TCC - Verdade e Prova - Stefani F Santos
TCC - Verdade e Prova - Stefani F Santos
TCC - Verdade e Prova - Stefani F Santos
LONDRINA – PR
2023
STEFANI FERREIRA DOS SANTOS
LONDRINA – PR
2023
STEFANI FERREIRA DOS SANTOS
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Orientador: Prof. Me. Thiago Cesar Giazzi -
Centro Universitário Filadélfia - UniFil
_____________________________________
Prof. Me. João Alves Dias Filho - Componente
da Banca - Centro Universitário Filadélfia -
UniFil
_____________________________________
Esp. Mayara Paduan dos Santos -
Componente Convidada da Banca - Advogada
RESUMO
Esse trabalho tem o objetivo de verificar a maneira pela qual é enfrentada os fatos que
são apresentados em uma demanda judicial pelo magistrado que tem a função de dizer
o direito e conferir às partes uma resolução justa e em conformidade com o
ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, é analisado se o juiz, na aplicação correta
de sua decisão, alcança a verdade real dos fatos e quais são os meios empregados
para tentar reconstruir a situação concreta. Logo, inicia-se observando sobre preceitos
imprescindíveis sobre o que é a verdade, em uma perspectiva filosófica e sociológica, e
qual a sua relação com o direito. Assim como se analisa a teoria geral das provas no
processo civil, quais as suas classificações e, também, a importância de cada meio de
provas, para que dessa forma se verifique o uso das provas na tentativa de demonstrar
a verdade fática e o papel do julgador como condutor do conjunto probatório, os
reflexos da discricionariedade judicial na análise das provas e do livre convencimento
motivado do juiz e a presença da verdade processual. Nesse sentido que se observa a
verdade, como termo que representa aquilo que está para além da física, a verdade
que não tem definições e que não conseguirá ser experimentada após a ocorrência de
um fato, pelo menos não em uma única versão, será enfrentada por cada sujeito de
uma maneira diferente que tentará defender os seus ideais e interesses perante o juízo,
cabendo ao magistrado buscar a verdade por meio da prova, por meio da instrução
processual, para isso, tão importante é a construção do conjunto probatório e o papel
do juiz na análise e interpretação das provas que formarão a sua convicção, a sua
verdade sobre o fato que lhe é narrado e, assim, proferirá sua decisão.
ABSTRACT
This work aims to examine the way in which facts presented in a judicial demand are
addressed by the magistrate, who is responsible for determining the law and providing
the parties with a just resolution in accordance with Brazilian legal norms. To do so, it
analyzes whether the judge, in correctly applying their decision, arrives at the true facts
and the means employed to reconstruct the concrete situation. The investigation begins
by observing essential precepts about truth from both philosophical and sociological
perspectives and its relationship with the law. Additionally, the general theory of
evidence in civil proceedings is examined, including its classifications and the
importance of each means of proof, to verify how evidence is used in attempting to
demonstrate factual truth. The role of the judge as the conductor of the evidentiary set,
the impact of judicial discretion in the analysis of evidence, and the judge's power of
reasoned conviction, as well as the presence of procedural truth, are also considered. In
this context, truth is observed as a term that goes beyond the physical realm, a truth that
defies definition and cannot be experienced in a singular version after an event occurs.
It is approached differently by each individual, who will attempt to defend their ideals and
interests before the court. It is the responsibility of the magistrate to seek the truth
through evidence and the procedural process. Therefore, the construction of the
evidentiary set and the judge's role in the analysis and interpretation of the evidence that
will form their conviction, their truth about the narrated facts, are of great importance in
rendering their decision.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Esse litígio entre as partes fará com que cada uma apresente aquilo que
interpreta como verdade sobre o fato que narra, assim, cabendo ao julgador a análise
de cada relato e a elaboração da decisão. Ou seja, trata-se de quem venha convencer
melhor o julgador.
No atual ordenamento jurídico brasileiro, a dialética não basta para a formação
da convicção do juiz, é necessário a produção de elementos probatórios contundentes
que demonstrem a ocorrência do fato discutido.
O Código de Processo Civil de 2015 prevê quais são as espécies de provas
admitidas dentro do processo, sendo elas: a) depoimento pessoal; b) prova documental;
c) exibição de documento ou coisa; d) prova testemunhal; e) prova pericial; e f)
inspeção judicial.
Dessa forma, o trabalho busca compreender o contexto da teoria geral das
provas que vem demonstrar a essência e a importância da construção do conjunto
probatório, a função, realização prática e os requisitos de validação de cada uma
dessas espécies, de acordo com o Código de Processo Civil, além de temas práticos
como a recepção ou não de provas obtidas por meios ilícitos.
Para que assim, ao entender a imprescindibilidade da construção do arcabouço
probatório do processo, possa verificar qual vem sendo o papel do juiz na condução da
fase instrutória.
Isto porque, o juiz construirá a verdade que venha a interpretar a partir daquilo
que lhe foi demonstrado, que foi comprovado nos autos, e essa verdade que vem a ser
assumida é a que colocará um ponto final na lide.
Dessa forma, o papel do julgador é de extrema importância na coleta de provas,
notavelmente na fase de instrução, em que deve ser conferido às partes a oportunidade
de produzir provas, garantindo o direito ao contraditório e a ampla defesa sobre toda
prova que se apresentar ao julgador.
Nesse sentido, deve-se atentar ao fato de que concentra no juiz um poder
grande quanto a produção de provas. Isto é, a verdade que se busca a qualquer custo
pelo poder judiciário não pode vir a ferir direitos fundamentais das partes. Essa verdade
pode ser chamada de verdade objetiva e assim será analisada a influência da verdade
objetiva na coleta de provas em uma demanda judicial.
10
Outro ponto que se deve ter cautela é em relação ao uso do livre convencimento
motivado pelo juiz, ou seja, não se pode o magistrado decidir ou determinar, por
exemplo, na restrição da produção de uma prova sem que realmente demonstre sua
motivação e sua fundamentação sobre aquilo que está sendo decidido.
Trata-se de garantir às partes uma explicação devidamente fundamentada sobre
a decisão do juiz, reservando, ainda, o seu direito de recorrer, de contrariar essa
decisão.
Nessa conjuntura, a verdade assumida pelo magistrado não se trata ainda da
real verdade, essa verdade não será alcançada, isto porque, as provas vão demonstrar
uma realidade já distorcida, ainda que minimamente, como no caso do depoimento
testemunhal em que a memória possa pregar uma peça na testemunha e distorcer
sobre o ocorrido, ou, ainda, no caso daquele que tenha o direito do seu lado, mas não
consegue provar.
Isto quer dizer que a parte que se sentiu prejudicada com uma sentença
proferida, por exemplo, terá direito de recurso para continuar tentando demonstrar
aquilo que lhe interpreta como a verdade adequada sobre o caso.
Assim, a verdade conquistada por meio do processo, não significará em verdade
absoluta. E a coisa julgada, constituída para se atribuir segurança jurídica às partes e
aos demais, também não importará na verdade real daquilo que ocorreu.
