Anais Do II Colóquio de Letramento Linguagem e Ensino
Anais Do II Colóquio de Letramento Linguagem e Ensino
Anais Do II Colóquio de Letramento Linguagem e Ensino
VOLUME ESPECIAL
ANAIS DO II COLÓQUIO DE
LETRAMENTO, LINGUAGEM E ENSINO
v. 4 n.1 – 2014
Realização:
GRUPO DE PESQUISA FALE
Colégio de Aplicação João XXIII
3
4
Semestral
Disponível em: <www.ufjf.br/praticasdelinguagem>
CDU
37:372.46(05)
SUMÁRIO
Apresentação.................................................................................................. 6
Pesquisa
Relatos
Contando histórias
Maria Rosana R. Silva ................................................................................... 353
Mesa-redonda
Apresentação
Organizadoras
Ariane Alhadas Cordeiro
Tânia Guedes Magalhães
Pesquisa
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
8
O impresso e o digital na escola: promovendo letramentos?
Resumo
Este artigo configura-se a partir de uma pesquisa, que buscou compreender como interagem,
dentro da escola, a Biblioteca Escolar e o Laboratório de Informática, enquanto espaços de
diferentes letramentos. São trabalhadas as concepções de leitura, letramentos, gêneros de
discurso, fundamentadas por Bakhtin, Coscarelli, Lévy, Marcuschi, Soares. Buscou-se
fundamentação metodológica na pesquisa qualitativa de abordagem histórico-cultural,
respaldada por Lev S. Vygotsky e Mikhail Bakhtin. Esta pesquisa aponta que possíveis
interações entre estes espaços e sala de aula devem ser promovidas. Para que isso ocorra, é
premente promover a formação para o uso técnico e pedagógico das tecnologias a toda
comunidade escolar.
Palavras-chave: Biblioteca escolar. Laboratório de informática. Letramentos. Formação de
professores.
Introdução
O presente texto foi baseado na dissertação de mestrado: SCHUCHTER, Lúcia Helena.
Biblioteca escolar e laboratório de informática: espaços para diferentes letramentos. 2010.
(Mestrado em Educação). PPGE - Universidade Federal de Juiz de Fora. Orientadora: Adriana
Rocha Bruno.
*
Doutora e mestre em Educação: Currículo (PUCSP). Professora da Universidade Federal de
Juiz de Fora/MG - Faculdade de Educação/PPGE/PPGP-UFJF. Coordenadora de Inovação
Pedagógica no Ensino Superior - CIAPES-PROGRAD-UFJF, coordenadora de tutores a distância
do Curso de Pedagogia - FACED-UFJF-UAB e Líder do GRUPAR (Grupo de Pesquisa
Aprendizagem em Rede). [email protected]
Doutoranda e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação / UFJF.
Professora da Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora, membro do GRUPAR (Grupo de
Pesquisa Aprendizagem em Rede) [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
9
Quando você está no ambiente digital, tem que se preocupar com coisas
que antes não tinha que se preocupar: tamanho e cor da fonte (letra),
cor do fundo da tela, colocar imagem e animação no texto. Eram coisas
com as quais a gente não se preocupava porque não havia esses
recursos. (p.01)
definido pelo enunciado e pelos gêneros discursivos que o compõem, é uma unidade
discursiva que só encontra sua completude no processo dialógico, na interação verbal.
Para Costa Val (1991), “um texto é uma ocorrência linguística, escrita ou
falada de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e
formal” (p.03).
Já “o hipertexto é, grosso modo, um texto que traz conexões, chamadas links,
com outros textos que, por sua vez, se conectam a outros, e assim por diante,
formando uma grande rede de textos” (COSCARELLI, 2006a, p. 73).
Conforme Lévy (1999), hipertexto é “um texto em formato digital,
reconfigurável e fluido. Ele é composto por blocos elementares ligados por links que
podem ser explorados em tempo real na tela” (p.27).
Contudo, Coscarelli (2006a) nos esclarece que o texto, seja qual for o seu
suporte, continua sendo uma enunciação estabelecida entre leitor e autor, sendo que
o que muda são as formas de manifestação em função de uma nova interface.
Considerando nossas inquietações frente aos constantes desafios em relação à
educação e aos questionamentos apresentados neste artigo, buscamos pistas para a
questão da pesquisa: como convivem e interagem, dentro da escola, a Biblioteca
Escolar e o Laboratório de Informática, enquanto espaços de promoção de diferentes
letramentos?
2. Metodologia
3. Análise de dados
Para Laville e Dionne (1999), o pesquisador pode abordar a análise dos dados
de três maneiras: (a) Modelo Aberto: as categorias não são fixas no início, mas
tomam forma no curso da própria análise; (b) Modelo Fechado: categorias definidas a
priori, a partir de um referencial teórico; (c) Modelo Misto: categorias definidas a
priori, à luz da teoria, mas podem ser revistas (modificadas, aperfeiçoadas,
suprimidas ou inseridas) em função do que a análise apontar como elementos
significativos. Assim, optou-se pelo “modelo misto”.
Houve uma triangulação dos dados, buscando respostas à questão
investigativa.
Entrevistas
Uma professora, a regente A3, não gosta de computador e acha que, para
gostar, é preciso ter vocação:
A3: Não uso computador porque ainda não tive nenhuma vocação para
conseguir gostar.
Lúcia: Você acha que precisa de vocação para usar o computador?
A3: É preciso ter jeito, paciência. E eu ainda não tive tempo para parar, me dedicar a
isso.
Esta fala revela uma situação bastante comum nas escolas atuais: alguns
professores nasceram numa época bastante diferenciada - em termos tecnológicos,
culturais, sociais - do contexto histórico dos alunos que educam. Cria-se, em
determinados momentos, verdadeiros “fossos”, principalmente em relação ao uso das
tecnologias. Esta ocorrência é bastante focada na fala do professor-bibliotecário que
narra sobre sua neta, que aprendeu a ler no computador:
Lúcia: Esses alunos de hoje são os chamados “nativos digitais” (...), a gente precisa
se preparar pra lidar com esse novo tipo de aluno, né?
B1: Eu tenho uma neta de quatro anos que aprendeu a mexer no computador,
antes de aprender a ler. No fim, ela tá lendo no computador. Eu não posso falar
que o computador é uma coisa ruim.
A1: O que eu tenho tentado passar pra eles aqui na biblioteca... que sem a leitura
eles não conseguem informática. Se eles não tiverem a prática de parar, de
ler aqui, eles não vão conseguir lá.
Lúcia: A2, você acha que falta um certo conhecimento por parte de
alguns professores para o uso do computador?
A2: Infelizmente sim. A maioria dos professores ainda não é letrada
digitalmente em relação ao computador e principalmente a Internet. Muitos
não gostam e não querem entender. Outros não envolvem porque
desconhecem. Outros têm medo ou vergonha e também não fazem por onde
se interessar pela tecnologia.
B3 reitera as palavras de A2, dizendo que não tem tempo nem formação para
práticas de ensino mediadas pelo computador:
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
17
Considerações finais
Abstract
This article sets out from a study that sought to understand how they interact within the
school, the School Library and Computer Lab, as spaces of different literacies. Are worked
conceptions of reading, literacy, speech genres, founded by Bakhtin, Coscarelli, Lévy,
Marcuschi, Soares. We sought to methodological foundation in qualitative research of cultural-
historical approach, backed by Lev S. Vygotsky and Mikhail Bakhtin. This research points to
possible interactions between these spaces and the classroom should be promoted. For this to
occur, it is urgent to promote training for technical and pedagogical use of technology
throughout the school community.
Key words: School library. Computer lab. Literacies. Teachers training.
Referências
BAKHTIN, M. Gêneros do discurso In: ______. Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
Resumo
Este trabalho analisa as influências do bilhete orientador do professor no processo de revisão e
reescrita textual pelo aluno. Trata-se de um estudo de caso, de cunho qualitativo, cujo corpus
foi constituído por escritas e reescritas de um aluno de 5º ano e o bilhete do professor como
instrumento de correção textual. Assumimos a concepção de linguagem como forma de
interação social (GERALDI, 1996) e de texto como “uma unidade de sentido tomada pelos
usuários da língua, em uma dada situação de interação, preenchendo uma função
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão” (TRAVAGLIA,
1997). Os dados analisados revelam que o bilhete do professor se constitui como espaço para
discutir as adequações ao gênero, propor revisões quanto ao uso de elementos coesivos, além
de estimular os comportamentos escritores do aluno.
Palavras-chave: Interação. Bilhete. Reescrita.
Introdução
1. Pressupostos teóricos
Graduanda em Pedagogia/UFJF; [email protected]
Graduanda em Pedagogia/UFJF; [email protected]
receptor. Para ele, a linguagem é vista como um lugar de interação humana, quer
dizer, é a partir dela que o sujeito participa das situações de comunicação no meio
social em que está inserido.
Pautadas na concepção de linguagem como forma de interação, compreendemos
que o texto trata-se de “um evento comunicativo em que convergem ações
linguísticas, sociais e cognitivas” (BEAUGRANDE, 1971 apud MARCUSCHI, 2008, p.
72), ou seja, o texto não é apenas uma simples sequência de palavras escritas ou
faladas, mas um evento interativo, no qual o usuário da língua pratica a sua
habilidade de organizar e transmitir ideias, informações, opiniões em condições de
interação.
A partir das concepções de linguagem e de texto, compreendemos a escrita
como trabalho, ou seja, “a escrita é uma construção processada na interação e a
reescrita é o momento que revela a dinamicidade desse processo construtivo” (FIAD e
MAYRINK-SABINSON, 1991 apud MARQUES, 2012, p. 13).
Marques (2012) destaca que se a linguagem é constituída através da interação
entre os sujeitos, o professor deve mostrar ao aluno que escrever implica um
compromisso do escritor com o leitor, permeado pela atividade contínua de revisar e
reescrever.
Serafini (apud MARQUES, 2012) defende três tipos de correções textuais: (i) a
indicativa: aponta os erros do aluno no seu texto através de marcações do (a)
professor(a); (ii) a resolutiva: além de apontar os erros do aluno, o(a) professor(a)
resolve os problemas que encontrou e; (iii) a classificatória: relaciona os erros com
uma classificação construída pelo(a) professor(a) através de símbolos ou termos
linguísticos.
Ruiz (2001) defende outro método de correção de textos, a correção textual-
interativa. Para a autora, a correção textual-interativa consiste em comentários mais
longos do que os que se fazem na margem do texto, razão pela qual são geralmente
escritos em sequência ao texto do aluno, ganhando o formato de bilhetes.
percebe que não basta via corpo, margem ou símbolo. (RUIZ, 2001,
p.68)
A correção mediada por bilhetes faz com que o aluno reflita em torno de suas
escolhas linguístico-discursivas. Geralmente, possui dois objetivos: (i) falar para o
aluno sobre os problemas encontrados no texto – a tarefa de revisão; (ii) falar
metadiscursivamente sobre a tarefa de correção do professor. Segundo Ruiz (2001),
esse método de correção faz com que exista afetividade entre professor(a) e aluno,
pois estimula o processo de refacção textual e reforça a revisão realizada.
Marques (2012) analisa a estrutura do gênero bilhete e aponta as seguintes
características: (i) apresenta escrita breve, informal e íntima, (ii) suas intenções
variam entre dar uma ordem, fazer um pedido, lembrar uma determinada ação,
elogiar, agradecer, entre outros; (iii) utiliza pequenas tiras de papel como suporte
textual; (iv) a estrutura composicional se constitui de vocativo, saudação (opcional),
mensagem, despedida (opcional) e assinatura.
Segundo Dedeschi (2001, apud MARQUES), se o bilhete não possuir um
destinatário, pode-se considerar como descaso e desrespeito ao outro. Após o
vocativo, no início do texto, acontece a saudação, sendo esta opcional. A mensagem é
a informação que se anseia passar ao destinatário, e a despedida, também opcional,
se encontra entre o texto e a assinatura do remetente. A assinatura indica a autoria
do bilhete.
Marques (2012) analisou o modo de dizer do professor nos bilhetes e, para
tanto, adotou as operações discursivas descritas por Geraldi (1991):
2. Metodologia
3. Análise de dados
Escrita
J.,
A sua história ficou muito criativa. Você contou em que
momento da sua vida ganhou o robô de presente. Mas eu
ainda fiquei muito curiosa... Como foi o seu aniversário?
Quem te deu o robô de presente? Como essa pessoa te 1ª solicitação
entregou o robô? Teve suspense, surpresa? Conte
mais, descreve o cenário da festa de aniversário, o
grande momento da entrega do presente, como se
sentiu ao ganhar um robô.
Você escreveu na sua história que um menino escondia
o seu robô na grande casa que ele tinha. Descreva melhor 1ª solicitação
essa cena, conte como era esse menino e como
solucionou o problema do sumiço do seu brinquedo.
Releia o texto, reveja os aspectos assinalados acima,
observe as orientações do bilhete da professora, revise e
reescreva seu texto.
Bom Trabalho,
Profª A.
01/11/2011
Reescrita
A sua história ficou muito criativa. Você contou em que momento da sua vida
ganhou o robô de presente. Mas eu ainda fiquei muito curiosa... Como foi o seu
aniversário? Quem te deu o robô de presente? Como essa pessoa te entregou o
robô? Teve suspense, surpresa? Conte mais, descreve o cenário da festa de
aniversário, o grande momento da entrega do presente, como se sentiu ao ganhar
um robô.
Você escreveu na sua história que um menino escondia o seu robô na grande
casa que ele tinha. Descreva melhor essa cena, conte como era esse menino e
como solucionou o problema do sumiço do seu brinquedo.
Bom Trabalho,
Profª A.
01/11/2011
Assinatura Data
Juan,
Bom Trabalho,
Profª A. 01/11/2011
Pergunta
Ordem 09
Pergunta 03
Elogio 01
Exemplificação 00
Argumentação 01
Considerações finais
The repercussions of the teacher's note in the rewritten text by the student
Abstract
This paper analyzes the influence of advisor ticket from teacher in the process of revising and
rewriting text by the student. This is a case study, a qualitative, whose corpus comprises
written and rewritten a student of 5th year and the ticket of the teacher as an instrument of
textual accuracy. We assume the conception of language as a form of social interaction
(GERALDI, 1996) and text as "a unit of meaning making by language users in a given
interaction situation, filling a recognizable and recognized communicative function, regardless
of its extension" (TRAVAGLIA, 1997). The data analyzed show that the teacher's note becomes
a space to discuss adjustments to the genre, propose revisions to the use of cohesive
elements, in addition to stimulating behavior of the pupils writing behavior.
Key words: Interaction. Note. Rewrite.
Referências
GERALDI, J. W. Portos de passagem. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Resumo
O presente estudo aborda como o sistema educacional brasileiro tem traçado estratégias para
acompanhar o desenvolvimento da leitura dos estudantes do ensino fundamental e do ensino
médio (de escolas públicas) a partir do desempenho desses alunos nas avaliações da Prova
Brasil e do SAEB. Discute de que forma essas avaliações têm contribuído com as instituições
de ensino para a formação de leitores proficientes. Para a constituição da pesquisa, foram
utilizados os resultados da Prova Brasil e do SAEB nas aplicações de 2005 a 2011 aos alunos
da 8ª série /9º ano do Distrito Federal. O estudo também apresenta, com base na revisão
bibliográfica, algumas propostas metodológicas que podem ser adotadas pelos docentes para
melhor subsidiar o trabalho pedagógico.
Palavras-chave: Leitura. Letramento. Avaliações.
Introdução
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Professor colaborador da Faculdade LS. e-mail:
[email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
34
que tem apenas início, pois, ainda que um leitor seja proficiente, é sempre possível
deparar-se com textos que desafiem sua competência leitora.
O presente estudo aborda, então, como o sistema educacional brasileiro tem
traçado estratégias para acompanhar o desenvolvimento da leitura dos estudantes do
ensino fundamental e do ensino médio (de escolas públicas) a partir do desempenho
destes alunos nas avaliações em larga escala: Prova Brasil e SAEB. Discute de que
forma essas avaliações têm contribuído com as instituições de ensino para a formação
de leitores capazes de compreender os textos que circulam nos diversos contextos
sociais (perspectiva do letramento e dos gêneros textuais).
Primeiramente, são feitas algumas considerações a respeito da aprendizagem
da leitura na perspectiva do letramento. Em seguida, tem-se a explanação acerca da
Prova Brasil e do SAEB. A fim de subsidiar a discussão, são apresentados alguns
dados sobre os resultados da Prova Brasil e do SAEB em suas últimas aplicações no
Distrito Federal(foco em Língua Portuguesa). Por último, as considerações finais,
seguidas das referências bibliográficas.
Para que o leitor torne-se capaz de construir sua própria reflexão diante do
texto, integrando-aao seu conhecimento de mundo, é necessário o convívio com
textos diversos, a construção de uma intimidade com o funcionamento de cada gênero
textual nos diferentes contextos discursivos e sociais. Essa é a perspectiva do
letramento, pautado na ampliaçãodas habilidades do uso da leitura nos diversos usos
da linguagem escrita e oral.
Segundo Kleiman (2005), na década de 1980, vários pesquisadores no Brasil
que trabalhavam com as práticas do uso da linguagem sentiram falta de um conceito
que se referisse aos aspectos sócio-históricos do uso da escrita, sem as conotações
sobre o ensino e a escola associada à palavra alfabetização. Dessa maneira, surgiu na
TRASK, R.L. Dicionário de linguagem e linguística. Trad. Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2004.p 154-
1
5.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
37
Diante disso, é essencial entender que a leitura tem uma função primordial na
formação do discente, sendo necessário vê-la como uma construção de significado do
texto a partir do conhecimento de mundo e linguístico do leitor. Com a leitura o
Para detalhamento a respeito de cada um dos tipos de letramento, ver: ROJO (2006).
2
segundo Rojo (2009) tem uma concepção de leitura extraída de diversos gêneros, que
constituem práticas leitoras escolares e não escolares.
matemática aos professores dos anos finais (do sexto ao nono ano) do ensino fundamental em exercício
nas escolas públicas. A formação possui carga horária de 300 horas, sendo 120 horas presenciais e 180
horas à distância (estudos individuais) para cada área temática. Informações disponíveis em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12380&Itemid=642>.
4
Disponível em:<http://www.portalideb.com.br/estado/107-distrito-
federal/ideb?etapa=9&rede=publica>.
5
O SIADE (Sistema de Avaliação do Desempenho das Instituições Educacionais do Sistema de
Ensino do Distrito Federal) foi criado por meio do Decreto nº 29.244, de 2 de julho de 2008. A
ferramenta foi criada, desenvolvida e executada pela Secretaria de Educação em 2008 para
servir de monitoramento da qualidade do ensino local. Uma resposta à Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, que prevê que todas as unidades da federação devem avaliar e
acompanhar o ensino de sua rede.
6
Análise feita com base em: BRASIL.Censo Escolar. Brasília: INEP – Instituto Nacional de
Estudo e Pesquisa Anísio Teixeira, 2007.
pedagogicamente viáveis, isto é, capazes de serem executadas por parte dos vários
setores responsáveis pela educação: ministérios, secretarias municipais e estaduais,
gestores escolares, docentes etc.
Desse modo, o grande desafio é, com base nos indicadores sociais e
educacionais provenientes dessas avaliações em larga escala, traçar metas
alcançáveis, que levem em consideração o complexo cenário das escolas
contemporâneas em meio à diversidade étnico-cultural, ao quadro de violência nas
escolas (e fora delas), à presença de infraestrutura precária, à permanência dos
baixos salários dos professores, à necessidade de formação básica e continuada dos
docentes etc.
Em suma, as avaliações externas precisam estar na pauta das discussões dos
diversos setores da sociedade para que todos os envolvidos com a educação possam
refletir sobre seus papéis a fim de propiciar melhores resultados no ensino brasileiro,
visto que, garantir um ensino ou uma escola de qualidade depende muito mais do que
a boa vontade da comunidade escolar, é preciso que o estado e demais atores sociais
contribuam para a construção do conhecimento do aluno, sem desconsiderar a
formação e as características socioeconômicas da família e a localização da escola.
5. Considerações finais
O objetivo deste trabalho foi pesquisar a aprendizagem dos alunos com foco na
leitura, tendo como base os resultados das avaliações em larga escala: Prova Brasil,
SAEB. Pôde-se constatar de acordo com os dados, que os resultados dos testes
aplicados evidenciam uma baixa proficiência dos alunos quanto à leitura e
interpretação de textos de diversos tipos e gêneros.
Os resultados do Sistema Nacional de Avaliação Básica (SAEB), no âmbito da
investigação das habilidades de leitura, revelam que alunos estão concluindo a
primeira etapa do Ensino Fundamental com dificuldades em localizar informações
explicitas e implícitas de um texto, fazer inferências, identificar o tema, a tese e
relações de causa e consequência. Os usos das habilidades reveladas no programa de
avaliação mostram a necessidade de construção de competências e o desempenho de
habilidades de leitura de gêneros variados a cada um dos estágios.
Nesse sentido, corrobora Rojo (2009) aorelatar que tanto a escola pública e
quanto a privada parece estar ensinando apenas as regras gramaticais e esquecendo-
Abstract
The present study covers how the brazilian educational system has drawn strategies to
accompany the reading development of elementary school students and high school (in public
school) from the performance of these students in assessments of "ProvaBrasil" and SAEB. We
discuss how these evaluations have contributed to educational institutions for the training of
proficient readers. For the constitution of the research, we used the results of "ProvaBrasil"
and SAEB applied in 2005-2011 to students of 8th grade / 9th year of the Federal District. The
study also shows, based on the bibliographical review, some methodological approaches that
can be adopted by teachers to better support the pedagogical work.
Key words: Reading. Literacy. Reviews.
Referências
GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de Redação: o que é preciso saber para
escrever. São Paulo: Martins Fontes. 2001.
MARTINS, Maria Helena. O que é Leitura? 19 ed. São Paulo: Brasiliense, 2007.
TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2010
TRASK, R.L. Dicionário de linguagem e linguística. Trad. Rodolfo Ilari. São Paulo:
Contexto, 2004.
7
Resumo
O presente artigo é fruto de uma pesquisa teórica-prática que nasceu do projeto “A Pedagogia
da Variação Linguística na Escola”, desenvolvido no grupo de pesquisa FALE (Formação de
professores, alfabetização, linguagem e ensino), da Faculdade de Educação da Universidade
Federal de Juiz de Fora (MG). A pesquisa tem como objetivo principal investigar a possibilidade
de implementação, na escola, de uma pedagogia da variação linguística que leve os alunos ao
reconhecimento de suas identidades dialetais, valorizando-se como cidadãos falantes da língua
portuguesa de um determinado grupo social, mas que necessitam aprender também as
variedades consideradas cultas, de modo que possam buscar posições melhores na sociedade.
Trata-se, portanto, de uma proposta baseada na metodologia da pesquisa-ação, cujo objetivo
é expandir as competências em relação ao uso das modalidades oral e escrita da língua,
levando-os à reflexão sobre a necessidade de adequação do uso da língua ao contexto.
Palavras-chave: Variação linguística. Identidades. Gêneros textuais. Sociedade
Introdução
Graduanda de Pedagogia, Universidade Federal de Juiz de Fora. [email protected]
identidade dialetal e se sentindo mais bem preparados para usá-las, tendo o devido
cuidado para não se tornarem vítimas de mais um preconceito que a sociedade criou.
