Dissertação - Cap Hugo - Cao-II-2013
Dissertação - Cap Hugo - Cao-II-2013
Dissertação - Cap Hugo - Cao-II-2013
São Paulo
2013
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO BARRO BRANCO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS
POLICIAIS DE SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA – II/2013
São Paulo
2013
Cap PM Hugo Araujo Santos
Às mulheres da minha vida: minha mãe Célia, irmã Priscila, esposa Andréa,
e filhas Bianca e Gabriela, alicerces da família.
Aos meus melhores amigos: meu pai Hermelino, irmãos Marcos e Celso e,
especialmente, ao Moacyr, por ter me acolhido em sua casa durante o curso.
À melhor banca de mestrado que poderia ter: o Doutor Neury Botega, maior
autoridade em suicídio no país, o Coronel Ib Martins Ribeiro, psicólogo que mudou o
olhar da Corporação para com seus policiais militares e familiares e o Major Adriano
Giovaninni, mestre em gerenciamento de crises e explosivos.
Aos Comandantes do GATE, Major Diógenes Viega Dalle Lucca e Tenente
Fernando Sério Vitória, companheiros de curso em Córdoba-Argentina, pelo orgulho
de ser instrutor de Negociação com Suicidas a policiais de todo o mundo há anos.
Ao Capitão Anderson Teixeira da Silva e à Tenente Lucimara Rossi de
Godoy, do 7º GB, pela honra de ensinar técnicas de Controle de Distúrbios do
Comportamento Suicida a bombeiros e de aprender com eles.
Ao Major Décio José Aguiar Leão, referência policial na área de táticas
especiais, e ao professor de línguas Subtenente Vanderlei Pereira de Souza, pelo
apoio fundamental na concepção deste trabalho.
Aos instrutores, professores e capitães-alunos do Centro de Altos Estudos
em Segurança (CAES), pelo aperfeiçoamento profissional e convívio fraternal.
Aos guerreiros do imortal Pelotão ATAC (1995-2005), que ombrearam
comigo em dezenas de missões envolvendo suicidas.
E a Deus, por me permitir conviver com todas essas pessoas e arquitetar
mais esta oportunidade de evolução pessoal.
"O suicida não quer morrer.
Na verdade ele não sabe o que é morte.
Aliás, ninguém sabe.
O que ele deseja é fugir do sofrimento."
(Roosevelt M. S. Cassorla)
RESUMO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 COMPORTAMENTO SUICIDA
2.1.1 O suicídio
2.1.1.1 Conceitos
gravidade acentuada, transtornando o indivíduo a tal ponto que a morte torna-se seu
único refúgio e a inevitável solução dos problemas.
Na obra de WERLANG-BOTEGA (2004) é possível encontrar 15
conceituações do suicídio, denotando as múltiplas pesquisas, dos mais variados
autores, sobre o tema.
Em 1643, o médico inglês Thomas Browne criou a palavra “suicídio” a partir
do grego autofonos. No seu livro, o médico inglês distinguia o suicídio em duas
formas: “heroica” ou “patológica” (BERTOLOTE, 2012, p.29).
O termo seria usado por Desfontaines em 1737: o significado tem origem no
latim, na junção das palavras ''sui'' (si mesmo) e ''caederes'' (ação de matar). É “o
ato de terminar com a própria vida” ou “a morte de si mesmo”, ou ainda na definição
de Stengel: “Dano fatal feito a si mesmo, intencional e consciente, mesmo que de
modo ambíguo e vago” (WERLANG-BOTEGA, 2004, p.22).
Na célebre obra “O Suicídio”, o pai da sociologia moderna David Émile
Durkheim estabelece o conceito de suicídio consagrado até hoje:
Todo ato de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou
negativo praticado pela própria vítima e que esta sabia dever produzir este
resultado (DURKHEIM, 1897, p.15).
Para Durkheim, o suicídio era um “fato social”, mais forte que o indivíduo,
decorrente da (falta de) integração e controle sociais.
2.1.1.2 História
2.1.1.3 Religião
humano é apenas uma parte do todo e não lhe é permitido destruir essa porção,
prejudicando a comunidade; e terceiro, porque os católicos encaram a vida como um
dom de Deus e, portanto, só a Ele cabe decidir quando a vida deve cessar.
Os Evangélicos, sejam presbiterianos, metodistas, adventistas ou luteranos,
consideram o suicídio como um pecado mortal. Os espíritas, como uma vertente do
cristianismo, no mesmo sentido condenam o suicídio. Segundo o Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec, após o desencarne (morte) os suicidas enfrentam grandes
dificuldades e sofrimentos no mundo espiritual, com sensações de angustia e horror
pós-morte no Vale dos Suicidas até que se encerre seu interrompido ciclo de vida
(SUICÍDIO & SALVAÇÃO, p. 8).
