Volume1 Parte2 Percpcao Ambiental BR 153 Rev

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 42

Capítulo 4

Percepção Ambiental
1.1. Introdução
O Estudo de Percepção Ambiental foi realizado entre as comunidades que interagem com a BR 153, na
região entre Porangatu e Anápolis, parte integrante do Estudo de Impacto Ambiental – EIA de Duplicação
da BR-153, Goiás, Subtrecho Porangatu (km 68,5) a Anápolis (km 435,4).
O estudo buscou registrar as percepções, as atribuições de valores e as atitudes das pessoas em relação à
rodovia. Compõe um exemplo das falas e representações dos indivíduos sobre as experiências cotidianas
vividas no uso e na convivência com a rodovia.
Exemplifica a construção histórica da relação socioeconômica de moradores, empresários e agentes
públicos com a BR 153 no processo de ocupação, desenvolvimento e integração produtiva do norte do
Estado de Goiás.

Estrada da Colônia, travessia Rio das Almas em Ceres. Ponte de tambor,


tipo balsa, construída por Bernardo Sayão em 1942.
Foto: acervo Câmara Municipal de Rialma

Estrada Belém-Brasília - aberta por Bernardo Sayão em 1958


Carros e passageiros retidos por bloqueio da estrada ao norte de Ceres
Foto: acervo Câmara Municipal de Rialma, da década de 1960

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 163


“Ela na minha imaginação, que eu conheço pouca coisa, ela é o que transporta todas as riquezas que
pegam lá do norte do país e transporta todas as coisas. Ela começa lá no mar, pega as coisas do navio dai
e lá de fora e transporta pra todo lugar ai. Ela é um transporte mundial. Ela tem galho pra todo lado. Ai ela
entra nas cidades pequenas, Mara Rosa, Minaçu e vai entrando pras fazendas tudo e vai indo e não acaba
nunca! Belém - Brasília”, MOR 4.

1.2. Estudo de percepção ambiental na análise de impacto ambiental


O estudo de Percepção Ambiental parte do princípio de que o “meio ambiente é tudo que rodeia o Homem,
quer como indivíduo, quer como grupo, tanto o natural como o construído, o social e mesmo o psicológico”
(Oliveira, L. 1983).
Enfocando as paisagens e os lugares modificados ou a serem modificados os estudos da Percepção
Ambiental, de modo geral, procuram explicitar as percepções, os valores atribuídos, as preferências, gostos
e atitudes dos indivíduos. Assim, avaliam qualitativamente um empreendimento e seus impactos,
considerando a imagem coletiva que os grupos de indivíduos podem ter.
A Percepção Ambiental não corresponde a um levantamento de opinião pública. Seu propósito é o de
conhecer o elo afetivo entre grupos sociais e os lugares onde desenvolvem suas atividades, além de
verificar de que maneira eles se manifestam cognitiva e afetivamente em relação à paisagem e suas
transformações.
O estudo da Percepção Ambiental vem ao encontro das necessidades técnicas do planejamento e análise
de ações voltadas para o desenvolvimento local e regional. Contribui fornecendo o conhecimento das
percepções que os diferentes agentes e grupos sociais têm sobre a paisagem e os projetos a serem
desenvolvidos.
Os aspectos sociais e os valores culturais de uma comunidade são comumente desprezados no processo
de tomada de decisão. Mas essa metodologia de estudo aceita o desafio de articular e expressar em
linguagem científica a questão da atribuição de valores dos indivíduos e dos grupos sociais; busca
informações dos demais agentes com responsabilidade e poder de decisão; e identifica conflitos de
interesses e valores. Isso é fundamental, diante da necessidade de se pensar novas práticas de gestão que
procurem as alianças sociais e o pacto territorial.
As experiências com estudos de Percepção Ambiental mostram que essa metodologia permite, na prática,
uma melhor compreensão do universo do problema tratado, identificação dos conflitos de interesses e dos
impactos sobre os diferentes grupos sociais. Permitindo também, uma ação mais efetiva dos técnicos
ambientalistas, dos agentes públicos e do próprio poder público.
Em síntese, o que se procura com esse tipo de abordagem, é o desenvolvimento socioeconômico e
ambiental com participação local e controle democrático, onde as decisões considerem os usuários.
Concebido desta forma, o desenvolvimento amplia-se no campo social e adquire uma dimensão política no
gerenciamento ambiental, na educação e na participação. No conjunto, essas políticas somam novas
condutas em questões de interesse coletivo. Em tudo isso há uma contribuição dos estudos de Percepção
Ambiental.

1.3. Definições teóricas e metodológicas


1.3.1. Considerações teórico-conceituais

Vários fatores têm influencia na percepção e na interpretação individual sobre o meio ambiente, como
aponta ANDRE (2004). O propósito de construir um projeto numa área traz novos dados que contribuem
para que os residentes modifiquem suas imagens sobre o meio onde vivem. A intenção da construção do
projeto é transmitida pelo proponente do projeto e os dados sobre ele são veiculados através da mídia,
jornais, relatórios de estudos de impactos e audiências públicas. O processo de percepção individual
destaca certos elementos da informação combinado-os de modo real ou imaginário, contribuindo para a
formação de uma nova imagem mental do meio onde se vive incorporando o projeto.
De acordo com BAILLY (1977), a percepção da mensagem de um projeto forma uma imagem mental que
depende dos fatores individuais (personalidade; memória; experiências sociais, econômicas, culturais e
políticas; conhecimento ecológico; fatores fisiológicos e psicológicos), que são influenciados pelos filtros
sensoriais (experiências do mundo vivido) e filtros da comunicação.
Assim, para ANDRE (2004), o indivíduo submete a imagem do seu meio experienciado, do meio futuro sem
o projeto e do meio futuro com o projeto a fim de avaliar os riscos da mudança, assumindo ou não o
projeto. Essa análise individual de risco do projeto depende da relação de pertença do lugar (apropriação

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 164


pessoal do meio, relação afetiva para com o meio e os propósitos que o mantêm no meio), RELPH (1987).
Esse processo forma um novo senso sobre o meio e leva o indivíduo a uma ação favorável ou não ao
projeto.

1.3.2. Definições metodológicas

O embasamento teórico-metodológico dessa pesquisa de Percepção Ambiental sobre a duplicação da BR


153, Trecho Porangatu - Anápolis respaldou-se nas colocações conceituais de TUAN (1980), quando diz
que ao percebermos, conferimos um valor a um elemento. Assim, o conceito de topofilia foi utilizado como
sendo os laços afetivos positivos entre os seres humanos e o meio ambiente onde se incluem.
Contudo, a percepção e os sentimentos variam de pessoa para pessoa e de grupo para grupo, como afirma
o autor. Como contraponto, encampou-se o conceito de topofobia proposto por RELPH (1979) ao analisar
as manifestações negativas em relação ao lugar onde o sujeito vivencia suas experiências cotidianas.
A pesquisa também utilizou a idéia apresentada por ZUBE (1984) sobre a adaptação da população às
paisagens e aos espaços renovados e lugares que sofreram mudanças e impactos decorrentes de
implantação de projetos modificadores do espaço.
O levantamento dos dados foi feito através de questionário aberto, com perguntas que procuraram
identificar as relações diretas e indiretas entre os diferentes grupos de pessoas e o espaço vivido como
indica WHYTE (1977). E ainda, levantar as diferentes formas de uso da estrada e ocupação da sua
margem, o modo de vida dos ocupantes das áreas de desvios propostos e áreas que deverão sofrer
intervenção.
Os sujeitos consultados constituíram uma amostra intencional por unidades espaciais GERARDI (1981),
determinada por critérios técnicos de caracterização espacial, social, econômica e cultural. E os grupos de
sujeitos entrevistados foram definidos e distribuídos em função das atividades exercidas, das relações de
uso e dependência, entre três trechos diferenciados da estrada.

BR-153, Porangatu, trevo norte

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 165


1.4. O estudo da percepção ambiental da BR-153
1.4.1. Procedimentos da pesquisa

Tomando por base as orientações metodológicas definidas para esse estudo de Percepção Ambiental, a
pesquisa iniciou-se com o reconhecimento de campo e a definição dos trechos diferenciados nas regiões
de entorno e ao longo da rodovia. Além disso, foram determinados os grupos sociais que mais interagem
com a rodovia em toda a sua extensão, estabelecendo grupos de entrevistados e trechos pesquisados,
procurando exemplificar as experiências socioeconômicas produzidas naquele espaço de vivência da
BR-153.

1.4.1.1. Definição de grupos de sujeitos entrevistados

A coleta de dados foi organizada a partir da seleção de diferentes grupos de sujeitos, com residência e
atuações variadas. Esses grupos foram identificados para permitir melhor recobrimento das redes de
relações sociais, culturais e econômicas, nas áreas de domínio de cada segmento social, além de favorecer
a amostragem do estudo das percepções, valores e atitudes. Foi possível estabelecer nove (9) grupos de
entrevistados que compõem os grupos de análise do estudo. Esses são compostos por moradores,
empresários, agentes públicos e/ou usuários da estrada, nos municípios ao longo do eixo da BR-153,
sempre no trecho objeto desse estudo de Diagnóstico Ambiental.
Uma parte dos entrevistados corresponde aos moradores de cidades localizadas ao longo do eixo, como
Porangatu, Santa Tereza de Goiás, Uruaçu, Rialma, Jaraguá entre outras. Outros são moradores das
zonas rurais dos municípios dispostos ao longo do eixo da BR-153. O morador rural entrevistado nas
fazendas às margens da rodovia, e tendo declarado ser proprietário ou gerente do empreendimento
agropecuário ou agrícola foi classificado como parte do grupo dos agropecuaristas.
Proprietários ou gerentes de estabelecimentos comerciais da economia formal ou informal localizados nas
margens da rodovia correspondem ao grupo dos comerciantes. Completa ainda esse grupo alguns
comerciantes entrevistados nas áreas centrais das cidades, em grandes estabelecimentos comerciais que
têm grande dependência logística da BR-153.
Alguns grupos de sujeitos são formados por usuários freqüentes da BR-153, e os entrevistados foram
abordados nos pontos de parada de ônibus, oficinas mecânicas, restaurantes, postos de gasolina e/ou
outros tipos de estabelecimentos comerciais às margens da pista. Esses grupos foram entrevistados como
viajantes turistas, viajantes caminhoneiros e viajantes comerciais. Nesse último, foram incluídos os
motoristas de ônibus e os representantes comerciais que viajam no trecho.
Outro grupo de sujeitos entrevistados se refere aos agentes públicos, como, servidores de repartições ou
instituições públicas dos vários municípios do trajeto. Nesse grupo estão incluídos os vice-prefeitos,
secretários municipais, técnicos municipais de nível superior, policiais militares, policiais rodoviários
federais, oficiais do Exército, membros de sindicatos e associações, diretores de escolas públicas
municipais, entre outros.
Também foram entrevistados proprietários ou técnicos de nível superior com cargo de gerente de
indústrias, buscando estabelecer uma exemplificação para esse grupo. E ainda foram entrevistados
proprietários ou diretores de grandes transportadoras de carga que usam predominantemente a BR-153 e
que prestam serviços para grandes empresas da região, incluindo indústrias e agronegócios.
Assim, buscou-se exemplificar os fenômenos sociais, culturais e econômicos tipicamente associados à BR-
153 no trecho de interesse, através da percepção de indivíduos distribuídos em grupos variados. O
Quadro 4.1 apresenta a relação de grupos de indivíduos entrevistados, indicando as abreviaturas utilizadas
no texto para simplificar a apresentação dos resultados.
Quadro 4.1
Grupos de sujeitos entrevistados
Grupos Abreviaturas
Morador MOR
Agropecuarista AGR
Comerciante COM
Industrial IND
Transportador TRA
Viajante Comercial VCM
Turista TUR
Caminhoneiro CAM
Agente Público APB

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 166


BR-153, próximo ao km 148, Município de Campinorte.
Retenção de veículos provocada por acidente

1.4.1.2. Definições dos trechos analisados

Para auxiliar na análise, o trecho rodoviário do estudo foi dividido em dois segmentos diferenciados
geograficamente, que coincidem com os limites estabelecidos pelas mesorregiões Norte e Centro do
Estado de Goiás. A área pesquisada foi limitada às zonas urbanas da Área de Influência Direta - AID - e
zonas urbanas e rurais mais próximas do eixo da estrada na Área Diretamente Afetada - ADA - definidas
para o Diagnóstico Ambiental do Meio Socioeconômico desse estudo.
O primeiro segmento rodoviário está inserido na Mesorregião Norte Goiano e inclui os municípios de
Porangatu, Santa Tereza de Goiás, Estrela do Norte, Mara Rosa, Campinorte e Uruaçu. O segmento foi
denominado Trecho Porangatu - T1, levando-se em consideração a importância e a influência da cidade
homônima.
O segundo segmento está inserido na Mesorregião Centro Goiano, e é composto pelos municípios de
Hidrolina, São Luiz do Norte, Nova Glória, Rialma, Rianápolis, Jaraguá, São Francisco de Goiás, Petrolina
de Goiás, Pirenópolis e Anápolis. De modo semelhante ao primeiro, esse foi denominado Trecho
Jaraguá - T2.
Os trechos foram denominados e numerados para facilitar a identificação no texto como demonstrado a
seguir:
 T1 - Trecho Porangatu
 T2 - Trecho Jaraguá
A Figura 4.1 apresenta as divisões espaciais definidas para a pesquisa como Trecho Porangatu e Trecho
Jaraguá.

1.4.1.3. O instrumento de medida

O instrumento de medida para a coleta de dados constou de nove (9) questionários, com questões abertas
de cunho perceptivo adaptadas aos grupos de sujeitos entrevistados, além de questões para informação de
dados pessoais dos sujeitos.
Esses questionários foram aplicados na AID e na ADA, pela técnica responsável pelos estudos de
Percepção Ambiental e um técnico auxiliar. A aplicação dos questionários foi feita considerando os dois
trechos da BR 153: Norte, e Centro (Figura 4.1).
Os indivíduos entrevistados encontravam-se nas comunidades das zonas urbanas e rurais que margeiam a
rodovia e nas cidades, da AID e ADA. O tamanho da amostra, ou seja, o número de questionários a serem
aplicados foi determinado considerando a complexidade dos fenômenos econômicos, sociais e culturais
que se desenvolvem ao longo de cada um dos dois trechos.
Foram recobertos caminhos marginais em comunidades, fazendas e cidades para entrevistar moradores,
agentes públicos, industriais e transportadores. Os estabelecimentos comerciais de margem foram
pesquisados, procurando entrevistar preferencialmente o próprio comerciante, bem como os turistas,
viajantes comerciais e caminhoneiros que estivessem parados nesses locais.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 167
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 168
O Quadro 4.2 mostra a quantidade de questionários aplicados por grupos de sujeitos entrevistados e por
trechos analisados.
Quadro 4.2
Controle de questionários aplicados por trechos e por grupos
Grupo T1 T2
Total
Nome Abreviatura Porangatu Jaraguá
Morador MOR 12 3 15
Agropecuarista AGR 3 5 8
Comerciante COM 12 4 16
Industrial IND 1 3 4
Transportador TRA 1 2 3
Viajante Comercial VCM 4 1 5
Turista TUR 5 1 6
Caminhoneiro CAM 6 5 11
Agente Público APB 8 5 13
Total 52 29 81

O instrumento de medida foi organizado com temas que procuraram explorar o conhecimento das
percepções, atribuição de valores e atitudes dos diferentes grupos de sujeitos. O Quadro 4.3 apresenta os
temas centrais das questões propostas aos entrevistados, por grupo.
Quadro 4.3
Perguntas por grupos de análise
Grupos entrevistados
Perguntas
MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB
Para você, qual a importância da estrada
x x x x x x x x x
Belém - Brasília?
Quando você pensa na BR-153, de quê você
x x x x x x x x x
se lembra primeiro?
O que diferencia essa estrada de outras que
x x x x x x x x x
você conhece?
Quais os principais desafios que você
x x x x x x x x x
enfrenta em relação à BR-153?
Quais as mudanças que a duplicação da BR-
153 entre Anápolis e Porangatu pode trazer x x x x x x x x x
para a sua região?
Para você, qual a importância de uma obra de
x x x x x x x x x
duplicação na Belém-Brasília?
Se você pudesse decidir, o que você faria
para transformar a Belém-Brasília numa boa x x x x x x x x x
estrada?
Ao viajar entre a região de Goiânia e o
Tocantins qual o trajeto mais utilizado por x x
você? Justifique.
Como é morar aqui? x
Para você, qual a melhor coisa que poderia
x x x x x x x x x
acontecer em relação à BR-153?
Quais os principais tipos de carga? x x x
Quais os principais origens e destinos da
x x x
carga?

