O Experimento Do Amor Verdadeiro - Christina Lauren
O Experimento Do Amor Verdadeiro - Christina Lauren
O Experimento Do Amor Verdadeiro - Christina Lauren
1. Capa
2. Folha de rosto
3. Sumário
4. Prólogo
5. Um
6. Dois
7. Três
8. Quatro
9. Cinco
10. Seis
11. Sete
12. Oito
13. Nove
14. Dez
15. Onze
16. Doze
17. Treze
18. Catorze
19. Quinze
20. Dezesseis
21. Dezessete
22. Dezoito
23. Dezenove
24. Vinte
25. Vinte e um
34. Trinta
35. Trinta e um
44. Quarenta
45. Quarenta e um
54. Cinquenta
55. Cinquenta e um
56. Agradecimentos
58. Créditos
Landmarks
1. Cover
2. Title Page
3. Dedication
4. Table of Contents
5. Prologue
6. Acknowledgments
7. Copyright Page
E para Jennifer Yuen, Patty Lai, Eileen Ho, Kayla Lee e Sandria
Wong:
Prólogo
FIZZY
“Eu sou a mais velha de três irmãos, mas costumo brincar que sou
como a primeira panqueca feita na frigideira.” Risadas se espalham
pela plateia, e eu sorrio. “Vocês sabem como é, né? Aquela que sai
meio errada, um pouco crua, mas mesmo assim é gostosa.”
Um
FIZZY
“Não.” Ela ergue a taça de vinho com um gesto todo afetado. “Agora
você vai ter que adivinhar.”
Fico só olhando para ela. Jess e seu marido, o já citado River Peña,
parecem estar sempre conectados por um raio laser sexual em
constante vibração. A resposta aqui é bem óbvia. “Fazer sexo em
todas as superfícies possíveis no quarto do hotel.”
Jess ainda está com a taça próxima aos lábios. “Que interessante o
seu segundo palpite ser esse. Mas não.”
“Totalmente antiético.”
Olho para o meu martíni pela metade para evitar seu olhar de
preocupação maternal. Jess tem uma cara de mãe que sempre me
faz sentir que preciso escrever imediatamente um pedido de
desculpas, não importa o que eu tenha aprontado.
“Esse clima.” Ela levanta a taça de vinho com a mão livre. “Eu pedi
um vinho da Vinícola Tora, e você não fez nenhuma piada sobre
parreiras grossas e compridas.”
Eu faço uma careta. Nem me dei conta. “Admito que foi uma bela
oportunidade perdida.”
“Eu fui ver a Kim mesmo”, falei, “e ela me passou uma lição de
casa.”
“Bom, não é uma coisa que acontece de uma hora para a outra.
pensar que talvez possa ter perdido minha chama criativa me fez
pensar que talvez isso tenha acontecido porque parei de acreditar no
amor.”
“Fizz…”
“Acho que eu posso ter passado do ponto do amadurecimento.”
“Quê? Isso é…” Ela pisca algumas vezes, e seu argumento fica pela
metade. “Bom, na verdade é uma metáfora muito boa.”
“Quem dera! E, depois que você fica solteira por tanto tempo, nem
sabe mais se tem condições de manter um relacionamento.”
“Recursos… locais?”
“Qual é.”
Ela estreita os olhos. “Acho que lembro de ter ouvido esse nome.”
Ela não consegue mais segurar a risada. “Mas com certeza isso deve
acontecer com ele e com o Leon o tempo todo.”
Faço uma pausa para dar mais peso ao que vou dizer em seguida.
“Ele é o primo de quem os gêmeos vieram morar mais perto.”
Preciso admitir que a risada dela agora foi mais parecida com um
grunhido. Esse tipo de coisa costumava ser divertido. A gente morria
de rir — ter uma vida sexual dessas era demais. As Aventuras da
Fizzy eram uma inspiração constante para mim — mesmo que um
encontro fosse um desastre, eu ainda poderia transformá-lo em algo
engraçado ou pelo menos em uma ideia para um diálogo. Mas, a
essa altura, tenho seis livros parcialmente escritos sobre pessoas
que se conhecem numa situação superbonitinha e então… nada.
Tem uma pedra no caminho do
Nada.
Ainda nada.
“Eu não dormi com nenhum deles”, vou logo dizendo. “Não vou para
a cama com ninguém há um ano.” Eu fiz as contas alguns dias atrás.
É
“Uau.”
“Vi um filme pornô outro dia e não senti praticamente nada.” Eu olho
para o meu colo. “Acho que os meus nervos lá embaixo pifaram.”
Por uma fração de segundo, percebo que ela está pensando em não
me deixar alterar o rumo da conversa, mas acaba embarcando na
minha. “Nós chegamos a um acordo bem claro de que crise
nenhuma
justifica uma franja. Me desculpa, mas o comitê das melhores
amigas vetou.”
“Não.”
E uma coisa fica bem clara pela expressão dela: a parte do marido já
é tão natural quanto respirar. Isso porque a ciência, ou mais
especificamente a invenção de River — um teste de DNA que
classifica casais em níveis de compatibilidade Básico, Prata, Ouro,
Platina, Titânio e Diamante, de acordo com toda uma série de
padrões genéticos complexos e testes de personalidade —, mostrou
que eles combinavam um com o outro tanto quanto era
humanamente possível.
porque eu fiz uma versão inicial chegar às mãos dela. Onde está o
carma positivo que eu mereço por isso? River transformou sua
pesquisa de décadas sobre padrões genéticos e compatibilidade
romântica no aplicativo DNADuo e na empresa bilionária GeneticAlly.
Hoje a GeneticAlly é a galinha de ovos de ouro da indústria de
biotecnologia e de aplicativos de relacionamento. A empresa de
River não sai do noticiário desde seu lançamento.
Tudo isso é incrível, mas, para alguém como River, que prefere
passar o tempo trancado no laboratório a ficar presidindo reuniões
com investidores ou respondendo a perguntas de jornalistas, acho
que todo esse frenesi deve ser um pé no saco.
Eu não consigo nem imaginar como deve ser isso. O conselho diretor
da GeneticAlly aceitou a proposta, mas tem um monte de outros
acordos envolvendo direitos subsidiários que eu simplesmente não
entendo. Só o que sei é que eles vão ficar tão ricos que Jess com
certeza vai ser a encarregada de pagar os drinques esta noite.
Jess sorri para mim, mas seu sorriso desaparece logo em seguida.
“Você sabe que a Fizzy de sempre vai voltar, né?”, ela pergunta.
“Acho que você está numa fase de transição, e descobrir o que vem
a seguir vai levar algum tempo.”
Olho para o outro lado do bar outra vez, para o gostosão com o
colarinho da camisa aberta. Procuro por alguma vibração no meu
sangue, no mínimo uma leve empolgação. Nada. Desviando o olhar
de novo, solto o ar bem devagar. “Espero de verdade que você
esteja certa.”
Dois
CONNOR
Ou pelo menos tinha até hoje, quando meu chefe, o tal Blaine
Harrison Byron — um homem com um escritório cuja decoração
inclui um pedaço de laje de concreto grafitado, uma estátua em
tamanho real de uma mulher nua e, a aquisição mais recente, uma
sela de couro novinha —, me disse que a empresa estava dando
uma guinada importante, saindo do ramo das produções de
conscientização social
“Vamos falar mais sobre isso”, Ash diz quando um comercial das
lanchonetes Jack in the Box começa a passar na tevê. “O que foi que
o seu chefe disse especificamente?”
“Em voz alta”, confirmo. “Disse que as pessoas não estão a fim de se
sentar no sofá depois de um dia duro de trabalho e se sentir mal por
causa da embalagem plástica do sanduíche que comeram na hora do
almoço, ou por causa de toda a água que é desperdiçada para gerar
eletricidade para recarregar seus iPhones.”
“Ele disse que quer que eu mire no público feminino.” Dou um gole
na minha cerveja e abaixo o copo, com os olhos fixos na mesa.
“Falou que o Bravo é o canal a cabo número um do horário nobre
entre as mulheres de dezoito a quarenta e nove anos por causa de
dois reality shows famosos, e que essa faixa de público é a que mais
gasta dinheiro. Por isso, os executivos podem aumentar o preço de
exibição dos comerciais. Eles já colocaram o Trent, um dos meus
colegas, para trabalhar em uma mistura de Amazing Race e
American Gladiators que estão chamando de Smash Course. E agora
querem que eu produza um programa de namoro.”
“Tipo, mulheres competindo pra ver quem é a escolhida de um
bombado besuntado de óleo”, Ash comenta.
“Exatamente.”
“Sim, mas…”
Ele ri. “É só deixar o seu pudor britânico de lado. Finge que você é
americano.” Quando ele põe a cerveja na mesa de novo, percebo
que abotoou errado sua camisa. Ashkan Maleki está com os
cadarços desamarrados, com o zíper aberto ou mostrando algum
outro tipo de desleixo pelo menos cinquenta por cento do tempo. É
uma coisa cativante, mas não faço ideia de como ele faz para
sobreviver todos os dias a uma sala cheia de crianças de seis anos
sem papas na língua.
“Todo trabalho tem seu lado negativo. A gente precisa respirar fundo
e aguentar firme.”
Por sorte, quando o ano letivo acabou, Stevie foi para outra sala e
minha amizade com Ash se manteve.
“Você adora dar aula”, respondo.
“Na maior parte dos dias. As crianças são ótimas”, ele explica. “São
os pais que dão dor de cabeça.”
Ash abre um sorriso e enfia uma batata frita na boca. “Não, você e a
Nat eram legais. Stevie me contou umas fofoquinhas, mas nada de
mais.” Ele se inclina para a frente e baixa o tom de voz. “Você não ia
acreditar nas coisas que as crianças me contam. Tem pais que são
completamente malucos. Um deles chegou a ameaçar me bater
porque o filho perdeu o concurso de soletrar da escola. Os pais
estavam preocupados com a carreira acadêmica da criança.”
Ela teve que levar Stevie junto para resolver umas coisas na rua e só
voltaria para casa em algumas horas. Agora, além de uma carreira
indo para o buraco, eu estava perdendo um tempo precioso com a
minha pessoa favorita no mundo.
“Vai lá… Acerta essa!”, ele grita. Mas sua expressão logo dá lugar ao
desânimo. “Nããão.”
“Não sei como, mas a Ella é muito fera. Não perde nunca.”
“Você perdeu para a sua mulher?”
Ele ergue os olhos para mim enquanto digita uma mensagem. “Tô
pensando em ir com ela pra Las Vegas.”
“Eu sei que você odeia isso. Sei quanto considera seu trabalho
importante. Graças a você, faz dois anos que não jogo no lixo
comum as embalagens de chiclete e as garrafas plásticas usadas.
Nós vamos usar fraldas de pano, cara.”
Ash apoia os dedos sob o queixo. “Tô falando isso porque sei que
você quer se manter fiel aos seus princípios. Quer fazer coisas
importantes. Mas eu também sei que você não pode perder esse
emprego. Hoje você perdeu só algumas horas com a Stevie. Imagina
como seria se precisasse se mudar de volta pra Los Angeles.”
“Bom, o mundo pode não precisar, mas com certeza vai querer mais
um: a Ella assiste a todos esses programas. O que você precisa é de
Erguendo o queixo, pergunto para Ash: “Você acha que aqueles dois
são um match Ouro?”.
Ele olha para eles por alguns segundos e leva sua bebida à boca.
Três
CONNOR
“Desculpa, malandrinha.”
“Aposto que era uma coisa incrível”, ela diz, toda ardilosa. “Você tem
as melhores ideias e faz os melhores documentários.”
“Qual é a pegadinha?”
Ela pula do sofá e sobe a escada com suas pernas compridas ainda
meio desengonçadas. Juro que está mais alta do que quando a vi no
domingo. O cachorro vai correndo atrás.
“Eu percebi.”
Insu é o namorado de Natalia. Ele tem vinte e seis anos… sim, isso
mesmo. Nós demoramos alguns anos para deixar de cair nas
armadilhas
Natalia fica desconfiada. “Por que a minha autora favorita está por
toda parte nessa tela?”
“E você quer sair com alguém, por falar nisso? Você sabe que não
precisa virar monge, né?”
“De novo essa conversa.”
tona e a minha filha nunca mais vai conseguir olhar na minha cara
de novo.
“Eu sinto muito”, Nat diz, apesar de não parecer sentir coisa
nenhuma. “É só pôr uma sineta na porta do quarto dela. Funciona
direitinho.”
“Então é oito mais novo que você. Espero que você mantenha o
armário de bebidas trancado.”
Uma almofada acerta minha cabeça bem no momento em que
Stevie aparece com suas coisas, com Baxter e sua bolsa de roupas
para o fim de semana a tiracolo.
Quatro
FIZZY
Contei para todo mundo que uma obra minha ia virar filme. Separei
cinco horas para percorrer os quase duzentos quilômetros entre San
Diego e Los Angeles e depois tive que pagar quarenta dólares de
estacionamento para ter um lugar onde esperar, porque cheguei três
horas adiantada. Fiquei sentada no carro imaginando o que usaria
no tapete vermelho, quem poderia ser escalado como meu
protagonista e como seria vê-lo na telona pela primeira vez. Cheguei
com um sorriso aberto, muitos planos e grandes esperanças.
“Eu não sei onde fica, mas é um belo nome para um covil de
piratas.”
Ele fica hesitante, e sua boca começa a formar uma palavra, mas sai
outra, com um formato diferente. “Acho que não. Mas minha ex-
mulher é uma grande fã sua.”
Acabo soltando uma risada involuntária e indelicada. “Olha, preciso
admitir que esse é o elogio mais esquisito que já ouvi na vida.”
Até mesmo a careta que ele faz parece perfeita demais para ser
verdadeira. “Desculpa. Acho que foi um jeito estranho de dizer que
fiquei bem impressionado com você. Natalia é bem exigente com
seus gostos, e ela tem todos os seus livros.”
Deve ser por isso que eu estou aqui. “Parzinho básico, então.”
“Bom, Ted…”
“Connor.”
“… eu vou ser bem sincera”, aviso, ignorando o que ele disse porque
seu nome realmente não faz a menor diferença aqui. “Os direitos
estão disponíveis, e eu não me oponho a trabalhar com quem queira
transformar o livro em um filme ou uma série, mas esse projeto é
especial para mim por uma série de razões, a minha preocupação é
que…”
“Eu sei.”
“Pensei que estivéssemos falando a mesma língua aqui.” Eu estendo
um dedo e aponto para ele e para mim. “Mas pelo jeito não estamos
nos entendendo bem.”
Ele ri e, além do som sexy que ressoa em seu peito, revela uma
covinha em uma das bochechas.
“Sim.”
“Sim.”
“Sim.”
“Steven?”
“Eu…”
“Eu nunca sei quando usar essa palavra”, admito, ignorando o leve
tom de desaprovação na voz dele. “Namorado é alguém com quem
você transa mais de uma vez? Existe um namorado de uma noite e
nada mais? Um namorado de fim de semana? Ou é preciso definir
isso depois de um certo tempo saindo juntos? Mas, seja como for,
não. Não estou namorando nenhum desses caras, de jeito nenhum.”
Resolvo deixá-lo proferir todo seu discurso, já que ele parece ter se
preparado tanto para isso. “Fique à vontade, Colin.”
“Minha nossa.”
“Humm, continua.”
“Então você vai deixar o público votar e escolher com quem eu vou
ficar? A minha opinião não conta nada?”
O Britânico Gostosão faz que sim com a cabeça. “Seus livros são
best-sellers internacionais, Felicity. Você tem leitoras de todas as
idades e condições socioeconômicas — e suas maiores fãs estão
justamente na faixa que é o público-alvo dos reality shows. Essa
confluência pode ser bem vantajosa tanto para a venda dos seus
livros como para os nossos índices de audiência.”
Fico olhando pela janela. Eu estava errada: não foi nem um pouco
agradável ele ter sido tão direto sobre o motivo para me querer
aqui.
Quando me volto de novo para ele, sinto alguma coisa esfriar dentro
de mim. “Isso é uma coisa bem bacana de se dizer, mas por que soa
irônico quando você diz?”
Cinco
CONNOR
Felicity vai embora de uma forma tão abrupta que o impacto faz
meus pensamentos se chocarem contra o meu crânio e fico
simplesmente com o olhar perdido, mudo. Eu sabia que uma mulher
tão linda e bem-sucedida como ela poderia não se interessar pela
ideia de protagonizar um reality show, mas de forma nenhuma
esperava que a proposta fosse deixá-la revoltada. Se eu não consigo
nem vender a ideia do programa sem me sair terrivelmente — e
misteriosamente — mal, então que chance eu tenho de torná-lo um
sucesso?
“De dólares?”
Ele respira fundo pelo nariz e solta o ar com força, como se sua
paciência estivesse prestes a se desfazer como uma camada de gelo
perigosamente rachada na superfície de um lago. “Como eu falei,
amigo, todo mundo quer fazer isso acontecer. Por falar nisso, a Barb
da programação deve ter uns belos favores pra cobrar, porque
conseguiu
“Aos sábados”.
“Por causa da grana?” Ele parece incrédulo. Para Blaine, esse seria o
único motivo lógico para alguém recusar uma proposta assim. “Tem
gente que é burra demais pra reconhecer uma boa oportunidade.”
“Eu queria encontrar alguém com uma ligação bem forte com o
público-alvo”, explico, tentando redirecionar minha irritação para
algo mais produtivo, “mas talvez estivesse pensando muito fora da
caixinha.
Pobre Trent. Sem dúvida, é a única pessoa que leva o horário das
reuniões a sério por aqui. “Certo”, eu digo. “Eu tava falando com o
Blaine.”
“Ah, é?” Ele dá uma olhada rápida por cima do ombro. “Você tem
um minutinho?”
“Claro.”
“Pelo jeito você fez uma leitura correta da situação.” Ele sente o
baque, e eu tento amenizar o impacto. “Se serve de consolo, eu tô
no mesmo barco. Ele me escalou pra fazer um programa de
namoro.”
“Com certeza vai dar tudo certo. Uma coisa de cada vez, né? O que
eu preciso agora é encontrar alguém” — eu faço sinais de aspas no
ar
— “‘do sexo frágil que esteja disposta’ a fazer logo essa porcaria.”
Seis
FIZZY
“Você quer mesmo que eu faça parte disso?”, pergunto sem rodeios.
Ele engole em seco e olha para o outro cara presente na sala, que
parece querer abrir um buraco no chão e sumir. “Acho que você é a
única pessoa capaz de transformar esse projeto em uma coisa que
valha a pena.”
Não sei se ele está falando isso por pura ignorância ou por
consideração. “No elevador, eu me dei conta de que talvez a minha
resposta tenha sido precipitada demais.”
“Eu posso fazer o programa, desde que seja nos meus termos.”
“Posso confiar que os seus termos vão ser razoáveis?”, ele pergunta
por fim. “E que você vai levar o público-alvo em consideração?”
Eu levanto uma das mãos para calá-lo. Não preciso ouvir seu pedido
de desculpas; afinal, não estou fazendo isso por ele. “O que eu
quero ouvir é um sim ou não, Corey. A escolha é sua.”
Ele vira a cabeça para o outro lado, mostrando seu maxilar bem
definido e seu pescoço comprido. Por fim, se volta de novo para
mim.
“Meu nome é Connor.” Desta vez ele não sorri quando os nossos
olhos se encontram. “Não é Ted, nem Colin, nem Corey. É Connor.”
Sete
CONNOR
Quando não sou eu mesmo que preciso preparar, aprecio ainda mais
o valor de uma refeição.
Não compartilhei muita coisa com Nat porque na verdade não tenho
muito para contar. Felicity só se comunica comigo através de
intermediários — advogados e agentes. Ela está pegando pesado
comigo, e claramente de propósito.
Tipo, ela só mostra o que quer que as pessoas saibam. Parece ser
uma pessoa brincalhona, divertida e aventureira, mas um reality
show não parece ser a praia dela. Deve ter algum motivo para ela
estar com o pé atrás, e, se ela acha que você não está
entusiasmado com o projeto, é melhor você ir mudando de atitude.”
Natalia olha bem para mim. “Você é um cara maravilhoso, Conn,
mas está dando uma de esnobe, como se estivesse se rebaixando
por fazer isso.”
Reconheço meu erro assim que essas palavras saem da minha boca.
“Só estou dizendo que isso não é do meu gosto. Não tem problema
nenhum você gostar.”
“Sério mesmo que você não percebe que ela só tem um público que
torce por ela por causa do conteúdo desses livros?”
“Exatamente.”
“Sim, mas você não sente prazer lendo esses livros?”, pergunto,
confuso. “Onde está a condescendência nisso?”
“Sim, mas por que eu sentiria vergonha de ler uma coisa que me dá
prazer?”
“Leia um dos livros dela.” Nat pega sua colher de novo. “Se você
tiver a mente aberta, pode até acabar gostando.”
Eu sei que ela tem razão, e quando estou prestes a dizer isso meu
celular vibra em cima da mesa com a chegada de um e-mail. Assim
que abro a mensagem, minha mente aberta vai para o espaço. “Mas
que porra é essa?”
Nat estende a mão para ajeitar a tiara de Stevie. “Quem diria que
saber como esses programas funcionam poderia facilitar o trabalho
dele?”
“Ah”, Natalia diz, com uma empolgação contida. “Ah, Fizzy Chen,
puta que pariu, você é a minha heroína.”
Oito
FIZZY
“Sinceramente”, diz Jess, sentada à minha frente no Twiggs, “se
quem estivesse com o nariz enfiado no celular fosse eu, você ia me
pedir pra ver a putaria também ou então pra largar isso.”
Darcy?, ele escreve. Não sei nem o que isso quer dizer.
“Felicity.”
Balançando a cabeça, eu digo para Jess: “Acho que você não vai
querer saber o que eu estou fazendo.” Meu celular vibra de novo.
“Ainda melhor.”
Vampiro?
Use a criatividade.
“Ã-ham.”
“Como assim o que foi que eu fiz? Por que você vai logo presumindo
que eu aprontei alguma coisa?”
“Vejamos”, Jess responde, segurando sua xícara com as duas mãos e
se inclinando para a frente. “Teve uma vez que você me convenceu
a ir a uma praia de nudismo no seu aniversário e, quando vi,
estávamos andando peladas em uma área privativa.”