Nota–se, segundo a citação, que o poder atribuído a uma língua,não está ligado
somente aos fatores econômicos, mas também aos fatores políticos e históricos,
fazendo com que as variedades linguísticas que não se situam nas esferas sociais de
prestígio sejam excluídas. A história e a política do Brasil mostram que o desprestígio
de certas variedades do português foi sendo constituído a partir da estigmatização
também dos povos das cidades interioranas, que tiveram menos influência dos
europeus que vieram na época da colonização. Nessas cidades que tiveram menos
influência dos estrangeiros e da urbanização, o português sofreu menos
transformações, constituindo, como se observa em zonas rurais e cidades
interioranas, dialetos próprios.
aos contextos em que irão usá-la. Partindo dessa ideia de adequação, Bortoni-Ricardo
(2004, p. 73), apoiando-se no que postula Del Hymes, afirma:
Quando faz uso da língua, o falante não só aplica as regras para obter
sentenças bem formadas, mas também faz uso de normas de
adequação definidas em sua cultura. São essas normas que lhe dizem
quando e como monitorar estilo. Em situações que exijam mais
formalidade, porque está diante de um interlocutor desconhecido ou que
mereça grande consideração, ou porque o assunto exige um tratamento
formal, o falante vai selecionar um estilo mais monitorado; em situações
de descontração, em que seus interlocutores sejam pessoas que ele
ama e em quem confia, o falante vai sentir-se desobrigado de proceder
a uma vigilante monitoração e pode usar estilos mais coloquiais. Em
todos esses processos, ele tem sempre de levar em conta o papel social
que está desempenhando.
Desse modo, como ensina a autora, o falante usa a língua de acordo com a
situação, se esta exigir uma língua mais formal, ele deverá monitorar mais sua fala;
se a situação exigir menos formalidade, deverá usar uma variedade mais coloquial.
Mas, para que haja essa reflexão quanto à adequação do uso da língua ao
contexto, deve ser discutido e trabalhado o assunto nas escolas, desde a
alfabetização. Desse modo, o aluno se tornará um adulto reflexivo em relação aos
vários papéis sociais que irá desempenhar, fazendo as escolhas adequadas das
variedades que irá usar nos diferentes contextos sociais em que irá transitar. Este
trabalho pode começar na alfabetização e se estender ao longo da vida do indivíduo.
Pois, como cita Bortoni-Ricardo (2013, p.56) a qual faz referência a Frederick
Erickson, a alfabetização tem momento para começar, mas não tem momento para
terminar.
Esses contextos sociais por onde o falante irá transitar são chamados de
comunidades de prática, segundo Faraco (2008, p.40):
O autor diz que, em cada uma dessas comunidades haverá vários tipos de fala
e que o falante irá variar sua fala de acordo com a comunidade de prática em que se
encontra, fazendo as devidas adequações. Contudo, essas adequações irão variar,
entre outros motivos, por causa de fatores psicológicos como conflitos, ou, por
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
58
assinalar que seus laços com aquela comunidade estão mais frouxos (FARACO, 2008,
p. 40).
Em cada uma destas comunidades de fala, como explica o autor, há normas
que designam o conjunto de fatos linguísticos que caracterizam o modo de falar de
seus. Então, numa sociedade como a brasileira, diversificada e estratificada, existirão
várias normas linguísticas como, por exemplo, as normas referentes ao meio rural, as
normas características do meio jovem urbano, as referentes às classes da periferia da
cidade, entre outras. Um mesmo falante irá dominar várias normas e mudará sua fala
de acordo com o campo social que frequentar. Essas normas são fatores de
identificação de um determinado grupo, sendo desse modo, não só vistas como um
conjunto de formas linguísticas, mas também como uma soma de valores
socioculturais e identitários, como aponta Faraco (2008, p.43):
¹ É clássico, nesse sentido, o estudo que Labov desenvolveu na ilha de Marta’s Vineyard
(EUA)_Ver Labov (1963).
² Em Signorini (2002), pode-se ler uma discussão bastante interessante desses complexos
processos de instabilidade, flutuações, deslocamentos e também dos modos de regulação e
calibragem das ações linguísticas dos falantes.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
59
2. Metodologia
fundamental que recebe alunos que tenham tido sucessivas repetições e que são
provenientes, em sua maioria, de bairros da zona periférica da cidade.
O projeto é coordenado por professoras pesquisadoras do grupo de pesquisa
acima referido e tem como objetivo geral investigar quais procedimentos didáticos são
necessários para se implementar, na escola básica, uma pedagogia da variação
linguística que contemple a ampliação de competência de uso da língua em suas
modalidades oral e escrita, tomando-se os gêneros textuais como espaço de
realização discursiva da linguagem, nos diferentes estilos requeridos pelas situações
reais de uso.
Nessa escola, funcionam também outros projetos, como oficinas de música e
dança, os quais, juntamente com o projeto da pedagogia da variação linguística,
ajudam a valorizar a identidade, não só dialetal, mas também cultural dos educandos.
Essa questão da valorização cultural e dialetal dos educandos é fator primordial para o
qual os educadores e toda a comunidade escolar devem atentar, como adverte o
professor Paulo Freire (1996, p.41) “A questão da identidade cultural, de que fazem
parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é
absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não
pode ser desprezado.”
A bolsista pesquisadora acompanhou as aulas das professoras de português de
6°,7° e 8° ano, fazendo anotações de campo e assessorando os alunos nas
atividades, quando necessário. As aulas giraram em torno da discussão da pedagogia
da variação linguística, com atividades baseadas principalmente em variados gêneros
textuais.
Os gêneros textuais foram usados de uma forma bem diversificada e condizente
com a realidade dos alunos, para que houvesse um maior interesse por parte deles.
Partindo desse contexto, Brait (2005, p.152) faz uma referência ao pensamento de
Bakhtin:
3. Constatações provisórias
Considerações finais
Abstract
This article is the result of a search theoretical-practice that was born from the project "The
Pedagogy of Variation Linguistics at School", developed in there search group FALE(teacher
training, literacy, language andeducation), of the Faculty of Education at the Federal University
of Juiz de For a (MG). There search aims at investigating the possibility of implementing at
school, a pedagogy of linguistic variation that makes students recognize their dialectal
identities, valuing themselves as citizens speakers of Portuguese of a particular social group,
but also needing to learn the varieties considered educated, to be able to get better positions
in society. It is there fore a proposal, based on the methodology of research-action, whose
goal is to expand the competences in relation to the use of oral and written language, leading
them to reflect on the necessity of adapting the use of language to the context.
Keywords: Linguistic Variation. Identities. Textual genres . Society.
Referências
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 51. ed. São
Paulo: Loyola, 2009.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São
Paulo: Parábola, 2008.
Resumo
Investiga-se, por meio de pesquisa-ação (THIOLLEN, 2008), a possibilidade de se construir,
com alunos falantes de variedades linguísticas desprestigiadas, atitudes linguísticas favoráveis
à ampliação de sua competência em direção ao domínio das variedades cultas da língua
portuguesa. Trata-se de alunos de séries finais do ensino fundamental de uma escola pública
de Juiz de Fora que, por pertencerem a bairros periféricos, são falantes de uma variedade
linguística rurbana, que precisa, no entanto, ser respeitada. Torna-se, portanto, urgente
conscientizá-los quanto às diferentes variedades linguísticas, a fim de que possam se tornar
usuários das variedades cultas de sua língua materna, fator indispensável para conseguirem
sua inclusão social por meio da linguagem (BORTONI-RICARDO 2004). Apesar da resistência
desses alunos às práticas escolares, os resultados têm apontado para a possibilidade de se
desenvolver uma pedagogia culturalmente sensível (ERICKSON, 1987) favorável à construção
de atitudes indispensáveis a sua adesão ao processo de ampliação de competências.
Palavras chave: Educação Sociolinguística. Variedades linguísticas. Multilinguismo. Inclusão
social.
Introdução
1. Pressupostos teóricos
Ainda de acordo com FREIRE (1987), o homem deve conhecer todo o mundo
em sua volta, daí a necessidade de propor medidas que tragam para a sala de aula
não somente as culturas e linguagens de uma sociedade valorizada, mas também
todo o mundo de letramento em que está inserido o aluno e, assim, promover um
ensino de inclusão real. Segundo esseautor, o educando deve refletir suas próprias
palavras, desta forma, cria-se a cultura. O professor deve, portanto, perder o medo
de romper com os velhos paradigmas, com a cristalização das metodologias, de sair
da situação de comodismo e promover um leque de possibilidade de letramentos que
não excluem, mas sim incluem o aluno no processo de aprendizagem.
Ou seja, o professor consciente das necessidades de seu aluno, da cultura dele
e de sua escola, consegue promover o bom rendimento, uma educação de maior
qualidade, que promova a inclusão social.
Dentro desse contexto de avaliação da ação inclusiva da escola pública, Roxane
Rojo (2009) afirma que a escola cumpre um papel importante nesse mundo
contemporâneo, uma vez que possui a possibilidade de promover o contato com as
diversas formas de letramento, sejam locais ou pertencentes a culturas mais
valorizadas, para que, dessa forma, ela se torne um meio real de inclusão social e
permita o sucesso escolar de muitos alunos pertencentes a grupos socialmente
desprestigiados.
Enfim, o que se percebe é que torna-se urgente que a escola assuma o seu
papel de incluir socialmente os alunos, principalmente, aqueles pertencentes às
classes menos prestigiadas. Entretanto, essa inclusão não se dará por meio da
rejeição da sua identidade cultural e linguística. Pelo contrário, a escola deverá
valorizar e aceitar essas diferenças e preencher a lacuna existente entre ela e os
alunos com reflexões que lhes permitam entender a sociedade em que vivem e as
pressões a que estão submetidos, a fim de que passem a dominar, também, as
culturas de letramento mais prestigiadas e as variedades cultas da língua portuguesa,
sem rejeitar sua própria identidade.
2. Metodologia
Mundo de 2014, sobre o Brasil sediá-la, sobre as seleções que aqui estariam e sobre a
língua dos jogadores para que, a partir daí, se iniciasse a discussão sobre o
multilinguismo. Entretanto, os alunos desconheciam a informação de que a Copa de
2014 ocorreria no Brasil, de que as seleções representam países, de que muitos
desses países falam línguas distintas.
Diante dessa situação, foi preciso rever a estratégia e recomeçar. Recomeçar
realmente da base, a partir das informações que os alunos tinham e construir um
caminho de inclusão. Era preciso resgatar esses alunos na situação em que se
encontravam. Não adiantaria fechar os olhos para aquela realidade de “vazio”. Era
preciso parar, refletir e baixar o olhar para a realidade deles, de modo que professor e
alunos ficassem olho a olho e, juntos, pudessem enxergar novas possibilidades.
1
Agradecemos à bolsista Viviane Alves de Matos que, por meio de sua atenção e sensibilidade,
muito contribuiu para essa pesquisa.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
71
seja, está com um déficit grande para uma turma de sexto ano.
Por isso, penso que a sequência didática que a professora está
desenvolvendo será muito produtiva e enriquecedora para os
alunos.
Mais uma vez, tornou-se necessário buscar os alunos na realidade onde eles se
encontravam para que pudessem obter conhecimento necessário para se incluir
socialmente. É importante ressaltar a surpresa que foi para eles saber que a língua
portuguesa, sua língua materna, era falada em outros países, inclusive em Portugal,
fato desconhecido por quase todos eles.
Ao perceber a diversidade linguística de nosso mundo, os próprios alunos
começaram a apontar para a possibilidade de existir uma língua melhor do que a
outra. Um aluno manifestou o desejo de falar italiano por ser, como ele disse em sua
variedade linguística, “mais violento”.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
72
Foi preciso conduzir, nesse momento, a uma reflexão que ajudasse os alunos
entenderem que “nossa língua também é chic”, todavia existem algumas línguas que
possuem maior importância econômica, fato que não desmerece qualquer língua mas
que torna necessário aprendê-la, caso alguém tenha o desejo de possuir um emprego
melhor, uma melhor condição social, entres outros fatores, como é o caso do inglês.
Essa reflexão constitui-se a base para que o aluno possa refletir também sobre
sua variedade linguística. Fazê-lo entender tais situações irá ajudá-lo a entender a
legitimidade de seu dialeto, mas também a importância de se ampliar suas
competências linguísticas, dominando também a variedade culta, uma vez que
estamos submetidos a valores sociais que impedirão esse aluno de ser incluído
socialmente, caso a escola não lhe proporcione essa ampliação. Se a escola nega essa
reflexões a um aluno, consequentemente lhe estará negando a possibilidade de ser
incluído socialmente.
O professor que adota para si a proposta da sociolinguística educacional deve
se colocar sensível as todas situações de sala de aula para não perder a oportunidade
de propiciar aos alunos essas reflexões. Deve, com respeito à identidade linguística,
levar os alunos à consciência de que as diferenças linguísticas existem, mas que
nenhuma delas desmerece o indivíduo. Como afirma Bortoni-Ricardo (2004, p. 42):
2
O nome da aluna foi alterado para preservar sua identidade.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
73
Gráfico 1
Gráfico 1
Gráfico 3
O gráfico anterior revela que a totalidade (100%) dos alunos que ainda não
tinham contato com a sociolinguística educacional possuía uma crença de que o
ensino de português está associado às regras gramaticais, uma visão tradicional que
precisará ser desconstruída. Os dados revelam, também, uma forte incidência dessa
visão nos alunos com contato inicial com a sociolinguística indicando que essa crença
está enraizada neles e que é preciso ainda um trabalho sólido para desconstruir essa
ideia.
Por fim, o último resultado confirma a falta de conhecimento dos alunos sobre
sua própria língua, validando aquilo que as anotações e observações de campo já
haviam mostrado.
Gráfico 4
O gráfico 4, demonstra que 75% dos alunos mostraram desconhecer que havia
outros países onde se fala português, o que, mais uma vez, reforça a necessidade de
se construir uma proposta pedagógica que resgate o aluno da situação em que ele se
encontra, para que, dessa forma, se construa, realmente, uma proposta de inclusão
social dentro da sala de aula.
Considerações Finais
Abstract
Investigate, through action research(THIOLLEN, 2008)the ability to build, with students
speaking language varieties discredited, language attitudes favorable to the expansion o fits
competence toward mastery of cultivated varieties of Portuguese. These are students from
grades of elementary education ata public school in Juiz de Fora, because they belong to the
suburbs, speak a language variety rurban that need, however, be respected. It is there fore
urgent to educate them about the different linguistic varieties in order that they maybe come
members of the varieties cultivated in their native language, indispensable for achieving social
inclusion through language(RICARDO Bortoni-2004). Despite the strengthof these students to
school practices, the result shave pointed to the possibility of developing aculturally responsive
pedagogy(Erickson, 1987)in favor of building attitudes necessary for accession to the
expansion process of skills.
Key words: Sociolinguistics Education. Linguistic varieties. Multilingualism. Social inclusion.
Referências
ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola,
2009.
Resumo
Esse estudo utilizou-se da fotografia como recurso didático para enriquecer as relações de
aprendizagem em uma turma de 8ª série da EJA da E. M. Profª. Haydée Antunes em Ouro
Preto /MG. O uso da fotografia foi o marco de transição para outras mídias, que passaram a
ser utilizadas de forma integrada. Optou-se pela pesquisa qualitativa, pois os sujeitos foram
também seus participantes. A pesquisa foi norteada pelas perspectivas freireana, tomando
como possibilidade a baliza da autonomia dos sujeitos envolvidos na condução da
aprendizagem. Apurou-se que os sujeitos participantes desenvolveram maior interesse pelo
conteúdo estudado e maior facilidade na produção de textos. O estudo permitiu, ainda, a
reflexão sobre a necessidade de formação de professores para a EJA e o entendimento de que
as mídias podem propiciar melhorias metodológicas.
Palavras-chave: Fotografia. Interpretação Social. Letramento visual. Mídias integradas. EJA.
Introdução
Me Universidade Federal de Minas Gerais. [email protected]
** Esp. Universidade Federal de Ouro Preto. [email protected]
aulas de História, tornaram-se mais interativas, para que o aluno pudesse exprimir,
sob o seu olhar e com o auxílio das mídias, a relação entre capitalismo e consumo.
Nesse sentido, buscou-se elaborar e executar aulas de História com o propósito
de explorar os conteúdos por meio da percepção visual. Coube instrumentalizar os
alunos, para que tivessem condições de expressar o conhecimento adquirido de forma
lúdica, de modo que, ao aprender a utilizar a câmara digital e/ou do celular e o
computador/internet como materiais didáticos, pudessem apresentar por meio da
fotografia, a percepção visual de sua comunidade.
1. Pressupostos teóricos
escolas têm se deparado com três caminhos: repelir as tecnologias e tentar ficar fora
do processo; apropriar-se da técnica e transformar a vida em uma corrida atrás do
novo; ou apropriar-se dos processos, desenvolvendo habilidades que permitam o
controle das tecnologias e de seus efeitos.
Ao propor esse trabalho, foi considerada a terceira opção como a que melhor
viabiliza a formação dos alunos. Nesse estudo, a fotografia aplicada ao ensino de
História, é tratada como documentação da aprendizagem de conceitos sob o ponto de
vista do olhar social dos alunos e não apenas uma mera ilustração. É uma forma
objetiva de documentação e de registro de conhecimentos, muito melhor do que a
simples lembrança de um fato ou evento. Ela tem o poder de capturar nuances que
muitas vezes passam despercebidas a olho nu aumentando o espectro de observação
do aprendiz. O exemplo de atividade aqui proposta visa o desenvolvimento de uma
estratégia de leitura que permite ao aluno a compreensão do texto midiático proposto,
tendo em vista que o objetivo principal dessa pesquisa que é a formação de um leitor
crítico-reflexivo.
2. Metodologia
ação política, conforme a visão freireana. É muito mais do que decodificar letras e
números. Implica estimular uma prática leitora permanente movida pelo desejo de
saber, de aperfeiçoar-se de fazer novas descobertas que favoreçam o
autoconhecimento, de intervir no espaço onde se encontra, rompendo silêncios
impostos pelos perversos processos de exclusão do sistema escolar.
Esse tipo de ação contribui para ampliar a consciência crítica do aluno, sua
competência comunicativa e sua responsabilidade frente ao mundo em que vive. E,
além disso, facilita o acesso dos educandos aos bens culturais que permitem maior
integração do indivíduo à sociedade a que pertence, auxiliando-o, assim, a se livrar da
exclusão social, sem desvalorizar a sua própria cultura. Daí o seu caráter político, pois
o acesso à leitura e à escrita traz poder às pessoas. A leitura significativa tem a
capacidade de nos situar melhor no nosso próprio espaço, potencializando percepções
de aspectos que talvez a nossa visão não tenha percebido ao olhar para a nossa
realidade.
Assim, as sequências didáticas a serem usadas consideram o processo de
construção do conhecimento dos alunos da EJA, dando espaço e valor às suas
Histórias pessoais, considerando a diversidade característica desse segmento de
ensino e a complexidade da vida desses estudantes e trabalhadores. Por meio de
problematizações, as sequências contribuirão para que os alunos façam relações,
estabeleçam novos sentidos aos objetos de estudo; enfim desenvolvam as habilidades
necessárias para a construção do conhecimento.
A concepção metodológica que permeará todas as etapas dessa pesquisa
contempla os princípios pautados na “concepção libertadora de educação” e na
“concepção socioconstrutivista do conhecimento”. Implica, portanto, um caminho que
parte da leitura da realidade, dos temas sociais de abrangência e urgência nacional e
dos temas de interesse local.
Para o presente trabalho, fez-se necessário discutir, mesmo que brevemente,
acerca dos processos de comunicação atuais, dada a essência da problemática
tratada. Entende-se que aprender não é armazenar informações, mas transformá-las,
reestruturando passo a passo o sistema de compreensão do mundo. Por isso as
propostas de atividades convidam os alunos a assumirem o papel de sujeitos da
aprendizagem, dinamizando e dando mais vida ao trabalho. Os alunos foram
desafiados e motivados a pesquisar situações do seu dia a dia, descobrir e ver como
seria possível apresentá-las com outra “linguagem” que não fosse a textual.
O trabalho aqui descrito foi realizado nas aulas de História, no último módulo do
ensino fundamental da EJA, ou seja, 8ª série, no período correspondente ao segundo
semestre letivo do ano de 2011, dividido em duas unidades.
Na primeira unidade – Trabalho e consumo – apresentou-se o mundo do
trabalho em diversas concepções e relações ao longo da História humana, além de
estabelecer uma relação direta com o consumo em suas variadas facetas. Na segunda
unidade – Globalização e novas tecnologias – buscou-se contar a História da
globalização vinculada às novas tecnologias, desde as origens do modelo capitalista
dominante no planeta e sua antítese, o ideário comunista que tem como referência o
economista e filósofo do século XIX, Karl Marx; até os momentos atuais, refletindo
inclusive sobre as perspectivas do homem moderno no mundo globalizado.
Ao estabelecer a comparação entre os dois modelos econômicos, considerou-se
os consequentes embates entre comunistas e capitalistas. Fez-se uma análise,
sobretudo do segundo modelo a fim de tornar compreensivas as causas das guerras e
conflitos que marcam o século XX, um dos mais competitivos e sangrentos, até o
momento, da História humana. Finalmente, analisou-se a influência das mídias na
atualidade, principalmente, o marketing motivador do desejo pelo consumo ilimitado.
3. Análise de dados
_________________
1
Foram negritadas as categorias concernentes ao conteúdo estudado para se destacar o modo
como estas apareceram no decorrer da pesquisa.
saibam disso. As imagens apresentadas por esses alunos para demonstrar status
foram carros, roupas e sapatos.
Eu observo que cada vez que a moda chega tem pessoas que
querem comprar, por que elas pensam assim: ‘se uma pessoa
pode ter, porque eu também não posso ter? ’ É claro que
quem pensa assim consome mais do que o necessário por
prazer, por vício de comprar ou mesmo para parecer ser o
que não é. (Daniela, 18 anos)
Imagem 15
saúde dos olhos estará garantida independentemente da cor das lentes. Qualquer
nível de proteção abaixo disso de nada vai adiantar, garantem os médicos. Além de
queimaduras de retina e córnea, em longo prazo a pessoa poderá sofrer de catarata
ou outra doença degenerativa da visão.
O outro ponto abordado pela aluna na mesma foto foi a alimentação. A má
alimentação prejudica o nosso organismo com deficiências de vitaminas e minerais,
levando à baixa imunidade. As células de defesa do nosso corpo necessitam de
nutrientes para uma melhor resposta imunológica. Ou seja, elas necessitam deles
para aumentar a quantidade de células que promovem a defesa do organismo contra
infecções e inflamações. Além disso, a boa alimentação é fundamental para a
aprendizagem escolar. O que a foto retrata é exatamente a carência desses
nutrientes.
O outro aspecto do consumismo exacerbado é a questão da distribuição de
alimentos que é bastante desigual no mundo e afeta de forma significativa os
padrões de consumo de uma população. A foto de uma vitrine de padaria revela a
oferta de alimentos, mas não o acesso a esses alimentos.
Imagem 16
Imagem 18
Imagem 20
preponderante, pois esse contexto cultural lida com fatores determinantes para
orientar o comportamento e até depurar os desejos do indivíduo, na busca da
verdadeira cidadania como valores morais, leitura de mundo, conceitos sobre sucesso
e realização pessoal. As fotografias da livraria e da biblioteca escolar pretendiam
retratar essa consciência.