1.4.2. Perfil dos sujeitos entrevistados

Os dados referentes aos indivíduos entrevistados foram organizados totalizando os números do perfil dos
sujeitos entrevistados, e estão apresentados nos Quadros 4.4 a 4.8.
Quadro 4.4
Perfil dos sujeitos entrevistados - Sexo
Sexo Total de Entrevistados %
Masculino 70 86
Feminino 11 14
Total 81 100

Quadro 4.5
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 169
Perfil dos sujeitos entrevistados - Idade
Idade Total de Entrevistados %
19 até 27 11 14
28 até 35 12 15
36 até 43 17 21
44 até 51 16 20
52 até 59 11 14
60 até 68 9 11
69 até 76 4 5
77 até 86 anos 1 1
Total 81 100

Quadro 4.6
Perfil dos sujeitos entrevistados - escolaridade
Escolaridade
Nível educacional Total de Entrevistados %
Analfabeto 2 2
Ensino Fundamental incompleto 22 27
Ensino Fundamental 7 9
Ensino Médio incompleto 3 4
Ensino Médio 25 31
Ensino Superior incompleto 6 7
Ensino Superior 16 20
Total 81 100

Quadro 4.7
Perfil dos sujeitos entrevistados - profissão
Profissão Total %
Administrador 1 1
Agricultor 3 4
Agropecuarista 1 1
Aposentada 4 5
Auxiliar de escritório 1 1
Borracheiro 1 1
Comerciante 11 14
Contador 2 2
Coordenador Bolsa Família 1 1
Do lar 4 5
Empresário 3 4
Encarregado de transportes 1 1
Frentista 1 1
Funcionário público 2 2
Gerente 3 4
Gestor Público 1 1
Industrial 1 1
Lavrador 7 9
Locutor 1 1
Mecânico 1 1
Militar 3 4
Motoboy 1 1
Motorista 13 16
Operador máquina 1 1
Pintor 1 1
Policial Rodoviário Federal 1 1
Professora 1 1
Recepcionista 1 1
Secretária 1 1
Secretário administrativo 1 1
Serviços Gerais 1 1
Taxista 1 1
Técnico Laticínios 1 1
Tesoureiro 1 1
Vendedor 2 2
Veterinário 1 1
Total 81 100

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 170


Quadro 4.8
Perfil dos sujeitos entrevistados - Naturalidade
Cidade Natal
Cidades Total %
Abadiânia - GO 1 1
Amaro Leite - GO 1 1
Anápolis - GO 3 4
Aparecida de Goiânia - GO 1 1
Araguaçu - TO 1 1
Araguari - MG 1 1
Barra do Cordi - MA 1 1
Barro Alto - GO 1 1
Belém -PA 1 1
Brasilia - DF 1 1
Caçu - GO 1 1
Campinópolis - GO 1 1
Campinorte - GO 1 1
Canápolis - BA 1 1
Carmo do Rio Verde - GO 1 1
Ceres - GO 4 5
Conquista de Minas - MG 1 1
Cromínia - GO 1 1
Espera Feliz - ES 1 1
Estrela do Norte - GO 2 2
Goiânia - GO 4 5
Gurupi - TO 1 1
Hidrolina - GO 2 2
Horizona - GO 1 1
Inhumas - GO 1 1
Ipameri - GO 1 1
Ituiutaba - MG 1 1
Jaraguá - GO 7 9
Lagoa Formosa - MG 1 1
Mara Rosa - GO 1 1
Maracás - BA 1 1
Morrinhos de Goiás - GO 1 1
Murici - AL 1 1
Mutunópolis - GO 1 1
Nova Glória - GO 2 2
Novo Horizonte - SP 1 1
Obayama - Japão 1 1
Ouro Fino - MG 1 1
Paranã - TO 1 1
Patos de Minas - MG 4 5
Pelotas - RS 1 1
Pires do Rio - GO 2 2
Pirenópolis - GO 1 1
Porangatu - GO 3 4
Rialma 1 1
Rubiataba 1 1
S Pedro Araguaia 1 1
São Luiz do Norte 1 1
São Paulo 1 1
Sta Maria - RS 1 1
Sta Tereza 1 1
Terezina - PI 1 1
Tiros MG 1 1
Tupaciguara 1 1
Unai - MG 1 1
Uruaçu 3 4
Total 81 100

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 171


1.5. Percepções - valores - expectativas
O estudo da Percepção Ambiental da BR-153 foi estruturado em três aspectos principais: a percepção, os
valores e atitudes das comunidades residentes e/ou interativas com a rodovia. O resultado é apresentado
por temas que exemplificam o conjunto das experiências do mundo vivido, identidade, elo afetivo com o
local da moradia, significados atribuídos, vínculos e expectativas dos entrevistados.
Os temas são apresentados nesse item como uma síntese das respostas fornecidas pelos indivíduos,
categorizadas e dispostas num quadro.
A síntese demonstra a imagem mental individual, e a somatória pode ser entendida como imagem coletiva.
Contudo, os temas devem ser considerados em conjunto para que se possa interpretar as percepções,
valores e atitudes em relação à BR-153. O conjunto dos temas pesquisados com a sua interpretação está
apresentado nos itens a seguir.

1.5.1. A imagem da BR-153

A síntese da pesquisa sobre a percepção da BR-153 revelada pelas lembranças evocadas pelos
entrevistados é apresentada como a imagem da rodovia e está registrada no Quadro 4.9. Essa imagem que
os diferentes grupos de entrevistados demonstram é carregada de significados construídos pela vivência do
espaço de circulação da rodovia.
Quadro 4.9
Imagem da BR-153
AG TR CA AP Sub-
Categorias T MOR COM IND VCM TUR Total
R A M B total
T1 1 2 1 1 2 1 8
Buraco 19
T2 2 3 1 1 3 1 11
Negativa

T1 3 1 5 1 2 2 14
Perigo 17
T2 1 1 1 3
T1 2 2 1 1 6
Poeira do passado 7
T2 1 1
T1 4 1 1 1 1 1 9
Conforto 14
T2 1 1 2 1 5
T1 1 2 1 2 3 9
Desenvolvimento 13
Positiva

T2 2 2 4
T1 1 1 1 3
Trabalho pessoal 8
T2 4 1 5
T1 1 1
Beiradas 3
T2 1 1 2
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81

As experiências vividas se transformam em representações evocadas para imagear a rodovia. Da relação


topofóbica – relação afetiva negativa – vem uma apropriação de imagens negativas evocadas pela maioria
dos entrevistados. Os buracos da pista de rolamento formam a imagem mais forte lembrada por indivíduos
de todos os grupos.
O perigo representado pelo tráfego intenso sobre a pista estreita, mal conservada e sem sinalização, com
freqüentes acidentes forma outra forte imagem negativa da BR-153, lembrada por vários grupos de
entrevistados.
As lembranças de boas experiências vividas antes da construção da estrada e sobrepostas pela
convivência sofrida com a poeira do passado numa estrada em construção, ainda sem asfalto, também
carregam uma relação topofóbica projetada na imagem.
A imagem da BR-153 também é sustentada por lembranças positivas, carregadas por experiências
topofílicas – relação afetiva positiva. Uma estrada útil, tanto para viajar quanto para trabalhar, disponível
bem próxima de casa permite conforto que fixa uma imagem importante entre moradores.
A imagem de desenvolvimento promovido pela BR-153 tem origem em lembranças de um processo
histórico que resultou em grandes mudanças socioeconômicas para a região. Essa imagem permeia a
percepção e a atribuição de valor à estrada principalmente entre os entrevistados do grupo de agentes
públicos.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 172


São Francisco de Goiás, Trevo da BR-153 com GO-080 para Nerópolis

Para quem tira o sustento pessoal e familiar de atividades diretamente ligadas à estrada, como
comerciantes e caminhoneiros, o trabalho pessoal se transforma na imagem da BR-153. E por fim, o
experienciar da estrada por usuários que caminham nas suas margens é transferido para a imagem que
corresponde às beiradas dela.
Exemplo de falas
APB.51.4. Acidentes, sempre. Eu sou do resgate e faço parte da defesa civil... Esse trecho entre Porangatu
e Campinorte é crítico, muitos acidentes, principalmente na época das reformas.
APB.52.3. Bernardo Sayão. Eu era menino, ouvia falar desse Bernardo Sayão que fez a abertura dessa
BR-153. A antiga Belém/Brasília passava aqui dentro da cidade (Campinorte). O vilarejo que era do lado de
lá migrou todo pra cá quando asfaltou, desviou mais ou menos 300m pra direita.
MOR.53.7 Essa BR aqui pra nós do médio norte, pra cá, isso é quase uma veia de um coração que ta
escoando pra cá. E vai e vem sem parar. Ela pra nós aqui é o pulmão do mundo!
MOR.54.1 Só penso que a gente tá bem confortado ai com o recurso dela, né?! É só passar o carro ai e vai
onde quer. Ai era muito buraco, ai eles passavam ai e fazia barulho demais. Agora não, tá macia!
AGR.57.5 A imagem é melhoria, né?! Esse trecho nosso é muito ruim. Teve tempo que a patrola vinha e
espalhava terra em cima do asfalto. Vinha a caçamba, jogava terra e a patrola espalhava, de tanto buraco
não via o asfalto.
AGR.60.1 Eu penso que é um benefício que a gente tem na porta. Quem tá na beira dela é muito fácil
locomover pra Goiânia e ai afora.
COM.63.2 Ah, eu lembro que eu vivo é dela. Sem ela não tem como.
COM.64.2 No trabalho, no comércio. A dez anos atrás o movimento era muito melhor, tinha mais
compradores. Antes de estragar as estradas era movimento direto. Ai os caras arranjaram outras estrada.
Com a arrumação o movimento tá voltando.
IND.65.5 A imagem do asfalto ruim, a buraqueira, já entra na BR xingando o governo. Ai já vê o buraco e
fica pensando em acidente.
TRA.69.1 Hoje, no caso, eu lembro quando ela foi asfaltada pela primeira vez. O nosso vizinho era o chefe
da obra. Nossa! Aqui era chão! E asfaltou, e era bonito demais! E agora, a gente vê isso ai só acabando em
buraco, é ruim demais. Essa BR antes cortava aqui por dentro de Rialma e atravessava numa ponte de
tambor e saía em Ceres. Em 82 teve uma enchente aqui que cobriu as pontes todas. A fábrica de leite era
em Ceres, pequenina, tiveram que emendar os mangotes pra tirar o leite. Ai vendeu pra Nestlé e fez a
fábrica nova em Rialma, na beirada do asfalto novo. A SPAM, a antiga dona da fábrica (de leite), teve papel
importante aqui. As linhas de leite buscavam longe, era tudo de chão. Saia um caminhão pra buscar o leite
nas fazendas, atolava, quebrava. Ai tinha que sair pra buscar peça, puxava com animal, perdia o produto
todo. Isso era domingo, era todo dia. Veio o asfalto e teve um papel importante para escoar o leite ai. Logo
em seguida, saiu o asfalto nas linhas que a gente fazia. A Nestlé construiu a fábrica aqui na beirada. Ai, né,
nossas carreta vão muito pra São Paulo e Minas Gerais, tudo é pista dupla, tem pedagiada também.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 173
TUR.71.9 Nesse momento lembro dela bem, já nivelou, arrumou o asfalto. Se fosse três meses atrás, tinha
muito buraco. Até motorista falava. Era pneu, manutenção, e agora tá bem melhor.
CAM.74.4 Penso nos buracos, no perigo dela com a falta de sinalização. Nela aí, enfrentá bauzeiro
irresponsável.
CAM.76.12 Chegar no destino, sair de Anápolis e chegar a Belém, só isso que eu lembro. É uma extensão
grande.
APB.79.1 A lembrança desse progresso que ela trouxe para essa região norte. Foi um marco de
desenvolvimento muito grande quando ela passou tê o asfalto. Eu era menino quando o Médici esteve aqui
em Jaraguá pra inaugurar o asfalto Jaraguá-Anápolis.
VCM.33.2 No meu caso, são as vendas. Penso no que eu trabalho nela. Faço vendas através da BR 153.
Penso no meu trabalho.
TUR.35.5 Só penso primeiro no trecho ruim da viagem. No trecho de Ceres-Goiânia. Estrada boa a gente
não pensa, não. Só se for ruim.
TUR.36.1 Primeira imagem minha é JK unindo norte a sul. Nós... no norte não tinha verdura, não tinha
tomate. Eu me lembro bem. Só vinha de barco e avião. Depois que a Belém/Brasília foi feita, a agente tem
de tudo. A gente que é do norte e vem no sul não se admira mais do que tem no sul, lá tem tudo também,
pode ser mais caro.
TUR.37.5 Buraco. Os buracos que tem nela. Atrasa a viagem, tem que ficar parado. Atrasa pra fazer
baldeação de outro ônibus.
CAM.40.4 Lembro de muito acidente, é perigosa. Já vi muito acidente.

Porangatu, zona urbana, faixa de domínio da BR-153.


