Volume1 Parte2 Percpcao Ambiental BR 153 Rev
Volume1 Parte2 Percpcao Ambiental BR 153 Rev
Volume1 Parte2 Percpcao Ambiental BR 153 Rev
Percepção Ambiental
1.1. Introdução
O Estudo de Percepção Ambiental foi realizado entre as comunidades que interagem com a BR 153, na
região entre Porangatu e Anápolis, parte integrante do Estudo de Impacto Ambiental – EIA de Duplicação
da BR-153, Goiás, Subtrecho Porangatu (km 68,5) a Anápolis (km 435,4).
O estudo buscou registrar as percepções, as atribuições de valores e as atitudes das pessoas em relação à
rodovia. Compõe um exemplo das falas e representações dos indivíduos sobre as experiências cotidianas
vividas no uso e na convivência com a rodovia.
Exemplifica a construção histórica da relação socioeconômica de moradores, empresários e agentes
públicos com a BR 153 no processo de ocupação, desenvolvimento e integração produtiva do norte do
Estado de Goiás.
Vários fatores têm influencia na percepção e na interpretação individual sobre o meio ambiente, como
aponta ANDRE (2004). O propósito de construir um projeto numa área traz novos dados que contribuem
para que os residentes modifiquem suas imagens sobre o meio onde vivem. A intenção da construção do
projeto é transmitida pelo proponente do projeto e os dados sobre ele são veiculados através da mídia,
jornais, relatórios de estudos de impactos e audiências públicas. O processo de percepção individual
destaca certos elementos da informação combinado-os de modo real ou imaginário, contribuindo para a
formação de uma nova imagem mental do meio onde se vive incorporando o projeto.
De acordo com BAILLY (1977), a percepção da mensagem de um projeto forma uma imagem mental que
depende dos fatores individuais (personalidade; memória; experiências sociais, econômicas, culturais e
políticas; conhecimento ecológico; fatores fisiológicos e psicológicos), que são influenciados pelos filtros
sensoriais (experiências do mundo vivido) e filtros da comunicação.
Assim, para ANDRE (2004), o indivíduo submete a imagem do seu meio experienciado, do meio futuro sem
o projeto e do meio futuro com o projeto a fim de avaliar os riscos da mudança, assumindo ou não o
projeto. Essa análise individual de risco do projeto depende da relação de pertença do lugar (apropriação
Tomando por base as orientações metodológicas definidas para esse estudo de Percepção Ambiental, a
pesquisa iniciou-se com o reconhecimento de campo e a definição dos trechos diferenciados nas regiões
de entorno e ao longo da rodovia. Além disso, foram determinados os grupos sociais que mais interagem
com a rodovia em toda a sua extensão, estabelecendo grupos de entrevistados e trechos pesquisados,
procurando exemplificar as experiências socioeconômicas produzidas naquele espaço de vivência da
BR-153.
A coleta de dados foi organizada a partir da seleção de diferentes grupos de sujeitos, com residência e
atuações variadas. Esses grupos foram identificados para permitir melhor recobrimento das redes de
relações sociais, culturais e econômicas, nas áreas de domínio de cada segmento social, além de favorecer
a amostragem do estudo das percepções, valores e atitudes. Foi possível estabelecer nove (9) grupos de
entrevistados que compõem os grupos de análise do estudo. Esses são compostos por moradores,
empresários, agentes públicos e/ou usuários da estrada, nos municípios ao longo do eixo da BR-153,
sempre no trecho objeto desse estudo de Diagnóstico Ambiental.
Uma parte dos entrevistados corresponde aos moradores de cidades localizadas ao longo do eixo, como
Porangatu, Santa Tereza de Goiás, Uruaçu, Rialma, Jaraguá entre outras. Outros são moradores das
zonas rurais dos municípios dispostos ao longo do eixo da BR-153. O morador rural entrevistado nas
fazendas às margens da rodovia, e tendo declarado ser proprietário ou gerente do empreendimento
agropecuário ou agrícola foi classificado como parte do grupo dos agropecuaristas.
Proprietários ou gerentes de estabelecimentos comerciais da economia formal ou informal localizados nas
margens da rodovia correspondem ao grupo dos comerciantes. Completa ainda esse grupo alguns
comerciantes entrevistados nas áreas centrais das cidades, em grandes estabelecimentos comerciais que
têm grande dependência logística da BR-153.
Alguns grupos de sujeitos são formados por usuários freqüentes da BR-153, e os entrevistados foram
abordados nos pontos de parada de ônibus, oficinas mecânicas, restaurantes, postos de gasolina e/ou
outros tipos de estabelecimentos comerciais às margens da pista. Esses grupos foram entrevistados como
viajantes turistas, viajantes caminhoneiros e viajantes comerciais. Nesse último, foram incluídos os
motoristas de ônibus e os representantes comerciais que viajam no trecho.
Outro grupo de sujeitos entrevistados se refere aos agentes públicos, como, servidores de repartições ou
instituições públicas dos vários municípios do trajeto. Nesse grupo estão incluídos os vice-prefeitos,
secretários municipais, técnicos municipais de nível superior, policiais militares, policiais rodoviários
federais, oficiais do Exército, membros de sindicatos e associações, diretores de escolas públicas
municipais, entre outros.
Também foram entrevistados proprietários ou técnicos de nível superior com cargo de gerente de
indústrias, buscando estabelecer uma exemplificação para esse grupo. E ainda foram entrevistados
proprietários ou diretores de grandes transportadoras de carga que usam predominantemente a BR-153 e
que prestam serviços para grandes empresas da região, incluindo indústrias e agronegócios.
Assim, buscou-se exemplificar os fenômenos sociais, culturais e econômicos tipicamente associados à BR-
153 no trecho de interesse, através da percepção de indivíduos distribuídos em grupos variados. O
Quadro 4.1 apresenta a relação de grupos de indivíduos entrevistados, indicando as abreviaturas utilizadas
no texto para simplificar a apresentação dos resultados.
Quadro 4.1
Grupos de sujeitos entrevistados
Grupos Abreviaturas
Morador MOR
Agropecuarista AGR
Comerciante COM
Industrial IND
Transportador TRA
Viajante Comercial VCM
Turista TUR
Caminhoneiro CAM
Agente Público APB
Para auxiliar na análise, o trecho rodoviário do estudo foi dividido em dois segmentos diferenciados
geograficamente, que coincidem com os limites estabelecidos pelas mesorregiões Norte e Centro do
Estado de Goiás. A área pesquisada foi limitada às zonas urbanas da Área de Influência Direta - AID - e
zonas urbanas e rurais mais próximas do eixo da estrada na Área Diretamente Afetada - ADA - definidas
para o Diagnóstico Ambiental do Meio Socioeconômico desse estudo.
O primeiro segmento rodoviário está inserido na Mesorregião Norte Goiano e inclui os municípios de
Porangatu, Santa Tereza de Goiás, Estrela do Norte, Mara Rosa, Campinorte e Uruaçu. O segmento foi
denominado Trecho Porangatu - T1, levando-se em consideração a importância e a influência da cidade
homônima.
O segundo segmento está inserido na Mesorregião Centro Goiano, e é composto pelos municípios de
Hidrolina, São Luiz do Norte, Nova Glória, Rialma, Rianápolis, Jaraguá, São Francisco de Goiás, Petrolina
de Goiás, Pirenópolis e Anápolis. De modo semelhante ao primeiro, esse foi denominado Trecho
Jaraguá - T2.
Os trechos foram denominados e numerados para facilitar a identificação no texto como demonstrado a
seguir:
T1 - Trecho Porangatu
T2 - Trecho Jaraguá
A Figura 4.1 apresenta as divisões espaciais definidas para a pesquisa como Trecho Porangatu e Trecho
Jaraguá.
O instrumento de medida para a coleta de dados constou de nove (9) questionários, com questões abertas
de cunho perceptivo adaptadas aos grupos de sujeitos entrevistados, além de questões para informação de
dados pessoais dos sujeitos.
Esses questionários foram aplicados na AID e na ADA, pela técnica responsável pelos estudos de
Percepção Ambiental e um técnico auxiliar. A aplicação dos questionários foi feita considerando os dois
trechos da BR 153: Norte, e Centro (Figura 4.1).
