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TRADUTORES DOS WHILLS

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Índice
Capa
Folha de rosto
Direitos Autorais
Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Créditos
Sobre o Autor
Para todas as pessoas que ajudaram a
tornar possíveis estes livros,
especialmente Anna Zahn, Betsy
Mitchell, Lucy Autrey Wilson e, é claro, o
homem cuja ideia deu origem a tudo,
George Lucas
Deslizando pela escuridão do espaço profundo, o Star Destroier
Imperial Quimera, que era triangular, apontava na direção da pálida
estrela de seu sistema-alvo, a três milésimos de ano-luz de distância
– se preparando para a guerra.
– Todos os sistemas mostram que estamos prontos para
combate, almirante – o oficial de comunicação reportou do poço da
tripulação de bombordo. – A força-tarefa está começando a se
apresentar.
– Muito bem, tenente – assentiu o Grão Almirante Thrawn. –
Informe quando todos o tiverem feito. Capitão Pellaeon?
– Senhor? – perguntou Pellaeon, vasculhando o rosto de seu
superior em busca do estresse que o Grão Almirante devia estar
sentindo; estresse que ele próprio sentia. Afinal, aquele não era
apenas mais outro ataque tático contra a Rebelião; também não era
um ataque menor a um posto suprimentos ou mesmo um complexo,
porém direto, ataque e desaparecimento contra alguma
insignificante base planetária. Depois de quase um mês de
preparações frenéticas, a campanha principal de Thrawn para a
vitória final do Império estava prestes a ser lançada.
Mas se o Grão Almirante estava sentindo alguma tensão,
guardava-a para si mesmo.
– Inicie a contagem regressiva – ele disse a Pellaeon, com a
voz calma de quem pede o jantar.
– Sim, senhor – disse Pellaeon, voltando-se para o grupo de
figuras holográficas que estavam de pé à sua frente no pod de
holograma da ponte da Quimera. – Cavalheiros: marcas de
lançamento. Belicoso: três minutos.
– Entendido, Quimera – assentiu o capitão Aban, mal
conseguindo disfarçar, sob a conduta militar, a sua empolgação por
guerrear novamente com a Rebelião. – Boa caçada.
A holoimagem piscou e desapareceu quando o Belicoso
levantou seus escudos defletores, cortando as comunicações de
longa distância. Pellaeon desviou sua atenção para a próxima
imagem na fila.
– Incansável: quatro ponto cinco minutos.
– Entendido – respondeu o capitão Dorja, cobrindo o punho
direito com a mão esquerda em um antigo gesto mirshaf de vitória,
ao também desaparecer do pod de holograma.
Pellaeon olhou rapidamente para seu datapad.
– Judicante: seis minutos.
– Estamos prontos, Quimera – disse o capitão Brandei, com a
voz suave. Suave, e ligeiramente errada...
Pellaeon franziu a testa para ele. Holos de um quarto do
tamanho não mostravam muito detalhes, mas a expressão no rosto
de Brandei era fácil de se ler. Era a expressão de um homem com
sede de sangue.
– Isto é guerra, capitão Brandei – disse Thrawn, aparecendo
silenciosamente ao lado de Pellaeon. – Não uma oportunidade de
buscar vingança pessoal.
– Eu entendo meu dever, almirante – Brandei disse com rigidez.
Thrawn ergueu ligeiramente as sobrancelhas preto-azuladas.
– Entende, capitão? Entende mesmo?
Lentamente, com relutância, parte do fogo desvaneceu do rosto
de Brandei.
– Sim, senhor – ele murmurou. – Meu dever é para com o
Império, e para com o senhor, e para com as naves e tripulações
sob meu comando.
– Muito bem – disse Thrawn. – Para com os vivos, em outras
palavras. Não os mortos.
Brandei ainda estava furioso, mas acenou com a cabeça,
obedientemente.
– Sim, senhor.
– Nunca se esqueça disso, capitão – Thrawn o avisou. – As
fortunas da guerra vêm e vão, e você pode ter a certeza de que a
Rebelião pagará integralmente pela destruição da Peremptório na
escaramuça com a frota Katana. Mas esse pagamento ocorrerá no
contexto de nossa estratégia geral. Não como um ato de vingança
particular. – Seu olhos vermelhos brilhantes se estreitaram
ligeiramente. – Certamente não por um capitão da Frota sob o meu
comando. Espero ter deixado isso claro.
O rosto de Brandei repuxou num tique nervoso. Pellaeon nunca
havia achado que aquele homem fosse brilhante, mas considerava-
o inteligente o bastante para reconhecer uma ameaça quando ouvia
uma.
– Muito claro, almirante.
– Ótimo. – Thrawn ficou olhando para ele por mais um
momento, depois assentiu. – Acredito que você tenha recebido sua
marca de lançamento.
– Sim, senhor. Judicante desligando.
Thrawn olhou para Pellaeon.
– Continue, capitão – ele disse, e lhe deu as costas.
– Sim, senhor. – Pellaeon olhou para seu datapad. – Nêmesis...
Terminou a lista sem mais incidentes. Quando a última
holoimagem desapareceu, as checagens de sua própria força-tarefa
estavam completas.
– O cronograma parece estar correndo tranquilo – Thrawn disse
quando Pellaeon retornou ao seu posto de comando. – A Falcão
Guerreiro reporta que os cargueiros-guia lançados a tempo com
cabos de rebocagem estão funcionando adequadamente. E
acabamos de interceptar um chamado de emergência do sistema
Ando.
A Belicoso e sua força-tarefa, bem na hora.
– Alguma resposta, senhor? – perguntou Pellaeon.
– A base rebelde em Ord Pardron respondeu – disse Thrawn. –
Será interessante ver quanta ajuda eles enviam.
Pellaeon assentiu. Àquela altura, os rebeldes já haviam visto o
suficiente das táticas de Thrawn para esperar que Ando fosse uma
distração, e responder de acordo. Por outro lado, uma força de
ataque que consistia em um Star Destroier Imperial e oito
dreadnaughts da frota Katana também não era algo que eles
pudessem menosprezar de imediato.
Não que isso realmente importasse. Eles mandariam algumas
naves para Ando a fim de combater a Belicoso, e outras mais para
Filve para lutar contra a Judicante, e mais outras ainda para Crondre
para combater a Nêmesis, e assim por diante. Quando a Caveira
chegasse à base, Ord Pardron estaria reduzida a uma equipe
mínima de defesa e pedindo desesperadamente todos os reforços
que a Rebelião pudesse arrumar.
E era para lá que aqueles reforços iriam, deixando o verdadeiro
alvo do Império livre para ser atacado.
Pellaeon olhou pela escotilha de proa para a estrela do sistema
morto de Ukio logo à frente. Ele sentia sua garganta apertar
enquanto contemplava mais uma vez a enormidade de todo aquele
plano. Já que os escudos planetários eram capazes de deter todo
tipo de bombardeio que não fosse do mais poderoso turbolaser e
dos torpedos de prótons, a sabedoria convencional dizia que a única
maneira de subjugar um mundo moderno era colocar uma força
terrestre veloz nas bordas e mandá-la para o interior para destruir os
geradores de escudo. Entre o fogo da força terrestre e o ataque
orbital subsequente, um mundo-alvo estaria sempre bem danificado
quando finalmente fosse tomado. A alternativa, depositar centenas
de milhares de soldados numa grande campanha terrestre que
poderia se estender por meses ou anos, não era melhor. Capturar
um planeta relativamente sem danos mas com geradores de escudo
ainda intactos era considerado uma impossibilidade.
Essa pérola de sabedoria militar cairia por terra hoje.
Juntamente com Ukio.
– Interceptamos um sinal de socorro vindo de Filve, almirante –
reportou o oficial de comunicação. – Ord Pardron respondendo mais
uma vez.
– Ótimo. – Thrawn consultou seu crono. – Sete minutos, acho, e
poderemos prosseguir. – Comprimiu os lábios de forma quase
imperceptível. – Suponho que seja melhor confirmarmos que nosso
exaltado mestre Jedi está pronto para fazer sua parte.
Pellaeon escondeu uma cara de desagrado. Joruus C’baoth,
clone insano do há muito tempo morto mestre Jedi Jorus C’baoth,
um mês atrás se proclamara o verdadeiro herdeiro do Império. Ele
gostava tanto de falar com aquele homem quanto Thrawn; mas
poderia se oferecer como voluntário. Se não o fizesse, aquilo
simplesmente se tornaria uma ordem.
– Eu irei, senhor – ele disse, levantando-se.
– Obrigado, capitão – disse Thrawn. Como se Pellaeon tivesse
escolha.
Ele sentiu a invocação mental no momento em que saiu do
campo protetor contra a Força, gerado pelos ysalamiri espalhados
pela ponte em suas estruturas nutrientes. Obviamente, mestre
C’baoth estava impaciente para que a operação começasse.
Preparando-se da melhor forma possível, lutando contra a pressão
mental casual de C’baoth para se apressar, Pellaeon desceu até a
sala de comando de Thrawn.
A câmara estava bem-iluminada, em visível contraste com a
iluminação reduzida que o Grão Almirante normalmente preferia.
– Capitão Pellaeon – C’baoth chamou, acenando para ele do
círculo duplo de telas no centro do aposento. – Entre. Eu estava
esperando por você.
– O restante da operação ocupou toda a minha atenção –
Pellaeon lhe disse com rigidez, tentando esconder o desagrado que
tinha do homem. Mesmo sabendo o quanto essas tentativas eram
inúteis.
– É claro – sorriu C’baoth, um sorriso que mostrava mais
efetivamente do que qualquer palavra seu divertimento com o
desconforto de Pellaeon. – Não importa. Imagino que o Grão
Almirante Thrawn esteja finalmente pronto.
– Quase – disse Pellaeon. – Queremos limpar Ord Pardron o
máximo possível antes de nos movermos.
C’baoth bufou.
– Vocês continuam a supor que a Nova República irá dançar
conforme a música do Grão Almirante.
– Ela irá – disse Pellaeon. – O Grão Almirante estudou muito
bem o inimigo.
– Ele estudou as obras de arte do inimigo – C’baoth corrigiu
bufando mais uma vez. – Isso nos será útil se chegar o dia em que a
Nova República não tiver nada além de artistas para jogar contra
nós.
Um sinal do círculo de telas poupou Pellaeon da necessidade
de responder.
– Estamos nos movendo – ele disse a C’baoth, iniciando uma
contagem regressiva mental dos 76 segundos que levariam para
chegar ao sistema Ukio da posição onde estavam e tentando não
deixar que as palavras de C’baoth o afetassem. Ele próprio não
entendia como Thrawn conseguia aprender com tanta precisão os
segredos mais profundos de uma espécie a partir de suas obras de
arte. Mas ele tinha visto esse conhecimento ser comprovado vezes
suficientes para confiar nos instintos do Grão Almirante quanto a
esse tipo de coisa. C’baoth não.
No entanto C’baoth não estava muito interessado em um
debate honesto sobre o assunto. Durante o último mês, desde que
tinha se declarado o verdadeiro herdeiro do imperador, C’baoth
vinha se empenhando numa guerra silenciosa contra a credibilidade
de Thrawn, dando a entender que a verdadeira genialidade só vinha
por intermédio da Força. E, portanto, somente por intermédio dele.
Pellaeon não engolia esse argumento. O imperador também
estava mergulhado nesse negócio da Força e não tinha sido capaz
de prever sua própria morte em Endor. Mas as sementes da
incerteza que C’baoth tentava semear estavam começando a dar
frutos, especialmente entre os oficiais menos experientes de
Thrawn.
O que era, para Pellaeon, apenas mais um motivo pelo qual
aquele ataque tinha que dar certo. O resultado dependia tanto da
leitura que Thrawn havia feito do ethos cultural ukiano quanto de
táticas militares. Da convicção de Thrawn de que, em um nível
psicológico básico, os Ukianos tinham pavor do impossível.
– Ele não vai acertar sempre – C’baoth interrompeu os
devaneios de Pellaeon.
Pellaeon mordeu o interior da bochecha com força, sentindo os
pelos da nuca se arrepiarem ao ter seus pensamentos invadidos de
modo tão casual.
– Você não tem nenhuma noção de privacidade, tem? – ele
rugiu.
– Eu sou o Império, capitão Pellaeon – disse C’baoth; seus os
olhos brilhavam com um fogo sombrio e fanático. – Seus
pensamentos fazem parte de seu serviço para mim.
– Meu serviço é para com o Grão Almirante Thrawn – Pellaeon
disse com rigidez.
C’baoth sorriu.
– Pode acreditar no que desejar. Mas vamos aos negócios:
negócios sérios do Império. Quando a batalha aqui tiver terminado,
capitão Pellaeon, quero que uma mensagem seja enviada para
Wayland.
– Anunciando seu retorno iminente, sem dúvida – Pellaeon
acrescentou, acidamente. Fazia quase um mês que C’baoth insistia
que em breve voltaria ao seu antigo lar em Wayland, onde assumiria
o comando da instalação de clonagem no antigo armazém do
imperador no interior do Monte Tantiss. Até agora, ele estivera
ocupado demais tentando subverter a posição de Thrawn para fazer
qualquer coisa além de falar a respeito.
– Não se preocupe, capitão Pellaeon – disse C’baoth,
novamente achando graça. – Quando chegar a hora, eu voltarei
para Wayland. E é por isso que você irá entrar em contato com o
planeta assim que esta batalha acabar e eu ordenar que criem um
clone para mim. Um clone muito especial.
O Grão Almirante Thrawn terá de autorizar isso, foram as
palavras que vieram à sua mente.
– De que tipo você quer? – foram as palavras que
inexplicavelmente saíram de sua boca. Pellaeon piscou várias
vezes, repassando a lembrança na cabeça novamente. Sim, era
isso mesmo que ele havia dito.
C’baoth voltou a sorrir com a confusão muda do outro.
– Desejo meramente um serviçal – ele disse. – Alguém que
esteja esperando por mim quando eu retornar. Formado a partir de
um dos principais troféus do imperador: a amostra B-2332-54,
acredito. Você irá, naturalmente, deixar claro ao comandante da
guarnição de lá que isso deve ser feito em sigilo absoluto.
Não farei nada disso.
– Sim – Pellaeon se ouviu dizer, em vez do que havia pensado.
O som da palavra o chocou; mas ele certamente não teve a
intenção de proferi-la. Pelo contrário, assim que a batalha
terminasse, ele relataria aquele pequeno incidente diretamente para
Thrawn.
– Você também manterá esta conversa um assunto particular
entre nós – C’baoth disse tranquilo. – Assim que tiver obedecido,
esquecerá que aconteceu.
– É claro – Pellaeon assentiu, apenas para que o outro calasse
a boca. Sim, ele definitivamente relataria aquilo a Thrawn. O Grão
Almirante saberia o que fazer.
A contagem regressiva chegou a zero, e na tela principal da
parede o planeta Ukio apareceu.
– Deveríamos colocar um display tático, mestre C’baoth – disse
ele.
C’baoth fez um gesto de desinteresse.
– Como desejar.
Pellaeon estendeu a mão para o duplo círculo de telas e tocou
a tecla adequada, e no centro do aposento o display holográfico
tático apareceu. A Quimera estava seguindo na direção de uma
órbita alta sobre o equador do lado do sol; os dez dreadnaughts de
sua força-tarefa, pertencentes à frota Katana, estavam se dividindo
em posições de defesa externa e interna; e a Falcão Guerreiro
estava chegando como apoio do lado noturno. Outras naves, em
sua maioria cargueiros e outros tipos comerciais, podiam ser vistas
descendo por entre as pequenas brechas que o Controle de Terra
estava abrindo para eles no escudo de energia de Ukio, uma concha
azul nebulosa cercando o planeta a cerca de cinquenta quilômetros
acima da superfície. Dois dos blips piscavam em vermelho: os
cargueiros-guia da Falcão Guerreiro, com aspecto tão inocente
quando o todo o restante das naves que se apressavam em busca
de cobertura. Os cargueiros, e os quatro companheiros invisíveis
que rebocavam.
– Invisíveis apenas para aqueles que não têm olhos para vê-los
– murmurou C’baoth.
– Então agora você também pode ver as naves, não é? –
grunhiu Pellaeon. – Como suas habilidades Jedi crescem.
Sua intenção era irritar C’baoth um pouco – não muito, só um
pouco. Mas o esforço foi inútil.
– Posso ver os homens dentro de seus preciosos escudos de
camuflagem – o mestre Jedi disse placidamente. – Posso ver os
pensamentos deles e orientar suas vontades. De que serve o metal?
Pellaeon sentiu o lábio torcer.
– Suponho que muitas coisas não sirvam para você – ele disse.
Pelo canto do olho ele viu C’baoth sorrir.
– O que não serve para um mestre Jedi não serve para o
universo.
O cargueiros e cruzadores camuflados estavam agora perto do
escudo.
– Eles vão soltar os cabos rebocadores assim que estiverem
dentro do escudo – Pellaeon lembrou a C’baoth. – Está pronto?
O mestre Jedi se endireitou em sua cadeira e fechou os olhos
quase totalmente.
– Aguardo a ordem do Grão Almirante – ele disse
sardonicamente.
Por mais um segundo Pellaeon olhou para a expressão
composta do outro, e um tremor percorreu sua espinha. Ele podia se
lembrar vividamente da primeira vez que C’baoth havia tentado esse
tipo de controle direto de longa distância. Podia se lembrar da dor
no rosto de C’baoth; o olhar tenso de concentração e agonia
enquanto ele lutava para manter os contatos mentais.
Pouco mais de dois meses antes, Thrawn havia dito confiante
que C’baoth jamais seria uma ameaça para o Império porque não
tinha a habilidade para concentrar seu poder Jedi a longo prazo. De
algum modo, entre aquele momento e agora, C’baoth obviamente
havia conseguido aprender o controle necessário.
O que o tornava uma ameaça para o Império. Uma ameaça
muito perigosa.
O comunicador emitiu um bip.
– Capitão Pellaeon?
Pellaeon estendeu o braço por cima do círculo de telas e tocou
a tecla, tentando afastar da melhor forma possível seus medos
sobre C’baoth. Por ora, pelo menos, a Frota precisava dele.
Felizmente, talvez, C’baoth também precisasse da Frota.
– Estamos prontos, almirante – ele disse.
– Fiquem a postos – disse Thrawn. – Cabos rebocadores sendo
soltos agora.
– Os cruzadores estão soltos – disse C’baoth. – Estão sendo
acionados... começando a seguir para as posições indicadas.
– Confirme que eles estão abaixo do escudo planetário –
ordenou Thrawn.
Pela primeira vez um vestígio da antiga tensão atravessou o
rosto de C’baoth. Não era de se surpreender; o escudo de
camuflagem impedia a Quimera de ver os cruzadores e ao mesmo
tempo cegava os sensores dos próprios cruzadores. A única
maneira de saber exatamente onde eles estavam era C’baoth
realizar uma checagem precisa de localização nas mentes que
estava tocando.
– Todas as quatro naves estão abaixo do escudo – ele disse.
– Esteja absolutamente certo disso, mestre Jedi. Se estiver
errado...
– Eu não estou errado, Grão Almirante Thrawn – C’baoth o
interrompeu com rispidez. – Eu farei a minha parte nesta batalha.
Preocupe-se com a sua.
Por um momento o comunicador ficou em silêncio. Pellaeon fez
uma careta, visualizando a expressão do Grão Almirante.
– Muito bem, mestre Jedi – Thrawn disse calmamente. –
Prepare-se para fazer sua parte.
Ouviu-se o duplo clic de um canal de comunicação sendo
aberto.
– Aqui fala o Star Destroier Imperial Quimera, chamando o
suprassoberano de Ukio – disse Thrawn. – Em nome do Império, eu
declaro o sistema ukiano mais uma vez sob lei imperial e proteção
das forças do Império. Vocês irão abaixar seus escudos, reconvocar
todas as unidades militares de volta às bases e se preparar para
uma transferência de comando ordeira.
Não houve resposta.
– Eu sei que vocês estão recebendo esta mensagem –
continuou Thrawn. – Se não responderem, terei de supor que sua
intenção é resistir à oferta do Império. Nesse caso, não terei escolha
a não ser abrir as hostilidades.
Uma vez mais, o silêncio.
– Eles estão enviando outra transmissão – Pellaeon ouviu o
oficial de comunicação dizer. – Parece um pouco mais apavorada do
que a primeira.
– Tenho certeza de que a terceira será ainda mais – Thrawn
disse. – Preparar para sequência de disparo um. Mestre C’baoth?
– Os cruzadores estão prontos, Grão Almirante Thrawn – disse
C’baoth. – E eu também.
– Certifique-se de que estejam mesmo – disse Thrawn, com
ameaça implícita na voz. – A menos que o timing seja
absolutamente perfeito, todo este espetáculo será pior que inútil.
Bateria turbolaser três: aguarde sequência de disparo ao meu sinal.
Três... dois... um... fogo.
No holograma tático uma lança dupla de fogo verde desceu
num ângulo agudo das baterias de turbolaser da Quimera na
direção do planeta abaixo. As rajadas atingiram o azul nebuloso do
escudo planetário e criaram um leve efeito de dispersão quando sua
energia foi desconcentrada e refletiu de volta para o espaço...
E com timing perfeito, os dois cruzadores camuflados que
pairavam abaixo do escudo exatamente naqueles dois pontos
dispararam um de cada vez; suas rajadas de turbolaser fizeram a
atmosfera ferver e atingiram duas das maiores bases de defesa
aérea de Ukio.
Isso foi o que Pellaeon viu. Os Ukianos, sem saber a respeito
dos cruzadores camuflados, teriam visto a Quimera disparar dois
tiros devastadores através de um escudo impenetrável.
– Terceira transmissão interrompida bem no meio, senhor – o
oficial de comunicações reportou com um toque de humor negro. –
Acho que os surpreendemos.
– Vamos convencê-los de que não foi por sorte – disse Thrawn.
– Preparar sequência de disparo dois. Mestre C’baoth?
– Os cruzadores estão prontos.
– Bateria turbolaser dois: aguarde sequência de disparo ao meu
sinal. Três... dois... um... fogo.
Mais uma lança de fogo verde, e mais uma vez, com timing
perfeito, os cruzadores camuflados criaram sua ilusão.
– Muito bem – disse Thrawn. – Mestre C’baoth, mova os
cruzadores para posição de sequências três e quatro.
– Ao seu comando, Grão Almirante Thrawn.
Inconscientemente, Pellaeon se segurou. A sequência quatro
tinha dois dos trinta geradores de escudo ukianos sobrepostos como
seus alvos. Lançar um ataque daqueles significaria que Thrawn
havia desistido de seu objetivo declarado de tomar Ukio com as
defesas planetárias intactas.
– Star Destroier Imperial Quimera, aqui fala Tol dosLla, porta-
voz do suprassoberano Ukiano. – Era possível ouvir um ligeiro
tremor na voz que veio do comunicador. – Queremos pedir que
cesse seu bombardeio de Ukio enquanto discutimos os termos de
rendição.
– Meus termos são bem simples – disse Thrawn. – Vocês
começarão abaixando seu escudo planetário e permitindo que
minhas forças pousem. Elas receberão o controle dos geradores de
escudo e de todo o armamento terra/espaço. Todos os veículos de
combate maiores que speeders de comando serão transferidos para
bases militares designadas e entregues ao controle imperial. Apesar
de agora vocês, naturalmente, passarem a responder em última
instância ao Império, seus sistemas político e social permanecerão
sob seu controle. Contanto que seu povo se comporte, claro.
– E assim que essas mudanças tiverem sido implementadas?
– Então vocês farão parte do Império, com todos os direitos e
deveres que isso implica.
– Não haverá cobrança de impostos em nível de guerra? –
dosLla perguntou desconfiado. – Nem recrutamento forçado de
nossos jovens?
Pellaeon podia imaginar o sorriso sombrio de Thrawn. Não, o
Império nunca mais precisaria se preocupar com recrutamento
forçado. Não com a coleção de cilindros de clonagem Spaarti do
imperador em suas mãos.
– Não para a sua segunda pergunta; um não qualificado para a
sua primeira – Thrawn respondeu ao Ukiano. – Como você
obviamente sabe, a maioria dos mundos imperiais está atualmente
sob níveis de cobrança de impostos de tempos de guerra.
Entretanto, há exceções, e é provável que sua parcela do esforço de
guerra venha diretamente de sua extensa produção de alimentos e
de suas instalações de processamento. – Uma longa pausa na outra
ponta. DosLla não era idiota, Pellaeon percebeu; o Ukiano sabia
muito bem o que Thrawn tinha em mente para seu mundo. Primeiro
seria controle imperial direto das defesas terra/espaço, depois
controle direto do sistema de distribuição de comida, das instalações
de processamento e das vastas regiões de pastagem e de cultivo; e
em muito pouco tempo todo o planeta não seria nada além de um
depósito de suprimentos para a máquina de guerra do Império.
Mas a alternativa era permanecer em silêncio e ver seu mundo
ser profunda e impossivelmente demolido diante de seus olhos. E
ele sabia disso também.
– Nós abaixaremos os escudos planetários, Quimera, como
gesto de boa fé – dosLla disse finalmente, soando desafiador mas
com um leve tom de derrota. – No entanto, antes que os geradores
e o armamento terra/espaço possam ser entregues às forças
imperiais teremos que exigir certas garantias com relação à
segurança do povo ukiano e nossa terra.
– Certamente – disse Thrawn, sem nenhum vestígio da empáfia
que a maioria dos comandantes imperiais teria demonstrado àquela
altura. Um pequeno ato de cortesia que, Pellaeon sabia, era tão
precisamente calculado quanto o resto do ataque havia sido.
Permitir que os líderes ukianos se rendessem com a dignidade
intacta diminuiria a inevitável resistência ao domínio imperial até que
fosse tarde demais. – Um representante estará a caminho em breve
para discutir os detalhes com seu governo – continuou Thrawn. –
Enquanto isso, presumo que vocês não tenham objeções a que
nossas forças assumam posições de defesa preliminares.
Um suspiro, mais sentido do que realmente ouvido.
– Não temos objeções, Quimera – disse dosLla com relutância.
– Estamos abaixando o escudo agora.
No display tático, a névoa azul que cercava o planeta se
dissipou.
– Mestre C’baoth, faça os cruzadores se moverem para
posições polares – ordenou Thrawn. – Não queremos que nenhuma
das naves de transporte esbarre neles. General Covell, pode
começar a transportar suas forças para a superfície. Posições
defensivas padrão ao redor de todos os alvos.
– Entendido, almirante – disse a voz de Covell, um pouco
secamente demais, e Pellaeon sentiu um sorriso tenso repuxar seu
lábio. Apenas duas semanas haviam se passado desde que os
principais comandantes da Frota e do exército tinham sido
informados do segredo do projeto de clonagem do Monte Tantiss, e
Covell era um dos que ainda não haviam se ajustado
completamente à ideia.
Embora o fato de que três das companhias que ele estava
prestes a levar à superfície fossem compostas inteiramente de
clones pudesse ter algo a ver com seu ceticismo.
No holograma tático era possível ver que as primeiras ondas de
naves de transporte escoltadas por TIE Fighters haviam saído da
Quimera e da Falcão Guerreiro, se espalhando na direção de seus
alvos designados. Clones em naves de transporte, prestes a
executar ordens imperiais. Assim como a tripulação de clones nos
cruzadores camuflados já o haviam feito tão bem.
Pellaeon franziu a testa, acometido subitamente por um
pensamento estranho e desconfortável. Seria possível que C’baoth
tivesse conseguido guiar os cruzadores tão bem porque cada uma
de suas tripulações de mil homens era composta por variantes de
apenas vinte e poucas mentes diferentes? Ou – o que seria ainda
mais perturbador – será que parte da eficiência do controle de
C’baoth se devesse ao fato de que ele próprio era um clone?
E, fosse como fosse, isso significaria que o projeto do Monte
Tantiss estava indo diretamente para as mãos de C’baoth em sua
busca pelo poder? Talvez. Mais uma questão que ele teria de levar à
atenção de Thrawn.
Pellaeon olhou para C’baoth, lembrando-se com atraso de que
na presença do mestre Jedi tais pensamentos não eram sua
propriedade particular. Mas C’baoth não estava olhando para ele,
conscientemente ou não. Estava olhando bem à sua frente, com os
olhos fora de foco e a pele do rosto repuxada. Um sorriso tênue
começava a vincar seus lábios.
– Mestre C’baoth?
– Eles estão lá – sussurrou C’baoth, a voz grave e rouca. – Eles
estão lá – ele repetiu, desta vez mais alto.
Pellaeon franziu a testa olhando de volta para o holograma
tático.
– Quem está lá? – ele perguntou.
– Eles estão em Filve – disse C’baoth. Bruscamente, ele olhou
para Pellaeon; seus olhos emitiam um brilho louco. – Meus Jedi
estão em Filve.
– Mestre C’baoth, confirme que os cruzadores se deslocaram
para as posições polares – a voz de Thrawn veio ríspida. – Depois
reporte sobre as batalhas de distração...
– Meus Jedi estão em Filve – C’baoth o cortou. – E suas
batalhas lá me interessam?
– C’baoth...
Com um leve gesto, C’baoth desligou o comunicador.
– Agora, Leia Organa Solo – ele murmurou baixinho –, você é
minha.

A Millennium Falcon virou com tudo para estibordo quando um


TIE Fighter passou em disparada no alto, lasers queimando
intensamente enquanto tentava sem sucesso rastrear a manobra do
cargueiro. Trincando os dentes com firmeza contra o movimento,
Leia Organa Solo ficou observando enquanto um dos seus X-wings
de escolta explodiu o caça estelar imperial em uma nuvem de poeira
flamejante. O céu rodopiou ao redor do tampo da cabine da Falcon
enquanto a nave voltava a girar para sua posição original...
– Cuidado! – C-3PO gemeu do assento atrás de Leia quando
outro TIE Fighter veio rugindo pela lateral na direção deles. O aviso
não foi necessário; com uma falta de graciosidade enganadora, a
Falcon já estava voltando pela outra direção numa manobra em
parafuso para apontar sua bateria ventral de lasers quad.
Levemente audível mesmo pela porta da cabine, Leia escutou o
som de um rugido de batalha Wookiee, e o TIE Fighter teve o
mesmo destino de seu falecido parceiro.
– Ótimo tiro, Chewie – Han Solo gritou para o comunicador ao
voltar a nivelar a Falcon. – Wedge?
– Ainda com você, Falcon – a voz de Wedge Antilles se fez
ouvir na hora. – Estamos tranquilos por ora, mas tem outra onda de
TIE Fighters a caminho.
– É. – Han olhou de relance para Leia. – Você é quem manda,
coração. Ainda quer tentar pousar?
C-3PO teve um pequeno engasgo eletrônico.
– Capitão Solo, certamente o senhor não está sugerindo...
– Feche a válvula aí, Cara de Lata – Han o interrompeu. – Leia?
Leia olhou pelo tampo da cabine e viu o Star Destroier Imperial
e os oito dreadnaughts enfileirados contra o planeta cercado à sua
frente. Aglomerados ao redor dele como mynocks ao redor de um
gerador de energia sem escudos. Essa deveria ter sido sua última
missão diplomática antes de descansar para esperar a chegada dos
gêmeos: uma viagem rápida para acalmar um governo filviano
nervoso e demonstrar a determinação da Nova República para
proteger os sistemas neste setor.
Que demonstração.
– Não há como passarmos por tudo aquilo – ela disse a Han
com relutância. – Ainda que pudéssemos, duvido que os Filvianos
fossem correr o risco de abrir o escudo para nos deixar passar. É
melhor voltarmos.
– Pra mim parece bom – grunhiu Han. – Wedge? Estamos
pulando fora. Fique com a gente.
– Entendido, Falcon – disse Wedge. – Vocês vão ter que nos
dar alguns minutos pra calcular o salto de volta.
– Não se importe – disse Han, girando na sua cadeira para
digitar no computador de navegação. – Vamos lhe dar os números
por aqui.
– Entendido. Esquadrão Rogue: formação de tela.
– Sabe, estou começando a ficar cansado disso – Han disse a
Leia, voltando a girar a cadeira para a frente. – Pensei que você
tinha dito que seus camaradas Noghri iam deixar você em paz.
– Isso não tem nada a ver com os Noghri. – Leia balançou a
cabeça, uma estranha tensão distendendo sua testa. Era sua
imaginação, ou as naves imperiais que cercavam Filve estavam
começando a romper a formação? – É o Grão Almirante Thrawn
brincando com seus novos dreadnaughts da Força Sombria.
– É – Han concordou baixinho, e Leia fez uma careta ao
perceber o clarão momentâneo de amargura nos sentidos dele.
Apesar dos melhores esforços de todos para convencê-lo do
contrário, Han ainda considerava sua própria culpa o fato de Thrawn
ter chegado às naves abandonadas da frota Katana, a chamada
Força Sombria, antes da Nova República. – Eu não teria imaginado
que ele conseguiria recondicioná-las assim tão rápido – acrescentou
Han ao girar o nariz da Falcon para longe de Filve e voltar para o
espaço profundo.
Leia engoliu em seco. A estranha tensão ainda estava lá, como
uma malevolência distante fazendo pressão nas fronteiras de sua
mente.
– Talvez ele tenha cilindros Spaarti suficientes para clonar
alguns engenheiros e técnicos, além de soldados.
– Esse é um pensamento engraçado, sem dúvida – disse Han;
e no meio de sua tensão Leia pôde sentir a súbita mudança no
humor dele quando ele acionou o comunicador. – Wedge, dê uma
olhada lá em Filve e me diga se estou vendo coisas.
Pelo comunicador, Leia pôde ouvir a respiração pensativa de
Wedge.
– Quer dizer tipo toda a força do Império interrompendo o
ataque e vindo atrás de nós?
– É. Isso.
– Parece bem real para mim – disse Wedge. – Pode ser um
bom momento pra dar o fora daqui.
– É – Han disse devagar. – Talvez.
Leia olhou para seu marido, franzindo a testa. Havia alguma
coisa em sua voz...
– Han?
– Os Filvianos teriam pedido ajuda antes de levantar o escudo,
certo? – Han perguntou a ela, a testa franzida de tanto pensar.
– Certo – Leia concordou com cautela.
– E a base mais próxima da Nova República é Ord Pardron,
certo?
– Certo.
– Ok. Esquadrão Rogue, estamos mudando de curso para
estibordo. Permaneçam comigo.
Ele digitou algo em seu painel, e a Falcon iniciou uma curva
fechada para a direita.
– Cuidado, Falcon: isso está nos levando de volta àquele grupo
de TIE Fighters – avisou Wedge.
– Não iremos tão longe – Han lhe assegurou. – Aqui está o
nosso vetor.
Ele endireitou a nave em seu novo curso e deu uma olhada na
tela de popa.
– Ótimo: ainda estão nos caçando.
Atrás dele, o computador de navegação emitiu seu bip de
notificação de que as coordenadas de salto estavam prontas.
– Wedge, temos suas coordenadas – disse Leia, estendendo a
mão para a chave de transmissão de dados.
– Espere um pouco, Falcon – Wedge a interrompeu. – Temos
companhia a estibordo.
Leia olhou naquela direção, a garganta apertando quando viu o
que Wedge quisera dizer. Os TIE Fighters que se aproximavam
estavam chegando velozmente, e já estavam perto o bastante para
ouvir qualquer transmissão que a Falcon tentasse fazer para sua
escolta. Mandar as coordenadas de salto para Wedge agora seria
um convite aberto aos imperiais para que tivessem um comitê de
recepção esperando do outro lado.
– Talvez eu possa ajudar, Sua Alteza – C-3PO ofereceu,
animado. – Como a senhora sabe, sou fluente em mais de 6 milhões
de formas de comunicação. Eu poderia transmitir as coordenadas
para o comandante Antilles em Boordista ou na linguagem comercial
Vaathkree, por exemplo...
– E depois você lhes enviaria a tradução? – Han retrucou
secamente.
– É claro... – o droide parou. – Ó, céus – ele disse, parecendo
envergonhado.
– É, bom, não se preocupe com isso – disse Han. – Wedge,
você estava em Xyquine dois anos atrás, não estava?
– Sim. Ah. Uma Virada de Cracken?
– Isso mesmo. Em dois: um, dois.
Do lado de fora da cabine, Leia avistou de relance um dos X-
wings fazendo uma curva para uma complicada formação nova de
escolta ao redor da Falcon.
– Que vantagem isso vai nos trazer? – ela perguntou.
– Nossa fuga – Han respondeu, tornando a checar a tela de
popa. – Puxe as coordenadas, adicione um dois ao segundo dígito
de cada uma e depois envie o pacote inteiro aos X-wings.
– Certo – Leia assentiu entendendo e se pôs a trabalhar. Alterar
o segundo dígito não mudaria o aspecto do vetor de saída deles o
suficiente para que os imperiais entendessem o truque, mas seria
mais que o bastante para colocar qualquer força de ataque a uns
dois anos luz do alvo. – Inteligente. E aquela manobrinha de voo
que eles acabaram de fazer foi apenas um engodo?
– Isso mesmo. Faz qualquer um que esteja olhando pensar que
é só isso. Foi uma coisinha que Pash Cracken inventou naquele
fiasco lá em Xyquine. – Han deu mais uma olhadinha na tela de
popa. – Eu acho que estamos com uma dianteira bastante grande
para ultrapassá-los – ele disse. – Vamos tentar.
– Não vamos saltar para a velocidade da luz? – Leia franziu a
testa enquanto uma lembrança antiga e um tanto dolorosa flutuava
no fundo de sua mente. Aquela louca escapada de Hoth, com a frota
inteira de Darth Vader no encalço deles e um hiperdrive que no fim
das contas estava quebrado...
Han lhe deu uma olhada de esguelha.
– Não se preocupe, coração. Hoje o hiperdrive está
funcionando direitinho.
– Assim espero – murmurou Leia.
– Veja, enquanto eles estiverem nos caçando não vão dar a
mínima pra Filve – continuou Han. – E quanto mais nós os
afastarmos, mais tempo a força de apoio terá para vir de Ord
Pardron até aqui.
O clarão verde brilhante de um disparo bem próximo cortou a
resposta que Leia pretendia dar.
– Acho que nós já demos a eles todo o tempo que podíamos –
ela disse para Han. Dentro de si, ela podia sentir a confusão vinda
de seus gêmeos por nascer. – Por favor, podemos sair daqui?
Um segundo tiro resvalou no escudo defletor superior da
Falcon.
– É, acho que você tem razão – concordou Han. – Wedge?
Pronto pra deixar a festa?
– Quando você estiver, Falcon – disse Wedge. – Vá na frente:
vamos segui-lo quando você estiver livre.
– Certo. – Estendendo a mão, Han agarrou as alavancas de
hiperdrive e as puxou para trás com suavidade. Pelo tampo da
cabine, as estrelas se esticaram em linhas estelares, e eles ficaram
seguros.
Leia respirou fundo e soltou o ar lentamente. Dentro de si, ainda
conseguia sentir a angústia dos gêmeos, e por um momento voltou
sua mente para o trabalho de acalmá-los. Era uma estranha
sensação, ela pensava com frequência, tocar mentes que
funcionavam com emoção e pura sensação em vez de imagens e
palavras. Tão diferentes das mentes de Han, Luke e seus outros
amigos.
Tão diferentes também da mente distante que havia
orquestrado aquela força de ataque imperial.
Atrás dela, a porta se abriu e Chewbacca entrou na cabine.
– Belo tiro, Chewie – Han disse ao Wookiee quando ele jogou
seu corpanzil no assento de passageiro de estibordo ao lado de
3PO. – Teve mais alguma dificuldade com o braço de controle
horizontal?
Chewbacca rugiu em negativa. Seus olhos escuros estudaram
o rosto de Leia, e ele grunhiu uma pergunta para ela.
– Eu estou bem – Leia lhe garantiu, piscando muito para
eliminar lágrimas súbitas e inexplicáveis. – Sério.
Ela olhou para Han, e viu que ele também estava olhando para
ela com a testa franzida.
– Você não estava preocupada, estava? – ele perguntou. – Foi
apenas uma força-tarefa imperial. Nada pra ficar nervosa.
Ela balançou a cabeça.
– Não foi isso, Han. Havia mais alguma coisa lá atrás. Um tipo
de... – Ela voltou a balançar a cabeça. – Eu não sei.
– Talvez tenha sido algo semelhante à sua indisposição em
Endor – C-3PO sugeriu, obsequioso. – A senhora se lembra de
quando desmaiou enquanto eu e Chewbacca estávamos
consertando o...?
Chewbacca rugiu um aviso, e o droide subitamente se calou.
Mas tarde demais.
– Não; deixe-o falar – disse Han, sentindo-se ao mesmo tempo
mais protetor e desconfiado quando voltou seu olhar para Leia. –
Que indisposição foi essa?
– Não foi nada, Han – Leia lhe garantiu, pegando a mão dele. –
Em nossa primeira órbita ao redor de Endor, passamos pelo ponto
onde a Estrela da Morte explodiu. Por alguns segundos pude sentir
algo como a presença do imperador ao meu redor. Só isso.
– Ah, só isso – Han disse sarcástico, lançando um breve olhar
fuzilando Chewbacca. – Um imperador morto tenta agarrá-la e você
acha que não vale a pena mencionar?
– Agora você está sendo bobo – Leia o repreendeu. – Não
havia nada com que se preocupar; passou rapidamente, e não
houve nenhum efeito colateral. Sério. De qualquer maneira, o que
eu senti em Filve foi completamente diferente.
– Fico feliz em saber – disse Han, ainda insistindo no assunto. –
Você fez algum exame com a equipe médica quando voltou?
– Bem, não tive muito tempo antes...
– Certo. Você vai fazer assim que a gente voltar.
Leia assentiu com um suspiro silencioso. Ela conhecia aquele
tom de voz; e, na verdade, aquele não era um assunto contra o qual
ela pudesse argumentar.
– Tudo bem. Se eu conseguir encontrar tempo.
– Você vai inventar tempo – retrucou Han. – Ou vou mandar
Luke trancá-la no centro médico quando ele voltar. Estou falando
sério, meu amor.
Leia apertou a mão dele, sentindo um aperto similar no peito.
Luke, sozinho em território imperial... mas ele estava bem. Tinha de
estar.
– Tudo bem – ela disse a Han. – Eu farei um exame. Prometo.
– Ótimo – ele disse, vasculhando o rosto dela com o olhar. –
Então, o que foi o que você sentiu lá em Filve?
– Não sei. – Ela hesitou. – Talvez tenha sido a mesma coisa
que Luke sentiu na Katana. Você sabe, quando os imperiais
puseram aquele grupo de clones a bordo.
– Sei – Han concordou duvidando. – Talvez. Mas aqueles
dreadnaughts estavam muito longe.
– Mas provavelmente havia muito mais clones também.
– É. Talvez – Han repetiu. – Bom... Acho que é melhor que
Chewie e eu comecemos a trabalhar naquele estabilizador de fluxo
de íons antes que ele nos deixe completamente na mão. Você
consegue segurar as pontas aqui, coração?
– Eu estou bem – Leia lhe assegurou, aliviada por deixar aquele
assunto. – Podem ir, vocês dois.
Porque a outra possibilidade era uma na qual ela preferia não
pensar agora. Há muito tempo corriam rumores de que o imperador
tinha a capacidade de usar a Força para exercer controle direto
sobre suas forças militares. Se o mestre Jedi que Luke havia
confrontado em Jomark tivesse a mesma habilidade...
Ela acariciou a barriga e se concentrou no par de mentes
minúsculas dentro de si. Não, de fato aquela era uma coisa na qual
ela não queria pensar.

– Presumo – disse Thrawn naquela sua voz de uma calma


mortífera – que você tenha algum tipo de explicação.
Lenta e deliberadamente, C’baoth levantou a cabeça do círculo
de telas duplas da sala de comando para olhar para o Grão
Almirante. Para o Grão Almirante e, sem disfarçar o desprezo, o
ysalamir em sua estrutura nutriente pendurado nos ombros de
Thrawn.
– E o senhor, também tem uma explicação, Grão Almirante
Thrawn? – ele exigiu saber.
– Você interrompeu o ataque diversionário a Filve – disse
Thrawn, ignorando a pergunta de C’baoth. – Em seguida, você
enviou toda a força-tarefa em uma caçada que não levou a lugar
algum.
– E o senhor, Grão Almirante Thrawn, fracassou em me trazer
meus Jedi – retrucou C’baoth. Sua voz, Pellaeon reparou
desconfortável, estava aumentando lentamente tanto em timbre
quanto em altura. – O senhor, seus Noghri domados, todo o seu
Império: todos vocês fracassaram.
Os olhos vermelhos brilhantes de Thrawn se estreitaram.
– É mesmo? E foi também por nossa culpa que você foi incapaz
de manter Luke Skywalker lá em Jomark depois que o entregamos a
você?
– Vocês não o entregaram a mim, Grão Almirante Thrawn –
insistiu C’baoth. – Eu o convoquei até lá por intermédio da Força...
– Foi a Inteligência Imperial quem plantou o rumor de que Jorus
C’baoth tinha retornado e sido visto em Jomark – Thrawn o
interrompeu friamente. – Foi o Transporte Imperial que o levou ate
lá, o Suprimento Imperial que arranjou e abasteceu aquela casa
para você, e a Engenharia Imperial que construiu o ponto de pouso
camuflado da ilha para seu uso. O Império fez sua parte para
colocar Skywalker em suas mãos. Foi você quem fracassou em
mantê-lo lá.
– Não! – gritou C’baoth. – Skywalker deixou Jomark porque
Mara Jade escapou de vocês e distorceu a mente dele contra mim.
E ela pagará por isso. Você me ouviu? Ela pagará.
Por um longo momento Thrawn ficou em silêncio.
– Você jogou a força-tarefa de Filve inteira contra a Millennium
Falcon – ele disse por fim, sua voz novamente sob controle. – Você
conseguiu capturar Leia Organa Solo?
– Não – grunhiu C’baoth. – Mas não porque ela não quisesse
vir me ver. Ela quer. Assim como Skywalker quer.
Thrawn lançou um olhar para Pellaeon.
– Ela quer vir até você? – ela perguntou.
C’baoth sorriu.
– Muito – ele disse, e sua voz inesperadamente perdeu toda a
sua raiva, tornando-se quase sonhadora... – Ela quer que eu ensine
os filhos dela – ele continuou, os olhos vagando pela sala de
comando. – Para instruí-los nos caminhos dos Jedi. Criá-los à minha
própria imagem. Porque eu sou o mestre. O único que existe.
Ele olhou novamente para Thrawn.
– O senhor deve trazê-la para mim, Grão Almirante Thrawn –
ele disse, num tom que soava entre o solene e o suplicante. –
Precisamos libertá-la de sua prisão entre aqueles que temem seus
poderes. Eles a destruirão se não o fizermos.
– É claro que precisamos – Thrawn disse, apaziguador. – Mas
você deve deixar essa tarefa comigo. Só preciso de um pouco mais
de tempo.
C’baoth franziu a testa pensativo. Enfiou a mão por baixo da
barba para tocar o medalhão pendurado na corrente em seu
pescoço, e Pellaeon sentiu um tremor percorrer sua espinha. Não
importava quantas vezes ele visse isto acontecer, jamais se
acostumaria a esses súbitos mergulhos no crepúsculo escorregadio
da loucura clônica. Ele sabia que este era um problema universal
das primeiras experiências de clonagem: uma instabilidade mental e
emocional inversamente proporcional ao tamanho do ciclo de
crescimento da duplicata. Poucos dos artigos científicos sobre o
assunto haviam sobrevivido à era das Guerras Clônicas, mas
Pellaeon havia encontrado um que sugeria que nenhum clone
estimulado a crescer até a maturidade em menos de um ano seria
estável o suficiente para sobreviver fora de um ambiente
inteiramente controlado.
Dada a destruição que eles haviam provocado na galáxia,
Pellaeon sempre supusera que os mestres de clones tivessem
acabado por encontrar pelo menos uma solução parcial para o
problema. Se eles haviam reconhecido a causa primordial da
loucura, já era outra questão.
Era bem possível que Thrawn fosse o primeiro a realmente
compreendê-la.
– Muito bem, Grão Almirante Thrawn – C’baoth disse
bruscamente. – O senhor pode ter uma última chance. Mas eu lhe
aviso: será sua última. Depois disso, cuidarei eu mesmo do assunto.
– Seus olhos faiscaram por baixo das sobrancelhas enormes. – E
digo mais: se o senhor não conseguir realizar uma tarefa tão
pequena, talvez eu o considere indigno de liderar as forças militares
de meu Império.
Os olhos de Thrawn reluziram, mas ele simplesmente inclinou a
cabeça de leve.
– Eu aceito seu desafio, mestre C’baoth.
– Ótimo. – Deliberadamente, C’baoth voltou a se ajeitar em sua
cadeira e fechou os olhos. – Pode me deixar agora, Grão Almirante
Thrawn. Desejo meditar e planejar o futuro dos meus Jedi.
Por um momento Thrawn ficou parado em silêncio; seus olhos
vermelhos e brilhantes encaravam C’baoth sem piscar. Então ele
desviou seu olhar para Pellaeon.
– Acompanhe-me até a ponte, capitão – ele disse. – Quero que
você supervisione os preparativos de defesa para o sistema de
Ukio.
– Sim, senhor – disse Pellaeon, feliz por ter uma desculpa para
se afastar de C’baoth.
Por um momento ele fez uma pausa, sentindo o rosto vincado
ligeiramente ao olhar para C’baoth. Havia algo que ele desejava
dizer a Thrawn, não? Ele tinha quase certeza de que sim. Algo que
tinha a ver com C’baoth, clones e o projeto do Monte Tantiss...
Mas o pensamento não veio, e, dando de ombros mentalmente,
deixou a questão de lado. Certamente ela acabaria lhe ocorrendo
mais tarde.
Dando a volta no círculo de telas, ele acompanhou seu
comandante e saiu da sala.
Ela era chamada de Calius saj Leeloo, a Cidade de Cristal
Reluzente de Berchest, e havia sido uma das mais espetaculares
maravilhas da galáxia desde os primeiros dias da Velha República.
Toda a cidade era composta por nem mais nem menos que um
único cristal gigante, criado ao longo das eras por borrifos salinos
das águas vermelho-alaranjadas escuras do mar de Leefari que se
chocava contra a costa baixa sobre a qual repousava. A cidade
original havia sido lentamente esculpida no cristal ao longo de
décadas por artesãos berchestianos, cujos descendentes
continuavam a orientar e alimentar seu lento crescimento.
No auge da Velha República, Calius havia sido uma grande
atração turística; sua população ganhava a vida confortavelmente
com os milhões de seres que acorriam em bandos para ver a beleza
estonteante da cidade e seus arredores. Mas o caos das Guerras
Clônicas e a subsequente ascensão do Império haviam cobrado um
preço caro demais para essas diversões fúteis, e Calius fora forçada
a procurar outros meios de subsistência.
Felizmente, o turismo havia deixado um legado de rotas
comerciais bem-estabelecidas entre Berchest e a maioria dos
grandes sistemas da galáxia. A solução óbvia para os berchestianos
era promover Calius como centro comercial; e, embora a cidade
dificilmente chegasse ao nível de Svivren ou Ketaris, eles haviam
atingido um modesto grau de sucesso.
O único problema era que ela era um centro comercial do lado
imperial da linha.
Um esquadrão de stormtroopers desceu a rua lotada, suas
armaduras brancas assumiam um tom colorido devido ao reflexo
dos edifícios vermelho-alaranjados ao redor. Dando um longo passo
para sair do caminho deles, Luke Skywalker puxou seu capuz a fim
de cobrir um pouco mais o rosto. Não conseguia sentir nenhum
senso particular de alerta no esquadrão, mas estando tão fundo
dentro do espaço imperial não havia motivo para se arriscar. Os
stormtroopers passaram sem sequer olhar em sua direção, e com
um suspiro silencioso de alívio Luke voltou sua atenção para
contemplar a cidade. Entre os stormtroopers, os tripulantes da frota
imperial em escala entre voos, e os contrabandistas procurando
algum trabalho, a sombria aura comercial da cidade contrastava
fortemente com sua beleza serena.
E em algum lugar dentro de toda aquela beleza serena havia
algo bem mais perigoso do que meros stormtroopers.
Um grupo de clones.
Ou pelo menos era o que a Inteligência da Nova República
pensava. Filtrando meticulosamente milhares de comunicados
imperiais interceptados, eles haviam tentado localizar Calius e o
sistema de Berchest como um dos pontos de transferência no novo
dilúvio de duplicatas humanas que agora começavam a tripular as
naves convencionais e de transporte da máquina de guerra do Grão
Almirante Thrawn.
Esse dilúvio tinha de ser detido, e rápido. O que significava
encontrar a localização dos tanques de clonagem e destruí-los. O
que significava primeiro rastrear o padrão de tráfego a partir de um
ponto de transferência conhecido. O que significava antes confirmar
que os clones estavam realmente vindo através de Calius.
Um grupo de homens usando os turbantes e mantos dos
comerciantes svivreni virou uma esquina duas quadras à frente, e,
assim como havia feito tantas vezes nos últimos dois dias, Luke
usou a Força neles.
Uma checagem rápida foi tudo o que bastou – os comerciantes
não tinham a estranha aura que ele detectara no grupo de
abordagem de clones que os havia atacado no Katana.
Mas, no instante em que retirou sua consciência, mais alguma
coisa chamou a atenção de Luke. Alguma coisa que quase lhe havia
escapado no meio da torrente de pensamentos humanos e
alienígenas que turbilhonavam ao redor dele como fragmentos de
vidro colorido numa tempestade de areia. Uma mente fria e
calculista, que Luke tinha certeza de já ter encontrado antes, mas
que não conseguia identificar na névoa de ruído mental entre eles.
E o dono daquela mente estava, por sua vez, totalmente
consciente da presença de Luke em Calius. E o estava observando.
Luke fez uma cara de desagrado. Sozinho em território inimigo,
com seu transporte a dois quilômetros de distância no campo de
pouso e tendo como única arma um sabre de luz que o identificaria
no minuto em que o puxasse de sua túnica – ele não estava
exatamente em vantagem ali.
Mas tinha a Força... e sabia que seu perseguidor estava ali. No
fim das contas, isso equilibrava as chances para ele.
Uns dois metros à sua esquerda ficava a entrada para o túnel
comprido arqueado de uma ponte de pedestres. Descendo na
direção dela, Luke apertou o passo, tentando se lembrar – de seu
estudo dos mapas da cidade – exatamente para onde ia aquela
ponte. Ele deduziu que ela atravessava o rio gelado da cidade e
subia na direção das regiões mais elevadas e ricas que davam para
o mar. Atrás dele, sentiu seu perseguidor segui-lo até o ponte; e,
quando Luke conseguiu se afastar mais um pouco do ruído mental
das áreas de mercado lotadas, foi finalmente capaz de identificar o
homem.
Não foi tão ruim quanto ele temia. Mas, pelo menos
potencialmente, era ruim o bastante. Com um suspiro, Luke parou e
aguardou. A ponte, com sua curva suave escondendo ambas as
extremidades de vista, era um lugar tão bom quanto qualquer outro
para um confronto.
Seu perseguidor chegou à última parte da curva. Então, como
se antecipando que sua presa estaria esperando lá, parou um pouco
antes de ser visto. Luke estendeu seus sentidos, captou o som de
uma arma de raios sendo sacada...
– Está tudo bem – ele chamou baixinho. – Estamos sozinhos.
Pode sair.
Houve uma breve hesitação e Luke captou um clarão
momentâneo de surpresa; e então, Talon Karrde apareceu.
– Estou vendo que o universo ainda tem meios de me
surpreender – comentou o contrabandista, inclinando a cabeça
numa espécie de saudação abreviada ao enfiar a arma de volta no
coldre. – Pelo jeito como você estava agindo, pensei que
provavelmente fosse um espião da Nova República. Mas tenho de
admitir que você é a última pessoa que esperava que eles
enviassem.
Luke olhou bem para ele, esforçando-se para ler os sentidos do
homem. Da última vez que vira Karrde, logo depois da batalha pela
Katana, o contrabandista havia enfatizado que ele e seu grupo
pretendiam permanecer neutros naquela guerra.
– E o que você ia fazer depois que soubesse com certeza?
– Eu não havia planejado entregá-lo, se isso é o que você quer
dizer – disse Karrde, olhando rapidamente para trás, descendo pelo
caminho da ponte. – Se não fizer diferença para você, gostaria que
seguíssemos em frente. Berchestianos não costumam conversar
longamente em pontes. E o túnel pode transportar vozes por uma
distância surpreendente.
E se houvesse uma emboscada esperando por eles do outro
lado da ponte? Mas, nesse caso, Luke saberia antes que
chegassem lá.
– Por mim tudo bem – ele disse, dando um passo para o lado e
fazendo um gesto para que Karrde avançasse.
O outro lhe deu um sorriso sardônico.
– Você não confia em mim, não é? – disse, passando por Luke
e descendo a ponte.
– Deve ser influência de Han – Luke respondeu a título de
desculpas, começando a andar ao lado dele. – Dele, ou sua. Ou
talvez de Mara.
Ele captou uma mudança nos sentidos de Karrde; um rápido
clarão de preocupação que rapidamente se dissipou.
– Falando em Mara, como ela está?
– Quase recuperada – Luke lhe assegurou. – Os médicos me
disseram que reparar esse tipo de dano neural leve não é difícil,
apenas leva tempo.
Karrde assentiu, os olhos no túnel à frente.
– Fico satisfeito por você estar cuidando dela – ele afirmou,
quase de má vontade. – Nossas próprias instalações médicas não
estariam à altura da tarefa.
Luke dispensou o agradecimento com um gesto.
– Era o mínimo que poderíamos fazer depois da ajuda que
vocês nos deram na Katana.
– Talvez.
Chegaram ao fim da ponte e entraram em uma rua
consideravelmente menos cheia de gente que aquela que haviam
deixado. À frente deles, acima dos edifícios mais próximos, era
possível ver as três torres intrincadamente esculpidas da sede do
governo, que davam de frente para o mar. Usando a Força, Luke fez
uma rápida leitura das pessoas que passavam por ali. Nada.
– Está indo para algum lugar em especial? – perguntou a
Karrde.
O outro balançou a cabeça em negativa.
– Vagando pela cidade – ele disse casualmente. – E você?
– Também – disse Luke, tentando usar o mesmo tom de voz do
outro.
– E torcendo para ver um ou dois rostos familiares? Ou três,
quatro ou cinco?
Então Karrde sabia, ou havia adivinhado, o motivo de sua
presença ali. De algum modo, isso realmente não o surpreendia.
– Se eles estiverem aqui para ser vistos, eu os encontrarei – ele
disse. – Creio que você não teria alguma informação que me seja
útil...
– Posso ter – disse Karrde. – Você tem dinheiro suficiente para
pagar?
– Conhecendo seus preços, provavelmente não – disse Luke. –
Mas eu poderia abrir uma linha de crédito para você quando voltar.
– Se você voltar – retrucou Karrde. – Considerando a
quantidade de soldados do Império entre você e um território
seguro, você não é o que eu chamaria de um investimento de baixo
risco no momento.
Luke ergueu uma sobrancelha para ele.
– Em oposição ao contrabandista no topo da lista de
procurados do Império? – ele perguntou sem rodeios.
Karrde sorriu.
– Por acaso, Calius é um dos poucos lugares no espaço
imperial onde estou perfeitamente seguro. O governador
berchestiano e eu nos conhecemos há vários anos. E o mais
importante: há certos artigos importantes para ele que somente eu
posso fornecer.
– Artigos militares?
– Não faço parte da sua guerra, Skywalker – Karrde lembrou a
ele com frieza. – Sou neutro, e assim pretendo permanecer. Pensei
ter deixado isso claro a você e sua irmã quando nos despedimos da
última vez.
– Ah, bastante claro – concordou Luke. – Só pensei que os
acontecimentos do último mês pudessem ter feito você mudar de
ideia.
A expressão no rosto de Karrde não se alterou, mas Luke podia
detectar uma mudança quase a contragosto em seus sentidos.
– Não me agrada particularmente a ideia de Grão Almirante
Thrawn ter acesso a uma instalação de clonagem – ele admitiu. –
Isso tem potencial, a longo prazo, para deslocar o equilíbrio de
poder a favor dele, e essa é uma coisa que nenhum de nós quer ver
acontecer. Mas eu acho que seu lado está reagindo com um tanto
de exagero à situação.
– Não sei como você pode dizer que é exagero – rebateu Luke.
– O Império possui a maior parte dos duzentos dreadnaughts da
frota Katana, e agora eles têm um suprimento ilimitado de clones
com os quais tripulá-los.
– “Ilimitado” dificilmente seria a palavra que eu usaria – disse
Karrde. – O crescimento dos clones não pode ser acelerado demais
se você quiser que eles tenham estabilidade mental suficiente para
confiar-lhes suas naves de guerra. Mínimo de um ano por clone, se
bem me recordo da velha regra básica.
Um grupo de cinco Vaathkree passou na frente deles ao longo
de um cruzamento. Até agora o Império só havia clonando
humanos, mas Luke os checou mesmo assim. Mais uma vez, nada.
– Um ano por clone, você disse?
– Mínimo absoluto – disse Karrde. – Os documentos pré-
Guerras Clônicas que li sugerem que três a cinco anos seriam um
período mais apropriado. Mais rápido que o ciclo padrão de
crescimento humano, certamente, mas não chega a ser razão para
entrar em pânico.
Luke olhou para as torres esculpidas, cujo vermelho-alaranjado
iluminado pelo sol formava grande contraste com as nuvens brancas
ondulantes que vinham do mar atrás deles.
– O que você diria se eu lhe dissesse que os clones que nos
atacaram na Katana cresceram em menos de um ano?
Karrde deu de ombros.
– Isso depende do quanto menos.
– O ciclo completo foi de quinze a vinte dias.
Karrde parou.
– O quê? – ele perguntou, se virando para encarar Luke.
– Quinze a vinte dias – repetiu Luke, parando ao lado dele.
Por um longo momento Karrde o olhou fixamente nos olhos.
Então, devagar, ele desviou o olhar e voltou a caminhar.
– Isso é impossível – ele disse. – Deve haver um erro.
– Posso conseguir uma cópia dos estudos.
Karrde assentiu pensativo, olhando para nada em particular.
– Pelo menos isso explica Ukio.
– Ukio? – Luke franziu a testa.
Karrde olhou novamente para ele.
– Isso mesmo. Você provavelmente andou fora de contato por
algum tempo. Dois dias atrás, os imperiais lançaram um múltiplo
ataque a alvos nos setores Abrion e Dufilviano. Eles danificaram
gravemente a base militar de Ord Pardron e capturaram o sistema
de Ukio.
Luke sentiu um vazio no estômago. Ukio era um dos cinco
principais produtores de alimentos em toda a Nova República. As
repercussões daquilo somente para o setor Abrion...
– Quais foram os danos a Ukio?
– Aparentemente Ukio não sofreu dano algum – disse Karrde. –
Minhas fontes me disseram que ele foi tomado com escudos e
armamentos terra/espaço intactos.
O vazio ficou um pouco maior.
– Achei que isso fosse impossível de se fazer.
– A habilidade de fazer o impossível foi uma das coisas pelas
quais o Grão Almirante foi selecionado – Karrde disse secamente. –
Os detalhes do ataque ainda são nebulosos; será interessante ver
como ele conseguiu.
Então Thrawn tinha os dreadnaughts da Katana; tinha clones
em suas tripulações; e agora tinha a capacidade de fornecer
alimentação para esses clones.
– Isso não é apenas a preparação para outra série de ataques –
Luke disse devagar. – O Império está se preparando para lançar
uma grande ofensiva.
– Está começando a parecer que sim – concordou Karrde. –
Informalmente, eu diria que você tem um trabalho muito difícil pela
frente.
Luke o estudou. A voz e o rosto de Karrde estavam calmos
como nunca, mas os sentidos por trás deles não estavam mais tão
certos.
– E nada disso faz você mudar de ideia? – ele insistiu com o
outro.
– Eu não vou me juntar à Nova República, Skywalker – disse
Karrde, balançando a cabeça. – Por muitos motivos. Um deles, nem
de longe o menor, é que não confio totalmente em certos elementos
de seu governo.
– Acho que Fey’lya já sofreu uma boa perda de credibilidade...
– Eu não estava me referindo somente a Fey’lya – Karrde o
interrompeu. – Você sabe tão bem quanto eu como os Mon
Calamari gostam de contrabandistas. Agora que o almirante Ackbar
voltou ao seu cargo de conselheiro e comandante supremo, todos
no meu ramo de trabalho vão voltar a se cuidar.
– Ah, o que é que há – Luke bufou. – Você não acha que
Ackbar vai ter tempo de se preocupar com contrabandistas, vai?
Karrde deu um sorriso irônico.
– Não. Mas também não estou disposto a arriscar minha vida
nisso.
Empate.
– Então está bem – disse Luke. – Vamos colocar isso em um
nível estritamente comercial. Precisamos saber dos movimentos e
das intenções do Império, coisas que você provavelmente já rastreia
de qualquer maneira. Podemos comprar essas informações de
você?
Karrde pensou bem.
– Pode ser – ele disse com cautela. – Mas somente se eu tiver
a palavra final com relação ao que for passado para vocês. Não vou
admitir que vocês transformem meu grupo num braço não oficial da
Inteligência da Nova República.
– Concordo – disse Luke. Era menos do que ele esperava, mas
melhor que nada. – Vou abrir uma linha de crédito para você assim
que voltar.
– Talvez devêssemos começar com uma troca de informações
simples – disse Karrde, olhando para os edifícios cristalinos ao
redor. – Diga-me o que fez seu pessoal começar a procurar em
Calius.
– Vou fazer melhor que isso – disse Luke. O toque distante em
sua mente era suave, porém inconfundível. – Que tal se eu
confirmar que os clones estão aqui?
– Onde? – Karrde perguntou rispidamente.
– Em algum lugar naquela direção – respondeu Luke,
apontando para a frente, ligeiramente para a direita. – Talvez a meio
quilômetro de distância... é difícil dizer.
– Dentro de uma das torres – deduziu Karrde. – Confortáveis,
seguros e bem escondidos de olhos curiosos. Será que existe algum
jeito de entrar para dar uma olhada?
– Espere um minuto: eles estão em movimento – disse Luke,
franzindo a testa enquanto tentava se manter em contato – Em
direção... quase em nossa direção, mas não exatamente.
– Provavelmente estão sendo levados para o campo de pouso
– disse Karrde. Ele olhou ao redor e apontou para a direita. –
Provavelmente usarão a rua Mavrille; duas quadras naquela
direção.
Equilibrando a velocidade com a necessidade de não chamar
atenção, eles cobriram a distância em três minutos.
– Eles provavelmente usarão um transporte de cargas ou um
transporte leve – disse Karrde quando encontraram um ponto de
onde podiam observar a rua sem serem atropelados pelo tráfego de
pedestres na beirada da pista. – Qualquer coisa obviamente militar
chamaria a atenção.
Luke assentiu. Mavrille, ele se lembrava pelos mapas, era uma
das poucas ruas de Calius que havia sido escavada em uma largura
grande o bastante para o uso de veículos, com o resultado de que o
tráfego estava basicamente enfileirado.
– Queria ter uns macrobinóculos – ele comentou.
– Confie em mim; assim como você está, já está chamando
bastante a atenção – retrucou Karrde ao torcer o pescoço para olhar
para as multidões que passavam. – Algum sinal deles?
– Estão definitivamente vindo nesta direção – disse Luke. Ele
usou a Força, tentando separar os sentidos dos clones da
tempestade de areia que eram os outros pensamentos e mentes ao
seu redor. – Eu diria que entre vinte e trinta.
– Uma nave de transporte, então – deduziu Karrde. – Tem uma
chegando agora... logo atrás daquele caminhão speeder Trast.
– Estou vendo. – Luke respirou fundo, invocando cada parcela
de sua habilidade Jedi. – São eles – ele murmurou enquanto um
tremor subia pelas suas costas.
– Tudo bem – disse Karrde com a voz séria. – Observe com
atenção; eles podem ter deixado um ou mais painéis de ventilação
abertos.
O transporte de cargas vinha na direção deles impulsionado por
suas plataformas repulsoras, parando subitamente a uma quadra de
distância quando o motorista do caminhão speeder à frente
subitamente despertou para o fato de que havia chegado sua vez de
virar. Cuidadosamente, o caminhão virou a esquina, bloqueando
todo o fluxo do tráfego atrás dele.
– Espere aqui – disse Karrde, e mergulhou no rio de pedestres
que seguiam naquela direção. Luke continuou vasculhando a área,
em alerta para qualquer sensação de que ele ou Karrde tivessem
sido vistos e reconhecidos. Se todo aquele cenário era algum tipo
de armadilha elaborada para espiões de fora do planeta, agora seria
o momento mais óbvio para acioná-la.
O caminhão finalmente terminou a curva, e o transporte de
carga seguiu em frente. Ele passou por Luke e continuou descendo
a rua, desaparecendo poucos segundos depois atrás de um dos
edifícios vermelho-alaranjados. Recuando para a rua lateral atrás
dele, Luke aguardou; e um minuto depois, Karrde retornou.
– Dois dos painéis de ventilação estavam abertos, mas não
pude ver o suficiente para ter certeza – ele disse a Luke, respirando
com dificuldade. – E você?
Luke balançou a cabeça.
– Também não consegui ver nada. Mas eram eles. Tenho
certeza.
Por um momento Karrde estudou seu rosto. Então assentiu
bruscamente.
– Tudo bem. E agora?
– Vou ver se consigo tirar minha nave do planeta antes deles –
respondeu Luke. – Se eu conseguir rastrear o vetor de hiperespaço
deles, talvez possa descobrir para onde irão daqui. – Ele ergueu as
sobrancelhas. – Se bem que duas naves trabalhando juntas podem
rastrear melhor.
Karrde deu um leve sorriso.
– Me perdoe se eu recusar a oferta – ele disse. – Voar ao lado
de um agente da Nova República não é exatamente o que eu
chamaria de manter a neutralidade. – Ele olhou por cima do ombro
de Luke para a rua atrás. – De qualquer maneira, acho que prefiro
tentar rastreá-los daqui. Ver se consigo identificar o ponto de origem
deles.
– Parece uma boa ideia – assentiu Luke. – É melhor eu ir para
o campo de pouso e preparar minha nave.
– Vou ficar em contato – prometeu Karrde. – Garanta que
aquela linha de crédito seja bem generosa.

Parado em frente à janela mais alta da Torre do Governo


Central Número Um, o Governador Staffa abaixou seus
macrobinóculos com um resfolegar de satisfação.
– Era ele mesmo, Fingal – ele disse ao homem baixo que
pairava ao seu lado. – Não há dúvida. É Luke Skywalker em pessoa.
– O senhor acha que ele viu o transporte especial? – perguntou
Fingal, segurando nervoso seus próprios macrobinóculos.
– Bem, é claro que ele viu – Staffa grunhiu. – Você acha que ele
estava parado perto da rua Mavrille cuidando da saúde?
– Eu só pensei...
– Não pense, Fingal – Staffa o interrompeu. – Você não tem o
equipamento adequado para isso.
Ele foi até sua mesa, colocou os macrobinóculos numa gaveta
e puxou a diretriz do Grão Almirante Thrawn em seu datapad. Era
uma diretriz um tanto bizarra, em sua opinião particular e
estritamente confidencial; mais peculiar até mesmo do que aquelas
misteriosas transferências de tropas que o Alto Comando Imperial
estava executando ultimamente em Calius. Mas, naquelas
circunstâncias, ele não tinha escolha senão supor que Thrawn sabia
o que estava fazendo.
De qualquer maneira, era responsabilidade de Thrawn saber o
que fazia, não de Staffa, e era isso que importava.
– Quero que você envie uma mensagem para o Star Destroier
Imperial Quimera – ele disse para Fingal, abaixando o corpanzil
cuidadosamente em sua cadeira e empurrando o datapad para o
outro lado da mesa. – Codificada conforme as instruções aqui.
Informe ao Grão Almirante Thrawn que Skywalker esteve em Calius
e que eu o observei pessoalmente próximo ao transporte especial.
Também conforme a diretriz do Grão Almirante, permitimos que ele
deixasse Berchest sem ser incomodado.
– Sim, governador – disse Fingal, fazendo anotações em seu
próprio datapad. Se o homenzinho tinha visto algo de incomum em
deixar um espião rebelde sair andando livremente por território
imperial, não estava demonstrando. – E quanto ao outro homem,
governador? Aquele que estava lá embaixo com Skywalker?
Staffa franziu os lábios. O preço pela cabeça de Talon Karrde
estava a quase 50 mil agora – muito dinheiro, até mesmo para um
homem com o salário e os benefícios de um governador planetário.
Ele sempre soube que um dia seria de seu interesse terminar o
relacionamento comercial discreto que tinha com Karrde. Talvez
esse momento finalmente tivesse chegado.
Não. Não, não enquanto a guerra ainda devastava a galáxia.
Talvez depois, quando a vitória estivesse próxima e as linhas de
abastecimento particulares pudessem voltar a ser mais confiáveis.
Mas agora não.
– O outro homem não tem importância – ele disse para Fingal.
– Um agente especial que mandei para ajudar a expor o espião
rebelde. Pode esquecê-lo. Vá logo: mande codificar e enviar a
mensagem.
– Sim, senhor – assentiu Fingal, encaminhando-se para a porta.
O painel se abriu... e por um segundo, enquanto Fingal o
atravessava, Staffa pensou ter visto um brilho estranho no olho do
homenzinho. Algum reflexo estranho da iluminação do escritório,
claro. Além da lealdade férrea que dedicava ao governador, o
atributo mais proeminente e maravilhoso de Fingal era sua
igualmente férrea falta de imaginação.
Respirando fundo e colocando Fingal, espiões rebeldes e até
mesmo Grão Almirantes de lado em sua cabeça, Staffa se recostou
em sua cadeira e começou a pensar em como usaria o
carregamento que o pessoal de Karrde estava desembarcando
naquele instante no campo de pouso.
Lentamente, como se estivesse subindo uma grande e escura
escadaria, Mara Jade despertou de um sono profundo. Ela abriu os
olhos, olhou ao redor do quarto suavemente iluminado e se
perguntou onde na galáxia estava.
Era uma área médica – isso era óbvio a julgar pelos
biomonitores, os biombos que dividiam o aposento e os outros leitos
multiposição espalhados ao redor daquele sobre o qual ela estava
deitada. Mas não era uma das instalações de Karrde; pelo menos
não uma que ela conhecesse.
Mas o layout propriamente dito era familiar demais. Era uma
sala de recuperação imperial padrão.
Naquele momento ela parecia estar sozinha, mas sabia que
isso não iria durar. Em silêncio, rolou para fora da cama e agachou
no chão, fazendo uma análise rápida de sua condição física.
Nenhuma dor; nenhuma tontura ou ferimento óbvio. Vestindo o
roupão e os chinelos que estavam na ponta da cama, ela andou
sem fazer barulho até a porta, preparando-se mentalmente para
silenciar ou incapacitar quem quer que estivesse ali fora. Fez um
gesto para a trava da porta, e, quando o painel se abriu, saltou para
a antessala de recuperação...
E parou subitamente, ligeiramente desorientada.
– Oh, oi, Mara – Ghent disse distraído, levantando a cabeça do
terminal de computador sobre o qual estava curvado. – Como está
se sentindo?
– Não tão mal – disse Mara, encarando o garoto e revirando
furiosamente um conjunto de memórias nebulosas. Ghent: um dos
empregados de Karrde e possivelmente o melhor slicer da galáxia.
E o fato de que ele estava sentado em frente a um terminal
significava que eles não eram prisioneiros, a não ser que o captor
deles fosse de uma burrice abissal a ponto de não saber que não
deveria deixar um slicer chegar perto de um computador.
Mas ela não tinha enviado Ghent para o quartel-general da
Nova República em Coruscant? Tinha, sim. Sob instrução de
Karrde, logo antes de reunir parte do grupo dele e liderá-lo naquela
confusão na frota Katana.
Onde ela havia jogado seu Z-95 em cima de um Star Destroier
Imperial... e tinha precisado ejetar... e conseguira brilhantemente
direcionar seu assento ejetor bem para dentro do caminho de um
feixe de um canhão de íons. Que havia fritado seu equipamento de
sobrevivência e a deixado vagando, perdida para sempre, no
espaço interstelar.
Ela olhou ao seu redor. Aparentemente, para sempre não havia
durado tanto tempo quando ela previra.
– Onde estamos? – ela perguntou, embora já tivesse uma ideia
muito boa de qual seria a resposta.
E tinha razão.
– O velho Palácio Imperial em Coruscant – Ghent disse a ela,
franzindo um pouco a testa. – Ala médica. Tiveram de fazer uma
reconstrução de seus caminhos neurais. Não lembra?
– Está tudo um pouco vago – Mara confessou. Mas, à medida
que as últimas teias de aranha iam deixando seu cérebro, o resto
das lembranças começava a se encaixar. O sistema de suporte de
vida arruinado de seu assento ejetor, e uma estranha sensação de
torpor e de leveza quando começou a adormecer na escuridão. Ela
provavelmente sofrera privação de oxigênio antes que eles
conseguissem localizá-la e levá-la até uma nave.
Não. Eles, não; ele. Só havia uma pessoa que poderia ter
encontrado um único assento ejetor danificado em todo o vazio e
destroços de batalha lá fora. Luke Skywalker, o último dos
cavaleiros Jedi.
O homem que ela ia matar.
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
Ela deu um passo para trás para se encostar na porta, sentindo
subitamente os joelhos cederem enquanto as palavras do imperador
ecoavam em sua mente. Ela estivera ali, naquele mundo e naquele
prédio, quando ele morrera acima de Endor. Ela tinha visto pela
mente dele quando Luke Skywalker o cortou e destruiu a vida dela
por completo.
– Estou vendo que você acordou – disse uma nova voz.
Mara abriu os olhos. A recém-chegada, uma mulher de meia-
idade vestindo túnica de médica de plantão, estava cruzando
rapidamente o aposento em sua direção vinda de uma porta do
outro lado, com um droide médico logo atrás.
– Como está se sentindo?
– Estou bem – disse Mara, com uma súbita vontade de dar uma
patada na outra mulher. Aquelas pessoas, aqueles inimigos do
Império, não tinham o direito de estar ali no palácio do imperador.
Ela respirou fundo, lutando contra o fluxo súbito de emoção. A
médica parou, com uma expressão profissional no rosto; Ghent,
esquecendo seus amados computadores por um momento, tinha
uma expressão intrigada.
– Desculpe – ela murmurou. – Acho que ainda estou um pouco
desorientada.
– É compreensível – a médica assentiu. – Você ficou deitada
naquela cama por um mês, afinal.
Mara olhou fixamente para ela.
– Um mês?
– Bem, a maior parte de um mês – a médica se corrigiu. – Você
também passou um tempo em um tanque de bacta. Não se
preocupe, problemas na memória de curto prazo são comuns
durante reconstruções neurais, mas eles quase sempre passam
após o tratamento.
– Compreendo – Mara disse mecanicamente. Um mês. Ela
havia perdido um mês inteiro ali. E naquele tempo...
– Temos uma suíte de hóspede preparada para você lá em
cima quando se sentir pronta para sair daqui – continuou a médica.
– Gostaria que eu visse se ela está pronta?
Mara se concentrou nela.
– Isso seria ótimo – disse.
A médica sacou um comlink e o acionou; e enquanto falava,
Mara passou por ela e foi até Ghent.
– O que aconteceu na guerra ao longo desse último mês? – ela
lhe perguntou.
– Ah, o Império andou criando os problemas de costume –
respondeu Ghent, acenando para o céu. – Aliás, eles conseguiram
abalar bastante o pessoal daqui. Ackbar, Madine e o resto têm
corrido feito loucos. Tentando fazê-los recuar ou se render; alguma
coisa do gênero.
E isso era, Mara sabia, praticamente tudo o que ela conseguiria
arrancar dele com relação aos eventos atuais. Exceto pelo fascínio
por histórias de contrabandistas, a única coisa que realmente
importava para Ghent era atuar como slicer em computadores.
Ela franziu a testa, lembrando-se tardiamente do motivo pelo
qual Karrde havia enviado Ghent ali em primeiro lugar.
– Espere um minuto – ela disse. – Ackbar está de volta no
comando? Quer dizer que já provaram a inocência dele?
– Claro – disse Ghent. – Aquele negócio do depósito bancário
suspeito pelo qual o conselheiro Fey’lya provocou tanta encrenca foi
uma fraude completa; os sujeitos que fizeram aquela invasão
eletrônica no banco plantaram aquilo na conta dele. Provavelmente
a Inteligência Imperial; sua assinatura estava em toda a
programação. Ah, com certeza; provei isso dois dias depois que
cheguei aqui.
– Imagino que tenham ficado felizes. Por que você ainda está
aqui então?
– Bom... – Por um momento Ghent pareceu surpreso. – Pra
começar, ninguém veio me buscar. – Seu rosto se iluminou. – Além
disso, existe um código de encriptação muito interessante que
alguém aqui perto está usando pra enviar informações para o
Império. O general Bel Iblis diz que os imperiais o chamam de fonte
Delta, e que ela está enviando coisas direto de dentro do Palácio.
– E ele pediu pra você aplicar seus conhecimentos de slicer
para ajudá-los – assentiu Mara, sentindo o lábio retorcer. – E não se
ofereceu para pagar algo a você ou algo assim?
– Bom... – Ghent deu de ombros. – Provavelmente sim. Eu não
me lembro, sério.
A médica recolocou o comlink no cinto.
– Seu guia estará aqui num instante – ela disse a Mara.
– Obrigada – disse Mara, resistindo à vontade de dizer à outra
que ela dormindo provavelmente conhecia o Palácio Imperial melhor
do que qualquer guia que pudessem arrumar em plena luz do dia.
Cooperação e educação: essas eram as chaves para convencê-los
a lhe dar uma nave e tirar Ghent e ela daquele lugar e da guerra
deles.
Atrás da médica, a porta se abriu e uma mulher alta com
cabelos de um branco puro entrou tão suavemente no aposento que
parecia deslizar.
– Olá, Mara – ela disse com um sorriso circunspecto. – Meu
nome é Winter, e sou assessora pessoal da princesa Leia Organa
Solo. Fico contente por ver você de pé mais uma vez.
– Fico contente por estar aqui – disse Mara, tentando manter a
voz educada. Mais uma pessoa associada a Skywalker. Justo o que
ela precisava. – Suponho que você seja a minha guia.
– Sua guia, sua assistente e o que mais você precisar ao longo
dos próximos dias – disse Winter. – A princesa Leia me pediu para
cuidar de você até que ela e o capitão Solo voltem de Filve.
– Não preciso de assistente, e não preciso que cuidem de mim
– disse Mara. – Eu só preciso mesmo de uma nave.
– Já comecei a cuidar disso – disse Winter. – Espero que
possamos encontrar alguma coisa para você em breve. Nesse meio
tempo, posso lhe mostrar sua suíte?
Mara escondeu um sorriso de desagrado. Os usurpadores da
Nova República, oferecendo-lhe graciosamente hospitalidade no
que um dia fora sua própria casa.
– É muito gentil da sua parte – ela disse, tentando não soar
sarcástica. – Você vem, Ghent?
– Pode ir na frente – ele respondeu distraído, olhando para a
tela do computador. – Quero ficar rodando essa simulação mais um
pouco.
– Ele vai ficar bem aqui – Winter lhe garantiu. – Por aqui, por
favor.
Elas deixaram a antessala, e Winter foi na frente, em direção à
parte de trás do Palácio.
– Ghent tem uma suíte bem ao lado da sua – Winter comentou
enquanto elas caminhavam –, mas acho que ele não esteve lá mais
do que duas vezes no último mês. Ele montou um alojamento
temporário ali na antessala de recuperação, onde podia ficar de olho
em você.
Mara teve de sorrir ao ouvir isso. Ghent, que passava
praticamente noventa por cento de seu tempo acordado alheio ao
mundo exterior, não era exatamente quem ela escolheria para
enfermeiro ou guarda-costas. Mas era a intenção que contava.
– Agradeço por vocês terem cuidado de mim – ela disse a
Winter.
– Era o mínimo que poderíamos fazer para agradecer sua ida
em nosso auxílio na batalha da Katana.
– Foi ideia de Karrde – Mara disse simplesmente. – Agradeça a
ele, não a mim.
– Nós agradecemos – disse Winter. – Mas você também
arriscou sua vida por nós. Não vamos nos esquecer disso.
Mara olhou de esguelha para a mulher de cabelos brancos. Ela
tinha lido os arquivos do imperador sobre os líderes da Rebelião,
incluindo Leia Organa, e o nome Winter não lhe era nem um pouco
familiar.
– Há quanto tempo você está com Organa Solo? – ela
perguntou.
– Cresci com ela na corte real em Alderaan – disse Winter; um
sorriso agridoce tocava de leve seus lábios. – Fomos amigas de
infância, e quando ela deu seus primeiros passos na política
galáctica, o pai dela me designou para ser sua assessora. Tenho
estado com ela desde então.
– Não me lembro de você durante o auge da Rebelião – Mara
sondou gentilmente.
– Passei a maior parte da guerra me mudando de um planeta
para outro, trabalhando com suprimentos e aprovisionamento –
Winter explicou. – Se meus colegas pudessem me colocar dentro de
um armazém ou depósito sob qualquer pretexto, eu poderia
desenhar para eles um mapa de onde estavam os itens de que
precisavam. Isso tornava os ataques subsequentes mais rápidos e
seguros.
Mara assentiu ao se lembrar.
– Então você era o rebelde que chamavam de Marcador. O que
tinha a memória perfeita.
Winter franziu ligeiramente a testa.
– Sim, esse foi um dos meus codinomes – ela disse. – Tive
muitos outros ao longo dos anos.
– Entendo – disse Mara. Ela conseguia se lembrar de um bom
número de referências em relatórios da Inteligência de antes da
Batalha de Yavin mencionando o misterioso rebelde chamado
Marcador; grande parte da discussão educadamente acalorada
girava ao redor de sua possível identidade. Ela se perguntou se os
burocratas haviam chegado pelo menos perto da resposta.
Agora elas haviam chegado ao conjunto de turboelevadores na
parte de trás do Palácio Imperial, uma das maiores reformas que o
imperador havia feito no projeto deliberadamente antiquado do
edifício depois que o tomara. Os turboelevadores poupavam muita
subida e descida das escadarias espiraladas nas partes mais
públicas do edifício, e também mascaravam alguns outros
aprimoramentos que o imperador havia feito no Palácio.
– Então, qual é o problema em me dar uma nave? – Mara
perguntou quando Winter apertou a placa para chamar o elevador.
– O problema é o Império – disse Winter. – Eles lançaram um
ataque massivo contra nós, e isso amarrou basicamente tudo o que
temos, de cargueiros leves para cima.
Mara franziu a testa. Ataques em massa contra forças
superiores não pareciam ser trabalho do Grão Almirante Thrawn.
– A coisa está tão ruim?
– Está ruim o bastante – respondeu Winter. – Não sei se você
sabia, mas eles chegaram antes de nós à frota Katana. Eles já
tinham movido quase cento e oitenta dreadnaughts quando
chegamos. Juntamente com sua nova fonte inesgotável de
tripulantes e soldados, o equilíbrio de poder sofreu uma grave
alteração.
Mara assentiu, com um gosto amargo na boca. Falando assim,
até que parecia sim algo feito por Thrawn.
– O que significa que eu quase me matei por nada.
Winter deu um sorriso contido.
– Se serve de consolo, muitas outras pessoas também.
O carro do turboelevador chegou. Elas entraram, e Winter
digitou o código das áreas residenciais do Palácio.
– Ghent mencionou que o Império estava criando problemas –
Mara comentou quando o carro começou a subir. – Eu deveria ter
percebido que qualquer coisa que conseguisse penetrar aquela
neblina onde ele caminha tinha de ser séria.
– “Séria” é dizer pouco – Winter disse com amargura. – Nos
últimos cinco dias, perdemos o controle de quatro setores, e mais
treze nas fronteiras. A maior perda foram as instalações de
produção de alimentos em Ukio. De algum modo, eles conseguiram
tomar o planeta com as defesas intactas.
Mara sentiu o lábio retorcer.
– Alguém cochilou no painel de controle?
– Não de acordo com os relatórios preliminares – hesitou
Winter. – Há rumores de que os imperiais utilizaram uma nova
superarma que foi capaz de atravessar o escudo planetário dos
Ukianos. Ainda estamos tentando conferir se é verdade.
Mara engoliu em seco, visões das velhas plantas da Estrela da
Morte flutuavam diante de seus olhos em sua memória. Uma arma
daquelas nas mãos de um estrategista como o Grão Almirante
Thrawn...
Ela balançou a cabeça para afastar os pensamentos. Aquela
não era sua guerra. Karrde havia lhe prometido que ficariam neutros
naquele negócio todo.
– Suponho então que seja melhor eu entrar em contato com
Karrde – ela disse. – Para ver se ele consegue mandar alguém vir
nos pegar.
– Provavelmente seria mais rápido do que esperar uma das
nossas naves ser liberada – concordou Winter. – Ele deixou um
cartão de dados com o nome de um contato pelo qual você pode
mandar uma mensagem. Ele disse que você saberia qual código de
encriptação usar.
O turboelevador as deixou no andar dos Convidados do
Presidente, uma das poucas seções do Palácio que o imperador
havia deixado estritamente isoladas durante seu reinado. Com suas
antiquadas portas de dobradiças e mobiliário de madeira exótica
esculpida a mão, caminhar por aquele andar era como recuar mil
anos no passado. O imperador geralmente reservava as suítes ali
para os emissários que se lembravam com carinho daqueles dias de
outrora, ou os que pudessem ficar impressionados com sua
continuidade cuidadosamente fabricada com aquela era.
– O capitão Karrde deixou algumas das suas roupas e objetos
pessoais para você depois da batalha da Katana – disse Winter,
destrancando uma das portas esculpidas e abrindo-a. – Se ele
esqueceu alguma coisa, é só me avisar e provavelmente
conseguirei fornecer. Eis aqui o cartão de dados que mencionei –
ela acrescentou, sacando-o da túnica.
– Obrigada – disse Mara, inspirando profundamente ao pegar o
cartão. Aquela suíte em particular era feita em grande parte de
madeira Fijisi de Cardooine; e, quando o aroma delicado a envolveu,
seus pensamentos voltaram aos dias reluzentes de poder e pompa
do Império...
– Posso fazer mais alguma coisa por você?
A memória se desvaneceu. Winter estava parada à sua frente,
e os dias de glória do Império haviam se acabado.
– Não, estou bem – ela disse.
Winter assentiu.
– Se quiser alguma coisa, é só chamar o oficial de plantão – ela
disse, fazendo um gesto para a mesa. – Mais tarde estarei à
disposição; agora há uma reunião do Conselho na qual preciso estar
presente.
– Pode ir – disse Mara. – E obrigada.
Winter sorriu e foi embora. Mara inspirou profundamente mais
uma vez a madeira Fijisi, e com esforço afastou a última das
lembranças que persistiam. Ela estava ali, e aquele era o momento
presente; e, como os instrutores do imperador tantas vezes haviam
metido em sua cabeça, a primeira regra era se encaixar no
ambiente ao redor. E isso significava não parecer que havia
escapado da ala médica.
Karrde havia deixado um bom sortimento de roupas para ela:
um vestido semiformal, dois trajes de um tipo discreto que ela podia
usar nas ruas de uma centena de mundos sem parecer deslocada e
quatro dos trajes mistura de túnica/macacão utilitários que ela
costumava vestir a bordo das naves. Escolhendo um dos últimos,
ela se vestiu e depois começou a procurar entre o restante das
coisas que Karrde havia deixado. Com alguma sorte – e quem sabe
um pouco de clarividência da parte de Karrde...
Ali estava: o coldre de antebraço para sua pequena arma de
raios. Naturalmente, a arma não estava ali – o capitão da
Peremptório a havia tomado, e os imperiais dificilmente a
devolveriam tão cedo. Procurar uma duplicata nos arsenais da Nova
República provavelmente seria perda de tempo também, embora ela
estivesse tentada a pedir uma a Winter só para ver a reação.
Felizmente, havia outro jeito.
Cada andar residencial do Palácio Imperial tinha uma extensa
biblioteca, e em cada uma dessas bibliotecas havia um conjunto de
multicartões intitulado A História Completa de Corvis Menor. Como a
maior parte da história de Corvis Menor havia sido incrivelmente
tranquila, as chances de alguém realmente retirar aquele conjunto
da estante eram extremamente pequenas. O que era ótimo, já que a
caixa não continha mesmo nenhum cartão de dados.
A arma de raios era de um estilo ligeiramente diferente daquela
que Mara havia perdido para os imperiais. Mas sua bateria ainda
estava carregada adequadamente, e cabia bem no coldre de seu
antebraço, e isso era tudo o que importava. Agora, o que quer que
acontecesse com a guerra ou com as disputas internas da Nova
República, ela teria pelo menos uma chance de lutar.
Fez uma pausa; o cartão de dados falso pendia na mão e uma
questão solta no ar passava atrasada por sua mente. O que Winter
quisera dizer com aquela referência a uma fonte inesgotável de
tripulantes e soldados? Será que um ou mais dos sistemas da Nova
República haviam passado para o lado do Império? Ou Thrawn
havia descoberto uma colônia até então desconhecida com
população pronta para recrutamento?
Era algo que ela provavelmente deveria perguntar depois. Mas
primeiro precisava encriptar uma mensagem e transmiti-la para o
contato designado de Karrde. Quanto mais cedo ela saísse daquele
lugar, melhor.
Recolocando o conjunto de cartões de dados vazios no seu
lugar e sentindo o peso reconfortante da arma colada no braço
esquerdo, ela voltou à sua suíte.
Thrawn levantou seus olhos vermelhos brilhantes da obra de
arte alienígena de aspecto pútrido exibida no círculo duplo de telas
que cercava sua cadeira de comando.
– Não – ele disse. – Totalmente fora de questão.
Lenta e deliberadamente, C’baoth deu as costas à estátua
woostroide que estava olhando.
– Não? – ele repetiu, rugindo como um trovão que se
aproximava. – Como assim, não?
– Não é uma palavra difícil de se entender – Thrawn respondeu
gélido. – A lógica militar deveria fazer o mesmo. Não temos
números para um ataque direto a Coruscant; tampouco as linhas de
suprimento e bases necessárias para um cerco tradicional. Qualquer
ataque seria inútil e um desperdício de recursos, portanto o Império
não lançará um.
O rosto de C’baoth escureceu.
– Cuidado, Grão Almirante Thrawn – ele alertou. – Eu governo
o Império, não você.
– É mesmo? – retrucou Thrawn, estendendo a mão atrás dele
para acariciar o ysalamir arqueado sobre seu ombro em sua
estrutura nutriente.
C’baoth se endireitou, olhos queimando com um fogo súbito.
– Eu governo o Império! – ele gritou; sua voz ecoava pela sala
de comando. – Você me obedecerá, ou morrerá!
Cuidadosamente, Pellaeon se ajeitou um pouco mais fundo na
bolha que cercava o ysalamir de Thrawn, onde a Força não tinha
efeito. Nos momentos em que ele estava no controle de si mesmo,
C’baoth parecia mais confiante e orientado do que nunca; mas
aqueles rompantes violentos de loucura clônica estavam se
tornando mais frequentes e agressivos. Como um sistema em loop
de feedback positivo, que se afasta cada vez mais de seu ponto
central a cada oscilação até se destruir por completo.
Até agora C’baoth não havia matado ninguém, nem destruído
nada. Na opinião de Pellaeon, era apenas questão de tempo até
que isso mudasse.
Talvez o mesmo pensamento tivesse ocorrido a Thrawn.
– Se você me matar, vai perder a guerra – ele lembrou ao
mestre Jedi. – E se perder a guerra, Leia Organa Solo e seus
gêmeos jamais serão seus.
C’baoth deu um passo na direção da cadeira de comando de
Thrawn; seus olhos queimavam ainda mais. E então, bruscamente,
ele pareceu voltar a se encolher ao seu tamanho normal.
– Você jamais falaria assim com o imperador – ele disse, quase
petulante.
– Pelo contrário – Thrawn lhe disse. – Em não menos que
quatro ocasiões eu disse ao imperador que não desperdiçaria seus
soldados e naves atacando um inimigo que ainda não estava
preparado para derrotar.
C’baoth resfolegou.
– Só um tolo falaria assim com o imperador – ele disse com
desprezo. – Quem é tolo ou quem está cansado de viver.
– O imperador também achava – concordou Thrawn. – Na
primeira vez que recusei ele me chamou de traidor e deu minha
força de ataque para outra pessoa. – O Grão Almirante tornou a
esticar a mão para fazer um carinho no seu ysalamir. – Depois que
ela foi destruída, ele percebeu que não deveria ignorar minhas
recomendações.
Por um longo minuto C’baoth estudou o rosto de Thrawn; a
expressão em seu rosto mudava sem parar, como se a mente por
trás dela estivesse tendo dificuldades em manter o controle do
pensamento ou das emoções.
– Você pode repetir a fraude ukiana – ele finalmente sugeriu. –
Aquele truque com cruzadores camuflados e rajadas de turbolaser
cronometradas. Eu o ajudaria.
– É muito generoso da sua parte – disse Thrawn. – Infelizmente
isso também seria um desperdício de recursos. Os líderes rebeldes
em Coruscant não se renderiam tão rapidamente quanto os
fazendeiros de Ukio. Não importa a precisão de nossa
cronometragem, eles acabariam percebendo que as rajadas de
turbolaser atingindo a superfície não eram as mesmas disparadas
pela Quimera, e chegariam à conclusão adequada.
Fez um gesto para as estátuas holográficas que enchiam o
aposento.
– O povo e os líderes de Woostri, por outro lado, são uma
questão inteiramente diferente. Como os Ukianos, eles têm muito
medo do desconhecido e do que acham ser impossível. Igualmente
importante, eles têm a tendência de amplificar
desproporcionalmente os rumores quanto a alguma ameaça. O
estratagema do cruzador camuflado deverá funcionar muito bem lá.
O rosto de C’baoth estava começando a ficar vermelho.
– Grão Almirante Thrawn...
– Mas quanto a Organa Solo e seus gêmeos – Thrawn o
interrompeu suavemente –, você pode tê-los quando quiser.
O embrião de ataque de nervos evaporou.
– O que você quer dizer? – C’baoth exigiu saber, desconfiado.
– Quero dizer que atacar Coruscant e levar Organa Solo por
força bruta não é prático – disse Thrawn. – Enviar um pequeno
grupo para sequestrá-la, por outro lado, é perfeitamente viável. Já
ordenei que a Inteligência monte um grupo de ataque com essa
finalidade. Tudo deverá estar pronto ainda hoje.
– Um grupo de ataque – C’baoth torceu o lábio. – Preciso
lembrar a você de como seus Noghri têm fracassado
constantemente nesse quesito?
– Concordo – disse Thrawn; sua voz soava estranhamente
amarga. – E é por isso que os Noghri não estarão envolvidos.
Pellaeon olhou surpreso para o Grão Almirante, depois olhou
involuntariamente de relance para a porta que dava para a
antessala, onde o guarda-costas de Thrawn, Rukh, estava
esperando. Desde que o Lorde Darth Vader havia enganado os
Noghri para que servissem perpetuamente ao Império, os
alienígenas crédulos de pele cinza tinham insistido em colocar sua
própria honra em jogo a cada missão. Ser retirados de uma tarefa,
especialmente uma daquela importância, seria como um tapa na
cara deles. Ou pior.
– Almirante? – ele murmurou. – Não tenho certeza...
– Discutiremos isso mais tarde, capitão – disse Thrawn. – Por
ora, tudo o que preciso saber é se mestre C’baoth está realmente
pronto para receber sua jovem Jedi. – Ele ergueu uma sobrancelha
preto-azulada. – Ou se ele prefere simplesmente discutir o assunto.
C’baoth deu um leve sorriso.
– Devo encarar isso como um desafio, Grão Almirante Thrawn?
– Encare como quiser – respondeu Thrawn. – Eu meramente
aponto que uma estratégia inteligente leva em consideração o custo
de uma operação antes de lançá-la. Os gêmeos de Organa Solo
devem nascer a qualquer dia destes, o que significa que você
deverá lidar com duas crianças além da própria Organa Solo. Se
você não tem certeza de que pode arcar com isso, seria melhor
adiar a operação.
Pellaeon se preparou para mais uma explosão de loucura
clônica. Mas, para sua surpresa, ela não veio.
– A única pergunta, Grão Almirante Thrawn – C’baoth disse
suavemente –, é se bebês recém-nascidos serão demais para seus
grupos de ataque imperiais.
– Muito bem – Thrawn assentiu. – Nosso encontro com o resto
da frota será em trinta minutos; você será transferido para a Caveira
nesse momento para ajudar no ataque deles em Woostri. Quando
retornar à Quimera – mais uma vez a sobrancelha foi erguida –
deveremos ter sua Jedi para você.
– Muito bem, Grão Almirante Thrawn – disse C’baoth. Ele se
endireitou novamente, cofiando sua barba branca comprida e
afastando-a de seu traje. – Mas eu o aviso: se fracassar comigo
desta vez, não ficará feliz com as consequências. – Virando-se,
cruzou a sala de comando e saiu pela porta.
– É sempre um grande prazer – Thrawn comentou baixinho
quando a porta se fechou.
Pellaeon forçou a boca a produzir saliva.
– Almirante, com todo o respeito...
– Você está preocupado com a promessa que fiz de retirar
Organa Solo do que é possivelmente o lugar mais seguro de um
território dominado pela Rebelião? – perguntou Thrawn.
– Na verdade sim, senhor – disse Pellaeon. – O Palácio
Imperial é considerado uma Fortaleza inexpugnável.
– Sim, de fato – concordou Thrawn. – Mas foi o imperador
quem o fez assim... e, como em muitas coisas, o imperador
guardava alguns segredinhos sobre o Palácio para si. E para alguns
de seus favoritos.
Pellaeon olhou para ele e franziu a testa. Segredos...
– Como entradas e saídas particulares? – ele arriscou.
Thrawn sorriu para ele.
– Precisamente. E agora que podemos finalmente garantir que
Organa Solo vai ficar no Palácio por um tempo, será lucrativo tentar
enviar um grupo de ataque.
– Mas não um grupo Noghri.
Thrawn abaixou os olhos para a coleção de esculturas
holográficas que os cercavam.
– Há algo de errado com os Noghri, capitão – ele disse
baixinho. – Ainda não sei o que é, mas sei que está ali. Posso sentir
a cada comunicação que tenho com os dinastas em Honoghr.
Pellaeon pensou naquela cena estranha de um mês atrás,
quando aquele enviado incomodamente defensivo dos dinastas
Noghri havia vindo a bordo com a notícia de que o suspeito de
traição Khabarakh escapara de sua custódia. Até agora, apesar de
seus melhores esforços, eles não haviam sido capazes de
recapturá-lo.
– Talvez ainda estejam inquietos com aquela questão de
Khabarakh – ele sugeriu.
– E deveriam estar mesmo – Thrawn disse friamente. – Mas é
mais que isso. E até que eu descubra mais, os Noghri
permanecerão sob suspeita.
Ele se inclinou para a frente e acionou dois controles no seu
painel. As esculturas holográficas se desvaneceram e foram
substituídas por um mapa tático da posição atual dos planos
maiores de batalha.
– Mas nesse momento temos questões mais importantes a
considerar – ele continuou, voltando a se recostar em sua cadeira. –
Primeiro, temos que desviar nosso mestre Jedi cada vez mais
arrogante dessa ideia equivocada de que ele tem o direito de
governar meu Império. Organa Solo e seus gêmeos são esse
desvio.
Pellaeon pensou em todas as outras tentativas de capturar
Organa Solo.
– E se o grupo fracassar?
– Existem contingências – Thrawn lhe assegurou. – Apesar do
poder e até mesmo da imprevisibilidade dele, mestre C’baoth ainda
pode ser manipulado.
Ele fez um gesto para o mapa tático.
– O que é ainda mais importante agora, entretanto, é que
asseguremos o impulso do nosso plano de batalha. Até agora, a
campanha está razoavelmente no prazo. A Rebelião tem resistido
com mais firmeza do que o esperado nos setores de Farrfin e
Dolomar, mas em outras partes os sistemas-alvo de modo geral têm
se curvado ao poder imperial.
– Eu ainda não daria nenhum desses ganhos como garantido –
ressaltou Pellaeon.
– Precisamente – assentiu Thrawn. – Cada um deles depende
de uma presença imperial forte e altamente visível. E para isso é
vital que mantenhamos nosso suprimento de clones.
Ele fez uma pausa. Pellaeon olhou para o mapa tático, com sua
mente a toda enquanto buscava a resposta que Thrawn estava
obviamente esperando que desse. Os cilindros de clonagem
Spaarti, escondidos por décadas no armazém particular do
imperador em Wayland, estavam tão seguros quanto qualquer coisa
na galáxia poderia estar. Enterrados sob uma montanha, protegidos
por uma guarnição do Império e cercado por nativos hostis, sua
própria existência era desconhecida por qualquer um, a não ser os
principais comandantes do Império.
Ele gelou. Principais comandantes do Império; e talvez...
– Mara Jade – ele disse. – Ela está convalescendo em
Coruscant. Teria ficado sabendo a respeito do armazém?
– Esta de fato é a questão – concordou Thrawn. – Há uma boa
chance de que não: eu conhecia muitos dos segredos do imperador,
e ainda assim precisei me esforçar muito para encontrar Wayland.
Mas não é um risco que podemos nos dar ao luxo de correr.
Pellaeon assentiu, reprimindo um estremecimento. Ele andava
se perguntando por que o Grão Almirante havia escolhido um
esquadrão de Inteligência para aquela missão. Ao contrário de
unidades de ataque padrão, unidades de Inteligência eram treinadas
em métodos não militares como assassinato...
– Um único grupo cuidará de ambas as missões, senhor, ou o
senhor enviará dois?
– Um grupo deverá ser adequado – disse Thrawn. – Os dois
objetivos estão suficientemente interligados para fazer com que isso
seja razoável. E neutralizar Jade não significa necessariamente
matá-la.
Pellaeon franziu a testa. Mas antes que ele pudesse perguntar
o que Thrawn queria dizer com aquilo, o Grão Almirante tocou seu
painel e o holo tático foi substituído por um mapa do setor de Orus.
– Nesse meio-tempo, acho que está na hora de ressaltarmos a
importância de Calius saj Leeloo para nossos inimigos. Já temos um
relatório adicional do governador Staffa?
– Sim, senhor – disse Pellaeon, puxando-o em seu datapad. –
Skywalker partiu ao mesmo tempo que a nave auxiliar de despiste, e
presume-se que ele tenha seguido o vetor dela. Em caso afirmativo,
alcançará o sistema de Poderis em aproximadamente trinta horas.
– Excelente – disse Thrawn. – Ele sem dúvida se reportará a
Coruscant antes de chegar a Poderis. Seu subsequente
desaparecimento deverá ajudar muito a convencê-los de que
encontraram o canal para nosso tráfego de clones.
– Sim, senhor – disse Pellaeon, guardando para si mesmo suas
dúvidas quanto às chances de realmente conseguirem fazer com
que Skywalker desaparecesse. Presumivelmente, Thrawn sabia o
que estava fazendo. – Mais uma coisa, senhor. O relatório original
de Staffa tinha um segundo anexo, que veio sob um código de
encriptação da Inteligência.
– De seu assessor, Fingal – assentiu Thrawn. – Um homem
com as lealdades volúveis do governador Staffa praticamente nos
implora para darmos a ele um cargo discreto de vigilante. Houve
alguma discrepância com o relatório do governador?
– Apenas uma, senhor. O anexo fornecia uma descrição
completa do contato de Skywalker, um homem que Staffa havia
indicado como um de seus próprios agentes. A descrição de Fingal
sugere fortemente que o homem na verdade seja Talon Karrde.
Thrawn soltou o ar pensativo.
– De fato. Fingal sugeriu alguma explicação para a presença de
Karrde em Calius?
– Segundo ele, há indicações de que o governador Staffa tem
um acordo comercial privado com Karrde há vários anos – disse
Pellaeon. – Fingal relata que ele ia mandar prender o homem para
interrogatório, mas não conseguiu achar um jeito de fazer isso que
não alterasse Skywalker.
– Sim – murmurou Thrawn. – Bem... o que está feito está feito.
E se contrabando foi tudo no que ele se envolveu, não houve
prejuízo. Mesmo assim, não podemos ter contrabandistas
passeando aleatoriamente pelos cenários que montamos para só
descobri-los por acidente. E Karrde já provou que pode causar
muitos problemas.
Por um momento Thrawn ficou olhando em silêncio o mapa do
setor de Orus. Então, levantou a cabeça e olhou para Pellaeon.
– Mas por ora temos outros assuntos para cuidar. Prepare um
curso para o sistema de Poderis, capitão; eu quero a Quimera lá em
quarenta horas. – Ele deu um leve sorriso. – E faça o comandante
da guarnição saber que espero que ele tenha preparado uma
recepção adequada para quando chegarmos. Talvez em dois ou três
dias tenhamos um presente inesperado para dar ao nosso amado
mestre Jedi.
– Sim, senhor. – Pellaeon hesitou. – Almirante, o que
acontecerá se conseguirmos Organa Solo e seus gêmeos para
C’baoth e ele for capaz de transformá-los do jeito que acredita
poder? Teríamos que lidar com quatro deles em vez de apenas um.
Cinco, se formos capazes de capturar Skywalker em Poderis.
– Não há por que se preocupar – disse Thrawn, balançando a
cabeça. – Transformar Organa Solo ou Skywalker demandaria muito
tempo e esforço de C’baoth. Levaria ainda mais tempo até que os
bebês crescessem o bastante para constituírem qualquer perigo
para nós, não importa o que ele fizer. Muito antes que qualquer uma
dessas coisas aconteça – os olhos de Thrawn reluziram – teremos
chegado a um acordo adequado com nosso mestre Jedi sobre a
divisão de poderes do Império.
Pellaeon engoliu em seco.
– Entendido, senhor – ele conseguiu dizer.
– Ótimo. Então você está dispensado, capitão. Volte à ponte.
– Sim, senhor. – Pellaeon se virou e atravessou o aposento
sentindo os músculos da garganta se contraírem. Sim, ele havia
entendido. Thrawn entraria num acordo com C’baoth... ou mandaria
matar o mestre Jedi.
Se conseguisse. Pellaeon decidiu que não era um confronto no
qual gostaria de apostar.
Nem de estar perto quando acontecesse, para falar a verdade.
Poderis fazia parte daquele seleto grupo de mundos geralmente
mencionados nas listas como “marginais”: planetas que haviam
permanecido colonizados não devido a recursos valiosos ou
localização conveniente, mas unicamente devido ao espírito teimoso
de seus colonos. Poderis não era o tipo de lugar onde viajantes
geralmente se preocupavam em parar – o ciclo rotacional era de
desorientadoras dez horas; sua ecologia de terras baixas e
pantanosas havia confinado efetivamente os colonos a um vasto
arquipélago de mesas, e a inclinação axial quase perpendicular
criava ventos de velocidades tremendas toda primavera e outono.
Seu povo era duro e independente, que apenas tolerava visitantes e
tinha um longo histórico de ignorar a política da galáxia.
Todos esses fatores faziam do planeta um ponto de
transferência ideal para o novo tráfego de clones do Império. E o
lugar ideal para esse mesmo Império montar uma armadilha.
O homem que seguia Luke era baixo e de aspecto comum, o
tipo de pessoa que se confundiria com o ambiente em qualquer
lugar. Ele também era bom no seu trabalho, e suas habilidades
implicavam uma longa experiência na Inteligência Imperial. Mas
toda essa experiência naturalmente não incluía seguir cavaleiros
Jedi. Luke havia sentido sua presença quase no momento em que o
homem começara a segui-lo, e tinha sido capaz de visualizá-lo no
meio da multidão um minuto depois.
A única questão ainda não respondida era o que fazer a
respeito dele.
– R2? – Luke chamou baixinho no comlink que havia enfiado
discretamente na faixa de pescoço do seu manto com capuz. –
Temos companhia. Provavelmente gente do Império.
O comlink emitiu um suave trinado de preocupação,
acompanhado por algo que era obviamente uma pergunta.
– Não há nada que você possa fazer – Luke disse, imaginando
o conteúdo da pergunta e desejando que 3PO estivesse lá para
traduzir. Normalmente ele conseguia captar o que R2 estava
dizendo pelo contexto, mas numa situação daquelas o contexto
poderia não ser o bastante. – Há alguém por aí espiando o
cargueiro? Ou ao redor do campo de pouso?
R2 emitiu um som que era uma definitiva negação.
– Bem, eles estarão aí daqui a pouco – Luke o avisou, fazendo
uma pausa para olhar a vitrine de uma loja. Seu perseguidor, ele
reparou, avançou mais alguns passos antes de encontrar uma
desculpa para também parar. De fato, um profissional. – Execute o
máximo que puder dos procedimentos de pré-voo sem chamar a
atenção. Vamos partir assim que eu chegar aí.
O droide chilreou, concordando. Levando a mão ao pescoço,
Luke desligou o comlink e vasculhou rapidamente a área. A
prioridade era despistar seu perseguidor antes que os imperiais
fizessem mais algum movimento declarado em sua direção. E, para
isso, ele precisava de algum tipo de distração.
Cinquenta metros à frente na multidão estava o que parecia ser
sua melhor oportunidade: outro homem andando a passos largos na
rua, trajando um manto de corte e cor semelhantes ao de Luke.
Apertando cuidadosamente o passo, tentando não parecer
apressado, Luke foi na sua direção.
A outra figura vestindo manto continuou até o cruzamento em
forma de T mais à frente e virou a esquina à sua direita. Luke se
apressou um pouco mais, sentindo ao fazer isso a suspeita de seu
perseguidor de que havia sido avistado. Resistindo à necessidade
de sair correndo logo de uma vez, Luke virou a esquina num passo
tranquilo.
Era uma rua como a maioria das outras que ele já tinha visto na
cidade: ampla, pavimentada com rocha, razoavelmente cheia de
gente e ladeada por prédios de granito. Ele usou automaticamente a
Força, vasculhando a região ao seu redor e o mais distante que
podia sentir à sua frente...
E prendeu a respiração subitamente. Logo adiante, ainda longe,
mas numa distância detectável, havia pequenos bolsões de trevas
onde seus sentidos Jedi não conseguiam ler absolutamente nada.
Como se a Força que transportava as informações para ele tivesse
de algum modo cessado de existir... ou estivesse sendo bloqueada.
O que significava que aquela não era uma emboscada comum,
para um espião comum da Nova República. Os imperiais sabiam
que ele estava ali e tinham ido até Poderis equipados com ysalamiri.
E, a menos que ele fizesse alguma coisa rapidamente, eles
iriam capturá-lo.
Ele voltou a olhar para os edifícios ao seu redor. Em sua
maioria eram estruturas baixas, de dois andares, com fachadas
texturizadas e parapeitos com telhados decorativos. Os prédios
imediatamente à sua direita eram construídos numa única fileira
sólida; logo do outro lado da rua, à sua esquerda, o primeiro edifício
depois do cruzamento em T tinha uma fachada torta, que deixava
uma fenda estreita entre ele e o prédio vizinho. Não fornecia muita
cobertura – e a distância em si já seria complicada –, mas era tudo o
que ele tinha. Atravessando a rua apressado, em parte esperando
que a armadilha se fechasse sobre ele antes que chegasse lá,
enfiou-se dentro da abertura. Dobrando os joelhos e deixando a
Força fluir para seus músculos, ele saltou.
Quase não conseguiu. O parapeito logo acima dele era liso e
inclinado, e por um segundo ele ficou pendurado no ar enquanto
seus dedos lutavam para se segurar. Então ele achou um ponto de
apoio, e com uma dose extra de esforço puxou o corpo para cima do
telhado, onde caiu e ficou deitado.
Bem a tempo. No instante em que ele olhou pela beirada do
parapeito, viu seu perseguidor virar a esquina correndo,
abandonando todos os esforços para ser sutil. Empurrando quem
estava no caminho, ele disse algo inaudível no comlink na sua
mão...
E do cruzamento a uma quadra de distância, uma fileira de
stormtroopers de armadura branca apareceu. Rifles de raios
erguidos na altura do peito, e formas escuras e alongadas dos
ysalamiri penduradas em estruturas nutrientes nos ombros como
uma mochila, eles formaram um cordão fechando o fim da rua.
Era uma rede bem-planejada e bem-executada; e Luke tinha
talvez três minutos para percorrer o telhado e descer antes que
percebessem que seu peixe havia escapulido dela. Afastando-se
devagar da beirada, ele virou a cabeça na direção do outro lado do
telhado.
O telhado não tinha outro lado. A pouco mais de sessenta
centímetros de onde ele estava, o telhado bruscamente se tornava
uma parede nua que fazia um ângulo bem inclinado para baixo por
cerca de cem metros, estendendo-se em ambas as direções até
onde Luke podia ver. Além de sua borda inferior, não havia nada a
não ser as névoas distantes das terras baixas abaixo da mesa.
Ele havia feito um cálculo errado, possivelmente fatal.
Preocupado com o homem que o seguia, ele ignorara para o fato de
que seu caminho o tinha levado até a borda exterior da mesa. A
parede inclinada ao seu lado era uma das barreiras-escudo maciças
projetadas para desviar os violentos ventos sazonais do planeta, de
modo a fazer com que se espalhassem sobre a cidade sem
provocar estrago.
Luke havia fugido da rede do Império apenas para descobrir
que literalmente não havia lugar nenhum aonde ir.
– Ótimo – ele resmungou baixinho, voltando devagar ao
parapeito e olhando para a rua. Mais stormtroopers haviam se
juntado ao primeiro esquadrão agora, e estavam começando a
atravessar a multidão de gente atordoada e apanhada na armadilha;
atrás deles, dois esquadrões vindos da outra direção do cruzamento
em T haviam se mudado para selar a parte de trás da rua. O ex-
perseguidor de Luke, que tinha agora uma arma de raios na mão,
estava abrindo caminho empurrando a multidão, indo na direção da
outra figura trajando manto que Luke havia notado antes.
A outra figura de manto...
Luke mordeu o lábio. Aquele havia sido um truque um tanto
inamistoso de se aplicar em um passante completamente inocente.
Por outro lado, os imperiais obviamente sabiam a quem estavam
procurando e também o queriam vivo. Ele sabia que ter posto o
homem lá embaixo em perigo de morte era um comportamento
inaceitável para um Jedi.
Mas Luke só podia torcer para que apenas incomodá-lo não se
enquadrasse na mesma categoria.
Rilhando os dentes, ele usou a Força e arrancou a arma de
raios da mão do perseguidor. Fazendo-a rodopiar baixa sobre as
cabeças da multidão, deixou-a cair bem na mão da outra figura de
manto.
O perseguidor gritou para os stormtroopers; mas o que havia
começado como um brado de triunfo logo se transformou num grito
de alerta. Concentrando a Força com todo seu domínio, Luke virou a
arma de raios na direção de seu dono anterior e disparou.
Disparou com segurança por cima da multidão, claro – não
havia como ele mirar com precisão suficiente para atingir o imperial,
mesmo que quisesse. Mas mesmo um disparo próximo foi o
bastante para fazer os stormtroopers se moverem. Os imperiais que
estavam conferindo rostos e identidades abandonaram sua tarefa
para abrir caminho pela multidão na direção do homem de manto,
enquanto os que guardavam as extremidades da rua corriam para
assumir posições de apoio.
Como o esperado, isso foi demais para o homem de manto.
Livrando-se da arma que inexplicavelmente havia se grudado à sua
mão, ele se esgueirou por entre os transeuntes paralisados ao seu
lado e sumiu num beco estreito.
Luke não esperou para ver o que ia acontecer. No minuto em
que alguém desse uma boa olhada no rosto do homem em fuga, a
distração acabaria, e ele tinha de sair daquele telhado e estar a
caminho do campo de pouso antes que isso acontecesse.
Deslizando até a beirada estreita, ele olhou para baixo.
Não parecia promissor. Construída para suportar ventos de até
duzentos quilômetros por hora, era perfeitamente lisa, sem
nenhuma protuberância que pudesse ser apanhada em correntes
turbulentas. Tampouco havia janela, porta de serviço ou qualquer
outra abertura visível. Isso, pelo menos, não deveria ser problema;
ele podia cortar para si mesmo uma portinhola improvisada com seu
sabre de luz se fosse necessário. A verdadeira questão era como
sair do alcance da armadilha do Império antes que eles
começassem a caçá-lo para valer.
Deu uma olhada para trás. Tinha que ser rápido. Os pontinhos
distantes de airspeeders já haviam começado a aparecer sobre os
prédios baixos da cidade, desde a direção da área de pouso oficial
até o outro lado da cidade.
Ele não podia pular de volta para a rua sem atrair atenção
indesejada. Também não podia se arrastar pela estreita beirada
superior da barreira-escudo, pelo menos não com rapidez suficiente
para sair de vista antes que os airspeeders chegassem. Só lhe
restava uma direção. Para baixo.
Mas não necessariamente direto para baixo...
Forçou a vista para olhar para o céu. O sol de Poderis estava
quase no horizonte, movendo-se de forma quase visível ao fim de
seu circuito de dez horas. Naquele exato momento sua luz brilhava
direto na altura dos olhos dos pilotos de airspeeder que se
aproximavam, mas em cinco minutos ela estaria completamente
abaixo do horizonte, tornando possível aos observadores enxergá-
lo. Além disso, a lâmina de seu sabre de luz seria instantaneamente
visível na escuridão do crepúsculo.
Era agora ou nunca.
Puxando seu sabre de luz de baixo do manto, Luke o ativou,
certificando-se de manter a lâmina verde brilhante fora da vista dos
airspeeders que se aproximavam. Usando a ponta, ele
cuidadosamente fez um corte raso à direita e alguns graus abaixo
da barreira-escudo inclinada. Seu manto era feito de um material
relativamente fino, e ele só levou um segundo para rasgar a manga
esquerda e enrolá-la nas pontas dos dedos da mão esquerda. Os
dedos protegidos couberam facilmente dentro da fenda que ele
havia criado, deixando espaço de sobra para que ele conseguisse
deslizá-los ao longo dela. Segurando com força, ele posicionou a
ponta da lâmina de seu sabre de luz na extremidade da fenda e
começou a deslizar pela barreira. Apoiado nas pontas dos dedos,
com o sabre de luz estendido em sua mão direita abrindo caminho
enquanto ele seguia em frente, Luke deslizou rapidamente para o
lado e abaixo da barreira-escudo.
Foi uma sensação ao mesmo tempo fantástica e aterradora. As
memórias voltavam à sua mente num turbilhão: o vento chicoteando
seu corpo enquanto ele caía pelo núcleo central da Cidade das
Nuvens de Bespin, se pendurando literalmente pelas pontas dos
dedos minutos depois, sob a cidade; lembrou-se também de
quando, deitado exausto no chão da segunda Estrela da Morte,
sentiu através de sua dor a fúria indefesa do imperador quando
Vader o atirou para a morte. Sob seu peito e suas pernas, a
superfície lisa da barreira-escudo deslizava, marcando a rápida
aproximação da beirada e do espaço vazio mais além...
Levantando a cabeça e piscando sem parar por causa do vento
que esbofeteava seu rosto, ele olhou para trás. O abismo mortal já
era visível, vindo em sua direção ao que parecia uma velocidade
perigosa. Ela estava chegando cada vez mais perto... e então, no
último segundo, ele mudou o ângulo de seu sabre de luz. O caminho
de descida da guia formada pelos seus dedos se deslocou para a
horizontal, e poucos segundos depois ele parou suavemente.
Por um momento Luke simplesmente ficou pendurado ali,
balançando precariamente por uma das mãos enquanto recobrava a
respiração e voltava a controlar as batidas do coração. Acima dele,
a barreira refletia os últimos raios do sol poente e era possível ver a
fenda que ele havia acabado de cortar fazendo um ângulo para cima
e para a esquerda, por mais ou menos por uns cem metros, ele
estimou.
Com sorte, longe o bastante para estar fora do alcance da
armadilha do Império.
Era isso o que descobriria muito em breve.
Atrás dele, o sol mergulhava abaixo do horizonte, apagando a
fina linha de sua passagem. Movendo-se com cuidado, e tentando
não deslocar seus dedos já tensionados, ele começou a abrir um
buraco na barreira-escudo.