Agricultor na plantação de arroz e pedestre no acostamento

CAM.41.2 É o meu mundo atual. Eu vivo nela e preciso dela. É meu mundo!
CAM.42.4 Segurança, não tem. Anda acontecendo muita coisa nela. Ela dá acesso ao Pará, e no Pará não
tem fiscalização e fica fácil de levar carro roubado.
CAM.43.6 É o coração do Brasil. Para nós aqui, é a única coisa que temos.
APB.45.4 Perigo. Excesso de caminhão. Extremo cuidado para dirigir nela. Rodovia antiga que tem áreas
mortas de visualização, que traz muito perigo. Quem não a conhece torna-a mais perigosa ainda.
APB.46.7 Primeiro, é uma BR que tem uma estrutura muito importante para o Brasil, porque liga o norte. E
tem um lado mais de tentar desenvolver o próprio norte. A BR 101 vai só até o nordeste. E a 153 é o
desenvolvimento do norte.
APB.47.6 Desenvolvimento da região. Essas cidades todas aqui nasceram com a rodovia. Não existia
nenhuma estrada, nenhuma cidade. Tudo desenvolveu ao longo da rodovia.
APB.49.1 Facilidade! Imaginou? Tô aqui e daqui 4 horas eu tô em Goiânia. É muito favorável.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 174


APB.50.5 Hoje é o estado dela, a gente tem sofrido demais. A gente fala em BR 153 é buracaiada. Difícil
demais viajar nela. É o abandono que ela ficou esses anos todos ai. É o caminho pra nós pra qualquer
lado. É como se essa artéria estivesse entupida.
MOR.4.3 Eu penso? Assim... Quando eles fizeram isso ai era uma poeira só. Nós atolava no joelho, lama,
poeira. Nós penou três anos com a poeira. Nós tocava muita roça, o trem mais bonito! Meu pai não sabia
de nada e não correu atrás, não recebeu nada, ficou tudo parado. Tinha gado, tudo ai. Ficou tudo parado,
cortou a cerca, foi acabando tudo. Depois cada um foi refazendo, lembro é de tudo que nós perdemos.
Toda vida nós morou na terra.
MOR.6.5 Tá muito ruim. O governo não cuida dela, apesar do movimento ser muito grande.
MOR.7.1 Quando mudou pra cá era de chão. A BR foi muito bom pra nós.
MOR.8.4 Pra mim que moro aqui, eu tenho medo dela demais. Medo dos caminhões que passa muito perto
aqui. Perigoso, difícil demais.
MOR.9.6 Primeiro que é uma das estradas da região que é das melhores do país! Tráfego muito pesado,
tráfego intenso...
MOR.10.1 De quando eu passava aqui, eu lembro da poeirama que era aqui! E passava carro dia e noite e
empoeirava as coisas tudo.
MOR.12.1 Uai, foi o conforto, né?! Isso aqui era estrada de chão e melhorou muito, trouxe muito conforto
pra nós aqui.
COM.16.2 Perigo. É a coisa mais perigosa que tem é essa estrada. Acidente. Asfalto ruim.
COM.20.5 Dos buracos. Três anos que não vou em Anápolis. Os buracos e os irresponsáveis também ai
nela, caminhoneiros tudo arribitado, drogados. Irresponsável.
COM.26.2 Imagem de perigo, ansiedade. Penso em ir para Goiânia é a ansiedade do perigo. Pra
locomover com os buracos, trânsito pesadíssimo. Não é uma imagem boa. É de muita dificuldade e de
perigo.
COM.27.2 Pra te ser sincero, eu já trabalhei nela em 1961 até 1967 puxando petróleo ai: Pará, Maranhão.
Tudo era navio. O JK abriu ai e é um marco aqui pra nós.
TRA.29.3 Que eu saia de Anápolis e gastava 20 dias para ir a Belém e voltar. Eu saia, em 64, com meu pai,
era tudo chão. Anápolis-Belém, tudo chão. Era triste, viu?! Hoje é uma maravilha, né?
VCM.30.9 A estrada está cada vez melhor, tamo chegando mais cedo. Melhorou 70%.

Santa Tereza de Goiás. Moradia antiga preservada com parte


da construção dentro da faixa de domínio da BR-153

1.5.2. Identidade da BR 153

Os indivíduos foram questionados sobre as características diferenciais da rodovia, com o propósito de


destacar os elementos específicos que distinguem a BR-153 de outras estradas e lhe conferem identidade.
A síntese das respostas está apresentada no Quadro 4.10.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 175


Quadro 4.10
Identidade da BR-153
Categorias Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
T1 1 2 5 1 3 3 2 17
Precariedade 32
T2 3 1 2 2 1 1 4 1 15
T1 2 1 1 4
Falta duplicação 4
T2 0
T1 3 1 4
Igual às outras 8
T2 2 2 4
T1 5 6 1 2 2 6 22
Eixo de ligação N-S 29
T2 3 1 3 7
T1 1 1 1 1 1 5
É a melhor 8
T2 1 1 1 3
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81

A identidade da BR-153 foi estabelecida de modos diferentes, dependendo da experiência vivida e da


valorização perpassadas na percepção negativa, percepção indiferente ou percepção positiva que os
entrevistados têm das características da estrada.
A principal característica que distingue a BR-153 de outras estradas é a precariedade da pista de rodagem
e, por conseqüência, do tráfego. Isso foi percebido por indivíduos de todos os grupos, no Trecho 1 e no
Trecho 2, com uma identidade de conotação negativa que espelha as condições de manutenção da estrada
durante, pelo menos, a última década.
A falta de duplicação é uma característica negativa, e, contraditoriamente, a sua percepção está carregada
de uma atribuição de valor de grande importância para a BR-153 que até deveria ser duplicada, e aparece
entre indivíduos do Trecho 1. Ela estabelece uma identidade negativa da estrada e pode ser apontada
como uma especificação da característica diferencial de precariedade descrita anteriormente.
Perpassando uma relação afetiva de indiferença, ou mesmo procurando manter um distanciamento em
relação aos problemas e ou qualidades da estrada, alguns indivíduos afirmam que a BR-153 não tem
nenhuma característica diferente, pois ela é igual às outras estradas.
De modo positivo, uma característica apontada freqüentemente como determinante da identidade da
rodovia entre os entrevistados é a da função de eixo de ligação N-S. Ela perpassa uma atribuição de valor
historicamente importante e determinada pela integração de espaços de produção entre regiões do centro-
sul e do norte do Brasil. Essa característica é apontada principalmente por indivíduos do Trecho 1
(Porangatu), sendo bastante expressiva entre os moradores, os agentes públicos e os comerciantes.
Para alguns entrevistados o que diferencia essa estrada é o fato dela simplesmente ser a melhor. Na
percepção desses indivíduos, a BR-153 é a rodovia mais importante do país, pois faz a integração norte/sul
e transporta o progresso, são imagens que impregnam na formação da identidade, permitindo distingui-la
de qualquer outra estrada.

Exemplo de falas

MOR 2.2 Buracos. Tô achando ela muito mais buraquenta que as outras. O povo tá chamando ela de
Belém-Buraco! Mas tá melhorando. O povo de São Paulo, por exemplo, já vai pagá pedágio.
MOR 2.3 Não. É a mesma coisa – tudo normal. Pelo menos as vezes que eu tenho andado ai é tudo a
mesma coisa.
MOR 4.4 Ela na minha imaginação, que eu conheço pouca coisa, ela é o que transporta todas as riquezas
que pegam lá do norte do país e transporta todas as coisas. Ela começa lá no mar, pega as coisas do navio
dai e lá de fora e transporta pra todo lugar ai. Ela é um transporte mundial. Ela tem galho pra todo lado. Ai
ela entra nas cidades pequenas, Mara Rosa, Minaçu e vai entrando pras fazendas tudo e vai indo e não
acaba nunca!
MOR 5.1 As que eu conheço de pista dupla é mais segura porque o trânsito é livre e traz mais conforto,
tanto pra gente quanto pro estado.
MOR 6.5 Essa é melhor que estrada de chão.
MOR 11.6 O tráfego aqui é muito intenso, tem muito caminhão. Eu conheço toda essa BR e o trecho que tá
ruim é aqui no estado de Goiás.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 176


MOR 12.4 O que diferencia é que ela atravessa o país de fora a fora. E ela traz o movimento de vários
estados ai. Daqui vem Paraná, São Paulo. Pra lá ela desce pra Tocantins, Pará, Maranhão. É tudo aqui.
AGR 13.2 A BR153 é a falta de segurança da trafegabilidade. É só no Brasil pra ter um negócio desse!
Você tem um trânsito como esse, numa Belém/Brasília, sem acostamento. Morre pouco! O risco é iminente.
Há 30, 50 anos atrás, quando foi feita, ela não tinha esse trânsito. Você vai na Europa e não vê isso, tanto
tráfego, tanto risco.
AGR 15.2 Aqui é muito acidente. Eles passam ai é a 150km/h. Lá, oh, naquela árvore, foi o carro que o
velocímetro parou a 170km/h na hora do acidente. Era professor da faculdade.
COM 18.6 Essa estrada é uma das mais movimentadas do país. Tem o maior tráfego de caminhões.
Inclusive, muito transporte de cana, que faz um diferencial terrível. Nós tamo pegando é comboio aí de
mais de 10 caminhões. Ai fica difícil. Uma duplicada mantém a esquerda livre.
COM 21.5 Melhor que as outras. Mais plana. Ela não tem muita subida, estrada mais “manera”.
COM 24.8 Mal zelada demais. O pessoal desprezou essa estrada demais. Não sei se é governo ou estado
que cuida mal dela. Tão deixando ela acabar. Em 83 a estrada era uma perfeição, podia se contar os
buracos.
COM 6.2 Aqui na região não diferencia nada. Ai quando a gente viaja pro sul é totalmente diferente. Lá tem
toda facilidade. Parece que tá no outro mundo. Lá tem toda assistência, mesmo que tenha o tráfego, mas
você se sente seguro.
TRA 29.5 Há economia em pneu, economia em óleo diesel, pelo traçado dela é a melhor pra
transportadora.
VCM 30.5 Uso mais esse trecho. Essa é mais reta, não tem serra nem curva. Não tem curva perigosa. É
mais segura, menos risco de acidente.
TUR 36.4 Ah, eu uso muito para 110 km de Belém, para Santa Maria, que é onde começa a Belém/Brasília.
Ela é de extrema importância. Essa estrada tem a importância de integrar o país.
APB 45.4 É por ser a única via, é o excesso de veículos, principalmente de cargas. É um gargalo para a
região norte, principalmente Belém e Maranhão. Essa é a que liga tudo no norte, de Porangatu para
Anápolis já tem outras estradas, se quiser usar. Mas Porangatu para o norte é mais complicado, é a única.
APB 47.6 O movimento dela que é maior em alguns lugares que eu conheço. O grande fluxo de veículos
pesados, caminhões e ônibus. O grande número de cidades e povoados às margens da via. Outras aí, a
gente anda e não vê nada, quilômetros e quilômetros sem nada.
MOR 54.4 De estrada legítima mesmo é só essa aqui.
MOR 55.4 Porque ela é a principal via central do país. Vem lá do Chuí, corta o país de norte a sul, bem no
centro do país. Ela é a responsável pela distribuição da produção de todos os estados desse país. É a mãe,
põe um filho ali, outro aculá. Mas ela é a mãe. A BR 070, tão fazendo ai, Cuiabá/Brasília, passa aqui, mas
tem que cortar a 153. A ferrovia norte-sul, ela é paralela.
AGR 56.8 Cheia de buraco e falta a terceira pista.
COM 64.5 A diferença é que ela é mesmo uma das melhores BRs, era para ser duplicada há muito tempo.
As GOs tá melhor que as BRs.
CAM 73.8 É a má conservação. Apesar de que eles agora estão arrumando. Mas ainda é o principal.
CAM 76.5 Eu acho que a Belém/Brasília é uma rodovia leve, não é perigosa, dá pra andar bem, dá pra
rodar 900 km por dia. Tem trecho que ainda tá ruim, esse ai, Ceres/Rialma, pra chegar em Santa Tereza.
APB 81.3 Agora acho que tá sendo a duplicação, a melhoria. Agora vai ficar melhor que as outras rodovias.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 177


Santa Tereza de Goiás. Comerciante atende motorista de caminhonete parada no acostamento
e outros fregueses na sua barraca, carreta trafega na pista no sentido sul

1.5.3. Atribuição de valor à rodovia

A BR pra nós é um fato que já contamos com ela. É como fogo que queima, a água que corre. Todos os
nossos projetos de desenvolvimento local e regional estão baseados nela. Sem a BR 153 nós aqui não
existíamos. Foi com ela que surgiu todo o desenvolvimento aqui do norte goiano e do norte do Brasil
também. Ela que traz o desenvolvimento. APB 50
A totalidade dos entrevistados atribuiu grande importância à rodovia esse estudo está apresentado no
Quadro 4.11. Os entrevistados em todos os grupos e independente dos trechos apontam motivos variados
para a importância da estrada.
À estrada Belém-Brasília é atribuída importância de transportar as riquezas produzidas no norte e levar os
recursos do sul e, assim, fazer a integração N-S do Brasil. Para esses entrevistados, a Belém-Brasília
possibilita o transporte das maiores riquezas que são produzidas na maior parte dos estados do país
devido a sua estratégica posição de ligação desde o Rio Grande do Sul até o Pará, atravessando toda essa
extensão na parte central do Brasil. Essa valorização de conotação nacional é apontada por mais de 40%
dos entrevistados tanto no trecho 1 quanto no trecho 2.
Para mais de um terço dos entrevistados, a importância da BR-153 é a de promover o próprio
desenvolvimento do Brasil centro-norte, isso é, de todo o interior na direção do norte do país. Para esses
indivíduos, essa região só pode ser desenvolvida com a estrada abrindo os espaços produtivos e
permitindo o fluxo de pessoas e mercadorias naquela direção.
Quadro 4.11
Importância da BR-153
Tota
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total
l
Integração N-S do T1 5 2 3 1 1 3 3 2 5 25
37
Brasil T2 1 2 1 2 1 4 1 12
Desenvolvimento do T1 4 1 3 2 4 3 17
26
Brasil Centro-Norte T2 2 2 3 1 1 9
Riqueza de quem vive T1 3 3 1 7
12
dela T2 3 2 5
T1 3 3
Integração de GO 6
T2 1 2 3
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81

Para alguns entrevistados, a Belém-Brasília oferece o ganha-pão, pois é dela, ou nela, que muitos obtêm
os recursos da sobrevivência familiar trabalhando em prestação de serviço ou dirigindo, por exemplo.
Indiferente do grupo de entrevistado, os indivíduos apontam que a BR-153 é a riqueza de quem vive dela.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 178


Por fim, alguns entrevistados atribuem valor à rodovia apropriando do caráter local da estrada que faz a
integração de Goiás, ligando o norte ao sul do estado e facilitando as pessoas atingirem as cidades e os
recursos desejados.

