Interculturalidade e Decolonialidade Filosófica

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Universidade Licungo

Departamento de Letras e Humanidades

Licenciatura em Filosofia Social e Política

Wilson Abdul Rachide

Origem etimológica e significado de Política, Cidadania, Estado, Governo e Sociedade

Quelimane, 2023
Universidade Licungo

Departamento de Letras e Humanidades

Licenciatura em Filosofia Social e Política

Wilson Abdul Rachide

Origem etimológica e significado de Política, Cidadania, Estado, Governo e Sociedade

Trabalho Científico de carácter avaliativo a ser


apresentada ao Departamento de Letras e
Humanidades, a ser entregue a docente da cadeira
de Filosofia da Interculturalidade

Docente: Dr. Guido Paulino Muamuiro

Quelimane, 2023
Índice
1. Introdução..................................................................................................................3

1.1. Objectivos...........................................................................................................3

1.1.1. Geral............................................................................................................3

1.1.2. Específicos...................................................................................................3

2. Metodologia...............................................................................................................3

3. Interculturalidade e Decolonialidade filosófica.........................................................4

3.1. Interculturalidade filosófica................................................................................4

3.2. Decolonialidade filosófica..................................................................................8

4. Conclusão.................................................................................................................10

5. Referencia Bibliográfica..........................................................................................11
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1. Introdução

Este tema pretende explorar estes sentidos e múltiplos usos da interculturalidade,


para assim mostrar a diferença entre a interculturalidade a serviço do sistema dominante
e ela percebida como projecto político, social, epistémico e ético de transformação e
descolonialidade. Argumentarei que a interculturalidade em si, só terá significação,
impacto e valor quando esteja assumida de maneira crítica, como acção, projecto e
processo que procura intervir na refundação das estruturas e ordenação da sociedade que
racializa, inferioriza e des-humaniza, ou seja, na matriz ainda presente da colonialidade
do poder. A interculturalidade está presente nas políticas públicas e nas reformas
educativas e constitucionais, e é eixo importante tanto na esfera nacionalinstitucional
como no âmbito e cooperação inter/transnacional. Embora pode-se argumentar que esta
presença é efeito e resultado das lutas dos movimentos sociopolíticos-ancestrais e suas
demandas pelo reconhecimento, direitos e transformação social, também pode ser vista,
ao mesmo tempo, desde outra perspectiva: a que a liga aos desenhos globais do poder,
capital e mercado.
1.1.Objectivos
1.1.1. Geral
 Saber sobre a interculturalidade e decolonialidade filosófica.
1.1.2. Específicos
 Caracterizar a interculturalidade filosófica;
 Descrever a interculturalidade e decolonialidade filosófica.

2. Metodologia
Para a elaboração deste trabalho, usou-se o método de consulta bibliográfica,
consistiu na leitura de algumas obra que abordam sobre o tema em estudo. Portanto, as
obras citadas no desenvolvimento deste trabalho, constam nas referências bibliográficas.
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3. Interculturalidade e Decolonialidade filosófica

3.1. Interculturalidade filosófica


Segundo Nazareno e Magalhães (2019), Em sua implicação positiva, a filosofia
intercultural é o nome de uma convicção filosófica, de uma atitude e de um insight de
que nenhuma filosofia é a filosofia, nenhuma cultura é a cultura. Tal insight acompanha
todas as diferentes filosofias e culturas e as previne de se absolutizarem. A
interculturalidade da filosofia reside, portanto, em diferentes culturas, mas também
transcende seus estreitos limites.

Idem A filosofia intercultural é constituída por sua “não-contextualidade


contextualizada” [mais literalmente: dessituação situada, situated unsituatedness] ou
“contextualidade não-contextualizada” [mais literalmente: situação dessituada,
unsituated situatedness]. Em outras palavras, alega justamente diferentes adjetivos
como por exemplo europeu, indiano, chinês, africano, latino-americano e assim por
diante. É “situada” sempre quando e todas as vezes onde ela toma uma forma particular.
É “dessituada” pois não é completamente esgotada em nenhuma tradição filosófica ou
escola de filosofia.

