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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

CAMPUS DE ARARAQUARA

Atenção Farmacêutica em pacientes


hipertensos: um estudo piloto

Carolina Luiza Modé

Araraquara – SP

2011
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

CAMPUS DE ARARAQUARA

Atenção Farmacêutica em pacientes


hipertensos: um estudo piloto

Carolina Luiza Modé

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Farmácia – Bioquímica da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas de Araraquara
da Universidade Estadual Paulista para
obtenção do grau de Farmacêutico-
Bioquímico.

Orientadora: Prof. Dra. Adélia Emilia de Almeida

Co-orientador: Prof. Dr. Jean Leandro dos Santos

Araraquara – SP

2011
Dedicatória

Aos meus pais, Cyro e Lilia, pelo amor incondicional e por


me mostrarem, a cada dia, a verdadeira dedicação à
profissão farmacêutica.

“Mais do que máquinas,


precisamos de
humanidade; mais do que
inteligência, precisamos de
afeição e doçura.”
Charles Chaplin
SUMÁRIO
RESUMO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1.INTRODUÇÃO................................................................................................11
1.1.HIPERTENSÃO...........................................................................................11
1.2.ATENÇÃO FARMACÊUTICA......................................................................16
1.2.1.CONCEITOS.............................................................................................16
1.2.2.ESTUDO RETROSPECTIVO...................................................................19
1.3.JUSTIFICATIVA...........................................................................................21
2.OBJETIVOS...................................................................................................23
2.1.GERAL.........................................................................................................24
2.2.ESPECÍFICOS.............................................................................................24
3.MATERIAIS E MÉTODOS..............................................................................25
4.RESULTADOS...............................................................................................29
5.DISCUSSÃO...................................................................................................39
6.CONCLUSÃO.................................................................................................44
7.REFERÊNCIAS..............................................................................................45

ANEXOS
ANEXO 1: Formúlario de História Farmacoterapêutica do Paciente.................53
ANEXO 2: Formulário de Estado de Situação do Paciente...............................55
ANEXO 3: Formulário de Intervenção Farmacêutica.........................................56
ANEXO 4: Parecer n.26/2011 - Comitê Ética em Pesquisa..............................57
ANEXO 5: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................58
ANEXO 6: Tabela de horário de medicamentos................................................60
ANEXO 7: Tabela para registro de aferição de pressão arterial........................61
RESUMO

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) tem alta prevalência e baixas

taxas de controle, é considerada um dos principais fatores de risco modificáveis

e um dos mais importantes problemas de saúde pública. A adesão ao

tratamento, assim como o uso correto dos medicamentos, são fatores

preponderantes para o sucesso terapêutico.

A atenção farmacêutica pode ser definida como interação direta do

farmacêutico com o paciente, visando a uma farmacoterapia racional e à

obtenção de resultados mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de

vida.

O presente estudo teve como objetivo implantar um projeto piloto de

Atenção Farmacêutica em 20 pacientes hipertensos, em farmácia privada do

município de Matão/SP. Para a realização do estudo piloto foi utilizada a

metodologia Dáder para o seguimento farmacoterapêutico adaptada aos

pacientes hipertensos selecionados.

Os pacientes foram divididos em grupo controle e grupo intervenção. Os

pacientes do grupo controle tiveram a pressão arterial (PA) aferida em dois

momentos: no início do estudo e ao final. Por outro lado, os pacientes do grupo

intervenção foram submetidos à aferição de PA em média 3 vezes por semana

e receberam acompanhamento farmacoterapêutico.


Do total de pacientes, 70% (14) apresentaram algum tipo de Problema

Relacionado a Medicamento (PRM), sendo o PRM 1 , o qual está relacionado a

não adesão à terapia, o mais encontrado.

Foram realizadas intervenções farmacêuticas, sendo a grande maioria

(73,7%) educativa. Notou-se que os pacientes passaram a ter maior adesão à

terapêutica após conhecerem melhor suas enfermidades e seus

medicamentos.

Além disso, dentre os 20 pacientes que participaram do estudo piloto,

45% apresentaram PA descontrolada (≥ 140x90 mmHg) na primeira entrevista.

Após as intervenções farmacêuticas este número foi reduzido para 20% com

PA não controlada, podendo-se concluir que as intervenções farmacêuticas,

realizadas através do serviço de Atenção Farmacêutica, foram efetivas no

sentido de otimizar os resultados terapêuticos assim como obter melhoria na

qualidade de vida dos pacientes.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 A: Faixa Etária do Grupo Controle...................................29


Figura 1 B: Faixa Etária do Grupo Intervenção..............................29
Figura 2 A: Frequência de PRM`s encontrados no grupo controle
.........................................................................................................33
Figura 2 B: Frequência de PRM`s encontrados no grupo
intervenção......................................................................................33
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Relação entre o número de pessoas e número de


medicamentos utilizados.................................................................31
Gráfico 2: Evolução da Pressão Arterial (mmHg) do grupo controle
.........................................................................................................37
Gráfico 3: Evolução da Pressão Arterial (mmHg) do grupo
intervenção......................................................................................38
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Grupos de medicamentos anti-hipertensivos...............14


Quadro 2 – Classificação de PRM do Segundo Consenso de
Granada...........................................................................................27
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Classificação da pressão arterial de acordo com a medida


casual no consultório (>18 anos).....................................................13
Tabela 2: Distribuição da freqüência dos problemas de saúde
encontrados na população em estudo.............................................30
Tabela 3: Frequência dos anti-hipertensivos utilizados na população
em estudo........................................................................................32
Tabela 4: PRM`S encontrados na população em estudo...............34
Tabela 5: Intervenções farmacêuticas realizadas na população em
estudo..............................................................................................36
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária


AVE: Acidente Vascular Encefálico
CEP: Comitê de Ética em Pesquisa
CNS: Conselho Nacional de Saúde
DC: Débito Cardíaco
DCV: Doenças Cardiovasculares
DIC: Doença Isquêmica do Coração
DS: Débito Sistólico
FC: Frequência Cardíaca
FCF: Faculdade de Ciências Farmacêuticas
HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica
IECA: Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina
OMS: Organização Mundial de Saúde
PA: Pressão Arterial
PRM: Problema Relacionado a Medicamento
PSF: Programa Saúde da Família
RDC: Resolução da Diretoria Colegiada
RVP: Resistência Vascular Periférica
SUS: Sistema Único de Saúde
UBS: Unidade Básica de Saúde
11

1. Introdução

1.1) Hipertensão

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), através da publicação das

“VI Diretrizes de Hipertensão”, 2010, define a hipertensão arterial sistêmica

(HAS) como:

“condição clínica multifatorial caracterizada por níveis

elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se

freqüentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos

órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a

alterações metabólicas, com conseqüente aumento do risco

de eventos cardiovasculares fatais e não-fatais”.