A Bíblia menciona quatro personagens que cometeram suicídio: Saul (I
Samuel 31:4), Aitofel (II Samuel 17:23), Zinri (I Reis 16:18) e Judas (Mateus 27:5).
Todos eram vis, maus ou pecadores. Portanto, a visão cristã é a de que cabe a
Deus decidir quando e como a pessoa morrerá, e tomar este poder em suas próprias
mãos é blasfêmia contra Ele.
Apesar da visão negativa em razão dos atentados terroristas,
paradoxalmente o Islamismo é a religião que mais se opõe ao suicídio. Os
muçulmanos acreditam que sendo Alá o criador de todas as formas de vida, tudo e
todos a Ele pertencem. O Corão, livro sagrado dos muçulmanos, ensina que a vida é
sagrada e ninguém poderá destruí-la, condenando não só o homicídio e o suicídio,
mas também a eutanásia.
2.1.1.4 Ciência
1
Pseudônimo de François-Marie Arouet (1694 - 1778), poeta, filósofo e historiador francês, famoso
por introduzir reformas sociais e políticas na França, denominadas iluministas, que influenciaram o
mundo.
26
Um criminoso profissional que tem frustrada sua ação de roubo pela polícia
pode reter uma pessoa como refém e utilizá-la como instrumento para tentativa de
fuga ou preservar a vida (SSP-SP, 2010). Há, todavia, a situação de criminosos que
se veem sem saída, pois não querem ser presos ou estão constrangidos pela
situação em que foram flagrados e pensam em se matar.
Nesses casos, de uma negociação hipoteticamente simples, em que é
negociada a preservação da vida e da integridade física em troca da rendição,
32
passa-se a lidar com uma situação complexa, com um criminoso tencionado a matar
seu refém e depois se matar (LUCCA, 2002, p. 54)
A tática de negociação, nessas ocorrências, deve ser em escalada, visando,
primeiro, a libertação do refém (que na prática, nunca deverá ser assim chamado
pelo negociador) para depois obter a rendição do criminoso (que também,
obviamente, não deve ser assim chamado). Isso pode ser obtido, inicialmente,
dando-lhe garantias de vida e, depois, esclarecendo ao causador que a retenção de
vítima pode representar um acréscimo ou uma qualificadora em relação ao crime
cometido.
Geralmente, no afã de não deixar o criminoso escapar, os cercos policiais
muito próximos intimidam o criminoso que, ao se ver sem saída e acuado, adquire
pendores suicidas. No gerenciamento da crise, o melhor a ser feito é afastar os
policiais não diretamente envolvidos, criando um clima menos hostil ao criminoso-
suicida e favorecendo sua rendição.
pessoas”, “eu estou no controle, não você” e “minha vida está acabada de qualquer
maneira, então você deve atirar em mim”. A maioria dos incidentes de Suicídio por
Policial ocorre dentro de 15 a 30 minutos da chegada do policial ao local da
ocorrência e nem sempre o suicida tem uma intenção clara de suicídio por policial,
podendo esta ideia surgir repentinamente em seu pensamento com resultados
trágicos subsequentes.
Portanto, é prudente para um policial considerar a possibilidade de um
suicídio por policial antes mesmo que o confronto real ocorra. Armas menos-letais
são certamente as mais apropriadas para serem utilizadas nessas situações.
Quando inevitáveis, esses incidentes podem ser emocionalmente impactantes para
o policial “usado”, podendo desenvolver estresse pós-traumático, com
consequências no ambiente familiar ou afetar sua capacidade de cumprir suas
tarefas policiais normais.
2.3.2.6 Bullycídio
2
Palavra em inglês que significa assédio moral, intimidação ou valentia.
37
3
Em 5 de setembro de 1972, membros do grupo terrorista denominado “Setembro Negro”, ligados à
Organização para Libertação da Palestina - OLP, invadiram o quarto da delegação de Israel na Vila
Olímpica, matando dois atletas e tomando outros nove como reféns, em princípio exigindo a
libertação de presos políticos palestinos em Israel e, em virtude da negativa, tentando fuga através do
aeroporto da base militar de Furstendelbruck. Após uma desastrada operação de resgate da polícia
alemã, morreram todos os reféns, dois policiais e dois terroristas. Os outros três terroristas
conseguiram fugir, sendo dois deles mortos pouco depois pelo Mossad, o serviço secreto israelense,
e o terceiro, Jamal Al Gashey, vive sob nova identidade em algum país da África.
4
Na madrugada do dia 27 de julho, uma explosão no Parque Centenário, no centro da cidade de
Atlanta, deixou dois mortos e mais de 100 feridos. O incidente gerou uma onda de críticas ao sistema
de segurança dos Jogos, pois a presença de 35 mil soldados e o FBI não impediram o ato terrorista.