– Relatório do comandante dos stormtroopers, almirante –


chamou Pellaeon, fazendo cara de desagrado ao lê-lo na tela de
seu comunicador. – Skywalker parece não estar dentro do cordão.
– Não estou surpreso – Thrawn disse sombrio, fuzilando suas
telas com o olhar. – Avisei repetidas vezes a Inteligência para que
não subestimasse o alcance das habilidades sensitivas de
Skywalker. Obviamente, não me levaram a sério.
Pellaeon engoliu em seco.
– Sim, senhor. Mas sabemos que ele estava lá, e não poderia ir
muito longe. Os stormtroopers estabeleceram um cordão secundário
e iniciaram uma busca prédio a prédio.
Thrawn respirou fundo e depois soltou o ar.
– Não – ele disse, a voz novamente neutra. – Ele não entrou
em nenhum dos prédios. Não Skywalker. Aquela pequena distração
com o chamariz e a arma de raios... – Olhou para Pellaeon. – O alto,
capitão. Ele subiu nos telhados.
– Os observadores já estão vasculhando aquela direção – disse
Pellaeon. – Se ele estiver lá em cima, eles o avistarão.
– Ótimo. – Thrawn acionou um botão no seu console de
comando, convocando um mapa holográfico daquela seção da
mesa. – E quanto à barreira-escudo na borda oeste do cordão? Ela
pode ser escalada?
– Nosso pessoal aqui diz que não – Pellaeon balançou a
cabeça. – Muito lisa e de ângulo muito agudo, sem borda ou outra
barreira na parte inferior. Se Skywalker subiu naquele lado da rua,
ele ainda está por lá. Ou na parte inferior da mesa.
– Talvez – disse Thrawn. – Ordene a um dos observadores que
vasculhem aquela área mesmo assim. E a nave de Skywalker?
– A Inteligência ainda está tentando identificar qual é a dele –
admitiu Pellaeon. – Há um problema com os registros. Devemos ter
a resposta em mais alguns minutos.
– Minutos que não temos mais, graças ao descuido do
perseguidor deles – Thrawn disse entre dentes. – Ele será
rebaixado um grau.
– Sim, senhor – disse Pellaeon, registrando a ordem. Uma
punição um tanto severa, mas poderia ter sido bem pior. O falecido
Lorde Vader teria estrangulado o homem sumariamente. – O campo
de pouso está cercado, é claro.
Thrawn esfregou o queixo pensativo.
– Provavelmente é perda de tempo – ele disse devagar. – Por
outro lado...
Virou a cabeça para olhar o planeta girando lentamente pela
escotilha.
– Mande todos saírem, capitão – ele ordenou. – Todos exceto
os clones. Deixe-os de guarda perto das mais prováveis candidatas
à nave Skywalker.
Pellaeon piscou várias vezes.
– Senhor?
Thrawn se virou para encará-lo; havia um brilho novo naqueles
olhos vermelhos reluzentes.
– O cordão do campo de pouso não tem ysalamiri suficientes
para deter um Jedi, capitão. Então não vamos nos dar ao trabalho
de tentar. Vamos deixar que ele entre em sua nave rumo ao espaço,
e pegá-lo com a Quimera.
– Sim, senhor – disse Pellaeon, sentindo a testa franzir. – Mas
então...
– Por que deixar os clones? – Thrawn terminou a frase por ele.
– Porque, embora Skywalker seja valioso para nós, o mesmo não se
aplica ao seu droide astromec. – Ele deu um leve sorriso. – A
menos, claro, que os esforços heroicos de Skywalker para fugir de
Poderis o convençam de que o planeta é de fato o conduto principal
do nosso tráfico de clones.
– Ah – disse Pellaeon, finalmente compreendendo. – Nesse
caso, encontramos um meio de permitir que o droide escape de
volta para a Rebelião?
– Exatamente – Thrawn fez um gesto para o painel de Pellaeon.
– Ordens, capitão.
– Sim, senhor. – Pellaeon voltou para seu painel, sentindo um
cauteloso frêmito de empolgação ao começar a transmitir as ordens
do Grão Almirante. Talvez agora Skywalker finalmente caísse nas
mãos deles.

R2 estava apitando nervoso sem parar quando Luke finalmente


entrou no pequeno cargueiro e selou a porta atrás de si.
– Tudo pronto para partir? – ele gritou para o droide por cima do
ombro enquanto corria para o nicho da cabine.
R2 trinou de volta uma afirmativa. Luke pulou para o assento do
piloto, dando uma olhada rápida nos instrumentos enquanto punha o
arnês.
– Ok – ele gritou de volta. – Lá vamos nós.
Jogando potência para os repulsores, Luke tirou o cargueiro do
solo, virando-o com força para estibordo. Um par de canhoneiras
Skipray subiu junto com ele, avançando em formação conjunta de
perseguição enquanto ele se dirigia para a borda da mesa.
– Fique de olho naqueles Skiprays, R2 – Luke gritou, dividindo
a atenção entre os limites da cidade, que rapidamente se
aproximavam, e o espaço aéreo acima deles. O combate com
aqueles soldados clones que estavam protegendo o campo de
pouso havia sido intenso, mas rápido demais para ser realista. Ou o
Império havia deixado alguém totalmente incompetente encarregado
da guarda, ou eles o haviam deixado chegar até sua nave de
propósito, conduzindo-o cuidadosamente para a verdadeira
armadilha...
A borda da mesa passou rapidamente por baixo dele. Luke deu
uma olhada rápida na tela de popa para confirmar que estava fora
da cidade, e então acionou o drive subluz principal.
O cargueiro disparou para o alto como um mynock escaldado,
deixando para trás os Skiprays que o perseguiam. As ordens com
tom oficial para que ele parasse que até então estavam soando no
painel se transformaram num grito agudo de surpresa quando Luke
estendeu a mão e desligou o comunicador.
– R2? Você está bem, aí atrás?
O droide trinou uma afirmativa, e uma questão rolou pela tela
do computador de Luke.
– Eles eram clones, sim – ele confirmou muito sério, sentindo
um estremecimento desconfortável percorrer seu corpo. A estranha
aura que parecia cercar os novos humanos duplicados do Império
era duas vezes mais assustadora quando sentida de perto. – Mas
vou lhe dizer mais uma coisa – ele acrescentou para R2. – Os
imperiais sabiam que era a mim que estavam caçando. Aqueles
stormtroopers carregavam ysalamiri nas costas.
R2 assoviou pensativo, e emitiu um gorgolejo questionador.
– Certo: aquela questão da fonte Delta – concordou Luke, lendo
o comentário do droide. – Leia me disse que, se não
conseguíssemos acabar logo com o vazamento, ela iria recomendar
que transferíssemos as operações do Palácio Imperial. Talvez até
mesmo para fora de Coruscant.
Mas, se a fonte Delta fosse um espião humano ou alien em vez
de algum sistema de escuta indetectável no próprio Palácio, de
nada adiantaria se mudarem. A julgar pelo silêncio um tanto
intencional de R2, Luke imaginou que o droide estivesse pensando
o mesmo.
O horizonte distante, que mal podia ser visto por causa da
escuridão do planeta contra um céu também escuro, porém cheio de
estrelas, começava agora a mostrar certa curvatura.
– Melhor começar a calcular nosso salto para a velocidade da
luz, R2 – ele gritou por cima do ombro. – Provavelmente vamos ter
que sair daqui depressa.
Ele recebeu um bip de confirmação do droide e voltou a
atenção para o horizonte à frente. Sabia que uma frota inteira de
Star Destroiers podia estar espreitando abaixo da linha daquele
horizonte, fora do alcance de seus instrumentos, esperando que ele
se afastasse demais de qualquer cobertura possível para lançar seu
ataque.
Fora do alcance dos instrumentos, mas talvez não fora do
alcance de seus sentidos Jedi. Quase fechando totalmente os olhos,
inundando a mente de tranquilidade, ele usou a Força para ampliar
seus sentidos...
Ele conseguiu detectá-los apenas um pouco antes que o trinado
assustado de alerta de R2 estilhaçasse o ar. Era mesmo um Star
Destroier Imperial; mas não estava cortando sua trajetória como
Luke havia esperado. Em vez disso, estava vindo por trás, em uma
órbita forçada no topo da atmosfera que tinha permitido que ele
ganhasse velocidade sem sacrificar as vantagens da proteção do
planeta.
– Segure firme! – gritou Luke, jogando potência de emergência
no drive. Mas era um gesto inútil, e tanto ele quanto os imperiais
sabiam disso. O Star Destroier estava se aproximando depressa,
com seus raios tratores já ativados e o rastreando. Em poucos
segundos, eles o pegariam.
Ou, pelo menos, iriam pegar o cargueiro...
Luke soltou o arnês enquanto abria um painel oculto e apertava
os três botões escondidos ali. O primeiro acionou o piloto
automático limitado; o segundo destravou o lançador de torpedos de
prótons de proa e fez com que ele começasse a disparar cegamente
na direção do Star Destroier.
O terceiro ativou a autodestruição do cargueiro.
Seu X-wing estava já virado com o nariz para frente na área de
carga logo atrás do nicho da cabine, e parecia um estranho animal
metálico espiando com o focinho para fora da toca. Luke saltou para
a tampa aberta, quase rachando a cabeça no teto baixo do
cargueiro. R2, já confortavelmente instalado no soquete para
droides do X-wing, estava apitando baixinho para si mesmo
enquanto passava os sistemas do caça estelar de modo de espera
para prontidão total. Enquanto Luke colocava o arnês e seu
capacete de voo, o droide sinalizou que já estavam prontos para
voar.
– Ok – Luke respondeu, repousando a mão esquerda no botão
especial que havia sido acrescentado ao seu painel de controle. –
Se queremos que isso funcione, vamos ter que calcular o tempo
direitinho. Prepare-se.
Mais uma vez ele fechou os olhos, deixando a Força fluir pelos
seus sentidos. Antes, em sua primeira tentativa de localizar o mestre
Jedi C’baoth, ele havia estado na mesma situação com os imperiais:
um X-wing contra um Star Destroier Imperial. Aquilo também havia
sido uma emboscada, embora ele não tivesse percebido até que a
aliança profana de C’baoth com o Império foi revelada. Naquela
batalha, habilidade, sorte e a Força o haviam salvo.
Desta vez, se os especialistas em Coruscant tivessem feito seu
trabalho corretamente, a sorte já estava embutida.

Com sua mente profundamente imersa na Força, ele sentiu o


travamento do raio trator um segundo antes que ele realmente
acontecesse. Sua mão apertou o botão; e, no instante em que o
cargueiro estremeceu sob o domínio poderoso do raio trator, a parte
da frente explodiu em uma nuvem de lascas de metal. Um instante
depois, impulsionado por um acelerador de explosão montado no
convés, o X-wing disparou entre os destroços reluzentes. Por um
longo e angustiante momento pareceu que o raio trator seria capaz
de manter seu controle apesar da névoa de partículas que
obscurecia a visão. Então, de repente, o controle enfraqueceu e
desapareceu.
– Estamos livres! – Luke gritou de volta para R2, rolando o X-
wing e indo com tudo para o espaço profundo. – Vou acionar
manobras evasivas. Segure firme.
Ele voltou a rolar o X-wing, e, ao fazer isso, um par de clarões
verdes brilhantes passou disparando pelo tampo de transparaço. Já
que ele havia ultrapassado o alcance dos raios tratores, os imperiais
haviam aparentemente decidido atirar para derrubá-lo. Mais um
clarão de fogo verde passou raspando, e R2 soltou um grito quando
alguma coisa queimou os defletores e bateu na parte inferior do X-
wing. Recorrendo mais uma vez à Força, Luke deixou que ela
guiasse suas mãos nos controles...
E então, quase sem aviso, chegou a hora. Estendendo a mão
para a alavanca de hiperdrive, Luke puxou-a para trás.

Com um clarão de pseudomovimento, o X-wing desapareceu na


segurança do hiperespaço; as baterias de turbolaser da Quimera
continuaram disparando por um segundo onde ele havia estado.
Então elas silenciaram, e Pellaeon soltou o ar lentamente, com
medo de olhar para a estação de comando de Thrawn. Era a
segunda vez que Skywalker havia escapado daquele tipo de
armadilha, e, da última vez, um homem havia morrido por causa
desse fracasso.
O resto da tripulação da ponte também não esquecera disso.
No frágil silêncio, o leve roçar de tecido contra a cadeira foi
claramente audível quando Thrawn se levantou.
– Bem – disse o Grão Almirante, com a voz estranhamente
calma. – Devemos dar aos rebeldes todos os créditos pela
engenhosidade. Já vi esse truque antes, mas nunca executado de
forma tão eficiente.
– Sim, senhor – disse Pellaeon, tentando sem sucesso
esconder a tensão na voz.
Pelo canto do olho ele pôde ver Thrawn olhando para ele.
– Descansar, capitão – o Grão Almirante disse de forma
tranquilizadora. – Skywalker teria sido um interessante pacote para
darmos de presente a mestre C’baoth, mas sua fuga não é motivo
para grandes preocupações. O principal objetivo desse exercício era
convencer a Rebelião de que eles haviam descoberto o conduto
para os clones. Esse objetivo foi atingido.
O aperto que Pellaeon sentia no peito começou a diminuir. Se o
Grão Almirante não estava zangado...
– Entretanto, isso não significa – continuou Thrawn – que as
ações da tripulação da Quimera devam ser ignoradas. Venha
comigo, capitão.
Pellaeon se levantou enquanto o aperto retornava ao seu peito.
– Sim, senhor.
Thrawn foi na frente até a escada de popa e desceu para o
poço da tripulação de estibordo. Passou pelos tripulantes em seus
consoles, passou pelos oficiais parados em pé rígidos ao lado deles
e parou na estação de controle dos raios tratores de estibordo.
– Seu nome – ele disse baixinho para o jovem que estava ali
em pé em posição de sentido.
– Alferes Mithel – disse o outro, com o rosto pálido porém
composto. A expressão de um homem que estava encarando sua
morte.
– Diga-me o que aconteceu, alferes.
Mithel engoliu em seco.
– Senhor, eu havia acabado de estabelecer travamento bem-
sucedido no cargueiro quando ele explodiu num aglomerado de
partículas reflexivas. O sistema de alvo tentou travar em todas ao
mesmo tempo e entrou em loop negativo.
– E o que você fez?
– Eu... senhor, eu sabia que se esperasse que as partículas se
dissipassem normalmente, o caça-alvo sairia do alcance. Então
tentei dissipá-las eu mesmo deslocando o raio trator para modo de
dispersão.
– Não funcionou.
Um suspiro silencioso escapou pelos lábios de Mithel.
– Não, senhor. O sistema de travamento de alvo não conseguiu
dar conta. Ele congelou completamente.
– Sim. – Thrawn inclinou levemente a cabeça. – Você teve
alguns minutos agora para refletir sobre suas ações, alferes.
Consegue pensar em algo que pudesse ter feito em vez do que fez?
O lábio do jovem tremeu.
– Não, senhor. Desculpe, mas não consigo. Não me lembro de
nada no manual que tenha a ver com este tipo de situação.
Thrawn assentiu.
– Correto – ele concordou. – Não há nada. Diversos métodos
têm sido sugeridos ao longo das últimas décadas para contra-atacar
a artimanha do sudário de ocultação, e nenhum deles jamais se
mostrou prático. A sua tentativa foi uma das mais inovadoras,
particularmente se considerarmos o pouco tempo disponível para
criá-la. O fato de que ela fracassou de modo algum diminui isso.
Uma expressão de descrença cautelosa começou a tomar
conta do rosto de Mithel.
– Senhor?
– O Império precisa de mentes rápidas e criativas, alferes –
disse Thrawn. – Você acaba de ser promovido a tenente, e sua
primeira missão é encontrar um meio de penetrar o sudário de
ocultação. Depois desse sucesso aqui, a Rebelião pode voltar a
tentar essa artimanha.
– Sim, senhor – Mithel disse baixinho, soltando o ar, a cor
começando a voltar ao seu rosto. – Eu... obrigado, senhor.
– Parabéns, tenente Mithel. – Thrawn o cumprimento com a
cabeça, e depois se voltou para Pellaeon. – A ponte é sua, capitão.
Retome nosso voo conforme o cronograma. Estarei na minha sala
de comando se precisar de mim.
– Sim, senhor – Pellaeon conseguiu dizer.
E ficou ali parado ao lado do recém-promovido tenente,
sentindo o espanto e a admiração percorrerem a ponte enquanto ele
via Thrawn sair. Ontem, a tripulação da Quimera havia confiado e
respeitado o Grão Almirante. Depois de hoje, eles estariam
dispostos a morrer por ele.
E, pela primeira vez em cinco anos, Pellaeon finalmente
percebeu no nível mais profundo de seu ser que o velho Império
havia acabado. O novo Império, com o Grão Almirante Thrawn no
seu comando, havia nascido.

O X-wing pendia suspenso no negror do espaço, a anos-luz de


distância de qualquer massa sólida maior que um grão de poeira.
Era, pensou Luke, quase um replay daquela outra batalha com um
Star Destroier, aquela que o havia deixado perdido no espaço
profundo e acabara por levá-lo a Talon Karrde, Mara Jade e o
planeta Myrkr.
Felizmente, a aparência era a única coisa que tinham em
comum. Em grande parte.
Do soquete para droides atrás dele veio um trinado nervoso.
– O que é que há, R2, relaxe – Luke tentou acalmá-lo. – Não é
assim tão ruim. Não poderíamos ter nem chegado perto de
Coruscant sem reabastecer, mesmo. Apenas vamos ter de fazer
isso um pouco antes, é só.
A resposta foi uma espécie de grunhido indignado.
– Eu estou levando você a sério, R2 – Luke disse com
paciência, acionando a listagem na sua tela de navegação e
transmitindo-a para o droide. – Veja; aqui estão todos os lugares até
os quais podemos ir com metade de nossas células de energia
primárias estouradas. Está vendo?
Por um momento o droide pareceu examinar a lista, e Luke
aproveitou a oportunidade para dar outra olhada nela. Havia muitas
opções ali, era verdade. O problema era que a maior parte delas
não eram lugares particularmente saudáveis para um X-wing
solitário da Nova República aparecer. Metade estava sob controle
imperial direto, e a maioria das outras pendia para aquele lado ou
mantinha suas opções políticas em aberto.
Mas mesmo num mundo dominado pelo Império havia falhas de
sensor que poderiam ser exploradas por um único caça estelar. Ele
podia descer em um lugar isolado e se aproximar de um
espaçoporto a pé para comprar algumas células de combustível
substitutas com o dinheiro imperial que ainda lhe restava. Levar as
células de volta ao X-wing poderia ser um problema, mas nada que
ele e R2 não pudessem resolver.
R2 chilreou uma sugestão.
– Kessel é uma possibilidade – concordou Luke. – Mas não
sei... As últimas informações que tive eram que Moruth Doole ainda
mandava lá, e Han nunca confiou de verdade nele. Acho que vamos
nos dar melhor em Fwillsving, ou até mesmo...
Ele parou quando um dos planetas da lista chamou sua
atenção. Um planeta que Leia havia programado em seu sistema de
navegação de bordo de última hora, logo antes de ele partir naquela
missão.
Honoghr.
– Tenho uma ideia melhor, R2 – Luke disse devagar. – Vamos
visitar os Noghri.
O droide soltou um guincho assustado e descrente atrás dele.
– Ah, o que é que há – Luke chamou sua atenção. – Leia e
Chewie foram lá e voltaram ilesos, não? E 3PO também – ele
acrescentou. – Você não quer 3PO dizendo que você teve medo de
ir a um lugar aonde ele não teve medo de ir, quer?
R2 voltou a grunhir.
– Não importa se ele teve escolha ou não – Luke disse com
firmeza. – A questão é que ele foi.
O droide emitiu um gorgolejar triste e um tanto resignado.
– Assim é que se fala – Luke o encorajou, configurando o
computador de navegação para iniciar os cálculos até Honoghr. –
Aliás, Leia estava mesmo querendo que eu os visitasse. Assim
matamos dois lagartos do deserto com uma cajadada só.
R2 emitiu um único gorgolejo desconfortável e ficou em silêncio.
Até mesmo Luke, que confiava inteiramente no julgamento que Leia
havia feito do povo Noghri, admitiu que talvez aquela não tivesse
sido a figura de linguagem mais reconfortante para se usar.
Os dados de batalha do sistema de Woostri rolaram até o rodapé do
datapad e pararam.
– Ainda não acredito – disse Leia, balançando a cabeça ao
colocar o datapad de volta à mesa. – Se o Império tivesse uma
superarma que pudesse atravessar escudos planetários, eles a
estariam usando em cada sistema que atacassem. Tem que ser um
truque ou ilusão de algum tipo.
– Concordo – Mon Mothma disse baixinho. – A questão é como
convencer o resto do Conselho e da Assembleia disso. Para não
mencionar os sistemas exteriores.
– Precisamos solucionar o enigma do que aconteceu em Ukio e
Woostri – disse o almirante Ackbar com a voz ainda mais rouca que
de costume. – E precisamos fazer isso depressa.
Leia voltou a pegar seu datapad, dando uma rápida olhada para
Ackbar do outro lado da mesa. As pálpebras dos olhos enormes do
Mon Calamari pareciam mais pesadas que o normal, e sua cor
salmão estava pálida. Ele estava desesperadamente cansado. E
como a grande ofensiva do Império ainda se desenrolava na direção
deles por toda a galáxia, ele provavelmente não teria descanso tão
cedo.
Nenhum deles, na verdade.
– Já sabemos que o Grão Almirante Thrawn tem o talento de
compreender as mentes de seus oponentes – ela lembrou aos
outros. – Seria possível que ele tivesse previsto a rapidez com que
tanto os Ukianos quanto os Woostroides se renderiam?
– Ao contrário, digamos, dos Filvianos? – Mon Mothma assentiu
devagar. – Interessante. Isso poderia indicar que a ilusão não pode
ser mantida por muito tempo.
– Ou que a energia necessária é extremamente alta –
acrescentou Ackbar. – Se o Império aprendeu um método para
concentrar energia não visível contra o escudo, ele poderia
enfraquecer uma seção por tempo suficiente para disparar uma
rajada de turbolaser pela abertura. Mas uma coisa dessas
provocaria um tremendo dispêndio de energia.
– E também apareceria como um grande aumento de energia
no escudo – Mon Mothma ressaltou. – Nenhuma de nossas
informações sugere que esse tenha sido o caso.
– Nossas informações podem estar erradas – retorquiu Ackbar.
Ele deu uma olhada de relance para o conselheiro Borsk Fey’lya. –
Ou podem ter sido manipuladas pelo Império – acrescentou
enfaticamente. – Tais coisas já aconteceram antes.
Leia também olhou para Fey’lya, imaginando se o
maldisfarçado insulto ao seu povo finalmente tiraria o Bothano de
seu silêncio autoimposto. Mas Fey’lya ficou simplesmente sentado
ali, com os olhos na mesa e o pelo cor de creme imóvel. Sem falar,
sem reagir, talvez sem sequer pensar.
No fim das contas, ela supôs, ele recuperaria sua coragem
verbal e um pouco de sua velha força política. Mas, por ora, com
sua falsa denúncia de Ackbar ainda fresca na mente de todos, ele
estava no meio da versão que seu povo tinha do processo de
penitência.
Leia sentia um aperto de frustração no estômago. Mais uma
vez, a inflexível abordagem política bothana de tudo-ou-nada estava
indo direto de encontro aos melhores interesses da Nova República.
Alguns meses antes, as acusações de Fey’lya contra Ackbar haviam
desperdiçado um tempo e uma energia valiosos; agora, quando o
Conselho precisava de cada partícula de insight e engenhosidade
com que pudesse contar – incluindo as de Fey’lya – ele estava
dando uma de mártir silencioso.
Havia dias – e noites longas e escuras – em que Leia não
revelava a ninguém, mas sentia desespero de não conseguir jamais
voltar a unir a Nova República.
– O senhor tem razão, claro, almirante – Mon Mothma disse
com um suspiro. – Precisamos de mais informações. E precisamos
rápido.
– A organização de Talon Karrde ainda é nossa melhor chance
– disse Leia. – Eles têm os contratos, tanto aqui quanto do lado do
Império. E pelo que Luke disse em sua última mensagem, Karrde
parecia interessado.
– Não podemos nos dar ao luxo de esperar a conveniência de
um contrabandista – grunhiu Ackbar; os tentáculos de sua boca se
enrijeciam de desgosto. – E quanto ao general Bel Iblis? Ele
combateu o Império sozinho por anos.
– O general já entregou seus contatos de inteligência para nós
– disse Mon Mothma, um dos músculos de sua face repuxando. –
Por enquanto, ainda estamos integrando todos em nosso próprio
sistema.
– Eu não estava me referindo aos contatos dele – disse Ackbar.
– Eu falava do próprio general. Por que ele não está aqui?
Leia olhou para Mon Mothma, sentindo um aperto cada vez
maior no estômago. Garm Bel Iblis havia sido uma das primeiras
forças por trás da consolidação das unidades individuais de
resistência na abrangente Aliança Rebelde, e por anos havia
formado uma tríade oculta de líderes com Mon Mothma e o próprio
pai adotivo de Leia, Bail Organa. Mas, quando Organa morreu com
seu povo no ataque da Estrela da Morte a Alderaan – e quando Mon
Mothma começou subsequentemente a acumular cada vez mais
poder para si mesma –, Bel Iblis deixou a Aliança e começou a
atacar por contra própria. Desde então, ele havia continuado sua
guerra particular contra o Império... até que, quase por acidente,
seus caminhos se cruzaram com os de seu compatriota corelliano
Han Solo.
Foi a solicitação urgente de Han que trouxe Bel Iblis e sua força
de seis dreadnaughts em auxílio da Nova República na batalha da
Katana. Mon Mothma, falando sobre enterrar as diferenças do
passado, recebeu Bel Iblis de volta.
E depois lhe deu as costas e mandou que ele reforçasse as
defesas nos setores exteriores da Nova República. O mais longe de
Coruscant que pudesse ir.
Leia ainda não estava pronta para atribuir a decisão de Mon
Mothma a puro revanchismo. Mas havia outros, dentro da hierarquia
da Nova República, que se lembravam muito bem da inteligência
estratégica de Bel Iblis, e que não estavam dispostos a conceder a
Mon Mothma o benefício da dúvida.
– A experiência do general é necessária na frente de batalha –
Mon Mothma disse num tom neutro de voz.
– A experiência dele também é necessária aqui – retorquiu
Ackbar; mas Leia podia ouvir a resignação em sua voz.
O próprio Ackbar havia acabado de voltar de uma excursão às
defesas de Farrfin e Dolomar, e na manhã seguinte partiria para
Dantooine. Com a máquina de guerra imperial em movimento, a
Nova República não podia se dar ao luxo de enterrar seus melhores
comandantes em postos terrestres distantes.
– Eu entendo sua preocupação – disse Mon Mothma, com mais
gentileza. – Quando conseguirmos estabilizar a situação lá, tenho
toda a intenção de trazer o general Bel Iblis de volta e encarregá-lo
do planejamento tático.
Se conseguirmos estabilizar a situação, Leia emendou em
silêncio, mais uma vez sentindo o estômago apertar. Até agora, a
ofensiva estava seguindo uniformemente da maneira do Império...
O pensamento foi interrompido no meio quando uma súbita
consciência do que estava acontecendo tomou Leia de assalto. Não,
não era seu estômago que estava apertando...
Ackbar estava falando novamente.
– Com licença – Leia o interrompeu, começando a se levantar
com cuidado. – Desculpe interromper, mas preciso descer até o
Departamento Médico.
Mon Mothma arregalou os olhos.
– Os gêmeos?
Leia assentiu.
– Acho que eles estão a caminho.

As paredes e o teto da sala de parto eram de uma cor bege


quente, com uma série superposta de luzes cambiantes que haviam
sido sincronizadas às ondas cerebrais de Leia. Teoricamente, elas
deveriam ajudá-la a relaxar e se concentrar. Na prática – Leia havia
descoberto, após ficar olhando para aquilo por dez horas seguidas
–, a técnica tinha perdido muito de sua eficiência.
Mais uma contração veio, a mais forte até agora. Leia usou a
Força automaticamente, recorrendo aos métodos que Luke lhe
ensinara para conter a dor dos músculos que protestavam. No
mínimo, todo esse processo de parto estava lhe dando a chance de
praticar as técnicas Jedi.
E não só as que tinham a ver com o controle da dor. Está tudo
bem, ela pensou de modo tranquilizador na direção das mentes
minúsculas dentro de si. Está tudo bem. Mamãe está aqui.
Não ajudou muito. Tomados por forças que não conseguiam
compreender, seus pequenos corpos eram espremidos e
empurrados, conduzidos lentamente em direção ao desconhecido;
suas mentes ainda não desenvolvidas estavam apavoradas.
Mas, para ser perfeitamente justo, o pai deles não estava
sentindo-se lá muito melhor.
– Você está bem? – Han perguntou pela enésima vez desde
que haviam chegado. Apertou sua mão com um pouco mais de
força, também pela enésima vez, numa tensão solidária com os
ombros curvados dela.
– Ainda estou bem – Leia lhe assegurou. Seus ombros
relaxaram quando a contração terminou, e ela apertou a mão dele
de volta. – Mas você não parece tão bem.
Han fez uma careta para ela.
– Já passou da minha hora de dormir – ele disse secamente.
– Deve ser isso então – concordou Leia. Desde que o trabalho
de parto tinha começado para valer, Han estava nervoso como um
tauntaun em cima de uma chapa quente, embora fizesse um esforço
viril para não demonstrar. Mais por causa dela, suspeitou Leia, do
que por qualquer estrago que admitir isso pudesse causar em sua
reputação. – Desculpe.
– Não se preocupe com isso. – Han olhou para o lado, onde a
médica e dois droides MD pairavam ao redor da extremidade do
leito da parturiente. – Parece que estamos chegando lá, coração.
– Pode ter certeza – concordou Leia; a última palavra saiu meio
estrangulada quando outra contração roubou sua atenção. – Oh...
O nível de ansiedade de Han saltou mais um ponto.
– Você está bem?
Leia assentiu, os músculos da garganta por um momento
apertados demais para conseguir falar.
– Me abrace, Han – ela disse baixinho quando conseguiu voltar
a falar. – Só me abrace.
– Eu estou bem aqui – ele respondeu baixinho, deslizando a
mão livre para baixo do ombro dela e apertando com força mas com
jeito.
Ela quase não o ouviu. Bem no fundo, as pequenas vidas que
ela e Han haviam criado estavam começando a se mover, e
subitamente o medo que elas sentiam se tornou terror absoluto.
Não tenham medo, ela pensou para eles. Não tenham medo.
Tudo vai ficar bem. Eu estou aqui. Daqui a pouco vocês estarão
comigo.
Ela não estava realmente esperando uma reação – as mentes
dos gêmeos eram muito pouco desenvolvidas para compreender
qualquer coisa tão abstrata quanto palavras ou o conceito de
acontecimentos futuros. Mas ela continuou mesmo assim,
envolvendo a eles e a seu medo da melhor maneira possível com
amor, paz e conforto. Ela sentiu mais uma contração – o movimento
inexorável na direção do mundo exterior continuava...
E então, para a eterna alegria de Leia, uma das minúsculas
mentes a alcançou, tocando-a de um jeito que nenhum dos gêmeos
jamais havia reagido às suas carícias não verbais. O crescente
sentimento de medo foi diminuindo, e Leia visualizou em sua mente
a mão de um bebê se fechando com força ao redor de seu dedo.
Sim, ela disse à criança. Eu sou sua mãe, e eu estou aqui.
A pequena mente pareceu ponderar isso. Leia continuou a
tranquilizá-la, e a mente se desviou um pouco dela, como se sua
atenção tivesse sido atraída para outro lugar. Bom sinal, ela
deduziu; se ele conseguia se distrair do que estava lhe
acontecendo...
E então, para a admiração de Leia, o pânico da segunda mente
também começou a se desvanecer. A segunda mente, que até onde
ela sabia não tinha sequer notado sua presença...
Mais tarde, em retrospecto, tudo aquilo pareceria óbvio, se não
completamente inevitável. Mas, naquele momento, a revelação era
espantosa o bastante para estremecer o cerne da alma de Leia. Os
gêmeos, que haviam crescido juntos na Força ao mesmo tempo que
cresciam dentro dela, estavam de algum modo sintonizados um ao
outro – sintonizados de um jeito e com uma profundidade que Leia
sabia que jamais compartilharia totalmente.
Aquele foi, ao mesmo tempo, um dos momentos de mais
orgulho e mais emoção da vida de Leia. Conseguir vislumbrar o
futuro dessa forma – ver seus filhos crescendo e ficando fortes na
Força... e saber que haveria uma parte da vida deles que ela jamais
poderia compartilhar.
A contração diminuiu, e aquela visão grandiosa e agridoce do
futuro foi se transformando numa pequena pérola de dor num canto
de sua mente. Uma dor que ficou ainda pior quando percebeu,
envergonhada, que, no meio de todo aquele turbilhão de emoções
egoístas, não havia sequer lhe ocorrido que Han seria capaz de
compartilhar ainda menos das vidas de seus filhos que ela.
E então, no meio de toda a névoa mental, uma luz brilhante
pareceu explodir em seus olhos. Por reflexo, ela agarrou a mão de
Han com mais força.
– O que foi...? Está chegando – Han gritou, apertando a mão
dela. – O primeiro já está com metade do corpo pra fora.
Leia começou a piscar sem parar; aquela luz semi-imaginada
desaparecia enquanto sua mente lutava para se libertar do contato
com seus filhos. Seus filhos, cujos olhos nunca tiveram de lidar com
nada mais brilhante que uma luz fraca e difusa.
– Diminua essa luz – ela disse, sem fôlego. – É muito forte. Os
olhos das crianças...
– Está tudo bem – a médica lhe garantiu. – Os olhos delas irão
se ajustar. Vamos lá; um último empurrão.
E então, aparentemente sem avisar, a primeira parte havia
acabado.
– Peguei um – Han disse a ela, soando estranhamente
emocionado. – É... – ele virou o pescoço. – É nossa filha. – Olhou
novamente para Leia, meio que escondendo a tensão em seu rosto
com aquele sorriso torto que ela conhecia tão bem. – Jaina.
Leia assentiu.
– Jaina – ela repetiu. De algum modo, os nomes que eles
tinham decidido nunca haviam soado tão adequados quanto
naquele momento. – E Jacen?
– Informalmente, eu diria que ele está ansioso para se juntar à
irmã – a médica disse secamente. – Prepare-se para empurrar;
parece que ele está tentando sair por conta própria. Ok... força!
Leia respirou fundo. Finalmente. Após dez horas de trabalho de
parto – e após nove meses de gravidez –, o fim estava à vista.
Não. O fim não. O começo.
Eles puseram os gêmeos nos braços dela alguns minutos
depois, e ela experimentou uma sensação de profunda paz quando
olhou para eles e depois para Han. Lá fora, entre as estrelas, uma
guerra podia estar se desenrolando; mas ali, naquele instante, tudo
estava indo bem no universo.

– Cuidado, líder Rogue – avisou a voz de Rogue Dez com


rispidez no ouvido de Wedge. – Tem alguém te seguindo.
– Entendido – Wedge respondeu, fazendo uma curva fechada
com seu X-wing. O interceptor TIE passou direto, cuspindo laser e
tentando acompanhar a manobra de Wedge. Parecendo apenas um
borrão meio segundo após o imperial, um X-wing perseguidor o
explodiu numa nuvem de poeira flamejante.
– Obrigado, Rogue Oito – disse Wedge, soprando uma gota de
suor da ponta do seu nariz e checando seus scanners. Parecia que
o cantinho deles da batalha estaria limpo por enquanto. Traçando
uma curva lenta com seu X-wing, ele fez uma rápida avaliação da
situação geral da batalha.
Era pior do que ele havia temido. Pior até mesmo do que cinco
minutos antes. Mais dois Star Destroiers classe vitória haviam
surgido do hiperespaço, caindo em posição de desarme à queima-
roupa de um dos três cruzadores estelares Calamari que restavam.
E com a velocidade com que os Star Destroiers estavam disparando
rajadas de turbolaser...
– Esquadrão Rogue: mudar curso para vinte e dois marco oito –
ele ordenou, virando para o curso de interceptação e se
perguntando como diabos os imperiais haviam conseguido aquilo.
Dar um salto tão preciso já era difícil em circunstâncias ideais; no
calor e na confusão de uma batalha deveria ter sido algo
praticamente impossível. Apenas mais um exemplo do incrível novo
talento que o Império tinha para coordenar suas forças.
O droide astromec encaixado no soquete atrás dele emitiu um
chilreio de alerta: eles estavam agora perto demais de uma grande
massa para poderem efetuar um salto para a velocidade da luz.
Wedge olhou ao redor franzindo a testa, finalmente avistou o
cruzador interventor pairando à distância, mantendo-se bem longe
da batalha propriamente dita. Aparentemente, os imperiais não
queriam que nenhuma nave da Nova República saísse da festa
mais cedo.
Bem à frente, alguns dos TIE Fighters vinham acelerados na
direção de seu esquadrão.
– Formação de Porkins – Wedge ordenou à sua equipe. –
Fiquem de olho nos flancos. Cruzador estelar Orthavan, aqui é o
Esquadrão Rogue; estamos chegando.
– Fiquem onde estão, líder Rogue – disse uma voz mon
calamari rouca. – Estamos em grande desvantagem numérica.
Vocês não podem nos ajudar.
Wedge rilhou os dentes. O Mon Cal provavelmente tinha razão.
– De qualquer maneira, vamos tentar – ele disse para o outro.
Os TIE Fighters que avançavam já estavam quase no alcance deles.
– Se segurem aí.
– Esquadrão Rogue, aqui é Bel Iblis – uma nova voz
interrompeu. – Parem seu ataque. Ao meu sinal, caiam trinta graus
para bombordo.
Wedge fez um enorme esforço para suprimir a vontade de dizer
algo que provavelmente lhe teria valido uma corte marcial. Para ele,
enquanto uma nave estivesse inteira, ainda havia esperança de
salvá-la. Aparentemente, o grande general Bel Iblis pensava de
outra maneira.
– Entendido, general – ele suspirou. – Esquadrão Rogue: a
postos.
– Esquadrão Rogue... em posição.
Obedientemente, com relutância, Wedge girou seu X-wing para
o lado. Os TIE Fighters mudaram seu curso para ir atrás; pareceram
ter se perdido um pouco...
E com um rugido que se fez ouvir com clareza até mesmo
através dos gases tênues do espaço interplanetário, uma formação
de ataque de A-wings passou em disparada pelo espaço que o
Esquadrão Rogue havia acabado de deixar. Os TIE Fighters, já em
movimento para acompanhar a manobra dos X-wings, foram
apanhados de surpresa. Antes que conseguissem entrar em
formação de barricada, os A-wings já tinham passado por eles,
dirigindo-se a toda para o cruzador estelar sob ataque.
– Ok, Esquadrão Rogue – disse Bel Iblis. – Sua vez. Limpem a
retaguarda deles.
Wedge deu um sorriso cínico. Ele devia ter esperado mais de
Bel Iblis.
– Entendido, general. Esquadrão Rogue: vamos pegá-los.
– E depois – Bel Iblis acrescentou sério –, preparem-se para
bater em retirada.
Wedge piscou, tirando o sorriso da cara. Retirada? Virando seu
X-wing na direção dos TIE Fighters, ele tornou a olhar na direção da
área de batalha principal.
Alguns minutos antes, ele percebera que a situação parecia
ruim. Agora, ela estava à beira do desastre. As forças de Bel Iblis
haviam sido reduzidas a pouco menos de dois terços das quinze
naves de guerra com as quais ele havia começado, e a maioria
delas estava aglomerada em formação de bastião de último recurso.
Ao seu redor, atacando sistematicamente suas defesas, havia mais
de vinte Star Destroiers e dreadnaughts.
Wedge voltou a olhar para os TIE Fighters que se
aproximavam; e, além deles, para o cruzador interventor. O cruzador
classe interventor, cujos projetores de poço gravitacional estavam
impedindo que a força de combate cercada escapasse para a
velocidade da luz...
E em seguida eles já estavam em cima dos TIE Fighters, e não
havia tempo de pensar mais nada. A batalha foi acirrada, porém
rápida: a súbita aparição dos A-wings na sombra do Esquadrão
Rogue havia aparentemente confundido os TIE Fighters o suficiente.
Três minutos, talvez quatro, e o Esquadrão Rogue estava livre mais
uma vez.
– E agora, líder Rogue? – perguntou Rogue Dois quando o
esquadrão se reagrupou no meio dos escombros.
Cruzando os dedos mentalmente, Wedge tornou a olhar para a
Orthavan. Se a aposta de Bel Iblis não tivesse dado certo...
Tinha. A manobra dos A-wings havia distraído o ataque dos
Star Destroiers vitória o suficiente para que o cruzador estelar se
recuperasse e voltasse à ofensiva. A Orthavan tinha posto suas
baterias extensas de turbolaser e de canhões de íons para
funcionar, embaralhando os sistemas imperiais e marretando seus
cascos.
Diante dos olhos de Wedge, um gêiser de gás superaquecido
explodiu na seção central do Star Destroier mais próximo, fazendo a
nave começar a girar pesadamente para longe. Passando sob o
casco da nave perdida, o cruzador estelar se afastou da batalha e
seguiu na direção do cruzador interventor.
– Mudar curso para a Orthavan – ordenou Wedge. – Eles
podem precisar de apoio.
Mal as palavras haviam saído de sua boca quando, vindo em
disparada da velocidade da luz, uma dupla de dreadnaughts
apareceu subitamente no flanco da Orthavan. Wedge conteve a
respiração, mas o cruzador estelar já estava se movendo rápido
demais para que os dreadnaughts conseguissem mais do que um
disparo sem mira. A nave passou por eles sem parar; e, quando
eles se viraram para acompanhá-la, o esquadrão de A-wings tornou
a encenar sua manobra anterior. Uma vez mais, a eficiência da
distração foi vastamente desproporcional em relação ao dano real
infligido. Quando os caças romperam a formação, a Orthavan
estava além do alcance dos dreadnaughts.
E os imperiais sabiam disso. Atrás de Wedge, o droide
astromec emitiu um bip: o campo de pseudogravidade estava se
desvanecendo, porque o distante cruzador interventor tinha acabado
de desligar seus projetores de poço gravitacional, preparando-se
para saltar para a velocidade da luz.
O cruzador interventor...
E só então ele entendeu. Ele estava errado: aqueles Star
Destroiers vitória nunca haviam precisado de nenhuma técnica de
coordenação semimística para efetuar um salto tão perto do
cruzador estelar. Tudo o que eles precisaram fazer era voar ao
longo de um vetor de hiperespaço fornecido a eles pelo cruzador
interventor e esperar até que a borda do cone do poço gravitacional
os puxasse de volta para o espaço normal.
Wedge sentiu o lábio torcer. Superestimar as habilidades do
inimigo, ele aprendera muito tempo atrás, podia ser tão perigoso
quanto subestimá-las. Era uma lição que ele teria de começar a
lembrar.
– O campo gravitacional do interventor caiu – a voz de Bel Iblis
se fez ouvir na sua orelha. – Todas as unidades: responder e se
preparar para a retirada nas suas marcas.
– Esquadrão Rogue: entendido – disse Wedge, fazendo uma
cara de desagrado ao virar para seu vetor de fuga pré-planejado e
olhar para o que havia sobrado do grupo de batalha principal. Não
havia dúvida: eles haviam apanhado, e apanhado muito, e
praticamente tudo o que a legendária habilidade tática de Bel Iblis
fora capaz de fazer tinha sido evitar que a derrota se tornasse um
massacre.
E o preço provavelmente seria mais um sistema perdido para o
Império.
– Esquadrão Rogue: partir.
– Entendido – suspirou Wedge, e puxou para trás a alavanca de
hiperespaço... e quando as estrelas flamejaram e se tornaram linhas
estelares, um pensamento grave lhe ocorreu.
Pelo menos no futuro próximo, subestimar o Império
provavelmente não seria problema.
As linhas estelares voltaram a se transformar em estrelas, e a Wild
Karrde estava de volta ao espaço normal. Logo adiante ficava o
pequeno sol anão branco do sistema de Chazwa, não muito fácil de
distinguir das estrelas que brilhavam no fundo ao seu redor. Ali
perto, um pouco mais para o lado, estava o planeta Chazwa – um
círculo escuro com apenas parte da borda iluminada, formando um
crescente. Dispersos ao redor dele, na escuridão do espaço, era
possível ver o brilho da exaustão de talvez cinquenta naves, que
chegavam e partiam. A maioria delas era composta de cargueiros e
cruzadores de guerra, que tiravam vantagem da posição central de
baldeação de Chazwa. Alguns poucos eram visivelmente naves de
guerra do Império.
– Bem, aqui estamos – Aves disse num tom casual de seu
posto de copiloto. – Aproveitando, Karrde, eu gostaria de dizer
oficialmente que esta ideia é louca.
– Talvez – admitiu Karrde, mudando a rota para o planeta e
conferindo as telas à sua frente. Ótimo; o resto do grupo havia
conseguido chegar sem problemas. – Mas se a rota de transporte
de clones do Império de fato passar pelo setor Orus, a guarnição de
Chazwa deve ter registros da operação. Possivelmente até mesmo
o ponto de origem, se alguém foi descuidado.
– Eu não estava me referindo aos detalhes do ataque – disse
Aves. – Eu quis dizer que foi loucura nos envolvermos pra começo
de conversa. A guerra é da Nova República, não nossa; deixe que
eles se encarreguem da caçada.
– Se pudesse confiar neles, eu deixaria – disse Karrde,
espiando para fora da escotilha de estibordo. Mais um cargueiro
parecia estar se aproximando lentamente na direção da Wild Karrde.
– Mas não tenho certeza de que eles sejam capazes de executar
essa tarefa.
Aves grunhiu.
– Eu ainda não engoli os números que Skywalker forneceu. Me
parece que, se você pudesse fazer clones estáveis crescerem assim
tão rápido, os antigos senhores de clones já teriam feito isso.
– Talvez tenham – Karrde ressaltou. – Não acredito que
qualquer informação sobre as técnicas de clonagem daquela época
tenha sobrevivido. Tudo o que tenho visto veio de experiências de
muito antes da guerra.
– É, bom... – Aves balançou a cabeça. – Eu ainda preferia ficar
quieto e deixar isso tudo passar.
– Podemos descobrir que não temos escolha. – Karrde fez um
gesto para o cargueiro que ainda seguia na direção deles. – Parece
que temos um cliente. Quer puxar a identidade dele?
– Claro. – Aves deu uma olhada rápida no cargueiro, depois se
voltou para seu painel. – Não tem registro como nenhuma nave de
que eu já tenha ouvido falar. Espere um minuto... Ah, sim. Ah, sim,
eles alteraram sua identidade: simplesmente sobreposição de
transponders, ao que parece. Vamos ver se o pacote de
decodificação mágica de Ghent consegue destrinchar isso.
Karrde assentiu. A menção ao nome de Ghent fez seus
pensamentos atravessarem rapidamente a galáxia até Coruscant e
os dois associados que havia deixado lá sob os cuidados da Nova
República. Se o cronograma que a equipe médica tinha lhe
entregado estivesse correto, Mara já deveria estar recuperada. Ela
deveria entrar em contato com ele em breve, e ele fez uma
anotação mental para checar isso com seu canal de contatos assim
que terminassem ali.
– Consegui – Aves disse triunfante. – Ora, ora! Acho que é um
velho amigo, seu Karrde. A Kern’s Pride; proprietário, o não muito
honorável Samuel Tomas Gillespee.
– Mas é mesmo? – disse Karrde, olhando de esguelha para a
nave que estava a cem metros de distância. – Acho melhor ver o
que ele quer.
Acionou uma transmissão por feixe estreito.
– Aqui é Talon Karrde chamando a Kern’s Pride – ele disse. –
Não fique aí parado, Gillespee; cumprimente.
– Olá, Karrde – soou uma voz familiar. – Você não se importa
se eu descobrir com quem estou falando antes de cumprimentar,
não é?
– De jeito nenhum – Karrde lhe garantiu. – Bela sobreposição
na ID de sua nave, a propósito.
– Obviamente podia ter sido melhor – Gillespee disse
secamente. – Nosso slicer não chegou nem perto de descobrir a
sua. O que está fazendo aqui?
– Eu ia lhe perguntar a mesma coisa – disse Karrde. – Tinha a
impressão de que você estava planejando se aposentar.
– Eu me aposentei – Gillespee disse, amargo. – Deixei os
negócios pra valer, feliz da vida. Comprei um belo pedaço de terra
num planetinha afastado onde podia ver as árvores crescerem e
ficar longe de tudo que tivesse cheiro de encrenca. Um lugar
chamado Ukio... já ouviu falar?
Ao lado de Karrde, Aves balançou a cabeça e resmungou
alguma coisa baixinho.
– Lembro de ter ouvido esse nome recentemente, sim – admitiu
Karrde. – Você estava lá quando aconteceu o ataque do Império?
– Eu estava lá quando aconteceram o ataque, a rendição e o
máximo de ocupação que consegui suportar – grunhiu Gillespee. –
Na verdade, eu praticamente assisti ao bombardeio de camarote.
Foi espetacular, isso eu posso lhe dizer.
– E também poderia ser bem lucrativo – disse Karrde,
pensando muito. Até onde estava ciente, a Nova República ainda
não sabia exatamente o que o Império havia feito em Ukio. Dados
concretos sobre o ataque poderiam ser valiosos para a equipe tática
deles. Além de proporcionar uma quantia generosa tanto para a
testemunha quanto para quem encontrasse os dados. – Você não
teria feito alguma leitura durante o ataque, teria?
– Consegui um pouco da parte do bombardeio – disse
Gillespee. – O cartão de dados dos meus macrobinóculos. Por quê?
– Há uma boa chance de que eu consiga encontrar um
comprador para ele – disse Karrde. – Poderia compensar um pouco
sua propriedade perdida.
– Duvido que seu comprador tenha tanto assim para gastar –
Gillespee fungou. – Você não teria acreditado, Karrde; você não
teria acreditado mesmo. Quero dizer, não estamos falando de
Svivren, mas até Ukio deveria ter levado algum tempo para ser
tomado pelo Império.
– O Império teve muita experiência tomando mundos – Karrde
lembrou a ele. – Você teve sorte de ter escapado.
– Nisso você tem razão – concordou Gillespee. – Faughn e
Rappapor me jogaram meio salto à frente dos stormtroopers. E meio
salto atrás dos trabalhadores que enviaram para transformar minha
terra numa plantação. Vou lhe contar, esse novo sistema de clones
que eles puseram pra funcionar é muito assustador.
Karrde deu uma olhada de esguelha para Aves.
– Como assim?
– O que você quer dizer com como assim? – retorquiu
Gillespee. – Eu não acho que as pessoas deveriam sair de uma
linha de montagem, muito obrigado. E, se saíssem, eu certamente
não poria o Império encarregado da fábrica. Você devia ter visto os
sujeitos que eles puseram para tomar conta dos bloqueios das
estradas. Eu fiquei todo arrepiado.
– Não duvido – disse Karrde. – Quais são os seus planos
depois de deixar Chazwa?
– Eu já não tenho muitos planos antes de chegar lá – Gillespee
retrucou, ácido. – Estava torcendo pra me comunicar com o velho
contato de Brasck aqui, ver se eles estariam interessados em nos
receber. Por quê, tem uma oferta melhor?
– Possivelmente. Podemos começar mandando esse cartão de
dados macrobinocular para o meu comprador. Seu pagamento será
feito através de uma linha de crédito que estabeleci com ele. Depois
disso, tenho outro projeto em mente que você vai achar interessante
e...
– Temos companhia – Aves o interrompeu. – Duas naves
imperiais, vindo nesta direção. Parecem fragatas classe lanceiro.
– Oh-oh – murmurou Gillespee. – Talvez não tenhamos
escapado de Ukio tão discretamente quanto pensei.
– Acho mais provável que nós sejamos o alvo deles – disse
Karrde, sentindo o lábio torcer ao digitar uma rota de evasão no
leme. – Foi ótimo conversar com você, Gillespee. Se quiser
continuar a conversa, me encontre daqui a oito dias no sistema
Trogan. Você sabe onde fica.
– Se você conseguir sair daqui, eu consigo – retrucou
Gillespee. – Se não conseguir, não facilite muito para eles.
Karrde interrompeu o contato.
– Dificilmente – ele murmurou. – Tudo bem; lá vamos nós. Com
muita calma...
Ele direcionou a Wild Karrde para um mergulho raso a
bombordo, tentando fazer parecer que estavam planejando passar
direto pelo planeta e escolher um novo vetor de hiperespaço.
– Alerto os outros? – perguntou Aves.
– Ainda não – disse Karrde, dando uma rápida olhada em suas
telas e configurando o computador de navegação para calcular seu
salto para a velocidade da luz. – Prefiro abortar a missão e tentar
novamente mais tarde a enfrentar uma dupla de lanceiros ansiosos
para lutar.
– É – Aves disse devagar. – Karrde... eles não estão mudando
de curso.
Karrde levantou a cabeça. Aves tinha razão. Nenhum dos
lanceiros tinha se desviado um grau sequer. Eles ainda estavam
seguindo seu vetor original.
Direto para a Kern’s Pride.
Ele olhou para Aves, e viu que o outro olhava para ele.
– O que vamos fazer? – perguntou Aves.
Karrde olhou novamente para as naves do Império. A Wild
Karrde estava muito longe de ser indefesa num combate, e sua
tripulação era uma das melhores. Mas, com armamento que havia
sido projetado para abater caças estelares inimigos, dois lanceiros
seriam mais do que páreo para o grupo que ele havia levado a
Chazwa.
Diante de seus olhos, a Kern’s Pride subitamente fez seu
movimento. Rolando numa espécie de virada koiograna alterada, ela
partiu em alta velocidade num ângulo agudo a partir de seu curso
original. Os lanceiros, que não foram enganados nem um pouco
pela manobra, seguiram logo atrás.
O que deixou a Wild Karrde completamente livre. Eles poderiam
continuar até Chazwa, acessar os registros da guarnição e escapar
antes que os lanceiros pudessem voltar. Rápido, limpo e certamente
preferível para a Nova República.
Mas Gillespee era um velho conhecido e, na escala de Karrde,
um colega contrabandista era mais importante do que qualquer
governo interestelar do qual ele não fizesse parte.
– Aparentemente, Gillespee não saiu de Ukio de modo tão
limpo quanto havia imaginado – ele comentou, virando a Wild
Karrde e acionando o comunicador. – Lachton, Chin, Corvis:
disparem os turbolasers. Vamos entrar.
– E as outras naves? – Aves perguntou ao ativar os escudos
defletores e acionar uma tela tática.
– Primeiro vamos chamar a atenção dos lanceiros – disse
Karrde. Os três homens nos turbolasers fizeram sinal de prontidão;
respirando fundo, ele injetou potência no drive.
Mas o comandante dos lanceiros não era nenhum idiota.
Enquanto a Wild Karrde ia na direção deles, uma das naves
imperiais interrompeu sua perseguição da Kern’s Pride e se virou
para confrontar aquela nova ameaça.
– Acho que conseguimos a atenção deles – Aves disse, tenso.
– Já posso chamar os outros pra festinha?
– Vá em frente – Karrde lhe respondeu, acionando seu próprio
comunicador para falar com a Kern’s Pride. – Gillespee, aqui é
Karrde.
– É, estou vendo você – veio a voz de Gillespee. – O que pensa
que está fazendo?
– Dando uma mãozinha – respondeu Karrde. Adiante, as vinte
baterias de laser quádruplas do lanceiro abriram fogo, fazendo
chover relâmpagos verdes em cima da Wild Karrde. Os turbolasers
retribuíram os disparos; seus três grupos de fogo eram um tanto
patéticos em comparação. – Tudo bem; conseguimos segurar este
aqui. Melhor fugir antes que o outro alcance você.
– Vocês conseguiram segurar o lanceiro? – Gillespee retorquiu.
– Escute, Karrde...
– Eu disse fuja – Karrde o interrompeu com rispidez. – Não
vamos conseguir segurá-lo para sempre. Não se preocupe comigo;
não estou exatamente sozinho aqui.
– Lá vêm eles – disse Aves, e Karrde aproveitou um momento
para olhar rapidamente para a tela de popa. Eles estavam vindo
mesmo: quinze cargueiros, todos mirando direto no lanceiro
subitamente em desvantagem de armamentos. Um assovio
surpreso veio pelo comunicador.
– Você não estava brincando, não é? – comentou Gillespee.
– Não, não estava – disse Karrde. – Agora vá logo, sim?
Gillespee deu uma gargalhada.
– Vou lhe contar um segredinho, Karrde. Eu também não estou
sozinho.
E, quase invisíveis no meio da névoa de fogo de laser que
cobria as escotilhas da Wild Karrde, os brilhos de exaustão de
quase vinte naves subitamente se desviaram de seus cursos
individuais. Atacando como Barabel famintos, elas convergiram para
cima do segundo lanceiro.
– Então, Karrde – Gillespee continuou como numa conversa
normal. – Assim, por alto, eu diria que nenhum de nós vai conseguir
fazer muitos negócios em Chazwa desta vez. O que me diz de
continuarmos esta conversa em outro lugar? Digamos, daqui a oito
dias?
Karrde sorriu.
– Vou esperar ansioso.
Voltou a olhar para o lanceiro, e seu sorriso desapareceu. A
tripulação padrão de um lanceiro era de 850; e, a julgar pela
maneira competente como ele estava rechaçando o resto das
naves, Karrde imaginou que ele deveria estar completamente
tripulado. O que o fez se perguntar exatamente quantos tripulantes
haviam acabado de sair da fábrica de clones do Grão Almirante
Thrawn.
– A propósito, Gillespee – ele acrescentou –, se por acaso você
topar com algum de nossos colegas no caminho, seria bom convidá-
los. Acho que eles se interessariam pelo que tenho a dizer.
– Pode deixar, Karrde – Gillespee grunhiu. – Vejo você em oito
dias.
Karrde desligou o comunicador. Então era isso. Gillespee
transmitiria a notícia aos outros grandes grupos de contrabandistas;
e, conhecendo Gillespee, o convite aberto rapidamente se
transformaria em algo quase como uma ordem para aparecer. Eles
estariam em Trogan – todos eles, ou quase todos.
Agora, tudo o que tinha a fazer era pensar no que exatamente
iria dizer a eles.
O Grão Almirante Thrawn se recostou em sua cadeira de
comando.
– Está certo, cavalheiros – ele disse, voltando o olhar faiscante
para cada um dos quatorze homens em pé formando um
semicírculo irregular ao redor do seu console. – Alguma dúvida?
O homem de aspecto ligeiramente amarrotado numa das
extremidades do semicírculo olhou de relance para os outros.
– Nenhuma dúvida, almirante – ele disse. Seu tom de voz
militar contrastava fortemente com a aparência civil descuidada. –
Qual é o nosso cronograma?
– Seu cargueiro está sendo preparado agora – Thrawn lhe
respondeu. – Vocês partirão assim que ele estiver pronto. Quando
esperam penetrar no Palácio Imperial?
– No máximo daqui a seis dias, senhor – disse o homem
amarrotado. – Eu gostaria de parar em um ou dois outros portos
antes de levar a nave até Coruscant; será mais fácil tapear a
segurança deles se tivermos uma trilha legítima de dados que eles
possam rastrear. A não ser que o senhor queira que isso seja feito
com mais rapidez, é claro.
Os olhos brilhantes de Thrawn se estreitaram ligeiramente, e
Pellaeon sabia o que ele estava pensando. Mara Jade, sentada lá
no meio do quartel-general dos rebeldes. Talvez naquele exato
momento dando a eles a localização do armazém do imperador em
Wayland...
– O tempo é crítico nesta operação – Thrawn disse ao líder do
grupo de ataque. – Mas a velocidade sozinha é inútil se vocês
estiverem comprometidos antes mesmo de entrarem no Palácio.
Você será o homem na cena, major Himron. Deixo isso a seu
critério.
O líder do grupo de ataque assentiu.
– Sim, senhor. Obrigado, almirante. Não falharemos com o
senhor.
Thrawn deu um sorriso ínfimo.
– Eu sei que não, major. Dispensados.
Em silêncio, os quatorze homens deram meia-volta e saíram
enfileirados da sala de comando.
– Você pareceu surpreso com algumas de minhas instruções,
capitão – comentou Thrawn quando a porta se fechou atrás deles.
– Sim, senhor, eu fiquei de fato surpreso – admitiu Pellaeon. –
Todas faziam sentido, é claro – ele acrescentou apressado. – Eu
simplesmente não havia pensado a operação até esse desfecho.
– Todos os desfechos devem estar prontos – disse Thrawn,
digitando algo em seu painel. As luzes diminuíram de intensidade e
uma amostra de quadros holográficos e planics apareceu nas
paredes da sala de comando. – Arte Mriss – ele identificou as peças
para Pellaeon. – Um dos mais curiosos exemplos de omissão a
serem encontrados em qualquer parte da galáxia civilizada. Até ser
contatadas pela Décima Expedição Alderaaniana, nenhuma das
dezenas de culturas Mriss jamais havia desenvolvido qualquer
forma de arte tridimensional.
– Interessante – Pellaeon disse, obediente. – Alguma falha na
configuração perceptiva deles?
– A maioria dos especialistas ainda acha que sim – disse
Thrawn. – A mim, entretanto, parece claro que isso se deve a um
caso de pontos cegos culturais somados a uma harmonização social
muito sutil, porém igualmente forte. Uma combinação de
características que seremos capazes de explorar.
Pellaeon olhou para as obras de arte, sentindo um peso no
estômago.
– Vamos atacar Mrisst?
– O planeta está certamente pronto para ser tomado – ressaltou
Thrawn. – E uma base lá nos daria a capacidade de lançar ataques
ao próprio coração da Rebelião.
– Só que a Rebelião deve saber disso – Pellaeon disse com
cuidado. Se as constantes exigências de C’baoth para um ataque a
Coruscant tivessem finalmente chegado ao Grão Almirante... – Se
fizéssemos um movimento sequer na direção de Mrisst, senhor, eles
lançariam um grande contra-ataque.
– Exatamente – disse Thrawn, sorrindo com uma satisfação
sombria. – O que significa que, quando estivermos finalmente
prontos para atrair a frota de Coruscant para uma emboscada,
Mrisst será a isca perfeita. Se eles saírem para nos encontrar,
iremos derrotá-los ali mesmo. E se eles de algum modo
pressentirem a armadilha e se recusarem a nos combater, teremos
nossa base avançada. De qualquer maneira, o Império triunfará.
Ele voltou ao seu painel, e as obras de arte holográficas se
desvaneceram em um mapa estelar tático.
– Mas essa batalha ainda se encontra no futuro – ele disse. –
Por ora, nosso principal objetivo é construir uma força grande o
bastante para assegurar essa vitória. E enquanto isso, devemos
manter a Rebelião em desequilíbrio.
Pellaeon assentiu.
– O ataque a Ord Mantell deverá colaborar muito para isso.
– Ele certamente amedrontará os sistemas ao redor –
concordou Thrawn. – E também deverá retirar um pouco da pressão
rebelde sobre nossas linhas de suprimento para estaleiros.
– Isso seria de grande ajuda – Pellaeon disse fazendo uma cara
feia. – O último relatório de Bilbringi disse que os estaleiros de lá
estavam com um nível baixíssimo de gás Tibanna, bem como de
hfredium e kammris.
– Já ordenei que a guarnição de Bespin aumente sua produção
de gás Tibanna – disse Thrawn, digitando algo em seu painel de
controle. – Quanto aos metais, a Inteligência recentemente relatou a
localização de estoques convenientes.
O relatório apareceu na tela, e Pellaeon se inclinou para lê-lo.
Navegou até a lista de locais...
– Isso é o que a Inteligência acredita que sejam estoques
convenientes?
– Você discorda? – Thrawn perguntou mansamente.
Pellaeon voltou a olhar para o relatório, sentindo uma
expressão de desagrado tomar conta de seu rosto. O Império já
havia atacado o complexo de mineração ambulante no planeta
superquente Nkllon uma vez antes, quando precisaram de
mineradores-toupeira para o ataque de Thrawn aos estaleiros de
Sluis Van. Esse outro ataque havia custado ao Império mais de um
milhão de horas-homem, primeiro para preparar o Star Destroier
Judicante para o intenso calor da órbita de Nkllon, muito próxima de
seu sol, e depois para reparar os danos.
– Acho que depende, senhor – ele disse –, de quanto tempo
estaremos deixando de usar quaisquer Star Destroiers que venham
a ser comissionados para o ataque.
– É uma questão válida – concordou Thrawn. – Felizmente,
desta vez não haverá necessidade de utilizarmos nenhum Star
Destroier. Três de nossos novos dreadnaughts deverão ser mais do
que adequados para neutralizar a segurança de Nkllon.
– Mas um dreadnaught não será capaz de... ah – Pellaeon se
interrompeu ao compreender subitamente. – Ele não terá de ser
grande o bastante para sobreviver em plena exposição aos raios
solares. Se eles conseguirem tomar uma das naves-escudo que
conduzem cargueiros para dentro e para fora do sistema interior, um
dreadnaught seria pequeno o bastante para ficar atrás de seu
guarda-chuva.
– Exatamente – assentiu Thrawn. – E capturar um deles não
deverá representar problema. Apesar de todo o seu tamanho
impressionante, naves-escudo não são muito mais do que
blindagem, sistemas de refrigeração e um pequeno contêiner com
motores e tripulação. Seis naves auxiliares de ataque totalmente
tripuladas deverão dar conta disso rapidamente.
Pellaeon assentiu, ainda lendo o relatório.
– O que acontecerá se Calrissian vender seus estoques antes
que a força de ataque chegue lá?
– Isso não acontecerá – Thrawn lhe assegurou. – O preço de
mercado para metais começou a subir mais uma vez, e homens
como Calrissian sempre esperam que ele suba um pouco mais. A
menos que Calrissian tenha sido subitamente arrebatado por um
fervor patriótico para com seus amigos da Nova República e
decidisse vender seus metais a preço reduzido.
– Eu ainda recomendaria, senhor, que o ataque fosse efetuado
o mais rápido possível.
– Recomendação anotada, capitão – disse Thrawn, sorrindo
levemente. – E, por acaso, já providenciada. O ataque foi lançado
há dez minutos.
Pellaeon deu um sorriso tenso. Um dia, decidiu, ele aprenderia
a não tentar pensar à frente do Grão Almirante.
– Sim, senhor.
Thrawn se recostou em sua cadeira.
– Volte à ponte, capitão, e se prepare para dar o salto para a
velocidade da luz. Ord Mantell aguarda.
O bip contínuo do painel despertou Luke de seu cochilo. Piscando
para afastar o sono, ele deu uma rápida olhada nas telas.
– R2? – ele chamou, espreguiçando-se da melhor forma
possível nos limites estreitos da cabine. – Estamos quase lá.
Prepare-se.
Um chilrear nervoso foi a resposta.
– O que é que há, R2, relaxe – Luke disse ao droide,
envolvendo a alavanca de hiperespaço do X-wing com as pontas
dos dedos e deixando a Força fluir através dele. Quase na hora...
agora. – Ele puxou a alavanca de volta, e as linhas estelares
apareceram e voltaram a colapsar em estrelas.
E lá, logo à frente, estava o mundo natal Noghri de Honoghr.
R2 deu um leve assovio.
– Eu sei – concordou Luke, se sentindo um pouco mal. Leia
havia lhe dito o que esperar; mas a visão do mundo à frente do X-
wing foi um choque mesmo assim. Sob as esparsas nuvens brancas
flutuando na atmosfera, toda a superfície do planeta era de um
marrom uniforme.
Grama kholm, era como Leia a tinha chamado: as plantas
honoghranas que o Império havia modificado geneticamente para
perpetrar sua destruição sistemática da ecologia do planeta. Esse
engodo, somado ao auxílio cuidadosamente limitado primeiro de
Vader e depois de Thrawn, havia comprado ao Império quatro
décadas de serviço dos Noghri. Naquele momento, esquadrões de
Comandos da Morte Noghri estavam espalhados pela galáxia,
lutando e morrendo por aqueles cujas traição fria e falsa compaixão
os haviam transformado em escravos.
R2 trinou alguma coisa, e Luke desviou seu olhar daquele
monumento silencioso à crueldade do Império.
– Não sei – ele admitiu quando a pergunta do droide rolou pela
tela de seu computador. – Precisaríamos trazer uma equipe de
especialistas ambientais e ecológicos para cá antes de dizer. Mas
não parece muito animador, parece?
O droide chilreou – um dar-de-ombros eletrônico que se logo se
tornou agudo e assustado. Luke olhou para cima enquanto uma
pequena nave-patrulha de ataque rápido passou por cima deles.
– Acho que nos avistaram – ele comentou de modo mais casual
possível. – Vamos torcer para que sejam os Noghri e não o Imp...
– Caça estelar, identifique-se – uma voz profunda e felina miou
pelo comunicador.
Luke acionou a transmissão, usando a Força na direção da
nave-patrulha que estava agora fazendo uma curva e assumindo
posição de ataque. Mesmo àquela distância ele deveria ser capaz
de sentir um piloto humano, o que significava que era de fato um
Noghri lá fora. Pelo menos, assim ele esperava.
– Aqui é Luke Skywalker – ele disse. – Filho do Lorde Darth
Vader, irmão de Leia Organa Solo.
Por um longo momento o comunicador ficou em silêncio.
– Por que você veio?
A prudência, Luke sabia, teria sugerido que ele não trouxesse à
tona o assunto de suas células de energia até ter uma ideia melhor
de como as coisas estavam politicamente com os líderes Noghri.
Mas Leia tinha mencionado várias vezes como havia ficado
impressionada com o senso de honra e honestidade dos Noghri.
– As células primárias de energia da minha nave foram
danificadas – ele disse ao outro. – Pensei que vocês pudessem me
ajudar.
Ele ouviu um sibilar suave pelo comunicador.
– Você nos coloca em grande perigo, filho de Vader – disse o
Noghri. – Naves do Império vêm a Honoghr aleatoriamente. Se você
for avistado, todos sofrerão.
– Eu entendo – disse Luke, sentindo um pequeno peso sendo
erguido de suas costas. Se os Noghri estavam preocupados com ele
ser avistado por imperiais, pelo menos não haviam rejeitado
completamente o convite de Leia para se rebelarem contra o
Império. – Se vocês preferirem, partirei.
Conteve sua respiração quando, atrás dele, R2 gemeu
suavemente. Se os Noghri aceitassem a oferta dele, provavelmente
não seriam capazes de chegar a qualquer outro lugar com a energia
restante.
Aparentemente, o piloto Noghri estava pensando a mesma
coisa.
– A Lady Vader já arriscou muito pelos Noghri – ele disse. –
Não podemos permitir que você ponha sua vida em perigo. Siga-me,
filho de Vader. Eu levarei você à segurança que os Noghri podem
oferecer.

Segundo Leia, havia apenas uma pequena área em Honoghr


capaz de sustentar qualquer tipo de vida botânica além da grama
kholm, criada geneticamente pelo Império. Khabarakh e a maitrakh
do clã Kihm’bar haviam mantido Chewbacca, 3PO e ela numa das
aldeias ali, conseguindo com habilidade e uma grande dose de sorte
escondê-la dos olhos curiosos do Império. Leia tinha incluído a
localização da Terra Limpa bem como as coordenadas do sistema
propriamente dito, e quando Luke começou a seguir a nave-patrulha
para a superfície do planeta, logo se tornou claro que não estavam
indo para lá.
– Para onde estamos indo? – ele perguntou ao piloto Noghri
enquanto mergulhavam sob uma camada de nuvens.
– Para o futuro de nosso mundo – respondeu o alien.
– Ah – Luke murmurou baixinho. Uma linha dupla de encostas
irregulares podia ser vista à frente, com um aspecto um pouco
semelhante ao de cristas dorsais estilizadas de um par de dragões
krayt de Tatooine. – O seu futuro está naquelas montanhas? – ele
sugeriu.
Outro sibilar suave no comunicador.
– Assim como a Lady Vader, e o Lorde Vader antes dela – disse
o Noghri. – Você também lê as almas dos Noghri.
Luke deu de ombros. Na verdade, não tinha sido muito mais do
que um palpite de sorte.
– Para onde estamos indo?
– Outros mostrarão a você – disse o piloto. – Pois aqui devo
deixá-lo. Adeus, filho de Vader. Minha família apreciará por muito
tempo a honra deste dia. – A nave-patrulha fez um ângulo agudo
para cima, voltando para o espaço...
E, em perfeita sincronia, dois carros das nuvens equipados para
combate surgiram aparentemente do nada para assumir posições
de flanco.
– Nós o saudamos, filho de Vader – uma nova voz disse pelo
comunicador. – Estamos honrados em guiá-lo. Siga-nos.
Um dos carros das nuvens avançou para tomar a dianteira, e o
outro recuou para a retaguarda. Luke seguiu com a formação,
tentando simplesmente ver para onde eles poderiam estar se
dirigindo. Até onde ele podia dizer, as encostas eram tão desoladas
quanto o resto do planeta.
R2 chilreou, e uma mensagem rolou pela tela de Luke.
– Um rio? – perguntou Luke, espiando pelo tampo da cabine. –
Onde... ah, lá está. Desembocando entre as duas linhas das
encostas, certo?
O droide emitiu um bip afirmativo. Parecia ser um rio bem veloz
também, Luke deduziu ao se aproximarem dele, quando pôde ver as
numerosas linhas de água branca indicando pedras submersas.
Provavelmente explicava o motivo de a garganta entre as duas
encostas ser tão íngreme e profunda.
Eles alcançaram o fim das encostas alguns minutos depois. O
carro das nuvens que estava na dianteira virou para bombordo,
voando suavemente sobre um conjunto de contrafortes e
desaparecendo ao redor da lateral de um dos afloramentos de rocha
mais elevados. Luke foi atrás, sorrindo tenso quando uma antiga
lembrança lhe veio à mente. Você deverá manobrar direto descendo
por esta trincheira... Orientando o X-wing ao redor dos contrafortes,
ele voou para dentro da sombra das encostas.
E entrou em um mundo completamente diferente. Ao longo das
margens estreitas do rio, o solo era uma massa sólida de verde
brilhante.
R2 assoviou surpreso.
– São plantas – disse Luke, percebendo só depois que as
palavras tinham saído de sua boca o quanto elas soavam ridículas.
Claro que eram plantas; mas achar plantas em Honoghr...
– É o futuro de nosso mundo – um membro de sua escolta
falou, e não havia como não perceber o orgulho sério em sua voz. –
O futuro que a Lady Vader nos deu. Continue a seguir, filho de
Vader. A área de pouso ainda está mais à frente.
No fim das contas, a área de pouso era um enorme pedregulho
achatado que despontava parcialmente por sobre o rio veloz cerca
de dois quilômetros à frente. Com um olho cauteloso na água
corrente abaixo, Luke foi descendo o X-wing. Felizmente, a área era
maior do que havia parecido a cinquenta metros de altura. Os carros
das nuvens esperaram até que ele pousasse, depois viraram e
voltaram garganta abaixo. Colocando os sistemas do X-wing em
standby, Luke olhou ao redor.
O verde, ele via agora, não era tão monocromático quanto ele
havia primeiro pensado. Havia pelo menos quatro tons ligeiramente
diferentes representados, entremeados em um padrão consistente
demais para ser acidental. Um cano podia ser visto descendo num
ângulo até o rio, com uma das extremidades sumindo dentro das
plantas. Utilizava a pressão da corrente, ele deduziu, para levar
água até a margem para irrigação. A alguns metros do pedregulho
rio abaixo, oculto por um afloramento de rocha, ele pôde ver uma
pequena construção semelhante a uma cabana. Dois Noghri
estavam parados bem à sua porta: um de pele cinza-aço, o outro
com um tom de cinza muito mais escuro. Assim que os viu, eles
partiram em sua direção.
– Parece ser o comitê de recepção – Luke comentou com R2,
apertando o botão para abrir o tampo da cabine. – Você fica parado
aqui. E eu quero dizer parado. Se cair na água como aconteceu
naquela nossa primeira viagem a Dagobah, vamos ter sorte se
conseguirmos encontrar todas as suas peças.
Não foi preciso repetir a ordem. R2 trinou nervoso uma resposta
afirmativa, e depois fez uma pergunta igualmente nervosa.
– Sim, tenho certeza de que eles são amigáveis – Luke lhe
assegurou, tirando seu capacete de voo e se levantando. – Não se
preocupe, não vou me afastar muito. – Pulando sobre a lateral do X-
wing, ele foi na direção de seus anfitriões.
Os dois Noghri já estavam na beira do pedregulho de pouso,
parados em silêncio, olhando para ele. Luke fez uma careta para si
mesmo ao caminhar na direção deles, usando a Força e desejando
ter habilidade suficiente para obter alguma leitura – qualquer leitura
– com relação àquela espécie.
– Em nome da Nova República, eu lhes trago saudações – ele
disse ao chegar perto o bastante para se fazer ouvir por sobre o
rugido do rio. – Eu sou Luke Skywalker. Filho do Lorde Darth Vader,
irmão de Leia Organa Solo. – Estendeu a mão esquerda, palma
para cima, conforme Leia o havia instruído a fazer.
O Noghri mais velho deu um passo à frente e tocou a palma da
mão de Luke com seu focinho. As narinas se achataram na pele
dele, e Luke precisou se esforçar para não puxar a mão por causa
das cócegas.
– Eu o saúdo, filho de Vader – disse o alien, soltando a mão de
Luke. Em uníssono, ambos os Noghri caíram de joelhos, abrindo as
mãos ao lado do corpo no gesto de deferência que Leia havia
descrito. – Eu sou Ovkhevam do clã Bakh’tor. Eu sirvo ao povo
Noghri aqui no futuro de nosso mundo. O senhor nos honra com sua
presença.
– Eu fico honrado pela sua hospitalidade – Luke disse quando
ambos os aliens se levantaram. – E seu companheiro é...?
– Eu sou Khabarakh do clã Kihm’bar – disse o Noghri mais
novo. – O clã de Vader agora me honra duplamente.
– Khabarakh do clã Kihm’bar – Luke repetiu, olhando para o
jovem alienígena com nova apreciação. Então aquele era o jovem
comandante Noghri que havia arriscado tudo, primeiro ao trazer Leia
até seu povo, depois ao protegê-la do Grão Almirante Thrawn. –
Pelo seu serviço para minha irmã Leia eu lhe agradeço. Minha
família e eu estamos em dívida com você.
– A dívida não é sua, filho de Vader – disse Ovkhevam. – A
dívida pertence ao povo Noghri. As ações de Khabarakh do clã
Kihm’bar foram apenas a primeira linha de pagamento.
Luke assentiu, sem entender ao certo o que o outro dizia.
– Você chamou este lugar de futuro do seu mundo? – ele
perguntou, esperando mudar de assunto.
– É o futuro dado ao povo Noghri pela Lady Vader – disse
Ovkhevam, acenando com as mãos num gesto circular que abarcou
o vale inteiro. – Aqui, com o presente dela, nós limpamos a terra das
plantas venenosas do Império. Aqui um dia haverá alimento
suficiente para todos.
– É impressionante – disse Luke, e estava falando sério. Em
algum outro lugar, todo aquele verde teria se destacado contra a
grama kholm como um bantha numa reunião de família Jawa. Mas
ali, com as linhas de encosta gêmeas bloqueando a visão de toda
parte a não ser mais ou menos direto do alto, havia uma boa chance
de que naves do Império que chegassem ao planeta jamais sequer
suspeitassem de sua existência. O rio fornecia água em
abundância, a latitude baixa implicava uma estação de cultivo
ligeiramente maior do que na Terra Limpa propriamente dita; e, se o
pior acontecesse, uma série de explosivos adequadamente
colocados poderiam represar o rio ou derrubar parte das encostas,
soterrando as evidências de sua rebelião silenciosa contra o
Império.
E os Noghri mal tiveram um mês para planejar, projetar e
construir aquilo tudo. Não era de se espantar que Thrawn e Vader
antes dele tivessem achado os Noghri servos tão úteis.
– Foi a Lady Vader quem tornou isso possível – disse
Ovkhevam. – Temos pouco a oferecer em termos de hospitalidade,
filho de Vader. Mas o que temos é seu.
– Obrigado – assentiu Luke. – Mas, como sua nave-patrulha
ressaltou, minha presença em Honoghr é um perigo a vocês. Se
vocês puderem fornecer células de energia para minha nave, partirei
o mais rápido que puder. Eu pagarei, é claro.
– Não poderíamos aceitar pagamento do filho de Vader – disse
Ovkhevam, parecendo chocado com essa ideia. – Seria meramente
uma única linha da dívida que o povo Noghri tem.
– Compreendo – disse Luke, contendo um suspiro. Eles
certamente tinham boas intenções, mas toda aquela culpa com
relação ao serviço deles para o Império ia ter de parar. Raças e
seres bem mais sofisticados que eles haviam sido igualmente
enganados pelo imperador. – Suponho que a primeira etapa seja
descobrir se vocês têm peças extras que caibam na minha nave.
Que tal fazermos isso?
– Já está feito – disse Khabarakh. – Os carros das nuvens
levarão a notícia de sua necessidade até o espaçoporto em Nystao.
As células de energia e os técnicos para instalá-las estarão aqui ao
cair da noite.
– Enquanto isso, nós oferecemos ao senhor a nossa
hospitalidade – acrescentou Ovkhevam, dando um olhar de
esguelha para Khabarakh. Talvez sentindo que o Noghri mais jovem
devesse deixar seu ancião falar.
– Eu ficaria honrado – disse Luke. – Indique o caminho.
A cabana sob o afloramento de rocha da encosta era tão
pequena quanto havia parecido vista do pedregulho de pouso. A
maior parte do espaço interno estava ocupada por dois catres
estreitos, uma mesa baixa e o que parecia ser o módulo de
armazenamento e preparação de comida de uma espaçonave
pequena. Mas pelo menos era mais silencioso que do lado de fora.
– Este será seu lar enquanto o senhor estiver em Honoghr –
Ovkhevam lhe disse. – Khabarakh e eu montaremos guarda do lado
de fora. Para protegê-lo com nossas vidas.
– Isso não será necessário – Luke lhes garantiu, olhando ao
redor do aposento. Ele claramente havia sido preparado para uma
ocupação de longo prazo. – O que vocês dois fazem aqui, se posso
perguntar?
– Eu sou o guardião deste lugar – disse Ovkhevam. – Eu
percorro a terra, para ver se as plantas estão crescendo
adequadamente. Khabarakh do clã Kihm’bar... – Ele olhou para o
alien mais jovem, e Luke teve a distinta impressão de um humor
amargo naquele olhar de relance. – Khabarakh do clã Kihm’bar é
um fugitivo do povo Noghri. Neste momento temos muitas naves
procurando por ele.
– É claro – Luke disse secamente. Com o Grão Almirante
Thrawn ameaçando submeter Khabarakh a um interrogatório
imperial completo, tinha sido vital que o jovem comando “fugisse” da
custódia e sumisse de vista. Era igualmente vital que o
conhecimento da traição do Império fosse passado para as equipes
de ataque Noghri espalhadas pela galáxia. Os dois objetivos se
encontravam de modo um tanto elegante.
– O senhor precisa de comida? – perguntou Ovkhevam. – Ou
repouso?
– Estou bem, obrigado – disse Luke. – Acho que o melhor seria
provavelmente que eu voltasse à minha nave e começasse a retirar
aquelas células de energia.
– Posso ajudar? – perguntou Khabarakh.
– Eu gostaria disso, sim – disse Luke. Ele não precisava de
ajuda nenhuma, mas quanto mais rápido os Noghri achassem que
essa suposta dívida estivesse paga, melhor. – Vamos: o kit de
ferramentas está na nave.

– Recebemos notícias de Nystao – disse Khabarakh, movendo-


se invisível pela escuridão até onde Luke estava sentado, recostado
no trem de pouso do X-wing. – O capitão da nave imperial decidiu
completar pequenos reparos aqui. Ele espera que o trabalho leve
dois dias. – Ele hesitou. – Ao senhor, filho de Vader, os dinastas
expressam suas desculpas.
– Não é necessário se desculpar – Luke lhe garantiu, olhando
além da sombra da asa do caça para a fina faixa de estrelas
reluzindo no meio da total escuridão. Então era isso. Ele estava
preso ali por mais dois dias. – Quando vim para cá eu sabia que
isso poderia acontecer. Só lamento ter de impor minha presença por
mais tempo a vocês.
– Sua presença não é uma imposição.
– Aprecio a hospitalidade. – Luke assentiu na direção das
estrelas no alto. – Concluo que ainda não haja indicação de que
eles pudessem ter avistado minha nave.
– O filho de Vader não saberia se isso tivesse acontecido? –
retrucou Khabarakh.
Luke sorriu na escuridão.
– Até mesmo Jedi têm limitações, Khabarakh. O perigo distante
é muito difícil de se detectar.
E, no entanto, lembrou a si mesmo silenciosamente de que a
Força obviamente ainda estava com ele. Aquele cruzador de ataque
lá no alto poderia facilmente ter aparecido num momento mais
perigoso – digamos, enquanto a equipe de técnicos Noghri
estivesse em trânsito em direção ao vale ou saindo dele, ou até
mesmo enquanto o próprio Luke estivesse partindo rumo ao espaço.
Um capitão alerta poderia ter captado qualquer um desses sinais, e
posto tudo a perder.
Num sussurro de movimento, mais sentido que ouvido por
sobre o som do rio, Khabarakh se sentou ao lado dele.
– Não é o bastante, é? – o Noghri perguntou baixinho. – Este
lugar. Os dinastas o chamam de nosso futuro. Mas não é.
Luke balançou a cabeça.
– Não – ele teve de admitir. – Vocês fizeram um tremendo
trabalho com este lugar, e ele certamente os ajudará a alimentar seu
povo. Mas o futuro de Honoghr... Não sou especialista, Khabarakh.
Mas, pelo que já vi aqui, não acho que Honoghr possa ser salvo.
O Noghri sibilou entre seus dentes-agulha, de maneira quase
inaudível por sobre a água corrente lá embaixo.
– O senhor fala o que muitos dos Noghri pensam – ele disse. –
Talvez ninguém acredite de fato em outra coisa.
– Podemos ajudá-los a encontrar um novo lar – prometeu Luke.
– Existem muitos mundos na galáxia. Vamos encontrar um lugar
onde vocês possam começar de novo.
Khabarakh voltou a sibilar.
– Mas não será Honoghr.
Luke engoliu em seco.
– Não.
Por um minuto nenhum dos dois falou. Luke ficou escutando os
sons do rio, seu coração doendo de simpatia pelos Noghri. Mas o
que havia sido feito a Honoghr estava muito além de seu poder para
mudar. Os Jedi realmente tinham limitações.
Outra ondulação de ar quando Khabarakh se levantou.
– O senhor está com fome? – ele perguntou a Luke. – Se
estiver, posso trazer comida.
– Sim, obrigado – disse Luke.
O Noghri partiu. Sufocando um suspiro, Luke mudou de posição
contra o trem de pouso. Já era ruim o bastante saber que existia um
problema que ele era incapaz de resolver; ter de ficar sentado ali por
dois dias com toda essa questão o encarando de forma acusadora
só tornava as coisas piores.
Ele levantou a cabeça e olhou para a trilha de estrelas,
imaginando o que Leia teria pensado de toda aquela situação. Será
que ela também havia percebido que Honoghr já chegara a um
ponto em que seria impossível salvá-lo? Ou poderia ter alguma ideia
de como restaurá-lo? Ou será que ela havia andado tão ocupada
com as preocupações de sobrevivência imediata para sequer
pensar tão adiante assim?
Ele fez uma careta ao sentir mais uma pequena pontada de
culpa. Em algum lugar lá fora, em Coruscant, sua irmã estava para
dar à luz gêmeos. Até onde ele sabia, isso já podia ter acontecido.
Han estava com ela, claro, mas ele também queria estar lá.
Mas se não podia estar lá pessoalmente...
Respirando bem fundo, permitiu que seu corpo relaxasse. Uma
vez antes, em Dagobah, ele havia sido capaz de usar a força para
ver o futuro. Para ver seus amigos, e o caminho que eles estavam
percorrendo. Naquela época, ele tinha Yoda para orientá-lo... mas,
se conseguisse encontrar sozinho o padrão adequado, poderia ser
capaz de captar um vislumbre de seu sobrinho e sua sobrinha. Com
cuidado, mantendo os pensamentos e a vontade concentrados, ele
usou a Força...
Leia estava agachada na escuridão, com sua arma de raios e o
sabre de luz nas mãos, coração acelerado de medo e determinação.
Atrás dela estava Winter, segurando com força duas pequenas
vidas, indefesas e frágeis. Uma voz – a de Han – repleta de raiva e
determinação. Chewbacca estava em algum lugar ali perto – em
algum ponto mais acima, ele pensou – e Lando com ele. À frente
deles havia figuras nas sombras, suas mentes cheias de ameaça e
um propósito frio e mortal. Uma arma de raios disparou – e mais
outra –; uma porta explodiu...
– Leia! – Luke gritou, sacudindo o corpo violentamente num
espasmo no instante em que o transe se rompeu como uma bolha,
uma última imagem tremeluzindo e desaparecendo na noite de
Honoghr. Uma pessoa sem rosto, movendo-se em direção à sua
irmã e seus sobrinhos por trás do mal tenebroso. Uma pessoa
cercada pelo poder da Força...
– O que foi? – uma voz Noghri perguntou rispidamente ao seu
lado.
Luke abriu os olhos e viu Khabarakh e Ovkhevam agachados à
sua frente, um pequeno bastão luminoso banhando seus rostos de
pesadelo na luz fraca.
– Eu vi Leia – ele lhes disse, ouvindo o tremor da reação em
sua voz. – Ela e seus filhos estavam em perigo. – Ele respirou fundo
e estremeceu, purgando a adrenalina de seu corpo. – Preciso voltar
a Coruscant.
Ovkhevam e Khabarakh trocaram olhares.
– Mas se o perigo está acontecendo agora...? – perguntou
Ovkhevam.
– Não é agora – Luke balançou a cabeça. – É no futuro. Não sei
daqui a quanto tempo.
Khabarakh tocou o ombro de Ovkhevam, e por um minuto os
Noghri conversaram baixinho em sua própria língua. Tudo bem,
Luke disse a si mesmo, praticando as técnicas calmantes Jedi. Tudo
bem. Lando estava na visão; ele se lembrava bem de ter visto
Lando. Mas Calrissian, até onde ele sabia, ainda estava na sua
mineração da Cidade Nômade em Nkllon. O que significava que
Luke ainda tinha tempo para voltar a Coruscant antes que o ataque
a Leia pudesse acontecer.
Ou não? Seria a visão uma imagem verdadeira do futuro? Ou
uma mudança nos eventos poderia alterar o que ele havia visto?
Difícil ver, mestre Yoda havia dito sobre a visão de Luke em
Dagobah. Sempre em movimento está o futuro. E se alguém com a
profundidade de conhecimento que Yoda tinha da Força havia sido
incapaz de filtrar as incertezas...
– Se o senhor desejar, filho de Vader, os grupos de ataque
tomarão a nave do Império – disse Ovkhevam. – Se as pessoas
nela forem eliminadas rapidamente, não restará indícios que
possam colocar a culpa nos Noghri.
– Não posso permitir que façam isso – Luke balançou a cabeça.
– É perigoso demais. Não há como garantir que eles não enviarão
uma mensagem antes.
Ovkhevam se endireitou.
– Se a Lady Vader está em perigo, o povo Noghri está disposto
a correr esse risco.
Luke olhou para eles e uma estranha sensação tomou conta
dele. Aqueles rostos Noghri de pesadelo não haviam mudado; mas,
no espaço de um segundo, a percepção que Luke tinha deles, sim.
Eles já não eram apenas mais um conjunto abstrato de feições
alienígenas. Subitamente, eles tinham se tornado os rostos de
amigos.
– Da última vez em que tive uma visão dessas, saí correndo
sem pensar para tentar ajudar – ele lhes disse baixinho. – Não só
não os ajudei em nada, como também quase lhes custei sua chance
de fuga. – Ele olhou para sua mão direita artificial. Sentindo mais
uma vez a memória fantasmagórica do sabre de luz de Vader
cortando seu pulso... – E perdi outras coisas também.
Voltou a olhar para eles.
– Não vou cometer o mesmo erro novamente. Não com a vida
do povo Noghri em jogo. Vou esperar até que a nave do Império
tenha partido.
Khabarakh estendeu a mão para tocar gentilmente seu ombro.
– Não se preocupe com a segurança deles, filho de Vader – ele
disse. – A Lady Vader não será derrotada facilmente. Não com o
Wookiee Chewbacca ao seu lado.
Luke olhou para as estrelas acima. Não, com Han, Chewie e
toda a segurança do Palácio ao seu lado, Leia deveria ser capaz de
lidar com quaisquer intrusos normais.
Mas havia aquela última imagem informe. A pessoa que ele
havia sentido usando a Força...
Em Jomark, o mestre Jedi C’baoth havia deixado bem claro que
queria Leia e seus filhos. Será que ele os queria tanto assim a ponto
de ir pessoalmente buscá-los em Coruscant?
– Eles vão ficar bem – repetiu Khabarakh.
Fazendo um esforço, Luke assentiu.
– Eu sei – ele concordou, tentando soar como se acreditasse.
Não fazia sentido deixar todos preocupados.

