CW Organizações Criminosas e Criminalidade
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ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Aula 1
INTRODUÇÃO À LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
No Brasil, foram várias as legislações que buscaram definir e
aprimorar o conceito de organização criminosa para que fosse
possível a sua persecução, de modo a estabelecer elementos
objetivos para diferenciar a prática de outros crimes previstos na
legislação, como a associação criminosa.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Compreender o conceito de organização criminosa, bem como o seu funcionamento não
é tarefa fácil. A importância da conceituação ultrapassa os fins meramente acadêmicos,
tendo em vista a atuação de inúmeros órgãos e agentes no sentido de apurar e combater
tal prática no mundo inteiro.
No Brasil, foram várias as legislações que buscaram definir e aprimorar o conceito de
organização criminosa para que fosse possível a sua persecução, de modo a estabelecer
elementos objetivos para diferenciar a prática de outros crimes previstos na legislação,
como a associação criminosa.
Nesta aula iremos definir o conceito de organização criminosa, visualizar a evolução
legislativa do tema, e diferenciá-la de outras práticas criminosas, examinandoa
aplicabilidade por extensão da Lei nº 12.850/2013.
(BRASIL, 2012)
A referida legislação definiu organização criminosa “para os efeitos desta lei”, trazendo
controvérsias sobre a aplicabilidade do conceito para além da incidência da norma. Para
tanto, foi editada a Lei nº 12.850/2013, que trouxe o conceito de organização criminosa,
tipificando formalmente o crime. Conforme o Art. 1º §1º, da Lei nº 12.850/2013:
(BRASIL, 2013)
O novo conceito exige a participação de pelo menos quatro pessoas, ao invés de três, tal
como previa a Convenção de Palermo e a Lei nº 12.694/2012.
A partir dos elementos trazidos pela legislação atual, é possível estabelecer a distinção
entre a organização criminosa e associação criminosa, outro crime que envolve a
associação de agentes para a prática de crimes.
A associação criminosa está prevista no Art. 288, do Código Penal (Decreto-lei nº
2.848/1940), sendo assim conceituada: “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o
fim específico de cometer crimes” (BRASIL, 1940).
Além disso, a Lei nº 12.850/2013 ainda prevê mais dois casos de incidência, quais sejam:
“às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente” e; “às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a
prática dos atos de terrorismo legalmente definidos” (BRASIL, 2013).
Conforme Nucci (2021, p. 19), “estabelece-se a viabilidade de aplicação dessa legislação
a situações de delinquência que fogem ao conceito de organização criminosa, mas
provocam intensa danosidade social, merecendo o rigor estatal”.
A aplicabilidade por extensão da Lei nº 12.850/2012 está prevista em seu Art. 1º §2º, nos
incisos I e II, sendo este último com redação dada pela Lei nº 13.260/2016.
(BRASIL, 2013)
Para melhor compreender o conceito, importante se faz a divisão dos elementos
constantes na legislação.
O primeiro elemento é a associação de quatro ou mais pessoas. Duas ou mais pessoas
também poderiam se associar de forma ordenada para obter vantagem mediante a prática
de crimes. No entanto, pelo estrito critério legal, não se trataria de organização criminosa
visto que o número mínimo de integrantes são quatro.
No âmbito de uma operação policial, “quanto ao agente infiltrado, não há como computá-
lo para constituir o número mínimo de quatro integrantes, pois a sua intenção é eliminar a
organização e não dela fazer parte”, conforme lições de Nucci (2021, p. 14).
Definida como “estruturalmente ordenada”, de forma que exista uma hierarquia,
“caracterizada pela divisão de tarefas”, ou seja, ainda que informalmente, deve existir a
divisão do trabalho, cada membro com sua atribuição no âmbito da organização.
A sua finalidade consiste em “obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer
natureza”, assim, a legislação não limitou o alcance da norma, não se tratando apenas de
vantagem de cunho econômico, mas de qualquer natureza.
Para alcançar o objetivo, a organização o faz “mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos” “ou que sejam de caráter
transnacional” (BRASIL, 2013). Quando se tratar de infração penal que não se limite
apenas ao território nacional, tem-se caracterizada sua transnacionalidade e, neste
aspecto, independe a quantidade máxima de pena cominada, podendo se tratar de delito
ou contravenção penal.
Quanto ao crime de associação criminosa, vimos que se distingue da organização
criminosa e que seu conceito se encontra no Código Penal, sendo assim definido:
“Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”
(BRASIL, 1940).
A ação nuclear deste crime é a associação, ou seja, formação de uma sociedade
criminosa. Trata-se de um delito plurissubjetivo, ou seja, é condição necessária para a
existência de associação criminosa o mínimo de três pessoas. Conforme leciona Estefam
(2022, p. 438):
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Aula 2
CRIME ORGANIZADO POR NATUREZA
Considerando o crescimento das associações criminosas no país, é
importante a criminalização das condutas que possuem o animus de
associação, em razão da danosidade que pode vir a ser causada por
um grupo por ser muito maior do que aquela a ser causada por um só
agente.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Compreendido o conceito de organização criminosa e os aspectos legais para a sua
configuração, necessário se faz analisar o tipo penal incriminador, previsto na Lei nº
12.850/2013.
Considerando o crescimento das associações criminosas no país, é importante a
criminalização das condutas que possuem o animus de associação, em razão da
danosidade que pode vir a ser causada por um grupo por ser muito maior do que aquela a
ser causada por um só agente.
Nesta aula, analisaremos o tipo penal de organização criminosa, de modo a compreender
os elementos que o integram: objetivo e subjetivo; elementos específicos dos tipos
penais: núcleo, sujeito ativo, sujeito passivo e objeto material; bem como consumação e
tentativa, além de examinar a pena cominada, agravante, aumento de pena, cumprimento
de pena e medida cautelar diversa da prisão.
ANÁLISE DO TIPO PENAL DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA: DISPOSITIVO
LEGAL; OBJETIVIDADE JURÍDICA; OBJETO MATERIAL; NÚCLEO DO
TIPO
Para que se possa analisar o tipo penal, inicialmente deve-se compreender de que se
trata tal conceito.
Para Eisele (2021, p. 158) “o tipo é uma expressão da legalidade, que cumpre uma
função de garantia porque possibilita o conhecimento da hipótese de fato em relação à
qual incide a normal penal”.
Trata-se, portanto, de definir o objeto da norma e seus limites. Os elementos que integram
o tipo penal são basicamente dois: elemento objetivo e elemento subjetivo.
Consoante, Greco (2023, p. 245), diz que a “finalidade básica dos elementos objetivos do
tipo é fazer com que o agente tome conhecimento de todos os dados necessários à
caracterização da infração penal, os quais, necessariamente, farão parte de seu dolo”.
O elemento subjetivo diz respeito ao componente psíquico (estado de consciência), ou
seja, à vontade do agente. Em se tratando do crime de organização criminosa, o elemento
subjetivo do tipo é o dolo, manifestado pela vontade livre e consciente de associação de
caráter permanente para obter vantagem ilícita de qualquer natureza.
Os tipos penais também possuem elementos específicos, quais sejam, o núcleo, o sujeito
ativo, o sujeito passivo e o objeto material. O núcleo do tipo consiste no(s) verbo(s) que
indica(m) ação ou omissão do agente. No crime organizado por natureza, são quatro os
comportamentos comissivos (ações) indicados(as) no texto do Art. 2º, caput, da Lei nº
12.850/2013, quais sejam: “promover”, “constituir”, “financiar” e “integrar”.
Havendo uma ou mais de uma das condutas de promover, constituir, financiar ou integrar
organização criminosa, tem-se somente a prática de um delito, ou seja, o crime
organizado por natureza se trata de tipo penal misto alternativo.
Não há admissão da forma culposa, havendo exigência do dolo específico que se traduz
na vontade livre e consciente de se associar de forma permanente (estável) para obter
vantagem ilícita de qualquer natureza.
Todos os verbos que compõem o núcleo do tipo descrevem ações que podem ser
praticadas pelos agentes, sendo, portanto, um crime comissivo, cuja pena é de “reclusão,
de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais
infrações penais praticadas” (BRASIL, 2013).
A pena cominada para o crime de organização criminosa é classificada como privativa de
liberdade, cujas modalidades são a reclusão e a detenção. Conforme prevê o Art. 33, do
Código Penal, a pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou
aberto.
Ressalte-se, também, que além da cominação de pena, a Lei nº 12.850/2013 apresenta
circunstância agravante (qual seja, o comando da organização criminosa) e causas de
aumento de pena para o crime organizado por natureza, bem como medida cautelar
diversa da prisão.
Para que se aplique ao crime a agravante prevista na legislação, basta que o(s) agente(s)
lidere(m) a organização criminosa, não havendo necessidade que pratique qualquer outro
ato referente a esta, pois consuma-se o crime quando há a associação dos agentes,
independente de qual papel desempenhem no âmbito da divisão de tarefas ou da
hierarquia existente.
Assim, “o agravamento da sanção por integrar a organização criminosa com status de
“comandante” acontecerá independentemente de sua contribuição para a prática de atos
executórios de infrações penais praticadas pela affectio criminis societatis” (MASSON;
MARÇAL, 2022, p. 83).
Diferentemente do que ocorre com a agravante, as causas de aumento de pena preveem
uma quantidade fixa desta a ser acrescentada na dosimetria. Consoante leciona Nucci
(2021, p. 88) as causas de aumento de pena “são circunstâncias legais, integrantes da
tipicidade incriminadora, que preveem elevações da pena, por cotas expressas em lei,
utilizadas na terceira fase da fixação da pena”.
Assim, são causas de aumento de pena para o crime organizado por natureza: o emprego
de arma de fogo; a participação de criança ou adolescente; o concurso de funcionário
público; o destino do produto ou proveito do crime, no todo ou em parte, para o exterior e;
a existência de conexão com outra(s) organização(ões) criminosa(s).