Imagem 21
Uma das características da
cidadadania é busca pela informação e
conhecimento. Ao comprar livros os
pais estão ajudando os filhos a se
tornarem bons cidadãos. A fotografia
busca demonstrar que o objetivo principal
na busca da cidadania é alcançar o
conhecimento para exercer nossos direitos
e deveres. (Anderson, 18 anos)
Imagem 22
Na aula seguinte, com o celular em mãos, um aluno propôs ouvir uma música
que retratava o que estávamos estudando: “Globalização: o delírio do dragão”, da
Tribo de Jah. Tal atitude, espontânea, demonstrou envolvimento e interesse com a
proposta apresentada. Primeiro, porque o aluno estava usando outro recurso do
celular até então não sugerido, o MP3; e segundo porque uso da mídia em sala de
aula foi proposto pelo próprio aluno. O Bluetooth foi usado para a socialização da
música e em pouco tempo todos já sabiam cantar. Mudando o planejamento daquele
dia, para não perder esse momento ímpar, foi proposta uma análise da letra da
música.
A essa altura, toda a turma, alunos e professores, estavam bastante
empolgados. A primeira proposta de fotografia, de início rejeitada, mostrava-se
consolidada com o resultado do trabalho e as possibilidades que os próprios alunos
acabaram demonstrando. Por isso foi proposta outra etapa:
- Que tal montarmos um vídeo com as fotos, os textos e a música? O que vocês
acham?
aluno já havia tirado uma foto para atividades escolares com um professor de
ciências, de uma outra escola, havia trabalhado com foto na sala de aula.
Dezesseis alunos disseram que as fotos auxiliaram a entender melhor o
conteúdo. Quatro acharam que as fotos auxiliaram na produção do texto. Uma aluna
disse que aprendeu muito com as fotografias dos colegas.
Um aluno disse que a fotografia não ajudou porque ele já sabia o conteúdo. O
aluno que “esqueceu” de fazer a foto e o outro que “não teve tempo” disseram que as
fotos não ajudaram.
Apenas uma aluna disse não gostar de fotografias, mas não soube justificar.
Dezoito alunos gostam de fotografias porque elas ajudam a lembrar do passado. Três
alunos afirmam que gostam de fotos de pessoas e paisagens. Dois alunos acham que
as fotos são uma forma de lazer e divertimento.
Quatro alunos afirmaram que apenas guardam fotografias de momentos
especiais mas, que foi a primeira vez que tiveram a oportunidade de fotografar. Os
outros constumam guardar e fotografar datas comemorativas, passeios, festas,
situações engraçadas, campeonatos, shows, artistas famosos, paisagens, familiares e
amigos.
Os alunos foram unânimes ao assegurar que o uso da fotografia em sala de
aula facilita a aprendizagem. A maioria acha que a fotografia torna a aula mais
atraente, divertida; aguça a atenção e concretiza a teoria. Cinco afirmam que às
vezes os professores falam de coisas que eles não têm a menor idéia do que são, e
quando deparam com o real é sempre muito diferente do que eles haviam imaginado.
Uma aluna disse que a fotografia acentua a memória e faz lembrar do conteúdo
estudado.
Considerações finais
The social gaze of the 8th grade students of Youth and Adults
from the perspective of photography and other media integrated
Abstract
This study used photography as a teaching tool to enrich the learning relationships in a class of
8th grade students of Youth and Adults E. M. Prof. Haydée Antunes in Ouro Preto / MG. The
use of photography was the landmark transition to other media, which began to be used in an
integrated manner. We opted for qualitative research, as the subjects were also participants.
The research was guided by the perspectives of Freire, taking a shot as possible the autonomy
of the individuals involved in the conduct of learning. It was found that subjects participants
developed greater interest in the content studied and greater ease in producing texts. The
study also allowed reflection on the need for teacher training for adult education and the
understanding that the media can provide methodological improvements.
Key words: Photography. Social Interpretation. Visual literacy. Integrated media. Youth and
Adults.
Referências
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 7. Ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1983.
Resumo
Este artigo discute o tema leitura e analisa qual a percepção que os alunos do ensino médio de
uma escola pública possuem sobre a leitura e quais habilidades de leitura dominam. A análise
baseou-se em um diagnóstico de leitura individualizada, do qual participaram trinta e dois
estudantes da rede pública de ensino. As atividades propostas contemplaram o gênero notícia
e questões que buscavam verificar algumas habilidades de leitura. Na construção do quadro
teórico foram utilizadas as contribuições de Bakhtin (1992), Marcuschi (2010), Solé (1998),
Koch (2002) e Dionísio (2002). Os resultados indicam a premência de um trabalho que
contemple a leitura como atividade interativa. Apontam, ainda, que a concepção de leitura que
subjaz à percepção dos estudantes é a de que todos os sentidos se encontram prontos no
texto.
Palavras-chave: Leitura. Letramento. Gênero notícia.
Introdução
⃰
Graduanda do 5º período de Letras Português/Inglês e suas Literaturas na UFLA –
Universidade Federal de Lavras, bolsista FAPEMIG/CAPES, [email protected]
** Professora na UFLA – Universidade Federal de Lavras, [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
99
Desde a década de 80, os estudiosos sobre leitura discutem que ler ultrapassa a
mera decodificação, ou ainda, a busca de sentidos prontos no texto. Livros didáticos
são avaliados no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) a partir do entendimento de
leitura como atividade de construção de sentidos. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa também são incisivos em relação à concepção de
leitura que deve nortear o ensino. Em eventos da área, o tema leitura é objeto de
discussão entre pesquisadores, a partir de diferentes perspectivas epistemológicas.
Por outro lado, ainda é comum encontrar exemplos de práticas leitoras em que o ato
de ler parece ser o de buscar sentido pronto no texto. O certo é que o conceito de
leitura varia de acordo com o momento e o quadro teórico adotado. Varia, ainda, de
acordo com a concepção de texto e de língua adotados.
Koch (2005) aponta três concepções possíveis de língua que determinam a sua
relação com a compreensão e, consequentemente, com o conceito do que seja ler. A
primeira delas concebe a língua como representação do pensamento, cabendo ao
leitor captar essa representação. Numa segunda concepção, a língua é vista como
código, ou como instrumento de comunicação, cabendo ao leitor o conhecimento
deste código. Tanto na primeira quanto na segunda concepção, o texto é visto como
um produto pronto cujo sentido encontra-se intrinsecamente ligado à materialidade
linguística. Uma terceira concepção de língua prevê o caráter dialógico ou interacional
da linguagem humana, na qual os participantes são sujeitos ativos que se constroem
e constroem sentido para o texto a partir das relações sociais, das crenças, da cultura
em que estão inseridos, numa relação de ação e construção social. Nesse sentido, a
leitura ultrapassa a busca de sentidos depositados no texto e vários são os fatores
que incidem sobre o ato de ler. Considere-se o seguinte exemplo:
2. Metodologia
3. Análise de dados
Considerações finais
The reading proficiency: investigating the domain of reading skills in middle school
Abstract
This article aims to socialize the results of a qualitative study aimed to analyze the perception
that high school students of a public school have about reading and what reading skills
mastered. The analysis was based on a diagnosis of individualized reading, attended by thirty-
two students from public schools. Proposed activities contemplated the news genre and
questions that sought to verify the reading skills. In constructing the theoretical framework
used were the contributions of Bakhtin (1992), Marcuschi (2010), Solé (1998), Koch (2002)
and Dionysus (2002). The results indicate that students master the skills to build a global
representation of the text and to locate information explicit. Indicate the urgency of a job
covering the other skills listed. It was observed also that the conception of reading that
underlies the perception of students is that all the senses are ready in the text.
Key words: Reading. Literacy. Gender news.
Referências
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 10.ed, Campinas, SP: Pontes,
2004.
SOARES, M. Linguagem e Escola: uma perspectiva social. 14. ed. São Paulo: Atica,
1996.
Anexo
Poeta tibetana é proibida de deixar a China para receber prêmio nos EUA
1-) A qual gênero textual pertence este texto? Como você poderia justificar sua
resposta?
2-) De acordo com o texto, o prêmio é destinado a mulheres que demostram coragem
e abnegação na defesa dos direitos humanos. Pelo contexto, qual é o significado da
palavra abnegação? Justifique sua resposta.
3-) De que forma o governo chinês impediu a ida da poetisa aos Estados Unidos?
4-) Por que não é de interesse da China que TseringWoeser receba seu prêmio?
5-) Faça um resumo do texto lido.
Resumo
Este trabalho apresenta os resultados obtidos na pesquisa Letramento e inclusão social nas
escolas públicas de Mariana e Ouro Preto: a implementação da Lei 10639/03. Objetivou-se
analisar se os estudos sobre letramento, devido às suas perspectivas sociais de se pensar a
linguagem, poderiam legitimar a implementação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o
ensino de História e Cultura africana e afro-brasileira no ensino regular e superior.
Palavras-chave: Letramentos. Identidades. Lei 10.639/03. Mariana. Ouro Preto.
Introdução
1
Pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida no Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da
Universidade Federal de Ouro Preto sobre a orientação da professora Drª Kassandra Muniz.
Atualmente o projeto vem sendo ampliado e rediscutido no grupo de Estudos MULTIDCS
(Multiletramentos e usos das tecnologias digitais de informação e comunicação na Educação),
o qual é coordenado pelo professor Drº Hércules Tolêdo Corrêa na mesma instituição de
ensino.
* Mestranda em Educação, Universidade Federal de Ouro Preto, [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
110
1. Pressupostos teóricos
Para Hall (1995), as identidades são construídas pelo discurso, assim sendo,
pretendeu-se verificar se os discursos das aulas de língua materna contemplam e
valorizam o pertencimento étnico-racial dos alunos das escolas investigadas, cabe
destacar que eles são em maioria afrodescendentes. Este autor afirma que:
2. Metodologia
sempre eles dispunham de horário disponível para nos atender. Tentamos encontrar
nesse material termos que fizessem menção à diversidade racial, a qual deveria ser
contemplada nos currículos das escolas.
A fim de relacionar as práticas de letramento escolares às demais práticas
presente no cotidiano dos alunos, visitamos um espaço cultural afrodescendente
frequentado por alunos do bairro em que a escola ouropretana está localizada. Nesse
espaço também encontramos jovens provenientes de outros bairros da cidade, assim
como os pais de alguns deles.
Outro momento da coleta de dados foi realizado nas Secretarias Municipais de
Educação das cidades de Ouro Preto e Mariana, MG. De posse dos documentos
disponibilizados por essas secretarias realizamos uma análise documental qualitativa;
pretendeu-se verificar nesses matérias quais são as políticas públicas que vêm sendo
desenvolvidas por essas secretarias para a legitamação da lei 10.639/03 nas escolas
da região dos inconfidentes. Conversamos com alguns funcionários das secretarias,
pedagogos e professores a fim de entender como se dá a relação entre as escolas e
esses órgãos no que diz respeito às políticas públicas para o trabalho com as relações
raciais no currículo escolar.
A análises dos eventos de letramento escolares, dos PPP`s das escolas
municipais e das Políticas Públicas desenvolvidas pelas SME´s, foram realizadas por
meio de uma análise documental qualitativa, utilizando da perspectiva de paradigma
indiciário de Guinzburg (1981).
3. Análise de dados
não existe uma reflexão sobre as relações raciais no planejamento dos Projetos
Políticos Pedagógicos das escolas municipais de Ouro Preto e Mariana. De acordo com
SILVA (2001) não basta apenas incluir a diversidade étnica no currículo das escolas, é
preciso também desconstruir a história/memória forjada nas escolas e em outras
instituições, escolares ou não, sobre as relações raciais no contexto brasileiro. Toda e
qualquer opção metodológica da equipe escolar reflete uma ideologia específica, estes
instrumentos não são neutros.
Em julho de 2005 foi sancionada em Ouro Preto a Lei Municipal Nº 59/05, esta
“Instituiu diretrizes curriculares municipais para a educação patrimonial, para a
educação das relações étnico raciais e para o ensino de história e cultura afro-
brasileiras em Ouro Preto”, porém, o que constatamos foi uma nova maquiagem em
um velho rosto, a lei existe, mas só é acatada na semana do 20 de Novembro, as
políticas públicas para desenvolver um trabalho efetivo de formação de professores
ainda não estão sendo cumpridas.
Considerações finais
Abstract
This paper presents the results obtained in research literacy and social inclusion in the public
schools of Mariana and Ouro Preto: the implementation of Law 10639/03. This study aimed to
examine whether studies on literacy, due to their social perspectives of thinking about
language, could legitimize the implementation of the Law 10.639/03, mandating the teaching
of African history and culture and african-Brazilian in regular education and higher.
Key words: Literacies. Identities. Law 10.639/03. Mariana. Ouro Preto.
Referências
MEYER, D.E.E. (2011) Das ( Im )Possibilidades de se ver como anjo. In: GOMES, N.L.
e SILVA, P.B.G.S. (Org.) Experiências étnico-culturais para a formação de professores.
Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
MOLLICA, M.C. Fala, letramento e inclusão social. São Paulo: Contexto, 2010.
Resumo
Este trabalho tem por objetivo socializar os resultados de uma pesquisa que teve por meta
investigar e descrever as estratégias linguístico-textuais, que compõem o gênero textual carta
do leitor. Para a consecução do objetivo proposto, foi desenvolvida uma pesquisa teórica,
embasada em Marcuschi (1992), Antunes (2007), Marcuschi (1992), Citelli (2002) e Perelman;
Olbrechts-Tyteca (2002). Após a discussão teórica, foi realizado um estudo de cinco cartas do
leitor, com o propósito de investigar as estratégias linguísticas utilizadas pelos autores- leitores
para convencer os demais leitores acerca de sua posição. Nessa dimensão, constatou-se o uso
de várias estratégias argumentativas, entre as quais se destacam: perguntas retóricas,
intertextualidade e recurso de autoridade.
Palavras-chave: Gêneros Textuais. Argumentação. Carta do Leitor.
Introdução
*
Graduando em Letras, Universidade Federal de Lavras, [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
120
Gêneros textuais
Argumentação
Comunicar não significa apenas enviar uma mensagem e fazer com que o
receptor a receba e a compreenda, não é apenas um fazer saber, mas também um
fazer crer e uma estratégia que visa a convencer, a persuadir, a aceitar, a mudar de
opinião, a levar a uma determinada ação. Nesse viés, Koch (2006) considera que
“(...) o ato de argumentar, isto é, de orientar o discurso no sentido de determinadas
conclusões, constitui o ato linguístico fundamental, pois todo e qualquer discurso
subjaz uma ideologia na acepção mais ampla do termo”. A autora inverte a posição de
que a função comunicativa é a função mais importante da linguagem e amplia esta
discussão defendendo que ‘o ato linguístico fundamental’ é o ato de argumentar.
A autora referenciada postula que:
Carta do leitor
[…] embora sendo cartas, não são da mesma natureza, pois circulam
em campos de atividades diversos, com funções comunicativas variadas
[...] assim, [estes] tipos de cartas podem ser considerados como
subgêneros do maior “carta”, pois todos têm em comum – sua estrutura
básica: a seção de contato, o núcleo da carta, e a seção de despedida –
mas são diversificadas em suas formas de realização, suas intenções.
(1997 apud BEZERRA, 2003, p. 210)
pelos editores da revista. Todas as cartas são escritas em primeira pessoa. Assim, o
remetente se assume como sujeito de seu discurso, como nas cartas pessoais.
Quando publicadas, as cartas costumam ser agrupadas por assunto, isto é,
relacionadas às devidas matérias jornalísticas a que se referem. As cartas são
editadas, e, em decorrência do pouco espaço que a revista reserva para isso, a
estrutura é modificada por razões de espaço físico da seção, o que acaba por
configurar-se como uma carta com co-autoria: o leitor, de quem partiu o texto
original, e o editor, que o reformulou. Bezerra (2003) confirma que “quando a carta
entra na seção Carta do Leitor da revista ou jornal, ela pode passar por um processo
de triagem, paráfrase, resumo ou ter informações eliminadas, dependendo do
direcionamento argumentativo.”
Outra questão digna de nota refere-se à questão da informatividade, que,
normalmente, está ligada ao conteúdo de uma matéria publicada no suporte lido
(revista, jornal, blog etc). Quando o texto contiver apenas informações previsíveis ou
redundantes, seu grau de informatividade será baixo; mas se contiver além da
informação esperada e previsível, terá um grau maior de informatividade, podendo, à
primeira vista, parecer incoerente por exigir do receptor um grande esforço de
decodificação. O ideal é que apresente informações suficientes para que seja
compreendido conforme o que o locutor pretende e que contenham todas as
informações necessárias à sua compreensão, as quais o interlocutor não é capaz de
adquirir sozinho. Koch e Travaglia (1993) reforçam que é a informatividade, portanto,
que vai determinar a seleção e o arranjo das alternativas de distribuição da
informação no texto, de modo que o receptor possa calcular-lhe o sentido com maior
ou menor facilidade.
A leitura e a escrita desempenham papel importante neste gênero, bem como a
compreensão e a elocução das partes apresentadas. As cartas, comparadas a outros
gêneros, podem parecer simples por serem tão amplamente ligadas às relações
sociais e a autores-leitores individuais e de opiniões ora convergente, ora divergente.
Porém, isso apenas revela que as cartas expõem conhecimentos explícitos da
condição social da qual o autor-leitor faz parte e das experiências que traz consigo.
2. Metodologia
3. Análise de dados
“Poderíamos usar o iBrain também na cabeça dos políticos, para que pudéssemos captar suas
intenções. Seria um avanço tecnológico sem precedentes.”
Flávio Lauria Ferreira- Manaus, AM
Foi possível verificar, neste trecho, que a opinião não consiste em prevenir
doenças no sentido literal dos políticos, mas o autor-leitor faz uma referência
humorada de criticar e zombar de fatos ou situações da política, de forma geral. O
leitor, certamente entenderá o efeito, pois participa e compartilha das mesmas
situações sociais que o autor-leitor. Retomando ao enfoque de Bakhtin (1979), tem-se
a presença clara do aspecto polifônico, no qual, de certa forma, depende de um texto
e assunto previamente conhecido pelo interlocutor para perfeito entendimento. Outro
aspecto a ser observado é o emprego do verbo no futuro do pretérito do indicativo, a
partir do qual o autor-leitor sugere uma hipótese, sob a forma de crítica social. Koch
(2006, p. 74) informa “[...] é preciso admitir que o termo possível é usado, muitas
vezes, para exprimir o que pode ser ou não ser, isto é, nem necessário nem
impossível, o mesmo acontecendo com relação ao termo contingente.” A expressão
‘captar suas intenções’ também é no sentido figurado, na qual, o que se pretende
mesmo é perceber as reais intenções dos políticos que tem deixado maus exemplos e
caráter nas esferas sociais. A argumentação presente nesta carta, não depende de
persuadir o outro, pois trata de um fenômeno aceito e explícito pela maioria da
população, sendo um argumento uniforme.
Como lingüista, interessado, sobretudo, na nossa língua, tive a grata surpresa de ver uma
revista renovada, atualizada, atenta ao essencial, em condições de criar o novo no ensino da
língua portuguesa. A idéia é boa, o texto excelente, objetivo, curto, provocando a leitura.
Muito boas também as ilustrações. Os textos acendem no leitor a esperança do novo no ensino
da língua para simplificar, desenrolar, modernizar o seu ensino, preparando-se para entrar a
era da informática, no século 21, capaz de envolver as crianças e os jovens para gostar de
aprender e escrever sem ter medo de errar a toda hora, capaz de afugentar, mais tarde, sinais
ancestrais de tremas, crases e muitos tipos de acentos e sinais inúteis, capaz de ensinar a
língua como ela é. Vejo à frente um caminho que pode trazer frutos bons para a sociedade
brasileira. A língua é essencial.
Pe. Dr. Mario Bonatti- Centro Unisal São Paulo.
Observa-se que, no texto, o Dr. Mário Bonatti envia uma mensagem à revista,
demonstrando-se favoravelmente à forma de organização dos textos, à seleção dos
conteúdos abordados e às potencialidades formativas da revista. Sendo assim o autor-
leitor não quer apenas comunicar sua satisfação, mas também quer persuadir os
leitores em vontade e ação. Nessa perspectiva, Koch (2006 p.15) enfatiza que “a
linguagem passa a ser caracterizada como uma forma de ação, ação sobre o mundo
dotado de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto,
pela argumentatividade.” O autor possui certo desejo intencional nos seus
argumentos. Ele começa sua carta dizendo ser um linguista, o que demonstra ser um
conhecedor do assunto e isso garantirá a adesão do leitor. Perelman e Olbrechts-
Tyteca (2002) e Koch (2006) são unânimes ao afirmarem que para argumentar, é
preciso ter apreço pela adesão do interlocutor. Adiante o autor-leitor segue sua carta,
atribuindo qualidades a tal revista, promovendo um início fortemente ligado às etapas
posteriores, pois provavelmente virão detalhes das razões de a revista merecer
elogios. O autor-leitor explora uma temática atual, qual seja, uma nova perspectiva
linguística, na análise reflexiva do conteúdo, percebendo inclusive, um medo típico
das crianças de ler e escrever. Essa temática atual atribui ao fato de o autor-leitor
empregar escolhas lexicais adequados à situação mais válida na sociedade. Na
conclusão, mostrando-se motivado em relação aos conteúdos apresentados e ao
objetivo da revista, o autor-leitor reforça a sua argumentação.
orientação ideológica oposta ao mencionado colunista, ocupasse seu lugar na revista? Olavo de
Carvalho é uma das poucas vozes dissonantes do pensamento massificado e emburrecedor,
que infesta as redações de jornais e revistas informativas do País. Não quero crer que, por ele
ser um dos poucos que possuem a coragem de desmascarar a farsa e o trabalho
cuidadosamente elaborado pela desinformatzia esquerdista, com a lucidez e a perspicácia de
uma águia, tenha sido substituído. Entretanto, se o motivo por mim exposto foi a causa da sua
substituição, acredito que estamos diante de um caso de censura à liberdade de expressão,
inaceitável por qualquer tendência ou corrente de pensamento vigente no Brasil. E, em nome
dessa liberdade de expressão, solicito-lhe, gentilmente, que reveja as posições da revista e
devolva-nos o jornalista que justifica minha assinatura à Revista Época.
Atenciosamente,
Lei Seca
Não consigo entender a lógica dessas blitzes da Lei Seca (“Mais Rigor contra o álcool”, 4 de
julho). Antes de mais nada, quero esclarecer que não sou a favor do motorista que dirige
embriagado. Mas Belo Horizonte tem uma média diária de mais de dois assassinatos. Assaltos
ocorrem à luz do dia em diversos locais da cidade, como Savassi, Centro e Santa Efigênia.
Automóveis já não podem ser estacionados em vários pontos da capital, pois são danificados
por marginais menores (e até maiores) de idade para furtos de aparelhos de som e outros
objetos. Enquanto isso, um contingente expressivo da Polícia Militar está envolvido nessas
blitzes. Quantas mortes ocorrem em Belo Horizonte diariamente em decorrência de acidentes
com motoristas embriagados? Os dados justificam essa mobilização da PM, ou é só porque ela
tem a cobertura da mídia? Circulem por Belo Horizonte e verifiquem se há policiamento
ostensivo em qualquer lugar. Certamente não há. Acredito que devamos abandonar a
hipocrisia e pôr a PM para fazer o que é realmente necessário, ou seja, trabalhar para garantir
a segurança da sociedade. Blitzes da Lei Seca devem ser feitas para verificar também porte de
arma, posse de drogas e furtos de automóveis e motos.
Gilson Antônio Domingues de Macedo-BH
leitor. Em consonância com essa postura, Koch (2006, p. 17) afirma que
”Considerando como constitutivo de um enunciado o fato de se apresentar como
orientando a sequência do discurso, isto é, de determinar os encadeamentos possíveis
com outros enunciados capazes de continuá-lo, faz-se preciso admitir que existem
enunciados cujo traço constitutivo é o de serem empregados com a pretensão de
orientar o interlocutor [...]”. Permitiu um melhor desempenho discursivo e linguístico
e permitiu gradualmente a adesão do leitor.