Exemplo de Falas

MOR 4.3 Eu acho ela muito importante, porque ela transporta toda a riqueza do país, indo e vindo. Da
madeira ao remédio, é ela que leva. Transporta até coisa que a gente não conhece, coisa até engraçada.
Antigamente, passava as tora, assim, cada tamanho que a gente não vê mais. Agora só é madeira cerrada
com a lona. O país mudou muito.
MOR 10.1 É uma estrada rápida. Num instante chega onde tem que ir.
AGR 13.5 Meio de ligação e integração das regiões sul e sudeste com as regiões norte e nordeste.
AGR 15.5 Estrada de todo mundo. É a principal do país, né. Ela corta o país de fora a fora. Foi das
primeiras. Eles falam de Belém/Brasília, mas ela corta é o país todo. A estrada passava lá dentro, na
Avenida Campinorte, agora é que passa mais aqui.
COM 16.2 Pra mim, a Belém/Brasília é o meu trabalho. Eu necessito dela pra transportar a verdura.
COM 17.5 Ligação norte-sul. Ligação da região desenvolvida para uma em desenvolvimento.
COM 20.2 É uma rodovia que muitas pessoas dependem dela para trabalhar e sobreviver. Se ela parar,
pára o Brasil. Dependo dela demais pra tudo, né.
COM 24.4 A importância da estrada Belém/Brasília é que facilita tanto para viajantes quanto para
economia. A duplicação é importante. E dela eu tiro também o sustento da minha família.
COM 27.2 É uma estrada que corta Belém até o Rio Grande do Sul, o fluxo de carro e caminhão é grande
demais. Esse norte aí é rico demais. Merece duplicá. É minério, usina, açúcar, álcool. O problema é que
demora demais pra trabalhar umas estrada dessa.
TRA 29.2 É a espinha dorsal do país, se não tivesse, como é que fazia?!
VCM 30,2 É uma rodovia que liga sul-norte e o principal caminho pro transporte de alimentos e pessoas.
TUR 34.2 Importância muito grande. Da outra vez que eu vim, ela tava muito ruim. Agora deu uma
melhorada. É a única estrada que liga. A única que eu chego na casa da minha mãe.
TUR 36.4 A Belém/Brasília é importante porque ela é o elo que liga norte e sul. Sem a Belém/Brasília, os
produtos não chegam no norte, em Belém.
APB 79.2 Pra mim, ela é de muita importância para Jaraguá. Ela ficou muito importante quando ela
adentrou aqui. Aqui no centro da cidade passava na Avenida Bernardo Sayão, era o centro de tudo. E foi
muito importante o asfaltamento lá fora. Liberou mais a cidade em termos de crescimento.
APB 81.7 Momento de chegar na faculdade com mais segurança e rapidez.
APB 50.6 A BR pra nós é um fato que já contamos com ela. É como fogo que queima, a água que corre.
Todos os nossos projetos de desenvolvimento local e regional estão baseados nela. Sem a BR 153 nós
aqui não existíamos. Foi com ela que surgiu todo o desenvolvimento aqui do norte goiano e do norte do
Brasil também. Ela que traz o desenvolvimento.
APB 51.5 Pra mim a Belém/Brasília tem importância fundamental. Num contexto mais geral, ela é a coluna
vertebral que divide o Brasil entre leste e oeste e liga de norte a sul.
APB 52.3 Facilita essa ida e vinda de bens e mercadoria. Produção local que vai pros grandes centros.
Produção industrial que vem pra cá pro norte. Facilitando o acesso dos grandes centros.
AGR 57.1 A importância é grande. Tudo que vai fazer precisa dela. Que ir na cidade, no supermercado, é
com ela. Antigamente o povo andava de carro-de-boi, carroça. Agora não, todo mundo tem moto, carro, é
tudo nela mesmo. Aqui é os caminhões da usina que puxa cana ai, é tudo de rabão cumprido. A cana na
estrada é sujeira demais.
AGR 58.4 Muito carro, dia inteiro, noite inteira, diretão.
COM 62.2 Hoje é meu ganha-pão, eu vivo daqui, né?!
COM 64.2 É da beira da BR que eu tiro o sustento pra minha família.
CAM 72.5 É de suma importância porque leva do sul pro norte e traz os produtos do norte pro sul.
CAM 75.5 É uma das principais BRs pra mim. Essa e a 101.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 179
CAM 76.5 Pra mim é muito boa, porque é uma rodovia fundamental para o escoamento nosso de sul a
norte. É muito importante porque roda tranqüilo, dá pra trafegar. Não é perigosa, apesar dos riscos.

APB 77.8 Essencial. Fluxo. Facilidade de acesso às cidades, aos municípios. É fundamental. Acesso aos
grandes centros, os recursos desses centros, à capital do estado. Tive a experiência de descer aqui no
norte onde a BR ficava distante, era difícil andar só nas GOs, muita estrada sem asfalto.
APB 78.2 Olhar a BR não como via de ligação, mas mostrar que aqui nós temos uma produção numa
cadeia produtiva completa e competente! São 700 ônibus passando aqui na porta direto pra Goiânia. Por
que não parar aqui? A BR é a oportunidade de fazer a vitrine para vender a moda que fabricamos aqui em
Jaraguá.

Nova Glória, travessia de tremião carregado de cana-de-açúcar entre área de


plantio da margem esquerda da BR-153 e o trevo da GO-336 para Itapaci

1.5.4. O desafio da convivência

1.5.4.1. A percepção da convivência

A pesquisa sobre os desafios dos usuários e moradores em relação à BR-153 está sintetizada no Quadro
4.12. As categorias foram citadas por todos os grupos considerando o cotidiano do trato com a rodovia.
Esse trato pode ser entendido como a condição que o entrevistado se colocou em relação com a rodovia.
Assim, os transeuntes podem inclusive serem moradores do lugar, mas se colocaram na condição de
usuários em trânsito. Enquanto que alguns entrevistados se colocaram numa relação de trato local, sob a
ótica de um convívio num determinado lugar.
Uma boa parte dos entrevistados aponta como desafio da convivência a questão do tráfego problemático,
que inclui dificuldade de enfrentar os buracos da pista, motoristas irresponsáveis dirigindo
descontroladamente, pista estreita e tráfego intenso, entre diversos outros problemas.
Entrevistados que trabalham com mercadorias ou encomendas na BR-153 apontam que o desafio é a
avaria que a mercadoria transportada sofre devido às dificuldades do trânsito, como, buracos que fazem a
carga trepidar muito e os atrasos que podem levar à deterioração do produto.
A má conservação da pista de rodagem e o intenso fluxo de veículos pesados, em condições estremas,
podem levar à interrupção, retenção e lentidão de tráfego na rodovia, gerando atraso e incerteza para o
transeunte.
Quadro 4.12
Desafios da convivência com a BR-153
Categorias Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
Tráfego T1 1 2 2 1 4 2 12
23
problemático T2 1 2 1 1 4 2 11
Avaria T1 1 1 2 2 1 7 10
T2 2 1 3

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 180


Categorias Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
T1 4 1 5
Trans
Atraso e
7
incerteza T2 1 1 2

Categorias Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
Serviço T1 2 2
2
precário T2 0
Atendimento T1 2 3 3 8
12
ao cliente T2 3 1 4
Convivência T1 7 1 1 1 1 11
Local

12
problemática T2 1 1
Cuidado com T1 2 2 1 1 6
8
acidente T2 1 1 2
Potencial de T1 1 1 2
7
recurso T2 2 1 1 1 5
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81

Ao longo da rodovia pode-se observar a presença de estabelecimentos comerciais com instalações pouco
equipadas, essas são percebidas pelos entrevistados como serviço precário oferecido aos turistas e
usuários diversos.
Sob a ótica do trato local, principalmente entre comerciantes e agentes públicos, o desafio é fazer o
atendimento ao cliente, tanto do transeunte como da população do lugar de modo geral. Isso exige um
esforço dos administradores públicos para conciliar as necessidades da cidade com a força de atração da
estrada e a faixa de domínio federal.
Para alguns entrevistados, o espaço de vivência formado pela pista de rodagem e pelas margens da
estrada traz vários tipos de dificuldades que levam a uma convivência problemática. Essas dificuldades
podem se referir ao lixo excessivo jogado por transeuntes que polui áreas de plantio, rios e mesmo
moradias, mas pode ser também problemas com prostituição infantil de grande gravidade. Essa
convivência pode exigir, também, que os moradores e comerciantes tomem cuidado com acidentes que
eventualmente acontecem e atingem pessoas nas margens da rodovia.
Com uma visão empreendedora, alguns entrevistados apontam que o maior desafio é aproveitar
favoravelmente o potencial de recursos que a BR-153 traz para a região. A BR-153 é percebida como um
manancial de clientes e turistas que vão dinamizar os negócios e trazer o desenvolvimento para as cidades
à margem da rodovia.

1.5.4.2. Exemplos da convivência

Vários exemplos podem ser relatados sobre a convivência da população local com a rodovia e sobre a
convivência do usuário da estrada com os equipamentos de prestação de serviços disponíveis localmente.
Alguns desses foram destacados em determinada cidade ou região e são brevemente descritos a seguir:

Assistência aos caminhoneiros e passageiros

As longas distâncias interligadas entre regiões densamente ocupadas no centro e sul e as de baixo índice
de ocupação humana no norte e nordeste do país, fazem da Belém-Brasília uma estrada de diversidades.
Os motoristas e passageiros pouco familiarizados com os padrões de recursos do trecho podem sentir falta
de um atendimento mais especializado e refinado.
Apesar do esforço da população local para promover o atendimento ao transeunte, e também se beneficiar
dele, os equipamentos de prestação de serviço nem sempre são de boa qualidade. Há uma tendência do
usuário em utilizar os equipamentos de grandes redes de assistência rodoviária conhecidas nacionalmente,
com postos de combustíveis, restaurantes e hotéis. Porém, esses não são muitos, ao longo do trecho, o
que faz com que haja uma superlotação naquelas unidades existentes, principalmente nos horários de
maior movimento.
Um exemplo de empreendedorismo local de sucesso pode ser apontado na região de Campinorte, onde um
empresário investiu na assistência ao caminhoneiro oferecendo serviços de mecânica leve, posto de
combustível, restaurante, barbearia, loja de conveniência, dormitório, loja e instaladora de acessórios,
autopeças, oficina de refrigeração de cabinas, indústria de tanques de água de aço inoxidável e de peças
de fibra, produção informatizada de adesivos, entre outras facilidades. O complexo de serviços conta com
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 181
vinte e cinco boxes de atendimento de mecânica e instalação de acessórios, com produtividade média de
realização de 200 procedimentos em carretas/dia.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 182


Além disso, possui pátio de estacionamento com pontos de energia, sombras naturais, seguranças e
câmeras de vigilância. Oferece mais de 120 empregos diretos, sendo o maior empregador do município.
Porém, como diversos outros empreendimentos da BR-153, esse complexo equipamento de serviço tem
um passivo ambiental ainda pouco avaliado. Apesar do aspecto de limpeza e cuidado com a execução dos
serviços, há uma geração de resíduos importante, além da própria construção dos prédios e pátio com
aterro sobre vereda. Merece atenção, e está na margem esquerda da estrada, próximo da cidade de
Campinorte.

Campinorte, Matinha - Complexo comercial e


industrial de atendimento
ao caminhoneiro, boxes de serviços de mecânica leve e acessórios

Campinorte, Matinha - Complexo comercial e


industrial de atendimento
ao caminhoneiro, posto de serviço e abastecimento

Um exemplo de padrão de atendimento de menor qualidade de instalações pode ser observado com pontos
de parada de ônibus. Freqüentemente, as instalações de paradas de ônibus são percebidas por turistas
como pouco confortáveis e nem sempre com boa higienização. Sempre que possível, as transportadoras
de passageiros fazem paradas nas próprias estações rodoviárias, aproveitando pontos de conexão. Da
mesma forma, as instalações são freqüentemente precárias e pouco confortáveis para os passageiros em
trânsito.
Contudo, algumas oficinas de mecânica pesada diesel, e borracharias, apesar das instalações nem sempre
muito adequadas, oferecem boa assistência técnica e são percebidas por caminhoneiros como de serviços
confiáveis. Em Porangatu, tem o caso de uma famosa retífica de motores que, por executar um bom

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 183


trabalho técnico, bom atendimento aos transeuntes e clientes da região, proporcionou popularidade ao
proprietário que veio a se eleger deputado estadual.

Porangatu. Ponto de parada de ônibus, com restaurante, dormitório e posto


de abastecimento, junto ao trevo sul de entrada da cidade

Porangatu. Instalações da oficina Mecânica Pará Diesel com diversos boxes


para caminhões e pátio de atendimento não pavimentado

Alguns turistas percebem que a falta de mão-de-obra qualificada e a ausência de treinamento leva à má
qualidade na prestação de serviço nas paradas de ônibus interestaduais e restaurantes. Para muitos, a
precariedade transforma em desafio o simples fato de fazer uma refeição, usar as dependências do
estabelecimento, ou até mesmo abastecer um veículo.
Frutas da estação, farinhas, mel, artesanatos e outros produtos regionais são oferecidos em diversos
pontos da estrada. O comércio ambulante atende aos transeuntes em barracas improvisadas nas margens
da estrada. Muitas famílias vivem desse comércio há anos e novas gerações já estão assumindo os
mesmos estabelecimentos, com a mesma precariedade.
Em virtude disso, o comércio de margem em vários trechos goianos da BR-153 passou por períodos de
baixíssimo faturamento, com grande instabilidade comercial. Assim, diversos estabelecimentos foram
forçados a encerrar as atividades. As obras de recuperação da pista, em andamento desde 2007,
trouxeram novo impulso para o comércio de serviços prestados para os transeuntes.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 184


Santa Tereza de Goiás, oficina mecânica com
pátio de estacionamento
na faixa de domínio da BR-153

Uruaçu, Trevo de Barro Alto. Restaurante em funcionamento em horário de menor movimento.


Localizado na margem esquerda da BR-153, observar padrão de construção simples,
piso sem revestimento (chão de terra batida)

Poluição

A população lindeira à rodovia tem dificuldades com a limpeza das áreas ao longo da pista por causa do
excessivo volume de lixo jogado pelos transeuntes. Há relatos de todo tipo de lixo deixado por motoristas e
passageiros dos veículos, desde restos de comida, descartáveis higiênicos, como, fraldas de crianças,
volumes de cargas avariados, peças de carros quebradas, todo tipo de plástico, animais mortos, e diversos
outros.
Enfim, a população local passa a ser responsável pela limpeza de um enorme volume de lixo que atinge os
estabelecimentos comerciais, terrenos, casas, campos de produção agropecuária, pastos, córregos e rios
cortados pela estrada. Também há o caso dos acidentes com vazamentos de combustíveis, óleos e/ou
substâncias tóxicas que sujam e poluem as margens e os corpos d’água próximos da rodovia.
O barulho da estrada é outro tipo de poluição que também incomoda os moradores. O padrão sonoro
produzido pelos veículos em trânsito pode variar muito, mas em condições normais da pista de rodagem,
pista lisa, os sons tendem a ser repetitivos, e, assim, podem ser abstraídos do cotidiano. As pessoas ficam
em sobressalto toda vez que ocorre uma frenagem forte e um barulho diferente de carrocerias, pois é logo
associado a acidentes. Quando a pista de rodagem está com a cobertura asfáltica danificada e com
buracos aumenta a trepidação das carrocerias e as frenagens bruscas, promovendo alteração dos padrões
de sons dos motores, latarias e pneus, piorando essa situação de estresse.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 185
Tem uma coisa, à noite o barulho da BR incomoda, é um barulho que parece que as carreta vão caí aqui.
Tem noite que eu perco o sono, acordo com o barulhão e aí já começo a pensar: será que aquele carro
bateu? Coitado daquele homem que ta lá dentro, aí já começa a pensar. O carro que caiu aqui dentro, o
cara morreu na hora. MOR4.4

Travessias urbanas

A instalação da Belém-Brasília em 1958 foi norteada pelo traçado da Estrada da Colônia que ligava Goiânia
a Ceres desde 1948, ambas construídas por Bernardo Sayão. Esse traçado inicial procurou unir pequenas
nucleações populacionais históricas na região a leste da antiga capital do Estado de Goiás, Goiás,
seguindo o vale de grandes rios como o Rio São Patrício e o Rio das Almas. Porém, mais ao norte, a
estrada cortou terras ainda muito pouco ocupadas. De todo modo, a estrada atraiu fortemente uma
população para suas margens, criando novas cidades e transformando pequenos vilarejos em cidades num
curto espaço de tempo.

