Polinização de Citrus

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 13

Polinização de Citrus

Adriana Evangelista Rodrigues1

Resumo

A interação entre as abelhas e plantas garantiu aos vegetais o sucesso


na polinização cruzada, que constitui uma importante adaptação
evolutiva das plantas, aumentando o vigor das espécies, possibilitando
novas combinações de fatores hereditários e aumentando a produção
de frutos e sementes. Dessa forma, em muitas culturas agrícolas são
utilizadas abelhas para realizar a polinização e aumentar a produtividade
e a qualidade. Os cítricos (laranjas, tangerinas, limas, limões e
pomelos) são os frutos mais produzidos no mundo. Embora apresentem
autopolinização, diversos estudos comprovaram que há aumento da
produtividade, assim como na qualidade dos frutos (peso e quantidade
de suco), e aumento do número de sementes quando se usa abelhas na
sua polinização. Este trabalho teve por objetivo obter informações sobre
o uso de uma abelha sem ferrão, a uruçu, (Melipona scutellaris) na
polinização de espécies de tangerina (Citrus spp.), em área localizada
em uma propriedade no Município de Matinhas, interior da Paraíba.
Resultados preliminares mostraram que as abelhas visitam as flores de
tangerinas e coletam material. Observações iniciais sobre a atividade
de voo das abelhas indicaram que a maior atividade das mesmas nas
flores de tangerina ocorre pela manhã (por volta de 6h), e em horários
com condições climáticas mais amenas. Somente a continuidade desse
estudo poderá indicar se a uruçu é adequada para a polinização de
tangerinas naquela região.

Palavras-chave: polinização, tangerina, Citrus, uruçu, Melipona


scutellaris.

1
Zootecnista, D.Sc. em Zootecnia, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Areia, PB, [email protected]
98 Polinização de Citrus

Polination of Citrus

Abstract

The interaction between bees and plants garanteed to vegetals the


success in the crossed pollination, that constitued an important
evolutive adaptation for the plants, increasing the vigor of species,
possibilitying new combinations of hereditary factors and increasing the
production of fruts and seeds. In this way, in many crops bees are used
to make pollination and increase the productivity and quality. The citrics
(oranges, tangerines, limes, lemons and grape fruits) are the most
produced fruits in the world. Although they present sel fpollination
several studies proved that there is an increase in the productivity, as
well in the quality of fruits (weigth and amount of juice), and increase
in the number of seeds when bees are used in their pollination. This
work had as objective to obtain information on the use of a stingless
bee, the uruçu (Melipona scutellaris) in the pollination of tangerine
species (Citrus spp.) located at an area in a property in the town of
Matinhas, interior of Paraiba. Preliminary results showed that the bees
visited the flowers of the tangerines and collcted material. Observations
on the bees flight activity indicated that their bigger activity at the
flowers of tangerines occur very early in the morning (around 6 a.m.) ,
and at time with amene climatic conditions.Only the continuity of this
study may say whether the uruçu is adequated for the pollination of
tangerines in that region.
Key words: pollination, tangerine, Citrus, uruçu, Melipona scutellaris.

Introdução

As abelhas são os principais agentes polinizadores dos vegetais e, em


troca, os vegetais produzem substâncias adocicadas que atraem as
abelhas, as quais levam em seus pelos o pólen dessa planta florífera. O
pólen é importante para o desenvolvimento da colmeia, pois é a fonte
principal de proteína das abelhas. Assim, ao garantir o desenvolvimento
da família, as abelhas também perpetuam a espécie vegetal.
A polinização pode ocorrer na própria planta, onde o grão de pólen
é transportado para o estigma da flor ou, ainda, em outras plantas,
Polinização de Citrus 99

