NARRATIVA - LETRAS Inglês
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UNIDADE 5
NARRATIVA
O propósito das atividades desse tópico é examinar três questões
centrais:
• a primeira consiste em compreender por que contamos estó-
rias, e é formulada com uma articulação entre ideias de pensa-
dores vinculados à história, à antropologia cultural e à filosofia.
A base da reflexão em teoria da literatura teve de ser buscada
nas ciências humanas;
• a segunda consiste em examinar a diferença entre formas tra-
dicionais e formas modernas de construção narrativa. Nesse
tópico, é fundamental a noção de fragmentação;
• o percurso é encerrado com uma proposta de leitura alegórica
do texto literário, destacando as relações texto-contexto e o
processo histórico-social envolvido na narrativa ficcional.
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Epopeia e romance
Tomando a narrativa na sua acepção mais genérica – como um gê-
nero de discurso, em oposição à descrição e à reflexão argumen-
tativa, em que se apresentam episódios articulados por relações
temporais e causais – é possível qualificar como narrativas formas
culturais que não pertencem à Literatura. Por exemplo, a História, o
texto jornalístico, o cinema. Em todos os casos, podemos reconhe-
cer um modo de construção narrativo. No caso da História, a narra-
tiva teria um compromisso suposto de fazer referência à realidade
concreta do passado; no caso do jornalismo, ocorre o mesmo, mas
com um modo de remissão à realidade pautado na observação mais
ligada ao presente, ao cotidiano; no caso do cinema, elaboram-se
narrativas ficcionais, como no caso da Literatura, porém com outros
recursos de linguagem (visual, sonora) e outro modo de produção
(coletivo, amparado em tecnologia).
A narrativa literária, em sentido estrito, é caracterizada pelo do-
mínio da ficção, isto é, da construção imaginativa na elaboração, que
mantém relações mediadas (simbólicas ou alegóricas) com a realida-
de histórica. Para classificar os diferentes modos de narrativa literária,
é preciso recorrer às noções teóricas de tradição e modernidade.
Tradição corresponde ao movimento de transmissão dos mo-
dos de produção cultural através da História. A tradição se sustenta
na aceitação em diferentes momentos históricos e/ou em diferen-
tes lugares dos mesmos cânones de composição. A tradição está
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por ele, mas pelos interesses dos deuses e pelos valores nacionais.
Hegel usa a ideia de nação para explicar a base política da epopeia.
As grandes epopeias, segundo ele, seriam os combates entre duas
sociedades, em que a nação do contador expõe, através das con-
quistas dos heróis, sua superioridade com relação à adversária.
Como o que ocorre em geral nas formas orais, a epopeia tem um
modo de composição que permite o condicionamento do narrador
para a memorização. A musicalidade, o ritmo, a regularidade métrica,
os acentos regulados, as rimas são recursos que permitem a memori-
zação da letra pelos contadores. Mas, na sua forma oral, a narrativa não
tem rigidez de conteúdo. Lévi-Strauss explicou, em Ordem e desordem
na tradição oral, que a lógica própria da tradição oral é a da abertura
e da intercambialidade, sendo por isso possível encontrar várias ver-
sões de uma mesma estória em diferentes lugares. É só no registro
escrito que a narrativa ganha uma unidade inteiramente fechada.
A epopeia foi assunto de Lukács no livro Teoria do romance.
Lukács entende, a partir de categorias hegelianas, que a epopeia é
um gênero próprio de uma civilização com base religiosa firme, em
que há o enraizamento transcendental. O sentido das ações está
dado em razão das determinações transcendentais que definem a
ordem, a lei, a base para pensar os conceitos, a função e o valor de
cada ato. Removida essa base, o que ocorre é o desenraizamento
transcendental, com a ausência de referências seguras para deter-
minar o sentido de uma ação. O romance seria assim, para Lukács, o
gênero correspondente a uma civilização atingida por incertezas, e
o herói por isso seria um herói problemático, cujas ações não têm,
para ele mesmo, um sentido inteiramente claro.
Com base na Teoria do romance de Lukács, Benjamin vai fazer o
seguinte desdobramento sociológico no ensaio O narrador: na nar-
rativa arcaica, o contador de histórias e seu(s) ouvinte(s) estavam
integrados, fisicamente próximos, dispondo de uma base mental co-
mum. Há um componente comunitário no modo de transmissão da
narrativa arcaica, um fundamento de integração social. No caso do
romance, mostra Benjamin, o que se observa não são duas pesso-
as juntas, uma ao lado da outra, uma ouvindo a estória que a outra
conta, mas um escritor isolado, que escreve sozinho seu livro, e um
leitor que lê também sozinho. Foi rompido o laço de integração. O
mundo do romance não é apenas um mundo sem a firmeza metafísi-
ca do mundo da epopeia; o próprio modo de produção do romance
supõe uma ruptura com a capacidade da narrativa arcaica de reunir
pessoas em torno de situações comuns e uma mentalidade comum.