Para alcançar os objetivos pretendidos com a presente pesquisa, será utilizado
neste trabalho o método de pesquisa bibliográfica, especialmente, por meio da análise
de obras doutrinárias, além de utilizar-se do ordenamento jurídico brasileiro e de temas
jurisprudenciais.
2. A EXISTÊNCIA DA VERDADE
1 Logische Untersuchungen (Investigações Lógicas), publicadas por Edmund Husserl em duas partes,
nos anos de 1900 e 1901, fundou um novo movimento, crucial na história da Filosofia no século XX: a
“Fenomenologia”. A Fenomenologia, por sua vez, trata-se do estudo sobre os fenômenos.
12
[...] por parte do ato que traz recheio, vivemos na evidência o objeto dado à
maneira do que é visado: ele é o próprio recheio. Também ele pode ser
designado como o ser, a verdade, o verdadeiro, precisamente na medida em
que é vivido aqui não como era vivido na mera percepção adequada, mas como
recheio ideal para uma intenção, como verificante; ou como recheio ideal da
essência cognitiva específica da intenção (Husserl, 2005, p. 119).
Por fim, o quarto conceito, apresenta a verdade como uma correção da intenção:
Como o ato de significar é intencional e não empírico, e que por sua vez o
significado não é uma coisa (res), a adequação não é, pois, entre o pensamento
e a realidade, mas sim entre a região pura da consciência, que atribui às coisas
é aquilo que se oferece ao seu campo intencional um sentido, pois elas, nelas
mesmas, não são portadoras de sentido (Capalbo, 2015, p. 81).
Nietzsche assume uma perspectiva contrária aos valores que vinham sendo
estabelecidos como “verdades absolutas” pela tradição ocidental e entende
que, até então, todas as tentativas de se compreender a realidade não
passaram de tentativas de fuga da própria realidade como perspectiva trágica
(Mattozo, 2012, p. 114).
Para o filósofo alemão, não existem valores absolutos, logo, ele afirma que a
própria sociedade cria os valores no intuito de que consigam viver em convívio social.
Contudo, ele afirmará que esses valores, criados pelos seres humanos, vão cair
em declínio a cada nova descoberta científica e assim, novos valores passarão a ser
criados.
Em estudo acerca da verdade assumida pelo sujeito, o filósofo alemão afirma
que, para que a sociedade exista tem-se como obrigação a de dizer a verdade, com o
uso de metáforas usuais, no qual é expresso moralmente: na obrigação de mentir,
segundo uma convenção sólida, isto é, mentir em rebanho (Nietzsche, 2005, p. 57).
Esse pensador diz que o indivíduo esquece que é dessa forma que ocorre:
mentir, como foi designado a ele, de maneira inconsciente e segundo hábitos seculares
(Nietzsche, 2005, p. 57).
E complementa afirmando que é justamente por essa inconsciência que se
chega ao sentimento da verdade, em seu sentido moral,
2O filósofo alemão não propõe métodos meramente estéticos ou especulativos, da forma que a filosofia
ocidental, como a filosofia grega de Aristóteles e Platão, com a tradicional metafísica, costumava fazer.
Nietzsche propõe métodos puramente éticos-políticos, descartando a sua convicção pela metafísica e
pelos valores cristãos, com o objetivo de que valores como cultura e vida social fossem renovados.
17
O filósofo também expõe que cada pessoa ou povo terá sua própria verdade e,
ainda que ela possa ser modificada ou limitada, ainda permanecerá como verdade para
essa pessoa ou grupo de pessoas. Segundo Nietzsche,
Quando esse pensador traz como exemplo alguém que esconde uma coisa atrás
de um arbusto, vai procurá-la ali mesmo e a encontra, ele se refere que nesse fato é o
que se passa o procurar e o encontrar da “verdade” no interior do distrito da razão
(Nietzsche, 2005, p. 58).
Esse desejo pelo encontrar da verdade, como será abordado a diante, também
remeterá a vontade de verdade pelo sujeito.
Outro exemplo é que se o indivíduo forja a definição de animal mamífero e logo
em seguida declara, após inspecionar um camelo, como um animal mamífero. Essa
verdade trazida à luz possui valor limitado, ela é cabalmente antropomórfica e não
contém um único ponto que seja “verdadeiro em si” (Nietzsche, 2005, p. 58).
Nietzsche explica que o pesquisador dessas verdades, procura apenas a
metamorfose do mundo em indivíduo, luta por um entendimento do mundo como uma
coisa à semelhança do indivíduo e conquista o sentimento de uma assimilação
(Nietzsche, 2005, p. 58).
Ao passo que o sujeito passa a buscar pela verdade e tenta encontrar algo que
venha explicar ou conferir entendimento do mundo, deixa de lembrar-se das metáforas,
as citadas pelo filósofo, e acabará a não ter um fato conclusivo sobre sua busca ou
assumirá qualquer fato que acredite ser o certo.
Assim é explicado quando mencionado o procedimento, usado pelo pesquisador,
em que Nietzsche explica que consiste em tomar o indivíduo por medida de todas as
18
Quando surge algo sobre o qual ainda não se tem compreensão, há uma
tendência de se buscarem respostas e significados independentemente da
coerência necessária. Nesse caso, até mesmo entre os doutos, os cientistas,
existem aqueles que não conseguem viver sem respostas, por isso produzem
conclusões baseadas em crendices ou fetiches. Mesmo que algo não seja
demonstrável, tem-se a tendência de creditar valores prematuros àquilo. Para
eles, o problema não está no sentido que se dá àquilo, mas na ameaçada falta
de sentido (Mattozo, 2012, p. 124).
O pensador explica que o ideal ascético não está presente apenas naquele que
tem fé em Deus, em razão de que os ateus estão ainda mais próximos da vontade de
verdade. O filósofo diz que um cientista moderno, por exemplo, são os mais ascéticos,
por ainda creem na verdade (Nietzsche, 1998, p. 138).
Como proposta solução sobre a vontade de verdade, de acordo com Matozzo, o
pensador irá afirmar que é preciso se apoderar da consciência do problema da vontade
de verdade e enfrentar os valores morais antinaturais,
Percebe-se que a verdade pode ser muitas das vezes esquecida no cotidiano de
um indivíduo, uma vez que está inserido em uma sociedade que tem como costume o
de mentir o tempo todo para manter-se em convívio social, ao ponto que os fatos
inverídicos, de tanto replicados, passam a ser encarados como uma verdade.
O indivíduo passa a ser habituado em se deixar enganar, porque o mentir é
coletivo e inconsciente.
Sendo que, por outro lado, existem aqueles que buscam, incansavelmente, por
uma verdade, denominados ascéticos, para se alcançar a um fundamento ou a um
propósito para um vazio que estão diante, a chamada “vontade de verdade”.