Os indivíduos entrevistados encontravam-se nas comunidades das zonas urbanas e rurais que margeiam a
rodovia e nas cidades, da AID e ADA. O tamanho da amostra, ou seja, o número de questionários a serem
aplicados foi determinado considerando a complexidade dos fenômenos econômicos, sociais e culturais
que se desenvolvem ao longo de cada um dos dois trechos.
Foram recobertos caminhos marginais em comunidades, fazendas e cidades para entrevistar moradores,
agentes públicos, industriais e transportadores. Os estabelecimentos comerciais de margem foram
pesquisados, procurando entrevistar preferencialmente o próprio comerciante, bem como os turistas,
viajantes comerciais e caminhoneiros que estivessem parados nesses locais.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 167
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 168
O Quadro 4.2 mostra a quantidade de questionários aplicados por grupos de sujeitos entrevistados e por
trechos analisados.
Quadro 4.2
Controle de questionários aplicados por trechos e por grupos
Grupo T1 T2
Total
Nome Abreviatura Porangatu Jaraguá
Morador MOR 12 3 15
Agropecuarista AGR 3 5 8
Comerciante COM 12 4 16
Industrial IND 1 3 4
Transportador TRA 1 2 3
Viajante Comercial VCM 4 1 5
Turista TUR 5 1 6
Caminhoneiro CAM 6 5 11
Agente Público APB 8 5 13
Total 52 29 81
O instrumento de medida foi organizado com temas que procuraram explorar o conhecimento das
percepções, atribuição de valores e atitudes dos diferentes grupos de sujeitos. O Quadro 4.3 apresenta os
temas centrais das questões propostas aos entrevistados, por grupo.
Quadro 4.3
Perguntas por grupos de análise
Grupos entrevistados
Perguntas
MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB
Para você, qual a importância da estrada
x x x x x x x x x
Belém - Brasília?
Quando você pensa na BR-153, de quê você
x x x x x x x x x
se lembra primeiro?
O que diferencia essa estrada de outras que
x x x x x x x x x
você conhece?
Quais os principais desafios que você
x x x x x x x x x
enfrenta em relação à BR-153?
Quais as mudanças que a duplicação da BR-
153 entre Anápolis e Porangatu pode trazer x x x x x x x x x
para a sua região?
Para você, qual a importância de uma obra de
x x x x x x x x x
duplicação na Belém-Brasília?
Se você pudesse decidir, o que você faria
para transformar a Belém-Brasília numa boa x x x x x x x x x
estrada?
Ao viajar entre a região de Goiânia e o
Tocantins qual o trajeto mais utilizado por x x
você? Justifique.
Como é morar aqui? x
Para você, qual a melhor coisa que poderia
x x x x x x x x x
acontecer em relação à BR-153?
Quais os principais tipos de carga? x x x
Quais os principais origens e destinos da
x x x
carga?
Os dados referentes aos indivíduos entrevistados foram organizados totalizando os números do perfil dos
sujeitos entrevistados, e estão apresentados nos Quadros 4.4 a 4.8.
Quadro 4.4
Perfil dos sujeitos entrevistados - Sexo
Sexo Total de Entrevistados %
Masculino 70 86
Feminino 11 14
Total 81 100
Quadro 4.5
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 169
Perfil dos sujeitos entrevistados - Idade
Idade Total de Entrevistados %
19 até 27 11 14
28 até 35 12 15
36 até 43 17 21
44 até 51 16 20
52 até 59 11 14
60 até 68 9 11
69 até 76 4 5
77 até 86 anos 1 1
Total 81 100
Quadro 4.6
Perfil dos sujeitos entrevistados - escolaridade
Escolaridade
Nível educacional Total de Entrevistados %
Analfabeto 2 2
Ensino Fundamental incompleto 22 27
Ensino Fundamental 7 9
Ensino Médio incompleto 3 4
Ensino Médio 25 31
Ensino Superior incompleto 6 7
Ensino Superior 16 20
Total 81 100
Quadro 4.7
Perfil dos sujeitos entrevistados - profissão
Profissão Total %
Administrador 1 1
Agricultor 3 4
Agropecuarista 1 1
Aposentada 4 5
Auxiliar de escritório 1 1
Borracheiro 1 1
Comerciante 11 14
Contador 2 2
Coordenador Bolsa Família 1 1
Do lar 4 5
Empresário 3 4
Encarregado de transportes 1 1
Frentista 1 1
Funcionário público 2 2
Gerente 3 4
Gestor Público 1 1
Industrial 1 1
Lavrador 7 9
Locutor 1 1
Mecânico 1 1
Militar 3 4
Motoboy 1 1
Motorista 13 16
Operador máquina 1 1
Pintor 1 1
Policial Rodoviário Federal 1 1
Professora 1 1
Recepcionista 1 1
Secretária 1 1
Secretário administrativo 1 1
Serviços Gerais 1 1
Taxista 1 1
Técnico Laticínios 1 1
Tesoureiro 1 1
Vendedor 2 2
Veterinário 1 1
Total 81 100
A síntese da pesquisa sobre a percepção da BR-153 revelada pelas lembranças evocadas pelos
entrevistados é apresentada como a imagem da rodovia e está registrada no Quadro 4.9. Essa imagem que
os diferentes grupos de entrevistados demonstram é carregada de significados construídos pela vivência do
espaço de circulação da rodovia.
Quadro 4.9
Imagem da BR-153
AG TR CA AP Sub-
Categorias T MOR COM IND VCM TUR Total
R A M B total
T1 1 2 1 1 2 1 8
Buraco 19
T2 2 3 1 1 3 1 11
Negativa
T1 3 1 5 1 2 2 14
Perigo 17
T2 1 1 1 3
T1 2 2 1 1 6
Poeira do passado 7
T2 1 1
T1 4 1 1 1 1 1 9
Conforto 14
T2 1 1 2 1 5
T1 1 2 1 2 3 9
Desenvolvimento 13
Positiva
T2 2 2 4
T1 1 1 1 3
Trabalho pessoal 8
T2 4 1 5
T1 1 1
Beiradas 3
T2 1 1 2
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81
Para quem tira o sustento pessoal e familiar de atividades diretamente ligadas à estrada, como
comerciantes e caminhoneiros, o trabalho pessoal se transforma na imagem da BR-153. E por fim, o
experienciar da estrada por usuários que caminham nas suas margens é transferido para a imagem que
corresponde às beiradas dela.
Exemplo de falas
APB.51.4. Acidentes, sempre. Eu sou do resgate e faço parte da defesa civil... Esse trecho entre Porangatu
e Campinorte é crítico, muitos acidentes, principalmente na época das reformas.
APB.52.3. Bernardo Sayão. Eu era menino, ouvia falar desse Bernardo Sayão que fez a abertura dessa
BR-153. A antiga Belém/Brasília passava aqui dentro da cidade (Campinorte). O vilarejo que era do lado de
lá migrou todo pra cá quando asfaltou, desviou mais ou menos 300m pra direita.
MOR.53.7 Essa BR aqui pra nós do médio norte, pra cá, isso é quase uma veia de um coração que ta
escoando pra cá. E vai e vem sem parar. Ela pra nós aqui é o pulmão do mundo!
MOR.54.1 Só penso que a gente tá bem confortado ai com o recurso dela, né?! É só passar o carro ai e vai
onde quer. Ai era muito buraco, ai eles passavam ai e fazia barulho demais. Agora não, tá macia!
AGR.57.5 A imagem é melhoria, né?! Esse trecho nosso é muito ruim. Teve tempo que a patrola vinha e
espalhava terra em cima do asfalto. Vinha a caçamba, jogava terra e a patrola espalhava, de tanto buraco
não via o asfalto.
AGR.60.1 Eu penso que é um benefício que a gente tem na porta. Quem tá na beira dela é muito fácil
locomover pra Goiânia e ai afora.
COM.63.2 Ah, eu lembro que eu vivo é dela. Sem ela não tem como.
COM.64.2 No trabalho, no comércio. A dez anos atrás o movimento era muito melhor, tinha mais
compradores. Antes de estragar as estradas era movimento direto. Ai os caras arranjaram outras estrada.
Com a arrumação o movimento tá voltando.
IND.65.5 A imagem do asfalto ruim, a buraqueira, já entra na BR xingando o governo. Ai já vê o buraco e
fica pensando em acidente.