(SBC/SBH/SBN, 2010).

A HAS tem alta prevalência e baixas taxas de controle, é considerada

um dos principais fatores de risco modificáveis e um dos mais importantes

problemas de saúde pública. Em 2001, cerca de 7,6 milhões de mortes no

mundo foram atribuídas à elevação da PA (54% por acidente vascular

encefálico – AVE e 47% por doença isquêmica do coração – DIC), sendo a

maioria em países de baixo e médio desenvolvimento econômico e mais da

metade em indivíduos entre 45 e 69 anos (WILLIAMS, 2010). Em nosso país,

as doenças cardiovasculares (DCV) têm sido a principal causa de morte. Em

2007, ocorreram 308.466 óbitos por doenças do aparelho circulatório (MALTA

et al., 2009). As DCV são ainda responsáveis por alta freqüência de


12

internações, ocasionando custos médicos e socioeconômicos elevados. Como

exemplo, em 2007 foram registradas 1.157.509 internações por DCV no SUS.

Inquéritos populacionais em cidades brasileiras nos últimos 20 anos

apontaram uma prevalência de HAS acima de 30%. Considerando-se valores

de PA ≥ 140/90 mmHg, 22 estudos encontraram prevalências entre 22,3% e

43,9%, (média de 32,5%), com mais de 50% entre 60 e 69 anos e 75% acima

de 70 anos.

Entre os gêneros, a prevalência foi de 35,8% nos homens e de 30% em

mulheres, semelhante à de outros países (SBC/SBH/SBN, 2010).

Vários fatores de risco para a HAS são conhecidos, entre eles: a idade

avançada, o nível socioeconômico mais baixo, o excesso na ingestão de sal, a

obesidade, o consumo elevado de bebidas alcoólicas e o estresse. Esses

fatores apresentam uma relação direta com o aumento da pressão arterial

(AACE, 2006; APPEL et al., 2006; SBC, 2006; SESSO et al., 2008).

Na maioria dos pacientes, a PA apresenta uma variação circadiana,

estimando-se que esta diminui ao redor de 10-20% durante as horas de sono, e

se eleva bruscamente ao despertar (MACHUCA; PARRAS, 2011).

Em termos de cálculo, a PA é produto do débito cardíaco (DC) e da

resistência vascular periférica (RVP), sendo influenciada pelo volume de

sangue arterial e pela complacência arterial. O DC, por sua vez, depende do

volume de sangue ejetado pelo coração por minuto, denominado de Débito

Sistólico (DS) e da frequência cardíaca (FC) (CRF-SP/OMS, 2010).


13

Na Tabela 1, são apresentados os valores de PA e a classificação

segundo o nível de gravidade, baseada na aferição casual da PA

(SBC/SBH/SBN, 2006).

Tabela 1 – Classificação da pressão arterial de acordo com a medida


casual no consultório ( >18 anos)

Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão distólica (mmHg)


Ótima < 120 < 80
Normal <130 < 85
Limítrofe 130 - 139 85 - 89
Hipertensão estágio 1 140 - 159 90 - 99
Hipertensão estágio 2 160 - 179 100 - 109
Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110
Hipertensão sistólica isolada ≥ 140 < 90
Fonte: V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (SBC/SBH/SBN, 2006).

A decisão terapêutica deve ser baseada no risco cardiovascular

considerando-se a presença de fatores de risco, lesão em órgão-alvo e/ou

doença cardiovascular estabelecida, e não apenas no nível da PA

(SBC/SBH/SBN, 2010).

Basicamente, a abordagem terapêutica para a HAS pode ser subdividida

em duas estratégias principais:

x Tratamento não medicamentoso: baseado em modificações do estilo

de vida, tais como a redução de ingestão calórica, incentivo às

atividades físicas, abandono do tabagismo e redução do consumo de

bebidas alcoólicas.

x Tratamento medicamentoso: Os medicamentos utilizados para o

tratamento da HAS podem ser divididos em vários grupos


14

farmacológicos, de acordo com o seu mecanismo de ação anti-

hipertensiva, conforme apontado no Quadro 1.

Quadro 1 – Grupos de medicamentos anti-hipertensivos


Diuréticos

x Tiazídicos
clortalidona, hidroclorotiazida, indapamida,
metazolaminda
x De Alça
ácido etacrínico, bumetanida, furosemida, torsemida.
x Poupadores de Potássio
amilorida, espironolactona, triantereno.

Bloqueadores do Sistema Renina-Angiotensina-


Aldosterona (SRAA)

x Inibidores da Enzima Conversora de


Angiotensina (IECA)
captopril, enalapril, fosinopril, lisinopril, moexipril,
perindopril, ramiprim, trandolapril
x Antagonistas do Receptor AT1 da Angiotensina II
(ARA-II)
candesartana, eprosartana, irbesartana, losartana,
olmesartana, telmisartana, valsartana

Bloqueadores dos Canais de Cálcio (BCC)

nifedipino de ação lenta, anlodipino, felodipino,


isradipino, nitrendipino, verapamil, diltiazem
15

Antagonistas adrenérgicos

x Betabloqueadores
acetobutolol, atenolol, bisoprolol, carteolol, metoprolol,
nadolol, pembutolol, pindolol, propranolol, timolol
x Bloqueadores alfa-adrenérgicos
prazosina, terazosina, doxazosina, reserpina, labetalol,
carvedilol
x Bloqueadores de ação central
metildopa, clonidina, guanabenzo

Vasodilatadores diretos

hidralazina, minoxidil, diazóxido, nitroprussiato

Fonte: CRF-SP/OPAS, Brasil, 2010.

A adesão ao tratamento é um dos fatores preponderantes para o

sucesso terapêutico. Vários são os determinantes para a não-adesão ao

tratamento. Os percentuais de controle de pressão arterial são muito baixos,

apesar das evidências de que o tratamento antihipertensivo é eficaz em

diminuir a morbidade e mortalidade cardiovascular, devido à baixa adesão ao

tratamento. Estudos isolados apontam controle de 20% a 40%. A taxa de

abandono, grau mais elevado de falta de adesão, é crescente conforme o

tempo decorrido após o início da terapêutica (SBC/SBH/SBN, 2010).

Como profissional especializado em medicamentos, o farmacêutico tem

um importante papel a cumprir na melhoria da adesão ao tratamento,

realizando intervenções farmacêuticas que envolvam o principal interessado,

ou seja, o paciente (CRF-SP/OPAS, 2010).

