Viga Virandel

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COMPARATIVO ENTRE VIGAS VIERENDEEL E TRELIÇAS: ASPECTOS SOBRE

COMPORTAMENTO ESTRUTURAL FRENTE AOS ESFORÇOS SOLICITANTES


Comparison between Vierendeel beams and trusses: aspects of structural behavior
in face of design loads

RAMIREZ, KAREN NICCOLI


Universidade Presbiteriana Mackenzie – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Faculdade de Ciências Exatas e
Tecnologia.

OBATA, SASQUIA HIZURO


Universidade Presbiteriana Mackenzie – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

FEHR, LUCAS
Universidade Presbiteriana Mackenzie – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Resumo: Neste artigo, é realizado um comparativo entre vigas Vierendeel e treliças


a partir da resposta estrutural e esforços solicitantes. Apresentam-se alguns conceitos
das formas e funções destes sistemas estruturais, o estudo morfológico como um
processo de integralização das atividades do projeto ao executado. Da conceituação
da viga Vierendeel e tipologias de treliças são analisadas a distribuição e a absorção
dos esforços por seus elementos estruturais, assim como o grau de deslocamentos
gerados, a partir de modelos em software, sob mesmas condições de carregamento.
Mostra-se que as treliças tipo K geram menores deslocamentos verticais, em
contraposição às vigas treliçadas Vierendeel, que além dos esforços de tração devem
resistir a cortante e o momento fletor. Já os máximos esforços normais de tração e de
compressão nos banzos são observados na treliça Brown e na Warren. Ao comparar
o comportamento estrutural da viga treliçada Vierendeel e a viga Vierendeel, para um
vão de 30 metros, verificam-se maiores solicitações e flechas na viga Vierendeel, com
deslocamentos verticais que chegam a ser 44,4% superiores. Observa-se que decisão
arquitetônica e estrutural entre vigas treliçadas e vigas Vierendeel reside não somente
na condição da forma e função, mas também nas condicionantes estruturais e, por
consequência, construtivas.

Palavras-chave: Viga Vierendeel; Viga treliçada Vierendeel; Treliça; Comportamento


estrutural; Projeto arquitetônico.
Abstract: In this article, a comparative study is carried out between Vierendeel beams
and trusses based on the structural behavior and design loads. Some concepts of the
forms and functions of these structural systems are presented, the morphological study
as a process of integrating the activities of the project to the execution. From the
conceptualization of the Vierendeel beam and trusses typologies, the distribution and
absorption of the internal forces by its structural elements are analyzed, as well as the
degrees of displacements generated, based on software models, under the same
loading conditions. It is shown that type K trusses generate smaller vertical
displacements, in contrast to Vierendeel trusses, which in addition to tensile efforts,
must resist shear and bending moment. The maximum normal tensile and
compression efforts in the flanges are observed on the Brown and Warren trusses.
When comparing the structural behavior of the Vierendeel beam trussed and
Vierendeel beam, for a span of 30 meters, greater stresses and deflections are verified
in the Vierendeel beam, with vertical displacements that reach 44.4% higher. It is
observed that the architectural and structural decision between the trusses and
Vierendeel beams not only lie in the condition of form and function, but also in the
structural and, consequently, constructive constraints.

Keywords: Vierendeel beam; Vierendeel truss beam; Truss; Structural behavior;