TRA.69.1 Hoje, no caso, eu lembro quando ela foi asfaltada pela primeira vez. O nosso vizinho era o chefe
da obra. Nossa! Aqui era chão! E asfaltou, e era bonito demais! E agora, a gente vê isso ai só acabando em
buraco, é ruim demais. Essa BR antes cortava aqui por dentro de Rialma e atravessava numa ponte de
tambor e saía em Ceres. Em 82 teve uma enchente aqui que cobriu as pontes todas. A fábrica de leite era
em Ceres, pequenina, tiveram que emendar os mangotes pra tirar o leite. Ai vendeu pra Nestlé e fez a
fábrica nova em Rialma, na beirada do asfalto novo. A SPAM, a antiga dona da fábrica (de leite), teve papel
importante aqui. As linhas de leite buscavam longe, era tudo de chão. Saia um caminhão pra buscar o leite
nas fazendas, atolava, quebrava. Ai tinha que sair pra buscar peça, puxava com animal, perdia o produto
todo. Isso era domingo, era todo dia. Veio o asfalto e teve um papel importante para escoar o leite ai. Logo
em seguida, saiu o asfalto nas linhas que a gente fazia. A Nestlé construiu a fábrica aqui na beirada. Ai, né,
nossas carreta vão muito pra São Paulo e Minas Gerais, tudo é pista dupla, tem pedagiada também.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 173
TUR.71.9 Nesse momento lembro dela bem, já nivelou, arrumou o asfalto. Se fosse três meses atrás, tinha
muito buraco. Até motorista falava. Era pneu, manutenção, e agora tá bem melhor.
CAM.74.4 Penso nos buracos, no perigo dela com a falta de sinalização. Nela aí, enfrentá bauzeiro
irresponsável.
CAM.76.12 Chegar no destino, sair de Anápolis e chegar a Belém, só isso que eu lembro. É uma extensão
grande.
APB.79.1 A lembrança desse progresso que ela trouxe para essa região norte. Foi um marco de
desenvolvimento muito grande quando ela passou tê o asfalto. Eu era menino quando o Médici esteve aqui
em Jaraguá pra inaugurar o asfalto Jaraguá-Anápolis.
VCM.33.2 No meu caso, são as vendas. Penso no que eu trabalho nela. Faço vendas através da BR 153.
Penso no meu trabalho.
TUR.35.5 Só penso primeiro no trecho ruim da viagem. No trecho de Ceres-Goiânia. Estrada boa a gente
não pensa, não. Só se for ruim.
TUR.36.1 Primeira imagem minha é JK unindo norte a sul. Nós... no norte não tinha verdura, não tinha
tomate. Eu me lembro bem. Só vinha de barco e avião. Depois que a Belém/Brasília foi feita, a agente tem
de tudo. A gente que é do norte e vem no sul não se admira mais do que tem no sul, lá tem tudo também,
pode ser mais caro.
TUR.37.5 Buraco. Os buracos que tem nela. Atrasa a viagem, tem que ficar parado. Atrasa pra fazer
baldeação de outro ônibus.
CAM.40.4 Lembro de muito acidente, é perigosa. Já vi muito acidente.
CAM.41.2 É o meu mundo atual. Eu vivo nela e preciso dela. É meu mundo!
CAM.42.4 Segurança, não tem. Anda acontecendo muita coisa nela. Ela dá acesso ao Pará, e no Pará não
tem fiscalização e fica fácil de levar carro roubado.
CAM.43.6 É o coração do Brasil. Para nós aqui, é a única coisa que temos.
APB.45.4 Perigo. Excesso de caminhão. Extremo cuidado para dirigir nela. Rodovia antiga que tem áreas
mortas de visualização, que traz muito perigo. Quem não a conhece torna-a mais perigosa ainda.
APB.46.7 Primeiro, é uma BR que tem uma estrutura muito importante para o Brasil, porque liga o norte. E
tem um lado mais de tentar desenvolver o próprio norte. A BR 101 vai só até o nordeste. E a 153 é o
desenvolvimento do norte.
APB.47.6 Desenvolvimento da região. Essas cidades todas aqui nasceram com a rodovia. Não existia
nenhuma estrada, nenhuma cidade. Tudo desenvolveu ao longo da rodovia.
APB.49.1 Facilidade! Imaginou? Tô aqui e daqui 4 horas eu tô em Goiânia. É muito favorável.
Exemplo de falas
MOR 2.2 Buracos. Tô achando ela muito mais buraquenta que as outras. O povo tá chamando ela de
Belém-Buraco! Mas tá melhorando. O povo de São Paulo, por exemplo, já vai pagá pedágio.
MOR 2.3 Não. É a mesma coisa – tudo normal. Pelo menos as vezes que eu tenho andado ai é tudo a
mesma coisa.
MOR 4.4 Ela na minha imaginação, que eu conheço pouca coisa, ela é o que transporta todas as riquezas
que pegam lá do norte do país e transporta todas as coisas. Ela começa lá no mar, pega as coisas do navio
dai e lá de fora e transporta pra todo lugar ai. Ela é um transporte mundial. Ela tem galho pra todo lado. Ai
ela entra nas cidades pequenas, Mara Rosa, Minaçu e vai entrando pras fazendas tudo e vai indo e não
acaba nunca!
MOR 5.1 As que eu conheço de pista dupla é mais segura porque o trânsito é livre e traz mais conforto,
tanto pra gente quanto pro estado.
MOR 6.5 Essa é melhor que estrada de chão.
MOR 11.6 O tráfego aqui é muito intenso, tem muito caminhão. Eu conheço toda essa BR e o trecho que tá
ruim é aqui no estado de Goiás.
A BR pra nós é um fato que já contamos com ela. É como fogo que queima, a água que corre. Todos os
nossos projetos de desenvolvimento local e regional estão baseados nela. Sem a BR 153 nós aqui não
existíamos. Foi com ela que surgiu todo o desenvolvimento aqui do norte goiano e do norte do Brasil
também. Ela que traz o desenvolvimento. APB 50
A totalidade dos entrevistados atribuiu grande importância à rodovia esse estudo está apresentado no
Quadro 4.11. Os entrevistados em todos os grupos e independente dos trechos apontam motivos variados
para a importância da estrada.
À estrada Belém-Brasília é atribuída importância de transportar as riquezas produzidas no norte e levar os
recursos do sul e, assim, fazer a integração N-S do Brasil. Para esses entrevistados, a Belém-Brasília
possibilita o transporte das maiores riquezas que são produzidas na maior parte dos estados do país
devido a sua estratégica posição de ligação desde o Rio Grande do Sul até o Pará, atravessando toda essa
extensão na parte central do Brasil. Essa valorização de conotação nacional é apontada por mais de 40%
dos entrevistados tanto no trecho 1 quanto no trecho 2.
Para mais de um terço dos entrevistados, a importância da BR-153 é a de promover o próprio
desenvolvimento do Brasil centro-norte, isso é, de todo o interior na direção do norte do país. Para esses
indivíduos, essa região só pode ser desenvolvida com a estrada abrindo os espaços produtivos e
permitindo o fluxo de pessoas e mercadorias naquela direção.
Quadro 4.11
Importância da BR-153
Tota
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total
l
Integração N-S do T1 5 2 3 1 1 3 3 2 5 25
37
Brasil T2 1 2 1 2 1 4 1 12
Desenvolvimento do T1 4 1 3 2 4 3 17
26
Brasil Centro-Norte T2 2 2 3 1 1 9
Riqueza de quem vive T1 3 3 1 7
12
dela T2 3 2 5
T1 3 3
Integração de GO 6
T2 1 2 3
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81
Para alguns entrevistados, a Belém-Brasília oferece o ganha-pão, pois é dela, ou nela, que muitos obtêm
os recursos da sobrevivência familiar trabalhando em prestação de serviço ou dirigindo, por exemplo.
Indiferente do grupo de entrevistado, os indivíduos apontam que a BR-153 é a riqueza de quem vive dela.
Exemplo de Falas
MOR 4.3 Eu acho ela muito importante, porque ela transporta toda a riqueza do país, indo e vindo. Da
madeira ao remédio, é ela que leva. Transporta até coisa que a gente não conhece, coisa até engraçada.
Antigamente, passava as tora, assim, cada tamanho que a gente não vê mais. Agora só é madeira cerrada
com a lona. O país mudou muito.
MOR 10.1 É uma estrada rápida. Num instante chega onde tem que ir.
AGR 13.5 Meio de ligação e integração das regiões sul e sudeste com as regiões norte e nordeste.
