Direito Das Obrigações
Direito Das Obrigações
Direito Das Obrigações
1. A definição de obrigação
Pelo contrário, aquele que está onerado pelo ónus não tem qualquer dever, pelo
que o seu não acatamento não se pode considerar ilícito, traduzindo-se apenas na
perda ou na não obtenção de uma vantagem.
O Direito das obrigações assume-se como um ramo do Direito Civil que constitui o
direito privado comum. Por esse motivo, goza das características do Direito Privado: a
liberdade e a igualdade. Em principio, os sujeitos das relações obrigacionais têm os
mesmos poderes e são livres de fazer tudo o que não se encontre abrangido por uma
proibição.
Circulação de bens;
Prestação de serviços;
Instituição de organizações;
Sanções civis para comportamentos ilícitos e culposos;
Compensação por danos, despesas ou pela obtenção de um enriquecimento.
Daqui resulta a importância do direito das obrigações, uma vez que abrange
praticamente todo o comércio jurídico privado, com exceção das matérias reservadas
ao direito comercial, e todas as sanções civis para a atuação dos privados, bem como
diversos institutos destinados a efetuar a compensação por danos ou despesas
verificadas ou por aquisições obtidas à custa alheia ponto para além disso, a apurada
técnica que se foi desenvolvendo desde os juristas romanos tornam um campo
privilegiado para a investigação dogmática mais avançada, levando a que seja um dos
ramos de direito que mais influência exerce noutros ramos de direito, mesmo que
sejam de direito público, como sucede com o direito administrativo o direito fiscal
ponto o direito das obrigações constitui por isso, talvez o ramo de direito que mais
importância desempenha na formação do jurista.
Por esse motivo, a autonomia privada não se confunde com o direito subjetivo.
Efetivamente, na autonomia privada Existe uma permissão genérica de conduta,
porque todos os sujeitos de ordem jurídica é reconhecida esta possibilidade de
produção de efeitos jurídicos, não havendo nenhum que dela seja excluído. Por isso, se
pode dizer, seguindo Menezes cordeiro, que a autonomia privada é uma permissão
genérica de produção de efeitos jurídicos. A autonomia privada consiste assim num
espaço de liberdade, já que desde que sejam respeitados certos limites, as partes
podem livremente desencadear os efeitos jurídicos que pretendem.
Pelo contrário, no direito subjetivo existe uma esfera de competência, já que
relativamente a certo bem, quando ele é objeto de um direito subjetivo, efetua-se a
sua atribuição exclusivamente a uma pessoa, uma vez que todos os outros sujeitos vêm
ser excluídos dessa atribuição. Por isso no direito subjetivo existe uma permissão
normativa específica porque só o titular do direito tem a permissão de beneficiar das
utilidades que aquele bem produz. Esta realidade é expressa pelas felizes definições de
direito subjetivo apresentadas por Gomes da Silva: “afetação jurídica de uma a
realização de um ou mais fins de pessoas individualmente consideradas” e por
Menezes cordeiro: “permissão normativa específica de aproveitamento de um bem”.
Autonomia privada é assim a liberdade de produção reflexiva de efeitos
jurídicos, na medida em que os efeitos jurídicos produzidos irão repercutir-se na esfera
dos sujeitos que os produzem. No entanto, essa produção reflexiva de efeitos jurídicos
depende da utilização de um instrumento jurídico específico, ao qual convém fazer
referência: o negócio jurídico.
Pelo contrário, nos negócios jurídicos existe tanto liberdade de celebração como de
estipulação, já que as partes não apenas têm a possibilidade de decidir celebrar ou não
o negócio, mas também podem determinar quais são os seus efeitos jurídicos.
Por ela entende-se a possibilidade de que cada uma das partes tem de
livremente decidir se quer celebrar o novo contrato e com quem, e consequentemente,
a possibilidade de livremente propor ou não a celebração do contrato e de aceitar ou
rejeitar, sem constrangimentos de qualquer ordem, uma proposta de contrato que lhe
seja dirigida. As partes são assim livres celebrar o novo contrato, podendo recusar
arbitrariamente qualquer proposta contratual por muito vantajosa que ela seja, ou por
muito necessidade que a outra parte tenha em relação à celebração do negócio.
a) Generalidades
As razões para o facto de uma tutela da parte mais fraca não surgir NOS
quadros do direito civil clássico prendem se essencialmente com o ideário liberal
individualista, em que se basearam os códigos civis, avessos à proteção do contraente
débil.