Para Mignolo e Grosfoguel (2008), Filosofia intercultural, assim entendida, procede


metodologicamente da seguinte maneira: Ela não dá desnecessariamente um tratamento
privilegiado a qualquer filosofia, cultura ou religião. Ela também rejeita a ideia de uma mera
gradação hierárquica de culturas ou filosofias. Ela toma a ideia de pluralidade cultural com
seriedade e a considera como um valor.
Faz menos de duas décadas atrás que América do Sul começou a reconhecer
“oficialmente” sua diversidade étnico-cultural; uma diversidade histórica enraizada em
políticas de extermínio, escravidão, desumanização, inferiorização e também na suposta
superação do indígena e negro, esta última parte da miscigenação (ou “crioulização”) e
em países como Brasil, Republica Dominicana e o Caribe colombiano e venezuelano, a
mal chamada “democracia racial”.
Hoje a nova atenção à diferença e diversidade parte de reconhecimentos
jurídicos e uma necessidade cada vez maior, de promover relações positivas entre
distintos grupos culturais, confrontar a discriminação, o racismo e a exclusão e formar
cidadãos conscientes das diferenças e capazes de trabalhar conjuntamente no
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desenvolvimento do país e na construção de uma sociedade justa, eqüitativa, igualitária


e plural. A interculturalidade inscreve-se neste esforço (Catherine, 2009).
Porém, por ser conceito contemporâneo usado numa variedade de contextos e
com interesses sociopolíticos por vezes opostos, a compreensão de seu significado e
projeto muitas vezes fica ampla e confusa. Em síntese, podemos explicar o uso e sentido
contemporâneo e conjuntural da interculturalidade sob três perspectivas diferentes.

Para Catherine (2009), A primeira perspectiva e a que designamos como


relacional, a que faz referência de forma mais básica e geral ao contacto e intercambio
entre culturas, ou seja, entre pessoas, práticas, saberes, valores e tradições culturais
diferentes, que poderiam dar-se em condições de igualdade e desigualdade.
Desta maneira, assume-se que a interculturalidade é algo que sempre tem
existido neste continente, pois sempre tem existido o contacto e a relação entre os povos
indígenas e afrodescendentes, por exemplo, a sociedade branca-mestiça-crioula,
vestígios da qua pode-se observar na mesma mestiçagem, os sincretismos e as
transculturações que formam parte central da historia e “natureza” latinoamericana-
caribenha, historia e “natureza” que seguem negando o racismo e as práticas de
racialização, assim também, a diferença vivida tanto pelos povos indígenas como pelos
filhos da diáspora africana.
O fato de que a “identidade nacional” seja construída sobre esta denominação racial
relacional, torna mais complexo ainda o assunto.
Claro que o problema com esta perspectiva relacional é que tipicamente oculta
ou minimiza os conflitos e os contextos de poder e dominação e aonde acontece esta
relação continuam de forma similar, a interculturalidade limita o contacto e a relação –
muitas vezes a nível individual – encobrindo ou deixando de lado as estruturas da
sociedade sociais, políticas, económicas e também epistémicas – posicionando a
diferença cultural em termos de superioridade ou inferioridade.
Por isso, é necessário problematizar e ampliar a perspectiva relacional,
considerando as perspectivas adicionais que dão contexto e sentido ao uso da palavra e
seu significado na conjuntura actual, evidenciando por sua vez, seus significados,
aplicações, intencionalidades e implicações sociais e políticas (Catherine, 2009).
A segunda perspectiva de interculturalidade – é a que podemos chamar de
funcional, seguindo as ideias do filósofo peruano Fidel Tubino.
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Aqui a perspectiva de interculturalidade enraíza-se no reconhecimento da diversidade e