AGR 15.5 Estrada de todo mundo. É a principal do país, né. Ela corta o país de fora a fora. Foi das
primeiras. Eles falam de Belém/Brasília, mas ela corta é o país todo. A estrada passava lá dentro, na
Avenida Campinorte, agora é que passa mais aqui.
COM 16.2 Pra mim, a Belém/Brasília é o meu trabalho. Eu necessito dela pra transportar a verdura.
COM 17.5 Ligação norte-sul. Ligação da região desenvolvida para uma em desenvolvimento.
COM 20.2 É uma rodovia que muitas pessoas dependem dela para trabalhar e sobreviver. Se ela parar,
pára o Brasil. Dependo dela demais pra tudo, né.
COM 24.4 A importância da estrada Belém/Brasília é que facilita tanto para viajantes quanto para
economia. A duplicação é importante. E dela eu tiro também o sustento da minha família.
COM 27.2 É uma estrada que corta Belém até o Rio Grande do Sul, o fluxo de carro e caminhão é grande
demais. Esse norte aí é rico demais. Merece duplicá. É minério, usina, açúcar, álcool. O problema é que
demora demais pra trabalhar umas estrada dessa.
TRA 29.2 É a espinha dorsal do país, se não tivesse, como é que fazia?!
VCM 30,2 É uma rodovia que liga sul-norte e o principal caminho pro transporte de alimentos e pessoas.
TUR 34.2 Importância muito grande. Da outra vez que eu vim, ela tava muito ruim. Agora deu uma
melhorada. É a única estrada que liga. A única que eu chego na casa da minha mãe.
TUR 36.4 A Belém/Brasília é importante porque ela é o elo que liga norte e sul. Sem a Belém/Brasília, os
produtos não chegam no norte, em Belém.
APB 79.2 Pra mim, ela é de muita importância para Jaraguá. Ela ficou muito importante quando ela
adentrou aqui. Aqui no centro da cidade passava na Avenida Bernardo Sayão, era o centro de tudo. E foi
muito importante o asfaltamento lá fora. Liberou mais a cidade em termos de crescimento.
APB 81.7 Momento de chegar na faculdade com mais segurança e rapidez.
APB 50.6 A BR pra nós é um fato que já contamos com ela. É como fogo que queima, a água que corre.
Todos os nossos projetos de desenvolvimento local e regional estão baseados nela. Sem a BR 153 nós
aqui não existíamos. Foi com ela que surgiu todo o desenvolvimento aqui do norte goiano e do norte do
Brasil também. Ela que traz o desenvolvimento.
APB 51.5 Pra mim a Belém/Brasília tem importância fundamental. Num contexto mais geral, ela é a coluna
vertebral que divide o Brasil entre leste e oeste e liga de norte a sul.
APB 52.3 Facilita essa ida e vinda de bens e mercadoria. Produção local que vai pros grandes centros.
Produção industrial que vem pra cá pro norte. Facilitando o acesso dos grandes centros.
AGR 57.1 A importância é grande. Tudo que vai fazer precisa dela. Que ir na cidade, no supermercado, é
com ela. Antigamente o povo andava de carro-de-boi, carroça. Agora não, todo mundo tem moto, carro, é
tudo nela mesmo. Aqui é os caminhões da usina que puxa cana ai, é tudo de rabão cumprido. A cana na
estrada é sujeira demais.
AGR 58.4 Muito carro, dia inteiro, noite inteira, diretão.
COM 62.2 Hoje é meu ganha-pão, eu vivo daqui, né?!
COM 64.2 É da beira da BR que eu tiro o sustento pra minha família.
CAM 72.5 É de suma importância porque leva do sul pro norte e traz os produtos do norte pro sul.
CAM 75.5 É uma das principais BRs pra mim. Essa e a 101.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 179
CAM 76.5 Pra mim é muito boa, porque é uma rodovia fundamental para o escoamento nosso de sul a
norte. É muito importante porque roda tranqüilo, dá pra trafegar. Não é perigosa, apesar dos riscos.
APB 77.8 Essencial. Fluxo. Facilidade de acesso às cidades, aos municípios. É fundamental. Acesso aos
grandes centros, os recursos desses centros, à capital do estado. Tive a experiência de descer aqui no
norte onde a BR ficava distante, era difícil andar só nas GOs, muita estrada sem asfalto.
APB 78.2 Olhar a BR não como via de ligação, mas mostrar que aqui nós temos uma produção numa
cadeia produtiva completa e competente! São 700 ônibus passando aqui na porta direto pra Goiânia. Por
que não parar aqui? A BR é a oportunidade de fazer a vitrine para vender a moda que fabricamos aqui em
Jaraguá.
A pesquisa sobre os desafios dos usuários e moradores em relação à BR-153 está sintetizada no Quadro
4.12. As categorias foram citadas por todos os grupos considerando o cotidiano do trato com a rodovia.
Esse trato pode ser entendido como a condição que o entrevistado se colocou em relação com a rodovia.
Assim, os transeuntes podem inclusive serem moradores do lugar, mas se colocaram na condição de
usuários em trânsito. Enquanto que alguns entrevistados se colocaram numa relação de trato local, sob a
ótica de um convívio num determinado lugar.
Uma boa parte dos entrevistados aponta como desafio da convivência a questão do tráfego problemático,
que inclui dificuldade de enfrentar os buracos da pista, motoristas irresponsáveis dirigindo
descontroladamente, pista estreita e tráfego intenso, entre diversos outros problemas.
Entrevistados que trabalham com mercadorias ou encomendas na BR-153 apontam que o desafio é a
avaria que a mercadoria transportada sofre devido às dificuldades do trânsito, como, buracos que fazem a
carga trepidar muito e os atrasos que podem levar à deterioração do produto.
A má conservação da pista de rodagem e o intenso fluxo de veículos pesados, em condições estremas,
podem levar à interrupção, retenção e lentidão de tráfego na rodovia, gerando atraso e incerteza para o
transeunte.
Quadro 4.12
Desafios da convivência com a BR-153
Categorias Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
Tráfego T1 1 2 2 1 4 2 12
23
problemático T2 1 2 1 1 4 2 11
Avaria T1 1 1 2 2 1 7 10
T2 2 1 3
Categorias Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
Serviço T1 2 2
2
precário T2 0
Atendimento T1 2 3 3 8
12
ao cliente T2 3 1 4
Convivência T1 7 1 1 1 1 11
Local
12
problemática T2 1 1
Cuidado com T1 2 2 1 1 6
8
acidente T2 1 1 2
Potencial de T1 1 1 2
7
recurso T2 2 1 1 1 5
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81
Ao longo da rodovia pode-se observar a presença de estabelecimentos comerciais com instalações pouco
equipadas, essas são percebidas pelos entrevistados como serviço precário oferecido aos turistas e
usuários diversos.
Sob a ótica do trato local, principalmente entre comerciantes e agentes públicos, o desafio é fazer o
atendimento ao cliente, tanto do transeunte como da população do lugar de modo geral. Isso exige um
esforço dos administradores públicos para conciliar as necessidades da cidade com a força de atração da
estrada e a faixa de domínio federal.
Para alguns entrevistados, o espaço de vivência formado pela pista de rodagem e pelas margens da
estrada traz vários tipos de dificuldades que levam a uma convivência problemática. Essas dificuldades
podem se referir ao lixo excessivo jogado por transeuntes que polui áreas de plantio, rios e mesmo
moradias, mas pode ser também problemas com prostituição infantil de grande gravidade. Essa
convivência pode exigir, também, que os moradores e comerciantes tomem cuidado com acidentes que
eventualmente acontecem e atingem pessoas nas margens da rodovia.
Com uma visão empreendedora, alguns entrevistados apontam que o maior desafio é aproveitar
favoravelmente o potencial de recursos que a BR-153 traz para a região. A BR-153 é percebida como um
manancial de clientes e turistas que vão dinamizar os negócios e trazer o desenvolvimento para as cidades
à margem da rodovia.
Vários exemplos podem ser relatados sobre a convivência da população local com a rodovia e sobre a
convivência do usuário da estrada com os equipamentos de prestação de serviços disponíveis localmente.
Alguns desses foram destacados em determinada cidade ou região e são brevemente descritos a seguir:
As longas distâncias interligadas entre regiões densamente ocupadas no centro e sul e as de baixo índice
de ocupação humana no norte e nordeste do país, fazem da Belém-Brasília uma estrada de diversidades.
Os motoristas e passageiros pouco familiarizados com os padrões de recursos do trecho podem sentir falta
de um atendimento mais especializado e refinado.
