Analise Sociologica em Durkheim o Crime

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ANÁLISE SOCIOLÓGICA EM DURKHEIM:

O CRIME E O DIREITO

Daniel Aparecido dos Santos


Flávia Nathália Barbosa Santos
Mayara Brasiana inacia de Jesus Silva
Rafael Teixeira da Silva
Reginaldo da Luz Machado1
Flavia Wegrzyn Martinez2

INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz uma análise das contribuições do sociólogo francês
Émille Durkheim, nascido em 1958, o qual concorreu decisivamente para as
Ciências Sociais moderna, a partir de seus estudos sobre a sociedade e seus
principais conceitos formulados a partir desta, renovando, ao tratar de temas como
suicídio, solidariedade, anomia, divisão do trabalho, coesão social, entre outros, pelo
prisma sociológico.
O objetivo da pesquisa é fazer uma análise do crime e do direito na visão do
sociólogo, para tanto também será conceituado outras ideias muito importantes
formuladas pelo cientista, como o fato social, a solidariedade orgânica e mecânica, a
anomia e o suicídio.

CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA A PARTIR DE DURKHEIM


A sociologia é basicamente uma ciência jovem com cerca de 150, 160 anos,
sendo que, antes de Emille Durkheim, sociologia era chamada de física social, não
tendo ainda o caráter cientifico proposto por este autor, consequentemente, não tem
como falar de sociologia sem falar de Émille Durkheim.
A ideia básica sobre sociologia foi dada por Augusto Comte e aprimorada por
Durkheim, no momento em que a Europa passava por um desregramento advinda
de guerras e em vias de modernização, por este motivo, o século XIX caracterizou-
se por profundas mudanças políticas, sociais e econômicas, pois era preciso criar
um novo sistema científico e moral que se harmonizasse com a ordem cultural
emergente, Quintaneiro et al; (2007, p. 66 e 67) esclarecem que: “a ideia era que a

1
Acadêmicos do Curso de Direito, da Faculdade de Educação, Administração e Tecnologia de Ibaiti-
FEATI
2
Docente do Curso de Direito, da Faculdade de Educação, Administração e Tecnologia de Ibaiti-
FEATI

62
sociedade avança no sentido gradual do aperfeiçoamento, governada por uma força
inexorável: a lei do progresso”.
Durkheim escreve o livro “As regras do Método Sociológico”, neste ele inventa
o que seria a sociologia, propondo esta nova ciência, a ciência da sociedade.
Partindo de regras, sistematização e objetividade das ciências naturais, Durkheim
cria um conceito importante e base de sua teoria, o fato social, o qual é o objeto de
estudo da sociologia. “O fato social pode ser definido como qualquer coisa que
nasce na sociedade e tem efeito no indivíduo” segundo, Quintaneiro et al; (2007, p.
69).
Para um fato ser estudado teria quer ser relevante, delimitando o foco de
estudo. Seu primeiro princípio era estudar os fatos sociais como “coisas”, a partir daí
passasse a fornecer uma definição daquilo que seria normal ou patológico aplicado
a cada sociedade. “O normal seria aquilo que ao mesmo tempo é obrigatório ao
indivíduo e superior a ele”, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva
são entidades morais, lembrando que no conceito do cientista, sociedade não é a
simples soma do indivíduo, é antes, um sistema que representa determinada
realidade com características próprias, e tudo aquilo que é semelhante aos
indivíduos na sociedade forma a consciência coletiva. (AJAJ, 2006, p.1)
Esta análise inicial sobre o nascimento da sociologia é colocada da seguindo
forma por Fabretti (2011, p.2):

Durkheim desenvolveu seus estudos no final do século XIX e início do


século XX, quando já se havia iniciado o Positivismo e Augusto Comte já
havia esboçado traços da atual sociologia. Augusto Comte teorizou que o
pensamento humano, antes do Positivismo, já havia passado por outros
dois momentos: O Teológico e o Metafísico. O Estado Teológico era
caracterizado pela crença em divindades e espíritos, através dos quais se
explica os fenômenos da natureza. Já o Estado Metafísico era caracterizado
por uma abstração maior, com abandono das divindades e espíritos,
passando a considerar que existiam forças naturais e leis constantes que
organizavam o mundo e as sociedades. O Terceiro Estado é o próprio
Positivismo, onde busca-se uma compreensão científica do mundo, com a
observação direta dos fatos, inspirando-se na química, física e biologia, e
nesse contexto positivista que Durkheim desenvolve sua sociologia, sempre
buscando uma independência e emancipação científica, bem como a
definição de objetos e métodos próprios, que ainda não eram visíveis no
pensamento de A. Comte.

Nos resta claro a importância de Durkheim para a efetivação da Sociologia


como uma ciência autônoma, empírica, alcançada após ser pensada por ele, com
objetividade e com método próprio de estudo, baseada nas ciências naturais, uma

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vez que Durkheim percebeu a necessidade de se caracterizar e estabelecer um
método para o estudo dos fenômenos sociais.
Para que realmente se concretizasse suas ideias era preciso que a nova
ciência tivesse um objeto próprio de estudo, o que Durkheim chamou de fato social.

FATO SOCIAL
Entendemos o fato social, como toda maneira de atuar, fixa ou não, suscetível
de exercer sobre os indivíduos uma coerção exterior, ou que é geral na extensão de
uma sociedade, conservando existência própria, independentemente de suas
manifestações individuais.
O fato social pode ser definido como “qualquer coisa que nasce na sociedade
e tem efeito no indivíduo”, conforme apontam, Quintaneiro, et al; (2007, p. 62).
Para ser estudado teria quer ser relevante, delimitando o foco de estudo,
Durkheim então, postulou seu primeiro princípio, estudar os fatos sociais como
coisas, a partir daí passa a fornecer uma definição daquilo que seria normal ou
patológico aplicado a cada sociedade. Conforme lembram as autoras acima
mencionadas, (2007,p. 80), normal seria quilo que ao mesmo tempo é obrigatório ao
indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva
são entidades morais.
Emille Durkheim nos traz através de sua obra “As Regras do Método
Sociológico” o que vem a ser o objeto da sociologia, o que ele define como fatos
sociais, conceituando-o como:

É fato social toda maneira de fazer, fixa ou não, capaz de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, que é geral na extensão de uma
dada sociedade que tem existência própria, independente de suas
manifestações individuais. (DURKHEIM, 2012, p. 40).