com a transferência dos grãos de pólen da antera de uma flor para o


estigma de outra planta através de agentes polinizadores. O sucesso
na polinização cruzada, constitui uma importante adaptação evolutiva
das plantas, aumentando o vigor das espécies, possibilitando novas
combinações de fatores hereditários e aumentando a produção de
frutos e sementes (COUTO; COUTO, 2006). Nesse contexto, não
apenas os componentes dessa interação são beneficiados, mas
também o homem, que ao longo dos anos desenvolveu técnicas que
lhe permitiram tirar proveito do trabalho de polinização das abelhas.
Através da apicultura migratória um grande número de enxames é
transportado para culturas de interesse econômico, onde aumentam
consideravelmente a produção dos frutos.
Embora no Brasil o aluguel de colmeias não seja uma prática
comum, considerando que no clima tropical há um número maior de
polinizadores tais como coleópteros, dípteros e outros, nos últimos
anos têm crescido o interesse dos produtores agrícolas no uso das
abelhas para o aumento da produção (VIEIRA et al., 2002).
De acordo com Picolli (1999), o Estado de Santa Catarina foi o pioneiro
na utilização das colmeias para a polinização dos pomares de macieiras,
de modo racional e profissional, em nosso país. A macieira é uma
planta de total dependência dos insetos e especialmente das abelhas,
para a sua frutificação.
O uso de agentes polinizadores em áreas cultivadas é uma atividade
complexa, uma vez que exige do responsável bons conhecimentos
sobre fisiologia de plantas, requerimentos de polinização da cultura
em questão, biologia e eficiência polinizadora do inseto usado.
Esses conhecimentos por parte de quem se propõe à trabalhar com
polinização são de fundamental importância para o sucesso da atividade
(FREITAS, 1998).
As abelhas, cujo manejo para a polinização é comum em boa parte
do mundo são: as abelhas de mel (Apis mellifera) nas mais diversas
culturas; as mamangavas (especialmente Bombus terrestris) manejadas,
de modo particular, no cultivo de solanáceas e, em especial, em
plantações de tomate; as abelhas carpinteiras (Xylocopa sp.), no
maracujá; diversas espécies do gênero Osmia, em plantações de maçã
e outras frutíferas; e Megachile rotundata na polinização de alfafa
(MALAGODI-BRAGA, 2005).
Os cítricos são os frutos mais produzidos no mundo, incluindo-se as
laranjas (58%), as tangerinas e híbridos (21%), limões e limas (11%) e
100 Polinização de Citrus

grapefruit ou pomelos (4%), entre outros. O Brasil, os Estados Unidos


e a China são os países responsáveis por mais de 46% da produção
mundial de citros e, juntos com México e Espanha, formam os cinco
maiores produtores do mundo (FAO, 2005).
As variedades cítricas comerciais pertencem a diversas espécies da
família Rutaceae e, principalmente, ao gênero Citrus. Desse gênero,
as principais espécies são: laranjas doces, tangerinas, limões, limas
ácidas e pomelos. Outras espécies de menor importância também são
encontradas como a toranja, lima doce, laranja azeda e cidra. Enquanto
para cada grupo cítrico existe uma espécie, para as tangerinas existem
várias variedades de uso comercial, representadas, principalmente por
Satsuma (Citrus unshiu Marc.), Mexerica (Citrus deliciosa Ten.), King
(Citrus nobilis Lour.) e Tangerina comum (Citrus reticulata Blanco).
No Brasil, os cítricos ocupam lugar de destaque dentre as diversas
culturas agrícolas, por causa do seu grande valor de exportação e à sua
importância social, pois gera grande número de empregos e permite
que pequenos proprietários permaneçam no campo vivendo com suas
famílias. Segundo Gravina (1998), o mercado mundial de fruta cítrica
para consumo fresco vem apresentando uma importante evolução
nos últimos anos. Em 2004, a Itália foi o principal país importador de
tangerina, com 48% do total das importações mundiais. Os principais
países exportadores de laranjas e tangerinas in natura são Espanha,
China, e Turquia (AGRIANUAL, 2006). O mercado internacional
exige frutas sem sementes. No Brasil, as pesquisas sempre estiveram
voltadas para a citricultura de indústria, em detrimento da citricultura
de mesa. Entretanto, com a importação de frutos vindos da Espanha
e do Uruguai, onde a característica da apirenia figura entre as mais
importantes, abre-se no país a possibilidade de pesquisas, assim como
a produção e exportação desse tipo de variedade. Isso deverá incentivar
o estudo de novas tangerinas e híbridos, com a finalidade de produzir
frutos de alta qualidade e com poucas sementes.
A produção de sementes nos cítricos está associada à polinização.
As variedades, na maioria, são autopolinizadas, com incrementos de
polinização ocorrendo com a presença de abelhas e, quando sofrem
cruzamentos, pode haver acréscimo na produção de sementes.
Adversidades também podem causar aumento no número de sementes;
um estresse ambiental, como um período de seca prolongado, pode
“alertar” a planta para produzir mais sementes, pois, assim, haverá
maiores chances de sobrevivência da espécie (FULLER, 2001).
Polinização de Citrus 101