Apesar do esforço da população local para promover o atendimento ao transeunte, e também se beneficiar
dele, os equipamentos de prestação de serviço nem sempre são de boa qualidade. Há uma tendência do
usuário em utilizar os equipamentos de grandes redes de assistência rodoviária conhecidas nacionalmente,
com postos de combustíveis, restaurantes e hotéis. Porém, esses não são muitos, ao longo do trecho, o
que faz com que haja uma superlotação naquelas unidades existentes, principalmente nos horários de
maior movimento.
Um exemplo de empreendedorismo local de sucesso pode ser apontado na região de Campinorte, onde um
empresário investiu na assistência ao caminhoneiro oferecendo serviços de mecânica leve, posto de
combustível, restaurante, barbearia, loja de conveniência, dormitório, loja e instaladora de acessórios,
autopeças, oficina de refrigeração de cabinas, indústria de tanques de água de aço inoxidável e de peças
de fibra, produção informatizada de adesivos, entre outras facilidades. O complexo de serviços conta com
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 181
vinte e cinco boxes de atendimento de mecânica e instalação de acessórios, com produtividade média de
realização de 200 procedimentos em carretas/dia.
Um exemplo de padrão de atendimento de menor qualidade de instalações pode ser observado com pontos
de parada de ônibus. Freqüentemente, as instalações de paradas de ônibus são percebidas por turistas
como pouco confortáveis e nem sempre com boa higienização. Sempre que possível, as transportadoras
de passageiros fazem paradas nas próprias estações rodoviárias, aproveitando pontos de conexão. Da
mesma forma, as instalações são freqüentemente precárias e pouco confortáveis para os passageiros em
trânsito.
Contudo, algumas oficinas de mecânica pesada diesel, e borracharias, apesar das instalações nem sempre
muito adequadas, oferecem boa assistência técnica e são percebidas por caminhoneiros como de serviços
confiáveis. Em Porangatu, tem o caso de uma famosa retífica de motores que, por executar um bom
Alguns turistas percebem que a falta de mão-de-obra qualificada e a ausência de treinamento leva à má
qualidade na prestação de serviço nas paradas de ônibus interestaduais e restaurantes. Para muitos, a
precariedade transforma em desafio o simples fato de fazer uma refeição, usar as dependências do
estabelecimento, ou até mesmo abastecer um veículo.
Frutas da estação, farinhas, mel, artesanatos e outros produtos regionais são oferecidos em diversos
pontos da estrada. O comércio ambulante atende aos transeuntes em barracas improvisadas nas margens
da estrada. Muitas famílias vivem desse comércio há anos e novas gerações já estão assumindo os
mesmos estabelecimentos, com a mesma precariedade.
Em virtude disso, o comércio de margem em vários trechos goianos da BR-153 passou por períodos de
baixíssimo faturamento, com grande instabilidade comercial. Assim, diversos estabelecimentos foram
forçados a encerrar as atividades. As obras de recuperação da pista, em andamento desde 2007,
trouxeram novo impulso para o comércio de serviços prestados para os transeuntes.
Poluição
A população lindeira à rodovia tem dificuldades com a limpeza das áreas ao longo da pista por causa do
excessivo volume de lixo jogado pelos transeuntes. Há relatos de todo tipo de lixo deixado por motoristas e
passageiros dos veículos, desde restos de comida, descartáveis higiênicos, como, fraldas de crianças,
volumes de cargas avariados, peças de carros quebradas, todo tipo de plástico, animais mortos, e diversos
outros.
Enfim, a população local passa a ser responsável pela limpeza de um enorme volume de lixo que atinge os
estabelecimentos comerciais, terrenos, casas, campos de produção agropecuária, pastos, córregos e rios
cortados pela estrada. Também há o caso dos acidentes com vazamentos de combustíveis, óleos e/ou
substâncias tóxicas que sujam e poluem as margens e os corpos d’água próximos da rodovia.
O barulho da estrada é outro tipo de poluição que também incomoda os moradores. O padrão sonoro
produzido pelos veículos em trânsito pode variar muito, mas em condições normais da pista de rodagem,
pista lisa, os sons tendem a ser repetitivos, e, assim, podem ser abstraídos do cotidiano. As pessoas ficam
em sobressalto toda vez que ocorre uma frenagem forte e um barulho diferente de carrocerias, pois é logo
associado a acidentes. Quando a pista de rodagem está com a cobertura asfáltica danificada e com
buracos aumenta a trepidação das carrocerias e as frenagens bruscas, promovendo alteração dos padrões
de sons dos motores, latarias e pneus, piorando essa situação de estresse.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 185
Tem uma coisa, à noite o barulho da BR incomoda, é um barulho que parece que as carreta vão caí aqui.
Tem noite que eu perco o sono, acordo com o barulhão e aí já começo a pensar: será que aquele carro
bateu? Coitado daquele homem que ta lá dentro, aí já começa a pensar. O carro que caiu aqui dentro, o
cara morreu na hora. MOR4.4
Travessias urbanas
A instalação da Belém-Brasília em 1958 foi norteada pelo traçado da Estrada da Colônia que ligava Goiânia
a Ceres desde 1948, ambas construídas por Bernardo Sayão. Esse traçado inicial procurou unir pequenas
nucleações populacionais históricas na região a leste da antiga capital do Estado de Goiás, Goiás,
seguindo o vale de grandes rios como o Rio São Patrício e o Rio das Almas. Porém, mais ao norte, a
estrada cortou terras ainda muito pouco ocupadas. De todo modo, a estrada atraiu fortemente uma
população para suas margens, criando novas cidades e transformando pequenos vilarejos em cidades num
curto espaço de tempo.
Prostituição infantil
Entre os desafios da convivência da população com a estrada, um dos problemas de mais difícil solução é
o da prostituição. Em diversas cidades existem homens e mulheres que se oferecem em pontos de
prostituição nas margens da rodovia. Em geral, são bares com dormitórios associados, vizinhos a oficinas
mecânicas, borracharias, postos de gasolina, tudo muito próximo. A movimentação de pessoas nesses
locais ajuda a camuflar a atividade, buscando um mínimo de anonimato, e evitando a repressão da PRF.
Ao longo de todo o trecho em estudo é muito comum encontrar animais silvestres mortos por atropelamento
na pista de rodagem. Tamanduás mirins, tamanduás bandeira, tatus, raposas, serpentes, quatis, e diversas
outras espécies são encontradas num mesmo dia de viagem.
De acordo com caminhoneiros entrevistados, o problema pode ser maior em áreas de serras, matas e
córregos próximos da pista. Em face do projeto e do traçado serem antigos, a rodovia não possui
dispositivos de travessia de animais silvestres. Alguns motoristas afirmaram que ao tentar desviar de um
animal, corre-se o risco de provocar um acidente maior, levando a uma única opção naquele momento, que
é a de manter o curso do veículo, atingindo o animal.
Exemplo de falas
MOR 1.1 Uai, essa BR somente a gente tem que tê é cuidado, né?! Um carro estoura o pneu, voa lasca pra
todo lado. Lá na outra roça que eu tenho, um carro perdeu a direção e bateu lá dentro da roça.
MOR 2.2 É mantê a clientela e trabalhá até a noite pra servi eles ai. Se ela parasse a noite, era sossego
pra todo mundo.
MOR 4.4 Barulho, medo de vim um carro, e já caiu aqui, oh, o cara morreu na hora. Lixo, eles atiram de
tudo aqui na porta, pega tudo também. Não pode tê uma criação. Essa BR fez muito prejuízo pra nós aqui.
A pesquisa sobre as atitudes de cuidado que os indivíduos sugerem em relação à BR-153 está
apresentada no Quadro 4.13. A percepção dos problemas e a atribuição de valor de importância para a
estrada, os entrevistados têm reações diferentes e sugerem cuidados para solucionar problemas e
transformar a BR-153 em uma boa estrada.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 189
Quadro 4.13
Atitudes de cuidado com a BR-153
Sub- Tota
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB
total l
T1 6 1 4 1 1 3 5 21
Duplicar 33
T2 1 1 1 3 1 1 3 1 12
T1 1 4 2 1 1 1 10
Privatizar 15
T2 1 1 1 2 5
T1 3 1 1 1 2 1 9
Reformar 14
T2 1 3 1 5
Reformar e T1 1 2 1 2 1 7
12
fiscalizar T2 2 2 1 5
T1 2 1 1 4
Zelar 5
T2 1 1
Colocar T1 1 1 2
atendimento 2
médico T2 0
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81
“Duplicar de imediato e exigir a privatização. Nós pagamos demais por essa estrada. Carro acaba, pneu
caro. Caminhão que vem de lá o risco é grande, com ribite de cima embaixo. Tem dia que pára ai e não
consegue nem descer do caminhão, drogado. Os caminhão andam ai com peso que a estrada não tolera.