Ocorre-nos então, que os chamados fatos sociais, proposto pelo autor em sua
obra são, portanto, maneiras de pensar, de agir, de sentir e de fazer que existem
independente da vontade do indivíduo por si só, pois se dão fora das consciências
individuais, como exemplifica o autor:

Se eu não me submeto às convecções do mundo, se, ao me vestir, eu não


dou à mínima atenção aos costumes de meu país ou de minha classe, o
riso que provoco, a alienação a que me submetem, produzem, mesmo que
de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos de uma pena propriamente
dita. E, ainda, o fato de ser indireta não torna a pena menos eficaz. Eu não

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tenho obrigação de falar francês com meus compatriotas, nem de utilizar-
me da moeda vigente; mas seria impossível agir de outra forma. Se eu
tentasse escapar dessa necessidade, minha tentativa fracassaria
vergonhosamente. Enquanto indústria, nada me proíbe de trabalhar com
procedimentos e métodos do século passado; mas, se eu o fizer,
certamente irei a ruína. Então mesmo que, de fato, eu possa me emancipar
dessas regras e de violá-las com sucesso, jamais será sem a obrigação de
ter de lutar contra elas. E mesmo que eu acabe por vencê-las, elas fazem
sentir seu poder de coerção suficientemente pela resistência com que se
opõem. Não existe inovador, mesmo as de sucesso, cujos
empreendimentos não venham a se chocar com oposições desse gênero.
(DURKHEIM, 2012, p. 32 e 33).

Como nos sugere Durkheim, do conceito de fato social podemos lhe extrair
três características básicas, definidas a seguir:

Exterioridade
Existe independentemente da vontade do indivíduo. Se relaciona a tudo que
antecede a formação deste como ser social que é, que se origina antes mesmo de
sua própria existência. Não havendo assim nenhuma forma de constatar suas
origens, conceitos e preceitos, pois toda essa base de fundamentos já se deu
através de seus antepassados, assim quando nascem os indivíduos já são
obrigados a aceitá-los. Sobre este conceito Fabretti (2011, p.5) no diz que:

Tal caráter tem o sentido de afirmar que os indivíduos ao nascerem já


encontram os fatos sociais (regras, costumes, leis, religião e etc.) postos e
são obrigados a aceitá-los mediante coerção social, tal qual a educação. Ao
indivíduo não é dado o direito de opinar.

Generalidade
Comum a todas as pessoas da sociedade, está presente em toda parte dela,
basta ter consciência para ser atingido pelo fato social. Esta característica parte de
uma ação conjunta, determinante de um grupo de pessoas e assim sucessivamente
prossegue por toda sociedade, como que de maneira automática. Estes fatos assim
devem se repetir então, entre todos os indivíduos, senão entre a maioria deles. Por
geral se entende os fatos que se repetem em todos os indivíduos ou, pelo menos, na
maioria deles; o que é comum a todas as sociedades. Para constatação deste
fenômeno Durkheim (1983, apud FABRETTI, 2011, p.11), afirma que: “Porém, dir-se-
á que um fenômeno não pode ser coletivo se não for comum a todos os membros da
sociedade ou, pelo menos, à maior parte deles, portanto, se não for geral”.

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Coercitividade
Pressão que a sociedade exerce sobre a consciência do indivíduo, este fator
descreve uma conduta tomada pelos integrantes de uma sociedade, para formação
do todo. Por exemplo, temos por adotar costumes e tradições de um determinado
local, não por estarmos sujeitos a suas leis, mas sim por uma questão de
sobrevivência, assim então, entendemos por coerção, a força que leva os indivíduos
agirem de um determinado modo dentro da sociedade em que vivem. Em um mundo
onde a comunicação é a base de todo conhecimento, cumprimos assim todas as
regras provenientes do meio em que o indivíduo age, havendo assim uma coerção
coletiva.
Para melhor entendermos esta característica Durkheim (2012, p.32) nos traz:

Esses tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores ao


indivíduo, mas são dotados de um poder imperativo e coercitivo em virtude
do qual se impõem a quem quer que seja querendo-o ou não. Sem dúvida,
quando eu me conformo por vontade própria, essa coerção não se faz ou
pouco se faz sentir, sendo inútil. Mas ela não passa de uma característica
intrínseca a esses fatos, prova disto é que a coerção se afirma tão logo eu
tente lhe resistir. Se eu tento violar as regras do direito, elas reagem contra
mim de maneira a impedir meu ato enquanto há tempo, ou tentam anulá-lo
e restabelecê-lo em sua forma normal se ele já tiver sido cumprido, e se for
ainda reparável, ou então, obrigam-me à expiação se esta for a única forma
de repará-lo. Trata-se de máximas puramente morais? A consciência
pública contém todo ato que a ofende por meio da vigilância que ela exerce
sobre a conduta dos cidadãos e as penas especiais das quais dispõem.

O crime para o sociólogo, seria enquadrado na categoria dos fatos sociais


normais uma vez que está presente em qualquer sociedade, por este motivo ele é
genérico, e tem a finalidade de mostrar, reafirmar os valores da sociedade e manter
a coesão social, o crime só passaria a ser anômico quando interferisse na
integração social, no seu funcionamento normal.

