A Disciplina Na Igreja
A Disciplina Na Igreja
A Disciplina Na Igreja
A DISCIPLINA NA IGREJA
Brasília – DF
DANIEL LINS DE OLIVEIRA
A DISCIPLINA NA IGREJA
A DISCIPLINA NA IGREJA
A DISCIPLINA NA IGREJA
RESUM
O:
O presente artigo teve como propósito tratar da disciplina na igreja, tendo como pressuposto
básico, pesquisa bibliográfica qualitativa, abordando o tema disciplina na igreja, sobre
os seguintes aspectos: A fundamentação bíblica, os líderes e a disciplina eclesiástica, o
processo da disciplinar e o processo da restauração do disciplinando. Concluiu que a disciplina
como forma educativa não é opcional, mas um indicativo do Senhor Jesus Cristo.
INTRODUÇÃO
A Bíblia é o depositário fiel do que o Senhor Jesus disse sobre a disciplina na igreja.
São textos fundamentais para orientar o uso da disciplina bíblica, com resultados positivos na
comunhão da igreja. A disciplina começa com Deus sobre a liderança e ordena que se aplique
aos outros. Logo, a igreja que está sendo edificada pelo Senhor recebe a responsabilidade de
viabilizar a disciplina com competência técnica, humana e espiritual. Os textos de Hebreus
12.1-14 e Mateus 18.15-17 fundamentam o que está posto.
É encontrada no acervo bíblico, sob a orientação do Filho de Deus, a forma
contundente para se lidar com as discordâncias e dificuldades surgidas no âmbito da igreja.
Paulo nos dá os indicativos do trato dessa questão quando fala de alguém, que congregava na
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igreja de Corinto, cujo estilo de vida era adverso ao propósito do evangelho. (Cf. 1 Co 5.1-
11). Era uma questão de ética sexual e litígio. Um agravante era a apatia da igreja perante o
mal ali existente. Marshall afirma: “Paulo lembra aos coríntios que alguns pecados “óbvios”
são incompatíveis com a fé cristã e excluem as pessoas do reino de Deus”. (1 Co 6.9-
10). (MARSALL, 2007, p. 224).
Tolerar aquela situação desencadearia dois outros problemas: primeiro, a
influência negativa que persuadiria a outros pecarem também, o outro, a mácula que
tornaria a igreja pecadora. Como proceder diante de um homem assim, na igreja de Corinto?
Dever afirma: “Paulo mostrou que esse homem estava enganado” e que; “para ajudá-lo a
glorificar a Deus, era necessário mostra-lhe a falsidade de sua confissão de fé, a luz da
maneira como ele estava vivendo”. (DEVER, 2012, p. 192).
A disciplina bíblica tem duas faces que se completam. Geralmente, a igreja tem
a disciplina como um processo antagônico ao seu propósito, de agregar 2 pessoas. No entanto,
o Senhor Jesus ensina que a disciplina deve ser cumprida cabalmente; mas ensina, também,
que a disciplina se constitui na restauração de alguém que foi disciplinado. Todo o
processo de disciplina deve incluir a esperança, o ressurgir das cinzas, pois é assim que o
indivíduo se sente, nas cinzas. A disciplina deve fortalecer aquele relacionamento com o
Senhor Jesus, pois o objetivo é a salvação daquela alma abatida.
Paulo afirma em Gálatas 6.1: “Se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois
espirituais, deveis restaurar essa pessoa com espírito de humildade”. A obrigação de
curar aquele que cai é uma atribuição do coletivo, como expressão viva do amor de Deus,
como afirma Viola: “Amor é disposição para admoestar outros quando estes se encontram em
falta [...], mas quando se depara com os horrores do pecado não arrependido, pode ser
combativo e inflexível”. (VIOLA, 2009, p. 218). Com base na afirmação surgem três palavras:
admoestar, combativo e inflexível. Estas são condições necessárias para aplicar a disciplina,
como Portela bem afirma: “Se a disciplina tem o objetivo inicial de demarcar
claramente as linhas e de enfatizar a pureza da igreja, o seu objetivo final nunca pode ser
esquecido ou perdido de vista
– a restauração, a salvação do pecador restaurado” (PORTELA, 2001, p.61).