“Você só ficou sozinha por, tipo, meia hora, e mesmo assim eu fiz
questão de garantir que estivesse muito bem hidratada!”
“Bom, quando você junta tudo desse jeito fica parecendo que eu sou
terrível de verdade!”
Por fim, eu assinto com a cabeça, porque afinal é justo. “Eu só estou
tentando deixar o programa mais legal.” Ela se mostra ainda mais
cética, então eu lembro: “Você é que não quis saber mais sobre esse
reality show pra não precisar esconder nenhuma informação do
River”.
Isso significa que não posso contar nada para Jess também, ou ela
vai entrar em combustão espontânea por estar escondendo alguma
coisa do marido. É só por isso que ela está fingindo que não está
interessada.
O que significa que não vai demorar muito para ela ceder.
Em três… dois…
“Estou quase com medo de perguntar quais são os seus termos”, ela
comenta, batendo com o dedo casualmente na lateral do notebook
sobre a mesa. “Se eu conheço bem você, deve ser uma loucura.”
Quando levo a xícara à boca, percebo que meu café já esfriou. “Isso
foi uma pergunta?”
“Então tá.”
“Ele pode chorar em cima das pilhas de dinheiro que vai ganhar.”
“Escuta só”, digo a ela. “Quanto mais penso nessa ideia, mais eu
gosto dela. O executivo Britânico Gostosão quer que eu participe de
um reality show de namoro, certo? Quer me enfiar em uma casa
com doze caras, me deixar toda gostosa e pedir para o público
decidir a cada semana quem deve ser eliminado.”
Jess franze a testa. “Eles vão topar uma coisa dessas? O objetivo
desses programas não é criar uma experiência mais intensa, de
proximidade forçada? Voltando pra vida real vocês não iam acabar
conversando com as suas famílias sobre o programa pra ouvir
conselhos e opiniões?”
“Eu mandei uma lista de vinte arquétipos: nerd gato, professor, astro
do rock, militar de elite etc. Ele vai escalar oito heróis românticos
que se encaixem nessas categorias.” Diante da expressão de
descrença dela, eu acrescento: “Não é tão difícil assim”.
Jess estende a mão para mim. “Me deixa ver essa lista.”
“Continua lendo.”
“A Amaya acha que isso é uma boa ideia?”, Jess questiona, sem
acreditar.
“Eu não diria isso, mas ela e a minha agente de direitos audiovisuais
acham que seria uma ótima exposição. E, como literalmente não
tenho mais nada rolando, fui aconselhada a ‘levar a hipótese em
consideração’. Ela também me lembrou que o motivo que me levou a
fazer o DNADuo, pra começo de conversa, foi pesquisar para um
livro e que o programa também poderia servir pra isso.”
“Não existe a menor chance de que ele me queira tanto assim pra
aceitar tudo isso.”
Nove
CONNOR
Quando Felicity Chen volta ao meu escritório para uma nova reunião,
parece bem mais disposta a entrar no jogo. Em vez de botas e calça
jeans rasgada, está com um terninho preto feito sob medida e uma
expressão que deixa claro que sem dúvida pretende discutir questão
por questão daqui em diante. Ela recusa educadamente o café que
Brenna oferece e vem até a minha mesa, onde estou de pé para
cumprimentá-la.“Felicity, que bom ver você.”
Preciso me esforçar mais do que gostaria para não fixar meus olhos
em seus tornozelos expostos.
“Estou ótima.”
“Obrigada por aceitar conversar”, ela diz. Seus cabelos estão presos
em um coque; algumas pequenas mechas se soltaram, caindo
suavemente sobre o pescoço comprido e delicado. Ela está com
pouca maquiagem, eu acho, mas seus lábios são de um vermelho
suave e perfeito. Mesmo que o programa acabe virando um circo,
essa mulher vai ficar linda na tela.
Foi mesmo, mas não vejo por que nos estendermos sobre isso.
Decido ser sincero. Nós mal nos conhecemos, mas já percebi que
não quero que essa mulher me pegue mentindo. “Realmente, não
teria sido a minha primeira escolha.”
“Na reunião anterior você disse que um dos motivos pra me convidar
era nosso público-alvo, que é praticamente o mesmo. Me fala um
pouco mais sobre isso.”
Ela não está sendo grosseira, mas não gosto de ficar na defensiva,
de ter que tomar cuidado com o que falo porque ainda não temos
um contrato assinado, e preciso disso antes do fim desta reunião.
Depois de analisar as ideias de Fizzy, Blaine me deu dois meses de
pré-produção e cinco semanas de filmagens, com episódios
finalizados indo ao ar ao fim de cada semana. Isso significa um
trabalho insano de edição a cada poucos dias. Nunca encarei esse
tipo de pressão antes. Já perdemos muito tempo esperando as
exigências dela e esperando a aprovação do nosso departamento
jurídico. Não tenho mais prazo para recomeçar do zero.
“Eu não quero fazer parte disso se a única pesquisa que você faz é
ler relatórios da Nielsen. Os seus documentários ajudaram a me
convencer da sua seriedade, mas por que você? Por que isso? Por
que você nisso?”
Fizzy é seu alter ego, sua face brincalhona e sarcástica, mas estou
começando a ver que Felicity Chen é inteligentíssima — brilhante,
aliás, sem dúvida — e preciso oferecer a ela mais do que um sorriso
confiante e respostas comedidas. Ela sabe como ler as pessoas e, no
momento, precisa ser convencida de que não vai trabalhar com um
estereótipo bidimensional da indústria do entretenimento de
Hollywood.
“Sei que pareço ser um tédio.” Eu dou risada. “Ler seu livro me fez
tomar consciência da banalidade estéril que se tornou a minha vida.
“Isso vai ser um problema?”, pergunto, ignorando por ora que ela
acabou de me chamar de Papai Gostosão e o fato de que até
algumas semanas atrás eu teria me espantado com esses termos.
“Concordo.”
Ah.
“Bom, obrigada. Mas não.” Ela leva as mãos aos olhos. “Eu já fui
divertida. Tinha sempre um milhão de ideias. Era espontânea, e
brincalhona, e sexy, e inspirada. Só que não me sinto nada disso há
um tempão.”
Eu realmente fiz todo esse esforço para ela desistir na última hora?
“Alegria”, ela diz, ainda escondida atrás das mãos, que em seguida
põe sobre o colo.
“Quê?”
“Qual?”
“Nos dois meses que temos antes do início das filmagens, nós dois
vamos sair deste escritório, manter distância dos nossos
computadores e redescobrir a nossa alegria.”
Dez
FIZZY
“Eu tô errada?”
“Não.”
“Claro que não. Eu é que não quero ouvir gritos na minha orelha.”
Entro de novo no closet para procurar um sapato. “Ela não foi contra
a minha participação no programa, e nós conseguimos um
adiamento do prazo de entrega do livro novo, mas preciso montar
um cronograma de escrita mais concreto, e ainda não sei como fazer
isso.”
“Sério mesmo que você vai fazer esse negócio de reality show?”,
Alice pergunta, tentando fingir um tom casual. Minha irmã grávida e
supercompetente foi orientada a pegar mais leve no trabalho e já
está mais do que entediada. É por isso que está me seguindo pela
minha casa em vez de relaxar com os pés para cima na dela. E
desconfio que ela está menos interessada no sucesso desse
programa do que no fato de que vai ser a maior oportunidade de
xeretar de sua vida.
“Então deixa o tal produtor contar pra ele”, ela sugere. “E ele que
conte pra mamãe.”
Ninguém seria capaz de prever que um homem cuja única
orientação sexual que deu para as filhas adolescentes foi, enquanto
estávamos lavando a louça certa noite, colocar uma mão no ombro
de cada uma e dizer, todo constrangido, “sua virgindade é sagrada”,
algum dia seria o pai orgulhosíssimo de uma autora de livros de
romance dos mais picantes. Ele se aposentou dois anos atrás e —
assim como Alice com sua orientação do médico para pegar leve —
imediatamente ficou entediado até os ossos. Workaholic que era, em
vez de passar setenta horas semanais em seu laboratório no
instituto Scripps, meu pai agora
“Me conta mais sobre esse cara”, Alice pede, me vendo pelejar com
o zíper quebrado. “Como ele é?”
“Eu vou estar lá, ah mui. Esse negócio não vai interferir em nada
disso.”
Foi estranho eu ter feito isso. Ele vai vir à minha casa. Eu preciso
convidá-lo para entrar? Não é necessário, né? Faz séculos que
alguém que não seja Jess, Juno ou um parente põe os pés aqui.
“Mui mui, a minha casa parece a de alguém que deixa o gato subir
em cima das bancadas da cozinha?”
“Eu vou sair com uns caras que eles escolheram usando a tecnologia
do DNADuo, e os espectadores vão votar para decidir com quem eu
sou mais compatível… Quer parar de comer isso na minha cama?”
Ela me ignora e pega mais algumas, falando de boca cheia. “Mas por
que você precisa participar de um programa de namoro?”
“Você?”
Onze
FIZZY
Será possível que é o mesmo cara? Não acredito que havia tudo isso
escondido debaixo daquela maçaroca de cabelo empastado de gel,
sorriso de comercial de pasta de dentes e terno preto impecável.
Olho para o meu colo, querendo que essa sensação dure um pouco
mais. Mas ela passa, e estou de volta ao presente, com uma leitora
me perguntando se está tudo bem.
Ou será que foi… por causa dele? Intrigada, olho para Connor mais
uma vez.
Ele está tão entretido com o meu pai que mal parece perceber que a
minha salivação mental está voltada na sua direção. Eu sabia que
ele se daria bem com o intrépido dr. Ming Chen. Meu pai é um
homem inegavelmente carismático com um milhão de histórias para
contar em qualquer situação e com a risada mais contagiante que
alguém pode ouvir na vida — é meio que uma gargalhada que vem
da barriga e, sendo bem sincera, deveria ser gravada e registrada
com a marca Felicidade©. Mas o que me surpreende é quanto
Connor está falando.
“Quem é aquele cara ali com o papai Chen?”, uma leitora pergunta,
colocando uma considerável pilha de livros sobre a mesa. Uma
rápida
olhada me diz que os únicos que faltam são os da série Alto Mar,
que, eu reconheço, é cheio de piratas fantasticamente obscenos, e é
uma verdade universalmente reconhecida que piratas não são para
qualquer gosto. Eu consigo entender o lado dela.
“É o namoradinho novo do meu pai”, respondo, o que me rende
outra risada de Ah, Fizzy, ainda mais porque é bem esse momento
que o meu pai escolhe para vir me dar um beijo e dizer que está
indo para casa.
Está na cara que me ouviu falar que ele tem um namorado novo, e
sabe que é melhor ignorar isso. Depois de receber aplausos
entusiasmados, ele sai da livraria.
“Eu não sabia que isso tinha sido lançado”, ele responde, passando
um dedo comprido pela lombada. “Esse foi um dos primeiros livros
que me lembro de não conseguir largar. Essa edição é maravilhosa.”
Por que é tão sexy quando ele diz maravilhosa desse jeito? Como se
estivesse olhando para uma amante, encantado? Eu esperava
encontrar mais de perto alguma coisa que fizesse a atratividade
diminuir — pele maltratada, cheiro esquisito, dentes amarelados que
por algum motivo deixei passar —, mas, para a minha irritação, nada
disso é verdade. Ele tem cheiro de homem gostoso com um vestígio
do desodorante que está usando, seja qual for. Aposto que se chama
Ice Zone ou Sports Hero ou Silver Blade, e me sinto enojada comigo
mesma por ter gostado. Não consigo nem mais ver o arquétipo do
Executivo Milionário Gostosão em Connor. Ele é pura gentileza e
músculos. Lenhador Gentil é o novo nome dele. Por que colocar uma
gota de gel nesses cabelos? Eu deveria fazer um favor à humanidade
e fingir que o conheço bem o suficiente para dar uns conselhos
sobre estilo para ele.
Ele tem razão, e, olhando para trás, fico irritada comigo mesma por
ter me sentido tão apreensiva antes de vir. Mãos suadas, respostas
estridentes demais para as perguntas que ele fez por educação no
carro, exagerando nas explicações enquanto entrávamos na livraria.
“Ela comprou um livro hoje, mas não um dos meus.” Ao ver sua
expressão de surpresa, eu acrescento: “As fangirls marcam
presença, Connor. Elas são fiéis.”
“Aliás, eu não sabia que você ainda não tinha contado pra ele sobre
o programa. Espero não ter criado um constrangimento entre você e
os seus pais.”
“Merda.”
E morrendo de fome.
Levo as mãos aos olhos e sinto a aproximação dele. “Está tudo
bem?”
Doze
CONNOR
“Hã… sim?”
Enquanto a vejo andando tranquilamente na direção do edifício em
seu vestido preto e sapatos de salto, sinto algo avassalador nela. Em
termos objetivos, Fizzy é uma mulher miudinha, mas tem a
habilidade de marcar sua presença como eu nunca fui capaz de
aprender a fazer.
Sempre fui mais alto que os outros garotos da minha idade, mas,
por ter sido criado só pela minha mãe, sentia medo de parecer
impositivo demais em qualquer sentido. Era uma tendência minha
que deixava meu pai maluco nas raras ocasiões em que ele vinha
me visitar. Ele vivia me dando sermões sobre entrar nos lugares
como se fosse o dono do pedaço, sobre a importância de não passar
despercebido. Quando eu fiz catorze anos, já tinha bem mais de um
metro e oitenta e a questão de não passar despercebido deixou de
fazer sentido, ele resolveu começar a criticar outras coisas: minha
falta de ambição, meu respeito absoluto pelos outros, meu lado
protetor em relação à minha mãe. Mais tarde, foi minha carreira,
meu casamento às pressas, meu emprego.
Só que, por mais que meu pai seja cansativo, tenho quase certeza
de que a admiração por Fizzy seria uma das poucas coisas que
poderíamos ter em comum.
“Eu vou fazer nossos pedidos”, ela avisa, falando por cima do ombro.
Na mesa de metal desgastada com vista para uma praia vazia, Fizzy
abre o saco e vai tirando uma variedade enorme de tacos. “Pode
escolher.” Ela aponta para cada um para descrever o recheio — vai
de carne com cacto e barriga de porco a tripas, cabeça e língua de
vaca.
Ela cai na risada. “Não sei se era exatamente isso que você queria
dizer.”
“Acho que estou brava por não ter tido essa ideia antes.”
“Eu te escolhi porque suas fãs te amam. Mas, sim, estou animado
pra fazer isso em parte por causa dessa sua ousadia.”
Eu dou uma mordida, mastigo. “Pois é, fazer o quê? Estou cada vez
mais envolvido.”
“Estou vendo.”
“Eu sei que isso é importante pra você”, digo a ela. “Quero que você
saiba que pra mim também é.”
Fizzy respira fundo, abre a boca para falar, mas depois parece mudar
de ideia. “Você disse que se mudou pra cá aos quinze anos, é isso?”
Eu assinto com a cabeça. “Ela mora com meus avós agora, perto de
Blackpool, mas conheceu meu pai quando veio estudar nos Estados
Unidos. Ela engravidou, mas ele ainda não estava muito interessado
em
ser pai. Visitava mais ou menos uma vez por ano só pra dar as caras
e apontar o que ela estava fazendo de errado.”
Fico feliz que ela me deixe mudar de assunto. “Stefania Elena Garcia
Prince.” Fizzy segura o sorriso, e eu dou risada. “Pois é, eu sei. Meu
sobrenome parece sempre um penetra na festa. Mas ela é uma
figura.
“Enfim, acho que a gente devia falar mais sobre você, e não sobre
mim.”
Além disso, sua voz fica um pouco rouca quando ela diz: “Eu conto
qualquer coisa que você quiser saber”. Isso me faz desconfiar de
que estou absolutamente, irrevogavelmente e inegavelmente
encrencado.
Treze
FIZZY
Eu sei que é uma estupidez flertar com Connor. Sei que é absurdo
ter desejos sexuais por esse homem em particular, mas faz tanto
tempo que ninguém me atrai que me sinto como um cachorro
faminto vendo um pedaço de carne suculento.
“Entendi.”
Ele assente com a cabeça, mas resolve ficar em silêncio. Mais uma
vez: sexy.
“Deve ter sido uma situação horrível. Eu lamento muito que isso
tenha acontecido com você, Fizzy.”
Connor abre um sorriso ao ouvir isso. “Dá pra entender por que você
não quis saber de homens por um tempo, então. Mas e agora? Você
está pronta para um relacionamento?”
“Eu não faço ideia de como vai ser, mas espero atender às suas
expectativas para o programa. Eu tinha começado a me perguntar
se talvez ficar sozinha não fosse o melhor pra mim. Estava mais
inclinada nesse sentido naquele primeiro dia que conversamos no
seu escritório, sabe?”
“Eu fiquei com medo de que a North Star não tivesse a menor ideia
do que estava prestes a fazer”, complementei. “E achei que você era
um babaca.”
“Só estava dando boa-noite pra minha filha.” Ele faz um gesto para
voltarmos ao carro. Acho que é uma das noites mais bonitas de que
me lembro nos últimos tempos. O ar está quente e úmido; a brisa
salgada nos envolve como uma capa gentil.
Certo.
Eu saio também, e nós fazemos uma longa e infeliz caminhada até a
porta da frente. “Está tudo bem?”, pergunto.
“Tudo ótimo.”
Ele se vira para mim. “Um bom treino pra você” é sua péssima
resposta.
“Tá bagunçado.”
“Tá ótimo.”
“Fica entrando nos meus olhos”, ele diz, falando mais baixo.
“É sexy.”
“Entra comigo.”
“Por que não?” Observo sua garganta enquanto ele engole em seco.
“Você sabe por que não. Nosso objetivo é encontrar a sua alma
gêmea. Eu já…” Ele se interrompe. “Não dá.”
“Já faz tempo de mais”, eu admito. “Estou tão aliviada por querer
isso. Eu…”
“Fizzy.”
Catorze
CONNOR
“Alô…”
“Diga lá.”
“Claro. Você sabe que eu posso buscar a Stevie mais cedo sempre
que precisar.”
“Obrigada”, Nat diz com um suspiro de alívio. “Ela contou que você
tinha um encontro ontem à noite, então achei melhor perguntar.”
“Eu disse pra ela que não era um encontro.” Enfatizei isso várias
vezes, inclusive. Talvez eu devesse estar preocupado por minha filha
de dez anos estar tão interessada na minha vida amorosa, mas
estou atolado até o pescoço com um monte de solteiros entre vinte
e seis e quarenta e oito anos para entrevistar, então não tenho
tempo para isso.
Meu primeiro instinto é dizer para Nat que não foi nada de mais, só
que nunca fui capaz de esconder nada dela. Nós viramos adultos
juntos.
E nossa vida está interligada para sempre, por causa da Stevie. Ela
já viu o que tenho de melhor e de pior, me conhece mais do que
ninguém e me ama mesmo assim. Entro em uma sala vazia e fecho
a porta atrás de mim.
“Não é bem o que parece.” Mas então por que meu coração está
batendo como se eu tivesse subido os oito andares até aqui de
escada, e não de elevador? “Certo, talvez seja, mas não pode ser.
Nós saímos depois da sessão de autógrafos dela e conversamos
sobre o programa durante o jantar. Depois ela, hã… me convidou pra
dormir na casa dela.”
“Eu disse que não, Nat.” E isso soa tão estúpido quanto da primeira
vez. “Falei que não dava. Sou o produtor do programa de namoro do
qual ela vai participar.”
“E você quer?”
“O que você está fazendo aqui, hein?”, pergunto. “Pensei que fosse
passar seis semanas em um ônibus.”
Ele passa uma das mãos no rosto cansado. “Tenho uma reunião com
o departamento jurídico e volto hoje mesmo. Estou sem dormir há
quatro dias; os participantes nunca calam a boca, e são tantas
regras!
Você sabia que o seguro pra esse tipo de programa tem cláusulas
até sobre os diferentes níveis de eficiência dos protetores genitais?”
“Pois é.” Ele balança a cabeça. “Eu nunca vou perdoar o Blaine por
acrescentar expressões como ‘luxação testicular’ ao meu
vocabulário.”
Fizzy fez questão de dizer que não tem um tipo físico favorito, mas,
andando pelos corredores da North Star Media hoje, acho que dá
para dizer que esses caras fazem o tipo de todo mundo.
Ela dirigiu alguns dos programas não roteirizados mais populares dos
últimos anos e parece ser legal, apesar de um tanto intensa. Tem
fama de ser meio temperamental no set de filmagens, mas, quando
seu nome foi citado, Blaine se agarrou à ideia como um cachorro
que encontra um osso e só sossegou quando ela assinou o contrato.
Que, aliás, não foi nada barato, mas, graças à nova mania da North
Star de esbanjar dinheiro, isso não foi um problema.
Sei que é irracional, mas já odeio esse cara. Ele está dentro.
O candidato número dois está com uma calça jeans escura e justa,
uma camiseta de banda preta e desbotada e um tênis All Star velho.
É
isso que Fizzy considera um “vampiro”? Por algum motivo, acho que
não. Assim que ele sai, escrevo não ao lado de seu nome.
Estou bem interessado nos nomes que Fizzy nos passou para a cota
de “alguém do passado”. Gostaria de dizer que meus motivos para
isso são altruístas, mas nem minha mãe acreditaria nisso. No fim,
porém, essas entrevistas se revelam as mais frustrantes. Não existe
um fio condutor ou uma característica em comum que eu possa
estabelecer entre os homens dessa lista que se apresentaram.
Alguns são boa-pinta, outros não. Alguns têm dinheiro, outros não.
A maioria deles é simpática o suficiente. Nenhum grande mistério
sobre Fizzy é revelado, e continuo tão perplexo e fascinado por ela
quanto no começo. Mas acabamos colocando um tal de Evan Young
entre os favoritos, e não demoro nem dois minutos para sacar que
foi o sujeito que Fizzy mencionou na nossa primeira conversa.
Aquele com a tatuagem ridícula do Bart Simpson.
Mal consigo esperar para ver a cara dela quando ele aparecer. Vou
ficar tentado a murmurar um Ai, caramba no ponto eletrônico.
No fim do dia, já reduzimos nossas principais escolhas a sete, com
todos os principais arquétipos de Fizzy contemplados, menos um: o
“superbonzinho”.