Efetivamente, o princípio da igualdade instituído pela revolução francesa, era
hostil à proteção de certas categorias de pessoas. Confiava se, por outro lado, na
soberania das partes nas convenções, já que através da negociação elas facilmente
alcançariam as mais soluções justas. Assim expressavam as conhecidas fórmulas de
Kant: quando alguém decide alguma coisa por outrem é possível que cometa uma
injustiça, mas nenhuma injustiça é possível quando se decide por si próprio.
Mas para além disso, mesmo que ocorra a citação, a lei exige o cumprimento de
certas exigências específicas para permitir a inclusão das cláusulas contratuais gerais
no contrato singular. Essas exigências constam dos artigos 5º a 7º LCCG, reconduzindo
a 3 situações distintas:
A lei especifica que a comunicação à outra parte deve ser integral e ser realizada de
modo adequado e com a antecedência necessária para que, tendo em conta a
importância do contrato e a extensão e complexidade das cláusulas, que se torne
possível o seu conhecimento efectivo por quem use de comum diligência. O ónus da
prova da comunicação adequada e efetiva cabe à parte que utiliza as cláusulas
contratuais gerais, sendo que caso esta exigência de comunicação não seja cumprida,
as cláusulas contratuais gerais consideram-se excluídas do contrato singular,
considerando ainda a lei não terem sido adequado efetivamente comunicadas as
cláusulas que, pelo contexto em que surjam, pela epígrafe que as precede ou pela sua
apresentação gráfica passam despercebidas a um contratante normal, colocado na
posição do contratante real e as cláusulas inseridas em formulários, depois da
assinatura de uma das partes.
Estas exigências constituem apenas ónus cujo não cumprimento, mesmo que não
culposo, acarreta sempre a consequência da exclusão das cláusulas contratuais gerais
do contrato singular, figurando então as normas supletivas aplicáveis ou recorrendo se
ao regime da integração negocial. Pode porém, o contrato ser nulo quando essa
exclusão conduz a uma indeterminação insuprível de elementos essenciais ou um
desequilíbrio das prestações gravemente atentatório da boa-fé.
Assim, nas relações entre empresários e entidades equiparadas a lei distingue entre
cláusulas absoluta ou relativamente proibidas ponto as cláusulas absolutamente
proibidas reconduzem reduzem se a cláusulas iníquas, pelo que ele as considera nulas
seja qual for o ponto quadro contratual em questão. As cláusulas relativamente
proibidas reconduzem se a cláusulas abusivas pelo que a sua proibição depende da
realização de um juízo sobre o quadro contratual padronizado, uma vez que só este
permitirá confirmar ou infirmar a existência de um abuso da liberdade contratual na
introdução daquela cláusula contratual geral.
Entre as cláusulas absolutamente proibidas situam-se as convenções de exclusão
limitação de responsabilidade. A sua proibição é absoluta quando abrange a
responsabilidade por danos extracontratuais, sejam eles pessoais ou patrimoniais, quer
a exclusão seja efetuada por forma direta ou por forma indireta ponto tratando-se
porém, de responsabilidade obrigacional culposa ou da responsabilidade objetiva do
devedor por atos dos representantes e auxiliares, a lei só proíbe a exclusão dessa
responsabilidade em caso de dolo ou culpa grave. Pareceria assim possível estipular
cláusulas contratuais gerais excluir ou limitar a responsabilidade do devedor em caso
de culpa leve.
Entendemos por isso, que o que esta norma visa proibir é exclusão através de
cláusulas contratuais gerais, das formas de extinção das obrigações duradouras, como
a remissão, a denúncia do contrato ou da oposição à renovação designadamente a
colocação dessa extinção nas mãos apenas de uma das partes.
Por último, a ler as cláusulas contratuais gerais proíbe a escolha de foro que
envolva graves inconvenientes para uma das partes, sem que os interesses da outra o
justifiquem. Trata-se de disposição que se justifica em virtude da estipulação de um
foro gravemente inconveniente representar uma séria limitação à faculdade de outra
parte recorrer a tribunal ponto
São ainda em absoluto proibidas certas cláusulas que visem impedir uma das
partes de exercer judicialmente os seus direitos, como seriam as cláusulas que alterem
o regime do ónus da prova ou estabelecem certas proibições de prova e ainda as
cláusulas que excluam recurso a tribunal ou as cláusulas compromissórias
relativamente a arbitragens que não assegurem as garantias de procedimento
legalmente estabelecidas.
