Enxaqueca Aurea
Enxaqueca Aurea
Enxaqueca Aurea
Sociedade Portuguesa de
Neurologia
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Sumário/Table of Contents
5 1. Introdução
9 3. Enxaqueca
9 3.1 Medidas Gerais
9 3.2 Tratamento Sintomático da Crise de Enxaqueca
13 3.3 Tratamento Preventivo da Enxaqueca Episódica
30 3.4 Tratamento da Enxaqueca Crónica
40 5. Cefaleias Trigémino-autonómicas
40 5.1 Cefaleias em Salvas
43 5.2 Hemicrânia Paroxística e Hemicrânia Contínua
45 5.3 S UNCT (Short-lasting Unilateral Neuralgiform Headache Attacks with Conjunctival Injection and Tearing)
/ SUNA (Short-lasting Unilateral Neuralgiform Headache Attacks with Autonomic Symptoms)
47 7. Nevralgia do Trigémeo
55 9. Situações Particulares
55 9.1 Recomendações Terapêuticas das Cefaleias Primárias na População Pediátrica
61 9.2 Recomendações Terapêuticas das Cefaleias Primárias nas Mulheres em Fase Fértil, Gravidez, Amamentação e Menopausa
69 9.3 Tratamento das Cefaleias em Pessoas Idosas e com Comorbilidades
93 Instruções aos Autores e Políticas Editoriais / Instructions for Authors and Editorial Policies
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Sinapse ®
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GUIDELINES
Elsa P Parreira 1, Carlos A Fontes Ribeiro 2, Helena Gens 3, Filipe Palavra 4, Inês Brás Marques 5,
Inês Carrilho ,
6
Isabel Luzeiro ,
7
Isabel Pavão Martins , Jorge Machado ,
8 9
José Pereira Monteiro 10,
Liliana Pereira 11, Miguel Rodrigues 12, Paula Esperança 13, Raquel Gil-Gouveia 14, Sara Machado 15
1-Serviço Neurologia e Consulta de Cefaleias, Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, Amadora, Portugal
2-Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
3-Serviço de Neurologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
4-Centro de Desenvolvimento da Criança – Neuropediatria, Hospital Pediátrico, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra,
Portugal e Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,
Coimbra, Portugal
5-Centro de Cefaleias e Serviço de Neurologia, Hospital da Luz, Lisboa, Portugal
6-Serviço de Neuropediatria do Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
7-Consulta de Cefaleias e Serviço de Neurologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
8-Consulta Cefaleias, Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Lisboa, Portugal e Faculdade de Medicina,
Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
9-Consultório Privado, Almada, Portugal
10-Instituto de Biologia Molecular e Celular, Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto, Porto, Portugal e
Unidade de Cefaleias, Centro de Neurociências, Hospital e Instituto CUF Porto, Porto, Portugal
11-Consulta de Cefaleias e Serviço Neurologia / Hospital Garcia de Orta, Almada, Portugal
12-Serviço Neurologia, Hospital Garcia de Orta, Almada, Portugal
13-Serviço de Neurologia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central – Hospital Santo António dos Capuchos, Lisboa, Portugal
14-Centro de Cefaleias, Serviço de Neurologia, Hospital da Luz – Lisboa, Portugal e Consulta de Cefaleias, Serviço de Neurologia, Centro
Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Lisboa, Portugal
15-Consulta de Cefaleias e Serviço de Neurologia, Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, Amadora, Portugal
DOI: https://doi.org/10.46531/sinapse/GU/200048/2021
Resumo Informações/Informations:
Guidelines, publicado
Introdução: As normas de orientação terapêutica são documentos úteis de apoio em Sinapse, Volume 21,
à prática clínica. Procedemos à atualização das anteriores normas elaboradas pela Suplemento 1, abril 2021.
Versão eletrónica em www.
Sociedade Portuguesa de Cefaleias. sinapse.pt
Guidelines, published
Objetivo: Este documento destina-se a fornecer recomendações terapêuticas in Sinapse, Volume 21,
baseadas na evidência para os diferentes tipos de cefaleias primárias, nevralgia do Supplement 1, april 2021.
Electronic version in www.
trigémeo e para a cefaleia secundária a uso excessivo de medicação. sinapse.pt
Métodos: Elaboração de recomendações terapêuticas por grupo de peritos da © Autor (es) (ou seu (s)
empregador (es)) e Sinapse
Sociedade Portuguesa de Cefaleias, segundo níveis de evidência e graus de reco- 2021. Reutilização permitida
de acordo com CC BY-
mendação, tendo por base a revisão de normas anteriores, o resultado de ensaios NC. Nenhuma reutilização
clínicos, a adaptação de normas de sociedades científicas internacionais e nas cefa- comercial.
© Author(s) (or their
leias raras, a opinião de peritos e relatos de séries. employer(s)) and Sinapse 2021.
Resultados: São abordadas intervenções não farmacológicas, como medidas ge- Re-use permitted under CC BY-
NC. No commercial re-use.
rais e terapêuticas alternativas: terapias cognitivo-comportamentais, técnicas de re-
trocontrole biológico e acupuntura. São fornecidas orientações sobre o tratamento Palavras-chave:
agudo da enxaqueca não específico (analgésicos e anti-inflamatórios) ou específico Cefaleia/tratamento;
Gestão da Dor;
(triptanos). No tratamento preventivo da enxaqueca episódica são enunciados os Guias de Prática Clínica;
Perturbações de Enxaqueca/
critérios para início de tratamento e as regras gerais para a utilização dos preventi- tratamento.
vos orais de primeira linha com evidência de eficácia: beta-bloqueantes, antiepilé-
ticos, flunarizina e antidepressivos tricíclicos. São pela primeira vez introduzidos os
fármacos preventivos de segunda linha: anticorpos monoclonais anti-CGRP (péptido
3
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Abstract
Background: Therapeutic guidelines are useful tools in clinical practice. We up-
dated previous Portuguese Headache Society Therapy Guidelines.
Objectives: To provide healthcare professionals updated evidence-based guid-
ance on treatments for the primary headaches, trigeminal neuralgia and medication-
overuse headache.
Methods: This statement authored by a group of experts from the Portuguese
Headache Society, was based on a review of existing national headache guidelines,
results of relevant clinical trials, review of international guidelines and in case of rare
diseases expert opinion and results from small case series.
Results: Nonpharmacological interventions for headache management such as
general measures, avoiding medication overuse and alternative therapies such as
cognitive-behavioural techniques, biofeedback and acupuncture are addressed.
Evidence based acute migraine drug treatment (nonspecific – simple analgesics and
nonsteroidal anti-inflammatories or specific – triptans) guidance is provided. For
episodic migraine, preventive therapy criteria are listed and general rules for using
first line oral preventives with proven efficacy (beta-blockers, antiepileptic drugs,
flunarizine and tricyclic antidepressants) are provided. Second line preventive drugs
such as monoclonal antibodies anti-CGRP (calcitonin gene related peptide), freman-
ezumab, galcanezumab and eptinezumab, or anti CGRP receptor, erenumab, are
also addressed. In chronic migraine, all patients should be on prophylactic treatment
whether the first line oral drugs (topiramate) or in its failure with second line drugs:
onabotulinumtoxinA or anti-CGRP therapies. Acute and preventive guidelines for
tension type headache and trigeminal-autonomic cephalalgias are provided. In what
concerns trigeminal neuralgia evidence based pharmacologic guidance is discussed
but other interventions such as surgery should be considered in refractory patients.
Evidence based management of medication overuse headache is addressed. Special
populations such as children, pregnant or lactating women and elderly patients with
multiple comorbidities and polypharmacy deserve specific guidelines. Relevant drug
interactions, especially pharmacokinetic interactions with headache preventive and
abortive drugs are explored.
Conclusion: This statement provides evidence based updated headache treat-
ment guidelines.
volvidos na campanha ‘Lifting the Burden: the global campaign Grau de Descritivo
recomendação
against Headache’ em que participa a OMS em parceria com
Existem evidências e/ou consenso geral
outras organizações de saúde internacionais. Grau I de que determinado procedimento/
tratamento é benéfico, útil e eficaz.
A Sociedade Portuguesa de Cefaleias (SPC) tem publica-
Existem evidências contraditórias e/
do regularmente recomendações terapêuticas para as cefa- ou divergência de opiniões sobre a
Grau II utilidade/eficácia de determinado
leias mais comuns, adaptadas à realidade nacional de modo a tratamento ou procedimento.
apoiar a prescrição médica. A última dessas publicações data Evidências/opinião maioritariamente a
Grau IIa
já de 20093 pelo que se impunha a sua atualização. favor da utilidade/eficácia
rizado com as práticas clínicas correntes nesta área espe- Informação recolhida a partir de vários ensaios
Nível A clínicos aleatorizados ou meta-análises.
cializada da Medicina) como ao neurologista especializa-
Informação recolhida a partir de um único
do em cefaleias. Incorporámos neste manual o resultado Nível B ensaio clínico aleatorizado ou estudos
alargados não aleatorizados.
da revisão da evidência científica publicada na literatura
Opinião consensual dos especialistas e/ou
bem como as recomendações de organizações científicas Nível C pequenos estudos, estudos retrospetivos e
registos.
internacionais como a European Headache Federation
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 5
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Especial relevo mereceu a enxaqueca (episódica hormonal, menstruação; terapêutica hormonal de subs-
e crónica), pela sua elevada prevalência e impacto na tituição na menopausa; esforço físico intenso; postura
qualidade de vida e porque é o tipo de cefaleia mais fre- incorreta durante o sono ou no trabalho.
quente nas consultas. É também na área da enxaqueca 4 - Abordar a escolha de um tratamento par-
que têm surgido maiores inovações terapêuticas que te- ticular, modo de utilização e efeitos indesejáveis
rão o respetivo destaque. O desenvolvimento de novos expectáveis. Assegurar-se de que o doente percebeu
fármacos na enxaqueca está a fazer-se a um ritmo muito bem o que lhe foi dito tanto em relação à cefaleia como
rápido pelo que é expectável que brevemente seja ne- ao tratamento.
cessário atualizar estas recomendações. Estar atento às expectativas do doente e definir ob-
Neste manual não considerámos o grande grupo das jetivos apropriados, discutindo os benefícios esperados
cefaleias secundárias (com uma única exceção: as cefaleias e o tempo que demora a serem atingidos. Envolver
secundárias a uso excessivo de medicamentos, pela sua ativamente o doente no tratamento, pedindo para pre-
relevância e estreita relação com as outras cefaleias primá- encher corretamente os calendários de cefaleias, salien-
rias), já que nessas cefaleias o tratamento da dor de cabeça tando a importância que o calendário tem na ajuda no
depende da causa subjacente na maioria dos casos. diagnóstico e na monitorização do efeito terapêutico ou
Abordaremos também situações particulares em que na ausência dele. O calendário deve ser de fácil preen-
a decisão terapêutica pode ser especialmente difícil: é chimento e explicado previamente como o fazer. Um
o caso da população pediátrica, dos idosos ou das grá- calendário complicado ou extenso desincentiva o doen-
vidas; serão ainda equacionadas as questões das intera- te a preenchê-lo.
ções medicamentosas mais importantes. A escolha do tratamento depende da frequência e in-
tensidade das crises, a presença e graduação da incapa-
cidade temporária e a presença de sintomas associados
2. PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPÊUTICA como náuseas e vómitos. Em certas cefaleias como na
DAS CEFALEIAS enxaqueca e cefaleias em salvas não há terapêutica cura-
tiva que elimine a cefaleia de vez.
Princípios gerais de abordagem/plano 5 - Criar um esquema terapêutico individualiza-
terapêutico do, considerando a resposta e a tolerância a medi-
1 - Estabelecer o diagnóstico. Apenas perante um camentos específicos. Considerar comorbilidades. Sa-
diagnóstico correto a terapêutica será bem-sucedida. lientar que a terapêutica deve ser cumprida. O doente já
Será aliás pertinente que nos questionemos, perante a fez algum tratamento de base? Com que fármacos e por
refratariedade de uma cefaleia, se o diagnóstico terá sido quanto tempo? Porque não resultou? Porque abandonou?
bem estabelecido: o doente tem apenas um tipo de ce- De um modo geral e na maioria dos casos, o trata-
faleia? Tem outras doenças que possam contribuir para a mento deverá ser dividido em sintomático, abortivo, de
cefaleia (apneia de sono, hipertensão arterial, etc.)? fase aguda ou da crise e tratamento profilático. O tra-
2 - Fornecer aos doentes noções precisas da tamento sintomático consiste na utilização de agentes
doença. Explicar que os exames complementares de que revertem, abortam ou reduzem a dor e os possíveis
diagnóstico são normais nas cefaleias primárias; são soli- sintomas acompanhantes. A escolha da medicação de-
citados para sabermos que não têm aspetos patológicos pende de fatores como a frequência, a intensidade da
e não para fazerem diagnóstico. Esta explicação evita dor, a presença ou ausência de sintomas acompanhantes
que os exames sejam repetidos sem necessidade. Dife- como vómitos, o início de ação da medicação, a biodis-
renciar desencadeantes e causa. ponibilidade do medicamento, as comorbilidades e do-
3 - Encorajar o doente a identificar e evitar fato- enças coexistentes, os efeitos adversos da medicação e
res desencadeantes como por exemplo: a ingestão de a história prévia dos medicamentos utilizados.
certos alimentos, excesso de cafeína, intervalos grandes Geralmente o uso da medicação sintomática não de-
entre refeições, ingestão de álcool, situações de stress, verá exceder 2-3 dias por semana. Poderá ser utilizada
esforços físicos, alterações do ritmo do sono, como dor- isolada ou associada à medicação preventiva. A via de
mir demais ao fim de semana, relação com contraceção administração é muito importante. Quando as náuseas
6 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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autossuficiência, baixos níveis de aceitação dos desenca- acupuntura foi comparada com acupuntura “branca”
deantes; traços de personalidade, doenças psiquiátricas sendo que 51% dos submetidos às acupunturas verda-
coexistentes e adoção de estilos errados de coping que deiras tiveram uma redução de pelo menos 50% das
contribuem à não adesão a estes tipos de tratamento. cefaleias e 43% na acupuntura branca, sendo que o re-
A terapêutica cognitivo comportamental (TCC) no sultado aos 6 meses foi similar (grau de recomendação
sentido lato deve ser usada em paralelo com a terapêu- IIa, nível de evidência A).
tica farmacológica e especialmente em doentes que te- Quando a acupuntura foi comparada com fisioterapia,
nham tendência a usar excessivamente os analgésicos, massagem e exercício em 4 ensaios de qualidade fraca a
quando a intensificação da cefaleia está relacionada com moderada (elevado risco de enviesamento), não se encon-
o stress, e quando as cefaleias levam a uma incapacida- trou uma superioridade significativa para a acupuntura.
de funcional, ou seja, basicamente nas cefaleias crónicas Em relação à mindfulness foram realizados 5 ensaios
(frequência > 15 dias por mês) controlados com um total de 185 participantes com diag-
Harris e Barry fizeram uma revisão sistematizada de nósticos de cefaleias de tipo tensão, enxaqueca e amostras
vários estudos, mas os resultados da revisão foram mis- mistas. Não se verificou uma melhoria na frequência das
tos, com alguns estudos sugerindo que a TCC é benéfica cefaleias nem na duração ou intensidade (grau de reco-
no tratamento das cefaleias no geral e da enxaqueca. mendação IIb, evidência de nível A).
Contudo foi impossível tirar conclusões definitivas devi-
do a irregularidades metodológicas – grau de recomen- Neuromodulação não invasiva
dação II, nível de evidência C. A neuromodulação não invasiva altera a atividade ner-
Mais uma vez para se ter uma boa adesão do doente vosa através da estimulação dos nervos. Esta tecnologia
à terapêutica e um reconhecimento da frequência das está a emergir como uma alternativa prática e segura às
dores, da ingestão de analgésicos e dos desencadean- intervenções farmacológicas convencionais no tratamen-
tes é importante efetuar diário das cefaleias: registar to da enxaqueca e da cefaleia em salvas. Recentemente
a frequência, intensidade, fatores desencadeantes, as- foi publicada uma revisão dos estudos contemplando as
sociações com o ciclo menstrual, medicação efetuada três formas de neuromodulação não invasiva com auto-
e resposta ao tratamento; registar terapêuticas não rização regulamentar na Europa e nos Estados Unidos
convencionais efetuadas. A utilização dos calendários é da América para o tratamento sintomático e preventivo
recomendada para encorajar o cumprimento da medi- da enxaqueca e da cefaleia em salvas: a estimulação não
cação profilática, para registar o efeito do tratamento, invasiva do nervo vago, a estimulação magnética trans-
para controlar a utilização excessiva de medicação sin- craniana de pulso único e a estimulação externa do nervo
tomática e para registar a evolução. trigémeo – grau IIa, nível de evidência A.
Ajustar fatores de estilo de vida: reduzir a ingestão Os estudos da estimulação não invasiva do nervo vago
de cafeína, efetuar exercício físico regularmente, man- demonstraram a adesão mais consistente às recomenda-
ter padrão de sono regular e evitar “saltar” refeições. ções disponíveis. Nos respetivos capítulos estão dispo-
Ainda não foi possível obter recomendações basea- níveis recomendações específicas para o tratamento da
das na evidência em relação à hipnose, acupuntura, es- enxaqueca e da cefaleia em salvas com dispositivos.
timulação elétrica transcutânea de nervo, manipulação
cervical osteo ou quiroprática para a terapêutica aguda Terapêuticas alternativas e complementares
ou preventiva das cefaleias. Os doentes com enxaqueca estão a utilizar cada vez
Numa revisão da Cochrane sobre a acupuntura na mais terapêuticas alternativas e complementares, em
cefaleia tipo tensão episódica frequente ou crónica a sua que os produtos nutracêuticos (de “nutrição” e indús-
efetividade é controversa. Em 11 ensaios, a acupuntura tria “farmacêutica”) são considerados terapêuticas bio-
foi comparada com tratamento agudo ou tratamento lógicas. De acordo com as recomendações existentes,
de rotina apenas em 2 ensaios grandes, mas nenhum foi tem evidência de nível B na prevenção da enxaqueca o
cego e os doentes tinham frequência de cefaleias dife- emprego de riboflavina, coenzima Q10, magnésio, “fe-
rentes à partida. Os resultados a longo prazo (para lá verfew” (Tanacetum parthenium) ou matricária, ácidos
dos 4 meses) não foram investigados. Em 7 ensaios a gordos polinsaturados ómega 3 e “buterbur” (Petasites
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Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
hybridus). Não é recomendada a utilização deste último damental na consulta e absolutamente necessária para o
agente dada a sua potencial hepatotoxicidade. A evidên- sucesso de qualquer estratégia terapêutica. Os doentes
cia a favor ou contra a sua utilização é limitada, mas es- devem ser tranquilizados sobre a natureza benigna da sua
tes agentes poderão constituir uma opção nos doentes doença, mas alertados para os riscos de cronificação de-
em que os efeitos adversos constituem o aspeto mais corrente de uma utilização excessivamente frequente dos
importante na eleição do tratamento preventivo. A qua- tratamentos sintomáticos.
lidade de evidência nesta área é pobre. Deve aconselhar-se a modificação do estilo de vida e
a adoção de hábitos de vida saudável.2,3 Um doente com
Definição de cefaleia refratária enxaqueca deve procurar dormir o número de horas su-
Insucesso do tratamento médico bem conduzido, ficiente e ter horários regulares de sono, evitar o jejum
definido pela não resposta ao tratamento médico prolongado, ter uma alimentação variada e saudável,
em doses ótimas e/ou efeito terapêutico não sus- não fumar, ingerir a quantidade apropriada de água, evi-
tentado e/ou presença de efeitos adversos e/ou no- tar o excesso de cafeína, praticar exercício físico regu-
ção de contraindicação para o tratamento. larmente e evitar o stress e a ansiedade. A adoção de um
Falência de três medicamentos em doses eficazes e estilo de vida saudável com o cumprimento de horários
durante o tempo recomendado. regulares (sono e alimentação) e a prática de exercício
físico de modo regular poderá estar associada a redução
da frequência e intensidade das crises.4
3. ENXAQUECA De igual modo devem ser orientados sobre eventu-
ais fatores desencadeantes das crises e sua evicção nos
3.1 MEDIDAS GERAIS casos em que sejam relevantes e em que se justifique.
A enxaqueca manifesta-se por crises recorrentes de Os fatores precipitantes mais frequentes são: o stress, a
cefaleias, alternando com períodos livres de sintomas. A alterações do sono, estímulos ambientais (como condi-
cefaleia é tipicamente pulsátil, de intensidade moderada ções atmosféricas particulares e exposição a estímulos
a severa e pode-se acompanhar de múltiplos sintomas. visuais ou olfativos), o período menstrual e flutuações
Os seus critérios de diagnóstico estão bem definidos dos níveis das hormonas femininas e a ingestão de bebi-
na 3ª edição da Classificação Internacional de Cefaleias das alcoólicas em especial o vinho tinto.5,6
(ICHD-3) assim como os seus principais subtipos.1 A enxaqueca associa-se a múltiplas comorbilidades
O tratamento da enxaqueca é um tratamento in- que concorrem muitas vezes para o agravamento da
tegrado e assenta em três pilares: medidas gerais não própria enxaqueca; é o caso da depressão, da ansiedade
farmacológicas, tratamento agudo sintomático e trata- e das perturbações do sono. Estas comorbilidades de-
mento preventivo nos casos em que isso se justifique. O verão ser concomitantemente abordadas com opções
tratamento sintomático visa encurtar as crises quando terapêuticas dirigidas, farmacológicas ou não, de modo
elas surgem e o tratamento preventivo, tem como ob- a se conseguir o controlo efetivo da enxaqueca.
jetivo a redução da frequência, intensidade e duração
das crises e consequente redução da incapacidade resul-
tante. O tratamento sintomático e o preventivo são ge- 3.2. TRATAMENTO SINTOMÁTICO DA CRISE
ralmente farmacológicos embora possam ser utilizados DE ENXAQUECA
métodos não farmacológicos como terapias cognitivas
comportamentais ou neuroestimuladores externos al- Definição
guns dos quais já disponíveis no nosso país. A enxaqueca é caracterizada por episódios autolimi-
Todos os doentes com enxaqueca, independentemen- tados de cefaleia, com duração de 4 a 72 horas, de in-
te do número e intensidade das suas crises devem ser tensidade moderada ou grave, habitualmente unilateral,
esclarecidos sobre a natureza da enxaqueca e dos seus podendo ser bilateral num terço dos doentes. Além da
sintomas, aconselhados sobre o que a poderá melhorar cefaleia, manifesta-se com uma panóplia de outros sinais
e envolvidos ativamente no seu tratamento. O esclareci- e sintomas: náuseas (80%), vómitos (40%-50%), foto-
mento e aconselhamento dos doentes é uma etapa fun- fobia (60%), fonofobia (50%) e osmofobia (10%). Sinais
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 9
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Relativamente ao tratamento não farmacológico, não ingestão de líquidos ou quando o aporte de líquidos é
difícil, é dada preferência à utilização de zolmitriptano
existem dados consistentes.
na formulação orodispersível.
A evidência no uso de acupuntura na crise de enxa-
Em doentes com náusea moderada, pode ser utiliza-
queca é de nível C.2,3
do um antiemético em combinação com um AINE ou
Relativamente aos estimuladores externos, o e-TNS
triptano. A metoclopramida 10 mg é o antiemético com
(Cefaly®) tem um nível de evidência C.4
melhor evidência de eficácia, podendo adicionalmente
A neuromodulação elétrica remota (REN) tem um
reduzir a estase gástrica e melhorar a absorção dos ou-
nível de evidência C.4,5 Trata-se de um neuroestimulador
tros fármacos pelo seu efeito procinético. A domperido-
controlado à distância por um smartphone.
na 10 mg, apesar de ser menos eficaz, tem a vantagem
de não causar efeitos extrapiramidais.
Terapêutica farmacológica6-8 Em doentes com náusea marcada ou que vomitam
1. Vários fármacos são eficazes no tratamento das precocemente no decorrer da evolução de uma crise
crises de enxaqueca. A seleção de um em detri- de enxaqueca, deve ser considerada a utilização de su-
mento de outro deve basear-se no doente: aspe- matriptano 6 mg subcutâneo ou zolmitriptano 5 mg na
tos clínicos, comorbilidades e preferências. formulação de spray nasal.
2. Nas crises ligeiras a moderadas, e eventualmente
nas severas, os fármacos indicados são os anti-in- Tratamentos farmacológicos específicos para
flamatórios não esteroides (AINEs), entre os quais as crises de enxaqueca6-8
o ibuprofeno, o naproxeno, o diclofenac e o ácido Ergotamina6
acetilsalicílico (nível de evidência A).1 Não há consenso para a utilização de ergotamina na
3. No caso de resposta fraca ou ausência de resposta prática clínica, atendendo aos resultados contraditórios
e nas crises severas, dever-se-ão utilizar os tripta- de alguns ensaios. No geral, considera-se que doentes
que tenham sido medicados com ergotamina no passa-
nos (nível de evidência A).1
do e que tenham uma resposta satisfatória, na ausência
4.
Opióides, barbitúricos e combinações de anal-
de contraindicações à sua utilização ou sinais de abuso,
gésicos contendo qualquer um destes fármacos,
poderão potencialmente continuar com este fármaco.
não devem ser escolhidos como tratamentos de
Em casos de doentes com crises de duração > 48 horas
primeira linha – além de serem menos eficazes
ou com recorrência frequente, a ergotamina pode ser
do que as outras opções, a sua administração fre-
útil. Em Portugal existe um único medicamento conten-
quente aumenta o risco de desenvolvimento de
do ergotamina.
cefaleia por uso excessivo de medicação. A ergotamina está contraindicada em mulheres grá-
5. O ceterolac iv, 30 mg, podendo subir-se a dose vidas ou que planeiam engravidar, na doença vascular
para 60 mg, é eficaz (grau evidência A).9 periférica, doença coronária, hipertensão não controla-
6. A evidência do papel dos corticosteroides na crise da, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal
aguda de enxaqueca não está demonstrada (nível ou hepática. Deve ser evitada em casos de enxaqueca
de evidência B-C) embora amplamente divulgada hemiplégica, enxaqueca com aura do tronco cerebral e
e com dados contraditórios. 10
enxaqueca com aura prolongada.
10 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Triptanos (Tabelas 3.2.1 e 3.2.2) A administração dos triptanos deve ser precoce
Os triptanos são os mais eficazes e específicos para o para uma maior eficácia.7
tratamento da enxaqueca.6-8,11-13 A sua eficácia é de 60% O número de tomas de terapêutica abortiva (das
e a recorrência cifra-se entre 15% e 40%. crises) deve ser limitado a < 10 dias por mês para
evitar o desenvolvimento de cefaleia por uso exces-
A ausência de resposta a um triptano não implica a sivo de medicamentos.1
ausência de resposta a outro.
O sumatriptano sc é o mais eficaz e o de mais rápi- No caso de recorrência (reaparecimento ou agrava-
da atuação.11,12,14 mento da cefaleia num período de 2 a 24 horas), que
Dos orais, destacam-se o rizatriptano e o eletripta- surge em 15% a 40% dos doentes, deve ser administra-
no como os mais eficazes.6,7,13 da uma segunda dose do triptano16 ou, em alternativa,
O eletriptano e o almotriptano são o que têm me- utilizar inicialmente a combinação de um triptano com
lhor perfil de efeitos secundários.6,7,13 um AINE de longa acção. Este problema ocorre mais
O naratriptano e o frovatriptano são os que têm frequentemente com os triptanos com menor semivida.
maior semivida. Se a primeira dose não for eficaz, não se espera eficácia
A associação dos triptanos com o naproxeno po- com uma segunda dose, pelo que se deve usar um anal-
tencia o efeito terapêutico.7,15 gésico não opióide.
rior a 14 dias, para diminuir o risco de cefaleia por uso vos, pelo que se assume que a terapêutica oral não será
excessivo de medicamentos. eficaz.
O sumatriptano via sc é eficaz e de ação rápida, no
Tratamento da fase aguda no serviço de
controlo da dor, náusea, fono e fotofobia.11,12
urgência7,8 (Tabelas 3.2.4 e 3.2.5)
O uso de zolmitritano em spray nasal, em detrimento
Habitualmente, doentes que recorrem ao serviço de
urgência nas crises de enxaqueca já tentaram fármacos do sumatriptano por essa via, que não existe em Portu-
orais sem sucesso ou têm náuseas e vómitos significati- gal, é também uma opção se associado a um AINE.11,12
12 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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A metoclopramida iv deve ser considerada como o placebo. Em qualquer dos casos, não há estudos com-
terapêutica de primeira linha no serviço de urgência, parativos com fármacos ativos.
tendo alguns ensaios sugerido um efeito primário na en-
xaqueca, além das suas propriedades antieméticas. Tabela 3.2.6. Novos tratamentos da crise de enxaqueca
A associação da metoclopramida com ácido acetilsali- Fármaco Mecanismo de Local de acção
acção
cílico (AAS) e acetato de lisina, paracetamol ou um AINE
Ubrogepant
é a opção mais generalizada. Inibidor CGRP
50 e 100 mg
O cetorolac ev é um fármaco eficaz (grau evidência A). Rimegepant Inibidor CGRP
Nos casos resistentes e no estado de mal migranoso Lasmiditan Acção central e
Agonista 5-HT1
usa-se também a clorpromazina e corticoides ev. Para se 50 e 100 mg periférica
5. Reduzir os custos (pessoais e socioeconómicos) é importante discutir com o doente as expectativas re-
associados à enxaqueca alistas da eficácia e o prazo expectável para atingir essa
6. Aumentar a qualidade de vida resposta já que todos os preventivos têm um tempo de
7. Evitar a progressão da doença (cronificação) latência até iniciarem o seu efeito.
8. Capacitar o doente no controlo da sua doença. É considerada eficácia do tratamento preventivo da
A indicação para início de terapêutica irá depender enxaqueca2 uma redução em 50% da frequência dos dias
da frequência com que as crises surgem e da incapa- com cefaleia. São consideradas também uma melhoria
cidade e sofrimento por elas provocada.3 Outros fato- da resposta ao tratamento sintomático e uma redução
res também a ter em conta na seleção de doentes para da necessidade do seu consumo, bem como a redução
profilaxia é a resposta ao tratamento agudo e o risco de da duração e da intensidade das crises com melhoria da
evolução para enxaqueca crónica ou para cefaleia por qualidade de vida e diminuição da incapacidade associada.
uso excessivo de analgésicos.