A questão é que estes que creem em uma verdade, em sua busca, acabam por
aceitar “qualquer verdade”. Para lidar com essa questão, será necessário admitir o
problema que a vontade de vontade pode causar, conforme proposto por Nietzsche, e
assumir que essa busca desesperada não deve ocorrer.
Nesse mesmo sentido, acerca de uma nova categorização de verdade, que para
Tomé (2008, p. 25), seja no processo administrativo ou judicial, o que vem a ser
alcançado é a verdade lógica, em que se é obtida em observâncias às regras de cada
sistema.
Não obstante, ainda que no processo administrativo seja dispensável, na maioria
das vezes, algumas formalidades, é fundamental o cumprimento dos procedimentos,
previstos por lei, em sua totalidade, validando assim a verdade no âmbito processual.
Ao quebrar as barreiras da tradição terminológica, considera lícito afirmar que a
verdade jurídica não é material nem formal, mas se trata da verdade lógica-semântica,
construída a partir da relação entre as linguagens de determinado sistema (Tomé,
2008, p. 24).
Pode-se dizer que a verdade lógica, buscada no processo judicial, precisará,
sem sombra de dúvidas, de um arcabouço probatório para que consiga comprovar o
ocorrido narrado pelas partes, assim o julgador tomará uma decisão acertada.
A verdade lógica não tem como fim a representação perfeita da ocorrência do
caso, mas, busca chegar a uma conclusão a partir da constituição dos fatos por meio
de provas, essencialmente, as quais são produzidas e apresentadas no processo.
Tomé explica ser impróprio falar em verdade formal ou material, pois, (i) o exame
do conteúdo é essencial à determinação da verdade ou falsidade de certo enunciado -
verdade em nome da qual se fala, e que (ii) o mundo das coisas e a linguagem não se
tocam (Tomé, 2008, p. 25).
Dessa forma, a verdade que se busca no processo, seja ele judicial ou
administrativo, trata-se da verdade lógica; já a verdade em nome da qual se fala,
alcançada pela constituição de fatos jurídicos, é a verdade jurídica, a qual corresponde
nos termos prescritos no ordenamento jurídico (Tomé, 2008, p. 25).
De toda sorte, evidencia que “a verdade jurídica depende não da impressão, mas
do raciocínio do juiz, que não pode julgar simplesmente segundo suas opiniões
22
[...] a doutrina do processo civil — ainda hoje muito em voga — passou a dar
mais relevo à observância de certos requisitos legais da pesquisa probatória
(através da qual a comprovação do fato era obtida), do que ao conteúdo do
material de prova. Passou a interessar mais a forma que representava a
verdade do fato do que se este produto final efetivamente representava a
verdade. Mas ainda assim, reconhecia-se a possibilidade de obtenção de algo
que representasse a verdade — apenas ressalvava-se que o processo civil não
estava disposto a pagar o alto custo desta obtenção, bastando, portanto, algo
que fosse considerado juridicamente verdadeiro. Era uma questão de relação
custo-benefício: entre a necessidade de decidir rapidamente e decidir com
segurança, a doutrina do Processo Civil optou pela preponderância da primeira
(Arenhart, 2005, p. 6).
Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz (Brasil, 2015, online).
O fato é que além de ter em mãos as provas que cada parte produziu, as quais
tem o objetivo de representar suas próprias verdades, o juiz terá de interpretá-las e
chegar a conclusão daquilo que ele mesmo considera como verdade, a partir da sua
interpretação do que aquele fato representa e repercute no âmbito juridico.
Sobre a importância de se buscar o entendimento sobre aquilo que ocorreu,
durante o processo, Aroca afirma,
24
Logo, este autor afirma que o resultado se assemelha à verdade, mas não a
representa em sua integralidade e certeza,
Jamais o juiz poderá chegar a este ideal, ao menos tendo a certeza de que o
atingiu. O máximo que permite a sua atividade é chegar a um resultado que se
assemelhe à verdade, um conceito aproximativo, baseado muito mais na
convicção do juiz de que ali é o ponto mais próximo da verdade que ele pode
atingir, do que, propriamente, em algum critério objetivo (Arenhart, 2005, p. 13).
Em outras palavras, o conceito de verdade, por ser algo absoluto, somente pode
ser atingido quando se tenha por certo de que certa coisa se passou de tal forma,
5Por exemplo, em estudos, pesquisas e investigações dentro das áreas de ciências exatas, biológicas e
humanas.
27
juiz, contribui para a cognição mais fiel dos fatos relevantes para a justa solução
dos conflitos de interesses (Cambi, 2000, p. 149).
A prova, dentre as suas várias funções, pode ser considerada como um fato
jurídico em sentido amplo, ou seja, consiste em convencer o destinatário acerca da
veracidade da argumentação de determinado sujeito, levando a composição do fato
jurídico em sentido estrito (Tomé, 2008, p. 71).
Nesse mesmo sentido, analisando a prova pelo aspecto do fato jurídico em
sentido amplo, Tomé demonstra que se trata de:
(i) fato, por relatar acontecimento pretérito; (ii) jurídico, por integrar o sistema do
direito; e (iii) em sentido amplo, por ser apenas um dos elementos de convicção
que, conjugado a outros, propiciará a constituição do fato jurídico em sentido
estrito, constante de antecedente da norma individual e concreta veiculada pelo
ato de lançamento, de aplicação de penalidade ou de decisão administrativa ou
judicial (Tomé, 2008, p. 71).
As afirmações de fatos formuladas pelo autor, ou por cada uma das partes dada
a pretensão de deduzida em juízo, podem corresponder ou não à verdade, dessa
maneira, a dúvida acerca da veracidade constitui as questões de fato, devendo-as
serem resolvidas pelo juiz diante a prova dos fatos pretéritos relevantes (Dinamarco;
Badaró; Lopes, 2020, p. 426).
Por muito tempo, isto é, desde a Antiguidade Grega6, as decisões judiciais eram
proferidas longe dos ideais democráticos do Estado contemporâneo, isto porque, na
antiguidade grega, conforme citada, as decisões possuíam inspirações divinas, ou no
poder absoluto do soberano, na Idade Moderna ou, ainda, no individualismo oriundo da
convicção liberal (Greco, 2005, p. 366).
Greco explica que,
A sociedade do nosso tempo é mais exigente. Ela não mais se contenta com
qualquer reconstrução dos fatos, mas apenas com aquela que a consciência
coletiva assimila e aceita como autêntica, porque a exata reconstituição dos
fatos é um pressuposto fundamental de decisões justas e da própria eficácia da
tutela jurisdicional dos direitos, já que legitimadora do poder político que estão
investidos os julgadores (Greco, 2005, p. 366-367).
6"A história grega iniciou-se oficialmente com o período homérico, por volta de 1100 a.C. e estendeu-se
até a transformação da Grécia em protetorado romano, em 146 a.C.". Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/grecia-antiga.htm. Acesso em 15/08/2023.
