Escala EBAI - Dra Patricia Diniz

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS PNEUMOLÓGICAS

TESE DE DOUTORADO

Adaptação transcultural e validação da escala


Montreal Children´s Hospital Feeding Scale
para o português falado no Brasil

PATRICIA BARCELLOS DINIZ

PORTO ALEGRE
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS PNEUMOLÓGICAS

Adaptação transcultural e validação da escala


Montreal Children´s Hospital Feeding Scale
para o português falado no Brasil

PATRICIA BARCELLOS DINIZ

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Ciências Pneumológicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, como
requisito parcial para o título de Doutora.

Orientadora:
Profª. Dra. Simone Chaves Fagondes

PORTO ALEGRE
2019
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 16
2.1 Processo de alimentação ................................................................................ 16
2.2 Dificuldades alimentares ................................................................................. 17
2.3 Instrumentos de avaliação das dificuldades alimentares.............................. 19
3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 33
4 OBJETIVOS .......................................................................................................... 34
4.1 Objetivo geral ................................................................................................... 34
4.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 34
5 HIPÓTESE ............................................................................................................ 35
6 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 36
6.1 Validação do instrumento ................................................................................ 36
6.2 Tradução ........................................................................................................... 36
6.3 Montagem de versão unificada ....................................................................... 36
6.4 Equivalência versão original e versão unificada em português .................. 36
6.5 Retrotradução .................................................................................................... 37
6.6 Análise por experts e autores originais da escala ........................................ 37
6.7 Verificação da aplicabilidade .......................................................................... 37
6.8 Grupo controle ................................................................................................. 38
6.9 Grupo dos casos .............................................................................................. 38
6.10 Análise estatística .......................................................................................... 39
6.11 Aspectos éticos .............................................................................................. 40
7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 41
8 ARTIGO CIENTÍFICO ........................................................................................... 49
9 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 69
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 70
ANEXOS .................................................................................................................. 71
Anexo 1 - Questionário MCH-FS em inglês .......................................................... 71
Anexo 2 - Questionário MCH-FS versão Brasil .................................................... 73
Anexo 3 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ....................... 75
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

PC Paralisia Cerebral

TEA Transtorno do Espectro do Autismo

CEBI Children’s Eating Behavior Inventory

BPFAS Behavioral Pediatrics Feeding Assessment Scale

MCH-FS Montreal Children´s Hospital Feeding Scale

IA Introdução Alimentar

CFAQ The Children’s Feeding Assessment Questionnaire

MBQ The Mealtime Behavior Questionnaire

PEDIEAT The Pediatric Eating Assessment Tool

STEP-CHILD The Screening Tool of Feeding Problems Applied to Children

AE Atresia Esôfago

SEP Screening List Eating Behavior Toddlers

UTIN Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

IG Idade Gestacional

HMIPV Hospital Materno Infantil Presidente Vargas

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tabela comparativa das características dos grupos ................................ 63


Tabela 2 - Tabela comparativa dos escores ............................................................. 64
Tabela 3 - Tabela comparativa de casos e controles estratificado por faixa etária ... 65
LISTA DE FIGURAS

Gráfico - Curva ROC do Raw escore para discriminar casos e controles ................. 65
RESUMO

Introdução
A alimentação consiste em uma habilidade que amadurece durante os dois primeiros
anos de vida e mediante um processo sensório-motor altamente complexo, com
estágios de desenvolvimento baseados na maturação neurológica e no aprendizado
experiencial. É um processo amplo e que exige interações complexas entre fatores
genéticos, biológicos, psicológicos, socioculturais, familiares e ambientais que
podem interferir no desenvolvimento de hábitos e comportamentos alimentares
saudáveis. Devido a essas relações serem complexas e se inter-relacionarem,
modelos biopsicossociais têm prevalecido nos esforços para entender a conexão
entre esses componentes. As dificuldades alimentares na infância são um problema
que pode ser grave e resultar em consequências orgânicas, nutricionais e
emocionais importantes. Caracterizam-se por comportamentos específicos e
disfuncionais durante a alimentação, não incluindo, necessariamente, problemas de
deglutição. Conforme já estabelecido na literatura, dificuldades alimentares em
crianças são um problema clínico de alto impacto e têm consequências
extremamente negativas para a criança e a família. A interferência na alimentação
infantil está associada a efeitos nocivos no desenvolvimento social, emocional, físico
e cognitivo da criança e afeta significativamente o bem-estar e a vida familiar dos
pais. Os problemas alimentares encontram-se presentes em 20 a 35% da população
pediátrica em geral. Quando tal população é composta por crianças com atrasos no
desenvolvimento, nascimento prematuro e condições médicas complexas, a
frequência dos problemas alimentares pode ocorrer em até 80% dos casos. Devido
à prevalência e às consequências negativas das dificuldades alimentares na
infância, os profissionais da saúde que trabalham com essa população precisam ter
acesso a um instrumento de rastreamento, de aplicabilidade clínica, válido e
confiável, que possa verificar rapidamente as queixas dos pais sobre as dificuldades
alimentares de seus filhos, identificando a criança em risco e verificando a
necessidade de mais profunda avaliação e posterior tratamento. Ainda que na
literatura sejam encontrados instrumentos validados e com medidas psicométricas
estabelecidas, que têm como objetivo identificar as dificuldades alimentares na
infância, como por exemplo o Inventário de Comportamento Alimentar de Crianças
(Children’s Eating Behavior Inventory – CEBI) e a Escala de Avaliação
Comportamental de Alimentação Pediátrica (Behavioral Pediatrics Feeding
Assessment Scale – BPFAS), a rápida identificação dos problemas não é por eles
favorecida. No Brasil não existem questionários validados para identificação de
dificuldades alimentares na infância. Desse modo, em face da ausência de
instrumentos deste tipo e considerando a dimensão do problema e o impacto
negativo das dificuldades alimentares na criança e em seus pais, é que se faz
necessária a validação de um instrumento de rastreio de aplicação pelos
profissionais de saúde que permita detectar tais problemas o mais cedo possível.
Objetivos
Realizar a validação e adaptação transcultural da escala Montreal Children´s
Hospital Feeding Scale – MCH-FS para língua portuguesa falada no Brasil.
Métodos
A versão brasileira da escala, originalmente validada e testada no Canadá, foi
desenvolvida a partir das seguintes etapas: (a) tradução, (b) montagem de versão
unificada, (c) teste da versão em inglês e da versão unificada em português, (d)
retrotradução, (e) análise por experts e autora do questionário original, e (f)
aplicação da versão final em estudo. A escala foi aplicada em 242 pais/cuidadores
responsáveis pela alimentação de crianças, de 06 meses a 06 anos e 11 meses de
idade, no período compreendido entre de fevereiro a maio de 2018, sendo 174 no
grupo controle e 68 no grupo dos casos. As propriedades psicométricas avaliadas
foram: validade e confiabilidade.
Resultados
No grupo dos casos, 79% dos pais relataram dificuldades alimentares, e no grupo
controle, 13%. A versão brasileira da escala MCH-FS apresenta consistência interna
com Alpha de Cronbach de 0,79, com o ponto de corte sugerido, que é de 45,
sensibilidade do Raw escore foi de 79,4%, especificidade de 86,8%, e a área sob a
curva ROC do Raw escore foi de 0,87.
Conclusão
Os dados obtidos na validação da escala de triagem MCH-FS para o português
falado no Brasil evidenciaram medidas psicométricas adequadas podendo neste
contexto ser utilizada para auxiliar a identificação das dificuldades alimentares em
crianças brasileiras.
Palavras-chave: Comportamento Alimentar. Estudos de Validação. Criança. Curva
ROC.
ABSTRACT

Introduction
Feeding consist in an ability that matures during the first two years of life and in a
highly complex sensory-motor process, with development stages based on the
neurologic maturation and in the experiential learning. It’s a broad process and
requires complex interactions between some factors, genetics, biological,
psychological, sociocultural, familiar and environmental, that can interfere in the
development of healthy feeding habits and behaviors. Due to these relations being
complex and interact among each other, biopsychosocial models have prevailed in
the efforts to understand the connection between this components. The feeding
difficulties in childhood are a problem that can be severe and result in important
organic, nutritional and emotional consequences. It is characterized by specific and
dysfunctional behaviors during feeding, not including, necessarily, swallowing
problems. As already established in literature, feeding difficulties in children are a
clinic problem of high impact and extremely negative consequences to the children
and the family. The interference in children feeding is associated to harmful effects in
the social, emotional, physical and cognitive development of the child, and affects
significantly the well being and the familiar life of the parents. Feeding Problems are
found present in 20 to 35% of the general pediatric population. When this population
is composed of children with developmental delay, that are prematurely born and
have complex medical conditions, the frequency of feeding problems may occur in up
to 80% of the cases. Due to the prevalence and the negative consequences of the
feeding difficulties in children, health professionals that work with this population
need to have access to a screening tool, of clinical applicability, valid and reliable,
that can verify quickly the parents complaints about feeding difficulties in their
children, identifying the child at risk and verifying the necessity of a deeper evaluation
and subsequent treatment. Although in researches validated tools with establish
psychometric measures can still be found, that has the aim to identify pediatric
Behavioral Pediatrics Feeding Assessment Scale (BPFAS), the quick identification of
the problems are not favored by those. In Brazil there isn’t a validated questionnaire
to identify the feeding difficulties in children. This way, in the absence of a tool of this
type and considering the dimension of the problem and the negative impact of the
feeding difficulties in children and their parents, it is necessary the validation of a
screening tool applicable by health professionals that allow detecting this problems
as earlier as possible.
Objective
Conduct the validation and transcultural adaptation of the Montreal Children’s
Hospital Feeding Scale – MCH-FS to the Portuguese spoken in Brazil.
Methods
The Brazilian version of the scale, which was originally validated and tested in
Canada, was developed from the following steps: (a) translation, (b) assembly of the
unified version, (c) tests of the English version and of the unified Brazilian
Portuguese version, (d) back translation (e) analysis by experts and the original
questionnaire author, and (f) application of the final version in study. The scale was
used in 242 parents/caregivers responsible for the children’s feeding, from 6 months
to 6 years and 11 months old, in the period between February to May 2018, 174 in
the control group and 68 in the case group. The psychometric properties evaluated
were: validity and reliability.
Results
In the case group, 79% of the parents reported feeding difficulties, and in the control
group, 13%. The Brazilian version of the MCH-FS presents internal consistency with
Alpha Cronbach in 0,79, with the cutoff point suggested, which is 45, the sensitivity of
the Raw score was of 79,4%, specificity of 86,8% and the area under the ROC curve
of the Raw score was of 0,87.
Conclusion
The data obtained in the validation of the screening scale MCH-FS to the Portuguese
spoken in Brazil demonstrated appropriated psychometric measures, which in this
context can be used to assist in identifying feeding difficulties in Brazilian children.
Keywords: Feeding Behavior. Validation Studies. Child. ROC Curve.
12

