O Currículo Do Curso de Engenharia Industrial
O Currículo Do Curso de Engenharia Industrial
O Currículo Do Curso de Engenharia Industrial
CURITIBA
1997
LAÍZE MÁRCIA PORTO ALEGRE
CURITIBA
1997
Dissertação de mestrado aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no
Curso de Pós-Graduação em Tecnologia, área de concentração em Educação Tecnológica do
Paraná CEFET-PR, pela comissão formada pelos professores:
iv
AGRADECIMENTOS
• AO CEFET-PR, Uned Pato Branco, pela liberação para este Curso de Mestrado.
• AO CEFET-PR, representado pelo seu diretor Paulo Agostinho Aléssio, pela compreensão
e apoio recebidos das diretorias, coordenação e colegas.
• Ao Professor Ruy Vieira e sua esposa, que receberam-me com muito carinho,
proporcionando incentivo e material para o resgate histórico dos Cursos de Engenharia de
Operação e Engenharia Industrial Elétrica.
• Ao Professor Ivan Rocha Neto, pelas prontas informações, quando lhe foram solicitadas.
• Aos meus pais espirituais, Juraci e Esly, pelo imprescindível apoio neste período crucial de
minha vida profissional.
• Aos colegas do curso, sem exceções, que contribuíram com sua amizade e apoio para com a
autora e que não serão esquecidos.
• Ao meu marido Júnior e minha filha Jéssica, pelo apoio e compreensão nos momentos mais
difíceis.
v
SUMÁRIO
LISTA DE x
TABELAS.......................................................................................................
RESUMO...................................................................................................................... xi
.....
ABSTRACT.................................................................................................................. xii
.....
CAPÍTULO 1 - 1
INTRODUÇÃO.......................................................................................
CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL 8
TEÓRICO....................................................................
2.1 Concepção de 11
Currículo...........................................................................................
Currículo............................................................................
Brasileiro.........................................................................
Profissional.................................. 22
2.5 Caracterização
Institucional.....................................................................................
vi
2.6 Definição de 25
Termos................................................................................................
ELÉTRICA.................................................................................................................... 32
....
ELÉTRICA..................................................................... 52
4.1 A Primeira 58
Reformulação........................................................................................ 63
4.2 A Segunda 63
Reformulação........................................................................................ 68
PROFESSORES..................................................... 76
5.1 Metodologia e 77
Procedimentos.................................................................................. 78
....................................................................................... 79
Questionários.................................................................................... 81
vii
5.3.1 Percepção dos Professores com relação a Formação no CEFET- 83
PR.......... 84
Preparado............................................................. 85
Preparação.......................................... 87
5.3.1.3 Ausência de 87
Opinião....................................................................... 88
Disciplinas............................................ 89
Incluídas.............................................................................................. 92
...
Sugestões................................ 95
Estágio........................................... 97
Profissional........................ 98
Estágio.......................................... 101
viii
5.3.4 Opinião Sobre a Percepção da 107
Interdisciplinaridade.................................. 110
Interdisciplinaridade......................... 114
Confundem........................................................ 120
Tecnológica......................................................... 127
5.3.5.1Concepção 129
Definida........................................................................ 131
5.3.5.2 Concepção
Restrita.........................................................................
Definida................................................................
Trabalho.................................................................................................. 137
... 139
Posicionaram............................................ 143
ix
Currículo.....................................................
Currículo..................................
Sugerir..............................................
CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES
FINAIS...................................................................
Correlatos.......................................................................
Ensino...................................
Superior........
Departamento............................
Entrevista.............................................
Demográfico................................................
ANEXO 7 - INSTRUMENTO Nº 3 -
Questionário...........................................................
x
ANEXO 8 - CARTA EXPLICATIVA PARA OS
PROFESSORES.................................
ELÉTRICA.......
NAS DIVERSAS
ÁREAS.........................................................................
ELÉTRICA.............................................................................................
....
PR..........
reformulação.......
ELETROTÉCNICA - 2ª
Reformulação.....................................................
ELÉTRICA/ELETROTÉCNICA - 3ª
Reformulação.................................
REFERÊNCIAS
xi
BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................
xii
LISTA DE TABELAS
xiii
RESUMO
transformações ocasionadas pela velocidade com que são gerados novos conhecimentos
Paraná - CEFET-PR por ser a engenharia a área mais diretamente envolvida e afetada pelo
xiv
1
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Neste final de século os grandes desafios que enfrentamos estão intimamente ligados
com as continuas e profundas transformações sociais ocasionadas pela velocidade com que tem
revolução industrial define o processo dos últimos 200 anos. Observamos também que a
difusão destes conhecimentos, bem como o uso pelo setor produtivo e pela sociedade em geral
tem sido de forma extremamente rápida. Percebemos os impactos provocados pelo emprego
de novas tecnologias, que tem sido uma decisão do setor produtivo, não discutido e não
E evidentemente está inserido neste processo, o ensino técnico de 3º grau, que está em
profissionalizantes, mas sim uma peça importante na geração e difusão do conhecimento. Além
de ter a função primordial de preparar cidadãos para a vida, ensinando-lhes entre outras coisas,
uma profissão. Evidentemente, existem muitos outros fatores envolvidos, tais como
Nesta nova realidade, com as constantes mudanças tecnológicas, o profissional que não
sua qualificação. Assim podemos perceber que a engenharia transforma a esmagadora maioria
Disto extraímos que quem “engenheira” são estes profissionais do setor produtivo, os quais
cada vez menor. Em resumo “ o engenheiro deverá ter sólidos conhecimentos em ciências
área mais diretamente envolvida e afetada pelo avanço tecnológico, pois nas últimas décadas,
sociedade passaram a exigir, cada vez mais, maior contribuição profissional do Engenheiro.
Essas exigências tem concorrido para evidenciar a necessidade de mudanças substanciais neste
currículo.
possuindo visão social critica e criadora, como características da educação tecnológica Como
nas demais profissões, o ensino de engenharia precisa se reestruturar, não pode ser passivo,
1
Esta já era uma definição da ABENGE/CONFEA. Perfil do engenheiro no Século XXI; documento
3
tentando apenas absorver os múltiplos impactos das mudanças sociais. Se os currículos ficam
desatualizados e não são mais apropriados para a formação de um engenheiro para os novos
tempos, talvez devamos de fato reestudá-los, evitando recorrer a simples alteração superficial,
que pouco ajuda a solucionar o problema. Quando somente alteramos as grades curriculares,
Neste momento onde vivenciamos esta revolução, faz-se necessário verificar como está
encontro as novas exigências, por estar inserido no Centro federal de Educação Tecnológica
deste curso justifica-se, trazendo significado para a comunidade educacional que reflete na
sociedade industrial, por ser o mesmo o primeiro a ser criado como Engenharia Industrial, e já
ter passado desde então por 3 (três) reformulações curriculares (as quais serão relatadas neste
trabalho).
prontamente às inovações exigidas. A escola, por sua vez, apresenta frágeis experiências
curriculares e sua análise dentro de uma Instituição de Educação Tecnológica, bem como
situá-lo com relação aos conceitos de currículo, ensino tecnológico e educação tecnológica.
ensino descentralizada de Pato Branco (uned- PB), fomos solicitados para participar de uma
2
todos os cursos de 3º grau passaram por este processo, pois a Uned do CEFET-PR de Pato Branco incorporou
uma Instituição de ensino superior municipal, sendo necessário então a adaptação para a nova realidade.
5
como docente de fazer parte integrante e constante deste novo e inesperado processo. Durante
o ano em que estivemos trabalhando, percebi que o rumo tomado não passava de estudos da
grade curricular, das ementas e dos conteúdos dos referidos cursos, sem a preocupação
formação técnica não tinham muito a contribuir, fato facilmente explicado, tendo em vista que
já percebemos a falha em nossa própria formação (quando técnica), apesar de termos passado
grau, o qual é ministrado pelo CEFET. Com esta evidência percebemos que o professor não
metodológicos que utilizem os meios informatizados e a multimídia, para que desta forma ele
como tratar esta informação e como utilizar as informações obtidas são peças importantes
Em vista do exposto, esta pesquisa vai além de meu anseio profissional, pretendemos
século XX.
6
Elétrica, habilitação Eletrotécnica, por ser um curso que já era ministrado na ETFPR, que ao
também nos motivou nesta pesquisa foi o fato de quando estava na posição de estudante de
na vida profissional (mesmo já atuando profissionalmente nos anos de estudo) percebia que
não utilizava na grande maioria o que havia aprendido, e que em grande parte dos casos
necessitava adaptar-me ao trabalho ou aprender fora da escola o que ela deveria ter ensinado,
Diante desta vivência, passou a ser nosso principal objetivo acompanhar dentro
professores e qual era sua postura diante de tal atividade. Com esta iniciativa, pretendemos
também estar contribuindo com a instituição e com o seu produto final: o profissional do
próximo milênio. Neste sentido, a presente pesquisa não tem a pretensão de responder a todas
as questões suscitadas, mas contribuir para ampliar discussões sobre o assunto. Houve uma
questões que estão sendo enfocadas. Para tal contamos com a acuidade de nossas percepções.
que qualifica e requalifica para o mercado de trabalho. Não podemos propor uma educação
profissional estreita e limitada determinada pelo mero “saber fazer” onde não há compreensão,
análise e crítica. A Educação Tecnológica é muito mais, é aquela que dá formação integral
preparando as pessoas para o mundo em mutação constante; não para o mercado de trabalho
7
que os espera, mas para o mundo do trabalho de hoje e principalmente do futuro. Se, por um
lado, a educação tecnológica deve ser profundamente educativa, por outro ela não tem como
se furtar aos impactos provocados pelas transformações tecnológicas que estão ocorrendo.
Segundo BASTOS “a educação tecnológica, nos seus aspectos específicos de formação pós-
níveis, será sempre extremamente flexível, a fim de se adaptar adequadamente aos “momentos
novo papel das instituições de educação tecnológica, como fator de desenvolvimento do país.
enfoque sobre currículo como um todo, no qual, será esclarecido o porque das preocupações
concepção de currículo e suas definições, bem como seu significado, nas diversas linhas de
considerações finais.
8
CAPÍTULO 2
REFERENCIAL TEÓRICO
Neste contexto as políticas sociais entre elas a educação se apresenta como uma das facetas
desse processo que precisa ser considerada como um aspecto de uma totalidade histórico-
social concreta, que é a formação social brasileira do passado e do presente. Urge, neste
momento, um repensar sobre a educação que o Brasil de fato quer e que sobretudo atenda aos
direitos constitucionais que assegura educação para todos, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
emergente faz-se necessário diante das aceleradas mudanças onde temos que considerar a
educação do homem novo para uma nova era. Essas mudanças exigem novas interpretações e
novos olhares que implicam a produção de novas capacidades mentais, cognitivas e afetivas.
próprio da Educação, deve ser considerado como espaço onde os conhecimentos devem ser
constantemente reconstruídos.
ADAM SCHAFF (1992) afirma como hipótese futurológica que a atual revolução
permanente, como princípio dessa nova ordem social, levará todos a desenvolver a inteligência
por meio de uma instrução completa, que possibilite a mudança de profissão e portanto,
9
consideramos ser oportuno e necessário voltar nossa atenção para as questões curriculares e
para sermos mais precisos, as questões curriculares que envolvem os cursos técnicos
profissionalizantes.