Architectural design.
INTRODUÇÃO

O desenvolvimento e a evolução da forma de viga Vierendeel partem da


análise de vigas planas treliçadas e, como qualquer outra forma proposta para
grandes vãos aliados à esbeltez ou à leveza, exigem noções sobre o caminhamento
de esforços e deformações, assim como uma melhor apreciação intuitiva e sobre
concepção estrutural que, no caso, é muito assertiva para o aprendizado e ensino
destes sistemas estruturais. Este artigo tem como objetivo geral apresentar um estudo
comparativo entre vigas Vierendeel e treliças sob a ótica da resposta estrutural frente
a esforços solicitantes, podendo fornecer bases conceituais para as demandas dos
sistemas estruturais relacionadas à forma de constituição de uma viga composta por
barras reticuladas.
Tomam-se como objetos específicos as vigas Vierendeel e as formas em
treliças para análises do comportamento mecânico, assim como a apresentação de
algumas delimitações e sugestões para aplicações estruturais, como forma para
adoção em propostas conceituais e lançamentos estruturais.
As condicionantes arquitetônicas de forma, esbeltez, leveza são aspectos que
influenciam na busca da redução das seções das barras que, em Vierendeel,
permitem conceber vigas de alma vazada capazes de trabalhar com deformações
admissíveis sem comprometer a proposta estética.
O sistema Vierendeel utilizado como viga, e em expressão simplista como
barras que reduzem as sustentações verticais ou pilares, é destinado a maiores vãos,
em que, a princípio, busca maior produtividade construtiva em relação aos sistemas
treliçados que possuem barras diagonais e ligações mais simples entre barras. A viga
Vierendeel é dita como forma determinante na arquitetura, no sentido de permitir o
descarte da aplicação de sucessões de pilares que, mesmo em face ao menor custo
de obra, muitas vezes, também tem um significado de uso.
Não tão distante a determinação pelo significado da espacialidade e
funcionalidade, o arquiteto Lelé, por exemplo, também cita o contraponto pela estética
do projeto em viga Vierendeel em uma residência, na qual as maiores resistências e
os vãos proporcionados favoreceram a implantação da piscina no nível térreo, mas
desta vez com uma decisão indicado pelo autor como fortuita (VILELA JUNIOR, 2011).
Para Sandaker et al (2013), citando o caso do Grande arco de La Défense do
arquiteto Johan Otto von Spreckelsen e do engenheiro Erik Reitzel e escritório
estrutural Bouygues, a razão da escolha da viga Vierendeel está, sobretudo, em
função do atender o uso e ocupação dentro de sua dimensão estrutural, ao permitir
que as pessoas andem livremente pelo grande vão retangular gerado entre essas
vigas, enquanto acompanham as exposições de arte.
As vigas Vierendeel não formam sistemas articulados em forma de triângulos
e, portanto, não são treliças submetidas somente a esforços normais, mas configuram
um sistema distinto, com conexões a momento entre suas barras, estando
submetidas, assim, a esforços de flexo-tração e flexo-compressão e, portanto, são
mais deformáveis (MARIAO, 2013). Desta forma, o sistema Vierendeel exige maior
resistência, razão de serem mais rígidas. Comparativamente, se considerarem as
características de materiais, vão, carga e deformações semelhantes de um sistema
Vierendeel e um treliçado, este primeiro apresentará barras com seções transversais
maiores, assim como as correspondentes relações peso estrutural por comprimento.
O sistema Vierendeel, em termos de resistência, pode ser locado de forma
intermediária entre o sistema treliçado e o sistema de barra com alma cheia pelo fato
de a ligação entre seus montantes e as barras superior e inferior serem rígidas;
constituição mecânica estrutural esta que permite aplicações em grandes vãos com
aberturas não triangulares.
Deste exposto, pode-se delimitar que o sistema em Vierendeel corresponde a
uma solução de elementos estruturais lineares, que conectados, formam quadros
reticulados com nós rígidos, de geometria retangular e não triangular, com objetivo de
diminuir deformações, resistir esforços internos atuantes elevados e vencer maiores
vãos.

MÉTODO

Inicialmente, são apresentados alguns conceitos relacionados às formas e


funções destes sistemas estruturais, para os quais o estudo morfológico é destacado
ou mesmo apresentado como um processo de integralização das atividades do
projetar e das etapas como forma do projeto ao executado. A partir da conceituação
da viga Vierendeel e apresentação das tipologias de treliças, são analisadas a
distribuição e absorção dos esforços por seus elementos estruturais, assim como o
grau de deslocamentos gerados. Para tanto, foram modeladas no software STRAP
(2019) da SAE, tanto a viga Vierendeel, como as diferentes tipologias de treliças, sob
mesmas condições de carregamento.

Modelagem
Como comentado, os sistemas estruturais objetos deste estudo foram
modelados por meio do software STRAP (2019), cuja geometria e tipologias podem
ser observadas na Figura 1. Para tanto foram adotados alguns parâmetros
geométricos: vão de 9 metros, distância entre montantes de 1,5 metros, distância
entre os banzos inferior e superior de 1,5 metros. As estruturas foram modeladas em
material aço com módulo de elasticidade de 210 GPa e com perfil de seção transversal
correspondente ao W150x29,8.