Observe-se que no Art. 2º §4º, inciso V, da Lei nº 12.850/2013 incide causa de aumento
de pena “se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização”.
Ocorre que tal causa não é aplicada em razão de a transnacionalidade ser elementar do
tipo penal incriminador. Trata-se de dupla punição pelo mesmo crime (bis in idem).
Por fim, quando houver indícios de que entre os integrantes da organização criminosa há
a presença de funcionário público, caso se verifique como necessário ao prosseguimento
da investigação ou produção de provas no âmbito do processo, pode o juiz determinar o
afastamento deste, conforme o Art. 2º §5º prevê, resultando em medida cautelar diversa
da prisão para o agente que possuir tal condição.
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Aula 3
CRIME ORGANIZADO II
A Lei nº 12.850/2013 traz em seu arcabouço aspectos processuais no
que tange a investigação da prática dos crimes previstos em seus
dispositivos (crime organizado por natureza e crime organizado por
extensão).
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
A Lei nº 12.850/2013 traz em seu arcabouço aspectos processuais no que tange a
investigação da prática dos crimes previstos em seus dispositivos (crime organizado por
natureza e crime organizado por extensão).
Um desses aspectos é a adoção de medida cautelar diversa da prisão quando, havendo
indícios de que um funcionário público integra a organização criminosa, este poderá ser
afastado de forma cautelar do cargo ou função, sem prejuízo da remuneração, pelo juiz.
Nesta aula analisaremos outras particularidades da referida legislação, como os efeitos da
condenação; investigação em caso de participação policial, proibição de obtenção de
benefícios e demais aspectos e jurisprudência atualizada sobre o tema.
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
Assim, além dos efeitos penais, a sentença penal condenatória transitada em julgado traz
consigo outros efeitos, chamados de extrapenais, que funcionam como uma espécie de
pena acessória. De forma geral, os efeitos da condenação estão previstos nos Arts. 91,
91-A e 92 do Código Penal.
O efeito extrapenal da condenação pelo crime de organização criminosa se encontra no
Art. 2º §6º, da Lei nº 12.850/2013, conforme supracitado.
No que se refere à perda do cargo, há dois posicionamentos na doutrina. O primeiro é
referente à perda do cargo abrangendo qualquer atividade que o agente estiver
exercendo ao tempo da condenação. O segundo versa sobre a perda do cargo se
restringir somente ao que o agente estivesse ocupando quando da prática do delito de
organização criminosa.
Outro efeito extrapenal exposto no mesmo dispositivo é referente à interdição, ou seja, à
impossibilidade de o agente vir a ocupar outro cargo ou função pública pelo prazo de oito
anos, após o cumprimento da pena tendo, assim, efeitos futuros.
Em se tratando de efeitos extrapenais automáticos, estes independem da quantidade de
pena cominada, não precisando sequer serem declaradas a perda do cargo e a interdição
na sentença penal condenatória.
Importante, também, destacar que, quanto aos efeitos da condenação, o Código Penal foi
alterado pela Lei nº 13.964/2019, a chamada Lei do Pacote Anticrime, de forma que foi
acrescentado ao referido diploma legal o Art. 91-A §5º, com a seguinte redação:
Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e
milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo
da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das
pessoas, a moral ou à ordem pública, nem oferecem sério risco de ser utilizados para o
cometimento de novos crimes (BRASIL, 2019).
Os instrumentos do crime são aqueles objetos, ou seja, os itens materiais que foram
utilizados para a prática do delito. Destaca-se que o Pacote Anticrime também trouxe
alterações para a Lei de Organização Criminosa conforme se verá adiante.
INVESTIGAÇÃO EM CASO DE PARTICIPAÇÃO POLICIAL. PROIBIÇÃO DE
OBTENÇÃO DE BENEFÍCIOS
(BRASIL, 2013)
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Aula 4
OUTROS CRIMES DA LEI 12.850/2013
Nesta aula iremos analisar outros crimes da Lei 12.850/2013, tais
como impedimento ou embaraçamento da persecução penal; os
crimes ocorridos na investigação e na obtenção da prova; bem como
a jurisprudência atualizada sobre o tem e as disposições finais da lei.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
A Lei nº 12.850/2013 tratou de definir o conceito de organização criminosa, bem como as
hipóteses de aplicabilidade por extensão. A referida legislação traz em seu arcabouço o
tipo penal incriminador referente ao delito de promover, constituir, financiar ou integrar,
pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa. Além do crime de
organização criminosa propriamente dito, há outros tipos penais incriminadores
constantes na Lei nº 12.850/2013.
Nesta aula iremos analisar outros crimes da Lei 12.850/2013, tais como impedimento ou
embaraçamento da persecução penal; os crimes ocorridos na investigação e na obtenção
da prova; bem como a jurisprudência atualizada sobre o tem e as disposições finais da
lei.
A questão ainda versa sobre a incidência do tipo penal quando o agente embaraçar ou
impedir o andamento do processo penal. São duas as correntes que abordam o tema: a
primeira versa sobre o tipo penal previsto no Art. 2º §1º, da Lei nº 12.850/2013 incidir
quando se tratar do processo penal em razão de o bem jurídico tutelado ser a própria
Administração da Justiça, não havendo que se falar em interpretação in malam
partem (MASSON; MARÇAL, 2021).
A segunda corrente defende a impossibilidade de haver interpretação extensiva da norma
pois, havendo omissão do legislador, não se pode haver interpretação in malam partem.
Importante destacar que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) está
alinhada com a primeira corrente.
Da mesma forma, para o min. Edson Fachin, a melhor exegese do art. 2.º, §
1.º, da Lei 12.850/2013 reclama que o referido tipo penal englobe tanto a
fase inquisitorial como a etapa judicial da persecutio criminis, sob pena de
ofensa ao princípio da proporcionalidade, na acepção da proibição da
proteção deficiente do bem jurídico tutelado pela norma penal.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
Conforme visto durante esta Unidade, foi promulgada a Lei nº 12.850/2013, que define o
conceito de organização criminosa e estabelece medidas para o seu combate efetivo.
O conceito de organização criminosa, conforme definido pela referida lei, abrange a
associação de quatro ou mais pessoas estruturalmente ordenadas, com divisão de tarefas
e atuação por tempo indeterminado, com o objetivo de obter vantagem econômica por
meio da prática de infrações penais graves.
A aplicabilidade da Lei nº 12.850/2013 não se restringe apenas às organizações
criminosas tradicionais, como grupos voltados para o tráfico de drogas ou para o
contrabando de armas. A legislação abrange qualquer forma de organização que se
enquadre na definição estabelecida, independentemente do tipo de atividade ilícita por ela
praticada.
Dessa forma, pode-se utilizar a lei de forma extensiva para combater outras modalidades
de grupos criminosos, como aqueles voltados para a corrupção, lavagem de dinheiro,
fraudes financeiras, entre outros.
O crime de organização criminosa, previsto na Lei nº 12.850/2013, consiste em constituir,
financiar ou integrar, diretamente ou por meio de terceiros, organização criminosa.
A pena prevista para esse tipo penal varia de 3 a 8 anos de reclusão, além de multa.
Ademais do descrito, a lei também elenca outros crimes relacionados que podem ser
praticados por essas organizações, dentre eles os de revelação de identidade do
colaborador; delação caluniosa; quebra de sigilo e sonegação de informes.
Dentre os efeitos da condenação, destaca-se a perda de bens, direitos e valores
relacionados à prática criminosa. A legislação estabelece que os bens provenientes de
infrações penais praticadas pela organização criminosa serão objeto de sequestro,
perdimento e confisco de origem ilícita. Essa medida busca desestimular e desmantelar
as estruturas financeiras das organizações criminosas, privando-as dos recursos
adquiridos de forma ilícita.
No âmbito do combate à criminalidade organizada, a Lei nº 12.850/2013 desempenha um
papel fundamental ao estabelecer tipos penais específicos para coibir e reprimir as
condutas que visam a obstrução da investigação e da persecução penal. Dentre esses
crimes, destaca-se o crime de impedimento ou embaraçamento da persecução penal,
previsto no artigo 2º, § 1º, inciso II da referida lei.
O crime de impedimento ou embaraçamento da persecução penal consiste em dificultar
ou obstruir, de qualquer forma, a investigação ou a persecução penal que envolva
organização criminosa. Tal conduta busca prejudicar ou frustrar a atuação dos órgãos
responsáveis pela repressão aos crimes organizados, como a polícia e o Ministério
Público.
É importante ressaltar que o crime de impedimento ou embaraçamento da persecução
penal não se restringe apenas aos membros da organização criminosa, mas pode
abranger qualquer pessoa que atue com o intuito de prejudicar o andamento das
investigações ou da ação penal relacionada à organização criminosa.
A Lei nº 12.850/2013 busca, assim, proteger o regular funcionamento das instituições
encarregadas de reprimir os crimes organizados e garantir a aplicação da justiça.
A punição dessa conduta visa não apenas coibir a atuação dos infratores, mas também
resguardar a integridade do sistema de justiça e garantir que os responsáveis por crimes
organizados sejam devidamente investigados, processados e condenados.
REVISÃO DA UNIDADE
ESTUDO DE CASO
Reflita
(BRASIL, 2013)
Restando evidente a presença de todos os elementos que a caracterizam. A instrução
processual foi realizada e, diante dos indícios de que o funcionário público municipal
integra organização criminosa, o juiz determinou seu afastamento cautelar do cargo, sem
prejuízo da remuneração, para auxiliar a instrução processual.
Diante dos indícios de participação do policial, a Corregedoria de Polícia instaurou
inquérito policial e comunicou ao Ministério Público que designou membro para
acompanhar o feito até sua conclusão.
Quanto ao delator, este será punido pela prática do crime de delação caluniosa, que
consiste em “imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de
infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura
de organização criminosa que sabe inverídicas”, nos termos do Art. 19, da Lei nº
12.850/2013.
