Biosseguridade

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Apostila de Biosseguridade

Geraldo Sérgio Senra Carneiro Barbosa


BIOSSEGURIDADE
DEFINIÇÃO

Biosseguridade é um conceito geral e refere-se à saúde animal. Biossegurança refere-se


exclusivamente a assuntos de saúde humana. A Biosseguridade é um termo técnico que
estabelece um conjunto de práticas de manejo e normas de segurança para seres vivos por
intermédio da proteção contra organismos vivos responsáveis pelos riscos de enfermidade aguda
e/ou crônica em uma determinada população

INTRODUÇÃO

A biosseguridade na agropecuária se tornou uma tecnologia absolutamente primordial e


essencial para a sobrevivência das explorações tecnificadas. O acentuado crescimento e
modernização mundial da agropecuária nas últimas duas décadas tornaram clara e evidente a
necessidade de uma maior e mais detalhada atenção à saúde dos plantéis. O grande aumento no
tamanho dos sistemas de produção trouxe paralelamente um aumento na densidade animal em
determinadas áreas geográficas, aumentando a pressão de infecção. Além disso, a intensificação
do comércio de animais de uma região para outra, criou uma situação ideal para a multiplicação
e disseminação de vários patógenos (principalmente vírus e bactérias) e a ocorrência de surtos
de enfermidades que acarretam elevados prejuízos econômicos. Em geral, as doenças podem
afetar um sistema ou um rebanho por via direta ou indireta. No caso da via direta, podemos citar
como principal meio a entrada de animais doentes ou mesmo portadores sadios. Pela via
indireta, pode-se mencionar o ar e o pó como principais meios. A maneira mais efetiva de
manter rebanhos comerciais livres ou controlados em relação a agentes de enfermidades de
impacto econômico e evitar efeitos negativos à produtividade e/ou saúde pública (zoonoses) é
através da utilização de programas de biosseguridade, que deverão contemplar todos os aspectos
gerais da medicina veterinária preventiva, bem como conter aspectos exclusivos direcionados a
cada sistema de produção em particular.

FORMAS DE TRANSMISSÃO DE AGENTES MICROBIANOS

1 - Aerossóis
Quando os microorganismos são eliminados dos animais na forma de partículas suspensas em
aerossóis, como geralmente acontece com as infecções respiratórias, a capacidade de transporte
está em geral limitada a distância inferiores a 50 metros para bactérias, e estudos de campo
sugerem que muitas vezes esta distância é menor que 5 metros. Pelo contrário, alguns vírus
pequenos foram transportados pelo vento a vários quilômetros. Por exemplo, o vírus da febre
aftosa demonstrou ser capaz de ser disseminado através do vento por 20 km e sobre a água por
300 km. Nas infecções com transmissão aerógena, as defesas são representadas principalmente
pela localização e distância entre as fazendas. Em verões muito quentes e secos, a probabilidade
de difusão por meio de aerossóis entre as fazendas é baixa, pela existência de dessecação das
partículas de aerossóis e morte dos agentes infecciosos. Já no inverno, principalmente quando
existe umidade alta (chuva, neblina) e redução da radiação ultra-violeta (dias nublados, durante
a noite), a transmissão é facilitada. A transmissão por aerossóis é de difícil documentação
devido às inúmeras variáveis envolvidas.

2 - Água
A água de bebida consumida pelos animais representa fator significativo na disseminação de
doenças parasitárias e infecciosas. Muitos organismos patogênicos podem ser transferidos pela
água, como Salmonella sp., Vibrio cholerae, Escherichia (E.) coli, Leptospira sp, Clostridium e
Erysipelothrix . A água pode também veicular protozoários patogênicos e cistos e/ou ovos de
helmintos. Se a temperatura e a concentração de materiais orgânicos forem adequadas, as
bactérias podem se multiplicar na água. A umidade é um fator importante no ciclo de vida de
muitos parasitas. O risco de contaminação da água é grande, principalmente as águas
superficiais, que podem ser contaminadas de forma direta (pelo contato com animais) ou
indireta (pelo fluxo de água proveniente de locais onde os animais são alojados). A presença de
coliformes fecais na água serve como indicativo de contaminação por material fecal e a
concentração deste indicador permite informações sobre a extensão de contaminação. A
desinfecção por cloração é uma medida indicada para todos os suprimentos de água de beber
que se encontram contaminados por coliformes fecais. A água pode também veicular agentes
tóxicos. Ela favorece o desenvolvimento de fungos produtores de micotoxinas, quando em
contato com as rações. Além disso, a água dos reservatórios pode causar intoxicações por
ingestão de algas ou contaminantes como metais pesados, sais e venenos (inseticidas,
herbicidas).

