Físico-Química
Físico-Química
Físico-Química
agregação da matéria
Prof. Marcio Franco
Descrição As características dos estados físicos da matéria e os processos de transformação de fase, bem como o
comportamento e as propriedades da matéria no estado gasoso.
Propósito Conhecer os tipos de estado físico, bem como suas propriedades (físicas e químicas), suas transformações e as
interações intermoleculares é essencial para a compreensão dos diversos fenômenos de transformação química
pelos quais as substâncias podem passar em processos industriais químico-farmacêuticos.
Preparação Antes de iniciar este conteúdo, certifique-se de que você tem papel e caneta para anotações, pois existem muitos
detalhes, e as anotações poderão ajudar em seus estudos.
Objetivos
Introdução
Neste conteúdo, estudaremos os estados físicos das substâncias resultantes do fluxo de energia
(fluxo de entrada e saída) entre os vários estados físicos. Esse fluxo de energia provoca mudança na
energia interna da matéria, que vibra de forma diferenciada.
Desse modo, aprofundaremos os estudos nas características gerais dos estados físicos mais
comuns: estados sólido, líquido e gasoso e também o estado físico plasma, que não é um estado
que existe nas condições normais da natureza, porém, em condições especiais ele se apresenta e
também será estudado.
Uma vez que os estados físicos estão presentes na natureza e as características principais tenham
sido estudadas (temperatura, forma, volume, energia interna e agitação/vibração molecular),
devemos responder a uma pergunta: como as moléculas em cada estado físico interferem umas
nas outras? Em outras palavras: como as moléculas componentes de um sólido interferem no
comportamento do sólido? E dos outros estados?
Vamos, então, entender as interações entre as moléculas e como influenciam em cada estado
físico. Estudaremos mais especificamente o estado gasoso, o qual apresenta uma série de
propriedades pelo fato de as moléculas que o compõem se apresentarem sempre com alta energia
e sob forte agitação molecular, porém, em condições aceitáveis e observáveis na natureza.
Definição de matéria
A matéria é definida como aquilo que existe e ocupa lugar no espaço. Podemos dizer que matéria é
somente aquilo que podemos tocar? A resposta correta é sim, mas nem sempre o toque é percebido
pelo ser humano. O toque é facilmente percebido em alguns estados físicos, mas em outros a
percepção torna-se um pouco dificultada. Qual a diferença entre eles? Para responder a essa questão,
devemos estudar a natureza da matéria e quais fenômenos estão presentes de modo a caracterizar
cada estado físico.
Natureza da matéria
Toda substância é formada por um conjunto de átomos ligados entre si que formam o que chamamos
de molécula. As substâncias que existem na natureza apresentam formas geométricas bem
específicas e podem ser vistas na Figura 1, em que a representação de um conjunto de moléculas
genéricas é apresentada.
A Figura 2 mostra a estrutura da matéria e suas partículas constituintes. Conforme dito anteriormente,
a matéria é formada por moléculas. Essas moléculas são constituídas por átomos compostos por
prótons e nêutrons em uma região chamada núcleo e por outra região externa ao núcleo onde se
encontram os elétrons. Se os átomos forem subdivididos, poderão formar partículas elementares
chamadas glúons, quarks e os elétrons que já estavam presentes na estrutura do átomo.
Comportamento da matéria
Como tudo na natureza, a matéria apresenta-se em contínuo movimento. Mesmo que esse movimento
seja muito pequeno e imperceptível aos nossos olhos, ele está lá. Imagine, agora, um objeto qualquer
sobre a mesa. Embora aos nossos olhos ele pareça completamente parado, em nível molecular
(microscópico), suas moléculas continuam se movimentando. Logo, podemos dizer que toda matéria
apresenta movimento microscópico. A ausência de movimento é uma condição teórica nunca
alcançada na natureza em uma temperatura extremamente baixa chamada de zero absoluto. Na escala
Celsius, essa temperatura corresponde a –273,15°C. O recurso a seguir mostra esse comportamento
da matéria no zero absoluto ou fora dele:
arrow_forward
Fora do zero absoluto: temperatura maior que – Zero absoluto: temperatura –273,15°C
273,15°C
O zero absoluto é a temperatura na qual as
Os átomos se movem ou vibram o tempo todo e moléculas da matéria não possuem energia
têm energia. cinética, portanto, todas as partículas param de
se mover, de acordo com a mecânica quântica.
Comentário
Dependendo da temperatura, a matéria (ou seus constituintes — átomos e moléculas) apresentará maior ou menor movimento
(sempre acima do zero absoluto). Isso tem relação direta com sua energia interna. Logo, o fluxo de energia influencia o
comportamento da matéria e consequentemente sua mudança de fase.
Processos que necessitem de aumento de temperatura para ocorrerem são chamados endotérmicos.
Podemos dizer que a entalpia do processo aumenta. Processos em que há redução de temperatura
para que eles aconteçam, dizemos que são processos exotérmicos. Esses dois processos apresentam
fluxos de energia distintos que podem ser vistos na Figura 3.
Nos processos exotérmicos a energia sai da substância, provocando o resfriamento dela, enquanto nos
endotérmicos, a energia do meio entra na substância, provocando seu aumento de temperatura.
Movimento caótico
Estado 4 Não ocorre Não ocorre
energizado
Atenção!
Podemos afirmar também que toda vez que a energia entra na matéria, ela provoca aumento da energia interna de suas
moléculas. Na natureza, são observados três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Em condições excepcionais, podemos
incluir o plasma como quarto estado físico da matéria.
Mas como podemos diferenciá-los? Comecemos pelos estados sólido e líquido. Para ilustrar esse
conceito, imagine dois recipientes: um que contém água retirada da torneira e outro que contém pedras
de gelo recém retiradas do congelador. Embora os estados físicos sejam perceptíveis a olho nu, alguns
detalhes podem não ter sido observados:
A água sólida (gelo) se apresenta com forma definida e temperatura inferior à da água líquida.
Em relação à energia interna e temperatura, o sólido apresenta propriedades inversas às do
líquido: a energia contida na água sólida é menor que a energia contida na água líquida.
Nesses dois casos, pode-se tocar na substância e perceber o estado físico que
elas apresentam, porém, as duas apresentam particularidades. Essas duas
observações nos levam a refletir sobre o conceito de vibração molecular ou
agitação molecular.
Quando a matéria é atingida por fluxo de energia, a movimentação das moléculas aumenta. Nesse
caso, temos a vibração ou agitação molecular aumentando. Podemos dizer também que a matéria
mais fria (no estado sólido) apresenta vibração ou agitação molecular menor do que a mesma
substância em estado líquido. Agora, vamos definir o conceito de vibração ou agitação molecular?
Vibração ou agitação molecular
É o movimento que as moléculas fazem naturalmente, entretanto, é alterado quando a matéria recebe
fluxo de energia. Se o fluxo é de entrada, ocorre aumento da temperatura e da vibração. Se a energia for
removida, ocorre queda da temperatura e da vibração molecular.
O conceito de vibração molecular que discutimos e que foi usado como exemplo para a mesma
substância (água) nos estados físicos sólido e líquido, também pode ser aplicado à diferenciação dos
demais estados físicos. A Figura 4 mostra a mesma substância, água, em três estados físicos distintos:
Depois do que foi exposto até aqui, ficou fácil perceber que os diferentes estados físicos podem existir
para a mesma substância. Lembre-se de nosso exemplo, quando fizemos a comparação da água em
dois estados físicos distintos. No exemplo, podemos dizer que as moléculas de água no estado sólido
estão próximas umas das outras. No estado líquido, a proximidade das moléculas começa a diminuir.
No estado gasoso, esse distanciamento é o maior de todos (no plasma, o distanciamento não é tão
diferente).
Podemos então, começar a falar sobre os estados físicos principais e suas características.
Estado sólido
Começaremos pelo estado menos energético: o estado sólido. Esse estado é aquele em que a
matéria contém baixa energia interna, baixa agitação ou vibração molecular; ou seja, no interior
do material há pouca energia. O efeito imediato disso é a forma que os sólidos assumem:
apresentam forma e volume definidos. A definição do estado sólido é:
Estado físico que apresenta energia interna baixa, vibração molecular lenta e, por
consequência, baixa temperatura quando comparado com materiais em outros estados físicos.
Estado líquido
O estado líquido é aquele em que a energia interna da matéria é maior que no estado sólido,
porém, menor que no estado gasoso. É um estado de energia intermediária. O aumento da
energia interna provoca perda da forma (resultante também do aumento da agitação ou vibração
molecular), porém, pequena alteração em seu volume. Comparativamente ao estado sólido, um
mesmo material no estado líquido apresenta maior temperatura. A definição de estado líquido é:
Estado físico que apresenta energia interna maior que o mesmo material no estado sólido,
vibração molecular maior e, por consequência, maior temperatura quando comparado com
materiais em estado sólido.
Estado gasoso
O estado gasoso é aquele que apresenta maior energia interna quando comparamos com os
demais estados físicos da matéria e, consequentemente, o que apresenta maior temperatura. É
o estado no qual a agitação/vibração molecular é maior com consequente perda de volume
próprio, pois a matéria no estado gasoso tende a ocupar todo o recipiente no qual está contida.
A definição de estado gasoso é:
Estado físico em que a energia interna é alta com consequente aumento de temperatura e
agitação/vibração molecular quando comparado aos demais estados físicos (sólido e líquido).
Plasma
Se o gás continua a ser energizado, algumas moléculas se ionizam, isto é, passam a ter cargas,
fato que muda o estado físico do gás para o estado físico chamado plasma. Logo, a definição de
plasma é:
Estado físico em que a temperatura, a energia interna e a vibração são altíssimas. É o estado
mais energético de todos. O movimento das moléculas do plasma também é caótico, porém
com energia maior que as do estado gasoso. Não há volume e forma definidos como o gás.
Veja a Figura 5 e observe como ela complementa o Quadro 2. Nela é possível perceber a forma da
substância sólida e a forma do recipiente que é “copiada” pela substância no estado líquido e gasoso.
Figura 5 – Propriedades dos estados físicos – forma e volume.
Saiba mais
Existem duas formas de se utilizar a palavra estado. Quando ela é escrita com letra minúscula, refere-se ao estado físico.
Exemplo: estado líquido da água. Quando ela é escrita com letra maiúscula, refere-se ao Estado termodinâmico de determinada
substância. O Estado refere-se à condição termodinâmica de determinada substância em dada pressão, volume e temperatura.
Exemplo: Estado do gás ideal (que vamos estudar mais à frente).
Ponto crítico
O ponto crítico é a região da curva líquido-gás que limita essa curva: além desse ponto, a curva não
existe. O que ocorre, então, nesse ponto? Há equilíbrio entre as fases líquida e gasosa, porém os dois
apresentam a mesma densidade. Em outras palavras: não há como distinguir o líquido do gás. Mas
podemos e devemos diferenciar gás e vapor.
Vapor Gás
Se uma substância é gasosa em uma O gás é aquela substância que se
temperatura inferior à temperatura close apresenta gasosa em uma
crítica (Tcrit), essa substância é temperatura superior à Tcrit. O gás,
chamada de vapor. O vapor pode ser mesmo com aumento de pressão, não
convertido em líquido (curva líquido- se converte em líquido (lembre-se: se a
gás) ou em sólido (curva sólido-gás). temperatura estiver acima da
Como exemplo: vapor-d’água (nunca temperatura crítica).
dizemos: gás água).
De modo geral, quanto mais próximas estiverem as moléculas umas das outras, mais próxima do
estado sólido a substância estará. Essa proximidade dificultará a movimentação das moléculas,
fazendo com que esse estado apresente forma e volume definidos. A movimentação das moléculas ou
a liberdade de movimento delas favorece o estado físico no qual a forma fixa é perdida, como é o caso
dos gases e dos líquidos. Estamos estudando fenômenos físicos, em que não há alteração química das
substâncias. A Figura 7 mostra a representação dos quatro estados físicos, a distância média entre as
moléculas em função da temperatura e da energia:
Atenção!
É importante notar que, nos estados gasoso e plasma, o distanciamento das moléculas não se modifica tanto, porém, a energia
interna sim. Nesse caso, ocorre aumento da energia no plasma e consequente agitação entre as moléculas. Isso resulta no
conceito de plasma como o estado gasoso mais energético. Embora ele esteja descrito aqui junto com os outros três estados
físicos, sua obtenção é alcançada somente em condições atípicas. Não se observa o plasma em condições naturais de pressão e
temperatura, mas ele existe, e é por isso que o estamos estudando.
A proximidade entre as moléculas de sólidos permite a interação entre elas. De forma contrária, a
interação entre moléculas contidas no gás ou plasma é reduzida por dois aspectos: distanciamento
entre as moléculas e alta energia, que faz com que as moléculas se movimentem em alta velocidade. A
interação entre as moléculas tende a ser reduzida.
Matéria, mudanças de estado físicos e características
video_library dos estados
Neste vídeo, o especialista Marcio Franco apresenta os conceitos de matérias e os processos de
mudança de fase utilizando exemplos práticos. Vamos lá!
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Uma amostra de substância chegou ao laboratório para ser analisada. Ao receber a amostra, o
analista anotou as seguintes características: amostra sólida, fria, apresentando odor estranho e cor
escura. Ela foi preservada em ambiente resfriado até ser analisada. Sobre o estado físico da amostra
indicado pelo analista, assinale a alternativa correta:
O estado sólido, menos energético que o estado líquido, apresenta alta agitação
B
molecular, fato responsável pela perda de forma e volume constante.
O estado sólido, menos energético que o estado líquido, apresenta baixa agitação
C
molecular, fato responsável pela perda de forma e volume.
O estado sólido, mais energético que o estado líquido, apresenta baixa agitação
D
molecular, fato responsável pela perda de forma e volume.
O estado sólido, menos energético que o estado líquido, apresenta baixa agitação
E
molecular, fato responsável pelo ganho de forma e volume definidos.
O estado sólido é o menos energético de todos os estados físicos, e a queda na energia interna faz
com que a agitação/vibração molecular seja reduzida. Com isso, há queda na temperatura. O
conjunto de agitação baixa e energia baixa faz com que as unidades moleculares fiquem próximas
umas às outras, fato que contribui para que a forma e, consequentemente, o volume sejam definidos.
Questão 2
A agitação molecular define o tipo de estado físico, mas somente isso não se aplica à diferenciação
entre estado gasoso e plasma. Conforme estudado, existe outra propriedade que, juntamente com a
agitação molecular, consegue diferenciar esses dois estados físicos. Marque a opção que melhor
diferencia o estado físico gasoso do plasma:
O plasma se parece muito com o estado gasoso, mas apresenta algumas diferenças que o fazem ser
um estado físico distinto: é altamente energético (mais que o estado gasoso), as moléculas
apresentam alta agitação molecular (mais que o estado gasoso também). Embora a distância entre
as moléculas seja praticamente a mesma, a agitação é superior, fato que promove choque estre as
moléculas e aparecimento de cargas. A este conjunto de características dá-se o nome de estado
físico plasma.
2 - Mudanças de estado e interações intermoleculares
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as mudanças de fase da matéria, bem como as interações intermoleculares e
suas influências nas propriedades de cada estado físico.
Vimos que as energias internas da substância em cada estado físico mudam. Uma representação
interessante é mostrada a seguir:
Redução de temperatura
Exemplo
Como exemplo, podemos dizer que uma substância que se apresenta no estado sólido pode mudar de estado se esse sólido for
submetido ao aquecimento. Dessa maneira, estaríamos fornecendo energia à substância, que passa por uma mudança de estado
físico.
O estudo das mudanças de estado configura uma parte da físico-química muito importante para
entendermos o comportamento dos materiais. A mudança de estado físico promove mudança de
comportamento, embora a natureza da substância seja a mesma.
O estado físico também pode ser chamado de fase. Em uma mesma fase, as substâncias podem
apresentar temperaturas diferentes. Como exemplo, podemos ter água líquida a uma temperatura de
40°C ou a mesma água líquida a uma temperatura de 75°C. Isso também é verdadeiro para os outros
estados físicos.
Você imagina por que a pressão é importante para essas mudanças de fase?
Resposta
A pressão atmosférica age na matéria sempre tentando aproximar as moléculas umas das outras. Logo, se estamos em uma
região onde a pressão é menor, as moléculas da substância estarão mais afastadas. Consequentemente, a mudança de fase é
facilitada.
Como exemplo, podemos citar a ebulição da água. Ao nível do mar, a pressão atmosférica é de
760mmHg e a temperatura de ebulição da água é de 100°C. Entretanto, se estivermos no topo do
Monte Everest, onde a pressão atmosférica é de 240mmHg, a temperatura de ebulição diminui e a água
passa do estado líquido para o gasoso à temperatura de aproximadamente 71°C.
Outra questão importante é que, durante uma mudança de fase, a temperatura nunca muda: todo fluxo
de energia fornecido à substância ou retirado dela é usado para a mudança de fase. Podemos dizer
também que se a energia aumenta em um estado, sua entalpia (H) também aumenta. Logo, o estado
gasoso apresenta maior entalpia que o líquido. Vamos nomear essas mudanças de estado físico? As
principais mudanças de fase são:
a. Fusão.
b. Ebulição, gaseificação, vaporização ou evaporação.
c. Condensação ou liquefação.
d. Solidificação.
e. Ionização.
f. Desionização ou recombinação.
g. Sublimação.
h. Ressublimação.
Fusão
Mudança do estado sólido para o estado líquido da mesma substância. O exemplo clássico para esse fenômeno é o
derretimento do gelo (passagem da água estado sólido para o estado líquido). Note que estamos falando de um
fenômeno físico, portanto, a água não muda sua composição nos dois estados: continua sendo água. A temperatura
constante em que uma substância passa pela fusão é chamada de temperatura de fusão ou ponto de fusão.
Vaporização
É o termo geral utilizado para qualquer tipo de passagem do estado líquido para o estado gasoso. Entretanto, esse
processo pode receber outras denominações, de acordo com a forma pela qual ocorre, tais como: ebulição, evaporação e
calefação. Cada substância possui uma temperatura específica e constante na qual entra em ebulição. A esta
temperatura damos o nome de temperatura de ebulição ou ponto de ebulição. Novamente, o exemplo clássico é a
ebulição da água durante seu processo de fervura.
Condensação ou liquefação
No processo de liquefação, ocorre redução da energia do sistema. É um processo de retorno da substância que estava
no estado gasoso para o estado líquido. Nessa transformação, há reaproximação das moléculas e redução de
temperatura. É o processo oposto à ebulição. A temperatura em que esse processo ocorre é chamada de ponto de
condensação ou temperatura de condensação.
Obs.: Por se tratar de fenômenos opostos, o valor do ponto de ebulição é exatamente igual ao ponto de condensação
(se as transformações ocorrerem em condições iguais de pressão).
Solidificação
No processo de solidificação, há mudança do estado líquido para o estado sólido. Com isso, há perda de energia e
redução na movimentação das moléculas componentes da substância. A temperatura em que ocorre essa mudança de
fase é chamada de temperatura de solidificação ou ponto de solidificação, porém, como se trata de um fenômeno
oposto à fusão, o valor de temperatura é exatamente igual. Note que o processo é o oposto (se realizado à mesma
pressão que a fusão):
Se as substâncias dos processos forem as mesmas e a pressão também, podemos dizer que T1 = T2.
Ionização
No processo de ionização, ocorre mudança de estado físico gasoso para o plasma. A energia do sistema aumenta, bem
como a agitação das moléculas envolvidas. Pelo alto valor energético, há formação de espécies com cargas ou íons
(causado pelos choques entre as moléculas) e, por isso, a transformação é chamada de ionização. Há aumento da
desordem do sistema pela alta velocidade do movimento das moléculas. A temperatura específica para a ocorrência
desse processo de mudança de fase chama-se de temperatura de ionização ou ponto de ionização.
Desionização ou recombinação
O processo de desionização ou recombinação é aquele em que há perda de energia do gás altamente energizado com
redução drástica do número de íons presentes. Ocorre reordenação do sistema com redução da velocidade de
movimentação das moléculas envolvidas. A temperatura específica para essa transformação de fase chama-se
temperatura de recombinação ou ponto de recombinação.
Sublimação
Mudança de estado físico que parte de um sistema que apresenta baixa energia interna (estado sólido) e passa
diretamente ao estado gasoso sem passar pelo estado líquido. Isso ocorre pela baixa interação entre as moléculas do
sólido, que é quase completamente perdida quando as moléculas começam a se distanciar com o ganho de energia. O
estado líquido não se estabiliza pela baixa interação entre as moléculas, que assumem comportamento do estado
gasoso. Há aumento de energia e aumento da agitação molecular. A temperatura para esse processo ocorrer é chamada
de temperatura de sublimação ou ponto de sublimação.
Ressublimação
Fenômeno oposto ao da sublimação: mudança do estado gasoso diretamente ao estado sólido sem passar pelo estado
líquido. Quando a substância gasosa começa a perder energia interna, o esperado seria ocorrer a liquefação, porém se
ela não apresenta estabilidade (ou boa interação entre as moléculas no estado líquido), ocorre a passagem direta da
substância do estado gasoso para o sólido com queda brusca da energia interna e agitação molecular. A temperatura
para esse processo ocorrer é chamada de temperatura de ressublimação.
Ebulição
Passagem do estado líquido para o gasoso que acontece quando fornecemos energia externa, geralmente calor, ao sistema. Ocorre a
uma temperatura específica, acompanhada da agitação das moléculas e da formação de bolhas.
Evaporação
Passagem do estado líquido para o estado gasoso de forma lenta e imperceptível, principalmente na superfície do líquido, sem que
haja aparecimento de bolhas ou agitação do líquido.
Calefação
Passagem abrupta do estado líquido para o estado gasoso. Ocorre quando o líquido encontra uma superfície com temperatura muito
superior ao seu ponto de ebulição.
Agora que estudamos os conceitos de todas as mudanças de fase, vamos resumir os fenômenos de
mudança de estado físico? A Figura 8 mostra as correlações entre cada estado, a distância entre as
moléculas nos estados físicos, as transformações de fase e a energia de cada uma delas.
Diamante Suco Nuvens Gás neon ionizado
Atenção!
É importante falarmos novamente sobre como ocorrem as variações de energia ao longo das mudanças de estado.
A Figura 9 mostra as mudanças de estado físico que ocorrem quando há aumento de temperatura.
Partindo-se do estado sólido — menos energético ou mais frio —, pode-se observar que o sólido
persiste mesmo com aumento de temperatura. Quando é alcançada a temperatura de mudança de fase
(temperatura de fusão), a temperatura permanece constante e há coexistência dos dois estados físicos
(sólido + líquido) até que todo o sólido sofra a fusão.
Se mantivermos o fornecimento de calor, a temperatura do sistema volta a subir sem que haja
mudança no estado físico da substância até que a temperatura para a ebulição seja atingida. Ocorre
novamente a coexistência de dois estados físicos (líquido + gasoso) e a temperatura volta a ficar
constante, mesmo que continue o aquecimento do sistema — essa energia excedente é usada na
mudança de fase, logo, a temperatura não aumenta. Depois, o gás aquece até atingir a condição para
nova mudança de fase e passa para o plasma (não mostrado na Figura 9).
a. Forças dipolo-dipolo.
b. Forças íon-dipolo.
c. Forças de dispersão de London.
d. Ligação de hidrogênio.
Para iniciarmos nossa discussão sobre os tipos de forças de Van der Waals,
precisamos entender o conceito de dipolo. Um dipolo é constituído pela
presença de duas cargas opostas (dois polos), porém, presentes na mesma
molécula ou composto iônico (sal).
Veja a representação da molécula de água, mostrada na Figura 11. Na mesma molécula, há a presença
da carga parcial negativa concentrada no oxigênio (carga –2) e duas cargas parciais positivas
concentradas nos hidrogênios (carga +1 em cada hidrogênio). O termo carga parcial deve ser utilizado
em cargas apresentadas em moléculas formadas por ligações do tipo covalente. Dizemos, então, que
há na molécula de água um dipolo formado por dois polos diferentes: um polo positivo e outro polo
negativo. Note que a carga total na água é zero, pois:
Fórmula: H2O
Composição: 2 hidrogênios + 1 oxigênio. Se cada hidrogênio tem carga +1 e cada oxigênio tem carga –
2: 2 x (+1) + (–2) = + 2 – 2 = 0 (carga total presente na molécula de água)
Figura 11 – Representação da molécula de água e suas cargas parciais positiva (δ+) e negativa (δ-).
A partir do momento em que cargas parciais são observadas, essas cargas podem passar a interagir
entre moléculas diferentes. Logo, a presença de cargas é condição importante para o aparecimento
das forças atrativas entre moléculas diferentes.
Forças dipolo-dipolo
As forças dipolo-dipolo ocorrem em substâncias cujas moléculas são polares. A atração que ocorre é
chamada de atração líquida. Como as moléculas estão em contínuo movimento, os dipolos se
encontram todo o tempo e fenômenos de atração e repulsão também ocorrem a todo momento, porém,
o efeito atrativo é mais evidente resultando no processo chamado de atração líquida. É importante
lembrar que:
A Figura 12 ilustra esse fenômeno. Note que há atração entre as cargas parciais opostas e repulsão
entre as cargas parciais iguais. Como as moléculas têm mobilidade, essas forças atrativas e repulsivas
ocorrem o tempo todo. Como exemplo, podemos citar as seguintes substâncias: SO2, HBr e HCl.
Figura 12 – Interação dipolo-dipolo.
Forças íon-dipolo
Estudamos até aqui que a atração entre moléculas que apresentam carga se chama força dipolo-
dipolo. Imaginemos agora que um sal (que possui carga real mais intensa que a carga parcial, pois os
sais são formados por ligações iônicas) é adicionado a uma substância covalente, que apresente carga
parcial como a água. Se isso ocorre, o sal se dissolve imediatamente:
+ −
NaCl + H 2 O → Na + Cl
(aq) (aq)
Obs.: aq na reação química indica que os íons Na+ e Cl- estão solúveis em água ou no sistema
aquoso.
O aparecimento das cargas faz com que estas sejam atraídas pelas cargas parciais opostas presentes
na água. Essa interação é chamada de íon-dipolo. A Figura 13 mostra essa interação. O sal XY, após
ser solubilizado em água, apresenta a formação dos íons X+ e Y-. Depois, o íon X+ passa a ser atraído
pela parte negativa da água e o íon Y- pela parte positiva.
Figura 13 – Interação íon-dipolo.
Você sabia que em substâncias apolares pode haver uma pequena força
atrativa? Ela se origina pelo aparecimento de cargas temporárias. Alguns
fenômenos de aparecimento de cargas temporárias podem ser explicados
pelos conceitos de agente polarizante e polarizabilidade.
