Relatório Tratamentos Térmicos
Relatório Tratamentos Térmicos
Relatório Tratamentos Térmicos
MARABÁ
2023
ÍTALO SILVA SOUSA
MARIANA DE OLIVEIRA CARNEIRO
NATALICE CLÁUDIO DAMACENA
MARABÁ
2023
Sumário
1 INTRODUÇÃO 3
1.1 Visão Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO 4
2.1 Ligas Fe − C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Tratamentos térmicos: normalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 13
3.1 Materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.3 Medições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4 TRATAMENTO DE DADOS 16
5 CONCLUSÃO 18
REFERÊNCIAS 19
3
1 INTRODUÇÃO
1.1 Visão Geral
A utilização de ligas metálicas nos setores de engenharia e na indústria está di-
retamente relacionada com a capacidade desses materiais em resistir às cargas às quais
são submetidos durante sua utilização. Entretanto, é imperativo considerar outras ca-
racterı́sticas importantes desses materiais, como dureza, resistência ao calor e corrosão
(CHIAVERINI, 2008). A forma mais eficiente e segura de obter as caracterı́sticas deseja-
das para cada aplicação consiste em submeter o material a tratamentos térmicos. Neste
contexto, realizaremos uma análise comparativa da dureza e microestrutura do aço CA50
(SAE1045) entre uma amostra normalizada e outra não submetida a tratamento térmico,
com o intuito de compreender como a normalização impacta nas propriedades mecânicas
e estruturais deste material amplamente empregado na indústria.
O aço CA50 é uma liga de ferro-carbono com teor médio de carbono e elevada
resistência mecânica, tornando-o uma escolha frequente em diversas aplicações indus-
triais. No contexto geral, esta análise permitirá uma melhor compreensão de como o
procedimento afeta as propriedades do aço CA50, fornecendo informações valiosas para
otimização de processos industriais e seleção adequada de tratamentos térmicos, de acordo
com suas respectivas aplicações.
1.2 Objetivos
Esse relatório tem como objetivo identificar as fases alotrópicas do ferro e suas
microeestruturas resultantes, realizar a leitura do diagrama de fases do ferro carbono
(Fe-C), bem como analisar e registrar os resultados obtidos, através do tratamento da
amostra de aço CA50 (SAE1045) utilizada, comparando-os à literatura e relacionando a
estrutura do material, analisada micro e macrograficamente, às suas propriedades fı́sicas,
especificamente a dureza, ao processo de fabricação e ao desempenho de sua função.
2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
2.1 Ligas Fe − C
O uso dos aços tem tido destaque na indústria há, pelo menos, dois séculos devido
à suscetibilidade dessas ligas de sofrerem modificações estruturais quando submetidas a
tratamento térmico, tendo como consequência a diferença de propriedades nesse material,
tornando possı́vel a adaptação destas no intuito de potencializar o desempenho do produto
em diversas aplicações.
O sistema ferro-carbono, que trata das ligas à base de ferro cujo seu elemento pincipal
é o carbono, permite a aquisição de variadas microestruturas em condições de equilı́brio ou
não (CHIAVERINI, 2008). Esse sistema possui teores de carbono que variam de 0.008 %
a 6.67 % (porcentagem que corresponde ao composto (F e3 C)) (CHIAVERINI, 2008).
Os produtos siderúrgicos são classificados de acordo com o teor de carbono, sendo
esses divididos em dois grupos: os aços e os ferros fundidos (CHIAVERINI, 2008). Os
aços com teor de carbono entre 0.008 % e 2.11 %, e os ferro fundidos com teor de carbono
entre 2.11 % até 6.67 % (PINEDO, 2021).
Os aço podem ser caracterizados e divididos em 3 grupos a partir da quantidade de
carbono presente em sua estrutura.
Aços de baixo carbono: geralmente com teor de carbono inferior a 0.3 %, têm
grande ductibilidade, não são temperáveis (PANNONI, 2001).
Aços de médio carbono: com teor de carbono entre 0.3 % a 0.7 %, se temperados
e revenidos apresentam boa resistência e tenacidade (PANNONI, 2001).
Aços de alto carbono: com teor de carbono superior a 0.7 %, são aços de elevada
dureza e resistência após serem submetidos a um processo de têmpera (PANNONI, 2001).
Essas alterações no reticulado cristalino são possı́veis devido à alotropia/polimorfismo
do ferro, que tem a capacidade de adquirir diferentes formas cristalinas cúbicas, chama-
das formas alotrópicas, em condições de pressão ambiente, dependendo unicamente da
temperatura (COLPAERT, 2008). O ferro (F e) possui um reticulado cristalino cúbico
(CHIAVERINI, 2008), e suas formas alotrópicas, no diagrama de equilı́brio, são o Ferro
cúbico de corpo centrado (CCC) e o Ferro cúbico de face centrada (CFC) (PINEDO,
2021).
O reticulado cristalino CCC corresponde às formas δ e α, enquanto o CFC corres-
ponde à forma γ. A primeira possui átomos de ferro em cada vértice do cubo e um átomo
em seu centro, conforme ilustrado na Figura 1, e a segunda possui átomos de ferro nos
vértices e nos centros de cada face do cubo, como também é representado na Figura 1.