28
As coisas são fontes reais de prova. As pessoas são também fontes reais,
quando submetidas a exames feitos por outrem (perícias médicas etc.); mas
serão fontes pessoais quando chamadas a tomar parte na instrução probatória
mediante a realização de atos seus e concurso de sua vontade (testemunhas,
partes em depoimento pessoal). As fontes pessoais são ativas e as reais,
inativas (Dinamarco; Badaró; Lopes, 2020, p. 431).
Assim, Dinamarco, Badaró e Lopes afirmam que o juiz é o destinatário final e tão
somente ele quem fará a avaliação das provas produzidas:
Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz (Brasil, 2015, online).
7Em tradução livre do Latim, significa “não é claro”. Nas cortes romanas, quando qualquer juiz, após
ouvir uma causa, não ficava satisfeito, pois considerava que o caso não havia sido exposto de forma
32
Ainda assim, o juiz considerará a prova que estiver presente nos autos, não
importando quem tenha produzido, isto é, pode ocorrer que a prova produzida pelo réu
convença o magistrado de que o autor de fato tem direito sobre aquilo que alega, essa
previsão está no artigo 371 do CPC.
O ônus probatório têm dois perfis ou funções distintos. Serve, sob um primeiro
aspecto, como uma regra de conduta, mediante a predeterminação dos fatos a
serem demonstrados por cada uma das partes da relação jurídica processual.
[...] Trata-se da compreensão da prova em sentido subjetivo. Por outro lado, o
ônus da prova serve como regra de julgamento, distribuindo, entre as partes, os
riscos decorrentes da falta ou da insuficiência da prova, bem como permitindo
que o juiz, estando em dúvida quanto a existência do fato, julgue a causa, uma
vez que não se admite que o processo termine com uma decisão non liquet
(Cambi, 2000, p. 146).
Não obstante, deve-se frisar que a situação jurídica do ônus está fundada no
critério de autorresponsabilidade. Isto significa que a parte onerada deve responder
pelas consequências desfavoráveis decorrentes da sua própria inércia (Cambi, 2000, p.
145).
Nada obstante, importante mencionar o crescente papel do juiz no processo no
que tange a sua própria iniciativa probatória, isto é, ainda que o atual Processo Civil
brasileiro seja de caráter dispositivo e, não, inquisitório, é notório que o julgador detém
poderes para tomar iniciativa de prova.
Isto porque, de acordo com Dinamarco, Badaró e Lopes (2020, p. 437-438), o
Estado moderno exige que o juiz seja um personagem participativo e responsável, logo,
o juiz terá como papel a de suprir deficiências probatórias para tomar a decisão mais
acertada possível, o que não significará em desequilíbrio do processo tampouco em
parcialidade.
Percebe-se que o artigo 95 do CPC dispõe que a remuneração do perito deverá
ser adiantada pela parte que houver requerida a perícia, e será rateada entre as partes
quando a perícia for determinada de ofício pelo juiz, o que ratifica o poder de iniciativa
probatória do julgador.
Além disso, o artigo 370 do CPC confere ao juiz o dever de suprir as deficiências
probatórias com iniciativas de ofício: “Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da
parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito”.
Dessa forma, percebe-se que a prova possui papel fundamental nos autos de
uma demanda litigiosa, eis que os acontecimentos que resultam na causa de pedir das
partes, devem ser demonstrados ao juiz, para que conceda uma decisão justa e
acertada, para tanto, a sua demonstração será feita mediante apresentação de provas.
A prova se mostra muito importante para o convencimento do juiz quanto ao que
de fato ocorreu. Em outras palavras, a prova terá como essência a reprodução da
35
verdade, o que realmente existiu ou não, ou seja, o que poderá constituir ou não um
direito à uma das partes.
Em sequência, respeitando o método de pesquisa, são tratadas as espécies de
provas apresentadas nos termos do Código de Processo Civil, a saber: (i) depoimento
pessoal; (ii) prova documental; (iii) exibição de documento ou coisa; (iv) prova
testemunhal; (v) prova pericial; e (vi) inspeção judicial.
Conforme o artigo 388 do CPC, a parte não será obrigada a depor sobre os
seguintes fatos:
O documento pode ser representado por escritas, símbolos e imagens, pode ser
um áudio ou um vídeo, trata-se de objeto que traz com si a representação do fato.
No processo, a prova deve ser apresentada no momento em que é alegado o
fato, ou seja, na petição inicial e na resposta do réu, isto porque, normalmente a prova
é preexistente à demanda, no entanto, a exceção são os documentos novos.
Com a descoberta da existência de um novo documento, a parte que possui
interesse sobre ele pode apresentá-lo no processo a qualquer tempo. Nesse sentido
prevê o artigo 435 do CPC,
.
Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos
novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos
articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.
Parágrafo único. Admite-se também a juntada posterior de documentos
formados após a petição inicial ou a contestação, bem como dos que se
tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo à
parte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de juntá-los
anteriormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar a conduta da
parte de acordo com o art. 5º (Brasil, 2015, online).
O tema também é previsto no artigo 405 do CPC: O documento público faz prova
não só da sua formação, mas também dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria,
o tabelião ou o servidor declarar que ocorreram em sua presença.
Quando juntada a prova documental nos autos, a parte contrária pode, se for o
caso, impugnar a sua admissibilidade, a sua autenticidade e suscitar a falsidade do
documento, com ou sem deflagração do incidente de arguição de falsidade, de acordo
com o artigo 436 do CPC, devendo nesses dois últimos casos, a parte realizar
argumentações específicas.
Art. 436. A parte, intimada a falar sobre documento constante dos autos,
poderá:
I - impugnar a admissibilidade da prova documental;
II - impugnar sua autenticidade;
III - suscitar sua falsidade, com ou sem deflagração do incidente de arguição de
falsidade;
IV - manifestar-se sobre seu conteúdo.
38
O requerido será intimado para resposta no prazo de 5 dias (artigo 398 do CPC),
e o juiz não poderá admitir a recusa do requerido nos casos em que a) o requerido tiver
obrigação legal de exibir; b) o requerido tiver aludido ao documento ou à coisa, no
processo, com o intuito de constituir prova; c) o documento, por seu conteúdo, for
comum às partes (artigo 399 do CPC).
Sendo que, ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que,
por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar, se (i) o requerido não
efetuar a exibição nem fizer nenhuma declaração no prazo do artigo 398, ou (ii) se a
recusa for havida por ilegítima (artigo 400 do CPC).
Nos casos em que o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz
ordenará sua citação para responder no prazo de 15 dias e se o terceiro negar a
obrigação de exibir ou a posse do documento ou da coisa, o juiz designará audiência
especial, tomando-lhe o depoimento, bem como o das partes e, se necessário, o de
testemunhas, e em seguida proferirá decisão (artigos 401 e 402 do CPC).
O CPC autoriza situações em que a parte e o terceiro possam se recusar a exibir
o documento ou a coisa, quando,
8 “Ainda que não prevista expressamente a ação de exibição de documento pelo CPC, a 3ª turma do
Superior Tribunal de Justiça fixou que, a partir da vigência do CPC/2015, é possível o ajuizamento de
ação autônoma de exibição de documentos sob o rito do procedimento comum, nos termos do art. 318 do
CPC/2015, aplicando-se, no que couber, pela especificidade, o disposto nos artigos 396 e seguintes, que
se reportam à exibição de documentos ou coisa incidentalmente.” (REsp 1.803.251 / SC. Terceira Turma.