Agente polarizante
Moléculas que provocam o aparecimento de cargas temporárias em outras moléculas apolares
volumosas. O agente polarizante deve ter carga alta para influenciar a formação de carga em outra
molécula.
Polarizabilidade
Tendência que moléculas apolares (sem carga) e de estruturas volumosas apresentam de sofrerem
ação de uma carga externa com o aparecimento de duas cargas parciais: uma parcial positiva (δ+) e
outra parcial negativa (δ-). Quanto maior a polarizabilidade de uma molécula, mais facilmente sua
nuvem eletrônica será distorcida com o aparecimento do dipolo temporário. Aqui, as cargas são
formadas pela ação de uma molécula ou agente polarizante, e não um íon como ocorre na força íon-
dipolo.
Comentário
As forças de dispersão de London dependem da proximidade entre as moléculas. Podemos dizer, então, que se as moléculas
estão distantes umas das outras, as forças de dispersão de London são enfraquecidas.
Podemos citar como exemplo a molécula de iodo, I2, cuja estrutura pode ser vista na Figura 14. Essa
molécula apresenta carga nula: é uma molécula apolar, porém, com volume grande da nuvem de
elétrons (simbolizados pela cor violeta) ao redor do núcleo dos dois átomos de iodo que compõem a
molécula.
Esse volume grande faz com que os elétrons se movimentem como se fossem uma grande bolha que,
em dado momento, se acumulam mais em um iodo do que no outro. Onde há o acúmulo da nuvem, há
formação da carga parcial negativa (δ-). Em contrapartida, no outro iodo, há formação de carga parcial
positiva (δ+). A partir desse momento, as cargas perturbam as moléculas de iodo vizinhas criando uma
sequência de cargas parciais e o fenômeno de atração líquida se inicia. Nesse exemplo, o iodo tem a
característica polarizante e apresenta polarizabilidade também. Dizemos que ele é polarizante e
polarizável ao mesmo tempo. A força de atração líquida causada pela interação de cargas parciais é
chamada de forças de dispersão de London e depende diretamente da distância entre as moléculas
presentes.
Ligação de hidrogênio
As ligações de hidrogênio são um tipo especial de força intermolecular ou força de Van der Waals. De
forma mais detalhada, poderíamos dizer que as ligações de hidrogênio são um caso especial de forças
dipolo-dipolo.
Saiba mais
O fenômeno de atração entre as moléculas ocorre da mesma maneira: atração líquida resultante das forças atrativas de cargas
opostas e repulsivas de cargas iguais presentes em moléculas polares. Aqui, porém, a interação dipolo-dipolo é mais forte. Isso
ocorre quando o hidrogênio presente em moléculas polares interage com átomos de nitrogênio, oxigênio e flúor de outra
molécula.
A Figura 15 mostra uma ligação de hidrogênio entre a carga parcial negativa (δ-) de uma molécula de
água e a carga parcial positiva (δ+) de outra molécula de água. Note que a distância da ligação química
é menor (mais forte — 96,5 picômetros — pm) do que a ligação de hidrogênio (mais fraca — 177
picômetros — pm). Lembre-se de que já comentamos que as forças intermoleculares sempre são mais
fracas que as ligações químicas. Podemos citar algumas moléculas em que as ligações de hidrogênio
são observadas: HCN, HF, H2SO4, entre outras.
Por fim, devemos fazer a comparação entre todas as forças de Van der Waals estudadas até aqui.
As forças de dispersão de London são as mais fracas, pois se originam de cargas temporárias e
dependem muito da aproximação das moléculas. A força de Van der Waals, chamada dipolo-dipolo, é
aquela na qual cargas parciais permanentes estão presentes nas moléculas resultando em uma força
atrativa mais forte. Com força de atração superior a esta, temos a ligação de hidrogênio, resultante da
interação especial dipolo-dipolo mais forte. A força de Van der Waals do tipo íon-dipolo é a mais forte
delas, pois resulta da interação entre um polo real (íon) e um dipolo permanente. Resumindo:
Forças de London < Força
Força aumenta
Influência das forças intermoleculares nas mudanças de estado
físico
Já falamos sobre matéria, estado físico, mudanças de estado e forças intermoleculares, relatamos
como essas forças interferem nas mudanças de estado e, consequentemente, na matéria. Ainda,
falamos sobre o fluxo de energia exigido para as mudanças de estado e aprendemos que, à medida que
o estado físico apresenta maior energia interna, maior é o distanciamento entre as moléculas.
Resumindo:
Variação de energia:
Energia interna do sólido < Energia interna do líquido < Energia interna do gasoso
As forças intermoleculares tendem a aumentar a atração entre as moléculas, e quanto mais forte for
esse efeito, maior a aproximação entre elas, consequentemente, a força líquida atuará, dificultando a
mudança de estado físico para estados mais energéticos, nos quais as moléculas estão mais
separadas.
Em outras palavras, as energias (ou temperaturas) necessárias para mudança de fase (ponto de fusão
ou ebulição por exemplo) são sempre maiores quanto mais fortes forem as forças de Van der Waals
presentes.
Exemplo
Imagine a mudança do estado sólido para o estado líquido (ou fusão). Nessa mudança de fase, é necessário que haja
afastamento das moléculas para que a mudança ocorra, e isso é conseguido por aquecimento. Se a mudança ocorre com
afastamento das moléculas umas das outras, podemos dizer que, caso as moléculas se separam com maior facilidade, mais
facilmente mudarão de estado físico. Logo, quanto menor a força intermolecular, mais facilmente ocorrerá o processo de fusão.
Comparemos duas substâncias já descritas: a água e o iodo. A água e o iodo apresentam forças
intermoleculares distintas:
Conforme estudamos, as forças de London são mais fracas que as ligações de hidrogênio. Isso faz
com que o iodo passe diretamente para o estado gasoso (sublimação) à temperatura de 25°C
(temperatura ambiente). Para a água sofrer ebulição, entretanto, é necessário que a sua temperatura
atinja o valor de 100°C. Essas diferenças podem ser explicadas pelas forças intermoleculares
presentes em cada composto desse exemplo.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Um grupo de alunos de ciências iniciou uma aula prática de laboratório sobre mudança de estado
físico. O professor efetuou dois procedimentos: em um recipiente, colocou duas pedras de gelo e
mediu a temperatura com o termômetro. A temperatura foi aumentando vagarosamente até que em
0°C iniciou-se a mudança de fase (fusão do gelo em água líquida). Em outro recipiente, o professor
colocou duas pedras de gelo e acrescentou sal de cozinha sobre o gelo. Repetiu o procedimento e
manteve o termômetro em contato com o gelo. Após o início da fusão, a temperatura marcada no
termômetro indicava a temperatura de 7°C. Marque a opção que explica corretamente o fenômeno
ocorrido:
O procedimento está correto, pois a adição de sal aumenta a força de atração entre as
C moléculas. Antes eram somente ligações de hidrogênio e, após a adição do sal,
forças de London passaram a existir.
O procedimento está correto, pois a adição de sal aumenta a força de atração entre as
D cargas do sal e as moléculas de água. Antes eram somente ligações de hidrogênio e,
após a adição do sal, forças de London passaram a existir.
O procedimento está correto, pois a adição de sal aumenta a força de atração entre as
E cargas do sal e as moléculas de água. Antes eram somente ligações de hidrogênio e,
após a adição do sal, forças íon-dipolo passaram a existir também.
A mudança de estado físico é alcançada com o fornecimento de energia ao gelo. Se não é feito
aquecimento, o próprio gelo rouba energia do ambiente para efetuar a mudança de estado. Se
estamos falando de água pura, as únicas forças intermoleculares que devem ser vencidas para a
mudança de estado são as ligações de hidrogênio. Isso ocorre quando a temperatura de 0°C é
alcançada. No segundo experimento, no qual é adicionado sal de cozinha (NaCl) ao gelo, percebe-se
o aumento da temperatura em que a fusão acontece (7°C). Isso ocorre pois, quando o sal é
adicionado, forças íon-dipolo passam a atuar. O sal, quando em contato com a água, sofre a seguinte
dissociação: NaCl → Na+(aq) + Cl-(aq). Os íons positivos (Na+) passam a interagir com a carga parcial
negativa da água e os íons negativos (Cl-) passam a interagir com a carga parcial positiva da água,
resultando na maior dificuldade para afastar as moléculas de água umas das outras, fato
característico do estado líquido.
Questão 2
As forças íon-dipolo são as mais fortes, pois resultam da interação entre íons e
A
moléculas dipolares presentes na substância.
As forças de London são as mais fracas, pois não dependem da distância e sim da
B
presença de moléculas interagindo na substância.
As forças íon-dipolo são as mais fortes, pois resultam da interação entre moléculas
C
dipolares presentes na substância.
As forças de Van der Waals são as mais fortes de todas, pois resultam da interação
D
entre um íon e uma molécula existente na substância.
As forças íon-dipolo são as mais fortes, pois resultam da interação entre íons
E
presentes na substância.
Conforme estudamos, as forças íon-dipolo são as mais fortes pela interação entre uma carga real e
uma carga parcial permanente de uma molécula presente na substância. Quando se fala em
moléculas dipolares, estamos nos referindo à existência de duas cargas diferentes: positiva e
negativa, que podem ser permanentes ou temporárias. Complementando essa justificativa, as
substâncias moleculares apresentam cargas parciais permanentes ou temporárias e os compostos
iônicos ou sais apresentam cargas reais. As cargas reais são sempre maiores que as parciais.
3 - O estado gasoso
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o comportamento e as propriedades das substâncias no estado gasoso.
O estado gasoso
O estado gasoso apresenta-se como o estado físico da matéria mais simples, pois, como vimos, os
gases assumem a forma dos recipientes que os contêm, não apresentando volume definido. Os gases
devem ser imaginados como um conjunto de moléculas (ou átomos, se estivermos falando de gases
nobres) em movimento constante.
Atenção!
A velocidade de movimentação de um gás, chamada de velocidade espacial, muda à medida que a temperatura se altera: quanto
maior a temperatura do gás, maior sua velocidade espacial.
Um gás é diferente de um líquido pelo fato de apresentar suas moléculas muito mais distantes umas
das outras. A proximidade entre elas só aumenta quando as moléculas colidem num movimento
aleatório caótico chamado de caos molecular.
Experimentalmente, foi observado que cada gás é descrito por uma equação que reúne as três
variáveis de Estado chamada de equação de Estado. Sua forma geral é dada por:
p = f (T,V,n)
Em que:
p = pressão apresentada pelo gás
T = temperatura apresentada pelo gás
V = volume apresentado pelo gás
n = número de mols do gás
Essa expressão nos informa que a pressão de um gás é definida por uma função f que varia em função
do volume e da temperatura (levando-se em consideração o número de mols do gás em estudo).
A primeira lei é a relação constante entre pressão (p) e volume (V). Matematicamente, pode ser escrita:
pV = constante
A partir dessa equação de Estado, é possível concluir que há uma relação inversamente proporcional
entre pressão e volume. Veja:
1 1
p ∝ e V ∝
V p
A explicação da Lei de Boyle é simples: se um gás estiver contido em um ambiente e esse ambiente
diminuir de tamanho (volume), o volume do gás será reduzido e consequentemente a pressão do
sistema aumentará. O efeito contrário também é verdadeiro.
Outras leis empíricas importantes são as que relacionam volume com temperatura, pressão com
temperatura e volume com número de mols. As relações são dadas nas equações que se seguem e
são conhecidas como Lei de Charles:
Atenção!
Essas três relações dão origem à expressão do Princípio de Avogadro, em que: volumes iguais de gases, nas mesmas condições
de temperatura e pressão, contêm o mesmo número de moléculas.
pV = constante x nT
Essa expressão traduz a Lei de Boyle quando n e T são constantes, e as demais relações empíricas
também. A constante de proporcionalidade que se mede experimentalmente é chamada constante R.
Reescrevendo a equação anterior com essa constante R, ela recebe o nome de equação de Clapeyron
ou dos gases perfeitos ou ideais:
pV = nRT
Em que:
R é uma constante
T = temperatura apresentada pelo gás
V = volume apresentado pelo gás
n = número de mols do gás
Saiba mais
O conceito de gás ideal ou perfeito é aquele no qual a interação entre as moléculas componentes do gás é nula, ou seja, não há
interação entre as moléculas. É um conceito teórico, pois a interação pode ser bem pequena, porém, nunca é zero. Então, para que
existe esse conceito? Para facilitar nossos cálculos que preveem o comportamento de gases quando as pressões forem
extremamente baixas (simplificação do cálculo matemático).
A equação dos gases perfeitos é mais exata quanto menor for a pressão do sistema. Em outras
palavras, podemos dizer que a equação dos gases perfeitos apresenta melhor resultado quando a
pressão tender a zero. Escrevemos: p→0. O Quadro 4 mostra a constante R nas unidades comumente
usadas:
Unidade de Unidade de
Valores de R Unidades de R
Temperatura Pressão
Obs.: 1J = N.m-1
Como a equação do gás apresenta três variáveis, e em uma mudança de Estado não consideraremos a
variação do número de mols do gás, as modificações gasosas sempre ocorrerão com uma das três
variáveis de Estado constante.
Desse modo, podemos dizer que existem três tipos de transformações gasosas: transformação
isotérmica (em que a temperatura é constante), isobárica (em que a pressão é constante) e isocórica
ou isovolumétrica (em que o volume é constante). Vamos estudá-las?
Transformações isotérmicas
São aquelas que ocorrem à temperatura constante. Para isso, vamos avaliar o gás antes da
transformação (indicado pela condição 1) e depois dela (indicado pela condição 2). As equações de
Estado em cada condição são escritas a seguir:
Condição 1:
p1V1=nRT1
Rearranjando:
p1 V1
T1 =
nR
Condição 2:
p2V2=nRT2
Rearranjando:
p2 V2
T2 =
nR
Se T1 = T2, pois a transformação é isotérmica:
p1 V1 p2 V2
=
nR nR
Transformações isobáricas
São aquelas que ocorrem em pressões constantes. Após a manipulação algébrica semelhante à
realizada no item anterior e utilizando-se p1 = p2 (pressões constantes), surge a relação das
transformações isobáricas:
T1 T2
=
V1 V2
p1 p2
=
T1 T2
Dois movimentos gasosos se destacam e devemos estudá-los com mais detalhe: o fenômeno de
difusão molecular e o de efusão de moléculas gasosas.
A efusão molecular é um caso particular de difusão, em que os gases fluem por orifícios,
sempre se movimentando na direção da região de pressão mais baixa.
À esquerda está representada a difusão de gases, em que ocorre a mistura espontânea dos gases
1 e 2 se uma passagem é aberta entre as regiões que contêm os gases 1 e 2, separadamente.
À direita, a figura mostra o fenômeno da efusão, em que o gás passa da região de pressão maior
(região preenchida com moléculas de gás), através de um pequeno orifício ou vários orifícios,
para uma região de pressão menor (e que não contém gases). Nesse exemplo, o gás flui para a
região que apresenta pressão nula ou vácuo, valor inferior a qualquer outro valor de pressão
apresentada por uma região que contém gases dispersos. A limitação da passagem (orifício)
mostra que mesmo em regiões restringidas, a efusão é observada.
Lei de Graham
Estudamos no tópico anterior que os gases fluem (movimentam-se) espontaneamente por fenômenos
de difusão e efusão. Quando falamos de movimentação das moléculas de gases, esse movimento tem
relação direta com as energias cinéticas que esses gases possuem. Se essa energia cinética tem
relação direta com a temperatura, pode-se dizer que os gases que apresentam temperaturas maiores
se movimentarão com maiores velocidades.
Mas e quando a temperatura e a pressão dos gases durante seu movimento são
constantes?
Nesses dois processos, a velocidade de movimentação dos gases é definida pela Lei de Graham, que
estabelece a relação entre velocidade e densidade dos gases que se misturam. A equação é:
v1
= √ d 2 /d 1
v2
Em que:
v1 = velocidade do gás 1
v2 = velocidade do gás 2
d1 = densidade do gás 1
d2 = densidade do gás 2
Como estamos tratando de uma situação específica na qual as pressões p1 e p2 são iguais e T1 = T2, a
equação fica:
v1
= √ M 2 /M 1
v2
Em que:
v1 = velocidade do gás 1
v2 = velocidade do gás 2
M1 = massa molar do gás 1
M2 = massa molar do gás 2
Logo, a massa molar também interfere na velocidade de difusão e efusão de gases. Ou seja, quanto
menor for a massa, mais facilmente o gás realizará efusão e difusão.
p total = pA + pB + pC + pD
Em que:
Pressão total: soma das pressões parciais
pA, pB, pC, pD = pressão parcial de cada gás (A, B, C e D)
Cada gás pode ter sua pressão (pressão parcial) calculada pela expressão:
n gas RT
p gas =
V
Em que:
n = número de mols do gás em estudo
R = constante dos gases perfeitos
V = volume
A pressão parcial do gás também pode ser calculada pelo uso da fração molar do gás presente na
mistura. A fração molar é um tipo de concentração que leva em consideração o número de mols do gás
em estudo e o número de mols total de gases na mistura. Imagine uma mistura gasosa em que existam
2 mols do gás A e 16 mols do gás B.
Podemos escrever:
nA
XA =
n
nB
XB =
n
xA + xB = 1
0, 11 + 0, 89 = 1
A pressão parcial também pode ser escrita em função das frações molares dos gases presentes na
mistura. Para uma mistura de gases A, B, C e D, o cálculo da fração molar fica:
p A = x A (p total )
p A + p B + p C + p D = (x A + x B + x C + x D ) (p total )
Gases reais
Conforme estudamos, os gases até o momento são tratados segundo o comportamento ideal, ou seja,
em que não existem interações entre as moléculas componentes do gás. Já dissemos também que
esse comportamento é teórico, pois as interações moleculares estão presentes, principalmente, nos
gases que apresentam velocidade espacial alta, mesmo em baixas pressões.
Comentário
Quando essas interações são levadas em consideração, dizemos que os gases apresentam desvios em relação à lei dos gases
ideais. Esses desvios ocorrem pelo fato de os gases reais apresentarem forças repulsivas e atrativas que promovem fenômenos
distintos: as atrativas contribuem para a compressão gasosa e as repulsivas para as expansões.
Um fenômeno observado é que as moléculas gasosas com comportamento real tentarão se opor à
compressão quando uma força é aplicada. A essa ação contrária à compressão gasosa chamamos de
compressibilidade gasosa, simbolizada pelo fator de compressibilidade Z. Esse fator pode ser
compreendido como um fator de correção dos gases reais quando comparados ao gás ideal.
V real p⋅V
Z = =
V ideal R⋅T
Em que:
V = volume de 1 mol de gás
O valor de Z para gases ideais ou perfeitos é igual a 1. Logo, o desvio de Z em relação a 1 é a medida
do afastamento do gás em relação ao comportamento ideal.
Atenção!
Em pressões baixas, o valor de Z para a maioria dos gases é aproximadamente 1, porém, em pressões elevadas, todos os gases
apresentam Z > 1, o que mostra que é mais difícil comprimi-los do que um gás ideal. Nesse caso, as forças repulsivas são
dominantes. Em pressões intermediárias, a maioria dos gases têm Z < 1, o que mostra a dominação das forças atrativas que
favorecem a compressão.
Outras equações também são usadas para descrever o comportamento de gases reais. A equação de
Van der Waals foi desenvolvida baseada em dados experimentais, porém, serve como modelo mais
simples. É representada por:
RT a
p = − 2
V m −b Vm
Em que:
a e b = coeficientes de Van der Waals específicos para cada gás
Vm = volume molar
Questão 1
Dois gases armazenados em dois recipientes distintos (com o mesmo volume) e hermeticamente
fechados apresentam comportamentos diferentes. O gás 1, armazenado no recipiente A, apresentou
pressão interna de 1,02bar. O gás 2, armazenado no recipiente B, apresentou pressão interna 2,08bar.
As massas molares dos gases são ligeiramente diferentes. Sobre o comportamento esperado dos
gases e suas compressibilidades (valor esperado de Z), podemos dizer que
o gás 1 apresenta comportamento próximo do real, pois embora a pressão dele seja
D menor, é ainda uma pressão alta para gás ideal; da mesma maneira, o gás 2 tem
comportamento real pela pressão alta. Nos dois casos, o valor de Z é maior que 1.
o gás 1 apresenta comportamento ideal, pois sua pressão é baixa e, devido a isso, o
E valor de Z é muito menor que 1; já o gás 2 tem comportamento mais próximo do real,
pela sua pressão ser alta e o valor de Z é maior que 1.
Podemos efetuar essa comparação, pois o enunciado da questão deixou claro que as condições
eram as mesmas: temperatura e volume. A terceira variável de Estado é que mudou. O volume dos
recipientes 1 e 2 também eram os mesmos. Nessas condições, o gás que apresenta menor pressão
se aproxima mais do comportamento ideal e o valor de Z se aproxima de 1. O gás 2, por apresentar
maior pressão se aproxima mais do comportamento real e o valor de Z deve apresentar-se maior que
1. Nesta situação (em que o fator de compressibilidade é maior que 1), os efeitos repulsivos são
preferenciais.
Questão 2
headset Podcast
Neste podcast, o especialista Marcio Franco resume os principais pontos do tema. Confira!
Explore +
Leia o artigo A água e mudanças climáticas, de José Antônio Marengo, publicado na revista Estudos
Avançados, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, v. 22, n. 63, de 2008,
disponível na SciELO Brasil, na internet. Com o artigo, você complementa seus conhecimentos em
mudanças de estados físicos e os impactos dessas mudanças na saúde do planeta.
Referências
ATKINS, P. W. Físico-Química. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1997.
RUSSEL, J. B. Química Geral, Vol. 1. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994. p.162-215.
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Descrição Compreensão das diferentes leis da termodinâmica e suas formas de transferência de energia, a quantificação da
energia total envolvida e a determinação do sentido espontâneo para uma transformação.
Propósito Fornecer os conhecimentos de aspectos teóricos e ferramentais que possibilitem reconhecer os princípios da
termodinâmica, suas funções e aplicações, para a quantificação da energia envolvida e identificação da
espontaneidade de um processo de transformação física ou química é extremamente importante para a
compreensão de mecanismos e processos que são a base da Química e de várias outras disciplinas.
Objetivos
Módulo 1 Módulo 2
Módulo 3 Módulo 4
Reconhecer as premissas da segunda lei da termodinâmica e a sua Identificar a espontaneidade das reações químicas por meio da análise
importância. da energia livre de Gibbs.
Introdução
Vamos reconhecer a termodinâmica como uma ciência se ocupa em identificar os fluxos de energia
que ocorrem nas transformações da matéria e que permite o cálculo do calor trocado em um
processo químico ou físico.
Veremos como reconhecer e manusear algumas funções importantes, como a entalpia, a entropia e
a energia livre de Gibbs, que permitem tanto quantificar o calor ou o trabalho envolvido em
determinado processo quanto prever em que direção uma transformação avançará.
Resposta
Podemos definir energia como o potencial inato para executar trabalho ou realizar uma ação. Qualquer coisa que esteja
trabalhando, movendo outro objeto ou aquecendo-o, por exemplo, está gastando (transferindo) energia.
Vamos discutir, agora, os conceitos de trabalho e de calor, que são as formas como a energia se
desloca.
Trabalho
O conceito de trabalho é definido como a forma de transferência de energia relacionada com uma ação
ordenada do sistema. O trabalho, representado pela letra “w”, normalmente está relacionado com o
deslocamento de massa. Há trabalho quando um corpo é deslocado contra uma força que se opõe ao
deslocamento. No trabalho, utiliza-se a energia de maneira consistente para se atingir um objetivo,
como, por exemplo, a expansão de um gás que empurra um pistão em um motor a combustão.
Veja a seguir uma ilustração do ciclo de um motor a gasolina convencional de quatro tempos:
Energia na forma de trabalho em um pistão de um motor à combustão.
Etapa 1
A válvula de entrada se abre e a mistura ar-combustível é admitida conforme o pistão se move para baixo.
Etapa 2
Etapa 3
Etapa 4
Calor
Calor é a forma de transferência de energia
relacionada com diferenças de temperatura entre
os sistemas envolvidos ou entre o sistema e as
vizinhanças. O calor normalmente é representado
pela letra ‵‵q′′ . Na transferência energética na
forma de calor, não há um ordenamento do
sistema e normalmente não se busca um objetivo
específico. O calor flui da região mais aquecida
(maior temperatura) para a região mais fria
Energia na forma de calor emanado com a queima de um gás. (menor temperatura).
A energia e suas formas de transferência são quantificadas por unidades próprias. Uma unidade de
medida de energia amplamente difundida é a caloria ( cal ).
Resposta
1cal = energia suficiente para elevar em 1°C a temperatura de 1g de água.
Assim, ao se fornecer a quantidade exata de 1 caloria para um grama de água, essa quantidade de
energia elevará a temperatura dessa massa em um grau Celsius.
Embora a caloria seja uma unidade bastante conhecida, a unidade mais recomendada para os cálculos
envolvendo energia é o Joule ( J ), uma unidade do Sistema Internacional ( SI ). Em termos de
comparação, 1 Joule representa aproximadamente o consumo de energia para sustentar um batimento
cardíaco.
Você pode observar que os rótulos das embalagens dos alimentos contêm as informações nutricionais
e energéticas, utilizando tanto a unidade caloria, ou quilocaloria ( kcal ), como Joule, ou quilojoule ( kJ
).
1kcal = 1000cal
1kJ = 1000J
Sistema expand_more
Qualquer porção identificável de matéria e/ou energia que pode ser isolada por limites bem
definidos que possibilite o seu estudo (célula biológica, reator químico, um núcleo de um reator
nuclear, uma pilha eletroquímica, um vulcão, um oceano ou uma floresta, entre outros).
Agora que sabemos identificar o sistema em análise, vamos ver quais são as possibilidades de
sistemas existentes. Os sistemas podem ser classificados como abertos, fechados ou isolados, de
acordo com os fluxos de energia e de matéria permitidos para as vizinhanças:
Sistema em que só há troca de energia (calor e trabalho) com o meio. A massa permanece
constante. Isto é, não ocorre troca de matéria.
As fronteiras que separam o sistema da vizinhança podem ser classificadas como diatérmica ou
adiabática, de acordo com a permeabilidade ao fluxo de calor:
Impermeável à passagem de calor, mesmo que haja diferença de temperatura entre o sistema e
as vizinhanças.