Finalmente, são proibidas as cláusulas contratuais gerais que se encontrem
redigidas com um tamanho de letra inferior a 11 ou a 2,5 mm e com um espaçamento
entre linhas inferior a 1,15.
a declaração de nulidade;
A ação inibitória.
Para além da declaração de nulidade, a lei admite ainda uma outra possibilidade de
reagir contra as cláusulas contratuais gerais que consiste na ação inibitória. A ação
inibitória destina-se a interditar a utilização das cláusulas contratuais gerais proibidas
por força das disposições acima referidas, independentemente de terem sido
efetivamente incluídas em contratos singulares.
Nos termos do artigo 26 da lei das cláusulas contratuais gerais, tem legitimidade
para intentar esta ação as associações de defesa do consumidor dotadas de
representatividade, as associações sindicais, profissionais ou de interesses económicos
legalmente constituídas, atuando no âmbito das suas atribuições, e o Ministério
Público, oficiosamente ou a solicitação do Provedor de justiça ou de qualquer
interessado ponto trata-se de uma legitimidade própria destinada a tutela de
interesses difusos, uma vez que se destina a tutelar um direito alheio, pertencente em
conjunto aos consumidores suscetíveis de virem a ser atingidos pelas cláusulas cuja
proibição é solicitada. Atualmente parece que a lei vem mesmo admitir o uso da ação
inibitória das cláusulas contratuais gerais por qualquer consumidor ainda que não
diretamente lesado.
A simples injustiça do dano sofrido não é porém suficiente para se ter direito à
indemnização ponto efetivamente, por muito injusta que seja a situação, em princípio
direito tem que aceitar o veredicto do destino não atribuindo indemnização a quem
vem a suportar um prejuízo material, a perder uma vantagem ou a sofrer danos Morais
visto de qualquer circunstância lesiva ponto daí que o dano seja normalmente
suportado por que o sofreu, como fazendo parte do risco geral da vida. Quando o
direito não consegue iluminação dos danos sofridos, e reação contra a injustiça do
dano só pode ser realizada através de atuações espontâneas de solidariedade social,
resultantes ou da decisão política do Estado ou de iniciativas da sociedade civil. Mas a
espontaneidade dessas iniciativas torna incerta a efetiva existência de indenização.
Já na imputação pelo risco, o fundamento que lhe está na base baseia-se numa
conceção de justiça distributiva, segundo as doutrinas do risco proveito, risco
profissional ou de atividade e risco de autoridade. Segundo a primeira doutrina, aquele
que tira proveito de uma situação deve também suportar os prejuízos dela
eventualmente resultantes. De acordo com a segunda conceção, aquele que exerce
uma atividade ou profissão que seja eventualmente fonte de riscos deve suportar os
prejuízos que dela resultem para terceiros. Finalmente, na terceira conceção sempre
que alguém tenha poderes de autoridade ou direção relativamente a condutas alheias
deve suportar também os prejuízos que têm resultem.
3. O principio da boa fé
Por vezes porém, a realização da prestação pode fazer-se em termos tais que não
permite a plena satisfação do direito de crédito ou ou, embora permitindo a vírgula
seja suscetível de causar danos ao credor. Por outro lado, a exigência de cumprimento
do credor pode em certos casos aparecer contrária à funcionalização dos direitos de
crédito em virtude dos prejuízos que causa o devedor. Justamente por esse motivo a
leva a estabelecer deveres de boa-fé para ambos os sujeitos da relação obrigacional
que visam por um lado permitir o integral aproveitamento da prestação em termos de
satisfação do interesse do credor e por outro lado evitar que a realização da prestação
provoque danos quer ao credor, quer ao devedor.
a tutela da confiança;
A primazia da materialidade subjacente.
Sem esta autoridade, e uma vez que o artigo segundo número 2 do código de
processo civil proíbe o recurso ao total dos direitos, ficaria dependente da boa vontade
do devedor a realização da prestação, o que constitui o tele manifestamente
insuficiente para os direitos de crédito. Ao se definir NOS termos do artigo 397 do
código civil a obrigação como o vínculo jurídico provoca a destruição de uma pessoa à
realização de uma prestação, naturalmente que se pressupõe o recurso aos tribunais
para assegurar a realização da prestação, sem a qual AA destruição do devedor não
ocorreria.
Quanto à situação dos bens do devedor não suscetíveis de penhor eles aparecem
referidos NOS artigos 736 a 739 do código processo civil. Trata-se de bens em que por
desempenharem uma função essencial à subsistência à dignidade do devedor, ou em
virtude da função a que estão afetos ser superior à da garantia patrimonial dos créditos
a lei não autoriza a execução para fins de satisfação dos direitos de crédito.