diferença cultural com objectivos direccionados a inclusão da mesma no interior da
estrutura social estabelecida.
Desde esta perspectiva “liberal” - que busca promover o diálogo, a convivência e
a tolerância-, a interculturalidade é “funcional” ao sistema existente; no tocante às
causas da assimetria e desigualdade social e cultural, nem “questiona as regras do jogo”
e por isso, é perfeitamente compatível com a lógica do modelo neoliberal existente.
Daí faz parte do que vários autores mencionam como a nova lógica multicultural
do capitalismo global, uma lógica que reconhece a diferença, sustentando sua produção
e administração dentro da ordem nacional, neutralizando-a e esvaziando-a de seu
significado real, e tornando-a funcional a esta ordem e, a sua vez, à expansão do
neoliberalismo e aos ditames do sistema de mundo. Nesse sentido, o reconhecimento e
respeito à diversidade cultural convertem-se numa nova estratégia de dominação, a que
aponta à criação de sociedades mais equitativas e igualitárias, senão ao controle do
conflito étnico e a conservação da estabilidade social com o fim de promover os
imperativos económicos do modelo (neo-liberalizado) de acumulação capitalista, agora
fazendo “incluir” os grupos historicamente excluídos a seu interior. Sem duvida, a onda
de reformas educativas e constitucionais dos 90 –as que reconhecem o carácter
multiétnico e plurilingüístico dos países e introduzem políticas específicas para os
povos indígenas e afrodescendentes-, são parte desta lógica multiculturalista e
funcional; simplesmente emendam a diferença ao sistema e modelo existentes (Mignolo
& Grosfoguel, 2008).
De fato esta lógica tem suas raízes tanto no multiculturalismo (neo) liberal
norteamericano como no que Abril Trigo chama “o interculturalismo europeu”.
Enquanto o primeiro tem suas raízes na democracia liberal e a liberdade do mercado –
garantindo a liberdade à diferença - e aponta a tolerância da diferença, mas também sua
mercantilização, o segundo aponta para um novo humanismo do diverso: humanizar o
neoliberalismo e a globalização.
É desde esta perspectiva – muito popular na América Latina, que se orienta e
define as políticas da maioria dos Ministérios de Cultura – que se argumenta pela
necessidade da “inclusão” de indivíduos dos grupos historicamente excluídos – como
mecanismo para adiantar a coesão social. Juntar o desenvolvimento humano sustentável
ou integral, a inclusão e a coesão, também servem para promover outra medida mais
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recentemente proposta pela UNESCO: articular a diversidade para que não seja fonte de
ameaça e insegurança.
Enquanto esses esforços pretendem promover a interculturalidade, uma de suas
preocupações centrais é como diz o informe nacional sobre o desenvolvimento humano
na Bolívia “O estado do Estado”, feito por PNUD, enfrentar e acalmar a “radicalização
de imaginários étnicos” e firmar as bases – por meio de discursos, políticas e projetos –
de um novo “sentido comum” compatível com o mercado.
Segundo Mignolo e Grosfoguel (2008), A interculturalidade aqui é funcional não
só ao sistema, senão também ao bem-estar individual, ao sentido de pertença dos
indivíduos a um projeto comum e a modernização, globalização e competitividade de
“nossa cultura ocidental”, já assumida como cultura própria latino-americana.
A terceira perspectiva – muito diferente da funcional é a que assumimos aqui – é
a interculturalidade crítica. Com esta perspectiva, não partimos do problema da
diversidade ou diferença em si, nem da tolerância ou inclusão culturalista (neo) liberal.
Melhor, o ponto central é o problema estrutural colonial racial e sua ligação ao
capitalismo de mercado. Como processo e projecto, a interculturalidade crítica, como
dizem os epítetos ao princípio, “questiona profundamente a lógica irracional
instrumental do capitalismo” e aponta para a construção de sociedades diferentes, a
outra ordem social (Mignolo & Grosfoguel, 2008).
O enfoque e a prática que se desprende da interculturalidade crítica não são funcionais
ao modelo social vigente, senão árduo questionador do assunto. Enquanto a
interculturalidade funcional assume a diversidade cultural como eixo central,
sustentando seu reconhecimento e inclusão “manipulada” dentro da sociedade e o
Estado nacional (uni nacional por prática e concepção), e deixando fora os dispositivos
e padrões de poder Institucional – estrutural – os que mantêm a discriminação,
iniquidade e desigualdade – a interculturalidade crítica parte da questão do poder, seu
padrão de racialização e a diferença que tem sido construída em função disso.
O interculturalismo funcional responde a parte dos interesses e necessidades das
instituições sociais; a interculturalidade crítica, por sua vez é uma chamada de e desde o
povo que tem sofrido uma histórica submissão e subalternização, de seus aliados, e dos
sectores que lutam, junto com eles, pela refundação social e descolonização, pela
construção de um mundo melhor.
Esta construção de baixo evidencia-se de maneira particular no contexto
equatoriano aonde a interculturalidade é conceito, bem visto e projecto significativo de
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cunho indígena, princípio ideológico de seu projecto político que - desde os 90 – vem
iniciando a transformação radical das estruturas, instituições e relações – ainda coloniais
– existentes, uma transformação não só para os povos e nacionalidades indígenas senão
para o conjunto da sociedade. Entendida desta maneira, o problema central do qual parte
a interculturalidade não é a diversidade étnico cultural, é a diferença construída como
padrão de poder colonial que segue transcendendo praticamente todas as esferas da vida
(Mignolo & Grosfoguel, 2008).
Por isso mesmo, a interculturalidade entendida criticamente ainda não existe, é
algo por construir. Daí seu entendimento, construção e posicionamento como projecto
político, social, ético e também epistémico – de saberes e conhecimentos -, projeto que
afiança para a transformação das estruturas, condições e dispositivos de poder que
mantém a desigualdade, racialização, subalternização e inferiorização de seres, saberes
e modos, lógicas e racionalidades de vida. Desta forma, a interculturalidade crítica
pretende intervir e actuar sobre a matriz da colonialidade, sendo esta intervenção e
transformação passos essenciais e necessários na construção mesma da
interculturalidade.