A polinização das plantas cítricas pode ser realizada por contato direto
do pólen (parte masculina) com o estigma (parte feminina), o que é
chamado de autopolinização, isto é, sem a interferência de um agente
polinizador, ou, então, o pólen pode ser transportado pelo vento e por
insetos (REUTHER et al., 1968).
O vento é um agente polinizador de mínima importância, uma vez que
o pólen dos citros é viscoso, aderente e bastante pesado. Entretanto,
pode ser transportado por correntes de vento acima de 40-50 km/h,
mas dificilmente alcançaria distâncias maiores que 12-15 metros
(SOLER et al., 1996). As abelhas e outros insetos são atraídos pelo
perfume e abundância de néctar das flores, atuando como os principais
agentes polinizadores. Algumas espécies de trips, marimbondos e
ácaros são encontradas nas flores; entretanto, são inferiores em
número e, possivelmente, em efetividade (FREE, 1979).
As tangerinas e seus híbridos formam o segundo grupo entre os
cítricos em importância comercial. Quanto ao consumo da produção de
tangerinas no mundo, os principais exportadores de fruta fresca são:
Espanha (60%), Marrocos (10%), China (6%) e outros países com
cerca de 1% a 4% do total de cada um
No Brasil, a industrialização de tangerinas decresceu nos últimos anos
e a exportação é pequena, tendo atingido de 6 a 8 mil toneladas,
principalmente de ‘Murcott’. Para o grupo de variedades de tangerinas
comercializadas na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais
de São Paulo (CEAGESP), no total das quatro variedades mais
comercializadas, o período de abril a agosto é o mais importante, com
quantidades superiores a 600 mil caixa/mês. A principal variedade
comercializada em São Paulo é a Ponkan, com aproximadamente 70%
até 90% nos meses de março a agosto. A segunda variedade é a
Murcott, com aproximadamente o dobro da ‘Mexerica’ e da ‘Cravo’
que ocupam a terceira e quarta posição, respectivamente. Para a
‘Ponkan’, os meses de abril a agosto é o período mais importante
de comercialização, com os melhores preços no início (março/abril).
Para a ‘Murcott’, o volume comercializado torna-se crescente a partir
de junho, atingindo o pico em setembro/outubro, já com aumento
do preço médio, por existirem poucas variedades de tangerina sendo
comercializadas. Para a ‘Mexerica’, o período de maior oferta é de
maio a agosto, com melhores preços no período de abril a maio e
em setembro. Para a ‘Cravo’, a maior quantidade comercializada na
CEAGESP é de abril a maio mas, no geral, os preços são mais baixos do
que os das outras variedades (LOPES et al., 2007).
102 Polinização de Citrus