Essa carta se difere das demais, no que tange ao objetivo proposto. O autor-
leitor não quis convencer alguém de algo social e sim corrigir possíveis falhas na
edição de matérias anteriores. Pode-se perceber como ele se faz validar o argumento.
Ele deixa claro o objetivo na primeira linha da carta e segue usando certa
transferência de prestígio, quando cita grandes etimólogos e suas contribuições. Fica
claro também o uso polifônico, conforme Bakhtin (1979) que afirma se ter a presença
clara do aspecto polifônico, no qual, de certa forma, depende de um texto e assunto
previamente conhecido pelo interlocutor para perfeito entendimento. O interlocutor,
ao ler esta carta, saberá perfeitamente distinguir o assunto, mas não conseguirá
inferir o que pode ter sido dito na edição anterior, restringindo o assunto às partes
interessadas. Nota-se, portanto, uma resposta do editor da revista, que faz uso da
palavra para reinformar os leitores acerca do complemento, no caso, feito pelo leitor-
autor. Para não deixá-lo contrariado, o editor utiliza de uma técnica, em que ele inicia
concordando em partes com o leitor-autor e logo após, ressalta que é apenas um
complemento. Isso garantirá a participação do leitor-autor na revista e não inibirá o
processo de outros leitores com o aspecto perceptível.
Considerações finais
Abstract
This study aims to socialize the results of a research that had the intention of investigate and
describe linguistic and textual strategies that compose the textual genre reader's letter. To
achieve the proposed goal, it was developed a theoretical research based on Marcuschi (1992),
Antunes (2007), Marcuschi (1992), Citelli (2002) and Perelman, Olbrechts-Tyteca (2002). After
the theoretical discussion, it was performed a study envolving five reader's letters, in order to
investigate the linguistic strategies used by the authors/readers to convince other readers
about their position. On this dimension, it was noticed the use of various argumentative
strategies, especially: rhetorical questions, intertextuality and authority recourse.
Key words: Textual Genres. Argumentative Texts. Reader’s Letters.
Referências
ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola
Editorial, 2007.
ANTUNES, I. Lutar com Palavras. Coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial.
2007.
Resumo
O grupo de pesquisa MULTDICS objetiva realizar pesquisas teórico-conceituais e de campo
sobre multiletramentos e o uso das tecnologias digitais da informação e comunicação em
espaços escolares e não escolares. Contamos com pesquisadores envolvidos com diferentes
projetos, tais como: a) investigação sobre formação de leitores e formação de professores; b)
letramento e uso de tecnologias digitais por parte de alunos e de professores; c) letramento
literário e outros letramentos estéticos de alunos de ciências exatas; d) letramentos locais não
escolares. Nossos aportes teórico-metodológicos consistem nas discussões acerca dos novos e
multiletramentos, bem como de conceitos oriundos da sociologia e da antropologia, como
habitus e hibridação culturais.
Palavras-chave: Multiletramentos. MULTDICS. Leitura. Leitores.
1 No mundo digital
Doutor em Educação pela UFMG, professor da Universidade Federal de Ouro Preto,
[email protected]
**
Mestra em Educação pela UFOP, [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
136
oficiais, o acerto a esta questão não importa muito, o importante mesmo é colocar as
alternativas na pauta de discussões.
Outro conceito que tem aparecido com frequência quando se trata de pensar o
mundo digital hoje é o de “convergência”. Grosso modo, podemos entender como
“convergência digital” a capacidade, cada vez maior, de se reunir em um mesmo
aparelho diferentes possibilidades de uso de diferentes linguagens e tecnologias.
Assim, aparelhos portáteis reúnem hoje: câmera fotográfica, filmadora, aplicativos
que possibilitam ler e-mails, navegar por diferentes tipos de sites, enviar mensagens
instantâneas de até 140 caracteres, ouvir e compartilhar músicas, enviar fotografias,
distorcer a voz de quem fala deste ou daquele lado da linha, fazer cálculos
matemáticos, agendar compromissos, despertar e produzir lembretes... e poderíamos
aqui listar mais tantas outras possibilidades, mexendo num aparelhinho que cabe no
bolso de uma calça jeans ou de uma camisa social, dependendo do perfil do seu
usuário, e que hoje já está acessível a uma certa parcela da sociedade brasileira, da
qual nós, professores universitários e da escola básica, fazemos parte, ainda que cada
um compre modelos mais ou menos caros, de empresas mais ou menos conhecidas e
sedimentadas no mercado dos eletrônicos, e com diferentes formas de pagamento
(inclusive, usando o tecnológico “dinheiro de plástico”, que são os cartões de débito e
crédito).
Faz certo tempo que eu disse, numa turma de Letras, que usávamos bem
menos de 20% dos recursos de um telefone celular (e olha que os recursos, à época,
ainda eram muito limitados). Ao que fui surpreendido pelo comentário de um jovem
aluno: - Não no meu caso, professor. Eu uso todas as funções do meu celular.
Acreditei no aluno, chegando rapidamente à conclusão de que entre mim e ele, além
de alguns anos de vida nesta terra, havia outras diferenças. O tempo passa e cada
vez mais nós, professores, ficamos mais distantes dos nossos alunos em termos de
idade... Isso talvez também acarrete uma distância em termos de comportamentos,
de costumes, de relação com a multiplicidade de manifestações culturais e artísticas
de um e outro tempo.
Agora, os aparelhos celulares evoluíram e estamos usando smartphones, que
não têm esse nome por acaso. São aparelhos mais sofisticados, com convergência de
mídias, e muitos dos meus conhecidos e alunos não conseguem mais viver sem eles.
Nas salas de aula, o acesso ao Google serve para dirimir dúvidas pontuais. Quem é
mesmo o diretor daquele filme? Quando mesmo foi publicado aquele romance? Qual é
mesmo a formação acadêmica de tal pensador? Não saímos mais das salas de aula
com essas dúvidas anotadas nas nossas agendas para pesquisar nas velhas
enciclopédias impressas (diga-se, aliás, grandes sonhos de consumo infantil e
adolescente, uma vez que muitos pais não podiam – ou queriam ou julgavam
importante – adquirir aqueles grossos volumes que tanto seduziam crianças e
adolescentes ávidos por livros).
1
Esta seção é uma reescrita de resenha de autoria de Hércules T. Corrêa publicada na
Revista Brasileira de Linguística Aplicada vol. 12, n. 1, no primeiro semestre de 2013.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
139
Ainda bem que surgem ideias boas, como a que teve a professora da Faculdade
de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (FALE/UFMG) e pesquisadora Carla
Viana Coscarelli, ao reunir pesquisas produzidas por alguns de seus orientandos,
transformá-las em capítulos ou artigos no livro Hipertextos na teoria e na prática
(Autêntica, 2012).
Longe dos sisudos textos acadêmicos, organizadora e colaboradores fazem um
trabalho relevante e sério. O livro é dirigido a estudiosos da área de ensino de
português e outras congêneres e também a alunos dos cursos de letras e pedagogia,
motivo pelo qual julguei pertinente republicar neste artigo a reescrita da resenha.
Hipertextos na teoria e na prática apresenta os resultados de três pesquisas de
mestrado e duas de doutorado dos colaboradores da obra, além de uma síntese dos
estudos realizados escrita por Carla Coscarelli. As pesquisas relatadas estão
relacionadas às práticas de leitura em suportes impressos e digitais.
No prefácio, Carla Coscarelli menciona os “apaixonados” pelas tecnologias
digitais e os “desconfiados”. Mas aponta para a necessidade do equilíbrio entre as
duas posições. Para ela, a tecnologia digital tem possibilitado o acesso rápido à
informação e, nós, professores, precisamos formar nossos alunos para saber lidar com
essa informação e transformá-la em conhecimento.
Como medir a compreensão leitora? Como funciona a leitura de hipertextos
digitais? Até que ponto a leitura de hipertextos digitais é diferente da leitura de textos
impressos? Ler no impresso e navegar lendo são dois processos tão distintos assim?
Que habilidades cada forma de leitura exige? Quais habilidades de leitura e
compreensão são exigidas dos usuários de determinados programas, como o Paint e o
PowerPoint? Como funciona a leitura em hipertextos digitais informativos, como na
Wikipédia? Como os leitores se automonitoram? Essas são algumas das perguntas
feitas pelos pesquisadores.
A leitura dos artigos que compõem o livro nos mostra como linguistas e
educadores têm procurado responder às questões que lhes inquietam, por meio da
bibliografia que tem sido construída sobre o assunto (dos trabalhos oriundos da
2
Esta seção é também a reescrita de uma resenha de autoria de Hércules T. Corrêa, publicada
na revista Presença pedagógica vol. 19, n. 110, mar./abr. de 2013.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
142
Logomarca do Grupo
Criação: Daniela Rodrigues Dias –
Graduada em sistema de informação e Mestranda em Educação pelo PPGE – UFOP
Intervenções pedagógicas com o uso das TDIC têm sido realizadas pelo Prof.
Hércules Corrêa e pelas mestrandas monitoras das disciplinas EAD 700 (Prática de
Leitura e Produção de Textos para o curso de Ciência da Computação) e EAD 707
(Comunicação e Expressão para os cursos de Engenharia da Computação e
Engenharia Elétrica da UFOP – Campus Monlevade). No ano de 2013, desenvolvemos
trabalho de ampliação do letramento digital dos alunos, conjugado com outros
letramentos (acadêmico, imagético, literário...) por meio de produção de logomarcas,
vídeos com entrevistas, artigos acadêmicos em suas diferentes etapas, apresentações
de seminários com uso do “Prezi”.
Resultados parciais de pesquisas e relatos de experiência foram apresentados
nos eventos: I Seminário de Linguagens, Mídias e Comunicação LINCOM, que
aconteceu na Universidade Federal do Paraná – Litoral, na cidade de Matinhos - PR,
entre os dias 6 e 10 de maio de 2013 (ver mais detalhes em
http://www.litoral.ufpr.br/Ilincom); II Colóquio Letramento, Linguagens e Ensino,
realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora – MG, entre os dias 20 e 22 de
junho de 2013 (ver mais detalhes em http://www.ufjf.br/fale/2013/03/10/ii-coloquio-
de-letramento-linguagem-e-ensino-junho-de-2013/); no IX SIMPOED – Simpósio de
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
145
Summary
The research group aims to conduct research MULTDICS theoretical-conceptual and field of
multiliteracies and the use of digital technologies of information and communication in school
and non-school settings. We have researchers involved in different projects, such as: a)
research training of readers and teacher training b) literacy and use of digital technologies by
students and teachers c) literary literacy and other literacies aesthetic students sciences d)
local non-school literacies. Our contributions consist of theoretical and methodological
discussions of new and multiliteracies, as well as concepts from sociology and anthropology, as
habitus and cultural hybridization.
Keywords: Multiliteracies. MULTDICS. Reading. Readers.
Referências
COPE, B.; KALANTZIS, M. (Org.). Multiliteracies: Literacy Learning and the Design of
Social Futures. New York: Routledge, 2006.
3
Ver o artigo MULTILETRAMENTOS DE ALUNOS DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO DA UFOP:
POSSIBILIDADES ACADÊMICAS, de Gláucia Jorge e Hércules Tolêdo Corrêa, apresentado no
SIED 2012 - Simpósio Internacional de Educação a Distância, disponível em:
http://sistemas3.sead.ufscar.br/ojs/index.php/sied/article/view/367, acesso em 22 de junho
de 2013.
4
Ver a referência completa do artigo de CORRÊA, VERSIANI e MARTINS, 2013.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
147
CORRÊA, Hércules T.; VERSIANI, Zélia e MARTINS, Aracy. Espaços da literatura. In:
COSCARELLI, Carla Viana (Org.) Leituras sobre a leitura: passos e espaços na sala de
aula. Belo Horizonte: Vereda, 2013.
COSCARELLI, Carla Viana (Org.) Leituras sobre a leitura: passos e espaços na sala de
aula. Belo Horizonte: Vereda, 2013.
KRESS, Gunther e VAN LEUWEEEN, Theo. Multimodal Discourse: the modes and media
of contenporary communication. Londres: Arnold; New York: Oxford University, 2001.
PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. On the horizon. MCB University
Press, v. 9, n. 5, October, 2001.
RIBEIRO, Ana Elisa. Não tem volta. Entrevista concedida à Revista Ciência Hoje, em
2010.
Resumo
Este trabalho objetiva socializar os resultados de um estudo realizado no grupo de formação
integrante do PIBID/ UFLA /Letras. Assim, propõe-se a analisar propostas de produções
textuais, elaboradas e aplicadas por professores do 6º ao 9º ano, visando compreender como
elas se organizam e em que medida contribuem para o desenvolvimento da escrita dos alunos.
O quadro teórico contou com os estudos de Costa Val (2005, 2006), Geraldi (1997), Antunes
(2003) e Monereo (2000). As análises apontam que há ainda lacunas no processo de
ensino/aprendizagem escrita, já que a produção textual parece se configurar como um
escrever somente para se corrigir alguns aspectos formais, o que pouco contribui para que o
aluno estabeleça um sentido e um objetivo para a produção textual.
Palavras-chave: Escrita. Produção de texto. Ensino. Escola.
Introdução
Graduanda do curso de Letras Português/Inglês. Bolsista PIBID/CAPES – Universidade Federal
de Lavras UFLA. [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
149
1. Pressupostos teóricos
2. Metodologia
3. Análise de dados
Considerações finais
Diante das propostas analisadas foi possível perceber que há ainda algumas
lacunas no processo de ensino/aprendizagem da escrita e que o escrever tem se
tornado uma atividade que prioriza apenas alguns aspectos formais, tornando-se
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
156
inexpressiva e artificial. Isso contribui para formar um aluno que não consegue
entender o porquê da prática da escrita e que não consegue estabelecer um sentido
para escrever um texto.As análises apontam que (i) a despeito dos diversos avanços
nos estudos sobre o tema, há, ainda lacunas no processo de ensino/aprendizagem da
escrita; (ii) que a produção textual configura-se como um escrever somente para se
corrigir alguns aspectos formais, tornando-se artificial e inexpressiva e (iii) que o
aluno não consegue, muitas vezes, estabelecer um sentido e um objetivo para
escrever um texto. Evidenciam, por fim, uma prática que dissocia a produção escrita
das atividades de leitura. Acredita-se que este trabalho pode contribuir para a
divulgação de conhecimentos necessários à formação docente, visando a formar
profissionais mais críticos acerca do processo de elaboração de propostas de produção
textual, capazes de investir, qualitativamente, no processo de ensino.
Abstract
This study aims at sharing the results of a survey conducted by a theacher´s training Program
PIBID Languages at UFLA. Thus, it intends analyse proposals of textual designed implemented
by 6th and 9th grade teachers, in order to understand how they are organized and to what
extent contribute to the development of students' writing. The theoretical framework included
studies Val Costa (2005, 2006), Geraldi (1997), Antunes (2003) and Monereo (2000). The
analyzes unfold that there are still gaps in the teaching / learning writing, since the textual
production seems to set up as a write only to fix some formal aspects, which contributes little
to the student to establish a direction and a goal to textual production.
Key words: Writing. Production of text.Education.School.
Referências
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. 3. ed. São Paulo: M. Fontes,
2006.
Juliana Ribeiro-Lima
Sabine Mendes Lima Moura
Resumo
Este trabalho apresenta uma pesquisa realizada na sala de aula de língua inglesa, com alunos
do nono ano de uma escola estadual do Rio de Janeiro. Seu objetivo principal é estudar a
perspectiva a partir da qual são concebidos os gêneros e as sexualidades, observando essas
construções como múltiplas e representativas da sociedade atual. Para isso, foi analisado o
modo como os adolescentes constroem discursivamente identidades sexuais e de gênero
durante um evento de letramento mediado por videoclipes. Os posicionamentos adotados
pelos adolescentes durante suas performances narrativas foram analisados para que se
pudesse entender que visões de mundo estão presentes em suas leituras dos videoclipes e,
consequentemente, da sociedade.
Palavras-chave: Ensino de língua inglesa. Letramento. Identidades. Narrativas. Gênero.
Introdução
Especialista em Língua Inglesa pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), professora de
inglês das redes estadual e municipal do Rio de Janeiro e bolsista do programa Observatório da
Educação (CAPES), e-mail: [email protected].
Doutoranda em Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), professora da Universidade Veiga de Almeida (UVA) e coordenadora do programa
de pós-graduação lato sensu em Língua Inglesa pela UVA, e-mail: [email protected].
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
159
1. Pressupostos teóricos
nova, marcada por aspectos como o ritmo, os efeitos especiais (visuais e sonoros), os
movimentos de câmera e a iconografia, que se caracteriza pelo uso de imagens ou
outros signos que sejam significativos para determinadas culturas e que propiciam,
assim, a exploração de valores socioculturais. Todos esses aspectos se convergem
para materializar a música e transmitir sua mensagem através da imagem. São
muitos os signos que compõem um videoclipe e interpretá-los passa a ser uma ação
cada vez mais cotidiana, já que, segundo Moura (2013, p. 6), “nunca antes o espaço
da representação iconográfica havia invadido tanto o espaço do ‘real’”.
Fazendo cada vez mais parte da realidade dos espectadores, ao assistir um
videoclipe, cada pessoa constrói seu significado de acordo com o sistema sócio-
histórico-cultural em que ela está inserida. Nesse sentido, o espectador é um coautor
do videoclipe, pois ele é o responsável por atribuir significado a esse texto. Como
afirma Moura (Ibid., p. 5), “para que a voz co-autora de cada expectador seja ouvida
(por outros e por ele mesmo), há que se permitir um certo espaço de troca, há que se
enxergar a alteridade na tela bem como na vida cotidiana”.
Ler e interpretar videoclipes pode ser considerado uma atividade de letramento,
pois, no contexto contemporâneo, a noção de letramento tem sofrido modificações a
partir da crescente preocupação com aspectos visuais e outras formas de linguagem
presentes na comunicação. Além disso, estudos recentes têm apontado para o fato de
que a escola parece não ser mais a principal agência de letramento, já que
Da mesma forma que as performances são repetidas, mas nunca iguais, toda
construção social é relacional e variável de acordo com o contexto. Considerar o
gênero pelo ponto de vista social sugere considerar o processo de subjetivação, pelo
qual o sujeito pode sempre se reinventar.
Analisando um evento de letramento videático, examinaremos, neste trabalho,
como os jovens compreendem os sistemas semióticos que se interrelacionam em
cinco videoclipes. Observaremos que tipos de conhecimento estão em jogo para a
realização dessa prática social de leitura e como os vídeos constroem os
posicionamentos dos participantes quanto a identidades sexuais e de gênero e como
eles refletem os discursos que os constituem como sujeitos. Os construtos teóricos
apresentados serão de suma importância para o entendimento dos aspectos
contextuais desta pesquisa, que constituem a metodologia utilizada, como será
apresentado a seguir.
2. Metodologia
3. Análise de dados
Waletzky (apud HANKE, 2003) nos apontam os elementos estruturais que compõem
uma narrativa completa: o prefácio (ou abstract), a orientação, as orações narrativas,
a avaliação, a resolução e a coda, que apresenta-se, na maioria das vezes, também
como um recurso avaliativo. Os mecanismos avaliativos formam o que Labov (Op.
Cit., p. 369) chama de “estrutura secundária”, que pode manifestar-se em estratégias
diversas, não estando, muitas vezes, contida na estrutura da narrativa propriamente
dita.
Analisaremos, portanto, como os alunos estruturam suas narrativas, que
estratégias de avaliação são usadas por eles em suas respostas, como essas
estratégias indicam o ponto de suas narrativas e que sentidos estão em jogo na
defesa desse ponto.
As perguntas feitas aos alunos foram as seguintes:
1. Qual foi a primeira coisa em que você pensou quando viu os vídeos?
2. Diga resumidamente o que você entendeu sobre os vídeos e as músicas.
3. Relacione os videoclipes.
4. De qual videoclipe você gostou mais e qual chamou mais a sua atenção? Por
quê?
5. Como os videoclipes retratam a relação entre homens e mulheres e sua
sexualidade?
6. Algum dos videoclipes fez você se lembrar de alguma história que você viveu ou
de que você ficou sabendo? Conte essa história.
“Que chamou mais a minha atenção foi o vídeo If I were a boy por que o marido está traindo
ela e ela estava imaginando como seria se ela traisse ele. (...) aconteceu á mesma coisa que
no videoclipe da Beyoncé por que a colega da minha descobriu que o marido traia ela e
demorou muito tempo para descobrir e quando descobriu quis da o troco.” (Sibele, 13 anos)
Nessa narrativa, Sibele utiliza um prefácio avaliativo para indicar o vídeo de sua
preferência (“Que chamou mais a minha atenção foi o vídeo If I were a boy”). A
avaliação também está presente na orientação, quando Sibele tenta justificar sua
escolha por este videoclipe e apresenta sua leitura das imagens do vídeo (“por que o
marido está traindo ela e ela estava imaginando como seria se ela traisse ele”).
Quando a aluna inicia suas orações narrativas, ela utiliza sequência temporal, como o
modelo de narrativa mínima proposta por Labov, para comparar uma estória que
conhece com a leitura que fez do vídeo, ratificando sua leitura, que é, nesse caso, o
ponto da narrativa, e garantindo a reportabilidade de sua estória.
No próximo depoimento, escrito por Evandro, é possível inferir um tom mais
crítico em relação às ações que, segundo ele, foram exibidas em um dos vídeos.
“If I were a boy. Porque eu acho que sinceramente esse vídeo é um tapa na cara de muitos
casais de hoje. Pois a vida tem sido assim e nem são só mais os homens a mulheres também
tem traido e muitas vezes com falsas esperanças que muitas vezes acabam com o seu
casamento por mízeras coisas muitas das vezes apenas por falta de atenção. Isso me levou a
gostar do vídeo. (...) A comadre da minha mãe trai o marido, mais o filho dela apoia se
trocando apenas por créditos em celular, dinheiro e outros tipos de subornos. Que é um pouco
parecido com If I were a boy.” (Evandro, 14 anos)
Evandro inicia seu discurso com uma ação avaliativa, descrevendo as ações não
apenas das personagens do vídeo, mas das pessoas “de hoje”. Evandro evidencia que
o comportamento dos casais atuais é errado em sua opinião. Ele não se preocupa em
apresentar diretamente sua leitura do vídeo, como fez Sibele. Ao contrário, utiliza o
videoclipe apenas como “pano de fundo” para expor suas concepções sobre o mundo
contemporâneo. Evandro apresenta, assim, um posicionamento tradicional em relação
a traição e aos relacionamentos amorosos de forma geral. Sua narrativa não
apresenta a estrutura primária de Labov (Ibid.), mas é repleta de dramaticidade e de
elementos avaliativos, como é possível ver pelo léxico usado (“tapa na cara”, “falsas
esperanças”, “mízeras coisas”, “se trocando apenas”), o que torna o ponto da
narrativa mais evidente.
Diferentemente da anterior, as narrativas a seguir são narrativas breves. Elas
apresentam sequência temporal bem delimitada, mas possuem como único ponto a
exemplificação de estórias reais, comparadas à leitura que os alunos fizeram do
videoclipe If I were a boy, baseada, como dito anteriormente, em padrões de
comportamento heterossexuais e monogâmicos.