Essa regra tem por exceções referidas no artigo 604 número 2 e que representam
casos em que o credor obtém direitos reais de garantia, os quais atribuem ao seu
titular a faculdade de ser paga à frente dos demais credores em relação ao bem objeto
do seu direito.
Esse duplo risco de não satisfação do direito de crédito é também suscetível de ser
evitado por 2 vezes. Quanto ao risco de variação do património do devedor, ele pode
ser evitado através da concessão aos credores da possibilidade de reagir contra acções
ou omissões do devedor de onde possa resultar a diminuição do seu património. Trata-
se dos meios de conservação da garantia Geral das obrigações, prevendo a lei para esse
efeito a declaração de nulidade, a ação sub-rogatória, a impugnação pauliana e o
arresto.
Estas garantias especiais podem ser pessoais como na hipótese de fazer responder
outra pessoa também pela dívida, eventualmente em caso de insuficiência do
património do devedor ou podem ser reais, caso em que o credor obtém um direito
real de garantia como a consignação de rendimentos, o penhor, a hipoteca, ou
privilégio direito de retenção sobre determinado objeto, o que lhe permite proceder à
sua execução com preferência sobre os credores comuns, independentemente da
circunstância do objeto da garantia pertencer ou não ao património do devedor. No
caso da Constituição de direitos reais de garantia, a responsabilidade patrimonial do
elevador, considerada como uma responsabilidade pessoal, sobrepõe-se uma
responsabilidade material de um determinado bem, em relação a uma dívida
determinada ponto essa responsabilidade material aparece como contraponto o
direito real de garantia que pode ser constituído por ato negocial ou ser atribuído por
lei e que não deve ser confundido com um direito de crédito, uma vez que ele não tem
por contraponto qualquer dever de prestar, mas apenas a sujeição primordial daquele
bem ao poder de execução de um credor. Daí pode ser constituído por um terceiro que
não tem qualquer dever de efetuar a prestação.
1. Generalidades
Nesses casos, conforme resulta do artigo 817 o credor apenas pode proceder à
execução do património do devedor para obter por via coerciva a satisfação do seu
direito à custa dos bens do devedor ou uma indemnização pelos danos sofridos com a
não realização da prestação. Por esse motivo questiona-se se o verdadeiro objeto do
direito de crédito não será antes do património do devedor, uma vez que só através
dele o credor pode obter judicialmente a satisfação do seu direito, atenta a
incoercibilidade da prestação.
2. As teorias personalistas
Segundo as teorias personalistas, o direito de crédito a um vínculo pessoal ou seja,
um direito tem por objeto uma conduta do devedor ponto essas teorias podem
essencialmente agrupar-se nas seguintes:
Para além disso, a atuação é uma expressão direta da personalidade e por isso
não pode ser dela separada para constituir objeto de um direito de domínio de
outrem. O credor só domina a atuação do devedor indiretamente através da pessoa
desde, sendo uma decisão na sua liberdade pessoal realizar a prestação a sujeitar-se às
consequências do incumprimento. Seria por isso contraditório demitir a existência de
um domínio direto sobre uma atuação alheia, já que cada atuação tem a base da sua
existência na liberdade do agente e não pode consequentemente constituir objeto de
um direito de outrem.
3. As teorias realistas
Para as teorias realistas o direito de crédito não é um direito à prestação mas antes
um direito sobre o património do devedor. Estas teorias podem conhecer diversas
modalidades e que apontaremos as seguintes: que
A tese de Brinz veio a ser seguida por Becker, que acentua o elemento do
património no âmbito do direito de crédito, definindo este como o direito contra uma
pessoa que ao mesmo tempo intervém sobre o seu património e, assim apenas pode
existir sobre o património sem a pessoa ponto a conclusão de que o património é o
verdadeiro objeto do direito de crédito, dispensando a pessoa, seria demonstrada
pelos seguintes argumentos:
Com base nestes argumentos, o autor considera que o direito de crédito apenas
pode abranger o património, contestado a eventual crítica de que o direito sobre
património seria um direito inseguro, já que o devedor poderia dissipar ponto a seu
ver, tal possibilidade não afeta a natureza do direito, já que o mesmo poderia sempre
suceder com um penhor sobre um armazém de mercadorias, sendo na verdade o
direito de crédito sem valor se tal suceder, como é um direito de crédito sobre o
mendigo. Também não considera a eventual crítica de que o crédito só recai sobre a
prestação, a qual só um ser humano realiza, argumentando que sua obrigação existe
sempre uma prestação, o objeto da obrigação responsável pela prestação nem sempre
depende de uma pessoa, como demonstra a situação das garantias reais.