Trocas térmicas
Em determinado processo ou em uma transformação, o calor pode ser absorvido pelo sistema ou, de
forma contrária, pode ser liberado do sistema para as vizinhanças. Esses processos são classificados
como exotérmico ou como endotérmico. Veja a seguir as características de cada um deles:
Processo exotérmico Processo endotérmico
O sistema cede calor para as vizinhanças O sistema absorve calor a partir das
como, por exemplo, na reação de combustão vizinhanças como, por exemplo, no processo
de um gás. Nesse caso, haverá um aumento de fusão da água. O sistema, ao absorver
da temperatura da vizinhança. calor, provoca um resfriamento da vizinhança.
O sistema é mais quente que as vizinhanças. O sistema é mais frio que as vizinhanças.
Comentário
Essas transferências ocorrem na forma de calor, de trabalho ou ainda nas duas formas em um mesmo processo.
Vamos ver um exemplo de cálculo da variação de energia da realização de trabalho por um sistema
(motor).
Exemplo
Questão 1
Um motor elétrico realiza sobre a vizinhança 15kJ de trabalho mecânico e perde 2kJ de calor por
segundo para o ambiente. Qual é a variação de energia interna do motor a cada segundo?
Resolução expand_more
−1 −1 −1
ΔU = q + w = −2kJ . s − 15kJ . s = −17kJ . s
Nesse caso, considerando que houve a realização de trabalho pelo sistema (motor), o valor do
trabalho será negativo, ou seja, w = −15kJ . A perda de calor para o ambiente significa um
processo exotérmico, assim, q = −2kJ .
Exemplo
Um sistema termodinâmico sofre compressão em suas moléculas de gás. O trabalho de compressão
sobre o sistema é de 300J . Ao mesmo tempo, há uma liberação de calor para a vizinhança equivalente
a 200J . Indique:
Questão 1
Resolução expand_more
q = −200J ; w = +300J
O calor liberado do sistema para a vizinhança tem sinal negativo e o trabalho realizado pela
vizinhança sobre o sistema tem sinal positivo.
Questão 2
Resolução expand_more
ΔU = +100J
Questão 1
Um sistema representa uma parte do universo que se encontra sob observação. Os fenômenos de
transformação de matéria e seus fluxos de energia são estudados a partir de um sistema, que se
encontra separado das vizinhanças por suas fronteiras. A respeito dos fluxos de matéria e energia
nos diferentes sistemas termodinâmicos, assinale a alternativa correta:
Questão 2
Calor e trabalho são conceitos fundamentais para entendermos como a energia flui a partir de uma
transformação em um sistema termodinâmico. A primeira lei, também denominada de princípio da
conservação da energia, mostra, por meio de uma equação matemática bem simples, como a energia
interna de um sistema pode variar. A respeito dos conceitos de calor, trabalho, energia e primeira lei,
assinale a alternativa correta:
Um sistema isolado pode aumentar ou diminuir a sua energia interna por meio de
A
fluxos de calor e de trabalho.
De acordo com a primeira lei, não é possível criar ou destruir a energia. A energia pode
B
variar em um sistema não isolado, por meio do calor e/ou do trabalho.
A Entalpia
Já vimos que nos processos de transformação ocorridos nos sistemas, há fluxos de energia
envolvidos, seja na forma de calor, na forma de trabalho, ou de ambas as formas. Uma quantidade
significativa dessa energia é trocada como calor nos processos endotérmicos e exotérmicos.
Transformação física
Nesse tipo de transformação da matéria, o estado físico de uma substância se altera, sem que haja a
quebra de ligações químicas e a consequente alteração nas fórmulas químicas. Por exemplo, quando o
gelo (que quimicamente tem a fórmula H2O no estado físico sólido) derrete, teremos como resultado
do processo a água líquida, com a mesma fórmula química, ou seja, H2O.
Se continuarmos aquecendo a água líquida, ela passará para o estado vapor, mas continuará com a
mesma fórmula química. Essa última transformação física é denominada evaporação ou vaporização.
Transformação química
As transformações químicas são mais profundas e complexas. Nesse tipo de transformação, ocorre a
quebra das ligações químicas dos reagentes envolvidos. Novas ligações são formadas, com os
elementos químicos anteriormente contidos nos reagentes, gerando produtos quimicamente
diferentes. Logo, é importante saber que:
massa molar de 100g.mol -1, gera os produtos óxido de cálcio (CaO, massa molar 56g.mol-1) e gás
Embora haja uma reorganização das fórmulas químicas, é importante salientar que não há variação de
massa em uma transformação química, isto é, a massa total dos reagentes é igual à massa total dos
produtos gerados.
Reação química: novos produtos são gerados, mas a massa é conservada.
Cálculo da variação da entalpia de uma reação por meio das entalpias de formação de
produtos e reagentes
Uma das formas mais usuais desse cálculo é com a utilização das entalpias padrão de formação (
ΔH
0
f
) das substâncias envolvidas na transformação.
Em que:
Agora veja uma imagem ilustrativa do balanço de entalpia para reações químicas:
Baseado no que você já leu até agora, tente responder às seguintes perguntas:
Qual o significado de estado padrão?
Resposta
O estado padrão refere-se à forma mais estável de uma substância sob pressão de 1bar em uma temperatura qualquer. A maioria
das tabelas termodinâmicas fornecem os dados de estado padrão na temperatura de 25°C .
Resposta
A entalpia padrão de formação refere-se à energia envolvida para formar um mol de uma substância no estado padrão, a partir de
substâncias simples e/ou átomos.
As substâncias simples são aquelas formadas por apenas um tipo de átomo. São exemplos de
substâncias simples: O2(g), N2(g), H2(g) , Cl2(g) Todas essas substâncias possuem apenas um tipo de
átomo em sua fórmula química. Por definição, a entalpia padrão de formação de substâncias simples e
de átomos em sua forma mais estável é igual a zero.
Exemplo
C(s) + 2H2(g) → CH4(g) - Reação de formação do metano
Nome da Representação ΔH
0
f −1
⋅ mol
substância química kJ
Argônio Ar(g) 0
Carbono
C(s,diamante) +1,895
(diamante)
Gás carbônico
(dióxido de CO2(g) -393,51
carbono)
Monóxido de
CO(g) -110,53
carbono
Nome da Representação ΔH
0
f −1
⋅ mol
substância química kJ
Sódio Na(s) 0
Ferro Fe(s) 0
f −1
⋅ mol
substância química kJ
carbono
Você já sabe qual é o conceito de variação da entalpia padrão da reação? Veja a seguir:
Saiba mais
A variação da entalpia padrão da reação é um balanço entre a entalpia total no estado final e a entalpia total no estado inicial do
processo de transformação.
Vamos ver como calcular a variação de entalpia padrão de uma reação com os exemplos a seguir.
Exemplo
Questão 1
Calcule a entalpia padrão para a reação: 2C2H6(g) + 7O2(g) → 4CO2(g) + 6H2O(l)
Resolução expand_more
ΔH
0
R
= ΣΔH f0 (produtos) - ΣΔH f0 (reagentes)
ΔH
0
R
= [4 × (-393,51)+6×(-285,83)]-[2×(-84,68)+7×0]
ΔH
0
R
= -3289,02-(-169,36)
ΔH
0
R
= -3119,66kJ.mol-1 (processo exotérmico)
Questão 2
Calcule a variação de entalpia padrão para a transformação física relacionada com a vaporização de 1
mol de água. Nesse caso, a transformação é a seguinte: H2O(l) → H2O(g)
Resolução expand_more
ΔH
0
R
= ΣΔH f0 (produtos) - ΣΔH f0 (reagentes)
ΔH
0
R
= -241,82-(-285,83)= +44,01kJ.mol-1 (processo endotérmico)
Agora é com você! Resolva o próximo exercício com base nos exemplos que você já viu até agora.
Teoria na prática
Questão 1
Gás carbônico
(dióxido de CO2(g) -393,51
carbono)
A +4440kJ.mol-1
B -4440kJ.mol-1
C +4855,4kJ.mol-1
D -4855,4kJ.mol-1
E
+4845,4kJ.mol-1
Isso mesmo! Sabemos que a entalpia da reação é calculada pela seguinte fórmula:
0 0 0
ΔH = ΣΔH ( produtos ) − ΣΔH ( reagentes ), logo :
R f f
0
ΔH = [6 × (−393, 51) + 8 × (−285, 83)] − [2 × (−103, 85) + 10 × 0]
R
0 −1
ΔH = −4440 kJ. mol
R
Por essa lei, se tivermos as variações de entalpia das múltiplas etapas de uma transformação, que
combinadas levam a uma equação global, o somatório dessas variações de entalpia representa a
entalpia global da reação.
Ficou confuso? Vamos ver a definição da Lei de Hess e um exemplo para facilitar:
0 0 0 0
ΔH = ΔH + ΔH + ⋯ + ΔH
r( global ) r(1) r(2) r(n)
Agora vamos ver um exemplo da aplicação desse processo:
Exemplo
Calcule ΔH 0R da reação (“alvo”) C3H6(g) + 4,5 O2(g) → 3 CO2(g)+3 H2O(l) , a partir das reações:
As reações devem ser adequadamente combinadas, configurando etapas da reação global ou reação
alvo. As reações dadas como etapas podem ser invertidas, multiplicadas, divididas. Qualquer alteração
em uma reação refletirá na mesma alteração no valor de sua variação de entalpia.
Assim, por exemplo, se uma reação for multiplicada por um fator 2, a variação de entalpia será
multiplicada pelo mesmo fator. Se uma reação for invertida em seu sentido, a variação de entalpia será
invertida em seu sinal, isto é, uma reação exotérmica invertida (ΔH negativa) torna-se uma reação
endotérmica (ΔH positiva).
Para o exemplo que acabamos de ver, a combinação das três equações dadas requer a inversão da
equação (III) para que o somatório das equações resulte na equação alvo. Ao fazer o somatório das
equações, termos iguais em lados opostos são subtraídos. Se os termos estiverem do mesmo lado,
eles serão somados. Ao final, as entalpias devem ser somadas para chegarmos ao valor da variação de
entalpia da reação global.
biotech Na etapa I, temos 1 mol de H2(g) reagente e na etapa III também temos a mesma quantidade de H2(g). No
somatório, o H2(g) “desaparece” tendo em vista a diminuição de suas quantidades em lados opostos.
biotech Na etapa II, temos 5 moles de O2(g) reagente, enquanto na etapa III, temos ½ mol de O2. Ao realizar o
somatório, haverá uma subtração de ½ O2 de 5 moles de O2 reagentes, resultando na equação global, 4,5
O2(g).
biotech A mesma coisa ocorre para H2O(l), em que temos 4 moles de H2O(l) com produto na etapa II, e 1 mol da
mesma molécula como reagente na etapa III. Na reação global, temos como resultado da subtração a
presença de 3 moles de H2O(l) como produto.
biotech Note também que, com a inversão da reação da etapa III, o sinal de ΔH 0R é invertido e passa de
−286kJ /mol para +286kJ /mol .
Exemplo
A água líquida tem uma capacidade calorífica média de 1cal.grama-1°C-1. Isso representa que se fornecermos 1cal de calor para 1
grama de água, a sua temperatura se elevará em 1 grau Celsius.
A relação entre calor, capacidade calorífica e variação de temperatura bastante útil é a seguinte:
q = mcΔT
Sendo:
Tratando-se de variação de entalpia, devemos lembrar que o calor trocado está na condição de pressão
constante sobre o sistema. Assim, utilizando as unidades do sistema internacional, a variação de
entalpia média pode ser calculada como:
ΔH = nc p,m ΔT
Sendo:
Agora que você aprendeu a reconhecer os conceitos fundamentais da termodinâmica, chegou a hora
de exercitar um pouco mais.
Teoria na prática
Questão 1
Calcule a variação de entalpia envolvida no aquecimento de 3 moles de gás oxigênio, O2(g) entre as
temperaturas de 298K (25°C) e 323K (50°C) , considerando que c(p,m) de O2(g) = 29,37J.mol-1K-1.
A +2202, 75J
B −2202, 75J
C +26256, 78J
D −26256, 78J
E +28459, 53J
Questão 2
Calcule a temperatura final de um sistema de 20 moles de água, em que a entalpia aumentou 20.148J
A 403K
B 330K
C 33K
D 333K
E 130K
ΔH
T f inal − T inicial =
nc p,m
ΔH
T f inal = + T inicial
nc p,m
20148
T f inal = + 273
20×33,58
T f inal = 303K
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
A variação de entalpia de uma reação representa um balanço energético entre os valores de entalpia
no estado final da transformação e seus valores no estado inicial. Indique a alternativa correta da
variação de entalpia padrão para a reação de neutralização de um ácido forte por uma base forte,
dada por:
Dados:
−1
Substância ΔH
0
f
(298, 15 K)/kJ ⋅ mol
H2O(l) -285,83
HCl(aq) -167,16
NaOH(aq) -470,11
NaCl(aq) -407,28
A
-693,11kJ.mol-1
B +693,11kJ.mol-1
C -55,84kJ.mol-1
D +55,84kJ.mol-1
E -637,27kJ.mol-1
0 −1 −1 −1 −1
ΔH = [−407, 28 kJ ⋅ mol − 285, 83 kJ ⋅ mol ] − [−167, 16 kJ ⋅ mol − 470, 11kJ ⋅ mol
r
Questão 2
A Lei de Hess permite o cálculo da variação de entalpia de uma reação química a partir dos valores
da variação de entalpia reacional de suas etapas intermediárias. Indique a alternativa correta para a
variação da entalpia reacional de 2N2(g) + 5O2(g) → 2N2O5(g) , considerando as etapas reacionais a
seguir:
A +11,3kJ.mol-1
B -11,3kJ.mol-1
C - 22,6kJ.mol-1
D +22,6kJ.mol-1
E -110,2kJ.mol-1
Uma das formas de determinar a espontaneidade para uma transformação é pela segunda lei da
termodinâmica e pela análise de uma grandeza ou função termodinâmica denominada entropia (S).
A segunda lei da termodinâmica procura identificar o sentido das mudanças espontâneas, isto é, das
transformações que ocorrem naturalmente. As transformações podem ser espontâneas e não
espontâneas, veja a seguir a definição de cada uma:
Entropia ( S )
A entropia pode ser interpretada como um parâmetro indicativo da desordem da matéria e da energia.
Qualitativamente, a entropia pode ser considerada como uma extensão da desordem.
Quantitativamente, veremos que é possível medir a entropia e aplicar essa medida às reações
químicas. Assim, quando matéria e energia se tornam desordenadas em uma transformação
espontânea, há um aumento da entropia. Veja a imagem a seguir que ilustra esse fenômeno:
Aumento da entropia, logo ocorre o aumento da desordem.
A característica mais importante dessa lei é que ela se aplica às mudanças em todas as suas formas:
tanto para reações químicas quanto para transformações físicas. Assim, a segunda lei da
termodinâmica busca identificar o sentido da mudança espontânea e permite afirmar que certo estado,
em sua configuração final, pode ser alcançado a partir de outro estado (em sua configuração inicial)
por meio de uma transformação espontânea. Veja a seguir os enunciados da segunda lei da
termodinâmica:
Em que:
Vejamos alguns processos espontâneos com os quais nos deparamos em nosso dia a dia e que
concordam com nossas observações de fenômenos naturais, implicando em um aumento de entropia
total:
Essa tendência é responsável, por exemplo, pelo comportamento espontâneo que um gás possui de se
expandir e ocupar inteiramente o recipiente em que está contido. O processo inverso, isto é, o gás se
comprimir espontaneamente sem a utilização de trabalho, é extremamente improvável. Para isso, seria
necessário que todas as partículas se deslocassem para uma pequena região do recipiente.
Expansão (espontânea) e compressão (não espontânea).
Veja a próxima imagem e repare que, nesses diagramas, as esferas claras representam o sistema e as
esferas escuras, a vizinhança. As setas representam o movimento térmico dos átomos. Pense no
sistema como um bloco de metal aquecido. Nesse caso, o movimento térmico agitado do sistema se
propaga para a vizinhança (quadro da direita, movimento espontâneo). No entanto, pensar em um
bloco quente que, em um sistema aberto, contém a agitação dos seus átomos apenas em seu interior e
não leva a uma perturbação na vizinhança não é natural, não é verdade? Ou seja, o quadro da esquerda
não acontece de maneira espontânea.
A variação de entropia tem um valor numérico que pode ser determinado matematicamente.
Entretanto, se considerarmos que as vizinhanças trocam energia com o sistema, a sua variação de
entropia será dada por:
Onde:
O termo “reversível” tem aparecido com frequência neste módulo. Mas você entendeu o significado
desse termo? Veja a seguir:
Qual o significado do termo reversível?
Resposta
A transferência reversível de calor é aquela que se restringe a dois corpos com a mesma temperatura e que ocorre de modo suave
e cuidadoso (ATKINS; DE PAULA, 2018).
A entropia total envolvida na transformação deve levar em conta a sua variação no sistema e na
vizinhança:
A segunda lei da termodinâmica prevê a impossibilidade de conversão total de energia de uma fonte de
calor para trabalho.
Processo impossível de acordo com a segunda lei.
O fluxo de energia na forma de trabalho, a partir de uma fonte de calor, ocorre de acordo com o
demonstrado na figura a seguir. Uma fonte quente fornece energia capaz de sustentar o trabalho.
Entretanto, não é possível a conversão total de calor para trabalho. O calor não utilizado como trabalho
flui para um sorvedouro (fonte fria).
Nesse processo, a redução de energia da fonte quente leva a uma diminuição da entropia dessa fonte.
A energia que entra na fonte fria leva a um aumento de entropia dessa fonte. A energia aproveitada
como trabalho é a diferença entre a quantidade de energia da fonte quente e a quantidade de energia
da fonte fria. Veja a seguir uma ilustração desse processo:
Processo previsto de acordo com a segunda lei da termodinâmica.
Como há modificação no grau de ordem molecular, quando uma substância sofre uma transição de
fase, deve-se esperar que essa transição seja acompanhada por uma variação de entropia.
Sendo:
Estados mais desordenados da matéria possuem maior entropia, enquanto os estados mais ordenados
apresentam entropia menor. Veja na imagem a seguir que o vapor tem mais entropia que o líquido,
enquanto o sólido apresenta menos entropia que os demais estados da matéria.
Exemplos
Fusão e vaporização
−1
Variação de entalpia de fusão = ΔH f usão = 6, 008 kJ. mol .
Solidificação e condensação
Exemplo
Questão 1
ΔH trans
ΔS trans = n
T trans
−1
30800 J. mol
ΔS vaporização = 50 mol ×
353, 2 K
−1 −1
ΔS vaporização = +4360, 13 J. mol K
A variação de entropia está associada com a variação de volume do gás. Na expansão, há um maior
espalhamento da matéria, ou seja, das moléculas de gás. Esse fato acarreta um aumento da entropia,
dada por:
Vf
ΔS = nR ln ( )
Vi
Sendo:
Exemplo
Questão 1
Qual a variação de entropia para a expansão isotérmica de 20 moles de hidrogênio de um volume inicial
de 400 litros para um volume final de 2000 litros?
Resolução expand_more
Vf 2000L
−1 −1
ΔS = nR ln ( ) = 20 moles. 8, 314 J ⋅ mol ⋅ K ln ( )
Vi 400L
−1
ΔS = +267, 6J ⋅ K
Um aumento de temperatura leva a um aumento de agitação dos átomos que formam a matéria. Esse
aumento de agitação representa uma elevação do grau de desordem da substância, ocorrendo um
aumento da entropia. Inversamente, o resfriamento leva a uma redução da entropia.
Tf
ΔS = nC p,m ln ( )
Ti
Sendo:
A conversão entre graus Celsius e graus Kelvin é dada por: Temperatura Kelvin = Temperatura Celsius
+273, 15 .
Questão 1
Resolução expand_more
Tf
ΔS = nC p,m ln ( )
Ti
573, 15 K
−1 −1
ΔS = 5 moles × 20, 67 J. mol ⋅ K × ln ( )
313, 15 K
−1 −1
ΔS = +62, 47 J. mol ⋅ K
Variação de entropia padrão de uma transformação, ΔS r0
Representa a variação de entropia que ocorre quando uma reação química se processa. Consiste na
diferença entre as entropias molares dos produtos puros (estado final do sistema) e as entropias
molares dos reagentes (estado inicial do sistema). As substâncias envolvidas na transformação são
consideradas em seus respectivos estados padrões, na temperatura reacional considerada. Os dados
para o estado padrão das substâncias normalmente estão tabelados na temperatura de 25°C , ou
273, 15K.
0 0 0
ΔS r = ∑ vS m − ∑ νS m
prod reag
Sendo:
• V = coeficiente estequiométrico.
Exemplo
Questão 1
Qual a variação da entropia reacional para a formação de H 2 O (l) de acordo com a reação:
H 2(g) + 1/2O 2(g) → H 2 O (l) , a 25°C.
Dados:
0
S H 2( g) = 130, 7 J/mol. K
m
0
S O 2( g)
= 205 J/mol. K
m
0
S H 2 O (l) = 69, 9 J/mol. K
m
Resolução expand_more
0 0 0 0
ΔS = S H 2 O (l) − [S H 2(g) + 1/2 S O 2(g) ]
r m m m
0
ΔS = 69, 9 − [130, 7 + 1/2 × 205] = −163, 3 J/mol. K
r
A segunda lei da termodinâmica e suas aplicações
video_library práticas
O especialista Bruno Di Lello vai resolver alguns exercícios referentes à segunda lei da termodinâmica
que envolvam situações cotidianas. Vamos lá!
A terceira lei da termodinâmica estabelece as condições dentro das quais se espera a ausência de
entropia. Para isso, devemos considerar um sistema totalmente ordenado e na temperatura de zero
Kelvin. Nessa temperatura, toda vibração das partículas deixa de existir. O sistema simplesmente não
possui energia se estiver nessa temperatura.
Questão 1
A segunda lei trata de uma função termodinâmica denominada entropia, que é um indicativo do grau
de desordem de energia e matéria em um sistema e em suas vizinhanças. De forma prática, a análise
da variação da entropia total, isto é, da variação de entropia do sistema juntamente com a variação
de entropia da vizinhança, estabelece o sentido de uma transformação espontânea. As
transformações espontâneas ocorrem quando ΔS total ≥ 0 .
Questão 2
Um sistema consiste em um cubo de gelo de 100 gramas colocado em um copo com água a uma
temperatura um pouco acima de zero Celsius (273, 15K ). Para fins de cálculos, podemos admitir
que a temperatura é de 273, 15K . Ao se fundir totalmente, houve a admissão de 33kJ de calor a
partir da vizinhança. Assinale a alternativa que representa a variação de entropia do sistema.
A -33000 J.K-1
B +33000 J.K-1
C +273,15 J.K-1
D -120,81 J.K-1
E +120,81 J.K-1
Q rev +33000 J −1
ΔS = → ΔS = = +120, 81 J. K
T 273,15 K
4 - Análise da energia livre de Gibbs
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar a espontaneidade das reações químicas por meio da análise da energia livre de
Gibbs.
Embora bastante útil para prever o sentido de um processo, uma dificuldade da aplicação da segunda
lei da termodinâmica é obter uma análise completa da variação de entropia do sistema e das
vizinhanças para se determinar a variação de entropia total.
Comentário
Essa análise geral é bastante complexa, pois não envolve somente o que ocorre no sistema. Para tornar a análise da
espontaneidade de uma transformação, um caminho mais prático é a análise somente de parâmetros do sistema, sem que a
vizinhança esteja envolvida.
Tendo esse comentário em mente, perceba que as funções termodinâmicas de sistema permitem a
análise somente do que ocorre no sistema em transformação, otimizando a determinação do critério
da espontaneidade. A principal função termodinâmica de sistema é a variação de energia livre de
Gibbs, ΔG .
A energia livre de Gibbs é a função termodinâmica de sistema mais importante, tendo em vista que a
maioria dos processos ocorre sob condição de pressão constante.
Em que:
•T = Temperatura;
•S = Entropia;
•H = Entalpia.
Se o sistema passa por uma transformação finita, de um estado inicial até o estado final, temos dois
tipos de variação. Veja a seguir:
ΔG = ΔH − T ⋅ ΔS
Em virtude de sua importância, vamos nos deter na análise da variação da energia livre de Gibbs para a
avaliação da espontaneidade de um processo.
Atenção!
A transformação direta é espontânea se corresponder a uma diminuição na energia de Gibbs, isto é, ΔG T,p < 0 . Quando o
sistema se encontra em equilíbrio, quando nem o processo direto, nem o inverso têm tendência de ocorrer, temos ΔG T,p = 0 .
Exemplo
A glicose ( C 6 H 12 O 6 ) pode ser oxidada a dióxido de carbono e água, a 25°C, de acordo com a
equação:
o −1 −1 ∘
ΔS = +182, 4J ⋅ mol ⋅ K , a 25 C
r
Questão 1
Resolução expand_more
∘
Como T = 25 C = 298, 15 K, o valor de energia livre de Helmholtz é:
o o ∘ −1 −1 −1
ΔA = ΔU − T ⋅ ΔS = −2808000 J. mol − (298, 15 K ⋅ 182, 4 ⋅ J. mol ⋅ K )
r r r
o −1
ΔA r = −2862383 J. mol
Questão 2
Resolução expand_more
Como T ∘
= 25 C = 298, 15K , o valor de energia livre de Gibbs é:
o o
ΔG = ΔH − T × ΔS
r r
−1 −1 −1
= −2808000 J. mol − (298, 15 K × 182, 4 J. mol ⋅ K )
o −1
ΔG = −2862383 J. mol
r
Nesses exemplos, temos todos os dados tabelados no estado padrão. Assim, os valores das energias
livres de Helmholtz e de Gibbs também estão no estado padrão a 25°C. Observe que os valores da
variação da energia interna ( ΔU or ) e da variação de entalpia ( ΔH or ) são iguais, levando a valores
iguais para ΔA O
r
e para ΔG or .
A igualdade das energias livres de Helmholtz e de Gibbs somente ocorrerá quando a variação de
energia interna e da variação de entalpia forem iguais à mesma temperatura. Para o exemplo, os
valores negativos tanto para ΔA O
r
quanto para ΔG or indicam uma espontaneidade do processo de
combustão da glicose.
Vejamos um exemplo de cálculo da reação indicando se a reação é espontânea ou não. Vamos lá!
Exemplo
Questão 1
Uma reação biológica apresenta uma variação de entalpia padrão de -200kJ.mol-1 e uma variação de
entropia de + 100J.mol-1K-1, em uma temperatura de 37°C. Calcule, para essa reação, qual a variação
da energia livre de Gibbs padrão, indicando se a reação é espontânea ou não.
Resolução expand_more
Utilizando a relação da variação da energia livre de Gibbs padrão com a variação de entalpia e a
variação de entropia, ambas no estado padrão:
o o o
ΔG = ΔH − T ΔS
r r r
o −1 −1 −1
ΔG = −200000 J ⋅ mol − 310, 15 K × 100 J. mol ⋅ K
r
o −1
ΔG r = −231015 J ⋅ mol
O valor mostra uma variação de energia livre de Gibbs negativa, indicando que o processo é
favorável.
