Caso Do Povo Indígena Xukuru e Seus Membros vs. Brasil
Caso Do Povo Indígena Xukuru e Seus Membros vs. Brasil
Caso Do Povo Indígena Xukuru e Seus Membros vs. Brasil
CASO DO POVO
INDÍGENA XUKURU
E SEUS MEMBROS
VS. BRASIL
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO
INDÍGENA XUKURU
E SEUS MEMBROS
VS. BRASIL
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Presidente
Ministra Rosa Weber
Conselheiros
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho
Mauro Pereira Martins
Richard Pae Kim
Salise Monteiro Sanchotene
Marcio Luiz Coelho de Freitas
Jane Granzoto Torres da Silva
Giovanni Olsson
Sidney Pessoa Madruga
João Paulo Santos Schoucair
Marcos Vinícius Jardim Rodrigues
Marcello Terto e Silva
Mário Henrique Aguiar Goulart Ribeiro Nunes Maia
Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho
Secretário-Geral
Gabriel da Silveira Matos
Diretor-Geral
Johaness Eck
2022
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
SAF SUL Quadra 2 Lotes 5/6 – CEP: 70070-600
Endereço eletrônico: www.cnj.jus.br
DEPARTAMENTO DE MONITORAMENTO E Coordenadora Executiva
FISCALIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO Andréa Vaz de Souza Perdigão
E DO SISTEMA DE EXECUÇÃO DE MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS (DMF) EQUIPE UMF/CNJ
Supervisor do DMF e da UMF Luiz Victor do Espírito Santo Silva, Camila
Conselheiro Mauro Pereira Martins Curado Pietrobelli, Natália Faria Resende
Castro e Alcineide Moreira Cordeiro
Coordenador
Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi EQUIPE DMF/CNJ
Adriana Kelly Ferreira de Sousa, Alessandra
Juiz Auxiliar da Presidência Amâncio Barreto, Alexandre Padula, Jannuzzi,
Edinaldo César Santos Júnior Alisson Alves Martins, Ana Clara Rodrigues da
Silva, Anália Fernandes de Barros, Ane Ferrari
Juiz Auxiliar da Presidência
Ramos Cajado, Arthur Dias Avelino, Camilo
João Felipe Menezes Lopes
Pinho da Silva, Caroline Xavier Tassara, Carolini
Juiz Auxiliar da Presidência Carvalho Oliveira, Danielle Trindade Torres,
Jônatas dos Santos Andrade Emmanuel de Almeida Marques Santos, Helen
dos Santos Reis, Isadora Brandão Araújo
Juíza Auxiliar da Presidência da Silva, Jessica Sales Lemes, João Pedro
Karen Luise Vilanova Batista de Souza Figueiredo dos Reis, Joaquim Carvalho Filho,
Diretora Executiva Joseane Soares da Costa Oliveira, Karla Cariz
Natália Albuquerque Dino de Castro e Costa Barreira Teodosio, Karla Marcovecchio Pati,
Larissa Lima de Matos, Liana Lisboa Correia,
Chefe de Gabinete Lino Comelli Junior, Mariana Py Muniz, Melina
Renata Chiarinelli Laurino Machado Miranda, Nayara Teixeira Magalhaes,
UNIDADE DE MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO Roberta Beijo Duarte, Sirlene Araujo da Rocha
DAS DECISÕES DA CORTE INTERAMERICANA DE Souza, Thaís Gomes Ferreira, Valter dos Santos
DIREITOS HUMANOS (UMF) Soares, Wesley Oliveira Cavalcante, Isabelle
Cristine Rodrigues Magalhães, Thandara de
Coordenador Institucional
Camargo Santos e Winnie Alencar Farias
Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi
Coordenadora Científica
Flávia Piovesan
SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Projeto gráfico
Eron Castro
FICHA TÉCNICA
Coordenação Técnica
Mauro Pereira Martins
Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi
Elaboração
Flávia Piovesan
Isabel Penido de Campos Machado
Lívia Cristina Perez Marques
Andrea Vaz de Souza Perdigão
Camila Curado Pietrobelli
Renata Chiarinelli Laurino
Natália Albuquerque Dino
Natália Faria
Luís Victor do Espírito Santo Silva
Isabelle Cristine Rodrigues Magalhães
Thandara Santos
Winnie Farias
FICHA CATALOGRÁFICA
C755c
84 p.: il.
ISBN: 978-65-5972-086-6 (Digital)
ISBN:978-65-5972-090-3 (Impresso)
(Sistema Interamericano de Direitos Humanos)
CDD: 340
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1 TEMAS CENTRAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
ANEXO A - RESOLUÇÃO N. 453, DE 22 DE ABRIL DE 2022 . . . . . . . . . . . . . . . . 52
ANEXO B - RESOLUÇÃO N. 454, DE 22 DE ABRIL DE 2022 . . . . . . . . . . . . . . . . 56
ANEXO C - RECOMENDAÇÃO N. 123, DE 7 DE JANEIRO DE 2022 . . . . . . . . 69
ANEXO D - ATO N. 451/2022, DA PRESIDÊNCIA DO TRF5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
ANEXO E - PLANO DE AÇÃO APRESENTADO PELA UMF/
CNJ NA MISSÃO A PERNAMBUCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 9
APRESENTAÇÃO
Com imensa satisfação, o Conselho Nacional de Justiça promove a publicação do presente
sumário executivo, ao encontro da série de publicações voltadas ao Sistema Interameri-
cano de Direitos Humanos.
O Estado brasileiro foi condenado pela violação do direito à garantia judicial de prazo razo-
ável, previsto no artigo 8.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH), em
relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento e pela violação do direito à proteção judicial,
bem como do direito à propriedade coletiva, previsto nos artigos 25 e 21 da CADH, em
relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento, em detrimento do Povo Indígena Xukuru.
A importância das terras para os povos tradicionais ancora-se nos conceitos de integridade
e sobrevivência. O dever constitucional de proteção dos seus direitos está delineado – de
forma não exaustiva – nos preceitos do artigo 231 da Constituição Federal de 1988, que
assegura o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas à sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, assim como os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar
todos os seus bens (CF, 1988, artigo 231, caput).
Ademais, em 2021, o CNJ instituiu o Grupo de Trabalho “Direitos Indígenas: acesso à justi-
ça e singularidades processuais”. Dentre os seus objetivos, destacam-se: a realização de
estudos dirigidos e sugestão de proposta de recomendação sobre os direitos indígenas; o
desenvolvimento de roteiro de atuação judicial baseado em boas práticas na condução de
processos judiciais envolvendo direitos indígenas; e a organização de publicação voltada
ao aperfeiçoamento dos cursos de formação de magistrados na temática indígena. Como
fruto dos trabalhos do grupo, que contou com a participação de lideranças indígenas e
especialistas na temática, foi aprovada pelo Plenário do CNJ a Resolução CNJ n. 454 de
22 de abril de 2022, a qual “Estabelece diretrizes e procedimentos para efetivar a garantia
do direito ao acesso ao Judiciário de pessoas e povos indígenas”.
A Resolução CNJ n. 454/2022 foi inspirada pelos mais importantes instrumentos interna-
cionais a respeito do tema, notadamente a Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(CADH), a Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Convenção
para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, a Convenção sobre a Pro-
teção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da Unesco, o Pacto Interna-
cional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais (PIDESC), o Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos (PIDCP), e, ainda, o conteúdo da Declaração das Nações Unidas
sobre os Direitos dos Povos Indígenas e da Declaração Americana sobre os Direitos dos
Povos Indígenas, resultando em uma norma em estreito alinhamento com os parâmetros
internacionais que salvaguardam os direitos dos povos indígenas.
Corte IDH, cuja decisão apresenta estândares interamericanos de direitos humanos es-
timados para a solução de outras lides nacionais. Assim é que o diálogo entre as Cortes
deverá concorrer para que o Poder Judiciário nacional cumpra com o seu compromisso de
delinear políticas judiciárias que promovam a garantia efetiva dos deveres constitucionais
e convencionais de promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas.