No entanto pela abrangência das transformações que estão ocorrendo nos currículos
dos cursos profissionalizantes, vamos limitar nossa pesquisa para alguns conceitos sobre
currículo, sua função, a evolução do currículo e resultados de uma pesquisa realizada no curso
técnico de 3grau.
pelo advento da era industrial, trouxeram críticas severas para o sistema educacional e a escola
como instituição social, criada para a transmissão dos conhecimentos. Os elementos contra o
formalismo dessa instituição, sua disciplina rígida, a limitação educativa situada nas matérias
estanques e no conservadorismo que fazia com que as pessoas pensassem em termos de passar
aos filhos o que haviam recebido, sem se preocuparem com as mudanças da sociedade e as
novas necessidades surgidas. Tende-se a considerar, que teorias e práticas curriculares surgem
em nosso país como resultado de uma transferência dos Estados Unidos, onde o currículo no
Brasil é visto como cópia do tecnicismo americano. Para influenciar sobremodo as decisões a
serem tomadas no desenvolvimento do currículo, foram criadas varias comissões, nos Estados
Unidos, de 1890 a 1920, as quais citaremos para melhor compreensão desta transferência
educacional: A Comissão dos Dez (Commitee of Ten for the Secondary School Studies), que
introduziu além das matérias chamadas acadêmicas também as matérias práticas; a Comissão
dos Quinze (The Commitee of Fifteen), em 1895, que estabeleceu o princípio de correlação
(The Commitee on the Economy of Time in Education), que foi considerado o primeiro estudo
científico produzido para determinar o valor das matérias, seu lugar e a utilidade social do
para a Educação Progressiva, que impulsionaram uma revisão curricular que combinasse com a
aprendizagem e do currículo
ocorreu a primeira crise econômica mundial), onde as escolas obrigaram-se a uma completa
pessoal da comunidade.
Currículo foram passando, a organismos escolares locais, tendência esta que permanece até os
nossos dias. As mudanças obrigavam a revisões contínuas realizadas por equipes, onde
surgiram então trabalhos/publicações que levaram cada vez mais a preocupação à escola, às
curricular, nos Estados Unidos. Alguns chegaram a ser radicais nas suas críticas, preconizando
11
uma volta ao ensino tradicional, disciplina rígida e até castigo físico. Neste quadro que
TYLER, vem afirmar que “ Os estudos do aluno só sugerem objetivos quando a informação a
respeito dele é comparada com alguns padrões desejáveis, com alguma concepção das normas
desejáveis, de modo que se possa identificar a diferença entre a condição atual do aluno e a
tal maneira que o indivíduo possa inteligentemente fazer uso e melhorar o seu meio ambiente”
HANSEN (1962, p. 9). Mas para alguns, o currículo envolveria muito mais do que conteúdos,
para JOHNSON (l967), não aquilo que o indivíduo é capaz de fazer numa situação de
aprendizagem mas o que ele é capaz de fazer como conseqüência do que aprendeu.
, percurso, carreira, corrida, ato de correr..., o que ocorre no curso e percurso efetuado até o
que se compreende no ato e tudo o que ocorre durante a sua execução o seu término.
na Europa, Estados Unidos, na América Espanhola e Portuguesa. Este tipo de ensino não
artesanato era transmitido de geração em geração pelos mestres de ofício aos seus aprendizes.
organização da educação e escola como instituição socialmente criada para a transmissão dos
do indivíduo para atingir os seus fins, ou a validade dos conhecimentos recebidos em função
ressaltando-se ainda o fato de que conforme a sociedade, cultura ou época e/ou determinado
3
Definição do dicionário Aurélio escolar da língua portuguesa. O termo era adotado no seu original pelos
americanos e ingleses. Mais recentemente adotou-se o termo “currículo”.
13
Iniciamos com DEWEY que diz que o valor de currículo está na possibilidade “de
portanto segundo ele, “tudo afinal se resume na atividade em que entra a inteligência reagindo
ao que lhe é extremamente apresentado” (DEWEY, 1902, p.80). Assim o professor, trabalhará
para que as “condições sejam tais que o estudante pela sua própria atividade se oriente
inevitavelmente naquela direção para o seu desenvolvimento pleno”. (DEWEY, 1902, p.81)
Entendemos que a visão do autor é de que o professor tradicional não atuará na qualidade de
transmissor de conhecimentos.
Através dessas colocações, vemos já em seu tempo, e ainda hoje, um avanço perante as
linha BOBBIT afirma: “Currículo é aquele conjunto ou série de coisas que as crianças e os
jovens devem fazer e experimentar a fim de desenvolver habilidades que os capacitem a decidir
na vida da criança, na de seus pais e de seus professores”, dizendo ainda que “tudo o que cerca
p.173) ,portanto, tudo que rodeia o educando será parte do Currículo: pais, materiais, livros,
organização destas atividades e materiais para o bom ensino, são recolocadas por TYLER
(1949) em seu Princípios Básicos de Currículo e Ensino, nos mostra, na linha filosófica da
temática curricular.
KRUG, define currículo como “todos os meios empregados pela escola a fim de prover
está definição a de ANDERSON, que também diz que “conteúdo e método não podem ser
encarados como entidades separadas”. E ainda complementa: “o currículo inclui não apenas as
experiências da sala de aula mas também as atividades extra classe”. (ANDERSON, 1956,
p.10)
de 1968, quando observamos que “currículo são todas as experiências, atividades materiais,
métodos de ensino e outros meios empregados pelo professor ou considerados por ele para
feitas por LEE & LEE que define o currículo da seguinte forma: “O currículo é a estratégia
pela qual as escolas tentam satisfazer os fins da educação”. (LEE & LEE 1960, p.148)
15
sejam elas naturais ou construídos pelo homem, de toda a educação supervisionada, recreação
identificar e ajudar a eliminar os aspectos que contribuíram para restringir a liberdade dos
Dentro da linha de evolução, será TOFFLER (1974, p. 124) quem nos demonstra, nas
suas preocupações com o mundo de amanhã e de mudanças muito rápidas, que somente a
desenvolvimento de uma psicologia do futuro, considerando que o futuro não tem conteúdo.
ambos com uma orientação para o futuro criará uma motivação de aprendizagem intensas e
fortes para o educando. Assim há necessidade de se ter uma educação para a mudança voltada
para o futuro em que se podem destacar vários modelos de futuros possíveis, dos prováveis e
dos preferíveis.
fornecerá as mais sugestivas e construtivas contribuições a respeito do currículo, onde nos diz
que “habitualmente, os currículos escolares têm dado ênfase mais ao que já acontecem do que
o que está por vir, e que as pessoas e os programas escolares precisam ser orientados para o
16
BERMANiii (1975, p. 34). Diz ainda que para se chegar ao “núcleo essencial da vivência e da
prioridades” (BERMAN,iv 1975, p.13), que são os ingredientes dos processos fundamentais do
construto curricular.
Nos estudos de APPLE (1989), por exemplo, a categoria cultura teve importância
reprodução cultural; como campo onde um conjunto de significados e práticas, que fazem
parte da cultura vivida, submetem as pessoas a uma ordem social existente, ou as qualificam
domínio, discurso e regulação... Assim, se vemos currículo como o ponto onde se reproduzem, de
forma positiva, capacidade e habilidades determinadas, ele deve constituir uma frente privilegiada de
transformação não tem como referência qualquer utopia distante, qualquer destino histórico abstrato e
longínquo, mas as relações de poder e subjugação inscritas na vida quotidiana.” (SILVA, 1995, p. 200-
201)
pelo advento da era industrial, trouxeram críticas severas para o sistema educacional e a escola
como instituição social, criada para a transmissão dos conhecimentos. Os Estados Unidos foi
várias comissões cujos estudos resultaram na: introdução de matérias práticas, na determinação
No Brasil, os reflexos das idéias propostas por autores americanos e europeus, deu
início ao pensamento curricular nas décadas de vinte e trinta, período em que ocorreram
jesuítas foram superadas pelos pioneiros da escola nova, procurando dar consistência ao
sistema educacional.
escolarização dos trabalhadores, para que pudessem atender a pequena indústria que começava
a se organizar. Nas décadas de vinte e trinta foram promovidas reformas educacionais nos
estados da Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal que serviram de sugestões para constituir o
uma nova concepção fazendo com que o currículo fosse entendido como “o intermediário”
A reforma curricular considerada mais arrojada nos anos vinte foi elaborada por
Fernando Azevedo. A reforma foi, na opinião de seu autor, profunda, radical e em consonância
com uma civilização industrial, levando em conta as metas de uma sociedade moderna e as
renovação curricular, que, embora não tenham chegado a propor procedimentos detalhados de
universidade brasileira foi favorecida pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação
Nacional (Lei 4024/1961). Com a LDB abriu-se espaço para organização de cursos de
desenvolvimento do currículo.
orientação tecnicista sob forte influência americana. Nos anos 70 o conteúdo proposto nas
disciplinas de Currículos e Programas reflete uma influência forte das teorias de Tyler e Taba.
Neste período também já se inicia a inclusão de estudos adicionais para discutir dentro da
Assim a Lei 5692/71 que pretendeu dar uma terminalidade profissional para todo
ensino de 2° Grau para que não fosse apenas um preparatório para os exames vestibulares
19
abriu-se espaço para que surgissem currículos onde predominasse os conhecimentos técnicos
O currículo dos cursos técnicos possuem características distintas das demais áreas de
conhecimento, tendo em vista que o mesmo deve acompanhar o avanço tecnológico para
atender as necessidades do mundo do trabalho. Na seção que segue, trataremos deste assunto
Uma política de formação profissional deverá optar pela modernização e pela reforma,
realizadas simultaneamente, sem priorização de uma sobre a outra. Por modernização entende-
potencial de formação colocado a sua disposição pelo sistema educacional. Reforma entende-
portanto, a educação dos desfavorecidos, para que eles desenvolvam suas potencialidades e
não sejam destinados, desde os primeiros anos de escolarização, a formar a categoria dos
Para que o sistema educacional possa ser colocado no compasso das mudanças, faz-se
transmissão de uma visão globalizante dos processos tecnológicos, com ênfase na abstração,
para o capital quanto a máquina. Nesse sentido a produção moderna passa a exigir: trabalho
• competência teórica;
Para que estas habilidades sejam desenvolvidas faz-se necessário uma ampla discussão
sobre o currículo dos cursos técnicos de 3º grau, para que os mesmos possam acompanhar o
teoria/prática, muito bem exposta pela professora Alice Ribeiro Casimiro Lopes da Escola
21
“Como se a prática existisse sem a teoria; como se a teoria não se construísse a partir de uma
prática. Como se não fosse a partir de um diálogo constante que teoria e prática se fundamentassem
educação tecnológica, e julgo que nosso primeiro equivoco no qual freqüentemente nos envolvemos,
quando consideramos que a formação geral se associa à teoria e a formação especial se associa à
prática. Trata-se de um equivoco muito comum, resultando na construção de um fosso entre a formação
pode ser mais analisado fora de sua constituição social e histórica. Estas diferentes
percebemos a necessidade de que para que esse trabalho atinja seu objetivo é importante que
possamos conhecer a ação concreta desenvolvida no âmbito desta instituição. Desta forma
buscou-se conhecer no interior da instituição de ensino que atua com cursos técnicos de nível
médio e superior, como se processa essa mudança para tanto tomou-se como referência o
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná que tem longa experiência e conhecimento
pela lei n° 6.545. Este modelo institucional que possibilitou a ampliação do atendimento
verticalizado que vinha acontecendo em três escolas técnicas federais - as de Minas Gerais, do
Paraná, e Celso Suckow da Fonseca, no Rio de Janeiro. Essas escolas tinham acrescido à sua
formação de engenheiros.
