Apresentação Bio

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(Para apresentação)

introdução

Uma restauração ecológica bem sucedida não se restringe apenas a aspectos


ecológicos, mas abrange questões econômicas, culturais e sociais.

Um projeto bem planejado, com engajamento social, envolvendo a sociedade, gera


suporte duradouro para a restauração ecológica
.
Além de restaurar o funcionamento do ecossistema, os objetivos do projeto
relacionados ao bem estar social e humano devem ser considerados no início dos
estágios de planejamento, mesmo antes que as etapas relacionadas à composição
e estrutura das comunidades biológicas sejam planejadas. Pois com o engajamento
social, o projeto tem mais chances de ser concretizado.

No Brasil, a restauração florestal é uma exigência. Os proprietários rurais são


obrigados a manter ou reabilitar a vegetação nativa em parte de suas propriedades,
a porcentagem exata depende da região do país.

No entanto, é essencial identificar fatores os quais as pessoas percebem como


cruciais para apoiar as atividades de restauração, pois preencher lacunas nas
percepções e valores é fundamental para aumentar a conexão entre a restauração
florestal e o bem estar humano.

Uma abordagem multidimensional para projetos de restauração ecológica pode ser


alcançada adotando ações coletivas com múltiplas partes interessadas e
melhorando o bem-estar, além de recuperar funções ecológicas

A multifuncionalidade da restauração - os benefícios que um esforço de


restauração proporciona a diferentes aspectos - é alcançada quando a
concretização do projeto estabelece ''usos e propósitos múltiplos, que são
valorizados de diferentes maneiras por diferentes partes interessadas''.

Uma abordagem multifuncional leva a restauração ecológica a alcançar maior


importância para a sociedade humana.

Entender a percepeçao das pessoas sobre a importancia ecologica da restauraçao


florestal pode ajudar no debate sobre aceitaçao , engajamento e contribuiçoes das
partes interessadas para esses processos e ações, uma vez que as pessoas
geralmente apoiam projetos quando reconhecem a melhoria das funçoes
ecossistemicas desempenhadas por tais empreendimentos.

Métodos
área de estudo

A área de estudo está localizada no campus de Ribeirão Preto da USP.

Em 1874, uma plantação de café foi estabelecida e permaneceu até o final da


década de 1930. Em 1948, a área se tornou o campus da universidade. Em 1986, a
maior parte da região ao redor era dedicada a plantações de cana-de-açúcar, assim
como a localização da área de estudo, que costumava ser arrendada para usinas
vizinhas de produção de açúcar/etanol.

No final da década de 1990, a administração da USP determinou o estabelecimento


de um projeto de restauração florestal na área de estudo.

O projeto de restauração florestal foi implementado em duas etapas:

A primeira etapa em 1998, um total de 49.000 mudas de 70 espécies de arvores


nativas que originalmente cobria a área( mata atlantica semidecídua) foram
plantadas em uma area de 30 ha, denominada ''area de recomposiçao''

A segunda etapa (2000–2004) estabeleceu um banco in situ de diversidade genética


em uma área adjacente de 45 ha, onde 65.000 mudas de 45 espécies de árvores
foram plantadas.
figura 1 - Localização (A) da área de estudo no município de Ribeirão Preto, estado
de São Paulo, Brasil; com (B) vista aérea da UF identificando a Área de
Recomposição (AR) e o banco genético (GB) (imagem obtida do Google Earth Pro
em 22 de junho de 2023), e (C) vista interna atual do reflorestamento na Área de
Recomposição

Coleta e análise de dados

Foi abordado três principais questões na pesquisa, usando métodos diferentes

i - Como os objetivos originais da restauração se relacionam com os conceitos


atuais de multifuncionalidade e atributos sociais?