1 TEMAS CENTRAIS
1 Na sentença, a Corte IDH adota a grafia “Xucuru” para identificação do povo indígena. Provavelmente, esse referencial
foi adotado na época em que o caso foi levado ao SIDH pelos peticionários. Atualmente, o povo indígena vem se autoiden-
tificando com a grafia “Xukuru” e com a especificação “do Ororubá” (em referência à serra que é simbólica no território).
LOUREIRO, DANTAS e SILVA relembram que “(...)o povo Xukuru, ao longo do tempo, já foi identificado por Sukuru, Xucuru,
Shucuru, Xacururu e Xacurru. Neste artigo, empregamos nas grafias do nome deste povo e de uma de suas principais
lideranças, as consoantes “x” e “k” em reverência ao seu modo preferencial de se autoidentificar, respectivamente, como
“Xukuru” e “Xicão”” (LOUREIRO; DANTAS; SILVA, 2022, p. 527). Ademais, a adoção preferencial da referida grafia com “k” é
também defendida por Edson Silva com base na norma culta da “Convenção para grafia dos nomes tribais”, estabelecida
pela Associação Brasileira de Antropologia/ABA (SILVA, 2017, p. 105).
16 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Nesse contexto, com fundamento nos direitos à propriedade coletiva, ao usufruto exclusivo
e à integridade individual e coletiva do Povo Indígena Xukuru, a Comissão admitiu o caso,
em 29 de outubro de 2009. Em 28 de julho de 2015, a CIDH emitiu o Relatório de Mérito,
formulando recomendações ao Estado brasileiro. Contudo, não constatados avanços
substanciais sobre o cumprimento das recomendações, em 16 de março de 2016, a CIDH
submeteu o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos. A Corte IDH condenou o
Brasil pela violação aos artigos 8.1 (garantia judicial de prazo razoável), 25 (proteção ju-
dicial), 21 (propriedade coletiva), e ao art. 1.1 da CADH (dever geral de respeito e garantia
dos direitos consagrados).
Ponto Resolutivo 7: Esta Sentença constitui, por si mesma, uma forma de re-
paração.
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 17
Ponto Resolutivo 11: O Estado deve pagar as quantias fixadas nos parágrafos
o montante de US$1.000.000,00 (um milhão de dólares dos Estados Unidos
da América) para a constituição do fundo de desenvolvimento comunitário e
US$10.000,00 (dez mil dólares dos Estados Unidos da América) aos represen-
tantes do caso, a título de custas e indenizações por dano imaterial.
de modo que não sofram nenhuma invasão, interferência ou dano, por parte
de terceiros ou agentes do Estado que possam depreciar a existência, o valor,
o uso ou o gozo de seu território.
Ponto Resolutivo 11: O Estado deve pagar as quantias fixadas nos parágrafos
o montante de US$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares dos Estados Unidos
da América) para a constituição do fundo de desenvolvimento comunitário e
US$10.000,00 (dez mil dólares dos Estados Unidos da América) aos represen-
tantes do caso, a título de custas e indenizações por dano imaterial (CORTE
IDH, 2018).
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 19
O resumo da sentença foi publicado no Diário Oficial da União n. 177, relativo ao dia 13
de setembro de 2018, e em sua íntegra em alguns dos principais sites do governo federal,
como no do Ministério das Relações Exteriores e no do Ministério da Mulher, Família e
Direitos Humanos. Registramos que se trata do único ponto resolutivo da sentença pro-
ferida no presente caso reconhecido, pela Corte IDH, como de cumprimento integral pelo
Estado brasileiro (CORTE IDH, 2019).
2 Site de acesso livre, no qual o cidadão pode encontrar informações sobre como o dinheiro público é utilizado e se informar
sobre assuntos relacionados à gestão pública do Brasil.
3 Em consulta ao Portal da Transparência, no “Detalhamento do documento de Pagamento”, anotamos a seguinte informa-
ção: “Observação do documento PAGAMENTO DA SENTENCA E DAS CUSTAS PROFERIDA PELA CORTE INTERAMERICANA
DE DIREITOS HUMANOS, NO CASO POVO INDIGENA XUCURU VS. BRASIL. VALOR EM DOLARES U$ 1.010.000,00 (COTACAO
DO DOLAR DO DIA 20/12/2019 R$ 4,0771) - FONTE BACEN. PROCESSO 00135.208234/2018-13.”
Fonte: https://bit.ly/3psdHKk. Acesso em 17 de ago. de 2022.
4 Em consulta ao Portal da Transparência, no “Detalhamento do documento de Pagamento”, anotamos a seguinte infor-
mação: “Observação do documento PAGAMENTO COMPLEMENTAR DA SENTENCA PROFERIDA PELA CORTE INTERAME-
RICANA DE DIREITOS HUMANOS E DAS CUSTAS, NO CASO POVO INDIGENA XUCURU VS. BRASIL. VALOR EM DOLARES
U$ 15.405,16 (COTACAO DO DOLAR DO DIA 30/01/2020 R$ 4,2517) - FONTE BACEN. PROCESSO 00135.208234/2018-13.”
Fonte: https://bit.ly/3Ceasxu. Acesso em 17 de ago. de 2022.
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 21
A TPU possui alcance universal no Sistema de Justiça brasileiro, de tal sorte que a sua
padronização deve ser observada pela Justiça Estadual, pela Justiça Federal e pela Justi-
ça do Trabalho, bem como pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
As classificações contidas na TPU são de observância obrigatória por esses órgãos e
poderão ser atualizadas por meio de demandas dirigidas ao Comitê Gestor das Tabelas
Processuais Unificadas do Poder Judiciário, órgão responsável pelo contínuo aperfeiço-
amento desses instrumentos.
Também se incluem nos objetivos da TPU (h) a identificação, com maior exatidão, do
tempo médio de duração de cada fase do processo e os seus maiores entraves; (i) a
identificação dos assuntos mais frequentes nos processos judiciais, possibilitando me-
lhor gestão do passivo pelos tribunais, além da adoção de medidas que previnam novos
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 23
Assim é que na última alteração da TPU, sob o Assunto “Direito Internacional” (Nível 1)
foi criado o Assunto “Sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos” (Nível 2)
e, no nível classificatório subsequente, foram criados os Assuntos específicos para cada
Sentença proferida pela Corte IDH (Nível 3). À luz do marco classificatório da TPU, todo
processo que tramite no Sistema de Justiça brasileiro que guarde relação com uma sen-
tença da Corte IDH deverá conter a anotação classificatória específica.
Em outros termos, com essa atualização da TPU, todas as instâncias do Poder Judiciário
brasileiro deverão classificar os processos em tramitação que guardem relação com os
casos julgados pela Corte IDH e anotar a vinculação ao caso correspondente julgado
pela Corte IDH, observada, evidentemente, a competência respectiva de cada órgão ju-
risdicional.
Frise-se que a incidência da UMF/CNJ vai ao encontro da sua atribuição de solicitar in-
formações e monitorar os processos e procedimentos relativos às reparações determi-
nadas pelo Tribunal Interamericano. Alinha-se, outrossim, ao teor da Recomendação CNJ
n. 123/2022, ato que recomenda aos órgãos do Poder Judiciário a observância dos trata-
dos e convenções internacionais de direitos humanos e o uso da jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
Especificamente, no marco do Caso do Povo Indígena Xukuru vs. Brasil, a UMF/CNJ dia-
logou com o Tribunal Regional Federal da 5ª Região para que as unidades judiciárias
5 Disponível em: Sistema de Gestão de Tabelas Processuais Unificadas. Acesso em: 15/12/2022.
24 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Trata-se de importante compromisso, iniciativa pioneira do TRF5 a ser sucedida pelas de-
mais Cortes nacionais, essencial ao adequado e célere acompanhamento das demandas
relacionadas às sentenças proferidas pelo Tribunal interamericano, permitindo o monito-
ramento e fiscalização dos processos judiciais em curso relacionados às sentenças da
Corte IDH, a partir da metodologia já adotada pela política judiciária do CNJ.