Junto ao paciente hipertenso, o farmacêutico deve atuar como consultor

e conselheiro, conscientizando-o da importância do controle da PA e das

possíveis complicações da HAS não tratada e ajudando-o a cumprir o


16

tratamento indicado pelo médico, intervindo positivamente sobre as causas de

não adesão (CRF-SP/OPAS, 2010).

1.2) Atenção Farmacêutica


1.2.1) Conceitos

A Atenção Farmacêutica, segundo Machuca et al., 2003, é uma prática

que tem como principal finalidade melhorar a qualidade de vida do paciente

que faz uso de medicamentos. A Atenção Farmacêutica engloba todas as

atividades assistenciais do farmacêutico orientadas ao usuário de

medicamento, entre elas, o acompanhamento farmacoterapêutico. Na equipe

multiprofissional de saúde, o farmacêutico é o profissional mais habilitado para

realizar o acompanhamento farmacoterapêutico, devido à sua formação

específica em medicamentos e motivação para que seu trabalho assistencial

seja reconhecido (MACHUCA et al., 2003). Ao prestar Atenção Farmacêutica o

profissional se responsabiliza por garantir que o paciente possa cumprir os

esquemas farmacoterapêuticos e seguir o plano assistencial, de forma a

alcançar resultados positivos (LEE; RAY, 1993).

Nas publicações de Ciências Farmacêuticas, a primeira definição de

atenção farmacêutica apareceu em 1980 em um artigo publicado por Brodie et

al.:

“(...) em um sistema de saúde, o componente medicamento é

estruturado para fornecer um padrão aceitável de atenção

farmacêutica para pacientes ambulatoriais e internados. Atenção

farmacêutica inclui a definição das necessidades

farmacoterápicas do indivíduo e o fornecimento não apenas dos


17

medicamentos necessários, mas também os serviços para

garantir uma terapia segura e efetiva. Incluindo mecanismos de

controle que facilitem a continuidade da assistência” (BRODIE et

al., 1980).

O conceito clássico de atenção farmacêutica “a provisão responsável da

farmacoterapia com o objetivo de alcançar resultados definidos que melhorem

a qualidade de vida dos pacientes” foi publicado por Hepler & Strand em 1990.

Esta definição engloba a visão filosófica de Strand sobre a prática farmacêutica

e o pensamento de Hepler sobre a responsabilidade do farmacêutico no

cuidado ao paciente.

Em Tóquio, 1993, a OMS define atenção farmacêutica como:

“um conceito de prática profissional na qual o paciente é o

principal beneficiário das ações do farmacêutico. A atenção

farmacêutica é o compêndio das atitudes, os comportamentos, os

compromissos, as inquietudes, os valores éticos, as funções, os

conhecimentos, as responsabilidades e as habilidades do

farmacêutico na prestação da farmacoterapia com o objetivo de

obter resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade

de vida do paciente” (OMS, 1993).

O profissional que atua em atenção farmacêutica assume a

responsabilidade pelos resultados da terapia medicamentosa e pela qualidade


18

de vida do paciente. O medicamento produto é um componente importante e

necessário para a atenção farmacêutica. Mas neste novo modelo o processo é

o agente principal, o produto tem uma função secundária (HOLLAND; NIMMO,

1999).

No Brasil, através de referenciais internacionais, análise do contexto

sanitário e buscando a promoção da prática da Atenção Farmacêutica de forma

articulada com a Assistência Farmacêutica, no marco da Política Nacional de

Medicamentos, é definido, pelo Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica,

que:

“Atenção farmacêutica é modelo de prática farmacêutica,

desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica.

Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos,

habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção

de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma

integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico

com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção

de resultados definidos e mensuráveis voltados para a melhoria

da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as

concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas

especificidades bio-psico-sociais sob a ótica da integralidade das

ações de saúde” (OPAS, 2002).

Mais recentemente, em 2009, a RDC Nº 44, da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA), que dispõe sobre boas práticas farmacêuticas,

permite às farmácias e drogarias a prestação de serviços farmacêuticos, além


19

da dispensação. A prestação de serviço de Atenção Farmacêutica compreende

a atenção farmacêutica domiciliar, a aferição de parâmetros fisiológicos e

bioquímico e a administração de medicamentos (BRASIL, 2009).

1.2.2) Estudo retrospectivo

As doenças cardiovasculares acarretam elevado custo médico-social,

sobretudo devido a suas complicações clínicas. Dentre elas, a hipertensão

arterial sistêmica é a que apresenta maior prevalência e mortalidade entre os

idosos. As doenças crônicas estão relacionadas à utilização de um elevado

número de medicamentos, o que predispõe ao maior risco de problemas

farmacoterapêuticos (SOUZA et al., 2009).

As evidências para o correto tratamento da hipertensão arterial estão

estabelecidas. Entretanto, em termos de saúde pública, os resultados clínicos

obtidos nem sempre atingem os esperados (CASTRO; FUCHS, 2008).

Diante desta problemática, vários estudos têm sido realizados visando

avaliar a influência do serviço de Atenção Farmacêutica na otimização de

resultados terapêuticos em pacientes hipertensos.

Segundo pesquisa realizada por Storpirtis e colaboradores, 2011, a

respeito de publicações sobre Atenção Farmacêutica no Brasil no período de

1999 a 2005, foi constatado que as publicações referentes a Atenção

Farmacêutica em doenças crônicas, entre elas a HAS, representam um total de

25% entre todas as publicações do período em questão. Neste mesmo estudo,

ao analisar os trabalhos, observou-se a predominância de pesquisas realizadas

em farmácias hospitalares, farmácias comunitárias e farmácias-escola.

Também foram encontrados estudos realizados no Programa Saúde da Família


20

(PSF) e nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), demonstrando que a Atenção

Farmacêutica pode ser executada em quaisquer áreas que houver necessidade

da intervenção do profissional farmacêutico (STORPIRTIS et al., 2011).

Entre agosto de 2003 e julho de 2004, Lyra Jr. et al., avaliaram a

influência da intervenção com atenção farmacêutica na pressão arterial de

idosos hipertensos. Foi observado que os 30 pacientes acompanhados tiveram

redução dos sintomas causados pela farmacoterapia, assim como as

condições de saúde desse pacientes melhoraram com a intervenção à base de

Atenção Farmacêutica (LYRA Jr. et al., 2008).

Doze pacientes hipertensos foram acompanhados em estudo realizado

por Renovato & Trindade, 2004, em farmácia do município de Dourados, Mato

Grosso do Sul. Foram realizadas 47 intervenções farmacêuticas com uma

média de 3,9 intervenções para cada paciente. Dentre estas, 29,79% estavam

relacionadas com a adesão ao tratamento. Já 59,56% das intervenções foram

sobre educação e orientação das patologias apresentadas pelos pacientes.

