Grandiosos Batuques
Grandiosos Batuques
Grandiosos Batuques
ISBN 978-989-8956-10-1
“Grandiosos
batuques”:
Tensões, arranjos e experiências
coloniais em Moçambique
(1890‑1940)
IMPRENSA DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Conselho Editorial
“Grandiosos
batuques”
Tensões, arranjos e experiências
coloniais em Moçambique
(1890‑1940)
© 2019 Matheus Serva Pereira
Título: “Grandiosos batuques”: Tensões, arranjos e experiências coloniais
em Moçambique (1890-1940)
Autor: Matheus Serva Pereira
Revisão de texto e coordenação executiva: Elisa Lopes da Silva
Capa e paginação: Gráfica 99
Tiragem: 150 exemplares, Gráfica 99
Esta é uma obra em Acesso Aberto, disponibilizada online e licenciada segundo uma licença Creative
Commons de Atribuição Internacional Não Comercial – Sem Derivações 4.0 Internacional (CC-BY‑
NC-ND 4.0).
Financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito
dos projetos UID/HIS/04209/2013, UID/HIS/04209/2019 e UIDP/HIS/04209/2020.
Índice
prefácio
Os grandiosos batuques, o tempo e a alegria................................. 7
por Omar Ribeiro Thomaz
agradecimento.......................................................................... 11
introdução
Nesses batuques têm histórias...................................................... 15
capítulo 1
Algazarras ensurdecedoras
Cantando e dançando até altas horas................................................ 49
Batuques na cidade............................................................................ 54
As letras impressas periódicas, os batuques
e seus participantes/praticantes ........................................................ 58
Uma geografia dos batuques em Lourenço Marques.......................... 79
Representação e repressão dos batuques no espaço urbano............... 87
capítulo 2
Construindo categorias, homogeneizando diferenças,
enquadrando pessoas e práticas
Um alferes-médico e os “pretos” em Lourenço Marques.................. 105
Construindo categorias, homogeneizando diferenças,
enquadrando pessoas......................................................................... 113
Imaginando “homens degenerados e mulheres dissolutas”................... 130
Batuques negros, ouvidos e olhares brancos...................................... 146
O nome e as coisas: uma palavra para muitas práticas ..................... 155
capítulo 3
Cosmopolitismo enevoado e a criação de uma civilização
das necessidades
Cosmopolitismo enevoado................................................................ 165
Espaços de lazer e a criação de uma civilização das necessidades ..... 170
Para além da “conversa burguesa”................................................... 190
capítulo 4
Forçando as frestas do poder colonial
Entre a “escola de vício” e o “mundo temperado de ritmo e poesia” . 215
Um “membrudo negralhão”............................................................... 221
Poder, pudor e agenciabilidade africana nos espaços públicos
de Lourenço Marques .................................................................... 228
Experiências da “maior parte da população”...................................... 244
Batuques e experiências de mulheres trabalhadoras “indígenas”
em Lourenço Marques ................................................................... 266
capítulo 5
Entre o subsídio e a subversão: apropriações, negociações
e resistências ao redor dos “batuques” e das “danças nativas”
Apropriações, negociações e resistências .......................................... 293
Subsídios............................................................................................ 303
Espetacularização dos “batuques” e das “danças nativas”
como projeto colonial ..................................................................... 312
Subversões......................................................................................... 331
“Ouça como a música troveja”: experiências e resistências
nos “batuques” e “danças nativas”.................................................... 335
bibliografia............................................................................... 376
Os grandiosos batuques,
o tempo e a alegria
1 Chinua Achebe, A educação de uma Criança sob o Protetorado Britânico (São Paulo: Com‑
panhia das Letras, 2012), 28.
7
PREFÁCIO
sou levado para outros tempos, aqueles anteriores aos das magníficas
fotos de Ricardo Rangel da Lourenço Marques dos anos 1950 e
1960. Seus grandiosos batuques ecoam os anos de formação, os
momentos decisivos que vão das guerras de ocupação do Sul de
Moçambique às turbulências da I República e à imposição da triste
e violenta versão colonial‑fascista do Estado Novo. Mas os batuques
também ecoam outros espaços, em grande medida desconhecidos
até os dias atuais: os subúrbios da cidade de Lourenço Marques,
atual Maputo.
Nem esgotamento, nem ruína, a descoberta renovada dos arqui‑
vos em Portugal e Moçambique confirma que o passado é imprevi‑
sível. Os batuques – a tenacidade de seus sujeitos, as controvérsias
que geravam e sua continuidade no tempo – exigem uma nova apro‑
ximação ao mundo colonial, aquele marcado por hierarquia, ordem
e violência e que parecia reservar poucos lugares para os dominados,
quais sejam, a subversão que caminha para a construção do heroísmo,
ou a colaboração que se traduz na reprodução da indignidade e da
humilhação. Ou ainda, os batuques dos subúrbios urbanos nos
levam para outros africanos, longe dos autênticos que se encontra‑
vam nas zonas rurais, ou daqueles que se aproximavam de ideal do
assimilado. Quanto não têm a nos contar os batuques dos primór‑
dios dos tempos coloniais – os desbravados por Matheus Pereira –
sobre os subúrbios da atual Maputo, ainda em grande medida
desconhecido! Eis um dos desafios dos pesquisadores africanistas
na atualidade, a de levar adiante a agenda construída pelos africa‑
nistas da Escola de Manchester entre os anos 1940 e 1960 e que
interpelava uma África em rápida transformação, que se distanciava
do antigo universo tradicional e se se aproximava dos subúrbios das
cidades africanas coloniais.
Outros tempos, outros debates, é esta suspeita de autores como
Max Gluckman e J. Clyde Mitchell que dialoga diretamente com
os avanços de E. P Thompson, recuperado com a maestria por
Matheus Pereira: categorias, modelos, conceitos fazem sentido se
têm como referência seus contextos ou, em outros termos, a expe‑
riência. Assim, o conflito, a tensão e mesmo a violência devem ser
reequacionados tendo como referência os sujeitos. O africano de
Lourenço Marques das primeiras décadas do século surge com outra
8
MATHEUS SERVA PEREIRA
2 Citado por João Albasini em “Coisas d’Africa. Terras do demo...”. O Combate, n.º 272,
23/01/1920, 2; O Brado Africano, n.º 62 (data ilegível). Apud Cesar Braga‑Pinto e Fátima
Mendonça. João Albasini e as luzes de Nwandzengele. Jornalismo e política em Moçambique |
1908‑1922 (Maputo: Alcance, 2014), 379.
3 António Sopa, A alegria é uma coisa rara. Subsídios para a história da música popular urbana
em Mourenço Marques (1920 – 1975) (Maputo: Marimbique, 2014).
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PREFÁCIO
10
AGRADECIMENTOS
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AGRADECIMENTOS
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AGRADECIMENTOS
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INTRODUÇÃO
1 Chinua Achebe, O Mundo se Despedaça (Companhia das Letras: São Paulo, 2009), 171.
2 A riqueza dos relatos elaborados por João António Cavazzi de Montecuccolo fizeram com
que uma série de estudos fossem produzidos ao redor de sua obra. Para um exemplo im‑
portante dessa produção, ver: Carlos Almeida, “Uma Infelicidade Feliz: A Imagem da África
e dos Africanos na Literatura Missionária sobre o Kingo e a Região Mbundu (Meados do
séc. XVI – Primeiro Quartel do séc. XVIII)” (Tese de Doutoramento em Antropologia,
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2009).
15
INTRODUÇÃO
3 Ver Gerhard Kubik, “Drum Patterns in the ‘Batuque’ of Benedito Caxias”, Latin American
Music Review / Revista de Música Latinoamericana 11, n.º 2 (Autumn–Winter, 1990):
115‑181. Mario de Andrade classificou o “batuque” como uma “das nossas danças [brasi‑
leiras], a que dispõe de mais antiga referência”. O importante literato brasileiro identificou
a característica polifônica da palavra batuque, entendendo que a mesma “deixou de designar
uma dança particular, tornando‑se, como o samba, nome genérico de determinadas coreo‑
grafias ou danças apoiadas em forte instrumental de percussão”. Mário de Andrade, Di‑
cionário Musical Brasileiro (Brasília: Ministério da Cultura, 1989), 53. É importante
perceber que Mario de Andrade, em seu esforço de estudar o que definia enquanto “folclore
brasileiro”, ainda que identificasse uma proveniência de Angola ou Congo do que era
definido como “batuque” no Brasil do início do século XX, esforçou‑se em compreendê‑lo
dentro de uma lógica de autenticidade compositora de um povo brasileiro, ou seja, não
necessariamente distinguido enquanto negro.
4 Em sua tese de doutoramento, Francisco de Assis Santana pormenoriza os empregos do
termo batuque por uma vasta bibliografia produzida no Brasil preocupada em estudar
músicas e danças afro‑brasileiras. Ver: Chico Santana, “Batucada: Experiências em Movi‑
mento” (Tese de Doutoramento, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes,
2018).
5 Som de preto. Composição de Amilcka e Chocolate.
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6 Existe uma longa problematização a respeito dessa questão, principalmente quando aten‑
tamos para os debates sobre os projetos desenvolvidos por lideranças africanas ou afro
‑diaspóricas de combate ao colonialismo europeu na África. As obras de Frantz Fanon,
Albert Memmi e Amílcar Cabral, dentre muitos outros, vêm sendo revisitadas pela histo‑
riografia contemporânea dedicada ao estudo dos intelectuais em contextos africanos e da
diáspora. Nesse sentido, ver: Sílvio de Almeida Carvalho Filho e Washington Santos Nas‑
cimento, orgs., Intelectuais das Áfricas (Campinas: Pontes Editores, 2018). Ver, também:
Alexandre Almeida Marcussi, “Personalidade, Raça e Nação na África Pós‑Colonial: Al‑
guns Apontamentos a Partir das Ideias de Kwame Nkrumah”, in Estudos sobre África Oci‑
dental: Dinâmicas Culturais, Diálogos Atlânticos, org. Raissa Brescia do Reis, Taciana Almeida
Garrido de Resende e Thiago Henrique Mota, 259‑286 (Curitiba: Editora Prismas, 2016).
17
INTRODUÇÃO
7 Para um exemplo emblemático dessa perspectiva, ver: George Shepperson e Thomas Price,
Independent African: John Chilembwe and the Origins, Setting and Significance of the Nyasa‑
land Native Rising of 1915 (Edimburgo: Edinburgh University Press, 1958).
8 Para um questionamento da perspectiva dualista da realidade social moçambicana durante
o período colonial e pós‑colonial, ver: Bridget O’Laughlin, “Class and the Customary: The
Ambiguous Legacy of the Indigenato in Mozambique”, African Affairs 99, n.º 394 (2000):
5‑42.
9 Não cabe aqui discutir a viabilidade do termo “classes populares” nas ciências sociais e, mais
especificamente, para o estudo das realidades africanas coloniais e pós‑coloniais. Campo
densamente discutido por uma vasta bibliografia, o seu emprego no livro é usado apenas
como explicativo da existência de outros agentes sociais para além daqueles compostos pelas
antigas lideranças africanas prévias ao período colonial, que mantiveram alguma forma de
poder durante o século XX, ou aos grupos rurais e citadinos letrados que ascenderam
socialmente durante o período colonial. Para um extenso balanço dessas perspectivas que
contribuem para se pensar contextos africanos contemporâneos, ver: Karin Barber, “Popular
Arts in Africa”, African Studies Review 30, n.º 3 (Sep. 1987): 1‑78. Para esforços subsequen‑
tes, relacionados de maneira direta a aspectos das realidades urbanas africanas, predomi‑
nantemente durante o século XX, ver: Toyin Falola and Steven J. Salm, eds., Urbanization
and African Cultures (Durham, North Carolina: Carolina Academic Press, 2004).
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10 Karin Barber, org., Readings in African Popular Culture (Bloomington: Indiana University
Press, 1997).
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INTRODUÇÃO
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11 Marc Bloch, Apologia da História ou o Ofício do Historiador (Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001), 54.
12 Dentre muitas obras influenciadoras dessas perspectivas para o meio historiográfico bra‑
sileiro, ver: Eugene Genovese, A Terra Prometida: O Mundo que os Escravos Criaram (Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1988); Eric Foner, “O Significado da Liberdade”, Revista Brasileira
de História 8, n.º 16 (1988): 09‑36; Peter Linebaugh, “Todas as Montanhas Atlânticas
Estremeceram”, Revista Brasileira de História 3, n.º 6 (1983): 07‑46; Peter Linebaugh e
Marcus Rediker, A Hidra de Muitas Cabeças: Marinheiros, Escravos, Plebeus e a História
Oculta do Atlântico Revolucionário (São Paulo: Companhia das Letras, 2008).
13 Um balanço pode ser encontrado em Henrique Espada Lima, A Micro‑História Italiana:
Escalas, Indícios e Singularidades (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006). As obras de
Carlo Ginzburg e Giovani Levi foram e continuam sendo publicadas com regularidade
no Brasil. O livro organizado por Jacques Revel também merece destaque na sua influência
da penetração da perspectiva da micro‑história no cenário acadêmico brasileiro: Jacques
Revel, Jogos de Escalas: A Experiência da Microanálise (Rio de Janeiro: Editora FGV, 1996).
14 Ver: E. P. Thompson, “Folclore, Antropologia e História Social”, in As Peculiaridades dos
Ingleses e Outros Artigos, 227‑268 (Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2001). As interações
duais entre formas culturais constituídas pelas sociedades e as vivências das pessoas, oca‑
sionadas pelas invariáveis confrontações entre modos divergentes de interpretação do
mundo ocasionadas pelas corridas coloniais europeias sobre a África podem ser entendidas
a partir da proposta de Thompson de entender que a “experiência não espera discretamente,
fora de seus gabinetes, o momento em que o discurso da demonstração convocará a sua
presença. A experiência entra sem bater à porta e anuncia mortes, crises de subsistência,
guerra de trincheira, desemprego, inflação, genocídio. Pessoas estão famintas: seus sobre‑
viventes têm novos modos de pensar em relação ao mercado. Pessoas são presas: na prisão,
pensam de modo diverso sobre as leis. Frente a essas experiências gerais, velhos sistemas
conceptuais podem desmoronar e novas problemáticas podem insistir em impor sua pre‑
sença”. E. P. Thompson, A Miséria da Teoria ou um Planetário de Erros: Uma Crítica ao
Pensamento de Althusser (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981), 17.
21
INTRODUÇÃO
15 João José Reis e Eduardo Silva, Negociação e Conflito: A Resistência Negra no Brasil Escravista
(São Paulo: Companhia das Letras, 1989), 7.
16 Frederick Cooper, “Conflito e Conexão: Repensando a História Colonial da África”, in
História de África: Capitalismo, Modernidade e Globalização, 71‑128 (Lisboa: Edições 70,
2016).
17 Merecem destaque como pioneiros fundamentais para o estudo das relações de resistência
ao colonialismo na África as obras de Terence O. Ranger, Allen Isaacman e Barbara Isaacman.
Ranger, com uma longa e importante carreira, transitou por diferentes perspectivas. Seu artigo
de 1968 foi um dos primeiros a dedicar atenção as possíveis “conexões históricas” entre
movimentos contrários ao colonialismo e o desencadear dos nacionalismos africanos. Lan‑
çado antes das independências das colônias portuguesas na África, apontava para a necessi‑
dade de estudar as “resistências primárias” não apenas como movimentos de reação ou de
desejo de retorno a uma tradição supostamente existente antes da implementação do poder
22
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INTRODUÇÃO
Africa / Africa and History”, The American Historical Review 104, n.º 1 (Feb. 1999):1‑32;
Frederick Cooper, “A Escrita da História de África durante e depois de Um Tempo de
Libertação: Apontamentos Pessoais”, in História de África: Capitalismo, Modernidade e
Globalização, 43‑70 (Lisboa: Edições 70, 2016); Terence Ranger, “Nationalist Historiogra‑
phy, Patriotic History and the History of the Nation: The Struggle over the Past in Zim‑
babwe”, Journal of Southern African Studies 30, n.º 2 ( June 2004): 215‑234.
19 Frederick Cooper, “Class and Empire: An African Historian’s Retrospective on E. P.
Thompson”, Social History 20, n.º 2 (May 1995): 235‑241. O mesmo autor analisa de
maneira pormenorizada o tema da proletarização em contextos africanos, em: Frederick
Cooper, “Trabalhadores Africano e Projetos Imperiais” e “Descolonização e Cidadania:
A África entre os Impérios e Um Mundo de Nações”, in História de África: Capitalismo,
Modernidade e Globalização, 263‑306 e 307‑350 (Lisboa: Edições 70, 2016).
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INTRODUÇÃO
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24 “How do we study power relations when the powerless are often obliged to adopt a strategic
pose in the presence of the powerful and when the powerful may have an interest in over‑
dramatizing their reputation and mastery? [...] Every subordinate group creates, out of its
ordeal, a ‘hidden transcript’ that represents a critique of power spoken behind the back of
the dominant. The powerful, for their part, also develop a hidden transcript representing
the practices and claims of their rule that cannot be openly avowed. A comparison of the
hidden transcript of the weak with that of the powerful and of both hidden transcripts to
the public transcript of power relations offers a substantially new way of understanding
resistance to domination”. In: James C. Scott. Dominantion and the Art of Resistance: Hidden
Transcripts (New Haven/Londres: Yale University Press, 1990), XII [tradução livre].
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INTRODUÇÃO
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26 Para uma análise dessas características no mundo colonial português, ver: Ana Cristina
Fonseca Nogueira da Silva, “Da Carta de Alforria ao Alvará de Assimilação: A Cidadania
dos ‘Originários de África’ na América e na África Portuguesas, Séculos XIX e XX”, in
A Experiência Constitucional de Cádis – Espanha, Portugal e Brasil, org. Cecília Helena Salles
de Oliveira e Márcia Berbel, 109‑137 (São Paulo: Editora Alameda, 2012).
27 Para uma análise da complexidade desse grupo dentro do Moçambique colonial, ver: César
Braga‑Pinto, “João Albasini e o Olhar Estrábico de O Africano”, in João Albasini e as Luzes
de Nwandzengele, César Braga‑Pinto e Fátima Mendonça, 41‑64 (Maputo: Alcance Edi‑
tores, 2014).
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INTRODUÇÃO
28 Pesquisas recentes vêm questionando a capacidade das categorias do Estado colonial por‑
tuguês que fracionavam e hierarquizavam, especialmente as de cunho racial, os habitantes
das colónias em explicar a complexidade daquela realidade. Ver: Cláudia Castelo, Omar
Ribeiro Thomaz, Sebastião Nascimento e Teresa Cruz e Silva, org., Os Outros da Coloni‑
zação: Ensaios sobre o Colonialismo Tardio em Moçambique (Lisboa: Imprensa de Ciências
Sociais, 2012).
29 Anderson Ribeiro Oliva, “A História da África em Perspectiva”, Revista Múltipla 10, n.º
16 (2004): 9‑40.
30 Ibhawoh e Whitfield, “Problems, Perspectives, and Paradigms: Colonial Africanist His‑
toriography and the Question of Audience”.