Figura 1. Esquema das estruturas treliçadas estudadas na 1ª etapa.

TRELIÇA HOWE TRELIÇA PRATT

TRELIÇA BROWN TRELIÇA


WARREN

VIGA TRELIÇADA TRELIÇA K


VIERENDEEL

Fonte: Própria (2020).

Para efeito de carregamento, foram consideradas que as treliças ou vigas


treliçadas Vierendeel em análise seriam aquelas localizadas nos tramos extremos de
uma edificação, estando espaçadas a cada 5 metros e, submetidas a duas
combinações de carregamento. A primeira combinação de carregamento considera
carga vertical sem vento (peso próprio + peso da telha sanduiche + sobrecarga) e, a
segunda, considera o vento à sucção a qual são somadas somente peso próprio da
estrutura e, conservativamente, o peso próprio de telha simples. Os carregamentos
das telhas e do vento foram estimados e aplicados como cargas nodais no banzo
superior; o peso próprio foi gerado pelo software STRAP (2019)
Na segunda fase, foram modeladas uma viga treliçada Vierendeel e uma viga
Vierendeel, ambas com vãos de 30 metros e altura de 3 metros. Foi considerada a
distância entre nós de 3,0 metros. Adotou-se material aço com módulo de elasticidade
de 205 GPa e uma seção transversal W310X38,7 (Figura 2).

Figura 2. Esquemas da viga treliçada Vierendeel e da viga Vierendeel estudadas


com vão de 30 metros.

Fonte: Própria (2020).

As estruturas foram submetidas às mesmas duas combinações de


carregamento, sendo a primeira para a máxima carga vertical (peso próprio + peso da
telha sanduiche + sobrecarga) e, a segunda, considerando o vento à sucção a qual
são somadas somente peso próprio da estrutura e, conservativamente, o peso próprio
de telha simples.

CONCEITOS GERAIS SOBRE OS ESFORÇOS E APLICAÇÕES FUNCIONAIS

Uma das principais diferenças entre as vigas em Vierendeel e as treliçadas


refere-se à distribuição e absorção dos esforços, em que, nos casos das treliças,
ocorre por esforços normais. O limite estrutural pode ser alcançado por estiramento e
ruptura à tração, por encurtamento e ruptura à compressão para barras curtas e por
flambagem das barras esbeltas. Já nas estruturas em Vierendeel, ocorrem esforços
de flexo-tração e flexo-compressão nas seções transversais. Em ambos os casos, o
cálculo estrutural considera, simplificadamente, condições isotrópicas e linearidades
do material e esforços.
O estudo dos modos de colapso de Badke Neto et al (2015) sobre a formação
do mecanismo Vierendeel descreve altos valores de esforço cortante nas vigas em
aço, em que se observa o surgimento de rótulas plásticas nos cantos das aberturas,
a deformação em forma de paralelogramo e o colapso notado na abertura e seção de
máxima cortante. Vale ressaltar que para a aplicação do sistema Vierendeel, como
uma viga formada por quadro fechado plano, multicelular em concreto armado, o
dimensionamento é realizado a partir da análise dos esforços e atendendo aos
procedimentos clássicos da análise estrutural.
As aberturas nas almas de vigas para os sistemas de serviços e tubulações,
por exemplo, devem ser projetadas em regiões onde a força cortante é constante e as
transferências dos esforços de compressão, chamadas bielas de compressão, sejam
em quadros rígidos. Para trechos em que a força cortante é reduzida é possível
projetar aberturas alongadas (LEONHARDT e MӦNNING,1978).
Simão (2014) indica que, para as aplicações em concreto armado, as
aberturas circulares são mais favoráveis do que com ângulos reentrantes, sendo
assim, os vértices devem ser o mais arredondado possível. Aberturas com
comprimento maior que 0,6h, em que h é o valor da altura total da viga, devem ser
levadas em conta no dimensionamento, já que ocorre uma interrupção nas bielas de
compressão. Já Vasconcelos (1991) indica que a viga Vierendeel deve atender a
relação superior a quatro vezes entre o vão e altura da viga, caso seja inferior a 4
vezes, a viga passa a ser uma viga parede.
Vale destacar que, durante a especificação dimensional, as alturas das
seções podem impactar sobre o gabarito de altura, ou seja, se se aumenta a altura da
viga há que se aumentar o pé direito para proporcionar passagens de portas, janelas
e a suspensão de sistemas de usos e operações como cabeamentos e dutos
estruturados, razões que podem indicar a utilização de sistemas em Vierendeel.
Neste contexto, ressalta-se a importância de compreender os mecanismos de
do comportamento estrutural tanto das estruturas Vierendeel como das treliças, de
modo a subsidiar tomadas de decisão sobre a adoção adequada do sistema estrutural
em função das necessidades de projeto.
Na Figura 3, é possível observar aplicação de treliças Howe em concreto
armado utilizadas na cobertura da Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida,
localizada na cidade de Aparecida no estado de São Paulo. E na Figura 4, treliças
Warren, em aço, na cobertura do Museu de Belas Artes de Santiago no Chile.
Figura 3. Treliça em concreto armado tipo Howe.