1 INTRODUÇÃO

A alimentação é o processo que envolve qualquer aspecto relacionado ao


comer ou beber, incluindo a preparação dos alimentos e líquidos para posterior
ingestão através da sucção, mastigação e deglutição1, proporcionando às crianças e
seus cuidadores oportunidades de comunicação e experiência social que formam a
base para futuras interações.2
A alimentação consiste também em uma habilidade que amadurece durante
os dois primeiros anos de vida e mediante um processo sensório-motor altamente
complexo, com estágios de desenvolvimento baseados na maturação neurológica e
no aprendizado experiencial. Ao contrário das outras habilidades sensório-motoras,
a alimentação que, é essencial para a sobrevivência dos seres humanos, depende
da motivação interna para ser iniciada e mantida.
Assim, o ato de se alimentar, para além do aspecto biológico, é também
altamente emocional para o bebê e sua mãe, sobre a qual recai a responsabilidade,
segundo a família, sociedade e cultura ao seu redor, de garantir o crescimento e o
bem-estar iniciais da criança. Portanto, desde o início, a relação mãe-bebê, no que
se refere ao processo de alimentação, é influenciada por forças fisiológicas e
interacionais em múltiplos níveis.3
Comer é um aprendizado, construído a partir de experiências. É um processo
amplo e que exige interações complexas entre fatores genéticos, biológicos,
psicológicos, socioculturais, familiares e ambientais que podem interferir no
desenvolvimento de hábitos e comportamentos alimentares saudáveis. Devido a
essas interações serem complexas e se inter-relacionarem, modelos
biopsicossociais têm prevalecido nos esforços para entender a conexão entre esses
componentes.4-5
Tal aprendizado tem que ocorrer rapidamente, uma vez que o modo de
alimentação evolui consideravelmente durante os primeiros mil dias de vida do bebê,
começando pela alimentação via cordão umbilical, passando pela alimentação com
leite, após o nascimento, a alimentação complementar, por volta da metade do
primeiro ano, e, finalmente, atingindo o consumo de alimentos iguais aos da família
até o final do primeiro ano de vida.6-7
Nesse desenvolvimento, existem períodos considerados mais críticos ou
sensíveis, nos quais as crianças tornam-se aptas para que determinada atividade
13

aconteça.8 Estudos apontam um período crítico entre 7 e 18 meses para o


desenvolvimento de habilidades motoras orais e a introdução de novos sabores e
texturas em lactentes.9-13 Sabe-se, porém, que no desenvolvimento de habilidades
sensório-motoras orais, a aquisição dos marcos não é conduzida somente pela
maturação, uma vez que o surgimento de cada etapa motora oral também é
dependente da prática bem-sucedida.14-15
A relação entre a criança e seus alimentadores e entre a criança e a
alimentação é positiva quando o cuidador é sensível e responsivo às pistas
alimentares da criança e quando ela é alimentada com dieta nutricionalmente
equilibrada, promovendo a saúde e o bom estado nutricional.16 Mas, para além do
aspecto biológico, o prazer na troca estabelecida com o alimento e com os
pais/cuidadores no momento da refeição é determinante para o sucesso da
alimentação.
Em todo o mundo pais de crianças pequenas estão preocupados com as
dificuldades alimentares. Levantamentos realizados apontam que, quando
perguntadas, mais de 50% das mães afirmam que pelo menos um dos filhos come
mal. Tais dificuldades alimentares abrangem uma ampla gama, desde problemas
leves (chamados de picky eaters) até intensos (como os encontrados nos casos de
autismo).17-21
A magnitude das dificuldades alimentares mostra-se ampla, abrangendo
disfagia, recusa alimentar, defensividade oral, náusea ou engasgos durante a
refeição, além da resistência à escovação, hipersensibilidade tátil e restrição na
variedade de alimentos ingeridos, sendo que geralmente a criança aceita não mais
que vinte alimentos em média, e chega a recusar categorias inteiras de alimentos ou
grupos nutricionais.22
As dificuldades alimentares em crianças podem também estar associadas
à vulnerabilidade neurológica, sendo, neste caso, objeto de crescente pesquisa e
atenção clínica. Embora condições como a paralisia cerebral (PC) tenham sido há
muito tempo entendidas como causadoras de impacto na função alimentar, outros
grupos com impacto no neurodesenvolvimento e necessidades médicas complexas
são cada vez mais reconhecidos como estando em risco de dificuldades crônicas de
alimentação.
As dificuldades alimentares, que podem ocorrer em crianças sem uma
etiologia médica ou de desenvolvimento conhecida,20,23 ocorrem em 20% a 35% da
14

população pediátrica em geral com desenvolvimento típico, e, na população


pediátrica que apresenta atrasos no desenvolvimento, nascimento prematuro e
condições medicas crônicas e complexas, tais problemas ocorrem em até 80%.22,24-
32
Devido à maior sobrevida de bebês com prematuridade extrema e complexidade
médica, bem como à população crescente de crianças com deficiências de
desenvolvimento, como o transtorno do espectro do autismo (TEA), as dificuldades
alimentares nesta população estão cada vez mais prevalentes.
Conforme já estabelecido na literatura, dificuldades alimentares em crianças
são um problema clínico de alto impacto e têm consequências extremamente
negativas para a criança e a família. A interferência na alimentação infantil está
associada a efeitos nocivos no desenvolvimento social, emocional, físico e cognitivo
da criança e afeta significativamente o bem-estar e a vida familiar dos pais.27
Como as crianças com dificuldades alimentares podem ter múltiplas
comorbidades,32 seu estado nutricional torna-se de suma importância, uma vez que
apoia o melhor desenvolvimento neurológico.33 Problemas de alimentação no início
da vida estão relacionados às deficiências no desenvolvimento, desnutrição e baixo
crescimento.24 Como a dieta restrita é uma das principais características dessa
população, a adequada nutrição é o principal desafio para esse grupo de crianças.24
Frequentemente, as dificuldades alimentares, levam também ao estresse
parental e afetam negativamente tanto o crescimento físico quanto o
desenvolvimento cognitivo da criança.26,34
Sendo assim, uma avaliação adequada das dificuldades alimentares mostra-
se imprescindível para determinar a necessidade de encaminhamento, selecionar
abordagens terapêuticas apropriadas e monitorar a eficácia do tratamento em bebês
e crianças.27
Ainda que na literatura sejam encontrados instrumentos validados e com
medidas psicométricas estabelecidas, que têm como objetivo identificar as
dificuldades alimentares na infância, como por exemplo o Inventário de
Comportamento Alimentar de Crianças (Children’s Eating Behavior Inventory –
CEBI35) e a Escala de Avaliação Comportamental de Alimentação Pediátrica
(Behavioral Pediatrics Feeding Assessment Scale – BPFAS36), a rápida identificação
dos problemas não é por eles favorecida. É necessário um instrumento de acesso
aos pediatras e demais profissionais da saúde, validado e confiável, que possa
15

verificar rapidamente as queixas dos pais sobre os problemas de alimentação de


seus filhos, para que as mesmas não passem despercebidas.37
Questionários27,35-36,38-43 de autopreenchimento aplicados aos
pais/cuidadores, a fim de identificar as percepções dos mesmos acerca dos
problemas alimentares da criança, apresentam grande relevância, uma vez que os
pais/cuidadores, ao observar inúmeras refeições, podem ter uma perspectiva mais
ampla do comportamento alimentar típico da criança. Sendo assim, o relato destes
pode ser uma forma de avaliação aplicável e confiável, adicionando informações
importantes sobre o comportamento e habilidades típicas na hora da refeição,
incluindo tempo de refeição.27
Em decorrência destas constatações clínicas, Ramsay et al.37 desenvolveram
a Escala de Alimentação do Hospital Pediátrico de Montreal (Montreal Children´s
Hospital Feeding Scale – MCH-FS), com objetivo da rápida identificação das
dificuldades alimentares nos consultórios médicos e pelos demais profissionais de
saúde, através de uma ferramenta confiável, com adequadas medidas
psicométricas, composta de 14 perguntas de fácil aplicação respondidas pelos
pais/cuidadores, validada originalmente em francês e inglês. 37
A escala MCH-FS foi produzida de acordo com um modelo biopsicossocial
para os problemas de alimentação e classifica as dificuldades alimentares como
leves, moderadas ou graves,23 sendo esta identificação realizada através da opinião
dos pais/cuidadores sobre o comportamento alimentar das suas crianças. Foi
validada também em outros dois países: Holanda44 e Tailândia45 e foi realizada a
primeira etapa em Portugal.46
No Brasil não existem questionários validados para identificação de
dificuldades alimentares na infância. Desse modo, considerando a dimensão do
problema e o impacto negativo das dificuldades alimentares na criança e em seus
pais, é que se faz necessária a validação de um instrumento de rastreio de aplicação
pelos profissionais de saúde que permita detectar tais problemas o mais cedo
possível.
16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Processo de alimentação