31 Os usos da documentação cartorial para se estudar o passado colonial europeu na África
têm resultado em pesquisas inovadoras a partir de fontes produzidas pelos colonizadores.
Alguns exemplos dessa bibliografia podem ser encontrados em Carol Dickerman, “The
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Use of Court Records as Sources for African History: Some Examples from Bujumbura,
Burundi”, African Studies Association 11, (1984): 69‑81; Carol Dickerman, “African Courts
Under the Colonial Regime: Usumbura, Ruanda‑Urundi, 1938‑62”, Canadian Journal of
African Studies 26, n.º 1 (1992): 55‑69; Richard Roberts, “Text and Testimony in the
Tribunal de Première Instance, Dakar, during the Early Twentieth Century”, The Journal
of African History vol. 31, n.º 3 (1990): 447‑463; Lorena Rizzo, “The Elephant Shooting:
Colonial Law and Indirect Rule in Kaoko, Northwestern Namibia, in the 1920s and
1930s,” Journal of African History 48, n.º 2 (2007): 245‑266; Fernanda do Nascimento
Thomaz, “Casaco que se Despe pelas Costas: A Formação da Justiça Colonial e a (Re)ação
dos Africanos no Norte de Moçambique, 1894 – c. 1940” (Tese de doutoramento, Depar‑
tamento de História, Universidade Federal Fluminense, 2012).
32 Frederick Cooper and Randall Packard, org., International Development and the Social Sci‑
ences (Berkeley: University of California Press, 1997).
33 Sobre a importância do Instituto Rhodes Livingstone para a antropologia contemporânea,
ver: Lyn Schumaker, Africanizing Anthropology: Fieldwork, Network, and the Making of
Cultural Knowledge in Central Africa (Durham/Londres: Duke University Press, 2001).
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INTRODUÇÃO
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35 Leroy Vail and Landeg White, “The Invention of ‘Oral Man’: Anthropology, Literary
Theory, and a Western Intellectual Tradition”, in Power and the Praise Poem: Southern Af‑
rican Voices in History, 1‑39 (Charlottesville: University Press of Virginia, 1991), 13. No
original: “Africans were defined as essentially rural people, out of place in the cities”
[tradução livre].
36 António Rita‑Ferreira, Os Africanos de Lourenço Marques Separata de Memórias do Instituto
de Investigação Científica de Moçambique, 93‑491 (Lourenço Marques: I.I.C.M, 1967/1968).
37 Vale a pena ressaltar que após o fim do regime do indigenato, em 1962, ocorrido dentro
de um contexto crescente de transformações em Portugal e, principalmente, dentro das
próprias possessões coloniais portuguesas, as populações africanas deixaram de ser classi‑
ficadas enquanto indígenas ou assimiladas, passando a serem englobadas como cidadãos
portugueses. Por isso mesmo Rita‑Ferreira, dentro de seu estudo, evita a utilização dos
termos coloniais jurídicos para designar a população negra de Lourenço Marques. No
entanto, apesar das mudanças legais, aparentemente pouco de concreto haveria de ser
mudado. Ver: Diogo Ramada Curto e Bernardo Pinto da Cruz, “Destribalização, Regedo‑
rias e Desenvolvimento Comunitário: Notas acerca do Pensamento Colonial Português
(1910‑1965)”, Práticas da História 1, n.º 1 (2015): 113‑172.
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INTRODUÇÃO
44 Jeanne Marie Penvenne, African Workers and Colonial Racism: Mozambican Strategies and
Struggles in Lourenço Marques, 1877‑1962 (Portsmouth: Heinemann, 1995).
45 Valdemir Zamparoni, “Entre ‘Narros’ e ‘Mulungos’: Colonialismo e Paisagem Social em
Lourenço Marques, c.1890‑ c.1940” (Tese de doutorado em História Social, Universidade
de São Paulo, 1998); Valdemir Zamparoni, De Escravo a Cozinheiro: Colonialismo e Racismo
em Moçambique (Salvador: EDUFBA, CEAO, 2007).
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46 Heloisa de Faria Cruz e Maria do Rosário da Cunha Peixoto, “Na Oficina do Historiador:
Conversas sobre História e Imprensa”, Projeto História. História e Imprensa. Revista do
Programa de Pós‑Graduados em História e do Departamento de História 35, (2007): 260.
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52 Para uma perspectiva de análise do espaço urbano africano enquanto local possível para se
interpretar a atuação dos subordinados em busca de formas de vida que terminavam por
pressionar as estruturas de dominação, ver: Frederick Cooper, ed., Struggle for the City:
Migrant Labor, Capital and the State in Urban Africa (Beverly Hills: Sage, 1983).
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INTRODUÇÃO
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urbano era pensado como local detentor por excelência dessas ver‑
dades. A consolidação e a expansão de Lourenço Marques como
centro atrativo de pessoas e capitais coincidiram com o desmante‑
lamento de formas culturais pré‑existentes e o alvorecer de uma
nova forma de vida que se desenvolvia naquele espaço citadino.
Nesse sentido, no capítulo busco compreender essas novas maneiras
de ser, que, trazidas à tona pelo colonialismo, também bagunçaram
o intuito organizativo de catalogação das populações locais e de suas
culturas.
A imprensa deixa de ser a fonte primordial, dando espaço para
o acervo de publicações existentes na Biblioteca Nacional de Por‑
tugal e para a vasta documentação do Arquivo Histórico de Moçam‑
bique. É por meio delas que percebo a construção de categorias
classificatórias homogeneizadoras das populações nativas do Sul de
Moçambique existente em obras de homens da colonização portu‑
guesa, como o político e militar Ayres d’Ornellas ou o administrador
colonial António Augusto Pereira Cabral. Por um lado, fica evi‑
dente que o linguajar colonial que unificava diferentes práticas musi‑
cais e dançantes nativas na palavra batuque era semelhante ao
processo racializante de homogeneização das diversidades popula‑
cionais na construção da figura do indígena. Nesse sentido, os pro‑
jetos coloniais portugueses em Moçambique promoveram
interpretações e ações que produziram formas de apresentação
designadas como batuques que foram incorporadas na retórica da
dominação. Por outro lado, a problematização dos conceitos colo‑
niais a respeito do “Outro” é complexificada com a compreensão de
que o próprio termo batuque foi mais um dos vocábulos usados para
descrever uma variedade de ações e práticas que sumariamente ter‑
minaram englobadas em uma única palavra. O destrinchar dessa
variedade de práticas revela traços de uma multifacetada experiência
dessas populações dominadas que, por meio de suas ações, produ‑
ziram incontáveis e inesperadas reinterpretações e ressignificações.
No terceiro capítulo, intitulado “Cosmopolitismo enevoado e a
criação de uma civilização das necessidades”, analiso o processo de
consolidação da urbe laurentina enquanto capital colonial de
Moçambique. As práticas dançantes e musicais durante os anos
iniciais de consolidação da presença portuguesa no sul de Moçam‑
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INTRODUÇÃO
58 Vale a pena frisar que a importância das cantinas, especialmente para a venda do vinho,
principal produto de exportação colonial português, vêm sendo objeto de análise da biblio‑
grafia. Infelizmente, a devastação produzida pelo consumo excessivo de álcool, muitas vezes
de péssima qualidade, ofuscou um caleidoscópio de experiências que transitaram ao redor
desses espaços de comércio e sociabilidade. Para exemplos dessa bibliografia, ver: José
Capela, O Vinho para o Preto: Notas e Textos sobre a Exportação do Vinho para África (Porto:
Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, 2009); José Capela, O Álcool na
Colonização do Sul do Save, 1860‑1920 (Maputo: Edição de Autor, 1995); David Birmin‑
gham, “Vinho, Mulheres e Guerra,” in O Império Africano (Séculos XIX e XX), org. Valentim
Alexandre, 165‑174 (Lisboa: Colibri e Instituto de História Contemporânea da Faculdade
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de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, 2008). Para uma abordagem a res‑
peito da importância das cantinas em outro contexto colonial africano, ver: Tshidiso Ma‑
loka, “Khomo Lia Oela: Canteens, Brothels and Labour Migrancy in Colonial Lesotho,
1900‑1940”, The Journal of African History 38, n.º 1 (1997): 101‑122.
47
INTRODUÇÃO
59 Ainda são recentes as pesquisas que buscam associar aspectos das transformações culturais
vivenciadas pelas populações nativas nos anos 1950 e 1960 e os processos de independên‑
cias na África portuguesa. Para alguns exemplos de bibliografia, ver: Edward Alpers, “The
Role of Culture in the Liberation of Mozambique”, Ufahamu 12, n.º 3 (1983): 143‑189;
Rui Laranjeiras, A Marrabenta: Sua Evolução e Estilização, 1950‑2002 (Maputo: Minerva
Print, 2014); Eléusio dos Prazeres Viegas Filipe, “A Invenção de Uma Sociedade Luso‑
tropical na Era da Descolonização em África: Música e Espaços Culturais em Lourenço
Marques entre 1960‑1974”, in Áfricas: Histórias, Identidades e Narrativas, org. Regiane
Augusto de Mattos, 151‑182 (Rio de Janeiro: Editora Prismas, 2017); Eléusio dos Prazeres
Viegas Filipe, “Where Are the Mozambican Musicians?” Music, Marrabenta and National
Identity in Lourenço Marques, Mozambique, 1950‑1975” (Tese de Doutoramento, Uni‑
versity of Minnesota, 2012). Para um exemplo dessa bibliografia voltada para o caso an‑
golano, ver: Marissa J. Moorman, Intonations: A Social History of Music and Nation in
Luanda, Angola, from 1945 to Recent Times (Athens: Ohio University Press, 2008).
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CAPÍTULO 1
Algazarras ensurdecedoras
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bairro de Maxaquene. Originalmente, o jornal a grafou com “ch” e não com “x”. Quando
a diferença na grafia fizer alguma diferença no sentido que a fonte emprega a palavra, será
evidenciado no corpo do texto.
2 Ver: José Capela, O Tráfico de Escravos nos Portos de Moçambique, 1733‑1904 (Porto: Afron‑
tamentos, 2002). Ou José Capela, Dicionário de Negreiros em Moçambique, 1750‑1897
(Porto: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, 2007).
3 Nuno Domingos, Futebol e Colonialismo: Corpo e Cultura Popular em Moçambique (Lisboa:
Imprensa de Ciências Sociais, 2012), 59.
4 Valdemir Zamparoni, De Escravo a Cozinheiro: Colonialismo e Racismo em Moçambique
(Salvador: EDUFBA, CEAO: 2007).
5 Aurélio Rocha, Associativismo e Nativismo em Moçambique: Contribuição para o Estudo das
Origens do Nacionalismo Moçambicano (1900‑1940) (Maputo: Promédia, 2002); Nuno Do‑
mingos, “Urban Football Narratives and the Colonial Process in Lourenço Marques”, The
International Journal of the History of Sport 28, n.º15 (2011): 2159‑2175.
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6 Sobre a relação que Portugal estabeleceu com os reinos localizados no sul de Moçambique
ao longo do século XIX, ver: Gabriela Aparecida dos Santos, Reino de Gaza: O Desafio
Português na Ocupação do Sul de Moçambique (1821‑1897) (São Paulo: Alameda, 2010).
Existe uma indefinição com relação as datas sobre a elevação de Lourenço Marques a
capital da província. Na bibliografia existente é possível encontrar datas diferentes para a
sua transformação em capital oficial da colônia portuguesa de Moçambique. Por exemplo,
segundo Nuno Domingos, isso teria ocorrido em 1897. Ver: Nuno Domingos. “Desporto
Moderno e Situações Coloniais: O Caso do Futebol em Lourenço Marques”, in Mais do
que Um Jogo: O Esporte e o Continente Africano, org. Vitor Andrade de Melo, Marcelo Bi‑
ttencourt e Augusto Nascimento (Rio de Janeiro: Apicuri, 2010), 214. Enquanto que para
Malyn Newitt teria sido em 1902. Ver: Malyn Newitt, História de Moçambique (Mem
‑Martins: Publicações Europa‑América, 1997), 340. Já para Valdemir Zamparoni, isso teria
ocorrido em 1893. Valdemir Zamparoni. “A Imprensa Negra em Moçambique: A Traje‑
tória de ‘O Africano’ – 1908‑1920”, África: Revista do Centro de Estudos Africanos 11,
n.º 1 (1988): 73‑86. Apesar da diferença na data, a argumentação desses autores sobre a
mudança da capital da Ilha de Moçambique para a cidade de Lourenço Marques está
relacionada aos rumos pelos quais a colônia e a colonização portuguesa na região se diri‑
giam e minhas argumentações – assim como a desses autores – não perdem o seu sentido
por conta dessa variação. No entanto, ainda cabe um questionamento a respeito dessa di‑
ferença. A minha hipótese é de que isso ocorra por conta do lento processo de transposição
da máquina burocrática da Ilha de Moçambique para Lourenço Marques e dos consequen‑
tes conflitos de interesses ocorridos por conta desse processo produzidos pelo deslocamento
da região de interesse dentro dos agentes que atuavam na administração colonial. Ver, por
exemplo: Arquivo Histórico Ultramarino (doravante AHU), Direção Geral do Ultramar
(doravante DGU), 1.ª Repartição, Caixa 1181, Registro de Correspondência (1908‑1911);
ou AHU, DGU, 1.ª Repartição, 2.ª Seção, Caixa Sem Número, Correspondência
(1903‑1904).
7 Ver: René Pélissier, História de Moçambique: Formação e Oposição 1854‑1918, Volume I‑II
(Lisboa: Editorial Estampa, 2000).
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BATUQUES NA CIDADE
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Mapa 1. “Lourenço Marques, 1903”. O mapa, elaborado em 1903, foi publicado em Carlos
Santos Reis, A População de Lourenço Marques em 1894 (um censo inédito) (Lisboa: Instituto
Nacional de Estatística, Publicações do Centro de Estudos Demográficos, 1973). As marcações
indicam os possíveis locais de alguns dos batuques analisados ao longo do capítulo.
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18 Para uma crítica pormenorizada do uso da imprensa como fonte histórica por Valdemir
Zamparoni, ver a introdução do livro.
19 Essa breve narrativa sobre o surgimento da imprensa em Moçambique é baseada no tra‑
balho de síntese desenvolvido por Ilídio Rocha. Ver: Ilídio Rocha, A Imprensa de Moçam‑
bique: História e Catálogo (1854‑1975) (Lisboa: Edição Livros do Brasil, 2000).
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20 De maneira geral, a historiografia para esse período enfocou a utilização da imprensa como
fonte, não como objeto de pesquisa, analisando, sobretudo, os textos publicados pelos
africanos “filhos da terra” – ou assimilados, segundo o colonialismo português. Um exemplo
bibliográfico que buscou analisar os periódicos como objeto de pesquisa, que, no entanto,
mistura relatos memorialísticos com algumas tímidas abordagens históricas, pode ser en‑
contrado em: Fátima Ribeiro e António Sopa, orgs., 140 Anos de Imprensa em Moçambique:
Estudos e Relato (Maputo: Associação Moçambicana de Língua Portuguesa, 1996). Na
presente análise são usados, principalmente, os seguintes jornais: O Português, O Progresso,
O Distrito, A Tribuna, Lourenço Marques Guardian, Heraldo, O Chocarreiro, O Africano e
O Brado Africano.
21 A pesquisa para encontrar esses jornais nos arquivos nem sempre foi fácil. As coleções que
constam na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), quase todas microfilmadas e em bom
estado de conservação, nem sempre estão completas. Busquei, por isso, colmatar lacunas
dessa documentação e outros títulos que não constam do acervo da BNP, no Arquivo
Histórico de Moçambique. Infelizmente, o prédio em que estão armazenados os jornais
da primeira metade do século XX que circularam em Moçambique, localizado na Avenida
Felipe Samuel Magaia e originalmente sede do arquivo, encontra‑se praticamente aban‑
donado, quando da minha pesquisa no segundo semestre de 2014. Naquele momento,
entrar no prédio só foi possível após a autorização do secretariado do arquivo e acompa‑
nhado por um de seus funcionários. O interior do edifício está sem luz, água, com infiltra‑
ções, baratas, ratos e pombos. Boa parte dos documentos que lá se encontram está espalhada
em mesas e cadeiras pelas antigas salas de consulta, amontoados em estantes ou, simples‑
mente, jogados no chão. As antigas salas de leitura e consulta do arquivo, com pilhas de
documentação, foram usadas por mim como locais de consulta, pois possuem janelas vol‑
tadas para a rua, permitindo que durante o dia pudesse realizar o trabalho de coleta da
documentação. Os funcionários e funcionárias que me acompanharam na busca por essas
fontes fazem o que podem, dentro das limitações impostas pela situação, para preservar a
memória histórica moçambicana. Com a ajuda deles consegui localizar algumas pastas
contendo coletâneas de edições de jornais do período histórico aqui analisado. O historia‑
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37 Silvia Capanema Almeida e Rogério Sousa Silva, “Do (in)visível ao risível: o negro e a ‘raça
nacional’ na criação caricatural da Primeira República”, Estudos Históricos, v 26, n.º 52 (julho
– dezembro 2013): 316‑345.
38 O nome dado ao grupo social que havia fundado e compunha o Grêmio Africano de
Lourenço Marques, O Africano e O Brado Africano, assim como suas principais caracterís‑
ticas, continua sendo tema de inúmeros debates. Para maiores detalhes, ver: José Moreira,
Os Assimilados, João Albasini e as Eleições, 1900‑1922 (Maputo: Arquivo Histórico de Mo‑
çambique, 1997); Zamparoni, “Entre ‘Narros’ e ‘Mulungos’”; Aurélio Rocha, Associativismo
e Nativismo em Moçambique: Contribuição para o Estudo das Origens do Nacionalismo Mo‑
çambicano (1900‑1940); Fernanda Thomaz, “Os ‘Filhos da Terra’: Discurso e Resistência
nas Relações Coloniais no Sul de Moçambique (1890‑1930)”. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal Fluminense, 2008.
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63 Carlos Santos Reis, A População de Lourenço Marques em 1894 (Um Censo Inédito) (Lisboa:
Publicações do Centro de Estudos Demográficos, 1973), 33.
64 AHU, DGU, 3.ª Repartição, Caixa 2764, 1885‑1898, Estatísticas.
65 Números extraídos do Boletim Oficial, no 48 de 1904, que informava existirem 4.691 euro‑
peus na cidade.
66 Rita‑Ferreira, “Os Africanos de Lourenço Marques,” 223. Ver, também: Recenseamento da
População e das Habitações da Cidade de Lourenço Marques e seus Subúrbios: Referidos a 1.º de
Dezembro de 1912 (Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1913).
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69 In: J. and M. Lazarus. A Souvenir of Lourenço Marques. An Album of Views of the Town
(Lourenço Marques: Tabler & Co., 1901), 41 e 42. No original: “The ‘Mafalala’. Mozam‑
bique Kafirs Dance” e “The ‘M’Shongola’. Delagoa Bay Kafirs’ (Bakonga) dance”.