38
5
Série de atentados suicidas contra os Estados Unidos coordenados por dezenove terroristas da
organização fundamentalista islâmica al-Qaeda, ao sequestrar quatro aviões comerciais de
passageiros e colidir intencionalmente dois deles contra as Torres Gêmeas do complexo empresarial
do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, sendo o terceiro avião jogado contra o Pentágono,
a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, perto da capital Washington, D.C. e o quarto
caído em um campo aberto em Shanksville, na Pensilvânia, depois de alguns de seus passageiros e
tripulantes terem reagido contra os sequestradores. Não houve sobreviventes dos voos. Incluindo os
que estavam em terra, morreram cerca de 3 mil pessoas no total.
40
fatores de proteção:
a. apoio da família, de amigos e de outros relacionamentos significativos;
b. crenças religiosas, culturais, e étnicas;
c. envolvimento na comunidade;
d. vida social satisfatória;
e. integração social como, por exemplo, através do trabalho e do uso construtivo
do tempo de lazer;
f. acesso a serviços e cuidados de saúde mental.
Percebe-se que principalmente os problemas econômicos, de saúde,
familiares e profissionais estão na lista de fatores que incidem diretamente nas
condutas negativas de ruína das pessoas. As decepções geradas pela incapacidade
de resolver contradições conduzem ao sentimento de impotência diante das
adversidades que são impostas.
Desafios e dificuldades são confrontados cotidianamente por todos, exigindo
uma autopreservação psicológica natural para não tombar em meio aos obstáculos,
possibilitando uma superação frente a essas inevitáveis pressões. Na verdade, a
tentativa de suicídio decorre da impotência psicológica do indivíduo em face desses
óbices.
O tabu que cerca o suicídio leva à criação de crenças e ideias falsas e não
exatas que se propagam em meio à ignorância e desconhecimento sobre o tema.
48
Esses mitos são lançados pelas pessoas como proteção, porque o suicídio
coloca a morte, aquilo que não se gosta de lembrar, no centro do palco. Na verdade,
as crenças justificam o modo de agir, aliviam, consolam, servem para liberar da
incômoda situação real e para livrar da responsabilidade pelo fato desagradável.
O professor Neury Botega desmistifica falsas crenças relacionadas ao
suicídio opondo os mitos a explicações científicas, baseadas em experiências
práticas profissionais, que são apresentadas no Quadro 1.
MITOS VERDADES
"Se eu perguntar sobre Questionar sobre ideias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e
suicídio, poderei induzir franco, aumenta o vínculo com o paciente. Este se sente acolhido por
o paciente a isso" um profissional cuidadoso, que se interessa pela extensão de seu
sofrimento. Não questionar aumenta a mortalidade.
"Ela está ameaçando o Uma parcela das pessoas que se matam, ou que tentam fazê-lo, havia
suicídio apenas para declarado sua intenção de suicídio para amigos, familiares ou
manipular..." médicos.
"Quem quer se matar, Essa ideia pode conduzir ao imobilismo terapêutico, ou a descuido no
se mata mesmo..." manejo de pessoas sob risco. Não se trata de evitar todos os
suicídios, mas sim os que podem ser evitados.
"No lugar dele, eu Há sempre o risco do profissional identificar-se profundamente com
também me mataria..." aspectos do desamparo, depressão e desesperança de seus
pacientes, sentindo-se impotente para a tarefa assistencial. E há
também o perigo de se valer de um julgamento pessoal subjetivo para
se decidir pelas ações que fará ou deixará de fazer.
"Veja se da próxima vez O comportamento suicida exerce um impacto emocional sobre a
você se mata mesmo!" equipe de saúde, podendo provocar sentimentos de franca hostilidade
e rejeição. Isso é capaz de impedi-la de encarar a tentativa de suicídio
como um possível marco em uma trajetória pessoal acidentada, a
partir do qual se podem mobilizar forças para uma mudança de vida.
"Quem se mata é bem Diversos estudos epidemiológicos demonstraram que, vistas em
diferente de quem conjunto, as pessoas que tentam o suicídio apresentam características
apenas tenta" diferentes daquelas que chegam a um desenlace fatal. No entanto,
esses achados não deveriam funcionar como álibi para a pouca
atenção dispensada aos que tentam o suicídio, mas não morrem.
Fonte: BOTEGA, 2012.
Por meio dos dados estatísticos, pode-se ter, ao mesmo tempo, uma visão
ampla e geral da geografia do comportamento suicida e específica de cada
localidade, estabelecendo, também, as causas do comportamento suicida, de
acordo com a geopolítica cultural de cada lugar.
49
6
Não há alinhamento dos dados mundo x país x estado, pois as estatísticas são de órgãos de saúde
ou censitários e a área de Segurança Pública, que atende às tentativas de suicídio não contabiliza
nem se predispõe a estudos.
50
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Suicide_rates_map-en.svg
k. cerca de 2/3 dos mortos comunicaram a intenção suicida, sendo que 40%
de forma clara;
l. cerca de 1/3 tiveram tentativas anteriores de suicídio;
m. em média, 30% da população mundial sofre ou sofrerá transtornos
mentais; destes ao menos 1% cometerá suicídio.
