Aga 26102018
Aga 26102018
Aga 26102018
Areia, 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
CURSO DE BACHARELADO EM MEDICINA VETERINÁRIA
Areia, 2013
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovada em:
Nota:
Banca Examinadora
_________________________________
Profa. Dra. Ivia Carmem Talieri, DCV/CCA/UFPB/ campus II – Areia-PB
_______________________________
Profa. Dra. Vanessa Martins Fayad Milken, DCV/CCA/UFPB/ campus II – Areia-PB
_______________________________
Profa. Dra. Valeska Shelda Pessoa de Melo, DCV/CCA/UFPB/ campus II – Areia-PB
______________________________
Prof. MSc. Márcio Menezes
Coordenação de TCC
Dedico ao meu Deus em
primeiro lugar, que é digno
de receber toda honra,
glória e louvor.
Figura 1- Cão, Poodle, macho, três anos de idade, comatoso e recebendo fluidoterapia
após controle de um episódio convulsivo, atendido no Hospital Veterinário do Centro de
Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de Campina Grande (CSTR –
UFCG).............................................................................................................................26
Tabela 1- Valores do hemograma de cão, Poodle, macho, três anos de idade, com
suspeita clínica de hepatite aguda e encefalopatia hepática, no 1º dia de internação no
Hospital Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de
Campina Grande (CSTR –UFCG)...................................................................................29
Tabela 2- Valores da urinálise de cão, Poodle, macho, três anos de idade, com suspeita
clínica de hepatite aguda e encefalopatia hepática, no 1° dia de internação no Hospital
Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de
Campina Grande (CSTR –UFCG)...................................................................................30
Tabela 3- Valores das dosagens séricas de ALT, FA, PPT, albumina, globulina, uréia e
creatinina de cão, Poodle, macho, três anos de idade, com suspeita clínica de hepatite
aguda e encefalopatia hepática, no 1° dia de internação no Hospital Veterinário do
Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de Campina Grande
(CSTR –UFCG)...............................................................................................................31
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12
2 DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO ........................................................................... 14
2.1 ENCEFALOPATIA HEPÁTICA SECUNDÁRIA À HEPATITE AGUDA ....... 14
2.1.1 Revisão de literatura ....................................................................................... 14
2.1.1.1 Etiologia................................................................................................... 15
2.1.1.2 Fisiopatologia .......................................................................................... 16
2.1.1.3 Sinais Clínicos ......................................................................................... 18
2.1.1.4 Diagnóstico .............................................................................................. 19
2.1.1.5 Tratamento ............................................................................................... 21
2.1.1.6 Prognóstico .............................................................................................. 24
2.1.2 Descrição do caso clínico ............................................................................... 25
2.1.3 Discussão ........................................................................................................ 33
2.1.4 Conclusões ..................................................................................................... 38
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 39
1 INTRODUÇÃO
12
pesquisadores, é possível que o episódio de EH desencadeado pela hepatite, provoque
alterações inflamatórias na barreira hematoencefálica (SHAWCROOS; JALAN 2005).
O diagnóstico da EH se dá pelo histórico do animal, sintomatologia clínica,
exame físico, bioquímica sérica e exames de imagem, como ultrassonografia,
tomografia computadorizada e ressonância magnética, estando diretamente relacionado
ao fator etiológico que esteja produzindo um fígado insuficiente.
A finalidade do tratamento é diminuir os níveis séricos da amônia, principal
substrato causador dos sintomas da EH. O protocolo terapêutico geralmente é
constituído pela administração de antibióticos que alterem a população de bactérias
produtoras de urease no cólon e, assim, promover a redução da conversão de uréia em
amônia; e pelo uso do dissacarídeo sintético lactulose, que aumenta a eliminação do
conteúdo intestinal, acidifica o lúmen intestinal e inibe a produção de amônia por
bactérias intestinais (BRUM, 2007). O uso de hepatoprotetores e a instituição de uma
dieta com baixo teor de proteína também são de suma importância no tratamento da EH.
O objetivo deste trabalho foi descrever um caso clínico de encefalopatia hepática
secundária a hepatite aguda em um cão da raça poodle de três anos de idade,
comparando-o com o conteúdo revisto na literatura.
13
2 DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
14
(agressividade ou histeria), incoordenação motora, marcha obstinada, anorexia, êmese,
diarréia e hipersalivação (BUNCH, 1991).
2.1.1.1 Etiologia
15
compensatória à hipertensão portal (TIMOTHY, 2005; EMMA, 2006; FREDHLOM,
2009; PRATSCHKE, 2010).