A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO


Durkheim em sua obra “A divisão do trabalho social” procura entender e
compreender o aumento do individualismo na integração social e repercussões da
divisão do trabalho.
Essa divisão tem muita relação com a coerção social que sempre está
persistente em um papel predominante e importante independentemente do tipo de
divisão do trabalho. Em geral, os fatos sociais são consequência da divisão do

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trabalho social. Conforme o tipo de sociedade, assim aparece a forma de integração
social a que Durkheim denominou “solidariedade”. Comparando as sociedades
arcaicas e modernas, observa-se que a sociedade evolui de um tipo de
solidariedade original ou mecânica para um tipo de solidariedade orgânica.
Durkheim coloca contra a crítica da divisão do trabalho que a ela atribui o
conflito entre patrões e empregados feito pelos socialistas. Para ele toda espécie de
problema resulta da ampliação das funções econômicas na sociedade. Sua principal
tese é que a grande e crescente especialização dos indivíduos em suas funções
possibilita a coesão e solidariedade social. As causas sociais do aumento da divisão
do trabalho nas sociedades decorem de uma combinação de fatores que envolvem o
volume populacional e a densidade natural e moral da população.
Segundo Durkheim (2008), o aumento da diferencia sociais e das
especializações é o fruto de um processo de evolução das sociedades mais simples,
para tradicionais, paras as sociedades modernas. Com essa evolução muda
também o tipo de solidariedade existente há solidariedade mecânica sendo essa
integrada pelas semelhanças, já a integrada pela complementaridade das funções é
chamada solidariedade orgânica. Considera a necessidade da observação e
mediação do grau de ligação social entre os membros da sociedade.

CONSCIÊNCIA COLETIVA
Durkheim começou a analisar os fenômenos sociais pelos aspectos coletivos,
o esforço do cientista foi perceber quais fatores contribuíam para a manutenção da
ordem social, por isso ele tentou entender o papel da coercitividade social, Fabretti
(2011, p. 11), afirma que: “esse aspecto de “termômetro social”, “de régua de
valores”, vai dar a “consciência coletiva” um poder de coação, que vai variar
conforme o grau de desenvolvimento social”, Durkheim procurou verificar a força
moral que a sociedade exerce sobre o indivíduo, ou seja, ele via a sociedade como
um organismo vivo, um conjunto harmônico, onde existe um bem comum,
Quintaneiro et al (2007, p. 87 e 88) lembram que:

Em toda a sua obra, Durkheim procura comprovar os princípios que


fundamentam sua concepção de sociedade. Esta, se nada mais fosse do
que uma soma dos indivíduos que a constituem, não poderia ter valor moral
superior à soma do valor moral de cada um de seus elementos. E, “se
existe uma moral, um sistema de deveres e obrigações, é mister que a
sociedade seja uma pessoa qualitativamente distinta das pessoas
individuais que compreende e de cuja síntese é o resultado”. Por isso é que,

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onde se inicia a vida do grupo - família, corporação, cidade, pátria,
agrupamentos internacionais - começa a moral, e “o devotamento e o
desinteresse adquirem sentido”.

A coesão social que é exercida pelas instituições sociais, traz reflexos no que
Durkheim, chama de consciência coletiva, ou seja, podemos caracterizar
consciência coletiva como o conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos
membros de uma sociedade, existe difundida na sociedade e é interiorizada pelos
indivíduos, manifesta-se nos sistemas jurídicos, leis.
Sobre este pensamento Fabretti (2011, p.10), pondera:

Essa consciência coletiva não se basearia nos indivíduos e grupos sociais,


tampouco seria simples produto das consciências individuais, mas algo
completamente diverso, é considerado por Durkheim como o tipo psíquico
da sociedade, que não muda das gerações, mas sim que une uma geração
à outra.

Definir este importante conceito, possibilitou a comprovação de que ao se


analisar a consciência coletiva, foi possível verificar o que mantinha os indivíduos
integrados no contexto social, ou seja, quanto mais extensa a consciência coletiva,
mais coesa é a sociedade. Tomando a ideia de consciência coletiva, veremos que
ela está intimamente ligada com o crime, como Junior (2009, p.2), reflete:

Quanto maior for a consciência coletiva, maios a indignação com o crime,


isto é, contra a violação do imperativo social, até chegar a um ponto em que
a consciência coletiva se torna particularizada. Por outro lado, quando a
solidariedade orgânica reina, observa-se uma redução da consciência
coletiva e se constata um enfraquecimento das reações coletivas contra a
violação das proibições e uma maior interpretação individual dos
imperativos social.

Para compreender as formas de coesão e ao mesmo tempo compara-las,


Durkheim formulou os conceitos de solidariedade social, sendo elas: a solidariedade
mecânica e orgânica, Durkheim diferencia estes dois tipos de solidariedade pelo
crime e pena que cada uma delas impõe.

SOLIDARIEDADE SOCIAL
A solidariedade para Durkheim tem origem a partir de dois tipos de
consciência, a coletiva, conjunto de crenças comuns à média dos membros da
sociedade e consciência individual, que se relaciona somente com a própria pessoa.
Rocha (2008, p.81), afirma que “um dos principais conceitos da Sociologia de Emile

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Durkheim é o conceito de Solidariedade. Esta importância está diretamente ligada
aos conceitos subsequentes de normalidade, anomia e direito”.
Assim sendo, temos duas consciências que formam o ser social. Sobre a
consciência individual, Fabretti, (2011,p.12) nos diz que: “Considerada sob esse
aspecto, consciência individual é uma simples dependência do tipo coletivo, que
segue todos os seus movimentos”.
Cada indivíduo possui uma consciência individual que sofre influência da
consciência coletiva, que nada mais é que a combinação da individualidade de cada
membro social ao mesmo tempo, sendo assim a coletividade seria responsável pela
formação dos valores morais pois exercem uma pressão externa aos indivíduos. A
soma das duas consciências, individual e coletiva, forma o ser social.
Durkheim entende que a coesão social e a permanência da sociedade só são
possíveis a partir de um determinado consenso entre os indivíduos, o que só seria
possível moldando-se a consciência individual com a consciência coletiva, de acordo
com o nível de consenso é possível distinguir duas formas de solidariedade.