A incapacidade resultante das crises de enxaqueca, 3.3.1 Tratamento não farmacológico
para além do que é relatado pelo doente, deve ser quan- É preconizada a utilização de métodos não farmaco-
tificada do modo mais rigoroso e estandardizado possí- lógicos para tratamento da enxaqueca, nomeadamente
vel através de utilização de escalas de avaliação de im- na presença de algumas comorbilidades (sobretudo psi-
pacto sobre a vida profissional, social e familiar. Também quiátricas) como a terapia cognitivo-comportamental, o
na documentação da resposta à terapêutica preventiva retro-controlo biológico (biofeedback) e outras técnicas
deve-se utilizar o calendário das crises e as escalas de de relaxamento.5,6 Segundo a American Headache So-
avaliação do impacto da enxaqueca, como por exemplo ciety (AHS)2 estes tratamentos estarão indicados nos
a escala MIDAS4 (Migraine Disability Assessment Scale). doentes que preferem intervenções não farmacológicas,
A SPC recomenda a utilização de terapêutica preven- apresentem contraindicação, resposta insuficiente ou
tiva/profilática na enxaqueca nas seguintes situações: baixa tolerância aos medicamentos, mulheres grávidas
1) Crises frequentes (frequência superior a 2 crises ou a amamentar ou que planeiem engravidar ou ainda
ou 4 dias de enxaqueca por mês). pessoas que apresentem stress significativo ou estraté-
2) Crises com duração e intensidade suficiente para gias inadequadas para lidar com o stress. No entanto,
interferirem de forma significativa com as ativi- segundo uma recente revisão da Cochrane,7 não há
dades de vida diária (apesar da terapêutica aguda evidência de que os tratamentos psicológicos afetem a
corretamente instituída). frequência das crises ou melhorem a enxaqueca a curto
3) Quando a terapêutica aguda não é eficaz ou pro- ou longo prazo, pelo que a utilização destes métodos
duz efeitos adversos intoleráveis ou existem con- não pode ser recomendada de um modo sistematizado
traindicações à sua utilização. (grau de recomendação II, nível de evidência A).8
4) Quando existe risco de uso excessivo de trata- Também a acupuntura (cuja efeito depende muito da
mento agudo (quando é utilizado mais do que duas perícia do técnico) tem evidência que reduz a frequência
vezes por semana) e de cronificação (crises muito das crises de enxaqueca9 mas a evidência nos ensaios clíni-
frequentes ou com agravamento progressivo). cos das diferenças em relação à acupuntura ‘branca’ (sham)
5) Preferência do doente (mesmo que menor fre- é de fraca qualidade (grau de recomendação II, evidência
quência das crises). de nível A).10 A homeopatia não tem qualquer evidência
Para além destas situações a terapêutica preventiva da sua eficácia na enxaqueca (grau de recomendação IIb,
deve também ser instituída em certos tipos raros de en- nível C) assim como também não há evidência robusta da
xaqueca como a enxaqueca hemiplégica, a enxaqueca eficácia da manipulação espinhal e da fisioterapia.
com aura do tronco cerebral, a enxaqueca com aura
prolongada e quando já tenha ocorrido enfarte relacio- Neuromodulação não invasiva
nado com a enxaqueca, mesmo que a frequência das A neuromodulação não invasiva através da estimula-
crises seja menor, mas em que poderá haver risco de ção transcutânea de nervos poderá constituir uma alter-
sequelas neurológicas permanentes.2 nativa não farmacológica para o tratamento preventivo da
Antes de se iniciar qualquer tratamento preventivo enxaqueca. Os neuroestimuladores externos podem ser
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utilizados como terapêutica única ou em associação com ção IIa, nível evidência B).
o tratamento farmacológico, em doentes que falham ou O estimulador externo vagal, aplicado a nível cervical e
não tolerem fármacos, mas também poderão ser de pri- estimulando por via transcutânea o nervo vago, está também
meira linha nos doentes que não desejem fazer preven- aprovado pelas autoridades europeias para tratamento de
ção farmacológica ou que apresentem contraindicações cefaleias. A estimulação elétrica vagal, em modelos animais,
para a sua administração como por exemplo as mulheres tem efeitos analgésicos ao reduzir a atividade dos neurónios
grávidas e eventualmente a população adolescente.11 dos feixes espinotalâmicos e do núcleo do trigémeo.14 Num
A heterogeneidade dos métodos utilizados na realização estudo recente com mais de 400 doentes, duplamente cego
de ensaios clínicos torna difícil a adoção de orientações claras para tratamento preventivo na enxaqueca episódica não foi
sobre a utilidade da sua utilização baseada na evidência. possível demonstrar superioridade em relação ao ‘sham’,15
No nosso país temos disponíveis o estimulador exter- em parte devido a problemas metodológicos e técnicos.
no supraorbitário do nervo trigémeo (Cefaly®) e o esti-
mulador transcutâneo do nervo vago (gammaCore©). 3.3.2 Tratamento farmacológico
O estimulador supraorbitário, através de um elétrodo A. Fármacos preventivos orais
adesivo na região frontal emite estímulos elétricos transcu- Regras gerais
tâneos para os ramos supraorbitários e supratrocleares do Dispomos de múltiplos fármacos para profilaxia da
nervo oftálmico. Está aprovado pelas autoridades europeias enxaqueca (Tabela 3.3.1). Os fármacos orais com efi-
e nacional para o tratamento da enxaqueca episódica. Foi cácia demonstrada na profilaxia da EE são utilizados há
avaliado em 3 ensaios12,13 utilizando um único protocolo de várias décadas, são de baixo custo económico e consi-
estimulação com aplicação diária de 20 minutos durante 3 derados tratamentos de primeira linha.
meses; no total foram incluídos 194 doentes. Em todos os Todos os fármacos orais utilizados na profilaxia da
estudos reduziu a frequência das crises (em mais de 50%) enxaqueca foram desenvolvidos para outras indicações
mas apenas um estudo foi duplamente cego e utilizou ‘sham’ pelo que apresentam frequentes efeitos secundários e
pelo que não há ainda evidência suficiente para permitir re- contraindicações que podem limitar o seu uso na prática
comendar a sua utilização generalizada (grau de recomenda- clínica (Tabela 3.3.2).
Topiramato
Bisoprolol
Fluoxetina
Galcanezumab
Eptinezumab
Tabela 3.3.2. Fármacos preventivo orais - dosagem, efeitos adversos e contraindicações. Adaptado de3
Fármaco Dose Precauções/Contraindicações Principais reações adversas
Como grupo Como grupo
Antagonistas dos Asma e DPCO, ICC, doença de Bradicardia, hipotensão, pesadelos, insónia,
recetores Beta -
Raynaud, isquémia das extremidades, depressão, disfunção eréctil, fadiga, alterações
adrenérgicos
BAV,DMID, bradiarritmia gastrointestinais, dispneia
Propranolol 40-160 mg
Metoprolol 50-200 mg
Atenolol 50-100 mg
Nadolol 40-240 mg
Timolol 10-60 mg
Antagonistas do
Cálcio
Gravidez, parkinsonismo, Sedação, depressão, aumento de peso,
Flunarizina 5-10 mg depressão, obesidade parkinsonismo
Amitriptilina 10-150 mg
Doxepina 25-150 mg
Fluoxetina 20-30 mg
Antiepilepticos
Hepatite, insuficiência hepática, Sonolência, tremor, queda cabelo, aumento peso,
Valproato de 800-1500 mg gravidez, mulher em idade fértil, trombocitopenia, vómitos, pancreatite, dermopatia,
sódio discrásia hemorrágica ataxia, encefalopatia, teratogenecidade
Acidose metabólica, glaucoma e miopia aguda,
Nefrolitíase, insuficiência renal ou
Topiramato 50 – 200 mg hepática, miopia grave
litíase renal, teratogenecidade, defeito cognitivo,
sonolência, agitação, fadiga, perda de peso, ataxia
A SPC recomenda que a seleção do preventivo seja lizar um betabloqueante em doentes hipertensos ou o
baseada na evidência científica da sua eficácia, na expe- topiramato em doentes obesos.
riência prévia do médico e do doente, no tipo de en-
xaqueca e nas comorbilidades que o doente apresenta, Como regras gerais do tratamento preventivo com
na tolerabilidade e efeitos secundários de cada fármaco, fármacos orais a SPC recomenda:
nas contraindicações específicas de cada medicamento, 1) Iniciar o tratamento com doses baixas e aumentar
bem como nas possíveis interações com outros fárma- lenta e progressivamente a dose de modo a mini-
cos que o doente faça. Deve ainda ter-se em conta se se mizar os efeitos secundários e aumentar a adesão
trata de mulher em idade fértil, grávida ou que planeie à terapêutica. A escalada da dose deve realizar-se
engravidar e qual o método anticoncetivo que utiliza.16 até se atingir o efeito terapêutico desejado, a dose
No final deste manual será abordada a terapêutica das alvo pretendida ou surgir intolerabilidade.2,16
cefaleias nestes grupos. 2) Preferir posologias mais simples com menor nú-
Não há evidência de vantagem de um ou outro fár- mero de tomas diárias.
maco conforme o subtipo de enxaqueca (com e sem 3) Discutir previamente e esclarecer o doente sobre
aura). A escolha do preventivo muitas vezes tem em os possíveis efeitos secundários da medicação. De-
conta o possível benefício de alguns efeitos adversos nas vem-se fornecer instruções sobre estratégias para
patologias comórbidas da enxaqueca, por exemplo uti- a sua redução (por exemplo toma noturna em caso
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de sonolência, titulação mais lenta ou reforço hídri- 1. Bloqueantes beta-adrenérgicos (nível de evidên-
co), de modo a evitar o abandono precoce. cia A)
4) Permitir tempo necessário (e na dose suficiente) Os beta-bloqueantes (antagonistas recetores beta-
para a medicação exercer o seu efeito. Deve-se -adrenérgicos) foram a primeira classe de preventivos a
aguardar um mínimo de 8 semanas (idealmente serem utilizados na enxaqueca e são dos mais frequen-
até às 12 semanas) na dose habitualmente eficaz temente utilizados.19
para averiguar se uma terapêutica faz ou não efei-
to; em casos negativos deve então mudar-se de Mecanismo de acção
preventivo oral2,16 (nível de evidência C). Desconhece-se o mecanismo de ação dos beta-
5) A duração do tratamento é variável e individualiza- -bloqueantes na profilaxia da EE. Em estudos animais
da consoante o fármaco selecionado e a resposta verificou-se que o propranolol inibe a onda de depressão
à terapêutica. Nos casos em que um fármaco é alastrante relacionada com a aura e reduz a excitabilidade
eficaz, deve ser mantido durante vários meses, no neuronal cortical.20-22 Reverte o aumento da amplitude
mínimo 4 e habitualmente 6, podendo se estender dos potenciais evocados visuais verificadas nos doentes
até aos 12 meses, após os quais se deve realizar com enxaqueca, aumento esse atribuído à hiperexcita-
desmame17,18 (nível de evidência C). bilidade cortical típica desta cefaleia.2 Não se sabe se há
6) Quando a resposta é parcial ou não se consegue correlação entre este efeito biológico e a eficácia clínica.24
aumentar a dose pelos efeitos secundários poderá
ser útil ou mudar de preventivo ou associar pre- Evidência
ventivos de classes terapêuticas diferentes,2 não Nem todos os bloqueantes beta-adrenérgicos tem a
havendo, no entanto, qualquer evidência científica mesma evidência de eficácia. O propranolol e o meto-
do benefício desta estratégia. No caso de resposta prolol são aqueles com nível de evidência de A e grau I
parcial é possível que a resposta aumente nos 6 a de recomendação pela maioria das sociedades científi-
12 meses seguintes. cas internacionais2, 25 (Tabela 3.3.3).
Tabela 3.3.3. Níveis de recomendação da terapêutica com beta-bloqueantes segundo as sociedades científicas. Adaptado de19
Nível A Nível B Nível C
SPC Propranolol
Metoprolol
Timolol
CHS Metoprolol
Nadolol
Metoprolol
SPC – Sociedade Portuguesa Cefaleias, AHS – American Headache Society, AAN – American Academy of Neurology, CHS – Canadian Hea-
dache Society, EFNS–- European Federation of Neurological Societies.
O nadolol e o atenolol apresentam nível de evidência tes fármacos foram testados, ocorreram há mais de 20
B segundo a American Headache Society (AHS), enquan- anos, muitos deles com n baixos e sem utilizar as meto-
to que o nebivolol, o pindolol e o bisoprolol são conside- dologias aconselhadas pela IHS.26 Os beta-bloqueantes
radas drogas de segunda linha pela European Headache mais vezes estudados foram o propranolol (em 74 en-
Federation (EHF) por menor evidência de eficácia.10 saios) e o metoprolol (em 21 ensaios); os restantes ape-
De um modo geral, os ensaios clínicos em que es- nas em 1 ou 2 ensaios cada.27
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No conjunto dos ensaios o propranolol foi mais eficaz tem uma variabilidade farmacocinética muito elevada
que o placebo às 8 e 12 semanas com evidência de efi- requerendo titulação lenta para evitar concentrações
cácia classificada de alta qualidade: -1,5 dias de cefaleias plasmáticas elevadas que podem ser perigosas.32 A sua
por mês (95% IC -2,3 a -0,65), com 4,9 dias em média eficácia é dose dependente.34 A dose recomendada para
de cefaleias por mês na baseline. A evidência da eficácia o metoprolol é de 50 a 200 mg, para o timolol 20-30
do metoprolol foi de qualidade moderada (- 0,86 dias por mg, nadolol 20-240 mg e para o atenolol 50 a 100 mg
mês, 95% IC -1,4 a 0,34). Em relação a objetivos secun- (estes últimos com níveis de evidência B).
dários o propranolol tem maior probabilidade de reduzir A combinação dos bloqueadores beta com fármacos
as cefaleias em 50% do que o placebo às 12 semanas. com diferentes mecanismos de acção pode em teoria
Existem também vários ensaios comparando o pro- aumentar a resposta dos doentes refratários à monote-
pranolol com outros fármacos que indicam que tem re- rapia.35,36 Em dois ensaios abertos a adição de valproato
sultados semelhantes, nomeadamente quando compa- de sódio ou de topiramato (sobretudo esta) aumentou a
rando com o valproato de sódio28 e com o topiramato; eficácia em comparação com monoterapia; no entanto
com este último apenas para doses de propranolol de um estudo duplamente cego controlado com placebo
160 mg.29,30 Num estudo que comparou o propranolol não evidenciou beneficio adicional com a combinação
com metoprolol com eficácias aparentemente seme- com topiramato,37 pelo que não há evidência que su-
lhantes o metoprolol apresentou perfil de efeitos secun- porte a associação (grau de recomendação II, nível de
dários mais favorável.31 evidência B).
como possível efeito secundário, uma extensa revisão não haja contraindicação ou intolerância. Poderá ser par-
de 45 anos de estudos não confirmou esta hipótese.41 ticularmente útil (pelo perfil de efeitos secundários) nos
De igual modo os efeitos sobre a função sexual (nomea- doentes com insónia e com peso inferior ao desejável.
damente disfunção eréctil) parecem ser mínimos.
Farmacocinética, dosagem e modo de administração
Tolerabilidade e adesão terapêutica Tem semivida terminal longa, de 15 dias e demora
Os beta-bloqueantes são habitualmente bem tolera- quase 2 meses a atingir concentração estável e a revelar
dos; no entanto a taxa de descontinuação do tratamento a sua eficácia.48
com propranolol nos diversos ensaios clínicos variou en- A dosagem habitual é de 10 mg por dia, mas deverá
tre 20% e 23%,42 em cerca de 8% por efeitos secundá- ser reduzida para 5 mg em doentes que não a tolerem
rios. Fora do contexto dos ensaios, a percentagem que por sonolência ou nos doentes com idade superior a 65
mantem a terapêutica ao fim de 6 meses é de 25% e anos. A toma deve ser realizada ao deitar pela sonolên-
ao fim de 12 meses é de apenas 14%43; as razões prin- cia associada. Não deve ser utilizada consecutivamente
cipais para o abandono do tratamento são baixa eficácia mais de 6 meses.49
(42,8%) e efeitos secundários (35,9%).44
Efeitos adversos 49
2. Antagonistas dos canais de cálcio Para além da sonolência outros efeitos secundários
Flunarizina (nível de evidência A) frequentes são o aumento de apetite e consequente au-
Neste grupo farmacológico apenas a flunarizina evi- mento de peso (em especial nos tratamentos mais pro-
dencia eficácia (nível A). É também considerada uma longados) e cansaço. Menos frequente humor depressivo,
terapêutica de primeira linha na profilaxia da enxaqueca especialmente em mulheres que já sofreram anterior-
pelas sociedades científicas europeias.10 mente de depressão. Podem ainda surgir nos tratamen-
É desconhecido o seu mecanismo de ação na enxaqueca. tos prolongados, sintomas extrapiramidais como tremor,
rigidez, bradicinesia e síndrome das pernas inquietas.
Evidência Outras reações adversas pouco frequentes, incluem:
Numa recente metanálise45 a flunarizina foi superior náuseas, epigastralgias, xerostomia, hiperplasia gengival,
ao placebo em reduzir a frequência das crises às 8, 12, insónias, tonturas, cefaleias e irritabilidade.
20 e 24 semanas de terapêutica (DM 20,44; 95% IC
20,61 a 20,26) na análise conjunta de 5 estudos com Contraindicações e precauções
um total de 249 participantes: redução de 0,4 crises por A flunarizina está contraindicada em doentes com
mês em doentes com uma média de 4 crise por mês. A depressão, doença de Parkinson, obstipação e hipoten-
taxa de respondedores (redução superiores a 50%) foi são arterial. Está também contraindicada na gravidez.
significativamente maior que com o placebo (OR 8,86; Deve ser utilizado com precaução em doentes com in-
95% IC 3,57-22,0). No entanto é de ressalvar que os suficiência hepática, glaucoma ou prostatismo e deve ser
estudos existentes apresentam alguns problemas meto- evitada nos doentes obesos.
dológicos e alto risco de enviesamento na maioria deles.
Não parece haver diferenças de eficácia entre a do- Outros antagonistas dos canais de cálcio
sagem de 5 ou 10 mg de acordo com um estudo com Estudos de pequena dimensão avaliando a possível efi-
mais de 500 participantes.46 De igual modo não foram cácia do verapamilo foram positivos (nível de evidência C)
evidenciadas diferenças na eficácia clínica entre a flunari- e estudos com nimodipina, nicardipina, e diltiazem não
zina 10 mg/dia e o propranolol 60-160 mg em 7 estudos revelaram superioridade sobre o placebo não se podendo
com um total de 1151 participantes45,46 ou o topiramato recomendar a sua utilização nesta indicação.16
num pequeno estudo com 83 participantes.47
3. Antiepiléticos
Indicação Estes fármacos, também apelidados de neuromodu-
A flunarizina é também um fármaco de primeira linha lares por reduzirem a hiperexcitablidade cortical asso-
na prevenção da EE (grau de recomendação I), desde que ciada à enxaqueca são também fármacos de primeira
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linha na EE, com boa evidência. Os antiepiléticos com dação I), desde que não haja contraindicação ou into-
eficácia demonstrada nesta patologia são o valproato de lerância, estando excluídas desta indicação as mulheres
sódio e o topiramato. em idade fértil.
Ácido valpróico e valproato de sódio (nível de evidência A) Farmacocinética, dosagem e modo de administração
O ácido valpróico (sintetizado pela primeira vez em O valproato é rapidamente absorvido atingindo o
1882, como análogo do ácido valérico encontrado na pico de concentração plasmática entre as 1 e 4 horas. A
valeriana), o valproato de sódio ou a combinação dos sua semivida é longa, cerca de 8 a 20 horas e atinge-se a
dois (divalproato ou valproato semisódico) têm evidên- concentração de equilíbrio aos 3-5 dias; liga-se em 90% às
cia de eficácia na EE.50 proteínas plasmáticas,50 a insuficiência renal prolonga a sua
semivida e é excretado pela urina em vários metabolitos.
Mecanismo de acção Deve ser administrado na enxaqueca com dosagem
Possíveis mecanismos são o aumento da atividade baixa de início (250 mg) com aumento lento e progressivo
neuroinibitória do GABA, a inibição dos sinais neuroe- conforme tolerabilidade até doses que variam entre os 250
xcitatórios do NMDA e em altas doses o aumento da mg e os 1500 mg, administrados duas vezes ao dia. Obri-
concentração extracelular da serotonina, da dopamina ga a monitorização hepática, do ionograma, hemograma e
e dos seus metabolitos ativos.51 O ácido valpróico tam- amilasémia que deverá ser realizada 2 vezes ao ano.
bém bloqueia os canais de sódio dependentes da volta-
gem e os canais de cálcio tipo T e tem acção inibitória Efeitos adversos
sobre a onda de depressão alastrante. Os efeitos adversos mais comuns são: náuseas, vómi-
tos e desconforto gastrointestinal, sonolência, tonturas e
Evidência desequilíbrio, defeito de memória, aumento de peso e si-
Uma metanálise de 10 ensaios51 (6 randomizados nais extrapiramidais. Raramente podem ocorrer hepatite
controlados com placebo, 4 contra comparadores ati- e pancreatite, que são reações idiossincráticas imprevisí-
vos) confirmou a eficácia do valproato de sódio na pre- veis.54 Em 40%, podem haver alterações assintomáticas
venção da EE em grupos paralelos ou cruzados, com do- da função hepática. Podem surgir também trombocito-
ses variando entre 400 a 1500 mg/dia (nível de evidência penia e outras discrasias sanguíneas requerendo vigilância
A). As taxas de respondedores foram de 42% (30% a analítica. Hiperandrogenismo, quistos do ovário e obesi-
66%) nos grupos ativos contra 21% (14% a 24%) no dade podem ocorrer em mulheres jovens.
grupo placebo. Embora sem dados sobre o número de Tem conhecidos efeitos teratogénicos nomeadamen-
cefaleias por mês os resultados foram consistentes: a te defeitos do tubo neural (1%-2% risco espinha bífida)
probabilidade de redução de 50% da frequência das ce- e risco de malformações major; está também associado
faleias por mês é duas vezes superior com o valproato a baixo QI em crianças cujas mães tomaram a droga du-
comparado com placebo. Cerca de 12% dos doentes rante a gravidez.
abandonaram o tratamento pelos efeitos secundários.
Dois estudos comparando valproato com flunarizina Contraindicações e precauções
e com propranolol demostraram eficácia semelhante na Contraindicações absolutas são a gravidez e antece-
proporção de respondedores. Dois pequenos estudos dentes de pancreatite ou doença hepática; outras são
comparando valproato com topiramato evidenciaram li- trombocitopenia, pancitopenia e discrasias hemorrági-
geira, mas significativa vantagem do topiramato (menos cas. Pelo risco teratogénico é fortemente desaconse-
um dia por mês52,53). lhada a sua utilização em mulheres em idade fértil que
Não há evidência de eficácia sobre outros sintomas devem sempre ser avisadas do risco.
como aura ou pródromos.
Topiramato (nível de evidência A)
Indicação O topiramato é um monossacarídeo derivado da D-fru-
O valproato de sódio está indicado na profilaxia da tose55 e um antiepilético, com evidência de eficácia, sendo
EE como fármaco de primeira linha (grau de recomen- um fármaco de primeira linha no tratamento da EE.
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cos, apesar da reduzida evidência, desde que disponi- crise de enxaqueca: o CGRP, calcitonin gene related pep-
bilizados em preparados com qualidade farmacêutica. tide (péptido relacionado com o gene da calcitonina). O
Podem ser opção em doentes com efeitos adversos in- CGRP é um pequeno neuropéptido de 37 aminoácidos
toleráveis ou contraindicação aos fármacos preventivos. que resulta do processamento alternativo no sistema
nervoso do gene da calcitonina76. Ele está amplamen-
B. Fármaco preventivos injetáveis te distribuído no SNC e SNP, é um potente vasodilata-
1. Bloqueios anestésicos de nervo grande occipital dor, está implicado na transmissão nociceptiva e é um
(nível de evidência B) neuropeptido próinflamatório. O CGRP é produzido e
O bloqueio anestésico do nervo grande occipital libertado pelos neurónios sensitivos das fibras C, não
(com ou sem adição de corticoide local) tem sido utili- mielinizadas e atua nos neurónios das fibras sensitivas
zado no tratamento da enxaqueca quer como abortivo Aδ, pouco mielinizadas. É o neurotransmissor mais
(em crises prolongadas) quer como preventivo. A razão abundante no gânglio do trigémeo e intervem na ativa-
de tal abordagem advém de o nervo grande occipital ser ção do sistema trigeminovascular. Descoberto em 1982
aferente das raízes sensitivas ao nível de C2 que formam por Susan Amara e colaboradores77, é conhecido o seu
parte do complexo trigeminocervical: a informação sen- papel na enxaqueca já há décadas, sendo considerado
sitiva vinda do nervo anestesiado poderá modificar a in- um marcador da atividade trigeminovascular78. É liber-
tegração da informação nociceptiva das áreas inervadas tado durante a crise de enxaqueca aumentando os seus
pelo trigémeo e levar à redução da sensibilização de C2. níveis na veia jugular; os triptanos, eficazes no tratamen-
Numa metanálise74 de 7 ensaios clínicos randomizados to agudo da crise, revertem esse aumento do CGRP e
e controlados com placebo (injeção de soro), com a a administração endovenosa do CGRP desencadeia uma
utilização do bloqueio anestésico (com bupivacaina ou cefaleia com as características de enxaqueca, em pesso-
lidocaina) do grande nervo occipital, em casos de en- as suscetíveis79.
xaqueca episódica e crónica, num total de 323 doen- Foram desenvolvidos vários fármacos contra o
tes, houve uma diminuição da intensidade da cefaleia CGRP; os primeiros, pequenas moléculas denominadas
(DM=-0,89; 95% IC=-1,38 a -0,39; p=0,0005)) e do gepants, antagonistas do recetor do CGRP, são eficazes
consumo de analgésicos (DM=-1,10; 95% CI=-2,07 a no tratamento sintomático da enxaqueca e, mais recen-
-0,14; p=0,02) mas não da duração da cefaleia (DM=- temente, estão também a ser avaliados para o tratamen-
6,96; 95% CI=-14,09 a 0,18 p=0,006). A metodologia, to preventivo (nesse caso o atogepant e o rimegepant),
dose, anestésicos, local e número de injeções foi variá- já com alguns resultados positivos80.
vel; a adição de corticóides não parece aumentar o efei- Em 2007 desenvolveram-se os primeiros anticorpos
to terapêutico.73 Complicações descritas são infeção, monoclonais contra o CGRP ou contra o seu recetor,
hematoma e lesão das estruturas locais. Efeitos secun- grandes glicoproteínas de administração parentérica e
dários sistémicos também são possíveis embora extra- longa semivida e os primeiros ensaios clínicos com estas
mente raros se técnica correta. É minimamente invasivo moléculas ocorreram a partir de 2013. Pela primeira vez
e habitualmente bem tolerado (em 600 procedimentos foram desenvolvidos fármacos preventivos específicos
apenas reportados 39 eventos adversos75). Poderá ser para a enxaqueca.
uma alternativa em doentes selecionados (grau I, nível Quatro anticorpos monoclonais foram produzidos
B). Não deve ser utilizado em doentes com soluções de para tratamento preventivo da enxaqueca: um anticor-
continuidade craniana, infeções locais e alergia a anes- po humano anti-rCGRP (erenumab) e os restantes três
tésicos locais. anticorpos humanizados anti-ligando, anti-CGRP (fre-
manezumab, galcanezumab e eptinezumab). Todos são
2. Anticorpos monoclonais dirigidos ao CGRP ou de administração subcutânea exepto o eptinizumab que
ao seu recetor (Amc-CGRP e Amc-rCGRP) (nível é de administração endovenosa. Todos eles têm evidên-
de evidência A) cia da sua eficácia no tratamento preventivo da enxa-
Para a profilaxia da enxaqueca foram recentemente queca (nível de evidência A) e estão aprovados pela FDA
desenvolvidos anticorpos monoclonais dirigidos a um e pelas autoridades europeias (com exceção do eptine-
alvo que se sabe ser fundamental na fisiopatologia da zumab nesta última), encontrando-se já comercializa-
24 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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dos em muitos países europeus. Não são fármacos de também esteja. À data da redação destas recomenda-
primeira linha; são considerados de segunda ou terceira ções o erenumab, o fremanezumab e o galcanezumab,
linha segundo as autoridades regulatórias de cada país. já têm aprovada a comparticipação pelo Estado.