Noutro momento, Paulo chama atenção para outro problema na Igreja, em
Tessalônica. (2 Ts 3.6-15). Fato é que alguns crentes não queriam trabalhar. Por certo queriam
comer, beber e vestir. Se fosse hoje, seriam os pedidos mais diversos: dinheiro para
pagar
1
Agregar pessoas é resultado de um processo do ensino do Evangelho com todo o benefício de transformação
que o evangelho traz e do envolvimento afetivo dos crentes com a pessoa. Ela aprende pelo exemplo a ser serva
do Senhor Jesus.
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aluguel, comprar uma passagem para visitar um parente, comprar gás de cozinha,
pagar a energia, pagar a parcela do carro vencida e tudo isso, num tempo em que o
mercado de trabalho pede operários para todas as obras. A chateação daqueles irmãos é a
mesma nossa! O problema só mudou no tempo e no endereço.
Como tratar essa questão? Paulo orienta a esse grupo de ociosos: “trabalhando em paz,
consigam o próprio pão” (2 Ts 3.12). Noutro momento, ele se reporta à igreja
escrevendo: “não vos canseis de fazer o bem” (2 Ts 3.13). Diante do
explicitado, existe uma recomendação de que se afaste daquele irmão para não haver
estresse entre eles. Entretanto, “não o considereis inimigo”. A diferença no processo se
conclui na disciplina: “corrigi-o como irmão”. Se um irmão em Cristo pecar, vá até ele em
particular e repreenda-o, ou seja, exponha diante dele o pecado. Essa foi a orientação de Paulo.
Não é estranho que se encontre pessoas que “naufragaram na fé”. Paulo faz menção de
dois homens: Himeneu e Alexandre que rejeitaram as profecias e naufragaram na fé. O que
parece estranho é o que Paulo disse que fez na disciplina contra eles: “eu os entreguei
a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1Tm, 1.20). Faz sentido o peso e força dessa
expressão da disciplina, quando se aprecia que os dois homens influenciavam a comunidade
com falsos ensinamentos, blasfemavam e diziam injurias contra a doutrina de Cristo e
dos seus ministros. Seria uma situação conflituosa para a igreja 3 hoje, confinada de
timidez e suave nas decisões pertinentes à disciplina.
Um caso não muito raro é a condição de líderes na igreja estarem em pecado. O que a
Bíblia recomenda, vem de Paulo para o pastor Timóteo, orientando-lhe como tratar desse tipo
de questão. Ele afirma: “Não aceites acusação contra um presbítero, se não houver mais de
duas ou três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença
de todos, para que os outros também tenham temor” (1 Tm 5.19-20). Uma denúncia
(acusação) é coisa muito séria. O líder pode agir observando uma boa consciência para
não infringir no princípio da boa convivência. Portanto: nenhuma acusação deve ser aceita
precipitadamente, em relação a qualquer membro da igreja. Todo o mau feito deve
merecer atenção e ser averiguado, por pessoas idôneas. As igrejas batistas costumam levar
os assuntos pertinentes à disciplina para uma Comissão de Membros constituída para esse fim.
Os casos, geralmente, são tão delicados que na sua maioria precisam de reserva para
serem cuidados, até a conclusão da disciplina. Ocorrem que alguns faltosos ainda persistem
no erro. Aqui inicia uma situação polêmica e traumática, porque nenhuma pessoa, vivendo no
2
A igreja cristã tem sido acusada de ser o único exército que atira nos seus feridos. O grau de verdade dessa
acusação é, muitas vezes, devido a mal entendido com relação à disciplina eclesiástica. (Santos, 2001, p.28).
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erro, quer expor o seu nome publicamente 4. Mas a orientação bíblica é que devem ser
repreendidos e a congregação resolverá o que de se deve fazer com a pessoa em erro. Cabe aos
líderes, conduzir a igreja com imparcialidade mais absoluta.
O apóstolo Paulo escreveu ao pastor Tito sobre outro problema na igreja, relacionado
aos membros que estavam provocando acirradas discussões e divisões na igreja. Ele afirma:
Tem gente que gosta de controvérsias estúpidas e insensatas; gosta de discutir quem é
pai de quem; gosta de contendas, brigas, está inclinado a uma intensa discórdia; gente
que gosta de debater assuntos dos mais diversos, como afirma Paulo: “não têm utilidade” e
isso traz desgastes à unidade da igreja.