70 Sobre as confrarias, ver: Lorenzo Macagno, “Islã, transe e liminaridade”, in Revista de
Antropologia, Vol. 50, n.º 1, São Paulo, ( Jan./Jun. 2007), 85‑123. Sobre as expressões mu‑
sicais das sociedades do norte de Moçambique, ver: Regiane Augusto de Mattos, “Batuques
da terra, ritmos do mar: expressões musicais e conexões culturais no norte de Moçambique
(séculos XIX‑XXI), in Revista de História da USP, n.º 178, São Paulo, (2019), 1‑39.
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71 Sobre o trabalho dos irmãos Lazarus na região, ver: Noeme Santana, “Olhares Britânicos:
Visualizar Lourenço Marques na Óptica de J and M Lazarus, 1899‑1908”, in O Império
da Visão: Fotografia no Contexto Colonial Português (1860‑1960), org. Filipa Lowndes Vi‑
cente, 211‑222 (Lisboa: Edições 70, 2014). Sobre Manoel Romão Pereira, ver: Luísa Villa‑
rinho Pereira, Moçambique – Manoel Pereira (1815‑1894). Fotógrafo Comissionado pelo
Governo Português (Lisboa: Edição de autor., 2013).
72 O Africano, 16 de agosto de 1909. WNA.
73 Sobre as comunidades muçulmanas em Moçambique, ver: Lorenzo Macagno, Outros Mu‑
çulmanos: Islão e Narrativas Coloniais (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2006).
74 Patrick Harries. “The Roots of Ethnicity: Discourse and the Politics of Language Con‑
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struction in South‑East Africa”, African Affairs 87, n.º 346 ( January 1988): 25‑52. Sobre
o norte de Moçambique, seus grupos nativos e suas relações com o poder durante o colo‑
nialismo e no pós‑colonialismo, ver: Harry G. West, Kupilikula: O Poder e o Invisível em
Mueda, Moçambique (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2009).
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89 Zamparoni, “Entre ‘Narros’ e ‘Mulungos’,” 322‑330. Com relação aos processos de imple‑
mentação do colonialismo português em Moçambique, a importância da medicina colonial
nesse processo e a sua relação com práticas médicas locais, ver: Jacimara Souza Santana,
“A Experiência dos Tinyanga, Médicos‑Sacerdotes ao Sul de Moçambique: Culturas,
Identidades e Relações de Poder (C. 1937‑1988)” (Tese de doutorado em História Social,
UNICAMP, 2014); ou Carolina Maíra Gomes Morais, “Estado Colonial Português e
Medicinas ao Sul do Save. Moçambique (1930‑1975)” (Dissertação de mestrado em His‑
tória das Ciências e da Saúde, Fundação Osvaldo Cruz, 2014). Luiz Henrique Passador,
“‘As Mulheres São Más’: Pessoa, Gênero e Doença no Sul de Moçambique”, Cadernos
Pagu, n.º 35 (julho‑dezembro de 2010), 177‑210. Para processos semelhantes ocorridos
em outros contextos coloniais africanos, ver: Giovani Grillo Salve, “O Médico Político e
o Político Médico: O Caso do Dr. Abdullah Abdurahman e a Medicina e Política Colonial
na Cidade do Cabo, 1895‑1921” (Apresentação Oral, Seminário Internacional “Cultura,
Política e Trabalho na África Meridional”, UNICAMP, Campinas, 11‑14 maio, 2015); ou
Augusto Nascimento, “Salubridade, Urbanismo e Ordenamento Social em S. Tomé”, in
Actas do Colóquio Construção e Ensino da História de África (Lisboa), 411‑428.
90 Ver: Secretaria Geral do Governo de Moçambique. Regulamento de Prophylaxia Anti‑Palustre
da Cidade de Lourenço Marques (Aprovado por Portaria Provincial n.º 86 de 4 de fevereiro de
1907) e Instruções para a Defesa contra os Mosquitos (Lourenço Marques: Imprensa Nacional,
1907), 7. Como estipulou o artigo 13 do regulamento, as “autoridades administrativas ou
sanitárias têm o direito de entrar em todas as propriedades e nas dependências de todos
os estabelecimentos ou habitações”.
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97 Entre agosto de 1911, ou seja, no terceiro ano de existência do O Africano, até 1918, José
dos Santos Rufino ocupou os cargos de Administrador Secretário, Diretor e Editor no
jornal. Ver: O Africano, 1 de agosto de 1911. WNA.
98 José dos Santos Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique,
Volume 1, Lourenço Marques, Panoramas da Cidade (Lourenço Marques: J. S. Rufino, 1929), 3.
99 Cristina Nogueira da Silva, “O Registo da Diferença: Fotografia e Classificação Jurídica
das Populações Coloniais (Moçambique, Primeira Metade do Século XX)”, in O Império
da Visão: Fotografia no Contexto Colonial Português (1860‑1960), org. Filipa Lowndes Vi‑
cente, 67‑84 (Lisboa: Edições 70, 2014).
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100 Sigo aqui a análise apresentada em Ana Cristina Fonseca Nogueira da Silva, “Fotografando
o Mundo Colonial Africano. Moçambique, 1929”, Varia História 25, n.º. 41 (janeiro/junho
2009): 107‑128.
101 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume 1, Lourenço
Marques, Panoramas da Cidade, V. Para uma análise desse processo de desafricanização de
Lourenço Marques a partir das lentes fotográficas e da produção de um saber sobre a mão
de obra nativa que insistiu em colocá‑la como domesticada e atrasada, ver: Eric Allina,
“Fallacious Mirrors: Colonial Anxiety and Images of African Labor in Mozambique, ca.
1929”, History in Africa, 24 (1997): 9‑52.
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102 José dos Santos Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique,
Volume X, Raças, Usos, Costumes Indígenas e Alguns Exemplares da Fauna Moçambicana (Lou‑
renço Marques: J. S. Rufino, 1929), IX.
103 Jeanne Marie Penvenne, “Fotografando Lourenço Marques: A Cidade e os Seus Habitantes
de 1960 a 1975,” in Os Outros da Colonização: Ensaios sobre o Colonialismo Tardio em Mo‑
çambique, org. Cláudia Castelo et al., 173‑191 (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2012).
104 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume X, Raças,
Usos, Costumes Indígenas e Alguns Exemplares da Fauna Moçambicana, III.
105 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume X, III.
106 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume X, V. Terpsí‑
core foi uma das nove musas da mitologia grega, filha de Zeus e Mnemosine, com o
atributo da dança como principal característica.
107 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume X, V.
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5. In Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique, volume X, 33. A fotografia foi feita
no Distrito de Inhambane. A legenda diz: “A ‘Dança da Morte’, num ‘batuque’ de guerra”. Vale
a pena ressaltar o uso da palavra batuque para designar manifestações muito diferentes entre si.
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113 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume X, IV.
114 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume X, 5
(legenda).
115 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume X, VI.
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116 O Africano, 23 de fevereiro de 1906. WNA. A comprovação de que João Albasini utilizou
o pseudônimo de João das Regras foi realizada de maneira primordial por César Braga
‑Pinto. Ver: César Braga‑Pinto, “O Olhar Estrábico d’O Africano: Jornalismo e Literatura
em Moçambique”, Revista de Estudos Portugueses 7, (2005): 67‑87.
117 Agradeço a António Sopa pelo auxílio prestado quando da minha estadia em Maputo. Sua
solidariedade ao ceder referências foi de grande importância para minha pesquisa.
118 AHM, Fundo do Governo do Distrito de Lourenço Marques, século XIX, caixa 71, Carta
do chefe da Capitania do Porto de Lourenço Marques para o senhor Governador do
Distrito, 21 de abril de 1894.
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119 AHM, Fundo do Governo do Distrito de Lourenço Marques, século XIX, caixa 71, Carta
do chefe da Capitania do Porto de Lourenço Marques para o senhor Governador do
Distrito, 21 de abril de 1894.
120 Sobre a timbila, ver: Hugh Tracey, “Timbila: The Xylophones of the Chopi”, in Chopi
Musicians: Their Music, Poetry, and Instruments, 2.ª ed., 118‑142 (Oxford: Oxford University
Press, 1970). Especificamente sobre os chopes, ver: David J Webster, A Sociedade Chope:
Indivíduo e Aliança no Sul de Moçambique, 1969‑1976 (Lisboa: Imprensa de Ciências So‑
ciais, 2009). O ngodo, a timbila e sua relação com o colonialismo português serão melhor
analisados nos próximos capítulos.
121 Infelizmente, não consegui encontrar o edital a qual o periódico fez referência.
122 A relação entre as expressões musicais, sobretudo vinculadas a religião islâmica, existentes
no norte de Moçambique e o exercício colonial português de proibição ou restrição dessas,
pode ser remetido ao final do século XVIII, quando o Governador de Moçambique, Diogo
de Souza, promulgou um ofício proibindo “que toquem mais os cafres e gentios desta
Capital [Ilha de Moçambique] de dia ou de noite os engomas [corruptela de ngoma, que
significa tambor] ou batuques ao som dos quais costumam fazer as suas danças”. Arquivo
Histórico Ultramarino, Conselho Ultramarino, Cx. 67, Doc. n.º 5, 9 de maio de 1794.
123 Boletim Oficial, n.º 38, 20 de setembro de 1880. Apud António Sopa, A Alegria é Uma Coisa Rara:
Subsídios para a História da Música Popular Urbana em Lourenço Marques (1920‑1975), 24.
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124 O termo usado no código é “munhae ou mandeque”, variações do termo pejorativo monhé,
que significa o mestiço de árabe, muçulmano, com o negro. Ou, melhor dizendo, um negro
muçulmano: “Art. 27.º São proibidos os batuques de munhae e mandique”. In: Código de
Postura da Câmara Municipal do Distrito de Inhambane. Aprovado por acordão do conselho de
província n.º 22 de 8 de julho de 1887. Moçambique: Imprensa Nacional, 1887, 7. BNP.
125 Boletim Oficial, n.º 33, 15 de agosto de 1885. Apud António Sopa, A Alegria é Uma Coisa
Rara: Subsídios para a História da Música Popular Urbana em Lourenço Marques
(1920‑1975).
126 Lourenço Marques Guardian, 26 de novembro de 1914. AHM.
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127 Lourenço Marques Guardian, 26 de novembro de 1914. AHM. A utilização das cantinas
como local para o depósito de bens e dinheiro, ou mesmo para a venda de artigos trazidos
no retorno do trabalho migratório na África do Sul, assim como dos quartos de aluguel
como moradia provisória, eram bastante comuns naquele contexto e serão analisadas em
outros capítulos do livro.
128 Lourenço Marques Guardian, 26 de novembro de 1914. AHM.
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CAPÍTULO 2
Construindo categorias,
homogeneizando diferenças,
enquadrando pessoas e práticas
UM ALFERES‑MÉDICO E OS “PRETOS” EM
LOURENÇO MARQUES
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CONSTRUINDO CATEGORIAS, HOMOGENEIZANDO DIFERENÇAS
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8 Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, Volume III, Lourenço
Marques – Aspectos da Cidade, Vida Comercial, Praia da Polana, etc. (Lourenço Marques: J.
S. Rufino, 1929), III.
9 O Africano, 12 de setembro de 1912 e 10 de outubro de 1912. WNA.
10 O Africano, 22 de dezembro de 1911. WNA.
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CONSTRUINDO CATEGORIAS, HOMOGENEIZANDO DIFERENÇAS
11 A lista poderia ser longa. Atenho‑me apenas a alguns exemplos importantes dessa biblio‑
grafia: Lorenzo Macagno, Os Outros Muçulmanos: Islão e Narrativas Coloniais (Lisboa:
Imprensa de Ciências Sociais, 2006); Rui Mateus Pereira, “Conhecer para Dominar: O De‑
senvolvimento do Conhecimento Antropológico na Política Colonial Portuguesa em Mo‑
çambique, 1926‑1959” (Tese de Doutoramento em Antropologia, FCSH‑UNL, 2005);
Ricardo Roque, Antropologia e Império: Fonseca Cardoso e a Expedição à Índia em 1895
(Lisboa: Imprensa de Ciência Sociais, 2001); Filipa Lowndes Vicente, Outros Orientalismos:
A Índia entre Florença e Bombaim (1850‑1900) (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais,
2009).
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CONSTRUINDO CATEGORIAS, HOMOGENEIZANDO DIFERENÇAS
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14 Vera Marques Alves, Arte Popular e Nação no Estado Novo: A Política Folclorista do Secreta‑
riado de Propaganda Nacional (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2013); Marcos Car‑
dão, Fado Tropical: O Luso‑Tropicalismo na Cultura de Massas (1960‑1974) (Lisboa: Edições
da Unipop, 2014).
15 Karin Barber, “Views of the Field. Introduction”, in Readings in African Popular Culture,
ed. Karin Barber (Indiana: Indiana University Press, 1997), 1 [tradução livre].
16 As reflexões sobre o passado e a escrita da História são fundamentais para uma problema‑
tização da relação entre a ação imperial europeia de meados do século XIX e XX e as dife‑
rentes maneiras pelas quais variados povos constituem suas noções com o tempo e com a
ideia de passado para além de uma divisão binária entre passado/tradição, futuro/moderno.
Como aponta Sanjay Seth, “enquanto continuarmos [...] escrevendo história, precisamos
re‑conceber o que, exatamente, estamos fazendo quando escrevemos o passado dos outros
em termos muito distintos dos seus próprios; precisamos pensar na história não por um
veio imperialista, como a aplicação da Razão ao passado, e sim como o diálogo entre dife‑
rentes tradições de raciocínio”. Sanjay Seth, “Razão ou Raciocínio? Clio ou Shiva?”, História
da Historiografia, n.º 11 (2013): 175.
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to Family Allowances: Labor and African Society in Colonial Discourse”, American Eth‑
nologist 16, n.º 4 (Nov 1989): 745‑765. Augusto Nascimento, “Escravatura, Trabalho For‑
çado e Contrato em S. Tomé e Príncipe nos Séculos XIX e XX: Sujeição e Ética Laboral”,
Africana Studia, n.º 7 (2004): 183‑217. Eric Allina, “‘Captive to Civilization’: Law, Labor,
and Violence in Colonial Mozambique”, in Mobility Makes States: Migration and Power in
Africa, ed. Darshan Vigneswaram e Joel Quirk, 59‑78 (Filadélfia: University of Pennsyl‑
vania Press, 2015).
22 Frederick Cooper, “Conflito e Conexão: Repensando a História Colonial da África”, Anos
90 15, n.º 27 (2008): 21‑63.
23 Esse processo foi sentido de maneira significativa pelas elites letradas de origem africana
em Angola. Ver: Jill Dias, “Uma Questão de Identidade: Respostas Intelectuais às Trans‑
formações Económicas no Seio da Elite Crioula da Angola Portuguesa entre 1870 e 1930”,
Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 1 ( Jan‑Jun. 1984). Para o caso moçambicano,
aparentemente aqueles que sentiram de maneira mais significativa essas mudanças foram
os senhores e senhoras dos prazos da Zambézia. Com um poder relativamente elevado e
praticamente nenhuma necessidade de se remeter aos ditames da metrópole, esses grandes
proprietários de terras e pessoas viram seu poder perecer ao longo do século XIX, e início
do século XX. Sobre os prazos da Zambézia, ver: Eugénia Rodrigues, “As Donas de Prazos
do Zambeze: Políticas Imperiais e Estratégias Locais”, in VI.ª Jornada Setecentista: Confe‑
rências e Comunicações (Curitiba: Aos Quatro Ventos, CEDOPE, 2006), 16‑34; ou José
Capela, “Conflitos Sociais na Zambézia, 1878‑1892: A Transição do Senhorio para a
Plantação”, Africana Studia, n.º 1 (1999): 143‑173.
24 Ver: Valentim Alexandre, Velho Brasil, Novas Áfricas: Portugal e o Império, 1808‑1975 (Porto:
Edições Afrontamento, 2000).
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38 Cunha, Estudos acerca dos Usos e Costumes dos Banianes, Bathiás, Parses, Mouros, Gentios e
Indígenas, XXXIX até XLII.
39 Cunha, Estudos acerca dos Usos e Costumes dos Banianes, Bathiás, Parses, Mouros, Gentios e
Indígenas, 36‑37.
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40 Ver: Anderson Ribeiro Oliva, “De Indígena a Imigrante: O Lugar da África e dos Africanos
no Universo Imaginário Português dos Séculos XIX ao XXI”, Sankofa. Revista de História
da África e de Estudos da Diáspora Africana, n.º 3 (junho 2009): 32‑51.
41 Ver: Ana Cristina Fonseca Nogueira da Silva, “Da Carta de Alforria ao Alvará de Assi‑
milação: A Cidadania dos ‘Originários de África’ na América e na África Portuguesas,
Séculos XIX e XX”, in A Experiência Constitucional de Cádis – Espanha, Portugal e Brasil,
org. Cecília Helena Salles de Oliveira e Márcia Berbel, 109‑137 (São Paulo: Editora
Alameda, 2012); Cooper, Colonialism in Question. Ou, Portaria Provincial n.º 317, de 9 de
Janeiro de 1917, publicada no Boletim Oficial n.° 02/1917, conhecida como Portaria do
Assimilado ou Alvará do Assimilado.
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47 Ayres d’Ornellas, Raças e Línguas Indígenas em Moçambique, 44. São inúmeras as passagens
racistas na obra de Ornellas. Seu racismo enquadrava a leitura que o mesmo empregava
sobre a forma como a ação colonial deveria ocorrer. Isso fica evidente, por exemplo, na
seguinte passagem: “Temos procurado dar uma ideia quanto possível exata e precisa do
estado social do indígena de Moçambique. É um selvagem que precisa primeiro que tudo,
ser domesticado. Nós aplicamos‑lhe a Carta Constitucional, desse cidadão português fizemos
um eleitor, e carregamos para cima dele com toda a nossa legislação; uniformizamos tudo
no papel, julgando assim civiliza‑lo. Ainda hoje Moçambique está à espera de uma legis‑
lação indígena apropriada, de alguma coisa que se pareça com as native laws das vizinhas
coloniais inglesas. Da constituição indígena da família, da sua organização governativa, da
administração, da sua justiça, da sua constituição de propriedade, cremos nós que se devem
tirar os elementos para essas leis, que deverão ir modificando os usos selvagens, cortando
as práticas bárbaras, mas não querendo fazer dos indígenas, brancos de cor preta se assim me
é permitido expressar. Não os devemos querer assimilar a nós, partindo do princípio que
são iguais a nós menos na cor. Não são tal iguais, são inferiores. E são no tanto mais que
quatro séculos de contato com a civilização europeia não tem revelado na generalidade
deles, grande aptidão para a nossa cultura”. Ayres d’Ornellas, Raças e Línguas Indígenas em
Moçambique, 61.
48 A respeito das principais referências do debate sobre raças no século XIX em Portugal e
que influenciou o pensamento de homens como Ayres d’Ornellas, ver: Henriques, Percursos
da Modernidade em Angola.