Durante os primeiros anos após o nascimento, as crianças atingem


importantes marcos de desenvolvimento: aprendem a sentar, engatinhar, ficar em
pé, andar, conversar e dormir durante a noite. Comer não é diferente, pois apesar
dos bebês nascerem preparados para garantir a ingestão adequada de alimentos,
eles precisam também aprender a comer, uma vez que, até o final do segundo ano
de vida, seus padrões de alimentação passam por grandes transformações. Os
bebês transicionam de uma dieta exclusiva de leite na infância para uma dieta adulta
modificada, bastante semelhante às dietas de outros membros da família.6-7
Comer é essencial para a sobrevivência, e os bebês humanos nascem com
essa capacidade, porém um dos mitos mais comuns é de que a alimentação é fácil e
instintiva. Comer é, na verdade, a tarefa física mais complexa em que os seres
humanos se envolvem. O ato de deglutir, por exemplo, requer a coordenação de 26
músculos e seis pares de nervos cranianos. A alimentação também é a única tarefa
que as crianças realizam, exigindo a coordenação simultânea de todos os sistemas
sensoriais. A capacidade de gerenciar essa coordenação física começa
instintivamente, mas apenas no primeiro mês de vida. Do final do primeiro ao final do
quinto ou sexto mês de vida, os reflexos motores primitivos (busca, sucção,
deglutição) assumem as funções, enquanto o bebê com mais idade forma caminhos
no cérebro para o controle motor e sensorial voluntário sobre o ato de comer, e a
alimentação vai se tornando um comportamento aprendido e baseado em
experiências.47
Durante esse curto período de tempo, que os bebês têm que aprender como,
o que e quanto comer, é de fundamental importância a forma de realização da
introdução alimentar (IA). As práticas alimentares realizadas nesse período
influenciam o desenvolvimento do comportamento alimentar para a vida adulta: a
amamentação; o repetir a apresentação de um alimento várias vezes, mesmo que
pareça inicialmente não ser apreciado; introdução ágil de uma variedade de
diferentes alimentos no processo e o oferecimento de alimentos de maneira
apropriada para tornar suas características sensoriais atraentes para as crianças.6
17

Entre as crianças a progressão na alimentação é influenciada por: (1)


avanços nas habilidades motoras globais, motoras orais e digestivas, (2) sinais
reguladores internos de fome e saciedade e (3) avanços no desenvolvimento
cognitivo, motricidade fina e socioemocional, facilitando o interesse no alimento, a
autorregulação e autoalimentação.48 Já entre os pais, a alimentação é guiada por
variações culturais e familiares dos alimentos, sabores, texturas e padrões
alimentares; acesso e disponibilidade de alimentos, e percepções do crescimento,
das crenças, saúde, apetite e temperamento.49
O desenvolvimento de comportamentos e habilidades alimentares depende
tanto do funcionamento orgânico do corpo da criança e da capacidade do mesmo
em administrar vários tipos e quantidades de alimentos, quanto do ambiente familiar
recíproco e dinâmico, que fornece tanto alimento quanto feedback positivo de trocas
afetivas durante as refeições.24
O processo normal de alimentação (sistema “fome-saciedade”) consiste em
três fases: (1) a fase pré-oral em que a criança se sente com fome, levando ao
apetite e à ingestão nutricional; (2) a fase orofaríngea na qual os alimentos são
preparados oralmente, transportados da língua para a faringe e deglutidos; e (3) a
fase gastrointestinal em que ocorrem a saciedade e a digestão.50
Um processo de alimentação adequado requer uma interação complexa entre
fatores fisiológicos (os tratos cardíaco, respiratório e digestivo são especialmente
importantes), funções sensório-motoras, fatores parentais50 e também, ambientais.24

2.2 Dificuldades alimentares

Os desafios alimentares são comuns entre crianças pequenas. Beber e comer


são as necessidades primárias da vida, e não ser capaz de fornecer um padrão de
alimentação saudável e também prazerosa para a criança, pode ser uma
experiência frustrante para os pais.44
Alguns bebês e crianças podem ter dificuldades para se alimentar, sendo
mais do que apenas bebês exigentes para comer (picky eaters). Para eles, comer
pode ser doloroso, assustador ou mesmo impossível, limitando severamente suas
escolhas alimentares ou a condição de recusar alimentos, impedindo-os de atingir
um estado nutricional adequado.51 Hoje, a maioria dos clínicos concordam que as
dificuldades alimentares são de natureza biopsicossocial,8,12-13,20,22 porque tanto
18

fatores fisiológicos quanto psicossociais contribuem para sua iniciação e


permanência.37
Essas crianças apresentam problemas de alimentação, que é uma
dificuldade, que pode acometer as crianças em diferentes níveis de gravidade, e que
pode causar problemas médicos, comprometimento no crescimento, e
desenvolvimento, além no impacto nas relações familiares e sociais.4,22-24,26-27,34,41,50-
52

As dificuldades alimentares, que podem ocorrer em crianças sem uma


etiologia médica ou de desenvolvimento conhecida,20,23 ocorrem em 20% a 35% da
população pediátrica em geral com desenvolvimento típico, e, na população
pediátrica que apresenta atrasos no desenvolvimento, nascimento prematuro e
condições medicas crônicas e complexas, tais problemas ocorrem em até 80%.22,24-
32

As manifestações são diversas e podem incluir: comportamentos


inadequados nas refeições; ausência da autoalimentação; incapacidade de avançar
nas diferentes texturas alimentares; recusa de alimentos ou aceitação apenas de
pequenas quantidades; comer devagar demais; vomitar com frequência; aversão
dos pais às refeições; agressão e angústia no momento das refeições; tempo de
alimentação prolongado; uso de distrações para aumentar a ingestão; dependência
para alimentação; oferta alimentar noturna para bebês e crianças pequenas;
amamentação prolongada através de seio materno ou mamadeira.5,23,37,52
Crianças com dificuldades alimentares podem apresentar respostas
comportamentais e emocionais ao momento das refeições, como recusa, medo,
agitação, irritabilidade ou ansiedade. Além disso, podem também apresentar, ainda,
respostas fisiológicas à alimentação, como refluxo, vômitos, constipação e diarreia.53
Crianças com dificuldades alimentares correm o risco de uma variedade de
problemas52 como grave perda de peso, desnutrição, letargia, atraso no
desenvolvimento, atraso de crescimento, aspiração, procedimentos médicos
invasivos (por exemplo, colocação de sonda nasogástrica ou gastrostomia),
admissão em unidade de internação para tratamento do problema alimentar, ou até
mesmo morte.41 Tais dificuldades afetam também de forma significativa as relações
familiares,23 levando a estresse excessivo durante o momento da refeição, o que
prejudica muitos aspectos da vida e do bem-estar geral da criança e sua família.
4,22,24,50,52-57
19

Como resultado desta situação, os pais acabam pressionando a criança a


comer mais, transformando o momento da refeição numa verdadeira batalha, o que
pode levar a uma exacerbação das dificuldades alimentares. Assim, esses padrões
negativos se desenvolvem e se consolidam com o tempo, criando um ciclo vicioso
de difícil rompimento tanto no que tange aos pais quanto no que tange aos filhos.37,44
Estima-se, de forma conservadora, que as dificuldades alimentares
pediátricas graves afetem mais de um milhão de crianças menores de cinco anos
nos Estados Unidos.57 A Pesquisa de Alta do Centro de Controle e Prevenção de
Doenças do Hospital Nacional (National Hospital Discharge Survey from the Center
for Disease Control and Prevention), estimou que 116.000 recém-nascidos tiveram
alta de hospitais de curta permanência com tal diagnóstico nos Estados Unidos da
América.58