Obtiveram-se resultados satisfatórios, que justificaram a importância da prática

da Atenção Farmacêutica na hipertensão arterial (RENOVATO; TRINDADE,

2004).

Souza et al. realizaram estudo piloto de atenção farmacêutica em 10

pacientes hipertensos em farmácia escola da Universidade Federal de

Pernambuco entre novembro de 2007 e maio de 2008. Foram realizadas 69

intervenções farmacêuticas visando a resolução de resultados negativos

associados à medicação, das quais 84,1% foram realizadas pelo farmacêutico,

sem a participação do médico. Souza e colaboradores relatam ainda que, após

as intervenções farmacêuticas, todos os pacientes tiveram redução da pressão


21

arterial, e apenas quatro (40%) não alcançaram os níveis pressóricos normais,

destacando novamente a importância e a necessidade do serviço de Atenção

Farmacêutica (SOUZA et al., 2009).

Em trabalho realizado por Siqueira & Ferreira, 2008, com 20 pacientes

idosos hipertensos, 55% dos pacientes apresentaram algum tipo de Problema

Relacionado a Medicamento (PRM). Todos os pacientes que apresentaram

PRM não utilizavam medicamentos corretamente. O estudo comprova o quão

indispensável se torna a aplicação da Atenção Farmacêutica também no

atendimento básico à saúde (SIQUEIRA; FERREIRA, 2008).

Em 2008, Marques et al., traçaram o perfil dos hipertensos usuários de

medicamentos de farmácia popular de Alfenas (MG). Sessenta porcento dos

pacientes faziam uso de monoterapia para o tratamento da hipertensão. Já

20% usavam 3 medicamentos, 13,33% usavam 4 medicamentos e 6,67%

usavam 5 medicamentos. Foi também oferecido o serviço de Atenção

farmacêutica, sendo este aceito por 27 pacientes. Constatou-se uma melhora,

relatada por 77,4% dos pacientes, de seus problemas de saúde. As

intervenções educativas foram bastante exploradas também levando a

resultados clínicos melhores (MARQUES et al., 2008).

Também na farmácia popular de Alfenas (MG), foi realizada pesquisa,

em 2008, por Amarante et al., que teve por objetivo proporcionar o serviço de

acompanhamento farmacoterapêutico a 27 pacientes hipertensos. Constatou-

se que 67% dos pacientes apresentavam não adesão a terapia, relatando

como o principal motivo o esquecimento de administrar o medicamento. Outros

fatores, como a falta de informação sobre a doença e a não compreensão

sobre como utilizar os medicamentos, foram sanados com a intervenção


22

farmacêutica, mostrando a efetividade do acompanhamento

farmacoterapêutico (AMARANTE et al., 2008).

Brito et al., 2008, realizaram estudo em uma Unidade Básica de Saúde

de Aracajú (SE) que visava avaliar o efeito de um programa de manejo

farmacoterapêutico em um grupo de 30 idosos com HAS. No início do

programa o consumo total da população estudada foi de 142 de medicamentos.

Entre os idosos, foi verificado que 18 utilizavam pelo menos um medicamento

sem prescrição e nove faziam o uso de polifarmácia, consumindo

aproximadamente sete medicamentos por dia. Como conseqüência das

intervenções do manejo farmacoterapêutico houve uma redução na presença

da polifarmácia (BRITO et al., 2008).

Nos últimos anos, a discussão sobre a ocorrência de problemas

farmacoterapêuticos e sua representatividade ganhou destaque como fator de

risco que gera morbimortalidade, inclusive entre idosos (BERNSTEN, 2001;

FERNÁNDEZ; FAUS, 2003; ROLLASON, 2003). Por esta razão, é necessário

propor estratégias de ação multiprofissional voltadas para essa área que

consolidem as relações com os pacientes, efetivem a promoção à saúde e o

uso racional dos medicamentos.

1.3) Justificativa

Dados os resultados dos estudos anteriormente abordados e demais

estudos publicados, torna-se claro que as falhas na farmacoterapia de

pacientes hipertensos são bastante comuns e provocam perdas na saúde dos

doentes e perdas econômicas ao conjunto da sociedade. É também notável

que as falhas, em grande percentagem, são evitáveis.


23

O profissional farmacêutico, através da prática Atenção Farmacêutica,

torna-se um aliado à busca da melhoria da qualidade de vida do paciente. O

acompanhamento farmacoterapêutico, assim como as intervenções realizadas

são ações de compromisso mútuo, entre paciente e profissional, e que

caminham para detectar, prevenir e solucionar estas falhas na farmacoterapia

de hipertensos.

O estudo em questão ressalta a importância da prestação de serviços de

Atenção Farmacêutica ao paciente hipertenso em farmácia, onde a cada dia

surgem oportunidades para o profissional farmacêutico realizar o seu trabalho

de modo assistencial.
24

2. Objetivos

2.1) Geral

Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo implantar um

projeto piloto de Atenção Farmacêutica para pacientes hipertensos, em

farmácia privada do município de Matão/SP.

2.2) Específicos

x Estudar e aplicar a utilização da metodologia Dáder de Atenção

Farmacêutica mediante o seguimento farmacoterapêutico dos pacientes

hipertensos, observando os aspectos descritivos, de adequação e

operacionalização do método;

x Realizar o seguimento dos pacientes selecionados, delineando seu perfil

farmacoterapêutico;

x Detectar, prevenir e sugerir as possíveis resoluções para os problemas

relacionados a medicamentos reais e potenciais por meio da atenção

farmacêutica;

x Realizar uma abordagem multidisciplinar, com ênfase na humanização

da atenção a esses pacientes, respeitando suas peculiaridades

biopsicossociais.
25

3.Materiais e Métodos

Local de Estudo

O estudo foi realizado em farmácia comunitária privada do município de

Matão (SP), Brasil.

Amostra do Estudo

A amostra foi composta por 20 pacientes voluntários com faixa etária

entre 38 e 80 anos, de ambos os gêneros, residentes e domiciliados do

município de Matão (SP), e que se enquadraram nos seguintes critérios de

inclusão: paciente com HAS diagnosticada por um médico; paciente com

interesse em participar do estudo piloto e disponibilidade para

acompanhamento durante o tempo de intervenção; farmacoterapia com um ou

mais medicamentos de uso contínuo.

Os pacientes foram convidados a participar do estudo um mês antes do

início do mesmo, após expostos os objetivos em questão.