“superbonzinho”.
“Se a Fizzy não se casar com nenhum deles, eu caso.” Brenna se vira
para mim. “Connor, esse programa vai bombar.”
Rory ainda está olhando para a porta por onde Nick acabou de sair.
Quinze
FIZZY
Se vou ter filhos ou não é uma coisa que ainda está em aberto, mas
o que já pode ser afirmado sem sombra de dúvidas é que eu sou a
pessoa adulta mais constrangedora que já pôs os pés em um jogo
de futebol de crianças.
Nem mesmo Jess e River querem ser vistos comigo. Eles avançam
para mais adiante no campo, arrastando cadeiras, um cooler e uma
tenda de praia até o local mais distante possível de onde nós
estacionamos. Sei que não é porque eu me declarei a FÃ NÚMERO
UM DA JUNO
“Eita, olá.” Faço binóculos com as mãos e finjo dar um zoom. “Uh-lá-
lá.”Eu estou desse jeito desde aquele jantar com Connor. Como uma
cadela no cio. Não falei nada a respeito com Jess porque acho que
ela ficou tão desconcertada quando admiti minha falta de libido e
inspiração que corre o risco de me fazer entrar em uma roubada.
Está sendo difícil me controlar e não mandar todo dia para Connor
uma mensagem do tipo E agora, rola?. A última coisa de que preciso
é de Jess praticamente berrando “Você merece uma bela transa!”
todo dia na minha orelha.
“Vou te dizer uma coisa, uma filha minha jamais faltaria a um jogo
sequer.”
“É mesmo.”
Acho que River também está avaliando a afirmação. E acho que ele
diz: “O pai da Stevie? Concordo com vocês”. Mas não tenho certeza,
porque meus neurônios pararam de funcionar.
“Não.”
“Hã… sim?”
“Eu devia ter imaginado essa reviravolta”, resmungo. “Eu sou o quê,
uma escritora ou uma porta?”
Franzindo o rosto, Jess admite: “Acho que a Juno falou alguma coisa
sobre ecologia…”.
Jess leva a mão à boca quando diz: “Ai, meu Deus, você tem
transado com o Connor esse tempo todo?”.
“Eu ando me comportando melhor ultimamente. Só convidei o cara
pra entrar depois da sessão de autógrafos.”
“Mas tudo bem”, eu digo. “Sinceramente, foi até bom que um de nós
estivesse com a cabeça no lugar. Eu estava me sentindo sexy pela
primeira vez depois de muito tempo e ele estava por perto, só isso.”
“Eu interajo mais com a Natalia, porque é ela que fica com a Stevie
durante a semana”, Jess comenta. “Mas Connor parece ser um cara
muito legal. Não parece do tipo ‘uma noite e nada mais’.”
“Você está tentando me dizer que caras legais não se deixam levar
pelo momento?” Dirijo meu olhar irônico para River. “Porque isso
acontece, sim. Não é, Gênio Gostosão?”
“Desculpa, só um minutinho”.
“Em minha defesa, ele não é uma pessoa fácil de sacar logo de cara.
Antes ele tinha uma vibe diferente… com certeza era um Executivo
Milionário Gostosão quando conversamos pela primeira vez.”
“Bom, está na cara que eu não vou ganhar essa discussão hoje,
quando ele está mostrando as pernas musculosas num short e
usando uma camiseta uns quatro tamanhos menor, mas você precisa
acreditar em mim quando digo que a primeira impressão que Connor
me passou foi de uma mistura de Kendall Roy com boneco de Lego,
inclusive o cabelo.”
“Bom”, Connor diz, “pelo menos me diz que eu sou o Lego Batman
ou o Salva-Vidas Gostosão.”
Dezesseis
CONNOR
“O Batman tem uma masculinidade meio tóxica demais pra mim”, ela
responde, afastando os cabelos do rosto. Parece um gesto casual e
despreocupado, mas lembro que ela fez isso no bar naquela primeira
noite e me pergunto se não pode ser uma demonstração de
ansiedade.
“Oi, Jess.” Então me dou conta. “Ah, o River deve ser o amigo que a
Fizzy falou que estava envolvido com a tecnologia do DNADuo.
Agora entendi.”
“Tá bom, Jessica”, Fizzy diz. “Agora pega o seu marido bonitão e vai
se sentar pra lá.”
“River.”
“Você disse que o nome dela era Stefania”, Fizzy diz com um tom
acusador.
os olhos. Lembro que ela falou que eu deveria deixar mais desse
jeito, que ela gosta assim.
Fico um tanto perplexo com esse entusiasmo todo e com quanto isso
me desagrada.
Fizzy estende o braço para enrolar com o dedo a ponta dos cabelos
compridos de Stevie. “Às vezes nós paramos no caminho pra tomar
um chocolate quente. E às vezes para uns drinques. Depende do
dia.”
“Como assim, nós nunca falamos sobre isso?”, Fizzy pergunta. “Essa
banda é uma das minhas alegrias na vida!”
Stevie faz que não com a cabeça. “Eu nunca fui num show na minha
vida.”
Fizzy afasta esse detalhe fazendo um gesto com a mão. “Eu posso
arrumar ingressos pra gente. Já saí com um executivo da
administração do estádio e vou dizer uma coisa pra você…” Ela se
interrompe, notando a minha apreensão com o que vai sair da sua
boca a seguir, então se limita a dizer: “Enfim, eu tenho um contato”.
“Vamos, sim!”
“Você é o melhor pai do mundo”, Stevie diz, me abraçando.
“Agradeça à Fizzy, não tenho nada a ver com isso, meu amor.”
Dezessete
FIZZY
Não posso nem reclamar com Jess que essa situação toda acabou
caindo no meu colo, já que ela estava lá quando eu claramente me
ofereci para levar duas meninas de dez anos e um Papai Gostosão
Treinador Sexy a um show do Wonderland. Mas as filas de pessoas
esperando para entrar são tão absurdas que eu bem que gostaria de
ter em quem jogar a culpa. Confiro meu Instagram enquanto
esperamos.
“Pra eu poder ver onde a fila termina. Estou com medo de que tenha
um monte de gente furando fila, e eu não vou deixar as meninas
perderem o show.”
“Não.” Mas, reconsiderando, olho bem para ele. “Espera, tenho, sim.
Uma rara onda de vergonha me invade. Sei que não sou uma pessoa
fácil de lidar, mas acho que, mesmo que Connor me achasse
insuportável, não deixaria isso transparecer. Ele não poderia.
“Pelo quê?”
“Pelo lance da masturbação”, murmuro, e então acrescento com um
sorriso: “E pela piadinha sobre o Kendall Roy no jogo de futebol.
Você não é nem de longe tão problemático”.
Isso o faz cair na risada. “Não tenha tanta certeza assim. E agora eu
é que estou preocupado de ter feito uma chamada no FaceTime sem
querer para alguém no meio de uma punheta.”
“Preciso, sim.”
“Eu recusei por várias razões”, ele diz, por fim, e a minha vergonha
chega a níveis abissais.
“Me conta mais sobre Jess e River”, ele diz, mudando de assunto na
hora certa. “De onde você conhece eles?”
Ele sorri. “Nós não estamos em uma busca? Em uma busca por
alegria? Tô fazendo um esforço aqui.”
Ele ri. “Deve ser por isso que essa aqui estava sobrando. A
vendedora disse que é o último tamanho a esgotar. A maioria das
fãs…” Ele ergue a mão para me poupar do trabalho de corrigi-lo. “Ou
melhor, eu pensei que as fãs eram todas meninas da idade da Stevie
e da Juno.” Connor faz um gesto para eu segui-lo até onde as
garotas estão, na beirada do camarote, com vista para a plateia.
Vemos um grupo de mulheres vestidas dos pés à cabeça com artigos
do Wonderland mais abaixo. No camarote à nossa esquerda, estão
uns casais de trinta e poucos anos, recostados no gradil como nós,
rindo e bebendo seus drinques. O da direita tem um grupo de
garotas adolescentes e um pai solitário mexendo no celular. E
quando olho mais longe vejo mulheres de todas as idades, um grupo
de homens com colares de LED cantando junto com a playlist pré-
show, além de duas senhoras de cabelos brancos tirando fotos
diante dos telões. “É como uma sessão de autógrafos sua”, Connor
comenta.
“Por enquanto.” Ele se vira para mim, e seus olhos se fixam por um
breve momento na minha boca. “Quando o mundo conhecer você,
Fizzy, as pessoas vão se apaixonar.”
Dezoito
CONNOR
Quando ela subiu nos meus ombros do lado de fora, foi como tirar o
pino de uma granada. Eu conseguia sentir seu calor através do
tecido do short; a força de suas coxas comprimindo meu pescoço
desencadeou uma onda de desejo no meu corpo, algo que eu
preferiria não sentir na frente de milhares de pessoas. Queria estar
sozinho com ela, passar os dedos pelo interior das suas coxas, sentir
aquele calor com a minha mão. Queria me ajoelhar e mostrar com a
minha boca quanto me arrependi de ter ido para casa sozinho
naquela noite. Emprego? Quem precisa de um emprego?
Ela está tão perto que me pergunto como vou conseguir pensar em
outra coisa além disso, mas, quando a primeira nota ressoa em meio
à escuridão, minha atenção é facilmente atraída. Eu nunca escutei
uma música do Wonderland por iniciativa própria, mas é impossível
estar aqui e não se deixar levar pela ansiedade coletiva que nos
cerca. Essa é a alegria de que Fizzy estava falando. A adrenalina
compartilhada, toda essa gente reunida pelo mesmo motivo. Até os
pais perto de nós ficaram de pé para ver, alguns procurando a
melhor posição para enxergar melhor, curiosos para ver o motivo de
tanta comoção.
Ela deixa essa passar. “Eu sou bem seletiva com as pessoas que
trago para um show, mas você se saiu bem, Papai Gostosão. Talvez
seja convidado de novo, se eu precisar de companhia algum dia.
Mas costuma ter menos meninas de dez anos, mais bebida alcoólica
e às vezes uma tatuagem absurda no fim da noite.”
Não sei por que essa palavra faz meus olhos arderem. A maioria dos
filhos ama seus pais. Eu não gosto do meu pai, mas o amo mesmo
assim, do meu jeito. É um amor misturado com decepção e mágoa e
mais um monte de sentimentos complicados, mas ele existe. Ser
louca por alguém significa amar incondicionalmente, e saber que é
perceptível que Stevie sente isso por mim apesar de todas as minhas
falhas me deixa tão orgulhoso que fico até sem fôlego.
“Como ela sabia tudo o que ia acontecer? O set list, o que cada um
ia estar usando? Onde ela aprendeu tudo isso?”
“Minhas?”
“Sim, tipo no set, praticando mountain bike.” Ela faz uma pausa,
encolhendo os ombros de leve. “Com namoradas.”
“Isso é injusto”, ela diz, com um sorriso fácil, mas seus olhos estão
bem sérios quando me encaram. “Agora que estamos ficando
amigos, não é certo pensar só em encontrar alguém pra mim e não
pra você.”
“Vou dizer pra você o que disse pra ela: isso daria um livro chato pra
caralho.”
“Mas você e a Nat se dão bem hoje? Ouvi a Stevie falar com a mãe
algumas vezes, e acho que já nos encontramos na saída da escola.
Ela é bem gata.”
Fico esperando que ela desvie o olhar. Isso não acontece. Em vez
disso, ela estala a língua em um gesto de solidariedade. “Pena que
você não é bom em separar as coisas.”
Eu decido que está na hora de ser mais direto. “Na verdade, eu não
sou bom nessa coisa de sexo casual.”
Finjo pensar a respeito, e ela fica na ponta dos pés, rugindo bem na
minha cara.
“Suportável.”
“Talentosa e carismática.”
Fizzy envolve meu dedo com o dela. Um calor se espalha por mim,
assim como uma vontade de me virar para ela, prensá-la contra o
balcão, levantá-la, me colocar entre suas pernas e…
Dezenove
FIZZY
Dou uma leve tossida, cobrindo a boca. “Eu sabia que elas iam
acabar literalmente desmaiando.”
“Vamos?”
“Acho que vou dormir aqui mesmo hoje”, digo para ele.
“Não é isso.”
Com os olhos ainda sorridentes, ele diz boa-noite para Jess e leva
seu corpo gostoso correndo pelo restante dos degraus na direção do
carro.
Nós ficamos olhando para ele, sem nem piscar, como se fosse o
último episódio de Round 6, e então finalmente consigo expelir umas
“Ah, claro.”
Uma faísca. Um aperitivo pra minha libido. Você não está contente?
Eu tinha virado um robô sem emoções. Isso não dá um programa de
tevê muito interessante.”
“Claro que sim. Toda vez que ele entrava no Twiggs, parecia que
você ia comer o cara com os olhos.”
Entendo o que ela está querendo dizer, mas não concordo com a
comparação. “Sim, mas você estava só se iludindo. Já estava
começando a se apaixonar por ele.”
“Assim como você com o Connor.”
Ela balança a cabeça, irritada. “Por que você continua insistindo que
tudo se resume a sexo casual?”
“Você pode até achar que está brincando, mas é verdade. Rob era
mesmo um cretino. O vilão era ele. Você não fez nada de errado.”
“Isso é bom.” Ela gira a bebida na mão. “Ele parece ser um cara bem
atencioso.” Jess faz uma longa pausa. “Imagino como deve estar
sendo pra ele. Hoje fiquei com a nítida impressão de que ele está a
fim de você também.”
“É, eu acho que ele sente uma atração por mim.” Inclino o copo e
observo a luz batendo no líquido cor de âmbar. “Ele admitiu que o
motivo pra ter recusado minha proposta não foi falta de interesse.”
dólares, e eu vou poder escolher com qual dos dois vou fazer uma
viagem pra Fiji. U-hu!”
“Fizzy, isso que você vai fazer é uma coisa incrível! Oito heróis
românticos competindo pelo seu coração!”
Eca. Sentimentos.
Vinte
CONNOR
“Meus fins de semana com a Stevie são meio que iguais”, explico.
Ela se inclina para a frente e segue meu olhar até o local onde um
surfista está voltando sem pressa para a areia, deixando um rastro
azulado atrás de si. “Parece até que é de mentira”, ela diz.
Fizzy se vira para mim. “Essa é a resposta que você devia ter me
dado lá no seu escritório.”
“Que resposta?”
Meus olhos se voltam como ímã para sua boca. “Mas, nesse caso,
como eu teria conseguido monopolizar você por todas essas
semanas?”
Ela ri.
“Além disso”, continuo, “eu nunca perguntei o que traz alegria pra
você.”
Escrita.”
Ela assente com a cabeça. “Nem lembro da última vez que abri um
arquivo no Word.”
“Não posso falar que entendo como é, mas não é algo que dê pra
resolver com terapia?”
“Eu sei que vou ficar bem se não voltar a escrever. Sei que a morte
da minha escrita não significa a minha morte. Mas sinto falta dessa
parte de mim. Eu gostava dela, e não sei mais se vou conseguir
encontrá-la de novo. E levar isso pra terapia só piorou tudo, se é que
isso faz sentido.”
“Faz, sim.”
“Eu geralmente consigo lidar com a maioria das coisas, mas isso…”
Vinte e um
FIZZY
Eu admito sem problemas que sou tagarela, mas também lido bem
com o silêncio. Jess e eu já passamos vários dias de trabalho
sentadas uma diante da outra sem falar nada, só produzindo. Adoro
os momentos tranquilos com Juno no meu sofá, com a cabecinha
dela no meu colo enquanto lê. Adoro a serenidade a céu aberto em
uma trilha com o meu irmão Peter ou a paz nos momentos de lazer
jogando majong com a minha mãe. A verdade é que você nunca vai
conhecer alguém que adora livros e odeia silêncio.
“Eu ia dizer”, ele continua, com um sorriso, “que você estava calma
demais para alguém prestes a protagonizar um programa de
televisão.”
“Não vou negar que venho fazendo limpezas de pele regulares desde
que concordei em participar disso e que investi uma boa grana em
sutiãs levanta-peito.” Ele ri. “Mas já fiz tantas sessões de autógrafos
em que as pessoas postam fotos minhas dos piores ângulos
possíveis que não faz sentido querer fingir que sou uma
supermodelo agora.”
“Você não precisa fingir”, ele responde. “Ver você é sempre de tirar o
fôlego.”
Ainda estou abalada pela declaração que ele fez. Connor é firme
como uma rocha, e quanto mais tempo passo com ele, mais percebo
quantas vezes me sinto como uma folha soprada ao sabor do vento
das minhas decisões impulsivas, da minha inconstância no trabalho e
até dos meus estados de ânimo. Ver você é sempre de tirar o fôlego,
foi o que ele disse. E não faz sexo casual, não é bom nisso. Claro
que não.
Com Connor, sinto uma coisa que não quero rotular ainda, mas que
já estou morrendo de medo de perder.
“Fizzy.”
“Diga.”
Não consigo nem piscar, capturada pelo seu olhar. Meu sangue
parece vibrar com o que ele acabou de me dizer. “Essa
provavelmente é a coisa mais profunda que alguém já me falou.”
Ele ri. “De qualquer forma, fico feliz por você ter lembrado que é
uma pessoa sexual antes que o programa comece. Por saber que
você
“E aqui estou eu”, digo, com um sorriso. “Me conectando com você.”
“Não estou pedindo pra você me beijar nem nada disso. Só queria
sentir essa proximidade com você pelo menos uma vez.” Estendo o
braço e traço o contorno de sua orelha com a ponta do dedo. “Eu
vou sentir sua falta a partir de amanhã.”
Isso o faz sorrir, mas ele dirige o olhar para a minha boca. “Mas a
partir de amanhã nós vamos nos ver mais ainda.”
“Eu vou ter que compartilhar você”, digo. “Vai ser esquisito.”
Minha nossa.
Minhas mãos passeiam pela largura dos seus ombros até seu
abdome liso e plano. O rosto dele está vermelho sob a luz da lua, os
lábios inchados e mordidos, os olhos carregados de luxúria. Uma
marca surge na pele de seu pescoço, vívida como se eu tivesse
pichado meu nome ali. Este lugar aqui pertence a Felicity Chen.
Quero deixar a minha marca no seu corpo todo, torná-lo meu.
Estendo a mão para o espaço entre nós, sentindo seu formato
sólido, e minha mente enlouquece quando percebo o que estou
apalpando. Ele é grande, e meu corpo se contrai de repente, sinto
um vazio dentro de mim.
“Me leva pra casa”, eu peço. “Eu te quero demais, Connor. Só uma
vez.”
Por dentro eu me sinto como uma fera com dentes afiados. Minhas
mãos com garras enormes agarram as grades, sacudindo a minha
jaula.
“Por quê?”
“Fizzy. Não dá.” Mesmo assim, ele não me solta. Me puxa para junto
de si e me abraça. Connor respira devagar, e sinto seu corpo se
expandir junto ao meu, mas em seguida ele parece murchar.
“Não precisa ser nada mais do que dois amigos matando uma
vontade e uma curiosidade”, eu murmuro.
“Infelizmente, acho que seria muito mais que isso.”
Só me leva pra casa que vou revirar a minha gaveta pra encontrar o
maior vibrador que eu tiver.”
“Eu me diverti na nossa busca por alegria”, digo com a boca colada
ao seu pescoço.
“Ah, é mesmo?”
Consigo sentir o alívio na risada quente que ele solta junto aos meus
cabelos. “Tudo bem, então.”
Vinte e dois
CONNOR
Eu não dormi nada ontem à noite. E com isso não quero dizer que
fiquei rolando na cama e acabei cochilando já quase na hora de
acordar.
Deixei Fizzy em casa, senti uma crise interna terrível quando ela
entrou e fechou a porta, dirigi direto para casa, tentei ler algumas
coisas para o trabalho, não consegui me concentrar, fui para a cama,
repassei todos os detalhes do momento em que ela montou em cima
de mim, bati uma punheta — e depois outra debaixo do chuveiro —
e em nenhum momento entre o instante em que pisei em casa até a
hora em que coloquei a chaleira para esquentar de manhã consegui
pregar os olhos.
Ela está absurdamente linda hoje, claro. Quando a vejo entrar, meu
coração despenca do meu corpo e escorre pelas tábuas do assoalho.
Mas o que talvez seja ainda mais importante é que eu gosto dela.
Mais do que isso, até. Não quero que as coisas fiquem estranhas
entre nós.
Contornando o balcão, peço duas bebidas e vou até onde ela está,
olhando para a tela do celular com a testa franzida.
A tensão pulsa entre nós. Sua pele tão macia e suave, lisinha, dá
vontade de beijar. Assim de perto, sinto o cheiro sutil de seu xampu
e creme corporal. Fico até zonzo. Me recompondo, ajusto a gola da
camisa dela para esconder o microfone.
“Você não vai querer falar sobre ontem à noite?”, ela pergunta do
nada.
Ela faz uma careta. “Você precisa me dar um sinal ou coisa do tipo
quando quiser que eu me comporte. Sutileza nunca foi meu ponto
forte.”
Ela estala os dedos e aponta para mim. “Boa ideia. É por isso que
você é o chefe.”
quer dizer, foi incrível, e sei que você sabe disso, estou só
confirmando…” Ela me encara, cheia de expectativa, e seu olhar se
ameniza ao me ver tropeçando nas palavras. “Só que é melhor que
não aconteça de novo.”
Eu olho feio para ela. “Será que podemos pelo menos levar a sério o
que estamos fazendo aqui?”
“Claro.”
Ela aponta para o microfone. “Tem certeza de que essa coisa está
desligada?”
“Eu prometo que vou fazer o meu melhor. Não precisa se preocupar
com o meu comprometimento com esse projeto.” Um sorrisinho
sedutor se desenha nos seus lábios. “Mas uma coisa eu preciso
dizer…” Seus olhos passeiam pelo meu corpo, se detendo no zíper da
calça antes de voltarem lentamente para o meu rosto. “Meus
parabéns.”
É estranho o meu rosto estar todo quente, já que sei muito bem que
a maior parte do sangue do meu corpo acabou de fluir na direção
oposta. Desconcertado, aproveito para jogar meu copo na lixeira,
que um barista esvazia de bom grado. Por mais surpreendente que
Fizzy possa ser, é sempre interessante conviver com alguém que fala
o que pensa. As coisas estão estranhas? Vamos falar sobre isso.