O último dos incêndios estava apagado; a última das


microfraturas, selada; o último dos feridos, levado para a
enfermaria... e, com uma estranha mistura de resignação e fúria fria,
Lando Calrissian olhou pela janela de sua sala de comando
particular e percebeu que tudo estava acabado. Primeiro a Cidade
das Nuvens em Bespin; e agora a Cidade Nômade em Nkllon. Pela
segunda vez, o Império tinha tomado algo que ele havia trabalhado
para criar – trabalhado, suado e trapaceado para construir – e o
transformara em cinzas.
O console em sua mesa emitiu um bip. Ele foi até lá, inclinou-se
sobre a mesa e acionou o comunicador.
– Calrissian – disse, enxugando a testa com a outra mão.
– Senhor, aqui é Bagitt na Central de Motores – soou uma voz
cansada. – O último motivador de drive acabou de pifar.
Lando fez uma careta; mas aquela não era exatamente uma
novidade, levando em consideração todos os danos que os TIE
Fighters haviam provocado em sua operação mineira ambulante.
– Alguma chance de consertar um número suficiente deles para
nos colocar em movimento novamente? – ele perguntou.
– Não sem uma fragata inteira cheia de peças sobressalentes –
disse Bagitt. – Desculpe, senhor, mas são muitas coisas quebradas
ou fundidas.
– Entendido. Neste caso, é melhor você concentrar seu pessoal
em manter o suporte de vida funcionando.
– Sim, senhor. Ahn... senhor, tem um rumor circulando de que
perdemos todas as comunicações de longo alcance.
– É apenas temporário – Lando lhe garantiu. – Já temos gente
trabalhando nisso neste momento. E peças sobressalentes
suficientes pra construir dois novos transmissores.
– Sim, senhor – disse Bagitt, parecendo um pouco menos
desencorajado. – Bom... acho que vou cuidar do suporte de vida.
– Mantenha-me informado – disse Lando.
Desligando o comunicador, ele voltou à janela. Vinte dias, eles
tinham; apenas vinte dias antes que a rotação lenta de Nkllon os
tirasse do centro do lado noturno e os jogasse em plena luz do sol.
E a essa altura não iria importar muito se os motivadores de drives,
equipamento de comunicação ou até mesmo suporte de vida
estariam funcionando. Quando o sol começasse sua lenta
caminhada na direção do horizonte ali, todos os que ainda
estivessem na Cidade Nômade sofreriam uma morte muito rápida e
muito quente.
Vinte dias.
Lando olhou para o céu noturno pela escotilha, deixando os
olhos passearem pelas constelações com que havia sonhado nos
ocasionais momentos vagos. Se conseguissem consertar o
transmissor de longo alcance no próximo dia, poderiam pedir ajuda
a Coruscant. E não importava o que a força de ataque do Império
pudesse ter feito às naves-escudo no depósito da parte externa do
sistema, os técnicos da Nova República deveriam ser capazes de
colocar uma delas para funcionar novamente, pelo menos bem o
bastante para uma última viagem ao sistema interior. Seria bem
apertado, mas com alguma sorte...
Bruscamente, sua linha de pensamento foi interrompida. Ali,
logo acima de sua cabeça, a estrela brilhante de uma nave-escudo
em aproximação havia aparecido.
Por reflexo, ele deu um passo na direção de sua mesa para
acionar o alerta dos postos de combate. Se aqueles fossem os
imperiais novamente, para terminar o serviço...
Ele parou. Não. Se fossem os imperiais, então era o fim. Ele
não tinha mais caças para enviar contra eles, e nenhuma defesa na
Cidade Nômade. Não havia sentido em fazer o seu pessoal ficar
abalado por nada.
E então, da mesa vieram os guinchos de estática do sinal de
sobreposição de comunicação.
– Cidade Nômade, aqui fala o general Bel Iblis – uma voz bem
familiar estrondejou. – Alguém me ouve?
Lando pulou para cima da mesa.
– Aqui fala Lando Calrissian, general – ele disse, lutando para
manter o máximo de displicência possível na voz. – É o senhor aí
fora?
– Somos nós – respondeu Bel Iblis. – Estávamos em Qat
Chrystac quando recebemos seu sinal de socorro. Lamento não
termos conseguido chegar aqui a tempo.
– Eu também – disse Lando. – Como estão as coisas no
depósito das naves-escudo?
– Receio que estejam um tanto bagunçadas – disse Bel Iblis. –
Aquelas suas naves-escudo são muito grandes para serem
facilmente destruídas, mas os imperiais atacaram com força mesmo
assim. No momento esta aqui parece ser a única em condições
mínimas de voar.
– Bem, de qualquer maneira a questão é acadêmica – disse
Lando. – A Cidade Nômade acabou.
– Não há como colocá-la em movimento novamente?
– Não nos vinte dias que temos antes que a linha da aurora nos
pegue – explicou Lando. – Poderíamos ser capazes de enterrá-la
fundo o bastante para resistir uma volta ao redor do lado diurno,
mas precisaríamos de um equipamento pesado que não temos.
– Talvez pudéssemos retirá-la completamente de Nkllon e levá-
la para o sistema exterior para reparos – sugeriu Bel Iblis. – Uma
fragata de ataque e uns dois veículos pesados deveriam fazer o
serviço se pudéssemos fazer outra nave-escudo voar.
– E se pudermos convencer o almirante Ackbar a desviar uma
fragata de ataque dos planos de combate – Lando o lembrou.
– É verdade – admitiu Bel Iblis. – Suponho que eu deva ouvir o
resto das más notícias. O que o Império levou?
Lando suspirou.
– Tudo – ele disse. – Todas as nossas reservas. Hfredium,
kammris, dolovite; é só dizer. Se nós mineramos, eles levaram.
– Quanto no total?
– Cerca de quatro meses de mineração. Um pouco mais de três
milhões segundo os preços atuais de mercado.
Por um momento Bel Iblis ficou em silêncio.
– Não sabia que este local era assim tão produtivo. Torna ainda
mais imperativo que convençamos Coruscant a ajudar vocês a
voltarem a funcionar. Quantas pessoas você tem aí embaixo?
– Quase cinco mil – respondeu Lando. – Mas algumas delas
estão em péssimo estado.
– Tenho muita experiência com transporte de feridos – Bel Iblis
disse sombrio. – Não se preocupe, vamos trazê-los a bordo.
Gostaria que você preparasse um grupo para ficar para trás e deixar
as naves-escudo operacionais. Vamos transportar todo o restante
para Qat Chrystac. Será um lugar tão bom quanto qualquer outro
para você transmitir um pedido formal de ajuda a Coruscant.
– Eu não achava que houvesse qualquer bom lugar a partir do
qual se transmitir um pedido – grunhiu Lando.
– Eles têm muita coisa na cabeça lá – concordou Bel Iblis. – Se
valer de alguma coisa, eu diria que a chance de seu pedido não se
perder na confusão está acima da média.
Lando mordeu o lábio.
– Então vamos pular inteiramente a confusão. Leve-me a
Coruscant e me deixe falar com eles pessoalmente.
– Isso vai lhe custar mais cinco dias de viagem – ressaltou Bel
Iblis. – Você pode se dar a esse luxo?
– Melhor cinco dias passados assim do que ficar sentado na
órbita de Qat Chrystac me perguntando se minha transmissão já
teria saído do centro de comunicações – retrucou Lando. – Cinco
dias para Coruscant, mais um ou dois para falar com Leia para pedir
uma nave e rebocadores, e depois mais dez para voltar até aqui
com eles e terminar o serviço.
– Dezessete dias. Vai ficar bem apertado.
– Não tenho ideia melhor. O que me diz?
Bel Iblis bufou levemente.
– Bem, eu estava planejando ir a Coruscant logo de qualquer
maneira. Poderia ser agora.
– Obrigado, general – disse Lando.
– Não tem problema. Melhor começar a preparar seu pessoal:
vamos lançar nossas naves auxiliares assim que estivermos na
umbra planetária.
– Certo. Vejo você em breve.
Lando desligou o comunicador. Era uma tentativa arriscada –
ele sabia disso. Mas, sendo bem realista, era a única chance que
ele tinha. E, além do mais, ainda que eles recusassem seu pedido,
uma viagem a Coruscant agora não seria má ideia. Ele veria Leia,
Han e os gêmeos recém-nascidos, e quem sabe até mesmo
encontraria Luke ou Wedge.
Olhou pela escotilha, torcendo o lábio. E, em Coruscant, pelo
menos não teria de se preocupar com ataques do Império.
Acionando o comunicador, começou a dar as ordens de
evacuação.
Jacen havia adormecido no meio de seu jantar, mas Jaina ainda
estava firme e forte. Deitada de lado, Leia mudou de posição na
cama da melhor forma que pôde sem sair do alcance de sua filha e
voltou a pegar seu datapad. Pela sua própria contagem ligeiramente
entorpecida, ela tinha tentado pelo menos quatro vezes terminar
aquela página.
– A quinta vez é a que importa – ela comentou ironicamente
para Jaina, fazendo um carinho na cabeça da filha com a mão livre.
Jaina, com coisas mais imediatas na cabeça, não respondeu.
Por um momento Leia ficou olhando para sua filha enquanto uma
onda renovada de maravilhamento tomava conta de seu ser, apesar
do cansaço. Aquelas mãozinhas que batiam suave e aleatoriamente
contra seu corpo; a moleirinha de cabelos pretos curtos; o rostinho
com sua expressão tão maravilhosamente sincera de concentração
infantil enquanto se esforçava para se alimentar. Uma vida nova, tão
frágil e no entanto tão notavelmente resistente.
E ela e Han haviam criado aquilo. Haviam criado os dois.
Do outro lado do quarto, a porta que dava para as áreas de
lazer da sua suíte se abriu.
– Oi, coração – Han disse baixinho. – Tudo bem aí?
– Ótimo – ela murmurou de volta. – Estamos jantando
novamente.
– Eles comem que nem Wookiees famintos – disse Han, indo
até a cama e fazendo uma rápida avaliação. – Jacen já terminou?
– Acho que ele só queria beliscar alguma coisa – disse Leia,
virando o pescoço para olhar o bebê adormecido deitado na cama
atrás dela. – Ele provavelmente vai querer o segundo prato daqui a
uma hora.
– Gostaria que eles acertassem o horário – disse Han,
sentando-se com cuidado na lateral da cama e inserindo bem
devagar a ponta de seu dedo indicador na palma da mão de Jacen.
A mãozinha se curvou por reflexo ao redor de seu dedo, e Leia
olhou para seu marido a tempo de ver seu familiar sorriso torto. –
Ele vai ser bem forte.
– Você devia sentir a força nesta ponta aqui – disse Leia,
voltando a olhar para Jaina. – Lando ainda está lá embaixo?
– Sim, ele e Bel Iblis ainda estão conversando com o almirante
Drayson – disse Han, colocando sua mão livre no ombro de Leia.
Ela sentiu um calor gostoso pela camisola fina. Quase tão bom
quanto o calor dos pensamentos dele ao encontro de sua mente. –
Ainda tentando convencê-lo a desviar umas duas naves para Nkllon.
– Como está indo?
Han balançou gentilmente o dedo que Jacen segurava, fazendo
barulhinhos para seu filho que dormia.
– Não tão bem – ele admitiu. – Não vamos tirar a Cidade
Nômade do chão sem algo do tamanho de uma fragata de ataque.
Drayson não está exatamente ansioso pra tirar algo assim tão
grande da linha.
– Você ressaltou o quanto precisamos dos metais que Lando
tem minerado lá?
– Mencionei. Ele não ficou impressionado.
– Você precisa saber como falar com Drayson. – Leia olhou
para Jaina. Ela ainda estava se alimentando, mas os olhos estavam
começando a se fechar. – Talvez quando Jaina estiver dormindo eu
possa ir lá embaixo e dar uma mãozinha a Lando.
– Certo – Han disse secamente. – Não se ofenda, coração, mas
dormir em cima da mesa não vai impressionar ninguém.
Leia fez uma careta para ele.
– Não estou tão cansada assim, muito obrigada. E estou
certamente dormindo tanto quanto você.
– Mas nem de longe – disse Han, tirando a mão do ombro de
Leia para acariciar o rosto de Jaina. – Eu consigo cochilar no meio
dessas mamadas da madrugada.
– Você não devia estar se levantando para elas de forma
nenhuma – disse Leia. – Winter ou eu poderíamos tirar os bebês do
berço tão bem quanto você.
– Que bonito – Han disse, fingindo indignação. – Sabe, você
achava que eu era muito útil de ter por perto até as crianças
aparecerem. Agora não precisa mais de mim, não é? Isso, vai me
jogando de lado.
– É claro que eu preciso de você – Leia o acalmou. – Enquanto
a maioria dos droides estiverem em missão de defesa e tivermos
dois bebês que precisam ser trocados, você sempre terá um lugar
aqui.
– Ah, maravilha – grunhiu Han. – Acho que eu preferiria ser
jogado de lado.
– Agora é tarde – Leia lhe garantiu, acariciando sua mão e
voltando a ficar séria. – Eu sei que você quer ajudar, Han, e
realmente agradeço. Só me sinto culpada.
– Bom, não se sinta – Han respondeu, pegando sua mão e
apertando-a. – Nós, velhos contrabandistas, estamos acostumados
a horários estranhos, lembre-se disso. – Ele olhou para a porta do
quarto de Winter. – Winter já foi dormir?
– Não, ela ainda não voltou – disse Leia, estendendo sua mente
na direção do quarto. Até onde podia ver, ele estava de fato vazio. –
Ela tem algum projeto próprio lá embaixo... não sei o que é.
– Eu sei – disse Han, pensativo. – Ela estava na biblioteca
pesquisando os arquivos antigos da Aliança.
Leia virou o pescoço para estudar o rosto dele.
– Problemas?
– Não sei – Han disse devagar. – Winter não fala muito sobre o
que está pensando. Pelo menos não pra mim. Mas está preocupada
com alguma coisa.
Além da porta, Leia captou o vislumbre de outra presença.
– Ela voltou – disse a Han. – Vou ver se consigo fazer com que
ela me fale a respeito.
– Boa sorte – Han grunhiu, apertando a mão de Leia uma última
vez e se levantando. – Acho que vou voltar lá pra baixo. Ver se
consigo ajudar Lando a amaciar o Drayson um pouco.
– Vocês dois deviam convencê-lo a jogar uma partida de
sabacc – sugeriu Leia. – Jogar valendo naves, como você e Lando
fizeram com a Falcon. Quem sabe não conseguem ganhar uma
fragata de ataque?
– O quê, jogar contra Drayson? – Han bufou. – Obrigado, meu
amor, mas Lando e eu não iríamos saber o que fazer com uma frota
inteirinha só pra nós. Te vejo mais tarde.
– Ok. Te amo, Han.
Ele lhe deu outro sorriso torto.
– Eu sei – ele disse, e saiu. Com um suspiro, Leia ajeitou o
ombro no travesseiro e meio que se virou na direção do quarto de
Winter. – Winter? – ela chamou baixinho.
Uma pausa curta; depois a porta se abriu silenciosamente.
– Sim, Sua Alteza? – perguntou Winter, entrando no quarto.
– Gostaria de falar com você por um minuto, se for conveniente
– disse Leia.
– É claro – disse Winter, deslizando para frente naquele seu
jeito maravilhosamente gracioso que Leia sempre havia invejado. –
Acho que Jacen está dormindo. Devo pô-lo no berço?
– Por favor – Leia assentiu. – Han me disse que você tem feito
pesquisas nos arquivos antigos da Aliança.
O rosto de Winter não mudou, mas Leia pôde sentir a mudança
sutil nos seus sentidos e na sua linguagem corporal.
– Sim.
– Posso perguntar por quê?
Com cuidado, Winter levantou Jacen da cama e o levou até o
berço.
– Acho que posso ter descoberto um agente do Império no
Palácio – ela disse. – Estava tentando confirmar isso.
Leia sentiu os pelos da nuca se arrepiarem.
– Quem é?
– Eu realmente prefiro não fazer nenhuma acusação antes de
ter mais informações – disse Winter. – Eu poderia facilmente estar
enganada.
– Aprecio seus escrúpulos – disse Leia. – Mas se você tem
alguma ideia a respeito desse vazamento de informações da fonte
Delta, precisamos saber imediatamente.
– Isso não tem ligação com a fonte Delta – disse Winter,
balançando a cabeça. – Pelo menos não diretamente. Ela não está
aqui tempo suficiente para isso.
Leia franziu a testa para ela, tentando ler seus sentidos. Havia
muita preocupação ali, junto com um desejo igualmente forte de não
fazer acusações apressadas.
– É Mara Jade? – ela perguntou.
Winter hesitou.
– Sim. Mas repito, não tenho nenhuma prova.
– O que você tem?
– Não muita coisa – disse Winter, enfiando o cobertor
cuidadosamente ao redor de Jacen. – Realmente apenas uma
rápida conversa com ela quando a estava escoltando de fora do
setor médico. Ela me perguntou o que eu fiz durante o auge da
Rebelião, e eu lhe contei acerca do meu trabalho Suprimentos e
Aprovisionamento. Então ela me identificou como Marcador.
Leia parou para pensar. Winter teve muitos codinomes durante
aquela época.
– Essa informação estava incorreta?
– Não, eu tive esse nome por um curto período – respondeu
Winter. – E esta é a questão, na verdade. Só fui conhecida como
Marcador por algumas semanas em Averam. Antes que a
Inteligência Imperial acabasse com a célula de lá.
– Sei – Leia disse devagar. – E Mara não estava com os
Averistas?
– Não sei – disse Winter, balançando a cabeça. – Nunca
conheci mais do que alguns membros daquele grupo. É por isso que
estou vasculhando os registros. Pensei que pudesse haver uma
listagem completa em algum lugar.
– Duvido – disse Leia. – Células locais assim quase nunca
guardavam arquivos pessoais. Seria uma sentença de morte grupal
se eles caíssem nas mãos do Império.
– Eu sei. – Winter olhou para ela por cima do berço. – O que
nos deixa num certo impasse.
– Talvez – disse Leia, olhando para além de Winter e tentando
puxar dela tudo o que sabia a respeito de Mara. Não era tanto
assim. Até onde ela sabia, Mara nunca havia afirmado ter nenhuma
afiliação anterior com a Aliança, o que tenderia a dar suporte às
desconfianças de Winter. Por outro lado, fazia menos de dois meses
desde que ela havia alistado Luke para ajudá-la a libertar Karrde de
uma cela de detenção dentro da própria nau capitânia do Grão
Almirante Thrawn. Isso não fazia muito sentido se ela própria fosse
agente do Império. – Eu acho – ela disse devagar para Winter –
que, seja qual for o lado em que Mara um dia esteve, ela não está
mais lá. Qualquer lealdade que ela tenha agora é provavelmente
para com Karrde e seu pessoal.
Winter deu um leve sorriso.
– Isso é um insight Jedi, Sua Alteza? Ou apenas sua opinião
diplomática treinada?
– Um pouco de cada – disse Leia. – Acho que não temos nada
a temer dela.
– Espero que a senhora tenha razão. – Winter fez um gesto. –
Devo pôr Jaina no berço agora?
Leia olhou para baixo. Os olhos de Jaina estavam bem
fechados; sua boquinha fazia sons suaves inspirando o ar.
– Sim, obrigada – ela disse, fazendo um último carinho no rosto
da filha. – Aquela recepção para a delegação de Sarkan ainda está
acontecendo lá embaixo? – ela perguntou ao rolar para longe de
Jaina e esticar os músculos com câimbras.
– Quando passei por lá, estava – disse Winter, pegando Jaina e
colocando-a no berço ao lado de Jacen. – Mon Mothma me pediu
para sugerir à senhora que passe por lá se tiver oportunidade.
– Sim, aposto que pediu – disse Leia, descendo da cama e indo
até o armário. Um dos pequenos benefícios de ter gêmeos em suas
mãos era que ela finalmente tinha uma desculpa perfeita para
escapar dessas funções governamentais que sempre pareciam
tomar mais tempo do que o necessário. Agora ali estava Mon
Mothma, tentando arrastá-la de volta para aquele carrossel
enlouquecido mais uma vez. – E lamento ter de decepcioná-la – ela
acrescentou –, mas receio ter uma coisa mais urgente para fazer
agora. Você toma conta dos gêmeos para mim?
– Certamente – disse Winter. – Posso perguntar onde a
senhora estará?
No armário, Leia selecionou algo mais adequado para vestir em
público do que sua camisola e começou a se trocar.
– Vou ver o que consigo descobrir sobre o passado de Mara
Jade – ela disse.
Pôde sentir a testa de Winter franzindo do outro lado do quarto.
– Posso perguntar como?
Leia deu um sorriso tenso.
– Vou perguntar a ela.
Ele estava diante dela, seu rosto semioculto pelo capuz do
manto, os olhos amarelos brilhando lancinantes enquanto
encaravam a distância infinita entre eles. Seus lábios se moviam,
mas as palavras eram afogadas pelo uivo rouco de alarmes ao redor
deles, preenchendo Mara com uma urgência que rapidamente se
transformou em pânico. Entre ela e o imperador, duas figuras
apareceram: a imagem escura e impositiva de Darth Vader, e a
figura menor, vestida de preto, de Luke Skywalker. Eles estavam
parados diante do imperador, encarando um ao outro, e acenderam
seus sabres de luz. As lâminas se cruzaram, vermelho e branco
brilhante contra verde e branco brilhante, e eles se prepararam para
o combate.
E então, sem aviso, as lâminas se separaram... e, com rugidos
gêmeos de um ódio que era possível ouvir até mesmo por sobre os
alarmes, ambos se viraram e foram na direção do imperador.
Mara ouviu a si mesma gritar ao lutar para correr em socorro de
seu mestre. Mas a distância era grande demais, seu corpo muito
lento. Ela gritou um desafio, tentando pelo menos distraí-los. Mas
nem Vader nem Skywalker pareciam ouvi-la. Eles se afastaram para
flanquear o imperador... e, quando ergueram seus sabres de luz, ela
viu que o imperador a encarava fixamente.
Ela retribuiu o olhar, desejando desesperadamente virar o rosto
para não ver o desastre iminente, mas não conseguia se mover. Um
milhão de pensamentos e emoções a invadiram através daquele
olhar, um caleidoscópio reluzente de dor, medo e raiva que girava
rápido demais para que ela conseguisse realmente absorver. O
imperador ergueu as mãos, lançando cascatas de raios branco-
azulados sobre seus inimigos. Ambos os homens cambalearam sob
o contra-ataque, e Mara ficou observando com esperança súbita e
agoniada de que daquela vez pudesse ser diferente. Mas não.
Vader e Skywalker se endireitaram e, com outro rugido de ódio,
ergueram seus sabres de luz.
Então, sobre os sabres de luz levantados veio o som do trovão
distante...
E com um espasmo que quase a jogou para fora da cadeira,
Mara acordou do sonho.
Ela respirou fundo e estremeceu contra o dilúvio de emoções
que vieram depois do sonho; um turbilhão de dor, raiva e solidão.
Mas desta vez ela não teria o luxo de sair desse emaranhado com
tranquilidade. Do lado de fora de seu quarto ela podia sentir
vagamente outra presença; e, no instante em que pulou da cadeira
de sua mesa e se agachou, assumindo por reflexo uma posição de
combate, o som de trovão de seu sonho – um bater suave na porta
– se repetiu.
Por um longo momento ela pensou na possibilidade de ficar em
silêncio e ver se a pessoa concluiria que o quarto estava vazio e iria
embora. Mas a luz de seu quarto, ela sabia, seria visível por baixo
da porta com dobradiças ao estilo antigo. E se a pessoa lá fora
fosse quem ela suspeitava, ele não seria enganado pelo silêncio, de
qualquer maneira.
– Pode entrar – ela gritou.
A porta foi destrancada e se abriu... mas não era Luke
Skywalker.
– Olá, Mara – Leia Organa Solo falou para ela. – Estou
interrompendo algo?
– Nem um pouco – Mara disse educadamente, reprimindo uma
careta. A última coisa que ela queria naquele momento era
companhia, em particular companhia que estivesse ligada de algum
modo a Skywalker. Mas enquanto ela e Ghent continuassem presos
ali, não seria inteligente afastar de propósito alguém com a
influência de Organa Solo. – Eu estava apenas lendo alguns dos
relatórios de notícias das regiões de combate. Por favor, entre.
– Obrigada – disse Organa Solo, passando por ela e entrando
na suíte. – Eu estava olhando esses mesmos relatórios há algum
tempo. O Grão Almirante Thrawn está certamente justificando a
confiança do falecido imperador em sua habilidade.
Mara lhe lançou um olhar crítico, imaginando o que Skywalker
havia contado a ela. Mas os olhos de Organa Solo estavam voltados
para a janela e as luzes da Cidade Imperial abaixo. E o pouco que
Mara podia discernir dos sentidos da outra mulher não parecia ter
nada de provocador.
– Sim, Thrawn era um dos melhores – ela disse. – Brilhante e
inovador, com uma sede quase compulsiva de vitória.
– Talvez ele precise provar que era tão bom quanto os outros
Grão Almirantes – sugeriu Organa Solo. – Particularmente devido à
sua herança mista e os sentimentos do imperador com relação a
não humanos.
– Tenho certeza de que isso também fazia parte – disse Mara.
Organa Solo deu mais um passo na direção da janela, ainda de
costas para Mara.
– Você conhecia bem o Grão Almirante? – ela perguntou.
– Não exatamente – Mara disse com cautela. – Ele se
comunicou com Karrde algumas vezes quando estive lá e visitou
nossa base em Myrkr uma vez. Ele teve um grande negócio com os
ysalamiri de Myrkr durante um tempo. Karrde chegou a calcular que
eles tiraram 5 ou 6 mil de lá...
– Eu quis dizer se você o conheceu durante a Guerra – disse
Organa Solo, finalmente se virando para encará-la.
Mara retribuiu o olhar com firmeza. Se Skywalker tivesse
contado a ela... mas, se ele tinha contado, por que Mara não estava
em uma cela de detenção? Não; Organa Solo tinha de estar ali
numa missão de investigação.
– Por que eu teria conhecido Thrawn durante a guerra? – ela
retrucou.
Organa Solo deu de ombros ligeiramente.
– Sugeriram que você poderia ter servido ao Império no
passado.
– E você queria ter certeza disso antes de me trancafiar?
– Eu queria saber se você teria algum conhecimento a respeito
do Grão Almirante que pudéssemos usar contra ele – corrigiu
Organa Solo.
Mara bufou.
– Não há nada – ela disse. – Não com Thrawn. Ele não tem
padrões; nenhuma estratégia favorita; nenhuma fraqueza
identificável. Ele estuda seus inimigos e planeja seus ataques contra
pontos cegos psicológicos. Ele não compromete demais suas
forças, e não é orgulhoso demais para recuar quando está claro que
ele está perdendo. O que não acontece com muita frequência.
Como você está descobrindo. – Ela ergueu uma sobrancelha. – Algo
do que eu disse ajudou você? – ela acrescentou sarcástica.
– Na verdade, sim – disse Organa Solo. – Se conseguirmos
identificar as fraquezas que ele está planejando explorar,
poderíamos ser capazes de antecipar a direção do seu ataque.
– Não vai ser fácil – avisou Mara.
Organa Solo deu um sorriso fraco.
– Não, mas já nos dá um ponto de partida. Obrigada pela sua
ajuda.
– De nada – disse Mara, as palavras saindo automaticamente.
– Mais alguma coisa?
– Não, acho que não – disse Organa Solo, afastando-se da
janela e seguindo para a porta. – Preciso voltar e dormir um pouco
antes que os gêmeos acordem novamente. E você provavelmente
vai querer se deitar também.
– E eu ainda estou livre para andar pelo Palácio?
Organa Solo voltou a sorrir.
– Claro. O que quer que você tenha feito no passado, está
evidente que você não está servindo ao Império agora. Boa noite. –
Ela se virou para a porta, estendeu a mão para a maçaneta...
– Eu vou matar seu irmão – Mara disse a ela. – Ele lhe contou
isso?
Organa Solo se enrijeceu, apenas um pouco, e Mara pôde
sentir a onda de choque atravessar aquela calma adquirida pelo
treinamento Jedi. Sua mão, quase na maçaneta, caiu.
– Não, ele não contou – ela disse, ainda de costas para Mara. –
Posso perguntar por quê?
– Ele destruiu a minha vida – Mara respondeu, sentindo a velha
dor funda em sua garganta e se perguntando por que estava
contando aquilo para Organa Solo. – Você está errada; eu não
apenas servi o Império. Eu fui agente pessoal do imperador. Ele me
trouxe aqui para Coruscant e para o Palácio Imperial e me treinou
para ser uma extensão de sua vontade pela galáxia afora. Eu podia
ouvir sua voz de qualquer lugar do Império, e sabia como transmitir
suas ordens a qualquer um, desde uma brigada de stormtroopers
até um grão-moff. Eu tinha autoridade, poder e um sentido na vida.
Eles me conheciam como a mão do imperador, e me respeitavam do
mesmo jeito que o respeitavam. Seu irmão tirou tudo isso de mim.
Organa Solo se virou para encará-la.
– Lamento – ela disse. – Mas não havia outra escolha. As vidas
e a liberdade de bilhões de seres...
– Não vou discutir o assunto com você – Mara a interrompeu. –
Você não tem como entender pelo que passei.
Uma sombra de dor distante atravessou o rosto de Organa
Solo.
– Você está errada – ela disse baixinho. – Eu entendo muito
bem.
Mara a encarou fuzilando; mas o olhar não tinha nenhuma força
de ódio por trás dele. Leia Organa Solo de Alderaan, que havia sido
forçada a observar enquanto a primeira Estrela da Morte obliterava
seu mundo inteiro...
– Pelo menos você teve uma vida para a qual ir depois – ela
finalmente grunhiu. – Você teve toda a Rebelião: mais amigos e
aliados do que podia contar. Eu não tive ninguém.
– Deve ter sido difícil.
– Eu sobrevivi – Mara disse simplesmente. – Então, agora você
vai me colocar na detenção?
Aquelas sobrancelhas cultivadas em Alderaan se ergueram
levemente.
– Você vive sugerindo que eu devia mandar prendê-la. É isso o
que você quer?
– Eu já lhe disse o que quero. Eu quero matar seu irmão.
– Quer? – perguntou Organa Solo. – Quer mesmo?
Mara deu um sorriso fraco.
– Traga ele aqui e eu provo.
Organa Solo estudou o rosto dela, e Mara pôde sentir o toque
tênue de seus sentidos Jedi rudimentares também.
– Pelo que Luke me disse, parece que já teve diversas chances
de matá-lo – Organa Solo ressaltou. – E não aproveitou nenhuma.
– Não foi por falta de intenção – disse Mara. Mas era um
pensamento que a vinha consumindo também. – Eu simplesmente
vivo me metendo em situações onde preciso dele vivo. Mas isso vai
mudar.
– Talvez – disse Organa Solo, percorrendo o rosto de Mara com
os olhos. – Ou talvez não seja realmente você que o queira morto.
Mara franziu a testa.
– O que isso quer dizer?
O olhar de Organa Solo se afastou de Mara e foi até a janela, e
Mara pode sentir um estreitamento dos sentidos da outra mulher.
– Eu estive em Endor dois meses atrás – ela disse.
Uma sensação gélida subiu pela espinha de Mara. Ela também
havia estado em Endor, quando fora levada até lá para enfrentar o
Grão Almirante Thrawn... e se lembrava de como havia se sentido
ao redor daquele planeta onde a morte do imperador havia ocorrido.
– E...? – ela perguntou. Até mesmo para ela própria, sua voz
soou tensa.
Organa Solo também ouviu isso.
– Você sabe do que eu estou falando, não sabe? – ela
perguntou, ainda olhando para as luzes da Cidade Imperial. – Ainda
existe alguma sombra da presença do imperador ali. Uma parte
daquele surto final de ódio e fúria. Como um... não sei o quê.
– Como uma mancha de sangue emocional – Mara disse
baixinho, conseguindo formar a imagem espontânea e vividamente
em sua cabeça. – Marcando o lugar onde ele morreu.
Ela olhou para Organa Solo, para encontrar os olhos da outra
mulher focados nela.
– Sim – disse Organa Solo. – É exatamente isso.
Mara respirou fundo, forçando o tremor sombrio a sair de sua
mente.
– Então, o que isso tem a ver comigo?
Organa Solo a estudou.
– Acho que você sabe.
Você vai matar Luke Skywalker.
– Não – disse Mara, com a boca subitamente seca. – Você está
errada.
– Estou? – Organa Solo perguntou baixinho. – Você disse que
podia ouvir a voz do imperador de qualquer parte da galáxia.
– Eu podia ouvir a voz dele – Mara retrucou brusca. – Nada
mais.
Organa Solo deu de ombros.
– Você sabe mais do que eu, é claro. Mesmo assim, pode valer
a pena pensar a respeito.
– Vou fazer isso – Mara disse com rigidez. – Se for só isso,
você pode ir.
Organa Solo assentiu; seus sentidos não demonstravam
nenhuma irritação por ter sido dispensada como um serviçal inferior.
– Obrigada por sua ajuda – ela disse. – Falarei com você
depois.
Com um último sorriso, ela abriu a porta e saiu.
– Não conte com isso – Mara resmungou para ela, voltando-se
para a mesa e caindo na cadeira. Aquilo havia ido longe demais. Se
Karrde estava preocupado demais com os negócios para se
comunicar com seu homem de contato, então o homem de contato
iria tirar Ghent e ela dali. Puxando seu arquivo de código, ela digitou
uma solicitação de comunicação de longo alcance.
A resposta foi imediata. INCAPAZ DE ACESSAR, as palavras rolaram
por sua tela. SISTEMA DE COMUNICAÇÃO DE LONGO ALCANCE
TEMPORARIAMENTE FORA DO AR.
– Incrível – ela grunhiu baixinho. – Quanto tempo até voltar?
INCAPAZ DE DETERMINAR. REPETINDO: SISTEMA DE COMUNICAÇÕES DE
LONGO ALCANCE TEMPORARIAMENTE FORA DO AR.
Soltando um palavrão, ela desligou o terminal. Todo o universo
parecia estar contra ela naquela noite. Ela pegou o datapad que
estava lendo antes, tornou a colocá-lo de lado e se levantou. Já
estava tarde, ela já tinha adormecido uma vez em sua mesa, e se
tinha algum bom senso iria simplesmente desistir e ir para a cama.
Indo até a janela, ela se encostou na moldura de madeira
esculpida e ficou olhando para as luzes da cidade que se estendiam
quase até o infinito. E tentou pensar.
Não. Era impossível. Impossível, absurdo e impensável. Organa
Solo poderia perder o fôlego que quisesse criando essas suas
especulações inteligentes. Depois de cinco anos vivendo com
aquela coisa, Mara devia conhecer seus próprios pensamentos e
emoções. Devia saber o que era real e o que não era.
E no entanto...
A imagem do sonho apareceu diante dela. O imperador,
encarando-a com intensidade amarga enquanto Vader e Skywalker
se aproximavam rapidamente dele. A acusação não pronunciada
mas tangível naqueles olhos amarelos: de que era o fracasso dela
em cuidar de Skywalker no esconderijo de Jabba, o Hutt, que havia
provocado isso. Aquele dilúvio de fúria indefesa enquanto os dois
sabres de luz eram erguidos sobre ele. Aquele grito final, ecoando
para sempre em sua cabeça...
Você vai matar Luke Skywalker.
– Pare! – ela resfolegou, batendo a lateral de sua cabeça dura
contra a moldura da janela. A imagem e as palavras explodiram num
clarão de dor e uma chuva de faíscas e desapareceram.
Por muito tempo ela ficou simplesmente ali parada, escutando
as batidas aceleradas de seu coração nos ouvidos; pensamentos
conflitantes caçavam uns aos outros em sua mente. Certamente o
imperador teria desejado Skywalker morto... mas Organa Solo ainda
estava errada. Tinha de estar. Era a própria Mara que queria matar
Luke Skywalker, não algum fantasma do passado.
Do outro lado da cidade, uma luz multicolorida ondulou
suavemente contra os edifícios ao redor e as nuvens acima,
despertando-a subitamente de seus devaneios. O relógio do antigo
Salão de Reuniões Central, marcando a hora como sempre fizera
nos últimos três séculos. A luz mudou de textura e tornou a ondular,
depois se apagou.
Meia-noite e meia. Perdida em seus pensamentos, Mara não
tinha percebido que era tão tarde. E que nada disso estava
adiantando, aliás. Ela bem que poderia ir para a cama e tentar
afastar tudo de sua cabeça o suficiente para dormir um pouco. Com
um suspiro, saiu de perto da janela...
E parou. Bem no fundo de sua mente, um alarme silencioso
havia acabado de disparar.
Em algum lugar ali perto, havia perigo.
Ela tirou sua minúscula arma de raios do coldre do antebraço,
apurando bem o ouvido. Nada. Olhando mais uma vez para a
janela, perguntando-se rapidamente se alguém a havia estado
observando através do laminado de proteção, ela foi
silenciosamente até a porta. Encostando a orelha nela, tornou a
escutar com atenção.
Por um momento, nada. Então, de forma quase inaudível
através da madeira espessa, ela ouviu o som de passos se
aproximando. Passos com o tipo de andar silencioso mas objetivo
que ela sempre associara a combatentes profissionais. Ela ficou
tensa; mas os passos passaram por sua porta sem parar,
desaparecendo na direção da outra ponta do corredor.
Ela contou até dez para deixar que avançassem bastante.
Então, com cuidado, ela abriu a porta e olhou para fora.
Eles eram quatro, vestindo os uniformes da segurança do
Palácio, caminhando numa formação de diamante curvado. Eles
chegaram ao corredor e diminuíram a velocidade quando o homem
da ponta deu uma rápida olhada na esquina. Ele curvou
ligeiramente a mão, e todos os quatro continuaram dobrando a
esquina e desapareceram. Seguindo na direção da escadaria que
levava até as seções centrais do palácio abaixo ou acima até a torre
e as suítes residenciais permanentes.
Mara ficou olhando até eles sumirem. O cansaço desapareceu
num surto de adrenalina. A formação de diamante curvado, a
cautela óbvia, o sinal de mão e sua própria premonição do perigo:
tudo apontava para a mesma conclusão.
A Inteligência Imperial havia penetrado no Palácio.
Ela se virou de volta para sua mesa, e parou com um palavrão
silencioso. Uma das primeiras tarefas que a equipe teria realizado
seria entrar nos sistemas de computador e comunicação do Palácio.
Qualquer tentativa de soar o alarme provavelmente seria
interceptada, e certamente os alertaria.
O que significava que, se eles tivessem que ser detidos, ela iria
ter de fazer isso sozinha. Segurando firme sua arma, ela saiu
sorrateiramente do quarto e foi na direção deles.
Chegou até a esquina e estava justamente esticando o pescoço
para uma olhadinha rápida quando ouviu o estalo silencioso da trava
de uma arma de raios atrás dela.
– Tudo bem, Jade – uma voz murmurou em seu ouvido. – Fique
bem tranquila. Está tudo acabado.
O almirante Drayson se recostou na cadeira e balançou a cabeça.
– Lamento, Calrissian, general Bel Iblis – ele disse, pelo que era
provavelmente a décima vez desde que a sessão havia começado.
– Simplesmente não podemos correr esse risco.
Lando respirou fundo, tentando juntar uns últimos resquícios de
paciência. Era o seu suor e seu trabalho que Drayson estava
casualmente jogando fora.
– Almirante...
– Não é assim um risco tão grande, almirante – Bel Iblis
interrompeu com elegância e com muito mais cortesia do que Lando
havia deixado à sua disposição. – Eu lhe mostrei pelo menos oito
lugares dos quais poderíamos retirar uma fragata de ataque que
permitiram tê-la fora de serviço por menos de dez dias.
Drayson bufou.
– Com a velocidade com que o Grão Almirante Thrawn está
indo, ele poderia tomar mais três setores em dez dias. Você quer
correr o risco de ele tomar quatro?
– Almirante, nós estamos falando de uma única fragata de
ataque – disse Lando. – Não de uma dúzia de cruzadores estelares
ou uma estação de combate orbital. O que Thrawn teria na manga
para que uma fragata pudesse ser determinante para ganhar ou
perder o ataque?
– O que ele poderia fazer contra um estaleiro fortemente
defendido com um único cargueiro cheio de bombas? – retorquiu
Drayson. – Encarem os fatos, cavalheiros: quando vocês se
defrontam com alguém como Thrawn, todas as regras normais vão
comporta afora. Ele poderia tecer uma teia tão transparente que
jamais conseguiríamos vê-la até ser tarde demais. Ele já fez isso
antes.
Lando fez uma careta; mas aquela era uma posição pela qual
ele dificilmente poderia culpar Drayson. Dois meses atrás, quando
ele e Han tinham sido levados pela primeira vez à base militar oculta
de Bel Iblis, ele próprio estava 75 por cento convencido de que tudo
aquilo era um esquema gigantesco e convoluto que Thrawn havia
criado para o benefício deles. Foi necessária a batalha da Katana
para que ele finalmente se convencesse do contrário, e aquilo lhe
havia ensinado uma lição valiosa.
– Almirante, todos nós concordamos que Thrawn é um tático
brilhante – ele disse, escolhendo suas palavras com cuidado. – Mas
não podemos supor que tudo o que acontece na galáxia faça parte
de algum grandioso e onipotente esquema sonhado por ele. Ele
pegou minhas reservas de metais e desabilitou a Cidade Nômade.
As chances são de que isso fosse tudo o que ele queria.
Drayson balançou a cabeça.
– Receio que “chances” não é bom o suficiente, Calrissian.
Encontre provas de que o Império não vai tirar vantagem de uma
fragata de ataque a menos e eu pensarei em lhe emprestar uma.
– Ah, o que é que há, almirante...
– E se eu fosse você – Drayson acrescentou, começando a
recolher seus cartões de dados – eu falaria menos sobre a minha
ligação com todo o projeto de mineração de Nkllon. Muitos de nós
ainda lembram que foram seus mineradores-toupeira que Thrawn
utilizou em seu ataque aos estaleiros de Sluis Van.
– E foi o conhecimento de Lando sobre eles que impediu que o
ataque tivesse sucesso – Bel Iblis lembrou rapidamente ao outro. –
Vários de nós se lembram disso também.
– Isso parte do pressuposto de que Thrawn realmente pretendia
roubar as naves – Drayson retrucou ao se levantar. – Pessoalmente,
espero que ele tenha ficado igualmente feliz por tê-las posto fora de
combate. Agora, se me desculparem, cavalheiros, tenho uma guerra
na qual lutar.
Ele saiu, e Lando soltou um suspiro silencioso de derrota.
– Lá se foi nossa chance – ele disse, recolhendo seus próprios
cartões de dados.
– Não se preocupe – aconselhou Bel Iblis, levantando da
cadeira e espreguiçando-se, cansado. – O problema não é tanto
com você e a Cidade Nômade; é mais comigo. Drayson sempre foi
um daqueles que consideram discordar de Mon Mothma algo
próximo a colaborar com o Império. Obviamente, é o que ele ainda
pensa.
– Achei que o senhor e Mon Mothma já tivessem resolvido tudo
– disse Lando, se levantando.
– Ah, resolvemos – Bel Iblis deu de ombros, dando a volta na
mesa e indo até a porta. – Mais ou menos. Ela me convidou de volta
à Nova República, eu aceitei a liderança dela, e oficialmente está
tudo bem. Mas velhas memórias custam a ser esquecidas. – Ele
torceu levemente o lábio. – E tenho que admitir que minha partida
da Aliança depois de Alderaan poderia ter sido feita de maneira
mais diplomática. Você está no andar dos convidados do
presidente?
– Sim. E o senhor?
– Também. Vamos. Eu caminho com você.
Eles saíram da sala de conferência e se dirigiram para o
corredor em arco que levava para os turboelevadores.
– O senhor acha que ele poderia mudar de ideia? – Lando
perguntou.
– Drayson? – Bel Iblis balançou a cabeça. – Sem chance. A
menos que consigamos arrancar Mon Mothma da sala de Guerra e
conseguir uma audiência com você, acho que sua única chance é
torcer para que Ackbar volte a Coruscant nos próximos dois dias.
Independentemente da importância da Cidade Nômade, imagino
que ele ainda lhe deva um ou dois favores.
Lando pensou na cena um tanto complicada quando ele disse a
Ackbar que estava dando baixa de seu posto de general.
– Favores não vão significar nada se ele concordar que isso
pode ser uma armadilha – ele disse. – Não depois de se queimar
uma vez em Sluis Van.
– É verdade – admitiu Bel Iblis. Ele olhou para um cruzamento
no corredor quando passaram, e, quando voltou a se virar para a
frente, Lando pensou ter visto um leve franzir na sua testa. – E tudo
isso fica infelizmente mais complicado pela presença desta tal fonte
Delta que o Império plantou aqui no Palácio. Só porque Thrawn não
tem nenhum plano atual para Nkllon não quer dizer que ele não vá
pensar em algum assim que descobrir o que estamos prestes a
fazer.
– Se ele descobrir – Lando corrigiu. – A fonte Delta não é
onisciente, você sabe. Han e Leia conseguiram fazer algumas
missões importantes sem que ela descobrisse.
– Provando mais uma vez a força básica de grupos pequenos.
Mesmo assim, quanto mais rápido vocês identificarem esse
vazamento e o puserem fora de combate, melhor.
Eles passaram por outro corredor, e mais uma vez Bel Iblis
olhou para ele. E dessa vez não havia dúvida quanto à expressão
de seu rosto.
– Algum problema? – Lando perguntou baixinho.
– Não sei bem – respondeu Bel Iblis. – Não deveria haver
guardas ocasionais nesta parte do Palácio?
Lando olhou ao redor. Eles estavam mesmo um tanto sozinhos
ali.
– Não seria possível que eles tivessem todos sido transferidos
para a recepção sarkan desta noite?
– Eles estavam aqui antes – disse Bel Iblis. – Eu vi pelo menos
dois quando desci de minha suíte.
Lando olhou para o corredor atrás, e uma sensação
desagradável começou a percorrer sua espinha.
– Então o que aconteceu com eles?
– Não sei. – Bel Iblis respirou fundo. – Acho que você não está
armado, está?
Lando balançou a cabeça.
– A arma ficou no meu quarto. Não achei que fosse precisar
dela aqui.
– Provavelmente não precisa – disse Bel Iblis, enfiando as
pontas dos dedos de sua mão direita sob seu paletó enquanto
olhava ao redor. – Provavelmente existe uma explicação simples e
perfeitamente inócua.
– Claro – disse Lando, sacando seu comlink. – Vamos chamar e
descobrir qual é. – Ele acionou o dispositivo...
E rapidamente o desligou quando um guincho de estática
brotou do alto-falante.
– Acho que a explicação acabou de deixar de ser simples – ele
disse sombrio. Subitamente sua mão estava coçando para pegar
numa arma de raios. – E agora?
– Vamos encontrar um jeito de alertar a Segurança do Palácio –
disse Bel Iblis, olhando ao redor. – Está certo. Os turboelevadores
logo adiante não irão nos ajudar. Eles só atendem às áreas
residenciais. Mas existe uma escada na outra ponta que leva à
Central do Palácio lá embaixo. Vamos tentar esse caminho.
– Parece bom – Lando assentiu. – Vamos passar na minha
suíte e pegar minha arma.
– Boa ideia – concordou Bel Iblis. – Vamos evitar o
turboelevador. As escadas ficam para cá. Com cuidado e silêncio.
As escadas estavam tão desertas quanto o corredor atrás
deles. Mas, quando Bel Iblis saiu pela porta das escadas,
subitamente ergueu uma mão em aviso. Movendo-se para o lado,
Lando olhou para o andar lá fora.
À frente, descendo cuidadosamente o corredor, estava uma
figura solitária. Uma mulher esbelta com cabelos vermelho-
dourados, segurando firme uma pequena arma de raios na mão.
Mara Jade.
Um leve sussurro de metal sobre tecido quando Bel Iblis sacou
sua arma. Fazendo sinal para que Lando o seguisse, ele começou a
descer silenciosamente o corredor atrás dela.
Eles quase a haviam apanhado quando ela alcançou a outra
esquina. Ali ela fez uma pausa, preparada para olhar do outro lado...
Bel Iblis ergueu sua arma.
– Tudo bem, Jade – ele disse baixinho. – Fique bem tranquila.
Está tudo acabado.
Por um segundo Lando teve certeza de que ela ia discutir. Ela
virou a cabeça, olhando para trás como se medindo seus
oponentes...
– Calrissian! – ela exclamou, e não havia como confundir o tom
de alívio em sua voz. Tampouco a tensão subjacente. – Há imperiais
no Palácio, vestidos como agentes de Segurança. Acabei de ver
quatro deles.
– Interessante – disse Bel Iblis, olhando-a de perto. – Para onde
você estava indo?
– Achei que pudesse ser uma boa ideia descobrir o que
pretendem – ela grunhiu sarcástica. – Vocês querem ajudar ou não?
Bel Iblis deu uma olhada pela esquina.
– Não estou vendo ninguém. Eles provavelmente já desceram.
Imagino que seus alvos sejam ou a sala de guerra ou a recepção
sarkan.
E, subitamente, todas as peças se encaixaram na cabeça de
Lando.
– Não – ele disse. – Eles não desceram, eles subiram. Estão
atrás dos gêmeos de Leia.
Mara soltou um palavrão baixinho.
– Você tem razão. Thrawn os prometeu àquele lunático do
C’baoth. Tem que ser isso.
– Você pode ter razão – disse Bel Iblis. – Onde fica seu quarto,
Calrissian?
– Duas portas atrás – respondeu Lando com um aceno de
cabeça.
– Pegue sua arma – ordenou Bel Iblis, voltando a espiar pela
esquina. – Você e Jade, desçam o corredor lá e encontrem a
escadaria principal. Vejam se alguém já chegou lá em cima; tentem
avisar Leia e Solo. Eu vou descer e convocar reforços.
– Tome cuidado. Eles podem ter deixado um guarda na
escadaria abaixo – avisou Mara.
– Eles certamente têm um na parte de cima – retrucou Bel Iblis.
– Tomem cuidado vocês também. – Com um último olhar pela
esquina. Ele passou por ela e sumiu.
– Espere aqui – Lando disse a Mara, indo na direção de seu
quarto. – Eu já volto.
– Não demore – ela disse.
– Certo.
Ele correu para seu quarto; e, ao abrir a porta, deu uma olhada
rápida em Mara. Ela ainda estava ali parada, meio virada na
esquina, uma expressão intensa porém estranhamente vazia na
parte de seu rosto que ele conseguia ver.
Aquele rosto. Aquele rosto que de algum modo lhe era familiar.
Encaixava-se num tempo, numa época e num contexto que ele
quase conseguia lembrar, mas sua mente não terminava de fazer a
conexão.
Deixou de lado o pensamento. Quem quer que ela tivesse sido,
agora definitivamente não era hora de tentar descobrir. Han, Leia e
seus filhos estavam em perigo mortal... e cabia a ele e Mara
socorrê-los desse perigo.
Voltando-se para seu quarto, ele entrou correndo.

Leia Organa Solo. Leia Organa Solo. Acorde. Você está em


perigo. Acorde. Leia Organa Solo, acorde...
Com a respiração em suspenso, Leia despertou do sonho, os
resquícios daquela voz insistente ecoando por sua mente quando
ela despertou. Por alguns segundos nebulosos ela não conseguia
se lembrar de onde estava, e seus olhos e sentidos Jedi faiscaram
tensos ao redor do quarto às escuras enquanto ela lutava para
reconhecer alguma coisa. Então o resto do sono evaporou, e ela
estava de volta à sua suíte no Palácio Imperial. Ao seu lado, Han
grunhiu de leve no seu sono ao rolar na cama; do outro lado do
quarto, os gêmeos estavam bem aconchegados no seu berço; no
quarto ao lado, Winter também estava adormecida, sem dúvida
sonhando nas imagens em altíssima definição de sua memória
perfeita. E, do lado de fora da suíte...
Ela franziu a testa. Havia uma pessoa na porta exterior. Não.
Mais de uma. Pelo menos cinco ou seis, paradas num grupo ao
redor dela.
Ela desceu da cama, as mãos automaticamente apanhando a
arma de raios e o sabre de luz do chão ao fazê-lo. Provavelmente
não era nada, simplesmente um grupo de guardas da segurança
conversando descontraidamente antes de prosseguir em suas
rondas. Embora, mesmo que esse fosse o caso, eles estivessem
violando várias regras bem severas a respeito de atividades durante
o trabalho. Ela teria de encontrar um meio diplomático porém firme
de lembrá-los disso.
Andando silenciosamente sobre o carpete espesso, ela saiu do
quarto e seguiu pelas outras salas até a porta, trabalhando sua
rotina de ampliação sensorial Jedi no caminho. Se ela conseguisse
ouvir e identificar as vozes dos guardas de dentro da suíte, poderia
avisar a cada um individual e particularmente pela manhã.
Não chegou à porta. No meio da sala de estar, parou quando
sua audição aprimorada começou a captar um leve zumbido que
vinha logo da sua frente. Ela apurou bem os ouvidos, tentando
ignorar a súbita distração das batidas de seu próprio coração. O
som era leve porém distinto, e ela sabia que já tinha ouvido aquilo
em algum lugar antes.
E então, subitamente, ela se lembrou: o zumbido de um
arrombador eletrônico de fechaduras. Alguém estava tentando
invadir sua suíte.
E ali, com ela parada, paralisada de choque, a fechadura se
abriu com um clic.
Não havia tempo para fugir e nenhum lugar para onde fugir...
mas os projetistas da torre haviam pensado nesse tipo de perigo.
Erguendo sua arma de raios e torcendo fervorosamente para que o
mecanismo ainda funcionasse, Leia disparou dois tiros rápidos na
porta.
A madeira era uma das mais duras e fortes conhecidas na
galáxia, e os disparos dela provavelmente não penetraram mais do
que um quarto de profundidade. Mas foi o bastante. Os sensores
embutidos haviam registrado o ataque; e, enquanto o som dos tiros
ainda ecoava na audição ampliada de Leia, a pesada porta de
segurança metálica se fechou pela borda interior da porta de
madeira.
– Leia? – a voz de Han gritou atrás dela, aparentemente
distante através do tinido em seus ouvidos.
– Tem alguém tentando invadir – ela disse, virando-se e
correndo até onde ele estava na entrada do quarto, com a arma na
mão. – Consegui fechar a porta de segurança a tempo, mas isso
não vai detê-los.
– Não por muito tempo – concordou Han, olhando a porta
quando Leia o alcançou. – Entre no quarto e chame a segurança;
vou ver o que posso fazer para atrasá-los.
– Tudo bem. Tome cuidado. Eles não estão de brincadeira.
As palavras mal haviam saído de sua boca quando o aposento
inteiro estremeceu. Os intrusos, abandonando a sutileza, haviam
explodido a porta externa em pedaços.
– É, eu diria que isso é sério mesmo – Han concordou amargo.
– Chame Winter e 3PO e pegue os gêmeos. Temos que planejar
rápido.
O primeiro som que se fez ouvir no arco delicado da escadaria
da torre poderia ter sido um tiro distante de arma de raios; Mara não
sabia dizer ao certo. O seguinte, alguns segundos depois, não
deixou nenhuma dúvida.
– Oh-oh – murmurou Calrissian. – Problemas.
Mais um tiro ecoou escadaria abaixo.
– Parece uma arma pesada – disse Mara, apurando bem o
ouvido. – Eles não devem ter conseguido abrir a porta em silêncio.
– Ou então eles só querem os gêmeos – Calrissian retrucou
sombrio, saindo da esquina na qual haviam parado. – Vamos.
– Espere – disse Mara, agarrando seu braço com a mão livre
enquanto estudava o território à frente deles. O arco amplo do
primeiro lance de escadas terminava num patamar de apresentação
com uma elaborada balaustrada de pedra. Quase invisível de onde
eles estavam ficavam as aberturas de duas escadarias mais
estreitas que continuavam para cima, à maneira de uma dupla
hélice, vindas de extremidades opostas do patamar. – Aquele
patamar seria um ótimo ponto para alguém na retaguarda, e eu não
tenho vontade de levar um tiro.
Calrissian resmungou impaciente, mas ficou parado onde
estava. Um instante depois, provavelmente ficou feliz por ter feito
isso.
– Você tem razão. Tem alguém perto da escadaria à esquerda –
ele murmurou.
– Significa que haverá alguém à direita também – disse Mara;
seus olhos vasculhavam os contornos e vãos da balaustrada
quando outro disparo de raios ecoou. Agentes da Inteligência
gostavam de espreitar nas sombras. – E há um em cada lado da
escadaria principal – ela acrescentou. – A cerca de dois metros das
beiradas.
– Estou vendo – disse Calrissian. – Isso não vai ser fácil. – Ele
olhou para trás, para onde a escadaria voltava a subir. – Vamos lá,
Bel Iblis, volte aqui pra cima.
– É melhor ele correr – Mara concordou, espiando
cautelosamente os quatro imperiais e tentando se lembrar dos
detalhes do layout da torre. – A porta de Organa Solo não vai durar
muito.
– Não tanto quanto esses guardas aqui podem nos deter –
concordou Calrissian, sibilando baixinho entre dentes. – Espere um
minuto. Fique aqui. Tive uma ideia.
– Aonde você vai? – Mara quis saber quando ele se afastou da
esquina.
– Hangar principal – Calrissian respondeu, dirigindo-se para a
escadaria atrás deles. – Chewie estava lá mais cedo trabalhando na
Falcon. Se ele ainda estiver lá, podemos ir até o lado de fora da
torre e tirá-los de lá.
– Como? – persistiu Mara. – As janelas lá em cima são de
transparaço. Você não vai conseguir explodi-las sem matar todo
mundo lá dentro.
– Não vou precisar – Calrissian disse com um sorriso matreiro.
– Leia tem um sabre de luz. Mantenha esses caras ocupados, ok?
Ele correu até a escadaria e desapareceu degraus abaixo.
– Certo – Mara grunhiu olhando rapidamente para a direção
dele e depois voltando sua atenção aos imperiais na escadaria.
Será que eles já tinham avistado ela e Calrissian espreitando ali
embaixo? Provavelmente sim. Nesse caso, o sujeito na escadaria à
esquerda devia estar exposto demais só para servir de isca para
ela.
Bem, quem era ela para recusar? Passando a arma de raios
para a mão esquerda, ela apoiou o pulso na parede da esquina,
mirou com cuidado...
O disparo da outra escadaria estilhaçou a parede acima da
arma dela, jogando fragmentos quentes de pedra sobre sua mão.
– Diabos! – ela gritou, puxando a mão de volta e limpando os
fragmentos da mão. Então eles queriam ser engraçadinhos, não é?
Tudo bem. Ela sabia lidar com isso. Segurando mais uma vez a
arma com firmeza, ela recuou para a esquina...
Foi o súbito formigamento de perigo no fundo da sua mente que
salvou sua vida. Ela caiu sobre um dos joelhos; e, ao fazer isso, dois
disparos de raios vindos direto da sua frente destruíram a pedra
onde sua cabeça havia estado encostada. No mesmo instante, ela
se jogou de costas e caiu de lado no chão, olhos e arma tentando
rastrear de onde os tiros tinham vindo.
Eram dois, caminhando silenciosos em sua direção pelo
corredor do lado oposto da escadaria. Ela escapou de dois tiros
rápidos ao rolar de bruços. Agora segurando a arma nas duas
mãos, tentando ignorar os tiros que estavam começando a chegar
desconfortavelmente perto, ela alinhou sua arma na direção do
agressor mais à direita e disparou duas vezes.
Ele estremeceu e desabou no chão – a arma ainda disparou
inutilmente no teto, por reflexo. Um tiro passou sibilante pela orelha
de Mara quando ela mudou a mira para o segundo agressor, e outro
chegou ainda mais perto quando a arma dele apontou para ela...
E, subitamente, o ar sobre a cabeça de Mara se tornou uma
tempestade flamejante de fogo de raios. O imperial do outro lado
caiu como um bantha ferido e não se moveu mais.
Mara se virou. Meia dúzia de guardas de segurança corriam na
direção dela vindos da escadaria inferior, com armas apontadas.
Atrás deles vinha Bel Iblis.
– Você está bem? – ele gritou para ela.
– Estou – ela grunhiu, rolando ainda mais para longe do canto.
Bem a tempo; depois de perceber que seu pequeno ataque-
surpresa havia fracassado, os imperiais no patamar abriram fogo
com tudo. Mara se levantou e se afastou correndo da chuva de
fragmentos de pedra. – Calrissian desceu até o hangar – ela disse a
Bel Iblis, levantando a voz sobre o burburinho.
– Sim, nós passamos por ele na subida – o outro assentiu,
enquanto os guardas da segurança avançavam correndo. – O que
aconteceu aqui?
– Uns dois atrasados para a festa – Mara disse, acenando com
a cabeça na direção do corredor. – Provavelmente voltando da
seção de comunicação. Seus amigos no patamar tentaram segurar
minha atenção enquanto se esgueiravam pra cima de mim. Quase
funcionou.
– Fico feliz que não tenha funcionado – disse Bel Iblis, voltando
sua atenção para trás. – Tenente?
– Não vai ser fácil, senhor – o comandante da guarda gritou por
cima do barulho. – Temos uma arma de repetição E-Web chegando
do arsenal. Assim que chegar aqui, vamos poder arrancá-los
daquele patamar. Até lá, tudo o que podemos fazer é mantê-los
ocupados e torcer para que façam alguma burrice.
Bel Iblis assentiu lentamente, com os lábios apertados numa
linha fina e um vestígio de tensão ao redor de seus olhos. Era um
olhar que Mara só tinha visto raras vezes, e mesmo assim somente
no rosto dos melhores comandantes militares: a expressão de um
líder se preparando para enviar homens para a morte.
– Não podemos esperar – ele disse. A tensão ainda estava lá,
mas sua voz era firme. – O grupo lá em cima terá aberto a porta de
Solo bem antes disso. Vamos ter que atacá-los agora.
O comandante da guarda respirou fundo.
– Entendido, senhor. Certo, homens, vocês ouviram o general.
Vamos achar cobertura e começar o ataque.
Mara se aproximou mais de Bel Iblis.
– Eles nunca farão isso a tempo – ela disse baixinho.
– Eu sei – o outro disse contido. – Mas quanto mais deles
abatermos agora, com menos teremos de lidar quando o resto
descer.
Ele olhou para trás, nos olhos dela.
– Quando – acrescentou baixinho – eles tiverem reféns.

Uma última saraivada de fogo pesado de raios, um estrondo


vagamente metálico, e depois o silêncio.
– Oh, céus – C-3PO gemeu do canto onde estava tentando ficar
o mais invisível que podia. – Creio que a porta de segurança da
frente não funcionou.
– Que bom que você está aqui pra nos dizer essas coisas –
Han disse irritado, percorrendo o olhar incansavelmente ao redor do
quarto de Winter. Era um exercício inútil, Leia sabia; tudo o que
podiam usar em sua defesa já tinha sido movido. A cama de Winter
e seu baú de lembranças estavam encostados nas duas portas que
davam para fora dali, e o armário havia sido empurrado para perto
da janela e inclinado de lado para servir como barricada improvisada
para disparos. E era isso. Até que os intrusos invadissem o local por
uma das portas ou ambas, não haveria nada a fazer a não ser
esperar.
Leia respirou fundo, tentando acalmar seu coração em
disparada. Desde a primeira dessas tentativas de sequestro em
Bimmisaari, ela pensava nisso apenas como os imperiais indo em
seu ataque e somente em seu ataque: não era um pensamento
especialmente agradável, mas um pensamento ao qual ela havia
mais ou menos se acostumado depois de anos de guerra.
Desta vez era diferente. Desta vez, em vez de estarem atrás
dela e dos gêmeos na sua barriga, estavam atrás de seus bebês.
Bebês que eles podiam fisicamente arrancar de seus braços e
esconder num lugar onde ela poderia nunca mais vê-los.
Ela apertou seu sabre de luz com força. Não. Isso não
aconteceria. Ela não deixaria.
Ouviram um estrondo do lado de fora que lembrava vagamente
madeira.
– Lá se vai o sofá – resmungou Han. Mais um estrondo... – E a
cadeira. Não pensei que ia detê-los mesmo.
– Valeu a tentativa – disse Leia.
– É – Han resfolegou baixinho. – Sabe, já faz meses que eu
venho te dizendo que precisamos de mais móveis neste lugar.
Leia deu um sorriso tenso e apertou a mão dele. Era típico de
Han tentar desafogar o máximo possível uma situação de tensão.
– Você não disse isso – ela falou. – Você nunca está aqui
mesmo. – Ela olhou novamente para Winter, que estava sentada no
chão sob as janelas de transparaço com um gêmeo aninhado em
cada braço. – Como eles estão?
– Acho que estão acordando – Winter murmurou em resposta.
– Estão sim – confirmou Leia, acariciando mentalmente cada
bebê com o máximo de conforto que podia.
– Tente mantê-los quietos – murmurou Han. – Nossos
camaradas lá fora não precisam de nenhuma ajuda.
Leia concordou, sentindo uma nova tensão apertando seu
coração. Ambos os quartos – o deles e o de Winter – davam para a
área de estar da suíte, o que dava aos agressores uma chance de
cinquenta por cento de escolher a porta certa atrás da qual seus
alvos estavam se escondendo. Com o tipo de armamento que eles
obviamente possuíam, uma escolha errada não os faria perder mais
do que alguns minutos; mas alguns minutos podiam facilmente
significar a diferença entre vida e morte.
O impacto de um disparo de arma de raios pesada se fez sentir
através da parede, vindo da direção do quarto deles, e por um
momento Leia voltou a respirar. Mas só por um momento. Um
segundo depois o som se repetiu, desta vez da porta em frente a
eles. Ao se deparar com duas portas, os imperiais haviam decidido
botar ambas abaixo.
Ela se virou para Han, e viu que ele olhava para ela.
– Isso ainda vai detê-los mais um pouco – ele lembrou a ela;
essas palavras eram mais tranquilizadoras do que a sensação por
trás delas. – Eles precisam dividir seu poder de fogo. Nós ainda
temos algum tempo.
– Se nós simplesmente tivéssemos o que fazer com isso –
disse Leia, olhando inutilmente ao redor do aposento. Anos
percorrendo a galáxia com a seção de Suprimentos e
Aprovisionamento da Rebelião dera a Winter ao hábito de viajar com
pouco, e simplesmente não havia nada ali que eles pudessem usar.
Outra rajada de tiros veio do lado de fora, acompanhada de um
leve som de madeiras se quebrando. As portas de madeira comum
dos quartos cairiam em breve, deixando apenas as portas de
segurança interna. Leia olhou ao redor do aposento novamente e o
desespero começou a nublar seus pensamentos. O armário, a
cama, o baú de lembranças; era isso. Nada a não ser as portas de
segurança, as janelas de transparaço e as paredes nuas.
Paredes nuas...
De repente, ela se deu conta mais uma vez do sabre de luz em
sua mão.
– Han... Por que nós simplesmente não saímos daqui? – ela
disse, deixando surgir um primeiro vestígio cauteloso de esperança.
– Eu posso cortar a parede para a suíte ao lado com meu sabre de
luz. E não teríamos de parar ali; estaríamos a meio caminho
corredor abaixo antes que eles derrubassem aquela porta.
– Sim, eu já tinha pensado nisso – Han disse tenso. – O
problema é que eles provavelmente pensaram nisso também.
Leia engoliu em seco. Sim, os imperiais certamente estariam
prontos se eles tentassem isso.
– Que tal descer, então? – ela insistiu. – Ou subir? Você acha
que eles esperariam se fôssemos pelo teto?
– Você já viu Thrawn em ação – retrucou Han. – O que você
acha?
Leia suspirou, e o brilho breve de esperança se desvaneceu.
Ele tinha razão. Se o Grão Almirante tivesse planejado aquele
ataque pessoalmente, talvez fosse até melhor eles abrirem a porta
de segurança e se renderem. Tudo em que eles pudessem pensar
já teria sido antecipado com riqueza de detalhes, e situações teriam
sido planejadas para cada movimento.
Ela balançou a cabeça com força.
– Não – ela disse em voz alta. – Ele não é infalível. Nós já o
superamos uma vez, e podemos fazer isso de novo. – Ela se virou
para olhar para Winter e os gêmeos, ainda dormindo debaixo da
janela.
A janela...
– Tudo bem – ela disse devagar. – E se sairmos pela janela?
Ele a encarou fixamente.
– Pela janela para onde?
– Para onde quer que possamos ir – ela disse. As armas de
raios lá fora já estavam marretando as portas de segurança. – Pra
cima, pra baixo, pros lados. Não me interessa.
Han ainda estava com cara de espanto.
– Coração, caso você não tenha notado, aquelas paredes são
de pedra lisa. Nem Chewie conseguiria escalá-las sem equipamento
de montanhismo.
– É por isso que eles não vão esperar que usemos esse
caminho – disse Leia, tornando a olhar para a janela. – Talvez eu
consiga escavar apoios para as mãos e os pés com o sabre de luz...
Ela parou, olhando mais uma vez para a janela. Não havia sido
truque da iluminação do quarto, era mesmo um par de faróis se
aproximando.
– Han...
Ele girou para olhar.
– Oh-oh – murmurou. – Mais companhia. Que maravilha.
– Poderia ser um grupo de resgate? – Leia sugeriu hesitante.
– Duvido – Han balançou a cabeça, estudando as luzes que se
aproximavam. – Faz apenas alguns minutos desde que o tiroteio
começou. Espere um minuto...
Leia olhou para trás. Do lado de fora, os faróis haviam
começado a piscar. Ela observou o padrão, tentando sem sucesso
compará-lo com qualquer código que conhecia...
– Capitão Solo! – C-3PO falou, parecendo empolgado. – Como
o senhor sabe, eu sou fluente em mais de seis milhões de formas de
comunicação...
– É o Chewie – Han o interrompeu, levantando-se rapidamente
e acenando com as duas mãos na frente da janela.
– ...e esse sinal parece estar relacionado a um dos códigos
utilizados pelos jogadores profissionais de sabacc quando estão
numa situação de...
– Temos que nos livrar desta janela – disse Han, dando uma
olhada na porta. – Leia?
– Certo. – Leia soltou a arma e se levantou correndo, com o
sabre de luz na mão.
– ...roubar contra terceiros ou quartos no jogo...
– Cala a boca, Cara de Lata – Han disse ríspido para 3PO,
ajudando Winter e os gêmeos a saírem de perto da janela. As luzes
lá fora estavam se aproximando rapidamente, e agora Leia podia
vislumbrar a forma tênue da Falcon na luz de fundo da cidade
abaixo. Uma lembrança voltou à sua mente: a tentativa de sequestro
dos Noghri em Bpfassh havia utilizado uma Falcon falsa como isca.
Mas os imperiais não teriam pensado em usar um código de jogador
de sabacc... teriam?
Isso praticamente não importava. Ela preferia enfrentar inimigos
a bordo de uma nave do que ficar sentada ali esperando que eles
entrassem para pegá-la. E muito antes que eles entrassem a bordo,
ela deveria ser capaz de sentir se era Chewbacca que estava lá fora
ou não. Andando até a janela, ela acendeu o sabre de luz e o
levantou bem alto...
E atrás dela, com um último estrondo, a porta de segurança
explodiu.
Leia girou, captando um breve vislumbre – por entre a fumaça e
as faíscas – de dois homens empurrando o baú de lembranças para
o lado e mergulhando para o chão enquanto Han a agarrava pelo
braço e a puxava para o chão. Uma rajada de raios cobriu a parede
e a janela quando ela desligou seu sabre de luz e voltou a pegar a
arma de raios. Ao seu lado, Han já estava atirando também,
ignorando o perigo ao se agachar semiprotegido pelo armário. Mais
quatro imperiais estavam na porta agora, acrescentando sua
contribuição à rápida destruição do armário. Leia rilhou os dentes,
disparando de volta com o máximo de precisão que a longa prática
e a Força lhe permitiam, sabendo muito bem o quanto isso tudo era
inútil. Quanto mais tempo esse combate durasse, maior a chance de
que um tiro perdido atingisse um de seus bebês...
E súbita, inesperadamente, alguma coisa tocou sua mente.
Uma pressão mental; meio sugestão, meio exigência. E o que aquilo
disse a ela...
Ela respirou fundo.
– Parem! – ela gritou por cima do burburinho. – Parem de atirar.
Nós nos rendemos.
Os disparos hesitaram, e então pararam. Depositando sua arma
em cima do armário estilhaçado, ela ergueu as mãos enquanto os
dois imperiais no chão se levantavam cautelosamente e avançavam.
E tentou ignorar o olhar descrente e atordoado de Han.

A balaustrada perto da escadaria mais à direita explodiu numa


nuvem de lascas e pó de pedra quando o fogo concentrado dos
guardas da segurança finalmente passou por ela. O fogo de
retaliação do patamar pegou um dos guardas quando a balaustrada
desabou, fazendo-o cair de costas e ficar imóvel. Mara olhou sem
nenhuma discrição pela esquina, espiando por entre os destroços e
os clarões ofuscantes das rajadas de raios, se perguntando se em
toda aquela confusão eles haviam conseguido derrubar o imperial
que queriam.
Haviam. Por entre a fumaça que agora começava a se dissipar
ela conseguiu ver a forma de um corpo, queimado e coberto de pó.
– Eles pegaram um – ela reportou, voltando-se para Bel Iblis. –
Faltam três.
– Além de quantos mais houver lá em cima – ele lembrou a ela,
com uma expressão amarga no rosto. – Vamos torcer para que a
lendária sorte de Solo se estenda para Leia, os bebês e quem mais
estiver lá em cima que eles façam de reféns.
– É a segunda vez que você menciona reféns – disse Mara.
Bel Iblis deu de ombros.
– A proteção de reféns é a única saída que eles têm daqui –
disse ele. – E tenho certeza de que eles sabem disso. A única outra
opção deles é subir, e eu já mandei Calrissian reunir alguns caças
para fechar o espaço aéreo acima do Palácio. Com o turboelevador
bloqueado, esta escadaria é o caminho.
Mara o encarou e um arrepio gelado percorreu bruscamente
seu corpo. Com toda a pressa e a comoção desde que aquilo tudo
havia começado, ela não tivera tempo de parar e levar em conta
todas as nuances da situação. Mas agora, as palavras de Bel Iblis e
suas próprias lembranças distantes haviam se misturado num clarão
ofuscante de insight.
Por alguns segundos ela ficou ali parada, se perguntando se
aquilo era real ou uma construção de sua própria imaginação. Mas
fazia sentido. Lógica, taticamente brilhante, com as marcas do Grão
Almirante Thrawn por tudo. Tinha de ser a resposta.
E teria funcionado... a não ser por uma única falha. Thrawn
obviamente não sabia que ela estava ali. Ou não acreditava que ela
tivesse sido realmente a mão do imperador.
– Eu já volto – ela disse a Bel Iblis, passando por ele e
descendo às pressas o corredor. Ela virou a esquina num
cruzamento enquanto estudava com os olhos os frisos esculpidos
que percorriam o alto da parede. Em algum lugar ali estaria a marca
sutil pela qual ela estava procurando.
Lá estava. Ela parou na frente do painel de aspecto comum,
olhando para os dois lados do corredor ao fazê-lo. Skywalker e
Organa Solo poderiam aceitar suas lealdades passadas sem
problemas, mas ela duvidava que qualquer outra pessoa ali fosse
ter uma atitude tão blasé a esse respeito. Mas o corredor estava
deserto. Esticando o corpo para alcançar o friso, ela enfiou os dedos
nas marcas adequadas, deixando o calor de sua mão aquecer os
sensores dali.
E com um clic suave o painel se abriu.
Ela se esgueirou para dentro, fechando o painel atrás de si, e
olhou ao redor. Construídas mais ou menos em paralelo aos poços
do turboelevador, as passagens privadas do imperador eram por
necessidade estreitas e apertadas. Mas eram bem-iluminadas, sem
poeira e à prova de som. E, o mais importante, a levariam além dos
imperiais que estavam no patamar de apresentação.
Dois minutos e três escadas depois, ela estava na saída que
dava para o andar de Organa Solo. Respirando bem fundo umas
duas vezes, preparando-se para o combate, ela atravessou o painel
e saiu no corredor.
Com a batalha pegando fogo três escadas abaixo, ela esperava
encontrar um segundo agente de retaguarda estacionado perto da
passagem de entrada deles. E tinha razão. Dois homens usando os
agora familiares uniformes da segurança do palácio estavam
agachados contra as paredes com as costas para ela, mantendo
guarda na outra ponta do corredor.
O ruído de artilharia pesada de raios que vinha da outra direção
era mais que suficiente para cobrir os passos silenciosos dela, e era
provável que os dois nem tivessem ideia de que ela estava ali
quando ela os abateu. Após uma checagem rápida, a fim de se
certificar de que eles estavam fora de combate, ela partiu corredor
abaixo na direção da suíte de Organa Solo.
Ela já havia chegado lá e estava começando a atravessar os
destroços da porta externa estraçalhada quando o fogo de raios
vindo de dentro foi subitamente pontuado por um estrondo
explosivo.
Ela rilhou os dentes quando as armas de raios dos defensores
abriram fogo, seu ruído se misturando com o dos agressores. Correr
direto para cima deles sem nenhuma tentativa de disfarce ou
cobertura seria uma boa maneira de se matar. Mas se ela
avançasse com mais cuidado, alguém ali dentro provavelmente
seria morto antes que ela pudesse entrar em posição de disparo.
A não ser que...
Leia Organa Solo, ela chamou silenciosamente, usando a Força
assim como havia feito antes quando Calrissian fora pegar sua arma
de raios. Sem ter mais certeza agora do que quando Organa Solo
podia sequer ouvi-la. Aqui é Mara. Estou chegando por trás deles.
Renda-se. Está me ouvindo? Renda-se. Renda-se. Renda-se.
E, quando alcançou a porta exterior, ela ouviu o grito de Organa
Solo, quase inaudível por sobre o fogo das armas de raios.
– Parem! Parem de atirar. Nós nos rendemos.
Cuidadosamente, Mara arriscou um olhar pela porta. Lá
estavam eles – quatro imperiais em pé ou ajoelhados nas bordas
enegrecidas da entrada, com armas de raios apontadas com
desconfiança para o lado de dentro, e mais dois do outro lado da
porta de segurança arruinada, deitados de bruços, mas começando
a se levantar. Nenhum deles dava o menor sinal de tê-la notado.
Sorrindo para si mesma, Mara apontou sua arma e abriu fogo.
Ela derrubou dois antes que os outros sequer despertassem
para o fato de que ela estava lá. Um terceiro caiu ao girar, tentando
em vão mirar a arma nela. O quarto estava quase em posição de
disparo quando um tiro de dentro do quarto o fez cair rodopiando no
chão.
Cinco segundos depois, tudo estava terminado.

Só havia um sobrevivente. E por pouco.


– Nós achamos que é o líder do grupo – Bel Iblis disse a Han
enquanto os dois desciam o corredor na direção da ala médica. –
Provisoriamente identificado como major Himron. Embora não
saibamos ao certo até ele recuperar a consciência. Se recuperar.
Han assentiu, dando uma olhada rápida em mais outra dupla de
guardas em estado de alerta no caminho. No mínimo, aquele
pequeno fiasco havia sacudido as estruturas da Segurança.
Também, já estava na hora.
– Alguma ideia de como eles entraram?
– Essa vai ser uma das minhas primeiras perguntas – disse Bel
Iblis. – Ele está no tratamento intensivo. Por aqui.
Lando estava esperando na porta com um dos médicos quando
Han e Bel Iblis chegaram.
– Estão todos bem? – perguntou Lando, percorrendo com o
olhar seu amigo de alto a baixo. – Mandei Chewie lá pra cima, mas
me disseram que eu devia ficar aqui com o prisioneiro.
– Está todo mundo bem – Han lhe garantiu quando Bel Iblis
passou direto por Lando e puxou o médico de lado. – Chewie estava
lá em cima antes de eu sair, e ele está ajudando Leia e Winter a se
mudarem para outra suíte. A propósito, obrigado por ter vindo atrás
de nós.
– Não vou cobrar nada – grunhiu Lando. – Especialmente
porque tudo o que tivemos que fazer foi vigiar. Vocês não podiam ter
contido sua exibiçãozinha de fogos de artifício por mais dois
minutos?
– Não olha pra mim, camarada – retrucou Han. – O timing foi da
Mara, não meu.
Uma sombra pareceu cruzar o rosto de Lando.
– Certo. Mara.
Han franziu a testa para ele.
– O que você quer dizer com isso?
– Não sei – disse Lando, balançando a cabeça. – Ainda tem
algo a respeito dela que me incomoda. Lembra lá na base de Karrde
em Myrkr, logo antes de Thrawn aparecer e precisarmos nos
esconder na floresta?
– Você disse que achava que a conhecia de algum lugar – disse
Han. Esse comentário havia ficado em sua cabeça por todos
aqueles meses também. – Você chegou a descobrir por quê?
– Ainda não – Lando resmungou. – Mas estou chegando lá. Eu
sei.
Han olhou para Bel Iblis e o médico, voltando a pensar no que
Luke tinha dito uns dois dias depois no seu caminho para fora de
Myrkr. Que Mara dissera a Luke sem rodeios que queria matá-lo.
– Onde quer você tenha a visto, ela parece estar do nosso lado
agora.
– É – Lando disse sombrio. – Talvez.
Bel Iblis os chamou.
– Vamos tentar despertá-lo – ele disse. – Venham.
Entraram. Ao redor do leito da UTI estavam meia dúzia de
médicos e droides MD, além de três dos principais oficiais de
segurança de Ackbar. Ao aceno de cabeça de Bel Iblis, um dos
médicos fez alguma coisa à atadura de tratamento ao redor do
braço do imperial; e enquanto Han e Lando encontravam lugares ao
lado do leito, ele tossiu de repente e seus olhos se abriram de leve.
– Major Himron? – um dos oficiais de segurança perguntou. –
Pode me ouvir, major?
– Sim – o imperial disse bem baixinho, piscando duas vezes.
Seus olhos vagavam entre as pessoas em pé ao seu redor... e
pareceu a Han que ele subitamente se tornou mais alerta. – Sim –
ele repetiu, mais forte desta vez.
– Seu ataque fracassou – o oficial lhe disse. – Seus homens
estão todos mortos, e ainda não sabemos ao certo se você vai viver.
Himron suspirou e fechou os olhos. Mas aquela sensação de
alerta ainda estava em seu rosto.
– As fortunas da guerra – ele disse.
Bel Iblis se inclinou para a frente.
– Como vocês entraram no Palácio, major?
– Acho que não pode... fazer mal agora – murmurou Himron.
Sua respiração estava ficando fraca. – Porta dos fundos. Levamos...
mesmo tempo... sistema de passagem privado. Trancado por
dentro. Ela nos deixou entrar.
– Alguém deixou vocês entraram? – perguntou Bel Iblis. –
Quem?
Himron abriu os olhos.
– Nosso contato aqui. Nome... Jade.
Bel Iblis olhou com espanto para Han.
– Mara Jade?
– Sim. – Himron voltou a fechar os olhos, soltou o ar com força.
– Agente especial do... Império. Antes chamada... mão do
imperador.
Ele ficou em silêncio, e pareceu afundar um pouco mais no
leito.
– É tudo o que posso permitir agora, general Bel Iblis – disse o
chefe da equipe médica. – Ele precisa de repouso, e precisamos
estabilizar a condição dele. Em um ou dois dias, talvez, ele estará
forte o bastante para responder mais perguntas.
– Está tudo bem – disse um dos oficiais de segurança, indo
para a porta. – Ele nos deu o bastante para começar.
– Espere um minuto – Han gritou, correndo atrás dele. – Pra
onde você está indo?
– Aonde você acha? – retorquiu o oficial. – Vou ter que prender
Mara Jade.
– Com base em quê, na palavra de um oficial do Império?
– Ele não tem escolha, Solo – Bel Iblis disse baixinho, pondo a
mão no ombro de Han. – Uma detenção preventiva é necessária
depois de uma acusação dessa gravidade. Não se preocupe: nós
vamos resolver isso.
– É melhor que sim – avisou Han. – Agente do Império uma
ova: ela abateu pelo menos três deles lá em cima...
Ele parou ao ver a expressão no rosto de Lando.
– Lando?
Lentamente, o outro concentrou seu olhar nele.
– É isso – ele disse baixinho. – Foi lá que eu a vi antes. Ela era
uma das novas dançarinas do palácio de Jabba, o Hutt, em Tatooine
quando armamos o seu resgate.
Han franziu a testa.
– No palácio de Jabba?
– Sim. E não tenho certeza... mas, no meio de toda aquela
confusão antes de partirmos para o Grande Poço de Carkoon,
lembro de ter ouvido ela pedir a Jabba que a deixasse ir junto na
Barcaça a Vela. Não, pedindo não: implorando, melhor dizendo.
Han olhou para o inconsciente major Himron. A mão do
imperador? E Luke havia dito que ela queria matá-lo...
Ele afastou o pensamento.
– Não me interessa onde ela esteve – ele disse. – Ela ainda
atirou naqueles imperiais lá em cima e tirou eles das nossas costas.
Venha. Vamos ajudar Leia com os gêmeos. E depois descobrir o
que é que está acontecendo aqui.
O tapcaf Redemoinho de Whistler em Trogan era um dos melhores
exemplos que Karrde já tinha visto de uma boa ideia arruinada pelo
fracasso de seus projetistas em levar seus planos até o fim. Situado
no litoral do continente mais densamente povoado de Trogan, o
Redemoinho tinha sido construído ao redor de uma formação
natural chamada de Xícara –, um poço de rocha em formato de
cúpula invertida aberta ao mar em sua base. Seis vezes por dia, os
maciços deslocamentos de maré de Trogan faziam o nível da água
subir ou descer dentro da cúpula, transformando-a num violento
redemoinho de águas brancas no processo. As mesas do tapcaf
dispostas em círculos concêntricos ao redor da cúpula
proporcionavam um belo equilíbrio entre o luxo e o espetáculo
natural: o perfeito cartão de visitas para os bilhões de humanos e
aliens apaixonados por esse tipo de combinação.
Ou pelo menos era isso o que os projetistas e seus
patrocinadores haviam pensado. Infelizmente eles ignoraram três
pontos: primeiro, que um lugar desses era quase por definição uma
atração turística e, por isso, dependia das oscilações do mercado;
segundo, que assim que o charme do próprio Redemoinho
acabasse, o design centralizado acabaria praticamente impedindo
que o local fosse remodelado para receber qualquer outro tipo de
entretenimento; e terceiro, que mesmo que esse remodelamento
tivesse ocorrido, o barulho dos mini quebra-ondas dentro da Xícara
teria estragado tudo de qualquer forma.
O pessoal de Calius saj Leeloo, em Berchest, havia
transformado sua atração turística em um centro comercial. O povo
de Trogan simplesmente abandonara o Redemoinho de Whistler.
– Eu vivo esperando que alguém compre este lugar e o reforme
– comentou Karrde, olhando ao redor para as mesas e cadeiras
vazias enquanto ele e Aves desciam um dos corredores na direção
da Xícara e da pessoa que aguardava por eles lá. Os anos de
descuido eram evidentes, mas o lugar poderia estar muito pior.
– Eu mesmo sempre gostei daqui – concordou Aves. Meio
barulhento, mas qualquer lugar é barulhento hoje em dia.
– Certamente era difícil bisbilhotar a conversa da mesa ao lado
– concordou Karrde. – Só isso já fazia o lugar valer a pena. Olá,
Gillespee.
– Karrde – Gillespee cumprimentou, levantando-se de sua
mesa e estendendo a mão. – Eu estava começando a me perguntar
se você ia realmente aparecer.
– Mas ainda faltam duas horas para a reunião – Aves lembrou.
– Ah, o que é que há – disse Gillespee com um sorriso maroto.
– Desde quando Talon Karrde chega a qualquer lugar na hora?
Embora você pudesse ter se poupado o trabalho: meu pessoal já
checou tudo.
– Obrigado pelo esforço – disse Karrde. O que não significava,
claro, que ele mandaria seu pessoal parar de fazer o mesmo
trabalho. Um pouco de segurança a mais não faria mal, já que o
Império estava no seu encalço e havia uma guarnição imperial a
apenas vinte quilômetros de distância. – Você está com a lista de
convidados?
– Bem aqui – disse Gillespee, apanhando seu datapad e
entregando-o. – Receio que não seja tão grande quanto eu
esperava.
– Tudo certo – Karrde lhe assegurou, passando os olhos pela
lista. De fato era pequena, mas muito bem selecionada; alguns dos
maiores nomes do contrabando viriam pessoalmente. Brasck,
Par’tah, Ellor, Dravis: esse seria o grupo de Billey; o próprio Billey já
não saía muito. Mazzic, Clyngunn, o ZeHethbra, Ferrier...
Ele levantou a cabeça bruscamente.
– Ferrier? – perguntou. – Niles Ferrier, o ladrão de
espaçonaves?
– Sim, esse mesmo – assentiu Gillespee, franzindo a testa. –
Ele também faz contrabando.
– Ele também trabalha para o Império – retrucou Karrde.
– Nós também – Gillespee deu de ombros. – E da última vez
que eu soube, você também.
– Não estou falando sobre contrabandear mercadorias para
dentro ou fora de mundos imperiais – disse Karrde. – Estou falando
de trabalhar diretamente para o Grão Almirante Thrawn. Fazendo
trabalhos pequenos como pegar o homem que localizou a frota
Katana para ele.
O rosto de Gillespee ficou rígido, quase imperceptivelmente,
enquanto ele se lembrava de sua louca fuga de Ukio, apenas um
passo à frente da invasão imperial naquelas mesmas naves da frota
Katana.
– Foi Ferrier quem fez aquilo?
– E gostou – disse Karrde, sacando seu comlink e apertando o
botão. – Lachton?
– Bem aqui – a voz de Lachton respondeu prontamente pelo
comlink.
– Como estão as coisas na guarnição?
– Como um necrotério em dia de folga – Lachton respondeu
irônico. – Não houve nenhum movimento dentro ou fora do lugar por
pelo menos três horas.
Karrde ergueu uma sobrancelha.
– É mesmo? Que interessante. E voos para dentro ou fora?
Alguma atividade dentro do território da guarnição?
– Também não – disse Lachton. – Sem brincadeira, Karrde, o
lugar parece completamente morto. Devem ter chegado alguns
novos holos de treinamento ou coisa parecida.
Karrde deu um sorriso tenso.
– Sim, com certeza deve ser isso. Tudo bem, continue de olho
neles. Me informe imediatamente se houver qualquer tipo de
atividade.
– Entendido. Câmbio.
Karrde desligou o comlink e o colocou de volta ao cinto.
– Os imperiais não estão saindo de sua guarnição – ele disse
aos outros. – Não há nenhum movimento.
– Mas não é isso que queremos? – perguntou Gillespee. – Eles
não vão cair em cima do nosso grupo se estiverem em seu quartel.
– Concordo – assentiu Karrde. – Por outro lado nunca ouvi falar
de uma guarnição do Império que tenha simplesmente tirado um dia
de folga.
– Tem razão – admitiu Gillespee. – A menos que esta grande
campanha de Thrawn tenha deixado todas essas guarnições de
terceira categoria com pouco pessoal.
– Mais motivo ainda para que elas façam patrulhas diárias para
mostrar força – disse Karrde. – Um homem como o Grão Almirante
Thrawn conta com as percepção de seus oponentes para preencher
as lacunas de sua força real.
– Talvez devêssemos cancelar o encontro – sugeriu Aves,
olhando com desconforto para a entrada. – Eles podem estar
armando para nós.
Karrde olhou por cima de Gillespee para as águas que batiam
nas paredes da Xícara. Em pouco menos de duas horas, a água
estaria no seu nível mais baixo e silencioso, e era por isso que ele
havia arranjado o encontro para esse momento. Se cancelasse
agora, estaria admitindo a todos aqueles contrabandistas que o
Império deixava Talon Karrde nervoso à toa...
– Não – ele disse devagar. – Vamos ficar. Afinal, nossos
convidados não estarão exatamente sentados aqui, indefesos. E
avisaremos caso haja qualquer movimentação oficial contra nós. –
Ele deu um sorriso fino. – Na verdade, quase vale a pena o risco só
para ver o que eles têm em mente.
Gillespee deu de ombros.
– Talvez eles não estejam planejando nada. Talvez tenhamos
conseguido enganar a Inteligência Imperial tão bem que eles
deixaram esta reunião passar.
– Essa não parece a Inteligência Imperial que todos nós
conhecemos e amamos – disse Karrde, olhando ao redor. – Mesmo
assim, temos duas horas antes da reunião. Vamos ver o que
conseguimos arranjar até lá, certo?

Eles estavam ali sentados em silêncio, cada indivíduo e seu


séquito sentado ao redor de uma mesa enquanto Karrde fazia sua
proposta. E, quando terminou e olhou ao redor, percebeu que não
estavam convencidos.
Brasck oficializou essa suspeita.
– Você fala bem, Karrde – disse o Brubb; sua língua fina
serpenteava entre os lábios enquanto ele provava o ar. –
Poderíamos até dizer que com paixão, se tal palavra pudesse se
aplicar a você. Mas não convence.
– Eu realmente não fui convincente, Brasck? – retrucou Karrde.
– Ou apenas não consegui vencer sua relutância em resistir ao
Império?
A expressão de Brasck não mudou, mas a pele cinza-
esverdeada pintalgada de seu rosto – a única parte de seu corpo
que estava descoberta por sua armadura corporal – ficou um pouco
mais cinza.
– O Império paga bem por artigos contrabandeados – disse ele.
[E por escravos também?] Par’tah exigiu saber na linguagem
cantada dos Ho’Din. Os apêndices de sua cabeça, semelhantes a
serpentes, balançaram suavemente enquanto ela abria e fechava a
boca num gesto ho’din de desprezo. [E para víytiymas de
sequestro? Você não é melhor do que era o Hutt.]
Um dos guarda-costas de Brasck se mexeu em seu assento –
um homem, Karrde sabia, que havia escapado com Brasck da
servidão a Jabba, o Hutt quando Luke Skywalker e seus aliados
cortaram a cabeça daquela organização.
– Ninguém que conheceu o Hutt diria isso – ele grunhiu,
espetando o dedo na mesa ao seu lado para dar ênfase às palavras.
– Não estamos aqui para discutir – disse Karrde antes que
Par’tah ou qualquer um do grupo dela pudesse responder.
– Então por que estamos aqui? – Mazzic falou, recostado em
sua cadeira entre um Gotal com chifres na cabeça e uma mulher de
olhar decorativo porém distante, com cabelos arrumados em
espirais elaboradas ao redor de uma dúzia de agulhas esmaltadas
enormes. – Você vai me perdoar, Karrde, mas isso se parece muito
com um discurso de recrutamento da Nova República.
– É, e Han Solo já fez um desses pra gente – concordou Dravis,
colocando os pés em cima da mesa. – Billey já disse que não estava
interessado em transportar a carga da Nova República.
– Perigoso demais – interrompeu Clyngunn, balançando sua
juba de listras pretas e brancas descabeladas. – Por demais
perigoso.
– É mesmo? – disse Karrde, fingindo surpresa. – Por que é
perigoso?
– Você deve estar brincando – rugiu o ZeHethbra, balançando a
juba novamente. – Com o assédio imperial aos carregamentos da
Nova República do jeito que está, o simples ato de decolar coloca
sua vida em risco.
– Então, o que você está dizendo – sugeriu Karrde – é que a
força do Império está se tornando cada vez mais perigosa para
nossas atividades comerciais?
– Não senhor, Karrde – disse Brasck, balançando um dedão
para ele. – Você não vai nos convencer a seguir com este esquema
distorcendo nossas palavras.
– Eu não sugeri nenhum esquema, Brasck – disse Karrde. –
Tudo o que sugeri é que nós forneçamos à Nova República
qualquer informação útil que por acaso possamos encontrar no
decorrer de nossas atividades.
– E você não acha que o Império iria achar essa atividade
inaceitável? – perguntou Brasck.
[Desde quando nos iymportamos com que o Iympério pensa?]
retrucou Par’tah.
– Desde que o Grão Almirante Thrawn assumiu o comando –
Brasck retrucou, ríspido. – Já ouvi histórias sobre esse senhor da
guerra, Par’tah. Foi ele que forçou meu mundo a cair sob o sudário
do Império.
– Esta devia ser uma boa razão para você ficar contra ele –
ressaltou Gillespee. – Se você tem medo do que Thrawn pode fazer
com você agora, pense no que acontecerá com você se ele colocar
toda a galáxia sob o sudário do Império novamente.
– Nada vai acontecer conosco se não nos opusermos a ele –
insistiu Brasck. – Eles precisam demais dos nossos serviços para
isso.
– É uma bela teoria – disse uma voz mais para a retaguarda do
grupo. – Mas eu já posso lhe adiantar que isso não quer dizer
absolutamente nada.
Karrde se concentrou no falante. Era um humano grande e
parrudo, com cabelos e barba escuros, um cigarro fino e apagado
preso nos dentes.
– E você é... – perguntou Karrde, embora tivesse certeza de
que sabia quem era.
– Niles Ferrier – o outro se identificou. – E posso dizer a vocês
de cara que cuidar dos próprios negócios não vai ajudá-los em nada
se Thrawn decidir que quer vocês.
– E no entanto ele paga bem – argumentou Mazzic, acariciando
a mão de sua companheira. – Ou assim ouvi dizer.
– Você ouviu isso, hein? – grunhiu Ferrier. – Você também
ouviu dizer que ele me agarrou nos arredores de New Cov,
confiscou minha nave e depois ordenou que eu saísse numa
missãozinha complicada para ele a bordo de uma lata-velha da
Inteligência carregada de bombas? Ah, aproveite e adivinhe qual o
castigo que sofreríamos se eu não cumprisse a missão.
Karrde olhou ao redor do salão, escutando a água que
gentilmente batia na Xícara atrás dele e mantendo seu silêncio. Não
era bem assim que Solo havia descrito o envolvimento de Ferrier; e,
para ser equânime, ele provavelmente confiaria mais na versão de
Solo que na do ladrão de naves. Mesmo assim, sempre era possível
que Solo tivesse interpretado algumas coisas errado. E se a história
de Ferrier ajudasse a convencer os outros de que o Império tinha
que sofrer oposição...
– Você foi pago pelo inconveniente? – perguntou Mazzic.
– Claro que fui pago – Ferrier bufou. – A questão não é essa.
– Pra mim é – disse Mazzic, virando-se para olhar para Karrde.
– Desculpe, Karrde, mas ainda não ouvi nenhum bom motivo para
eu me arriscar desse jeito.
– Que tal o novo tráfico de clones do Império? – Karrde
lembrou. – Isso não os preocupa?
– Não estou especialmente feliz com ele – Mazzic admitiu. –
Mas acho que isso é problema da Nova República, e não nosso.
[Quando iysso vai se tornar nosso problema?] Par’tah exigiu
saber. [Quando o Iympério tiyver substiytuíydo todos os
contrabandiystas por esses clones?]
– Ninguém vai nos substituir por clones – disse Dravis. – Sabe,
Brasck tem razão, Karrde. O Império precisa demais de nós pra nos
perturbar... Desde que não tomemos partido.
– Exatamente – disse Mazzic. – Nós somos homens de
negócios, pura e simplesmente; e eu pretendo continuar assim. Se a
Nova República puder pagar mais do que o Império por
informações, ficarei feliz de vendê-las para eles. Se não... – deu de
ombros.
Karrde assentiu, admitindo a derrota para si mesmo. Par’tah
poderia estar disposta a discutir a questão mais um pouco, e
possivelmente um ou dois dos outros. Ellor talvez – o Duro até
agora havia ficado de fora da conversa, coisa que para sua espécie
era frequentemente sinal de concordância. Mas nenhum dos demais
estava convencido, e forçá-los mais ainda só os aborreceria. Mais
tarde, talvez, quando estivessem dispostos a aceitar a realidade da
ameaça do Império.
– Muito bem – ele disse. Acho que agora as posições de todos
vocês estão claras. Obrigado pelo seu tempo. Talvez possamos
planejar um novo encontro depois de...
E, sem aviso, a parte de trás do Redemoinho de Whistler
explodiu.
– Fiquem onde estão – uma voz amplificada gritou no meio do
burburinho. – De cara para frente; ninguém se mexe. Todos aqui
estão presos por ordem do Império.
Karrde forçou a vista por sobre as cabeças de sua plateia
subitamente paralisada para tentar ver a parte de trás do edifício. No
meio da fumaça e da poeira ele conseguia ver uma fila dupla de
cerca de trinta soldados do exército imperial abrindo caminho pelos
escombros onde a parede de trás havia estado, seus flancos
protegidos por dois pares de stormtroopers de armadura branca.
Atrás deles, quase obscurecidos pela névoa, ele pode ver dois
speeders de comando Chariot planando em posições de apoio.
– Então eles acabaram vindo à festa afinal – ele murmurou.
– Com força total – Gillespee concordou tenso ao seu lado. –
Parece que você tinha razão quanto a Ferrier.
– Talvez. – Karrde olhou para Ferrier, meio que esperando ver
um sorriso triunfante de deboche no rosto do homenzarrão.
Mas Ferrier não estava olhando para ele. Sua atenção estava
voltada ligeiramente mais para o lado; em vez de observar os
soldados que se aproximavam, ele olhava para parte da parede à
direita do novo buraco. Karrde acompanhou a linha de seu olhar...
Bem a tempo de ver uma sólida sombra preta se destacar da
parede e subir silenciosamente atrás de um conjunto de
stormtroopers no flanco.
– Por outro lado, talvez não – ele disse a Gillespee, com um
gesto leve de cabeça na direção da sombra. – Dê uma olhada, logo
depois do ombro de Ellor.
Gillespee inspirou com força.
– O que, em nome do inferno, é aquilo?
– O Defel de estimação de Ferrier, eu acho – disse Karrde. – Às
vezes são chamados de espectros. Solo me contou a respeito. É
aquilo ali. Todos estão prontos?
– Estamos prontos – disse Gillespee, e vários murmúrios
ecoaram atrás deles. Karrde passou os olhos por seus colegas
contrabandistas e seus assistentes, encarando um de cada vez.
Eles retribuíram o olhar e o choque com a emboscada rapidamente
se transformou numa raiva fria – eles também estavam prontos. A
sombra do Defel de Ferrier alcançou o fim da fila de imperiais e,
repentinamente, um dos stormtroopers foi jogado de corpo inteiro
contra seu companheiro, atingindo-o em cheio. Os soldados mais
próximos reagiram no mesmo instante, girando suas armas para o
lado enquanto procuravam o agressor invisível.
– Agora – murmurou Karrde.
E pelo canto do olho ele viu os canos longos de dois rifles de
raios BlasTech A280 girando sobre a borda da xícara e abrindo fogo.
A primeira salva atravessou o centro da linha, apanhando um
punhado dos imperiais antes que o resto fosse capaz de mergulhar
em busca de cobertura entre as mesas e cadeiras vazias. Karrde
deu um longo passo para a frente, derrubando a mesa mais próxima
e se ajoelhando atrás dela.
Uma precaução quase desnecessária. O meio segundo em que
imperiais tiraram a sua atenção de seus prisioneiros se provou fatal.
Antes mesmo que Karrde pudesse sacar sua arma, todo o salão
explodiu em rajadas de raios.
Brasck e seus guarda-costas abateram um esquadrão inteiro de
soldados nos primeiros cinco segundos, com um fogo sincronizado
que mostrou que o Brubb não havia esquecido seu passado de
mercenário. O grupo de Par’tah se concentrava na outra ponta da
linha – suas armas eram menores e menos devastadoras do que as
pistolas pesadas de Brasck, mas eram mais do que suficientes para
manter os imperiais a distância. Dravis, Ellor e Clyngunn tiravam
vantagem do fogo de cobertura para abater os soldados restantes
um a um. Mazzic, por outro lado, ignorava a ameaça dos soldados
mais próximos e atirava nos speeders de comando Chariot do lado
de fora.
O que na verdade era uma boa ideia.
– Aves! Fein! – Karrde gritou por sobre o barulho. – Concentrem
fogo nas Chariots.
Ele ouviu gritos de confirmação da beirada da Xícara atrás dele,
e as rajadas dos rifles que passaram por seu ombro desviaram a
mira. Karrde se ajeitou sobre sua mesa, e observou rapidamente a
companheira fêmea de Mazzic enquanto ela lançava a última de
suas agulhas esmaltadas com precisão letal em cima de um dos
soldados – seu cabelo arrumado agora caía pelos ombros e seu
rosto parecia bem distante da neutralidade. Outro imperial saiu da
cobertura, apontando seu rifle para ela, mas tornando a cair para
trás quando o tiro de Karrde o atingiu bem no torso. Dois tiros
acertaram a mesa que o protegia, enviando nuvens de lascas para o
ar e o forçando a cair ao chão. Do lado de fora veio o som de uma
enorme explosão, ecoado um instante depois por uma segunda
detonação.
Então, subitamente, tudo estava acabado.
Com cuidado, Karrde voltou a se levantar por cima de sua
mesa. Os outros faziam a mesma coisa, com as armas ainda em
riste, enquanto inspecionavam o estrago ao seu redor. Clyngunn
estava segurando desajeitadamente um braço enquanto procurava
por uma atadura em seu cinturão; a túnica de Brasck estava
queimada em vários lugares, a armadura corporal em baixo dela
enegrecida e cheia de bolhas.
– Todos estão bem? – gritou Karrde.
Mazzic se endireitou. Mesmo daquela distância Karrde podia
ver os dedos brancos agarrando a arma.
– Eles pegaram Lishma – ele disse com a voz mortalmente
baixa. – Ele não estava sequer atirando.
Karrde abaixou o olhar até a mesa quebrada aos pés de Mazzic
e viu o Gotal caído, sem movimento e semioculto embaixo dela.
– Eu lamento – ele disse, com sinceridade. Ele sempre gostara
do povo Gotal.
– Eu também lamento – disse Mazzic, enfiando a arma de volta
ao coldre e olhando para Karrde com olhos fumegantes. – Mas o
Império vai lamentar muito mais. Ok, Karrde; estou convencido.
Onde é que eu assino?
– Em algum lugar bem longe daqui, eu acho – disse Karrde,
olhando as Chariots em chamas do outro lado da parede
arrebentada ao sacar seu comlink. Ninguém lá fora estava se
movendo, mas isso não ia durar muito. – Eles certamente terão
apoio a caminho. Lachton, Torve: vocês estão aí?
– Estamos bem aqui – veio a voz de Torve. O que em nome do
espaço foi tudo isso?
– Os imperiais decidiram que queriam brincar, afinal – Karrde
lhe disse, muito sério. – Vieram sorrateiros com duas Chariots. Tem
alguém se mexendo em alguma de suas áreas?
– Aqui não – disse Torve. – Não sei de onde eles vieram, mas
não foi do espaçoporto.
– A mesma coisa aqui – interrompeu Lachton. – A guarnição
ainda está quieta como um túmulo.
– Vamos torcer para que continue assim por mais alguns
minutos – disse Karrde. – Transmita a mensagem para os outros;
estamos voltando para a nave.
– Estamos a caminho. Vemos você lá.
Karrde desligou o comlink e se virou. Gillespee estava ajudando
Aves e Fein a saírem sobre a borda da Xícara, os arneses de teia
que os haviam mantido suspensos logo abaixo da beirada rochosa
se arrastavam atrás deles.
– Muito bom, cavalheiros – ele os elogiou. – Obrigado.
– O prazer foi nosso – grunhiu Aves, abrindo seu arnês e
aceitando de volta seu rifle de raios que estava com Gillespee.
Mesmo com a maré em seu nível mais baixo, ele reparou, a
turbulência ainda havia conseguido encharcar os dois homens até
os joelhos. – Está na hora de darmos o fora?
– Assim que pudermos – concordou Karrde, voltando-se para
os outros contrabandistas. – Bem, nos vemos no espaço.
Não havia emboscada esperando por eles perto da Wild Karrde.
Nem emboscada, nem perseguição de caças, nem Star Destroier
Imperial espreitando em órbita. Apesar de todas as aparências, o
incidente lá no Redemoinho de Whistler podia muito bem ter sido
uma elaborada alucinação em massa.
A não ser pela destruição do tapcaf, e as Chariots queimadas, e
as queimaduras muito reais. E, claro, o Gotal morto.
– Então, qual é o plano? – perguntou Dravis. – Você quer que
ajudemos a caçar essa linha de tráfego de clones que mencionou,
certo?
– Sim – disse Karrde. – Sabemos que ela passa por Poderis,
então o setor Orus é o lugar para começar.
– Ela já passou por Poderis – ressaltou Clyngunn. – A esta
altura Thrawn já pode tê-la movido.
– Embora presumivelmente não sem deixar alguns vestígios
que possamos rastrear – disse Karrde. – Então. Temos um acordo?
– Meu grupo está com você – Ferrier falou prontamente. – Na
verdade, Karrde, se você quiser eu vou ver o que posso fazer para
conseguir algumas naves de combate de verdade para o seu
pessoal.
– Eu posso cobrar isso de você – prometeu Karrde. – Par’tah?
[Nós iyremos ajudar na busca] disse Par’tah, soando zangada
como Karrde nunca havia ouvido. A morte do Gotal a estava
atingindo quase tanto quanto havia atingido Mazzic. [O Iympério
preciysa aprender uma liyção.]
– Obrigado – disse Karrde. – Mazzic?
– Concordo com Par’tah – ele disse friamente. Mas acho que a
lição precisa ser um pouco mais explícita. Vocês vão em frente e
façam sua caçada aos clones: Ellor e eu temos outra coisa em
mente.
Karrde olhou para Aves, que deu de ombros.
– Se ele quer ir lá dar umas palmadinhas neles, quem somos
nós para impedir? – murmurou o outro.
Karrde deu de ombros e assentiu.
– Está certo – ele disse para Mazzic. – Boa sorte. Tentem não
dar um passo maior que as pernas.
– Pode deixar – disse Mazzic. – Estamos indo. Vemos vocês
depois.
Na extremidade de estibordo da escotilha, duas das naves em
sua formação solta piscaram com pseudomovimento e
desapareceram no espaço.
– Isso deixa apenas você, Brasck – disse Karrde. – O que você
me diz?
Ele ouviu um suspiro longo e sutil no alto-falante do
comunicador; um dos muitos gestos verbais Brubb intraduzíveis.
– Não posso e não ficarei contra o Grão Almirante Thrawn – ele
disse finalmente. Dar informações à Nova República seria convidar
seu ódio e sua ira contra mim. – Outro suspiro verbalizado. – Mas
também não vou interferir em suas atividades nem levá-las ao
conhecimento dele.
– Muito justo – Karrde assentiu. Era na verdade bem mais do
que ele havia esperado de Brasck. O medo que os Brubbs tinham
do Império era profundo. – Então está bem. Vamos organizar
nossos grupos e planejar um reencontro em Chazwa daqui a,
digamos, cinco dias. Boa sorte a todos.
Os outros concordaram e desligaram, e um a um deram seus
saltos para a velocidade da luz.
– Lá se vai a neutralidade – suspirou Aves enquanto checava o
computador de navegação. – Mara vai ter um chilique quando
descobrir. Quando ela volta, aliás?
– Assim que eu encontrar uma maneira de trazê-la para cá –
disse Karrde, sentindo uma pontada de culpa. Fazia vários dias
desde que recebera mensagem de que ela e Ghent estavam
prontos para se juntar a ele, uma mensagem que provavelmente
levara vários outros dias para alcançá-lo em primeiro lugar. Ela
estava provavelmente roendo metal de casco àquela altura. –
Depois daquele último aumento de preço do Império pelas nossas
cabeças, deve haver provavelmente uns vinte caçadores de
recompensa esperando que nós apareçamos na periferia de
Coruscant.
Aves se mexeu desconfortável.
– É isso que você acha que aconteceu lá embaixo? Algum
caçador de recompensas ficou sabendo do encontro e deu a dica
para os imperiais?
Karrde ficou olhando para as estrelas.
– Eu realmente não sei o que foi aquilo – ele admitiu. –
Caçadores de recompensas geralmente evitam dar dicas às
autoridades a não ser que já tenham um acordo financeiro. Por
outro lado, quando os imperiais se dão ao trabalho de efetuar um
ataque, espera-se que executem um trabalho mais competente.
– A menos que eles estivessem apenas seguindo Gillespee e
não soubessem que o resto de nós estava ali – Aves sugeriu
hesitante. Pode ser que três esquadrões de tropas e dois Chariots
sejam tudo o que ele mereça em termos de preço.
– Suponho que seja possível – admitiu Karrde. – Mas é difícil de
acreditar que a inteligência deles fosse tão cheia de furos. Bem, vou
mandar nosso pessoal em Trogan fazer algumas investigações
discretas. Ver se eles conseguem rastrear essa unidade e descobrir
de onde veio a dica. Nesse meio tempo, temos uma caçada para
organizar. Vamos a ela.

Niles Ferrier estava sorrindo por trás daquela sua barba


malcuidada, Pellaeon reparou enquanto os stormtroopers o
escoltavam pela ponte; um tipo de sorriso cínico e altamente
satisfeito consigo mesmo, o que mostrava que ele não fazia a menor
ideia de por que havia sido levado até a Quimera.
– Ele está aqui, almirante – murmurou Pellaeon.
– Eu sei – Thrawn disse com calma, de costas para o ladrão de
espaçonaves que se aproximava. Com calma, mas com uma
expressão mortífera nos olhos vermelhos brilhantes. Com cara de
desagrado, Pellaeon se preparou. Aquilo não ia ser bonito.
O grupo chegou até a cadeira de comando de Thrawn e parou.
– Niles Ferrier, almirante – disse o comandante dos
stormtroopers. – Conforme as ordens.
Por um longo momento o Grão Almirante não se moveu, e o
sorriso debochado no rosto de Niles Ferrier foi diminuindo diante
dos olhos de Pellaeon.
– Você esteve em Trogan há dois dias – disse Thrawn
finalmente, ainda sem se virar. – Você se encontrou com dois
homens atualmente procurados pelo Império: Talon Karrde e
Samuel Tomas Gillespee. Você também convenceu uma força tarefa
pequena e despreparada sob o comando de um certo tenente
Reynol Kosk a lançar um ataque imprudente a esse encontro, um
ataque que fracassou. Tudo isso é verdade?
– Claro que sim – assentiu Ferrier. – Sabe, foi por isso que
enviei aquela mensagem ao senhor. Para que o senhor soubesse...
– Então eu gostaria de ouvir os motivos – Thrawn o
interrompeu, finalmente girando sua cadeira a fim de olhar para o
ladrão – pelos quais eu não deveria ordenar sua execução imediata.
O queixo de Ferrier caiu.
– O quê? – ele disse. – Mas... Eu me entendi com Karrde. Ele
confia em mim agora, entendeu? Essa era toda a ideia. Eu posso
desenterrar o resto da gangue dele e entregar todo mundo ao
senhor... – Ele foi parando de falar; o pomo em sua garganta subia e
descia enquanto Ferrier engolia em seco.
– Você foi diretamente responsável pelas mortes de quatro
stormtroopers e 32 soldados do exército imperial – continuou
Thrawn. – E também pela destruição de dois speeders de comando
Chariot e suas tripulações. Não sou o Lorde Darth Vader, Ferrier;
não desperdiço meus homens de forma irresponsável. Tampouco
encaro suas mortes de maneira leviana.
O rosto de Ferrier estava começando a ficar sem cor.
– Senhor... Almirante... Eu sei que o senhor pôs uma
recompensa em todo o grupo de Karrde de quase...
– Mas tudo isso não vale de quase nada em comparação ao
completo desastre que você provocou – Thrawn voltou a interrompê-
lo. – A Inteligência me informou desta reunião de chefes
contrabandistas há quase quatro dias. Eu sabia da localização, do
horário e da lista de prováveis convidados... E eu já tinha dado à
guarnição de Trogan instruções precisas – instruções precisas,
Ferrier – para deixá-la estritamente em paz.
Pellaeon não havia pensado que o rosto de Ferrier pudesse
ficar mais pálido. Ele estava errado.
– O senhor...? Mas, senhor... Mas... Eu não entendo.
– Tenho certeza de que não – disse Thrawn, num tom de voz
mortalmente baixo. Ele fez um gesto; e de sua posição ao lado da
cadeira de Thrawn o guarda-costas Noghri Rukh deu um passo à
frente. – Mas na verdade é bem simples. Eu conheço esses
contrabandistas, Ferrier. Já estudei suas operações, e fiz questão
de lidar pessoalmente com cada um deles pelo menos uma vez ao
longo do ano passado. Nenhum deles quer se envolver nesta
guerra, e sem seu ataque encenado tenho certeza de que eles
teriam partido de Trogan convencidos de que poderiam ficar
sentados esperando as coisas acontecerem, com a tradicional
neutralidade dos contrabandistas.
Fez outro gesto para Rukh, e subitamente o magro assassino
Noghri estava com a faca na mão.
– O resultado de sua interferência – ele continuou
tranquilamente – foi o de uni-los contra o Império. Precisamente a
virada de acontecimentos a qual me esforcei muito para evitar. –
Seus olhos brilhantes perfuravam o rosto de Ferrier. – E eu não
gosto de ver meus esforços desperdiçados.
Os olhos de Ferrier dardejavam entre Thrawn e a lâmina na
mão de Rukh, e a cor de seu rosto agora tinha mudado de branco
pastoso para cinza.
– Desculpe, almirante – ele disse; as palavras saíam com óbvia
dificuldade. – Eu não queria... Quero dizer, me dê outra chance,
sim? Só mais uma chance? Eu posso entregar Karrde. Juro ao
senhor. Bem, ora, quero dizer, nem vamos falar só do Karrde. Eu
entrego todos eles ao senhor.
Sem ter mais o que dizer, ele ficou simplesmente ali parado
com cara de quem ia passar mal. Thrawn o deixou esperando por
mais alguns segundos.
– Você é um tolo medíocre, Ferrier – ele disse finalmente. Mas
até mesmo tolos ocasionalmente têm seus usos. Você terá mais
uma chance. Uma última chance. Espero ter-me feito entender bem.
– Sim, almirante, muito bem – disse Ferrier, sacudindo a cabeça
para cima e para baixo em algo que mais parecia um espasmo.
– Ótimo. – Thrawn fez um gesto e a faca de Rukh desapareceu.
– Pode começar me dizendo exatamente o que eles planejaram.
– Claro. – Ferrier respirou fundo e estremeceu. Karrde, Par’tah
e Clyngunn estão indo se encontrar em... eu acho que daqui a três
dias... em Chazwa. Ah. Eles sabem que o senhor está transportando
seus novos clones pelo setor de Orus.
– Sabem mesmo? – Thrawn disse com voz neutra. – E
pretendem impedir?
– Não. Apenas descobrir de onde eles estão vindo. Então irão
contar à Nova República. Brasck não vai se juntar, mas disse que
também não iria impedi-los. Dravis está indo checar com Billey e vai
falar com ele de novo. E Mazzic e Ellor têm mais alguma coisa
planejada. Só não disseram o quê.
Ele ficou sem palavras, ou ar, e parou.
– Está certo – Thrawn disse depois de um momento. – Você vai
fazer o seguinte. Você e seu pessoal irão se encontrar com Karrde e
os outros em Chazwa no prazo marcado. Você vai levar para Karrde
um presente: uma nave auxiliar de ataque que você roubou da
estação de patrulha de Hishyim.
– Com bombas, certo? – Ferrier assentiu ansioso. – Essa foi
minha ideia também: dar pra eles algumas naves com bombas
que...
– Karrde irá, claro, examinar completamente esse presente –
Thrawn o interrompeu, com a paciência obviamente no limite.
Portanto a nave estará em perfeito estado. O propósito dela é
meramente estabelecer a sua credibilidade. Supondo que você
ainda tenha alguma.
Ferrier torceu o lábio.
– Sim, senhor. E depois?
– Você continuará a relatar as atividades de Karrde – disse
Thrawn. – E de tempos em tempos eu enviarei mais instruções a
você. Instruções as quais você irá efetuar instantaneamente e sem
questionamento. Está claro?
– Claro – disse Ferrier. – Não se preocupe, almirante, pode
contar comigo.
– Certamente espero que sim. – Deliberadamente Thrawn olhou
para Rukh. – Porque eu detestaria ter de enviar Rukh para lhe fazer
uma visita. Espero ter-me feito entender.
Ferrier olhou para Rukh também, e engoliu em seco.
– Sim, entendi.
– Ótimo – ele girou sua cadeira a fim de dar as costas para
Ferrier mais uma vez. – Comandante, escolte nosso convidado de
volta à sua nave e cuide para que seu pessoal já esteja na nave
auxiliar de ataque que preparei para eles.
– Sim, senhor – disse o comandante dos stormtroopers. Ele deu
um pequeno empurrão em Ferrier, e o grupo se virou e seguiu para
popa.
– Vá com eles, Rukh – disse Thrawn. – Ferrier tem uma mente
pequena, e quero preenchê-la com o conhecimento do que
acontecerá se ele passar por cima dos meus planos mais uma vez.
– Sim, meu senhor – disse o Noghri, e se esgueirou
silenciosamente depois do ladrão de naves.
Thrawn se virou para Pellaeon.
– Sua análise, capitão?
– Não é uma boa situação, senhor – disse Pellaeon – Mas não
é tão ruim quanto poderia ter sido. Temos uma linha potencial para o
grupo de Karrde, se o senhor puder acreditar em Ferrier. E, nesse
meio tempo, ele e seus novos aliados não estarão fazendo nada a
não ser seguir a trilha de despistamento que já preparamos para a
rebelião.
– E eles acabarão se cansando disso e se separando mais uma
vez – concordou Thrawn, estreitando os olhos brilhantes em
pensamento. – Particularmente quando o peso financeiro dos
negócios imperiais perdidos começar a cobrar seu preço. Mesmo
assim, isso levará tempo.
– Quais são as opções? – perguntou Pellaeon. – Aceitar a
oferta de Ferrier para lhes dar naves com bombas?
Thrawn sorriu.
– Tenho algo mais útil e satisfatório em mente, capitão. No fim
das contas, tenho certeza de que alguns dos outros contrabandistas
perceberam como o ataque a Trogan realmente não foi convincente.
Com algumas provas judiciosamente plantadas, talvez possamos
convencê-los de que foi Karrde quem estava por trás dele.
Pellaeon piscou várias vezes.
– Karrde? – ele repetiu.
– Por que não? – perguntou Thrawn. – Uma tentativa
enganadora e mal-articulada, digamos, de convencer os outros que
seus medos a respeito do Império eram justificados. Isso certamente
faria Karrde perder qualquer influência que possa ter sobre eles,
bem como possivelmente nos poupar o trabalho de caçá-los nós
mesmos.
– É algo em que se pensar, senhor – Pellaeon concordou
diplomaticamente. O meio de uma grande ofensiva, na opinião dele,
não era a hora certa de se vingar dos resquícios do rebotalho da
periferia da galáxia. Haveria muito tempo para isso depois que a
rebelião tivesse sido totalmente esmigalhada. – Posso sugerir,
almirante, que a campanha interrompida em Ketaris solicita sua
atenção?
Thrawn voltou a sorrir.
– Sua dedicação ao dever é admirável, capitão. – Ele virou a
cabeça para olhar para escotilha lateral. – Nenhuma notícia ainda
de Coruscant?
– Ainda não, senhor – disse Pellaeon, checando a atualização
do registro de comunicação só para ter certeza. – Mas o senhor se
lembra do que Himron disse a respeito de primeiro criar uma trilha
de dados. Ele pode ter encontrado alguns obstáculos que o
atrasaram.
– Talvez – Thrawn se virou, e Pellaeon podia ver a leve tensão
em seu rosto. – Talvez não. Mesmo assim, ainda que fracassemos
em obter os gêmeos para nosso adorado mestre Jedi, a culpa que o
major Himron depositou em Mara Jade deverá conseguir neutralizá-
la como uma ameaça para nós. – Por ora, isso é o que importa.
Ele se endireitou em sua cadeira.
– Defina curso para o plano de batalha de Ketaris, capitão.
Vamos partir assim que Ferrier for liberado.
O homem corpulento estava entrando no Grande Corredor quando
Han finalmente o alcançou – sua expressão era a de um homem
com pressa e com um péssimo humor. Mas até aí tudo bem; o
humor de Han também não estava assim tão bom.
– Coronel Bremen – ele disse, começando a andar ao lado do
homem justo no momento em que ele passou pela primeira das
finas árvores ch’hala roxas e verdes que ladeavam o Grande
Corredor. – Quero falar com o senhor um minuto.
Bremen lhe deu um olhar irritado.
– Se for sobre Mara Jade, Solo, nem quero ouvir.
– Ela ainda está sob prisão domiciliar – Han disse mesmo
assim. – Quero saber por quê.
– Puxa, ora, quem sabe isso não tenha algo a ver com aquele
ataque imperial de duas noites atrás – Bremen disse com sarcasmo.
– Você acha?
– Pode ser – concordou Han, dando uma pancada num dos
galhos ch’hala que se esticava um pouco além do tronco. O
turbilhão sutil de cores que acontecia sob a casca exterior
transparente da árvore explodiu num vermelho furioso no ponto
onde o galho se ligava a ele; a cor disparou ao redor do tronco em
ondulações enquanto lentamente se desvanecia. – Acho que tudo
depende do quanto estamos dando importância aos rumores
imperiais hoje em dia.
Bremen parou subitamente e girou nos calcanhares para
encará-lo.
– Escute, Solo, o que é que você quer de mim? – ele disse com
rispidez. Um novo rubor vermelho-claro ondulou ao longo da árvore
ch’hala que Han havia tocado, e do outro lado do corredor um grupo
de diplomatas sentado ao redor de um círculo de conversação
levantou a cabeça intrigado. – Veja os fatos um instante, ok? Jade
conhecia a porta dos fundos secreta e as passagens: ela admitiu
isso de cara. Ela estava lá na cena antes que qualquer alerta tivesse
sido soado: ela admitiu isso também.
– Ora, Lando e o general Bel Iblis também – disse Han,
sentindo aquela fina pátina de diplomacia que Leia havia se
esforçado tanto para criar nele começando a desmanchar. – E você
não prendeu nenhum dos dois.
– As situações não são muito semelhantes, não é? – Bremen
replicou. – Calrissian e Bel Iblis têm histórias com a Nova República,
e gente aqui que se compromete por eles. Jade não tem nenhuma
das duas coisas.
– Leia e eu nos comprometemos por ela – Han disse a ele,
fazendo força para ignorar aquele negócio todo de ela querer matar
Luke. – Isso não basta? Ou você está simplesmente louco com ela
por ter feito seu trabalho por você?
Foi a coisa errada para se dizer. Bremen ficou quase tão
vermelho quanto a árvore ch’hala, e seu rosto endureceu a ponto de
parecer com algo que poderia ser usado como metal num casco de
nave.
– Então ela ajudou a matar alguns supostos agentes do Império
– ele disse friamente. – Isso não prova absolutamente nada. Com
um Grão Almirante puxando os cordéis lá fora, todo esse ataque
poderia não ter passado de uma armação elaborada para nos
convencer de que ela está do nosso lado. Bem, lamento, mas não
vamos cair nessa. Ela vai receber o tratamento completo: busca de
registros, busca de histórico, correlação de contatos e umas duas
sessões de perguntas e respostas com nossos interrogadores.
– Maravilha – Han bufou. – Se ela não está do nosso lado
agora, aí é que ela vai ficar com certeza.
Bremen se empertigou.
– Não estamos fazendo isso para sermos populares, Solo.
Estamos fazendo isso para proteger vidas da Nova República: a sua
e a de seus filhos entre elas, se você se lembra bem. Presumo que
a conselheira Organa Solo estará no briefing de Mon Mothma; se
ela tiver alguma reclamação ou sugestão, poderá apresentá-las ali.
Até lá, não quero ouvir nada a respeito de Jade vindo de ninguém.
Especialmente de você. Está claro, capitão Solo?
Han suspirou.
– Sim. Claro.
– Ótimo. – Tornando a girar nos calcanhares, Bremen continuou
a descer o corredor, Han o viu se afastar, fuzilando-o com o olhar.
– Você tem um jeitinho e tanto com as pessoas, não é? – uma
voz familiar disse ironicamente atrás dele.
Han se virou, levemente surpreso.
– Luke! Quando você voltou?
– Há cerca de dez minutos – respondeu Luke, com um gesto de
cabeça corredor abaixo. – Liguei para seu quarto, e Winter me disse
que vocês dois tinham descido para cá, para uma reunião especial.
Eu estava torcendo para falar com vocês antes de entrarem.
– Na verdade, eu não fui convidado – disse Han, dando um
último olhar de relance para as costas de Bremen. – E Leia parou no
quarto de Mara primeiro.
– Ah. Mara.
Han olhou para seu amigo.
– Ela estava aqui quando precisamos dela – ele lembrou ao
mais novo.
Luke fez uma cara de desagrado.
– E eu não.
– Não foi isso o que eu quis dizer – protestou Han.
– Eu sei – Luke lhe garantiu. – Mas mesmo assim eu deveria ter
estado aqui.
– Bom...– Han deu de ombros, sem saber ao certo o que dizer.
– Você não pode estar sempre aqui pra proteger ela. É pra isso que
ela me escolheu.
Luke lhe deu um sorriso sarcástico.
– Certo. Devo ter me esquecido.
Han olhou para trás. Outros diplomatas e assessores do
Conselho estavam começando a aparecer, mas nada de Leia ainda.
– Vamos lá. Ela deve ter se detido em algum lugar. Podemos
encontrá-la no meio do caminho.
– Fico surpreso que você esteja deixando ela andar pelo
palácio sozinha – Luke comentou enquanto voltavam por entre a
fileira de árvores ch’hala.
– Ela não está exatamente sozinha – Han disse secamente. –
Chewie não sai de perto dela desde o ataque. A grande bola de pelo
chega até mesmo a dormir em frente à nossa porta de noite.
– Isso deve dar uma sensação de segurança a vocês.
– É. As crianças provavelmente vão acabar com alergia a pelo
de Wookiee. – Ele olhou para Luke. – Onde é que você estava,
aliás? Sua última mensagem disse que você estaria de volta três
dias atrás.
– Isso foi antes de eu ficar preso em... – Luke parou, olhando as
pessoas que começavam a vagar pelo corredor. – Mais tarde eu te
conto – ele emendou. – Winter disse que Mara estava sob prisão
domiciliar?
– É, e parece que ela vai permanecer assim – grunhiu Han. –
Pelo menos até conseguirmos convencer os burocratas lá da
Segurança de que ela não tem nada a esconder.
– Sim – Luke disse com hesitação. – Bem, isso pode não ser
tão fácil quanto parece.
Han franziu a testa.
– Por que não?
Luke pareceu se segurar para um impacto.
– Porque ela passou a maior parte dos anos da guerra como
assistente pessoal do imperador.
Han o encarou.
– Espero que você esteja brincando.
– Não estou – disse Luke, balançando a cabeça. – Ele a
mandava por todo o Império para fazer seus trabalhos. Eles a
chamavam de mão do imperador.
Que foi como aquele major do Império na ala médica a tinha
chamado.
– Que ótimo – ele disse a Luke, se virando para olhar para a
frente mais uma vez. – Simplesmente ótimo. Você podia ter nos
contado.
– Não achei que fosse importante – disse Luke. – Ela não está
com o Império agora, tenho certeza disso. – Ele deu um olhar
significativo para Han. – E suponho que a maioria de nós têm coisas
em nosso histórico que não gostaria que as pessoas ficassem
comentando.
– De algum modo, acho que Bremen e seus figurões da
segurança não vão pensar desse jeito – Han disse amargo.
– Bem, vamos simplesmente ter de convencê-los...
Ele parou.
– O que foi? – perguntou Han.
– Não sei – Luke disse devagar. – Acabei de sentir uma
perturbação na Força.
Uma coisa fria bateu na boca do estômago de Han.
– Que tipo de perturbação? – ele perguntou. – Quer dizer
perigo?
– Não – disse Luke, vincando a testa em concentração. –
Parece mais ser surpresa. Ou choque. – Olhou para Han. – E não
tenho certeza... mas acho que estava vindo de Leia.
A mão de Han foi até o cabo de sua arma de raios, e os olhos
começaram a vasculhar o corredor sem parar. Leia estava lá em
cima com uma ex-agente do Império... e ela estava surpresa o
bastante para Luke captar essa sensação.
– Acha que devemos correr? – ele perguntou baixinho.
– Não – disse Luke. Sua mão, reparou Han, estava tocando o
sabre de luz. – Mas podemos caminhar rápido.