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49 António Augusto Pereira Cabral, Raças, Usos e Costumes dos Indígenas da Província de
Moçambique (Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1925), 5, grifo no original. Em 1925,
Pereira Cabral já havia publicado pela Imprensa Nacional outros livros nessa mesma
perspectiva, como: “Raças, usos e costumes dos indígenas do distrito de Inhambane”,
“Compilação de todas as disposições legais em vigor referente a indígenas, etc.” e “Voca‑
bulário: português, shironga, shitsua, guitonga, shishope, shisena, shinhungue, shishuabo,
kikua, shi‑yao e kissuahili”. Segundo Rui Mateus Pereira, a obra e a atuação de “Pereira
Cabral ajuda‑nos a compreender, na sua essência, o empenho das autoridades dessa nova
era colonial em codificar os usos e costumes”. Rui Mateus Pereira, “A ‘Missão etognósica
de Moçambique’: A Codificação dos ‘Usos e Costumes Indígenas’ no Direito Colonial
Português. Notas de Investigação,” Cadernos de Estudos Africanos, n.º 1 (2001): 137.
50 Cabral, Raças, Usos e Costumes dos Indígenas da Província de Moçambique, 11. Sobre a “des‑
coberta” da família linguística banto, ver: Robert W Slenes. “‘Malungu ngoma Vem!’: África
Coberta e Descoberta do Brasil,” Revista USP, n.º 12 (1992): 48‑67.
51 Cabral, Raças, Usos e Costumes dos Indígenas da Província de Moçambique, 26.
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RAÇA BANTU
Ba‑Rongas
Ba‑Tongas Lourenço Marques, Gaza e Inhambane
Ba‑shopes
Ba‑Sengas Companhia de Moçambique, Quelimane e Tete
Ba‑Angonis Tete
Macuas Quelimane, Moçambique e Companhia do
Niassa
Ua‑yaos ou Ajauas Companhia do Niassa
TRIBOS
Ba‑Rongas ou Landins:
Tembes
Kossas
Shenganes
Machenguas
Makuakuas
Tsua
Ba‑Tongas: Batongas
Ba‑Shopes: Bashopes
Ba‑Sengas:
Tauaras
Makangas
Manikos
Massingires
Borores
Maganjas
Macuas:
Maraves
Lomués
Makondes
Mavias
Macuas (Moçambique)
Ua‑Yaos ou Ajauas: Ajauas
In: Cabral, Raças, Usos e Costumes dos Indígenas da Província de Moçambique, 24.
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54 António Augusto Pereira Cabral, Primeira Exposição Colonial Portuguesa Porto, 1934. Co‑
lónia de Moçambique. Indígenas da Colónia de Moçambique. (Lourenço Marques: Imprensa
Nacional de Moçambique, 1934), 5‑6.
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55 Sobre a relação entre conhecimento e dominação colonial, ver: Rui Mateus Pereira, “Co‑
nhecer para Dominar: O Desenvolvimento do Conhecimento Antropológico na Política
Colonial Portuguesa em Moçambique, 1926‑1959” (Tese de Doutoramento em Antropo‑
logia, FCSH‑UNL, 2005); Siegfried Huigen, Knowledge and Colonialism: Eighteenth
‑Century Travellers in South Africa (Boston: Brill, 2009); ou Frederick Cooper and Randall
Packard, org., International Development and the Social Sciences (Berkeley: University of
California Press, 1997).
56 Nesse sentido, ver: Bruno Reinhard, “Poder, História e Coetaneidade: Os Lugares do
Colonialismo na Antropologia sobre a Áfric”, Revista de Antropologia 57, n.º 2 (2014):
329‑375.
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77 Segundo Patrick Harries, em uma novela escrita por Henri Junod, em 1910, o missionário
deixava claro seu posicionamento em defesa de legislações rigorosas que contivessem o
avanço das populações nativas dentro do espaço urbano como necessárias para se manter
a ordem. A justificativa para a existência dessas leis estaria no “estagio de selvageria em
que a raça” africana ainda se encontraria. In: Harries, Junod e as Sociedades Africanas, 275.
78 As citações desse parágrafo são referentes a Junod, Usos e Costumes dos Bantu, 346‑347.
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84 Como exemplo de compêndios publicados a partir das experiências de campo desses ho‑
mens coloniais, ver: Francisco D’Assis Clemente, Estudos Indianos e Africanos (Lisboa:
Tipografia Matos Moreira, 1889).
85 Ver, dentre muitos: Algumas Palavras acerca das Operações de Guerra no Distrito de Moçam‑
bique durante o Governo do Exmo. Sr. Conselheiro Jayme Pereira de Sampaio Forjaz de Serpa
Pimentel (1903‑1904) (Lisboa: Tipografia d’A Editora, 1904).
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86 Alguns desses eventos ocorridos em Portugal, são: I Conferência dos Governadores Co‑
loniais (1933), Congresso de Agricultura Colonial, I Congresso de Antropologia Colonial,
I Congresso Nacional de Colonização, Congresso de Ensino Colonial na Metrópole,
I Congresso de Intercâmbio Comercial com as Colónias, I Congresso Militar e Colonial,
todos em 1934, Semana das Colónias (1935), dentre outros.
87 A relação entre produção de saberes sobre o território colonial e a administração colonial
dentro de contextos imperiais ocorridos na África é muito mais complexo e menos linear
do que pode parecer num primeiro momento. Para uma visão complexificadora dessa
relação, ver: Lyn Schumaker, “A Tent With a View: Colonial Officers, Anthropologists,
and the Making of the Field in Northern Rhodesia, 1937‑1960,” Osiris 11, (1996): 237
‑258. Ou Lyn Schumaker, “The Director as Significant Other: Max Gluckman and Team
Research at the Rhodes‑Livingstone Institute”, in Significant Others: Interpersonal and
Professional Commitments in Anthropology, ed. Richard Handler, 91‑130 (Madison: Uni‑
versity of Wisconsin Press, 2004).
88 Anónimo. “Le Congrès d’Anthropologia Coloniale de Porto”, in L’Anthropologie, t.45 (Par‑
is, Masson et Cie. Éditeurs, 1935). Apud, Matos, As “Cores” do Império, 72.
89 Ver: Trabalhos do 1.º Congresso Nacional de Antropologia Colonial. Porto – Setembro de 1934.
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97 AHM, Fundo do Governo Geral (doravante GG), Processos, 1908‑1914, Caixa 19. Carta
do Comissário de Polícia Civil de Lourenço Marques para o Chefe do Gabinete do Go‑
verno Geral, 19 de junho de 1912.
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100 Alfredo Freire de Andrade e José António Mateus Serrano, Explorações Portuguesas em
Lourenço Marques: Relatórios da Comissão de Limitação da Fronteira de Lourenço Marques
(Lisboa: Imprensa Nacional, 1894).
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101 Nuno Severiano Teixeira, “Política Externa e Política Interna no Portugal de 1890: O Ul‑
timatum Inglês”, Análise Social XXIII, n.º 98 (1987): 687‑719; para uma perspectiva dife‑
rente, ver: Maria Emília Madeira Santos, “Ultimatum, Espaços Coloniais e Formações
Políticas Africanas”, África. Revista do CEA – USP, n.º 16 – 17 (1993‑1994): 67‑99.
102 Gabriela Aparecida dos Santos, Reino de Gaza: O desafio português na ocupação do sul de
Moçambique (1821‑1897) (São Paulo: Alameda, 2010).
103 Andrade e Serrano, Explorações Portuguesas em Lourenço Marques, 70 e 134.
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106 David Killingray e Andrew Roberts, “An outline of photograph in Africa to ca. 1940”,
History in Africa, 16 (1989): 197‑208; ou Christraud M. Geary “Old Pictures, New Ap‑
proaches: Researching Historical Photographs”, African Arts, 24, n.º 4, Special Issue: His‑
torical Photographs of Africa (Oct., 1991): 36‑39+98.
107 Filipa Lowndes Vicente, org., O Império Da Visão: Fotografia No Contexto Colonial Portu‑
guês. (Lisboa: Edições 70, 2014).
108 Os álbuns completos podem ser vistos em: http://actd.iict.pt/collection/actd:AHUC141
e http://actd.iict.pt/collection/actd:AHUC148, consultados em 13/09/2018.
109 Andrade e Serrano, Explorações Portuguesas em Lourenço Marques, 139‑145.
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110 Desconheço pesquisas que tenham atribuído a autoria dessa fotografia de Gungunhana
ou dado mais informações sobre essas imagens, usando‑as, na maioria das vezes, de forma
ilustrativa. As fotografias podem ser vistas em: http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD5177;
http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD5179; http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD5176;
http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD5180, links consultados em 13/09/2018.
111 António Enes, Relatório apresentado ao governo por António Enes (publicado, pela primeira
vez, em 1893), in O Africano, 04 de agosto de 1915. WNA.
112 Andrade e Serrano, Explorações Portuguesas em Lourenço Marques, 70‑71.
113 Andrade e Serrano, Explorações Portuguesas em Lourenço Marques, 70‑71. A fotografia dos
“Rapazes de Malashe” pode ser vista em: http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD5170, con‑
sultado em 13/09/2018.
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9.
10. In [Álbum fotográfico n.º 10] Comissão de Delimitação de Fronteira de Lourenço Marques
1890‑1891. ACT/DR. “Batuques em Malasche”.117
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118 Fernando de Castro Pires Lima, Contribuição para o Estudo do Folclore de Moçambique
(Porto: Separata da revista de etnografia n.º 14. Museu de Etnografia e História, 1934): 9.
119 Lima, Contribuição para o Estudo do Folclore de Moçambique, 9.
120 Lima, Explorações em Moçambique. (Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1943 [original de
1918]): 52.
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121 José dos Santos Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume
X: Raças, usos e costumes indígenas. Fauna Moçambicana. (Lourenço Marques: J. S. Rufino,
1929): VI.
122 O Africano, 6 de julho de 1918. WNA.
123 O Africano, 13 de maio de 1914. WNA.
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125 Jean‑Loup Amselle e Elikia M’bokolo, org., No centro da etnia: Etnias, tribalismo e Estado
na África. (Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2017).
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126 António Augusto Pereira Cabral, Raças, Usos e Costumes dos Indígenas da Província de
Moçambique (Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1925), 40.
127 Henri Junod dedicou boa parte de sua vida acadêmica na construção de livros capazes de
traduzir a oralidade nativa dos grupos ao qual estudou em elementos gramaticais, ver: Ch.
W. Chatelain e Henri A. Junod, A Pocket Dictionary, Thonga (Shangaan) – English; English
‑Thonga (Shangaan), Proceeded By Na Elementary Grammar (Lausanne: G. Bridel, 1909).
128 Ângela Guimarães, Uma Corrente do Colonialismo Português (Lisboa: Livros Horizonte,
1984).
129 Alberto Carlos de Paiva Raposo, Noções de Gramática Landina. Breve Guia de Conversação
em Português, Inglês E Landim (Lisboa: Sociedade de Geografia de Lisboa, 1895).
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136 Valle, Dicionários Shironga‑Português e Português‑Shironga, 59, 68, 110, 115, 117, 120, 125,
141, 149, 196 e 215.
137 Lima, Contribuição para o Estudo do Folclore de Moçambique,.6.
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CAPÍTULO 3
Cosmopolitismo enevoado
e a criação de uma civilização
das necessidades
COSMOPOLITISMO ENEVOADO
1 José dos Santos Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique.
Volume III: Lourenço Marques – Aspectos da Cidade, Vida Comercial, Praia da Polana, Etc.
(Lourenço Marques: J. S. Rufino, 1929), III.
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COSMOPOLITISMO ENEVOADO E A CRIAÇÃO DE UMA CIVILIZAÇÃO
2 José dos Santos Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume
I: Lourenço Marques, panoramas da cidade (Lourenço Marques: J. S. Rufino, 1929), V.
3 Jeanne Marie Penvenne, “‘Here everyone walked with fear’: the Mozambique labor system
and the workers of Lourenço Marques, 1945‑1962”, in Struggle for the city: migrant labor,
capital, and the state in urban Africa, org., Frederick Cooper, 131‑166 (Berkeley: Sage,
1983); Jeanne Marie Penvenne, Trabalhadores de Lourenço Marques (1870‑1974) (Maputo:
Arquivo Histórico de Moçambique, 1993); Jeanne Marie Penvenne, African workers and
colonial racism. Mozambican strategies and struggles in Lourenço Marques, 1877‑1962 (Por‑
tsmouth: Heinemann, 1995); Valdemir Zamparoni, De escravo a cozinheiro: colonialismo
& racismo em Moçambique. (Salvador: EDUFBA: CEAO, 2007); Nuno Domingos, Futebol
e colonialismo: corpo e cultura popular em Moçambique (Lisboa: Imprensa de Ciências So‑
ciais, 2012); Carlos Serra, dir., História de Moçambique – Volume I. Parte I – Primeiras
sociedades sedentárias e impacto dos mercadores, 200/300‑1885. Parte II – Agressão imperia‑
lista, 1886‑1930 (Maputo: Livraria Universitária, Universidade Eduardo Mondlane,
2000). Também é possível perceber semelhanças nesse processo em outros espaços urba‑
nos existentes na África dominada pelo colonialismo português. Como exemplo, ver:
Andrea Marzano, “Nem todas as batalhas eram de flores: cotidiano, lazer e conflitos
sociais em Luanda”. in Esporte e lazer na África: novos olhares, org., Augusto Nascimento,
Marcelo Bittencourt, Nuno Domingos, Victor Andrade de Melo, 13‑36 (Rio de Janeiro:
7Letras, 2013).
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4 Como alguns exemplos dessas idas e vindas, ver as edições d’O Africano de 24 de janeiro
de 1917, 27 de janeiro de 1917, 14 de abril de 1917, 19 de setembro de 1917, 20 de julho
de 1918; e d’O Brado Africano de 04 de janeiro de 1919, 24 de abril de 1920, 28 de agosto
de 1920, 26 de fevereiro de 1921, 07 de maio de 1921 e 03 de setembro de 1921. WNA.
Ver, também: AHM, GG, Cx. 108.
5 Frederick Cooper e Ann L. Stoler, “Introduction. Tensions Of Empire: Colonial Control
And Visions Of Rule”, American Ethnologist, v. 16, n.º 4 (Nov., 1989): 609‑621. No original:
“the overarching tension was between what colonialism was and what colonial regimes
did, between the fact of rule and its economic and social consequences”, 616. Nessa pers‑
pectiva, ver também o esforço de análise existente no “Capítulo III: Projetos em disputa
num projeto de Estado” de Fernanda Thomaz, “Os ‘Filhos da Terra’: Discurso e Resistência
nas Relações Coloniais no Sul de Moçambique (1890‑1930)” (Dissertação de Mestrado
em História, Universidade Federal Fluminense, 2008).
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COSMOPOLITISMO ENEVOADO E A CRIAÇÃO DE UMA CIVILIZAÇÃO
6 Miguel Bandeira Jerónimo e José Pedro Monteiro, “Das ‘dificuldades de levar os Indígenas
a trabalhar’: o ‘sistema’ de trabalho nativo no Império Colonial Português”, in O Império
Colonial em Questão (sécs. XIX‑XX): Poderes, Saberes e Instituições, org. Miguel Bandeira
Jerónimo, 159‑196 (Lisboa: Edições 70, 2012), 191.
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19 Em outro momento pude analisar de maneira mais pormenorizada esses fatores, sobretudo
relacionado ao O Africano. Ver: Pereira, “Anúncios e comunicados”.
20 AHM. Fundo do Governo Geral (doravante, GG). Caixa n.º 34. Carta para Ernesto de
Vilhena, Governador do Distrito de Lourenço Marques, do representante do jornal “O
Africano”, Santos Rufino, 12 de agosto de 1911.
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21 Ainda está por ser feita uma abordagem sistemática que enfoque sua análise nos anúncios
dos jornais, fossem produzidos por africanos ou europeus, em Moçambique. Para uma
análise sobre a relação entre propaganda e racismo dentro do contexto imperial, ver: Anne
Mcclintock, “O império do sabonete – Racismo mercantil e propaganda imperial”, in Couro
Imperial. Apesar da bela analise da autora, a mesma produz uma interpretação do poder
das representações da propaganda sobre questões de raça e gênero a partir da interferência
que os anúncios de sabão tiveram enquanto circularam dentro da metrópole, não chegando
a arriscar hipóteses de como esses interferiram no mundo das colónias.
22 O Africano, 12 de agosto de 1916. WNA.
23 Dentre muitos exemplares, ver: O Africano, 27 de setembro de 1913. WNA.
24 Dentre muitos exemplares, ver: O Africano, 29 de abril de 1916. WNA.
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31 Boletim Oficial, n.º 3 – Portaria Provincial n.º 1041 de 18 de janeiro de 1919. Apud,
Fernanda do Nascimento Thomaz, “Os ‘Filhos da Terra’: Discurso e Resistência nas Rela‑
ções Coloniais no Sul de Moçambique (1890‑1930)” (Dissertação de Mestrado em His‑
tória, Universidade Federal Fluminense, 2008), 88.
32 Raúl Bernardo Honwana. Memórias (Maputo: Marimbique, 2010), 94.
33 O Africano, desde sua primeira edição em dezembro de 1908, dedicou parte de suas publi‑
cações para serem escritas ou traduzidas para o que chamou de “língua landim”. No entanto,
separar um setor específico do jornal dedicado apenas para os artigos escritos nessa língua
surgiu apenas alguns anos depois, mais especificamente em 31 de julho de 1909. Ver:
O Africano, 31 de julho de 1909. WNA. Para um exemplo de como era prática comum
traduzirem do português para o landim os textos editoriais do jornal, ver: O Africano, 5 de
setembro de 1912. WNA. Outra característica era a de traduzir do português para o “lan‑
dim” questões legislativas coloniais, “afim de tomarem conhecimento [...] os interessados”.
Ver: 24 de setembro de 1913. WNA.
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38 Henry Junod, Usos e Costumes dos Bantu. Tomo I – Vida Social (Campinas: Unicamp, Insti‑
tuto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009), 279.
39 Como explica Patrick Harries, “The gramar and orthography of a written language pro‑
vided the reader with a stable and enduring cultural marker independente of the chief; the
printed word took on the power of non‑perishable truth while at the same time providing
people, whose economic and social horizons were rapidly expanding, with a new means of
communication and expression”. In: Patrick Harries, “The Roots of Ethnicity: Discourse
and the Politics of Language Construction in South‑East Africa”, African Affairs 87, n.º
346 ( Janeiro 1988), 45.
40 Encontrei anúncios da panificação Arthur & Pinho, C. publicados pelo O Africano, prati‑
camente sem nenhuma alteração em seu conteúdo, entre os anos de 1912 e 1917.
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45 Daniel Miller, Trecos, Troços e Coisas: Estudos Antropológicos Sobre a Cultura Material (Rio
de Janeiro: Zahar, 2013), 127.
46 O Africano, 27 de setembro de 1913. WNA.
47 O Brado Africano, 26 de julho de 1919. WNA.
48 O Brado Africano, 14 de agosto de 1920. WNA. Importante salientar que, aparentemente,
nos anos analisados d’O Brado Africano existiu uma maior proliferação de anúncios em
ronga, em relação aqueles existentes n’O Africano. Nessa edição do jornal, pude encontrar
anúncios de comércios variados naquela língua.
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12. In José dos Santos Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique.