Relator Exmo. Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze. Julgado em 22/10/2019).
40
Caso o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz ordenar-
lhe-á que proceda ao respectivo depósito em cartório ou em outro lugar designado, no
prazo de 5 dias, impondo ao requerente que o ressarça pelas despesas que tiver (artigo
403 do CPC).
Ainda, caso o terceiro venha a descumprir a ordem, o magistrado expedirá
mandado de apreensão, requisitando, caso seja necessário, força policial, sem prejuízo
da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa e outras medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a
efetivação da decisão.
A despeito dos considerados incapazes para depor, o artigo 447, §1° do CPC,
prevê o enfermo, o menor de dezesseis anos, o cego e o surdo quando da ciência do
fato depender dos sentidos que lhes faltam:
No tocante aos impedidos, o §2° do artigo 447, CPC, dispõe ser o cônjuge,
companheiro, ascendente e descente em qualquer grau, e o colateral até o terceiro
grau, seja por consanguinidade ou afinidade de qualquer das partes, exceto se exigir o
interesse público ou, ainda, em casos que considerando o estado da pessoa, não se
puder obter outro meio de prova.
Além disso, são impedidos aquele que é parte na causa, o que intervém em
nome de uma parte, seja tutor ou representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o
advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes.
§ 2º São impedidos:
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau
e o colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou
afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa relativa
ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o juiz
repute necessária ao julgamento do mérito;
II - o que é parte na causa;
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal
da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham
assistido as partes (Brasil, 2015, online).
42
Wambier e Talamini (2014, p. 580) classificam que a perícia será realizada se: (i)
útil, ou seja, quando for necessário para esclarecimento de fatos que exigem
conhecimento técnico ou científico que só o perito tem; (ii) necessária: não caberá
perícia quando o fato conflituoso tiver sido provado por outro meio de prova; e (iii)
praticável: se o objeto não permitir mais exame, seja porque sofreu alterações ou
porque não existe mais, não haverá a realização de perícia.
Há situações em que o juiz poderá dispensar a prova pericial, sendo eles nos
casos em que a inicial ou contestação apresentarem pareceres técnicos ou documentos
elucidativos, considerados suficientes, sobre as questões de fato, como previsto no
artigo 472 do CPC.
45
Já o artigo 473 do CPC irá dispor que o laudo pericial deverá conter:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes (Brasil, 1988, online).
No entanto, deve-se levar em conta que o uso probatório possui limitações, isto
porque, a obtenção e a produção de provas por meios ilícitos ou mediante fraude, não
deve ser recepcionada nos autos nem apreciada pelo julgador.
Assim, Dinamarco, Badaró e Lopes ensinam:
Diante disso, o direito à prova não é e não pode ser um direito absoluto, pois,
como todos os direitos fundamentais, encontra limites na própria Constituição
Federal e no direito infraconstitucional mediante (a) a rigorosa exclusão das
provas obtidas por meios ilícitos, (b) a exigência do requerimento da produção
da prova pela parte, salvo nos casos menos frequentes em que o juiz deve
produzi-la de ofício, (c) a imposição de prazos e momentos ou fases
processuais aptos ao requerimento pelas partes, (d) as exigências de
pertinência e relevância das provas requeridas, sob pena de sua
inadmissibilidade etc (Dinamarco; Badaró; Lopes, 2020, p. 428).
Nesse sentido, o próprio artigo 5°, inciso LVI, da CRFB de 1988, prevê ser
inadmissível, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
Dessa forma, este dispositivo da Constituição Federal proíbe que tais provas
venham ao processo ou nele permaneçam, logo, uma prova ilícita, eventualmente
trazida ao processo, será de total ineficácia (Dinamarco; Badaró; Lopes, 2020, p. 428-
429).
As provas são proibidas ou vedadas quando vão contra aos preceitos legais, isto
é, quando descumprem uma norma legal. Nesse sentido, vale revisar acerca da
diferenciação entre provas ilícitas e ilegítimas, de acordo com Wenzel:
49
Dessa forma, a prova ilícita é aquela que venha ferir um dispositivo de direito
material, enquanto a prova ilegítima trata-se da violação de um direito processual.
Da prova ilícita surgem questões de cunho fundamental consistentes (i)
juridicamente, sobre a indagação entre a ilicitude material na obtenção da prova e a
admissibilidade, quanto ao procedimento usado, nas provas obtidas ilicitamente e (ii) no
aspecto da política legislativa, ou seja, entre a busca da verdade e o respeito à direitos
fundamentais (Dinamarco; Badaró; Lopes, 2020, p. 429).
Os autores Dinamarco, Badaró e Lopes citam sobre a repercussão processual da
prova obtida por meios ilícitos:
Segundo Wambier e Talamini (2014, p. 529) existem três correntes sobre o tema:
(a) a obstativa: em que considera inadmissível a prova obtida por meio ilícito, em
qualquer hipótese e sob qualquer argumento, sem exceções, e como derivação dessa
corrente veio a teoria do fruto da árvore envenenada; (b) a permissiva: aceita a prova
por considerar que ilícito foi a forma de sua obtenção e não de seu conteúdo; (c) a
intermediária: a qual admite a prova ilícita, a depender dos valores jurídicos e morais
em jogo, sendo aqui aplicado o princípio da proporcionalidade.
50
Esta última parece ser a que melhor se coaduna não apenas com o caráter
público do processo, mas, sobretudo, com a multiplicidade de valores
fundamentais e de princípios vigentes na ordem constitucional. Sempre que a
prova for obtida por meio ilícito, deve ser tratada com reservas. Mas se o direito
em discussão for relevante, envolvendo questões de alta carga valorativa, é
admissível reconhecer-se eficácia a tal prova. Podem-se exemplificar essas
duas situações com temas costumeiros em direito de família. A conversa
telefônica clandestina não serve de prova na separação judicial, mas sim,
eventualmente, para a disputa sobre a guarda de filhos (Wambier; Talamini,
2014, p. 529).
Para tanto, existem aqueles que pensam que a proibição das provas ilícitas
resulta na ideia geral de que o direito à prova deve ser limitado diante da proteção
assegurada pelo ordenamento jurídico a outros valores, que se sobrepõe à busca da
verdade real (Dinamarco; Badaró; Lopes, 2020, p. 430).
E, existem aqueles que, fundamentados pelo princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade, creem na superação das vedações probatórias quando estivessem
em jogo direitos fundamentais ou ainda em nome da prevenção e repressão das formas
mais graves de criminalidade, de acordo com Dinamarco, Badaró e Lopes,
extinguir o direito do outro, assim, precisa o juiz de carga probatória que vai levá-lo ao
que de fato ocorreu, ou tentar chegar o mais próximo.