As maiores taxas ocorreram nos Estados do Rio Grande do Sul (9,7), Santa
Catarina (8,5), Mato Grosso do Sul (7,7) e Roraima (7,5). Todas estas consideradas
taxas moderadas, embora existam taxas altas em várias cidades desses Estados.
No geral, esteve distribuída entre a população masculina (7,9) e feminina (2,1), em
uma relação de 4:1, como ocorre na maioria dos países que possuem dados
52
Taxa de Taxa de
Período mortalidade Período mortalidade
específica específica
1990 4,3 2000 3,8
1991 4,4 2001 4,3
1992 4,5 2002 4,1
1993 4,8 2003 4
1994 5 2004 3,8
1995 5,2 2005 4
1996 5,1 2006 4,2
1997 5,2 2007 4,1
1998 5 2008 4,5
1999 4,3 2009 4,8
Fonte: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?no=1&op=1&vcodigo=MS11&t=obitos-causas-
externas-suicidios-taxa-mortalidade
Natureza da Ocorrência / Ano* 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012**
Ocorrência diversa de Queda /
1639 1500 983 757 672 1055 -
Salto / Ameaça de Salto
Distúrbio do comportamento 1855 1847 1919 2031 1908 294 -
Salto para fora de edifício / outra
171 193 143 177 125 2729 -
estrutura
Total 3665 3540 3045 2790 2705 4078 -
* Dados de 2006 não fornecidos.
** Em 2012 houve mudança na nomenclatura das naturezas pelo Corpo de Bombeiros para readequação às práticas de
atendimento e classificação por grupos de ocorrências, sendo que as naturezas elencadas foram suprimidas.
7
Ocorrido em 2011 quando Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a Escola Municipal
Tasso da Silveira, no bairro Realengo, capital do Rio de Janeiro, e armado com dois revólveres matou
doze alunos e depois de interceptado por policiais militares, cometeu suicídio.
8
Revista Época, edição 109 (19/06/2000), reportagem ‘Tragédia Brasileira’, quadro ‘Polícias mal
preparadas’: “Todas as polícias militares do país têm tropas de elite como o Batalhão de Operações
Especiais (Bope) do Rio. Essas tropas, porém, usam equipamentos obsoletos e treinam pouco. Mal
remunerado e mal treinado, o policial erra em situações críticas”.
58
todos esses casos foram administrados por grupos da mais alta credibilidade sem
que se conseguisse que vidas fossem ceifadas?
O componente psicológico é um complicador que desafia o treinamento
policial, hoje tradicionalmente estabelecido para casos envolvendo suicidas, e o
treinamento aqui proposto aumenta a possibilidade de sucesso nesses casos.
Estabelecer uma doutrina atualizada e integrada de atendimento evita o empirismo e
improviso dos procedimentos e privilegia a negociação técnica e a rendição do
causador/vítima, propiciando uma recuperação psicológica mais adequada à vítima,
evitando riscos desnecessários a todos os envolvidos.
3.2.1 Objetivos
a. preservar vidas;
b. aplicar a lei.
Essa ordem é, como apresentada, rigorosamente axiológica, visto que a
preservação de vidas deve estar, para as autoridades policiais responsáveis pelo
gerenciamento de um evento crítico, acima da própria aplicação da lei.
A partir da lógica jurídica, o autor contesta esses objetivos, como
apresentados, para precisar só haver um objetivo, o de aplicar a lei, pois é princípio
fundamental da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana 9 e,
por consequência, sua vida. Argumenta, inclusive, em cima do equívoco de alguns
doutrinadores em traduzir erroneamente, a partir da doutrina do FBI, o primeiro
objetivo como “salvar vidas”, o que significaria que incondicionalmente se deve
buscar salvar todas as pessoas envolvidas. Todavia, em ocorrências policiais,
mesmo que politicamente incorreta, há uma primazia dentre as vidas a serem
preservadas em uma ocorrência e as das vítimas devem vir em primeiro lugar, de
forma que, em último caso, pode-se optar por neutralizar o raptor para se salvar o
refém, em legítima defesa de terceiros.
Nessa valoração, entre a vida mais importante (vítima) e a menos importante
(causador), está a dos policiais. Embora polêmica para muitos policiais, esta
conformidade é a pregada pela doutrina original (FBI, 2004, p. 3) e incorpora a
prática da exposição voluntária da própria vida a risco (diga-se controlada) na ação
de resgate do refém. Se a vida do policial fosse a mais importante, ele nem se
predisporia a ir ao local atender à ocorrência. O lema do Pelotão de Ações Táticas
de Campinas (ATAC) ilustra habilmente esse compromisso: “A liberdade do refém é
a nossa razão de existir”.