2.3 Instrumentos de avaliação das dificuldades alimentares

Devido à prevalência e às consequências negativas das dificuldades


alimentares na infância, os profissionais da saúde que trabalham com essa
população precisam ter acesso a um instrumento de rastreamento, de aplicabilidade
clínica, válido e confiável, que possa verificar rapidamente as queixas dos pais sobre
as dificuldades alimentares de seus filhos, identificando a criança em risco e
verificando a necessidade de mais profunda avaliação e posterior tratamento. Desta
forma, o encaminhamento pode ser realizado mais agilmente em relação à
identificação inicial do problema, permitindo o direcionamento para especialistas o
mais cedo possível,37,44 viabilizando o monitoramento apropriado da resposta da
criança às intervenções terapêuticas.
A identificação de queixas através do relato dos pais sobre os
comportamentos alimentares problemáticos da criança tem várias vantagens e se
mostra como uma maneira eficiente de avaliar as dificuldades alimentares em
crianças, podendo ser uma forma válida e confiável de avaliação ao acrescentar
informações importantes sobre o comportamento e as habilidades típicas que
ocorrem no momento das refeições.35-45 São os cuidadores quem observam
rotineiramente os comportamentos alimentares de uma criança nas várias refeições
do dia. Portanto, são eles que podem fornecer uma perspectiva mais abrangente
sobre os comportamentos alimentares típicos de uma criança. Nesse sentido, a
20

observação de uma única refeição em um ambiente não familiar, que a criança pode
tomar por ameaçador ou mesmo inóspito, não se mostra tão eficaz. 23 É mais
provável que os pais, ao invés de um observador externo, sejam capazes de relatar
a frequência de uma gama mais ampla de comportamentos alimentares que ocorrem
na rotina em que a criança naturalmente se encontra.43
Questionários voltados para as experiências dos pais/cuidadores são
importantes, porque esses informantes oferecem uma visão mais abrangente do
comportamento da criança, além de levantar qualquer estresse que o cuidador
possa ter vivenciado.30
Ferramentas psicométricas padronizadas foram desenvolvidas nos últimos
vinte e cinco anos para avaliar as dificuldades alimentares. No entanto, essas
ferramentas referem-se a escalas observacionais da interação mãe-criança durante
uma refeição,59-60 enquanto escalas mais recentes usam o relato parental para
avaliar os comportamentos alimentares das crianças, considerando vários
domínios.27,35-36,38-43
A literatura fornece poucos questionários de autopreenchimento, aplicados
aos pais/cuidadores (responsáveis pela alimentação), que sejam validados e com
medidas psicométricas padronizadas. Visando o estabelecimento de um referencial
teórico mais direcionado que promova real conhecimento da construção dos
questionários para rastreio de crianças com dificuldades alimentares, foram
estabelecidos critérios de inclusão na revisão de literatura realizada. Tal medida foi
necessária uma vez que se encontram questionários relacionados a outras
dificuldades no processo de alimentação, como por exemplo transtornos alimentares
de obesidade. Dessa forma, o foco desta revisão de literatura é identificar
instrumentos de avaliação de risco de dificuldade alimentar na infância, ao invés de
transtornos alimentares, como anorexia nervosa, bulimia nervosa, e compulsão
alimentar, que são geralmente associados mais fortemente com adolescentes e
adultos, estando a utilização de instrumentos relacionados a transtornos alimentares
descartada.
Foram selecionados, portanto, como referencial teórico sob o qual se norteou
o presente estudo, questionários que atendiam aos seguintes critérios de inclusão:
ser discriminativo, avaliativo ou preditivo de dificuldade alimentar; ter dados
psicométricos disponíveis; incluir 50% ou mais das perguntas sobre a alimentação
da criança ou comportamentos alimentares; averiguar disfagia ou atraso motor oral;
21

contabilizar pelo menos um padrão de seletividade – por tipo, por textura, ou recusa
de alimentos; ser apropriado para usar com crianças de 2 a 5 anos; e não ser
exclusivamente desenvolvidos para populações especiais (por exemplo crianças
com PC, sem um grupo de comparação). Questionários que tinham sido usados
apenas com populações especiais ou gerais foram considerados menos relevantes,
por não incluir os dados necessários para diferenciar as crianças que demonstram
dificuladade alimentar das que não demostram.23
Em 1991, Archer, Rosenbaum e Streiner descreveram o questionário
denominado Inventário de Comportamento Alimentar de Crianças (Children’s Eating
Behavior Inventory - CEBI), com objetivo de avaliar, a partir do relato dos pais, as
dificuldades alimentares ao longo de uma ampla faixa etária de crianças e em uma
extensa variedade de distúrbios médicos ou de desenvolvimento.35 Este instrumento
aborda as dificuldades alimentares sob uma perspectiva sistêmica, considerando
fatores intrínsecos e extrínsecos, e a interação entre estes, na explicação das
causas das dificuldades alimentares. Nele as dificuldades alimentares na infância
são consideradas como uma entidade clínica isolada, independentemente do
diagnóstico médico. Em seu processo de desenvolvimento, o questionário foi
aplicado a 316 pais/cuidadores. Desses, 206 eram responsáveis por crianças
pertencentes ao grupo não clínico, ou seja, crianças com desenvolvimento típico, e
110 eram responsáveis por crianças do grupo clínico, encaminhadas para avaliação
e tratamento de problema alimentar previamente identificado com transtornos
médicos ou de desenvolvimento que pudessem colocá-las em risco para
dificuldades alimentares, conforme determinado pela experiência clínica dos autores
ou relatos na literatura específica. Tais crianças encontravam-se na faixa etária de 2
a 12 anos e 11 meses de idade.23, 35
O CEBI possui 40 itens com padrão de série de questões, cuja inclusão é
condicionada a uma resposta anterior: 28 questões avaliando a criança, 12
avaliando os pais e a família e duas questões que pulam os padrões e são incluídas
para as famílias monoparentais e famílias com não mais de um filho. Durante a
aplicação do instrumento, os pais avaliam a frequência de cada comportamento em
uma escala Likert de 5 pontos e fornecem uma resposta dicotômica em relação ao
comportamento ser considerado um problema.23,35
Os 28 itens no domínio da criança são destinados a avaliar preferências
alimentares, habilidades motoras e conformidade comportamental. Os 12 itens no
22

domínio dos pais destinam-se a avaliar os controles de comportamento da criança,


sua cognição e os sentimentos ao alimentarem seu filho, além das interações entre
os membros da família.35
O CEBI produz então duas pontuações – uma denotando a frequência dos
comportamentos alimentares avaliados, e outra sobre quantos comportamentos são
percebidos como problemáticos pelos pais.35
Em relação às propriedades psicométricas, nesse artigo o resultado do teste-
reteste e confiabilidade interna indicam que o CEBI atende aos critérios de
confiabilidade do instrumento. A validade de construto é demonstrada pela diferença
significativa entre os grupos clínico e não-clínico na média total do escore de
problema alimentar e na média de número de itens percebidos como um problema.
Os resultados encontrados são os seguintes: A confiabilidade teste-reteste foi
determinada para 38 casos (28 clínicos e 10 não-clínicos) 4 a 6 semanas (média 33
dias) após a conclusão inicial. O coeficiente de correlação intraclasse foi de 0,87
para o escore total do problema alimentar e de 0,84 para o percentual de itens
percebidos como um problema. Em relação à consistência interna, os coeficientes
Alfa de Cronbach estão todos dentro de limites aceitáveis (acima de 0,70) com a
exceção do grupo “um pai/mais de uma criança” o que está abaixo de 0,58. Quanto
a validade de construto os escores totais do problema alimentar foram
significativamente maiores, F (1, 314) = 21,19, p<0,001, para o grupo clínico. Mães
de crianças do grupo clínico também relataram uma proporção significativamente
maior, t (311) = 4,42, p <0,001, dos itens para ser um problema.35
A utilização do CEBI ocorreu posteriormente em diferentes populações. Foi
aplicado a 155 pais/cuidadores de crianças, dos quais 63 eram crianças com história
de refluxo gastroesofágico, e 92 crianças pareadas para serem o grupo controle. A
faixa etária de ambos os grupos era de 06 meses a 02 anos de idade.61 A aplicação
ocorreu também a pais/cuidadores responsáveis por 75 crianças com dificuldades
alimentares na faixa etária de 02 a 10 anos de idade,62 e a 436 pais/cuidadores de
crianças, na faixa etária de 05 anos a 12 anos, das quais 138 apresentavam autismo
e 298 sem problemas de desenvolvimento.63
Em 1992, Harris e Booth desenvolveram o Questionário de Avaliação da
Alimentação de Crianças (The Children’s Feeding Assessment Questionnaire –
CFAQ)42 que foi originalmente promovido como um questionário clínico, ao invés de
um instrumento de pesquisa, sendo composto por 33 questões numeradas e mais
23

quatro perguntas não numeradas, incluindo uma amostra de diário alimentar. O


questionário examina a percepção materna sobre a frequência e os tipos de
problemas alimentares considerando apetite, sintomas gastrointestinais, contexto
alimentar bem como comportamento alimentar, padrões alimentares, habilidades
alimentares, manejo dos pais e preferências alimentares.64 Diferentes seções são
pontuadas de maneiras distintas, incluindo escalas Likert de 10 pontos, respostas
dicotômicas sim/não e listas categóricas. Posteriormente outros autores publicaram
trabalhos utilizando esta ferramenta,23 sendo aplicada a um grupo de 15 crianças de
1 a 5 anos com diagnóstico de Fenilcetonúria, e em 15 crianças pertencentes ao
grupo controle, pareadas por sexo.64 Em 2001, foi aplicado ainda em 32 crianças
com Síndrome de Silver-Russel, na faixa etária dos 2 a 11 anos, e em 32 crianças
pertencentes ao grupo controle.65 Diferentes estudos utilizaram diferentes sistemas
para classificar o CFAQ. 23,65,66
Em 1994 foi descrito por Crist W e col. o primeiro trabalho utilizando a Escala
de Avaliação Comportamental de Alimentação Pediátrica (The Behavioral Pediatrics
Feeding Assessment Scale – BPFAS).36 Tal estudo comparou a incidência de
dificuldades alimentares no momento das refeições, estresse parental e ingestão
nutricional, aplicando a escala a 44 pais/cuidadores, dos quais 22 eram
responsáveis por crianças com fibrose cística, e 22 eram responsáveis por crianças
do grupo controle pareadas e sem doença crônica. Em ambos os grupos a idade das
crianças era de 1 a 7 anos.36
A referida escala consiste em 35 itens mensurados pelo relato dos pais, 25
questões que abrangem descrições de comportamento infantil e 10 perguntas com
relação aos sentimentos ou estratégias dos pais para lidar com as dificuldades
alimentares. Cada item apresenta uma frase descritiva dirigida ao adulto cuidador
solicitando a classificação da frequência em que comportamentos específicos
ocorrem, a partir de uma escala Likert de cinco pontos (de nunca a sempre). Os pais
também são questionados se o comportamento é ou não um problema para eles,
circulando as alternativas "sim" ou "não". As perguntas foram formuladas de forma
positiva e negativa, como, por exemplo, “Meu filho: experimentará novos alimentos?;
choraminga ou chora no momento da alimentação? ”. Quando os questionários
foram pontuados, as classificações foram transformadas, a fim de que pontuações
mais altas indicassem mais problemas.23,36
Em relação aos dados psicométricos, em 2001 foi publicado um estudo com o
24