Do outro lado da porta veio a voz abafada do droide de guarda


G-2RD, e com um suspiro cansado Mara desligou seu datapad e o
jogou em cima da mesa à sua frente. Em algum momento, ela
supôs, a segurança se cansaria dessas sessõezinhas de
interrogatório educadas e edulcoradas. Mas, se estavam ficando
cansados, isso ainda não era visível. Usando a Força, ela tentou
identificar seu visitante, torcendo pelo menos para que não fosse
aquele tal de Bremen novamente.
Não era; e ela mal teve tempo de superar sua surpresa quando
a porta se abriu e Leia Organa Solo entrou.
– Olá, Mara – Organa Solo assentiu num cumprimento. Atrás
dela, o droide de guarda fechou a porta, dando a Mara um breve
vislumbre de um Wookiee claramente infeliz. – Apenas dei uma
parada para ver como você estava.
– Ah, estou sensacional – Mara grunhiu, ainda sem saber ao
certo se receber Organa Solo em vez de Bremen era um avanço ou
um retrocesso. – O que foi tudo aquilo ali fora?
Leia balançou a cabeça, e Mara captou um vislumbre da
irritação da outra mulher.
– Alguém na segurança aparentemente decidiu que você não
deveria receber mais de um convidado de cada vez a menos que
fosse um deles. Chewie teve de ficar do lado de fora, e não ficou
muito feliz com isso.
– Acho que ele não confia em mim, então.
– Não leve isso para o lado pessoal – Leia lhe assegurou. –
Wookiees levam essas suas dívidas de vida muito a sério, você
sabe. Ele ainda está muito aborrecido por ter quase perdido todos
nós para aquele esquadrão de sequestradores. Na verdade, neste
momento ele provavelmente confia em você mais do que em
qualquer outra pessoa no palácio.
– Fico feliz que alguém confie – disse Mara, ouvindo a
amargura em sua voz. – Talvez eu devesse pedir a ele pra ter uma
conversinha com o coronel Bremen.
Organa Solo suspirou.
– Lamento quanto a isso, Mara. Vamos ter uma reunião lá
embaixo daqui a alguns minutos e vou tentar obter a sua libertação
mais uma vez. Mas não acredito que Mon Mothma e Ackbar
concordem até que a Segurança termine sua verificação.
E quando descobrirem que ela realmente tinha sido a mão do
imperador...
– Eu devia ter continuado a insistir para que Winter me
conseguisse uma nave pra fora daqui.
– Se você tivesse feito isso, os gêmeos e eu estaríamos nas
mãos do Império agora – Organa Solo disse baixinho. – A caminho
de nos tornar os troféus do mestre Jedi C’baoth.
Mara sentiu o maxilar endurecer. Assim, de cara, ela não
conseguia pensar em muitos destinos mais horríveis do que aquele.
– Você já me agradeceu – ela murmurou. – Vamos apenas dizer
que você me deve uma e deixar por isso mesmo, ok?
Organa Solo deu um leve sorriso.
– Acho que devemos a você bem mais que uma só – ela disse.
Mara a olhou bem nos olhos.
– Lembre-se disso quando eu matar seu irmão.
Organa Solo nem piscou.
– Você ainda pensa que quer matá-lo?
– Não quero discutir isso – Mara disse a ela, levantando-se de
sua cadeira e andando a passos largos até a janela. – Eu estou
bem, você está tentando me tirar daqui, e estamos todos felizes
porque eu salvei vocês de C’baoth. Havia mais alguma coisa?
Ela podia sentir que os olhos de Organa Solo a estudavam.
– Não exatamente – disse a outra. – Só queria perguntar por
que você fez isso.
Mara ficou olhando pela janela, sentindo uma onda
desconfortável de emoção arrebentando contra a pesada armadura
que ela trabalhara tanto para construir ao seu próprio redor.
– Eu não sei – ela disse, vagamente surpresa por estar sequer
admitindo isso. – Tive dois dias na solitária para pensar bem, e
ainda não sei. Talvez... – deu de ombros. – Acho que foi
simplesmente algo sobre Thrawn tentar roubar seus filhos.
Por um minuto Organa Solo ficou em silêncio.
– De onde você vem, Mara? – ela perguntou por fim. – Antes
que o imperador a trouxesse para Coruscant.
Mara parou para pensar.
– Não sei. Eu me lembro da primeira vez que vi o imperador, e
da viagem até aqui em sua nave particular. Mas não tenho nenhuma
lembrança de onde foi que eu parti.
– Você se lembra de quantos anos tinha?
Mara balançou a cabeça.
– Não exatamente. Eu tinha idade suficiente para conversar
com ele, e para entender que ia partir da minha casa e viajar com
ele. Mas não consigo lembrar mais do que isso.
– E seus pais? Lembra deles?
– Só um pouco – disse Mara. – Não muito mais que sombras. –
Ela hesitou. – Mas tenho a sensação de que eles não queriam que
eu fosse.
– Duvido que o imperador tenha dado a eles qualquer escolha –
disse Organa Solo, com a voz gentil. – E você, Mara? Você teve
alguma escolha?
Mara deu um sorriso tenso por entre uma explosão súbita e
inexplicável de lágrimas.
– Então é a esse ponto que você quer chegar. Você acha que
eu arrisquei a minha vida pelos seus gêmeos porque fui levada de
minha casa da mesma maneira?
– Foi?
– Não – Mara disse com certeza, virando-se para encará-la. –
Não foi assim. Eu só não queria que C’baoth pusesse suas garras
malucas neles. E vamos deixar como está.
– Está bem – disse Organa Solo, com uma voz que dizia que
ela só conseguia acreditar em metade daquilo. – Mas se você algum
dia quiser falar mais a respeito...
– Eu sei onde encontrar você – Mara terminou a frase por ela.
Ela ainda não acreditava que estava contando tudo aquilo a Organa
Solo... mas bem no fundo ela teve de admitir que se sentia
estranhamente bem falando sobre tudo. Talvez estivesse ficando
mole.
– E pode me chamar a qualquer hora – Organa Solo sorriu ao
se levantar. – É melhor eu descer para o briefing. Ver o que os
clones de combate de Thrawn estão aprontando hoje.
Mara franziu a testa.
– Que clones de combate?
Foi a vez de Organa Solo franzir a testa.
– Você não está sabendo?
– Sabendo do quê?
– O Império encontrou uns cilindros de clonagem Spaarti em
algum lugar. Eles têm criado quantidades enormes de clones para
lutar contra nós.
Mara ficou olhando para ela enquanto um arrepio gelado
percorria sua espinha. Clones...
– Ninguém me disse – ela murmurou.
– Desculpe – disse Organa Solo. – Pensei que todo mundo
soubesse. Foi o tema principal das conversas no palácio por quase
um mês.
– Eu estava na ala médica – Mara disse mecanicamente.
Clones. Com as naves da frota Katana para combater, e com o
gênio frio e calculista do Grão Almirante Thrawn para comandá-los.
Seria uma repetição das Guerras Clônicas.
– É isso mesmo; eu tinha me esquecido – Organa Solo
concordou. – Havia tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. –
Ela estava olhando de modo estranho para Mara. – Você está bem?
– Estou bem – disse Mara, sua voz soando distante em seus
ouvidos enquanto as memórias passavam rápidas em sua mente
como raios. Uma floresta, uma montanha, um armazém oculto e
muito particular contendo os tesouros pessoais do imperador...
E uma vasta câmara repleta de tanques de clonagem.
– Está certo – disse Organa Solo, obviamente não convencida
mas também sem disposição de pressionar. – Bem... vejo você mais
tarde. – Estendeu a mão para a maçaneta da porta...
– Espere.
Organa Solo se virou.
– Sim?
Mara respirou fundo. A própria existência do lugar havia sido
algo sagrado, confiado a apenas um punhado de pessoas – o
imperador havia deixado isso claro vezes sem conta. Mas para
Thrawn ter um exército renovável de clones a fim de lançar galáxia
afora...
– Acho que sei onde os cilindros Spaarti de Thrawn estão.
Até mesmo com suas habilidades sensitivas rudimentares ela
pôde sentir a onda de choque que emanou de Organa Solo.
– Onde? – ela perguntou, a voz controlada.
– O imperador tinha um armazém particular – disse Mara, as
palavras saíam com dificuldade. O rosto enrugado do imperador
parecia pairar diante dela, com aqueles olhos amarelos a fitando em
silêncio, numa expressão de acusação amarga. – Ficava embaixo
de uma montanha, num mundo que ele chamava de Wayland; não
sei sequer se o planeta tinha um nome oficial. Era lá que ele
guardava todas as suas lembranças, suvenires e estranhos
fragmentos de tecnologia que achava que poderiam ser úteis um
dia. Uma das cavernas artificiais continha uma instalação completa
de clonagem que ele havia aparentemente tomado de um dos
mestres de clones.
– O quão completa era essa instalação?
– Muito – Mara disse com um estremecimento. – Ela tinha um
sistema completo de alimentação de nutrientes instalado, além de
uma configuração de ensino-relâmpago para imprinting de
personalidade e treinamento técnico dos clones enquanto eles se
desenvolviam.
– Quantos cilindros havia lá?
Mara balançou a cabeça.
– Não sei ao certo. Estava tudo disposto em degraus
concêntricos, mais ou menos como uma arena de esportes, e o
conjunto enchia toda a caverna.
– Eram mil cilindros? – persistiu Organa Solo. – Dois mil? Dez?
– Eu diria pelo menos 20 mil – Mara disse. – Talvez mais.
– Vinte mil – disse Organa Solo, o rosto esculpido em gelo. – E
ele pode produzir um clone de cada um deles a cada vinte dias.
Mara a encarou.
– Vinte dias? – ela repetiu. – Isso é impossível.
– Eu sei. Mas Thrawn está fazendo assim mesmo. Você
conhece as coordenadas de Wayland?
Mara balançou a cabeça.
– Eu só estive lá uma vez, e o próprio imperador pilotou a nave.
Mas eu sei que poderia encontrá-la se tivesse acesso a mapas e um
computador de navegação.
Organa Solo assentiu lentamente, seus sentidos dando a Mara
a impressão do vento percorrendo uma ravina.
– Verei o que posso fazer. Nesse meio tempo... – seus olhos se
concentraram subitamente no rosto de Mara. – Você não deve
contar a ninguém o que acabou de me dizer. Ninguém. Thrawn
ainda está obtendo informações de dentro do palácio, e esta
informação é uma pela qual vale a pena matar.
Mara assentiu.
– Eu entendo – ela disse. Subitamente, o quarto parecia mais
frio.
– Está certo. Vou tentar conseguir segurança extra aqui em
cima. Se eu puder fazer isso sem atrair atenção indesejada. – Ela
parou, inclinando a cabeça ligeiramente como se apurasse o ouvido.
– É melhor eu ir. Han e Luke estão chegando, e este não é o lugar
certo para um conselho de guerra.
– Claro – disse Mara, dando as costas a ela para olhar pela
janela. A sorte estava lançada, e ela agora havia se colocado
irrevogavelmente do lado da Nova República.
Do lado de Luke Skywalker. O homem que ela tinha de matar.

Realizaram o conselho de guerra naquela noite no escritório de


Leia, o único lugar ao qual sabiam com certeza que a misteriosa
fonte Delta não tinha acesso até o momento. Luke deu uma olhada
pelo aposento ao entrar, pensando novamente no emaranhado de
eventos que havia trazido aquelas pessoas – seus amigos – para
dentro de sua vida. Han e Leia, sentados juntos no sofá,
compartilhavam um breve momento de tranquilidade antes que as
realidades de uma galáxia em guerra interferissem mais uma vez.
Chewbacca, sentado entre eles e a porta, descansava sua balestra
preparada sobre os joelhos peludos, determinado a não fracassar
novamente em sua autoimposta dívida de vida. Lando fazia cara de
desagrado para o terminal de computador de Leia e para o que
parecia ser uma lista de preços de mercado exibida no monitor. C-
3PO e R2 conversavam num canto, provavelmente se atualizando
quanto às notícias mais recentes e o que quer que pudesse ser
considerado fofoca entre droides. E Winter, sentada em outro canto
sem atrapalhar, cuidava dos gêmeos adormecidos.
Seus amigos. Sua família.
– E aí? – perguntou Han.
– Fiz uma varredura circular completa ao redor da área do
escritório – disse Luke. – Nenhum ser ou droide em qualquer lugar
próximo. E aqui?
– Mandei o tenente Page vir pessoalmente fazer uma varredura
de contrainteligência – disse Leia. – E ninguém veio desde então.
Tudo deve estar seguro.
– Maravilha – disse Han. – Agora podemos saber do que se
trata isso tudo?
– Sim – disse Leia, e Luke sentiu sua irmã se segurar. – Mara
acha que sabe onde fica a instalação de clonagem do Império.
Han se sentou um pouco mais empertigado e olhou de relance
para Lando.
– Onde?
– Num planeta que o imperador chamava de Wayland – disse
Leia. – Um codinome, aparentemente. Não está em nenhuma lista
que eu possa encontrar.
– Era o quê, uma das antigas instalações dos mestres de
clones? – perguntou Luke.
– Mara disse que era o armazém do imperador – disse Leia. –
Tive a impressão de que era uma espécie de combinação de sala
de troféus com depósito de equipamentos.
– Um ninho de ratos particular – disse Han. – Parece bem a
cara dele. Onde fica?
– Ela não tem as coordenadas – disse Leia. – Só esteve lá uma
vez. Mas acha que pode encontrá-lo novamente.
– Por que ela não falou nada a respeito antes? – perguntou
Lando.
Leia deu de ombros.
– Aparentemente, ela não sabia a respeito dos clones até eu ter
falado. Lembrem-se de que ela estava passando por uma
regeneração neural quando todos aqui estavam discutindo o
assunto.
– Mesmo assim, é difícil acreditar que ela não tenha ficado
sabendo de nada – Lando desconfiou.
– Difícil, mas não impossível – disse Leia. – Nenhum dos
relatórios de distribuição geral aos quais ela teve acesso jamais
mencionou os clones. E ela não tem sido exatamente o que você
chamaria de sociável ao redor do palácio.
– O timing aqui ainda é bem conveniente – Lando ressaltou. –
Poderíamos até dizer que é conveniente a ponto de desconfiarmos
de alguma coisa. Ela estava aqui, com liberdade praticamente total
de circular pelo palácio. Aí ela é dedurada por um líder de grupo de
ataque do Império e trancafiada, e agora está subitamente
balançando Wayland na nossa frente e querendo que a soltemos.
– Quem falou em soltá-la? – perguntou Leia, com um ar
ligeiramente incomodado com essa ideia.
– Não é isso o que ela está oferecendo? – perguntou Lando. –
Nos levar a Wayland se a tirarmos daqui?
– Ela não está pedindo nada – protestou Leia. – E tudo o que
eu estou oferecendo é contrabandear um computador de navegação
para o quarto dela para que ela consiga a localização de Wayland.
– Receio que isso só não vai dar, coração – Han balançou a
cabeça. – As coordenadas seriam um começo, mas um planeta é
um lugar muito grande para se esconder um armazém.
– Especialmente um armazém que o imperador não queria que
fosse encontrado – concordou Luke. – Lando tem razão. Vamos ter
de levá-la conosco.
Han e Lando se viraram para encará-lo, e até mesmo Leia
pareceu chocada.
– Você não está engolindo essa história toda – disse Lando.
– Acho que não temos escolha – disse Luke. – Quanto mais
tempo protelarmos, mais clones o Império vai ter para jogar em cima
de nós.
– E a trilha que você começou a rastrear? – sugeriu Leia. –
Aquela que passa por Poderis e pelo setor de Orus?
– Isso vai levar tempo – disse Luke. – Já isto aqui vai nos levar
lá bem mais rápido.
– Se ela estiver dizendo a verdade – Lando retrucou sombrio. –
Se não estiver, você vai acabar num beco sem saída.
– Ou pior – adicionou Han. – Thrawn já tentou uma vez juntar
você e aquele tal C’baoth. Isto poderia ser outra armadilha.
Luke olhou para cada um deles, desejando saber como
explicar. Bem no fundo, ele sabia que aquela era a coisa certa a
fazer; que aquele era o lugar para onde seu caminho o estava
conduzindo. Assim como tinha acontecido no confronto final com
Vader e o imperador, de algum modo seu destino e o de Mara
estavam entrelaçados naquele ponto do tempo.
– Não é uma armadilha – ele finalmente disse. – Pelo menos,
não da parte de Mara.
– Concordo – Leia disse baixinho. – E acho que você tem
razão. Precisamos levá-la conosco.
Han se mexeu no assento para encarar sua esposa. Franziu a
testa para Luke, e tornou a olhar para Leia.
– Me deixem adivinhar – ele grunhiu. – Essa é uma daquelas
maluquices Jedi, certo?
– Em parte – admitiu Leia. – Mas é praticamente apenas lógica
tática simples. Acho que Thrawn só se esforçou tanto para nos
convencer de que Mara fazia parte daquela tentativa de sequestro
para não acreditarmos em nada que ela pudesse nos dizer sobre
Wayland.
– Se você supõe isso, você também precisa supor que Thrawn
imaginou que a tentativa fracassaria – Lando ressaltou.
– Eu suponho que Thrawn esteja preparado para todas as
contingências – disse Leia. Um músculo se contraiu em seu rosto. –
E, como você disse, Han, existe também um certo insight Jedi
envolvido aqui. Eu toquei a mente de Mara duas vezes durante
aquele ataque: uma vez quando ela me acordou, e de novo quando
ela foi atrás dos agressores.
Ela olhou para Luke, e ele pôde sentir que ela sabia do voto
que Mara havia feito para matá-lo.
– Mara não gosta muito de nós – ela disse em voz alta. – Mas
em algum nível eu não acho que isso importe. Ela entende o que
uma nova rodada de Guerras Clônicas faria com a galáxia, e não
deseja isso.
– Se ela estiver disposta a me levar até Wayland, eu vou – Luke
acrescentou decidido. – Não vou pedir que nenhum de vocês venha
junto. Só quero sua ajuda para fazer com que Mon Mothma a solte.
– Ele hesitou. – E a sua aprovação.
Por um longo momento o escritório ficou em silêncio. Han ficou
olhando para o piso, com a testa vincada em concentração,
segurando forte a mão de Leia com ambas as mãos. Lando cofiava
seu bigode, sem falar nada. Chewbacca acariciava sua balestra,
rugindo baixinho; no canto oposto, R2 chilreava pensativo para si
mesmo. Um dos gêmeos – Jacen, Luke deduziu – gemeu um pouco
enquanto dormia e Winter estendeu a mão para esfregar
carinhosamente suas costas.
– Não podemos falar com Mon Mothma a respeito – Han disse
finalmente. – Ela vai passar por vários canais, e quando alguém
estiver pronto para fazer alguma coisa metade do palácio já saberá
a respeito. Se Thrawn quiser silenciar Mara de vez, vai ter todo o
tempo de que precisa para isso.
– Qual a alternativa? – perguntou Leia, seus olhos subitamente
cautelosos.
– O que Lando já falou – Han respondeu bruscamente. –
Vamos tirar ela de lá.
Leia deu um olhar assustado para Luke.
– Han! Não podemos fazer isso.
– Claro que podemos – Han lhe assegurou. – Uma vez, Chewie
e eu precisamos tirar um sujeito de uma prisão imperial, e funcionou
direitinho.
Chewbacca grunhiu.
– Isso também – protestou Han, olhando para ele. – Não foi
nossa culpa que pegaram ele de novo uma semana depois.
– Não foi isso o que eu quis dizer – disse Leia, a voz
perturbada. – Você está falando de uma ação altamente ilegal.
Beirando a traição.
Han deu uma palmadinha no joelho dela.
– A Rebelião inteira foi um movimento altamente ilegal, quase
uma traição ao governo, coração – ele lembrou a ela. – Quando as
regras não funcionam, você quebra elas.
Leia respirou fundo, soltou o ar devagar.
– Você tem razão – ela admitiu finalmente. – Você tem razão.
Quando vamos fazer isso?
– Nós, isto é, você não vai fazer nada – Han disse a ela. –
Seremos Luke e eu. Você e Chewie vão ficar aqui onde é seguro.
Chewbacca começou a rosnar alguma coisa, mas parou no
meio da frase. Leia olhou para o Wookiee, para Luke...
– Você não precisa vir, Han – disse Luke, lendo em sua irmã os
medos que sabia que não podia enunciar. – Mara e eu podemos
fazer isso sozinhos.
– O quê? Vocês dois vão tomar um complexo de clonagem
inteiro sozinhos? – Han debochou.
– Não temos muita escolha – disse Luke. – Enquanto a fonte
Delta estiver ativa, não há muitas outras pessoas em que podemos
confiar. E aquelas em que podemos, como o Esquadrão Rogue,
estão em missão de defesa ativa. – Ele fez um gesto que abrangia a
sala inteira. – Somos praticamente o que restou.
– Então somos nós – disse Han. – Mas vamos ter uma chance
melhor com três do que com dois.
Luke olhou para Leia. Os olhos dela estavam apavorados de
pensar na segurança de seu marido; mas nos sentidos dela ele só
conseguia encontrar uma aceitação relutante da decisão de Han.
Ela entendia a importância crítica daquela missão, e era uma
guerreira experiente demais para não reconhecer que a oferta de
Han fazia sentido.
Ou talvez, assim como Han, ela não quisesse que Luke fosse
sozinho com a mulher que queria matá-lo.
– Tudo bem, Han – ele disse. – Claro, vamos formar um grupo
de três.
– Já que estamos aqui, podemos muito bem formar um grupo
de quatro – suspirou Lando. – Do jeito que as coisas estão indo com
minha petição para a Cidade Nômade, acho que não vou ter muito o
que fazer. Seria bom fazê-los pagar um pouco por isso.
– Pra mim está ótimo, meu camarada – assentiu Han. – Bem-
vindo a bordo. – Virou-se para Chewbacca. – Ok, Chewie. Agora
qual é o seu problema?
Luke olhou surpreso para Chewbacca. Ele não havia notado
nenhum problema ali; mas agora que estava prestando atenção,
podia de fato sentir um turbilhão nas emoções do Wookiee.
– O que foi, Chewie?
Por um momento o outro simplesmente roncou baixinho. Então,
com relutância óbvia, ele disse o que era.
– Bem, nós também gostaríamos que você viesse – Han disse
a ele. – Mas alguém tem que ficar aqui para tomar conta de Leia. A
não ser que você ache que a Segurança do Palácio dá conta do
recado.
Chewbacca grunhiu uma opinião sucinta sobre a Segurança do
Palácio.
– Certo – concordou Han. – É por isso que você vai ficar.
Luke olhou para Leia. Ela também estava olhando para ele, e
ele sabia que ela também reconhecia o dilema. A dívida de vida
original de Chewbacca era para com Han, e ele sentia uma angústia
terrível por deixar Han se meter nesse tipo de perigo sem ele. Mas
Leia e os gêmeos também estavam sob a proteção do Wookiee, e
seria igualmente impensável para ele deixá-los desprotegidos no
palácio.
E então, enquanto tentava pensar numa solução, Luke viu os
olhos de sua irmã se iluminarem.
– Eu tenho uma ideia – ela disse com cuidado.
Todos escutaram, e para a surpresa obviamente atordoada de
Han, Chewbacca concordou na hora.
– Você está de brincadeira – disse Han. – Isso é piada, certo?
É, é piada. Porque se você pensa que eu vou deixar Leia e os
gêmeos...
– É a única maneira, Han – Leia disse baixinho. – Chewie vai
ficar deprimido de qualquer outro modo.
– O Chewie já esteve deprimido antes – Han retrucou. – Ele
supera. O que é que há, Luke! Fale com ela.
Luke balançou a cabeça.
– Desculpe, Han. Eu também acho que é uma boa ideia. – Ele
hesitou, mas não pôde resistir. – Acho que é uma dessas
maluquices Jedi.
– Muito engraçado – grunhiu Han. Tornou a olhar ao redor da
sala. – Lando? Winter? Vamos, digam alguma coisa.
– Não olhe pra mim, Han – disse Lando, levantando as mãos. –
Eu estou fora desta parte da discussão.
– Quanto a mim, eu confio no julgamento da princesa Leia –
Winter acrescentou. – Se ela acredita que estaremos a salvo, eu
estou disposta a aceitar isso.
– Você vai ter alguns dias para se acostumar com a ideia – Leia
o lembrou antes que Han pudesse dizer mais alguma coisa. – Talvez
possamos fazer você mudar de ideia.
A expressão no rosto de Han não era encorajadora. Mas ele
assentiu mesmo assim.
– É. Claro.
Houve um momento de silêncio.
– Então é isso? – Lando finalmente perguntou.
– É isso – confirmou Leia. – Temos uma missão a planejar.
Vamos a ela.
Do canto da mesa de comunicação o comunicador emitiu um ping.
– Karrde? – a voz de Dankin soou cansada. – Estamos
chegando ao sistema de Bilbringi. Saída do hiperespaço em cerca
de cinco minutos.
– Estaremos lá – Karrde lhe disse. – Certifique-se de que os
turbolasers estejam de prontidão. Não sabemos o que vamos
encontrar.
– Certo – disse Dankin. – Câmbio.
Karrde desligou o comunicador e os decodificadores da mesa.
– Ele parece cansado – Aves comentou do outro lado da mesa
ao abaixar seu datapad.
– Quase tão cansado quanto você – disse Karrde, dando à tela
que estava estudando uma última olhada antes de desligá-la
também. O relatório de seu pessoal em Anchoron, igual aos
anteriores: tudo negativo. – Deve fazer muito tempo desde a última
vez em que tivemos de fazer turno duplo – ele acrescentou para
Aves. Ninguém mais está acostumado com isso. Vou ter que incluir
isso em futuros exercícios de treinamento.
– Tenho certeza de que a tripulação vai adorar – Aves disse
secamente. – Detestaríamos deixar as pessoas pensarem que
ficamos frouxos.
– O que é o oposto da nossa imagem – concordou Karrde, se
levantando. – Venha; vamos terminar de analisar isso mais tarde.
– Se é que vai adiantar de alguma coisa – grunhiu Aves. – Você
tem certeza absoluta de que o que Skywalker viu em Berchest eram
clones?
– Skywalker tinha certeza – disse Karrde ao deixarem o
escritório e se dirigirem para a ponte. – Espero que você não esteja
sugerindo que o nobre Jedi teria mentido para mim.
– Mentido? Não – Aves balançou a cabeça. – Só estou aqui me
perguntando se toda essa história não poderia ter sido uma
armação. Algo que Thrawn deliberadamente balançou na frente de
vocês para nos desviar do verdadeiro conduto.
– Esse pensamento me ocorreu – concordou Karrde. – Mesmo
com a dívida do Governador Staffa para conosco, me pareceu que
nós entramos e saímos do sistema um pouquinho fácil demais.
– Você não mencionou essas reservas quando estava
distribuindo nossas missões de busca lá em Chazwa.
– Tenho certeza de que pensamentos semelhantes já
ocorreram a cada um dos outros – garantiu Karrde. – Assim como
indubitavelmente lhes ocorreu o pensamento de que se houver um
agente imperial entre nós deveríamos dar o nosso melhor para fazê-
lo acreditar que estamos comprando o engodo do Grão Almirante
Thrawn. Se for de fato um engodo.
– E se houver um agente imperial no grupo – disse Aves.
Karrde sorriu.
– Se tivéssemos um pouco de bruallki, poderíamos ter bruallki e
Menkooro...
– ...se tivéssemos um pouco de Menkooro – Aves completou o
velho ditado. – Você ainda acha que Ferrier está trabalhando para
Thrawn, não acha?
Karrde deu de ombros.
– É só a palavra dele contra a de Solo de que ele não era um
agente do Império no negócio da frota Katana.
– Foi por isso que você mandou Torve levar aquela nave
auxiliar de ataque para o sistema Roche?
– Isso – assentiu Karrde, desejando por um breve momento que
Mara estivesse ali. Aves era um homem bom o bastante, mas ele
precisava das coisas bem explicadas, enquanto Mara já teria
instantaneamente entendido tudo. – Tenho uma dupla de Verpine lá
que me deve um favor. Se a nave auxiliar de ataque estiver
sabotada de algum jeito, eles saberão.
A porta da ponte se abriu e eles entraram.
– Status? – Karrde perguntou ao olhar pela escotilha o céu
pintalgado de hiperespaço rolando por eles.
– Todos os sistemas prontos – disse Dankin, cedendo a cadeira
do leme para Aves. – Balig, Lachton e Corvis estão nos turbolasers.
– Obrigado – disse Karrde, sentando-se ao lado de Aves no
posto do copiloto. – Fique por aqui, Dankin; hoje você vai ser o
capitão.
– Fico honrado – Dankin disse com ironia, indo até a estação de
comunicação e se sentando.
– Do que você acha que se trata? – perguntou Aves ao
preparar a nave para sair do hiperespaço.
– Não faço ideia – admitiu Karrde. – Segundo Par’tah, tudo o
que Mazzic disse era que eu gostaria de vir para Bilbringi depois de
nosso encontro com os outros em Chazwa.
– Provavelmente sobre o que ele e Ellor estavam conversando
em Trogan: dar ao Império uma lição concreta – Aves disse muito
sério. – Acho que não vou gostar disso.
– Apenas lembre que, o que quer que aconteça, nós somos
observadores inocentes – Karrde lembrou. – Um cargueiro
chegando com um cronograma de entrega autorizado e uma carga
de conversores de energia Koensayr. Perfeitamente legítimo.
– Contanto que não olhem muito de perto – disse Aves. – Ok, lá
vamos nós – ele empurrou de leve as alavancas de hiperdrive para
a frente, e as linhas estelares voltaram a colapsar em um fundo de
estrelas.
Um fundo de estrelas, naves semicompletas, veículos de
serviço de construção e plataformas de estaleiros flutuantes. Quase
diretamente à frente da Wild Karrde, uma gigantesca estação de
batalha Golan II fervilhando de armamentos.
Eles tinham chegado aos Estaleiros Imperiais de Bilbringi.
Dankin soltou um assovio.
– Olhem só todas essas novas construções – ele disse, pasmo.
– Eles não estão de brincadeira, não é?
– Não estão não – concordou Karrde. – E nem estão brincando
em Ord Trasi ou Yaga Menor. – E se Thrawn estiver dedicando à
sua operação de clonagem metade do esforço que ele via ali na
construção de naves de guerra...
– Cargueiro em aproximação, aqui é o controle de Bilbringi –
interrompeu uma voz de tom oficial no comunicador. – Identifique-
se, informe seu porto de partida, e diga qual é o seu negócio aqui.
– Dankin? – murmurou Karrde.
Dankin assentiu.
– Cargueiro Hab Camber, vindo de Valrar – ele disse ríspido
para o comunicador. – Capitão Abel Quiller no comando. Trazendo
um carregamento de conversores de energia para a doca 47.
– Entendido – disse o controlador. – Fique a postos para
confirmação.
Aves bateu no braço de Karrde e apontou para a estação de
batalha à frente.
– Estão lançando uma nave auxiliar de ataque – ele disse.
E lançando-a na direção da Wild Karrde.
– Mantenha o curso – Karrde disse baixinho. – Eles podem
apenas estar vendo se estamos muito nervosos.
– Ou então estão esperando problemas – retrucou Aves.
– Ou fazendo limpeza – interrompeu Dankin. – Se Mazzic já
esteve aqui...
– Cargueiro Hab Camber, você deve manter posição onde está
– interrompeu o controlador. – Uma equipe de inspeção está a
caminho para examinar seu pedido de carregamento.
Dankin acionou o comunicador.
– Por quê, o que há de errado com ele? – ele perguntou com
uma mistura de incômodo e irritação. – Escute, eu tenho um negócio
a gerenciar; não tenho tempo pra bobagens burocráticas.
– Se preferir, podemos dar um jeito de acabar com todos os
seus problemas de cronograma de uma só vez – o controlador
respondeu numa voz detestável. – Se não for bom pra você, sugiro
que se prepare para receber gente a bordo.
– Entendido, Controle – Dankin grunhiu. – Só espero que eles
sejam rápidos.
– Controle desliga.
Dankin olhou para Karrde.
– E agora?
– Vamos nos preparar para receber gente a bordo – disse
Karrde, deixando o olhar varrer a extensão dos estaleiros. Se
Mazzic estava mantendo o cronograma provisório que dera a
Par’tah, deveria aparecer dali a pouco.
Fez uma pausa.
– Aves, dê-me uma leitura daqueles – ele disse, apontando
para um aglomerado de pontos irregulares pretos vagando perto do
centro da área dos estaleiros. – Não parecem naves para mim.
– E não são – Aves confirmou alguns segundos depois. –
Parecem ser asteroides de tamanho médio; talvez de uns quarenta
metros de diâmetro cada. Estou fazendo uma contagem... são 22.
– Estranho – disse Karrde, franzindo a testa para a tela de foco
de sensor que Aves havia puxado. Havia mais de trinta pequenos
veículos de suporte na área, ele viu, com o que parecia ser um
número semelhante de trabalhadores vestidos com traje de
manutenção se movendo entre asteroides. – O que será que os
imperiais estão fazendo com tantos asteroides?
– Poderiam estar minerando? – Aves sugeriu hesitante. – Mas
nunca ouvi falar em ninguém trazendo o asteroide inteiro até um
estaleiro.
– Nem eu – assentiu Karrde. É só um pensamento... Mas eu me
pergunto se isso poderia ter a ver com a superarma mágica de
Thrawn. Aquela com a qual ele atingiu Ukio e Woostri.
– Isso poderia explicar a segurança pesada – disse Avis. –
Falando nisso, a nave auxiliar de ataque ainda está vindo. Vamos
deixá-los mesmo abordar?
– A menos que você queira dar meia-volta e fugir, não vejo
muitas alternativas – disse Karrde. – Dankin, quanto escrutínio
nosso cronograma de entrega pode suportar?
– Pode suportar muito – Dankin disse devagar. – Depende um
pouquinho se suspeitarem algo ou se estiverem apenas sendo
cuidadosos. Karrde, dê uma olhada a cerca de quarenta graus a
bombordo. Aquele Star Destroier Imperial semiacabado... está
vendo?
Karrde girou na sua cadeira. O Star Destroier estava, na
verdade, consideravelmente mais do que semiacabado, faltando
acrescentar apenas a superestrutura de comando e sessões do
bastião de proa.
– Estou vendo – ele disse. – E daí?
– Parece haver um pouco de atividade ao redor...
E no meio da frase o flanco de estibordo do Star Destroier
explodiu.
Aves assoviou espantado.
– Menos uma nave de guerra – ele disse, quando uma seção
do casco de proa seguiu o flanco para o esquecimento flamejante. –
Você acha que foi Mazzic?
– Acho que não há nenhuma dúvida – respondeu Karrde,
digitando sua tela principal para ver mais de perto. Por um
momento, numa silhueta contra as chamas, ele captou o vislumbre
de meia dúzia de veículos do tamanho de um cargueiro se dirigindo
rapidamente para o perímetro do estaleiro. – Também acho que isso
pode ter prejudicado um pouco demais as coisas – acrescentou,
voltando a olhar para o Star Destroier. Um grupo de veículos de
controle de desastres já estava enxameando na direção da nave em
chamas, com três esquadrões de TIE Fighters bem atrás deles.
E então, subitamente, o ponto focal da nuvem de caças que se
aproximava se deslocou do Star Destroier para o vetor que os
cargueiros em fuga haviam assumido.
– Eles foram avistados – Karrde disse sombrio, avaliando
rapidamente a situação. O grupo de Mazzic estava superado em
tema de números e de armas, um desequilíbrio que provavelmente
ia ficar pior antes que pudessem se afastar o suficiente do estaleiro
para fugir para o hiperespaço. Os três turbolasers da Wild Karrde
não conseguiriam equilibrar muito aquelas chances; infelizmente o
centro de ação estava muito longe para que eles fizessem alguma
diferença significativa no resultado final.
– Vamos ajudá-lo? – murmurou Aves.
– Por todos os direitos, não deveríamos erguer um dedo – disse
Karrde, digitando no computador de navegação para iniciar seu
próprio cálculo de velocidade da luz e acionando o comunicador. –
Ajudar a salvar um planejamento tático descuidado só encoraja mais
atitudes idênticas. Mas suponho que não podemos ficar
simplesmente aqui sentados. Corvis?
– Aqui – soou a voz de Corvis.
– Quando eu der a ordem, vocês vão abrir fogo naquela nave
auxiliar de ataque se aproximando – ordenou Karrde. – Balig e
Lachton, vocês vão mirar na estação de batalha. Vamos ver quanto
caos podemos provocar. Ao mesmo tempo, Aves, você vai nos levar
para um vetor de...
– Espere um minuto, Karrde – Dankin o interrompeu. – Ali.
Cinquenta graus a bombordo.
Karrde olhou. Ali, no mesmo vetor que a equipe de sabotagem
de Mazzic estava escapando, duas naves artilheiras corellianas
haviam surgido do hiperespaço. Uma formação de TIE Fighters que
havia chegado aproximadamente daquela direção girou para
interceptar, e foram prontamente transformados em poeira
flamejante.
– Ora, ora – disse Karrde. – Talvez as táticas de Mazzic não
sejam tão ruins quanto eu havia pensado.
– Tem de ser o pessoal de Ellor – disse Aves.
Karrde assentiu.
– Concordo. Naves artilheiras corellianas são um pouco fora do
estilo de Mazzic. Certamente fora do seu orçamento. É uma
estratégia que certamente apelaria à lendária e cultural falta de
responsabilidade dos Duros.
– Eu achava que naves artilheiras corellianas pesariam muito
no orçamento de Ellor também – comentou Dankin. – Você acha
que ele as roubou da Nova República?
– “Roubou” é uma palavra dura demais – Karrde chamou sua
atenção com gentileza. – Acredito que ele as considere
simplesmente um empréstimo informal. Naves da Nova República
frequentemente usam a linha de depósitos de manutenção de Duros
espalhadas ao longo da Espinha Comercial, e Ellor tem um
interesse discreto em várias delas.
– Aposto que haverá algumas reclamações a respeito do
serviço desta vez – Aves disse secamente. – A propósito, nós ainda
estamos planejando atacar aquela nave auxiliar?
Karrde havia quase esquecido.
– Na verdade não. Corvis, Balig, Lachton: desliguem os
turbolasers. O restante do pessoal: sair do alerta e se preparar para
receber os inspetores do Império.
Recebeu mensagens de entendido e se virou para ver que Aves
estava olhando pra ele.
– Não vamos fugir? – o outro perguntou com cuidado. – Nem
mesmo depois daquilo? – acenou com a cabeça na direção do fogo
que queimava a bombordo.
– O que está acontecendo lá fora não tem absolutamente nada
a ver conosco – disse Karrde, dando ao outro o seu melhor olhar
inocente. – Somos um cargueiro independente com uma carga de
conversores de energia. Lembra?
– É, mas...
– Melhor ainda, poderia ser de utilidade ver o que acontece ao
final desse ataque – continuou Karrde, voltando a olhar para as
naves. Os caçadores pareciam estar a caminho de uma fuga
relativamente tranquila, já que seu vetor de saída imediato era
coberto pelas naves artilheiras de Ellor, e as naves de guerra dos
estaleiros estavam longe demais para alcançá-los a tempo. – Escute
o tráfego de comunicação deles, observe seus ajustes de limpeza e
segurança pós-ataque, faça uma avaliação da quantidade de
estrago que realmente foi feita. Esse tipo de coisa.
Aves não pareceu convencido, mas sabia que não valia a pena
discutir a questão.
– Se você acha que podemos escapar – ele disse, em dúvida. –
Quero dizer, com a recompensa sobre nossas cabeças e tudo o
mais.
– Este é o último lugar em que um comandante do Império
esperaria que nós aparecêssemos – Karrde lhe assegurou. – Logo,
ninguém aqui estará procurando por nós.
– Certamente não em uma nave sob o comando do capitão
Abel Quiller – disse Dankin, soltando o arnês e se levantando. –
Impaciente e bombástico, certo?
– Certo – disse Karrde. – Mas não exagere na parte
bombástica. Não queremos nenhuma hostilidade contra você, só
desprezo.
– Entendi – assentiu Dankin. Ele saiu da ponte, e Karrde se
voltou para olhar os destroços fumegantes do agora natimorto Star
Destroier. Uma lição concreta de fato, contra a qual Karrde teria
argumentado fortemente se Mazzic e Ellor tivessem pedido seu
conselho. Mas não, eles haviam simplesmente seguido em frente e
atacado.
Agora a sorte estava mais fortemente lançada do que depois de
Trogan, porque o Grão Almirante Thrawn não deixaria isso passar
sem uma resposta rápida e violenta. E se conseguisse traçar o
ataque até Mazzic... e de lá até ele...
– Não vamos conseguir parar aqui – ele murmurou, meio que
para si mesmo. – Vamos ter de nos organizar. Todos nós.
– O quê? – perguntou Aves
Karrde se concentrou nele. Naquele rosto aberto e intrigado,
que possuía sua própria inteligência, mas não era nem brilhante
nem intuitivo.
– Não importa – ele disse ao outro, sorrindo para tirar qualquer
tom agressivo que as palavras pudessem conter.
Voltou-se para a nave auxiliar de ataque que se aproximava. E
jurou que, quando aquilo acabasse, ele acharia um jeito de trazer
Mara de volta.

A última página rolou pela tela, e Thrawn levantou a cabeça


para olhar o homem em pé rígido em posição de sentido à sua
frente.
– Tem algo a acrescentar a este relatório, general Drost? – ele
perguntou com a voz baixa.
Baixa demais, na opinião de Pellaeon. Certamente mais baixa
do que a voz de Pellaeon teria sido se ele estivesse no comando.
Olhando pela escotilha da Quimera para os destroços enegrecidos
que um dia foram um Star Destroier Imperial quase completo de
grande valor, ele mal conseguia se conter para não ficar parado
calado ao lado do Grão Almirante e arrancar a cabeça de Drost. Não
era mais do que o homem merecia.
E Drost sabia disso.
– Não, senhor – ele respondeu tenso.
Thrawn olhou para ele por mais um momento, depois decidiu
olhar para a escotilha.
– Pode me dar algum motivo pelo qual eu não devesse
dispensá-lo do comando?
O mais leve dos suspiros escapou pelos lábios de Drost.
– Não, senhor – ele voltou a dizer.
Por um longo momento, o único som era o murmúrio silencioso
da ponte da Quimera. Pellaeon olhou fuzilando para o rosto
esculpido em pedra de Drost, se perguntando qual seria o seu
castigo. Na pior das hipóteses um fiasco desse tipo deveria valer
uma corte marcial sumária e baixa sob acusação de grande
negligência. Na melhor... Bem, sempre havia a resposta tradicional
de Lord Vader para incompetência.
E Rukh já estava parado ali perto, atrás da cadeira de comando
de Thrawn.
– Volte ao seu quartel, general – disse Thrawn. – A Quimera vai
partir daqui a cerca de trinta horas. Você tem até lá para projetar e
implementar um novo sistema de segurança para os estaleiros.
Depois disso, eu tomarei minha decisão acerca do seu futuro.
Drost olhou de relance para Pellaeon e olhou de volta para
Thrawn.
– Entendido, senhor – ele disse. – Não voltarei a falhar para
com o senhor, almirante.
– Espero que não – disse Thrawn, com um mínimo vestígio de
ameaça velada em sua voz. – Dispensado.
Drost assentiu e deu meia-volta, com uma nova determinação
em seus passos.
– Você desaprova, capitão.
Pellaeon se forçou a encarar aqueles olhos vermelhos
brilhantes.
– Eu teria pensado em aplicar uma resposta mais punitiva – ele
disse.
– Drost é um homem muito bom à sua maneira – Thrawn disse
em tom neutro. – Sua principal fraqueza é uma tendência a se tornar
complacente. Ele agora deve estar curado disso, pelo menos pelo
futuro imediato.
Pellaeon olhou novamente para os destroços do lado de fora da
escotilha da Quimera.
– Uma lição um tanto cara – ele disse ácido.
– Sim – concordou Thrawn –; e demonstra precisamente por
que eu não queria que os associados contrabandistas de Karrde
fossem estimulados.
Pellaeon franziu a testa para ele.
– Foram os contrabandistas? Supus que fosse um esquadrão
de sabotagem rebelde.
– Drost teve a mesma impressão – disse Thrawn. – Mas o
método e a execução foram bem diferentes do padrão rebelde.
Mazzic, eu acho, é o suspeito mais provável. Embora haja vários
elementos Duros envolvidos no estilo para que o grupo de Ellor
também estivesse envolvido.
– Entendo – Pellaeon disse lentamente. Isso mudava tudo de
perspectiva. – Presumo que vamos ensinar a eles a loucura de
atacar o Império.
– Nada me alegraria mais – concordou Thrawn. – E no auge do
poder do Império eu não teria hesitado em fazê-lo. Infelizmente,
nesse momento tal reação seria contraproducente. Não só
aumentaria a determinação dos contrabandistas, como também
arriscaria estimular outros elementos da periferia da galáxia a nos
provocarem com hostilidade declarada.
– Certamente não precisamos da ajuda e dos serviços deles
tanto assim – disse Pellaeon. – Não agora.
– Nossa necessidade desses vermes certamente foi reduzida –
disse Thrawn. – Isso não quer dizer que já estejamos numa posição
de abandoná-los totalmente. Mas a questão realmente não é essa.
O problema é o fato peri-goso de que esses marginais são
altamente especializados em operar dentro de círculos oficiais sem
qualquer permissão fazê-lo. Mantê-los fora de lugares como Bilbringi
exigiria muito mais poder e pessoal do que temos disponível no
momento.
Pellaeon rilhou os dentes.
– Entendo, senhor. Mas não podemos simplesmente ignorar um
ataque desta magnitude.
– Não vamos ignorar – Thrawn prometeu baixinho, com os
olhos reluzindo. – E quando nossa reação vier, será para a melhor
vantagem do Império. – Girou a cadeira para encarar o centro dos
estaleiros. – Nesse meio tempo...
– Grão Almirante THRAWN!
O grito rugiu pela ponte como um trovão violento, preenchendo-
a de proa à popa e reverberando. Pellaeon girou nos calcanhares
bruscamente, levando a mão por reflexo para a arma de raios que
não estava usando.
Joruus C’baoth estava atravessando a ponte na direção deles a
passos largos; seus olhos faiscavam acima da barba fluida. Um
brilho de fúria parecia incendiar o ar ao seu redor; atrás dele, os dois
stormtroopers que guardavam a entrada da ponte estavam caídos
no chão, inconscientes ou mortos.
Pellaeon engoliu em seco, sua mão buscando e encontrando a
presença reconfortante da estrutura nutriente ysalamir esticada
sobre o topo da cadeira de comando do Grão Almirante. A estrutura
rotacionou para longe de seu toque quando Thrawn girou para
encarar o mestre Jedi que se aproximava.
– Deseja falar comigo, mestre C’baoth?
– Eles fracassaram, Grão Almirante Thrawn – C’baoth disse
resfolegando. – Está ouvindo? Seus grupos de ataque fracassaram.
– Estou ouvindo – Thrawn assentiu com calma. – O que o
senhor fez com meus guardas?
– Meus homens! – gritou C’baoth, sua voz mais uma vez
reverberando ao redor da ponte. Mesmo sem o elemento de
surpresa, o truque foi eficiente. – Meus! Eu comando o Império,
Grão Almirante Thrawn. Não você.
Thrawn virou para o lado e captou a visão do oficial do posto de
tripulação de bombordo.
– Chame a enfermaria – ordenou ao homem. – Mande que
enviem uma equipe.
Por alguns dolorosos segundos Pellaeon pensou que C’baoth
iria fazer objeção ou – pior – abater também o oficial do poço de
tripulação. Mas toda a sua atenção parecia estar concentrada sobre
Thrawn.
– Os grupos de ataque fracassaram, Grão Almirante Thrawn –
ele repetiu, agora de forma silenciosa e letal.
– Eu sei – disse Thrawn. – Todos eles exceto o major no
comando parecem ter sido mortos.
C’baoth se endireitou.
– Então está na hora de eu assumir essa tarefa. Você me levará
a Coruscant. Agora.
Thrawn assentiu.
– Muito bem, mestre C’baoth. Vamos colocar minha carga
especial a bordo, e então partiremos.
Claramente não era resposta que C’baoth estava esperando.
– O quê? – ele exigiu saber, franzindo a testa.
– Eu disse que assim que a carga especial tiver sido posta a
bordo da Quimera e das outras naves partiremos daqui para
Coruscant – disse Thrawn.
C’baoth deu uma olhada rápida para Pellaeon, os olhos
parecendo sondar as informações para as quais seus sentidos Jedi
estavam cegos.
– Que truque é este? – ele grunhiu, voltando o olhar para
Thrawn.
– Não há truque – Thrawn lhe assegurou. – Decidi que um
ataque-relâmpago ao coração da rebelião será a melhor maneira de
sacudir a moral deles e prepará-los para o próximo estágio da
campanha. Este será o ataque.
C’baoth olhou pela escotilha, vasculhando com os olhos as
grandes extensões dos estaleiros de Bilbringi. Seu olho passou pela
massa enegrecida do Star Destroier... vagou até os asteroides
aglomerados no setor central...
– Aqueles? – ele exigiu saber, apontando o dedo para eles. –
Aquilo é sua carga especial?
– O senhor é o mestre Jedi – disse Thrawn. – Diga-me o
senhor.
C’baoth olhou fuzilando para ele e Pellaeon conteve o fôlego. O
Grão Almirante o estava testando, Pellaeon sabia; um jogo muito
perigoso, em sua opinião. As únicas pessoas que sabiam
precisamente o que Thrawn tinha em mente para aqueles asteroides
estavam nesse momento protegidas por ysalamiri.
– Muito bem, Grão Almirante Thrawn – disse C’baoth. – Eu o
farei.
Ele respirou fundo e fechou os olhos, e as rugas em seu rosto
se afundaram com uma profundidade de tensão mental que
Pellaeon não tinha visto no mestre Jedi fazia muito tempo. Ele ficou
observando o outro; imaginando o que ele estava tramando... e
subitamente compreendeu. Lá fora, entre os asteroides, havia
centenas de oficiais e técnicos que haviam trabalhado no projeto,
cada qual com sua própria especulação particular quanto ao que era
toda essa história. C’baoth estava alcançando todas aquelas
mentes, tentando arrancar todas aquelas especulações e compilá-
las num quadro completo...
– Não! – ele gritou subitamente, voltando seus olhos faiscantes
para Thrawn mais uma vez. – Você não pode destruir Coruscant.
Não até eu ter meus Jedi.
Thrawn balançou a cabeça.
– Não tenho intenção de destruir Coruscant...
– Você mente! – C’baoth interrompeu, apontando um dedo
acusador. – Você sempre mente para mim. Mas chega. Chega. Eu
comando o Império e todas as suas forças.
Ele ergueu as mãos acima da cabeça, um assustador brilho
coronal branco-azulado brincando entre elas. Pellaeon não
conseguiu deixar de ranger os dentes, lembrando-se dos raios que
C’baoth havia jogado em cima deles na cripta em Wayland. Mas
nenhum raio surgiu. C’baoth ficou simplesmente ali parado,
agarrando com as mãos o ar vazio, encarando o infinito. Pellaeon
franziu a testa para ele... e estava simplesmente pensando em
perguntar a C’baoth do que ele estava falando quando por acaso
olhou para o poço da tripulação de bombordo.
Os tripulantes estavam sentados rígidos em suas cadeiras, com
as costas retas como se estivessem num desfile, as mãos cruzadas
sobre o colo e os olhos perdidos através dos consoles. Atrás deles,
os oficiais estavam igualmente rígidos, igualmente imóveis,
igualmente perdidos. O poço da tripulação de estibordo estava igual
à ponte de popa. E nos consoles que Pellaeon podia ver, que
deveriam estar ativos com relatórios que chegavam de outros
setores da nave, todas as telas estavam cheias de estática.
Aquele era o momento que Pellaeon havia esperado e temido
desde aquela primeira visita a Wayland. C’baoth havia assumido o
comando da Quimera.
– Impressionante – Thrawn disse no silêncio frágil. – Deveras
impressionante. E o que o senhor propõe fazer agora?
– Preciso repetir? – disse C’baoth, com a voz tremendo
levemente com tensão evidente. – Eu levarei esta nave para
Coruscant. Para pegar meu Jedi, não para destruí-los.
– Daqui até Coruscant leva-se no mínimo cinco dias – Thrawn
disse friamente. – Cinco dias durante os quais o senhor terá de
manter seu controle sobre os 37 mil tripulantes da Quimera. Por
mais tempo, claro, se o senhor pretende que eles realmente lutem
no final da viagem. E se o senhor pretende que nós cheguemos com
algum veículo de apoio, esse número de 37 mil irá aumentar
bastante.
C’baoth resfolegou em desprezo.
– Você duvida do poder da Força, Grão Almirante Thrawn?
– Nem um pouco – disse Thrawn. – Eu meramente apresento
os problemas que o senhor e a Força terão de resolver se o senhor
continuar com este curso de ação. Por exemplo, o senhor sabe
onde fica a frota do setor de Coruscant, ou o número e os tipos de
naves que a compõem? O senhor já pensou em como irá neutralizar
as estações de combate orbitais de Coruscant e seus sistemas
baseados em terra? O senhor sabe quem está no comando das
defesas planetárias no momento, e como ele ou ela provavelmente
vai distribuir as forças disponíveis? O senhor já parou para pensar
no campo de energia de Coruscant? O senhor sabe a melhor forma
de usar as capacidades estratégicas e táticas de um Star Destroier
Imperial?
– Você quer me confundir – acusou C’baoth. – Seus homens;
meus homens sabem as respostas a todas essas perguntas.
– Algumas delas, sim – disse Thrawn. – Mas você não pode
aprender as respostas. Nem todas. Certamente não rápido o
bastante.
– Eu controlo a Força – C’baoth repetiu zangado. Mas ao
ouvido de Pellaeon havia um vestígio de súplica no tom. Como uma
criança dando um chilique que ela realmente não esperava que
levasse a algum lugar...
– Não – disse Thrawn, sua voz subitamente apaziguadora.
Talvez ele também tivesse entendido o tom de voz de C’baoth. – A
galáxia ainda não está pronta para o seu comando, Mestre C’baoth.
Mais tarde, quando a ordem tiver sido restaurada, eu a presentearei
para o senhor governar como lhe aprouver. Mas este momento
ainda não chegou.
Por um longo momento, C’baoth permaneceu imóvel, sua boca
trabalhando meio invisível por trás da barba fluida. Então, de forma
quase relutante, ele abaixou os braços; e, ao fazer isso, a ponte se
encheu de gemidos e grunhidos abafados e o raspar de botas no
convés de aço, enquanto os tripulantes eram liberados do controle
do mestre Jedi.
– Você jamais presenteará o Império a mim – C’baoth disse a
Thrawn. – Não de sua própria vontade.
– Isso pode depender de sua habilidade em manter aquilo que
estou no processo de criar – disse Thrawn.
– E que não acontecerá de forma nenhuma sem você?
Thrawn ergueu uma sobrancelha.
– O senhor é o mestre Jedi. Ao olhar para o futuro, consegue
ver o ressurgimento de um Império sem mim?
– Eu vejo muitos futuros possíveis – disse C’baoth. – Nem em
todos você sobrevive.
– Uma incerteza que todos os guerreiros enfrentam – Thrawn
assentiu. – Mas não foi isso que perguntei.
C’baoth deu um sorriso leve.
– Nunca suponha que você é indispensável para o meu império,
Grão Almirante Thrawn. Só eu o sou.
Ele olhou devagar pela ponte, depois se endireitou.
– Por ora, entretanto, fico satisfeito em saber que o senhor
levará minhas forças para a batalha. – Ele voltou a olhar ríspido
para Thrawn. – Você pode liderar, mas não irá destruir Coruscant.
Não até eu ter meus Jedi.
– Como eu já disse, não tenho intenção de destruir Coruscant –
Thrawn lhe disse. – Por ora, o medo e a diminuição da moral que
acompanham o cerco servirão melhor a meus propósitos.
– Nossos propósitos – corrigiu C’baoth. – Não esqueça isso,
Grão Almirante Thrawn.
– Eu não esqueço nada, mestre C’baoth – Thrawn rebateu
silenciosamente.
– Ótimo – disse C’baoth, quase sussurrando. – Então pode
continuar suas tarefas. Estarei meditando caso precise de mim.
Meditando sobre o futuro de meu Império.
Ele se virou e saiu da ponte; e Pellaeon soltou o ar que não
percebeu que estava prendendo.
– Almirante...
– Envie um sinal para a Incansável, capitão – Thrawn ordenou,
girando novamente a cadeira. – Diga ao capitão Dorja que preciso
de uma tripulação de guardiões de quinhentos homens para as
próximas seis horas.
Pellaeon olhou para o poço da tripulação de bombordo. Aqui e
ali ele podia ver um tripulante sentado adequadamente à sua
estação ou um oficial parado em pé mais menos verticalmente. Mas
a maioria dos tripulantes estava caída em suas poltronas, seus
oficiais encostados em paredes e consoles ou deitados trêmulos no
convés.
– Sim, senhor – ele disse, recuando para sua cadeira e
acionando o comunicador. – O senhor vai adiar a operação de
Coruscant?
– Não mais do que o absolutamente necessário – disse Thrawn.
– A história está em movimento, capitão. Os que não podem seguir
serão deixados para trás, para ficar olhando de longe.
Olhou para a porta pela qual C’baoth havia partido.
– E aqueles que ficarem no nosso caminho – ele acrescentou
baixinho – não verão nada.
Eles chegaram a Coruscant na calada da noite; dez deles,
disfarçados de Jawas, entrando sorrateiros pela entrada secreta que
a segurança do palácio havia cuidadosamente selado e que Luke
havia agora aberto com o mesmo cuidado. Chegar até a Torre sem
ser vistos não era problema; ninguém tinha tido tempo de fazer
alguma coisa a respeito do limitado labirinto de passagens ocultas
do imperador.
E assim eles entraram silenciosamente, um atrás do outro, na
suíte atrás de Luke... E pela primeira vez Han se viu face a face com
os guarda-costas que sua esposa havia escolhido para proteger a si
e a seus filhos do Império.
Um grupo de Noghri.
– Nós a saudamos, Lady Vader – disse o primeiro dos aliens de
pele cinza com uma voz rascante, caindo ao chão e abrindo os
braços para as laterais do corpo. Os outros fizeram o mesmo, o que
teria sido estranho ou pelo menos teria lotado a entrada estreita da
suíte. Não foi, o que provavelmente dizia algo a respeito da
agilidade deles. – Eu sou Cakhmaim, guerreiro do clã Eikh’mir –
continuou o Noghri, falando para o chão. – Eu lidero a guarda de
honra da Mal’ary’ush. Ao seu serviço e proteção nós entregamos a
nós mesmos e nossas vidas.
– Podem se levantar – disse Leia, sua voz solene e nobre. Han
deu uma olhada furtiva para ela, para ver que seu rosto e postura
estavam tão sérios quanto sua voz. Era aquele tipo de autoridade
que normalmente acionava seus circuitos automáticos de
desobediência. Mas em Leia eles ficavam bons. – Como a
Mal’ary’ush, eu aceito o seu serviço.
Os Noghri se levantaram, sem fazer mais ruído do que quando
haviam se deitado.
– Meu tenente, Mobvekhar do clã Hakh’khar – disse Cakhmaim,
indicando o Noghri à sua direita. – Ele irá liderar o segundo turno de
vigia.
– Meu marido, Han Solo – respondeu Leia, apontando para
Han.
Cakhmaim se virou para encará-lo, e, com esforço consciente,
Han manteve a mão longe da arma de raios.
– Nós o saudamos – o alien disse sério. – Os Noghri honram o
consorte da Lady Vader.
O consorte? Han olhou espantado para Leia. A expressão dela
ainda estava séria, mas ele pode ver o vestígio de um sorriso
divertido repuxando os cantos de sua boca.
– Obrigado – grunhiu Han. – É um prazer conhecê-los também.
– E você, Khabarakh – disse Leia, estendendo a mão para
outro dos Noghri. – É bom vê-lo novamente. Espero que a maitrakh
esteja bem.
– Ela está muito bem, minha dama – disse o Noghri, afastando-
se do grupo para pegar a mão dela. – Ela envia suas saudações,
assim como uma promessa renovada de seu serviço.
Atrás dos Noghri, a porta se abriu e Chewbacca entrou de
mansinho.
– Algum problema? – Han perguntou a ele, feliz por ter uma
distração de todas essas formalidades.
Chewbacca grunhiu em negativo, os olhos percorrendo o grupo
de aliens. Ele avistou Khabarakh e foi para junto do Noghri, rugindo
um cumprimento. Khabarakh o cumprimentou de volta.
– Quais outros estarão sob nossa proteção, Lady Vader? –
perguntou Cakhmaim.
– Minha auxiliar, Winter, e meus gêmeos – disse Leia. –
Venham; eu lhes mostrarei.
Ela foi até o quarto com Cakhmaim e Mobvekhar, um de cada
lado. O restante dos aliens começou a se espalhar ao redor da
suíte, dando atenção especial às paredes e portas. Chewbacca e
Khabarakh se dirigiram juntos para o quarto de Winter, conversando
baixinho.
– Você ainda não gosta disso, não é? – Luke perguntou ao lado
de Han.
– Não muito – Han admitiu, olhando para Chewbacca e
Khabarakh. Mas parece que eu não tenho muita escolha.
Ele sentiu Luke dar de ombros.
– Você e Chewie podem ficar aqui – ele ofereceu. – Lando,
Mara e eu poderíamos ir a Wayland sozinhos.
– Ou você poderia levar os Noghri junto – Han sugeriu
secamente. – Pelo menos lá vocês não teriam que se preocupar se
alguém vai vê-los ou não.
– Ninguém nos verá aqui – uma voz rouca miou perto do seu
cotovelo.
Han levou um susto, a mão descendo para sua arma enquanto
ele girava. Sim, havia um Noghri parado ali. Ele teria jurado que
nenhum desses alienígenas baixinhos estava perto dele.
– Vocês sempre chegam de mansinho em cima das pessoas
assim? – ele quis saber.
O alien abaixou a cabeça.
– Perdoe-me, consorte da Lady Vader. Não quis ofender.
– Eles são grandes caçadores – murmurou Luke.
– É, ouvi falar – disse Han, voltando-se para Luke. Claro, era
impressionante, mas não era a habilidade dos aliens em proteger
Leia e os gêmeos o que o preocupava. – Escute... Luke...
– Eles são ok, Han – Luke disse baixinho. – São mesmo. Leia já
lhes confiou sua vida uma vez.
– É – Han repetiu. Tentou apagar a imagem de Leia e dos
gêmeos nas mãos do Império... – Tudo certo no pod de pouso?
– Sem problemas – garantiu Luke. – Wedge e dois de seus
colegas do Esquadrão Rogue estavam lá para voar de escolta, e
Chewie colocou a nave sob cobertura. Ninguém nos viu entrar no
palácio também.
– Espero que tenha selado a porta atrás de você – disse Han. –
Se outra equipe do Império entrar, Leia vai ter problemas.
– Está fechada mas não está realmente selada – Luke balançou
a cabeça. – Vamos mandar Cakhmaim selá-la atrás de nós.
Han franziu a testa para ele, enquanto uma suspeita
desagradável se formava no seu estômago.
– Está sugerindo que a gente vá agora?
– Você consegue pensar em um momento melhor? – retrucou
Luke. – Quero dizer, os Noghri estão aqui e a Falcon está carregada
e pronta. E ninguém vai dar falta de Mara até de manhã.
Han olhou por cima do ombro de Luke, para onde Leia estava
acabando de sair do quarto com sua escolta Noghri ainda a
reboque. Fazia sentido; isso ele tinha de admitir. Mas de algum
modo esperava que ele e Leia tivessem um pouquinho mais de
tempo juntos.
Só que o Império ainda estaria fazendo clones durante esse
tempo...
Ele fez uma cara de desagrado.
– Tudo bem – ele resmungou. – Claro. Porque não?
– Eu sei – Luke disse em simpatia. – E lamento.
– Esquece. Como é que você quer fazer?
– Lando e eu vamos tirar Mara – disse Luke, todo sério
novamente. Provavelmente conseguia ver que Han não estava com
humor para simpatia. – Você e Chewie pegam a Falcon e nos
apanham. E não esqueça de levar os droides.
– Certo – disse Han, sentindo o lábio torcer. Já era ruim o
bastante ter de deixar Leia e seus filhos entrarem em outro reduto
do Império, e agora ele tinha que levar 3PO junto falando pelos seus
cotovelos metálicos também. A coisa só ficava melhor. – Você tem o
parafuso de contenção que Chewie arrumou?
– Está bem aqui – assentiu Luke, dando palmadinhas na
jaqueta. – Também sei onde enfiá-lo.
– Só não erre – avisou. Se um droide G-2RD disparar, você vai
ter que tirar a cabeça dele para desligá-lo.
– Entendi – assentiu Luke. – Vamos encontrá-los onde
escondemos a nave Noghri. Chewie conhece o lugar. – Ele se virou
e foi até a porta.
– Boa sorte – Han murmurou. Começou se virar. – O que é que
você está olhando? – ele quis saber.
O Noghri ali parado abaixou a cabeça.
– Não quis ofender, consorte da Lady Vader – ele assegurou.
Virando-se, ele continuou a estudar a parede.
Fazendo uma careta, Han olhou redor em busca de Leia. Ok,
ele partiria naquela noite; mas não iria a lugar algum até dizer adeus
a sua esposa. E em particular.

O imperador levantou as mãos, enviando cascatas de raios


branco-azulados em cima de seus inimigos. Os dois homens
cambalearam com o contra-ataque, e Mara ficou olhando com a
súbita esperança agoniada de que esta vez pudesse terminar
diferente. Mas não. Vader e Skywalker se endireitaram, e, com um
grito eletrônico de raiva, ergueram bem alto seus sabres de luz...
Mara acordou de repente, levando a mão automaticamente
para baixo da cama para apanhar a arma de raios que não estava
lá. Aquele grito havia soado como o início do alarme do droide G-
2RD do lado de fora de sua porta. Um alarme subitamente
interrompido...
Do outro lado do quarto, a fechadura se abriu. A mão de Mara
tocou o datapad que ela estava lendo antes de dormir... E quando a
porta se abriu ela jogou o instrumento com toda a força para a figura
escura recortada em silhueta pela porta.
O míssil improvisado nunca atingiu o alvo. A figura
simplesmente ergueu a mão e o datapad parou no meio do ar.
– Está tudo bem, Mara – ele murmurou ao dar mais um passo
dentro do quarto. – Sou só eu, Luke Skywalker.
Mara franziu a testa para tentar enxergar na escuridão,
estendendo sua mente na direção do intruso. Era Skywalker
mesmo.
– O que você quer? – ela quis saber.
– Viemos tirar você daqui – disse Skywalker, indo até a mesa e
acendendo a luz com pouca intensidade. – Vamos. Você tem que se
vestir.
– Tenho, é? – retorquiu Mara, forçando a vista por um momento
até seus olhos se ajustarem à luz. – Se importa de me dizer para
onde estamos indo?
Skywalker franziu a testa de leve.
– Vamos até Wayland – ele disse. – Você disse a Leia que
poderia encontrar esse planeta.
Mara o encarou.
– Claro, eu disse isso a ela. Mas quando foi que eu disse que
iria levar alguém até lá?
– Você precisa, Mara – disse Skywalker, com a voz cheia
daquele seu irritante idealismo honesto. A mesma honestidade que
o impediu de matar aquele louco Joruus C’baoth lá em Jomark.
Estamos à beira de uma nova Guerra Clônica aqui. Precisamos
impedi-la.
– Então vá impedi-la – ela retrucou. – Essa guerra não é minha,
Skywalker.
Mas as palavras eram mero reflexo, e ela sabia. No minuto em
que contara a Organa Solo sobre o armazém do imperador, ela
havia se comprometido com aquele lado da guerra, e isso
significava fazer o que quer que fosse convocada a fazer. Mesmo
que isso significasse levá-los pessoalmente até Wayland.
Com todos aqueles insights Jedi bem treinados Skywalker
também devia ter percebido isso. Felizmente ele teve o bom senso
de não jogar nada disso na cara dela.
– Tudo bem – ela grunhiu, se levantando da cama. – Espere lá
fora; eu já saio.
Enquanto se vestia, teve tempo para vasculhar a área com suas
habilidades bem menos treinadas na Força, e por isso não ficou
surpresa ao encontrar Calrissian esperando com Skywalker quando
emergiu de sua suíte. Mas a condição do G-2RD foi uma surpresa.
Pelo jeito que aquele grito eletrônico havia sido truncado, ela tinha
esperado achar o droide de guarda espalhado pelo corredor em
vários pedaços, em vez disso, ele estava perfeitamente intacto ao
lado da porta dela, tremendo ligeiramente com raiva ou frustração
mecânicos.
– Colocamos um parafuso de contenção nele – Skywalker
respondeu a pergunta que ela não fez.
Ela olhou e avistou o dispositivo achatado anexado à lateral do
droide.
– Não sabia que você podia conter um droide de guarda.
– Não é fácil, mas Han e Chewie sabem um jeito de fazer isso –
disse Skywalker, enquanto eles três desciam apressados o corredor
na direção dos turboelevadores. – Eles acharam que isso tornaria a
fuga da prisão um pouco menos evidente.
Fuga da prisão. Mara deu uma olhada para o perfil de
Skywalker, as palavras subitamente colocando todo aquele negócio
em uma nova perspectiva. Ali estava ele: Luke Skywalker, cavaleiro
Jedi, herói da Rebelião, pilar da lei e da justiça... E ele havia
acabado de desafiar toda a hierarquia da Nova República, de Mon
Mothma para baixo, para tirá-la dali. Mara Jade, uma contrabandista
a quem ele não devia absolutamente nada, e que na verdade tinha
prometido matá-lo.
Tudo porque ele via o que precisava ser feito. E confiava que
ela pudesse ajudá-lo a fazer isso.
– Belo truque – ela murmurou olhando para um cruzamento de
corredores quando passaram, olhos e mente alerta para guardas. –
Vou ter que pedir a Solo que me ensine.

Calrissian levou o airspeeder para baixo, no que parecia ser um


velho pad de pouso particular. A Millenium Falcon já estava lá, um
Chewbacca obviamente nervoso e impaciente esperava por eles na
comporta aberta.
– Já estava na hora – disse Solo quando Mara entrou atrás de
Skywalker na cabine. Eles mal estavam a bordo, e ele já tinha
colocado o cargueiro no ar. Devia estar tão nervoso com isso quanto
o Wookiee.
– Ok, Mara. Para onde vamos?
– Marque curso para Obroa-skai – ela lhe disse. – Essa foi a
última parada antes de Wayland naquela viagem. Provavelmente
conseguirei ter o resto traçado quando chegarmos lá.
– Esperemos que sim – disse Solo, estendendo a mão para
digitar a rota no computador de navegação. – Melhor colocar o cinto;
vamos fazer o salto para a velocidade da luz assim que estivermos
liberados.
Mara se sentou no banco de passageiros atrás dele, e
Skywalker se sentou no outro.
– Que tipo de força de ataque estamos levando? – ela
perguntou ao colocar o arnês.
– Você está olhando para ela – grunhiu Solo. – Você, eu, Luke,
Lando e Chewie.
– Sei – disse Mara, engolindo em seco. Cinco deles, contra
quaisquer defesas que Thrawn tivesse montado para proteger sua
base militar mais vital. Fantástico. – Tem certeza que não estamos
sendo pouco esportivos a respeito? – ela perguntou com sarcasmo.
– Não tínhamos muito mais do que isso em Yavin – ressaltou
Solo. – Nem em Endor.
Ela olhou fuzilando para a nuca dele, desejando que o ódio e a
raiva fluíssem. Mas tudo o que sentiu foi uma dor silenciosa
extremamente distante.
– Sua confiança é tão reconfortante – ela disse, mordaz.
Solo deu de ombros.
– Você pode conseguir uma boa vantagem se não fizer o que o
outro lado espera que você faça – ele disse. – Um dia vou te contar
como escapamos de Hoth.
Atrás deles, a porta se abriu e Chewbacca entrou na cabine.
– Tudo preparado lá atrás? – Solo perguntou.
O Wookiee rugiu alguma coisa que era provavelmente uma
afirmativa.
– Ótimo. Faça uma checagem rápida nos amortecedores
aluviais; eles estavam piscando vermelho agora pouco.
Outro rugido e o Wookiee foi trabalhar.
– Antes que eu me esqueça, Luke – Solo acrescentou –, você
está encarregado daqueles droides lá atrás. Não quero ver 3PO
mexendo com nada a não ser que Chewie ou Lando estejam com
ele. Entendeu?
– Entendi – disse Skywalker. Pegou Mara olhando para ele e
lhe deu um sorriso divertido. – Às vezes 3PO fica com muito tempo
livre – explicou. – E agora ele começou se interessar por mecânica.
– E é péssimo nisso – Solo interrompeu ácido. – Ok, Chewie,
prepare-se. Lá vamos nós...
Ele puxou para trás as alavancas de hiperdrive. Através da
escotilha as estrelas se transformaram em linhas estelares... e eles
estavam a caminho. Cinco deles, a caminho de invadir uma
fortaleza do Império.
Mara olhou para Skywalker. O único deles que realmente
confiava nela era o homem que ela tinha que matar.
– Sua primeira missão desde que você pediu baixa da sua
comissão, Han – Skywalker comentou para o silêncio.
– É – Solo disse tenso. – Vamos só torcer que não seja minha
última.
– A força-tarefa da Belicoso chegou, capitão – o oficial de
comunicação avisou para a passarela de comando da Quimera. – O
capitão Aban relata que todas as naves estão em prontidão de
batalha, e solicita ordens finais de distribuição.
– Transmita as ordens para ele, tenente – ordenou Pellaeon,
espiando pela escotilha o novo grupo de luzes que havia aparecido
a estibordo e tentando suprimir a sensação crescente de apreensão
que se enroscava pelas suas vísceras como colunas de fumaça
envenenada. Estava muito bem para Thrawn reunir a elite
experiente do Império para o que parecia uma extensa manobra de
ataque e desaparecimento em Coruscant; o que não era tão bom
era a possibilidade de que o ataque pudesse não parar ali. C’baoth
estava a bordo, e a única agenda dele esses dias parecia ser a
captura de Leia Organa Solo e seus gêmeos. Ele já tinha
demonstrado sua habilidade ao tomar o controle absoluto da
Quimera e seus tripulantes, um toquezinho arrogante que já havia
atrasado a operação em várias horas. Se ele decidisse fazer aquilo
novamente no calor da batalha em Coruscant...
Pellaeon fez uma cara de desagrado – a memória
fantasmagórica da derrota do Império em Endor flutuavam diante de
seus olhos. A segunda Estrela da Morte havia morrido ali, junto do
superStar Destroier Executor de Vader e muitos dos melhores e
mais brilhantes oficiais do império. Se a interferência de C’baoth
precipitasse uma repetição daquele desastre – se o Império
perdesse tanto o Grão Almirante Thrawn quanto a força do seu Star
Destroier principal – poderia nunca mais se recuperar.
Ele ainda estava olhando pela escotilha a força de ataque que
se juntava, tentando suprimir suas preocupações, quando um
farfalhar de desconforto ondulou pela ponte ao seu redor... E mesmo
sem olhar ele sabia o que aquilo significava.
C’baoth estava ali.
A cadeira de comando de Pellaeon e seu ysalamir protetor
estavam a doze longos passos de distância: distante demais para
alcançar sem parecer óbvio. Nenhum dos outros ysalamiri
espalhados pela ponte estavam ao alcance também. Não seria
adequado sair correndo como um soldadinho de campo assustado
na frente de sua tripulação, mesmo que a intenção de C’baoth fosse
que ele fizesse exatamente isso.
E se o mestre Jedi escolhesse em vez disso paralisá-lo, como
fizera com o resto da tripulação da Quimera em Bilbringi?
Um tremor percorreu a espinha de Pellaeon. Ele tinha visto os
relatórios médicos daqueles que tiveram que se recuperar na
enfermaria, e não desejava passar pelo mesmo. Além do
desconforto e da confusão emocional, tamanha humilhação pública
diminuiria gravemente sua autoridade de comando a bordo de sua
nave.
Ele só podia torcer para ser capaz de dar a C’baoth o que ele
queria sem parecer fraco e subserviente. Virando-se para encarar o
mestre Jedi que se aproximava, ele se perguntou se fora jogando
aquele mesmo jogo de humilhação que o imperador havia
ascendido ao poder.
– Mestre C’baoth – ele assentiu sério. – O que posso fazer pelo
senhor?
– Quero uma nave preparada pra mim imediatamente – disse
C’baoth; seus olhos queimavam com um estranho fogo. – Uma nave
com alcance suficiente para me levar até Wayland.
Pellaeon piscou várias vezes.
– Para Wayland?
– Sim – disse C’baoth olhando pela escotilha. Eu já lhe disse há
muito tempo que acabaria assumindo o comando lá. Essa hora
agora chegou.
Pellaeon se segurou.
– Eu tinha a impressão de que o senhor havia concordado em
ajudar no ataque a Coruscant...
– Mudei de ideia – C’baoth interrompeu rispidamente.
Grosseiro, mas com um estranho senso de preocupação.
– Alguma coisa aconteceu em Wayland? – perguntou Pellaeon.
C’baoth olhou pra ele, e Pellaeon teve a estranha sensação de
que o mestre Jedi só estava realmente reparando nele agora pela
primeira vez.
– O que acontece ou deixa de acontecer em Wayland não é da
sua conta, capitão imperial Pellaeon – ele disse. – Sua única
preocupação é me preparar uma nave. – Ele tornou olhar pela
escotilha. – Ou preciso escolher minha própria?
Um movimento na parte de trás da ponte chamou a atenção de
Pellaeon: o Grão Almirante Thrawn, chegando de sua sala de
comando particular para supervisionar os últimos preparativos do
ataque a Coruscant. Diante dos olhos de Pellaeon, os olhos
vermelhos brilhantes de Thrawn varreram rapidamente a cena,
englobando a presença de C’baoth e parando momentaneamente
no rosto e na postura de Pellaeon. Ele virou sua cabeça e assentiu,
e um stormtrooper com um uma estrutura nutriente de ysalamir nas
costas foi até o lado de Thrawn. Juntos, eles avançaram.
C’baoth nem se deu ao trabalho de se virar.
– O senhor vai me preparar uma nave, Grão Almirante Thrawn
– ele disse. – Eu desejo ir até Wayland. Imediatamente.
– De fato – disse Thrawn, se aproximando de Pellaeon. O
stormtrooper se moveu entre e atrás dos dois, finalmente levando
até Pellaeon a segurança da bolha sem Força do ysalamir. – Posso
perguntar por quê?
– Meus motivos só interessam a mim – C’baoth disse sombrio.
– Você os questiona?
Por um longo momento Pellaeon teve medo de que Thrawn
fosse aceitar esse desafio.
– De jeito algum – o Grão Almirante disse por fim. – Se deseja ir
até Wayland, é claro que pode fazê-lo. Tenente Tschel?
– Senhor? – o jovem oficial de serviço disse do poço da
tripulação de bombordo assumindo posição de sentido.
– Faça contato com a Caveira – ordenou Thrawn. – Informe ao
capitão Harbid que o galeão estelar Draklor deverá se destacar de
seu grupo e ser designado novamente para mim. Somente
tripulação; eu fornecerei soldados e passageiros.
– Sim, senhor – Tschel respondeu, e foi até o posto de
comunicação.
– Eu não pedi soldados, Grão Almirante Thrawn – disse
C’baoth, seu rosto alternando entre petulância e desconfiança. –
Nem outros passageiros.
– Já fazia algum tempo que eu estava planejando enviar o
general Covell para assumir o comando da guarnição do Monte
Tantiss – disse Thrawn. – E também complementar as tropas que já
estão lá. Esse parece um momento tão bom quanto qualquer outro
para fazer isso.
C’baoth olhou para Pellaeon e depois novamente para Thrawn.
– Está certo – ele disse por fim, aparentemente decidindo-se
pela petulância. – Mas será minha nave, não de Covell. Eu darei às
ordens.
– É claro, mestre C’baoth – Thrawn disse conciliador. –
Informarei isso ao general.
– Está certo. – A boca de C’baoth trabalhava incerta atrás de
sua longa barba branca, e por um momento Pellaeon pensou que
ele fosse perder o controle novamente. Sua cabeça virou para o
lado num espasmo; então ele voltou ao comando de si mesmo. –
Está certo – ele repetiu bruscamente. – Estarei em meus aposentos.
Chamem-me quando minha nave estiver pronta.
– Como desejar – assentiu Thrawn.
C’baoth deu um olhar lancinante para cada um deles, depois se
virou e saiu a passos largos.
– Informe essa mudança de planos ao general Covell – capitão
Thrawn ordenou a Pellaeon, vendo C’baoth atravessar a ponte. – O
computador tem uma lista de soldados e tripulantes designados
como modelos de clonagem; os assessores de Covell darão um jeito
para que eles sejam colocados a bordo da Draklor. Junto com uma
companhia dos melhores soldados do general.
Pellaeon franziu a testa para o perfil de Thrawn. Os soldados de
Covell – e o próprio Covell, aliás – haviam sido designados para
render as forças de choque que estavam neste momento
atravessando Qat Chrystac.
– O senhor acha que Monte Tantiss está em perigo? – ele
perguntou.
– Não em perigo substancial – disse Thrawn. – Mesmo assim é
possível que nosso presciente mestre Jedi possa de fato ter captado
alguma coisa: inquietação entre os nativos, talvez. Melhor não correr
riscos.
Pellaeon olhou pela escotilha para a estrela que era o sol de
Coruscant.
– Poderia ter algo a ver com os rebeldes?
– Improvável – disse Thrawn. – Ainda não existe indicação de
que eles tenham sequer descoberto a existência de Wayland,
quanto mais de que estejam planejando alguma ação contra ele. Se
e quando isso acontecer, deveremos saber suas intenções com
muita antecedência.
– Via fonte Delta.
– E via canais normais de inteligência. – Thrawn deu um leve
sorriso. – Ainda lhe perturba receber informações de uma fonte que
não entende, não é?
– Um pouco sim, senhor – admitiu Pellaeon.
– Considere isso um cultivo de sua confiança – disse Thrawn. –
Um dia eu entregarei a fonte Delta a você. Mas não ainda.
– Sim, senhor – disse Pellaeon. – Ele olhou para popa, na
direção de onde C’baoth havia desaparecido da ponte. Alguma
coisa nisso estava batendo desconfortável no fundo da sua
memória. Alguma coisa sobre C’baoth e Wayland...
– Você parece perturbado, capitão – disse Thrawn.
Pellaeon balançou a cabeça.
– Não gosto da ideia dele dentro do Monte Tantiss, almirante.
Não sei por quê. Apenas não gosto.
Thrawn acompanhou seu olhar.
– Eu não me preocuparia com isso – ele disse baixinho. – Na
verdade, isso provavelmente vai ser mais uma solução do que um
problema.
Pellaeon franziu a testa.
– Não estou entendendo.
Thrawn voltou a sorrir.
– Tudo a seu tempo, capitão. Mas agora os negócios em
questão. Minha nau capitânia está pronta?
Pellaeon afastou seus pensamentos. Agora, com o centro da
rebelião bem diante deles, não era hora para medos sem nome.
– A Quimera está totalmente sob seu comando, almirante – ele
respondeu formalmente.
– Ótimo. – Thrawn olhou ao redor da ponte e depois se voltou
para Pellaeon novamente. – Certifique-se de o resto da força de
ataque também esteja, e informe-os de que estaremos esperando
até que a Draklor tenha se retirado da área.
Ele olhou pela escotilha.
– E então – acrescentou suavemente –, vamos lembrar à
rebelião o que significa guerra.
Eles ficaram ali em silêncio: Mara e Luke, esperando enquanto uma
escura sombra de capuz se movia na direção deles, com um sabre
de luz reluzente na mão. Atrás, estava a figura de um velho –
carregava a loucura em seus olhos e tinha relâmpagos azuis nas
mãos. A sombra parou e ergueu sua arma. Luke se afastou de
Mara, erguendo seu próprio sabre de luz, sua mente cheia de horror
e pavor...
Os alarmes uivaram pela suíte do corredor lá fora, despertando
Leia e estilhaçando o pesadelo em fragmentos de cor vívida.
Seu primeiro pensamento foi que o alarme era para Luke e
Mara; o segundo era que outro grupo de ataque imperial havia
entrado no palácio. Mas quando ela acordou o suficiente pra
reconhecer o timbre do alarme, percebeu que era coisa ainda pior.
Coruscant estava sob ataque.
Do outro lado do quarto, os gêmeos começaram a chorar.
– Winter! – Leia gritou, agarrando seu robe e projetando o que
podia de conforto mental na direção dos gêmeos.
Winter já estava na porta, terminando de vestir seu próprio
robe.
– Isso é um alerta de batalha – ela gritou para Leia por cima do
som do alarme.
– Eu sei – disse Leia, amarrando o robe. – Preciso chegar à
sala de guerra agora.
– Entendo – disse Winter, olhando séria para o rosto dela. –
Você está bem?
– Tive um pesadelo, só isso – respondeu Leia, agarrando um
par de botas e calçando-as. Winter sempre captava essas coisas,
mesmo em meio ao caos. – Luke e Mara estavam batalhando contra
alguém. E acho que não esperavam vencer.
– Tem certeza de que era só um sonho?
Leia mordeu o lábio enquanto amarrava as botas.
– Não sei – teve que confessar. Se não tinha sido um sonho,
mas uma visão Jedi... – Não... tinha que ser um sonho – ela
deduziu. – Luke teria sido capaz de perceber do espaço se C’baoth
ou outro Jedi sombrio estivesse lá. Ele não correria o risco de seguir
com a missão sob essas condições.
– Espero que não – disse Winter. Mas não soava nem um
pouco confiante.
– Não se preocupe com isso – Leia lhe assegurou.
Provavelmente foi apenas um pesadelo provocado pelo disparo dos
alarmes. – E impulsionado por uma consciência culpada,
acrescentou silenciosamente, por permitir Han e Luke convencê-la a
deixar que fossem para Wayland. – Tome conta dos gêmeos, tudo
bem?
– Vamos cuidar deles – disse Winter.
Vamos? Leia olhou redor franzindo a testa, e pela primeira vez
viu Mobvekhar e os outros dois Noghri que haviam assumido
posições nas sombras ao redor do berço. Eles não estavam lá
quando ela foi para a cama, ela sabia disso, o que significava que
eles deviam ter se esgueirado da área principal da suíte em algum
momento desde que o alarme havia disparado. Sem que ela
notasse.
– A senhora pode ir sem medo, Lady Vader – Mobvekhar disse
solene. – Seus herdeiros não sofrerão mal algum.
– Eu sei – Leia disse, e falava sério. Pegou seu comlink na
mesa de cabeceira, pensou em pedir informações, mas acabou
enfiando o aparelho no bolso lateral do seu robe. A última coisa de
que a equipe da sala de guerra precisava agora era ter que perder
tempo explicando a situação para uma civil. Em breve ela saberia o
que estava acontecendo. – Volto quando puder – disse a Winter.
Segurando seu sabre de luz, ela deixou a suíte.
O corredor do lado de fora estava cheio de seres de todos os
tipos, alguns deles se dirigindo apressados a seus postos, o resto
confuso ou exigindo informações dos guardas de segurança que
estavam de plantão. Leia manobrou para passar pelos guardas e
pelos grupos que discutiam ansiosos, juntando-se a um punhado de
assessores militares ainda sonolentos que iam na direção dos
turboelevadores. Um carro cheio estava se preparando para partir
quando ela chegou; dois dos ocupantes, obviamente reconhecendo
a conselheira Organa Solo, prontamente abriram mão de seus
lugares. A porta se fechou atrás dela, por pouco deixando para trás
um par de Jawas tagarelas de manto marrom que forçaram a
entrada no último instante, e foram para baixo.
Todo o andar inferior do palácio havia sido entregue a
operações militares, a começar pelos escritórios de serviço e
suporte, na periferia, passando pelos escritórios de Ackbar, Drayson
e outros comandantes de plantão, e avançando até as áreas mais
sensíveis e vitais no centro do andar. Leia obteve liberação na
estação de serviço, passou entre um par imenso de guardas
Wookiees e atravessou as comportas que davam para a sala de
guerra.
Poucos minutos depois que o alarme havia soado, o lugar já
estava uma cena de caos bem pouco controlado – oficiais seniores
e auxiliares recém-acordados corriam para estações de combate.
Um único olhar para a tela tática mostrava que todo o furor era
completamente justificado: oito cruzadores imperiais classe
interventor haviam aparecido em um agrupamento solto ao redor do
vetor um-um-seis no Setor Quatro, seus cones gravíticos de
amortecimento de hiperdrive bloqueavam toda entrada ou saída da
região imediatamente ao redor de Coruscant. Diante de seus olhos,
um novo grupo de naves apareceu no centro do aglomerado: mais
dois interventores, além de uma escolta de oito dreadnaughts da
frota Katana.
– O que está acontecendo? – uma voz desconhecida disse ao
lado de Leia.
Ela se virou. Um jovem – um garoto, na verdade – estava
parado em pé, coçando um topete de cabelos despenteados e
franzindo a testa olhando para a tela tática. Por um momento ela
não o reconheceu; mas então sua memória deu um estalo. Ghent, o
slicer que Karrde havia emprestado para ajudar a quebrar o código
de invasão que os imperiais haviam usado para culpar o almirante
Ackbar. Ela havia esquecido que ele ainda estava ali.
– É um ataque imperial – ela respondeu.
– Ah – ele disse. – Eles podem fazer isso?
– Estamos em guerra – ela lembrou com paciência. – Na guerra
você pode fazer praticamente tudo o que o outro lado não impede
você de fazer. Como você entrou aqui, aliás?
– Ah, eu criei um código de entrada pra mim mesmo agora há
pouco – ele disse acenando vagamente, os olhos ainda na tela. –
Não tenho tido muito que fazer ultimamente. Vocês não podem detê-
los?
– Certamente vamos tentar – Leia disse muito séria, olhando ao
redor do salão. Do outro lado, perto do console de comando ela
avistou o general Rieekan. – Fique fora do caminho e não toque em
nada.
Ela tinha dado dois passos na direção de Rieekan quando seu
cérebro subitamente entendeu a situação. Ghent havia criado para
si mesmo um código de acesso de alto nível porque não tinha nada
melhor para fazer...
Ela girou nos calcanhares, deu dois passos para trás e agarrou
Ghent pelo braço.
– Pensando bem, venha comigo – disse ela, orientando-o no
meio do caos até uma porta onde estava escrito CRIPTOGRAFIA na
lateral da sala de guerra. Ela digitou seu código de segurança e a
porta se abriu.
Era uma sala de bom tamanho, lotada até o teto de
computadores, técnicos de decriptação e droides de interface.
– Quem está encarregado aqui? – Leia gritou quando duas
cabeças viraram em sua direção.
– Eu – um homem de meia idade usando insígnia de coronel
falou, afastando-se de um dos consoles para o que era praticamente
o único espaço vazio do aposento.
– Eu sou a conselheira Organa Solo – Leia se identificou. –
Este aqui é Ghent, um especialista em slicing. Vocês podem usá-lo?
– Não sei – disse o coronel, dando um olhar especulativo para o
garoto. – Já quebrou um código de encriptação de combate do
Império, Ghent?
– Não – disse Ghent. – Nunca vi um. Mas já fiz um slicing de
dois códigos de encriptação militar regulares.
– Quais?
O olhar de Ghent ficou um pouco desfocado.
– Bom, tinha um que era chamado Lepido. E havia uma coisa
chamada encriptação ILKO quando eu tinha doze anos. Aquele foi
difícil: levei quase dois meses para fazer o slicing.
Alguém deu um leve assovio.
– É tão bom assim? – perguntou Leia.
O coronel bufou.
– Sim, eu diria que sim. ILKO foi um dos códigos de encriptação
mestres que o Império usou pra transferência de dados entre
Coruscant e a instalação da construção da Estrela da Morte original
em Horuz. Nós levamos quase um mês para quebrá-lo. – Ele fez um
gesto, chamando Ghent para perto: – Venha, filho; temos um
console para você bem aqui. Se você gostou do ILKO, vai adorar
encriptações de batalha.
O rosto de Ghent se iluminou, e ele avançou entre os outros
consoles enquanto Leia voltava discretamente para a sala de
guerra.
Para descobrir que a batalha já estava acontecendo.
Seis Star Destroiers imperiais haviam chegado do hiperespaço
através da fenda central do grupo de interventores, dividindo-se em
dois grupos de três e seguindo para as duas gigantescas estações
de batalha Golan III de meio de órbita. Seus TIE Fighters já estavam
enxameando à frente deles, partindo na direção dos defensores que
agora começavam a emergir da instalação das docas espaciais de
órbita baixa e da superfície de Coruscant. Na tela visual mestre,
relâmpagos ocasionais de fogo de turbolaser piscavam enquanto
ambos os lados começavam a disparar.
O general Rieekan estava parado alguns passos atrás do
console principal de comando quando Leia o alcançou.
– Princesa – ele assentiu gravemente em saudação.
– General – ela cumprimento de volta com a cabeça sem
fôlego, dando uma olhada rápida pelas telas do console. O escudo
de energia de Coruscant estava levantado, as defesas de terra
estavam entrando rapidamente em status pleno de combate, e uma
segunda onda de X-wings e B-wings estava começando a sair da
doca espacial.
E parado em frente à cadeira de comando elevada, gritando
ordens para todos à vista, estava o almirante Drayson.
– Drayson? – ela quis saber.
– Ackbar está em viagem de inspeção da região de Ketaris –
Rieekan disse sério. – Isso deixa Drayson como o encarregado.
Leia olhou para a tela tática mestre, e uma sensação de derrota
se apossou firmemente do seu estômago. Drayson era muito
competente, mas contra o Grão Almirante Thrawn, competente não
seria bom o bastante.
– A frota do setor foi alertada?
– Acho que conseguimos enviar mensagem para eles antes de
levantarmos escudo – disse Rieekan. – Infelizmente, uma das
primeiras coisas que os imperiais atingiram foi a estação de
transmissão fora da órbita, então não há como saber se eles
ouviram ou não. Não sem abrir o escudo.
A sensação de derrota aumentou um pouco mais.
– Então isto não é só uma manobra para atrair a frota do setor
para cá – disse Leia. – Caso contrário, eles teriam deixado a
estação de retransmissão sozinha para que pudéssemos continuar
pedindo ajuda.
– Concordo – disse Rieekan. – O que quer que Thrawn tenha
em mente, nós parecemos ser o alvo.
Leia assentiu sem dizer nada, olhando para cima do display
visual. Os Star Destroiers já haviam penetrado as zonas letais das
estações de combate, e o negror do espaço estava começando a
faiscar com fogo de turbolaser mais sério. Fora do campo principal
de fogo, dreadnaughts e outras naves de apoio formavam um
perímetro para proteger os Star Destroiers dos defensores que se
erguiam na direção deles.
Na tela tática mestre, um clarão de luz branca disparou para o
alto: uma rajada de canhão de íons vinda da superfície, na direção
dos destróieres estrelares.
– Desperdício de energia – Rieekan murmurou com desprezo. –
Eles estão muito além do alcance.
E mesmo que não estivessem, Leia sabia que a carga de
ruptura de aparelhos eletrônicos teria tanta chance de atingir
estação de combate quanto qualquer dos Star Destroiers para os
quais havia sido apontada. O canhão de íons não era exatamente
conhecido pela precisão de seu feixe estreito.
– Precisamos colocar outra pessoa no comando aqui – disse
ela, olhando ao redor da sala de guerra. Se ela pudesse encontrar
Mon Mothma e convencê-la a colocar Rieekan no comando...
Subitamente seus olhos pararam. Ali, encostada na parede dos
fundos, olhando para a tela tática mestre, estava Sena Leikvold
Midanyl. Assessora-chefe do general Garm Bel Iblis, que era
consideravelmente mais do que apenas competente.
– Já volto – ela disse a Rieekan e se meteu no meio da
multidão.
– Conselheira Organa Solo – Sena disse quando Leia a
alcançou, uma rigidez tensionando seu rosto e sentidos. –
Disseram-me para ficar aqui fora do caminho. Pode me dizer o que
está acontecendo?
– O que está acontecendo é que precisamos de Garm – disse
Leia, olhando ao redor. Onde está ele?
– Galeria de observação – disse Sena, acenando com a cabeça
para cima, na direção do balcão semicircular que percorria a metade
de trás da sala de guerra.
Leia levantou a cabeça. Seres de todos os tipos estavam
começando a entrar na galeria – civis do governo, em sua maioria,
que tiveram autorização a este nível para entrar no andar do
comando mas não tinham liberação para acesso à sala de guerra
propriamente dita. Sentado sozinho de lado, olhando atentamente
as telas mestres, estava Bel Iblis.
– Faça com que ele desça aqui – Leia disse para Sena. –
Precisamos dele.
Sena pareceu suspirar.
– Ele não vai descer – disse ela. – Não a menos que Mon
Mothma peça a ele. Foram suas próprias palavras.
Leia sentiu o estômago apertar. Bel Iblis era consideravelmente
orgulhoso, mas aquela não era hora para disputas pessoais.
– Ele não pode fazer isso. Precisamos de sua ajuda.
Sena balançou minimamente cabeça.
– Já tentei. Ele não vai me ouvir.
Leia respirou profundo.
– Talvez a mim ele ouça.
– Assim espero. – Sena fez um gesto na direção da tela, onde
um dos grandes dreadnaughts de Bel Iblis havia surgido da doca
espacial para se juntar à onda crescente de caças estelares,
artilheiros corellianos e fragatas de escolta que atacavam os
invasores. – Aquela é a Harrier – ela a identificou. – Meus filhos
Peter e Dayvid estão a bordo dela.
Leia tocou seu ombro.
– Não se preocupe. Vou fazê-lo descer.
A seção central da galeria estava quase lotada quando ela
chegou lá. Mas a área ao redor de Bel Iblis ainda estava
razoavelmente vazia.
– Olá, Leia – ele disse quando ela se aproximou. – Achei que
você estaria lá embaixo.
– Eu deveria estar... e você também – disse Leia. Precisamos
de você lá embaixo...
– Você está com seu comlink? – ele a interrompeu
bruscamente.
Ela franziu a testa.
– Estou.
– Pegue-o. Agora. Chame Drayson e avise-o sobre aqueles
dois interventores.
Leia olhou para a tela tática mestre. Os dois cruzadores
interventores que haviam chegado atrasados à festa estavam
fazendo umas manobras de ajuste fino – seus cones de onda
gravitacional nebulosos varriam uma das estações de combate.
– Thrawn fez isso conosco em Qat Chrystac – Bel Iblis
continuou. – Ele usa um cruzador interventor para definir uma
margem de hiperespaço, depois traz uma nave ao longo de um
vetor de intercessão para cair num ponto precisamente escondido.
Drayson precisa puxar algumas naves para aqueles flancos para se
preparar para o que quer que Thrawn esteja trazendo.
Leia já estava metendo a mão no bolso do robe.
– Mas não temos nada aqui que possa abater outro Star
Destroier.
– Não é questão de abatê-lo – Bel Iblis disse. – O que quer que
esteja a caminho virá às cegas, com defletores abaixados e sem
referências de alvo. Se nossas naves estiverem no lugar,
poderemos dar um único disparo livre e concreto em cima deles.
Isso poderia fazer muita diferença.
– Entendo – disse Leia, apertando o botão do seu comlink e
digitando o número do operador da mesa central. – Aqui fala a
conselheira Leia Organa Solo. Tenho uma mensagem urgente para
o almirante Drayson.
– O almirante Drayson está ocupado e não pode ser perturbado
– disse a voz eletrônica.
– Esta é uma intervenção direta do Conselho – ordenou Leia. –
Passe-me para Drayson.
– Análise de voz confirmada – disse o operador. – Intervenção
do Conselho bloqueada por procedimento emergencial militar. Você
pode deixar uma mensagem para o almirante Drayson.
Leia rilhou os dentes, dando uma rápida olhada para a tela
tática.
– Então me passe para o assessor-chefe de Drayson.
– O tenente DuPre está ocupado e não pode...
– Cancele – interrompeu. – Me passe para o general Rieekan.
– O general Rieekan está ocupado...
– Tarde demais – Bel Iblis disse baixinho.
Leia olhou para o alto. Dois Star Destroiers classe vitória
haviam subitamente aparecido do hiperespaço, parando em alcance
de queima-roupa das suas estações de combate alvo exatamente
como Bell Iblis havia previsto. Eles fizeram ataques maciços, depois
se afastaram em ângulo antes que a estação ou suas naves
defensores pudessem responder com mais do que um fogo
simbólico. Na tela tática, a casca azul nebulosa indicando o escudo
defletor da estação piscou loucamente antes de apagar mais uma
vez.
– Drayson não é páreo para ele – suspirou Bel Iblis. –
Simplesmente não é.
Leia respirou fundo.
– Você precisa descer, Garm.
Ele balançou a cabeça.
– Não posso. Não até que Mon Mothma me peça.
– Você está se comportando como uma criança – Leia disse,
abandonando qualquer tentativa de ser diplomática. – Você não
pode deixar pessoas morrerem lá fora só por causa de uma
implicância pessoal.
Ele olhou pra ela; e ao olhar ela ficou espantada com a dor nos
olhos dele.
– Você não entende, Leia – ele disse. – Isso não tem nada a ver
comigo. Tem a ver com Mon Mothma. Depois de todos estes anos,
eu finalmente entendo por que ela faz as coisas do jeito que faz.
Sempre supus que ela estivesse reunindo cada vez mais poder para
si mesma simplesmente porque estava apaixonada pelo poder. Mas
eu estava errado.
– Então por que ela faz isso? – Leia exigiu saber, não tão
interessada assim em falar de Mon Mothma.
– Porque com tudo que ela faz, existem vidas pendendo na
balança – ele disse baixinho. – E ela tem pavor de confiar essas
vidas a outra pessoa.
Leia o encarou... mas no instante em que abriu a boca para
negar isso, todas as peças de sua vida nestes últimos anos
subitamente se encaixaram. Todas as missões diplomáticas as
quais Mon Mothma insistira em que ela fosse, não importando qual
o custo pessoal no treinamento Jedi perdido e na tensão provocada
em sua vida familiar. Toda a confiança que ela havia investido em
Ackbar e alguns outros; toda a responsabilidade que havia sido
deslocada sobre cada vez menos ombros.
Sobre os ombros daqueles poucos em que ela podia confiar
para que fizessem o trabalho certo.
– É por isso que eu não posso simplesmente descer e assumir
o comando – Bel Iblis disse para o silêncio. – Até que ela esteja
pronta para me aceitar, realmente me aceitar, como alguém em que
possa confiar, ela nunca será capaz de me dar nenhuma autoridade
genuína na Nova República. Sempre vai precisar ficar pairando no
fundo em algum lugar, olhando sobre meu ombro para garantir que
eu não cometa nenhum erro. Ela não tem tempo pra isso, eu não
tenho paciência, e a fricção seria devastadora para todo mundo que
ficasse no meio.
Ele assentiu na direção da sala de guerra.
– Quando ela estiver pronta para confiar em mim, estarei pronto
para servir. Até lá, é melhor para todos os envolvidos que eu fique
de fora.
– Exceto para aqueles que estão morrendo lá fora – Leia
lembrou tensa. – Deixe-me chamá-la, Garm. – Talvez eu consiga
convencê-la a lhe oferecer o comando.
Bel Iblis balançou a cabeça.
– Se você precisa convencê-la, Leia, isso não conta. Ela tem
que decidir isso por si mesma.
– Talvez ela tenha decidido – a voz de Mon Mothma se fez ouvir
por trás deles.
Leia se virou surpresa. Com toda a sua atenção concentrada
em Bel Iblis, ela não havia sequer reparado na aproximação da
mulher mais velha.
– Mon Mothma – ela disse, sentindo a estranha culpa de ter
sido flagrada falando de alguém atrás das costas. – Eu...
– Está tudo bem, Leia – disse Mon Mothma. – General Bel
Iblis...
Bel Iblis havia se levantado para encará-la.
– Sim?
Mon Mothma pareceu se segurar.
– Nós já tivemos mais do que nosso quinhão de diferenças ao
longo dos anos, general. Mas isso faz muito tempo. Já fomos uma
boa equipe. Não há motivo algum pelo qual não possamos voltar a
ser.
Ela tornou a hesitar; e com um súbito clarão de insight, Leia viu
como isso era incrivelmente difícil para ela. Como era humilhante
encarar um homem que um dia lhe dera as costas e admitir em voz
alta que precisava de sua ajuda. Se Bel Iblis não estava disposto a
se curvar até que ela dissesse as palavras que ele queria ouvir...
E então, para a surpresa de Leia, Bel Iblis se endireitou em
posição de sentido militar.
– Mon Mothma – ele disse formalmente. – Devido à emergência
atual, eu solicito neste momento sua permissão para assumir o
comando da defesa de Coruscant.
As rugas ao redor dos olhos de Mon Mothma suavizaram
visivelmente, um alívio silencioso colorindo seus sentidos.
– Eu ficaria muito grata se você o fizesse, Garm.
Ele sorriu.
– Então vamos lá.
Juntos, eles se dirigiram para a escadaria que levava até o piso
do comando; e reconhecendo humildemente suas próprias
limitações, Leia percebeu que provavelmente metade do que ela
havia acabado de testemunhar estava além de sua compreensão. A
longa e perigosa história que Mon Mothma e Bel Iblis haviam
compartilhado tinha criado uma empatia entre eles, um elo e uma
ligação bem mais profundos do que os insights Jedi de Leia podiam
sequer começar a apreender. Talvez, ela deduziu, fosse essa
empatia que formava a verdadeira força da Nova República. A força
que criaria o futuro da galáxia.
Se ela pudesse suportar as próximas horas. Trincando os
dentes, ela correu atrás deles.

Um par de artilheiros corellianos passou em disparada pela


Quimera enviando uma rajada de fogo de turbolaser pelo escudo
defletor da ponte. Um esquadrão de TIE Fighters estava bem na
cauda deles, varrendo numa manobra de flanco Rellis enquanto
tentava disparar sem obstruções. Além deles, Pellaeon avistou uma
fragata de escolta cortando em posição de apoio do outro lado do
vetor de saída das naves artilheiras.
– Esquadrão A-4, seguir para setor 22 – ordenou Pellaeon. Até
agora, até onde ele podia dizer, a batalha parecia estar indo bem.
– Lá vão eles – Thrawn comentou ao seu lado.
Pellaeon vasculhou a área.
– Onde? – perguntou.
– Eles estão se preparando para recuar – disse Thrawn,
apontando para um dos dois dreadnaughts rebeldes que haviam se
juntado à batalha. – Observe como aquele dreadnaught está se
movendo em posição de cobertura para uma retirada. Ali; o segundo
já está indo atrás.
Pellaeon franziu a testa para os dreadnaughts em manobra. Ele
ainda não estava vendo, mas jamais vira Thrawn errar um palpite
daqueles.
– Eles estão abandonando as estações de batalha?
Thrawn bufou suavemente.
– Eles nunca deveriam ter trazido aquelas naves para defendê-
las em primeiro lugar. Plataformas de defesa Golan podem aguentar
consideravelmente mais do que o antigo comandante de terra delas
aparentemente percebeu.
– O antigo comandante de terra delas?
– Sim – disse Thrawn. – Num palpite, eu diria que nosso velho
adversário corelliano acabou de ser colocado no comando da
defesa de Coruscant. Me pergunto o que os fez demorar tanto.
Pellaeon deu de ombros, estudando a área da batalha. O Grão
Almirante tinha razão: os defensores estavam começando a recuar.
– Talvez tivessem precisado acordá-lo.
– Talvez – Thrawn olhou calmamente ao redor da área de
batalha. – Você vê como o corelliano nos oferece uma escolha: ficar
aqui e duelar com as estações de batalha, ou seguir os defensores
até o alcance do armamento baseado em terra. Felizmente – seus
olhos brilharam –, nós temos uma terceira opção.
Pellaeon assentiu. Ele estava se perguntando quando Thrawn
iria revelar sua brilhante nova arma de cerco.
– Sim, senhor – ele disse. – Devo ordenar o lançamento do
trator?
– Vamos esperar que o corelliano recue suas naves um pouco
mais – disse Thrawn. – Não vamos querer que ele perca isso.
– Entendido – disse Pellaeon. Recuando até sua cadeira de
comando, ele se sentou e confirmou que os asteroides e os raios
tratores do hangar estavam prontos.
E aguardou a ordem do Grão Almirante.

– Está certo – disse Bel Iblis. – Harrier, comece a recuar. Cubra


aquelas fragatas de escolta em seu flanco de bombordo. Líder
Vermelho, cuidado com aqueles interceptores TIE.
Leia ficou observando a tela tática, contendo a respiração. Sim;
ia funcionar. Sem a disposição de correr o risco com armamento
baseado em terra, os imperiais estavam deixando os defensores
recuarem de volta para Coruscant. Isso deixava apenas as duas
estações de batalha ainda em perigo, e elas estavam provando ser
mais capazes de absorver dano do que Leia havia percebido que
podiam. E mesmo isso acabaria em breve – o Grão Almirante sabia
que não deveria estar ali quando a frota do setor chegasse. Tudo
estava quase acabado, e eles haviam passado pelo pior.
– General Bel Iblis? – o oficial de uma das estações de
monitoramento falou. – Estamos recebendo uma leitura estranha do
hangar da Quimera.
– O que é? – perguntou Bel Iblis, indo até o console.
– Parece que os raios tratores de lançamento estão sendo
ativados – respondeu o oficial, indicando um dos pontos
multicoloridos na silhueta do Star Destroier em seu display. – Mas
está puxando energia demais.
– Será que eles poderiam estar lançando um esquadrão inteiro
de TIE Fighters? – sugeriu Leia.
– Acho que não – disse o oficial. – Esta é a outra questão; até
onde podemos dizer, nada deixou o hangar.
Ao lado de Leia, Bel Iblis ficou rígido.
– Calcule o vetor de saída – ordenou. – Todas as naves: foco
de sensor ao longo do caminho para emissões de drive. Acho que a
Quimera acabou de lançar uma nave camuflada.
Alguém ali perto soltou um palavrão com gosto. Leia olhou para
a tela visual mestre, sentindo a garganta apertar enquanto a
memória daquela breve conversa que ela e Han tiveram com o
almirante Ackbar voltou à sua mente. Ackbar estivera bastante
convencido – e a tinha convencido também – de que as
propriedades duplo-cegas do escudo de camuflagem o tornavam
perigoso demais para ser uma arma eficiente. Se Thrawn havia
encontrado a maneira de resolver esse problema...
– Estão disparando mais uma vez – reportou o oficial de
sensores. – E mais uma vez.
– O mesmo com a Caveira – outro oficial interrompeu. –
...disparando outra vez.
– Enviar sinal para estações de batalha para rastrear e disparar
ao longo daqueles vetores – disse Bel Iblis. – O mais próximo
possível dos Star Destroiers. Precisamos descobrir o que Thrawn
está escondendo.
Ele havia acabado de dar a ordem quando houve um clarão de
luz na tela do visual. Uma das fragatas de escolta ao longo do
primeiro vetor projetado subitamente explodiu em chamas, sua
seção de popa arrastando gases inflamados do drive quando toda a
nave começou a girar violentamente ao redor do eixo transversal.
– Colisão! – alguém gritou. – Fragata de escolta Evanrue:
impacto com objeto desconhecido.
– Impacto? – repetiu Bel Iblis. – Não foi disparo de turbolaser?
– Telemetria indica impacto físico – o outro balançou a cabeça.
Leia voltou a olhar para a tela, onde a Evanrue estava agora
envolta em gás incandescente enquanto lutava para controlar seu
giro.
– Escudos de camuflagem são supostamente duplo-cegos –
disse Leia. – Como é que eles estão manobrando?
– Talvez não estejam – disse Bel Iblis, com a voz sombria de
desconfiança. – Táctico: me dê um novo rastreio do ponto de
impacto com a Evanrue. Assuma objeto inerte; calcule velocidade
de impacto pela distância até a Quimera, e não se esqueça de
fatorar o campo gravitacional local. Transmita a localização provável
para a Harrier; ordene que ela abra fogo assim que tiver as
coordenadas.
– Sim senhor – disse um dos tenentes. – Transmitindo para a
Harrier agora.
– Pensando bem, espere um pouco – disse Bel Iblis, levantando
a mão. – Ordene que a Harrier use somente seu canhão de íons:
repito, somente canhão de íons. Nada de turbolasers.
Leia franziu a testa para ele.
– Você está tentando deixar a nave intacta?
– Estou tentando tomá-la intacta, sim – Bel Iblis disse devagar.
– Mas não acho que seja uma nave.
Ele fez silêncio. No visual, o canhão de íons da Harrier
começou a disparar.

O dreadnaught abriu fogo, como de fato Thrawn havia previsto


que faria. Mas somente, Pellaeon reparou com certa surpresa, com
seu canhão de íons.
– Almirante?
– Sim, estou vendo – disse Thrawn. – Interessante. Eu tinha
razão, capitão; nosso velho adversário corelliano está realmente no
comando lá embaixo. Mas ele só nos permitiu conduzi-lo pelo nariz
até um certo ponto.
Pellaeon assentiu quando subitamente compreendeu.
– Ele está tentando derrubar o escudo de camuflagem do
asteroide.
– Torcendo para mantê-lo intacto. – Thrawn tocou seu painel de
controle. – Baterias de turbolaser de proa: rastrear e mirar no
asteroide número um. Disparar somente ao meu comando.
Pellaeon olhou para seu display visual magnificado. O
dreadnaught havia encontrado seu alvo. Seus feixes de íon
desapareciam no meio do espaço enquanto inundavam o escudo de
camuflagem. Não deveria demorar muito mais...
Subitamente, as estrelas naquela região vazia desapareceram.
Por uns dois segundos se fez uma escuridão completa enquanto o
escudo de camuflagem colapsou sobre si mesmo; então, com a
mesma brusquidão, o asteroide recém-descoberto ficou visível.
Os feixes de íons foram interrompidos.
– Turbolasers, a postos – disse Thrawn. – Queremos que eles
deem uma boa olhada primeiro. Turbolasers, disparar.
Pellaeon desviou a atenção para a escotilha. O fogo verde
disparou na forma de uma lança, sumindo na distância ao convergir
no seu alvo. Um segundo mais tarde eles viram um leve clarão
vindo daquela direção, um clarão repetido com mais força em sua
tela visual. Mais uma salva – e mais uma – e mais uma.
– Cessar-fogo – Thrawn disse com óbvia satisfação. – O que
restar é deles. Hangar: status de disparos.
– Estamos a 72, senhor – reportou o oficial de engenharia, sua
voz parecendo um pouco tensa. – Mas o desvio de feedback de
energia está começando a brilhar com uma cor branca. Não
podemos manter esses disparos secos por muito mais tempo sem
queimar ou o desvio ou o projetor de tração propriamente dito.
– Interrompa o disparo seco – ordenou Thrawn – e faça sinal
para que as outras naves façam o mesmo. Quantos disparos no
total, capitão?
Pellaeon checou as cifras.
– Duzentos e oitenta e sete – ele disse ao Grão Almirante.
– Presumo que todos os 22 asteroides de verdade tenham sido
lançados.
– Sim, senhor – confirmou Pellaeon. – A maioria nos primeiros
dois minutos. Embora não tenhamos como saber se eles assumiram
suas órbitas prescritas.
– As órbitas específicas são irrelevantes – Thrawn lhe
assegurou. – Tudo que importa é que os asteroides estão em algum
lugar no espaço ao redor de Coruscant.
Pellaeon sorriu. Sim, eles estavam... só que eram apenas uma
fração do número que os rebeldes pensavam que havia.
– E agora nós partimos, senhor?
– Agora nós partimos – confirmou Thrawn. – Pelo menos por
enquanto, Coruscant está efetivamente fora da guerra.