Os atendimentos farmacêuticos foram agendados e realizados na sala

de atendimento exclusivo da Farmácia, e, em algumas situações, na residência

dos pacientes.

Para fins de comparação a amostra de 20 pacientes foi dividida

aleatoriamente em dois grupos: grupo controle e grupo intervenção. O grupo

controle foi composto por 10 voluntários hipertensos, os quais receberam as

primeiras informações sobre os cuidados com a doença, entretanto não tiveram

acompanhamento farmacoterapêutico. Estes tiveram a pressão arterial aferida

em dois momentos: início do estudo e ao final do mesmo.


26

O grupo intervenção foi composto pelos outros 10 pacientes hipertensos,

os quais foram acompanhados com maior freqüência, submetidos à aferição de

pressão em média 3 vezes por semana. Este grupo participou de consultas

periódicas e recebeu o acompanhamento farmacoterapêutico.

Metodologia

O modelo de investigação aplicado foi um estudo piloto descritivo

observacional prospectivo e intervencionista, utilizando a metodologia Dáder

(MACHUCA et al., 2003) para o seguimento farmacoterapêutico adaptada aos

pacientes hipertensos.

O Método Dáder baseia-se na obtenção da história farmacoterapêutica

do paciente, isto é, nos problemas de saúde que ele apresenta e nos

medicamentos que utiliza, e na avaliação de seu estado de situação em uma

data determinada, a fim de identificar e resolver os possíveis problemas

relacionados aos medicamentos (PRM`s) apresentados pelo paciente. Após

essa identificação são realizadas as intervenções farmacêuticas necessárias

para resolver os PRM`s e, posteriormente, a avaliação dos resultados obtidos.

(MACHUCA et al., 2003).

O Segundo Consenso de Granada, 2004, estabelece uma classificação

de PRM em seis categorias, que por sua vez se agrupam em três

subcategorias, como apresentado no Quadro 2.


27

Quadro 2 - Classificação de PRM do Segundo Consenso de Granada

Necessidade

PRM 1: O paciente apresenta um problema de saúde por não utilizar a

farmacoterapia que necessita

PRM 2: O paciente apresenta um problema de saúde por utilizar um

medicamento que não necessita

Efetividade

PRM 3: O paciente apresenta um problema de saúde por uma inefetividade

não quantitativa da farmacoterapia

PRM 4: O paciente apresenta um problema de saúde por uma inefetividade

quantitativa da farmacoterapia

Segurança

PRM 5: O paciente apresenta um problema de saúde por uma insegurança

não quantitativa de um medicamento

PRM 6: O paciente apresenta um problema de saúde por uma insegurança

quantitativa de um medicamento

Fonte: SANTOS et al., 2004.

Para coleta dos dados será utilizado: formulário de história

farmacoterapêutica do paciente (Anexo I); formulário de estado de situação do

paciente (Anexo II) e formulário de intervenção farmacêutica (Anexo III). Os

formulários utilizados foram baseados também na metodologia Dáder de

Acompanhamento Farmacoterapêutico (MACHUCA et al., 2003).


28

Os pacientes foram selecionados em julho de 2011. As intervenções

foram realizadas nos períodos de agosto e setembro de 2011.

Aspectos éticos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade

de Ciências Farmacêuticas do campus de Araraquara da UNESP, sob

protocolo CEP/FCF/CAr n. 07/2011, e Parecer n. 26/2011 (Anexo IV).

Todos os sujeitos de pesquisa foram previamente esclarecidos quanto

aos objetivos do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo V), de acordo com a Resolução CNS n. 196/96.


29

4.Resultados
Entre os 20 pacientes que participaram do estudo piloto, 14 (70%) eram

do gênero masculino. Os pacientes possuem idades entre 38 e 80 anos, sendo

a média de idade de 56,3 anos.

O grupo controle foi composto por dez pacientes, sendo 60% do gênero

masculino e 40% do gênero feminino. Dos dez pacientes, 30% apresentam

idade entre 38 e 50 anos; 20% entre 51 e 60 anos; 20% entre 61 e 70 anos e

30% entre 71 e 80 anos (Figura 1A).

O grupo intervenção também possuía outros 10 pacientes, sendo 80%

do gênero masculino e 20% do gênero feminino. Em relação à idade, 40% dos

pacientes do grupo intervenção possuem entre 38 e 50 anos, 20% entre 51 e

60 anos, 30% entre 61 e 70 anos e apenas um (10%) entre 71 e 80 anos

(Figura 1B).

A
30% 30%
38-50 Anos
51-60 Anos
61-70 Anos

20% 20% 71-80 Anos

B
10%

40% 38-50 Anos


51-60 Anos
30%
61-70 Anos
71-80 Anos

20%

Figura 1: faixa etária do grupo controle (A) e do grupo intervenção (B).


30

Na primeira entrevista realizada com cada paciente, diversos dados

foram coletados. Informações a respeito dos medicamentos utilizados, acesso

do paciente à sua farmacoterapia necessária e adesão ao tratamento foram

obtidas. Nesta primeira entrevista, os pacientes puderam relatar também suas

preocupações e problemas de saúde.

Em relação aos problemas de saúde mais encontrados, além da

hipertensão, foram listados diabetes, hipercolesterolemia, dores no sistema

osteomuscular, tonturas, distúrbios renais, arritmias, entre outros, citados na

Tabela 2. Vale ressaltar que alguns destes problemas relatados pelos

pacientes podem ser decorrentes do efeito adverso de alguns medicamentos.

Tabela 2 – Distribuição da freqüência dos Problemas de Saúde


encontrados na população em estudo

Problemas de Saúde n %
Dores sistema osteomuscular 6 30
Hipercolesterolemia 4 20
Diabetes 4 20
Problemas renais 3 15
Arritmia cardíaca 2 10
Tonturas 2 10
Caimbras 2 10
Boca Seca 1 5
Hipotiroidismo 1 5
Depressão 1 5
Outros * 7 35
*Foram relatados também: ansiedade, nervosismo, problema hepático,
inchaço, azia, alcoolismo, esquecimentos.

Em relação ao uso de medicamentos, por ambos os grupos de

pacientes, foi constatado que 70% dos pacientes fazem uso da polifarmácia
31

(uso de dois ou mais medicamentos), incluindo medicamentos anti-

hiperglicemiantes, hipolipemiantes, anti-inflamatórios, entre outros. O Gráfico 1

expõe os resultados em relação ao uso de medicamentos.

Gráfico 1 – Relação entre o número de pessoas e número de

medicamentos utilizados.