Para essa primeira questão, foram feitas avaliações de fontes documentais e


bibliográficas, como propostas de projetos, atas de reuniões, relatórios de
desenvolvimento, artigos acadêmicos, dissertações e teses para reunir
informações sobre a concepção da floresta da USP, os objetivos
estabelecidos para ela na fase de planejamento, suas etapas de
implementação e a evolução histórica das ações de gestão desde então. As
fontes de dados eram: Avaliação do projeto inicial, sites, relatórios e jornais
sendo avaliação de metas iniciais referentes a multifuncionalidade. avaliação
de objetivos e progresso em direção às metas sociais usando ''roda de
benefícios sociais'' e ''sistema cinco estrelas social''.

além disso, entrevistas com perguntas abertas também foram realizadas com
quatro pessoas. Um roteiro de perguntas foi usado com todos os quatro
entrevistados visando acessar sua percepção dos objetivos iniciais do projeto
e quaisquer mudanças no objetivo do projeto à medida que ele se
desenvolvia.

ii - Como o estado atual da floresta atende aos objetivos sociais?

Com base nos dados das entrevistas e da análise documental descrita em ( i


), foram listadas todas as atividades desenvolvidas na e para a área da
floresta da USP desde sua implementação (de 1997 a 2022) e o uso do “
sistema cinco estrelas social ” para avaliar o progresso da floresta da USP
em direção às metas sociais

iii - Como as pessoas usam, se relacionam, percebem e sentem sobre a floresta da


USP e sobre o processo de restauração?

Foi construído um ''google forms'' e disseminado por email para a


comunidade interna do campus, explicando o contexto da pesquisa, fornecendo um
link da web para o formulário online. As questões elaboradas abordaram o
conhecimento das pessoas sobre a floresta da USP, a relação com suas atividades
acadêmicas, frequência e motivos para visitar a área, sua percepção sobre a
importância da floresta da USP e, finalmente, como elas descrevem seus
sentimentos em relação à floresta da USP . Os dados resultantes foram resumidos
com nuvens de palavras para apresentar as palavras exatas usadas pelos
entrevistados
Figura 2 - Estrutura metodológica mostrando as três questões de pesquisa e
a abordagem metodológica correspondente a cada uma delas
Resultado

Os objetivos primários e o status atual do projeto estavam


relacionados à multifuncionalidade e aos atributos sociais

A partir da análise documental e das entrevistas, foi compilada uma lista abrangente
dos objetivos e metas iniciais para a floresta da USP.

De acordo com a entrevista realizada com o professor do campus, responsável pela


idealização do projeto de restauração para criação da floresta da USP , um caráter
interdisciplinar, possibilitando aspectos sociais, era parte integrante dos objetivos
projetados desde a fase de planejamento.

De acordo com os outros três entrevistados, a floresta da USP foi concebida como
uma “área de referência” para melhoria das condições socioambientais, validando
ainda mais que ela de fato tinha uma abordagem multifuncional, abrangendo
aspectos ecológicos, sociais, educacionais e culturais

Os objetivos iniciais estabelecidos para a floresta da USP estavam relacionados aos


atributos e subatributos da Roda de Benefícios Sociais (Tabela 2 do artigo ), usada
para rastrear o nível alcançado de metas e objetivos de desenvolvimento social

Os objetivos para a floresta da USP atenderam a cinco dos seis atributos propostos
pela roda de benefícios sociais, a saber: engajamento das partes interessadas;
distribuição de benefícios; enriquecimento do conhecimento; restauração do capital
natural; e bem-estar da comunidade.

A avaliação do progresso da floresta da USP em direção às metas sociais e como


os objetivos foram alcançados se deu através do sistema social cinco estrelas, que
é usado para avaliar o progresso em direção às metas sociais na área de estudo

Quatro dos cinco atributos alcançaram cinco estrelas:

engajamento das partes interessadas: Envolvimento de múltiplas partes


interessadas em todas as fases desde a implementação e processos de autogestão
estabelecidos

enriquecimento de conhecimento: Desde a implementação, é um centro de


disseminação de conhecimento para a sociedade. Utilizado para o desenvolvimento
de projetos de pesquisa e produção científica, educacional, cultural e de extensão
universitária relevantes
capital natural: área de preservação permanente, seus principais objetivos
são a conservação do solo e da água. Protege os recursos hídricos e os solos
contra a erosão. Proporciona conservação genética e de espécies nativas.

bem-estar da comunidade: múltiplos benefícios aos moradores locais, uso da área


para lazer, recreação e contemplação, contribuindo para o bem estar, além de
pesquisa científica e processos educacionais/treinamentos.