Drayson assentiu para o coronel da operação de batalha e


recuou para o pequeno grupo que esperava por ele a uma curta
distância atrás dos consoles.
– Os números finais chegaram – ele disse, com a voz soando
um pouco vazia. – Eles não podem ter certeza absoluta de que não
deixaram passar nada através dos escombros da batalha. Mas,
mesmo assim... a contagem é de 287.
– Duzentos e oitenta e sete? – repetiu o general Rieekan,
deixando cair levemente o queixo.
– O número é esse – assentiu Drayson, voltando um olhar
fuzilante para Bel Iblis. Como se, pensou Leia, tudo isso de algum
modo fosse culpa de Bel Iblis. – E agora?
Bel Iblis estava esfregando o rosto, pensativo.
– Para começar, não acho que a situação esteja tão ruim
quanto parece – ele disse. – Por tudo o que ouvi falar sobre como
escudos de camuflagem são caros, não consigo ver Thrawn
gastando o tipo de recursos que trezentos deles levariam.
Especialmente quando um número muito menor faria o trabalho da
mesma maneira.
– O senhor acha que os outros disparos de raio trator foram
forjados? – perguntou Leia.
– Não poderiam ter sido – discordou Rieekan. – Eu estava
observando o painel de sensores. Aqueles projetores estavam
definitivamente sugando energia.
Bel Iblis olhou para Drayson.
– Você entende mais de Star Destroiers do que o resto de nós,
almirante. Isso é possível?
Drayson olhou para longe franzindo a testa, deixando o orgulho
profissional eclipsar, por um momento, sua animosidade pessoal
para com Bel Iblis.
– Poderia ser feito – ele finalmente concordou. – Você poderia
passar um desvio de feedback do projetor do raio trator, ou para um
capacitor de flash ou para um dissipador de potência em algum
lugar na nave. Isso deixaria que você rodasse um surto bem grande
de potência pelo projetor sem que realmente fizesse alguma coisa.
– Há alguma maneira de saber a diferença entre isso e o
lançamento real de um asteroide? – perguntou Mon Mothma.
– Desta distância? – Drayson balançou a cabeça. – Não.
– Quase não importa quantos estão lá em cima – disse
Rieekan. – As órbitas deles acabarão decaindo, e deixarmos que
até mesmo um deles atinja o solo já seria um desastre. Até termos
destruído todos, não podemos correr o risco de baixar o escudo
planetário.
– O problema é como os localizarmos – Drayson concordou
cansado. – E como saber quando tivermos nos livrado de todos.
Um movimento captou a atenção de Leia, e ela virou a cabeça
para ver um coronel Bremen de rosto tenso se juntar a eles.
– Repetindo, poderia ser pior – ressaltou Bel Iblis. – A frota do
setor pode substituir a estação de transmissão de órbita externa em
poucas horas, então pelo menos ainda seremos capazes de
direcionar a defesa da Nova República daqui.
– Também tornará mais fácil transmitir um alerta para todos os
mundos – disse Bremen. – Mara Jade escapou.
Mon Mothma respirou fundo.
– Como? – ela perguntou.
– Com ajuda – Bremen disse sério. – O droide de guarda foi
desativado. Uma espécie de parafuso de contenção improvisado.
Também apagou aquela seção de memória.
– Há quanto tempo? – perguntou Rieekan.
– Não faz mais que algumas horas. – Bremen olhou redor da
sala de ar. – Colocamos segurança extra no andar do comando
desde que a fuga foi descoberta, pensando que eles poderiam estar
planejando uma sabotagem para coincidir com o ataque do Império.
– Esse ainda pode ser o plano – disse Bel Iblis. – Vocês
selaram o palácio?
– Como a caixa de lucros de um contrabandista – disse
Bremen. – Mas duvido que ela esteja aqui.
– Precisamos garantir isso – disse Mon Mothma. – Quero que o
senhor organize uma busca completa no palácio, Coronel.
Bremen assentiu.
– Agora mesmo.
Leia se segurou. Eles não iam ficar felizes com isso.
– Não se dê ao trabalho, coronel – ela disse, tocando o braço
de Bremen para impedi-lo quando ele se virou para partir. – Mara
não está aqui.
Todos olharam para ela.
– Como você sabe? – perguntou Bel Iblis.
– Porque ela deixou Coruscant mais cedo esta noite. Junto com
Han e Luke.
Houve um longo silêncio.
– Eu estava me perguntado por que Solo não veio até a sala de
guerra com você – disse Bel Iblis. – Quer nos contar o que está
acontecendo?
Leia hesitou; mas certamente nenhuma dessas pessoas
poderia ter algo a ver com o vazamento de segurança da fonte
Delta.
– Mara acha que sabe onde fica a instalação de clonagem do
Império. Nós achamos que valeria a pena enviá-la junto com uma
pequena equipe para checar a informação.
– Nós achamos – gritou Drayson. – Quem é este nós?
Leia olhou direto nos olhos dele.
– Minha família e meus amigos mais próximos – ela disse. – As
únicas pessoas nas quais posso ter absoluta certeza que não estão
vazando informações para o Império.
– Este é um grande insulto...
– Chega, almirante – Mon Mothma o interrompeu com calma.
Com calma, mas com dureza nos olhos. – Quaisquer reprimendas
cabíveis neste caso podem esperar até mais tarde. Se foi prudente
ou não, permanece o fato de que eles estão a caminho, e
precisamos decidir a melhor forma de ajudá-los. Leia?
– O mais importante a fazer é fingir que Mara ainda está aqui –
disse Leia, sentindo o aperto em seu peito ceder um pouco. – Ela
me disse que só esteve em Wayland uma vez, e não podia imaginar
quanto tempo levaria para reconstruir a rota. Quanto mais tempo de
vantagem eles tiverem, menos tempo o Império terá para enviar
reforços para lá.
– E o que acontecerá depois? Mon Mothma perguntou. –
Supondo-se que eles encontrem o local.
– Eles tentarão destruí-lo.
Houve um momento de silêncio.
– Sozinhos – disse Drayson.
– A menos que o senhor tenha uma frota à disposição para
emprestar a eles, sim – disse Leia.
Mon Mothma balançou a cabeça.
– Você não devia ter feito isso, Leia – ela disse. – Não sem
consultar o Conselho.
– Se eu tivesse levado isso para o Conselho, Mara poderia
estar morta agora – Leia disse com rispidez. – Se o Império
recebesse a notícia de que ela pode encontrar Wayland, o próximo
grupo de ataque que enviassem não pararia em simplesmente
tentar desacreditá-la.
– O Conselho está acima de qualquer suspeita – disse Mon
Mothma, com a voz gélida.
– E todos os assessores dos membros do Conselho também
estão? – retrucou Leia. – E o pessoal tático e os oficiais de
suprimentos e pesquisadores da biblioteca? Se eu tivesse sugerido
ao Conselho um ataque a Wayland, todas essas pessoas acabariam
sabendo a respeito.
– E mais – assentiu Bel Iblis. – Ela tem razão, Mon Mothma.
– Não estou interessada em distribuição de culpa, Garm – Mon
Mothma disse baixinho. – Tampouco em defender o pequeno nicho
de poder de ninguém. Estou preocupada com a possibilidade de que
tudo isso tenha sido na verdade uma armadilha, Leia... e que ela
venha a custar as vidas de seu irmão e de seu marido.
Leia engoliu em seco.
– Também pensamos nisso – ela disse. – Mas decidimos que
vale o risco. E que não havia mais ninguém para fazê-lo.
Por um longo minuto ninguém disse nada. Então Mon Mothma
se mexeu.
– Você vai precisar falar com todo mundo que sabe Mara Jade
escapou, coronel – ela disse para Bremen. – Se e quando
obtivermos a localização de Wayland, vamos ver o que podemos
fazer quanto a mandar reforços para ajudá-los.
– Contanto que possamos saber com certeza que não é uma
armadilha – Drayson acrescentou, fuzilando.
– É claro – Mon Mothma concordou, evitando o olhar de Leia. –
Por ora, isso é tudo o que podemos fazer. – Vamos nos concentrar
nos problemas imediatos de Coruscant: defesa, e encontrar esses
asteroides camuflados. General Bel Iblis...
Uma mão hesitante tocou o ombro de Leia, e ela se virou para
encontrar o slicer Ghent parado ali.
– Já acabou? – ele perguntou a ela num murmúrio.
– A batalha, sim – ela disse olhando de relance para Mon
Mothma e os demais. Eles já estavam mergulhando fundo numa
discussão sobre os asteroides, mas um deles acabaria reparando
em Ghent e percebendo que ali não era o lugar dele. – Vamos – ela
disse, levando-o de volta para a saída da sala de guerra. – Eu conto
tudo a você lá fora. O que achou dos códigos de encriptação de
batalha imperiais?
– Ah, são legais – ele disse. – Os sujeitos ali dentro não me
deixaram fazer muita coisa, pra falar a verdade. Eu não conhecia as
máquinas deles tão bem quanto eles. Eles tinham uma espécie de
treinamento bobo também.
Leia sorriu. A melhor e mais eficiente rotina de decriptação que
os especialistas da Nova República haviam criado, e Ghent a
considerava uma rotina boba.
– As pessoas criam rotinas para a maneira como fazem as
coisas – ela disse diplomaticamente. – Talvez eu possa dar um jeito
para que você fale com a pessoa encarregada e ofereça umas
sugestões.
Ghent acenou vagamente.
– Não. Os militares não gostam do jeito que eu faço as coisas.
Até Karrde fica irritado às vezes. Aliás, sabe aquele transmissor de
pulso que você tem em algum lugar aqui perto?
– Aquele que a fonte Delta tem usado? – assentiu Leia. A
Contrainteligência tem tentado localizá-lo desde que começou a
transmitir. Mas é um tipo de fase dividida de frequência cruzada, ou
coisa parecida, e não tiveram a menor sorte.
– Ah – Ghent pareceu digerir isso. – Bom, é um problema
técnico. Isso eu não sei resolver.
– Tudo bem – Leia lhe garantiu. – Tenho certeza de que você
vai encontrar outras maneiras de ajudar.
– É – ele disse tirando um cartão de dados do seu bolso. – De
qualquer maneira... aqui.
Ela franziu a testa ao aceitar o cartão.
– O que é isso?
– É o código de encriptação do transmissor de pulso.
Leia levou um susto.
– É o quê?
Ele parou também, virando os olhos inocentes na direção dela.
– O código de encriptação que esse negócio aí de frequência
cruzada está usando. Finalmente consegui fazer o slicing dele.
Ela o encarou.
– Simples assim? Você simplesmente foi em frente e fez o
slicing?
Ele deu de ombros novamente.
– É, mais ou menos. Eu estava trabalhando nele há um mês,
você sabe.
Leia ficou olhando o cartão de dados em sua mão, sentindo
uma sensação estranha e não inteiramente agradável de
empolgação formigar no seu corpo.
– Alguém sabe que você tem isso? – ela perguntou baixinho.
Ele balançou a cabeça.
– Pensei em dar isso àquele coronel lá dentro antes de sair,
mas ele estava ocupado falando com alguém.
O código de encriptação da fonte Delta... E a fonte Delta não
sabia que eles o tinham.
– Não diga a mais ninguém – ela disse. – E eu quero dizer
ninguém mesmo.
Ghent franziu a testa, mas deu de ombros.
– Ok. O que você disser.
– Obrigada – murmurou Leia, enfiando o cartão de dados no
bolso do seu robe. Aquilo era a chave para a fonte Delta; no fundo,
ela sabia disso. Só precisava encontrar a maneira certa de usá-lo.
E encontrá-la rápido.
A Fortaleza de Hijarna já desmoronava lentamente havia talvez mil
anos antes que a Quinta Expedição de Alderaan a avistasse,
mantendo sua vigilância silenciosa e deserta sobre seu mundo
silencioso e deserto. Uma vasta extensão de pedra preta
incrivelmente dura, ela se destacava sobre uma encosta alta que
dava para uma planície que ainda trazia as profundas cicatrizes da
destruição maciça. Para alguns, a enigmática fortaleza era um
monumento trágico – uma última tentativa de defesa de um mundo
desesperado enfrentando um cerco. Para outros, era a causa
soturna e maliciosa tanto do cerco como da devastação que havia
se seguido.
Para Karrde, pelo menos naquele momento, era seu lar.
– Você sabe mesmo escolher estes lugares, Karrde – comentou
Gillespee, colocando os pés na borda da mesa auxiliar de
comunicação e olhando ao redor. – Aliás, como foi que você
encontrou este lugar?
– Está tudo ali nos velhos registros – Karrde lhe disse,
observando sua tela enquanto o programa de encriptação rodava.
Um mapa estelar apareceu, acompanhado por um texto muito
curto...
Gillespee assentiu na direção da tela de Karrde.
– O relatório de Clyngunn?
– Sim – disse Karrde, sacando o cartão de dados. – Completo.
– Nada, certo?
– Basicamente isso. Nenhuma indicação de tráfico de clones
em nenhum lugar de Poderis, Chazwa ou Joiol.
Gillespee tirou os pés da mesa e se levantou.
– Bom, então é isso – ele disse, indo até a fruteira que alguém
havia colocado em cima de uma mesa lateral e pegando uma fruta
de fiapo. – Parece que seja lá o que o Império tinha no setor de
Orus acabou secando. Se é que havia alguma coisa lá para começo
de conversa.
– Dada a falta de uma trilha, suspeito que seja a última opção –
concordou Karrde, escolhendo um dos cartões que haviam chegado
de seu contato em Bespin e o enfiando na tela. – Mesmo assim, era
algo que precisávamos saber de um jeito ou de outro. Entre outras
coisas, isso nos libera para nos concentrarmos em outras
possibilidades.
– É – Gillespee disse com relutância ao voltar a sua cadeira. –
Bom... Sabe, Karrde, essa coisa toda tem sido meio estranha.
Quero dizer, contrabandistas fazendo esse tipo de trabalho de
espionagem. E também não paga muito.
– Já disse você que vamos obter um reembolso da Nova
República.
– Só que não temos nada para vender a eles – ressaltou
Gillespee. – Nunca conheci ninguém que tivesse pago por algo que
não recebeu.
Karrde franziu a testa para ele. Gillespee havia tirado uma faca
de aspecto maligno de algum lugar e estava cortando com cuidado
uma fatia da fruta de fiapo.
– Isso não tem nada a ver com ser pago – ele lembrou ao outro.
– Tem a ver com sobreviver contra o Império.
– Talvez para você, sim – disse Gillespee, estudando a fatia da
fruta por um momento antes de dar uma mordida. – Você tem tantos
negócios paralelos que pode se dar ao trabalho de tirar uma folga.
Mas, sabe, o resto de nós tem pagamentos a fazer e naves para
manter abastecidas. Se o dinheiro para de entrar, nossos
empregados começam a ficar zangados.
– Então você e os outros querem dinheiro?
Ele conseguiu sentir Gillespee se segurar.
– Eu quero dinheiro. Os outros querem sair.
Olhando em retrospecto, aquela não era exatamente uma
evolução inesperada. A imensa fúria contra o Império que havia sido
provocada pelo ataque ao Redemoinho de Whistler estava
esfriando, e os negócios cotidianos estavam começando a voltar.
– O Império ainda é perigoso – ele disse.
– Para nós, não – Gillespee disse com franqueza brutal. – Não
houve um único indício de atenção do Império voltada para nós
desde o Redemoinho. Eles não ligam que a gente fique espiando ao
redor do setor de Orus; eles sequer desceram para cima de Mazzic
por aquele negócio nos estaleiros de Bilbringi.
– Então eles estão nos ignorando, apesar de os provocarmos a
fazer o contrário. Isso faz você se sentir seguro?
Cuidadosamente, Gillespee cortou mais uma fatia de fruta.
– Não sei – ele admitiu. – Metade do tempo eu acho que Brasck
tem razão: que, se deixamos o Império em paz, ele vai nos deixar
em paz. Mas não consigo deixar de pensar no exército de clones
que Thrawn usou pra me caçar pra fora de Ukio. Começo a pensar
que ele talvez esteja apenas muito ocupado com a Nova República
para se incomodar conosco neste momento.
Karrde balançou a cabeça.
– Thrawn nunca está ocupado demais para caçar alguém se
quiser – ele disse. – Se está nos ignorando é porque sabe que essa
é a melhor maneira de silenciar qualquer oposição. A próxima etapa
será provavelmente nos oferecer contratos de transporte e fingir que
somos todos bons amigos novamente.
Gillespee olhou para ele com atenção.
– Você andou falando com Par’tah?
– Não. Por quê?
– Há dois dias ela me disse que lhe ofereceram um contrato
para trazer um grupo de motores subluz até os estaleiros imperiais
de Ord Trasi.
Karrde fez uma careta.
– E ela aceitou?
– Disse que ainda estava acertando os detalhes. Você conhece
Par’tah: está sempre no limite. Provavelmente não pode se dar ao
luxo de dizer não
Karrde se voltou para sua tela, sentindo o gosto amargo da
derrota na boca.
– Suponho que não posso realmente culpá-la – ele disse. – E
os outros?
Gillespee deu de ombros, desconfortável.
– Como eu disse, o dinheiro vive saindo. Precisamos ter
dinheiro entrando também.
E assim, a coalizão relutante que ele havia tentado reunir
estava desmoronando. E o Império não precisou disparar um único
tiro para fazer isso.
– Então suponho que terei simplesmente que ir sozinho – ele
disse, se levantando. – Obrigado por sua ajuda. Tenho certeza de
que você quer voltar ao trabalho.
– Ora, não fique todo nervoso, Karrde – Gillespee o admoestou,
dando uma última mordida na fruta e se levantando. – Você tem
razão, esse negócio dos clones é sério. Se quiser contratar minhas
naves e pessoal para sua caçada, vamos ficar felizes em ajudar. Só
não podemos nos dar ao trabalho de fazer isso de graça; é só.
Basta nos avisar. – Ele se virou para porta...
– Só um minuto – Karrde o chamou. Um pensamento um tanto
audacioso havia acabado de lhe ocorrer. – Suponha que eu
encontre um jeito de garantir financiamento para todos. Você acha
que os outros ficariam a bordo também?
Gillespee olhou pra ele desconfiado.
– Não me tapeie, Karrde. Você não tem esse tipo de dinheiro
dando sopa.
– Não. Mas a Nova República tem. E nas circunstâncias atuais,
não penso que eles achariam ruim ter mais algumas naves de
combate na folha de pagamento.
– Oh-oh – Gillespee balançou a cabeça firmemente. –
Desculpe, mas serviços privados estão um pouco fora da minha
linha.
– Mesmo que sua tarefa consista inteiramente em coletar
informações? – perguntou Karrde. – Não estou falando de nada
além do que você está fazendo no setor Orus.
– Parece o trabalho dos sonhos – Gillespee disse irônico. – A
não ser pelo pequeno problema de encontrar alguém na Nova
República que seja burro bastante para pagar taxas privadas para
serviço de espionagem.
Karrde sorriu.
– Na verdade, eu não estava planejando desperdiçar o tempo
valioso deles falando sobre isso. Você já conheceu meu associado
Ghent?
Por um momento Gillespee apenas ficou olhando para ele, com
cara de intrigado. Então, subitamente, entendeu.
– Você não faria isso.
– Por que não? – retrucou Karrde. – Pelo contrário, estaríamos
prestando um serviço a eles. Por que atrapalhar suas vidas com
esses relatórios incômodos enquanto estão tentando sobreviver a
uma guerra?
– E já que eles têm que pagar de qualquer maneira assim que
encontrarmos o centro de clonagem para eles...
– Exatamente – assentiu Karrde. – Podemos considerar isso
meramente um pré-pagamento para um trabalho prestes a ser feito.
– É melhor mesmo que eles não saibam até que tenha acabado
– Gillespee disse secamente. – A pergunta é: será que Ghent
consegue?
– Facilmente – Karrde lhe assegurou. – Particularmente agora,
que ele está dentro do Palácio Imperial, em Coruscant. Eu estava
planejando me dirigir até lá rapidamente para pegar Mara de
qualquer maneira; simplesmente vou fazer com que ele faça um
slicing em alguns dos registros da frota do setor e nos coloque lá.
Gillespee soltou o ar com cuidado.
– Isso tem lá suas possibilidades – eu admito. Mas não sei se
será o bastante para colocar os outros de volta a bordo.
– Então simplesmente teremos que perguntar a eles – disse
Karrde, voltando à sua mesa. Convites para, digamos, quatro dias a
partir de hoje?
Gillespee deu de ombros.
– Vamos tentar. O que você tem a perder?
Karrde ficou sério.
– Com o Grão Almirante Thrawn – ele lembrou ao outro – essa
não é uma pergunta que se faça nem de brincadeira.

A brisa noturna passava pelas paredes em ruínas e pelas


colunas de pedra da fortaleza arruinada, ocasionalmente
assoviando de leve enquanto achava seu caminho por um buraco
pequeno ou fenda. Sentado de costas para um dos pilares, Karrde
tomou um gole de sua xícara e ficou olhando o último vestígio do sol
desaparecer sob a linha do horizonte. Na planície abaixo, as
sombras compridas se estendiam pelo solo marcado à medida que
a chegada da escuridão da noite começava seu movimento
inexorável pela paisagem.
No fundo, aquilo tudo era um pouco simbólico quanto à maneira
como a guerra galáctica estava finalmente apanhando Karrde.
Ele tomou um gole de sua xícara, mais uma vez maravilhado
com toda aquela situação absurda. Ali estava ele, um
contrabandista inteligente, calculista, apropriadamente egoísta, que
havia construído uma carreira bem-sucedida ao se manter distante
da política galáctica. Contrabandista, além do mais, que havia
jurado solenemente manter seu povo fora daquela guerra em
particular. E entretanto, de algum modo, ali estava ele, bem no meio
dela.
E não só no meio dela, mas tentando dar o melhor de si para
arrastar outros contrabandistas atrás de si.
Balançou a cabeça, levemente irritado. Essa mesma coisa, ele
sabia, acontecera com Han Solo em algum momento por volta da
grande batalha de Yavin. Ele se lembrava de ter achado muito
divertido o emaranhamento gradual de Solo nas redes de dever e
responsabilidade da Aliança Rebelde. Olhando agora do lado de
dentro da rede, todo esse negócio não era nem de longe tão
divertido.
Do outro lado do pátio quebrado veio o som leve de cascalho
esmigalhado. Karrde se virou para olhar as fileiras de pilares de
pedra naquela direção, levando a mão à sua arma de raios.
Ninguém deveria estar ali naquele momento.
– Sturm? – ele chamou suavemente. – Drang?
O familiar rosnado/ronronar respondeu, e Karrde suspirou
aliviado.
– Aqui – ele chamou o animal. – Venha cá; aqui.
A ordem nem era necessária. O vornskr já estava pulando ao
redor dos pilares na direção dele, o focinho abaixado no chão, o
cotoco de sua cauda truncada balançando loucamente atrás dele.
Provavelmente Drang, deduziu Karrde: ele era o mais sociável dos
dois, e Sturm tinha tendência a se demorar mais sobre suas
refeições.
O vornskr parou ao lado dele, dando outro de seus estranhos
rosnados/ronronares – um som um tanto triste desta vez – ao
pressionar seu focinho na palma da mão aberta de Karrde. Era
Drang mesmo.
– Sim, está muito quieto – Karrde disse a ele, passando a mão
no rosto do animal e ao redor para coçar a pele sensível atrás das
orelhas. – Mas os outros estarão de volta logo. Eles só saíram para
checar as outras naves.
Drang soltou outro rosnado/ronronar triste ficou semiagachado
ao lado da cadeira de Karrde, olhando alerta para a planície vazia
abaixo. Mas o que quer que estivesse procurando, não encontrou, e
depois de um momento soltou um grunhido profundo na garganta e
abaixou o focinho para repousar na pedra. Suas orelhas sacudiram
uma vez, como se ele estivesse lutando para ouvir um som que não
estava lá, e depois elas também se dobraram de novo.
– Está quieto lá embaixo também – Karrde concordou sóbrio,
acariciando o pelo do vornskr. – O que você acha que aconteceu
aqui?
Drang não respondeu. Karrde olhou para as costas magras e
musculosas do vornskr, se perguntando mais uma vez sobre esses
estranhos predadores que ele de forma tão casual – talvez até
mesmo arrogante – decidiu tratar como animais de estimação.
Imaginando se teria pensado duas vezes ao fazer isso se
percebesse que estava lidando com possivelmente os únicos
animais da galáxia que caçavam através da Força.
Era uma conclusão ridícula, pensando bem. A sensitividade à
Força propriamente dita não era algo desconhecido, certamente: os
Gotal tinham uma forma bastante inútil dela, e havia rumores
persistentes a respeito dos Duinuogwuin também, isso para citar
apenas duas raças. Mas todos aqueles que tinham tal sensibilidade
eram criaturas sencientes, com os altos níveis de inteligência e
consciência que isso implicava. Animais não sencientes usarem a
força dessa maneira era algo novo.
Mas era uma conclusão que os acontecimentos dos últimos
meses o haviam forçado a tirar. Houve a reação inesperada de seus
bichos a Luke Skywalker na base de Myrkr. Também a similar e
também inédita reação a Mara a bordo da Wild Karrde, logo antes
do palpite que ela tivera que os salvou daquele cruzador interventor
imperial. E também a reação bem mais violenta dos vornskrs
selvagens em relação a Mara e Skywalker durante sua jornada de
três dias através das florestas de Myrkr.
Skywalker era um Jedi. Mara havia demonstrado alguns
talentos decididamente Jedi. E talvez, o que era ainda mais
impressionante, a existência das bizarras bolhas sem Força criadas
pelos ysalamiri podia finalmente ser explicada se elas fossem
simplesmente uma forma de defesa ou de camuflagem contra
predadores.
Drang virou bruscamente a cabeça, enrijecendo as orelhas ao
se virar pela metade. Karrde apurou os ouvidos... E alguns
segundos depois ouviu os sons leves da nave auxiliar que
retornava.
– Está tudo bem – ele assegurou ao vornskr. – São apenas
Chin e os outros, voltando da nave.
Drang manteve a pose por mais um momento. Então, como se
tivesse decidido aceitar a palavra de Karrde, ele se virou e voltou a
descansar a cabeça. Olhando por sobre uma planície que, se a
suspeita de Karrde estivesse correta, ainda era mais silenciosa para
ele do que para Karrde.
– Não se preocupe – ele acalmou o animal, voltando a coçar
atrás de suas orelhas. – Vamos embora daqui em breve. E prometo
que o próximo lugar terá muita vida ao redor para você escutar.
As orelhas do vornskr sacudiram, mas isso poderia ter sido
apenas a coçada. Dando uma última olhada nas cores do
crepúsculo que desvaneciam, Karrde se levantou, voltando a ajustar
o cinto da arma nos quadris. Particularmente, ainda não havia
nenhum motivo em especial para partir. Os convites haviam sido
escritos, codificados e transmitidos, e por enquanto não havia nada
a fazer a não ser esperar as respostas. Mas subitamente ele se
sentiu sozinho lá fora. Muito mais sozinho do que alguns minutos
atrás.
– Venha, Drang – ele disse estendendo a mão para dar uma
palmadinha no animal. – Hora de entrar.

A nave auxiliar pousou no chão do hangar da Quimera; válvulas


de pressão sibilavam sobre as cabeças dos stormtroopers que se
moviam diretamente para posição de escolta ao redor da rampa que
baixava. Pellaeon ficou onde estava, ao lado de Thrawn, fazendo
cara de desgosto com o cheiro dos gases e desejando saber o que
no Império o Grão Almirante estava planejando aquela vez.
Fosse o que fosse, ele tinha a sensação de que não ia gostar.
Thrawn podia falar o quanto quisesse sobre como esses
contrabandistas eram previsíveis; e talvez para ele fossem. Mas
Pellaeon já tinha tido seu próprio quinhão de situações com esse
tipo de escória da periferia, e ainda nunca tinha visto um acordo que
não tivesse dado errado de um jeito ou de outro.
E nenhum desses acordos havia começado com a pura audácia
de um ataque a um estaleiro imperial.
A rampa terminou sua descida e travou. O comandante dos
stormtroopers espiou dentro da nave auxiliar e assentiu – e, ladeado
por dois soldados da Frota vestidos de preto, o prisioneiro desceu
ao convés.
– Ah! Capitão Mazzic – Thrawn disse suavemente enquanto os
stormtroopers entravam em posições de escolta ao redor dele. –
Bem-vindo à Quimera. Peço desculpas por este convite um tanto
teatral e quaisquer problemas que ele possa ter criado no seu
cronograma de negócios. Mas existem certas questões que não
podem ser discutidas a não ser face a face.
– Você é muito engraçado – Mazzic bufou. Um grande
contraste, pensou Pellaeon, com o galanteador suave e sofisticado
cujo perfil constava nos arquivos da Inteligência. Mas saber que iria
enfrentar um interrogatório do Império era o suficiente para arrancar
o verniz de civilização de qualquer homem. – Como você me
encontrou?
– Ora, capitão – Thrawn chamou-lhe a atenção com calma. – O
senhor achou seriamente que poderia se esconder de mim se eu
quisesse encontrá-lo?
– Karrde conseguiu – Mazzic retrucou, esforçando-se muito
para fazer uma cara de coragem; mas as mãos algemadas estavam
trabalhando nervosas uma contra a outra. Você ainda não o pegou,
pegou?
– A hora de Karrde chegará – disse Thrawn ainda calmo, mas
visivelmente mais frio. – Mas não estávamos falando de Karrde.
Estávamos falando de você.
– Sim, tenho certeza de que vocês estão ansiosos – grunhiu
Mazzic, balançando suas mãos algemadas. – Vamos logo com isso.
Thrawn ergueu levemente as sobrancelhas.
– O senhor não entendeu, capitão. O senhor não está aqui para
ser castigado. O senhor está aqui porque eu queria deixar as coisas
entre nós em pratos limpos.
Mazzic parou no meio do seu rompante.
– Do que está falando? – ele perguntou desconfiado.
– Estou falando do incidente recente nos estaleiros de Bilbringi
– disse Thrawn. – Não, não negue. Eu sei que foram você e Ellor
que destruíram aquele Star Destroier inacabado. E normalmente o
Império cobraria um preço extremamente alto para tamanho ato.
Entretanto, nestas circunstâncias em particular, estou preparado
para esquecer isso.
Mazzic o encarou.
– Não estou entendendo.
– É muito simples, capitão – Thrawn fez um gesto, e um dos
soldados da escolta de Mazzic começou a retirar suas algemas. –
Seu hábil ataque em Bilbringi foi em vingança por um ataque
semelhante contra uma reunião de contrabandistas a qual o senhor
participou em Trogon. Até aí tudo bem; só que nem eu nem nenhum
oficial sênior do Império autorizou esse ataque. Na verdade, o
comandante da guarnição tinha ordens explícitas de deixar sua
reunião em paz.
Mazzic bufou.
– O senhor espera que eu acredite nisso?
Os olhos de Thrawn reluziram.
– Você preferia acreditar que eu fui tão incompetente a ponto de
permitir a uma força de campo inadequada que fosse enviada em
uma missão? – ele disse mordaz.
Mazzic olhou de soslaio, ainda hostil, mas começando aparecer
um pouco pensativo.
– Também pensei que nós escapamos fácil demais – ele
resmungou.
– Então estamos nos entendendo – disse Thrawn, com a voz
calma mais uma vez. – A questão está resolvida. A nave auxiliar tem
ordem de levar você de volta à sua base. – Ele deu um leve sorriso.
– Ou melhor, até a base de apoio em Lelmra para qual sua nave e
tripulação teriam fugido a esta altura. Novamente, minhas desculpas
pela inconveniência.
Os olhos de Mazzic passearam ao redor do hangar; sua
expressão demonstrava algo entre a desconfiança de que aquilo
fosse um truque e uma esperança quase dolorosa de que não fosse.
– E eu devo simplesmente acreditar em você? – ele exigiu
saber.
– Você é bem-vindo para acreditar no que quiser – disse
Thrawn. – Mas lembre-se de que tive você nas minhas mãos... e o
deixei partir. Tenha um bom dia, capitão.
Ele começou a se virar.
– Então, quem eram eles? – Mazzic gritou. – Se não eram
soldados imperiais, quem eram?
Thrawn se voltou para encará-lo.
– Eram mesmo soldados imperiais – ele disse. – Nossas
investigações ainda estão incompletas, mas até o momento parece
que o tenente Kosk e seus homens estavam tentando ganhar um
pouco de dinheiro por fora.
Mazzic encarou. Alguém os contratou para nos atacar?
Soldados do Império?
– Nem sempre soldados imperiais são imunes aos atrativos da
propina – disse Thrawn, sua voz sombria com uma excelente
imitação de um desprezo amargo. – Neste caso, eles pagaram pela
traição com suas vidas. Fique certo de que a pessoa ou pessoas
responsáveis pagarão um preço similar.
– O senhor sabe quem foi? – Mazzic quis saber.
– Acredito que sim – disse Thrawn. – Mas ainda não tenho
provas.
– Me dê uma pista.
Thrawn riu sardônico.
– Crie suas próprias pistas, capitão. Bom dia.
Ele se virou e foi andando pelo arco que levava até as áreas de
serviço e reparação. Pellaeon esperou tempo suficiente para ver
Mazzic e sua escolta virarem e voltarem para a nave auxiliar, e
depois se apressou para se juntar a ele.
– O senhor acha que lhe deu o suficiente, almirante? – ele
perguntou baixinho.
– Não importa, capitão – Thrawn lhe assegurou. – Nós lhe
demos tudo o que é necessário; e se Mazzic não for esperto o
suficiente para acusar Karrde, um dos outros chefes de contrabando
o será. De qualquer maneira, é sempre melhor oferecer pouco ao
invés de demais. Algumas pessoas desconfiam automaticamente de
informação grátis.
Atrás deles, a nave auxiliar subiu do convés e girou de volta
para espaço, e do arco à frente uma figura sorridente emergiu.
– Muito bem-feito, almirante – disse Niles Ferrier, deslocando o
cigarro para o outro lado da boca. – O senhor o fez ficar todo
desconfortável e depois o jogou fora. Ele vai ficar pensando nisso
por muito tempo.
– Obrigado, Ferrier – Thrawn disse secamente. – Sua
aprovação significa muito para mim.
Por um segundo o sorriso do ladrão de naves pareceu
desvanecer. Então, aparentemente, ele decidiu encarar o
comentário de modo literal.
– Ok – disse ele. – Então, qual é o nosso próximo movimento?
Os olhos de Thrawn faiscaram com o uso da palavra nosso,
mas ele deixou passar.
– Karrde enviou uma série de transmissões ontem à noite, uma
das quais nós interceptamos – ele disse. – Ainda estamos
decriptando, mas só pode ser um chamado para outra reunião.
Assim que tivermos local e o tempo, tudo será fornecido a você.
– E eu vou ajudar Mazzic a acusar Karrde – assentiu Ferrier.
– Você não fará nada disso – Thrawn disse ácido. – Você ficará
sentado num canto, de boca fechada.
Ferrier pareceu encolher.
– Ok. Claro.
Thrawn manteve seu olhar fixo por mais um momento.
– O que você vai fazer – ele finalmente continuou –, é se
certificar de que um certo cartão de dados seja colocado nas mãos
de Karrde. De preferência no escritório a bordo de sua nave. É lá
que Mazzic provavelmente irá procurar primeiro.
Fez um gesto, e um oficial avançou e entregou um cartão de
dados a Ferrier.
– Ah – Ferrier disse de modo irônico ao aceitá-lo. – É, entendi.
O registro da negociata de Karrde com esse tal tenente Kosk, certo?
– Correto – disse Thrawn. – Isso, mais as provas que já
implantamos nos registros pessoais de Kosk não devem deixar
dúvida nenhuma de que Karrde esteve manipulando os outros
contrabandistas. Espero que isso seja mais do que adequado.
– É, eles são um bando bem safado. – Ferrier girou o cartão de
dados na sua mão, mastigando seu cigarro. – Ok. Então tudo que
tenho a fazer é ir a bordo da Wild Karrde...
Ele parou com o olhar no rosto de Thrawn.
– Não – o Grão Almirante disse baixinho. – Pelo contrário, você
vai ficar o mais distante possível da nave dele e das instalações
privadas de terra. Na verdade, você jamais se permitirá estar
sozinho enquanto estiver na base dele.
Ferrier ficou piscando surpreso.
– Sim, mas... – sem entender, ele levantou o cartão de dados.
Ao lado dele, Pellaeon sentiu o suspiro de paciência levada ao
limite de Thrawn.
– Seu Defel será quem vai plantar o cartão de dados a bordo da
Wild Karrde.
O rosto de Ferrier se iluminou.
– Ah, sim. Ele provavelmente pode entrar e sair sem ninguém
sequer reparar.
– É melhor que sim – avisou Thrawn; e subitamente sua voz
ficou fria como gelo. – Porque eu não esqueci o seu papel nas
mortes do tenente Kosk e seus homens. Você tem uma dívida para
com o Império, Ferrier. E essa dívida será paga.
Atrás de sua barba, o rosto de Ferrier ficou um pouco pálido.
– Entendi, almirante.
– Ótimo – disse Thrawn. – Você vai permanecer na sua nave
até que a decriptação obtenha a localização da reunião de Karrde
pra você. Depois disso, você estará por conta própria.
– Claro – disse Ferrier, enfiando o cartão de dados em sua
túnica. – Então, depois que eles cuidarem de Karrde, o que é que eu
faço?
– Você estará livre para cuidar dos seus negócios – disse
Thrawn. – Quando eu precisar de você novamente, informarei.
Ferrier torceu o lábio.
– Claro – ele repetiu.
E, no seu rosto, Pellaeon viu que ele estava lentamente
começando a perceber a profundidade de sua dívida para com o
Império.
O planeta era verde e azul pintalgado de branco, muito parecido
com todos os outros planetas nos quais havia pousado ao longo dos
anos. Com a pequena exceção de que este não tinha nome.
Nem espaçoportos. Nem instalações orbitais. Nem cidades,
usinas de energia nem outras naves. Nem basicamente nenhuma
outra coisa.
– É isso, hein? – ele perguntou a Mara.
Ela não respondeu. Han olhou para cima e viu que ela estava
encarando o planeta em frente a eles.
– Bom, é ou não é? – ele perguntou.
– É – ela disse com a voz estranhamente vazia. – Chegamos.
– Ótimo – disse Han, ainda olhando para ela com a testa
franzida. – Maravilha. Você vai nos dizer onde fica essa montanha?
Ou vamos simplesmente ficar voando e ver de onde vão começar a
atirar na gente?
Mara pareceu despertar.
– Ela fica a meio caminho entre o equador e o polo norte –
disse. – Perto da beirada oriental do principal continente. Uma única
montanha, que se eleva entre a floresta e o cerrado.
– Ok – Han disse, alimentando a informação e esperando que
os sensores não entrassem em loop e travassem. Mara já havia
feito comentários irônicos o suficiente sobre a Falcon.
Atrás dela, a porta da cabine se abriu, e Lando e Chewbacca
entraram.
– E aí? – perguntou Lando. – Já chegamos?
– Já chegamos – disse Mara antes que Han pudesse
responder.
Chewbacca rugiu uma questão.
– Não, parece um lugar realmente de baixa tecnologia – Han
balançou a cabeça. – Nenhuma fonte de energia nem transmissões
em parte alguma.
– Bases militares? – perguntou Lando.
– Se existe alguma, não consegui encontrar – disse Han.
– Interessante – murmurou Lando, espiando sobre o ombro de
Mara. – Eu não teria imaginado o Grão Almirante como alguém
desprevenido.
– O lugar foi projetado para ser um armazém particular – Mara
lembrou, amarga. – Não um anúncio para produtos do Império. Não
havia nenhuma guarnição nem centro de comando para que Thrawn
se mudasse.
– Então, o que quer que ele tenha estará escondido dentro da
montanha? – perguntou Han.
– Provavelmente encontraremos também algumas patrulhas
terrestres logo do lado de fora – disse Mara. – Mas não haverá
nenhum esquadrão de caças nem artilharia pesada para atirar em
nós.
– Será uma ótima mudança – Lando disse irônico.
– A menos que Thrawn tenha decidido colocar umas duas
guarnições por conta própria – Han ressaltou. – É melhor você e
Chewie carregarem os lasers quádruplos, por via das dúvidas.
– Certo.
Os dois saíram. Han se deslocou para um vetor de
aproximação e depois digitou uma busca dos sensores.
– Problemas? – perguntou Mara.
– Provavelmente não – Han lhe assegurou observando as telas.
Não havia nada mostrando coisa alguma ao redor deles. – Duas
vezes no caminho achei ter visto algo pendurado lá atrás.
– Calrissian pensou ter visto algo quando mudou de curso em
Obroa-skai também – disse Mara espiando a tela. – Poderia ser
alguma coisa com um modo furtivo realmente bom.
– Ou apenas um bug – disse Han. – A Fabritech tem nos dado
trabalho ultimamente.
Mara virou o pescoço para olhar para estibordo.
– Será que alguém poderia ter me seguido até aqui desde
Coruscant?
– Que sabia que estávamos vindo? – disse Han. Não, não havia
nada lá atrás. Devia ter sido sua imaginação. – Quanto deste
armazém privado você viu?
Lentamente Mara se virou para olhar para frente; ela não
parecia estar tão convencida.
– Não muito mais do que a rota entre a entrada e a sala do
trono no alto – ela disse. – Mas eu sei onde fica a câmara dos
cilindros Spaarti.
– E quanto aos geradores de energia?
– Nunca cheguei a vê-los – ela disse. – Mas me lembro de ter
ouvido que o sistema de refrigeração puxa água de um rio que flui
da encosta nordeste da montanha. Eles provavelmente ficam em
algum lugar naquele lado.
Han mordeu seu lábio.
– E a entrada principal fica do lado sudoeste.
– A única entrada – ela corrigiu. – Só existe uma entrada e
saída.
– Eu já ouvi isso antes.
– Desta vez é verdade – ela retorquiu.
Han deu de ombros.
– Ok – ele disse. Não havia motivo para discutir. Não até que
eles olhassem todo o lugar, no mínimo.
A porta da cabine se abriu, e ele olhou para trás e viu Luke
entrando.
– Chegamos, garoto – ele disse.
– Eu sei – disse Luke, avançando para ficar atrás de Mara. –
Mara me disse.
Han olhou para ela. Até onde podia dizer, ela havia passado
toda a viagem evitando Luke, o que não era tão fácil assim numa
nave do tamanho da Falcon. Luke havia retribuído o favor ficando
fora do caminho dela, o que não era muito mais fácil.
– Ah, foi?
– Está tudo bem – Luke assegurou, olhando para o planeta
adiante. – Então aquele é Wayland.
– Aquele é Wayland – Mara disse bruscamente, retirando o
arnês e passando por Luke. – Estarei lá atrás – ela disse e saiu.
– Vocês dois trabalham tão bem juntos – Han comentou quando
a porta da cabine se fechou atrás dela.
– Na verdade, trabalhamos, sim – disse Luke, sentando-se na
cadeira do copiloto que Mara havia acabado de deixar. – Você devia
ter nos visto a bordo da Quimera quando entramos para resgatar
Karrde. Ela é uma boa pessoa para se ter ao seu lado.
Han lhe deu um olhar de esguelha.
– Exceto quando ela quer enfiar uma faca em você.
– Estou disposto a correr esse risco – Luke sorriu. – Deve ser
uma daquelas maluquices Jedi.
– Isso não tem graça, Luke – Han grunhiu. – Ela não desistiu de
te matar, você sabe disso. Ela contou isso a Leia lá em Coruscant.
– O que me diz que ela não quer realmente fazer isso –
retrucou Luke. – As pessoas não saem por aí anunciando planos de
assassinato antecipadamente. Especialmente para a família da
vítima.
– Você está disposto a apostar sua vida nisso?
Luke deu de ombros.
– Já apostei.
A Falcon agora tangenciava a atmosfera exterior, e o
computador havia finalmente identificado a localização provável do
Monte Tantiss.
– Bom, se você me perguntar, esse não é um bom momento
para ficar correndo muitos riscos – ele disse a Luke, estudando
rapidamente o mapa dos sensores. Decidiu-se por uma
aproximação direta pelo sul; isso lhes daria a cobertura da floresta
tanto para o pouso quanto para viagem sobre terra.
– Tem alguma sugestão? – perguntou Luke.
– Sim, tenho – disse Han, mudando de curso na direção da
montanha distante. – Podemos deixá-la com a Falcon no local de
pouso.
– Viva?
Em outros momentos de sua vida, Han refletiu, essa não teria
sido necessariamente uma pergunta ridícula.
– Claro que viva – ele disse rígido. – Existem muitos jeitos de
evitar que ela se meta em encrenca.
– Você realmente acha que ela concordaria em ficar para trás?
– Ninguém disse que tínhamos que perguntar a ela.
Luke balançou a cabeça.
– Não podemos fazer isso, Han. Ela precisa ir até o fim.
– Até o fim de quê? – grunhiu Han. – De atacar a fábrica de
clones ou de tentar te matar?
– Não sei – Luke respondeu baixinho. – Talvez as duas coisas.
Han nunca tinha gostado muito de florestas antes de entrar
para a Aliança Rebelde. O que não queria dizer que ele também as
odiasse. Um contrabandista comum simplesmente não pensava
muito em florestas. A maior parte do tempo era gasta recolhendo e
entregando cargas em pequenos espaçoportos sujos como Mos
Eisley ou Abregado-rae; e na rara ocasião em que você se
encontrava numa floresta, você deixava que o cliente vigiasse a
floresta enquanto você vigiava o cliente. Por causa disso, Han havia
formado uma espécie de vaga suposição de que todas as florestas
eram muito parecidas.
O tempo que passara com a Aliança havia mudado tudo isso.
Com Endor, Corstris, Fedje e uma dúzia mais, ele aprendera do jeito
mais difícil que cada floresta era diferente da outra, com seu próprio
conjunto de plantas, vida animal, e dores de cabeça para o visitante
casual. Esse era apenas um dos muitos temas que a Aliança havia
lhe ensinado mais do que ele realmente queria saber.
A floresta de Wayland se encaixava perfeitamente no padrão; e
a primeira dor de cabeça foi descer a Falcon pela densa copa
superior das árvores sem deixar um buraco tão óbvio que qualquer
piloto de TIE Fighter iria enxergar, a menos que estivesse dormindo.
Primeiro eles tiveram de encontrar uma clareira – neste caso,
provocada por uma árvore caída – e depois ele teve basicamente de
pilotar a nave de lado, uma manobra muito mais complicada no
poço gravitacional planetário do que num campo de asteroides. A
copa inferior da floresta – que ele só descobriu existir após ter
atravessando quase toda a camada superior – foi a segunda dor de
cabeça, e ele arrancou o topo de uma fileira das árvores mais
baixas até conseguir estabilizar e descer a Falcon, esmagando
muitos arbustos no processo.
– Belo pouso – Lando comentou secamente, esfregando o
ombro por baixo da faixa do arnês enquanto Han desligava os
impulsores.
– Pelo menos a parabólica do sensor ainda está no lugar – ele
fez questão de dizer.
Lando fez uma careta.
– Você nunca vai deixar essa passar, vai?
Han deu de ombros, digitando os algoritmos para formas de
vida. Estava na hora descobrir o que estava lá fora.
– Você disse que não a deixaria sofrer um arranhão – ele
lembrou ao outro.
– Está bem – Lando grunhiu. – Da próxima vez, eu destruo o
gerador de campo de energia e você pode levar a nave pela
garganta da Estrela da Morte.
O que não era nada engraçado. Se o Império conseguisse um
número suficiente de seus antigos recursos novamente, Thrawn
poderia simplesmente tentar construir outra daquelas malditas
coisas.
– Estamos prontos aqui – disse Luke, enfiando a cabeça na
cabine. – Como estão as coisas?
– Não estão más – Han disse, lendo o display. – Tem um bando
de animais lá fora, mas eles estão mantendo distância.
– De que tamanho são esses animais? – perguntou Lando,
inclinando-se sobre o ombro de Han para dar uma olhada na tela.
– E quantos compõem um bando? – adicionou Luke.
– Cerca de quinze – Han disse. – Nada com que não possamos
lidar se for preciso. Vamos dar uma olhada.
Mara e Chewbacca estavam aguardando na comporta com R2
e 3PO, que mantinha a boca fechada, para variar.
– Chewie e eu vamos primeiro – Han disse a eles, sacando sua
arma de raios. – O resto de vocês fique bem atento aqui.
Ele apertou os controles e a comporta se abriu enquanto a
rampa de entrada abaixava, acomodando-se sobre as folhas
mortas, esmigalhando-as com um ruído abafado. Tentando olhar
para todas as direções ao mesmo tempo, começou a descer.
Avistou o primeiro dos animais antes de atingir o final da rampa:
cinza com pintas brancas nas costas, talvez dois metros do nariz à
ponta da cauda. Ele estava agachado na base do tronco de uma
árvore, observando-o caminhar com seus olhinhos minúsculos. Se
dentes e garras fossem algum parâmetro, aquele era
definitivamente um predador.
Ao seu lado Chewbacca soltou um rosnado suave.
– É, estou vendo – Han resmungou de volta. – Existem outros
quatorze em algum lugar por aqui também.
O Wookiee tornou a grunhir, fazendo um gesto.
– Tem razão – Han concordou devagar, olhando de lado o
predador. – Parece mesmo familiar. Como aqueles panthacs de
Mantessa, talvez?
Chewbacca parou para pensar, depois grunhiu em negativa.
– Bom, a gente descobre mais tarde – decidiu. – Luke?
– Bem aqui – a voz de Luke veio da comporta.
– Você e Mara comecem a descer o equipamento – ordenou
Han, vigiando o predador bem de perto. O som da conversa não
parecia incomodá-lo nem um pouco. – Comecem com as
speederbikes. Lando, você fica na cobertura alta. Fique alerta.
– Certo – disse Lando.
Do alto veio um punhado de estalos quando as contenções de
transporte ao redor das primeiras duas speederbikes foram
desativadas, depois ouviu-se o zumbido leve dos repulsores sendo
ativados.
E com um violento estalar súbito de folhas e galhos, o predador
deu um salto.
– Chewie! – foi tudo o que Han teve tempo de gritar antes que o
animal estivesse em cima dele. Ele disparou, atingindo o predador
bem no torso, e conseguiu se abaixar quando a carcaça passou
direto por cima de sua cabeça. Chewbacca estava rugindo gritos de
guerra, girando sua balestra e disparando sem parar quando mais
predadores partiram para cima deles de dentro das árvores. Da
comporta, alguém gritou alguma coisa e mais um tiro foi disparado.
E pelo canto do olho, movendo-se muito rápido para que ele
conseguisse desviar, Han viu um conjunto de garras vindo em sua
direção.
Ele jogou o braço sobre o rosto, abaixando a cabeça para trás o
máximo que pôde. Um instante depois, foi derrubado quando o
predador o atingiu com toda a força. Passou por um momento de
pressão e dor lancinante quando as garras se enterraram através da
sua jaqueta camuflada...
E então, subitamente, o peso desapareceu. Ele abaixou o
braço, bem a tempo de ver o predador pular na rampa e se preparar
para dar um salto dentro da Falcon. Ele girou e disparou, no instante
em que um tiro de dentro da nave também pegou o animal.
Chewbacca resfolegou um aviso. Ainda de costas, Han se virou
para ver mais três dos animais pulando pelo terreno em sua direção.
Derrubou um deles com dois tiros rápidos, e estava tentando girar
sua arma para mirar no segundo quando um par de botas pretas
atingiu o chão bem à sua frente. Os animais pularam para o alto
numa linha borrada de verde brilhante e caíram ao chão.
Rolando, Han se levantou rapidamente e olhou ao redor. Luke
estava semiagachado à sua frente, sabre de luz zumbindo em
prontidão. Do outro lado da rampa, Chewbacca ainda estava de pé
com três dos animais pintados mortos ao seu redor.
Han olhou para o predador morto ao seu lado. Agora que ele
tinha dado uma boa olhada na coisa...
– Cuidado: tem mais três para lá – avisou Luke.
Han olhou. Dois dos animais eram visíveis, agachados bem
baixos nas árvores.
– Eles não vão nos incomodar. Algum deles entrou na nave?
– Não chegaram tão longe – respondeu Luke. – O que você fez
para perturbá-los?
– Não fizemos nada – disse Han, enfiando a arma no coldre. –
Foram você e Mara ligando as speederbikes.
Chewbacca rugiu com súbito reconhecimento.
– Foi isso mesmo, amigão – disse Han. – Foi lá que nós
encontramos eles, você tem razão.
– O que são eles? – perguntou Luke.
– Eles são chamados garrals – Mara disse do alto da rampa.
Abaixando-se, com a arma ainda na mão, ela estava dando uma
olhada nas carcaças espalhadas ao redor de Chewbacca. – O
Império costumava usá-los como cães de guarda, normalmente
perto de guarnições de fronteira com florestas densas onde piquetes
com droides-sonda não eram práticos. Existe alguma coisa na
assinatura ultrassônica de um repulsor que aparentemente soa
como um dos animais de presa deles. Os atrai como se fosse um
ímã.
– Então é por isso que eles estavam aqui sentados esperando
por nós – disse Luke, fechando seu sabre de luz mas mantendo-o
na mão.
– Eles podem ouvir o repulsor de uma nave a quilômetros de
distância – disse Mara. Pulando da lateral da rampa, ela se ajoelhou
ao lado de um dos garrals mortos e meteu a mão livre no pelo de
seu pescoço. – O que significa que, se eles tiverem alguma tag de
rádio, os controladores no Monte Tantiss sabem que estamos aqui.
– Maravilha – resmungou Han, abaixando-se ao lado do garral
morto aos seus pés. – O que estamos procurando, uma coleira?
– Provavelmente – disse Mara. – Cheque aos redor das patas
também.
Levaram alguns minutos ansiosos, mas no fim confirmaram que
nenhum dos predadores mortos havia sido tagueado.
– Devem ser descendentes do grupo que trouxeram para
proteger a montanha – disse Lando.
– Ou então foi daqui que vieram originalmente – disse Mara. –
Nunca vi o planeta natal deles nas listas.
– De qualquer maneira significa encrenca – disse Han,
empurrando a última carcaça para fora da rampa da Falcon para
cair esmigalhando as folhas que cobriam o chão abaixo. – Se não
podemos usar as speederbikes, significa que vamos ter que andar.
De cima veio um assobio eletrônico baixo.
– Perdão, senhor – perguntou C-3PO. – Isso também se aplica
a R2 e a mim?
– A menos que você tenha aprendido a voar – disse Han.
– Bem, senhor, me ocorre que R2 em particular não está
realmente equipado para esse tipo de viagem pela floresta – C-3PO
ressaltou cheio de pruridos. – Se a plataforma de carga não pode
ser usada, quem sabe outros arranjos possam ser feitos.
– O arranjo é que você caminha como o resto de nós – Han
disse ríspido. Entrar numa longa discussão com 3PO não era como
ele estava planejando passar o dia. – Você fez isso em Endor; pode
fazer aqui também.
– Não precisamos andar tanto em Endor – Luke lembrou a ele
baixinho. – Devemos estar a duas semanas de caminhada da
montanha aqui.
– Não é tão ruim assim – disse Han, fazendo uma rápida
estimativa. Não era tão ruim assim, mas era ruim o bastante. – Oito
ou nove dias no máximo. Talvez mais dois se tivemos problemas.
– Ah, vamos ter problemas, sim – Mara disse ácida, sentando-
se na rampa e colocando a arma no colo. – Pode confiar em mim
quanto a isso.
– Você não espera que os nativos sejam hospitaleiros? –
perguntou Lando.
– Eu espero que eles nos recebam com flechas apontadas –
retorquiu Mara. – Existem duas espécies nativas diferentes aqui, os
Psadans e o Myneyrshi. Nenhum deles gostava muito dos humanos
mesmo antes do Império se mudar para o Monte Tantiss.
– Bem, pelo menos não estarão do lado do Império – disse
Lando.
– Isso provavelmente não vai ser motivo de consolo – Mara
grunhiu. – E os problemas que não forem causados por eles,
certamente serão causados pelos predadores de sempre. Teremos
sorte de conseguir chegar em doze ou treze dias, e não oito ou
nove.
Han olhou pela floresta, e ao fazer isso alguma coisa chamou
sua atenção. Uma coisa mais do que um pouco perturbadora...
– Então vamos calcular doze – ele disse. Subitamente era
fundamental que eles saíssem logo dali. – Vamos logo. Lando,
Mara, vocês pegam os pacotes de equipamento para carregar.
Chewie vai tirar todas as caixas de ração dos pacotes de
sobrevivência. Isso deverá servir de comida extra para nós. Luke,
você e os droides vão para aquela direção – ele apontou – e vejam
se conseguem encontrar algum tipo de trilha. Talvez o leito seco de
um rio. Devemos estar perto o suficiente da montanha para ter
algum por perto.
– Certamente, senhor – C-3PO disse animado, começando a
descer a rampa. – Vamos, R2.
Houve um murmúrio em resposta e os outros se dirigiram para
dentro da nave. Han começou a subir a rampa; parou quando Luke
pôs a mão no seu braço.
– Qual o problema? – perguntou baixinho
Han acenou com a cabeça na direção da floresta.
– Aqueles garrals que estavam nos observando? Sumiram.
Luke olhou para trás.
– Todos partiram ao mesmo tempo?
– Não sei. Não vi eles partirem.
Luke tocou seu sabre de luz.
– Você acha que é uma patrulha do Império?
– Ou então um bando daqueles animais de presa que Mara
mencionou. Você está captando algo?
Luke respirou fundo, conteve o ar por um instante e depois o
soltou devagar.
– Não estou sentindo mais ninguém por perto – ele disse. –
Mas eles poderiam estar simplesmente fora de alcance. Acha que
devemos abortar a missão?
Han balançou a cabeça.
– Se fizermos isso, vamos perder nossa melhor oportunidade
aqui. Assim que os imperiais souberem que descobrimos sua fábrica
de clones, não fará sentido fingir que o planeta é apenas um
sistema na periferia que ninguém mais conhece. E quando
voltássemos com uma força de ataque, eles teriam duas frotas de
Star Destroiers esperando por nós.
Luke fez uma cara de desagrado.
– Suponho que sim. Você tem razão; se eles rastrearam a
Falcon, quanto mais cedo sairmos daqui melhor. Você vai mandar
as coordenadas de volta a Coruscant antes de partirmos?
– Não sei. – Han olhou para a Falcon acima dele, tentando não
pensar nos imperiais colocando suas mãozinhas sujas nela
novamente. – Se houver uma patrulha lá fora, jamais
conseguiremos ajustar o transmissor de um jeito que eles não
interceptem a mensagem. Ainda mais da maneira como o
transmissor tem se comportado ultimamente.
Luke olhou para cima também.
– Parece arriscado – disse. – Se nos metermos em encrenca,
ninguém vai ter a menor ideia de para onde nos enviar reforços.
– É, bom, e se transmitirmos a mensagem diretamente para
uma patrulha imperial, eu posso garantir que teremos esse
problema – grunhiu Han. – Estou aberto a sugestões.
– E se eu ficar para trás por algumas horas? – Luke sugeriu. –
Se nenhuma patrulha tiver aparecido até lá, deverá ser seguro
transmitir.
– Pode esquecer – Han balançou a cabeça. – Você teria de
viajar sozinho, e há uma chance bem grande de que você sequer
conseguiria nos encontrar.
– Estou disposto a correr esse risco.
– Eu não – Han retrucou ríspido. – E além do mais, toda vez
que você sai sozinho acaba me causando problemas.
Luke sorriu irônico.
– Às vezes parece isso mesmo.
– Pode apostar – Han lhe disse. – Vamos, estamos perdendo
tempo. – Vá lá pra fora e encontre uma trilha para nós.
– Tudo bem – Luke disse com um suspiro. Mas não parecia
assim tão chateado. Talvez tivesse percebido o tempo todo que não
era uma ideia muito inteligente. – Vamos, 3PO, R2. Vamos lá.

A primeira hora foi a mais difícil. A vaga trilha que R2 havia


encontrado terminava num beco sem saída em um emaranhado de
arbustos espinhosos depois de menos de cem metros, o que os
forçou a criar sua própria trilha através do denso mato cerrado.
Nesse processo eles perturbaram mais coisas do que a vida das
plantas, e acabaram passando vários minutos tensos disparando em
um ninho de criaturas de seis patas e meio metro de comprimento
que enxamearam para cima deles mordendo e usando as garras.
Felizmente, as garras e os dentes haviam sido feitos para caça
muito menor, e, exceto pelas belas marcas de dente na perna
esquerda de 3PO, ninguém sofreu nenhum dano e as criaturas
puderam ser afastadas. C-3PO gemeu mais do que o incidente
realmente merecia, e o ruído possivelmente atraiu o animal de
escamas marrons que atacou alguns minutos mais tarde. O rápido
disparo de arma de raios de Han não conseguiu deter o animal, e
Luke precisou usar seu sabre de luz para cortá-lo fora do braço de
3PO. O droide começou a gemer ainda mais depois disso, e Han
estava ameaçando desligá-lo e deixá-lo para as aves de carniça
quando inesperadamente eles chegaram a um dos leitos secos de
um rio que tinham esperado encontrar. Como o terreno havia se
tornado mais fácil e não houvera nenhum ataque de animal para
diminuir o passo, eles ganharam bastante velocidade, e, quando o
teto de folhas acima começou a escurecer com o cair da noite, eles
já tinham feito quase dez quilômetros.
– Isso traz memórias tão maravilhosas, não? – Mara comentou,
sarcástica, quando tirou sua mochila e a jogou ao lado de um dos
pequenos arbustos que ladeavam o leito do rio.
– Exatamente como em Myrkr – concordou Luke, usando seu
sabre de luz para cortar mais um dos arbustos espinhosos com os
quais haviam ficado familiares nas última horas. – Sabe, nunca
descobri o que aconteceu depois que fomos embora.
– Mais ou menos o que você esperaria – disse Mara. – Nós
saímos cerca de dois passos à frente dos AT-ATs de Thrawn. Depois
quase fomos apanhados mesmo assim quando Karrde insistiu em
ficar por perto para observar.
– É por isso que você está nos ajudando? – ele perguntou. –
Porque Thrawn colocou uma marca de morte em Karrde?
– Vamos deixar uma coisa bem clara agora mesmo, Skywalker
– ela grunhiu. – Eu trabalho para Karrde, e Karrde já disse que
estamos neutros nesta sua guerra. O único motivo pelo qual estou
aqui é porque eu sei um pouco sobre a era da Guerra Clônica e não
quero ver um bando de duplicatas de cara fria tentando dominar a
galáxia mais uma vez. A única razão pela qual você está aqui é que
eu não posso desligar o local sozinha.
– Compreendo – disse Luke, cortando o segundo arbusto e
desligando seu sabre de luz. Usando a Força, ele ergueu os dois
arbustos do chão e os abaixou no leito do rio. – Bem, isso não vai
impedir ninguém que esteja realmente determinado a nos pegar –
ele deduziu, estudando a barreira improvisada. – Mas deverá pelo
menos diminuir a velocidade deles.
– Se ajudar – disse Mara, puxando uma barra de ração e
tirando a embalagem. – Vamos apenas torcer para que este não
seja um daqueles lugares onde todos os predadores realmente
grandes saem à noite.
– Se tivermos sorte, os sensores de R2 conseguirão detectá-los
antes que cheguem perto demais – disse Luke. Tornando a acender
seu sabre de luz, ele cortou mais dois arbustos por via das dúvidas.
Estava se preparando para fechá-lo quando captou uma
mudança sutil nos sentidos de Mara. Virou-se, para encontrá-la
encarando seu sabre de luz, barra de ração esquecida na mão, uma
expressão estranhamente assombrada em seu rosto.
– Mara – ele perguntou –, você está bem?
O olhar dela se desviou dele de forma quase culpada.
– Claro – ela murmurou. – Estou bem. – Olhando para ele
rapidamente com cara de má, ela mordeu com raiva sua barra de
ração.
– Ok. – Fechando o sabre de luz, Luke usou a Força para
mover os arbustos espinhosos recém-cortados para cima dos
outros. Ainda não era lá uma barreira muito boa, ele deduziu. Talvez
se estendesse algumas daquelas vinhas por entre as árvores...
– Skywalker.
Ele se virou.
– Sim?
Mara estava olhando pra ele.
– Eu preciso perguntar – ela disse baixinho. – Você é o único
que sabe. Como o imperador morreu?
Por um momento Luke estudou o rosto dela. Mesmo na luz que
morria ele podia ver a dor em seus olhos; as memórias amargas da
vida de luxo e do futuro brilhante que haviam sido arrancadas dela
em Endor. Mas junto da dor havia uma determinação igualmente
forte. Por mais que fosse doer, ela realmente queria ouvir.
– O imperador estava tentando me fazer passar para o lado
sombrio – ele disse, dolorosamente trazendo à tona memórias
enterradas. Quase fora ele, e não o imperador, quem morrera
naquele dia. – Ele quase conseguiu. Eu cheguei a tentar atacá-lo, e
acabei lutando com Vader em vez disso. Acho que ele pensou que,
se eu matasse Vader com raiva, me abriria para ele por meio do
lado sombrio.
– E então em vez disso vocês se juntaram contra ele – ela
acusou, com os olhos faiscando em súbita fúria. – Vocês se
voltaram contra ele... vocês dois...
– Espere um minuto – protestou Luke. – Eu não o ataquei. Não
depois daquela primeira tentativa de golpe.
– Do que você está falando? – ela exigiu saber. – Eu vi você
fazer isso. Vocês dois partiram para cima dele com o sabre de luz.
Eu vi vocês fazerem isso.
Luke ficou encarando Mara e finalmente entendeu. Mara Jade,
a mão do imperador, que podia ouvir sua voz de qualquer lugar na
galáxia. Ela havia estado em contato com seu mestre no momento
de sua morte, e tinha visto tudo.
Só que de algum modo ela havia entendido tudo errado.
– Eu não parti para cima dele, Mara – ele explicou. – Ele estava
prestes a me matar quando Vader o pegou e jogou dentro de um
poço aberto. Eu não poderia ter feito nada mesmo que quisesse; eu
ainda estava meio paralisado por causa das rajadas de raios com as
quais ele tinha me atingido.
– Como assim, se você quisesse? – Mara perguntou com
escárnio. – Matá-lo foi o motivo que te levou à Estrela da Morte em
primeiro lugar, não foi?
Luke balançou a cabeça.
– Não. Eu fui lá para tentar afastar Vader do lado sombrio.
Mara lhe deu as costas, e Luke pôde sentir o turbilhão de
emoções dentro dela.
– Por que eu deveria acreditar em você? – ela finalmente quis
saber.
– Por que eu deveria mentir? – ele retrucou. – Isso não muda o
fato de que, se eu não estivesse lá, Vader não teria se voltado
contra o imperador. Nesse sentido, eu provavelmente ainda sou
responsável pela morte dele.
– Isso mesmo, você é, sim – Mara concordou duramente. Mas
houve um momento de hesitação antes que ela dissesse essas
palavras. – E eu não esquecerei.
Luke assentiu silencioso, e esperou que ela dissesse mais. Mas
ela não disse, e depois de um minuto ele se voltou para os arbustos
espinhosos.
– Eu tomaria cuidado com essas coisas se fosse você – Mara
disse atrás dele, com sua voz fria e controlada mais uma vez. –
Você não quer nos aprisionar numa área deste tamanho se alguma
coisa grande vier por cima dos arbustos.
– Bem pensado – disse Luke, entendendo tanto as palavras
quanto o sentido por trás delas. Havia um trabalho a fazer, e até que
esse trabalhos estivesse terminado, ela ainda precisava de Luke
vivo.
E, nesse ponto, ela teria de enfrentar o destino que havia sido
preparado para ela. Ou teria de escolher um novo.
Fechando seu sabre de luz, ele passou direto por Mara e foi até
onde os outros estavam ocupados montando acampamento. Era
hora de checar os droides.
A porta da Câmara da Assembleia se abriu e um pequeno dilúvio de
seres e droides começou a fluir pelo grande corredor, conversando
entre eles no costumeiro espectro de diferentes línguas. Olhando de
relance para Winter enquanto as duas caminhavam na direção da
multidão, Leia assentiu.
Era hora do espetáculo.
– Alguma coisa aconteceu que eu deva saber? – ela perguntou
ao passarem ao longo da margem do fluxo.
– Houve uma resposta um tanto incomum ao relatório de
Pantolomin – disse Winter, passando os olhos casualmente pela
multidão. – Um caçador de recompensas de lá afirma ter penetrado
nos estaleiros imperiais de Ord Trasi e está oferecendo nos vender
informações sobre o novo programa de construção deles.
– Já lidei com meu quinhão de caçadores de recompensa –
disse Leia, tentando não olhar ao redor da multidão quando
passavam por ela. Winter estava observando, e com sua memória
perfeita ela se lembraria de todos os que estavam perto o suficiente
para ouvir a conversa delas. – O que faz o coronel Derlin pensar
que podemos confiar nele?
– Ele não tem certeza de que podemos – disse Winter. – O
contrabandista ofereceu o que disse ser uma amostra grátis: a
informação de que existem três Star Destroiers imperiais a um mês
de serem finalizados lá. O coronel Derlin disse que o comandante
de grupo Harleys está traçando um plano para confirmar isso.
Elas estavam fora do Grande Corredor agora, seguindo junto
com o punhado de seres que ainda não havia se dividido na direção
de escritórios ou outras salas de conferência.
– Parece perigoso – disse Leia, seguindo obedientemente o
script preparado por elas até o fim. – Espero que ele não vá
simplesmente fazer um voo de passagem.
– O relatório não deu nenhum detalhe – disse Winter. – Mas
havia um adendo perguntando sobre a possibilidade de pedir um
cargueiro emprestado a alguém que faz negócios com o Império.
O último dos oficiais virou num corredor em encruzilhada,
deixando-as sozinhas no corredor com um sortimento de técnicos,
assistentes, pessoal administrativo e outros membros de cargos
baixos do governo da Nova República. Leia olhou de passagem
para cada um deles, e decidiu que não havia motivo em continuar
com outro script para benefício deles. Olhando para Winter, ela
voltou a assentir, e juntas as duas mulheres se dirigiram para os
turboelevadores.
Precisavam de algum lugar onde Ghent pudesse montar sua
oficina sem que qualquer notícia ou rumor sobre o projeto vazasse,
e uma busca pelas plantas originais do palácio havia encontrado o
ponto ideal. Era uma velha sala onde ficava uma célula de energia
de apoio. O local estava fechado e selado havia anos, e ficava entre
o Setor de Armas/Suprimentos e os escritórios do Comando de
Caças Estelares, no piso de comando. Leia havia cortado uma nova
entrada em um corredor de serviço com seu sabre de luz; Bel Iblis
as havia ajudado a passar cabos de energia e linhas de dados; e
Ghent havia criado seu programa de decriptação.
Eles tinham tudo de que precisavam. Exceto resultados.
Ghent estava sentado na única cadeira do aposento quando
elas chegaram, olhando sonhador para o espaço, com os pés em
cima de sua mesa de decriptação. Ambas haviam acabado de
entrar, e Winter tinha fechado a porta antes que ele sequer notasse
a presença delas.
– Ah! Oi – ele disse, colocando os pés no chão com um impacto
abafado.
– Não tão alto, por favor – Leia o lembrou, fazendo uma careta.
Os oficiais que trabalhavam do outro lado das paredes finas
provavelmente achariam que qualquer barulho estranho seria dos
outros escritórios. Mas também poderia ser que não.
– O general Bel Iblis já trouxe as transmissões mais recentes? –
ela perguntou.
– Sim... Há cerca de uma hora – assentiu Ghent, sussurrando
de forma quase inaudível agora. Eu acabei de fazer um slicing
nelas.
Ele apertou uma tecla, e uma série de mensagens decriptadas
apareceram na tela. Leia se aproximou atrás da cadeira dele e
começou a ler todas. Detalhes de missões militares futuras, coisas
que pareciam ser transcrições literais de conversas diplomáticas de
alto nível, trechos de fofocas palacianas: como sempre, a fonte
Delta havia coberto todo o espectro, do importante ao trivial.
– Lá está um dos nossos – disse Winter, tocando um ponto na
tela.
Leia leu o item. Um relatório não confirmado da Inteligência
vindo do sistema Bpfassh, sugerindo que a Quimera e suas naves
de apoio haviam sido avistadas perto de Anchoron. Era um deles
mesmo.
– Quantos ouviram essa? – ela perguntou a Winter.
– Apenas 47 – Winter respondeu, já ocupada com o datapad de
Ghent. – Foi logo antes das três da tarde de ontem, durante a
segunda sessão da Assembleia, e o Grande Corredor estava
razoavelmente vazio.
Leia assentiu e voltou a prestar atenção na tela. Quando Winter
havia terminado sua lista ela já havia identificado mais duas
mensagens de despistamento. Quando Winter terminou essas,
havia achado outras cinco.
– Parece que é isso – ela disse quando Winter entregou a
Ghent suas primeiras três listas e começou a trabalhar nas outras. –
Vamos em frente e passar estas pela sua peneira.
– Ok – disse Ghent, dando uma última olhada de admiração
para Winter antes de voltar para seu console. Três dias nesse
esquema e ele ainda ficava maravilhado com o fato de ela conseguir
se lembrar de cada detalhe de cinquenta conversas. – Ok, vamos
ver. Correlações... ok. Ficamos reduzidos a 127 possibilidades. A
maioria técnicos e pessoal administrativo, parece. Uns diplomatas
de fora do planeta também.
Leia balançou a cabeça.
– O provável é que nenhum deles tenha acesso a todas estas
informações – ela disse, com um gesto para a tela de decriptação. –
Tem de ser alguém consideravelmente mais acima na hierarquia ...
– Espere um minuto – interrompeu Ghent, erguendo um dedo. –
Se você quer um peixe grande, já tem um. O conselheiro Sian Tew,
de Sullust.
Leia olhou para a tela, franzindo a testa.
– Impossível. Ele foi um dos primeiros líderes da Aliança
Rebelde. Na verdade, acho que foi ele quem trouxe Nien Nunb e
seu esquadrão de ataque particular para nós depois que o Império
os forçou a deixar o sistema de Sullust.
Ghent deu de ombros.
– Não sei nada a esse respeito. Só sei que ele ouviu todos os
quinze desses pequenos fragmentos que acabaram no transmissor
da fonte Delta.
– Não pode ser o conselheiro Tew – Winter falou alto distraída,
ainda trabalhando no datapad. – Ele não estava presente durante
nenhuma dessas seis últimas conversas.
– Talvez um de seus assessores tenha ouvido – sugeriu Ghent.
– Ele não precisava estar lá pessoalmente.
Winter balançou a cabeça.
– Não. Um de seus assessores estava presente, mas apenas
em uma dessas conversas. E o mais importante, o conselheiro Tew
estava presente em duas conversas anteontem que a fonte Delta
não transmitiu: 9h15 da manhã e 2h48 da tarde.
Ghent acessou as listas relevantes.
– Tem razão – ele confirmou. – Não pensei em checar as coisas
nessa direção. Acho que é melhor eu criar um programa de filtragem
melhor.
Atrás de Leia, a porta improvisada deles se escancarou, e ela
se virou para ver Bel Iblis entrar.
– Achei que a encontraria aqui – ele disse para Leia,
cumprimentando-a com um aceno de cabeça. – Estamos prontos
para experimentar o plano Poeira Estelar pela primeira vez, se você
quiser vir dar uma olhada.
O último esquema para localizar o enxame de asteroides
camuflados que Thrawn havia deixado em órbita ao redor de
Coruscant.
– Quero, sim – disse Leia. – Winter, estarei na sala de guerra
quando você tiver acabado aqui.
– Sim, Sua Alteza.
Leia e Bel Iblis deixaram a sala e desceram o corredor de
serviço um atrás do outro.
– Já conseguiu encontrar alguma coisa? – o general perguntou
olhando para trás.
– Winter ainda está repassando a lista de ontem – respondeu
Leia. – Até agora temos cerca de 130 possibilidades.
Bel Iblis assentiu.
– Levando-se em conta quantos de nós estão trabalhando no
palácio, eu diria que isso é um progresso.
– Talvez. – Ela hesitou. – Me ocorreu que esse esquema só
funcionará se a fonte Delta for uma única pessoa. Se for um grupo
inteiro, podemos não ser capazes de separá-los desse jeito.
– Talvez – concordou Bel Iblis. – Mas custo muito a crer que
possamos ter tantos traidores assim aqui. Para falar a verdade,
ainda não consigo acreditar que tenhamos um sequer. Sempre
achei que a fonte Delta poderia ser alguma espécie de sistema de
gravação exótico. Algo que a Segurança simplesmente ainda não foi
capaz de localizar.
– Eu já os vi fazerem varreduras de contrainteligência – disse
Leia. – Não consigo imaginar como eles possam ter deixado
escapar alguma coisa.
– Infelizmente, nem eu.
Eles chegaram à sala de guerra para encontrar o general
Rieekan e o almirante Drayson parados atrás do principal console
de comando.
– Princesa – Rieekan a cumprimentou com seriedade. – A
senhora chegou bem na hora.
Leia olhou para a tela master. Um transporte antigo havia se
afastado do grupo de naves que montavam guarda na órbita
distante e agora avançava devagar em direção ao planeta.
– Até que ponto ele virá? – perguntou Leia.
– Vamos começar logo acima do escudo planetário, conselheira
– Drayson lhe disse. – A análise pós-batalha indica que a maioria
dos asteroides camuflados provavelmente acabou em baixa órbita.
Leia assentiu. E já que esses seriam os que mais
provavelmente passariam se eles abrissem o escudo, fazia mais
sentido começar ali.
Lentamente, se movendo com a falta de jeito provisória de uma
nave por controle remoto, o transporte se aproximou.
– Está certo – disse Drayson. – Controle do Transporte 1, cortar
o drive e se preparar para descarregar ao meu comando. Preparar...
descarregar.
Por um momento nada aconteceu. Então, subitamente, uma
nuvem de poeira brilhante começou a flutuar da popa do transporte,
rodopiando preguiçosamente na esteira da nave.
– Continue – disse Drayson. – Harrier, feixes de íons negativos
a postos.
– Todo o pó já saiu do transporte, almirante – reportou um dos
oficiais.
– Controle do Transporte 1, afastar a nave – ordenou Drayson.
– Mais devagar – murmurou Bel Iblis. – Não queremos escavar
trilhas de exaustor no meio do pó.
Drayson olhou irritado para ele.
– Vá bem devagar – ele disse de má vontade. – Já temos
alguma leitura?
– Está vindo bem forte, senhor – reportou o oficial no console
do sensor. – Reflexão entre ponto 9-3 e 9-8 em todas as faixas.
– Ótimo – assentiu Drayson. – Fique de olho nisso. Harrier?
– A Harrier está pronta, senhor – confirmou outro oficial.
– Disparar feixe de íons negativos – ordenou Drayson. –
Intensidade mais baixa. Vamos ver como isso funciona.
Leia deu uma espiada na tela. As partículas tremeluzentes de
pó estavam começando a se agrupar enquanto os íons do drive do
transporte que partiam criavam cargas eletrostáticas aleatórias ao
longo de toda a nuvem. Pelo canto do olho, ela viu a linha nebulosa
de um feixe de íons aparecer na tela tática master e varrer a nuvem.
Carregando todas as partículas de pó com a mesma polaridade de
forma a que elas se repelissem... e subitamente a nuvem de pó
coalescente estava voltando a se expandir, espalhando-se pela tela
como uma flor exótica desabrochando.
– Cessar fogo – disse Drayson. – Vamos ver se isso dá certo.
Por um longo minuto a flor continuou a se abrir, e Leia percebeu
que estava encarando fixamente o brilho nebuloso.
Além do normal, claro. Devido à imensidão do espaço lá fora,
era altamente improvável que aquela primeira descarga fosse
encontrar qualquer um dos asteroides em órbita. E, mesmo que
encontrasse, ainda não havia nada que ela pudesse ver na tela. A
não ser no momento anterior ao seu colapso, o escudo de
camuflagem parecia distorcer a luz e os feixes de sensor
perfeitamente ao seu redor, o que significava que não haveria ponto
escuro cortando visivelmente através do pó.
– A nuvem está começando a se abrir, almirante – reportou o
oficial do sensor. – A taxa de dissipação está chegando a doze.
– O vento solar está pegando tudo – murmurou Rieekan.
– Conforme o esperado – Drayson o lembrou. – Controle do
Transporte 2: vá em frente e lançar.
Um segundo transporte emergiu dentre as naves em órbita e se
dirigiu para a superfície.
– Esta é definitivamente a maneira lenta de fazer a coisa – Bel
Iblis comentou baixinho.
– Concordo – disse Rieekan. – Gostaria que eles não tivessem
perdido aquele seu conjunto de ACCG em Svivren. Com certeza
poderíamos tê-lo usado aqui.
Leia assentiu. Armadilhas Cristalinas de Campo Gravitacional –
projetadas originalmente para se aproximar da massa de naves
ocultas dos sensores a milhares de quilômetros de distância –
seriam ideais para este trabalho.
– Achei que a Inteligência tivesse uma pista com relação a ele.
– Eles têm pistas com relação a três – disse Rieekan. – O
problema é que todos estão em espaço imperial.
– Ainda não estou convencido de que um ACCG nos adiantaria
de grande coisa aqui – disse Bel Iblis. – Assim tão perto, suspeito
que a gravidade de Coruscant apagaria qualquer leitura que
conseguíssemos dos asteroides.
– Seria difícil, sem dúvida – concordou Rieekan. – Mas acho
que é nossa melhor chance.
Eles ficaram em silêncio quando, na tela, o segundo transporte
alcançou sua zona de alvo e repetiu o procedimento do primeiro.
Novamente, nada.
– Esse vento solar vai ser um aborrecimento – comentou Bel
Iblis quando o terceiro transporte partiu. – É melhor pensarmos em
usar partículas maiores de pó na próxima leva.
– Ou deslocar operações para o lado noturno – sugeriu
Rieekan. – Isso pelo menos reduziria o efeito...
– Turbulência! – gritou o oficial de sensores. – Vetor 1-1-7 –
posição 5-9-2.
Todos correram para o console dos sensores. Na própria
fronteira da segunda nuvem de pó que ainda estava em expansão
uma linha alaranjada nebulosa havia aparecido, marcando a
turbulência criada pela passagem do asteroide invisível.
– Rastreie – Drayson ordenou. – Harrier, dispare à vontade.
Linhas vermelhas atravessaram a tela como lanças quando os
turbolasers do dreadnaught começaram a varrer o caminho
projetado. Leia ficou olhando a tela; suas mãos seguravam com
força as costas da cadeira do oficial dos sensores... e, de repente, lá
estava: uma rocha disforme, vagando lentamente por entre as
estrelas.
– Cessar fogo – ordenou Drayson. – Parabéns, cavalheiros.
Muito bem, Fiel, é sua vez. Leve sua tripulação técnica para lá...
Ele parou. Na tela, uma malha de linhas finas havia aparecido
cruzando a massa escura do asteroide. Por um breve momento elas
flamejaram, e em seguida se apagaram.
– Adie essa ordem, Fiel – grunhiu Drayson. – Parece que o
Grão Almirante não quer que mais ninguém dê uma olhada nos
seus brinquedinhos.
– Pelo menos achamos um deles – disse Leia. – Já é alguma
coisa.
– Certo – Rieekan disse secamente.
– Agora só nos restam uns trezentos – Leia tornou a assentir e
começou a se virar. Aquilo ia levar um tempo, e ela bem que poderia
voltar a Winter e Ghent...
– Colisão! – gritou o oficial dos sensores.
Ela se virou. Na tela, o terceiro transporte rodopiava
loucamente para fora do curso, a proa esmagada e em chamas, sua
carga de pó borrifando em todas as direções.
– Você consegue rastrear? – Drayson exigiu saber.
As mãos do oficial deslizavam rápidas pelo painel.
– Negativo. Dados insuficientes. Só consigo fazer um cone de
probabilidades.
– Eu aceito – disse Drayson. – Todas as naves: abrir fogo.
Bombardeio de padrão total; cone de alvo conforme indicado.
O cone havia aparecido na tela tática, e na frota distante o fogo
dos turbolasers começou a aparecer.
– Abrir o cone para probabilidade de cinquenta por cento –
ordenou Drayson. – Estações de combate, peguem o cone exterior.
Quero aquele alvo encontrado.
O encorajamento não foi necessário. O espaço acima de
Coruscant havia se tornado uma tempestade de fogo, com rajadas
de turbolaser e torpedos de prótons atravessando o cone de
probabilidade marcado. A zona do alvo se estendia e se expandia à
medida que os computadores calculavam os possíveis caminhos do
asteroide invisível, e as naves e estações de combate mudavam de
alvo em resposta.
Mas não havia nada lá... e depois de alguns minutos Drayson
finalmente admitiu a derrota.
– Todas as unidades, cessar fogo – ele disse, com a voz
cansada. – Não há mais razão em prosseguir. Perdemos.
Parecia não haver nada mais a ser dito. Em silêncio, eles
ficaram parados, observando o transporte aleijado, bem fora do
alcance dos raios tratores da frota, girar lentamente na direção do
escudo planetário e de sua morte iminente. A proa esmagada
passou raspando pelo escudo, e o fogo dos gases flamejantes do
drive se juntou à vívida corola azul-esbranquiçada dos elos atômicos
estilhaçados. Um clarão abafado quando a proa quebrou; um clarão
mais forte quando a popa bateu no escudo; fragmentos de
destroços escuros contra as chamas quando o casco começou a se
romper...
E com uma última rajada de fogo difuso tudo estava terminado.
Leia ficou olhando o brilho dos últimos fragmentos desvanecer,
enquanto praticava seus exercícios calmantes Jedi e forçava a raiva
a sair de sua mente. Permitir-se o luxo de odiar Thrawn por fazer
aquilo com eles apenas nublaria seu próprio intelecto. Pior, tal ódio
seria um perigoso passo na direção do lado sombrio.
Sentiu um leve movimento no seu ombro, e ela se virou para
ver Winter ao seu lado. A outra mulher estava olhando para a tela
acima, com um olhar de dor ancestral nos seus olhos.
– Está tudo bem – Leia assegurou. – Não havia ninguém a
bordo.
– Eu sei – murmurou Winter. – Eu estava pensando em outro
transporte que vi descer assim sobre Xyquine. Um transporte de
passageiros...
Ela respirou fundo, e Leia conseguiu ver o esforço consciente
que ela fazia enquanto colocava seu passado sempre vívido de
lado.
– Eu gostaria de falar com a senhora, Sua Alteza, quando tiver
terminado aqui.
Leia avançou além da expressão cuidadosamente neutra de
Winter e tocou seus sentidos. Fossem quais fossem as notícias, não
eram boas.
– Eu vou agora – disse.
Elas deixaram a Sala de Guerra e deram a volta pelos
turboelevadores até o corredor de serviço e a sala secreta de
decriptação. E a notícia de fato não era boa.
– Não pode ser – disse Leia, balançando a cabeça ao reler a
análise de Ghent. Nós sabemos que existe um vazamento no
palácio.
– Eu já chequei para frente, para trás e de fora para dentro –
disse Ghent. – A resposta é a mesma sempre. Alimento com os
dados de todos que ouviram e não ouviram as coisas que a fonte
Delta enviou; alimento com os dados de todos que ouviram ou não
ouviram as coisas que a fonte Delta não enviou; e você sai com a
mesma resposta sempre. Um grande e sonoro zero.
Leia digitou o datapad para um replay e viu a lista de nomes
diminuindo a cada filtragem até desaparecer.
– Então a fonte Delta tem que ser mais de uma pessoa – ela
disse.
– Eu já rodei isso – disse Ghent, balançando as mãos indefeso.
– Também não funciona. Você precisaria ter pelo menos quinze
pessoas. Sua segurança aqui não pode ser tão ruim.
– Então ele está pegando e escolhendo o que transmite.
Enviando parte do que ouve, mas não tudo.
Ghent coçou o rosto.
– Suponho que pode ser isso – ele disse relutante. – Mas não
sei. Você olha algumas das coisas realmente imbecis que ele
enviou... Quero dizer, havia uma naquela última transmissão que
não era nada a não ser uns dois Arcona falando sobre como um
deles ia dar nome aos seus filhotes. Ou este sujeito não lembra
muito bem ou tem uma lista de prioridades realmente estranha.
A porta se abriu, e Leia se virou quando Bel Iblis entrou.
– Eu vi vocês saírem – disse o general. – Encontraram alguma
coisa?
Sem dizer uma palavra Leia entregou a ele o datapad. Bel Iblis
deu uma olhada por alto, depois começou a ler com mais cuidado.
– Interessante – ele disse finalmente. – Ou a análise está
errada, ou a memória de Winter está começando a falhar... ou a
fonte Delta sabe que estamos em cima dela.
– Como você deduz isso? – perguntou.
– Porque ele obviamente não está mais transmitindo tudo o que
ouve – disse Bel Iblis. Alguma coisa deve ter despertado sua
desconfiança.
Leia pensou em todas aquelas conversas encenadas.
– Não – ela disse devagar. Não acredito nisso. Nunca captei
sequer um vestígio de malícia ou desconfiança.
Bel Iblis deu de ombros.
– A alternativa é acreditar que temos todo um ninho de espiões
aqui. Mas espere um minuto; isso não é tão ruim quanto parece. Se
pudermos supor que ele ainda não está sabendo, ainda poderemos
ser capazes de usar os dados dos dois primeiros dias para reduzir a
lista de suspeitos até um número gerenciável.
Leia sentiu o estômago apertar.
– Garm, estamos falando de cerca de cem membros confiáveis
da Nova República. Não podemos sair acusando tantas pessoas
assim de traição. As acusações do conselheiro Fey’lya contra o
almirante Ackbar já foram ruins o bastante. Isto aqui seria muito pior.
– Eu sei disso, Leia – Bel Iblis disse com firmeza. – Mas não
podemos deixar o Império continuar a escutar nossos segredos.
Ofereça-me uma alternativa e eu aceitarei.
Leia mordeu o lábio, a mente em disparada.
– E aquele comentário que você fez a caminho da Sala de
Guerra? – ela perguntou. – Você disse que achava que a fonte Delta
poderia não ser nada além de um sistema de gravação exótico.
– Se for, fica em algum lugar do Grande Corredor – disse
Winter antes que Bel Iblis pudesse responder. – É ali que todas as
conversações que foram transmitidas já aconteceram.
– Tem certeza? – Bel Iblis franziu a testa.
– Totalmente – disse Winter. – Cada uma delas.
– Então é isso – disse Leia, sentindo as primeiras pontadas de
empolgação. – De algum modo, alguém plantou um sistema de
gravação no Grande Corredor.
– Não se empolgue – aconselhou Bel Iblis. – Eu sei que isso
parece bom, mas não é assim tão fácil. Sistemas de microfonia
possuem certas características bem definidas, todas as quais bem
conhecidas e podem ser rapidamente captadas por uma varredura
competente de contrainteligência.
– A não ser que eles adormeçam quando a contrainteligência
passa – sugeriu Ghent. – Eu já vi sistemas fazerem isso.
Bel Iblis balançou a cabeça.
– Mas aí você está falando de uma coisa com no mínimo a
capacidade de tomada de decisão. Uma coisa assim tão perto do
nível de inteligência de um droide seria...
– Ei! – Ghent interrompeu empolgado. – É isso. A fonte Delta
não é uma pessoa; é um droide.
Leia olhou para Bel Iblis.
– Isso é possível?
– Não sei – o general disse devagar. – Implantar uma
programação de espionagem secundária em um droide certamente
é viável. O problema é como fazer essa programação sobreviver
aos frequentes procedimentos de segurança do palácio, e depois
evitar as varreduras da contrainteligência.
– Teria de ser um droide que tivesse um bom motivo para ficar
passando pelo Grande Corredor – disse Leia, tentando pensar. –
Mas que também possa sair sem atrair a atenção sempre que
acontece uma varredura.
– E, dado o tipo de tráfego de alto nível que passa pelo Grande
Corredor, varreduras são bem frequentes – concordou Bel Iblis. –
Ghent, você consegue entrar nos registros da segurança e puxar
uma lista de horários de varredura ao longo dos últimos três ou
quatro dias?
– Claro – o garoto deu de ombros. – Mas provavelmente vou
levar umas duas horas. A menos que vocês não se importem que eu
seja avistado.
Bel Iblis olhou para Leia.
– O que acha?
– Certamente não queremos que ele seja apanhado – disse
Leia. – Por outro lado, não queremos dar à fonte Delta total controle
do palácio mais do que seja necessário.
– Sua Alteza? – perguntou Winter. – Perdão, mas me parece
que se as varreduras são assim tão frequentes, tudo que
precisamos fazer é vigiar o Grande Corredor até que uma delas
aconteça e depois ver quais droides saem.
– Vale a pena tentar – disse Bel Iblis. – Ghent, você começa
com a segurança. Leia, Winter: vamos.

– Eles estão chegando – a voz de Winter veio suavemente pelo


comlink aninhado na palma da mão de Leia.
– Tem certeza de que são da Segurança do Palácio? – disse a
voz Bel Iblis.
– Tenho – disse Winter. – Eu vi o coronel Bremen dando
ordens. E eles estão com droides e equipamento.
– Parece então que é isso – murmurou Leia, levantando sua
mão sub-repticiamente perto da boca e torcendo para que os três
Kubaz sentados do outro lado do círculo de conversa dela não
reparassem o estranho comportamento. – Vigie com cuidado.
Os outros dois responderam concordando com murmúrios.
Abaixando a mão de volta para seu colo, Leia olhou ao redor.
Estava mesmo na hora. Aquele era possivelmente o melhor
momento que eles teriam para atacar a fonte Delta. Um encontro da
Assembleia havia terminado há pouco e o Conselho estava prestes
a começar uma reunião. O Grande Corredor estava lotado de
oficiais de alto escalão. De oficiais, com seus assessores e
assistentes, e seus droides.
Leia sempre soube como droides eram comuns no Palácio
Imperial. Mas como ela estava rapidamente começando a perceber,
ela não fazia ideia de quantos realmente eram. Havia uma boa
quantidade de droides de protocolo 3PO visíveis de onde ela estava
sentada, a maioria deles acompanhando grupos de diplomatas de
outros planetas, mas outros também nas comitivas de vários oficiais
do palácio. Pairando sobre a multidão em plataformas repulsoras,
um grupo de droides de manutenção SPD estava sistematicamente
limpando as esculturas e janelas que se alternavam ao longo das
paredes. Uma fileira de droides MSE passou rastejando ao longo da
outra parede, entregando mensagens complexas demais para as
transmissões de comunicação ou sensíveis demais para
transferência direta de dados e se esforçando muito para não serem
pisados. Na próxima árvore ch’hala verde-roxa descendo a fileira,
ocasionalmente visível no meio da multidão, um droide de
manutenção MN-2E estava cuidadosamente podando folhas mortas.
Qual deles, ela se perguntou, o Império havia transformado em
espião?
– Eles estão começando – Winter reportou baixinho. – Estão se
alinhando ao longo do corredor...
Ouviu-se um súbito farfalhar no comlink, como se Winter tivesse
posto a mão sobre o microfone. Outra série de sons abafados; e
Leia estava se perguntando se deveria ir investigar quando a voz de
um homem soou.
– Conselheira Organa Solo?
– Sim – ela disse com cuidado. – Quem fala?
– Tenente Machel Kendy, conselheira – ele disse. – Segurança
do Palácio. – A senhora está ciente de que uma terceira pessoa
está entrando no seu sinal de comlink?
– Não é uma escuta, tenente – Leia garantiu. – Estamos tendo
uma discussão a três com o general Bel Iblis.
– Entendo – disse Kendy, parecendo um pouco decepcionado.
Provavelmente pensou que havia tropeçado na fonte Delta. Terei
que pedir à senhora para suspender sua conversa por alguns
minutos, conselheira. Vamos fazer uma varredura do Grande
Corredor, e não podemos ter transmissões de comlink errantes na
área.
– Compreendo – disse Leia. – Vamos esperar até vocês
terminarem.
Ela desligou o comlink e o recolocou no cinturão, sentindo o
coração começar a bater acelerado nos seus ouvidos. Virando-se
casualmente na sua cadeira, se certificou de que podia ver a
extremidade inteira do corredor. Se havia algum droide de
espionagem presente, ele estaria correndo por aquela direção assim
que reparasse na equipe de varredura vindo do outro lado. Acima,
os droides flutuantes de limpeza haviam recebido o auxílio de um
novo conjunto de SPDs, que descia um corredor enquanto
metodicamente checavam as paredes superiores e os contornos
convolutos do teto abobadado à procura de qualquer microfone ou
sistema de gravação que pudesse ter de algum modo sido
plantados ali desde a última varredura. Logo abaixo deles, Leia
podia ver o tenente Kendy e o seu esquadrão caminhando por entre
os diplomatas numa fileira militarmente reta no corredor e
observando as telas de seus detectores pendurados no ombro. A
fileira alcançou a área do saguão onde ela estava, passou e
continuou sem incidentes até o fim do corredor. Ali o esquadrão
esperou, deixando os droides SPD e um grupo de MSE abraçados à
parede terminarem sua parte da varredura e os alcançarem.
Reagrupados, todos desapareceram corredor abaixo na direção dos
escritórios do Conselho Interno.
E foi isso. Todo o Grande Corredor tinha sido varrido, e
obviamente o resultado fora negativo... E nem um único droide havia
saído correndo da varredura.
Uma coisa mais para o lado chamou sua atenção. Mas era
apenas o droide de manutenção MN-2E no qual ela havia reparado
antes, rolando até a árvore ch’hala que brotava do chão ao lado do
seu ciclo de conversa. Fazendo sons baixinhos para si mesmo, o
droide começou a espetar antenas delicadas por entre os galhos,
caçando folhas mortas ou moribundas.
Mortas ou moribundas. Mais ou menos como a teoria deles.
Com um suspiro, ela puxou seu comlink.
– Winter? Garm?
– Aqui, Sua Alteza – a voz de Winter interveio imediatamente.
– Eu também – acrescentou Bel Iblis. – O que aconteceu?
Leia balançou a cabeça.
– Absolutamente nada – ela lhes disse. – Até onde posso dizer,
nenhum dos droides sequer se mexeu.
Uma curta pausa.
– Entendo – Bel Iblis disse finalmente. – Bem... Pode apenas
ser que nosso droide não precisasse estar aí hoje. O que
precisamos fazer é enviar Winter de volta a Ghent e fazê-la
adicionar droides à lista.
– O que você acha, Winter? – perguntou Leia.
– Eu posso tentar – a outra mulher disse hesitante. – O
problema será identificar droides específicos. Externamente, um
droide de protocolo 3PO se parece basicamente com qualquer
outro.
– Vamos aceitar o que você conseguir – disse Bel Iblis. – Mas
está aqui, em algum lugar por perto. Posso sentir.
Leia conteve a respiração, usando seus sentidos Jedi. Ela não
tinha a intuição de guerreiro afiada de Bel Iblis, nem a profunda
habilidade Jedi de Luke. Mas também podia sentir. Alguma coisa a
respeito do Grande Corredor...
– Acho que você tem razão – ela disse a Bel Iblis. – Winter, é
melhor você descer e se ocupar disso.
– Certamente, Sua Alteza.
– Eu vou com você, Winter – Bel Iblis se ofereceu. – Quero ver
o que está acontecendo com o plano Poeira Estelar.
Leia desligou o comlink e se recostou em sua cadeira, a fadiga
e o desencanto tomavam conta de sua mente apesar de seus
melhores esforços para afastá-los. Tinha parecido uma ideia tão boa
a de usar a decriptação de Ghent para tentar identificar a fonte
Delta. Mas até agora todas as pistas haviam simplesmente ser
desvanecido na frente deles.
E o tempo estava se esgotando. Mesmo que fossem capazes
de manter o trabalho de Ghent em segredo – o que não era de
forma alguma a coisa certa a se fazer – cada um desses gambitos
fracassados simplesmente os aproximava mais do dia inevitável em
que a fonte Delta finalmente perceberia toda essa atividade e seria
desligada. E quando isso acontecesse, a última chance de
identificar o espião imperial em seu meio desapareceria.
E isso seria um desastre. Não por causa do vazamento em si –
a Inteligência Imperial havia roubado informação desde que a
Aliança Rebelde se formara, eles conseguiriam viver com isso. O
que era infinitamente mais perigoso para a Nova República era a
aura cada vez maior de desconfiança e suspeita que a mera
existência da fonte Delta já havia espalhado pelo palácio. As
acusações desacreditadas do conselheiro Fey’lya contra o almirante
Ackbar já haviam demonstrado o que essa desconfiança poderia
fazer com a delicada coalizão multiespécies que compunha a Nova
República. Se descobrissem que essa liderança continha um
verdadeiro agente do Império...
Do outro lado do círculo de conversas os três Kubaz se
levantaram e saíram, dando a volta atrás da árvore ch’hala e do
droide MN-2E trabalhando ao lado dela e desaparecendo no fluxo
de tráfego corredor abaixo. Leia percebeu que estava encarando o
droide, olhando enquanto ele deslizava um braço manipulador
cuidadosamente no meio dos galhos e na direção de um pequeno
aglomerado de folhas mortas, fazendo barulhos suaves para si
mesmo o tempo todo. Ela tivera um breve encontro com um droide
de espionagem imperial do planeta natal Noghri de Honoghr, um
encontro que poderia ter provocado desastre para ela e genocídio
para os remanescentes da raça Noghri. Se Bel Iblis tivesse razão –
se a fonte Delta era na verdade meramente um droide e não um
traidor...
Mas isso realmente não ajudava. O Império simplesmente não
poderia ter infiltrado um droide de espionagem no palácio sem a
colaboração de um ou mais dos seres ali. A segurança
invariavelmente fazia uma análise completa de cada droide que
passava pelo palácio, fosse permanente ou temporariamente, e
sabia exatamente o que procurar. Uma programação de
espionagem secundária oculta apareceria como um explosão de
vermelho claro contra o sutil padrão de fundo daquela árvore
ch’hala...
Leia franziu a testa, olhando para árvore, quando sua linha de
pensamento parou bruscamente. Outra pequena explosão vermelha
apareceu no tronco fino diante de seus olhos, enviando um círculo
vermelho pálido para fora e ao redor do tronco até ele se
desvanecer no pequeno turbilhão púrpura de fundo. Mais um clarão
se seguiu, e outro, e mais outro, caçando um ao outro ao redor do
tronco como ondulações de uma gota de água. Todas mais ou
menos do mesmo tamanho; todas se originando do mesmo lugar no
tronco.
E cada uma delas exatamente no momento que o droide MN-
2E emitia algum ruído.
E então a compreensão a atingiu como uma onda violenta de
água gelada. Mexendo em seu cinto com dedos trêmulos, ela
apertou o botão do operador central.
– Aqui fala a conselheira Organa Solo – ela se identificou. –
Transfira-me para o coronel Bremen da Segurança. Diga a ele que
eu encontrei a fonte Delta.

Eles tiveram que cavar quase oito metros antes de encontrá-la:


um tubo grande manchado pela idade e semienterrado na lateral da
raiz da árvore ch’hala com mil pontos de amostra finos que
gravavam numa ponta e tinham uma fibra de transmissão direta
serpenteando pela outra. Mesmo assim, foi necessário pelo menos
mais uma hora e o relatório preliminar antes que o próprio Bremen
finalmente se convencesse.
– Os técnicos dizem que nunca viram nada parecido antes – o
chefe da segurança disse para Leia, Bel Iblis e Mon Mothma, todos
ali na terra esparramada ao redor da árvore ch’hala desenraizada. –
Mas parece ser algo razoavelmente simples. Qualquer pressão no
tronco da árvore ch’hala – incluindo a pressão criada por ondas
sonoras – dispara pequenas mudanças químicas nas camadas
internas da casca.
– E é isso que cria as cores e padrões mutantes? – perguntou
Mon Mothma.
– Isso – Bremen assentiu, fazendo uma pequena cara de
incômodo. O que é óbvio em retrospecto, na verdade: as mudanças
de padrão são rápidas demais para ser qualquer coisa a não ser de
origem bioquímica. De qualquer maneira, esses tubos implantados
que sobem no tronco fazem uma amostragem contínua dos
produtos químicos e desviam as informações de volta para o módulo
nas raízes. O módulo pega os dados químicos, os transforma de
volta em dados de pressão, e de lá de volta à fala. Algum outro
módulo – talvez mais embaixo da raiz – seleciona as conversas e
prepara todo o material para encriptação e transmissão. E é isso.
– Um microfone orgânico – Bel Iblis assentiu. – Sem nenhum
material eletrônico à vista para que uma varredura da
contrainteligência apanhasse.
– Toda uma série de microfones orgânicos – corrigiu Bremen,
olhando de modo significativo para as fileiras gêmeas de árvores
ladeando o Grande Corredor. Vamos nos livrar delas imediatamente.
– Que plano brilhante – devaneou Mon Mothma. – E tem tanto a
ver com o imperador. Eu sempre havia me perguntado como ele
obteve algumas das informações que utilizou contra nós no Senado.
– Ela balançou a cabeça. – Mesmo depois de sua morte, ao que
parece, sua mão pode se mover contra nós.
– Bem, pelo menos parte dela agora será imobilizada – disse
Bel Iblis. – Vamos trazer uma equipe aqui pra cima, coronel, e cavar
algumas árvores.
A distância, bem ao longe na planície marcada, surgiu uma centelha
de luz refletida.
– Mazzic vem vindo – comentou Karrde.
Gillespee tirou sua atenção da mesa de bebidas e forçou a vista
tentando enxergar para além da muralha em ruínas da fortaleza.
– Pelo menos alguém vem vindo – ele concordou, colocando de
lado sua xícara e o bruallki frio que estava mastigando e enxugando
as mãos na túnica. Puxando seus macrobinóculos, deu uma
espiada. – É, é ele mesmo – confirmou. Engraçado; ele está
trazendo outras duas naves.
Karrde franziu a vista para o ponto que se aproximava.
– Outras duas naves?
– Dê só uma olhada – disse Gillespee, entregando a ele os
macrobinóculos.
Karrde os levou aos olhos. Eram três, isso mesmo; um iate
espacial e duas naves finas de aspecto altamente maligno e de um
design que não lhe era familiar.
– Você acha que ele trouxe convidados? – Gillespee perguntou.
– Ele não disse nada a respeito de convidados quando se
identificou para Aves alguns minutos atrás – respondeu Karrde. À
frente, as duas naves nos flancos deixaram a formação, descendo
para a planície e desaparecendo numa das ravinas profundas que a
atravessava.
– Talvez seja melhor você checar.
– Talvez seja melhor – concordou Karrde, devolvendo os
macrobinóculos e sacando seu comlink. – Aves? Você tem a
identidade das naves que estão chegando?
– Claro que sim – a voz de Aves voltou. – Identidades falsas em
todas, mas nos as lemos como a Distant Rainbow, a Skyclaw, e a
Raptor.
Karrde fez uma cara de desgosto. Os designs podiam não ser
familiares, mas os nomes certamente eram – o transporte pessoal
de Mazzic e dois de seus caças customizados favoritos.
– Obrigado – ele disse e desligou o comlink.
– E aí? – perguntou Gillespee.
Karrde recolocou o comlink no cinto.
– É apenas Mazzic – ele disse.
– O que tem o Mazzic? – interrompeu a voz de Niles Ferrier.
Karrde se virou. O ladrão de naves estava parado atrás deles
na mesa de bebidas, com uma porção generosa de castanhas pirki
torradas numa das mãos.
– Eu disse que Mazzic estava chegando – ele repetiu.
– Ótimo – assentiu Ferrier, colocando uma das castanhas na
boca e quebrando-a alto entre os dentes. – Já estava na hora.
Finalmente vamos começar esta reunião.
Ele foi saindo, mastigando no caminho, assentindo para Dravis
e Clyngunn ao passar.
– Achei que você não o quisesse aqui – resmungou Gillespee.
Karrde balançou a cabeça.
– E não queria. Aparentemente, o sentimento não era universal.
Gillespee franziu a testa.
– Quer dizer que mais alguém o convidou? Quem?
– Não sei – admitiu Karrde, observando enquanto Ferrier ia até
o canto onde Ellor e seu grupo haviam se reunido. – Não achei um
jeito de perguntar sem parecer mesquinho, desconfiado ou muito
zeloso. Provavelmente é algo bem inocente. Alguém supondo que
todos aqueles do encontro original de Trogan continuam envolvidos.
– Independentemente da falta de convite?
Karrde deu de ombros.
– Talvez alguém tenha achado que foi um deslize. De qualquer
maneira, chamar a atenção para isso a esta altura só criaria fricção.
Alguns dos demais já parecem estar ressentidos de eu
aparentemente assumir o controle da operação.
Gillespee jogou o último pedaço de bruallki na boca.
– Talvez seja inocente – ele disse sombrio. – Mas talvez não.
– Estamos de olho nas prováveis abordagens – Karrde
lembrou. – Se Ferrier fez algum acordo com o Império, vamos vê-los
chegando com muito tempo de vantagem.
– Assim espero – Gillespee grunhiu, inspecionando a mesa de
bebidas em busca do próximo alvo. – Detesto fugir de estômago
cheio.
Karrde sorriu; estava começando a se virar quando seu comlink
emitiu um bip. Ele o sacou e o acionou, voltando automaticamente
os olhos para o céu.
– Karrde – ele disse.
– Aqui é Torve – o outro se identificou, e pelo tom de voz Karrde
percebeu que havia algo errado. – Pode descer por um minuto?
– Certamente – ele respondeu, levando a outra mão até o
coldre da arma de raios. – Preciso levar alguém?
– Não há necessidade; não estamos dando uma festa nem
nada parecido por aqui.
Tradução: os reforços já estavam a caminho.
– Entendido – disse Karrde – já estarei aí.
Desligou o comlink e o recolocou no cinto.
– Problemas? – perguntou Gillespee, olhando para Karrde por
cima do seu copo.
– Temos um intruso – disse Karrde olhando para o pátio.
Nenhum dos outros contrabandistas ou suas comitivas pareciam
estar olhando em sua direção. – Faça-me um favor e fique de olho
nas coisas aqui.
– Claro. Alguém em particular aqui que eu deva vigiar?
Karrde olhou para Ferrier, que agora havia deixado Ellor e
estava seguindo na direção de Par’tah e seus colegas ho’din.
– Certifique-se de que Ferrier não vá embora.
A parte principal da base havia sido montada três níveis abaixo
dos andares que restavam da fortaleza em ruínas, onde
provavelmente haviam sido as cozinhas e as antessalas de um
imenso salão de teto alto que previamente fora uma área de
banquetes. A Wild Karrde estava aninhada na própria câmara de
banquetes: um nicho moderadamente apertado para uma nave de
seu tamanho, mas que oferecia a vantagem de ser um esconderijo
razoável além de permitir uma fuga rápida caso fosse necessário.
Karrde chegou às altas portas duplas e encontrou Fynn Torve e
cinco dos tripulantes da Starry Ice esperando com armas sacadas.
– Relatório – ele disse.
– Achamos que tem alguém lá dentro – Torve disse sombrio. –
Chin estava levando os vornskrs para uma caminhada ao redor da
nave e viu alguma coisa se movendo nas sombras ao longo da
parede sul.
A parede mais próxima da rampa de entrada da Wild Karrde,
que estava abaixada.
– Há alguém neste momento a bordo da nave?
– Lachton estava trabalhando no console de comando
secundário – disse Torve. – Aves disse a ele para ficar na ponte com
a arma de raios apontada para porta até colocarmos mais alguém
lá. Chin pegou algumas das pessoas da Etherway que estavam por
ali e começou a vasculhar os aposentos da ponta sul; Dankin está
fazendo o mesmo com os da ponta norte.
Karrde assentiu.
– Então isso deixa a nave para nós. Vocês dois – ele apontou
para dois dos tripulantes da Starry Ice –, fiquem aqui e guardem as
portas. Agora com calma; vamos.
Abriram uma das portas duplas e entraram devagar. Logo à
frente deles, a proa da Wild Karrde se erguia escura; 150 metros
além, era possível ver alguns vestígios do céu azul de Hijarna por
entre a muralha quebrada da fortaleza.
– Gostaria que tivéssemos melhor iluminação aqui – resmungou
Torve ao olhar ao redor.
– Se esconder aqui não é tão fácil quanto parece – Karrde
garantiu, sacando seu comlink. – Dankin, Chin, aqui é Karrde.
Relatório.
– Até agora nada nos aposentos do norte – a voz de Dankin
veio no mesmo instante. – Enviei Corvis para buscar equipamento
de sensor portátil, mas ele ainda não voltou.
– Nada aqui também, capitão – acrescentou Chin.
– Tudo bem – assentiu Karrde. – Vamos dar a volta pelo lado de
estibordo da nave e nos dirigir para a entrada. Estejam preparados
para nos dar fogo de cobertura se precisarmos.
– Estamos prontos, capitão.
Karrde pôs o comlink de volta ao cinto. Respirando fundo,
dirigiu-se para fora.
Vasculharam a nave, a câmara de banquetes e todos os
escritórios e armazéns na periferia. E no fim não encontraram
ninguém.
– Eu devo ter imaginado coisas – Shin disse moroso, enquanto
o pessoal de busca se encontrava aos pés da rampa de entrada da
Wild Karrde. – Desculpe, capitão. Desculpe mesmo.
– Não se preocupe com isso – disse Karrde, olhando ao redor
da câmara de banquetes. Liberada ou não, ainda havia uma
sensação desconfortável que o incomodava. Como se alguém
estivesse observando e rindo. – Todos nós às vezes interpretamos
errado alguma coisa. Se é que isto na verdade foi de fato uma
interpretação errada. Torve, tem certeza de que você e Lachton
cobriram toda a nave?
– Cada metro cúbico – Torve disse com firmeza. – Se alguém
entrou sorrateiro na Wild Karrde, saiu muito antes de chegarmos
aqui.
– E aqueles seus vornskrs de estimação, senhor? – um dos
tripulantes da Starry Ice perguntou. – Eles são bons em rastrear?
– Só se você estiver caçando ysalamiri ou Jedi – disse Karrde.
– Bem. Quem quer que esteve aqui parece já ter ido embora.
Mesmo assim, podemos tê-lo afastado antes que terminasse o que
quer que tinha vindo fazer. Torve, quero que você monte uma
guarda para a área. Mande Aves alertar o pessoal de serviço a
bordo da Starry Ice e da Etherway também.
– Certo – disse Torve, sacando seu comlink. – E nossos
convidados lá em cima? Devemos avisá-los também?
– E quem nós somos? As mães deles? – perguntou um dos
outros tripulantes, bufando. – Eles são crescidinhos; podem tomar
conta de si mesmos.
– Tenho certeza de que sim – Karrde reprovou levemente. –
Mas estão aqui por convite meu. Enquanto estiverem sob nosso
teto, estão sob nossa proteção.
– Isso inclui quem quer que tenha enviado o intruso que Chin
avistou? – perguntou Lachton.
Karrde olhou para sua nave.
– Isso vai depender de quais eram as ordens do intruso – ele
disse. E, falando nos convidados, já estava na hora de voltar para
eles. Mazzic já estaria lá àquela altura, e Ferrier não era o único
impaciente para que a reunião começasse. – Lachton, assim que
Corvis chegar com esses scanners quero que vocês dois façam
uma checagem completa da nave, a começar pelo casco exterior.
Nosso visitante pode ter nos deixado um presente, e não quero sair
voando daqui com um farol de localização ou uma bomba de
concussão com timer a bordo. Estarei na área de conferências se
precisar de mim.
Deixou-os trabalhando, sentindo mais uma vez a ausência de
Mara Jade no grupo. Um desses dias, ele ia ter que achar tempo
para voltar a Coruscant e pegar tanto ela quanto Ghent de volta.
Supondo-se que tivesse permissão de fazer isso. Suas fontes
de informação haviam captado um vago e perturbador rumor de
uma mulher sem nome que havia sido apanhada dando auxílio a
uma força de ataque imperial a Coruscant. Dado o óbvio desdém de
Mara pelo Grão Almirante Thrawn, era improvável que ela realmente
fosse ajudar ao Império. Mas, por outro lado, havia muita gente na
Nova República começando a sentir uma espécie de histeria de
guerra... e devido ao seu histórico sombrio, Mara era uma candidata
óbvia para esse tipo de acusação. Mais um motivo para que ele a
tirasse de Coruscant.
Alcançou o pátio superior para descobrir que Mazzic havia de
fato chegado. Ele estava reunido com o grupo ho’din, falando
acaloradamente com Par’tah. Meio passo atrás, tentando parecer
discreta, estava aquela mesma guarda-costas enganadoramente
decorativa que ele tinha levado a Trogan.
Assim como os dois homens logo atrás dela. E os quatro
parados em redor deles a alguns metros de distância. E os seis
espalhados em outras partes na margem do pátio.
Karrde fez uma pausa na entrada em arco, enquanto um alarme
silencioso disparava na sua cabeça. Mazzic trazer dois caças para
protegê-lo em rota era uma coisa; trazer todo um esquadrão de
defesa para dentro de um encontro amigável era outra
completamente diferente. Ou o ataque imperial em Trogan o havia
deixado anormalmente nervoso, ou então ele não estava planejando
que a reunião acabasse de forma tão amigável.
– Ei, Karrde – Ferrier gritou, chamando com a mão. – Vamos lá!
Vamos logo começar essa reunião.
– Certamente – disse Karrde, dando seu melhor sorriso de
anfitrião ao entrar no salão. Agora era tarde demais para trazer
alguns de seus próprios membros ali para equilibrar a situação. Ele
teria simplesmente de torcer para que Mazzic estivesse apenas
sendo cauteloso. – Boa tarde, Mazzic. Obrigado por ter vindo.
– Sem problema – disse Mazzic, com os olhos frios. Ele não
retribuiu o sorriso.
– Temos assentos mais confortáveis preparados numa sala aqui
atrás – disse Karrde, fazendo um gesto à sua esquerda. – Se vocês
todos se quiserem me seguir...
– Tenho uma ideia melhor – Mazzic interrompeu. – O que acha
de termos a reunião dentro da Wild Karrde?
Karrde olhou para ele. Mazzic devolveu o olhar de forma neutra;
seu rosto não revelava nada. Aparentemente ele não estava só
sendo cauteloso.
– Posso perguntar por quê? – Karrde perguntou.
– Está sugerindo que tem algo a esconder? – Mazzic retrucou.
Karrde se permitiu um sorriso frio.
– É claro que eu tenho coisas a esconder – ele disse. – Par’tah
também; Ellor também; você também. Afinal, somos concorrentes
de negócios.
– Então você não vai permitir que nós entremos a bordo da Wild
Karrde?
Karrde olhou para cada um dos chefes contrabandistas.
Gillespee, Dravis e Clyngunn estavam franzindo a testa, obviamente
sem fazer a menor ideia do que significava aquilo tudo. O rosto
ho’din de Par’tah era difícil de ler, mas havia algo na postura dela
que parecia estranhamente perturbado. Ellor estava evitando
totalmente seus olhos. E Ferrier...
Ferrier estava dando um sorriso debochado – não obviamente;
quase invisível, na verdade, por trás daquela sua barba. Mas era o
bastante. Mais que o bastante.
E agora, tarde demais, ele finalmente entendeu. O que Chin
havia visto – o que todos eles haviam subsequentemente deixado
de ver – havia sido o sombrio Defel de Ferrier.
Os homens de Mazzic estavam ali. Os de Karrde estavam a
três níveis abaixo, protegendo sua nave e sua base contra um
perigo que há muito havia desaparecido. E todos os seus
convidados estavam esperando sua resposta.
– A Wild Karrde está aninhada lá embaixo – ele disse. –
Gostariam de me seguir?
Dankin e Torve estavam conversando aos pés da entrada da
rampa de entrada da Wild Karrde quando o grupo chegou.
– Olá, capitão – disse Denkin, parecendo surpreso. – Podemos
ajudá-lo?
– Não precisamos de ajuda – disse Karrde. – Decidimos fazer a
reunião a bordo da nave, só isso.
– A bordo da nave? – repetiu Dankin, percorrendo o grupo com
os olhos e obviamente não gostando do que via. Não era para
menos; entre os chefes contrabandistas, assessores e guarda-
costas, o esquadrão de Mazzic que destacava-se como um
aglomerado de faróis de pouso. – Desculpe, eu não tinha sido
informado – ele acrescentou, enfiando o polegar direito casualmente
no topo do cinturão de armas.
– Foi uma decisão tomada um tanto em cima da hora – disse
Karrde. Pelo canto do olho ele podia ver o resto do seu pessoal na
câmara de banquetes começando a se afastar de suas tarefas ao
visualizarem o sinal de mão de Dankin. Se posicionando num
círculo...
– Claro – disse Dankin, começando parecer um pouco
envergonhado. – Embora a nave não esteja realmente arrumada
para algo tão sofisticado. Quero dizer, o senhor sabe como a sala de
reuniões é...
– Não estamos interessados na decoração – Mazzic
interrompeu. – Por favor, se afaste; temos negócios a resolver.
– Certo, entendi – disse Dankin, parecendo ainda mais
envergonhado mas ficando onde estava. – O problema é que nós
temos uma equipe de rastreamento a bordo neste instante. Vai
estragar a leitura se tivermos mais pessoas indo e vindo.
– Então estrague as leituras – interrompeu Ferrier. – Quem
você pensa que é de qualquer maneira?
Dankin não teve a chance de achar uma resposta pra isso. Uma
nuvem de ar perfumado roçou a lateral do rosto do Karrde, e o cano
duro de uma arma de raios se enterrou gentilmente no seu flanco.
– Bela tentativa, Karrde – disse Mazzic. – Mas não vai
funcionar. Mande que se afastem. Agora.
Com cuidado, Karrde olhou para trás. A guarda-costas
decorativa de Mazzic olhou para ele com olhos frios e muito
profissionais.
– E se eu não fizer isso?
– Então teremos um tiroteio – Mazzic disse bruscamente. –
Bem aqui.
Houve uma ondulação silenciosa de movimento pelo grupo.
– Alguém gostaria de me dizer o que está acontecendo aqui? –
Gillespee murmurou inseguro.
– Eu lhe conto dentro da nave – disse Mazzic, com os olhos
fixos em Karrde. – Supondo que todos nós vivamos para entrar lá
dentro. Esta parte cabe ao nosso anfitrião.
– Não vou render meu pessoal a vocês – Karrde disse baixinho.
– Não sem lutar.
– Não tenho interesse em seu pessoal – disse Mazzic. – Nem
em sua nave ou sua organização. Esta é uma questão pessoal,
entre eu e você. E nossos colegas contrabandistas.
– Então diga logo o que é – sugeriu Dankin. – Vamos liberar um
espaço, vocês podem escolher as armas...
– Não estou falando de uma briga particular imbecil – Mazzic
interrompeu. – Estou falando de traição.
– De quê? – perguntou Gillespee. – Mazzic...
– Cale a boca, Gillespee – disse Mazzic, fuzilando-o com olhar.
– E então, Karrde?
Lentamente, Karrde olhou para o grupo. Ali não existiam
aliados; nenhum amigo que ficasse firmemente ao seu lado contra o
que quer que representassem as acusações fantasmas que Mazzic
e Ferrier haviam tramado. Todo o respeito que qualquer um deles
pudesse ter tido por ele, todos os favores que pudessem dever a
ele, tudo isso já havia sido esquecido. Eles observariam enquanto
seus inimigos o derrubariam. Depois cada um pegaria um pedaço
da organização que ele havia lutado tanto para construir.
Mas, até que isso acontecesse, os homens e outros seres ali
ainda eram seus associados. E ainda eram sua responsabilidade.
– Não há espaço suficiente na sala de reuniões para ninguém
além de nós oito – ele disse baixinho a Mazzic. – Todos os
ajudantes, guarda-costas e seus defensores terão de ficar aqui fora.
Você mandará que eles deixem meu pessoal em paz?
Por um minuto mais Mazzic estudou o rosto dele. Então
assentiu, com um único aceno rápido de sua cabeça.
– Contanto que eles não sejam provocados, não vou incomodar
ninguém. Shada, pegue a arma de raios dele. Karrde... depois de
você.
Karrde olhou para Dankin e Torve e assentiu. Com relutância,
eles se afastaram da rampa e ele começou a subir. Acompanhado
de perto pelas pessoas que um dia esperara juntar em uma frente
unificada contra o Império.
Ele devia ter imaginado.

