Fichamento A Baixa Mesopotâmia
Fichamento A Baixa Mesopotâmia
Fichamento A Baixa Mesopotâmia
FLAMARION, Ciro. A Baixa Mesopotâmia In: Sociedades do Antigo Oriente Próximo. São
Paulo: Editora Contexto, 2012. Capítulo 2 - O Egito Faraônico, p. 29 - 53.
Introdução
Mesopotâmia dividida em duas partes, alta Mesopotâmia (montanhas) e baixa Mesopotâmia
(norte do golfo Pérsico), sendo essa uma região plana.
Alta Mesopotâmia habitada desde a pré-história, já a baixa só após o V milênio a.C., no
período calcolítico, ou idade do bronze, sendo também o período de Ubaid. Isso se deu, pois, a
área, mesmo potencialmente fértil, não era adequada a agricultura primitiva de chuva. Após o
período de Ubaid, veio o de Uruk, onde se iniciou a urbanização e escrita (início da era do
bronze).
Povoamento da Baixa Mesopotâmia marcado por dois grupos iniciais: os sumérios (migraram
do mar); e os acádios (vieram do Oeste). Sumérios dominavam ao sul e acádios ao norte.
Porém, por volta do III milênio, os dois grupos estavam bem misturados.
"[...] No milênio seguinte, a fusão se completou; predominaram, desde então, as línguas
semitas: o acadiano, o babilônio dele derivado e, por fim, o aramaico. [...]" (FLAMARION,
2012, p. 30)
Invasões violentas de nômades semitas que vem do Oeste e montanheses do leste.
Forças produtivas
Os rios da Mesopotâmia sobem entre março e maio e baixam entre junho e setembro.
Enchentes causadas pelos rios Eufrates e Tigre durante as cheias de zonas montanhosas,
descendo para uma região plana. Mesmo a corrente ficando mais lenta, ainda é suficiente pra
causar uma grande destruição.
Plantações semeadas meses antes da água subir, a inundação poderia acabar com os campos.
Sistema de diques e barreiras de proteção, acumulo e canais de irrigação de água durante os
meses de seca.
Rio Tigre mais violento e menos útil para irrigação; Eufrates com mais possibilidades de
aproveitamento, correndo acima da planície e em mais de um leito ao mesmo tempo. Dividido
em três canais, mais importante sendo o que passava pela cidade de Kish, o da Babilônia se
tornou o mais importante no final do século IV. Mudança de curso dos rios era resultado de
uma transformação gradual dos assentamentos e das concentrações demográficas. A planície
não constitui uma zona inteira fértil.
"[...] No caso da Suméria, por exemplo, as cidades-Estados constituíam dois grupos principais,
separados pelo deserto de Edin: a oeste, as cidades de Nippur, Shuruppak, Uruk, Ur e Eridu; a
Leste, além do deserto, as de Abad, Zabalam, Umma, Bad- Tibira e Lagash. [...]"
(FLAMARION, 2012, p. 33)
As condições ecológicas para a agricultura de irrigação, não permitiam uma organização
individualista da agricultura. As obras de proteção e irrigação precisavam de esforço coletivo
para serem construídas e o uso limitado pela lei. O corte de suas margens e o uso de sistemas
de diques, tanques, canais e regos tornam o solo fértil durante todo o ano. No entanto, a região
é plana, o que torna difícil o escoamento do excesso de água, que acaba acumulando em poças
e deixando a terra salgada e com gesso. Esse problema já existia há muito tempo e nunca foi
solucionado, fazendo com que grandes áreas de terra fértil fossem abandonadas.
Canais reforçados por acúmulo de aluvião, cursos naturais regularizados pois serviam para
navegação.
"[...] O sistema de regadio acompanhava tradicionalmente o curso do sistema fluvial natural, e
foi mudando para acompanhar seus freqüentes deslocamentos." (FLAMARION, 2012, p. 34)
Na antiga Mesopotâmia, a produção agrícola era muito grande em relação às sementes
plantadas, rendia até 300 grãos colhidos para cada grão plantado. Hoje em dia, estima-se uma
média de 8 a 103 grãos colhidos para cada grão plantado, caindo para 30 por 1 depois de 2000
a.C. Mesmo assim, eram rendimentos importantes e, muitas vezes, era possível obter duas
colheitas por ano. Isso explica a grande concentração de pessoas na região, que tinha muitas
cidades grandes com populações que variavam de 10.000 a 50.000 habitantes. A cidade de Ur,
a maior delas, poderia ter tido cerca de 200.000 habitantes. A produção agrícola era tão grande
que a região parecia um formigueiro humano.
"[..]a reunião de comunidades no sul. formando cidades, foi quase certamente ditada pelos
rios: para controlá-Ios e utilizá-Ios em forma efetiva precisava-se da cooperação numa escala
maior do que a que pequenas aldeias isoladas e primitivas poderiam prover." (SAGGS, 1968,
P. 35)
A teoria de que a construção de sistemas de irrigação foi o fator principal para o
desenvolvimento da civilização na Mesopotâmia está sendo questionada por ser muito
simples. Arqueólogos mostraram que os sistemas locais de irrigação em pequena escala foram
a base da agricultura desde o IV milênio, mesmo após as grandes obras hidráulicas. Portanto, a
"hipótese causal hidráulica" não é totalmente verdadeira.
O desenvolvimento das cidade-estado sumérias é questionado.