Agora, veremos mais outra forma para se calcular a energia livre de Gibbs padrão de uma reação.
Vamos lá!
A combinação das energias livres padrão de formação dos reagentes e produtos envolvidos em um
processo permite calcular a energia livre padrão da reação a partir da seguinte fórmula:
o o o
ΔG r = ∑ vΔG − ∑ vΔG
f f
Produtos Reagentes
A tabela a seguir mostra as energias livres de Gibbs padrão de formação a 298K para algumas
substâncias:
Espécies o
ΔG /kJ . mol
f
−1
Dióxido de carbono,
-394,4
CO2(g)
Monóxido de
-137,2
carbono, CO(g)
Oxigênio, O2(g) 0
Grafite, C(s) 0
Observe que, para substâncias simples e para átomos, temos por definição ΔG of = 0 .
Agora vamos ver um exemplo do cálculo da variação da energia de Gibbs padrão de uma reação.
Exemplo
Questão 1
CO 2(g) +
1
2
O 2(g) → CO 2(g) a 25 C
∘
?
Resolução expand_more
o o o
ΔG = ∑ νΔG − ∑ νΔG
r Produtos f Re agentes f
Assim:
1
o o o o
ΔG r = ΔG (CO 2 , g) − [ΔG (CO, g) + ΔG (O 2 , g)]
f f f
2
1
o
ΔG = −394, 4 − [−137, 2 + (0)]
r
2
o −1
ΔG = −257, 2 kJ. mol
r
aA + bB ⇌ cC + dD
Pode ser descrita por meio das “Concentrações das espécies no equilíbrio”. Veja:
c d
[C] [D]
K = ( )
a b
[A] [B]
Sendo:
Atenção!
Quando os participantes da reação são sólidos ou líquidos puros, o valor de sua concentração no equilíbrio fica reduzido ao
número “um”. Quando os reagentes são gases, o valor de sua concentração é a pressão parcial do gás em bar.
pCO 2 ⋅ 1
Ag CO 3(s) ⇌ Ag O (s) + CO 2(g) K =
2 2
1
2
pNO 2
N 2 O 4(g) ⇌ 2 NO 2(g) K =
pN 2 O 4
Reação de ionização do ácido acético:
− +
[C 2 H 5 COO ] ⋅ [H 3 O ]
− +
C 2 H 5 COOH + H 2 O ⇌ C 2 H 5 COO + H3 O K =
(aq) (aq)
[C 2 H 5 COOH]
Essas constantes assumem valores numéricos adimensionais. Para a ionização do ácido acético,
temos, a 25° C:
− +
[C 2 H 5 COO ] × [H 3 O ]
−5
K = = 1, 8 × 10
[C 2 H 5 COOH]
A energia livre de Gibbs padrão de uma reação está relacionada com a constante de equilíbrio, K, a
partir da relação matemática:
o
ΔG = −RT ln K
r
Sendo:
Relação entre
produtos e
Valor de K Valor para ΔG 0 Espontaneidade
reagentes no
equilíbrio
Prevalência de
Reação direta não é
K<1 reagentes no Positivo (+)
espontânea
equilíbrio
Prevalência de
Reação direta é
K>1 produtos no Negativo (-)
espontânea
equilíbrio
Como exemplo, para a reação de ionização do ácido acético, a 25°C (298,15K) , na qual temos um valor
Observe que essa reação apresenta variação de energia livre de Gibbs positiva, indicando que não é
uma reação espontânea ou favorável no sentido da ionização do ácido. Esse valor de energia livre de
Gibbs está de acordo com o fato de o ácido acético se tratar de um ácido fraco, com pouca ionização
de suas moléculas quando em solução aquosa.
∗
c d∗
[C] [D]
o
ΔG − ΔG = RT ln [ ] = RT ln J
a∗ b∗
[A] [B]
ou
o
ΔG = ΔG + RT ln J
c d
[C] [D]
[ ]
a b
[A] [B]
Representa as concentrações das espécies, fora do equilíbrio químico, elevadas aos seus coeficientes
estequiométricos, também conhecida como condição imposta ao sistema ou “ J ”.
Exemplo
Questão 1
A energia livre de Gibbs padrão para a ionização do ácido acético a 25°C, conforme já vimos, tem o
espécies, obtém-se um valor de “J” de 2 × 10-6. Nessa condição imposta, foi adicionado ao sistema um
número maior de moléculas de ácido acético não ionizado. Calcule ΔG, considerando que não houve
alteração na temperatura do sistema.
Resolução expand_more
−1 −1 −1 −6
ΔG = +27081 J. mol + 8, 314 J. mol K × 298, 15 K × ln (2 × 10 )
−1
ΔG = −5447 J. mol
Observe que na nova condição do sistema, imposta e fora do equilíbrio, o valor da variação da energia
livre de Gibbs passou a ser negativo.
Nessa nova condição, o sistema aumentará a ionização do excesso de ácido acético (quantidade
adicionada), como forma de retornar à condição de equilíbrio. Esse fato resulta em uma
espontaneidade de conversão, conforme indica o valor negativo de ΔG.
Questão 1
A espontaneidade ou o sentido de uma transformação espontânea pode ser determinada pela análise
da segunda lei da termodinâmica e da função de estado entropia. Além da segunda lei, a energia livre
de Gibbs permite determinar o sentido da transformação espontânea por meio de uma análise mais
direta dos dados termodinâmicos envolvidos no processo. Assinale a alternativa correta a respeito da
energia livre de Gibbs.
A energia livre de Gibbs é classificada como uma função de sistema. A variação da energia livre de
Gibbs pode ser aplicada somente ao sistema em transformação para verificar a espontaneidade de
um processo. O processo será espontâneo para variações negativas ou com valor igual a zero. Para
variações iguais a zero, embora espontâneas, não se pode determinar o sentido da transformação,
configurando que o equilíbrio foi alcançado.
Questão 2
Uma reação biológica apresenta variação de entalpia padrão de -500J.mol-1 a uma temperatura de
300K (cerca de 27°C). Essa reação implica em uma variação de entropia padrão de +20J.mol-1 K-1.
Assinale a alternativa que corresponde ao valor da variação de energia de Gibbs padrão e ao
indicativo de espontaneidade.
A ΔG
o
r
= +5500J.mol-1; reação não espontânea.
B ΔG
o
r
= -5500J.mol-1; reação espontânea.
C ΔG
o
r
= +5500J.mol-1; reação espontânea.
D ΔG
o
r
= +6500J.mol-1; reação não espontânea.
E ΔG
o
r
= -6500J.mol-1; reação espontânea.
o o o
ΔG r = ΔH r − T ΔS r
ΔG
o
r
= -500J.mol-1 - (300K × 20J. mol-1 K-1) = -6500J.mol-1.
Considerações finais
A termodinâmica nos fornece ferramentas para a análise dos fluxos de energia envolvidos nos
processos de transformação da matéria. Verificamos que a energia, definida como “a capacidade de
produzir trabalho” pode ser transferida como calor, ou como trabalho. O calor é uma forma de transferir
energia associada com a diferença de temperaturas entre dois sistemas ou entre sistemas e
vizinhanças, enquanto o trabalho está associado ao uso da energia de forma ordenada.
A primeira lei da termodinâmica mostra que a energia se conserva e que pode ser transferida como
calor e trabalho, enquanto a segunda lei introduz a função termodinâmica entropia ( S ) associada à
espontaneidade dos processos. Vimos que, quando a entropia total aumenta, temos um processo
espontâneo e, quando há valor zero, temos um processo em equilíbrio.
Embora bastante útil, a segunda lei requer uma análise completa do sistema e da vizinhança para
estabelecer a espontaneidade de uma transformação. Por outro lado, a função termodinâmica de
sistema denominada energia livre de Gibbs ( G ) permite que apenas com a análise de sua variação no
sistema ( ΔG ) possamos indicar se um processo é espontâneo ou se o sistema está em equilíbrio.
Processos que ocorrem espontaneamente, a partir de um estado inicial, apresentam ΔG < 0 . Para
sistemas em equilíbrio, temos ΔG = 0 .
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O especialista Bruno Di Lello fará um resumo com os principais pontos abordados no tema.
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Assista ao documentário A história da Energia (2012) disponível no YouTube com legenda em
português. O vídeo tem uma hora de duração.
Referências
ATKINS, P.; DE PAULA, J. Físico-Química – Fundamentos. 6. ed. Rio de Janeiro: Gen-LTC, 2018.
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Descrição Conceituação de equilíbrio químico. Cálculo e aplicações da constante de equilíbrio tanto em sistemas com
comportamento ideal quanto em sistemas não ideais.
Propósito A conceituação de equilíbrio químico e o cálculo da constante de equilíbrio em situações de idealidade do sistema e
de não idealidade são conhecimentos necessários para o profissional que utiliza a ciência química em suas
atividades.
Preparação Antes de iniciar seus estudos, tenha em mãos uma calculadora científica — pode ser a de um smartphone ou celular.
Objetivos
Módulo 1 Módulo 2
Módulo 3 Módulo 4
Equilíbrio químico
O equilíbrio químico representa o momento em que o sistema em transformação alcança um estado
que não apresenta favorecimento da reação direta ou da reação inversa. Quando o equilíbrio químico é
alcançado, as quantidades de produtos e de reagentes presentes no sistema permanecem invariáveis.
Embora as quantidades tenham valores constantes, a reação continua a ocorrer.
Numericamente, podemos indicar esse momento por meio da constante de equilíbrio, K, que é um
parâmetro adimensional. Veremos a seguir como calcular a constante de equilíbrio de uma reação por
meio de duas abordagens.
A primeira abordagem, mais simples, baseada nos valores numéricos das concentrações de equilíbrio,
será explorada neste módulo. Nos módulos subsequentes, trataremos da segunda abordagem, que se
apoia nas atividades das espécies em equilíbrio.
A constante de equilíbrio para uma reação química: K
A constante de equilíbrio é uma das melhores ferramentas para verificarmos o avanço de uma reação
química de forma direta. O seu valor indica quanto dos reagentes foi convertido em produtos. Veja
alguns critérios e abordagens.
O cálculo da constante de equilíbrio tem algumas particularidades no que se refere aos coeficientes
estequiométricos reacionais e ao estado físico das espécies presentes. Vejamos essas
particularidades:
[C]
K = 2 3
[A] [B]
Onde:
[C] = Concentração do produto “C” no equilíbrio
Podemos calcular o valor numérico da constante de equilíbrio, considerando para essa reação que as
concentrações de equilíbrio sejam:
[C] = 1,2mol.L-1
[A] = 0,6mol.L-1
[B] = 0,4mol.L-1
Assim:
[1,2]
K = 2 3
= 52, 083
[0,6] [0,4]
Veja alguns exemplos para a constante de equilíbrio de algumas reações. Deve-se levar em conta o
estado físico dos participantes da reação:
Para essa reação, temos espécies em meio aquoso, simbolizado pelo “aq” subscrito do lado direito da
espécie. Assim, a expressão deverá levar em conta as concentrações molares dessas espécies. Onde:
G6P = Glicose-6-fosfato
G = Glicose
Pi = Fosfato inorgânico
Assim:
[G]x[P i ]
K =
[G6P]
Para essa reação, temos espécies em meio aquoso, espécies como gases e água como produto. A
expressão da constante de equilíbrio deve levar em conta as concentrações molares, as pressões dos
gases e o valor de “1” para a água:
6
(pCO 2 ) )
K = 2 5
[CH 3 COCOOH] x(pO 2 )
3) Qual a expressão para a constante de equilíbrio na reação em estado gasoso que segue?
Nessa reação, todas as espécies encontram-se no estado gasoso. A expressão utiliza as pressões
parciais das espécies presentes:
2
(pSO 3 )
K =
(pSO2) 2 x pO
2
Para uma reação, se tivermos os valores quantitativos das espécies em equilíbrio, chegaremos ao valor
numérico da constante de equilíbrio. Veja o exemplo de uma reação em equilíbrio em que todas as
espécies se encontram no estado gasoso:
pSbCl5 = 0,15bar
pSbCl3 = 0,2bar
−4
pSbCl 3 ×pCl 2 0,2×2,6×10 −4
K = → K = = 3, 5 × 10
pSbCl 5 0,15
Questão 1
O equilíbrio químico é uma condição dinâmica na qual a velocidade reacional direta (reagentes
formam produtos) é igual à velocidade da reação inversa (os produtos tornam-se reagentes). A
respeito do equilíbrio químico, assinale a alternativa correta:
B
Quando o equilíbrio químico é alcançado, as quantidades de produtos e de reagentes
tornam-se invariáveis.
O equilíbrio químico é dinâmico. Isso significa que quando essa condição é alcançada, temos a
reação direta (reagentes são convertidos em produtos) e a reação inversa (produtos são convertidos
em reagentes) acontecendo com a mesma velocidade. Como as velocidades das reações
concorrentes são iguais, quaisquer moléculas de produtos formadas são convertidas em moléculas
de reagentes, mantendo-se as quantidades relativas das espécies invariáveis.
Questão 2
A reação de ionização para o ácido benzóico mostra que essa substância é um ácido orgânico fraco,
isto é, que libera poucos íons hidrônio (H3O+) no meio aquoso. A equação é dada por
C 6 H 5 COOH (aq) ⇌ H 3 O
+
(aq) + C 6 H 5 COO
−
(aq) . As concentrações das espécies em equilíbrio
são dadas por:
−2 −1 + −3 −1 −
[C 6 H 5 COOH] = 5 × 10 mol ⋅ L [H 3 O ] = 1, 74 × 10 mol ⋅ L [C 6 H 5 COO ]
A respeito do equilíbrio químico para essa reação e do valor de sua constante, assinale a alternativa
correta.
A Há predominância dos produtos no equilíbrio com o valor de K ≈ 1,74 x 10-3.
Por se tratar de um ácido fraco, há pouca ionização da espécie reagente. Assim, a quantidade de
produto é pequena em relação ao ácido reagente quando o equilíbrio químico é alcançado. Isso
indica que, no equilíbrio, a predominância é do reagente. Para o cálculo da constante de equilíbrio,
devemos utilizar as concentrações das espécies no equilíbrio de acordo com a equação:
+ − −3 −3
[H 3 O ]x[C 6 H 5 COO ] [1,74x10 ]x[1,74x10 ] −5
K = = −2
≈ 6, 1x10 )
[C 6 H 5 COOH] [5x10 ]
2 - Deslocamento de equilíbrio químico e a aplicação do princípio de Le Chatelier
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever o deslocamento de equilíbrio químico e a aplicação do princípio de Le Chatelier.
Isso significa que, embora as quantidades de reagentes e produtos sejam invariáveis no equilíbrio
químico, as reações diretas e inversas continuam a ocorrer, mas com velocidades de conversão iguais
nos dois sentidos (sentido reacional direto e sentido reacional inverso).
A permanência das conversões reacionais em um sistema dinâmico é importante, tendo em vista que
qualquer perturbação no equilíbrio fará com que o sistema reaja no sentido inverso, de forma a anular
essa perturbação. Essa resposta do sistema permanece até que o equilíbrio seja restabelecido.
Assim, um sistema qualquer, quando se encontra em equilíbrio químico dinâmico, apresenta condições
bem definidas da quantidade de matéria e de energia em seu interior com ΔG = 0 sem o favorecimento
de nenhum sentido reacional.
No século XIX, o cientista Le Chatelier estudou os efeitos e as respostas dos sistemas quando
submetidos a alguma alteração em seu estado de equilíbrio químico.
Isso significa que para cada molécula de reagente que se converte em produto há
a conversão de uma molécula de produto em reagente, com a mesma velocidade.
As reações químicas reversíveis são aquelas que ocorrem nos dois sentidos. O sentido direto,
entretanto, é o parâmetro da extensão da conversão. Ao “ler” uma reação química, os componentes que
estão à esquerda são os reagentes e os que estão à direita são os produtos reacionais.
Uma reação que apresenta conversão quase que total dos reagentes em produtos é dita muito
deslocada para a direita (para o lado dos produtos) e sua reversibilidade pode ser desconsiderada,
tendo em vista que termodinamicamente a conversão dos produtos em reagentes é desprezível ou
inexistente do ponto de vista prático. Nesses casos, pode-se considerar que a reação é irreversível.
Exemplo
As reações de combustão são exemplos de reações irreversíveis. Veja a representação da combustão do etanol:
Atenção!
Nas reações reversíveis, a conversão dos produtos formados em seus reagentes de origem não pode
ser desprezada. Veja o exemplo a seguir, no qual o reagente N2O4 é convertido no produto NO2 (reação
Reação reversível.
O princípio de Le Chatelier, quando analisado do ponto de vista das alterações nas quantidades de
produtos e de reagentes em um sistema em equilíbrio, mostra que há uma alteração na dinâmica das
reações direta e inversa, para que o estado de equilíbrio seja novamente alcançado.
Resumindo
De acordo com o Princípio de Le Chatelier: “Quando uma perturbação exterior é aplicada a um sistema em equilíbrio dinâmico, ele
tende a se ajustar para reduzir ao mínimo o efeito da perturbação” (ATKINS; JONES, 2006, p. 444).
Vejamos algumas alterações impostas aos sistemas e à forma como esse sistema se adequa
buscando minimizar os efeitos das alterações.
O aumento da conversão no sentido direto diminuirá a quantidade extra dos reagentes e aumentará a
quantidade de produto até que o valor da constante de equilíbrio, K, seja novamente alcançado.
Os efeitos das variações de quantidades de produtos e de reagentes podem ser resumidos a seguir,
considerando a seguinte reação reversível: N 2 O 4(g) ⇌ 2N O 2(g)
A reação se desloca no sentido do consumo de excesso do produto adicionado. A dinâmica reacional se desloca para a
esquerda até que o equilíbrio seja restabelecido.
A reação se desloca no sentido da reposição da quantidade de reagente retirada. A dinâmica reacional se desloca para a
esquerda até que o equilíbrio seja restabelecido.
Δn (g) ≠ 0 Δn (g) = 0
Onde: Δn (g) = n(g) produtos - n(g) reagentes = variação do número de mols de espécies no estado
gasoso.
Observe que o sistema a seguir não apresenta nenhum deslocamento ou favorecimento reacional, se
há aumento da pressão quando o equilíbrio dinâmico é alcançado. Tendo em vista que há 2 mols de
gás entre os reagentes e 2 mols de gás no produto, há números iguais de mols de gás em reagentes e
produtos, os volumes de gás são iguais em ambos os lados.
Δn (g) = 2 − 2 = 0
A reação a seguir se adequa ao efeito do aumento da pressão em seu equilíbrio, tendo em vista que há
quantidades diferentes de mols de gás entre os reagentes e os produtos. Nesse caso, o lado da reação
com menor número de mols de gás apresenta menor volume em comparação com o lado com maior
número de mols de gás.
Nesse caso, o aumento da pressão sobre o sistema desloca o equilíbrio para a direita, tendo em vista
um menor número de mols no estado gasoso e, consequentemente, um menor volume.
Para a reação a seguir, há menos mols de gás no lado do reagente.
Nesse caso, o aumento da pressão sobre o sistema desloca o equilíbrio para a esquerda, tendo em
vista um menor número de mols no estado gasoso. O quadro a seguir resume os sentidos de
deslocamento da dinâmica reacional de acordo com a variação de pressão sobre os sistemas.
Dinâmica reacional
Aumento Produto(s) Δn (g) < 0 desloca-se para a
direita (produtos).
Dinâmica reacional
desloca-se para a
Diminuição Produto(s) Δn (g) < 0
esquerda
(reagentes).
Dinâmica reacional
desloca-se para a
Aumento Reagente(s) Δn (g) > 0
esquerda
(reagente).
Alteração na Lado de menor
Δn (g) Reação do sistema
pressão volume
Dinâmica reacional
Diminuição Reagente(s) Δn (g) > 0 desloca-se para a
direita (produto).
Resumindo
De forma resumida, temos que o aumento da pressão favorece o deslocamento para o lado que tenha menor volume de gás e que
a diminuição da pressão favorece o deslocamento para o lado com maior volume de gás.
T 1 → K1 T 2 → K2 T 2 > T 1 → 2 > K1
Valor da constante de equilíbrio em uma Valor da constante de equilíbrio em uma Variação da constante de equilíbrio em
temperatura inicial. temperatura final. um processo endotérmico.
Nesse tipo de processo, a formação de produto não é favorecida ao se fornecer calor para o sistema.
T 1 → K1 T 2 → K2 T 2 > T 1 → 2 > K1
Valor da constante de equilíbrio em uma Valor da constante de equilíbrio em uma Variação da constante de equilíbrio em
temperatura inicial. temperatura final, um processo exotérmico.
Quantidade relativa
Constante de de produtos e
Tipo de reação Temperatura
equilíbrio reagentes no
equilíbrio
Proporção bem
definida entre
Equilíbrio 1 (K1) Temperatura 1
produtos e
reagentes em T1
Endotérmica
Aumenta a
T2 > T1
proporção de
K2 > K1
produtos em
Equilíbrio 2 (K2) Temperatura 2 relação à
quantidade de
reagentes no novo
equilíbrio em T2
Proporção bem
definida entre
Equilíbrio 1 (K1) Temperatura 1
produtos e
reagentes em T1.
Exotérmica
Diminui a
T2 > T1
proporção de
K2 < K1
produtos em
Equilíbrio 2 (K2) Temperatura 2 relação à
quantidade de
reagentes no novo
equilíbrio em T2
Atenção!
É importante destacar que, quando o sistema em equilíbrio é resfriado, os deslocamentos dos equilíbrios químicos para as
reações endotérmicas e exotérmicas são exatamente opostos àqueles observados anteriormente, em que é fornecido calor ao
sistema.
Observe o quadro a seguir que resume o efeito da diminuição da temperatura sobre as constantes de
equilíbrio em processos endotérmicos e exotérmicos.
Quantidade relativa
Constante de de produtos e
Tipo de reação Temperatura
equilíbrio reagentes no
equilíbrio
Proporção bem
definida entre
Equilíbrio 1 (K1) Temperatura 1
produtos e
reagentes em T1
Endotérmica
Aumenta a
T2 < T 1
proporção de
K2 < K1
reagentes em
Equilíbrio 2 (K2) Temperatura 2 relação à
quantidade de
produtos no novo
equilíbrio em T2
equilíbrio em
T2/td>
Questão 1
Para os sistemas que se encontram em equilíbrio químico dinâmico a uma temperatura constante,
temos que as quantidades de reagentes e produtos são invariáveis nessa condição. De acordo com o
princípio de Le Chatelier, a retirada de quantidades de produto de um sistema que se encontra em
equilíbrio provoca deslocamento no sistema de forma a anular o efeito dessa retirada. Assinale a
resposta que corresponde à alteração na dinâmica reacional provocada pela retirada de produtos no
sistema em equilíbrio:
A Haverá um aumento da conversão de produto em reagente.
Questão 2
Uma transformação endotérmica apresenta variação de entalpia positiva. A respeito desse tipo de
processo, assinale a alternativa correta quanto ao efeito do aumento na temperatura do sistema e à
descrição do fluxo de calor entre sistema e vizinhança:
As reações endotérmicas são aquelas em que há absorção de calor pelo sistema, isto é, o calor flui
da vizinhança para o sistema. Nesses processos, há um favorecimento da reação direta, se houver
um aumento de temperatura no sistema. Isso significa aumento da conversão de reagentes em
produtos, elevando o valor da constante de equilíbrio reacional.
3 - Atividade das espécies químicas em um meio químico
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever o conceito de atividade das espécies químicas em um meio químico.
A termodinâmica prevê que a constante de equilíbrio de uma reação química deve ser calculada
considerando o comportamento real em solução, com a utilização das atividades das espécies
presentes no meio.
Veja a diferença entre o cálculo da constante de equilíbrio de uma reação utilizando a concentração
das espécies no meio e o cálculo considerando as atividades dessas mesmas espécies para uma
reação química.
[C] aC
K = K = 2
2
[A] [B] aA aB
Vejamos alguns exemplos numéricos de cálculo de equilíbrio de acordo com as atividades das
espécies.
Exemplo 1
O ácido acético é um ácido orgânico fraco e tem a reação de ionização dada por:
+ −
CH 3 COOH (aq) ⇌ H 3 O + CH 3 COO
(aq) (aq)
Para um ácido, a constante de equilíbrio de suas espécies em meio aquoso pode ser denominada por
Ka. Observe que Ka tem o mesmo significado que K. O subíndice “a” representa a ionização do ácido.
As concentrações das espécies em equilíbrio dinâmico na ionização do ácido acético são as seguintes:
+ −4 −1
[H 3 O ] = 4, 2 × 10 mol. L
− −4 −1
[CH 3 COO ] = 4, 2 × 10 mol. L
−3 −1
[CH 3 COOH] = 9, 58 × 10 mol. L
Observe que, para as espécies ionizadas, a atividade de cada uma é ligeiramente diferente de suas
concentrações.
Diferença
Concentração no percentual da
Atividade
Espécie equilíbrio em mol x atividade em
(adimensional)
L-1 relação à
concentração
Isso representa “menor disponibilidade reacional” das espécies. Normalmente esse fato é atribuído,
entre outros fatores, à estabilização mútua das espécies iônicas em virtude das forças eletrostáticas
(forças de atração entre as cargas opostas das espécies iônicas).
Exemplo 2
O sal cloreto de prata, AgCl, é praticamente insolúvel no meio aquoso. No equilíbrio químico que se
estabelece entre o sal sólido e seus íons, de acordo com a reação de solubilização:
+ −
AgCl + H 2 O (l) ⇌ Ag + Cl
(s) (aq) (aq)
+ −5 −1
[Ag (aq)] = 1, 33 x 10 mol x L
Temos as seguintes concentrações iônicas: − −5 −1
[Cl (aq)] = 1, 33 x 10 mol x L
A constante de dissociação de um sal (normalmente em
meio aquoso) é denominada de Kps (constante de produto
de solubilidade) e representa a constante de equilíbrio dos
íons do sal solubilizado.
O cálculo para Kps do cloreto de prata, considerando as concentrações dos íons quando se alcança o
equilíbrio químico, é dado por:
Atenção!
Conforme visto anteriormente, os valores para as espécies sólidas ou líquidos puros se reduzem à unidade. Isso justifica o
número 1 no denominador para o cálculo de Kps.
− −5 −1
[aCl (aq)
] = 1, 324 × 10 mol . L
Da mesma forma que vimos no primeiro exemplo, a atividade das espécies iônicas é numericamente
menor que as concentrações de equilíbrio. Veja a tabela a seguir.
