Ética No Mundo Digital
Ética No Mundo Digital
Ética No Mundo Digital
Gisele Varani
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-455-7
CDU 177
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a sociedade atual, na qual a famosa Era
do Conhecimento é tão explanada e debatida como unânime, mas, como
veremos, talvez não seja exatamente assim na realidade. Para isso, você
irá refletir sobre o mundo digital, a liberdade de interagir virtualmente
com os demais cidadãos do planeta e sobre as consequências dos atos,
ou a ausência delas, a partir de uma lógica de causalidade. Também irá
repensar seu comportamento ético em espaços de comunicação online,
vendo aplicativos de conexão a partir dos quais sua opinião, cultura e seus
conceitos ou “pré-conceitos” serão testados – assim, poderá rever a atitude
a tomar ou a que, como profissional da área social, deverá ter. Além disso,
você se aproximará de alguns conhecimentos sobre as desigualdades
ainda existentes no acesso à informação e seus desafios no ambiente real.
modificações, como é transitar pelas redes sociais digitais para pessoas mais
velhas e para as mais jovens? Como é conciliar esses pensamentos, valores e
atitudes num mesmo instrumento de comunicação virtual mundial?
Vivíamos, nas décadas anteriores, em uma zona de conforto em que as
verdades não eram tão questionadas nas famílias, as hierarquias eram segui-
das, em sua maioria, por obrigatoriedade parental, e quase não se debatiam
conceitos ou pensamentos entre os de seu sangue. Já não é o que acontece na
atualidade. Agora, tudo está quase que completamente mudado, vivemos em
um mundo em que crianças de quatro/cinco anos já decidem quais produtos
comercializados consumir pelo excessivo acesso às diversas mídias sociais,
como TV, propagandas e publicações via internet. É uma realidade à que elas
têm acesso mesmo sem critérios de compreensão por idade ou outra condição
de exclusão, situação pouco explanada ou criticada nos grupos familiares.
Todas essas mudanças ocorridas ao longo dos tempos pela humanidade foram
sendo estudadas, debatidas e trazidas à luz do conhecimento por filósofos,
pensadores e pessoas críticas do cotidiano.
Os gregos foram pioneiros na teorização sobre os costumes e valores da
civilização ocidental e, por isso, toda a definição foi pedagogicamente classi-
ficada conforme a cultura grega. Constituiu-se a terminologia ética, que faz
parte de uma das três grandes áreas da filosofia
Filosofia: do grego: philo+sophia. Philo deriva de philia, que significa amizade, amor
fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra
sophos, sábio.
A ética está presente no nosso cotidiano o tempo todo, seja nas decisões
familiares, políticas, ou no trabalho, por exemplo – é um valor importante na
formação de caráter do ser humano. A ética é o estudo geral do que é bom ou
mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado (GLOCK;
GOLDIM, 2003). É, também, compreendida como um conjunto de valores e
princípios que norteiam a reflexão e a tomada de decisão sobre a ação.
Mas como saber o que é bom ou mau nesta sociedade em constante modi-
ficação? A que valores, conceitos e princípios estamos sendo expostos todos
os dias e como julgá-los procedentes para as nossas vidas? Ferreira (2011) traz
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https://goo.gl/RLaUfU
Talvez você já tenha ouvido falar de alguém que teve seu cartão de crédito
clonado, alguma fraude bancária ou então os seus dados privados expostos
na rede sem sua aprovação. Tudo isso não era visto há 30 anos, quando as
atividades ilegais dependiam da presença da pessoa para acontecer. A partir
do momento em que começam a ocorrer ações que fogem à nossa vontade e as
mesmas são praticadas em ambiente virtual, surgem novas formas de reação,
e isso tem sido bastante debatido na sociedade do conhecimento.
Chauí (2000) define que duas coisas são indispensáveis na vida ética:
consciência e responsabilidade. Para ela, ser um sujeito ético depende da
capacidade de refletir e reconhecer o outro como um ser igual, em que seus
desejos e impulsos não ultrapassam a sua individualidade, controlando e
orientando sentimentos, alternativas de vida, escolhas e, assim, admitindo as
consequências de suas atitudes, tomando as rédeas de sua conduta.
Essa assertiva parece não fazer eco no ambiente virtual, pois o usuário da
internet tem dificuldade de compreender que, embora se trate de um lugar
não presencial, deve sofrer as mesmas regras do presencial. Muitas vezes,
esse ambiente é tratado como se fosse uma “terra de ninguém”, onde se pode
fazer o que der vontade, mesmo que conflite com a privacidade e autonomia
do outro. O indiscriminado fornecimento de dados pessoais para as redes de
comunicação digital ou para empresas digitais em que o usuário está conec-
tado não tem protegido a privacidade das pessoas, fazendo com que surjam
diversas questões de natureza ética, o que foge do conceito de harmonia e
equilíbrio na grande rede mundial de computadores conectados (FUGAZZA;
SALDANHA, 2017).
[...] toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras [...] (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2009).
8 Ética no mundo digital
Assista o vídeo de Leandro Karnal sobre a solidão nas redes sociais no link a seguir.
https://goo.gl/AMh1NN
Além disso, você pode se informar sobre o que são os crimes cibernéticos e como
se precaver. A reportagem do site Brasil Econômico, disponível no link a seguir, dá
algumas dicas.
https://goo.gl/fBSnxc
[...] atinge também as regiões. No Nordeste, 40% dos domicílios (ou 7,2 mi-
lhões) estão conectados, bem abaixo do Sudeste, que segue com a maior pro-
porção (64% ou 18,8 milhões) de lares conectados, seguido do Centro-Oeste
(56% ou 2,9 milhões) e do Sul (52% ou 5,4 milhões). No Norte, são 46% (ou
2,4 milhões de domicílios) [...] (PRESCOTT, 2017).
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Figura 1. A charge explicita a realidade de muitos brasileiros no que diz respeito à exclusão
digital.
Fonte: Matiuzzi (2011).
1 CARTA AOS CORÍNTIOS, cap. 10, vers. 23. In: BÍBLIA ONLINE. [S.l.: s.n., 2018]. Disponível
em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/10/23>. Acesso em: 25 fev. 2018.
BRASIL. Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012. Dispõe sobre a tipificação criminal
de delitos informáticos; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal; e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2012.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12737.
htm>. Acesso em: 25 fev. 2018.
12 Ética no mundo digital
Leitura recomendada
RIBEIRO, L. C. Q. et al. Desigualdades digitais: acesso e uso da internet, posição so-
cioeconómica e segmentação espacial nas metrópoles brasileiras. Análise Social,
Lisboa, n. 207, p. 288-320, abr. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732013000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso
em: 16 dez. 2017.