Serra de Campo. Quadra esportiva da comunidade na margem esquerda da BR-153,


ao fundo, caminhão bi-trem saindo da pista da rodovia

Na década de 1970, o asfaltamento da BR153 ocorreu associado a uma reestruturação do traçado,


principalmente, nas regiões urbanas. A estrada foi desviada de dentro das cidades para a periferia, ou em
alguns casos, desviando vários quilômetros. Com isso, as cidades puderam absorver a faixa de domínio da
antiga pista, permitindo uma expansão urbana rápida, registrada nas avenidas centrais atuais, quase
sempre denominadas Avenida Bernardo Sayão ou Avenida Federal.
Com a intensificação da urbanização nas décadas de 1980-90, as cidades cresceram rapidamente, e sob a
força de atração da rodovia, a expansão buscou novamente a aproximação com a estrada.
Conseqüentemente, o crescimento urbano aproximou a pista de rodagem dos centros das cidades, e novos
conflitos de uso e ocupação voltaram a surgir. Em alguns casos, a estrada assume o papel de avenida de
ligação entre bairros populosos.
Diariamente, parte da população de Porangatu, Uruaçu, Jaraguá e várias outras cidades menores
experimentam problemas com relação à travessia da estrada para trabalhar ou estudar. Nem por isso, os
planos diretores e/ou outras leis municipais conseguem ordenar o crescimento das cidades de modo a
evitar a expansão urbana sobre a estrada. Diversos loteamentos surgem a cada ano no lado oposto dos
centros urbanos, induzindo ao aumento do fluxo de pessoas e veículos atravessando a estrada, requerendo
medidas de controle (projetos de engenharia), para minimizar o impacto.

Prostituição infantil

Entre os desafios da convivência da população com a estrada, um dos problemas de mais difícil solução é
o da prostituição. Em diversas cidades existem homens e mulheres que se oferecem em pontos de
prostituição nas margens da rodovia. Em geral, são bares com dormitórios associados, vizinhos a oficinas
mecânicas, borracharias, postos de gasolina, tudo muito próximo. A movimentação de pessoas nesses
locais ajuda a camuflar a atividade, buscando um mínimo de anonimato, e evitando a repressão da PRF.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 186


Contudo, a prostituição infantil na BR-153 é uma atividade ainda mais problemática e complexa para ser
enfrentada. Em algumas localidades ela poderia ser explicada pela miséria e pela falta de assistência
familiar, associada ao tráfico e uso de drogas. Mas, nem sempre, as causas são de fácil determinação,
como afirmam agentes públicos entrevistados.
Para os municípios, a prostituição infantil é um problema que, além de ser de difícil solução, lança a cidade
nos anais estatísticos que mancham a história e o brio da população, causando grande polemica pública
em toda a região. A cidade de Rianápolis, por exemplo, tem enfrentado situação semelhante. O Secretário
Municipal de Planejamento afirmou, em entrevista, que nem sempre as crianças envolvidas na prostituição
são do município, dificultando o enfrentamento com medidas de assistência familiar.
A Polícia Rodoviária Federal ao flagrar uma situação de delito, apreende a menor e a entrega ao município
onde ocorreu o fato, mas não prende os adultos envolvidos. Crianças e adultos envolvidos na atividade de
prostituição são, freqüentemente, originários de outras localidades, e viajam pelo trecho rodoviário em
carros e caminhões. Porém, o ônus da situação recai sobre a cidade onde o flagrante foi feito. Regular as
atividades nas margens da rodovia é um desafio que está longe do controle das cidades.
A PRF prende a criança e entrega pro município. A criança começa a se prostituir no grande centro, e aí ela
começa a viajar o trecho. Uma menina de 10 anos, entregaram pra nós, cuidamos, ela ficou aqui três dias,
por custas e tutela do município. Localizamos a família, levamos em Anápolis junto com o Conselho
Tutelar. Cinco dias depois ela estava aqui de novo, drogando e prostituindo. AGP.77.

Atropelamento de animais silvestres

Ao longo de todo o trecho em estudo é muito comum encontrar animais silvestres mortos por atropelamento
na pista de rodagem. Tamanduás mirins, tamanduás bandeira, tatus, raposas, serpentes, quatis, e diversas
outras espécies são encontradas num mesmo dia de viagem.
De acordo com caminhoneiros entrevistados, o problema pode ser maior em áreas de serras, matas e
córregos próximos da pista. Em face do projeto e do traçado serem antigos, a rodovia não possui
dispositivos de travessia de animais silvestres. Alguns motoristas afirmaram que ao tentar desviar de um
animal, corre-se o risco de provocar um acidente maior, levando a uma única opção naquele momento, que
é a de manter o curso do veículo, atingindo o animal.

Uruaçu. Onça recolhida da pista da BR-153 por moradores.


Animal apresentando sinais de atropelamento estava sendo escalpelada

Exemplo de falas

MOR 1.1 Uai, essa BR somente a gente tem que tê é cuidado, né?! Um carro estoura o pneu, voa lasca pra
todo lado. Lá na outra roça que eu tenho, um carro perdeu a direção e bateu lá dentro da roça.
MOR 2.2 É mantê a clientela e trabalhá até a noite pra servi eles ai. Se ela parasse a noite, era sossego
pra todo mundo.
MOR 4.4 Barulho, medo de vim um carro, e já caiu aqui, oh, o cara morreu na hora. Lixo, eles atiram de
tudo aqui na porta, pega tudo também. Não pode tê uma criação. Essa BR fez muito prejuízo pra nós aqui.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 187


Aqui já foi bom, mas depois que a estrada veio, não deu mais pra trabalhar direito. A Belém/Brasília foi um
progresso pra nós todo. Mas tudo que aumenta o conforto aumenta o perigo. Tem dia que incomoda muito,
é andarilho, é todo o tipo de lixo, so. Caiu um tancão de óleo ali, escapou e veio óleo pra todo lado, o
córrego acabou. Antigamente tinha horta aqui, linda! Agora, não dá mais, tá acabando tudo, como é que
faz?!
MOR 6.4 Passa gente boa e gente ruim. Às vezes a gente socorre alguém e fica sabendo que foi preso
pela polícia.
MOR 12.2 Aqui é um perigo! Medo de assalto, de acidente. O problema é segurança, de gente e de
acidente dos carros também. É perigoso de assalto, nota falsa. Bandido?! Já teve muito aqui. Tem que ter
atenção!
AGR 15.1 Acidentes. Pra ir pra cidade tem que prestar bastante atenção. Com essa subida ai, com a caixa
de queijo na carga da bicicleta é fogo! Outro dia, tava indo pra cidade e o carro ultrapassou, vinha o
caminhão e jogo pro acostamento, eu joguei a bicicleta no meio do mato.
COM 17.5 Demora na entrega de mercadorias. O caminhão quebra na estrada, buraco demais. Essa
semana mesmo, a semente de capim faltou, o caminhão quebrou vindo de São Paulo.
COM 18.5 Trânsito intenso e estradas ruins. Os caras que tomam ribite ai, o cara viaja três dias e três
noites sem dormir, fica tudo louco na estrada. Vende ai nos postos todos, os caras trazem do Paraguai. A
droga é o desobese. Seca o pâncreas e o cara fica doente e fica fácil de morrer na estrada.
COM 21.8 Os buracos, arruma só metade, nunca arruma tudo. É sempre assim, sempre, só arruma
metade.
COM 23.1 Bom, desafio maior aqui que eu tenho é o medo de ser atropelado. Porque a velocidade que os
carros passam aqui, é direto. Eu tenho um menino que vem pra cá cedo, de onze anos, eu tenho medo
dele ficá aqui na barraca. Eu fico aflito pra vim pra cá vê ele. Tem também o desafio de conseguir freguesia
pro meu comércio, porque a polícia não deixa parar aqui, é pista, eles multam.
COM 26.7 O desafio é que quando nossos produtos vêm de São Paulo, ele demora muito. Às vezes gasta
15 dias para chegar. O fornecedor não vem até aqui por causa do tráfego ruim, das condições da pista.
COM 27.9 Aqui é o pessoal que não vem certo pelo trecho da 153, e acaba que diminui as parada aqui. A
balança pra nós tinha que ser em outro setor, porque o pessoal vem de Brasília, entra Dois Irmãos, vai por
Niquelândia e Uruaçu, desviando da balança. Prejudica nós que estamos aqui no trevo, cai as vendas. Mas
seria melhor pro governo fica pra conserva a estrada.
IND 28.10 O maior desafio é o transporte das cargas. Muitas vezes o produto chega no seu destino com
avarias. Com a trepidação acaba danificando. O nosso produto é perecível, se alterar qualquer condição da
embalagem, é descarte. É comum a devolução de uma carga inteira por avaria. A estrada dá prejuízo.
Nossos clientes já sabem das nossas condições e pressiona, ou até desiste.
TRA 29.5 Manutenção também. Falta de manutenção, não tem. Chove, cai um bueiro, você tem que entrar
pra desvio. Não podemos garantir entrega, quebra de caminhões. Ela é de 75 e nunca mais teve
manutenção. Eles fazem manutençãozinha e nunca é boa, é ruim demais esse serviço. Ruim demais!
VCM 33.6 Ladrão, prostituta, falta de sinalização, desrespeito de motoristas, arruma os buracos e aparece
outros. Sinalização é abaixo da crítica, quando existe fica no meio do mato.
TUR 36.11 Falta de segurança, violência mesmo, com assaltos, acidentes, buracos. O despreparo da
qualificação da mão-de-obra pra atender a gente na estrada. Mão-de-obra bem preparada pra aquele
trabalho, isso é difícil demais por aqui. O atendimento e todos os outros serviços, assim fica difícil!
CAM 40.4 Péssima sinalização. Precariedade da pista, muito buraco, sem acostamento, tráfego muito
pesado, sem posto policial e de apoio. Muita imprudência, muito motorista que ultrapassa em alta
velocidade e em lugar proibido. É tudo, né?!
CAM 41.5 O maior desafio é superar os problemas que existe nela hoje, problemas esses que vão desde
buraco até a falta de fiscalização. A segurança... Os obstáculos que tem nela ai. E o suborno por parte dos
policiais, eles não tão ai pra fiscalizar, se você passar com carro roubado, você vai embora. Eles querem
saber se você tem as licença do IBAMA pra tartaruga, onça, garopa. É ai que vai.
CAM 43.5 Depende da região é segurança, muito roubo. Já vi muitas pessoas reclamando. Nunca fui
abordado, graças a Deus. Roubo de caminhão, roubo de motorista dormindo.
APB 47.2 Principal desafio é em relação ao pouco efetivo, pouca gente para atender à demanda de
ocorrências, e, principalmente, a prevenção de acidentes de trânsito. A gente tem carro, tem equipamentos,
boa estrutura física, mas não tem gente.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 188


APB 49.1 Orientações dos alunos em termos de cruzar a estrada. Pedindo para não ir pelo asfalto e seguir
o caminho por dentro que é próximo. Porque agora temos o carro que busca na porta as crianças, facilita.
APB 50.2 O desafio é ela cortar nossa cidade. A cidade crescendo pro outro lado! Tem bairros muito
populosos do lado de lá. Nós já tentamos várias vezes tentar um acesso para o lado de lá. Nosso trabalho
aqui é lutar com o DNIT pra fazer retornos e passarelas ai. Temos problemas com crianças pras escolas, o
centro é do lado de cá e as pessoas vêm para trabalhar.
APB 51.2 Aqui, a Polícia Rodoviária Federal só tem um posto em Porangatú e outro em Uruaçu, ai, dificulta
o patrulhamento para eles. Ai, quem faz o primeiro atendimento na BR mesmo é nós mesmo, em caso de
acidente, furto, roubo de carga. Na prática, somos os primeiros a atender e depois eles assumem. Mas
para nós que temos uma área grande, acaba que a BR gera problemas. A ocorrência começa lá e as fugas
passam pra nós. Temos limites na jurisdição.
MOR 53.3 O desafio nessa BR aqui é nós aproveitá bem dela. É ônibus bão que tem aqui, os carros
passam pra levar os meninos pra escola, nós desfruta bem dela aqui.
AGR 59.3 Aqui pra mim falá é benefício. Esse pedaço aqui vira um pasto, o gado come e fica baixinho.
Sem isso, o fogo pega ai, porque eles não dão conta de roçar tudo. Eles reclamam de cerca ai, mas é bom
porque mantém.
AGR 59.4 Acho que os problemas que a gente tem é o que o governo gasta fazendo coisa à toa. Devia dá
pros fazendeiro frentista dela aqui pra zela dela. Aqui eu zelo meu pedaço aqui na frente, aqui vira mato. Ai,
eu não posso por fogo, vem os guardas, o IBAMA prende. Ai vem os andarilho, os motorista que joga
cigarro e queima o que é da gente. O DNIT limpou, pôs fogo e foi embora, ali na ponte. Quem apagou foi os
caras da cana, já dentro do pasto.
IND 65.1 Evitar acidentes, maior desafio. Motorista canavieiro tem que ter experiência com tremião, faz
treinamento. Colocamos sinalização de veículo longo, emplacamento nas estradas e saída das estradas.
Tem gente pra limpar o asfalto.
CAM 72.5 Má qualidade de estrada e a imprudência dos motoristas. Meu maior desafio é chegar vivo em
casa.
CAM 74.4 Os buracos, a sinalização. Não existe mais verdureiro, agora é bauzeiro e são muito
irresponsável. Usa mais ribite... Tinha que ter uma fiscalização mais intensiva em cima de muitos
motoristas.
CAM 76.5 Eu acho que o maior problema são os motorista irresponsáveis. Bebida alcoólica, ribite, esse é
um problema sério. Excesso de peso.