Ocê imagina ai um caminhão desse com 80 toneladas freando, não tolera. O governo não faz nada, se tem
dono... Oh, a balança que puseram em Uruaçu, o governo colocou, e ela tem hora de parar! Às 6h ela pára,
ai os caras passam tudo lá. Eles ficam escondido debaixo das árvores, na venda. Fechou, passa tudo. Se
tem dono, ah é diferente! COM 18.5”.
Em todos os grupos e nos dois Trechos estudados a atitude mais freqüente indicada pelos entrevistados foi
a de duplicar a rodovia. Essa é considerada a solução mais favorável para diminuir os acidentes e melhorar
o fluxo de veículos.
Para vários indivíduos, privatizar é a solução, pois assim também ela seria duplicada e teria a vantagem da
boa manutenção. Essa atitude perpassa a percepção das estradas privatizadas de outros estados, com
aprimorada qualidade das pistas de rodagem e a manutenção dessa condição.
Alguns entrevistados apontam a atitude de reformar com sendo suficiente para a BR-153. A percepção de
que as condições atuais são muito ruins, e de que o custo de uma obra de duplicação é muito alto, leva os
entrevistados a optar por uma obra mais barata e, portanto, mais garantida. Mas alguns outros indivíduos,
consideram que só reformar também não resolve, indicam a necessidade de reformar e fiscalizar.
Justificam que o peso excedente dos caminhões e as irregularidades no tráfego são muito prejudiciais, e
exigem rigor da PRF.
Com uma manutenção muito precária da pista e das margens, alguns indivíduos apontam que a melhor
coisa seria zelar pela estrada. O incômodo com lixo jogado pelos transeuntes e o mato nos acostamentos
são alvos dessa atitude de cuidado com a estrada principalmente no T1.
Por fim, a atitude sugerida foi a de colocar atendimento médico de alta complexidade, com ambulâncias de
UTI e suporte de hospitais regionais pelo menos a cada 300 km para atendimento a acidentados, como
indicaram dois entrevistados do T1.
Exemplo de falas
MOR 3.1 Primeira coisa era fazer pista dupla, igual é lá em cima, porque a pista dupla evita muitos
acidentes.
MOR 4.3 Se eu pudesse, eu queria o zelo total do lixo, respeitar as árvores, os pássaros, as florestas, a
natureza. Aqui nós são tudo apaixonado pela natureza. Pelo menos o lixo; prejudica nós demais. Nós e o
resto todo, porque o lixo cai no corguinho aqui e vai indo, cai no rio. Disse que o Rio do Ouro secou muito
esse ano, o povo desmatou tudo ai!
MOR 5.1 Se fosse minha eu duplicava ela, ela é dia e noite, essa BR não tem pausa.
MOR 8.1 Se viesse duplicação amanhã, pra mim era vantagem. Abreviava nosso sofrimento pra entrá na
terra (assentamento sem-terra) logo.
MOR 11.5 Terceirizava, porque aí ia com certeza. Tudo que é do governo é cozinhado.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 190
MOR 12.2 Ela aqui tá boa, né. Agora, o trecho que não foi arrumado é difícil. Tinha que arrumá direito. Igual
ali, o asfalto que puseram aqui é bom, ali é ruim demais, não vai durar nem dois anos. O asfaltinho ali,
puseram uma brita com óleo, o asfalto não presta, não. Vai esburacar tudo de novo, não tem essa camada
grossa por riba, não. O DNIT tem que pô asfalto bom. Eu punha do bom.
AGR 15.6 Seria melhor controlar a carga dos caminhões, porque a carga muito pesada o asfalto não
agüenta.
COM 17.5 Duplicá-la mesmo, mas pensando em pedágio. É privatizar mesmo, né, porque o governo não
dá conta de fazer, é só roubar.
COM 18.5 Duplicar de imediato e exigir a privatização. Nós pagamos demais por essa estrada. Carro
acaba, pneu caro. Caminhão que vem de lá o risco é grande, com ribite de cima embaixo. Tem dia que
pára ai e não consegue nem descer do caminhão, drogado. Os caminhão andam ai com peso que a
estrada não tolera. Ocê imagina ai um caminhão desse com 80 toneladas freando, não tolera. O governo
não faz nada, se tem dono... Oh, a balança que puseram em Uruaçu, o governo colocou, e ela tem hora de
parar! Às 6h ela pára, ai os caras passam tudo lá. Eles ficam escondido debaixo das árvores, na venda.
Fechou, passa tudo. Se tem dono, ah é diferente!
COM 20.7 Mais bem sinalizadas, o mato tampa as placas, ninguém vê nada. Educação no trânsito, o
pessoal é muito mal educado. Eu vi três sendo preso: um tava fechando o outro. Tirar a bebida e arrebite
da rodovia. Os caras chegam tudo doido aqui, tudo dopado, quebra o caminhão e chega aqui tudo doido,
brigando pra ser atendido, tudo dopado. Só polícia.
COM 22.7 Conservava a pista pra ter um tráfego perfeito, com acesso pra qualquer casa e com sinalização
toda perfeita. Colocaria um guarda em cada canto e colocaria uma escola só pra educar os motoristas.
Reduziria os acidentes em 100%.
COM 22.5 Duplicar ela, arrumá e pôr pedágio. Às vezes a gente paga um pouco o pedágio, mas tem a pista
boa pra andar o tempo todo.
COM 26.1 Duplicação urgente. Quando vou pra Goiânia, aquele pedacinho de Nerópolis ali é bom demais!
Eu faria a duplicação não só até Porangatú, eu faria no Belém.
COM 27.2 Seria melhor só conservar ela, se duplicar o pessoal vai passar direto, tira o freguês daqui.
TRA 29.5 É complicado fazer ela voltar a ser boa. Eu duplicava ela até Ceres e botava fiscalização séria.
Isso que tem ai não é sério. Balança, trabalho sério. É fácil, trabalho sério. Belém/Brasília precisa de coisa
séria! Excesso de peso estraga muito. Ai tá uma bandalheira. Balança funciona só de dia e o resto é
corrupção. No nordeste é 90%, Goiás e Tocantins quase não tem corrupção. Isso vai mudar nosso país
quando entrá esses menino ai tudo formado, ganhando bem. Muda se fizé trabalho sério.
TUR 36.1 Tive a sorte de conhecer a Europa. Sei que eu ampliaria pra duas pistas. Mas faria um trem de
norte a sul, de lesta a oeste que nos levaria com segurança e com rapidez. Lá no Pará já duplicamos até
Castanhal, agora é continuar, a luta é contra os acidentes. Que depois possa fazer o resto todo.
TUR 37.1 Duplicava e punha tudo que pudesse de sinal, telefone público na beira da BR pra caso de
socorro, sinalização de cidades e direção. Devia ter mais socorro perto um do outro, corpo de bombeiro.
Tem risco de assalto, roubo de carga, o caminhão reduz pra passar no buraco e é assaltado.
TUR 38.8 Montar uma campanha de orientação para os motoristas sobre excesso de carga,
ultrapassagem, mais cuidado pra dirigir.
CAM 39.5 Duplicava e colocaria pedágio nela pra manter a estrada em boas condições. Manter a beirada
da pista limpa pra facilitar a visão. Manter a estrada boa, sem buraco. Fazer acostamento largo, que caiba
um caminhão.
CAM 42.4 Se eu fosse um dirigente, era um hospital que desse segurança e tratasse qualquer problema de
acidente, seja qualquer forma de tratamento e socorro médico. No percurso de Brasília a Belém, três
postos, de 700 em 700 quilômetros, que pudessem atender todo o trecho, com aparelhos e pessoas
especializadas. Podia ser junto à Polícia Rodoviária Federal, que já tem carro de resgate.
CAM 44.7 Duplicação com segurança, ponto de apoio, manutenção sempre. Acabar com os pontos de
ribite, com polícia, fiscalização. Atenção com droga, que tem muito nas estradas, e droga pesada, tem
muitos pontos na estrada.