5
O ponto eutetóide é o mais relevante para o estudo dos tratamentos térmicos, uma
vez que o ponto eutético se encontra a uma porcentagem de 4.3 %C que corresponde aos
classificados ferro fundido, e o ponto peritético na parte superior do diagrama, em torno
do ponto A, não apresenta nenhum interesse comercial (CHIAVERINI, 1977). Localizado
8
Figura 7: Diagrama TTT para aço eutetóide. Fonte: (CHIAVERINI, 2008), p.29
9
A bainita, que assim como a perlita é composta por ferrita e cementita, também surge
no diagrama, e difere da perlita apenas na geometria da microestrutura, que assim como
a martensita é acicular. Podendo assim, admitir que sua formação envolve mecanismos de
difusão e cisalhamento (CHIAVERINI, 2008). É obtida, grande parte das vezes, através
do resfriamento isotérmico abaixo do joelho das curvas em C normais (CHIAVERINI,
2008).
Tabela 1: Temperaturas de normalizaçãos dos aços SAE. Fonte: (CHIAVERINI, 1977), p.62
Figura 10: Representação esquemática do ciclo térmico para a normalização de um aço hipoeutetóide,
exibindo distinguindo as condiçoes de resfriamento ao ar e no forno. Fonte: (PINEDO, 2021), p.114
produto desse processo é a perlita fina (PINEDO, 2021), demonstrado na figura 11, para
um aço eutetóide. Para aços hipoeutetóides e hipereutetóides há a adição das fases pró-
eutéticas ferrita e cementita, respectivamente, à perlita fina (CHIAVERINI, 1977).
Figura 11: Curvas TTT para normalização. Fonte: (CHIAVERINI, 2008), p.62
Figura 12: Formação da bainita no processo de normalização. Fonte: (CHIAVERINI, 2008), p.63
Portanto, as microestruturas obtidas após esse tratamento são mais refinadas, com
grãos mais homogêneos e menores, apresentam diminuição da dureza, bem como melhora
da tenacidade, ductilidade (CHIAVERINI, 2008), e da usinabilidade, facilitando processos
posteriores (SILVA; BASTOS, ).
As microestruturas obtidas após a normalização podem ser vistas a seguir:
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Figura 13: Aço AISI 1045 normalizado, presença de ferrita pró-eutetóide e perlita. Ataque: Nital 2 %.
Fonte: (COLPAERT, 2008), p.269
Figura 14: Aço com C=0.45 % e Mn=0.77 % normalizado. Apresenta ferrita pró-eutetóide em rede nos
contornos de grão austenı́ticos anteriores. Ataque: Nital. Fonte:(COLPAERT, 2008), p.269
13
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3.1 Materiais
• Vergalhão (aço CA50 SAE1045)
• Pano de polimento
• Microscópio óptico
• Secador
3.2 Metodologia
O vergalhão CA50 SAE1045 foi inicialmente dividido em duas amostras distintas.
A primeira seção de corte é identificada como a amostra não tratada, enquanto a outra
seção é denominada como a amostra normalizada. Na primeira amostra, um processo de
lixamento foi executado em uma de suas faces utilizando a politriz, a granulometria das
lixas foi aumentada gradualmente durante o procedimento. Após a utilização de todas
as lixas, foi realizado o polimento da amostra, seguido por um ataque quı́mico com Nital
3 %, a fim de revelar a microestrutura do material. Posteriormente, a peça foi examinada
sob um microscópio para capturar a imagem referente à Figura ??.
No preparo da segunda amostra, o forno foi aquecido até atingir a temperatura de
920°C, que está dentro da faixa recomendada de 750°C a 950°C, conforme descrito em
(SANTOS, 2021). Após alcançar a temperatura desejada, a peça foi colocada no forno
e mantida nessa condição por aproximadamente 1 hora, tempo considerado suficiente
para assegurar a homogeneidade da temperatura, dado o tamanho reduzido da peça. Em
seguida, a peça foi retirada do forno e resfriada ao ar. Depois de resfriada, a amostra
14
Figura 17: Captrura da microestrutra normalizada. Ampliação: 100x. Ataque: Nital 3 %. Fonte:
Elaborado pelo autor (2023).
Posto isso, após comparação das micrestruturas capturadas das duas amostras,
procedeu-se o teste de dureza em ambas utilizando a escala Leeb HL por meio de um
durômetro. Foram realizadas três medições para cada, conforme apresentado na tabela 2,
visando a comparação entre os resultados obtidos àqueles presentes na literatura.
3.3 Medições
Após a realização do tratamento, as durezas de cada amostra foram comparadas,
e observou-se que a média de dureza da amostra 2 é menor do que a da amostra 1. Os
valores indicam que o resultado obtido está em conformidade com o esperado, evidenci-
ando melhorias nas resistências mecânicas, usinabilidade e ductilidade do material, além
da redução das tensões presentes. De acordo com a análise dos valores, pode-se concluir
que o processo de normalização executado na amostra foi bem-sucedido, uma vez que
resultou em uma diminuição da dureza da amostra 2 em comparação com a amostra 1.