Eles se acomodaram na sala de reuniões. Mazzic empurrou


Karrde para se sentar numa cadeira num canto enquanto os outros
encontravam lugares ao redor da mesa em frente a ele.
– Está certo – disse Karrde. – Estamos aqui. E agora?
– Eu quero seus cartões de dados – disse Mazzic. – Todos eles.
Vamos começar com os do seu escritório.
Karrde assentiu olhando para trás.
– Passe pela porta e desça o corredor da direita.
– Códigos de acesso?
– Nenhum. Confio no meu pessoal.
Mazzic torceu levemente a boca.
– Ellor, vá pegá-los. E traga uns dois datapads com você.
Sem dizer uma palavra, o Duro se levantou e saiu.
– Enquanto estamos esperando – Karrde disse no silêncio
desajeitado – talvez eu pudesse apresentar a proposta à qual
convidei vocês a Hijarna para ouvir.
Mazzic bufou.
– Você tem brio, Karrde isso eu admito. Brio e estilo. Vamos
apenas ficar quietos por enquanto, ok?
Karrde olhou para a arma de raios apontada para ele.
– Como você quiser.
Ellor voltou um minuto depois, carregando uma bandeja cheia
de cartões de dados com dois datapads equilibrados em cima.
– Ok – disse Mazzic enquanto o Duro sentava-se ao seu lado. –
Dê um dos datapads para Par’tah e comecem a analisá-los. Vocês
sabem o que procurar.
[[Devo afirmar desde já]] disse Ellor, [[que eu não gosto disto.]]
[Eu concordo], disse Par’tah; os apêndices em sua cabeça se
contorciam como cobras perturbadas. [Lutar abertamente contra um
concorrente é parte dos negóciyos. Mas iysto é diyferente.]
– Isto não são negócios – disse Mazzic.
– É claro que não – concordou Karrde. – Ele já disse que não
tem interesse na minha organização. Lembra?
– Não tente brincar com os minhas palavras, Karrde – avisou
Mazzic. – Eu odeio isso tanto quanto odeio ser manipulado.
– Não estou manipulando ninguém, Mazzic – Karrde disse
baixinho. – Tenho lidado honestamente com vocês desde que toda
esta história começou.
– Talvez. Estamos aqui para descobrir.
Karrde olhou ao redor da mesa, voltando a se lembrar do caos
que havia inundado o mundo crepuscular do contrabando depois do
colapso da organização de Jabba, o Hutt. Cada grupo da galáxia
havia corrido loucamente para apanhar os pedaços, agarrando
naves, pessoas e contratos para si, às vezes lutando
encarniçadamente por eles. As organizações maiores, em particular,
haviam lucrado muito com a morte do Hutt.
Ele se perguntou se Aves seria capaz de derrotá-los. Aves e
Mara.
– Alguma coisa? – Mazzic perguntou.
[Nós lhe diyremos se houver] disse Par’tah, com o tom de voz
abaixo do normal, traindo seu desprazer com toda aquela situação.
Karrde olhou para Mazzic.
– Você se importaria de pelo menos me dizer o que é que eu
supostamente fiz?
– Eu quero ouvir isso também – repetiu Gillespee.
Mazzic se recostou em sua cadeira, repousando a mão da arma
na sua coxa.
– É muito simples – ele disse. – Aquele ataque em Trogan,
aquele onde meu amigo Lishma foi morto, parece ter sido encenado.
– Como assim, encenado? – perguntou Dravis.
– Foi o que acabei de dizer. Alguém contratou um tenente do
Império e seu esquadrão para nos atacar.
Clyngunn rugiu fundo em sua garganta.
– Soldados do império não se alugam para trabalhar – ele
grunhiu.
– Aquele grupo sim – disse Mazzic.
– Quem disse isso? – Gillespee exigiu saber.
Mazzic sorriu tenso.
– A fonte mais bem-informada que existe. O Grão Almirante
Thrawn.
Houve um momento de silêncio atordoado. Dravis foi o primeiro
a conseguir falar.
– Não brinca – ele disse. – E ele simplesmente por acaso
mencionou isso a você?
– Eles me pegaram espiando ao redor do sistema de Joiol e me
levaram até a Quimera – disse Mazzic, ignorando o sarcasmo. –
Depois do incidente nos estaleiros de Bilbringi eu achei que ia
passar por maus bocados. Mas Thrawn me disse que havia apenas
me chamado para botar tudo em pratos limpos, que ninguém no
Império havia ordenado o ataque a Trogan e que eu não deveria
responsabilizá-los por isso. Então ele me deixou ir embora.
– Depois de ter convenientemente insinuado que eu era quem
que você deveria responsabilizar? – sugeriu Karrde.
– Ele não apontou você especificamente – disse Mazzic. – Mas
quem mais teria algo a ganhar nos instigando contra o Império?
– Estamos falando de um Grão Almirante aqui, Mazzic – Karrde
lembrou. – Um Grão Almirante que se deleita em estratégias
convolutas. Que tem interesse pessoal em me destruir.
Mazzic deu um sorriso tenso.
– Não estou simplesmente aceitando a palavra de Thrawn,
Karrde. Mandei um amigo fazer uma pequena pesquisa nos
registros militares do Império antes de vir pra cá. Ele conseguiu para
mim os detalhes completos do arranjo de Trogan.
– Registros do Império podem ser alterados – Karrde ressaltou.
– Como eu falei, não estou aceitando a palavra deles –
retorquiu Mazzic. – Mas se encontrarmos a outra parte do acordo
aqui – ele ergueu levemente a arma de raios – eu diria que isso é
prova concreta.
– Entendo – murmurou Karrde, olhando para Ferrier. Então era
aquilo que o Defel dele havia feito ali embaixo. Plantado a prova
concreta de Mazzic. – Suponho que seja tarde demais pra
mencionar que tivemos um intruso aqui embaixo alguns minutos
antes de você chegar.
Ferrier bufou.
– Ah, certo. Bela tentativa, Karrde, mas um pouco tarde demais.
– Pouco tarde demais para quê? – perguntou Dravis, franzindo
a testa.
– Ele está tentando jogar a suspeita em cima de outra pessoa,
é claro – Ferrier disse com desprezo. – Tentando você fazer vocês
pensarem que um de nós plantou esse cartão de dados nele.
– Que cartão de dados? – Gillespee debochou. – Não
encontramos nenhum cartão de dados ainda.
– Encontramos sim – Ellor disse suavemente.
Karrde olhou para ele. O rosto achatado de Ellor estava rígido;
era impossível ler suas emoções enquanto ele silenciosamente
entregava seu datapad para Mazzic. O outro o pegou; e seu rosto
também enrijeceu.
– Então aqui está – ele disse suavemente, colocando o datapad
em cima da mesa. – Bem. Suponho que não há mais nada a ser
dito.
– Espere um segundo discordou – Gillespee. – Existe sim.
Karrde tem razão a respeito daquele intruso; eu estava com ele lá
em cima quando o alerta chegou.
Mazzic que deu de ombros.
– Está certo; vou entrar nesse jogo. E aí, Karrde? O que foi que
você viu?
Karrde balançou a cabeça, tentando manter os olhos afastados
do cano da arma de Mazzic.
– Infelizmente nada. Shin achou ter visto algum movimento
próximo à nave, mas não conseguimos localizar ninguém.
– Eu não reparei que havia tantos lugares assim lá fora onde
alguém pudesse se esconder – Mazzic ressaltou.
– Um humano não poderia – concordou Karrde. – Por outro
lado não nos ocorreu naquela hora checar quantas sombras haviam
ao longo das paredes e perto das portas.
– O que quer dizer que você acha que foi meu espectro, hein? –
Ferrier interrompeu. – Isso é típico, Karrde; disparar algumas pistas
e tentar encobrir a questão. Bem, esqueça. Não vai funcionar.
Karrde franziu a testa para ele. Para aquele rosto agressivo
mas de olhos desconfiados... e subitamente percebeu que havia
algo de errado com relação à armação ali. Ferrier e Mazzic não
estavam trabalhando juntos. Era somente Ferrier, provavelmente
sob a direção de Thrawn, que estava tentando derrubá-lo.
O que queria dizer que Mazzic honestamente achava que
Karrde os havia traído a todos. O que, por sua vez, queria dizer que
ainda podia haver uma chance de convencê-lo do contrário.
– Então deixe-me tentar isto – ele disse, voltando sua atenção
para Mazzic. – Eu seria realmente tão descuidado a ponto de deixar
o registro da minha traição aqui onde qualquer um pode encontrá-
lo?
– Você não sabia que nós estaríamos procurando – Ferrier
disse antes que Mazzic pudesse responder.
Karrde ergueu uma sobrancelha para ele.
– Ah, agora é “nós”, Ferrier? Você está ajudando Mazzic nisso?
– Ele tem razão, Karrde; pare de tentar encobrir o assunto –
disse Mazzic. – Você acha que Thrawn faria todo esse esforço só
para derrubá-lo? Ele poderia ter feito isso direto em Trogan.
– Ele não podia tocar em mim em Trogan – Karrde balançou a
cabeça. – Não com todos vocês lá observando. Ele não iria arriscar
colocar toda a periferia contra ele. Não, assim é muito melhor. Ele
destrói, desacredita meus avisos contra ele e conserva tanto a boa
vontade quanto o serviço de vocês.
Clyngunn balançou sua cabeça peluda.
– Não. Thrawn não é igual a Vader. Ele não perderia soldados
num ataque deliberadamente fracassado.
– Concordo – disse Karrde. – Também não acho que ele tenha
ordenado o ataque a Trogon. Acho que outra pessoa planejou o
ataque, e que Thrawn simplesmente está fazendo o melhor uso
possível dele.
– Suponho que você vai tentar atribuir isso a mim também –
grunhiu Ferrier.
– Eu não acusei ninguém, Ferrier – Karrde lembrou
calmamente. – Poderíamos até pensar que você está com a
consciência culpada.
– Lá vai ele de novo, tentando encobrir as coisas – disse
Ferrier, olhando ao redor da mesa antes de olhar fuzilando
novamente para Karrde. – Você praticamente já acusou meu
espectro de plantar aquele cartão de dados aqui.
– Essa sugestão foi sua, não minha – retrucou Karrde
observando-o atentamente. Pensar de improviso obviamente não
era o ponto forte de Ferrier, e a tensão estava começando a
aparecer. Se ele pudesse forçar só um pouco mais... – Mas já que
estamos no assunto, onde está o seu Defel?
– Ele está na minha nave – Ferrier disse prontamente. – No
pátio oeste, junto com as naves de todo mundo. Está lá desde que
pousei.
– Por quê?
Ferrier franziu a testa.
– Como assim por quê? Ele está lá porque faz parte da minha
tripulação.
– Não, quero dizer por que ele não está fora da Wild Karrde
com o resto dos guarda-costas?
– Quem disse que ele era guarda-costas?
Karrde deu de ombros.
– Simplesmente supus que fosse. Afinal, ele estava
desempenhando esse papel em Trogan.
– Isso mesmo, estava, sim – Gillespee disse devagar. – Parado
contra a parede. Pronto para atirar nos imperiais quando eles
entraram.
– Quase como se soubesse que estavam chegando –
concordou Karrde.
O rosto de Ferrier escureceu.
– Karrde...
– Chega – Mazzic interrompeu. – Isto não é prova, Karrde, e
você sabe disso. De qualquer maneira, o que Ferrier teria a ganhar
montando um ataque assim?
– Talvez para que o víssemos lutando contra os imperiais –
sugeriu Karrde. – Torcendo para que isso acabasse com nossas
desconfianças a respeito de seu relacionamento com o Império.
– Distorça todas as palavras que quiser – disse Ferrier,
espetando o dedo no datapad em cima da mesa ao lado de Mazzic.
– Mas este cartão de dados não diz que eu contratei Kosk e seu
esquadrão. Ele diz que você fez isso. Pessoalmente eu acho que já
ouvimos bastante...
– Espere um minuto – interrompeu Mazzic, virando-se para
encará-lo. – Como você sabe o que diz o cartão de dados?
– Você nos contou – disse Ferrier. – Você disse que foi a outra
metade do...
– Eu nunca mencionei o nome do tenente.
A sala subitamente ficou muito quieta... e atrás da sua barba, o
rosto de Ferrier havia ficado branco.
– Você deve ter mencionado.
– Não – Mazzic disse friamente. – Não mencionei.
– Ninguém mencionou – Clyngunn rugiu.
Ferrier olhou fuzilando para ele.
– Isso é loucura – ele cuspiu, sentindo um pouco de sua
coragem começando a voltar. – Todas as provas apontam direto
para Karrde e vocês vão deixar ele escapar só porque por acaso eu
vi o nome desse tal de Kosk em algum lugar? Talvez um dos
stormtroopers em Trogan tenha gritado durante o combate... Como
é que eu vou saber?
– Bem, então eis uma questão mais fácil – disse Karrde. – Diga-
nos como você ficou sabendo o local deste encontro. Já que você
não foi convidado.
Mazzic olhou para ele.
– Você não o convidou?
Karrde balançou a cabeça.
– Eu nunca confiei nele, pelo menos não desde que ouvi falar
de seu papel na aquisição da frota Katana por Thrawn. Ele não teria
estado em Trogan se Gillespee não tivesse deixado o convite mais
ou menos aberto a qualquer um.
– Então, Ferrier? – perguntou Dravis. – Ou você vai afirmar que
um de nós contou a você também?
Linhas fundas se formavam no canto dos olhos de Ferrier.
– Eu captei a transmissão para Mazzic – ele resmungou. – A
decriptei, e achei que deveria estar aqui.
– Um trabalho muito rápido de decriptação – comentou
Gillespee. – Estávamos usando ótimos códigos de encriptação.
Você guardou uma cópia da transmissão de dados original, claro?
Ferrier se levantou.
– Eu não tenho que ficar aqui ouvindo isso. Quem está em
julgamento aqui é Karrde, e não eu.
– Sente-se, Ferrier – Mazzic disse baixinho. Sua arma de raios
não estava mais apontada para Karrde.
– Mas ele é a pessoa – insistiu Ferrier, estendendo a mão
direita e apontando o indicador acusatoriamente para Karrde. – Foi
ele quem...
– Cuidado! – Gillespee gritou.
Mas era tarde. Enquanto usava sua mão direta como distração,
balançando-a à frente do corpo, Ferrier mergulhou a mão esquerda
na faixa de sua cintura e depois a estendeu. Segurando um
detonador térmico.
– Tudo bem, mãos em cima da mesa – ele grunhiu. – Abaixe a
arma, Mazzic.
Lentamente, Mazzic depositou sua arma de raios sobre e mesa.
– Você não tem como sair daqui, Ferrier – ele disse. – Vai ser
uma briga feia entre Shada e meus defensores.
– Eles nunca conseguirão disparar sequer um tiro em mim –
disse Ferrier, estendendo a mão para pegar a arma de raios de
Mazzic. – Espectro! Entre aqui!
Atrás dele a porta da sala de reuniões se abriu e uma sombra
negra se moveu silenciosamente dentro do aposento. Uma sombra
negra de olhos vermelhos e um vestígio de longas garras brancas.
Clyngunn soltou um palavrão, uma longa maldição ZeHethbra.
– Então Karrde estava certo o tempo todo. Você nos traiu para
o Império.
Ferrer o ignorou.
– Fique de olho neles – ordenou, enfiando a arma de Mazzic na
sombra e sacando sua própria. – Vamos, Karrde; vamos para a
ponte.
Karrde não se moveu.
– E se eu recusar?
– Mato vocês todos e levo a nave sozinho – Ferrier disse
bruscamente. – Talvez eu deva fazer isso de qualquer maneira.
Thrawn provavelmente pagará uma boa recompensa por todos
vocês.
– Eu me dou por derrotado – Karrde disse, se levantando. – Por
aqui.
Chegaram à ponte sem incidentes.
– Você pilota – instruiu Ferrier, fazendo um gesto para o leme
com sua arma ao dar uma olhada rápida nas telas. – Ótimo.
Imaginei que você já a teria preparada para partir.
– Para onde estamos indo? – perguntou Karrde sentando-se na
cadeira do leme. Pela escotilha, ele podia ver parte do seu pessoal,
que não havia percebido sua presença ali cima pois continuava
vigiando os soldados de Mazzic.
– Para cima e para longe – Ferrier respondeu, fazendo um
gesto na direção da muralha quebrada da fortaleza com sua arma
de raios. – Vamos começar assim.
– Entendido – disse Karrde, digitando um relatório de status
pré-voo com a mão direita e deixando a esquerda cair casualmente
para o joelho. Logo acima dela, embutido na parte de baixo do
console principal, havia um painel de joelho com os controles para
as luzes externas da nave. – E depois?
– O que você acha? – retorquiu Ferrier, indo até o posto de
comunicação e dando uma rápida olhada. – Nós vamos embora.
Você tem alguma outra nave em standby de comunicação?
– A Starry Ice e a Etherway – disse Karrde, ligando e
desligando luzes externas três vezes. Do lado de fora da portinhola,
rostos franzidos começaram a olhar para cima e para ele. – Eu acho
que você não vai tentar ir muito longe.
Ferrier sorriu para ele.
– Por quê, tem medo de que eu roube seu precioso cargueiro?
– Você não vai roubá-lo – disse Karrde, olhando fixo para ele. –
Eu o destruirei primeiro.
Ferrier bufou.
– Grandes palavras para alguém que está do lado errado de
uma arma de raios – ele disse com desprezo, enfatizando a palavra
“arma”.
– Eu não estou blefando – Karrde o avisou, acendendo
novamente as luzes e arriscando uma olhada casual pela escotilha.
Entre o piscar de alerta das luzes e a visão de Ferrier segurando
uma arma apontando para ele, a multidão lá fora havia
presumivelmente imaginado o que estava acontecendo. Pelo menos
assim ele esperava. Se não, a partida não anunciada da Wild Karrde
provavelmente acionaria um tiroteio.
– Claro que não – grunhiu Ferrier, sentando-se na estação do
copiloto ao lado dele. – Relaxe; você não precisa ser um herói. Eu
adoraria tirar a Wild Karrde das suas mãos, mas sei que não devo
tentar pilotar uma nave dessas com metade da tripulação. Não, tudo
o que você vai fazer é me levar de volta a minha nave. Vamos sair
daqui e ficar discretos até tudo se acabar. – Deu uma outra olhada
nas telas e assentiu. – Ok, vamos lá.
Cruzando mentalmente os dedos, Karrde acionou os
propulsores e levou levemente a nave para frente, meio que
esperando uma barragem de tiros de armas de raios da multidão de
guarda-costas lá fora.
Mas ninguém abriu fogo quando ele manobrou cuidadosamente
pelas margens de pedra quebrada na abertura e saiu para céu
aberto.
– É, todos eles saíram de lá de dentro – disse Ferrier
casualmente no silêncio. – Provavelmente correram de volta para
suas naves para poder nos caçar.
– Você não parece preocupado com isso.
– Não estou – disse Ferrier. – Tudo que você precisa fazer é me
levar à minha nave um pouco antes. Você consegue fazer isso,
certo?
Karrde olhou para a arma de raios apontada para ele.
– Farei o meu melhor.
Fizeram isso com facilidade. Enquanto a Wild Karrde
estacionava na pedra rachada ao lado de uma nave artilheira
corelliana modificada, as outras estavam começando a aparecer
pelos arcos que levavam para a parte principal da fortaleza, a uns
bons dois minutos distância.
– Sabia que você conseguiria – Ferrier parabenizou sarcástico,
levantando-se e acionando o comunicador. – Espectro, abra a porta.
Vamos dar o fora.
Não houve resposta
– Espectro? Está me ouvindo?
– Ele não vai estar ouvindo nada por um tempo – disse a voz de
Clyngunn rugindo de volta. – Se você quiser tê-lo de volta vai ter de
carregá-lo.
Irritado, Ferrier desligou o comunicador.
– Idiota. Eu devia saber que não podia confiar num espectro
imbecil para nada. Melhor, devia ter matado todos vocês bem no
começo.
– Talvez – disse Karrde. Ele assentiu para o outro lado do pátio
na direção dos guarda-costas e defensores que se aproximavam. –
Não acho que você vai ter tempo de corrigir isso agora.
– Vou ter que fazer isso mais tarde – Ferrier retrucou. – Mas
ainda posso cuidar de você.
– Só se estiver disposto a morrer comigo – retrucou Karrde,
deslocando levemente no assento para mostrar que a mão
esquerda segurava uma das chave do painel de joelho. – Como
disse, prefiro destruir a nave a deixar que você fique com ela.
Por um momento ele achou que Ferrier ia tentar de qualquer
maneira. Mas então, com óbvia relutância, o ladrão de naves
deslocou sua mira e disparou duas vezes na seção anti-incêndio do
painel de controle.
– Outro dia, Karrde – ele disse. Recuou para a porta da ponte,
deu uma rápida olhada para fora quando ela se abriu, e depois saiu.
Karrde respirou fundo, e soltou o ar devagar. Soltando o botão
da luz de pouso que havia ficado segurando, ele se levantou.
Quinze segundos depois, avistou Ferrier pela escotilha correndo
sozinho na direção de sua nave artilheira.
Estendendo a mão cuidadosamente pelo buraco fumegante no
seu painel de controle, ele acionou o comunicador.
– Aqui fala Karrde – disse. – Podem tirar a barricada da porta
agora; Ferrier partiu. Precisam de alguma assistência médica ou
ajuda com seu prisioneiro?
– Não a ambas as perguntas – Gillespee assegurou. – Os Defel
podem ser bons para espreitar, mas não são muito bons como
carcereiros. Então Ferrier simplesmente abandonou ele aqui, hein?
– Nem mais nem menos que eu teria esperado dele – disse
Karrde. Do lado de fora da escotilha, a nave artilheira de Ferrier
estava se erguendo nos seus propulsores, rotacionando para oeste.
– Ele está partindo agora. Avisem a todos para não deixarem a
nave: ele deve ter planejado alguma coisa para não incentivar a
perseguição.
E tinha mesmo. Mal as palavras tinham saído da boca de
Karrde quando a nave flutuante ejetou um grande cilindro no ar.
Houve um clarão de luz e subitamente o céu explodiu num violento
aglomerado de malha metálica. A rede se estendeu sobre o pátio e
se acomodou no chão, lançando fagulhas onde se envolveu sobre
as naves estacionadas.
– Uma rede de Conner – disse a voz de Dravis atrás dele. –
Típico truque de ladrão de naves.
Karrde se virou. Dravis, Par’tah e Mazzic estavam parados logo
do lado de dentro da porta, olhando pela comporta a nave artilheira
que partia.
– Temos muita gente lá fora – ele lembrou. – Eles não devem
demorar muito para queimá-la.
[Não podemos permiytiyr que ele escape] insistiu Par’tah,
fazendo um gesto de desprezo ho’din para a nave artilheira.
– Não escapará – Karrde lhe assegurou. A nave artilheira
estava voando baixo pela planície, permanecendo fora do alcance
de qualquer coisa que as naves envoltas pelas redes ainda
pudessem ser capazes de disparar contra ela. A Etherway e a Starry
Ice estão de prontidão, a norte e a sul daqui. – Ele se virou e ergueu
a sobrancelha para Mazzic. Mas, pelas circunstâncias, acho que
Mazzic deveria fazer as honras.
Mazzic deu um sorriso tenso.
– Obrigado – ele disse baixinho, sacando seu comlink. – Griv,
Amber. Nave artilheira a caminho. Podem abater.
Karrde olhou para trás. A nave artilheira estava quase no
horizonte agora, iniciando sua subida vertical para o espaço... e
diante de seus olhos, os dois caças de Mazzic surgiram por trás de
seus esconderijos e começaram a persegui-la.
– Acho que lhe devo um pedido de desculpas – Mazzic disse
atrás dele.
Karrde balançou a cabeça.
– Esqueça – ele disse. – Ou melhor; não esqueça. Guarde isso
como um lembrete da maneira como o Grão Almirante Thrawn faz
negócios e de como pessoas como nós não significam nada para
ele.
– Não se preocupe – Mazzic disse gentilmente. – Não
esquecerei.
– Ótimo – Karrde disse secamente. – Bem, vamos tirar nosso
pessoal daqui e ajudar a tirar essa rede. Tenho certeza que todos
nós queremos estar fora de Hijarna antes que o Império perceba
que seu esquema fracassou.
A distância, acima do horizonte, eles viram um breve clarão de
luz.
– E enquanto estamos esperando – Karrde acrescentou – eu
ainda tenho uma proposta para apresentar a vocês.
– Tudo bem – Han disse a Lando, vasculhando com os dedos a
borda da perna esquerda de R2 para conseguir segurar melhor.
Prepare-se.
O droide chilreou alguma coisa.
– Ele está lembrando ao senhor para tomar cuidado – C-3PO
traduziu em pé, nervoso, pouco além do alcance deles, o suficiente
para que não gritassem. – Se o senhor se lembra da última vez...
– Nós não o deixamos cair de propósito – Han grunhiu. – Se ele
quiser esperar por Luke, tudo bem.
R2 voltou a chilrear.
– Ele diz que isso não será necessário, senhor – C-3PO disse
pomposo. – Ele confia no senhor completamente.
– Fico feliz em ouvir – disse Han. – Infelizmente não havia
melhores apoios. Ele vai ter que reclamar com a Automação
Industrial sobre isso um dia. Vamos lá, Lando: levantar.
Juntos eles fizeram esforço; e com um solavanco que sacudiu
as costas de Han o droide se levantou e saiu do emaranhado de
raízes de árvore onde, de algum modo, ele havia enrolado suas
rodas.
– Prontinho – grunhiu Han ao deixarem cair o droide de modo
mais ou menos gentil de volta ao chão e às folhas do leito seco do
rio. – Como está se sentindo?
A explicação desta vez foi mais longa.
– Ele diz que parece ter havido apenas dano mínimo – disse C-
3PO. – De natureza basicamente cosmética.
– Tradução: ele está enferrujando – resmungou Han,
esfregando a nuca ao se virar. Cinco metros leito de rio abaixo, Luke
estava usando seu sabre de luz para cortar cuidadosamente um
grupo de vinhas grossas que bloqueavam seu caminho. Ao lado
dele, Chewbacca e Mara estavam agachados com as armas
sacadas, prontos para atirar nas criaturas serpentinas que às vezes
saíam fervilhantes quando eram cortadas. Como tudo o mais em
Wayland, eles descobriram isso da maneira mais difícil.
Lando apareceu caminhando ao lado dele, sacudindo os
últimos pedaços de raiz ácida de árvore das mãos.
– Lugarzinho divertido, não é? – ele comentou.
– Eu devia ter trazido a Falcon mais perto – grunhiu Han. – Ou
a movido para mais perto quando descobrimos que não poderíamos
usar as speederbikes.
– Se você tivesse feito isso, nós poderíamos agora estar nos
esquivando de patrulhas imperiais em vez de combatendo as raízes
ácidas e as serpentes das vinhas – disse Lando. – Pessoalmente,
acho uma troca justa.
– Suponho que sim – Han concordou com relutância. Ali perto,
alguma coisa assoviou num padrão complicado, e outra coisa
assoviou de volta. Ele olhou naquela direção, mas, devido aos
arbustos baixos, as vinhas e dois diferentes níveis de árvore, ele
não conseguiu ver nada.
– Não parece lá muito um predador – disse Lando.
– Talvez – Han olhou para trás, para onde 3PO falava de modo
tranquilizador para R2 enquanto inspecionava as mais recentes
queimaduras de ácido no droide atarracado. – Ei, baixinho, coloque
seus scanners pra funcionar.
Obediente, R2 estendeu sua pequena antena e começou a
movimentá-la para frente e para trás. Por um minuto ele ficou
fazendo barulho para si mesmo, depois começou a trinar alguma
coisa.
– Ele diz que não existem mais grandes animais em parte
alguma dentro de um raio de vinte metros – disse 3PO – mais
além...
– Ele não consegue ler pelo mato cerrado – Han terminou a
frase por ele. Aquele estava começando se tornar um diálogo muito
familiar. – Obrigado.
R2 retraiu seu sensor, e ele e 3PO retomaram sua discussão.
– Para onde você acha que todos foram? – perguntou Lando.
– Os predadores? – Han balançou a cabeça. – Sei lá. Talvez
para o mesmo lugar que os nativos.
Lando olhou ao redor, soltando o ar gentilmente entre os
dentes.
– Não estou gostando disso. Ele já devem saber a esta altura
que estamos aqui. O que estão esperando?
– Talvez Mara estivesse errada a respeito deles – Han sugeriu
em dúvida. – Talvez o Império tenha ficado cansado de dividir o
planeta com alguém mais e os tenha exterminado.
– Que pensamento animador – disse Lando. – Mesmo assim
isso não explicaria por que os predadores nos ignoraram nos
últimos dois dias e meio.
– Não – concordou Han. Mas Lando tinha razão; havia mesmo
alguma coisa ali fora os observando. Ele podia sentir isso no seu
estômago. Alguma coisa ou alguém. – Talvez aqueles que saíram
daqui após a primeira briga tenham transmitido a notícia para nos
deixar em paz.
Lando bufou.
– Aquelas coisas eram mais burras que lesmas espaciais, e
você sabe disso.
Han deu de ombros.
– Foi só um pensamento.
À frente, o brilho esverdeado desapareceu quando Luke fechou
seu sabre de luz.
– Parece que está tudo limpo. – Ele chamou baixinho de volta.
– Vocês tiraram R2?
– Sim, ele está bem – disse Han, entrando atrás deles. –
Alguma serpente?
– Desta vez não. – Luke apontou com seu sabre de luz para
uma das árvores que bordejava o leito seco do rio. – Mas parece
que por pouco conseguimos escapar de outra batalha com um
grupo de pássaros de garra.
Han olhou. Ali, num dos galhos mais baixos, estava outro dos
ninhos de lama e grama do tamanho de um prato. C-3PO havia
roçado num deles no dia anterior, e Chewbacca ainda estava
cuidando dos cortes que havia levado no braço esquerdo antes que
tivessem conseguido atirar e cortar com sabre de luz os pássaros
predadores que tinham saído de dentro dele.
– Não toque nisso – ele avisou.
– Está tudo bem; está vazio – Luke garantiu, dando um
empurrão com a ponta dos sabre de luz. – Eles devem ter se
mudado.
– É – Han disse devagar, dando um passo mais próximo do
ninho. – Certo.
– Algo errado?
Han olhou para ele.
– Não – ele disse, tentando parecer casual. – Nenhum
problema. Por quê?
Atrás de Luke, Chewbacca rugia fundo na sua garganta.
– Vamos andando – Han acrescentou antes que Luke pudesse
dizer alguma coisa. – Quero avançar um pouco mais antes que
escureça. Luke, você e Mara levem os droides à frente. Chewie e eu
vamos assumir a retaguarda.
Luke não tinha gostado da ideia; era possível notar apenas ao
olhar para seu rosto. Mas ele simplesmente concordou com a
cabeça.
– Tudo bem. Vamos lá, 3PO.
Começaram a descer o leito do rio, 3PO reclamando como de
costume o tempo inteiro. Lando deu a Han um olhar bem próprio,
mas foi atrás sem comentários.
Ao seu lado, Chewbacca grunhiu uma pergunta.
– Vamos descobrir o que aconteceu com os pássaros-de-garra,
é isso o que vamos fazer – Han lhe respondeu, voltando a olhar
para o ninho. Não parecia danificado, como deveria estar no caso
de algum predador tê-lo pegado. – Você é quem consegue sentir o
cheiro de carne fresca a dez passos de distância com vento a favor.
Comece a farejar.
Acabou que o Wookiee não precisou usar muito de suas
habilidades de caça. Um dos pássaros estava caído ao lado de um
arbusto logo do outro lado da árvore, com as asas esticadas e
duras. Bem morto.
– O que você acha? – perguntou quando Chewbacca o
apanhou desajeitado. – Algum predador?
Chewbacca grunhiu em negativa. Suas garras de escalada
deslizaram de dentro das bainhas, sondando uma mancha marrom
escura nas penas sob a asa esquerda. Ele encontrou um corte, e
enfiou uma única garra delicadamente dentro dele.
E grunhiu.
– Tem certeza de que foi uma faca? – Han franziu a testa,
espiando a ferida. – Não algum tipo de garra?
O Wookiee tornou a rugir, apontando o óbvio – se o pássaro
tivesse sido morto por um predador, não deveria ter restado nada a
não ser os ossos.
– Certo – Han comentou ácido quando Chewbacca deixou o
pássaro cair ao lado do arbusto novamente. – Lá se vão as
esperanças de que os nativos não estivessem por perto. Devem
estar bem perto mesmo.
Chewbacca fez a pergunta óbvia.
– Sei lá – Han respondeu. – Talvez ainda estejam checando a
gente. Ou aguardando reforços.
O Wookiee rugiu, gesticulando para o pássaro, e Han deu outra
olhada. Ele tinha razão; a maneira como a ferida se apresentava
sugeria que as asas estavam abertas quando ele fora morto. O que
significava que havia sido morto em pleno voo. Por um único golpe.
– Tem razão. Eles não vão precisar de reforços – ele
concordou. – Vamos lá, vamos alcançar os outros.

Solo queria que continuassem até escurecer, mas depois de


outra discordância entre o droide astromec de Skywalker e um
emaranhado de vinhas ácidas, desistiu e mandou todos pararem.
– Então, qual é a ordem? – Mara perguntou quando Skywalker
deixou cair sua mochila entre eles e estendeu os músculos do
ombro. – Vamos ter que carregá-lo?
– Acho que não – disse Skywalker, olhando para trás onde
Calrissian e o Wookiee estavam com R2 virado de lado e mexendo
em suas rodas. – Chewie acha que vai ser capaz de consertá-lo.
– Você devia trocá-lo por alguma coisa que não fosse feita para
viajar sobre um convés metálico achatado.
– Às vezes eu gostaria de fazer isso – admitiu Skywalker,
sentando-se ao lado dela. – Mas, se você for levar tudo em conta,
ele até que se vira muito bem. Você devia ver o quanto ele
atravessou do deserto de Tatooine na primeira noite em que eu
estava com ele.
Mara olhou para além dos droides, onde Solo estava montando
seu saco de dormir e ficando de olho na floresta ao redor deles.
– Você vai me dizer o que Solo estava falando com você lá
atrás? Ou é um assunto que não devo saber?
– Ele e Chewie encontraram um dos pássaros-de-garra daquele
ninho vazio – disse Skywalker. – Aquele perto do segundo
emaranhado de vinhas que tivemos que cortar hoje. Ele havia sido
morto por uma facada.
Mara engoliu em seco, pensando em algumas das histórias que
havia ouvido quando esteve ali com o imperador.
– Provavelmente os Myneyrshi – ela disse. – Supostamente
eles fizeram do combate com lâminas corpo a corpo uma arte.
– Eles têm alguma opinião a respeito do Império?
– Como eu disse antes, eles não gostam de humanos – Mara
disse. – A começar por aqueles que vieram para cá como colonos
muito antes de o imperador encontrar o planeta.
Ela olhou para Skywalker, mas ele não estava olhando para ela.
Ele olhava para o nada, franzindo de leve a testa.
Mara respirou fundo, estendendo a Força o máximo possível.
Os sons e cheiros da floresta acharam seu caminho para dentro de
sua mente, entremeando-se e achatando-se no padrão geral da vida
ao seu redor. Árvores, arbustos, animais e pássaros...
E lá, logo no limite de sua consciência, estava outra mente.
Alienígena, impossível de ler... mas uma mente assim mesmo.
– Quatro delas – Skywalker disse baixinho. – Não. Cinco.
Mara franziu a testa, concentrando-se na sensação. Ele tinha
razão; havia mais de uma mente lá fora. Mas ela não conseguia
separar direito os diversos componentes da sensação.
– Tente procurar desvios – Skywalker murmurou. – As maneiras
pelas quais as mentes diferem uma da outra. É a melhor maneira de
colocá-las em resolução.
Mara tentou; e, para sua surpresa ligeiramente irritada,
descobriu que ele tinha razão. Havia uma segunda mente... uma
terceira...
E então, subitamente, elas desapareceram.
Ela olhou irritada para Skywalker.
– Eu não sei – ele disse lentamente, ainda se concentrando. –
Houve um pico de emoção, e então eles simplesmente se viraram e
partiram.
– Talvez eles não soubessem que estávamos aqui – Mara
sugeriu hesitante, sabendo no instante em que disse essas palavras
como aquilo era improvável. Entre o Wookiee rugindo para tudo que
vinha para cima deles e o droide de protocolo gemendo sobre todo o
resto, era de se espantar que o planeta inteiro não soubesse que
eles estavam lá.
– Não, eles sabiam – disse Skywalker. – Na verdade, tenho
certeza de que estavam vindo diretamente para nós quando foram...
– balançou a cabeça. – Quero dizer que eles foram assustados e se
afastaram. Mas isso não faz o menor sentido.
Mara olhou para o teto da floresta de folhas duplas acima de
suas cabeças.
– Poderíamos ter atraído uma patrulha imperial?
– Não – Skywalker estava certo disso. – Eu saberia se
houvesse algum outro humano por perto.
– Aposto que isso vem a calhar – Mara resmungou.
– É só uma questão de treinamento.
Ela lhe deu um olhar de esguelha. Havia algo estranho na voz
dele.
– O que isso quer dizer?
Ele fez uma cara de desgosto, apertando rapidamente a boca.
– Nada. Apenas... Eu estava pensando nos gêmeos de Leia.
Pensando sobre como eu vou ter que treiná-los um dia.
– Está preocupado sobre quando começar?
Ele balançou a cabeça.
– Estou preocupado sobre se serei capaz de fazer isso.
Ela deu de ombros.
– O que há para fazer? Você lhes ensina como ouvir mentes,
mover objetos e usar sabres de luz. Você fazia isso com sua irmã,
não?
– Sim – ele concordou. – Mas isso era quando eu pensava que
isso era tudo. Na verdade é só o começo. Eles vão ser fortes na
Força, e com essa força vem a responsabilidade. Como é que eu
ensino isso a eles? Como é que eu ensino a eles sabedoria,
compaixão e como não abusar de seu poder?
Mara estudou o perfil de Luke enquanto ele olhava para
floresta. Aquilo não eram apenas jogos de palavras; ele estava
realmente falando sério. Definitivamente um lado do Jedi heroico,
nobre e infalível que ela não tinha visto antes.
– Como é que alguém ensina a mais alguém essa coisa? – ela
perguntou. – Em grande parte pelo exemplo, eu suponho.
Ele parou para pensar nisso, e assentiu com relutância.
– Suponho que sim. Quanto treinamento Jedi o imperador deu a
você?
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
– Chega – ela disse ríspida, sacudindo o som das palavras de
sua mente tentando sufocar o clarão de ódio reflexivo que vinha
junto com elas. – Todo o básico. Por quê? Está checando para
descobrir se eu tenho sabedoria e compaixão?
– Não – ele hesitou. – Mas, já que temos mais alguns dias até
chegarmos ao Monte Tantiss, pode ser uma boa ideia repassar tudo
novamente. Você sabe; uma espécie de curso de reciclagem.
Ela olhou para ele, e um frio gélido percorreu sua espinha. Ele
estava sendo apenas um pouco casual demais a respeito...
– Você viu alguma coisa sobre o que está à nossa frente? – ela
perguntou desconfiada.
– Não exatamente – ele disse. Mas houve aquela breve
hesitação mais uma vez. – Algumas imagens e quadros que não
faziam o menor sentido. Só achei que seria uma boa ideia pra você
ser o mais forte possível na Força antes de prosseguirmos.
Ela desviou o olhar dele. VOCÊ VAI MATAR LUKE
SKYWALKER.
– Você vai estar lá – ela lembrou. – Por que eu preciso ser forte
na Força?
– Para qualquer propósito ao qual o seu destino a chamar – ele
disse, com a voz baixa porém firme. – Temos uma hora e pouco
antes de o sol se por. Vamos começar.
Enquanto se sentava no longo banco semicircular juntamente
com os outros comandantes de esquadrão de caças estelares,
Wedge Antilles deu uma breve olhada ao redor da sala de guerra do
cruzador estelar. Já havia uma boa multidão, e mais gente ainda
estava entrando. Fosse lá o que Ackbar havia planejado, ia ser uma
coisa grande.
– Olá, Wedge – alguém cumprimentou ao se sentar ao lado
dele. – Engraçado encontrar você aqui.
Wedge olhou para ele levemente surpreso. Pash Cracken, filho
do legendário general Airen Cracken, e um dos melhores
comandantes de caças estelares no ofício.
– Eu poderia dizer o mesmo a seu respeito, Pash – ele disse. –
Achei que você estava no setor de Atrivis, tomando conta do centro
de comunicações da Orla Exterior.
– Você está atrasado – Pash disse sombrio. – Generis caiu três
dias atrás.
Wedge o encarou.
– Eu não sabia – ele pediu desculpas. – Foi muito ruim?
– Ruim o bastante – disse Pash. – Perdemos todo o centro de
comunicação, mais ou menos intacto, e a maioria dos depósitos de
suprimentos da frota do setor. No lado positivo, não deixamos para
eles uma nave sequer que pudessem utilizar. E conseguimos
provocar problemas o suficiente, ao nos retirarmos, para permitir
que o general Kryll contrabandeasse Travia Chan e seu pessoal
debaixo do focinho dos imperiais.
– Já é alguma coisa, eu acho – disse Wedge. – O que foi que
derrubou vocês, números ou táticas?
– As duas coisas – Push disse com cara de desagrado. – Não
acho que Thrawn estivesse lá pessoalmente, mas com certeza ele
planejou o ataque. Wedge, vou te contar, os clones dele são a
coisas mais arrepiante que eu já encontrei. É como combater
stormtroopers; a mesma dedicação raivosa, a mesma precisão fria
de máquina. A única diferença é que agora eles estão em toda parte
em vez de simplesmente como tropa de choque.
– Nem me fale – Wedge concordou muito sério. – Tivemos de
combater dois esquadrões de TIE Fighters pilotados por essas
coisas no primeiro ataque de Qat Chrystac. Eles estavam fazendo
coisas que eu nem sabia que TIEs eram capazes de fazer.
Pash assentiu.
– O general Kryll acha que Thrawn deve estar escolhendo seu
melhor pessoal para os modelos de clonagem.
– Seria um imbecil se fizesse diferente. E quanto a Varth? Ele
conseguiu escapar?
– Não sei – disse Pash. – Perdemos o contato com ele durante
a retirada. Ainda estou torcendo para que ele tenha sido capaz de
escapar do outro lado da pinça e se encontrar com uma das
unidades em Fedje ou Ketaris.
Wedge pensou nas poucas vezes em que havia encarado o
comandante de grupo Varth por causa de alguma coisa,
normalmente envolvendo peças sobressalentes ou tempo de
manutenção. O homem era um tirano amargo de fala cáustica, com
o único talento redentor de ser capaz de jogar seus caças estelares
contra desvantagens ridículas e mesmo assim recuperá-los.
– Ele vai conseguir – disse Wedge. – Ele é muito teimoso para
rolar e morrer só para a conveniência do Império.
– Talvez. – Pash assentiu na direção do centro do salão. –
Parece que estamos prestes a começar.
Wedge se virou quando o burburinho de conversa ao redor
deles começou a morrer. O almirante Ackbar estava parado ao lado
da mesa do holograma central, flanqueado pelo general Crix Madine
e pelo coronel Bren Derlin.
– Oficiais da Nova República – Ackbar os saudou gravemente,
girando seus imensos olhos mon calamari para olhar toda a sala de
guerra. – Nenhum de vocês precisa ser lembrado de que, nas
últimas semanas, nossa guerra contra os remanescentes do Império
mudou do que antes era chamado exercício de limpeza para uma
batalha pela nossa sobrevivência. No momento a vantagem de
recursos e pessoal ainda é nossa, mas neste exato momento essa
vantagem corre perigo de ser perdida. Menos tangíveis mas não
menos sérias são as maneiras pelas quais o Grão Almirante Thrawn
está tentando minar nossa resolução e nosso moral. Está na hora
de nós jogarmos ambos esses aspectos do ataque de volta na cara
do Império. – Olhou para Madine. – General Madine.
– Suponho que todos vocês tenham sido brifados sobre a forma
inovadora de cerco que os imperiais criaram ao redor de Coruscant
– disse Madine, batendo seu ponteiro de luz gentilmente na palma
de sua mão esquerda. – Eles têm feito algum progresso em tornar
visíveis os asteroides camuflados; mas o que realmente precisam
para fazer o trabalho é uma Armadilhas Cristalinas de Campo
Gravitacional. Fomos designados para conseguir uma pra eles.
– Parece divertido – Pash murmurou.
– Quieto – Wedge murmurou de volta.
– A Inteligência localizou três delas – continuou Madine. –
Todos em espaço imperial, naturalmente. O mais simples de ir atrás
está em Tangrene, ajudando a proteger a nova base do Ubiqtorato
que estão montando lá. Muitas naves de carga e de construção se
movendo ao redor, mas relativamente poucas naves de combate.
Conseguimos inserir parte do nosso pessoal nas tripulações de
carga, e eles reportam que lugar está pronto para ser tomado.
– Parece muito com Endor – alguém comentou do banco em
frente a Wedge. – Como podemos ter certeza de que não é uma
armadilha?
– Na verdade, temos bastante certeza de que é uma armadilha
– Madine respondeu com um sorriso tenso. – Por isso estamos indo
para cá em vez de lá.
Apertou um botão. O holoprojetor se ergueu do centro da mesa,
e apareceu um esquema no ar acima dele.
– Os estaleiros imperiais de Bilbringi – ele identificou a imagem.
– E eu sei o que todos vocês estão dizendo a si mesmos: é grande,
é bem-defendido, e o que na galáxia o comando está pensando? A
resposta é simples: é grande, é bem-defendido e é o último lugar
que os imperiais vão esperar que ataquemos.
– Além do mais, se conseguirmos, teremos danificado
seriamente a capacidade de construção de naves deles –
acrescentou Ackbar. – Além de derrubar a crescente crença na
infalibilidade do Grão Almirante Thrawn.
O que supunha, claro, que Thrawn era falível. Wedge pensou
em apontar isso, mas decidiu não fazê-lo. Todo mundo ali
provavelmente estava pensando a mesma coisa de qualquer
maneira.
– A operação consistirá em duas partes – continuou Madine. –
Nós certamente não queremos decepcionar os imperiais que estão
planejando a armadilha para nós em Tangrene, portanto o coronel
Derlin estará encarregado de criar a ilusão de que esse sistema
será de fato nosso alvo. Enquanto ele faz isso, o almirante Ackbar e
eu estaremos organizando o ataque verdadeiro em Bilbringi. Alguma
pergunta?
Houve um momento de silêncio. Então Pash levantou a mão.
– O que acontece se os imperiais forem apenas em cima do
ataque a Bilbringi e descartarem completamente as preparações em
Tangrene?
Madine deu um sorriso fino.
– Nós ficaríamos muito decepcionados com eles. Está certo,
cavalheiros, temos uma força de ataque para organizar. Vamos
começar.

O quarto estava escuro, quente e silencioso. Ouvia-se apenas


os leves ruídos da noite da Cidade Imperial, para além das janelas,
e os sons mais sutis das crianças adormecidas do outro lado do
quarto. Escutando tudo e sentindo os aromas familiares da casa,
Leia ficou olhando para o teto e se perguntou o que a havia
despertado.
– A senhora necessita de algo, Lady Vader? – uma voz Noghri
suave veio das sombras ao lado da porta.
– Não, Mobvekhar, obrigada – disse Leia. Ela não havia feito
nenhum ruído; ele devia ter captado a mudança no padrão
respiratório dela. – Desculpe, eu não queria perturbá-lo.
– Não foi nada – o Noghri lhe assegurou. – Algo perturba a
senhora?
– Eu não sei – ela respondeu. – Tudo está começando a voltar
agora. Eu tive... não um sonho, exatamente. Algo mais parecido
com um clarão de insight. Uma peça de um quebra-cabeças
tentando se encaixar no lugar.
– A senhora sabe qual peça?
Leia balançou a cabeça.
– Não sei sequer qual quebra-cabeças.
– Está relacionada com o cerco de pedras no céu acima? –
perguntou Mobvekhar. – Com a missão de seu consorte e o filho de
Vader?
– Não tenho certeza – disse Leia, franzindo a testa,
concentrando-se na escuridão e praticando as técnicas de
ampliação de memória de curto prazo que Luke havia lhe ensinado.
Lentamente as imagens de sonho começaram a ficar mais vívidas...
– Foi alguma coisa que me falou. Não. Foi algo que Mara disse.
Algo que Luke fez. De algum modo elas se encaixam. Não sei
como... mas sei que é importante.
– Então a senhora encontrará a resposta – Mobvekhar disse
com firmeza. – A senhora é a Lady Vader. A Mal’ary’ush do Lorde
Vader. A senhora terá sucesso em qualquer objetivo que determinar
para si mesma.
Leia sorriu na escuridão. Não eram apenas palavras.
Mobvekhar e os outros Noghri realmente acreditavam nisso.
– Obrigada – ela disse, respirando fundo e sentindo uma
renovação do seu próprio espírito. Sim, ela conseguiria. Ainda que
não fosse por outro motivo além de justificar a confiança que os
Noghri haviam depositado nela.
Do outro lado do quarto, ela podia sentir a inquietação e a fome
cada vez maiores, o que significava que os gêmeos iriam acordar
em breve. Estendendo a mão para além do sabre de luz semioculto
abaixo de seu travesseiro, ela pegou seu robe. Fosse qual fosse
aquela importante peça de quebra-cabeças na qual ela havia
tropeçado, esperaria até amanhã.
A última nave rebelde sobrevivente piscou com pseudomovimento e
desapareceu no hiperespaço... E, depois de uma batalha de trinta
horas, o coração do setor de Kanchen era finalmente deles.
– Retire a frota do estado de batalha total, capitão – ordenou
Thrawn, com a voz sombriamente satisfeita enquanto ficava parado
em pé em frente à escotilha lateral. – Preparar para bombardeio
planetário, e mande o capitão Harbid transmitir nossos termos de
rendição ao governo de Xa Fel.
– Sim, senhor – disse Pellaeon digitando a ordem.
Thrawn meio que se virou para encará-lo.
– E envie outra mensagem para todas as naves – acrescentou.
– “Parabéns”.
Pellaeon sorriu. Sim; o Grão Almirante sabia mesmo como
liderar seus homens.
– Sim, senhor – ele disse, e transmitiu a mensagem. No seu
painel, uma luz se acendeu; uma mensagem pré-ordenada havia
acabado de passar pela decriptação. Ele a puxou, passou os olhos
por ela...
– Relatório de Tangrene? – Thrawn perguntou, ainda olhando
para o mundo indefeso abaixo deles.
– Sim, senhor – assentiu Pellaeon. – Os rebeldes enviaram
mais dois cargueiros para dentro do sistema. Scans de longo
alcance sugerem que eles descarregaram alguma coisa no sistema
exterior a caminho de entrada, até agora a inteligência não foi capaz
de localizar nem identificar as cargas.
– Instruam-nos para que não tentem – disse Thrawn. – Não
queremos assustar nossa presa.
Pellaeon assentiu, maravilhando-se mais uma vez com a
habilidade do Grão Almirante de ler seus oponentes. Até vinte horas
atrás ele teria jurado que os rebeldes não seriam audaciosos o
bastante para comprometer tantas forças assim em uma batalha só
para pegar um conjunto ACCG. Aparentemente eram.
– Também estamos obtendo relatórios de naves rebeldes
entrando discretamente na área de Tangrene – ele acrescentou,
voltando a ler o relatório. – Naves de guerra, caças estelares, naves
de apoio: todo o efetivo.
– Ótimo – disse Thrawn. Mas havia algo de preocupante a
respeito da maneira como ele colocava as mãos atrás das costas.
Uma mensagem apareceu no painel de Pellaeon: o governo de
Xa Fel havia aceitado os termos de Harbid.
– Mensagem da Caveira, almirante – ele disse. – Xa Fel se
rendeu.
– Não era inesperado – disse Thrawn. – Informe ao capitão
Harbid que ele irá lidar com os pousos e distribuição das tropas.
Você, capitão, irá reconfigurar a frota em formação defensiva até
que as defesas planetárias tenham sido asseguradas.
– Sim, senhor. – Pellaeon franziu a testa para as costas do
Grão Almirante. – Algo errado, almirante?
– Não sei – Thrawn disse devagar. – Estarei na minha sala de
comando, capitão. Junte-se a mim lá daqui a uma hora.
Ele se virou e deu um sorriso tenso para Pellaeon.
– Talvez até lá eu tenha uma resposta para essa pergunta.

Gillespee terminou de ler e entregou o datapad para Mazzic por


cima da mesa.
– Você nunca deixa de me espantar, Karrde – ele disse, sua voz
apenas alta o bastante para ser ouvida por cima do ruído de fundo
do tapcaf. – Onde no espaço você desenterra essas coisas, aliás?
– Por aí – disse Karrde, acenando vagamente com a mão. –
Por aí.
– Isso pra mim não quer dizer nem cuspe de mynock –
reclamou Gillespee.
– Acho que essa foi a intenção dele – Mazzic disse secamente,
devolvendo o datapad para Karrde. – Eu concordo; é muito
interessante. A pergunta é se podemos acreditar.
– A informação em si é confiável – disse Karrde. – A minha
interpretação dela, claro, certamente está aberta a
questionamentos.
Mazzic balançou a cabeça.
– Não sei. Parece um movimento muito desesperado para mim.
– Eu não diria desesperado – discordou Karrde. – Considere,
em vez disso, um retorno às táticas ousadas pelas quais a Aliança
Rebelde costumava ser conhecida. Pessoalmente acho que um
movimento assim já era para ter sido feito há muito tempo; eles se
permitiram ser colocados na defensiva por muito mais tempo do que
deveriam.
– Isso não muda o fato de que se não funcionar eles vão perder
muitas naves – Mazzic apontou. – Até duas frotas de setor inteiras,
se você acreditar nestes números.
– É verdade – concordou Karrde. – Mas, se funcionar, eles vão
conseguir uma grande vitória contra Thrawn e uma grande subida
no moral. Isso para não mencionar um conjunto de ACCG.
– É, essa é outra coisa – interrompeu Gillespee. – Aliás, para
que eles precisam de um ACCG?
– Supostamente tem algo a ver com o motivo pelo qual
Coruscant tem estado fechado para o tráfego de civis nos últimos
dias – disse Karrde. – É tudo o que sei.
Mazzic se recostou na sua cadeira e fixou Karrde com um olhar
especulativo.
– Esqueça o motivo. O que você está propondo que façamos a
respeito?
Karrde deu de ombros.
– Me parece que a Nova República está bastante desesperada
para pôr as mãos num ACCG. Se estão dispostos a lutar por um,
suponho que estariam ainda mais dispostos a pagar por um.
– Parece razoável – concordou Mazzic. – Então, o que você
quer que façamos, entremos de fininho em Tangrene antes que eles
cheguem lá?
– Não exatamente – Karrde balançou a cabeça. – Achei que
enquanto todos estivessem ocupados lutando em Tangrene,
poderíamos apanhar o ACCG de Bilbringi.
O sorriso de Mazzic desapareceu.
– Você está brincando.
– Na verdade não é má ideia – interrompeu Gillespee, girando
lentamente os restos do drinque no seu copo. – Entramos de
mansinho antes que o ataque comece, depois agarramos o ACCG e
damos o fora.
– No meio de metade da frota imperial? – Mazzic retrucou. – O
que é que há; eu já vi o tipo de poder de fogo que eles têm lá.
– Duvido que eles tenham mais do que uma defesa básica lá –
Karrde ergueu uma sobrancelha. – A menos que você pense
seriamente que Thrawn não irá se antecipar e se preparar para o
movimento da Nova República em Tangrene.
– Você tem razão – admitiu Mazzic. – Eles não podem se dar
ao luxo de deixar a Nova República ganhar lá, podem?
– Particularmente não em Tangrene – assentiu Karrde. – Foi
onde o general Bel Iblis os atingiu com sucesso uma vez antes.
Mazzic grunhiu e puxou o datapad na sua frente novamente.
Karrde o deixou reler a informação e análise, olhando devagar para
o tapcaf enquanto aguardava. Perto da entrada principal, Aves e
Faughn, o tenente de Gillespee, estavam sentados juntos em uma
das mesas, fazendo um bom trabalho para parecerem discretos. No
outro lado, perto da entrada dos fundos, a guarda-costas de Mazzic,
Shada, estava fazendo o papel de anfitriã flertando com Dankin e
Torve, e toda essa rotina estava sendo olhada de modo convincente
por Rappapor e Oshay, mais dois membros do grupo de Gillespee.
Três outras mesas de forças de apoio estavam espalhadas pelo
tapcaf, todas preparadas. Desta vez, nenhum deles ia correr o risco
de uma possível interferência do Império.
– Não vai ser fácil – Mazzic finalmente avisou. – Thrawn ficou
furioso com aquele ataque que nós fizemos. Eles provavelmente
refizeram todo seu esquema de segurança a esta altura.
– Melhor ainda – disse Karrde. – Eles ainda não terão
encontrado os furos dele. Você está dentro ou fora?
Mazzic olhou de novo no datapad.
– Posso estar dentro – ele grunhiu. – Mas somente se você
conseguir uma confirmação da hora desse negócio em Tangrene.
Não quero Thrawn em nenhum lugar dentro de cem anos-luz de
Bilbringi quando atacarmos o lugar.
– Isso não deverá ser problema – disse Karrde. – Nós
conhecemos os sistemas onde a Nova República está reunindo
suas forças. Vou enviar parte do meu pessoal para dar uma espiada
e ver onde eles podem aparecer.
– E se eles não conseguirem nada?
Karrde sorriu.
– Preciso mandar Ghent nos colocar na lista de pagamento
deles de qualquer maneira – ele ressaltou. – Enquanto ele estiver no
sistema, bem que poderia checar os planos de combate deles
também.
Por um momento Mazzic simplesmente olhou fixo pra ele.
Então, subitamente, o franzir da testa sumiu e ele chegou a rir.
– Sabe, Karrde, nunca vi ninguém jogar ambas as extremidades
contra o meio do jeito que você faz. Ok. Estou dentro.
– Fico feliz de ter você – assentiu Karrde. – Gillespee?
– Eu já vi os clones de Thrawn em ação – Gillespee lembrou
com amargura. – Pode apostar que estou dentro. Além disso, se
vencermos talvez eu consiga de volta aquela terra que o Império
roubou de mim em Ukio.
– Eu vou falar bem de você para a Nova República – prometeu
Karrde. – Então está bem. Vou levar a Wild Karrde para Coruscant,
mas deixo Aves para trás para coordenar minha parte do grupo de
ataque. Ele lhes dará o plano de operações quando vocês fizerem
sua checagem.
– Parece bom – disse Mazzic quando todos se levantaram. –
Sabe, Karrde, eu espero estar por perto para ver o dia que a Nova
República pegar você. Não importa se eles vão lhe dar uma
medalha ou simplesmente fuzilá-lo, de qualquer maneira será um
grande espetáculo.
Karrde sorriu para ele.
– Eu também espero estar lá nesse dia – ele disse. – Bons
voos, cavalheiros; vejo vocês em Bilbringi.

A rajada brilhante de turbolaser verde faiscou para baixo do


Star Destroier de aspecto nebuloso na distância além. Ela bateu
levemente contra o escudo de energia invisível, depois reapareceu a
uma curta distância, continuando em frente...
– Pare – disse o almirante Drayson.
O registro congelou, e a mancha nebulosa de fogo de
turbolaser parecia angular e um tanto artificial ali parada no modo de
frame congelado na tela principal.
– Peço desculpas pela qualidade aqui – disse Drayson,
andando para bater nele com seu ponteiro de luz. – Os registros
macrobinoculares só podem ser aumentados um pouco antes que
os algoritmos comecem a quebrar. Mas, mesmo assim, acho que
todos podem ver o que está acontecendo. A rajada do Star Destroier
não está na verdade penetrando o escudo planetário de Ukio. O que
parece ser essa mesma rajada é na verdade um segundo disparo,
disparado de um vaso camuflado no interior do escudo.
Leia espiou a imagem nebulosa. Não parecia assim tão óbvio
para ela.
– O senhor tem certeza? – ela perguntou.
– Muita certeza – disse Drayson, tocando com seu ponteiro de
luz o espaço vazio entre a mancha e o fogo verde contínuo. –
Temos dados espectrais e de linhas de energia sobre os próprios
raios; mas este espaço por si mesmo é realmente toda prova de que
precisamos. Esta é a massa da segunda nave; provavelmente um
cruzador leve classe Carraca, a julgar pelo tamanho.
Ele abaixou o ponteiro de luz e olhou ao redor da mesa.
– Em outras palavras, a nova superarma do Império é nada
mais que uma fraude extremamente inteligente.
Leia pensou naquela reunião nos aposentos do almirante
Ackbar, quando ele ainda estava sob suspeita de traição.
– Uma vez Ackbar alertou Han que um Grão Almirante poderia
encontrar maneiras de usar um escudo de camuflagem contra nós.
– Não acho que você vá encontrar ninguém que discuta essa
questão – assentiu Drayson. – De qualquer maneira isto deverá
colocar um fim neste gambito em particular. Vamos espalhar um
alerta para todas as forças planetárias que, se o Império tentar
novamente, tudo que eles precisam fazer é dirigir um fogo de
saturação no ponto onde as rajadas de turbolaser parecem estar
penetrando o escudo.
– Fraude ou não, ainda assim foi um show altamente
impressionante – comentou Bel Iblis. – A posição e o timing foram
muito bem trabalhados. O que você acha, Leia; aquele Jedi insano
com o qual Luke travou combate em Jomark?
– Acho que não há a menor dúvida – disse Leia, enquanto um
estremecimento tomava conta de seu corpo. – Já vimos esse tipo de
coordenação entre forças nas campanhas anteriores de Thrawn.
Sabemos por Mara que C’baoth e Thrawn estão trabalhando juntos.
Mencionar o nome de Mara foi um erro. Houve um movimento
geral desconfortável nas cadeiras ao redor da mesa quando a
sensação emocional no aposento esfriou de modo visível. Todos
haviam ouvido a explicação de Leia para sua decisão unilateral de
soltar Mara, e nenhum deles havia gostado.
Bel Iblis foi o primeiro a quebrar o silêncio desconfortável.
– De onde veio este registro macrobinocular, almirante?
– Daquele contrabandista, Talon Karrde – disse Drayson. Ele
lançou um olhar significativo para Leia. – Outro estrangeiro que
chegou aqui oferecendo informações valiosas que de nada
adiantaram.
Leia se irritou.
– Isso não é justo – ela insistiu. – O fato de que perdemos a
frota Katana não foi culpa de Karrde. – Ela olhou para o conselheiro
Fey’lya, sentado silencioso na mesa, fazendo sua penitência
Bothana privada. Se Fey’lya não tivesse tido feito aquela loucura de
tentar o poder...
Ela olhou de volta para Drayson.
– Não foi culpa de ninguém – ela acrescentou baixinho,
soltando finalmente os últimos vestígios de ressentimento por
Fey’lya e permitindo que eles sumissem. O reconhecimento de sua
falha já estava paralisando o Bothano. Ela não podia permitir que a
raiva há muito tempo morta fizesse o mesmo com ela.
Bel Iblis pigarreou.
– Eu acho que o que Leia está tentando dizer é que sem a
ajuda de Karrde poderíamos ter perdido mais do que apenas a frota
Katana. Independentemente do que o senhor pensa de
contrabandistas em geral ou de Karrde em particular, nós temos
uma dívida para com ele.
– Interessante que o senhor deva dizer isso, general – Drayson
disse secamente. – Karrde parece sentir o mesmo. Em troca deste
registro e certos outros itens pequenos de inteligência, ele sacou
uma quantia muito liberal de uma certa linha de crédito da Nova
República. – Ele voltou a olhar para Leia. – Uma linha
aparentemente aberta pelo irmão da conselheira Organa Solo.
O comandante Sesfan, representante de Ackbar no conselho,
girou seus imensos olhos mon calamari para Leia.
– O Jedi Skywalker autorizou pagamentos para um
contrabandista? – ele perguntou, com a voz rouca parecendo
atônita.
– Isso mesmo – confirmou Drayson. – Completamente sem
autorização, é claro. Vamos fechá-la imediatamente.
– Vocês não farão tal coisa – a voz baixa de Mon Mothma veio
da cabeceira da mesa. – Se Karrde está oficialmente no nosso lado
ou não, ele obviamente está disposto a nos ajudar. Isto o torna
digno de nosso apoio.
– Mas ele é um contrabandista – discordou Sesfan.
– Han também era – Leia o lembrou. – E também Lando
Calrissian. Ambos se tornaram generais.
– Depois que se juntaram a nós – retrucou Sesfan. Karrde não
assumiu tal compromisso.
– Não importa – disse Mon Mothma. – Sua voz estava baixa,
mas havia aço embaixo dela. – Precisamos de todos os aliados que
pudermos conseguir. Oficiais ou não.
– A menos que ele esteja armando para nós – Drayson
ressaltou sombrio. – Ganhando nossa confiança com coisas como
este registro macrobinocular para que ele possa nos alimentar com
desinformação depois. E no meio tempo lucrando muito com isso.
– Simplesmente temos que ter certeza de que podemos avistar
esse tipo de duplicidade – Mon Mothma disse a ele. – Mas não creio
que isto vá acontecer. Luke Skywalker é um Jedi... e ele obviamente
tem alguma confiança neste Karrde. Independentemente disso, por
ora, nosso foco deveria estar nas partes de nosso destino que estão
em nossas mãos. Almirante Drayson, senhor tem o mais recente
relatório sobre operação de Bilbringi?
– Sim – assentiu Drayson, puxando um cartão de dados. Ele o
inseriu na fenda da tela, e ao fazer isso, Leia ouviu o bip fraco de
um comlink ao lado dela. Winter puxou o dispositivo de seu cinto e
falou baixinho nele. Leia não conseguiu ouvir a resposta, mas sentiu
a variação súbita nos sentidos de Winter.
– Problemas? – ela murmurou.
– Posso ter a atenção de todos? – perguntou Drayson, só um
pouco alto demais.
Leia voltou a atenção pra ele, sentindo o rosto ficar quente,
enquanto Winter afastou a cadeira e seguiu até a porta. Drayson
olhou fuzilando para as costas dela, e aparentemente decidiu que
não valia a pena invocar a costumeira regra da sala fechada. A
porta se abriu ao toque de Winter e uma pessoa invisível pôs um
cartão de dados na mão dela. A porta voltou se fechar...
– Bem? – Drayson exigiu saber. – Espero que isto seja uma
coisa que não podia ter esperado.
– Estou certa de que podia ter esperado – Winter disse
friamente, dando a Drayson seu melhor olhar antipressão enquanto
voltava para sua cadeira e se sentava. – Para a senhora, Sua Alteza
– ela disse, entregando a Leia o cartão de dados. – As coordenadas
do planeta Wayland.
Uma ondulação de surpresa percorreu o salão quando Leia
aceitou o cartão.
– Isso foi rápido – disse Drayson, tingindo a voz de
desconfiança. – Eu tinha a impressão de que esse lugar ia ser muito
mais difícil de encontrar.
Leia deu de ombros, tentando suprimir sua própria pontada de
incômodo. Essa também havia sido sua impressão.
– Aparentemente não era.
– Mostre para nós – disse Mon Mothma.
Leia enfiou o cartão de dados na fenda e digitou o visual. Um
mapa de setor apareceu na tela principal, com nomes familiares
flutuando ao lado de várias das estrelas. No centro, cercado por um
grupo de estrelas não nomeadas, um dos sistemas piscava em
vermelho. Na parte inferior do mapa havia uma pequena lista de
dados planetários e algumas linhas de texto.
– Então esse é o ninho de rato do imperador – murmurou Bel
Iblis, inclinando-se para frente para estudá-lo. – Sempre me
perguntei onde ele escondia todas aquelas coisinhas interessantes
que pareciam desaparecer misteriosamente de armazéns e
depósitos oficiais.
– Se esse é realmente o lugar – murmurou Drayson.
– Presumo que você possa confirmar que a informação veio do
capitão Solo – disse Mon Mothma, olhando para Winter.
Winter hesitou.
– Não veio exatamente dele – ela disse.
Leia franziu a testa.
– Como assim, não exatamente? Veio de Luke?
Um músculo no rosto de Winter repuxou.
– Só posso dizer que a fonte é confiável.
Houve um curto momento de silêncio quando todos digeriram
isso.
– Confiável – disse Mon Mothma.
– Sim – Winter assentiu.
Mon Mothma olhou bem para Leia.
– Este conselho não está acostumado a ter informações ocultas
– ela disse. – Eu quero saber de onde estas coordenadas vieram
– Desculpe-me – Winter disse baixinho. – O segredo não é meu
para revelar.
– De quem é esse segredo?
– Também não posso dizer.
O rosto de Mon Mothma escureceu.
– Não interessa – Bel Iblis interrompeu antes que ela pudesse
falar. – Não neste momento. Se este planeta é de fato o centro de
clonagem ou não, não há nada que possamos fazer a respeito até
que a operação de Bilbringi tenha acabado.
Leia olhou para ele.
– Não vamos enviar nenhum apoio?
– Impossível – grunhiu Sesfan, balançando sua imensa cabeça
mon calamari. – Todas as naves e pessoal disponíveis já estão
comprometidos com o ataque a Bilbringi. Regiões e sistemas
demais já estão indefesos do jeito que está.
– Especialmente quando sequer sabemos se esse é o lugar
correto – acrescentou Drayson. – Poderia ser simplesmente uma
armadilha do Império.
– Não é uma armadilha – insistiu Leia. – Mara não está
trabalhando mais para o Império.
– Só temos sua palavra a esse respeito.
– Ainda assim não importa – Bel Iblis o interrompeu, cortando a
crescente discussão com sua voz senatorial. – Olhe a parte inferior
do mapa, Leia; ali diz que todas as indicações são de que o pouso
deles não foi detectado. Você realmente quer arriscar esse
elemento-surpresa enviando outra nave atrás deles?
Leia sentiu seu estômago apertar. Infelizmente, ele tinha razão.
– Então talvez o ataque a Bilbringi deva ser adiado – disse
Fey’lya.
Leia virou para olhar pra ele, não muito consciente de que toda
a mesa estava fazendo o mesmo. Era praticamente a primeira vez
que o Bothano havia falado em uma reunião do Conselho desde que
sua busca por poder havia ignominiosamente desabado com a
história da frota Katana.
– Receio que isso esteja fora de questão, conselheiro Fey’lya –
disse Mon Mothma. – Além de todos os preparativos que teriam de
ser descartados, é absolutamente imperativo que nós limpemos
esses asteroides camuflados pendurados sobre nossas cabeças.
– Por quê? – Fey’lya exigiu saber, uma ondulação percorrendo
o pelo de seu pescoço e descendo pelos seus ombros. – O escudo
nos protege. Temos suprimentos adequados para muitos meses.
Temos comunicação total com o resto da Nova República. Isso é
meramente o medo de parecermos fracos e indefesos?
– Aparências e percepções são importantes para a Nova
República – Mothma lembrou. – E adequadamente. O Império
governa por força e ameaça; nós governamos, em vez disso, por
inspiração e liderança. Não podem perceber que estamos aqui com
medo de morrer.
– Isto está além da imagem e da percepção – insistiu Fey’lya; o
pelo se achatou na sua nuca. – O povo Bothano conhecia o
imperador; conhecia seus desejos e suas ambições, talvez melhor
do que todos os que não eram seus aliados e servos. Existem
coisas naquele armazém que nunca mais devem vir à luz. Armas e
dispositivos que Thrawn um dia encontrará e usará contra nós, a
menos que nós o impeçamos de fazê-lo.
– E nós o faremos – Mon Mothma lhe assegurou. – E logo. Mas
não antes de danificarmos os estaleiros de Bilbringi e obtermos um
conjunto de ACCG.
– E o capitão Solo e o irmão da conselheira Organa Solo?
As rugas ao redor da boca de Mon Mothma se apertaram.
Apesar de toda a rígida lógica militar, Leia podia ver que ela também
não gostava de abandoná-los lá.
– Tudo o que podemos fazer por eles agora é continuar com
nossos planos – ela disse baixinho. – Atrair a atenção do Grão
Almirante para nosso suposto ataque a Tangrene. – Olhou para
Drayson. – Coisa que estamos prestes a discutir. Almirante?
Drayson avançou até a tela mais uma vez.
– Vamos começar com o estado atual de preparações para a
finta de Tangrene – ele disse, ligando seu ponteiro de luz para
chamar a tela adequada.
Leia olhou de esguelha para Fey’lya, e para os sinais óbvios de
agitação ainda visíveis no rosto e nos movimentos do pelo do
Bothano. O que estava na montanha, ela se perguntou, que ele
tinha tanto medo que Thrawn obtivesse?
Talvez fosse melhor que ela não soubesse.

Pellaeon entrou na mal-iluminada antessala, logo na parte de


fora da sala de comando de Thrawn. Seus olhos analisavam
rapidamente todo o redor. Rukh estava em algum lugar, esperando
para jogar seus joguinhos Noghri. Ele deu um passo na direção da
porta para a câmera principal, deu mais outro...
Um toque de ar na sua nuca. Pellaeon girou, mãos subindo
num semiautomático movimento de autodefesa da academia.
Não havia ninguém lá. Tornou a olhar ao redor, buscando onde
o Noghri poderia ter se escondido.
– Capitão Pellaeon – a voz de gato familiar miou atrás dele.
Ele tornou a girar mais uma vez. Mais uma vez, não havia
ninguém lá; mas enquanto seus olhos vasculhavam as paredes e
uma cobertura não existente, Rukh saiu de trás dele.
– O senhor está sendo esperado – disse o Noghri, fazendo um
gesto com sua fina faca de assassino na direção da porta principal.
Pellaeon olhou pra ele fuzilando. Um dia, ele prometeu sombrio
para si mesmo, ele convenceria Thrawn de que um Grão Almirante
do Império não precisava de um guarda-costas alienígena arrogante
para protegê-lo. E quando isso acontecesse, ele teria um prazer
muito pessoal em mandar matar Rukh.
– Obrigado – ele grunhiu, e entrou.
Ele havia esperado que a sala de comando estivesse repleta
com a costumeira coleção eclética de arte alienígena de Thrawn, e
estava certo. Mas com uma pequena diferença: mesmo para o olho
não treinado de Pellaeon, estava claro que dois estilos muito
diferentes de arte estavam sendo representados. Eles estavam
espalhados de lados opostos do aposento, com um grande holo
tático do sistema de Tangrene preenchendo o centro.
– Entre, capitão – Thrawn chamou do círculo duplo de telas
quando Pellaeon fez uma pausa perto da porta. – Quais são as
notícias de Tangrene?
– Os rebeldes ainda estão movimentando forças para posições
de ataque – Pellaeon lhe disse, abrindo caminho entre as esculturas
e o holo tático na direção da cadeira de comando de Thrawn. –
Entrando maliciosos em nossa armadilha.
– Quão conveniente para eles – Thrawn fez um gesto para sua
direita. – Arte mon calamari – ele a identificou. – O que acha?
Pellaeon deu uma rápida olhada ao se aproximar do círculo
duplo de telas. Parecia tão repulsiva e primitiva quantos os próprios
Mon Calamari.
– Muito interessante – ele disse em voz alta.
– Não é? – concordou Thrawn. – Essas duas peças em
particular foram criadas pelo próprio almirante Ackbar.
Pellaeon olhou para as esculturas indicadas.
– Não sabia que Ackbar tinha qualquer interesse em arte.
– Apenas um pequeno interesse – disse Thrawn. – Elas foram
compostas algum tempo atrás, antes de ele entrar para a Rebelião.
Mesmo assim, oferecem insights úteis para seu caráter. Como
essas aqui – ele acrescentou, fazendo um gesto para sua esquerda.
– Arte outrora escolhida pessoalmente pelo nosso adversário
corelliano.
Pellaeon olhou pra eles com novo interesse. Então o senador
Bel havia escolhido aquelas ele mesmo, não é?
– De onde eram elas, de seu antigo escritório no Senado
imperial?
– Essas eram – disse Thrawn, indicando o grupo mais próximo.
– Aquelas eram de seu lar; estas de sua nave particular. A
Inteligência encontrou estes registros, de modo mais ou menos
acidental, nos dados de nosso último ataque de informações a
Obroa-skai. Então os rebeldes continuam a avançar na direção de
nossa armadilha, não é?
– Sim, senhor – disse Pellaeon, feliz ao voltar a um assunto que
conseguia entender. – Tivemos mais dois relatórios de naves de
apoio rebelde se movimentando para posições na borda do sistema
de Draukyze.
– Mas não obviamente.
Pellaeon franziu a testa.
– Perdão, almirante?
– O que eu quero dizer é que eles estão sendo altamente
secretos com as preparações – Thrawn disse pensativo. –
Destacando discretamente inteligência e naves de apoio de outras
missões; movendo e reformando frotas de setores para libertar
naves de guerra para serviço, esse tipo de coisa. Nunca de maneira
óbvia. Sempre tornando difícil para a Inteligência do Império juntar
as peças.
Ele olhou para Pellaeon, com seus olhos vermelhos brilhantes
reluzindo na luz baça.
– Quase como se Tangrene fosse de fato seu verdadeiro alvo.
Pellaeon o encarou.
– O senhor está dizendo que não é?
– Correto, capitão – disse Thrawn, olhando para as obras de
arte.
Pellaeon olhou para o holo de Tangrene. A Inteligência havia
colocado uma probabilidade de 94 por cento nisso.
– Mas se eles não vão atacar Tangrene... vão atacar onde?
– O último lugar em que normalmente os esperaríamos – disse
Thrawn, estendendo a mão para tocar um botão em seu painel de
comando. O sistema de Tangrene desapareceu, para ser substituído
por...
Pellaeon sentiu o queixo cair.
– Bilbringi? – ele voltou o olhar violentamente para seu
comandante. – Senhor, isso é...
– Loucura? – Thrawn ergueu uma sobrancelha negro-azulada.
– Claro que é. A loucura de homens e alienígenas que aprenderam
do jeito mais difícil que não podem me enfrentar face a face. E
assim eles tentam utilizar minha própria habilidade tática e insight
contra mim. Eles fingem entrar na minha armadilha apostando que
vou notar a sutileza de seus movimentos e interpretá-los como
intenção genuína. E enquanto eu me parabenizo pela minha
percepção – ele fez um gesto para o holo de Bilbringi – eles
preparam o seu verdadeiro ataque.
Pellaeon olhou para a antiga obra de arte de Bel Iblis.
– Talvez seja melhor esperar confirmação antes de
deslocarmos qualquer força de Tangrene, almirante – ele sugeriu
com cautela. – Poderíamos intensificar atividades de inteligência na
região de Bilbringi. Quem sabe a fonte Delta possa confirmar isso.
– Infelizmente, a fonte Delta foi silenciada – disse Thrawn. –
Mas não precisamos de confirmação. Este é o plano dos rebeldes, e
não vamos arriscar nos desequilibrar com algo tão óbvio quanto
aumentar a presença da inteligência. Eles acreditam que me
enganaram. Nossa maior tarefa agora é nos certificar de que eles
continuem a acreditar nisso.
Deu um sorriso sombrio.
– Afinal, capitão, não faz diferença se vamos esmagá-los em
Tangrene ou Bilbringi. Não faz a menor diferença.
A vagem de semente, que parecia uma pequena hélice torta,
flutuava um metro e meio na frente de Mara, praticamente a
provocando para que a acertasse. Ela mirou, sombria, erguendo o
sabre de luz de Skywalker e segurando-o com as duas mãos, numa
pegada não muito ortodoxa, porém versátil. Já havia errado a
vagem duas vezes; não pretendia fazê-lo uma terceira.
– Não tenha pressa – Skywalker aconselhou. – Concentre-se e
deixe a força fluir para dentro de você. Tente antecipar o movimento
da vagem.
Para ele, falar era fácil, ela pensou ácida; afinal era ele quem a
estava controlando. A vagem se aproximou um milímetro,
provocando-a mais uma vez...
E então Mara decidiu que estava cansada daquele jogo.
Usando a Força, tomou controle da vagem. Imobilizada por um
rápido instante, a vagem chegou a tremer um pouco antes que Mara
a acertasse em cheio com a ponta do sabre de luz.
– Pronto – ela disse, fechando a arma. – Consegui.
Ela tinha esperado que Skywalker ficasse zangado. Para sua
leve surpresa, e não tão leve irritação, ele não ficou nem um pouco.
– Ótimo – ele disse encorajador. – Muito bom. É difícil dividir
sua atenção entre duas atividades mentais e físicas separadas
assim. E você fez bem.
– Obrigada – ela resmungou, jogando o sabre de luz para longe
dela na direção dos arbustos. Ele fez uma curva suave no meio do
ar quando Skywalker o puxou de volta para pousar na sua mão
estendida. – Então é isso? – ela perguntou.
Skywalker olhou pra trás. Solo e Calrissian estavam agachados
sobre o droide de protocolo, que havia parado de reclamar sobre o
terreno, a vegetação e a vida animal de Wayland, e em vez disso
estava reclamando sobre os estragos causados a seu pé, que havia
sido esmagado por uma crosta de pedra. O droide astromec estava
pairando ali por perto com sua antena sensora estendida, tocando
seu repertório usual de ruídos encorajadores. A dois passos de
distância, o Wookiee estava mexendo em uma de suas mochilas,
provavelmente procurando uma ferramenta qualquer.
– Acho que temos tempo para mais alguns exercícios –
Skywalker decidiu, voltando-se para encará-la. – Essa sua técnica é
muito interessante. Obi-wan nunca me ensinou nada sobre usar a
ponta da lâmina do sabre de luz.
– A filosofia do imperador era usar tudo que você tivesse à
disposição – disse Mara.
– De algum modo isso não me surpreende – Skywalker disse
secamente. Ele estendeu o sabre de luz. – Vamos tentar outra
coisa. Vá em frente e pegue o sabre de luz.
Usando a Força, Mara puxou o sabre das mãos de Luke,
perguntando-se vagamente o que ele faria se ela tentasse de algum
modo acender a arma primeiro. Ela não tinha certeza de que
conseguiria lidar com algo tão pequeno quanto um botão, mas
valeria a pena tentar só para vê-lo fugir da lâmina.
E se, no processo, ela por acaso o matasse acidentalmente...
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
Ela apertou o sabre de luz com força. Ainda não, ela disse à
voz com firmeza. Ainda preciso dele.
– Tudo bem – ela grunhiu. – E agora?
Ele não teve chance de responder. Atrás dele, o droide
astromec subitamente começou a chilrear empolgado.
– O quê? – Solo exigiu saber, com a arma já fora do coldre.
– Ele diz que acabou de notar algo que vale a pena investigar
ali para o lado – o droide de protocolo traduziu, fazendo um gesto
para a sua esquerda. – Um grupo de vinhas, acredito que ele está
dizendo. Embora eu pudesse estar enganado... com todo o dano do
ácido...
– Vamos, Chewie, vamos checar – Solo interrompeu,
levantando-se e começando a subir a encosta rasa do leito do rio.
Skywalker olhou pra Mara.
– Vamos – ele disse, e começou a ir atrás deles.
Não foram muito longe. Logo dentro da primeira fileira de
árvores, oculto das vistas por um arbusto, havia outro conjunto de
vinhas como aquelas que eles vinham ocasionalmente cortando nos
últimos dois dias.
Só que aquele grupo já havia sido cortado. Cortado e depois
colocado fora do caminho como uma pilha de cordas grossas
emaranhadas.
– Eu acho que isso termina qualquer discussão quanto ao fato
de haver alguém lá fora nos ajudando – disse Calrissian, estudando
uma das pontas cortadas.
– Acho que você tem razão – disse Solo. – Nenhum predador
as teria colocado em grupo assim.
O Wookiee rugiu algo baixinho e puxou o arbusto na frente das
vinhas. Para surpresa de Mara, ele saiu do terreno sem esforço.
– E também não teria se importado com camuflagem – disse
Calrissian quando o Wookiee o entregou. – Parece corte de faca.
Igual às vinhas.
– E igual ao pássaro-de-garra de ontem – Solo concordou
sombrio. – Luke? Temos companhia?
– Tenho sentido alguns nativos – disse Skywalker. – Mas eles
nunca parecem vir muito perto antes de tornar a partir. Voltou a olhar
encosta abaixo para o droide de protocolo, esperando ansiosamente
por eles no leito do rio. – Você supõe que tem algo a ver com os
droides?
Solo bufou.
– Quer dizer como em Endor, quando aquelas bolas de pelo
dos Ewoks acharam que 3PO era um deus?
– Algo do gênero – Skywalker assentiu. – Eles poderiam estar
chegando perto o suficiente para ouvir 3PO ou R2.
– Talvez – Solo olhou ao redor. – Quando eles chegam?
– Na maior parte das vezes, perto do pôr do sol – disse
Skywalker. – Pelo menos até agora.
– Bom, da próxima vez que isso acontecer me avise – disse
Solo, enfiando a arma de volta ao seu coldre e voltando a descer a
encosta até o leito do rio. – Já está na hora de termos uma
conversinha. Vamos lá, vamos andando.

A escuridão crescia. O acampamento estava quase montado


para a noite, quando uma leve sensação sobreveio sobre Luke.
– Han? – ele chamou baixinho. – Eles estão aqui.
Han assentiu, batendo nas costas de Lando ao sacar sua arma
de raios.
– Quantos?
Luke concentrou sua mente, trabalhando para separar as partes
distintas da sensação global.
– Parecem cinco ou seis, vindos daquela direção. – Ele apontou
para o lado.
– Isso é só no primeiro grupo? – perguntou Mara.
Primeiro grupo? Luke franziu a testa, deixando seu foco se abrir
mais uma vez. Ela tinha razão. Havia um segundo grupo chegando
atrás do primeiro.
– Este é só o primeiro grupo – ele confirmou. – Segundo
grupo... Estou pegando cinco ou seis também. Não tenho certeza,
mas podem ser de uma espécie diferente da primeira.
Han olhou para Lando.
– O que você acha?
– Não estou gostando – disse Lando, pegando desconfortável
sua arma de raios. – Mara, essas espécies costumam se dar bem?
– Não tão bem – disse ela. – Havia comércio e outras coisas
acontecendo quando estive aqui; mas também havia histórias sobre
longas guerras entre ambas as raças e os colonos humanos.
Chewbacca grunhiu a sugestão de que os aliens pudessem
estar juntando forças contra eles.
– É um pensamento curioso – disse Han. – O que acha disso,
Luke?
Luke tencionou seus sentidos, mais de nada adiantou.
– Desculpe – ele disse. – Muita emoção lá, mas não tenho base
para entender de que tipo.
– Eles pararam – disse Mara, com o rosto tenso de
concentração. – Ambos os grupos.
Han fez uma careta.
– Acho que é isso. Lando, Mara, fiquem aqui e protejam o
campo. Luke, Chewie, vamos checar.
Ele subiram a encosta rochosa e penetraram na floresta,
andando o mais silenciosamente possível por entre os arbustos e as
folhas mortas sob os pés.
– Eles já sabem que estamos chegando? – Han murmurou
olhando para trás.
Luke usou a Força.
– Não sei dizer – ele disse. – Mas não parecem estar se
aproximando mais.
Chewbacca rugiu alguma coisa que Luke não entendeu.
– Pode ser – Han disse. – Mas seria muita imbecilidade fazer
um conselho de guerra tão perto assim do seu alvo.
E então, à frente e à esquerda deles, Luke captou um
movimento sombrio ao lado de um tronco grosso de árvore.
– Cuidado! – ele avisou, acendendo seu sabre de luz com um
estalo e um sibilar. Na luz verde esbranquiçada da lâmina uma
figura pequena usando um traje justo com capuz podia ser vista no
instante em que se abaixava atrás do tronco, por pouco não saindo
do caminho quando o tiro rápido de Han abriu um buraco de um
tamanho razoável num dos lados do tronco. A balestra de
Chewbacca arrancou uma parte do tronco do outro lado apenas um
segundo após o tiro de Han. Por entre a nuvem de fumaça e lascas,
a figura pôde ser rapidamente vista enquanto dardejava da
cobertura que rapidamente diminuía de sua árvore escolhida na
direção de outro tronco mais espesso. No instante em que Han girou
sua arma para rastreá-la, um estranho ruído rasgou o ar, que
parecia como uma dezena de pássaros alienígenas...
E com um rugido parte reconhecimento, parte compreensão e
parte alívio, Chewbacca girou a ponta de sua balestra para arma de
raios de Han, mandando o disparo para longe do seu alvo.
– Chewie! – gritou Han.
– Não; ele está certo – Luke o interrompeu. Subitamente ele
também tinha entendido tudo. – Você, pare.
A ordem foi desnecessária. A figura em sombras já havia
parado, estava desprotegida, com seu rosto encapuzado protegido
da luz fraca do sabre de luz de Luke.
Luke deu um passo em sua direção.
– Eu sou Luke Skywalker – ele disse formalmente. – Irmão de
Leia Organa Solo, filho do Lorde Darth Vader. Quem é você?
– Eu sou Ekhrikhor do clã Bakh’tor – a voz rouca Noghri
replicou. – Eu o saúdo, filho de Vader.
A clareira para a qual Ekhrikhor os levou ficava perto, apenas
vinte metros a mais seguindo na direção para a qual Luke já estava
os levando. Os aliens estavam lá; dois tipos diferentes, cinco de
cada, em pé do outro lado de um tronco grosso de árvore caído. Do
lado mais próximo estavam mais dois Noghri naqueles seus trajes
camuflados com os capuzes jogados para trás. Encostado no tronco
entre os dois lados estava uma espécie de luz de trabalho
compacta, que emitia um brilho apenas suficiente para captar os
detalhes dos aliens mais próximos.
Não era muito encorajador. O grupo da direita era uma cabeça
mais alta do que os Noghri que os encaravam e talvez uma cabeça
mais baixos do que Han. Cobertos com placas grossas, eles mais
pareciam pilhas de rochas ambulantes do que outra coisa. O grupo
da esquerda era quase tão alto como Chewbacca, com quatro
braços cada e uma pele brilhante, de cristal azulado que lembrava
Han da coisa meio marrom que tiveram que tirar de 3PO no primeiro
dia deles ali.
– Grupinho amigável – ele resmungou para Luke quando seu
grupo saiu da última fileira de árvores entre eles e a clareira.
– Eles são os Myneyrshi e os Psadan – disse Ekhrikhor. – Eles
queriam confrontá-los.
– E vocês os estavam afastando? – perguntou Luke.
– Eles buscavam o confronto – repetiu o Noghri. – Não
podíamos permitir isso.
Pararam logo na entrada da clareira. Um farfalhar percorreu os
aliens, um som que não parecia tão amigável assim.
– Estou tendo a sensação de que não somos assim tão bem-
vindos – disse Han. – Luke?
Ao seu lado, ele sentiu Luke balançar a cabeça.
– Ainda não consigo ler nada de sólido – ele disse. – Do que
trata isso, Ekhrikhor?
– Eles indicaram que desejam conversar conosco – disse o
Noghri. – Talvez para decidir se irão lutar.
Han deu uma rápida avaliada nos alienígenas. Todos pareciam
estar usando facas, e havia uns dois arcos à vista, mas não viu
nada mais avançado.
– É melhor torcerem para terem trazido o exército – ele disse.
– Não queremos lutar se pudermos evitar – Luke o reprovou
levemente. – Como podemos nos comunicar com eles?
– Um deles aprendeu um pouco da Língua Básica do Império
quando o armazém estava sendo construído sob a montanha –
disse Ekhrikhor, apontando para o Myneyrshi mais próximo da luz
de trabalho. – Ele tentará traduzir.
– Nós podemos ser capazes de fazer isso um pouco melhor. –
Luke levantou as sobrancelhas para Han. – O que acha?
– Vale a pena tentar – Han concordou, sacando seu comlink.
Estava na hora de 3PO justificar sua presença ali, de qualquer
maneira. – Lando?
– Bem aqui – a voz de Lando veio no mesmo instante. –
Encontraram os aliens?
– Sim, encontramos – disse Han. – Mais uma ou duas
surpresas. Peça a Mara pra trazer o 3PO – se ela vier pelo caminho
que viemos vai dar de cara conosco.
– Entendido – disse Lando. – E eu?
– Não acho que este bando vá nos causar qualquer problema –
disse Han, avaliando mais uma vez os alienígenas. – Você e R2
podem ficar aí e dar uma olhada no acampamento. Ah, e se virem
baixinhos com trajes de camuflagem e muitos dente, não atire. Eles
estão do nosso lado.
– Fico feliz – Lando disse secamente. – Eu acho. Mais alguma
coisa?
Han olhou para os grupos de alienígenas nas sombras, todos
olhando direto para ele.
– Sim; cruze os dedos. Podemos estar prestes a conseguir
alguns aliados. Ou então muito problema estrada abaixo.
– Certo. Mara e 3PO estão a caminho. Boa sorte.
– Obrigado. – Desligando o comlink, Han o colocou de volta ao
cinto. – Eles estão vindo – disse a Luke.
– Não há necessidade para que eles guardem seu
acampamento – disse Ekhrikhor. – Os Noghri o protegerão.
– Está tudo bem. Aqui já está ficando muito lotado. – Ele olhou
de lado para Ekhrikhor. – Então eu estava certo. Nós fomos
seguidos.
– Sim – disse Ekhrikhor, abaixando a cabeça. – E por esse
engodo eu peço seu perdão, consorte da Lady Vader. Eu e outros
não achamos isso inteiramente honrável; mas Cakhmaim do clã
Eikh’mir desejou que nossa presença fosse mantida oculta de
vocês.
– Por quê?
Ekhrikhor tornou a se curvar.
– Cakhmaim do clã Eikh’mir sentiu hostilidade da sua parte na
suíte da Lady Vader – ele disse. – Ele acreditou que você não
aceitaria de bom grado uma guarda de Noghri para acompanhá-los.
Han olhou para Luke, e apanhou garoto tentando esconder um
sorriso.
– Bem, da próxima vez que você ver Cakhmaim, diga a ele que
parei de aceitar ajuda de graça anos atrás – ele disse a Ekrikhor. –
Mas já que estamos discutindo hostilidade, pode parar com esse
negócio de “consorte da Lady Vader”. Me chame de Han, ou Solo.
Ou de capitão. Ou praticamente de qualquer outra coisa.
– Han do clã Solo, talvez – murmurou Luke.
O rosto de Ekrikhor se iluminou.
– Isso é bom – ele disse. – Pedimos seu perdão, Han do clã
Solo.
Han olhou para Luke.
– Acho que você foi adotado – disse Luke, lutando contra a
vontade de rir.
– É – disse Han. – Obrigado. Muito obrigado.
– Um pouco de empatia nunca fez mal – Luke ressaltou. –
Lembre-se de Endor.
– Dificilmente vou esquecer – Han grunhiu, sentindo o lábio
torcer. Claro, aquelas bolinhas de pelo haviam feito sua parte na
batalha final contra a segunda Estrela da Morte. Isso não mudava o
fato de que fazer parte de uma tribo Ewok era uma das coisas mais
ridículas pelas quais ele já teve que passar.
Mesmo assim, os Ewoks haviam superado as tropas imperiais
pela pura força dos números. Já os Noghri, por outro lado...
– Quantos de vocês estão aqui? – ele perguntou a Ekrikhor.
– Existem oito – o outro replicou. – Cada dois já viajaram atrás,
à frente ou a cada lado de vocês durante a jornada.
Han assentiu, sentindo um fragmento involuntário de respeito
por aquelas coisas. Oito deles, silenciosamente matando e
afastando predadores e nativos. De dia e de noite. E ainda achando
tempo além disso para limpar o caminho deles de aborrecimentos
como pássaros-de-garra e serpentes das vinhas.
Olhou para Ekrikhor. Não, o processo de adoção não parecia
mais tão ridículo desta vez.
De algum lugar atrás deles veio um som familiar de pés
arrastando. Han se virou e um instante depois a figura dourada e
igualmente familiar de C-3PO apareceu, quase tropeçando. Ao seu
lado e meio passo atrás estava Mara, com a arma de raios na mão.
– Mestre Luke – gritou 3PO, sua voz soando a mistura normal
de alívio, ansiedade e pura arrogância.
– Aqui, 3PO – Luke chamou de volta. – Acha que consegue
fazer uma tradução para nós?
– Farei o meu melhor – disse o droide. – Como o senhor sabe,
sou fluente em mais de 6 milhões de formas de comunica...
– Estou vendo que vocês encontraram os nativos – Mara o
interrompeu, dando ao grupo ali perto uma rápida inspeção
enquanto ela e 3PO adentravam a clareira. Seus olhos recaíram
sobre Ekrikhor. – E uma pequena surpresa também – ela
acrescentou, desviando a mira de sua arma silenciosamente na
direção do Noghri.
– Está tudo bem; ele é amigo – Luke garantiu, indo na direção
da arma dela.
– Acho que não – retrucou Mara, afastando a arma para fora do
alcance dele. – Eles são Noghri. Trabalham para Thrawn.
– Não servirmos mais a ele – Ekrikhor disse a ela.
– É verdade, Mara, não servem mais – Luke confirmou.
– Talvez – disse Mara. Ela ainda não estava feliz com aquilo,
mas pelo menos sua arma de raios não estava mais apontada
exatamente para Ekrikhor.
Do outro lado da clareira, o Myneyrsh mais próximo do tronco
puxou o que parecia ser um pássaro-de-garra empalhado e pintado
de branco de uma bolsa de ombro. Falando de modo inaudível, bem
baixinho, ele o colocou na sua frente ao lado da luz de trabalho.
– O que é isso? – perguntou Han. – Almoço?
– Isso se chama satna-chakka – disse Ekrikhor. É um laço de
paz enquanto este encontro durar. Eles estão prontos para começar.
Você, droide 3PO, vem comigo.
– Claro – disse 3PO, sem soar exatamente empolgado com
todo esse arranjo. – Mestre Luke?
– Eu vou com você – Luke falou de forma apaziguadora. – Han,
Chewie, vocês ficam aqui.
– Com isso não discuto – disse Han.
Com um C-3PO claramente relutante a reboque, Luke e os
Noghri partiram na direção do tronco. O Myneyrsh chefe ergueu as
duas mãos superiores por cima da cabeça, palmas da mão para
dentro.
– Bidaesi charaa – ele disse, com a voz surpreendentemente
melodiosa. – Lyaaunu baaraemaa dukhnu phaeri.
– Ele anuncia a chegada dos estranhos – C-3PO disse com
precisão. – Presumivelmente isso se refere a nós. Entretanto ele
teme que nós possamos trazer perigo e problemas mais uma vez ao
seu povo.
Ao lado de Han, Chewbacca rugiu um comentário sarcástico.
– Não, eles não gostam muito de bater papo – concordou Han.
– E também não são muito fortes na diplomacia.
– Nós trazemos esperança ao seu povo – retrucou o chefe
Noghri. – Se vocês nos deixarem passar, nós os libertaremos da
dominação do Império.
C-3PO traduziu, e na opinião de Han, as melodiosas palavras
Myneyrshi ainda soavam arrogantes. Um dos Psadans rochosos fez
um gesto de corte e disse uma coisa que soou como um grito fraco
e distante com consoantes espalhadas ao redor.
– Ele disse que o povo Psadan tem longas memórias – traduziu
C-3PO. – Aparentemente, libertadores vieram antes aqui, mas nada
jamais mudou.
– Bem-vindo ao mundo real – Han murmurou.
Luke deu uma olhada para ele por cima do ombro.
– Peça para que ele explique, 3PO – ele disse ao droide.
C-3PO respondeu, gritando baixinho de volta ao Psadan e
depois jogando também uma tradução Myneyrshi, só para mostrar
que podia fazê-lo. A resposta Psadan prosseguiu por vários
minutos, e as orelhas de Han estavam começando a doer quando
ele acabou.
– Bem – disse 3PO, inclinando a cabeça e entrando no modo
professoral que Han sempre detestou. – São muitos detalhes, mas
vou passar por eles por ora – acrescentou apressado,
provavelmente devido ao olhar de um dos Noghri. – Os humanos
que vieram como colonos foram os primeiros invasores. Eles
afastaram os povos nativos de algumas de suas terras, e só foram
detidos quando seus arcos de relâmpago e seus vários pássaros de
metal, esses são os termos deles, é claro, começaram a falhar.
Muito depois veio o Império, que, como sabemos, construiu dentro
da montanha proibida. Eles escravizaram muitos dos povos nativos
para ajudar no projeto e afastaram outros de suas terras. Depois
que os construtores partiram, veio alguém que se autodenominou
“guardião”, que também procurou controlar os povos nativos.
Finalmente, aquele que chama a si mesmo de “mestre Jedi” veio, e
numa batalha que iluminou o céu ele derrotou o guardião. Por algum
tempo os povos nativos acharam que poderiam ser libertados, mas
o mestre Jedi trouxe humanos e povos nativos para si e os forçou a
viverem juntos embaixo da sombra da montanha proibida.
Finalmente, o Império voltou. – C-3PO tornou a inclinar a cabeça
para trás. – Como pode ver, mestre Luke, somos meramente os
últimos numa longa sucessão de invasores.
– Só que não somos invasores – disse Luke. – Estamos aqui
para livrá-los do domínio do Império.
– Eu entendo isso, mestre Luke...
– Eu sei que sim – Luke interrompeu o droide. – Diga isso a
eles.
– Ah. Sim. É claro.
Ele começou sua tradução.
– Se me perguntar, eu não acho que foram assim tão afetados
– Han murmurou para Chewbacca. – O Império tomou planetas
inteiros de alguns povos.
– Primitivos sempre têm essa reação para com visitantes –
disse Mara. – Eles normalmente têm longas memórias.
– Talvez. Você acha que o mestre Jedi do qual eles estava
falando era seu camarada C’baoth?
– Quem mais? – Mara disse sombria. – Deve ter sido aqui que
Thrawn o encontrou.
Han sentiu seu estômago retorcer.
– Você acha que ele está aqui agora?
– Não sinto nada – Mara disse devagar. – Mas não significa que
não possa voltar.
O Myneyrshi chefe estava falando novamente. Deixou seu olhar
vagar ao redor da clareira. Será que havia ali outros Myneyrshi e
Psadans lá de um olho no grande debate? Luke não tinha dito nada
sobre apoio, mas eles seriam loucos de não terem algum lugar ali
perto.
A menos que os camaradas de Ekrikhor já tivessem tomado
conta deles. Se isso não funcionasse, poderia ser bem interessante
ter os Noghri por perto.
O Myneyrsh terminou sua fala.
– Desculpe, mestre Luke – C-3PO pediu desculpas. – Eles
dizem que não têm motivos para supor que sejamos diferentes
daqueles dos quais já falaram.
– Eu entendo seus medos – Luke assentiu. – Pergunte a eles
como podemos provar nossas boas intenções.
C-3PO começou a traduzir; e, quando fez isso, um cotovelo do
Wookiee espetou o ombro de Han.
– O que foi? – ele perguntou.
Chewbacca fez um gesto com a cabeça para sua esquerda, a
balestra já levantada e montada. Han acompanhou o movimento
com os olhos...
– Oh-oh.
– O que foi? – Mara exigiu saber.
Han abriu a boca, mas não houve tempo de dizer a ela. O
predador magro que Chewbacca havia avistado andando sob os
galhos das árvores havia parado de andar e estava preparando o
bote para pular no grupo de discussão.
– Cuidado! – ele gritou, levantando sua arma de raios.
Chewbacca foi mais rápido. Com um rugido de caçador
Wookiee, ele disparou, a flecha da balestra quase partindo o
predador em dois. Ele caiu de seu poleiro, esmagando as folhas
mortas, e ficou parado.
E, perto do tronco, todo o grupo de Myneyrshi ficou
resfolegando.
– Cuidado, Chewie – Han avisou, desviando sua mira na
direção dos aliens.
– Isso pode ter sido um erro – Mara disse tensa. – Você não
devia disparar armas numa conferência de trégua.
– Você também não devia deixar a conferência ser comida –
Han retorquiu. Ao lado dos Myneyrshi, os cinco Psadans haviam
começado a tremer, e ele torcia para que os camaradas de Ekrikhor
tivessem o resto da área protegida. – C-3PO, diga a eles.
– Certamente, capitão Solo – 3PO, parecendo tão nervoso
quanto Han estava se sentindo. – Mulansaar...
O chefe Myneyrsh o interrompeu com o gesto de corte dos seus
dois braços esquerdos.
– Você! – ele trinou numa Língua Básica passável, apontando
todas as quatro mãos para Han. – Ele tem arco de raios?
Han franziu a testa para ele. Claro que Chewbacca tinha uma
arma... e todos eles também. Ele olhou para o Wookiee e
subitamente entendeu.
– Tem sim – ele disse para o Myneyrsh, abaixando sua arma. –
Ele é nosso amigo. Não temos escravos como o Império tinha.
C-3PO começou sua tradução, mas o Myneyrsh já estava
falando com seus amigos.
– Belo trabalho – Mara murmurou. – Eu não havia pensado
nisso. Mas você tem razão; os últimos Wookiees que eles viram
aqui tinham sido escravos do Império.
Han assentiu.
– Vamos torcer pra que isso faça a diferença.
A discussão correu por mais alguns minutos, grande parte entre
os Myneyrsh e os Psadans. C-3PO tentou por um tempo manter
uma tradução constante, mas isso rapidamente degenerou em não
muito mais do que um relatório dos pontos mais importantes. Os
Myneyrshi, aparentemente, estavam começando a pensar que
aquela era a chance deles de se livrarem da opressão primeiro do
Império e depois do mestre Jedi. Os Psadans não gostavam dos
imperiais mais do que os Myneyrsh, mas o pensamento de encarar
C’baoth os estava deixando inquietos.
– Não estamos pedindo que vocês lutem ao nosso lado – Luke
lhes disse quando finalmente conseguiu a atenção deles de volta. –
Nossa batalha é nossa, e nós cuidaremos dela. Tudo que pedimos é
sua permissão de viajar pelo seu território até a montanha proibida e
sua garantia de que vocês não nos trairão para o Império.
C-3PO fez sua tradução dupla, e Han se segurou para mais
uma discussão. Mas isso não aconteceu. O chefe dos Myneyrshi
levantou suas mãos superiores mais uma vez, e com as mãos
inferiores pegou o pássaro-de-garra branco e o ofereceu a Luke.
– Eu acredito que ele está oferecendo salvo-conduto ao senhor,
mestre Luke – C-3PO disse à guisa de ajuda. – Embora eu possa
estar errado; o dialeto deles sobreviveu relativamente intacto, mas
gestos e movimentos são frequentemente...
– Diga a ele obrigado – disse Luke, assentindo ao aceitar o
pássaro-de-garra. – Diga a ele que aceitamos sua hospitalidade. E
que eles não vão lamentar por terem nos ajudado.

– General Covell? – a voz militarmente precisa veio pelo


comunicador da cabine da nave auxiliar. – Devemos estar na
superfície em apenas mais alguns minutos.
– Entendido – disse Covell. Ele desligou o comunicador e se
virou para o único outro passageiro da nave auxiliar. – Estamos
quase lá – ele disse.
– Sim, eu ouvi – disse C’baoth, deixando certo divertimento
transparecer em sua voz. E na mente de Covell. – Diga-me, general
Covell, estamos no final de nossa viagem ou no começo?
– No começo, é claro – respondeu Covell. – A viagem que
começamos não terá fim.
– E quanto ao Grão Almirante Thrawn?
Covell sentiu algo franzindo sua testa. Ele não havia ouvido
essa pergunta antes, pelo menos não enunciada dessa maneira em
particular. Mas quando ele começou a hesitar, a resposta veio
tranquilamente para dentro de seus pensamentos. Assim como
todas as respostas agora.
– É o começo do fim do Grão Almirante Thrawn – ele disse.
C’baoth deu uma risada suave, e o sentimento de diversão
ondulou agradavelmente através da mente de Covell. O general
pensou em perguntar o que havia de engraçado, mas era mais fácil
e mais agradável simplesmente recostar e aproveitar a risada.
De qualquer maneira, ele sabia perfeitamente o que era tão
engraçado.
– Você sabe, não sabe? – concordou C’baoth balançando a
cabeça. – Ah, general, general. É tão irônico, não é? Desde o
começo, desde aquele primeiro encontro na minha cidade, o Grão
Almirante Thrawn já tinha a resposta ao seu alcance. E no entanto
agora ele está tão longe de entender quanto estava antes.
– Trata-se de poder, mestre C’baoth? – perguntou Covell. Essa
era uma questão familiar e mesmo sem o impulso em sua mente ele
teria se lembrado de suas falas.
– De fato é, general Covell – C’baoth disse gravemente. – Eu
disse a ele no próprio começo que o verdadeiro poder não estava na
conquista de mundos distantes. Nem em batalhas e guerra e na
destruição de rebeliões sem face.
Ele sorriu, os olhos reluzindo brilhantes na mente de Covell.
– Não, general Covell – ele disse baixinho.– Isto, isto, sim, é
poder. Ter a vida de outra pessoa na palma de sua mão. Ter o poder
de escolher seu caminho, seus pensamentos e seus sentimentos.
Governar sua vida e decretar sua morte. – Lenta, teatralmente,
C’baoth estendeu sua mão, palma para cima. – Comandar sua
alma.
– Uma coisa que nem mesmo o imperador jamais entendeu –
Covell o lembrou.
Outra onda de prazer rolou pela mente de Covell. Era tão
satisfatório ver o mestre desfrutando de seu jogo.
– Nem mesmo o imperador – concordou C’baoth, seus olhos e
pensamentos vagando para longe. – Ele, assim como o Grão
Almirante, só via poder até o ponto em que ele próprio podia
alcançar. E isso o destruiu, como eu mesmo podia ter dito que o
faria. Pois se ele tivesse realmente comandado Vader... – balançou
a cabeça. – De muitas maneiras, ele era um tolo. Mas talvez esse
fosse seu destino. Talvez fosse a vontade do universo que eu, e
somente eu, compreendesse. Pois somente eu tenho tanto a força
quanto a vontade para deter esse poder. O primeiro... mas não o
último.
Covell assentiu, engolindo com a garganta seca. Não era
agradável quando C’baoth o deixava assim, nem por um momento.
Especialmente quando havia essa estranha solidão...
Mas é claro que o mestre sabia disso.
– Você sente dor com minha solidão, general Covell? – ele
perguntou, aquecendo a mente de Covell com outro sorriso. – Sim,
claro que sim. Mas seja paciente. Está chegando a hora em que
seremos muitos. E quando essa hora chegar, nunca mais seremos
solitários. Observe.
Ele experimentou a sensação distante de todos os outros
agora: filtrada, concentrada e estruturada através da mente perfeita
do mestre.
– Sabe, eu tinha razão – disse C’baoth, usando a Força para
examinar essa sensação. – Eles estão aqui. Tanto Skywalker quanto
Jade. – Sorriu pra Covell. – Eles serão os primeiros, general; os
primeiros de nossos muitos. Pois eles virão a mim, e quando eu lhes
tiver mostrado o verdadeiro poder, eles entenderão e se juntarão a
nós. – Seus olhos voltaram a vagar. – Jade será a primeira, eu acho
– ele acrescentou pensativo. Skywalker resistiu antes, e resistirá
novamente; mas a chave para a alma dele ainda hoje espera por
mim na montanha abaixo. Mas Jade é outra história. Eu já a vi em
minhas meditações: eu a vi vindo para mim e se ajoelhando aos
meus pés. Ela será minha, e Skywalker virá atrás. De um jeito ou de
outro.
Ele voltou a sorrir. Covell sorriu para ele, satisfeito com o
próprio prazer do mestre e com o pensamento de outros que
estariam lá para aquecer sua mente.
E então, sem nenhum aviso, tudo escureceu. Não era solidão,
não da maneira que havia sido. Mas uma espécie de vazio...
Aos poucos ele sentiu sua cabeça sendo levantada com força
pelo queixo. C’baoth estava ali de certa forma encarando seus
olhos.
– General Covell! – a voz do mestre trovejou. Trovejou
estranhamente também. Covell podia ouvi-la, mas não estava
realmente ali. Não como deveria ter estado. – Pode me ouvir?
– Eu posso ouvir – disse Covell. Sua própria voz soava
estranha também. Olhou para além do rosto de C’baoth, para o
interessante padrão de linhas no anteparo da nave auxiliar.
Ele se sentiu ser sacudido.
– Olhe para mim! – C’baoth exigiu. Covell o fez. Isso também
era estranho, porque ele podia ver o mestre mas ele não estava
realmente lá.
– O senhor está aí?
O rosto do mestre mudou. Alguma coisa – isso era chamado
um sorriso? – veio sobre ele.
– Sim, general, eu estou aqui – disse a voz distante. – Eu não
estou mais tocando sua mente, mas ainda sou seu mestre. Você
continuará a me obedecer.
Obedecer. Conceito estranho, pensou Covell. Não como fazer
simplesmente o que era natural.
– Obedecer?
– Você fará o que eu lhe disser – disse C’baoth. – Eu lhe darei
coisas para dizer, e você repetirá cada palavra.
– Está certo – disse Covell. – Se eu fizer isso, o senhor voltará?
– Eu voltarei – prometeu o mestre. – Apesar da traição do Grão
Almirante Thrawn. Com sua obediência, se você fizer o que eu lhe
disser, iremos juntos destruir a traição dele. Então nunca mais
vamos nos separar.
– O vazio irá embora?
– Sim. Mas apenas se você fizer o que digo.
Os outros homens vieram um pouco depois. O mestre ficou ao
lado dele o tempo todo, e ele disse todas as palavras que o mestre
mandou dizer. Eles todos foram para outro lugar, e depois os
homens foram embora, e o mestre foi embora também.
Ele ficou olhando pelo lugar no qual o haviam deixado,
observando os padrões de linhas e escutando o vazio ao redor. E
acabou dormindo.

