Revista Destarte - Artigo Ciêntifico
Revista Destarte - Artigo Ciêntifico
Revista Destarte - Artigo Ciêntifico
http://periodicos.estacio.br/index.php/destarte
DESTARTE, v.12, n.2, p. 1-18, dez.2023.
ARTIGO ORIGINAL
(IN)APLICABILIDADE DO MODELO OHLSON DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
NO CONTEXTO DE MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO
ORIGINAL ARTICLE
(IN) APPLICABILITY OF THE OHLSON MODEL OF COMPANY VALUATION IN THE
CONTEXT OF THE BRAZILIAN CAPITAL MARKET
ABSTRACT
This is an article that aims to analyze the empirical applicability of Ohlson's models under the auspices
of positive accounting research within the scope of the Brazilian capital market. From the perspective
of using accounting research as a mechanism for predicting information, it was possible for James
Arvid Ohlson to develop models for evaluating companies, whose measurement basis is accounting
(profit and net worth). The models developed are: i) Residual Income Valuation – RIV (Ohlson, 1995);
and ii) Abnormal Earnings Growth – AEG (Ohlson, 2005). Regarding the internal consistency of the
models, linear informational dynamics (DIL) and the evaluation formula were discussed, as well as the
definition of the required inputs (parameters and variables). Empirical studies were analyzed, both in
relation to their structure and the results obtained, verifying whether these are suitable instruments for
evaluating companies. In general terms, the study concluded that despite presenting testability in the
Brazilian scenario, critical points were verified: (1) simplified assumptions, (2) sensitivity to
assumptions, (3) difficulty in estimating parameters and (4) limitations in capturing data intangibles.
Keywords: positive research, company valuation models, residual income valuation, abnormal
earnings growth, capital market.
INTRODUÇÃO
2
Destarte, v.12, n.2, p. 1-18, dez. 2023
(In)aplicabilidade do modelo Ohlson de avaliação de empresas no contexto
de mercado de capitais brasileiro
Ohlson (lucro contábil, capital, fluxo de caixa etc.) e o valor de mercado das
empresas brasileiras para avaliar a eficácia do modelo de avaliação proposto.
Ademais, pode-se secundariamente analisar a capacidade do modelo de prever o
desempenho futuro de empresas brasileiras usando medidas como lucros futuros,
crescimento de ativos e retorno sobre o patrimônio; avaliar a aplicabilidade dos
modelos de Ohlson em diferentes setores da economia brasileira e validar se esses
modelos fornecem resultados consistentes e robustos em diferentes contextos de
negócios. Este estudo encontra-se organizado com a fundamentação teórica;
metodologia aplicada; a estruturação do modelo de Ohlson; resultados e discussões
as extensões do modelo e por fim as considerações finais.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
está relacionado a uma teoria que busca fazer bons prognósticos de eventos do
mundo real.
Para Chua (1986), pesquisadores contábeis acreditam na possibilidade de
realização de testes empíricos da teoria. Apesar da falta de claridade sobre como as
teorias são testadas ou falseadas, há uma ampla aceitação de que o método
hipotético dedutivo constitui uma explicação cientifica. A autora informa que o
método científico hipotético dedutivo tem duas consequências principais. Primeiro,
permite que a pesquisa seja levada para leis ou princípios universais, ou seja, a
explicação de um evento é apresentada como um exemplo de lei universal.
Segundo, há uma estreita ligação entre explicação, predição e técnica de controle,
isto é, se um evento é explicado apenas no momento de sua ocorrência pode ser
deduzido de certas premissas, de igual modo, conhecer a premissa antes do
acontecimento do evento pode facilitar a capacidade de predição quanto ao seu
acontecimento.
dois modelos contábeis. Todavia, Penman (2005) destacou que o AEG, a princípio,
sofre efeitos nos valores estimados devido ao maior grau de otimismo dos analistas
no curto prazo, embora, no longo prazo, os valores tornam-se equivalentes, ou ao
menos deverão se equiparar.