A teoria que concebe o direito de crédito como uma relação entre patrimónios
corresponde à conceção mais extrema das teorias realistas. Esta conceção é defendida
por um autor que sustenta que tendo direito de crédito sido na origem um vínculo
pessoal, Hoje essa sua configuração estaria abandonada, tendo ele se transformado
num vínculo entre patrimónios, sendo as pessoas do credor e do devedor meros
representantes críticos dos seus bens. Assim, não seria o devedor que deve ao credor,
mas antes o património do devedor que deve ao património do credor.
Uma outra conceção é que ela qualifica o credor como sucessor do devedor.
Uma das primeiras formulações desta teoria sustenta que o credor era um sucessor a
título universal do devedor, sendo por esse motivo que exercia Hoje direitos e ações
que ele competia um Ponto Final
3. As teorias mistas
Cabe agora examinar as teorias mistas entre as quais se inclui a célebre concepção
alemã que significa dívida e responsabilidade. Para estas doutrinas a obrigação tanto
tem por objeto a prestação como património do devedor, posição que se considera
corresponder ao antigo direito Romano que distinguia entre a vinculação pessoal do
devedor e a sua responsabilidade, bem como ao antigo direito germânico que
estabelecia uma distinção entre a dívida e a responsabilidade. O débito seria o vínculo
principal da obrigação, consistente no dever de efetuar a prestação enquanto a
responsabilidade consistiria num vínculo de garantia, traduzido num estado de sujeição
do património do devedor ao credor, que lhe asseguraria o equivalente patrimonial da
prestação, em caso de não cumprimento. O credor teria assim 2 direitos fundamentais,
um direito à prestação que seria um direito pessoal, e um direito sobre património do
devedor que seria um direito real de garantia. O primeiro seria satisfeito mediante o
cumprimento voluntário por parte do devedor enquanto o segundo se exerceria
através da intervenção dos mecanismos coativos, mediante o processo de execução
forçada.
Esta teoria (Schuld und Haftung) caracteriza-se por considerar o direito de crédito
como um somatório destes 2 elementos autónomos: o direito à prestação direto de
execução sobre o património. Esta teoria defende que apesar de fazerem parte do
direito de crédito, estes 2 direitos teriam natureza diversa entre si, mesmo quando
coexistentes no mesmo sujeito, o que seria demonstrado pelas seguintes razões:
a) o destino do objeto qualificativo da dívida e da responsabilidade;
Por outro lado, a demonstração de que pode haver dívida sem responsabilidade
ocorreria nas obrigações naturais, caso em que o credor tem direito à prestação
mas não o poder de executar o património do devedor.
Por outro lado, a situação das obrigações naturais não é exemplo de dívida sem
responsabilidade, porque ou são verdadeiras obrigações o que demonstraria
precisamente que o direito de execução não faz parte do direito de crédito, ou não são
consideradas obrigações e então, ausência de responsabilidade corresponde
precisamente a uma ausência de dívida.
Essa conexão das diversas realidades implica que a obrigação não seja apenas
uma sombra de consequências jurídicas mas antes uma realidade jurídica complexa,
uma estrutura de situações jurídicas. Constituindo uma estrutura de situações
jurídicas, obrigação permanece mesmo que algumas dessas situações jurídicas se
venham a extinguir e conserve a sua identidade, mesmo que as partes acordem
alguma modificação ou na sua Transmissão para terceiros.
Para além disso, a obrigação como toda e qualquer relação jurídica teria um
começo e um fim no tempo. Esses momentos podem ser quase temporalmente
coincidentes, como numa compra a dinheiro, mas normalmente medeia entre eles um
certo lapso de tempo. Assim, a obrigação apresenta-se também como uma estrutura
temporal que admite um decurso do tempo com um objetivo final: uma satisfação do
interesse do credor.
Obtenção desse objetivo pode implicar uma modificação do conteúdo da
obrigação, já que se a prestação se tornar impossível o interesse do credor só poderá
ser satisfeito através de uma indemnização. Por outro lado, o decurso do tempo pode
implicar o surgimento da extinção de certos vírus secundários ou acessórios, consoante
a fase do vínculo obrigacional em que se esteja, se na satisfação do interesse do credor
o objetivo final da obrigação o que implica que a sua extinção ocorra nesse momento.