O verso 10 do texto afirma que a disciplina informativa que é a instrução. Essa pessoa
deve ser advertida, admoestada. Os pastores estão na obrigação de admoestar aos facciosos
apenas uma ou duas vezes e em seguida discipliná-los. Um pouco mais de tolerância, também
é visto na linguagem de Paulo, falando a Timóteo (2 Tm 2.25-26). De fato, o processo
da disciplina na igreja é tarefa árdua.
Sobre tudo, certifica-se que Deus cuidou de todo o processo e que nos instrui através
da Sua palavra, e em conformidade com ela, enquanto igreja precisa-se exercer a disciplina
nos mais variados casos. Tendo feito isso, entender que o processo não é do homem, mas de
Deus para auferir ao seu corpo a graça de viver uma vida santa.
3
Santos afirma: “é preciso lembrar que toda atitude pecaminosa precisa ser corrigida, mas há algumas
que
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requerem correção pública” (Mateus 18.16-17). (SANTOS, 2001, p.30).
11
Paulo escrevendo ao pastor Timóteo orientou: “saibas como se deve proceder na casa
de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade”. (1 Tm 3.15). A igreja é
coluna e fundamento da verdade. Coluna e esteio mantém o edifício firme. As colunas fazem o
edifico subir. Assim, a igreja é chamada para servir à verdade, mantendo-a firme, e
mantendo-a elevada para que as pessoas as vejam. Significa dizer que, a igreja possui padrões
doutrinários e uma confissão de fé que devem ser vividos e defendidos pelos membros
do corpo de Cristo.
Um fator contemporâneo vem mesclando o sentimento e o pensamento dessa pureza de
preservação dos padrões doutrinários e da confissão de fé no meio evangélico. As
influências midiáticas são fortes e pressionam o meio cristão para o aculturamento da
fé, reproduzindo novas formas de pensar e agir quanto ao modo de ser da igreja. Isso chega
ao contexto eclesiástico com boa aceitação e um dos pontos vulneráveis às mudanças exigidas
é a disciplina na igreja.
A disciplina é um procedimento que navega em torno das Escrituras, além disso, de
acordo com o que ela ensina e tem por base o interesse no membro que está sendo tratado. A
forma bíblica da disciplina leva em consideração o consenso e a opinião de muitos, quando
preserva o âmago da verdade bíblica a ser vista, e considera observar um ambiente favorável e
hospitaleiro para o tratamento da questão e seguir passo a passo o ensino bíblico reconhecido
para ministrar a disciplina na igreja.
Apesar de todo reconhecimento de como tratar a questão, a disciplina é algo em risco
de extinção na igreja. Os dias atuais com todas as suas influências perniciosas
encontram lugar no seio da igreja e toda e qualquer demanda que represente correção,
que exija mudanças de posturas e comportamentos, são mensagens não tão bem-vindas. O
sentimento, o pensamento e até mesmo a crença, é que a igreja perdeu a sua centralidade e
passou viver dependente dos indivíduos, sejam membros ou não da igreja, ainda
que eles não a representem como coluna e esteio da verdade.
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Há uma crise e os coadjuvantes eclesiais estão envolvidos nela. A igreja vem perdendo
a sua própria essência e os líderes a sua determinação de liderar o projeto de Deus. Existe uma
necessidade pessoal e institucional de que se receba aprovação do mundo e de pessoas
influentes. O líder e a igreja sentem a necessidade de serem aceitos. O ministério
diaconal sente a necessidade de receber a aprovação e aplauso dos seus liderados.
A disciplina em alta ameaça esses valores necessários. Por isso, passa-se a um período
dos cultos das personalidades, abrindo um leque de degradação dos valores para os quais a
igreja foi chamada a viver e mostrar.
