Aspectos Legais Do Ensino Da Arte

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César Pereira Cola

Vera Lúcia de Oliveira Simões

Aspectos Legais
do Ensino da Arte 1

Universidade Federal do Espírito Santo Artes Visuais


Secretaria de Ensino a Distância Licenciatura
Presidente da República Designer Educacional Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
Dilma Rousseff Andréia Chiari Lins (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
Ministro da Educação Design Gráfico
Renato Janine Ribeiro Laboratório de Design Instrucional – SEAD Cola, César Pereira, 1956-
C683a Aspectos legais no ensino da arte I / César Pereira Cola, Vera Lúcia de
Diretoria de Educação a Distância Oliveira Simões. - 2. ed. - Vitória : Universidade Federal do Espírito Santo, Sec-
DED/CAPES/MEC SEAD retaria de Ensino a Distância, 2015.
Jean Marc Georges Mutzig Av. Fernando Ferrari, nº 514 38 p. : il. ; 22 cm
CEP 29075-910, Goiabeiras
Vitória – ES Inclui bibliografia.
UNIVERSIDADE FEDERAL (27) 4009-2208 ISBN: 978-85-63765-36-9
DO ESPÍRITO SANTO
1. Arte - Estudo e ensino - Legislação. 2. Arte na educação. I. Simões, Vera
Laboratório de Design Instrucional (LDI) Lúcia de Oliveira, 1950-. II. Título.
Reitor
Reinaldo Centoducatte
Gerência CDU: 7
Secretária de Ensino a Distância – SEAD Coordenação:
Maria José Campos Rodrigues Letícia Pedruzzi Fonseca Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir deste trabalho para fins não
Equipe: Giulliano Kenzo Costa Pereira comerciais, desde que atribuam ao autor o devido crédito e que licenciem as novas criações
Patrícia Campos Lima sob termos idênticos.
Diretor Acadêmico – SEAD
Júlio Francelino Ferreira Filho A reprodução de imagens nesta obra tem caráter pedagógico e científico, amparada pelos limites do direito de autor, de
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Coordenadora UAB da UFES indicando-se o nome do autor e a origem da obra). Toda reprodução foi realizada com amparo legal do regime geral de
Teresa Cristina Janes Carneiro Geyza Dalmásio Muniz
direito de autor no Brasil.
Equipe:
Coordenadora Adjunta UAB da UFES Nina Ferrari
Maria José Campos Rodrigues
Ilustração
Diretor do Centro de Artes (CAR) Coordenação:
Paulo Sérgio de Paula Vargas Priscilla Garone
Equipe:
Coordenadora do Curso de Graduação Nina Ferrari
Licenciatura em Artes Visuais – EAD/UFES
Maria Gorete Dadalto Gonçalves

Revisor de Conteúdo
Larissa Fabricio Zanin

Revisor de Linguagem
Déborah Provetti Scardini Nacari
Sumário
III
03................. Apresentação I 20................. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
04................. Apresentação II (RCNEI) e Parâmetros Curriculares Nacionais — Arte (PCN)
05................. Introdução 20................. 3.1 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(RCNEI)
1 25.................. 3.2 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
08................. A Arte na sociedade — pressuposto fundamental da legalidade
08.................. 1.1 Sobre cultura, linguagem e sociedade IV
10..................1.2 Refletindo no âmbito social 27.................. A Educação e o ensino de Arte na modalidade
EaD/semipresencial, seus parâmetros legais.
II 30................. 4.1 Os Referenciais de qualidade para Educação Superior a
11.................. Esferas legislativas — instâncias básicas da legalidade Distância semipresencial
12.................. 2.1 Arte na Constituição da República Federativa do Brasil
16.................. 2.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) 34.................. Considerações
17................... 2.3 Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação 35.................. Referências
em Artes Visuais 38.................. Sobre os autores
Quase me esqueço de falar sobre mim mesmo: cursei dois anos
de Administração de Empresas na UFES, curso escolhido por pres-

Apresentação 1
sões sociais e pela necessidade de sobrevivência. Tinha a pintura e
o desenho como uma atividade constante em minha vida, por isso a
arte não me deixou abandoná-la: fiz novo vestibular para Artes Plás-
ticas, concluindo o bacharelado em 1980. Depois, ingressei em outro
curso superior na UFES, e concluí a Licenciatura em Artes Visuais.
Mais tarde, veio o Mestrado em Educação no PPGE/UFES, assim
como o Doutorado em Comunicação e Semiótica na PUC/SP. É por

É com grande satisfação que inicio a Aspectos Legais do Ensino de


Arte do curso de Artes Visuais do Centro de Artes, oferecido
pela Sead/UFES, especialmente por sua escolha por essa área.
isso que concordo com Matisse quando afirma que o bom desempe-
nho em qualquer área profissional se deve mais a um grande esforço
do que à inspiração ou a dom. Espero e recomendo a todos: esfor-
De alguma forma, tal escolha está relacionada ao universo que vocês ço e dedicação envolvidos com muito amor e bom humor (o que
vivenciam: o cotidiano pessoal, a relação com o mundo, a forma de considero o maior sintoma de inteligência).
sentir e de conhecer as coisas. Ao final dos estudos, tenho certeza
de que muitos sentirão uma grande mudança em suas vidas, pois Cesar Cola
a arte nunca chega e sai gratuitamente de nossas vidas, ao con-
trário, permanece para sempre, ainda que alguns de vocês possam
ter feito a escolha somente pensando no mercado de trabalho.
Acredito — ou espero — que suas percepções visuais sejam aguça-
das, que o ver possa se realizar de forma mais interessante do que até
agora em suas vidas, pois assim é comigo: quanto mais vejo, sinto,
conheço a arte, mais percebo determinada metamorfose que enri-
quece meu viver em todos os sentidos. Qualquer atuação com arte,
junto a crianças ou a adultos, traz uma importante contribuição para
a sociedade. Veremos, ao longo da disciplina, como aspectos legais
sobre o ensino de Arte poderão garantir e promover outros conheci-
mentos para a educação e, consequentemente, para a sociedade.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Apresentação 1 | 3


É nesse sentido que, durante toda a minha trajetória profissio-

Apresentação 2
nal, venho buscando caminhos que me levem a conhecer os rumos
tomados pela formação em arte, no Brasil e principalmente no
Espírito Santo, pois acredito, a partir deste conhecimento, poder
criar estratégias que me facilitarão o desafio cotidiano de ensinar e
aprender arte, considerando a minha crença de que o processo en-
sino aprendizagem, numa perspectiva plena, não pode estar disso-
ciado da pesquisa, enfim da produção de conhecimento científico.

M inistrar a disciplina Aspectos Legais do Ensino da Arte, para a


segunda oferta do curso de Artes Visuais, na modalidade
EAD, é um desafio, mas também é parte do coroamento dos cami-
Por acreditar nas afirmativas dos muitos pesquisadores de que
a pesquisa é uma companheira inseparável daqueles que tomaram
para si a profissão de ensinar e apoiada na competência e nas exi-
nhos que percorri no exercício da docência. Minha trajetória pro- gências presentes nos avanços tecnológicos que atingem todos os
fissional na educação da arte vem sendo construída, articulando segmentos da sociedade, me inscrevi para a Tutoria a Distância do
conhecimentos teóricos e práticos, no sentido de me tornar uma curso de Artes Visuais, na modalidade EAD, primeira oferta do curso.
professora capaz de desenvolver uma prática pautada na ação in- E na prática, vivenciei muitos questionamentos, meus, dos meus
vestigativa que embasa a concepção de professor reflexivo. Para colegas tutores e também dos alunos. Esses são os motivos que me
tanto, fui buscar respaldo na legislação que rege o ensino, nesses levaram a reafirmar os objetivos a serem alcançados durante o pro-
muitos anos de vivência como professora de Arte na Educação cesso de análise para a realização da minha tese, com o propósito
Básica. A análise da legislação que trata da educação em geral, e de conhecer de perto os conceitos de ensino aprendizagem da Edu-
da educação da arte, na Educação Básica e também no Ensino Su- cação da Arte e os discursos dos professores presentes no AVA, no
perior, principalmente aquelas que normatizam ou normalizam Curso de Artes Visuais/UAB/UFES, para, por meio da pesquisa, iden-
os cursos de formação de professores, faz parte das minhas refle- tificar o que ele apresenta de diferente ou o que vai fazer a diferença
xões, em busca de subsídios para uma prática docente qualitativa. nesse curso, pensado para ser ofertado na modalidade a distância,
Segundo Rubem Alves, […] O estudo das “Ciências da Educação” uma modalidade que, conforme constatei em minha vivência e nas
não faz educadores. Educadores não podem ser produzidos. Educa- leituras realizadas, para ser bem sucedida, deve se sustentar em
dores nascem. O que se pode fazer é ajudá-los a nascer. concepções e práticas educativas inclusivas e democráticas.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Apresentação 2 | 4


A decisão de pesquisar no Doutorado: o Curso de Artes Visuais em
EAD, oferecido pela UAB/UFES, além de oportunizar a continuidade

Introdução
ao meu interesse em investigar o processo de formação e prática
daqueles que atuam ou atuarão com a disciplina Arte, nos espaços
educativos, me deu condições de vislumbrar nesse curso a possi-
bilidade, de conforme diz Rubem Alves, “ajudar no nascimento”
desses futuros professores.

