Plato

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Utilizando o texto que já lhe enviei sobre a pandêmia, me foi possível acrescentar novas coisas

nesse pensamento. Supondo que toda virtude é uma participação no Uno (colocando de uma
forma mais clara: todo o exercício da virtude é como uma presença na essência divina, visto
que ela emana todas as coisas boas.) Misturando a visão dos universais de Aristóteles e Platão,
da para dizer que as ideias também estão em nós, talvez de uma forma “adormecida”, sendo
“ativadas” quando postas em exercício. A prática do bem, então, partiria de uma virtude (ou
fim) pré-existente na nossa alma, que após ser “ativada” (posta em prática), nos coloca em
sintonia com Deus (pelo menos no decorrer do ato), agindo como uma participação na
essência d’Ele, pois ele é o Bem e tudo que há de bom provém dele, mesmo que já existisse
uma pré-disposição a isso na nossa alma (que foi colocada por ele). Sabendo que a Pandêmia
não é ruim per si, mas sim a sua distorção, podemos atribuir essa perversão aos indivíduos que
a distorcem ou ao excesso dela. Sendo bem curto e antecipando boa parte da justificação, é
possível cravar que o excesso de algo bom não pode resultar em algo ruim, visto que o
semelhante não pode gerar dissemelhante (não sem um componente dissemelhante). O
“excesso” do bom criticado por Aristóteles é também uma perversão, visto que é uma
deturpação mansa e covarde, enquanto a deturpação ruim é profana e devastadora. Não matar
alguém em uma situação de legítima defesa (quando é justificável matar e se tem os meios
necessários pra isso), é covardia, não bondade em excesso. Suponho que isso seja o suficiente
para mostrar que o excesso de algo bom não pode resultar em algo ruim. Se a segunda
hipótese é inválida, a única que nos resta é a primeira. Como eu já disse em outra mensagem:
Protágoras não estava totalmente errado quando disse que o homem é o mediador do
conhecimento. O mundo se projeta de uma forma singular para cada indivíduo, não pq ele se
altera, mas pq cada indivíduo possui uma captação diferente. Somos afetados de diferentes
formas e recebemos influências diversas, o que nos torna diferentes, tanto nas perspectivas
como nas abstrações. A alma opera em cima do sensível, ela utiliza dele para ter contato com o
mundo, sendo praticamente impossível conceber algo sem antes ter contato com aquilo. Os
órgãos sensíveis e as imagens são intermediários entre o objeto e a alma, pois são eles que
possibilitam a nossa apreensão da realidade de forma total. O sensível é incapaz de conceber a
essência, porém, a essência é incapaz de conceber o sensível por si só. Um depende do outro,
é uma relação de mutualidade. É por isso que as influências que recebemos do mundo exterior
também afetam a nossa percepção sensível, podendo modificar a realidade apenas para se
encaixar dentro da realidade separada existente no sentiente. Eu já citei o exemplo da URSS,
mas vale a pena relembrar: um comunista trata o regime soviético como algo glorioso e bom,
pois atende as suas perspectivas de mundo. Os problemas são tratados como pequenas falhas
metodológicas ou interferências do capital na estrutura de formação da comuna, não dando
espaços para falhas na própria teoria. O liberal vê de forma diferente, visto que ele visualiza a
experiência soviética como um fracasso total, apontando os problemas como consequências da
teoria marxista. Os dois percebem de formas diferentes por conta das suas ideias diferentes.
Isso não é um defeito, mas apenas uma consequência de ser humano. É impossível que
qualquer ser observe um objeto na realidade e o abstraia sem antes ter recebido nenhuma
influência, afinal, se assim fosse, nem palavras para descrever ele teria, pois a própria língua já
é uma influência externa. Aqui fica claro que Protágoras não estava tão errado quando afirmou
aquilo, apesar de sua conclusão ser de fato errônea. Enfim, se nós percebemos de forma
singular e através de influências externas, fica claro que a realidade pode muito bem ser
distorcida conforme o indivíduo queira (de forma consciente ou não). Trazendo a noção de que
o bem não pode gerar o mal, é perceptível que tudo que Deus criou é bom, já que por
impossibilidade ele não pode gerar algo contrário a sua natureza. Se tudo que foi criado por
Deus é bom, todos os prazeres existentes são bons per si. Então, fica claro aqui que a
inferioridade da pandêmia não surge do prazer, mas sim da facilidade de sua distorção, seja
pelo belo ser mais oculto na carne (por ser algo imaterial, o que não o torna presente na carne,
mas sim da satisfação da alma que aquilo gera), ou por ser mais fácil de ser deturpado, visto
que o prazer gera vício quando é descuidado. A concepção do prazer carnal é, por questões
lógicas, antes sensível e depois racional. Por ser recebido através do corpo, o seu contato
imediato se dá com o sensível, sendo posteriormente captado pela alma, que atua de forma
“secundaria” nessa questão (acho que deu pra entender). Se o prazer é, antes de tudo,
concebido pelo sensível, é dedutível que a sua perversão surja de uma alteração nos sensíveis.
Resumindo tudo: a distorção da pandêmia e a troca de bens menores por bens maiores surge
da distorção sensível do objeto, fazendo com que o sentiente opte por um imediatismo
corpóreo (prefere atividades onde a atuação da alma é secundária), ignorando os
benefícios/malefícios que isso gera em sua alma. Ou seja, o mal surge de uma alteração do
sensível e de uma secundarização da alma.

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