SOLIDARIEDADE MECÂNICA
Durkheim entende que a sociedade passa pôr um processo de evolução,
provocada pela diferenciação social, a primeira etapa foi chamada por ele de
solidariedade mecânica, típica das sociedades primitivas, o que assegurava a
coesão social é fato de que os indivíduos que a integram compartilham das mesmas
crenças, valores sociais, a coerção é exercida de forma repressiva, violenta, uma
vez que a transgressão atinge toda a coletividade.

A Solidariedade Mecânica é típica das sociedades arcaicas pré-capitalistas,


é uma solidariedade por semelhança, pois os indivíduos se diferem pouco
um dos outros, identificando-se por meio de suas famílias, religião, tradições
e costumes. Aos indivíduos pertencentes a essas sociedades falta a
personalidade ou mesmo a individualidade, sendo que a “consciência
coletiva” é um forte instrumento de coação e, consequentemente, “coesão”
social. Nas sociedades em que esta solidariedade (mecânica) é muito
desenvolvida, o indivíduo não se pertence, pois ele é literalmente uma coisa
da qual a sociedade dispõe. (FABRETTI, 2011, p.11).

Na solidariedade mecânica a sociedade é, portanto, de forma geral patriarcal,


extremamente religiosa, o núcleo familiar sobrevive de forma relativamente
autônoma, cultivando valores tradicionais de subserviência–hierarquia familiar e
social, com pouca mobilidade social, principalmente, com restrita divisão do trabalho

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social ou pouca especialização. Portanto, nesse período que antecede a revolução
industrial capitalista, a sociedade é “fechada” e pouco de pendente no sentido da
menor especialização dos indivíduos produtivamente ativos: se há menos
especialização e se as famílias são células relativamente fechadas e autônomas, a
socialização e educação é nuclear, familiar e fechada, e, nesse sentido, a coerção é
mais fortemente sentida, as exigências sociais parecem ter todo o peso do mundo e
adquirem pouca mobilidade, e os desvios de conduta assim sancionada e punida de
forma contundente, imediata e com pouca flexibilidade. Resumindo, a solidariedade
mecânica pode ser entendida como um conjunto de valores, regras e normas
restritas cujos limites de tolerância social são diminutos, onde se exerce de forma
bastante inflexível a coerção social.
Na solidariedade mecânica o comportamento social é menos complexo pela
restrita liberdade individual imposta por uma educação tradicional e religiosa
bastante forte; as pessoas estão mais fortemente vigiadas, os limites de sua
liberdade estão restritos, as sanções são imediatas e bastante acintosas, inexiste
espaço para questionamentos e comportamentos diferenciados e pouca consciência
do funcionamento social- daí a ideia de um copo social que age e reage de forma
mecânica, com repetição constante e pouca variabilidade de comportamento e
relações sócio-produtivas. A análise de Durkheim para solidariedade a partir do tipo
de sansão legal predominante, a sanção repressiva típica do direto penal, privando o
transgressor da liberdade impõe castigos físicos, perda da honra, própria de
sociedade simples.
Pode se dizer que nesse período impera mais o Direto Público do que o
privado, da mesma forma que o código Civil, penal aparece com mais penetração
social do que o Código Civil, tanto na magnitude das normas escritas como na sua
importância na regulação social. A sociedade se sente indenizada se o infrator for
severamente punido e pagar seu delito com a exclusão social. Que vai da reclusão e
isolamento social, inclusive da família, até a perda de bens materiais e, em muitos
casos, a perda da própria vida. E essa “funcionalidade” do crime e do criminoso
como forma de regulação social. A etapa final da evolução é a chamada
solidariedade orgânica.

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SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
Sociedade complexa, moderna, a divisão do trabalho faz aumentar a
interdependência dos indivíduos, a coesão social não está baseada mais em valores
sociais, religião, mas nos códigos e normas de conduta que estabelecem direitos e
deveres, predomina o direito restitutivo (reparação), o convívio se restabelece como
antes da norma ser violada.

O que mantém a coesão social é a própria divisão social do trabalho,


caracterizada por uma grande especialização profissional. Tal se dá, pois
quanto mais independentes as instituições e especializadas, mais
dependentes se tornam uma das outras, pois se necessitam mutuamente
para garantir a unidade da sociedade. Durkheim a chama de solidariedade
orgânica em analogia ao organismo dos animais superiores, onde cada
órgão possui uma função específica, entretanto, sua unidade é tão maior
quanto for a individualização das partes. Para o desenvolvimento dessa
solidariedade se faz necessário um desenvolvimento individual cada vez
maior. (FABRETTI, 2011, p.13).