Diferença
Concentração no percentual da
Atividade
Espécie equilíbrio em mol x atividade em
(adimensional)
L-1 relação à
concentração
LOREM_IPSUM
Nos dois exemplos, os valores das atividades levam a valores menores das constantes de equilíbrio.
Observe que no segundo exemplo, no qual há menor concentração dos íons, a diferença entre a
concentração e a atividade é percentualmente menor quando comparado ao primeiro exemplo. Esse
fato é observado para soluções mais diluídas.
Esse comportamento pode ser explicado pelo fato de que, para soluções muito diluídas, a distância
média entre as partículas catiônicas e aniônicas é mais elevada. A maior separação entre os íons de
cargas opostas minimiza as forças eletrostáticas que estabilizam as espécies químicas. Assim, a
atividade tende a ter o mesmo valor da concentração no momento em que a concentração se torna
cada vez menor (quando a diluição aumenta).
O cálculo da constante de equilíbrio ao usar as atividades das espécies também possui algumas
particularidades de acordo com a apresentação dessas espécies no meio reacional.
Os coeficientes
estequiométricos são os
expoentes para as atividades
das espécies na expressão da
constante de equilíbrio.
Questão 1
A atividade das espécies químicas é um parâmetro importante quando desejamos calcular o real
valor da constante de equilíbrio em uma solução. Assinale a alternativa que descreve corretamente o
conceito de atividade de uma espécie química.
A atividade das espécies químicas é aplicada considerando-se todos os fatores que afetam a
reatividade das espécies em um meio. Ela tem um valor diferente da concentração das espécies,
tendo em vista que são consideradas as estabilizações das espécies no meio. Assim, a atividade
pode ser considerada o potencial reacional real das espécies químicas em solução.
Questão 2
A constante do produto de solubilidade Kps para o carbonato de cádmio, CdCO3, tem o valor 1 x 10-12
considerando o comportamento ideal da solução formada. O equilíbrio químico que se estabelece
para a solubilização do carbonato de cádmio em meio aquoso é dado por:
2+ 2−
CdCO 3(s) + H 2 O (l) ⇌ Cd + CO
(aq) 3(aq)
Assinale a alternativa correta quanto ao valor do Kps desse sal em um sistema não ideal.
Para um sistema não ideal, haverá uma elevação do valor do Kps calculado, tendo em
A
vista que as atividades dos íons são mais elevadas que suas concentrações.
Para um sistema não ideal, haverá uma diminuição do valor do Kps calculado, tendo
B
em vista que as atividades dos íons são mais elevadas que suas concentrações.
Para um sistema não ideal, haverá uma diminuição do valor do Kps calculado, tendo
C
em vista que as atividades dos íons são menores que suas concentrações.
Para um sistema não ideal, o valor do Kps calculado será igual ao Kps para o sistema
D
ideal, tendo em vista que as atividades dos íons são iguais às suas concentrações.
Para um sistema não ideal, o valor do Kps calculado será igual ao Kps para o sistema
E ideal, tendo em vista que as atividades dos íons são irrelevantes para o cálculo desse
parâmetro.
Primeiro tópico
No módulo anterior, vimos que a atividade das espécies químicas em solução é o parâmetro mais
correto para estabelecer a constante de equilíbrio químico real em um sistema. Mas como determinar
as atividades das espécies presentes?
Existe um método matemático baseado nos estudos de dois cientistas que permite determinar as
atividades das espécies presentes em soluções suficientemente diluídas. Neste módulo, veremos a
aplicação da teoria de Debye-Hückel para a determinação das atividades das espécies.
Teoria de Debye-Hückel
As interações eletrostáticas entre os íons presentes em uma solução prevalecem sobre todos os
outros fatores que afetam a reatividade das espécies químicas. Essa prevalência é a base da teoria
formulada em 1923 pelos cientistas Peter Debye e Henrich Hückel.
A intensidade e o longo alcance da interação coulombiana entre os íons significam que essa interação
é a principal responsável pelos afastamentos em relação à idealidade das soluções iônicas e
predomina sobre todas as outras contribuições para o comportamento não ideal.
Coulombiana
Interação entre as cargas elétricas.
A figura a seguir mostra um íon central (em azul) e dois íons na vizinhança. O íon vizinho com a cor azul
tem a mesma carga que o íon central e o íon preto tem carga oposta. A trajetória reflete o tempo de
permanência dos íons em relação ao íon central.
Observe que o íon de cor preta (com carga oposta à carga do íon central) tem um tempo de
permanência mais elevado, fato refletido em sua trajetória maior.
Existência de uma atmosfera iônica na qual os íons se encontram estabilizados por íons de
cargas opostas (contraíons).
A carga global da solução é neutra, entretanto, nas proximidades de um íon há uma “nuvem” de
contraíons que estabiliza a espécie e baixa o seu potencial químico.
Essa estabilização faz com que uma quantidade menor de espécies iônicas esteja disponível para
reagir.
A atividade de uma espécie iônica representa justamente a quantidade real e reativa dos íons,
descontando-se o fator de estabilização pelos contraíons.
Lei limite de Debye-Hückel
A lei limite de Debye-Hückel mostra uma metodologia matemática para se estabelecer as atividades
das espécies iônicas. Essa lei e seus cálculos associados funcionam bem para concentrações iônicas
Veremos as equações formuladas por Debye e Hückel que permitem determinar o coeficiente médio de
atividade, um fator que ajusta a concentração dos íons à sua atividade no meio reacional.
A termodinâmica prevê uma relação matemática simples entre as concentrações dos íons em solução
e suas atividades. Essa relação mostra que a atividade de um íon se relaciona com a sua molalidade
(m) por:
mi
ai = γi
θ
m
Onde:
ai = í
atividade do on
γi = í
coef iciente de atividade do on
−1
mi = í
molalidade do on (mol. kg )
θ −1
m = ã
molalidade padr o (1 mol. kg )
Para soluções aquosas muito diluídas, podemos considerar que a molalidade (mol.kg-1) é praticamente
Destacamos que, pela teoria de Debye-Hückel, quanto mais diluída for a concentração dos íons, mais
próximo da idealidade a solução se encontra. Esse fato se deve a uma diminuição das forças atrativas
entre os íons de cargas opostas em concentrações muito diluídas. Assim, conforme a concentração
dos íons decai (molalidade tendendo a zero), a solução tende a ter um comportamento ideal e o
coeficiente de atividade (γ) tende ao valor unitário ((γ) tende a 1).
Estamos interessados em descobrir o valor do coeficiente de atividade quando a solução é não ideal,
isto é, quando γi ≠ 1.
Para íons em solução, temos que as atividades de cátions e de ânions atendem às relações:
m+ m−
a+ = γ+ θ
a− = γ− θ
m m
a + = atividade do c tion á a − = atividade do ânion
γ + = coef iciente de atividade do c tion á γ − = coef iciente de atividade do ânion
−1 −1
á
m + = molalidade do c tion (mol. kg ) m − = molalidade do ânion ( mol. kg )
−1 θ −1
m
θ
= ã
molalidade padr o (1mol. kg ) m = ã
molalidade padr o (1 mol. kg )
Observe que temos γ+ como o coeficiente de atividade para o cátion e γ- como o coeficiente de
atividade para o ânion. Esses coeficientes para as cargas dos íons não são determináveis
experimentalmente ou por nenhuma metodologia matemática, em virtude das interações existentes na
solução.
Os estudos de Debye e de Hückel estabeleceram uma relação matemática bastante útil para a
determinação de um coeficiente médio de atividade que pode ser aplicado para qualquer íon presente
em solução, dada por:
1/2
log γ ∓ = −A |z + z − |I
Onde:
A = constante = 0,509
Z+ = carga do cátion
Z- = carga do ânion
I = força iônica
A grandeza força iônica, I, de uma solução é determinada com base nas molalidades e nas cargas dos
íons presentes por:
2 2
(m + z +m − z )
1 + −
I = θ
2 m
I = ç
f or a i nica ô
m+ = molalidade do c tion á
Z+ = carga do c tion á
Onde:
m− = molalidade do ânion
Z− = carga do ânion
m
θ
= molalidade padr o (1 mol. kg ã −1
)
O uso do coeficiente médio de atividade para a determinação das atividades de cátions e de ânions é
dado por:
m+ m−
a+ = γ± θ
a− = γ± θ
m m
a − = atividade do ânion
a + = atividade do c tion á
é
γ ± = coef iciente m dio de atividade
γ ± = coef iciente m dio de atividade é
−1
−1 m − = molalidade do ânion (mol. kg )
m + = molalidade do c tion ( mol. kg á )
−1
θ −1
m
θ
= ã
molalidade padr o (1 mol. kg )
m = molalidade padr o (1 mol. kg ã )
Vamos aplicar a lei limite de Debye-Hückel nos exemplos a seguir para estabelecer as atividades dos
íons em solução.
Exemplo 1
Para uma solução de KCl 0,001mol.kg, a uma temperatura de 25°C, utilize a lei limite de Debye-Hückel
para calcular:
1/2
−3
log γ ∓ = −0, 509| + 1. −1|(1 × 10 ) = −0, 0161
Estamos interessados em determinar γ±. Assim, temos que aplicar a operação inversa do log
(base 10):
−0,0161
log γ ∓ = −0, 0161 → γ ∓ = 10 → γ ∓ = 0, 964
Exemplo 2
a) A força iônica.
b) O coeficiente médio de atividade.
c) As atividades dos íons presentes.
Para a solução em questão, temos uma relação entre os íons de 1:2, tendo em vista que a equação de
dissociação é dada por:
2+ −
CaCl 2(s) + H 2 O (l) → Ca + 2Cl
(aq) (aq)
Observe que há o dobro da quantidade de íons Cl- em relação aos íons Ca2+, essa relação se reflete nas
concentrações. Assim:
1/2
−3
log γ ∓ = −0, 509| + 2 ⋅ −1|(3 × 10 ) = −0, 056
−0,056
γ ∓ = 10 = 0, 88
A importância do cálculo das atividades reside em se determinar a reatividade real das espécies e a
constante de equilíbrio da solução não ideal. Veja o Exemplo 3.
Exemplo 3
O equilíbrio que se estabelece entre o sal insolúvel cloreto de prata em meio aquoso é representado
pela equação:
+ −
AgCl + H 2 O (l) → Ag + Cl
(s) (aq) (aq)
+ −
aAg ×aCl
Kps =
1
Calcule o Kps do AgCl, considerando que as concentrações dos íons são as seguintes (quando o
equilíbrio químico é alcançado a 25°C).
Concentração no
Espécie
equilíbrio em mol x L-1
Para determinar as atividades dos íons, devemos aplicar a lei limite de Debye-Hückel. Assim:
−5 −1 2 −5 −1 2
1 1, 33 × 10 mol ⋅ kg ⋅ (+1 ) + 1, 33 × 10 mol ⋅ kg ⋅ (−1 )
I = ( )
−1
2 1 mol. kg
−5
= 1, 33 × 10
−0,00186
γ ∓ = 10 = 0, 996
+ −5 −1
mAg 1, 33 × 10 mol. kg
+ −5
aAg = γ∓ = 0, 996 ⋅ = 1, 32 × 10
θ −1
m 1 mol. kg
− −5 −1
mCl 1, 33 × 10 mol. kg
− −5
aCl = γ∓ = 0, 996 ⋅ = 1, 32 × 10
θ −1
m 1 mol. kg
+ −
aAg × aCl
−5 −5
Kps = → Kps = 1, 32 × 10 × 1, 32 × 10
1
−10
→ Kps = 1, 74 × 10
O cálculo da constante de equilíbrio de uma reação química com as atividades das espécies representa
o equilíbrio dinâmico das espécies em um sistema não ideal. Nesse ponto, a lei limite de Debye-Hückel
permite estabelecer os valores dessas atividades.
Questão 1
Para sistemas que não se comportam idealmente, devemos adotar a grandeza atividade como um
parâmetro que substitui a concentração das espécies químicas em equilíbrio. A respeito das
atividades das espécies químicas, de acordo com o que prediz a teoria de Debye-Hückel, assinale a
alternativa correta:
E
A atividade representa as forças de atração eletrostática entre os íons de cargas
opostas.
Um sistema não ideal possui parâmetros químicos que “estabilizam” as espécies, reduzindo a sua
disponibilidade reacional. A atividade de uma espécie representa a sua reatividade real, descontando-
se de sua concentração os parâmetros de estabilidade, principalmente os referentes às atrações
eletrostáticas entre os íons com cargas opostas presentes na solução.
Questão 2
O sal pouco solúvel carbonato de prata (I) (Ag2CO3) a 25°C apresenta, quando em equilíbrio dinâmico
entre os íons presentes em solução e o excesso de sal insolúvel, as seguintes molalidades de seus
íons:
+ 2+
Ag CO 3(s) + H 2 O (l) ⇌ 2Ag + CO
2 (aq) 3(aq)
+ −4 −1 2− −4 −1
mAg 2, 56 × 10 mol ⋅ kg mCO 1, 28 × 10 mol. kg
+ −4 2− 3 −4 +2 2− −4
aAg = γ∓ = 0, 955 ⋅ = 2, 445 × 10 aCO = γ∓ = 0, 955 ⋅ = 1, 222 × 10 Kps = aAg × aCO → (2, 445 × 10 )
θ −1 3 θ −1 3
m 1 mol. kg m 1 mol. kg
Considerações finais
Neste estudo, verificamos o conceito da constante de equilíbrio e a sua importância para o
comportamento dinâmico de um sistema que alcança o equilíbrio químico. O cálculo dessa constante
segue duas abordagens. Na primeira, consideramos o sistema ideal que utiliza a concentração das
espécies em equilíbrio para o cálculo da constante de equilíbrio. Na segunda abordagem, mais correta
do ponto de vista físico-químico, são levadas em conta as atividades das espécies químicas para o
cálculo da constante de equilíbrio. Nela julgamos o comportamento não ideal do sistema.
Um sistema que se encontra em equilíbrio tende a anular as perturbações externas sobre ele de forma
a retornar ao equilíbrio, conforme estabelecido pelo princípio de Le Chatelier. A determinação das
atividades das espécies pode ser realizada matematicamente com a aplicação da lei limite de Debye-
Hückel, que considera a estabilização das espécies com base na atração entre íons de cargas opostas,
fator preponderante para a redução da reatividade dos íons em solução.
headset Podcast
Neste podcast, o especialista fará um resumo do tema, com os principais conceitos abordados.
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Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo, assista aos vídeos disponíveis no portal
PubliSBQ (órgão responsável pelas publicações da Sociedade Brasileira de Química) na seção Salas de
Aula: Equilíbrio Químico. Os princípios do equilíbrio químico são aprofundados no vídeo Equilíbrio
químico da amônia: efeito do íon comum. Confira!
Referências
ATKINS, P; DE PAULA, J. Físico-Química: fundamentos. 6. ed. Grupo GEN, Rio de Janeiro, 2017.
ATKINS, P; DE PAULA, J. Físico-Química. 10. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018. v. 1.
ATKINS, P; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2006.
ATKINS, P; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 7. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2018.
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PROPÓSITO
A identificação das fases e a conceituação de parâmetros físico-químicos e das variáveis que afetam a predominância da forma física da matéria, bem como a identificação
do comportamento de misturas, principalmente das soluções, sejam ideais ou reais, são conhecimentos necessários para o pleno desenvolvimento do profissional que utiliza
a química em seu campo de atuação.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer o potencial químico e sua importância como critério de estabilidade das fases de uma substância pura
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
O potencial químico, representado pela letra μ (“mi”), indica a energia livre de Gibbs por mol de substância. Veremos que esse parâmetro serve como um critério de
estabilidade para uma fase.
Uma fase é prevalecente se possuir um potencial químico menor do que todas as demais fases concorrentes. Como exemplo, a fase líquida da água é prevalecente a uma
temperatura de 20°C e a uma pressão de 1 atmosfera sobre as fases sólida e vapor por apresentar, nessas condições de temperatura e pressão, o menor potencial químico
em comparação com as demais.
O potencial químico é o parâmetro responsável por permitir a elaboração de uma ferramenta importante para a química: os diagramas de fases. Os diagramas de fases são
grandes mapas termodinâmicos com as variáveis temperatura e pressão em seus eixos geométricos. Com o diagrama de fases podemos observar as fases prevalecentes
de uma substância e as fronteiras de equilíbrio entre as fases presentes.
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km). No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a
unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das
unidades.
MÓDULO 1
Reconhecer o potencial químico e sua importância como critério de estabilidade das fases de uma substância pura
Mas o que determina que a água se apresente em suas diferentes formas? Veremos o desenvolvimento do conceito de fases e do critério de sua estabilidade ao longo deste
módulo.
Uma fase de uma substância representa uma porção de matéria homogênea no que se refere à sua composição química, ao estado físico (sólido, líquido ou vapor) e à
organização cristalina (quando se trata de uma fase sólida). Veja o exemplo a seguir:
Imagem: Bruno Cavalcante Di Lello. Adaptada por Thiago Lopes.
Diferentes fases da água e do carbono.
POTENCIAL QUÍMICO
O critério geral para se estabelecer a fase que predomina é a análise do potencial químico (μ): a fase predominante é aquela com o menor potencial químico em
determinada condição de pressão e de temperatura.
O potencial químico representa a energia livre de Gibbs (G) por mol de substância.
Imagem: Bruno Cavalcante Di Lello. Adaptada por Thiago Lopes.
Sabemos que as transformações espontâneas são aquelas nas quais a variação da energia livre de Gibbs é negativa.
Desse modo, quanto menor for a energia livre de Gibbs de uma fase, por mol de substância, maior a tendência de prevalecer a fase sobre as demais.
Esse princípio atende a uma lei geral de que na natureza todos os processos apresentam uma tendência natural em minimizar a energia.
Assim, fases com menor energia livre são aquelas que minimizam a energia geral na condição considerada de temperatura e pressão. Por esse motivo, essas fases são as
predominantes.
Imagem: Shutterstock.com
Observando o diagrama de fases de CO2, (imagem anterior) vemos diversas regiões nas quais há o predomínio de fases diferentes:
FASE SÓLIDA DO CO2
Área marrom do diagrama. Nessa área, as condições de pressão e temperatura no sistema estabelecem um potencial químico menor para a fase sólida do dióxido de
carbono.
Já vimos que as diferentes fases predominam em virtude de possuírem um menor potencial químico, de acordo com as condições de pressão e temperatura do sistema, se
comparado com os potenciais químicos de outras fases.
Essas fases são separadas umas das outras por fronteiras ou “linhas” de mudanças de fases.
Ao longo de uma fronteira de separação de fases, existe um equilíbrio entre elas e os potenciais químicos das fases em equilíbrio são iguais.
Assim, ao considerarmos duas fases denominadas alfa (α) e beta (β) em equilíbrio, temos em sua fronteira de separação:
Existem dois pontos específicos nos diagramas que assinalam importantes conceitos envolvendo as transformações de fases. Vamos entender o que são o ponto triplo e o
ponto crítico.
Ponto triplo
No ponto triplo há a convergência entre as fronteiras que separam três fases em um diagrama. Trata-se de uma condição única de pressão e de temperatura, na qual os
potenciais químicos entre três fases são iguais. O ponto triplo é representado por T3.
Como exemplo, a água apresenta o ponto triplo igual a uma pressão de 611Pa (≈0,006 bar) e na temperatura de 273,16K (≈0,01°C).
Imagem: Shutterstock.com
Ponto triplo da água.
Ponto crítico
Quando um líquido é aquecido no interior de um sistema fechado, o líquido libera mais vapor à medida que a temperatura se eleva. Observando o interior do sistema,
veremos uma interface que separa o líquido aquecido de seu vapor em equilíbrio. Ao continuar o aquecimento, a densidade do líquido diminui continuamente em virtude da
dilatação térmica, enquanto a densidade do vapor aumenta, em virtude das elevadas pressões existentes.
ATENÇÃO
O ponto crítico representa a condição de temperatura e de pressão na qual a interface entre a fase líquida e a fase vapor desaparece no modo de aquecimento constante de
um líquido em um recipiente fechado.
O fluido formado a partir do ponto crítico é denominado de fluido supercrítico e apresenta características físicas tanto da fase líquida quanto da fase vapor. Um fluido
supercrítico tem a capacidade de solubilizar substâncias como se fosse um líquido e apresenta a fluidez semelhante a um gás.
Já vimos que o critério do equilíbrio é o da igualdade dos potenciais químicos, ao longo de uma fronteira de separação entre as fases. Matematicamente, é possível
estabelecer relações entre duas fases quaisquer em equilíbrio.
As equações que mostram as relações entre a temperatura e a pressão ao longo de uma curva de equilíbrio entre duas fases são originárias da equação de Clapeyron, que
em sua forma geral simplificada, mostra que:
ΔSm
Δp = Δ T
ΔVm
Sendo:
Δp → variação da pressão
ΔT → variação da temperatura
Como já vimos, no equilíbrio, duas fases têm a mesma energia de Gibbs molar (mesmo potencial químico). No entanto, quando a temperatura é alterada, para que as duas
fases permaneçam em equilíbrio, a pressão também deve ser alterada de forma que as energias de Gibbs molares permaneçam iguais.
A partir da equação de Clapeyron em sua forma geral, obtém-se a seguinte relação entre pressão e temperatura ao longo da curva de equilíbrio sólido-líquido:
ΔHf us,m T2
Δp = p2 − p1 = ln( )
ΔVf us,m T1
ATENÇÃO
A utilidade dessa equação está em se estabelecer os valores de temperatura de fusão de uma substância em diferentes valores de pressão.
O volume molar de certo sólido é de 1,61 x 10-4m3 mol-1 no seu ponto de fusão a 1,00atm (p = 101325Pa) a uma temperatura de 350,75K. O volume molar do líquido, no
mesmo ponto, é de 1,633 x 10-4 m3 mol-1. Se a pressão sobre o sistema se eleva para 100atm (p = 10132500Pa), calcule a nova temperatura de fusão para essa
ΔVfus,m = VL,m – VS,m = 1,633 x 10-4m3 mol-1 - 1,61 x 10-4m3 mol-1 = 2,3 x 10-6 m3 mol-1
−6
T2 (101325000−101325)×2,3×10
−3
ln( )= = 1, 453 × 10
T1 15880
Pergunta
Quando o benzeno sólido (C6H6), massa molar de 78 g. mol-1, funde-se a 5,5º, o seu volume molar passa de 8,75 x 10-5 m3 para 8,87 x 10-5 m3. A entalpia de fusão é 10,59
RESPOSTA
281,8K
RESOLUÇÃO
Para o problema, devemos aplicar a equação de Clapeyron para o equilíbrio líquido-sólido.
p1 = 1atm = 101325Pa
p2 = 1000atm = 101325000Pa
T1 = 5,5°C = 278,65K
T2 = ?
ΔHf us, m T2 T2
10590
p2 − p1 = ln( ) → 101325000 − 101325 = × ln( )
T1 −6
ΔVf us, m 1,2 × 10 278,65
A partir da equação de Clapeyron, obtém-se a seguinte relação entre pressão e temperatura ao longo da curva de equilíbrio líquido-vapor:
p2 ΔHvap, m 1 1
ln ( ) = − ( − )
p1 R T2 T1
Sendo:
A equação para o equilíbrio sólido-vapor é muito semelhante à equação do equilíbrio líquido-vapor, alterando-se apenas o tipo de variação de entalpia, que nesse caso será
a variação de entalpia de sublimação.
p2 ΔHsubl, m 1 1
ln ( ) = − ( − )
p1 R T2 T1
Sendo:
A partir dessas equações, é possível determinar as temperaturas de ebulição e de sublimação em diferentes condições de pressão.
Veja o exemplo a seguir:
Pergunta
O naftaleno sólido, C10H8, funde a 80,2°C. Acima dessa temperatura, temos naftaleno líquido. Se a pressão de vapor do líquido for de 10 torr, a 85,8°C e 40 torr a 119,3°C,
utilize a equação de Clapeyron para o equilíbrio líquido-vapor para determinar a entalpia molar de vaporização do naftaleno.
RESOLUÇÃO
Para esse problema, temos:
p1 = 10 torr
p2 = 40 torr
T1 = 85,8°C → 358,8K
T2 = 119,3°C → 392,3K
Ao aplicar a equação de Clapeyron, e na maioria dos problemas de termodinâmica, as temperaturas devem estar em Kelvin.
p2 ΔHvap, m 40 ΔHvap, m
1 1 1 1
ln ( ) = − ( − ) → l n( ) = − ( − )
p1 R T2 T1 10 8,314 392,3 358,8
ΔHvap, m 1,386×8,314
−4 −1
1,386 = − × (−2,38 × 10 ) → ΔH vap, m = −4
→ ΔH vap, m = + 48415 J . mol
8,314 2,38 × 10
Observe que utilizamos as pressões em torr, mas no sistema internacional as pressões devem estar em Pa (Pascal). A equação de Clapeyron para os equilíbrios sólido-
líquido e sólido-vapor pode utilizar as pressões em qualquer unidade, desde que p1 e p2 estejam na mesma unidade.
Pergunta
O gelo seco, formado por CO2, tem uma pressão de vapor de 1atm a -72,2°C. Qual a pressão de vapor do gelo seco a uma temperatura de -69,1°C, tendo em vista que a
RESPOSTA
1,68atm
RESOLUÇÃO
Para esse problema, temos:
p1 = 1atm
p2 = ?
T1 = -72,2°C → 200,95K
T2 = -69,9°C → 203,25K
p2 ΔHsubl, m p2 (+76180)
1 1 1 1
l n( ) = − ( − ) → l n( ) = − ( − )
p1 R T2 T1 1 8,314 203,25 200,95
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
ln p2 = 0,516
0,516
p2 = e = 1,68atm
Conheça agora um pouco sobre o diagrama de fase, com destaque às características de cada área e o equilíbrio químico como o critério de estabilidade. Vamos lá!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A FASE DE UMA SUBSTÂNCIA SIGNIFICA UMA PORÇÃO HOMOGÊNEA DE MATÉRIA COM COMPOSIÇÃO QUÍMICA E ESTADO
FÍSICO BEM ESTABELECIDOS. ASSINALE A ALTERNATIVA PARA O CRITÉRIO DE PREDOMINÂNCIA DE UMA FASE DA MATÉRIA
SOBRE AS DEMAIS FASES POSSÍVEIS:
A) A fase predominante será aquela com menor entalpia molar em comparação às demais fases possíveis.
B) A fase predominante será aquela com a menor entropia molar em comparação com as demais fases possíveis.
C) A fase predominante será aquela com a máxima energia de Gibbs molar em comparação com as demais fases possíveis.