3 - Aves
Algumas doenças que podem ser transmitidas pelas aves são: tuberculose aviária, gastrenterite
transmissível, e erisipela. Outras enfermidades descritas são a criptosporidiose e
paratuberculose. As aves entram nos cochos de alimentação em busca de alimento e os
patógenos presentes em suas patas e fezes podem contaminar os alimentos e solo.

4 - Baratas
A barata é uma praga que tem uma longa associação com homem e o seu ambiente. Esses
insetos têm grande impacto na saúde humana, transmitindo mecanicamente uma variedade de
agentes como bactérias (Salmonella, E. coli, Clostridium, Campylobacter, Pseudomonas e
Streptococcus), fungos (Aspergillus) e helmintos.

5 - Moscas e mosquitos
Moscas e mosquitos podem atuar como vetores de vírus, bactérias, protozoários e fungos. Em
sua rotina na granja a mosca alterna a presença preferencialmente entre esterqueiras, canaletas
de dejetos e rações. Por via mecânica, podem transmitir infecções bacterianas por cepas
patogênicas de E. coli, Brachyspira spp., Salmonella spp. e Streptococcus spp. Quando animais
apresentam mastite, um grande número de moscas pode ser atraído para o úbere e superfícies da
pele e difundir a infecção, podendo originar surtos graves da doença. Quando se estabelece uma
grande população de moscas, pode haver desconforto e estresse dos animais, comprometendo a
produção. As moscas hematófagas representam importante papel nesse fato.

6 - Rações
O alimento pode ser uma fonte efetiva de contaminação de rebanhos suínos com patógenos
como Salmonela sp., Bacillus anthracis, Clostridium sp., Escherichia coli e fungos produtores
de micotoxinas. As contaminações podem causar prejuízo ao conteúdo nutricional das rações
e/ou matérias e também aumentar os custos de fabricação. O grau de contaminação de
determinada partida de ração pode ser influenciado pelo pó, umidade, temperatura e tempo de
estocagem. A umidade do ambiente favorece o crescimento bacteriano, assim as matérias-
primas deveriam ser estocadas com concentração de umidade que não permita a multiplicação
bacteriana ou fúngica.

7 - Roedores
Roedores domésticos (ratos e camundongos) representam problemas importantes à produção de
suínos, por causarem perdas que incluem danos à estrutura das instalações e sistema de
abastecimento de água, consumo da ração, geração de problemas de palatabilidade da ração (por
contaminação com urina ou fezes) e contaminação microbiana dos animaise do meio ambiente.
Os roedores são incriminados na transmissão de pelo menos 32 doenças ao homem e animais.
Agentes patogênicos como Bordetella bronchiseptica, E. coli, Leptospira, Rotavirus,
Salmonella spp., T. gondii, Lawsonia intracellularis e B. hyodysenteriae já foram detectados em
ratos e camundongos.
8 - Outros animais domésticos e selvagens na transmissão de patógenos
Embora na maioria das vezes as evidências sejam indiretas, atribui-se aos animais domésticos
importância na transmissão natural de agentes, ou mesmo de animais selvagens para os animais
domésticos. Por exemplo, têm-se como certo que a Febre Aftosa é veiculada de forma direta ou
indireta de bovinos infectados a suínos e, da mesma forma, já se comprovou o papel de javalis
na transmissão da Peste Suína Clássica e Peste Suína Africana. Gatos são conhecidos como
importantes disseminadores de tuberculose entre bovinos. Considerando a possibilidade do
papel relevante de outras espécies na infecção de rebanhos, deve-se evitar a promiscuidade da
criação de várias espécies animais juntas. Além disso, a aquisição de animais da mesma espécie
pode ser considerada um risco para a introdução de novas doenças.