relato de 345 pais/cuidadores de crianças entre 09 meses e 07 anos de idade,


comparando o comportamento de 96 crianças saudáveis em torno da alimentação e
das refeições, com o comportamento de dois grupos clínicos, um de 95 crianças
encaminhadas por dificuldades alimentares sem problemas médicos relacionados e
outro composto de 154 crianças com problemas médicos associados a dificuldades
alimentares. Ao comparar esses dados normativos com dados semelhantes obtidos
a partir dos grupos clínicos, foi avaliado se as crianças com dificuldades alimentares
se envolviam em comportamentos fundamentalmente diferentes (mal adaptativos)
ou comportamentos semelhantes, com frequência aumentada a das crianças
normais. A análise fatorial identificou cinco padrões comuns de comportamento nos
três grupos. Como o esperado, a frequência média e os escores de problemas no
BPFAS para as crianças e adultos dos grupos clínicos foram mais de 2 desvios
padrões maiores do que as médias para o grupo normativo. Os escores médios no
BPFAS foram semelhantes para os dois grupos clínicos, embora alguns escores de
itens tenham sido significativamente diferentes para os dois grupos. A diferença no
relato dos pais sobre as dificuldades alimentares entre grupos saudáveis e clínicos
parece refletir a frequência com que a criança com dificuldade alimentar se envolve
no comportamento problemático, em vez de diferenças fundamentais nos
comportamentos exibidos durante as refeições.38
Em 2013 foi realizado outro estudo com 573 pais/cuidadores de crianças de
20 a 85 meses de vida, sendo que 509 pertenciam ao grupo não clínico e 64 ao
grupo clínico, ou seja, crianças que apresentavam dificuldades alimentares sem
etiologia médica. Foram utilizados os dois grupos com objetivo de diferenciar os
resultados obtidos no BPFAS entre amostras clínica e não clínica, além de
apresentar um ponto de corte, o qual poderia ser usado para triar dificuldades
alimentares.67 O ponto de corte obtido pela análise da curva ROC para o BPFAS foi
um escore de 61 e com a maior relação de sensibilidade (86%) e especificidade
(87%). O presente estudo ofereceu evidências definitivas de que o BPFAS era
preciso (sensível e específico) para determinar as diferenças entre as amostras
clínica e não clínica no Reino Unido.67 Ainda em relação às propriedades
psicométricas, em 2015 foi realizado na Austrália e aplicado a pais/cuidadores de
135 crianças na faixa etária de 02 a 06 anos de idade, dentre essas 54, com
adequado desenvolvimento e 81, com dificuldades alimentares.68 Este estudo teve
como objetivo coletar dados sobre crianças australianas, em relação às dificuldades
25

alimentares, usando um questionário padronizado, comparando tais dados com


dados internacionais coletados por meio do uso da mesma ferramenta; avaliar a
confiabilidade a curto prazo da ferramenta; e determinar a sensibilidade e
especificidade da ferramenta na detecção de dificuldades de alimentação. Os
resultados australianos para o BPFAS em todos os grupos clínicos e não clínicos
foram comparáveis aos relatados no Reino Unido e no Canadá. Resultados
confiáveis foram demonstrados ao longo de um período de 2 semanas, e a escala
mostrou ter alta especificidade. Houve uma diferença significativa entre crianças
com desenvolvimento típico e crianças com dificuldades de alimentação na
frequência de comportamentos indesejáveis de refeições (P <0,01) e o número de
comportamentos relatados como um problema pelos pais que usam essa ferramenta
(P <0,01). Na maioria dos domínios, o BPFAS demonstrou alta especificidade e valor
preditivo negativo (> 85%). Esses dados sugerem que os médicos devem se sentir
confiantes em encaminhar as crianças que pontuam acima dos escores
recomendados para uma avaliação mais aprofundada. 68 Foi utilizado também em 40
mães, sendo que destas, 20 eram responsáveis por crianças com dificuldades
alimentares e outras 20, responsáveis por crianças do grupo controles. Tais mães
foram pareadas por idade e nível educacional.69
Em 2010, Berlin e col. desenvolveram o Questionário Comportamental do
Momento de Refeição (The Mealtime Behavior Questionnaire – MBQ)41. Em seu
processo de desenvolvimento, o questionário foi aplicado a 712 pais/cuidadores de
crianças na faixa etária de 02 a 06 anos de idade, recrutadas da comunidade.41 Os
33 itens do MBQ foram gerados por especialistas em alimentação e avaliados em
uma escala de frequência de cinco pontos, variando de 1 (nunca), 3 (às vezes) a 5
(sempre). Quatro fatores significativos foram identificados por meio de análise
fatorial: recusa/esquiva de alimentos; manipulação de alimentos;
agressão/sofrimento nas refeições; e asfixia/engasgos/vômitos. O escore de cada
uma das subescalas pode ser obtido para esses fatores, além de uma pontuação
total para a escala.23 O MBQ demonstrou excelente consistência interna e
evidências preliminares de validade foram encontradas.41 Posteriormente, em 2014,
o MBQ foi aplicado a pais/cuidadores de 56 crianças na faixa etária de 02 a 06 anos
de idade com a cardiopatia designada ventrículo único, sendo concluído que o
problema alimentar é comum nesses pacientes, ocorrendo em 50% desta
população. As dificuldades alimentares estão associadas a piores medidas de
26

crescimento. O uso atual de sonda de gastrostomia e a presença de somente o pai


ou a mãe no domicilio presença de somente o pai ou a mae no domicilio foram
identificados como fatores de risco independentes para a dificuldade alimentar.70
Em 2011 foi publicado o artigo que descrevia o Instrumento de Triagem de
Problemas Alimentares Aplicado à Criança (The Screening Tool of Feeding
Problems applied to Children - STEP-CHILD).39 Tal estudo avaliou os 23 itens do
Instrumento de Triagem para Problemas de Alimentação (Identifying feeding
problems in mentally retarded persons: development and reliability of the screening
tool of feeding problems-STEP)71 com uma amostra de crianças para avaliar as
características psicométricas da escala e, então, apresentar uma versão pediátrica
do STEP, o STEP-CHILD, associado a variáveis pais e filhos. Em seu processo de
desenvolvimento, o instrumento foi aplicado a 142 pais/cuidadores de crianças com
média de idade de 61,4 meses, sendo 43 com autismo, 51 com outras necessidades
especiais e 48 com dificuldade alimentar, porém sem necessidades especiais. A
idade das crianças variou de 24 meses a 18 anos. A análise fatorial revelou o
questionário STEP-CHILD com 15 itens em 6 subescalas de dificuldades de
alimentação da criança: problemas de mastigação, comer rápido, recusa alimentar,
seletividade alimentar, vômitos e roubar comida. O valor alfa médio do Alfa de
Cronbach da confiabilidade interna encontrado em todas as 6 subescalas STEP-
CHILD foi de 0,62. Dentre outros dados, documentou-se que ações dos pais
consideradas “excessivamente permissiva”, como a falta de frequência na
insistência em comer durante as refeições, ou preparar frequentemente refeições
especiais e diferentes das refeições da família, justificou a ocorrência de mais de
34% das conexões entre problemas de alimentação em crianças e resultados de
peso e dietas deficientes.
Em 2014, foi descrito por Thoyre e col., o Instrumento de Avaliação da
Alimentação Pediátrica (The Pediatric Eating Assessment Tool – PediEAT), que
avalia os sintomas das dificuldades alimentares através da opinião dos
pais/cuidadores sobre comportamentos alimentares problemáticos. Neste artigo, os
autores descrevem o desenvolvimento e a validação de conteúdo deste
instrumento.43 No seu processo de validação, o instrumento foi aplicado em uma
amostra de 567 pais de crianças de 6 meses a 7 anos, sendo que 54% delas
apresentavam relato dos pais sobre dificuldades alimentares diagnosticadas ou
preocupações a respeito de problemas de alimentação. O objetivo deste estudo foi
27

identificar a estrutura fatorial do PediEAT e testar suas propriedades psicométricas,