Assim poder-se-ia considerar a obrigação como um processo evolutivo temporal.
Próxima destas conceções é a doutrina defendida entre nós por pessoas Jorge.
Para este autor, a obrigação constitui uma estrutura complexa mas mesmo mais
complexa do que pretendem as teorias dualistas, já que qualquer das partes, o credor
e o devedor tem a sua posição integrada por um conjunto de poderes e deveres de
natureza diversa que tomadas em Globo constituem o direito de crédito e a obrigação.
Em relação ao credor, a sua posição abrangeria entre outros: o direito à prestação; O
direito à indemnização dos prejuízos; O direito de obter sentença favorável e de a
executar coercivamente; Ou direito real sobre certos bens ou sobre o património do
devedor de terceiros garantes; os direitos protetivos de recorrer aos meios de
conservação da garantia patrimonial; O direito de dispor do crédito; Faculdade de
interpelação do devedor; o direito de resolver o contrato sinalagmático por
incumprimento; o ónus de colaborar no cumprimento e o dever de indenizar o devedor
pelas despesas resultantes do não cumprimento desse ónus.
É esta aliás a conceção adotada pelo legislador que no artigo 397 consagra a teoria
clássica definindo a obrigação como o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa
ficar restrita para com outra a realização de uma prestação. É também a posição
adotada pela grande maioria da doutrina portuguesa que entende o direito de crédito
como tendo por objeto a prestação, negando a existência de qualquer direito do credor
sobre o património do devedor. Efetivamente a ação executiva representa apenas a
aplicação pelo Estado de uma sanção pelo incumprimento das obrigações através da
qual se assegura a proteção jurídica ao direito de crédito. Assim, no processo de
execução o estado substituir-se ao devedor na satisfação do direito de crédito obtendo
para o efeito os meios necessários através da execução do seu património.
CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO
1. Generalidades
Como características da obrigação, a doutrina tem vindo a apontar as seguintes:
a) A patrimonialidade;
b) A mediação ou colaboração devida;
c) A relatividade;
d) A autonomia;
2. A patrimonialidade
A mediação tem sido apontada pela doutrina como uma das qualidades das
obrigações que permite estabelecer a sua distinção dos direitos reais, uma vez que
estes faltaria essa característica, na medida em que consistiriam num poder direto e
imediato sobre uma coisa. Já os defensores de uma conceção personalista do direito
real negam a possibilidade de utilizar esse critério de distinção, na medida em que
configurando o direito real como uma obrigação passiva universal, consideram o
exercício de poderes sobre a coisa como um reflexo factual ou económico dessa
obrigação ponto
É manifesto no entanto, que a mediação existe nas obrigações e falta NOS direitos
reais, já que enquanto neste o direito do credor se exerce diretamente sobre as coisas,
naquelas o direito à prestação só é realizável através de um intermediário, que é o
devedor que se vincula assim a prestar a colaboração necessária para que o credor
obtenha a satisfação do seu interesse.
4. A relatividade
Apenas o devedor deve prestar e apenas dele pode o credor exigir que realize a
prestação. Daí concluir-se que o direito de crédito em caráter estruturalmente relativo,
o que o destino dos direitos reais que se caracterizam por terem caráter
estruturalmente absoluto, na medida em que, ao terem por objeto uma coisa não se
estruturou a partir de uma relação entre pessoas mas antes pressupõe uma ausência
dessa relação sendo oponíveis erga omnes.
Já a relatividade no sentido de não eficácia do direito de crédito em relação a
terceiros se apresenta como mais discutível. A doutrina clássica faz derivar em termos
conceptualista da relatividade estrutural do direito de crédito uma relatividade em
termos de eficácia, defendendo que os direitos de crédito nunca podem ser violados
por terceiros, já que sendo direitos relativos, os terceiros não têm o dever de os
respeitar. Assim, os direitos de crédito só poderiam ser violados pelo devedor, não tem
no terceiro qualquer responsabilidade pela sua frustração.
Essa solução resultaria no nosso direito no artigo 406 número 2 que refere que em
relação a terceiros, o contrato só produz efeitos NOS casos previstos na lei, e da
distinção entre a responsabilidade de litoral e a responsabilidade obrigacional, já com o
artigo 483 relativo à violação de direitos absolutos, sujeito à responsabilidade civil com
a consequente obrigação de indemnizar, a sua violação culposa pelo qualquer pessoa
enquanto que o artigo 798 relativo à violação do direito de crédito, restringe ao
devedor a responsabilidade obrigacional.