9- Equipamentos
Equipamentos contaminados, como seringas, agulhas, materiais cirúrgicos podem ser
considerados importantes fontes de contaminação entre um animal e outro, quando são
utilizados sem desinfecção.

10 – Veículos
Veículos e pessoas constituem um risco potencial para as granjas, uma vez que podem estar
contaminados e transmitir agentes patogênicos.

11 – Pessoas
O vírus da Febre Aftosa foi isolado de humanos até 28 h após o contato com suínos infectados.
Outras bactérias como a Salmonella e o Mycobacterim sp podem também ser transmitidas pelo
homem.

DEFINIÇÃO DE RISCOS

É necessário que seja feita análise e definição dos riscos e desafios aos quais o sistema de
produção em questão está sujeito, antes da elaboração e implantação de qualquer programa de
Biosseguridade. Duas das mais importantes ferramentas que propiciam o sucesso de um programa
de biosseguridade é a metodologia HACCP (do inglês: Hazard Analysis and Critical Control
Points; Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) e o GMP (do inglês: Good Management
Pratctices; Boas Práticas de Manejo). O HACCP é uma metodologia científica de processos que
visam identificar e minimizar riscos microbiológicos, químicos ou físicos associados com a
fabricação e operações de serviços da área de alimentação. Já o GMP é a metodologia utilizada na
descrição de procedimentos e práticas que visam prevenir a introdução de patógenos que possam
afetar a saúde dos animais e/ou causar problemas de saúde pública. Ambas as metodologias,
HACCP e GMP, aplicadas à produção, devem ser atentamente estudadas por todos aqueles
envolvidos na elaboração, implantação e manutenção de um programa de biosseguridade.
Saúde animal sempre foi, é, e sempre será uma das principais, senão a principal barreira não tarifária
para embargo de nossas exportações ao resto do mundo. Assim, Biosseguridade é o certificado
básico para a qualidade de nossos produtos, tanto para o cada vez mais exigente consumidor intemo
quanto para o mercado externo de exportação. Para implementar medidas de biossegurança num
determinado ambiente, a tomada de decisões deve fundamentar-se em três conceitos básicos:
• reconhecimento dos riscos;
• avaliação dos riscos;
• controle dos riscos.
COMPONENTES DE UM PROGRAMA DE BIOSSEGURANÇA

1. Assegurar o controle do perímetro


É preciso ter o controle sobre os limites territoriais da propriedade a fim de evitar mistura de
animais, contaminações e introdução de patógenos, limitando ou controlando de forma mais
efetiva o acesso de veículos, animais e pessoas. Embora seja uma tarefa mais difícil para
sistemas de produção a pasto conduzidos sob grandes áreas, assegurar o bom controle do
perímetro, identificar e dimensionar as rotas de acesso reduzem significativamente a
probabilidade de exposição aos agentes causadores de doenças

2. Adicionar animais de origem conhecida


A escolha e a aquisição de novos animais é um fator de grande importância na prevenção de
doenças. O novo animal pode ser portador de inúmeras doenças, sem contudo apresentar sinais
de enfermidades, se o mesmo estiver no período de incubação ou ainda a doença estar latente ou
em uma manifestação subclínica. Recomenda-se a aquisição de animais oriundos de granjas
certificadas, avaliando ainda o histórico de mercado e a postura da empresa frente a incidentes.

3. Quarentena e adaptação

Quarentena é o isolamento e observação concomitante dos animais numa instalação separada


(isolada), antes da introdução no rebanho destino. O objetivo é o de proteger o rebanho
comprador contra a introdução de novos agentes infecciosos que possam causar doenças com
impacto e significação econômica. A adaptação ou aclimatação tem por objetivo tornar
equivalente o status sanitário dos animais recém-adquiridos e os presentes no plantel de destino,
visando garantir que os animais introduzidos venham a desenvolver todo o seu potencial
produtivo e reprodutivo, sem alterar o status microbiológico do plantel de destino. O ideal é que
todos os animais adquiridos devam ser isolados do rebanho receptor antes da incorporação
efetiva, sendo manejados separadamente por um período de 15 a 30 dias e, durante esse tempo,
os mesmos devem ser revacinados para otimizar o desempenho e minimizar a possibilidade de
doença após a mistura com o rebanho receptor. Exames laboratoriais para algumas doenças de
relevância podem ser efetivos durante esse período de quarentena.