incluindo confiabilidade da consistência interna, estabilidade temporal e validade de
constructo. Tal ferramenta é composta de 78 questões referentes a quatro
subescalas: Sintomas Fisiológicos, Comportamentos Problemáticos na Refeição,
Alimentação Seletiva/Restritiva e Processamento Oral. A análise fatorial dos
componentes principais com rotação varimax suportou um modelo de 4 fatores,
representando 39,4% da variância total. As 4 subescalas (Sintomas Fisiológicos,
Comportamentos Problemáticos da Refeição, Comportamento Seletivo / Restritivo,
Processamento Oral) demonstraram consistências internas aceitáveis (coeficiente
alfas: 0,92, 0,91, 0,83, 0,83; respectivamente). A validade de construto foi suportada
de duas maneiras. O PediEAT correlacionou-se com o Mealtime Behavior
Questionnaire (r=0,77, P <0,001) e o escore total e os escores das subescalas foram
significativamente diferentes entre os filhos com e sem problema de alimentação
diagnosticado (P<0,001). A estabilidade temporal foi demonstrada pela
confiabilidade teste-reteste (r=0,95, P <0,001).27
Ainda em 2018 foi realizado um estudo72 com o objetivo de estabelecer
valores normativos de referência, com base nas idades, para o PediEAT, a fim de
orientar a interpretação dos escores do PediEAT e a tomada de decisão clínica.
Apesar destes questionários acima descritos estarem disponíveis na
literatura, nenhum mostrou-se adequado para uma rápida identificação de
problemas em um ambiente clínico. A maioria destes, como CEBI,35 BPFAS,36,38,67
MBQ,41 CFAQ,42 STEP-CHILD39 e PediEAT27,43,72 consistem de 15 a 78 itens, que
trabalham com diferentes domínios e subescalas. O BPFAS,36,38,67 como os
instrumentos citados anteriormente,35,41,42,27,43,72 também descreve diferentes
domínios e subescalas, apresentam um número vasto de perguntas, e, como os
instrumentos anteriores, é extenso para ser utilizado no dia a dia, sendo então mais
adequados para fins de pesquisa científica do que para fins clínicos. Já o STEP-
CHILD,39 apesar de um número menor de perguntas (15), em seu processo de
validação foi aplicado em uma população cuja faixa etária é ampla, abarcando dos
24 meses aos 18 anos, o que dificulta a análise dos achados em função da grande
alternância do comportamento alimentar e dos domínios referidos na infância e
adolescência.
Outro ponto importante a ser considerado a respeito destes instrumentos é
que dos 6 questionários descritos anteriormente, somente o PediEAT,27,43,72 que é
28

composto por 78 questões, foi validado para ser utilizado em crianças a partir de 06
meses. Identificar problemas de alimentação precocemente, antes do
estabelecimento de padrões comportamentais evitativos, faz-se necessário para a
seleção de intervenções otimizadas e direcionadas para os problemas subjacentes.
O período de 6 a 18 meses é particularmente crítico para a avaliação da transição
da criança para alimentos que aumentam a complexidade do sabor e da textura,
pois esse processo contribui para o desenvolvimento de habilidades motoras orais e,
quando atrasado, pode ser associado com mais problemas de alimentação.12-13 A
importância da detecção das dificuldades alimentares na infância é validada pela
literatura também quanto ao fato de ser relatado retrospectivamente o início precoce
de problemas alimentares com amostras derivadas de clínicas especializadas em
alimentação. Rommel et al73 relataram que 50% de sua amostra apresentava
dificuldades alimentares antes do primeiro ano de vida. Williams et al74 relataram que
75% de sua amostra teve o início do problema alimentar antes dos 18 meses de
idade.
Em 2011, Ramsay et al, desenvolveram a Escala de Alimentação do
Hospital Pediátrico de Montreal (Montreal Children´s Hospital Feeding Scale – MCH-
FS).37 O objetivo foi validar uma ferramenta desenvolvida para identificar
dificuldades alimentares, bilíngue, breve, aplicável em crianças de 6 meses a 6 anos
e 11 meses de idade, e que fizesse uso do relato dos pais.
Foram testadas a validade e a confiabilidade da escala original em uma
amostra de 372 crianças com idades entre 6 meses e 6 anos e 11 meses de idade.37
Destas, uma amostra de 174 crianças que frequentavam a clínica de alimentação do
Hospital Infantil e outra de 198 crianças recrutados de consultórios de pediatras da
comunidade para o grupo controle. Diferenças estatisticamente significativas foram
mostradas entre os dois grupos. Os resultados de validação da versão original
demonstraram a excelente validade de constructo, confirmada quando os escores
médios [± DP] das amostras grupo controle e clínico foram comparados (32,65 ±
12,73 versus 60,48 ± 13,04, respectivamente; P <0,01, tanto excelente sensibilidade
(87,3%) e especificidade (82,3%), como uma boa confiabilidade teste-reteste,
demonstrando uma forte consistência interna, com boa acurácia, determinada pela
Curva ROC (a área sob a curva ROC foi de 0,845, sugerindo boa acurácia para
37
discriminar casos e controles), bem como, comparação favorável às escalas de
29

alimentação comportamental mais extensas de Archer et al. 35 Crist et al 36


e Crist e
38
Napier-Phillips, em termos de validade de construto e confiabilidade.
A escala MCH-FS37 foi produzida de acordo com um modelo biopsicossocial
para os problemas de alimentação e classifica as dificuldades alimentares de acordo
com a gravidade, sendo esta identificação realizada através da opinião dos
pais/cuidadores sobre o comportamento alimentar das suas crianças. Foi validada
também em outros dois países: Holanda44 e Tailândia45 e foi realizada a primeira
etapa em Portugal.46
A avaliação é realizada através de autopreenchimento, pelo principal cuidador
da criança, que deve classificar cada um dos itens através de uma escala de Likert –
números de 1 a 7, que são marcados de acordo com o grau de intensidade das
respostas.
As questões que compõe o protocolo de rastreio seguem os seguintes
domínios (por vezes concomitantemente): apetite (questões 3 e 4), envolvimento
sensorial oral (questões 7 e 8), e desenvolvimento motor oral (questões 8 e 11); os
seguintes refletem preocupações parentais sobre a alimentação da criança em geral
(1, 2 e 12), comportamento da criança na hora da refeição (questões 6 e 8),
estratégias usadas pelos cuidadores/alimentadores (questões 5, 9 e 10), e reações
dos cuidadores/alimentadores em relação à alimentação da criança (questões 13 e
14).
A escala leva aproximadamente 5 minutos para ser completada, e a
pontuação total pode ser obtida em menos de 10 minutos,37 sendo possível também,
obter a gravidade dos sintomas apresentados, para determinar o grau da dificuldade
alimentar e das preocupações dos pais/cuidadores.37 A pontuação de cada questão
é somada chegando em um total bruto, que é colocado em uma tabela para verificar
o score total (T-score). A interpretação classifica pontuações de 61 a 65 como
dificuldades leves, 66 a 70 dificuldades moderadas, e acima de 70 como dificuldades
graves.37
Em 2015, Baird e col. utilizaram a escala MCH-FS para investigar os
comportamentos alimentares de crianças com atresia de esôfago (AE) e os
resultados foram comparados com o grupo controle.75 Pais/cuidadores de 30
pacientes completaram MCH-FS, sendo que 26 crianças tiveram tipo C de atresia
(86.7%). Em comparação ao grupo controle, 17,5% dos casos de AE estavam em
um desvio padrão acima da média do escore de dificuldades alimentares, enquanto
30

6,7% (n=2) eram maiores que dois desvios padrões acima dos valores normativos.
Pacientes típicos de AE (tipo C que não haviam nascidos com menos de 30
semanas) tinham média de escores da escala MCH-FS na média subclínica,
enquanto uma criança prematura extrema e pacientes não com tipo C de AE (n=4)
todos tiveram escores na média de severidade. Tais autores através desses
resultados verificaram que dificuldades de alimentação de pacientes com AE típica
parecem leves. No entanto, foi encontrado que pacientes com AE complicadas (não
tipo C) e seus cuidadores tendem a experienciar dificuldades alimentares
significativas.75
Em 2016, Nieuwenhuis e col. utilizaram a Lista de Triagem do
Comportamento Alimentar de Crianças Pequenas (Screening List Eating Behavior
Toddlers – SEP), que é a versão Holandesa da escala MCH-FS, com o objetivo de
determinar a prevalência de problemas alimentares e sua associação com fatores de
risco perinatais em 35 crianças de 3 anos de idade, nascidas prematuras,
comparados os dados existentes de 248 crianças nascidas a termo e sem fatores
médicos de risco para problemas de alimentação na idade de 3 anos de vida.76 Não
foram encontradas diferença nos escores do SEP entre as crianças pré-termo e o
grupo de referência, e não foram identificados nenhum fator de risco perinatal para o
desenvolvimento de problemas alimentares. Constatou-se que apenas 23% dos pais
de crianças prematuras ou a termo com problemas alimentares de espectro
moderado a grave consultaram um profissional médico. Segundo os autores, o uso
de um instrumento de relato parental mostrou que a prevalência de problemas
alimentares em crianças pré-termo de 3 anos de idade foi baixa e semelhante a de
crianças nascidas a termo.76
Ainda em 2016, van Dijk, Bruinsma e Hauser, neste estudo piloto, pretendiam
explorar a validade concorrente de um instrumento de triagem curto a escala SEP
(versão Holandesa da escala MCH-FS) em um grupo de crianças prematuras
comparando o escore total com o comportamento observado da criança e de seu
cuidador durante uma refeição regular no domicílio.77 Vinte e oito crianças (com
idade entre 9 e 18 meses) e seus cuidadores participaram do estudo. As
observações em vídeo das refeições foram codificadas para categorias de
comportamento alimentar e interação entre pais e filhos. Os resultados mostram que
o escore total do SEP se correlacionam com a recusa alimentar, eficiência alimentar
e autoalimentação, mas não com influência negativa e instruções parentais.
31