Essa doutrina clássica teve porém, desde sempre forte oposição na doutrina
nacional, já que inúmeros autores entendiam que o dever geral de respeito que todos
têm de não usar os direitos alheios, também abrangeria os direitos de crédito que
consequentemente teriam tutela delitual.
Uma posição intermédia neste debate é aquela que, embora não aceite a existência
de um dever geral de respeito os direitos de crédito, admite alguma oponibilidade dos
créditos perante terceiros, através da aplicação do princípio do abuso de direito de
acordo com o artigo 334. O terceiro poderia ser assim responsabilizado NOS casos em
que a sua atuação lesiva do direito de crédito se possa considerar como um exercício é
inadmissível da sua liberdade de ação ou da sua autonomia privada.
A nosso ver, deve ser adotada esta solução intermédia. É certo que na maioria dos
casos o terceiro que contrata com o devedor não deve ser responsabilizado pelo facto
de este violar as suas obrigações, uma vez que faz parte da autonomia privada de cada
um a possibilidade de contrair sucessivas obrigações mesmo que não esteja em
condições de cumprir todas. Efetivamente não se exige qualquer requisito de
legitimidade para a Constituição de obrigações, sendo plenamente válida a
Constituição de créditos que o devedor não poderá satisfazer sem cumprir outros já
estabelecidos. Nesse caso, é o próprio legislador que vem dizer que os créditos
anteriores não adquirem qualquer prevalência sobre os posteriores. Antes pelo
contrário, todos concorrem do mesmo modo sobre o património do devedor de acordo
com o artigo 604 número 1 do código civil
Efetivamente quem contrata com outra não tem que ponderar a existência de
vínculos obrigacionais anteriores do devedor, uma vez que os dados essenciais do
sistema económico são que só o devedor deve responder por eles.
5. A autonomia
Tal até permitiria que se pudesse inferir a existência de uma grave crise do direito
das obrigações, uma vez que a sucessiva institucionalização de relações jurídicas
obrigacionais, em função do seu enquadramento em novos complexos normativos
orientados pelo seu fim social levaria à contínua desagregação do direito das
obrigações, que apenas regularia as obrigações constantes do código civil, ou seja
precisamente as que revestem menor interesse prático.
Pensamos no entanto, ser esta uma conceção errada uma vez que a autonomização
de uma obrigação não impede a sua regulação pelo direito das obrigações nas partes
não sujeitas ao seu regime específico. Efetivamente, estrutura da obrigação autónoma
e não autónoma idêntica. O regime das 2 é que pode divergir em maior ou menor
medida, o que não impede a qualificação de ambas como verdadeiras obrigações. Ora,
o direito das obrigações é um ramo do direito civil cuja autonomização assenta
precisamente em características estruturais, uma vez que a classificação germânica do
direito civil não tem um critério homogéneo.
A autonomização das disciplinas direitos reais e direito das obrigações têm por
base as características estruturais os direitos que se referem. Já o direito da família e
das Sucessões são autonomizados em função da fonte de onde resultam as relações de
que tratam. É por isso perfeitamente natural que surjam situações estruturalmente
obrigacionais outros ramos do direito mas estas não perdem a sua natureza de
obrigação em virtude daí serem inseridas ponto daí que a autonomia não deva ser
considerada como uma característica das obrigações.
6. Conclusão
Ficamos assim com 3 características das obrigações: a patrimonionialidade
tendencial, a mediação e a relatividade.
Esta oponibilidade veio a ser sustentada através de uma passagem célere em que
qualificava o direito real como um muro protege contra todas as direções e direto de
crédito como um muro que apenas protege numa direção.
O direito de crédito já não tem esta caracteristica.se alguém tem direito a uma
prestação e o devedor aliena o objeto da mesma, o credor já não pode exigir. Só lhe
resta pedir uma indemnização ao devedor por ter impossibilitado culposamente a
prestação.
Uma outra característica dos direitos reais que os permitem distinguir dos direitos
de crédito é denominada prevalência que no seu sentido amplo, significa a prioridade
do direito real primeiramente constituído sobre posteriores constituições, salvo as
regras do registo e a maior força dos direitos reais sobre os direitos de crédito, o que
significa não ser possível constituir sucessivamente os direitos reais incompatíveis
sobre o mesmo objeto, só um podendo prevalecer. Assim, se alguém vender o mesmo
objeto 2 vezes a pessoas diferentes prevalecerá a primeira alienação, ou em caso de
bens sujeitos a registo, a que primeiro for registada.