Dentre as suas entregas, o Grupo de Trabalho formulou minuta de texto normativo, no que
viria a ser aprovada como a Resolução CNJ n. 454 de 22 de abril de 2022, pela 348ª Sessão
Ordinária do Conselho Nacional de Justiça, a qual “Estabelece diretrizes e procedimentos
para efetivar a garantia do direito ao acesso ao Judiciário de pessoas e povos indígenas”.
A Resolução CNJ n. 454/2022 ganha extrema relevância na garantia dos direitos indígenas
uma vez que, de observância obrigatória por todos os tribunais brasileiros, compreende
uma série de medidas que devem ser cumpridas em processos judiciais que envolvam
direitos indígenas.
A normativa é regida, de acordo com seu artigo 2º, pelos princípios da autoidentificação
dos povos; do diálogo inter-étnico e intercultural; da territorialidade indígena; do reconheci-
mento da organização social e das formas próprias de cada povo indígena para resolução
de conflitos; da vedação da aplicação do regime tutelar; e da autodeterminação dos povos
indígenas, especialmente dos povos em isolamento voluntário.
Cumpre mencionar, por sua importância, que a Resolução CNJ n. 454/2022 discrimina as
lides judiciais em que é necessária a determinação, pelo juízo, de produção de exames
técnicos por antropólogo ou antropóloga com qualificação reconhecida, com a finalidade
de descrever as especificidades socioculturais do povo indígena e esclarecer questões
apresentadas no processo envolvendo os direitos indígenas.
Tal aspecto, anote-se, foi objeto de análise pela UMF/CNJ no tocante aos processos
judiciais em tramitação no Sistema de Justiça brasileiro, relacionados ao caso do Povo
Indígena Xukuru. De acordo com o levantamento realizado pela Unidade, em relação aos
processos relacionados aos direitos do Povo Indígena Xukuru, há casos em que houve a
realização de perícia antropológica. Por outro lado, também foi verificada a existência de
processos nos quais pende tal realização.
A Resolução CNJ n. 454/2022, ademais, prevê, em seu artigo 18, a necessidade de ser
dada ciência ao povo indígena interessado, nas ações judiciais cuja discussão venha a
alcançar terras tradicionalmente ocupadas por indígenas. De acordo com o mapeamento
das ações judiciais realizado pela UMF/CNJ, há ações tramitando no judiciário brasileiro
em que não foi dada ciência ao Povo Indígena Xukuru.
Cita-se, ainda, que o Grupo de Trabalho “Direitos Indígenas: acesso à justiça e singularida-
des processuais” do CNJ, dentro do escopo de sua Comissão Permanente, está elaborando
26 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Tal ato é fruto do projeto “Justiça Itinerante e Direitos Humanos”, realizado pelo CNJ, em
alinhamento com o Tribunal de Justiça do Estado do Amapá (TJAP), com participação do
Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8) e do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF1). O Fonit partiu de reinvindicações de lideranças indígenas realizadas durante
o projeto, sendo fruto de um diálogo travado diretamente entre os povos indígenas, seus
representantes e o CNJ, possuindo um caráter nacional e permanente.
Por fim, oportuno mencionar a Recomendação CNJ n. 123/2022, que recomenda aos ór-
gãos do Poder Judiciário a observância dos tratados internacionais de direitos humanos
e o uso da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, bem como a
necessidade de controle de convencionalidade. A Recomendação orienta expressamente
ao Judiciário brasileiro, em seu artigo 1º, inciso II, a priorização do julgamento dos pro-
cessos em tramitação relativos à reparação material e imaterial das vítimas de violações
a direitos humanos determinadas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em
condenações envolvendo o Estado brasileiro e que estejam pendentes de cumprimento
integral. Tal ato do CNJ ganha extrema importância no caso ora analisado, haja vista a
existência de processos ainda em tramitação no Poder Judiciário brasileiro.
De outro lado, a UMF/CNJ também identificou ações civis públicas e indenizatórias ajui-
zadas pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI (fundação pública, integrante da Ad-
ministração Indireta Federal) e pela União Federal, que buscam, em apertada síntese,
a desocupação, por terceiros não indígenas, do Território Indígena. Visam, ademais, à
condenação dos terceiros não indígenas à percepção de verbas indenizatórias a serem
pagas pela União pelas benfeitorias construídas de boa-fé no território.
Nesse contexto, a despeito da determinação da Corte IDH, é possível detectar que ainda há
processos em tramitação no Sistema de Justiça brasileiro relacionados ao caso. Outros-
sim, a partir da consulta pública aos processos judiciais relacionados ao caso, bem como
a partir do diálogo estabelecido com os peticionários, a UMF/CNJ obteve a informação
de que ainda existem terceiros no Território Indígena Xukuru.
Desde a sentença, a Corte IDH tem considerado que essas circunstâncias atentam contra
o dever de proteção territorial e de desintrusão6 do Território Indígena Xukuru e, por con-
sequência, dificultam o integral cumprimento dos Pontos Resolutivos 8 e 9 do julgado.
6 O conceito de desintrusão vem sendo pesquisado em inúmeros estudos acadêmicos que se debruçam sobre o caso.
Como exemplo, menciona-se a dissertação de mestrado de Dandara Viegas Dantas (DANTAS, 2018)
28 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
De posse dessas considerações, a seguir, apresentamos uma breve síntese dos processos
judiciais relacionados ao caso, bem como do seu atual estágio processual (em agosto
de 2022).
1.1 Ação Rescisória n. 6706/DF (STJ): ajuizada pela FUNAI em face de Milton
R. B. Didier e Maria Edite B. Didier. Objetiva a desconstituição do julgado pro-
ferido na ação de reintegração de posse 0002697-28.1992.4.05.8300. A ação
de reintegração de posse foi originalmente ajuizada por Milton e Maria Edite
Didier em face do Povo Indígena Xukuru. A sentença da justiça federal em fa-
vor dos Didier foi proferida em 24/7/1998 e confirmada em maio de 2003 pelo
TRF5. Em 2014, transitou em julgado a sentença proferida na reintegração de
posse, desde então executável de maneira definitiva a qualquer momento, em
desfavor do Povo Indígena Xukuru e em inobservância à Sentença proferida
pela Corte IDH.
7 “PROCESSUAL CIVIL. QUESTÃO DE ORDEM. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA UNIÃO PARA CONTRARRAZÕES AO RE-
CURSO ADESIVO. CERCEAMENTO DE DEFESA. DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. NULIDADE DO JULGAMENTO. 1. Autos
que retornaram do Superior Tribunal de Justiça - STJ em face da decisão do Ministro Relator para que seja apreciada, como
entender de direito, a alegação de nulidade processual, por ausência de intimação da União, comunicando de imediato a
decisão àquela Corte Superior. 2. A União peticionou aduzindo não lhe ter sido oportunizada a apresentação de contrarrazões
à Apelação interposta pelos Particulares ou mesmo a interposição de recursos de todas as decisões proferidas a partir
desse momento processual, tratando-se, assim, de grave nulidade, tendo em vista que o TRF5 deu provimento às Apelações
para reconhecer a sua legitimidade passiva. Pugna, for fim, que seja reconhecida a nulidade apontada, com o consequente
encaminhamento dos autos à Primeira Instância, para que lhe seja oportunizada a apresentação de contrarrazões aos
recursos apresentados. 3. Cuida-se de Ação Ordinária visando à anulação do processo administrativo de demarcação
de terras indígenas proposta contra a União, sendo a FUNAI, posteriormente, chamada a integrar a lide, na qualidade de
litisconsorte passiva necessária. 4. A sentença determinou a exclusão da União do polo passivo e, apesar de ela ter sido
devidamente intimada da interposição do recurso de apelação pela FUNAI, não há nos autos registro de sua intimação para
ofertar contrarrazões ao recurso adesivo dos particulares, que pugnou pela sua reinclusão à lide e condenação. Tampouco
houve intimação do acórdão que deu parcial provimento às Apelações. 5. Não sobejam dúvidas, portanto, de que restou
configurado o cerceamento do direito de defesa da parte, por violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa
(art. 5º LV da CF/88), bem assim de que houve efetivo prejuízo, na medida em que o julgamento que se seguiu agravou
a sua situação processual, porquanto a reintegrou à lide e a condenou a arcar com a indenização, conjuntamente com a
FUNAI. Questão de ordem acolhida para anular o acórdão, a fim de que seja intimada a União para oferecer contrarrazões
ao recurso e determinar a inclusão do processo em pauta para novo julgamento, com a máxima brevidade.” (TRF -5, 3ª
Turma, Ap. 0812757-50.2017.4.05.8300, Rel. Des. Federal Cid Marconi Gurgel de Souza, DJ 25/08/2022).