4. Isolar os animais doentes


Qualquer animal doente ou que apresente sinais clínicos deve ser isolado do restante do
rebanho, sendo examinado, manipulado e tratado com equipamentos e instrumentos adequados
que, por sua vez, devem ser limpos e desinfetados após cada uso. O diagnóstico deve ser
confirmado por exames laboratoriais e necropsia.

5. Assegurar o manejo dos piquetes-maternidade


A origem de algumas doenças neonatais pode ser atribuída ao uso repetitivo das áreas de
nascimento ou piquetes-maternidade. As áreas ou baias de maternidade devem ser limpas
regularmente e usadas de forma rotativa, mantendo-se as áreas de amamentação separadas das
áreas de maternidade, de forma a minimizar a exposição a patógenos.

6. Praticar o manejo de dejetos


A produção de dejetos em sistemas a pasto não é tão problemática quanto em confinamento. As
dejeções devem ser removidas frequentemente e utilizadas para compostagem ou produção de
húmus de minhoca, ou ainda, serem diluídas e espalhadas como adubo nos piquetes e em áreas
de produção de volumosos. Resíduos de alimentos devem ser removidos e encaminhados para
compostagem ou espalhados no campo, mas nunca serem reprocessados com outros alimentos
para fornecimento aos animais.
7. Destino dos animais mortos
Carcaças de animais mortos por doenças infecciosas, em geral, apresentam títulos altos dos
agentes causadores da morte, com significativo risco de difusão e possibilidade de
contaminação humana durante a sua movimentação e eliminação. Para proteger a saúde dos
animais e do pessoal da granja, evitar a poluição ambiental, prevenir problemas com o mau
cheiro, proliferação de moscas e a contaminação de populações urbanas em áreas próximas às
criações, tornam-se necessários processos adequados de eliminação desses detritos orgânicos.
Os métodos tradicionais de eliminação de carcaças de animais incluem fossas anaeróbias,
incineração e enterramento. Cada um desses métodos mostra vantagens e desvantagens. Nas
fossas anaeróbias o resultado da decomposição das carcaças é um líquido, que não consegue
penetrar no solo adjacente às fossas, pois a ação bacteriana rapidamente obstrui as áreas de
infiltração. Assim, os líquidos se acumulam sem se infiltrar, comprometendo a capacidade das
fossas anaeróbias em receber mais carcaças. Geram também muito cheiro. A incineração
elimina todos agentes patogênicos, mas possui altos custos operacionais e contribui para a
poluição do ar. O enterramento de carcaças é o método mais comum. É feito em valas, nem
sempre livres de inundações, o que dificulta o uso em épocas de chuva. Adicionalmente, valas
são susceptíveis ao ataque de animais escavadores e roedores que descobrem as carcaças,
expondo-as ao ambiente, onde podem ficar acessíveis a outros necrófagos, como os urubus.

8. Materiais e equipamentos
Não é aconselhável compartilhar material entre setores da fazenda, para diminuir a transmissão
de agentes. Agulhas e seringas devem ser lavadas após o uso e guardadas ao abrigo da poeira.
As agulhas devem ser fervidas por 10 minutos e guardadas em álcool em recipiente com tampa.
Nas vacinações, evitar o uso da mesma agulha em vários animais. Todo e qualquer material a
ser introduzido na fazenda deve ser limpo e desinfetado e sempre que for possível, utilizar o
fumigador. A fumigação é utilizada para desinfecção de materiais que não podem ser lavados e
desinfetados com soluções desinfetantes. Os produtos normalmente utilizados no processo de
fumigação são o permanganato de potássio associado com o formol. A fonte de calor para
vaporização do formol é a própria reação química que ocorre com a mistura desses produtos. O
tempo de fumigação deve ser em torno de 20 minutos e o fumigador deve ser limpo todos os
dias.