“sim aconteceu com um amigo meu que traiu a namorada e quando ela percebeu quis da o
troco mais ela pensou bem e resolveu perdoá-lo” (Laís, idade não informada)
“aconteceu com a colega de minha mãe, foi assim: o ex-noivo da colega da minha mãe, traiu
ela, só que ela não traiu ele, ela fez o contrario dele e depois de muita conversa ela resolveu
perdoa-lo” (José Victor, 14 anos)
“Sim, uma amiga foi traida pelo marido dela, sendo que ele tinha ingravidado ela de 2 filhos.
Ela foi embora de casa e foi pedir ajuda a sua mãe, sua mãe muito cabeça dura não queria
uma filha com dois filhos um já com 3 anos e o outro que ainda estava em sua barriga, o pai
da criança queria que ela abortacçe pos não queria mais um filho para poder criar, ela não quiz
e teve que morar na casa do irmão mais velho. Começou a trabalhar e deu tudo que podia
para seus dois filhos, no seu trabalho ela conheceu um homem, viraram amigos e a namorar
com o tempo tiveram mais um filho estão até hoje juntos felizes.” (Pedro, 15 anos)
Pedro inicia sua narrativa com um prefácio (“Sim, uma amiga foi traida pelo
marido dela”) e a segue com uma orientação (“sendo que ele tinha ingravidado ela de
2 filhos”). Pedro dá sequência à estória com orações narrativas, apresentando uma
avaliação encaixada logo após a primeira oração (“muito cabeça dura”). A narrativa
encerra-se com uma avaliação final (coda) – “estão até hoje juntos felizes”. A
capacidade da personagem de ser resiliente e de conseguir mudar de vida é focalizada
por Pedro nessa narrativa, sendo esse o ponto que ele deseja projetar.
As respostas apresentadas acima podem ser agrupadas, pois defendem, de
maneiras diferentes, a heteronormatividade. Por outro lado, respostas relacionadas a
liberdade de ambos os sexos e gêneros também surgem, mas em minoria. Elas
formam um segundo grupo de respostas, que será analisado a seguir. Nas narrativas
que se seguem, os alunos expressam sua leitura dos videoclipes e das músicas de
modo crítico, mostrando-se capazes de relacionar diferentes signos presentes nos
videoclipes e nas letras das músicas.
Luiza apresenta seu posicionamento diante dos videoclipes assistidos por meio
de avaliações. A aluna narra sua leitura do vídeo Born this way, mas não conta uma
estória específica. Em sua resposta, ela apresenta seu ponto de vista diretamente,
construindo sua leitura com base em padrões contemporâneos de igualdade entre os
seres humanos, sem exemplificá-los, incluindo questões de raça e sexualidade.
“Born this way, porque fala sobre o direito de respeitar a sexualidade das pessoa, que não se
deve ter preconceito, por que por dentro somos todos iguais, somos de carne e osso, só por
que a pessoa é negra, branca, lésbica ou gay quer dizer que ela é diferente.” (Luiza, 14 anos)
“Lady Gaga porque fala que devemos ser nos mesmos que não importa nossa cor ou
sexualidade o que importa é o carater da pessoa. Existe varios tipos de pessoas todas
diferentes e é isso que torna elas especiais. (...) eu era muito timido e acanhado pos minha
outra escola era pequena com poucos alunos, meninas e meninos, todas as meninas eram
iguais e os meninos também, e eu me sentia deslocado um entruso entre eles por causa do
meu jeito estranho e afeminado ai minha mãe me matriculou aqui num lugar grande cheio de
pessoas diferentes e legais no começo eu não consegui me adaptar pos tudo era diferente as
pessoas daqui me asseitão melhor do jeitinho que eu sou pos o diferente também é legal.”
(Pedro, 15 anos)
Como Pedro diz no depoimento acima, possui um jeito de falar “afeminado”. Foi
observado nas interações em sala de aula que ele sofre preconceito por vários de seus
colegas, mas, ao mesmo tempo, possui muitos amigos e é querido por eles, o que faz
com que ele se sinta confortável em sala, mesmo com a represália de alguns alunos.
Pedro inicia sua narrativa apresentando uma leitura crítica sobre o clipe e sobre a
sociedade (“Lady Gaga porque fala que devemos ser nos mesmos que não importa
nossa cor ou sexualidade o que importa é o carater da pessoa. Existe varios tipos de
pessoas todas diferentes e é isso que torna elas especiais”). Ele traz argumentos que
suportam seu ponto de vista e apresenta, assim, uma avaliação externa antes de
iniciar sua narrativa propriamente dita. Quando Pedro começa a contar sua estória,
ele a inicia com uma grande orientação (“eu era muito timido e acanhado pos minha
outra escola era pequena com poucos alunos, meninas e meninos, todas as meninas
eram iguais e os meninos também, e eu me sentia deslocado um entruso entre eles
por causa do meu jeito estranho e afeminado”), que inclui uma avaliação encaixada
(“todas as meninas eram iguais e os meninos também”). Logo após, ele apresenta
suas orações narrativas (“ai minha mãe me matriculou aqui num lugar grande cheio
de pessoas diferentes e legais no começo eu não consegui me adaptar pos tudo era
diferente”), que também incluem avaliações, dessa vez sobre o local onde estuda
atualmente (“lugar grande”, “cheio de pessoas diferentes e legais”). Pedro deixa clara
sua identificação com a escola e a relação entre essa identificação e sua leitura do
videoclipe, o que também aparece na resolução (“as pessoas daqui me asseitão
melhor do jeitinho que eu sou”) e na coda de sua narrativa (“pos o diferente também
é legal”). É possível ver que a segunda narrativa de Pedro apresenta um
posicionamento diferente da primeira, na qual ele conta sobre a traição sofrida por
sua amiga. Isso indica que Pedro constrói sua identidade como fluida, assim como a
sociedade em que ele vive, e que ele constrói a si mesmo como um sujeito social
capaz de se reposicionar discursivamente e, assim, reconstruir a sua própria
realidade.
“Uns antigos e outros de agora mais todos se referem a mesma coisa homens e mulheres se
aliando, com roupas diferentes jeitos diferentes, vozes diferentes, etc sem preconceitos algum.
(...) Born this way. É que todos nós somos diferentes uns dos outros, e não importa o seu jeito
de ser.” (Glacy, 15 anos)
Glacy não exemplifica seu posicionamento com uma estória, mas ela o constrói
de forma bem enfática, mostrando sua capacidade de relacionar os diferentes vídeos
que assistiu e de lê-los em relação à sociedade em que vive. Da mesma maneira, em
sua avaliação, ela apresenta um posicionamento contemporâneo a favor das
diferenças e contra a padronização de modos de ser.
Os alunos Roger e Leandro, cujas respostas seguem abaixo, narraram suas
leituras dos videoclipes por meio de narrativas embutidas em seus posicionamentos,
no entanto, não apresentaram narrativas labovianas.
“Que todos falam de que pode ser homem ou mulher os dois podem fazer as mesmas coisas.
(...) If I were a boy, porque ele fala o que o marido faz com ela e se ela fosse um homem
mudaria isso. (...) Eles retratam que existe um quase preconceito entre homens e mulheres
mas que isso não importa.” (Roger, 14 anos)
“Que todo mundo tem o mesmo papel e não tem diferença, o que o homem faz a mulher
também pode fazer e não tem isso de excluir ninguém. (...) Foi o vídeo Born this way, porque
fala que não importa seu jeito sua maneira de viver e que você não é diferente.” (Leandro, 14
anos)
Considerações finais
Vimos que, em uma abordagem dos letramentos como práticas sociais, ser
letrado significa saber lidar com diferentes modos de fazer sentido. Assim, quando
participamos de um evento de letramento, temos a possibilidade de nos construirmos
em relação ao texto, a nós mesmos e aos outros. Por meio das práticas escolares de
letramento, somos capazes de agir no mundo, desestabilizando regimes de verdade e
nos reposicionando diante da sociedade.
Neste trabalho, analisamos um evento de letramento videático, no qual os
participantes puderam mostrar os tipos de conhecimentos que estão em jogo para
eles ao ler e interpretar videoclipes. Além disso, eles mostraram também seus
posicionamentos acerca da temática trazida pelos vídeos e pelos diferentes signos que
compunham os vídeos e as músicas, relacionando-os ao seu cotidiano escolar e às
relações que eles mantêm fora da escola.
Assim, ao narrar sua leitura sobre os videoclipes, os participantes narram a si
mesmos e a toda a complexidade de sua identidade. De acordo com os dados desta
pesquisa, é possível dizer que, mesmo com toda a possibilidade de mudança da vida
social contemporânea, os jovens, em sua maioria, ainda apresentam posicionamentos
heteronormativos, que estabilizam visões do senso comum a respeito das
sexualidades. Mesmo os participantes que se preocuparam em construir narrativas e
posicionamentos tidos pela sociedade como “modernos” apresentaram reflexões
estabilizantes e unificadoras sobre os sujeitos sociais.
Por meio deste trabalho, foi possível compreender que todas as práticas de
letramento são híbridas, pois são atravessadas e constituídas por diferentes
Abstract
This research took place in an English language classroom of a state school in Rio de Janeiro.
Ninth grade students were enrolled in the research. Its main purpose was to study the way the
adolescents conceive gender and sexuality nowadays. Considering these concepts as multiple,
we analyzed the students’ discourse in a literacy activity using videoclips. Adolescents’ views
about the society were observed when they tell stories about the way they “read” the
videoclips and their own lives. It was possible to see that, even nowadays, young people
present normative views, which make common sense ideas about gender and sexuality even
more stable.
Key words: English language teaching. Literacy. Identities. Narratives. Gender.
Referências
DE CASTELL, Suzanne & JENSON, Jennifer. “No Place like home: sexuality,
community, and identity among street-involved queer and questioning yourth”. In:
BLACKBURN, Mollie V. & CLARK, Caroline T. (Eds.) Literacy research for political action
and social change. New York: Peter Lang, 2007.
JAGOSE, A. Queer Theory: An Introduction. Nova York: New York University Press,
1996.
SILVA, E.M. e ARAÚJO, D.L. Letramento: um fenômeno plural. In: Revista Brasileira
de Linguística Aplicada, v.12, n. 4, pp. 681-698, 2012.
Resumo
Uma pesquisa-ação vem sendo desenvolvida em turmas do 6° ao 8º ano em uma escola
pública de Juiz de Fora (MG), que acolhe alunos oriundos de periferias com sucessivas
reprovações e defasagem nas competências de leitura e escrita. Busca-se investigar problemas
relativos à variação linguística e suas consequências no desenvolvimento de competências dos
alunos no uso das variedades cultas da língua, nas modalidades oral e escrita. Com alunos
usuários de uma variedade linguística desprestigiada, o problema é mais grave, devendo-se,
então, adotar uma pedagogia culturalmente sensível (BORTONI-RICARDO, 2004). O trabalho
sob um viés sociolinguístico vem sendo desenvolvido através de atividades com gêneros
textuais. Estamos na fase de reconhecimento das ações escolares, auxiliando as professoras
no processo de ensino/aprendizagem. Espera-se que ao final do projeto os alunos tenham
ampliado sua competência linguística.
Palavras-chave: Educação sociolinguística. Variação linguística. Gêneros textuais
Introdução
1. Pressupostos teóricos
2. Metodologia
3. Análise de dados
Em outra aula:
Professor:
- O que vocês acham de um jornal conter expressões como “boca da
butija”; “deu derrame”; “deu para trás”?
Professor:
- O que são essas expressões?
Aluno D:
- Elas são gírias.
Professor:
-Onde encontramos tais expressões?
Aluno A:
- A gente encontra no dia-a-dia.
Aluno D:
- Na fala.
Professor:
- Nós esperamos que o jornal tivesse estes tipos de expressões? Por
quê?
Aluno D:
- Não, elas trazem má influência.
Outra aluna:
-Os ricos não falam assim.
Professor:
-Assim como?
Aluno A:
-Como nós, pobres.
Aluna T:
- Os ricos falam mais chique, eles não falam assim. Falam ‘desculpe
amor’, e coisas do tipo.
Professor:
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
185
Outro aluno:
- Não, é diferente.
Professor:
- Vocês acham que nós temos que parar de falar dessa maneira?
Aluno A:
- Sim.
Professor:
- Quando estamos em casa ou com nossos amigos, podemos usar gírias,
falando do nosso próprio jeito. No entanto, também possuímos o direito
de ter ascensão social, devemos nos adequar.
Considerações finais
Nota-se que há um longo caminho a ser percorrido para que o trabalho com a
sociolinguística seja efetivado de maneira produtiva e reflexiva no ambiente escolar
em questão.
Esperamos que por meio da inserção de uma prática pedagógica da variação
linguística em sala de aula, os alunos possam ter contato com um ensino de língua
próximo ao seu dia-a-dia como falantes do português, e que este ensino seja
motivante. Dessa forma, os alunos poderão perceber que a língua portuguesa
transmitida pela escola não é impossível de se aprender.
Pretendemos que, ao final do projeto, os alunos tenham ampliado sua
competência comunicativa, para que se tornem capazes de atender às demandas que
a sociedade exige. Para que essa ampliação aconteça, é de extrema relevância que
seja realizado um trabalho ininterrupto com a sociolinguística em sala de aula.
Acreditamos que uma formação continuada dos professores seja o caminho mais
viável para a implementação desse trabalho. Além disso, que os docentes sejam
sensíveis, considerando a bagagem cultural dos alunos, respeitando-a, para que eles,
assim, não se sintam inferiorizados quanto ao seu dialeto, levando em conta que o
papel da escola é expandir o conhecimento trazido pelos alunos, ampliando sua
competência linguística e comunicativa, tanto nas modalidades orais e escritas de sua
língua materna.
Abstract
An action research has been developed from 6 th to 8th grades at a public school of Juiz de Fora
(MG) which admits students coming from poor neighborhoods with many grade repetitions and
delays on reading and writing skills. It seeks to investigate specific issues related to linguistic
variation and its effects on student skills development considering the use of formal language
both in oral and written styles. The problem is even serious if we consider students who speak
a stigmatized language variety. Therefore in this case a culturally responsive pedagogy should
be adopted (Bortoni-Ricardo, 2004). This work based on a sociolinguistic framework has been
developed through activities with discursive genres. The process of recognition of school
actions is been undertaking and we are supporting teachers during teaching/learning process.
The expectation is to widen the linguistic competence of students by the end of the project.
Key words: Sociolinguistic education. Linguistic variation. Discursive genre.
Referências
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico o que é, como se faz. São Paulo: Edições
Loyola, 2011.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
187
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo:
Parábola, 2008.
Resumo
Este trabalho socializa resultados de pesquisa e investiga a leitura do gênero infográfico. Os
objetivos que nortearam a investigação foram são: (i) conceituar ogênero infográfico,
identificando suas características, seu funcionamento social eseu estilo de linguagem; e (ii)
investigar em que medida o livro didático de Língua Portuguesa se apropria desse gênero
textual oriundo das tecnologias digitais. A metodologia fundamenta-se em pesquisa
bibliográfica a partir de estudos de Dionísio (2008), Marcuschi (2008) e Teixeira (2007) e na
análise de livros didáticos de Língua Portuguesa - 6° ao 9° ano -, aprovados no PNLD. Foram
analisadas quatro coletâneas e os resultados parciais apontam para uma discretapresença do
gênero.
Palavras-chave: Leitura. Infográfico. Tecnologias.
Introdução
Professora do Departamento de Ciências Humanas – UFLA – [email protected]
Aluna da Graduação em Letras – UFLA - [email protected]
imagem e palavra mantêm uma relação cada vez mais próxima, cada
vez mais integrada. Com o advento de novas tecnologias, com muita
facilidade se criam novas imagens, novos layouts, bem como se
divulgam tais criações para uma ampla audiência. Todos os recursos
utilizados na construção dos gêneros textuais exercem uma função
retórica na construção de sentidos dos textos. [...] Representação e
imagens não são meramente formas de expressão para divulgação de
informações, ou representações naturais, mas são, acima de tudo,
textos especialmente construídos que revelam as nossas relações com a
sociedade e com o que a sociedade representa. (DIONÍSIO, 2008, p.
132).
Kress (2012) e Kress e Van Leeuwen (1996, 2001) afirmam que palavra e
imagem juntos não correspondem à mesma maneira de se dizer a mesma coisa; a
palavra significa mais quando acompanhada da imagem. Por sua vez, a imagem
também significa mais quando acompanhada do escrito. Também é preciso considerar
que, com o advento das tecnologias da informação e da comunicação, houve uma
“guinada para o visual”. Assim, os textos que circulam socialmente indiciam a
mudança do modelo de textos monomodais para o de textos multimodais.
Evidenciam, também, que o produtor possui a liberdade de escolher entre um ou
outro modo de linguagem para determinada representação, de acordo com o efeito
semiótico pretendido. Imagem e palavra se complementam, se contrapõem, se
integram (ou não), mas sempre com propósito de significar mais. Assim, não seria
possível, e mesmo desejável, uma simples “tradução” de um modo de linguagem para
outro. Textos constituídos apenas pela exploração de uma linguagem, seja verbal,
visual ou sonora não veicula o mesmo significado de uma mesma maneira. Cada uma
dessas linguagens pode ser melhor utilizada para atingir determinado propósito
comunicativo. Quando combinadas, o potencial funcional é mais amplo.
Em contrapartida, na escola a preponderância da escrita é indiscutível. Não se
ensina, muitas vezes, a combinar distintos recursos semióticos para construir
significados. O tamanho e a cor da letra, a disposição do texto na página e outros
aspectos presentes no texto verbal constituem modos de significação, uma vez que,
conforme preceitua Kress, não há textos monomodais, ou seja, todos os gêneros
textuais falados e escritos são multimodais, pois apresentam, pelo menos, dois modos
de representação: palavras e gestos, palavras e imagens. A escola, por sua vez, ainda
mantém o conceito de letramento tradicional, o letramento da década de 80, quando
a sociedade ainda não possuía tantos aparatos tecnológicos.Lemke (2010) argumenta
que enquanto a criança lida com diversos recursos semióticos diferentes, a escola
ensina usar apenas a escrita. Para o autor, é preciso trabalhar com habilidades
interpretativas, ampliando as habilidades de leitura dos alunos, de modo que os
aprendizes possam analisar textos impressos, vídeo ou filme, fotos de notícias e
imagens de propagandas para quadros e tabelas estatísticos e gráficos matemáticos.
Por fim, o conceito de letramento, tal como postulado na década de 80, não
contempla dois tipos de multiplicidade presentes na contemporaneidade: a
multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição dos
textos por meio dos quais essa sociedade se informa e se comunica (ROJO, 2013),
abarcados pelo conceito de multiletramentos.
É nesse contexto de múltiplas informações e da necessidade de novas
habilidades de leitura que o infográfico desponta como um gênero imprescindível para
auxiliar na compreensão leitora.
O infográfico é um gênero que congrega em sua formação vários recursos
semióticos, ou seja, alia recursos visuais como desenho, fotografia, tabela, a textos
verbais curtos, configurando-se como um gênero textual híbrido. Não se trata de um
gráfico construído para completar o sentido do texto verbal, pois o funcionamento
desse gênero permite modos diferenciados de leitura, segundo Dionísio (2008, p.
127):
(a) Pode-se ler texto como um todo, isto é, o texto verbal principal + o
infográfico.
(b) Pode se ler apenas o texto verbal principal e olhar as imagens.
(c) Pode-se ler apenas o infográfico, que possui seu próprio título e sobretítulo.
Com o advento das tecnologias, o infográfico popularizou-se e hoje é
encontrado tanto na mídia impressa quanto no meio digital. Pode-se defini-lo como:
2. Metodologia
Fig.7 Infográfico no LD
Fig. 8 Infográfico no LD
Fig. 9 Infográfico no LD
Considerações finais
Referências
BELTRÃO, Eliana Santos. Diálogo, 6° ano / Eliana Santos Beltrão, Tereza Godilho –
São Paulo: FDT, 2010.
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design.
London and New York: Routledge, 1996.
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Multimodal discourse: The modes and media of
contemporary communication. London: Arnold, 2001.
XAVIER, Antonio Carlos. Letramento digital e ensino. In. SANTOS, Carmi Ferraz &
MENDONÇA, Márcia (orgs). Alfabetização e letramento: conceitos e relações.
Belo Horizonte: Autêntica, 2005, pp. 133-148.
PENTEADO, Ana Elisa de Arruda; Marchetti, Greta. Para Viver Juntos – Português
Editora: SM. 2011
Infográficos
Disponível em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/energia/como-ganhar-
discussao-energia-nuclear-651445.shtml
Introdução
______________________________
Aluno do curso de Letras da Universidade Federal de Lavras. [email protected]
*
**
Professora da Universidade Federal de Lavras. [email protected]
Conclusão
Abstract
The present article has the purpose of compiling theoretical studies that focus on the
conceptions of orality and literacy. It also aims to analyze the implications of the perspectives
of orality and literacy on the mother tongue teaching. The research had as theoretical basis
authors like: Castilho (1998), Evaristo (2006), Soares (2003), Tfouni (1995) and Kleiman
(1995). The theoretical resources were used so as to highlight the relevant aspects and to
emphasize the importance of the practices of mother tongue teaching. From the present study,
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
215
it was evidenced that the words orality and literacy favor the incorporation of the speech and
writing in a context that integrates the linguistic practices in the daily use. This insertion allows
the shift from the teaching centered in the study of the code to a teaching integrated to social
practices, favoring the construction of a new conception of language and text, important issues
for education practice.
Key Words: Orality. Literacy. Mother Tongue.
Referências Bibliográficas
FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE Maria Lúcia C.V. O; AQUINO, Zilda G.O
Oralidade e escrita: perspectiva para o ensino de língua materna. 5.ed. São
Paulo: Cortez, 2005.
Rosângela Márcia Magalhães
Resumo
Este trabalho analisa os processos de letramento e alfabetização no primeiro ano do Ensino
Fundamental de Nove Anos, ampliando a discussão sobre o que muda efetivamente nas
práticas pedagógicas quando se passa a falar em alfabetizar letrando. Para fundamentar essas
questões recorremos a estudos de pesquisadores que, nas últimas décadas, têm se dedicado a
estudá-las, como Brian Street e Magda Soares, dentre outros. Metodologicamente, a pesquisa
está sendo desenvolvida por meio da observação de sala de aula de uma escola pública de
Ouro Preto/MG e de entrevistas semi-estruturadas com pessoas da comunidade escolar, numa
abordagem de cunho etnográfico. Dados já coletados apontam para práticas situadas de leitura
e letramento literário.
Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Letramento literário. Ensino Fundamental de
Nove Anos.
Mestranda em Educação pela UFOP, sob orientação do Prof. Dr. Hércules Tolêdo Corrêa.
[email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
217
Então, o envolvimento mais precoce das crianças dos meios menos favorecidos
com a cultura escolar e com a língua escrita e seus usos, pode contribuir para a
redução do fracasso na alfabetização, já que o sucesso ou fracasso do aluno nesse
processo é determinante no percurso de sua vida escolar e no prosseguimento dos
seus estudos.
O sociólogo francês Bernard Lahire (1995) credita grande parte das dificuldades
que leva ao fracasso escolar ao novo tipo de contato que a criança passa a ter com a
linguagem por meio do ensino-aprendizagem da escrita/leitura - um contato que
passa do inconsciente, prático, incorporado (na família) a consciente, analítico,
objetivado (na escola). E quando a criança entra mais cedo na escola, ela tem a
oportunidade de se socializar melhor, inserir-se num contexto cultural e ampliar suas
possibilidades de aprendizagem, principalmente em relação aos processos de
alfabetização e letramento.