Vera Simões

O título da disciplina Aspectos Legais do Ensino da Arte já es-


clarece qual é sua proposta e a razão de sua existência: apre-
sentar informações, propor estudos e reflexões que norteiam e
consolidam a Arte na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio).
A palavra consolida, do parágrafo anterior, determina a maior
função das leis na sociedade: consolidar, orientar para que os valo-
res, as atitudes, as necessidades, entre outros, sejam efetivados em
um determinado limite (e limite não é um termo muito bem-vindo
no universo artístico). A palavra, porém, pode ser entendida como
necessária no aspecto legislativo.
A justiça é cega, segundo o dito popular, e é constantemente
simbolizada por meio da ilustração antiga, na qual uma mulher (a
justiça), segurando uma balança, um livro, uma espada, ou outro
objeto, de olhos vendados, nos transmite a ideia de que faz justiça,
mas sem olhar a quem.
Este material está assim organizado: na primeira unidade, pro-
põe-se uma reflexão sobre o âmbito sociocultural, priorizando
também questões regionais. Na segunda unidade, reflexões sobre

Introdução | 5
a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.​ Conhecer e valorizar os Parâmetros, Referenciais ou outras pro-
Na terceira unidade, os pressupostos contidos no Referencial Curricular postas para a Arte na Educação significa buscar a compreensão da
Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) e os Parâmetros Curriculares consolidação, da legitimação desses, junto às crianças e aos adultos,
Nacionais — Arte (PCN). Finalmente na quarta unidade conheceremos nos âmbitos educacional, social, cultural. Além de serem importan-
um pouco sobre a modalidade educação a distância/Ead. tes para a compreensão ou aquisição do embasamento legal, esses
Apesar de muitas vezes as leis não materializarem um único sen- documentos também são importantes para auxiliar o docente de
tido, podendo ser passíveis de interpretações diferentes, pretendem Arte, nos aspectos conteudístico, avaliativo, entre outros, pois al-
garantir o direito de alguém em particular, de uma pequena ou de guns deles são verdadeiros livros, que tratam do porque e do como
uma grande comunidade. No caso específico desses estudos, a Cons- fazer e ensinar Arte, uma vez que foram elaborados por pesquisa-
tituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases, os Parâmetros Curricula- dores como Rosa Iavelberg, Ana Mae Barbosa, Amélia Buoro, profis-
res e os Referenciais Curriculares pretendem assegurar o direito ao sionais que lançaram novas e ricas publicações sobre o assunto, nos
indivíduo de vivenciar, conhecer e dominar os códigos artísticos. últimos tempos.
Torna-se obrigatório aos professores, e a outros profissionais da O município de Vitória, no Espírito Santo, por exemplo, possui
educação conhecer tal legislação, para que possam defender e ga- uma proposta para se trabalhar Arte na educação. Para discutirmos
rantir uma performance competente da Arte na educação, para todas como a Arte tem sido pensada e trabalhada, propomos estudos e
as faixas etárias. pesquisas que revelarão como a Arte tem sido pensada e trabalhada
Refletindo sobre a proposta, temos boa visibilidade do que es- nos municípios onde vocês vivem.
tudaremos, mas não se pretende que esses estudos sejam memo- Básico é conceber um discurso sobre a relevância, a necessidade
rização de artigos, parágrafos de lei ou datas de homologação. Pelo e a aclamação pelas pessoas da importância de Arte no currículo da
contrário, o procedimento será iniciarmos tratando da necessidade educação formal. Se isso acontece, surge então a obrigatoriedade
da arte na sociedade, na comunidade em níveis micro e macro so- da existência de leis que garantam a presença da Arte na educação.
cioculturais. Serão necessárias leis que garantam o estudo de Arte De qualquer forma, quem deseja as leis não são apenas os políticos,
nas escolas? Ao ensino de Arte vinculam-se objetivos, conteúdos, não foram eles que disseram à sociedade que leis seriam criadas,
conhecimentos importantes para cada município particularmente? mas o movimento ocorre ao contrário: políticos são eleitos pelo povo
Essas e outras questões poderão/deverão ser respondidas por pes- para elaborarem as leis que são necessárias às demandas sociais.
quisas discutidas in loco, ou seja, por meio de entrevistas, conversas Assim, considerando a realidade próxima, ou seja, a comunidade
com habitantes dos diferentes municípios, como será visto adiante. na qual se vive, será proposta na disciplina, uma investigação para

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Introdução | 6


se verificar se essa comunidade atribui tal valor ao conhecimento
e à prática da Arte. Posteriormente, seguem-se reflexões e estudos
alusivos aos aspectos legais do ensino da Arte, para agregar valor à
sua formação específica como professor.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Introdução | 7


Sobre a cultura,
a linguagem e a sociedade
1.1
1 C onceituar cultura coloca-nos diante da velha questão: o que
nos constitui como seres humanos, nossas heranças biológicas

A arte na sociedade:
ou aquilo que aprendemos em sociedade? A despeito dos resulta-
dos do projeto genoma e dos avanços dos estudos sobre a natureza
biológica do homem, os pesquisadores das ciências sociais vêm

pressupostos fundamentais
mostrando a força do grupo social na formação da identidade, nas
características pessoais, nos comportamentos e nos papéis sociais
de cada indivíduo. Os instrumentos utilizados nas atividades eco-

da legalidade
nômicas e cotidianas de uma determinada sociedade, assim como
os instrumentos psicológicos inventados para possibilitar a intera-
ção dos membros dessa sociedade, são social e historicamente de-
senvolvidos e, por sua vez, marcam aquela sociedade. Quem nasce
num determinado contexto recebe como herança as invenções e o
modo de viver, as crenças e as formas de se comunicar empacotados
num sistema sígnico.
Para Vygotsky, proponente maior da abordagem sociocultural,
não são os instrumentos propriamente, nem os símbolos, que im-
portam e, sim, os sentidos que eles possibilitam transportar. Como o

Capítulo 1 | 8
homem não age senão por meio de um veículo sígnico […] é preciso cessos intensos de negociação e embate, entre forças que querem
garantir acesso ao sentido por intermédio de um sistema portador, preservar as tradições e as tendências inovadoras que buscam subs-
um veículo acessível. tituir a ordem consagrada por novos procedimentos. No movimen-
to contínuo dos sistemas sociais, ocorrem mudanças de diversos
tipos. Existem alterações de ordem interna, que resultam da refle-
Cultura e linguagem xão do próprio grupo sobre as suas práticas, bem como as de origem
externa, que ocorrem quando um grupo entra em contato com outro
“A cultura de um grupo social é historicamente constituída, como grupo e olha as suas próprias práticas sociais à luz do olhar externo.
resultado da vivência coletiva e cotidiana de gerações anteriores. As mudanças dão-se não apenas entre uma sociedade e outra,
Trata-se de um sistema de conhecimento; assim sendo, é permeada mas também entre grupos que fazem parte de uma mesma socie-
e constituída pela linguagem. Nem todos os antropólogos conce- dade, com visões distintas umas das outras. E, provavelmente,
bem cultura dessa forma, já que esse conceito foi construído ao lon- também dentro de uma mesma pessoa, que entra em conflito exis-
go de muitas décadas, por meio de contribuições de pesquisadores tencial quando aquilo em que ela acredita desde todo sempre é aba-
de abordagens variadas, que viveram em outros tempos e espaços. lado por uma nova ordem de conceber, fazendo com que tenha que
Alguns analisaram a cultura do ponto de vista dos complexos de rever suas velhas e confortáveis posições”. (REILY, 2006, p. 13 – 14).
comportamento social, outros entenderam que as culturas são No texto de Lúcia Reily, encontramos alguns termos como:
sistemas de conhecimento pelos quais os membros de dada socie- herança biológica, grupo social, formação de identidade, compor-
dade procuram dar conta de seu universo. Atualmente, um grupo tamentos e papéis sociais, interação dos membros da sociedade,
liderado por Clifford Geertz defende que a cultura é um sistema sistema, sistemas sociais, ordem de conceber, rever confortáveis
simbólico, não um sistema de comportamento. Por meio desse sis- posições, entre outros.
tema simbólico, os atores constituem e partilham significados em Convém observar como, de certa forma, o texto possibilita ao
sociedade. Quem quiser conhecer uma cultura, deve estudar seus indivíduo refletir sobre a sociedade a que pertence. Somos parte de
sistemas de signos, para compreender o “programa de controle” que um espaço e tempo que parece dominar nossas atitudes, preferên-
aquela sociedade criou para governar o comportamento de todos. cias, tendências. Mesmo quando não as percebemos, essas estão de
Nessa abordagem, como em Vygotsky, o que importa é o sentido do forma inconsciente e silenciosamente agindo em nós.
texto cultural, não a sua gramática. A Arte Visual não escapará a tais nuances, pois é uma lingua-
A cultura não é um patrimônio cultural estático. Pelo contrário, gem fundamental na civilização humana, surgida cerca de dez mil
é dinamicamente manipulada pelas gerações seguintes, em pro- anos antes da escrita. Pela característica mutante que a autora se