Os familiares serão punidos pela prática do crime de impedimento ou embaraçamento da
persecução penal (Art. 2º §1º, da Lei nº 12.850/2013). Ao final do processo, considerados
culpados, os membros da organização criminosa foram condenados conforme as penas
previstas no Art. 2º, da Lei nº 12.850/2013.
O trabalho conjunto entre as autoridades competentes e o devido processo legal foram
fundamentais para a desarticulação da organização criminosa e a promoção da justiça.
RESUMO VISUAL
Fonte: elaborada pelo autor.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E SEUS MEIOS DE
PROVA
Aula 1
DA INVESTIGAÇÃO E MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA
Olá, estudante!
A criminalidade organizada é, atualmente, um dos maiores problemas a serem
enfrentados pelo Estado e pela sociedade.
Seu crescimento representa ameaça à sociedade e ao Estado Democrático de Direito,
seja pela gravidade das infrações penais praticadas, ou pelo decréscimo da confiança nas
instituições, gerando um aumento do sentimento de insegurança gerado na coletividade.
É importante conhecer e identificar de que forma a criminalidade organizada age, quais os
mecanismos utilizados para engendramento na estrutura do Estado.
Traremos os conceitos abordados na temática e, também, exemplos de situações atuais,
facilmente visualizadas no nosso cotidiano e os meios disponíveis para obtenção da
prova, dentro de uma investigação que envolva a criminalidade organizada.
Vamos lá?
Caro estudante, a complexidade das situações que envolvem o crime organizado fez com
que o Direito Penal e o Direito Processual Penal passassem a enxergar não somente a
figura do criminoso individual, mas também os crimes praticados dentro de contextos
associativos que transcendem as meras figuras da quadrilha ou bando, anteriormente
previstas no Código Penal, em sua redação original.
Foi necessária a adoção de novas técnicas de produção de prova, que acompanhassem o
incremento da atividade criminosa organizada, capazes de fazer frente aos ilícitos
perpetrados.
A Lei 12850/2013 passou a disciplinar com maior rigor as técnicas de investigação e
obtenção de prova, que podem ser utilizadas tanto na investigação preliminar, quanto na
ação penal propriamente dita, e que passaremos a ver adiante.
O artigo 3º da Lei 12.850 trouxe os meios de obtenção de prova no combate às
organizações criminosas, a saber: colaboração premiada; captação ambiental de sinais
eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; ação controlada; acesso a registros de ligações
telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou
privados e a informações eleitorais ou comerciais; interceptação de comunicações
telefônicas e telemáticas; afastamento de sigilo financeiro, bancário e fiscal; infiltração de
agentes; cooperação entre instituições e órgãos das diversas esferas federativas.
Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos
ou acústicos
A lei 12.850/2013 autoriza, expressamente, a interceptação ambiental de sinais
eletromagnéticos, ópticos ou acústicos.
Captar significa tomar conhecimento de conteúdo de comunicação alheia. O terceiro
passa a ter ciência do conteúdo de uma comunicação entre duas ou mais pessoas,
geralmente sem o conhecimento dos interlocutores.
Apesar de o dispositivo legal fazer referência ao termo captação, há que se inferir que a
captação de sinais eletromagnéticos, ópticos (filmagens e fotografias) ou acústicos
(gravação ambiental de conversa entre pessoas presentes) funciona, na verdade, como
elemento integrante do conceito de interceptação ambiental, também conhecido como
vigilância eletrônica (LIMA, 2019).
(BRASIL, 2001)
A quebra do sigilo bancário e fiscal deverá ser precedida, quando no âmbito das
investigações ou da ação penal, da respectiva decisão judicial que a determine, da
mesma forma como acontece com as comunicações telefônicas e telemáticas.
A captação ambiental
A captação ambiental de sinais acústicos, ópticos ou magnéticos pode ser feita por meio
de escutas, microfones, câmeras ocultas, monitoramento à distância, por satélite, antenas
ou outras formas de tecnologia.
A interceptação ambiental, portanto, é a captação de comunicação no recinto em que esta
ocorre, seja privado ou público, efetuada por terceiro, sem conhecimento dos
comunicadores. A escuta consiste na captação de comunicação em ambiente, feita por
terceiro, com o consentimento de um dos interlocutores.
Se a conversa captada for mantida em local público, sem expectativa de privacidade, sua
captação, ainda que sem autorização prévia, constitui prova lícita. Se acontecer em local
público, porém em caráter sigiloso, expressamente admitido pelos interlocutores, a
gravação sem autorização prévia constitui infração à privacidade, portanto, ilícita. Caso
aconteça em lugar privado e produzida sem prévia autorização judicial, constitui invasão
de privacidade.
Quanto à licitude da gravação ambiental clandestina, é pacífico na doutrina que, por força
do princípio da proporcionalidade, a divulgação de gravação não sub-reptícia de conversa
própria reputa-se lícita quando for usada para comprovar a inocência do acusado, ou
quando houver investida criminosa de um dos interlocutores contra o outro.
Sendo assim, é necessário que se indique, com suficiente clareza, a autoridade policial ou
o membro do Ministério Público, os elementos razoáveis que apontem a autoria ou
participação do agente em infração penal, punida com pena de reclusão, e que a
finalidade de esclarecimento da verdade não possa ser obtida por outros meios.
O juiz decidirá, no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, em decisão fundamentada,
que não poderá exceder o prazo de quinze dias (isso para a interceptação telefônica, que
é medida pela qual se colhe, em tempo real, toda a atividade desenvolvida no terminal
interceptado).
Acesso a dados cadastrais constantes de bancos de
dados públicos ou privados
O artigo 15 da Lei 12.850/2013 dispõe que o delegado de polícia e o Ministério Público
terão acesso, independentemente de autorização judicial, aos dados cadastrais do
investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, filiação e endereço
mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores
de internet e administradoras de cartão de crédito.
Esses registros ficarão à disposição da autoridade judicial, Ministério Público e polícia,
para acesso direto e permanente, inclusive aqueles registros constantes nos bancos de
dados de concessionárias de telefonia fixa ou móvel.
Importante ressaltar que o acesso aos registros de identificação de números de terminais
de origem e destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais serão
mantidos pelo prazo de 5 (cinco) anos, pelas concessionárias de telefonia.
Com relação aos demais meios de prova, é fundamental ter em mente que a prova
produzida no decorrer da investigação ou ação penal que verse sobre o crime de
organização criminosa, assim como nos demais crimes, deve obedecer ao regramento
constitucional quanto à prova em geral. Isso significa dizer que qualquer determinação
judicial, no curso de ação penal ou investigação, deve ser realizada com observância ao
que determina a Constituição Federal no que diz respeito a produção da prova.
Sendo assim, a observância dos preceitos reserva de lei (artigo 5º, caput e II e LIV),
reserva de jurisdição e proporcionalidade das medidas deverá ser sempre a regra.
Com a Lei n.º 13.964/2019 (Pacote Anticrime), foi inserido o art. 8º-A na Lei n.º 9296/96,
que exige prévia autorização judicial para a captação ambiental:
Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo
juiz, a requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação
ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando:
I- A prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente
eficazes; e
II- Houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em
infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) aos ou
em infrações penais conexas.
§1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma
de instalação do dispositivo de captação ambiental ipsum dolor sit amet,
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(BRASIL, 1996)
Sendo assim, é necessário que se indique, com suficiente clareza, a autoridade policial ou
o membro do Ministério Público, os elementos razoáveis que apontem a autoria ou
participação do agente em infração penal, punida com pena de reclusão, e que a
finalidade de esclarecimento da verdade não possa ser obtida por outros meios.
O juiz decidirá, no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, em decisão fundamentada,
que não poderá exceder o prazo de quinze dias (isso para a interceptação telefônica, que
é medida pela qual se colhe, em tempo real, toda a atividade desenvolvida no terminal
interceptado).
Saiba mais
Poderá saber mais sobre o assunto em aula, bem como trazendo informações acerca do
trabalho desenvolvido no combate ao crime organizado, nos links a seguir.
Um deles trata-se de uma publicação sobre combate a organizações criminosas. Vale a
pena conferir, para ilustrar ainda mais o conhecimento adquirido em sala de aula. Confira:
• Combate a corrupção
• Linha do tempo
• Organizações Criminosas: o novo tipo de milícia
Aula 2
DA INVESTIGAÇÃO E MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA II
Olá, estudante!
Dentro da complexidade verificada na atividade criminosa moderna, muitas vezes os
instrumentos tradicionais de investigação mostram-se insuficientes à consecução dos
objetivos maiores da Lei, que é justamente a repressão aos delitos.
A Lei 12.850/2013, no intuito de acompanhar a complexidade que também alcançou a
criminalidade organizada, trouxe importantes institutos que aprimoram a atividade policial
e investigativa, e são importantes instrumentos para coleta de elementos para formação
da culpa dentro da persecução penal.
Veremos, nesta aula, instrumentos que estão à disposição para a coleta de elementos de
prova, dentro de uma investigação que envolva a criminalidade organizada.
Vamos lá?
Existem situações concretas em que a investigação, caso siga o trâmite normal, acabará
desembocando na prisão dos integrantes do grupo até então investigado. Referida
providência, em determinados casos, acaba se mostrando pouco produtiva, tendo em
vista a necessidade de se descobrir outros integrantes do grupo ou suas ramificações.
Sendo assim, pelo menos em um primeiro momento, a legislação passa a permitir o
monitoramento das ações criminosas do grupo organizado, notadamente dos que
exerçam o comando deste.
Surge, então, a figura da ação controlada, que consiste no retardamento da intervenção
do aparato estatal, que segue agindo, todavia, diferindo a ação para o momento mais
oportuno sob o ponto de vista da investigação.
(BRASIL, 2013)
Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da
internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos no art.
1º desta Lei.