Volume III: Lourenço Marques – Aspectos da cidade, Vida Comercial, Praia da Polana, etc. (Lourenço
Marques: J. S. Rufino, 1929), 19. Legenda: “O encanto das Damas de Lourenço Marques: O Sa‑
lão Chic Ltda. Especialidade: chapéus‑modelo”. O álbum louvou a qualidade do Salão Chic
Ltda, dedicando duas páginas de seu terceiro volume ao estabelecimento comercial.
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13. Ibidem, 23. Legenda: “Interiores do Salão Chic Ltda. – Modas e Confecções”.
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14. Ibidem, 24. O Salão de Moda Fabião e Silva não mereceu o mesmo destaque. Dividiu a
fotografia de sua fachada com outro “estabelecimento de moda”. É interessante perceber que
nas fotografias do Salão Chic Ltda não aparecem pessoas. Enquanto na imagem dos “Dois
Estabelecimentos de Modas”, como é referenciado na legenda das imagens, temos pessoas que
compõem uma paisagem de cotidiano urbano, posicionadas em frente das vitrines ou caminhan‑
do pela rua. As roupas de uma mulher – aparentemente branca – com duas crianças, atravessando
a rua, assemelham‑se com as retratadas pelo anúncio do Salão de Moda Fabião e Silva que será
analisado posteriormente.
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COSMOPOLITISMO ENEVOADO E A CRIAÇÃO DE UMA CIVILIZAÇÃO
O Salão de Moda Fabião e Silva foi uma das empresas que mais
utilizou as páginas dos jornais O Africano e O Brado Africano para
fazer suas propagandas. Incorporando a escrita ronga nos seus anún‑
cios, por um lado, buscou chamar a atenção dos potenciais clientes
não leitores e não falantes da língua portuguesa, demonstrando a
importância desses como clientes na cidade de Lourenço Marques.
Por outro lado, pode‑se supor que a questão indumentária tornou
‑se, rapidamente, um local de disputa, com a promoção de diferen‑
tes formas de apropriação. Para os adeptos da ação colonial
civilizadora, a indumentária foi um indice medidor do grau de
sucesso desse projeto. Para aqueles a que eram direcionados esses
anúncios, incorporar essas roupas e tecidos na suas vidas foi uma
nova forma de participar, de acordo com seus intentos, daquele
mundo que os oprimia e que tentou tutelar suas ações.
16. In O Brado Africano, 4 de setembro de 1920. WNA. Nesse anúncio, publicado na “seção
landim”, o salão de moda Fabião & Silva fazia uma grande promoção dos seus estoques.54
54 A tradução do texto é a seguinte: “Barato! Barato! Grande promoção em todo o mês de se‑
tembro na loja Fabião & Silva! Nesta loja, a mulher, o homem e a criança entram esfarrapados
e saem aprumados e lindos a preços baixíssimos. Tudo à metade do preço! Na loja “Fabião &
Silva” pode‑se comprar: casacos para frio, casacos desportivos de lã e de algodão suíço. Rendas,
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17. O Africano, 1 de agosto de 1911 e O Brado Africano, 30 de julho de 1921. WNA. Outros
exemplos do uso de imagens nos classificados dos jornais. Esses anúncios poderiam vir acompa‑
nhados com um engrandecimento das qualidades dos produtos ofertados e os preços módicos
oferecidos por meio do português, como nos dois primeiros casos, ou do ronga, como no terceiro
caso. As invenções tecnológicas, símbolos do progresso, ganharam destaque nas páginas periódi‑
cas. O uso de ilustração facilitava a popularização desses bens materiais.
sheeta, lã, seda, blusas de algodão e crepom suíço! Rendas, várias sheetas, algodão, seda riscada
e bonita que pode confeccionar vários tipos de roupa como capulana e quimao lindo. Na
Fabião & Silva tudo está a baixo preço: Lençóis de enormes dimensões 18/6. Mantas de 22/6.
Vide a promoção na Fabião & Silva: vestidos das meninas vendem à 3/9, 5/6, 7/3 e 15/6!
Chapéus e bonés para senhoras e crianças a 2/6. 30 peças de étamine Suíço de várias cores a
3/9 cada metro. Cerca de 10.000 pares de meias de todas as cores. A Fabião e Silva tem,
inclusive, vergonha de conferir o dinheiro no ato da compra por ser tão baixo. Na Fabião &
Silva poderás adquirir mais e mais produtos a preços baixíssimos! A Fabião & Silva inicia a
promoção na segunda‑feira! A Fabião & Silva dispõe de um novo stock de lenços de cabeça
a preços baixíssimos para o cliente! Vá agora a Fabião & Silva e aproveite os preços de liqui‑
dação!”. [Agradeço o auxílio prestado por Patrício Martins na tradução]
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18. In J. & M. Lazarus. A Souvenir of Lourenço Marques. An album of views of the town (Lourenço
Marques: Tabler & Co., 1901), 28. Legenda: “Kiosks, Praça Mousinho d’Albuquerque”.
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19. In José dos Santos Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique.
Volume III, 64‑65. Legenda: “A Praça 7 de Março – no centro da cidade – com os seus quiosques
da... ‘má língua’...”. Importantes locais de sociabilidade, especialmente entre os homens brancos,
mas também entre os trabalhadores negros, fossem classificados como indígenas ou assimilados,
os quiosques foram fotografados com frequência pelas lentes daqueles que registraram Lourenço
Marques nas primeiras décadas do século XX. A praça Mouzinho de Albuquerque e a Praça
7 de Março ganharam destaque com seus quiosques. Ambas possuíam opções onde essas pessoas
poderiam beber, comer e arranjar algum divertimento. Vale a pena ressaltar a existência dos
cartazes de peças ou filmes que seriam exibidos no Teatro Varietá e buscavam atrair o público.
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70 No original: “Hi siku dya 14‑4‑917 (sábado), a “Cinema Africano”, há boniba yisanyana
ba malcriados, a m abito yabu ba nga ba: – Madisa, Wambasi ni banwanyana ba kompanyia
yabu hi nga ba tibikiki a m abito yabu – Laba ba yisanyana hati lepsi afaka be neapsú, lepsi
ba nga ba surumana ba nga nwikiki a colonial. Loko a nha bali ba kristão afa hitaku ba
popyi hi colonial etc. Lepsi ba nga yentsha psone a “Cinema Africano”, psa hi babisile psi
ba psi hi khomisa tingana, hikusa a butyongwanini byabu a ba kpkpbisiwanga tindlebe ni
ku biwa a ba biwanga, na [oloko] ba biwile a ba khatiwanga. Ke a ba malcriados laba, ba
psi kotile a kuya a “Cinema Africano” ba ya yentsha a nsela ku nwinyi wa “Cinema Afri‑
cano”, ba tshikeli ba yima a handle, kati loko ku sungula a ku humesa a hlamba yabu, ba
sungula a ku kendla a tihlanga ta nkintari a na ba yentsha pongwe dyi kulu ba sandya a
ma fita ba ku: a hi ya hombe hikusa laba ba shabiki a mathikiti be luza mali, boné b ama
boni khale a ku biha ka wone. A policia afa dyi huma dyi ba hlongolisa, a na loko dyi
nhingena a ndyeni ba tlhela ba hahlula a tinhlanga. Mbuyangwana nwinyi a kumi min‑
dyingo, a ba a hlamala a nsela ya ku yentsha hi ba “patrício”, nangweso laba ba nga ba re‑
ligião dyinwe, knmbe a na a yeantsha hi ba kristão, a na a psi kota a ku hlaya epsaku, ba
mu yeyisa hi lepsi [yen] a nga wa religião dya shi surumana. Ngopfu lepsi psi nga mu
hlamalisa hi Madisa a mukonwana wakwe, nangweso Madisa loko a djula a ku nhingena
a psi bona a nga hakelisiwi mali, hati lepsi a nsela a yentshelaka psone! Ta‑ha‑ta. K.B”.
O Africano, 28 de abril de 1917. WNA.
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ao sinal que havia feito”. A óbvia resposta dada, que teria vindo com
cordura, parece ter mexido com os brios da dama, pois a mesma
“voltando‑se para o cavalheiro que a acompanhava, e, referindo‑se
ao condutor, disse‑lhe: deixa lá esse negro, esse selvagem”. Por sua
vez, essas palavras “ocasionaram a que o condutor lhe retorquisse: a
senhora não seja malcriada”. Com isso a confusão foi instaurada.
O cavalheiro em questão passou a tentar “agredir, a soco, o condu‑
tor, o que lhe foi obstado por alguns passageiros”. Logo em seguida,
um alferes da Guarda Republicana que se encontrava nas proximi‑
dades, interviu, solicitando prudência. O que foi prontamente repe‑
lido pelo cavalheiro afirmando não ter que dar satisfações, “pois que
era um capitão de artilharia”. No final, o autor do relato afirmou
que as “inúmeras pessoas” que presenciaram o ocorrido, firacam
“favoráveis ao condutor, pela forma acertada e correta como
procedera”.71
Embates como esse nem sempre acabaram de maneira relativa‑
mente pacífica. Vide, por exemplo, um caso ocorrido em novembro
de 1920, onde o Secretário dos Negócios Indígenas reclamou com
o Comissário de Polícia sobre a postura de um motorista de “carro
elétrico” e, principalmente, de dois policiais que nada fizeram para
impedir, o espancamento de “um indígena” pelo condutor, por esse
não ter se sentado no “lugar que lhes está destinado”.72 Apesar
disso, esses ocorridos, assim como tantos outros possíveis de serem
encontrados nas fontes, não devem ser entendidos enquanto a mate‑
rialização de mundos dicotômicos que não se interferiam mutua‑
mente, mas antes como demonstrativos dos embates, mesmo que
dentro de lógicas desiguais de poder, entre campos mutuamente
dependentes.
Noutro momento, um contribuinte ativo do jornal O Africano,
que usava o pseudônimo de Nyeleti, atacou, ao mesmo tempo, a
companhia de bondes de Lourenço Marques e os “baneanes”, afir‑
mando ser um absurdo “se cobrar a mesma importância aos indíge‑
nas que são obrigados a ir de pé na plataforma traseira do carro”.
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87 Para uma análise da obra de Henry Rider Haggard, sua relação com o império britânico e
a cultura vitoriana do século XIX, ver: Anne Mcclintock, “A família branca do homem.
O discurso colonial e a reinvenção do patriarcado”, in Couro Imperial.
88 Para uma análise, mesmo que breve, das versões cinematográficas das obras do autor, ver:
Ella Shohat, “Gender and the Culture of Empire: Toward a Feminist Ethnography of the
Cinema”, Quartely Review of Film and Video, v. 13, n.º 1‑3 (1991): 45‑84.
89 O Africano, 26 de novembro de 1919. WNA.
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104 O Brado Africano, 9 de abril de 1927. Apud Zamparoni, “Entre ‘Narros’ e ‘Mulungos’”, 260.
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106 Noutro momento realizei uma abordagem da relação entre representação, repressão e lazer
encontrado na imprensa laurentina do início do século XX. Ver: Matheus Serva Pereira.
“‘Beiços a mais, miolos a menos...’: representação, repressão e lazer dos grupos africanos
subalternos nas páginas da imprensa de Lourenço Marques (1890‑1910)”, in Esporte e lazer
na África: novos olhares, org., Augusto Nascimento, Marcelo Bittencourt, Nuno Domingos,
Victor Andrade de Melo, 37‑61 (Rio de Janeiro: 7Letras, 2013).
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CAPÍTULO 4
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2 Entrevista de José Craveirinha publicada em: Patrick Chabal, Vozes moçambicanas: literatura
e nacionalidade. (Lisboa: Editora Vega, 1994), 85‑103.
3 José Craveirinha, O folclore moçambicano e as suas tendências (Maputo: Alcance Editores,
2009), 15.
4 José dos Santos Rufino, ed., Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique.
Volume III (Lourenço Marques: J. S. Rufino, 1929), III.
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5 Como afirma Valdemir Zamparoni, “a população branca [de Lourenço Marques, em 1912]
tinha crescido, desde 1894, nove vezes e meia e a população total cerca de vinte e cinco
vezes; o mercado de trabalho urbano também se ampliara e diversificara”. Zamparoni, De
Escravo a Cozinheiro, 231.
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FORÇANDO AS FRESTAS DO PODER COLONIAL
6 Ver: Jeanne Marie Penvenne, “‘Here everyone walked with fear’: the Mozambique labor
system and the workers of Lourenço Marques, 1945‑1962”, in Struggle for the city: migrant
labor, capital, and the state in urban Africa, org. Frederick Cooper, 131‑166 (Berkeley: Sage,
1983); Jeanne Marie Penvenne, African workers and colonial racism. Mozambican strategies and
struggles in Lourenço Marques, 1877‑1962 (Portsmouth: Heinemann, 1995); Patrick Harries,
Work, Culture, and Identity: Migrant Laborers in Mozambique and South Africa, c. 1860‑1910
( Jonesburgo: Witwatersrand University Press, 1994); Luís António Covane, O trabalho mi‑
gratório e a agricultura no sul de Moçambique (1920‑1992) (Maputo: Promédia, 2001). Como
demonstra o estudo realizado pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo
Mondlane, desde o início do século XX foi consolidado um sistema migratório e de forneci‑
mento de trabalhadores moçambicanos para as minas sul‑africanas. Em 1904, por exemplo,
os mineiros de origem moçambicana correspondiam a 60,2% da mão de obra das minas e,
em 1906, 65,4%. Centro de Estudos Africanos, Universidade Eduardo Mondlane. O mineiro
moçambicano: um estudo sobre a exportação de mão de obra em Inhambane (Maputo: Centro de
Estudos Africanos, Universidade Eduardo Mondlane, 1998 [1.ª ed. 1977]), 35.
7 Nuno Domingos, “Cultura popular urbana e configurações imperiais”, in O Império Colonial
em Questão (sécs. XIX‑XX): Poderes, Saberes e Instituições, org. Miguel Bandeira Jerónimo,
389‑422 (Lisboa: Edições 70, 2012); Jeanne Marie Penvenne, “Labor struggles at the port
of Lourenço Marques, 1900‑1933”, Review (Fernand Braudel Center), v. 8, n.º 2 (Outono,
1984): 249‑285.
8 Omar Ribeiro Thomaz, Ecos do Atlântico Sul: representações sobre o terceiro império português
(Rio de Janeiro: Editora UFRJ/FAPESP, 2002), 19.
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10 Para uma análise da cidade de Lourenço Marques como modelo de propagação da civili‑
zação, ver: Silva, “Fotografando o Mundo Colonial Africano. Moçambique, 1929”.
11 A bibliografia sobre agenciabilidade africana em contextos coloniais, a partir de uma pers‑
pectiva da História Social, possui uma série de reflexões que não cabem nesse livro. Para
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UM “MEMBRUDO NEGRALHÃO”
balanços sobre essa questão, ver: Isaacman e Isaacman, “Resistance and Collaboration in
Southern and Central Africa, c. 1850‑1920”; Ibhawoh e Whitfield, “Problems, Perspecti‑
ves, and Paradigms: Colonial Africanist Historiography and the Question of Audience”;
Cooper, “Conflito e conexão: repensando a História Colonial da África”.
12 O Africano, 22 de dezembro de 1911. WNA.
13 Esse é um processo amplo e recorrente nos contextos das ações coloniais europeias na
África. Ele pode ser apreendido em diferentes posturas dos órgãos coloniais que agiram
de forma repressiva sob práticas socioculturais de forma a suprimi‑las. O Diretor dos
Serviços dos Negócios Indígenas, em circular confidencial enviada para os administradores
das circunscrições de Lourenço Marques, Inhambane, Quelimane, Tete e Moçambique,
instruiu “no sentido de fazer cessar tão rapidamente quanto possível, o uso de tatuagens e
mutilações, a que se entregam os indígenas”. Previa‑se não causar grandes estardalhaços
com essa medida. Para isso, a “ação repressora” deveria “cair somente sobre os indígenas
que mediante remunerações diversas, se entregam a essas práticas, sob pena de serem se‑
veramente castigados”. Circular confidencial do Diretor dos Negócios Indígenas solicitando a
repressão das práticas de tatuagem, 25 de fevereiro de 1928. AHM. DSNI. Caixa n.º 37.
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14 Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume III, III.
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20. Na primeira fotografia estão condutores de rickshaw nos trajes obrigatórios estabelecidos pelo
regulamento. A segunda fotografia foi posicionada pelo produtor do documento estrategicamente
para contrastar com a primeira. Nessa, dois passageiros – aparentemente brancos – sobem num
autocarro. A legenda tentava reforçar um processo de modernização civilizacional que ocorria em
Lourenço Marques, afirmando que o rickshaw seria um “característico meio de condução de que
o público já pouco se serve”.28 A afirmação condiz mais com um desejo daquele produtor da fonte,
do que a uma realidade concreta de inibição de formas de transporte que não estariam condizentes
com o que era entendido enquanto uma cidade moderna. Versões modernas de rickshaw, os
chamados “tuc‑tuc”, permanecem como importantes formas de transporte pela cidade.
28 José Santos Rufino, Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume III, 62.
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40 AHM. FACLM. Caixa n.º 2010. Carta do Centro Republicano “Couceiro da Costa” ao
Governador Geral da Província de Moçambique. Lourenço Marques, 27 de fevereiro de
1912.
41 O Africano, 15 de março de 1912. WNA.
42 AHM. FACLM. Caixa n.º 2010. Carta do Diretor do Porto e dos Caminhos de Ferro de
Lourenço Marques para o Administrador do Concelho de Lourenço Marques, 18 de março
de 1912.
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43 AHM, DSNI, Caixa n.º 225. Carta dos agentes da WNLA ao Intendente dos Negócios
Indígenas e de Emigração, 11 de março de 1912; e resposta do Intendente dos Negócios
Indígenas e de Emigração aos agentes da WNLA, 14 de março de 1912.
44 O Africano, 14 de novembro de 1912. WNA.
45 A política do indigenato foi um termo cunhado para designar as políticas portuguesas
direcionadas especificamente para as populações africanas que se encontravam sob o do‑
mínio colonial português. De maneira geral, estava relacionada as formas de exploração da
mão de obra local dentro de lógicas racialistas e racistas promulgadas pelos colonialismos
europeus na África. Ao mesmo tempo, estabeleceram, ao longo do século XX e por meio
de diferentes corpos legislativos, as distinções classificatórias jurídicas de acesso as formas
hierarquizantes de cidadania portuguesa, relacionando direitos políticos as práticas sociais
e culturais. Nesse sentido, estipulou as categorias de “indígena” e “assimilado” como forma
de determinar a incorporação das populações africanas ao projeto civilizacional colonial.
Sobre o processo de conversão de “usos e costumes” em políticas de segregação racial co‑
lonial, ver: Lorenzo Macagno, “O discurso colonial e a fabricação dos usos e costumes:
António Enes e a geração de 1895”, in Moçambique e ensaios, org. Peter Fry, 61‑90. (Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2001). Para uma problematização sobre as continuidades e o legado
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MATHEUS SERVA PEREIRA
do indigenato mesmo após a sua extinção, em 1961, ver: Bridget O’Laughlin, “Class and
the customary: the ambiguous legacy of the indigenato in Mozambique”, African Affairs,
n.º 99, (2000), 5‑42. Para uma análise comparativa entre as formas de exploração do tra‑
balhador nativo nas coloniais inglesas e francesas e sua relação com formas de trabalho
forçado, ver: Alexander Keese, “Slow abolition within the colonial mind: British and french
debates about ‘vagrancy’, ‘african laziness’, and forced labour in West central and South
central Africa, 1945‑1965”, IRSH, n.º 59 (2014): 377‑407.