São Luiz do Norte, Nortelândia. Barraca de comércio na margem direita

1.5.5. Atitudes de cuidado diante da rodovia

A pesquisa sobre as atitudes de cuidado que os indivíduos sugerem em relação à BR-153 está
apresentada no Quadro 4.13. A percepção dos problemas e a atribuição de valor de importância para a
estrada, os entrevistados têm reações diferentes e sugerem cuidados para solucionar problemas e
transformar a BR-153 em uma boa estrada.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 189
Quadro 4.13
Atitudes de cuidado com a BR-153
Sub- Tota
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB
total l
T1 6 1 4 1 1 3 5 21
Duplicar 33
T2 1 1 1 3 1 1 3 1 12
T1 1 4 2 1 1 1 10
Privatizar 15
T2 1 1 1 2 5
T1 3 1 1 1 2 1 9
Reformar 14
T2 1 3 1 5
Reformar e T1 1 2 1 2 1 7
12
fiscalizar T2 2 2 1 5
T1 2 1 1 4
Zelar 5
T2 1 1
Colocar T1 1 1 2
atendimento 2
médico T2 0
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81

“Duplicar de imediato e exigir a privatização. Nós pagamos demais por essa estrada. Carro acaba, pneu
caro. Caminhão que vem de lá o risco é grande, com ribite de cima embaixo. Tem dia que pára ai e não
consegue nem descer do caminhão, drogado. Os caminhão andam ai com peso que a estrada não tolera.
Ocê imagina ai um caminhão desse com 80 toneladas freando, não tolera. O governo não faz nada, se tem
dono... Oh, a balança que puseram em Uruaçu, o governo colocou, e ela tem hora de parar! Às 6h ela pára,
ai os caras passam tudo lá. Eles ficam escondido debaixo das árvores, na venda. Fechou, passa tudo. Se
tem dono, ah é diferente! COM 18.5”.
Em todos os grupos e nos dois Trechos estudados a atitude mais freqüente indicada pelos entrevistados foi
a de duplicar a rodovia. Essa é considerada a solução mais favorável para diminuir os acidentes e melhorar
o fluxo de veículos.
Para vários indivíduos, privatizar é a solução, pois assim também ela seria duplicada e teria a vantagem da
boa manutenção. Essa atitude perpassa a percepção das estradas privatizadas de outros estados, com
aprimorada qualidade das pistas de rodagem e a manutenção dessa condição.
Alguns entrevistados apontam a atitude de reformar com sendo suficiente para a BR-153. A percepção de
que as condições atuais são muito ruins, e de que o custo de uma obra de duplicação é muito alto, leva os
entrevistados a optar por uma obra mais barata e, portanto, mais garantida. Mas alguns outros indivíduos,
consideram que só reformar também não resolve, indicam a necessidade de reformar e fiscalizar.
Justificam que o peso excedente dos caminhões e as irregularidades no tráfego são muito prejudiciais, e
exigem rigor da PRF.
Com uma manutenção muito precária da pista e das margens, alguns indivíduos apontam que a melhor
coisa seria zelar pela estrada. O incômodo com lixo jogado pelos transeuntes e o mato nos acostamentos
são alvos dessa atitude de cuidado com a estrada principalmente no T1.
Por fim, a atitude sugerida foi a de colocar atendimento médico de alta complexidade, com ambulâncias de
UTI e suporte de hospitais regionais pelo menos a cada 300 km para atendimento a acidentados, como
indicaram dois entrevistados do T1.

Exemplo de falas

MOR 3.1 Primeira coisa era fazer pista dupla, igual é lá em cima, porque a pista dupla evita muitos
acidentes.
MOR 4.3 Se eu pudesse, eu queria o zelo total do lixo, respeitar as árvores, os pássaros, as florestas, a
natureza. Aqui nós são tudo apaixonado pela natureza. Pelo menos o lixo; prejudica nós demais. Nós e o
resto todo, porque o lixo cai no corguinho aqui e vai indo, cai no rio. Disse que o Rio do Ouro secou muito
esse ano, o povo desmatou tudo ai!
MOR 5.1 Se fosse minha eu duplicava ela, ela é dia e noite, essa BR não tem pausa.
MOR 8.1 Se viesse duplicação amanhã, pra mim era vantagem. Abreviava nosso sofrimento pra entrá na
terra (assentamento sem-terra) logo.
MOR 11.5 Terceirizava, porque aí ia com certeza. Tudo que é do governo é cozinhado.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 190
MOR 12.2 Ela aqui tá boa, né. Agora, o trecho que não foi arrumado é difícil. Tinha que arrumá direito. Igual
ali, o asfalto que puseram aqui é bom, ali é ruim demais, não vai durar nem dois anos. O asfaltinho ali,
puseram uma brita com óleo, o asfalto não presta, não. Vai esburacar tudo de novo, não tem essa camada
grossa por riba, não. O DNIT tem que pô asfalto bom. Eu punha do bom.
AGR 15.6 Seria melhor controlar a carga dos caminhões, porque a carga muito pesada o asfalto não
agüenta.
COM 17.5 Duplicá-la mesmo, mas pensando em pedágio. É privatizar mesmo, né, porque o governo não
dá conta de fazer, é só roubar.
COM 18.5 Duplicar de imediato e exigir a privatização. Nós pagamos demais por essa estrada. Carro
acaba, pneu caro. Caminhão que vem de lá o risco é grande, com ribite de cima embaixo. Tem dia que
pára ai e não consegue nem descer do caminhão, drogado. Os caminhão andam ai com peso que a
estrada não tolera. Ocê imagina ai um caminhão desse com 80 toneladas freando, não tolera. O governo
não faz nada, se tem dono... Oh, a balança que puseram em Uruaçu, o governo colocou, e ela tem hora de
parar! Às 6h ela pára, ai os caras passam tudo lá. Eles ficam escondido debaixo das árvores, na venda.
Fechou, passa tudo. Se tem dono, ah é diferente!
COM 20.7 Mais bem sinalizadas, o mato tampa as placas, ninguém vê nada. Educação no trânsito, o
pessoal é muito mal educado. Eu vi três sendo preso: um tava fechando o outro. Tirar a bebida e arrebite
da rodovia. Os caras chegam tudo doido aqui, tudo dopado, quebra o caminhão e chega aqui tudo doido,
brigando pra ser atendido, tudo dopado. Só polícia.
COM 22.7 Conservava a pista pra ter um tráfego perfeito, com acesso pra qualquer casa e com sinalização
toda perfeita. Colocaria um guarda em cada canto e colocaria uma escola só pra educar os motoristas.
Reduziria os acidentes em 100%.
COM 22.5 Duplicar ela, arrumá e pôr pedágio. Às vezes a gente paga um pouco o pedágio, mas tem a pista
boa pra andar o tempo todo.
COM 26.1 Duplicação urgente. Quando vou pra Goiânia, aquele pedacinho de Nerópolis ali é bom demais!
Eu faria a duplicação não só até Porangatú, eu faria no Belém.
COM 27.2 Seria melhor só conservar ela, se duplicar o pessoal vai passar direto, tira o freguês daqui.
TRA 29.5 É complicado fazer ela voltar a ser boa. Eu duplicava ela até Ceres e botava fiscalização séria.
Isso que tem ai não é sério. Balança, trabalho sério. É fácil, trabalho sério. Belém/Brasília precisa de coisa
séria! Excesso de peso estraga muito. Ai tá uma bandalheira. Balança funciona só de dia e o resto é
corrupção. No nordeste é 90%, Goiás e Tocantins quase não tem corrupção. Isso vai mudar nosso país
quando entrá esses menino ai tudo formado, ganhando bem. Muda se fizé trabalho sério.
TUR 36.1 Tive a sorte de conhecer a Europa. Sei que eu ampliaria pra duas pistas. Mas faria um trem de
norte a sul, de lesta a oeste que nos levaria com segurança e com rapidez. Lá no Pará já duplicamos até
Castanhal, agora é continuar, a luta é contra os acidentes. Que depois possa fazer o resto todo.
TUR 37.1 Duplicava e punha tudo que pudesse de sinal, telefone público na beira da BR pra caso de
socorro, sinalização de cidades e direção. Devia ter mais socorro perto um do outro, corpo de bombeiro.
Tem risco de assalto, roubo de carga, o caminhão reduz pra passar no buraco e é assaltado.
TUR 38.8 Montar uma campanha de orientação para os motoristas sobre excesso de carga,
ultrapassagem, mais cuidado pra dirigir.
CAM 39.5 Duplicava e colocaria pedágio nela pra manter a estrada em boas condições. Manter a beirada
da pista limpa pra facilitar a visão. Manter a estrada boa, sem buraco. Fazer acostamento largo, que caiba
um caminhão.
CAM 42.4 Se eu fosse um dirigente, era um hospital que desse segurança e tratasse qualquer problema de
acidente, seja qualquer forma de tratamento e socorro médico. No percurso de Brasília a Belém, três
postos, de 700 em 700 quilômetros, que pudessem atender todo o trecho, com aparelhos e pessoas
especializadas. Podia ser junto à Polícia Rodoviária Federal, que já tem carro de resgate.
CAM 44.7 Duplicação com segurança, ponto de apoio, manutenção sempre. Acabar com os pontos de
ribite, com polícia, fiscalização. Atenção com droga, que tem muito nas estradas, e droga pesada, tem
muitos pontos na estrada.
APB 45.1 A duplicação seria o desejo máximo, mas sabe-se que a distância é grande. Duplicação em
determinados trechos, terceira faixa em locais com maior movimento. Duplicação é o ideal, mas isso é
sonho!

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 191


APB 45.2 Recuperar a estrada é muito importante. Se conseguir duplicar é excelente, mas tá longe.
Melhoria já tá bom. Nas áreas urbanas, fazer pistas laterais para circulação da própria cidade. Fazer pista
lateral, passarelas, viadutos pra diminuir a própria paralisia das cidades com cruzamentos.
APB 46.7 Aumento do efetivo de policiamento e fiscalização para prevenção acidentes e redução da
criminalidade. Instalação de balanças para fiscalização de excesso de peso, visando a conservação do
pavimento da pista e diminuição de acidentes. Total limpeza, com retirada das árvores da faixa de domínio,
evitando o impacto de veículos com árvores, para a diminuição do número de mortes em veículos que
saem da pista. Eu já vi mais de 100 mortes em árvores.
APB 47.6 Constante manutenção de pavimentos, sinalização, conservação das margens. Reformar já está
de bom tamanho. A duplicação é um sonho tão distante que a gente nem fala.
APB 48.1 Primeiro duplicava. Depois era aumentar o contingente da Polícia Rodoviária Federal. Nesses
três anos de prefeitura eu vou até três vezes por semana em Goiânia e eu nunca fui parado por um policial.
Se eu tivesse passando com carro roubado, ninguém me pegava. E que as balanças sejam utilizadas.
Porque essas carretas tão acabando com as estradas.
MOR 54.3 Eu ia fazer um acostamento bom ai pra nós andá. A gente vai três vezes por semana no Espírito
Santo e é difícil andá no mato. É perigoso ir na beirada dela.
MOR 55.4 Fazia a iniciativa privada tomar conta, o governo ih, ih, tenho 42 anos de trabalho no governo...
AGR 56.2 É terceira pista, acostamento também péssimo, tem que melhorar muito pra andar máquina
agrícola. Locomoção de máquina agrícola mais próximo é no acostamento. Longa distância põe no
caminhão e acessos pras fazenda tem dificuldade. Hoje caminhão tá tudo grande, caminhão bi-trem pra
transporte, baratear frete soja. Nós tava pensando faltava terceira pista, pelo menos terceira pista nós
queremos, evitar acidentes.
COM 63.9 Aqui, nesse lugar, um trevo, que a gente ficava bem abençoado, não corria perigo. O quebra-
mola é depois da barraca. E que fosse asfaltado essa banda de cá, só tem asfalto de lá. A gente fica aqui
só mesmo vendendo. Nós criamos quatro filhos só aqui vendendo manga, galinha, caju. Pra comer deu,
toda vida deu. Ai tinha que trazer algum benefício pro lugar, pra crescer, dar emprego.
TRA 69.1 Duplicava e mantinha. Daqui a Mara Rosa são 160km: um caminhão levaria 2horas e meia a
3horas e hoje leva 5horas e meia.

1.5.6. Atribuição de valor à duplicação

1.5.6.1. A importância da duplicação

A pesquisa sobre a atribuição de valor à duplicação da BR-153 está sintetizada no Quadro 4.14. Vários
entrevistados de todos os grupos e nos dois Trechos pesquisados atribuíram à duplicação a importância de
induzir o desenvolvimento. A noção de progresso com produção e mobilização de riqueza também está
perpassada nessa atribuição de valor. Os indivíduos associam facilidade de transporte com o aumento de
fluxo de mercadoria e pessoas nas regiões cortadas pela rodovia, com melhorias socioeconômicas
generalizadas.
Quadro 4.14
Importância da duplicação
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
T1 6 8 1 1 2 2 3 1 24
Desenvolvimento 39
T2 2 5 2 1 1 1 3 15
Trânsito mais T1 5 3 4 2 1 2 4 21
24
seguro T2 1 1 1 3
Qualidade de T1 1 2 1 2 6
16
vida T2 1 2 1 4 2 10
Prejudicar T1 1 1 2
2
moradores T2 0
Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81

O sonho nosso é a duplicação dela de norte a sul do país. Ela é a mais importante de todas as rodovias do
país. Não tem outra mais importante. Ela corta no cerne, desde Rio Grande do Sul até Belém. As outras
vão lá no litoral, não conta. É duplicar aqui, na 153, ela movimenta o desenvolvimento! MOR 55.1

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 192


Em oposição à percepção atual de perigo na estrada, muitos entrevistados atribuem à condição futura de
duplicação da BR-153 a possibilidade de ter um trânsito mais seguro, com a diminuição de acidentes e
manutenção mais cuidadosa.
Acostumados à dura realidade de transitar por estradas vicinais e/ou rurais precárias e sem asfalto, os
moradores percebem que a simples possibilidade de utilizar a rodovia federal nas atuais condições já é um
privilegio. Poder imaginar que a BR-153 terá sua pista reformada e chegar à duplicação pode ser um
sonho. À condição de ter a duplicação da rodovia é atribuído valor de alcançar a melhor qualidade de vida.
Mas a preocupação com futuras remoções que possam vir com a obra, e/ou alteração nas possibilidades
de explorar o comércio nas margens da estrada traz uma insegurança, levando alguns entrevistados a
atribuir valor negativo à possibilidade da duplicação, pois poderia prejudicar os moradores.

1.5.6.2. Belém-Brasília, melhorias e desenvolvimento

A BR-153 passou por várias etapas de extensão e melhorias das condições de tráfego desde a sua
abertura. Inicialmente, sob o comando do agrônomo Bernardo Sayão, a via foi aberta como Estrada da
Colônia, entre 1942 e 1948, em plena campanha da “Marcha para o Oeste”, na Era Vargas. Ligava a
Colônia Agrícola Nacional em Ceres ao sul de Goiás, e seguia a política do recém-criado DNER, em 1937,
de ser um instrumento de comunicação entre as regiões e as cidades e iniciar um processo de
deslocamento da modernização brasileira do Centro-Sul para o Centro-Oeste. (SILVA, 2008).
A construção da estrada abriu caminho para a fixação de novas áreas no norte de Goiás, em terras da
União. A população da região central de Goiás, por onde a estrada iniciou, foi chamada a ajudar, e viu
milhares de novos moradores chegarem para ocupar os vazios do grande território, construindo cidades e
trazendo o progresso.
A sua ampliação como Rodovia Belém-Brasília foi determinada por Juscelino Kubitscheck para unir a nova
capital ao norte do país, dentro da mesma política de ligação e ocupação da Era Vargas. O mesmo
Bernardo Sayão dirigiu a obra entre 1958 e 1959, sendo morto num acidente de trabalho quando faltavam
apenas 50 km para concluir a estrada (SAYÃO, L. 1994).
Por quase duas décadas, caminhões cruzaram os mais de 2500 km de pista de terra, transportando o
progresso para o norte do país. A estrada permitiu a abertura de várias frentes de colonização no cerrado e
na floresta, em regiões até então habitadas apenas por nações indígenas e povos tradicionais. Num
processo de integração do cerrado como centro produtor agropecuário importante para a economia do país.
Além de permitir a abertura de campos de produção em plena floresta amazônica.
Acompanhando o projeto de interiorização da ocupação e do desenvolvimento do Brasil no período militar,
a Belém-Brasília foi asfaltada durante o governo Médici, tendo sido concluída por volta de 1977. A obra fez
uma retificação de traçado, desviando do centro de várias cidades no trecho, impulsionando novo
crescimento urbano e desenvolvimento regional.
Em 2008, inúmeras cidades ao longo da Belém-Brasília irão festejar o cinqüentenário de uma fundação
marcada pelo desbravamento da região e guiado pela comunicação estabelecida pela estrada. A visão
desenvolvimentista, baseada nos três pilares, estrada, ocupação territorial e progresso, continua bem viva
entre os entrevistados desse trabalho de Percepção Ambiental. E pode ser reforçada pela contra idéia de
que o desenvolvimento fica bloqueado sempre que a estrada perde as condições de trafegabilidade, como
ocorreu nos últimos 10 anos.
Estrada boa, com progresso social e econômico regional são associações de idéias fortes e muito
presentes entre os entrevistados. Em tese, essa associação ajuda a atribuir valor de extrema importância
para o projeto de duplicação do trecho da BR-153 entre Anápolis e Porangatu.