A igreja acostumou-se a ouvir pessoas contestarem a mensagem bíblica, as decisões
por mantê-la projetando a fé no coração do homem contemporâneo; tonou-se passiva diante de
homens e mulheres carnais que se levantam em defesa dos seus laços sanguíneos e de
amizades que praticaram erros que precisam de disciplina. Alegam que a disciplina é falta de
amor. De fato, a disciplina quando não tem respaldo bíblico é justiceira e sem amor. Prática
de muitos impedirem a disciplina na igreja é idolatria, porque substitui Deus por alguma coisa
na vida de uma pessoa. Deus é zeloso e simplesmente não tolera essa prática.
Será que a disciplina tem vida curta? O texto de Paulo a Timóteo leva ao entendimento
que a igreja é chamada para servir à verdade, mantendo-a firme, e mantendo-a elevada para
que as pessoas as vejam. A igreja é um outdoor da Palavra de Deus. Em letras garrafais para
que todos que passam possam ler; nele estão palavras que ecoam para a vida eterna. Essas
palavras são proferidas e vividas por gente santa, separada e exclusiva para Deus. No entanto,
é assim mesmo que acontece?
Não resta dúvida que a igreja está vivendo um momento embaraçoso, porque os seus
membros e seus líderes, agora, são suspeitos de viverem fora dessa Palavra. Por que a rejeição
voraz à igreja? As pessoas que estão fora dela esperam um pouco mais do que a
igreja é. Espera transparência, firmeza em suas doutrinas, instrução, ensino e correção.
Porém, os que estão dentro da igreja confinados de medo e frio do que possa lhe fazer o
mundo, a carne e o Diabo não reagem, pelo contrário, se mantém alheios à fé, ignorantes e
indispostos a viverem a essência da Palavra de Deus.
É indispensável que a igreja pratique a disciplina. Ela está fundamentada não apenas
no exercício do bom senso, mas principalmente nos imperativos descritos no mandato bíblico
referente à disciplina, descritos pelo Senhor. A expressão disciplina traz a ideia de correção. E
é isso mesmo! A correção é fonte de esperança para os que aplicam e vida para aqueles que a
recebem corretamente (cf. Pv 19.18 e 4.13), não pense ser expressão de ira e hostilidade, mas
um exercício de uma ordem bíblica de amor do Pai pelos seus filhos.
14
4
Autoridade orgânica. É a autoridade que se enraíza na vida espiritual, (...) é autoridade comunicada.
Isto é, quando uma pessoa comunica a vida de Deus através de palavras ou ações, ela tem o apoio ou o
respaldo do próprio Senhor. (VIOLA, 2009, p. 212).
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sempre concilia disciplina com repreensão e sim disciplina com afago, sobre a alegação de que
o ofensor vai se consertar. Quando?
Aos líderes, se tem algo que os agrada é a mira da disciplina sobre a edificação dos
crentes. Paulo escreveu: “Pois não me envergonharei, embora, de alguma forma, eu me glorie
mais da autoridade que o Senhor nos concedeu para a edificação, e não para a vossa
destruição”. (1 Co 10.8). Não resta dúvida de que a disciplina corretiva é desgastante e bom
seria que investíssemos todo o tempo em edificação da igreja. Edificação foi o simbolismo
empregado por Paulo para dizer que o seu ministério era o da edificação.
Creio que uma igreja edificada diminui, sensivelmente, o número dos que são
ou precisar ser disciplinados dentro da igreja. Não foi por acaso que o Espírito Santo permitiu
Paulo dizer a Timóteo: “prega a palavra, inste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e
exorta com toda paciência e ensino” (2 Tm 4.2).
A liderança espiritual que tem a responsabilidade da pregação da Palavra e deve fazê-
la com conhecimento e autoridade. Essa liderança deve propor a si mesma, “no exercício de
sua tarefa; sem importar se estiver em vista a determinação ou proibição, o dispensar
ou tornar obrigatório, o soltar ou o ligar. Deveriam usar essa autoridade exclusivamente
conforme Jesus dela se utilizou, visando a salvação, e não a destruição de almas”.
(Adam Clarke, in loc). Observo que pastorear e exercer, fundamentalmente, o ministério não
é tão simples. As exigências são altas e por vezes difíceis de serem atendidas. MacArthur
afirma: “O pastoreio espiritual exige um homem íntegro, piedoso, dotado de muitas
habilidades. Ainda assim, ele deve manter a atitude e a postura humilde de um menino
pastor”. (MACARTHUR, 2012, p.15).
