Joel Miranda Bravo de Albuquerque
Joel Miranda Bravo de Albuquerque
Joel Miranda Bravo de Albuquerque
São Paulo – SP
2018
JOEL MIRANDA BRAVO DE ALBUQUERQUE
Área de Concentração:
Musicologia
Linha de Pesquisa:
Teoria e Análise Musical
São Paulo – SP
2018
iii
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr.________________________________________________________
Instituição: ______________________ Julgamento: ____________________
Assinatura: ______________________
Prof. Dr.________________________________________________________
Instituição: ______________________ Julgamento: ____________________
Assinatura: ______________________
Prof. Dr.________________________________________________________
Instituição: ______________________ Julgamento: ____________________
Assinatura: ______________________
Prof. Dr.________________________________________________________
Instituição: ______________________ Julgamento: ____________________
Assinatura: ______________________
Prof. Dr.________________________________________________________
Instituição: ______________________ Julgamento: ____________________
Assinatura: ______________________
iv
AGRADECIMENTOS
Aos professores Dr. Diósnio Machado Neto, Dra. Heloísa Duarte Valente, Dra.
Mayra Rodrigues Gomes, Dr. Fernando Iazzetta e Dra. Lílian Campesato que
trouxeram para este trabalho informações importantes dentro de suas
disciplinas oferecidas ao longo do curso; aos professores Dra. Adriana Lopes
da Cunha Moreira e Dr. Maurício De Bonis pelas contribuições sugeridas no
exame de qualificação; ao professor e compositor Ms. Rodrigo Lima pelas
aulas sobre música pós-tonal na EMESP; e aos professores Dr. João Pedro
Oliveira e Dr. Joseph Straus pelos comentários e sugestões sobre o conteúdo
desenvolvido nesta pesquisa;
Aos colegas da USP com pesquisas relacionadas, com os quais tive conversas
relevantes para o curso deste trabalho: Ms. Ciro Visconti, Dr. Walter Nery, Dr.
Allan Falqueiro, Dr. Luciano Camargo, Dra. Julia Tygel, Dr. Roberto Votta, Ms.
Juliana Ripke, Ms. Ísis Biazioli Oliveira, Ms. Silvio Moreira, Ms. Ana Carolina
Manfrinato, Ms. Denise Ogata, Maurício Matel, Guto Brambilla, Ms. Regina
Rocha e José de Carvalho;
Agradeço à minha esposa Milena Bravo e à minha filha Anna Luiza Bravo pela
paciência e compreensão ao longo dos quatro anos dedicados a esta pesquisa;
Aos meus pais José Albuquerque e Carmelita de Miranda, aos meus sogros
Ana Maria Bravo e Milton Bravo, à minha madrinha Diva Silva, às minhas irmãs
Joice Albuquerque e Leticia Albuquerque e a todos meus familiares por
acreditarem desde o início na minha escolha pela carreira de pesquisador e
músico. Dedico também aos meus amigos Júlio Oliveira e Camila Bravo pela
leitura e revisão do trabalho.
RESUMO
ABSTRACT
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Fig.1.2 - 16: Inversões do acorde Dó Maior por alturas individuais, vértices dos triângulos
que formam o Tonnetz ......................................................................................................... 51
Fig.1.2 - 17: Inversão do acorde Dó Maior a partir de alturas individuais do tricorde ......... 52
Fig.1.2 - 18: Pares de tricordes que podem projetar os pentacordes 5-z17, 5-22 e 5-34... 53
Fig.1.2 - 19: Ampliação da rede de projeções por inversão de tricordes ............................ 59
Fig.1.2 - 20: Regiões C1 e C5 da rede de projeções por inversão ..................................... 61
Fig.1.2 - 21: Conjuntos da região central e superior ............................................................ 66
Fig.1.2 - 22: Rede de tetracordes relacionados por um maior número de entradas de
vetores intervalares invariantes............................................................................................ 69
Fig.1.2 - 23: Rede de tetracordes relacionados por vetores intervalares invariantes,
reiteração das regiões C1 e C5............................................................................................ 70
Fig.1.2 - 24: Rede de tetracordes relacionados por vetores intervalares invariantes,
reiteração das regiões Central e Superior ........................................................................... 71
Fig.1.3 - 1: Inversões do acorde Dó Maior 7 por díades, arestas dos tetraedros que formam
o Tonnetz tridimensional (GOLLIN, 1998), transformações PRL e P’R’L’ .......................... 77
Fig.1.3 - 2: Inversões do acorde Dó Maior 7 a partir de díades do tricorde. Projeções dos
conjuntos 5-34, 6-z23, 6-z29, 6-z42, 6-z49 e 6-z50 ............................................................ 78
Fig.1.3 - 3: Correspondência com a “constelação Morris” (SALLMEN, 2011) .................... 79
Fig.1.3 - 4: Sistema de conjuntos relacionados por projeções a partir de inversões em torno
dos tetracordes 4-27, 4-12, 4-13 e 4-18............................................................................... 82
Fig.1.3 - 5: Rede de projeções por inversão em torno dos seis hexacordes relacionados
aos tetracordes 4-z15 e 4-z29.............................................................................................. 97
Fig.1.3 - 6: Disposição simétrica entre os conjuntos, distribuídos reiterando as regiões C1,
C5, central e superior ........................................................................................................... 98
Fig.1.3 - 7: Rede de tetracordes relacionados por invariâncias de quatro entradas de
vetores intervalares, incluindo os conjuntos 4-z15 e 4-z29 ............................................... 100
Fig.1.3 - 8: Rede de projeções por inversão em torno dos seis hexacordes relacionados
aos tetracordes 4-27, 4-12, 4-13 e 4-18 (“constelação Morris”) ........................................ 101
Fig.1.3 - 9: Disposição simétrica entre os conjuntos, distribuídos reiterando as regiões C1,
C5 e Central........................................................................................................................ 102
Fig.1.3 - 10: Rede de projeções por inversão a partir dos tetracordes 4-12, 4-27, 4-18, 4-
13, 4-z15 e 4-z29................................................................................................................ 103
Fig.1.3 - 11: Inversões do acorde Dó Maior 7 por alturas individuais, vértices dos tetraedros
que formam o Tonnetz tridimensional (GOLLIN, 1998) ..................................................... 104
Fig.1.3 - 12: Inversões do acorde Dó Maior 7 a partir de alturas individuais do tricorde.
Projeções dos conjuntos 5-34, 7-34 e 6-z28 ..................................................................... 106
Fig.2.1 - 1: Rede de ciclos intervalares invariantes entre redes de alturas com tricordes 109
Fig.2.1 - 2: Tonnetze dos tricordes 3-6, 3-8, 3-10 e 3-12 .................................................. 111
xiii
Fig.2.1 - 3: Início do Choros nº2 de Villa-Lobos, oposição entre os ciclos C1 e C5 ......... 113
Fig.2.1 - 4: Relações por combinação transpositiva entre conjuntos regidos pelo ciclo
intervalar C1 (FOLEY, 1998: 73) ........................................................................................ 115
Fig.2.1 - 5: Relações por combinação transpositiva entre conjuntos regidos pelo ciclo
intervalar C5 (FOLEY, 1998: 73) ........................................................................................ 116
Fig.2.1 - 6: Rede de alturas com o tetracorde 4-17 (POUSSEUR, [1968] 2009: 222) ...... 117
Fig.2.2 - 1: Rede de alturas com o tetracorde 4-20 (EULER, 1774) ................................. 119
Fig.2.2 - 2: Rede de alturas com o tetracorde 4-20, implícitos os tricordes 3-4 e 3-11 .... 120
Fig.2.2 - 3: Quatro possibilidades de inversão do conjunto 4-20 por reiteração de pares de
alturas e três variantes ....................................................................................................... 121
Fig.2.2 - 4: Quatro possibilidades de inversão do conjunto 4-20 por reiteração de alturas
isoladas e três variantes..................................................................................................... 122
Fig.2.2 - 5: Relação entre o conjunto 4-20 original e suas oito imagens .......................... 123
Fig.2.2 - 6: Hexacordes – conjuntos 6-20 e 6-z26 – formados pela sobreposição entre
tetracordes relacionados por pares de alturas em comum e duas notas variantes .......... 124
Fig.2.2 - 7: Heptacordes – conjuntos 7-22 e 7-z17 – formados pela concomitância entre
tetracordes relacionados por apenas uma altura em comum e três notas variantes ........ 125
Fig.2.2 - 8: Conjuntos formados por sobreposições de tetracordes relacionados por pares
de alturas ............................................................................................................................ 126
Fig.2.2 - 9: Combinações de tetracordes com apenas uma altura em comum ................. 128
Fig.2.2 - 10: Combinações entre conglomerados de tetracordes vizinhos ....................... 128
Fig.2.2 - 11: Desdobramentos de inversões do conjunto 4-20 geram a coleção cromática
completa ............................................................................................................................. 130
Fig.2.2 - 12: Ciclos intervalares implícitos dentro do Tonnetz do tetracorde 4-20 ............ 131
Fig.2.2 - 13: Ramificação entre redes de alturas implícitas no Tonnetz do conjunto 4-20;
“coroa” de tetracordes ........................................................................................................ 132
Fig.2.2 - 14: Recorte da rede de projeções por inversão, conjuntos listados na coroa de
tetracordes do Tonnetz do conjunto 4-20 .......................................................................... 133
Fig.2.3 - 1: Rede de alturas com o tetracorde 4-7, implícitos os tricordes 3-4 e 3-3 ........ 135
Fig.2.3 - 2: Relação entre o conjunto 4-7 original e suas oito imagens ............................ 136
Fig.2.3 - 3: Desdobramentos de inversões do conjunto 4-7 geram a coleção cromática
completa ............................................................................................................................. 140
Fig.2.3 - 4: Ciclos intervalares implícitos dentro do Tonnetz do tetracorde 4-7 ................ 141
Fig.2.3 - 5: Ramificação entre redes de alturas implícitas no Tonnetz do conjunto 4-7;
“coroa” de tetracordes ........................................................................................................ 142
Fig.2.3 - 6: Recorte da rede de projeções por inversão, conjuntos listados na coroa de
tetracordes do Tonnetz do conjunto 4-7 ............................................................................ 143
xiv
Fig.3.1 - 1: Início do Opus 19/4 de Schoenberg, análise de Pousseur ([1956] 2009: 57-59).