Os desvios adquiridos são comunicações microvasculares afuncionais
rudimentares entre a veia porta e a circulação sistêmica, presentes em cães e gatos
normais. Diante de hipertensão portal contínua, estes vasos se dilatam e funcionam,
desviando o sangue para a circulação sistêmica, com pressão mais baixa, diminuindo,
assim, a pressão portal. Geralmente, a hipertensão portal e desvios portossistêmicos
múltiplos adquiridos estão associados a distúrbios intra-hepáticos difusos, crônicos e
graves, causadores de aumento na resistência intra-hepática ao fluxo sanguíneo portal.
São exemplos a hepatite crônica, a cirrose e a fibrose hepática idiopática (TIMOTHY,
2005; EMMA, 2006; FREDHLOM, 2009; PRATSCHKE, 2010).
A cirrose é uma doença hepática crônica que tem sido frequentemente definida
como uma alteração irreversível do fígado caracterizada por um grau de fibrose e
regeneração que resulta na desorganização da arquitetura hepática. Ela pode levar
também a um quadro de encefalopatia hepática devido à hipertensão portal que acontece
desviando o sangue para a circulação sistêmica, e levando junto com o sangue as
toxinas que não são metabolizadas pelo fígado insuficiente. Doenças hepáticas crônicas
normalmente são acompanhadas de alterações irreversíveis, desse modo, o prognóstico
em longo prazo é reservado ou ruim (JOHNSON, 2004).
2.1.1.2 Fisiopatologia
17
é metabolizada em glutamina, por meio de uma reação que consome grandes
quantidades de energia. Considera-se que, consequentemente, na EH, ocorra diminuição
da neurotransmissão (HAUSSINGER, et al., 2000). Muitos sistemas neurotransmissores
mediados pelo glutamato, que é o principal neurotransmissor excitatório, e mediado
pelo GABA, neurotransmissor inibidor, são afetados. Muitas alterações são descritas,
mas são difíceis de interpretar corretamente o papel de cada uma na patogênese da EH
(BUTTERWORTH, 2000). Na hepatite aguda, a manifestação de hiperamonemia pode
ser de natureza excitatória e resultar em convulsões associadas com o aumento da
liberação sináptica de glutamato (SZERB, 1992).
De acordo com Butterworth (2000), na hepatite aguda os astrócitos se
edemaciam e pacientes desenvolvem edema cerebral citotóxico. Esta observação foi
feita em culturas de astrócitos expostos a altas concentrações de amônia. O sistema
nervoso central é uma unidade neurovascular de estrutura dinâmica que consiste em
células endoteliais vasculares, pericitos e astrócitos intimamente justapostos e
neurônios. O contato e a comunicação entre essas células modulam o fluxo sanguíneo
cerebral e influencia na permeabilidade das propriedades da barreira hematoencefálica.
Nos casos de falha hepática aguda ou crônica com aumento dos níveis arteriais de
amônia, parece haver um aumento na permeabilidade da barreira hematoencefálica
deste metabólito (McCARTY, 2005). Em animais com hepatite aguda o fluxo de
amônia no cérebro é 45 vezes maior do que em animais normais (DEJONG et al.,
1992).
2.1.1.4 Diagnóstico
20
patologias não hepáticas. Na urinálise podem-se evidenciar cristais de biurato de amônia
(MORGAN, 1987).
No diagnóstico por imagem, o ultrassom é um meio importante para evidenciar a
lesão hepática e observar, do ponto de vista da sua arquitetura, parede, tamanho,
ecogenicidade, presença de massas. No caso de uma insuficiência hepática aguda o
fígado pode estar aumentado de tamanho, com sua ecogenicidade diminuída
confirmando o quadro agudo. Ao contrário, em casos crônicos o fígado se apresentará
diminuído (MAMPRIM, 2004).
A biópsia hepática é um dos meios diagnósticos mais importantes e definitivos
para se estabelecer a causa da lesão hepática (CORNELIUS, 1996). Porém, muitas
vezes, é limitada pela falta de habilidade profissional, visto que é um método invasivo e
deve ser considerado com rigor antes de sua realização (CENTER 1998). A obtenção de
amostras para exame histopatológico pode ser feita através de agulha percutânea guiada
ou não pela ultrassonografia ou por meio de laparotomia exploratória, a qual apresenta a
vantagem da visualização de todo o órgão, inclusive do sistema biliar, podendo-se obter
amostras de qualquer parte desejada. O risco de hemorragia hepática após a coleta do
fragmento deve ser levado em consideração (HUGHES; KING, 1995).