O erenumab e o fremanezumab já estão disponíveis em Na Tabela 3.3.4 encontram-se as doses, forma e fre-
Portugal, e espera-se que brevemente o galcanezumab quência de administração dos 4 anticorpos monoclonais.81
Como vantagens destes medicamentos para além da enxaqueca por ação periférica ao nível do gânglio do
sua eficácia, é a menor incidência de efeitos secundários, trigémeo, local em que o CGRP e o seu recetor estão
quando comparada com os preventivos orais, e o início abundantemente representados76.
de ação mais rápido. Estas propriedades facilitam a ade-
são dos doentes à terapêutica82,83. Evidência
Todos os novos anticorpos monoclonais têm evidên-
Mecanismo de acção cia84,85 de qualidade e consistente, da sua eficácia no tra-
O CGRP e o seu recetor encontram-se amplamente tamento preventivo da enxaqueca obtida em diversos
distribuídos no SNC e SNP. ensaios clínicos, com metodologia apropriada (multicên-
O erenumab é uma imunoglobulina IgG2 humana tricos, duplamente cegos e randomizados) de acordo
que se liga ao recetor canónico do CGRP bloqueando-o com as orientações da IHS86 e com um elevado número
de forma reversível. Ele pode inibir até 99% da ativida- de participantes (evidência de nível A).
de do recetor consoante a concentração81. Embora a metodologia utilizada nos diferentes en-
Os outros anticorpos, fremanezumab (IgG2a huma- saios no que se refere a seleção de doentes, objetivos
nizada), galcanezumab (IgG4 humanizada) e o eptinezu- primários e secundários e metodologia de avaliação
mab (IgG1 humanizada) são dirigidos contra o ligando de eficácia, tenha sido distinta, os resultados positivos
CGRP podendo atuar sobre as suas duas isoformas (α e obtidos são muito consistentes para os vários anticor-
β). A isoforma α existe essencialmente no sistema ner- pos. A sua eficácia clínica é muito semelhante como
voso enquanto a β se encontra no intestino. Eles ligam- grupo e traduz-se na melhoria de vários parâmetros:
-se avidamente e especificamente ao CGRP impedindo redução dos dias de cefaleias e de enxaqueca por mês,
a sua atividade nomeadamente a interação com o respe- percentagem de respondedores (redução ≥50%, redu-
tivo recetor, mas sem o bloquear. ção≥75% e redução de 100%), redução do consumo
Os anticorpos monoclonais, moléculas proteicas de de abortivos, melhoria da incapacidade medida em esca-
grandes dimensões, não atravessam a barreira hema- las de impacto e melhoria da qualidade de vida.
toencefálica e acredita-se que exercem o seu efeito na Todos os subcutâneos foram testados em múltiplos
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 25
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
ensaios de fase 2 e fase 3, na enxaqueca com e sem aura, avaliação (4, 12 e 24 semanas) sendo que a eficácia se
na EE e EC e em doentes com falências prévias de ou- revelou logo no primeiro mês de tratamento. Na análise
tros preventivos (2 a 4) ou com abuso de analgésicos. conjunta desses 5 ensaios a redução da média de dias
O eptinezumab foi avaliado na EE e na EC com e sem de enxaqueca por mês para ambas as dose de erenu-
abuso de analgésicos87,88. mab em comparação com o placebo (foi de -1,32 dias
Apresentamos os resultados dos ensaios pivotais que (IC 95% -1,73 a -0,9, p<0,00001), o aumento da taxa
levaram à aprovação pelas entidades reguladoras. de respondedores (acima de 50%) foi de: RR=1,55, (IC
O erenumab foi estudado na enxaqueca episódica 95% 1,35 a 1,77, p<0,00001) e a redução média de dias
(entre 4 a 14 dias de enxaqueca/mês) em 2 ensaios de com toma de medicação específica para a enxaqueca
fase 3. O estudo STRIVE89 teve a duração de 24 sema- contra placebo foi de DM -1,41, IC 95% p<0,0001.
nas, mais de 950 doentes incluídos em que 40% tinha A eficácia do fremanezumab foi avaliada em dois en-
falhado um ou mais preventivos prévios. Os doentes saios pivotais na enxaqueca episódica. Num estudo de
submetidos a erenumab tiveram uma redução manti- fase 3 multicêntrico92, de 12 semanas, um total de 875
da e sustentada dos dias de enxaqueca por mês (-3,7, doentes foram aleatorizados para um de três braços:
-4,0 a -3,3, IC 95%, p<0,001 na dose de 140 mg, e uma administração de 675 mg de fremanezumab segui-
-3,2 -3,6 a -2,9, IC 95%, p<0,001 na dose de 70 mg) da de administração mensal de placebo durante 2 meses
quando comparados com placebo (-1.8, -2.2; -1,5, IC (n=291), 225 mg de fremanezumab mensal (n=290) ou
95%). Também a % de respondedores (redução de 50 administração mensal de placebo (n=294). Na dose de
ou mais percentagem na frequência das cefaleias) foi 675 mg a redução média dos dias de enxaqueca foi de
significativamente superior nos doentes tratados com -3,4 (-3,94 a -2,6, IC 95% p<0,001), na dose de 225 mg
erenumab (50% e 43,3% nos 140 ou 70 mg) versus pla- foi de -3,7 (-4,15 a -3,18, IC 95%, p<0,001) e no grupo
cebo (26,6%) (p<0,001). Nas medidas de impacto a di- placebo -2,2 (-2,68 a- 1,71). Também houve diferenças
ferença em relação ao placebo foi também significativa. significativas na taxa de respondedores a 50% (44,4%
No ARISE90, com 577 participantes (oriundos dos EUA e na dose trimestral, 47,7% na dose mensal versus 27,9%
Europa, e entre estes também de Portugal) foi estudada no placebo, p<0,001) ou a 70%: (9,7% no placebo,
a dose de 70 mg durante 12 semanas em dupla oculta- 18,4% na dose de 675 mg, p=0,0025 e 18,5% na dose
ção a que se seguiu fase aberta de 28 semanas; foram de 275 mg mensal, p=0,0023) e na redução do dias de
excluídos doentes com mais de 2 falhas prévias. Houve consumo de medicação aguda e da pontuação da escala
uma redução de 2,9 dias de enxaqueca por mês (versus de MIDAS.
1,8 dias no grupo placebo) (p <0,001) e uma resposta O fremanezunab foi também avaliado em doentes
a 50% em 39,7 % dos pacientes em comparação com com falências prévias de medicação preventiva (2 a 4),
29,5% no grupo placebo (p=0,001) no estudo Focus93 onde foram incluídos doentes com
Posteriormente foi realizada uma outra avaliação (es- enxaqueca episódica (n= 329) e crónica (n=509); am-
tudo LIBERTY)83 com o erenumab na EE com falência bos os regimes de fremanezumab (225 mg mensal ou
prévia de 2 a 4 tratamentos preventivos, na dose de 675 mg trimestral) evidenciaram eficácia significativa na
140 mg: houve 30,3% de respondedores no braço ativo redução do número de crises por mês às 4, 8 e 12 sema-
contra 13,7% no braço placebo (p=0,002). nas de terapia. De referir que para o fremanezumab 2%
Numa metanálise dos ensaios clínicos realizados com dos doentes estudados apresentavam mais de 65 anos.
erenumab91 em que foram analisados 5 ensaios clínicos, Uma metanálise94 de 5 ensaios clínicos realizados
apenas um deles na EC, os restante 4 na EE, num total com fremanezumab envolvendo 3379 doentes (2 na
de 2928 adultos com idades compreendidas entre 18 e EE e 3 na EC, um deles com 2 a 4 falências prévias),
65 anos, ambas as dosagens de erenumab (70 e 140 mg) revelou a eficácia do fremanezumab em todos os tipo
foram eficazes em todos os parâmetros avaliados (re- de enxaqueca e nas várias dosagens administradas (dose
dução dos dias de enxaqueca por mês, taxa de respon- mensal de 225 mg na EE, e 675 mg seguidas de 225 mg
dedores com redução de 50%, redução dos dias con- nos dois meses seguintes na EC ou dose trimestral de
sumo de medicação específica de enxaqueca e medidas 675 mg) e também nos casos de falência prévia. Ana-
de impacto e qualidade de vida) e em todas as datas de lisando o conjunto destes ensaios e seus resultados às
26 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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12 semanas de seguimento houve uma redução de 2,36 Uma metanálise recente99, avaliou todos os ensaios
dias com cefaleias comparando com placebo (IC 95% de fase 2 e fase 3 realizados na enxaqueca episódica:
-3,17, -1,56, p<0,0001) e 2,21 dias com enxaqueca por 15 ensaios (5 com galcanezumab, doses entre 5 a 300
mês (IC 95%, -3,03, -1,38, p<0,0001). A percentagem mg, 3 com fremanezumab entre 225 mensal ou 675 tri-
de respondedores (acima de 50%) foi significativamente mestral, eptinezumab 2 ensaios testando 30 a 1000 mg
superior em relação ao placebo (RR=2,22, IC 95%, 1,6 e erenumab 5 ensaios nas doses de 7, 21, 70 e 140 mg)
a 3,07, p<0,0001). num total de 8075 doentes. O objetivo primário dos vá-
O galcanezumab foi estudado em 2 ensaios clínicos rios estudos foi a redução dos dias de cefaleia moderada
pivotais de fase 3 na EE: o EVOLVE 195 (n=858) e o a severa/ enxaqueca por mês. Na totalidade obteve-se
EVOLVE 296 (n=915) doentes). Houve uma redução em relação ao placebo em média até -1,50 dias de enxa-
de dias de enxaqueca por mês de – 4,18 a 4,73 nas queca por mês (IC 95% -1,85 a -1,16, p<0,0001), que
doses de 120 mg/mensal e 240 mg/mensal comparado embora pareça de pequena dimensão representou uma
com placebo que variou entre -2,28 a -2,83 (IC 95%, efetiva melhoria conforme percecionada pelos doentes.
p<0,001). Essa diferença significativa em relação ao pla- Todos os Acm evidenciam redução significativa do
cebo também se verificou nos outros parâmetros avalia- número de cefaleias face ao placebo logo na primeira
dos: redução de 50% (60,9 a 62,3% no Evolve 1 versus semana e por vezes (galcanezumab e eptinezumab) logo
38,6% no placebo, p<0,001 e 59,3% a 56,5% vs 30%
no primeiro dia. São também eficazes nos outros sinto-
no placebo no Evolve 2 p<0,001), 75% ou 100% na
mas da enxaqueca e nas auras. Todos eles são eficazes
frequência das crises, na redução do consumo de medi-
na melhoria da qualidade de vida e na redução de inca-
camentos de fase aguda bem como melhoria significativa
pacidade avaliada nas diferentes medidas centradas nos
nas escalas de qualidade de vida e impacto funcional.
doentes (PRO – patient reported outcomes)
O galcanezumab foi também testado na EE e na EC
refratária a 2 a 4 outros preventivos incluindo a toxina
Indicação e recomendações para a seleção
onabotulinica A, no estudo CONQUER97, em 462 do-
Os Acm foram aprovados, nos países europeus, para
entes dos 18 aos 75 anos, com dose mensal de 120 mg
tratamento de doentes com EE com mais de 4 dias de
após dose de carga de 240 mg, em que o objetivo pri-
enxaqueca por mês. Entende a SPC, à semelhança das
mário (redução de 4,1 dias de enxaqueca por mês de
suas congéneres de outros países2,100 (AHS e EHF), que
13,4 dias no baseline no grupo tratado e menos 1 dia por
a prescrição deste tipo de medicamentos inovadores
mês no grupo placebo, p<0,0001) e todos os secundá-
mas com custos significativamente maiores que os pre-
rios foram atingidos.
ventivos orais e dos quais ainda há pouco experiência
Numa metanálise98 de 5 ensaios realizados com gal-
canezumab (2 de fase 2 e 2 de fase 3 na EE e 1 de fase na vida real, deve estar submetida a regras bem defi-
3 na EC) para um total de 3565 doentes na dose de nidas que acautelem os interesses dos doentes e que
120 mg, houve uma redução de dias com enxaqueca por permitam uma correta avaliação de eficácia e segurança
mês de -1,79 (95% IC , -2,06 a -1,53, p<00001) e de na vida real e a longo prazo. Assim aconselha a SPC que
-1,85 (-1,94 a -1,76, p<0,00001) para a dose de 240 mg, a prescrição seja feita por peritos (neurologistas com
comparando com o placebo. diferenciação específica em cefaleias) e em centros/con-
O eptinezumab foi avaliado no estudo PROMISE-187 sultas de referência.
também na EE e com 6 meses de duração de tratamen- Estes tratamentos não são de primeira linha estando
to nas doses de 30 mg, 100 mg ou 300 mg administrados indicados para o tratamento preventivo da EE nas situ-
por via ev a cada 3 meses. Oitocentos oitenta oito doen- ações de falência (após administração em dose e tempo
tes foram incluídos. A redução dos dias com enxaqueca adequado) ou na presença de efeitos adversos, intole-
por mês (diferença em relação ao efeito obtido com rância ou contraindicação aos outros preventivos orais
placebo) foi de -0,82 (p=0,0046) na dose de 30 mg, - disponíveis (grau de recomendação I). Define-se como
0,69 (p=0,018) na dose de 100 mg e -1,11 (p=0,001) falência terapêutica a ausência de redução significativa
na dose de 300 mg. Este fármaco está aprovado para (≥ 50%) da frequência das cefaleias após 2-3 meses de
utilização nos EUA nas dosagens de 100 e 300 mg. terapêutica,10 segundo a EHF.
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 27
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A SPC recomenda que os anticorpos monoclonais zada uma monitorização cuidadosa de segurança com
anti-CGRP ou anti -rCGRP sejam utilizados na terapêu- notificação rápida de todos os efeitos secundários.
tica preventiva de doentes com EE, com e sem aura,
que tenham mais de 8 crises por mês ou entre 4 a 8 cri- Farmacocinética, dosagem e modo de administração
ses por mês se associadas a incapacidade (avaliada por Os Amc-CGRP ou Amc- rCGRP não são absorvidos
medidas simples de impacto), e não tenham tido respos- por via oral, razão pela qual têm que ser administrados
ta em dose e tempo adequado (no mínimo 8 semanas e por via parentérica (sc ou iv). Os de administração sub-
idealmente 12 semanas) e/ou tenham efeitos adversos, cutânea podem ser fornecidos em dispositivos de auto-
intolerância ou contraindicação a pelos menos 4 fárma- administração. A frequência de administração é mensal
cos preventivos orais prévios (grau de recomendação I). ou trimestral conforme o fármaco.
Recomenda ainda que a falência deva ser documentada Os anticorpos são catabolizados no sistema reticulo-
em calendário, pelo número mensal de crises, e corro- endotelial sendo degradados por proteólise enzimática
borada pela impressão subjetiva do doente. em pequenos péptidos e aminoácidos. Os pequenos
A seleção dos doentes e o posterior acompanhamen- péptidos e aminoácidos formados podem ser reutiliza-
to da resposta deve basear-se no calendário das crises dos no organismo para a síntese de novo de proteínas,
e em medidas simples de impacto, avaliados periodica- ou são excretados por via renal. Não são metabolizados
mente pelo menos de 3 em 3 meses. pelo fígado nem pelo citocromo P450 pelo que não têm
Os doentes a fazerem preventivos orais podem man- interações medicamentosas, nomeadamente nem com
ter essa terapêutica quando iniciam Acm dado não haver triptanos nem com anticoncecionais orais.
risco de interações e essa associação ter sido permitida Uma vez que os anticorpos monoclonais não são eli-
nos ensaios clínicos. O objetivo será reduzir a dose e minados pela via renal e não são metabolizados no fíga-
retirá-los assim que melhoria clínica. do, não se prevê que o compromisso renal e hepático
afete a sua farmacocinética.
Recomendações para a manutenção e interrupção A primeira administração, mesmo quando existe dis-
Nos ensaios clínicos a maioria dos doentes eviden- positivo de autoadministração, deve ser feito por um
ciou resposta nos três primeiros meses de tratamento. profissional de saúde num estabelecimento de saúde.
Não há, no entanto, ainda dados sobre qual a duração Deve ser administrado apenas em zonas de pele íntegra
exata que os tratamentos devem ter nem o que acon- e sem eritema ou outras alterações.
tece após a interrupção da medicação; sabemos apenas O erenumab é administrado por via subcutânea, em
que a administração é segura por períodos prolongados dispositivo de autoadministração (caneta). A dose eficaz
(até aos 3,5 anos) e que o seu efeito é sustentado101. de erenumab são 70 mg; alguns doentes beneficiarão de
A SPC recomenda que no final do terceiro mês de 140 mg por dia. A sua bioavaliabilidade é de 82% após
tratamento seja avaliada a resposta: Se o tratamento administração cutânea. Tem semivida de 28 dias. Pode
estiver a ser eficaz deverá ser mantido; se não houver ser administrado na prega do abdómen, nos membros
resposta deve ser interrompido (recomendação grau I). superiores (se não for autoadministração) ou nas co-
A SPC recomenda nestes doentes refratários consi- xas102 .
derar como resposta positiva uma redução de pelo me- Estão disponíveis dois regimes posológicos para o
nos 30% na frequência das crises e melhoria nas medi- fremanezumab, ambos para administração subcutânea:
das centradas no doente. 225 mg uma vez por mês (regime mensal) ou 675 mg
Enquanto não houver evidência da vida real sobre a de três em três meses (regime trimestral). Quando se
duração indicada do tratamento, a SPC recomenda a muda de regime posológico, a primeira dose do novo
interrupção do tratamento ao fim de 6 a 12 meses de regime deve ser administrada na próxima data de admi-
benefício sustentado (redução >30% da frequência das nistração prevista do regime anterior. A sua biodisponi-
crises) ou melhoria de parâmetros considerados rele- bilidade varia entre 55% a 66%. O fremanezumab pode
vantes para o doente (intensidade das crises, resposta ser injetado em zonas do abdómen, da coxa ou da parte
aos fármacos agudos, melhoria subjetiva da qualidade de superior do membro superior.102 O fremanezumab tem
vida e redução do impacto). Deverá também ser reali- uma semivida estimada de 30 dias.
28 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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res associados à cronificação, em particular os que são 3.Terapêutica preventiva na enxaqueca crónica
modificáveis. O uso excessivo de medicamentos agudos Todos os doentes com EC têm indicação para te-
é um dos principais fatores de manutenção e cronifica- rapêutica profilática. A redução do número de crises é
ção e deve ser explicitamente discutido com os doentes, considerada essencial, na medida em que a frequência
reforçando o facto que a sua interrupção melhora a EC elevada é o principal fator de cronificação da enxaqueca
e a eficácia dos fármacos preventivos.11,12 Outros fato- (OR = 20,1).13 No entanto, em estudos de base popu-
res de risco, a despistar e tratar são as perturbações do lacional apenas 33% dos casos de EC estão medicados
sono, a depressão, o consumo excessivo de cafeína e com preventivos.
Existem apenas três terapêuticas preventivas com
a obesidade. O doente deve ser aconselhado a manter
um nível de evidência A (de acordo com a DGS14) na EC:
um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada,
o topiramato, a toxina onabotulínica tipo A e os anticor-
exercício físico regular, higiene do sono e, se possível,
pos monoclonais dirigidos ao CGRP ou ao seu recetor,
aprender a gerir situações de stress. Poderá estar indi-
das quais apenas a toxina está especificamente aprovada
cada a terapêutica antidepressiva/psicoterapia. Deve ser
para prevenção da EC em adultos. Além disso, e porque
instruído a manter um calendário de crises, onde assina-
o reconhecimento da EC como entidade nosológica é
la a sua intensidade e o consumo de fármacos de resga-
relativamente recente, existem poucos ensaios clínicos
te. Deve-se explicar que o calendário vai servir de base na EC com os fármacos usados na prevenção oral da EE.
às decisões terapêuticas. A escolha do tratamento é individualizada, de acordo
com o perfil do doente, as suas comorbilidades e falên-
2. Terapêutica aguda de crise cias terapêuticas prévias. Contudo, mesmo com tera-
O doente deve ser instruído sobre as medidas a pêuticas personalizadas, apenas 17%-20% dos doentes
tomar durante as crises, circunstância em que tem de mantêm a medicação prescrita ao fim de um ano,15-17
decidir de forma autónoma. Existem dados, provenien- por efeitos adversos, intolerância e ausência de res-
tes da EE, que mostram que a medicação é tanto mais posta. A baixa adesão condiciona mudanças repetidas
eficaz quanto mais precocemente tomada. Contudo nas de tratamento, o controlo inadequado da doença e o
cefaleias diárias existe o risco de estimular o abuso me- esgotar das opções terapêuticas. São classificadas como
dicamentoso. falências terapêuticas (e indicação para mudar de me-
Na ausência de estudos específicos, dirigidos ao tra- dicação), a ausência/insuficiência de resposta após um
tamento agudo da EC, recomendam-se os fármacos ha- período de medicação em dose e duração adequadas,
bitualmente usados nas formas episódicas de enxaque- os efeitos adversos, as contraindicações e as questões
ca. O doente tem de conhecer os limites da medicação de segurança que impeçam o uso do fármaco.9
podiam manter outros profiláticos desde que em dose em medidas de impacto, avaliado pela escala MIDAS19
estável18,19 (Tabela 3.4.1). O fármaco foi eficaz na re- e nalguns aspetos da qualidade de vida.20 Numa análise
dução do número de dias com enxaqueca, 18,19
na redu- conjunta dos dois ensaios verificou-se ainda que o topi-
ção ≥50% dos dias com enxaqueca/mês, na melhoria
18
ramato foi eficaz tanto em doentes com abuso medica-
da foto/fonofobia ou do agravamento pelo esforço, 20
mentoso como sem abuso.21
são, irritabilidade) e fadiga, efeitos que limitam o seu be- hipótese de obter benefício cumulativo durante 6
nefício. Em doses elevadas o topiramato pode interferir a 12 meses de uso mantido.
com a eficácia dos contracetivos orais, aspeto que deve
ser abordado com as doentes, aconselhando-se nesses 2. Outros preventivos orais
casos o reforço das medidas contracetivas. À exceção do topiramato, não existe evidência su-
ficiente na EC, sobre a eficácia dos outros preventivos
Recomendações para o início, manutenção e orais usados na enxaqueca episódica. Mas, na prática
interrupção aplicam-se aos outros preventivos aprovados para a EE
O topiramato deve ser considerado como fármaco as regras acima definidas para o topiramato.
de primeira linha na prevenção da enxaqueca crónica, Existem outros estudos disponíveis, efetuados em
a menos que existam contraindicações ou intolerância pequenos ensaios abertos ou em pequenas séries (pre-
(recomendação de grau I14). A interrupção da terapêu- gabalina, minalcipran, atenolol, zonizamida, duloxetina,
tica deve ser feita: memantina) ou num único ensaio clínico aleatorizado e
a) Por efeitos adversos, graves ou não toleráveis. controlado (valproato de sodio, amitriptilina, gabapenti-
b) Por resposta insuficiente ou ausente após atingir a na, tizanidina) insuficientes para a sua recomendação23.
dose máxima tolerada de forma estável (ou seja, O mesmo se aplica à combinação de preventivos, em-
excluindo o período de ajuste terapêutico). O bora seja prática comum manter os fármacos que se tra-
tempo mínimo de terapêutica (em dose alvo/reco- duzem nalgum benefício, mesmo que insuficiente. Num
mendada) para definir falência não está estabele- ensaio controlado com placebo em doentes insuficien-
cido. A Sociedade Americana de Cefaleias (AHS)22 temente controlados com topiramato, não se verificou
recomenda, para a EC, um mínimo de 8 semanas vantagem na adição de propranolol de longa acção24.
sem resposta com a dose alvo/ dose habitualmen-
te recomendada, para mudar de preventivo oral. b) Toxina botulínica (toxina onabotulinica A, BoNTA)
A SPC recomenda que se possa mudar de tera- (Nível de evidência A)
pêutica oral ao fim de 8 semanas com a dose má- Mecanismo de acção
xima tolerada, não havendo resposta objetiva ou Além de interferir com a transmissão neuromuscular,
percecionada pelo doente. Contudo, se possível, a a toxina botulínica inibe a libertação local de neurotrans-
resposta deve ser avaliada até às 12 semanas para missores nociceptivos (CGRP, substância P, glutamato) a
dar oportunidade de atingir o período de benefí- partir das terminações nervosas sensitivas. Quando é
cio máximo, de acordo com os resultados dos en- injetada em vários pontos do couro cabeludo e da re-
saios (recomendação grau IIa). A melhoria objetiva gião cervico-escapular, ela vai bloquear a transmissão
deve ser documentada em calendário. nociceptiva a partir das fibras C não mielinizadas do tri-
Havendo melhoria subjetiva ou objetiva (redução gémeo. Estudos em animais mostraram ainda que a to-
≥ 50% na frequência das crises) a terapêutica xina sofre um transporte axonal retrógrado a partir das
deve ser mantida durante um período de 6 a 12 terminações nervosas periféricas, podendo assim mo-
meses, após o qual se procede à retirada progres- dular a via nociceptiva a nível mais central no complexo
siva no espaço de 1- 2 meses, sob vigilância clínica. trigémino-cervical. Estes efeitos explicam a eficácia da
Não existem estudos que demonstrem vantagem toxina na EC. Curiosamente, a toxina não é eficaz na
na manutenção durante mais tempo, contudo não enxaqueca episódica, o que leva a crer que o seu me-
existe consenso sobre estes prazos. Não existe canismo de acção na EC esteja sobretudo relacionado
evidência sobre o benefício da manutenção tera- com a reversão da sensibilização periférica e central no
pêutica quando a resposta é parcial, por exemplo sistema nociceptivo trigémino vascular.
uma redução da frequência das crises ≥ 30%-
<50%, redução da intensidade ou da duração das Evidência
crises, ou melhor resposta à medicação aguda, Existe uma evidência muito consistente, de nível A14
sendo importante ouvir o parecer subjetivo do sobre a eficácia da toxina onabotulinica A (BoNTA) na
doente. Recomenda-se que seja dada ao doente a EC resultante de ensaios controlados com placebo25-27
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 33
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
(Tabela 3.4.2), uma meta-análise,28 estudos de segui- um mês após a primeira administração e, nos estudos
mento a longo prazo, estudos de vida real
29 30,31
e ensaios de longo prazo a eficácia manteve-se até aos 2 anos,
com comparador ativo.32 Toda a evidência provém de observando-se mesmo um benefício cumulativo com
estudos realizados com a BoNTA e de acordo com o a repetição das sessões.29-31 Análises pos hoc realizadas
protocolo de administração do ensaio PREEMPT. 25
em subgrupos específicos mostraram que a BonTA é
A toxina foi eficaz quer na redução mensal dos dias
eficaz em doentes com falências terapêuticas prévias35
com cefaleia e com enxaqueca, quer em medidas de
e em doentes com abuso medicamentoso.33 Contudo,
impacto e qualidade de vida,25-27 mas não na redução
a BonTA não parece trazer vantagem aos protocolos de
do consumo de fármacos agudos.27,33 Cerca de 50%
suspensão de abuso medicamentoso.36 Esta terapêutica
dos doentes respondeu à primeira sessão, mais 10% à
segunda sessão e igual percentagem à terceira, poden- também tem apresentado resultados positivos em estu-
do-se esperar benefício em dois terços dos doentes à dos de custo-eficácia. Num estudo comparativo com o
terceira sessão.34 Verificou-se uma melhoria significa- topiramato, a toxina revelou superioridade por maior
tiva em várias medidas, comparativamente ao placebo adesão terapêutica e escassez de efeitos adversos.32
com soluções de continuidade do crânio (craniotomia, b) Q uando não existe resposta após um mínimo de
shunts, etc). A antiagregação e a anticoagulação não três sessões (9 meses) pois, como foi menciona-
constituem contraindicação, embora requeiram mais do, 20% dos doentes só irão responder à segunda
cuidado e vigilância na administração. ou à terceira dose. Não havendo resposta à pri-
meira sessão pode-se aumentar a dose de BoNTA
Efeitos adversos para 195 unidades nas sessões seguintes.
A toxina botulínica é um fármaco bastante seguro, c) Quando existe benefício mantido, ou seja pelo
com efeitos adversos sobretudo locais (dor à injeção, menos seis meses de resposta (duas sessões se-
hematoma no local injetado) ou resultantes do bloqueio guidas), com redução do número de dias de dor
neuromuscular (dor cervical, falta de força, ptose, alte- (redução >30% da frequência das crises, ou pas-
ração da mímica facial), que são reversíveis. sagem a formas de enxaqueca episódica, mas não
muito frequente com <8 dias de dor por mês), ou
Recomendações para o início e a suspensão terapêutica melhoria de parâmetros considerados relevantes
A toxina botulínica é geralmente considerada uma para o doente (intensidade das crises, resposta aos
terapêutica profilática de segunda linha na EC, após os fármacos agudos, melhoria subjetiva, da qualidade
preventivos orais.35,37,38 Está indicada nos doentes que de vida, redução do impacto). Esta melhoria pode
não tiveram benefício suficiente, que tiveram efeitos ad- ocorrer após as primeiras 3-4 sessões ou ao fim de
versos ou que têm contraindicação para os preventivos vários meses, uma vez que o efeito é cumulativo.
orais. O número mínimo de falências de preventivos Poder-se-á iniciar um espaçamento das sessões de
orais para iniciar toxina não é consensual. A Federa- 1 mês (3 sessões/ano) e ir vigiando a resposta.
ção Europeia de Cefaleias (EHF)38 recomenda falência
≥ 2 a 3 dos profiláticos orais (com redução das crises 3. Anticorpos monoclonais dirigidos ao CGRP ou
<30%), a Sociedade Espanhola de Cefaleias requer a ao recetor (Amc-CGRP e Amc-rCGRP) (Nível de
falência ≥ 2 preventivos (incluindo um beta bloqueante evidência A) (vidé capítulo 3.3.2.B.2)
e o topiramato) em dose mínima recomendada e pelo Os anticorpos monoclonais (Amc) constituem a in-
menos durante 3 meses37 e no Reino Unido o NICE re- tervenção mais recente e porventura mais inovadora na
comenda o início de BoNTA após falência ≥ a 3 preven- prevenção da enxaqueca. Difere das terapêuticas prévias
tivos orais.35 Se o doente tem abuso medicamentoso a não só pelo mecanismo de acção como também pelo fun-
EHF recomenda que tente suspender o abuso antes do damento científico que a suporta. De facto, enquanto os
início da toxina38 mas, não sendo possível pode-se iniciar preventivos orais resultam essencialmente de dados em-
a BoNTA antes de interromper o abuso. píricos, os Acm foram especificamente desenvolvidos para
A SPC recomenda (recomendação de grau I14) a tera- intervir nos mecanismos fisiopatológicos da doença, após
pêutica com BoNTA para a EC em segunda linha, após o reconhecimento do papel pivotal do CGRP no sistema
falência/contraindicação/efeitos adversos a dois ou mais trigémino-vascular e na mediação das crises.39 O leitor
preventivos, um dos quais deve ser o topiramato, que deve consultar o capítulo referente a estes fármacos no
devem ter sido tomados nas doses recomendadas pelo tratamento da EE no que concerne a modo de acção des-
menos 8 semanas, mas idealmente 12 semanas. Reco- tes fármacos e do papel do CGRP nas crises de enxaqueca.
menda ainda que a falência deva ser documentada em Na enxaqueca episódica o CGRP é libertado durante
calendário, pelo número mensal de crises, e corrobora- as crises, com elevação dos níveis séricos na veia jugular
da pela impressão subjetiva do doente. ipsilateral à dor, enquanto na enxaqueca crónica os seus
níveis estão persistentemente elevados. Esta evidência
Manutenção e suspensão da terapêutica clínica, assim como os estudos experimentais realizados
Embora não exista consenso sobre todos os critérios em animais, levaram ao desenvolvimento de fármacos
para a suspensão da BoNTA, esta deve ser considerada: anti-CGRP para o tratamento da enxaqueca.
a) Em casos de intolerância à administração ou efei- Neste momento existem quatro anticorpos mono-
tos adversos graves ou persistentes, gravidez de clonais contra o CGRP (Amc-CGRP ou Amc-rCGRP)
novo e recusa do doente em continuar cujas características, doses, forma e frequência de ad-
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 35
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
ministração se encontram listadas na Tabela 3.3.4. Os O objetivo primário mais frequente foi a redução do nú-
Amc-CGRP ou Amc-rCGRP não são absorvidos por via mero de dias com enxaqueca ou com cefaleia por mês
oral, razão pela qual têm que ser administrados por via (nalguns estudos43 definidos como cefaleia moderada a
parentérica (SC ou EV). A frequência de administração severa, mais longa ou que requereu o uso de medicação
é mensal ou trimestral, conforme o tempo de semivida. específica) mas num deles foi a redução ≥75% dos dias
Não atravessam a barreira hemato-encefálica e pensa- com enxaqueca.40,41 Foram usados diferentes outcomes
-se que o seu efeito na prevenção da enxaqueca resulta secundários entre os quais a percentagem de doentes
do efeito periférico, no gânglio do trigémeo. com uma redução superior a 50% dos dias com cefa-
leias ou enxaqueca e medidas de eficácia centradas no
Evidência doente (qualidade de vida, impacto, absentismo, etc).