A disciplina mira preservar a decência e a ordem na igreja. “Mas tudo deve ser feito
com decência e ordem” (1 Co 14.40). Paulo orienta que se deve conduzir todo o processo com
decoro. O conflito em Corinto era crítico. As facções se manifestavam se receio ou pudor. O
apóstolo destaca que não poderia ser assim, mas tratar as coisas com dignidade, sob a
disciplina apropriada. Por vezes a igreja fica dividida por um problema que vai se refletir no
evangelismo, na comunhão, na música e outras áreas do ministério pastoral.
Cabe ao líder trazer a causa ao seu domínio, pela autoridade orgânica e oficial para
tratá-lo apropriadamente. Há concordância de pensamento entre os autores de que a disciplina
deve ser exercida pela liderança com o tempero do amor. (cf. 2 Co 2.6-8). Para Viola: “o amor
reconhece que somos chamados para representar uns para com os outros a vontade do Espírito
Santo, não para substituir sua pessoa ou tomar o lugar de seu trabalho”. (VIOLA,
2009, p.134). O amor em serviço identifica a igreja e o ser humano. Faz dela uma comunidade
cristã
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construída de pessoas que amam e cuidam uma das outras. Isso implica no trabalho de reuni-
las em uma família para Deus. A igreja foi enviada ao mundo com esse propósito.
A maneira como se vai operar a disciplina é parte essencial da estratégia da missão. A
essência dessa estratégia tem sido a igreja se identificar com o ser humano em seus
agrupamentos, até mesmo aqueles que se revelaram opositores e malfeitores à fé cristã,
e mesmo assim, devem ser cuidados e tratados. O amor é essa disposição para cuidar,
admoestar, repreender. É patético ver uma liderança tão rígida na disciplina e tão fraca
no amor. O contrário, também, é verdadeiro! É patético ver uma liderança exemplar no amor e
frágil na diligencia da disciplina, esquecendo-se de que Deus disciplina porque ama.
É mais fácil disciplinar do que amar. Fica evidente que disciplina desprovida de amor
pode ser um ato destrutivo e não construtivo. A igreja e sua liderança pode se constituir numa
sociedade fria, justa aos seus próprios olhos e sem o tempero do amor. Mas não é assim que
aprende de Cristo. Temos sido edificados por Ele para sermos um povo santo. No entanto, a
santidade anota Scofield, no roda pé: “não é ausência tão somente do pecado”. (Bíblia,
Scofield, 1987, p.1268). Então, o que mais indica a santidade do povo, da igreja e dos líderes
de Deus? Paulo responde em Gálatas 5.22-23: “é o amor, alegria, paz, paciência, benignidade,
bondade, fidelidade, amabilidade e domínio próprio”. O Espírito Santo forma
essas qualidades positivas na liderança e na igreja para aplicar a disciplina não na
carne, sem afeição natural, mas sob a unção e na instrução do Espírito de Deus.
A liderança bíblica usa dos meios e recursos dados por Deus para aplicar a disciplina
na igreja, que por sua vez, tem o direito democrático de opinar aceitando ou
rejeitando a disciplina a ela imposta. Uma questão: a ausência do conhecimento sobre a
santidade de Deus leva a igreja a admitir uma causa que estabelece uma situação agravante 6,
de risco moral e espiritual, no seio da igreja, visto tão somente pelo olhar da fé na Palavra de
Deus. Paulo dá orientação pelo Espírito Santo de como essa a restauração possa a ser
processada para com o membro culpado. Ele ensina sobre o amor, porque o amor pode
reformar, pode fortalecer, pode conquistar, pode restaurar, pode aceitar, pode perdoar
até mesmo além da disciplina mais severa e sem amor fraternal.
Em tese, se encontra na Bíblia respaldo para acreditar que a liderança deve abdicar da
disciplina eclesiástica. Um conceito errôneo sobre a disciplina é que o termo leva a pensar de
imediato, em alguém que foi excluído. Isso foi sedimentado ao longo do tempo, nas disputas
em sessões administrativas, de que o irmão fulano deveria ser disciplinado. Porém, a palavra
5
Os problemas de disciplina têm base na ausência do conhecimento bíblico ou de rebeldia velada. A
igreja precisa ser instruída sobre a compreensão bíblica correta do pecado.