30 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Nesse sentido, no dia 16 de agosto de 2022, foi realizada reunião de trabalho com os
representantes da UMF/CNJ, do TRF5, do Povo Indígena Xukuru do Ororubá, do Conse-
lho Indigenista Missionário (CIMI), do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações
Populares (GAJOP), da Justiça Global, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos (MMFDH), do Ministério Público Federal (MPF), da Defensoria Pública da União
(DPU), da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE)8 e da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI)9.
8 As Profs. Carina Calábria e Flavianne Fernanda Bittencourt Nóbrega destacaram a existência de projeto de extensão
sobre SIDH na Faculdade de Direito da UFPE e compartilharam que, recentemente, foram editoras convidadas de um
número da Revista Direito e Praxis da UERJ que consolidou um dossiê sobre o caso. (REVISTA DIREITO E PRAXIS, 2022).
9 Participaram da reunião, pelo CNJ: Luís Lanfredi (Juiz Coordenador DMF/CNJ); Lívia Peres (Juíza Auxiliar/SEP/CNJ);
Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira (Juíza Auxiliar/STF); Natália Dino (Diretora Executiva DMF); Renata Laurino
(Chefe de Gabinete DMF); Flávia Piovesan (Coordenadora Científica da UMF); Isabel Penido de Campos Machado (então
Coordenadora Executiva da UMF/CNJ); Camila Curado Pietrobelli (Assessora Técnica da UMF/CNJ); Isabelle Cristine Ro-
drigues Magalhães (Assistente da UMF/CNJ). Pelo TRF5: Marco Bruno Miranda (Juiz Auxiliar da Presidência do TRF5);
Luciano Queiroz (Diretor da Subseção Judiciária de Arcoverde); Danielle Cavalcanti (Juíza Auxiliar da Corregedoria - TRF5);
Luiz Bispo (Juiz auxiliar da presidência). Pelos peticionários: Marcos Xukuru (Cacique do Povo Indígena Xukuru); Guilherme
Xukuru (Representante do Povo Indígena Xukuru e advogado), Irmã Michael Mary Nolan (Peticionária, Advogada do CIMI);
Adelmar Júnior (Representante da articulação dos povos indígenas nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo); Daniel
Maranhão (Advogado, representante do CIMI); Rodrigo Deodato (Representante dos peticionários e GAJOP); Caroline Hilgert
(Assessora Jurídica do CIMI, representante dos peticionários); Melisandra Tretin (Representante da Justiça Global). Pela
academia: Carina Calábria (Professora da UFPE) e Flavianne Nóbrega (Professora da UFPE). Pelas instituições de defesa
dos direitos indígenas: Polireda Madaly Bezerra de Medeiros (Procuradora Regional Federal e representante do MPF);
Francisco Assis Nascimento Nóbrega (Defensor Público Federal e representante da DPU). Pelo Estado: Juliana Leimig
(Representante MMFDH); Denis Rodrigues (Representante MMFDH). Pela FUNAI: Rafael Genari de Souza (Coordenação de
Assuntos Fundiários da FUNAI); Lucas Braga (Coordenador Substituto da Coordenação de Assuntos Fundiários da FUNAI),
Luiz Conde (Coordenador de Fiscalização da Diretoria de Proteção Territorial da FUNAI).
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 33
Cita-se, por sua importância, que os representantes do Povo Indígena Xukuru, notada-
mente o Cacique Marcos Xukuru, requereram um olhar mais atencioso do Estado quanto
à garantia dos direitos indígenas. Em especial, requereram a adoção de medidas e orien-
tações das instituições presentes em direção ao cumprimento da sentença emitida pela
Corte, a partir de um espaço dialógico. Manifestaram, também, a necessidade de proteção
estatal ao povo indígena e seu território, diante de constantes ameaças de violência que
vêm sofrendo no contexto do conflito fundiário deflagrado na região. Pontuaram, ainda,
a insegurança jurídica existente no caso do Povo Indígena Xukuru, haja vista a pendência
dos julgamentos das ações judiciais acima listadas. Por fim, destacaram a importância
de adoção de medidas que abarquem a garantia de direitos de todas os povos indígenas,
de modo que as ações adotadas não se restrinjam ao Povo Indígena Xukuru, nem apenas
aos casos que tramitam no Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
UMF/CNJ
2.Verificar, com os órgãos competentes do Poder Executivo, o acesso dos peticionários aos
autos dos processos administrativos relativos ao caso do Povo Indígena Xukuru;
5.Publicar o Sumário Executivo sobre o Caso do Povo Indígena Xukuru e seus membros
vs. Brasil, de forma a contribuir para a difusão dos parâmetros e reparações fixadas no
presente caso;
34 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
8.Promover o diálogo com o projeto de extensão da UFPE e com a Clínica de Direitos Hu-
manos da UFRN, com vistas ao aprofundamento da interlocução interinstitucional e do
intercâmbio da produção acadêmica sobre a matéria.
3.Enviar ofícios às Seções Judiciárias do TRF5 para a inclusão dos processos mapeados no
novo Assunto das Tabelas Processuais Unificadas (TPU) do CNJ, relacionando-os ao caso
do Povo Indígena Xukuru;
6.Aplicar, nos processos relativos ao caso, a Resolução CNJ 454/22, visando à garantia do
pleno acesso à Justiça pelo Povo Indígena Xukuru;
7.Criar, pela UMF do TRF da 5a Região, um plano de trabalho relativamente à atuação nos
processos judiciais relativos ao tema, em trâmite no TRF5;
10. Realizar capacitações sobre a sentença proferida no caso do Povo Indígena Xukuru e
seus membros vs. Brasil no âmbito de atuação do TRF5.
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 35
1. Participar das reuniões convocadas sobre o caso e sensibilizar as partes sobre o históri-
co de violência estrutural vivenciado pelos povos indígenas, em sua luta pela demarcação,
titulação e desintrusão dos territórios indígenas.
1.Considerando a atuação como amicus curiae perante a Corte IDH, apoiar na estruturação
de capacitações e difusão dos parâmetros interamericanos sobre direitos indígenas.
1.No âmbito dos processos administrativos em trâmite na FUNAI, dialogar com o Ministério
da Justiça e Segurança Pública para a obtenção de orçamento adicional para o pagamento
das indenizações pelas benfeitorias de boa-fé.
Ademais, como um dos atos de consolidação da visita institucional, foi realizado, no dia 18
de agosto, evento de adesão do TRF da 5ª Região ao Pacto Nacional do Judiciário pelos
Direitos Humanos, iniciativa do Conselho Nacional de Justiça. Na oportunidade, partici-
param os representantes do Conselho Nacional de Justiça10 e representantes do Tribunal
Regional Federal da 5ª Região11. Durante o evento, o presidente do TRF5 assinou ato que
formalizou o engajamento do Tribunal na transformação cultural que o pacto propõe à
magistratura, em favor da promoção dos direitos humanos do conjunto das decisões ju-
diciais. Por meio de cinco eixos de atuação, o Pacto propõe o fomento da jurisprudência
da Corte IDH e do controle da convencionalidade (respeito às convenções e aos tratados
internacionais de direitos humanos) nos julgamentos.