Enquanto grupo terapêutico, estes fármacos no seu Todos os ensaios confirmaram o benefício destes fárma-
conjunto produziram resultados muito consistentes e cos na maioria das medidas de outcome.40-45 No estudo
idênticos, resultando num nível de evidência A. Todos com eptinezumab, verificou-se uma redução das crises
os ensaios clínicos de fase 2b/3 (controlados com pla- nas primeiras 24 horas pós infusão46 e ainda que cerca
cebo, aleatorizados e em dupla ocultação) realizados de 7% dos doentes ficou sem crises no primeiro mês,
na enxaqueca crónica com Amc-CGRP ou Amc-rCGRP aumentando para 13%-14% no segundo e no terceiro
foram positivos.40-44 Os resultados dos ensaios pivotais mês.40 Nos outros Amc-CGRP a eficácia manifestou-se
encontram-se resumidos na Tabela 3.4.3. Os resulta- desde a primeira semana de terapêutica. Outros parâ-
dos não são inteiramente comparáveis nem no outcome metros, como o impacto, obtiveram resposta máxima
primário, nem na seleção dos doentes, limites de idade pelas 12 semanas. Estes dados apontam para uma res-
incluídos, uso de preventivos orais concomitantes, per- posta inicial rápida, mas que aumenta ao longo dos pri-
centagem de doentes com abuso medicamentoso ou meiros três meses. Nalguns estudos, verificou-se tam-
falências prévias a preventivos e ainda não existem es- bém uma redução significativamente superior a placebo
tudos de comparação direta entre os vários Amc-CGRP. no consumo de fármacos agudos de crise.42,43
Tabela 3.4.3. Ensaios de anticorpos monoclonais anti CGRP e anti rCGRP na enxaqueca crónica
Anticorpo Ensaio N Dose/s Tempo até Outcome Responde- Preventivos Subgrupos Existência
monoclonal ao outcome primário dores: orais específicos de dados de
anti CGRP GE primário redução ≥ concomi- incluídos seguimento
Plc de 50% dias tantes longo termo
de cefaleia /
enxaqueca /
mês
Eptinezumab PROMISE 2 122 Dose única Todo o Redução Enxaqueca 35%-faziam -Abuso medi- Não
Fase2b40 121 de período de ≥ 75% dos 55,1% preventivos camentoso
122 100 mg ou 1-12 semanas dias/mês 57,0% em dose
130 300 mg com 55,6% estável nos
Plc121 30 mg enxaqueca 43,9% ns 3 últimos
10 mg 40,5% meses
Erenumab Fase 2 42 188 70 mg 9-12 semanas Redução Enxaqueca Não foram -41% Abuso Sim
187 140 mg dias/ 40% permitidos medi- Estudo de um
Plc281 mês com 41% preventivos camentoso centro (55)
enxaqueca 23% Plc durante e 2 -68% não
meses antes responderam
ensaio ≤3
preventivos
Fremanezumab HALO_CM 376 675 mg 12 semanas Redução Cefaleias 21% faziam -Abuso medi- Sim
Fase 343 379 675 inicial+ dias cefaleia 37,6 % preventivos camentoso até 12 aos
225 mg/mês moderada- 40,8% orais em meses
Plc375 Plc+Plc+Plc severa/mês dose estável - Falência (N=1110)
18,1% Plc prévia a 1
preventivo
Galcanezumab REGAIN 278 240 mg 4-12 semanas Redução dias Cefaleias 13%-16% -64% Abuso Fase aberta
Fase 344 277 inicial+ 120 de /mês 37,6% topiramato ou medi- mais 9m
Plc558 mg/mês com 40,8% propranolol camentoso (51,54)
240 mg/mês enxaqueca em dose - 76%-79% + 6 meses (55)
Plc 18,1% Plc estável Falências
prévias ≤2
des como a depressão/ansiedade, fibromialgia, doenças ainda que a seleção e a monitorização da resposta a
autoimunes, vasculares ou gastrointestinais. Será impor- estes fármacos seja documentada através de calendá-
tante identificar os doentes com maior probabilidade rios de crises e medidas simples de impacto.
de resposta e compreender as diferenças entre os Amc Os doentes que se encontram medicados com
dirigidos ao ligando ou ao receptor do CGRP, em termos preventivos orais mas com resposta insuficiente,
de resposta e perfil de efeitos adversos. podem manter essa medicação ao iniciar os Amc-
-CGRP, pois não há risco de interação medicamen-
Farmacocinética, dosagens e forma de administração tosa e podem-se associar, como se verificou nos en-
Vidé capítulo 3.3.2.B.2 (tratamento preventivo da EE) e saios e noutros estudos,56 mas o objetivo deverá ser
Tabela 3.3.4 a redução ou retirada dos fármacos orais logo que
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 37
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
2. As medidas de intervenção farmacológica podem 9. A evidência que suporta a escolha do tipo de me-
dividir-se em dois tipos fundamentais: no tratamen- dicamento profilático a utilizar é limitada, mas fa-
to agudo, dirigido aos episódios de dor, que po- vorece a classe farmacológica dos antidepressivos
dem surgir tanto na CTT episódica como na crónica tricíclicos, sendo a amitriptilina (10-75 mg/dia) a
(aqui definindo agudizações deste tipo de cefaleia); primeira escolha (grau IIa, nível A).4,13
e no tratamento profilático, dirigido essencialmen- 10. Como alternativas à amitriptilina podem ser con-
te à CTT crónica, mas podendo também ser utiliza- siderados outros fármacos: 1) antidepressivos,
do na episódica frequente (grau I, nível A).4 como a mirtazapina (30 mg/dia), a venlafaxina
3. O tratamento agudo pode ser feito com recurso (150 mg/dia), a clomipramina (75-150 mg/dia),
a vários fármacos, pertencentes a duas categorias a maprotilina (75 mg/dia) e a mianserina (30-
fundamentais: analgésicos simples, como o pa- 60 mg/dia); 2) anticonvulsivantes, como a gaba-
racetamol (1000 mg) e o ácido acetilsalicílico (650- pentina (2400 mg/dia) e o topiramato (25-100
1000 mg) ou anti-inflamatórios não esteróides mg/dia); e 3) relaxantes musculares, como a ti-
(AINEs), como o ibuprofeno (200-800 mg), o na- zanidina (6-18 mg/dia) (grau IIa, nível B).4,13-18
proxeno (250-500 mg), o diclofenac (12,5-25 mg) 11. Quando for possível a identificação de pontos-
e o cetoprofeno (25 mg) (grau I, nível A)4-8. -gatilho para a dor na CTT episódica frequente
4. N
ão é claro que o paracetamol seja menos efetivo
e na CTT crónica, pode ponderar-se a utilização
que os restantes fármacos, pelo que se pode privi-
de injecções de lidocaína nesses mesmos pon-
legiar a sua utilização, atendendo ao seu perfil de se-
tos, com vista à redução da frequência da dor (e,
gurança, particularmente em populações especiais,
associadamente, do consumo de medicamentos
como crianças, idosos e grávidas (grau I, nível A).4,7
analgésicos) (grau IIa, nível A).19,20
5. Existe evidência que suporta que a associação de
12. Não existe evidência que suporte a utilização
cafeína (64-200 mg) a analgésicos simples ou a
da toxina onabotulínica tipo A no tratamento da
AINEs potencia o seu efeito.4,9-11 Todavia, tal tam-
CTT (grau IIb nível A).21
bém conduz a um incremento de efeitos adversos,
13. E
m todos os doentes com diagnóstico de CTT
com risco de evolução para cefaleia por utiliza-
(episódica ou crónica) podem considerar-se as
ção excessiva de analgésicos, particularmente em
seguintes medidas terapêuticas não farmacoló-
pessoas com crises frequentes de CTT. Como tal,
gicas, isoladamente ou em associação: regulari-
recomenda-se que as associações fixas com cafeí-
zação de hábitos alimentares e de sono, terapia
na sejam apenas consideradas como segunda linha
cognitivo-comportamental, relaxamento, acu-
terapêutica, em doentes selecionados, que não
respondam à monoterapia (grau IIa, nível A).4 puntura (grau IIa, nível C) e biofeedback (grau IIa,
6. Não se recomenda a utilização de opióides (isola- nível A).4,22
damente ou em associação a outros analgésicos), 14. Não existe evidência suficiente para suportar a
de triptanos e de relaxantes musculares no trata- eficácia das seguintes estratégias de intervenção
mento agudo da CTT (grau III, nível C).4 não farmacológica na CTT: osteopatia, tração
7. Quando o doente recorre a uma unidade de saú- muscular, aplicação de frio ou calor local, mani-
de, devido à crise de CTT, pode ponderar-se a uti- pulação da coluna vertebral, estimulação nervosa
lização de formulações parentéricas (endovenosas elétrica transcutânea (TENS), utilização de ul-
ou intramusculares) de clorpromazina, meto- trassons, laser ou outras estratégias de natureza
clopramida, difenidramina (em associação), física para eventual inativação de pontos doloro-
metamizol ou cetorolac no seu tratamento, sos (grau IIb, nível A).23-27
para além dos analgésicos simples ou AINEs pre-
viamente citados (grau IIa, nível C).4,12 As Tabelas 4.1, 4.2, 4.3 resumem a informação re-
8. Em doentes com CTT episódica frequente ou lacionada com as estratégias terapêuticas com indicação
CTT crónica, está indicada a utilização de trata- para serem utilizadas no tratamento (agudo e profiláti-
mento profilático (grau I, nível A).4 co) da CTT.
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 39
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Tabela 4.3. Tratamento profilático não farmacológico da CTT Terapêutica aguda (Tabela 5.1)
Grau de Nível de
O objetivo da terapêutica aguda é diminuir a inten-
Estratégia de intervenção recomen-
dação evidência sidade da crise e posteriormente deixar o doente livre
Regularização de hábitos de dor, rapidamente.3 As opções mais utilizadas são o
alimentares e de sono, terapia oxigénio normobárico a 100% em alto fluxo e os trip-
IIa C
cognitivo-comportamental,
relaxamento e acupuntura tanos.1,3,4
Osteopatia, tracção muscular, No oxigénio normobárico a 100%, a utilização de
aplicação de frio ou calor
local, manipulação da coluna máscara facial de alto fluxo de não reinalação com reser-
IIb A
vertebral, TENS, ultrassons,
laser ou outras estratégias de vatório ou máscara facial com válvula anti retorno é mais
natureza física eficaz que uma máscara facial simples5 (grau I, nível de
40 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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evidência B). Adicionalmente a máscara facial simples tem mostraram-se eficazes 30 minutos após a administração
orifícios laterais que se não forem ocluídos não permitem em estudos aleatorizados controlados com placebo.7 O
a administração de oxigénio a 100%. O fluxo inicialmen- zolmitriptano administrado por via oral (dose única de
te reportado como eficaz foi 6 L/min, sendo atualmente 10 mg) é comprovadamente eficaz no tratamento agudo
recomendado 10 a 15 L/min pelo menos durante 20 mi- da cefaleia em salvas crónica ou episódica (grau I, nível
nutos (grau I, nível de evidência A) com o indivíduo senta- de evidência B), mas na via oral o efeito no alívio da dor
do.1 A resposta ocorre entre 15 a 20 minutos, abortando é mais lento, comparado com o tempo até alívio da dor
a crise. Os efeitos adversos não são comuns ou graves das administrações subcutânea ou intranasal.7 Os efeitos
em indivíduos sem doença respiratória e o maior incon- adversos esperados são náuseas, vómitos, parestesias,
veniente é ser difícil ao doente estar sentado e parado
cansaço, tonturas e sonolência ou efeitos relacionados
durante a crise. Entre 60% a 80% dos doentes respon-
com via de administração.
dem a este tratamento.6,7 O oxigénio hiperbárico não é
Adicionalmente, pode ser considerado a administra-
recomendado8 (grau III, nível de evidência B).
ção nasal de lidocaína a 10% (grau I, nível de evidência C)
Os triptanos são o tratamento farmacológico mais
ou octreótido subcutâneo1 (grau I, nível de evidência C).
efetivo para abortar as crises da cefaleia em salvas, com
Foi também demonstrado que a estimulação não in-
alívio reportado em mais de 80% dos casos.6 O sumatrip-
vasiva do nervo vago é um tratamento abortivo eficaz na
tano administrado por via subcutânea (6 mg dose única,
não está demonstrado maior efeito de doses superiores cefaleia em salvas episódica1 (grau I, nível de evidência
numa única administração) é o triptano mais rápido e B), mas não na forma crónica. A estimulação percutânea
eficaz, atuando geralmente dentro de 15 minutos após do gânglio esfenopalatino também é eficaz em abortar
injeção1 (grau I, nível de evidência A). Num inquérito a as crises na cefaleia em salvas crónica7 (grau I, nível de
493 doentes, estes referiram efetividade semelhante en- evidência B).
tre o oxigénio a 100% e o sumatriptano subcutâneo.6 O Não há dados científicos de qualidade para recomen-
spray nasal de zolmitriptano (doses únicas de 5 e 10 mg) dar o uso de dihidroergotamina, ergotamina, somatos-
(grau I, nível de evidência A) e o spray nasal de sumatrip- tatina e corticoesteróides no tratamento abortivo da
tano (dose única de 20 mg) (grau I, nível de evidência B) cefaleia em salvas3 (grau III, nível de evidência B).
Sumatriptano subcutâneo7 6 mg I A
Zolmitriptano nasal7 5 e 10 mg I A
Sumatriptano nasal 7
20 mg I B
Zolmitriptano oral 7
10 mg I B
Terapêutica de transição (Tabela 5.2) É útil em dois cenários: (1) como preventivo único para
A terapêutica de transição refere-se à utilização de doentes com ciclos curtos de cefaleia; e (2) como ponte
medicação preventiva que pode ser titulada progressi- em doentes com ciclos mais longos de cefaleia enquanto
vamente de forma rápida e usada por curtos períodos. se titula lentamente outros preventivos.1
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 41
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Os principais pilares da terapêutica de transição são ao longo de 3 semanas, devido ao risco de osteonecrose
os bloqueios do grande nervo occipital ipsilateral (com da anca, especialmente com o uso prolongado.1 Não de-
anestésico local e corticoesteróides) (grau I, nível de evi- vem ser ultrapassados os 3 ciclos de corticoesteróides
dência B) ou um ciclo de corticoesteróides orais (grau I,
por ano.
nível de evidência C). Desconhecem-se quais as formu-
O frovatriptano e o naratriptano foram testados
lações mais eficazes para os bloqueios ou os melhores
protocolos de corticoesteróides orais (doses de predni- como profiláticos de curta duração, sem resultados só-
sona oral entre 30 a 100 mg). Para os corticoesteróides lidos que permitam a sua recomendação9,10 (grau IIb,
orais, recomenda-se geralmente uma redução gradual nível de evidência C).
Prednisona oral 4
30 - 100 mg I C
Bloqueio farmacológico
do grande nervo occipital I B
ipsilateral1
Verapamilo 4
240 – 960 mg I A
Lítio 4
600 – 1500 mg I B
Melatonina3 10 mg I C
Topiramato 11
25 a 200 mg I C
Gabapentina 11
900 mg I C
Admite-se nesta circunstância que os tratamentos diárias, com aumento de 25 mg cada 3 a 5 dias até dose
mais dispendiosos, menos disponíveis em ambulatório máxima. Alguns autores propõem, após um período de
ou invasivos sejam utilizados neste caso. É o caso da li- estabilização de 3-6 meses, iniciar a redução de 25 mg em
docaína nasal, octeótrido subcutâneo, estimulação não intervalos de 5 a 7 dias até suspensão total do fármaco ou
invasiva do nervo vago1 e não invasiva do gânglio esfeno- reaparecimento da dor. Se a dor reaparecer aumentar de
palatino na terapêutica aguda (grau I, nível de evidência
7
novo 25 mg cada 2 a 3 dias. É recomendada a associação de
C) e na terapêutica preventiva a toxina onabotulínica um inibidor da bomba de protões para prevenção de efeitos
tipo A14 (grau I, nível de evidência C) e a estimulação secundários a nível gastrointestinal. No entanto as contrain-
elétrica do grande nervo occipital7 (grau I, nível de evi- dicações e efeitos secundários da indometacina tornam por
dência C).
vezes necessário recorrer a alternativas.
Embora não esteja autorizado a nível europeu, o
A indometacina está contraindicada em doentes com
galcanezumab seria uma boa opção nos doentes refra-
insuficiência renal, úlceras gástricas e distúrbios hemor-
tários, já que será eficaz em doentes que não tiveram
rágicos. Sabe-se que o aparecimento de complicações
resposta a 2 ou mais preventivos.13
gastrointestinais e renais é dose dependente e a princi-
A estimulação cerebral profunda não é recomenda-
pal causa de abandono da terapêutica. Outras terapêu-
da, uma vez que não demonstrou eficácia em estudos
controlados com estimulação simulada e a técnica sus- ticas são referidas na literatura, com graus de eficácia
citou reservas nesta indicação devido a complicações inferiores; a associação destes fármacos permite reduzir
intra-operatórias e pós-operatórias graves e ocasional- a dose de indometacina e, consequentemente, o apare-
mente fatais (grau III, nível de evidência B).
7,8
cimento de efeitos secundários.
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 43
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Indometacina 75-325 mg I C
Piroxicam 20-40 mg I C
Sumatriptano 6 mg sc I C
Indometacina 75 – 325 mg I C
Carbamazepina 800 mg I C
Topiramato 50 – 300 mg I C
Indometacina 75-325 mg I C
Piroxicam 20-40 mg I C
Celecoxib 200-800 mg I C
Indometacina 75 – 325 mg I C
Topiramato 50 – 300 mg I C
Piroxicam 20 – 40 mg I C
Melatonina 3 – 30 mg I C
5.3 SUNCT (short-lasting unilateral neuralgi- tados referidos em pequenas séries e casos clínicos.16,17
form headache attacks with conjunctival in- A lidocaína via endovenosa na fase aguda e a lamotri-
jection and tearing) / SUNA (short-lasting uni- gina como prevenção parecem ser as terapêuticas mais
lateral neuralgiform headache attacks with eficazes. É ainda considerada uma terapêutica “de tran-
autonomic symptoms) (Tabela 5.8 e 5.9) sição”, durante 7-10 dias até que comece a ter efeito
A abordagem terapêutica destas entidades é sobre- a terapêutica de manutenção. A perfusão de lidocaína
ponível e o tratamento da crise é na maioria das situa- exige monitorização cardíaca.
ções de pouca utilidade, considerando a curta duração Nos casos de falência da terapêutica médica a abor-
dos episódios. Relativamente à prevenção vários fárma- dagem cirúrgica tem sido tentada, sendo as opções se-
cos têm sido utilizados ao longo do tempo, com resul- melhantes às da nevralgia do trigémeo.20
Prednisolona 20 – 100 mg I C
Metilprednisolona 16 – 1000 mg ev I C
Bloqueio grande Metilprednisolona 80 mg/lidocaína 2% 2 mL I C
nervo occipital
Lamotrigina 50 – 900 mg I C
Topiramato 40 – 400 mg I C
Duloxetina 30 – 120 mg I C
A abordagem cirúrgica, nos casos refratários à tera- cionados, a terapêutica farmacológica é instituída, sendo
pêutica médica inclui a descompressão microvascular as recomendações aqui referidas baseadas em estudos
do nervo trigémeo, a estimulação do nervo occipital e prospetivos e observacionais, carecendo por isso de evi-
a estimulação cerebral profunda (VTA) 4 mV com fre- dência científica robusta.
quência de 185 Hz.20
6.1 CEFALEIA PRIMÁRIA DA TOSSE
A terapêutica farmacológica raramente é necessária.
6. OUTRAS CEFALEIAS PRIMÁRIAS Se as crises forem muito frequentes e afetarem negati-
vamente a qualidade de vida, pode iniciar-se a indome-
Neste capítulo constam cefaleias primárias raras tacina,2 na dose de 50 a 100 mg id (grau de recomen-
que são sempre um diagnóstico de exclusão, devendo dação IIa, nível de evidência C). É prudente a utilização
ser consideradas cefaleias secundárias até prova em concomitante de um protetor gástrico.3 Em alternativa,
contrário. Na sua maioria apresentam-se como crises existem casos respondedores à acetazolamida4 na dose
álgicas de muito curta duração pelo que nem sempre 125 mg tid a 2000 mg id (grau de recomendação IIb, ní-
é necessária terapêutica farmacológica.1 Em casos sele- vel de evidência C) e a punções lombares evacuadoras5
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 45
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
com remoção de 40cc de LCR (grau de recomendação 6.6 CEFALEIA POR PRESSÃO EXTERNA
IIb, nível de evidência C). A cefaleia por pressão externa raramente necessita
tratamento farmacológico, resolvendo habitualmen-
6.2 CEFALEIA PRIMÁRIA DO EXERCÍCIO te nos 60 minutos após o alívio da compressão exter-
Este tipo de cefaleia é habitualmente recorrente pelo na.11,12 Como prevenção, os desencadeantes devem ser
que o doente consegue identificar a atividade desenca- evitados (grau de recomendação IIb, nível de evidência
deante. A maioria das vezes a evicção de tal atividade C). Caso não seja possível, deverá ser escolhida a op-
física é suficiente para o alívio sintomá tico. No entanto, ção mais confortável entre os vários estilos, tamanhos
o exercício físico regular faz parte de um estilo de vida e materiais, garantindo um tamanho apropriado e um
correto posicionamento. Durante o uso, é benéfica a
saudável pelo que pode equacionar-se a sua manutenção
remoção frequente do desencadeante de modo a aliviar
e instituir tratamento farmacológico. A cefaleia primária
temporariamente a compressão.12
do exercício é tipicamente responsiva à indometacina
(grau de recomendação IIa, nível de evidência C). Este
6.7 CEFALEIA PRIMÁRIA EM GUINADA
fármaco pode ser utilizado previamente ao desempe-
Dada a variabilidade na frequência e intensidade des-
nho da atividade física, ou de forma profilática na dose
ta cefaleia, o tratamento farmacológico em muitos casos
25 a 150 mg id.6,7 Quando a profilaxia com indometaci-
não é necessário, devendo ser explicada a sua benigni-
na não for tolerada, pode ser utilizado o propranolol na dade. O tratamento preventivo deve ser considerado
dose 1 a 2 mg/kg8 (grau de recomendação IIb, nível de em doentes com crises frequentes, ou quando interfere
evidência C). Existe ainda a publicação de alguns casos nas atividades diárias. O tratamento de primeira linha
respondedores à flunarizina7 (grau de recomendação é a indometacina (grau de recomendação IIa, nível de
IIb, nível de evidência C). evidência C), em doses entre os 75 e os 150 mg por
dia.13-15 Em caso de ineficácia, contraindicação ou efeitos
6.3 CEFALEIA PRIMÁRIA ASSOCIADA À AC- secundários que limitem o uso da indometacina, podem
TIVIDADE SEXUAL ser considerados fármacos que demonstraram benefí-
Pode ser utilizada a indometacina na dose de 25 a 50 cio em pequenas series de doentes e relatos de casos
mg, 30-60 minutos antes da atividade sexual (grau de clínicos como inibidores da COX-2 (ex. celecoxib 100
recomendação IIb, nível de evidência C). Se os episódios mg bid ou etoricoxib 60 mg id),16,17 gabapentina (400 mg
forem muito frequentes pode equacionar-se a profilaxia bid),18 melatonina (3-21 mg id),19 nifedipina (90 mg id)20
com beta-bloqueantes: propranolol 60-240 mg id, me- ou toxina botulínica21 (grau de recomendação IIa, nível
toprolol 50-200 mg id ou bisoprolol 5mg id9 (grau de de evidência C).
recomendação IIb, nível de evidência C).
6.8 CEFALEIA NUMULAR
Como tratamento sintomático podem ser utilizados
6.4 CEFALEIA EXPLOSIVA PRIMÁRIA
analgésicos comuns (grau de recomendação IIa, nível de
Todos os fármacos potencialmente vasoconstritores
evidência C), com benefício reportado em mais de 60%
deverão ser suspensos (grau de recomendação IIa, nível
dos doentes.22 Em casos de cefaleia persistente, dor de
de evidência C). O tratamento profilático faz-se com a
intensidade grave ou ausência de alívio com analgesia,
nimodipina, na dose de 30 a 60 mg qid, durante 2 a 3 me-
está indicado o tratamento preventivo22,23 A gabapen-
ses8,10 (grau de recomendação IIb, nível de evidência C). tina (600-1800 mg/dia) é o fármaco mais utilizado na
literatura (grau de recomendação IIa, nível de evidência
6.5 CEFALEIA POR ESTÍMULO FRIO C), com alívio pelo menos parcial em mais de 60% dos
A cefaleia não ocorre se se conseguir a evicção do doentes, seguindo-se os antidepressivos tricíclicos (grau
desencadeante, quer seja a inalação ou a ingestão de de recomendação IIa, nível de evidência C), com alívio
um estímulo frio (grau de recomendação IIb, nível de pelo menos parcial em cerca de 45% dos doentes.22 Pe-
evidência C). Quando não é possível, recomenda-se a quenas séries de casos reportam eficácia do tratamento
ingestão lenta dos alimentos frios.1 com toxina botulínica (grau de recomendação IIa, nível
46 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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de evidência C), incluindo doentes com cefaleia numular te décadas a anos sem resposta a qualquer tratamento
persistente e refractária.22,24-26 Casos isolados reportam agudo ou preventivo.35
ainda benefício com carbamazepina,26,27 ciclobenzapri- Em termos de tratamento agudo os triptanos de-
na28 e estimulação nervosa transcutânea29 (grau de re- monstraram alívio pelo menos parcial em até 1/3 dos
comendação IIa, nível de evidência C). Os anestésicos doentes, mesmo quando a dor não apresenta caracte-
locais apresentam baixa eficácia nesta cefaleia (grau de rísticas migranosas (grau de recomendação IIa, nível de
recomendação IIb, nível de evidência C).22,30 evidência C).36 A maioria dos doentes apresenta uso ex-
cessivo de medicação analgésica, no entanto a suspen-
6.9 CEFALEIA HÍPNICA são dos analgésicos geralmente não se traduz em alívio
O tratamento sintomático de primeira linha é a cafeí- da dor.35,37
na, com a toma de uma chávena de café ao acordar com Pequenas séries de doentes reportam alguns casos
a dor, ou, em alternativa, analgésicos com cafeína (grau com benefício de tratamento preventivo com topira-
de recomendação IIa, nível de evidência C). Os tripta- mato, gabapentina, valproato, amitriptlina, nortriptili-
nos revelaram eficácia em casos isolados (grau de re- na, propranolol, clonazepam, mexiletina ou toxina bo-
comendação IIa, nível de evidência C), sendo os AINE, tulínica (grau de recomendação IIa, nível de evidência
opioides, oxigénio e paracetamol geralmente pouco C).35,36,38-42 Os bloqueios de nervo periférico demons-
eficazes (grau de recomendação IIb, nível de evidência traram alívio apenas transitório da cefaleia43 (grau de re-
C).31,32 Em doentes com crises muito frequentes deve comendação IIb, nível de evidência C). Em doentes com
ser privilegiado o tratamento preventivo, para evitar o desencadeante infecioso, pequenas séries descrevem
uso excessivo de medicação sintomática e os seus efei- eficácia de montelucaste, doxiciclina ou metilpredniso-
tos adversos. lona intravenosa42,43 (grau de recomendação IIa, nível de
A cafeína é também eficaz como tratamento preven- evidência C).
tivo (grau de recomendação IIa, nível de evidência C), Na ausência de guidelines ou estudos randomizados
com a toma de pelo menos uma chávena de café antes que orientem o tratamento, alguns autores recomen-
de deitar (40 a 60 mg/dia). Apesar do receio de pro- dam guiar o tratamento pelo fenótipo da cefaleia, sendo
blemas de sono, este efeito secundário verifica-se com habitualmente tentadas várias combinações de fármacos
menor frequência que o esperado.32 O lítio, em doses nesta cefaleia de difícil controlo.37,43
entre 150 a 600 mg/dia é um preventivo eficaz (grau
de recomendação IIa, nível de evidência C), no entan-
to deve ser usado com precaução na população idosa 7. NEVRALGIA DO TRIGÉMEO
tendo em conta o seu perfil de efeitos adversos.31-33
Outra alternativa é a indometacina (25-150 mg/dia) que Introdução
revelou eficácia em pequenas séries de doentes (grau de A nevralgia do trigémeo (NT) é uma entidade clíni-
recomendação IIa, nível de evidência C), com benefício ca caracterizada por episódios de dor muito intensa, de
em cerca de 50% dos casos, especialmente se cefaleia muito curta duração, tipo choque elétrico (com início e
unilateral ou sintomas autonómicos acompanhantes.34 fim abruptos), recorrendo com elevada frequência, ha-
Na cefaleia hípnica, o tratamento preventivo deve ser bitualmente unilateral e localizada ao território inervado
mantido durante 3 a 6 meses, antes de ser tentada a sua por uma ou mais divisões (nervos oftálmico, maxilar e
descontinuação. mandibular) do nervo trigémeo (5º par craniano). Estes
episódios podem ser despertados por alguns estímulos,
6.10 CEFALEIA PERSISTENTE DIÁRIA DESDE habitualmente considerados inócuos (mastigar ou lavar
O INÍCIO os dentes, por exemplo).