Uma estranha espécie de chamado de pássaro trinou a


distância, e no mesmo instante o ruído de insetos e de pequenos
animais cessou. Mas aparentemente não havia perigo imediato, e
um minuto depois os sons e as atividades noturnas retornaram.
Mudando de posição contra o tronco de árvore que havia escolhido,
Mara descansou seus músculos doloridos e desejou que tudo aquilo
tivesse acabado.
– Não há necessidade de você ficar acordada – a voz Noghri
disse suave perto do seu ombro. – Nós montaremos guarda.
– Obrigada – Mara disse rispidamente. – Se não fizer diferença
para vocês, eu farei meu trabalho.
O Noghri ficou por um momento em silêncio.
– Você ainda não confia em nós, não é?
Na verdade, ela não havia parado para pensar muito nisso.
– Skywalker confia em vocês – ela disse. – Isso não é bom o
bastante?
– Não é aprovação que buscamos – disse o Noghri. – Apenas a
chance de pagar a nossa dívida.
Ela deu de ombros. Eles protegeram o acampamento, eles
cuidaram do trabalho sempre difícil do primeiro contato com os
Myneyrshi e os Psadans, e agora ali estavam protegendo o
acampamento novamente.
– Se é uma dívida para com a Nova República, eu diria que
vocês estão fazendo um excelente trabalho – ela admitiu. – Vocês
finalmente descobriram que Thrawn e o Império estavam
enganando vocês?
Uma batida silenciosa, como dentes-agulha batendo.
– Você sabia disso?
– Ouvi rumores – disse Mara, reconhecendo que aquele terreno
era potencialmente perigoso, mas não dando a mínima. – Eram tipo
piadas. Nunca soube o quanto daquilo era verdade.
– O mais provável é que tudo fosse verdade – o Noghri disse
com calma. – Sim. Posso ver com como nossas vidas e mortes
poderiam ser divertidas para nossos escravizadores. Nós os
convenceremos do contrário.
Nada de fúria cega, nada de ódio fanático. Apenas uma simples
determinação gélida. A coisa mais perigosa que se podia ter.
– Como vocês vão fazer isso? – ela perguntou.
– Quando a hora chegar, os Noghri se voltarão contra seus
escravizadores. Uns em mundos do Império, outros em naves de
transporte. E cinco grupos virão para cá.
Mara franziu a testa.
– Vocês sabiam de Wayland?
– Não até vocês nos trazerem pra cá – disse o outro. – Mas
agora sabemos. Enviamos a localização para aqueles que esperam
em Coruscant. A esta altura eles terão passado a notícia para
outros.
Mara bufou baixinho.
– Vocês não confiam muito em nós, não é?
– Nossas missões se complementam – o Noghri assegurou a
ela, seu miado rouco soou de algum modo mais sombrio. – Vocês
tomaram para si mesmos a tarefa de destruir a instalação dos
clones. Com a ajuda do filho de Vader, não duvidamos que vocês
terão sucesso. Para nós mesmos, os Noghri escolheram a tarefa de
eliminar cada último remanescente da presença do imperador em
Wayland.
Provavelmente as últimas relíquias do imperador em qualquer
lugar. Mara virou essa ideia na sua mente, imaginando porque isso
não parecia mais deixá-la triste nem com raiva. Provavelmente ela
estava apenas cansada.
– Parece um grande projeto – ela disse em vez disso. – Quem é
esse filho de Vader que você está esperando que apareça e nos
ajude?
Houve um breve silêncio.
– O filho de Vader já está com você – disse o Noghri,
parecendo intrigado. – Você o serve assim como nós.
Mara olhou para ele através da escuridão... e subitamente seu
coração pareceu congelar no peito.
– Você quer dizer... Skywalker?
– Você não sabia?
Mara lhe deu as costas, olhando para a forma que dormia a
menos de um metro de seus pés; um entorpecimento horrível a
inundou. Então, finalmente, depois de todos esses anos a última
peça oculta havia se encaixado. O imperador não queria que ela
matasse Skywalker porque queria. Era, em vez disso, um último ato
de vingança contra o pai dele.
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
E, no espaço de alguns segundos, tudo em que Mara havia
acreditado a seu próprio respeito – seu ódio, sua missão, sua vida
inteira – havia se transformado de certeza em confusão.
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER. VOCÊ VAI MATAR
LUKE SKYWALKER. VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
– Não – ela murmurou para a voz por entre dentes. – Não
assim. Minha decisão. Meus motivos.
Mas a voz continuou sem se abalar. Talvez fosse a resistência
dela e o desafio que a motivava agora, talvez o poder mais profundo
da Força que Skywalker havia lhe dado nos últimos dias que a havia
deixado mais receptiva a isso.
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER. VOCÊ VAI MATAR
LUKE SKYWALKER. VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
Mas você é outra história, Mara Jade.
Mara sofreu um espasmo, e o movimento súbito a fez bater a
cabeça contra o tronco da árvore atrás dela. Outra voz; mas esta
não vinha de dentro dela. Estava vindo de...
Eu tenho visto você em minhas meditações, a voz continuou,
plácida. Vi você vindo até mim e se ajoelhando aos meus pés. Você
será minha, e Skywalker virá atrás. De um jeito de outro.
Mara balançou a cabeça com violência, tentando afastar as
palavras e pensamentos. A segunda voz pareceu rir; depois,
subitamente, as palavras, desapareceram sob uma distante porém
firme pressão contra sua mente. Rilhando os dentes, ela se forçou
contra a pressão. Ouviu devagar e baixinho a voz rir dela contra
seus esforços.
Então, de uma maneira tão brusca que a fez prender a
respiração, a pressão desapareceu.
– Você está bem? – a voz de Skywalker perguntou baixinho.
Mara olhou para baixo. Skywalker havia se levantado sobre o
cotovelo, a silhueta voltada para ela.
– Você ouviu também? – ela perguntou.
– Não ouvi uma palavra. Mas senti a pressão.
Mara olhou para o telhado de folhas acima.
– É C’baoth – ela disse. – Ele está aqui.
– Sim – disse Skywalker; e ela podia ouvir a apreensão em sua
voz. Não era de se estranhar; ele já tinha enfrentado C’baoth uma
vez antes, em Jomark, e quase perdera para ele.
– E agora? – perguntou Mara, esfregando o suor ao redor de
sua boca com uma mão trêmula. – Abortamos a missão?
A silhueta deu de ombros.
– Como? Estamos apenas a dois dias da montanha.
Levaríamos muito mais tempo do que isso para voltar até a Falcon.
– Só que os imperiais sabem que estamos aqui agora.
– Talvez – Luke disse devagar. – Talvez não. O contato foi
cortado subitamente para você também?
Ela franziu a testa; e subitamente entendeu.
– Você acha que eles moveram alguns ysalamiri ao redor dele?
– Ou então amarraram alguma daquelas estruturas que você
estava usando em Jomark – disse Skywalker. – Seja como for, isso
implicaria que ele fosse um prisioneiro.
Mara pensou nisso. Se era o caso, ele poderia não estar
interessado em dizer a seus captores a respeito dos invasores que
estavam chegando à montanha.
Ela olhou bem pra ele quando outro pensamento subitamente
lhe ocorreu.
– Você sabia que C’baoth estava vindo? – ela exigiu saber. –
Era por isso que você queria que eu praticasse meu antigo
treinamento Jedi?
– Não sabia que ele estaria aqui – disse Skywalker. – Mas eu
sabia que acabaríamos tendo que enfrentá-lo novamente. Ele
mesmo disse isso em Jomark.
Mara estremeceu. Ajoelhada aos meus pés...
– Não quero encará-lo, Skywalker.
– Nem eu – ele disse baixinho. – Mas acho que vamos precisar.
Ele suspirou; e então, sem fazer barulho, puxou o topo de seu
saco de dormir e se levantou.
– Por que você não dorme um pouco? – ele disse, se
aproximando dela. – Já estou acordado mesmo; e você levou a
maior parte do ataque.
– Está certo – disse Mara, cansada demais pra discutir. – Se
precisar de alguma ajuda, me chame.
– Chamarei.
Ela foi andando entre Calrissian até seu saco de dormir e
entrou dentro dele se arrastando. Sua última memória, ao
adormecer, foi da voz no fundo de sua mente.
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
O relatório veio do Monte Tantiss durante a noite na nave e estava
aguardando por Pellaeon quando ele chegou à ponte pela manhã. A
Draklor tinha chegado a Wayland mais ou menos seis horas antes
do prazo estipulado, desembarcado seus passageiros e deixado o
sistema rumo a Valrar segundo ordens. O general Covell havia se
recusado a assumir o comando até a manhã local...
Pellaeon franziu a testa. Se recusado a assumir o comando?
Isso não parecia coisa de Covell.
– Capitão Pellaeon? – o oficial de comunicação o chamou. –
Senhor, estamos recebendo uma transmissão de holo do coronel
Selid em Wayland. Está marcada como urgente.
– Transfira-a para o pod de holograma da ponte de popa –
instruiu Pellaeon, levantando-se de sua cadeira de comando e
seguindo para popa. – Diga para o Grão Almirante que... não
importa – ele parou de falar quando avistou Thrawn e Rukh
atravessando o arco e subindo os degraus para a ponte de popa.
Thrawn também o viu.
– Qual o problema, capitão?
– Mensagem urgente de Wayland, senhor – disse Pellaeon,
com um gesto na direção do pod de holograma. A imagem de um
oficial do Império já estava esperando, e mesmo em um holo de um
quarto de escala, Pellaeon podia ver o nervosismo do jovem.
– Provavelmente é C’baoth – Thrawn previu amargo. Eles
assumiram posição na frente do pod de holograma, e Thrawn
cumprimentou a imagem com um gesto de cabeça. – Coronel Selid,
aqui fala o Grão Almirante Thrawn. Relatório.
– Senhor – disse Selid, sua postura de desfile militar ficando
ainda mais rígida. – Lamento informá-lo, almirante, da morte
repentina do general Covell.
Pellaeon sentiu a boca se abrir uns dois centímetros.
– Como? – ele perguntou.
– Ainda não sabemos, senhor – disse Selid. – Ele
aparentemente morreu dormindo. Os médicos ainda estão fazendo
exames, mas até o momento tudo o que eles conseguem sugerir é
que grandes partes do cérebro do general simplesmente se
desligaram.
– Tecido cerebral não se “desliga” simplesmente, coronel –
disse Thrawn. – Tem de haver um motivo para isso.
Selid pareceu se encolher levemente.
– Sim, senhor. Desculpe, senhor; não tive a intenção de colocar
as coisas desse jeito.
– Eu sei que não – Thrawn lhe assegurou. – E quanto ao resto
dos passageiros?
– Os médicos estão checando todos agora – disse Selid. – Até
o momento, nenhum problema. Eles estão inclusive checando todos
ainda dentro da guarnição. Os soldados do general Covell, a
companhia que chegou na Draklor junto com ele, já havia se
dispersado fora da montanha quando ele morreu.
– O quê, toda a companhia? – perguntou Pellaeon. – Para quê?
– Não sei, senhor – disse Selid. – O general Covell deu as
ordens. Depois da grande reunião, quero dizer, antes de morrer.
– Talvez seja melhor você nos contar toda a história desde o
começo, coronel – Thrawn o interrompeu. – Conte-me tudo.
– Sim, senhor. – Selid visivelmente se aprumou. – O general
Covell e os outros pousaram via nave auxiliar há aproximadamente
seis horas. Eu tentei entregar o comando da guarnição para ele,
mas ele se recusou. Então ele insistiu em ter uma conversa em
particular com seus soldados numa das cantinas dos oficiais.
– Quais soldados? – perguntou Thrawn. – A guarnição inteira?
– Não, senhor, apenas aqueles que o acompanharam na
Draklor. Ele disse que tinha ordens especiais para dar a eles.
Pellaeon olhou para Thrawn.
– Eu achei que ele teria bastante tempo para dar ordens
especiais a bordo da nave.
– Sim – concordou Thrawn. – Era o que seria de se esperar.
– Talvez tenha sido ideia de C’baoth – sugeriu Selid. – Ele
estava ao lado do general desde o minuto em que desceram da
nave auxiliar. Meio que murmurando, o tempo todo.
– É mesmo? – Thrawn disse pensativo. Sua voz estava calma,
mas havia algo no fundo dela que fez Pellaeon sentir um arrepio na
espinha. – Onde está o mestre C’baoth agora?
– Nas antigas câmaras reais do imperador – disse Selid. – O
general Covell insistiu que elas fossem abertas para ele.
– Será que ele estaria acima da influência dos ysalamiri lá no
alto? – murmurou Pellaeon.
Thrawn balançou a cabeça.
– Duvido. De acordo com meus cálculos, toda a montanha e a
área ao redor deveriam estar no interior da bolha sem Força. O que
aconteceu depois, coronel?
– O general passou quinze minutos falando com seus soldados
– disse Selid. – Ao sair, ele me falou que tinha dado a eles ordens
secretas que vieram diretamente do senhor, almirante, e que eu não
deveria interferir.
– E depois eles deixaram a montanha?
– Depois de retirar todo o equipamento de campo e os
explosivos de uma das salas de suprimento, sim – disse Selid. – Na
verdade, eles passaram mais umas duas horas dentro da guarnição
antes de partir. Familiarizando-se com o layout, disse o general.
Depois que eles partiram, C’baoth escoltou o general aos seus
aposentos e depois foi ele próprio escoltado até as câmaras reais
por dois dos meus stormtroopers. Coloquei o restante da guarnição
de volta à rotina padrão do turno da noite, e foi isso. Até hoje de
manhã, quando o estafeta encontrou o general.
– Então C’baoth não estava com Covell na hora de sua morte?
– perguntou Thrawn.
– Não, senhor – disse Selid. – Embora a opinião dos médicos
seja de que o general não viveu muito tempo depois que C’baoth o
deixou.
– E ele estava com o general até aquele momento.
– Sim, senhor.
Pellaeon olhou de esguelha para Thrawn. O Grão Almirante
estava olhando para o nada, seus olhos vermelhos brilhantes
estreitados a ponto de se transformarem em fendas.
– Diga-me, coronel, qual foi a impressão que você teve do
general Covell?
– Bem... – Selid hesitou. – Eu teria que dizer que fiquei um
pouco decepcionado, senhor.
– Como assim?
– Ele simplesmente não era o que eu estava esperando,
almirante – disse Selid, parecendo distintamente desconfortável.
Pellaeon não o culpava; criticar um oficial sênior na frente de outro
era uma quebra séria de etiqueta militar. Especialmente entre
diferentes ramos do serviço. – Ele parecia... distante é a palavra que
eu teria de usar, senhor. Ele insinuou que minha segurança era
fraca e que ele faria algumas alterações importantes, mas não quis
conversar comigo a respeito delas. Na verdade, ele mal falou
comigo durante todo o tempo em que esteve aqui. E não foi só
comigo, ele foi ríspido com os outros oficiais que tentaram falar com
ele também. Era privilégio dele, claro, e ele podia estar apenas
cansado. Mas não parecia se encaixar com o que eu tinha ouvido
falar da reputação do general.
– Não, não parece – disse Thrawn. – O pad de holograma na
antiga sala do trono do imperador ainda está operacional, coronel?
– Sim, senhor. Mas C’baoth pode não estar na sala do trono.
– Ele estará – Thrawn disse com frieza. – Conecte-me com ele.
– Sim, senhor.
A imagem de Selid desapareceu, sendo substituída pelo
símbolo de pausa.
– Você acha que C’baoth fez alguma coisa com Covell? –
Pellaeon perguntou baixinho.
– Não vejo nenhuma outra explicação provável – disse Thrawn.
– Minha suspeita é de que nosso adorado mestre Jedi estava
tentando assumir o controle da mente de Covell, talvez até mesmo
substituindo seções inteiras dele pela sua própria. Quando atingiram
a bolha ysalamir e ele perdeu esse contato direto, não havia o
suficiente de Covell para mantê-lo vivo por muito tempo.
– Entendo. – Pellaeon virou a cabeça para que o Grão
Almirante não visse seu rosto; uma fúria negra percorria seu ser. Ele
tinha avisado Thrawn a respeito do que C’baoth poderia fazer. Tinha
avisado vezes sem conta. – O que o senhor vai fazer a respeito?
O símbolo de pausa desapareceu antes que Thrawn pudesse
responder; mas não era a figura padrão de um quarto da escala que
o substituiu. Em vez disso, uma imagem enorme do rosto de
C’baoth subitamente os fuzilou com seu olhar, dando um susto em
Pellaeon e fazendo-o dar um passo involuntário para trás.
Thrawn sequer moveu um músculo.
– Bom dia, mestre C’baoth – disse o Grão Almirante, a voz
suave como uma pluma. – Vejo que o senhor descobriu a
configuração particular de holograma do imperador.
– Grão Almirante Thrawn – disse C’baoth, com a voz fria e
arrogante. – É assim que você recompensa meu trabalho em prol de
suas ambições? Com um ato de traição?
– Se existe traição, é da sua parte, mestre C’baoth – disse
Thrawn. – O que o senhor fez com o general Covell?
C’baoth ignorou a pergunta.
– A Força não é tão fácil de trair quanto você pensa – ele disse.
– E nunca esqueça disso, Grão Almirante Thrawn; com a minha
destruição virá a sua própria. Eu previ isso.
Ele parou, fuzilando ora um, ora outro. Por dois segundos,
Thrawn permaneceu em silêncio.
– Terminou? – ele perguntou por fim.
C’baoth franziu a testa; o jogo de incerteza e nervosismo era
facilmente visível em seu rosto ampliado. Apesar de toda sua
majestade intimidadora, a configuração de holograma pessoal do
imperador obviamente tinha seu próprio conjunto de limitações.
– Por ora – disse C’baoth. – Você tem alguma defesa patética a
oferecer?
– Não tenho nada de que me defender, mestre C’baoth – disse
Thrawn. – Foi o senhor quem insistiu em ir a Wayland. Agora diga-
me o que fez com o general Covell.
– Você irá restaurar a Força para mim.
– Os ysalamiri vão ficar onde estão – disse Thrawn. – Diga-me
o que fez com o general Covell.
Por um momento os dois homens ficaram fuzilando um ao outro
com o olhar. O de C’baoth desmoronou primeiro, e por um momento
pareceu que ele ia desabar. Mas então o maxilar do velho
despontou para fora, e mais uma vez ele era o arrogante mestre
Jedi.
– O general Covell era meu para eu fazer o que quisesse – ele
disse. – Assim como tudo em meu Império.
– Obrigado – disse Thrawn. – Era tudo o que eu precisava
saber. Coronel Selid?
O rosto imenso desapareceu e foi substituído pela imagem de
um quarto de escala de Selid.
– Sim, almirante?
– Instruções, coronel – Thrawn lhe disse. – Primeiro, mestre
C’baoth deverá ser preso imediatamente. Pode permitir que ele
tenha livre acesso às câmaras reais e à sala do trono do imperador,
mas ele não deverá deixar esse espaço. Todos os circuitos de
controle desses andares serão desconectados, é claro. Em segundo
lugar, você deverá iniciar inquéritos quanto a onde exatamente os
soldados do general Covell foram vistos dentro da montanha antes
de partirem.
– Por que não perguntamos aos próprios soldados, senhor? –
sugeriu Selid. – Eles presumivelmente estão usando comlinks.
– Porque não tenho certeza de que podemos confiar nas
respostas deles – Thrawn lhe disse. – O que me leva à minha
terceira ordem. Nenhum dos soldados que deixaram a montanha
sob as ordens do general Covell deverá ter permissão de voltar.
O queixo de Selid caiu visivelmente.
– Senhor?
– Você ouviu corretamente – disse Thrawn. – Outro transporte
chegará para eles em poucos dias, e então eles serão reunidos e
retirados do planeta. Mas em nenhuma circunstância deverão ter
permissão de voltar à montanha.
– Sim, senhor – disse Selid, frustrado. – Mas... senhor, o que eu
digo a eles?
– Pode lhes dizer a verdade – Thrawn falou baixinho. – Que as
ordens deles vieram não do general Covell, e certamente não de
mim, mas de um traidor do Império. Até que a Inteligência consiga
entender todos os detalhes, toda a companhia será considerada
suspeita, como cúmplices involuntários de traição.
A palavra pareceu ficar ali, suspensa entre eles no ar.
– Entendido, senhor – Selid disse finalmente.
– Ótimo – disse Thrawn. – Você assume novamente, é claro, o
posto de comandante da guarnição. Alguma pergunta?
Selid se endireitou.
– Não, senhor.
– Ótimo. Continue com o trabalho, coronel. Quimera
desligando.
A figura desapareceu do pod de holograma.
– O senhor acha que é seguro deixar C’baoth lá? – perguntou
Pellaeon.
– Não há nenhum lugar mais seguro no Império – ressaltou
Thrawn. – Pelo menos, ainda não.
Pellaeon franziu a testa.
– Não entendi.
– A utilidade dele para o Império está rapidamente chegando ao
fim, capitão – disse Thrawn, se virando e caminhando sob o arco até
a seção principal da ponte. – Entretanto, ele ainda tem um último
papel a desempenhar em nossa consolidação de poder a longo
prazo.
Ele parou na extremidade de popa da passarela de comando.
– C’baoth é louco, capitão; nisso nós dois concordamos. Mas tal
loucura está na mente. Não no corpo.
Pellaeon o encarou fixamente.
– O senhor está sugerindo que o clonemos?
– Por que não? – perguntou Thrawn. – Certamente no Monte
Tantiss, devidas as condições de lá. E muito provavelmente não na
velocidade que aquela instalação permite também – isso serve
muito bem para técnicos e pilotos de TIE Fighters, mas não um
projeto com esta precisão. Não, eu planejo acelerar um clone desse
tipo até a infância e depois permitir que ele cresça até a maturidade
a um ritmo normal durante seus últimos dez ou quinze anos. Sob
condições adequadas de criação, é claro.
– Entendo – disse Pellaeon, lutando para manter a voz firme.
Um jovem C’baoth – ou talvez dois, dez ou vinte – à solta na
galáxia. Era uma ideia à qual ele levaria um certo tempo para se
acostumar. – Onde o senhor montaria essa outra instalação de
clonagem?
– Em um lugar absolutamente seguro – disse Thrawn. –
Possivelmente em um dos mundos nas Regiões Desconhecidas
onde um dia servi ao imperador. Você irá instruir a Inteligência para
que comece a procurar um local adequado depois que tivermos
esmagado os rebeldes em Bilbringi.
Pellaeon sentiu o lábio estremecer. Certo; o perigosamente
etéreo ataque a Bilbringi. Com essa história de C’baoth, ele quase
havia se esquecido do principal assunto do dia. Ou de suas reservas
com relação a ele.
– Sim, senhor. Almirante, sou forçado a lembrar ao senhor que
todas as evidências ainda indicam Tangrene como o ponto provável
de ataque.
– Estou ciente das evidências, capitão – disse Thrawn. – Não
obstante, eles estarão em Bilbringi.
Olhou sem pressa ao redor de sua ponte; seus olhos vermelhos
brilhantes não deixavam escapar nada. E os tripulantes sabiam. Em
cada estação, dos poços da tripulação aos consoles laterais, havia
os sons sutis e o movimento de homens cientes de que seu
comandante estava observando, e se esforçavam para mostrar a ele
seu melhor.
– E nós também – o Grão Almirante acrescentou a Pellaeon. –
Definir curso para Bilbringi, capitão. E vamos nos preparar para
encontrar nossos convidados.

Wedge terminou de beber o que restava em sua xícara e a


colocou de volta sobre a madeira lascada e manchada da mesinha,
dando uma olhada ao redor da ruidosa cantina de Mumbri Storve. O
lugar estava tão lotado quanto uma hora antes, quando ele Janson e
Hobbie haviam entrado, mas a textura da multidão havia mudado
razoavelmente. A maioria do pessoal mais jovem tinha ido embora,
tanto casais quanto grupos, e haviam sido substituídos por um
bando mais velho e de aspecto decididamente mais perigoso. Os
tipos da periferia estavam começando a entrar; isso queria dizer que
estava na hora de eles começarem a sair.
Seus colegas pilotos do Esquadrão Rogue também sabiam
disso.
– Hora de ir? – sugeriu Hobbie, sua voz quase inaudível por
sobre o ruído.
– Isso – Wedge assentiu, se levantando e procurando na bolsa
uma moeda que pagasse aquela última rodada. Sua bolsa de civil; e
ele detestava aquelas coisas desajeitadas. Mas não seria nada
adequado para eles saírem vagando pela cidade vestindo seus
uniformes completos da Nova República, incluindo os emblemas
distintivos do Esquadrão Rogue.
Ele encontrou uma moeda de tamanho adequado e a jogou no
centro da mesa quando os outros se levantaram.
– Pra onde agora? – perguntou Janson, curvando ligeiramente
os ombros para esticar os músculos das costas.
– De volta à base, eu acho – Wedge respondeu.
– Ótimo – grunhiu Janson. – Não vai demorar muito a
amanhecer.
Wedge assentiu ao se virar e se dirigir para a saída. A manhã
poderia chegar a qualquer hora que quisesse, claro: muito antes
disso eles estariam fora daquele planeta e acelerando na direção do
ponto de encontro marcado nos arredores dos estaleiros de
Bilbringi.
Eles abriram caminho por entre as mesas lotadas; e, ao
fazerem isso, um homem alto e magro empurrou a cadeira quase de
encontro aos joelhos de Wedge e se levantou sem muita firmeza.
– Cuidado – ele disse com a voz enrolada, virando parte do
corpo para jogar o braço sobre os ombros de Wedge e grande parte
do peso contra o flanco do piloto.
– Calma, amigo – grunhiu Wedge, lutando para recuperar o
equilíbrio. Pelo canto do olho ele viu Janson ir para o outro lado do
homem alto e colocar o braço ao redor dele para lhe dar
sustentação...
– Calma está bom para mim – murmurou o homem,
subitamente falando de modo normal e apertando o braço ao redor
dos ombros de Wedge. – Todos nós quarto, com muita calma agora,
vamos ajudar o coitado do bêbado a sair daqui.
Wedge ficou rígido. Rastreado, desorientado e apanhado... e
numa virada de X-wing aquela simples noite na cidade havia se
transformado em sérios problemas. Com ele e Janson atrapalhados
daquele jeito, só Hobbie estava com uma mão livre para alcançar
sua arma. E o agressor deles certamente não havia esquecido de
ter algum apoio ao redor.
O homem alto devia ter sentido a tensão em Wedge.
– Ei, vá devagar – ele admoestou baixinho. – Não está
lembrando de mim, não é?
Wedge franziu a testa para o rosto praticamente colado ao seu.
Não parecia familiar; mas, por outro lado, àquela distância ele não
reconheceria a própria mãe.
– Deveria lembrar? – ele murmurou de volta.
O outro cambaleou mais um pouco.
– Eu achava que sim – ele disse numa voz magoada. – Quando
você parte pra atacar um Star Destroier com alguém, essa pessoa
deveria se lembrar de você. Especialmente no meio do nada.
Wedge franziu a testa um pouco mais forte, mal se dando conta
de que o grupo inteiro havia começado a andar. No meio do nada...?
E, subitamente, ele se lembrou. A frota Katana, e o pessoal de
Talon Karrde saindo do nada para dar ajuda e poder de fogo contra
os imperiais. E, depois, as breves e preocupadas apresentações a
bordo do cruzador estelar...
– Aves?
– Não foi tão difícil assim, foi? – o outro disse em sinal de
aprovação. – Eu lhe disse que você conseguiria se tentasse. Agora
vamos; bem devagar, e sem chamar mais atenção para nós do que
precisamos.
Não parecia haver nenhuma opção de verdade a não ser
obedecer; mas mesmo quando Wedge continuava em direção à
saída, ele mantinha os olhos se movendo, procurando algo que
pudessem utilizar para tirá-los dali. Karrde e seu pessoal haviam
supostamente concordado em levar informações de volta para a
Nova República, mas daí a serem aliados era uma grande distância.
E se o Império os havia ameaçado, ou simplesmente os comprado
de cara...
Mas nenhuma oportunidade de fuga se apresentou antes que
eles saíssem porta afora.
– Por aqui – disse Aves, abandonando sua atuação de bêbado
e descendo apressado a rua mal-iluminada e pouco frequentada.
Janson captou o olhar de Wedge e levantou as sobrancelhas,
questionador. Wedge deu de ombros levemente e foi atrás de Aves.
Ainda podia ser alguma espécie de armadilha, mas àquela altura o
medo estava sendo substituído pela simples curiosidade. Alguma
coisa estava acontecendo, e ele queria descobrir o que era.
Não precisou se preocupar por muito tempo. Dois edifícios
depois da Mumbri Storve, Aves virou e desapareceu numa entrada
escura. Wedge foi atrás, meio que esperando dar de cara com meia
dúzia de armas de raios. Mas Aves estava só.
– E agora? – ele perguntou quando Janson e Hobbie se
juntaram a eles.
Aves fez um gesto com a cabeça na direção da rua lá fora.
– Observem – ele disse. – Se eu estiver certo... lá vem ele.
Wedge observou. Um Aqualish com cara de leão-marinho
passou rapidamente, dando uma rápida olhada para a entrada ao
passar. Mal foi possível perceber a quebra no ritmo de seu passo, e
ele logo se deu conta e voltou ao ritmo normal. Passou pelo outro
lado da entrada...
Ouviu-se uma pancada abafada, e, de repente, o Aqualish
estava novamente na entrada; seu corpo mole e obviamente
inconsciente era carregado por dois homens de cara feia.
– Alguma problema? – perguntou Aves.
– Não – disse um dos homens quando deixaram cair o Aqualish
sem muita gentileza no chão perto dos fundos da entrada. – Eles
são valentões, mas não tão inteligentes.
– Este aqui era inteligente o bastante – disse Aves. – Dê uma
boa olhada nele, Antilles. Talvez da próxima vez você reconheça um
espião do Império quando pegar um.
Wedge olhou para o alien caído.
– Espião do Império, hein?
– Um freelancer – Aves deu de ombros. – Mas tão perigoso
quanto os outros.
Wedge voltou a olhar para ele, tentando manter a expressão no
seu rosto neutra.
– Suponho que devamos lhe agradecer – ele disse.
Um dos outros homens, ocupado revistando as roupas do
Aqualish, bufou.
– Acho que devem, sim – disse Aves. – Se não fosse por nós,
vocês teriam sido um item bem saboroso no próximo relatório da
Inteligência imperial.
– Suponho que sim – admitiu Wedge, trocando olhares com
Hobbie e Janson. Mas até aí, essa havia sido a ideia de toda aquela
farsa. Fazer a sua parte para convencer o Grão Almirante Thrawn
de que Tangrene ainda era o alvo pretendido da Nova República. –
O que você vai fazer com ele? – perguntou a Aves.
– Vamos cuidar dele – disse Aves. – Não se preocupe, ele não
vai fazer nenhum relatório tão cedo.
Wedge assentiu. Uma noite completamente desperdiçada.
Mesmo assim, era bom saber que o pessoal de Karrde ainda estava
do lado deles.
– Obrigado mais uma vez – ele disse, e desta vez falava sério.
– Eu lhe devo uma.
Aves inclinou a cabeça.
– Quer pagar a dívida agora mesmo?
– Como? – Wedge perguntou com cautela.
– Estamos preparando um trabalhinho – disse Aves, acenando
vagamente na direção do céu noturno. – Sabemos que vocês
também estão. Ajudaria muito se conseguíssemos cronometrar o
nosso para acontecer enquanto vocês estiverem mantendo Thrawn
ocupado.
Wedge franziu a testa para ele.
– Como assim? Você quer que eu lhe diga quando nossa
operação vai começar?
– Por que não? – Aves disse racionalmente. – Como eu disse,
já sabemos que está sendo preparada. A performance de repetição
de Bel Iblis e aquele negócio todo.
Wedge voltou a olhar para seus pilotos, se perguntando se eles
estavam apreciando a ironia daquilo tanto quanto ele. Ali estavam
eles, após uma noite inteira de dicas sutis que havia descido direto
pelos tubos de prótons; e agora estavam lhes pedindo uma
confirmação explícita de toda a operação. A equipe de
despistamento do coronel Derlin não poderia ter armado as coisas
melhores mesmo que tivesse tentado.
– Desculpe – ele disse devagar, colocando um pouco de
verdadeiro pesar na voz. – Mas você sabe que não posso lhe dizer
isso.
– Por que não? – Aves perguntou pacientemente. – Como falei,
já sabemos a maior parte. Posso provar a você se quiser.
– Aqui não – Wedge disse rapidamente. O objetivo era plantar
pistas, e não ser tão óbvio a ponto de despertar suspeitas. – Alguém
pode te ouvir.
Janson deu um tapinha no seu braço.
– Senhor, precisamos voltar – ele murmurou. – Temos muito
trabalho a fazer ainda antes de partir.
– Eu sei, eu sei – disse Wedge. O bom e velho Janson; justo a
abordagem que ele estava procurando. – Escute, Aves, vou lhe
dizer o que farei. Você vai ficar por aqui mais um pouco?
– Posso ficar. Por quê?
– Deixe-me falar com o comandante da minha unidade – disse
Wedge. – Para ver se consigo liberação especial para você.
A expressão no rosto de Aves demonstrava bem claramente o
que ele achava dessa ideia.
– Vale a pena tentar – ele disse diplomaticamente. – Em quanto
tempo você consegue uma resposta?
– Não sei – disse Wedge. – Ele é tão ocupado quanto nós, você
sabe. Vou tentar retornar a você de um jeito ou de outro; mas se
você não ouvir notícias minhas em 28 horas, não espere mais.
Talvez Aves tivesse sorrido levemente. Wedge não soube dizer
ao certo na luz fraca.
– Tudo bem – ele disse, resmungando um pouco. – Acho que é
melhor que nada. Pode deixar qualquer mensagem com o bartender
da noite no tapcaf Dona Laza.
– Ok – disse Wedge. – Temos que ir. Obrigado mais uma vez.
Juntos, ele e os outros dois pilotos deixaram a entrada e
atravessaram a rua. Estavam a dois quarteirões de distância quando
Hobbie falou.
– Vinte e oito horas, hein? Muito esperto.
– Achei que sim – Wedge concordou com modéstia. – Se
sairmos daqui nesse tempo, chegaríamos a Tangrene em cima da
hora para a grande batalha.
– Vamos torcer para que ele esteja planejando vender essa
informação para o Império – murmurou Janson. – Seria uma
vergonha ter desperdiçado a noite toda.
– Ah, ele vai vender, sim – Hobbie bufou. – Ele é um
contrabandista. Para que mais ele iria querer saber disso?
Wedge voltou a pensar na batalha da Katana. Talvez isso de
fato fosse tudo o que Karrde e sua gangue eram; a escória da
periferia, sempre à venda para quem desse mais. Mas, de algum
modo, ele não achava que fosse o caso.
– Vamos descobrir em breve – ele disse a Hobbie. – Vamos.
Como disse Janson, temos muito trabalho a fazer.
A última página rolou pela tela e parou. SUMÁRIO DE BUSCA
FINALIZADO. PRÓXIMA SOLICITAÇÃO?
– Cancelar – disse Leia, recostando-se em sua cadeira e
olhando pela janela. Mais um beco-sem-saída. Exatamente como o
último, e o penúltimo. Estava começando a parecer que os
bibliotecários da Pesquisa tinham razão: se ainda existisse alguma
informação sobre as velhas técnicas de clonagem das Guerras
Clônicas na Biblioteca do Antigo Senado, ela estaria enterrada tão
fundo que ninguém jamais a encontraria.
Do outro lado do quarto, ela captou um vislumbre de
consciência retornando. Levantando-se, foi até o berço e olhou para
seus filhos. Jacen estava mesmo acordado, murmurando para si
mesmo e fazendo um sério esforço para estudar seus dedinhos. Ao
seu lado, Jaina ainda dormia, os lábios gordinhos abertos apenas o
bastante para emitir um leve assovio a cada respiração.
– Ei, você aí – Leia murmurou para seu filho, pegando-o no
berço e aninhando-o nos braços. Ele olhou para ela, esquecendo
seus dedinhos por um momento, e sorriu seu maravilhoso sorriso
sem dentes. – Ora, obrigada – ela disse, retribuindo o sorriso e
fazendo um carinho na bochecha dele. – Vem, vamos ver o que está
acontecendo lá fora no mundão enorme.
Ela o levou até a janela. Abaixo deles, a Cidade Imperial estava
no pleno caos do meio da manhã; veículos terrestres e airspeeders
disparavam em todas as direções, zumbindo como insetos
frenéticos. Além da cidade, os picos nevados das montanhas
Manarai, ao sul, estavam deslumbrantes no sol da manhã. Além das
montanhas, o céu era de um azul profundo e sem nuvens; e além do
céu...
Ela estremeceu. Além do céu ficava o escudo planetário de
energia. E os invisíveis e mortíferos asteroides do Império.
Jacen gorgolejou. Leia tornou a olhar para ele, percebeu que
ele a estudava com o que ela podia quase imaginar que fosse
preocupação.
– Está tudo bem – ela garantiu, segurando-o um pouco mais
perto e o balançando com carinho nos braços. – Está tudo bem.
Vamos encontrar todos eles e nos livrar deles; não se preocupe.
Atrás dela, a porta se abriu e Winter entrou no aposento, com
uma bandeja flutuando à sua frente.
– Sua Alteza – ela cumprimentou Leia com uma voz suave. –
Achei que pudesse gostar de algo para beber.
– Gostaria, sim, obrigada – disse Leia, sentindo o aroma suave
de parichá condimentado subindo do bule na bandeja. – Alguma
coisa acontecendo lá embaixo?
– Nada de interessante – disse Winter, empurrando a bandeja
até uma mesinha lateral e começando a transferir seu conteúdo. –
As equipes de busca não encontraram nenhum asteroide novo
desde ontem de manhã. Pelo que sei, o general Bel Iblis andou
sugerindo que eles já podem ter eliminado todos.
– Duvido que o almirante Drayson acredite nisso.
– Não – concordou Winter, estendendo uma caneca fumegante
e esperando enquanto Leia deslocava Jacen para apenas um braço.
– Nem Mon Mothma.
Leia assentiu ao aceitar a caneca. Para ser honesta, ela
também não acreditava. Não importava o quanto aqueles escudos
de camuflagem pudessem ser caros de produzir, ela não podia ver o
Império se dando a tanto trabalho por menos que setenta asteroides
camuflados. E podiam ser facilmente o dobro disso. Os 21 que eles
já haviam achado mal arranhavam a superfície.
– Como está indo a pesquisa? – perguntou Winter, servindo
uma caneca para si mesma.
– Não está – Leia teve de admitir. De um problema insolúvel
para outro, ao que parecia. – Embora eu não saiba por que isso me
surpreende. Os especialistas de Pesquisa do Conselho já
analisaram todos os registros, e não encontraram nada.
– Mas a senhora é uma Jedi – Winter a lembrou. – A senhora
tem a Força.
– Aparentemente, não o bastante – Leia balançou a cabeça. –
Pelo menos, não o bastante para me guiar até o arquivo certo. Se
existir um arquivo certo. Não estou mais certa de que exista.
Por um minuto elas ficaram bebendo em silêncio. Leia saboreou
o gosto suave do parichá quente, profundamente consciente de que
aquela poderia ser a última vez em que ela provava a bebida por
algum tempo. Todas as remessas da raiz da qual ela era feita
tinham que ser importadas de fora do planeta.
– Eu estava conversando com Mobvekhar ontem – Winter
disse, interferindo em seus pensamentos. – Ele disse que a senhora
havia falado com ele a respeito de uma pista de alguma espécie.
Alguma coisa que Mara Jade havia dito.
– Alguma coisa que Mara havia dito, mais alguma coisa que
Luke fez – Leia assentiu. – Sim, eu lembro; e ainda acho que há
uma chave importante ali em algum lugar. Só não consigo descobrir
qual é.
Em sua cintura, o comlink emitiu um bip.
– Eu sabia que não podia durar – suspirou Leia, colocando sua
caneca em cima da mesa e sacando o comlink. Mon Mothma havia
lhe prometido uma manhã inteira de folga; obviamente, essa
promessa estava prestes a ser descumprida. – Conselheira Organa
Solo – ela disse para o dispositivo.
Mas não era Mon Mothma.
– Conselheira, aqui fala o Centro de Comunicações – disse
uma voz militar ríspida. – Há um cargueiro civil chamado Wild
Karrde mantendo posição logo além da linha de sentinela. O capitão
insiste em falar com a senhora pessoalmente. A senhora deseja
falar com ele, ou podemos ir em frente e expulsá-lo do sistema?
Então Karrde finalmente tinha vindo apanhar seu pessoal. Ou
então havia ouvido rumores e decidido dar ele próprio uma
espiadinha em Coruscant. Fosse como fosse, era encrenca.
– Melhor me deixar falar com ele – ela disse ao controlador.
– Sim, conselheira.
Um clic baixinho.
– Olá, Karrde – disse Leia. – Aqui fala Leia Organa Solo.
– Olá, conselheira – respondeu a voz fria e bem modulada de
Karrde. – Que bom falar com a senhora novamente. Recebeu meu
pacote, acredito?
Leia teve de parar para pensar. Certo, o registro macrobinocular
do ataque a Ukio.
– Recebemos sim – ela respondeu. – Permita-me expressar a
gratidão da Nova República.
– Sua gratidão já foi amplamente expressada – Karrde disse
secamente. – Houve alguma repercussão desagradável quanto aos
arranjos de pagamento?
– Pelo contrário – disse Leia, distorcendo a verdade apenas um
pouco. – Ficaríamos felizes em pagar taxas equivalente por mais
informações dessa qualidade.
– Fico contente em ouvir isso – disse Karrde. – A senhora por
acaso também está no mercado em busca de tecnologia?
Leia piscou várias vezes. Não estava esperando por essa
pergunta.
– Que espécie de tecnologia? – ela perguntou.
– A espécie semirrara – ele disse. – Por que não me dá
autorização para descer e discutimos isso?
– Receio que isso não será possível – disse Leia. – Todo
tráfego não essencial para dentro e fora de Coruscant foi restrito.
– Apenas o não essencial?
Leia fez uma careta. Então ele tinha ouvido os rumores.
– O que exatamente você ouviu?
– Apenas alguns sussurros – ele disse. – E só um deles
realmente me preocupa. Fale-me de Mara.
– O que tem Mara? – Leia perguntou, na defensiva.
– Ela está presa?
Leia deu uma olhada para Winter.
– Karrde, nós não deveríamos estar discutindo isso...
– Não me venha com essa – Karrde a interrompeu, com a voz
subitamente dura. – Você me deve isso. Mais ainda, você deve isso
a ela.
– Eu estou ciente – retrucou Leia, deixando a própria voz esfriar
um grau ou dois. – Se me deixar terminar, nós não deveríamos estar
discutindo isso em um canal aberto.
– Ah. Entendo. – Se ele estava sentindo alguma vergonha com
seu erro, a voz não demonstrava. – Vamos experimentar. Ghent
está disponível?
– Ele está por aqui em algum lugar.
– Encontre-o e leve-o até um terminal com acesso ao sistema
de comunicação. Diga a ele para programá-lo num dos meus
códigos de encriptação pessoal – à escolha dele. Isso deverá nos
dar privacidade suficiente.
Leia pensou no assunto. Isso deveria pelo menos filtrar
eventuais escutas de outras naves civis no sistema. Se alguma
sonda droide do Império espreitando lá fora seria enganada já era
outra história.
– Pelo menos é um começo – ela concordou. – Vou encontrá-lo.
– Estarei esperando.
O sinal ficou mudo.
– Problemas? – perguntou Winter.
– Provavelmente – disse Leia. Ela olhou para Jacen, sentindo
um estranho formigamento no fundo de sua mente. Lá estava
novamente a sensação assustadora de que uma parte vital de
informação estava pairando na escuridão, pouco além de seu
alcance.
Luke e Mara estavam envolvidos, ela já havia deduzido. Seria
possível que Karrde também estivesse envolvido?
– Ele veio para defender Mara, e acho que não vá ficar feliz ao
saber que ela não está mais aqui. Tome conta dos gêmeos, por
favor; preciso encontrar Ghent e descer até a sala de guerra.

O checklist de dados foi até o fim e parou.


– Parece ok – Ghent disse a Leia, espiando a tela e fazendo um
último ajuste do esquema de encriptação. – De qualquer maneira,
você não vai perder mais de uma sílaba aqui ou ali. Pode ir.
– Só tome cuidado com o que disser – Bel Iblis a lembrou. –
Ainda pode haver droides-sonda lá fora ouvindo, e não há garantia
de que os imperiais não tenham quebrado os códigos de
encriptação de Karrde. Não diga nada que eles já não saibam.
– Compreendo – Leia assentiu. Ela se sentou e apertou o botão
que o oficial de comunicação indicou. – Estamos prontos aqui,
Karrde.
– Eu também – a voz de Karrde voltou. Ela parecia um pouco
mais baixa de timbre que o normal, mas tirando isso a transmissão
parecia estar boa. – Por que Mara está presa?
– Houve uma invasão de um grupo de ataque do Império há
algumas semanas – disse Leia, escolhendo com cuidado suas
palavras. – O líder da equipe acusou Mara de cumplicidade.
– Isso é absurdo – Karrde debochou.
– Concordo – disse Leia. – Mas uma acusação desse tipo
precisa ser investigada.
– E o que seus investigadores descobriram?
– O que alguns de nós já sabiam – disse Leia. – Que ela um dia
foi membro da equipe pessoal do imperador.
– É por isso que vocês ainda a estão detendo? – Karrde exigiu
saber. – Por coisas que ela poderia ter feito ou não anos atrás?
– Não estamos preocupados com o passado dela – disse Leia,
começando a suar um pouco. Ela detestava ter de enganar Karrde
dessa maneira, particularmente depois de toda a ajuda que ele tinha
lhes dado. Mas, se houvesse droides-sonda escutando, ela
precisava fingir que Mara ainda estava sob suspeita. – Certos
membros do Conselho e do alto comando estão preocupados com
as lealdades dela.
– Então esses membros são tolos – Karrde disse mordaz. – Eu
gostaria de falar com ela.
– Receio que isso seja impossível – disse Leia. – Ela não tem
permissão de acesso a comunicações externas.
Um som fraco veio do alto-falante; um bug de encriptação ou
um suspiro, Leia não sabia dizer o que era.
– Diga-me por que não posso pousar – disse Karrde. – Eu ouvi
os rumores. Diga-me a verdade.
Leia olhou para Bel Iblis. Seu rosto tinha uma expressão
amarga, mas ele assentiu relutante.
– A verdade é que estamos sofrendo um cerco – ela disse a
Karrde. – O Grão Almirante colocou um grande número de
asteroides camuflados em órbita ao redor de Coruscant. Não
sabemos quais são suas órbitas, nem mesmo quantos são. Até
encontrarmos e destruirmos todos eles o escudo planetário tem que
permanecer erguido.
– De fato – murmurou Karrde. – Interessante. Eu já tinha ouvido
falar sobre o ataque e desaparecimento do Império, mas nada a
respeito de asteroides. A maioria dos rumores tem sugerido
meramente que vocês haviam sofrido danos graves e estavam
abafando tudo.
– Parece bem o tipo de história que Thrawn faria circular –
grunhiu Bel Iblis. – Uma alfinetada no nosso moral para divertimento
entre ataques.
– Ele é adepto de todos os tipos de guerra – concordou Karrde.
Mas, para o ouvido de Leia, havia algo de estranho em seu tom de
voz. – Quantos desses asteroides vocês encontraram até agora?
Presumo que vocês têm procurado.
– Encontramos e destruímos 21 – ela respondeu. – Vinte e um,
sem contar aquele que os imperiais destruíram para evitar que nós o
capturássemos. Mas nossos dados de batalha indicam que ele pode
ter lançado até 287.
Karrde ficou em silêncio por um momento.
– Mesmo assim, não são tantos para o volume de espaço
envolvido. Eu estaria disposto a arriscar uma travessia.
– Não estamos preocupados com você – interrompeu Bel Iblis.
– Estamos pensando no que aconteceria a Coruscant se um
asteroide de quarenta metros atravessasse o escudo e atingisse a
superfície.
– Eu poderia passar numa janela de cinco segundos – ofereceu
Karrde.
– Não vamos abrir – Leia disse com firmeza. – Desculpe.
Outro som fraco vindo do alto-falante.
– Neste caso, suponho que não tenho escolha a não ser fazer
um acordo. Antes, você disse que estaria disposta a pagar por
informações. Muito bem. Eu tenho uma coisa de que você precisa; e
meu preço é de alguns minutos com Mara.
Leia franziu a testa para Bel Iblis e recebeu um olhar
igualmente intrigado de volta. Seja qual fosse a ideia de Karrde, as
coisas também não estavam óbvias para ele. O que estava claro era
que ela não podia prometer deixá-lo falar com Mara.
– Não posso prometer nada – ela disse. – Diga-me qual é a
informação, e tentarei ser justa.
Houve um momento de silêncio enquanto ele pensava.
– Suponho que é a melhor oferta que vou conseguir – ele disse
finalmente. – Está certo. Vocês podem abaixar seu escudo a
qualquer momento. Os asteroides acabaram todos.
Leia encarou o alto-falante.
– O quê?
– Você me ouviu – disse Karrde. – Eles acabaram. Thrawn
deixou 22 para vocês; vocês destruíram 22. O cerco acabou.
– Como você sabe? – perguntou Bel Iblis.
– Eu estava nos estaleiros de Bilbringi pouco antes do ataque e
desaparecimento do Império – Karrde lhe respondeu. – Observamos
um grupo de 22 asteroides sendo manipulados sob vigilância
cerrada. Na época, claro, não sabíamos o que o Império estava
fazendo com eles.
– Você fez alguma gravação enquanto estava lá? – perguntou
Bel Iblis.
– Tenho os dados dos sensores da Wild Karrde – ele disse. –
Se estiverem prontos, transmito para vocês agora.
– Vá em frente.
A luz da transmissão de dados se acendeu, e Leia olhou para a
tela visual mestre. Era mesmo o interior dos estaleiros de Bilbringi;
ela os havia visto numa transmissão dos voos de reconhecimento
da Nova República. E ali no centro, cercados por veículos de apoio
e trabalhadores com trajes de manutenção...
– Ele tem razão – murmurou Bel Iblis. – Vinte e dois asteroides.
– Isso não prova que não existam mais, senhor – ressaltou o
oficial no console dos sensores. – Eles poderiam ter reunido outro
grupo em Ord Trasi ou Yaga Menor.
– Não – Bel Iblis balançou a cabeça. – Tirando os problemas
logísticos envolvidos, não consigo imaginar Thrawn disseminando
sua tecnologia de camuflagem mais do que o necessário. A última
coisa que ele pode permitir agora seria que puséssemos as mãos
num modelo que funciona.
– Ou mesmo em uma leitura de sistemas – concordou Karrde. –
Se vocês encontrassem uma fraqueza, uma das principais
vantagens dele sobre vocês acabaria. Tudo bem; cumpri minha
parte do acordo. E a de vocês?
Leia olhou indefesa para Bel Iblis.
– Por que você quer falar com ela? – perguntou o general.
– Se isso importa, uma das partes mais difíceis de estar preso é
a sensação de que você foi abandonado – Karrde disse friamente. –
Imagino que Mara esteja sentindo isso; eu sei que foi o que senti
quando fui convidado de Thrawn a bordo da Quimera contra minha
vontade. Quero lhe dizer, pessoalmente, que ela não foi esquecida.
– Leia? – murmurou Bel Iblis. – O que vamos fazer?
Leia encarou o general, ouvindo suas palavras sem realmente
registrá-las. Lá estava, bem na frente dela, a chave que ela estava
procurando. A prisão de Karrde a bordo da Quimera...
– Leia? – Bel Iblis repetiu, franzindo a testa.
– Eu te ouvi – ela disse, soando distante e mecânica aos seus
próprios ouvidos. – Deixe-o pousar.
Bel Iblis olhou de relance para o oficial do convés.
– Talvez devêssemos...
– Eu disse deixe-o pousar – Leia retrucou com mais rispidez do
que havia pretendido. Subitamente, todas as peças haviam se
encaixado, e a imagem que elas formavam era de desastre em
potencial. – Eu assumo a responsabilidade.
Por um momento, Bel Iblis estudou o rosto dela.
– Karrde, aqui fala Bel Iblis – ele disse devagar. – Vamos lhe
dar sua abertura de cinco segundos. Aguarde instruções de pouso.
– Obrigado – disse Karrde. – Falo com vocês em breve.
Bel Iblis fez um gesto para o oficial do convés, que assentiu e
se pôs a trabalhar.
– Está certo, Leia – ele disse, se voltando para ela. – O que
está havendo?
Leia respirou fundo.
– É a clonagem, Garm. Eu sei como Thrawn está fazendo eles
crescerem tão rápido.
Toda a sala de guerra havia ficado mortalmente quieta.
– Conte-me – disse Bel Iblis.
– É a Força – ela disse. Era tão óbvio, tão profundamente
óbvio, e no entanto ela havia deixado isso passar completamente. –
Você não vê? Quando você cria uma duplicata exata de um ser
senciente, existe uma ressonância natural ou alguma coisa que se
cria através da Força entre a duplicata e o original. É isso o que
distorce a mente de um clone que cresceu rápido demais; não
houve tempo suficiente para que a mente se ajustasse à pressão
que recebe. Ela não tem como se ajustar; e portanto se destrói.
– Está certo – Bel Iblis disse dubiamente. – Como Thrawn está
resolvendo o problema?
– É muito simples – disse Leia, sentindo um estremecimento
percorrer seu corpo. – Ele está usando ysalamiri para bloquear a
Força dos tanques de clonagem.
O rosto de Bel Iblis ficou rígido. Do outro lado da sala de guerra
silenciosa, alguém soltou um palavrão baixinho.
– O resgate de Karrde da Quimera foi a chave – continuou Leia.
– Mara me disse que o Império havia apanhado 5 ou 6 mil ysalamiri
nas florestas em Myrkr. Mas eles não os estavam colocando em
suas naves de guerra, pois, quando ela e Luke foram atrás de
Karrde, Luke não teve problema para usar a Força.
– Porque os ysalamiri estavam em Wayland – assentiu Bel Iblis.
Ele olhou sério para Leia, mudando bruscamente a textura de seus
sentidos. – O que significa que quando a equipe chegar à
montanha...
– Luke estará indefeso – Leia assentiu, com a garganta
apertada. – E nem suspeitará disso até ser tarde demais.
Ela tornou a estremecer, e subitamente se lembrou do sonho
que tivera na noite do ataque do Império.
Luke e Mara, enfrentando um Jedi louco e outra ameaça
desconhecida. Na época ela havia se acalmado com o
conhecimento de que Luke seria capaz de sentir a presença de
C’baoth em Wayland e fazer algo para evitá-lo. Mas com os
ysalamiri lá, Luke poderia caminhar direto para as mãos dele.
Não. Ele certamente caminharia direto para as mãos de
C’baoth. De algum modo, naquele instante, ela sabia que isso
aconteceria. O que ela havia visto naquela noite não havia sido um
sonho, mas uma visão Jedi.
– Eu vou falar com Mon Mothma – Bel Iblis disse, com o rosto
sombrio. – Mesmo com Bilbringi, talvez possamos separar algumas
naves para ir ajudá-los.
Virando-se, ele se dirigiu rapidamente para a saída e para os
turboelevadores. Por um momento Leia o observou, escutando
enquanto a sala de guerra saía de seu transe e voltava lentamente à
vida. Ele tentaria, ela sabia; mas também sabia que ele fracassaria.
Mon Mothma, o comandante Sesfan e o próprio Bel Iblis já haviam
dito: simplesmente não havia recursos suficientes disponíveis para
atacar Wayland e os estaleiros de Bilbringi ao mesmo tempo. E ela
sabia bem demais que nem todos no Conselho acreditariam que a
ameaça de asteroides camuflados havia terminado. Pelo menos,
não o suficiente para mandar parar o ataque a Bilbringi.
O que significava que apenas uma pessoa que podia ir em
auxílio de seu marido e seu irmão.
Respirando fundo, Leia foi atrás de Bel Iblis. Ela tinha muito a
fazer antes da chegada de Karrde.

Três deles estavam esperando quando Karrde emergiu da


nave, espreitando sob o toldo que cobria o túnel de acesso ao pad.
Karrde os avistou do alto da rampa de entrada da Wild Karrde, e
apesar da escuridão sob o toldo, conseguiu identificar dois deles
antes de chegar à metade do caminho. Leia Organa Solo estava lá,
com Ghent nervoso atrás dela. A terceira figura, em pé atrás das
duas outras, era baixa e vestia o manto marrom rústico de um Jawa.
O que um carniceiro do deserto estaria fazendo ali, Karrde não
podia imaginar... mas, quando o grupo saiu das sombras na direção
dele e ele conseguiu dar uma boa olhada no rosto de Organa Solo,
ficou claro que ele estava prestes a descobrir.
– Bom dia, conselheira – ele a saudou, inclinando ligeiramente
a cabeça. – Bom te ver, Ghent. Espero que você tenha sido de
alguma ajuda aqui, não?
– Acho que sim – disse Ghent, deslocando nervoso o peso de
um pé para o outro. Nervoso até demais, mesmo para ele. – Pelo
menos estão dizendo que sim.
– Ótimo. – Karrde deslocou a atenção para o terceiro membro
do grupo. – E seu amigo é...?
– Eu sou Mobvekhar do clã Hakh’khar – uma voz rouca miou.
Karrde resistiu ao desejo de dar um passo para trás. O que
quer que estivesse se ocultando sob aquele manto, certamente não
era um Jawa.
– É meu guarda-costas – disse Organa Solo.
– Ah. – Com um esforço, Karrde afastou os olhos do que quer
que estivesse escondido sob o capuz escuro. – Bem – ele disse,
acenando na direção do corredor de acesso. – Vamos, então?
Organa Solo balançou a cabeça.
– Mara não está aqui.
Karrde olhou de relance para Ghent, que estava com um ar
ainda mais desconfortável.
– Você me disse que estava.
– Eu só confirmei você que ela havia sido presa – disse Organa
Solo. – Eu não podia dizer mais nada na hora; podiam haver
droides-sonda imperiais escutando.
Karrde fez um esforço para colocar a irritação de lado. Afinal,
estavam todos do mesmo lado ali.
– Onde ela está?
– Num planeta chamado Wayland – disse Organa Solo. – Junto
de Luke, Han e alguns outros.
Wayland? Karrde não conseguia se lembrar de já ter ouvido
falar naquele mundo antes.
– E o que há em Wayland que eles acham tão interessante? –
ele perguntou.
– A instalação de clonagem do Grão Almirante Thrawn.
Karrde a encarou.
– Você a encontrou?
– Nós não – disse Organa Solo. – Mara.
Karrde assentiu mecanicamente. Então eles haviam encontrado
a instalação de clonagem sozinhos. Todo aquele trabalho que ele
havia investido na organização dos outros grupos de
contrabandistas tinha sido jogado fora como especiaria de Kessel
lançada ao espaço. O trabalho, o risco, isso para não mencionar o
dinheiro com o qual ele havia planejado pagá-los.
– Tem certeza de que a instalação de clonagem fica lá?
– Vamos descobrir em breve – disse Organa Solo, fazendo um
gesto para a nave atrás dele. – Preciso que você me leve até lá.
Agora mesmo.
– Por quê?
– Porque a expedição está em perigo – disse Organa Solo. –
Eles podem não saber ainda, mas estão. E se ainda estiverem
seguindo o cronograma que nos enviaram, temos uma chance de
chegar até eles antes que seja tarde demais.
– Ela me contou tudo a respeito no caminho até aqui – Ghent
acrescentou com hesitação. – Eu acho que a gente devia...
Ele parou de falar quando Karrde deu uma olhada em sua
direção.
– Simpatizo com seu povo, conselheira – ele disse. – Mas há
outros assuntos que também precisam da minha atenção.
– Então você irá abandonar Mara – Organa Solo o lembrou.
– Não tenho nenhum sentimento especial por Mara – retrucou
Karrde. – Ela é um membro de minha organização; nada mais.
– Isso não é o bastante?
Por um momento Karrde olhou bem para ela. Ela o encarou
com tranquilidade, pagando para ver seu blefe... e, nos olhos dela,
ele pôde ver que ela sabia perfeitamente bem que se tratava de um
blefe. Ele não podia simplesmente sair andando e abandonar Mara
à sua morte, da mesma forma que não podia abandonar Aves,
Dankin ou Chin. Não se pudesse fazer algo para impedir.
– Não é assim tão fácil – ele disse baixinho. – Eu tenho
responsabilidades para com o resto do meu pessoal também. Neste
momento eles estão se preparando para lançar um ataque na
esperança de obter uma Armadilha Cristalina de Campo
Gravitacional para vender a vocês.
Uma breve surpresa percorreu o rosto de Organa Solo.
– Uma Armadilha Cristalina de Campo Gravitacional...?
– Não é aquela que vocês estão tentando pegar – Karrde lhe
garantiu. – Mas nós marcamos o ataque para a mesma hora,
torcendo para seu ataque distrair o inimigo. Eu preciso estar lá.
– Entendo – Organa Solo murmurou, aparentemente decidindo
deixar de lado a questão de como Karrde poderia ter sabido a
respeito do ataque a Tangrene. – A Wild Karrde fará tanta diferença
assim no ataque?
Karrde olhou para Ghent. Não faria a menor diferença; não com
Mazzic, Ellor e os outros reforçando o grupo impressionante que
Aves já havia reunido. O problema era que, se eles partissem agora
– e do jeito que Organa Solo estava falando, ela queria que ele
desse meia-volta e fosse direto para o espaço –, não haveria a
menor chance de soltar Ghent no sistema de computadores da
Nova República e rotear os fundos de que ele precisava para pagar
os outros grupos.
A menos que ele pudesse obter o dinheiro de outra maneira.
– Não pode ser feito – ele disse com firmeza a Organa Solo. –
Não posso simplesmente dar as costas ao meu pessoal. – Pelo
menos, não sem...
Bruscamente, o alien vestido de Jawa estalou os dedos. Karrde
parou no meio da frase, observando fascinado enquanto a criatura
deslizava sem fazer ruído de volta para o túnel de acesso, enquanto
uma faca fina aparecia de algum modo em sua mão. Ele
desapareceu porta afora, e por um momento se fez silêncio. Karrde
ergueu as sobrancelhas para Organa Solo e recebeu um leve dar de
ombros em troca...
Eles ouviram um súbito grito agudo vindo de dentro da porta de
acesso, seguido por uma movimentação quase invisível. Quando
deu por si, Karrde estava com sua arma de raios na mão; e ele
estava começando a apontá-la na direção das figuras quando toda a
atividade parou. Um momento mais tarde, o alien reapareceu,
forçando alguém semiagachado a avançar.
Um alguém por demais familiar.
– Ora, ora – disse Karrde, abaixando sua arma sem guardá-la
no coldre. – Conselheiro Fey’lya, acredito. Reduzido a escutar atrás
de portas?
– Ele está desarmado – o alien vestido com o manto disse com
sua voz rouca.
– Então pode soltá-lo – disse Organa Solo.
O alien obedeceu. Fey’lya se endireitou, o pelo ondulando
loucamente por sua cabeça e seu torso enquanto tentava salvar o
que podia de sua compostura.
– Eu protesto contra este tratamento inadequado – ele disse,
com a voz um tanto menos melodiosa do que a norma Bothana. – E
eu não estava escutando atrás de portas. O general Bel Iblis me
informou da revelação da conselheira Organa Solo relativa à
instalação de clonagem em Wayland. Eu vim aqui, capitão Karrde,
para pedir ao senhor que auxilie a conselheira Organa Solo em seu
desejo de ir a Wayland.
Karrde deu um sorriso tenso.
– Onde ela ficaria convenientemente fora de seu caminho?
Obrigado, mas acredito que já passamos por isso juntos.
O Bothano se endireitou.
– Não se trata de política. Sem o aviso dela, a equipe em
Wayland pode não sobreviver. E, se não sobreviverem, o armazém
do imperador pode não ser destruído antes que o Grão Almirante
remova parte de seu conteúdo para um lugar seguro.
Seus olhos violeta se fixaram bem nos de Karrde.
– E isso seria um desastre. Tanto para o povo Bothano quanto
para a galáxia.
Por um momento Karrde o estudou, imaginando o que havia lá
que preocupava tanto Fey’lya. Alguma arma ou tecnologia que
Thrawn ainda não havia encontrado? Ou seria algo mais pessoal
que isso? Informações desagradáveis ou embaraçosas, talvez,
sobre Fey’lya ou o povo Bothano em geral?
Ele não sabia, e suspeitava que Fey’lya não iria dizer. Mas os
detalhes realmente não importavam.
– Desastres em potencial para o povo Bothano não me
preocupam – ele disse para Fey’lya. – O quanto eles o preocupam?
Ele viu uma ondulação de incerteza no pelo dos ombros de
Fey’lya.
– Seria um desastre para a galáxia também – ele disse.
– Diz você – concordou Karrde. – Repito: o quanto isso o
preocupa?
E desta vez Fey’lya entendeu. Seus olhos se estreitaram e seu
pelo ondulou com óbvio desprezo.
– Quanta preocupação será necessária? – ele exigiu saber.
– Nada fora do razoável – Karrde lhe garantiu. – Meramente um
crédito de, digamos, 70 mil?
– Setenta mil? – Fey’lya repetiu, pasmo. – O que exatamente
você acha...
– Esse é meu preço, conselheiro – Karrde o interrompeu. – É
pegar ou largar. E se a conselheira Organa Solo estiver correta, não
temos tempo para discussões demoradas.
Fey’lya sibilou como um predador zangado.
– Você não é melhor que um mercenário sujo – ele resfolegou.
Karrde jamais havia ouvido um Bothano soar tão feroz. – Você suga
o sangue do povo Bothano...
– Poupe-me da preleção, conselheiro – disse Karrde. – Sim ou
não?
Fey’lya voltou a sibilar.
– Sim.
– Ótimo – Karrde assentiu, olhando para Organa Solo. – A linha
de crédito que seu irmão abriu para mim ainda existe?
– Sim – ela disse. – O general Bel Iblis sabe como acessá-la.
– Pode depositar os 70 mil lá – Karrde disse a Fey’lya. – E
tenha em mente que vamos parar para checá-la antes de
chegarmos a Wayland. Caso você pense em recuar.
– Eu tenho honra, contrabandista – Fey’lya resfolegou. – Ao
contrário de outros aqui presentes.
– Fico feliz em saber – disse Karrde. – É tão difícil encontrar
seres honrados hoje em dia. Conselheira Organa Solo?
Ela respirou fundo.
– Estou pronta – ela disse.

Eles partiram de Coruscant e estavam quase prontos para


saltar para a velocidade da luz quando Leia finalmente fez a
pergunta que a preocupava desde que entrara a bordo.
– Nós vamos mesmo parar para checar os fundos de Fey’lya?
– Com o tempo tão escasso quanto você sugere? – retrucou
Karrde. – Não seja boba. Mas Fey’lya não sabe disso.
Leia o observou por um momento enquanto ele manipulava o
leme da Wild Karrde.
– O dinheiro não importa mesmo para você, importa?
– Também não acredite nisso – ele aconselhou com frieza. –
Tenho certas obrigações a cumprir. Se Fey’lya não tivesse desejado
cooperar, sua Nova República teria tido que fazê-lo.
– Entendo – murmurou Leia.
Ele deve ter ouvido algo na voz dela.
– Estou falando sério – ele insistiu, fazendo por um breve
instante uma cara feia e inteiramente não convincente para ela. –
Estou aqui porque isso tem a ver com meus objetivos. Não por
causa da sua guerra.
– Eu disse que entendo – concordou Leia, sorrindo em
particular para si mesma. As palavras eram diferentes; mas o olhar
no rosto de Karrde era quase idêntico. Luke, não estou nessa pela
sua revolução, e não estou nessa por você, princesa. Eu espero ser
bem pago. Estou nessa pelo dinheiro. Han havia dito isso a ela
depois daquela fuga alucinada da primeira Estrela da Morte. Na
época, ela tinha acreditado.
Seu sorriso desapareceu. Ele e Luke haviam salvado sua vida
naquela época. Ela se perguntou se chegaria a tempo agora de
salvar a deles.
A entrada para o Monte Tantiss era um brilho de metal aninhado
confortavelmente sob um afloramento de rocha e vegetação. Entre
eles e a entrada, quase invisível de onde estavam, no alto da colina,
havia uma clareira com uma pequena cidade no meio.
– O que acha? – perguntou Luke.
– Acho que precisamos encontrar outra entrada – respondeu
Han, firmando os cotovelos com um pouco mais de força nas folhas
mortas para conseguir segurar os macrobinóculos. Ele tinha razão;
havia uma estação de guarda com stormtroopers logo além das
portas de metal. – A gente nunca vai pela porta da frente mesmo.
Luke bateu duas vezes no ombro dele; era o sinal de que havia
sentido alguém chegando. Han ficou paralisado, e apurou o ouvido.
Com certeza havia um som fraco e metálico de passos no mato
baixo. Um minuto depois, quatro soldados imperiais com
equipamento completo de campo saíram das árvores alguns metros
colina abaixo. Eles passaram direto por Han e Luke sem sequer
olhar para cima, desaparecendo novamente nas árvores alguns
passos depois.
– Está começando a ficar bem lotado aqui – resmungou Han.
– Acho que é só nos arredores da montanha – disse Luke. –
Ainda não estou recebendo nenhuma indicação de que eles sabem
que estamos aqui.
Han grunhiu e deslocou sua visão para a aldeia que se
destacava na clareira abaixo deles. A maioria dos edifícios eram
coisas achatadas de aspecto alienígena; apenas um dos prédios era
realmente de bom tamanho, e ficava de frente para uma praça
aberta. Aquele ângulo não era muito favorável, mas parecia haver
um bando de Psadans parados em frente ao prédio maior. Uma
reunião da cidade, talvez?
– Não estou vendo nenhum sinal de guarnição lá embaixo – ele
disse, varrendo a aldeia lentamente com os macrobinóculos. –
Devem estar trabalhando diretamente da montanha.
– Isso deverá facilitar nossa aproximação ao redor dela.
– É – disse Han, franzindo a testa ao girar os macrobinóculos
novamente para a praça da cidade. Aquela multidão de Psadans em
que ele havia reparado um minuto antes havia se transformado
numa espécie de semicírculo agora, de frente para mais duas das
pilhas de rocha ambulantes paradas de costas para o prédio grande.
E ela estava definitivamente aumentando.
– Problemas? – murmurou Luke.
– Não sei – Han disse devagar, fincando os cotovelos um pouco
mais e aumentando ligeiramente a magnificação. – Tem uma
reunião das grandes acontecendo lá embaixo. Dois Psadan... Mas
não parecem estar conversando. Apenas segurando uma coisa.
– Deixe-me tentar ver – disse Luke. – Existem técnicas Jedi
para ampliar a visão. Talvez funcionem com uma imagem
macrobinocular.
– Vá em frente – disse Han, entregando os macrobinóculos e
forçando a vista para olhar para o céu. Havia uns poucos fiapos de
nuvens visíveis lá no alto, mas nada que indicasse que o tempo
fosse fechar em breve. Ele calculou duas horas até o pôr-do-sol;
mais meia hora de luz depois disso...
– Hmm – disse Luke.
– O que foi?
– Não tenho bem certeza – disse Luke, abaixando os
macrobinóculos. – Mas me parece que o que eles estão segurando
é um datapad.
Han olhou para a cidade.
– Eu não sabia que eles usavam datapads.
– Nem eu – disse Luke, com a voz estranha.
Han olhou para ele franzindo a testa. O garoto estava apenas
encarando a montanha, com um olhar engraçado no rosto.
– O que há de errado?
– É a montanha – ele disse, olhando intensamente para ela. –
Está escura. Ela toda.
Escura? Han franziu a testa para a montanha. Ela parecia
normal para ele.
– Do que você está falando?
– Está escura – Luke repetiu devagar. – Como Myrkr estava.
Han olhou para a montanha. E voltou a olhar para Luke.
– Você quer dizer tipo um bando de ysalamiri cortando a Força?
Luke assentiu.
– É a sensação que tenho. Não vou saber ao certo até
estarmos mais próximos.
Han tornou a olhar para a montanha, sentindo seu estômago
dar voltas.
– Mas que maravilha – resmungou. – Simplesmente uma
maravilha. E agora?
Luke deu de ombros.
– Vamos em frente. O que mais podemos fazer?
– Voltar para a Falcon e dar o fora daqui, isso é o que podemos
fazer – Han retorquiu. – A menos que você realmente esteja doido
para entrar numa armadilha imperial.
– Não acho que seja uma armadilha – disse Luke, balançando a
cabeça pensativo. – Pelo menos não uma armadilha para nós.
Lembra de como aquele contato que eu lhe falei com C’baoth foi
subitamente cortado?
Han esfregou o rosto. Ele já conseguia entender onde Luke
queria chegar; os ysalamiri estavam ali para C’baoth, não para ele.
– Ainda não tenho certeza de que engulo isso – ele disse. – Eu
achava que C’baoth e Thrawn estivessem do mesmo lado. Mara
mesma disse isso.
– Talvez eles tenham se desentendido – sugeriu Luke. – Ou
talvez Thrawn o estivesse usando desde o começo e agora não
precisa mais dele. Se os imperiais não souberem que estamos aqui,
os ysalamiri devem ser para ele.
– É, bem, não importa muito para quem eles são – Han
ressaltou. – Eles vão bloquear você tanto quanto bloquearam
C’baoth. Vai ser como em Myrkr novamente.
– Mara e eu nos saímos bem em Myrkr – Luke lembrou. –
Podemos dar conta aqui. De qualquer maneira, viemos longe
demais pra recuar agora.
Han fez uma careta. Mas o garoto tinha razão. Assim que o
Império desistisse dessa rotina de planeta deserto, as chances eram
de que a próxima equipe da Nova República sequer chegasse até a
atmosfera.
– Você vai dizer a Mara antes chegarmos lá?
– É claro. – Luke olhou para o céu. – Mas vou dizer para ela no
caminho. É melhor começarmos a andar enquanto ainda temos luz
do dia.
– Certo – disse Han, dando uma última olhada na área antes de
levantar. Com a Força ou sem a Força, agora era com eles. –
Vamos lá.
Os outros estavam esperando logo do outro lado da colina.
– Como é que estão as coisas? – Lando perguntou quando Han
e Luke se juntaram a eles.
– Eles ainda não sabem que estamos aqui – Han lhe disse,
procurando Mara. Ela estava sentada no chão perto de 3PO e R2,
concentrando-se num conjunto de cinco pedras que fizera flutuar no
ar à sua frente. Luke esteve ensinando a ela esse tipo de coisa por
dias, e Han havia finalmente desistido de tentar convencer o garoto
a parar. Parecia que as lições seriam uma perda de tempo agora, de
qualquer maneira. – Você está pronta para nos levar a essa sua
porta dos fundos?
– Estou pronta pra começar a procurar por ela – ela disse,
ainda mantendo as pedras no ar. – Como já disse antes, eu só vi o
equipamento de ventilação de dentro da montanha. Nunca vi os
condutos propriamente ditos.
– Vamos encontrá-los – garantiu Luke, passando por Han e
caminhando até os droides. Como você está indo, 3PO?
– Muito bem, obrigado, mestre Luke – o droide respondeu
educadamente. Esta rota é muito melhor do que muitas das
anteriores. – Ao seu lado, R2 trinou alguma coisa. – R2 também
acha – acrescentou 3PO.
– Não se apeguem muito – avisou Mara, finalmente deixando
as pedras caírem ao se levantar. – Provavelmente não haverá
nenhuma trilha Myneyrshi subindo a montanha para seguirmos. O
Império desestimulou qualquer atividade nativa aqui perto.
– Mas não se preocupem – Luke acalmou os droides. – Os
Noghri irão nos ajudar a encontrar um caminho.

– Cargueiro Garret’s Gold, você está liberado para aproximação


final – a voz ríspida do Controle de Bilbringi veio pelo alto-falante da
ponte da Etherway. – Plataforma de Atracação 25. Vetor direto
conforme indicado até a boia; ela vai transmitir a você o curso a
seguir até a plataforma.
– Entendido, controle – disse Aves, digitando o curso que havia
aparecido na tela de navegação. – E os campos de segurança?
– Permaneça no curso que lhe foi dado e você não esbarrará
neles – disse o controlador. – Desvie mais de quinze metros em
qualquer direção e você vai receber uma boa pancada no nariz.
Pelo aspecto da sua nave, não acho que seu nariz possa receber
mais pancadas.
Aves olhou fuzilando para o alto-falante. Um desses dias ele ia
ficar realmente cansado do sarcasmo imperial.
– Obrigado – respondeu, e desligou.
– Os imperiais são tão divertidos de se trabalhar, não são? –
Gillespee comentou do posto do copiloto.
– Eu gosto de imaginar como vai ser a expressão dele quando
sairmos a toda daqui com o ACCG deles – disse Aves.
– Vamos torcer para não estarmos por perto para descobrir –
disse Gillespee. – É um sistema de voo bem complicado que eles
têm ali.
– Não era assim antes daquele ataque de Mazzic – disse Aves,
olhando à frente pela escotilha. Meia dúzia de geradores de escudo
eram visíveis ao longo do seu vetor de aproximação, flutuando
soltos ao redor da área e definindo o caminho de voo que a boia
supostamente lhe daria. – Provavelmente deve evitar que as
pessoas voem ao redor dos estaleiros como faziam antes.
– É – disse Gillespee. – Só espero que eles tenham tirado todos
os bugs do sistema.
– Eu também – concordou Aves. – Não quero que eles saibam
quantas pancadas esta nave pode realmente aguentar.
Olhou para seu painel, confirmando seu vetor e depois
checando o tempo. A frota da Nova República deveria estar
chegando a Tangrene em pouco mais de três horas. Tempo
suficiente para a Etherway atracar, descarregar os capacitores de
explosão de raio trator especialmente modificados que eles estavam
doando cortesmente para o esforço de guerra do Império, e assumir
posição de apoio para a tentativa de Mazzic de pegar o ACCG do
centro de comando principal a oito plataformas de atracação de
distância.
– Lá vai Ellor – comentou Gillespee, assentindo para estibordo.
Aves olhou. Era a Kai Mir mesmo, com a Klivering correndo em
posição de flanco ao seu lado. Além dela, ele podia ver a Starry Ice
vagando na direção de uma plataforma de atracação próxima ao
perímetro. Até onde ele podia dizer, tudo parecia estar se
encaixando
Embora, com alguém como Thrawn no comando, as aparências
não significassem muita coisa. Até onde ele sabia, o Grão Almirante
já poderia saber tudo a respeito daquele ataque, e estava apenas
esperando que alguém se esgueirasse sob a rede antes de amarrá-
la ao redor deles.
– Você já soube mais alguma notícia de Karrde? – perguntou
Gillespee, um pouco casualmente demais.
– Ele não está nos desertando, Gillespee – grunhiu Aves. – Se
ele diz que tem algo mais importante para fazer, então ele tem algo
mais importante para fazer. Ponto final.
– Eu sei – disse Gillespee, com a voz neutra. – Só pensei que
alguns dos outros poderiam ter perguntado.
Aves fez uma cara de desagrado. Lá iam eles novamente. Ele
tinha achado que revelar a traição de Ferrier em Hijarna teria
acabado com essa história de uma vez por todas. Ele deveria saber
que não seria assim.
– Eu estou aqui – ele lembrou a Gillespee. – E também a Starry
Ice, a Dawn Beat, a Lastri’s Ort, a Amanda Fallow, a...
– É, certo, já entendi – interrompeu Gillespee. – Não fique
irritado comigo: minhas naves também estão aqui.
– Desculpe – disse Aves. – Só estou cansado de todo mundo
ficar sempre tão desconfiado de todo mundo.
Gillespee deu de ombros.
– Somos contrabandistas. Temos muita prática nisso.
Pessoalmente, estou surpreso que o grupo tenha se mantido unido
por tanto tempo. O que você acha que ele está fazendo?
– Quem, Karrde? – Aves balançou a cabeça. – Não faço ideia.
Mas deve ser algo importante.
– Claro. – Gillespee apontou para a frente. – Aquela é a boia de
marcação?
– Parece que sim – concordou Aves. Preparar para copiar os
dados do curso. Prontos ou não, aqui vamos nós.

As ordens apareceram na tela de comunicação de Wedge, e ele


fez uma rápida checagem enquanto digitava a frequência particular
do esquadrão.
– Esquadrão Rogue, aqui é o líder Rogue – ele disse. – Ordens:
vamos entrar junto com a primeira onda, flanqueando o cruzador de
comando do almirante Ackbar. Mantenham posição aqui até
estarmos liberados para posicionamento. Todas as naves,
confirmem recebimento da mensagem.
As confirmações vieram, rápidas e firmes, e Wedge deu um
sorriso tenso para si mesmo. Havia uma certa preocupação entre a
equipe de Ackbar, ele sabia, de que o longo voo dali até o ponto de
encontro pudesse tirar a tensão daquelas unidades que primeiro
teriam de efetuar a tarefa de despistamento perto do suposto ponto
de salto de Tangrene. Wedge não sabia quanto aos outros, mas
estava claro que o Esquadrão Rogue estava a postos e pronto para
o combate.
– Você acha que Thrawn pegou nossa mensagem, Líder
Rogue? – a voz de Janson penetrou nos pensamentos de Wedge.
A mensagem deles? Ah, claro; aquela conversinha fora da
cantina de Mumbri Storve com o amigo de Talon Karrde, Aves.
Aquela em que Hobbie havia ficado firmemente convencido de que
iria direto para a Inteligência do Império.
– Não sei, Rogue Cinco – Wedge respondeu. – Na verdade, eu
meio que espero que não.
– Vai ser meio que um desperdício de tempo se não.
– Não necessariamente – Wedge ressaltou. – Lembre-se, ele
disse que tinha outro esquema alinhado que queriam coordenar com
nosso. Qualquer coisa que atinja e distraia o Império só pode nos
ajudar.
– Eles provavelmente têm algum ponto de entrega de
contrabando planejado – fungou Rogue Seis. – Esperando fazer
isso enquanto os imperiais estão olhando para outro lado.
Wedge não respondeu. Luke Skywalker parecia pensar que
Karrde estava discretamente do lado da Nova República, e isso era
bom o bastante para ele. Mas não havia como ele convencer o resto
do seu esquadrão quanto a isso. Um dia, quem sabe, Karrde estaria
disposto a assumir uma postura mais aberta contra o Império. Até
lá, pelo menos na opinião de Wedge, todos os que não estivessem
do lado do Grão Almirante estariam ajudando a Nova República,
admitissem isso ou não.
Às vezes, até, mesmo se soubessem ou não.
Sua tela de comunicação mudou – o cone de vanguarda dos
cruzadores estelares havia entrado na formação de lançamento.
Estava na hora das naves de escolta fazerem o mesmo.
– Ok, Esquadrão Rogue – ele disse aos outros. – Sinal verde.
Aos nossos lugares.
Transferindo energia para o drive do seu X-wing, ele se dirigiu
para as luzes de partida à frente. Duas horas e meia, se o resto da
frota permanecesse no cronograma, e eles estariam pulando para
fora da velocidade da luz à distância de um cuspe dos estaleiros de
Bilbringi.
Uma pena, ele pensou, que eles não poderiam ver os olhares
nos rostos dos imperiais.

O mais recente grupo de relatórios da região de Tangrene rolou


pela tela. Pellaeon correu os olhos por eles, fazendo cara de
desagrado. Não havia como errar; os rebeldes ainda estavam ali.
Ainda contrabandeavam forças para dentro da região; ainda se
esforçavam para não atrair a atenção. E, em duas horas, se as
projeções da Inteligência tivessem ao menos metade da precisão
esperada, eles atacariam um sistema praticamente indefeso.
– Estão saindo muito bem, não estão, capitão? – Thrawn
comentou ao seu lado. – Uma performance muito convincente no
total.
– Senhor – disse Pellaeon, lutando para manter o respeito na
sua voz. – Eu respeitosamente sugiro que a atividade rebelde não é
nenhum tipo de performance. A preponderância de pontos de
evidências apontam para Tangrene como alvo provável. Várias
unidades-chave de caças estelares e naves de guerra foram
claramente montadas em pontos prováveis de salto...
– Errado, capitão – Thrawn interrompeu friamente. – Isso é o
que eles querem que acreditemos, mas não passa de uma ilusão
cuidadosamente construída. As naves às quais você se refere
saíram desses setores entre quarenta e setenta horas atrás,
deixando para trás alguns homens com uniformes e insígnias
adequados para confundir nossos espiões. O grosso da força está
neste momento a caminho de Bilbringi.
– Sim, senhor – Pellaeon disse com um suspiro silencioso de
derrota. Então era isso. Uma vez mais, Thrawn havia escolhido
ignorar seus argumentos – assim como todas as evidências – em
favor de pistas e intuições nebulosas.
E, se estivesse errado, não seria simplesmente a base do
Ubiqtorato de Tangrene que seria perdida. Um erro dessa magnitude
abalaria a confiança e o impulso de toda a máquina de guerra do
Império.
– Toda guerra é risco, capitão – Thrawn disse baixinho. – Mas
este não é um risco tão grande quanto você parece pensar. Se eu
estiver errado, perderemos uma base do Ubiqtorato; importante,
sem dúvida, mas dificilmente crítica. – Ele ergueu uma sobrancelha
negro-azulada. – Mas, se eu estiver certo, temos uma boa chance
de destruir duas frotas de setor inteiras dos rebeldes. Pense no
impacto que isso terá no equilíbrio de poder atual.
– Sim, senhor – Pellaeon disse obediente.
Podia sentir os olhos de Thrawn sobre ele.
– Você não precisa acreditar – disse o Grão Almirante. – Mas
esteja preparado para estar errado.
– Eu torço bastante por isso, senhor – disse Pellaeon.
– Ótimo. Minha nau capitânia está pronta, capitão?
Pellaeon sentiu as costas enrijecerem um pouco, num velho
reflexo de postura de desfile militar.
– A Quimera está inteiramente ao seu comando, almirante.
– Então prepare a frota para o hiperespaço. – Os olhos
brilhantes reluziram. – E para a batalha.
Não havia trilhas de verdade para subir o Monte Tantiss; mas,
como Luke havia previsto, os Noghri tinham um talento para
terrenos difíceis. Eles haviam alcançando o monte rapidamente,
mesmo com os droides reduzindo sua velocidade, e chegaram às
entradas de ar quando o sol sumia abaixo das árvores.
Mas as coisas não eram exatamente do jeito que Luke havia
antecipado.
– Mais parece uma torre de turbolaser retrátil que um sistema
de ar – ele comentou com Han, enquanto avançavam
cautelosamente por entre as árvores na direção da pesada grade de
metal e da ainda mais pesada estrutura de metal sobre a qual a
grade estava montada.
– Isso me lembra do bunker que tivemos que arrombar em
Endor – Han resmungou de volta. – Só que com uma porta de tela.
Cuidado; eles podem ter detectores anti-intrusos.
Em qualquer outro lugar, Luke teria usado a força para sentir o
túnel à frente. Ali, com o efeito dos ysalamiri, era como estar cego.
Como estarem em Myrkr novamente.
Ele olhou para Mara, imaginando se ela estaria tendo
pensamentos e memórias semelhantes. Talvez. Mesmo na luz que
desvanecia, ele conseguia ver a tensão no rosto dela, uma
ansiedade e um receio que não estavam lá antes de entrarem na
bolha ysalamiri.
– E agora? – ela grunhiu, olhando rapidamente para ele e o
fuzilando com o olhar antes de desviar o rosto. – Vamos apenas
ficar sentados até de manhã?
Han estava com os macrobinóculos apontados para a entrada
de ar.
– Parece uma tomada de computador ali na parede sob a
marquise – ele disse. – O resto de vocês fique parado. Vou levar R2
até lá e tentar plugá-lo.
Ao lado de Han, Chewbacca rugiu um alerta.
– Onde? – Han murmurou, sacando sua arma de raios.
O Wookiee apontou com uma das mãos ao soltar sua balestra
com a outra.
Todo o grupo ficou paralisado, com armas prontas... E foi então
que Luke ouviu pela primeira vez os sons fracos do fogo distante de
arma de raios. A vários quilômetros de distância, ele pensou,
possivelmente em algum lugar montanha abaixo. Mas sem suas
técnicas de ampliação Jedi, não havia como saber ao certo.
De muito mais perto veio um trinado parecido com um pássaro.
– Um grupo de Myneyrshi se aproxima – disse Ekhrikhor,
ouvindo com atenção os sinais. – Os Noghri os detiveram. Eles
desejam avançar e falar.
– Diga a eles que fiquem lá – Han disse, hesitando apenas um
segundo antes de recolocar sua arma no coldre. Puxando seu
pássaro de garra satna-chakka do bolso de sua jaqueta, ele chamou
3PO. – Vamos lá, cara de lata, vamos logo descobrir o que eles
querem.
Ekhrikhor murmurou uma ordem, e um dos Noghri se moveu
silenciosamente para o lado de Han. Chewbacca foi para o outro
lado, e com um C-3PO protestando indefeso atrás, todos partiram
na direção das árvores.
R2 gorgolejou desconfortável; sua cabeça de cúpula girava
para um lado e para outro entre Luke e C-3PO.
– Ele vai ficar bem – Luke garantiu. – Han não deixará que
nada aconteça a ele.
O droide achatado grunhiu, provavelmente expressando sua
opinião quanto à profundidade da preocupação de Han por 3PO.
– Podemos ter mais problemas do que a saúde de 3PO para
nos ocuparmos daqui a um minuto – Lando disse sombrio. – Acho
que ouvi fogo de arma de raios montanha abaixo.
– Também ouvi – assentiu Mara. – Provavelmente vindo da
entrada do armazém.
Lando olhou para trás e viu a grande entrada de ar.
– Vamos ver se conseguimos abrir aquela ventilação. Pelo
menos isso nos dará outra direção para seguir se precisarmos pular.
Luke olhou para Mara, mas ela estava evitando seus olhos
novamente.
– Tudo bem – ele disse a Lando. – Eu vou primeiro; você traz
R2.
Com cautela, ele avançou por entre as árvores na direção das
entradas de ar. Mas, se havia alguma defesa anti-intrusos, ela não
parecia estar funcionando mais. Ele conseguiu chegar até embaixo
da marquise de metal sem incidentes, e começou a estudar a grade
enquanto o vento de ar que corria despenteava seus cabelos.
Daquela distância ele podia ver que ela parecia mais com uma
grade pesada, com cada fio do que havia parecido uma rede sendo
na verdade uma placa se estendendo a vários centímetros túnel
adentro. Uma barreira formidável, mas nada com que seu sabre de
luz não pudesse lidar.
Ele ouviu o som de um passo por entre folhas, e se virou
quando Lando e R2 apareceram.
– A tomada está ali, R2 – ele disse ao droide, apontando para a
tomada na parede lateral. Conecte-se e veja o que consegue
descobrir.
O droide trinou em resposta, e com ajuda de Lando manobrou
até o terreno irregular.
– Ela não vai simplesmente se abrir para você – Mara disse
atrás dele.
– R2 vai checar – Luke disse a ela, espiando seu rosto. – Você
está bem?
Ele tinha esperado um comentário sarcástico ou pelo menos um
olhar fuzilante. Não estava preparado para que ela estendesse a
mão e segurasse a sua.
– Quero que me prometa uma coisa – ela disse baixo. – Seja
qual for o preço, não me deixe ir para o lado de C’baoth. Está
entendendo? Não deixe que eu me junte a ele. Mesmo que tenha de
me matar.
Luke a encarou, sentindo um frio apavorante percorrendo seu
corpo.
– C’baoth não pode forçar você a ficar do lado dele, Mara – ele
disse. – Não sem sua cooperação.
– Você tem certeza disso? Tem certeza mesmo?
Luke fez cara de transtorno. Havia tanta coisa que ele ainda
não sabia sobre a Força.
– Não.
– Nem eu – disse Mara. – É isso que me preocupa. C’baoth me
disse lá em Jomark que eu me juntaria a ele. Ele também disse isso
aqui, na noite em que chegou.
– Ele pode ter errado – Luke sugeriu hesitante. – Ou mentido.
– Não quero arriscar. – Ela agarrou a mão de Luke com mais
força ainda. – Eu não vou servi-lo, Skywalker. Quero que me
prometa que vai me matar antes de deixar que ele faça isso comigo.
Luke engoliu em seco. Mesmo sem a Força, ele podia ouvir em
sua voz que ela falava sério. Mas, para um Jedi, prometer matar
alguém a sangue frio...
– Uma coisa eu posso prometer – ele disse. – Aconteça o que
acontecer lá dentro, você não terá de enfrentá-lo sozinha. Eu estarei
lá para ajudá-la.
Ela voltou o rosto para o outro lado.
– E se você já estiver morto?
Então era isso; a mesma batalha que ela estivera lutando
consigo mesma desde que haviam se conhecido.
– Você não tem que fazer isso – ele disse baixinho. – O
imperador está morto. A voz que você ouve é apenas uma memória
que ele deixou para trás dentro de você.
– Eu sei – ela disse ríspida; um toque de fogo tremulava dentro
do medo que ela sentia. – Você acha que isso a torna mais fácil de
ignorar?
– Não – ele admitiu. – Mas você também não pode usar essa
voz como desculpa. Seu destino está em suas mãos, Mara. Não nas
de C’baoth nem nas do imperador. No fim, é você quem toma
decisões. Você tem esse direito, e essa responsabilidade.
Da floresta veio o som de passos.
– Ótimo – grunhiu Mara, deixando cair a mão de Luke e dando
um passo para trás. – Você pode vomitar quanta filosofia quiser.
Apenas se lembre do que eu falei. – Girando nos calcanhares, ela
se virou para encarar o grupo que chegava. – Então, o que está
acontecendo, Solo?
– Conseguimos alguns aliados – ele disse, franzindo a testa na
direção de Luke. – Pelo menos algo como aliados.
– Ei, C-3PO – Lando gritou, acenando para ele. – Quer vir aqui
e me dizer o que está deixando R2 tão empolgado?
– Certamente, senhor – disse 3PO, arrastando os pés até o
terminal de computador.
Luke voltou a olhar para Han.
– Como assim, algo como aliados?
– É meio confuso – disse Han. – Pelo menos da maneira como
3PO traduziu. Eles não querem nos ajudar, só querem entrar e lutar
contra os imperiais. Eles nos seguiram porque acharam que
encontraríamos uma porta dos fundos pela qual pudessem entrar.
Luke estudou o grupo de aliens silenciosos de quatro braços
assomando sobre os Noghri que os vigiavam. Todos tinham quatro
ou mais facas longas e carregavam bestas – não exatamente o tipo
de armas para se usar contra soldados blindados do Império.
– Não sei. O que você acha?
– Ei, Han – Lando chamou baixinho antes que Han pudesse
responder. – Venha cá. Você vai querer ver isto.
– O quê? – Han perguntou ao se dirigirem até o terminal de
computador.
– Diga a eles, 3PO – disse Lando.
– Aparentemente, há um ataque acontecendo na entrada
principal da montanha – C-3PO disse daquela sua maneira que
soava eternamente surpresa. – R2 captou diversos relatórios
detalhando movimentos de tropas de guarda do perímetro para
dentro da área...
– Quem está atacando? – Han o interrompeu.
– Aparentemente alguns dos Psadans da cidade – respondeu
3PO. – Segundo os relatórios do portão, eles exigiram a libertação
de seu Lorde C’baoth antes de atacarem.
Han olhou para Luke.
– O datapad.
– Faz sentido – concordou Luke. Uma mensagem de C’baoth,
incitando-os ao ataque. – Como será que ele conseguiu
contrabandeá-lo para eles?
– Pelo menos confirma que ele foi trancafiado – Mara
interrompeu. – Espero que tenham colocado uns bons guardas na
sua cela.
– Perdão, mestre Luke – disse 3PO, inclinando a cabeça para o
lado. – Mas quanto ao datapad que o capitão Solo mencionou,
sugiro que ele tenha chegado no mesmo dia em que as armas.
Segundo os relatórios...
– Que espécie de armas? – perguntou Han.
– Eu já estava chegando lá, senhor – C-3PO disse, parecendo
um pouco irritado. – Segundo os relatórios do portão, os agressores
estão armados com arma de raios, lança-mísseis portáteis e
detonadores térmicos. Todas versões bem modernas, se quisermos
acreditar nos relatórios.
– Não importa onde eles conseguiram – disse Lando. – A
questão é que temos uma distração feita sob medida aqui. Vamos
usá-la enquanto ainda há tempo.
Chewbacca deu um rugido de desconfiança.
– Tem razão, meu camarada – concordou Han, espiando para
dentro da grade. – É um timing terrivelmente conveniente. – Mas
Lando tem razão; é melhor arriscarmos.
Lando assentiu.
– Ok, R2. Desligue tudo.
O droide achatado chilreou, girando seu braço computador na
tomada. O fluxo interno de ar no rosto de Luke começou a diminuir,
e um minuto depois havia parado completamente.
R2 voltou a trinar.
– R2 relata que todos os sistemas operacionais de entrada
foram desligados – anunciou 3PO. – Entretanto, ele avisa que assim
que o ciclo de tarefa tiver terminado, as barreiras antipoeira e os
campos de motivação podem ser ativados a partir de uma
localização central.
– É melhor irmos andando então – disse Luke, acendendo o
sabre de luz e avançando até a entrada de ar. Quatro cuidadosos
cortes mais tarde, eles tinham uma entrada.
– Parece tranquilo – disse Han, subindo cuidadosamente pela
abertura e atravessando até a pouca proteção da parede lateral. –
Há luzes de manutenção descendo pelo túnel. R2, você consegue
pra gente alguma planta deste lugar?
O droide resmungou enquanto rolava pela abertura.
– Lamento terrivelmente, senhor – disse C-3PO. – Ele tem o
esquema completo do sistema de duto de ar propriamente dito, mas
diz que qualquer outra informação sobre a instalação não estava
disponível neste terminal.
– Haverá outros terminais descendo a linha – disse Lando. –
Vamos deixar guardas na retaguarda?
– Um dos Noghri ficará – Ekhrikhor miou ao lado de Han. – Ele
manterá a saída aberta.
– Ótimo – disse Han. – Vamos.
Eles estavam a cinquenta metros túnel abaixo e se
aproximando da primeira das fracas luzes de manutenção que Han
havia avistado quando Luke reparou que os silenciosos Myneyrshi
os haviam acompanhado.
– Han? – ele murmurou, fazendo um gesto para trás.
– É, eu sei – disse Han. – O que quer que eu faça, mande eles
voltarem pra casa?
Luke voltou a olhar. Ele tinha razão, claro. Mas facas e bestas
contra armas de raios...
– Ekhrikhor?
– Qual é a sua ordem, filho de Vader?
– Quero que você destaque dois de seus membros para irem
com esses Myneyrshi – ele disse ao Noghri. – Eles deverão guiá-los
e ajudá-los com seus ataques.
– Mas é a você quem devemos proteger, filho de Vader –
discordou Ekhrikhor.
– Você estará protegendo a mim – disse Luke. – Cada imperial
que os Myneyrshi conseguirem derrubar será um a menos para nós
nos preocuparmos. Mas eles não conseguirão derrubar nenhum
soldado se forem mortos no primeiro ataque.
O Noghri fez um som de aspecto infeliz no fundo da garganta.
– Ouço e obedeço – ele disse com relutância. Fez um gesto
para dois dos Noghri; e enquanto Luke os observava descer pelo
túnel, ele captou um vislumbre do rosto de Mara quando ela passou
por uma das luzes. O pavor ainda estava lá, mas junto dele havia
uma determinação feroz. O que quer que os esperasse adiante, ela
estava pronta para enfrentar.
Ele só podia torcer para também estar pronto.

– Lá está – anunciou Karrde, apontando à frente para a


montanha que se erguia da floresta entre as sombras do crepúsculo.
– Tem certeza? – perguntou Leia, usando a Força com a
máxima intensidade que pôde. Lá em Bespin, durante aquela louca
escapada da Cidade das Nuvens de Lando, ela fora capaz de sentir
o chamado de Luke quase daquela distância. Aqui, agora, não havia
nada.
– É para lá que o feed de navegação deles parece estar nos
levando – Karrde lhe disse. – A menos que tenham visto o pequeno
engodo de Ghent e estejam nos enviando a algum tipo de ponto de
despiste. – Ele olhou para trás. – Alguma coisa?
– Não. – Leia olhou para a montanha, sentindo seu estômago
se contorcer dolorosamente. Depois de todos os seus esforços e
esperanças, eles haviam chegado tarde demais. – Eles já devem
estar lá dentro.
– Então estão indo na direção de problemas – Ghent disse da
estação de comunicação, onde ainda estava terminando de ajustar
seu código de identidade imperial falso. – O controle de voo diz que
há um tumulto acontecendo na entrada. Eles estão nos desviando
para uma área de manutenção secundária a cerca de dez
quilômetros ao norte.
Leia balançou a cabeça.
– Vamos ter que correr o risco de entrar em contato com eles.
– Perigoso demais – Dankin, o copiloto, disse. – Se nos
pegarem usando um canal de comlink não imperial, provavelmente
vão nos derrubar.
– Talvez haja outra maneira – disse Mobvekhar, movendo-se
para o lado de Leia. – Ekhrikhor do clã Bakh’tor terá deixado um
guarda no ponto que eles entraram. Existe um sinal de
reconhecimento Noghri que pode ser criado com as luzes de pouso.
– Vá em frente – disse Karrde. – Sempre podemos dizer que
houve um defeito, se a guarnição notar. Chin, Corvis: de olho nos
visores.
Indo até o painel de Dankin, o Noghri ligou e desligou as luzes
de pouso meia dúzia de vezes. Leia ficou olhando pela escotilha,
tentando observar toda a montanha ao mesmo tempo. Se Han e os
outros haviam passado para acima da linha do crepúsculo...
– Captei – a voz de Corvis veio da torreta de turbolaser. –
Posição zero-zero-três marco dezessete.
Leia olhou por cima do ombro de Karrde quando as
coordenadas apareceram na sua tela de navegação. Lá estava,
fraca porém visível, uma luz tremeluzente.
– Eles estão lá – Mobvekhar confirmou.
– Ótimo – disse Karrde. – Ghent, diga que estamos
prosseguindo para essa área de manutenção secundária conforme
o ordenado. É melhor encontrar uma cadeira e colocar o cinto,
conselheira; estamos prestes a ter um inesperado defeito nos
repulsores.
A área entre as árvores e os afloramentos de rocha erodidos
parecia, a Leia, um lugar impossível de pousar uma nave do
tamanho da Wild Karrde. Mas Karrde e sua tripulação já haviam
claramente realizado aquele truque antes, e com uma rajada de
precisão de um segundo de fogo de turbolaser eles criaram uma
fenda do tamanho exato para pousar.
– E agora? – Dankin perguntou quando Karrde voltou a colocar
os repulsores no ciclo correto.
Karrde olhou para Leia, erguendo uma sobrancelha
questionadora.
– Eu vou entrar – disse Leia; a visão de Luke e Mara em perigo
pairava diante de seus olhos. – Vocês não têm de vir comigo.
– A conselheira e eu iremos procurar por seus amigos – Karrde
respondeu a Dankin, tirando o arnês e se levantando. – Ghent, tente
convencer a guarnição de que não vamos mais precisar de ajuda.
– E quanto a mim? – perguntou Dankin.
Karrde deu um sorriso tenso.
– Você vai ficar aqui de prontidão caso não acreditem nele.
Vamos, conselheira.
O Noghri que havia retornado o sinal deles não estava em lugar
algum quando desembarcaram na rampa da Wild Karrde.
– Onde está ele? – perguntou Karrde, olhando ao redor.
– Esperando – disse Mobvekhar, colocando a mão no lado da
sua boca e dando um assovio complexo. Um assovio de resposta foi
ouvido, mudando para um trinado complexo. – Nossa identidade foi
confirmada – disse. – Ele nos pede para irmos rápido. Os outros
estão não mais que a um quarto de hora adiante
Um quarto de hora. Leia olhou para a escuridão cheia de
estrelas da montanha. Tarde demais para avisá-los, mas talvez não
tarde demais para ajudar.
– Vamos; estamos perdendo tempo – ela disse.
– Só um minuto – disse Karrde, olhando para trás. –
Precisamos esperar por... ah.
Leia se virou. Descendo o corredor na direção deles, vindo
seção de popa da nave estava um homem de meia-idade com um
par de animais quadrúpedes de patas compridas a reboque.
– Aqui está, capitão – disse o homem estendendo as guias.
– Obrigado, Chin – disse Karrde, pegando-as e se agachando
para coçar brevemente atrás das orelhas dos dois animais. – Acho
que a senhora não conheceu meus vornskrs de estimação,
conselheira. Este aqui se chama Drang; o outro, um pouco mais
distraído, é Sturm. Em Myrkr eles usam a Força para caçar sua
presa. Aqui eles vão usá-la para encontrar Mara. Certo?
Os vornskrs fizeram um som estranho, feito um ronronar com
uma risada.
– Ótimo – disse Karrde, voltando a se levantar. – Acredito que
agora estamos prontos, conselheira. Vamos?
Os alarmes ainda soavam ao longe quando Han cuidadosamente
inclinou o rosto pela esquina. Segundo as plantas que R2 havia
conseguido, aquela deveria ser a maior estação monitora de defesa
exterior naquele setor da guarnição. Provavelmente haveria
guardas, e esses guardas provavelmente estariam em alerta.
Ele acertou as duas coisas. Cinco metros descendo o corredor
de entrada, em ambos os lados de uma enorme comporta, estava
um par de stormtroopers. Eles estavam alertas o bastante para
notar o estranho que olhava para eles e para colocar seus rifles de
raios em posição de disparo.
A coisa inteligente a fazer – a coisa que qualquer pessoa
razoavelmente não suicida iria fazer – seria se abaixar atrás da
esquina antes que o tiroteio começasse. Em vez disso, Han agarrou
a esquina com a mão livre, usando o contrapeso para se jogar
completamente pelo corredor vazio de entrada. Ele conseguiu
chegar ao outro lado milímetros antes das rajadas de raios que o
rastreavam, achatando-se contra a parede enquanto o fogo rápido
arrancou pedaços do metal atrás dele.
Eles ainda estavam disparando quando Chewbacca se inclinou
pela esquina que Han havia acabado de deixar e acabou a
discussão com dois rápidos disparos de balestra.
– Bom trabalho, Chewie – grunhiu Han, dando uma rápida
olhada atrás dele e depois voltando a se esgueirar pela esquina. Os
stormtroopers estavam fora de combate, e não havia mais nada no
caminho deles a não ser uma maciça porta de metal.
Que, assim como os próprios stormtroopers, não era grande
coisa. Pelo menos não para eles.
– Pronto? – ele perguntou, agachando-se de um lado da porta e
erguendo sua arma de raios. Haveria mais um par de guardas do
lado de dentro.
– Pronto – Luke confirmou. Eles ouviram o estalo e o sibilar do
sabre de luz do rapaz, e a lâmina verde brilhante passou rápida por
cima da cabeça de Han para cortar horizontalmente o metal pesado
da comporta. Em algum lugar do caminho ela passou pelo
mecanismo de abertura interna, e quando Luke acabou de cortar a
parte superior da porta ela disparou para o teto seguindo seus
trilhos.
Pela maneira como os stormtroopers estavam encarando a
porta, estava claro que eles tinham ouvido os tiros rápidos do lado
de fora. Também estava claro que não tinham esperado que
ninguém passasse assim tão rápido. Han atirou num deles quando
ele tentou levantar seu rifle de raios; Luke pulou pela parte inferior
da porta girando seu sabre de luz e abateu o outro.
O grupo de imperiais que manejava seus consoles sensores
também não estava esperando companhia. Eles haviam acabado de
sair procurando por suas armas e correndo em busca de cobertura
quando Chewbacca os abateu. Uma dúzia de disparos depois, o
aposento havia sido reduzido a uma coleção de metais derretidos.
– Isso deve dar conta de tudo – deduziu Han. – Melhor
pularmos fora antes que os reforços cheguem.
Mas a capacidade de resposta imperial havia sido fortemente
reduzida devido ao tumulto na entrada principal e ao bando invasor
de Myneyrshi. Os três intrusos conseguiram voltar pelo corredor até
a escada de emergência e três níveis até a sala das bombas onde
haviam deixado os outros.
Dois dos Noghri estavam montando guarda silenciosamente do
lado de dentro da porta quando Han a abriu.
– Algum problema? – Lando chamou de algum lugar no
emaranhado de canos que parecia preencher dois terços do
aposento.
– Não exatamente – respondeu Han quando Chewbacca fechou
e trancou a porta atrás deles. – Mas eu não quero tentar de novo.
Lando grunhiu.
– Acho que você não vai precisar. Eles devem estar
adequadamente convencidos de que um grande ataque aéreo está
a caminho.
– Vamos torcer para que sim – disse Han, dando a volta até
onde Lando estava mexendo num painel de controle de aspecto
arcaico. R2 estava plugado num soquete de computador na lateral
do painel, enquanto C-3PO pairava de lado como uma mãe
passarinho nervosa. – Material antigo, hein?
– Com certeza – concordou Lando. – Acho que o imperador
deve ter simplesmente apanhado o complexo de clonagem inteiro e
o atirado inteirinho aqui dentro.
R2 reclamou, indignado.
– Certo, incluindo a programação – Lando disse secamente. –
Eu entendo um pouco desse negócio, Han, mas não o suficiente
para provocar nenhum dano permanente. Acho que vamos ter que
usar os explosivos.
– Por mim tudo bem – disse Han. Ele teria detestado trazê-los
até Wayland por nada, de qualquer maneira. – Onde está Mara?
– Lá fora – disse Lando, acenando com a cabeça na direção de
outra porta semioculta pelos tubos. – Na sala principal.
– Vamos checar, Luke – ele disse. Não gostava da ideia de
Mara vagando sozinha naquele lugar. – Chewie, fique aqui com
Lando. Veja se tem alguma coisa que valha a pena explodir.
Indo até a porta, ele digitou o código e a abriu. Mais além, havia
uma ampla passarela circular correndo ao redor do interior do que
parecia ser uma imensa caverna natural. Logo à frente, emoldurada
contra uma maciça coluna de equipamentos que se estendia do teto
até embaixo, passando pelo centro da caverna, Mara estava parada
na amurada da passarela.
– Este é o lugar? – ele perguntou a ela, olhando ao redor
enquanto seguia em sua direção.
Cerca de vinte outras portas se abriam para a passarela em
intervalos mais ou menos regulares, e havia quatro pontes retráteis
que se estendiam até uma plataforma de trabalho que cercava a
coluna de equipamento central. Exceto por dois de seus Noghri que
vasculhavam ao redor fazendo trabalho de proteção, não havia mais
ninguém à vista.
Mas havia sons. Um zumbido abafado de maquinaria e vozes
estava vindo de algum lugar, pontuado pelos estalidos leves de relés
e uma estranha pulsação rítmica no ar. Como se toda a caverna
estivesse respirando...
– É o lugar – confirmou Mara, soando estranha. Talvez ela
também achasse que aquilo soava como uma respiração. – Venha
ver.
Han deu uma olhada para Luke, e juntos eles foram até Mara e
olharam para baixo pela amurada.
E era, de fato, o lugar.
A caverna era imensa, estendendo-se por pelo menos dez
andares abaixo da passarela. Estava disposta como uma arena
esportiva – cada nível parecia uma espécie de balcão circular dando
a volta por dentro da caverna. Cada balcão era um pouco maior e
mais amplo do que o de cima, estendendo-se mais além para o
centro da caverna e criando um buraco menor ao redor da grande
coluna de equipamento. Havia tubos por toda parte. Tubos enormes
saindo dos dutos da coluna central, tubos menores percorrendo as
bordas de cada um dos balcões, e menores ainda os alimentando
nos círculos metálicos bem divididos que preenchiam os balcões e o
andar principal.
Milhares de pequenos círculos. Cada um deles era a tampa da
placa de um cilindro de clonagem Spaarti.
Ao lado de Han, Luke fez um estranho som na garganta.
– É difícil de acreditar – ele disse, soando algo entre
assombrado e bestificado.
– Acredite – Han o aconselhou, sacando seus macrobinóculos e
concentrando-os no piso principal embaixo. Os dutos bloqueavam
muito da visão, mas ele conseguiu vislumbrar homens em uniformes
médicos e de guarda andando de um lado para outro. Eles também
estavam em alguns dos balcões.
– Estão agitados como um ninho de ratos lá embaixo – disse. –
Stormtroopers no piso principal e tudo o mais.
Deu uma olhada de relance para Mara. A expressão no rosto
dela estava tensa enquanto ela olhava para o tanque de clonagem,
com o olhar assombrado de alguém que olhava para o passado.
– Isso traz memórias? – ele perguntou.
– Sim – ela respondeu mecanicamente. Ficou lá um momento
mais, e depois lentamente se endireitou. – Mas não podemos
permitir que isso continue.
– Fico contente que concorde – disse Han, estudando o rosto
dela. Agora ela parecia e soava ok, mas havia muita coisa
acontecendo sob a superfície. Segure as pontas, garota, ele disse a
ela em silêncio. Só mais um pouquinho, ok? – A coluna no meio
parece nossa melhor chance. Sabe de alguma coisa a respeito?
Ela olhou ao redor da caverna.
– Na verdade, não. – Ela hesitou. – Mas pode haver outra
maneira. O imperador não era de deixar coisas para trás para as
pessoas usarem. Não se pudesse evitar.
Han deu uma olhada de relance para Luke.
– Você quer dizer que todo este lugar poderia ter um
mecanismo de autodestruição?
– É possível – ela disse, aquele olhar assombrado de volta ao
seu rosto. – Se for o caso, o controle estará na sala do trono. Eu
poderia dar uma olhada.
– Não sei – disse Han, olhando para a caverna de clonagem lá
embaixo. Era um lugar muito grande para eles derrubarem com um
único saco de explosivos; nisso ele concordava com ela. Um botão
de autodestruição simplificaria um bocado as coisas. Mas a ideia de
Mara e suas lembranças lá em cima na sala do trono do imperador
também não pareciam tão boas. – Obrigado, mas não acho que
nenhum de nós deva ir vagando por este lugar sozinho.
– Eu vou com ela – Luke se ofereceu. – Ela tem razão; vale a
pena checar.
– Será seguro o bastante – acrescentou Mara. – Na passarela
existe um turboelevador para droides de manutenção que nos levará
pela maior parte do caminho até lá. A atenção dos imperiais deve
estar concentrada no tumulto da entrada de qualquer maneira.
Han fez uma cara de desagrado.
– Tudo bem, vão logo – ele grunhiu. – Não se esqueçam de nos
avisar antes de apertar o botão, ok?
– Não esqueceremos – Luke lhe garantiu com um sorriso tenso.
– Vamos, Mara.
Eles desceram a passarela.
– Para onde estão indo? – Lando perguntou atrás de Han.
– A sala do trono do imperador – disse Han. – Ela acha que
pode haver um botão de autodestruição lá em cima. Encontrou
alguma coisa?
– R2 finalmente conseguiu uma conexão com o computador
principal – Lando disse. – Ele está procurando o esquema daquele
negócio. – Fez o gesto na direção da coluna central.
– Não podemos esperar – Han decidiu, virando-se quando
Chewbacca emergiu da sala das bombas com sua sacola de
explosivos sobre um dos ombros. – Chewie, você e Lando vão
pegar uma dessas pontes e fazer o que têm que fazer.
– Certo – disse Lando, dando uma olhada cautelosa sobre a
amurada. – E você?
– Eu vou nos trancar aqui dentro – Han disse, apontando para
as outras portas que se abriam para a passarela. – Vocês, Noghri.
Venham cá.
Os dois Noghri que estavam montando guarda avançaram
silenciosamente para ele quando Lando e Chewbacca se dirigiram
para a ponte mais próxima.
– Sua ordem, Han do clã Solo? – um deles perguntou.
– Você: fique aqui – ele disse para o mais próximo. Fique de
olho em qualquer problema. Você – ele apontou para o outro. –
Ajude-me a selar estas portas. Uma boa rajada de raios em cada
caixa de controle deverá fazer isso. Eu vou pra cá; você vai pro
lado.
Ele estava a cerca de dois terços do caminho para o outro lado
da passarela quando ouviu algo por cima dos assustadores sons de
respiração mecânica da caverna abaixo dele. Olhando para trás, ele
viu C-3PO gritando e acenando para ele da porta da sala de
bombas.
– Maravilha – ele resmungou. Era só deixar as coisas com 3PO
e mais cedo ou mais tarde ele faria uma bagunça. Terminou de selar
a porta na qual estava, então se virou e saiu correndo.
– Capitão Solo – C-3PO disse aliviado quando Han se
aproximou. – Graças ao Criador. R2 disse...
– O que você está tentando fazer? – Han gritou. – Trazer toda a
guarnição pra cima da gente?
– É claro que não, senhor. Mas R2 disse...
– Quer falar comigo, venha pra cá e me encontre. Certo?
– Sim, senhor. Mas R2 disse...
– Se você não sabe onde procurar, use seu comlink – disse
Han, espetando um dedo para o pequeno cilindro que o droide
estava agarrando. – É por isso que você tem um. Você não sai por
aí gritando. Entendeu?
– Sim, senhor – disse C-3PO; sua paciência mecânica parecia
estar no limite. – Posso continuar?
Han suspirou. De que adiantava a palestra? Era melhor falar
com um Bantha.
– Tá, o que foi?
– É sobre mestre Luke – disse 3PO. – Ouvi um dos Noghri dizer
que ele e Mara Jade estavam a caminho da sala do trono do
imperador.
– E daí?
– Bem, senhor, no decorrer de suas investigações R2 acabou
descobrindo que o mestre Jedi Joruus C’baoth está aprisionado
naquela área.
Han olhou pra ele.
– Como assim, naquela área? Ele não está no centro de
detenção?
– Não, senhor – disse C-3PO. – Como falei...
– Por que você não disse logo? – Han exigiu saber, arrancando
seu comlink e apertando o botão.
E rapidamente desligando.
– Os comlinks parecem não estar operacionais – C-3PO disse
arrogante. – Descobri isso quando tentei contatar o senhor.
– Que maravilha – Han bufou; o surto de estática ainda ecoava
em seus ouvidos quando ele se virou. Luke e Mara, caminhando
direto para os braços de C’baoth. E não havia como avisá-los.
Exceto de uma maneira.
– Mantenha R2 ocupado procurando aqueles esquemas – ele
disse a 3PO, prendendo o comlink de volta ao cinto. – Enquanto
isso, diga a ele para ver se consegue encontrar de onde está vindo
a interferência. Se ele conseguir, mande uns dois Noghri tentarem
se livrar dela. Depois vá até aquela plataforma de trabalho e diga a
Chewie e Lando para onde fui.
– Sim, senhor – disse C-3PO, parecendo um pouco surpreso
pelo turbilhão de ordens e autoridade. – Perdão, senhor mas para
onde o senhor terá ido?
– Para onde você acha? – Han retorquiu olhando para trás ao
começar a descer a passarela. Isso sempre acontecia, ele pensou
ácido. De um jeito ou de outro, não importa onde estivesse ou que
estivesse fazendo, ele sempre acabava indo atrás de Luke.
E estava começando a parecer cada vez uma boa ideia ele ter
vindo junto.

– Tudo certo, Garret’s Gold, as comportas estão seladas – disse


a voz do controlador. Fique a postos para receber dados da rota de
saída.
– Entendido, controle – disse Aves, manobrando a Etherway
para trás do braço de atracação e começando uma virada lenta.
Eles estavam prontos ali; e pelo aspecto das coisas, todo o resto
também.
– Lá está ele – resmungou Gillespee, apontando pela escotilha.
– Bem na hora.
– Tem certeza de que é Mazzic? – perguntou Aves, espiando a
nave.
– Bastante certeza – disse Gillespee. – Quer que eu tente
chamá-lo?
Aves deu de ombros, olhando ao redor dos estaleiros. Eles
haviam preparado o resto do grupo com um bom código de
encriptação, mas não seria muito inteligente causar problemas
usando-o antes do necessário.
– Vamos esperar um minuto – ele disse a Gillespee. – Esperar
até termos algo para falar.
Mal as palavras saíram de sua boca quando tudo foi direto para
o inferno.
– Destroieres estelares! – Faughn gritou do console de
comunicação. – Vindos da velocidade da luz.
– Vetores? – gritou Gillespee.
– Não se importe – disse Aves, sentindo uma faca fria retorcer
suas tripas. Ele já podia ver os Star Destroiers à frente, aparecendo
do hiperespaço na borda dos estaleiros. E os dreadnaughts, e as
fragatas lanceiras, e os cruzadores de ataque e os esquadrões TIE.
Uma frota completa de ataque, e mais.
E praticamente todas as naves de combate da confederação de
contrabandistas de Karrde estava ali. Bem no meio.
– Então era mesmo uma armadilha – disse Gillespee, com a
voz de uma calma gélida.
– Acho que sim – disse Aves, olhando para a armada que ainda
estava entrando em formação. Uma formação que parecia de algum
modo errada.
– Aves, Gillespee, aqui fala Mazzic – a voz do outro
contrabandista veio pelo comunicador. – Parece que fomos
vendidos, afinal. Eu não vou me render. E vocês?
– Acho que eles merecem perder pelo menos uns dois Star
Destroiers por isso – concordou Gillespee.
– Essa era minha ideia – disse Mazzic. – Pena que Karrde não
está aqui para nos ver partir num explosão de glória.
Ele fez uma pausa, e Aves pôde sentir os olhos de Gillespee e
de Faughn sobre ele. Sabia que eles iriam para suas mortes
acreditando que Karrde os havia traído. Todos eles iriam.
– Eu também estou com vocês – ele disse baixinho para os
outros. – Se quiser, Mazzic, o comando é seu.
– Obrigado – disse Mazzic. – Eu ia tomá-lo mesmo assim. A
postos; podemos dar nosso primeiro golpe juntos.
Aves deu uma última olhada na armada, e subitamente
entendeu.
– Espere! – ele gritou. – Mazzic... Todos... Esperem. Essa força
de ataque não está aqui por nós.
– O que é que você está falando? – Gillespee exigiu saber.
– Aqueles cruzadores interventores lá fora – disse Aves. –
Passando por aquele grupo de Star Destroiers; estão vendo? Olhem
o posicionamento deles.
Houve um momento de silêncio. Mazzic foi o primeiro a
entender.
– Não é uma configuração de cercamento – ele disse.
– Tem razão, não é – concordou Gillespee. – Veja; você pode
ver um segundo grupo deles mais atrás.
– É uma configuração de aprisionamento – disse Mazzic,
parecendo não acreditar nas próprias palavras. – Eles estão se
preparando para puxar alguém do hiperespaço. E depois mantê-lo
aqui por tempo suficiente para destruí-lo.
Aves olhou para Gillespee, e descobriu que o outro estava
olhando de volta.
– Não – Gillespee respirou. – Você não está supondo...? Eu
pensei que eles fossem atacar Tangrene..
– Eu também – Aves disse sombrio, sentindo a faca se
retorcendo novamente nas suas tripas. – Acho que estávamos
errados.
– Ou então Thrawn está. – Gillespee olhou para armada e
balançou a cabeça. – Não. Provavelmente não.
– Está certo, nada de pânico – disse Mazzic. – Se a Nova
República vier, isso apenas quer dizer muito mais para ocupar a
atenção dos imperiais. Vamos continuar a seguir o cronograma e ver
o que acontece.
– Certo – Aves suspirou. Bem no meio de uma base imperial
durante um ataque da Nova República. Fantástico.
– Vou lhe dizer uma coisa, Aves – comentou Gillespee. – Se
sairmos desta, vou ter umas palavrinhas com seu chefe.
– Não vou discutir. – Aves olhou para a armada de Thrawn. –
Na verdade, acho que eu vou com você.