Queremos transar e não podemos? Vamos aceitar isso e seguir em
frente. Nunca tinha conhecido ninguém como ela.
Vinte e três
FIZZY
“Sério mesmo que estou fazendo isso?”, pergunto a Liz, que está
acocorada diante de mim com vários pincéis entre os dedos. “Este
programa? Hoje mesmo?”
“Hã… sim?”
Sinto que ela está me observando enquanto meu olhar está fixo em
um padrão bem interessante na madeira do piso. “Está tudo bem,
Fizzy?”
“Não.” Olho para seu rosto apavorado e me dou conta do que acabei
de dizer. “Ou melhor, sim. Estou ótima.”
Ela desaparece em seguida, ainda com uma expressão desconfiada.
Ai, meu Deus, isso vai ser um desastre completo. Foco, Fizzy.
Ele está usando calça jeans preta, uma camiseta também preta, e
seus braços estão cobertos de tatuagens que sobem até seu
pescoço, passando a gola da camiseta. Quando ele se aproxima,
vejo que em seu crachá está escrito:
Mas será que peço para Dax me chamar de Fizzy? Gostei de ouvir o
nome Felicity na voz dele. Parece uma coisa safada e brincalhona ao
mesmo tempo, e é esse o papel atribuído a ele, que parece tê-lo
incorporado direitinho. E penso no público que vai assistir, que só
tem acesso aos meus pensamentos se eu os expressar em voz alta,
e não quero que ninguém pense que a formalidade é um sinal de
desinteresse.
“Todo mundo me chama de Fizzy”, digo a ele, encerrando o aperto
de mãos. “Mas gostei do jeito como você falou Felicity.”
“Felicity, então.”
Foco, Fizzy.
“Eu queria saber uma coisa”, eu digo, me inclinando mais para perto
no intuito de tirar da mente a imagem dos ombros largos de Connor.
BENJI: O CAUBÓI
é uma boa escolha, mas a energia entre nós flui de um jeito todo
errado. Vejo Connor andando nervosamente de um lado para o outro
atrás de uma pilha de monitores enquanto lutamos para estabelecer
um diálogo, interrompendo um ao outro, fazendo tentativas
simultâneas de preencher o silêncio. Quando ele me pergunta o que
meu pai acha da minha profissão de autora de livros de romance,
respondo questionando o que sua mãe acha de ele ganhar a vida
montando em cavalos e percebo a expressão confusa que aparece
em seu rosto.
“Nada, não. Então tá.” Olho para além dele, pela janela do café para
a rua, onde algumas pessoas se aglomeram, curiosas com o que
está acontecendo aqui dentro, com o motivo para haver todas
aquelas câmeras em posição. “Você pareceu um pouco estressado
quando a conversa com o Tex não engrenava de jeito nenhum.”
Mas quando você começou a explicar para ele o que era BDSM,
voltamos ao terreno do bom entretenimento.”
Fico toda envaidecida com o elogio. “Então acho que é uma boa ter
alguns tapados, né?”
“O quê?”
Connor volta sua atenção para mim. “Mas você pode ficar à vontade
para especular nos seus depoimentos confessionais.”
Pode ser?”
“É você que vai conduzir essas entrevistas?”
Connor fica imóvel e solta o ar com força pelo nariz. Ele levanta a
mão e acena para Brenna, que vem correndo. “O que você acha da
nossa apresentadora, Lanelle, entrevistar a Fizz…”
“Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo aqui”, ela
responde, “mas vocês acabaram de interromper uma conversa em
que Rory estava me contando que perdeu um papel com o telefone
de alguém importante na boca do palco em um show do Social
Distortion e a plateia inteira parou para ajudá-la a procurar. Eu estou
tão feliz por estar aqui.”
“Foi o que imaginei”, ele responde. “Mas também sei quanto você
pode ser persuasiva.”
Eu volto a encarar Connor. “O River prefere fingir que isto não está
nem acontecendo. Ninguém consegue ser tão persuasiva assim.”
Faço que sim com a cabeça e observo enquanto ele vai conversar
com Rory. Liz me encontra e me pergunta se eu preciso de mais
alguma coisa. Respondo que não, mas isso não é exatamente
verdade. Preciso dar um jeito de fazer Connor Prince III parar de me
fazer querer ficar perto dele o dia todo, e preciso disso para ontem.
Vinte e quatro
CONNOR
“É rapidinho.”
mais que o meu; a ligação é sempre urgente. E até já sei o que vem
pela frente. Entro no carro, o celular se conecta ao bluetooth, e a
voz do meu pai sai pelos alto-falantes do carro. “Eu conversei com a
Stefania na semana passada, e ela comentou que você está fazendo
um reality show para a tevê. É isso mesmo?” Não preciso contar
mais nada para ninguém na minha vida, porque a minha filha se
encarrega disso para mim. Também não sei o que me irrita mais: ele
ter ficado remoendo isso por uma semana ou a última vez que nos
falamos ter sido mais de quatro meses atrás. Fico contente por ele
ter uma relação melhor com Stevie do que comigo — mas nem
tanto, porque sei que no caso do meu pai tudo sempre tem um
preço. “Quando conversamos, você disse que estava trabalhando em
outro documentário sobre conservação de espécies.”
Esse é o tipo de conversa que prefiro não ter com meu pai em
momento nenhum, menos ainda hoje. “A empresa está tentando
diversificar este ano. E eu faço parte desse projeto.”
Não muito depois do lance ocasional com a minha mãe, ele se casou
com a namorada com quem vivia terminando e reatando durante os
anos de faculdade, e eles tiveram filhos. Quando eu vim para os
Estados Unidos, morei com eles por dois anos. Meu pai é
multimilionário, dono de uma das maiores construtoras do país, e,
para mim, um adolescente criado por uma mãe solteira e sem grana,
dinheiro era sinônimo de poder. Ele era intimidador e bem rígido;
meu pai e eu nunca brigamos porque, assim como meus dois meios-
irmãos, nunca tive coragem de responder para ele, que ficava lá nos
dando sermão da mesa do jantar enquanto fingíamos comer um
macarrão que sempre tinha passado do ponto. Saí de lá assim que
pude, quando consegui uma bolsa parcial na UCLA e fui trabalhar de
garçom para pagar o restante das anuidades, e depois fiz minha
pós-graduação em cinema na USC.
Pensei que, quando Stevie nascesse, ele fosse ver aquela garotinha
perfeita e magicamente se transformar em um ser humano decente,
mas é claro que não foi isso o que aconteceu. Ele ama a neta da
maneira que é capaz de amar, mas a única vez que me elogiou por
alguma coisa foi quando Nat e eu nos separamos, e até isso foi pelo
ralo quando vim morar em San Diego para ficar perto delas. Nas
palavras dele: que tipo de homem faz isso?
Será que Fizzy também passa por esse tipo de coisa quando
descobrem que ela é uma autora de livros de romance? Vem logo
uma comparação com o nome mais famoso que as pessoas
conhecem nesse ramo? “É, pai. Mais ou menos isso. Escuta, eu
preciso desligar. Estou entrando em Mission Hills, e aqui o sinal do
celular não é muito bo…”
Não seria certo dizer que o set está bem parecido com o de ontem
porque na verdade está exatamente igual. Queremos fazer parecer
que os encontros aconteceram todos no mesmo dia, então os doces
no balcão foram repostos por outros idênticos, as pilhas de xícaras
foram arranjadas da mesma forma e os atores estão nos mesmos
lugares que estavam quando encerramos os trabalhos. Até Fizzy está
com a mesma roupa, a blusa macia de seda e a calça preta justa —
e ainda mais bonita, como se isso fosse possível.
Se tem uma coisa que dá para dizer sobre Felicity Chen é que ela
não decepciona. Quando Evan põe o pé dentro do café, o olhar de
Fizzy vai direto para a região da virilha de Evan antes de se virar
para mim. Eu consigo segurar o riso, mas Fizzy não tem a mesma
sorte. Ela solta o que só pode ser descrito como uma gargalhada
vigorosa que literalmente faz Evan deter o passo. Um burburinho de
risos se espalha pela equipe, e Fizzy leva a mão à boca. Rory olha
para mim, claramente querendo saber se deve refazer a cena de
entrada de Evan. Faço que não com a cabeça, confiante de que Fizzy
consegue contornar a situação com uma piada e criar um ambiente
de leveza entre os dois.
Fizzy dá risada, levando a mão à boca. “Eu fico contente por todas
as pessoas envolvidas.”
“Por falar nisso…” Ele aponta para as luzes e câmeras voltadas para
os dois. “Como está sendo esse lance de ter virado celebridade?”
“Sabe como é”, ela responde, “eu só venho aqui para ser
embelezada por profissionais do ramo enquanto me trazem um
pretendente atrás do outro. Já estive em situações piores.” Ela sorri,
já bem mais calma a essa altura. Não percebo nenhuma faísca de
paixão entre os dois, apesar de eles se sentirem bem à vontade um
com o outro, o que o público com certeza vai adorar. “E você, o que
anda fazendo ultimamente?”
Mas o cara que beijou Fizzy duas noites atrás secretamente deseja
que o set inteiro arda em chamas. Infelizmente, isso não acontece. E
entra em cena:
NICK: O SUPERBONZINHO
JUDE: O VAMPIRO
Ainda não sei ao certo o que Fizzy estava esperando quando pôs
vampiro na lista de arquétipos, mas espero que Jude cumpra bem o
papel. Acho que ele pode inclusive surpreendê-la. Jude entra e
chega até ela com poucas passadas. Com um sorriso, Fizzy se
levanta e o cumprimenta com um abraço. As orelhas dele brilham
com brincos prateados, ele tem um piercing no lábio e no nariz, e
está vestido de preto da cabeça aos pés. Ele tem o mesmo jeito
descolado de Fizzy.
“Então você é o meu vampiro.” Fizzy dá uma boa olhada nele. Uma
das câmeras dá um zoom para mostrar quando ela cruza as pernas
sob a mesa, com o sapato de salto alto casualmente encostando na
perna dele. Ótimo para a audiência, péssimo para a minha saúde
mental.
“Pelo jeito é isso mesmo”, ele diz com um sorrisinho. “Que bom
finalmente conhecer você, Fizzy. Estava ficando nervoso. Não dá pra
acreditar, mas você é ainda mais bonita pessoalmente.”
“Me conte mais sobre você, Jude. O que exatamente um vampiro faz
da vida hoje em dia?”
Vinte e cinco
Transcrição do depoimento confessional do episódio um
Connor Prince: Fizzy. Como você está?
Fizzy: Talvez.
Fizzy: Ah, coitado do Dax. Por ser o primeiro, ficou com a Fizzy
mais tensa e perdida.
Fizzy: Então o país inteiro tem muita sorte. Seria demais pedir que
ele venha sem camisa da próxima vez?
Fizzy: Sei que não posso tentar influenciar o voto do público, então
podem cortar esta parte se quiserem, mas ele perguntou o que o
meu pai acha de eu ser uma autora de livros de romance. Foi meio
inadequado, e esquisito.
Connor: Pois é. Mas ele pareceu grato pelo feedback que recebeu
de você.
Comentários?
Connor: Certo.
Fizzy: E, quer saber, por trás desse seu terno, você tem algumas
dessas tendências também. São muitas camadas aí, Connor Prince
III.
Fizzy: Ah, com certeza. Preciso de alguém que não se leve tão a
sério, que consiga se divertir mesmo fora de sua zona de conforto.
Vinte e seis
FIZZY
“Ou até fazer algo mais sem a presença do Bart Simpson pesando
entre vocês.”
“Talvez.”
“Sei lá. Isso é o público que vai decidir, eu acho.” Se Jess captou o
subtexto aqui — de que mesmo após a primeira rodada de
encontros
“Então tá.”
“Então tá.”
Olho para trás para ver se não tem nenhuma menina impressionável
de dez anos escutando.
“Eu sei!” Dou um tapa na mesa. “Seria como enfiar o meu braço
inteiro em mim!”
“Ah, qual é, como se ele ainda ficasse chocado com alguma coisa
que eu digo ou faço. Lembra de quando ele teve que tirar a minha
roupa?”
“Sim, mas isso não vai afetar o programa! Não tem nada a ver com
sentimentos, é só uma distração. Eu peguei gosto por ele agora.”
“Eu não acho, não mesmo. É um lance puramente sexual. Nós não
vamos ficar apaixonados nem nada. Eu sou uma autora de livros de
romance desbocada, aventureira e de personalidade forte. Ele é um
homem branco, alto e atlético chamado Connor Prince III. É só
questão de tempo até eu fazer alguma coisa escandalizadora demais
ou até que ele faça alguma coisa que me irrite e/ou me deixe
entediada.”
“Você pôs até a foto dele nos contatos?” Essa indignação dela é
totalmente fingida. Por baixo da blusa de moletom larga e dos
sapatos confortáveis, está a rainha do drama. Jess adora esse tipo
de babado.
“Depende. O cadáver sou eu?” Diante de mim, Jess faz uma careta
de reprovação. Bato com o dedo na testa para lembrá-la que esse
tipo de coisa provoca rugas. Sou uma ótima amiga, e ela nunca me
agradece por esse tipo de coisa.
Vinte e sete
FIZZY
“Desculpa”, eu digo. Aliás, por que não ser sincera? “Fiquei feliz de
ver você e infelizmente não consegui acionar o meu filtro a tempo.”
“Claro! Estou animada pra ver como a coisa ficou na tela. Não acho
que tive muita química com o Arjun ou com o Tex…”
“… mas acho que com os outros foi legal. E um deles vai poder
embarcar no Expresso Fizzy.” Abro um sorriso e faço um gesto
ridículo de apito de trem. “Vai ser divertido.”
Ele me segue até a cozinha, onde eu pego uma long neck para cada
um e me recosto no balcão. “Quem é o seu favorito?”, pergunto para
ele.“Meu herói romântico favorito?” Ele dá um gole na cerveja
quando confirmo com a cabeça. “Eu não tenho nenhum.”
“Qual é!” Faço um som de vaia para ele. “Sério mesmo? Eu imagino
você como um fã do Isaac.”
“São todos bons sujeitos. Foi por isso que foram escolhidos.”
“E o Evan?”
Só isso.”
Connor parece indeciso, até que enfim volta a abrir a boca. “Isso nos
leva ao meu único porém, que é talvez maneirar um pouco nos
olhares de vamos-para-a-cama.”
“E por acaso isso não começa com o flerte? Então tenho feito isso
errado a vida toda!”
Ele fica inquieto, com o pescoço vermelho. “Não estou dizendo que
você não pode… Certo, escuta só”, Connor tenta recomeçar.
“Esquece.
Ele solta uma risada sarcástica. “Isso você deixou bem claro.”
Por fim, ele ergue os olhos. E acho que entendo o que está
acontecendo. Nossa, eu sou muito burra às vezes.
“Eu curto muito estar com você”, digo para ele, puxando-o mais para
perto. “A primeira semana no set foi ótima porque me sinto à
vontade com você. Insisti pra gravarmos os depoimentos juntos
porque gosto de conversar com você. Arrisquei a vida me dispondo a
falar com o River porque acredito nas suas ideias incríveis. Você está
fazendo muito bem o seu trabalho, e me desculpa se…”
Minhas palavras são interrompidas quando Connor dá um passo à
frente e segura meu rosto entre as mãos. Sua boca encontra a
minha, e, em um instante, todos os meus pensamentos se
dissolvem.
peito enquanto a outra puxa meu quadril para si e cola meu corpo
no seu. Sou recompensada com outro gemido, e com mais um
quando me esfrego contra ele. Connor não faz nada para me impedir
quando desabotoo sua camisa e a deixo toda aberta, colocando a
mão em seu peitoral largo e firme.
Seu cabelo tem um toque macio nas minhas mãos, e ele parece
gostar quando eu o puxo, me mordendo em uma retaliação deliciosa
quando sou mais bruta. Quando puxo com ainda mais força, ele
acompanha o meu gesto, fica de pé de novo e vem se concentrar na
minha boca. Quero beijá-lo por horas. Nunca fui beijada desse jeito
antes, com tanta iniciativa e confiança, com tanta energia que chega
a ser uma coisa quase furiosa. Ele não mostra sinais de que vai
parar esta noite, e a adrenalina faz um calor se espalhar pela minha
corrente sanguínea.
“Tá tudo bem?”, ele pergunta com uma voz áspera contra o meu
pescoço, e faço que sim com a cabeça várias vezes, porque, sendo
bem sincera, ele tem permissão para fazer o que quiser comigo.
Tento articular um pensamento coerente sobre a sensação que estou
experimentando, com aquelas mãos colocadas de forma tão
impositiva nas minhas coxas, com o calor e esse roçar dos seus
dentes sobre a minha pele, mas só mais tarde vou conseguir
processar de fato alguma coisa que não seja essa sobrecarga dos
sentidos, a sensação de ser completamente consumida pelo meu
desejo por ele. Somos como fios desencapados, nervos expostos, e
nos movemos por instinto.
Sob meus dedos impacientes, sua calça logo cai até os joelhos, e
aquele lindo pau finalmente vem para as minhas mãos, e o puxo
para perto de mim, provocando e subindo a temperatura até não
aguentarmos mais, trocando beijos molhados e mordidas com a
cabeça dele me pressionando e…
Faço que sim com a cabeça e murmuro “Vem aqui”, colando seu
rosto no meu.
Mas isso foi antes. Já tive vários tipos de transa na vida. Essa foi
diferente de tudo. Bem que eu gostaria de entender o que foi isso.
Vinte e oito
CONNOR
• O que fazer se tiver dormido com alguém com quem não deveria e
tiver sido ótimo
• Como evitar dormir com alguém por quem você sente atração
Ela estava certa naquele dia na praia; eu não tinha me dado conta
do quanto seria difícil compartilhá-la com alguém quando o
programa começasse.
Nat deve ter sentido a minha presença, porque olha para trás. “E aí”,
ela diz, tirando a rolha de uma garrafa.
Vou para perto do fogão, sem saber ao certo se devo ter essa
conversa, mas com a consciência de que vou acabar enlouquecendo
se não contar para alguém. “E aí.”
“Até onde eu sabia, você tinha rejeitado ela porque não ia dar certo.
E
isso foi semanas atrás.” Eu faço uma careta, porque não contei para
Nat sobre a praia. “Pensei que você tinha dito que ia ser uma
relação exclusivamente profissional.”
“Vocês sabem que só vão ser umas quinze pessoas, né?”, pergunto.
“Eu estava tão empolgada que não lembro nem de ter passado no
mercado!”, Ella responde. “Saímos pegando o que víamos pela
frente…”
Ela faz de conta que está pegando tudo de uma prateleira. “Jogando
tudo no carrinho!”
Nat me olha de um jeito que me diz que a decisão é minha. Não era
assim que eu pretendia fazer isso, mas eles vão acabar descobrindo
de qualquer forma. Depois de uma rápida olhada para garantir que
não
havia ninguém por perto, murmuro: “Eu estava contando pra Nat
que eu e a Fizzy transamos ontem à noite”. O silêncio que se segue
é tão prolongado e carregado que sou obrigado a pedir: “Alguém
fala alguma coisa, por favor”.
Ele franze a testa. “Estou tentando imaginar como seria uma transa
acidental, mas está difícil.”
“Os outros caras por acaso são os heróis românticos que você
escolheu para o programa?”, Ash pergunta com um tom de você
está sendo um puta de um babaca perceptível na voz.
Nat solta uma risadinha, e eu aponto o dedo para ela. “Isso não
ajuda em nada.”
“Bom, mas no fim isso acabou nos metendo numa puta de uma
encrenca, né?”
“Não é possível que você esteja dizendo que enfiou seu pau na Fizzy
só porque ela é uma pessoa perceptiva”, Ash comenta, e Ella dá um
soco no ombro dele.
bastante.”
“Vai se foder.”
Ella dá outro soco no ombro dele. “Não vai fracassar nada”, ela
garante. “Pra que falar uma coisa dessas?”
“Porque pode ser a única escapatória para o Connor! Ele não queria
fazer isso. Foi uma ideia da chefia. Se for um fracasso, é porque não
era uma boa ideia, então a culpa não é dele, é do Blaine!”
Segurando seu queixo com a mão, eu levei a boca até seu pescoço e
subi até seu rosto para beijá-la. Depois me endireitei para olhá-la
nos olhos e vi os mesmos sentimentos de desejo e incerteza que eu
sentia.
Nenhum de nós sabia o que dizer, então não dissemos nada. Em vez
disso, eu fui para o meu carro, sabendo que, se não fosse embora
naquele exato momento, não iria nunca mais.
vermelho vivo na boca. Minha vontade é ver essa cor espalhada pelo
meu corpo todo.
Ela solta uma risadinha de alívio. “Pelo bem de todo mundo, vamos
expulsar o elefante da sala.” Fizzy respira fundo. “Eu até ensaiei esse
discurso.”
Eu assinto com a cabeça. Ela está me dando uma brecha para sair
dessa situação, e eu vou aproveitar. Vou agarrar essa oportunidade
com todas as forças e enterrar a cabeça na areia, fazendo de tudo
para ignorar quanto fomos ingênuos. “Com certeza.”
“Nós íamos acabar deixando todo mundo louco com toda essa
tensão sexual mal resolvida.” Ela abre um sorriso. “Eu já escrevi
sobre isso. Sou uma especialista, né?”
Fizzy para diante de uma foto minha aos vinte e três anos, com
Stevie recém-nascida no colo. “Ah, assim é covardia”, ela comenta,
pegando o porta-retratos.
Eu pareço exausto e bem jovem, além de estúpida e ingenuamente
feliz. Não tinha ideia do que estava fazendo nem do que significava
ser pai, mas amei aquela garotinha no mesmo instante em que pus
os olhos nela e de um jeito que nem sequer sabia que era possível.
Meu relacionamento com Nat já estava dando sinais de desgaste,
mas eu achava que ainda tinha solução. Que eu ia encontrar um
jeito.
“É pra assistir com o seu pai. Ele precisa ensaiar melhor alguns
passos antes da próxima turnê.” Fizzy olha para mim por cima da
cabeça de Stevie e dá uma piscadinha.
