Boletim Epidemiologico SVSA 18 2023
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Boleti
Epidemiológico
m
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Volume 54 | 19 dez. 2023
Aspectos epidemiológicos do
ofidismo no Brasil em 2022
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INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Mundialmente, os acidentes ofídicos afetam por volta de 5,4 milhões de pessoas.
Destes, entre 1,8 e 2,7 milhões adoecem, e aproximadamente
1 Introdução
81.410 a 137.880 pessoas evoluem a óbito. Tais acidentes também podem deixar
2 Métodos sequelas por deficiência física e psicológica, e segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), as picadas de cobra acarretam cerca de três vezes mais amputações e
3 Resultados e discussão
outras deficiências permanentes anualmente.1
9 Considerações finais
Para tanto, esta estratégia foi desenvolvida com o fim de atender aos seguintes
pilares: aumentar a acessibilidade aos soros antivenenos; garantir tratamento
soroterápico com ênfase na segurança do paciente, na qualidade e na eficácia;
fortalecer os serviços de saúde; capacitar os profissionais de saúde; mobilizar e
sensibilizar a sociedade e integrar parceiros para viabilizar recursos financeiros
(compartilhamento de transferência de tecnologias entre os laboratórios produtores
Ministério da Saúde para produção desses antivenenos).7
Secretaria de Vigilância em Saúde e
Ambiente
SRTVN Quadra 702, Via W5 – Lote D, Edifício
Acidente ofídico é o quadro clínico decorrente da mordedura de serpentes. No
PO700, 7º andar Brasil é comum chamar as serpentes de “cobras”, no entanto este nome é mais
CEP: 70.719-040 – Brasília/DF E- corretamente utilizado para se referir às serpentes da família Elapidae,
mail: [email protected] Site:
www.saude.gov.br/svsa
representada pelas cobras corais verdadeiras. Algumas espécies de serpentes
produzem uma peçonha em suas glândulas veneníferas
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TABELA 1 Número absoluto e proporção de acidentes ofídicos e óbitos e coeficientes de incidência e letalidade segundo
a região e a UF de ocorrência – Brasil, 2022
Casos Óbitos
Coeficiente de incidência
2022
Taxa de letalidade
N % N (acidentes/100 mil hab.) (%)
%
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conclusão
Casos Óbitos
Coeficiente de incidência
2022 Taxa de letalidade
N % N (acidentes/100 mil hab.) (%)
%
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A B
C D
FIGURA 1 Distribuição espacial dos acidentes ofídicos segundo o tipo de serpente, por Município, Brasil, 2022. A. Número de
acidentes botrópicos. B. Número de acidentes crotálicos. C. Número de acidentes laquéticos elapídicos. D. Número de acidentes elapídicos
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10.000 1,20%
9.000
0,98% 1,00%
8.000
6.000
5.000 0,60%
Casos
0,45%
4.000 0,39%
0,36% Letalidade (%)
0,40%
3.000 0,27%
0,21%
2.000
0,20%
1.000
0 0,00%
0 1 1 3 3 6 6 12 12 24 24
Tempo acidente/atendimento (horas)
FIGURA 2 Relação entre número de acidentes, tempo entre acidente e atendimento e taxa de letalidade – Brasil, 2022
(N = 29.543)
Destaca-se a relevância da variável tempo nesses acidentes, TABELA 2 Distribuição dos acidentes e dos óbitos por ofidismo
pois quanto maior a demora para o atendimento adequado, e taxa de letalidade segundo o tipo de ofidismo – Brasil,
maior a probabilidade de complicações locais e sistêmicas.24 2022
dentição altamente especializada – com os ossos maxilares Elapídico 339 1,15 0 0,00 0,00
bastante modificados, reduzidos, servindo como apoio a um Laquético 291 0,99 2 2,13 0,69
único par de presas bastante alongadas e extremamente Outras
2.163 7,32 2 2,13 0,09
móveis –, glândulas de veneno bastante desenvolvidas e de serpentes
grande porte – contribuindo para um aparato venenífero Ignorada 3.857 13,06 9 9,57 0,23
eficiente e com grande capacidade inoculadora – e a Total 29.543 100,00 94 100,00 0,32
ampla distribuição geográfica podem explicar a maior
Fonte: Sinan. Dados atualizados até 17/11/2023 e sujeitos a alterações.