2.1.1.5 Tratamento
22
hipoglicemia, o que ocorre principalmente em enfermidades hepáticas causadas por
infecções ou endotoxemias (BUNCH, 2004).
Dieta com teor baixo em proteínas é recomendado, a fim de impedir a formação
de mais amônia no cólon. A restrição de proteína não oferece nenhuma evolução de
melhora para o quadro. A quantidade e tipo de proteína que deve ser administrada ao
paciente hepatopata é sempre um assunto controverso (CÓRDOBA, 2008).
Enemas de água morna podem ser administrados para limpar o cólon,
promovendo uma evacuação rápida do trato intestinal e desestimulando a formação da
amônia de absorção imediata (HUGHES; KING, 1995).
A lactulose é a droga protótipo para o tratamento da encefalopatia hepática.
Trata-se de um dissacarídeo não absorvível que possui vários efeitos benéficos: ela
reduz o pH do meio intestinal, favorecendo a conversão da amônia em íons amônio (não
absorvíveis pela mucosa) e reduzindo a população de bactérias produtoras de amônia;
acelera o trânsito gastrintestinal, aumentando a eliminação fecal de bactérias e
substratos amoniogênicos e inibe a produção de amônia por bactérias intestinais
(BRUM, 2007). A dose inicial é de 0,5 a 1,0 ml/Kg três vezes ao dia, devendo ser
ajustada segundo a consistência das fezes (o objetivo é provocar o amolecimento do
bolo fecal) ou por meio da avaliação do pH fecal (o ideal é próximo de 6,0).
Recentemente, a eficácia da lactulose no tratamento da EH em seres humanos foi
questionada (ALS-NIELSEN et al., 2004).
A antibioticoterapia com metronidazol ou com neomicina tem sido o tratamento
padrão da EH por mais de 40 anos (STRAUSS, 2006), tendo como finalidade reduzir a
população bacteriana produtora de urease, evitando a formação da amônia, por meio da
alteração a microbiota intestinal, agindo contra bactérias Gram-positivas e Gram-
negativas. O sulfato de neomicina e posteriormente outros antibióticos orais pouco
absorvíveis, passaram a ser utilizados na prática clínica com a intenção de esterilizar os
cólons impedindo a formação de amônia e/ou produtos nitrogenados (STRAUSS,
2006).
23
O uso de hepatoprotetores é muito importante para auxiliar na regeneração do
tecido hepático. A silimarina comprende um complexo composto por várias substâncias
(flavonoides: silibina ou silibinina, silidianina, silichristina), atuando em disfunções
hepáticas, bem como em ações extra-hepáticas descritas, como antifúngicas, antiedema
cerebral e antidepressivas (LEMOS; LEMOS, 2012).
2.1.1.6 Prognóstico
24
2.1.2 Descrição do caso clínico
Foi atendido um cão com três anos de idade, da raça Poodle, no Hospital
Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural no setor de Clínica Médica de
Pequenos Animais, pertencente à Universidade Federal de Campina Grande (CSTR –
UFCG), na cidade de Patos-PB. O animal chegou ao hospital convulsionando. Na
anamnese a proprietária relatou que o animal estava bem e que de repente começou a
bater muito a cabeça contra a parede e no chão. Ela relatou também, que, antes da
convulsão o animal tinha vomitado um conteúdo branco-amarelado junto com
resquícios de planta. Foi referido ainda que o cão andava pouco na rua, alimentava-se
com comida caseira, apresentava vacinação atualizada somente contra raiva e nunca
havia sido vermifugado.
Ao exame físico o animal apresentou-se obnubilado após a convulsão. As
mucosas oculares e oral encontravam-se hiperêmicas, a mucosa peniana ictérica e o
abdômen ventral discretamente ictérico. O animal foi submetido à internação, onde
recebeu fluidoterapia com solução glicofisiológica1. Foi administrado diazepam2 e
fenobarbital3, nas doses de 0,5mg/Kg e 2mg/Kg, respectivamente, por via intravenosa.
Doxiciclina4 0,6 ml IV foi realizada como medida profilática. Depois que o quadro
convulsivo foi controlado, o animal permaneceu em estado de coma, durante um dia
(Fig. 1).
1
Solução Glicofisiológica. Laboratório: SANOBIOL LTDA.