• ministrar ensino de 2o grau com vistas à formação de técnicos sobretudo para a indústria ,
prestação de serviços.
A identidade dos CEFETs tem seus contornos mais nitidamente definidos no decreto
para os Centros:
ensino universitário;
23
trabalho e do desenvolvimento;
grau;
Educação.
pesquisa e extensão. No que concerne aos aspectos curriculares, os cursos técnicos de 3o grau
Educação Tecnológica (SENETE) realizaram em 1990 um estudo que teve como objetivo
redimensionar o currículo dos cursos técnicos industriais nas modalidades em oferta. Sua
tecnológica, tanto em nível nacional como em nível regional. Para que fossem determinados os
• balanceamento das grandes áreas do currículo: educação geral e educação técnica, que
foram analisadas no contexto de formação integral do técnico, seja como profissional, seja
identificação do “técnico que estão formando” e do “técnico que devem formar” numa
Tendo em vista que a indústria, por seu turno, requer, para seu pleno desenvolvimento,
deve ter consciência crítica e ser dotado de criatividade diante da atividade que exerce. O
muita confusão. Para tal, fazemos a seguir algumas distinções. Assim, entendemos por:
plano de currículo.
desenvolvimento do currículo.
interdisciplinaridade.
“Estudo e conhecimento científico das operações ou da técnica. Compreende o estudo sistemático dos
instrumentos, das ferramentas e das máquinas empregadas nos diversos ramos da técnica, dos gestos e
dos tempos de trabalho e dos custos, dos materiais e da energia empregada. A tecnologia implica na
aplicação dos métodos, das ciências físicas e naturais e,...também na comunicação desses
Com esta perspectiva de renovação em todos os níveis da escola, este final de século
sinaliza alguns pressupostos da modernidade que deverão ser absorvidos pela escola, como
propõe DEMO:
“a) entendimento de tendências típicas das sociedades atuais e futuras, em particular, sua marca
científica e tecnológica.
economias...
27
e de domínio técnico...
A qualificação requerida neste final de século tem por base a Educação Tecnológica, a
* Orientação para o mundo do trabalho no que ele possui de determinante ao saber, ao fazer, ao como
fazer e para quem se destina, especialmente no que se refere às transformações que ocorrem na
produção;
* integração às necessidades da sociedade nos seus aspectos culturais e regionais e não apenas às
* articulação com as empresas e instituições do setor público que demonstrem disposição de renovação
desmedido e imediatista;
* atenção constante às transformações que estão ocorrendo nos campos da ciência e da tecnologia, o
que exigirá uma aproximação contínua e progressiva entre os núcleos e os centros de P&D (pesquisa e
desenvolvimento);
renovador do saber tecnológico detentor de um saber próprio (não científico), mas que pode ser
sistematizado e potencializado pela escola, para se aplicado às práticas das experiências profissionais;
28
* educação continuada, que não de encerra na escola, mas sim, que se amplia e se desdobra em
progressiva transformação;
enquanto agente social autônomo, inovador e fonte de resolução de problemas tecnológicos concretos
p. 103)
dos diversos níveis de ensino. Na década de 80 temos consolidado o “modelo CEFET” e nos
primeiros anos da década de 90, vemos os resultados do esforço de se dar uma constante e
estreita interação com os setores agrícola, industrial e de serviços, indo até os setores de
problemas, dentre outros; entende-se que na educação tecnológica, o aluno recebe uma
29
Temos então por educação tecnológica, aquela que integra características do ensino
Com o sistema de ensino não seria diferente, não pode ser passivo, tentando apenas absorver
os múltiplos impactos das mudanças sociais. Quando os currículos ficam desatualizados e não
mais apropriados para a formação do engenheiro para os novos tempos, devemos de fato
Segundo LÜCK (1994, p.34), para uma mudança substancial no ensino, deve haver
caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real
necessidades do aluno, para que posteriormente seja feita a elaboração do programa das
ensino “modelo”, mas possui um caminhar paralelo a ciência, apesar de não ser uma ciência.
Segundo FAZENDA: “Não é ciência, nem ciência das ciências, mas é o ponto de encontro
entre o movimento de renovação da atitude ( grifo nosso) frente aos problemas de ensino e
de uma consciência crítica de que não devemos ser apenas repassadores de conhecimento
doutorado. Estas atividades podem ser oferecidas tanto por instituições de ensino superior
como por outros tipos de entidades, as quais têm ocupado um espaço crescente no ambiente
da educação continuada.
4
INDICAÇÃO 1/72-CEE, aprovada em 3/1/72)
31
propostas concretas que produzam e criem novos conhecimentos” (BEHRENS, 1996, P. 49).
Percebemos a necessidade da constante atualização profissional, pois sempre que idéias são
importantes para o professor, este entusiasmo será comunicado aos alunos pela preocupação
evidente daquele.
Até aqui, procuramos traçar um panorama geral sobre currículo, ensino tecnológico,
profissional é ainda incipiente em nosso país. Após analisarmos alguns fatores que influenciam
curso de Engenharia Industrial Elétrica, habilitação eletrotécnica, sendo elas uma das maiores
ii
idem p.42
iii
idem p.42
iv
idem p.42
32
CAPÍTULO 3
preenchidas foi essencial que uma certa quantidade de tipos diferentes de programas de
devem muito do seu progresso à utilização eficiente de uma equipe tecnológica bem preparada.
Esta equipe inclui, entre outros cientistas e engenheiros, engenheiros de operação , técnicos e
Brasil. Neste contexto surge a necessidade de um tipo de profissional que atendesse mais
Brasil, e que não precisava somente do engenheiro pensante, o que nós chamamos hoje de
técnico de nível médio, que já a decênios estava sendo formado pelas Escolas Técnicas,
Surge desta realidade, como a solução para um problema novo, o plano de um técnico
preparado em nível superior, com treinamento em cursos de duração de três anos, capaz de
Industrial de São Paulo (1963), baseados nos estudos a que procedera uma comissão integrada
estabelecidas as diretrizes gerais dos cursos; que vieram a ser estruturadas pelo parecer nº 25,
de 4/2/1965.
“a função básica do engenheiro de operação abrangeria raios de ação relativamente grande e que
Trabalham diretamente com os Engenheiros, e sob a sua orientação em atividades com planejamento
produção, operação de unidades experimentais, organização dos cálculos necessários aos engenheiros.
Além destas tarefas, o engenheiro de operação teria atribuições de gerência, orientação, manutenção e
superintendência das unidades produtoras, responsabilizando-se também pela gestão técnica do pessoal
1977)
Janeiro, que foi patrocinado pelo Ministério de Educação. Nesta época era o Ministro de
Educação Flávio Suplicy Lacerda, que deu abertura aos trabalhos para que o que aquele
houve uma reação violenta: a grande maioria dos presentes não acatou a idéia, prevendo as
dificuldades que iriam aparecer. Apesar da decisão final contrária desse simpósio, acabou
sendo implantado o curso de Engenharia de Operação a nível nacional. A partir das forças que
professor Edmar de Oliveira Gonçalves, diretor da Escola Técnica Federal “Celso Suckow da
Cursos de Engenharia de Operação nas Escolas Técnicas Federais de São Paulo, Paraná5 ,
instalações da então Escola Técnica Federal do Paraná, ficaram com boa impressão da
Instituição que naquela ocasião contava cerca de 3.200 alunos em cursos diurnos e noturnos,
sendo a maioria nesta última faixa; onde funcionavam cinco cursos técnicos com uma opção
para Telecomunicações.
primordialmente à finalidade do respectivo curso. Seus objetivos eram: oferecer uma formação
ocuparem posições na área de produção); possibilitar experiência prática que lhes proporcione
que lhes sirva de base a estudos mais avançados nos campos da engenharia e da tecnologia. As
utilizar os mesmos currículos já consagrados na ETFCSF, que eram compostos de: Ciência
aos seus interesses pessoais e as modificações tecnológicas inevitáveis. Era de natureza teórica,
5
O grifo é nosso.
36
Uma das primeiras providências que foram tomadas nos cursos do programa de
disciplina no contexto geral do currículo, a disciplina não deveria ser dada como unidade
isolada, auxiliando-se assim mutuamente, com o objetivo de preparar o aluno para os cursos
O Ministro da Educação, que nesta época foi o prof. Flávio Suplicy Lacerda,
governo chamado de revolucionário. Foi o mesmo autor do parecer 4024 de 1962, que
dificuldades, porque este tipo de Engenheiro era o que atenderia as necessidades mais
prementes da indústria automobilística que estava sendo implantada. Porém este currículo
acabou sendo estendido para todas as outras áreas: saiu da mecânica indo para a elétrica, civil,
química, mas sem as devidas adaptações, quando isto realmente não seria exeqüível porque as
matérias correspondentes a estas outras áreas tinham que ser distintas. Esta foi uma das
No final da década de 60, início da década de 70, quando Jarbas Passarinho era
Ministro da Educação, houve um projeto setorial específico do MEC de apoio aos cursos
chamados de curta duração que deu origem a formação de tecnólogos. Este profissional foi
outra figura que veio complicar mais ainda o panorama, porque havia a partir de então o
Tecnólogo e o Eng. de Operação. As duas figuras se eqüivaliam, nos perfis, nos objetivos, etc.
mas o aluno que se formasse como Tecnólogo, não se contentaria com o título de Tecnólogo,
porque ao se comparar a outro aluno que fez o curso mais ou menos com a mesma duração,
37
com a mesma carga horária e com o mesmo conteúdo teria o título de engenheiro (embora
sendo engenheiro de operação, rejeitado pela classe e com todas as outras dificuldades).
Podemos caracterizar a inclusão do Tecnólogo como mais um ingrediente neste contexto que
que teve como finalidade estudar os currículos, fazer o levantamento da situação do ensino de
currículos mínimos que estavam em vigor já há 10 anos, sendo que estes currículos mínimos
aprovados, eram do Curso de Engenharia Civil, Eng. Mecânica, Eng. Elétrica, Eng. Química,
Eng. de Minas, Eng. Metalúrgica e Eng. Naval. A comissão fez seus estudos e chegou a
conclusão de que deveria o curso ser chamado de Engenharia e de que o mesmo deveria ter
um certo número de áreas: civil, elétrica, mecânica e uma área de materiais como um todo que
englobaria a química, metalurgia e minas. Houveram reações das entidades influentes como a
Associação Brasileira de Metais que não tinha interesse em unir metais com química para dar
Um dos problemas que estavam surgindo, problemas estes de várias ordens indo desde
a rejeição dos Engenheiros, podendo ser caracterizados como psicossociais, até a questão da
6
Um dos argumentos do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) para não
registrar nos CREAs os profissionais de Eng. de Operação, era o fato de que se o profissional não era
reconhecido como engenheiro não poderia ser registrável.