Os objetivos ecológicos da restauração da floresta da USP foram realizados através


do uso de espécies nativas em grupos sucessionais, diversidade genética e inclusão
de espécies específicas.

.Além disso, a floresta da USP também proporcionou melhoria de habitat para


espécies animais que agora usam essa área. O banco genético foi estabelecido
com sucesso, servindo como fonte de sementes com alta diversidade genética,
utilizadas na recuperação de outras áreas degradadas na região

Além disso, também houve relatos indicando um aumento no fluxo de água de


nascentes existentes após o reflorestamento, o que pode estar relacionado à
reabilitação de processos ecológicos após o estabelecimento da vegetação
Figura 3 - Linha do tempo mostrando o progresso da UF considerando aspectos
ecológicos (cobertura florestal, estrutura florestal e estratificação) e melhoria da
paisagem

A floresta da USP tem sido utilizada para pesquisas, educação ambiental e cursos
de capacitação, possibilitando a produção de conhecimento, reflexão crítica,
aprimoramento do ensino e expansão da extensão universitária com base em
diretrizes acadêmicas e científicas.
Mais de 10.000 pessoas visitaram a área durante as visitas guiadas, a maioria
estudantes do ensino fundamental e médio.

Além disso, diversas monografias, resumos de reuniões científicas, artigos


científicos e capítulos de livros ( n = 77) foram publicados por alunos de graduação,
pós-graduação e jovens pesquisadores.

Além da relevância acadêmica, a área oferece programas de educação ambiental e


interpretação da natureza aos moradores locais.

Aspectos políticos também foram abordados com o envolvimento de movimentos


sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST). Os
assentamentos do MTST não apenas receberam sementes e mudas, mas também
foram envolvidos em ações de capacitação e manejo.

Percepções e valores das partes interessadas

Além do fornecimento de serviço ecossistêmico, ficou claro, a partir das análises


documentais e narrativas registradas, a importância da área para o aproveitamento,
aprendizado e bem-estar das partes interessadas.

Obteve-se 157 respostas individuais ao formulário online, sendo 70 alunos de


pós-graduação, 43 alunos de graduação, 30 técnicos e 14 professores. Na Figura 4
, é possível observar o perfil dos indivíduos e de onde eles são. A grande maioria
dos respondentes (98,7%) considerou as ações de restauração ecológica
importantes, incluindo a floresta da USP. Um achado interessante foi que, embora a
maioria deles tenha atribuído grande importância à floresta da USP e admitido saber
de sua existência (91%), mais da metade dos entrevistados nunca esteve na
floresta da USP (53%).
figura 4 - Distribuição das características dos entrevistados. O gráfico (A) apresenta
a distribuição de gênero, classificando os participantes como masculino, feminino e
não divulgado. O gráfico (B) mostra o perfil dos entrevistados, categorizados como
alunos de graduação e pós-graduação, corpo docente e equipe administrativa. O
gráfico (C) detalha a faixa etária dos entrevistados, distribuída em intervalos. O
gráfico (D) exibe a distribuição dos entrevistados, identificando a escola ou unidade
acadêmica à qual pertencem.

Um total de 37 serviços ecossistêmicos diferentes foi mencionado pelos


entrevistados, sendo que os serviços com a maior pontuação na escala Likert foram
fornecimento de sombra, regulação climática, preservação de espécies, valores
educacionais, refúgio para animais, valores culturais, beleza cênica, melhoria na
qualidade da água, lazer e recreação. Regulamentação e serviços culturais foram os
mais reconhecidos e valorizados por esses entrevistados.

A grande maioria dos termos utilizados pelos entrevistados para descrever a


“importância” das funções desempenhadas pela floresta da USP estavam
relacionados a aspectos ecológicos (86%). Poucos aspectos socioculturais foram
mencionados (<1%), como importância para a saúde, religião, lazer e beleza cênica.