(BRASIL, 2013)
Neste outro caso, o STJ entendeu que assim como na interceptação telefônica, pode ser
que na infiltração policial, autorizada previamente pelo juiz, venha a ser descoberto,
casualmente, outros crimes que não aqueles para os quais a diligência (infiltração de
agentes) tenha sido dirigida, não maculando, de toda forma, a prova produzida, diante da
“descoberta casual”, ou “encontro fortuito”, plenamente admissível (também conhecido na
doutrina como “serendipidade”):
Saiba mais
Aula 3
DA COLABORAÇÃO PREMIADA
Olá, estudante!
Como vimos nas aulas anteriores, o sistema de investigação da criminalidade organizada
demanda a utilização de recursos que desafiam a complexidade da vida moderna.
Dentre os instrumentos trazidos pela Lei 12.850/2013, muito se fala sobre a possibilidade
de utilização de declarações dos envolvidos nos crimes para fins de produção de prova e
incriminação e identificação dos demais autores de delito, nos crimes de autoria coletiva,
especificamente naqueles praticados no contexto de organizações criminosas.
Nesta aula, trataremos da colaboração premiada, importante instrumento de obtenção de
prova na persecução penal que verse sobre organizações criminosas.
Vamos lá?
DA COLABORAÇÃO PREMIADA
Desde tempos imemoriais, convive o ser humano com a figura da traição. No Direito não
poderia ser diferente. A ação de um indivíduo em apontar os demais autores da infração
penal, obtendo benefício em troca, surge como uma ferramenta crucial para
desmantelamento das organizações criminosas. Essa prática é prevista como meio de
produção de prova na Lei 12.850/2013.
A colaboração premiada pode ser, assim, conceituada como:
(...) o juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir
em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por
restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente
com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração
advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - A identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e
das infrações penais por eles praticadas;
II - A revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização
criminosa;
III - A prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização
criminosa;
IV - A recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações
penais praticadas pela organização criminosa;
V - A localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
(BRASIL, 2013)
A colaboração premiada deve ser voluntária, ou seja, deve expressar um ato de vontade
do agente, independentemente dessa vontade ter sido espontânea ou não.
É necessário, então, a plena manifestação de vontade do agente, ainda que tenha sido
aconselhado por terceiro, mas que venha com plena consciência da realidade, resultante
de escolha deliberada sem má-fé. Não se faz necessário, na colaboração premiada,
perquirir-se acerca dos motivos que levaram o colaborador a assim proceder.
Para que o agente faça jus aos benefícios penais e processuais penais estipulados pela
Lei, é indispensável aferir-se a relevância e a eficácia objetiva das declarações prestadas
pelo colaborador.
O artigo 5º da Lei 12.850/2013 traz os direitos do colaborador:
(BRASIL, 2013)
O artigo 6º prevê que o termo de acordo da colaboração premiada deverá vir por escrito,
contendo relato da colaboração e possíveis resultados; condições da proposta do
Ministério Público ou do delegado de polícia; declaração de aceitação do colaborador e
seu defensor; assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de
polícia, colaborador e seu defensor, e especificação das medidas de proteção ao
colaborador e sua família, quando necessário.
Portanto, é legitimada pela Lei a celebração da colaboração premiada tanto ao membro
do Ministério Público, quanto ao delegado de polícia. Neste último caso, sendo o
Ministério Público o titular da persecução penal, deverá concordar com a proposta
oferecida pelo delegado de polícia e submetê-lo à homologação pelo juiz. Se, em
manifestação, o Ministério Público não concordar com a proposta de acordo oferecida
pelo delegado de polícia, o juiz não poderá homologar a colaboração.
Havendo recusa à proposta de colaboração premiada por parte do Ministério Público, será
realizado segundo o previsto no artigo 28 do Código de Processo Penal, ainda com a
redação antiga, remetendo-se a questão à apreciação do Procurador-Geral de Justiça,
que decidirá sobre o oferecimento da proposta.
A proposta, de acordo de colaboração premiada, é retratável até a homologação.
Portanto, até que seja feita pelo juiz, podem as partes (Ministério Público e investigado ou
acusado) voltarem atrás no acordo celebrado. Neste caso, as provas auto incriminatórias
produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor,
de acordo com o art. 4º, § 10 da Lei 12.850/2013.
Com a homologação do acordo, pelo juiz, no qual serão analisados os requisitos do § 7º,
o colaborador renuncia, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio, estando
sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade (§ 14 do artigo 4º). O acordo
homologado poderá ser rescindido em caso de omissão dolosa sobre os fatos objeto da
colaboração (§ 17 do artigo 4º).
Por fim, a homologação do acordo de colaboração premiada pressupõe que o colaborador
não mais se envolva nas condutas ilícitas objeto da colaboração, sob pena de rescisão,
conforme § 18 do artigo 4º (BRASIL, 2013).
(BRASIL, 2013)
(STJ – RHC 164.616-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quinta Turma,
j. em 27/09/2022, DJe 30/09/2022)
Saiba mais
Veja no link a seguir os julgados do STJ sobre o assunto – colaboração premiada. Vale a
leitura, para entender como se desenvolveu o entendimento do Tribunal que faz a
interpretação da Lei infraconstitucional do país sobre esse tema:
• Colaboração premiada.
Aula 4
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E SUAS DIMENSÕES
Olá, estudante!
Conforme vimos anteriormente, o Estado conta com diversos instrumentos para combate
ao crime organizado. Todavia, podemos perceber no nosso dia a dia, nos telejornais e no
mundo virtual, que a todo momento surgem novas atividades que demandam uma
atuação mais eficaz no combate às atividades ilícitas desenvolvidas por grupos que se
organizam na macrocriminalidade.
Nesta aula, veremos como a atuação desses grupos impacta negativamente na
sociedade brasileira, e quais são as formas de identificação dessas ações ilícitas por eles
praticadas.
Bons estudos!
Como visto nas aulas anteriores, sempre que estivermos diante de um grupo formado por
mais de quatro indivíduos, associados de forma permanente e estável, e de forma
estruturalmente ordenada, com divisão de tarefas, unidos, enfim, para a prática de
diversos crimes (crimes estes com penas máximas superiores a quatro anos, praticados
no Brasil, ou crimes e contravenções praticados dentro e fora do Brasil), estaremos diante
de uma organização criminosa.
Podemos perceber, também, que a atuação desses grupos organizados causa enorme
prejuízo à coletividade, não apenas porque causa na população um sentimento de
descrédito perante as instituições de segurança pública, mas também porque essa
atuação acaba impactando na própria economia do país.
Neste bloco, falaremos como se organiza – a partir de números retirados de fontes oficiais
– o crime organizado no Brasil e os impactos deste na democracia.
Por trás das notícias que vemos diariamente nos jornais, acerca da atuação dos grupos
organizados no Brasil, mais especificamente das facções criminosas que tomaram espaço
nas prisões brasileiras, temos um fenômeno histórico e sociológico que remonta à década
de 1960. Nessa época, o Brasil passou por mudanças significativas, deixando de ser um
país com uma população de maioria rural, para, na década de 1980, ter a maior parte da
população concentrada nos centros urbanos.
Essa migração de pessoas, sendo grande parte sem acesso à educação, somada às
crises econômicas mundiais, e – por que não – às crises internas, foram um dos fatores
que levaram ao aumento da criminalidade no país. Some-se a isso a ausência do Estado
em áreas importantes, como educação, saúde, moradia etc.
Entende-se, então, que o aumento da população com pouca ou nenhuma condição de
vida, a exclusão social, embora não sejam causa da criminalidade, fornecem território e
integrantes para o crime organizado. No entanto, não são apenas esses fatores que
contribuem para a ocorrência da criminalidade organizada.
A falta de perspectiva em uma sociedade em que o indivíduo é validado pelo que possui,
não pelo que ele realmente é; a falta de perspectiva causada pela ausência de mobilidade
social, por falta de oportunidades aos indivíduos oriundos das classes menos favorecidas;
e, ainda, o sentimento de descrédito nas instituições, que podem ser considerados fatores
importantes para o aumento do crime organizada.
Não existem elementos seguros que possam apontar os fatores reais desse aumento,
mas a comparação dos índices de violência, bem como dos números de presos,
atualmente, vinculados a facções criminosas, nos levam a um quadro que talvez nos faça
compreender a real situação do país atualmente.
Some-se a isso o sentimento de impunidade, especialmente quanto aos crimes praticados
contra a Administração Pública ou nos crimes de lavagem de capitais, que geralmente
envolvem pessoas integrantes das camadas mais abastadas da sociedade.
O Brasil possui aproximadamente 53 (cinquenta e três) facções criminosas em atuação.
Em cada Estado e no Distrito Federal há pelo menos um grupo com presença registrada.
Segundo levantamento feito pelo Fórum Nacional de Segurança Pública, organizações
como PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) se rivalizam na
disputa por territórios e têm atuação nacional.
A facção de origem paulista (PCC) está presente no DF e em outros 24 estados. Já o
grupo nascido no Rio de Janeiro (CV) atua em 13 Estados, além do DF. Tais informações
constam na edição especial do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em
25/07/2022.
De acordo com o Índice Global do Crime Organizado, primeiro levantamento dessa
natureza, recém-lançado pela Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional
(GI-TOC, 2022), comparado aos demais países, o Brasil é o 22º dos 193 estados-
membros da ONU com o maior índice de criminalidade organizada. Na América do Sul,
fica atrás apenas de Colômbia, Venezuela e Paraguai. No quesito “mercado criminoso”
(criminal market), o Brasil ocupa o 11º lugar.
(BRASIL, 2018)
A Lei estabelece, ainda, as diretrizes da PNSPDS em seu artigo 3º, dentre os quais a
ação integrada entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em ações de
segurança pública e políticas transversais para a preservação da vida, meio ambiente e
dignidade da pessoa humana.
