As Janelas Quebradas Do Comportamento
As Janelas Quebradas Do Comportamento
As Janelas Quebradas Do Comportamento
SAMANTA LUCHINI
Você já ouviu falar da Teoria das Janelas Quebradas, a famosa “Broken Windows
Theory”?
Gostaria de apresentá-la (ou reapresentá- la) a você de uma forma bem resumida, é
claro, para que possamos chegar à costumeira reflexão que fazemos nessa coluna acerca
de nossas atitudes, crenças e comportamentos. Mas, de antemão, deixo aqui o meu
convite para que você pesquise um pouco mais, a fim de conhecê-la de forma mais
ampla e aprofundada.
A Teoria das Janelas Quebradas foi desenvolvida em 1982 pelo cientista político James
Q. Wilson e pelo psicólogo criminologista George Kelling, na renomada Universidade
de Stanford, nos Estados Unidos, a partir de um experimento muito interessante.
Este resultado mostrou que uma janela quebrada foi capaz de desencadear os mesmos
comportamentos de violência, roubo e vandalismo, independente do nível de pobreza ou
do local no qual as pessoas se encontravam. Agora nos cabe analisar os motivos desse
fenômeno, que tem muito maior relação com as questões comportamentais do que com
as questões econômicas e geográficas.
Chegamos então ao que eu considero como principal ponto de convergência entre este
bem-sucedido modelo de segurança pública e a reflexão sobre nossas atitudes e
comportamentos, tomando por base a premissa de que desordem gera desordem.
Se nossas pequenas “falhas” do dia a dia como, por exemplo, estacionar em fila dupla
na porta da escola ou em local proibido, ultrapassar o limite de velocidade, furar um
sinal vermelho e dirigir falando ao celular forem subjugadas pelo fato de se
apresentarem como delitos pequenos, é possível que nos tornemos menos críticos e
disciplinados diante de falhas mais graves.
Vamos levar esse raciocínio para o ambiente da empresa. Luzes acesas em salas vazias,
equipamentos ligados e sem utilização, uma maçaneta quebrada, uma gaveta emperrada,
um risco na parede, uma lâmpada queimada, um pedaço de papel jogado no chão. Esses
eventos, isoladamente, podem parecer pequenos e sem grande importância. Mas
imagine todos eles coexistindo em diversos espaços e departamentos. Qual seria a
imagem transmitida? O que as pessoas pensariam ao circularem pela empresa e se
depararem com eles?
Pense agora na sua casa. O que está fora de ordem? O que está fora do lugar? O que
precisa ser consertado? O que precisa ser descartado? Há quanto tempo você está
adiando a organização e a limpeza daquele famoso armário da bagunça?
Todos esses exemplos, os de casa e os da empresa, são janelas quebradas que precisam
ser consertadas de forma rápida e efetiva.
Traga essa reflexão para a realidade, afinal conhecimento que não vira prática
pode perder o valor. Pegue um pedaço de papel, uma caneta e reserve quinze
minutos para fazer uma observação mais acurada do seu ambiente. Tome nota de
todos os itens que estiverem fora do seu conceito de “ordem”. Em seguida,
estabeleça um plano de ação para o reparo destes itens, estimando um prazo para
a conclusão de cada um deles e execute seu plano. Você vai se surpreender com o
resultado tanto nas mudanças e melhorias observadas no ambiente, como
principalmente nas sensações de eficácia e produtividade que virão na sequência.
Freud, o pai da psicanálise, tem uma pergunta muito elucidativa para essa questão.
“Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?”. Em qualquer
situação, sempre existe uma parte pela qual você pode se responsabilizar ou se
comprometer. E mesmo que essa parte seja pequena, ela pode influenciar positivamente
na resolução.
Você pode imaginar o que acontece com o clima organizacional, com a produtividade,
com o nível de satisfação e motivação das equipes de trabalho, com os índices de
turnover e absenteísmo a partir do momento em que esses comportamentos
improdutivos são observados nos líderes.
A liderança pode ser entendida como a fachada de uma empresa. Não no aspecto
pejorativo da palavra, que denota algo falso ou maquiado, mas no sentido da sua
imagem, representação e impacto na sociedade. Se uma das janelas estiver quebrada e
não receber a devida atenção, abre-se o precedente para que outras apareçam quebradas
também e, em pouco tempo, o que se vê é uma imagem de ineficiência, omissão e
despreparo.