Durkheim chamou a este relacionamento moderno, industrial, de


solidariedade orgânica, orgânica no sentido de organismo mesmo, como um sistema
complexo e enredado de informações e transações, onde cada órgão ou agente
social sabe perfeitamente da importância de sua atividade. A solidariedade orgânica
deverá corresponder outro tipo de Direito e de justiça: o Direito Restitutivo. Este tipo
de direito compreende que as formas produtivas modernas levam inevitavelmente a
reivindicações de âmbito mais pessoal, na procura legítima dos indivíduos, e
agentes sociais de forma geral, por garantias a liberdade e igualdade. Por isso,
pode-se afirmar que o Direito Privado e o Código Civil estão mais condizentes com
este tipo de solidariedade correspondente a divisão do trabalho social da era
moderna. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que o sentido do sistema jurídico
também tem amadurecido, e que o Direito, pelo menos em sociedades mais
reflexivas e democráticas, tem procurado dar um sentido mais humanístico a suas
atividades julgando com base na justiça Restaurativa.
Esta visão da justiça Restaurativa tem sido, inúmeras vezes, mal
compreendida, principalmente numa sociedade ainda. Não se trata de defender o
criminoso, menos ainda de esquecer a vítima ou de indenizá-la. Trata-se, antes de
tudo, de compreender as circunstâncias gerais e sociais em que o crime acontece e
o criminoso se produz.
Segundo Durkheim, todas as sociedades têm consciência coletiva, mas ela é

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forte nas sociedades onde não existe uma diferença social muito grande
(solidariedade mecânica).

ANOMIA
Como cita Barbosa (2013) em seu livro Anomia, direito e pós-modernidade,
a palavra anomia tem origem grega. Deriva de anomos, onde a representa ausência,
inexistência, privação de; e nomos significa norma.
Resultado de inúmeros fatores conceitua-se a anomia como a ausência de
regras em um determinado estado social. Sem saber ao certo quais normas deve-
se seguir, os efeitos dessas atitudes certamente levam a desordem na
sociedade. Ainda segundo Barbosa, Émile Durkheim, considerado como o fundador
da sociologia moderna, foi o primeiro a usar dessa palavra no âmbito da sociologia
em seu livro A divisão do trabalho social.
Conforme o pensamento de Durkheim (1893), este estado é em grande
medida causado pelas intensas modificações que ocorrem nas sociedades
modernas e que não apresentam novos valores para colocar no lugar daqueles que
por elas são derrubados.

Numa sociedade ou grupo social em anomia, faltará uma regulamentação


durante certo tempo. Não se sabe o que é possível e o que não é, o que é
justo e o que é injusto, quais as reivindicações e esperanças legítimas,
quais as que ultrapassam a medida. (DURKHEIM, 1893, p. 17).

Para a sociologia, o conceito de anomia desempenha um papel muito


importante no estudo das mudanças sociais e das consequências que ela pode
acarretar. Em um mundo de constantes mudanças, é certo que a sociedade está
sujeita ao descontrole no que serve de estabilização para o desenvolvimento do
grupo. Ao perderem o modo em que já são acostumados a viver, a sociedade se vê
insegura, e parte diante desse fato, a começarem a adotar atitudes incoerentes e
muitas vezes marginalizadas. Com a publicação do livro sobre a divisão do trabalho
social, Durkheim, evidencia que para que a ordem se estabeleça é preciso muito
mais do que força de vontade, precisa-se de regras impostas e realizadas pelos
trabalhadores. A organização é a base fundamental para que a divisão ocorra e para
estabelecer a cada indivíduo uma tarefa que se adeque ao desenvolvimento das
funções.

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Para Durkheim (1893), quando as normas e condutas impostas já não
impedem mais o crime a sociedade deverá impor uma alteração para novas regras e
leis, quando o sistema social não está funcionando corretamente a criminalidade vai
aumentar. Quando não existe mais uma norma para controlar o sistema a sociedade
estará com pouca coesão social e sem regras e limites, o que foi chamado para
Durkheim de anomia, ou seja, atribuía tal estado de anomia à própria sociedade, que
apresentava uma situação de desregramento levando os indivíduos a perderem a
noção dos fins individuais e dos limites. Portanto, ele diagnosticava uma crise moral,
decorrente da fragilidade da coesão social, a ser superada pela recuperação da
capacidade reguladora da sociedade, em que o Estado fiscalizasse, participasse
ativamente no estímulo e na regulamentação das corporações de profissionais, na
organização da educação e na preservação de alguns princípios morais.
Durkheim considerava anomia, como um estágio caótico, perigoso, causada
por uma mudança brusca e inesperada nas situações sociais que estão entorno da
vida de determinado indivíduo, ou seja, era a ausência de normas e regras. É
quando o homem está diante de uma situação que ele não encontra regras que
balizem as ações que ele pretende realizar, se vê numa situação caótica, ele fica
perdido porque a consciência coletiva, normas da sociedade, não regulam sua
consciência individual e diante da liberdade total de sua consciência individual, o
cidadão não vê limites nas suas ações, está completamente perdido. Sobre o
conceito, Fabretti (2011, p.14), entende que:

Podemos afirmar que a anomia se apresenta justamente quando os


sistemas sociais não mais são capazes de regulamentar a sociedade, ou
seja, a anomia é a ausência de coesão social, é a ausência de uma
“consciência coletiva” unitária, é a total falência dos freios sociais.

Para esse estado de doença da sociedade, a resposta social seria o direito, o


qual seria editado nas sociedades complexas, por meio das instituições sociais, para
enfrentar os comportamentos de desvios de costume. A crise social que passava a
sociedade europeia após a Revolução Industrial para Durkheim era fruto do
desregramento, falta de regra, e a ordem seria reestabelecida por meio de entidades
sociais capazes de impor aos indivíduos regras de conduta e o direito era o
caminho. Em sua obra O Suicídio, como lembra Fabretti, (2011, p. 15), Durkheim
destaca que a “anomia é uma das causas do aumento no número de suicídios” e
que tal fenômeno ocorria tanto nos momentos de crise, quanto nos momentos de

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grande aceleramento no desenvolvimento.
Essa doença é resultado da falta de regras exercida pela sociedade. São
esses aspectos que levam os indivíduos a cometer atos que para eles acaba sendo
normal, como por exemplo, o crime. Em uma sociedade onde não há regras, não há
como controlar os atos exercidos pelas pessoas que nela se encontram, uma vez
que essas regras servem para manter a sociedade em controle.
Entendemos então, que a sociedade anômica é caracterizada quando os
indivíduos pertencentes a este corpo social se distanciam e descumprem a norma,
as regras impostas para aquela sociedade, desta forma, Durkheim estudou e
encontrou um espaço para o crime na sua teoria social.