À medida que o incremento de produtividade dos fatores de produção


e a elevação dos índices de qualidade, elementos que definem a
competitividade de cada cultura, são condicionados pelos investimentos
em geração e difusão de tecnologia, não resta dúvida que a pesquisa
científica e tecnológica contribui para o desenvolvimento da citricultura
(AMARO, 1985; SÃO PAULO, 2003).
O cultivo de tangerinas e seus híbridos cresceram, sendo o Brasil o
terceiro maior produtor mundial com 1.263.000 toneladas colhidas
na safra 2003, numa área plantada superior a 50 mil hectares,
sendo São Paulo, com cerca de 59% da produção, o principal estado
produtor (AGRIANUAL, 2004; FAO, 2004). Na Paraíba, o Município
de Matinhas possui 939,5 hectares plantados com a tangerina ‘Dancy’
(Citrus reticulata Blanco) e estima-se que existam, no município,
aproximadamente 1,3 milhões de plantas, que são responsáveis por
90% da produção do estado (LOPES et al., 2006).
Historicamente, os autores afirmam que as flores de Citrus são
visitadas principalmente por himenópteros, coleópteros, dípteros,
lepidópteros e neurópteros, com as abelhas respondendo por 80%
dessas visitas (MCGREGOR, 1976).
Várias experiências relacionadas com polinização de Citrus
comprovaram o aumento da produtividade de pomares com a presença
de abelhas. Wafa e Ibrahim (1960) mostraram um aumento de 31% na
produção de frutos em laranjeiras visitadas pelas abelhas, com 22%
de aumento no peso dos frutos, 33% de aumento na quantidade de
suco (sem mudança alguma em sólidos) e 36% de aumento no número
de sementes. No Brasil, alguns estudos comprovaram a importância
da presença das abelhas para se obter uma maior produção de frutos
(MALERBO, 1991; PASINI, 1989; TREVISAN, 1983). Malerbo e
Nogueira-Couto (2002), em Jaboticabal, SP, observaram um aumento
de 19,4% na produção de frutos com a presença dos agentes
polinizadores. Malerbo et al. (2003) obtiveram aumento de 35,3% na
produção de frutos com a presença das abelhas.
Os meliponíneos formam um grupo, cujos indivíduos possuem uma
dependência maior das características climáticas e florísticas de suas
respectivas regiões de origem. A favor dessa hipótese está o fato
de que, das mais de 300 espécies de meliponíneos conhecidas, pelo
menos 100 estão em perigo de extinção por causa da destruição de
seus habitats pelo homem (KERR, 1996). A manutenção da diversidade
biológica em ecossistemas agrícolas não é uma tarefa muito fácil, mas
necessária para a sustentação de culturas agrícolas que dependem
Polinização de Citrus 103

de polinizadores. Em área de Caatinga com culturas introduzidas,


foi observado que a abelha M. scutellaris visitou a jaquemontia azul
(Jaquemontia tammifolia), cambará (Wulffia stenoglossa), unha-de-gato
(Mimosa tenuiflora) e laranjeira (Citrus sp.) (EVANGELISTA-RODRIGUES
et al., 2004).
A abelha uruçu (Melipona scutellaris) é encontrada principalmente no
Nordeste (SOUZA; BAZLEN, 1998), se caracterizando por produzir
mel de ótima qualidade, , sua higiene e facilidade de domesticação,
dentre outras características que a beneficiam e a destacam das demais
melíponas (SOUZA et al., 1998).
Na citricultura, as pesquisas abrangem estudos de clima, solo, genética,
botânica, sanidade de plantas, propagação de material, porta-enxertos,
diversos manejos de fitotecnia (água, espaçamentos), nutrição, pragas,
doenças, fisiologia, economia e administração (AMARO, 1996). A
finalidade principal das pesquisas sempre foi a de proporcionar aos
citricultores conhecimentos que lhes permitissem obter nos pomares
as melhores produções econômicas tanto em quantidade quanto
em qualidade dos frutos. No entanto, a falta de conscientização,
principalmente dos pequenos produtores, restringe a adoção de
novas técnicas, por exemplo, o uso da polinização, por praticarem a
agricultura tradicional. Nesse cenário, torna-se importante um estudo
que demonstre o aumento da qualidade e quantidade dos frutos com
o emprego da polinização agregando valor à produção de Citrus. Hoje,
o mercado consumidor mais exigente tem demonstrado interesse em
produtos com menores taxas de agrotóxicos e insumos agrícolas,
inclusive utilizando-se da compra de produtos orgânicos.