“Pronto, já deu. Agora vamos lá.” Pego Stevie e a jogo por cima do
ombro, tentando controlar a estranha mistura de expectativa e
temor que sinto em relação às próximas horas. Stevie solta um
gritinho, eu olho para trás e vejo que Fizzy está rindo e vindo atrás
de nós. “Vai começar daqui a pouco, e eu quero apresentar algumas
pessoas pra você antes.”
Assim que Fizzy entra na cozinha, fica claro que Nat e Ella não vão
conseguir se controlar. Nat começa a falar sem parar sobre os livros
de Fizzy, diz que já leu absolutamente todos eles e que mal pode
esperar para saber o que vem a seguir. De uma forma gentil e
casual, pergunta quando chega o próximo, e Fizzy dá uma resposta
que claramente já usou várias vezes antes, um equilíbrio entre “vai
demorar um pouco” e
Me deixei levar a tal ponto por toda essa situação com Fizzy que mal
parei para pensar no programa. Mas, quando chega a hora e vão
todos para a sala, o nervosismo finalmente se instala. E para Fizzy
também, que recusa a comida e a taça de vinho, justificando que
pode acabar pondo tudo para fora. Todo mundo se movimenta para
acomodar Fizzy no sofá bem no centro do cômodo — ela é a
protagonista, afinal de contas —, mas ela explica que isso só vai
deixá-la ainda mais ansiosa.
Connor. Ai, meu Deus, uma piada obscena não tem a menor graça
se eu tiver que explicar! —, ela me contou que seu argumento foi
que, se explicasse a base científica do teste pessoalmente, ele teria
controle sobre a narrativa e, portanto, sobre como as pessoas a
enxergariam.
Está perfeita.”
Com apenas alguns minutos na tela, já ficou claro que todo mundo
gostou dele.
Ao meu lado, Fizzy passa o programa todo com uma cara de quem
está passando mal, mas, no terceiro intervalo, já relaxou o bastante
para aceitar um pouco de vinho. É um bom sinal.
“Graças a você.”
“É sério. Você pegou minhas sugestões — que, vamos ser sinceros,
foram mais um teste pra ver se você ia levar essa ideia adiante — e
criou uma coisa única. As pessoas vão assistir e vão adorar. Porra,
até eu assistiria. Se outra pessoa fosse a protagonista, claro.”
E Ash avisa todo mundo que acabou de ganhar passe livre para me
zoar à vontade por um bom tempo.
Fizzy esvazia sua taça e se recosta no sofá. “Ainda não estou pronta
pra esse choque de realidade. Quero ficar com esse sentimento de
entusiasmo pelo menos até amanhã, quando acordar. Depois vou
começar a colher uma opinião ou outra. Mas por agora” — ela
aponta para a tevê — “o que importa é que eu estava certa sobre
você. Pode admitir.”
“Sempre.”
“Na média.”
“Pode falar que eu sou o máximo.”
Vinte e nove
FIZZY
“Escuta só”, eu digo a ela com um tom bem sério. “Foi pura sorte
não ter dado uma merda muito, muito grande por você ter transado
com o seu produtor. Agradeça por ter conseguido voltar a sentir
atração por alguém. Agora isso já é página virada. Trate de tomar
jeito e pare de ficar pensando nos olhos dele, no sorriso dele e no
pau dele.”
“Fizzy?”
Resolvi sair pra correr um pouco pra ficar bem longe de qualquer
parente em um raio de oitenta quilômetros que resolvesse aparecer
na minha casa hoje de manhã pra falar sobre o programa.”
Ele ri de novo, mas desta vez de forma mais discreta e mais grave,
como quem compartilha uma piada interna. Esse som faz um calor
descer para a minha barriga e… é isso mesmo? Para o meio das
pernas?
Por causa de alguém que não é Connor? No meio de uma farmácia-
barra-loja-de-conveniência? Puta merda. Eu estou de volta ao jogo
mesmo!
“Ai, merda, você tem razão.” Olho para os dois lados do corredor.
Nós assinamos um contrato que estipula, entre outras coisas, que é
expressamente proibida qualquer confraternização entre os
participantes fora do âmbito do programa. Podemos ser multados,
expulsos da produção ou até processados judicialmente. Mas mesmo
assim eu continuo onde estou. “Eu meio que esperava que um
alarme tocasse e Connor aparecesse com uma daquelas redes de
caçador de desenho animado.”
Fico observando Isaac até ele ficar fora da minha vista, ainda com
aquela sensaçãozinha por baixo das calças. “Como uma escritora
profissional”, eu murmuro para a bela parte posterior de seu corpo,
cada vez mais distante, “eu gastaria todo verbo, adjetivo e
substantivo que conheço com ele.”
“Eu adoro seus livros e fiquei de cara quando vi que você ia fazer
esse programa. Já li Parzinho básico quatro vezes.” Antes que eu
possa dizer o que quer que seja, ela acrescenta rapidamente: “A
gente pode perguntar uma coisa? Eu sei que você é superocupada”.
Ela ri, vira o celular para mim e aponta para a tela. “Você sabe se
esse é mesmo o Instagram do Connor Prince?”
Tenho dez minutos para planejar tudo antes que as câmeras sejam
ligadas de novo para me filmar “pensando a respeito” e
comunicando minhas decisões de forma bem espontânea. O clima,
claro, é de aula de educação física — as pessoas vão achar que
quem eu escolher primeiro é meu preferido —, mas também preciso
ser estratégica para determinar qual é a melhor forma de conhecer
cada um deles fora de sua zona de conforto.
Seu senso de humor deve ter tirado o dia de folga, porque o que ele
faz em resposta é um longo monólogo sobre o efeito provocado por
Crepúsculo na “literatura séria sobre vampiros”. Fico me
perguntando se, na hora de montar o episódio, Connor vai manter o
olhar de tédio que eu lancei para a câmera.
Por falar em Connor, ele está aqui. Nossa, e como está. Todo alto e
forte nos bastidores, ajudando a carregar equipamentos pesados
com aqueles braços estupidamente musculosos. Soltando aquela
risada grave quando eu seguro uma abobrinha e dou uma
piscadinha para a câmera. Balançando a cabeça quando eu digo a
Jude que nosso próximo encontro deveria ser em Volterra e ele
concorda na mesma hora, claramente sem entender a referência.
Pelo menos Connor sabe que Volterra é onde vivem os vampiros que
brilham no sol.
Durante a aula de coquetelaria com Nick — um desastre total que
incluiu uma tentativa de jogar uma garrafa para o alto e um monte
de caretas quando exagero no limão —, só Connor, Rory e um
cinegrafista estão presentes. Sua presença faz o bar charmoso,
cheio de vitrais coloridos, parecer ficar do tamanho de um armário
de produtos de
“Acho que ele só pode ter usado algum tipo de feitiço, porque ela é
incrível.”
Ele põe sua vara de pesca no suporte e inclina a cabeça para olhar
para o céu. “Parece que a comida vai ser sensacional.”
“Foi por isso que eu perguntei se poderia usar uma calça de elástico
em vez do vestido de madrinha.”
Ele baixa o tom de voz. “Será que eu posso admitir que as coisas
ficaram meio estranhas na minha vida desde que isso começou? Ser
reconhecido na rua é um lance surreal.”
“Encarar o quê?”
“É, sim”, Evan responde. “Eu conheci a Fizzy por meio dele. Mas não
vou, não, pode ficar tranquilo.”
“Ela está de férias.” Faço um gesto com a mão, como quem diz que
isso não é importante. “Não esquenta comigo. Eu posso muito bem
ir sozinha. Sei que vou estar em um ninho de cobras, mas eu
também sei ser uma.”
Inclusive, de acordo com o que Jess disse que Stevie disse para
Juno, Connor está sendo bombardeado. Meninas de dez anos têm
uma clara tendência ao exagero, mas, se está acontecendo comigo
no banheiro da Barnes & Noble, deve estar rolando com ele
também. E o tema é sempre o mesmo: a maioria quer saber como
chegar até aquele pedaço de mau caminho.
— mas de um jeito fofo, porque ela tem idade para ser sua avó.
Mas estava enganada. Meu cérebro sabe que ele não está aqui, mas
meus reflexos não. Fico olhando toda hora para o lugar vazio que ele
normalmente ocuparia e me pego esquadrinhando os arredores com
os olhos. É uma forma bem desagradável de me dar conta de que
venho observando as reações dele o tempo todo.
“Está tudo certo?”, Dax pergunta quando ainda estamos com os pés
e as mãos para cima, esperando o esmalte secar. A equipe está
recolhendo o equipamento, depois de filmar tudo o que era
necessário, acho. Mas ainda nada de Connor.
Ele vai estar em Coronado quando eu for até lá para o meu passeio
de bicicleta com Isaac? Ou vai passar o dia todo editando imagens?
“Está tudo bem com você?”, ele repete, com um sorriso simpático.
Por outro lado, também não é uma coisa sem importância nenhuma.
Merda.
Dax levanta a mão e acena para sua melhor amiga vovó. “Alguém
pode trazer um copo d’água pra ela, por favor?”
“Melhor agora?”
“É mesmo.”
“Eu tenho, tipo, um milhão de perguntas para fazer”, ele diz, “sobre
o seu trabalho, sobre a sua vida.”
Acho que ele vai me perguntar por Isaac, me explicar por que
chegou atrasado ou qualquer outra coisa.
Seria mais fácil explicar a minha presença lá. Não quero que você
tenha que encarar tudo isso sozinha”.
Trinta
Fizzy: Será que posso dizer que senti sua falta? Porque eu senti,
sim.
Fizzy: Foi um dia de calor, e você é um cara bem alto. Nós bem que
precisávamos de um pouco de sombra.
Connor: É exatamente por isso que você não tem permissão para
entrar na cabine de edição. Que tal falarmos sobre os encontros? Foi
uma semana bem agitada.
Fizzy: Foi uma loucura, mas os heróis foram ótimos. E espero que
vocês cortem a cena em que eu escorreguei na escada do Balboa
Park e meu vestido foi parar no pescoço e todo mundo viu a minha
bunda, mas desconfio que vocês pretendem incluir essa.
Trinta e um
CONNOR
Estou vendo você digitar, ela escreve para mim. Para de bobagem.
Eu preciso da sua ajuda.
ideal era que o elevador demorasse meia hora até chegar ao andar
de Fizzy. Para minha infelicidade, desconfio que hoje vou receber
uma série de lembretes dos motivos pelos quais não deveria ter me
oferecido para acompanhá-la no evento, porque não estou em
condições de ficar sozinho com ela.
A voz dela fica mais alta quando sai do banheiro. “Eu posso dizer
que você estava entregando o serviço de quar…”
“Connor?”
Quando com muito custo volto meu olhar para seu rosto, ela está
segurando um sorriso. “Eu pedi pra você me ajudar.”
“Meu vestido?”
“São quarenta”, ela responde. “Eu deveria ter chamado alguma tia
minha antes de você chegar, mas infelizmente agora está todo
mundo ocupado, então aqui estamos nós. Por motivos óbvios —
sendo o principal deles que mal consigo mexer a bunda com esta
coisa, muito menos fechar os botões sozinha —, preciso de um outro
par de mãos.”
Mas então faço uma coisa de que só me dou conta quando vejo um
arrepio subir pelas costas dela — passo o nó de um dedo de leve por
toda a extensão da sua coluna.
“Se for para fazer isso, é melhor nem fechar o vestido.” Ela se vira e
olha para mim por cima do ombro. “E eu sei o que você pensa a
respeito de limites.”
“Sua castidade está garantida”, digo a ela. “Porque nós não vamos
fazer aquilo de novo.”
poder ajudar.”
“Achei que você me devia uma depois de todo o esforço que fiz pra
te apertar inteira.”
“Humm”, ela faz, e seu sorriso se suaviza. “Pronto pra hoje? Talvez
seja uma experiência meio intensa demais.”
“Desde o seu?”
Solto uma boa risada. “Ah, sim. Era uma amiga de um colega de
trabalho e tinha acabado de chegar aqui, transferida do Arizona.
Percebi logo no momento em que fui buscá-la que tinha alguma
coisa errada, mas ela garantiu que estava tudo bem.”
“Ai, não.”
“O que é compreensível.”
“Com certeza, mas também chorou no jantar e na primeira dança.
Fizzy dá risada. “O copo meio cheio, gosto disso. Mas você não faz
ideia do tamanho da minha família. Estatisticamente falando, tem
muita gente louca.”
Faço que não com a cabeça, hipnotizado pelo modo como os lábios
dela se franzem enquanto pensa em como me explicar tudo. “Na
nossa comunidade, a cerimônia do chá é uma coisa importantíssima.
Costuma acontecer de manhã, e o noivo e a noiva são separados um
do outro. O
noivo recebe uma lista de tarefas para executar e assim provar seu
amor pela noiva antes de ter a aprovação total da família. É só um
jogo, mas foram as três irmãs da Kailey que armaram a coisa toda, e
nós tivemos que jogar beer pong às sete da manhã…”
“Com cerveja?”
“Claro.”
“Moleza.”
“Moleza?” Ela estreita os olhos para mim. “Molho de hoisin,
maionese, vinagre de arroz, leite de amêndoas, pasta de alho e suco
de manga.”
“Você acha que um homem que ama uma mulher perderia a chance
de vê-la no altar só para não ter que beber uma coisa nojenta?”
Ela levanta a cabeça e me encara. Seu olho direito tem uma mancha
dourada, como se ela tivesse olhado direto para o sol e um
pedacinho de luz tivesse ficado preso ali. Mas logo essa mancha se
torna menor, porque sua pupila se dilata.
Puta merda.
“Só cinco?” O sorriso dela desaparece, e olho para suas mãos. Ela
não parece ter feito muito progresso com o nó da gravata. “Você
sabe mesmo fazer isso?”
“Você pode até ter razão”, ela diz, franzindo a testa. “Mas eu não
sou de desistir fácil.”
“Estou vendo.”
“Eu estava tentando fazer você se sentir útil, mas acabei de ouvir
que estamos sem tempo.”
Ela passa a mão pelo meu peito, espalhando um calor sob a minha
pele. Sua mão para no meu bolso, que ela apalpa. “Isso é o que eu
estou pensando?”
Enfio a mão dentro do paletó e pego o envelope com dinheiro.
“Como eu disse, Evan me deu uns toques sobre o que dar de
presente.”
Trinta e dois
CONNOR
No tempo que levei para abotoar o vestido e ela para fingir que
sabia o que estava fazendo com a minha gravata, o saguão do hotel
virou uma loucura. Os convidados em black tie estão por toda parte,
se abraçando, se apresentando uns aos outros e até chorando ao se
cumprimentarem.
Agora poderia ser um bom momento para admitir que eu era uma
dessas pessoas ou então para refletir sobre essa coisa que temos
em comum — a diferença entre a forma como encaramos a carreira
versus aquilo que nossos pais acham que deveríamos fazer. Mas o
primeiro pensamento que me vem à mente é: “Pra mim, você é a
obra-prima”.
Ela abre a boca, dando a impressão de que vai dar uma resposta
engraçadinha, mas nada acontece. Contorcendo os lábios, ela
balança a cabeça para mim. “Você não existe.”
“Certo.”
Trinta e três
FIZZY
Eu já estive em um número incontável de casamentos na vida. Fui
madrinha duas vezes (Alice e Jess) e dama de honra outras catorze,
oficiei três matrimônios e em duas ocasiões fiz leituras durante a
cerimônia (em uma delas, um trecho de um livro meu, o que foi bem
esquisito). Tenho certeza de que algumas pessoas vão a esses
eventos só para ver o que dá certo e para dizer o que fariam
diferente. Examinar a decoração, avaliar a comida, estimar o número
de convidados.
Ele se afasta com um sorriso e ali está — bem ali — o que eu queria
ver: o olhar indisfarçável de fascínio. Aquele primeiro contato visual,
que silenciosamente grita Sério mesmo que estamos casados? Peter
muitas vezes se mostrou um babaca egoísta, e nunca vou perdoá-lo
por ter cortado meu rabo de cavalo quando eu tinha treze anos, mas
ele ama Kailey. Vai ser um bom marido para ela.
Eu detenho o passo. Ele não me viu. E deveria aceitar. Sei que não
vou gostar, mas seria uma boa forma de interromper essa coisa
estranha, inapropriada e inviável que está rolando entre nós. Eu
deveria gostar de Isaac, ou de Dax, ou de Nick. (Talvez de Jude.
Acho que já dá para dizer que com Evan não vai rolar. Mas Connor
definitivamente não está no jogo.)
Mas então ele diz, todo gentil: “Desculpa, mas esta noite estes pés
de valsa estão à disposição da Fizzy”, e sinto meu coração palpitar e
um frio na barriga de congelar o estômago.
Puta merda, essa é uma boa reflexão. Abro minha bolsa de festa
para pegar meu caderno, mas não encontro nada. Mesmo que eu
tivesse voltado a andar com papel e caneta, nesta bolsa não caberia
nada maior que uma barrinha de cereal.
Parada logo atrás de Connor, vendo ele rejeitar gentilmente, mas
com firmeza, uma mulher sem dúvida maravilhosa, sabendo que ele
não curte transas casuais e que me entende e admira o bastante
para pôr sua carreira nas minhas mãos, e que, mesmo que sinta por
mim só uma fração do que sinto por ele, também está se arriscando
a uma desilusão amorosa fazendo esse programa comigo, percebo
que aquilo que disse semanas atrás é mesmo verdade — eu não
tenho um tipo.
dizer?, e Ei, eu senti sua falta, e Ei, lembra quando a gente se pegou
gostoso e transou até enlouquecer?
Ashley aparece do outro lado dele, sorrindo para mim. “Oi, Fizzy.”
Abro um sorriso amarelo e olho para Connor como quem diz: E aí,
vai responder o quê?
Ele olha para mim com uma expressão divertida. “Eu já falei pra ela
que me sinto mais à vontade atrás das câmeras, e que foi você que
me obrigou a fazer essas entrevistas.”
Sinto meu sorriso murchando e não posso fazer nada para impedir.
“Acho que não deve ser fácil para uma pessoa pública encontrar
alguém”, Connor intervém, sempre tranquilo. “É compreensível que
Fizzy seja cautelosa.”
Ashley solta um risinho de deboche. “Ai, meu Deus, você é tão fofo.
“Claro”, ele responde, com uma risada gostosa. “Quem não quer sair
com ela?”
Connor continua sorrindo, mas agora não parece tão natural. “Você
lê os livros dela?”
Ashley faz que não com a cabeça. “Ah, eu não leio livros que só
tenham romance. Preciso de um bom enredo para me cativar
também.”
Ele fica bem sério. “Mas tem enredo de sobra também. E os da Fizzy
são de primeira linha.” Eu olho para ele com uma expressão
carinhosa.
Dou um soco no ombro forte dele com a minha mão livre. “Não é
isso. Estou falando daquela sua forma educadíssima de acabar com
ela lá fora.”
“Eu li quase todos.” Ele sorri para mim. “E olha que não são poucos.”
Minha pulsação ecoa nos meus ouvidos. É esse o tipo de coisa que
faz com que a Fizzy de trinta e sete anos se atraia por um cara? Ser
sincero, assumir os próprios erros e saber se comunicar? “Sabe
aquela mulher lá de fora? O nome dela é Ashley, não Amy.”
Fico sem reação diante do calor que se espalha pelo meu peito. Essa
bolha de alegria vai me arrebatar e me jogar no chão se eu não
puder me agarrar a ele de alguma forma. Peter e Kailey ainda estão
do lado de fora, tirando as fotos de casal pós-cerimônia. Temos uma
longa noite pela frente, com o jantar e os brindes e as danças e o
bolo, mas por ora vou tirar vantagem deste momento de
tranquilidade. Pego a taça de Connor e a coloco sobre uma mesinha
alta, e então o conduzo até a pequena pista de dança, onde alguns
casais se balançam suavemente ao som da música.
“Obrigado.”
Ele não diz nada, nem depois de cinco, dez ou trinta segundos. Fico
esperando que o remorso bata ou que eu me sinta rejeitada por
esse silêncio, mas em vez disso parece que estamos concordando.
Ele está me abraçando bem forte.
“De repente podemos dar uma escapadinha mais tarde pra ver o
programa,” sugiro.
“Não”, ele responde. “Blaine está a cargo de tudo. Ele sabe que
acompanhar você hoje era um trabalho importante.”
“Um trabalho, é?”
Isso o faz rir. “Felicity, você é a pessoa mais fácil que já conheci na
vida.” Eu olho para ele, esperando que se dê conta do que acabou
de dizer. Uma vermelhidão sobe por seu pescoço e deixa as pontas
de suas orelhas coradas. “Você entendeu o que eu quis dizer.”
Eu rio com a boca colada à sua camisa e fecho os olhos. Porra, ele é
perfeito. E isso é terrível.
Trinta e quatro
CONNOR
“Você tem que ir embora ou pode subir comigo pra ver o episódio de
hoje à noite?”
Sei que a resposta deve ser que preciso ir para casa. E também sei
que, quando o assunto é essa mulher, sempre existe a possibilidade
de ir além dos limites, e que meus sentimentos por ela estão
contidos atrás de uma barreira muito frágil. Eu deveria proteger
melhor o meu coração.
“Estou mesmo.”
“Era.”
“Ficou bom?”
“Ora essa.”
“Vou precisar que você abra os botões agora”, ela diz, apontando
casualmente para o vestido como se estivesse me pedindo para tirar
um fiapo da roupa ou para buscar uma encomenda na lavanderia.
“Ela está assistindo com o Insu e contando com detalhes o show que
viu com você e a Fizzy. Você vai ganhar de lavada o prêmio de pai
do ano com essa, seu babaca. Como está o casamento?”
“Incrível.”
“E a Fizzy?”
“Entendi.”
“Está tudo sob controle”, digo para Nat. O que não conto é que
guardei umas camisinhas na carteira hoje de manhã. Eu não vou
transar com Fizzy. Não vou. Mas a minha lição sobre nunca ser pego
desprevenido nessas situações faz onze anos em janeiro. Esse risco
eu não corro nunca mais.
Eu sorrio, porque é verdade. “Diz pra pequena que papai ama ela e
que desejo uma boa noite, Nat.”
“Que porra é essa que você está vestindo?”, eu pergunto, com meu
sotaque britânico se acentuando ainda mais por causa do susto.
“Quero.”
“Quer dizer, não é bem assim, nós nos divertimos juntos, mas ela
não está sozinha, sofrendo. Está vendo o show do Wonderland com
o Insu.”