Entre os fármacos anti-hipertensivos mais usados pelos pacientes

estavam enalapril (20%), losartana potássica (16%), a associação entre

amilorida e hidroclorotiazida (12%), captopril (8%), propranolol (8%). Os demais

fármacos utilizados estão também expostos na Tabela 3.


32

Tabela 3 – Freqüência dos anti-hipertensivos utilizados na população em


estudo.

Anti-hipertensivos n %
enalapril 5 20
losartana potássica 4 16
amilorida +
hidroclorotiazida 3 12
propranolol 2 8
atenolol 2 8
captopril 2 8
hidroclorotiazida 2 8
nifedipino 1 4
succinato de metoprolol 1 4
anlodipino + valsartan 1 4
valsartan +
hidroclorotiazida 1 4
verapamil 1 4
TOTAL 25 100

Foi constatado que a maioria dos pacientes (70%) utiliza apenas um

medicamento para a hipertensão e faz uso de outros medicamentos para

outros problemas de saúde. Apenas 30% dos pacientes entrevistados fazem

uso de associações de anti-hipertensivos no tratamento da HAS. Entre as

associações mais encontradas se podem citar diuréticos tiazídicos com

diuréticos poupadores de potássio; diuréticos com betabloqueadores; diuréticos

com inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores

dos canais de cálcio com IECA.

Após a primeira entrevista, se tem então o Estado de Situação de cada

paciente, onde foram encontrados os Problemas Relacionados a

Medicamentos. Do total de pacientes, 70% (14) apresentaram algum tipo de

PRM e 30% (6) não apresentaram PRM. Foi observado a presença de PRM 1,

PRM 2, PRM 3, PRM 4 e PRM 5. O PRM 6, o qual trata de um problema


33

relacionado a uma insegurança quantitativa de um medicamento, como por

exemplo uso de dose superior à necessária, não foi encontrado.

Entre os pacientes do grupo intervenção, 90% apresentaram PRM`s. No

grupo controle, 50% apresentaram PRM`s.

A freqüência dos PRM`s encontrados está relatada nas Figuras 2A e 2B.

Figura 2: Freqüência de PRM`s encontrados nos grupos controle (A) e intervenção (B).
34

Vale ressaltar que no grupo intervenção, dois pacientes apresentaram

mais de um PRM, sendo assim a Figura 2B está proporcional ao número total

de PRM`s encontrados.

A Tabela 4 expõe a totalidade dos Problemas Relacionados a

Medicamentos encontrados na população em estudo durante o serviço de

Atenção Farmacêutica.

Tabela 4 – PRM`s encontrados na população em estudo

PRM n %

PRM 1 8 50
PRM 2 2 12,5
PRM 3 2 12,5
PRM 4 2 12,5
PRM 5 2 12,5
PRM 6 0 0

TOTAL 16 100

Diante dos PRM`s encontrados foram realizadas intervenções

farmacêuticas com o objetivo de solucionar problemas na farmacoterapia do

paciente, assim como estimular hábitos de vida saudáveis, que

conseqüentemente melhoram a qualidade de vida dos pacientes. No total,

foram realizadas 19 intervenções farmacêuticas. A grande maioria das

intervenções (73,7%) foi educativa, sendo 47,4% voltadas para a melhoria da

adesão dos pacientes à terapia. Entre as intervenções educativas incluem-se

as que tinham por objetivo orientar os pacientes em relação às medidas não-

farmacológicas, como por exemplo, a diminuição do tabagismo e alcoolismo,

encontrados em dois pacientes.


35

Também relacionado às intervenções educativas foi ressaltado a alguns

pacientes os problemas advindos da automedicação, em especial aos

fármacos que podem influenciar na atividade do anti-hipertensivo, como os

anti-inflamatórios.

Foi elaborada uma Tabela (Anexo VI) para um paciente que fazia uso de

7 medicamentos. A tabela em questão tem por objetivo facilitar a adesão ao

tratamento, visto que a polifarmácia é um dos motivos de não-adesão ao

tratamento medicamentoso em muitos pacientes.

Os pacientes de ambos os grupos, controle e intervenção, também

foram instruídos em relação ao uso correto de medicamentos. Observou-se

que 30% dos pacientes não sabiam o horário correto para a tomada do

medicamento e também como deveria ser feita a administração. Vale ressaltar

que a dispensação ativa compreende o fornecimento do medicamento correto

com orientações sobre seu manuseio (forma correta de administração), sobre a

utilização terapêutica (o que é, para que serve, até quando usar, quanto usar) e

sobre como realizar automonitorização, de forma a verificar se o tratamento

está sendo efetivo (MARQUES, 2008).

Também foram realizadas intervenções sobre a dosagem (10,5% das

intervenções) nos medicamentos dos pacientes. Nestas intervenções foram

feitos ajustes de horário de dose. Ambos apresentavam um intervalo de dose

da tomada dos medicamentos inferior ao prescrito, mantendo-se assim a PA

elevada. Após intervenção, a PA se regularizou.

Intervenções sobre os medicamentos também foram feitas em dois

pacientes, no sentido de substituição do medicamento. Em um deles fez-se a

troca do medicamento anti-hipertensivo manipulado pelo medicamento


36

industrializado, mantendo o mesmo princípio ativo. Em outro caso, fez-se a

mudança apenas do laboratório farmacêutico de um medicamento genérico

que estava sendo utilizado. Em ambos os casos, observou-se melhora dos

pacientes, com níveis pressóricos mais satisfatórios.

A Tabela 5 expõe as intervenções realizadas durante o período do

estudo.

Tabela 5 – Intervenções farmacêuticas realizadas na população em estudo

Tipos de Intervenções n %
INTERVIR SOBRE O MEDICAMENTO
Adicionar um medicamento 1 5,3
Retirar um medicamento 0 0
Substituir um medicamento 2 10,5
INTERVIR SOBRE A DOSAGEM
Modificar a dose 0 0
Modificar frequência de dose 2 10,5
INTERVIR SOBRE A EDUCAÇÃO DO
PACIENTE
Diminuir a não-adesão 9 47,4
Diminuir auto-medicação 2 10,5
Educar em medidas não farmacológicas 3 15,8
TOTAL 19 100

Todas as intervenções foram realizadas na própria farmácia e em 95%

dos casos foram realizadas de maneira verbal, entretanto todas foram

documentadas com os formulários citados na metodologia, segundo Método

Dáder de Acompanhamento Farmacoterapêutico (MACHUCA et al., 2003).