Nos casos com suicidas, naturalmente a vida do policial é colocada em
primeiro plano, visto que causador e vítima configuram-se na mesma pessoa, não
sendo então a vida mais indefesa envolvida. Contudo, esse entendimento não
significa que não haverá riscos calculados para o policial tentar salvar a vida do
suicida, nem que a vida desse suicida esteja sendo negligenciada.
9
Constituição Federal, art. 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: inc. III - a dignidade da pessoa humana.
61
10
CF, art. 144: A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos: (...) V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. (...) par. 5º: Às policiais
militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
69
11
“Com base em dados da Organização Mundial da Saúde, Botega, Mauro e Cais relatam um dado
importante: 15 a 25% das pessoas que tentam o suicídio tentarão novamente se matar no ano
seguinte, e 10% das pessoas que tentam o suicídio, conseguem efetivamente matar-se nos próximos
dez anos”. Ref.: PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 37, n. 3, pp. 213-220, set./dez. 2006.
70
nesse caso, além de mais coerente, a prestação de serviço à sociedade será muito
mais segura e eficaz, colaborando para a recuperação psicológica e preservação da
vida. A diferença entre o atendimento empírico e este mais racional é a formação
técnica.
reféns, com artefatos explosivos, ações terroristas e as “que envolvam pessoas com
propósitos suicidas de posse de armas de fogo ou brancas”.
Destarte, pela primeira vez uma norma policial militar inclui as ocorrências
de tentativa de suicídio como atribuição da polícia, especificando inclusive quais os
procedimentos gerais prévios o primeiro interventor policial deverá adotar
previamente à intervenção do GATE:
Coletar as informações elementares da ocorrência, de acordo com as
peculiaridades existentes, tais como: ocorrências que envolvam pessoas
com propósitos suicidas de posse de armas de fogo ou brancas: local,
características da pessoa com propósitos suicidas, detalhamentos sobre a
arma ou artefato de posse dessa pessoa, condições do terreno,
características da habitação ou estrutura física (Diretriz nº PM3-001/02/13).
Decreto nº 58.931/2013
Define as atribuições do Sistema de Resgate a Acidentados no Estado de
São Paulo, especificando as emergências que lhe são próprias e dá
providências correlatas
Artigo 1º - Consideram-se emergências próprias de atendimento pelas
equipes do Sistema de Resgate a Acidentados:
(...)
V - tentativa de homicídio, lesão grave e tentativa de suicídio.
O Maj PMESP Adriano Giovaninni, que por 18 anos integrou o GATE, afirma
que antes da atual diretriz de emprego do GATE, não raro oficiais comandantes de
74
12
Comentário durante banca de qualificação no quartel do 4º.BPChq em 13 de dezembro de 2013.
75
necessidades de nível mais alto, de modo que cada um tem de "escalar" uma
hierarquia de necessidades para atingir a sua autorrealização, classificando as
necessidades humanas em cinco patamares, que são ilustradas pela Figura 7:
a. necessidades básicas ou fisiológicas, tais como a fome, a sede, o
sono, o sexo, a excreção, o abrigo;
b. necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de
sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de
segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro
de vida;
c. necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais
como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube;
d. necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o
reconhecimento das capacidades pessoais e o reconhecimento dos
outros face à capacidade de adequação às funções que se desempenha;
e. necessidades de autorrealização, em que o indivíduo procura tornar-se
aquilo que ele pode ou busca ser.
Fonte: http://www.abraham-maslow.com/m_motivation/Hierarchy_of_Needs.asp
4.3 Dez passos para desenvolver uma boa negociação com suicidas
entregar, mas é mais fácil descobri-las quando se compreende como eles pensam.
E parece ainda mais difícil quando você sabe que é o melhor para ele, mas não
consegue fazê-lo entender isso falando diretamente.
Há uma parábola que exprime bem como funciona a escuta ativa. Um velho
sábio viu um jovem camponês tentar puxar sua vaca para dentro do curral para que
ela pudesse comer, mas ela resistia. Quanto mais forte ele puxava, mais a vaca
recuava. Para ajudar o camponês, o frágil sábio, então, pegou um feixe de feno do
curral e o levou próximo à vaca, que começou a andar para comê-lo. Fez isso
diversas vezes até conduzi-la para dentro do curral sem que precisasse obrigá-la.
Ele compreendeu que a vaca estava com fome, mas como ela não via o feno e não
sabia que sua comida estava no curral, não se sentia compelida a andar até lá. O
camponês não a compreendeu e não soube “dizer” a ela que estava ali seu
alimento, o sábio sim.
Pela Escuta Ativa, podem-se utilizar alguns fatores para desarmar o espírito
do suicida e construir um vínculo de confiança mais rapidamente:
a. ouvir e entender;
b. ser educado;
c. ser respeitoso;
d. não ameaçar.