1
Ver site http://censo2010.ibge.gov.br/
Conforme Soares (2009, p. 33), o termo letramento parece ter sido usado pela
primeira vez no país no ano de 1986 por Mary Kato, no livro No mundo da escrita:
uma perspectiva psicolinguística. Como parte de título de livro, o termo apareceu no
ano de 1995 nos livros Os significados do letramento, organizado por Angela Kleiman
e Alfabetização e Letramento, de Leda Verdiani Tfouni.
O letramento implica a apropriação da escrita e sua utilização nas diversas
práticas, extrapolando o processo inicial de aquisição do código alfabético, que
constitui uma especificidade da alfabetização, bem como considerando as práticas
vivenciadas cotidianamente nos contextos culturais. Desse modo, para Soares, é
preferível conservar ambos os termos, enfatizando a distinção entre eles através das
várias facetas de cada um: para o letramento, a imersão das crianças na cultura
escrita, a participação em experiências variadas com a leitura e escrita, o
conhecimento, e a interação com diferentes tipos de gêneros de material escrito; para
a alfabetização, a consciência fonológica e fonêmica, a identificação das relações
fonema-grafema.
De acordo com Roxane Rojo, a alfabetização é a “ação de alfabetizar, de
ensinar a ler e a escrever”, que leva o aprendiz a conhecer o alfabeto, a mecânica da
escrita/leitura, a se tornar alfabetizado. Embora algumas pessoas se alfabetizem fora
da escola, ela é a principal agência alfabetizadora e a alfabetização, enquanto
processo de ensinar a ler e a escrever, é uma típica prática de letramento escolar, que
apresenta as características sublinhadas por Bernard Lahire (1995): objetivar a
linguagem em textos escritos, despertar da consciência para os fatos da linguagem,
analisar a linguagem em sua composição por partes (frases, palavras, sílabas, letras).
Além disso, Lahire (1995) insiste na importância da diversidade de
sociabilidades em torno do texto escrito, ou seja, na diversidade de letramentos das
camadas populares, sobre a qual sabemos muito pouco e que a escola tende a
ignorar. De acordo com esse autor, boa parte do fracasso escolar se dá justamente no
conflito mal resolvido desses letramentos.
De acordo com Soares (2008), “O fracasso da criança na alfabetização significa
um fracasso nos anos seguintes a do processo de escolarização. E é um fracasso
cumulativo, em que a criança vai cada vez enfrentando mais dificuldades”.
Rojo defende que um dos objetivos principais da escola é possibilitar que os
alunos participem das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita
(letramentos) na vida da cidade, de maneira ética, crítica e democrática. Para fazê-lo,
conceito de letramento literário, que vem sendo estudado por pesquisadores como
Graça PAULINO, Aparecida PAIVA, Rildo COSSON, Hércules CORRÊA e Zélia Versiani
MACHADO, além da pedagogia dos multiletramentos, divulgada por Roxane ROJO.
No desenvolvimento desta investigação, recorremos aos princípios teóricos
referentes à abordagem qualitativa de cunho etnográfico para observar a analisar
essas salas de aula. De acordo com Bogdan e Biklen (1994), a pesquisa qualitativa
“envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do observador
com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa
em retratar a perspectiva dos participantes”.
A observação é uma estratégia utilizada para coleta de dados com registros em
um diário de campo. Também foi elaborado um roteiro de entrevista semi-estruturada
que foi realizada com a professora participante, a pedagoga, seis pais e seis alunos da
turma pesquisada. Esse roteiro contempla questões relacionadas à prática pedagógica
de alfabetização e letramento e a relação da família com a escola nesses processos de
aquisição da leitura e escrita.
De acordo com Triviños (1987), a utilização da entrevista semi-estruturada
como ferramenta de pesquisa “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos
sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]”, além
de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de
informações. Sendo assim, considera-se que esse tipo de entrevista pode favorecer o
alcance dos objetivos dessa pesquisa, uma vez que permite que os entrevistados
tenham uma melhor reflexão de seu envolvimento na problemática em questão.
1. roda de leitura em que o(a) professor (a) é quem conta a história escolhida
por ele(a) ou pelos alunos, todos os dias ou em dias alternados, na sala de
aula;
Segundo Paiva (2003), “o texto literário é uma produção de arte e, por isso,
sua leitura vai tornar o leitor, também um criador”. Contar histórias é uma arte, é o
equilíbrio do que é ouvido como que é sentido. Além disso, a pesquisadora afirma que
a democratização da leitura é uma possibilidade de acesso a uma linguagem artística,
que é a literária. Paiva também acredita que, desde o início da escolarização, é
possível realizar um trabalho que respeite a relação artística que o texto literário pede
ao leitor.
Algumas considerações
Por isso, temos que lutar por bibliotecas adequadas e equipadas, além de
profissionais preparados para trabalhar nesse espaço escolar para receber as crianças,
que é um público tão instigante e específico. Conforme Paiva e Rohlfs (C.2013, p.82)
“não apostar nelas é continuar na mesmice e no patamar de país subdesenvolvido”.
Como defende alguns estudiosos da área, o prazer de ler não se ensina e sim,
descobre-se. O aluno deve ser levado a entender que a literatura é componente da
formação humana, que tem um valor em si. Ou seja, o que se defende é que o aluno
desenvolva a apreciação da arte literária. Que ele tenha acesso a muitos livros de
histórias, de poesias e aprenda a ver e ler o mundo, admirando o que nele tem de
belo e encantador.
Abstract
This paper analyzes the processes of literacy and alphabetizacion in the first year of the Nine
Year Basic Education, broadening the discussion about what changes in teaching practices
effectively when it comes to talking about literacy alphabetize. To substantiate these questions
we turn to studies of researchers who, in recent decades, have been devoted to study them,
as Brian Street and Magda Soares, among others. Methodologically, the study is being
developed by observing classroom of a public school in Ouro Preto/MG and semi-structured
interviews with people from the school community, an ethnographic approach. Data already
collected indicate situated practices of reading and literary literacy.
Keywords: Alphabetizacion. Literacy. Literacy literary. Nine Year Basic Education.
Referências
BRASIL, Ministério da Educação - MEC- PROJETO DE LEI : Plano Nacional de Educação
para o decênio 2011-2020- PNE 2011-2020:
http://fne.mec.gov.br/images/pdf/notas_tecnicas_pne_2011_2020.pdf. Acesso em
junho/2013.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.
HÖFLING, Eloisa de Mattos. Estado e políticas (públicas) sociais. In: Cadernos Cedes,
Campinhas, n. 55, p. 30-41, 2001.
PAIVA, Aparecida Paiva; MARTINS, Aracy; PAULINO, Graça; VERSIANI, Zélia (Orgs).
Literatura e Letramento: espaços, suportes, interfaces. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2003.
PAULINO, Maria das Graças Rodrigues. Letramento Literário: por vielas e alamedas.
Revista da FACED, nº 05, 2001. p. 117-125.
PAULINO, Maria das Graças Rodrigues. Formação de leitores: a questão dos cânones
literários. Revista portuguesa de educação. Ano/vol. 17, número 001. Universidade do
Minho. Braga, Portugal. 2004a. p 47-62
ROJO, Roxane Helena R. Letramentos múltiplos e inclusão social. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009..
Relatos
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
233
Apresentação
1. Caracterização da Escola
Graduada em Pedagogia pela UFJF, Professora da Escola Estadual Padre Frederico Vienken.
[email protected]
Professora da Faculdade de Educação da UFJF. [email protected]
2. Fundamentação teórica
Para Charlot (2000), o fracasso escolar não existe em si, o que existe são
alunos em situação de fracasso. Patto (1999), ao discutir como se dá o processo social
de produção do fracasso escolar, afirma que este se estabelece no cotidiano da
escola, através da reprodução das condições de produção dominantes na sociedade,
em que se observa, além de tantos outros motivos, uma prática motivada por
interesses particulares e um comportamento caracterizado pelo descompromisso
social.
Moysés (2001) aponta que as causas médicas do fracasso escolar não existem,
o que se observa é a construção artificial destas causas e, na verdade, elas exercem
um papel fortemente tranquilizador para a escola e para o sistema.
Cumpre ressaltar a noção de Escrita como trabalho (FIAD e MAYRINK-
SABINSON, 1991): sustenta a reescrita como um momento essencial no processo da
escrita. Na realidade, essa compreensão deriva da concepção de linguagem como
interação, expressa por FRANCHI (1987:12), que defende a escrita como uma
construção que se processa na interação, e a reescrita como um momento que revela
a dinamicidade desse processo.
Este processo reflexivo que ocorre nos momentos de produção e reflexão
textual demonstram que, apesar de os sujeitos já dominarem parte considerável de
recursos básicos da escrita, eles ainda estão em fase de aquisição da modalidade
escrita padrão. Por esse motivo, os alunos arriscam várias possibilidades de escrita,
as quais indiciam momentos de reflexão com e através da linguagem.
3. Descrição da experiência
Considerações finais
Referências
Apresentação
1. Caracterização da Escola
Especialista em Ensino de Língua Portuguesa (UFJF), professora de Língua Portuguesa da
Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade. [email protected].
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
239
horário de trabalho, bem presentes. Vão às reuniões e querem saber como os filhos
estão em notas e comportamento. Mas apesar da diversidade quanto ao perfil sócio-
econômico, os alunos apresentam em sua grande maioria o mesmo “jeito de falar”.
Desde o aluno mais aplicado ao menos interessado, desde o que mais gosta de ler ao
que não lê nada, TODOS falam do mesmo modo, o qual designei de “jeito de falar
Nova Era” bem informal e despreocupado com regras gramaticais. A experiência desse
relato aconteceu com três turmas do sexto ano, com as quais trabalhei no ano 2012.
Com elas observei e aprendi mais sobre diversidade linguística, que dentro de uma
mesma cidade é possível ter um leque de falares, formas variadas de se comunicar.
No entanto, o que motivou o projeto sobre oralidade letrada, foi que nessa
observação constatei que os alunos se expressavam tanto oralmente (conversas entre
colegas, apresentação de trabalhos) quanto por escrito (bilhetes entre colegas,
produções de textos) da mesma forma, não distinguindo a situação de fala. Assim,
para introduzir o trabalho com oralidade letrada, propus a atividade “Sugestão de
Leitura”, na qual os alunos expunham para os colegas comentários sobre os livros que
já tinham lido, sugerindo a leitura dos seus títulos preferidos. A atividade,
inicialmente, foi uma proposta para voluntários, ou seja, só participariam aqueles que
se dispusessem, mas a maioria de cada turma aderiu à proposta. A maior parte dos
alunos das turmas participou com empolgação. E com o passar dos meses, como será
descrito mais adiante, o projeto teve como principal foco a preparação dos alunos
para um recital de poesia.
2. Fundamentação teórica
3. Descrição da experiência
Ulisses e todo contexto envolvente da Mitologia Grega fez sucesso entre os alunos.
Eles vibraram com a história e passaram a se interessar por outras obras com
elementos mitológicos.
No início do mês de agosto, terminamos a leitura e fizemos atividades para o
LITERATUDO, um evento proposto pela Secretaria de educação às escolas da rede
municipal, em que atividades de leitura e produção textual são o foco. Uma das
atividades propostas para uma das turmas do sexto ano foi a produção de poemas
sobre o “Odisseia” e após um trabalho de revisão sobre o gênero poema, realização
das produções e as atividades de reescrita, 12 poemas foram escolhidos para serem
expostos na escola durante o LITERATUDO. Os poemas foram produzidos pela 6m3,
uma turma, cuja maioria dos alunos gostava de ler poemas e sempre pediam para
que um dia eles produzissem os próprios poemas em sala. Então, com o Literatudo, a
oportunidade veio. As produções foram surpreendentes. Por isso, achei que aqueles
poemas não deveriam ser apenas expostos nos corredores da escola, eles deveriam
ser ouvidos, sentidos pelos seus autores e pelos demais alunos a fim de reconhecerem
nos poemas a arte, a beleza da poesia.
Assim, como o 6m1 se destacava em atividades orais, pedi para que 12
voluntários se apresentassem para recitar os poemas escritos pelos colegas do 6m3. E
após algumas semanas de ensaio, a apresentação aconteceu. Apesar da surpresa e da
admiração que os alunos do 6m3 tiveram em relação à apresentação dos colegas do
6m1, os autores do poema reivindicaram o direito de recitarem os próprios poemas.
Propus então um recital de poesia, em que todas as três turmas participariam,
recitando os 12 poemas do 6m3 e o melhor intérprete de cada um, seria premiado.
Tal proposta foi aceita com muito entusiasmo por todas as turmas. Porém, mais de
doze alunos de cada sala queriam participar. Assim para aproveitar o engajamento
dos alunos na atividade e a surpresa de ter como voluntários alunos tímidos e pouco
participativos nas aulas, deixei com que eles escolhessem mais 4 poemas de autores
já consagrados para o repertório. Depois de escolhidos os poemas, passamos aos
ensaios sistemáticos. Nesses ensaios, pude confirma sobre o efeito da atividade
“Sugestão de Leitura”. Os alunos que participavam dela e estavam ensaiando para o
recital, já sabiam como se comportar em um gênero de exposição oral. Cada aluno,
antes de recitar o poema, deveria se apresentar, dizendo seu nome, sua turma, o
título do poema e o autor. Em todo o momento de preparação, era lembrado que um
recital de poesia exigia um nível formal de linguagem, portanto desde a apresentação
pessoal os alunos deveriam lançar mão da linguagem formal. Foi destacada também a
O recital de poesia foi com certeza foi um marco na vida escolar dos alunos.
Muitos se emocionaram ao final do evento. Na sala, fizemos uma avaliação da
atividade e muitos relataram sobre a importância da aprendizagem no preparo para
se falar em público, da descoberta da poesia. A maioria se comprometeu em ler mais
poemas e a fazer um caderno com suas próprias produções. Além disso, a maturação
dos educandos não só como locutores de uma apresentação, mas também como
plateia, foi impactante. Os alunos passaram saber ouvir também, o que é muito
importante para o sucesso da produção de um gênero oral. A efetiva interação entre
locutor e ouvintes.
Considerações finais
vozes do alunado, o toque, o olho no olho, o riso sem deboche, a chance de se colocar
em evidência o tímido, o complexado, o triste. Tal projeto nasceu da necessidade do
ensino da oralidade letrada e de ampliar o conhecimento e o domínio dos diversos
gêneros textuais pelos educandos em sua situação de uso. O PCN de Língua
Portuguesa é claro quanto à escola ser um instrumento democrático de inclusão social
e cultural. Além disso, a pedagogia do oral é essencial para que essa democratização
seja desenvolvida. Assim, dar aos alunos a oportunidade de conhecer a diversidade de
gêneros textuais que circulam na sociedade e dominá-los é responsabilidade da
escola. Diversificar as formas de avaliação é um caminho para atingir positivamente a
diversidade de perfis dos alunos. Muitos que não conseguem se sair bem em uma
prova escrita, podem ter grande talento para se expressar oralmente. O processo
ensino aprendizagem é como a própria língua: dinâmico e flexível.
Referências
Anexo
RECITAL DE POESIA
NOVOS POETAS,
GRANDES INTÉRPRETES
Dia 09/11/12
Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade
Alunos dos 6º anos
Odisseia(Lucas) Andyara/Poliana/Lucas
Poemas
2-A Odisseia
Eu fui na mata
Conhecer a bicharada
Cada bicho que encontrava
me contava uma piada.
5-Gato pensa?
Dizem que gato não pensa
Mas é difícil de crer.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
248
6-Ítaca
Conheci Ítaca na minha escola,
cujo rei virou mendigo e pedia esmola,
Mas era apenas um disfarce,
pois Ulisses se revelaria rei
depois que com seus inimigos lutasse. (Matheus Lopes 6m3)
7-Odisseia
11-Passarinho Fofoqueiro
Um passarinho me contou
que a ostra é muito fechada,
que a cobra é muito enrolada,
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão marinho e a foca...
xô , passarinho! chega de fofoca!
José Paulo Paes
12-Poema de Afrodite
As Horas a enfeitaram,
vestiram e a embelezaram.
13-Poema da saudade
(de Penélope para Ulisses)
Mariana 6m3
14-Poema da volta
Ulisses viajou.
Demorou...demorou...
E quase não voltou.
Isabelle 6m3
15-Poema de Ulisses
Estou voltando
Para meu amor reencontrar
Ela que por mim há vinte anos
Está a esperar.
Tecendo, mas destecendo
Para com outro não se casar.
Pois nosso amor é infinito e
Nunca vai se acabar.
Mayara 6m3
Poema de abertura
Convite
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
254
Apresentação
*
Professora da rede municipal de Juiz de Fora - Mestre em Educação FACED/UFJF –
[email protected]
**
Bolsista do Treinamento Profissional que atuou na turma no ano de 2012 - Graduanda em
Pedagogia FACED/UFJF - [email protected]
1
Sistema de Escrita Alfabética
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
256
Fundamentação teórica
Descrição da Experiência
2
Neste trabalho, compreendemos que nem todos os livros que circulam no mercado podem
ser considerados como literários. Ver Soares , 2010.
3
Grupo de pesquisa voltado para os estudos da Alfabetização e do Letramento (UFJF)
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
258
4
Soares, 2006 defende que uma vez inserida na instância escolar, a literatura passa a fazer
parte de um saber, assim como qualquer outra área do conhecimento. Este seria um processo
inevitável não podendo ser atribuído a essa escolarização um sentido pejorativo.
Considerações finais
Por fim, cabe dizer que eu como professora, senti prazer nos momentos de
atividades e, acredito que as crianças puderam também experienciar este prazer
combinado com a vontade de aprender.
Referências
Apresentação
Caracterização da escola
*
Graduanda em Letras, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
[email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
264
Fundamentação teórica
Descrição da experiência
Como já fora dito antes, o estágio no IFET foi a minha primeira oportunidade de
estar lecionando. Ao começar, assumi quatro turmas: uma turma do 1ª ano do ensino
médio integrada ao curso técnico de Informática, uma turma do 2ª ano do ensino
Considerações finais
Essa experiência de estágio foi e ainda está sendo muito produtiva para a
minha formação profissional, por possibilitar a prática em sala de aulados
conhecimentos que vem sido adquiridos na graduação.
Ainda que as turmas sejam compostas por muitos alunos, o tempo de
exposição à língua seja reduzido, as turmas sejam heterogêneas em relação ao nível
de conhecimento da língua e os alunos consigam desenvolver só a habilidade de
leitura, acredito que a abordagem instrumental é a que mais se adequa a realidade de
ensino no Brasil.
Referências
KAVANAGH, Marie. English for the Automobile Industry. Oxford: Oxford University
Press, 2007.
Apresentação
Caracterização da aluna
*
Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail:
[email protected].
**
Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail:
[email protected].
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
268
oferecer aos alunos atividades que priorizam o “trabalho com livros infantis”, “trabalho
com os significados das palavras – elaboração de um minidicionário”, “trabalho com
oficina literária”, “atividades para a exploração do gênero histórias em quadrinhos”.
Um fato importante a ser mencionado é que a aluna aqui retratada demonstrou
possuir uma boa dinâmica de leitura.
Tivemos uma longa conversa com Isabela sobre como é a rotina em sala de
aula, se ela utiliza ou não livros didáticos, como são as disciplinas que a menina tem,
qual é a metodologia utilizada pela professora de português. Conversamos também
sobre os gêneros que Isabela já conhece, quais são os que ela gostaria de conhecer e
outros questionamentos.
Ao nos depararmos com um dos textos produzido por ela, ficamos surpresas
com o compromisso, com a criatividade e com a coerência empregada em sua história
sobre uma tirinha da turma da Mônica, a qual havia apenas imagens para que Isabela
desenvolve-se a história.
Fundamentação Teórica
O uso dos gêneros textuais no ensino da língua materna tem sido bastante
debatido devido à importância de estar imerso na prática pedagógica a fim de auxiliar
o processo de ensino-aprendizagem na transposição didática. Além disso, deve-se
apresentar aos alunos a importância da interação sócio-discursiva possibilitada
através do ensino dos diversos gêneros. Para comprovarmos tal afirmação recorremos
aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa (1997) que
apresentam os gêneros como aliados no processo de ensino-aprendizagem da Língua
Portuguesa e ressalta a importância do trabalho com os mesmos mostrando aos
alunos que tais gêneros vão além do que um simples conteúdo a ser aprendido na
escola, mas que fazem parte do dia a dia de cada um deles.
Portanto, ao ensinar um determinado gênero o professor deve apresentar aos
alunos onde os gêneros circulam, para que eles servem e para quem são destinados,
para que, assim, essa prática não caia num ensino normativo da língua portuguesa.
Segundo Dolz e Schneuwly (2004), o ensino da língua portuguesa deve estar
pautado nos textos, desta forma os autores acreditam que tal ensino deve ser feito
utilizando-se os diferentes gêneros textuais, pois esses são “produtos” sociais que
proporcionam o aluno a interação em diferentes esferas comunicativas.
O trabalho com os gêneros textuais é considerado um meio de levar os alunos a
se tornarem letrados. Consideramos letramento como
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
269
Descrição da experiência
1- Combinamos com a criança antes de sua primeira produção como a correção de seu
texto seria feita. Dessa forma, a criança teve, ao nosso olhar, mais facilidade para
lidar com as sinalizações que fizemos. Além disso, a aprendiz pôde participar mais
ativamente da situação didática.
2- Partindo do tipo de correção como “texto interativo”, elaboramos um pequeno texto
para demarcar o que a criança já tinha conquistado em termos textuais, linguísticos e
gramaticais. Por meio do texto também sinalizamos o que Isabela ainda necessitava
trabalhar mais.
3- Além do texto, fizemos legendas peculiares ao texto da criança, ou seja, de acordo
com o foco que trabalhamos, elaboramos legendas e junto a Isabela, decidimos
quando elas apareceriam ou não em nossas correções. Assim, por meio do tipo de
correção classificatório analisamos o que de fato, a criança ainda necessitava
aprender ou/e melhorar.
4- Para dar um retorno dos erros que a Isabela França teve, fizemos ao final da correção
que foi entregue a aluna, para que a mesma pudesse ler e pensar sobre um quadro
com as palavras escritas ortograficamente erradas e as palavras como elas são
escritas no dicionário. Essa seria então, uma correção resolutiva a criança.
Após ter tido acesso às fichas de correções textuais a aluna teve a oportunidade
de revisar e reescrever o bilhete. Ao ler às fichas de correção a aluna releu a situação
que escolheu e reescreveu seu bilhete. Em sua segunda produção notamos que os
erros ortográficos foram corrigidos, a organização das informações do texto melhorou,
houve algumas inclusões de pontuação, de palavras e retirada de algumas
informações. O texto da aluna diminuiu, mas a discente fez com que o gênero fosse
mais bem constituído.
Considerações finais
O trabalho desenvolvido foi de grande valia para a nossa formação, uma vez
que pudemos ter um contato direto com um aluno, pois desempenhamos o papel de
um professor tomando iniciativas e sugerindo com que trabalharíamos. Nos estágios
que frequentemente realizamos não temos tal proximidade com os alunos, já que a
professora regente é quem toma as decisões sobre o que será trabalhado, qual
método de correção será adotado e como as atividades serão aplicadas. Como
estagiárias, nós apenas observamos tais ações tendo a oportunidade de “dar uma
aula”, dentro do que a professora regente do estágio nos orienta, quando fazemos
nossas intervenções.