38
das carteiras de registros provisórios, fazendo constar o título profissional definitivo, pois já
haviam turmas formadas. Posteriormente sai uma resolução do CONFEA, para registrar os
estudo feito mostrando que o Eng. de Operação realmente não estava atuando como Eng. de
formados e descontentes porque não estavam sendo reconhecidos pela classe. Surge então o
projeto, classificando o eng. de Operação para uma segunda categoria, pois não podia projetar7
Uma das propostas que haviam sido feitas pelo GT/ICEO, era a criação de uma
no Instituto de Engenharia de São Paulo, sendo uma das primeiras atividades da ABENGE
com todos os profissionais da área de Eng. de Operação para estudar o que fazer com a Eng.
centro de tecnologia com apoio do governo Britânico, instalado inicialmente na cidade, indo
posteriormente para o polo petroquímico em Camaçari, ficando ali para formar os tecnólogos
7
O que nos admira nesta resolução é o fato de que não era atribuição do Engenheiro de Operação projetar, mas
39
que atuariam no polo petroquímico. Segundo o prof. Ruy Vieira, em entrevista concedida em
junho/97, ao fazer uma análise do que aconteceu a partir de 1976, com a implantação do
CEMTEC, até hoje; percebe-se que houve um atraso na história do ensino de Engenharia,
porque um grande investimento estava sendo feito para que fossem formados 3 ou 4
tecnólogos por curso, além deste fato não houve atualização curricular nem tão pouco estudo
de demanda.
argumento também de que os tecnólogos estariam fazendo o papel do que se pretendia com o
Engenheiro de Operação e dos problemas pragmáticos. Para se chegar a esta conclusão foi
feita uma aproximação pelos especialistas responsáveis pelo estudo com o setor produtivo de
uma maneira geral e se viu que a grande maioria não estava vendo com “bons olhos” para o
Engenheiro de Operação.
propriamente dito e o Conselho Federal de Educação que era o órgão normativo. Haviam dois
Em dezembro 1976 foi aprovada a resolução nº 48/76 que estabeleceu a nova estrutura
para os cursos de Engenharia. Em 1977 este estudo foi encaminhado ao conselho que
posteriores. A partir daí as escolas que possuíam o curso de Eng. de Operação tiveram pelo
específicas de Eng. Industrial nas áreas: Industrial Mecânica e Industrial Elétrica. Nesta
transformação o processo todo se ateve aquelas seis grandes áreas da resolução nº 4876,
porque o que estava acontecendo antes era a pulverização, como era o caso da Engenharia
circunstâncias daquela época para frente pelo menos mais dez ou até vinte anos, dependendo
currículos mínimos foram estabelecidos com esta visão: eles foram suficientemente amplos
para poder formar um generalista, permitindo ênfases que dependendo da instituição pudessem
delimitar um pouco mais naquela amplitude da formação mais geral da formação mais
equilíbrio, onde caberia uma divisão entre Eletrotécnicos e Eletrônicos . Ao se fazer uma
de uma gama muito maior do que houve algumas dezenas de anos atrás.
uma fase de transição entre os currículos mínimos anteriores, datados de 1962 e a implantação
A Engenharia Industrial ficou caracterizada nas seis grandes áreas: Civil, Elétrica,
Operação, que era para todas as áreas: Elétrica, Química, etc., mencionadas anteriormente.
Ficou caracterizado que o curso seria denominado Eng. Industrial, mas sempre numa área
que correspondia aos assuntos que contribuem para complementar a formação do engenheiro,
elaboração criativa. Havia uma margem bastante grande para a introdução de disciplinas de
42
formação específica, que eram estabelecidas pelas instituições, visando às suas programações
específicas.
Faz-se necessário ressaltar que são dois conceitos distintos: o conceito de Eng. de
Engenheiro numa área chamada de processos. É um profissional que deve ter conhecimento
extremo os engenheiros que acabaram sendo designados engenheiros de concepção, que são os
criadores, planejadores, projetistas, enfim, tendendo mais para uma área de concepção, e no
outro extremo estavam os engenheiros de execução8 . O Eng. Industrial teria um aspecto bem
mais abrangente, sua formação não convergiria muito, mas tendo em vista sempre a execução,
diferentemente do eng. não industrial, que é o que concebe os projetos, etc., mas não estando
Cabe esclarecer que a Eng. Industrial não é um sucedâneo propriamente dito da Eng.
de Operação, fica mais claro que o Eng. Industrial não é um Eng. de Operação transformado,
ele é no novo expectro da formação dos Engenheiros que está mais orientado para os
processos, para as execuções, ao passo que o engenheiro que não tem o qualificativo
industrial, está com o perfil mais abrangente podendo também trabalhar neste setor de
processos, sem dúvida nenhuma, mas de uma forma geral, estaria mais ligado a área da
concepção. Chegou-se a pretensão de que o Engenheiro sem este qualificativo seria de perfil
Industrial passaria a ser o Engenheiro formado pelas Instituições isoladas de ensino, sendo este
43
temos uma lista das atividades dos mesmos, como projeto, planejamento, etc., chegando até o
grau de execução. O que deduzimos é que se a orientação for mais para ciência e menos para
tecnologia, mais para teoria menos para a prática , estaremos indo para o lado da Eng. de
O que se percebe é que foi feita uma tentativa positiva de se implantar uma escola
diferente, que ainda não existia, para solucionar um problema brasileiro, onde surgiu proposta
de verticalização do ensino, criando-se um tipo de entidade que era uma Escola Técnica
de pesquisa tecnológica.
se chegar a esta implementação porque existia a iniciativa do CENTEC da Bahia que estava
8
Há uma certa semelhança com o eng. de produção, que também é um eng. de execução. Percebemos uma certa
44
daquelas seis escolas em CEFET’s, que foram exatamente o Paraná, Minas Gerais e o Rio de
Janeiro.
Engenharia, efetuou-se estudos concluindo que não era conveniente nem oportuna a
Eletrotécnica e Eletrônica.
Com base no parecer de 1962, foi baixada a resolução, cujo artigo 3º fica o currículo
correspondentes: na área civil, habilitação de Eng. civil, na área elétrica, habilitação Eng.
outras já existentes, ou que venham a ser criadas, dever ter origem em uma ou mais áreas da
Eng. referentes ao art. 8º, então aqui estava um embrião do que aconteceria em seguida com
analogia até com os tecnólogos, que acabavam sendo uns “mini engenheiros” da área da execução em setores
45
provir de uma daquelas seis grandes áreas, no caso evidentemente da área Elétrica, mas não
estava dizendo que seria uma habilitação elétrica única, estava abrindo a porta dos estudos da
Departamento de Assuntos Acadêmicos (DAU), que tinha por diretor Edson Machado,
Aeronáutica (ITA)9 , da Escola Politécnica da USP, sob a coordenação de Hélio Guerra Vieira,
novidades eventuais e sua incorporação nos currículos plenos dada flexibilidade da estrutura
ênfases. Notamos também neste estudo que a tendência dominante é a do currículo que se
Engenheiro Eletrotécnico e vice-versa. No que fosse possível, o estudo feito levava em conta
derivada da física e da Matemática e assim por diante. Por fim conclui que deve manter uma
bem limitados.
46
Foi a partir de 1977, nos contextos das resoluções 4/77 e 48/76 do CFE, que são
ministrados nos Centros estabelecidos pelo Governo Federal, em decorrência do projeto MEC-
currículos mínimos de Engenharia. O CEFET-PR apresenta-se, a partir deste fato, na lista das
instituições que tiveram o curso de Eng. de Operação convertido para Engenharia Industrial
Elétrica.
Após esta breve exposição de como ocorreram a criação do curso de Eng. de Operação
e posteriormente sua extinção, passando para Eng. Industrial Elétrica, espera-se ter sido dada
uma visão panorâmica do assunto, com o propósito de podermos seguramente expor como
9
O ITA foi a primeira instituição que implantou no país um curso específico de Engenharia Eletrônica , tendo
desde então, servido de modelo para os demais cursos que foram sendo criados.
47
CAPÍTULO 4
superior para este não ser considerando superado e inadequado as necessidades futuras. A
escola deve capacitar o profissional para resistir ao rápido obsoletismo das técnicas aprendidas.
A maneira como se dava a formação do Engenheiro de Operação era isolada, oferecendo aos
exercício profissional, sem o devido caráter formativo. Hoje temos um panorama diferente,
vemos engenheiros atuando com recursos especializados, deparando com a alta tecnologia.
Desenvolvem trabalho em equipe formada por profissionais das mais variadas áreas.
Pelas razões expostas, o currículo deve ser flexível e constantemente atualizado. Para
tal deve ser analisado e adaptado, visando atender as constantes exigências do mundo de
trabalho. Para que pudéssemos fazer um comparativo das evoluções das reformulações
curriculares, achamos pertinente fazer este breve relato do histórico das reformulações
conversão do curso para Eng. Industrial Elétrica, até a implantação do último currículo
reformulado (1996).
reformulações curriculares, que totalizaram três, para que pudéssemos a partir destes resgatar
os fatos, tendo em vista que não foram encontrados registros destes processos.
48
Eng. de Operação para o Curso de Eng. Industrial Elétrica. Havia reação do mercado e dos
próprios egressos da engenharia de operação que começaram a perceber que legalmente eles
tinham muito pouca atribuição, apesar de não ser um problema de habilitação. O principal
Operação formados acabavam tendo menos atribuições que os técnicos de 2grau. Parecia
não haver nenhuma vantagem, resultando numa sensação de “meio-engenheiros”, pois não
podiam exercer atividade como engenheiro, tais como: não fazer projetos, não ser responsável
técnico por uma empresa e uma série de outras restrições, o que resultava no mundo de
Mostrou a realidade que prudente seria extinguir este curso de Engenharia de Operação
e implantar o curso de Eng. Industrial nas escolas que já tinham uma estrutura bem
CEFETs.
Para tal foram convocados os Coordenadores de Curso que também respondiam pela Chefia
Todo o currículo foi estudado, pois a grade de disciplinas era diferente . Algumas
disciplinas coincidiam com as do curso de Eng. de Operação, mas na grande maioria quando
49
coincidia o nome da disciplina, não ocorria o mesmo com o conteúdo e nem com a carga
pouco das disciplinas já cursadas, pois para ganharem o título de Eng. Industrial necessitavam
O primeiro passo para que se fizessem discussões a cerca do novo currículo foi através
de pesquisa feita junto as indústrias (as mais desenvolvidas). Os questionamentos feitos aos
industriais eram em torno de quais atribuições eram almejadas por eles, no Eng. Industrial.
Aparece a primeira dificuldade: Como definir o Eng. Industrial? O que a maioria entendia era
que tal profissional estava sendo “treinado” para trabalhar na indústria, o que gerou uma certa
dificuldade para que o empresário entender o que era um Engenheiro Industrial, que na
“ Prova disto é que os egressos do curso de Engenharia Industrial, não tem grandes dificuldades de
emprego, porque o empresário ao escolher entre um engenheiro formado por uma universidade e um
formado pelo CEFET, segundo as suas necessidades, ele acaba preferindo o último, porque o mesmo
começa a produzir imediatamente. Este fato gerou reflexões no ensino da universidade, que começou a
equipamento, pois já possuíam know how; e o engenheiro de operação de certa forma estava se
saindo bem no mercado de trabalho, ele produzia, apesar de frustrado (pois fez um curso de
tivessem mais o perfil do saber fazer imediatamente, não tendo que aprender a fazer ao iniciar
suas atividades profissionais, necessitando apenas adaptar-se aos modos operantes da empresa.