O CRIME
O crime foi estudado por Durkheim, o qual lhe deu uma abordagem
sociológica, afirmando que se apresenta em geral numa sociedade, podemos
encarar o crime sociologicamente como funcional e normal, que em um determinado
contexto serve como aprendizagem e de socialização de um determinado grupo
social. Durkheim ressalta que o crime não se torna um fator de risco para sociedade,
até o momento em que o mesmo passa a exercer uma maneira contraria a tudo que
foi estabelecido.
Émille Durkheim defendia a tese de normalidade e funcionalidade, para ele o
crime é um fenômeno que está em todas as sociedades, defendia a necessidade e a
utilidade do crime, ou seja, “este pode ser visto como uma mostra de todos os limites
de uma autoridade da consciência coletiva, bem como também serve como agente
de mudança moral”. (FABRETTI, 2011, p.16).
Para Durkheim, um fenômeno, mesmo quando agride os preceitos morais,
pode ser considerado normal desde que encontrado na sociedade de forma
generalizada e desde que não coloque em risco a integração social, por este motivo
ele considerou o crime um fenômeno normal na sociedade, uma vez que o crime é
encontrado em todas as sociedades, de todos os tipos, portanto, é considerado um
fenômeno que é geral na extensão da sociedade, em um determinado momento de
seu desenvolvimento. Além disso, tem utilidade social, à medida que a transgressão
cometida conduz a um fortalecimento dos valores feridos, por relembrar o quanto é
repudiada. Com relação a questão do crime, Durkheim (1978, p. 58) afirma:

74
Encarar o crime como uma doença social sereia admitir que a doença não é
algo acidental mas ao contrário, que em certos casos deriva da constituição
fundamental do ser vivo... Não há dúvida de que o próprio crime pode
apresentar formas anormais; é o que acontece quando, por exemplo, atinge
taxas exageradas. Não há dúvida, também, de que tal excesso é de
natureza mórbida. O que é normal é a existência da criminalidade, desde
que, para cada tipo social, atinja e não ultrapasse determinado nível.

Diante dessa afirmativa, podemos dizer que Durkheim tomou uma posição
clara frente ao crime, ao afirmar que este seria normal dentro da sociedade,
porém, esta ideia não era absoluta, uma vez que ao interferir na integridade
social, ultrapassando certo nível, ou seja, sua generalidade, o crime passava a
ser entendido por Durkheim como anormal, patológico.
Como cita Fabretti (2011, p.15) “o pensamento de Durkheim em relação ao
crime foi certamente renovador e trouxe outros pontos de reflexão à sociologia
crimina”l. O crime para o sociólogo, seria enquadrado na categoria dos fatos
sociais normais uma vez que está presente em qualquer sociedade, por este
motivo ele é genérico, e tem a finalidade de mostrar, reafirmar os valores da
sociedade e manter a coesão social, o crime só passaria a ser anômico quando
interferisse na integração social, no seu funcionamento normal. Em “As Regras do
Método Sociológico”, Durkheim, (1983 apud FABRETTI, 2011, p. 15), fala sobre
seu entendimento a respeito da normalidade do crime:

Se há um fato cujo caráter patológico parece incontestável é sem dúvida o


crime. Todos os criminólogos estão de acordo sobre esse ponto. Apesar de
explicarem esta morbidez de maneira diferentes, são unânimes na sua
constatação. Contudo, o problema merecia ser tratado com menos
superficialidade. “Com efeito, apliquemos as regras precedentes. O crime
não se produz só na maior parte das sociedades desta ou daquela espécie,
mas em todas as sociedades, qualquer que seja o tipo destas. Não há
nenhuma em que não haja criminalidade. Muda de forma, os atos assim
classificados não são os mesmos em todo o lado; mas em todo o lado e em
todos os tempos existiram homens que se conduziram de tal modo que a
repressão penal se abateu sobre eles.

O crime está difundido em toda e qualquer sociedade, não existe sociedade


em que as regras de conduta não são transgredidas, até porque o homem é um ser
social como dizia Aristóteles, como lembra Fabretti, (2011, p. 17) e neste contexto
social, “tendo dois ou mais indivíduos haverá conflitos, e a medida que a sociedade
evolui o índice de criminalidade também aumenta, por este motivo Durkheim
entende que o crime não perde seu caráter de normalidade”. Então o crime de
acordo com ele pode ser definido como o ato que ofende os estados fortes e