Neste caso, se mostra muito importante o Código de Processo Civil disciplinar
sobre a questão das provas que podem ser produzidas e admitidas na causa, de modo
a assegurar os direitos fundamentais das partes, previstos na Constituição Federal de
1988, especialmente a dignidade da pessoa humana e sua intimidade.
Deste modo, o CPC prevê que não serão admitidas as provas que produzidas ou
obtidas por meios ilícitos, violam os direitos da outra parte e até mesmo vai de contra
aos procedimentos do processo, ainda que sejam capazes de demonstrar a ocorrência
dos fatos.
Sendo que a partir do recebimento das provas, cabe ao magistrado realizar a
valoração destas e decidir com base naquilo que foi conseguido demonstrar, todavia,
existem momentos em que o julgador passará por cima dos documentos probatórios
para proferir uma decisão com base em seu livre convencimento diante dos fatos que
cada parte o narrou.
Estaria o magistrado priorizando a verdade dos fatos sobre as provas que as
partes conseguiram produzir?! Deve-se analisar até que ponto o juiz tem esse poder de
decisão, ou seja, quando passará a ser reformada a sua decisão em uma instância
superior, bem como até que ponto começarão a surgir reflexos danosos a partir desse
poder supremo.
Essa perspectiva passará a ser analisada no próximo capítulo.
Este último capítulo tem como objetivo sintetizar os principais substratos dos dois
capítulos anteriores, isto é, acerca da verdade, a verdade no direito, de que forma é
enfrentada em uma demanda judicial, bem como a respeito da prova e o seu papel de
mostrar a ocorrência dos fatos vivenciados pelas partes que enseja o litígio.
Não apenas será observado se a prova consegue cumprir a sua função, mas,
também, acerca do desempenho da função do juiz no processo, sendo analisado de
53
que maneira o magistrado lidará com a obtenção de provas, quando ele terá iniciativa
própria, isto é, de ofício buscar pela verdade.
Será abordado se as provas produzidas e apresentadas nos autos judiciais serão
suficientes para formar o convencimento do magistrado e em quais casos este as
dispensará em seu fundamento ao proferir uma decisão final.
Nesse sentido, para cumprir a investigação do tema, o capítulo se divide em
analisar a verdade objetiva e a sua influência na obtenção da prova, bem como sobre o
conjunto probatório para se chegar à verdade e o livre convencimento do julgador, e,
por fim, a ocorrência de discricionariedade judicial na análise da prova e o cabimento de
recursos.
Segundo Juan Aroca, uma vez que o Estado, na pessoa do juiz, tem o dever de
conhecer a verdade existente nas relações jurídicas entre as partes, nessa busca
surtirá seguintes consequências:
[...] a) para decidir, o tribunal não estava limitado aos fatos alegados pelas
partes, de modo que na busca do conhecimento sobre os fatos estavam
interessados tanto o tribunal com a procuradoria e várias outras organizações
estatais e de representação da sociedade soviética, todos os quais podiam e
deviam aportar fatos ao processo; b) o tribunal não devia se conformar com os
meios de prova propostos pelas partes, sendo seu dever determinar todas as
provas de ofício que entendesse ser oportunas e úteis para se chegar ao
conhecimento da chamada verdade objetiva (Aroca, 2019, p. 43).
Outro exemplo é o artigo 920 do referido diploma, que desde então previu a
prisão civil ao devedor de alimentos:
Art. 920. Quando não fôr possível o desconto na forma do artigo anterior, ou
quando o devedor não pertencer a qualquer das categorias nele enumeradas, o
56
Veja-se que o artigo 922, transcrito acima, prevê medidas de execução a serem
realizadas de ofício pelo juiz, nesse sentido, vale destacar que o Código de Processo
Civil brasileiro de 1940, passou a dispor sobre o aumento de poderes do juiz.
A título de exemplo, cita-se o artigo 118 no qual previu que o juiz poderia formar
o seu livre convencimento, quando da apreciação de provas, atendendo aos fatos e
circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pela parte.
Outro exemplo foi conferir ao juiz o poder de interpor recurso, ex officio, de
acordo com os artigos 814 e 822 do diploma em comento:
Art. 814. O direito de recorrer da sentença competirá a quem for parte na causa,
ou quando expresso em lei, ao órgão do Ministério Público. Si o recurso for
interposto pelo orgão do Ministério Público ou pelo juiz, ex-officio, os autos
subirão independentemente de preparo.
[...]
Art. 822. A apelação necessária ou ex-officio será interposta pelo juiz mediante
simples declaração na própria sentença (Brasil, 1940, online).
O juiz não é um ser divino, mas ainda assim tem, como objeto de sua pesquisa,
a verdade objetiva — verdade esta que lhe é, assim como a todos os demais,
inatingível. Exige-se, portanto, que o juiz seja um deus, capaz de desvendar a
verdade velada pela controvérsia das partes — onde cada qual entende estar
com a “verdadeira” verdade e, portanto, com a razão (Arenhart, 2005, p. 8).
Veja-se que o trecho do Acórdão acima reforça o papel do juiz como sendo o
destinatário final da instrução probatória, ou seja, a produção de provas com o fim de
formar a acepção do magistrado sobre o caso.
61
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371,
indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de
considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo
perito (Brasil, 2015, online).
Isto significa que, embora o juiz tenha a liberdade de tomar decisões com base
no convencimento racional, tais decisões devem ser acompanhadas de fundamento e
motivação, que sejam concordantes com o ordenamento jurídico brasileiro.
Em outras palavras, o magistrado precisa obedecer às regras legais acerca da
admissão, produção e valoração de provas.
Acerca da necessidade de motivar a decisão, Almeida explica que se trata da
explicação pelo juiz, de sua convicção, quando profere a sentença:
Ou, ainda, nos casos das presunções legais iure et de iure10 que não admitem
provas em contrário, logo, possuem presunções absolutas, e estão previstas no artigo
1.035, §3° do CPC,
Em que pese a regra do artigo 1.035, §3° do CPC tratar-se de presunção legal
absoluta, a disposta nos artigos 215 e 225 do Código Civil não são tomadas de modo
absoluto, portanto, o magistrado poderá admitir provas em contrário a estas.
Dessa maneira, deve-se observar que embora o legislador atribua ao julgador a
chance de conduzir a instrução do processo com liberdade, deverá este pautar suas
decisões em fundamentos lógicos e legais.
1º) Excluído objeto da prova as afirmações fáticas feitas pelas partes se sobre
elas não haja controvérsia, o que se faz atendendo a natureza dispositiva do
direito material que será aplicado. Portanto, os fatos sobre os quais as partes
estão de acordo existem para o juiz e ficam excluídos da atividade probatória, e
isso vai ao extremo de que, se não existem fatos controvertidos, sequer é o
caso de se praticar eventual meio de prova (Aroca, 2019, p. 39).