Apesar do pouco tempo em que passamos com Isabela, essa experiência foi de
grande relevância, pois nos levou a refletir sobre a prática dos professores que,
muitas vezes acompanhamos e por motivos desconhecidos, os julgamos sem saber do
compromisso de transmitir/construir um conhecimento a/com uma criança. Fora isso,
percebemos a responsabilidade que um professor possui ao corrigir sabiamente a
produção de um aluno sem que seja exagerada, mas ao mesmo tempo em que aponte
pontos a serem revistos, contribuindo efetivamente com o enriquecimento da
produção do mesmo.
A experiência aqui exposta nos faz refletir sobre quais ações faríamos diferente
se tivéssemos a oportunidade de refazer ou elaborar outra situação didática. Vimos
que não é uma tarefa fácil, mas percebemos por meio dos resultados das correções
feitas por Isabela que tal atividade vale apena. Foi gratificante ver os pequenos
avanços nas produções da aluna. Sem contar nos avanços que tivemos em nossos
estudos e no olhar que tivemos perante na análise da escrita de Isabela. Enfim, foi um
trabalho árduo, mas produtivo e gratificante.
Referências
Anexo
Apresentação
Graduanda em Pedagogia, Universidade Federal de Juiz de Fora.
[email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
276
Caracterização da Escola
Fundamentação teórica
Descrição da experiência
Eu sou a favor do uso do celular nas escola porque você pode vim jogando
joguinho ouvindo música e até ligando para os amigos e também ce acontecer alguma
coisa eu posso ligar para a mãe casso passar mal e até sentir muita dor para pedir
permicão para vim a mãe puscar por isto eu sou a favor do uso do celular na escola.
Leonardo Oliveira (Produção inicial)
Aqui no Brasil o povo está fazendo manifestações e passeata pelo pais pelo
transporte público pela saúde, eles estão andando levantando a bandeira do Brasil.E
também estão querendo mais segurança.E sou contra eles não devem fazer isso.
Leonardo Oliveira (Produção final)
Eu sou contra porque o celular tira a atenção na hora do estudo dentro da sala
um exemplo eu estou fazendo uma prova ai o celular toca muito alto isso tira a
concentração que você estava na prova toda isso também além de tira a concentração
a professora toma o celular de você e só pega o celular na escola com os pais.
Wesley (Produção Inicial)
Aqui no Brasil está acontecendo uma grade manifestação sobre vários pedidos a
respeito de transportes saúde educação etc. Além disso também está acontecendo
vários confrontos por exemplo muitas pessoas machucadas eles estão tampando
pedras em policiais também estão quebrando vidros de ônibus e etc. Eu penso a favor
mas não com o uso da violência pois a violência só trás muitos problemas. Agora o
povo precisa pensar e na hora votar para o pais melhorar
Wesley (Produção final)
Considerações Finais
Essa experiência didática abriu espaços para trabalho com textos na aula de
língua portuguesa tanto no eixo da leitura, da produção escrita e da oralidade,
conforme Souza (2003) a exploração do gênero artigo de opinião “favorece
desenvolvimento de outras capacidades cognitivas, como as operações que envolvem
as relações lógicas, o desenvolvimento do pensamento crítico e a arte de convencer
ou de persuadir as pessoas (...) além de trabalhar com temas sociais” (p.181).
O objetivo principal da minha experiência didática foi fazer com que os alunos
aprendessem sobre argumentação por meio da leitura e elaboração de textos orais e
escritos. Após o trabalho reconheço que algumas atividades poderiam ser repensadas,
os aspectos que não foram compreendidos pelos alunos tendo em vista os resultados
apresentados na produção final, revelam os pontos que merecem ser retomados em
futuras propostas metodológicas. De qualquer maneira eles indicam as capacidades já
adquiridas pelos alunos e orientam o professor na definição dos objetivos de
aprendizagem eleitos para a sua turma em particular. É necessário ter claro que não é
qualquer sequência didática que pode ser realizada para qualquer turma, pois, não
basta ter o material a disposição é necessário que o professor faça essas escolhas em
função da identificação das dificuldades de seus alunos.
Acredito que outros gêneros do argumentar podem ser explorados no ensino
fundamental I, de modo que os alunos compreendam que existe, à disposição do
produtor de texto, um conjunto de recursos linguísticos que, uma vez agenciados,
poderão provocar os efeitos desejados no seu leitor/ouvinte.
Para os alunos envolvidos no trabalho, estudar a argumentação foi uma chance
de compreender a riqueza da língua e da força semântica que ela pode expressar e/ou
traduzir.
Meu envolvimento nessa experiência didática permitiu avaliar todo o processo;
a construção, a posterior análise, inclusive a produção de um texto acadêmico para a
discussão dos resultados. Foi uma experiência construída que envolveu erros e
acertos, portando, conforme nos aconselha Geraldi (2002) “que o professor não tenha
medo de errar. Aprende-se muito errando.”
Referências
JOÃO WANDRELEY GERALDI. Professor não pode ter medo de errar. Na Ponta
do Lápis, São Paulo, n. 10, p.2-3, dez. 2008.
Anexo
OBJETIVOS ATIVIDADES
Apresentação
Doutoranda em Linguística na Universidade Federal de Juiz de Fora. [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
285
Para esta análise, foram selecionadas redações de três turmas dos módulos I, II
e III do Espanhol Instrumental. Todas foram feitas no final de cada semestre. Desse
modo, foi possível comparar o número e os tipos de erros existentes no início do curso
e os que permaneceram ao final. Podemos, assim, verificar quais são os erros no uso
dos artigos definidos na interlíngua de estudantes brasileiros do espanhol.
Fundamentação teórica
Descrição da análise
era uma biografia de uma pessoa famosa; no Módulo II, 20 redações com relatos de
histórias ocorridas na infância; no Módulo III, 18 redações, em que os alunos fizeram
a resenha de um filme. Um detalhe importante é que, do total de 60 alunos, apenas
dois estudaram espanhol antes de começar o curso no PU.
A seguir são apresentados os seis erros mais encontrados. Nos exemplos
retirados dos textos dos alunos, numerados de (1) a (21), foram destacados em
negrito somente os erros referentes ao uso dos artigos definidos, embora possam
conter erros de outra natureza também. O erro mais frequente foi uso de lo em lugar
de el, e, por isso, foi colocado um número maior de exemplos nesse último caso.
I. Ausência de artigo
(1) A ella le gustan ___ música clásica, ___ lectura, ___ danza, ___ natación
y ___ cine.
(2) Beyoncé nació en ___ 4 de septiembre de 1981.
(3) Él tiene un programa ___ sábado. (los sábados)
(8) A Madonna le gusta también pasear pelos lugares donde hace sus
shows.
(9) No FC Barcelona ha hecho muchos amigos, como Lionel Messi.
(10) Soy do Brasil, pero vivo en Buenos Aires.
V. Uso de EL no lugar de LO
(13) Su estado civil es soltera pero ha sido novia de lo actor Tom Cruise.
(14) A mí y a mis amigos no nos gustava mucho lo uniforme.
(15) En lo comienzo, la historia era muy complicada.
(16) Yo siempre tuve buenas notas, pero en matematica... yo era horível!
Necesitaba de profesora particular en lo ensino medio.
(17) Cuando mi profesora permitía hacer dibujos me gustaba mucho de hacer
diseño de lo sol [...], cosas de chicas.
(18) Y para eso tenía que aprender bien lo Portugués.
(19) Pero el grande suceso llegaría en 1982, cuando Michel lanza el álbum
Thriller, lo más vendido del mundo en todos los tiempos.
(20) La película es sobre el joven que enfrenta una crisis de identidad devido a
lo cambio de sexo.
(21) ¿Cuál es la ligación entre Dr. Robert y Vera? Ese tal vez sea lo grande
misterio de la historia.
Gráfico 1 - Porcentagem de redações, em cada módulo, com pelo menos um erro no uso dos
artigos definidos.
Considerações finais
Número médio de palavras dos textos produzidos em cada módulo: (I) 100 palavras; (II) 250 palavras;
2
necessidade maior de propor exercícios com este ponto gramatical específico nos três
módulos do curso.
Portanto, esse trabalho foi relevante para minha prática pedagógica porque
possibilitou uma identificação precisa não só dos erros mais frequentes, mas também
das ocorrências que permaneciam ao final do curso. Consequentemente, passei a
explorar mais a questão do uso do artigo lo com os alunos através de exercícios e
durante a leitura de textos, de modo a tentar evitar a fossilização desse tipo de erro.
Referências
Apresentação
Caracterização da Escola
*
Mestranda em Educação - Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP -
[email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
291
os limites destes verbos, muitas vezes impostos pela própria sociedade à qual
pertencemos.
A experiência do projeto com o uso das TDIC foi realizada no 1º Ano do Curso
Técnico em Informática, turno noturno, com aproximadamente 50 alunos, a maioria
vinculada ao Programa de Educação Profissional - PEP.
PEP, criado em 2007, é uma iniciativa do governo de Minas Gerais e
coordenado pela Secretaria de Estado da Educação, por meio da Superintendência de
Desenvolvimento de Educação Profissional, o que facilita o acesso a cursos técnicos,
abrindo caminho para a inserção de jovens e adultos no mercado de trabalho. Os
cursos são ofertados pela Rede Mineira de Formação Profissional Técnica de Nível
Médio, integrada por escolas estaduais, escolas conveniadas (federais, municipais e
filantrópicas) e instituições públicas ou privadas credenciadas pela Secretaria da
Educação. A execução dos cursos é acompanhada por uma equipe de monitoramento
e avaliação, como forma de preservar a qualidade da formação técnica.
Fundamentação teórica
Para execução do Projeto, utilizou-se uma fundamentação teórica que foi capaz
de explorar conceitos associados aos letramentos, letramentos digitais e
multiletramentos segundo pesquisadores como Canclini, Coscarelli, Lemke, Rojo,
Soares, Xavier, dentre outros.
O uso da tecnologia digital vem se solidificando e se destaca como condição
necessária para acesso à informação e para a melhoria do campo da comunicação
mundial e sua aplicabilidade ao campo educacional tem sido vista, por uma parcela
considerável de educadores e instituições educacionais, como uma possibilidade de
modernização para o sistema escolar. (Frade, 2010).
Segundo a autora, o termo “tecnologia digital” refere-se, ao conjunto de mídias
informacionais e comunicacionais (CD-ROMs, websites, chats, blogs, realidade virtual,
jogos, softwares, etc.), entendidas como sendo o conjunto de “veículos de linguagens”
utilizadas para a comunicação humana, que, por sua vez, visam o cumprimento de
diferentes interesses e propósitos, de acordo com o público que se pretende atingir.
Para Xavier (2005), os profissionais de educação e linguagem precisam
desenvolver estratégias pedagógicas eficazes em seus mais variados espaços
educacionais (salas de aula e laboratório de informática, por exemplo) para enfrentar
os desafios que estão colocados: alfabetizar, letrar e letrar digitalmente o maior
Letramento
Segundo Soares (2003), letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever
dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da
vida do aluno.
Afinal, a autora defende que, para a adaptação adequada ao ato de ler e
escrever, “é preciso compreender, inserir-se, avaliar, apreciar a escrita e a leitura”. O
letramento compreende tanto a apropriação das técnicas para a alfabetização quanto
esse aspecto de convívio e hábito de utilização da leitura e da escrita. Outro fato
destacado pela autora, é que o letramento não é só de responsabilidade do professor
de língua portuguesa ou dessa área, mas de todos os educadores que trabalham com
leitura e escrita.
Neste contexto, a pesquisadora Coscarelli (2002), defende que ensinar a ler
bem é, ao lado do ensino da escrita, o maior desafio que as escolas tem enfrentado. É
desenvolvendo bons leitores que elas estarão realmente cumprindo o seu papel de
preparar indivíduos para a vida. Os bons leitores são capazes de adquirir informações
sozinhos e, portanto, abrem para si mesmos as portas do aprendizado constante que
é tão valorizado nas sociedades modernas.
Letramento Digital
com tecnologias tipográficas, salientando que cada uma tem seu espaço e um efeito
na sociedade, resultando em conceitos diferentes de letramento.
A autora enfatiza que há modalidades diferentes de letramento o que sugere
que a palavra seja pluralizada: há letramentos, e não letramento, isto é, “diferentes
espaços de escritas e diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da
escrita resultam em diferentes letramentos.”
Multiletramentos
Descrição da experiência
Considerações finais
Referências
______. O que é letramento. Diário do Grande ABC: Santo André, 2003. Disponível
em http://www.verzeri.org.br/artigos/003.pdf. Acessado em 02 de abril de 2012.
*
Fernanda Baldutti
Apresentação
1. Caracterização da Escola
*
Mestre em Letras: Linguística (UFJF). Escola Estadual Sebastião Patrus de Sousa. E-mail:
[email protected]
1
Agradeço a todos os professores que participaram diretamente do projeto e contribuíram,
indiretamente, para a produção desse relato de experiência. Dedico este trabalho a cada um
deles.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
298
Fundamentação teórica
Percebemos, desse modo, que nossa proposta está em consonância com o que
diz os PCNEM (2002):
Dessa forma, a opção pelo gênero oral debate se articulou diretamente com a
proposta do projeto, considerando que a partir do domínio desse gênero os alunos
poderiam desenvolver e/ou ampliar capacidades fundamentais para assumirem uma
postura crítico-reflexiva em relação aos subtemas discutidos, tais como: capacidade
linguística (por meio de técnicas de argumentação, que incluem reformulação,
retomada e/ou refutação do discurso do outro), cognitiva (capacidade crítica) e social,
além da capacidade individual (como se posicionar criticamente frente a um ponto de
vista, possibilitando a construção de sua identidade) (DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. e DE
PIETRO, J-F. 1998/2004, p.248-249).
Optamos pelo tipo de debate denominado “debate de opinião de fundo
controverso”, o qual visa a uma colocação em comum das diferentes posições (a favor
ou contra; vantagens e desvantagens), com o objetivo de influenciar a posição do
2
O tema central do projeto intitulou-se “Ética e Cidadania”. Os subtemas relacionados ao tema
central, escolhidos para os debates foram: (1) sistema de cotas em universidades públicas, (2)
eutanásia, (3) uso de aparelhos eletrônicos nas escolas, (4) aborto, (5) legalização do uso de
maconha, (6) pena de morte, (7) obrigatoriedade do voto, (8) legislação de trânsito, (9)
punição para menores infratores e (10) “Big Brother real-sorria, você está sendo filmado.
outro, assim como de reafirmar ou modificar a sua própria, conforme nos explicam os
autores Dolz, J.;Schneuwly, B. e De Pietro, J-F. (1998/2004, p.250). Ainda segundo
esses autores, percebemos que nesse tipo de debate
Descrição da experiência
Considerações finais
Referências
Fernanda Bichara*
Márcia Mariana Oliveira**
Apresentação
Caracterização da Escola
*
Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista do
programa PIBID coordenado pela Profª. Drª. Hilda Micarello. [email protected]
**
Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista do
programa PIBID coordenado pela Profª. Drª. Hilda Micarello. [email protected]
Fundamentação teórica
Descrição da experiência
1
Trecho retirado do site da CAPES:< www.capes.gov.br>.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
307
Considerações finais
Referências
Apresentação
Caracterização da Escola
Graduanda em Pedagogia/ UFJF; [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
311
Abordagem teórico-metodológica
Descrição da experiência
Considerações finais
Referências
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
SERAFINI, Maria Teresa. Como Escrever Textos. São Paulo: Globo, 1989.
Anexo I
Objetivos
Recontar oralmente a história lida, obedecendo a cronologia dos eventos
narrados; Recontar a mesma história por escrito, considerando as
regras de organização da narrativa escrita.
Desenvolvimento e atividades
Atividade 1: Apresentação da situação de comunicação
Duração: 3 minutos
Conversar com a turma a respeito das atividades que serão realizadas na
situação didática: levantamento das experiências prévias, leitura do conto, discussão
dos elementos centrais da narrativa, reconto oral da história, escrita individual,
revisão e reescrita.
Atividade 2: Introdução à recepção do texto
Duração: 10/15 minutos
O professor apresenta o livro “A verdadeira História da Chapeuzinho Vermelho”,
de Pat Gwinner, explicando que se trata de uma versão moderna e um pouco
modificada da história tradicional.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
316
Antes de ler o livro, o professor deve fazer algumas perguntas a fim de que se
possa obter conhecimentos prévios e identificar os elementos constitutivos da
produção de uma narrativa:
Como é a versão tradicional conhecida por todos? ; Qual é o cenário?;
Quais são os personagens ? ; Qual é o conflito da história?
Objetivos
Revisar o texto com base no bilhete entregue pela professora; Reescrever o
texto.
IMPORTANTE:
Após a análise prévia de cada conto escrito pelos alunos, o professor escreverá
um bilhete orientador, sugerindo as mudanças necessárias quanto aos aspectos
ligados à estrutura narrativa. Os aspectos da superfície textual serão apontados no
xerox da produção, com caneta azul claro e, posteriormente, discutidos com o aluno.
Desenvolvimento da atividade
Atividade 1: Reescrita do conto com o apoio do bilhete
Duração: 60 minutos
O professor entregará o bilhete, a produção escrita e o xerox com correções aos
alunos. Após a leitura do bilhete e das correções, os alunos deverão reescrever o
conto.
IMPORTANTE:
Os alunos poderão consultar a grade de correção de narrativas fixada no
caderno e no Mural.
Avaliação
O professor deverá comparar a produção escrita com a versão reescrita,
observando quais foram as mudanças efetuadas e como corrigiram os aspectos
apontados no bilhete.
Referência
Anexo II
J,
Sua produção ficou muito interessante porque você contou detalhes da história e
apresentou os fatos de acordo com a sequência temporal.
Observei que em alguns trechos você usou sinais de pontuação variados (vírgula, reticências,
exclamação e ponto final), mas, em outros, exagerou no uso do “e”. Releia seu texto e substitua as
repetições do “e” pelos sinais de pontuação ou por outras palavras (mas, depois, então, mais
tarde).
No segundo parágrafo, tive dificuldade para distinguir a fala dos personagens e a voz do narrador.
Assim, solucione esse problema com o acréscimo dos sinais de pontuação, por exemplo:
E a Chapéu chegou e falou:
– Vovó, vovó! Onde você está?
– No quarto.
– Tá bom.
Ela entrou, viu que era o lobo e saiu do quarto.
Agora, vamos trabalhar juntas para melhorar ainda mais o seu texto?
Abraços,
Professora .
2- Correção Classificatória
5- Correção resolutiva
Graduada em Pedagogia e psicopedagogia, Professora da Escola Municipal José Calil Ahouagi,
ginacarla4. [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
321
era brincar e brincar. Na hora da escrita das histórias, lá estava ele com alguns
brinquedos nas suas mãos, ora brincando ora querendo levar um colega para brincar
com ele. Era bastante difícil fazer Roberto se envolver com a leitura e a escrita. Ele
sempre argumentava que era muito difícil para ele ler e escrever. Seus argumentos
eram sempre muito fortes. “Minha mãe não aprendeu a ler e ela disse que sou igual a
ela, também não vou aprender”. Abaixava a cabeça e se fechava completamente. O
desânimo lhe abarcava, seus braços e sua cabeça caiam sobre a carteira e ele dizia”.”
Não consigo, não sei fazer, não vou aprender”. No 2° ano ele se sentia feliz pela
amizade que tinha conquistado, mas quando chegava à hora da escrita a cena se
repetia. Diante disso solicitei, no início do ano, apoio à professora do laboratório de
aprendizagem para um atendimento individualizado. Mesmo com a professora ao seu
lado Roberto continuava distraído, desinteressado com as letras, mas sempre envolvido
com as narrativas do seu cotidiano. Percebi que na sala e em horários livres, ele
conversava com os colegas sobre um filme. Daí meu interesse em conhecer melhor
sobre aquela dinâmica que estava acontecendo. Ele relatou que estava organizando
um filme com os colegas me pediu ajuda, me prontifiquei em ajudá-los acreditando que
poderia criar estratégias de leitura e assim envolvê-lo como também aos seus colegas
de classe.
Fazer um filme não seria fácil. Eu precisaria de apoio pedagógico, sabia que a
escola apoiaria a minha iniciativa. Abraçaria aquela ideia pedindo ajuda à coordenação
e aos colegas. Foi naquele momento oportuno, me inscrevi no programa Pibid e fui
comtemplada: recebi a bolsa e a responsabilidade de contribuir com a formação de
novos professores. No Pibid pude encontrar apoio das graduandas de Pedagogia e da
coordenadora do grupo.
E como surgiu esta ideia de fazer um filme? Uma brincadeira de faz de conta
potencializou aquela ideia: ocorre que as crianças brincavam de restaurante.Roberto
convidava seus colegas para fazer um filme em que ele seria o diretor. As crianças
começara a inventar. Sugeri a ele que anotasse o nome das pessoas e dos personagens
que participariam do filme. Logo percebi enorme dificuldade para que ele realizasse tal
empreitada, a de conseguir escrever os nomes dos colegas de classe e personagens da
narrativa que ele havia criado. Propus então um trabalho em parceria com as crianças
que se dispuseram a ajudá-lo, Os colegas escreviam o que ele falava, mas mesmo
assim ele não se interessava em pegar no lápis, entretanto, a sua habilidade com a
criação narrativa e com a arte da liderança foi marcante. Entendo que Roberto já
fazendo-me crer que me identificava com alguém que pudesse dar forma àquela
experiência partilhada. Fiquei impressionada com sua competência linguística; ele tinha
o contexto narrativo, as cenas, as sequências, o desenvolvimento e desfecho na ponta
da língua.
“O Rei e a Rainha estão se casando. O Rei falo: “- Eu vou convidar todos que são
bonzinhos e maus”. E ele disse também: - Quem se comportar melhor fará parte
do nosso Reino como também pode escolher o que quiser”. Todos podem
escolher o castelo. Eu não vou deixar ninguém passar fome nesse lindo reino.
Cada um vai ganhar um mordomo. O Rei colocou novos pedreiros para trabalhar.
O Rei e a Rainha se casaram. O Rei falou: “_ Vamos dançar todos. Chegou a
hora de dançar.” Aí alguém interrompeu a festa que era o Zumbi e a Bruxa
amada de todo o reino. A Bruxa era chefe do Zumbi. O Zumbi começou atacar as
carnes humanas e começaram a comer sangue. Vendo aquilo tudo o Rei pegou
seu cajado mágico e apontou no Zumbi que desmaiou e todos desmaiaram,
depois todos acordaram quando o Rei soltou um poder enorme que mandou a
bruxa pela janela. ( Relato do Roberto 19/10/13)
Foi a partir daquele relato que fomos dando seguimento aquela experiência
narrativa: uma prancheta com rascunhos dos textos, as primeiras ideias, foi se
tornando um ponto de referência para a socialização do escritoconstruindo a narrativa.
Depois do relato criou-se uma estratégia de levar os escritos para as aulas em cima de
uma prancheta para socializar com as crianças as nossas produções.
Cada momento de leitura escrita e reescrita do texto havia transformação. A
narrativa inicial do Roberto não era mais a mesma. Depois foi a fase das cenas: as
crianças ficavam muito felizes, eles pulavam de alegria. Roberto reluzia, aquele
comportamento de se esconder pelos cantos da sala e de escorregar para debaixo da
mesa não mais se repetia. Abraçado aos colegas muitas vezes confabulava novas
cenas. Grandes ideias foram surgindo: Aninha sugeriu que ao invés do rei e da rainha
colocarem alianças, deveriam colocar coroas. Ela deu opinião sobre os figurinos,
convencendo a amiga Tayná a participar e arrumar o véu da noiva rainha. Roberto
elogiou Nadilene, dizendo que o “vestido azul” que usava combinava com a blusa
amarela. Ali estava mais um detalhe, mais um arranjo, mais uma fala sugerida pelas
crianças. Falas que eu ia anotava, e aos poucos me apropriava delas para imprimir no
texto as marcas da imaginação e da poética das crianças. Dois textos simultâneos
foram se configurando: um era a história propriamente dita, o outro, roteiro do filme.