Não basta simplesmente parecer ser agradável ou amigável, mas influenciá-
lo a fazer o que você quer, sem que ele se dê conta disso. Quando a pessoa
compreende a outra ela baixa defesas, estabelece empatia e fica suscetível a ideias.
Na ocorrência, deve-se “entrar na cabeça” do causador para entendê-lo e descobrir
qual a melhor forma de se comunicar com ele e sujeitá-lo a entregar-se.
Importante dizer que, antes de querer influenciá-lo, é importante estabilizar
seu nível emocional, buscando um equilíbrio entre a emotividade instada pelo
ocorrido e a racionalidade para tomar decisões adequadas.
As táticas de comunicação empregadas nesta técnica são:
a. paráfrase: ouvir o que o suicida falou e dizer-lhe com outras palavras,
com um novo significado, para demonstrar que o entende. Ao parafrasear
o que diz, o negociador demonstra que compreende e entende o
causador, mesmo que não concorde. Ex.: suicida diz: “minha mulher fala
toda hora e não presta a atenção no que digo”, negociador responde:
“sua mulher não escuta você”;
85
13
Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet, em sueco) é um estado psicológico particular
desenvolvido por algumas pessoas que são vítimas de sequestro. A síndrome desenvolve-se a partir
de tentativas da vítima de identificar-se com seu raptor ou de conquistar a simpatia do sequestrador.
89
“Duas cabeças pensam melhor do que uma”. O ditado popular serve para
negociações policiais: toda negociação deve ser feita em equipe, e negociar em
equipe pressupõe a participação de dois ou mais policiais.
Equipes de negociação avançadas contam com chefes de time,
negociadores principais e secundários, anotadores, cronometristas, psicólogos,
psiquiatras, motoristas, auxiliares técnicos, de logística e outros. Bem organizadas e
aparelhadas, significam ocorrências mais seguras para os policiais e para os
suicidas, pois têm maior probabilidade de serem resolvidas pacificamente, com
menor necessidade de lançar mão de alternativas táticas, resultando em menos
riscos e menos mortes.
Exceto os grupos táticos especiais, as demais unidades de policiamento que
trabalham por turnos de serviço não têm condições de dispor de equipes com
negociadores especializados e de prontidão para ocorrências, muito menos
equipamentos. Assim sendo, é importante desenvolver-se uma forma simples de
negociar, que possa ser implementada sem muito efetivo e equipamentos, mas que
seja técnica, ordenada e eficaz. Policiais podem não dispor de equipamentos ou
formulários prévios, mas isso não significa que não devam estruturar as
comunicações para organizar as ideias e seguir uma ordem natural das coisas.
A equipe mínima que se pode empregar é composta por dois policiais, os
quais exercem as funções mais importantes são a do negociador principal, o
interlocutor, e a de anotador, afinal a coleta e o registro de dados são os principais
itens em uma negociação. Nada pior em uma negociação do que, por exemplo,
confundir o nome do suicida: “se ele nem sabe meu nome, pouco se importa
comigo”. Esse anotador também atua como segurança do negociador principal.
91
próximos dali, para que o gerente da crise e o grupo tático possam ver da mesma
forma que o negociador privilegiadamente vê. Não se podem esquecer os
equipamentos de segurança individual, como colete balístico dissimulado e arma
curta em local imperceptível ao causador e de fácil acesso para saque.
Existem acaloradas discussões doutrinárias sobre o negociador atuar ou
não armado. É inegável entre negociadores que, como policiais e habituados a
andar armados, sentem-se mais seguros com uma arma pronta para qualquer
eventualidade, pois o grupo tático nem sempre pode estar próximo o suficiente para
auxiliar de imediato, isso quando a solução tática não deve partir do próprio
negociador para resolver a ocorrência.
Sobre o uso de escudos balísticos, em princípio devem ser evitados, pois
além de constituir uma barreira balística, podem-se tornar também um bloqueio
psicológico para o indispensável vínculo em casos com suicidas. Não obstante, a
prioridade é a preservação da vida do policial e, na falta de um abrigo adequado ao
negociador, deve-se lançar mão de um escudeiro da equipe tática. Há que se
considerar que o suicida só está naquela situação porque tem alguma vontade de
matar, mesmo que seja a si mesmo, então todo cuidado com a segurança pessoal é
válido (SANTOS, 2004, p. 89).
O suicídio é um ato no qual o sujeito é, ao mesmo tempo, vítima e
assassino. Freud defende que a energia necessária para tirar-se a vida deve estar
vinculada, concomitantemente, ao desejo de matar um objeto, assim como com a
volta contra si mesmo de um desejo de morte, antes orientado para outra pessoa.
Para o psiquiatra Karl Menninger, o comportamento suicida envolve três elementos
internos: a vontade de morrer, de ser morto e de matar (MENNINGER, 1970, p. 59).
Nesse caso, é conveniente o negociador de suicidas precaver-se e estar, de
algum modo, sempre protegido.