Segundo os autores, confirma-se que o SEP tem um certo grau de validade


concorrente, uma vez que seu escore total está associado a comportamentos
alimentares específicos: recusa alimentar, eficiência alimentar e autonomia.77
Em 2017, Hoogewerf e col. utilizaram a escala SEP – versão Holandesa da
escala MCH-FS em um estudo para determinar a prevalência de problemas na
alimentação por via oral em crianças que ficaram internadas em Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal (UTIN), por pelo menos 4 dias, de 2011 a 2012, e que tinham
entre 1 e 2 anos de idade na época da avaliação.78 Crianças com anomalias
cromossômicas foram excluídas. Foram enviados a todos os pais das crianças o
questionário do SEP e uma carta de instruções sobre como concluí-lo, e foi pedido
que devolvessem o questionário preenchido para os pesquisadores, com objetivo de
identificar fatores de risco clínicos durante a internação na UTIN. Os pais de 378
crianças, responderam ao questionário, e destes 251 eram pais de crianças
prematuras e 127 pais de crianças a termo, mas que necessitaram de UTIN. A
prevalência de problemas alimentares foi maior na população que necessitou da
UTIN (20,4%) do que na população de referência (15,0%), mas semelhante para
todos os grupos de idade gestacional. A alimentação por sonda prolongada, ou seja,
mais de 30 dias, e nascidos pequenos para idade gestacional (IG) foram os fatores
de risco mais prevalentes em crianças com IG igual ou maior a 32 e IG menor que
32 semanas, respectivamente. Portanto os problemas alimentares são mais
prevalentes em crianças oriundas de UTIN, sendo a alimentação por sonda
prolongada o fator de risco mais importante.78
Em 2018, Van Dijk e Lipke-Steenbeek aplicaram a escala SEP – versão
Holandesa da escala MCH-FS em um grupo de 32 cuidadores de crianças com
Síndrome de Down, com idade entre 01 e 03 anos.79 Os resultados mostraram que
as crianças da amostra não apresentaram maior escore no SEP do que as crianças
em seus respectivos grupos normativos. Além disso, quando os cuidadores
relataram maior ocorrência de sintomas dos problemas de alimentação no SEP, as
crianças mostraram maior recusa do alimento e influência negativa durante a
refeição. Em uma amostra de crianças com desenvolvimento típico foi encontrada
uma correlação entre os escores do instrumento e a observação comportamental
durante uma refeição regular, sugerindo que o instrumento de triagem é associado
particularmente com as interações negativas na hora da refeição.79
32

Ainda em 2018, Rogers, Ramsay e Blissett perceberam que existiam poucas


referências examinando a relação do MCH-FS com o uso de medidas prática de
alimentação parental, comportamento alimentar da criança e observação da
interação pais-crianças na hora da refeição.80 Então, nessa pesquisa examinaram a
relação entre o MCH-FS, perfil demográfico e histórico precoce de alimentação,
peso ao longo do primeiro ano, relato parental de práticas alimentares e
comportamento alimentar da criança, além da observação da interação materno-
infantil na alimentação com 1 ano de idade. Aplicaram também o MCH-FS, o
Questionário de Compreensão de Práticas Alimentares (CFPQ) em 69 mães de
crianças com 1 ano de idade (37 masculinos, 32 femininos).80
O MCH-FS mostrou-se confiável nesta pesquisa (Alfa de Cronbach = 90),
com sobreposição significativa com outras medidas de alimentação. Problemas de
alimentação potenciais foram identificados em 10 das crianças (14%) refletindo
valores similares a amostra de outras comunidades. Escores altos no MCH-FS
foram associados a baixo peso ao nascer e ao comportamento do peso ao longo do
primeiro ano de vida, maior responsividade de saciedade, birra e demora ao comer,
baixo prazer com o alimento e responsividade, e menor aceitação do alimento pelo
bebê. Pais dos bebês com maiores problemas de alimentação relataram menor
encorajamento de equilíbrio e variedade na dieta de suas crianças. Os autores
concluíram que o MCH-FS mostrou boa validade de critério com outras medidas de
relato parental para alimentação e observações de interação na hora de refeição. O
MCH-FS mostra-se então como uma ferramenta útil para pesquisa de problemas
alimentares em amostras da comunidade.80
33

3 JUSTIFICATIVA

Crianças com problemas alimentares frequentemente apresentam alterações


nutricionais como baixo ganho de peso e prejuízos no crescimento, a atraso no
desenvolvimento cognitivo. Seus pais/cuidadores, por sua vez, vivenciam níveis
altos de estresse. Várias são as explicações para os problemas alimentares, e
normalmente não se encontram isoladas. Suas causas se retroalimentam, não se
encontrando, assim, isoladas. Problemas médicos, componentes comportamentais,
ambientais e interações afetam-se mutuamente.
Como os problemas de alimentação têm claras consequências negativas
tanto para a criança quanto para os seus pais/cuidadores, o diagnóstico e a
intervenção precoces são essenciais. No entanto, como os problemas alimentares
são multifatoriais e de natureza interativa, o diagnóstico deve ser realizado
considerando aspectos variados, como habilidades motoras orais, histórico alimentar
e questões comportamentais e interacionais. Frente a este contexto, ferramentas
que facilitem tal diagnóstico mostram-se cada vez mais necessárias.
Devido à inexistência de questionários validados para identificar as
dificuldades alimentares na população pediátrica no Brasil, torna-se necessária a
validação de um instrumento de rastreio, de autopreenchimento pelo principal
alimentador da criança, que englobe vários aspectos referentes à alimentação, de
aplicação rápida, viável e sem custo pelos profissionais de saúde, que permita a
detecção o mais cedo possível das alterações alimentares, contribuindo para o
encaminhamento precoce ao tratamento, e assim, reduzindo o impacto
biopsicossocial da dificuldade alimentar na criança e na família. A escala MCH-FS é
um protocolo factível para o tema abordado, com propriedades psicométricas
adequadas em seu país de origem,37 sem custo e validada também em outros
países.44,45
34

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

Realizar a equivalência cultural e o processo de validação semântica e de


conteúdo da escala MCH-FS para a língua portuguesa falada no Brasil em crianças
brasileiras de 06 meses a 06 anos e 11 meses de idade.

4.2 Objetivos Específicos

a) Avaliar as propriedades psicométricas da versão brasileira da escala


MCH-FS e determinar o escore de discriminação para identificar
dificuldades alimentares com sensibilidade e especificidade aceitáveis na
população de crianças brasileiras;
b) Comparar os resultados obtidos na escala MCH-FS entre casos e
controles.
35

5 HIPÓTESE

A adaptação transcultural e validação da escala Montreal Children ́s Hospital


Feeding Scale para a língua portuguesa falada no Brasil apresentará medidas
psicométricas adequadas para identificação das dificuldades alimentares em
crianças de 06 meses a 06 anos e 11meses de idade.
36

6 MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal, realizado em um Hospital Público Materno


Infantil em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (RS), aprovado pelo Comitê de
Pesquisa e Ética, através do número CAAE 81513317.0.0000.5329. Os
responsáveis pelos participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido antes da participação dos mesmos.

6.1 Validação do Instrumento

O processo de validação da escala foi realizado de acordo com metodologia


previamente descrita na literatura.81-82

6.2 Tradução

Na primeira etapa, dois tradutores, fluentes e bilíngues na língua inglesa,


realizaram traduções da escala MCH-FS do inglês para o português brasileiro, de
forma independentes (ANEXO I). Neste processo foram considerados os aspectos
culturais brasileiros e não somente a tradução literal.

6.3 Montagem de versão unificada

Feitas as traduções, as duas versões foram comparadas entre si por


profissionais especializados em alimentação infantil, sendo cada item avaliado
considerando a melhor forma de expressá-lo e a influência dos aspectos culturais.
Divergências em relação às questões foram modificadas de maneira a se chegar a
um consenso. Criou-se então uma versão unificada em português.

6.4 Equivalência versão original e versão unificada em português

Visando verificar a equivalência dos escores entre a escala original em inglês


e a versão unificada em português, essas foram aplicadas em 20 indivíduos
bilíngues, cuidadores/alimentadores principais de crianças com desenvolvimento
típico, em um intervalo de 30 dias, iniciando-se sempre com a escala original. Tais
37

cuidadores foram escolhidos por terem o domínio suficiente das duas línguas e por
não terem conhecimento prévio sobre a escala. Não ocorreram divergências
significativas no escore total nas escalas respondidas em inglês, e posteriormente
em português.

6.5 Retrotradução

A retrotradução da versão unificada do português brasileiro para o inglês foi


realizada por um profissional graduado em Letras, tendo como idioma fluente o
português, e que não participou da etapa inicial de tradução.

6.6 Análise por experts e autores originais da escala

Na etapa de interpretação final da escala, com as versões em português e a


retrotraduzida para o inglês, realizou-se a análise das mesmas pelas autoras da
presente pesquisa e pela autora da escala original. Essa etapa se deu por meio de
discussão e avaliação conjunta de três especialistas na área de aplicação do
protocolo. A versão unificada em inglês foi enviada por correio eletrônico à autora
principal da escala original (Dra. Maria Ramsay), com a finalidade de avaliar os
questionários traduzidos e fazer considerações. Foi enviada também a versão
unificada em português, com os mesmos objetivos, uma vez que a autora conta com
um integrante de nacionalidade brasileira em seu grupo.

6.7 Verificação da Aplicabilidade

Tendo então a escala sido traduzida, unificada, retrotraduzida, discutida e


aprovada por todos os envolvidos no processo, a versão brasileira da escala MCH-
FS (ANEXO II) foi então usada a fim de testar a sua aplicabilidade.
A aplicação da escala foi realizada em uma amostra composta por 242
pais/cuidadores responsáveis pela alimentação de crianças pais/cuidadores
responsáveis pela alimentação de crianças, que pertenciam a dois grupos, controle
e casos, sendo o grupo controle constituído por 174 participantes e os dos casos por
68.
38

6.8 Grupo controle

Os 174 participantes compreendiam pais/cuidadores responsáveis pela


alimentação de crianças saudáveis com desenvolvimento típico foram recrutadas
através de chamamento público para a pesquisa por meio de mídia social. O convite
foi realizado através de material informativo, por escrito, sobre os objetivos do
estudo, critérios de inclusão e explicações sobre a escala, ofertando a possibilidade
do esclarecimento de dúvidas, caso as tivessem. Neste grupo foram incluídas
crianças nascidas a termo (>37 semanas), peso de nascimento igual ou maior 2.500
gramas, com ausência de intercorrências pré, peri ou pós-natal, e com adequado
desenvolvimento neuropsicomotor. A escala e o seu preenchimento foram enviados
através de correio eletrônico entre os autores desta pesquisa e os pais/cuidadores.