Em seu artigo 6º, estabelece os objetivos da PNDSPDS, nos incisos de I a XXVI, que
direcionarão a formulação do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social,
estabelecendo estratégias, metas, indicadores e ações para alcance desses objetivos.
Como estratégias de ação do Estado, o artigo 7º estabelece que:
(BRASIL, 2018)
(BRASIL, 2018)
Além das diretrizes adotadas na elaboração dos planos de ação pelo Estado e no efetivo
acompanhamento dessas políticas, especialmente no combate ao crime organizado, a
referida lei traz o Programa Nacional de Qualidade de Vida para profissionais da
Segurança Pública (Pró-vida).
Esse programa tem como propósito a preservação e monitoração à qualidade
psicossocial e de saúde dos profissionais de segurança pública e defesa social,
integrando sistemicamente as unidades de saúde dos órgãos que compõem o SUSP.
A política de atenção aos profissionais inclui diretrizes relacionados à prevenção da
violência autoprovocada e do suicídio, que também são fatores importantes para uma
atuação efetiva com a minimização dos danos aos agentes públicos (artigos 42 a 42-E).
Saiba mais
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
Colaboração premiada
A colaboração premiada é instrumento de investigação em que o autor do crime confessa
seu envolvimento no fato e fornece aos órgãos responsáveis pela persecução
informações e elementos eficazes para a investigação ou ação penal, recebendo, em
troca, determinado prêmio legal.
Com a homologação do acordo de colaboração premiada, o colaborador renuncia ao seu
direito ao silêncio, sujeitando-se ao compromisso legal de dizer a verdade.
Ação controlada
É técnica especial de investigação, prevista na Lei de Drogas (Lei 11.343/06, artigo 53, II),
na Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9.613/98, art. 4º-B) e na Lei de Organizações
Criminosas (Lei 12.850, art. 8º).
(BRASIL, 2013)
Infiltração de agentes
Técnica especial de investigação que consiste em introduzir um agente,
dissimuladamente, na organização criminosa, que passa a agir como um de seus
integrantes, ocultando sua verdadeira identidade, com a finalidade de identificar fontes de
prova e obter elementos capazes de permitir ser a organização desarticulada. Esta ação é
permitida apenas com autorização judicial.
A partir do momento em que o agente infiltrado passa a integrar a organização como se
fosse um dos membros, ele passará a agir, evidentemente, como um criminoso, e é
possível que os demais integrantes exijam do agente infiltrado a prática de crimes.
Em alguns casos, o agente infiltrado deverá acompanhar os demais integrantes da
organização, para não levantar suspeitas sobre sua real identidade, viabilizando a colheita
de elementos de informação na investigação. Sendo assim, o artigo 10-C disciplina
acerca da responsabilidade criminal do agente infiltrado.
Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da
internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos no art.
1º desta Lei.
(BRASIL, 2013)
REVISÃO DA UNIDADE
ESTUDO DE CASO
Reflita
RESUMO VISUAL
CRIMINALIDADE ORGANIZADA
Aula 1
O CRIME ORGANIZADO
Do ponto de vista legislativo, em terras brasileiras, a Lei 9034/95 foi o primeiro diploma
normativo que se preocupou com o Crime organizado de maneira específica, definindo
em seu texto alguns procedimentos investigatórios que versavam sobre o delito de
quadrilha ou bando, então descritos no art. 288 do Código Penal Brasileiro.
Entretanto, essa lei era bastante limitada, na medida em que não definiu claramente em
termos jurídicos o que seria um crime organizado, ou praticado por organização
criminosa.
Posteriormente, em 2004, o Brasil incorporou ao ordenamento jurídico a Convenção de
Palermo (Decreto 5.015/2004), fixando-se o conceito de “grupo criminoso organizado”
como sendo um grupo “estruturado de três ou mais pessoas”, com propósitos de cometer
crimes graves.
Até que nos anos de 2012 e 2013, com as Leis 12.694/2012 (que versa sobre o
julgamento dos crimes de organização criminosa), e a Lei do Crime Organizado
(12.850/2013) o conceito de crime organizado passou a ser definido no art. 1ª, §1º desta
última lei, como:
Assim, qualquer que seja a organização criminosa, na prática, em alguma medida haverá
uma afetação à democracia e a condução das políticas públicas como um todo, em
especial em áreas mais vulneráveis socialmente, pois onde o Estado não é capaz de
ocupar o poder, tal vácuo de poder é ocupado por esses agentes, maculando a autonomia
e liberdade das instituições democráticas, tão importantes para a manutenção do Estado
de Bem Estar social (CLEMENTINO, 2008), impedindo o livre exercício de direitos, e a
igualdade entre os agentes que ocupam os espaços sociais de poder.
Saiba mais
Para se aprofundar nos temas abordados em aula leia a obra do professor Roberto Porto.
PORTO, Roberto. Crime organizado e sistema Prisional. Grupo GEN, 2008. E-
book. ISBN 9788522467068. Págs: 60 a 73.
Aula 2
CORRUPÇÃO E SEUS ASPECTOS
Olá, estudante!
Nesta Unidade, continuaremos aprofundando nossos conhecimentos sobre as
Organizações Criminosas. Estaremos diante de temas que irão formar uma noção
importante e básica sobre a criminalidade especializada.
Nesta aula iremos analisar a corrupção dentro do cenário do Direito Penal, com todas as
suas vertentes e os principais tipos penais correlatos. Falaremos bastante do crime de
peculato, praticado por funcionário público em detrimento do Estado.
Ainda, abordaremos os crimes do colarinho branco, com um foco direcionado para o as
ações de agentes governamentais. A ação de combate a corrupção será abordada com
muita ênfase durante o nosso curso, com especial atenção às leis penais anticorrupção.
CORRUPÇÃO E SUAS DIMENSÕES – TIPOS PENAIS CORRELATOS
O Direito Penal conceitua funcionário público em seu artigo 327 do CódigoPenal, podendo
ser dividido em:
Funcionário público típico (art. 327, caput, CP):quem exerce, embora transitoriamente
e sem remuneração:
Funcionário público atípico ou por equiparação (art. 327, §1º, CP): a partir da lei
9983/00, ampliaram a definição (“... e quem...”). Houve esta ampliação devido à política
de desestatização (concessão, permissão).
Equipara-se a funcionário público quem:
Somente será equiparado a funcionário público quem executar atividade típica – voltada
para o administrado, para o cidadão – da Administração Pública. Se uma empresa
contratada para funcionar num cerimonial de recepção a um chefe de governo estrangeiro
exerce atividade atípica.
A extensão do referido parágrafo só se aplica nas hipóteses em que o funcionário público
equiparado é sujeito ativo ou também quando vítima? Será possível, por exemplo,
desacato em face de gerente do Banco do Brasil?
1ª corrente: a equiparação somente se aplica aos crimes em que o funcionário público
atípico é sujeito ativo. Aliás, se quisesse o legislador dilatar o conceito de funcionário
público aos casos em que ele aparece como vítima do delito, não teria incluído a
disposição em causa somente no capítulo dos crimes funcionais.
2ª corrente: aplica-se também aos crimes nos quais o funcionário público é sujeito
passivo. O conceito definido no art. 327 do CP se estende não só a toda a parte especial
como às leis extravagantes, tendo a característica de regra geral.
A expressão colarinho branco está relacionada a um crime não violento, praticado por
pessoas que detenham grande poder na sociedade ou que possuam cargo público, e que
usam dessa vantagem para praticar um crime, como peculato, fraude, extorsão,
apropriação indébita, dentre outros.
A Lei 7.492/86, a chamada Lei do Colarinho Branco, apresenta em seu contexto os crimes
contra o Sistema Financeiro Nacional. Ela define instituição financeira, como a pessoa
jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória,
cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros
de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição,
negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.
Ainda, equipara-se à instituição financeira a pessoa jurídica que capte ou administre
seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de
terceiros, a pessoa jurídica que ofereça serviços referentes a operações com ativos
virtuais, inclusive intermediação, negociação ou custódia e a pessoa natural que exerça
quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que de forma eventual.
Podemos destacar algumas condutas criminosas previstas nesta Lei, como imprimir,
reproduzir ou, de qualquer modo, fabricar ou pôr em circulação, sem autorização escrita
da sociedade emissora, certificado, cautela ou outro documento representativo de título
ou valor mobiliário, que prevê uma pena de reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Destacamos que aquele que imprime, fabrica, divulga, distribui ou faz distribuir prospecto
ou material de propaganda relativo também respondem pelo mesmo delito. Também é
crime a divulgação de informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição
financeira, com uma pena de reclusão de dois a seis anos e multa.
Ainda, é previsto como crime contra o sistema financeiro nacional gerir fraudulentamente
instituição financeira, com uma previsão de pena de reclusão, de três a doze anos, e
multa. Ainda, quem induz ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública
competente, relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-lhe informação
ou prestando-a falsamente, responderá por uma pena de reclusão de dois a seis anos e
multa.
Emitir, oferecer ou negociar, de qualquer modo, títulos ou valores mobiliários falsos,
falsificados ou sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente, em
condições divergentes das constantes do registro ou irregularmente registrados ou sem
lastro ou garantia suficientes, nos termos da legislação ou sem autorização prévia da
autoridade competente, quando legalmente exigida pratica crime e ficará sujeito a uma
pena de reclusão de dois a oito anos e multa.
Também, quem exigir, em desacordo com a legislação juro, comissão ou qualquer tipo de
remuneração sobre operação de crédito ou de seguro, administração de fundo mútuo ou
fiscal ou de consórcio, serviço de corretagem ou distribuição de títulos ou valores
mobiliários pratica crime sujeito a uma pena de reclusão de um a quatro anos e multa.
LEI ANTICORRUPÇÃO
Saiba mais
Leia as páginas 1104 a 1283 da obra Código Penal Comentado do Professor Rogério
Greco.
GRECO, R. Código Penal Comentado. 12. ed. Niteroi: Ed. Impetus, 2018.