Fonte: Própria (2019).

Figura 4. Treliça em aço tipo Warren.

Fonte: Própria (2019).


RESULTADOS E DISCUSSÕES

Treliças e viga treliçada Vierendeel - combinação 1


São apresentados os resultados de esforços normais para a combinação 1
nas treliças e na viga treliçada Vierendeel modeladas (Figura 5).
É possível observar os máximos esforços normais de tração (21,6 kN) e de
compressão (21,0 kN) atuam nos banzos da treliça Brown, chegando a ser, na
compressão, 19,3% maiores do que numa treliça Howe. A treliça Warren é a que
apresenta valores mais próximos aos encontrados na treliça Brown.
Nas diagonais das treliças, os esforços normais são da mesma ordem de
grandeza, mas na treliça Brown, o esforço de tração na diagonal chega a ser 11,3%
maior em relação à treliça Howe.
Os montantes mais solicitados aparecem nas treliças K (8,8 kN) e Howe (7,9
kN), permanecendo submetidos à tração.

Figura 5. Diagramas de esforços normais (kN)

TRELIÇA HOWE TRELIÇA PRATT

TRELIÇA BROWN TRELIÇA WARREN

VIGA TRELIÇADA TRELIÇA K - tração


VIERENDEEL +
compressão
Fonte: Própria (2020).

A viga treliçada Vierendeel apresenta esforços normais inferiores aos


observados nas treliças, mas ela ainda precisa resistir os esforços de cortante e de
momento fletor (Figura 6) e, consequentemente, a flecha é maior, alcançando uma
diferença de 175,6% em relação à treliça Howe, por exemplo (Figura 7).
Figura 6. Diagramas de esforços cortantes (kN) e de momento fletor (kN.m) na viga
treliçada Vierendeel.

Cortante

Momento fletor

Fonte: Própria (2020).

Figura 7. Deformada: deslocamento vertical.

TRELIÇA HOWE TRELIÇA PRATT

TRELIÇA BROWN TRELIÇA WARREN

VIGA TRELIÇADA TRELIÇA K


VIERENDEEL
Valores 10-2 mm.

Fonte: Própria (2020).


Dentre as treliças, a tipo Howe apresenta maior deslocamento vertical,
enquanto a treliça tipo K, a menor flecha. A tabela 1 compara os resultados das
estruturas modeladas tanto em termos de esforços normais como em termos
deslocamentos. Toma-se como referência a treliça tipo Howe.

Tabela 1. Comparativo em termos de valores e % entre os esforços normais e


flechas máximas atuantes nas treliças e na viga treliçada Vierendeel.

VALORES MÁXIMOS
TIPOS DE TRELIÇAS VIGA
HOWE PRATT BROWN WARREN K VIERENDEEL
BANZO INFERIOR 20,0 17,6 21,6 20,3 18,9 15,8
ESFORÇO
BANZO SUPERIOR 17,6 20,0 21 20,5 18,9 15,8
NORMAL
DIAGONAL 15 15 16,7 13,8 16 14,2
(kN)
MONTANTE 7,9 6,3 4,2 não se aplica 8,8 4,0
FLECHA (mm) 0,41 0,40 0,40 0,39 0,33 1,13

Diferença % tendo como referência a treliça HOWE


TIPOS DE TRELIÇAS VIGA
HOWE PRATT BROWN WARREN K VIERENDEEL
BANZO INFERIOR -12,0% 8,0% 1,5% -5,5% -21,0%
ESFORÇO
BANZO SUPERIOR 13,6% 19,3% 16,5% 7,4% -10,2%
NORMAL
DIAGONAL referência 0% 11,3% -8,0% 6,7% -5,3%
(kN)
MONTANTE -20,3% -46,8% - 11,4% -49,4%
FLECHA (mm) -2,4% -2,4% -4,9% -19,5% 175,6%

Fonte: Própria (2020).