Eu vou ter que me sentar na cama com ela. Puta que pariu.
“É muito difícil não ser crítica demais comigo mesma”, ela admite.
“E como amigo?”
“Ou o Jude.” Ela ergue o queixo apontando para a tela quando ele
entra andando em sua direção no parque onde plantaram árvores
juntos. “Sinceramente, fico impressionada com quanto você é bom
no que faz.”
“Como assim?”
“Esse encontro”, ela diz, olhando para a televisão. “Parece uma coisa
tão íntima, como se nós estivéssemos completamente sozinhos
nesse parque. Você capturou as minhas expressões de um jeito que
dá a entender que estou encantada por ele. E o Jude… olha só pra
ele. Que filtro é esse? Preciso disso no meu rosto o tempo todo. Ele
está um gato e não parece nem um pouco um bobalhão.” Ela ri. “Na
verdade, estava um calor de mais de trinta graus, um dia suarento e
úmido, e o parque, lotado.” Fizzy aponta para a tela. “Eu estava
olhando pra ele ou pra
você? Sou capaz de jurar que passei esse encontro inteiro olhando
pra você.”
Fizzy se senta na cama e se vira para mim. “Eu sabia que você ia
sacar essa!”
Fico incomodado com o tom de afeto na voz dela. Claro que ela
gosta dele, é um cara comprovadamente fantástico e, além de
interessado, está disponível. Eu deveria incentivá-la, e não sentir
essa vontade de gritar “Corta!” toda vez que ele a faz sorrir.
“Ã-ham.”
Ela olha para mim por cima do ombro. “Uau, você teve que pensar
umas três vezes antes de admitir isso, hein?”
“Por que será que eu acho essas suas mentiras tão charmosas?”
“Eu estou sempre on-line. Mas não entro em redes sociais, se é isso
que você está querendo dizer.”
“Eu dei uma espiada no seu Insta. Tem uma foto dos pezinhos da
Stevie no pedal da bicicleta e outra de um cachorro de, sei lá, quatro
anos atrás. E mais nada.”
Eu dou risada. “Eu não preciso mostrar pra todo mundo o que estou
fazendo vinte e quatro horas por dia.”
Ela se vira de lado, de frente para mim. “Então você quer que o
Isaac ganhe?”
“Que pena, porque essa é a única resposta que você vai ter.”
“Claro que sim.” Pego o champanhe e viro tudo até terminar. “Te
aceitar do jeitinho que você é de dia e te comer até acabar com
você de noite.” Limpo a boca com a mão e estendo o braço para pôr
a garrafa vazia em cima da mesinha de cabeceira.
Ao meu lado, Fizzy está em silêncio. É minha vez de olhar bem para
ela; seus olhos estão semicerrados, e a boca, entreaberta. “Que foi?
Eu disse alguma coisa errada?”
“Não.”
“Como?”
Ela vira os olhos na minha direção. “Você disse gostar. ‘Você iria
gostar de um homem’ assim. E não que eu quero, ou preciso, ou até
mereço um homem assim.” Em seguida, volta de novo sua atenção
para o teto e sorri. “Você tem razão. Porra, eu iria gostar muito de
ter um homem assim. Adorei esse jeito de colocar as coisas.”
“Um labirinto com uma linha reta até o centro. O problema é que os
homens são muito burros.”
Percebo que ela quer ficar brava, mas o deleite em seus olhos é
evidente. Fizzy estende a mão para afastar os cabelos do meu rosto.
Consigo ver o sangue dela pulsando sob seu maxilar e sinto vontade
de colar o rosto ali e me deixar levar pela sensação de acender seu
fogo
com meu toque. “Vai brigar comigo só por ser sincero e dizer que
você é a maior coração mole?”
“Obviamente.”
Também consigo ver em seus olhos que ela entendeu o que eu quis
dizer com isso. Eu não preciso tentar porque tudo entre nós é fácil e
tranquilo demais. Escancarado demais. Bom demais. A ideia de que
ela possa acabar ficando com um Jude ou até mesmo com um Nick
chega a parecer risível agora.
Fico olhando para ela, para sua expressão pensativa, vendo seus
cílios descendo quando seus olhos se fecham, e ela suspira de novo.
“O
“Ah, não?”
“É mesmo?”, pergunto.
“Sim…”
Ela baixa os olhos para os meus lábios, e sua boca se torna mais
descontraída e faminta. “Me beija.”
Eu dou risada ao ouvir isso. “Tem certeza de que é uma boa ideia?”
ela chega mais perto, pressionando o corpo contra o meu. “Eu quero
você o tempo todo, Connor.”
“Acho que já ouvi isso antes.” Minha voz está carregada de desejo.
“Nós começamos com uns beijos”, ela continua, usando a perna para
puxar uma das minhas para mais perto. Ela se esfrega em mim,
prendendo minha coxa entre as suas. “Se estiver gostoso, de
repente podemos tirar a roupa. Se não quiser transar comigo, tudo
bem.”
Trinta e cinco
FIZZY
“Eu quero beijar você pelo resto do fim de semana”, resmungo com
a boca colada à dele.
Com uma risada ele sobe em cima de mim, e sua mão desliza pela
minha coxa, me apalpando e acariciando até eu me arquear ao seu
toque, sentindo seus dedos no meu quadril, nas minhas costelas, no
meu peito.
“Você é tão linda”, ele fala junto à pele sensível logo abaixo da
minha orelha, e então repete baixinho junto ao meu pescoço, ao
meu ombro, aos meus peitos.
Nunca senti tanto desejo de ser de alguém como com Connor. Quero
me alimentar de seus beijos possessivos e intensos. Quero que ele
se lembre de ter beijado cada parte do meu corpo. Quero que as
minhas mãos saibam moldar instintivamente o seu corpo. Quero que
ele saiba pelo calor da minha pele e pelo tom dos meus gemidos
quanto estou perto de chegar lá.
Connor me diz que não consegue parar de pensar em mim, que tudo
o que quer é me tocar. Ele beija meu corpo e se acomoda no meio
das minhas pernas, estendendo a mão e passando o polegar pelos
meus grandes lábios, sentindo a forma dos meus ruídos à medida
que me explora com a língua. Quero poder jogar a cabeça para trás
sentindo os rodopios de sua língua enquanto ele me chupa, com
firmeza e determinação, mas tenho medo de perder qualquer
sensação que seja.
Quando olho para baixo, vejo o topo da sua cabeça, os seus olhos
fechados em êxtase. Agarro os seus cabelos macios com as mãos, e,
quando seu nome escapa da minha boca em um suspiro, ele olha
para cima, ainda com a boca em mim, com os dedos lá dentro,
emitindo sons que fazem minha espinha vibrar. Digo seu nome,
querendo gravar na memória que é Connor quem está me
provocando essa sensação, que deve ser ele a me conduzir ao limiar,
cada vez mais perto, e mais perto, até a queda. Quando estou toda
mole e exaurida, ele me vira e contorna cada curva minha com os
dedos e os dentes, mordendo de leve as minhas pernas, a minha
bunda, subindo pelas minhas costas e me provocando um calafrio.
Com uma lenta esfregada na minha coxa, sinto quanto ele está
duro, com a respiração trêmula contra a minha pele.
Olho por cima do ombro para ele, me sentindo inebriada pelos
beijos.
“Quanta confiança.”
Connor solta uma risada distraída. “Não tem muito sangue irrigando
o meu cérebro no momento”, ele comenta, e nós dois ficamos
observando enquanto ele desenrola lentamente o preservativo,
centímetro por centímetro.
“Estou percebendo.”
merda.”
Connor volta e toca de leve com a ponta dos dedos a parte interna
da minha coxa antes de colocar um pano quente e molhado ali,
levando-o até onde estou latejando de prazer e me limpando com
gestos lentos e cuidadosos.
Ele faz que não com a cabeça, mas me beija, me distraindo com o já
familiar roçar dos dentes no meu lábio inferior, e então põe outro
pano molhado, mais frio, no meio das minhas pernas. O choque
térmico traz uma deliciosa sensação de alívio.
“Nós ficamos na cama um bom tempo. Achei que você pudesse
estar dolorida.”
ele faz. Quando ele se levanta para levar as toalhas de mão de volta
para o banheiro, eu o agarro pelo braço, tirando tudo da mão dele e
jogando de lado, para longe da nossa vista.
“Eu só estava…”
Quem diria?”
“Ah, não?”
“Eu também.”
“Claro que sim”, admito, e ele prende uma mecha dos meus cabelos
bagunçados atrás da minha orelha. “Às vezes são coisas sexy, mas
tem horas que eu só queria a sua companhia. Eu gosto de você.”
Ele não parece surpreso nem desconfiado. Ele diz apenas “Pra mim
também”, em meio a uma trilha de beijos no meu pescoço.
A voz dele sai como uma vibração grave que ressoa por todo o
corpo.
Connor fica em silêncio por tanto tempo que chego a achar que ele
cochilou, mas então sua voz se eleva na escuridão.
“Nós vamos conseguir fingir?”, ele pergunta, por fim. “Estou deitado
aqui me perguntando se vamos conseguir fazer as duas coisas, isto
aqui e aquilo lá.”
Aos risos, ele se apoia sobre o cotovelo, olhando para mim inebriado
de prazer. “O sol?”
Ele sorri, mas não com o divertimento que eu esperava. “Vou ter que
esconder o meu ciúme.”
Ah.
Eu estou me apaixonando.
Trinta e seis
FIZZY
“Umas três.”
“Com certeza.”
“Vão me encher de perguntas no brunch de amanhã.”
“Principalmente sua irmã”, ele diz, e dou risada. Connor se vira para
pôr a garrafa de volta na mesinha de cabeceira e aproveito a
oportunidade para acariciar suas costas, mapeando sua larga
extensão.
Ele põe o dedo sob o meu queixo, inclinando meu rosto para me
obrigar a olhá-lo nos olhos. “Eu ia perguntar como foi o casamento
pra você, mas acabamos nos distraindo.”
instinto, mais forte, me leva a ser sincera com ele. “Não foi tão difícil
quanto o da Alice”, admito. “No casamento dela, ficou todo mundo
com pena de mim, o que me pegou totalmente de surpresa, porque
eu estava lá para comemorar e só o que recebi foram olhares de
preocupação e pena porque a irmã mais nova estava se casando
primeiro. Pelo menos ontem o fato de eu ser solteira foi tratado mais
como um meme do que como uma fofoca.”
“Sei lá”, Connor diz baixinho. “Pra mim parece bem difícil escrever
um livro envolvente quando a pessoa já sabe como vai terminar.”
“E então? Ele ficou impressionado por ter um filho que está sendo
stalkeado nas redes sociais?”
“Não exatamente.” Ele pega uma mecha dos meus cabelos e começa
a enrolar distraidamente no dedo. “Sua mãe pode não entender a
relevância dos livros de romance, mas tem orgulho de você. A
preocupação dela é por amor, com uma boa intenção por trás. O
problema é que eu não sou o que o meu pai quer que eu seja.”
“Com a Natalia?”
“Hã… sim?”, eu digo com um sorriso. “A não ser que você tenha
outra mulher escondida no sótão.”
“Pois é. E com um bebê.” Ele sorri para mim. “Ela tava grávida.”
“Ah.”
“Que situação.”
“Ah”, eu digo.
“Pois é.” Sinto que é uma história que ele não costuma contar com
muita frequência, porque está escolhendo as palavras com mais
cuidado
do que o habitual. “No começo foi bom. A Stevie foi uma bebê bem
tranquila. Eu amava a família que a Nat e eu tínhamos construído
juntos. Sabia que nós seríamos bons pais.”
“Mas eu não era apaixonado por ela de verdade, e foi ficando cada
vez mais difícil fingir que era. Ter que decidir se era melhor ficar ou
ir embora e correr o risco de cometer os mesmos erros do meu pai
foi uma coisa que me deixou doente. Eu nunca quis que a Stevie se
sentisse como eu me senti.”
“Entendi.”
“Bem que eu queria dizer que conversamos sobre tudo isso”, ele
continua, “mas não foi bem assim. Eu amava a Nat, mas não era
apaixonado por ela e, olhando pra trás, percebo que só estava
procurando uma forma de fazer ela parar de me amar. Eu era
imaturo e um tanto distante.”
Quando ele diz isso, acho que entendo. Mas o calor de seu corpo e a
sensação de seus dedos passeando pelo meu ombro fazem parecer
que suas próximas palavras foram ditas com uma espécie de tinta
invisível.
Ele deixa essa frase pairando no ar, e meu corpo reage a essa
informação como se fosse um veneno, primeiro com um ardor na
pele e depois com uma queimação que se instala dentro de mim
como uma úlcera.
“Nada justifica o que eu fiz.” Sinto seu olhar sobre o meu rosto, mas
não consigo retribuí-lo e me concentro na pequena cicatriz que ele
tem no ombro. Meu coração está tão apertado que mal consigo
engolir.
Não dá pra saber. Foi a pior coisa que eu fiz na vida”, ele continua.
“Eu sei, mas sou a irmã mais velha e fui embora do casamento sem
me despedir da minha família.”
“Você se despediu.”
Eu tropeço quando calço o sapato. “Juro pra você que não tem nada
a ver com isso. E sei que deve ter sido superdifícil se abrir desse
jeito.
Me desculpa por fazer isso justo agora, mas preciso ver se ainda tem
alguém lá embaixo pra quem eu talvez precise fazer sala.”
“Não posso.”
“É, sim. E tudo bem. Eu também não aprovo o que fiz, mas quero
poder assumir minhas cagadas pra você e que você se sinta à
vontade pra fazer a mesma coisa. Quero que a gente possa ter esse
tipo de conversa.”
E agora vejo que Rob deixou só uma ferida superficial. Connor seria
capaz de me aniquilar por dentro, e sem nem ao menos precisar de
algo tão drástico como uma traição.
pela bebida, e acabamos indo longe demais. Eu não sei onde estava
com a cabeça. Nós mal nos conhecemos.”
Connor solta um suspiro de incredulidade. “Nós nos conhecemos,
sim.
Trinta e sete
CONNOR
Desabo de novo na cama, olhando para o teto. Sei que Fizzy pode
ser muita coisa — impulsiva, corajosa, confiante, assertiva, intensa
—, mas não sabia que também era evasiva dessa maneira. Ela é a
heroína romântica que enfrenta o perigo de peito aberto. Não é a
mulher que dá desculpinhas esfarrapadas antes de escapulir porta
afora. Agora estou sozinho e totalmente despido em uma cama toda
bagunçada pelo sexo, ainda ouvindo o eco do que fizemos entre
essas quatro paredes.
Ou talvez agora. Ela vai entrar, eu vou deixar de lado essa raiva e
vamos esclarecer tudo, tim-tim por tim-tim.
Trinta e oito
FIZZY
Ela assente e então leva o chá até os lábios para dar um gole,
deixando minhas palavras ricochetearem no silêncio da sala de estar.
Foi isso mesmo que fiz. Deixei Connor nu na minha cama no hotel
enquanto desci correndo e me escondi no salão às escuras por uma
hora, com os pensamentos girando a mil.
“Não, qual é, eu sou a pessoa certa pra falar sobre isso. Ser
magoada, se sentir traída? Isso provoca reações estranhas em nós.
Sei que esse é o seu gatilho e que não é culpa sua ter reagido
assim.”
“Se você fosse quem era aos vinte e quatro, estaria saindo com um
cara diferente a cada semana e não teria o menor interesse em
encontrar uma alma gêmea — nem em um programa de tevê, nem
na vida real.”
“Nem toda semana.”
“Ele não estava mais lá.” Jess murcha. “Foi embora antes de eu
voltar.
esperando, seria um sinal de que ele não é o cara certo pra mim e
que era melhor seguir em frente.”
“Acredito, sim.”
“Depois de levar o gato pra casa, você me ligou pra reclamar, toda
chocada e indignada porque aquele arauto da desgraça ainda
destruiu suas cortinas em, tipo, meia hora?”
“Acho que…”, começo a dizer, levantando um dedo como se estivesse
auferindo a direção do vento. “Sim, acho que está na hora de
encontrar uma nova melhor amiga.”
Ela ri. “E será que eu posso perguntar sobre o Isaac? Você disse que
talvez ali tivesse um futuro.”
Ela se estende para o meu lado do sofá e me puxa para junto de si.
“O Connor fez uma bobagem aos vinte e poucos anos. Você deveria
entender isso melhor do que ninguém, Fizzy.”
Que aquela foi a pior coisa que fez na vida. Que se esforçou para ser
uma pessoa melhor, fez terapia. Que Nat o perdoou.
“Eu nunca senti isso… essa vontade insaciável, sabe? Quero estar
com ele o tempo todo. Se como alguma coisa gostosa, quero
oferecer um pedaço pra ele. Se vejo alguma coisa bonita, quero
mostrar pra ele.
“Ah, querida.”
“Saber que, mesmo que por algum milagre tudo dê certo, eu posso
acabar magoada de qualquer jeito.”
Fico à espera da piada. Uma de nós precisa fazer isso; o clima está
pesado demais.
Acho que você estava falando sério mesmo quando mencionou que
o pau dele é mágico.
Mas Jess diz a última coisa que eu esperava ouvir: “Essa é a maior
prova de que ele é o cara certo pra você, Fizzy”.
Você tá acordado?, escrevo para ele. Espero que sim, porque estou
indo aí.
Não espero por uma resposta. Não paro para pensar. Enfio o celular
na bolsa, os pés nos sapatos e não me dou ao trabalho nem de
trancar a porta.
Tô aqui, escrevo.
Nada.
Como as pessoas nos livros e nos filmes são capazes de fazer suas
declarações de amor grandiosas no meio da noite quando existe a
possibilidade de haver crianças dormindo em casa?
Não me resta nada a fazer a não ser mandar outra mensagem. Oi.
Sim, eu realmente vim até aqui no meio da noite. Por favor me diz
que você tá acordado.
Finalmente, depois que passo uns bons trinta segundos sem tirar os
olhos da tela do celular, os três pontinhos aparecem. Meu coração
vai parar na boca.
Ele está com os cabelos caídos sobre a testa, do jeito que eu gosto,
uma blusa cinza de gola careca, calça jeans gasta e desbotada e pés
descalços. Mas, acima de tudo, o que importa é ele, o pacote inteiro:
o corpo volumoso e forte, e os olhos gentis, e os lábios cheios, e o
nariz reto. Nossos olhares se encontram, e, apesar de notar uma
certa cautela nele, acho que seria preciso aparecer um caminhão
sem freio invadindo a calçada para me fazer desviar o olhar.
“Oi”, eu digo quando ele se vira para mim, fechando a porta atrás de
nós. O ar ao nosso redor parece carregado de calor. Sinto vontade
de ficar de joelhos e mostrar minha idolatria por ele. Nunca tinha
sentido tamanha atração ou devoção na vida.
“Que bom que você está acordado”, digo, ofegante — e espero que
seja de emoção, e não por ter subido correndo os oito degraus de
entrada da varanda.
“Mas eu não devia ter ido embora daquele jeito. Devia ter ficado e
pensado em uma forma de dizer o que queria, que é o seguinte: eu
fiquei me sentindo muito mal pela Natalia. Mas também por essa
mulher desconhecida que nem sabia que estava fazendo parte da
Ele poderia dizer Só para deixar claro, ela não sabia que eu era
casado, mas não faz isso. E, mesmo se for esse o caso, eu até
prefiro que ele nem tente se defender. Connor se limita a ouvir,
absorvendo o que tenho para falar.
“Eu sei. E queria não ter fugido daquele jeito. Me desculpa por ter
feito isso depois do que você fez. Depois de ter se aberto comigo.”
Eu respiro fundo. “Passei um bom tempo lá embaixo, pensando.”
Ele olha para o chão e fico observando aquele rosto lindo, esperando
alguns instantes para me acalmar. Dizer essas palavras é como
espremer meu corpo inteiro a ponto de poder passá-lo por um
canudo.
E a parte seguinte é algo que nunca falei. “Eu fui volúvel a minha
vida toda”, admito. “Nunca fui capaz de fechar os olhos e me
imaginar vivendo com uma pessoa pra sempre. Pensei que estava
agindo como de costume quando saí daquele quarto no meio da
madrugada, mas…”
“Fizzy…”
Então falo logo de uma vez, e em alto e bom som para me fazer
ouvir: “Eu tô apaixonada por você”.
“Ai, meu Deus”, digo com uma risada constrangida, mas por dentro
estou me contorcendo de humilhação. “Você acabou de dizer o que
eu estou pensando que disse?”
Seu olhar se suaviza, mas sem deixar de ser firme. “Eu sinto muito.”
Com seu perfil agora iluminado pelo abajur, percebo quanto ele
parece cansado. Seu rosto de feições marcantes parece emaciado, e
percebo que é porque não há um sorriso em seus olhos.
Eu sabia que ele era uma pessoa cautelosa, que só fazia as coisas
depois de refletir bastante. Ele confiou em mim para revelar algo
que
“Eu estraguei tudo, né?”, digo baixinho. “Ter deixado você falando
sozinho ontem à noite mandou tudo pro espaço.”
“Eu sei.”
Trinta e nove
CONNOR
Dessa vez, quando Fizzy vai embora, sinto apenas um vazio por
dentro.
Trent veio a San Diego para uma reunião com o jurídico. Nem me
passou pela cabeça perguntar o motivo. “Eu ainda não entrei na
internet”, respondo. “Só estou aqui de passagem antes de ir para o
set.”
Quarenta
CONNOR
Olho para baixo para entender do que ele está falando. O suéter que
vesti quando saí do escritório está ao contrário, com a etiqueta
aparecendo na parte da frente do meu pescoço. E as duas mulheres
que me abordaram para pedir uma foto comigo antes de Ash chegar
não fizeram nem a gentileza de me avisar. Tiro o suéter por cima da
cabeça e o visto do lado certo desta vez. “Eu ando meio aéreo.”
“Dá pra imaginar.” Ele fica me observando por um instante. “Não foi
pro set hoje?”
Eu sei que foi melhor ter rompido minha relação com Fizzy, mas uma
parte de mim meio que torcia para que Ash dissesse o que no fundo
eu também já sei — que era preciso ter pegado mais leve e dado
mais um tempo para ela se preparar para a coisa mais difícil que
poderia ouvir da minha boca. Infelizmente, depois de escutar a
história toda — o drama no hotel, a declaração de Fizzy e a situação
do programa produzido por Trent —, Ash concorda que eu fiz o que
tinha que fazer.