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definidos da consciência coletiva.
Fabretti (2011, p.18) nos coloca que o “crime é normal porque uma sociedade
isenta de crime seria impossível”, e deixa o questionamento, quando o desvio de
conduta seria considerado anômico, patológico, anormal?, para Durkheim, o crime
seria considerado patológico se atingisse níveis elevados e se colocasse em risco a
integração, a coesão, o funcionamento normal da sociedade. Nesta vista, Durkheim
considera o crime como algo útil: “O crime é, portanto, necessário; está ligado às
condições fundamentais de qualquer vida social e, precisamente por isso, é útil;
porque estas condições a que está ligado são indispensáveis para a evolução
normal da moral e do direito”. Fabretti, (2011, p.20). O criminoso é apenas um
regulador da vida em sociedade.
Destarte, quando o delito passa a oferecer riscos para sociedade e ao bem-
estar comum de todos, assume-se uma nova conduta em relação ao indivíduo que,
ao adotar o crime de forma não consciente, causaria danos a sociedade, havendo
assim a necessidade da intervenção por meio das leis, pois Durkheim prescreve um
determinado índice de normalidade em relação ao crime, mas que, quando violado
ultrapassa tais limites, impondo assim até mesmo a perca da própria identidade
social.
Durkheim, neste sentido cogita conceitos relacionados ao direito penal,
quando ele cita que o crime é uma ameaça a consciência coletiva, nesta
perspectiva, a reação ao crime é a pena, na medida em que ele estuda os fatos
sociais e considera o direito como um fato social, este tem uma responsabilidade de
manter a ordem social, a tão desejada sociedade ideal, mas para que isso aconteça
é necessário estipular regras sociais, Durkheim então retrata que a lei é o caminho
para alcançar este objetivo.
Sendo assim, entendemos que a lei, impõe seguimentos a serem seguidos e
adotados por todos, sobre a sociedade a qual é aplicada, pois o cumprimento das
leis também se torna uma forma de coerção sobre os indivíduos, em um dado
momento em que a punição dos demais, ocasiona uma ação mais cautelosa e
consciente por parte de todos, pondo-se assim um conhecimento acerca dos fatos,
uma vez que o descumprimento das leis e suas normas pré-estabelecidas, resulta
em consequências.
Como nos lembra Albuquerque (2009, p.8), Durkheim entendia que o
indivíduo em sociedade estava sujeito a pelo menos dois tipos de sanções: as

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espontâneas e as jurídicas:

As sanções espontâneas são as reprovações de atitudes consideradas


inadequadas, mas que não causam tanto horror quando ocorrem. As
sanções espontâneas ocorrem informalmente e servem como modelo de
conduta cotidiana. As sanções jurídicas são aquelas fixadas formalmente e
refletem desvios de conduta considerados mais graves. Para Durkheim, as
sanções jurídicas cristalizam o sentimento de repudio da sociedade em
relação a determinado ato.

Entendemos então segundo a teoria de Durkheim que, a pena deve ser vista
também como um fato positivo, com o objetivo de reforçar os laços entre os
indivíduos, mantendo intacta a coesão social, uma vez que o crime não é patológico,
a pena também não pode ser considerada o remédio, eis que ele atua como agente
de evolução moral da sociedade, mais vale então a pena restitutiva características
das sociedades modernas do que as penas retributivas típicas das sociedades
arcaicas.

O SUICÍDIO
A obra o Suicídio, foi publicada em 1897, quando Emile Durkheim tinha 39
anos de idade, foi escrita com o intuito de estudar a particularidade de um fenômeno
relevante, bem como para comprovar a própria possibilidade de uma ciência social,
pois quando da publicação, a Sociologia, não havia alcançado um status acadêmico
indiscutível, ou seja, para que a Sociologia fosse possível era preciso antes de tudo
que ela tivesse um objeto, antes de tudo que ele fosse só dela. (FERNANDES,
2009), reflete que o suicídio trata de um assunto considerado psicológico, abordado
polemicamente por Durkheim como fenômeno social. Sua intenção era provar a tese
de que o suicídio é um fato social, uma forma de coerção exterior e independente do
indivíduo, estabelecida em toda a sociedade e que, portanto, deveria ser tratado
como assunto sociológico, Fernandes em seu artigo de 2009, nos informa que se
suspeitava que Durkheim “teria se interessado pelo assunto após o suicídio de um
amigo íntimo e que isso teria afetado também nas classificações do suicídio, pelo
menos na forma que chama de egoísta”.
Um dos fatos mais íntimos do comportamento humano, o suicídio, foi
proposto estudar cientificamente com dados, demonstrando que sobre ele pode
haver uma determinação social, externa ao indivíduo, Durkheim (2014, p. 34)

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“pensava que o estudo sociológico do suicídio daria a oportunidade de aplicar os
princípios de as Regras do Método Sociológico”.
O sociólogo propôs estudar um grande tema que à primeira vista não pareceu
sociológico, procurou falar sobre pessoas que se matam. Quando se falava em
suicídio sempre se pensava em termos psicológicos, Durkheim pensava que o
suicídio até poderia ter uma dimensão psicológica, porem isso não queria dizer que
era apenas psicológico, também era um fato social, ele então volta-se seus estudos
com o intuito de provar tal teoria.
O objeto de estudo de Durkheim foi uma região da França, zona rural e zona
urbana, Lima (2013) ministra aula ensinando que, amparado por estatísticas oficiais
do governo para verificar como as taxas de suicídio se comportavam nestes dois
ambientes, Durkheim procurou a partir dali traçar suas conclusões, a ideia era pegar
as taxas de suicídio e relaciona-las com a integração da sociedade.
As descobertas a parir dos estudos foi que as pessoas se matavam mais em
áreas urbanas e a maioria eram protestantes, doravante, Durkheim propôs que o
motivo do maior número de suicídios na cidade indicava que os laços com a
comunidade eram enfraquecidos, onde, a sociedade não consegue enxergar o seu
poder coercitivo de manter o indivíduo vivo, diferente do que ocorria na zona rural,
em que a integração entre as pessoas era maior, sentiam-se mais amparadas. Sobre
esta ideia, (Durkheim, 2014, p.149), afirma que:

Chegamos, por tanto, a essa primeiro resultado, de que a propensão do


protestantismo ao suicídio deve ter relação com o espirito de livre exame de
que é animado essa religião. Esforcemo-nos para compreender direito essa
relação. O próprio livre exame não é senão efeito de outra causa. Assim, se
é correto dizer que o livre exame, uma vez proclamado, multiplica os
cismas, é preciso acrescentar que ele supõe e deles deriva, pois só é
reclamado e instituído com o princípio para permitir que cismas latentes ou
semideclarados se desenvolvam mais livremente. Por conseguinte, se o
protestantismo da mais espaço ao pensamento individual do que o
catolicismo, é porque ele conta menos crenças e práticas comuns. Ora, uma
reunião religiosa não existe sem o credo coletivo, e é tanto mais uma e forte
quando sesse credo é mais amplo.