Desenvolvimento das pesquisas com Citrus


Mesmo tendo destaque na produção estadual, o Município de Matinhas,
PB apresenta uma média de produtividade abaixo da nacional. Estima-se
que por meio de agentes polinizadores poder-se-á ter uma produção de
frutos bem formados com melhor qualidade e em maior quantidade por
hectare aumentando o potencial da citricultura da região. O Município de
Matinhas está localizado na Mesorregião do Agreste e Microrregião do
Brejo Paraibano, a 147 km de João Pessoa e 24 km de Campina Grande.
Geograficamente, apresenta uma área de 38,123 km², altitude média de
300 m e uma população de 4.314 habitantes, sendo 80% na zona rural
e 20% na zona urbana (IBGE, 2004). Seu índice de desenvolvimento
humano (IDH) é de 0.576, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano
(PNUD, 2000).
104 Polinização de Citrus

O Município de Matinhas está inserido na unidade geoambiental do


Planalto da Borborema, com relevo movimentado, com vales profundos
e estreitos dissecados. A vegetação dessa unidade é formada por
Florestas Subcaducifólica e Caducifólica, próprias das áreas agrestes. O
clima é do tipo tropical chuvoso, com verão seco. A estação chuvosa
se inicia em janeiro/fevereiro com término em setembro, podendo se
estender até outubro.
A citricultura do Município de Matinhas ocupa uma área de
1.122 hectares (IBGE, 2004), distribuídos entre 421 produtores,
apresentando-se como tipicamente de minifúndio familiar, dos quais
83% possuem até três membros da família envolvidos com a cultura e
68% dos citricultores estão na atividade há mais de 10 anos (LOPES
et al., 2007). Com uma produção de 7,2 mil toneladas de tangerina
em 2003, Matinhas ajudou a colocar a Paraíba na posição de maior
produtor nordestino (12.631 toneladas) e sétima posição no ranking
nacional (IBGE, 2004).
Considerando que o Município de Matinhas é o maior produtor de
tangerina e laranja cravo do Estado da Paraíba, é fundamental incentivar
a produção de modo sustentável. Nesse contexto, o conhecimento
dos visitantes florais dessa cultura e o manejo agroecológico dos
polinizadores da cultura de Citrus possibilitarão o incremento produtivo,
contribuindo para a conservação dos insetos visitantes, especialmente
as abelhas.
Este estudo que o Núcleo de Pesquisa em Abelhas da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) vem desenvolvendo tem como objetivo a
caracterização dos polinizadores das espécies de tangerina (Citrus
spp.) para o desenvolvimento sustentável da mesorregião do Agreste
Paraibano. Para se alcançar este objetivo, o grupo se propõe a:
a) determinar e caracterizar as espécies de abelhas visitantes nos
Citrus do Agreste Paraibano; b) avaliar a qualidade do mel e do pólen
produzidos por Citrus na região; c) fazer a adaptação de metodologias
para o manejo de polinizadores nos Citrus na mesorregião do Agreste
e d) implantar o manejo sustentável de polinizadores em Citrus,
preservando a diversidade de espécies de abelhas.
Todas as atividades estão sendo desenvolvidas por discentes e
docentes do Núcelo de Pesquisa em Apicultura e Meliponicultura
(NUPAM) da UFPB, da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da
Paraíba (EMEPA) de Lagoa Seca.
Após um trabalho de levantamento das melhores propriedades para
a implantação das pesquisas, selecionou-se o Sítio Geraldo de Baixo,
Polinização de Citrus 105

