Resumo: Estudante Do 8º Período de Direito Pela Pontifícia Universidade Católica Do Paraná. E-Mail

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A FORMAÇÃO DAS EQUIPES CONJUNTAS DE INVESTIGAÇÃO ATRAVÉS DO

DECRETO Nº 10.452, DE 10 DE AGOSTO DE 2020;

Yasmin Werneck Vane1

RESUMO

O presente resumo tem como finalidade a análise da formação das Equipes Conjuntas de
Investigação (ECI) no Brasil, com enfoque no Decreto nº 10.452, de 10 de agosto de 2020, que
promulga o texto do Acordo Quadro de Cooperação entre os Estados Partes do Mercosul. No
Brasil, as legislações vigentes até agosto de 2020, sejam elas advindas de acordos bilaterais ou
multilaterais, e que analisavam a possibilidade de constituição das Equipes Conjuntas de
Investigação, para o combate ao crime organizado transnacional, ainda não eram suficientes
para viabilizar de forma pertinente a sua formação. No entanto, com o escopo da previsão do
Decreto nº 10.452, passa a ser regulamentado de forma detalhada, na legislação brasileira, o
que são as Equipes Conjuntas de Investigação (ECIs), quais são os requisitos exigidos para sua
constituição - através do Instrumento de Cooperação Técnica -, quem são as autoridades
competentes e a autoridade central, bem como quais são os integrantes das ECIs. Neste interim,
a pergunta a ser analisada no presente trabalho é “Qual a importância das Equipes Conjuntas
de Investigação no âmbito do crime organizado transnacional, a partir da leitura do Decreto
10.452 de 10 de agosto de 2020?". O método utilizado é o dedutivo, pela análise dos
instrumentos jurídicos Europeus que preveem a possibilidade de constituição das ECIs naquele
continente. Do resultado inicial do presente resumo é possível perceber a evolução que as ECIs
trazem para o combate ao crime organizado transnacional e a necessidade de legislações que
delimitam os parâmetros de atuação cooperacional entre os países.

Palavras-chave: direitos humanos no MERCOSUL; crime organizado transnacional; equipes


conjuntas de investigação; decreto 10.452/2020.

INTRODUÇÃO

Com a globalização, a interação entre países começa a avançar, de forma cada vez mais
frequente. No entanto, desconsiderando os avanços e os benefícios advindos da globalização,
no que diz respeito ao direito internacional, verifica-se também o aumento dos crimes

1
Estudante do 8º período de Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-mail:
[email protected]
transnacionais. A diluição das fronteiras nacionais abre espaço para o aumento das atividades
criminosas, e os delitos previstos na legislação penal de cada país começam a serem vistos a
partir de um aspecto internacional. Para conter a nova realidade dos crimes transnacionais, os
Estados precisam formular estratégias comuns, com políticas voltadas à cooperação para o
combate ao crime, que deixa de ser visto sob uma perspectiva apenas nacional. Com isto, cresce
o número de acordos e convenções internacionais que implementam uma legislação comum
para a tipificação dos delitos, e que permitem maior cooperação internacional para o direito
penal. Ocorre que, apenas a tipificação dos delitos em matéria penal não é suficiente para que
de fato ocorra a cooperação internacional no combate aos crimes transnacionais. Faz-se de suma
importância que as investigações ocorram de forma harmoniosa entre os Estados para que a
coleta de provas e a comunicação entre os agentes envolvidos na contenção ao crime sejam
eficazes. Desta forma, surge a imagem das Equipes Conjuntas de Investigação, que possuem
grande influência principalmente nos países europeus, pela forte característica de integração
daquele continente. No âmbito do Mercosul, foi firmado em 2010 o Acordo Quadro de
Cooperação entre os Estados partes da organização. Neste sentido, no Brasil, o tema da
formação dos ECIs havia sido tratado apenas pontualmente em determinados acordos bilaterais,
e, com a promulgação do Decreto nº 10.452/2020, o tema passa a ser mais bem delineado,
trazendo maior segurança jurídica para o combate ao crime organizado transnacional. Diante
de tais considerações, passa-se a discorrer sobre o tema do presente trabalho.