APB 45.1 A duplicação seria o desejo máximo, mas sabe-se que a distância é grande. Duplicação em
determinados trechos, terceira faixa em locais com maior movimento. Duplicação é o ideal, mas isso é
sonho!
A pesquisa sobre a atribuição de valor à duplicação da BR-153 está sintetizada no Quadro 4.14. Vários
entrevistados de todos os grupos e nos dois Trechos pesquisados atribuíram à duplicação a importância de
induzir o desenvolvimento. A noção de progresso com produção e mobilização de riqueza também está
perpassada nessa atribuição de valor. Os indivíduos associam facilidade de transporte com o aumento de
fluxo de mercadoria e pessoas nas regiões cortadas pela rodovia, com melhorias socioeconômicas
generalizadas.
Quadro 4.14
Importância da duplicação
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
T1 6 8 1 1 2 2 3 1 24
Desenvolvimento 39
T2 2 5 2 1 1 1 3 15
Trânsito mais T1 5 3 4 2 1 2 4 21
24
seguro T2 1 1 1 3
Qualidade de T1 1 2 1 2 6
16
vida T2 1 2 1 4 2 10
Prejudicar T1 1 1 2
2
moradores T2 0
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81
O sonho nosso é a duplicação dela de norte a sul do país. Ela é a mais importante de todas as rodovias do
país. Não tem outra mais importante. Ela corta no cerne, desde Rio Grande do Sul até Belém. As outras
vão lá no litoral, não conta. É duplicar aqui, na 153, ela movimenta o desenvolvimento! MOR 55.1
A BR-153 passou por várias etapas de extensão e melhorias das condições de tráfego desde a sua
abertura. Inicialmente, sob o comando do agrônomo Bernardo Sayão, a via foi aberta como Estrada da
Colônia, entre 1942 e 1948, em plena campanha da “Marcha para o Oeste”, na Era Vargas. Ligava a
Colônia Agrícola Nacional em Ceres ao sul de Goiás, e seguia a política do recém-criado DNER, em 1937,
de ser um instrumento de comunicação entre as regiões e as cidades e iniciar um processo de
deslocamento da modernização brasileira do Centro-Sul para o Centro-Oeste. (SILVA, 2008).
A construção da estrada abriu caminho para a fixação de novas áreas no norte de Goiás, em terras da
União. A população da região central de Goiás, por onde a estrada iniciou, foi chamada a ajudar, e viu
milhares de novos moradores chegarem para ocupar os vazios do grande território, construindo cidades e
trazendo o progresso.
A sua ampliação como Rodovia Belém-Brasília foi determinada por Juscelino Kubitscheck para unir a nova
capital ao norte do país, dentro da mesma política de ligação e ocupação da Era Vargas. O mesmo
Bernardo Sayão dirigiu a obra entre 1958 e 1959, sendo morto num acidente de trabalho quando faltavam
apenas 50 km para concluir a estrada (SAYÃO, L. 1994).
Por quase duas décadas, caminhões cruzaram os mais de 2500 km de pista de terra, transportando o
progresso para o norte do país. A estrada permitiu a abertura de várias frentes de colonização no cerrado e
na floresta, em regiões até então habitadas apenas por nações indígenas e povos tradicionais. Num
processo de integração do cerrado como centro produtor agropecuário importante para a economia do país.
Além de permitir a abertura de campos de produção em plena floresta amazônica.
Acompanhando o projeto de interiorização da ocupação e do desenvolvimento do Brasil no período militar,
a Belém-Brasília foi asfaltada durante o governo Médici, tendo sido concluída por volta de 1977. A obra fez
uma retificação de traçado, desviando do centro de várias cidades no trecho, impulsionando novo
crescimento urbano e desenvolvimento regional.
Em 2008, inúmeras cidades ao longo da Belém-Brasília irão festejar o cinqüentenário de uma fundação
marcada pelo desbravamento da região e guiado pela comunicação estabelecida pela estrada. A visão
desenvolvimentista, baseada nos três pilares, estrada, ocupação territorial e progresso, continua bem viva
entre os entrevistados desse trabalho de Percepção Ambiental. E pode ser reforçada pela contra idéia de
que o desenvolvimento fica bloqueado sempre que a estrada perde as condições de trafegabilidade, como
ocorreu nos últimos 10 anos.
Estrada boa, com progresso social e econômico regional são associações de idéias fortes e muito
presentes entre os entrevistados. Em tese, essa associação ajuda a atribuir valor de extrema importância
para o projeto de duplicação do trecho da BR-153 entre Anápolis e Porangatu.
Exemplo de falas
MOR 2.2 Pra mim, importância só pra diminuir o engarrafamento, congestionamento na estrada, né.
Diminui os acidentes.
MOR 5.1 Ela vai melhorar muito, vira outra coisa, melhora 100%. Pode trazer algum benefício além do que
já trouxe. Talvez algum dia alguém pode trazer alguma coisa, se alguma empresa quiser vim pra cá, vai tê
facilidade de trânsito, de escoar.
MOR 7.1 Acho muito boa, melhora muito, valoriza as propriedades que tem na beirada, os comércios, os
postos. Ajuda a desenvolver mais movimento. Traz mais benefício.
MOR 10.1 Importância que eu acho que não vai ser bom pros fazendeiros. Vai cortar um mundo de terra e
depois não vai querer indenizar. Depois vai pra justiça e pode dar até morte. Bom é, mas tem que ser
organizado. Primeiro indeniza e depois faz a estrada. Só saio depois que eu receber.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 193
Jaraguá, Praça do Cruzeiro, Av. Bernardo Sayão,
antiga pista da Rodovia Belém-Brasília no centro comercial da cidade
MOR 12.1 Importante é porque vai te mais segurança e vai ficá toda melhor, né. É uma estrada que
merece, porque ela tem muito movimento e tá aumentando cada vez mais.
AGR 15.1 Diminui os acidentes com ultrapassagem. A gente que anda nos acostamentos, se acontecer um
acidente, o carro vem pro lado da gente. Fica melhor para a ambulância transportar os doentes.
COM 16.1 Essa mudança é uma necessidade que eu tenho. Vai adiantar, menos risco, acidente. A BR 153
é o eixo de tudo. Quem abastece Belém, Palmas é Goiânia, Anápolis. Tudo depende ai dessa estrada. Nós
somos três irmão no comércio, cada dia um tá na estrada. Nós carrega quatro caminhões de verdura por
semana, nós traz pra feira muita mercadoria, são três sacolão, supermercado também, a gente vende
atacado e varejo. Acidente tem todo dia, atrasa tudo. Duplicar é um salva-vida. É um adianto.
COM 17.1 Progresso. Fica mais fácil a vinda de novos empregos. Traz pra empresa, traz pra todo mundo.
TUR 37.1 Principalmente pra Poranagatú, pro turismo, mais renda para o município. Incentivar as pessoas
a transitar nela, com as estrada boa as pessoas rodam mais nela.
TUR 38.2 Ia melhorar a estrada, né?! Paralisar mais os acidentes e o acúmulo de carros.
CAM 40.4 Duplicada ela vai ficar mais prática, o povo vai andar mais nela. O povo assusta quando tem que
andar nela, por causa dos acidente. O povo tem medo de andar nela.
CAM 41.1 Ela iria trazer maiores benefícios tanto para os usuários quanto para os que moram nas
imediações da rodovia. E pros produtores também. Ela iria possibilitar o transporte com melhores preços.
Sem contar a segurança da pista duplicada, é uma diferença brutal!
CAM 42.1 Ia melhorar todos os municípios. Ia trazer mais desenvolvimento para o norte, o progresso para a
região. Redução da prostituição. A população encontra-se meio atrasada, em geral. Trazer fábricas,
desenvolvimento dos municípios. Pra cá não se produz nada, muito pouco.
APB 45.1 Pra mim que sou usuário, vou constantemente a Brasília e Goiânia, a duplicação seria uma
garantia de fazer uma viagem mais sossegada, com menos tempo, mais segurança. Acho que pela
importância dela para o desenvolvimento e a segurança ia evitar tantas mortes, o meio ambiente seria o
menor em relação ao impacto. Porangatu tá parada por falta de desenvolvimento. Se não fosse possível
duplicar, pelo menos melhorar, duplicar uma parte, terceira pista no resto.