3.2. Decolonialidade filosófica


Decolonialidade não é um conceito meramente teórico, abstracto, mas político,
exigindo novas práticas pedagógicas que coloquem conhecimentos produzidos em
contextos de dominação colonial (Sánchez, 2017).
Antes, porém, de explorar este entrelaço da interculturalidade e decolonialidade,
examinaremos mais detidamente a matriz da colonialidade, dando algumas pautas para
compreender sua transcendência como sistema e ferramenta permanente de poder,
controle e dominação.
Para Sánchez, (2017), de todas as lutas exercidas nos últimos anos pelos
movimentos sociopolíticos ancestrais da América do Sul, tal vez as mais transcendentais
são as que apontam a refundação, interculturalização e descolonização do Estado.
Acabar com o Estado ainda colonial e o modelo neoliberal é trazer e assumir iniciativas
que passam da resistência à insurgência, ou seja, da posição defensiva a processos de
carácter proposital e ofensivo que pretendem insurgir e reconstruir (uma mudança no
que se entende como movimento social e particularmente movimento indígena) Aí está
a parte transcendental: de transformar o Estado entendido como estrutura instituição de
exclusão e dominação, e como produto e reprodutor do que o boliviano Rafael Bautista
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tem-se referido como o monólogo da razão moderno-ocidental ainda colonial na sua


prática e conceito.
Idem Portanto, o realmente curioso e diferente das novas constituições
equatoriana e boliviana é seu esforço de interculturalizar de destacar lógicas,
racionalidades e modos socioculturais de viver historicamente negadas e subordinadas e
fazer com que estas lógicas, racionalidades e modos de viver contribuam em forma
chave e substancial, a uma nova construção e articulação – a uma transformação – de
orientação decolonial.
Partir do problema estrutural-colonial-racial direcionando-se para a
transformação das estruturas, instituições e relações sociais e a construção de condições
radicalmente diferentes, a interculturalidade crítica – como prática política – traça um
caminho que não se limita às esferas políticas, sociais, e culturais, senão também se
cruza a do saber, ser e da vida mesma. Ou seja, preocupa-se por e com a exclusão,
negação e subalternação ontológica e epistemica-cognitiva dos grupos e sujeitos
racializados; pelas práticas de desumanização e subordinação (Sánchez, 2017).
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4. Conclusão
Chegando ao termino do trabalho, conclui-se que interculturalidade e
decolonialidade como projectos que caminham juntos. Construir a interculturalidade –
assim entendida criticamente – requer transgredir, interromper e desmontar a matriz
colonial ainda presente e criar outras condições de poder, saber, ser, estar e viver que se
distanciam do capitalismo e sua única razão. De forma similar, a decolonialidade não
terá maior impacto sem o projecto e esforço de interculturalidade, de articular seres,
saberes, modos e lógicas de viver dentro de um projecto variado, múltiplo e
multiplicador, que aponta para a possibilidade de não só co-existir senão de conviver
(de viver “com”) numa nova ordem e lógica que partem da complementaridade e das
parcialidades sociais.
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5. Referencia Bibliográfica

1. Catherine Walsh, (2009). Interculturalidad, Estado, Sociedad. Luchas


(de)coloniales de nuestra época Quito: Universidad Andina Simón Bolívar/Abya
Yala.

2. Sánchez, Daniel Guillermo Gordillo. (2017). Decolonización, bibliotecas y


América Latina: notas para la reflexión. Investigación bibliotecológica.
Disponível em: http://rev-ib. unam.mx/ib/index.php/ib/article/view/57850.
Acesso em: 29 de Outubro de 2023
3. Nazareno, Elias; Magalhães, SM de; (2019). Interculturalidade crítica,
transdisciplinaridade e decolonialidade. Disponível em:
http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/fronteiras/ article/view/2814.
Acesso em: 29 de Outubro de 2023

4. Mignolo, Walter; Grosfoguel, Ramón. (2008). Intrvenciones descoloniales: una


breve introducción. Disponível em: http://www.scielo.org.
co/pdf/tara/n9/n9a03.pdf. Acesso em: 29 de Outubro de 2023

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