46 AHM, GG, Caixa n.º 102.
47 Zimba, “O papel da mulher no consumo de tecido importado no norte e no sul de Mo‑
çambique...”, 27.
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21. In José dos Santos Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique.
Volume X, 55. As bandas organizadas por missões religiosas era um fenômeno comum em todo
o território de Moçambique. “A Banda da Missão de Angoche”, do Distrito de Moçambique,
no norte, foi retratada em 1929. Os jovens que compunham a banda aparecem descalços na
imagem.
50 AHM. DSNI. Caixa n.º 29. Carta da Administração da 6.ª Circunscrição de Lourenço
Marques, Macia, 3 de outubro de 1909, para o Secretário dos Negócios Indígenas.
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51 AHM. DSNI. Caixa n.º 29. Carta do Diretor do Círculo Aduaneiro para o Intendente da
Emigração, 19 de junho de 1909.
52 AHM. DSNI. Caixa n.º 29. Carta do Fiscal de Emigração em Ressano Garcia para o
Intendente da Emigração em Lourenço Marques, 12 de janeiro de 1909.
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53 A respeito dos homens que participaram militarmente na derrocada dos reinos do sul de
Moçambique e, posteriormente, ocuparam cargos como administradores e governadores
na incipiente máquina colonial, ver: Macagno, “O discurso colonial e a fabricação dos usos
e costumes”.
54 A. Freire D’andrade, Relatórios sobre Moçambique por Freire D’Andrade (Lourenço Marques:
Imprensa Nacional, 1907), 232.
55 A partir de inquéritos realizados nos anos 1970, com agregados familiares que há muitas
gerações participavam desses processos migratórios, o Centro de Estudos Africanos da
Universidade Eduardo Mondlane afirma categoricamente “a importância dos proventos
do trabalho nas minas para a compra de bens”. In: Centro de Estudos Africanos, Univer‑
sidade Eduardo Mondlane, O mineiro moçambicano, 141.
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21 Panos de algodão
2 Carros de linha 2 Colchas 3 Xales de lã Manilhas
branco
8 Peças e meia de
18 panos de algodão 1 Cinto 1 Maço de envelopes 1 Escova
pano
7 Frascos de
1 Cobertor de lã 2 Pares de polainas 6 Sabonetes 1 Xale de algodão
perfumes
1 Pano de algodão
6 Carros de linha 2 Chávenas 2 Cachimbos 3 Panos de mesa
branco
3 Colheres 2 Camisas
1 Mala 1 Mala
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2 Grossas de
7 Camisolas 2 Facas de mato 4 Canivetes 2 Quilos de sabão
ferrador
2 Camisolas de lã 1 Colcha
1 Mala
56 A. Freire D’andrade, Relatórios sobre Moçambique por Freire D’Andrade. (Lourenço Marques:
Imprensa Nacional, 1907), 229‑232.
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61 AHM, DSNI, Caixa n.º 7, Portaria de N.º 1.075, de 26 de julho de 1913. A mesma foi
publicada no Boletim Oficial de Moçambique, n.º 31 / 1913.
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64 AHM. FACLM. Caixa n.º 2010. Foram diversas as necessidades de alterações ou reforços
de ordens que haviam sido criadas, mas nunca postas em vigor. Outro exemplo, para além
daquele que obrigava o uso de calças, era o do emprego de “mulheres indígenas” nas can‑
tinas. Primeiramente, em 1903, permitiram, mas com a condição de que todas fossem
registradas na administração municipal. Depois, em 1904, proibiram. No entanto, elas
continuaram existindo. Em 1911 e em 1913, foram, através de nova legislação, proibidas
novamente. Apesar disso, em anos subsequentes continua sendo possível encontrar refe‑
rência a existência de trabalhadoras indígenas das cantinas. Ver, como exemplo de docu‑
mentação produzida ao longo desse processo: AHM. FACLM. Caixa n.º 3245.
65 AHM. FACLM. Caixa n.º 2010.
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69 AHM, DSNI, Caixa n.º 1605, Carta do Comissário de Polícia Civil de Lourenço Marques
ao Secretário dos Negócios Indígenas, 23 de março de 1920.
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70 No original: “the Chopi people of Zavala circumscription became the preferred workers
for sanitation”. In: Penvenne, African workers and colonial racism, 52‑53.
71 Carta do Governador Geral Interino para o Ministro da Marinha e Colônias, 11 de março de
1911. AHM, Governo Geral (doravante GG), Processos, 1908‑1914, Caixa 19.
72 Fernanda Thomaz, “Casaco que se Despe pelas Costas: A Formação da Justiça Colonial e
a (Re)ação dos Africanos no Norte de Moçambique, 1894‑c.1940” (Tese de Doutorado
em História Social, Universidade Federal Fluminense, 2012), 59.
73 Ver: Cristina Nogueira da Silva, “‘Missão civilizacional’ e codificação de usos na doutrina
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colonial portuguesa (século XIX‑XX)”, Quaderni Fiorentini per la Storia del Pensiero Giuri‑
dico Moderno, n.º 33‑34, (2004‑2005): 899‑921.
74 Segundo Fernanda Thomaz, durante o regime colonial do século XX, os milandos sofreram
uma adaptação, passando a incidir “somente nos assuntos ligados às questões civis das
sociedades ‘africanas’. Pequenos furtos, ou danos, contratos diversos, adultério ou rapto,
divórcios, entre outras, eram objetos de milandos. Homicídio, envenenamento e as demais
ações consideradas como crime pelos portugueses não estavam incluídos nesse termo. Deste
modo, o termo milando foi sendo atribuído às querelas existentes entre os ‘africanos’ que
estavam ligadas ao direito civil”. Thomaz, “Casaco que se Despe pelas Costas”, 62.
75 Ver: “Estatuto Político, Civil, Criminal dos Indígenas. Decreto n.º 16.473, de 6 de fevereiro de
1929”. In: Ministério das Colónias. Lisboa: Imprensa Nacional, 1929. Para exemplos de pesquisas
recentes que tem demonstrado a riqueza do uso da documentação judicial para se estudar o
passado colonial europeu em África, ver: Carol Dickerman, “The Use of Court Records as
Sources for African History: Some Examples from Bujumbura, Burundi”, African Studies
Association, vol. 11 (1984): 69‑81; Carol Dickerman, “African Courts Under the Colonial Re‑
gime: Usumbura, Ruanda‑Urundi, 1938‑62”, Canadian Journal of African Studies, vol. 26, n.º 1
(1992): 55‑69; Richard Roberts, “Text and Testimony in the Tribunal de Première Instance,
Dakar, during the Early Twentieth Century”, The Journal of African History, vol. 31, n.º 3 (1990).
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em “alto grau a consciência dos seus direitos e dos seus deveres”, expondo “sem rebuço, e
com o maior desassombro as suas necessidades”, chegando a fazerem queixas contra o
administrador da circunscrição. In: AHM, DSNI, Diversos, caixa 91.
78 AHM, DSNI, Tribunais indígenas, Caixa 1609, Auto de notícia n.º 1238: testemunho da
Indígena de nome Maria ou [Bisse], 18 de setembro de 1929.
79 AHM, DSNI, Tribunais indígenas, Caixa 1609, Relatório de averiguações referente ao
auto de notícia n.º 1238, 18 de setembro de 1929.
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borrada ou mal grafada. Porém, talvez essa não seja uma simples carac‑
terística referente as deficiências de armazenamento do documento.
O produtor daqueles registros pode ter tido dificuldades em transpor
para o papel um nome não‑europeu e que remetia para uma origem
de Maria ou [Bisse] afastado do mundo urbano.82 Diferentemente,
seus filhos parecem ser originários da cidade ou, ao menos, moradores
nela havia algum tempo. Essa hipótese é admissível por conta de
Alfredo Vilhena e Rosa, assim como Fernando Lidoi, serem sempre
nomeados com alcunhas europeizadas, enquanto que Maria aparece,
ao longo de todo o processo, referenciada com dois nomes. Tal carac‑
terística remete a mãe para uma presença passada em alguma locali‑
dade que não aquela urbanizada de Lourenço Marques.
O acionamento dessas diferentes instituições para a resolução
de conflitos apresentou uma preocupação daqueles que as acionava
que foi além da necessidade de se manterem fieis a determinadas
estruturas que pudessem gerir modelarmente suas ações. O ocorrido
demonstra como relações locais estabelecidas consuetudinaria‑
mente se imbricaram com instituições coloniais de maneiras múl‑
tiplas e complexas. Ao buscarem todos os meios possíveis para
resolverem seus infortúnios, o que era facilitado quando se estava
em Lourenço Marques, os envolvidos apresentaram um imbricado
acionamento de expectativas e experiências produzidas pelas inter‑
seções que uma vivência cotidiana na cidade possibilitou. Não con‑
segui saber se Maria e seu filho foram primeiramente procurar
qualquer “autoridade cafreal” No Arquivo Histórico de Moçambi‑
que pude encontrar alguns casos ocorridos em regiões rurais onde
as “autoridades cafreais” foram as primeiras a ouvirem os reclames
e a buscarem solucionar as queixas, ao invés da polícia ou da Secre‑
taria dos Negócios Indígenas. Muitas vezes esses casos só foram
registrados porque aqueles que foram julgados pelas “autoridades
cafreais” se sentiram prejudicados, indo procurar outros mecanis‑
mos de resolução de conflitos, como aqueles criados pela ação colo‑
nial portuguesa. Em outros momentos, foi a administração colonial
82 O uso de mais de um nome como mecanismo de resistência ao controle colonial sob as vidas
indígenas, sobretudo no ambiente urbano, será explorado no próximo tópico do capítulo.
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83 Para exemplos desses casos, ver: AHM, DSNI, Transgressões – Prisões, caixa 83 ou AHM,
DSNI, Tribunais Indígenas, caixa 1630.
84 Uma leitura dos jornais de Lourenço Marques do início do século XX mostra como a polícia,
dentro do espaço urbano, não agia apenas na repressão dos chamados indígenas. A grande
presença desses na cidade e as incertezas ocorridas com as transformações coloniais fizeram
com que a polícia assumisse predicados atribuídos anteriormente as “autoridades cafreais”.
Como exemplo, ver: O Imparcial, 16 de novembro de 1922. BNP.
85 Para alguns exemplos de bibliografia sobre o lobolo no sul de Moçambique e o debate em torno
de sua definição, ver: Paulo Granjo, Lobolo em Maputo: um velho idioma para novas vivências
conjugais (Porto: Edições Afrontamento, 2006). Ver, também: Brigitte Bagnol, “Lovolo e es‑
píritos no Sul de Moçambique”, Análise Social, vol. XLIII (2.º), (2008): 251‑272.
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86 Guilherme Afonso Mussane, “A Kuna n’Kinga: Lobolo como Foco das Representações
Locais de Mudança Social” (Dissertação de mestrado, Programa de Pós‑Graduação em
Sociologia e Antropologia IFCS‑UFRJ, 2009).
87 Junod, Usos e Costumes dos Bantu, 126 e apêndices VIII e IX.
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92 Carta de Chonguelassaba, escrita por Palmeira da Conceição, para o Secretário dos Negócios
Indígenas, de 17 de junho de 1915. AHM, DSNI, Tribunais indígenas, caixa 1603.
93 A descrição realizada por Freire de Andrade sobre o funcionamento do processo de angaria‑
mento da mão de obra local é bastante semelhante a formas de utilização dos escravos de
ganho das cidades brasileiras do século XIX. Como afirmou, “o chibalo era a regra geralmente
seguida em Lourenço Marques; explicando em que consistia, direi que qualquer indivíduo que
desejava obter pretos para o trabalho, se dirigia ao Governo, que ordenava a um dos chefes de
circunscrição para os fornecer, pelo período de seis meses e ao preço, em regra, de 300 réis por
dia de trabalho; esse indivíduo, ou empregava ele mesmo os indígenas, ou os negociava, isto é,
alugava‑os a um certo preço por dia, além de um prêmio por cabeça; e o pagamento era lhe
feito a ele, que pagava aos indígenas no fim do seu período de trabalho”. A. Freire D’Andrade,
Relatórios sobre Moçambique por Freire D’Andrade. Vol. II (Lourenço Marques: Imprensa Na‑
cional, 1907), 10. Sobre os escravos de ganho no Brasil, ver: João José Reis, “De olho no canto:
trabalho de rua na Bahia na véspera da Abolição,” Afro‑Ásia, n.º 24 (2000): 199‑242.
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96 Carta do Fiscal de Emigração em Ressano Garcia para o Secretário dos Negócios Indígenas, em
7 de dezembro de 1920. In: AHM, DSNI, Tribunais indígenas, caixa n.º 1605.
97 AHM, GG, Polícia – 1908‑1914, caixa n.º 19.
98 AHM, DSNI, Tribunais Indígenas, caixa n.º 1634.
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22. In AHM, GG, Polícia – 1908‑1914, caixa n.º 19. Variadas foram as formas empregadas para
a adulteração dos bilhetes/tickets com o objetivo de escapar da obrigatoriedade do trabalho. Esse
bilhete encontra‑se anexado ao processo referente a reclamação de cantineiros, feita ao Gover‑
nador Geral, contra as rusgas policiais. Em resposta, o comissário de polícia apresentou seus
pontos que corroborariam a importância desse procedimento, juntando essa “etiqueta [...], na
qual se vem raspadas e emendadas as datas em que principiou e acabou a semana, já marcada até
sábado”. Na lateral da etiqueta, provavelmente anotado pelo comissário de polícia, encontra‑se
escrito: “A data foi emendada, como se vê. Este ticket era para a semana de 14 a 21; e foi emen‑
dada para a data de 19 a 27. A rusga foi feita em 26 (6.ª feira) e o ticket estava em posse do
portador [ilegível]”. Estranhamente, atrás do documento, encontra‑se um carimbo dos Caminhos
de Ferro de Lourenço Marques com a data de 19 de novembro de 1909. Sendo assim, por um
lado, é possível supor que Antônio, o empregado dono daquela etiqueta, não tenha necessaria‑
mente a adulterado, apenas reutilizando o mesmo documento para a semana seguinte do seu
primeiro período de contrato. Por outro lado, talvez o nível de adulteração para escapar das garras
policiais, ávidas em responder as demandas pelo fornecimento de mão de obra barata, tenha
atingido níveis mais elevados de refinamento, chegando a falsificação também de carimbos.
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101 Ver: Allen F Isaacman, The tradition of resistance in Mozambique: anticolonial activity in the
Zambezi Valley, 1850‑1921 (Berkeley: Heinemann Educational Publishers, 1976); Fred‑
erick Cooper, Allen Isaacman, Florencia Mallon, William Roseberry, Steve J. Stern, ed.,
Confronting Historical Paradigms: peasants, labor, and capitalist world system in Africa and
Latin America (Madison: University of Wisconsin Press, 1993).
102 A exceção são os ataques que a cidade sofreu em 1894 e a tentativa de greve dos trabalha‑
dores do porto e dos caminhos de ferro classificados como indígenas. O primeiro evento
ocorreu antes da consolidação da presença portuguesa na região e pode ser considerada
como mais um dos catalizadores para o esforço militar português contrário ao Reino de
Gaza e sua liderança, Gungunhana. O segundo caso, mencionado anteriormente e pesqui‑
sado por Jeanne Penvenne, foi rapidamente suprimido pela polícia e pela Secretaria dos
Negócios Indígenas. Sobre o primeiro caso, ver: Gabriela Aparecida dos Santos, Reino de
Gaza: o desafio português na ocupação do sul de Moçambique (1821‑1897) (São Paulo: Ala‑
meda, 2010).
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103 AHM, DSNI, Diversos, caixa 103. Carta do Comissário de Polícia de Lourenço Marques
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106 AHM, DSNI, Diversos, caixa 103. Petição de Victória Antónia Rodrigues Gil dirigida ao
Secretário dos Negócios Indígenas, 23 de outubro de 1915. Apesar de suas conclusões
tenderem para uma naturalização das relações socioculturais e que, marcadamente, excluem
relações de conflito, a obra de Capela continua pioneira e fundamental para compreender
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a Zambézia e a sua importância enquanto local de formação de uma cultura híbrida entre
práticas africanas e portuguesas, elemento que pode justificar a própria existência de um
batuque durante um batizado. Ver: José Capela, Moçambique pela sua história (Porto: Humus /
/ Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, 2010).
107 Guilherme de Azevedo, “Relatório sobre os trabalhos do recenseamento da população de
Lourenço Marques e Subúrbios, referido ao dia 01 de dezembro de 1912”, Boletim Oficial,
suplemento, 177‑193. Segundo Zamparoni, que produziu um levantamento detalhado das
instituições de ensino existentes em Lourenço Marques e seus arredores, assim como a
respeito das legislações que regularam o ensino em Moçambique durante as quatro primei‑
ras décadas do século XX, apesar da existência, em 1907, de um número elevado de alunos
negros, “o ensino ministrado era extremamente incipiente” e o “domínio do saber letrado
[...] era inversamente proporcional à cor da pele e à importância numérica do segmento
racial na sociedade”. In: Zamparoni, “Entre “Narros” e “Mulungos”...”, 423 e 461.
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109 AHM, DSNI, Caixa n.º 1634, Auto de notícia prestado pela Senhora D. Ana Salbany
Simões Duarte, em 26 de setembro de 1928.
110 AHM, DSNI, Caixa n.º 1634, Auto de Declaração prestado por Raul Augusto da Silva
Guardado no dia 26 de setembro de 1928.
111 AHM, DSNI, Caixa n.º 1634, Auto de Declaração prestado por Francisco António Vargas
Maldonado no dia 26 de setembro de 1928.
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112 AHM, DSNI, Caixa n.º 1634, Telegrama do Fiscal de Transporte de Xinavane para a
Direção dos Serviços e Negócios Indígenas no dia 27 de setembro de 1928.
113 AHM, DSNI, Caixa n.º 1634, “Assunto: Deportação de Indígenas”, de 28 de setembro de
1928.
114 A deportação como forma de controle da insubordinação das populações nativas foi uma
política recorrente da administração colonial portuguesa. É possível encontrar diversos
casos que tiveram essa mesma resolução. Ver: AHM, DSNI, Curadoria e Negócios Indí‑
genas, caixas n.º 573 e 602; AHM, DSNI, Tribunais indígenas, caixa n.º 1632; AHM,
DSNI, Transgressões e prisões, caixa n.º 83.
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115 Francisco Xavier Ferrão de Castello Branco, “Relatório precedendo a proposta de regula‑
mentação do trabalho indígena, apresentada ao conselho do Governo”, in Província de
Moçambique. Relatórios e Informações. Anexos ao Boletim Oficial. 1908‑09 (Lourenço Mar‑
ques: Imprensa Nacional, 1909).