o qual possui 90% de sua área agricultável coberta por um pomar de


tangerina ‘Dancy’ (Citrus reticulata Blanco) composto de plantas de
idades e tamanhos variados, possuindo uma localização estratégica
por estar longe do centro urbano, e cercado por outras propriedades
também produtoras de Citrus.
Em seguida iniciou-se a atividade de revisão nas cinco colmeias de
Melipona scutellaris (uruçu) na Estação Experimental da EMEPA,
considerando-se parâmetros de qualidade da colônia, como tamanho da
família e capacidade de crescimento. Esses parâmetros caracterizam as
colônias como aptas ao forrageamento satisfatório, sendo importante
para a avaliação da capacidade ou não de polinização do pomar de
tangerina. Para o início do experimento, na noite do dia 10 de fevereiro
de 2010, período no qual as tangerinas estavam no início da floração,
as colmeias foram transportadas da Estação Experimental da EMEPA
- Lagoa Seca de forma adequada para o Sítio Geraldo de Baixo –
Matinhas. Inicialmente, as colmeias foram pesadas, em seguida, três
colmeias foram suspensas e presas no alpendre da sede, protegidas
do sol e da chuva e não possuindo nenhuma fonte luminosa próxima
ao local. As outras duas foram acomodadas da mesma forma em outra
residência da mesma propriedade, afastada 200 m da sede.
As primeiras observações revelaram que as abelhas estavam visitando
e coletando material das flores de alguns pés de tangerina. Nas
observações seguintes, que foram iniciadas às 4h estendendo-se
até as 18h, registrou-se a saída das abelhas por volta das 4h50min
terminando por volta das 17h. Durante as observações realizadas nos
primeiros 10 minutos de cada hora, pôde-se perceber que as abelhas
preferem os horários de clima mais ameno para as suas coletas.
Registrou-se, ainda como dados preliminares, as pesagens realizadas
nas colmeias antes da instalação do experimento, pois será através
desses dados que se determinará o desenvolvimento das colônias em
contato com a florada da tangerina.
Os resultados da atividade de voo das abelhas são mostrados na Figura
1. As causas prováveis da variação da frequência diária de visitação
podem estar relacionadas à temperatura atmosférica e à umidade
relativa do ar.
106 Polinização de Citrus

Pôde-se observar que no primeiro dia de observação (12 de


fevereiro) a frequência foi mais regular do que nos outros dias. Esse
comportamento pode ser atribuído ao fato do dia estar com uma
temperatura bem elevada e com baixa umidade do ar.Também pôde-
se observar que a partir das 16h não se encontrava mais abelhas no
campo.
Comparando-se os dias 16 e 17 de fevereiro, notou-se que no dia 16 às
5h, as abelhas já estavam realizando coleta em campo, porém, no dia
17, provavelmente por causa da queda de temperatura, com a presença
de neblina, notou-se poucas abelhas no campo e muitas somente no
entorno da colmeia, sem realizar coleta de material. No final da tarde
do dia 16 não se encontrava abelhas no campo, provavelmente por
causa da grande umidade relativa do ar e às chuvas localizadas. Esse
mesmo comportamento foi observado ao longo do dia 17. Os demais
dados ainda não foram computados e analisados, portanto, foram
apresentadas aqui apenas observações parciais.