Nesse sentido, o romance seria índice de fragmentação social.
O romance se afirma como gênero a partir de duas bases im-
portantes. Uma, exposta por Ian Watt em A ascensão do romance, é
a noção de que a experiência do indivíduo humano é assunto de
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5 . 2 E l e m e n to s do m u n do n arrad o
A fragmentação da narrativa
A motivação social da fragmentação da narrativa foi explicada por
Rosenfeld no artigo citado, e também por Auerbach em A meia mar-
rom. É necessário ter em conta uma compreensão da modernidade,
a partir da Revolução Industrial, para valorizar os procedimentos
argumentativos de Rosenfeld e Auerbach. Na modernidade, pas-
samos a conviver com uma pluralidade de formas de pensar e mo-
dalidades de comunicação, e uma proliferação e diversificação dos
modos de produção infraestruturais, na vida econômica, política
e social. Essas transformações levariam à necessidade de repre-
sentação de uma consciência multiforme e aberta a contradições,
que se expressaria na instabilidade de conduta de narradores, na
construção de personagens marcadas por paradoxos e vazios, na
inutilidade ou impenetrabilidade de ações.
Nos termos de Benjamin, textos como Brás Cubas e Grande
sertão: veredas seriam marcados por uma intenção alegórica. Esse
conceito, definido nos textos Parque central e Origem do drama bar-
roco alemão, está associado à aniquilação de contextos orgânicos.
Para Benjamin, o símbolo se caracteriza pela apresentação de um
sentido unificado, totalizante. As alegorias, por um princípio dis-
sociativo e pulverizador, que expõe a matéria histórica como ruí-
na, aponta para a impossibilidade de conciliar termos em que se
debate o espírito humano (no caso do barroco, a valorização do
corpo da Antiguidade e a condenação do mesmo na Idade Média,
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5 . 3 Narr ado r
Norman Friedman inicia o capítulo sobre o Autor Onisciente Intru-
so definindo a distinção entre sumário narrativo (contar) e cena
imediata (mostrar). Para o autor, a transmissão do material da estó-
ria (termo utilizado por Norman Friedman para designar a diegese,
texto ficcional, para diferenciar da história factual) ao leitor se faz
possível por meio, pelo menos, de um ponto definido no espaço e
no tempo. A esse respeito Friedman diz:
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[...] o autor, camuflado e encoberto pela ficção, não consegue fazer sub-
mergir somente uma sua categoria – sem dúvida a mais expressiva – a
apreciação. Para além da obra, na própria escolha do título, ele se trai, e
mesmo no interior dela, a complexa eleição dos signos, a preferência por
determinado narrador, a opção favorável por esta personagem, a distri-
buição da matéria e dos capítulos, a própria pontuação, denunciam a sua
marca e a sua avaliação (DAL FARRA apud CINTRA, 1981, p. 07).
[...] Entretanto, não se deve esquecer que por trás desta aparência de
desmistificação ideológica, o autor-implícito pode estar ocultando ou-
tras visões possíveis. Assim o que parece revelação é, na verdade, ocul-
tação. Daí o caráter de discurso ideológico (CINTRA, 1981, p. 11).
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1) Hipóteses básicas:
a) espírito de época (unificador) que explica a emergência de várias cultu-
ras já não se traduz como verdade absoluta. Anteriormente, havia a noção
geral de que cada momento histórico teria relação com esse espírito;
b) desrealização no campo da arte: relacionada com a anterior, pois está
vinculada à tentativa de “demonstrar”, “desrealizar” os modelos de
representação realista que não seriam apenas a aparência, buscando
a “essência” da realidade. Comenta que se colocar fora do objeto re-
presentado (perspectiva) implica uma separação entre sujeito e objeto.
“Dominar” o objeto seria uma ilusão, pois estaria, de fato, dominando
sua aparência;
c) as alterações em outras formas de arte estariam começando a apare-
cer no romance – destaque dado à pintura.
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4) Fragmentação do romance:
a relação do expectador com a obra é diferente, pois a própria ideia de tota-
lidade é questionada visto que o “olho” vai construindo o mundo de acordo
com sua sensibilidade. O que muda, então, é a forma de representação.
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BIBLIOGRAFIA
BENJAMIN, Walter. Conto e cura. In: _____. Rua de mão única. São
Paulo: Brasiliense, 1987.
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