Os pacientes do grupo controle tiveram sua pressão arterial aferida em

dois momentos: na primeira entrevista e ao fim do trabalho. A pressão aferida

era documentada segundo tabela elaborada (vide anexo VII) para todos os
37

pacientes. A evolução da PA dos pacientes do grupo controle pode ser

observada no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Evolução da Pressão Arterial (mmHg) do grupo controle

Sistólica Diastólica Sistólica Diastólica


(Antes) (Antes) (Depois) (Depois)

É possível observar que não houve alteração significativa na média da

PA sistólica e diastólica do grupo controle.

Os pacientes do grupo intervenção tiveram a pressão arterial aferida

com maior freqüência, em média três vezes por semana.

O grupo intervenção recebeu acompanhamento farmacoterapêutico

durante o estudo, evidenciando-se assim uma maior interferência na

diminuição dos valores da pressão arterial sistólica e diastólica, como se pode

observar no gráfico 3.
38

Gráfico 3 – Evolução da Pressão Arterial (mmHg) do grupo intervenção

Sistólica Diastólica Sistólica Diastólica


(Antes) (Antes) (Depois) (Depois)

Destaca-se que, dos 20 pacientes que participaram do estudo piloto,

45% apresentaram PA descontrolada (≥ 140x90 mmHg) na primeira entrevista.

Após as intervenções farmacêuticas este número foi reduzido para 20% com

PA não controlada. Apesar destes pacientes não terem alcançado os níveis

pressóricos normais ou limítrofes (≤ 139x89 mmHg) (SBC, 2006),

apresentaram ligeira redução da PA.

Quando o grupo controle e o grupo intervenção foram comparados, por

fim, percebeu-se que a redução da pressão média do grupo intervenção foi

maior do que a do grupo controle.


39

5.Discussão

Em relação ao gênero da população de hipertensos em estudo, a

maioria foi composta por homens. Esta prevalência está de acordo com o que

foi o exposto na última diretriz brasileira de hipertensão publicada

(SBC/SBH/SBN, 2010), a qual cita revisão sistemática quantitativa de 2003 a

2008, de 44 estudos em 35 países, que revelou uma prevalência global de

37,8% em homens e 32,1% em mulheres.

Existe relação direta e linear da PA com a idade, sendo a prevalência de

HAS superior a 60% acima de 65 anos (CESARINO et al., 2008). No estudo em

questão, 35% dos pacientes apresentavam idade superior a 65 anos.

Entretanto, vale ressaltar que os pacientes que apresentavam idade entre 38 e

64 anos, maioria da população em estudo (65%), apresentavam outros fatores

de risco, apesar de serem mais jovens. Sedentarismo, sobrepeso, ingestão

excessiva de sal e consumo freqüente de álcool.

Em estudo realizado por Cesarino e colaboradores, em 2008, sobre a

prevalência e fatores sociodemográficos em hipertensos de São José do Rio

Preto/SP, a média de idade encontrada foi de 53,8 anos. Está média está

próxima da encontrada neste estudo piloto, a qual foi de 56,3 anos. Isto mostra

que a HAS tem atingido pessoas em idade economicamente ativa, alertando

para piora epidemiológica e as repercussões cardiovasculares futuras

(CESARINO et al., 2008).

Em relação aos problemas de saúde mais encontrados, após a

hipertensão, estão as dores no sistema osteomuscular. Esta prevalência é

compatível com outros estudos realizados no Brasil (RENOVATO; TRINDADE,

2004; LYRA Jr. et al., 2009; SOUZA et al., 2009).


40

Foi observada também a presença de diabetes e hipercolesterolemia em

15% dos pacientes hipertensos, além da obesidade. Sendo assim, estes são

portadores de síndrome metabólica, a qual é caracterizada por alterações no

metabolismo glicídico, obesidade, hipertensão e dislipidemia. A Síndrome

Metabólica é a maior responsável por eventos cardiovasculares, sendo assim,

a estes pacientes deve ser dada atenção especial para a mudança para

hábitos de vida saudáveis e reforço positivo para adesão à terapia

medicamentosa (MATOS et al., 2003). Eles receberam intervenções educativas

para auxiliar na perda de peso, estimular a prática de atividade física e

alimentação saudável.

Em relação ao tratamento medicamentoso da hipertensão, a

monoterapia pode ser a estratégia anti-hipertensiva inicial para pacientes com

hipertensão arterial estágio 1 e com risco cardiovascular baixo a moderado

(SBC/SBH/SBN, 2010). Entre a população em estudo, como já citado, 70%

faziam uso da monoterapia para tratamento da hipertensão. Entre as classes

de fármacos mais utilizadas estão os bloqueadores do sistema Renina-

Angiotensina-Aldosterona. Está classe está inclusa entre as clases

preferenciais para o controle da PA em monoterapia inicial, como citado nas VI

Diretrizes Brasileiras de Hipertensão.

Estas diretrizes relatam que, se o objetivo terapêutico não for

conseguido com a monoterapia inicial, uma das condutas possíveis é o

aumento na dose do medicamento em uso ou a associação de dois ou mais

medicamentos, sobretudo nos pacientes com hipertensão em estágios 2 e 3.

Na população em estudo, as associações mais encontradas foram

diuréticos tiazídicos com diuréticos poupadores de potássio e diuréticos com


41

betabloqueadores. Estas associações são reconhecidas como eficazes pela

Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC/SBH/SBN, 2010).

Dentre os 20 pacientes em estudo, 14 (70%) apresentaram Problemas

Relacionados a Medicamentos. Considerando que cada paciente pode ter mais

de um PRM diferente, foi encontrado um total de 16 PRM`s como mostra a

Tabela 4.

Em estudo realizado por Siqueira & Ferreira, com 20 pacientes

hipertensos, 55% dos pacientes apresentaram algum tipo de PRM, sendo 16 o

total de PRM`S encontrados (SIQUEIRA; FERREIRA, 2008).

Garção e Cabrita, 2002, realizaram estudo com 41 indivíduos

hipertensos, onde foram detectados 34 PRM`s (GARÇÃO; CABRITA, 2002).

Renovato & Trindade, 2004, encontraram 30 PRM`s manifestados em 12

pacientes que foram acompanhados em farmácia no Mato Grosso do Sul

(RENOVATO; TRINDADE, 2004).

Dentre os PRM`s encontrados neste estudo estão em primeiro lugar os

que se referem a necessidade, posteriormente os relacionados à efetividade e,

por último, os relacionados à segurança. O PRM 1 foi o mais encontrado

(50%), sendo este relacionado à falta de adesão a terapia. Os motivos

relatados para não adesão foram: esquecimento de tomar o/os medicamento/s,

polifarmácia e não utilização intencional.

Souza e colaboradores detectaram a não adesão ao tratamento

medicamentoso em 17,4% dos pacientes hipertensos participantes de seu

estudo (SOUZA et al., 2009).