............................................................................................................................................ 173
Fig.3.1 - 2: início do Opus 19/4 de Schoenberg ................................................................ 176
Fig.3.1 - 3: conjuntos 5-z15, 4-14 e 6-z37, eixo invariante soma 10 ................................. 177
Fig.3.1 - 4: Opus 19/4 de Schoenberg, c.3-5 ..................................................................... 177
Fig.3.1 - 5: conjuntos 5-1, 5-33, 9-6 e 10-4, eixo invariante soma 10 ............................... 178
Fig.3.1 - 6: Opus 19/4 de Schoenberg, c.5-7 ..................................................................... 179
Fig.3.1 - 7: conjuntos 10-6 e 11-1, mudança para o eixo soma 6 ..................................... 179
Fig.3.1 - 8: Opus 19/4 de Schoenberg, c.8-9 ..................................................................... 180
Fig.3.1 - 9: conjunto 9-9, manutenção do eixo soma 6...................................................... 180
Fig.3.1 - 10: início da terceira peça para orquestra Opus 16, Farben de Schoenberg
(transcrição para piano de Webern)................................................................................... 181
Fig.3.1 - 11: bloco harmônico no início do Opus 16/3 de Schoenberg.............................. 181
Fig.3.1 - 12: conjunto 5-z17, eixo invariante soma 8 ......................................................... 182
Fig.3.1 - 13: blocos harmônicos no início do Opus 16/3 de Schoenberg .......................... 183
Fig.3.1 - 14: transposições do conjunto 5-z17, formação do conjunto 10-4...................... 183
Fig.3.1 - 15: reiteração do eixo soma 8, inversão entre conjuntos 5-z17, projeção do
conjunto 9-6 ........................................................................................................................ 184
Fig.3.1 - 16: blocos harmônicos no início do Opus 16/3 de Schoenberg .......................... 185
Fig.3.1 - 17: transformação gradativa entre conjuntos simétricos e assimétricos ............ 185
Fig.3.1 - 18: reiteração do eixo soma 8, inversão entre conjuntos 5-16, projeção do
conjunto 6-z49 .................................................................................................................... 186
Fig.3.2 - 1: Série do Konzert Opus 24 de Webern ............................................................. 187
Fig.3.2 - 2: Tricordes inerentes a série do Opus 24 de Webern, conjunto 3-3 invariante . 188
Fig.3.2 - 3: Tonnetz do conjunto 4-7, tricordes da série do Opus 24 ................................ 189
Fig.3.2 - 4: tricordes orientados em torno do eixo soma 5, projeção do conjunto 6-20 .... 190
Fig.3.2 - 5: pares de tetracordes inerentes a série do Opus 24, conjuntos 4-7 e 4-19 ..... 190
Fig.3.2 - 6: Tonnetz do conjunto 4-7, pares de tetracordes da série do Opus 24 ............. 191
Fig.3.2 - 7: Invariância entre entradas de vetores intervalares dos conjuntos 4-7 e 4-19 191
Fig.3.2 - 8: tetracordes orientados em torno do eixo soma 5, projeção do conjunto 6-20 192
Fig.3.2 - 9: hexacordes justapostos da série do Opus 24, conjunto 6-20 ......................... 192
Fig.3.2 - 10: Tonnetz do conjunto 4-7, hexacordes justapostos da série do Opus 24 ...... 193
Fig.3.2 - 11: hexacordes orientados em torno do eixo soma 11, projeção do conjunto 12-1
............................................................................................................................................ 194
Fig.3.2 - 12: Relacionamento entre os conjuntos 3-3, 4-7, 4-19 e 5-z17, proximidades
harmônicas entre Schoenberg e Webern .......................................................................... 194
Fig.3.2 - 13: série dodecafônica do primeiro movimento do Quarteto de Cordas, opus 28
(1934) ................................................................................................................................. 195
xv
Fig.3.2 - 14: Tetracordes inerentes a série do Opus 28 de Webern, conjunto 4-1 invariante
(“motivo Bach”) ................................................................................................................... 195
Fig.3.2 - 15: Tonnetz tridimensional do octacorde 8-1, permutações do conjunto 4-1 ..... 196
Fig.3.3 - 1: Hyperprism de Varèse, c.13-16, blocos harmônicos simétricos ..................... 197
Fig.3.3 - 2: bloco harmônico do c.16 de Hyperprism, projeção simétrica de intervalos .... 198
Fig.3.3 - 3: espelhamento em torno do eixo soma 3 ......................................................... 198
Fig.3.3 - 4: conjunto 8-1, eixo invariante soma 3, segmento cromático ............................ 199
Fig.3.4 - 1: Análise do início do Choros nº4 de Villa-Lobos............................................... 202
Fig.3.4 - 2: conjuntos relacionados na rede de projeção por inversão .............................. 204
Fig.3.4 - 3: conjuntos relacionados na rede de parcimônia entre entradas de vetores
intervalares ......................................................................................................................... 205
Fig.3.5 - 1: Análise do início do Quarteto de Cordas nº6/4 de Bartók (SALLMEN, 2011) 206
Fig.3.5 - 2: Tetracordes que compõem a “constelação Morris”, relacionados na rede de
projeções por inversão. ...................................................................................................... 207
Fig.3.5 - 3: Invariância entre vetores intervalares dos conjuntos da “constelação Morris” 208
Fig.3.6 - 1: Início da música Chovendo na Roseira de Tom Jobim ................................... 210
Fig.3.6 - 2: Acordes do início de Chovendo na Roseira: Ab6/9 e Ebm7/Ab...................... 210
Fig.3.6 - 3: Acordes Ab6/9 e Ebm7/Ab: duas pentatônicas 5-35 invertidas entre si em torno
do eixo soma 6 ................................................................................................................... 210
Fig.3.6 - 4: Coleção Réb diatônica formada pela combinação entre os acordes Ab6/9 e
Ebm7/Ab, reiteração do eixo soma 6 ................................................................................. 212
Fig.3.6 - 5: acordes Ab6/9 e Ebm7/Ab representados no cubo diatônico, inter-relacionados
pela face interna transversal .............................................................................................. 213
Fig.3.6 - 6: Equidistâncias melódicas em torno da altura Mib ........................................... 214
Fig.3.6 - 7: Palíndromo melódico formando um eixo em torno da altura Láb ................... 215
Fig.3.6 - 8: Palíndromo melódico equivalente formando um eixo em torno da altura Mib 215
Fig.3.6 - 9: Palíndromo melódico formando um eixo em torno da altura Mib.................... 215
Fig.3.6 - 10: Combinação entre palíndromos melódicos formando um eixo em torno da
altura Mib ............................................................................................................................ 216
Fig.3.6 - 11: Palíndromo entre figurações rítmicas ............................................................ 216
Fig.3.6 - 12: Tetracorde Fsus4/7, conjunto 4-23, segmento do ciclo C5 ........................... 217
Fig.3.6 - 13: tetracorde Fsus4/7 (conjunto 4-23) implícito na face inferior do cubo diatônico
............................................................................................................................................ 218
Fig.3.6 - 14: Conjuntos 4-23 e 5-35, localizados na parte inferior da região C5 ............... 218
Fig.3.7 - 1: Comparativo harmônico entre trechos de obras de compositores.................. 220
Fig.3.7 - 2: Comparativo harmônico entre trechos de obras de compositores, rede de
invariância entre entradas de vetores intervalares de tetracordes .................................... 222
xvi
ÍNDICE DE TABELAS
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
(a) Objetivos gerais e específicos ........................................................................... 1
(b) Problemáticas referentes ao objeto de estudo................................................... 2
(c) Metodologia para a análise musical e referencial teórico adotado ..................... 5
(d) Organização do texto: conteúdo dos capítulos .................................................. 8
1. REDE DE PROJEÇÕES POR INVERSÃO .......................................................... 10
1.1. Apontamentos entre teoria dos grupos e teoria neorriemanniana ................ 11