17
disciplina significa que “uma pessoa está sendo formada com o caráter e mente do
seu mestre”. (SHED, 2010, p.13).
Como os membros da igreja serão formados? Pelo assoviar do vento? Por sonhos
e visões? Por profetadas? Não! Os servos do Senhor Jesus serão instruídos de acordo
com o caráter e a mente de Cristo pela Palavra lida e pregada. Quem tem essa atribuição?
Todos, além do pastor que militam na instrução e na educação da igreja. É um fenômeno: se a
Escola Bíblica dominical vai bem, se os exemplos de vida e lideranças vão bem, se os
ministérios da igreja edificam, se as mensagens proferidas são oriundas da Palavra e alcançam
o crente, não resta dúvida de que os resultados de vidas santas e consagradas a Deus farão a
diferença.
A liderança espiritual da igreja parte do princípio de que o pastor é voz do rebanho e
por ele deve passar todas as coisas. Não poderia ser diferente! O pastor, também, não pode se
esconder por receio e medo das lutas e assoleiros que surgem no ministério. Ele é chamado e
tem a vocação para tal. Por isso, ele pode se espelhar em Paulo quando inicia a maioria de
suas cartas declarando ser ele apóstolo pela vontade de Deus. Isso é um triunfo, porém, outra
realidade surge: o peso de saber que o ministério da Palavra é uma luta de vida ou
morte. Portanto, o pastor deve pensar certo e nas possibilidades certas para fazer exatamente o
que é certo à luz do olhar de Deus. O pastor foi chamado para salvar vidas. Veja o que afirma
John
Piper:
Eu costumava dizer que meu objetivo como pastor e mestre era glorificar a
Deus mediante a salvação dos pecadores e a edificação do corpo de Cristo –
ganhando os perdidos e edificando os santos. Mas a pretensão por trás do
meu objetivo estava equivocada. Achava que meu papel na salvação
das pessoas consistia apenas em pregar o evangelho aos perdidos e orar por
eles. Por isso, desde que estivessem convertidos e frequentassem uma
igreja, minha função como instrumento de Deus em sua salvação teria
terminado. Afinal, eu nada mais era que um agente divino em
determinada etapa da santificação e edificação dessas pessoas. Meu erro foi
pensar que somente a salvação dos perdidos dependia da minha pregação,
e não a salvação da igreja. (PIPER, 2009, p.121).
Quão assustadora foi essa conclusão! O Senhor Jesus Cristo ensinou que a justiça que permite
entrar no reino do céu não é a que provém das próprias forças. Tal justiça precisa ser produzida
no pastor por uma fonte divina, a Sua Palavra. O Senhor quer que os seus discípulos
entendam que a justiça que procede do alto é o trabalho de Deus em nós. E Ele
manda os que foram por Ele chamados e designados a ensinar7 o seu povo a viver na
Sua
8
A Bíblia ensina que arrepender-se é mudar de ideia com relação ao pecado; é abandonar a intenção e
o propósito de nos agradarmos a nós mesmos e tomar a deliberação de agradar somente a Deus. É do
arrependimento que procede toda a justiça e santidade. (REIDBEAD, 1992, p.26)
18
presença e experimentar a alegria de salvação incólume. A disciplina na igreja nos impõe essa
benigna responsabilidade.
Aprende-se com Paulo que toda lei estava compreendida na lei de amor o próximo. A
disciplina tem essa dimensão: O provérbio: “Não faça aos outros, o que você mesmo detesta”,
é um resumo da lei da boa convivência. Paulo ensinou sobre carregar as cargas uns dos outros
como cumprimento da lei de Cristo (Gl 6.2), a soma de tudo isso é que se pode inferir com
certa lógica que Paulo sabia como Cristo aplicou o mandamento: “Amarás o teu
próximo como a ti mesmo”. Além disso, a instrução de “levar as cargas uns dos
outros” parece ter origem nas seguintes palavras: “Se alguém for surpreendido nalguma
falta, vós, que sois espirituais, deveis restaurar essa pessoa com espírito de humildade” (Gl
6.1). Jesus afirmou também: “Se teu irmão pecar contra ti, vai a sós com ele e repreende-o; se
te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mt 18.15).