Na colheita de provas, não poderá ser deixado de lado os princípios e regras que
orientam e conduzam o processo, especialmente o da legalidade, assim como o da
ampla defesa, da igualdade, da dignidade da pessoa humana, da efetividade, além de
outros.
3º) Algumas vezes estabelece a Lei, e de modo regrado, o valor que o julgador
deve conceder a um determinado meio de prova, no sentido de que aí já
configura a certeza, independentemente do critério subjetivo do próprio juiz, e
isso até o extremo de se referir a uma certeza objetiva. Quando a Lei
estabelece uma norma de valoração probatória, está dizendo que, por exemplo,
a afirmação fática realizada por uma parte, e verificada num documento público,
há de ser tida como certa pelo juiz. É dizer, quando isso ocorre deve se ter
como provada a afirmação de fato feita por uma parte e isso independe de qual
quer referência à convicção psicológica do juiz (Aroca, 2019, p. 39-40).
68
Deve-se lembrar que existem situações de que a lei traz um valor maior a um
certo tipo de prova, e isso deve ser levado em consideração pelo juiz, como é o caso de
uma situação fática poder ser constatada através de um poder público, isto significa que
a valoração dessa prova estará além da convicção psicológica do juiz.
4º) Outras vezes, a Lei dispõe que o juiz deverá atribuir a um certo meio de
prova o valor que estime oportuno, sempre de maneira motivada – logo, não de
forma discricionária –, com o que a certeza se põe em relação com a convicção
psicológica do mesmo juiz, ainda assim se pode concluir que nas atuações
existem elementos sufi cientes para que o respectivo fato possa dar-se como
provado. Neste caso caberia falar em certeza subjetiva, não se esquecendo de
que não se trata daquilo que o juiz possa decidir conforme a própria
“consciência” já que, ainda assim, haverá a necessidade de motivar a sentença
de modo a expor de maneira racional como chegou a formar sua convicção,
partindo, em todo caso, dos meios de prova contidos no processo (Aroca, 2019,
p. 40).
Por fim, falar da possibilidade do juiz em atribuir valor às provas que estime
adequado, havendo a necessidade de sempre motivar a decisão, expondo de maneira
racional como chegou a sua convicção sobre o caso.
Veja-se que quando se fala de valoração trazida pela própria legislação, será
considerada como uma certeza objetiva, enquanto a valoração realizada pelo juiz será
considerada como uma certeza subjetiva.
De toda sorte, deve-se levar em consideração que só se pode afirmar que uma
alegação fática foi de fato comprovada, isto é, chegou-se a uma certeza, quando se
observou o princípio de legalidade e respeitou todos os procedimentos previstos em lei,
assegurando, sempre, os direitos das partes.
Isto significa que na análise do conjunto probatório produzido no processo, o
grau de discricionariedade do juiz, para tomar qualquer decisão, não é ilimitado.
Isto é, “a liberdade que o juiz possui para formar o seu livre convencimento não é
irrestrita, sob pena da submissão das partes no processo virar sinônimo de arbítrio”
(Cambi, 2000, p. 155).
No Brasil, como um Estado Democrático de Direito, se espera que as partes
tenham um papel ativo na produção de provas, produzindo-as e apresentando-as nos
autos, de forma cooperativa e democraticamente, observando o direito de resposta.
69
Logo, poderá o juiz decidir, se entender que a causa encontra-se madura para
proferir sua decisão, antecipar o julgamento, ou, ainda, determinar que outras provas
sejam produzidas pois aquelas apresentadas não são o suficiente para formação de
seu convencimento.
Além disso, pode o juiz determinar a produção de provas mais técnicas, como
uma perícia ou, caso o processo lhe apresente confuso e não esteja convencido sobre
um ou diversos fatos alegados, poderá realizar presencialmente uma inspeção judicial.
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Para tanto, não poderá deixar de fundamentar cada decisão, conforme ensina
Cambi,
A decisão judicial é a ação pela qual o juiz cria o direito, quando da sua função
de aplicar a norma geral e abstrata a um caso individual e concreto, por um
processo dedutivo, realiza o controle de constitucionalidade (validade) do direito
e sopesa se é ou não dirigido ao sujeito o conteúdo constante da norma
(Scherch; Alves, 2018, p. 71).
Isto retrata na acepção de que o julgador não realiza uma função meramente
declarativa, mas, sim, realiza um processo de continuação da criação jurídica.
71
Nesse mesmo sentido, Scherch e Alves aludem, “ocorre que a norma geral é
uma moldura que, apenas em seu perímetro interno, permite a produção de uma norma
individual, inexistindo tal limitação, alargam-se as possibilidades do tribunal para a
decisão no caso concreto” (Scherch; Alves, 2018, p. 71).
Dessa maneira, a partir da criação jurídica feita pelo juiz, que tem a liberdade ou,
melhor dizendo, a discricionariedade de escolher o melhor fundamento e a melhor
prova para decidir sobre o caso.
Sobre esse tema, Vieira afirma que “diante da crescente complexidade social e
da velocidade da sua transformação, o legislador vai sempre conceder um grau de
discricionariedade às concretizações da realidade, para garantir uma decisão correta no
caso concreto” (Vieira, 2015, p. 106).
O questionamento é de se o fundamento escolhido pelo julgador como o ideal
para estruturação de sua decisão, representa, de fato, a verdade sobre o ocorrido.
Vieira vai explicar que os tribunais diante a um caso concreto, por vezes, ficam
entre alternativas de decisões válidas e legítimas, fazendo a sua escolha de acordo
com as suas convicções político-sociais,
Observa-se que o autor menciona que a escolha sobre a decisão a ser tomada
pelo julgador será feita livremente e em conformidade com o que lhe parecer ser mais
coerente, ressaltando a importância de sempre decidir de forma motivada.
Ressalta-se que quanto mais vaga a lei é, maior será a discricionariedade do juiz
na criação jurídica e aplicação no caso concreto. Assim, se faz importante o papel das
provas no processo, fazendo com que haja uma limitação maior na liberdade de
decisão do juiz, em razão do conteúdo comprovado no caso, que orientará o julgador.
Quando se retorna a discussão de que se a escolha tomada pelo magistrado é
aquela que representa a verdade, seria possível, então, a rediscussão do mérito da
72
causa? Isto é, considerando que se alcançou a verdade dos fatos e decidiu de acordo
com a legislação brasileira na aplicação mais adequada ao caso concreto, assim, por
que ser possível a interposição de recurso que discuta sobre o mérito? O qual deveria
ser cabível apenas para discutir a questão de forma, de procedimento, sobre o caso.
Ocorre que o juiz não alcançará a verdade real e indiscutível do litígio. Como
mencionado no primeiro capítulo, o julgador se aproximará daquilo que se assemelha a
verdade, de acordo com Arenhart,
[...] o juiz deve, portanto, optar por uma das versões dos fatos apresentadas, o
que nem sempre é fácil e (o que é pior) demonstra a fragilidade da operação de
descoberta da verdade realizada. As provas geralmente apontam para
inúmeras conclusões (Arenhart, 2005, p. 10).