1.2. Rede de projeções por inversão, Tonnetze de tricordes .............................. 31
1.2.1. Projeções de tetracordes simétricos ........................................................ 32
1.2.2. Projeções de pentacordes simétricos ...................................................... 50
1.3. Perspectiva a partir da “constelação Morris” ................................................ 72
1.3.1. Projeções de hexacordes simétricos ....................................................... 73
1.3.2. Projeções de heptacordes simétricos .................................................... 103
2. TONNETZE DE TETRACORDES...................................................................... 108
2.1. Rede de ciclos intervalares: reflexões sobre Perle e Pousseur ................. 108
2.2. Tonnetze a partir de tetracordes simétricos: rede de alturas de Euler ....... 118
2.3. Correspondências por multiplicação pelos fatores M5 e M7 ....................... 134
2.4. Mapeamento de todos os Tonnetze para tetracordes simétricos ............... 144
2.5. Tonnetze tridimensionais: reflexões sobre Gollin (1998) ........................... 147
2.6. Mapeamento de todos os Tonnetze tridimensionais para octacordes
simétricos .............................................................................................................. 148
3. SIMETRIA NA MÚSICA PÓS-TONAL ............................................................... 172
3.1. Opus 19/4 (1911) e Opus 16/3, Farben (1916) de Schoenberg ................. 172
3.2. Konzert, Opus 24 (1934) e Quarteto de Cordas, Opus 28/I (1938) de Webern
186
3.3. Hiperprism (1923) de Edgar Varèse .......................................................... 196
3.4. Choros nº4 (1926) de Villa-Lobos .............................................................. 200
3.5. Quarteto de Cordas nº6/4 (1939) de Béla Bartók ...................................... 205
3.6. Chovendo na Roseira de Tom Jobim ........................................................ 208
3.7. Comparativo entre amostras de estruturas harmônicas ............................. 219
3.8. “Eixos harmônicos” de Stravinsky, segundo Straus (2014) ........................ 223
3.9. Aspectos estruturais harmônicos da Sinfonia nº7 (1945) ........................... 227
CONCLUSÃO........................................................................................................... 239
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 242
1
INTRODUÇÃO
1
Trataremos as nomenclaturas “ordinalidade” e “cardinalidade” como parâmetros
interdependentes para a classificação e inter-relação entre diferentes classes de conjuntos
intervalares, de acordo com o número de alturas que os compõem. Ambos os termos se referem
a quantidade de membros pertencentes ao mesmo grupo de alturas em questão, sendo a
totalidade cromática (“ordinalidade”) representada pelo termo “Módulo 12” (com a abreviação
“Mod12”) e seus respectivos subconjuntos representados por diferentes índices de
“cardinalidades”. Utilizaremos a abreviação “Card(n)”, sendo o item “n” correspondente ao
número de alturas do subconjunto tratado. Desta maneira, teremos os índices “Card3” para
tricordes, “Card4” para tetracordes, “Card7” para coleções com sete alturas e assim por diante.
4
2 Destaque no desenvolvimento e pesquisa sobre teoria dos conjuntos também para Milton
Babbitt e David Lewin. Para uma bibliografia comentada sobre o assunto ver os textos de Hyde
(1989) e Mead (1989).
6
vários momentos das obras escolhidas, foi possível colocar em relevo diversos
conjuntos de alturas proeminentes e compará-los posteriormente no intuito de
encontrar estruturas invariantes responsáveis pela manutenção do fluxo
discursivo, possibilitando supor possíveis contornos estruturais que justifiquem
a construção composicional de obras pós-tonais, direcionando também nossa
percepção e avaliação dos recorrentes modelos intervalares simétricos
empregados por pares modernistas.
Por outro lado, uma segunda corrente de estudo se fez necessária, a
teoria neorriemanniana, esta que nos últimos anos vem se destacando e
ganhando força no campo da musicologia e da teoria musical. Partimos dos
estudos preliminares desenvolvidos pelos teóricos David Lewin e Brian Hyer,
com destaque para a formação de redes de alturas (Tonnetze) relacionados por
inversões de conjuntos e conglomerados de ciclos intervalares. Desta vertente
de estudo original é desenvolvido o posterior conceito de máxima “parcimônia”
apresentado em estudos de Dmitri Tymoczko e Richard Cohn, dois dos
pesquisadores que se dedicam atualmente no aprimoramento da teoria
neorriemanniana 3 , em torno dos quais se consolidou a decorrente teoria
transformacional.
Desta combinação entre teoria dos conjuntos e teoria neorriemanniana
surgiu a necessidade de desenvolvermos uma terceira proposta subsequente,
que chamaremos neste trabalho de teoria da inversão. Este conceito surgiu na
concomitância entre duas especulações aqui levantadas em torno de parâmetros
mais remotos da teoria neorriemanniana discutidas por David Lewin (1982).
Primeiramente percebemos em nossa investigação que a partir do processo de
reflexão entre duas estruturas intervalares de mesma classe – um procedimento
previsto na teoria neorriemanniana para a construção de um Tonnetz,
convencionalmente recorrendo aos conjuntos 3-11 (tricorde Maior e menor) e 4-
27 (tetracordes Maior 7 e meio diminuto) – podemos projetar grupos de alturas
com um maior índice, bastando concatenar a totalidade de notas presentes
nestes pares espelhados. Em um segundo momento, constatamos que
poderíamos elaborar diversas redes de alturas diferentes utilizando qualquer
4 Utilizaremos o termo “coleção” em vez de “escala” como nomenclatura para os conjuntos 6-35
(coleção de tons inteiros), 7-34 (coleção acústica), 7-35 (coleção diatônica) e 8-28 (coleção
octatônica). Reservaremos o termo “escala” apenas para o conjunto 12-1 (escala cromática).
Desta forma procuramos evitar conotações que façam referência ao convencional uso destas
estruturas no sistema tonal (prática comum).
12
5
Neste trabalho utilizaremos a tabela de Allen Forte que estabelece uma lista de classes de
conjuntos de alturas (considerando a versão ampliada da tabela Forte proposta por Larry
Solomon (2005)), seguindo aqui parâmetros de análise pertinentes à Teoria dos Conjuntos.
Trataremos por cardinalidade “n” o número de itens recorrentes em um determinado grupo de
alturas (por exemplo, cardinalidade sete para uma coleção com sete posições). Utilizaremos a
abreviação Card “n” e a nomenclatura Card “n” x (versus) Card “n” para nos referirmos a inter-
relação entre dois grupos de alturas específicos (por exemplo, Card4 x Card4, fazendo referência
a dois conjuntos de quatro entradas).
14
Ré |2| + Ré |2| = 4
Dó |0| + Mi |4| = 4
6
Segundo estes autores, são possíveis doze eixos diferentes de simetria intervalar por reflexão,
representados por somas que vão do 0 a 11.
7
Dois conjuntos são complementares quando se completam na totalidade cromática ao serem
sobrepostos. Sobre a relação entre conjuntos complementares ver STRAUS, 2005: 93-96.
15
Fig.1.1 - 5: Pentatônica 5-35 (“notas pretas”) e Dó diatônica (“notas brancas”): eixo soma 4
(Ré–Láb) invariante.
8
Apresentamos mais detalhes sobre a recorrência à simetria intervalar no Choros nº2 em nosso
artigo “Análise estrutural do Choros nº2 de Heitor Villa-Lobos” (ALBUQUERQUE, 2015).
16
9
Identificaremos a distância intervalar entre dois grupos de alturas de mesma classe de conjunto
pela nomenclatura “Tn” para transposição simples e “TnI” para transposição com inversão, sendo
“n” a classe de intervalo entre as duas estruturas comparadas (STRAUS, 2005).
17
Fig.1.1 - 10: Dó dia x Lá dia: transposição T 3 e perpendicularidade dos eixos Fá–Si e Ré–Láb
Fig.1.1 - 13: Subconjuntos simétricos do acorde Dó Maior, três pares de alturas (Card2)
Fig.1.1 - 14: Subconjuntos simétricos do acorde Dó Maior, três notas isoladas (Card1)
Com isso concluímos que não existe apenas uma simetria única, mas
várias simetrias distintas regendo diferentes níveis de abrangência dentro de um
mesmo grupo, ainda que este conjunto de notas seja assimétrico em sua
totalidade. Sobre isto o matemático Ian Stewatt afirma: “a palavra “simetria” deve
ser reinterpretada como “uma simetria”. Objetos não apresentam só uma simetria;
em geral apresentam diferentes simetrias” (2012: 144).