Exemplo de falas

MOR 2.2 Pra mim, importância só pra diminuir o engarrafamento, congestionamento na estrada, né.
Diminui os acidentes.
MOR 5.1 Ela vai melhorar muito, vira outra coisa, melhora 100%. Pode trazer algum benefício além do que
já trouxe. Talvez algum dia alguém pode trazer alguma coisa, se alguma empresa quiser vim pra cá, vai tê
facilidade de trânsito, de escoar.
MOR 7.1 Acho muito boa, melhora muito, valoriza as propriedades que tem na beirada, os comércios, os
postos. Ajuda a desenvolver mais movimento. Traz mais benefício.
MOR 10.1 Importância que eu acho que não vai ser bom pros fazendeiros. Vai cortar um mundo de terra e
depois não vai querer indenizar. Depois vai pra justiça e pode dar até morte. Bom é, mas tem que ser
organizado. Primeiro indeniza e depois faz a estrada. Só saio depois que eu receber.
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 193
Jaraguá, Praça do Cruzeiro, Av. Bernardo Sayão,
antiga pista da Rodovia Belém-Brasília no centro comercial da cidade

MOR 12.1 Importante é porque vai te mais segurança e vai ficá toda melhor, né. É uma estrada que
merece, porque ela tem muito movimento e tá aumentando cada vez mais.
AGR 15.1 Diminui os acidentes com ultrapassagem. A gente que anda nos acostamentos, se acontecer um
acidente, o carro vem pro lado da gente. Fica melhor para a ambulância transportar os doentes.
COM 16.1 Essa mudança é uma necessidade que eu tenho. Vai adiantar, menos risco, acidente. A BR 153
é o eixo de tudo. Quem abastece Belém, Palmas é Goiânia, Anápolis. Tudo depende ai dessa estrada. Nós
somos três irmão no comércio, cada dia um tá na estrada. Nós carrega quatro caminhões de verdura por
semana, nós traz pra feira muita mercadoria, são três sacolão, supermercado também, a gente vende
atacado e varejo. Acidente tem todo dia, atrasa tudo. Duplicar é um salva-vida. É um adianto.
COM 17.1 Progresso. Fica mais fácil a vinda de novos empregos. Traz pra empresa, traz pra todo mundo.
TUR 37.1 Principalmente pra Poranagatú, pro turismo, mais renda para o município. Incentivar as pessoas
a transitar nela, com as estrada boa as pessoas rodam mais nela.
TUR 38.2 Ia melhorar a estrada, né?! Paralisar mais os acidentes e o acúmulo de carros.
CAM 40.4 Duplicada ela vai ficar mais prática, o povo vai andar mais nela. O povo assusta quando tem que
andar nela, por causa dos acidente. O povo tem medo de andar nela.
CAM 41.1 Ela iria trazer maiores benefícios tanto para os usuários quanto para os que moram nas
imediações da rodovia. E pros produtores também. Ela iria possibilitar o transporte com melhores preços.
Sem contar a segurança da pista duplicada, é uma diferença brutal!
CAM 42.1 Ia melhorar todos os municípios. Ia trazer mais desenvolvimento para o norte, o progresso para a
região. Redução da prostituição. A população encontra-se meio atrasada, em geral. Trazer fábricas,
desenvolvimento dos municípios. Pra cá não se produz nada, muito pouco.
APB 45.1 Pra mim que sou usuário, vou constantemente a Brasília e Goiânia, a duplicação seria uma
garantia de fazer uma viagem mais sossegada, com menos tempo, mais segurança. Acho que pela
importância dela para o desenvolvimento e a segurança ia evitar tantas mortes, o meio ambiente seria o
menor em relação ao impacto. Porangatu tá parada por falta de desenvolvimento. Se não fosse possível
duplicar, pelo menos melhorar, duplicar uma parte, terceira pista no resto.
APB 49.1 Aqui mesmo no povoado Serra de Campo e Santa Tereza, eles surgiram com a construção
dessa estrada. Pode trazer constrangimento pra população. Por um lado pode facilitar, trazer benefício,
mas por outro lado vai ter que remover pessoas. Essa escola pode ser afetada, né?! Vai ter muito
questionamento sobre isso.
APB 50.1 Pra mim é quase tão importante de quando ela foi construída. A importância é quase a mesma. O
fluxo que ela tem hoje é insuportável. O norte e o sul do país passa aqui. Agora manter uma pista é
economicamente inviável. Tem que ter duas pistas. Ela é uma artéria, assim tá bloqueando o
desenvolvimento.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 194


MOR 53.1 Seria muito bom. Pra mim eu considero isso igual ganhar na Mega-Sena. Cê vê, igual esse norte
goiano aqui, uma cidade daquele tamaninho ali, São Luiz, não tem banco, não tem lotérica, é uma
vergonha. Isso aqui foi esquecido. Isso de duplicá, agora é que vai trazer o futuro dessa região.
MOR 55.1 O sonho nosso é a duplicação dela de norte a sul do país. Ela é a mais importante de todas as
rodovias do país. Não tem outra mais importante. Ela corta no cerne, desde Rio Grande do Sul até Belém.
As outras vão lá no litoral, não conta. É duplicar aqui, na 153, ela movimenta o desenvolvimento!
AGR 58.1 Miora pra mim e pros outro também.
AGR 59.1 Acho importante, pode beneficiar aqui é mão-de-obra. Uma empresa vindo para cá, pra obra ai,
pra empresa.
COM 61.2 Primeiro, é evitar acidente. Segundo, com certeza, a gente tem mais lucro. Acho que a vida tá
em primeiro lugar, depois vem as outras coisas.
COM 62.1 A importância ai é que o meu negócio miora. Quanto mais movimento mais venda eu faço.
COM 63.4 Muito bom. É bom porque vai ficar uma pista uma beleza.
IND 64.2 Importante demais da conta. É uma região de alto tráfego de caminhões pesados que circulam
muito nessa estrada. Aqui é a BR que passa mais caminhões no Brasil. Nem na 101 não passa tanto
caminhão. É a produção de todos os estados do norte e muitos do nordeste que passa aqui, as
mercadorias todas pra eles ia pra baixo. Norte Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão, Amazonas, Piauí, Ceará
e norte do Mato Grosso também, e o porto lá do Maranhão, já é todo aqui. Importante, essa BR merece,
né?!
IND 67.1 Duplica esse trecho é fundamental. Eu vejo que daqui pra baixo o potencial é tremendo. O
Tocantins não tem indústria, e os caminhões vão cheio, só desce carregado e volta é vazio. Lá não tem
indústria. Esse norte ai é promissor porque o que desce de caminhão ai com máquinas! Em Jaraguá deve
ser um dez caminhões descarregando aqui e uns doze carregam todo dia. Jaraguá hoje tem isso, distribui
roupa é pro Brasil todo. Nós aqui levamos pra Caxias do Sul até Fortaleza, Pará, Brasil todo. Essa
duplicação, o tanto que ia gerar pra colocar indústria nessa BR ai era bom demais. O shopping que tá
sendo construído ali no trevo com as 166 fábricas daqui. Um rapaz daqui tem fábrica de cadeira de plástico
reciclado. Ele tá escondido. Com a duplicação teria que por lá na beira da BR, era marketing, ele manda
pra fora, mas ele tinha que vim aqui.
APB 77.1 Se for analisar em cima do fluxo, essa obra é inviável. A manutenção do trecho já é suficiente.
Porém, se for pensar no progresso, no desenvolvimento para a região, ai sim. Porque sinceramente, o
único progresso aqui é a cana. E cana vai é destruir o trecho. Tem que ter uma política paralela para o
desenvolvimento do trecho, com indústrias para a região.

1.5.7. Duplicação e mudanças futuras

1.5.7.1. Percepção das mudanças futuras

O Quadro 4.15 apresenta o estudo da percepção que as pessoas entrevistadas têm das mudanças que
podem ocorrer com a duplicação da BR-153 no trecho Porangatu a Anápolis.
Quadro 4.15
Percepção de mudanças futuras
Categoria Trecho MOR AGR COM IND TRA VCM TUR CAM APB Sub-total Total
T1 4 2 4 1 4 5 5 5 30
Trânsito produtivo 44
T2 1 4 1 2 1 5 14

Desenvolvimento T1 3 1 6 1 1 2 14
26
regional T2 1 3 2 1 5 12
T1 3 1 4
Moradores indenizados 5
T2 1 1

Comércio de margem T1 1 2 3
4
prejudicado T2 1 1
T1 1 1
Sem-terras favorecidos 2
T2 1 1

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 195


Total 15 8 16 4 3 5 6 11 13 81

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 196


A maioria dos entrevistados percebe que a principal mudança do cenário com a duplicação virá em relação
ao trânsito produtivo. Produtividade do trânsito aqui entendida, como exige a logística atual, a melhor
relação de trafegabilidade, rendimento dos veículos, capacidade de escoamento, agilidade, e segurança.
Alguns chegam a afirmar que o próprio traçado da estrada, em terrenos muito planos, permitirá transformar
a BR-153, após a duplicação, em uma das melhores e mais produtivas estradas do país.
Para vários entrevistados, a mudança futura mais promissora seria o desenvolvimento regional induzido
pela obra e pelo arranjo final da estrada. Essa percepção vai além da melhoria da trafegabilidade, esses
indivíduos consideram o cenário posterior à melhoria da duplicação e avaliam as conseqüências da
intervenção na região em médio e em longo prazo.
Algumas pessoas entrevistadas avaliam que para a execução da obra de duplicação será necessário a
retirada de casas nas margens da rodovia, e assim, terão moradores indenizados com a intervenção. Nem
sempre essa percepção é avaliada positivamente, e no caso dos estabelecimentos comerciais alguns
indivíduos apontam que terão o comércio de margem prejudicado.
Contudo, a avaliação da intervenção pode ter uma interpretação individual muito positiva. Para alguns os
sem-terra serão favorecidos, pois serão removidos dos acampamentos às margens da rodovia e,
imediatamente, assentados em fazendas declaradas improdutivas lindeiras à estrada. Isso vai levar a um
enriquecimento formidável, na percepção desses indivíduos.

1.5.7.2. Projetos de desenvolvimento locais - apropriação da BR-153

Uruaçu - memorial serra da mesa

Uruaçu. Memorial Serra da Mesa – Centro de Convivência,


próximo Reservatório da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa.

Com a idéia de ter Uruaçu na Rota Turística de Goiás, a Prefeitura Municipal constrói em associação com
Furnas, PUC-GO e Instituto do Trópico Subúmido o Memorial Serra da Mesa. Esse tem o propósito de
resgatar a memória pré-histórica, social e cultural de Uruaçu e da região do Lago Serra da Mesa. As
instalações contarão, quando tudo estiver construído, com um museu de história natural, área de camping,
centro de treinamento, concha acústica, além de réplicas cenográficas de tamanho real de uma vila
tradicional, fazenda, aldeia indígena, quilombo e abrigo pré-histórico. Esse projeto, em avançado estado da
construção civil, realiza o plano municipal de se apropriar da melhor maneira do Lago Serra da Mesa e
suas potencialidades turísticas, contando com a BR-153 para favorecer a atração dos visitantes.
A idéia do projeto é formar um complexo multidisciplinar voltado para a educação ambiental, completado
com um centro sócio-esportivo e de lazer para aproveitar a beleza cênica e ecológica do lago. Assim,
pretende alçar Uruaçu à cidade turística de influencia estadual e até nacional, trazendo divisas e geração
de emprego e renda para os municípios da região do Lago de Serra da Mesa.
Para tanto, a condição principal para efetivar o Memorial Serra da Mesa é a boa trafegabilidade das
rodovias que dão acesso à cidade de Uruaçu, incluindo a BR-153. Dessa forma, a percepção das
mudanças futuras em relação à duplicação dessa rodovia vislumbra o desenvolvimento socioeconômico
regional, baseado no turismo, que estaria dependente do transporte rodoviário de boa qualidade.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 197


Uruaçu, Memorial Serra da Mesa. Em primeiro plano, anfiteatro em construção;
no centro, tribo indígena e fazenda cenográfica; e no alto da foto,
lago do reservatório da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa

Uruaçu, Memorial Serra da Mesa. Painel do portal próximo ao lago


do reservatório da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa

Jaraguá - Passarela da Moda

A cidade de Jaraguá se projeta como um pólo produtivo do setor de moda, concentrando as atividades de
quatro outros municípios. As confecções ocupam um lugar importante nos projetos de desenvolvimento da
região, uma vez que favoreceriam a reafirmação de sua identidade cultural, facilitariam a geração de
emprego e renda, além da produção e intercâmbio de conhecimento e informações.
Como parte desses projetos, o plano diretor municipal prevê a criação do Via BR, um centro de moda
capaz de integrar as confecções locais, estimulando a coordenação de atividades cooperativas e
contribuindo para o fomento do turismo e dos negócios. Uma vez que a cidade se situa às margens da BR
153, o desenvolvimento do projeto passa por sua integração à rodovia, utilizando suas margens como
vitrine para expor e auxiliar no escoamento da produção local e destacar a região de Jaraguá no circuito
brasileiro da moda. O objetivo é extrair do movimento diário da rodovia potenciais compradores e
revendedores da moda produzida em Jaraguá.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 198


Construções projetadas para o Projeto Via BR em Jaraguá margeando a BR-153

Jaraguá. Placa de apresentação da construção do CETEMJ,


parte do Projeto da Via BR, margem direita da BR-153

Jaraguá, Shopping da Moda, em construção no trevo sul de entrada da cidade

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 199


O Via BR seria um empreendimento turístico e comercial de aproximadamente 31 hectares, numa faixa de
2,8km junto à BR-153, contando com galerias de lojas, centros tecnológicos e de eventos, hotéis, praças de
alimentação e entretenimento e infra-estrutura completa de serviços e apoio para motoristas e viajantes.
Além de favorecer os lucros das confecções locais, o centro de moda funcionaria como um chamativo para
atrair os viajantes e fazer com que eles conheçam e participem das demais atividades desenvolvidas na
região.