9. Controle de roedores e insetos


Deve-se verificar permanentemente a presença ou vestígios de roedores, conhecer o grau de
infestação e as espécies predominantes para tomar as medidas adequadas para o controle.

INFESTAÇÃO BAIXA: Poucos sinais, algumas fezes, poucas tocas e ausência de trilhas ou
manchas de gordura.
INFESTAÇÃO MÉDIA: Presença de fezes em certa quantidade, predominando aquelas com
aspecto velho (secas e endurecidas), materiais roídos, eventualmente presença de ratos à noite,
nenhum rato visto de dia.
INFESTAÇÃO ALTA: Fezes frescas em grande quantidade, rastros, manchas de gordura,
trilhas, visualização de ratos de dia e à noite.

10. Vacinação
Um programa de vacinação deve ser implantado após análise criteriosa da região geográfica em
que está localizada a granja e os aspectos epidemiológicos das doenças em questão. É a primeira
medida de ação na proteção de animais de produção. Existe no mercado uma ampla variedade
de vacinas, o que reforça a necessidade de se desenvolver protocolos específicos e
personalizados para cada propriedade, a partir de uma análise minuciosa do sistema de
produção, programa nutricional, condição dos animais, tipo de atividade (cria, recria e/ou
engorda), histórico sanitário, problemas sanitários atuais, riscos potenciais e exames
laboratoriais.
11 - Monitoramento do estado de saúde do rebanho
As monitorias sanitárias são formas de constatar, qualificar e quantificar o estado sanitário de
populações de animais em relação a determinadas doenças ou infecções. São métodos que
avaliam situações através do tempo e, quando são constatados desvios, devem ser implantadas
ações corretivas. Podem ser dirigidas aos animais, ao ambiente e aos insumos que são utilizados
no sistema de produção. Um programa de biosseguridade efetivo deve contemplar um programa
de monitoramento sorológico e microbiológico do rebanho para a presença de algumas
enfermidades. A necrópsia de todos os animais que vêm a óbito é um mecanismo essencial para
se estabelecer um programa de vigilância a fim de identificar quaisquer mudanças no padrão
sanitário atual, assim como confirmar as doenças ou condições ocorrentes em um rebanho ou
população.

12 - Transporte de animais
Todo e qualquer veículo usado para transporte de animais, equipamentos e produtos de origem
animal, rações e dejetos devem ser considerados fatores de alto risco para a disseminação de
doenças. O transporte de animais de uma região para outra é uma forma importante de
disseminação de doenças. O trânsito de caminhões transportando animais ou alimentos deve ser
realizado preferencialmente nas primeiras horas da manhã. Eles devem ser lavados e
desinfetados sempre que terminar o descarregamento dos animais, em locais especificamente
selecionados e preparados para tal.

13. Funcionários
Todos os funcionários devem ter conhecimento e consciência do programa de biossegurança e
contra o que os animais estão sendo protegidos. Planos escritos para cada aspecto de
biosseguridade e treinamentos de rotina devem ser providos para cada funcionário. Um
delineamento claro das ações a serem executadas em cada etapa do processo ajuda a assegurar a
continuidade e que nenhum passo será ignorado. A adesão à política do programa é
especialmente importante nos estágios de processamento, tais como, parição, programas de
saúde, limpeza e desinfecção, manejo de dejetos e manutenção de registros. Assegurar que a
equipe de funcionários compreendeu plenamente a importância da visualização regular e
freqüente dos partos, da movimentação oportuna às áreas de maternidade, e do adequado
manejo dos neonatos, é o passo mais importante para a produção de animais livres de doenças
ao longo de todo o processo de produção. O treinamento apropriado na administração de
vacinas e medicamentos é uma das mais importantes medidas para garantir a contínua saúde dos
animais e o fornecimento de um produto seguro e saudável para o consumidor.

14. Visitantes e vendedores


Pessoas podem ser um risco potencial para a introdução de doenças, de forma que o
conhecimento e o registro de todos os indivíduos presentes na propriedade deve ser mantido,
procurando-se limitar o número de veículos e de ajudantes ou visitantes externos, assim como
conhecer a origem dos mesmos.