22
Morris (2007) explica que estes diversos sistemas teóricos dizem respeito
a um campo comum que busca mapear, no universo de doze sons, tipos
específicos de transformações intervalares que ocasionam um maior número de
invariâncias, parâmetros que começaram a ser compreendidos a partir dos
estudos de Babbitt (década de 1960). Estes propósitos acabam se alinhando em
torno do princípio geométrico de transformação de um objeto em sua imagem
sem modificação de sua estrutura, conceito que a matemática reconhece como
simetria. De um ponto de vista matemático, Ian Stewatt (2012: 144) explica: “O
que é, então, uma simetria? Uma simetria de um objeto matemático é uma
transformação que preserva a estrutura do objeto”. E ainda completa um pouco
mais adiante: “Existem três palavras-chave na definição de uma simetria:
“transformação”, “estrutura” e “preservação”” (STEWATT, 2012: 145).
Oliveira (2007: 93), em suas “matrizes de transposição” (assim como
Morris (2007) em suas “matrizes de invariância”), também busca nas “somas
entre os diferentes elementos de um conjunto” de alturas identificar uma
“totalidade de invariâncias em TnI” (OLIVEIRA, 2007: 93) 10 . Ou seja, ambos
procuram propriedades inerentes a conjuntos de alturas (“estrutura”) que
possibilitem que estes possam ser “transformados” em imagens idênticas ou
similares, “preservando” um máximo número de elementos reiterados. Em suma,
tratando de uma equivalência entre os conceitos matemático e musical, o
10
Aliás, um procedimento muito similar às matrizes de soma utilizadas por Cohn em seu estudo
sobre “combinação transpositiva” (1988).
24
Dó (0) 0 2 4 5 7 9 11
Ré (2) 2 4 6 7 9 11 1
Mi (4) 4 6 8 9 11 1 3
Fá (5) 5 7 9 10 0 2 4
Sol (7) 7 9 11 0 2 4 6
Lá (9) 9 11 1 2 4 6 8
Si (11) 11 1 3 4 6 8 10
1 2 / 11 4/9 4-23
3 4 / 11 2-5
5 0/5 2-5
8 4/4 9 / 11 3-9
10 5/5 11 / 11 2-6
(+) Dó (0) Ré (2) Mi (4) Fá# (6) Láb (8) Sib (10)
Dó (0) 0 2 4 6 8 10
Ré (2) 2 4 6 8 10 0
Mi (4) 4 6 8 10 0 2
Fá# (6) 6 8 10 0 2 4
Láb (8) 8 10 0 2 4 6
Sib (10) 10 0 2 4 6 8
1 –
3 –
5 –
7 –
9 –
11 –
(+) Dó (0) Ré (2) Mib (3) Fá (5) Fá# (6) Láb (8) Lá (9) Si (11)
Dó (0) 0 2 3 5 6 8 9 11
Ré (2) 2 4 5 7 8 10 11 1
Mib (3) 3 5 6 8 9 11 0 2
Fá (5) 5 7 8 10 11 1 2 4
Fá# (6) 6 8 9 11 0 2 3 5
Láb (8) 8 10 11 1 2 4 5 7
Lá (9) 9 11 0 2 3 5 6 8
Si (11) 11 1 2 4 5 7 8 10
1 2 / 11 5/8 4-28
7 2/5 8 / 11 4-28
um único eixo de soma, como mostra a tabela de somas possíveis entre todos
os pares de alturas desta estrutura (Tab.1.1 – 10 e Tab.1.1 – 11). Neste exemplo,
temos um eixo soma 4 para Dó acústica.
(+) Dó (0) Ré (2) Mi (4) Fá# (6) Sol (7) Lá (9) Sib (10)
Dó (0) 0 2 4 6 7 9 10
Ré (2) 2 4 6 8 9 11 0
Mi (4) 4 6 8 10 11 1 2
Fá# (6) 6 8 10 0 1 3 4
Sol (7) 7 9 11 1 2 4 5
Lá (9) 9 11 1 3 4 6 7
Sib (10) 10 0 2 4 5 7 8
3 6/9 2-3
5 7 / 10 2-3
7 0/7 9 / 10 4-10
10 0 / 10 4/6 4-25
11
Tomamos como referência as redes transformacionais entre “cubos” de inversões e
transposições do conjunto 3-11 (tríade Maior e menor), relacionados por tricordes do conjunto 3-
32
Dó (0) 0 4 7
Mi (4) 4 8 11
Sol (7) 7 11 2
0 0/0 1-1
1 – –
2 7/7 1-1
3 – –
4 0/4 2-4
5 – –
6 – –
7 0/7 2-5
8 4/4 1-1
9 – –
10 – –
11 4/7 2-3
Sendo:
Altura |x| + Altura |y|= Soma |s| (Mod12)
Então:
Soma |s| – Altura |x| = Altura |y| (Mod12)
Considerando que o acorde Maior (conjunto 3-11, Card3) tem três pares
de notas como subconjuntos simétricos (Card2), cada qual orientado pelo seu
respectivo eixo, poderemos estipular e adicionar uma nota correspondente para
cada uma das alturas isoladas nos três casos, reiterando o mesmo valor de soma
do respectivo eixo, projetando assim três possibilidades de tetracordes (Card4)
totalmente simétricos, originários da mesma tríade referida: os conjuntos 4-26
(acorde m7), 4-17 e 4-20 (acorde M7+) (Tab.1.2 – 3 e Fig.1.2 – 1).
4 7 9 4-26
7 4 3 4-17
11 0 11 4-20
Por sua vez, se substituirmos esta nota projetada por sua correspondente
original, o resultado será a inversão do conjunto 3-11, gerando respectivamente
35
4 7 9 Am
7 4 3 Cm
11 0 11 Em
Fig.1.2 - 2: Inversões do acorde Dó Maior por díades, arestas dos triângulos que formam o
Tonnetz, transformações PRL (GOLLIN, 1998: 197)
36
Fig.1.2 - 4: Pares de tricordes que podem projetar os tetracordes 4-26, 4-17 e 4-20
12
Straus (2005) classifica seis possibilidades de ordens de classes de intervalos entre alturas:
os ciclos intervalares C1 (segunda menor/sétima maior), C2 (segunda maior/sétima menor), C3
(terça menor/sexta maior), C4 (terça maior/sexta menor), C5 (quarta justa/quinta justa) e C6
(trítono). Neste trabalho ainda prevemos o ciclo intervalar C0, que trata da sequência de alturas
em diferentes oitavas ou em uníssono, seguindo aqui conceitos da teoria dos ciclos proposto por
George Perle (1977). No segundo capítulo deste trabalho levantaremos todas as possibilidades
de Tonnetze com tricordes e tetracordes, mapeando todas as combinações entre ciclos
intervalares, seguindo a proposta de “redes harmônicas” de Pousseur ([1968] 2009).
40
Fig.1.2 - 9: Pares de tricordes que podem projetar os tetracordes 4-3, 4-8, 4-10 e 4-23
44
com o tetracorde 4-23 e uma vez consigo mesmo, não permitindo novas
extensões. Faltaria ainda conhecer o segundo tricorde relacionado ao conjunto
4-1, que já adiantamos na figura ser o conjunto 3-1, com o qual mantém duas
conexões. Esta constatação pode ser feita ao verificarmos o Tonnetz (Fig.1.2 –
11) deste conjunto 3-1 (ciclos intervalares C1, C1 e C2) e da projeção no
clockface (Fig.1.2 – 12) dos dois tricordes que geram o tetracorde 4-1: os
conjuntos 3-1 e 3-2.
entre redes de alturas com tricordes (Fig.1.2 – 13). Chegamos então ao limite de
desdobramentos desta estrutura que relaciona tricordes por projeções de
tetracordes a partir de subconjuntos de pares de alturas. Podemos notar que a
rede de projeções por inversão se trata de um sistema simétrico, espelhado em
duas metades proporcionais de grupos de alturas que se correspondem.
Trataremos mais adiante sobre outros detalhes inerentes a esta estrutura.