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 1 | 9


1.2
refere à linguagem, pode-se concluir que a arte será sempre res-
significada, também na escola, pois acompanha os movimentos da
arte na sociedade.
Se existe tal movimento de ressignificação, podemos esperar que
as leis que regem o ensino de Arte na escola sejam constantemente Refletindo no âmbito social
reavaliadas, refeitas.
A escolha de qualquer pessoa em frequentar determinado curso,
por exemplo, traz desejos pessoais, singulares, mas que geralmente
implicam impulsos, necessidades advindas do meio social. Nesse
sentido, convém desenvolver a percepção a respeito dos interve-
nientes inerentes a qualquer estudo, trabalho, atividade proposta.
Esses estudos visam conferir conhecimentos sobre os aspectos
T oda a referência que existe na Constituição, na Lei de Diretri-
zes e Bases (LDB), nos Parâmetros Curriculares Nacionais​
(PCNs), nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
legais do ensino de Arte. A legislação existe, no entanto, para ga- Infantil (RCNEIs), alusivos à Arte na educação, parte do conceito de
rantir cumprimento de alguma demanda surgida da necessidade so- que a comunidade escolar formal constituída no Brasil necessita
cial. Os documentos que serão estudados, portanto, visam dar conta de arte. Todo cidadão brasileiro necessita de ter acesso, conhecer,
exatamente de tal necessidade — e a maioria deles foi elaborada em exercitar, conversar sobre arte, para que, por meio de diferentes
âmbito nacional. produções, possa compreender o processo, os caminhos percorri-
dos pelos sujeitos, no sentido de analisar e compreender o contexto
social vivido nesses processos.
Assim, como profissionais da educação, torna-se significativo
criar consciência da relevância e dos conceitos que são formados
sobre arte na comunidade em que atuam, por meio de ações de diag-
nose, ou seja, para investigar sobre a real necessidade de arte, qual
é a concepção dos habitantes da comunidade local, o que pensam
sobre arte, o que entendem como arte, e ainda, se existe alguma ex-
pressão artística ou artesanal significativa na região.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 1 | 10


Introdução

2 N os dias atuais, o exercício da docência exige de nós, professores


e professoras, a revisão constante dos nossos conceitos de base,

Esferas legislativas:
os chamados fundamentos, pilares. Educação é firmada sobre con-
ceitos, pensamentos, conhecimentos, ideias, oriundas de elemen-
tos que pertencem à camada seleta da sociedade em direção aos

instâncias básicas
demais sujeitos que a compõem, cujos objetivos estão ligados à for-
mação, à transformação, ou mesmo à alienação desses sujeitos em
diferentes e variadas situações que se apresentam no cotidiano de

da legalidade
cada grupo social. Assim, existem demandas e direitos sociais que
são garantidas em leis. Em busca de atender tamanha diversidade,
há leis federais, estaduais, municipais, regimentos de instituições
de ensino, regimentos de condomínios habitacionais, contratos in-
dividuais, entre outros.
A Constituição da República Federativa do Brasil é o fundamento
maior, que serve como referência obrigatória para qualquer outra le-
gislação, como acordos, regimentos, contratos, no Brasil. Ou seja: é a
referência das referências, a lei da qual emanam todas as outras leis.
Assim, o texto constitucional fornece referências, diretrizes que
norteiam a educação no Brasil. Por essa razão, a Lei de Diretrizes e

Capítulo 2 | 11
2.1
Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) não diverge dos funda-
mentos constitucionais. Pelo contrário, ao ser elaborada, a LDB
atendeu também premissas básicas sobre a importância da arte para
o cidadão contidas no texto constitucional. Caso a Constituição não Arte na Constituição da
previsse a obrigatoriedade da Arte, como área de conhecimento sig-
nificativa para aprendizagem, provavelmente tal conteúdo não seria República Federativa do Brasil
obrigatório na educação formal.
O que se apresenta na legislação educacional, em relação à área
de Arte, reflete o empenho e a produção acadêmica dos profissio-
nais, no sentido de construir um novo perfil para seu ensino na
Educação Básica e no Ensino Superior.
Na maioria das aulas de Arte ainda pode ser percebido o distan-
A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada
pela Assembleia Nacional Constituinte, em 1988 é a referência
legal maior em nosso país. Conforme já dito, dessa emanam prin-
ciamento entre o fazer, a apreciação, a leitura, a fruição da obra de cípios que formatam outras legislações, como a Lei de Diretrizes e
arte e também da história da arte, que permitam interações com as Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), os Parâmetros Curricu-
produções que já fazem parte da história da humanidade. lares Nacionais, o Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil, as Propostas Curriculares dos estados e dos municípios, o
Estatuto da Criança e do Adolescente. Enfim, toda legislação está
subordinada à Constituição Federal.
Quanto à infância, um dos grandes ganhos na Constituição é o
reconhecimento da criança como sujeito de direitos na sociedade.
Tal direito é reafirmado no Estatuto da Criança e Adolescente, que
assim determina:

Art. 3º. A criança e os adolescentes gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da pro-
teção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei
ou por outros meios todas as oportunidades e facilidades, a fim

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 12


de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espi- Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado me-
ritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (ECA, diante a garantia de:
Lei 8069/1990). […]
— atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis
Sobre a arte, o texto constitucional prevê que é direito do cida- anos de idade;
dão o acesso à cultura, citando como obrigatoriedade do Estado e da […]
família promover tal acesso. Menciona, inclusive, o termo arte, no VIII — garantia de padrão de qualidade […].
Título VIII, Capítulo III, Seção I:
Observando o texto constitucional, é clara a noção de obriga-
Da Educação toriedade de arte em todos os níveis da Educação Básica. No ar-
tigo 208 estão apontadas, inclusive, a creche e a pré-escola (hoje
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do estado e da fa- denominadas Educação Infantil), como níveis em que a Arte deve
mília, será promovida e incentivada com a colaboração da socie- compor o currículo.
dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo No artigo 205 fica evidente a divisão entre o Estado e a família
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. da responsabilidade em promover a educação. É dever, é obrigação
das duas instâncias dar condições, fazer acontecer a educação em
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes todos os níveis da Educação Básica. Assim, cabe também à família
princípios: grande responsabilidade na função de educar. Professores podem
— igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; e devem, inclusive, esclarecer aos pais de alunos, principalmente
— liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensa- os que constantemente reclamam que a escola não está educando
mento, a arte e o saber; o filho, que grande parte de responsabilidade pela educação é dever
— pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexis- da família, conforme preconiza a lei.
tência de instituições públicas e privadas de ensino […] Convém conhecer o valor específico que é atribuído à arte no
texto constitucional. Pedagogos e professores devem divulgar essa
premissa que está contida na lei maior do Brasil. Desde a raiz da or-
ganização e garantia dos direitos dos brasileiros, observamos que é
garantida a liberdade de aprender arte, na mesma condição do saber
e do pensamento, legitimando seu valor para os brasileiros.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 13


Profissionais da Educação em geral devem ter clara a noção da § 1º Compreende-se a docência como ação educativa e proces-
constitucionalidade da presença da arte na Educação. Esse deve ser so pedagógico metódico e intencional, construído em relações
o primeiro argumento, inclusive, para exigir dos poderes estaduais sociais, etnicorraciais e produtivas, as quais influenciam con-
e municipais que sejam elaboradas propostas cada vez mais signi- ceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se
ficativas para o trabalho das linguagens e da arte nas escolas, assim na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, va-
como a contratação de pessoal capacitado para lidar com tais conte- lores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem,
údos, ou seja, professores de Arte, que possuam formação específi- de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do
ca na área, pois sabemos que ainda é realidade, principalmente no diálogo entre diferentes visões de mundo.
interior do nosso estado, o Espírito Santo, as chamadas CH — com-
plementação de carga horária — situação na qual, professores de Ao tratar das funções do profissional que será formado nessa li-
diferentes disciplinas complementam a carga horária no segundo cenciatura essa resolução preconiza:
segmento do Ensino Fundamental ou no Ensino Médio, ministran-
do aulas de Arte. Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a:
Outra situação é o professor ou professora das séries iniciais do VI — ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História,
Ensino Fundamental, que ministra todas as disciplinas do currículo, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e
incluindo Arte, e às vezes também Educação Física, por ordem das adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano.
Secretarias de Educação Estadual ou Municipal, pois é do sistema
gestor que partem as decisões, quando se apropriam do que está de- Depois de mais de quarenta anos de luta pela formação de pro-
finido na Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui fessores especialistas, ainda convivemos com muitos desvios. Além
as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em de professores de História, Português, Ciências etc, ministrando a
Pedagogia, licenciatura que diz: disciplina Arte, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, os Siste-
mas de Ensino podem contar com o amparo legal, que os exime da
Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia apli- contratação de professores especialistas partindo da concepção de
cam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação que para tal não seja necessária formação específica e competente
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de na área de conhecimento Arte. Em tais casos, o cumprimento da lei
Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação maior deve ser exigido. A ilegalidade deve ser inclusive, denunciada,
Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em ou- pois o estudante tem garantido nela o direito a um ensino ministra-
tras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. do com “garantia de padrão de qualidade” (Art.208, inciso VIII).

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 14


No sentido de atender ao que consta em nossa Constituição Fede- gação) que tem como condição básica a atualização dos professores.
ral, quanto aos aspectos qualitativos a serem aplicados à educação, Para que seja garantida a oferta de um conhecimento adequado da
a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, instituiu o Plano Nacional Arte na escola, os professores, além de possuírem curso específico,
de Educação — PNE, com vigência por 10 (dez) anos, a contar de sua devem manter-se atualizados, constantemente, sobre os temas rela-
publicação, com vistas ao cumprimento do disposto no artigo 214 cionados à arte. Para tal, existem periódicos especializados em arte,
da Constituição Federal. bem como livros que constantemente são publicados sobre Arte na
O PNE é constituído de diretrizes que apontam metas e estraté- escola. Também é possível encontrar nas programações de televisão
gias para todos os aspectos relacionados à educação no país. Dentre diversos programas relacionados ao tema. A Internet pode e deve
essas, a Meta de número 15 merece nossa especial atenção, pois tem ser consultada, pois há vários sítios eletrônicos informativos sobre
como objeto a formação de professores: a arte em geral, além da maioria dos resultados das pesquisas reali-
zadas sobre o tema.
Meta 15 — Garantir, em regime de colaboração entre a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1
(um) ano de vigência deste PNE, política nacional de formação
dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III
do caput do art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, as-
segurado que todos os professores e as professoras da educação
básica possuam formação específica de nível superior, obtida em
curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
(PNE — Lei nº 10.172, 2001).