Os empresários não estavam dispostos a esperar que o engenheiro produzisse somente após o
primeiro ano de trabalho. Percebeu-se então que o mercado precisava de um profissional mais
A preocupação maior nesta reformulação foi com a grade curricular e com a pesquisa
junto as indústrias. Para chegar a solução esperada foi elaborado um questionário e uma
sugestão de grade curricular, onde foi solicitado ao empresário que dissesse o que ele gostaria
que fosse ministrado nas disciplinas do currículo. Aquelas sugestões que eram mais
também empresários que fizeram inúmeras sugestões, porém que só serviriam para o seu caso
o que foi possível e que abrangia a maior parte das necessidades, porque o engenheiro tinha de
ser preparado para atuar nas diversas indústrias e não em uma específica.
determinada bibliografia, que seguiam determinada linha, mas também haviam outros que eram
de metodologia mais simples, e que não acompanhavam estes. Desta forma o conteúdo
10
Definição extraída da publicação do MEC/DAU: Nova concepção do ensino de Engenharia no Brasil, de abril
51
forma comum entre os professores, gerando diferença entre eles. Alguns professores queriam
Decidiu-se então que cada professor faria seu conteúdo, que posteriormente seriam
distribuídos equilibradamente.
definição de conteúdos e carga horária. Vários currículos de outras instituições a nível nacional
foram consultados (Ita, Itajuba, Santa Rita, Belo Horizonte, Bahia, Rio de Janeiro). A partir da
reunião de todos os dados fez-se um mapa, para localizar as disciplinas e as instituições. Não
professores. Pessoalmente acredita que os professores das disciplinas técnicas que não
deveriam ser somente de dedicação exclusiva, porque não se atualizariam em dez horas livres
por semana, vendo catálogos, revistas, etc. Por isso, o mesmo defende o profissional professor
para esta área, pois ao trazer para a sala de aula sua experiência prática, colabora para a
As primeiras turmas foram uma grande surpresa, estavam saindo-se muito bem. Mas
como os sistemas de produção mudavam rapidamente, seus reflexos foram sentidos pela escola
vigente não atendia mais as necessidades de mercado e as muitas especializações que estavam
novas disciplinas e com a introdução destas, aquelas que não tinham mais a validade necessária
cediam espaço para estas disciplinas. Este foi o principal motivo que despertou para a
preocupação com uma nova reformulação curricular, partindo-se então para a seguinte.
Notou-se que o currículo anterior estava realmente deficiente, pois quando foi criado, era o
horária e quantas disciplinas teriam cada núcleo. Estes grupos de professores posteriormente
juntavam-se num único grupo para discussão coletiva onde todos os professores da área
forma mais produtiva para se chegar num novo currículo, é partir de uma proposta inicial, para
que a partir desta sejam feitas as alterações, ficando mais fácil de se trabalhar.
Esta proposta inicial não precisava necessariamente ser elaborada por um grupo,
poderia ser feita por uma única pessoa. A partir deste ponto começaram a ser feitas as
alterações em torno do que existia, sendo mais produtivo do não se ter referência.
Segundo o corrdenador desta: “tem que se partir das competências que precisamos no
mercado, e a partir destas verificar quais são as necessárias no curso para suprir aquela
53
necessidade de mercado, e uma vez estas competências definidas, partindo-se para a criação ou
a alteração dos conteúdos definindo-se em seguida as disciplinas que vão permitir que os
alunos tenham aquelas competências”. Diz também que: “o método muito usado nas escolas
atualmente, é partir das disciplinas , que ao seu ver é um método errado, porque partindo-se
das disciplinas, colocam-se conteúdos que não seriam tão necessários e com este acréscimo,
melhor maneira possível, sendo este um mérito dos mesmos, pois tratava-se de uma tarefa
muito difícil, tendo os mesmos que desenvolverem o trabalho de forma dispersa, sem uma
metodologia adequada.
Mas na época não foi muito difícil porque o currículo vigente, como já foi dito, era
gerencial, etc. Apesar desta dificuldade ter sido observada no currículo anterior, não foi
Diz o coordenador:
11
Isto reforça a opinião do coordenador da reformulação anterior de que o professor que tem também uma
atividade profissional, percebe antes as necessidades do mundo de trabalho do que o que se dedica somente as
aulas.
12
Apesar deste currículo ter durado 10 anos.
54
“a mudança curricular poderia abranger a mudança tecnológica, mas eu entendo que hoje a tônica do
que deveria ser dado é mais neste aspecto de trabalho, da qualidade, na área de trabalho em grupo, na
área gerencial, que é mais importante que a área tecnológica, porquê? Porque esta área tem uma
evolução muito grande e dentro do período em que o aluno está estudando, pode se tornar obsoleta
aquela tecnologia, mas a parte gerencial não; é nesta parte gerencial e de trabalho em grupo que ele vai
ter a sua capacidade de trabalhar em grupo. E aquilo que ele precisa tecnologicamente ele pode fazer
em cursos de curta duração e adquirir posteriormente, porque a vida inteira se corre atrás disto.
Quando se muda um equipamento, tem que estudar este novamente e nem por isto perde-se a formação.
Esta seria a tendência ideal: não dar uma especificidade muito grande ao curso, dar um curso mais de
base e com uma forte formação na área gerencial, de qualidade, os conceitos que são exigidos pelo
atividades eram um pouco menores até que se chegasse ao final, onde seria implantado.
posteriormente não houvesse alegação do professor com relação a oportunidade de expor seu
ponto de vista.
Além da parte profissionalizante, deu-se uma base bastante sólida, as cadeiras de Física
e Matemática, que tiveram um acréscimo muito grande na carga horária, resultando num
sua disciplina contribuía na área específica. Esta foi a principal finalidade de se congregar os
dois grupos. Nisto foi possível observar que também houve nesta reformulação a participação
de professores das duas áreas. Houveram também professores que perceberam a importância e
queriam participar e os que eram apáticos. Dentro da comunidade acadêmica pode-se ter este
preocupação com a Educação Tecnológica, onde almejava-se que o aluno tivesse visão do que
que o mercado estava precisando. Não havia, neste período o problema de desemprego. A
Como ocorreu na reformulação anterior não houveram registros das reuniões, apenas
anotações do que necessitava ser trabalhado para se chegar ao currículo e ao documento final.
reformulação curricular e quais seriam os passos, de uma forma mais científica, para não se
uma grande expectativa dos mesmos com relação ao corpo discente, principalmente com
56
respeito ao semestre em que seria implantada a nova grade curricular, e a forma de como uma
Porém com relação a participação dos alunos na reformulação, não observou-se tal
entusiasmo, pois foi mencionado que geralmente o aluno que ainda está em processo de
formação, não tem a visão global necessária para propor a inclusão de novos conteúdos e a
retirada de conteúdos obsoletos. Somente os alunos dos últimos semestres poderiam dar a
Com relação ao professor que trabalha paralelamente em atividade externa à escola, diz
o coordenador:
“percebe-se que a sua colaboração é bem mais participativa e intensa com relação aos conteúdos que
devem ser alterados ou acrescidos, mas os mesmos não aceitariam uma consultoria com relação ao
currículo propriamente dito, mas sim uma consultoria sobre a metodologia para se elaborar um estudo
a sua preocupação com o perfil do egresso, sua identificação com a instituição e a sua postura
profissional.”
Mencionou-se também: “que a escola deve formar uma base sólida, com as disciplinas
geralmente têm vida muito curta em decorrência com que ocorrem as mudanças tecnológicas.
formação desejada.
57
Com relação as disciplinas que são básicas e não possuem alterações em seu conteúdo,
como por exemplo na matemática, o que mudou foi a forma como se repassava determinado
conteúdo. Exemplifica o coordenador que “até há poucos anos era obrigatório o conhecimento
sem consulta da tabela de integrais imediatas, o que não se concebe nos dias atuais, pois com o
advento da informática, o mais importante é saber onde encontrar determinado assunto do que
tê-lo memorizado.”
mesmo deixou de ser composto por disciplinas isoladas, sem nenhuma ligação, mas sim como
metodologia de ensino para o “ensino centrado no aluno”, onde não é o professor que ensina,
mas é o aluno que aprende, porém tal não foi possível, porque a aplicação do método requeria
disciplinas. Houve a falta de uma linha mestra para se trabalhar o currículo. Para isto contou-se
com a autonomia didática, onde eram feitas as modificações, caso ficasse evidenciado uma
Desde a última reformulação ocorrida em 1987 ( currículo 2) até 1993 foram feitas
surgiu a dúvida: Será que este currículo está adequado? Havia também um retorno por parte
dos alunos nos seminários de estágio. Nestes encontros os alunos questionavam alguns
enfoques como a falta de algumas áreas dentro do currículo a qual já acontecia na indústria
(na área de acionamentos, controle e na área elétrica). Com o incentivo da direção geral e da
direção de ensino e em função destas informações, foi-se percebendo que havia a necessidade
área (Física , Matemática, Química..., enfim, áreas geral e específica), e nesta comissão
principal função era de dar o “feed back” para os professores de como o processo ocorria. A
Montou-se uma planilha de questionários e de assuntos a serem vistos nestas, onde passou-se
59
2 dias na Universidade Federal de Santa Catarina, 2 dias na USP, dois dias na UNICAMP,
dois dias no ITA e dois dias na Universidade Federal de São Carlos. Durante estes dias
de Laboratório. Também foi intuito destas visitas fazer um comparativo entre estas
graduação, o curso ficou equiparado com estas universidades, tanto na estrutura dos
aonde o egresso estava atuando, etc. Porém o alerta foi com o fator pós-graduação, percebeu-
graduação.
semestral. Houve uma grande participação dos professores nesta atividade, onde os mesmos
eram convocados13 .
o problema das área gerenciais, etc., enfim a área tecnológica estava sendo afetada por essas
direcionamento curricular para o engenheiro que se queria formar em cinco anos, que não
13
Apesar deste trabalho amplo de discussões, ainda se questiona que o processo não foi bem difundido.
60
será mais o engenheiro que está sendo formado hoje e que com certeza não é a engenharia que
enfocado na preparação do aluno para o mundo futuro. Apesar desta realidade não houve a
preocupação com a participação de professores com visão voltada para a área filosófica e nem
O que se percebeu foi a forte formação técnica do aluno, com deficiências na área
gerencial e na área humanística. Esta deficiência foi sanada com a inclusão da Disciplina de
profundidade. Esse esforço visou propiciar ao engenheiro uma formação básica mais sólida
tempo em que o qualificaria a interagir com o meio social e físico em que vive. .As matérias de
sistemas característicos de cada área. As diferenças em relação ao currículo anterior eram mais
de ordem qualitativa do que quantitativa. O conteúdo era mais moderno, geral e orientado
para um tratamento sistêmico da engenharia. O mesmo tipo de orientação foi dado as Matérias
de Formação Profissional Especifica, cujo conteúdo foi escolhido pela própria instituição de
ensino, pelo menos no que se refere as habilitações típicas de cada área. As disciplinas e seus
respectivos programas não foram obrigatoriamente restritas aos limites de cada matéria.
Houve flexibilidade adicional e essencial para que o currículo seja um todo lógico capaz de
compreender que o mundo não se resume ao universo de sua profissão, das ciências e da
tecnologia com as quais trabalham. Sua função, porém não se reduz á profissionalização destes
pensadores nas várias áreas, de intelectuais capazes de equacionar com rigor e lucidez os
problemas do mundo físico e social. Percebeu-se ainda que a posição destes professores não
proveio de fora, somente do mercado, mas de dentro, ou seja, da qualidade da reflexão que aí
sociedade, da relação que professores e alunos constróem com o saber. Percebemos que o
professor nesta instituição não existe somente para explicar a matéria, substituir leitura e
elaboração, mas para mostrar caminhos de como se podem dominar temas com autonomia,
pelos meios eletrônicos. ( Demo, 1993, p.136). A introdução das novas tecnologias de
informações do PRODENGE:
“De maneira muito sintética, pode-se afirmar que o engenheiro deve ser preparado para, durante toda
sua vida profissional, gerar, aperfeiçoar, dominar e empregar tecnologias, com o objetivo de produzir
bens e serviços que atendam, adequada e tempestivamente as necessidades da sociedade, isto é, com
qualidade e custos apropriados. Estes desafios deixam claro que não haverá mais formação profissional
terminal... Neste sentido o professor torna-se também um “estudante” apenas mais experiente e
treinado para a pesquisa e para a inovação.” ( extraído da home page do PRODENGE-12 pags.)