Nele haveria dois quadros, sugeridos pelo Yuri, secretário escolar, onde organizaríamos
os lugares e as temporalidades das cenas especificando elementos cênico (roupas,
alegorias e ações), como também as falas dos atores. Uma vez por semana fazíamos
os ensaios. A pranchetacom o texto escrito acompanhava os movimentos, o que não
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
325
Referências
BERTALOT, Leonor. Criança Querida. O dia a dia da alfabetização. São Paulo, editora
Antroposófica.
EXUPÉRY, Antoine de Saint. O Pequeno Príncipe. Lima. Peru: Los Livros Más Pequenos del
Mundo. 2011
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
327
Apresentação
Caracterização da Escola
Fundamentação teórica
Ainda refletindo sobre o que se espera dos cursos de formação inicial, Pimenta
(2002) escreve:
Descrição da experiência
para a ida das crianças à universidade para que elas pudessem conhecer o trabalho de
gravação de áudio e também para gravarem as músicas que compõem o filme.
Percorrendo este caminho, tivemos contato com inúmeras situações sejam de
dificuldade como também de satisfação e emoção ao ver o filme finalizado. Poder ver
nas crianças a alegria de se verem atuando, é muito gratificante.
Como desdobramentos da produção deste último trabalho estão sendo
confeccionados dois livros: um que apresenta a narrativa do filme, e outro maior, que
inclui o menor e traz também a trajetória da construção do filme.
No momento, nossas atividades estão voltadas para a realização de
intervenções pontuais, orientadas tanto pela coordenadora do projeto na universidade
quanto pela supervisora na escola. Essas atividades são dirigidas especialmente aos
alunos que ainda apresentam dificuldades com a leitura e a escrita. Para isso, as
bolsistas responsáveis atuam diretamente com os alunos em horário de aula, porém,
em um ambiente externo à sala que eles estudam.
histórias para serem filmadas, já que essa foi narrada por ele para que professores e
amigos copiassem.
Considerações finais
Referências
Liliana Mendes*
Raissa Macedo
Apresentação
Caracterização da Escola
O trabalho em relato foi realizado no ano de 2012 com alunos das três turmas
do terceiro ano do C. A. João XXIII, uma escola pública federal, vinculada à
Universidade, onde estudam alunos de todas as regiões da cidade e de todos os
grupos socioeconômicos. Na escola, a organização do currículo por disciplinas tem
início já no segundo ano do ensino fundamental, de forma que os alunos convivem,
*
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de fora, Professora do Colégio de
Aplicação João XXIII,[email protected].
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Juiz de fora, estudante do curso de
Especialização no Ensino Fundamental pelo Colégio de Aplicação João XXIII,
[email protected].
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
335
desde muito cedo, com professores de áreas diferentes. O referido trabalho foi
desenvolvido a partir de um projeto apresentado pelas professoras de Língua
Portuguesa do ano escolar citado, atendendo aproximadamente 90 alunos, na faixa
etária dos 8-9 anos.
Fundamentação teórica
Descrição da experiência
O caminho por nós assumido nesse trabalho foi, então, partir de um tema
gerador, cujo acesso se dava pela leitura de um texto detonador. A abordagem do texto
detonador era feita por uma sequencia didática que permitia aos alunos fazer reflexões
não somente sobre o tema em estudo – o conteúdo - mas também sobre suas
características – a forma. Assim, para cada sequencia didática correspondiam
atividades de leitura, nas quais eram incluídas as atividades de compreensão do texto,
exploração do léxico, dos conhecimentos linguísticos. Tais atividades também incluíam
a oralidade. Partindo do trabalho com esse texto, o tema era trazido à tona e abordado
pela leitura e produção de vários outros textos de diferentes gêneros, em torno dos
quais, por sua vez, também se organizavam sequencias didáticas que colocavam em
foco aspectos textuais além do próprio tema. Nesse trajeto, as crianças leram e
escreveram textos diversos, com a intenção de buscar informações, tecer reflexões,
expor opiniões e construir interpretações sobre o tema dado.
É importante ressaltar que a escolha do texto detonador ocorria em razão de
uma situação determinada pelas demandas reais de sala de aula, que tanto podiam ser
impostas por alguma situação vivida pelas crianças como por uma necessidade imposta
pelo próprio currículo: o início do ano letivo, por exemplo, foi o estopim para um
trabalho sobre a identidade das crianças; as relações em sala de aula impuseram a
reflexão em torno das condutas dos alunos na escola; a introdução ao uso do dicionário
foi feita a partir de uma discussão sobre a variabilidade do sentido das palavras nos
provérbios e expressões de duplo sentido. Uma vez identificada a demanda, essa se
convertia num grande eixo temático dentro do qual os temas correlatos eram
abordados e interligados pelas atividades propostas nas sequencias didáticas, de forma
que um tema podia puxar outro tema através da relação de um texto com o outro. Em
alguns momentos, até mesmo a abordagem de conhecimentos linguísticos em torno de
um texto geravam a leitura de outros textos e, por consequência, o surgimento de
outros temas. Assim, a rede intertextual foi se constituindo no decorrer do trabalho
mesmo, e por isso estava sempre inacabada ou indefinida, embora alguma previsão e
planejamento pudessem ser feitos, muito mais no sentido de organizar as rotinas na
sala de aula do que engessar o processo de aprendizagem dos alunos.
Também não houve, ao longo do processo, uma predefinição do gênero a ser
estudado em função de uma temática. Ao contrário, vários gêneros foram lidos e
produzidos pelos alunos, em torno de um tema, de forma que as experiências de leitura
e de escrita consistiram em formas diferentes de reflexão sobre um dado assunto.
Assim, grande parte dos gêneros textuais previstos no programa de ensino de Língua
Portuguesa para o terceiro ano do ensino fundamental foi abordada mais de uma vez,
em mais de um projeto temático. Além disso, outros suportes entraram e transitaram
naturalmente nas salas de aulas. Além do livro didático, os alunos trabalharam com
livros de literatura, sites na Internet, gibis, obras de arte e outros.
Um esquema em anexo busca retratar graficamente a rede intertextual formada
ao longo do trabalho.
Considerações finais
Referência
BAKHTIN, Mikail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2000, p. 277-326.
Anexo
Apresentação
Atualmente muitos estudos acadêmicos têm sido feitos para analisar o uso de
diferentes gêneros textuais no ensino da Língua Portuguesa, concebendo a linguagem
como um processo de interação dialógica tendo a escrita como um desses
instrumentos e, assim, devendo ser utilizada em sua função social.
Ao desenvolver o trabalho com os gêneros textuais, o professor abre ao aluno a
possibilidade de interação entre os interlocutores, e, para isso, precisa conceber a
linguagem em seu sentido amplo e dinâmico, entendendo que o ensino da língua
materna não se restringe em ensinar as palavras, mas trabalhar textos que circulem
em situações reais de comunicação, reafirmando as ideias de Marcuschi (2003, p. 35)
ao expor que “o trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de
se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia a dia [...]”.
Apoiando-se nessa mesma concepção de ensino da língua, a Olimpíada de
Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro (OLP)1 através do material “Coleção da
Olimpíada”, para estimular a vivência de uma metodologia através dos gêneros
textuais, trabalha com a sequência didática, organizada em oficinas planejadas, com o
objetivo de contribuir com a melhoria do ensino da leitura e escrita nas escolas
públicas brasileiras.
O objetivo deste trabalho é justamente apresentar uma sequência de atividades
relacionadas à produção do gênero memórias, todas desenvolvidas em sala de aula,
tendo como pano de fundo a Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP), de 2012, com
duas turmas de 7º ano do Ensino Fundamental.
As atividades procuraram atender ao modelo de desenvolvimento de produção
textual baseado nas concepções de Schneuwly e Dolz (2004), que ressaltam a
importância de se criar contextos de produção que possibilitam o ensino da oralidade
e da escrita, atividades múltiplas que permitirão aos alunos se apropriarem do gênero
Doutoranda em Educação na Universidade Católica de Petrópolis - UCP; Graduada em Letras
pela UFJF; Professora da Escola Municipal Vereador Marcos Freesz e da Escola Estadual
Sebastião Patrus de Souza; E-mail: [email protected]
1
http://escrevendo.cenpec.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30&Itemid
=55
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
343
estudado, numa abordagem que procura interligar o ensino da língua e sua aplicação
em produções de texto dos alunos.
Também é relevante ressaltar que o ensino da língua através dos gêneros de
texto está em consonância com os PCNLP (1998) e com a nova proposta curricular de
Língua Portuguesa da Secretaria de Educação de Juiz de Fora – SE/JF.
Durante a realização das atividades, os alunos tiveram a oportunidade de estar
em contato com outros gêneros de texto, entre eles a entrevista, além da audição de
diversos textos ou trechos de textos de memórias, de renomados autores como
Bartolomeu Campos Queirós, Fernando Sabino, Manoel de Barros e Zélia Gatai.
Esse trabalho mostrou que organizar o ensino da língua utilizando a sequência
didática leva o professor a perceber o que seus alunos conhecem do gênero estudado,
quais aspectos precisam ainda ser explorados e/ou desenvolvidos, até a etapa da
produção final, na qual os alunos se mostram mais seguros quanto ao gênero
trabalhado.
Fundamentação teórica
cultura. Assim lembramos Freire (2003), que nos inspira a uma prática com dimensão
social, opondo-se à educação ‘bancária’, tão comum ainda em algumas práticas
pedagógicas.
Mas o trabalho com os diferentes gêneros textuais na escola é longo e implica
em uma transformação, nem que seja mínima, do gênero que está sendo estudado,
de forma a alcançar os objetivos traçados; é preciso entender essa transformação,
pois “o gênero trabalhado na escola é sempre uma variação do gênero de referência,
construída numa dinâmica de ensino-aprendizagem” (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004, p.
80-81).
Sendo assim, é necessário criar contextos de produção textual que levem os
alunos a se apropriarem de certas competências discursivas e composicionais próprias
do gênero. Para isso, Schneuwly, Dolz e Noverraz (2004, p. 98) sugerem o uso da
sequência didática (SD)2, que se estrutura inicialmente pela apresentação da situação,
descrevendo aos alunos a tarefa a ser realizada. O esquema3 de SD apresentada pelos
autores sugere a realização de vários módulos nos quais serão observadas as
dificuldades dos alunos, sejam elas de natureza estrutural ou de linguagem, de modo
a instrumentalizá-los a construírem progressivamente os conhecimentos sobre o
gênero estudado.
Rojo (2000, p.37) impõe uma maior relevância na elaboração das SDs, pois as
considera constituintes de um valioso material para se trabalhar com os alunos, mais
aprofundado que as unidades que são trazidas nos livros didáticos.
Nesse sentido, podemos considerar as sequências didáticas um caminho
metodológico consonante com a nova proposta de ensino da língua portuguesa,
despertando no aluno uma aprendizagem em espiral, conforme determinado nos
documentos curriculares oficiais.
Descrição da experiência
Antes de iniciar a sequencia didática (SD), foi proposto aos alunos trabalharem
com um texto que pudesse levá-los a participar de um concurso de âmbito nacional,
assim eles se mostraram bastante motivados. Esse foi considerado o ponto de partida
para que o aprendizado acontecesse de forma mais prazerosa, até mesmo para as
atividades de reescrita, as quais os alunos sempre mostram uma certa resistência.
2
Conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um
gênero textual oral ou escrito
3
Referencia do livro
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
346
diversas perguntas que não foram previamente pensadas, mas que surgiam de acordo
com o relato. Duas alunas anotavam tais perguntas, as quais chamamos de perguntas
espontâneas, e, após a saída da professora, essas perguntas foram lidas para os
alunos; o objetivo dessa atividade foi levá-los a compreender como elaborar as
questões aos seus respectivos entrevistados.
A produção inicial do gênero memórias aconteceu na 4ª oficina e foi baseado na
entrevista que os alunos fizeram na etapa anterior; eles elaboraram seus textos em
1ª pessoa, transformando as respostas em relatos de memórias; como era previsto,
essa primeira produção não contemplou de forma satisfatória o conhecimento sobre o
gênero em questão, principalmente devido ao grau de dificuldade no processo de
retextualização – conceito utilizado neste trabalho seguindo as concepções de
Marcuschi (2004).
A partir daí, seguiram-se os módulos, os quais serviram de observação sobre os
conhecimentos adquiridos por cada aluno e aqueles que ainda estavam em processo
de construção; as atividades propostas objetivavam contemplar o gênero em questão,
como identificação do efeito de sentido devido à pontuação, marcas linguísticas de
progressão textual e marcadores temporais, entre outras, de forma a atender as
necessidades de cada turma. Um recorte dessas atividades trata da adjetivação, pois
é através desse recurso linguístico que os textos começam a ganhar tom de memórias
literárias, com a função de trabalhar com a imaginação do leitor.
Considerações finais
4
Exemplos da produção inicial e da produção final participante do gênero memórias da
Olimpíada de Língua Portuguesa de 2012 encontram-se no Anexo deste trabalho.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
349
Referências
______. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2004.
______. Os gêneros escolares – das práticas de linguagem aos objetos de ensino. In:
SCHNEUWLY, B. e DOLZ, J. (colaboradores). Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas-SP: Mercado de Letras, 2004.
Anexo
3ª etapa do trabalho: entrevista feita a uma pessoa mais velha sobre suas lembranças de
infância e juventude.
Contando histórias
Apresentação
*
Educadora da Creche Comunitária Leila de Melo Fávero da Rede Municipal de Juiz de Fora e
graduanda do curso de Pedagogia da UFJF. [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
354
Fundamentação teórica
1
Todos os nomes de crianças citados no relato são fictícios para preservar suas identidades.
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
355
para elas, pelo contrário, elas ficavam na expectativa aguardando por esses
momentos e depois de algum tempo, já antecipavam a hora da contação. Após o
lanche, antes mesmo do sino tocar, elas se sentavam no local de costume, as vezes,
bastavam me ver com o livro ou outro recurso na mão, mais ou menos no horário que
ocorriam a contação, que corriam para se sentar.Uma outra vez, depois de alguns
dias ausente, entrei no berçário após o lanche da tarde e o Felipe correu ao meu
encontro e disse:- “Titia! História.”
A atitude do Felipe assim como a das outras crianças, demonstra de certa
forma, que as “Rodas de Histórias” tinham se tornado um momento significativo.
Algumas vezes, repetia a contação porque alguns choravam querendo mais ou porque
ficavam entusiasmados com os olhinhos grudados em mim. Outras vezes, as crianças
se desinteressavam logo da história. Percebi que esse desinteresse acontecia quando
eu não conseguia passar a emoção da história, o que confirma a importância do
contador se preparar, se apropriar da história para envolver os pequenos.
A apreciação de livros também era um momento muito importante para as
crianças. Alguns mordiam e rasgavam o material, outros já demonstravam preferência
por um determinado livro. Quando a história era contada com este suporte, elas
ficavam ansiosas para pegar o livro em suas mãos. O interesse do Felipe me chamava
atenção. Um dia ele chegou à creche com um livro. Sua mãe relatou que em casa ele
não parava de pedir história e que ela tinha comprado o livro para incentivá-lo. Outra
vez, ele me pediu um livro e foi se sentar no tatame. Nesse momento,algumas
crianças se aproximarame então lhe sugeri que contasse a história para os colegas.
Ele começou nomear as imagens do livro, ensaiando uma contação.
Luvas de História
sugeri que pintasse uma almofada para contar história para as crianças e ela aceitou.
Surgiu a ideia de pintar a história da “Arca de Noé”. Preparei o material necessário,
entreguei a ela e depois de alguns dias a almofada ficou pronta. Ela sugeriu que seu
esposo contasse a história porque, segundo ela, ele tinha mais jeito. Então o senhor
Pedro foi até à creche e contou a história para as crianças.
Numa outra oportunidade, convidei a Laura - 12 anos (irmã da Viviane) para
participar da oficina de música tocando flauta para as crianças. Para nossa surpresa,
ela e sua amiga Tamires (ambas com 12 anos), pediram para contar uma história
para as crianças. Nessa ocasião, elas contaram a história “Animais na Fazenda”.
A participação da Mônica (mãe da Thatiana) e da Jussara (mãe do
Arthur)também foram muito especiais. Mônica contou a história “O Patinho Feio”
utilizando uma luva para narrar a história e Jussara narrou a história “Chapeuzinho
Vermelho” utilizando o mesmo recurso.
No caderno de registro que acompanhava a “maleta viajante”, pedíamos aos
familiares que registrassem como tinha sido a experiência de contar histórias para os
filhos. Porém, mais importante do que as palavras registradas no caderno era vê-los
comentando a reação das crianças em levar a maleta para casa e ouvi-los dizer que
estavam muito felizes com o trabalho que estávamos realizando.
Mesmo os familiares que não deixaram seu registro no caderno, demonstravam
muita satisfação com o projeto. Desse modo, percebo que quando os educadores
envolvem os familiares em seus projetos educativos, além de se sentirem valorizados,
os pais compreendem melhor o trabalho educativo realizado pela instituição e passam
a valorizá-lo ainda mais.
Considerações finais
Referências
Mesa-redonda
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
362
⃰
Marlene Carvalho
O contexto
1
Este artigo foi elaborado a partir de uma comunicação apresentada pela autora no evento II
Colóquio de Letramento, Linguagem e Ensino, na UFJF, em junho de 2013. Atualizei o texto,
acrescentando dados gerados em julho e agosto do mesmo ano.
⃰
Doutora em Ciências da Educação pela Université de l'Etat a Liege, Bélgica, professora
aposentada da UFRJ e da UCP – Petrópolis. [email protected]
Revista Práticas de Linguagem - v. 4, n. 1 – ESPECIAL (jan. 2014)
363
salas pequenas, mal ventiladas, com carteiras em mau estado, impróprias para
adultos. No grande pátio interno, um único banheiro feminino, com duas privadas,
uma das quais fora de uso, estava disponível. Considerando que as participantes da
formação permaneciam na escola das 8 às 17h, tendo saído de seus municípios
distantes com uma ou duas horas de antecedência, é fácil imaginar o grau de
desconforto que enfrentamos durante cinco dias, porém mais grave é a situação de
professores e alunos que enfrentam essas condições cotidianamente, ano após ano.
Embora nossa presença causasse transtornos, a diretora acolheu-nos com boa
vontade e explicou-nos que aceitou a designação de sua escola como cenário do Pacto
porque esperava que a formação acontecesse durante as férias escolares. Tal não
ocorreu, e o início da formação, em cinco de fevereiro, ocorreu justamente no
primeiro dia de aulas no município. Assim sendo, para destinar três salas para nós, foi
preciso suspender as aulas de três turmas do Curso Normal durante uma semana.
Ironicamente, os futuros professores, alunos do Curso normal da cidade, estavam
sendo prejudicados por um programa que visava a formação continuada de
alfabetizadores.
Não havia notícia de pagamento das bolsas. O MEC alegava a não aprovação do
orçamento do governo federal para explicar a falta de recursos para cobrir as
despesas de transporte,hotel e refeições para supervisoras e formadoras,café e
lanches para 110 pessoas, material de consumo, etc. O MEC solicitou à coordenadora
da UFRJ a elaboração de umnovo PTA no valor aproximado de dois milhões de reais
para cobrir as despesas de março a dezembro, o qualfoi elaborado
rapidamente.Sabia-se, no entanto, que a liberação dos recursos ainda iria demorar.
Diante dessas dificuldades, em 27 de fevereiro realizou-se uma reunião para
discutir como realizar a próxima formação, denominada Seminário I. A coordenadora
Elaine Constant pediu aos secretários de educação presentes, ou seus representantes,
que contribuíssem para a realização do Seminário I com recursos das respectivas
secretarias. Cabo Frio responsabilizou-se por oferecer salas de aula (numa instituição
particular, a Faculdade FERLAGOS) e equipamento(computadores e Datashow),
Quissamã ofereceu transporte para as formadoras (Petrópolis-Cabo Frio) e Armação
de Búzios, hospedagem; Rio das Ostras disponibilizou 4000 cópias Xerox e Arraial do
Cabo, almoço para as formadoras. O café e os lanches ficaram divididos entre Cabo
Frio, Silva Jardim, São Pedro da Aldeia e Iguaba.
A formação foi realizada em Cabo Frio, de 3 a 5 de abril. Tivemos condições materiais
adequadas e começamos a formação ouvindo as representantes dos municípios que
nos deram um relato do que estava acontecendo com o PACTO em cada local.
De modo geral, os relatos foram positivos, até mesmo entusiasmados, dando
conta das estratégias utilizadas pelas OEs para resolveram os principais problemas:
afalta dos cadernos de textos e as dificuldades de oferecer a formação fora do horário
de trabalho das alfabetizadoras.
No mês de abril, continuamos em compasso de espera: espera das bolsas, dos
cadernos de formação e da regularização da plataforma denominada SISPACTO, que
continuava a embaralhar os nomes das orientadoras e das formadoras, que apareciam
em turmas erradas, às vezes em regiões que não aquelas a que realmente
pertenciam. O sistema não permite correções por parte dos usuários e não dispõe de
um canal direto para diálogo dos usuários com o MEC.
Um agravante: ficamos sabendo que o MEC começaria o pagamento das bolsas
somente a partir de abril, quando na realidade as coordenadoras, supervisoras e
formadoras estavam trabalhando para o PACTO desde dezembro de 2012, no caso da
minha equipe, ou desde novembro, em outros casos. Isso gerou uma tremenda
insatisfação do grupo, que decidiu suspender as atividades por tempo indeterminado e
O PACTO tem sido proveitoso e muitas já mudaram sua maneira de pensar a alfabetização.”
Ana Rosa, OE de Rio das Ostras.
Até o momento, as alfabetizadoras que fazem comigo a formação consideram que o PACTO
tem auxiliado na sua prática e principalmente os acervos que têm recebido são úteis em sala
de aula (jogos, livros, dicionários).
Amarilys, OE de Silva Jardim.
“As professoras alfabetizadoras estão bem empolgadas com o PACTO. Muitas relatam que
estão melhorando suas práticas em sala deaula através das trocas que realizamos nos
encontros e com os debates relacionados aos textos lidos. Os exercícios propostos estão
servindo para um momento de reflexão da prática e de enriquecimento profissional.”
Verônica,OE de Maricá
1. O gigantismo da proposta
deveriam receber atenção especial. Minha hipótese é que quanto mais pobre a
localidade, maior o risco de adaptações perversas.
Conclusão
Há muito que pesquisar sobre o programa que está em processo: faltam ainda,
na Região dos Lagos, as formações previstas para setembro e outubro, além dos
Abstract
This article discusses implementation of the Pact for Literacy at the Right Age (Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa, PNAIC)in coastal Rio de Janeiro State, from February to
June 2013. The persistence of federal government engagement in continuing development of
literacy educators is welcomed; that is, the PNAIC is continuing the work of the PROFA and
Pro-Letramento, programmes of the Fernando Henrique Cardoso and Lula governments. The
PNAIC has been well received by the coastal municipalities, although the educators and
supervisors involved do face a number of operational difficulties. Most problematical are the
mega-scale of the proposal, the overly brief training stages, failures in the supporting online
system (SISPACTO), inefficient communication channels, and concealment of the political and
social issues raised by the problem of illiteracy. In conclusion, research questions are
suggested with a view to understanding better the Pact’spossible effects in schools.