Então significa a exigência de um requisito legitimidade para a Constituição dos
direitos reais, uma vez que com a primeira alienação o vendedor perde a sua
legitimidade para dispor do bem, já não podendo fazer segunda vez.
Essa característica não existe noa direitos de crédito, que não se hierarquizam entre
si pela ordem da Constituição, antes concorrem em pé de igualdade sobre o
património do devedor que vira pela se não for suficiente, é rateado para se efectuar
um pagamento proporcional a todos os credores. Assim, se alguém tiver um
património no valor de 1000 EUR e assumir sucessivamente 2 obrigações de pagar
1000 EUR a 2 credores distintos, as 2 obrigações ficam validamente assumidas tendo o
património do devedor que ser dividido para pagar a cada um dos credores metade do
seu crédito. A regra é assim do rateio do património do devedor. Desta forma, os
direitos de crédito não se hierarquizam entre si pela ordem da Constituição ou do
registo. Têm todos uma posição equivalente sobre o património do devedor, a não ser
que surjam acompanhados um direito real que atribua prevalência no pagamento.
Efetivamente, os direitos reais têm mais força do que os direitos de crédito, pelo que
no caso é um conflito entre um direito real e um direito de crédito, será aquele que
prevalecerá.
De acordo com o artigo 398 número 1, a prestação pode tanto consistir numa
ação como numa omissão, sendo o seu conteúdo determinado pelas partes dentro dos
limites da lei. A prestação muitas vezes pode consistir não propriamente na atividade
que o devedor desenvolve, mas antes num resultado dessa atividade, tendo nessa
medida a expressão prestação um duplo significado. Confrontem se por exemplo os
artigos 1152 i 1154 do código civil.
A impossibilidade deve por outro lado, ser objetiva e não apenas subjetiva. O
artigo 401 número 3 refere-nos que apenas se considera impossível a prestação que o
seja em relação ao objeto e não em relação à pessoa do devedor. A mesma regra
aplica-se a impossibilidade superveniente, por força do artigo 791. Efetivamente, as
prestações são em princípio fungíveis, pelo que o seu cumprimento pode ser efetuado
por qualquer pessoa de acordo com o artigo 767 número 1.
Assim, se só o devedor estiver impossibilitado de prestar, ele deve fazer-se
substituir no cumprimento da obrigação. Não há por isso qualquer obstáculo à
Constituição da obrigação se a impossibilidade for meramente subjetiva, exigindo-se
uma impossibilidade que o seja em relação ao objeto e não meramente em relação à
pessoa do devedor pode final daí a possibilidade reconhecida de obrigação ter por
objeto coisas relativamente futuras, bem como a circunstância de a denominada
impossibilidade económica não ser considerada como verdadeira impossibilidade, por
ser apenas referida a pessoa do devedor.
Licitude
Conforme salienta menezes cordeiro não deve ser porém confundida com a
ilicitude resultado da situação em que apenas o fim subjetivo de quem celebra o
negócio ilícito, como por exemplo a aquisição de uma arma para cometer um
homicídio. Nestes casos, uma vez que cada uma das partes pode ter um fim subjetivo
distinto em relação ao negócio, o negócio só será nulo no caso do fim ser comum a
ambas as partes de acordo com o artigo 281.
Determinabilidade
Da mesma forma, a prestação tem de ser determinada ao. Esta regra resulta do
artigo 280 que estabelece a nulidade do negócio jurídico cujo objeto seja
indeterminável. Deve porém esclarecer se que indeterminável não deve ser confundido
com indeterminado, já que a obrigação pode constituir se estende ainda à prestação
indeterminada, desde que ela seja determinável. São exemplos de prestações
indeterminadas as obrigações genéricas e as obrigações alternativas, artigos 539 e
seguintes e 543 e seguintes respetivamente.
Para além disso, a prestação não pode ser contrária à ordem pública e aos bons
costumes de acordo com o artigo 280 número 2. Estamos neste caso mediante
remissões para conceitos indeterminados, cuja concretização deve ser realizada pelo
julgador. Em qualquer caso e seguindo Menezes cordeiro, parece que se deverão
abranger na referência aos bons costumes, as regras de conduta familiar e sexual, bem
como as regras deontológicas estabelecidas no exercício de certas profissões. Não será
por isso válido o negócio jurídico que tenha por objeto a realização de favores sexuais.
Já referência à ordem pública corresponde aos denominados princípios fundamentais
do ordenamento jurídico, cuja contrariedade mesmo que não constando de uma
norma expressa, implica a invalidade do negócio.