47
Ciclos C1 C2 C3 C4 C5 C6
intervalares
3-5 3-11
Fig.1.2 - 14: Rede de projeções por inversão com matrizes de Tonnetze de tricordes
50
0 4 8 5-z17
7 4
8 0 8 5-22
7 1
2 4 10 5-34
0 2
0 4 8 Fm
7 4
8 0 8 C#m
7 1
2 4 10 Gm
0 2
Fig.1.2 - 16: Inversões do acorde Dó Maior por alturas individuais, vértices dos triângulos que
formam o Tonnetz
52
Fig.1.2 - 18: Pares de tricordes que podem projetar os pentacordes 5-z17, 5-22 e 5-34
Tab.1.2 - 8: Possibilidades de projeções a partir de alturas individuais dos conjuntos 3-1, 3-2, 3-
3, 3-4, 3-5, 3-7, 3-9 e 3-11
13
Identificaremos classes de intervalo entre duas barras verticais (OLIVEIRA, 2007).
61
Procuramos mais detalhes sobre esta relação entre essas duas regiões
C1 e C5 e identificamos que existe uma comum invariância entre os índices de
vetores intervalares dos conjuntos correspondentes. Verificamos que os vetores
que aparecem reiterados são as entradas dois, três, quatro e seis, sendo que os
vetores um e cinco aparecem invertidos entre si em todos os casos (Tab.1.2 –
9). Esta constatação nos revela que os conjuntos da região C5 podem ser
obtidos por multiplicação pelos índices M5 ou M7 dos seus equivalentes da
região C1, e vice-versa, seguindo aqui o teorema proposto por John Rahn (1980:
104).
Esta condição foi explicada em maiores detalhes por João Oliveira (2007:
116-17).
Tal como acontece em M5, sendo os intervalos < 1 > e < 11 >
pertencentes ao intervalo-classe ic = |1|, e os intervalos < 5 > e
< 7 > pertencentes a ic = |5|, as multiplicidades dos intervalos-
classe 1 e 5 trocam entre si após M7. Todas as outras
multiplicidades permanecem inalteradas (OLIVEIRA, 2007: 117).
Exemplos:
63
Relação tricordes
5-z17, 5-15, 5-22 e 5-z12, sempre apresentando o índice 2, como podemos ver
nas tabelas.
Pentacordes relacionados
5-z37 [212320]
5-z17 [212320]
5-15 [220222]
5-22 [202321]
5-z12 [222121]
4-18 [102111]
4-17 [102210]
4-19 [101310]
4-11 [121110]
4-13 [112011]
4-10 [122010]
68
4-5 [210111]
4-16 [110121]
4-8 [200121]
4-9 [200022]
5-15 [220222]
4-6 [210021]
3-5 [100011]
3-4 [100110]
Tab.1.2 - 12: Análise de invariâncias entre vetores intervalares dos conjuntos da Região
Central e Superior
Fig.1.2 - 22: Rede de tetracordes relacionados por um maior número de entradas de vetores
intervalares invariantes
70
Fig.1.2 - 23: Rede de tetracordes relacionados por vetores intervalares invariantes, reiteração
das regiões C1 e C5
71
Fig.1.2 - 24: Rede de tetracordes relacionados por vetores intervalares invariantes, reiteração
das regiões Central e Superior
72
Dó (0) 0 4 7 10
Mi (4) 4 8 11 2
Sol (7) 7 11 2 5
Sib (10) 10 2 5 8
0 0/0 1-1
1 – –
2 7/7 4 / 10 3-10
3 – –
4 0/4 2-4
5 7 / 10 2-3
6 – –
7 0/7 2-5
8 4/4 10 / 10 2-6
9 – –
10 0 / 10 2-2
11 4/7 2-3
Sendo:
Altura |x| + Altura |y| = Soma |s| (Mod12)
Então:
Soma |s| – Altura |x| = Altura |y| (Mod12)
(Card2) |y|=|s|–|x|
[0, 4] 4 7 9 [4,6,7,9,10,0]
10 6 6-z23
[0, 7] 7 4 3 [3,4,7,9,10,0]
10 9 6-z50
7 3 6-z49
[4, 7] 11 0 11 [10,11,0,1,4,7]
10 1 6-z42
7 7 5-34
4 1 6-z29
Por sua vez, se substituirmos esta nota projetada por sua correspondente
original, o resultado será a inversão do conjunto 4-27, gerando respectivamente
os acordes meio diminutos Cdim7, Gdim7, Edim7, Adim7, F#dim7 e C#dim7
(Fig.1.3 – 1 e Fig.1.3 – 2). Esta inversão da tétrade Maior 7 em seis acordes meio
diminutos coincide com as transformações PRL e P’R’L’ da teoria
neorriemanniana, como podemos observar no Tonnetz tridimensional proposto
por Gollin (1998), em suas relações entre as seis arestas do tetraedro que
representa o acorde de Dó Maior 7.
77
Fig.1.3 - 1: Inversões do acorde Dó Maior 7 por díades, arestas dos tetraedros que formam o
Tonnetz tridimensional (GOLLIN, 1998), transformações PRL e P’R’L’
78
(Card2) |y|=|s|–|x|
[0, 2] 2 3 11 [11,0,2,3,6,8]
6 8 6-z49
[0, 3] 3 2 1 [0,1,2,3,6,9]
6 9 6-z42
[0, 6] 6 2 4 [0,2,3,4,6]
3 3 5-8
[2, 3] 5 0 5 [11,0,2,3,5,6]
6 11 6-z13
[2, 6] 8 0 8 [0,2,3,5,6,8]
3 5 6-z23
[3, 6] 9 0 9 [0,2,3,6,7,9]
2 7 6-z29
80
(Card2) |y|=|s|–|x|
[0, 1] 1 3 10 [6,7,10,0,1,3]
6 7 6-z50
[0, 3] 3 1 2 [0,1,2,3,6,9]
6 9 6-z42
[0, 6] 6 1 5 [0,1,3,5,6]
3 3 5-z12
[1, 3] 4 0 4 [10,0,1,3,4,6]
6 10 6-z23
[1, 6] 7 0 7 [0,1,3,4,6,7]
3 4 6-z13
[3, 6] 9 0 9 [6,8,9,0,1,3]
1 8 6-z29
81
(Card2) |y|=|s|–|x|
[0, 1] 1 4 9 [0,1,4,6,7,9]
7 6 6-z50
[0, 4] 4 1 3 [0,1,3,4,7,9]
7 9 6-z49
[0, 7] 7 1 6 [0,1,3,4,6,7]
4 3 6-z13
[1, 4] 5 0 5 [10,0,1,4,5,7]
7 10 6-z29
[1, 7] 8 0 8 [0,1,4,7,8]
4 4 5-22
[4, 7] 11 0 11 [10,11,0,1,4,7]
1 10 6-z42
Fig.1.3 - 4: Sistema de conjuntos relacionados por projeções a partir de inversões em torno dos
tetracordes 4-27, 4-12, 4-13 e 4-18
6-z49 [224322]
6-z50 [224232]
6-z49 [224322]
6-z50 [224232]
84
(Card2) |y|=|s|–|x|
[0, 1] 1 4 9 [0,1,4,6,7,9]
6 7 6-z50
[0, 4] 4 1 3 [10,0,1,3,4,6]
6 10 6-z23
[0, 6] 6 1 5 [0,1,2,4,5,6]
4 2 6-z4
[1, 4] 5 0 5 [11,0,1,4,5,6]
6 11 6-z6
[1, 6] 7 0 7 [0,1,3,4,6,7]
4 3 6-z13
[4, 6] 10 0 10 [9,10,0,1,4,6]
1 9 6-z49
86
(Card2) |y|=|s|–|x|
[0, 1] 1 3 10 [6,7,10,0,1,3]
7 6 6-z50
[0, 3] 3 1 2 [0,1,2,3,7,8]
7 8 6-z38
[0, 7] 7 1 6 [0,1,3,4,6,7]
3 4 6-z13
[1, 3] 4 0 4 [0,1,3,4,7,9]
7 9 6-z49
[1, 7] 8 0 8 [0,1,3,5,7,8]
3 5 6-z26
[3, 7] 10 0 10 [7,9,10,0,1,3]
1 9 6-z23
(Card2) |y|=|s|–|x|
3 6 [6,7,9,0]
6 3 [7,9,0,3]
3 6 [2,6,7,9]
6 3 [2,3,7,9]
2 7 [3,6,7,9]
7 2 [2,3,6,9]
88
(Card2) |y|=|s|–|x|
6 9 [9,1,2,3]
9 6 [1,2,3,6]
6 9 [9,0,2,3]
9 6 [0,2,3,6]
0 3 [2,3,6,9]
3 0 [6,9,0,2]
89
(Card2) |y|=|s|–|x|
3 5 [5,6,8,0]
5 3 [0,3,6,8]
3 5 [2,5,6,8]
5 3 [2,3,6,8]
2 6 [3,5,6,8]
6 2 [2,3,5,8]
90
(Card2) |y|=|s|–|x|
6 7 [7,9,0,1]
7 6 [6,9,0,1]
6 7 [1,4,7,9]
7 6 [1,4,6,9]
4 9 [6,7,9,1]
9 4 [1,4,6,7]
91
(Card2) |y|=|s|–|x|
6 8 [8,11,0,2]
8 6 [11,0,2,6]
0 2 [8,11,2,3]
2 0 [8,11,0,3]
3 11 [6,8,11,2]
11 3 [2,3,6,8]
92
(Card2) |y|=|s|–|x|
6 11 [11,2,3,5]
11 6 [2,3,5,6]
6 11 [11,0,3,5]
11 6 [0,3,5,6]
2 3 [11,3,5,6]
3 2 [11,2,5,6]
93
(Card2) |y|=|s|–|x|
6 11 [11,1,4,5]
11 6 [1,4,5,6]
6 11 [11,0,4,5]
11 6 [0,4,5,6]
1 4 [4,5,6,11]
3 2 [11,2,5,6]
94
(Card2) |y|=|s|–|x|
0 6 [2,4,5,6]
6 0 [0,2,4,5]
0 6 [1,4,5,6]
6 0 [0,1,4,5]
2 4 [0,4,5,6]
4 2 [0,2,5,6]
95
(Card2) |y|=|s|–|x|
7 8 [1,2,3,8]
8 7 [1,2,3,7]
7 8 [8,0,2,3]
8 7 [0,2,3,7]
1 2 [2,3,7,8]
2 1 [1,3,7,8]
96
(Card2) |y|=|s|–|x|
0 8 [3,5,7,8]
8 0 [0,3,5,7]
0 8 [1,5,7,8]
8 0 [0,1,5,7]
3 5 [5,7,8,0]
5 3 [7,8,0,3]
Tab.1.3 - 8: Mapeamento dos seis conjuntos de tetracordes que podem projetar cada um dos
dez hexacordes que relacionam os tetracordes 4-27, 4-12, 4-13, 4-18, 4-z15 e 4-z29
Fig.1.3 - 5: Rede de projeções por inversão em torno dos seis hexacordes relacionados aos
tetracordes 4-z15 e 4-z29
14
Incluímos aqui os conjuntos 4-16 e 4-5 como sujeitos híbridos, que são listados como
tetracordes da região superior, e também estão presentes nas regiões C5 e C1 por se
relacionarem por multiplicação. Trataremos os conjuntos Z-relacionados como estruturas com
multiplicidades iguais nas entradas um e cinco, resultando na reiteração do mesmo índice nestes
vetores quando o conjunto é submetido ao processo de multiplicação M5 ou M7. Lembrando que
nem todos os conjuntos Z-relacionados estão relacionados por multiplicação M 5 ou M7, como
aponta Oliveira (2007: 117).