Agora que toda a doutrina foi passada, para finalizar, é importante relacionar
alguns dos erros mais cometidos em negociações policiais:
a. a mais alta autoridade, que deveria ser o gerente da crise: negociar,
interferir diretamente na negociação ou permitir que outras autoridades
de alto escalão o façam;
94
5.1 Rendição
que ainda possa ter consigo. Nas ocorrências policiais com suicidas, as invasões
táticas são reservadas aos grupos especializados apenas e se necessária a captura,
conforme se verá no capítulo a seguir.
A rendição deve evitar estardalhaço, humilhação, sermões e divulgação pela
mídia, que busca na polícia sua fonte principal.
A jornalista Paula Fontenelle, autora do interessante livro Suicídio: o futuro
interrompido: guia para sobreviventes, que escreveu para entender as razões que
poderiam ter levado o pai a desinteressar-se pela vida e cometer suicídio, em um
dos capítulos, reflete sobre a ética jornalística, repercutindo a divulgação equivocada
de suicídios no Brasil e no mundo que influenciaram mortes voluntárias, a mudança
de linha editorial de programas sensacionalistas diante de repercussões negativas e
questionando se o suicídio é um fato jornalístico.
O maior dilema, nesse sentido, é quando envolve uma figura pública, em
que é inevitável a publicidade do ato. O manual de redação da Folha de São Paulo,
por exemplo, determina que não se omita o suicídio como causa mortis. No tom da
matéria, ela sugere, como boa cobertura, o uso de eufemismos na redação como
“tirou a vida” ao invés de “suicidou-se”, evitar romancear o assunto, não dar muito
espaço e estimular ângulos, como avanços no tratamento de pessoas com
problemas, histórias semelhantes de superação de adversidades e orientações de
como evitar casos na família (FONTENELLE, 2008, p. 224).
Podem-se emprestar princípios da ética jornalista ao promover um
tratamento reservado à divulgação de informações de ocorrências com suicidas. Da
mesma forma, quem tentou suicídio não deve ser estigmatizado profissionalmente e
a divulgação desses fatos e da recuperação posterior deve ser reservada ao âmbito
da assistência social.
14
Pelotão “Ações Táticas de Campinas”, que de 17 de abril de 1995 a 29 de janeiro de 2005 integrou
a Cia de Policiamento de Choque do 35º BPMI, com sede em Campinas/SP.
98
5.3 Morte
Espera-se dos policiais que tenham resistência para lidar com os reveses
advindos do exercício profissional, mas são seres humanos, sensíveis ao insucesso
e, portanto, passíveis de traumas que a morte, em uma ocorrência, pode provocar.
Do latim mors, a morte é o evento que encerra o processo de vida de uma
pessoa. Misteriosa, transcende a caracterização de cessamento das atividades
biológicas, suscitando indagações legais, religiosas, sociais e morais. Entre
profissionais das áreas da saúde e segurança pública, que lidam diretamente com a
99
morte no momento em que ela acontece e que podem ter certa influência nesse ato,
o abalo psicológico ocorre após não conseguir evitar o desfecho negativo.
O objetivo aqui é discutir algumas dificuldades enfrentadas pelo negociador
ao lidar com atos autodestrutivos, que vão desde a hostilização e insensibilidade
com o ato até a perturbação da comoção pela morte, ou com o risco de que eles
ocorram.
Partindo do princípio de que os motivos aparentes que levam alguém a
tentar cometer suicídio quase sempre são banais (discussão com pais, separação
amorosa, demissão etc) e o risco de vida é mínimo, perante a inocuidade do método
usado, não raro policiais e bombeiros costumam lidar com esse tipo de suicida com
um desprezo agressivo e, às vezes, até ridicularização da vítima. Explicações
simplistas como “desumanidade”, ou “frieza” não são satisfatórias. Na realidade,
além da popular descrença de que talvez possa se matar “de verdade”, a equipe
local capta a agressividade do ato e a relutância na rendição como um desrespeito à
própria vida e à autoridade de quem tenta evitar e devolve com desdém, que se
torna maior na rendição (CASSORLA, 1991, p. 149-166).
Por outro lado, caso ocorra o suicídio, os efeitos serão danosos para o
policial, sobretudo quando inesperado.
O Cel PM Ib Martins Ribeiro, que tem ampla folha de serviços prestados ao
Centro de Apoio Social da PMESP e estudioso dos agentes estressores dos policiais
militares, destaca a frustração como o principal componente que pode acometer um
policial que presencia um suicídio, refletida pela sensação de impotência e
fragilidade que o leva a também querer se suicidar, como uma “vontade de ir junto”.