10 Participaram da reunião, representando o CNJ: Corregedora Nacional de Justiça, Ministra Maria Thereza de Assis Moura;
Conselheiro Mauro Pereira Martins (Supervisor/DMF); Conselheiro Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho; Conselheiro
Mário Goulart Maia; Juiz Luís Lanfredi (Juiz Auxiliar/CNJ); Juíza Lívia Peres (Juíza Auxiliar/CNJ); Juiz Daniel Vargas (Juiz
Auxiliar/CNJ); Juíza Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira (Juíza Auxiliar/STF); Juiz Eduardo Dantas (Juiz Auxiliar/
STF); Diretora Executiva DMF Natália Dino; Chefe de Gabinete DMF Renata Laurino; Isabel Penido (na época, Coordenadora
Executiva UMF Corte IDH); Coordenadora Científica UMF Corte IDH Flávia Piovesan.
11 Participaram da reunião, representando o TRF5: Edilson Nobre (Presidente/TRF5); Marco Bruno Miranda (Juiz Auxiliar
da Presidência/TRF5); Élio Siqueira Filho (corregedor-regional da Justiça Federal da 5ª Região); Luiz Bispo (Juiz da Seção
de Arcoverde); Rogério de Meneses Fialho Moreira (Desembargador/TRF5); e Alexandre Luna Freire (Desembargador/TRF5).
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 37
Fonte: CNJ.
Nos Encontros Nacionais do Poder Judiciário, dentre outros compromissos, são aprova-
das as Metas Nacionais e Específicas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça,
de natureza processual ou administrativa. As Metas Nacionais e Específicas conformam
exceção à ordem cronológica de julgamento nos tribunais pátrios e possibilitam o jul-
38 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
gamento preferencial no Sistema de Justiça, nos termos do art. 12, inciso VII, do §2º do
Código de Processo Civil brasileiro (CPC)12.
Em 2021, no 15º Encontro Nacional do Poder Judiciário, foram definidas as Metas vigentes
no ano de 2022, a seguir listadas:
12 CPC, Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir
sentença ou acórdão. [...]
§ 2º Estão excluídos da regra do caput:
VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça;
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 39
Assim, em consonância com o art. 12, §2º, VII, do Código de Processo Civil e no contexto
dos processos judiciais pendentes de julgamento, que guardam relação com o caso do
Povo Indígena Xukuru, a UMF/CNJ sugerirá à Corregedoria Nacional de Justiça, como Meta
a ser incluída em deliberação, votação e aprovação, para o ano de 2023, as temáticas de
direitos humanos, defensores de direitos humanos e direitos indígenas. Tal inclusão visa
à priorização do julgamento dos processos relacionados à temática em tela, incluindo,
inclusive, os acima analisados, relacionados à demarcação e à desintrusão do território
do Povo Indígena Xukuru.
Entre 20/04 e 02/06/2022, em um total de treze (13) aulas, a UMF/CNJ, ao lado da EN-
FAM e da Escola Paulista da Magistratura, realizou o curso de capacitação “Controle de
convencionalidade”. O primeiro curso de capacitação da UMF/CNJ em Direitos Humanos
e Controle de Convencionalidade correspondeu a uma das ações do Pacto Nacional do
Judiciário pelos Direitos Humanos.
Frise-se que os direitos dos povos indígenas adquiriram especial relevo no decorrer dessa
ação educativa. No segundo dia do curso (23/08), os 36 alunos acompanharam a audi-
ência do Caso Pueblos Indígenas Tagaeri y Taromenane vs. Ecuador, atividade sucedida
por uma aula vocacionada à análise dos argumentos apresentados na sessão pública e
ao compartilhamento de apontamentos.
Registre-se que, no último dia do curso, o painel do juiz e ex-presidente da Corte IDH, Edu-
ardo Ferrer, ressaltou a necessidade da defesa dos Direitos Econômicos, Sociais, Culturais
e Ambientais (DESCA) na jurisprudência interamericana. A temática acerca do Brasil e do
impacto transformador do Sistema Interamericano coube ao juiz Luís Lanfredi, coorde-
nador institucional da UMF/CNJ e do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do
Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (CNJ/DMF),
e à Professora Mariela Morales Antoniazzi, coordenadora do projeto Ius Constitutionale
Commune en América Latina (ICCAL) no Max-Planck-Institute for Comparative Public Law
and International Law (ENFAM, 2022).
Importa destacar que o curso foi coordenado pela Secretária-Geral da Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, juíza federal Cíntia Brunetta, pelo juiz do
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) José Henrique Rodrigues Torres, por Luís Geraldo
Sant’Ana Lanfredi (Coordenador Institucional da UMF), Flávia Piovesan (Coordenadora
científica da UMF), Isabel Penido de Campos Machado (então Coordenadora Executiva
da UMF), Renata Laurino (Chefe de Gabinete), Natália Dino (Diretora Executiva), Edinaldo
César dos Santos Junior (Juiz Auxiliar da Presidência) e Karen Luise Vilanova Batista de
Souza (juíza auxiliar da presidência do CNJ).
42 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Fonte: CNJ.
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 43
Fonte: CNJ.
Fonte: CNJ.
44 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Fonte: ENFAM.
5 CONSOLIDAÇÃO DOS
ENCAMINHAMENTOS
Diante do exposto, o CNJ irá publicar o Sumário Executivo sobre o Caso do Povo Indígena
Xukuru e seus Membros Vs. Brasil em seu sítio eletrônico14, sob a forma de publicação
devidamente diagramada e registrada com ISBN, de forma a contribuir para a difusão dos
parâmetros e reparações fixadas no presente caso.
Ademais, nos limites de suas atribuições, o CNJ se propõe aos seguintes encaminhamen-
tos, no tocante aos pontos resolutivos 8 e 9:
▶ Publicar o Sumário Executivo sobre o Caso do Povo Indígena Xukuru e seus mem-
bros vs. Brasil, de forma a contribuir para a difusão dos parâmetros e reparações
fixadas no presente caso;
14 C.f. https://www.cnj.jus.br/monitoramento-e-fiscalizacao-das-decisoes-da-corte-idh/ .
46 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
▶ Inserir o tema dos direitos indígenas nas próximas ações de capacitação promovidas
ou apoiadas pelo CNJ, atentando-se para a integração da voz dos peticionários e
da sociedade civil às iniciativas;
Para além dos compromissos assumidos por este Conselho Nacional de Justiça, repor-
tamos e registramos, a seguir, os compromissos assumidos e as ações inicialmente ma-
peadas na Reunião de Trabalho realizada em 16/08/2022:
▶ Enviar ofícios às Seções Judiciárias do TRF5 para a inclusão dos processos mape-
ados no novo Assunto das Tabelas Processuais Unificadas (TPU) do CNJ, relacio-
nando-os ao caso do Povo Indígena Xukuru;
▶ Aplicar, nos processos relativos ao caso, a Resolução CNJ 454/22, visando à garantia
do pleno acesso à Justiça pelo Povo Indígena Xukuru;
▶ Considerando a atuação como amicus curiae perante a Corte IDH, apoiar na estru-
turação de capacitações e difusão dos parâmetros interamericanos sobre direitos
indígenas.
REFERÊNCIAS
REVISTA DIREITO E PRAXIS. Diga ao povo e às cortes que avancem: eficácia e impactos
do caso do Povo Indígena Xukuru v. Brasil. Rio de Janeiro: UERJ, v. 13, n. 1, 2022. Dispo-
nível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/issue/view/2674/
showToc. Acesso em: 10 fev. 2023.
SILVA, Edson. Xukuru: memórias e história dos índios da Serra do Ororubá. Recife: UFPE,
2017. 105 p.
47
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 53
RESOLVE:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
CAPÍTULO II
DA COMPOSIÇÃO/REPRESENTAÇÃO
Parágrafo único. O Fórum terá pelo menos 1 (uma) reunião nacional anual,
ocasião em que poderão ser convidados a participar os integrantes dos vários órgãos do
Poder Público e da sociedade civil envolvidos com o tema.