15. Identificação animal –


A identificação animal permanece como uma prática comum para os produtores de animais
pecuários. Entretanto, com a crescente demanda do consumidor por alimentos seguros e
saudáveis, e com o desejo de um segmento do setor produtivo em fornecer ao mercado produtos
de maior valor agregado, a identificação animal individual e permanente tem emergido
vagarosamente na forma da rastreabilidade. Para a biosseguridade, esse tipo de identificação
facilita a verificação (registros) e o monitoramento (epidemiologia) de surtos de doença.

16. Registros –
Em um programa de biosseguridade, o registro de todos os programas e procedimentos é
necessário, uma vez que é crucial verificar: os programas de treinamento; a fonte, qualidade e
disposição de todos os produtos (animais, alimentos, forragens, equipamentos e materiais);
produtos e procedimentos médicos e de vacinação; e o movimento de pessoas e equipamentos.
No caso de uma incursão de doença, um programa de biosseguridade que demonstre registros
completos de todos os parâmetros operacionais estará em vantagem para o controle e
erradicação da doença, bem como para a liberação da propriedade e/ou remuneração pelas
perdas.

17. Higiene dos alimentos


Os alimentos podem ser fonte de transmissão de doenças, por isso é importante verificar sua
identidade, pureza e seu valor nutricional. A estocagem deve ser monitorada rigorosamente. A
higiene dos locais de alimentação deve ser observada diariamente.

18. Água
A água precisa ser abundante, limpa, fresca e isenta de patógenos. Deve ser monitorada e, se
necessário, tratada. A cloração é feita pela adição de 1 a 3 ppm de cloro na água de bebida.

19. Limpeza
Em uma propriedade pecuária, as áreas de manejo dos animais, tais como currais, troncos e
bretes, são fontes de contaminação geralmente ignoradas. Devido a sua localização externa e
muitas vezes isolada, essas instalações não são limpas regularmente após o uso. As áreas com
acúmulo de sujidades devem ser raspadas até o chão, pois, embora a luz solar, o tempo e a
secagem sejam bons inativadores de muitos patógenos, para que esses elementos naturais sejam
efetivos é necessário minimizar ao máximo a quantidade de matéria orgânica (dejetos, poeira,
sangue, etc.). O mesmo ocorre para a atividade dos desinfetantes. Todas as superfícies e áreas
de trabalho devem ser completamente lavadas e desinfetadas após cada uso, especialmente entre
lotes de animais. As estruturas de armazenamento de alimentos e de água (silos, galpões,
bebedouros e reservatórios) são importantes fontes de patógenos, e devem ser limpos
regularmente, eliminando-se sujidades, resíduos ou sobras. O equipamento de transporte e de
processamento de alimentos (carroças, carretas, misturadores, vagões, etc.) deve ser limpo e
desinfetado periodicamente.

20. Desinfecção
É a destruição de microrganismos sobre superfícies inanimadas, porém, para que os
desinfetantes sejam efetivos, os mesmos requerem uma variável amplitude de tempo para
interagir com o agente infeccioso em questão para inativá-lo. Todo desinfetante apresenta
redução em sua eficácia na presença de matéria orgânica, portanto, há a necessidade de limpeza
prévia antes que o processo de desinfecção seja executado. Dependendo do agente e do
ambiente ao seu redor, a quantidade de tempo necessária para inativar agentes infecciosos varia
desde uns poucos 5 minutos a até mais do que 30 minutos, considerando também o tipo de
desinfetante e de sua concentração em solução. A seleção de um desinfetante deverá ser baseada
no tipo de ação desejada (eliminação de bactérias, vírus, protozoários, etc.), no nível de irritação
causada (segurança para as pessoas e para os animais), impacto no ambiente, impacto nos
equipamentos utilizados (corrosivos) e no custo. Muitos fatores podem afetar a eficiência de
umdesinfetante. Para isso, é importante observar os seguintes pontos:

- Tipo de microorganismo que deverá ser combatido (observe na Tabela 1 que existem
diferentes tipos de desinfetantes).
- Nível de contaminação (isto irá influenciar o tempo necessário para a desinfecção e a
quantidade necessária de produto).
- Quantidade de proteína presente no material (a proteína pode inativar alguns tipos de
desinfetantes)
- Ação na presença de matéria orgânica.
- Concentração do produto.
- Tempo de contato e temperatura.
Tabela 1. Observe abaixo algumas definições.