A teoria de finanças descreve o valor da empresa em termos de dividendos
futuros esperados, mostrando que o valor de mercado do patrimônio líquido é igual à
soma do valor contábil e do valor presente de todos os fluxos futuros esperados
(PENMAN; SOUGIANNIS, 1998); (WANG, 2021). Tendo como premissa o modelo
de desconto de dividendos (MDD), a abordagem teoricamente correta de avaliação
(PLENBORG, 2000). É dada por:
(1), onde:
(2), onde:
, onde:
Wang (2021) afirma que consistente com Penman e Zhang (2020) que
mostram que, na contabilidade conservadora, os maiores lucros futuros esperados
estão em risco e, portanto, estão associados a maiores lucros esperados. As
empresas gastam investimento quando os resultados são incertos, reduzindo os
lucros atuais e empurrando os lucros para o futuro. Pelo uso de lucros, valor contábil
do PL e a relação Clean Surplus, o Modelo de Desconto de Dividendos (MDD) é
reescrito como um modelo de desconto de números contábeis. Na sua forma ampla,
o modelo denota o valor da empresa como a soma de seus investimentos de capital
e o valor presente descontado do lucro residual de suas atividades futuras:
(3), onde:
6
Destarte, v.12, n.2, p. 1-18, dez. 2023
(In)aplicabilidade do modelo Ohlson de avaliação de empresas no contexto
de mercado de capitais brasileiro
Neste sentido, ainda que, no curto prazo, ocorram diferenças materiais entre o lucro
e o fluxo de caixa, no longo prazo, essas variáveis devem convergir para um mesmo
valor, sendo possível concluir que no longo prazo esses valores tendem a se
aproximar. Como consequência, espera-se que tanto os modelos de avaliação
baseados em fluxos de caixa quanto os baseados em lucros devem estimar valores
próximos para as empresas.
Para Palepu e Healy (2008), o acionista valoriza é o valor presente dos
dividendos futuros reembolsáveis. Essa definição pode ser obtida diretamente pela
previsão e desconto dos dividendos futuros. Entretanto, ela também pode ser
concebida pela reformulação dos dividendos em termos de ganhos e valores
contábeis, ou em termos de fluxo de caixa livre para acionistas. A avaliação de
empresas é um tópico de grande interesse na prática e no meio acadêmico. A
questão central diz respeito à previsão de “fluxos de caixa” esperados no futuro,
esses são então convertidos no valor intrínseco da empresa via uso de alguma taxa
de desconto (OHLSON; LOPES, 2007).
Segundo os autores, os estudantes do assunto, normalmente, utilizam três
abordagens para avaliação de empresas: (i) desconto de dividendos, (ii) desconto de
fluxos de caixa, e (iii) desconto lucros residuais. O objetivo do estudo desenvolvido
pelos autores é demonstrar, a partir do desenvolvimento de determinada técnica,
como os vários modelos de avaliação de empresa podem ser unificados. Sob essa
perspectiva, informam que o referencial teórico de partida para avaliação de
empresas é a fórmula VPDE (Valor Presente dos Dividendos Esperados):
(4), onde:
METODOLOGIA
Para alcançar os objetivos propostos, o artigo enquadra-se como pesquisa
exploratória-descritiva. Gil (2010) afirma que a pesquisa exploratória tem por objetivo
tornar o problema mais explícito ou a constituir hipóteses. Por sua vez, a pesquisa
descritiva tem por objetivo descrever as características de uma população, podendo
ser também de um fenômeno ou de uma experiência. Esse tipo de pesquisa
estabelece relação entre as variáveis no objeto de estudo analisado. Variáveis
relacionadas à classificação, medida e/ou quantidade que podem se alterar
mediante o processo realizado (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2009; RICHARDSON;
PERES, 1999). O artigo mantém orientações com vistas a abordar um assunto ainda
pouco explorado na literatura nacional e a analisar criticamente o modelo na sua
possível aplicabilidade empírica.
(6)
(7)
+ (8)
10
Destarte, v.12, n.2, p. 1-18, dez. 2023
(In)aplicabilidade do modelo Ohlson de avaliação de empresas no contexto
de mercado de capitais brasileiro
RESULTADOS E DISCUSSÃO
APLICABILIDADE DO MODELO
Muitos estudos na literatura acadêmica os trabalhos se propuseram a testar o
modelo de Ohlson, com destaques a especificidades tais como: metodologia
aplicada, qualidade dos dados coletados, estabelecimento dos parâmetros etc. Para
Cupertino e Lustosa (2006), o motivo de tanta diversidade repousa no fato de que
Ohlson (1995) ofereceu pouca orientação de como obter especificamente a variável
e os parâmetros de persistência ω e γ.
11
12
Destarte, v.12, n.2, p. 1-18, dez. 2023
(In)aplicabilidade do modelo Ohlson de avaliação de empresas no contexto
de mercado de capitais brasileiro
por analistas durante todo o período analisado, foram utilizadas empresas em que
todos os dados para o estudo estavam disponíveis.
Houve algumas inconsistências na previsibilidade do modelo, que segundo os
autores é possível que, de acordo com outros estudos, os analistas sejam mais
otimistas no curto prazo (PENMAN, 2005), o que pode afetar suas previsões de
ganhos e aumentar o desvio padrão do modelo AEG, pois os ganhos são insumos
deste modelo. Os autores concluíram também, mediante a aplicação de testes não
paramétricos, que não houve diferença estatisticamente significante entre as
avaliações estimadas, mostrando que os modelos de Ohlson convergem entre si.