CAPÍTULO V
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
50
56 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
53
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 59
RESOLVE:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
54
60 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Art. 3o Para garantir o pleno exercício dos direitos dos povos indígenas, compete
aos órgãos do Poder Judiciário:
VI – garantir a intervenção indígena nos processos que afetem seus direitos, bens
ou interesses, em respeito à autonomia e à organização social do respectivo povo ou
comunidade, promovendo a intimação do povo ou comunidade afetada para que
manifeste eventual interesse de intervir na causa, observado o disposto no Capítulo II da
presente Resolução;
55
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 61
manifeste eventual interesse de intervir na causa, observado o disposto no Capítulo II da
presente Resolução;
Seção I
Da autoidentificação
Seção II
Do diálogo interétnico e intercultural
Seção III
Da territorialidade indígena
56
62 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Seção IV
Da vedação da aplicação do regime tutelar
Seção V
Do respeito aos povos em isolamento voluntário
Art. 8o O Poder Judiciário deve garantir a não aproximação por terceiros aos povos
isolados, uma vez que a eventual iniciativa de contato deve partir exclusivamente desses
povos, em atenção ao princípio da autodeterminação e ao direito aos usos, costumes e
tradições, resguardados pela Constituição Federal.
57
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 63
Art. 9o Havendo indícios de que um processo judicial pode afetar povos ou terras
tradicionalmente ocupadas por indígenas, a Funai deverá ser instada a informar se o caso
atinge, ainda que de forma potencial, os direitos de povos isolados ou de recente contato,
assim como se existe restrição de uso vigente no referido território.
CAPÍTULO II
DAS ESPECIFICIDADES DO ACESSO À JUSTIÇA DOS POVOS INDÍGENAS
Art. 10. Para os fins desta Resolução, o ingresso em juízo de povos indígenas, suas
comunidades e organizações em defesa de seus direitos e interesses independe de prévia
constituição formal como pessoa jurídica.
Art. 11. São extensivos aos interesses dos povos, comunidades e organizações
indígenas as prerrogativas da Fazenda Pública, quanto à impenhorabilidade de bens,
rendas e serviços, ações especiais, prazos processuais, juros e custas, a teor do art. 40 c/c
o art. 61 da Lei no 6.001/1973.
Art. 12. Dar-se-á preferência à forma pessoal para as citações de indígenas, suas
comunidades ou organizações.
58
64 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Parágrafo único. O diálogo interétnico e intercultural deve ser feito por meio de
linguagem clara e acessível, mediante mecanismos de escuta ativa e direito à informação.
59
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 65
III – relação dos documentos analisados e outros elementos que contribuam para
o conjunto probatório;
Art. 15. Diante das especificidades culturais dos povos indígenas, devem ser
priorizados os atos processuais sob a forma presencial, devendo a coleta do
60
66 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
depoimento das pessoas indígenas ser realizada, sempre que possível e conveniente aos
serviços judiciários, no próprio território do depoente.
Art. 17. O Ministério Público e a Funai serão intimados para manifestar interesse
de intervir nas causas de interesse dos povos indígenas, suas comunidades e organizações.
Art. 18. Nas ações judiciais, inclusive possessórias, cuja discussão venha alcançar
terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, deve ser dada ciência ao povo indígena
interessado, com instauração de diálogo interétnico e intercultural, e oficiados à Funai e
ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para que informem sobre
a situação jurídica das terras.
Art. 19. Sempre que for necessário esclarecer algum ponto em que a escuta da
comunidade seja relevante, a autoridade judicial poderá recorrer a audiências públicas ou
inspeções judiciais, respeitadas as formas de organização e deliberação do grupo.
CAPÍTULO III
DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS INDÍGENAS
61
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 67
CAPÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 22. Na hipótese em que o CNJ seja instado a atuar para a implementação de
deliberações e recomendações da Corte Interamericana de Direitos Humanos e outros
órgãos internacionais de direitos humanos, os povos e as comunidades indígenas afetados
serão ouvidos pela Unidade de Monitoramento e Fiscalização instituída pela Resolução
CNJ no 364/2021, com a finalidade de compreender a sua perspectiva em relação aos
pontos que são objeto do litígio.
62
68 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Art. 23. O CNJ elaborará Manual voltado à orientação dos tribunais e magistrados
quanto à implementação das medidas previstas nesta Resolução.
63
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 69
CONSIDERANDO que o Código de Processo Civil em seu art. 8o dispõe que “ao
aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem
comum, resguardando e promovendo a dignidade humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”;
65
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 71
72 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
PRESIDÊNCIA
ATO Nº 451/2022
68
§1º. A UMF/JF5 será vinculada à Presidência do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5)
e composta pelo próprio Presidente, pelo Corregedor-Regional, assim como por magistrados federais e por
73
acadêmicos vinculados aos cursos jurídicos dos Estados jurisdicionados pela JF5EXECUTIVO
SUMÁRIO com interesse e
experiência na temática. CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
§2º. O Presidente do TRF5 poderá designar um magistrado para coordenar as atividades da
UMF/JF5. Art. 2º. Constituem funções da UMF/JF5:
I – monitorar os processos em curso na JF5 abrangidos pelos efeitos de sentenças, medidas
provisórias e opiniões consultivas da Corte Interamericana de Direitos Humanos e pelas recomendações da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, bem como supervisionar o respectivo cumprimento;
II – divulgar oficialmente, no âmbito da JF5, o teor das decisões e deliberações, em sentido amplo,
da Corte Interamericana de Direitos Humanos, apontando o possível impacto na prestação jurisdicional
exercida pelas Varas Federais e pelo TRF5;
III – oferecer consultoria técnica e apoio logístico às Varas Federais para qualificação da instrução
e aceleração do julgamento de processos abrangidos por decisões e deliberações da Corte Interamericana
de Direitos Humanos;
IV – propor a organização de mutirões ou ações de mediação ou conciliação, bem assim a atuação
da Rede de Inteligência ou dos Centros Locais de Inteligência, para tratamento adequado dos conflitos que
68
envolvam o cumprimento de sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos;
PLANO DE AÇÃO
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 75
.
76 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
0
REINTEGRAÇÃO DE POSSE ANULATÓRIA AÇÃO CIVIL PÚBLICA RESCISÓRIA INDENIZATÓRIA
*Mapeamento inicial dos processos, conforme consulta pública realizada nos sítios eletrônicos
do Tribunal Regional Federal da 5ª Região e do Superior Tribunal de Justiça.
Os pontos resolutivos 8 e 9 da sentença da Corte IDH relacionam- 18/08/22), de reunião de trabalho interinstitucional no TRF5
se, diretamente, a demandas judiciais em tramitação no TRF5. se insere no rol de iniciativas da UMF/CNJ.
Em consulta pública aos sites do TRF5 e no STJ, a UMF mapeou, 2. A conclusão da Missão deverá ser acompanhada da
inicialmente, 9 ações judiciais relacionadas à demarcação e à elaboração de um Relatório e o encaminhamento de um
desintrusão do Território Indígena Xukuru, no Município de Sumário Executivo à Corte IDH, contendo o monitoramento do
Pesqueira/PE. cumprimento da sentença e as iniciativas propostas pelo CNJ
São ações de reintegração de posse, anulatórias, ações civis para a sua integral efetivação.
públicas, indenizatórias, dentre outras. 3. No âmbito de atuação CNJ, verificou-se que a priorização do
A despeito da determinação da Corte IDH, ainda há processos julgamento de processos relacionados a direitos indígenas,
em tramitação e ainda existem terceiros no território Xukuru. aos direitos humanos e aos defensores de direitos humanos
Essas circunstâncias atentam contra o dever de proteção não constam do rol de Metas do Conselho Nacional de
territorial e de desintrusão do território Xukuru e, por Justiça para o ano de 2022. Desta forma, em consonância
consequência, impossibilitam o integral cumprimento dos pontos com o art. 12, §2º, VII, do Código de Processo Civil, propõe-se
resolutivos 8. e 9 da sentença. incluir, no rol de Metas do Conselho Nacional de Justiça, para
Além disso, a UMF obteve a informação de que a Comunidade o ano de 2023, a priorização de julgamento dos processos
Indígena Xukuru não estaria com acesso a processos relacionados a direitos indígenas, direitos humanos e
administrativos perante à FUNAI, relacionados à desintrusão do defensores de direitos humanos.
seu território, circunstância que demanda apuração acautelada 4. Aplicação, nos processos relativos ao caso, da Resolução
para a garantia do pleno acesso à Justiça pela Comunidade CNJ 454/22, visando à garantia do pleno acesso à Justiça
Indígena. pela Comunidade Indígena Xukuru.