25

20

15
12/fev
10 16/fev

17/fev
5

0
18h
17h
15h
14h

16h
11h

13h
12h
9h
10h
8h
5h
6h
7h
4h

Figura 1. Frequências diárias de Melipona scutellaris nas plantas


de tangerina (Citrus sp.) no Município de Matinhas, PB.
Polinização de Citrus 107

Considerações Finais

Os estudos de polinização com Citrus são de fundamental importância,


assim como para outras culturas de expressão econômica. Aliado
a isso, está a importância do estudo da polinização no plantio da
tangerina no Município de Matinhas, no Estado da Paraíba, uma vez
que essa atividade está diretamente relacionada à fixação do homem
ao meio rural da região. Se, por meio de pesquisas, houver condições
de aumento de produção, em termos de qualidade e quantidade, e for
mantida a criação de abelhas nativas de forma sustentável, e inclusive
criando-se alternativas de renda e inserção econômica e social dessas
famílias, considera-se que a Universidade terá cumprido o seu papel
social, correlacionando ensino, pesquisa e extensão.

Referências
AGRIANUAL 2004: Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria e
Agroinformativos, 2004.

AMARO, A. A. Interrelação produtividade: custo de citros. In: SIMPÓSIO SOBRE


PRODUTIVIDADE DE CITROS, 1., 1985, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: UNESP, 1985.
p. 99-113.

AMARO, A. A. Situação e perspectivas da citricultura. Informações Econômicas, São


Paulo, v. 26, n. 10, p. 23-26, out. 1996.

COUTO, R. H. N.; COUTO, L. A. Apicultura: manejo e produtos. 3. ed. Jaboticabal:


FUNEP, 2006. 193 p.

EVANGELISTA-RODRIGUES, A.; DANTAS, H. K. de M.; FERRAZ, M. A. Diagnóstico da


arquitetura do ninho de Melípona scutellaris L. Mensagem Doce, São Paulo, n. 78, p. 24-
28, 2004.

FAO. Conservation and management of pollinators for sustainable agriculture - the


international response. In: FREITAS, B. M.; PEREIRA, J. O. P. (Ed.). Solitary bees:
conservation, rearing and management for pollination. Fortaleza: Imprensa Universitária.
2004. p.19-25.

FAO. FAOSTAT Statistical databases. Disponível em: <http://apps.fao.org>. Acesso


em: 26 jun. 2005.

FREE, J. B. Insect pollination of crops. New York: Academic Press, 1979. 522 p
108 Polinização de Citrus

FREITAS, B. M. Uso de programas racionais de polinização em áreas agrícolas.


Mensagem Doce, São Paulo, n. 46, maio, 1998. Disponível em: <http://www.apacame.
org.br/mensagemdoce/46/ artigo2.htm>. Acesso em: 12 ago. 2010.

FULLER, K. Active lifestyles: plant Q&A. 2001. Disponível em: <http://www.


staugustine.com>. Acesso em: 12 jul. 2010.

GRAVINA, A. Produção de citros para exportação no Uruguai. In: SEMINÁRIO


INTERNACIONAL DE CITRUS: TRATOS CULTURAIS, 5., 1998, Bebedouro, SP. Anais...
Bebedouro: Fundação Cargill, 1998. p. 273-288.

IBGE. Estimativa da população. 2004. Disponível em: <http/www.ibge.gov.br/cidades>.


Acesso em: 20 jul. 2010.

KERR, W. E.; CARVALHO, G. A.; NASCIMENTO, V. A. (Org.) Abelha Uruçu: biologia,


manejo e conservação. Belo Horizonte: Fundação Acangaú, 1996. 144 p.

LOPES, E. B.; ALBUQUERQUE, I. C. de; MOURA, F. T. de. Diagnóstico da citricultura de


Matinhas, PB. João Pessoa: EMEPA, 2006. 31 p. il. (EMEPA. Documentos, 52).

LOPES, E. B.; ALBUQUERQUE, I. C.; MOURA, F. T. Perfil da citricultura de Matinhas –


PB, visando ao mercado nacional. Tecnologia & Ciência Agropecuária, João Pessoa, v.1,
n.1, p.1-7, set .2007.

McGREGOR, S. E. Insect pollination of cultivated crop plants. Washington, DC: USDA,


1976. 411 p. (USDA. Agriculture Handbook, 496).