Cuidadosamente, Mara meteu a cabeça para fora da escada de


emergência e deu uma olhada no corredor mais além. A cautela era
inútil; aquele nível estava tão deserto quanto os três abaixo.
– Tudo tranquilo – ela murmurou, saindo para o corredor.
– Nenhum guarda aqui também? – Skywalker perguntou,
olhando ao redor ao se juntar a ela.
– Não há motivo – ela respondeu. – A não ser pela sala do
trono e pelas câmaras reais, nunca acontecia muita coisa nesses
níveis superiores.
– Aposto que ainda não acontece. Onde fica esse turboelevador
particular?
– Para a direita, virando aquela esquina – ela respondeu,
apontando com sua arma de raios.
Mais por hábito do que qualquer necessidade, ela tentou
manter seus passos silenciosos ao liderar o caminho corredor
abaixo. Alcançou o cruzamento dos corredores e virou.
Ali, dez metros bem à frente, dois stormtroopers estavam
flanqueando a porta do turboelevador, já erguendo os rifles de raios
para apontar para ela.
Meio passo corredor adentro, dando impulso para a direção
errada, não havia para onde Mara ir a não ser para baixo. Ela
mergulhou para o deck, disparando na direção deles ao cair. Um
dos stormtroopers caiu quando uma rajada de chamas explodiu na
sua armadura peitoral. O segundo rifle girou na direção da cara
dela...
E sacudiu por reflexo para longe quando o sabre de luz de
Skywalker veio descendo e girando pelo corredor na direção dele.
Não provocou nenhum dano real, é claro; àquela distância, e
sem a Força, Skywalker não tinha uma mira tão boa. Mas fez um
bom trabalho para distrair os stormtroopers, e isso era tudo de que
Mara precisava. Enquanto o imperial mergulhava para fugir da
lâmina rodopiante, ela o apanhou com dois disparos diretos. Ele
caiu no deck e ali ficou.
– Acho que não querem que ninguém entre ali – disse
Skywalker, chegando perto dela.
– Acho que não – concordou Mara, ignorando a mão que ele
oferecia e se levantando sozinha. – Vamos.
O carro do turboelevador havia sido travado naquele nível, mas
Mara levou apenas um minuto para soltá-lo. Havia apenas quatro
paradas listadas: aquela na qual estavam, o hangar das naves
auxiliares de emergência, as câmaras reais e a sala do trono. Ela
digitou a última, e a porta se fechou atrás deles. A viagem para o
alto foi rápida, e poucos segundos depois a porta do outro lado do
carro se abriu. Hesitante, Mara saiu para dentro da sala do trono do
imperador... e direto para um dilúvio de memórias.
Estava tudo ali, do jeito que ela se lembrava. As luzes fracas e
a escuridão melancólica que o imperador havia achado tão
apropriada para meditação e reflexão. A seção elevada de chão na
outra extremidade da câmara, que lhe permitia olhar para baixo de
seu trono quando visitantes subiam a escadaria até sua presença.
Telas nas paredes em ambos os lados do trono, agora escuras, que
haviam lhe permitido rastrear os detalhes de seu domínio.
E ter uma visão geral desse domínio...
Ela se virou para sua esquerda, olhando sobre a amurada da
passarela o espaço amplo e aberto de frente para o trono. Flutuando
na escuridão, um fulgor de luz de vinte metros de comprimento, a
galáxia.
Não era um holograma padrão da galáxia que qualquer escola
ou empresa pudesse possuir. Nem sequer as versões mais precisas
que só podiam ser encontradas nas salas de guerra dos quartéis
militares de setores selecionados. Aquele holograma estava
esculpido num nível de detalhamento exótico e absurdamente único,
com um único ponto de luz precisamente posicionado para cada um
dos 100 bilhões de estrelas da galáxia. Regiões políticas estavam
delineadas por círculos sutis de cor: os sistemas do Núcleo, os
territórios da Orla Exterior, o Espaço Selvagem, as Regiões
Desconhecidas. De seu trono, o imperador podia manipular a
imagem, realçando o setor escolhido, localizando um único sistema,
ou rastreando uma campanha militar.
Era tanto uma obra de arte quanto uma ferramenta. O Grão
Almirante Thrawn teria adorado.
E, com esse pensamento, as memórias do passado se
desvaneciam relutantes nas realidades do presente. Quem estava
no comando agora era Thrawn, um homem que queria recriar o
Império a sua própria imagem. Queria o suficiente para liberar uma
nova rodada de Guerras Clônicas se isso o fizesse atingir seu
objetivo.
Ela respirou fundo.
– Tudo bem – ela disse. As palavras ecoaram ao redor da
câmara, afastando ainda mais as memórias. – Se estiver aqui,
deverá estar embutido no trono.
Com esforço óbvio, Skywalker afastou seu olhar do holograma
da galáxia.
– Vamos dar uma olhada.
Eles desceram a passarela de dez metros que levava do
turboelevador até a parte principal da sala do trono, caminhando sob
a passarela acima, que corria pela borda frontal do poço do
holograma e entre as plataformas de guarda elevadas que
flanqueavam a escadaria. Mara olhou para as plataformas quando
ela e Skywalker subiram os degraus até o nível superior, lembrando-
se dos guardas imperiais de manto vermelho que um dia estiveram
ali em vigília silenciosa. Abaixo do piso do andar superior, visíveis
entre os passos enquanto eles subiam, a área de controle e
monitoramento do imperador estava às escuras e em silêncio.
Tirando o holograma da galáxia, todos os sistemas ali em cima
pareciam ter sido desligados.
Eles chegaram ao topo das escadas e seguiram em direção ao
trono, afastando-se deles na direção da rocha polida logo atrás.
Mara estava olhando para ele, perguntando-se por que o imperador
o havia deixado de costas para sua galáxia, quando ele começou a
se virar.
Ela agarrou o braço de Skywalker, sacando sua arma de raios
para apontar para o trono. A cadeira maciça completou sua virada...
– Então finalmente vocês vieram a mim – Joruus C’baoth disse
gravemente, olhando para eles das profundezas do trono. – Eu
sabia que viriam. Juntos ensinaremos a galáxia o que significa servir
aos Jedi.
– Eu sabia que vocês viriam a mim esta noite – disse C’baoth,
levantando-se lentamente do trono para encará-los. – Desde o
momento em que vocês deixaram Coruscant, eu soube que viriam.
Foi por isso que preparei o povo de minha cidade para atacar meus
opressores esta noite.
– Isso não era necessário – disse Luke, dando um passo
involuntário para trás quando as memórias daqueles dias quase
desastrosos em Jomark lhe acometeram de repente. Lá, C’baoth
havia tentado sutilmente corrompê-lo para o lado sombrio... e
quando fracassou, tentou matar Luke e Mara...
Mas ele não tentaria isso mais uma vez. Não ali. Não sem a
Força.
– Claro que foi necessário – disse C’baoth. – Vocês precisavam
de uma distração para obter entrada até minha prisão. E eles, como
todos os seres inferiores, precisavam de um objetivo. Que melhor
objetivo eles poderiam ter do que a honra de morrer a serviço dos
Jedi?
Ao lado dele, Mara murmurou alguma coisa.
– Acho que você entendeu tudo errado – disse Luke. – Os Jedi
eram os guardiões da paz. Os servos da Velha República, não seus
mestres.
– E esse foi o motivo pelo qual eles e a Velha República
fracassaram, Jedi Skywalker – disse C’baoth, apontando um dedo
para dar ênfase. – O motivo pelo qual fracassaram e pelo qual
morreram.
– A Velha República sobreviveu mil gerações – interrompeu
Mara. – Isso não me parece um fracasso.
– Talvez não – C’baoth disse com óbvio desdém. – Vocês são
jovens, e não veem com clareza.
– E você vê, claro?
C’baoth sorriu para ela.
– Ah, sim, minha jovem aprendiz – ele disse suavemente. – De
fato eu vejo. Assim como você verá.
– Não conte com isso – grunhiu Mara. – Não viemos tirar você
daqui.
– A Força não confia naquilo que vocês acham que são seus
objetivos – disse C’baoth. – Tampouco os verdadeiros mestres da
Força. Saibam vocês disso ou não, vocês vieram aqui ao meu
chamado.
– Você pode muito bem acreditar nisso se quiser – disse Mara,
fazendo um gesto para o lado com sua arma de raios. – Vá para lá.
– É claro, minha jovem aprendiz. – C’baoth deu três passos na
direção indicada. – Ela tem grande força de vontade, Jedi Skywalker
– ele acrescentou para Luke quando Mara se moveu desconfiada
até o trono e se agachou para examinar os painéis de controle do
descanso de braço. – Ela será uma grande força na galáxia que
iremos construir.
– Não – disse Luke, balançando a cabeça. Aquela era, talvez,
sua última chance de trazer o insano Jedi de volta. De salvá-lo,
assim como fizera com Vader a bordo da segunda Estrela da Morte.
– Você não está em forma para construir nada, mestre C’baoth.
Você não está bem. Mas posso ajudá-lo se me deixar.
O rosto de C’baoth escureceu.
– Como você ousa dizer tais coisas? – ele exigiu saber. – Como
ousa sequer pensar tal blasfêmia a respeito do grande mestre Jedi
C’baoth?
– Mas é exatamente isso – Luke disse com gentileza. – Você
não é o mestre Jedi C’baoth. Pelo menos não o original. A prova
está lá nos registros da Katana. Jorus C’baoth morreu há muito
tempo durante o projeto Viagem Extragaláctica.
– E no entanto estou aqui.
– Sim – Luke assentiu. – Você está. Mas não Jorus C’baoth.
Sabe, você é o clone dele.
Todo o corpo de C’baoth ficou rígido.
– Não – ele disse. – Não. Isso não pode ser.
Luke balançou a cabeça.
– Não existe outra explicação. Certamente esse pensamento já
lhe ocorreu antes.
C’baoth respirou fundo e estremeceu... e depois, bruscamente,
jogou a cabeça pra trás e gargalhou.
– Fique vigiando ele – Mara gritou, olhando desconfiada para o
velho por sobre o descanso de braço do trono. – Ele aplicou esse
mesmo golpe em Jomark, lembra?
– Está tudo bem – disse Luke. – Ele não pode nos machucar.
– Ah, Skywalker, Skywalker – disse C’baoth, balançando a
cabeça. – Você também? O Grão Almirante Thrawn, a Nova
República, e agora você. O que há com este súbito fascínio com
clones e clonagem?
Gargalhou mais uma vez; e então, sem aviso, ficou
mortalmente sério.
– Ele não entende, Jedi Skywalker – ele disse honestamente. –
Não o Grão Almirante Thrawn; nenhum deles. O verdadeiro poder
do Jedi não reside nesses simples truques de matéria e energia. O
verdadeiro poder Jedi é que só nós em toda esta galáxia temos o
poder de crescer para além de nós mesmos. De nos estendermos
em todos os confins do universo.
Luke olhou de relance para Mara, recebeu um dar de ombros e
um olhar intrigado em troca.
– Também não entendemos – ele disse a C’baoth. – O que você
quer dizer?
C’baoth deu um passo em sua direção.
– Eu consegui, Jedi Skywalker – ele sussurrou, seus olhos
reluzindo na luz mortiça. – Com o general Covell. O que nem sequer
o imperador fez. Eu tomei sua mente em minhas mãos e a alterei.
Reformei-a e a reconstruí à minha própria imagem.
Luke sentiu um estremecimento frio percorrer seu corpo.
– Como assim, a reconstruiu?
C’baoth assentiu, um tipo secreto de sorriso brincando em seus
lábios.
– Sim. Eu a reconstruí. E esse foi só o começo. Abaixo de nós,
nas profundezas da montanha, neste exato momento, o futuro
exército Jedi está pronto para nos servir. O que fiz com o general
Covell, eu tornarei a fazer novamente, novamente e novamente.
Porque o que o Grão Almirante Thrawn nunca percebeu é que o
exército que ele pensa que está criando para si está criando para
mim.
E de repente Luke entendeu. Os clones crescendo naquela
caverna não eram só fisicamente idênticos ao seu modelo original.
Suas mentes também eram idênticas, ou próximas o bastante para
serem apenas pequenas variantes do mesmo padrão. Se C’baoth
pôde aprender a quebrar a mente de um deles, poderia fazer o
mesmo com todos os clones daquele grupo.
Luke voltou a olhar para Mara. Ela também entendeu.
– Você ainda acha que ele pode ser salvo? – ela perguntou com
amargura.
– Não preciso que ninguém me salve, Mara Jade – disse
C’baoth. – Diga-me, você realmente acredita que eu simplesmente
ficaria de lado e permitiria que o Grão Almirante Thrawn me
aprisionasse assim?
– Não acho que ele tenha pedido sua permissão – Mara disse
mordaz, afastando-se do trono. – Não há nada para nós aqui,
Skywalker. Vamos embora.
– Eu não lhes dei permissão para partir – disse C’baoth, com a
voz subitamente alta e nobre. Ele levantou a mão, e Luke viu que
ele estava segurando um pequeno cilindro. – E vocês não o farão.
Mara fez um gesto com sua arma de raios.
– Você não vai nos impedir com isso – ela disse com desprezo
maldisfarçado. – Um ativador remoto tem que ter algo pra ativar.
– E tem – C’baoth disse com um sorriso fino. – Mandei meus
soldados o prepararem para mim. Antes de mandá-los lá fora para a
montanha com as armas e ordens para meu povo.
– Claro. – Mara recuou na direção das escadas, dando um
olhar desconfiado para o teto acima dela quando sua mão esquerda
encontrou o corrimão que separava a sessão elevada da sala do
trono do nível inferior. – Vamos aceitar sua palavra.
C’baoth balançou a cabeça.
– Não será preciso – ele disse baixinho, apertando o botão. No
fundo da mente de Luke, alguma coisa distante e muito alienígena
pareceu gritar em agonia...
E subitamente, impossivelmente, ele sentiu um surto de
consciência e de força preenchê-lo. Como se estivesse despertando
de um sono profundo, ou saindo de um quarto escuro para a luz.
A Força estava novamente com ele.
– Mara! – ele gritou. Mas era tarde demais. A arma de raios
dela já tinha sido arrancada de sua mão e voava pelo salão; e
mesmo enquanto Luke dava um salto em sua direção a mão
estendida de C’baoth explodiu numa rajada brilhante de raios azuis
e brancos.
A rajada pegou Mara bem no peito, jogando-a para trás, para
bater no corrimão atrás dela.
– Pare! – gritou Luke, colocando-se na frente dela e acendendo
seu sabre de luz. C’baoth o ignorou, disparando uma segunda
rajada. Luke interceptou a maior parte dela na lâmina do seu sabre
de luz, fazendo uma cara de dor enquanto a parte que deixou
passar atravessava seus músculos. C’baoth disparou uma terceira
rajada e uma quarta e uma quinta...
E então, subitamente, ele abaixou as mãos.
– Você não terá a petulância de me dar ordens, Jedi Skywalker
– ele disse, soando extremamente petulante. – Eu sou o mestre.
Você é o servo.
– Eu não sou seu servo – Luke disse a ele, recuando e dando
uma rápida olhada em Mara. Ela ainda estava de pé, agarrando o
corrimão em busca de apoio. Seus olhos estavam abertos, mas não
totalmente conscientes, e sua respiração parecia gemer enquanto
ela exalava entre dentes trincados. Colocando a mão livre no ombro
dela e fazendo uma careta com o fedor de ozônio, Luke começou a
analisar rapidamente os ferimentos de Mara.
– Você é de fato meu servo – disse C’baoth. A petulância
anterior havia sido substituída por uma espécie de grandeza
elevada. – Assim como ela. Deixe-a em paz, Jedi Skywalker. Ela
precisava de uma lição, e agora ela a aprendeu.
Luke não respondeu. Nenhuma das queimaduras parecia feia
demais, mas seus músculos ainda estavam sofrendo espasmos
incontroláveis. Usando a Força, ele tentou retirar um pouco da dor.
– Eu disse para deixá-la em paz – repetiu C’baoth, ecoando sua
voz assustadoramente pela sala do trono. – Sua vida não está mais
em perigo. Poupe sua força para o julgamento que o aguarda. –
Dramaticamente, ele ergueu uma das mãos e apontou.
Luke virou-se para olhar. Ali, recortada em silhueta contra o
holograma tremeluzente da galáxia, estava a figura vestida no que
parecia ser o mesmo manto marrom que C’baoth estava vestindo.
Figura que parecia de algum modo familiar...
– Não há escolha, meu jovem Jedi – disse C’baoth, com a voz
quase gentil agora. – Você não entende? Você deve me servir, ou
não seremos capazes de salvar a galáxia de si mesma. Portanto
você deve enfrentar a morte e emergir a meu lado, ou deve morrer
para que outro possa tomar o seu lugar. – Ele levantou a cabeça
para a figura e a chamou. – Venha – ele disse –, e enfrente seu
destino.
A figura avançou na direção das escadas, soltando um sabre de
luz do cinto. Ainda era impossível distinguir o rosto da figura devido
ao clarão de luz do holograma que estava atrás dela.
Luke se afastou de Mara, sentindo uma pressão estranha e
desagradável começar a se formar em sua mente. Havia algo de
estranhamente perturbador nesse confronto. Como se ele estivesse
prestes a encarar alguém ou algo que já havia enfrentado uma vez
antes...
Subitamente, ele se lembrou. Dagobah – seu treinamento Jedi
– a caverna do lado sombrio para qual Yoda o havia enviado. Sua
breve batalha onírica com uma visão de Darth Vader...
Luke prendeu a respiração; uma suspeita horrível apertava seu
coração. Mas não – a figura silenciosa que se aproximava dele não
era alta o bastante pra ser Vader. Mas então quem era?
A figura saiu para a luz, e tarde demais Luke se lembrou de
como aquela batalha dos sonhos na caverna do lado sombrio havia
terminado. A máscara de Vader havia se estilhaçado, e o rosto por
trás dela tinha sido o de Luke.
Assim como era o rosto que olhava sem emoção para ele
agora.
Luke recuou nos degraus, sua mente estava paralisada em
choque, e uma pressão cada vez maior crescia contra ela.
– Sim, Jedi Skywalker – C’baoth disse baixinho atrás dele. – Ele
é você. Luuke Skywalker, criado a partir da mão que você deixou
para trás na Cidade das Nuvens em Bespin. Brandindo o sabre de
luz que você perdeu lá.
Luke olhou para a arma nas mãos do clone. Era mesmo a sua
arma. O sabre de luz que Obi-wan havia lhe dito que seu pai deixara
para ele.
– Por quê? – ele conseguiu dizer.
– Para que você possa realmente compreender – C’baoth disse
com muita seriedade. – E porque seu destino deve ser cumprido. De
um jeito de outro, você deve me servir.
Luke deu uma rápida olhada para ele. C’baoth o estava
observando. Seus olhos brilhavam de expectativa. E de loucura.
E, nesse momento, o clone Luuke atacou.
Ele pulou para o topo das escadas, acendendo seu sabre de luz
e brandindo viciosamente a lâmina branco-azulada na direção do
peito de Luke. Luke pulou para o lado, brandindo sua própria arma
para cima a fim de bloquear o ataque. As lâminas se chocaram com
um impacto que o desequilibrou e quase arrancou o sabre de sua
mão. O clone Luuke pulou atrás dele; o sabre de luz já balançando
pronto para o ataque; usando a Força, Luke se jogou para trás,
dando uma cambalhota por cima do corrimão e caindo em cima de
uma das plataformas de guarda levantadas que se erguiam na parte
inferior do piso da sala do trono. Ele precisava de tempo para
pensar e planejar, e encontrar um jeito de se livrar da distração do
zumbido em sua mente.
Mas o clone Luuke não ia lhe dar esse tempo. Andando até o
corrimão, ele jogou seu sabre de luz para baixo na base da
plataforma na qual Luke estava em pé. Não foi um golpe perfeito – a
lâmina cortou apenas metade da base – mas foi o suficiente para
inclinar a plataforma. Usando a Força mais uma vez, Luke deu outra
cambalhota para trás, tentando alcançar a passarela de cima que
varria a sala do trono cinco metros atrás dele.
Mas a distância era grande, ou então sua mente estava
distraída demais pelo zumbido para usar a Força adequadamente.
Sua panturrilha bateu na borda da passarela, e em vez de pousar
com os pés ele virou e bateu de costas nela.
– Eu não desejava fazer isso a você, Jedi Skywalker – a voz de
C’baoth chamou. – E ainda não desejo. Junte-se a mim; deixe-me
ensinar a você. Juntos poderemos salvar a galáxia das pessoas
inferiores que desejam destruí-la.
– Não – Luke disse rouco, agarrando uma estrutura de suporte
e se puxando enquanto lutava para recobrar o fôlego. O clone Luuke
já havia recuperado seu sabre de luz, e estava descendo as
escadas em sua direção.
O clone. Seu clone. Era isso o que estava provocando aquela
estranha pressão em sua mente? A proximidade de uma duplicata
sua que estava também usando a Força?
Ele não sabia, assim como também não sabia qual o objetivo
de C’baoth em jogar os dois de encontro um ao outro. Tanto Obi-
wan quanto mestre Yoda o haviam avisado que matar com raiva ou
ódio levaria para o lado sombrio. Será que matar uma duplicata
clonada de si mesmo faria a mesma coisa?
Ou será que C’baoth queria dizer uma coisa totalmente
diferente? Será que ele queria dizer que matar seu próprio clone o
levaria à loucura?
De qualquer maneira, essa não era uma coisa que Luke
estivesse ansioso para descobrir diretamente. E lhe correu que ele
realmente não precisava. Podia pular para o outro lado da
passarela, chegar ao turboelevador pelo qual ele e Mara haviam
chegado e escapar.
Deixando Mara ali para enfrentar C’baoth sozinha.
Ele levantou a cabeça. Mara ainda estava inclinada contra o
corrimão. Possivelmente não inteiramente consciente. E certamente
não estava em condições de viajar.
Rilhando os dentes, Luke se levantou. Mara havia lhe pedido –
implorado – para matá-la em vez de deixá-la nas mãos de C’baoth.
O mínimo que ele podia fazer era ficar com ela até o fim.
Fosse o fim dela... ou o dele.

A explosão veio subindo da caverna abaixo como um trovão


distante, claramente audível e no entanto curiosamente amortecida.
– Está ouvindo isso, Chewie? – perguntou Lando, inclinando-se
para dar uma olhada cuidadosa sobre a borda de sua plataforma de
trabalho. – Você acha que alguma coisa lá em baixo explodiu?
Chewbacca, com as mãos cheias de cabos de contato,
enquanto escavava dentro e ao redor da grade de suporte da coluna
de equipamento, grunhiu uma correção; não havia sido uma grande
explosão, mas muitas, pequenas e simultâneas. Pequenos discos
explosivos, ou algo de poder igualmente baixo.
– Tem certeza? – Lando perguntou desconfortável, espiando os
tanques de clonagem no balcão um nível abaixo de onde eles
estavam trabalhando. Aquela explosão não parecia ter sido causada
por algum defeito normal.
Ele ficou rígido. Finos fios de fumaça podiam ser vistos agora,
erguendo-se preguiçosos no ar acima dos tubos nutrientes que
davam nos topos dos tanques de clonagem. Muitos fios de fumaça,
que pareciam estar se elevando num padrão razoavelmente regular.
Como se algo em cada aglomerado de cilindros Spaarti tivesse
explodido.
Ele ouviu o tilintar abafado de metal sobre metal atrás de si.
Lando se virou, para encontrar 3PO vindo desajeitado da ponte para
a plataforma de trabalho, cabeça inclinada para olhar caverna
abaixo.
– Aquilo é fumaça? – perguntou o droide, falando num tom
como se não tivesse certeza de que realmente queria saber.
– Pra mim parece fumaça – concordou Lando. – O que você
está fazendo aqui?
– Ah... – com relutância o droide desviou o olhar do que quer
que estivesse acontecendo abaixo. – R2 encontrou os esquemas
daquela coluna de equipamento – ele disse, oferecendo um cartão
de dados a Lando. – Ele sugere que pode valer a pena investigar o
acoplador de fluxo negativo no cabo principal de energia.
– Vamos levar isso em conta – disse Lando, enfiando o cartão
de dados no seu datapad e dando uma rápida olhada sobre a
amurada da plataforma ao entregar o datapad para Chewbacca. Ele
e o Wookiee não estavam assim tão visíveis contra as cores pastéis
da coluna do equipamento e do teto rochoso da caverna dois metros
acima deles, mas C-3PO se destacaria como uma pepita de ouro no
terreno lamacento. – Agora saia daqui antes que alguém o aviste.
– Oh – disse C-3PO, enrijecendo um pouco mais que de
costume. – Sim, claro. Além disso, R2 localizou a fonte do
embaralhamento dos comlinks nesta vizinhança. O capitão Solo
solicitou que, se encontrássemos isso...
– Certo – Lando interrompeu. Aquilo era alguém se movendo
atrás de um dos bancos de cilindros Spaarti no próximo nível
abaixo? – Eu me lembro. Você e R2 podem ir em frente. E levem o
Noghri com vocês.
O droide pareceu assustado.
– R2 e eu? Mas, senhor...
E, com um som igual ao de um tauntaun cuspindo, uma
ondulação brilhante de azul veio na direção deles a partir do balcão
de clonagem abaixo.
– Rajada atordoamento! – Lando gritou, caindo deitado sobre a
plataforma de trabalho e sentindo o pesado impacto quando
Chewbacca aterrissou ao lado dele. Uma segunda rajada de
atordoamento ondulou, ricocheteando na coluna sobre sua cabeça
quando ele sacou sua arma. – C-3PO, dê o fora daqui.
O droide não precisou de mais incentivo.
– Sim, senhor – ele falou olhando para trás, já arrastando os
pés ponte abaixo.
Chewbacca grunhiu uma pergunta.
– Pra lá em algum lugar – disse Lando, fazendo um gesto com
sua arma. – Mas cuidado; deve haver mais vindo pra cá.
Uma terceira rajada de atordoamento bateu inutilmente na parte
inferior da plataforma de trabalho, e desta vez Lando avistou um
soldado espreitando atrás de um dos cilindros de clonagem. Ele
disparou duas vezes, derrubando o imperial ao chão e fazendo uma
sujeira no cilindro de clonagem. Atrás dele, outra ondulação azul
fervilhou acima, acompanhada uma fração de segundo depois pelo
ruído pesado da balestra de Chewbacca.
Lando deu um sorriso tenso para si mesmo. Eles estavam
encrencados, mas não tanto quanto poderiam estar. Enquanto
estivessem sentados bem ao lado de todo aquele equipamento
crítico, os imperiais não ousariam usar nada mais forte do que
configurações de atordoamento sobre eles. Mas, ao mesmo tempo,
os próprios imperiais não tinham absolutamente proteção alguma lá
embaixo nos balcões exceto os tanques de clonagem. O que
significava que tudo que eles realmente podiam fazer era ficar lá,
sem causar danos maiores a seus alvos, permitindo que ele
mesmos e muito equipamento valioso fossem feitos em pedacinhos.
Ou então poderiam simplesmente subir um nível e explodi-los
de um ângulo onde o metal pesado da plataforma de trabalho não
ficasse no caminho.
Do outro lado da coluna de equipamento, Chewbacca rugiu; os
imperiais estavam recuando.
– Provavelmente subindo pra cá – concordou Lando, dando
uma olhada ao redor do nível deles para as portas que se alinhavam
na passarela externa. Elas pareciam muito fortes, provavelmente
apenas um pouco inferiores ao tipo de porta usada em naves de
guerra. Se Han e os Noghri tivessem feito um bom trabalho em selá-
las, elas deveriam conter até mesmo um grupo determinado de
stormtroopers por algum tempo.
Exceto pela porta que dava para a sala de bombas na qual R2
estivera trabalhando. Han teria deixado aquela aberta para que eles
passassem.
Lando fez uma careta; mas não havia nada a ser feito.
Encostando sua arma contra a seção inferior da amurada, ele
apontou com cuidado para a caixa de controle da porta e disparou.
A tampa da caixa piscou e amassou, e por uns dois segundos ele
conseguiu ver uma pequena chuva de faíscas por entre a fumaça.
E foi isso. Os imperiais estavam trancados do lado de fora. E
ele e Chewbacca do lado de dentro. Mantendo-se abaixado, ele foi
se arrastando até o outro lado da coluna. Chewbacca já estava de
volta ao trabalho, com as mãos sujas de graxa escavando
novamente por entre cabos e canos, e o datapad no chão aos seus
pés.
– Algum progresso? – perguntou Lando.
Chewbacca grunhiu, batendo desajeitado no datapad com um
pé, e Lando girou o pescoço para olhar. Era o esquema de uma
seção do cabo de energia, mostrando um acoplamento com oito
contatos saindo dele.
E logo acima do acoplamento, claramente marcado, um
regulador de fluxo positivo.
– A-ham – disse Lando, sentindo uma sensação não
inteiramente agradável percorrer seu corpo. – Você não está por
algum acaso pensando em passar isso pelo acoplador de fluxo
negativo que o C-3PO mencionou, está?
Em resposta, o Wookiee tirou a mão do emaranhado de cabos,
puxando o acoplador de fluxo negativo parcialmente desconectado.
– Espere um minuto – disse Lando, olhando desconfiado para o
acoplador. Ele já tinha ouvido histórias sobre o que acontecia
quando se conectava um acoplador de fluxo negativo num
detonador de fluxo positivo; e usar o regulador de fluxo positivo em
vez de um detonador não parecia muito mais seguro. – O que
exatamente isso deve fazer?
O Wookiee contou. Ele tinha razão; usar o regulador não era
mais seguro. Na verdade, era muito mais perigoso.
– Não vamos exagerar nisso, Chewie – ele avisou. – Viemos
aqui para destruir os cilindros de clonagem, não botar o armazém
inteiro abaixo conosco.
Chewbacca rugiu insistente.
– Tudo bem, certo, vamos guardar isso como reserva – disse
Lando.
O Wookiee grunhiu concordando e voltou ao trabalho. Fazendo
uma careta, Lando pôs sua arma de lado e retirou duas cargas de
sua sacola de explosivos. Bem que ele poderia se manter ocupado
tentando descobrir como eles sairiam pelas comportas fechadas e
pelo corredor cheio de stormtroopers.
E se acabassem tendo que recorrer ao esquema de
ressonância arrítmica do núcleo de poder que Chewbacca havia
sugerido... bem, nesse caso sair dali provavelmente se tornaria uma
questão acadêmica, de qualquer maneira.
Abrindo uma fenda nos cabos de energia com uma das mãos,
ele começou a trabalhar.

O contador zumbiu seu aviso de cinco segundos, e Wedge


respirou fundo. Era o momento. Ele estendeu a mão para as
alavancas de hiperespaço...
E subitamente o céu pintalgado do espaço se desvaneceu em
linhas estelares e em estrelas. Ao seu redor, o resto do Esquadrão
Rogue apareceu, ainda em formação; à frente, os distintivos
padrões de luz e o layout de um estaleiro podiam ser vistos.
Eles haviam chegado aos estaleiros de Bilbringi. Só que muito
longe. O que só poderia significar...
– Alerta de batalha! – Rogue Dois gritou. – Interceptores TIE
chegando: posição dois-nove-três marco vinte.
– Todas as naves: status de combate de emergência – a voz
rouca do almirante Ackbar interrompeu no comunicador. –
Configuração defensiva: comando de caças estelares para posições
de tela. Parece ser uma armadilha.
– Claro que sim – Wedge murmurou para si mesmo, puxando
com força para bombordo e arriscando uma rápida olhada em suas
telas. Com certeza, lá estavam os cruzadores interventores que os
haviam tirado do espaço, ficando bem atrás das frotas maciças que
estavam começando a disputar a posição de combate. E, a julgar
pela maneira como haviam sido distribuídas, as naves da frota da
Nova República não iam pular para a velocidade da luz tão cedo.
E então os interceptores TIE já estavam em cima deles, e não
houve mais tempo para ficar se perguntando porque seu ataque
surpresa cuidadosamente planejado havia fracassado antes mesmo
de começar. Naquele momento a única questão era a sobrevivência,
uma nave e um combate de cada vez.

Os passos furtivos dobraram a esquina a dez metros de


distância e continuaram em sua direção; e Han, pressionado
dolorosamente de volta para a porta ligeiramente recuada que era a
única proteção naqueles mesmos dez metros, abandonou a tênue
esperança de que seus perseguidores não o veriam e se preparou
para o inevitável tiroteio.
Eles deveriam ter desligado. Na verdade, eles não deveriam
sequer estar ali em cima. Pelos fragmentos dos relatórios de status
que ele fora capaz de interceptar enquanto passava pelos pontos de
verificação desertos, parecia que qualquer um capaz de segurar
uma arma estava vinte níveis abaixo combatendo nativos que
corriam soltos pela guarnição. Os níveis superiores não pareciam
estar sequer ocupados, e certamente não deveria haver nada ali em
cima que precisasse de qualquer proteção, exceto C’baoth.
Os passos se aproximavam. Seria sorte sua, Han pensou com
acidez, encontrar dois desertores procurando um lugar pra se
esconder.
Então, talvez a cinco metros de distância, os passos
subitamente pararam, e no súbito silêncio ele ouviu um engasgo
abafado.
Haviam o avistado.
Han não hesitou. Empurrando com força a porta atrás dele,
pulou pelo corredor, tentando repetir aquele truque lá da estação de
defesa, ou pelo menos fazer o melhor possível sem Chewbacca ali
para apoiá-lo. Havia menos deles ali do que ele tinha esperado, e
mais para o lado do que esperava, e ele perdeu meio segundo vital
quando sua arma de raios começou a mirar na direção deles...
– Han! – Leia gritou. – Não atire!
Pego de surpresa enquanto ainda dobrava os joelhos, ele bateu
de forma um tanto inglória na parede do outro lado do corredor. Era
Leia mesmo. Ainda mais surpreendente, Talon Karrde estava com
ela, junto com aqueles seus dois vornskrs de estimação.
– O que diabos vocês estão fazendo aqui? – ele quis saber.
– Luke está em apuros – Leia disse sem fôlego, correndo e lhe
dando um rápido e tenso abraço. – Ele está lá na frente algum
lugar...
– Opa, coração – Han lhe assegurou, pendurando-se no braço
dela enquanto ela tentava puxá-lo. – Está tudo bem; nós sabíamos
que os ysalamiri estavam aqui
Leia balançou a cabeça.
– É exatamente isso; eles não estão. A Força voltou. Logo
antes de você pular da cobertura.
Han soltou um palavrão baixinho.
– C’baoth – ele resmungou. – Tem que ser ele.
– Sim – Leia disse, estremecendo. – É ele.
Han olhou para Karrde.
– Eu fui contratado para destruir o armazém do imperador – o
contrabandista disse num tom neutro de voz. – Trouxe Sturm e
Drang junto para nos ajudar a encontrar Mara.
Han olhou de relance para os vornskrs.
– Trouxeram mais alguém com vocês? – perguntou a Leia.
Ela balançou a cabeça.
– Nós encontramos um esquadrão de soldados três níveis
abaixo vindo pra cá. Dois Noghri ficaram atrás para detê-los.
Ele olhou para Karrde.
– E seu pessoal?
– Estão todos na Wild Karrde – ele disse. – Guardando nossa
saída, caso tenhamos a chance de usá-la.
Han grunhiu.
– Então acho que somos só nós – ele disse, deslocando sua
pegada no braço de Leia e se dirigindo corredor abaixo. – Vamos lá.
Eles estão na sala do trono; eu sei o caminho.
E, enquanto corriam, ele tentou não pensar na última vez em
que havia encarado um Jedi sombrio. Na Cidade das Nuvens de
Lando em Bespin, quando Vader o havia torturado e depois o
congelado em carbonita.
De algum modo, de acordo com o que Luke lhe havia dito, ele
não esperava que C’baoth fosse sequer assim tão civilizado.
Os sabres de luz brilhavam, lâmina branco-azulada contra lâmina
branco-esverdeada, fervilhando onde atingiam um ao outro,
cortando metal e cabo onde atingiam qualquer outra coisa.
Agarrando o corrimão com ambas as mãos, lutando contra o
turbilhão que rolava em sua própria mente, Mara observava com
fascinação indefesa a batalha que se desenrolava no chão da sala
do trono. Era como uma inversão perversa daquela última visão
terrível que o imperador havia lhe dado no instante de sua
destruição, quase seis anos atrás.
Só que daquela vez não era o imperador que enfrentava a
morte. Era Skywalker.
E aquela não era uma visão. Era a realidade.
– Observe-os atentamente, Mara Jade – disse C’baoth de onde
estava, em pé no alto dos degraus. Sua voz soava dura, porém
estranhamente nostálgica. – A menos que você se curve de bom
grado à minha autoridade, um dia você haverá de enfrentar esta
mesma batalha.
Mara olhou de relance para ele. C’baoth observava aquele
duelo, que ele mesmo havia orquestrado, com um fascínio que
beirava a morbidez. Ela o havia chamado, sim, de volta quando o
conhecera em Jomark. O trabalho que ele tinha feito para Thrawn
lhe dera o gosto pelo poder; e, assim como para o imperador antes
dele, o gosto não havia sido o suficiente.
Mas, ao contrário do imperador, ele não se contentaria
meramente com o controle de mundos e exércitos. Sua forma de
império seria mais pessoal: mentes reformadas e reconstruídas em
sua própria concepção do que uma mente deveria ser.
O que significava que Mara também tinha razão em sua outra
suspeita. C’baoth era completamente louco.
– Não é loucura oferecer a riqueza de minha glória para os
outros – murmurou C’baoth. – É um dom pelo qual muitos
morreriam.
– Você está dando para Skywalker uma boa chance de isso
acontecer, aliás – Mara disse entre dentes, balançando a cabeça
para tentar clareá-la. Entre suas próprias memórias, conseguia
discernir um eco da estranha pressão que ela captava da mente de
Skywalker, além da presença avassaladora de C’baoth a dois
metros de distância. Se concentrar parecia tão difícil quanto pilotar
um airspeeder durante uma tempestade de inverno.
Mas havia um padrão mental que o imperador havia lhe
ensinado muito tempo atrás, um padrão para os momentos em que
ele queria suas instruções ocultas até mesmo de Vader. Se ela
conseguisse clarear a mente o suficiente para colocá-lo no lugar...
Através do turbilhão veio um súbito espasmo de dor.
– Não tente ocultar seus pensamentos de mim, Mara Jade –
C’baoth chamou sua atenção com rispidez. – Agora você é minha.
Não é certo que uma aprendiz esconda os pensamentos de seu
mestre.
– Então eu já sou sua aprendiz, hein? – grunhiu Mara, rilhando
os dentes contra a dor e tentando criar o padrão outra vez. Desta
vez, ela conseguiu. – Pensei que isso não aconteceria antes de eu
me jogar os seus pés.
– Você faz pouco de minha visão – disse C’baoth, sua voz
sombriamente petulante. – Mas você irá se ajoelhar perante mim.
– Bem como Skywalker, certo? Supondo que ele viva.
– Ele será meu – concordou C’baoth, com uma confiança
serena. – Assim como sua irmã e seus filhos.
– E então juntos vocês irão curar a galáxia – disse Mara,
observando o rosto dele e escutando o turbilhão em sua própria
mente. Sim; a barreira parecia estar mantendo C’baoth a distância.
Agora, se ela simplesmente conseguisse manter essa privacidade
um pouco mais...
– Você me decepciona, Mara Jade – disse C’baoth balançando
a cabeça. – Você realmente acredita que eu preciso ouvir seus
pensamentos para ler seu coração? Assim como os povos inferiores
da galáxia, você busca minha destruição. Uma ideia tola. O
imperador não lhe ensinou nada sobre nosso destino?
– Ele não fez um bom trabalho lendo o dele próprio, disso eu
sei – retorquiu Mara escutando seu coração batendo forte ao
observar C’baoth. Se aquela sua mente errática decidisse que ela
era uma ameaça genuína e lançasse mais um daqueles ataques de
raios...
C’baoth sorriu, contendo os braços ao lado do corpo.
– Você sente necessidade de medir sua força contra minha,
Mara Jade? Venha, então, e o faça.
Por dois segundos ela o encarou, quase tentada a
experimentar. Ele parecia tão velho e indefeso; e ela tinha sua
barreira mental e um pouco do melhor treinamento de combate
desarmado que o Império pôde providenciar no seu auge. Levaria
apenas alguns segundos...
Ela respirou fundo e abaixou a cabeça. Não; não agora. Não
assim. Não com toda essa pressão e distração rodopiando em sua
cabeça. Ela jamais conseguiria.
– Mate-me agora e não serei capaz de me ajoelhar diante de
você – ela murmurou, deixando os ombros caírem numa atitude de
derrota.
– Muito bem – ronronou C’baoth. – Você tem alguma sabedoria,
afinal. Então observe e aprenda.
Mara se virou novamente para o corrimão. Mas não para
observar o duelo de sabre de luz. Em algum lugar lá embaixo estava
a arma de raios que C’baoth havia arrancado de sua mão quando
fez o que quer que havia feito com os ysalamiri da montanha e
obtido a Força novamente. Se pudesse encontrá-la antes que
C’baoth percebesse que ela na verdade não havia desistido...
Do outro lado do piso, Skywalker pulou novamente para a
passarela. O clone estava pronto para esse movimento, levantando
seu sabre de luz bem para o alto, atrás dele. A lâmina azul e branca
errou Skywalker por um fio de cabelo, cortando, em vez disso, a
maior parte do piso da passarela e uma das estruturas de suporte
que o segurava ao teto. Com um rangido de trincar os dentes, o
metal se retorceu sob o peso de Skywalker, jogando-o para baixo.
Ele atingiu o chão mais ou menos de pé, pulando e pousando
sobre um dos joelhos. Então estendeu a mão, e o sabre de luz que
caía na direção do clone subitamente mudou de direção e fez um
arco na direção de Skywalker...
E parou no meio do ar. Skywalker aplicou tensão, os músculos
da sua mão se enrijeceram visivelmente enquanto sua mente se
estendia.
– Não assim, Jedi Skywalker – C’baoth disse reprovador; e
Mara olhou e viu que sua mão também estava estendida na direção
do sabre de luz errante. O clone, por sua vez, estava simplesmente
parado ali com seu manto marrom, como se soubesse que C’baoth
estaria do seu lado nessa batalha.
Talvez estivesse. Talvez não sobrasse nada naquele corpo a
não ser uma extensão da própria mente de C’baoth.
– Este duelo deve ser até a morte – continuou C’baoth. – Deve
ser arma contra arma, mente contra mente, alma contra alma.
Qualquer coisa menor que isso não o levará ao conhecimento que
deve ter se quiser me servir adequadamente.
Skywalker era bom mesmo. Com a estranha pressão zumbindo
em sua mente ele sabia que não conseguiria comparar sua força
com a de C’baoth. Mara então sentiu a uma mudança sutil na
concentração dele; e subitamente ele jogou seu próprio sabre de luz
sobre o ombro; a lâmina verde e branca formava uma foice que
voava em direção a um ponto no meio do cabo do outro sabre de
luz.
Mas se C’baoth não havia deixado Skywalker desarmar seu
oponente, também não o deixaria destruir a arma. Quando a lâmina
começou cortar para baixo, um pequeno objeto disparou das
sombras para a direita de Skywalker, batendo no seu ombro e
defletindo seu braço apenas o suficiente para que sua lâmina
cortasse o vazio. Um instante mais tarde o velho Jedi havia tirado o
sabre de luz do clone do controle mental de Skywalker, mandando-o
de volta pelo salão até seu dono. O clone levantou até uma posição
de en garde; cansado, Skywalker se levantou e se preparou para
continuar a batalha.
Mas Mara não estava interessada nos sabres de luz naquele
momento. Caído no chão, talvez a dois metros atrás dos pés de
Skywalker, estava o objeto que C’baoth havia atirado em cima dele.
A arma de raios de Mara.
Ela olhou de esguelha para C’baoth, perguntando-se se ele a
estava observando. Não estava. Na verdade, ele não estava
observando nada. Seus olhos não estavam concentrados; ele
olhava para o outro lado da sala do trono, com um sorriso
estranhamente infantil em seu rosto.
– Ela chegou – ele disse, com a voz quase inaudível sobre o
choque dos sabres de luz abaixo. – Justo como eu sabia que
chegaria. – Bruscamente, ele olhou para Mara. – Ela está aqui,
Mara Jade – ele disse, apontando dramaticamente para o
turboelevador pelo qual ela e Skywalker haviam chegado.
Franzindo a testa, sem saber se deveria tirar os olhos dele,
Mara virou a cabeça para olhar. A porta do turboelevador se abriu e
Solo saiu, arma de raios a postos. E bem atrás dele...
Mara prendeu a respiração, tensionando todo o seu corpo. Era
Leia Organa Solo, segurando uma arma de raios numa das mãos e
o sabre de luz na outra. E atrás dela, com os vornskrs de estimação
em sua frente presos por guias...
Era Karrde.
Organa Solo? E Karrde?
– Leia, Han; voltem! – Skywalker gritou para eles sobre o
estrondo dos sabres de luz quando os recém-chegados avançaram
pela passarela passando pelo holograma de galáxia e entrando na
parte principal da sala do trono. – É perigoso dema...
– Bem-vinda, minha nova aprendiz! – C’baoth gritou com
alegria, sua voz afogando a de Skywalker enquanto ecoava
grandiosa no espaço aberto. – Venha a mim, Leia Organa Solo. Eu
lhe ensinarei os verdadeiros caminhos da Força.
Solo tinha um tipo diferente de lição em mente. Ele chegou até
a ponta da passarela, fez mira pelo cano de sua arma e disparou.
Mas mesmo imerso na autoilusão, um Jedi com o poder de
C’baoth não podia ser abatido assim tão fácil. Num borrão de
movimento, a arma de Mara voou do chão para o caminho do tiro,
seu cabo se estilhaçando numa chuva de faíscas quando o tiro de
Solo despendeu sua energia nele. O segundo tiro foi bloqueado da
mesma maneira; o terceiro pegou a bateria da arma, transformando-
a numa bola de fogo espetacular. A arma de raios foi arrancada da
mão de Solo antes que ele conseguisse disparar uma quarta vez.
E C’baoth enlouqueceu.
Ele gritou, um grito horrível de raiva e traição que parecia que ia
incendiar o ar. Mara estremeceu num espasmo quando o som
lancinante rasgou seus ouvidos...
E um instante depois quase caiu pelo corrimão quando o
equivalente na Força daquele grito bateu de encontro nela.
Não se parecia com nada que ela jamais havia experimentado
antes; nem de Vader, nem do próprio imperador. A profunda
ferocidade animal – a perda total de cada fragmento de autocontrole
– era como ficar parada sozinha no meio de uma tempestade
violenta. Onda após onda de fúria a cobriram, ondulando pela
barreira mental que ela havia criado e batendo somente até
transformá-la numa combinação entorpecedora de ódio e dor. Ela
mal conseguiu ver Skywalker e Organa Solo cambaleando sob o
ataque; ouvir os vornskrs uivando de dor também.
E das mãos estendidas de C’baoth, explodiu um clarão de
raios.
Mara estremeceu de dor solidária quando Solo foi jogado para
trás no corrimão na frente do poço do holograma. Através do estalar
dos raios ela ouviu Organa Solo gritar o nome de seu marido e pular
para seu lado, largando sua arma de raios e reacendendo o sabre
de luz bem a tempo de captar a terceira rajada de raios na lâmina
branco-esverdeada. Subitamente, C’baoth desviou sua mira para
cima, para a passarela danificada pendurada precariamente sobre
suas cabeças. O relâmpago tornou a faiscar...
E com um estrondo de metal explodindo, o centro da passarela
se partiu. Girando na sua última estrutura de apoio remanescente,
ela desabou violentamente na direção de Organa Solo.
Ela viu a coisa chegando, ou quem sabe Skywalker lhe
ensinara como usar a Força para antecipar o perigo. Quando o
metal pesado caiu na direção dela, ela ergueu seu sabre de luz,
cortando a passarela para o lado o suficiente para que sua parte
principal passasse direto por ela e Solo, e então girasse e
desabasse no chão à frente de Karrde e dos vornskrs. Mas ela não
teve tempo de sair debaixo da parte que havia cortado, e foi atingida
na cabeça e no ombro, derrubando o sabre de luz de sua mão e a
derrubando no chão ao lado de Solo.
– Leia! – gritou Skywalker, lançando um olhar angustiado pra
sua irmã. Subitamente o zumbido debilitante em sua mente pareceu
ser esquecido quando sua luta subitamente mudou de uma defesa
grogue para um ataque furioso. O clone caiu perante o ataque, mal
conseguindo bloquear os golpes de Skywalker. Ele pulou para cima
da escadaria, recuou apressado dois passos acima na direção de
C’baoth quando Skywalker o atacou, depois saltou sobre a
plataforma de guarda remanescente. Por um segundo Mara pensou
que Skywalker iria persegui-lo até lá em cima, ou então cortar a
base da plataforma e trazê-lo para baixo.
Não fez nenhuma das duas coisas. Parado a meio caminho dos
degraus, uma película de suor reluzindo em sua face, ele olhou para
C’baoth com uma expressão que fez Mara estremecer.
– Você também procura me destruir, Jedi Skywalker? –
perguntou C’baoth, com a voz silenciosamente mortífera. – Pois tais
pensamentos são tolos. Eu poderia esmagá-lo como um pequeno
inseto sob meu calcanhar.
– Talvez – disse Skywalker, respirando com força. – Mas se o
fizer, jamais terá a chance de controlar minha mente.
C’baoth o estudou.
– O que você quer?
Luke fez um gesto brusco de cabeça na direção de sua irmã e
de Solo.
– Deixe-os partir. Todos eles. Agora. – Seus olhos se voltaram
para Mara. – Mara também.
– E se eu fizer isso?
Um músculo no rosto de Skywalker repuxou. Seu dedo se
moveu, e com um sibilar a lâmina de seu sabre de luz desapareceu.
– Deixe-os partir – ele disse baixinho –, e eu fico.

De algum lugar ali perto surgiu um som abafado de batidas,


adicionando um ritmo irregular aos estranhos sons respiratórios que
sussurravam pela caverna de clonagem. Um rifle de raios batendo
contra metal pesado, deduziu Lando, dando uma rápida olhada nas
portas ao redor da passarela. Até agora elas todas pareciam
seguras, mas ele sabia que isso não ia durar. Os stormtroopers lá
fora não estavam disparando nas portas para praticar tiro ao alvo, e
precisava haver uma sacola de explosivos no caminho deles.
Do outro lado da coluna de equipamentos, Chewbacca rugiu um
aviso.
– Eu estou mantendo a cabeça abaixada – Lando garantiu,
espiando pela fenda entre dois grandes dutos o labirinto de fios e
cabos multicoloridos mais além. Agora, onde estava mesmo aquela
conexão da bomba de repulsor?
Conseguiu localizar o ponto. Estava encaixando a carga
quando o sinal de chamada de seu comlink inesperadamente
disparou, ecoando uma fração de segundo depois do comlink de
Chewbacca. Franzindo a testa, meio que esperando ser algum
técnico imperial que havia descoberto seu canal, ele o sacou.
– Calrissian – ele disse.
– Ah, General Calrissian – a voz precisa de C-3PO voltou. –
Vejo que R2 conseguiu eliminar o embaralhamento. Na verdade é
surpreendente, devido a todo o trabalho que nós fomos obrigados
a...
– Diga a ele que fez um bom trabalho – Lando interrompeu.
Agora decididamente não era a hora de papear com C-3PO. – Mais
alguma coisa?
– Ah, sim, senhor – disse o droide. – O Noghri me instruiu a
perguntar se o senhor deseja que voltemos para ajudá-lo.
Outro som de impacto, mais alto desta vez.
– Gostaria que pudessem – suspirou Lando. – Mas vocês
nunca voltariam para cá a tempo. – O impacto veio novamente, e
desta vez ele viu distintamente a porta ao lado da ponte deles
balançar com o impacto. – Vamos simplesmente ter que sair daqui
sozinhos.
Do outro lado da plataforma de trabalho, Chewbacca rugiu sua
opinião menos que entusiástica quanto a isso.
– Mas se Chewbacca quer que voltemos...
– Vocês não chegarão a tempo – Lando disse com firmeza. –
Diga aos Noghri que se quiserem ser úteis devem correr para a sala
do trono e dar uma mãozinha a Han.
– É tarde demais para isso – falou uma nova voz, num tom
quase baixo demais para ser ouvido.
Lando franziu a testa para o comunicador.
– Han?
– Não, é Talon Karrde – o outro se identificou. – Eu vim com a
conselheira Organa Solo. Estamos na sala do trono...
– Leia está aqui? – perguntou Lando. – O que...?
– Cale a boca e escute – Karrde o interrompeu. – Aquele
mestre Jedi de Luke – Joruus C’baoth – está aqui também. Ele
pegou Solo e Organa Solo, e está fazendo Skywalker lutar com o
que parece ser um clone dele mesmo. Não está prestando nenhuma
atenção a mim no momento; tem um tipo de confronto acontecendo
por aqui. Mas ele notaria no momento em que eu tentasse qualquer
coisa.
– Pensei que Luke tivesse dito que a Força estava sendo
bloqueada.
– E estava. De algum modo, C’baoth conseguiu fazê-la voltar.
Vocês estão embaixo, com os tanques de clonagem?
– Estamos logo acima deles sim. Por quê?
– Organa Solo sugeriu mais cedo que deve haver um grande
número de ysalamiri espalhados ao redor daquela área – disse
Karrde. – Se vocês conseguirem tirar alguns deles de suas
estruturas nutrientes e trazê-los aqui para cima, podemos ter
alguma chance de detê-lo.
Chewbacca rugiu um lamento, e Lando sentiu seu lábio se
retorcer ao assentir concordando. Então todas aquelas explosões
haviam sido por causa disso.
– Também é tarde demais pra isso – ele disse a Karrde. –
C’baoth já mandou matar todos.
Por um momento o comlink ficou em silêncio.
– Entendo – Karrde disse por fim. – Bem, isso explica tudo.
Alguma sugestão?
Lando hesitou.
– Na verdade, não – ele disse. – Se tivermos alguma, vamos
avisar.
– Obrigado – disse Karrde, um pouco seco demais. – Estarei
esperando.
Um clic quando ele saiu do canal.
– C-3PO, você ainda está aí? – perguntou Lando.
– Sim, senhor – respondeu o droide.
– Coloque R2 de volta no computador – disse Lando. – Mande
que ele faça o que puder para deslocar as tropas daquela entrada
de ar pela qual passamos. Depois vocês e os Noghri vão começar a
seguir naquela direção.
– Estamos partindo, senhor? – disse 3PO, soando atônito.
– Isso mesmo – disse Lando. – E Chewie e eu estaremos bem
atrás de vocês, então é melhor vocês andarem rápido se não
quiserem ficar pra trás. Melhor alertar os dois Noghri que Luke
enviou para ajudar aquele bando de Myneyrshi também. Entendeu
tudo?
– Sim, senhor – 3PO disse hesitante. – E quanto a mestre Luke
e os outros?
– Deixe isso comigo – disse Lando. – Vá logo.
– Sim, senhor – C-3PO tornou a dizer. Outro clic, e ele foi
embora.
Um momento de silêncio e Chewbacca o interrompeu com a
pergunta óbvia.
– Acho que não temos mais escolha – Lando disse sombrio. –
Do jeito que Luke e Mara falam a respeito dele, C’baoth é pelo
menos tão perigoso quanto o imperador era. Talvez ainda mais.
Temos que tentar derrubar todo o armazém e esperar que ele vá
junto.
Chewbacca grunhiu uma objeção.
– Não podemos – Lando balançou a cabeça. – Pelo menos não
até estar montado e funcionando. Se avisarmos a alguém lá em
cima agora, C’baoth saberá tudo a respeito. Poderá ter tempo de
impedir.
Outra explosão abafada veio da porta.
– Vamos lá, vamos fazer isso logo – disse Lando, apanhando o
último de seus explosivos. Com sorte eles teriam tempo de montar o
dispositivo de ressonância arrítmica de Chewbacca antes que os
stormtroopers entrassem. Com um pouquinho mais de sorte, os dois
até conseguiriam sair vivos da caverna.
E com ainda mais, eles poderiam ser capazes de achar um jeito
de alertar Han e os outros antes que o armazém inteiro explodisse
embaixo deles.
Por um longo momento a sala do trono ficou em silêncio. Mara
encarou Skywalker, imaginando se ele entendia o que estava
dizendo. Oferecer-se para ficar ali voluntariamente com C’baoth...
Seu olhar se desviou para o lado novamente para encontrar o
dela, e mesmo através do zumbido em sua mente ela podia sentir
todo o medo que ele estava sentindo. Sim, ele sabia o que estava
dizendo. E falava sério. Se C’baoth aceitasse sua oferta ele iria de
boa vontade com o Jedi insano. Iria se sacrificar para salvar seus
amigos.
Incluindo a mulher que um dia prometera matá-lo.
Ela se virou, subitamente incapaz de assistir aquilo. Seus olhos
encontraram Karrde, semioculto atrás dos destroços da passarela,
ajoelhado entre seus dois vornskrs. Acariciando-os, falando baixinho
com eles – provavelmente acalmando-os depois daquele ataque de
Força de C’baoth. Ela olhou para os animais, mas eles não
pareciam estar feridos.
O movimento de sua cabeça devia ter atraído a atenção de
Karrde. Ele olhou para ela, sem expressão no rosto. Ainda
acariciando os vornskrs, ele inclinou a cabeça uma fração na
direção de Solo e Organa Solo. Franzindo a testa, Mara
acompanhou seu olhar...
E ficou paralisada. Ao lado dos destroços da passarela que
ainda cobriam sua esposa, Solo estava se movendo. Lentamente,
dois centímetros de cada vez, ele se arrastava pelo chão, na direção
da arma de raios que Organa Solo havia deixado cair.
– Você pede demais, Skywalker – C’baoth avisou suavemente.
– Mara Jade será minha. Deve ser minha. É o destino que a Força
exige dela. Nem mesmo você pode brincar com isso.
– Certo – disse Mara, olhando de volta para C’baoth e
colocando todo o sarcasmo que podia em sua voz. Fossem quais
fossem os riscos que ela corria, ela precisava chamar o atenção de
C’baoth para o mais longe possível da outra ponta da sala do trono.
– Eu ainda tenho que me ajoelhar aos pés dele, lembra?
– Você me insulta, Mara Jade – disse C’baoth, lançando um
sorriso maligno pra ela. – Você realmente acredita que eu sou tão
fácil de enganar? – ainda olhando para ela, ele curvou um dedo...
E quando a mão de Solo se estendeu na direção da arma de
raios, ela se moveu mais meio metro para fora de seu alcance.
Da plataforma da guarda veio uma súbita alteração no zumbido.
– Skywalker, cuidado! – Mara gritou.
Skywalker girou, acendendo novamente seu sabre de luz e o
rotacionando em posição de defesa. O clone, com fôlego e coragem
redobrados, já estava no meio de um salto, cortando o ar com seu
sabre de luz. As duas lâminas se encontraram com um estrondo e
um impacto que empurrou Skywalker para trás, para a beira da
escada. Ele deu mais um passo, lutou por equilíbrio, depois caiu
para o chão abaixo.
Mara deu uma rápida olhada para Solo enquanto o clone se
lançava sobre a beirada da escada em perseguição. Se o clone
realmente era uma extensão da mente de C’baoth...
Mas não. Mesmo enquanto Solo tentava novamente pegar a
arma ela mais uma vez saía de seu alcance. Fosse qual fosse o
esforço que C’baoth despendia no duelo de sabres de luz, ele
claramente ainda tinha concentração o suficiente para brincar com
seus prisioneiros.
– Está vendo, Mara Jade? – C’baoth perguntou baixinho. Sua
fúria havia passado, a graça de brincar com seus prisioneiros havia
passado, e agora era hora de voltar ao negócio importante de
construir seu Império. – É inevitável. Eu governarei juntamente com
Skywalker e sua irmã, você servirá ao meu lado. E seremos grandes
juntos.
Bruscamente, ela deu um longo passo para trás do corrimão, no
outro lado da escadaria. Bem a tempo; um instante depois
Skywalker estava de volta, vindo com uma cambalhota do piso
inferior da sala do trono. Ele pousou de costas para Mara,
balançando por um momento enquanto lutava para recuperar o
equilíbrio. Outro clarão de luz, banco-azulado desta vez, e o clone
saltou sobre o corrimão em perseguição, girando seu sabre de luz
em viciosos arcos horizontais para se proteger de um ataque.
Skywalker se afastou do caminho; olhando atrás dele, Mara viu
C’baoth dar um passo apressado para trás. O clone tocou o chão e
atacou, ainda cortando amplos arcos horizontais com sabre de luz
na direção de Skywalker. Luke continuou a abrir caminho,
aparentemente sem saber que estava recuando na direção da
parede de rocha sólida.
Contra a qual ele ficaria aprisionado.
Eles passaram... e Mara olhou para encontrar C’baoth mais
uma vez encarando-a.
– Como eu disse, Mara Jade – ele falou. – Inevitável. E com
você e Skywalker ao meu lado, os povos inferiores da galáxia virão
a nós como folhas ao vento. Seus corações e almas serão nossos.
Ele olhou do outro lado da sala e fez um gesto. Ainda agachado
atrás dos destroços da passarela, Karrde viu, com um espasmo de
surpresa, sua arma de raios sair de seu coldre e disparar pelo ar na
direção de C’baoth. A meio caminho de lá ela se juntou ao sabre de
luz caído de Organa Solo e a arma que Han ainda estava tentando
desesperadamente pegar.
– Assim como suas armas insignificantes – acrescentou
C’baoth. Erguendo uma mão negligente para recebê-los, ele voltou
o olhar para o duelo que estava prestes a atingir sua conclusão.
Aquela era a chance pela qual Mara estava esperando.
Possivelmente a última chance que teria. Alcançando o caos que
cercava sua mente, ela se estendeu para a Força, concentrando
olhos e mente nas armas que voavam pelo salão na direção da mão
de C’baoth. Ela sentiu seu controle desatento falhar...
E o sabre de luz de Organa Solo fez um arco para longe das
armas de raios para pousar firmemente em sua mão.
C’baoth se virou para encará-la, deixando as armas de raios
caírem com estrépito sobre a escadaria.
– Não! – ele gritou, distorcendo horrivelmente o rosto com
medo, confusão e pavor. Mara sentiu C’baoth tentar puxar
freneticamente o sabre de luz; mas mesmo esse seu ato estava
distorcido com confusão e medo, e desta vez ele não tinha o
elemento surpresa do seu lado. Com o tempo, ele iria se recuperar
do choque, mas Mara não tinha intenção de lhe dar esse tempo.
Acendendo o sabre de luz, ela atacou.
O clone deve tê-la ouvido chegar, é claro; o som distinto de seu
sabre de luz tornou isso inevitável. Mas com Skywalker encostado
contra a parede, a tentação de primeiro acabar com o oponente era
grande demais para resistir. Ele girou uma última vez, seu sabre de
luz resvalando na parede quando Skywalker se abaixou sob a
lâmina...
E com um clarão brilhante de equipamentos eletrônicos sendo
estilhaçados, a parede explodiu do lado de fora, sobre a cabeça de
Skywalker e bem na cara do clone.
Skywalker não havia recuado para uma parede, afinal. Ele
recuara para uma das telas da sala do trono.
O clone gritou – o primeiro som que Mara o ouviu fazer – ao
recuar cambaleante. Ele girou na direção do som do sabre de luz
dela, com o rosto distorcido de raiva e medo, e os olhos ainda
confusos. Ele ergueu o sabre de luz para atacar...
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
Ela se abaixou sob o ataque da lâmina, olhando para seu rosto.
O rosto de Skywalker. O rosto que havia assombrado seus
pesadelos por quase seis anos. O rosto que o imperador lhe havia
ordenado que destruísse.
VOCÊ VAI MATAR LUKE SKYWALKER.
E pela primeira vez desde que ela encontrara Skywalker e seu
X-wing danificado flutuando no espaço profundo, ela se permitiu se
entregar à voz que turbilhonava pela sua mente. Com toda sua
força, ela girou o sabre de luz e o abateu.
O clone desabou, seu sabre de luz caindo com estrépito no
chão ao seu lado.
Mara olhou para ele, e ao respirar com dificuldade, a voz no
fundo de sua mente se calou.
Estava feito. Ela havia cumprido a última ordem do imperador.
E estava finalmente livre.
– Estes parecem ser todos, capitão – disse Thrawn, olhando pela
escotilha para as naves de guerra rebeldes espalhadas ao longo
das bordas dos cones gravitacionais dos cruzadores classe
interventor. – Instrua a Confinador e a Sentinela a deixarem a
missão de aprisionamento e retornarem às suas posições na linha
demarcatória. Todas as naves de guerra: preparar para enfrentar o
inimigo.
– Sim, senhor – disse Pellaeon, balançando a cabeça num
espanto silencioso ao digitar as ordens. Mais uma vez, contra
esmagadoras evidências em contrário, o Grão Almirante havia
provado estar certo. A frota de ataque rebelde estava ali.
E provavelmente se perguntando neste exato momento o que
havia saído de errado em seu esqueminha esperto.
– Me ocorre, almirante, que poderíamos não querer destruir
todos eles – ele sugeriu. – Alguns deles devem ter permissão de
retornar a Coruscant para falar da derrota que sofreram.
– Concordo, capitão – disse Thrawn. – Embora eu duvide de
que essa venha a ser a interpretação deles. O mais provável é que
eles concluam que foram traídos.
– Provavelmente – concordou Pellaeon, dando uma rápida
olhada ao redor da ponte. Ele achou ter ouvido um leve ruído, algo
como material sob estresse ou alguém roncando do fundo da sua
garganta. Apurou bem o ouvido, mas o som não se repetiu. –
Embora isso funcione igualmente bem para nossa vantagem.
– De fato – disse Thrawn. – Devemos designar o cruzador
estelar do almirante Ackbar para a tarefa de mensageiro?
Pellaeon deu um sorriso de satisfação. Ackbar. Que mal havia
acabado de sobreviver às acusações de incompetência e traição do
conselheiro Borsk Fey’lya por causa da operação nos estaleiros de
Sluis Van. Desta vez ele não teria tanta sorte.
– Um belo toque, almirante – ele disse.
– Obrigado, capitão.
Pellaeon olhou para Rukh, que montava guarda
silenciosamente atrás da cadeira de Thrawn e se perguntou se o
Noghri conseguia apreciar a ironia disso tudo. Dada a falta de
sofisticação da espécie, provavelmente não.
À frente, o espaço estava se enchendo de clarões de fogo de
laser enquanto os esquadrões compostos de caças estelares
começaram a atacar. Ajeitando-se confortavelmente em sua cadeira,
Pellaeon olhou suas telas e preparou sua mente para o combate.
Para o combate, e para a vitória.

– Cuidado, Líder Rogue, você pegou duas caudas – a voz de


Rogue Dois veio no ouvido de Wedge. – Rogue Seis?
– Estou bem do seu lado, Rogue Dois – confirmou o outro. –
Corte duplo em três. Dois, um...
Segurando-se, Wedge jogou seu X-wing num rolamento de
tesoura louca. Os dois TIE Fighters, tentando equiparar a velocidade
dele enquanto ao mesmo tempo evitar destruí-lo com tiros,
provavelmente nunca nem viram os outros dois X-wings entrarem
em posição atrás deles. Duas grandes explosões depois, Wedge
estava liberado.
– Obrigado – ele disse.
– Sem problema. E agora?
– Não sei – admitiu, dando uma olhada rápida na batalha
furiosa ao redor deles. – Até agora o almirante Ackbar ainda estava
mantendo seus cruzadores estelares juntos em formação de
combate. Mas, do jeito que as naves de apoio da periferia estavam
sendo atingidas em peso pelos imperiais, a coisa toda poderia se
dissolver na confusão de uma briga desordenada a qualquer minuto.
Nesse caso, os esquadrões de caças estelares estariam
basicamente por conta própria, atacando onde e quando pudessem.
Que era o que eles já estavam fazendo, para todos os
propósitos. O truque seria encontrar algo realmente eficiente para
atingir...
Rogue Dois devia estar acompanhando o mesmo raciocínio.
– Sabe, Líder Rogue, me ocorreu que esses imperiais não
teriam tantas naves disponíveis para nos atacar se tivessem que
proteger seu estaleiro ao mesmo tempo.
Wedge virou o pescoço para olhar o clarão de luzes na
distância próxima. Recortado em silhueta contra eles, ele podia ver
as linhas escuras de pelo menos quatro estações de combate golan
II.
– Concordo – ele disse. – Mas acho que seria preciso mais que
um ataque até mesmo do legendário Esquadrão Rogue para deixá-
los tão nervosos assim...
– Comandante Antilles, aqui fala a Central de Comunicações da
Frota – uma voz brusca interrompeu. – Tenho um sinal codificado
urgente chegando para o senhor sob encriptação diplomática da
Nova República. Quer se dar o trabalho de responder?
Wedge piscou várias vezes. Uma encriptação diplomática? Ali?
– Suponho que sim. Claro, pode transmitir.
– Sim, senhor. – Um clic...
– Olá, Antilles – uma voz vagamente familiar disse secamente
em seu ouvido. – Bom vê-lo novamente.
– Tenho certeza de que a sensação é mútua – disse Wedge,
franzindo a testa. – Quem fala?
– Ah, o que é que há – resmungou o outro. – Você já se
esqueceu daqueles momentos maravilhosos que passamos juntos
fora da cantina de Mumbri Storve?
A Mumbri Storve...?
– Aves?
– Isso, muito bem – disse Aves. – Sua memória está
melhorando.
– Está começando a ser difícil me esquecer de vocês – Wedge
falou.– Onde você está?
– Bem no meio daquele grande clarão de luzes imperiais no seu
flanco – disse Aves, com a voz um pouco amarga. – Gostaria que
você tivesse me dito que estava atacando este lugar em vez de
Tangrene, como pensávamos.
– Eu gostaria que você tivesse me dito qual o seu pequeno
trabalho – retrucou Wedge. – Fizemos um bom trabalho enganando
um ao outro, não foi?
– Claro que sim. Enganamos todos, menos o Grão Almirante.
– Eu que o diga. Então, esta é só uma chamada social, ou o
quê?
– Pode ser – disse Aves. – Ou não. Sabe, em cerca de noventa
segundos alguns de nós vão tentar agarrar aquele conjunto de
ACCG que viemos aqui pegar. Depois disso é um rápido adeus e
vamos sair daqui à força.
Sair à força de um estaleiro imperial. E ele também fazia isso
parecer tão fácil.
– Boa sorte.
– Obrigado. O motivo pelo qual estou mencionando isso é que
não faz muita diferença para nós a direção que escolhermos para
sair à força, mas pode fazer para vocês.
Wedge sentiu um sorriso tenso repuxar seu lábio.
– Pode fazer – ele disse. – Como, digamos, se você fosse sair
perto daquelas estações golan II ali fora. Talvez atingi-las um pouco
por trás na saída?
– Me parece uma boa rota – concordou Aves. – É claro que vai
ficar feio do lado de fora do perímetro; todas aquelas naves
recebendo tiros e coisa e tal. Acho que você não conseguiria
encontrar uma maneira de nos dar uma escolta amigável a partir
daqui, conseguiria?
Wedge olhou para as luzes, pensando. Podia dar certo. Se o
pessoal de Aves fosse capaz de derrubar uma sequer daquelas
golan II, abriria o estaleiro para uma incursão da Nova República. A
menos que os imperiais estivessem dispostos a sacrificá-la, eles
teriam que deslocar parte da sua força de batalha até lá para fechar
o buraco e caçar qualquer nave que tivesse entrado.
E, do ponto de vista de contrabandistas, ter um fluxo de navios
de guerra da Nova República para se infiltrar no caminho de saída
lhes daria melhor cobertura do que eles conseguiriam em qualquer
outra parte ao longo do perímetro. No fim das contas, uma troca
bem justa.
– Negócio fechado – ele disse a Aves. – Dê-me dois minutos e
eu arranjo a escolta.
– Uma escolta amigável, não se esqueça – Avisou Aves. – Se
entende o que digo.
– Entendo exatamente o que você diz – Wedge garantiu. O
tradicional ódio dos Mon Calamari por contrabandistas era coisa de
lenda nas salas de guerra, e Wedge não queria ser apanhado no
meio disso tanto quanto Aves. Provavelmente esse fora o motivo
pelo qual o contrabandista havia o procurado em vez de oferecer
sua ajuda a Ackbar e aos comandantes da frota diretamente. – Não
se preocupe. Tenho tudo coberto.
– Ok. Epa! Lá vai o primeiro ataque. Vejo vocês depois.
O comunicador foi desligado.
– Estamos entrando? – perguntou Rogue Onze.
– Estamos entrando – confirmou Wedge, girando seu X-Wing
numa curva fechada de estibordo. – Rogue Dois, dê ao Comando
uma rápida atualização e diga a eles que precisamos de apoio. Não
mencione Aves pelo nome; apenas diga a eles que estamos
coordenando com um grupo de resistência independente dentro dos
estaleiros.
– Entendido, Líder Rogue.
– E se Ackbar não quiser correr o risco? – interrompeu Rogue
Sete.
Wedge olhou para as luzes do estaleiro. Então, mais uma vez,
assim como tantas vezes antes, tudo iria se resumir a uma questão
de confiança. Confiança num garoto de fazenda, recém-chegado de
um mundo desértico de fronteira, para liderá-lo num ataque à
primeira Estrela da Morte. Confiança num antigo jogador que
poderia ou não ter tido experiência real de combate, para liderá-lo
no ataque à segunda Estrela da Morte. E agora, confiança em um
contrabandista que poderia facilmente traí-lo pelo preço certo.
– Não importa – ele disse. – Com ou sem apoio, estamos indo.

O sabre de luz de Mara faiscou, cortando viciosamente na


direção do clone Luuke. O clone caiu; seu sabre de luz bateu com
estrépito no chão, e parou.
E subitamente, a pressão na mente de Luke desapareceu.
Ele se levantou na frente da tela ainda faiscante para a qual
havia trazido o clone, respirando aliviado pelo que parecia ser a
primeira vez em horas. A provação finalmente havia acabado.
– Obrigado – ele disse baixinho para Mara.
Ela recuou para longe do clone morto.
– Sem problema. O cérebro está claro agora?
Então ela também fora capaz de sentir o zumbido na mente
dele. Ele tinha se perguntando a respeito.
– Sim – ele assentiu, dando outra respiração maravilhosamente
limpa. – E o seu?
Ela lhe deu um olhar meio divertido, meio irônico. Mas, pela
primeira vez desde que se conheceram, ele podia ver que a dor e o
ódio haviam desaparecido de seus olhos.
– Eu fiz o que ele queria que eu fizesse – ela disse. – Acabou.
Luke deu uma olhada pela sala do trono. Karrde havia
amarrado as guias dos vornskrs à passarela desabada e estava
atravessando curiosamente os destroços. Agora de pé, Han estava
ajudando uma Leia ainda grogue a sair debaixo da seção da
passarela que havia caído sobre ela.
– Leia? – Luke gritou. – Você está bem?
– Estou bem – Leia gritou de volta. – Só um pouco machucada.
– Vamos sair daqui, está certo?
Luke se voltou para C’baoth. O velho Jedi olhava o clone morto,
as mãos trabalhando ao seu lado, os olhos furiosos, perdidos e
insanos.
– Sim – ele concordou. – Vamos, Mara.
– Vão em frente – disse Mara. – Estarei com vocês num minuto.
Luke olhou para ela.
– O que você vai fazer?
– O que você acha? – ela retorquiu. – Vou terminar o serviço.
Como deveria ter feito em Jomark.
Lentamente, C’baoth levantou a cabeça para ela.
– Você irá morrer por isso, Mara Jade – ele disse com a voz
baixa gélida e mais letal do que qualquer explosão de raiva. –
Lentamente e com muita dor. – Respirando fundo, cerrando as mãos
em punhos na frente do peito, ele fechou os olhos.
– Isso nós vamos ver – murmurou Mara. Levantando seu sabre
de luz, ela partiu em sua direção.
Começou como um rugido, que é mais facilmente sentido do
que propriamente ouvido. Luke olhou ao redor da sala; seus
sentidos tremiam com a premonição do perigo. Mas não conseguia
ver nada fora do lugar. O som foi ficando mais alto, mais fundo...
E, com uma explosão trovejante, as seções do teto da sala do
trono logo acima dele e de Mara subitamente desabaram numa
chuva de pedras do tamanho de pedregulhos.
– Cuidado! – Luke gritou, lançando o braço para cima pra
proteger sua cabeça e tentar saltar fora do caminho. Mas o centro
da chuva de pedras se moveu com ele. Ele tornou a tentar, desta
vez quase perdendo o equilíbrio quando prendeu o pé numa pilha
de pedras que já estava na altura do tornozelo. Numerosas demais
e pequenas demais para ele pegar através da Força, elas não
paravam de vir, batendo contra ele com um impacto forte através da
poeira que turbilhonava ao seu redor. Ele viu Mara lutando contra
um dilúvio parecido que também caía sobre ela, tentando proteger a
cabeça com os braços enquanto atacava em vão as pedras que
caíam com seu sabre de luz. Do outro lado da sala do trono, ele
conseguia ouvir Han gritando alguma coisa, e imaginou que eles
também estavam sob o mesmo ataque.
E permanecendo intocado pela tempestade de rochas
destrutivas que havia liberado, C’baoth ergueu as mãos para o alto.
– Eu sou o mestre Jedi C’baoth! – ele gritou. Sua voz ecoou
pela sala do trono por sobre o rugido das chuvas de pedra. – O
Império – o universo – é meu.
Luke deixou seu sabre de luz cair de volta em posição de
defesa, seus sentidos mais uma vez formigavam percebendo o
perigo. Mas, novamente, esse conhecimento não lhe adiantou de
muita coisa. A rajada de raios de C’baoth faiscou contra a lâmina do
sabre de luz, e o impacto desequilibrou Luke e o deixou cair com dor
sobre os joelhos na pilha de pedras ao seu redor. Quando tentou se
levantar, uma das pedras bateu forte na lateral de sua cabeça. Ele
cambaleou, caindo de lado sobre uma das mãos. Mais uma vez, a
rajada de relâmpagos o atacou, lançando um fogo coronal sobre
toda a pilha de pedras e infringindo sobre Luke onda após onda de
agonia. O sabre de luz foi arrancado de seus dedos; ele mal
conseguiu vê-lo voar sobre a amurada na direção da outra ponta da
sala do trono.
– Pare – disse Mara. Através da névoa de dor, Luke viu que ela
estava coberta até os joelhos sobre pedras, tentando cortar
inutilmente com seu sabre de luz o monte como se tentasse varrê-
las para longe. – Se vai nos matar, faça isso logo.
– Paciência, minha futura aprendiz – disse C’baoth, e forçando
a vista por entre as pedras e poeira, Luke viu o sorriso sonhador do
outro. – Você ainda não pode morrer. Não até eu tê-la levado até a
câmara de clonagem do Grão Almirante.
Sob a queda de rochas, Mara estremeceu; seus sentidos
faiscavam com súbito horror.
– O quê?
– Pois eu previ que Mara Jade se ajoelhará perante mim –
C’baoth a lembrou. – Uma Mara Jade, ou outra.

– Pronto – disse Lando, acionando o botão de ativação da


última carga. – Termine logo e vamos sair daqui.
Do outro lado da coluna central, Chewbacca grunhiu uma
resposta. Apanhando sua arma de raios, Lando se levantou, dando
a cada uma das portas ao redor da passarela externa uma rápida
olhada. Até agora, tudo bem. Se conseguissem manter os
stormtroopers do lado de fora por mais dois minutos, tempo
suficiente para Chewbacca e ele saírem daquela plataforma de
trabalho e irem até a passarela...
Chewbacca rugiu um alerta. Apurando o ouvido, Lando pôde
ouvir o zumbido crescente de um acoplador de fluxo negativo
extremamente infeliz.
– Ótimo, Chewie – ele disse. – Vamos lá. E saiu para o fim da
ponte...
E, logo à sua frente, a porta do outro lado explodiu.
– Cuidado! – gritou Lando, caindo de bruços sobre a ponte e
disparando na direção da nuvem de poeira e destroços que havia
tomado o lugar da porta. As ondas azuis fervilhantes de fogo de
atordoamento já estavam começando a explodir a partir da porta na
direção deles. Ao seu lado, o rugido da balestra de Chewbacca
respondia. Lá se iam aqueles últimos dois minutos.
Apertando seu rosto o máximo contra aquele chão de malha de
metal, Lando percebeu que estava olhando para a ponte. Para a
ponte e os corrimãos finos porém reforçados que corriam por ambos
os lados dela...
Era loucura. Mas não queria dizer que não fosse funcionar.
– Chewie, venha pra cá – ele gritou, rolando a meio do caminho
e lançando um rápido olhar para os controles da ponte que ficavam
no alto do corrimão da plataforma de trabalho. Controle distensão...
aqui. Controle de retração... controle de parada de emergência...
A ponte balançou quando Chewbacca pousou com estrondo na
ponte ao lado.
– Mantenha-os ocupados – disse Lando. Calculando a
distância, ele deu um pulo para o alto, apertando o controle de
retração e a parada de emergência em sucessão rápida. A ponte
sacudiu para fora da plataforma de trabalho e parou, apenas o
suficiente para que suas barras de travamento se soltassem.
Chewbacca rugiu uma pergunta quando a ponte balançou
gentilmente com a tensão do seu peso.
– Você vai ver – disse Lando. De ambos os lados vieram
clarões de luz quando mais duas portas se desintegraram. – Basta
se segurar nos suportes do corrimão e continuar disparando. Lá
vamos nós. – Ele próprio se segurou, apontou com cuidado e abriu
fogo.
Mas não para os stormtroopers que agora vinham a toda para a
passarela circular. Seus disparos foram direcionados para o outro
lado da ponte, lançando nuvens de fagulhas enquanto vaporizavam
partes do chão de malha e arrancavam pedaços das barras de
apoio estrutural abaixo. A ponte sacudiu, balançando ainda mais
agora, enquanto Lando continuava a destruir sua integridade
estrutural. Ao seu lado, Chewbacca rugiu uma frase wookiee
selvagem que Lando nunca o tinha ouvido usar antes...
E com um grito horrível de metal retorcido, a ponte subitamente
cedeu. Conectada à passarela somente pelos corrimãos ainda
intactos, ela girou pesadamente para baixo. Lando agarrou com
força o corrimão quando a posição horizontal deles mudou
rapidamente para vertical...
E com um estrondo que quase o fez cair, a ponte bateu contra o
corrimão do balcão de clonagem três níveis abaixo.
– Esta é nossa parada – disse Lando. – Vamos. – Enfiando sua
arma de raios desajeitadamente no coldre, ele se balançou ao redor
do corrimão da ponte num ângulo agudo para pousar no chão do
balcão de clonagem. Chewbacca, com suas habilidades arbóreas
naturais, já estava lá uns bons três segundos antes dele.
Eles estavam a meio caminho da porta de saída do balcão,
desviando-se entre as fileiras de cilindros Spaarti, quando a coluna
atrás deles explodiu.
As cargas foram primeiro, explodindo seções de cabos e
encanamentos numa série de estonteantes bolas de fogo ao redor
de todo o perímetro da coluna. Uma nuvem de fumaça e poeira de
aspecto maligno e líquidos nutrientes vaporizados rodopiaram pelo
ar, obscurecendo a vista; de todos os lados, fluidos multicoloridos
começaram a borrifar. A plataforma de trabalho na qual eles haviam
estado em pé um minuto antes se livrou de seu suporte e deslizou
pesadamente coluna abaixo, rasgando e danificando mais
equipamento em sua queda. De dentro da nuvem veio uma chuva
de linhas de energia em curto-circuito e explosões secundárias,
cada qual adicionando um elemento à chuva de destroços.
E, com um rangido horrível dos suportes sendo retorcidos e
estilhaçados, as camadas externas da coluna começaram se
descascar e cair quase lentamente para fora.
Sobre o burburinho, Chewbacca rugiu um alerta.
– Eu também não – Lando gritou de volta. – Vamos dar o fora
daqui.
Dez segundos depois, passando por cima do único guarda que
simbolicamente havia sido deixado na porta de saída daquele nível,
eles estavam fora. Estavam a dois corredores de distância quando
sentiram a vibração distante da coluna desabando no chão da
caverna de clonagem.
– Ok – Lando disse ofegante, fazendo uma pausa e olhando
para ambos os lados quando chegaram a um cruzamento dos
corredores. R2 devia ter feito um ótimo trabalho com aquela
redistribuição de soldados; toda a área parecia deserta. – A saída
fica naquela direção – ele disse a Chewbacca, sacando seu comlink.
– Vamos chamar os outros e dar o fora daqui. – Ele digitou para
chamar Han...
E deu um salto para trás com um susto quando o comlink
explodiu com um ruído alto de estalos.
– Han? – ele chamou.
– Lando? – a voz de Han se fez ouvir, quase inaudível por
sobre o ruído.
– Isso – confirmou Lando. – O que está acontecendo aí em
cima?
– Esse Jedi maluco está derrubando o teto em cima de nós –
gritou Han. – Leia e eu estamos um pouco protegidos, mas Luke e
Mara estão em aberto. Onde está você?
– Aqui embaixo perto da caverna de clonagem – Lando disse
sério. Se aquela coisa de ressonância arrítmica de Chewbacca
havia funcionado, um dos reatores da montanha já devia estar
ficando instável. Se eles não escapassem na montanha antes da
explosão... – Quer que a gente suba e ajude?
– Não se incomode – a voz de Karrde cortou sombria. – Já há
uma grande pilha de pedras na frente do turboelevador. Parece que
vamos ficar aqui até o fim.
Chewbacca rosnou, a voz cheia de frustração.
– Esqueça, Chewie, você não ia poder fazer nada mesmo –
disse Han. – Ainda temos Luke e Mara; talvez eles possam impedi-
lo.
– E se não puderem? – Lando quis saber, sentindo o estômago
dar voltas dentro dele. – Escute, vocês não têm muito tempo; acho
que conseguimos colocar uma ressonância arrítmica dentro do
núcleo de energia.
– Ótimo – disse Han. – Isso quer dizer que C’baoth também não
vai escapar.
– Han...
– Vão logo, deem o fora daqui – Han o interrompeu. – Chewie,
foi ótimo; mas se não escaparmos, alguém além de Winter vai ter
que tomar conta de Jacen e Jaina. Entendeu?
– A Wild Karrde está esperando onde vocês entraram –
adicionou Karrde. – Eles estão esperando vocês.
– Certo – disse Lando, trincando os dentes. – Boa sorte.
Ele desligou e pendurou o comlink de volta ao cinto. Han tinha
razão, não havia nada que pudessem fazer contra C’baoth dali de
baixo. Mas como os turbolasers da Wild Karrde e o conjunto de
plantas de R2...
– Vamos, Chewie – ele disse virando-se, na direção da saída e
começando a correr. – Ainda não acabou.

– Talvez seja melhor assim – murmurou C’baoth, olhando triste


para Luke ao ir na direção dele. Piscando para limpar a poeira dos
olhos, Luke olhou para o velho Jedi, tentando forçar de volta a
agonia que ainda pulsava através dele.
A agonia e a sensação cada vez maior de derrota. Ajoelhado no
chão, preso em pedras até acima da cintura e com mais pedras
caindo sobre ele, Luke encarava um mestre Jedi insano que queria
matá-lo...
Não. Um Jedi precisa agir quando está calmo. Em paz com a
Força.
– Mestre C’baoth, me ouça – ele disse. – O senhor não está
bem. Eu sei disso. Mas posso ajudá-lo.
Uma dezena de expressões atravessou o rosto de C’baoth,
como se ele estivesse experimentando várias emoções em busca
do tamanho adequado.
– Pode mesmo? – ele disse, se decidindo por um divertimento
irônico. – E por que você deveria fazer isso por mim?
– Porque o senhor precisa – disse Luke. – E porque precisamos
do senhor. O senhor tem um vasto repertório de experiência e poder
que poderia utilizar para o bem da Nova República.
C’baoth fungou.
– O mestre Jedi Joruus C’baoth não serve a pessoas inferiores,
Jedi Skywalker.
– Por que não? Todos os grandes mestres Jedi da Velha
República o fizeram.
– E essa foi a derrocada deles – disse C’baoth, apontando um
dedo para Luke. – Foi por isso que os povos inferiores se
sublevaram e os mataram.
– Mas não foi isso que eles...
– Basta – trovejou C’baoth. – Não importa se você acha que as
pessoas inferiores precisam de mim. Sou eu quem irá decidir isso.
Eles aceitarão meu governo ou morrerão. – Seus olhos faiscaram. –
Você fez a sua escolha, Jedi Skywalker. E mais; podia ter governado
ao meu lado. Em vez disso, escolheu a morte.
Uma gota de suor ou sangue escorreu pelo lado do rosto de
Luke.
– E Mara?
C’baoth balançou a cabeça.
– Mara Jade não é mais problema seu – ele disse. – Lidarei
com ela mais tarde.
– Não – respondeu Mara. – Você lidará comigo agora.
Luke olhou para ela. As pedras ainda choviam sobre sua
cabeça, mas para espanto dele, a pilha de rochas até o joelho que a
tinha aprisionado havia desaparecido. E agora ele via por quê –
aqueles cortes de sabre de luz que ela estava fazendo antes não
eram os movimentos de inúteis que ele havia suposto. Em vez
disso, ela tinha cortado grandes fendas no chão, fazendo com que
as pedras caíssem até a área do monitor abaixo.
Erguendo seu sabre de luz, ela atacou.
C’baoth girou para encará-la, com rosto contorcido de raiva.
– Não! – ele gritou; e mais uma vez os raios azuis e brancos
estalaram das pontas dos seus dedos. Mara captou a explosão com
seu sabre de luz; sua louca corrida falhava enquanto o fogo coronal
queimava ao seu redor. C’baoth disparou várias vezes, recuando
para o trono e a parede sólida atrás dele. Cambaleante, Mara
continuou avançando.
Bruscamente, a queda de rochas sobre sua cabeça cessou. Da
pilha que havia quase enterrado Luke, pedras começaram a voar na
direção de C’baoth. Curvando-se atrás dele, elas dispararam direto
no rosto de Mara. Ela cambaleou para trás, apertando os olhos
contra a tempestade de pedras e levantando o braço direito para
tentar bloqueá-las.
Rilhando os dentes, Luke tentou erguer as pedras que o
seguravam ao chão. Não podia deixar que Mara lutasse sozinha.
Mas de nada adiantava; seus músculos ainda estavam muito fracos
desde os último ataques de C’baoth. Tentou mais uma vez assim
mesmo, ignorando a dor que o esforço provocava. Olhou para
Mara...
E viu seu rosto subitamente mudar. Ele franziu a testa; e então
ouviu também. A voz de Leia, falando na sua mente...
Mantenha os olhos fechados, Mara, e escute minha voz. Eu
posso ver; eu vou guiá-la.
– Não – C’baoth tornou a gritar. – Não! Ela é minha.
Luke olhou para a outra ponta da sala do trono, imaginando
como C’baoth atacaria Leia em retaliação. Mas nada aconteceu. As
pedras haviam parado de cair até mesmo na seção da passarela na
qual todos estavam aglomerados. Talvez a longa batalha tivesse
finalmente começado a sugar as forças de C’baoth, e ele não
pudesse mais se arriscar a dividir sua atenção. Além da passarela,
deitado semienterrado na pilha de pedras que agora bloqueava a
porta do turboelevador, Luke avistou o brilho metálico de seu sabre
de luz. Se pudesse chamá-lo para si, e recuperar força suficiente
para se juntar à batalha de Mara...
E então, outro movimento chamou sua atenção. Presos a um
dos lados da passarela, intocados pela chuva de rochas que havia
atacado seu dono, os vornskrs de estimação de Karrde estavam
puxando suas guias.
Fazendo força na direção de Mara. E na direção de C’baoth.
Um vornskr selvagem quase havia matado Mara durante sua
jornada pela floresta de Myrkr. De algum modo, parecia apenas
adequado que aqueles dois ajudassem a salvá-la. O sabre de luz se
mexeu sob o chamado de Luke, acendendo quando sua mente
achou o controle. Ele rolou para fora da ilha de rochas, a lâmina
verde brilhante lançando faíscas das pedras quando quicou por
elas. Luke se esforçou, e arma se ergueu no ar e voou sua direção.
E, quando ela alcançou a passarela arruinada, ele deixou a
lâmina mergulhar para cortar as cordas dos vornskrs.
C’baoth os viu chegando, claro. Com suas costas já quase
encostadas na parede da sala do trono, ele desviou sua mira,
enviando uma rajada de raios na direção dos predadores quando
eles subiam a escada. Um deles uivou e caiu no chão, deslizando
pelas pedras esparramadas; o outro cambaleou mas continuou
avançando.
A distração era toda a abertura de que Mara precisava. Ela
saltou contra as rochas que ainda batiam em sua cara, cobrindo a
distância que faltava entre ela e C’baoth; e quando ele levantou as
mãos desesperadamente na direção dela, ela pulou de joelhos na
frente dele e enfiou viciosamente seu sabre de luz nele. Com um
último grito de lamentação, C’baoth desabou...
E assim como havia acontecido com o imperador a bordo da
Estrela da Morte, a energia do lado sombrio dentro dele irrompeu
numa violenta explosão de fogo azul.
Luke estava pronto. Lançando cada último fragmento de força
no esforço, ele capturou Mara num sólido aperto com a Força,
puxando-a para longe daquela rajada de energia o mais rápido
possível. Ele sentiu a frente de onda de choque bater; sentiu a
pequena redução na tensão quando a força de Leia se juntou ao
seu esforço.
E então, de repente, tudo estava acabado.
Por um longo minuto ele ficou deitado, buscando ar, lutando
contra o inconsciente que ameaçava derrubá-lo. Ele mal sentiu as
rochas serem afastadas ao redor dele.
– Você está bem, Luke? – perguntou Leia.
Ele forçou os olhos a se abrirem. Machucada e coberta de
poeira, ela não parecia muito melhor do que ele.
– Estou bem – disse a ela, empurrando as pedras que faltavam
e se levantando. – E os outros?
– Não estão tão mal – ela disse, pegando seu braço para ajudá-
lo a se firmar. – Mas Han vai precisar de tratamento médico; está
com umas queimaduras feias.
– Mara também – Karrde disse sombrio, subindo os degraus
segurando uma Mara inconsciente em seus braços. – Precisamos
levá-la para a Wild Karrde o mais rápido possível.
– Então os chame – disse Han. Ele estava ajoelhado sobre o
clone morto de Luke, olhando para ele. – Diga para virem nos
apanhar.
– Nos apanhar onde? – Karrde franziu a testa.
Han apontou para o ponto em que C’baoth havia morrido.
– Bem ali.
Luke se virou e olhou. A grande detonação de energia do lado
sombrio havia tornado aquela parte da sala do trono um destroço
só. As paredes e o teto estavam enegrecidos e abertos; o metal do
piso onde C’baoth havia ficado estava retorcido e semifundido; o
trono propriamente dito havia sido arrancado e estava caído,
derretido, a um metro de sua base.
Atrás dele, por uma rachadura na parede de trás, ele podia ver
o brilho de uma única estrela.
– Certo – disse Luke, respirando fundo. – Leia?
– Estou vendo – ela assentiu, entregando a ele seu sabre de luz
e acendendo o dela. – Vamos ao trabalho.

As duas fragatas de ataque rebelde se desviaram para cada um


dos lados da estação Golan II que estava sendo atacada, lançando
golpes maciços aos fazê-lo. Uma parte da estação de combate
flamejou e escureceu; e contra sua silhueta mais uma onda de
caças estelares rebeldes podia ser vista passando além dos
estaleiros.
E Pellaeon não estava mais sorrindo.
– Não entre em pânico, capitão – disse Thrawn. Mas ele
também estava começando a soar amargo. – Ainda não fomos
derrotados. Falta muito para isso acontecer.
O painel de Pellaeon emitiu um ping. Ele olhou para o painel...
– Senhor, temos uma mensagem prioritária chegando de
Wayland – ele disse a Thrawn, seu estômago se contorcendo com
uma premonição súbita e horrível. – Wayland... a estação de
clonagem...
– Leia, capitão – disse Thrawn, com a voz mortalmente baixa.
– A decriptação está chegando agora, senhor – disse Pellaeon,
batucando o painel impacientemente enquanto a mensagem
lentamente começava a subir. Era exatamente o que ele temia. – A
montanha está sob ataque, senhor – ele disse a Thrawn. – Duas
diferentes forças de nativos, além de alguns sabotadores rebeldes –
ele parou, franzindo a testa sem acreditar. – E um grupo noghri...
Não conseguiu ler mais o relatório. Bruscamente uma mão
cinza partiu do nada, o pegando pela garganta.
Ele perdeu o fôlego, desabando mole em sua cadeira, o corpo
inteiro paralisado no mesmo instante.
– Pela traição do Império contra o povo Noghri – a voz de Rukh
disse baixinha ao lado dele enquanto ele buscava respirar. – Nós
fomos traídos. Nós fomos vingados.
Um sussurro de movimento, e ele desapareceu. Ainda lutando
para respirar, lutando contra a inércia de seus músculos atordoados,
Pellaeon se empenhou para erguer uma mão até o painel de
comando. Com um esforço final, ele conseguiu, errando duas vezes
antes de finalmente conseguir acertar o alerta de emergência.
E, quando o uivo do alarme cortou o ruído de um Star Destroier
em combate, ele finalmente conseguiu virar a cabeça.
Thrawn estava sentado ereto em sua cadeira, com o rosto
estranhamente calmo. No meio de seu peito, uma mancha
vermelho-escura se espalhava pelo branco impecável de seu
uniforme de Grão Almirante. Brilhando no centro da mancha estava
a ponta da faca de assassino de Rukh.
Thrawn olhou pra ele; e para a surpresa de Pellaeon, o Grão
Almirante sorriu.
– Mas – ele sussurrou – tudo foi feito de modo tão artístico.
O sorriso desapareceu. O mesmo aconteceu com o brilho no
seu olhar... E Thrawn, o último Grão Almirante, morreu.
– Capitão Pellaeon? – o oficial de comunicação chamou com
urgência quando a equipe médica chegou, tarde demais, à cadeira
do Grão Almirante. – A Nêmesis e a Falcão Guerreiro estão
solicitando ordens; o que devo dizer a eles?
Pellaeon olhou pela escotilha. Para o caos que havia surgido
atrás das defesas dos estaleiros supostamente seguros; para a
necessidade inesperada de dividir suas forças para sua defesa; para
a frota rebelde que tomava total vantagem da estação. Num piscar
de olhos, o universo havia subitamente se voltado contra eles.
Thrawn ainda poderia ter conseguido uma vitória imperial
apesar de tudo. Mas ele, Pellaeon, não era Thrawn.
– Envie um sinal a todas as naves – ele disse, com a voz rouca.
As palavras doíam em sua garganta, de um jeito que nada tinha a
ver com a dor do ataque traiçoeiro de Rukh. – Preparar para
retirada.
O sol havia se posto sob uma fina camada de nuvens a oeste, e as
cores do céu noturno estavam começando a se desvanecer na
escuridão cada vez mais profunda da noite de Coruscant.
Inclinando-se sobre a mureta de pedra na beira do telhado do
palácio, ouvindo a brisa sussurrando em seus ouvidos, Mara olhou
as luzes e os veículos da Cidade Imperial lá embaixo. Mesmo com o
zumbido constante de atividade, havia algo estranhamente pacífico
naquilo tudo.
Ou talvez a paz estivesse dentro dela. Fosse como fosse, até
que aquela era uma boa mudança, para variar.
Vinte metros atrás dela, a porta que dava para o telhado se
abriu. Ela usou a Força, mas já sabia quem devia ser. E estava
certa.
– Mara? – Luke chamou baixinho.
– Estou aqui – ela chamou, fazendo uma cara feia para a
cidade abaixo. Pelos sentidos dele, ela percebeu que ele estava ali
para saber a resposta dela.
Lá se ia a paz interior.
– Uma vista e tanto, não é? – comentou Luke, aparecendo ao
lado dela e olhando para a cidade. – Deve lhe trazer recordações.
Ela lhe deu um olhar paciente.
– Tradução: como estou me sentindo sobre voltar para casa
desta vez? Sabe, Skywalker, cá entre nós, você é bem patético
quando tenta dar indiretas. Se eu fosse você, desistiria disso e
ficaria com a sua honestidade de garoto de fazenda.
– Desculpe – ele disse. – Acho que é o resultado de passar
muito tempo com Han.
– E eu com Karrde, suponho?
– Você quer uma resposta honesta de garoto de fazenda?
Ela lhe deu um sorriso torto.
– Desculpe ter tocado no assunto.
Luke retribuiu o sorriso, e depois voltou a ficar sério.
– Então, como você está se sentindo?
Mara olhou novamente para as luzes.
– Estranha – ela respondeu. – É como voltar para casa... só
que não. Eu nunca fiquei aqui em cima apenas olhando para a
cidade deste jeito. As únicas vezes em que estive aqui no alto foram
para ver um certo airspeeder chegar ou ficar de olho em algum
edifício em particular ou coisas do gênero. Trabalhar para
imperador. Acho que ele nunca viu a Cidade Imperial como gente e
luzes; para ele tudo se resumia a poder e oportunidade.
– Provavelmente era assim que ele via as coisas – concordou
Luke. – E falando em oportunidade...?
Mara fez uma careta. Ela tinha razão; ele estava ali em busca
de sua resposta.
– Essa coisa toda é ridícula – ela disse. – Você sabe disso, e eu
sei.
– Karrde não acha.
– Karrde é um idealista pior do que você às vezes – ela
retrucou. – Em primeiro lugar, ele nunca será capaz de manter essa
coalizão de contrabandistas dele.
– Talvez não – disse Luke. – Mas pense nas possibilidades se
ele puder. Há muitos contatos e fontes de informação lá na periferia
aos quais a Nova República não tem nenhum acesso.
– Então para que você precisa de fontes de informação? –
retrucou Mara. – Thrawn morreu, seu centro de clonagem está em
ruínas, e o Império recuou novamente. Você venceu.
– Nós também vencemos em Endor – Luke ressaltou. – Isso
não impediu que passássemos anos efetuando uma ação de
limpeza. Ainda há muito trabalho a ser feito.
– Ainda não faz sentido nenhum me colocar no meio dele –
argumentou Mara. – Se você quer um elemento de contato entre
você e os contrabandistas, por que não pede a Karrde?
– Porque Karrde é um contrabandista. Você era apenas a
assistente de um.
Ela bufou.
– Grande diferença.
– Para algumas pessoas, é mesmo – disse Luke. – Todo este
processo de negociação está dependendo tanto da aparência e
imagem quanto da realidade. De qualquer maneira, Karrde já disse
que não vai fazer isso. Agora que seus vornskrs se recuperaram, ele
quer voltar ao seu povo.
Mara balançou a cabeça.
– Eu não sou política – ela insistiu. – Nem diplomata.
– Mas você é alguém em quem ambos os lados estão dispostos
a confiar – disse Luke. – Isso é o que importa aqui.
Mara fez uma careta.
– Você não conhece essa gente, Skywalker. Confie em mim;
Chewbacca e os sujeitos que você está enviando para transplantar
os Noghri para o novo mundo vão se divertir muito mais.
Ele tocou a mão dela.
– Você pode fazer isso, Mara. Eu sei que pode.
Ela suspirou.
– Tenho que pensar.
– Tudo bem – ele disse. – Mas desça assim que estiver pronta,
ok?
– Claro. – Ela olhou de esguelha para ele. – Há mais alguma
coisa?
Ele sorriu.
– Você está ficando boa nisso.
– A culpa é sua por ter me ensinado tão bem. Vamos lá, o que
é?
– Apenas isto. – Enfiando a mão dentro da túnica, ele puxou de
dentro um sabre de luz.
– O que é isso? – perguntou Mara, franzindo a testa.
– É meu antigo sabre de luz – Luke disse baixinho a ela. – O
que eu perdi na Cidade das Nuvens, e quase me matou em
Wayland. – Ele o estendeu. – Gostaria que você ficasse com ele.
Ela olhou para ele, espantada.
– Eu? Por quê?
Ele deu de ombros envergonhado.
– Muitos motivos. Porque você está a caminho de se tornar
uma Jedi e vai precisar dele. Mas o motivo principal é porque eu
quero.
Lentamente, quase com relutância, ela pegou a arma.
– Obrigada.
– De nada. – Ele tocou a mão dela mais uma vez. – Vou estar
na sala de conferência com os outros. Desça quando tiver tomado
sua decisão.
Ele se virou e atravessou o telhado do palácio. Mara voltou a
olhar para as luzes da cidade, o metal frio do sabre de luz
pressionando sua mão. O sabre de luz de Luke. Provavelmente um
de seus últimos vínculos com o passado... e ele estava o dando.
Será que havia alguma mensagem nesse gesto?
Provavelmente. Como ela mesma havia dito, sutileza não era um
dos fortes de Luke. Mas se era por isto que ele havia feito o gesto,
era perda de tempo. O último vínculo dela com o passado havia sido
rompido na sala do trono do Monte Tantiss.
Seu passado havia acabado. Estava na hora de viver o futuro.
E a Nova República era esse futuro. Gostasse ela ou não.
Atrás de si, ela ouviu Luke abrir a porta do telhado.
– Espere um minuto – ela gritou para ele. – Vou descer com
você.
STAR WARS / O ÚLTIMO COMANDO – TRILOGIA
THRAWN – LIVRO 3
TÍTULO ORIGINAL:
Star Wars / The last command
COPIDESQUE:
Matheus Perez
REVISÃO:
Pausa Dramática
Isabela Talarico
CAPA, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO:
Desenho Editorial
ILUSTRAÇÃO:
Marc Simonetti
DIREÇÃO EXECUTIVA:
Betty Fromer
DIREÇÃO EDITORIAL:
Adriano Fromer Piazzi
EDITORIAL:
Daniel Lameira
Katharina Cotrim
Mateus Duque Erthal
Bárbara Prince
Júlia Mendonça
Andréa Bergamaschi
COMUNICAÇÃO:
Luciana Fracchetta
Pedro Henrique Barradas
Lucas Ferrer Alves
Renata Assis
COMERCIAL:
Orlando Rafael Prado
Fernando Quinteiro
Lidiana Pessoa
Roberta Saraiva
Ligia Carla de Oliveira
Eduardo Cabelo
Stephanie Antunes
FINANCEIRO:
Rafael Martins
Roberta Martins
Rogério Zanqueta
Sandro Hannes
LOGÍSTICA:
Johnson Tazoe
Sergio Lima
William dos Santos
COPYRIGHT © & TM 1993 LUCASFILM LTD.
COPYRIGHT © EDITORA ALEPH, 2015
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.


PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER
MEIOS.

O ÚLTIMO COMANDO É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS,


LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
EDITORA ALEPH
Rua Henrique Monteiro, 121
05423-020 – São Paulo – SP – Brasil
Tel.: [55 11] 3743-3202
www.editoraaleph.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Vagner Rodolfo CRB-8/9410

Z19u
Zahn, Timothy, 1951-
O último comando / Timothy Zahn ; tradução de Fábio Fernandes. - São Paulo :
Aleph, 2016.
528 p. ; 3,86 MB. - (Trilogia Thrawn ; 3)

Tradução de: Star Wars: The Last Command


ISBN: 978-85-7657-351-7

1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. Fernandes, Fábio. II.


Título.
2016-285 CDD: 813.0876
CDU: 821.111(73)-3

Índice para catálogo sistemático:


1. Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876
2. Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3
Sobre o Autor
Desde 1978, Timothy Zahn escreve aproximadamente setenta
contos e novelas, além de inúmeros romances e de organizar três
coletâneas de ficção. Foi vencedor do Prêmio Hugo de melhor
Romance e tem mais de quatro milhões de livros impressos, além
de ser um dos principais autores do Universo de Star Wars. Timothy
Zahn é mais conhecido por seus romances como Herdeiro do
Império, Força Sombria Ascende, O Último Commando, Spectre of
the Past, Visão do Futuro, Missão de Sobrevivência, Outbound
Flight e Allegiance.

Seus mais recentes livros foram a série de ficção científica são a


Série Cobra e a saga de seis livros juvenis Dragonback. Zahn é
Mestre em física pela Universidade de Illinois e hoje vive com a sua
família na costa do Oregon.
STAR WARS - GUARDIÕES DOS WHILLS
Greg Rucka
240 páginas

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Antes de Rogue One, no mundo do deserto de Jedha, na Cidade


Santa, os amigos Baze e Chirrut costumavam ser Guardiões das
colinas, que cuidavam do Templo de Kyber e dos devotos
peregrinos que adoravam lá. Então o Império veio e assumiu o
planeta. O templo foi destruído e as pessoas espalhadas. Agora,
Baze e Chirrut fazem o que podem para resistir ao Império e
proteger as pessoas de Jedha, mas nunca parece ser suficiente.
Então um homem chamado Saw Gerrera chega, com uma milícia de
seus próprios e grandes planos para derrubar o Império. Parece ser
a maneira perfeita para Baze e Chirrut fazer uma diferença real e
ajudar as pessoas de Jedha a viver melhores vidas. Mas isso vai
custar caro?

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Episódio VIII – Os Últimos Jedi – Movie Storybook
Elizabeth Schaefer
128 páginas

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Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os


Últimos Jedi.

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Chewie e a Garota Corajosa
Lucasfilm Press
24 páginas

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Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca


conhece a jovem Zarro na Orla Exterior, ele não tem escolha a não
ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu
pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na
HQ do Chewbacca… (FAIXA ETÁRIA: 6 a 8 anos)

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Star Wars Ahsoka
E.K. Johnston
371 páginas

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Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma
aventura emocionante sobre uma heroína corajosa das Séries de
TV Clone Wars e Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se
perguntam o que aconteceu com Ahsoka depois que ela deixou a
Ordem Jedi perto do fim das Guerras Clônicas, e antes dela
reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em Rebels.
Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo suas
experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66, Ahsoka não
tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de novo.
Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger
aqueles que precisam disso e levará a Bail Organa e a Aliança
Rebelde….
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Star Wars - Kenobi Exílio
Tradutores dos Whills
79 páginas

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A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos
terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu
tudo… menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que
deram fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan
Kenobi manter a sanidade na missão de proteger aquele que pode
ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre
fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da
galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo
anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No
entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o “Velho
Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na
luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por
causa de um chefe do crime e do povo da areia. Se com o Novo
Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais disponíveis aos
anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro
Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu
com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os Tradutores dos
Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse
trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e
HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!
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Star Wars -Dookan: O Jedi Perdido
Cavan Scott
469 páginas

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Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma
aventura emocionante sobre um Vilão dos Filmes e da Série de TV
Clone Wars: Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro Conde
Dookan no roteiro original da emocionante produção de áudio de
Guerra nas Estrelas! Darth Tyranus. Conde de Serenno. Líder dos
separatistas. Um sabre vermelho, desembainhado no escuro. Mas
quem era ele antes de se tornar a mão direita dos Sith? Quando
Dookan corteja um novo aprendiz, a verdade oculta do passado do
Senhor Sith começa a aparecer. A vida de Dookan começou como
um privilégio – nascido dentro das muralhas pedregosas da
propriedade de sua família, orbitada pela Lua Cemitério, onde os
ossos de seus ancestrais estão enterrados. Mas logo, suas
habilidades Jedi são reconhecidas, e ele é levado de sua casa para
ser treinado nos caminhos da Força pelo lendário Mestre Yoda.
Enquanto ele afia seu poder, Dookan sobe na hierarquia, fazendo
amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando um Padawan, o promissor
Qui-Gon Jinn – e tenta esquecer a vida que ele levou uma vez. Mas
ele se vê atraído por um estranho fascínio pela mestre Jedi Lene
Kostana, e pela missão que ela empreende para a Ordem: encontrar
e estudar relíquias antigas dos Sith, em preparação para o eventual
retorno dos inimigos mais mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso
entre o mundo dos Jedi, as responsabilidades antigas de sua casa
perdida e o poder sedutor das relíquias, Dookan luta para
permanecer na luz – mesmo quando a escuridão começa a cair.
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Star Wars – Discípulo Sombrio
Tradutores dos Whills
319 páginas
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Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma
aventura emocionante sobre um Vilões e Heróis dos Filmes e da
Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de
Star Wars: The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj
Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um caçadora de
recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star
Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos do lado
negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde Sith
Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas.
Apesar dos poderes dos Jedi e das proezas militares de seu
exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando Dookan ordena o massacre de uma flotilha
de refugiados indefesos, o Conselho Jedi sente que não tem
escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde
Dookan. Mas o Dookan sempre evasivo é uma presa perigosa para
o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada
de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar – juntar o
ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a infame acólita Sith Asajj
Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta assassina
que uma vez serviu ao lado de Dookan ainda seja profunda, o ódio
de Ventress por seu antigo mestre é mais profundo. Ela está mais
do que disposta a emprestar seus copiosos talentos como caçadora
de recompensas, e assassina, na busca de Vos.Juntos, Ventress e
Vos são as melhores esperanças para eliminar a Dookan – desde
que os sentimentos emergentes entre eles não comprometam a sua
missão. Mas Ventress está determinada a ter sua vingança e,
finalmente, deixar de lado seu passado sombrio de Sith.
Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a
fúria de seu espírito guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em
todas as frentes, uma promessa que será impiedosamente testada
por seu inimigo mortal… e sua própria dúvida.
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Os Segredos dos Jedi
Tradutores dos Whills
50 páginas
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Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência
de leitura divertida e totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o
melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante,
através de recursos interativos, fatos fascinantes e ideias cativantes.
Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos
especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars:
Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.
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Star Wars – Legado da Força – Traição
Tradutores dos Whills
496 páginas
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Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a
Ordem em um grupo coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas
enquanto a nova era começa, os interesses planetários ameaçam
atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado
com visões de uma escuridão que se aproxima. O mal está
ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o legado dos
Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o dever colidirão
com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e
o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito
explosivo com repercussões potencialmente devastadoras para
ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda a galáxia.Quando
uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta
Aduman termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira
Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo, Ben Skywalker, escapam
por pouco com as suas vidas; é a evidência mais alarmante ainda
que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários
mundos estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança
Galáctica, e os esforços diplomáticos para garantir o cumprimento
estão falhando. Temendo o pior, a Aliança prepara uma
demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer
os mundos renegados para a frente antes que uma revolta entre em
erupção. O alvo designado para esse exercício: o planeta Corellia,
conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito renegado
que fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo como
um trapaceiro, Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com
seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança
Galáctica. Mas quando os corellianos de guerra lançam um contra-
ataque, a demonstração de força da Aliança, e uma missão secreta
para desativar a crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a
uma escaramuça armada. Quando a fumaça baixa, as linhas de
batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em grande escala
aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo
Império.E, enquanto os dois lados lutam para encontrar uma
solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem
ameaçam condenar os esforços de paz a todo momento.
Determinado a erradicar os que estão por trás do caos, Jacen segue
uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro sombrio com as
mais chocantes revelações… enquanto Luke se depara com algo
ainda mais preocupante: visões de sonho de uma figura sombria
cujo poder da Força e crueldade lembram a ele de Darth Vader, um
inimigo letal que ataca como um espírito sombrio em uma missão de
destruição. Um agente do mal que, se as visões de Luke
acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a toda a
galáxia.
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Star Wars – Thrawn – Alianças
Timothy Zahn
Baixe agora e leia
Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais
quando proferidas pelo Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites
das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao Império está se
enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as
suas consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o
suficiente para o líder imperial justificar a investigação de seus
agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth Vader e o
brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor
do Imperador e adversários francos nos assuntos imperiais,
incluindo o projeto Estrela da Morte, o par formidável parece
parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o
Imperador sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn
juntam forças. E há mais por trás de seu comando real do que
qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante
Mitth’raw’nuruodo, oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o
caminho pela primeira vez. Um em uma busca pessoal
desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não
divulgados. Mas, diante de uma série de perigos em um mundo
longínquo, eles forjaram uma aliança desconfortável – nem
remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta
onde lutaram lado a lado. Lá eles serão duplamente desafiados –
por uma prova de sua lealdade ao Império... e um inimigo que
ameaça até seu poder combinado.
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