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116 Ayres d’Ornellas, Raças e línguas indígenas em Moçambique. Memória apresentada ao Con‑
gresso Colonial Nacional (Lisboa: A Liberal – Oficina Tipográfica, 1901), 48; Fernando de
Castro Pires Lima, Contribuição para o Estudo do Folclore de Moçambique (Porto: Separata
da revista de etnografia n.º 14. Museu de Etnografia e História, 1934), 14; J. R. dos Santos
Júnior, A alma do indígena através da etnografia de Moçambique (Lisboa: Instituto de An‑
tropologia da Universidade do Porto, 1950), 15; António Augusto Pereira Cabral, Raças,
usos e costumes dos indígenas da Província de Moçambique (Lourenço Marques: Imprensa
Nacional, 1925), 36; Henry Junod, Usos e costumes dos Bantu. Tomo I – Vida social (Campinas:
Unicamp, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009), 73 e 109.
117 Jeanne Marie Penvenne, “Seeking the factory for women: Mozambican urbanization in
the late colonial era”, in Journal of Urban History, vol. 23, n.º 3, (1997), 343. No original:
“only local womem of peri‑urban lineages, who farmed under the authority of a socially
appropriate male, could fit the idealized patriarcal social model articulated by senior males
and partially codified in colonial ‘native’ law” [tradução livre]. Para um balanço sobre
questões de gênero nos estudos africanistas, ver: Catherine M Cole, Takyiwaa Manuh,
Stephan F. Miescher, Africa after gender? (Bloomington and Indianapolis: Indiana Univer‑
sity Press, 2007). Ou, Kathleen Sheldon, “Writing about women: approaches to a gendered
perspective in African History”, Writing African History, ed. John Edward Phlips, 465‑490
(Rochester, NY: University of Rochester Press, 2005).
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118 AHM, DSNI, Caixa 1609. Carta do Administrador de Bela Vista para o Senhor Diretor
dos Serviços e Negócios Indígenas, 19 de outubro de 1929.
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Gráfico baseado em: AHM, DSNI, Caixa 64, Mapas estatísticos dos Distritos de Loureço
Marques e Gaza enviados pelo Secretário Geral para o Intendente da Emigração, em 16 de
maio de 1907. O total de palhotas contabilizadas foi de 29.062 e o de adultos 28.403.
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125 Outras cidades africanas passaram por processos semelhantes ao de Lourenço Marques
nesse período, inclusive quando pensamos sobre a própria atividade laboral dessas mulheres
e das dificuldades que enfrentaram. Um desses casos foi analisado em: Luise White, “A
colonial state and an African petty bourgeoisie: prostitution, property, and class struggle
in Nairobi, 1936‑1940”, in Struggle for the city: migrant labor, capital, and the State in urban
Africa, ed. Frederick Cooper, 167‑194 (Beverly Hills, California: SAGE Publications,
1983).
126 Jeanne Marie Penvenne, Women, migration & the cashew economy in Southern Mozambique:
1945‑1975 (Oxford: James Currey, 2015).
127 Zamparoni, “Entre ‘Narros’ e ‘Mulungos’”, 282.
128 Kathleen Sheldon, “Markets and Gardens: placing women in the history of urban Mo‑
zambique”, Canadian Journal of African Studies, vol. 37, n.º 2/3 (2003): 358‑395.
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23. In Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume X, 7. Na le‑
genda: “‘Makalala!’ As pretas que vendem carvão”.
24. In Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume X, 9. Na le‑
genda: “Tipos de serviçais ‘Landins’. Ao centro: Vendedeiras de Lenha”. A fotografia do meio
retrata as mulheres que se dedicavam a venda de produtos fundamentais para a vivência cotidiana
naquela Lourenço Marques do início do século XIX. A fotografia da direita, por seu turno, parece
ser um exemplo das mulheres de tenra idade que, como apresentarei adiante, arriscaram‑se como
“serviçais domésticas”.
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25. In Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume X, 11. Na
legenda: “Vendedeiras de Ananázes e Mangas”. Nas fotografias dessas trabalhadoras e traba‑
lhadores é importante notar como seus pés aparecem, sempre que é possível ver, descalços. Como
apresentado nesse capítulo, o vestir‑se de determinada maneira ou estar‑se calçado foram im‑
portantes distintores do grau civilizacional da população e, consequentemente, da maneira como
foram inseridos em lógicas de exploração de sua força de trabalho.
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129 AHM, DSNI, Tribunais Indígenas, caixa n.º 1603. Ver, também: AHM, DSNI, Diversos,
caixa n.º 29.
130 AHM, DSNI, Requerimentos, petições, reclamações e queixas, caixa n.º 148.
131 AHM, DSNI, Requerimentos, petições, reclamações e queixas, caixa n.º 149.
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26. In J. & M. Lazarus. A Souvenir of Lourenço Marques. An album of views of the town. (Lourenço
Marques: Tabler & Co., 1901), 43. Legenda: “Um grupo de mulheres cafres de Delagoa Bay”
[original: “A group of Delagoa Bay Kafir Women”]. Nessa imagem, possivelmente tirada nos
subúrbios da cidade, é plausível supor que estamos diante de mulheres muito semelhantes
àquelas registradas como serviçais em cantinas entre 1903 e 1905. Muitas delas estão vestidas
com o “quimáu” e com capulanas enroladas ao redor do corpo. Outras usam indumentárias,
como um lenço na cabeça, colares e brincos. Ainda estão sentadas, no canto inferior esquerdo,
duas meninas com vestidos e lenços cobrindo as cabeças, o que pode significar que frequentavam
alguma escola missionária. Perto delas, mais a esquerdo, está um homem negro com a coroa de
cera descrita por Henri Junod como um costume em vias de extinção, tendo, ao seu lado, outro
usando um chapéu coco. Além desses dois, estão posicionados em pé, no meio das mulheres,
dois homens brancos.
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CAPÍTULO 5
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ENTRE O SUBSÍDIO E A SUBVERSÃO
marcado pelo conjunto dos sons destas e dos bombos”, duas fileiras
de dançarinos realizaram “uns movimentos cadenciados e com
muita precisão”. Depois, dois outros grupos “executaram [...] dife‑
rentes números de dança”. Seus passos acompanhavam a música,
auxiliando‑a com “violentas pancadas dadas com a perna direita a
cujos tornozelos traziam presos grandes números de bogathos”. Ape‑
sar de empregar adjetivos valorativos da capacidade dos músicos e
dançarinos, o autor dos relatos buscou explicar que aquelas práticas
não eram, necessariamente, novidades para si ou para seus leitores.
Afinal, mesmo ficando impressionado, o “espetáculo curiosíssimo
[...] [era] para nós já conhecido”.3
O relato do jornal apresenta os “5.000 negros”, as dançarinas
de Manhiça e os membros da orquestra de “dança dos m’chopes”,
como perfeitos representantes das populações nativas cooptadas pela
administração colonial. Ordeiros, trabalhadores, mas permanecendo
“exóticos” e, portanto, dependentes de agentes tutelares, represen‑
tavam o ideal almejado pela administração colonial. A ênfase dos
relatos publicados sobre aquela celebração recaiu na capacidade por‑
tuguesa em promover o controle e o ordenamento dessas populações
superficialmente delineadas na descrição do “grande batuque”. Efe‑
tivamente, a localização de Manhiça promoveu novas experiências
e, consequentemente, transformações em diferentes práticas socio‑
culturais locais. As coações desenvolvidas pela empreitada colonial
portuguesa tentaram empurrar esses grupos para lógicas da venda
de sua força de trabalho dentro de mecanismos exploratórios criados
pelo próprio colonialismo. Como consequência, ocasionaram, prin‑
cipalmente, fortes pressões migratórias para o meio urbano lauren‑
tino e para as minas da África do Sul.4
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Mapa 2. “Map of South Eastern Africa”, publicado em Hugh Tracey, Chopi Musicians. Their
Music, Poetry, and Instruments (Londres: Oxford University Press, 1970), sem página. Manhiça
e Zavala, assinaladas no mapa, são regiões que aparecem nas fontes como locais da proliferação
de práticas musicais e dançantes que dialogaram com o poder colonial português. Manhiça, nas
proximidades de Lourenço Marques, era uma região importante por estar localizada na fronteira
entre os grupos denominados como shangana e chopi.
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ENTRE O SUBSÍDIO E A SUBVERSÃO
7 Terence O. Ranger, Dance and Society in Eastern Africa. 1890‑1970. The Beni Ngoma (Los
Angeles: University of California Press, 1975), 12‑13. No original: “Missionaries in the
1880’s had few doubts of the civilizing and disciplining value of music. […] For the mis‑
sionaries European music represented a world of order in contrast to the inexplicable
monotonies and sudden passions of African drumming; musical ability was taken as a sign,
a promise of potential for civilization” [tradução livre].
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8 Robert H. Lowie, Primitive society (New York: Boni and Liveright, 1920), 100. No original:
“the relationship has a more serious function. A man’s jokers are also his moral censors”
[tradução livre].
9 Édison Gastaldo, “As relações jocosas futebolísticas. Futebol, sociabilidade e conflito no
Brasil”, in MANA, n.º 16 (2) (2010): 311‑325.
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ENTRE O SUBSÍDIO E A SUBVERSÃO
10 Tracey, Chopi Musicians, 3. No original: “to express its feelings or voice its protests against
the rub of the times” [tradução livre].
11 Max Gluckman, Rituals of Rebellion in South East Africa (The Frazer Lecture, 1952) (Man‑
chester: Manchester University Press, 1953); e J. Clyde Mitchell, “A dança kalela: aspectos
das relações sociais entre africanos urbanizados na Rodésia do Norte”, in Antropologia das
sociedades contemporâneas: métodos, org. Bela Feldman‑Bianco, 237‑264 (São Paulo: Editora
UNESP, 2010). Texto publicado pela primeira vez em 1956.
12 Ranger, Dance and Society in Eastern Africa.
13 Leroy Vail e Landeg White, “Maps of experience. Songs and Poetry in Southern Africa”,
Power and the Praise Poem. Southern African Voices in History, 40‑83 (Charlottesville: Uni‑
versity Press of Virginia, 1991), 50. No original: “treating the lyrics as merely modern
versions of ‘joking relationships’” [tradução livre].
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14 Leroy Vail e Landeg White, “Plantation protest. The History of a Mozambican song”, in
Readings in African Popular Culture, ed. Karin Barber, 54‑62 (London: The International
African Institute School of Oriental & African Studies, 1997), 54 [tradução livre].
15 Vail e White, “Maps of experience. Songs and Poetry in Southern Africa”.
16 Alpheus Manghezi, Massacane: uma cooperativa de mulheres velhas no sul de Moçambique
(Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique, 2003).
17 Alpheus Manghezi, Guijá, Província de Gaza 1895‑1977: trabalho forçado, cultura obriga‑
tória do algodão, o Colonato do Limpopo e reassentamento pós‑independência. Entrevistas e
canções recolhidas 1979‑1981 (Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique, 2003), 4. Al‑
pheus Manghezi também recolheu canções que protestavam contra as políticas implemen‑
tadas no contexto pós‑colonial. Um exemplo disso seria a canção “Tsutsumani Ngopfu
(Corram, Rápido!)”. Porém, na década de 1980, quando a pesquisa foi realizada, o autor
tendeu a evitar análises das letras dessas canções.
301
ENTRE O SUBSÍDIO E A SUBVERSÃO
18 Sopa, A Alegria é Uma Coisa Rara; Rui Laranjeira, A Marrabenta – sua evolução e estilização,
1950 – 2002 (Maputo: Minerva Print, 2014); Eléusio dos Prazeres Viegas Filipe, “A in‑
venção de uma sociedade lusotropical na era da descolonização em África: música e espaços
culturais em Lourenço Marques entre 1960‑1974”; Eléusio dos Prazeres Viegas Filipe,
“Where Are the Mozambican Musicians?”
19 Domingos, “Cultura popular urbana e configurações imperiais”.
20 Craveirinha, O folclore moçambicano e as suas tendências.
302
MATHEUS SERVA PEREIRA
SUBSÍDIOS
21 Frederick Cooper considera “o colonialismo [...] um processo instável e incerto, ora ado‑
tando estratégias de incorporação das populações num império, ora privilegiando estraté‑
gias que visavam instituir a diferenciação e a subordinação da população conquistada”. Essa
definição nos permite compreender o poder colonial e, sobretudo, as relações entre esse
poder e as populações africanas, não como um poder totalizante. São nesses processos
cambiantes de incorporação e subordinação que as populações dominadas buscaram en‑
contrar brechas no jogo, hierarquicamente desigual e perigoso, da colonização. In: Frederick
Cooper, “Descolonização e cidadania – a África entre os impérios e um mundo de nações”,
in História de África. Capitalismo, Modernidade e Globalização (Lisboa: Edições 70, 2016),
337. Cooper apresenta um balanço sobre essa questão em Frederick Cooper, Colonialism
in Question: Theory, Knowledge, History (Los Angeles: University of California Press, 2005).
303
ENTRE O SUBSÍDIO E A SUBVERSÃO
grupo étnico. Não foi coincidência o autor do texto ter sido capaz
de identificar características específicas ou achar relevante nomear
para o seu público apenas um etnomio dentre aqueles “5.000 negros”.
Esse é um detalhe significativo do processo de colonização na região
e das relações estabelecidas entre a ação portuguesa e esse grupo em
particular. Os “m’chope” ou simplesmente chopi, é um termo que
aparece grafado nas fontes de diferentes maneiras. Integram um
amálgama de grupos étnicos com diminutas fronteiras entre si, com‑
partilhando um universo de intercomunicação linguístico e institu‑
cional com outras etnias do sul de Moçambique. Uma bibliografia
contemporânea preocupada em perceber a historicidade das desig‑
nações étnicas em contextos coloniais africanos questiona a capaci‑
dade desse termo em designar objetivamente essas populações e
emprega termos de auto intitulação, como o de shangana, ronga,
tsua, bitonga e chopi.22 Os chopi estariam localizados majoritaria‑
mente no distrito de Zavala, na província de Inhambane, e vende‑
22 O debate sobre as noções de etnia não cabe, propriamente, neste livro. Vasto e complexo,
é consenso no meio acadêmico historiográfico a importância de compreender a etnia de
maneira processual e historicizada. Esse é um exercício analítico que remete aos trabalhos
iniciados nos anos 1960, por P. Mecier e sua constatação da inaplicabilidade da noção
clássica – e colonial – de etnia no seu estudo dos sumbas no norte do Benim. Trabalhos
posteriores, como os organizados por Leroy Vail, Elikia M’Bokolo e Jean‑Loup Amselle
interrogam de maneira sistemática a noção de etnia nos estudos africanos. De maneira
geral, suas obras demonstraram a necessidade de as investigações enfatizarem os desígnios
étnicos como categorias históricas construídas de forma relacional e contextual. Sem atri‑
buírem um sentido único a determinados etnômios, essas pesquisas relativizaram os per‑
tencimentos étnicos sem negar aos indivíduos e grupos sociais o direito de reivindicar uma
ou mais identidades. Leroy Vail, ed., The Creation of Tribalism in Southern Africa (Berkeley
e Los Angeles: University of California Press, 1989); Jean‑Loup Amselle e Elikia M’Boko‑
lo, org., No centro da etnia: etnias, tribalismo e Estado na África (Petrópolis, RJ: Vozes, 2017).
Para o contexto acadêmico brasileiro, dos quais fui influenciado, investigações como as de
Manuela Carneiro da Cunha, em diálogo intenso com a obra de Frederick Barth, aponta‑
ram para uma percepção da etnicidade não como um resquício pré‑político ou um produto
de uma sobrevivência arcaica de um passado que luta contra as pressões da modernidade.
Antes disso, a autora percebia a etnicidade como um produto da própria modernidade,
entendendo assim a cultura de um determinado grupo étnico em situações de intenso
contato, como na diáspora africana ou nos encontros coloniais em África, como algo que
não se perdia ou se fundia, mas adquiria uma nova função, se tornando uma cultura de
contraste. Nesse sentido, as comunidades étnicas precisariam ser compreendidas como
formas de organização política, percebendo o pertencimento e a identidade étnica como
reinvindicações, possuidoras de uma linguagem própria que estava em constante reinvenção
e ressignificação. Manuela Carneiro da Cunha, “Etnicidade: da cultura residual mas irre‑
dutível”, in Antropologia do Brasil, 235‑244 (São Paulo: Brasiliense, 1986).
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23 Ver: Gabriela Aparecida dos Santos, “‘Lança Presa no Chão’: Guerreiros, Redes de Poder
e a Construção de Gaza (Travessias entre a África do Sul, Moçambique, Suazilândia e
Zimbábue, Século XIX)” (Tese de Doutorado defendida no Departamento de História da
Universidade de São Paulo, 2017).
305
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26 Henry Junod, “The mbila orn ative piano of the Tchopi tribe”, Bantu Studies, vol.3:1 (1927),
275. No original: “The other Bantu tribes surrounding them do not hesitate to call the
Vatchopi the ‘masters’ of the mbila” [tradução livre].
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27. In Rufino, Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume X, 36. Legenda:
“Um interessante grupo de tocadoras de ‘marimbas’ em Mocodoene”.
27 Para um balanço historiográfico sobre o assunto, ver: Iris Berger, “African Women’s History:
Themes and Perspectives”, Journal of Colonialism and Colonial History, v. 4, n.º 1 (2003).
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28 Filipa Lowndes Vicente, “Black Women’s Bodies in the Portuguese Colonial Visual Ar‑
chive (1900‑1975)”, Portuguese Literary and Cultural Studies, Special Issue: Transnational
Africas: Visual, Material and Sonic Cultures of Lusophone Africa, n.º 30/31 (2017): 17‑18.
No original: “Those black bodies could be subject to a close‑up look because they came
from distant geographies of subalternity that somehow “belonged” to the viewers. Posses‑
sion (or the desire for possession) implied, among other things, the right to see. The per‑
vasiveness of images of black women’s bodies in the Portuguese as well as in other European
colonial contexts – in photographic postcards, colonial propaganda leaflets, colonial exhi‑
bition ephemera or as illustrations in newspapers and magazines – demonstrates that the
gendered and racialized body of (unnamed) women was a powerful trope of colonial
hegemony”.
29 Leroy Vail and Landeg White, “The Development of Forms. The Chopi Migodo”, 125.
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30 António Augusto Pereira Cabral, Raças, usos e costumes dos indígenas da Província de Mo‑
çambique (Lourenço Marques: Imprensa Nacional, 1925), 41.
31 Fernando de Castro Pires Lima, Contribuição para o Estudo do Folclore de Moçambique
(Porto: Separata da revista de etnografia n.º 14. Museu de Etnografia e História, 1934),
10.
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32 Leroy Vail and Landeg White, “The Development of Forms. The Chopi Migodo”, 63. No
original: It is in the song that the people’s identity is preserved” [tradução livre].
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ENTRE O SUBSÍDIO E A SUBVERSÃO
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processo seletivo daquilo que deveria ser enviado para ser exposto
poderia acarretar.
Como tentativa de produzir uma “experiência sensorial da vida
colonial”,37 a exibição de grupos humanos nessas exposições foi um
importante fator atrativo do público. Ao mesmo tempo, serviu como
mecanismo do desígnio pedagógico que permeou as exposições.