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 77
Processos judiciais
relativos ao caso
da Comunidade Indígena
Xukuru vs. Brasil
1.1 Ação Rescisória nº 6706/DF (STJ): ajuizada pela FUNAI em face de Milton R. B. Didier e Maria Edite B. Didier. Objetiva a
desconstituição do julgado proferido na ação de reintegração de posse 0002697-28.1992.4.05.8300. A referida ação de
reintegração de posse foi originalmente ajuizada por Milton e Maria Edite Didier em face da Comunidade Indígena Xukuru. A
sentença da justiça federal em favor dos Didier foi proferida em 24/7/1998 e confirmada, em maio de 2003, pelo TRF5. Não foram
providos, no STJ, o Recurso Especial n. 646.933, em 6/11/2007, e, em instância final no STF, o Agravo Regimental no Recurso
Extraordinário n. 738.012. Em 2014, transitou em julgado a sentença, desde então executável de maneira definitiva a qualquer
momento, em desfavor da Comunidade Indígena Xukuru e em inobservância à Sentença proferida pela Corte IDH. A Ação
Rescisória encontra-se sob relatoria do Min. Ricardo Villas Bôas Cueva. Ação pendente de julgamento. Atual estágio processual:
autos conclusos para julgamento, desde junho de 2021.
1.2 Ação Ordinária nº 0002246-51.2002.4.05.8300 (12ª Vara Federal - Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5): ação ajuizada por
Paulo Pessoa Cavalcanti de Petribu, Helena Corrêa de Araújo Cavalcanti de Petribú, Paulo Pessoa Cavalcanti de Petribu Filho,
Maria Helena Reis Cavalcanti de Petribu, Miguel Cavalcanti de Petribú, Cristina Marta de Andrade Mello Cavalcanti de Petribú,
Jorge Cavalcanti de Petribu e Patrícia Monteiro Brennand Cavalcanti de Petribu que solicita a anulação do procedimento
administrativo de demarcação do Território Indígena Xukuru. Os autores alegam que a demarcação deve ser anulada porque não
haviam sido pessoalmente notificados para apresentar objeções ao processo administrativo. Em junho de 2010, em primeira
instância, o pedido foi julgado parcialmente procedente, excluindo a União como parte demandada e determinando que os
autores tenham o direito a receber indenização da FUNAI. Em segundo grau, o TR5 reformou a sentença: reconheceu a União
como parte do processo, reconheceu vícios no processo de demarcação, mas não o declarou nulo, e determinou o pagamento de
indenização aos demandantes. Interposto Recurso Especial, o STJ acolheu pedido para que o TRF5 se pronuncie sobre possível
nulidade em razão da ausência de intimação da União Federal para contrarrazões de Apelação. Assim, a ação foi remetida ao
TRF5 em 10/03/2022, e as partes foram intimadas para manifestação. Em 20/05/2022, o processo foi redistribuído por prevenção
para 3ª Turma - Des. Cid Marconi Gurgel de Souza. Atual estágio processual: autos conclusos para julgamento desde 23/05/2022.
1.3 Processo nº 0812757-50.2017.4.05.8300 (28ª Vara Federal – Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5): ação ajuizada por Maria
Edite Mota Didier e Milton do Rêgo Barros Didier, em desfavor da União e da FUNAI, pretendendo indenização pela terra nua e
pelas benfeitorias em imóvel inserido no Território Indígena Xukuru, objeto de demarcação. Pedido julgado parcialmente
procedente, em primeiro grau, para condenar a União ao pagamento da indenização pelo valor das benfeitorias, no montante de
R$ 684.019,24. O TRF5 proferiu Acórdão em agosto de 2021 pelo não provimento da apelação da União e dos particulares (a União
desistiu do recurso em julho de 2021). Acórdão de março de 2022 referente aos Embargos de declaração dos particulares, acolhido
apenas no tocante aos honorários. Particulares interpuseram Recurso Especial e Recurso Extraordinário em abril de 2022. Atual
estágio processual: em 06/07/2022, o Recurso Especial foi admitido, e as partes intimadas.
1.4 Ação Civil Pública nº 0800139-38.2020.4.05.8310 (28ª Vara Federal – Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5): ação movida pela
FUNAI em face de Maria das Montanhas Lima e outros. Objetiva a desocupação, pelos réus, do imóvel inserido no Território
Indígena Xukuru e o pagamento das benfeitorias de boa-fé. Em primeiro grau, foi reconhecida a perda de objeto em relação ao
pedido de desocupação. Os réus foram condenados na obrigação de não fazer, consistente na proibição de promover a
reocupação, a permanência, o acesso, a utilização e a negociação de área no interior da terra indígena, sob pena de multa diária;
e foi julgado procedente o pedido de consignação em pagamento do valor relativo às benfeitorias decorrentes da ocupação da
terra indígena. Atual estágio processual: processo pendente de julgamento em segunda instância e, desde 15/07/2022, os autos se
encontram conclusos para despacho.
78 SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL
Processos judiciais
relativos ao caso
da Comunidade Indígena
Xukuru vs. Brasil
2.1 Ação de reintegração de posse nº 0002697-28.1992.4.05.8300 (9ª Vara Federal - Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5); Recurso
Especial nº 646.933/PE (STJ): Milton do Rego Barros Didier e Maria Edite Mota Didier ajuizaram ação de reintegração de posse em
face da Comunidade Indígena Xukuru, em litisconsórcio com a Funai e a União. Os autores disseram-se donos do imóvel rural
denominado Caípe, com área de 300 ha, encravada no Território Indígena Xukuru. A sentença da justiça federal em favor dos Didier
foi proferida em 24/7/1998 e confirmada, em maio de 2003, pelo TRF5. Não foram providos, no STJ, o Recurso Especial n. 646.933, em
6/11/2007, e, em instância final no STF, o Agravo Regimental no Recurso Extraordinário n. 738.012. Em 2014, transitou em julgado a
sentença, desde então executável de maneira definitiva a qualquer momento, em desfavor da Comunidade Indígena Xukuru e em
inobservância à Sentença proferida pela Corte IDH.
2.2 Ação Civil Pública nº 0800173-13.2020.4.05.8310 (28ª Vara Federal – Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5): ação ajuizada pela
FUNAI, objetiva a desocupação de imóvel localizado no Território Indígena Xukuru e ocupado por Murilo Tenório de Freitas. Pugna,
ademais, pela consignação em pagamento dos valores devidos pelas benfeitorias de boa-fé. Em sentença, o réu foi condenado a
desocupar a área no interior da reserva indígena, bem como em obrigação de não fazer, consistente na proibição de promover a
reocupação, a permanência, o acesso, a utilização e a negociação de área no interior da terra indígena, bem como qualquer outra
forma de apropriação, uso ou destinação da área; e foi acolhido o pedido de consignação em pagamento do valor relativo às
benfeitorias de boa-fé decorrentes da ocupação da terra indígena. O processo transitou em julgado. Atual estágio processual: em
08/07/2022, o réu foi intimado da sentença.