A cefaleia persistente diária desde o início tem uma A incidência anual da NT é, de acordo com a litera-
história natural incerta, sendo variável a sua duração e tura, de 4-13 casos por 100 000 habitantes,1,2. Apesar
resposta aos tratamentos. Apesar de alguns casos serem de esta incidência não ser muito elevada, a NT é a mais
autolimitados com remissão em alguns meses, muitos frequente das nevralgias, na população adulta (poden-
doentes evoluem para uma cefaleia persistente duran- do também acometer crianças e adolescentes3), sendo
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 47
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que essa mesma incidência aumenta gradualmente com ça/tolerabilidade (grau I, nível B).11-14
a idade. 4. Fármacos como o baclofeno (40-80 mg/dia)15 e
a lamotrigina (400 mg/dia, isoladamente ou em
Diagnóstico associação a um dos fármacos de primeira linha)16
Os critérios de diagnóstico para a NT encontram-se podem ser também utilizados no tratamento da
explanados no capítulo 13 da Classificação Internacional NT clássica ou idiopática, embora a evidência que
de Cefaleias – versão 3 (ICHD-3).4 Poder-se-á afirmar suporte a sua utilização seja pouco robusta (grau
o diagnóstico quando estiverem presentes paroxismos IIa, nível C).9-11
recorrentes de dor facial unilateral na distribuição ana- 5. Não se recomenda a utilização de fármacos como
tómica de um ou mais ramos do nervo trigémeo (sem o ácido valpróico (grau IIb, nível C), a gabapentina
irradiação para outros territórios) e preenchendo os cri- (grau IIb, nível C), a pregabalina (grau IIb, nível C),
térios B e C dos seguintes4: o clonazepam (grau IIb, nível C) e o topiramato
A. A dor tem todas as seguintes características: (grau IIb, nível C) no tratamento específico da NT,
1. Duração de uma fração de segundos a 2 minutos; por não existir evidência que suporte a sua eficácia
2. Intensidade grave; e a sua segurança nesta indicação precisa.10,11,17
3. Tipo choque elétrico, fisgada, facada ou guinada. 6. O tratamento farmacológico da NT secundária
B. É precipitada por estímulos inócuos dentro da dis- obedece aos mesmos princípios, embora deva ser
tribuição anatómica do nervo trigémeo afetado. complementada com o tratamento dirigido à causa
C. Não é melhor explicada por outro diagnóstico da subjacente (grau I, nível A).9-11
ICHD-3. 7. Um doente que não responda aos tratamentos far-
A NT pode ser categorizada em 3 tipos distintos: 1) macológicos supracitados ou que não consiga alcan-
a NT clássica, que se presume resultar de compressão çar doses consideradas eficazes devido a efeitos ad-
vascular sobre o nervo trigémeo (habitualmente por versos deve ser considerado como tendo uma NT
um vaso arterial, como é o caso da artéria cerebelosa refratária e, por esse motivo, deve ser referenciado
superior); 2) a NT secundária, em que o quadro do- a um centro especializado (grau I, nível A).18
loroso é sintomático de outra patologia envolvendo o 8. Existe evidência que suporta a utilização de toxi-
nervo trigémeo (como um tumor) ou a sua origem real na botulínica de tipo A no tratamento da NT
no tronco cerebral (como uma lesão desmielinizante de refratária, devendo tal intervenção ser realizada
esclerose múltipla); e 3) a NT idiopática, quando não é em centros com experiência na manipulação deste
possível invocar qualquer explicação para a sua etiologia. fármaco (grau I, nível B).19,20
Estes são aspetos práticos com algum relevo, quando se
equacionam as estratégias de intervenção terapêutica. Terapêutica hospitalar da agudização (crise)
1. Em meio hospitalar e apenas em situações de ur-
Recomendações terapêuticas gência, podem ser utilizadas formulações endove-
Terapêutica farmacológica de base (preventiva) nosas de lidocaína ou de fenitoína (não haven-
1. O tratamento da NT deve iniciar-se por uma abor- do fosfenitoína disponível), na abordagem da NT
dagem médica/farmacológica (grau de recomen- (grau IIa, nível C).11
dação I, nível A). 2. A lidocaína poder-se-á utilizar em doses de 5 mg/
2. Existe evidência que suporta que, nos casos de kg de peso, diluídos em 250 mL de dextrose a 5%,
NT clássica ou idiopática, a carbamazepina (200- perfundindo-se a um ritmo de 1 mg/minuto nas
1200 mg/dia) deve ser o fármaco de primeira es- primeiras 4 horas e de 2 mg/minuto a partir daí.21,22
colha, não existindo contraindicações ou riscos de 3. A fenitoína usa-se em perfusões de 10-20 mg/kg
interação medicamentosa com outros fármacos de peso (máximo de 1000 mg), sendo que o tem-
em uso (grau I, nível A).5-11 po de infusão pode variar entre 30 e 60 minutos,
3. A oxcarbazepina (600-1800 mg/dia) constitui recomendando-se monitorização cardíaca e da
uma excelente alternativa à carbamazepina, sendo tensão arterial durante o procedimento.23
igualmente eficaz e com melhor perfil de seguran- 4. Em doentes com contraindicação para os fármacos
48 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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Fármaco Evidência
Procedimento Evidência
Terapêutica cirúrgica
Descompressão microvascular
8. CEFALEIA POR USO EXCESSIVO DE reconhecidamente capaz de causar cefaleias. Este nexo
MEDICAMENTOS de casualidade é definido de pela relação temporal, signi-
ficando que a cefaleia tem que ocorrer ou agravar de for-
INTRODUÇÃO ma relevante em paralelo com a situação potencialmente
A cefaleia por uso excessivo de medicamentos é clas- causadora (neste caso, o uso excessivo de medicamen-
sificada como uma cefaleia secundária, ou seja, é consi- tos) ou tem que melhorar significativamente em paralelo
derado que ocorre em consequência de outra situação com a melhoria da presumida patologia causal.1,2
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 49
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
No caso particular da cefaleia por uso excessivo de especialistas (nível de evidência C) no entanto a utiliza-
medicamentos, o contexto em que ocorre mais fre- ção desta classificação na prática clínica e na investigação
quentemente é em doentes com cefaleias primárias é recomendada (grau de recomendação I).
preexistentes. A situação mais habitual é que as cefaleias Esta entidade tem uma enorme relevância clínica
prévias se tornem crónicas em estreita relação tempo- dada a sua prevalência. Em estudos populacionais os da-
ral com a patologia causal (neste caso, o uso excessivo dos de prevalência são muito variáveis, pois dependem
de medicamentos) – estes doentes terão, formalmente, do método, local, população (jovens, adultos, idosos),
ambos os diagnósticos – da sua cefaleia primária e do da data de realização do estudo e da definição utilizada.
uso excessivo de medicação, uma cefaleia secundária.1,2 Nos estudos mais recentes, que utilizaram a segunda
Na versão anterior da classificação das cefaleias3,4 era versão da Classificação Internacional,3,4 a sua prevalência
critério de diagnóstico a necessidade destas cefaleias de- varia de 0,5% (Coreia) a 7,2% (Rússia), dependendo do
saparecerem ou reassumirem o seu padrão prévio após país.6 Em contexto clínico, estima-se que cerca de 6%
dois meses de interrupção do uso excessivo de medica- das consultas generalistas e 9% das consultas de neu-
ção. Este critério foi retirado por motivos pragmáticos, rologia sejam devidas a esta situação7; em centros de
pois impedia o diagnóstico até ao efetivo tratamento referência de cefaleias a frequência desta entidade varia
(que nem sempre é bem-sucedido), mas indica que a entre 30% na Europa até 50% nos Estados Unidos.8
terapêutica mais eficiente nesta situação é a suspensão É uma entidade mais frequente em adultos dos 40
da utilização excessiva de medicamentos. aos 50 anos, na maioria dos estudos há um predomínio
de género – o feminino.6 É mais frequente ocorrer em
DIAGNÓSTICO E EPIDEMIOLOGIA indivíduos com enxaqueca (65%) ou cefaleias de tensão
A cefaleia por uso excessivo de medicamentos está (27%) prévias,5 aumentando o risco da sua ocorrência
no capítulo 8 da Classificação Internacional das Cefa- nos indivíduos com obesidade e síndrome metabólico
leias1,2 – cefaleias atribuídas a uma substância ou à sua (OR 5,3), ingestão regular de sedativos ou tranquilizan-
privação – sendo definida como ocorrendo em 15 ou tes (OR 5,2), com ansiedade e/ou depressão comórbi-
mais dias por mês (ou seja, é crónica), num doente com das (OR 4,7), com inatividade (exercício < 3 horas por
cefaleia primária preexistente e desenvolvendo-se em semana, OR 2,7), baixo nível educacional (OR 1,9), com
consequência do uso excessivo regular por mais de 3 doença músculo-esquelética (OR 1,9), tabagismo (OR
meses de medicação aguda ou sintomática para as ce- 1,8) e doença gastrointestinal (OR 1,6) associada.9
faleias. É subclassificada de acordo com a substância É rara a ocorrência desta entidade em indivíduos que
utilizada em excesso – ergotamina, triptanos, analgési- utilizem analgésicos diariamente para outras patologias
cos não opióides, opióides, associações de analgésicos (em doença reumatológica ou noutras causas de dor
e medicamentos de classes farmacológicas múltiplas – crónica),10,11 ocorrendo sobretudo em indivíduos que,
sendo o critério de uso excessivo a utilização de 10 ou concomitantemente, sofram de cefaleias primárias (OR
mais dias por mês do fármaco implicado para a maioria 13,1) ou enxaqueca (OR 6,8) prévia à utilização exces-
das substâncias ou 15 ou mais dias por mês no caso dos siva de medicação.11 Mesmo a utilização regular de opi-
analgésicos não opióides (incluindo paracetamol/ aceto- áceos com fins não analgésicos em doentes com enxa-
mifeno, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), ácido queca pode induzir a ocorrência de cefaleias crónicas,12
acetilsalicílico e outros analgésico não opióides).1,2 Num suportando a teoria que a probabilidade de ocorrência
estudo, foi avaliada a duração média crítica de uso ex- desta entidade depende sobretudo da biologia do indiví-
cessivo de medicação para desenvolver cefaleia crónica duo que utiliza excessivamente analgésicos.
para cada substância, verificando-se que era mais curta
para os triptanos (1,7 anos, em média), depois para os RECOMENDAÇÕES TERAPÊUTICAS
compostos ergotamínicos (2,7 anos) e finalmente para A atitude terapêutica formal para controle das ce-
os analgésicos (4,8 anos).5 faleias por uso excessivo de analgésicos é a suspensão
As definições de tempo de exposição e dose necessá- do uso excessivo de analgésicos, também designada por
ria para estabelecimento do diagnóstico de acordo com destoxificação. Este processo frequentemente condi-
a Classificação Internacional são baseados em opinião de ciona uma síndrome de abstinência,13 caracterizado por
50 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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agravamento das cefaleias, náuseas, vómitos, hipotensão internamento ou de ambulatório com a mesma
/ reação vagal, taquicardia, perturbações do sono, an- taxa de eficácia13,17,19 – recomendação grau I, nível
siedade, inquietação e irritabilidade, que habitualmente A.13,17,19 Pode-se considerar a destoxificação em re-
persiste entre 2 a 10 dias mas pode durar até 4 semanas, gime de internamento em casos de elevada com-
dependendo do fármaco a suspender. Habitualmente a plexidade, definidos como apresentando doença
sua duração é mais curta nos indivíduos que utilizam ex- médica concomitante significativa ou diagnóstico
cessivamente triptanos – em média 4,1 dias – do que os concomitante de perturbação do humor, da an-
que utilizam ergotamínicos (6,7 dias) ou AINEs (9,5 dias, siedade, abuso de substâncias ou perturbação do
em média)14. A destoxificação resulta em elevadas taxas comportamento alimentar ou utilização diária de
de remissão – de 66% a 100% aos 6 meses e 60% a múltiplas doses de várias substâncias analgésicas ou
83% após 1 ano de suspensão, mas igualmente elevadas problemas sociais ou ambientais relevantes ou his-
taxas de recaída, cerca de 17% a 43% no primeiro ano tória de recaída após procedimento de destoxifica-
e até 24% a 45% no quarto ano,15 pelo que uma das ção prévio22 – recomendação grau II, nível B.
estratégias terapêuticas relevantes adicionais é a pre- A suspensão da utilização excessiva de medicação
venção da recorrência. pode ser abrupta ou progressiva (ou seja, reduzi-
Em resumo, os objetivos do tratamento são16: da sucessivamente em 10% a 20% por semana),
1. S uspensão da utilização excessiva de medicação ou sendo a maioria dos especialistas mais favorável à
destoxificação suspensão abrupta, dado que o sofrimento rela-
2. T ratamento da síndrome de abstinência cionado com a síndrome de abstinência é contido
3. T ratamento da cefaleia por utilização excessiva de em menos tempo, abreviando a melhoria clínica e
medicação facilitando a mudança de comportamento do do-
4. P revenção da recorrência ente16,23 – recomendação grau IIb, nível C. Pode-se
considerar a descontinuação progressiva nos casos
1. Suspensão da utilização excessiva de medi- de utilização excessiva de barbitúricos, opióides ou
cação ou destoxificação benzodiazepinas,23 dado o risco acrescido de sinto-
matologia de abstinência mais tardia nos casos de
A educação sobre a patologia e o aconselhamento fármacos com maiores semividas (como barbitúri-
de suspensão da medicação utilizada em excesso são cos e benzodiazepinas) e mais complexas, tal como
eficientes na redução da frequência de ingestão de a disautonomia, alterações do humor, tremor, hi-
medicação aguda e na redução da frequência das cefa- perreflexia, síndrome confusional, alucinações e
leias9,13,16,17 – recomendação grau I, nível B – e devem convulsões – recomendação grau IIb, nível C.
ser oferecidas a todos os doentes9,13,18 até porque A suspensão abrupta da utilização excessiva de me-
existe evidência de toxicidade sistémica dos fármacos dicação efetuada de forma absoluta é mais eficiente
utilizados em excesso15 (boa prática clínica). em reverter a enxaqueca crónica para episódica e
A suspensão da utilização excessiva de medicação suspender a utilização excessiva de medicação se
deve ser efetuada como terapêutica para a cefaleia não for permitida a utilização de nenhum analgésico
por utilização excessiva de medicação, com o obje- nos 2 meses após a suspensão, quando comparado
tivo de diminuir a frequência das cefaleias13,19 (reco- com a permissão de utilização de 2 dias de medi-
mendação grau I, nível B) e de melhorar a resposta cação aguda por semana nesse mesmo período21 –
da cefaleia primária inicial à terapêutica profilática20 recomendação grau II, nível de evidência C.
– recomendação grau II, nível C .
A suspensão abrupta da utilização excessiva de medi- 2. Terapêutica da síndrome de abstinência
cação efetuada isoladamente durante 2 meses é efi- A síndrome de abstinência de analgésicos e/ou
ciente em retomar o padrão de enxaqueca episódi- triptanos após suspensão abrupta da utilização ex-
ca15,21– recomendação grau IIa, nível de evidência C. cessiva de medicação pode possivelmente ser ali-
A suspensão da utilização excessiva de medicação viado e/ou encurtado através da medicação com
ou destoxificação pode ser efetuada em regime de corticoides, em particular prednisolona (60 mg 2
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 51
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
dias, com redução progressiva de 20 mg a cada 2 com triptanos orais em regime SOS32 ou nas doses
dias até suspensão ou 100 mg por dia, durante 5 de 50 a 200 mg durante pelo menos 12 semanas33 é
dias)13,19 – recomendação grau II, nível B. A conside- provavelmente útil, com o objetivo de reduzir o nú-
rar utilização concomitante de inibidores da bomba mero de dias com enxaqueca e a utilização excessiva
de protões, sobretudo em doentes com utilização de analgésicos em doentes com enxaqueca crónica
excessiva de AINEs concomitante, que apresentam e utilização excessiva de medicação. Não existe evi-
risco acrescido de ulceras pépticas24 – recomenda- dência que permita recomendar a sua utilização sem
ção grau IIb, nível C. O celecoxib oral (400 mg/dia a suspensão da utilização excessiva de medicação e
durante 5 dias, com redução de 100 mg/dia a cada deve ser considerado o elevado risco de abandono
5 dias) pode ter efeito semelhante – recomendação do tratamento por efeitos adversos13,33 – recomen-
grau IIb, nível C. dação grau IIb, nível de evidência B.
O tratamento do agravamento das cefaleias na sín- Quando associada à suspensão da utilização exces-
drome de abstinência com AINEs (em particular siva de medicação, a utilização de pregabalina 100 a
naproxeno e ácido tofenamico) ou sumatriptano 150 mg/dia durante pelo menos 16 semanas parece
não é recomendado23,25 – grau de recomendação ser tão eficaz como o topiramato 50 a 100 mg/dia
IIb, nível C. durante 16 semanas34 – recomendação grau IIb, ní-
O tratamento do agravamento das cefaleias na vel de evidência C.
síndrome de abstinência com dihidroergotami- A utilização de valproato semisódico 800 mg/dia
na (DHE) endovenosa (em esquema ou perfusão durante 12 semanas associado à suspensão da utili-
contínua, em regime de hospital de dia ou inter- zação excessiva de medicação parece ser superior
namento) é utilizado frequentemente em centros à suspensão isolada da medicação na redução do
dos Estados Unidos, embora não haja evidência da número de dias de dor de cabeça35,36 – recomenda-
sua eficácia26–28 – recomendação grau IIa, nível C. O ções grau IIb, nível C.
risco de efeitos secundários desta terapêutica é de A utilização de preventivos orais incluindo valproa-
cerca de 50% sobretudo náuseas e vómitos (30%), to de sódio, propranolol, topiramato, amitriptilina,
cãibras, crise hipertensiva,29 existindo ainda riscos flunarizina e inibidores seletivos da recaptação da
associados ao seu uso prolongado e interações me- serotonina no início ou precocemente (em dias)
dicamentosas relevantes. após a suspensão da utilização excessiva de medi-
O tratamento do agravamento das cefaleias na cação pode ser eficiente na redução da frequência
síndrome de abstinência com outros agentes, no- das cefaleias e da redução da utilização excessiva
meadamente divalproato de sódio (dose de carga de medicação13,15,17 – recomendações grau IIa, nível
15 mg/kg, seguido por 5 mg/kg de 8/8 horas)30 ou de evidência B.
perfusão de lidocaína IV (2 mg/minutos por 7 a 10 Em doentes com enxaqueca e outras cefaleias as-
dias) não tem evidência de eficácia – recomendação sociadas a utilização excessiva de medicação o iní-
grau IIb, nível C. cio de preventivos orais de acordo com a decisão
A utilização de terapêutica sintomática para os clínica (incluindo candesartan, amitriptilina, gaba-
sintomas de abstinência com antieméticos, neuro- pentina, divalproato de sódio e beta-bloqueantes)
lépticos e hidratação endovenosa para as náuseas sem suspender a utilização excessiva de medicação
e vómitos, amitriptilina ou outros sedativos para pode ser superior à suspensão abrupta isolada da
insónia, beta-bloqueantes para tremor e taquicar- utilização excessiva de medicação na redução do
dia13,16 não tem suporte científico23,31 – recomenda- número de dias com dor de cabeça, aos 3 meses,
ção grau IIb, nível C. apresentando menor taxa de desistências,15,37 pelo
que pode ser considerada como opção terapêutica9
3. Terapêutica para a cefaleia de utilização – recomendação grau IIB, nível de evidência C.
excessiva de medicação A utilização de toxina onabotulínica tipo A associada
A utilização de topiramato nas doses de 100 mg à suspensão da utilização excessiva de medicação em
por dia durante pelo menos 8 semanas associado doentes com enxaqueca crónica e utilização excessiva
52 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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de medicação não tem benefício adicional sobre a sus- guimento e educação regular destes doentes9,13,16,40
pensão da utilização excessiva de medicação isolada- – recomendação de grau I, nível de evidência C
mente, nem utilizando 100 unidades (10 nos músculos (boa prática clínica)
frontais, 5 nos corrugadores, 5 nos temporais, 10 nos A utilização de topiramato nas doses de 50 a 200
para-espinhais cervicais e 10 nos trapézios)38 nem 155 mg por dia durante 12 semanas é uma terapêutica
Unidades segundo o protocolo PREEMPT39 – reco- profilática eficaz para a enxaqueca crónica, mesmo
mendação grau II, nível de evidência A. em doentes com utilização excessiva de medicação
Para tratamento da cefaleia por utilização excessiva que não tenham sido sujeitos a suspensão da utili-
de analgésicos a utilização de nabilona, acupuntura, zação excessiva de medicação9,33 – recomendação
bloqueio anestésico do occipital ou estimulação do grau II, nível A.
nervo occipital não tem suporte científico robusto, A utilização de toxina onabotulínica tipo A, 155 a
não devendo ser considerada15 – recomendação 195 unidades segundo o protocolo PREEMPT a
grau IIB, nível de evidência C. cada 12 semanas é uma terapêutica profilática eficaz
para a enxaqueca crónica, mesmo em doentes com
4. Prevenção da recorrência utilização excessiva de medicação que não tenham
Em doentes com enxaqueca crónica e utilização sido sujeitos a suspensão da utilização excessiva de
excessiva de medicação que suspendam abrupta- medicação9,41 – recomendação grau II, nível A.
mente a utilização excessiva de medicação durante O erenumab 70 a 140 mg 4/4 semanas durante 3
2 meses cerca de 42% a 56% reverte para enxa- meses é provavelmente eficaz na redução da fre-
queca episódica no entanto entre 74% a 85% ainda quência da enxaqueca em doentes com enxaqueca
apresenta uma frequência de crises que justifica a crónica e utilização excessiva de medicação que não
introdução de medicação preventiva para a enxa- suspendam a utilização excessiva de medicação9,42,43
queca21 e a introdução dessa medicação apresenta – recomendação grau II, nível de evidência B.
uma taxa de resposta melhor do que antes da sus- O fremanezumab 675 mg trimestral ou 675 mg
pensão da utilização excessiva de medicação20,31 – (dose de carga) seguido de 225 mg de 4/4 semanas
recomendação grau II, nível de evidência C. pode ser eficaz na redução de dias de ingestão de
A taxa de recorrência da cefaleia por utilização ex- medicação aguda às 12 semanas em doentes com
cessiva de medicação é de cerca de 13% a 34% aos enxaqueca crónica e utilização excessiva de me-
6 meses, e de 17% a 43% após um ano, sendo que dicação que não suspendam a utilização excessiva
a maioria dos doentes (94%) recai no primeiro ano de medicação9,44 – recomendação grau IIa, nível de
após suspensão. A recaída no primeiro é um predi- evidência B.
tor significativo para a obtenção de remissão susti- O galcanezumab 120 ou 240 mg 4/4 semanas du-
da a longo prazo (4 anos), pelo que é recomendada rante 3 a 6 meses parece ser tão eficaz na redução
a introdução de medicação preventiva em mono- dos dias com enxaqueca e dos dias de ingestão de
terapia para a cefaleia primária, de forma a evitar a medicação aguda nos doentes com enxaqueca cró-
recorrência13,15,23,40 – recomendação de grau I, nível nica quer tenham quer não tenham cefaleia por uti-
de evidência B. lização excessiva de medicação associada, que não
Ter apoio de um enfermeiro ou de uma ferramen- suspendam a utilização excessiva de medicação45 –
ta eletrónica que permita o contacto com profis- recomendação grau IIa, nível de evidência B.
sionais de saúde de forma a manter a utilização de
analgésicos no limite de segurança (no máximo 2 5. Abordagem integrada
dias por semana)40 pode diminuir o risco de recaída A prevenção primária da cefaleia por utilização ex-
em doentes que suspendam a utilização excessiva cessiva de medicação pode passar por campanhas
de analgésicos, associada ou não ao início precoce educativas populacionais, que melhoram o conhe-
de preventivos17 – recomendação de grau II, nível cimento sobre a patologia, muito embora se des-
de evidência C. conheça o impacto na diminuição da sua frequência
Dado o risco de recorrência, é recomendado o se- ou severidade9,46 – recomendação grau IIa, nível de
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 53
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
de cabeça (recomendação grau II, nível de evidên- meiros, psicólogos e fisioterapeutas que permita
cia C), a introdução simultânea/ precoce de pre- implementação de medidas adicionais (terapêutica
ventivos orais é provavelmente superior na redu- comportamental e medidas de estilo de vida), con-
ção da frequência das crises, avaliada aos 3 meses trole sintomático das comorbilidades, assim como
(recomendação grau IIb, nível de evidência C), pelo um método de contacto mais próximo com os pro-
que se recomenda que seja efetuada precocemen- fissionais de saúde – recomendação de grau IIa, ní-
te ou ainda antes da suspensão da medicação, se vel de evidência C.
possível.13
É recomendada introdução de medicação preven-
tiva para a cefaleia primária após tratamento da ce- 9. SITUAÇÕES ESPECIAIS
faleia por uso excessivo de medicação de forma a
evitar a sua recorrência – recomendação de grau I, 9.1 RECOMENDAÇÕES TERAPÊUTICAS
nível de evidência B, sendo igualmente recomen- PARA AS CEFALEIAS PRIMÁRIAS NA
dado o seguimento regular destes doentes13 – re- POPULAÇÃO PEDIÁTRICA
comendação de grau I, nível de evidência C (boa A – Enxaqueca
prática clínica). Apesar da elevada prevalência da enxaqueca (2,7%-
Em doentes com enxaqueca e outras cefaleias as- 10%) na população pediátrica, esta continua a ser sub-
sociadas a utilização excessiva de medicação, o iní- diagnosticada e subtratada.
cio de preventivos orais de acordo com a decisão O seu diagnóstico é mais difícil na criança pela di-
clínica (incluindo candesartan, amitriptilina, gaba- ficuldade de esta expressar as características das suas
pentina, divalproato de sódio e beta-bloqueantes) cefaleias. Algumas das particularidades da enxaqueca da
sem suspender a utilização excessiva de medicação criança são atualmente reconhecidas na nova classifica-
pode ser considerada como opção terapêutica – ção internacional das cefaleias (ICHD-3): duração mais
recomendação grau IIb, nível de evidência C. curta dos episódios, localização bilateral e proeminência
O topiramato e a toxina botulínica parecem ser tão das manifestações gastrointestinais (dor abdominal, náu-
eficazes na redução dos dias com enxaqueca e/ou seas e vómitos).1,2
dias de ingestão de medicação aguda em doentes Há poucos ensaios clínicos randomizados e contro-
com enxaqueca crónica independentemente de lados com placebo sobre o tratamento agudo e sobre
apresentarem cefaleia por utilização excessiva de a profilaxia da enxaqueca na pediatria, e está demons-
medicação – recomendação grau II, nível A. trada nas crianças uma alta resposta ao placebo, o que
Os anticorpos monoclonais erenumab, fremane- dificulta as orientações terapêuticas que muitas vezes
zumab e galcanezumab parecem ser tão eficazes são adaptadas dos estudos dos adultos.3
na redução dos dias com enxaqueca e/ou dias de As cefaleias, tal como outras dores, são um fenómeno
ingestão de medicação aguda em doentes com en- com componente biopsicossocial e assim o tratamento
xaqueca crónica independentemente de apresenta- terá que ser sempre interdisciplinar e multimodal.4
rem cefaleia por utilização excessiva de medicação
– recomendação grau IIa, nível de evidência B. Medidas gerais
Dado o risco de recorrência, é recomendado o se- O tratamento da enxaqueca pediátrica deve incluir
guimento e educação regular dos doentes que efe- o envolvimento dos pais/cuidadores e da escola. Na
tuem o tratamento de cefaleias crónicas associadas a escola devem ser criadas condições para que a criança
utilização excessiva de medicação, reforçando a ne- possa tomar precocemente a medicação e repousar ou
cessidade de cumprir o limite máximo de 2 dias com dormir num local escuro e silencioso. Deve-se educar a
medicação analgésica por semana – recomendação criança e a família sobre a enxaqueca, nomeadamente
de grau I, nível de evidência C (boa prática clínica). como atuar na fase aguda, relembrando a importância
Nos doentes mais complexos, com maior risco de de evitar o abuso de analgésicos (não usar mais de 3
recorrência e com comorbilidades pode ser útil dias por semana fármacos como paracetamol ou anti-
uma abordagem multidisciplinar incluindo enfer- -inflamatórios não esteroides, AINEs, e não usar mais de
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 55
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2 dias por semana os triptanos). Deve-se reforçar a ne- Há poucos estudos com antieméticos na enxaqueca na
cessidade de modificar o estilo de vida e tentar corrigir criança. A prometazina (0,25-0,5 mg/kg/dose po ou
possíveis fatores precipitantes das crises de enxaqueca. retal) é um dos mais usados nas crianças acima dos 2
Um dos sítios que poderá ser aconselhado aos pais e aos anos por ser eficaz e ter poucos efeitos extrapiramidais
jovens consultar é headachereliefguide.com. (grau IIa, nível C). A proclorperazina (grau IIa, nível B)
Exercício físico e alimentação – Apesar de na e a metoclopramida (grau IIa, nível C) mostraram ser
criança haver poucos estudos, recomenda-se a prática mais eficazes mas parecem ter mais efeitos extrapira-
de exercício físico e evitar saltar refeições, particular- midais.12,13
mente o pequeno-almoço (grau IIa, nível C). O controlo Nos episódios moderados a graves que são refratá-
da obesidade (grau I-IIa, nível B) mostrou ser importan- rios aos fármacos de primeira linha devemos utilizar os
te na prevenção da cefaleia crónica.5,6 Também o au- triptanos, que são o grupo de fármacos com mais estu-
mento do aporte de água está associado a melhoria da dos na enxaqueca pediátrica. São eficazes e bem tolera-
gravidade da cefaleia e da qualidade de vida no adulto. dos, mas os resultados dos ensaios clínicos são variáveis
Não foram feitos estudos na criança, mas sabe-se que e inconsistentes. Na criança ou adolescente os principais
55% dos jovens com idades 6-19 estavam ligeiramente efeitos secundários reportados nos estudos com os trip-
desidratados pela análise da concentração urinária.7 tanos orais foram: fadiga, tonturas, astenia, boca seca,
Sono – Tentar manter período de sono adequado à
náuseas e vómito. Nos triptanos nasais os principais
idade e horários regulares (grau I-II, nível C) podendo
efeitos secundários foram: alteração do sabor, sintomas
seguir as recomendações da Academia Americana Medi-
nasais e náuseas.14 Tal como no adulto também devem
cina do Sono.8 Excluir e tratar patologia do sono.
ser evitados nas crianças com história de AVC ou do-
Relaxamento (grau I-IIa, nível C) – O stress pode
ença vascular periférica. Avaliar sempre a TA antes de
precipitar as crises de enxaqueca. Há várias técnicas de
prescrever triptanos. Na Tabela 9.1 estão assinalados
relaxamento que as crianças e adolescentes podem fa-
os principais triptanos. A escolha vai depender da idade
cilmente treinar (técnicas de respiração diafragmática,
e das formulações disponíveis.
técnica de relaxamento muscular progressivo, relaxa-
O almotriptano e o rizatriptano têm evidência
mento usando imagens ou pensar num local preferido.)