quantidade desse tipo de acidente.6
Os homens (76,43%) que se autodeclaram pardos (62,32%), entre
As serpentes com maiores taxas de letalidade foram as 40 e 49 anos (16,27%) e moradores da zona rural (76,72%)
surucucus-pico-de-jaca (0,69%) (Tabela 2) e as cascavéis caracterizam o perfil mais representativo de vítimas de
(0,60%) (Tabela 2). Em 2022 não foi registrado óbito por ofidismo (Tabela 3). Segundo dados da Pesquisa Nacional por
coral-verdadeira. Acidentes botrópicos, laquéticos e Amostra de Domicílio, em 2015 havia uma predominância de
crotálicos possuem como complicação do envenenamento a homens em atividades agrícolas: 70,76% dos trabalhadores da
injúria renal aguda.5 Entretanto, há uma diferença na agricultura eram homens(14). Mesmo em menor número
incidência de IRA, dependendo da espécie causadora, sendo absoluto, mulheres tiveram mais chance (OR: 1,58) de evoluir
entre 12 e 29% nos acidentes crotálicos, e entre 1,6 e 13% nos a óbito quando comparadas aos homens. Quanto à declaração
acidentes botrópicos.11 Este dado pode ser uma das explicações de raça/cor, nota-se que indígenas apresentaram a maior taxa
para a diferença de taxa de letalidade entre esses acidentes. de letalidade (0,68%), com 2,74 vezes de chance de evoluírem
a óbito em relação às pessoas que se autodeclararam pretas.
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TABELA 3 Distribuição dos acidentes e dos óbitos por ofidismo, taxa de letalidade e Odds Ratio segundo variáveis
selecionadas – Brasil, 2022
Casos Óbitos
Taxa de
Dados demográficos Odds Ratio (IC 95%)
n % n letalidade (%)
%
Sexo
Masculino 22.579 76,43 63 67,02 0,28 Ref.
Feminino 6.958 23,55 31 32,98 0,45 1,58 (1,02-2,41) p < 0,05
Ignorado 6 0,02 0 0,00 - -
Raça/cor
Branca 5.397 18,27 17 18,09 0,31 1,29 (0,48-3,51) p = 0,41
Preta 2.187 7,40 5 5,32 0,23 Ref.
Amarela 267 0,90 1 1,06 0,37 1,54 (0,18-13,27) p = 0,52
Parda 18.410 62,32 57 60,64 0,31 1,21 (0,48-3,02) p = 0,45
Indígena 1.462 4,95 10 10,64 0,68 2,74 (0,93-8,03) p = 0,05
Ignorado 1.820 6,16 4 4,26 - -
Faixa etária
Até 9 anos 1.998 6,76 8 8,51 0,40 3,39 (1,02-11,30) p < 0,05
10 a 19 anos 4.263 14,43 9 9,57 0,21 1,71 (0,48-6,05) p = 0,30
20 a 29 anos 4.703 15,92 5 5,32 0,11 1,25 (0,34-4,68) p = 0,50
30 a 39 anos 4.794 16,23 6 6,38 0,13 Ref.
40 a 49 anos 4.807 16,27 13 13,83 0,27 3,00 (0,97-9,31) p < 0,05
50 a 59 anos 4.075 13,79 14 14,89 0,34 2,69 (0,83-8,73) p = 0,08
60 a 64 anos 1.618 5,48 11 11,70 0,68 7,57 (2,33-24,63) p < 0,05
65 anos ou mais 2.595 8,78 27 28,72 1,04 10,62 (3,69-30,55) p < 0,05
Ignorado 690 2,34 1 1,06 - -
Zona de ocorrência
Urbana 5.644 19,10% 16 17,02% 0,28 Ref.
Rural 22.664 76,72% 76 80,85% 0,34 1,27 (0,73-2,21)
Periurbana 355 1,20% 0 0,00% 0,00 -
Ignorado 880 2,98% 2 2,13% - -
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34,26%
18,79%
1,52%
0,69% 43,94%
32,12% 29,34%
1,35% 39,39%
15,57%
40,92%
23,01% 21,32% 54,69%
0,47%
19,09%
3,81% 7,27%
4,10% 3,27%
1,73% 0,91% 1,27% 1,17%
Fonte: Sinan/MS.
FIGURA 3 Percentual de acidentes por local da picada e por tipo de serpente – Brasil, 2022 (N = 29.543)
Região
Nordeste
Região Sul
Número de casos
800
600
200
0
Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Ou.t Nov. Dez.
Mês do acidente
Fonte: Sinan/MS.
FIGURA 4 Acidentes ofídicos notificados no Sinan segundo o mês e a região de ocorrência – Brasil, 2022 (N = 29.543)
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ISSN 9352-7864
Equipe editorial
Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças
de Transmissão Vetorial/Departamento de Doenças
Transmissíveis – CGZV/DEDT
Etna de Jesus Leal, Flávio Santos Dourado, Francisco Edilson Ferreira
de Lima Júnior, Lúcia Regina Montebello Pereira, Patrícia Miyuki
Ohara.
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