No estudo de Siqueira e Ferreira, 2008, observou-se que 15% dos

pacientes apresentavam PRM tipo 1 (SIQUEIRA; FERREIRA, 2008).


42

Amarante et al., 2008, em trabalho com 27 pacientes hipertensos,

encontraram 67% dos pacientes com não adesão à terapia. No grupo controle,

cerca de 17% dos entrevistados possuíam dificuldades para tomar seus

medicamentos e 42% acreditavam que a hipertensão não é uma enfermidade

para a vida toda. Já para o grupo teste, os principais motivos de não adesão

foram: esquecimento das instruções médicas (67%), não utilização intencional

(53%), falta de compreensão das instruções de uso (13%), entre outros

(AMARANTE et al., 2008).

Em pesquisa realizada no Brasil, cerca de 46% dos idosos portadores de

hipertensão arterial interromperam o tratamento por conta própria (LYRA Jr. et

al., 2006). Sendo assim, torna-se claro que deve ser dada especial atenção aos

pacientes que não aderem à terapia, visto que a hipertensão, por ser uma

doença de caráter crônico, é tratada na maioria das vezes com medicamentos

de uso contínuo.

Neste estudo, foram realizadas 19 intervenções farmacêuticas, sendo

que, a grande maioria das intervenções (73,7%), foi educativa. As intervenções

educativas devem ser sempre exploradas, visto que o compartilhamento do

conhecimento e das experiências enriquece e fortalece a relação terapêutica

(AMARANTE et al., 2008). Notou-se que os pacientes passam a ter maior

adesão à terapêutica após conhecerem melhor suas enfermidades e seus

medicamentos.

A Educação em Saúde é parte integrante do processo de Atenção

Farmacêutica, como afirma a proposta do Consenso Brasileiro de Atenção

Farmacêutica (OPAS, 2002).


43

Em relação à evolução da PA dos pacientes do grupo controle, se pode

observar no Gráfico 2 que não houve queda significativa se comparado início

do estudo com final do mesmo. Já o Gráfico 3 representa a variação da PA dos

pacientes do grupo intervenção, os quais receberam acompanhamento

farmacoterapêutico. A queda da PA sistólica de 152mmHg para 134mmHg,

assim como da PA diastólica de 85mmHg para 77mmHg pode ser relacionada

intimamente com as intervenções farmacêuticas realizadas.

A prática da Atenção farmacêutica aplicada ao grupo intervenção,

juntamente com o acompanhamento farmacoterapêutico, foram responsáveis

por gerar resultados bastante positivos para os pacientes, visto que a PA

encontrada ao final foi mais baixa em 90 % destes. Além disso, a grande

maioria dos entrevistados relatou estar satisfeita com o serviço de Atenção

Farmacêutica prestado.
44

6.Conclusão

A hipertensão arterial ainda é um problema de Saúde Pública no Brasil e

no mundo. A prevalência é alta e é notável que grande parte da população do

Brasil apresente fatores de risco para poder desenvolver esta enfermidade.

A Atenção Farmacêutica, praticada nos ambientes em que existam

pacientes e farmacêuticos, tem por objetivo auxiliar o paciente em relação aos

problemas relacionados à sua farmacoterapia e saúde, visando assim a sua

melhor qualidade de vida. É uma prática possível e que culmina em resultados

positivos para ambas as partes.

Dentro das farmácias públicas ou privadas, o farmacêutico é um

importante elo entre o paciente e o medicamento.

Sendo assim, fica claro que intervenções farmacêuticas relacionadas ao

tratamento medicamentoso, assim como intervenções educativas colaboram

cada vez mais para que os pacientes hipertensos tenham otimização de seus

resultados terapêuticos, conscientização quanto aos cuidados com a saúde,

assim como melhora em sua qualidade de vida.

O profissional farmacêutico torna-se assim fundamental para o

esclarecimento de dúvidas, bem como para proporcionar maior efetividade na

aplicação de medidas terapêuticas. É este profissional que deve assegurar que

cada paciente utilize seus medicamentos de maneira segura, eficaz e em

benefício próprio.
45

7.Referências

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52

ANEXOS
53

Anexo 1
54
55
56
57

Anexo 4
58

Anexo 5

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado para participar do projeto de pesquisa “Atenção Farmacêutica em

Pacientes Hipertensos”.

Este projeto será realizado com pacientes hipertensos a fim de melhorar as informações

relacionadas aos medicamentos e também à doença. Sua participação não é obrigatória e a qualquer

momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Casa recuse a participação,

independente do motivo, não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a

Faculdade de Ciências Farmacêuticas.

Os objetivos deste estudo são desenvolver um projeto piloto de Atenção Farmacêutica à

pacientes hipertensos; e posteriormente apresentar o referido estudo como Trabalho de Conclusão de

Curso na Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Sua participação nesta pesquisa consistirá em

responder alguns questionamentos sobre o uso de medicamentos e a situação de sua qualidade de vida

frente à doença. A aluna responsável pela pesquisa irá fazer o acompanhamento dos pacientes durante

determinadas etapas do estudo. Você deve estar à vontade em não responder aquilo que não queira ou

julgue desnecessário.

A sua participação é importante, pois trará benefícios relacionados à terapia, problemas de

saúde enfrentados e qualidade de vida. Além disso, através de intervenções educativas pretende-se

auxiliar no melhor entendimento da hipertensão.

Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será

divulgada. Seu nome e dados pessoais serão destacados da ficha e sua identificação será numérica.

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone do pesquisador principal, da aluna

responsável e do CEP (Comitê de Ética e Pesquisa), podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua

participação, agora ou a qualquer momento.


59

______________________________________ __________________________________
Prof. Dr. Jean Leandro dos Santos Aluna de graduação: Carolina Luiza Modé
Faculdade de Ciências Farmacêuticas – UNESP Faculdade de Ciências Farmacêuticas - UNESP
Rodovia Araraquara-Jaú Km.01 s/n Campus universitário Rodovia Araraquara-Jaú Km01 s/n Campus universitário
(16) 3301-6972 – sala professor (16) 3333-3513
(16) 3301-6897 – Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) [email protected] – e-mail Aluna de graduação

Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa “Atenção
farmacêutica em pacientes hipertensos” e concordo em participar.

_________________________________________
Sujeito da pesquisa

Matão, ____________________________.
60

Amanhecer Café da manhã Intervalo 1 Almoço Intervalo 2 Jantar Dormir

Horário

Medicamento
61

Anexo 7

Paciente:
Medicamentos:
Posologia:

Acompanhamento Pressão Arterial


Data Horário Posição PA Observações

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