Conclui-se então que a superioridade do protestantismo do ponto de vista do


suicídio decorre do fato de que ele é uma igreja menos profundamente integrada do
que a igreja católica.
Durkheim verificou três tipos de causas sociais para o suicídio, verificando
que não há um suicídio, mas suicídios, conforme segue:

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Suicídio anômico
Pode ser considerado o desregramento social, onde as instituições sociais
não cumprem seu papel. Se verifica uma perda de respeito das pessoas, as normas
que advém das instituições que deveriam manter a sociedade unida não funcionam,
ou seja, o indivíduo se sente isolado da sociedade por conta de uma crise moral com
ela.

Movimentos que não são regrados não se ajustam nem uns aos outros nem
as condições as quais devem responder; portanto não podem deixar de se
entrechocarem dolorosamente. Seja progressiva seja repressiva, a anomia,
libertando as necessidades da medida conveniente, abre a porta as ilusões
e, por conseguinte, as decepções. (DURKHEIM, 2014, p. 282).

Suicídio egoísta
Ocorre quando o indivíduo não vê razão de ser na sociedade, o coletivo perde
o sentido, busca-se apenas seus objetivos pessoais, as aparências valem mais, o
indivíduo se isola da sociedade.

À indolência para a ação e o desinteresse melancólico resultam do estado


de individualização exagerada pela qual definimos esse tipo de suicídio. Se
o indivíduo se isola, é porque os laços que o uniam aos outros seres se
afrouxaram ou se romperam, é porque a sociedade, nos pontos de contato
entre ambos, não está solidamente integrada. Esses vazios que separam as
consciências e as tornam estranhas umas às outras decorrem precisamente
do afrouxamento da trama social. O suicídio egoísta vem necessariamente
acompanhado de um grande desenvolvimento da ciência e da inteligência
refletida. (DURKHEIM, 2014, p. 279).

Suicídio Altruísta
O indivíduo comete suicídio em nome da sociedade, não lhe falta algo nem
mesmos e encontra em estado de melancolia, mas o que prevalece é o senso de
dever com a sociedade.

O suicídio altruísta, implicam um certo dispêndio de energia. No caso do


suicídio obrigatório, essa energia é posta a serviço da razão e da vontade. A
pessoa se mata porque sua consciência ordena; ela se submete a um
imperativo. Assim, seu ato tem como nota dominante a firmeza serena dada
pelo sentimento de dever cumprido. (DURKHEIM,2014, p. 281)

O suicídio sempre é próprio de um homem que prefere a morte que a vida.


Mas as causas que o determinam não são da mesma natureza em todos os casos,
as vezes até são opostas entre si.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Émille Durkheim, através da observação, propôs trazer para a sociologia um
caráter científico, racional, sistematizado, metódico, com o intuito de formular leis
para reorganizar a sociedade desordenada em que ele vivia, trazendo grandes
contribuições para a humanidade.
Seus conceitos colocam a sociedade em primeiro plano, e o indivíduo deve a
todo o momento adaptar-se e cumprir as regras estabelecidas, visto que um
indivíduo só tem valor se estiver inserido no contexto social, sendo a sociedade que
confere sentido a sua existência.
Ao definir o objeto de estudo da sociologia, o fato social, ou seja, os modos de
pensar, sentir, agir e as caracterizando como exteriores ao indivíduo, genéricos na
sociedade e coercitivos, deu uma nova visão ao crime e ao direito. O crime como
sendo considerado normal e necessário, por estar presentes em toda e qualquer
sociedade e não diminuir com a evolução desta, pelo contrário, aumentar, à medida
que a sociedade evolui, e necessário por ser o caminho para a evolução moral e do
direito, garantindo assim uma nova concepção de direito, visto como ferramenta
para impor limites ao individualismo e resolver os conflitos gerados pela
sobreposição de interesses na divisão do trabalho, ou seja, cumpria o papel de
proteger a solidariedade orgânica pensada por Durkheim.
Apresentando-nos então sua posição perante o crime o que segundo
Durkheim, poderia ser visto como um fator normal, mas estabelecendo limites entre
o que até então seria normal, e o que já acarretaria um descontrole social, pois
conclui que a sociedade deve funcionar como um todo, onde um é dependente do
outro, fazendo assim com que todos hajam em prol do bem comum, na busca de um
bem-estar social elevando a importância da sociedade ser regida por normas e leis,
como cabe ao próprio direito, pois se trata de uma questão de se organizar a
sociedade, para que não acarrete a perca de seus valores e o declínio da mesma,
pois uma sociedade sem regras, desorganizada fica à mercê da criminalidade e da
própria interferência, pois não se encontraram mais formas de evolução e
crescimento.
O olhar diferenciado com que Durkheim tratou o crime trouxe vários conceitos
para a época a partir da relação que o sociólogo fez com a consciência coletiva,
afirmando que só se enquadrava como crime os atos que ofendiam a consciência
coletiva com muita intensidade. Após, elaborara a teoria da solidariedade com o

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intuito de descobrir como os indivíduos constituem a sociedade, Durkheim postulou
várias conceitos ligadas a esta ideia como a normalidade, anomia, crime e direito,
uma vez que ele dividiu a teoria da solidariedade em duas, a solidariedade mecânica
e orgânica, para diferenciar estes dois tipos de solidariedade Durkheim as
caracterizou pelo tipo de direito presentes em cada uma delas, o direito repressivo
que pune as faltas e os crimes severamente e o direito restitutivo que garantia a
normalidade a partir da reparação da ofensa a outrem, baseado no sentimento de
justiça, neste tipo de solidariedade, outros ramos do direito são mais acionados
como o direito civil, postulando assim sua teoria sobre o crime.

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