Artigo 2
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na pós-modernidade liquida.
Resumo
O presente artigo tem como finalidade debater teoricamente, como a transição da sociedade e cultura
tão sólidas, descrita por Sigmund Freud, se tornaram tão líquidas para Zygmunt Baumann em um
curto espaço de tempo. Aqui busca-se entender como essa mudança subverteu a lógica do aparelho
psíquico constituído por Freud, embora não se preste a negar a genealogia do aparelho psíquico,
mas sim buscar entender, a partir da rotação contrária do pêndulo moral, prescrito por Baumann,
como se dá essas novas relações sociais pós-modernas. Entende-se, portanto, que a humanidade
passa a viver uma inversão de valores capazes de modificar a relação do ser humano com o seu
próprio inconsciente e a largos passos essa mudança abrupta força o indivíduo a adentrar em um
novo modelo de sociedade, chamada por Baumann de Sociedade Líquida.
Abstract
The purpose of this article is to theoretically discuss how the transition from such a solid society and
culture, described by Sigmund Freud, became so liquid for Zygmunt Baumann in a short period of
time. Here we seek to understand how this change subverted the logic of the psychic apparatus
constituted by Freud, although it is not intended to deny the genealogy of the psychic apparatus, but
rather to seek to understand, from the opposite rotation of the moral pendulum, prescribed by
Baumann, how if gives these new postmodern social relations. It is understood, therefore, that
humanity begins to experience an inversion of values capable of modifying the relationship of human
beings with their own unconscious and in large steps this abrupt change forces the individual to enter
Society.Keywords: Sigmund Freud, Zygmunt Baumann, Psychic apparatus, Society and culture..
Introdução
1
Graduando em psicanálise pela Imaginar – Educação e Treinamentos.
2
O ego não se acha nitidamente separado do id; sua parte inferior funde-se
com ele. Mas o reprimido também se funde com o id, e é simplesmente uma
parte dele. Ele só se destaca nitidamente do ego pelas resistências da
repressão, e pode comunicar-se com o ego através do id. Compreendemos
em seguida que quase todas as linhas de demarcação que traçamos, por
instigação da patologia, relacionam-se apenas aos estratos superficiais do
aparelho mental - os únicos que nos são conhecidos. O estado de coisas
que estivemos descrevendo pode ser representado diagramaticamente (Fig.
1), embora se deva notar que a forma escolhida não tem pretensões a
qualquer aplicabilidade especial, mas simplesmente se destina a servir para
fins de exposição. (FREUD, 1996, p.16)
O Superego é, classicamente, definido como um grande pai, que age como juiz e
visa censurar tudo aquilo que parece ser vil ou que contradiga a moral estabelecida
6
BAUMANN, 2017, p.44, esses impulsos sexuais mudaram de forma radical em sua
prática, refletidas através de um pânico moral que se converteu no aumento dos
casos de abusos sexuais, não que isso não tenha ocorrido nos tempos de Freud,
mas que os casos de denúncia a respeito da violação tenham se tornado uma
crescente. Nesse interim é que DESSAL & BAUMANN, 2017, pgs 44 e 45, afirma o
seguinte:
Com o que foi dito não se pretende dar a entender que os pais de hoje, ou a
maioria deles, fracassam no dever parental, socialmente esperado e socialmente
exigido, de formar/preparar a própria descendência de acordo com os requisitos
impostos pela sociedade que integram junto com os filhos. Longe disso, o que se
pretende dizer é que a sociedade para a qual os pais devem instruir ou educar os
filhos mudou. Já não é uma sociedade que molda seus membros principalmente
para os papéis de produtores e soldados, mas uma sociedade que exige de seus
membros a demonstração e a prática, em primeiríssimo lugar, das virtudes do
consumidor. Quando soa o alarme de uma iminente (ou já instalada) “depressão
econômica” (o nome hoje preferido para falar da “crise econômica”), os líderes
políticos e os especialistas não depositam suas esperanças de salvação no
aumento da produção industrial, mas no fato de que os consumidores comprem
mais bens e gastem mais dinheiro (incluindo o dinheiro que ainda não ganharam
nem podem ter certeza de ganhar no futuro). Os párias contemporâneos já não
são os que recusam ou não conseguem contribuir para os esforços produtivos,
mas os que fracassam em seus deveres de consumidores e ficam fora (ou são
expelidos) do jogo das compras. (DESSAL & BAUMANN, 2017, p.47)
Em síntese o que, outrora, era fruto de uma moral rígida e sólida, de uma
sociedade formada de produtores, tornou-se uma sociedade líquida formada de
consumidores, que são frutos de uma autonomia exacerbada e de valor contrário à
sociedade freudiana e que se tornou, extremamente, vulnerável pelo excesso de
autonomia e liberdade, promovida pela liquidez moderna, onde a retroação de
valores, superinflação de informações criou seres humanos indefesos quanto aos
seus próprios impulsos, pessoas livres demais para fazerem o que querem, sem
terem as devidas consequências de seus atos aplicadas.
Considerações Finais
14
Referências
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