As treze estratégias que integram a meta 15, como estratégias, in-


dicam as ações que devem compor os programas de governo, a fim
de serem criadas e implementadas políticas públicas, envolvendo a
sociedade em geral, para que sejam alcançados os objetivos traçados
em prol da qualidade da educação brasileira.
Qualidade no ensino de Arte, apesar de garantida na Constitui-
ção, é uma responsabilidade (e talvez possa ser mencionada, a obri-

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 15


2.2
[…]
Artigo 21 — A Educação Escolar compõe-se de:
I —Educação Básica — formada pela Educação Infantil, Ensino
Leis de Diretrizes e Bases da Fundamental e Ensino Médio.
II — Educação Superior.
Educação Nacional (Lei 9394/96)
Capítulo II
Da Educação Básica
[…]

P ara efeito deste estudo, será priorizado o enfoque nos aspectos


da LDB que dizem respeito ao ensino de Arte. Caso o estudante
tenha o desejo de proceder a um estudo mais aprofundado, poderá
Seção I
Das disposições gerais
[…]
investigar diretamente o texto da lei, que se encontra disponível, Artigo 26 — [alusivo ao currículo].
tanto em versão impressa, quanto em diversos sítios eletrônicos, […]
dentre esses o do Ministério da Educação/MEC . Além da LDB, outros
1
Parágrafo 2º. O ensino da arte constituirá componente obrigató-
documentos como parâmetros, referenciais, propostas municipais rio, nos diversos níveis da Educação Básica, de forma a promover
tratarão do ensino de Arte. o desenvolvimento cultural dos alunos.
Assim classifica a Lei 9394/96 quanto aos níveis e modalidades
da educação escolar no Brasil: Um fator bastante relevante na legislação foi ter reconhecido a
área como Arte, já que, anteriormente, na Lei 5692/ 1971, o compo-
Título V nente curricular era nomeado Educação Artística.
Dos níveis e das modalidades de Educação e Ensino Discorrendo sobre a presença da arte na LDB, Mirian Celeste Mar-
tins afirma:
Capítulo I
Da composição dos níveis escolares: Assim, a arte é importante na escola, principalmente
porque é importante fora dela. Por ser um conhecimento
construído pelo homem através dos tempos, a arte é um
1 http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9394.htm

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 16


2.3
patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano
tem direito ao acesso a esse saber (MARTINS; PICOSQUE;
GUERRA, 1998, p.13). Diretrizes Curriculares
Dessa forma, a legislação não faz surgir a arte na Educação, mas cria Nacionais do Curso de
condições e amparo para que a sociedade exija da escola a inclusão
desses conteúdos no currículo escolar em todos os níveis da Educa- Graduação em Artes Visuais
ção Básica. É um direito, assegurado por lei, que a criança, o adoles-
cente, o adulto os tenham como objeto de estudo.
Os responsáveis pela gestão das escolas das redes pública e pri-
vada devem promover a inserção da Arte na educação, sob o risco de
serem apenados pela lei, caso não incluam essa área na organização
C onforme afirmado anteriormente, a legislação educacional, re-
lativa à área de Arte é reflexo do empenho e da produção acadê-
mica dos profissionais que acreditam na possibilidade de construir
curricular dos cursos que ofertam. um novo perfil para esse ensino na Educação Básica e no Ensino Su-
Compreende-se que, muitas vezes, tais estudos são negligen- perior. Todo o empenho resultou, muito recentemente, no Parecer
ciados nos currículos. Muitas causas são apontadas, talvez a mais CNE/CES nº 280/2007, que aprovou e instituiu as Diretrizes Curricu-
razoável seja o fato de tais conteúdos não serem parte dos exames lares Nacionais do Curso de Graduação em Artes Visuais, bachare-
vestibulares. Se porventura nessa prova de seleção fossem incluídos lado e licenciatura, conforme os dizeres do seu relator: “Refletindo
conceitos de arte, a exemplo de ritmo visual, tendências artísticas, o referencial acumulado pelos profissionais da área no sentido de
períodos da história da arte, apreciação artística, crítica de arte, que a formação em curso superior contemple a especificidade das
estética, haveria mais valorização desse componente curricular. linguagens artísticas — e não mais a polivalência e a generalidade
preconizadas pela Lei nº 5.692/71”.
A seguir, são apresentados apenas alguns trechos das Diretrizes,
cuja íntegra pode e deve ser consultada no link2 em que o documen-
to está disponível. Esse parecer, que normatiza a exigência do cur-
rículo em consonância com as suas diretrizes, ao tratar do perfil do
formando, recomenda:

2 http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2007/pces280_07.pdf

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 17


Os cursos de graduação em Artes Visuais, segundo a Quando trata da diferença entre licenciando e bacharelando, nas
proposta sistematizada pela Comissão de Especialistas Diretrizes Curriculares do curso de Artes Visuais esclarece-se que
de Ensino de Artes Visuais da SESu/MEC, ‘devem formar “através da aquisição de conhecimentos específicos de metodolo-
profissionais habilitados para a produção, a pesquisa, a gias de ensino na área, o licenciado acione um processo multipli-
crítica e o ensino das Artes Visuais’ e sua formação deve ‘o cador ao exercício da sensibilidade artística” e, “além de artista/
desenvolvimento da percepção da reflexão e do potencial pesquisador, preparado para atuar no circuito da produção artística
criativo, dentro da especificidade do pensamento visual’. profissional e na formação qualificada de outros artistas, o bacharel
em Artes Visuais tem a possibilidade de atuar em áreas correlatas,
Isso reforça a ideia de que os cursos de formação precisavam e pre- onde se requer o potencial criativo e técnico específicos. Da mesma
cisam ser revistos para atender a uma demanda por profissionais forma, o licenciando pode desempenhar papéis nas diversificadas
qualificados, pois, se a prática dos educadores encontra-se pautada atividades para-artísticas.” De acordo com a alínea “b”, que assim
nos livros didáticos, distancia-se, de uma concepção que atenda preconiza no que diz respeito às competências e habilidades a se-
ao ideal democrático de educação proposto por uma nova era, que rem adquiridas pelo formando:
prima pela interação, pela igualdade de condições, que já estamos
começando a viver. Na maioria das aulas de Arte ainda se percebe o O curso de graduação em Artes Visuais, atento às tecnologias de
distanciamento entre as diferentes dimensões que envolvem esse produção e reprodução visual, de novas demandas de mercado
ensino-aprendizagem, como aquela do fazer, da apreciação, da leitu- e de sua contextualização marcada pela competição e pela ex-
ra e fruição da obra de arte e também da contextualização histórica. celência nas diferentes modalidades de formação profissional,
Barbosa (1998, p. 38) enfatiza que: “É através da contextualização que deve possibilitar formação profissional que revele, pelo menos,
se pode praticar uma educação em direção à multiculturalidade e as competências e habilidades para que o formando possa:
à ecologia, valores curriculares que definem a pedagogia pós-mo-
derna, acertadamente defendidos pelos Parâmetros Curriculares I — interagir com as manifestações culturais da sociedade na
Nacionais (PCN)”. qual se situa, demonstrando sensibilidade e excelência na cria-
Nesse sentido, essas diretrizes consideram que o profissional das ção, transmissão e recepção do fenômeno visual;
Artes Visuais “trabalha com um modo de percepção e conhecimento II — desenvolver pesquisa científica e tecnológica em artes visu-
específico, qual seja, o visual, certamente em interação com outras ais, objetivando a criação, a compreensão, a difusão e o desen-
formas de percepção e conhecimento, como o verbal e o sonoro” volvimento da cultura visual;
(BRASIL, 2007, p.4).