(grau I, nível A) da sua eficácia via oral estando aprova-
dos pela FDA para usar no adolescente e na criança.15
Tratamento Sintomático
Nas crianças ou adolescentes que não respondem
A medicação deve ser tomada nas doses eficazes e o
à monoterapia podemos associar triptano com AINE.
mais precocemente possível, enquanto a dor não é mui-
Dois estudos randomizados e controlados com placebo,
to intensa e com o objetivo de controlar a crise em 1 a 2
horas. O tratamento sintomático da crise de enxaqueca utilizaram associação sumatriptano/naproxeno em
na pediatria está resumido na Tabela 9.1. jovens dos 12 aos 17 anos e mostram eficácia superior
Nos episódios ligeiros a moderados os fármacos de ao placebo com boa tolerabilidade, mas com mais efei-
primeira linha utilizados habitualmente são o ibuprofe- tos secundários comparativamente ao placebo (grau I,
no (grau I, nível A) e o paracetamol (grau I, nível B) nível A).16,17
que demonstraram eficácia e segurança no tratamento Outros triptanos orais (zolmitriptano, sumatriptano,
sintomático da enxaqueca na criança. O ibuprofeno foi frovatriptano, eletriptano e narotriptano) não se mos-
superior ao paracetamol.9,10 Não há estudos relevantes traram eficazes no tratamento da enxaqueca na idade
relativamente ao uso de outros AINEs como o naproxe- pediátrica (grau IIb, nível A).15
no, o cetorolac, o diclofenac ou a indometacina no trata- O sumatriptano spray nasal e o zolmitriptano
mento da enxaqueca na pediatria (grau IIa, nível C). Os spray nasal são eficazes na enxaqueca em idade pediá-
produtos contendo aspirina devem ser evitados abaixo trica (grau I, nível A15).
dos 16 anos para evitar risco da síndrome de Reye.11 Relativamente ao sumatriptano subcutâneo (SC)
Se os episódios são acompanhados de náuseas ou vó- há apenas 2 pequenos ensaios com jovens dos 6-18 anos
mitos deve usar-se precocemente um antiemético que, que mostrou ser eficaz, mas com percentagem alta de
para além de aliviar esses sintomas, causa sonolência. efeitos secundários (grau IIb, nível B).18,19
56 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
A1) Enxaqueca no serviço de urgência (SU) graves com muitos vómitos é útil iniciar fluidoterapia EV.
de pediatria Não há protocolo ideal, varia em função da experiência e
A abordagem da enxaqueca no SU de pediatria deve dos fármacos disponíveis, por exemplo: fluidoterapia EV
basear-se nos mesmos princípios de tratamento dos epi- + proclorperazina seguida de cetorolac EV (grau IIa, nível
sódios moderados a graves, mas com possibilidade de C) ou fluidoterapia EV+metoclopramida (grau IIb, nível
usar a via endovenosa (EV). Há apenas um estudo pros- C). Outros fármacos: valproato EV – a evidência do seu
petivo randomizado duplamente cego que mostra a eficá- benefício no tratamento da enxaqueca é limitada (nível
cia do cetorolac EV (grau IIa, nível B) no tratamento da C).21 Um estudo retrospetivo com 31 crianças no SU
enxaqueca, mas quando comparado com a proclorpe- (idade média 15 anos) documentou melhoria significativa
razina EV, esta última mostrou ser mais eficaz (grau IIa, com boa tolerância.22
nível B).20 Outros estudos retrospetivos também apoiam Não devem ser usados no tratamento sintomático da
estes dados . Antes de administrar qualquer fármaco
11
enxaqueca na pediatria os derivados da ergotamina e os
no SU confirmar sempre a medicação que foi feita em opióides, dada a má relação eficácia/tolerabilidade (grau
ambulatório (fármaco, dose, horário). No SU nos casos III, nível B).23,24
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 57
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Tabela 9.2. Sugestões de indicações, contraindicações e monitorização para o uso dos Ac monoclonais anti-CGRP e
anti-rCGRP nas crianças e adolescentes com enxaqueca39
Indicações Contraindicações Monitorização
≥8 dias/mês com cefaleias Alteração da barreira hemato Estado pubertário
encefálica (ex: história de meningite
PedMIDAS ≥ 30 recente, neurocirurgia recente) Estado do osso, considerar
doseamento vitamina D
Ineficácia de ≥ 2 tratamentos Doença cardiovascular grave, AVC
preventivos (farmacológicos e/ou não Crescimento linear
farmacológicos) Amamentação, gravidez, ou plano
para engravidar. Peso/ índice massa corporal
Adolescente pós-pubertário ou crianças
pré-púberes em casos selecionados Infeções
Possibilidade de gravidez
E – Cefaleia crónica
C – Cefaleias trigémino-autonómicas
Na pediatria a maioria dos estudos foram feitos para
Cefaleias em salvas – são uma entidade rara na pe-
a enxaqueca crónica e cefaleia tipo tensão crónica.
diatria. Os tratamentos baseiam-se na experiência dos O tratamento da cefaleia crónica deve começar pela
adultos e no relato de alguns casos clínicos (grau IIb, ní- prevenção do seu aparecimento. Embora na criança haja
vel C). poucos estudos sobre fatores de riscos de evolução para
Tratamento agudo: Oxigénio 100% (12 l/min) por más- cefaleia crónica, aceita-se com base em muitos estudos
cara facial normobárica (mostrou ser eficaz e sem efeitos do adulto as seguintes estratégicas como tendo efeito po-
secundários). Poderá ser necessário associar triptano nasal sitivo na evolução da enxaqueca com início na infância:
ou SC (mesmas doses do tratamento da enxaqueca). Tratar precocemente e corretamente a enxaqueca.
Tratamento preventivo: Na criança o intervalo longo Utilizar estratégias comportamentais com objetivo
entre as salvas torna a decisão de tratamento a longo de otimizar estilos de vida (alimentação saudável,
prazo mais difícil. Quando necessário usam-se os fárma- higiene sono, exercício físico).
cos estudados nos adultos que mostraram ser eficazes:
verapamilo 3-10 mg/kg/dia ou melatonina 0,1-0,2 mg/ 1- Tratamento farmacológico
kg/dia ou topiramato 1-2 mg/kg/dia. 57
Os corticoides A amitriptilina e o topiramato (grau IIb, nível B)
também mostraram ser eficazes na pediatria, na fase de têm sido os fármacos mais usados na clínica para tra-
transição após o tratamento agudo enquanto se aguarda tamento da cefaleia crónica na pediatria. Um pequeno
estudo randomizado (57 crianças dos 9-16 anos) com-
efeito do tratamento preventivo.58
parou amitriptilina (0,5 kg/kg/d) com o topiramato (até
Hemicrania paroxística – dada a raridade na crian-
100 mg/d) mostrando que ambos eram eficazes.63 Estu-
ça, os tratamentos baseiam-se na expêriencia dos adul-
do recente multicêntrico de alta qualidade duplamente
tos e relato de casos clínicos: indometacina 0,5-1 mg/kg
cego controlado com placebo para comparar a eficácia,
2x/dia (grau IIb, nível C).59
mostrou taxas de resposta semelhantes entre a amitrip-
tilina, o topiramato e o placebo.30
D – Outras cefaleias primárias
Toxina onabotulínica tipo A (grau IIb, nível C) –
Cefaleia primária tipo guinada tem sido usada na pediatria na enxaqueca crónica com
Cerca de 12% das crianças com idade inferior a 6 redução do número de dias com cefaleia.64 Ainda sem
anos recorrem a uma consulta de cefaleias por causa de estudos suficientes que permitam a sua aprovação no
cefaleia tipo guinada.60 O tratamento agudo não é ne- tratamento da cefaleia crónica na pediatria.
cessário dada a curta duração dos episódios. Nos casos Bloqueio nervo occipital (grau IIb, nível C)59 – tem
com episódios muito frequentes pode ponderar-se tra- sido usado de forma não protocolada na enxaqueca cró-
tamento profilático. Na criança pequena pode tentar-se nica e na cefaleia persistente diária de novo da criança
a melatonina 1-3 mg à noite (grau IIB, nível C). com benefício e raros efeitos secundários.65,66
60 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
fármacos recentes, em termos de introdução no mer- rência das crises (2 dias antes até 3 a 5 dias após
cado, preferindo os que tenham um perfil de segurança o primeiro dia de hemorragia). Os fármacos com
melhor conhecido.5 maior evidência de benefício neste contexto in-
Dividimos estas recomendações por patologia con- cluem o sumatriptano (100 mg tid), rizatriptano 10
siderando cada fase do ciclo reprodutivo em separado. mg e o naproxeno (500 mg bid)2,3 – recomendação
grau IIa, nível B.
RECOMENDAÇÕES TERAPÊUTICAS Como alternativa pode considerar-se a utilização de
1. Enxaqueca sumatriptano 85 mg + naproxeno 500 mg (associa-
1.1 Enxaqueca menstrual ção fixa comercializada nos EUA), ácido mefenâmico
Cerca de 50% das mulheres tem regularmente (500 mg tid), zolmitriptano (2,5 mg tid), frovatriptano
crises de enxaqueca – sobretudo sem aura – na (2,5 mg bid) e naratriptano (1 mg bid) nos mesmos 5
fase perimenstrual, o que se designa por enxaque- a 7 dias2,3 – recomendação grau II, nível C – ou mes-
ca menstrual; no entanto apenas 10% a 20% tem mo magnésio 360 mg id da ovulação à menstruação
crises exclusivamente menstruais. O nadir do nível ou fitoestrogeneos (genistein e daidzein) dos dias -7
de estrogénios determina o risco de ocorrência da to +32,3 – recomendação grau IIb, nível C.
crise, habitualmente nas 48 e 72 horas depois do Nas mulheres com ciclos regulares, a decisão sobre
primeiro dia de hemorragia.2 iniciar a profilaxia perimenstrual ou suplementação
A manipulação hormonal pode ser considera- hormonal deve ser precedida por um registo diário
da como estratégia de tratamento da enxaqueca de pelo menos 3 meses, de forma a analisar a re-
menstrual; em mulheres com ciclos regulares a gularidade das menstruações e a data de início da
suplementação hormonal com gel de estradiol 1,5 crise3 – recomendação grau IIa, nível C.
mg durante 5 a 7 dias na fase perimenstrual parece A decisão sobre o tipo de estratégia perimenstru-
diminuir a ocorrência de enxaqueca,6,7 no entanto a al a instituir pode ter em consideração a presença
utilização de estradiol transdérmico (100 μg/24 ho- de dismenorreia associada (que pode beneficiar de
ras) durante 2 semanas não demonstrou a mesma anti-inflamatórios) ou de síndrome perimenstrual
eficiência8 – recomendação grau II, nível C. associada (que pode beneficiar de magnésio ou fi-
Em mulheres com ciclos irregulares as estratégias toestrogénios)3 – recomendação grau IIb, nível C.
de manipulação hormonal devem ter como objetivo O tratamento das crises menstruais não tem indi-
a inibição da ovulação, podendo-se utilizar contra- cações específicas, muito embora estas crises cos-
cetivos orais combinados de forma contínua (sem tumem ser mais prolongadas e mais intensas que as
interrupção) ou, como alternativas, o anel vaginal crises ocorrendo fora do contexto menstrual. Desta
utilizado de forma contínua, os contracetivos ape- forma, sugere-se iniciar a terapêutica com triptanos
nas progestativos (desogestrel, aconselhados para sendo o triptano ideal aquele que se verifica ser mais
os casos de enxaqueca com aura) ou a utilização de eficaz e melhor tolerado em cada doente. Em caso
análogos da gonadotropina2,9 (recomendação grau de existir resposta a vários triptanos, sugere-se a
IIa, nível C). utilização de frovatriptano dado que a sua semivida
Com o objetivo de diminuir o risco da enxaqueca mais prolongada diminui a recorrência em casos de
menstrual, a utilização de contraceção combinada crises longas3 – recomendação grau IIa, nível C.
com interrupções mais curtas (máximo 4 dias), ou
com menor dose de estrogénios (20–30 µg, dado 1.2 Contracepção
que dose inferiores podem não inibir a ovulação de Às mulheres com enxaqueca com aura que pre-
forma consistente) não parece ser eficaz2,9 – reco- tendem utilizar contraceção é contraindicada a uti-
mendação grau IIa, nível C. lização de contraceção hormonal combinada (que
A profilaxia perimenstrual é uma estratégia que inclua etinilestradiol, 17β-estradiol/ ou valerato
inclui a utilização de fármacos utilizados no trata- de estradiol) em qualquer forma de apresentação
mento sintomático das crises de enxaqueca de um (oral, transdérmica ou anel vaginal) devido ao au-
modo profilático, na fase de maior risco de ocor- mento significativo do risco de AVC10 – recomen-
62 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
dação grau IIa, nível C. Às mulheres com enxaqueca que estejam medicadas
Às mulheres com enxaqueca com aura que pre- com topiramato e utilizem contracetivos hormonais
tendem usar contraceção ou que estejam sob orais devem utilizar medidas contracetivos adicio-
contraceção hormonal combinada, assim como às nais, tais como métodos de barreira ou aumento da
mulheres com enxaqueca sem aura mas com ou- dose de estradiol (até 50 µg) ou deve-se sugerir alte-
tros fatores de risco vasculares (tabagismo, HTA, rar contraceção hormonal para medroxiprogestero-
obesidade, TVP, TEP e doença cardiovascular pré- na depot ou DIU com levonorgestrel ou para méto-
via) sugere-se a utilização de contraceção não- dos não hormonais2 – recomendação grau II, nível C
-hormonal (preservativo, DIU cobre ou laqueação Os novos anticorpos monoclonais anti-CGRP ou
de trompas) ou contraceção hormonal progestativa rCGRP não tem evidência de influenciar a ferti-
(oral, implante subdérmico, injectável depot, ou lidade, no entanto os dados existentes são limita-
DIU com levonorgestrel) por ter baixo risco de dos.11–13 Deve-se recomendar às mulheres com
AVC10 – recomendação grau I, nível C. enxaqueca que utilizem estes fármacos que man-
Nas mulheres com enxaqueca sem aura e sem ou- tenham medidas eficientes de contraceção – reco-
tros fatores de risco vasculares pode-se considerar mendação grau I, nível C.
a utilização de contraceção hormonal combinada
sugerindo-se doses de etinilestradiol ≤35 μg e a 1.3 Pré-conceção
monitorização da frequência e intensidade das cri- A medicação preventiva da enxaqueca com
ses de enxaqueca e tendo como alternativas a con- β-bloqueantes, antiepiléticos, bloqueadores dos
traceção não-hormonal ou hormonal apenas pro- canais de cálcio, IECAs e antidepressivos deve ser
gestativa10 – recomendação grau I, nível C. descontinuada quando a doente decide começar a
Mulheres sob contraceção hormonal que iniciem tentar conceber14,15 – recomendação grau I, nível C.
queixas de enxaqueca com aura ou sem aura em A utilização contínua de AINEs (quer como profila-
relação com a toma da contraceção hormonal su- xia, quer em contexto de cefaleia por uso excessivo
gere-se a troca para contraceção não-hormonal ou de medicação) na fase pré e periconcepcional pode
hormonal apenas progestativa10 – recomendação interferir com a ovulação e implantação, reduzindo
grau IIa, nível C. a fertilidade15 – recomendação grau IIb, nível C.
Mulheres com enxaqueca (com ou sem aura) que O valproato de sódio é contraindicado na mulher
necessitem de contraceção de emergência sugere- em idade fértil e, sobretudo, na fase pré-conceção16
-se a utilização de levonorgestrel 1,5 mg oral, ace- – recomendação grau I, nível B.
tato de ulipristal 30 mg oral ou o DIU de cobre10 As doentes que façam antiepiléticos como profilá-
– recomendação grau IIa, nível C. ticos da enxaqueca devem receber suplementação
Mulheres com enxaqueca (com ou sem aura) que de ácido fólico numa dose mínima de 4 mg por dia
necessitem de contraceção hormonal por síndro- pré-conceção de forma a reduzir o risco de defei-
me do ovário poliquístico ou endometriose deve-se tos do tubo neural e outras potenciais anomalias
selecionar o melhor agente caso-a-caso10 – reco- fetais14,17 – recomendação grau IIa, nível B.
mendação grau II, nível C. A profilaxia da enxaqueca na fase da conceção deve
Mulheres com enxaqueca que estejam medicadas ser sobretudo não-farmacológica (biofeedback, ges-
profilaticamente com topiramato devem ser ad- tão do stress, hidratação, redução da atividade labo-
vertidas que este fármaco interfere com a meta- ral, relaxamento muscular, correcção postural, hi-
bolização dos contracetivos hormonais orais, com- giene do sono, repouso)1,15,16 ou, se não for possível
binados ou progestativos apenas, assim como o um adequado controle de sintomas neste contexto,
impante subcutâneo progestativo, de forma muito devem ser utilizados os agentes considerados mais
relevante em doses superiores a 200 mg/dia mas seguros, em monoterapia e na dose mínima consi-
também apresentam alguma interferência em do- derada eficaz, sempre discutindo os riscos de cada
ses até 100 mg/dia2 – recomendação grau I, Nível C medicação com a doente14 – recomendação grau
(boa prática clínica). IIa, nível C.
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 63
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Os agentes ergotamínicos são classificados como tudos em animais não indicam risco para o feto e
categoria X (existe risco definitivo baseado na não existem estudos controlados em grávidas, ou
experiência humana ou em estudos animais e os não existem estudos animais ou humanos) pelo que
riscos prevalecem sobre os benefícios da grávida) se pode considerar a sua utilização se os potenciais
dado possuírem efeitos simpaticomiméticos vaso- benefícios justificarem o risco potencial para o feto,
constritores arteriais generalizados, com diminui- não tendo sido verificados risco fetais nos registos
ção da perfusão uterina e aumento da contratili- de mulheres que utilizaram triptanos na gravidez.
dade uterina, tendo inclusivamente sido utilizados Parece existir um aumento de risco de atonia ute-
como abortivos no passado. Assim, são os únicos rina e hemorragia pós-parto nas mulheres que uti-
fármacos do tratamento agudo da enxaqueca for- lizaram triptanos no final da gravidez.16 Deve-se
malmente contraindicados na mulher em idade preferir o sumatriptano, dado ser o triptano com
fértil e, sobretudo, na fase pré-conceção14,16 – re- mais dados de utilização neste contexto2,4,14–16,18 –
comendação grau III, nível C. recomendação grau IIa, nível B.
O Feverfew (Tanacetum parthenium L.) ou matricária O paracetamol é considerado o analgésico mais se-
pode ser utilizado como profilático da enxaqueca, guro para ser utilizado durante a gravidez, sendo a
sendo contraindicado na pré-conceção e gravidez sua formulação oral classificada como categoria B
por risco de aborto e hemorragia16 – recomenda- (estudos em animais não demonstraram risco para
ção grau III, nível C. o feto e não há estudos controlados em grávidas,
Os novos anticorpos monoclonais anti-CGRP ou ou estudos em animais demonstraram um efeito
rCGRP não tem evidência de influenciar a ferti- adverso mas estudos controlados em grávidas não
lidade, no entanto os dados existentes são limita- demonstraram esse risco)2,4,15,16,18 – recomendação
dos.11–13 É conhecido que este tipo de anticorpos grau I, nível C.
tem a capacidade de transpor a barreira placentária Os AINEs têm o risco de provocar encerramen-
para o feto, pelo que a sua utilização no período to do ductus arteriosus e hipertensão pulmonar no
pré-concepcional é contraindicada – recomenda- feto e recém-nascido; assim como oligohidramnios
ção grau I, nível C. e insuficiência renal neonatal. Existe também sus-
peita de poderem potenciar o risco de abortos do
1.4 Gravidez primeiro trimestre.18 São classificados pela FDA
Durante a gravidez 66,9% das mulheres que so- como categoria C devendo o seu uso ser limitado
frem de enxaqueca sem aura (e 68,4% das com no primeiro trimestre e usados apenas até às 32
aura) demonstram melhoria ou remissão das ma- semanas de gestação e por períodos curtos se os
nifestações da doença, 25,8% (e 23,2% das com potenciais benefícios justificarem o risco potencial
aura) mantém as queixas de forma inalterada sendo para o feto2,4,14–16 – recomendação grau I, nível C.
que 8% (8,4% das com aura) agravam; pode-se ve- Os antieméticos como a metoclopramida e o ondan-
rificar também uma modificação da expressão da setron são classificados como categoria B (estudos
doença, variando o padrão de expressão da doença em animais não demonstraram risco para o feto e
para um fenótipo menos intenso – enxaqueca com não há estudos controlados em grávidas, ou estudos
aura manifesta-se sem aura e a enxaqueca sem aura em animais demonstraram um efeito adverso mas
como cefaleia tipo tensão.16 Assim, a maioria das estudos controlados em grávidas não demonstra-
mulheres com enxaqueca não necessitará de tera- ram esse risco) podendo ser utilizados na gravidez
pêutica aguda frequentemente nem de profilaxia, em contexto de tratamento das crises de enxaque-
durante a gravidez. ca2,4,14–16,18 – recomendação grau I, nível C. No en-
Dos fármacos específicos utilizados no tratamento tanto, existem alguns dados contraditórios sobre a
agudo das crises de enxaqueca, os ergotamínicos são possibilidade do ondansetron, quando utilizado para
classificados como categoria X, sendo contraindica- tratar as náuseas associadas à gravidez, poder apre-
dos na grávida4,15,16 – recomendação grau III, nível C. sentar um pequeno aumento de risco de defeito do
Os triptanos são classificados como categoria C (es- septo cardíaco e de fenda do palato.19 A domperido-
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Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
na pode ser considerada alternativa à metoclopra- classificados como categoria D por apresentarem
mida, no entanto há relatos de prolongamento do risco de malformações graves e morte fetal, pelo
QT no recém-nascido.15,18 A utilização de codeína ou que são contraindicados na gravidez15,16,18 – reco-
tramadol é desaconselhada, no geral, no tratamen- mendação grau II, nível C.
to das crises de enxaqueca, sendo considerados de A neuroestimulação não invasiva com estimula-
categoria C na gravidez podendo ser utilizados com dores do trigémeo, vago e estimulação magnética
precaução, pontualmente, em doses baixas dado os transcraniana não parecem ter riscos teóricos na
riscos de hemorragia pós-parto, depressão respira- gravidez, no entanto a evidência de segurança é li-
tória e/ou síndrome de abstinência do recém-nasci- mitada a casos pontuais pelo que a sua utilização
do e 1,15,16 – recomendação grau IIb, nível C). pode ser considerada, mas não é recomendada2 –
Em casos de estado de mal de enxaqueca ou cri- recomendação grau IIb, nível C.
ses prolongadas e refratárias, pode ser considerada Os novos anticorpos monoclonais anti-CGRP ou
a utilização de bloqueios anestésicos do occipital rCGRP foram testados na gravidez apenas em mo-
com lidocaína (classificada como categoria B),2 cor- delos animais não se tendo verificado evidência de
ticoides parentéricos – idealmente a metilpredni- toxicidade fetal ou de transferência placentária.11–13
solona (classificada como categoria C) e evitando o É conhecido que este tipo de anticorpos tem a ca-
primeiro trimestre – ou o sulfato de magnésio (ca- pacidade de transpor a barreira placentária para o
tegoria D)15,16,18 – recomendação grau IIb, nível C. feto, pelo que a sua utilização na gravidez é con-
Dos fármacos utilizados como profiláticos da enxa- traindicada – recomendação grau I, nível C.
queca, os antiepiléticos – em particular o valproato
de sódio – são classificados como categoria D (exis- 1.5 Aleitamento
te a evidência de risco fetal humano, mas existem Na fase pós-parto pode ocorrer agravamento das
situações em que os benefícios podem prevalecer enxaquecas, em relação à fase da gravidez. Sendo
em relação ao risco). No entanto, no caso da enxa- frequente que as mães decidam amamentar os
queca, o benefício não é superior ao risco, pelo que seus filhos, coloca-se a questão de que fármacos
se contraindicada a sua utilização na gravidez4,14–16 são seguros neste contexto; no entanto apenas
– recomendação grau III, nível C. A lamotrigina é 43% das mulheres que decidem amamentar tem
considerada segura na gravidez, podendo ser uti- recorrência das crises na fase pós-parto, em con-
lizada se for necessário o tratamento profilático da traste com 100% das mulheres que decide não
aura18 – recomendação grau II, nível C. amamentar.20 As mulheres que amamentam podem
Os β-bloqueantes são classificados como categoria manter benefício. Alguns aspetos farmacocinéticos
C pelo que se pode considerar a sua utilização ten- influenciam o risco de iatrogenia, devendo-se ter
do em consideração o risco de atraso de crescimen- em consideração na escolha destes fármacos a pro-
to intrauterino e bradicardia fetal14 recomendação babilidade de passagem para o leite materno (me-
grau II, nível C. O propranolol e o metoprolol são, nor nos compostos de elevado peso molecular) e a
assim, os fármacos de eleição como profiláticos da segurança para o recém-nascido e o momento de
enxaqueca na gravidez, devendo ser utilizados na administração à mãe, de forma a minimizar a ex-
menor dose possível, durante o menor tempo pos- posição do bebé1 – recomendação grau I, nível C.
sível e com monitorização do crescimento uterino O paracetamol e o ibuprofeno são considerados
e da frequência cardíaca fetal2,4,15,16,18 – recomenda- os fármacos mais seguros durante o aleitamento
ção grau IIa, nível C. materno2,4,15,16,18,21 – em particular o ibuprofeno
A amitriptilina, a flunarizina e a toxina botulínica são tem muito baixa dose infantil relativa (índice entre
classificadas como categoria C, sendo a amitriptilina a dose infantil e dose materna, considerado seguro
em dose baixa a segunda opção durante a gravidez abaixo dos 10%)1 – pelo que são a primeira linha
e a toxina reservada para casos refratários15,16,18 – na terapêutica das crises durante o aleitamento –
recomendação grau II, nível C. recomendação grau I, nível B.
Os antihipertensores lisinopril e candesartan são Os AINEs de um modo geral são considerados
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 65
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
fármacos seguros durante o aleitamento mater- é considerado compatível com o aleitamento (vi-
no2,4,15,16,18; o diclofenac e ceterolac são provavel- giando o risco de diarreia no recém-nascido) e a
mente compatíveis com o aleitamento, não exis- toxina botulínica, que não é excretada no leite ma-
tindo casos descritos de efeitos no recém-nascido, terno15,16,18,21 – recomendação grau IIb, nível C.
a indometacina e naproxeno utilizados de forma Os antiepiléticos valproato de sódio, topiramato
esporádica também, no entanto existem alguns ca- e lamotrigina podem ser considerados durante o
sos de complicações descritas com estes fármacos. aleitamento, embora haja evidência de toxicidade21
A aspirina é potencialmente tóxica, devendo ser pelo que se recomenda precaução e monitorização
evitada, por risco de síndrome de Reye e efeitos clinica e laboratorial do recém-nascido, nomeada-
plaquetários15,21 – recomendação grau IIa, nível C. mente de sedação, irritabilidade e hepatotoxicida-
Os ergotamínicos são contraindicados durante o alei- de4,15,16,18 – recomendação grau II, nível C. Destes,
tamento, por interferência com a produção de pro- o topiramato é o único com dose infantil relativa na
lactina e risco de ergotismo e convulsões no recém- faixa do inseguro, sendo o valproato o que apre-
-nascido1,4,15,16,21 – recomendação grau III, nível C. senta menor.1
Existe evidência publicada de segurança sobre o Os antihipertensores lisinopril e candesartan po-
sumatriptano no recém-nascido e evidência que o dem ser considerados durante o aleitamento, em-
sumatriptano e o eletriptano são excretados em ní- bora haja evidência de toxicidade,21 pelo que se
veis muito baixos no leite materno.16 Muito embora recomende precaução e monitorização clinica e
não existam dados sobre os restantes triptanos, são laboratorial do recém-nascido, pois pode provocar
todos considerados compatíveis com a amamenta- hipotensão e toxicidade renal15,16,18 – recomenda-
ção,4,15,21 embora algumas recomendações sugiram ção grau II, nível C.
evitar o aleitamento nas 24 horas após a sua toma16 A flunarizina é contraindicada durante o aleitamen-
e/ou evitar os triptanos com maior semivida15 – re- to materno dado que provoca sedação e efeitos
comendação grau IIa, nível C. cardiovasculares no recém-nascido15,16,18 – reco-
Os antiemeticos e neuroléticos de um modo geral mendação grau II, nível C.
são considerados potencialmente tóxicos e devem Desconhecem-se se os efeitos dos novos anticor-
ser evitados, à excepção do ondansetron, que é pos monoclonais anti-CGRP ou rCGRP nos recém-
considerado potencialmente compatível com o -nascidos11–13 no entanto é conhecido que este tipo
aleitamento4,16,21 – recomendação grau IIb, nível C. de anticorpos tem a capacidade de ser excretado
A codeína e os opioides são potencialmente tóxicos no leite materno, pelo que a sua utilização no perí-
sobretudo nos prematuros, devendo ser evitados,15 odo de amamentação é contraindicada – recomen-
mas a cafeina, lidocaína e predisolona são conside- dação grau I, nível C.
radas compatíveis e seguras durante a amamenta-
ção16,21 – recomendação grau IIa, nível C. 1.6 Menopausa
Dos profiláticos da enxaqueca são considerados O período perimenopausa está relacionado com
seguros durante o aleitamento os β-bloqueantes flutuação dos níveis hormonais e consequente au-
(propranolol e metoprolol), tendo muito baixa dose mento da frequência das crises de enxaqueca que,
infantil relativa, devendo-se vigiar o risco de hipogli- uns anos após a instalação da menopausa, geral-
cémia, bradicardia e sonolência no recém-nascido mente diminui significativamente.
dado que são excretados no leite4,15,16,18; o atenolol Não há contraindicação para a instituição de TSH
e o nadolol são potencialmente tóxicos devendo ser nas mulheres com enxaqueca com ou sem aura2 –
evitados21 – recomendação grau IIa, nível C. recomendação grau IIa, nível C.
