têm, em média, dez vezes mais fendas de retração em sistema fechado e
em média quatro vezes mais em fogueira aberta. As temperaturas não afetam o comprimento e a
largura das fendas de retração, cujas variações de tamanho são aleatórios. A variável umidade
discrimina o comprimento (P <0,0002) e a largura (p <0,0073) das fendas de retração em um forno
mufla, mas não na fogueira aberta. Os resultados são menos expressivos em forno mufla,
provavelmente por causa das condições de combustão intrínsecas e extrínsecas, mais heterogêneas em
fogo aberto.
Nossas observações demonstram que um simples cálculo de percentagem das fendas de
retração em uma assembleia arqueoantracológica não pode em hipótese alguma ser utilizado para
deduzir o teor de umidade da madeira queimada, uma vez que nem a frequência de ocorrência das
fendas de retração, nem a amplitude das fendas têm valor diagnóstico do teor de umidade.
As alterações de dimensão da madeira se relacionam a fatores higrométricos, isto é, se devem
à diferença entre o estado anidro (0% de umidade) e o ponto de saturação das fibras, 30% de umidade
(AIESB, 2013). Sendo assim, é a evaporação da água ligada que provoca o aparecimento de fissuras. Ora,

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a madeira, mesmo perfeitamente seca, contém sempre uma proporção de água ligada residual (12% no
mínimo). A evacuação desta água durante a primeira fase da combustão gera um stress interno que
resulta na ocorrência de fendas de retração, independentemente do teor de umidade da madeira. Ao
contrário, o número médio de fendas de retração da amostra parece permitir uma boa estimativa do
teor de umidade da madeira queimada. O fenômeno é mais acentuado nos experimentos em forno
mufla, mas em ambos os casos, os lotes secos e verdes são estatisticamente discriminados (1,4 a 2,5
FR/cm2 no seco vs de 6,8 a 8,2 FC/cm2 no verde).
O efeito da temperatura sobre o número de fendas de retração é provavelmente
superestimado pelo protocolo no forno mufla, que induz um choque térmico e não um aumento
progressivo da temperatura. Em consequência, é difícil relacionar este fenômeno a um processo natural
de combustão em estrutura aberta. No entanto, é provável que este seja um fator a se ter em conta no
estudo de carvões de estruturas fechadas, de tipo artesanal, onde as temperaturas são mais elevadas,
mesmo que o teor de umidade seja sempre um fator preponderante na frequência das fendas de
retração.
A transposição direta destes resultados para o estudo de carvões arqueológicos permanece
sendo uma etapa delicada. No material arqueológico, e mais ainda nos carvões de idade pleistocênica, a
superfície de observação é geralmente reduzida, o que limita significativamente a observação do
fenômeno. Além disso, se a maior parte da fragmentação do material ocorrer em áreas com alta
densidade de fendas de retração, as mais frágeis, não será mais possível observá-las. Finalmente, como
interpretar os valores intermediários? Como uma mistura de madeira seca e madeira verde em uma
mesma fogueira, ou como a combustão sucessiva de madeira verde seguida de madeira seca? Este
método de avaliação do teor de umidade da madeira é ideal para o estudo de depósitos concentrados,
testemunhos de eventos de combustão bem identificados dos quais se pode deduzir a função. Ao
contrário, os depósitos sintéticos (carvões dispersos) são mais difíceis de se qualificar para este tipo de
estudo, precisamente pelo fato dos resultados não serem tão claros.
Estudos anteriores demonstram uma forte heterogeneidade nas medidas de frequência das
fendas de retração, especialmente para as Angiospermas, cuja variabilidade anatômica é maior do que a
das Gimnospermas (THERY-PARISOT 2001). As condições estacionais que podem induzir uma
variabilidade intraespecífica representam um fator de heterogeneidade pouco controlável. Finalmente,
a posição da amostra no ramo também constitui um fator de variabilidade, na medida em que as
tensões induzidas pela combustão são maiores perto da medula do que na periferia.