2
Valium. Laboratório:ROCHE
3
Gardenal. Laboratório: BIOLIDER
4
Vibramicina. Laboratório: PFIZER
25
Figura 1- Cão, Poodle, macho, três anos de idade, comatoso e recebendo
fluidoterapia após controle de um episódio convulsivo, atendido no Hospital Veterinário
do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de Campina Grande
(CSTR –UFCG).
5
Baytril. Laboratório: BAYER
6
Lactulosum. Laboratório: UCI FARMA
7
Legalon. Laboratório: NYCOMED PHARMA
27
mesma dose do dia anterior deixando-a agir. Dessa maneira, o animal permaneceu mais
um dia internado no hospital.
No terceiro dia já foi observada melhora clínica e resolução do quadro
neurológico. O animal já se encontrava mais ativo, com mucosas menos ictéricas, sem
apresentar quadro convulsivo e já se mantinha em estação. Diante disso, não foi feito
mais o enema com água morna nem lactulose, nem antibiótico, só foi feito complexo
vitamínico e mineral8, na dose de 7ml, VO e silimarina na mesma dosagem anterior.
Realizou-se exame ultrassonográfico da cavidade abdominal para avaliação dos
órgãos. A bexiga se encontrava distendida, preenchida com conteúdo anecóico e a
silhueta preservada. Os rins não apresentavam alterações. O baço apresentava-se com
aumento de volume, porém, ecotextura e ecogenicidade mantidas. O fígado também se
encontrava com aumento de volume, ecotextura homogênea e ecogenicidade
discretamente diminuída sugestivo de uma hepatite aguda. A vesícula biliar estava
distendida e preenchida com conteúdo anecóico sem evidências de cálculos.
Nesse sentido, em decorrência da resposta positiva ao tratamento estabelecido,
foi concluido o diagnóstico terapêutico e definitivo de encefalopatia hepática secundária
à hepatite aguda.
8
Glicopan pet. Laboratório: VETNIL
28
Tabela 1- Valores do hemograma de cão, Poodle, macho, três anos de idade, com
suspeita clínica de hepatite aguda e encefalopatia hepática, no 1º dia de internação no
Hospital Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de
Campina Grande (CSTR –UFCG).
ERITOGRAMA Valores encontrados Valores referenciais
Hemácias (x10/mm3) 10,00 5,5-8,5
Hemoglobina (g/dl) 20,5 12-18
Hematócrito (%) 61 37-55
VCM (FL) 61,0 60-77
HCM (pq) 20,5 19,0-23,0
CHCM (%) 33,6 32-36
LEUCOGRAMA Valores encontrados Valores referenciais
Leucócitos(mm3) 12.600 6.000-17.000
Neutrófilos % mm3 % mm3
Mielócitos 00 00 00 0,0-0,0
Metamielócitos 00 00 00 0,0-0,0
Bastonetes 00 00 0-3 0-300
Segmentados 89 11.214 60-77 3.000-11.500
Eosinófilos 03 378 2-10 100-1.250
Basófilos 00 00 Raros Raros
Monócitos 01 126 3-10 150-1.350
Linfócitos Típicos 07 882 12-30 1.000-4.800
PPT (g/dl) 7,4 (6,0-8,0)
Plaquetograma 150.000 (200.000-500.000)
Parasitologia do sangue negativo para presença de hemoparasitas.
OBSERVAÇÕES Leucócitos morfologicamente conservados.
29
Tabela 2- Valores da urinálise de cão, Poodle, macho, três anos de idade, com suspeita
clínica de hepatite aguda e encefalopatia hepática, no 1° dia de internação no Hospital
Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de
Campina Grande (CSTR –UFCG).
CARACTERES FÍSICOS Valores encontrados Valores referenciais
Volume 15 ml
Cor Amarelo âmbar Amarelo citrino
Densidade 1030 1015-1045
Aspecto Turvo Límpido
Depósito Presente Ausente
Odor Sui-generis Sui-generis
EXAME QUÍMICO
pH 6,0 5,5-7,5
Proteínas ++ Ausente
Glicose Ausente Ausente
Corpos cetônicos Ausente Ausente
Bilirrubinas ++ Ausente
Sangue oculto Traços Ausente
Nitrito Ausente Ausente
Urobilinogênio Ausente Ausente
SEDIMENTOSCOPIA
Células epiteliais 0-4 por campo Inferior a 4 por campo
Leucócitos 0-10 por campo Inferior a 5 por campo
Hemácias Ausente Ausente
Cilindros Granulosos 4-12 por campo Ausente
Cristais Bilirrubina 5-15 por campo Ausente
Bactérias Ausente Ausente
Outros Espermatozóides 5-10 por campo Ausente
30
Tabela 3- Valores das dosagens séricas de ALT, FA, PPT, albumina, globulina, uréia e
creatinina de cão, Poodle, macho, três anos de idade, com suspeita clínica de hepatite
aguda e encefalopatia hepática, no 1° dia de internação no Hospital Veterinário do
Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de Campina Grande
(CSTR –UFCG).