Outros fármacos que podem ser utilizados são a Pode-se considerar a utilização de venlafaxina (75 a
amitriptilina (vigiando o risco de sonolência e re- 150 mg), escitalopram (10 a 20 mg) ou paroxetina
tenção urinária no recém-nascido) dado que é ex- (20 a 40 mg) no tratamento dos sintomas de priva-
cretado no leite mas não apresenta evidência de ção hormonal (incluindo o aumento de frequência de
toxicidade no recém-nascido,4,15,21 o magnésio que enxaqueca) nas mulheres com contraindicações para
66 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
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realizarem THS2,4 – recomendação grau IIb, nível C. te a gravidez e aleitamento pode ser efetuada com
O tratamento da enxaqueca na fase perimenopausa recurso a oxigenoterapia de alto débito ou com su-
é idêntico à terapêutica da enxaqueca em geral4 – matriptano14,18,22 – recomendação grau IIa, nível B.
recomendação grau IIa, nível C. Para terapêutica de ponte ou de transição na ce-
faleia em salvas na gravidez ou aleitamento, pode
2. Cefaleia Tipo Tensão ser considerada a utilização de bloqueios anesté-
Em mulheres com cefaleias (não enxaqueca) pode sicos do occipital com lidocaína (classificada como
ser considerada a utilização de qualquer método categoria B) ou corticoides (prednisolona ou metil-
contracetivo, incluindo a contraceção hormonal prednisolona, categoria C) e evitando o primeiro
combinada com baixa dose de estrogénios10 – re- trimestre16,18,22 – recomendação grau IIa, nível C.
comendação grau IIa, nível C. O verapamilo é classificado como categoria C, acar-
Durante a gravidez 82,5% das mulheres que so- retando risco de bradicardia fetal, mas é a melhor
frem de cefaleias de tensão demonstram melhoria opção para o tratamento da cefaleia em salvas na
ou remissão das manifestações da doença e 17,9% gravidez. Quando usada no último trimestre de
mantém as queixas de forma inalterada, não sendo gravidez aumenta o risco de parto prematuro, sen-
habitual o agravamento.16 do considerado seguro durante o aleitamento ma-
Tal como na enxaqueca (ver acima), para a terapêuti- terno16,18,21,22 – grau de recomendação II, nível C.
ca de crise, o paracetamol é considerado o analgésico A melatonina não tem classificação da FDA por se
mais seguro durante a gravidez16,18 – recomendação tratar de um suplemento, mas um estudo em ani-
grau I, nível B, podendo ser considerada a utilização mais documentou efeito deletério no peso materno
de AINEs até às 32 semanas de gestação e por pe- e fetal assim como na mortalidade fetal, pelo que
ríodos curtos se os potenciais benefícios justificarem desaconselha na gravidez.23 É, no entanto, conside-
o risco potencial para o feto14 – recomendação grau rada segura durante o aleitamento materno, embo-
I, nível C. Quer o paracetamol quer os AINEs são ra possa provocar sonolência no recém-nascido16,18
considerados seguros durante o aleitamento mater- – grau de recomendação IIb, nível C.
no16,18 – recomendação grau II, nível B. O carbonato de lítio pode afetar a fertilidade, gesta-
Como profilático, a amitriptilina é considerada segu- ção e desenvolvimento fetal, nomeadamente com
ra na gravidez (categoria C) e aleitamento (vigiando risco de malformações cardíacas e outras, sendo
o risco de sonolência e retenção urinária no recém- classificado como categoria D e contraindicado na
-nascido)16,18 – recomendação grau II, nível C. gravidez e pré-conceção. Está igualmente contrain-
dicado no aleitamento, dado o risco de alterações
3. Cefaleias trigémino-autonómicas renais e tiroideias no recém nascido16,18 – grau de
Em mulheres com cefaleias (não enxaqueca) pode recomendação III, nível B.
ser considerada a utilização de qualquer método Os antiepiléticos valproato de sódio e topiramato
contracetivo, incluindo a contraceção hormonal são contraindicados na gravidez mas podem ser
combinada com baixa dose de estrogénios10 – re- utilizados durante o aleitamento, embora se reco-
comendação grau IIa, nível C. mende precaução e monitorização clinica e labo-
Durante a gravidez 69,9% das mulheres que sofrem ratorial do recém-nascido, pois podem provocar
de cefaleias em salvas demonstram melhoria ou re- sedação, irritabilidade e hepatotoxicidade16,18,22 –
missão das manifestações da doença e 20,7% man- recomendação grau II, nível C.
tém as queixas de forma inalterada e 9,4% agravam.16 A lamotrigina é considerada segura na gravidez e
As estratégias terapêuticas não farmacológicas devem aleitamento, podendo ser utilizada se for necessá-
ser privilegiadas no tratamento da cefaleia em salvas na rio o tratamento do SUNCT16,18 – recomendação
gravidez e aleitamento, tais como suspensão de consu- grau II, nível C.
mo de tabaco e álcool e utilização de CPAP em caso A indometacina pode ser utilizada apenas no segun-
de SAOS associado22 – recomendação grau I, nível C. do trimestre da gravidez no tratamento da hemicra-
A terapêutica da crise de cefaleia em salvas duran- nia paroxística18 – recomendação grau II, nível C.
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 67
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
sentam uma frequência maior de reações adversas, medicamentos para a tiroide ou com agentes an-
pelo que devem ser utilizados com precaução e es- ticolinérgicos.7
tão contraindicados em caso de doença renal, gas- Beta-bloqueantes – Devem ser evitados em doen-
trointestinal ou cardíaca, dependendo da gravidade tes com insuficiência cardíaca não controlada, e po-
da mesma.2 Numa meta-análise o naproxeno de- dem causar bradicardia e hipotensão, que em do-
monstrou ter menor risco cardiovascular.5 As con- entes idosos aumenta o risco de síncope e queda.
traindicações incluem também história de alergia Podem mascarar os sinais de hipoglicémia e tiroto-
ou diátese hemorrágica e devem ser evitados em xicose.2,8 Podem ocorrer letargia e confusão. Se um
caso de tratamento concomitante com corticoste- beta-bloqueante não for tolerado, outro diferente
roides e varfarina.3 pode ser.3
Derivados da ergotamina – Estão contraindicados Lítio – é frequente ter de se administrar doses de
em caso de doença isquémica, devido às suas pro- lítio mais baixas para se atingir os níveis séricos te-
priedades vasoconstritoras.2 rapêuticos, a litemia deve ser medida regularmen-
Triptanos – Permanecem como escolha de primei- te, a função renal e tiroideia deve ser monitorizada,
ra linha, mesmo nos idosos, desde que sem risco a ingestão de líquidos e sódio deve ser adequada.9
cardiovascular aumentado.2 O risco cardiovascular Topiramato – Pode ter efeitos secundários cogni-
pode ser avaliado com base nos resultados do estu- tivos, incluindo défice de linguagem, inatenção e
do de Framingham, encontrando-se uma calculadora perda de memória, que nos mais idosos podem ser
de risco em http://www.cardiology.org/tools/med- problemáticos, devido ao medo de défice cognitivo
calc.fram/. Nos doentes de risco baixo, os triptanos e demência. Outros efeitos adversos incluem pares-
podem ser usados com segurança relativa. No grupo tesias, anorexia, sintomas gastrointestinais, sedação,
de alto risco devem ser evitados, enquanto que no depressão, acidose metabólica, litíase renal, miopia
grupo intermédio devem ser realizados EGC e prova aguda e glaucoma secundário de ângulo fechado.2,10
de esforço antes da sua prescrição.6 Não é necessário ajuste de dose em doentes idosos
As medicações contendo combinações de analgé- desde que a sua função renal esteja intacta.10
sicos, opióides e barbitúricos estão associadas a maior Toxina onabotulínica A – É tipicamente bem tolerada
risco de abuso, dependência, cefaleia por uso excessivo por idosos, mas alguns têm ptose senil, que pode ser
de medicamentos, polifarmácia e efeitos adversos. Não agravada pelas injeções no terço inferior do múscu-
devem ser usados no tratamento de rotina em idosos e lo frontal. Outra complicação potencial é fraqueza
devem ser limitados a quando outras medicações estão dos músculos cervicais paraespinhais, mais frequente
contraindicadas.2 nos idosos devido a fraqueza pré-existente ou atrofia
Dos medicamentos profiláticos frequentemente usa- muscular difusa. Esta complicação pode ser evitada
dos na prevenção de cefaleias, alguns que apresentam ajustando a área das injeções mais superiormente.2
considerações especiais nesta população são (grau I, ní- Não é necessário um ajuste específico da dose para
vel de evidência C): a utilização em idosos. Os doentes idosos com ante-
Amitriptilina – São recomendadas doses mais bai- cedentes clínicos significativos e medicação conco-
xas, de 50 mg. Deve ser administrada com precau- mitante devem ser tratados com precaução.11
ção em doentes com história de crises convulsivas, Valproato – Recomenda-se monitorização periódi-
com perturbações da função hepática, história de ca do hemograma com plaquetas e da função hepá-
retenção urinária, hipertrofia prostática, glaucoma tica.2 Deve-se ter atenção à possibilidade de ocor-
de ângulo fechado ou hipertensão intraocular. Os rência de sonolência, tremor, aumento de peso e
doentes com perturbações cardiovasculares devem alopecia.3
ser cuidadosamente vigiados dado que a amitripti- Venlafaxina – Com base apenas na idade não se
lina pode provocar arritmias, taquicardia sinusal e consideram necessárias alterações específicas da
alterações da condutibilidade. É necessário efetu- posologia habitual de venlafaxina. Contudo, re-
ar uma monitorização cuidadosa em doentes com comenda-se precaução no tratamento dos idosos
hipertiroidismo ou que estão a ser tratados com (por exemplo, devido à possibilidade de compro-
70 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
(clinicamente importante) e na rapidez de absorção (ra- primeiro dá um metabolito hepatotóxico que terá de
ramente importante na clínica). Contudo, a rapidez na se conjugar com o glutatião para ser eliminado. Se não
absorção é importante para o início de ação de fármacos houver glutatião suficiente, por consumo excessivo de
sintomáticos ou “abortivos” das crises de enxaqueca e álcool ou de medicamentos que também necessitem de
poderão surgir níveis subterapêuticos no plasma de anal- glutatião, pode surgir uma hepatite iatrogénica.
gésicos ou triptanos, com redução do Cmax, induzidos No que respeita à CYP2D6, é responsável pela meta-
pelos alimentos ou por anticolinérgicos. bolização de 25% de todos os fármacos, tem 62 alelos
distintos, 22 dos quais responsáveis pelo fenótipo me-
Os mecanismos a nível da distribuição incluem: tabolizador lento, sendo 35% da população portadora
competição para as proteínas de ligação no plasma, de, pelo menos, 1 alelo 2D6 disfuncional. Alguns dos
deslocamento dos locais de ligação nos tecidos, subtratos para a CYP2D6 são os antiarrítmicos (ex: fle-
alterações nas barreiras locais nos tecidos (eg, ini- cainida, propafenona, lidocaina), os antipsicóticos (ex:
bição da P-glicoproteína na barreira hemato-ence- haloperidol, risperidona), o tamoxifeno e, com particu-
fálica), lar interesse na terapêutica preventiva da enxaqueca e
alteração na barreira hemato-encefálica (eg, por al- das tipo tensão os antidepressivos (eg, fluoxetina, pa-
gumas drogas, como as anfetaminas). roxetina, venlafaxina, ADT) e na prevenção da enxa-
queca os bloqueadores β (eg, carvedilol, metoprolol).
A competição para as proteínas plasmáticas pode au- Os analgésicos opióides (ex: tramadol, codeina), usados
mentar a forma livre no plasma (e, consequentemente, muitas vezes no tratamento sintomático, também são
o efeito) do agente deslocado; o aumento será transitó- substratos desta isoenzima, bem como a morfina. Ha-
rio devido ao aumento compensador na metabolização/ vendo inibição desta isoforma enzimática por fármacos
eliminação do fármaco na forma livre, o que significa que ou outros agentes, aumentará a concentração do fárma-
a quantidade total no plasma, medida pela AUC, dimi- co metabolizado, podendo surgir um evento adverso.
nui. Na terapêutica das cefaleias pode acontecer uma in- Por outro lado, se for um pró-fármaco que necessite da
teração grave entre anti-inflamatórios não esteroides e a CYP2D6 para se transformar no metabolito ativo, a sua
varfarina ou as sulfonilureias, por exemplo, com risco de menor expressão ou inibição pode conduzir a ineficácia
hemorragia e hipoglicémia, respetivamente. do pró-fármaco. Um exemplo desta situação é a codeí-
Por outro lado, o deslocamento dos locais de ligação na que tem de ser metabolizada pela CYP2D6 a morfina,
nos tecidos aumenta transitoriamente a concentração a qual evidencia então o respetivo efeito analgésico. De
sanguínea do fármaco deslocado. notar que se houver duplicação do gene CYP2D6 poderá
Todavia, a maioria das interações farmacológicas sur- surgir intoxicação com a codeína.
gem a nível da metabolização, em fase I, por redução, No que respeita à CYP3A4, representa 30% do total
hidrólise e, principalmente, oxidação, podendo esta de isoenzimas do sistema CYP450, está localizada no fíga-
última ser independente e dependente do sistema das do, intestino e rim, tem uma expressão duas vezes maior
CYPs, que constituem a maioria das enzimas para oxi- nas mulheres que nos homens. Metaboliza até 50% de
dação, sendo os polimorfismos mais importantes os que todos os fármacos, incluindo várias classes de fármacos
ocorrem nos genes codificadores da CYP2C9, CYP2C19, importantes na prática clínica, sendo importante para a
e principalmente da CYP2D6 e CYP3A4/5/7. A metabo- absorção, metabolismo sistémico e efeito de primeira
lização por fase II é por conjugação com o ácido glu- passagem. Estão identificados mais de 30 SNP.
curónico, com sulfato, acetato, alguns aminoácidos,... Alguns dos substratos da CYP3A4 são antifúngicos
A sequência de metabolização é habitualmente fase (por exemplo, fluconazol, itraconazol, cetoconazol), an-
I e depois fase II, mas pode ser apenas por fase II ou tihistaminicos, alfentanil, imunosupressores (por exem-
por fase I, ou nem sequer haver metabolização; a me- plo, ciclosporina, tacrolimus), estatinas (eg, sinvastatina),
tabolização por fase II e depois por fase I é rara, sendo e fármacos importantes no tratamento das cefaleias, tais
o maior exemplo a acetilação da isoniazida e depois a como bloqueadores dos canais de Ca++ (por exemplo,
conjugação do seu metabolito. Um exemplo de fase I verapamil, diltiazem, felodipina, nifedipina), corticoste-
e depois fase II é a metabolização do paracetamol, que roides, anticonvulsivantes (eg, carbamazepina) e antide-
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Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
ína e paracetamol, no controlo da dor; bloquea- nimesulida e valproato, quanto à agressão hepá-
dores beta e verapamilo, como preventivos da tica). Mais alguns exemplos estão descritos na Ta-
enxaqueca mas também na depressão cardíaca; bela 10.1:
Tabela 10.1. Interações a nível farmacodinâmico, com fármacos usados no tratamentos das cefaleias
Interações a nível farmacodinâmico, com fármacos usados no tratamentos das cefaleias
No sistema nervoso central: anestésicos, álcool, ansiolíticos (benzodiazepinas)* e opiáceos*, com aumento da depressão
do SNC.
No aparelho circulatório: anti-hipertensores usados em simultâneo (bloqueadores beta* e verapamilo*; IECAs ou ARAs e
bloqueadores beta*), com aumento do efeito antihipertensor ou, inclusivamente, com hipotensão arterial.
No sistema renal e endócrino: insulina e bloqueadores beta* (mascaram os sintomas da hipoglicémia que podem surgir
com a insulina).
Na terapêutica modificadora da hemostase: antiagregantes plaquetares (eg, AAS ou clopidogrel) e alguns AINEs (eg,
naproxeno*), que diminuem a agregação plaquetar.
Na terapêutica anti-neoplásica (ex: fármacos com mecanismos distintos em sítios diferentes do ciclo celular e
verapamilo* (inibidor da bomba de extrusão P-glicoproteína (gene MDR-1)).
Na terapêutica anti-infeciosa: amoxicilina/clavulanato e nimesulida*, com aumento da hepatotoxicidade.
Na depressão cardíaca, como, por exemplo, nas arritmias cardíacas: bloqueadores beta* com verapamilo* ou diltiazem,
que aumentam a depressão cardíaca e podem causar bradiarritmias.
No tratamento das psicoses: neurolépticos* com metoclopramida*, pelo aumento do bloqueio dos recetores D2 com
desencadeamento de acatisia e/ou duma síndroma extrapiramidal ou galactorreia.
O * assinala o fármaco usado na terapêutica das cefaleias
2. Fármacos com efeitos opostos podem reduzir a venlafaxina), IMAO (eg, moclobemida), tramadol, suma-
resposta de um ou de ambos os fármacos, como, triptano, ondansetrom, MDMA, Erva de S. João ou hipe-
por exemplo, o uso de gastrocinéticos (metoclo- ricão, LSD e outros. O quadro clínico caracteriza-se por
pramida ou domeridona) com anticolinérgicos hipertensão arterial, hiperreflexia, tremor, clónus (o si-
(por exemplo, butilescopolamina). nal mais típico), hipertermia (é uma das síndromes com
Por outro lado, o uso combinado de 2 ou mais fár- hipertermia muito elevada), diarreia, midríase, agitação,
macos, cada um com efeitos tóxicos no mesmo órgão, convulsões e, eventualmente, coma dentro de horas e
pode aumentar a probabilidade de agressão (toxicidade morte. A terapêutica faz-se com a suspensão dos fárma-
combinada), como, por exemplo, o uso concorrente de cos suspeitos e com benzodiazepinas, clorpromazina e
2 fármacos nefrotóxicos que podem produzir lesão re-
com a manutenção dos sinais vitais.
nal mesmo que a dose de ambos isoladamente seja insu-
Finalmente, no quadro das interações as associações
ficiente para causar danos. Acresce que alguns fármacos
fixas merecem-nos uma atenção mais detalhada. A sua
podem potenciar a toxicidade de outro, mesmo que o
autorização de introdução no mercado (AIM) deveria
agente potenciador não tenha efeito tóxico intrínseco
obedecer à guideline EMA/CHMP/158268/2017, que
naquele órgão.
estabelece que uma associação fixa só tem racionalidade
A nível farmacodinâmico a síndroma serotoninérgico
farmacológica / terapêutica quando pela associação há
merece um maior destaque, já que é com muita fre-
aumento da eficácia, da segurança ou da conveniência
quência subdiagnosticado. O excesso de 5-HT na fenda
sináptica poderá causar esta síndroma grave e poten- (facilidade de administração, melhoria da adesão à te-
cialmente fatal. É precipitado pela administração de um rapêutica). Achamos que se deve acrescentar o custo.
fármaco serotoninérgico ou, principalmente, pela asso- Assim, haverá melhor relação benefício / risco e deveria
ciação de fármacos modificadores do sistema da 5-HT haver também uma melhor relação de custo / benefí-
(inibidores da recaptação da 5-HT ou seja, inibidores cio. Uma associação fixa que tenha menor custo, mas à
seletivos da recaptação neuronal de 5-HT, os SSRIs custa de menor eficácia e/ou segurança não é admissível
,como a paroxetina ou a sertralina; ou da inibição da ou justificável (aliás, as regras da Farmacoeconomia do
recaptação de 5-HT e noradrenalina, os NaSRI, como a Infarmed não permite a sua comparticipação).
74 Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Na terapêutica das cefaleias podem surgir as situa- única vantagem terá a melhoria da adesão à terapêutica,
ções seguintes: tendo a enorme desvantagem das doses fixas.
1. Adição do fármaco sintomático ou preventivo das
cefaleias a uma associação fixa já usada para outra Conclusão
indicação clínica (a maioria é para o tratamento da
As interações são frequentes entre fármacos, ou
hipertensão arterial mas existem para muitas ou-
entre fármacos e outros agentes ou alimentos, como o
tras indicações clínicas – diabetes mellitus do tipo
tabaco e o etanol (indução enzimática). Por prudência,
2, insuficiência cardíaca, etc).
2. Uso da associação fixa para tratamento das cefa- prescrever o menos possível fármacos em associação,
leias, como, por exemplo, a codeína com parace- exceto se esse é o objetivo, o que acontece com fre-
tamol, o AAS com o paracetamol, um analgésico quência na terapêutica das cefaleias, como, por exem-
com vitamina C, um analgésico com cafeína, um plo, no tratamento das crises de enxaqueca (eg, parace-
AINE com protetor gástrico… De referir que al- tamol associado à codeína) ou na prevenção das crises
gumas destas associações fixas são questionáveis. de enxaqueca (eg, associação de antidepressores com
Por exemplo, que vantagem haverá na associação bloqueadores beta).
de dois analgésicos em dose baixa se podemos Deve-se ter presente que as interações surgem a
ter a mesma eficácia com uma dose mais eleva-
nível farmacocinético, principalmente a nível da meta-
da de um dos analgésicos? Também a vitamina C
bolização, nomeadamente a nível das CYPs, e a nível far-
não acrescenta nada à eficácia dos analgésicos e a
macodinâmico. Também podem surgir interações entre
cafeína só potencia os analgésicos quando adminis-
trada em dose elevada e não na dose da associação fármacos usados na enxaqueca e fármacos usados nou-
fixa. Por outro lado, os protetores gástricos só de- tras situações clínicas a nível da distribuição, por exem-
veriam ser usados em indivíduos de risco. plo competindo na ligação às proteínas plasmáticas, e a
Poderá haver vantagem na associação fixa (eventu- nível da absorção, aumentando-a ou diminuindo-a, atra-
almente maior eficácia, menos tomas diárias, dose indi- vés de fármacos que aumentem o esvaziamento gástri-
vidual mais baixa de um ou dos dois fármacos da asso- co, como a metoclopramida ou a domperidona, ou de
ciação, eventualmente resultados mais rápidos, melhor fármacos que diminuam esse esvaziamento, como, por
tolerabilidade, e, principalmente, maior conveniência ou
exemplo, os parassimpaticolíticos ou anticolinérgicos.
melhor adesão). Nalguns casos o custo da associação
Evidentemente que podem surgir interações também a
fixa é menor que a soma do custo dos componentes
nível da excreção, que, contudo, são muito menos fre-
isolados. Porém, também existem desvantagens, como,
por exemplo, a perda da flexibilidade na escolha da quentes.
dose, a dificuldade na titulação da dose, o aumento po- A nível farmacodinâmico, podem surgir interações a
tencial de reações adversas, com imputação mais difícil nível de recetores, por exemplo pela estimulação de re-
(imputado aos dois fármacos?) e a maior possibilidade cetores 5-HT1B pelo uso simultâneo (ou sem respeitar
de interações. um intervalo adequado entre as doses) de triptanos, ou
Terá de ser o médico prescritor a decidir tendo em de vias de sinalização, ou através de ações noutros alvos
conta as vantagens e desvantagens das associações fixas. terapêuticos, que conduzam a redução ou aumento do
Uma formulação parecida às associações fixas é a
efeito terapêutico.
“polypill”, que é a associação de vários fármacos com
Na Tabela 10.2 exemplificam-se de modo rápido al-
indicações clínicas diferentes na mesma forma farma-
gumas das interações que podem ocorrer.
cêutica, embora contribuindo para um efeito clínico de
As reações adversas causadas pelas interações farma-
redução do risco global – por exemplo, a associação de
atorvastatina (para reduzir o colesterol-LDL), de AAS cológicas surgem com frequência (ex., entre depresso-
(como antiagregante plaquetar) e de ramipril (como an- res cardíacos como os bloqueadores beta e o verapa-
tihipertensor arterial). Por enquanto, não temos nenhu- milo ou o diltiazem), havendo alguma dificuldade na sua
ma “polypill” para a terapêutica das cefaleias, que como imputação.
Recomendações Terapêuticas para Cefaleias da Sociedade Portuguesa de Cefaleias – 2021 75
Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Absorção
Distribuição
Metabolização
A nível farmacodinâmico
Ansiolíticos Etanol Maior depressão do SNC
(benzodiazepinas)
Bloqueadores beta Ergotamina Vasoconstrição excessiva
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Sinapse ® | Volume 21 | Supplement 1 | May 2021
Discussion referências bibliográficas e podem conter uma figura ou tabela. Não têm
This should explore the significance of the results of the work, not repeat resumo.
them. A combined Results and Discussion section is often appropriate. Avoid
extensive citations and discussion of published literature.
Imagens em Neurologia
Conclusion Esta seção destina-se à publicação de imagens clínicas, radiológicas, his-
The main conclusions of the study may be presented in a short Conclusions tológicas e cirúrgicas.
section, which may stand alone or form a subsection of a Discussion or Results Uma imagem visual de uma observação neurológica interessante e úni-
and Discussion section. ca, com uma breve descrição do problema clínico e dos achados neuroló-
gicos do paciente.
Artigos de Revisão Narrativa
O título não deve ter mais de oito palavras. Os autores devem ser no
Os artigos de revisão são artigos abrangentes que sintetizam ideias pré-
-existentes e sugerem novas. Abrangem áreas amplas. máximo quatro. As imagens devem ser de alta qualidade e valor educativo.
O foco deve ser uma actualização sobre a compreensão actual da etio- São permitidas até 4 figuras. As legendas devem ser breves e informativas.
logia ou fisiopatologia das doenças, considerações diagnósticas e terapêutica. Setas ou outros símbolos devem ser incluídos conforme necessário para fa-
Essas revisões devem abordar uma questão ou questão específica rele- cilitar a compreensão das imagens. O texto não deve exceder 500 palavras,
vante para a prática clínica. Embora geralmente por convite do Editor-Che- até cinco referências bibliográficas, e deve incluir uma breve história clínica
fe, a SINAPSE aceita ocasionalmente artigos de revisão não solicitados sobre
e dados relevantes do exame físico, testes laboratoriais e progressão clínica,
assuntos importantes ou sobre avanços recentes. Antes de submeter uma
revisão, pedimos que envie ao Editor-Chefe um breve esboço (não mais de conforme apropriado. Não têm resumo. A permissão do doente (parente
500 palavras) indicando a importância do assunto, e por que está qualificado mais próximo, tutor legal) pode ser necessária.
para escrevê-lo. Um convite para submissão não garante aceitação. Nesta secção também serão aceites artigos versando tópicos neuroló-
Os artigos de revisão não devem exceder 4000 palavras, até 6 tabelas ou gicos abordados em obras de cariz artístico (incluindo pintura, escultura,
figuras e até 100 referências. Um resumo não estruturado com o máximo teatro e cinema) ou relacionados com os artistas que as criaram.
de 350 palavras.
Perspectiva
Revisões Sistemáticas e Meta-Análises
As revisões sistemáticas podem ou não utilizar métodos estatísticos Este tipo de manuscrito é submetido a convite do Conselho Editorial,
(meta-análises) para analisar e resumir os resultados dos estudos incluídos. sendo no entanto também sujeitas a consideração editorial as candidaturas
As Revisões Sistemáticas podem ser apresentadas no formato Introdu- espontâneas para publicação. Pode abranger uma ampla diversidade de tó-
ção, Métodos, Resultados, Discussão. O assunto deve ser claramente defini- picos importantes em biomedicina, saúde pública, investigação, descoberta,
do. O objectivo de uma revisão sistemática deve ser produzir uma conclusão prevenção, ética, política de saúde ou lei de saúde. Um Autor que deseje
baseada em evidências. Nos Métodos deve ser fornecida uma indicação cla-
propor um manuscrito nesta seção deverá enviar um resumo ao Editor-
ra da estratégia de pesquisa da literatura, extracção de dados, classificação
das evidências e análise. Deve ser seguida a normativa PRISMA (http://www. -Chefe, incluindo o título e a lista de autores para avaliação. O texto não
prisma-statement.org/) e realizado o registo do protocolo na PROSPERO deve exceder 1200 palavras, até 10 referências, e até 2 tabelas e 2 figuras.
(https://www.crd.york.ac.uk/prospero). Não têm resumo.
O texto não deverá exceder 4000 palavras, excluindo um resumo estru-
turado (máximo de 350 palavras). Não poderá incluir mais de 100 referên- Guidelines
cias, e até 6 tabelas ou figuras.
As recomendações para a prática clínica não devem exceder 4000 pala-
Caso Clínico vras, até 6 tabelas ou figuras e até 100 referências. Resumo até 350 palavras.