62
Pois,
48/76 do Conselho Federal de Educação, cuja revisão torna-se oportuna. É possível que algumas
Engenharia na modernização das suas estruturas curriculares, a utilização cada vez mais intensa de
Eletrotécnica, através de suas reformulações curriculares caminha para uma concepção ampla
CAPÍTULO 5
diferentes conexões entre partes do conhecimento. Sabemos que a reforma curricular enfrenta
desta nova era, necessita de constante reflexão sobre sua atribuição. Portanto decidimos ir a
reformulações curriculares.
Desde o início deste estudo, a intenção foi a de usar uma abordagem qualitativa, pelo
seu caráter aberto e flexível. Foi a linha de pesquisa escolhida, porque a mesma convergia em
por esta abordagem, devido a mesma envolver a obtenção de dados descritivos, obtidos no
os diferentes pontos de vista. Também optou-se por esta abordagem para que citações fossem
pesquisas qualitativas.
tecnológica.
Após a definição do curso a ser pesquisado, partimos para os primeiros contatos com a
diretoria de ensino, através de carta (Anexo 1) solicitando permissão para realizar pesquisa
Elétrica, habilitação Eletrotécnica. Para que tivéssemos livre acesso , tanto com os professores,
procedimento facilitou, tanto o acesso aos professores, como o contato com as secretárias e
consequentemente aos arquivos. Após a autorização ter sido concedida, passamos por um
processo demorado e reflexivo para a elaboração dos instrumentos, totalizando três, que
Iniciamos a construção do primeiro instrumento ( Anexo 5), sendo que a intenção era
curriculares ocorridas no curso. Para este instrumento, não fizemos o piloto, devido a intenção
do mesmo ter sido de coletar dados históricos e não idéias pessoais dos coordenadores.
que nos indicou o perfil deste professor, sendo que estas informações poderiam ser utilizados
em possíveis cruzamentos de dados. Estando este definido, partimos para a formulação das
questões abertas do questionário, levando em consideração que elas permitem captar um maior
Juntamente com a ficha de perfil demográfico e o questionário, anexamos uma carta ( Anexo
8), que explicava os propósitos da pesquisa, a garantia do anonimato e definia o prazo para a
entrega do mesmo( foram elaboradas três versões preliminares dos instrumentos, antes de
também eram os coordenadores das reformulações curriculares, que ocorreram no curso desde
que o mesmo passou de Engenharia de Operação para Engenharia Industrial Elétrica, até 1996.
coordenador da terceira reformulação, por estar o mesmo em período integral na escola e ter
entrevistados, para que os mesmos pudessem responder as questões que emergiam no decorrer
da leitura da transcrição. Tal processo foi necessário, devido a algumas expressões e dados
O tempo médio da gravação das entrevistas foi de 40 minutos, sendo que o menor
tempo foi o da primeira. Acreditamos que este fato se explica devido ao tempo transcorrido
entre o processo de reformulação e a entrevista, porém este fator não acarretou na integridade
entrevistas, decidimos por aplicar o piloto, para que pudéssemos obter a validade das
informações a serem coletadas. Dos 40 professores, que constavam na lista fornecida pela
exclusiva, 02 professores com carga horária de 20 horas/aula e 01 professor com carga horária
podendo desta forma contribuir para a melhoria do instrumento. Nesta etapa recebemos o
estudo piloto no tempo esperado, tendo sido respondido por 04 dos 05 professores ficando
então equilibradas as opiniões e respostas , onde a proporção neste estudo piloto ficou da
seguinte forma:
trabalho de pesquisa.
prorrogar o prazo para mais cinco dias, optando pela entrega pessoalmente do questionário, o
respostas. Optamos pelo envio de nova carta (Anexo 9), a qual mencionava a importância de
que tais questionários fossem devolvidos, dentro de um novo prazo. Novos questionários
foram entregues anexados as cartas, evitando assim o constrangimento, caso alguém tivesse
Desta nova remessa, recebemos mais 08 questionários. Resolvemos então pela não
insistência de novo contato, por acharmos que os professores que não entregaram os
documentos em tempo hábil, não o fizeram por falta de tempo ou falta de envolvimento e/ou
identidade com o assunto. Decidimos então pela análise dos 16 questionários que retornaram,
totalizando 48,48 %.
68
1º PRAZO 02 PROFESSORES
2º PRAZO 06 PROFESSORES
3º PRAZO 08 PROFESSORES
profissionalizante 9 56.25
GRADUAÇÃO
engenheiro/bacharel 13 81.25
engº bacharel c/ esquema I 1 6.25
engº bacharel c/ licenciatura 2 12.50
licenciado 0 0.0
PÓS-GRADUAÇÃO
especialização 5 31.25
mestrado 8 50.00
nenhuma 3 18.75
DESENVOLVE PESQUISA
sim 7 43.75
não 9 56.25
REGIME DE TRABALHO
20 horas 8 50.00
40 horas 5 31.25
dedicação exclusiva 3 18.75
ATIVIDADE EM OUTRA INSTITUIÇÃO
indústria 8 50.00
instituição de ensino 4 25.00
iniciativa privada 1 6.25
sem outra atividade 3 18.75
coordenação 3 18.75
chefia de divisão 3 18.75
chefia de departamento 1 6.25
direção de uned 1 6.25
Analisando a Tabela nº 3.a. e 3.b., o primeiro dado que impressiona é que, dos 16
no curso (40) também são do sexo masculino Esse dado pode ser justificado tendo em vista
algumas barreiras enfrentadas pelas mulheres que optam pelo curso de Engenharia Industrial
por exemplo, observa-se um número mínimo de alunas em relação ao de alunos nos cursos de
restando apenas um professor com idade superior a 50 anos em estágio inicial de carreira, mas
possuindo 25 anos de experiência com chefia em empresa no ramo (Engª Industrial elétrica -
Copel). Dos professores com idade entre 20 a 30 anos, 3 estão em estágio inicial de carreira e
1 em estágio intermediário. Dos professores na faixa dos 31 aos 40 anos, temos 3 em estágio
estas duas faixas etárias, a segunda possui o maior número de professores. O que não ocorre
na faixa dos 41 aos 50 anos, onde encontramos somente um professor em estágio avançado de
carreira.
arranjamos os professores que estavam entre o primeiro e o quinto ano de docência, no estágio
intermediário os que estavam entre o sexto e o décimo segundo ano de carreira, e no estágio
71
avançado os que caracterizavam mais de treze anos de atividade docente. Estas categorias de
estágio da carreira foram usadas em pesquisa anterior ( MOREIRA, 1994), onde o autor
estão em estágio inicial de carreira 7 (43.75 %), porém percebemos que número de professores
ficou no estágio intermediário de carreira. Estes dados demonstram que devido a este
equilíbrio entre os estágios inicial e avançado, devem ocorrer trocas de experiências, que
consequentemente são transmitidas em sala de aula, sendo que mais da metade (58.33%)
licenciatura, sendo que estes estão em estágio inicial de carreira, com dedicação exclusiva,
cursando mestrado, portanto estão desenvolvendo pesquisa. Observamos ainda que um destes
professores possui experiência de chefia. Com estes dados podemos constatar que estas
sendo que 7 destes (43.75%) o realizaram no CEFET-PR, dando continuidade a seus estudos
na mesma instituição. Vemos que a tendência dos que terminaram o 2º grau foi procurar uma
Constatamos que 8 ou seja 50% dos professores possuem mestrado, sendo que 4 destes estão
professores que cursaram ou cursam mestrado , apenas 1, que está em estágio avançado de
carreira e já concluiu seu mestrado, atualmente não desenvolve pesquisa. O restante, que estão
pela continuidade dos estudos, foi percebida nestes professores. Acreditamos que esta
característica positiva de constante formação esta sendo absorvida pelos alunos, contribuindo
horas de trabalho, contra 3 (18.75) com dedicação exclusiva. Estes dados significativos e
podem ser objeto de estudos mais aprofundados; por hora, pode-se fazer três deduções:
primeiro, que o professor que trabalha na indústria, trabalha na instituição 20 horas, pois a
indústria possui um horário de trabalho integral, sem flexibilidade; segundo, porque podendo o
professor com formação técnica ter a opção do trabalho na indústria e devido a desvalorização
e terceiro, o professor sente atração e/ou necessidade de realizar-se nas duas áreas: aplicando o
73
experiências adquiridos ao aluno. Destas acreditamos que a que mais contribui para o aluno é a
masculino; metade dos professores têm experiência na indústria; a metade dos professores que
dos 20 aos 30 anos e na dos 31 aos 40 anos. A predominância dos professores com formação
mais de 5 anos nesta atividade; 68.75 % dos professores possuem experiência profissional
anterior a docência a mais de 5 anos; metade dos professores possuem experiência em chefia.
Nesta seção relatamos os resultados dos questionários (Anexo 7) aplicados junto aos
a preparação do profissional para as mudanças que ocorrem na sociedade atual, bem como se
através de sua experiência docente, acredita que deveria haver uma reformulação das
disciplinas existentes. Questionamos também qual a sua opinião com relação a disciplina de
nos proporcionou esclarecimentos que nos possibilitaram a elaboração de categorias para cada
questionário foram significativas para o entendimento do que foi descrito pelos professores
envolvidos. Entendemos que a linguagem mais acertada seria a simples, direta e expositiva.
já mencionadas em seções ou capítulos anteriores. Acrescenta-se ainda que não foi feita alusão
mais apropriada ao ponto de discussão, desta forma deixamos claro a opinião dos professores
nosso posicionamento.
75
professor com relação a preparação do aluno. Encontramos um grupo mais significativo que
apresentou a forma como o CEFET-PR está preparando o futuro profissional, outro que
apresentou sugestões para uma melhor preparação e por último o grupo não manifestou
aluno é preparado.
equipados que disponibilizam o uso da informática e o intercâmbio com outras instituições, são
fatores imprescindíveis para uma formação ideal. Ressaltam também a importância da inclusão
disciplinas básicas para a formação do engenheiro, que serão as ferramentas necessárias para se
enfrentar as mudanças que ocorrem na sociedade, pois a formação acadêmica fica logo
superada,
“Muitos professores adotam a técnica do aprendizado pelo sofrimento, ou seja, o aluno “sofre muito”
para adquirir o conhecimento. Depende da sua experiência erro/acerto. Na minha opinião isto se deve a
pessoas que tem formação “apenas” acadêmica sem experiência prática pessoal. Isto é uma falha grave
76
pois um curso industrial necessita dessa bagagem. Bagagem somente acadêmica fica logo superada, na
teoria tudo funciona e quando o aluno chega na indústria falta a flexibilidade para resolver problemas”.