D) A fase predominante será aquela com o menor potencial químico em comparação com as demais fases possíveis.
E) A fase predominante será aquela com a maior pressão de vapor em comparação com as demais fases possíveis.
2. NO EQUILÍBRIO ENTRE DIFERENTES FASES, TEMOS UMA IGUALDADE DOS POTENCIAIS QUÍMICOS, AO LONGO DE UMA CURVA
OU FRONTEIRA ENTRE DUAS REGIÕES DE PREDOMINÂNCIA DE FASES DISTINTAS. A EQUAÇÃO DE CLAPEYRON, DESCRITA POR
ΔSm
Δ p = Δ T EM SUA FORMA GERAL, PODE SER APLICADA PARA AS DIFERENTES MUDANÇAS DE FASE, COMO A FUSÃO, A
ΔVm
A)
ΔHf us, T2
p p2 p1 ln ; a temperatura aumenta.
m
Δ = − = ( )
ΔVf us, m T1
A)
B)
ΔHf us, T2
p p2 p1 ln ; a temperatura diminui.
m
Δ = − = ( )
ΔVf us, m
T1
B)
C)
ΔHf us, T2
p p2 p1 ln ; a temperatura não se altera.
m
Δ = − = ( )
ΔVf us, m
T1
C)
D)
p2 ΔHsubl, 1 1
ln ; a temperatura aumenta.
m
( ) = − ( − )
p1 R T2 T1
D)
E)
p2 ΔHvap, m 1 1
ln (
p1
) = −
R
(
T2
−
T1
) ; a temperatura aumenta.
E)
GABARITO
1. A fase de uma substância significa uma porção homogênea de matéria com composição química e estado físico bem estabelecidos. Assinale a alternativa para
o critério de predominância de uma fase da matéria sobre as demais fases possíveis:
A alternativa "D " está correta.
O critério de estabilidade ou de predominância é o de menor energia livre de Gibbs molar, ou seja, de menor potencial químico por mol de substância. Assim, a fase que
predominará será a que apresentar menor potencial químico, em comparação com as demais, em determinada condição de pressão e de temperatura.
2. No equilíbrio entre diferentes fases, temos uma igualdade dos potenciais químicos, ao longo de uma curva ou fronteira entre duas regiões de predominância
ΔSm
de fases distintas. A equação de Clapeyron, descrita por Δp = Δ T em sua forma geral, pode ser aplicada para as diferentes mudanças de fase, como a
ΔVm
fusão, a sublimação e a vaporização. Considerando a vaporização, assinale a alternativa que mostra a equação de Clapeyron adequada e o comportamento da
temperatura de vaporização, quando há um aumento na pressão do sistema:
A equação de Clapeyron para a vaporização mostra a relação para as diferentes pressões e temperaturas, considerando a variação de entalpia de vaporização. Das opções
p2 ΔHvap, 1 1
mostradas, a única equação adequada para a correta relação entre essas variáveis é ln .
m
( ) = − ( − )
p1 R T2 T1
MÓDULO 2
COMENTÁRIO
Uma solução classificada como verdadeira é aquela em que a mistura formada pelos diversos componentes apresenta apenas uma fase, ou seja, tem aspecto homogêneo.
Veremos, neste módulo, alguns aspectos importantes relacionados às soluções do ponto de vista físico-químico.
A utilização de soluções é recorrente nas aplicações de química. Para entendermos a formação de soluções, precisamos identificar os fatores que levam à formação de uma
mistura.
SOLUTO
O soluto é a substância que é dissolvida no meio. Pode ser um líquido, um sólido ou um gás. Normalmente, em química, as soluções mais utilizadas e importantes são
aquelas em que o soluto é um sólido.
SOLVENTE
O solvente é a substância que solubiliza o soluto. Normalmente, essa substância é um líquido. As soluções aquosas são as mais importantes e utilizadas em química.
Vamos rever algumas unidades de concentração e expressões importantes para as próximas discussões a respeito de misturas e soluções.
MOLARIDADE (M)
n soluto
M =
V olume (L) da solu çã o
Pergunta
A solubilização total de 0,5 mol do cloreto de sódio em um volume total de solução de 4 litros é realizada com a adição da massa do sal e adição de água até alcançar o
volume da solução. Para essa solução homogênea, indique qual a molaridade do sal após a sua completa solubilização.
RESOLUÇÃO
0,5 mol
−1
M = = 0,125 mol. L
4 L
n soluto
m =
Quilograma (kg)de solvente
Pergunta
A solubilização total de 0,2 mol de um soluto bastante solúvel em uma massa total de 5kg de H2O gera um volume total de solução de 5,015L na temperatura de dissolução.
Calcule, para a solução preparada, a sua molaridade (M) e a sua molalidade (m).
RESOLUÇÃO
0,2 mol
−1
M = = 0,0399 mol. L
5,015 L
Para soluções aquosas diluídas, o valor da molaridade é bem próximo do valor da molalidade.
n
x =
nT
Uma solução formada por um solvente (A) e por um soluto (B), terá as seguintes frações molares:
nA
xA =
nA +nB
O somatório das frações molares dos componentes de uma mistura é igual a unidade:
x1 + x2 + . . . + xn = 1
Pergunta
Uma mistura é composta por 2,5 mols de sacarose em 97,5 mols de água. Quais as frações molares de solvente e soluto nessa solução?
RESOLUÇÃO
2,5
xsacarose = = 0,025
( 2,5+97,5 )
97,5
x = = 0,975
á gua ( 2,5+97,5 )
x + xsacarose = 0,025 + 0,975 = 1
á gua
Pergunta
Uma mistura é preparada com 3 mols de glicose, 8 mols de dextrose e água, de forma que as frações molares finais são: xglicose = 0,015, xdextrose = 0,040. Quantos mols de
água foram adicionados para o preparo da solução e qual a fração molar da água?
RESPOSTA
189 mols de água; xágua = 0,945
RESOLUÇÃO
A fração da água deve ser o valor complementar do somatório das frações molares, de forma que:
Assim:
A partir da determinação da fração molar, podemos calcular o número de mols de água adicionado:
n n n
á gua á gua á gua
xá gua = 0,945 = = → 0,945 =
ná gua +nglicose +ndextrose n +3+8 n
á gua á gua +11
10,395
0,055 n = 10,395 → n = = 189 moles
á gua á gua 0,055
O aumento da desordem após a mistura representa uma variação de entropia positiva (ΔS≥0).
Para qualquer proporção de mistura entre dois gases perfeitos sob temperatura e pressão constante, teremos um valor negativo para a variação da energia livre de Gibbs.
Os gases nitrogênio e oxigênio são misturados em um sistema fechado com uma pressão total de 1atm, na proporção de 3 mols de oxigênio para 2 mols de nitrogênio. O
sistema se encontra a 27°C. Verifique a espontaneidade do processo de mistura calculando a variação de energia livre de Gibbs no sistema.
RESOLUÇÃO
As frações molares dos gases nitrogênio (N2) e oxigênio (O2) na mistura são dadas por:
2
xA = x = = 0,4
N2
( 2+3 )
3
xB = xO = = 0,6
2
( 2+3 )
ΔGmistura = −8393 J
Pergunta
Os gases nitrogênio (N2), hidrogênio (H2) e oxigênio (O2) são misturados em um recipiente sob pressão constante e temperatura constante de 37°C. Na mistura, foram
adicionados 1 mol de N2, 2 mols de H2 e 7 mols de O2. Qual a variação da energia livre de mistura?
RESPOSTA
ΔGmistura = −28250 J
RESOLUÇÃO
Primeiramente, vamos calcular as frações molares dos gases na mistura:
1 2 7
xN = = 0,1; xH = = 0,2; xO = = 0,7
2 10 2 10 2 10
Agora, vamos aplicar a relação matemática para o cálculo da variação da energia livre de Gibbs de mistura:
ΔGmistura = −20665 J
Em uma mistura de gases perfeitos, não há interação reacional entre as moléculas e quaisquer outras interações são descartadas. Assim, a variação de entalpia para a
mistura de gases perfeitos é zero (ΔHmistura = 0).
aumento na entropia no sistema, em virtude do processo de mistura. Esse aumento de entropia na mistura justifica o fato de o processo ser espontâneo.
Mas como calcular a variação de entropia para uma mistura de gases ideais?
ΔG = ΔH − T Δ S
Sendo:
ΔH = variação de entalpia
T = temperatura, em Kelvin (K)
ΔS = variação de entropia
Comparando a equação geral com a equação de ΔGmistura para uma mistura de gases ideais, com ΔH = 0, temos que o termo -TΔS será igual a:
Assim,
Como a temperatura (T) aparece dos dois lados da igualdade, podemos cortar o termo e ficamos com:
ΔSmistura = −nR(xA lnxA + xB lnxB + … + xn lnxn )
Pergunta 1
Os gases nitrogênio e oxigênio são misturados em um sistema fechado com uma pressão total de 1atm, na proporção de 3 mols de oxigênio para 2 mols de nitrogênio. O
sistema se encontra a 27°C. Verifique a espontaneidade do processo de mistura, calculando a variação de entropia associada.
RESOLUÇÃO
As frações molares dos gases nitrogênio (N2) e oxigênio (O2) na mistura são dadas por:
2
xA = x = = 0,4
N2
( 2+3 )
3
xB = xO = = 0,6
2 ( 2+3 )
Aplicando a equação para a variação de entropia de mistura, ΔSmistura = −nR(xA lnxA + xB lnxB + … + xn lnxn )
Temos:
−1
ΔSmistura = +28 J . K
Pergunta 2
Os gases hélio (He), argônio (Ar) e neônio (Ne) são misturados em um recipiente sob pressão constante e temperatura constante de 57°C. Na mistura, foram adicionados 2
mols de He, 5 mols de Ar e 3 mols de Ne. Qual a variação da entropia de mistura?
RESOLUÇÃO
As frações molares dos gases He, Ar e Ne na mistura são dadas por:
2
xN = = 0,2
He
( 2+3+5 )
5
xN = = 0,5
H Ar
( 2+3+5 )
3
xN = = 0,3
Ne
( 2+3+5 )
Aplicando a equação para a variação de entropia de mistura, ΔS = −nR(xA lnxA + xB lnxB + … + xn lnxn )
Temos:
ΔSmistura = −10 × 8,314 ×(0,2 × ln(0,2)+0,5 × ln(0,5)+0,3 × ln(0,3))
−1
ΔSmistura = +85,6 J . K
Conheça agora um pouco sobre os principais aspectos termodinâmicos que influenciam na espontaneidade da formação de misturas. Vamos lá!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A VARIAÇÃO DE ENERGIA LIVRE DE GIBBS PARA A MISTURA DE GASES É UM PARÂMETRO IMPORTANTE QUE MOSTRA A
ESPONTANEIDADE PARA ESSE PROCESSO. EM RELAÇÃO AO PROCESSO DE MISTURA DE GASES IDEAIS E SEUS PARÂMETROS
TERMODINÂMICOS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
C) O processo apresenta variação de energia livre de Gibbs negativa e variação de entalpia igual a zero para a mistura de gases ideais.
D) O processo apresenta variação de energia livre de Gibbs positiva e variação de entalpia igual a zero quando os gases ideais são misturados.
E) e) A variação de energia livre de Gibbs ocorre em razão da variação de entalpia associada, com variação de entropia igual a zero.
2. OS GASES NITROGÊNIO E OXIGÊNIO SÃO MISTURADOS EM UM SISTEMA FECHADO COM UMA PRESSÃO TOTAL DE 1ATM, NA
PROPORÇÃO DE 1 MOL DE OXIGÊNIO PARA 1 MOL DE NITROGÊNIO. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA QUE INDICA A
VARIAÇÃO DE ENTROPIA PARA A MISTURA DESSES DOIS GASES, CONSIDERANDO O COMPORTAMENTO IDEAL.
E) ΔSm = 0
GABARITO
1. A variação de energia livre de Gibbs para a mistura de gases é um parâmetro importante que mostra a espontaneidade para esse processo. Em relação ao
processo de mistura de gases ideais e seus parâmetros termodinâmicos, assinale a alternativa correta.
A mistura de gases ideais ou reais é um processo espontâneo. Assim, a variação da energia livre de Gibbs de mistura é negativa. Para uma mistura de gases ideais, não há
nenhum processo de troca térmica associado, em virtude da ausência de interações entre as moléculas. Dessa forma, para gases ideais, o processo de mistura apresenta
variação de entalpia de mistura igual a zero.
2. Os gases nitrogênio e oxigênio são misturados em um sistema fechado com uma pressão total de 1atm, na proporção de 1 mol de oxigênio para 1 mol de
nitrogênio. Assinale a alternativa correta que indica a variação de entropia para a mistura desses dois gases, considerando o comportamento ideal.
As frações molares dos gases nitrogênio (N2) e oxigênio (O2) na mistura são dadas por:
1
xA = x = 2
= 0,5
N2
1
xB = x = 2
= 0,5
O2
Aplicando a equação para a variação de entropia de mistura, ∆S = −nR(xA lnxA + xB lnxB + … + xn lnxn )
Temos:
Ao final deste módulo você será capaz reconhecer as soluções ideais, as soluções diluídas ideais e as soluções reais
Para um melhor entendimento das soluções e de suas relações quantitativas entre solvente e soluto, podemos, em um primeiro momento, desconsiderar as interações
químicas entre soluto e solvente. Esse modelo de solução, no qual as interações são desconsideradas, refere-se à solução ideal.
COMENTÁRIO
Uma solução real, entretanto, leva em consideração as interações químicas entre as espécies. O comportamento da solução real difere da simplificação aplicada às
soluções ideais em virtude dessas interações.
Raoult estabeleceu uma relação numérica, relacionando a pressão de uma espécie à sua quantidade presente em uma solução, dada por:
Sendo:
Normalmente, em uma mistura, o componente solvente é representado pela letra “A” e o componente soluto pela letra “B”.
*
p A = xA p
A
Sendo:
Essa relação de proporcionalidade entre a quantidade de uma espécie, dada por sua fração molar, e a pressão da espécie quando pura é adequada ao comportamento de
uma solução ideal, na qual não se leva em conta demais interações químicas.
Por exemplo, se o etanol puro apresenta uma pressão de 600 torr em um sistema, a determinada temperatura, em uma mistura na qual a fração molar do etanol é de 0,95, a
pressão será:
*
petanol = xetanol . p → petanol = 0,95 × 600 torr = 570 torr
etanol
pA /(Pa) 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
pB/ (Pa) 3000 2700 2400 2100 1800 1500 1200 900 600 300 0
ptotal (Pa) 3000 3200 3400 3600 3800 4000 4200 4400 4600 4800 5000
Tabela: Variação das pressões parciais, de acordo com as frações molares dos componentes A e B em uma solução ideal.
Observe que as pressões de A e B são proporcionais às suas frações molares. Para XA = 1, temos A puro. Nesse caso, pA* = 5000Pa.
Podemos ilustrar os valores das pressões parciais de A e B em relação à fração molar de um dos componentes, conforme o gráfico a seguir:
Gráfico: Pressões de vapor. Elaborado por: Bruno Cavalcante Di Lello.
Observe que para uma solução que atende à Lei de Raoult, portanto, com comportamento ideal, as pressões apresentam-se como retas, mostrando a proporcionalidade
com a fração molar dos componentes.
ATENÇÃO
A redução da pressão de vapor de uma substância em uma mistura pode ser explicada pelo aumento da entropia da solução em relação à entropia do líquido puro. Uma
solução contém inúmeras substâncias.
A entropia gerada pela presença de múltiplas espécies em um meio líquido estabiliza esse meio. Desse modo, a tendência em liberar moléculas para o meio vapor diminui,
reduzindo a pressão de vapor das espécies.
Imagem: Atkins e De Paula, 2017, p. 122.
A presença de diferentes tipos de moléculas na solução favorece a estabilização do meio.
Uma solução ideal é uma solução hipotética de um soluto B em um solvente A que obedece à Lei de Raoult em toda a faixa de composição, de A puro até B puro (ATKINS;
DE PAULA, 2017).
Em misturas nas quais os componentes têm naturezas químicas parecidas e são submetidos a conjuntos semelhantes de interações intermoleculares, há maior
confiabilidade da Lei de Raoult. A mistura dos hidrocarbonetos benzeno e metilbenzeno, moléculas orgânicas com características semelhantes, atende de maneira
satisfatória a Lei de Raoult, conforme podemos observar na figura a seguir:
Gráfico: Pressões de vapor semelhantes.
Extraído de: Atkins e De Paula, 2017, p. 123.
COMENTÁRIO
A Lei de Raoult, de uma forma geral, funciona bem para as pressões parciais do solvente (pA) em soluções reais, quando a concentração do soluto é bem pequena. Isso
ocorre porque em baixas concentrações de soluto (ou seja, em elevadas quantidades de solvente) as forças intermoleculares são mais brandas, normalmente desprezíveis.
Quanto mais diluída for uma solução, mais ela se assemelha a uma solução ideal, atendendo, nessa condição, a Lei de Raoult.
RESOLUÇÃO
p( á gua) = xgua . p * á gua → p( á gua) = 0, 98 x 400 torr → p( á gua) = 392 torr
Pergunta 2
Qual a pressão de vapor do metanol puro, sabendo-se que a pressão de vapor de uma solução com xmetanol = 0,95 é de 590 torr na temperatura do sistema?
RESOLUÇÃO
pmetanol 590
* * *
pmetanol = xmetanol . p → p = → p = = 621 torr
metanol metanol xmetanol metanol 0,95
O potencial químico (μ) representa a energia livre de Gibbs molar de uma substância. Menores potenciais químicos representam substâncias puras com menor energia livre,
portanto, menos reativas do ponto de vista químico.
A fração molar do solvente em uma mistura tem um valor menor que a unidade, isso é XA < 1. Matematicamente, ln de XA, com XA < 1, é negativo. Assim, ln xA < 0 .
Assim:
Consequentemente:
Isso significa que um solvente em solução tem um potencial químico menor (é mais estável do ponto de vista químico) que o potencial químico do solvente puro.
SOLUÇÕES DILUÍDAS IDEAIS E A LEI DE HENRY
A Lei de Raoult se adequa bem para o comportamento de solventes em soluções bastante diluídas. Mas e quanto ao comportamento de soluto em uma solução? Existe
alguma relação que mostre o seu comportamento?
O químico inglês William Henry estudou o comportamento do soluto em uma solução diluída. Henry observou uma relação entre a pressão de vapor do soluto e sua fração
molar na solução. Entretanto, nessa relação não é utilizado o parâmetro pressão do vapor do soluto puro (pB*), mas uma constante, denominada constante da Lei de
Henry, K’H.
Sendo:
Soluções bastante diluídas obedecem de forma adequada à Lei de Henry para o soluto. Soluções que são diluídas o suficiente para que o soluto obedeça à Lei de Henry
são denominadas de soluções diluídas ideais.
A constante da Lei de Henry equivale ao ponto de interseção da reta tangente à pressão de vapor do soluto, quando xB = 1. Essa reta tem início em xB = 0.
Gráfico: Lei de Henry para o soluto.
Extraído de: Atkins e De Paula, 2017, p. 125.
A constante da Lei de Henry, em termos da fração molar do soluto, é dada em unidade de pressão, acompanhando a unidade da pressão do soluto.
Uma aplicação muito útil da Lei da Henry é para a determinação da concentração dos gases dissolvidos (soluto) em um líquido. Nesse caso, essa lei é modificada para
informar a concentração dos gases presentes em molaridade, ou seja, mol.m-3 (número de mols do soluto dissolvidos em 1m3 do solvente).
Sendo:
SAIBA MAIS
O conhecimento das constantes da Lei de Henry em gorduras e lipídeos é importante para a discussão sobre a respiração, especialmente quando a pressão parcial do
oxigênio é anormal, como em mergulhos ou no montanhismo.
A tabela a seguir mostra a constante da Lei de Henry para gases dissolvidos em água a 25°C.
KH/(mol m-
Gás
3 kPa-1)
Dióxido de carbono, CO2 3,39 x 10-1
Pergunta 1
Considere um volume de água totalmente pura isenta de qualquer soluto. Essa água é submetida a uma pressão de gás hidrogênio de 50kPa. Qual a concentração de H2
após o sistema alcançar o equilíbrio. Utilize a Lei de Henry modificada.
RESOLUÇÃO
De acordo com a Lei de Henry modificada, temos:
−3 −1 −3
[B]= KH pB →[H2 ]= 7,78 x 10 x 50 = 3,89 x 10 mol. m
Pergunta 2
Qual a molaridade de oxigênio dissolvido em água ao nível do mar, a uma temperatura de 25°C? Dado: 1atm = 101325Pa.
RESOLUÇÃO
Considerando que ao nível do mar a pressão é de 1atm e que o percentual de O2(g) na atmosfera é de 21%, temos:
A pressão de oxigênio sobre a água do mar é a pressão do soluto. Aplicando a Lei de Henry em termos de concentração molar do soluto, teremos:
−2 −1 −3
[O2 ]= KO pO →[O2 ]= 1,30 × 10 × 21,278 kP a →[O2 ]= 2,77 × 10 mol. m
2 2
Da mesma forma que é possível calcular o potencial químico de um solvente em solução, também há uma relação matemática para o potencial químico do soluto.
Sendo:
Todas as soluções podem ser consideradas soluções reais. As soluções ideais representam simplificações para tratarmos do comportamento das soluções. As soluções
reais aproximam-se do comportamento ideal em situações limites, como quando há uma diluição muito grande no sistema.
O potencial químico de uma espécie J, presente em uma solução real deve ser descrita em termos de sua atividade, a.
θ
μJ = μ + RT lnaJ
J
Sendo:
aJ = atividade da espécie J
Conheça agora um pouco sobre as principais diferenças entre as soluções ideais, diluídas e reais. Vamos lá!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A LEI DE RAOULT APLICADA PARA SOLUÇÕES IDEAIS CONSTITUI UMA EXCELENTE RELAÇÃO MATEMÁTICA PARA A PRESSÃO
DE VAPOR DO SOLVENTE, PRINCIPALMENTE EM SOLUÇÕES DILUÍDAS. UMA SOLUÇÃO PREPARADA COM ETANOL, APRESENTA
FRAÇÃO MOLAR DO SOLVENTE IGUAL A 0,93. CONSIDERANDO QUE A PRESSÃO DO ETANOL PURO NESSAS CONDIÇÕES É IGUAL
A 450 TORR, QUAL A PRESSÃO DE VAPOR DO ETANOL NA SOLUÇÃO?
B) petanol = 34 torr
2. A ÁGUA CARBONATADA, TAMBÉM CONHECIDA COMO ÁGUA GASEIFICADA, CONTÉM O GÁS CO2 DISSOLVIDO. COM O
OBJETIVO DE PRODUZIR ÁGUA GASEIFICADA, UMA MÁQUINA DE CARBONATAÇÃO OPERA COM UMA PRESSÃO DE CO2 60KPA
SOBRE A ÁGUA PURA. A CONSTANTE DE HENRY PARA A CONCENTRAÇÃO DE CO2 EM ÁGUA A 25°C É DE 3,39 X 10-1 MOL. M-3.
KPA-1. INDIQUE A ALTERNATIVA QUE MOSTRA A CONCENTRAÇÃO DE CO2 NA ÁGUA GASEIFICADA PRODUZIDA A 25°C.
GABARITO
1. A Lei de Raoult aplicada para soluções ideais constitui uma excelente relação matemática para a pressão de vapor do solvente, principalmente em soluções
diluídas. Uma solução preparada com etanol, apresenta fração molar do solvente igual a 0,93. Considerando que a pressão do etanol puro nessas condições é
igual a 450 torr, qual a pressão de vapor do etanol na solução?
Aplicando-se a Lei de Raoult, temos: petanol = 0,93 × 450 torr = 418,5 torr
2. A água carbonatada, também conhecida como água gaseificada, contém o gás CO2 dissolvido. Com o objetivo de produzir água gaseificada, uma máquina de
carbonatação opera com uma pressão de CO2 60kPa sobre a água pura. A constante de Henry para a concentração de CO2 em água a 25°C é de 3,39 x 10-1 mol.
m-3. kPa-1. Indique a alternativa que mostra a concentração de CO2 na água gaseificada produzida a 25°C.
MÓDULO 4
Descrever as propriedades coligativas
COMENTÁRIO
Cada uma dessas propriedades depende da diminuição da tendência de escape das moléculas do solvente, da fase líquida para a fase sólida ou para a fase vapor. Essa
diminuição da tendência de escape ocorre pela adição das partículas do soluto ao solvente na fase líquida.
As propriedades coligativas estão relacionadas com a diminuição do potencial químico do solvente na presença de um soluto, ou seja, o solvente na solução possui um
potencial químico menor em comparação ao mesmo solvente puro.
*
μA = μ + RT ln xA
A
Sendo:
μ
*
A
→ potencial químico do solvente puro
T = temperatura em Kelvin
PROPRIEDADES COLIGATIVAS
Em virtude da maior estabilidade do solvente quando em uma solução, há uma alteração das condições de temperatura para a mudança de fase do solvente de líquido para
vapor ou de líquido para sólido. Assim, temos alterações nas propriedades físicas do solvente pelo fato de que em solução estão presentes partículas de soluto não volátil.
pressão osmótica.
A pressão de vapor de um líquido puro é a pressão exercida por suas moléculas na fase vapor no interior de um sistema fechado. Observa-se que ao adicionar um soluto
não volátil a esse solvente (formando uma solução) há uma redução da pressão de vapor exercida pelas moléculas, em virtude de haver, nessa situação, menos moléculas
na fase vapor.
Imagem: Shutterstock
Assim, temos:
*
pA < p
A
Sendo:
O valor da pressão de vapor da solução formada com soluto não volátil atende à Lei de Raoult, isto é:
*
pA = xA p
A
Sendo:
A variação de pressão, Δp, que representa um abaixamento da pressão de vapor, em virtude da presença de soluto pode ser calculada como:
* * * *
Δp = p − pA = p − xA p = p (1 − xA )
A A A A
Pergunta
Calcule a pressão de vapor de uma solução preparada com a adição de 0,5 mol de sacarose em 171 gramas de água pura. Qual o abaixamento da pressão de vapor
associado? A água pura na condição de temperatura do sistema apresenta uma pressão de vapor de 500 torr. A massa molar da água é de 18 g.mol-1.
RESOLUÇÃO
Em primeiro lugar, devemos calcular a fração molar da água na solução.
171 g
ná gua = −1
= 9,5 mols de á gua
18 g.mol
Imagem: Shutterstock
*
ΔTe = Te − Te
Sendo:
Existe uma relação entre a elevação da temperatura de ebulição e a quantidade de soluto presente, dada pela sua molalidade (m):
Sendo:
O fator “i” representa um fator multiplicativo das espécies na forma de soluto (íons) quando ocorre a dissociação de um sal. O fator α representa o grau de dissociação ou de
solubilização da espécie no solvente.