O relato de Casos Clínicos deve incluir as seguintes seções: Introdução, Este tipo de artigo pode ser submetido por grupos de trabalho organizados
Caso Clínico e Discussão. no âmbito de encontros ou associações científicas, ou grupos de autores
O texto não poderá exceder 2000 palavras, e não poderá exceder as com trabalho especializado realizado no tópico em causa.
25 referências bibliográficas. Deve incluir um resumo não estruturado que
não exceda 150 palavras.
Referências
Deve ser seguida a normativa CARE (http://www.care-statement.org/).
Tendo em conta a sua natureza, os relatos de casos clínicos devem ter I. Citação no texto
um número parcimonioso de autores - excepcionalmente mais de 5. No Certifique-se de que todas as referências citadas no texto também estão
caso de serem mais de 5 co-autores a carta de submissão deve indicar clara presentes na lista de referências (e vice-versa). As referências devem ser
e detalhadamente qual o papel de cada um no manuscrito, de modo a jus- listadas usando algarismos árabes pela ordem em que são citados no texto.
tificar a sua inclusão na linha de autoria à luz dos critérios do ICMJE (http:// As referências a comunicações pessoais e dados não publicados devem
www.icmje.org/). A permissão do doente (parente mais próximo, tutor legal)
ser feitas diretamente no texto e não devem ser numeradas. As comuni-
pode ser necessária.
Se o doente(s) descrito nestes manuscritos é identificável, o formulário cações pessoais devem estar devidamente autorizadas pelo emissor das
de consentimento do doente deve ser preenchido e assinado pelo doente(s) comunicações, assumindo os autores a responsabilidade pela autorização.
(ou tutor/representante legal) e submetido com o manuscrito. Dificultar a A citação de uma referência como “in press” implica que o item tenha sido
identificação do doente através da omissão de dados cientificamente irrele- aceite para publicação. Os nomes das revistas devem ser abreviados de
vantes é aceitável, mas a alteração desses dados não o é. acordo com o estilo da Medline.
Editoriais
Os Editoriais são da responsabilidade do grupo editorial, solicitados por As referências a artigos publicados em revistas devem incluir o nome do
convite do Editor-Chefe, e constituirão comentários sobre tópicos actuais primeiro autor seguido dos nomes dos restantes autores (num máximo de
ou sobre artigos publicados na revista. Não devem exceder as 1200 pala- 6, a partir daí deve ser utilizado et al.), o título do artigo, o nome da revista
vras, com um máximo de 20 referências bibliográficas e podem conter uma e o ano de publicação, volume e páginas, e DOI.
tabela e uma figura. Não têm resumo. Certifique-se que os dados fornecidos nas referências estão corretos.
Ao copiar referências, tenha cuidado porque já podem conter erros. A lista
Cartas ao Editor
As cartas ao Editor consistem em comentários críticos sobre um arti- de referências deve ser adicionada na secção designada para tal, nunca como
go publicado na revista ou uma nota curta sobre um determinado tópico uma nota de rodapé. Códigos específicos do programa de gestão de refe-
ou caso clínico. As Cartas ao Editor não devem exceder 600 palavras e 10 rências não são permitidos.
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Max. Tables/
Article type Abstract Keywords Main text structure References
words figures
Original Article Max. 350 words; struc- Up to 6 Introduction; Methods; Re- 4000 Total up Up to 60
tured (Introduction and Portuguese sults; Discussion; Conclusion; to 6
Objectives, Methods, and English Acknowledgments, if any; Refer-
Results and Conclusion) ences; and figure legends, if any
Portuguese and English
Review Article Max. 350 words; un- Up to 6 Introduction; thematic sections 4000 Total up Up to 100
structured Portuguese Portuguese at the discretion of the authors; to 6
and English and English Conclusion; Acknowledgments,
if any; References; and figure
legends, if any
Systematic Review Max. 350 words; struc- Up to 6 PRISMA 4000 Total up Up to 100
tured Portuguese to 6
Portuguese and English and English
Case Report Max. 150 words; un- Up to 6 Introduction; Case report; Dis- 2000 Total up Up to 25
structured Portuguese Portuguese cussion; Conclusion (optional); to 4
and English and English References; and figure legends,
if any
Images in Neurology None Up to 6 Unstructured 500 Total up Up to 5
Portuguese to 4
and English
Editorial None None Unstructured 1500 Total up Up to 20
to 2
Letter to the Editor None Up to 6 Unstructured 600 Total up Up to 10
Portuguese to 1
and English
Current Perspectives None Up to 6 Unstructured 1200 Total up Up to 10
Portuguese to 2
and English
Guidelines Max. 350 words; un- Up to 6 Introduction; thematic sections 4000 Total up Up to 100
structured Portuguese Portuguese at the discretion of the authors; to 6
and English and English Conclusion(s); Acknowledg-
ments, if any; References; and
figure legends, if any
II. Formato
Uma descrição detalhada dos formatos de diferentes tipos de referência Referências Web:
pode ser consultada na “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to No mínimo, o URL completo deve ser dado e a data em que o docu-
Biomedical Journals” (http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). mento foi consultado. Qualquer outra informação, se conhecida (nomes de
Liste todos os autores se houver seis ou menos. Et al deve ser adicionado se autor, datas, referência a uma publicação de origem, etc.), também deve
houver mais de seis autores. Título do artigo, nome da revista, ano, volume ser dada.
e páginas. Centers for Medicare & Medicaid Services. CMS proposals to imple-
ment certain disclosure provisions of the Affordable Care Act. [Acces-
III. Estilo de referência sed January 30, 2018] Available from: http://www.cms.gov/apps/media/
Texto: Indicar as referências no texto por número (s) em expoente. Os au- press/factsheet.asp?Counter=4221.
tores podem ser referidos, mas o número de referência deve ser sempre dado.
Lista: Ordene as referências na lista pela ordem em que aparecem no texto Notas de Rodapé
Exemplos: As notas de rodapé devem ser evitadas. Quando imprescindíveis, devem
Referência de artigo: ser numerados consecutivamente e aparecer no final do texto.
1.
- Com menos de 6 autores Agradecimentos (facultativo)
Charvin D, Medori R, Hauser RA, Rascol O. Therapeutic strategies for Tem como objectivo agradecer a todos os que contribuíram para o es-
Parkinson disease: beyond dopaminergic drugs. Nat Rev Drug Discov. tudo mas que não têm peso de autoria. Nesta secção é possível agradecer a
2018;17:804-22. doi: 10.1038/nrd.2018.136. todas as fontes de apoio, quer financeiro, quer tecnológico ou de consulta-
- Com mais de 6 autores doria, assim como contribuições individuais.
Zesiewicz T, Salemi JL, Perlman S, Sullivan KL, Shaw JD, Huang Y, et al.
Double-blind, randomized and controlled trial of EPI-743 in Friedreich’s Abreviaturas
ataxia. Neurodegener Dis Manag. 20188:233-242. doi: 10.2217/nmt- Não use abreviaturas ou acrónimos no título e no resumo e limite o seu
2018-0013. uso no texto. Abreviaturas não consagradas devem ser definidas na primeira
Referência de livro: utilização, por extenso, logo seguido pela abreviatura entre parênteses. A
2. Battler A. Stem Cell and Gene-Based Therapy: Frontiers in Regenera- menos que a sigla seja uma unidade padrão de medição. Uso excessivo e
tive Medicine. Berlin: Springer; 2006. desnecessário de acrónimos e abreviaturas deve ser evitado.
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decimais. As temperaturas devem ser dadas em graus Celsius (ºC) e a pres- • Forneça as legendas das ilustrações separadamente.
são arterial em milímetros de mercúrio (mmHg), e a hemoglobina em g/dL. •D imensione as ilustrações próximas das dimensões desejadas da ver-
Todas as medições hematológicas ou bioquímicas serão referidas no sistema são publicada.
métrico de acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI). • Envie cada ilustração em ficheiro separado.
Nomes de Medicamentos e Dispositivos Médicos A inclusão de figuras e/ou tabelas já publicadas, implica a autorização do
Identifique com precisão todos os medicamentos e produtos pela de- detentor de copyright (autor ou editor).
nominação comum internacional (DCI). Não é recomendável a utilização A submissão deve ser feita separadamente do texto, conforme as ins-
de nomes comerciais de fármacos (marca registrada), mas quando a uti- truções da plataforma.
lização for imperativa, o nome do produto deverá vir após o nome DCI, Os ficheiros das figuras devem ser fornecidos em alta resolução, 800 dpi
entre parênteses, em minúscula, seguido do símbolo que caracteriza marca mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias.
registada, em sobrescrito (®). O mesmo princípio é aplicável aos dispositi- A publicação de ilustrações a cores é gratuita, reservando-se a SINAPSE
vos médicos. de publicar uma versão a preto e branco na versão impressa da revista.
Material gráfico deve ser entregue em um dos seguintes formatos:
Nomes de Genes, Símbolos e Números de Acesso JPEG (. Jpg)
Aos genes e estruturas relacionadas devem ser atribuídos os nomes e Portable Document Format (. Pdf)
símbolos oficiais fornecidos pelo National Center for Biotechnology Informa- PowerPoint (.ppt)*
tion (NCBI) ou o HUGO Gene Nomenclature Committee. Antes da submissão TIFF (. Tif)
de um manuscrito relatando grandes conjuntos de dados genómicos (por Excel*
exemplo, sequências de proteínas ou DNA), os conjuntos de dados devem
ser depositados em um banco de dados disponível publicamente, como o * O material gráfico submetido em formato Powerpoint (.ppt) ou Excel
GenBank do NCBI, e um número de acesso completo (e número da versão, (.xls) deve ser também submetido em formato Portable Document
se apropriado) deve ser fornecido na seção Métodos.
Format (.pdf) dada a possível desformatação quando abertos em com-
putadores e programas sob diferentes definições.
Tabelas e Figuras
As Tabelas/Figuras devem ser numerados na ordem em que são citadas
Permissão para publicação: No caso de publicação de tabelas de li-
no texto e assinaladas em numeração árabe e com identificação.
vros ou revistas os autores são responsáveis por obter permissão, junto dos
Cada Figura e Tabela incluídas no trabalho têm de ser referidas no texto:
autores dos trabalhos de onde forem reproduzidos, para a referida publica-
“Uma resposta imunitária anormal pode estar na origem dos sintomas da
ção, e terão de a apresentar na submissão.
doença (Fig. 2)”; “Esta associa-se a outras duas lesões (Tabela 1)”.
Figura: Quando referida no texto é abreviada para Fig., enquanto Tabela
Ficheiros Multimédia
não é abreviada. Nas legendas ambas as palavras são escritas por extenso.
Os ficheiros multimédia devem ser enviados em ficheiro separado com
Cada Tabela e Figura deve ser acompanhada da respectiva legenda, su-
o manuscrito. O material multimédia deve seguir os padrões de qualidade
cinta e clara. As Legendas devem ser auto-explicativas (sem necessidade de
de produção para publicação sem a necessidade de qualquer modificação
recorrer ao texto).
Em relação aos gráficos deve ser explícito se a informação inclui valores ou edição. Os ficheiros aceitáveis são: formatos MPEG, AVI ou QuickTime.
individuais, médias ou medianas, se há representação do desvio padrão e
intervalos de confiança e o tamanho da amostra (n). Anexos/ Apêndices
As fotografias deverão incluir identificadores de aspectos cientificamen- Quando necessário, os anexos devem ser utilizados para apresentar in-
te relevantes (setas e asteriscos). Poderão ser publicadas fotografias a cores, quéritos longos ou detalhados, descrições de extensos cálculos matemáticos
desde que consideradas essenciais. e / ou listas de itens. Devem ser colocados, se necessário, com legendas.
Cada Tabela deve ser utilizada para mostrar resultados, apresentando Anexos longos, tais como algoritmos, pesquisas e protocolos, serão publi-
listas de dados individuais ou sumariando os mesmos, não devendo no en- cados apenas online; o URL será fornecido no artigo impresso onde o anexo
tanto constituir duplicação dos resultados descritos no texto. Devem ser é citado.
acompanhadas de um título curto mas claro e elucidativo. As unidades de Se houver mais de um apêndice, eles devem ser identificados como A, B,
medida usadas devem ser indicadas (em parêntesis abaixo do nome que etc. As fórmulas e equações em apêndices devem ser numeradas separada-
encabeça cada categoria de valores) e os números expressos devem ser mente: Eq. (A.1), Eq. (A.2), etc .; Em apêndice posterior, a Eq. (B.1) e assim
reduzidos às casas decimais com significado clínico. por diante. Da mesma forma para tabelas e figuras: Tabela A.1; FIG. A.1, etc.
Para as notas explicativas nas Tabelas devem ser utilizados os seguintes
símbolos e sequência: *, †, ‡, §, ||, ¶, **, ††, ‡‡ . Estilo
Se fotografias de doentes forem usadas, estes não devem ser identificá- SINAPSE segue AMA Manual Style, 10ª edição (http://www.amama-
veis ou as fotografias devem ser acompanhadas de autorização por escrito nualofstyle.com) e ICMJE Recommendations for the Conduct, Reporting,
para usá-las. Editing, and Publication of Scholarly Work in Medical Journals (http://icmje.
As ilustrações coloridas são reproduzidas gratuitamente. org/recommendations)
Princípios gerais:
• Numere as ilustrações de acordo com a sua sequência no texto. Última revisão 11 Junho 2019
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Políticas Editoriais
Objetivo e Âmbito • Observational studies (STROBE - http://www.strobe-statement.org/)
A SINAPSE é uma revista médica, propriedade da Sociedade Portuguesa • Case reports (CARE - http://www.care-statement.org/)
de Neurologia (SPN), publicada em edição clássica e em suporte electrónico. •Q ualitative research (COREQ - http://intqhc.oxfordjournals.org/con-
tent/19/6/349.long)
A SINAPSE é orgão oficial das seguintes organizações científicas: •D iagnostic/prognostic studies (STARD - http://www.stard-statement.
• Sociedade Portuguesa de Neurologia org/)
• Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia •E conomic evaluations (CHEERS - http://www.biomedcentral.com/1741-
• Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral 7015/11/80)
• Sociedade Portuguesa de Cefaleias • Pre-clinical animal studies (ARRIVE - http://www.nc3rs.org.uk/arrive-
• Sociedade Portuguesa de Doenças do Movimento -guidelines)
• Sociedade Portuguesa de Estudos de Doenças Neuromusculares
• Sociedade Portuguesa de Neuropatologia * Os autores de revisões sistemáticas também devem fornecer um link
• Sociedade Portuguesa de Neuropediatria para um ficheiro adicional da secção ‘métodos’, que reproduz todos os de-
• Liga Portuguesa Contra a Epilepsia talhes da estratégia de pesquisa.
• Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demências
• Grupo de Estudos de Esclerose Múltipla Os critérios de aceitação para todos os trabalhos são a qualidade e
• Associação Portuguesa de Electrofisiologia e Neurofisiologia Clínica originalidade da investigação e seu significado para os leitores da SINAPSE.
• Conselho Português para o Cérebro Excepto onde indicado de outra forma, os manuscritos são submetidos a
peer review cego por dois revisores anónimos, pelo menos. A aceitação ou
A SINAPSE é uma revista internacional com revisão por pares, para rejeição final cabe ao Editor-Chefe, que se reserva o direito de recusar qual-
médicos que tratam pessoas com doenças neurológicas e para outros pro- quer material para publicação.
fissionais de saúde interessados na estrutura e função do sistema nervoso Os manuscritos devem ser escritos em estilo claro, conciso, directo,
normal e doente. O público-alvo da revista inclui médicos, enfermeiros, de modo que sejam inteligíveis para o leitor. Quando as contribuições são
nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos, fisioterapeutas, epidemiologistas, consideradas adequadas para publicação com base em conteúdo científico,
investigadores clínicos, outros especialistas envolvidos nos cuidados de saú- o Editor-Chefe reserva-se o direito de modificar os textos para eliminar a
de (incluindo a área da gestão e administração) e cientistas das áreas básicas ambiguidade e a repetição, e melhorar a comunicação entre o autor e o lei-
e de translação. tor. Se forem necessárias alterações extensivas, o manuscrito será devolvido
ao autor para revisão.
A SINAPSE publica artigos em português e/ou inglês. A SINAPSE é pu- Os manuscritos que não cumpram as instruções para autores podem ser
blicada continuamente desde 2005. devolvidos para modificação antes de serem revistos.
É uma revista com arbitragem científica (peer review) que publica em
acesso aberto, com especial ênfase na área das Neurociências, mas não só. Critérios de Autoria e Formulário de Autoria
Como referido nos Requirements do ICMJE, a autoria requer uma con-
Liberdade Editorial tribuição substancial para o manuscrito, sendo necessário especificar, em
A SINAPSE adopta a definição de liberdade editorial do International carta de apresentação, o contributo de cada autor para o trabalho.
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) descrita pela World Association
of Medical Editors, que afirma que o Editor-Chefe assume completa auto- Declaração das contribuições individuais assinada por cada autor
ridade sobre o conteúdo editorial da revista. A Sociedade Portuguesa de Todos aqueles designados como autores devem cumprir os quatro cri-
Neurologia, enquanto proprietária da SINAPSE, não interfere no processo térios para autoria, em baixo indicados e todos aqueles que cumprem os
de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, ten- quatro critérios devem ser identificados como autores. Os colaboradores
do o Editor-Chefe total independência editorial. que não cumpram os quatro critérios para autoria mas que tenham contri-
buído para o estudo ou manuscrito, deverão ser reconhecidos na secção de
Visão Geral Agradecimentos, especificando o seu contributo.
A SINAPSE rege-se de acordo com as normas de edição biomédicas ela- Cada manuscrito deve ter um “autor correspondente” conveniente-
boradas pelo ICMJE, disponíveis em http://www.icmje.org/, e do Committee on mente identificado desde a fase inicial de submissão do artigo. Porém, todos
Publication Ethics (COPE), disponíveis em https://publicationethics.org/. os autores devem ter participado significativamente no trabalho para tomar
A política editorial da SINAPSE incorpora no processo de revisão e pu- responsabilidade pública sobre o conteúdo e o crédito da autoria.
blicação as Recomendações de Política Editorial (Editorial Policy Statements) O autor correspondente deverá obter permissão por escrito de todos
emitidas pelo Council of Science Editors, disponíveis em https://www.coun- aqueles que forem mencionados nos agradecimentos.
cilscienceeditors.org/resource-library/editorial-policies/white-paper-on-publica-
tion-ethics/, que cobre responsabilidades e direitos dos editores das revistas Autores são aqueles que:
com arbitragem científica. 1) Têm uma contribuição intelectual substancial, direta, no desenho e
Estas normas estão em conformidade com as Recommendations for the Con- elaboração do artigo,
duct, Reporting, Editing and Publication of Scholarly Work in Medical Journals (ICMJE 2) Participam na análise e interpretação dos dados;
Recommendations), disponíveis em: http://www.icmje.org/recommendations/ 3) Participam na redação do manuscrito, revisão de versões e revisão
crítica do conteúdo; aprovação da versão final;
Orientação para Apresentação de Estudos 4) Concordam que são responsáveis pela exatidão e integridade de todo
Os textos devem ser preparados de acordo com as orientações do o trabalho.
ICMJE Recommendations for the Conduct, Reporting, Editing and Publication
of Scholarly Work in Medical Journals disponíveis em http://www.icmje.org/re- Além de ser responsável pelas partes do trabalho que tenha feito, um
commendations/ autor deve ser capaz de identificar quais dos co-autores foram responsáveis
pelas outras partes específicas do trabalho.
A SINAPSE recomenda as linhas orientadoras para publicação da EQUA- A obtenção de financiamento, a recolha de dados ou a supervisão geral
TOR network (http://www.equator-network.org). As listas de verificação estão do grupo de trabalho, por si só, não justificam a autoria, mas justificam a
disponíveis para vários desenhos de estudo, incluindo: inclusão na secção “Agradecimentos”.
• Randomized controlled trials (CONSORT - http://www.consort-state- Qualquer alteração na autoria após a submissão deve ser aprovada por
ment.org/downloads) escrito por todos os autores.
• Systematic reviews and meta-analyses* (PRISMA - http://www.prisma- Não serão consentidas alterações à autoria ou à ordem dos autores após
-statement.org/) and protocols (PRISMA-P - http://www.equator-ne- aceitação do manuscrito para publicação.
twork.org/reporting-guidelines/prisma-protocols/) Se um medical writer esteve envolvido na redacção do manuscrito, é ne-
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cessária uma declaração assinada pelo autor correspondente com indicação Revisão por Pares
do nome e se houve o financiamento dessa pessoa. Esta informação deve Todos os artigos de investigação, e a maioria das outras tipologias de arti-
ser acrescentada na secção “Agradecimentos”. A revista SINAPSE exige uma gos, publicadas na SINAPSE passam por uma revisão por pares. Os revisores
declaração assinada pelo medical writer indicando em que este dá permissão são obrigados a respeitar a confidencialidade do processo de revisão pelos
para ser nomeado na secção “Agradecimentos”. pares e não revelar detalhes de um manuscrito ou sua revisão, durante ou
após o processo de revisão por pares. Se os revisores desejam envolver um
Papel do Autor Correspondente colega no processo de revisão, devem primeiro obter permissão do Editor.
O autor correspondente funcionará em nome de todos os co-autores Os critérios de aceitação para todos os trabalhos são a qualidade, clare-
como o correspondente preferencial com a equipa editorial durante o pro- za e originalidade da investigação e seu significado para nossos leitores. Os
manuscritos devem ser escritos num estilo claro, conciso, directo. O ma-
cesso de submissão e revisão.
nuscrito não pode ter sido publicado, no todo ou em parte, nem submetido
O autor correspondente é responsável, em nome de todos os co-au-
para publicação noutro lugar.
tores, pela comunicação com a SINAPSE durante a submissão, fase de peer
Todos os manuscritos enviados são inicialmente avaliados pelo Editor-
review e processo de publicação. Também é responsável por assegurar todos
-Chefe e podem ser rejeitados nesta fase, sem serem enviados para revisão
os requisitos administrativos da SINAPSE (fornecimento de detalhes de au-
por pares. A decisão de aceitação ou rejeição final recai sobre o Editor-Chefe,
toria; aprovação da comissão de ética; formulários de conflitos de interesse;
que se reserva o direito de recusar qualquer material para publicação.
consentimento informado). A SINAPSE segue uma rigorosa revisão cega por pares. A SINAPSE en-
viará os manuscritos para revisores externos seleccionados de uma base de
Consentimento dos Doentes dados pré-existente, ou convidará novos revisores para o efeito.
Os autores são responsáveis por obter o consentimento informado Todos os manuscritos que não cumpram as instruções aos autores po-
relativamente a cada indivíduo presente em fotografias, vídeos, descrições dem ser rejeitados antes de serem revistos. A aceitação final é da responsa-
detalhadas ou em exames imagiológicos, mesmo após tentativa de ocultar bilidade do Editor-Chefe.
a respectiva identidade. Nomes, iniciais ou outras formas de identificação As cartas ao Editor ou os Editorais serão avaliadas pelo Conselho Edito-
devem ser removidos das fotografias ou outras imagens. Devem ser omi- rial, mas também poderão ser solicitadas revisões externas.
tidos dados pessoais, como profissão ou residência, excepto quando sejam Na avaliação, os manuscritos podem ser:
epidemiologicamente relevantes para o trabalho. Os autores devem assegu- A) Aceite sem alterações
rar que não apresentam dados que permitam a identificação inequívoca dos B) Aceite, mas dependendo de pequenas revisões
participantes na investigação/artigo ou, caso isso não seja possível, devem C) Reavaliar após grandes alterações
obter o consentimento informado dos intervenientes. D) Rejeitado
Os estudos envolvendo doentes ou voluntários precisam de aprovação
da comissão de ética e consentimento informado dos participantes. Estes Após a receção do manuscrito, se estiver de acordo com as instruções
devem ser documentados no artigo. aos autores e cumprir a política editorial, o Editor-Chefe ou Editor Associa-
As barras “blackout” ou dispositivos similares não anonimizam doentes do por este incumbido de fazer a gestão do processo de revisão enviam o
manuscrito para pelo menos dois revisores.
em imagens clínicas: é necessário o apropriado consentimento.
Dentro de 15 dias, o revisor deve responder ao Editor-Chefe ou Editor
Associado, indicando os seus comentários sobre o manuscrito sujeito a revi-
Submissão e Publicação Duplicadas
são e sugestão de aceitação, revisão ou rejeição do trabalho. Dentro de 10
A SINAPSE não aceita material previamente publicado em forma im-
dias, o Editor-Chefe tomará uma decisão que poderá ser: aceitar o manus-
pressa ou eletrónica, ou manuscritos em consideração simultânea noutra
crito sem modificações; enviar os comentários dos revisores aos autores de
revista. acordo com o estabelecido, para que estes possam rever o artigo; rejeição.
A SINAPSE endossa as políticas do ICMJE em relação à duplicação de pu- Quando são propostas alterações ao texto inicial os autores têm 15 dias
blicações: http://www.icmje.org/recommendations/browse/publishing-and-editorial- (período que pode ser estendido a pedido dos autores) para apresentar uma
-issues/overlapping-publications.html. nova versão revista do manuscrito, incorporando os comentários editoriais
e dos revisores. Têm de responder a todas as perguntas e enviar também
Política de Plágio uma versão revista do manuscrito, com as emendas inseridas destacadas
Seja intencional ou não, o plágio é uma violação grave. Definimos plágio com uma cor diferente.
como reprodução de outro trabalho com pelo menos 25% de similaridade O Editor-Chefe tem 10 dias para tomar a decisão sobre a nova versão:
e sem citação. Se for encontrada evidência de plágio antes ou depois da rejeitar ou aceitar a nova versão, ou encaminhá-la para uma nova apreciação
aceitação do artigo ou após a sua publicação, será dada ao autor uma opor- por um ou mais revisores.
tunidade de refutação. Se os argumentos não forem considerados satisfató- Qualquer decisão do Editor-Chefe será sempre comunicada ao Autor
rios, o manuscrito será retratado e o autor sancionado pela publicação de Correspondente.
trabalhos por um período a ser determinado pelo Editor-Chefe. O Editor-
-Chefe poderá ainda decidir informar as instituições de afiliação profissional Apesar de os editores e revisores desenvolverem esforços para assegu-
dos autores acerca do sucedido. rarem a qualidade técnica e científica dos manuscritos, a responsabilidade
final do conteúdo (nomeadamente o rigor e a precisão das observações,
Publicação Fast-Track assim como as opiniões expressas) é da exclusiva responsabilidade dos au-
tores.
Um sistema fast-track está disponível para manuscritos urgentes e im-
portantes que atendam aos requisitos da SINAPSE para revisão rápida e
Custos de Publicação
publicação.
Não haverá custos de publicação (não tem taxas de submissão nem de
Os autores podem solicitar a publicação rápida através do processo
publicação das imagens a cores, que poderão ser publicadas a preto e bran-
de submissão de manuscritos, indicando claramente a razão por que o seu
co na versão impressa da revista e a cores na versão eletrónica).
manuscrito deve ser considerado para revisão acelerada e publicação. O
Editor-Chefe, com apoio dos Editores Associados ou Conselho Editorial, Provas Tipográficas
decidirá se o manuscrito é adequado para publicação rápida e comunicará As provas tipográficas serão enviadas aos autores, contendo a indicação
a sua decisão dentro de 48 horas ao autor correspondente. Se o Editor- do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da SINAPSE.
-Chefe achar o manuscrito inadequado para publicação rápida, o manuscrito A revisão deve ser aprovada pelo autor correspondente. Os autores dis-
pode ser proposto para o processo normal de revisão, ou os autores podem põem de 48 horas para a revisão do texto e comunicação de quaisquer erros
retirar a sua submissão. A decisão editorial sobre manuscritos aceites para tipográficos. Nesta fase, os autores não podem fazer qualquer modificação
revisão rápida será feita dentro de cinco dias úteis. de fundo ao artigo, para além das correcções tipográficas e/ou ortográficas
Se o manuscrito for aceite para publicação, a SINAPSE terá como objec- de pequenos erros.
tivo publicá-lo electronicamente em 16 dias. O não respeito pelo prazo proposto desobriga a SINAPSE de aceitar
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a revisão pelos autores, podendo a revisão ser efectuada exclusivamente poderá decidir relatar a situação à instituição dos autores, de acordo com os
pelos serviços da SINAPSE. procedimentos recomendados pelo Committee on Publication Ethics (https://
publicationethics.org/).
Erratas
A SINAPSE publica alterações, emendas ou retrações a um artigo an- Patrocínios
teriormente publicado, se, após a publicação, forem identificados erros ou A SINAPSE é propriedade da Sociedade Portuguesa de Neurologia, que
omissões que influenciem a interpretação de dados ou informação. Quais- suporta todos os custos de operação da revista. Sem prejuízo deste facto, a
quer alterações posteriores à publicação assumirão a forma de errata. SINAPSE poderá angariar patrocinadores, como por exemplo empresas da
indústria farmacêutica ou outras, que geram receitas através da publicidade.
Retratações A publicidade não poderá pôr em causa a independência científica da revista
Os Revisores e Editores assumem que os autores relatam trabalho com nem influenciar as decisões editoriais e terá de estar de acordo com a legis-
base em observações honestas. No entanto, se houver dúvidas substanciais lação geral, bem como das disposições legais específicas da área da saúde e
sobre a honestidade ou integridade do trabalho, submetido ou publicado, o do medicamento.
editor informará os autores da sua preocupação, procurará esclarecimento
junto da instituição patrocinadora do autor e/ou instituição empregadora. Nota final: aconselha-se a todos os autores a leitura das Recommen-
Consequentemente, se estes considerarem o artigo publicado como frau- dations for the Conduct, Reporting, Editing and Publication of Scholarly Work
dulento, a SINAPSE procederá à retratação. Se este método de investiga- in Medical Journals, emitidas pelo International Committee of Medical Journal
ção não obtiver uma conclusão satisfatória, o Editor-Chefe pode optar por Editors, disponíveis em http://www.icmje.org/
conduzir a sua própria investigação, e pode optar por publicar uma nota de
preocupação sobre a conduta ou integridade do trabalho. O Editor-Chefe Última revisão: Junho 2019
100
www.spneurologia.com
ISSN: 1645-281X
E-ISSN: 2184-4240