METODOLOGIA

No presente trabalho foi utilizado o método dedutivo, com técnica de pesquisa bibliográfica a
partir da leitura de doutrinas, artigos científicos e notícias sobre o assunto, bem como através
da análise do Decreto nº 10.452, de 10 de agosto de 2020. Foi feita a análise do que é o crime
organizado transnacional, a importância da aplicação das Equipes Conjuntas de Investigação
para o combate destes crimes e como se dá sua aplicação no contexto nacional, através do
decreto supramencionado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do Decreto nº 10.452, de 10 de agosto de 2020 foi promulgado o texto do Acordo


Quadro de Cooperação entre os Estados Partes do Mercosul e Estados Associados para a
Criação de Equipes Conjuntas de Investigação pelo Brasil. O objetivo principal do acordo é
reunir os países membros em investigações conjuntas com o fim de combater o crime
organizado transnacional. Referido acordo integra o quadro de acordos internacionais no que
diz respeito às matérias de assistência jurídica penal que foram ratificados e estão em vigor no
Brasil. Até então, o problema encontrado para a criação das Equipes Conjuntas de Investigação
(ECI) eram os instrumentos legais que permitiam essa forma de cooperação. No Brasil, os ECIs
estavam previstos apenas em tratados multilaterais contra a criminalidade no âmbito das Nações
Unidas, sem previsão da viabilidade de concretização das Equipes. Ou seja, referidos tratados
multilaterais previam a possibilidade de constituição das ECIs, mas não traziam os requisitos
expressos que permitissem a sua constituição e seu funcionamento efetivo. Neste ínterim, o
Acordo firmado permite que as investigações das equipes conjuntas ocorram com maior
interação entre os países, facilitando a cooperação internacional no combate ao crime
organizado transnacional. Importante ressaltar que o crime organizado transnacional cresce
constantemente em todo o mundo, sendo uma ameaça para o estado de direito dos países em
um âmbito internacional. A busca pelo desenvolvimento sustentável dos Estados, em nível
mundial, está diretamente relacionada ao controle do crime transnacional através do poder de
cooperação entre os países. Para delimitar a extensão destes crimes, destaca-se que o dinheiro
advindo do crime transnacional corrompe economias locais e instituições, bem como aumenta
o número de conflitos internacionais. A resposta governamental em âmbito internacional para
estas ameaças comuns é a adoção de diversas convenções internacionais que visam controlar a
crescente onda dos crimes transnacionais. Conforme a “United Nations Office on Drugs and
Crime (UNODC)” os objetivos da erradicação destes crimes trazem dois pontos importantes a
serem discutidos. Em primeiro lugar, entender o que é o crime organizado transnacional e, em
segundo lugar, transformar respostas nacionais ao crime em estratégias internacionais. Não há
uma definição precisa do termo “crime organizado transnacional” na legislação internacional.
A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional traz em seu texto
a definição do que é um grupo criminoso organizado. Desta forma, de acordo com entendimento
da UNODOC, existe apenas uma definição implícita para crime organizado transnacional, que
abrange as atividades motivadamente criminais com implicações internacionais. Apesar de ser
uma definição ampla, ela abrange a complexidade do tema e permite maior escopo de
cooperação entre os países. Devidamente delineado os primeiros parâmetros do crime
organizado transnacional, há de ser elucidado o que são as Equipes Conjuntas de Investigação
(ECI). As ECIs são equipes que visam primordialmente a cooperação jurídica internacional em
investigações de crimes que possuem repercussão transnacional. A colaboração é feita entre
países no combate ao crime, de forma a permitir um trabalho mais dinamizado na produção de
provas entre as autoridades de investigação competentes para investigar o crime que aconteceu
entre fronteiras. É fato que já existiam alguns acordos internacionais que previam a
possibilidade desta assistência jurídica no âmbito penal, sejam através de tratados bilaterais ou
multilaterais. Ocorre que, apesar de sua previsão, o Brasil encontrava barreiras jurídicas que
viabilizasse a formação das ECIs. Desta forma, é analisado que o Brasil é signatário de três
tratados multilaterais das Nações Unidas no combate à criminalidade, cite-se a Convenção
contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, a Convenção contra o
Crime Organizado Transnacional e a Convenção contra a Corrupção. Referidos tratados já
previam a possibilidade de constituição das ECIs, no entanto, sua previsão é genérica. Não há
qualquer regulamentação sobre os requisitos específicos para sua constituição, ou como deveria
se dar o funcionamento das equipes entre os estados parte da investigação. Neste sentido, foi
aprovado o Acordo Quadro de Cooperação entre os Estados Partes do Mercosul e Estados
Associados para a Criação de Equipes Conjuntas de Investigação. O texto legal regulamenta
de forma mais minuciosa quais devem ser as etapas para a constituição e funcionamento da
ECI. Importante mencionar que o conteúdo do acordo segue a mesma linha das convenções
europeias relacionadas às Equipes Conjuntas de Investigação. Isto porque, diante do quadro
avançado de integração entre os países da Europa, existe maior sistematização e aceitação do
tema pelos países europeus. São três as normas internacionais que preveem o assunto naquele
continente, além de documentos do Conselho da União Europeia que trazem modelo dos
acordos a serem redigidos entre os estados e que disciplinam os requisitos da formação da ECI
e seu funcionamento. Da análise do Decreto nº 10.452, que é enfoque da presente pesquisa,
depreende-se que foram previstas de forma mais abrangente as definições que permeiam o que
são as Equipes Conjuntas de Investigação, o que é Instrumento de Cooperação Técnica, o que
são as Autoridades Competentes e a Autoridade Central e quem são os Integrantes da ECI. O
Decreto também buscou delimitar como deve ser feita a solicitação para a criação da ECI, os
meios de tramitação da solicitação e a forma de comunicação de sua eventual aceitação.
Importante mencionar que, caso haja indeferimento do pedido de criação da ECI, este deverá
sempre ser fundamentado. Ato contínuo, é delimitado qual deve ser o conteúdo do Instrumento
de Cooperação Técnica, as atribuições do Chefe da Equipe, com a Direção da Investigação. As
responsabilidades civil e penal pela atuação da ECI também estão previstas no Decreto, assim
como de quem é a responsabilidade dos Gastos da Investigação. A legislação buscou trazer
como deve ser feita a utilização da Prova e Informação eventualmente obtidas através da
atuação da ECI, e como é a isenção de legalização dos documentos tramitados pelas
Autoridades Centrais da Equipe. Sobre as Autoridades Centrais, foi determinado que deve ser
comunicada a designação desta ao Estado depositário, podendo ser alterada a qualquer tempo,
mediante prévia comunicação. Como disposições finais, o Decreto traz como serão feitas a
solução de controvérsias que venham a surgir sobre a investigação, a vigência do Acordo e
definiu o Paraguai como depositário do Acordo e dos respectivos instrumentos de ratificação.
Da análise do Decreto em questão, depreende-se que é de suma importância a previsão legal da
possibilidade de criação das ECIs, tendo em vista a necessidade de maior segurança jurídica
para o combate ao crime organizado transnacional, através de uma Equipe especializada para a
correta coleta de provas e obediência aos instrumentos legais de todos os países envolvidos na
investigação.