(P.14)
mestrado, visualiza a forma como o aluno do CEFET-PR está sendo preparado: “O aluno do
programático adequado e atualizado.” Porém ressalta que o aluno “sofre com laboratórios,
maioria dos professores afirma ser a formação básica de suma importância, dando condições
de que o aluno no futuro aprenda a estudar, tendo que estar em constante aprendizado ao
longo de sua vida profissional. Observamos nesta preocupação a consciência dos professores
anterior, porém com acréscimo de sugestões para a melhoria do preparo do aluno. Relatamos
semana de engenharia,
• Dar um bom embasamento nas áreas de matemática e física, possibilitando que o futuro
Esta preocupação com a formação holística revela a idéia de que a formação apenas
prática não é suficiente para a formação do profissional. Vejamos esta concepção: “a sólida
formação é que faz a diferença na vida profissional” (P 16), este mesmo professor demonstra
também sua preocupação com relação a formação na área humanística, onde são
5.3.1.3Ausência de Opinião
Neste grupo, como evidencia o subtítulo, constatamos dois professores que não
manifestaram sua opinião em relação a preparação do aluno para a sociedade atual. Também
verificamos que os mesmos não empenharam-se nas demais questões que lhe foram solicitadas
opinião. Estes professores estão em estágio inicial e avançado de carreira. O que nos chama a
78
tendo um deles mestrado em educação. A falta de envolvimento, pode ser justificada pelo fato
preocupação com o conteúdo destas, demonstrando-a através de sua opinião. A esta questão
foram acrescentados dois itens: disciplinas a serem incluídas e disciplinas a serem extintas.
Portanto as respostas desta questão foram multiplicadas, totalizando a soma de 48. Após na
análise das respostas, detectamos quatro categorias: a de professores que manifestaram seu
mesmas solicitavam um estudo mais aprofundado para uma eventual reformulação; a categoria
de professores que acham que novas disciplinas deveriam ser incluídas no currículo, ampliando
disciplinas deveriam ser extintas e a categotia de professores que preferiram não manifestar sua
opinião.
específica, afirmando que estas permitem ao aluno aprofundar-se mais em uma especialidade.
Em termos genéricos acreditam que deve-se dar maior ênfase nas disciplinas básicas, sendo
79
que estas fornecerão a base para toda a vida profissional, sem esquecer de proporcionar ao
aluno a visão de mercado e das transformações para se adquirir conhecimento das novas
Sugerem também que as disciplinas devem ser voltadas para a prática, sendo que as
disciplinas específicas devem ser flexíveis, para atender as necessidades atuais. Destes
professores 6 foram mais específicos, sugerindo quais disciplinas deveriam ser reformuladas,
• Eletromagnetismo
• Sistemas de Potência
• Circuítos Elétricos
• Servomecanismo
• Medidas Elétricas
• Administração
• Ética Profissional
que sejam feitas parcerias com indústrias e empresas, sendo estas assunto de sala de aula.
80
Ressaltamos que as disciplinas foram apenas mencionadas, sem qualquer sugestão mais
aprofundada de como ou em que conteúdo deveriam ser alteradas. O que pode ser observado
pelas sugestões terem sido nas disciplinas específicas e nas de formação pessoal, é o fato de
5.3.2.2 Professores que Acham que Novas Disciplinas Devem ser Incluídas
• Formação Gerencial
• Eletrotécnica Básica
• Mecatrônica
• Tecnologias e Processos
• Gerenciamento de Projetos
81
• Metodologia Científica
• Comércio Exterior
• CAD
• Oratória
• Redação
• Filosofia
• Informação
• Informática Industrial
Esclarecemos que algumas destas disciplinas não foram sugeridas com estes nomes,
estas apareceram no relato da necessidade vista pelo professor. Acreditamos que muitos dos
assuntos citados possam ser agrupados em disciplinas afins, pois seria inviável que tantas
indústria e também em chefia. Este fato repetiu-se também nesta categoria, sendo que 10
Redação, Informação, Oratória e até Filosofia, pode ser justificado pelo envolvimento de 10
dos professores desta categoria com pesquisa, sendo que a mesma requer tais conhecimentos.
Apesar da constatação de que 6 dos 15 professores desta categoria estão em estágio inicial de
carreira, vemos nisto um ponto positivo, pois percebemos que apesar do pouco tempo de
Esta foi a categoria que demonstrou menor número de professores (4), sendo que dois
seguir:
• Cálculo III
• Estatística
• Conversão de Energia
• Desenho Técnico
• Geometria Descritiva.
interessante nesta categoria é a de que nenhum professor sugeriu a extinção da disciplina que
leciona.)
83
Detectamos nesta categoria 18 professores que optaram por não opinar. Percebemos
que a maioria (10) não sugeriu, alegando que necessitaria de um estudo mais aprofundado do
currículo e de muita reflexão ou mesmo de uma maior vivência deste. Porém acreditam ser
importante a atualização curricular. Esta evidência sugere um estudo contínuo das questões
estudos, tendo em vista que a maioria dos professores cumprem regime de trabalho de 20
horas, confirmando a falta de disponibilidade para atividades extra planejamento, sendo que os
recentes, tem trazido conseqüências para o currículo, pois tem provocado mudanças
significativas no conhecimento que a sociedade deseja que seja adquirida pelo aluno e futuro
profissional. Acreditamos que a mudança tecnológica também produz mudanças nos valores e
nas normas de uma sociedade, levando a uma forma de pressão para o currículo. Esta cobrança
já pode ser sentida no período em que o aluno depara com sua primeira experiência
transformar sua maneira de aprender, para solucionar problemas ainda não vivenciados,
lhe foi transmitido em sala de aula. Acreditamos ser o estágio uma oportunidade de experiência
84
impar para o aluno. Portanto decidimos investigar a concepção dos professores com relação ao
assunto.
acreditam ser o estágio de suma importância para o futuro profissional e a categoria dos
formação humana social e profissional do(a) aluno(a), permitindo a consolidação dos conceitos
com opiniões e sugestões para o assunto em questão. Destacam que o estágio é a vivência
profissional, sendo o primeiro vínculo com este meio, onde o aluno se depara com a realidade
da prática da engenharia, quer seja com a natureza dos problemas ou com prazos, pressões,
laboratório que une a técnica, a gestão, as relações humanas ou outras áreas que completam a
formação profissional.”(P. 14) Além da imprescindível vivência do estágio, o mesmo deve ter
um acompanhamento específico para que seus objetivos sejam cumprido, mesmo que seja
85
apenas para evitar que o aluno “seja aproveitado como “office-boy” ” (P. 6). Destacamos, para
“Nosso aluno inicia seus estágios já nos primeiros períodos, com isto, ele faz o curso já trabalhando na
área, o que aumenta sua motivação/interesse. Quando nosso aluno conclui seus créditos, podemos dizer
que ele é um engenheiro de “ direito e de fato”, já que aprendeu através de estágio, a agir como um
estagiário, que muitas vezes é utilizado como mão-de-obra de baixo custo. Todos os
experiência do estágio na mesma área, sendo que os mesmos são graduados em engenharia,
Estágio. Estes professores estão em estágio inicial e avançado de carreira, possuem experiência
Acreditam que esta disciplina depende da técnica e do uso que se faz a ele, podendo ou
não contribuir para o aluno, sendo que mal elaborado poderá ser prejudicial. Vejamos o que
“O estágio, como todo mundo sabe, mas ninguém assume, é para cumprir currículo na sua maior parte.
O professor supervisor deveria visitar o aluno, e receber alguma gratificação ou incentivo para que o
aluno procedesse de maneira mais profissional. Algum aluno pegou final em estágio? O estágio é muito
86
eles entendem que este pode apresentar reflexos na futura vida do profissional.
Defendemos que o ensino deve ser sustentado pela integração dos conhecimentos,
abordando problemas relativos a existência cotidiana. Neste processo, LÜCK (1994, p. 34)
conteúdo de ensino com a realidade social escolar. Concordamos que é difícil conceber a
para que possamos ser contribuidores na formação de um novo profissional, para uma novo
tempo.
quanto a sua percepção de interdisciplinaridade. Percebemos que nas respostas a maioria dos
mesmo. Nesta categoria encontramos a maioria dos professores(9), que estão dispostos a
discutir com os demais, para que seja feita a relação com outros conceitos nas diversas áreas.
“As disciplinas da área humana tem em princípio a função de despertar esta consciência da
tem exatamente a função de trabalhar os diversos conhecimentos das várias disciplinas. A minha
disciplina é de final de curso e trabalha muito com conhecimentos de diversas outras disciplinas.” (P.
1)
Um dos professores afirma que a interdisciplinaridade muitas vezes não ocorre, porque “
muitos no ensino superior não sabem nem a estrutura da grade curricular e nunca conversaram
com os outros colegas (até mesmo porque não os conhecem)” (P. 5). Tal fato é demonstrado
pela evidência de que dos 40 professores que lecionam no curso, 27 trabalham no regime de 20
horas, o que equivale a 67.5 % dos professores. Constata-se a afirmação feita anteriormente
pelo envolvido, pois os professores que trabalham 20 horas, desenvolvem trabalho fora da
instituição e desta forma não possuem tempo para a discussão no meio escolar
negativamente e um único que justificou sua resposta: “No curso não, pois disciplinas de
cultura geral (cálculo, física e demais) não utilizam problemas de engenharia elétrica”. É
importante, para que tal ocorra, que se conscientize a grande maioria para discussões acerca
88
Nesta categoria, os docentes que assim se expressam (3), estão na sua maioria em
para outras áreas. Alguns professores associam interdisciplinaridade com o conteúdo que os
alunos precisarão no futuro, ou com uma somatória de disciplinas. O seguinte relato salienta a
confusão: “Nas minhas aulas mostro aos alunos aquilo que eles precisarão nas futuras
interdependência com as demais disciplinas(LÜCK, 1994, p.29). Emerge, pois nesta situação a
solução do problema.
abordagem de problemas relativos à existência cotidiana, para que possam desta forma serem
melhor desenvolvidas e aproveitadas. Para esta nova postura no ensino, devemos integrar os
categorias que ressaltam aspectos específicos sobre a concepção dos professores. Encontramos
um grupo que apresentou uma “concepção definida” sobre E.T.. Outro que concentrou-se no
restrita”, e por último o grupo dominante que apresentou uma “concepção não definida”. É
importante salientar que não nos basearemos em qualquer conceito pré-concebido, para que a
Este grupo caracterizou-se pela minoria (4), considerando que a metade está em
experiência na indústria a mais de 5 anos, sendo que dois destes formaram-se pelo CEFET-PR,
nos dois níveis de ensino (2º e 3º graus). Estes dados demonstram que as experiências em
chefia e na indústria, bem como uma formação tecnológica, colaboram para a valorização dos
aspectos, conforme salienta DEMO (1991, p. 7), como visão crítica, capacidade de adaptação,
dentro dos quatro setores da economia. Tem forte orientação à demanda, por isso necessita ser flexível
na força indutora e de alavanca própria dos processos em franca evolução( tecnologia X ciência X
educação X gestão)”.(P.5)
“Mais amplo ( o conceito de educação tecnológica) do que o conceito “comum” de ensino nas áreas
que envolvem engenharia. Entendo como ensino que trata dos conceitos técnicos da engenharia no
sentido de preparar o profissional para, a partir do conhecimento técnico, propor soluções e inovações
que melhorem a qualidade de vida, que melhorem as condições da sociedade. A convivência com a
trabalho.Este grupo demonstrou estar envolvido com a formação do aluno, preparando-o para
com relação a compreensão do tema. Três desses professores consideram E.T. como ensino
das técnicas e aprimoramento das mesmas. O restante converge para uma educação
chefia, porém atuam em outra atividade à mais de 5 anos. Provavelmente o fato de estarem
mais diretamente envolvidos em outra atividade que não a escolar, acarrete na idéia da
profissionalização do aluno.