Aula 3
LAVAGEM DE DINHEIRO
LAVAGEM DE DINHEIRO
É por meio da lavagem de capitais, bens, direitos e valores obtidos com a prática de
crimes que são integrados ao sistema econômico-financeiro, com a aparência de terem
sido obtidos de maneira lícita.
Podemos citar como exemplos de pessoas jurídicas criadas para lavar dinheiro uma
locadora de filmes, ou mesmo restaurantes, academias de ginástica etc. Para falar em
lavagem de capitais, o Supremo Tribunal Federal analisou o caso da “máfia dos fiscais”,
na capital de São Paulo, onde um único cheque foi suficiente para caracterizar a lavagem
de capitais.
A lei de Lavagem de Capitais apresenta gerações: 1ª Geração: o único crime antecedente
era o de tráfico de drogas. 2ª Geração: envolve uma ampliação do rol de crimes
antecedentes, porém permanece um rol taxativo. É o que acontecia com a lei
brasileira. 3ª Geração: consideram que qualquer crime grave pode figurar como delito
antecedente do crime de lavagem de capitais. É o que acontece na Espanha e na
Argentina e hoje também no Brasil, com o advento da lei 12.683 de 2012 que alterou a Lei
9.613/ de 1998.
De acordo com Grupo de Ação Financeira –GAFI sobre lavagem de dinheiro:
Com relação ao bem jurídico tutelado pela lei de lavagem dinheiro, temos 4 correntes
sobre o tema:
a. Bem jurídico tutelado é o mesmo bem jurídico tutelado pelo crime antecedente.
b. Bem jurídico tutelado seria a Administração da justiça, porque o cometimento da
lavagem torna difícil a recuperação do produto do crime.
c. Bem jurídico tutelado é a ordem econômico-financeira.
d. A lavagem de capitais ofende dois bens jurídicos:
1. O sistema econômico-financeiro.
2. O bem jurídico tutelado pelo crime antecedente.
Saiba mais
Recomendamos a leitura das páginas 507 a 543 da obra Leis Penais e Processuais
Penais comentadas do Professor Guilherme de Souza Nucci.
NUCCI, G. S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. v. 2, 13.ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
Aula 4
MERCADOS ILÍCITOS E CRIME ORGANIZADO
Olá, estudante! Nesta unidade, iremos aprofundar nossos conhecimentos sobre o crime
de Tráfico de Drogas, que atualmente está definido na Lei 11.343 de 2006, e possui o
rótulo de ser um crime assemelhado a crime hediondo.
A Lei 11.343/2006 revogou expressamente as Leis 6.368/76 e 10.409/2002,
regulamentando o tema tráfico de drogas. Importante frisar que a Lei 6.368/76 utilizava a
expressão “tóxicos”.
Antes dessa lei, era crime contra a saúde pública previsto do Código Penal. A Lei
11.343/2006 criou o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD, que
foi criado com o objetivo de ser um sistema informativo e orientador de políticas públicas.
Bons estudos!
TRÁFICO DE DROGAS
Saiba mais
Recomendamos a leitura das páginas 701 a 779 da obra Leis Penais e Processuais
Penais Comentadas do Professor Guilherme de Souza Nucci.
NUCCI, G. S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. v. 2, 13.ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
DISCRIMINAÇÃO
A Lei 7.492/86, conhecida como Lei do Colarinho Branco, apresenta em seu contexto os
crimes contra o Sistema Financeiro Nacional.
Define instituição financeira, como a pessoa jurídica de direito público ou privado, que
tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação,
intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou
administração de valores mobiliários.
Ainda, equipara-se à instituição financeira a pessoa jurídica que capte ou administre
seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de
terceiros, a pessoa jurídica que ofereça serviços referentes a operações com ativos
virtuais, inclusive intermediação, negociação ou custódia e a pessoa natural que exerça
quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que de forma eventual. Também,
analisamos a lavagem de dinheiro.
Aliás, é por meio da lavagem de capitais, bens, direitos e valores obtidos com a prática de
crimes que são integrados ao sistema econômico-financeiro, com a aparência de terem
sido obtidos de maneira lícita. Podemos citar como exemplos de pessoas jurídicas
criadas para lavar dinheiro uma locadora de filmes, ou mesmo restaurantes, academias
de ginástica.
Por fim, estudamos o tráfico de drogas, com suas definições legais bem como a
transnacionalidade do crime organizado.
REVISÃO DA UNIDADE
ESTUDO DE CASO
Imaginemos que Pedro dos Santos decide se dedicar ao mundo ilícito, iniciando sua
atividade no tráfico de drogas, passando a comercializar ilegalmente cocaína.
Com isso, decide ir até escolas do bairro em que vive para oferecer a droga para
estudantes universitários, que frequentam cursos profissionalizantes. Passou a viver
dentro de uma universidade, convivendo com jovens estudantes daquela casa de ensino.
Recebia a cocaína de uma transportadora que se fazia de comercio de eletrônicos.
A mercadoria chegava através de caminhões vindo da Bolívia e do Peru, passando
sempre pelo Estado do Mato Grosso do Sul. Pedro dos Santos se dirigia para a cidade de
São José do Rio Preto, de avião, ficava hospedado em hotel daquela urbe, e no horário
combinado ia ao encontro de um boliviano, geralmente em restaurantes populares e
pegava a mercadoria.
Em seguida, se dirigia para o aeroporto e retornava para a capital de São Paulo, onde
comercializava a droga ilícita. Fazia isso duas vezes por semana.
Não chamava a atenção das autoridades policiais, uma vez que se vestia de forma
simples, com aparência estudantil, causando tênis, calça jeans e camiseta de cor neutra,
sem chamar a atenção. A droga era despachada no bagageiro do avião, sempre
acompanhado de chocolates e roupas para desviar qualquer atenção.
Durante uma operação de rotina, a Polícia Civil de São José do Rio Preto, guiada por
cães farejadores, identificaram a mala de Pedro dos Santos. Com isso, fizeram a abertura
da mala e encontraram em seu interior aproximadamente 23 quilos de cocaína.
Conseguiram identificar que a droga era peruana, e continha características de ser da
Bolívia.
Pedro foi identificado dentro da aeronave, sendo conduzido até a sede da Delegacia de
Polícia no interior do aeroporto de São José do Rio Preto. Naquele local, Pedro dos
Santos, inicialmente, negou qualquer envolvimento com aquela mala.
Entretanto, depois de ver as imagens do circuito interno do aeroporto, confessou todo o
crime, informando que a droga era oriunda da Bolívia e do Peru, e que estaria levando o
entorpecente para a capital de São Paulo para vender aos estudantes daquela cidade.
Como delegado de polícia, o que você deveria fazer diante de tal situação?
Reflita
O crime de tráfico de drogas está previsto no Artigo 33 da Lei de Drogas, Lei 11.343 de
2006. Ainda, o artigo 40 da mesma legislação prevê causas de aumento de pena de um
sexto a dois terços.
Dentre as causas, destacamos quando a natureza, a procedência da substância ou do
produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do
delito. A prática depende do envolvimento de dois ou mais países.
Devemos destacar que a Súmula 607 do Superior Tribunal de Justiça prevê que: “A
majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006) configura-
se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras” (BRASIL, 2006).
A competência para julgamento em tais hipóteses será da Justiça Federal, e não dá
Justiça Estadual, e a investigação ficará à cargo da polícia federal. A denúncia será feita
pelo Ministério Público Federal.
Ocorreu um crime. Pedro dos Santos se tornou um traficante. Passou a vender cocaína
nas faculdades da cidade de São Paulo. Recebia a cocaína de uma transportadora que se
fazia de comercio de eletrônicos.
A mercadoria chegava através de caminhões vindo da Bolívia e do Peru, passando
sempre pelo Estado do Mato Grosso do Sul. Pedro se dirigia para a cidade de São José
do Rio Preto de avião, ficava hospedado em hotel daquela urbe, e no horário combinado
ia ao encontro de um boliviano, geralmente em restaurantes populares e pegava a
mercadoria. Durante uma operação de rotina, a Polícia Civil de São José do Rio Preto,
guiada por cães farejadores, identificaram a mala de Pedro dos Santos. Com isso, fizeram
a abertura da mala e encontraram em seu interior aproximadamente 23 quilos de cocaína.
Conseguiram identificar que a droga era peruana, e continha características de ser da
Bolívia. Pedro foi identificado dentro da aeronave, tendo sido conduzido até a sede da
Delegacia de Polícia no interior do aeroporto de São José do Rio Preto.
Naquele local, Pedro dos Santos, inicialmente, negou qualquer envolvimento com aquela
mala. Entretanto, depois de ver as imagens do circuito interno do aeroporto, confessou
todo o crime, informando que a droga era oriunda da Bolívia e do Peru, e que estaria
levando o entorpecente para a capital de São Paulo para vender aos estudantes daquela
cidade.
Fica demonstrado que Pedro dos Santos praticou o crime de tráfico de drogas, definido no
Artigo 33 caput da Lei 11.343/2006. Ainda, ficou caracterizado que a droga era
proveniente do Peru e da Bolívia, países sulamericanos que integram a divisa com o
Brasil.
O artigo 40 da mesma legislação prevê causas de aumento de pena de um sexto a dois
terços. Dentre elas, destacamos quando a natureza, a procedência da substância ou do
produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do
delito.
Entretanto, a competência para julgamento em tais hipóteses será da Justiça Federal, e
não dá Justiça Estadual. Sendo assim, o delegado deverá encaminhar a ocorrência para
a Polícia Federal, que será atuado em flagrante delito pelo crime de tráfico internacional
de drogas.
RESUMO VISUAL
CRIMINOLOGIA E CRIME ORGANIZADO
Aula 1
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA CRIMINOLOGIA
Olá, estudante!
Entender o conceito de criminologia é fundamental para compreender as motivações que
levam ao surgimento do crime e do criminoso, demonstrando que a criminalidade possui
várias nuances.