APB 49.1 Aqui mesmo no povoado Serra de Campo e Santa Tereza, eles surgiram com a construção
dessa estrada. Pode trazer constrangimento pra população. Por um lado pode facilitar, trazer benefício,
mas por outro lado vai ter que remover pessoas. Essa escola pode ser afetada, né?! Vai ter muito
questionamento sobre isso.
APB 50.1 Pra mim é quase tão importante de quando ela foi construída. A importância é quase a mesma. O
fluxo que ela tem hoje é insuportável. O norte e o sul do país passa aqui. Agora manter uma pista é
economicamente inviável. Tem que ter duas pistas. Ela é uma artéria, assim tá bloqueando o
desenvolvimento.
O Quadro 4.15 apresenta o estudo da percepção que as pessoas entrevistadas têm das mudanças que
podem ocorrer com a duplicação da BR-153 no trecho Porangatu a Anápolis.
Quadro 4.15
Percepção de mudanças futuras
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
T1 4 2 4 1 4 5 5 5 30
Trânsito produtivo 44
T2 1 4 1 2 1 5 14
Desenvolvimento T1 3 1 6 1 1 2 14
26
regional T2 1 3 2 1 5 12
T1 3 1 4
Moradores indenizados 5
T2 1 1
Comércio de margem T1 1 2 3
4
prejudicado T2 1 1
T1 1 1
Sem-terras favorecidos 2
T2 1 1
Com a idéia de ter Uruaçu na Rota Turística de Goiás, a Prefeitura Municipal constrói em associação com
Furnas, PUC-GO e Instituto do Trópico Subúmido o Memorial Serra da Mesa. Esse tem o propósito de
resgatar a memória pré-histórica, social e cultural de Uruaçu e da região do Lago Serra da Mesa. As
instalações contarão, quando tudo estiver construído, com um museu de história natural, área de camping,
centro de treinamento, concha acústica, além de réplicas cenográficas de tamanho real de uma vila
tradicional, fazenda, aldeia indígena, quilombo e abrigo pré-histórico. Esse projeto, em avançado estado da
construção civil, realiza o plano municipal de se apropriar da melhor maneira do Lago Serra da Mesa e
suas potencialidades turísticas, contando com a BR-153 para favorecer a atração dos visitantes.
A idéia do projeto é formar um complexo multidisciplinar voltado para a educação ambiental, completado
com um centro sócio-esportivo e de lazer para aproveitar a beleza cênica e ecológica do lago. Assim,
pretende alçar Uruaçu à cidade turística de influencia estadual e até nacional, trazendo divisas e geração
de emprego e renda para os municípios da região do Lago de Serra da Mesa.
Para tanto, a condição principal para efetivar o Memorial Serra da Mesa é a boa trafegabilidade das
rodovias que dão acesso à cidade de Uruaçu, incluindo a BR-153. Dessa forma, a percepção das
mudanças futuras em relação à duplicação dessa rodovia vislumbra o desenvolvimento socioeconômico
regional, baseado no turismo, que estaria dependente do transporte rodoviário de boa qualidade.
A cidade de Jaraguá se projeta como um pólo produtivo do setor de moda, concentrando as atividades de
quatro outros municípios. As confecções ocupam um lugar importante nos projetos de desenvolvimento da
região, uma vez que favoreceriam a reafirmação de sua identidade cultural, facilitariam a geração de
emprego e renda, além da produção e intercâmbio de conhecimento e informações.
Como parte desses projetos, o plano diretor municipal prevê a criação do Via BR, um centro de moda
capaz de integrar as confecções locais, estimulando a coordenação de atividades cooperativas e
contribuindo para o fomento do turismo e dos negócios. Uma vez que a cidade se situa às margens da BR
153, o desenvolvimento do projeto passa por sua integração à rodovia, utilizando suas margens como
vitrine para expor e auxiliar no escoamento da produção local e destacar a região de Jaraguá no circuito
brasileiro da moda. O objetivo é extrair do movimento diário da rodovia potenciais compradores e
revendedores da moda produzida em Jaraguá.
A estação aduaneira do interior da Região Centro-Oeste, denominado Porto Seco Centro Oeste, está
situado no Distrito Industrial do Município de Anápolis. O seu objetivo é o de atuar como ponto facilitador do
escoamento da produção e recebimento de produtos importados. O porto seco funciona como zona
aduaneira e realiza todas as funções de um porto comum, equipado com Receita Federal, Ministério da
Agricultura e Ministério da Saúde.
O empreendimento, pertencente a um grupo de empresários goianos, está inserido na cadeia logística da
região facilitando importação, exportação e distribuição de mercadorias, interligando mercados regionais
importantes. Utiliza como principal rota de escoamento a ferrovia Centro-Atlântico, mas devido ao alto fluxo
de mercadorias em circulação enfrenta congestionamentos que prejudicam e encarecem o processo. Conta
com um movimentado acesso de caminhões oriundos dos estados do Centro-Oeste, Norte, Sul e Sudeste
do país, mas também enfrentam dificuldades com as rodovias utilizadas.
Diretores do Porto Seco do Centro Oeste, em entrevista para esse trabalho de Percepção Ambiental,
indicaram como alternativa ideal a utilização do porto de Itaqui, em São Luiz no Maranhão. O potencial de
carga ainda não esgotado e sua localização em relação aos mercados no norte contam favoravelmente.
Outro fator positivo para intensificar os negócios através de Itaqui, é o traçado plano da Belém-Brasília e
extensões, facilitando a via rodoviária. Contudo, as más condições de trafegabilidade da BR-153 em vários
pontos do Estado de Goiás fazem com que essa possibilidade seja ainda inviabilizada. O Porto Seco
Centro-Oeste apóia a revitalização da BR-153 que significará não só uma alternativa de escoamento da
produção como também um pivô do desenvolvimento econômico da região central e norte do Brasil, o que
pode vir a otimizar os serviços do Porto Seco, de acordo com a percepção dos entrevistados.
Exemplo de Falas
MOR 2.2 O caso da minha borracharia, vai atrapalhar pra mim. O espaço da minha borracharia é o da BR,
se duplicá ela, eu vou perdê. Uma carreta não vai poder nem manobrar lá. Pra mim fica ruim.
MOR 4.3 Pra mim vai me apertar mais, além da terra ser muito pequena, ainda vai alargar mais a estrada.
E se nós sair daqui fica mais sem condição. Ai não pode morar mais. Duas pistas já é difícil atravessar,
quatro pistas é um perigo.
MOR 5. A primeira parte vai ser bom pra motoristas, vai ajudar muito as pessoas, vai ter mais tranqüilidade.
As pessoas vai tirar as preocupações de motoristas e passageiros de ônibus e de carro pequeno também.
Os carros pequenos não são respeitados.
MOR 7.1 Melhorar a situação dos moradores, pecuaristas, criadores. Pra dar mais chances de vender seus
produtos em outras cidades e ter mais lucros. E vender a preços melhores, aqui os produtos são muito
baratos.
MOR 8.4 Ai é bom porque eu saio daqui da beirada dela. Ah, se faz uma coisa dessa, nós vai pra dentro da
primeira terra!
MOR 9.3 São inúmeras. Muitas mudanças, só benefício. Na época da construção, tiraram nossas terras
mais úteis, mais de 40m de largura por 100m de comprimento, ninguém recebeu nada do estado.
MOR 10.3 No meu ver podia me prejudicar, não só eu, mas outros moradores também. Eu vou ter que sair,
né?! Comprei e paguei, mas vou ter que sair. Tem laranja, jaca, caju, manga de porco.
MOR 11.1 Miora, eu acho que miora em tudo, né?! Diminui os acidentes, o transporte é mais rápido.
MOR 12.6 Ai vai te muita indenização ai, né?! Porque esses fazendeiros ai, eles mexeram ai e não
indenizaram ninguém. Eles vai ter que enlarguecê ela e vai ter que tirá muita gente que vive dela, mora na
beira dela, tem seu comércio ai. Vai mexe ai, vai dá muita indenização ai. Pra fazê isso aí a primeira coisa
é, antes de mexê, vim a indenização. Porque o governo começa a mexê e depois não paga e ai vai tudo
pra justiça, dá briga e dá até morte. Não vai ser bom não, vai cortar terra ai, não indeniza, não paga,
ninguém vai sair de graça, não. Antigamente, nas terras do meu pai, quando cortou ai nunca pagô. A gente
ainda paga impostos disso ai até hoje. Não desmembrou a escritura até hoje.