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 18


III — atuar, de forma significativa, nas manifestações visuais, II — nível de desenvolvimento: estudos e processos de interação
instituídas ou emergentes; com outras áreas do conhecimento, tais como filosofia, estética,
IV — atuar nos diferentes espaços culturais, especialmente em ar- sociologia, comunicação e teorias do conhecimento, com o obje-
ticulação com instituições de ensino específico de artes visuais; tivo de fazer emergir e amadurecer a linguagem pessoal do for-
V — estimular criações visuais e sua divulgação como manifesta- mando através da elaboração e execução de seus projetos;
ção do potencial artístico, objetivando o aprimoramento da sen- III — nível de aprofundamento: desenvolvimento do trabalho do
sibilidade estética dos diversos atores sociais. (MEC/CNE, 2007). formando sob orientação de um professor, buscando vínculos de
qualificação técnica e conceitual compatíveis com a realidade
O documento trata da graduação em Artes Visuais, e para aqueles mais ampla no contexto da arte. (MEC/CNE, 2002).
que optaram pelo curso de formação de professores, ou seja, a li-
cenciatura, essas mesmas diretrizes preconizam que “[…] devem ser Por meio desses breves recortes aqui apresentados, pode-se con-
acrescidas as competências e habilidades definidas nas Diretrizes cluir que a formação do licenciando em Artes possibilita a reflexão
Curriculares Nacionais referentes à Formação de Professores para a sobre a relação entre linguagens da arte ou interdisciplinaridade,
Educação Básica3,” na alínea “c”: desde que esses cursos de formação adotem as duas diretrizes para o
seu funcionamento: as diretrizes específicas para a área de Arte e as
c) Conteúdos curriculares diretrizes para a formação de professores, portanto, mais uma razão
para se realizar a leitura completa desses documentos.
O curso de graduação em Artes Visuais deve contemplar o perfil
do profissional desejado, a partir dos seguintes tópicos de estu-
dos ou de conteúdos interligados:

I — nível básico: estudos de fundamentação teórico-práticos re-


lativos à especificidade da percepção, criação e reflexão sobre o
fenômeno visual;

3 BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica.


Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno. Brasília, 18 de fevereiro de 2002. Disponível em: http://
portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/res1_2.pdf Rafaella (6 anos)

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 2 | 19


3.1
O Referencial Curricular Nacional

3
para a Educação Infantil (RCNEI)

é composto de três volumes:

Referencial Curricular Nacional


Volume 1: Introdução;
Volume 2: Formação social e pessoal;
Volume 3: Conhecimento de mundo.

para a Educação Infantil (RCNEI)


A proposta vinculada à Arte é objeto do volume 3: Conhecimen-
to de mundo, que será aqui explorado pelo fato de ser o cora-

e Parâmetros Curriculares
ção da matéria do curso de Licenciatura em Artes Visuais. Ainda à
guisa de especificidade, será mais relevante o tópico Artes Visuais,
contemplado no referencial. Nada impede que, a partir do interesse

Nacionais — Arte (PCN)


de cada estudante, sejam estudados também os Volumes 1 e 2, bem
como um aprofundamento em outros eixos de trabalho contidos no
Volume 3: Natureza e sociedade, Música, Linguagem oral e escrita.
Fica a cargo do seu interesse, de percurso e de formação individual.

3.1.1 Documento polêmico


Pode causar muita curiosidade iniciar um tópico caracterizando
um documento legal com o adjetivo “polêmico”. Mas, assim pode

Capítulo 3 | 20
ser considerado esse referencial elaborado para a Educação Infantil. Por enquanto, é de interesse notar que o volume 3: Conhecimen-
Constata-se na vivência cotidiana, especialmente no discurso de to de mundo, conta com participação de estudiosos de muito va-
pedagogos e professores, o desconforto em relação ao referencial lor na área de Artes Visuais, como Ana Amélia Bueno Buoro e Rosa
pelo fato de ser categorizado em faixas etárias. Iavelberg. Consequentemente, tal estudo apresenta importantes
Contemporaneamente, é discute-se se a educação de crianças até aspectos e saberes das Artes Visuais na Educação Infantil.
seis anos deveria ser organizada pela idade, como ocorre em outros
níveis da educação.
Outra questão é tratar áreas de conteúdo em um formato que é 3.1.2 Artes Visuais na Educação Infantil:
considerado como “compartimentalização” na educação, já que as
áreas de conhecimento estão apresentadas separadamente: Artes questões significativas
Visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Matemática, dentre ou-
tras. Pode existir uma determinada razão no olhar que descrimina o Uma visão panorâmica sobre o RCNEI é importante nesse estudo.
RCNEI, apesar de não ser consenso, mas o presente estudo não trata- Assim, seguem comentários sobre as ideias básicas que norteiam
rá desse aspecto, deixando-a reservada para quem deseja alimentar o documento.
ou se aprofundar em tal polêmica. Mesmo quem deseja criticá-lo, As questões visuais ocupam uma parte bastante significativa,
seja no sentido negativo ou positivo, deverá conhecer suas partes, em termos quantitativos, no referencial, fato que indica que é reco-
seus conteúdos, considerando sua relevância. nhecido o valor das Artes Visuais na infância. Inicialmente, convém
destacar o aspecto de comunicação que é dado ao desenho e a outras
manifestações visuais, nesse nível de educação. Os elementos cons-
tituintes do visual como bi e tridimensional, volume, espaço, cor
luz, ponto, linha, plano são mencionados como significativos no
que diz respeito à comunicação social, à interação com o ambiente,
à expressão de sentimentos e às sensações. A constatação é rele-
vante se observarmos como todas as crianças desenham e rabiscam
em muros, no próprio corpo, na areia, em vidro embaçado quando
estão dentro de um carro. Ademais, por ser uma linguagem (assim
como escrever, falar, cantar, dançar, representar dramaticamente)
Rafaella (4 anos) sua inserção na Educação Infantil torna-se obrigatória.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 3 | 21


Como ocorre em várias instituições, a Arte não deve ser consi- 2- Apreciação - está ligada ao fruir obra de arte ou imagens do
derada na educação como passatempo, exercício de coordenação cotidiano, conforme citado anteriormente. Trata de perceber os ma-
motora, motivo de decoração e elaboração de cartazes ou mesmo re- teriais, suportes outros elementos presentes na produção artística
forço para conteúdos de outros componentes curriculares. Desde o ou de desenho de leigos (incluindo os das próprias crianças). Sentir,
início do século XX, autores como Herbert Read e Viktor Lowenfeld identificar e reconhecer a expressão visual;
valorizaram em seus estudos a expressão individual das crianças 3- Reflexão - vem ao encontro do fazer e da apreciação artística,
por meio da busca pessoal no desenho. Porém, a livre expressão, compartilhando perguntas, questões individuais com o grupo, ins-
apesar de se constituir em momentos significativos para as crian- tigadas ou não pelo professor. Devem ser levadas em consideração
ças, acabou gerando o chamado laissez-faire, expressão francesa obra de artistas, imagens da mídia em geral e produção dos alunos.
que significa deixar o estudante fazer o que quiser, de acordo com
o seu querer, sem uma competente orientação ao trabalho, ou mes-
mo retorno à atividade realizada. Assim, por deixarem as crianças
livres e sem orientação, a livre expressão foi questionada, já que a
aprendizagem não ocorre espontaneamente, à medida que a criança
cresce. Elementos contidos nos programas da televisão, que desde
cedo são incorporados no imaginário infantil, passam a ser conteú-
dos importantes para as Artes. Elementos que a criança vê cotidia-
namente como rótulos de produtos, personagens de histórias em
quadrinhos, imagens de revistas, obras de arte e trabalhos de outras
crianças passam a ser elementos agora incorporados ao conhecer e Mariah (6 anos)

ao fazer artístico na escola.


Artes visuais são entendidas, neste documento, como uma lingua- Dessa forma, existe uma relação necessária da criança consigo
gem que tem estrutura definida e características próprias. Três aspec- mesma, mas relacionado com outras pessoas, com a imaginação e
tos são considerados básicos se articulados, na Educação Infantil: com a cultura. O que a criança produz pode ser mais significativo
se enriquecido com a ação intencional do adulto, seja antes, duran-
1- Fazer artístico - trabalhado por meio de práticas artísticas te ou depois de determinado exercício. A dimensão simbólica não
voltadas para a expressão individual da criança, buscando significa- deve ser esquecida, pois, representar, por meio de qualquer expres-
ções próprias do indivíduo; são da arte, está vinculado ao ato simbólico.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 3 | 22


A vertente cultural, conforme abordada na unidade I, jamais O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil apre-
deve ser negligenciada. senta uma característica didática marcante. Aborda questões alusi-
Vejamos tal exemplo: vas à garatuja e ao seu caráter evolutivo, até chegar à representação
de formas, objetos, figuras etc. Apesar de necessitar de um aprofun-
Uma caneca vermelha, esmaltada pode ser para alguns um obje- damento nessas questões, como estão tratadas, introduzem o leitor
to exótico, para outros, engraçada, antiga, motivo de risos; objeto de a interessar-se e a refletir sobre essas.
decoração para muitos; entendida também como um utensílio útil, Conforme visto anteriormente, objetivos e conteúdos são apre-
usado cotidianamente no presente. Pode ser vista como peça nos- sentados, em relação à idade da criança. Sabemos que a faixa etária
tálgica para pessoas que a utilizaram no passado e hoje rememoram é relativa, mas, ao termos consciência desse fato, é possível apro-
lembranças ao ver esse objeto. Assim ocorre com qualquer imagem veitar conteúdos do RCNEI, no qual também há referências ao fazer
ao ser vista, pensada, fruída etc. Somos introduzidos visualmente artístico e orientações ao professor para lidar com crianças.
em um mundo subjetivo, singular, pessoal em relação ao que se ob- Dessa forma, a proposta do documento consegue enriquecer o
serva. Por outro lado, temos também valores universais do objeto, processo de lidar com arte junto a crianças. Além disso, há uma bi-
as observações que outros fazem, as questões históricas, filosóficas, bliografia muito importante, de referência ao leitor/professor para
sociais etc… relacionadas a esse. Olhar, fruir, ver são atos extrema- pesquisar, ação fundamental de todo profissional, atuante em qual-
mente complexos, múltiplos, plurais. quer área do conhecimento humano. Para internalizar e exercer esse
papel, os professores e professoras precisam segundo Paulo Freire
compreender que “[…] Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem
ensino”. (1999, p. 32).
É interessante observar que a esse respeito, sobre o perfil de-
sejado dos formandos, especificado nas Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduação em Artes Visuais, bacharelado e
licenciatura — Parecer CNE/CES nº: 280/2007 — aponta-se:

Art. 3º O curso de graduação em Artes Visuais deve ensejar como


Mariah (6 anos) perfil do formando, capacitação para a produção, a pesquisa, a crí-
tica e o ensino das Artes Visuais, visando contemplar o desenvol-
vimento da percepção, da reflexão e do potencial criativo, dentro

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 3 | 23


da especificidade do pensamento visual, de modo a privilegiar a pela apreciação da arte e sua contextualização na história. Esses três
apropriação do pensamento reflexivo, da sensibilidade artística, aspectos integrados, contribuem positivamente para a construção,
da utilização de técnicas e procedimentos tradicionais e expe- elaboração e reelaboração do conhecimento pelo aluno.
rimentais, e da sensibilidade estética através do conhecimento
de estilos, tendências, obras e outras criações visuais, revelando
habilidades e aptidões indispensáveis à atuação profissional na
sociedade, nas dimensões artísticas, culturais, sociais, científicas
e tecnológicas, inerentes à área das Artes Visuais. (MEC/CNE, 2007)

Assim, o professor de Arte será capaz de pensar e concebê-la


como fenômeno universal, linguagem culturalmente construída,
forma de expressão e comunicação, com condições de torná-la fa-
miliar, “íntima”, para que tenha significado, importância, cabendo
à escola importante papel nesse processo, para que o ensino da Arte
alcance seu objetivo maior, ampliar o universo cultural do aluno.
Não é tarefa fácil. É desafio. É a arte deixando de ser somente
livre-expressão e transformando-se em contato, em ação. Arte como
componente curricular, sem o estigma da fragmentação, com con-
teúdos próprios, ministrados por profissionais habilitados em áreas
específicas, que façam uso da “discussão, da pesquisa e da experi-
mentação de propostas pedagógicas e metodológicas” (PENNA,
1995, p.22), que permitam a inserção mais ampla, plena e partici-
pativa do aluno em seu meio sociocultural. Assim, a aula de Arte
deverá ser antes de tudo, um espaço em que se garanta a construção
dos aspectos cognitivo, perceptivo e emocional, por meio de uma
metodologia que contemple igualmente o fazer artístico, a crítica

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 3 | 24


3.2
as suas ações e subsídios para que possam trabalhar com a mes-
ma competência exigida para todas as áreas do projeto curricular”
(BRASIL, 1998, p. 15).
Parâmetros Curriculares
A Presidência da República por meio da Lei nº 12.287, de 13 de
Nacionais: Arte julho 2010, promoveu alterações no artigo 26 da LDB — Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que resultaram em:

Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino funda-

E m dezembro de 1996, a Lei no 9.394 — Lei de Diretrizes e Bases


da Educação Nacional — foi sancionada, surpreendendo a todos
que desacreditavam da união e movimentação política das Associa-
mental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabele-
cimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas carac-
ções de Arte Educadores, uma vez o artigo 26 indica a obrigatoriedade terísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia
do ensino da Arte em todos os níveis da Educação Básica. Foi uma e dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).
vitória conquistada pelo movimento Arte Educação, mas a batalha
não se encerrava ali. § 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regio-
A LDB aponta para a necessidade de mudanças na formação e nais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos
na prática dos educadores. Nesse sentido, integrando a legislação níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimen-
educacional, foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacio- to cultural dos alunos. (Redação dada pela Lei nº 12.287, de 2010).
nais (PCNs), para orientar a formulação das propostas pedagógicas
estaduais e municipais, bem como as ações dos docentes. Por meio dessa alteração, o parágrafo 2º do artigo 26 da LDB —
que já estabelecia o ensino da arte como componente curricular
Publicados pelo Governo Federal em 1997, os Parâmetros Curricu- obrigatório nos diversos níveis da Educação Básica — destaca tam-
lares Nacionais (PCNs) fazem parte de uma política de estruturação bém a necessidades das “expressões regionais” serem consideradas.
e reestruturação dos currículos escolares no Brasil, com o objetivo No Brasil, o Ensino Fundamental foi ampliado de oito para nove
de “[…] oferecer aos educadores um material sistematizado para anos, a partir da promulgação da Lei 11274, de 2006 e o ingresso
obrigatório das crianças dá-se aos seis anos de idade, quando antes

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 3 | 25


se dava aos sete anos de idade. Por estar essa legislação em fase de ção Básica, conforme seu artigo 26, parágrafo 2º: “O ensino da arte
implementação, em diversos sistemas de ensino, neste fascículo constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis
consideraremos o Ensino Fundamental constituído por oito séries. da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultu-
ral dos alunos”.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais são um conjunto de oito
volumes que correspondem aos componentes curriculares do En- Neste documento, caracteriza-se a área de arte, esclarecendo
sino Fundamental: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Natu- objetivos e propondo conteúdos para a educação. Além disso, estão
rais, História, Geografia, Arte, Educação Física e Língua Estrangeira. contempladas todas as várias linguagens ou modalidades artísticas,
Para nosso estudo, interessa o volume 6 : Arte, que como compo- como Artes Visuais, Dança, Música, Teatro e são sugeridas orien-
nente curricular está equiparada a qualquer outra área, de mesma tações didáticas e opções de avaliação. Convém, porém, esclarecer
importância para formação/educação do cidadão. Assim como o que se trata de um parâmetro nacional, ou seja, não é obrigatório
RCNEI, sua elaboração esteve sob responsabilidade de profissionais ao professor e às instituições seguirem à risca o que preconiza tal
de referência na área, o que o torna um documento bastante rico. documento, mas, o importante, segundo Barbosa, é o professor
compreender que:

“Desconstruir para reconstruir, selecionar, reelaborar,


partir do conhecido e modificá-lo de acordo com o con-
texto e a necessidade são processos criadores, desenvolvi-
dos pelo fazer e ver Arte, e decodificadores fundamentais
para a sobrevivência no mundo cotidiano” (BARBOSA,
2003, p.18)

Mariah (8 anos)

Como já apontado, os Parâmetros Curriculares Nacionais — Arte


(PCN - Arte) foram elaborados tendo como referência a Lei N. 9394/96,
por meio da qual Arte passa a ser considerada obrigatória na Educa-

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 3 | 26


Introdução

4 N as últimas décadas, o ritmo acelerado com que ocorrem as mu-


danças, principalmente nos países considerados de primeiro

A educação e o ensino de Arte mundo, reflete-se no Brasil, provocando transformações, em todos os


níveis da sociedade, que demandam a busca do desenvolvimento, da
produtividade e da competitividade, o que só é possível por meio

na modalidade EaD/semipresencial,
da formação e qualificação dos recursos humanos. Muitos desafios
se apresentam já que a globalização atingiu também a educação. Ex-
pressões como “e-mail”, lnternet e CD ROM passam a fazer parte do

seus parâmetros legais vocabulário de professores e estudantes, abrindo as portas para um


universo de informações e criando novas modalidades de ensino e
de aprendizagem. É nesse sentido que governantes e agentes sociais
têm priorizado em seus interesses, na criação de políticas públicas,
a formação tanto inicial quanto continuada do maior número de
pessoas adultas, em permanente atualização e renovação.
No Brasil, a cada dia, os avanços tecnológicos, a insuficiência de
qualificação e, consequentemente, a exigência de níveis de forma-
ção mais elevados e mesmo as novas tendências demográficas, den-
tre outros, provocam uma crescente demanda social de formação.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 4 | 27


Ainda em 1972, a Unesco, diante das necessidades que começa- Art. 80 O poder público incentivará o desenvolvimento e a vei-
vam a surgir, ao traçar diretrizes para o ensino, enfatizou: culação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e
modalidades de ensino e de educação continuada.
[…] a educação deve ter por finalidade não apenas formar
as pessoas visando uma profissão determinada, mas, § 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime
sobretudo colocá-las em condições de se adaptar a dife- especiais, será oferecida por instituições especificamente cre-
rentes tarefas e de se aperfeiçoar continuamente, uma vez denciadas pela União.”
que as formas de produção e as condições de trabalho evo-
luem: ela deve tender, assim, a facilitar as reconversões Para referendar o que está previsto em lei, a educação a distância
profissionais. (UNESCO, 1972), apud (PRETTI, 1996, p. 18). no Brasil foi normatizada pelo Decreto nº 2494, de 10 de fevereiro de
1998 (publicado no Diário Oficial da União/DOU de 11/02/98), pelo
Na lei nº 9394/96 — Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Decreto nº 2561, de 27 de abril de 1998 (publicado no Diário Oficial da
— e no Plano Nacional de Educação (MEC, 2001) constam a proposta União/DOU de 28/04/98) e pela Portaria Ministerial nº 301, de 07 de
da universalização e da democratização do ensino e a modalidade abril de 1998 (publicada no Diário Oficial da União/DOU de 09/04/98).
a distância é indicada como meio para alcançar essas metas. Nesse De acordo com o Art. 2º do Decreto n. º 2494/98,
sentido, foram criados programas e estratégias com recursos de ex-
pansão do uso das tecnologias da informação pelos meios de comu- os cursos a distância que conferem certificado ou diplo-
nicação em geral, aplicando-os à educação. ma de conclusão do ensino fundamental para jovens e
adultos, do ensino médio, da educação profissional e de
Na Lei 9394/96 o assunto pode ser considerado, mesmo que de graduação serão oferecidos por instituições públicas, ou
forma indireta, no artigo 5º, parágrafo 5º: “o Poder Público cria- privadas especificamente credenciadas para esse fim[…]
rá formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino”.
Outros artigos tratam da oferta de cursos a distância, principal- No Plano Nacional de Educação, aprovado em 9 de janeiro de 2001
mente para o nível fundamental ou médio da Educação Básica, (Lei nº 10.172), é possível localizar na introdução o tema relacionado
direcionados para a educação de jovens e adultos — EJA, ensino à educação superior:
supletivo e cursos profissionalizantes.
No artigo 80 da LDB indica-se a possibilidade de oferta da educa- À União atribui-se historicamente o papel de atuar na edu-
ção a distância nos diferentes níveis, quando preconiza: cação superior, função prevista na Carta Magna. As ins-