Por exemplo, para o sal NaCl, que é um sal muito solúvel, se solubiliza em 100%, temos α = 1.
Para o NaCl, temos a seguinte equação para a sua dissociação em meio aquoso:
+ −
NaCl ( s ) + H2 O ( l ) → Na + Cl
( aq ) ( aq )
Observe que para cada mol de NaCl há dois mols de íons diluídos no meio: 1 mol de Na+ (aq) e 1 mol de Cl- (aq). Assim, para esse caso, o fator i = 2.
Em uma solução hipotética preparada a partir de uma solução 1 mol.kg-1 de NaCl haverá 2 mol.kg-1 de partículas de soluto, em virtude da liberação de íons Na+ (aq) e Cl-
(aq).
No caso do NaCl, teremos, para o cálculo de ΔTe:
ΔTe = Ke m . α. i → ΔTe = Ke m × 1 × 2
A variação de temperatura associada à presença de um soluto também pode ser calculada em função da fração molar do soluto presente através da relação aproximada:
*2
R . Te
ΔTe ≈ . α. i. xB
ΔHv
Sendo:
−1
R → constante do gás ideal = 8,314 J. mol .K
−1
*
Te → temperatura de ebulição do líquido puro, em Kelvin
−1
ΔHv → variação de entalpia de vaporização do líquido em J. mol
Pergunta
Uma solução preparada com 1 mol de sacarose em 180 gramas de água apresenta a temperatura de ebulição mais elevada em relação à temperatura de ebulição da água
pura. A sacarose tem solubilização total e não libera íons em solução, tendo em vista se tratar de um composto covalente (α = 1; i = 1). Calcule a variação de temperatura de
ebulição para essa solução utilizando: a) a constante ebuliométrica da água (Ke = 0,51 K.kg.mol-1); b) a fração molar do soluto e a variação de entalpia de vaporização da
RESOLUÇÃO
A) Primeiro, calculamos a molalidade do soluto:
n soluto 1 mol −1
m = = = 5,555 mol. kg
massa do solvente ( kg ) 0,18 kg
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Sabendo que o ponto de ebulição da água pura é 100°C ou 373,15K, a temperatura de ebulição para essa solução será:
Observe que os valores são aproximados para a variação da temperatura de ebulição, seja pelo cálculo a partir da constante ebulioscópica, seja com a utilização dos dados
termodinâmicos para o solvente. Em termos práticos, utiliza-se a constante ebulioscópica para a maioria dos problemas envolvendo o aumento da temperatura de ebulição
de uma solução.
ABAIXAMENTO DO PONTO DE CONGELAMENTO
Crioscopia ou criometria é o estudo do abaixamento do ponto de congelamento de um solvente, quando se adiciona a ele um soluto não volátil.
Imagem: Shutterstock
Em relação ao ponto de congelamento de uma solução, é possível afirmar que a solução apresentará sempre ponto de congelamento menor do que o ponto de
congelamento do solvente puro. Esse fato é explicado pela diminuição da tendência de o solvente mudar do estado líquido para o estado sólido, na presença de um
soluto.
De maneira análoga à elevação do ponto de ebulição, existem equações que relacionam a variação de temperatura de congelamento com a quantidade de soluto presente
na solução.
*
ΔTf = T − T
f f
Sendo:
Tf → temperatura de congelamento do l quido na solu í çã o
T
∗
f
→ temperatura de congelamento do l quido puro í
IMPORTANTE
Importante observar que, pela fórmula apresentada, a quantidade ΔTf será positiva, mas representa uma redução na temperatura de congelamento. Assim, por exemplo,
Existe uma relação entre a diminuição da temperatura de congelamento e a quantidade de soluto presente, dada pela sua molalidade (m):
ΔTf = Kf m. α. i
Sendo:
De maneira similar à elevação da temperatura de ebulição, existe uma relação entre a variação da temperatura de congelamento e a variação de entalpia de fusão do
líquido, ΔHf:
*2
R . T
f
ΔTf ≈ . α. i. xB
ΔHf
Sendo:
−1
R → constante do g á s ideal=8,314 J . mol .K
−1
T
*
f
í
→ temperatura de congelamento do l quido puro, em Kelvin
Vamos repetir os exemplos anteriores, com a mesma solução, mas agora para calcular a variação de temperatura de congelamento.
Veja o exemplo:
Pergunta
Uma solução preparada com 1 mol de sacarose em 180 gramas de água apresenta a temperatura de congelamento reduzida em relação à temperatura de congelamento da
água pura. A sacarose tem solubilização total e não libera íons em solução, tendo em vista se tratar de um composto covalente (α = 1; i = 1). Calcule a variação de
temperatura de congelamento para essa solução utilizando: a) a constante crioscópica da água (Kf = 1,86 K.kg.mol-1); b) a fração molar do soluto e a variação de entalpia de
vaporização da água
RESOLUÇÃO
a) Primeiro, calculamos a molalidade do soluto:
n soluto 1 mol −1
m = = = 5 ,555 mol. kg
massa do solvente ( kg ) 0,18 kg
Com a molalidade do soluto, calculamos a variação da temperatura de congelamento (lembre-se de que representa uma redução na temperatura de congelamento):
−1 −1
ΔTf = Kf m. α. i = 1,86 K. kg. mol . 5,555 mol. kg = 10,33K
Sabendo que a água pura congela a 0°C ou 273,15K, A temperatura de congelamento para essa solução será:
Observe que os valores são aproximados para a variação da temperatura de congelamento, seja pelo cálculo a partir da constante crioscópica, seja com a utilização dos
dados termodinâmicos para o solvente. Em termos práticos, utiliza-se a constante crioscópica para a maioria dos problemas envolvendo a redução da temperatura de
congelamento de uma solução.
PRESSÃO OSMÓTICA
A pressão osmótica está ligada ao processo de osmose. Vamos entender o que é a osmose?
RESPOSTA
Osmose é a passagem de um solvente (líquido) através de uma membrana semipermeável (membrana que permite apenas a passagem do solvente), de um meio menos
concentrado (diluído) para o meio mais concentrado.
Uma membrana de uma célula é um sistema permeável à passagem de líquidos (solvente). O transporte passivo através da membrana de uma célula acontece através do
processo de osmose.
Imagem: Shutterstock.com
O processo de osmose ocorre até que as concentrações dos dois compartimentos se igualem. Ao deslocar o solvente do compartimento mais diluído para o mais
concentrado ocorre, gradativamente, uma elevação da concentração no meio diluído (em virtude da perda de solvente) e de um aumento da diluição do compartimento mais
concentrado (em virtude do aumento na quantidade de solvente). Esse deslocamento de solvente acarretará igualdade de concentrações em algum momento do processo.
COMENTÁRIO
A osmose é interrompida quando a igualdade de concentração é alcançada. Mas também é possível cessar o processo de osmose, aplicando-se uma pressão adequada ao
compartimento mais concentrado. Essa pressão de equilíbrio ao processo de osmose é denominada pressão osmótica.
Assim, a pressão osmótica é a pressão que se deve aplicar à solução mais concentrada para não deixar o solvente atravessar a membrana semipermeável, ou seja, para
impedir o processo de osmose.
A osmoscopia ou osmometria é a medida da pressão osmótica das soluções. Essa pressão é deduzida por uma relação matemática bastante simples:
Π =[soluto]⋅R ⋅ T ⋅ α. i
Sendo:
Pergunta 1
Calcule a pressão osmótica de uma solução de sacarose com concentração 10 mols.m-3 a uma temperatura de 30°C.
RESOLUÇÃO
A sacarose é um açúcar muito solúvel e não iônico. Assim α = 1 e i = 1:
Pergunta 2
Calcule a pressão osmótica de uma solução salina preparada pela dissolução de 30 mols de cloreto de sódio (NaCl) em um volume total de solução de 1000 litros (1m3) em
uma temperatura de 50°C.
RESOLUÇÃO
O cloreto de sódio é um composto iônico que ao se dissociar libera o dobro de espécies e relação ao composto não dissociado.
Conheça agora um pouco sobre as propriedades coligativas e os parâmetros físico-químicos relacionados, bem como aplicações dessas propriedades na área químico-
farmacêutica. Vamos lá!
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. UMA SOLUÇÃO É PREPARADA PELA ADIÇÃO DE 0,5 MOL DE UM SOLUTO NÃO VOLÁTIL EM 99,5 MOLS DE ÁGUA. A PRESENÇA
DE UM SOLUTO PROMOVE ABAIXAMENTO DO POTENCIAL QUÍMICO, AUMENTO DA ENTROPIA E AUMENTO DA ESTABILIDADE DO
MEIO LÍQUIDO. A ÁGUA PURA, NAS MESMAS CONDIÇÕES DA SOLUÇÃO, POSSUI PRESSÃO DE VAPOR DE 380 TORR. INDIQUE A
ALTERNATIVA QUE MOSTRA O ABAIXAMENTO DA PRESSÃO VAPOR EM VIRTUDE DA ADIÇÃO DO SOLUTO.
A) Δp = 1,9 torr
B) Δp = 190 torr
C) Δp = 0,5 torr
D) Δp = 99,5 torr
E) Δp = 99 torr
2. A PRESSÃO OSMÓTICA CORRESPONDE A UMA PRESSÃO APLICADA AO SISTEMA DE FORMA QUE HÁ UMA INTERRUPÇÃO DO
DESLOCAMENTO ESPONTÂNEO DO SOLVENTE DO MEIO MAIS DILUÍDO PARA O MEIO MAIS CONCENTRADO, PROCESSO
CONHECIDO COMO OSMOSE. UMA SOLUÇÃO DO AÇÚCAR FRUTOSE, QUE É UM COMPOSTO COVALENTE E QUE NÃO SE
DISSOCIA, É PREPARADA COM A DISSOLUÇÃO TOTAL DE 15 MOLS DA SUBSTÂNCIA EM 2000 LITROS DE SOLUÇÃO (2 M3), SOB
UMA TEMPERATURA DE 27 °C. INDIQUE A OPÇÃO QUE MOSTRA A PRESSÃO OSMÓTICA ASSOCIADA A ESSA SOLUÇÃO. DADOS: R
= 8,314 J.MOL-1.K-1
A) Π = 37413Pa
B) Π = 3367Pa
C) Π = 1684Pa
D) Π = 18706Pa
E) Π = 2000Pa
GABARITO
1. Uma solução é preparada pela adição de 0,5 mol de um soluto não volátil em 99,5 mols de água. A presença de um soluto promove abaixamento do potencial
químico, aumento da entropia e aumento da estabilidade do meio líquido. A água pura, nas mesmas condições da solução, possui pressão de vapor de 380 torr.
Indique a alternativa que mostra o abaixamento da pressão vapor em virtude da adição do soluto.
A variação de pressão, Δp, é calculada a partir da fração molar do solvente na solução. Assim:
99,5
*
Δp = p − p → Δp = 380 − 380 × = 1,9 torr
100
2. A pressão osmótica corresponde a uma pressão aplicada ao sistema de forma que há uma interrupção do deslocamento espontâneo do solvente do meio mais
diluído para o meio mais concentrado, processo conhecido como osmose. Uma solução do açúcar frutose, que é um composto covalente e que não se dissocia,
é preparada com a dissolução total de 15 mols da substância em 2000 litros de solução (2 m3), sob uma temperatura de 27 °C. Indique a opção que mostra a
A partir dos dados do problema, podemos aplicar a equação para o cálculo da pressão osmótica:
T = 27 + 273 = 300 K
α=1
i=1
[soluto] = 7,5 mol.m3
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo, verificamos o conceito de diagramas de fases e de sua importância para a identificação das condições de prevalência de uma fase sobre as demais, em
uma substância pura, sob diferentes condições de pressão e temperatura do sistema.
O menor potencial químico, associado a uma fase, é o critério de prevalência e de estabilidade. A importância do potencial químico não reside apenas nos diagramas de
fases. Vimos esse parâmetro no comportamento termodinâmico das misturas e nas soluções. As soluções ideais utilizam a Lei de Raoult para a determinação da pressão de
vapor do solvente, enquanto a Lei de Henry é aplicada em solutos em soluções diluídas ideais.
As propriedades coligativas também são explicadas pelo menor potencial químico das soluções em relação ao solvente puro, permitindo maior estabilidade da fase líquida
quando há a presença de um soluto não volátil. Essas propriedades são: o abaixamento da pressão de vapor, a elevação da temperatura de ebulição, a diminuição da
temperatura de congelamento e a pressão osmótica.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ATKINS, P; DE PAULA, J. Físico-Química – Fundamentos. 6. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2017.
EXPLORE+
Busque por vídeos sobre Propriedades Coligativas na internet para mais informações sobre o assunto estudado.
CONTEUDISTA
Bruno Cavalcante Di Lello
Cinética química e enzimática
Bruno Cavalcante Di Lello
Descrição Os princípios da cinética química e suas aplicações no estudo das reações enzimáticas.
Propósito Embora as leis de velocidade sejam primariamente desenvolvidas para transformações químicas, elas apresentam
ampla aplicação também na cinética enzimática. A identificação das leis de velocidade reacionais, dos fatores que
alteram esse parâmetro e das intervenções que um profissional pode realizar para acelerar um processo são
conhecimentos necessários para diversas áreas, tanto em química quanto nas ciências médicas e de engenharia.
Preparação Antes de iniciar o estudo deste conteúdo, tenha em mãos uma calculadora científica ou use a calculadora de seu
smartphone/computador.
Objetivos
Módulo 1 Módulo 2
Módulo 3 Módulo 4
meeting_room Introdução
A viabilidade das transformações físicas e químicas são analisadas sob duas óticas —
termodinâmica e cinética. Na abordagem termodinâmica, são avaliadas as trocas de energia
envolvidas, sob a forma de calor e trabalho, além da espontaneidade da transformação. Em
termodinâmica, utilizamos a primeira e a segunda lei, além das energias livres de Gibbs e de
Helmholtz, para avaliar a viabilidade de um processo e se uma transformação é favorável no
sentido direto, isto é, dos reagentes para os produtos.
Já a abordagem cinética avalia a velocidade com que um processo ocorre e os fatores que afetam
essa velocidade. Em cinética, são estabelecidas leis e relações entre as quantidades
transformadas por unidade de tempo. Como podemos retardar ou acelerar um processo? Como os
catalisadores afetam a velocidade de uma transformação? Essas são questões abordadas em
cinética química.
1 - Velocidade de reação e os fatores que afetam esse parâmetro
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a velocidade de reação e os fatores que afetam esse parâmetro.
1) Δ[R] = [R] f inal − [R] inicial → V aria ção da concentra ção de um reagente
△[R]
é
3) V elocidade m dia da rea ção = −
△t
Observe o sinal negativo na expressão da velocidade média. Esse sinal tem como objetivo tornar a
velocidade uma grandeza positiva. Vamos entender?
Como os reagentes são consumidos na reação, a variação da concentração dos reagentes é sempre
negativa, isto é, Δ[R] representa uma diminuição de quantidade, Δ[R] = quantidade negativa. O sinal
negativo na equação 3 assegura que a expressão de velocidade seja positiva. Não existe velocidade
reacional negativa!
Embora seja mais comum expressar a velocidade da reação em termos do desaparecimento dos
reagentes, a velocidade também pode se basear na variação da quantidade de produto, Δ[P]. Nesse
caso, como a variação da quantidade de produto representa uma grandeza positiva, temos a
velocidade reacional baseada na variação do produto descrita como:
Para especificar a velocidade média em que uma reação ocorre (em função de um dos reagentes ou de
um dos produtos), devemos identificar em qual espécie se baseia esse cálculo.
(Δ[H 2 ]) 1 (Δ[H I ])
= − ×
Δt 2 Δt
Para normatizar as várias maneiras de se expressar a velocidade de uma reação, utiliza-se a velocidade
média única de uma reação sem especificar a espécie. Dessa forma, para a reação aA + bB → cC + dD,
a velocidade média única é dada por:
A divisão pelos coeficientes estequiométricos leva em conta as relações numéricas entre os vários
participantes da reação. Vejamos dois exemplos a seguir:
Exemplo 1
segundos. Qual a velocidade média, em função do N2, considerando esse intervalo de tempo? Calcule
também a velocidade média reacional em função do H2 e do NH3. Qual a velocidade média única?
Resolução
−3 −1 −2 −1
Δ[R] = (8 × 10 mol. L ) − (10 mol. L )
−3 −1
Δ[R] = −2 × 10 mol. L
Para expressar a velocidade média da reação em função das demais espécies, devemos relacionar
suas quantidades com a quantidade do N2:
1 mol de N 2 ↔ 3 mols de H 2
1 mol de N 2 ↔ 2 mols de N H 3
Pelas relações mostradas, observamos que, para cada mol de N2 consumido, haverá um consumo de 3
mols de H2. Para o NH3, há a produção de 2 mols para cada mol de N2 consumido.
é
V el. m dia em f un ção é
do H 2 = 3 × vel. m dia em f un ção do N 2
−5 −1 −1
é
V el. m dia em f un ção do H 2 = 6 × 10 mol. L .s H2
é
V el. m dia em f un ção é
do N H 3 = 2 × vel. m dia em f un ção do N 2
−5 −1 −1
é
V el. m dia em f un ção do N H 3 = 4 × 10 mol. L .s N H3
é
V el. m dia em f un ção do N 2 = 2 × 10
−5
mol. L
−1
.s
−1
N2
é
V el. m dia em f un ção do H 2 = 6 × 10
−5
mol. L
−1
.s
−1
H2
é
V el. m dia em f un ção do N H 3 = 4 × 10
−5
mol. L
−1
.s
−1
N H3
Ainda que seja correta do ponto de vista técnico, a expressão da velocidade em função de diferentes
componentes reacionais leva a valores diferentes. Para normatizarmos a velocidade média reacional,
devemos dividir a velocidade em função de um componente pelo seu coeficiente estequiométrico,
obtendo-se a velocidade média única, conforme vimos anteriormente. Com isso, para esse exemplo:
1 1 1
V . m dia é única = V . m. N 2 = V . m. H 2 = V . m. N H 3
1 3 2
1 1 1
−5 −1 −1 −5 −1 −1 −5 −1 −1
é
V . m dia única = (2 × 10 mol. L .s ) = (6 × 10 mol. L .s ) = (4 × 10 mol. L .s )
1 3 2
−5 −1 −1
é
V . m dia única = 2 × 10 mol. L .s
Sabemos que
−1
△[H I ] (−0, 5mmol. L HI)
−1 −1
é
V el. m dia da rea ção em f un ção do H I = − → − = 0, 05mmol. L .s HI
△t 10s
−1 −1
0, 05mmol. L .s
−1 −1
é
V el. m dia em f un ção do H 2 = = 0, 025mmol. L .s H2
2
1 1
V . m dia é única = V . m. H I = V . m. H 2
2 1
1 1
−1 −1 −1 −1 −1 −1
é
V . m dia única = × 0, 05mmol. L .s = × 0, 025mmol. L .s = 0, 025mmol. L .s
2 1
A velocidade instantânea no instante 5 semanas é dada pela tangente da curva no ponto que assinala
5 semanas. Para o instante de 10 semanas, precisamos obter a tangente da curva nesse ponto. Se
desejarmos estabelecer mais velocidades instantâneas, devemos obter a reta tangente no tempo que
representa aquele instante de velocidade.
Comentário
Observe que a inclinação para 5 semanas é maior do que para 10 semanas. Isso mostra que a velocidade instantânea para 5
semanas (maior quantidade de reagente) é superior à velocidade em 10 semanas (menor quantidade de reagente).
−1
△X 0, 076 − 0 0, 076mol. L
−3 −1 −1
V el. inst. (5 semanas) = [ ] = [ ] = [ ] = 6, 33 × 10 mol. L . semana
△Y 12 − 0 12 semanas
−1
△X 0, 045 − 0 0, 045mol. L
−3 −1 −1
V el. inst. (10 semanas) = [ ] = [ ] = [ ] = 2, 65 × 10 mol. L . semana
△Y 17 − 0 17 semanas
O tratamento matemático em variações infinitesimais é feito pelo cálculo diferencial e integral, que não
é o escopo deste conteúdo. Utilizando o cálculo, a velocidade instantânea é expressa como a derivada
da concentração da espécie em função do tempo. Desse modo, temos:
d[R]
â
1) V elocidade instant nea em f un ção do reagente = −
dt
d[P ]
â
2) V elocidade instant nea em f un ção do produto =
dt
Saiba mais
Um fato importante que devemos ter em mente é que, em um ambiente reacional, ocorrem trilhões e trilhões de colisões entre as
moléculas reagentes em um intervalo pequeno de tempo. No entanto, apesar desse número elevado de colisões, muitas são não
efetivas, isto é, não levam à obtenção de produto.
Uma parcela pequena desses choques leva, efetivamente, à obtenção de produtos. São colisões
denominadas efetivas. Os fatores que ampliam a parcela de colisões efetivas irão tornar a velocidade
reacional mais elevada.
As colisões efetivas entre o radical livre cloro (Cl) e o NOCl deve produzir gás cloro (Cl2) e óxido nitroso
(NO). As colisões não efetivas não produzirão nenhuma substância.
Dois exemplos de fatores que aumentam o número de choques efetivos ou colisões efetivas entre os
reagentes são a temperatura e a concentração.
Fatores que afetam a taxa da reação.
Embora haja vários fatores que afetam a taxa de uma reação, vamos olhar mais detalhadamente para
cinco dos principais: concentração dos reagentes, superfície de contato, energia de ativação, uso de
catalisador e temperatura.
Observe, na figura a seguir, que a velocidade da reação é mais elevada no início do processo de
transformação (maior quantidade de reagente) e vai se tornando mais vagarosa ao longo do tempo,
conforme as concentrações de reagentes vão diminuindo.
Quanto mais finamente dividido for um sólido, maior a superfície de contato. A superfície de contato
leva em conta a soma de todas as superfícies das partículas geradas na “moagem” de determinada
substância sólida.
Pós finamente divididos têm maior superfície de contato que uma mesma massa de sólido sem
moagem. Isso justifica o fato de o cimento ser um “reagente” sólido (utilizado em construções)
constituído por um pó muito fino. Um cimento com moagem grosseira não seria tão efetivo no
processo de solidificação para dar liga ao concreto, por exemplo.
Atenção!
De forma simplificada, a Ea constitui uma barreira energética para a formação de produtos. Reações com Ea menores tendem a
ter uma taxa reacional mais elevada, tendo em vista que a barreira de energia é menor. Maiores energias de ativação levam a
taxas reacionais mais lentas.
A energia de ativação está presente tanto em reações exotérmicas como endotérmicas. Vejamos a
representação da energia de ativação:
A energia de ativação em reações exotérmicas e endotérmicas.
Devemos destacar que o catalisador é regenerado ao final da reação, não ocorrendo um efetivo
consumo desse componente, embora ele participe da reação como um coadjuvante.
Atenção!
Não há alteração na variação de entalpia (ΔH) ou na variação de energia livre de Gibbs (ΔG) de uma reação catalisada. A alteração
promovida pelos catalisadores é apenas sobre a energia de ativação, Ea.
Na área biológica, as enzimas exercem o papel de catalisadores em inúmeras reações bioquímicas.
Vejamos o gráfico a seguir:
Agora que você já viu o que significa a velocidade de uma reação e alguns dos importantes fatores que
afetam esses parâmetros, vamos realizar alguns exercícios!
Questão 1
A concentração [A], expressa em mol/L, de uma substância A que, em meio homogêneo, reage com
outra B, segundo a equação A + 2B → C, varia com o tempo t segundo a lei: [A] = 5 - 0,3t - 0,1t2, com t
medido em horas. Indique a alternativa que mostra a velocidade média dessa reação, em função do
reagente A, entre os instantes t1 = 0h e t2 = 2h.
A 0,5mol.L-1h-1 de A.
B 1mol.L-1h-1 de A.
C 4mol.L-1h-1 de A.
D -0,5mol.L-1h-1 de A.
E -1mol.L-1h-1 de A.
Primeiramente, devemos determinar o valor de [A]0 (concentração inicial) e o valor para [A]f
(concentração final). Utilizando a equação que relaciona a concentração com o tempo, teremos:
2 −1
t = 0h → [A] 0 = 5 − 0, 3 × 0 − 0, 1 × 0 = 5mol. L
2 −1
t = 2h → [A] f = 5 − 0, 3 × 2 − 0, 1 × 2 = 4mol. L
−1 −1 −1
△[A] = 4mol. L − 5mol. L = −1mol. L
Considerando que o intervalo de tempo foi de 2 horas, temos que a velocidade média em termos do
reagente A será:
−1
△[A] (−1mol. L )
é
−1 −1
V m dia = − = − = 0, 5mol. L .h de A
△t 2h
Questão 2
A temperatura de uma reação química afeta a velocidade reacional. A respeito da temperatura, do seu
efeito sobre a velocidade reacional e da justificativa para o comportamento observado, assinale a
alternativa correta.
Quando há uma elevação da temperatura do sistema, ocorre um aumento da energia cinética das
moléculas reagentes. Desse modo, uma maior parcela de moléculas reagentes tem energia suficiente
para alcançar ou superar a energia de ativação da reação. A energia de ativação é uma barreira
energética para a conversão de reagentes em produtos. Com mais moléculas superando essa
barreira, há um aumento da taxa reacional, ou seja, a velocidade da reação aumenta.
2 - Mecanismos de reação e as leis cinéticas
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os mecanismos de reação e as leis cinéticas.
Primeiras palavras
A velocidade de uma reação química é um parâmetro determinado a partir de dados experimentais. A
pesquisa acerca da velocidade de uma transformação busca relacionar a concentração dos reagentes
em um determinado momento com a velocidade instantânea. A partir da coleta e análise de dados, é
possível estabelecer uma equação que relaciona a velocidade com a concentração dos reagentes.
Veremos, neste módulo, as leis de velocidade, a ordem de uma reação e dos reagentes, o tempo de
meia-vida, além de alguns conceitos importantes em cinética química.
Uma reação que é representada de forma simples pode ter uma lei de velocidade complexa, tendo em
vista a análise de seu mecanismo completo. Vejamos o exemplo da reação do gás hidrogênio com o
bromo gasoso, produzindo brometo de hidrogênio. A reação é bastante simples, quando descrita em
termos de sua equação química:
H 2(g) + Br 2(g) → 2 H Br (g)
3/2
k [H 2 ][Br 2 ]
v =
′
[Br 2 ] + k [H Br]
Em geral, somente a visualização da equação que representa a transformação química não permite
identificar o mecanismo (ou os mecanismos) do processo.