Treliças e viga treliçada Vierendeel - combinação 2


Os resultados considerando os efeitos de sucção do vento combinados com
os pesos próprios da estrutura e das telhas simples podem ser observados nas
Figuras 8 a 10 e na Tabela 2.
Figura 8. Diagramas de esforços normais (kN).

TRELIÇA HOWE TRELIÇA PRATT

TRELIÇA BROWN TRELIÇA WARREN


- tração
+
compressão

VIGA TRELIÇADA TRELIÇA K


VIERENDEEL

Fonte: Própria (2020).

Figura 9. Diagramas de esforços cortantes (kN) e de momento fletor (kN.m) na viga


treliçada Vierendeel.

Cortante

Momento fletor

Fonte: Própria (2020).


Figura 10. Deformada: deslocamento vertical.

TRELIÇA HOWE TRELIÇA PRATT

TRELIÇA BROWN TRELIÇA WARREN

VIGA TRELIÇADA TRELIÇA K


VIERENDEEL
Valores 10-3 mm.

Fonte: Própria (2020).

Tabela 2. Comparativo em termos de valores e % entre os esforços normais e


flechas máximas atuantes nas treliças e na viga treliçada Vierendeel.

VALORES MÁXIMOS
TIPOS DE TRELIÇAS VIGA
HOWE PRATT BROWN WARREN K VIERENDEEL
BANZO INFERIOR 16,5 14,3 13,3 18,5 13,0 17,0
ESFORÇO
BANZO SUPERIOR 14,3 16,4 12,2 18,3 12,9 17,0
NORMAL
DIAGONAL 10,9 10,9 9,1 11,8 9,8 13,8
(kN)
MONTANTE 5,5 7,1 2,2 não se aplica 4,5 3,7
FLECHA (mm) 0,033 0,034 0,024 0,036 0,022 0,131

Diferença % tendo como referência a treliça HOWE


TIPOS DE TRELIÇAS VIGA
HOWE PRATT BROWN WARREN K VIERENDEEL
BANZO INFERIOR -13,3% -19,4% 12,1% -21,2% 3,0%
ESFORÇO
BANZO SUPERIOR 14,7% -14,7% 28,0% -9,8% 18,9%
NORMAL
DIAGONAL referência 0% -16,5% 8,3% -10,1% 26,6%
(kN)
MONTANTE 29,1% -60,0% - -18,2% -32,7%
FLECHA (mm) 3,0% -27,3% 7,9% -33,3% 297,0%

Fonte: Própria (2020).


Observa-se que a combinação 2 leva a menores deslocamentos verticais das
estruturas, e a treliça tipo K permanece como aquela que gera menores flechas.
Os máximos esforços normais tanto de tração, agora no banzo superior (18,3
kN), como de compressão, no banzo inferior (18,5 kN), são observados na treliça
Warren; alcançando valores até 28,0% maiores do que numa treliça Howe.
Os montantes mais solicitados à compressão estão, respectivamente, nas
treliças Pratt (7,1 kN) e Howe (5,5 kN). O que chama atenção na combinação 2 é a
diferença de 60,0 % entre os esforços de compressão da treliça Howe (5,5 kN) e a
treliça Brown (2,2 kN), o que pode ser explicado pela disposição das diagonais desta
última tipologia, que acabam por absorver grande parte da compressão provocada
pelo carregamento, enquanto na treliça Howe, as diagonais trabalham somente à
tração.
Já em relação aos esforços atuantes nas diagonais das treliças, observa-se
que apresentam mesma ordem de grandeza; no entanto, na viga treliçada Vierendeel,
suas diagonais são mais solicitadas à tração, 26,6% maior em relação à tração obtida
na treliça Howe.