Exame Valor encontrado Valores referenciais
ALT 623 21-102 U/L
FA 265 10-92 U/L acima de 12 meses
PPT 6,60 5,40-7,10 g/Dl
Albumina 1,91 2,60-3,30 g/Dl
Globulina 4,69 2,70-4,40 U/L
Uréia 88,5 21,4-59,92 mg/Dl
Creatinina 0,8 0,5-1,5 mg/Dl
Após três dias o cão recuperou-se e recebeu alta hospitalar (Fig. 2). Uma vez por
semana o animal retornou ao hospital veterinário para avaliação clínica e laboratorial,
durante três semanas. Os valores destes exames (hemograma e bioquímicos), realizados
nos 7º, 18º e 38º dias , a contar do dia em que o cão deu entrada no hospital veterinário,
encontravam-se dentro do intervalo de normalidade, confirmando assim um quadro
agudo de hepatite com evolução para encefalopatia hepática.
31
Figura 2- Cão, Poodle, macho, três anos de idade, recuperado do quadro de
encefalopatia hepática secundária à hepatite aguda, após três dias de internação no
Hospital Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural da Universidade Federal de
Campina Grande (CSTR –UFCG).
32
2.1.3 Discussão
34
redução da filtração glomerular na presença de desidratação, esta última denominada
azotemia pré renal. Tanto a policitemia como a uremia, observadas neste caso de EH,
podem ser justificadas segundo as afirmações dos autores acima citados. A
desidratação, neste animal, pode ter sido provocada pelo vômito e pela pouca ingestão
de água.
De acordo com Prasse (1982), raramente os cristais têm significado clínico, com
exceção de alguns como os de biurato de amônio, os quais podem ocorrer em quadros
clínicos de EH. Cilindros granulosos derivam de células tubulares em degeneração e
constituem o tipo mais comum em animais domésticos. A bilirrubinúria indica
obstrução do fluxo de bile e regurgitação de bile conjugada para o sangue. A proteinúria
pode ser evidenciada devido a hemorragias na presença de sangue oculto, trauma e
inflamações na presença de leucócitos no sedimento das vias urinárias, situações que
podem acontecer quando há um aumento da permeabilidade dos glomérulos às proteínas
(DUNCAN; PRASSE, 1982). No caso relatado o cão apresentou bilirrubinúria
provavelmente decorrente de uma icterícia hepática, devido à congestão de vias biliares
intra-hepáticas, provocada pela hepatite aguda. Dessa forma, a concentração sérica de
bilirrubina aumentou, ocasionando a icterícia e a eliminação de bilirrubina na urina,
com consequente formação dos cristais de bilirrubina.
A proteinúria observada pode sugerir uma origem pré-renal, tais como as
convulsões e a desidratação que o cão apresentou. Em adição, a presença de densidade
urinária normal e de dosagem sérica de creatinina normal descarta a possibilidade de
este animal estar desenvolvendo lesão renal. Os cilindros granulosos, encontrados no
sedimento urinário do cão relatado, podem ser justificados pela associação da
proteinúria com a presença de células epiteliais, as quais podem ter sua origem da
descamação do trato urinário, embora estivesse em número pouco significativo neste
caso.
As causas de linfopenia são várias: infecções, neoplasias, endocrinopatias,
insuficiência hepática, renal, trauma, estresse, convulsões, tratamento prolongado com
35
corticosteróides (DUNCAN, 1982; SILVEIRA, 1988). A trombocitopenia ocorre em
doenças hepáticas, coagulação intravascular disseminada (SILVEIRA, 1988),
anaplasmose, erliquiose, leishmaniose, dentre outras. Segundo Macieira et al. (2005)
quando no exame observa-se uma diminuição dos linfócitos e das plaquetas, uma causa
muito provável é a hemoparasitose subclínica, apesar do resultado negativo na pesquisa
de hemoparasitas no sangue periférico. Segundo muitos autores, as hemoparasitoses
podem ser uma causa importante de disfunção hepática aguda. Neste relato, a linfopenia
e a trombocitopenia observadas podem estar associadas com tais infecções, visto que o
cão vive em área endêmica para as hemoparasitoses e para a leishmaniose.