Percebeu, em atendimento a policiais que atuaram em casos com suicidas, que, do
outro lado, a vítima testa o sistema e atua como uma espécie de “vampiro”, que
suga as energias do negociador-policial nas ocorrências: “Eu ia me matar na sua
frente”, diz. O policial, por sua vez, torna-se um ‘zumbi’ após o atendimento desses
casos, assumindo aspectos do suicida (fragilidade, desespero, reações agressivas e
violentas) em face do sentimento de impotência diante do fracasso. Confessa o
policial-psicólogo que lidar frequentemente com o tema é penoso: “A gente mesmo
se pega com ideações suicidas”. O psiquiatra Neury Botega concorda e diz também
que, nas terapias, sente-se explorado pelo suicida a cada atendimento.
Durante o fato, o negociador deverá, calma e naturalmente, mostrar ao
suicida que entende seu desespero e desesperança e que, em sua opinião, isso
100
decorre de problemas de ordem emocional aos quais todos estão sujeitos, mas que
esses sentimentos poderão ser alterados se a vítima permitir ser ajudada. Porém,
essa estratégia nem sempre surte o efeito desejado. Em razão disso, sentimentos
como frustração, raiva e revolta são normais em um profissional que “perdeu” um
suicida em ocorrência. A resiliência, capacidade de recuperação diante de
circunstâncias traumáticas ou desfavoráveis, por seu caráter de abrangência, talvez
seja o maior fator de proteção que o negociador deve ter para não se deixar levar
pelo ato de morte não evitado.
O psiquiatra vienense Viktor Frankl, que escreveu “Em busca de sentido”
(1946), após perder toda a família em um campo de concentração da 2ª Guerra
Mundial, defende que há duas forças psicológicas que permitem suportar situações
dolorosas e seguir em frente: a capacidade de decisão e a liberdade de agir. Ou
seja, o indivíduo é quem determina como se deixará influenciar e se der sentido ao
seu sofrimento, deixará de ser sofrimento: “Mesmo uma pessoa que não tem nada
mais neste mundo ainda pode conhecer a felicidade” (O LIVRO DA PSICOLOGIA,
2012, p. 140).
O policial deve saber que é ser humano e falível, que do outro lado tem outro
ser humano senhor de seus atos e que, nesse sentido, empenhou-se ao máximo,
com técnica e esmero, para evitar a morte auto infligida, e se não conseguiu não
fora por falta de capacitação ou esforço.
A plena consciência do dever cumprido em um suicídio ou mesmo nos casos
em que a negociação foi bem sucedida em uma tentativa não dispensam o
acompanhamento psicológico posterior.
101
6.1 Pesquisas
7 CONCLUSÃO
negociador e evita riscos para os policiais, para o suicida e para eventuais reféns e
promove automaticamente a recuperação psicológica do causador.
O benefício tem mão dupla, pois também os policiais militares, que tem altas
taxas de suicídio, sentem-se valorizados em atender às pessoas em situação limite
de dificuldade com domínio técnico, humanidade e benevolência, com reflexos nos
índices da própria tropa, afinal, como atestou o fundador da Associação Americana
de Suicidologia, Edwin Schneidman, quando na recuperação de veteranos de guerra
americanos: “A educação é o item mais importante na diminuição dos suicídios”.
Ao contrário de outras doutrinas sobre suicídio, ditadas por profissionais da
área de saúde, este trabalho foi desenvolvido do ponto de vista de quem atua
quando uma pessoa ameaça se jogar de um ponto elevado, aponta uma arma de
fogo para a cabeça ou uma faca para o pescoço, resultado de experiências práticas
pessoais em negociação e controle de distúrbios do comportamento reais e
especialização em Comportamento Suicida pelo Departamento de Psicologia Médica
e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.
Não se enveredou pelo óbvio caminho de criar um quadro alarmante para
buscar reconhecimento do estudo e impor sua implementação. A situação não
parece tão ruim a ponto de condenar os sucessos conquistados empiricamente,
porém a conjuntura atual não é a ideal, pois há situações críticas envolvendo
causadores com tendências suicidas que não são atendidos com todo o suporte
técnico apropriado, e estas, se mal sucedidas, podem gerar trágicas consequências
no futuro, comprometendo a credibilidade de toda a instituição.
Diferentemente de um manual sobre como negociar com suicidas, com
regras de conduta operacionais padronizadas, o estudo visa decifrar como funciona
o comportamento suicida para habilitar policiais e bombeiros a negociarem a partir
do entendimento de como funcionam os mecanismos psicológicos envolvidos,
facilitando a rendição.
A proposta de inserção do tema “Negociação com Suicidas” para cursos
policiais ou “Controle de Distúrbios do Comportamento Suicida” para bombeiros, em
módulos de 4 e 8 horas-aula, não pretende criar uma nova disciplina nem que ela
substitua as anteriores; é matéria adicional aos currículos para atuação integrada
nos casos com autores com tendências suicidas, mais voltada aos aspectos técnicos
e psicológicos e privilegiando a solução negociada. Esse novo conteúdo a ser
inserido nas disciplinas de Gerenciamento de Crises e Psicologia Aplicada, dos
110
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