Porto seco de Anápolis e o porto de Itaqui

A estação aduaneira do interior da Região Centro-Oeste, denominado Porto Seco Centro Oeste, está
situado no Distrito Industrial do Município de Anápolis. O seu objetivo é o de atuar como ponto facilitador do
escoamento da produção e recebimento de produtos importados. O porto seco funciona como zona
aduaneira e realiza todas as funções de um porto comum, equipado com Receita Federal, Ministério da
Agricultura e Ministério da Saúde.
O empreendimento, pertencente a um grupo de empresários goianos, está inserido na cadeia logística da
região facilitando importação, exportação e distribuição de mercadorias, interligando mercados regionais
importantes. Utiliza como principal rota de escoamento a ferrovia Centro-Atlântico, mas devido ao alto fluxo
de mercadorias em circulação enfrenta congestionamentos que prejudicam e encarecem o processo. Conta
com um movimentado acesso de caminhões oriundos dos estados do Centro-Oeste, Norte, Sul e Sudeste
do país, mas também enfrentam dificuldades com as rodovias utilizadas.
Diretores do Porto Seco do Centro Oeste, em entrevista para esse trabalho de Percepção Ambiental,
indicaram como alternativa ideal a utilização do porto de Itaqui, em São Luiz no Maranhão. O potencial de
carga ainda não esgotado e sua localização em relação aos mercados no norte contam favoravelmente.
Outro fator positivo para intensificar os negócios através de Itaqui, é o traçado plano da Belém-Brasília e
extensões, facilitando a via rodoviária. Contudo, as más condições de trafegabilidade da BR-153 em vários
pontos do Estado de Goiás fazem com que essa possibilidade seja ainda inviabilizada. O Porto Seco
Centro-Oeste apóia a revitalização da BR-153 que significará não só uma alternativa de escoamento da
produção como também um pivô do desenvolvimento econômico da região central e norte do Brasil, o que
pode vir a otimizar os serviços do Porto Seco, de acordo com a percepção dos entrevistados.

Exemplo de Falas

MOR 2.2 O caso da minha borracharia, vai atrapalhar pra mim. O espaço da minha borracharia é o da BR,
se duplicá ela, eu vou perdê. Uma carreta não vai poder nem manobrar lá. Pra mim fica ruim.
MOR 4.3 Pra mim vai me apertar mais, além da terra ser muito pequena, ainda vai alargar mais a estrada.
E se nós sair daqui fica mais sem condição. Ai não pode morar mais. Duas pistas já é difícil atravessar,
quatro pistas é um perigo.
MOR 5. A primeira parte vai ser bom pra motoristas, vai ajudar muito as pessoas, vai ter mais tranqüilidade.
As pessoas vai tirar as preocupações de motoristas e passageiros de ônibus e de carro pequeno também.
Os carros pequenos não são respeitados.
MOR 7.1 Melhorar a situação dos moradores, pecuaristas, criadores. Pra dar mais chances de vender seus
produtos em outras cidades e ter mais lucros. E vender a preços melhores, aqui os produtos são muito
baratos.
MOR 8.4 Ai é bom porque eu saio daqui da beirada dela. Ah, se faz uma coisa dessa, nós vai pra dentro da
primeira terra!
MOR 9.3 São inúmeras. Muitas mudanças, só benefício. Na época da construção, tiraram nossas terras
mais úteis, mais de 40m de largura por 100m de comprimento, ninguém recebeu nada do estado.
MOR 10.3 No meu ver podia me prejudicar, não só eu, mas outros moradores também. Eu vou ter que sair,
né?! Comprei e paguei, mas vou ter que sair. Tem laranja, jaca, caju, manga de porco.
MOR 11.1 Miora, eu acho que miora em tudo, né?! Diminui os acidentes, o transporte é mais rápido.
MOR 12.6 Ai vai te muita indenização ai, né?! Porque esses fazendeiros ai, eles mexeram ai e não
indenizaram ninguém. Eles vai ter que enlarguecê ela e vai ter que tirá muita gente que vive dela, mora na
beira dela, tem seu comércio ai. Vai mexe ai, vai dá muita indenização ai. Pra fazê isso aí a primeira coisa
é, antes de mexê, vim a indenização. Porque o governo começa a mexê e depois não paga e ai vai tudo
pra justiça, dá briga e dá até morte. Não vai ser bom não, vai cortar terra ai, não indeniza, não paga,
ninguém vai sair de graça, não. Antigamente, nas terras do meu pai, quando cortou ai nunca pagô. A gente
ainda paga impostos disso ai até hoje. Não desmembrou a escritura até hoje.

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 200


MOR 16.1 Menos acidente, menos manutenção do veículo, porque a estrada vai melhorar. Mais segurança
pra gente. Hoje minha verdura chega aqui no horário de três ou quatro horas da tarde. Se a BR fosse uma
estada boa, eu chegaria uma ou duas horas da tarde, e eu venderia muito mais. Quantas vezes eu fiquei ai
na estrada com caminhão quebrado nos buracos da pista?! Tocantins não tem asfalto ruim, é tudo bom.
Aqui pra nós no interior, as GOs que foi feita, o asfalto é novo, é bom. Essa BR vai ficar boa. Importante é a
segurança.
MOR 17.3 Alavancar o desenvolvimento aqui da região, que tá muito atrasado. Frete: aqui tem potencial de
tomate, mas ninguém planta, porque mandar o tomate daqui pra lá, ele estraga. O biodiesel, tem que tê
espaço na rodovia pra ele. A ferrovia norte-sul, precisão para ter um porto. Aqui nos assentamentos do
governo, to mês gera renda, ai vem, gastá na cidade. Rapaz, antes os fazendeiros eram todo contra os
assentamentos. Mas é diferente, o assentamento do Lula é tudo diferente, eles geram trabalho, ajudam a
fazer nas fazendas, ganha casa, financiamento. Eles vão plantá pro biodiesel. Essa usina aqui em
Porangatú vai pegar essa BR boa ai duplicada. O meio ambiente não vai ter impacto negativo nenhum, a
área dela já ta reservada, não tem questão. Vai facilitar nosso intercâmbio com grande centro.
MOR 21.3 Trazer muito emprego, indústria. O pessoal tem dificuldade de trazer indústria pra cá por causa
da distância, estrada ruim e frete caro.
MOR 23.2 Pro meu comércio seria que iria tirar minha barraca daqui. Eu teria que partir para outra coisa, ia
sentir saudade do lugar. Mas ela traz muito progresso pro país e pro Goiás, mas pra mim, não seria bom,
não eu, mas pros vários barraqueiros que tem no Goiás, nessa BR 153 ai. Aqui podia ter praça pros carros
pararem. Os caminhoneiros não querem sair da pista, os guardas multa.
VCM 30.1 Melhora demais, rende a viagem, diminui carga horária, não pega trânsito. Até Rialma tem muito
trânsito.
VCM 32.1 É boa demais, salva milhares de vidas. Traz muito benefício pra gente.
VCM 41.1 Agilidade, segurança e um conforto total para usuários, independente do caminhão ou do turista.
Tem gente que prefere pegar um avião ai pra facilitá, não sabe o que tem aqui.
APB 50.3 A norte-sul tá chegando aqui. Em Anápolis, nós temos um porto seco que busca produtos aqui.
Nós somos grandes produtor de soja. Temos aqui só receptadores. O desenvolvimento aqui está
bloqueado. Uruaçu é um pólo. É a menor distância entre várias cidades de mais ou menos 300.000
habitantes no total. E só a BR 153 é que faz essa ligação. É a possibilidade do desenvolvimento. Já temos
os projetos. O hospital regional já tem previsão orçamentária pra 2008. As ambulâncias do SAMU, todas
rodando ai na BR. O turismo com o reservatório Serra da Mesa e o Memorial Serra da Mesa, tanque de
peixe. Agricultura tem o projeto do caju anão precoce, gerando renda no campo. Tudo tá baseado na BR
153 em boas condições.
MOR 53.5 É o progresso, é mais recursos financeiros. Vai melhorá em tudo. Nós acampado aqui, olha, vou
conta uma coisa, se um dia a nóis chega a pagá essa terra aqui, que tá já cadastrada improdutiva pra nós,
de frente pra BR duplicada, nóis vão sê milionário!
MOR 54.3 Essa mudança nas duas faixas vai evitar acidente. Vi mudar muito tudo de novo. Eu conheci ela
no cascalho. E depois eu lembro de dois D-8, trator grande, um puxava pra um lado, outro pro outro,
desmatando esse mato ai. Era tudo mato fechado. Ai eles fizeram a pista e encascalharam. Ai levou uns
seis ou oito anos pra vim o asfalto. Antes ela rodeava pro lado de lá. Naquele tempo que eles fizeram ai,
acho que o povo tava muito ansioso pra vim ela. Ai, ninguém exigiu nada. Quem perdeu mais terra ai foi um
fazendeiro perto da ponte do Rio São Patrício. Ele perdeu mais ou menos 1,5km com as beira dela. Ele
aproveitou que vendeu cascalho. Agora vai ser diferente. O povo vai exigir mais. E vai vim mais progresso,
entrá um recurso ai. Vai bloquear os acidentes, era bom pra gente andá nela ai.
AGR 57.1 Mudanças... Benefício é que reduz muito o índice de acidentes, né? Cê tá ai numa fila de
caminhão e não dá pra passar. Duplicá fica bom, né. Pro asfalto agüentar, tem que ter uma balança. Vai
melhorá o trajeto do pessoal, pro povo todo. Tudo que ocê precisa é em riba dela, minha mulher foi ganhá o
menino em Ceres, eu fui na ambulância. Joga daqui, bate dali, chegou lá, internou os dois!
AGR 58.1 Vai miorá pra eu andá nas beiradas dela, até pros motoqueiro andá... No meio eu não ando, é só
nas beirada. Eu num vo andá no meio, pros carro batê ni mim não, eu num gasto ônibus, eu vo nela de
bicilicleta.
AGR 59.1 Aqui muda pra melhor. Aumenta o barulho, e se vié pro lado de cá. A cana aqui quem puxa é a
usina Carmo do Rio Verde - CRV - de álcool e açúcar. Anda nela um quilômetro e entra pra Ceres na GO,
ai fica 20, 30 tremião cortando. Melhora pra muita coisa mais.
AGR 60.6 Eu acho que aonde entrá numa propriedade ai, o governo tem que pagar por ela. Esse pedaço
aqui fala que é dela, mas é minha, eu pago imposto dela, e ela tá anexada no meu registro. Muita gente
Estudo de Impacto Ambiental - EIA 201
paga dela ai. Aqui nessa BR, aqui nunca foi indenizado. E também ela tem que ser mais bem zelada,
porque ela é muito desmazelada. Aqui tem muito quem trabalha e pouco que eles fazem. Aqui só 10% do
que o governo gasta nela é que eles fazem. É muito mal administrado ai.
COM 61.3 Muitas coisas que não vêm, poderia vir. As coisas chegar um tempo, mais fresquinha, verduras,
tecnologias, coisas novas. Viajante que vem e não quer voltar! Redução de custo de transporte, mais
movimento, mais viajante.
COM 63.2 Ai nesse caso fica difícil pra nós, porque vai tirar nós daqui.
IND 66.3 Qualidade dos caminhões vai melhorar, nossos clientes vão receber o produto melhor, e aqui não
vai atrasar a entrega da nossa matéria-prima, tudo é perecível. Sabe, muito a qualidade.
IND 77.3 Jaraguá vai ficar melhor ainda, mais estratégica ligada de norte a sul, com rodovia duplicada. Aqui
poderia colocar até uma fábrica de automóveis, a de Catalão poderia ter vindo pra cá, porque aqui é
estratégico, lá não é.
CAM 73.1 Mudança pra melhor que vai duplicar. Aqui trabalho com muita segurança, é o tempo todo, é
tudo controlado. Nós trabalhamos com segurança de 70km/h na chuva. Com pista duplicada e conservada
vai melhorar muito. O trânsito desenvolve, vai poder manter a média. Aqui não podemos sair das normas
de segurança. É um sonho trafegar nela duplicada. Mas o excesso de carga ai que roda nela é demais.
CAM 74.1 É um sonho. Hoje o caminhão quebra, o frete é caro, o tanto de grão que desperdiça na estrada
é em torno de 20%. Duplicada resolve. Em relação a bandido, economia no desgaste, pneu, combustível.
Essa é a melhor estrada. Já foi chamada casa do caminhoneiro! Aqui o atendimento é melhor, o
caminhoneiro é bem tratado. Em São Paulo eles desprezam o cara. A estada era boa, infelizmente
deixaram quase acabar.
APB 77.3 Acho que mais progresso. Automaticamente, com a duplicação vai ter um fluxo maior de
transeunte aqui. Hoje nós perdemos parte desse transeunte no trecho Uruaçu - Goianésia - Barro Alto.
Perdemos transeuntes também em Itaberaí - Uruaçu - Ceres. Outro trecho é São Miguel do Arajuaia. A
pulverização do tráfego pelas péssimas condições da pista.
APB 77 Eu falei, a Bernardo Sayão (avenida de Jaraguá) tinha capim de um lado e de outro. Aqui a cidade
começou a crescer. É uma satisfação muito grande ver o crescimento.
APB 80.3 Agilidade e segurança para os usuários. Aumentar as vendas da confecção, do comércio em
geral.

1.6. BR-153: Convivência e possibilidade


A BR-153 tem uma identidade carregada pela atribuição de valor de importância dada ao instrumento de
comunicação que induz o desenvolvimento. Isso determina não só a percepção da identidade, mas a
própria imagem de estrada da integração nacional, e estrada do desenvolvimento do país.
O fato de ter um tráfego precário, determinado pelas péssimas condições de manutenção não diminui a
importância funcional atribuída à estrada. E assim, a característica de ser a única que promove a
integração norte – sul do Brasil fornece a identidade que coaduna valorização e imagem.
O desenvolvimento da região centro-norte do Brasil é um processo instalado há menos de 50 anos com a
abertura da Belém-Brasília, e potencializado com o completo asfaltamento da via há menos de 30 anos.
Assim, a memória coletiva dos primeiros ocupantes e desbravadores daquela terra, o adensamento
populacional, a intensificação da produção são fatos muito recentes e intensos que enriquecem o
imaginário popular, sempre associando o progresso à estrada. Para muitos, o desenvolvimento, nesse
sentido, é um fato em construção e ocorre em razão da comunicação oferecida pelas boas condições de
trafegabilidade na BR-153.
Uma grande quantidade de pessoas vive do trabalho nas margens e proximidade da BR. São
comerciantes, ambulantes, mecânicos, hoteleiros, entre outros prestadores de serviços aos transeuntes
que se apropriam da estrada, num fenômeno coletivo que tem o caráter pessoal, e que confere importância
socioeconômica à Belém-Brasília.
Há dificuldades para se promover mudanças na qualidade da prestação de serviços nas margens da
rodovia, principalmente, em virtude da falta de organização empresarial e dificuldade financeira dos
pequenos comerciantes locais. A descapitalização e as falhas na qualificação da mão-de-obra fazem com
que a qualidade dos serviços não seja aquela desejável.
À prestação de serviços é atribuído importante valor tanto pela qualidade real dos serviços e instalações de
grandes redes, quanto pela honestidade e presteza do atendente em situações difíceis em regiões de

Estudo de Impacto Ambiental - EIA 202

Você também pode gostar