6.9 Grupo dos casos

Os 68 participantes compreendiam pais/cuidadores responsáveis pela


alimentação de crianças que estavam em tratamento ou que haviam sido
referenciadas para avaliação fonoaudiológica por dificuldades alimentares nas
unidades de internação pediátrica e no ambulatório de fonoaudiologia do HMIPV
(Hospital Materno Infantil Presidente Vargas), bem como em consultórios
particulares de fonoaudiólogas especialistas em problemas de alimentação. Os
participantes deste grupo preencheram a escala de forma presencial, após uma
breve explicação sobre a mesma, e com a possibilidade do esclarecimento de
dúvidas caso as tivessem.
No grupo dos casos foram então incluídas crianças com diagnóstico ou
suspeita de dificuldade alimentar caracterizada por: incapacidade de avançar da
textura do purê para a textura adequada à idade cronológica, recusa de alimentos ou
aceitação apenas de pequenas quantidades, ingesta vagarosa demais, vômitos
frequentes, situações de batalhas com o alimentador no momento das refeições,
tempo de alimentação prolongado, introdução de distrações para aumentar a
ingestão, necessidade de fazer o bebê adormecer para alimentar através de seio
materno ou mamadeira. Tais dificuldades poderiam estar associadas à disfagia
orofaríngea.
39

Esses 68 participantes, foram subdivididos em dois grupos. Destes, 17 eram


pais/cuidadores responsáveis pela alimentação de crianças que apresentavam
dificuldade alimentar, mas que não possuíam diagnóstico médico associado e nem
atraso de desenvolvimento, grupo designado dificuldade alimentar sem
comorbidades. Os demais eram 51 pais/cuidadores responsáveis pela alimentação
de crianças as quais apresentavam dificuldade alimentar e possuíam diagnóstico
médico associado (prematuridade, alterações gastrointestinais, cardiorrespiratórias,
genéticas e neurológicas) grupo designado dificuldade alimentar com comorbidades.
Foram excluídas crianças que apresentavam apenas disfagia orofaríngea e as
que eram alimentadas por sonda ou gastrostomia. Apenas dois pais/cuidadores
negaram-se a participar do estudo.
O recrutamento foi feito de maneira consecutiva no período de fevereiro a
maio de 2018 em ambos os grupos, sendo incluídos pais/cuidadores de crianças
entre 06 meses a 06 anos e 11 meses de idade.
Para a verificação de confiabilidade teste/reteste do estudo, 25
pais/cuidadores do grupo dos casos preencheram novamente a escala, com prazo
de 10 a 15 dias da primeira aplicação. O envio e o recebimento do questionário
ocorreram por correio eletrônico. As respostas das escalas preenchidas nos dois
momentos foram comparadas entre si.

6.10 Análise Estatística

Foram descritas as variáveis quantitativas pela média, mediana, desvio


padrão, intervalo interquartil. Foram comparados os itens entre os três grupos pelo
teste de Kruskal Wallis ou Análise de Variância, e, entre dois grupos, pelo teste de
Mann Whitney. As variáveis categóricas foram descritas por frequências e
percentuais, e associadas pelo teste de Qui-quadrado. Foram correlacionadas as
variáveis quantitativas entre si pelo coeficiente de correlação de Spearman. Para
avaliar a consistência interna das dimensões foi utilizado o Teste Alfa de Cronbach.
Foram comparadas as medidas do teste reteste pelo coeficiente de correlação de
Pearson, e posteriormente comparadas as médias pelo teste t de Student para
amostras pareadas. Foram calculadas as medidas de desempenho do Raw escore:
sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, negativo e acurácia. Uma
curva ROC foi realizada para avaliar a capacidade do Raw escore de discriminar
40

entre o grupo de casos e controles. Foi considerado estatisticamente significativo um


nível de significância de 5%. A análise dos dados foi feita com o pacote estatístico
SPSS versão 20.0 e com a planilha eletrônica Microsoft Excel 2010.

6.11 Aspectos Éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Pesquisa e Ética do HMIPV, através do


número CAAE 81513317.0.0000.5329
Todos os familiares/responsáveis assinaram o termo de TCLE (ANEXO III)
antes da inclusão no estudo.
41

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file/ITC%20guidelines.pdf.
49

6 CONCLUSÕES

A proposta de adaptação transcultural e validação da ferramenta MCH-FS se


mostrou confiável, alcançando os objetivos traçados inicialmente. Os resultados
apontaram o questionário como compreensível pelo público-alvo dentro do contexto
cultural brasileiro e com medidas psicométricas adequadas para identificação das
dificuldades alimentares em crianças brasileiras de 06 meses a 06 anos e 11 meses
de idade.
A versão brasileira da escala MCH-FS apresenta consistência interna com
Alpha de Cronbach de 0,79. Apresenta também, com o ponto de corte sugerido (45
pontos), sensibilidade do Raw escore de 79,4% e especificidade de 86,8%. A área
sob a curva ROC do Raw escore foi de 0,87 na versão brasileira, o que sugere boa
acurácia para escore de discriminação entre casos e controles. Todos estes índices
estatísticos estão próximos aos encontrados na versão original.
A comparação dos resultados obtidos na escala entre o grupo de casos e
controles identificou uma maior prevalência das dificuldades alimentares no grupo de
casos o que era o esperado.
50

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dificuldades alimentares têm altos riscos, dado o potencial impacto na saúde


geral da criança, crescimento/desenvolvimento, interação emocional e social tanto
desta quanto de seus pais. Este é o primeiro instrumento validado e disponível na
nossa língua, de rápida e fácil aplicação e que poderá ser usado por diversos
profissionais de saúde dos mais variados níveis de formação em diferentes níveis de
atenção, o qual contribuirá para a identificação precoce das dificuldades alimentares
podendo propiciar o encaminhamento mais rápido para o tratamento especializado.
Novos estudos precisam ser realizados para avaliar o comportamento da
escala em populações pertencentes a outros grupos clínicos específicos. Bem como,
idealmente construir ou validar uma escala que contemple identificar as percepções
dos pais/cuidadores acerca das dificuldades alimentares de crianças menores de 06
meses, ou seja, crianças alimentadas através do seio materno ou fórmula.
Este trabalho é resultado de 23 anos de assistência às crianças com
dificuldades alimentares, cuja clínica que sempre me instigou e me impactou.
Durante a minha trajetória, sempre tive muita preocupação com estratégias de
prevenção e da de viabilização do diagnóstico precoce. Portanto a conclusão da
tese e a possibilidade de aplicabilidade da escala no Brasil complementam um ideal
profissional.
51

ANEXOS

Anexo 1. Questionário MCH-FS em inglês.


52
53

Anexo 2. Escala Brasileira de Alimentação Infantil (EBAI).


54
55

Anexo 3. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


Eu, ____________________________________________________ autorizo
a minha participação e a do meu filho(a)
_____________________________________________ na pesquisa
intitulada TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO
MONTREAL CHILDREN´S HOSPITAL FEEDING SCALE: MCH-FS”
das pesquisadoras fonoaudiólogas Ana Carolina L. Battezini, Luciana Behs de
Sá Carneiro, sob orientação da Fga Me. Patrícia Barcellos Diniz.
Este estudo tem como objetivo estudar tr a d u z i r p a r a o p o r t u g u ê s , o
q u e s t i o n á r i o s o b r e p r o b l e m a s d e a l i m e n t a ç ã o MCH-FS .
O benefício desta pesquisa será contribuir para identificação de possíveis
alterações no processo de alimentação em crianças desde o momento em que
iniciam a comer frutas ou comidas. Neste questionário não existem riscos a
criança porque a avalição é através do que os pais pensam sobre como a
criança come.
Para a realização dessa pesquisa será aplicado um questionário aos
responsáveis e/ou cuidadores em relação as questões de alimentação. O tempo
total para aplicação das avaliações será de aproximadamente 10 minutos para
o MCH-Feeding Scale.
Suas possíveis dúvidas sobre a pesquisa serão esclarecidas à qualquer
momento que você sentir necessidade, e você é livre para decidir sobre sua
participação, retirar seu consentimento e desistir a qualquer momento.
Reforçamos que a sua participação é voluntária e a recusa não irá gerar
qualquer dano e/ou prejuízo. Uma cópia deste documento ficará com você e
outra ficará guardada aos cuidados das pesquisadoras, que se responsabilizam
por garantir a segurança e sigilo de suas informações. Os dados colhidos a
partir desta pesquisa serão publicados em forma de artigo.
Para esclarecimento de dúvidas eventuais, pode-se entrar em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas,
sito à Av. Independência, 661- 7º andar, fone (51) 3289.3357 ou com a
pesquisadora responsável Fga Patrícia Barcellos Diniz telefone (51) 99968-
4493 e email: [email protected].
Declaro ser o representante legal do paciente e que entendi os objetivos e
benefícios de minha participação, e concordo, voluntariamente, em participar.
Autorizo a divulgação dos dados para fins de conhecimento científico sem
quaisquer ônus ou restrições. Recebi uma cópia deste termo de consentimento
livre e esclarecido, ficando com uma cópia assinada comigo e outra para as
pesquisadoras, e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas
dúvidas.

____________________________
____________________________
Assinatura do Responsável Assinatura do Pesquisador

____________________________
____________________________
Nome do Responsável Nome do Pesquisador
____/____/______ ____/____/______

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