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CONCLUSÕES

A observação conjunta e sistemática de assinaturas anatômicas aplicadas a carvões


arqueológicos associadas à análise antracológica e ao estudo de outros combustíveis utilizados permite
formular uma série de pressupostos, que dizem respeito à forma de aquisição e gestão da lenha. Eles
permitem, em especial, identificar as práticas de coleta (madeira cortada / madeira coletada), discutir a
função das fogueiras considerando o tipo de combustível utilizado (madeira sã / madeira verde /
madeira alterada), além de prover elementos interpretativos para a definição do tipo de ocupação
(p.ex. ocupações breves, sítios especializados). É importante questionar, caso a caso, sobre a
aplicabilidade destes métodos às assembleias estudadas. O estado de conservação dos carvões pode
limitar a observação das assinaturas anatômicas. Superfícies de observação muito pequenas no plano
transversal (<2mm) não permitem uma leitura ideal, ao passo que informações muito localizadas ou
fragmentárias podem conduzir a erros de interpretação.
Também é essencial considerar a natureza do depósito, pois nem todas as amostras são
apropriadas para a aplicação destes métodos. Convencionalmente, distingueam-se: (i) depósitos bem
estabelecidos crono-estratigraficamente, relacionados a uma atividade especializada; (Ii) depósitos
chamados "sintéticos", compostos de carvões dispersos, depositados ao longo de um tempo mais ou
menos longo (CHABAL 1992; THERY-PARISOT et al. 2010a). Para os depósitos bem estabelecidos, a
evidência de madeira verde ou muito alterada, de pequenos diâmetros, pode informar sobre as
especificidades térmicas da estrutura estudada (p.ex. carvoaria, defumação, tratamento de materiais);
enquanto que no caso dos depósitos sintéticos, tal evidência pode indicar não uma prática, mas sim
uma representação média de múltiplas coletas de lenha, sem valor constante em termos de estratégia
de aquisição e de uso.
Claro, a melhoria dos referenciais continua a ser um objetivo a curto e médio prazo. A fim de
não vincular os resultados a um único taxon (o pinheiro), sabendo que sua organização celular
condiciona necessariamente seu comportamento ao fogo, ampliamos o referencial para o estudo de
outros taxa, sendo que os resultados, em curso de tratamento, mostram semelhanças com o já obtido
mas também especificidades que devem ser confirmadas por análises complementares. A modelização
da relação entre diâmetros antes e depois da combustão, incluindo situações intermediárias, permitirá
definir uma gama mais ampla de histogramas de referência, além de outros taxa, oferecendo assim
possibilidades de interpretações mais finas sobre as práticas de coleta que poderão se expandir para um
maior número de contextos.
No entanto, estas ferramentas de análise ou referências de leitura não se bastam por si só,
mas sim contribuem para a formulação de hipóteses sobre as práticas, da mesma forma como os
métodos mais clássicos, o conjunto de dados contextuais do sítio, e os resultados que derivam do

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estudo de outros materiais. Ainda que as interpretações devam permanecer inerentes ao contexto
arqueológico, elas sempre trazem à luz possibilidades interpretativas mais originais e mais amplas do
que o estudo taxonômico sozinho. Já está bem estabelecido que os referenciais baseados em
observações da estrutura anatômica da madeira, desenvolvidos ou em curso de desenvolvimento,
permitem aumentar o potencial interpretativo da antracologia. Estes métodos já começaram em alguns
casos a ser aplicados rotineiramente na análise de material pré-histórico (CARUSO-FERME 2011, 2012).
As perspectivas de pesquisa oferecidas pela química analítica também nos levam a considerar outros
caminhos e outros marcadores para a caracterização de práticas de aquisição e gestão dos
combustíveis.

Agradecimentos
Nosso agradecimento especial a Rita Scheel-Ybert, por ter nos dado a oportunidade de uma
publicação bilíngue do artigo, assim como a Natacha Ribeiro de Souza Pinto e Caroline Bachelet pela
qualidade da tradução.

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Recebido em:17/04/2016
Aprovado em:16/05/2016
Publicado em:22/06/2016

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