CONCLUSÃO

O combate ao crime organizado transnacional é complexo, e demanda extenso conhecimento


jurídico sobre a lei penal de cada país envolvido na investigação. Com isso, as Equipes
Conjuntas de Investigação possuem papel essencial para o sucesso das investigações,
respeitando os limites legais impostos nas legislações nacionais. Por isso, pode-se afirmar que
com o novo arcabouço normativo trazido pelo Decreto nº 10.452, a obtenção de provas nas
investigações transnacionais será feita de forma mais segura e mais rápida, uma vez que o
conhecimento dos ordenamentos jurídicos dos países parte da investigação serão conhecidos de
forma aprofundada pelos integrantes da ECI. Portanto, defende-se que as Equipes Conjuntas de
Investigação não apenas trazem maior segurança jurídica nas investigações de crimes
organizados transnacionais, como também cuidam dos direitos e garantias fundamentais
daqueles que estão sendo investigados.

REFERÊNCIAS:

ABADE, Denise Neves. Direitos Fundamentais na Cooperação Jurídica Internacional.


São Paulo: Saraiva, 2013.

ARAS, Vladimir. Direito Probatório e Cooperação Jurídica Internacional. In


SALGADO, Daniel de Resende; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (Org.) A Prova do
Enfrentamento à Macrocriminalidade. Salvador: JusPodivm, 2019.

BRASIL. Decreto-lei nº 10.452, de 10 de agosto de 2020. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10452.htm>
Acesso em: 03 out. 2021.
KESIKOWSKI, Sabrina Cunha; WINTER, Luis Alexandre Carta; GOMES, Eduardo
Biacchi. A atuação do Grupo Mercado Comum frente à criminalidade organizada
transnacional. Revista de Direito Internacional – vol. 15 – N.2 – 2018.

UNODC. The Globalization of Crime: a transnational organized crime assessment. 2010.


Disponível em: <https://www.unodc.org/documents/data-and-
analysis/tocta/TOCTA_Report_2010_low_res.pdf> Acesso em: 29 set. 2021.

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