Quem ordena a disciplina na igreja também estabelece o padrão a ser seguido. Esse
padrão se fundamenta no que a Palavra de Deus ensina a respeito da questão. Embora
a disciplina seja um procedimento hostilizado, e isso tem fundamentalmente na adoção
do comportamento mundano na vida crente; a disciplina é sobre tudo, um exercício de amor
do pai pelo filho. Para (SANTOS 2001, p. 31): “amor e disciplina possuem conexão vital (Ap
3.19). Além do mais, disciplina envolve relacionamento de família como afirmou o escritor de
Hebreus:
É visando à disciplina que perseverais. Deus vos trata como filhos. Pois qual
é o filho a quem o pai não disciplina? Mas, se estais sem disciplina, da qual
todos se têm tornado participantes, então, não sois filhos, mas filhos
ilegítimos. Além disso, tínhamos nos pais humanos para nos disciplinar,
e nós os respeitávamos. Logo, não nos sujeitaremos muito ao Pai dos
espíritos, e assim viveremos? (HEBREUS 12.7-9, Séc. 21, p. 1235).
Dessa forma, quando os cristãos recebem disciplina divina, o Pai celestial está apenas
tratando-os como seus filhos.
A Bíblia é clara em apresentar a disciplina na igreja fundamentada não apenas no bom
senso, mas estruturada nos imperativos da Palavra de Deus, que excede ao
indiferentismo comumente visto perante pessoas que se encontram em falta. Por isso, o
objetivo da disciplina eclesiástica deve atender a algumas necessidades que promovam a
ressurreição do indivíduo
19
dentre os mortos. As necessidades emergentes são: (1) da instrução que desenvolve o caráter
do crente a alcançar a plena maturidade em Cristo. (cf. Gl 4.19). (2) de equipar o crente de
discernimento e vontade própria para tomar decisões amadurecidas como cristão. (cf. Ef 4.2).
(3) de capacitar o indivíduo para o desempenho do seu chamado na terra. (cf. Fp 2.25; I Tm
4.16). Como observado, os objetivos espirituais não podem ser alcançados com
recursos meramente humanos, Shedd afirma:
É verdade que nas passagens onde estas palavras são usadas, encontramos
“homens convencendo” pecadores, mas fica assentado que sentir a
necessidade de confessar pecado a Deus e mudar de pensamento no sentido
de arrependimento (metanoia) resulta da operação do Espírito
Santo. Persuadir cabe ao homem; quebrantar o coração, ao Espírito de
Deus. (SHEDD, 2010, p.29).
9
O processo da disciplina eclesiástica passa por pelo menos quatro estâncias. A primeira é a disciplina
preventiva exercida pela igreja, quando torna visível para os membros a instrução das doutrinas, treinando-os a
ter um eficaz desempenho cristão de comportamento, de serviço, de disciplina espiritual, moral e social na vida
diária, dentro e fora da igreja. A segunda é a disciplina corretiva exercida quando um membro erra causando
danos a si mesmo e a outros. A pessoa é corrigida e a disciplina deve ser isenta de vingança, de desejo de punir,
de retaliação, partidarismo e ciente de que o custo da recuperação pode ser de muita compaixão e paciência. A
terceira estância é a disciplina cirúrgica – exclusão. No caso de uma recuperação ser inviável, do
faltoso impenitente, a igreja tem o direito de considerá-lo excluído (cf. Tm 18.15-17). Por fim, um
procedimento estranho aos ensinos bíblico que é a carta compulsória, uma transferência não solicitada,
mas imposta pela igreja. Nesse caso o problema é transferido de endereço.
20
Segundo Daver (2007): “se quisermos ver nossas igrejas saudáveis, temos de
nos preocupar ativamente uns com os outros, até ao ponto de confrontação”. (DAVER, 2007,
p.
212).
A esperança floresce quando as pessoas começam a perceber que seus problemas são
basicamente espirituais: eles estão de certo modo, ligados ao pecado. De fato, reconhecer que
os problemas pessoais e interpessoais estão relacionados ao pecado constitui-se, em
boas novas, porque aí existe esperança. Por quê? Porque o motivo primário da vinda de Cristo
ao mundo foi nos livrar da penalidade e do poder governante do pecado.