Os dados coletados estão detalhados na Tabela ??.
4 TRATAMENTO DE DADOS
Após o processo de coleta de dados da prática realizada, é possı́vel comparar os
resultados obtidos com as microestruturas já existentes que passaram pelo processo de
normalização.
Ao analisar a microestrutura da amostra sem tratamento, conforme recebida, nota-
se uma grande quantidade de ferrita e cementita, semelhante à figura 20. No entanto,
devido à ausência de imagens com aumento maior, a estrutura lamelar perlı́tica não pôde
ser observada.
Na amostra normalizada, apesar da ocorrência de superfı́cie queimada durante o
ataque quı́mico, é perceptı́vel a fusão das duas fases do material 1 na forma de perlita.
As áreas mais escuras correspondem a colônias de perlita formadas devido à orientação
cristalográfica da ferrita + cementita, enquanto uma fase clara de ferrita também é visı́vel.
Além disso, nota-se a presença de ferrita de Widmanstatten 21, composta por placas late-
rais de ferrita que precipitam e crescem ao longo dos contornos de grão da austenita ou da
ferrita alotriomórfica, ou ainda em torno de inclusões. Essa estrutura é mais pronunciada
quando há um aumento da granulometria da austenita, teores intermediários de carbono
e um resfriamento mais rápido em relação à temperatura A3, como discutido em (SILVA,
2021). Essa estrutura se assemelha a rachaduras e pode ser melhor visualizada na figura
19.
Comparando a microestrutura obtida por meio da normalização com as figuras 13
e 22, é possı́vel constatar a formação de ferrita pró-eutetóide, devido à caracterı́stica
hipoeutetóide do aço SAE 1045, como descrito anteriormente, juntamente com perlita.
Essas microestruturas coincidem com as obtidas pelo resfriamento lento ao ar, conforme
descrito na literatura.
Figura 20: Microestrutura do aço SAE 1045 como recebido. APresenta microestruturas compatı́veis
com a ferrita irculados em vermelho. Aumento de 200x. Fonte: (SILVA; BASTOS, )
17
Figura 22: Aço SAE 1045 nomalizado. Ampliado 500x. Fonte: (SILVA; BASTOS, )
5 CONCLUSÃO
A investigação prática sobre a normalização dos aços possibilitou a observação
dos efeitos que este tratamento térmico exerce sobre as propriedades microestruturais
e mecânicas do material. Esse tratamento, que envolve o aquecimento à uma tempera-
tura acima da linha de transformação seguido de um resfriamento lento ao ar, demonstrou
ser eficaz na homogeneização e refino da microestrutura, resultando em uma distribuição
mais uniforme de ferrita e perlita, resultado esse que melhora a usinabilidade da peça.
Este processo contribuiu também para a eliminação de efeitos indesejados de tra-
tamentos anteriores, como por exemplo as tensões residuais, fornecendo ao aço melhores
caracterı́sticas mecânicas como tenacidade e ductilidade. Observou-se que aços norma-
lizados apresentaram uma relação apropriada entre dureza e tenacidade, fato pode ser
relevante para aplicações industriais nos quais a resistência ao desgaste e a ductilidade
são propriedades cruciais.
Sugere-se que, para a obtenção de melhores resultados, seja dada especial atenção
às especificações do tipo de aço, como a porcentagem de carbono e elementos de liga,
e às temperaturas de aquecimento utilizadas, evitando o superaquecimento que acarreta
o aumento do grão da austenita. A variação desses fatores pode resultar em diferentes
microestruturas, afetando as propriedades finais do material.
A avaliação comparativa entre as duas amostras de aço CA50 SAE1045, sendo uma
delas submetida ao tratamento térmico de normalização, permitiu a análise visual das
microestruturas e de propriedades, tal como, a realização do processo completo de trata-
mento térmico e preparo da amostra.
Outrossim, a aplicação deste processo permitiu aos alunos a aquisição de concei-
tos e prtáticas laboratoriais indispensáveis para a formação profissional, como também
acrescentou habilidades de trabalho em grupo e desenvolvimento de relatório seguindo as
normas técnicas (ABNT).
Posto isso, o estudo minucioso dos tratamentos térmicos, da aplicação do material,
e a composição do mesmo são indispensáveis durante a escolha do tratamento térmico a
ser aplicado, visando sempre adequar custo benefı́cio às necessidades as quais o produto
final deverá atender.
19
Referências
AÇO, O. que é. Metalurgia fı́sica dos aços.
CAO, S.; WU, S.; ZHANG, C.; ZHANG, Q. Three-dimensional morphology and analysis
of widmanstätten sideplates ferrite. Metals, MDPI, v. 12, n. 3, p. 523, 2022.
. Tratamentos Térmicos das Ligas Metálicas. 6ª ed.. ed. São Paulo, SP:
Editora LTC, 2008. ISBN 9788521627904.
SANTOS, H. P. d. Caracterização microestrutural dos aços 1020, 1045, 5160, 8620, após
os determinados tipos de tratamentos térmicos de têmpera, revenimento, normalização e
recozimento. 2021.