A maioria dos entrevistados (84%) demonstrou preocupação e cuidado com a


floresta da USP em suas declarações, deixando claro seu apego e sentimentos
positivos.
Figura 5 - Nuvens de palavras que apresentam a importância (superior) e os
sentimentos (inferior) mencionados pelos entrevistados. As palavras são
hierarquizadas visualmente, com as maiores representando um maior número de
citações.

Discussão

O estudo de caso da floresta da USP é um exemplo interessante de como um


projeto de restauração ecológica de florestas não foi apenas criado e executado,
mas também como, 25 anos após seu início, as pessoas percebem suas
realizações.

Ao longo desses 25 anos, a área em restauração demonstrou progresso e sucesso


significativos no alcance de seus objetivos, atendendo às expectativas dos
planejadores do projeto.

A multifuncionalidade prevista para a floresta da USP está presente desde o estágio


inicial de planejamento do projeto de restauração.

Considerando que o conceito de multifuncionalidade ecológica começou a tomar


forma no final dos anos 2000, ficou entendido que este projeto estava à frente de
seu tempo.

A adoção de princípios de multifuncionalidade representa um avanço notável em


comparação às práticas convencionais, apresentando-se como uma perspectiva
contemporânea e abrangente
A multifuncionalidade, que integra objetivos ecológicos e sociais, facilita o
engajamento de um maior número de atores sociais , quando reconhecem os
benefícios proporcionados pelas áreas que estão sendo restauradas.

Interações frequentes com a floresta da USP fortalecem essa conexão,


promovendo, portanto, maior interesse e melhor cuidado. Esse fortalecimento de
conexões pode, por sua vez, amplificar a conexão com outros esforços de
restauração

À medida que as funções benéficas desempenhadas pelos ecossistemas


restaurados se tornam mais claramente percebidas pela sociedade, os indivíduos
têm maior inclinação e disponibilidade para atender às demandas associadas à
restauração, fornecendo suporte aos processos de recuperação em paisagens
diversas

É essencial entender as conexões formadas entre pessoas e lugares. Isso porque o


envolvimento de atores sociais na preservação ou restauração de um ecossistema é
maximizado quando há vínculo, conexões e/ou identificação com o lugar. Portanto,
adotar práticas que incentivem a participação social desde o início do processo de
restauração é vital para que os atores sociais possam estabelecer conexões e
vínculos emocionais

Ao focar em oferecer múltiplos benefícios complementares e integrados da floresta


da USP às pessoas, o projeto de restauração foi capaz de garantir e manter o
envolvimento de vários atores sociais ao longo do tempo.

Neste estudo, as motivações para os entrevistados visitarem e se relacionarem com


a floresta da USP estavam principalmente relacionadas a experiências pessoais
relacionadas ao seu bem-estar.

Serviços ecossistêmicos e bem-estar humano representam um elo poderoso entre a


natureza e a sociedade. Para garantir esses serviços, os valores sociais e
ambientais das pessoas envolvidas devem ser considerados, sendo o diálogo com
as partes interessadas essencial para orientar o desenvolvimento de ecossistemas
restaurados. Neste estudo, os atores sociais valorizaram e reconheceram a
importância da floresta da USP, percebendo-a como provedora de Serviços
ecossistêmicos
O projeto da floresta da USP demonstrou coesão com o princípio de destacar a
importância de considerar nas ações de restauração, a satisfação de valores
pessoais e culturais (princípio 1 da SER), envolvendo gestores, estudantes,
cientistas, técnicos, movimentos sociais e escolas locais (comunidade interna e
externa).

Dessa forma, a restauração ecológica transcende sua natureza técnica como


resposta à degradação ambiental, tornando-se também um catalisador para
transformar a interação entre as pessoas e o meio ambiente. Essa abordagem,
portanto, torna-se essencial para enfrentar os desafios ambientais contemporâneos
e fornecer novos insights para pesquisas futuras.

Por fim, entende-se que um amplo engajamento da sociedade é fundamental para


deter e reverter a degradação do ecossistema e impulsionar a restauração ecológica
também.

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