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 4 | 28


tituições públicas deste nível de ensino não podem pres- e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo
cindir do apoio do Estado. As universidades públicas têm atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL,
um importante papel a desempenhar no sistema, seja DECRETO 5.622/ 2005).
na pesquisa básica e na pós-graduação stricto sensu,
seja como padrão de referência no ensino de graduação. O crescimento do incentivo ao desenvolvimento de programas de
Além disso, cabe-lhe qualificar os docentes que atuam educação a distância permitiu a multiplicação de iniciativas, consi-
na educação básica e os docentes da educação superior derando o espírito geral da liberdade de imprensa consagrada pela
que atuam em instituições públicas e privadas, para que Constituição, desde que essas estejam sujeitas a padrões de quali-
se atinjam as metas previstas na LDB quanto à titulação dade. Para tanto, cabe ao poder público o rigor e regulamentação no
docente. (BRASIL, PNE, (Lei nº 10.172), 2001). controle de qualidade, principalmente quando se tratar da oferta de
cursos regulares que dão direito a certificados ou diplomas.
Nas diretrizes do Plano Nacional de Educação, na sessão dos obje- Nesse sentido foram instituídos, por meio do Parecer CNE/CES
tivos e metas, dentre os demais merece destaque: “Estabelecer um Nº 197/2007, os Referenciais de Qualidade para Educação Su-
amplo sistema interativo de educação a distância, utilizando-o, in- perior a Distância semipresencial, atualizando e detalhando os
clusive, para ampliar as possibilidades de atendimento nos cursos Referenciais de Qualidade estabelecidos no Decreto 5622/05 e com-
presenciais, regulares ou de educação continuada” (BRASIL, PNE, plementando o Decreto 5773/06.
(Lei nº 10.172), 2001).

Mais adiante, um novo decreto governamental, o 5.622, de de-


zembro de 2005, da Presidência da República, trata especificamente
do ensino a distância, explicitada, no Capítulo I:

Art. 1º Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a


distância como modalidade educacional na qual a mediação
didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem
ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 4 | 29


4.1
[…] Com a expansão da educação a distância no Brasil, as
instituições de ensino estão investindo em tecnologia e
Referenciais de Qualidade na preparação de equipes, envolvendo professores e pro-
fissionais de perfis específicos, com conhecimentos de
para Educação Superior a didática, redes, comunicação e estética visual. A indústria
da informática, por sua vez, investe no desenvolvimento
Distância semipresencial de novas ferramentas para educação a distância. Os pro-
fessores passaram a ter solicitações de como desenvolver
conteúdos em novas linguagens e procurar outras formas

H oje, com as mudanças ocorridas no comportamento e pensa-


mento social, há exigência de níveis de formação mais ele-
vados, associada à diminuição da natalidade, ao crescimento cada
de promover a aprendizagem dos alunos (MAIA, 2003, p.1).

Em 2005, durante o Fórum das Estatais pela Educação para discutir


vez maior, da participação de mulheres no mercado de trabalho, à as políticas e a gestão da educação superior, o MEC/Ministério da
migração ainda existente da mão de obra do campo para os espaços Educação, em parceria com a Andifes — Associação Nacional dos
urbanos, ao processo de industrialização nas regiões menos de- Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior — e empre-
senvolvidas e também às novas regras da aposentadoria. Esses são sas estatais, criou o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), 4
fatores que influenciam e vêm modificando o mercado de trabalho instituído pelo Decreto nº 5.800, de 8 de junho de 2006.
e tornam necessária, assim, a oferta de formação para suprir as ne-
cessidades de qualificação e de conhecimentos desses novos grupos Reafirmando sua concepção sobre a educação a distância, Preti
que buscam, nos cursos oferecidos na modalidade EaD, a formação enfatiza que inovações e renovações pedagógicas e a expansão da
necessária para concorrer nesse contexto, cada vez mais competitivo. EAD não podem ser movimentos determinados pela vontade dos
Para atender ao que está preconizado na legislação, no que se re-
fere à educação a distância e aos anseios da sociedade, cada vez mais
4 “Os primeiros cursos executados no âmbito do Sistema UAB resultaram da publicação
necessitada de acesso aos cursos superiores, ocorre um movimento de editais. O primeiro edital conhecido como UAB1, publicado em 20 de dezembro de 2005,
que envolve os setores vinculados à educação, em busca de estraté- permitiu a concretização do Sistema UAB, por meio da seleção para integração e articulação
das propostas de cursos, apresentadas exclusivamente por instituições federais de ensino
gias que facilitem a ampliação da oferta de cursos na modalidade superior, e as propostas de polos de apoio presencial, apresentadas por estados e municípios.
O segundo edital, publicado em 18 de outubro de 2006, denominado UAB2, diferiu da primeira
EaD. Segundo MAIA,
experiência por permitir a participação de todas as instituições públicas, inclusive as
estaduais e municipais”. Disponível em: <www.uab.capes.gov.br>. Acesso em: 20 maio 2010.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 4 | 30


governantes, “[…] pois estão enraizados na cultura, nos processos Todo esse movimento conforme já afirmado, repercutiu nos se-
sociais… nas lutas e embates sociais dos profissionais da educação tores governamentais. Compreendendo a importância de seu papel
[…]”(PRETTI, 2005, p. 43–44). na formulação das políticas brasileiras de educação o MEC criou
alguns referenciais para o ensino a distância, de caráter orientador,
É no sentido de atender às muitas vozes presentes nessas lutas e cuja proposta é auxiliar na construção de uma EAD de qualidade,
embates que guiando professores e demais envolvidos, no desafio premente de
educar a distância.
[…] o Sistema Universidade Aberta do Brasil — UAB — não
propõe a criação de uma nova instituição de ensino, mas Ainda em 2005, no Decreto 5.622, cuja publicação se deu em 20 de
sim, a articulação das já existentes, possibilitando levar en- dezembro, estabeleceu-se a política de garantia de qualidade relativa
sino superior público de qualidade aos municípios brasilei- aos variados aspectos ligados à modalidade de educação a distância,
ros que não possuem cursos de formação superior ou cujos abrangendo o credenciamento institucional, supervisão, acompa-
cursos ofertados não são suficientes para atender a todos nhamento e avaliação, harmonizados com padrões de qualidade
os cidadãos. Tendo como base o aprimoramento da educa- enunciados pelo Ministério da Educação, dentre os quais destacamos:
ção a distância, o Sistema UAB visa expandir e interiorizar
a oferta de cursos e programas de educação superior. Para a) a caracterização de EaD6 visando instruir os sistemas de ensino;
isso, o sistema tem como base, fortes parcerias entre as es- b) o estabelecimento de preponderância da avaliação presencial dos
feras federais, estaduais e municipais do governo. 5
estudantes em relação às avaliações feitas a distância;
c) maior explicitação de critérios para o credenciamento, no do-
Integrado por universidades públicas, esse sistema tem por missão cumento do plano de desenvolvimento institucional (PDI), princi-
oferecer cursos de nível superior, por meio do uso da metodologia palmente em relação aos polos descentralizados de atendimento
da educação a distância, às camadas da população que têm dificul- ao estudante;
dade de acesso à formação universitária, priorizando a formação de d) mecanismos para coibir abusos, como a oferta desmesurada do
professores que atuam na educação básica, seguidos dos dirigentes, número de vagas na educação superior, desvinculada da previsão de
gestores e trabalhadores em educação básica e, por último, o público condições adequadas;
em geral, dos estados, municípios e do Distrito Federal.
6 O artigo 1º do Decreto caracteriza a educação a distância como modalidade educacional
na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre
5 Conteúdo retirado na íntegra do site < http://www.uab.capes.gov.br>. com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
Acesso em: 20 de maio 2010. professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 4 | 31