“Não dá pra dizer que existem provas disso, Ash. Fizzy e eu tivemos
um lance ocasional que durou só algumas semanas e terminou antes
mesmo de começar.”
“De repente desta vez você pode usar o DNADuo”, ele sugere,
cortando sua omelete em pedaços simétricos. “O sistema tem muito
mais usuários agora, e parece que as pessoas então encontrando
uns níveis de compatibilidade bem altos. Um match Ouro não é mais
uma raridade
“Além disso, você é famoso agora, Connor.” Ele dá mais uma garfada
e mastiga.
Ainda estou devaneando sobre a tagarelice de Fizzy e sobre como
ela usa isso a seu favor, então demoro alguns segundos para
registrar o que ele está dizendo. “Você tá falando dos depoimentos
confessionais?
“Eu nem apareço tanto na tela. O programa tem homens mais bem-
sucedidos, mais bonitos e, sendo bem sincero, mais agradáveis do
que eu para as pessoas se empolgarem.”
“Isso eu não discuto”, ele diz com um sorriso. “Mas as pessoas estão
elegendo você de qualquer maneira. Pelo jeito, Papai Prince, elas
adoram sua voz grave e seu sotaque sexy, além das suas interações
brincalhonas com a Fizzy.” Ele levanta os olhos ao ouvir meu som de
choque. “Ah, qual é, não precisa ficar horrorizado também. ‘Papai
Prince’ é até bonitinho perto de outras coisas que tem aqui.”
Enquanto Ash continua rolando a tela, seu sorriso se torna uma
testa franzida e ele pergunta em voz alta: “Eu nem imaginava que
‘me engravida’ fosse uma frase tão comum”.
Acho que o Capitão América teve uma bela votação em uma dessas
semanas.”
“Acho que o pessoal preferiu ignorar essa parte.” Ele pega o copo
d’água e dá um gole. “Afinal, você não tem como ser o vencedor
dessa coisa.”
Ele tem razão, claro. Não sou um participante. Mas mesmo assim me
bate um pouco de tristeza. Eu não tenho como ser o vencedor.
Acabo preso em um estado mental em que tenho muitas coisas para
pensar e pouco tempo para isso. Poderia passar uma semana inteira
refletindo sobre a sensação de chegar de braço dado com Fizzy ao
Mas tudo isso precisa ser deixado de lado, porque tenho um trabalho
a fazer. E, de alguma forma, Fizzy e eu conseguimos manter o
profissionalismo. Depois da somatória dos votos do fim de semana,
restam quatro heróis românticos: Isaac, Nick, Dax e Evan. Não sei se
é um alívio ou uma tortura o fato de estar correndo tudo bem com a
produção e minha presença não ser necessária nos jantares íntimos
de Fizzy com seus heróis, seguidos de longas caminhadas na praia,
de encontros no boliche e da saída para colher maçãs e fazer aulas
de surfe, mas aproveito para manter esse distanciamento, porque
provavelmente é uma coisa de que nós dois precisamos. A única vez
que a vejo na semana é para a gravação de um depoimento
confessional esquisito e forçado. Fora isso, fico entocado na sala de
edição e crio uma narrativa para cada possível casal, ouvindo música
nos fones de ouvido em todos os momentos de folga para me livrar
do eco de Fizzy me dizendo que está apaixonada por mim. Consigo
montar o episódio mais instigante até aqui, a maior audiência da
emissora na semana. Mas, para mim, é uma conquista vazia.
Minha vontade é de sentir seu corpo com as mãos e sua pele com a
boca, imprensada contra uma parede, arrancando dela mais uma
declaração de amor.
Quarenta e um
FIZZY
Quero ir até ele, puxá-lo de lado e dizer que nunca mais vou fazer
aquilo, que nunca mais vou fugir daquele jeito. Será que ele sabe
Meus pais falam sobre como foi se mudar de Hong Kong para os
Estados Unidos aos vinte anos e sobre as dificuldades de criar três
filhos com personalidades tão diferentes. Material incrível e
autêntico, perfeito para a televisão. Em meus momentos discretos
de dissociação, consigo ver a coisa à distância e sei que estamos
todos fazendo um ótimo trabalho.
minha mãe está quase apaixonada por ele antes mesmo de servirem
os pratos principais, e meu pai está me lançando aquele olhar como
quem diz E então? Ele é incrível, hein?, o que significa que vai ficar
me perguntando sobre Isaac por vários meses. É exatamente por
isso que nunca apresentei meus pais para nenhum cara antes.
Bastaria um encontro para motivar seis meses de questionamentos
sobre quando eu acho que vai vir o pedido de casamento. Fico com
medo de que eles não tenham entendido ao certo a premissa do
programa — que estamos só encenando um encontro, que não é
uma apresentação formal à família —, mas não posso me preocupar
muito com isso porque já me sinto triste demais e estou dedicando
todas as minhas energias a sobreviver a esta noite.
“Mas ele deveria ser seu namorado”, ela continua, sem perceber que
estou me enrolando para desligar o equipamento. “Vocês ficam
muito bem juntos.”
Ofereço para eles o melhor sorriso de que sou capaz. “Que ótimo.
Ou talvez esteja tudo bem. Talvez não haja frieza nenhuma e Connor
não seja nem um pouco esquisito com Isaac, apesar de uma das
minhas partes preferidas do corpo dele ter estado dentro do meu
corpo há uma semana e quarenta e oito horas e de um observador
casual talvez poder afirmar que estamos sendo dramáticos demais
em relação a nossos sentimentos. Só que, assim como nunca me
apaixonei antes, também não sei como é me desapaixonar. Talvez
aconteça em um
É Brenna quem vem falar comigo, com os olhos voltados para a tela
do celular. “Ao que parece, você está liberada!”
Eu balanço negativamente a cabeça. “Ainda não gravei meu
depoimento.”
“Oito e pouco.”
“Merda.”
“A que horas você precisa estar no set hoje?”
“Eu sei.” Estendo o braço e esfrego o rosto. “O que eu quis dizer foi
Merda, vou precisar passar mais um dia fingindo que tá tudo bem.”
“O quê?”
“pegar leve” para não sair mais da cama. Tenho mais ou menos um
zilhão de tias que poderia escolher, mas sinceramente isso
transformaria a coisa toda em um circo e, apesar da raiva que estou
sentindo de mim mesma no momento, eu não me odeio tanto assim.
Jess dá risada. “Até daqui a pouco. Bora pra cima deles, gata.”
Eu solto um miado patético em resposta.
dele, será que são realmente românticos? Uma viagem com ele não
significaria dez dias de constrangimento e desconforto? Será que eu
conseguiria aprender a gostar dele?
“E estou.”
“Você tá com medo de que o público não escolha quem você quer?”
Ela fica imóvel, e sua voz sai em um sussurro: “De qual você gosta
mais?”.
A princípio não entendo muito bem o que ela quer dizer com isso,
mas fico vermelha de vergonha. Porque então me dou conta. Ela
está se referindo ao que eu também sinto, que a verdadeira história
aqui é a amizade que surgiu entre mim e seu chefe, Connor Prince.
As câmeras não capturaram o mais lindo dos arcos narrativos: como
esse homem enorme vindo de outro país e uma mulher baixinha e
caótica em um primeiro momento entraram em atrito, mas depois
desenvolveram uma admiração mútua que evoluiu para algo muito
parecido com amor. Havia uma história real acontecendo o tempo
todo diante de mim, e eu estraguei tudo.
Liz dá um passo para trás, avalia seu trabalho e tira o avental que
protege a minha roupa. “Você está pronta”, ela avisa. Em seguida,
aponta com o queixo na direção de um assistente de produção que
está a postos.
“Vamos lá?”, ele pergunta, apontando para o trailer do lado de fora.
O
Quarenta e dois
FIZZY
Ele não diz oi nem olá. Apenas: “Teste seu microfone, por favor”.
Ele faz uma pausa e limpa a garganta. “Ah, sim. Certo. Vamos
começar por aí. Como foi a noite passada para você?”
Ele fica à espera de que eu diga algo mais, apreensivo por saber que
eu sou um fio desencapado. Eu deveria começar a tagarelar sobre o
meu encontro de ontem; essa é a minha função, falar. Mas me sinto
vazia por dentro.
Pego uma garrafa de água, tiro a tampa e dou um gole. Conte até
dez, dê mais um gole e faça a porcaria do seu trabalho, Fizzy.
“Ontem à noite foi difícil porque pode ter sido meu último encontro
com Isaac.”
Pronto. Ali está. Um leve tique no queixo de Connor. “A não ser que
ele vença, e ao que parece seus pais iriam gostar muito disso.” Ele
está falando com um tom de voz caloroso e amigável, se valendo do
sotaque e da simpatia, mas eu o conheço. Estou vendo a tensão em
sua expressão.
“É mesmo?”
“Acho que ele não causou uma boa impressão na época. Mas é com
certeza um cara incrível. E um gato.”
Connor ri, e seus ombros relaxam. “Você está afiada hoje, pelo que
estou vendo.”
“Aliviada.”
“Porque em breve vou poder parar de fingir que quero alguma outra
pessoa que não seja você.”
“Eu sei.”
Ele não diz nada, mas a luz bate nos seus cabelos quando ele apoia
o rosto nas mãos.
“Eu sei.” Seu tom de voz é tranquilo, mas resoluto, e percebo o que
vem pela frente quando ele me olha nos olhos. Ele vai arrumar outra
maneira gentil de me dispensar. Quantas vezes eu vou pedir para
esse homem me rejeitar? “Me desculpa por ter colocado você nessa
posição”, ele diz. “Me desculpa por ter agravado o seu sofrimento.
Me desculpa por obrigar você a fingir que tem interesse nesses
participantes que restaram. Mas você se saiu muito bem nesse
programa, Fizzy. Todos os dias eu me sinto o homem mais
inteligente do mundo por ter escalado você pra isso.” Nós nos
encaramos por um bom tempo. Em silêncio, repito sem parar que o
amo. Estou compensando uma vida inteira sem nunca ter dito essa
frase, e, mesmo que ele não sinta a mesma coisa, é muito bom
poder gritá-la através do meu olhar.
Por fim, ele suspira. “Se você quer saber, tá sendo difícil pra mim
também.”
Um silêncio estranho me toma. Não sei por que ter ouvido ele dizer
isso me ajuda a seguir em frente, mas é isso o que acontece. “Eu
precisava ouvir isso. Você parecia tão tranquilo. Parecia… ter
desencanado de mim.”
“Pois é!” Eu cochicho quase gritando. “Ele falou: ‘Eu não sou feito de
pedra’.”
Jess solta um assobio. “Uau.”
Mas, nossa, como eu queria que fosse Connor aqui do meu lado.
Quarenta e três
CONNOR
Mesmo assim, não desço do carro para dizer um oi para ela, apesar
de saber que seria ótimo desabafar com alguém que sabe tão bem
quanto eu o que está em jogo aqui. Em vez disso, dou meia-volta
com o carro no fim da rua e tomo o caminho da casa florida pintada
de bege e azul a pouco mais de três quilômetros dali. E, quando
paro no meio-fio, me sinto travado de novo, apesar de a minha filha
estar lá dentro.
dentro do peito. Porra, estou tão apaixonado que não consigo nem
respirar direito.
Fizzy faz uma cara de quem diz Erradas elas não estão, mas não
posso entrar nesse jogo. Percebo isso assim que ponho os olhos
nela.
“Pega as suas coisas, querida.” Aponto com o queixo para onde está
a mochila dela no chão, com papéis, lápis de cor e borrachas
coloridas espalhadas por toda parte.
“Tem certeza?” Ela fica me olhando. “Você tá com aquela cara que a
Fizzy diz que vai precisar de Botox mais tarde.”
Juno franze o nariz. “Eu não gosto de banana quando a casca fica
escura e cheia de manchas”, ela comenta.
“Connor”, Fizzy diz naquela voz mais grave que parece uma tentativa
de sedução. É um tom familiar e íntimo demais. “Não precisa sair
correndo assim. Tem bastante comida. Vem se sentar um pouco,
você teve um dia cansativo.”
Juno fica de pé e vai com Stevie até onde ela está, enfiando as
coisas em sua bolsa. Sua vozinha rouca é comicamente incompatível
com um sussurro: “Seu pai é um dos caras que estão saindo com a
minha tia Fizzy no programa?”.
Tia Fizzy.
Quarenta e quatro
FIZZY
Lá vamos nós.
“Ah, é?” Faço um sinal com a cabeça para ela me acompanhar até a
cozinha. “É uma coisa bem-comportada. A Stevie assiste. Por que ela
pediu pra você esperar o final?”
“Então, quem ganhar este fim de semana vai ser seu namorado?”
“Gosto…” Minha voz falha, e o Mas não nesse sentido que vem a
seguir acaba saindo como pouco mais que um eco.
Essa menina é mais esperta do que eu. “Não, acho que ele faz robôs
ou garante que os robôs não dominem o mundo, ou alguma coisa do
tipo que me faz sentir que preciso tratar bem a minha Alexa.”
Juno dá risada. “Isso não é a mesma coisa que genética, tia Fizzy.”
“Acho que ele se importa, sim, com quem vai ganhar.” Ela resolve
abrir o jogo: “Acho que ele gosta de você”.
“Ah, é?”
“Ã-ham. Sabe lá no show? Deu pra perceber que ele gosta de você.
Ela dá uma risadinha. “Aposto que ele não gosta de ver esses outros
meninos saindo com você.”
“Humm.” Eu olho bem para ela, que não pisca e nem recua um
milímetro.
“E… hã, você conhece o Aiden R.?”, ela continua. Faço que sim com
a cabeça, porque existem, tipo, uns quatro Aidens na sala dela. “Ele
gosta
“Kyle Pyun”, ela responde, com uma careta. “Ele é todo hiperativo,
mas pelo menos tira notas boas.”
“Isso é bom.” Eu me inclino para a frente com um sorriso. “Ele é
gatinho?”
Juno faz uma cara de nojo genuíno. “Tia Fizzy, a gente está no
quinto ano.”
“Minha mãe diz que até o ensino médio os meninos são uns tontos.”
“Eu não tenho nada contra dividir um quarto, mas ainda não sei se
quero isso com ele. Só vamos decidir quando chegarmos lá.”
Ela balança a cabeça, olhando para o lado, pensativa. Olho para o
meu celular. São quase nove horas. Daqui a pouco River chega para
buscá-la e para me salvar desse interrogatório.
Essa menina me mata de rir. “Por que você consegue falar do Suchin
desse jeito, mas se recusa a me contar se o Kyle da Feira das
Nações é gatinho?”
“Eu sabia que você estava armando alguma pra cima de mim, sua
mer…” Eu me interrompo bem a tempo e digo “menina danada”, mas
não tem jeito. Juno dá uma risadinha toda alegre e estende a mão.
“Meu pai diz que, se você quiser uma coisa, por mais que esteja com
medo, precisa tentar.”
Fico olhando para ela, admirada pela centésima vez com a esperteza
dessa menina. “Seu pai disse isso, é?”
Ela assente com a cabeça. “Ele disse que no começo a minha mãe
metia medo nele. Mas que depois ele ficou com ainda mais medo de
nunca mais poder falar com ela.” Juno sorri para mim de novo.
“Então, se é assim que você se sente sobre o pai da Stevie ou…
como é o nome dele mesmo?”
“Ah, é”, ela fala, com um tom de malícia. Juno está ficando cada vez
mais parecida com a mãe. “Se é assim que você se sente sobre o
Isaac, então não deixa o medo atrapalhar as coisas entre vocês.”
Ouço três batidas na porta na hora certa. Abrindo um sorriso
sarcástico para Juno, me levanto e vou para a sala de estar.
“Quando elas começam a ficar mais espertas que eu, passo a cobrar
quarenta e cinco dólares a hora pelo serviço de babá.”
“Como assim?”
Ele franze a testa. “Eu não assisto, mas ao que parece a produtora
tem um outro programa baseado em desafios atléticos.”
Tenho uma vaga lembrança de Connor mencionando outro programa
voltado para um público mais jovem e masculino. “Ah, é. Big Mouth,
ou Smash Face, sei lá.”
“Puta merda.”
Quarenta e cinco
CONNOR
“Blaine…”
“Desde que você não faça nenhuma cagada até o fim da semana”,
ele diz, sem perceber que acabou de apagar a montagem em que
estávamos trabalhando, “aqui está o seu contrato para produzir e
apresentar a segunda temporada de O Experimento do Amor
Verdadeiro.”
Eu sabia que isso iria acontecer — sendo bem sincero, seria uma
estupidez da nossa parte não pensar em uma nova temporada —,
mas ver tudo daquele jeito, preto no branco, me deixa
momentaneamente sem reação. Tenho certeza de que, com a
estrutura e a equipe que montamos, eu conseguiria repetir a dose
com outro herói ou heroína como protagonista e, mesmo que só
faça metade do sucesso da primeira temporada, renderia um bom
dinheiro para a produtora. E para mim.
Só não consigo imaginar como fazer isso sem Fizzy ao meu lado.
Isso sem contar que uma nova temporada me manteria sob os olhos
do público e tornaria a possibilidade de um relacionamento entre nós
ainda mais distante.
“Posso pensar a respeito?”, pergunto.
“Rapaz, você não está vendo o que está sendo oferecido aqui? Mais
dinheiro, mais tempo de exibição, mais gente na equipe, mais verba
de produção.”
Ele faz um gesto de desdém com a mão. “Tudo bem. Nós podemos
dar quarenta mil dólares para o seu lance da vida marinha. Você
pode fazer um filme e uma temporada do programa a cada ano. É
essa a sua condição para assinar?”
Não tenho mais como fazer esse trabalho. Perdi a minha condição de
observador imparcial.
Rory me encara por um longo instante. “Sério mesmo que você não
está vendo?”
“É sério.”
Quarenta e seis
FIZZY
“Tive uma ideia hoje de manhã.” Na verdade, acordei com uma cena
de sexo ardente na cabeça e pensei que… poderia ser bom registrar
por escrito. Para ser bem sincera, é uma fantasia obscena
envolvendo a boca de Connor, mas a inspiração surgiu da mesma
forma que antigamente — como uma espécie de excitação febril —,
e eu não queria deixar esse momento passar.
Ela se inclina mais para a frente. “Então me conta logo, que estou
seca por uma boa fofoca.”
“… e uma delas contou que o marido demitiu a babá porque viu uma
foto dela em um site de acompanhantes.”
“Mas não é melhor saber que não foi por causa do que aconteceu no
hotel, e sim porque tinha outras coisas envolvidas?”, ela pergunta.
“É, né?” Eu solto uma risada que sai meio chorosa; não tinha
percebido que estava com lágrimas nos olhos. “Eu sei que a situação
dele é complicada. Que ele tem outras responsabilidades e está
sendo pressionado. Coisas mais importantes do que eu e os meus
sentimentos.”
Duas horas atrás, minha agente ligou e contou que vários dos meus
livros devem aparecer na lista de mais vendidos da semana. Ao que
parece, tem gente nova descobrindo os meus livros, e postando
fotos, e desafios divertidos, e vídeos, e resenhas. Ela me mandou
algumas coisas do tipo, e eu ri muito enquanto via, com os olhos
marejados.
Quem escreve nunca sabe quando uma história vai encontrar seu
público. Saber que as minhas palavras exercem um efeito real sobre
as pessoas me fez querer retomar a escrita imediatamente. As
pessoas que leem são as melhores, eu garanto. E ela também me
deu uma bronca (com razão) por não atender suas ligações, mas
disse que se importa acima de tudo comigo e que, se eu nunca mais
escrever um livro, não tem problema. Eu não vou decepcioná-la por
isso, e ela não vai levar a coisa para o lado pessoal. Só preciso fazer
o que é melhor para mim. Quatro meses atrás, ouvir isso teria sido
um alívio, um peso tirado dos meus ombros, mas, assim que Amaya
disse que eu poderia desistir da minha carreira se quisesse, a única
coisa que senti foi uma sensação de desolação devastadora.
Fizzy
Isso pode ser verdade para todos os outros bebês, mas, com apenas
seis horas de vida, Helena Ying Kwok já é de longe o ser humaninho
mais lindo e divertido a aparecer neste planeta. A bebê Lena — eu
escolhi o apelido — tem o nariz arrebitado da mãe e a testa sempre
franzida do pai. Tem os lábios cheios da avó materna, o pescoço
comprido do avô paterno e a flatulência do avô materno. Mas a
covinha na bochecha esquerda é toda minha. Essa aí vai ser da pá
virada. Deste momento em diante, não tenho escolha a não ser me
dispor até a morrer por ela se for preciso.
Vou avisar quando você estiver com comida no dente. Vou ser quem
você vai procurar quando precisar de conselhos sobre moda ou
dinheiro
Mas, por ser quem é, minha mãe sabe o que estou pensando e me
vira para encará-la. “Você era perfeita quando nasceu e continua
sendo até hoje.”
“Eu sou a única que pode dizer isso. Conheço você desde o seu
primeiro segundo de vida.”
“E daí?”
Me curvo sobre Alice e beijo sua testa. “Eu volto mais tarde.”
“À festa de encerramento.”
Por fim, ela volta os olhos escuros e cansados para mim. “Fala logo
que você é apaixonada por ele.”
“Quê?”
“Você sabe do que eu tô falando.”
Olho para ela. Não comentei sobre Connor com ninguém além de
Jess por medo de que a informação vazasse, por medo de deixar
minha irmã gestante preocupada, por medo de que o programa já
estivesse
“Não é assim tão simples”, digo a ela. “Bem que eu queria que fosse,
mas é uma coisa que vai muito além de mim.”
Quarenta e sete
CONNOR
“Cadê ela?”
“Não”, respondo. E não mesmo, mas sem nenhum bom motivo para
isso. Pelo menos, não um motivo que eu possa revelar para a minha
assistente. Não escrevi para Fizzy porque, quanto mais ela demora
para aparecer, mais preocupado eu fico que possa ter acontecido
alguma coisa com ela e, quanto mais tempo eu fico sem saber
exatamente o que é, mais sou capaz de manter minha sanidade
intacta.