Tecnológica” como “Educação voltada ao estudo das técnicas”. No CEFET-PR o aluno não
aprende somente a lidar com um equipamento ou máquina, mas também a desenvolver novas
que refere-se aos discursos pela abordagem das técnicas. Como já foi citado no referencial
teórico, não podemos tomar estas abordagens como estanques, apesar de terem as mesmas sua
temos como conseqüência deste fator os nossos professores, oriundos da formação tradicional.
92
Tecnológica observamos neste grupo, que representa a maioria (7) a falta de conhecimento
sobre o assunto. “ Educação voltada mais a aplicação de teorias do que de pesquisas puras”.(P.
11)
Não nos sentimos aptos para avaliar as concepções que foram detectadas nesta seção, nem
podemos generalizar estas percepções para o CEFET-PR, mesmo porque apresentou-se uma
variedade considerável de opiniões sobre o assunto em questão, que ao nosso ver possui
trabalho.
tal necessitamos de profissionais mais flexíveis e adaptáveis a novas situações, para que o
formado em Engª Industrial. Pretendemos com esta questão evidenciar a percepção dos
professores com relação a preparação do profissional para o mundo de trabalho. Nesta seção
que o curso está preparando o profissional de forma condizente com o mercado; 2) a dos
professores que respondem afirmando negativamente que esta preparação seja apropriada;3) a
dos professores que não se posicionaram, reservando-se aos direitos do questionado, sendo
Não foi possível definir um perfil com relação ao estágio de carreira, sendo que os
Porém encontramos a totalidade destes com mais de cinco anos de experiência na indústria, o
que nos leva a pensar que talvez seja esta a justificativa para um comparativo da realidade com
o meio escolar, podendo assim afirmar que o curso está realmente preparando o profissional
condizente para o mundo de trabalho. Apesar de que observou-se também uma constante
preocupação com a atualização curricular e com a forma com que a instituição de ensino vai
carreira: “Acreditamos que o novo currículo que está em implantação atenda a esta
expectativa, não podendo porém, esquecer que o mundo está passando por grandes
P1) Diante das novas tecnologias, a relação educação-trabalho tornou-se mais complexa e mais
defasada. Desta forma concordamos com a constante reforma curricular, sendo flexível,
interdisciplinar e que transmita uma visão globalizada dos processos tecnológicos. Esta
carreira, tendo sido formado pelo CEFET-PR, ao referir-se a formação do aluno: “Ao mercado
94
uma velocidade muito grande, e as instituições ainda não sabem como administrar isto.”(P.7)
Um grupo de 5 professores formam a categoria dos que afirmam que o curso não está
preparando o profissional para o mundo futuro. Entretanto sugerem como esta deficiência
poderia ser sanada. Podemos exemplificar a concepção de um professor formado pelo CEFET-
PR:
“O nosso desenho curricular não atende as necessidades da indústria brasileira, existe uma defasagem
de conteúdos. Por outro lado não resgata as habilidades do Engenheiro Industrial. As humanidades
foram colocadas de forma estanque e não constitui uma linha que caracterizaria muito bem um curso
curricular desenvolvida”.(14)
Percebemos que o professor que passou pela formação no CEFET-PR, afirma com
conhecimento de causa o(s) ponto(s) aonde está a deficiência no currículo. Temos outro caso
“O novo currículo tem uma concatenação de disciplinas interessante sob o ponto de vista estritamente
técnico(das cadeiras técnicas). Entretanto há falhas por não incluir ensinamentos (questionamentos ou
até mesmo reflexões) nos assuntos relativos a metodologia científica , filosofia e gerenciamento da
“Tecnológicamente não. Mas devido a velocidade de suas inovações, a indústria sempre vai estar na
frente da escola. Isto não impede de termos e tentarmos desenvolver parcerias, pesquisar, etc. Em
termos de conteúdo, muitas vezes, devido a metodologia ou até mesmo ao preparo do corpo docente,
fica comprometida. “Uma corrida constante onde estamos sempre apontando o caminho”.(P.13)
historicamente, e acreditamos que somado a este o objetivo de uma instituição que tem por
Entendemos que os professores que desenvolvem trabalho na indústria, não dispõem de tempo
atividades afins, não possuindo desta forma uma opinião formada com relação a formação do
seu quadro docente professores com atividade acadêmica e na indústria com intuito de que a
uma nova proposta pedagógica. Pretendemos demonstrar como o grupo de professores está
encontramos professores que já sugeriram e que não têm sugestões no momento e a última de
professores, dados que justificam tal posicionamento. Dos que já possuem experiência em
chefia, localizamos 2, sendo que estes estão envolvidos com pesquisa e obtiveram sua
Podemos confirmar que a soma das experiências na indústria, com as experiência num cargo de
a melhoria do ensino “Deve-se fazer a coisa direito, ou seja, começar pelo começo: o perfil do
profissional que se quer formar, com as suas habilidades desejadas e entre elas, sem dúvida,
reforçar o caráter humanista, preparando o novo profissional para viver e contribuir para uma
relato:
97
“Trabalhar o currículo para a iniciação científica e mudar o regime de trabalho do professor para DE,
pois o currículo e professor estão juntos, ou seja, o professor precisa se dedicar mais a instituição de
ensino e fazer pesquisa, preparando o aluno para estudos de pós-graduação. Introduzir cadeiras de
línguas”.(P.3)
tecnológicas que não podem constar permanentemente da grade por serem dinâmicas”. (P.2)
trabalho de pesquisa, porém 4 destes também tiveram sua formação no CEFET-PR., 2 do total
vigência. Apenas 1 justifica sua não contribuição, porque o currículo está em fase de
implantação, não permitindo uma análise mais completa. Notamos o equívoco, pois a maioria
doa professores, nas questões anteriores, afirmam que o currículo deve estar em constante
evolução. Restaram 4 professores que preferiram não sugerir uma proposta de reformulação.
Novamente percebemos que os professores que ocuparam cargo de chefia, tem uma
preocupacão maior com a análise de suas opiniões antes que as mesmas sejam expostas. É o
que ocorre com a metade dos participantes deste grupo. Acrescentamos ainda que os
“É um assunto muito complexo e precisa ser muito estudado, pois envolve uma estrutura grande para
atender a cada grade , no momento da transição O ideal seria ter as disciplinas básicas de formação
bem estruturadas e outras disciplinas poderiam ser oferecidas como optativas ou complementares.
Entretanto não é fácil opinar com propriedade em tema tão abrangente.” (P. 10)
“É claro que, uma proposta custa-nos uma pesquisa, uma análise crítica. Nem sempre soluções prontas
podemos em linhas breves descrever. Mas, é claro que a nível da minha disciplina estou procurando
ferramentas de software adequadas ao conteúdo, de forma até a redirecionar meu mestrado para a área
mais amplo de (currículo, E.T. etc.) deparamo-nos com a realidade vista pela ótica de cada
professor através das experiências destes que são inseridos no processo de ensino. Verificamos
Assim acreditamos ter atingido o objetivo a que nos propusemos no início deste
habilitação Eletrotécnica do CEFET-PR com relação a E.T, o envolvimento dos mesmos com
demostra que a maioria dos professores que contribuíram, ocuparam cargo de chefia, na
instituição ou fora dela. Fato este que nos leva a perceber que as atribuições designadas nos
cargos de chefia, propiciam uma visão mais crítica das situações e o espírito participativo, o
que nos revela profunda preocupação com o desenvolvimento do aluno e a sua atuação no
ANEXO 1
CARTA DE AUTORIZAÇÃO
Diretoria de Ensino
109
110
Sinceramente,
ANEXO 2
CARTA DE AUTORIZAÇÃO
Chefe de Departamento de Ensino Superior
112
113
ANEXO 3
CARTA DE AUTORIZAÇÃO
Chefe de Departamento
114
115
ANEXO 4
CARTA DE AUTORIZAÇÃO
Coordenador de Curso
116
117
ANEXO 5
INSTRUMENTO Nº 1
Roteiro da Entrevista
118
ROTEIRO DA ENTREVISTA
ANEXO 6
INSTRUMENTO Nº 2
Perfil Demográfico
120
121
122
ANEXO 7
INSTRUMENTO Nº 3
Questionário
123
124
125
126
ANEXO 8
ANEXO 9
ANEXO 10
ANEXO 11
ANEXO 12
CURRÍCULO PLENO
HABILITAÇÃO ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA
135
CURRÍCULO PLENO
HABILITAÇÃO ENGª . INDUSTRIAL ELÉTRICA*
Matemática
Física
Mecânica
MATÉRIAS DE FORMAÇÃO Processamento de Dados
BÁSICA Desenho
Eletricidade
Resistência dos Materiais
Fenômenos de Transporte
Humanidades e Ciências Sociais
Economia
MATÉRIAS DE FORMAÇÃO Administração
GERAL Ciências do Ambiente
Psicologia Aplicada ao Trabalho
Circuitos Elétricos
Eletromagnetismo
Eletrônica
MATÉRIAS DE FORMAÇÃO Materiais Elétricos
PROFISSIONAL GERAL Conversão de Energia
Controle de Servomecanismos
Linhas de Transm. e Distribuição
Inst. Elétricas Prediais e Indust.
Subestações
Geração de Energia Elétrica
Sistemas de Potência
Proteção de Sistemas
DISCIPLINAS DE FORMAÇÃO Operação e Manut. de Equip. e
PROFISSIONAL ESPECÍFICA Instalações Elétricas
Optativas I (**)
Optativas II (**)
(**) São necessárias 210 horas de disciplinas optativas escolhidas entre as disciplinas
de Formação Profissional Específica da ênfase Eletrotécnica
ANEXO 13
ANEXO 14
ANEXO 15
GRADE CURRICULAR
ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA/ELETROTÉCNICA
2ª Reformulação
141
142
ANEXO 16
GRADE CURRICULAR
ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA/ELETROTÉCNICA
3ª Reformulação
143
144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASWELL, h. l. ET. AL. Curriculum Improvement in public school systems. New York:
Bureau of Publication, Teachers College, Columbia University, 1950.
DEWEY, J. The Child and his Curriculum. Chicago: University of Chicago Press, 1902.
FRANCO, Maria Laura P. B. Ensino Médio: desafios e reflexões. Campinas: Papirus, 1994.
KRUG, E. A. Administering Curriculum Planning. New York: Harper & Row, 1956.
LÜCK, H. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológico. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1994.
146
TOFFLER, A. Learning for Tomorrow -The role of the future in education. Nova York:
Vintage Books, 1974.
TYLER, R. W. Princípios básicos de currículo e ensino, 7ª ed. Porto Alegre - Rio de
Janeiro: Globo,1983.
VIEIRA, R. Entrevista concedida a Laíze Márcia Porto Alegre. Brasília, 27 jun. 1997.
147
ABSTRACT
The great challenges nowadays are linked to deep and continuous changes which arise
from the speed of recent scientific and technological knowledge and research.
This dissertation presents a study of the curriculum. Specially about the Eletrical
(CEFET-PR), because engineering has been the most envolved and affected knowledge area,
In this study, we show the history of the program and the curriculum changes that it
has experimented. Teacher’s point of view about activities connected to the development of
the curriculum were verified. We presented teachers concept about profissional preparation
considering the above mentioned changes, and consequently, their opinions about subject
We have, also, described some proposals, from the teachears who collaborated with
All opinions collected were analysed, considering that the aforesaid course is taugh in a
xv