Nessa parte introdutória, é importante conhecer tal conceito e a forma metodológica que
ela se utiliza para identificar os seus objetos de estudo, quais sejam, o crime, o criminoso,
a vítima e a pena.
Assim, nesta aula identificaremos os aspectos teóricos e práticos da criminologia para
fazer uma análise completa do que vem a ser cada um dos objetos de estudo dessa
intrigante disciplina. Não apenas o aspecto puramente teórico será conceituado, mas tudo
aquilo que deve ser conhecido no campo prático e que possui influência no surgimento do
crime e do criminoso.
Com esses conhecimentos, será possível aplicar no cotidiano forense as informações
adquiridas com o intuito de desvendar as motivações que levam o criminoso a praticar um
determinado tipo de crime.
Bons estudos!
INTRODUÇÃO À CRIMINOLOGIA
O termo Criminologia foi formatado pela primeira vez pelas penas de um dos maiores
estudiosos da área, chamado Raffaelle Garófalo (1851-1934). Considerado o pai da
criminologia, italiano da cidade de Nápoles, desenvolveu as ideias de seu Professor
Cesare Lombroso.
Com os estudos de Garófalo, a Criminologia passou a gozar de um status de ciência
autônoma, o que possibilitou a conceituação dessa tão importante disciplina.
O conceito atual pode ser identificado como um conjunto de conhecimentos que estuda o
fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente, sua conduta
delituosa e a maneira de ressocializá-lo.
Assim, pode-se dizer que a criminologia é uma ciência autônoma que estuda o criminoso,
o crime, a vítima, os controles sociais formais e informais que atuam na sociedade, bem
como a forma de prevenção da criminalidade.
O fenômeno crime é um tema dos mais intrigantes. Como é cediço, tal fenômeno permeia
a humanidade desde os tempos mais remotos, como é o caso bíblico de Caim e Abel.
Desde então, o homem passou a conviver com o crime, suas causas e consequências.
Em alguns momentos históricos, o crime passou a ter, inclusive, o fator glamour em torno
daqueles que o praticavam, como é o caso da máfia italiana e do lendário Al Capone,
durante a “lei seca”, em Chicago.
Atualmente, o crime ainda exerce uma influência muito grande na sociedade, como se vê
nas organizações criminosas e nas comunidades carentes, em que o traficante é o “dono
do morro” e nutre-se do respeito e do medo dos moradores de dada localidade. A
criminologia estuda essa sistemática e faz um diagnóstico acerca das soluções que
podem ser aplicadas no seio social.
O criminoso é visto como aquele que pratica uma conduta proibida por lei e que deve
receber uma punição por tal fato (pena), devendo ser levado ao presídio como forma de
neutralização de atos futuros e com viés de ressocialização.
A inserção da vítima no conceito é algo bem acertado, pois em muitos casos o seu
comportamento pode influenciar na prática criminosa. Em inúmeros eventos, a vítima
incita o agente a cometer o crime, devendo tal fator ser considerado para o estudo do
surgimento da criminalidade.
Não foi com outra razão que o Código Penal de 1940 inseriu em sua Parte Geral, com a
Reforma de 1984, o “comportamento da vítima” como algo necessário para o Juiz dosar a
pena do condenado, como se depreende do art. 59, caput, parte final, do CP.
Por fim, a pena deve ser lembrada como uma medida que leva à neutralização do
criminoso e que deve buscar efetivação da sua ressocialização, uma vez que após o
cumprimento dela, ele irá voltar ao convívio social e deve estar melhor do que quando foi
para o cárcere.
APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS
Saiba mais
Nessa obra, todos os temas tratados são abordados de forma mais pormenorizada,
citando exemplos, doutrinas e jurisprudências correlatas com a disciplina em testilha.
GONZAGA, C. Manual de Criminologia. 4. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2023.
Aula 2
ASPECTOS CRIMINOLÓGICOS DA MACROCRIMINALIDADE
INTRODUÇÃO À MACROCRIMINALIDADE
APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS
Em termos práticos, muitos crimes surgem por causa dessa violência praticada pelos
controles sociais impostos pelo grupo dominante que, nos Estados Unidos da América, é
representado pelo chamado “popular”, ou seja, aquele garoto ou garota que pertence ao
time da escola, é chefe de torcida ou possui carro do ano e que humilha os demais
colegas por se sentir superior.
Diante disso, o humilhado começa a criar em sua mente o desejo de cometer crimes
contra o “popular”, nascendo disso tristes episódios como os retratados pelo cineasta
Michael Moore no documentário Tiros em Columbine.
Nesse documentário é retratada a violência entre os jovens americanos e que culminou
num massacre em que várias pessoas foram vítimas de homicídio na escola local de
mesmo nome (Columbine High School).
No documentário não há certeza de quem é a culpa dos homicídios, excluindo-se, claro,
os dois jovens que entraram na escola na hora do lanche no refeitório e abriram fogo. O
que se pesquisa é a origem da ideia criminosa por parte dos dois atiradores.
Se a culpa seria do Governo, da forma de criar os filhos, do sistema de ensino, entre
outras indagações. O que importa é a sugestão de que cada um tem a sua parcela de
culpa na formação dos dois criminosos, sendo esse o estudo da Criminologia.
Esse tipo de relação está intimamente ligado ao labelling approach ou teoria do
etiquetamento, em que se rotula a pessoa como o “popular” ou “impopular”,
desencadeando péssimos conflitos psicológicos e até mesmo casos de depressão em
jovens que buscam a todo custo pertencer ao chamado grupo dominante.
Uma vez inseridos no círculo dos mais populares, passam a subjugar, humilhar e
discriminar os que ficaram foram do aludido círculo e, por fim, chegam até mesmo a
cometerem crimes ou serem vítimas de massacres como já exposto acima.
Para não ir muito longe, no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, ocorreu um episódio
semelhante, na escola municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo: um homem
armado entrou na escola e matou vários estudantes, sobretudo meninas.
Esse ódio se deu pelo fato de ele ter sofrido bullying na infância de pessoas do sexo
feminino que não tinham interesse nele e o discriminavam. Diante dessa relação
psicológica de dor, surgiu a vontade criminosa de realizar os homicídios contra as
meninas, que no dia do crime representavam as outras que no passado teriam
feito bullying contra ele.
A criminologia, em aspectos práticos, explica que esse tipo de comportamento deve ser
evitado e vigiado desde cedo, notadamente nas escolas, sob pena de ocorrerem ainda
muitos massacres que teriam sido originários lá na infância e maturados ao longo da vida
adolescente, culminando com os trágicos episódios aqui retratados.
Saiba mais
Aula 3
MACROCRIMINALIDADE E O PROCESSO PENAL BRASILEIRO
APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS
Os chamados crimes de colarinho branco devem ser estudados dentro de uma concepção
social, destacando-se que entre as classes sociais mais privilegiadas a tolerância ao
crime é maior, pois a identificação de tais pessoas é bem maior e a aceitação para os
crimes de colarinho-branco é mais comum.
Na atual conjuntura brasileira, essa associação é facilmente perceptível, uma vez que a
promiscuidade entre a iniciativa privada e o setor público tornou-se algo natural. Dessa
forma, a associação é mais coesa e os crimes praticados em comum são mais aceitos,
como sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e desvio de verbas
públicas.
Os crimes praticados por ambos os lados (público e privado) são os mesmos, o que torna
mais aceitável a sua prática, existindo, nesse ponto, a aplicação do princípio
constitucional da presunção de inocência até o trânsito em julgado, o que já não ocorre
quando se trata de crime de colarinho-azul.
Percebe-se, então, a ideia de associação diferencial para a prática de crimes de
colarinho-branco quando alguém vislumbra a possibilidade de ter os mesmos bens que os
mais abastados possuem, como sói acontecer com políticos que querem ter o mesmo
padrão de vida dos altos empresários.
Ora, os políticos e demais funcionários públicos só devem ter um padrão de vida
adequado à sua evolução patrimonial. Mas, nessa sinergia com a iniciativa privada e o
acompanhamento dos crimes que eles praticam, faz com que o integrante do setor
público também se sinta seduzido a ter condutas semelhantes.
Daí surge a ideia de uma associação entre eles para a prática de crimes comuns, sempre
almejando o ganho estratosférico. Não obstante, a visão puramente criminológica, deve
ser ressaltado que no campo do Direito Penal tal associação também tem destaque
jurídico, notadamente na forma da Lei n. 12.850/2013, em que se definiu o que vem a ser
uma organização criminosa.
Pelo que se constata, a associação agora tida como criminosa no âmbito dos crimes de
colarinho-branco é aquela feita com o intuito de obter vantagem de qualquer natureza,
que no caso em tela sempre será a busca pelo lucro ilícito. Por meio dessa lei é que se
realiza a denúncia criminal para os delitos da macrocriminalidade organizada.
Quando Sutherland criou a expressão “associação diferencial”, o seu principal enfoque
nem era nos crimes de colarinho-azul, uma vez que os criminosos integrantes desse tipo
de criminalidade não são organizados para a prática de delitos, mas sim mostrar que os
criminosos de colarinho-branco são organizados para a prática dos mais variados delitos.
Cria-se, portanto, uma sociedade empresária com fins aparentemente lícitos, mas com o
escopo fundamental de mascarar uma série de crimes graves, como lavagem de dinheiro,
evasão de divisas, sonegação fiscal, entre outros.
Coincidência ou não, parece que o festejado autor estava tendo uma premonição do que
seria a criminalidade padrão do mundo moderno, podendo ser citado como exemplo as
mais variadas operações policiais envolvendo os criminosos de colarinho-branco.
Todavia, como último ponto a ser estudado, a função da pena chamada de
ressocializadora não existe para esse tipo de criminalidade de colarinho-branco, eis que
os seus representantes criminais estão mais do que reinseridos socialmente e cometem
esse tipo de criminalidade por pura ganância.