O Hipoclorito e o Iodo são os desinfetantes mais utilizados no dia-a-dia dos rebanhos leiteiros.
O Hipoclorito é capaz de eliminar vírus envelopados (ex: coronavírus, PI3, BVD) e não
envelopados (ex: papilomavírus, rotavírus). Tem ainda ação efetiva contra fungos e bactérias.
Os Hipocloritos corroem metais e destroem tecidos. A presença de matéria orgânica afeta
seriamente, chegando a inativar sua ação. Apresenta baixa ação residual e baixo custo.

O Iodo é um germicida de ampla ação (bactericida, viricida, fungicida, afetando até esporos). Os
Ionóforos podem ser formulados juntamente com sabões, resultando em produtos muito
utilizados para limpeza cirúrgica. A ação do Iodo é também seriamente afetada com a presença
de matéria orgânica. Podem ser utilizados em baixas concentrações para desinfetar objetos.
Apresentam baixo custo, no entanto requerem aplicações freqüentes para a manutenção de sua
ação.

A Clorexidina é um bom desinfetante, porém menos efetivo que o Iodo, Hipoclorito, Aldeídos,
entre outros. É um produto que provoca pouca irritação aos tecidos e possui uma moderada ação
na presença de matéria orgânica. O custo é baixo, mas necessita de aplicações freqüentes.

O Álcool é comumente utilizado como desinfetante tópico, mas não é efetivo contra esporos (de
bactérias e fungos) e vírus não envelopados. Possui limitada ação na presença de matéria
orgânica. O custo do álcool é mais alto, sendo limitante para usos gerais.

A Amônia Quaternária é um germicida de ampla ação, mas também não age sobre os esporos e
sobre os vírus não envelopados. Sua ação é afetada com a presença de matéria orgânica e
sabões. Por isso, a área onde a Amônia Quaternária será utilizada devera ser bem enxaguada.
Apresenta baixa toxidade, baixo custo e é um bom desinfetante para superfícies.

Os Aldeídos são também germicidas de ampla ação. Os glutaraldeídos são bactericidas,


viricidas, fungicidas, esporicidas e parasiticidas. São razoavelmente efetivos mesmo na presença
de matéria orgânica. O formoldeído é um germicida muito potente, porém é altamente tóxico,
devendo ser utilizado somente sob orientação e em ambientes ventilados.

Tabela 2. Características de alguns importantes desinfetantes.


Em última análise, os desinfetantes são freqüentemente utilizados na rotina de um rebanho
leiteiro. O uso vai desde a limpeza do material utilizado em partos difíceis, desinfecção do
umbigo, higiene do material utilizado após a vacinação, higiene da ordenha, produtos para o
pedilúvio, produtos para a desinfecção de caminhões que transportam animais a exposições, até
a desinfecção dos carros que entram na propriedade (este último exemplo, nos casos de surtos
de doenças infecciosas).

21.Plano de Contingência
Um plano de contingência refere-se a um conjunto de procedimentos e decisões de
emergência a serem tomadas no caso de ocorrência inesperada de um evento relacionado com o
programa de biosseguridade e/ou com a saúde animal de determinado sistema de produção. O
objetivo maior de um plano de contingência é prover um rápido esclarecimento (diagnóstico) e
uma rápida contenção e/ou solução para o problema de saúde do plantel em questão.
São os seguintes os componentes estruturais básicos de um plano de contingência:
- Objetivo: deverá ser colocado de uma forma a não deixar dúvidas;
- Quem e como: deve ser listado por nome e/ou cargo profissional na empresa, de uma
maneira bastante inequívoca, quem deverá realizar as ações e seus eventuais substitutos, quando
necessário;
- Resultados: obtenção dos resultados finais de operacionalização do plano de
contingência deve ser estimulados.
Já o conteúdo de cada um dos componentes do plano de contingência deverá possuir algumas
características obrigatórias, como: ser simples, ser objetivo e direcionado, e ser o mais detalhado
possível.

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