Viga treliçada Vierendeel e viga Vierendeel


Para a combinação 1, em que é considerada a carga vertical atuante sem
vento, os esforços de uma viga treliçada Viereendel e de uma viga Vierendeel são
apresentados na Figura 11. As deformadas estão na Figura 12.
Figura 11. Esforços na viga treliçada Vierendeel e na viga Vierendeel devidos à
combinação 1.
ESFORÇO NORMAL (kN)

- tração
+
compressão
ESFORÇO CORTANTE (kN)

MOMENTO FLETOR (kN.m)

VIGA TRELIÇADA VIGA VIERENDEEL


VIERENDEEL

Fonte: Própria (2020).

Figura 12 – Deformada: deslocamento vertical devido à combinação 1.

VIGA TRELIÇADA VIGA VIERENDEEL


VIERENDEEL

Valores 10-1 mm.

Fonte: Própria (2020).

Ao comparar-se o comportamento estrutural da viga treliçada Vierendeel e a


viga Vierendeel, verificam-se maiores solicitações e flechas na viga Viereendel, com
deslocamentos verticais que chegam a ser 42,3% superiores.
Na viga treliçada Vierendeel, os montantes mais próximos aos apoios estão
sob tração e suas diagonais acompanham, em ordem de grandeza, a compressão
observada no banzo superior.
A tabela 3 compara os resultados das estruturas modeladas tanto em termos
de esforços internos solicitantes como em termos deslocamentos verticais.

Tabela 3. Comparativo em termos de valores e % entre os esforços internos


solicitantes e flechas máximas atuantes na viga treliçada Vierendeel e na viga
Vierendeel - combinação 1.

VALORES MÁXIMOS
ESFORÇO NORMAL (kN) ESFORÇO MOMENTO
FLECHA
CORTANTE FLETOR
BANZO BANZO (mm)
DIAGONAL MONTANTE (kN) (kN.m)
INFERIOR SUPERIOR
Viga treliçada Vierendeel 108 108 60,70 19,4 24,1 36,0 20,80
Viga Vierendeel 110 110 não se aplica 25,3 33,3 50,0 29,60
Diferença % 1,9% 1,9% - 30,4% 38,2% 38,9% 42,3%

Fonte: Própria (2020).

Para a combinação 2, em que é considerada a ação de sução do vento, os


esforços de uma viga treliçada Viereendel e de uma viga Vierendeel são apresentados
na Figura 13. As deformadas estão na Figura 14.

Figura 13. Esforços na viga treliçada Vierendeel e na viga Vierendeel devidos à


combinação 2.
ESFORÇO NORMAL (kN)

- tração
+
compressão
ESFORÇO CORTANTE (kN)

MOMENTO FLETOR (KN.m)

VIGA TRELIÇADA VIGA VIERENDEEL


VIERENDEEL

Fonte: Própria (2020).


Os maiores esforços normais, tanto nos banzos (tração e compressão) como
nos montantes (tração), ocorrem na viga Vierendeel. Máximos valores de cortante, de
momento fletor e de deslocamento vertical também são atingidos neste sistema
estrutural. A diferença de deslocamentos verticais entre as estruturas chega a ser
44,4% superiores nesta combinação.
Na viga treliçada Vierendeel, os montantes mais próximos aos apoios estão
sob compressão e suas diagonais acompanham, em ordem de grandeza, a tração
observada no banzo superior.

Figura 14. Deformada: deslocamento vertical devido à combinação 2.

VIGA TRELIÇADA VIGA VIERENDEEL


VIERENDEEL

Valores 10-1 mm.

Fonte: Própria (2020).


A tabela 4 compara os resultados das estruturas modeladas tanto em termos
de esforços internos solicitantes como em termos deslocamentos verticais.

Tabela 4. Comparativo em termos de valores e % entre os esforços internos


solicitantes e flechas máximas atuantes na viga treliçada Vierendeel e na viga
Vierendeel - combinação 2.

VALORES MÁXIMOS
ESFORÇO NORMAL (kN) ESFORÇO MOMENTO
FLECHA
BANZO BANZO CORTANTE FLETOR
DIAGONAL MONTANTE (mm)
INFERIOR SUPERIOR (kN) (kN.m)
Viga treliçada Vierendeel 104 104 53,5 16,9 24,1 36,2 20,5
Viga Vierendeel 110 110 não se aplica 25,3 33,4 50,1 29,6
Diferença % 5,8% 5,8% - 49,7% 38,6% 38,4% 44,4%

Fonte: Própria (2020).