3.1 Processo nº 0804673-65.2014.4.05.8300 – ação movida por Jose do Egito Inacio Teixeira em face da FUNAI (28ª Vara Federal –
Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5) com vistas à sua condenação ao pagamento de valores, reconhecidos administrativamente,
a título de benfeitorias realizadas no imóvel desapropriado, em razão de ter sido alcançado pela demarcação do território indígena
Xukuru. Na sentença, o juízo determinou o pagamento, pela FUNAI, de R$ 25.780,286. A FUNAI interpôs recurso de apelação, ao qual
foi negado provimento pelo TRF5. A FUNAI interpôs Recurso Especial, desprovido pelo STJ. Em 25/10/2018, o processo transitou em
julgado. Atual estágio processual : os valores foram adimplidos (pagamento dos requisitórios), e o feito executório foi extinto em
15/07/2020, com baixa definitiva em 22/07/2020.
3.2 Ação Civil Pública nº 0800153-85.2021.4.05.8310 (28ª Vara Federal – Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5), ajuizada pela
FUNAI com o objetivo de obter a desintrusão dos ocupantes da área identificada como ocupada por Margarida Cavalcanti da Silva,
representante do espólio de José Paulino da Silva. A FUNAI buscou tutelar interesses possessórios indígenas originários incidentes
sobre a declarada terra indígena Xukuru (Portaria 259/MJ/92), visando à obtenção de ordem de imediata desocupação da terra
indígena direcionado ao réu, para que proceda com a sua retirada da área de 7,06 hectares. Antes da citação, a autora comunicou a
desocupação voluntária do imóvel e requereu a extinção do feito sem julgamento do mérito por ausência de interesse, em razão da
perda superveniente do objeto. Atual estágio processual: sentença de extinção proferida em 19/07/2021, com baixa definitiva em
10/09/2021.
3.3 Processo nº 0800011-81.2021.4.05.8310 (28ª Vara Federal – Seção Judiciária de Pernambuco/TRF5): ação ajuizada por
Margarida Cavalcanti da Silva em face da FUNAI, objetivando, em síntese, o pagamento de indenização decorrente da efetivação de
interesses possessórios indígenas originários incidentes sobre a declarada terra indígena Xukuru (Portaria 259/MJ/92). Antes de
apresentada a resposta da ré, a autora requereu desistência da ação, e o processo foi extinto sem julgamento de mérito em
04/03/2021. Atual estágio processual: trânsito em julgado e baixa definitiva em 10/05/2021.
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 79
Solicitar íntegra do
Ação de "Grupo Tribal
Não foi oportunizada a produção de processo físico ao
reintegração Ação julgada Xucurus" consta
laudo pericial antropológico, de TRF5. Em consulta
de posse 0002697- procedente. Trânsito como requerido.
acordo com movimentação Pendente de averiguação pública, não consta
ajuizada por 28.1992.4.05.83 em julgado em https://tebas.jfpe.jus
processual constante na ação informação sobre o
terceiros não 00 (TRF-5) 28/04/2014. .br/consultaProcess
rescisória abaixo, que tramita no STJ. início do feito
indígenas os/resconsproc.asp
executivo.
FORÇA-TAREFA: processos
relacionados ao caso da
Comunidade Indígena Xukuru
BREVE DESCRIÇÃO
PROCESSOS EM FASE DE CONHECIMENTO
A Recomendação CNJ nº 123/22 dispõe,
1
Direcionamento de esforços para a entrega da prestação jurisdicional efetiva
em seu art. 1º, sobre a necessidade de
nos processos em fase de conhecimento e com relação direta ao caso da
"observância dos tratados e convenções
Comunidade Indígena Xukuru e seus membros vs. Brasil
internacionais de direitos humanos em
vigor no Brasil e a utilização da 1. Solicitação às Seções Judiciárias para inclusão dos processos mapeados em novo Assunto das
jurisprudência da Corte Interamericana de Tabelas Processuais Unificadas, relacionando ao caso da Comunidade Indígena Xukuru (Assunto: 6191
Direitos Humanos (Corte IDH) [...]" e sobre DIREITO INTERNACIONAL > 15104 Corte Interamericana de Direitos Humanos > 15105 Sentenças da
Corte Interamericana de Direitos Humanos > 15114 Caso Povo Indígena Xucuru e seus Membros vs.
"a priorização do julgamento dos
Brasil);
processos em tramitação relativos à
2. Verificação da conformidade dos processos em relação ao artigo 18 da Resolução CNJ n. 454, de 22
reparação material e imaterial das vítimas
de abril de 2022, e demais dispositivos;
de violações a direitos humanos
3. Verificação da conformidade dos processos em relação à realização de perícias antropológicas, nos
determinadas pela Corte Interamericana
moldes da Resolução CNJ n. 454, de 22 de abril de 2022;
de Direitos Humanos em condenações
envolvendo o Estado brasileiro e que 4. Criação, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, de um Plano de Ação com a definição de
estejam pendentes de cumprimento prazos e metas para a realização do julgamento dos processos;
integral". 5. Realização de capacitações sobre a sentença proferida no caso da Comunidade Indígena Xukuru e
seus membros vs. Brasil na Escola de Magistratura Federal da 5ª Região, em cooperação com a
A existência de processos judiciais UMF/CNJ;
pendentes relacionados à demarcação e à 6. Diálogo com a Corregedoria do Tribunal Regional Federal da 5ª Região para implementação da
desintrusão do Território Indígena Xukuru Recomendação 123 do CNJ em relação aos casos em curso, com adoção de providências para garantir a
priorização do julgamento dos processos relacionados à sentença, o controle sobre o prazo razoável de
em tramitação obstaculiza o cumprimento
duração e a aplicação da Res. CNJ 454/2022.
integral dos Pontos Resolutivos 8 e 9 da
sentença da Corte IDH. Nesse cenário, são PROCESSOS EM FASE DE EXECUÇÃO
listadas possíveis ações iniciais no quadro
2 Cumprimento integral dos processos em fase executiva que estejam em
ao lado.
consonância com a decisão da Corte IDH no caso da Comunidade Indígena
Xukuru e seus membros vs. Brasil
Como referência, adotamos a metodologia
utilizada por tribunais brasileiros para o 1. Solicitação às Seções Judiciárias para inclusão dos processos mapeados em novo Assunto das Tabelas
processamento de demandas Processuais Unificadas, relacionando ao caso da Comunidade Indígena Xukuru (Assunto: 6191 DIREITO
relacionadas a sentenças proferidas pela INTERNACIONAL > 15104 Corte Interamericana de Direitos Humanos > 15105 Sentenças da Corte
Corte IDH, sob o monitoramento da Interamericana de Direitos Humanos > 15114 Caso Povo Indígena Xukuru e seus Membros vs. Brasil);
UMF/CNJ. Em curso, citamos o exemplo do
2. Verificação da conformidade dos processos em relação ao artigo 18 da Resolução CNJ n. 454, de 22
Tribunal Regional do Trabalho da 5ª de abril de 2022, e demais dispositivos;
Região, em relação ao caso da Fábrica de
Fogos.
3. Verificação da conformidade dos processos em relação à realização de perícias antropológicas, nos
moldes da Resolução CNJ n. 454, de 22 de abril de 2022;
4. Criação, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, de um plano de ação com a definição de prazos
PROPOSTA PRINCIPAL
e metas para a realização da execução processual;
Julgamento dos processos que estão
em fase de conhecimento; 5. Realização de pactuações junto aos atores locais competentes para praticar todos os atos necessários
Cumprimento integral dos processos ao andamento dos feitos, até a completa desintrusão do Território Indígena Xukuru;
em fase de execução, que estejam
em consonância com a decisão da 6. Diálogo com a Corregedoria do Tribunal Regional Federal da 5ª Região para implementação da
Corte IDH. Recomendação 123 do CNJ em relação aos casos em curso, com adoção de providências para garantir a
. priorização do julgamento dos processos relacionados à sentença, o controle sobre o prazo razoável de
duração e a aplicação da Res. CNJ 454/2022.
SUMÁRIO EXECUTIVO
CASO DO POVO INDÍGENA XUKURU E SEUS MEMBROS VS. BRASIL 81
PLANO DE AÇÃO