Dessa perspectiva bíblica sobre esse problema chamado pecado surge
repleta esperança para as pessoas que lutam com padrões não bíblicos de pensamento,
desejo, sentimento e vida. Essa perspectiva é libertadora e encorajadora; ela é bíblica,
ela e verdadeira! Ela diz às pessoas que embora seus problemas pessoais e
interpessoais sejam sérios e intensos, existe esperança de mudança porque Jesus Cristo
veio ao mundo para fornecer libertação da condenação e da corrupção, da culpa e da
contaminação, da penalidade e do poder escravizador do pecado na vida delas.
A pessoa em disciplina precisa saber sobre o pecado. O que é de relevante
nessa questão? O pecado rouba o alvo da vida, desumaniza o coração, insensibiliza a alma,
adoece a mente, deflagra a maldade, deturpa a consciência e gera morte. O pecado
pode ser proativo porque tem origem no comportamento espontâneo, e pode ser reativo
que são reações não bíblicas às manifestações, expressões, ou resultados do pecado em
nosso mundo; não necessária nem primariamente ações pecaminosas, mas atitudes,
desejos, pensamentos, conceitos, e ideias não bíblicos. É imprescindível conscientizá-lo de
que deve “guardar com toda a diligência o coração, porque dele procedem as fontes da
vida” (Pv 4.23). A Bíblia
afirma:
Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode
ser tentado pelo mal, e ele a ninguém tenta. Cada um, porém, é
tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
Então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o
pecado, sendo consumado, gera a morte. Não vos enganeis, meus amados
irmãos. (TIAGO
1.13-16, Séc. 21, p. 1239).
22
Não necessariamente pecados deliberados ou atrevidos, mas também pecados de
ignorância e pecados secretos. Quem pode discernir os próprios erros? “Purifica-me tu
dos que me são ocultos”. Sem mencionar os pecados de presunção “guarda o teu servo, para
que se não assenhoreie de mim; então serei perfeito, e ficarei limpo de grande transgressão.
Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a
tua face, Senhor, Rocha minha e Redentor meu!” (Sl 19.12-14). “Ainda que
outrora eu era blasfemador, perseguidor, e injuriador; mas alcancei misericórdia,
porque o fiz por ignorância, na incredulidade” (1 Tim 1.13).
A disciplina deve ter uma visibilidade da ocorrência. O pecado pode ser definido como
qualquer pensamento, ação, reação, aquiescência, atitude, desejo que escraviza, motiva,
escolha, sentimento e hábito contumaz, o que é contrário à vontade moral de Deus revelada na
Bíblia, quer conhecida pela pessoa ou não, quer deliberada e conscientemente escolhida ou
cometida como um padrão habitual de resposta.
Paulo afirma achar nele essa lei, mesmo querendo fazer o bem, o mal estava
nele: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos
meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à
lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me
livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu
mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado” (Rm 7.21-
25). A graça que opera na disciplina vem do Senhor. Paulo escreveu:
Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe
das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de
desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos
desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e
éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. (EFÉSIOS 2.1-3.
Séc. 21, p. 1189).
7. NO PROCESSO DA RESTAURAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
fez presente e usar a disciplina para a prevenção do mal. Esse deve ser o caminho a seguir na
disciplina da igreja do Senhor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Bíblia Sagrada Almeida Século 21. Luiz Alberto T. Sayão. São Paulo, Vida Nova, 2008.
COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. São Paulo, Vida Nova, 2011.
DEVER, Mark. 9 Marcas de uma igreja saudável. São Paulo. Editora Fiel, 2007.
JR, John F. MacArthur. Introdução ao Aconselhamento Bíblico – um guia básico de
princípios e práticas de aconselhamento. São Paulo, Editora Hagnos, 2004.
PIPER, John. Irmãos, nós não somos profissionais. Um apelo aos pastores para ter um
ministério radical. Shedd publicações, São Paulo, 2009.
PRICE, Donald E. Conflitos e questões polêmicas na igreja. São Paulo, Vida Nova, 2001.
VIOLA, Frank. Reimaginando a Igreja – para quem busca mais do que simplesmente um
grupo religioso. Brasília – DF, Editora Palavra, 2009.