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo apresentou um estudo comparativo entre vigas Vierendeel e
treliças frente a resposta estrutural em termos de esforços e flechas.
Observou-se que treliça tipo K é a que gera menores deslocamentos verticais
em ambas as combinações. As maiores flechas ocorrem nas vigas treliçadas
Vierendeel que, além dos esforços de tração, devem resistir a cortante e o momento
fletor.
Os máximos esforços normais de tração e de compressão nos banzos são
observados na treliça Brown (combinação 1) e na treliça Warren (combinação 2).
Ao comparar-se o comportamento estrutural da viga treliçada Vierendeel e a
viga Vierendeel, verificam-se maiores solicitações e flechas na viga Viereendel, com
deslocamentos verticais que chegam a ser 44,4% superiores.
Sob o ponto de vista projetual, após análise dos resultados de esforços e
deformações, vale ressaltar que a compatibilização e a decisão arquitetônica entre
vigas treliçadas e vigas Vierendeel reside na condição da forma e função, uma vez
que quadros abertos podem ser a diretriz para passagens e ambientes, cuja
espacialidade poderia tornar-se limitada ou comprometida por barras diagonalizadas
presentes em treliças. Torna-se, portanto, essencial que, na tomada de decisão, haja
discernimento entre as variáveis envolvidas, que incluem desde a concepção do
espaço, mas como também as condicionantes estruturais e, por consequência,
construtivas, que perpassam pelo peso da estrutura final, por soluções para conexão
dos nós e por sistemas de montagens, variáveis estas que estão implícitas no ato de
projetar a arquitetura e de sua concepção estrutural.

REFERÊNCIAS

DELALOYE, H. A.; NICO, A. P.; CLIVIO, O. Guía de Estudio: Viga Vierendeel - estructuras
dnc. Universidad Nacional de La Plata | UNLP. Disponível em
<https://fdocuments.ec/amp/document/nivel-iii-guia-de-estudio-nro-7-transicionpdf.html>.
Acesso em: 17 mai. 2021.

JACOBO, G. J.. Jules Arthur Vierendeel: pionero del diseño estructural. Universidad
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https://pt.scribd.com/document/37419437/T-087-vierendeel >. Acesso em: 10 jun. 2021.

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<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/9869/1/2011_AdalbertoJoseVilelaJunior.pdf>.
Acesso em: 05 jun. 2021.
Sobre os autores
Nome Completo: Karen Niccoli Ramirez
Descrição acadêmico/profissional: Doutorado e mestrado em Engenharia Civil pela
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; pós-doutorado em Engenharia Civil
pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Engenheira civil pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente é professora e orientadora na
Universidade Presbiteriana Mackenzie – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e
docente orientadora na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Faculdade de
Ciências Exatas e Tecnologia.
E-mail para contato: [email protected]; [email protected];
[email protected]

Nome Completo: Sasquia Hizuro Obata


Descrição acadêmico/profissional: Possui graduação em Engenharia Civil pela
Fundação Armando Álvares Penteado, graduação em nível Superior de Formação de
Professores de Disciplinas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo, doutorado em
Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Mackenzie e pós-doutorado em
Engenharia de Produção na área de concentração de Sustentabilidade em Sistemas
de Produção - LAPROMA/UNIP. Atualmente é professora da Universidade
Presbiteriana Mackenzie- FAU.
E-mail para contato: sasquia.obata@ mackenzie.br

Nome Completo: Lucas Fehr


Descrição acadêmico/profissional: Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade de São Paulo. Mestre e Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela mesma
universidade. Desde agosto de 2016 é Coordenador do Curso de Arquitetura de
Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Arquiteto sócio do Estúdio
América de Arquitetura. Co-autor dos projetos vencedores em concursos de
arquitetura para o Teatro Castro Alves, em Salvador, BA; Complexo Paineiras-
Corcovado, no Rio de Janeiro; Novas Tipologias de Habitação de Interesse Social
Sustentáveis, CDHU-SP, Ponte Nova, em Blumenau, SC; Museo de La Memoria, em
Santiago do Chile, obra premiada, entre outros, pela APCA - Associação Paulista de
Críticos de Arte em 2011.
E-mail para contato: [email protected]

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