98
Fig.1.3 - 6: Disposição simétrica entre os conjuntos, distribuídos reiterando as regiões C1, C5,
central e superior
99
Fig.1.3 - 8: Rede de projeções por inversão em torno dos seis hexacordes relacionados aos
tetracordes 4-27, 4-12, 4-13 e 4-18 (“constelação Morris”)
102
Fig.1.3 - 10: Rede de projeções por inversão a partir dos tetracordes 4-12, 4-27, 4-18, 4-13, 4-
z15 e 4-z29
caso, gerando assim os conjuntos 5-34, 7-34 e duas vezes o mesmo hexacorde
6-z28 (Fig. 1.3 – 11).
Fig.1.3 - 11: Inversões do acorde Dó Maior 7 por alturas individuais, vértices dos tetraedros que
formam o Tonnetz tridimensional (GOLLIN, 1998)
105
106
***
No próximo capítulo veremos como a rede de projeções por inversão –
conceito desenvolvido neste primeiro capítulo a partir de aprofundamentos sobre
107
2. TONNETZE DE TETRACORDES
Fig.2.1 - 1: Rede de ciclos intervalares invariantes entre redes de alturas com tricordes
Para mais detalhes sobre esta obra, verificar nosso artigo intitulado “Análise estrutural do
16
5 5 6 10
0 0 1 5
* 0 1 5
5 5 6 10 11 3
0 0 1 5 6 10
* 0 1 5 6 10
5 5 6 8 10 11 3 4
0 0 1 3 5 6 10 11
* 0 1 3 5 6 10 11
Tab.2.1 - 3: Matrizes de soma para a combinação entre díades (05) e projeções a partir do
conjunto 3-4 (015) (FOLEY, 1998: 70-71)
Fig.2.1 - 4: Relações por combinação transpositiva entre conjuntos regidos pelo ciclo intervalar
C1 (FOLEY, 1998: 73)
17
Destacamos que o conceito de “multiplicação” utilizado por Foley (1998) não envolve apenas
a multiplicação de conjuntos por fatores de multiplicação M5 e M7 (RAHN, 1980; OLIVEIRA,
2007) – este foi o conceito de multiplicação trabalhado no nosso primeiro capítulo – mas é um
combinado mais amplo que também envolve a multiplicação entre membros de pares de grupos
de alturas, em um procedimento que perpassa entre os conceitos de “transposição transpositiva”
de Cohn (1988) e a “multiplicação” de Pierre Boulez (([1968], 2009: 208)
116
Fig.2.1 - 5: Relações por combinação transpositiva entre conjuntos regidos pelo ciclo intervalar
C5 (FOLEY, 1998: 73)
18
O’Connell, Walter. “Der Ton-Raum”. In: Die Reihe VIII – Rückblicke, Wien: Universal Edition,
1962: 35-61. Nota de Flô Menezes em sua tradução do artigo “Apoteose de Rameau, ensaio
sobre a questão harmônica” de Henri Pousseur ([1968], 2009).
117
Fig.2.1 - 6: Rede de alturas com o tetracorde 4-17 (POUSSEUR, [1968] 2009: 222)
19
Aliás, parece que este artigo de Henri Pousseur – “Apoteose de Rameau” ([1968], 2009) –
apesar de ser dedicado a Pierre Boulez, traz duras críticas sobre os procedimentos
composicionais utilizados por este último. Mais adiante neste mesmo artigo, Pousseur questiona
ainda sobre as dimensões harmônicas recorrentes na obra de Boulez. As relações entre os dois
compositores estremeceram consideravelmente após a publicação deste artigo, segundo Flo
Meneses em nota da tradução deste mesmo texto.
118
Vale destacar ainda que existe uma evidente semelhança entre esta
proposta de “multiplicação” entre conjuntos de alturas apresentada como
ferramenta composicional por Boulez ([1968], 2009: 208) e o conceito teórico de
“combinação transpositiva” do musicólogo Richard Cohn (1988), como apontam
alguns autores (SCOTTO, 2014; YUST, 2015: 210). Esta semelhança ocorre em
parte pelo interesse concomitante dos dois músicos pela utilização de matrizes
de soma e multiplicação – um recurso oriundo da teoria dos grupos – fator que
confirma mais uma vez a pertinência da hipótese levantada por Morris (2007)
sobre a importância desta ferramenta matemática para a comprovação de um
fator de proporção intervalar invariante entre atravessa o modo de manuseio das
doze alturas entre as principais correntes dedicadas ao estudo da música pós-
tonal: teoria dos conjuntos (Forte), teoria dos ciclos (Perle) e teoria
neorriemanniana (Lewin).
20
Veremos mais à frente a representação de Tonnetze tridimensionais construídos a partir de
tetracordes não simétricos.
21
Cada tetracorde simétrico é representado por um quadrado neste tipo de rede de alturas,
diferente dos triângulos que representam tricordes em um Tonnetz convencional.
120
Fig.2.2 - 2: Rede de alturas com o tetracorde 4-20, implícitos os tricordes 3-4 e 3-11
Por outro lado, no caso de dois tetracordes relacionados com apenas uma
altura em comum (vértices coincidentes entre os quadrados), temos a inversão
entre eles através da substituição das demais três alturas do conjunto original
pelas outras três variantes do conjunto imagem. Na representação pelo Tonnetz
podemos perceber outras quatro possibilidades de inversão do conjunto 4-20 por
reiteração de alturas isoladas e três variantes para cada tetracorde (Fig.2.2 – 4).