Percebo que Brenna se aproximou para dar uma boa olhada em mim
no momento em que estou vigiando a escada que leva ao espaço da
festa como um sniper em busca de um alvo. Respirando fundo, levo
meu copo de cerveja aos lábios.
“Tudo.”
“Não.”
“Tem certeza?”
“Sim.”
suficiente para saber que nem toda equipe é assim tão unida, nem
todo projeto tem esse clima tão mágico e, quando esse tipo de
química surge, é preciso saber valorizar. Além disso, eu sei que essa
magia toda se deve a ela, que transformou um grupo de pessoas
desconhecidas em uma família. Isaac está aqui, Evan também, é
verdade — mas também Dax, Nick, Jude e Colby. Os participantes
eliminados decidiram comparecer porque, apesar de não estarem
mais no programa, ainda fazem parte de tudo isso que nós criamos.
Quarenta e oito
FIZZY
Sei que Connor está logo ali. Consigo sentir seus olhos em cima de
mim, como um pai orgulhoso que observa tudo de longe, e não
como o criador dessa coisa toda. Quero que ele se aproxime, que
assuma seu lugar nessa aglomeração carinhosa. Ele não sabe que o
único motivo para tudo ter funcionado tão bem foi ele mesmo? Foi
sua visão. Sua competência enérgica e sua presença relaxante, seu
gerenciamento ativo de toda a equipe, sua escalação precisa do
elenco. Isso sem mencionar sua aparência tentadora e o impacto
inesperado provocado por sua condução das entrevistas no trailer
dos depoimentos confessionais.
Mas há duas conversas importantes que eu sei que preciso ter esta
noite, e ambas são com homens com quem não posso ter contato
até sábado. Um deles vai sair vencedor, e suspeito que será Isaac,
mas, se não for, preciso deixar tudo bem claro para Evan também.
Eu topo fazer a viagem para Fiji com qualquer um dos dois, mas,
seja quem for meu acompanhante, não vai dormir comigo.
baixado. Jude me diz que entendeu a piada sobre Volterra, mas que
simplesmente não achou graça.
É uma noite mais fria que o normal para esta época do ano, então
todo mundo permanece dentro do restaurante, bebendo sem parar,
e o clima vai ficando cada vez mais barulhento, nostálgico e
sentimental.
Sei que é contra as regras chamar Isaac para uma conversa a sós no
pátio, mas ele aceita de bom grado e com uma expressão de certo
alívio no rosto.
Faço que não com a cabeça, fechando o zíper da minha blusa com
capuz. “Mas obrigada. Eu ainda estou surfando na empolgação de
ter sido coroada a melhor tia do mundo.”
uma loucura ter uma pessoinha tão pequena ligada a mim dessa
forma.
Ele vira a cabeça e apoia o queixo no ombro para olhar para mim.
“Eu sei por que você me chamou aqui fora, aliás.”
“Como assim?”
“Tudo bem as coisas não terem dado certo entre nós, mesmo se eu
ganhar.”
Ele se vira e se recosta no gradil, virado para mim. “Qual é, Fiz. Está
na cara que você não está me dando nenhuma abertura.”
Eu concordo balançando a cabeça e olho bem para ele. “E por que
eu tenho a sensação de que isso vale pra você também?”
Isaac respira bem fundo e olha para o céu. “Uns três dias depois que
gravamos nosso primeiro encontro, recebi uma mensagem da minha
namorada da época do colégio. Ela se mudou de volta pra cá.”
“Nós ainda não nos vimos. Eu não vou desrespeitar as regras.” Ele ri.
“Evan…”
“Não, é sério mesmo, Fizzy. Nós já tentamos uma vez e não rolou.
Estou contente por ter você de volta na minha vida. E por ter
removido a laser aquela tatuagem horrenda. Goldschläger é a
ferramenta do diabo”, ele se explica, erguendo o copo para mais um
brinde. “Aconteça o que acontecer, foi uma loucura bem divertida.”
“E aí?”
“Como não vamos nos ver muito mais, e provavelmente não seria
uma atitude muito profissional ligar pra você depois do fim do
programa, eu queria dizer algumas coisas.”
Mas eu levanto a mão para interrompê-lo. “Não vou pedir pra você
mudar de ideia. Eu entendo. Só que nunca tinha me declarado pra
ninguém antes e, quando tentei — lá na sua casa —, fui
interrompida pela sua rejeição. Então só queria desabafar tudo isso
que está preso no meu peito, porque acho que vai me fazer bem.”
Eu levanto as sobrancelhas. “Tudo bem pra você?”
Ele assente com a cabeça, fazendo força para engolir. Isso atrai meu
foco para seu pescoço comprido, e vejo a vermelhidão subindo sob o
“Eu te amo”, digo para seu pescoço, e enfim crio coragem para
procurar seu olhar. Seus olhos verdes estão escondidos na sombra;
ele está iluminado por uma luz que vem de trás, mas, mesmo assim,
sinto que posso vê-los brilhar, à procura de algo nos meus. “Nunca
senti isso antes na minha vida. Por ninguém. Na época da escalação
do elenco do programa, você perguntou o que eu buscava em um
parceiro, e falei que queria alguém que valorizasse as coisas que
valem a pena, que fosse gente boa, reconhecesse o valor do
trabalho e que não se levasse muito a sério. Você se encaixa em
tudo isso e muito mais. É gentil e esforçado. É paciente e sincero. E
fiel. Eu te admiro demais.”
Seu olhar sobre mim é intenso, e eu o conheço bem o bastante para
saber que ele não vai me interromper, não vai se inclinar sobre a
mesa para me dar um beijo enlouquecedor, apesar de secretamente
ser isso o que eu desejo. Adoro o fato de ele ser respeitoso mesmo
quando isso é a última coisa que quero da sua parte.
“Eu também disse que teria que ser alguém por quem eu fosse
completamente louca”, lembro, “e nunca quis ninguém da mesma
forma que quero você.”
Ele baixa os olhos de novo e respira bem fundo. “Eu não sei o que
dizer.”
“Eu sei. O que eu falei não foi pouca coisa. Você não precisa…”
“Não”, ele se apressa em dizer. “Quer dizer, eu tenho muita coisa pra
dizer, mas acho que não sei como.”
Connor me lança um olhar confuso. “Pensei que você fosse dizer que
isso é bobagem.”
“Mas é bobagem”, respondo. “Só que não sou eu quem tem que
dizer como você deve lidar com as coisas. Você sabia que eu não
daria a mínima para o que o Blaine ou qualquer outra pessoa
dissesse e tomou sua decisão de acordo com a sua consciência. Por
que eu ficaria chateada com isso?”
Connor abre a boca para responder, mas Brenna aparece atrás dele.
Nenhum dos dois olha para mim, mas Brenna confirma com a
cabeça para ele. “Eu queria…”, ela começa, mas então abre um
sorriso inseguro. “Você e a Rory vão ter que rever a estratégia de
edição, só isso.”
Tento ler em sua expressão o que vem pela frente. “Tá tudo bem?”
Faço que sim com a cabeça, mas não digo mais nada. Sairia tudo
torto e engasgado de qualquer jeito. Fico contente por já ter dito
tudo o que queria, mas não estou me sentindo melhor como eu
esperava. Na verdade, estou me sentindo ainda pior, principalmente
com a perspectiva de terminar de vez a conversa.
Quarenta e nove
FIZZY
Não estou nada surpresa por não ter recebido nenhum contato de
Connor até o episódio final ao vivo, mas estaria mentindo se
dissesse que o último dia e meio não foi solitário e estressante. Todo
mundo que faz parte da minha vida presumiu que eu estaria
ocupada com alguma coisa ou alguém, mas na verdade fiquei
fechada no meu quarto, tomando sorvete direto do pote, repassando
a conversa com Connor na Stone sem parar na minha mente e
vendo reprises de episódios de Breaking Bad para me sentir melhor
com a minha vida. Declarei meu amor por um homem sem obter
nenhuma resposta pela terceira vez, é verdade, mas pelo menos não
tenho um cadáver na banheira para desovar.
sim ver quem se dava bem com ela, quem estabelecia uma
conexão… e com quem a coisa não iria para a frente. Toda semana,
vocês — os espectadores — votaram em qual herói parecia ser a
alma gêmea da Fizzy. E hoje reunimos o elenco inteiro para discutir
suas experiências, suas esperanças e, principalmente, suas
impressões sobre O
“Fizzy tem uma certa aura, sabe?”, Nick diz no vídeo. “Confiante,
forte, centrada. Mas [bipe prolongado] como é gostosa.”
Mais risos, e depois ainda mais quando Arjun comenta: “É, acho que
não rolou uma conexão entre nós”.
“Eu sabia já da primeira vez que namoramos que ela era especial”,
Evan declara. “Mas um conselho: não faça uma tatuagem do Bart
Simpson.”
Mas em seguida ela começa a jogar seu charme sobre Dax e Nick,
flertando descaradamente enquanto pergunta se mudariam alguma
coisa que fizeram ou falaram no programa e se participariam de um
reality show como esse de novo no futuro. E então vem o anúncio
surpresa: tanto Dax como Nick vão voltar como os protagonistas na
segunda temporada.
“Ainda não decidi.” Sua voz é firme, mas percebo algo nos seus
olhos, uma tensão que nunca vi nele antes.
“Está todo mundo se saindo muito bem”, digo a ele. “Você não
estava assistindo?”
Ele assente, e seu olhar se volta para a minha boca, vagando sem
foco.
Meu coração decide evaporar de dentro do meu corpo.
“Connor.”
Cinquenta
FIZZY
Meus lábios ainda estão formigando por causa dos beijos quentes de
Connor.
Tenho alguns minutos para recobrar a compostura enquanto um
vídeo sobre a minha vida é exibido: no palco às escuras, a equipe de
cabelo e maquiagem entra correndo para consertar o estrago. Na
tela, apareço escrevendo (ha!), correndo (escuto uma gargalhada
solitária na primeira fileira; nós conversaremos mais tarde sobre
isso, Jessica Marie Peña) e pegando onda de bodyboard na Pacific
Beach (ops, meu biquíni acabou mostrando demais nessa cena).
Minha nossa, pensando bem, por que eu topei fazer essas cenas?
Um retrato mais realista da minha vida seria eu enfiando um nacho
em uma tigela gigante de guacamole vendo Pousando no amor na
tevê pela septuagésima vez enquanto meu notebook junta poeira
em um canto. Mas acho que isso não pegaria bem para uma heroína
romântica.
Quero acabar logo com isso, mas ao mesmo tempo quero que nunca
termine. Não sei como vou conseguir manter uma relação com
Connor depois que o programa terminar, nem se devo fazer isso. É
estranho ter trinta e sete anos, mas só agora estar aprendendo a
declarar meus sentimentos, a ir atrás do que e de quem eu quero na
minha vida romântica, a lidar com a rejeição. Eu nunca esperei que
fosse virar o tipo de pessoa que demora para virar a página.
As luzes se acendem, sinalizando que estamos de volta ao ar. Minhas
mãos estão suadas, mas resisto à vontade de secá-las no vestido
porque ficaria óbvio demais que estou surtando no momento. Vamos
ser informados do resultado da votação do público. Vamos descobrir
as nossas porcentagens de compatibilidade. Vamos saber quem é
minha alma gêmea.
“Na verdade, vocês oito não são os únicos heróis românticos com fãs
entusiasmados”, ela conta. “Também surgiu um queridinho surpresa;
não é mesmo, Fizzy?”
A plateia enlouquece.
“Em certo sentido”, respondo, ainda sorrindo para ele. “No nosso
primeiro dia de filmagens, eu disse que iria embora do programa se
ele não topasse.”
“Sendo bem sincero, a lição que aprendi aqui foi nunca duvidar da
Fizzy”, Connor comenta, e a plateia se derrete toda.
“Mas escutem só”, Lanelle diz. “Vocês dois mostraram uma dinâmica
incrível em suas interações na tela.”
Então na tela surge uma foto que pedimos para uma pessoa
desconhecida tirar de nós dois no Broad…
E depois vem uma selfie no Rocky Horror Picture Show, e uma foto
minha pendurada na parede de escalada, enquanto Connor cai na
gargalhada com os dois pés firmemente plantados no chão. Então
vem uma imagem do dia em que tentamos comer tacos no set com
uma só mordida (ele ganhou o desafio), e outra de quando ele teve
que me carregar até o trailer dos depoimentos confessionais porque
eu estava envolvida demais em uma conversa com Liz e Brenna. E
outra de um momento que nem lembro, em que estamos vendo as
versões brutas das filmagens do dia e Connor está atrás de mim,
com as duas mãos nos meus ombros. Quando surge na tela uma
foto de nós dois com Juno e Stevie pouco antes do início do show do
Wonderland, os aplausos da plateia ganham outro tom. As pessoas
estão começando a entender o que está acontecendo — e eu
também.
Ele passa uma das mãos pelos cabelos macios. “E confesso que não
é onde eu me sinto mais confortável.”
“Eu mal entro nas redes sociais”, ele me diz como se não houvesse
mais ninguém presente no estúdio. “Mas até eu comecei a perceber
que as pessoas estavam gostando da nossa dinâmica.” Connor sorri.
“Eu também gosto.”
Olho para Connor, que segura minha mão entre as suas. Um silêncio
se espalha pelo amplo auditório. “O que está acontecendo é que eu
estou entrando na disputa.”
Nos bastidores ele avisou: A parte mais difícil vem agora. Então
entendo o que isso quer dizer: se colocar sob os holofotes por minha
causa, se apresentando não só como um herói, mas como O Herói,
arriscando tudo por nós. Um sentimento de devoção faz meu
coração se comprimir.
Eu acho que não vou aguentar, meu coração não vai aguentar. Se
isso for uma espécie de gesto grandioso, é algo que eu jamais
poderia ter escrito, nunca teria imaginado esse sentimento que me
domina de um jeito que me deixa incapaz de falar e até de pensar.
“Joyful”, começa, e sinto uma onda de emoção que não sei se vou
conseguir conter.
A tela ainda está escura, mas a pausa que Connor faz e a resposta
que ele dá não deixam dúvidas de que ele está tentando acobertar o
verdadeiro assunto: “Sobre as orientações que eu passei sobre a
programação de hoje?”.
É hilário.
Nick diz: “Acho que ele tentou se segurar, mas está na cara que
gosta dela”. E Colby, ao lado dele em uma noite que não sei quando
foi,
Ele volta a pôr sua máscara sobre o rosto. “Aliviada por quê?”
“Porque em breve vou poder parar de fingir que quero alguma outra
pessoa que não seja você.”
“Fizzy”, ele diz, olhando em pânico para a câmera, “você… não pode
dizer isso.”
Minha mão está tão suada entre as de Connor que sinto vontade de
puxá-la de volta e secá-la, mas não ouso fazer isso; ele a vira
Ela explica que a votação foi feita pelas redes sociais, onde foi
rastreada por uma empresa independente, e se gaba ao informar
quantos votos foram computados na última semana em relação à
primeira. Os números são impressionantes. As luzes diminuem e vão
assumindo uma coloração vermelha para criar suspense, eu acho. E
então Lanelle anuncia: “Com 41,2 por cento dos votos… o público
escolheu Isaac!”.
Meu coração parece que vai saltar pela boca. “Eu bem que
desconfiei que esse era o rumo que as coisas estavam tomando.”
“Você já sabe?”
Ele assente com a cabeça.
A plateia dá risada.
Percebo que isso significa que ele conversou com Jess, que a
procurou em busca de uma contextualização do resultado ou
simplesmente para se tranquilizar, e sinto uma luz se acender dentro
de mim.
Minha mente se volta para a minha última lista de matches no
DNADuo e lembro como eu tinha certeza de que saber a taxa de
compatibilidade influenciaria a maneira como eu me sentiria. Mas
mesmo que Lanelle me dissesse que nosso resultado foi o único zero
da história do aplicativo, eu ainda escolheria Connor todas as noites
pelo resto da minha vida.
Pego o envelope com uma mão que treme feito uma pena em meio
a um furacão.
“Seja qual for o resultado, quero deixar bem claro que eu te amo
demais”.
Connor: Nossa, vai ter gente com uma ressaca forte amanhã de
manhã.
Fizzy: Você sempre acha que eu estou sendo safada. Pode ser só
uma piada sobre a força dos nossos laços.
Connor: E foi?
Connor: Você está fazendo de tudo para que esta entrevista nunca
seja exibida, não é?
Fizzy: Quando isso ia ser exibido, aliás? O episódio final foi ao vivo!
Fizzy: Está vendo, não foi nem um trocadilho proposital! Você é tão
sacana quanto eu.
Connor: Por que você não vem até aqui e me mostra um deles?
Fizzy: Você está com uma mancha de batom… isso, bem aí.
Connor: A única coisa que você promete para as leitoras dos seus
livros. Você entende a importância de um final feliz melhor do que a
maioria das pessoas que estão assistindo a isto.
Fizzy: Bom, uma coisa que me deixa meio triste é que todas essas
pessoas que viram o programa e queriam que ficássemos juntos não
vão poder ver como as coisas vão ser daqui pra frente. Nós vamos
ter um futuro incrível [olha para a câmera]. Mas eu não estou me
oferecendo para um outro reality show aqui, Blaine, pode esquecer.
Connor: Quando chegar a hora, vou perguntar pra Stevie como ela
se sentiria tendo uma superfã do Wonderland como madrasta.
Fizzy: Minha nossa, isso vai ser demais. Podemos começar esse
futuro agora mesmo?
Agradecimentos
aquilo que narramos nos nossos livros. Então, por motivos óbvios,
no começo achamos difícil definir quanto deveríamos nos concentrar
na positividade sexual e na vida amorosa agitada de Fizzy. Não
queríamos validar esses estereótipos sem fundamento. Mas, no fim,
tudo acabou se revelando tão fácil quanto digitar a palavra Prólogo.
Fizzy fluiu de dentro de nós como se estivéssemos soltando o ar dos
pulmões. Ou seja, o verdadeiro problema veio de onde não
esperávamos: que tipo de herói romântico faria por merecer alguém
como ela?
internet, nós amamos vocês: Erin Service, Katie Lee, Kate Clayborn,
Sarah MacLean, Ali Hazelwood, Susan Lee, Jennifer Carlson, Jessica
McLin, Brie Statham, Amy Schuver, Mae Lopez, Laura Wichems, Kian
Maleki, Bianca Jimenez, Jori Mendivil, Cathryn Carlson, Ysabel
Nakasone, Adriana Herrera, Katherine Center, Jen Frederick, Diane
Park, Kresley Cole, Erin McCarthy, Sally Thorne, Sonali Dev, Alisha
Rai, Christopher Rice, Sarah J. Maas, Sarah Wendell, Tahereh Mafi,
Ransom Riggs, Stephanie Perkins, Helen Hoang, Tessa Bailey, Rachel
Hawkins, Rosie Danan, Rachel Lynn Solomon, Rebekah
Weatherspoon, Leslie Phillips, Alexa Martin, Jillian Stein, Liz Berry,
Brittainy C. Cherry, Andie J.
Adoro esta vida que criamos juntas, e às vezes ainda nem consigo
acreditar em tudo isso. Trinta livros e ainda somos capazes de
escrever mais um que encheu nosso coração de amor. Que jornada.
Para a minha Lolo, neste último ano você me deu mais orgulho do
que nunca de ser sua melhor amiga. Você lançou um livro seu
(Escandalizados, de Ivy Owens, disponível em todo lugar que venda
livros), e é a melhor coautora/amiga/esposa/filha/BFF que alguém
poderia ter. Dizer que eu te amo não basta para expressar o que
sinto, mas acho que você sabe. Espero escrever outros trinta livros,
ir a mais quinhentos shows e encontrar um total de zero esquilos
sem cabeça com você. IYKYK. Você vai ser para sempre minha
parceira de aspas.
LORI BRYSTAN (BRYSTAN STUDIOS)
ISBN 978-85-8439-370-1
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Um pouco de aventura
Lauren, Christina
9788584393046
352 páginas
Ser filha do famoso caçador de tesouros Duke Wilder deixou Lily sem
paciência para essa profissão — e sem dinheiro no banco. Mas ela é
sagaz e agora usa os mapas do pai para guiar turistas que buscam
"deixar o conforto para trás" e caçar um tesouro de mentirinha no
interior de Utah. Tudo vai bem até que o homem que ela amou um
dia retorna à sua vida, pronto para explorar o deserto.
9788584393671
160 páginas
Querido estranho…
Uma jovem desesperada no sul da Califórnia se senta para escrever
uma carta para um homem que ela nunca conheceu — uma escolha
que mudará sua vida para sempre.
Fagundes, Felipe
9786557826928
272 páginas
Diego espera tudo de ruim dos próprios parentes, mas tudo mesmo.
Que o pai tenha uma segunda família.
9788554515737
360 páginas
Você vai rir com ela, chorar, sofrer, e então voltar para a primeira
página e fazer tudo de novo." — Heather Cocks e Jessica Morgan,
autoras de The Royal We
9788554513689
360 páginas
VIDEO.
Todo mundo conhece Daisy Jones & The Six. Nos anos setenta,
dominavam as paradas de sucesso, faziam shows para plateias
lotadas e conquistavam milhões de fãs. Eram a voz de uma geração,
e Daisy, a inspiração de toda garota descolada. Mas no dia 12 de
julho de 1979, no último show da turnê Aurora, eles se separaram. E
ninguém nunca soube por quê. Até agora.
Table of Contents
Folha de rosto
Sumário
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Trinta e cinco
Trinta e seis
Trinta e sete
Trinta e oito
Trinta e nove
Quarenta
Quarenta e um
Quarenta e dois
Quarenta e três
Quarenta e quatro
Quarenta e cinco
Quarenta e seis
Quarenta e sete
Quarenta e oito
Quarenta e nove
Cinquenta
Cinquenta e um
Agradecimentos
Sobre a autora
Créditos
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Folha de rosto
Sumário
Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Trinta e cinco
Trinta e seis
Trinta e sete
Trinta e oito
Trinta e nove
Quarenta
Quarenta e um
Quarenta e dois
Quarenta e três
Quarenta e quatro
Quarenta e cinco
Quarenta e seis
Quarenta e sete
Quarenta e oito
Quarenta e nove
Cinquenta
Cinquenta e um
Agradecimentos
Sobre a autora
Créditos