e) permissão de estabelecimento de regime de colaboração e coope- da educação superior, define princípios, diretrizes e critérios para
ração entre os Conselhos Estaduais e Conselho Nacional de Educa- referenciar as instituições, com vistas a coibir a precarização da
ção e diferentes esferas administrativas para: troca de informações, educação superior, além de incluir referências específicas aos polos
supervisão compartilhada, unificação de normas, padronização de de apoio presencial.
procedimentos e articulação de agentes; Os Referenciais de Qualidade criados e divulgados pela Secreta-
f) previsão do atendimento de pessoa com deficiência; ria de Educação a Distância (SEED), do Ministério da Educação, estão
g) institucionalização de documento oficial com Referenciais de embasados no ordenamento legal vigente, e em conformidade com
Qualidade para a educação a distância.
7
as determinações específicas da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção, do Decreto 5.622, de 20 de dezembro de 2005, do Decreto 5.773
Quanto ao último tópico destacado é importante observar que de junho de 2006 e das Portarias Normativas 1 e 2, de 11 de janeiro de
muito embora ainda não houvesse determinação legal explícita, em 2007. É um documento que retrata parte do pensamento social
2002, o MEC instituiu por meio da Portaria Ministerial nº 335/2002, vigente, pois foi,
a primeira comissão de especialistas, com o objetivo de discutir
amplamente os referenciais de qualidade para educação superior Elaborado a partir de discussão com especialistas do
a distância. O relatório dessa comissão serviu de texto-base para a setor, com as universidades e com a sociedade, ele tem
elaboração dos Referenciais de Qualidade para EAD, pelo MEC, em como preocupação central apresentar um conjunto de
2003, e publicado em 2005 tornando-se o ponto de partida para a definições e conceitos de modo a, de um lado, garantir
atualização dos Referenciais que orientam a oferta de cursos de qualidade nos processos de educação a distância e, de
graduação e especialização. outro, coibir tanto a precarização da educação superior,
verificada em alguns modelos de oferta de EAD, quanto a
A atualização do documento deu-se após quatro anos de expe- sua oferta indiscriminada e sem garantias das condições
riência acumulada e do consequente amadurecimento da modali- básicas para o desenvolvimento de cursos com qualidade.
dade EAD, considerando a criação dos referenciais de 2003, e nas (BRASIL/MEC, Parecer 280/2007, p. 2)
avaliações de cursos feitas pelo próprio MEC. O novo referencial
reforça a importância da EAD no contexto da política de expansão Embora seja um documento que não tem força de lei, é um refe-
rencial orientador, para subsidiar os atos legais do poder público
7 O Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005, no parágrafo único do artigo 7º, estabelece que
no que se refere aos processos específicos de regulação, supervisão
os Referenciais de Qualidade para a Educação a Distância pautarão as regras para a regulação,
supervisão e avaliação dessa modalidade.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 4 | 32


e avaliação da modalidade a distância semipresencial, e além de Ainda são muitos os impedimentos e desafios a serem superados.
direcionar essa modalidade na concepção teórico-metodológica, Dentre eles, o que se apresenta como maior desafio é a extensão
também orienta todo o processo de organização de sistemas de EaD. territorial conjugada à falta de recursos considerados primordiais,
numa sociedade globalizada. Dentre esses recursos, em algumas
Nesse documento reconhece-se a necessidade de uma aborda- regiões, a falta de energia elétrica e a ausência da internet ainda são
gem sistêmica, em virtude da complexidade dos processos da EAD, e fatores que inviabilizam a oferta e a prática da educação a distância,
procura-se contemplar aspectos pedagógicos, de recursos humanos nesta sociedade dita globalizada, pois “[…] Globalização não é apenas
e de infraestrutura, que devem estar integralmente expressos no um fenômeno econômico, de surgimento de um ‘sistema-mundo’,
projeto político pedagógico de um curso de EAD. Nele estão aponta- mas tem a ver com a ‘transformação do espaço e do tempo’” (BELLO-
dos, orientados e explicitados, os tópicos básicos que devem conter NI, 2001, p. 3).
em um Projeto Político pedagógico de um curso a distância:
No mesmo patamar dos desafios a serem superados, está a for-
• concepção de educação e currículo no processo de mação qualitativa de professores de Arte. Nesse sentido, depois de
ensino e aprendizagem; mais de uma década de existência do PNE e, portanto, de os objetivos
• sistemas de Comunicação; e metas terem sido traçados para ampliar o acesso à educação, e da
• material didático; real necessidade da oferta de formação de professores na área de Arte,
• avaliação; para atender à enorme demanda em nosso estado, o Centro de
• equipe multidisciplinar; Artes/Ufes criou e, em parceria com o Neaad/Ufes, hoje Sead/Ufes,
• infraestrutura de apoio; viabilizou a oferta do Curso de Artes Visuais/EAD, cuja modalidade
• gestão acadêmico-administrativa; é semipresencial, de acordo com as exigências do MEC sobre os cur-
• sustentabilidade financeira. sos de formação elencados nos programas da Universidade Aberta
do Brasil/ UAB.
Contudo, mesmo considerando as iniciativas na esfera privada
e do Governo Federal por meio dos principais programas (UAB, Pro- A oferta do Curso de Artes Visuais/EAD tem como justificativa de
licen) que ofertam a modalidade EAD, ainda estamos distantes de sua implementação na Ufes, atender a uma demanda existente e em
alcançar um patamar satisfatório em termos de oferta e acesso ao crescimento nos últimos anos, demanda essa constituída por uma
ensino superior no Brasil. maioria que luta por uma habilitação em nível superior, que lhes
possibilite, além da formação, o conforto profissional, uma vez que,

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Capítulo 4 | 33


mesmo sem um curso específico de licenciatura, essa maioria tem
se empenhado no ensino de Artes. No sentido de atender a esses an-
seios e necessidades, é que o princípio da contextualização norteia
esse curso, na expectativa de formar professores de Arte, cujas prá-
ticas sejam pautadas na vivência, na experimentação e no confronto, Considerações…
pois, conforme Barbosa:

Arte não é apenas básica, mas fundamental na educação de


um país que se desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cog-
nição, é profissão, é uma forma diferente da palavra para
interpretar o mundo, a realidade, o imaginário, e é conte-
údo. Como conteúdo, arte apresenta o melhor trabalho do
F inalizando, acreditamos que a disciplina Aspectos Legais do En-
sino da Arte reforça a intenção da necessidade de se compreender
a legislação educacional, como disciplina que necessita de con-
ser humano. Arte é qualidade e exercita nossa habilidade textualização com a realidade, entendendo sua origem, objetivos e
de julgar e de formular significados que excedem nossa destinações. É motivo de estudos, reflexão, para otimizar os senti-
capacidade de dizer em palavras. E o limite da nossa cons- dos da Arte na educação. Ademais, convém conhecê-las na íntegra,
ciência excede o limite das palavras (BARBOSA, 2001, p.4). para que possamos exigir seu cumprimento por parte das instâncias
governamentais.
Muitas outras informações sobre a Arte na Educação Básica pode-
rão ser encontradas nos inúmeros trabalhos publicados na internet,
bem como no sítio da Associação Nacional dos Pesquisadores em
Artes Plásticas/ ANPAP8, da Federação de Arte Educadores do Brasil/
FAEB9, dentre outros.
São muitas as fontes disponíveis para a consulta e a pesquisa.
E nós, professores e professoras, temos o dever de buscar meios para
qualificar o nosso trabalho, construindo em nós a competência ne-
cessária para o exercício docente de acordo com as exigências dessa

8 http://anpap.org.br/
9 http://faeb.com.br/

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Considerações | 34


sociedade mais e mais competitiva. Portanto não podemos ignorar
as Diretrizes curriculares específicas sobre Arte, do nosso estado, do
nosso município, bem como o que preconiza a LDB, tanto nas ques-
tões gerais da educação, quanto específicas.
Essas e outras publicações dessa natureza são relevantes para a Referências
pesquisa e a prática docente, seja ela na modalidade presencial ou na
EaD, pois refletem e acompanham a evolução da oferta da educação
no Brasil, não somente seus resultados. Apontam também possibili-
dades, estratégias e críticas no sentido de fazer da prática docente, um BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil: realidade hoje
exercício profissional substanciado nos aspectos qualitativos, que e expectativas futuras. Relato encomendado pela Unesco à Insea.
atenda à demanda de formação existente, ao mesmo tempo em Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/ea/v3n7/v3n7a10.pdf >.
que vai reduzindo o que se pode se chamar de dívida social fomen- Acesso em: 3 nov. 2011.
tada ao longo dos anos, no que diz respeito ao acesso e à oferta de
educação em todos os níveis, principalmente no nível superior. ____. (Org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São
Paulo: Cortez, 2003.

BRASIL. Plano Nacional de Educação — PNE. Brasília: MEC. dis-


ponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/index.htm.
Acesso em 01/08/2010.

____. Lei 8.069/1990 — (Lei Ordinária). Dispõe sobre o Estatuto


da Criança e do Adolescente — ECA — e dá outras providências.
Publicado no Diário Oficial da União, Brasília, 16/07/1990, p. 13563.

____. Resolução CNE/CP 1/2006. Institui as Diretrizes Curricu-


lares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licencia-
tura. Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de
2006, Seção 1, p. 11.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I Referências | 35


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de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções ____. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação
de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educa- em Artes Visuais, bacharelado e licenciatura. Conselho Nacional
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sistema federal de ensino. Diário Oficial [da] República Federativa
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Sobre os autores

César Pereira Cola Vera Lúcia de Oliveira Simões

Doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Univer- Professora do Centro de Artes/UFES, no Departamento de Teoria
sidade Católica de São Paulo é professor do Centro de Educação da da Arte e da Música – DTAM. É Mestre e Doutora em Educação pelo
Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Programa de PPGE/UFES, cuja tese “A formação do professor de Arte na modalida-
Pós-Graduação em Educação do PPGE/UFES, (mestrado e doutora- de educação a distância – UAB/UFES”, defendida em 2013, analisa e
do). Autor dos livros: “Ensaio sobre o desenho Infantil” e “Singulari- identifica as concepções de professor de Arte que norteiam/emba-
dades e Devaneios”. Também é artista plástico atuante, produzindo sam o Curso de Artes Visuais na modalidade a distância. É autora de
pintura, desenho e vídeos. diversos artigos sobre a prática e a formação de professores de Arte.

Aspectos Legais do Ensino da Arte I

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