122
Fig.2.2 - 13: Ramificação entre redes de alturas implícitas no Tonnetz do conjunto 4-20; “coroa”
de tetracordes
Fig.2.2 - 14: Recorte da rede de projeções por inversão, conjuntos listados na coroa de
tetracordes do Tonnetz do conjunto 4-20
Fig.2.3 - 1: Rede de alturas com o tetracorde 4-7, implícitos os tricordes 3-4 e 3-3
Região C5 Região C1
Região C5 Região C1
Fig.2.3 - 5: Ramificação entre redes de alturas implícitas no Tonnetz do conjunto 4-7; “coroa”
de tetracordes
Região C5 Região C1
4-8 C5 C1 4-8 C1 C5
4-23 C5 C2 4-1 C1 C2
4-26 C5 C3 4-3 C1 C3
4-20 C5 C4 4-7 C1 C4
4-9 C5 C6 4-9 C1 C6
3-9 C5 C5 3-1 C1 C1
Fig. 2.6 - 1: Tonnetze tridimensional de Gollin (1998), conjunto 4-27 (Dó Maior 7): ciclos
intervalares matriciais (C2, C4 e C5) e secundários (C3, C3 e C6)
4-1 [321000] C1 C1 C1 C2 C2 C3
4-2 [221100] C1 C1 C2 C2 C3 C4
4-3 [212100] C1 C1 C2 C3 C3 C4
4-4 [211110] C1 C1 C2 C3 C4 C5
4-5 [210111] C1 C1 C2 C4 C5 C6
4-6 [210021] C1 C1 C2 C5 C5 C6
4-7 [201210] C1 C1 C3 C4 C4 C5
4-8 [200121] C1 C1 C4 C5 C5 C6
4-9 [200022] C1 C1 C5 C5 C6 C6
4-10 [122010] C1 C2 C2 C3 C3 C5
4-11 [121110] C1 C2 C2 C3 C4 C5
4-12 [112101] C1 C2 C3 C3 C4 C6
4-13 [112011] C1 C2 C3 C3 C5 C6
4-14 [111120] C1 C2 C3 C4 C5 C5
4-z15 [111111] C1 C2 C3 C4 C5 C6
4-16 [110121] C1 C2 C4 C5 C5 C6
4-17 [102210] C1 C3 C3 C4 C4 C5
4-18 [102111] C1 C3 C3 C4 C5 C6
4-19 [101310] C1 C3 C4 C4 C4 C5
4-20 [101220] C1 C3 C4 C4 C5 C5
4-21 [030201] C2 C2 C2 C4 C4 C6
4-22 [021120] C2 C2 C3 C4 C5 C5
4-23 [021030] C2 C2 C3 C5 C5 C5
4-24 [020301] C2 C2 C4 C4 C4 C6
4-25 [020202] C2 C2 C4 C4 C6 C6
151
4-26 [012120] C2 C3 C3 C4 C5 C5
4-27 [012111] C2 C3 C3 C4 C5 C6
4-28 [004002] C3 C3 C3 C3 C6 C6
4-z29 [111111] C1 C2 C3 C4 C5 C6
Tab. 2.6 - 1: Lista de ciclos intervalares previstos em redes de alturas com tetracordes
4-12 [112101] C2 C3 C3 C4 C1 C6
4-27 [012111] C2 C3 C3 C4 C5 C6
Esta relação por multiplicação entre dois tetracordes fica ainda mais
evidente quando construímos um Tonnetz tridimensional para um tetracorde 4-
12 a partir de um tetracorde 4-27, bastando apenas substituir os ciclos
intervalares C5 pelos C1 (e vice-versa) – reiterando os demais ciclos – como
podemos observar na figura abaixo (Fig. 2.6 – 2):
152
Fig. 2.6 - 2: Tonnetze tridimensional de Gollin (1998), conjunto 4-12 (Dó Maior 7): ciclos
intervalares matriciais (C2, C4 e C1) e secundários (C3, C3 e C6)
22 Considerando que investigamos apenas uma projeção do cubo de oito alturas para cada uma
das dez inversões do conjunto 4-27. Provavelmente outras classes de conjuntos de octacordes
poderão aparecer seguindo outros reposicionamentos das alturas do tetracorde no hexaedro
(lembrando que o conjunto 4-27 prevê a combinação de seis ciclos intervalares, dimensões que
153
– além dos tetracordes 4-3, 4-26, 4-z15, 4-z29, entre os quais estão os conjuntos
matriciais que selecionamos para a composição da rede de projeções por
inversão a partir da “constelação Morris”. Além disso, quase todos os tetracordes
se relacionam por multiplicação M5 e M7 (4-26 e 4-3; 4-27 e 4-12; 4-z29 e 4-z15),
com exceção dos conjuntos 4-13 e 4-18 (Tab.2.6 – 4). Por outro lado, estes dois
últimos mantêm uma posição perpendicular e simétrica em relação ao grupo na
rede de projeções por inversão (Fig. 2.6 – 4), além da invariância de quatro
entradas dos vetores intervalares, com a inversão dos valores das entradas |2|
e |5|. Estas proximidades intervalares entre estes tetracordes ficam mais
evidentes na concentração destes seis conjuntos na mesma região da rede de
invariância entre vetores intervalares (Fig. 2.6 – 5).
Região C5 Região C1
Região central
Conjunto Vetores
4-18 [112101]
4-13 [102111]
Tab. 2.6 - 4: relações de invariância vetorial entre tetracordes de tetraedros implícitos no cubo
octatônico
159
Fig. 2.6 - 4: relações de rede de projeções por inversão entre tetracordes de tetraedros
implícitos no cubo octatônico
Fig. 2.6 - 5: relações na rede de invariância vetorial entre tetracordes de tetraedros implícitos
no cubo octatônico
25 nas faces superior e inferior, 4-10 nas faces laterais direita e esquerda, e 4-
28 nas faces frontal e fundo. Desta forma é possível tomar cada um destes
tetracordes como matrizes para a construção de três Tonnetze bidimensionais
interdependentes, que se relacionam em torno de um único Tonnetz
tridimensional. Temos ainda outros seis tetracordes simétricos que formam faces
transversais internas – de três pares dos conjuntos 4-9, 4-10 e 4-17 – que
possibilitam a construção de outros seis Tonnetze bidimensionais a partir de
cada um destes conjuntos. Temos assim um grande sistema interdependente
relacionando cinco matrizes de Tonnetze bidimensionais – a partir dos conjuntos
4-9, 4-10, 4-17, 4-25 e 4-28 – concatenados em um único Tonnetz tridimensional
formado a partir do cubo octatônico (conjunto 8-28).
Fig. 2.6 - 6: tetracordes simétricos que foram as faces externas do cubo octatônico
161
162
Fig. 2.6 - 7: tetracordes simétricos que foram as faces internas do cubo octatônico
Fig. 2.6 - 9: tetracordes simétricos que foram as faces externas do cubo diatônico
169
Fig. 2.6 - 10: tetracordes simétricos que foram as faces internas do cubo diatônico
Fig. 2.6 - 11: tricordes que formam o campo harmônico Maior implícitos no cubo diatônico
Fig. 2.6 - 12: tricordes Maiores e menores implícitos no Tonnetz para o tetracorde 4-26
Fig. 2.6 - 13: tetraedro que representa o tetracorde Sol Maior 7 implícito no cubo diatônico
172
Fig.3.1 - 1: Início do Opus 19/4 de Schoenberg, análise de Pousseur ([1956] 2009: 57-59).
23O autor Kenneth L. Hicken (1980) corrobora esta posição de Pousseur em seu artigo “Tonal
Organization In Schoenberg's. Six Little Piano Pieces, Op. 19”, também defendendo que a
organização das alturas no Opus 19 de Schoenberg se referia mais a uma expansão do que o
abandono da tonalidade.
174
tarefa que já lhe cabia durante toda a música tonal, qual seja, o
de pôr em dúvida, de perturbar, de dinamizar a ordem
estabelecida. O cromatismo nunca participa de modo orgânico
da constituição do espaço tonal, mas penetra aí como um
elemento estranho, intruso, e tende à sua transformação, senão
à sua destruição progressiva (POUSSEUR, [1956] 2009: 58-59)
Por fim o autor concluí com uma crítica apontando que de fato não
encontrou nada de inédito nesta proposta expressionista de Schoenberg
apresentada no Opus 19/4. Para Pousseur não se passava de mais um passo
adiante no processo de esgotamento e desmantelamento da tonalidade,
situação que levou a prática comum ao declínio no início do século XX.
25
Outros autores que se dedicam ao estudo deste trecho do Opus 16/3 em destaque são Charles
Burkhart (1974) e John Rahn (1980: 59-73), ambos corroborando uma perspectiva de análise
pós-tonal envolvendo questões harmônicas. Citamos também o estudo desta obra feito por Paulo
Zuben em seu livro Ouvir o Som (2005), em particular sobre o conceito de “melodia de timbres”.
Nesta proposta, o compositor sustenta por diversos compassos um mesmo grupo de classes de
altura, mas os timbres para estas notas vão sendo substituídos sucessivamente.