Por fim os autores concluem que apesar de o RIV ter mostrado um melhor ajuste
para o valor de mercado do que o AEG, ele exige mais critérios para aplicação, uma
vez que é necessário usar as demonstrações financeiras, que, inclusive, poderiam
ser mais conservadoras, enquanto o modelo AEG depende somente da renda
projetada pelos analistas como meio de insumo para a avaliação.
CONCLUSÃO
Ao implementar o modelo de avaliação da renda residual, Ohlson (1995)
propõe um DIL parcimonioso. No entanto, argumenta-se que o DIL não considera a
contabilidade conservadora e não capta os projetos de investimento de uma
empresa. Os estudos empíricos existentes documentam que o modelo subvaloriza
sistematicamente as ações. A partir de Wang (2021) entende-se o modelo
modificado não assume qualquer pressuposto adicional sobre a dinâmica do valor
contábil e a modificação permanece consistente com a irrelevância dos dividendos.
Ademais, os resultados empíricos mostram que, em média, a persistência de “outras
informações” é superior, sugerindo que os parâmetros DIL modificados refletem de
fato o crescimento futuro e as oportunidades de investimento das empresas.
Com base nos artigos brasileiros, alguns parâmetros, como a taxa de
desconto ou o custo de capital, envolvem julgamentos e podem ser influenciados por
fatores externos. Isso pode introduzir viés e incerteza nas estimativas, afetando a
confiabilidade dos resultados. A indefinição da forma apropriada de capturar os
parâmetros ω e γ e a variável (ν) impede a verificação do poder explanatório
concreto do modelo de Ohlson. Ao não deixar claro qual o caminho formal para
15
incluir tais entradas no modelo, Ohlson não abriu possibilidade para refutação de
suas ideias. Para que algo seja qualificado como conhecimento, deve estar aberto
ao exame e ao risco da refutação pelos mais rigorosos de seus possíveis críticos.
Apesar dos modelos propostos por Ohlson, como o Residual Income
Valuation (RIV) e o Abnormal Earnings Growth (AEG), possuírem relativo grau de
testabilidade no contexto brasileiro e apresentarem forte convergência, quatro
pontos críticos ainda permanecem latentes.
O primeiro diz respeito a assunções simplificadas tais como a estabilidade do
crescimento dos lucros e a constância do custo de capital. Essas suposições podem
não refletir completamente a complexidade e a volatilidade do mundo real, o que
pode limitar a precisão e a aplicabilidade dos modelos. O segundo orbita na
dependência das das premissas e estimativas utilizadas. Pequenas alterações nas
premissas, como a taxa de desconto ou as expectativas de crescimento, podem
levar a grandes variações nos resultados. Isso levanta preocupações sobre a
subjetividade e a incerteza envolvidas na aplicação desses modelos. O terceiro
ponto tange a limitações na captura de intangíveis, pois verificou-se relativa
dificuldade dos modelos ajustados em capturar adequadamente o valor de ativos
intangíveis, o que pode limitar a capacidade dos modelos de Ohlson de avaliar
corretamente o valor das empresas.
Por fim, o quarto ponto transmite a questão das limitações contextuais, pois
as críticas aos modelos de Ohlson também apontam para a necessidade de
considerar as particularidades e os contextos específicos em que as empresas
operam. Fatores como regulamentações contábeis, características setoriais e
diferenças culturais podem afetar a aplicabilidade e a precisão dos modelos em
diferentes ambientes. Assim, percebe-se uma perspectiva relevante para novos
estudos e futuros ajustes aos modelos propostos por Ohlson para que de fato haja
significativa aplicabilidade no contexto mercadológico brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
16
Destarte, v.12, n.2, p. 1-18, dez. 2023
(In)aplicabilidade do modelo Ohlson de avaliação de empresas no contexto
de mercado de capitais brasileiro
FERREIRA, E. S., NOSSA, V., LEDO, B. C. A., TEIXERA, A. M. C., & LOPES, A. B.
Comparação entre os modelos residual income valuation (RIV), abnormal earnings
growth (AEG) e fluxo de caixa livre (FCF): um estudo empírico no mercado de
capitais brasileiro. Brazilian Business Review, 5(2), 152-172, 2008.
GALDI, F. C., & LOPES, A. B. Relação de longo prazo e causalidade entre o lucro
contábil e o preço das ações: evidências do mercado latino-americano. Revista de
Administração, 43(2), São Paulo, 186-201, 2008.
18
Destarte, v.12, n.2, p. 1-18, dez. 2023