O tratamento da EH tem por objetivo diminuir os níveis séricos da amônia,
aumentar o seu metabolismo hepático e, principalmente, reverter o quadro neurológico.
Segundo Ferenci et al. (2006), animais que apresentam hepatite aguda associada a um
quadro encefálico, podem apresentar convulsões e coma. Portanto, o uso de fármacos
anticonvulsivantes é de suma importância em animais que estiverem em status
epilepticus.
O uso de diazepam, na dose de 0,5 a 1mg/Kg, IV, é o fármaco de escolha inicial
quando se deseja ação e resposta rápida do quadro convulsivo, porém, por ele agir
rapidamente, apresenta a desvantagem de ter sua concentração diminuída mais
rapidamente. Para o controle mais prolongado no caso de duas convulsões ou mais, usa-
se fenobarbital na dose de 2 a 4mg/Kg, IV, logo após a administração do diazepam,
devido à sua propriedade anticonvulsivante prolongada. Este é o protocolo mais
preconizado para evitar que o animal chegue a óbito (BERENDT, 2002). No animal
relatado foi instituída a terapia anticonvulsivante com os fármacos e as dosagens citadas
acima, obtendo-se êxito no restabelecimento neurológico.
Enemas com água morna e lactulose, fármaco de eleição para o tratamento da
encefalopatia hepática, possui vários efeitos benéficos como a redução do pH do meio
intestinal, favorecendo a conversão de amônia em íons amônio (não absorvíveis pela
mucosa) e a redução da população de bactérias produtoras de amônia. Ainda acelera o
36
trânsito gastrintestinal, aumentando a eliminação fecal de bactérias e de substratos
amoniogênicos e inibe a produção de amônia por bactérias intestinais (FERNANDEZ,
2000). Tal protocolo terapêutico foi adotado no presente caso, sendo administrado por
via retal 18 ml de água morna e, imediatamente após, 6 ml de lactulose, auxiliando na
recuperação do animal.
O tratamento consiste também de antibióticos (metronidazol ou neomicina) para
reduzir a população bacteriana produtora de urease (FERNANDEZ, 2000). Um dos
objetivos do uso de antibióticos também é alterar a microbiota intestinal evitando a ação
das bactérias na formação da amônia. Seguindo este raciocínio, utilizou-se, neste caso, a
enrofloxacina na dose de 5mg/Kg IV, BID, durante 2 dias.
O uso de hepatoprotetores, apesar de ser empírico, parece ser importante para
auxiliar na regeneração do tecido hepático. A silimarina é utilizada em doenças
hepáticas e em doenças da vesícula biliar. Estudos experimentais em animais
demonstraram uma ação hepatoprotetora da silimarina contra o paracetamol, radiação,
sobrecarga de ferro, faloidina, e tetracloreto de carbono. Essa ação pode ocorrer pela
inibição da formação de peróxidos lipídicos, eliminação de radicais livres, mudança das
propriedades físicas das membranas celulares e pela redução da fibrogênese hepática
(LEMOS, 2012). No presente caso, o hepatoprotetor escolhido foi a silimarina, na dose
de 2 ml/Kg, VO, BID, durante os dias de internação do cão.
Nas lesões hepáticas agudas o prognóstico quanto à recuperação é mais
favorável quando o animal sobrevive aos estágios iniciais. Essa afirmação se aplica ao
cão relatado, o qual apresentou uma recuperação clínica rápida após o desenvolvimento
de um quadro agudo de hepatite com consequente encefalopatia (BIRCHARD;
SHERDING, 2008).
37
2.1.4 Conclusões
38
REFERÊNCIAS
39
BRUM, M.A, et al. Utilização de probiótico e de lactulose no controle de
hiperamonemia causada por desvio vascular portossistêmico congênito em um cão.
Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.2, p.572-574, mar-abr. 2007.
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Journal of Nutrition, v. 128, n. 12, p. 2733-2746, 1998.
DEJONG, C, et al. Cerebral cortex ammonia and glutamine metabolism during liver
insufficiency-induced hyperammonemia in the rat. J. Neurochem. v. 59, p. 1071-1079,
1992.
40
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mecanismos de acción. Unitat d’Hepatología, Barcelona, v.8, n.10, p. 516-521, 2000.
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43