181
Fig.3.1 - 10: início da terceira peça para orquestra Opus 16, Farben de Schoenberg
(transcrição para piano de Webern)
Fig.3.1 - 15: reiteração do eixo soma 8, inversão entre conjuntos 5-z17, projeção do conjunto 9-
6
Fig.3.1 - 18: reiteração do eixo soma 8, inversão entre conjuntos 5-16, projeção do conjunto 6-
z49
Fig.3.2 - 5: pares de tetracordes inerentes a série do Opus 24, conjuntos 4-7 e 4-19
Fig.3.2 - 7: Invariância entre entradas de vetores intervalares dos conjuntos 4-7 e 4-19
192
Fig.3.2 - 11: hexacordes orientados em torno do eixo soma 11, projeção do conjunto 12-1
Fig.3.2 - 12: Relacionamento entre os conjuntos 3-3, 4-7, 4-19 e 5-z17, proximidades
harmônicas entre Schoenberg e Webern
195
Fig.3.2 - 13: série dodecafônica do primeiro movimento do Quarteto de Cordas, opus 28 (1934)
Fig.3.2 - 14: Tetracordes inerentes a série do Opus 28 de Webern, conjunto 4-1 invariante
(“motivo Bach”)
mesmo intervalo entre os trombones tenor e baixo. A única voz que não participa
desta projeção é a primeira trompa com a nota Sib.
26
A relação de multiplicação pelos fatores M5 e M7 implica na coincidência da segunda, terceira,
quarta e sexta entradas, além da inversão entre os índices da primeira e quinta entradas, fatores
que não estão presentes na relação entre os conjuntos 4-19 e 4-11.
204
Apesar de deixar claro em sua fala que admira muito a música de Villa-
Lobos, encontramos poucos trabalhos de análise musical interessados nas
obras de Tom Jobim a partir de uma perspectiva harmônica, que corroborem
esta afirmação através de estudos comparativos entre obras dos dois artistas27.
Intentando por este caminho, Salles (2014) apresenta indícios desta absorção
de características composicionais de Villa-Lobos empreendida por Tom Jobim,
destacando a provável citação de contornos melódicos da obra Abril de Villa-
Lobos em Chovendo na Roseira.
27
Encontramos alguns caminhos pertinentes para a análise desta obra no artigo “Chovendo na
roseira de Tom Jobim: uma abordagem schenkeriana” de Carlos Almada (2010). Um trabalho
mais recente que também se adianta na busca por detalhes desta relação entre Tom Jobim e
Villa-Lobos é o artigo “Villa-Lobos, Tom Jobim e a Bossa Nova: uma análise comparativa de
possíveis influências e conexões” de Ripke (2017).
210
Fig.3.6 - 3: Acordes Ab6/9 e Ebm7/Ab: duas pentatônicas 5-35 invertidas entre si em torno do
eixo soma 6
211
Mais detalhes sobre a oposição entre as alturas referentes às teclas pretas e brancas do piano
28
Fig.3.6 - 4: Coleção Réb diatônica formada pela combinação entre os acordes Ab6/9 e
Ebm7/Ab, reiteração do eixo soma 6
Esse raciocínio foi assim colocado para que possamos perceber que um
outro palíndromo que aparece na melodia dois compassos mais à frente, desta
vez uma sequência de notas ascendente até Mib e depois descendente a partir
desta mesma altura, é uma reflexão do seu precedente (Fig.3.6 – 9).
Fig.3.6 - 10: Combinação entre palíndromos melódicos formando um eixo em torno da altura
Mib
Também foi possível localizar este conjunto 4-23 que forma o tetracorde
Fsus4/7 como a face inferior do cubo de alturas para a coleção Réb diatônica
(Fig. 3.6 – 13).
218
Fig.3.6 - 13: tetracorde Fsus4/7 (conjunto 4-23) implícito na face inferior do cubo diatônico
Temos até aqui uma série de indícios que nos levam a considerar a
hipótese de que Tom Jobim se valeu de procedimentos harmônicos pós-tonais
assimilados pelo compositor em seus estudos sobre a obra de Villa-Lobos e
talvez de outros modernistas europeus como Debussy e Stravinsky. Mais do que
citar gestos que lembrassem músicas de seu antecessor, Tom Jobim nos mostra
que compreendeu em um considerável grau de profundidade o esquema
composicional utilizado por Villa-Lobos, muito antes do que críticos e
musicólogos, e as empreendeu deliberadamente na elaboração de uma de suas
canções. Concluímos com isso que, compreender os mecanismos que
engendram a obra de Villa-Lobos é, mais do que entender os meandres de
criatividade deste ícone da música erudita da primeira metade do século XX,
entender os desdobramentos deste estilo modernista servirem de pedra angular
na construção de um dos principais gêneros da música popular brasileira da
segunda metade do mesmo século, a Bossa Nova.
***
Para que esta aplicação da rede de projeções por inversão e da rede de
invariâncias entre entradas de vetores intervalares seja mais eficiente, é
necessário a inclusão de uma quantidade significativa de análises de outros
trechos de obras pós-tonais (conteúdo não previsto em nosso trabalho,
considerando as dimensões desta pesquisa), buscando um maior número de
amostras para que possamos avaliar com maior consistência sobre as estruturas
223
Model 1 2 3 4 5 6
Relação T1 T2 T3 T4 T5 T6
intervalar
***
Desde os compassos iniciais da Sinfonia nº7/I (Fig.3.9 – 1) podemos
perceber uma obra que se inscreve em parâmetros composicionais inclinados
para o uso de procedimentos harmônicos pós-tonais. Após um grande glissando
descendente entre todos os instrumentos da orquestra, que muito se assemelha
ao início de outra obra de Villa-Lobos, Uirapuru (1917), temos a sequência de
três blocos harmônicos (Fig. 3.9 – 2) no naipe dos sopros (c.2) – desenhados
sobre o motivo principal que rege toda a seção do Tema I – que visivelmente não
seguem a padrões triádicos convencionais.
228
hexacordes 6-z29 para os conjuntos 7-32 – exceção da altura Sol para a coleção
Mib HM (conjunto 6-z29, soma 11) e a altura Fá para Ré hm (conjunto 6-z29,
soma 1) – e o pentacorde 5-22 para o conjunto intermediário 6-z19 – com
exceção da altura Réb. Temos assim uma progressão de um movimento anti-
horário dos eixos de soma29, seguindo a sequência das somas 1, 0 e 11.
29
Verificamos a mesma recorrência à movimentos de eixos de soma como fator de estruturação
harmônica também no início do Choros nº7 de Villa-Lobos (ALBUQUERQUE, 2014).
230
Soma 0 3 5 7 8 10 11 2
9 0
Ré harmônica menor (7-32A)
7 0
5 0
4 0
2 0
1 0
10 0
Este eixo soma 0 ganha ainda mais relevância quando percebemos que
o grupo completo de alturas que integram os três blocos harmônicos analisados
– um conjunto 11-1 (ausência da altura Fá#, Fig. 3.9 – 4) – também está
orientado em torno desta mesma mediatriz, gerando destaque para as alturas
Dó e Fá#, alturas por onde perpassa o eixo soma 0.
231
A seguir selecionamos outro trecho da Sinfonia nº7 (c. 7-11, Fig. 3.9 – 6),
apresentado no naipe das cordas (replicado pelo piano). Na análise deste
segundo exemplo da obra de Villa-Lobos, recorremos mais uma vez aos
recursos desenvolvidos neste trabalho para o estudo de obras pós-tonais. Neste
caso, verificamos uma sequência de duas camadas estratificadas de tetracordes
caminhando em direções opostas (ascendente e descendente), seguindo uma
sobreposição de grupos de alturas que não geram padrões harmônicos
convencionais.
233
Fig.3.9 - 7: Combinação de um par do tetracorde 4-22, projeção do conjunto 8-24, eixo soma 4
234
como podemos perceber na figura a seguir (Fig. 3.9 – 9). Destacamos que a
maioria dos conjuntos escolhidos por Villa-Lobos está relacionado na região C5
deste sistema, com exceção dos tetracordes 4-17 e 4-18, os quais pertencentes
à região central. Importante ressaltar ainda que o compositor prefere conjuntos
da parte inferior da rede de projeções por inversão (tanto na perspectiva a partir
de tricordes, quanto na versão com a “constelação Morris”), assim como
percebemos também na análise do início do Choros nº4, o que parece ser uma
característica preponderante na linguagem harmônica do compositor. Entretanto,
neste trecho em particular da Sinfonia nº7, Villa-Lobos seleciona prioritariamente
conjuntos da região C5, seção harmônica regida pela destacada presença
invariante da classe de intervalo |5| (quartas e quintas justas) e menor influência
das classes de intervalo |1| (segundas menores e sétimas maiores) e |6|
(trítonos). Neste recorte, o compositor opta por não utilizar conjuntos
relacionados por multiplicação pelos fatores M5 e M7 (diferente do que aconteceu
no Choros nº4, onde havia esta relação), ou seja, Villa-Lobos não apresenta os
conjuntos correspondentes da região C1, relacionados ao tetracordes da região
C5 em questão.
236
Fig.3.9 - 10: Relação entre tetracordes por invariância de entradas de vetores intervalares
CONCLUSÃO
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