Reações elementares
Em uma reação elementar, a representação da equação indica o número de moléculas que reagem
efetivamente e que são importantes no estabelecimento da lei da velocidade. A molecularidade de uma
reação elementar indica esse número de moléculas. Vejamos a reação elementar a seguir:
H + Br 2 ⟶ H Br + Br
Essa reação elementar pode ser considerada bimolecular, na qual temos duas partículas reagentes, ou
seja, o H se choca com o Br2 para originar os produtos, HBr e Br. Por outro lado, em uma reação
unimolecular, apenas uma molécula se decompõe, reorganiza seus átomos e origina os produtos
reacionais.
A decomposição do ciclopropano, gerando propeno, é um exemplo de reação elementar unimolecular.
O produto reacional depende apenas da molécula de ciclopropano.
Uma reação elementar unimolecular do tipo A → P terá uma lei de velocidade descrita como:
v = k[A]
Para uma reação elementar bimolecular do tipo A + B → P, a lei de velocidade terá a forma geral:
v = k[A][B]
Onde:
v = velocidade da reação;
k = constante de velocidade;
[A] = concentração do reagente A;
[B] = concentração do reagente B.
Onde:
A = reagente;
I = intermediário;
P = produto;
k1 = constante de velocidade da etapa 1;
k2 = constante de velocidade da etapa 2.
O processo apresentado ocorre em duas etapas. Na etapa 1, o reagente A forma um intermediário (I).
Em seguida, na etapa 2, o intermediário transforma-se em produto (P). Cada etapa tem uma velocidade
de transformação. Para processos que ocorrem em múltiplas etapas, a etapa mais lenta será a
determinante para a velocidade reacional. No exemplo a seguir, temos a oxidação do brometo de
hidrogênio, cuja reação global é dada por:
Considerando que a etapa 1 é muito mais lenta do que as etapas 2 e 3, é correto estabelecer uma lei de
velocidade para a oxidação do HBr baseada nessa primeira etapa. Com isso, teremos:
v = k 1 [H Br][O 2 ]
O estabelecimento da lei de velocidade de uma reação deve levar em conta, de forma global, os
mecanismos envolvidos. Algumas simplificações podem e devem ser feitas para que tenhamos um
entendimento matemático adequado que relacione as concentrações, normalmente dos reagentes,
com a velocidade reacional.
Vamos identificar as leis das velocidades e alguns parâmetros importantes para a cinética química?
A lei de velocidade geral para uma reação do tipo A + B → P pode ser descrita como:
α β
V (reação) = k[A] [B]
Onde:
Para estabelecermos corretamente a lei de velocidade, devemos conhecer a ordem de cada reagente
que participa da reação.
O reagente N2O5 tem ordem 1, de forma que a lei de velocidade para essa reação é dada por:
V = k [N 2 O 5 ]
Ordem de um reagente
A ordem de um reagente indica a influência que a concentração desse reagente tem sobre a velocidade
de uma reação. Na lei da velocidade de uma reação, a ordem é o expoente aplicado na concentração de
determinado reagente. Conforme já mencionado, a ordem de uma reação é a soma das ordens de
todos os reagentes envolvidos no processo.
Para um reagente que tenha ordem zero em um processo, observa-se que a sua concentração
não tem nenhuma influência sobre a velocidade da reação. Dessa forma, se duplicamos ou
triplicamos a concentração de um reagente de ordem zero, a velocidade da reação não se
altera.
Ordem 1 expand_more
Para um reagente indica que a sua concentração influi de maneira direta sobre a velocidade da
reação. Desse modo, para um reagente de ordem 1, se duplicamos a sua concentração, a
velocidade da reação duplica; se triplicamos a sua concentração, a velocidade da reação
triplica. Qualquer alteração feita na concentração de um reagente de ordem 1 irá refletir
diretamente na velocidade reacional, com a mesma proporção.
Ordem 2 expand_more
Observe, no quadro a seguir, um resumo da influência das ordens dos reagentes sobre a velocidade
reacional:
Ordem Duplicação da concentração do reagente Triplicação da concentração do
Exemplo 1
a) Escreva a lei de velocidade para essa reação, considerando que a reação é de primeira ordem para o
H2 e de segunda ordem para o NO.
2
v = k[N O] [H 2 ]
b) A partir da lei da velocidade, faremos a substituição dos valores da constante de velocidade e das
concentrações de NO e de H2:
2 −4 −2 2 −1 −1 2 −1
v = k[N O] [H 2 ] → v = 6 × 10 mol L s × (0, 05mol. L ) (0, 01mol. L )
−8 −1 −1
v = 1, 5 × 10 mol. L .s
Exemplo 2
3
v = k[N 2 ][H 2 ]
Indique o efeito sobre a velocidade da reação se as concentrações dos reagentes forem triplicadas.
Resolução
−1
[N 2 ] = x mol. L
i
−1
[H 2 ] = y mol. L
i
3
v i = k. x. y
−1
[N 2 ] = 3x mol. L
2
−1
[H 2 ] = 3y mol. L
2
3
v 2 = k.3x. (3y)
3
v 2 = k3x.27y
3
v 2 = 81k. x. y
v 2 = 81v i
Já vimos que uma reação A + B → P tem uma lei de velocidade dada por:
α β
V (rea ção) = k[A] . [B]
Os dados de velocidade instantânea inicial versus a concentração dos reagentes permitem elaborar
tabelas que relacionam esses dois parâmetros. Vejamos a tabela a seguir, na qual são estabelecidas
várias velocidades (V1, V2, V3 ...Vn) versus as concentrações do reagente A (A1, A2, A3 ... An).
Concentração do reagente (mol/L) Velocidade inicial (mol/L.
2
V (rea ção) = k [A]. [B]
Exemplo
Para a reação 2 H2(g) + 2 NO(g) → N2(g) + 2 H2O(g) foram investigadas as velocidades iniciais de acordo
com as concentrações dos reagentes. Os dados levantados estão na tabela a seguir:
Experimento [H2]/mol.L -1 [NO]/mol.L -1 v /(mol.L -1 .s -1
Resolução
Devemos relacionar a influência das concentrações sobre a velocidade reacional. Vamos analisar
separadamente por experimento.
2
v = k[H 2 ][N O]
Leis das velocidades integradas, meia-vida e cálculo
das concentrações de reagentes
Por meio das leis das velocidades integradas, é possível quantificar o reagente restante em um
processo após um tempo de reação. As equações são baseadas na concentração do reagente genérico
A para as ordens mais importantes, ou seja, ordens 1, 2 ou zero.
d[A]
v = k[A] ou = −k [A]
dt
é
(f orma dif erencial para cin tica de primeira ordem)
2
d[A] 2
v = k[A] ou = −k[A]
dt
é
(f orma dif erencial para cin tica de segunda ordem)
d[A]
v = k ou = −k
dt
é
(f orma dif erencial para cin tica de ordem zero)
Embora úteis para o entendimento físico da cinética reacional, as formas diferenciais não permitem
diretamente o cálculo da quantidade de reagente após certo tempo de reação. Para determinarmos
essas quantidades, devemos realizar uma integração nas formas diferenciais, ou seja, obter as
equações integradas de velocidade.
A seguir, a tabela mostra as relações matemáticas das equações da velocidade integrada e do tempo
de meia-vida de acordo com a ordem do reagente.
[
0 [A] = [A]
0
− k × t t 1/2 =
0,
1 [A] = [A]
0
× e
−k×t
t 1/2 =
2
1 1
− = k × t t 1/2 =
[A] [A] 0 [A
ou
Ordem do reagente da velocidade integrada t½
[A] 0
[A] =
1 + k × t × [A] 0
Onde:
t = tempo;
k = constante de velocidade da reação.
Exemplo 1
A constante de velocidade, k, é um fator que não varia ao longo da reação. Para reações de primeira
ordem, o valor de k pode ser calculado a partir do tempo de meia-vida para a cinética de primeira ordem
como:
0, 693
Constante de velocidade para rea ções de ordem 1 → k =
t 1/2
Considerando que o tempo de meia-vida de decaimento do carbono-14 é de 5730 anos, seguindo uma
cinética de primeira ordem, calcule a constante de velocidade para essa reação.
Resolução
0, 693 0, 693
−4 −1
k = → k = = 1, 209 × 10 ano
t 1/2 5730 anos
A constante de velocidade para a cinética de primeira ordem tem a unidade t-1(tempo elevado ao
coeficiente -1).
Atenção!
Não confunda a constante de velocidade de uma reação química, k (minúsculo), com a constante de equilíbrio de uma reação
(também simbolizado pela mesma letra K, porém maiúscula). Embora os símbolos sejam os mesmos, são grandezas distintas,
utilizadas em diferentes situações na química.
Exemplo 2
velocidade, k = 1,209 x 10-4ano-1. Qual a quantidade de carbono-14 que restará após 3000 anos,
considerando uma quantidade inicial desse isótopo de 50mg?
Resolução
14
[A] = C inicial = 50mg
0
t = 3000 anos
−4 −1
k = 1, 209 × 10 ano
−4 −1
−1,209×10 ano ×3000anos
[A] = [50mg]e → [A] = 34, 82mg
Questão 1
A velocidade inicial de uma reação hipotética A + B → C foi medida para várias concentrações iniciais
de A e B, e os resultados experimentais foram os seguintes:
Para determinar o valor da constante, basta substituir os valores da tabela (em qualquer
experimento) na expressão da lei da velocidade e rearranjar a equação em função de k. Desse modo,
usando os dados do experimento 1:
2
v = k[A]
−5 −1 −1 −1 2
4 × 10 mol. L .s = k(0, 1mol. L )
−5 −1 −1
k = 4 × 10 mol. L .s
−3 −1 −1
= 4 × 10 mol . L. s
2 −2
0, 01mol . L
Questão 2
Comentário: Para uma reação de primeira ordem, o tempo de meia-vida é dado por:
0, 693
t 1/ =
2
k
0, 693
t 1/ = ≅ 1020 segundos
2
−4 −1
6, 8 × 10 s
3 - Parâmetros de Arrhenius e a influência da temperatura na velocidade de uma
reação
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os parâmetros de Arrhenius e a influência da temperatura na velocidade de uma
reação.
Constante de velocidade da reação e parâmetros de
Arrhenius
A velocidade de uma reação é influenciada pela variação de temperatura. Na maioria das reações, um
aumento de temperatura irá acelerar a velocidade reacional. Agora, veremos como a taxa de uma
reação é influenciada pelo aumento de temperatura e a metodologia para determinar os parâmetros de
Arrhenius associados à constante de velocidade.
Uma relação matemática bastante útil que mostra a associação da constante de velocidade com a
temperatura foi estabelecida como:
Onde:
k = constante de velocidade;
A = fator pré-exponencial ou fator de frequência;
Ea = energia de ativação da reação química;
R = constante do gás ideal, 8,314 J.mol-1 K-1, no Sistema Internacional de Unidades;
T = temperatura da reação em Kelvin.
Significa a energia cinética mínima necessária para que os reagentes atinjam um estado,
normalmente denominado complexo ativado, que dará origem aos produtos da reação. A
energia de ativação encontra-se no fator exponencial da expressão da constante de velocidade.
O conjunto de termos no fator exponencial representa a fração dos choques efetivos que irão
gerar os produtos da reação.
Vejamos a seguir exemplos que mostram como as diferentes temperaturas influenciam na velocidade
reacional.
Exemplo 1
A reação de primeira ordem CH3NC → CH3CN tem uma energia de ativação de 160kJ.mol-1 e um fator
pré-exponencial A igual a 3,98 x 1013s-1. Calcule a razão de velocidade entre a taxa mais lenta, a uma
temperatura de 25°C (298K), e a taxa mais rápida a uma temperatura de 35°C (308K).
Resolução
160000
13 −( )
k rápido 3, 98 × 10 × e 8,314×308 k rápido
= → = 8, 14
k lento 160000 k lento
−( )
13 (8, 314 × 298
3, 98 × 10 × e
Um aumento de apenas 10°C torna a reação mostrada 8,14 vezes mais rápida!
Exemplo 2
A reação de primeira ordem 2 N2O5 → 4 NO2 + O2 tem uma energia de ativação de 103,4kJ.mol-1 e um
fator pré-exponencial A igual a 4,94 x 1013s-1. Calcule a razão de velocidade entre a taxa mais lenta, a
uma temperatura de 25°C (298K), e a taxa mais rápida a uma temperatura de 35°C (308K).
Resolução
Nesse segundo exemplo, um aumento de 10°C levou a um aumento de 3,88 vezes na velocidade
reacional.
Atenção!
O fator de aumento da velocidade com a temperatura depende primordialmente da energia da ativação da reação. Veremos
adiante que energias de ativação muito elevadas tornam as reações mais sensíveis ao aumento de temperatura.
No próximo exemplo, vamos retomar a reação mostrada no exemplo 1 do tópico anterior, alterando
somente a energia de ativação com o uso de um catalisador. A reação será realizada a uma
temperatura constante de 35°C.
Exemplo 1
A reação de primeira ordem CH3NC → CH3CN tem uma energia de ativação de 160kJ.mol-1 (não
catalisada) e um fator pré-exponencial A igual a 3,98 x 1013s-1. Com o uso de um catalisador, a energia
de ativação foi reduzida para 158kJ.mol-1. Calcule a razão de velocidade entre a taxa mais lenta
(reação não catalisada) e a taxa mais rápida (reação catalisada). Ambas as reações foram realizadas
sob temperatura constante de 35°C (308K).
Resolução
158000
13 −( )
k rápido (catalisada) 3, 98 × 10 × e
8,314×308
k rápido
= → ≅ 2, 18
k lenta ã
(n o catalisada) −(
160000
) k lento
13 8,314×308
3, 98 × 10 × e
Exemplo 2
A reação de primeira ordem CH3NC → CH3CN tem uma energia de ativação de 160kJ.mol-1 (não
catalisada) e um fator pré-exponencial A igual a 3,98 x 1013s-1. O uso de um catalisador mais efetivo
reduziu a energia de ativação para 150kJ.mol-1. Calcule a razão de velocidade entre a taxa mais lenta
(reação não catalisada) e a taxa mais rápida (reação catalisada). Ambas as reações foram realizadas
sob temperatura constante de 35°C (308K).
Resolução
Nesse exemplo, houve uma redução de 10kJ na energia de ativação, utilizando um catalisador mais
efetivo. Veremos que o efeito sobre a velocidade reacional será mais importante, considerando que a
relação entre as constantes de velocidade pode ser escrita como:
150000
13 −( )
k rápido (catalisada) 3, 98 × 10 × e 8,314×308 k rápido
= → ≅ 50
k lento ã
(n o catalisada)
160000 k lento
−( )
13 (8, 314 × 308
3, 98 × 10 × e
A redução da energia de ativação de uma reação catalisada, quando comparada a uma reação não
catalisada, pode ser expressa por meio do gráfico a seguir:
Energia de ativação de uma reação catalisada e de uma não catalisada.
Saiba mais
Matematicamente, deve ser feito um ajuste entre as diversas velocidades e as diversas temperaturas reacionais. Por meio desse
ajuste, podemos estabelecer os valores de A e de Ea.
Ea
Onde:
a = −
Ea
R
= coeficiente angular da reta;
x =
T
1
;
b = lnA = coeficiente linear da reta.
Determinação dos parâmetros de Arrhenius por meio da equação da reta.
Para a determinação dos parâmetros por meio da equação da reta, deve-se tabular dados cinéticos da
velocidade reacional em diferentes temperaturas. Vejamos o exemplo para a determinar os parâmetros
de Arrhenius para a reação de decomposição do acetaldeído.
Exemplo 1
A velocidade da decomposição em segunda ordem do acetaldeído (etanal, CH3CHO) foi medida numa
Com os dados obtidos, devemos calcular lnk e 1/T, gerando uma nova tabela:
Na linha em que há os dados 1/T, multiplicamos os seus valores por 1000 por uma questão de
conveniência matemática. A partir da segunda tabela de dados, elaboramos um gráfico lnkversus 1/T.
A reta gerada tem uma inclinação negativa.
Ea
O coeficiente angular da reta formada é dado por − R
. Esse coeficiente é calculado como a tangente
do triângulo formado entre a reta (hipotenusa), o eixo x, ou seja, 1/T (cateto adjacente), e o eixo y, ou
seja, ln k (cateto oposto).
Comentário
Lembrando que os valores do eixo x estão multiplicados por 1000, desse modo, seus valores reais são 1000 vezes menores. Isso
significa que o eixo x que varia entre 1 e 1,5 tem seus valores reais situados entre 0,001 e 0,0015.
Vamos utilizar esses valores para calcular o coeficiente angular, utilizando a reta formada e a variação,
no eixo y, entre -4 e 5 e, no eixo x, entre 0,001 e 0,0014, conforme figura a seguir:
Dessa forma, teremos:
−E a △y −9
= =
R △x 0, 0004
−E a
= −22500
R
−E a = −22500 × 8, 314
−1
E a = 187065J . mol
Já vimos que, para o triângulo formado entre a reta e x, de 1 até 1,4, e y, de -4 até 5, temos (triângulo 1):
△y (−4) − (5) −9
â
T ri ngulo 1 : (1) = = = −22500
△x (0, 0014) − (0, 001) 0, 0004
Considerando que um segundo triângulo (triângulo 2) formado entre a mesma reta e x, entre 0 e 1,4, e y,
de -4 até lnA, é semelhante ao primeiro triângulo, teremos:
△y △y
(2) = (1)
△x △x
Ou seja:
27,5 11
A = e → 8, 77 × 10
11 −1 −1
A = 8, 77 × 10 L. mol .s
−1
E a = 187kJ . mol
11 −1 −1
A = 8, 77 × 10 L. mol .s
Questão 1
Ea
−
k = A. e RT
Energia de ativação, Ea= Energia mínima necessária para a conversão de reagentes em produtos
(parâmetro de Arrhenius)
Fator pré-exponencial, A = total de colisões entre as moléculas (colisões efetivas e não efetivas,
parâmetro de Arrhenius)
Questão 2
A energia de ativação exerce uma importante influência na velocidade reacional. Assinale a
alternativa correta acerca desse parâmetro e de sua contribuição na velocidade de uma
transformação química.
4 - Cinética enzimática
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever a cinética enzimática.
Primeiras palavras
A cinética enzimática segue, de forma geral, as mesmas leis estabelecidas para a cinética química.
Alguns aspectos que diferenciam a cinética enzimática são a possibilidade de formação de
intermediário e a existência de um pré-equilíbrio na etapa de formação do intermediário.
Nesse contexto, é importante saber que muitas etapas em uma reação levam a problemas
matemáticos bastante complexos para descrever o comportamento cinético de um processo.
Adotaremos as simplificações necessárias para uma melhor descrição desse tópico.
A = reagentes;
I = intermediário;
P = produto;
ka = constante de velocidade da primeira etapa;
kb = constante de velocidade da segunda etapa.
d[A]
vR = = −k a [A]
dt
Observe que essa primeira relação depende somente da concentração do reagente e da constante de
velocidade da primeira etapa.
Observe que essa segunda relação depende da concentração do reagente, da constante de velocidade
da primeira etapa, da concentração de intermediário formado e da constante de velocidade da segunda
etapa. Nesse caso, teremos:
d[P ]
vI = = k b [I ]
dt
Nessa última relação, temos que a velocidade de formação do produto depende do intermediário e da
constante de velocidade da segunda etapa.
Atenção!
As relações anteriores são expressões de velocidade, baseadas em variações infinitesimais tanto da concentração quanto do
tempo. Para termos as relações das quantidades com o tempo, devemos utilizar as relações integradas.
Leis de velocidade integradas para concentrações de reagente,
intermediário e produto
Na cinética via intermediário, temos três componentes que variam a sua concentração ao longo do
processo. Para cada termo (reagente, intermediário e produto) há uma equação de velocidade
integrada. Vamos a essas equações:
O reagente obedece a uma cinética de decaimento de primeira ordem. Considerando que, na primeira
etapa, temos uma constante de velocidade dada por ka, o decaimento do reagente será expresso por:
−k a t
[A] = [A] 0 . e
Onde:
ka
−k a t −k b t
[I ] = . (e − e ). [A] 0
kb − ka
−k b t −k at
ka e − kb e
[P ] = {1 + }. [A] 0
kb − ka
O desenvolvimento das equações acima mostra que o reagente A sempre decai as suas quantidades
até chegar a um patamar mínimo. Por sua vez, o intermediário I aumenta a sua concentração até um
valor máximo, seguido por um decréscimo em sua concentração até um patamar mínimo. O produto
aumenta a sua concentração até um patamar máximo.
O comportamento das três espécies pode ser visualizado na figura a seguir. Neste gráfico, considerou-
se ka= 5kb, ou seja, a primeira etapa é 5 vezes mais rápida do que a segunda etapa.
Onde:
O pré-equilíbrio somente pode ser considerado se as velocidades da primeira etapa forem muito mais
elevadas (reações mais velozes) do que a velocidade de decaimento do intermediário em produto.
Desse modo, há uma “acumulação” do intermediário em equilíbrio com os reagentes.
O intermediário lentamente decai para a formação do produto, ou seja, a conversão da segunda etapa é
mais vagarosa em comparação ao pré-equilíbrio da etapa inicial.
A + B ⇌ I → P
Considerando que as reações são de primeira ordem para cada componente, temos:
[I ]
K = í
→ cons tan te de equil brio da etapa 1
[A][B]
[I ] = K[A][B]
ka
′
K =
′
→ ção entre K, k a
rela e k
a
k
a
d[P ]
vP = = k b [I ] = k b K[A][B]
dt
d[P ] k b k a [A][B]
vP = = k b [I ] → v P ≈ → v P ≈ k[A][B]
′
dt ka + kb
Onde k é uma constante cinética global que combina todas as demais constantes:
kb ka
k =
′
k + kb
a
Observe que a expressão final para a velocidade de formação do produto não possui o termo [I]. Não é
desejável que a expressão final para a velocidade de formação de produto contenha o termo de
concentração do intermediário! Isso ocorre em virtude da difícil determinação da concentração ao
longo do percurso reacional.
Exemplo 1
Uma reação que ocorre em duas etapas apresenta um pré-equilíbrio entre o intermediário e as
moléculas reagentes e é dada por:
a ′
1 etapa : 2A ⇌ I (k a para a rea ção direta e k a ção inversa)
para a rea
a
2 etapa ã
: I + B → P (k b para a convers o em produto )
Resolução
A expressão final para a velocidade de formação do produto não deve conter o termo [I], tendo em vista
a dificuldade de se estabelecer exatamente a concentração do intermediário. Analisando as duas
etapas reacionais:
Com isso, chegamos à expressão final para a lei de velocidade de formação do produto:
Na primeira etapa, temos ka e ka’ como constantes de velocidade das reações direta e inversa
A cinética enzimática.
Onde:
A concentração total de toda a enzima no meio é dada pela quantidade de enzima livre, [E], somada à
quantidade de enzima ligada ao substrato, [ES]. Essa concentração total também é igual à
concentração inicial da enzima no processo, [E]0.
0
[E] = [E] + [ES]
ou
0
[E] = [E] – [ES]
k a [E] 0 − [ES][S]
[ES] =
′
k + kb
a
Depois de algumas etapas matemáticas:
Etapas matemáticas
k a ([E] 0 − [ES])[S]
[ES] =
′
ka + kb
′
k a [ES] + k b [ES] = k a [E] 0 [S] − k a [ES][S]
′
k [ES] + k b [ES] + k a [ES][S] = k a [E] 0 [S]
a
′
(k a + k b + k a [S])[ES] = k a [E] 0 [S]
(k a [E]] [S])
0
[ES] =
′
(k a + k b + k a [S])
k a [E] 0 [S]
[ES] =
′
k + k b + k a [S]
a
Da segunda etapa da enzimólise, vem que a velocidade de formação do produto é dada por:
d[P ]
= k b [ES]
dt
Se reduz a
Rearranjando:
′
k + kb
a
kM =
ka
d[P ] k b [S][E] 0
= → velocidade de f orma ção de produto
dt k M + [S]
Por outro lado, se a concentração do substrato decai a um valor em que kM >>>>> [S], a lei de
velocidade de formação de produto se reduz a:
Exemplo 1
Resolução
d[P ]
á
= k b [E] 0 → velocidade m xima da enzim lise ó
dt
−3
1, 2 × 10 × (0, 138)
k b [E] 0 = = 1, 66 × 10
−3
mol. L
−1.
s
−1
á ó
= vel. m x. da enzim lise
0, 10
Questão 1
Uma reação consecutiva e elementar que ocorre via intermediário tem as concentrações do reagente,
[A], do intermediário, [I], e do produto, [P], se alterando ao longo do processo. A conversão do reagente
no intermediário é um pouco mais lenta do que a conversão do intermediário em produto. A reação
pode ser representada por:
A→I→P
A respeito das concentrações das espécies ao longo da reação, assinale a alternativa correta:
Na cinética via intermediário, a espécie I alcança um máximo de sua concentração em tmáx. A partir
desse ponto, sua concentração começa decrescer até sua total conversão em produto.
Questão 2
A 1,5 x 10-3mol.L-1.s-1
B 0,5 x 10-3mol.L-1.s-1
C 0,15 x 10-3mol.L-1.s-1
D 1,2 x 10-3mol.L-1.s-1
E 1,33 x 10-3mol.L-1.s-1
d[P ]
= k b [E] 0 = 2 × 10
−3
mol. L
−1
.s
−1
á ó
(velocidade m xima da enzim lise)
dt
0,1mol.L-1:
−3
d[P ] k b [S][E] 0 d[P ] 2 × 10 × 0, 1 −3 −1 −1
= → = = 1, 33 × 10 mol. L .s
dt k M + [S] dt 0, 05 + 0, 1
Considerações finais
Neste conteúdo, verificamos o conceito de cinética química, das leis de velocidade reacionais e dos
fatores que influenciam esse parâmetro. A cinética química e suas leis podem ser expandidas para a
cinética enzimática, visto que muitos parâmetros e conceitos são comuns.
A cinética enzimática utiliza um mecanismo via intermediário, com dependência de sua velocidade da
concentração do substrato e da enzima, consonante com o modelo de Michaelis-Menten.
headset Podcast
Agora, o especialista Bruno Di Lello encerrará este conteúdo com um resumo e apontará as principais
aplicações da cinética química e enzimática nas indústrias química, farmacêutica e biotecnológica.
Confira!
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Para dar continuidade ao seu estudo, assista ao vídeo Introduction to kinetics – Energy and enzymes,
disponível no canal da Khan Academy no YouTube.
Referências
ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3. ed.
Porto Alegre: Bookman, 2007.
ATKINS, P.; DE PAULA, J. Físico-Química: Fundamentos. 6. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2017.
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