MALAGODI-BRAGA , K. S. Abelhas: por quê manejá-las para a polinização? Mensagem


Doce, São Paulo, n. 80, mar. 2005. Disponível em: <http://www.apacame.org.br/
mensagemdoce/80/abelhas2. htm>. Acesso em: 20 nov. 2006.

MALERBO, D. T. S. Polinização entomófila em 3 variedades de laranja (Citrus sinensis L.


Osbeck). 1991. 66 f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

MALERBO, D. T. S.; NOGUEIRA-COUTO, R. H. Polinização entomófila em 3 variedades


de laranja (Citrus sinensis L. Osbeck). Científica, São Paulo, v. 30, n. 1/2, p. 79-87,
2002.

MALERBO, D. T. S. NOGUEIRA-COUTO, R. H.; COUTO, L. A. Polinização em cultura de


laranja (Citrus sinensis L. Osbeck, var. Pera-rio). Brazilian Journal of Veterinary Research
and Animal Science, São Paulo, v. 40, n. 4, p. 237-242, 2003.

PASINI, F. M. Influência da polinização entomófila sobre a produção e as características


dos frutos da laranjeira cultivar Piralima (Citrus sinensis L. Osbeck). 1989. 68 f.
Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, Universidade
de São Paulo , Piracicaba, 1989.

PICOLLI P. O. Polinização de macieiras em Santa Catarina. Mensagem Doce, São Paulo,


n. 52, jul. 1999.Disponível em: <http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/52/
polinizacao.htm>. Acesso em: 20 nov. 2006.

PNUD. Atlas do desenvolvimento humano. 2004. Disponível em: <http/www.pnud.org.


br/atlas>. Acesso em: 12 jul. 2010.
Polinização de Citrus 109

REUTHER, W.; BATCHELOR, L.; WEBBER, H. The citrus industry. Berkeley: University of
California, 1968. v. 2, 398 p.

SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Agência Paulista de Tecnologia


dos Agronegócios. Ações da pesquisa tecnológica dos agronegócios. São Paulo, 2003.
171 p. (APTA. Ação Apta, 10).

SOLER, J.; VILLALBA, D.; CANALLES, J. M.; BELLVER, R.; SALA, J. Formación de
semillas: polinización cruzada. Comunitat Valenciana Agraria, Valência, n. 4, p. 39-43,
1996.

SOUZA, B. de A.; CARVALHO, C. A. L. de; SODRÉ, G. da S.; MARCHINI, L. C.


Características físico-químicas de amostras de méis de abelha. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE APICULTURA, 12., 1998, Salvador. Anais... Salvador: CBA: FAABA,
1998. p.201.

SOUZA, D. C.; BAZLEN, K. Análises preliminares de características físico-químicos de


méis de Tiúba (Melipona compressipes). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA,
12., 1998, Salvador. Anais... Salvador: CBA: FAABA, 1998. p. 267-268.

TREVISAN, M. Importância das abelhas Apis mellifera na polinização de Citrus sinensis.


In: SEMANA CITRICULTURA, 5., 1983. Cordeirópolis. Anais... Cordeirópolis: EEL: IAC,
1983. p. 269-279.

VIEIRA R. E.; KOTAKA C. S.; MITSUI M. H.; TANIGUCHI A. P.; TOLEDO V. de A. A.


de; RUVOLO-TAKASUSUKI M. C. C.; TERADA Y.; SOFIA S. H.; COSTA F. M. Biologia
floral e polinização por abelhas em siratro (Macroptilium atropurpureum Urb.). Acta
Scientiarum, Maringá, v. 24, n. 4, p. 857-861, 2002.

WAFA, A. K.; IBRAHIM, S. H. Effect of the honeybees as a pollinating agent on the yield
of orange. Elfelaha, Cairo, p. 18, 1960.

Você também pode gostar