Para fins de aplicação prática da impunidade dos crimes de colarinho-branco, várias leis
estão sendo feitas para beneficiar esse tipo de criminalidade. Como a Lei n. 10.684/2003,
que em seu art. 9 permite a extinção da punibilidade dos crimes de sonegação fiscal
quando a agente pagar o tributo devido.
Tal ocorrência não é aceita para um simples crime de furto, em que o agente pode ser
beneficiado, quando muito, pelo arrependimento posterior previsto no art. 16 do CP, como
simples causa de diminuição de pena.
Na mesma linha de pensamento, surge a Lei n. 13.254/2016, que em seu art. 5º prevê a
extinção da punibilidade de vários crimes, na maioria espécies de crimes de colarinho-
branco, para quem pagar o imposto devido e repatriar o valor depositado no estrangeiro
de forma ilícita. São simples demonstrações de que o Direito Penal para as pessoas da
elite é mais benevolente.
Uma última e curiosa constatação é a de que os crimes de corrupção passiva, peculato e
toda a sorte de crimes contra a Administração Pública não são considerados hediondos
para a aplicação da Lei n. 8.072/90, com as suas restrições legais, como progressão de
regime após o cumprimento de dois quintos ou três quintos (primário ou reincidente),
prisão temporária de 30 (trinta) dias, vedação de anistia, graça e indulto.
Apesar de existir um Projeto de Lei n. 5.900/2013 alçando tais crimes ao patamar de
hediondos, até hoje não fora votado e positivado em lei, o que demonstra a dificuldade de
transformar em algo mais grave aquilo que os próprios pares cometem diariamente. Trata-
se de uma cristalina aplicação da impunidade aos crimes de colarinho-branco.
Não é somente na seara legislativa que há benefício penal para os mais abastados. Nos
julgamentos feitos pelo Poder Judiciário pode ser constatado claramente que há uma
tendência a beneficiar criminosos de colarinho-branco em detrimento de pessoas mais
humildes.
Em recente julgamento, o Supremo Tribunal Federal determinou a soltura de empresário
acusado de ter cometido inúmeros crimes de colarinho-branco, uma vez que ele não era
considerado uma ameaça social.
Todavia, deve ser lembrado que um dos crimes imputados a ele era o de corrupção ativa,
de gravidade enorme, apesar de imediatamente não ser tão lesiva a sua prática. por essa
razão, foi liberado porque não havia necessidade de garantir a ordem pública.
Em outros julgamentos de crimes patrimoniais, os Tribunais Superiores vêm decidindo
pela manutenção no cárcere de pessoas que cometem crimes de colarinho-azul, como
meros furtos, pela simples questão de estarem em reiteração delitiva.
Desse modo, é como se os mais variados crimes de corrupção ativa praticados por
criminosos de colarinho-branco não fossem constantes desde sempre, alguns praticados
até mesmo depois de deflagrada alguma operação policial, o que demonstra a
disparidade de tratamentos entre essas duas criminalidades.
Saiba mais
Aula 4
CRIMINOLOGIA NA ATUALIDADE
Olá, estudante! No mundo contemporâneo, a criminologia pode ser vista como uma
disciplina que procura compreender, pelo método empírico, as motivações do criminoso e
as características do crime dentro da sociedade. Isso é extremamente relevante para que
o estudante possa identificar todas as facetas da criminalidade no meio social em que
vive.
Tais reflexões serão feitas por meio dos estudos da criminologia no ambiente social onde
o crime surge, também sendo relevante demonstrar os fundamentos e objetivos que as
penas privativas de liberdade possuem na ressocialização do criminoso.
Em contrapartida, a execução penal será destacada como mecanismo importante de
efetivação das ideias da criminologia para uma correta ressocialização daquele que
deverá voltar ao convívio social.
Bons estudos!
APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO
PENAL. REMIÇÃO DA PENA. APROVAÇÃO TOTAL NO ENEM (EXAME
NACIONAL DO ENSINO MÉDIO).
INCENTIVO AO ESTUDO E À RESSOCIALIZAÇÃO COMO FINALIDADE
PRECÍPUA DA PENA. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DO ART. 126 DA LEI
DE EXECUÇÃO PENAL - LEP. POSSIBILIDADE. RECOMENDAÇÃO N.
44/2013 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA - CNJ. PRECEDENTES.
CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO PRETÉRITA. MATÉRIA NÃO DEBATIDA
PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. INOVAÇÃO RECURSAL.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. AGRAVO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de o
Reeducando ter direito à remição da pena, pelo estudo, em
decorrência da aprovação parcial no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
2. A Terceira Seção desta Corte, no julgamento do HC n. 602.425/SC (Julgado
em 10/03/2021, Rel. p/ acórdão Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA),
adotou o entendimento de que a Recomendação n. 44/2013 do Conselho
Nacional de Justiça, ao dispor sobre as atividades educacionais
complementares para fins de remição da pena pelo estudo, deve ser
interpretada de forma a incentivar os apenados ao estudo e à readaptação ao
convívio social.
3. No caso, o Agravante foi aprovado em 5 (cinco) áreas de conhecimento do
ENEM, razão pela qual, conforme a jurisprudência dominante nesta Corte
Superior, tem direito à remição de 100 (cem) dias de pena, acrescida de 1/3
(um terço) pela conclusão do ensino médio, nos termos do art. 126, §
5.º, da LEP, totalizando 133 (cento e trinta e três) dias de pena.
4. Não se admite inovação recursal nas razões do agravo regimental.
5. Agravo regimental desprovido.
Saiba mais
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
REVISÃO DA UNIDADE
Neste vídeo, abordaremos a temática estudada nesta unidade, de forma a poder aplicar
os conceitos teóricos aprendidos aos casos concretos do cotidiano forense, buscando
identificar os motivos do surgimento do crime, do criminoso e, em última análise, da
criminalidade.
Com esses conhecimentos, será intrigante desvendar o mundo das Ciências Criminais
que compreende a Criminologia, o Direito Penal e o Processo Penal.
ESTUDO DE CASO
Agora será o momento em que você irá aplicar os conceitos teóricos aprendidos nessa
unidade no caso prático, de forma a desvendar os problemas comuns existentes no
cotidiano forense.
Imagine que você é um consultor do Poder Executivo local e necessita de ofertar uma
solução prática ao seguinte caso concreto: numa determinada cidade do interior do Brasil,
mais precisamente em Januária, Minas Gerais, ocorreu um episódio fatal, na escola
municipal local, em que um homem armado entrou na citada escola e matou vários
estudantes, ressaltando-se que apenas foram eliminadas as pessoas do sexo feminino.
Esse fato se deu em razão de ele ter sofrido bullying na infância realizado por pessoas do
sexo feminino que não tinham interesse nele e o discriminavam. Durante muitos anos, ele
tentava conversar com as meninas para socializar e era motivo de chacotas e zombarias,
por causa da sua origem humilde, da cor da sua pele e por ter a língua presa.
Isso tudo fez com que ele fosse afastado de todos, crescendo com ódio dentre dele que
era alimentado pela omissão dos funcionários da escola que nada faziam, tais como
diretores, professores e ajudantes. Todos assistiam inertes a essa situação e não
entendiam que poderiam fazer algo, pois isso deveria ser função dos pais dele.
Diante dessa relação psicológica de dor, depois de anos e não mais estar naquela escola,
surgiu a vontade criminosa de regressar até o local onde estudou e realizar os homicídios
contra as meninas que estudavam lá, ainda que não fossem aquelas que praticaram
todas as zombarias que ele sofreu, mas que no dia do crime representavam as outras que
no passado teriam feito bullying contra ele.
Tudo isso estava guardado em sua mente e não poderia ser eliminado senão quando ele
colocasse para fora, punindo, ao seu modo de ver, as pessoas que representavam aquilo
que ele sofrera no passado.
Infelizmente, esse fato ocorreu e os governantes locais não querem que isso se repita,
necessitando de sua ajuda para apresentar qual tipo de controle social deveria ser melhor
trabalhado para prevenir tais práticas horrendas e que marcam para sempre uma dada
comunidade.
Assim, como consultor do Poder Executivo, apresente a melhor forma de solucionar e
conscientizar melhor a população local e os integrantes das escolas públicas para evitar
novos ataques como esse que chocou toda a comunidade local.
Reflita
Existem inúmeras situações de casos concretos que foram representadas em filmes que
podem diagnosticar situações bem semelhantes com a realidade social de uma dada
comunidade, onde o crime, o criminoso e a criminalidade possuem uma simbiose com o
meio social em que eles surgem.
Perceba-se, então, que no âmbito das escolas, por meio de várias práticas, como
o bullying, que será a seguir explicitado, criam-se criminosos num futuro bem próximo,
devendo ser feita uma supervisão ou controle social informal desde cedo para evitar que
tais tragédias ocorram.
Crimes serão evitados com a correta aplicação dos controles sociais informais desde
cedo, como é o caso do exercido pelas escolas.
Nesse contexto, quem não se encaixa no grupo dominante sofre as mais variadas
discriminações, ocorrendo o fenômeno mais atual nas escolas, que é
o bullying, conceituado como atos de violência física ou psicológica intencionais e
repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia e
sendo executados dentro de uma relação desigual de poder.
A expressão bully correlaciona-se com os chamados “valentões”, que nas escolas
tiranizam e amedrontam os mais fracos, sendo essa relação de desigualdade causada por
força física superior e, modernamente, por questões financeiras, uma vez que os mais
ricos tendem a criar grupos entre si e impedem a entrada dos mais pobres, o que causa,
nesses últimos, angústia e frustração.
Para tornar mais clara a questão, inclusive com a visão adotada pelo Poder Legislativo
brasileiro, cita-se a Lei n. 13.185/2015, que conceituou o que vem a ser o bullying e ainda
trouxe várias práticas comuns que são feitas por meio desse famigerado meio de
intimidação.
RESUMO VISUAL