A participação viva de africanos da Guiné, Angola e Moçambique,
objetificados em gabinetes de curiosidade, ocorreram em diferentes
cidades e exposições em Portugal.38 Na I Exposição Colonial Por‑
tuguesa, realizada no Porto, em 1934, por exemplo, segundo o jor‑
nal Diário de Lisboa, nas suas habitações temporárias “os pretos
organiza[ra]m batuques e [fizeram] várias exibições”, todas elas
“acompanhadas com interesse espantoso pela multidão”.39 As
diversas exposição em solo português ao longo das três primeiras
décadas do século XX serviram como ensaios para a maior delas, que
veio a ocorrer em 1940. Foi na seção colonial da Exposição do
Mundo Português, realizada naquele ano, em Lisboa, que a parti‑
cipação de indivíduos nativos provindos das diversas possessões
portuguesas africanas foi substancialmente operacionalizada como
chamariz para a atração do público metropolitano e como conferidor
de legitimidade aos projetos coloniais portugueses.
A princípio, o comissário geral da Exposição do Mundo Portu‑
guês havia solicitado “um grupo de indígenas que reúna em tudo uma
forte expressão etnográfica” para serem remetidos para Lisboa. Sua
lista era grande. Instava o Governador Geral de Moçambique que,
por meio da Secretaria dos Negócios Indígenas, deveriam ser enviados
“4 a 6 indígenas da Zambézia”, “30 indígenas do norte da Colônia,
de preferência ‘macondes’, ‘angonis’ ou macuas [...] que ofereçam inte‑
resse para exibições”, “1 casal de mestiços do Ibo”, mais outras duas
famílias “compostas cada uma de 4 membros” da região de Inhambane
313
ENTRE O SUBSÍDIO E A SUBVERSÃO
28. In O Império Português na Primeira Exposição Colonial Portuguesa: álbum‑catálogo oficial: do‑
cumentário histórico, agrícola, industrial e comercial, paisagens, monumentos e costumes (Porto: Mário
Antunes Leitão: Vitorino Coimbra, 1934), 413. A fotografia da “Orquestra de chopes (marimbas)
de Moçambique” foi publicada em dois momentos. Ilustrou o “Roteiro. Resumo elucidativo do
visitante da Primeira Exposição Colonial Portuguesa”, publicado em um álbum‑catálogo que
promovia a exposição. Domingos Alvão, autor das imagens oficiais da exposição, não aparece
referenciado, talvez pelo fato da imagem já possuir sua assinatura no canto inferior esquerdo e
por a ter publicado no mesmo ano em seu Álbum fotográfico da I Exposição Colonial Portuguesa.
Porto, 1934. Infelizmente, não encontrei informações sobre os membros da orquestra, nem nas
publicações específicas sobre a exposição de 1934, nem nos arquivos consultados.41
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42 Circular do Chefe da repartição técnica de estatística para o Secretário dos Negócios Indígenas,
Lourenço Marques, 27 de abril de 1940. In: AHM, DSNI, Diversos, caixa 84.
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48 As imagens 29‑34 foram produzidas por Manoel Romão Pereira e constam da coleção “Mis‑
são de Mariano Cyrilo de Carvalho à província de Moçambique: edição geral”, do ACT/DR.
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53 Filipa Lowndes Vicente e Inês Vieira Gomes, “Tensions of empire and monarchy: the
African tour of the Portuguese crown prince in 1907”, in Royals on tour. Politics, pageantry
and colonialism, ed. Robert Aldrich e Cindy McCreery, 146‑168 (Manchester: Manchester
University Press, 2018), 148. No original: “Luís Felipe’s sojourn in Africa was meant to
reinforce and unify the colonies under Portuguese rule, while also sending a message to
European countries, mainly Britain, about which territories belong to which colonial
power”.
54 Ayres d’Ornellas, Viagem do Príncipe Real. Julho – Setembro 1907 (Lisboa: Escola Tipográ‑
fica das Oficinas de S. José, 1928): 109.
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35. Rufino, ed., Álbuns fotográficos e descritivos da colônia de Moçambique. Volume X, 16. Na le‑
genda: “Chefes de um ‘Batuque de guerra’”. O volume 10 dedicado a “Raças, usos e costumes
indígenas” publicou um total de dez imagens referentes a “jazz‑bands”, “batuques” ou “danças”.
Homens com escudos e trajes de guerra, provavelmente apresentando um “batuque de guerra”,
tiveram destaque nesse conjunto de fotos. Comum entre as populações do sul de Moçambique,
talvez estivessem realizando o xigubu, uma dança na qual usa‑se uma idumentária guerreira para
cantar e representar aspectos guerreiros do grupo. Um tipo de encenação espetacularizada de
uma prática tradicional de grupos étnicos do sul de Moçambique parece ser o caso da imagem
35 – o enquadramento da foto com os chefes enfileirados apontando as lanças para o fotógrafo
foi incorporada ao imaginário da dominação portuguesa.
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65 José Luiz de Almeida Lavradio, Memórias do Sexto Marquês de Lavradio (Lisboa: Edições
Ática, 1947): 69‑75.
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37. “Batuque em Marracuene em honra de D. Luiz Filipe”. Apud, Ana Vicente e António Pedro
Vicente, O príncipe real Luiz Felipe de Bragança, 187‑1908 (Lisboa: Edições Inapa, 1998), 74.
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38.
39.
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40.
41. “S. A. Real o batuque”. Imagens 38‑41 apud António Sopa, A Alegria é Uma Coisa Rara:
Subsídios para a História da Música Popular Urbana em Lourenço Marques (1920‑1975) (Maputo:
Marimbique, Conteúdos e Publicações Ltda., 2014), 259‑260.
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66 Para uma interessante análise dos significados simbólicos de duas das fotografias produ‑
zidas pelos irmãos Lazarus, em 1907, ver Vicente e Gomes, “Tensions of empire and
monarchy: the African tour of the Portuguese crown prince in 1907”, 156.
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SUBVERSÕES
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87 Exemplos dos preparativos e da realização dessas excursões podem ser vistos em: O Brado
Africano, 6 de fevereiro de 1943 e 20 de março de 1943. BNP.
88 O Africano, 7 de agosto de 1912. WNA. Nesse mesmo ano teria sido inaugurada uma
estátua em homenagem aos combatentes portugueses mortos durante os eventos de 1895.
Ver: O Africano, 29 de agosto de 1912. WNA.
89 O Progresso, 5 de agosto de 1907. BNP.
90 O Africano, 17 de outubro de 1912. WNA.
91 O Africano, 19 de setembro de 1912. WNA.
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100 Tracey, Chopi Musicians, 32. No original: “Hark how the music thunders!” [tradução
livre].
101 Era prática recorrente dos gerentes das empresas mineradoras, por exemplo, encorajarem
as diferenças étnicas como mecanismo de controle da força de trabalho. Ver: Harries, Work,
culture, and identity.
343
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102 Penvenne, African workers and colonial racism, 2. No original: “sustain their confidence and
pride as adults against the humiliating system of domination” [tradução livre].
103 Penvenne, African workers and colonial racism, 3. No original: “What kind of shibalo is this
of Magandana, ho…? / It catches everyone, even the women…, ho…/ It catches even the
grandparents [mothers, parents, children, sister, etc.] / They don’t even let us rest, ho… /
What kind of shibalo is this of Magandana, ho…?” [tradução livre].
104 Vail and White, “The Development of Forms”, 135. No original: “The targets of the most
fierce attack in the migodo are consistently those that represent Portuguese authority”
[tradução livre].
105 Tracey, Chopi Musicians, 15. No original: “the Portuguese beat us on the hands, / Both us
and our wives” [tradução livre].
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106 Tracey, Chopi Musicians, 46. No original: “I am most distressed, / I am most distressed as
may man has gone off to work, / And he does not give me clothes to wear, / Not even black
cloth” [tradução livre]. As roupas pretas seriam consideradas mais simples por serem aque‑
las usadas para dormir ou pela manhã.
107 Tracey, Chopi Musicians, 53.
108 Tracey, Chopi Musicians. Tradução livre: “Meu marido vai me dizer quando ele está bêbado
/ Meu marido vai me dizer quando ele está bêbado / Sua cadela!”.
345
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fofoca local”109 feitas pelo autor nem sempre condiziam com os rela‑
tos que as mesmas traziam das altercações decorrentes da ausência,
em grandes períodos do ano, dos homens que se encontravam em
idade produtiva, do alcolismo e de uma determinada forma de vio‑
lência sexual contra as mulheres, fenômenos decorrentes da ação
colonial portuguesa na região. Quando as letras apontavam para
aspectos morais de alteração da vida cotidiana local, Tracey interviu
censurando‑as moralmente ou, no mínimo, amenizando‑as. Como
indicam Vail e White, a tradução de Tracey da estrofe “Ngongo
wako” para “You bitch!” não seria a mais apropriada. Para os autores,
o correto seria “Your cunt!”, uma palavra bastante pejorativa e ofen‑
siva em inglês, o que significaria, literalmente, em português “Sua
boceta!” ou, adaptando‑a para o significado chulo, de “Sua puta!”.110
Katini, Gomukomu e Sauli parecem ter sido selecionados por
Tracey por serem reconhecidamente, entre grupos étnicos e a admi‑
nistração colonial, como os compositores de ngodo mais talentosos
dentre os existentes.111 As apresentações das orquestras de timbila
realizadas na Exposição do Mundo Português, em 1940, em Lisboa,
que contaram com a presença de Katini, não foram as primeiras dele,
nem de Gomukomu, em um contexto de celebração do império
português ou na presença de figuras de autoridade política. Ambos
apresentaram suas canções nas festividades ocorridas, em 1939, pela
visita de Óscar Carmona, então presidente e uma das lideranças do
golpe de 1926, que destituiu o regime republicano em Portugal.
No itinerário do tour de Carmona por Moçambique foram
organizadas cerimônias na região de Magul, localidade próxima de
Marracuene, ambos sítios em que foram travadas batalhas entre os
portugueses e os guerreiros de Gungunhana. Diferentemente do
“batuque” organizado nessas terras em 1905, que tinham como obje‑
tivo celebrar o poderio militar português sobre os guerreiros africa‑
nos, o destaque das apresentações de 1939 foram confiados aos
chopi. Esse grupo era opositor de Gaza e lutou ao lado dos portu‑
346
MATHEUS SERVA PEREIRA
112 Isso pode ser percebido no verso: “Katini will come to Magule to play Timbila / The
President is glad to see the WaChopi / The Sangaans are left to sing their ‘Ho‑ho siyana’
/ Until very late for the Presidente”. Tracey, Chopi Musicians, 23.
113 Tracey, Chopi Musicians, 10. No original: “It is time to pay taxes to the Portuguese, / The
Portuguese who eat eggs / And chiken” [tradução livre]. Noutra composição, Gomukomu
cantou “And when we spoke about the matter of food, / About the matter of food, they
turned their backs. / We overhead the Portuguese speaking about food, / Speaking about
food while their backs were turned”, 48.
114 Luís Da Cunha Gonçalves, Revista Portuguesa Colonial e Marítima, vol. 19.º, n.º 114,
(1907), 263. Apud, Maciel Santos, “Trabalho forçado na época colonial – um padrão a
partir do caso português?,” 12.
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115 Tracey, Chopi Musicians, 43: “Ha! We quarrel again! The same old trouble. The older girls
must pay taxes. Natanele speak for me to the white man to let me be. You elders must
discuss affairs. The one whom the white men appointed was the son of a commoner. The
Chopi no longer have right to their own country, let me tell you”.
116 Vail and White, “The Development of Forms”, 132. No original: “Gomukomu, in effect,
was retorting to Katini’s argument that the Portuguese have been seduced by the appeal
of Chopi culture by emphasizing how badly his own orchestra was treated when fulfilling
an official engagement” [tradução livre].
117 Tracey, Chopi Musicians, 48. No original: “We got on the train and arrived at Sewe, / And
when we spoke about the matter of food, / About the matter of food, they turned their
backs. / We overheard the Portuguese speaking about food, / Speaking about food while
their backs were turned”.
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350
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43.
44. Imagens 43 e 44 são fotografias usadas no programa do evento organizado pelos alunos da
Universidade de Witwatersrand. In “Explanatory Programme of Monster Native Dance at the
Wanderers”. AHM, DSNI, Diversos, caixa n.º 37.
351
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121 Correspondência confidencial do curador dos negócios indígenas em Johanesburgo para o Diretor
dos Serviços e Negócios Indígenas em Lourenço Marques, 27 de abril de 1928. In: AHM, DSNI,
Diversos, caixa n.º 37.
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122 Carta do Chamber of Mines para a Curadoria dos indígenas portugueses no Transvaal, 23 de
abril de 1928. In: AHM, DSNI, Diversos, caixa n.º 37. No original: “a libellous and unfair
comment against the authorities of their own Government” [tradução livre].
123 Carta do Gold Producers Committee para a Curadoria dos indígenas portugueses no Transvaal,
26 de abril de 1928. In: AHM, DSNI, Diversos, caixa n.º 37 [tradução livre]. No original:
“The Committee is confidente that no influence was brought to bear upon natives to choose
their songs or to carry on propaganda of any kind whatsoever”.
124 Explanatory Programme of Monster Native Dance at the Wanderers. In: AHM, DSNI, Di‑
versos, caixa n.º 37. No original: “Timbila the native piano” e “They have a group of men
dressed as women, who clap their hands and sing, keeping the rhythm of the dance”
[tradução livre].
353
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125 No original: “We leave home, enter the train and are rushed through a tunnel, when we
have to clutch our hats, as the wind threatens to nlow them away. Arrived at our destination
we find there is a strike, and we see the white people chasing each other with the flying
machine”.
126 No original: “The Portuguese are always collecting money from us, and now they want to
close the way”.
127 No original: “There goes the East Coast train; it goes to the land of the Portuguese, who
are treating us so badly” e “There are many song‑makers in the Compound, but our song
‑maker, David, was a bard even in our home in Gazaland. Leave the grumblers in the
compound alone; let them complain; everybody knows that we men of Chai Chai are
famous the world over as dancers” [tradução livre].
128 Nos anos 1940, Gomukomu cantou para Hugh Tracey: “There is no relish left, you Shan‑
gaans, it has been eaten by the Sotho. / Cast of your skins! / There is no relish left, you
Shangaans, it hans been eaten by the Sotho. / It has been eaten by the Sotho and the Xhosa,
and we will not get it. / They came to the gatekeeper and wanted good Jobs. / Even the
cooks in the kitchen know it”. In: Tracey, Chopi Musicians, 30‑31.
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Considerações finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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1 Vail and White, “The Development of Forms”, 143. No original: “The cooptation by the
Portuguese of, first, their chiefs and, then, their timbila music for official occasions created
a crisis for Chopi musicians” [tradução livre].
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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11 António Sopa, A Alegria é Uma Coisa Rara: Subsídios para a História da Música Popular
Urbana em Lourenço Marques (1920‑1975) (Maputo: Marimbique, Conteúdos e Publica‑
ções Ltda., 2014), 43.
12 Amâncio Miguel, compilação, Marrabenta – Vozes de Moçambique (Maputo: Marimbique,
2004), 13.
13 Notícias, 7 de junho de 1973. “O regresso de Fany Pfumo”, por António Rita Ferreira.
363
CONSIDERAÇÕES FINAIS
14 Letra da música Ni Helile (Eu estou acabado), que diz: “Eu estou acabado homens / Eu
estou acabado aqui no Jone / Eu agradecia as libras desta terra / Eu desejo as mulheres de
lá Johanesburgo / Agora eu regressarei, eu vou para casa / Eu vou tomar uma rapariga
ronga / Se eu não conseguir uma rapariga ronga / Eu tomarei uma rapariga chopi / Se eu
não conseguir uma rapariga chopi / Eu tomarei uma rapariga macua / Se eu não conseguir
uma rapariga macua / Eu tomarei uma rapariga china”. Letra compilada e traduzida por
António Rita Ferreira, citada em: http://www.antoniorita‑ferreira.com/pt/transcricoes‑e
‑traducoes‑por‑antonio‑rita‑ferreira‑de‑letras‑de‑cancoes‑de‑fany‑mpfumo/34‑ni‑helile,
consultado em 09 de abril de 2019.
364
Lista de Abreviaturas
365
Lista de mapas e imagens
Mapas
Imagens
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LISTA DE MAPAS E IMAGENS
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MATHEUS SERVA PEREIRA
369
Fontes e bibliografia
FONTES
371
FONTES E BIBLIOGRAFIA
Imprensa:
Lourenço Marques Guardian (1906‑1918).
O Incondicional (1910‑1914).
O Mignon (1905).
Os Simples (1911).
Semana Desportiva (1923).
Biblioteca:
Chatelain, Ch. W., e Henri A. Junot. A pocket dictionary, Thonga (Shangaan) –
English; English‑Thonga (Shangaan), proceeded by an Elementary Grammar.
Lausanne: G. Bridel, 1909.
Publicações impressas:
Albuquerque, Mouzinho de. Moçambique 1896‑1898. Volume II. Lisboa: Divisão
de publicações e biblioteca. Agência Geral das Colónias, 1934.
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MATHEUS SERVA PEREIRA
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FONTES E BIBLIOGRAFIA
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MATHEUS SERVA PEREIRA
Fontes impressas
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FONTES E BIBLIOGRAFIA
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ÍNDICE REMISSIVO
Rita-Ferreira, António 33, 34, 83, 85, tonga 131, 146, 304
208, 360 bitonga 304
roupa 44, 77, 182-3, 186-90, 197, tsonga 132, 230
213-4, 221-2, 228-9, 232, 243, trabalho forçado 35, 110, 168, 344
283, 345 chibalo 143, 260, 344
capulana 107, 189, 201, 220, 226, Tracey, Hugh 295, 299, 342-4, 346,
232-5, 244, 288 359
indumentária 188, 231-2, 236, Transvaal 35, 47, 115, 146, 239, 249,
357 354
quimáu 189, 229-31, 288
Rufino, José dos Santos 87, 89, 155, V
174, 291 vátua 70, 119, 120
rusga policial 212, 220, 262-3, 284-6
X
S Xigubu 325
Santos Júnior, Joaquim Rodrigues dos Xipamanine 57, 85, 86, 362
141
Sauli Ilova 344-6 Z
Secretaria dos Negócios Indígenas Zambeze 120, 159, 317
46, 246, 251-3, 255-6, 258, 262, Zavala 249, 295, 315, 321, 341, 346
269, 274, 284, 313, 333 chopi 304, 355
reclames indígenas 252, 259, ngodo 315, 344
264-6, 282-3, 291 trabalhadores 249
shangana 146, 159, 164, 295, 304, Zixaxa 57, 86
347, 353, 354
T
tambor 15, 16, 79-80, 96, 103, 151,
164, 216, 298-9, 305-6
ngoma 161
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OBRAS DA IMPRENSA DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Ricardo Noronha
“A banca ao serviço do povo”: Política e Economia durante o PREC
(1974-1975)
Daniel Ribas
Uma dramaturgia da violência: os filmes de João Canijo
ISBN 978-989-8956-10-1