73
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido, para formar a convicção do juiz não basta mais a argumentação e
a dialética, mas deve-se dar espaço a produção probatória como instrumento que torne
possível a reconstrução dos fatos e a demonstração da verdade sobre o ocorrido.
Mas, a prova será suficiente para revelar a verdade dos fatos e atribuir certeza
no momento da tomada de decisão pelo juiz? Dessa maneira, a importância do trabalho
em analisar a verdade e a prova no âmbito do Processo Civil brasileiro.
A verdade, como explorada na pesquisa, sob a ótica da filosofia contemporânea,
demonstrará conceitos distintos, de difícil análise acerca de sua existência e de como
se apresenta às pessoas.
Para o filosofo Edmund Husserl, a verdade se coloca como a adequação entre o
que se intenciona significar e o significado, e definirá que a verdade representa em um
ato intencional da consciência de preencher sentido às coisas, afastando qualquer ideia
de empirismo.
No entanto, para se chegar a essa tal definição, Husserl apresentará no mínimo
quatro conceitos distintos sobre a verdade, trabalhando sobre cada um. De modo que
se pode considerar que a verdade não apresentará uma única moldura.
Logo, deve-se reconhecer que a verdade será assumida de diversos ângulos por
diferentes grupos de pessoas.
Assim, se passa a analisar como é a percepção da verdade pelos indivíduos, eis
que é verificado, exclusivamente, os pensamentos de Friedrich Nietzsche a respeito da
verdade na sociedade.
O filósofo alemão, vai contra as verdades absolutas construídas até então pela
filosofia ocidental, afirmando que todas as tentativas de se compreender a verdade não
passaram de tentativas de fuga da própria realidade, de modo que Nietzsche criticará
aqueles que possuem anseios de buscar e descobrir a verdade (Mattozo, 2012, p. 114).
Para o filósofo, a sociedade vem criando valores para viabilizar o convívio social,
nessa conjuntura é que a sociedade aprendeu a mentir, mentir todo o tempo para que
fosse possível o convívio, frisa-se que o indivíduo está habituado em se deixar enganar,
porque o mentir é coletivo e inconsciente.
Nesse cenário, para Nietzsche, aqueles que demonstram ideais ascéticos e que
incansavelmente procurará a verdade sobre um fato, serão facilmente enganados em
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razão de acabar por aceitar qualquer verdade quando fechar os olhos para a realidade
na tentativa de preencher um vazio.
O filósofo afirma que deve assumir o problema quanto a “vontade de verdade” e
encarar que esses anseios não podem ocorrer. Importante verificar se essa busca ou
essa vontade de verdade também ocorre no âmbito judicial, tema que se assemelha
quando se fala em verdade objetiva.
Assim, se estuda sobre a verdade e a sua relação com o direito, atravessando
categorias clássicas como a verdade material e a verdade formal, criadas pela doutrina
processualista, para concordar com uma nova classificação: verdade lógica-semântica,
apresentada por Fabiana Tomé.
A verdade lógica, para Tomé (2008, p. 25), é construída a partir da relação entre
as linguagens de determinado sistema, isto é, a observância da regra do jogo, de forma
que essa verdade terá como base o arcabouço probatório para que consiga comprovar
o ocorrido narrado pelas partes, para que assim o julgador tome uma decisão acertada.
Ressalta-se que a verdade lógica não terá como fim a representação perfeita da
ocorrência do caso, mas, busca chegar em uma conclusão a partir da constituição dos
fatos por meio de provas, produzidas e apresentadas no teor do processo.
Portanto, se constrói um raciocínio da importância da prova para a reconstrução
dos fatos e consequentemente a simbolização da verdade do ocorrido. A prova terá o
objetivo de conduzir o julgador à tomada de decisão mais justa para as partes que lhe
reclamam e pedem tutelas.
Assim, retorna-se aos ditames processualistas e aos direitos que asseguraram o
andar do jogo, para analisar sobre a conceituação de provas e a sua classificação que
foi conferida pelo legislador na elaboração do Código de Processo Civil.
O autor da ação tem o ônus de demonstrar a ocorrência do fato que lhe serve de
base, isto é, que fundamenta os seus pedidos. Essa demonstração tem o objetivo de
formar convicção do juiz sobre o ocorrido para a formação da decisão.
Por outro lado, o réu também terá o ônus de apresentar as suas provas quanto à
existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, quando for
alegado em sua defesa.
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Eduardo Cambi (2000, p. 149) afirma quanto a importância do uso das provas no
processo para que as partes consigam influenciar na formação do convencimento do
juiz, ampliando as suas chances de obter decisão favorável aos seus interesses.
Isto é, a obtenção de decisões justas não ocorrerá se o mecanismo processual
não estiver voltado à correta reconstrução dos fatos capazes de formar a convicção do
órgão julgador para decidir sobre a causa.
O atual Código de Processo Civil prevê que são espécies de provas admitidas: (i)
depoimento pessoal; (ii) prova documental; (iii) exibição de documento ou coisa; (iv)
prova testemunhal; (v) prova pericial; e (vi) inspeção judicial.
Cada uma dessas espécies, conforme estudado, terão regras de procedimentos
distintas, as quais estão previstas no ordenamento jurídico, sendo, inclusive, autorizado
ao juiz a produção de provas de ofício, ou seja, sem que as partes peçam.
Dessa forma, o trabalho passa a olhar o papel do juiz na condução do processo
e na condução do conjunto probatório. Ainda que o Processo Civil brasileiro apresente
as espécies de provas admitidas em direito, será o magistrado o receptor delas e será
ele quem atribuirá o valor a cada uma de acordo com o seu convencimento.
Visualiza-se que o magistrado detém poderes ao conduzir a fase de instrução do
processo, dessa maneira, deve-se atentar aos atos do juiz para que não venha suprir
qualquer direito das partes na busca da resolução do litígio.
Assim, é analisada a verdade objetiva, adotada, por vezes, pelos tribunais em
buscar a verdade dos fatos que lhe são narrados a qualquer custo, suprindo garantias e
a tutela individual das partes. Nesse aspecto recorda-se ao tema “vontade de verdade”
abordado pelo filósofo Nietzsche, o qual critica essa busca incansável pela verdade, e,
ainda ressalta a importância de assumir que esse anseio deve ser elidido.
Elidido, especialmente, a partir do momento em que essa busca começa a gerar
danos, quando se passa a crer naquilo que não demonstra a realidade ou passa causar
prejuízos a outras pessoas.
Dessa forma, o juiz tem que ter parcimônia quando utilizar-se da autoridade em
determinar medidas de ofício, ou quando utilizar-se do instituto do livre convencimento,
para proferir uma decisão que venha, por exemplo, negar a oportunidade da parte de
apresentar e produzir provas ou de apresentar o contraditório e a ampla defesa.
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REFERÊNCIAS
TOMÉ, Fabiana Del Padre. A Prova no Direito Tributário. São Paulo: Noeses, 2008.