"[...] é provável que a explicação tenha de ser multicausal e complexa, incluindo fatores como
a própria irrigação - ligada à multiplicação dos excedentes agrícolas e ao crescimento demo
gráfico, sem os quais as cidades não poderiam ter surgido -, mas em conjunto com outros:
religiosos, políticos, militares, populacionais etc." (FLAMARION, 2012, p. 36)
A Mesopotâmia, no período do Bronze, teve um sistema tecnológico dinâmico e avançado em
comparação com o Egito da mesma época. O arado de madeira permitia arar e semear ao
mesmo tempo, a transição do cobre para o bronze foi mais rápida e o uso do bronze difundiu-
se mais amplamente. Também foi desenvolvido um instrumento para elevação de água mais
cedo do que o Egito. Ainda assim, os instrumentos agrícolas permaneciam bem rudimentares
o metal só substituiu totalmente os outros materiais a partir do II milênio a.C. O arado e a
foice foram durante muitos séculos, feito de madeira, embora as outras ferramentas fossem
feitas de cobre ou bronze.
"[...] Como os instrumentos de bronze não permitiam tosquiar as ovelhas, antes da Idade do
Ferro a lã tinha de ser arrancada." (FLAMARION, 2012, p. 37)
Início da produção agrícola após as chuvas de outubro-novembro, antes do arado, os terrenos
arados com picareta. Arado puxado por bois. As sementes eram plantadas e colhidas com
foices de abril a junho ou julho. Estrutura de trabalho simples, produtividade baixa e grande
uso de trabalhadores. Irregularidades da cheia e guerras causavam frequentes crises de
subsistência e fome.
"[...] Uma dessas crises acompanhou a queda do Império de Ur, em 2004 a.c. Outro período de
crises econômicas relativamente bem conhecidas ocorreu nas cidades de Eshnunna, Ur e
Larsa, pouco antes da expansão imperial de Hammurapi, no século XVIII a.C.; mas não se deu
então a mesma coisa em Mari e Babilônia. [...]" (FLAMARION, 2012, p. 38)
Descrição das principais atividades econômicas
Agricultura intensiva muito importante para a economia e a urbanização. Os textos antigos dos
sumérios mostram como as pessoas cultivavam cevada, trigo, sésamo, legumes, frutas e até
árvores para madeira. Tamareiras importantes e precisavam de ajuda para polinizar.
Agricultura e a criação de animais juntas desde o Neolítico. Criação de bois, ovelhas, cabras,
porcos e mulas para ajudar no trabalho agrícola, obter carne, leite e lã para tecidos. Asnos
eram usados como meio de transporte e importação de animais melhores para melhorar suas
criações. Coletas em terras pantanosas para obter junco, um material popular de construção
junto com a argila.
Havia diversas especializações artesanais, produzindo cerveja, vasilhas, tijolos, objetos de
metal, têxteis, couro e madeira. Havia oficinas estatais, familiares e ruas de artesãos. Produção
difícil devido à escassez de materiais, importados em sua maioria. Unidades de produção
empregavam muitos trabalhadores, especialmente moinhos e manufaturas têxteis. Comércio
utilizava rios para transporte, poucos riscos, mas muita concorrência.
Comércio exterior muito importante, chefe dos agentes comerciais dentro dos funcionários das
cidade-estado. Escassez de pedras e metais, pouca madeira de má qualidade. Produtos
agrícolas e manufaturados, mobilizados para troca por obra prima e artigos de luxo. A rota
terrestre para o norte e oeste da Mesopotâmia percorrida por caravanas de asnos. Contatos
frequentes por mar com Dilmun, outros pontos da Arábia e indiretamente com a Índia.
Comerciantes mantinham uma rede de agentes e correspondentes ao longo das rotas
comerciais. Comércio de longo curso permitia acumulação privada de riquezas, compra de
terras e escravos, e empréstimos a juros. Não havia moeda cunhada antes do domínio persa;
cevada e metais como padrão de valor e unidade de conta. No comércio exterior, o pagamento
podia ser feito com lingotes de metal.
"Em certas ocasiões falhava o abastecimento de matérias-primas importadas, afetando as
atividades de transformação. Na época do apogeu do Império de Akkad, por exemplo (século
XXIV a.C.), houve uma reversão passageira do bronze ao cobre, aparentemente porque faltou
o estanho." (FLAMARION, 2012, p. 41)
Propriedade e relações de produção: interpretação das estruturas econômico-sociais
Inicia com um texto do arqueólogo Petrie, explicando que existem diferentes tipos de
propriedades. O termo propriedade pode dar uma percepção errada sobre o assunto.
"Nas terras pertencentes aos templos sumérios do lU milênio a.C., por exemplo, havia
extensões consideráveis cuja renda era revertida ao rei e a membros da família real. Seriam,
por tal razão, "propriedade" do rei e de seus familiares? [...]" (FLAMARION, 2012, p. 42)
Não se pode dizer que as terras pertenciam aos templos pela renda delas não irem para eles.
"Na antiga Baixa Mesopotâmia havia seres humanos que chamamos de escravos, pois
pertenciam a pessoas que podiam vendê-los, legá-los ou alugá-los, bem como castigá-los
fisicamente, marcá-los com signos de propriedade e fazê-los trabalhar. [...]" (FLAMARION,
2012, p. 43)
Outro exemplo de propriedade seriam os escravos. O termo "propriedade", pode ter outro
entendimento dependendo da sociedade.
O III milênio a.C.
Surgimento do polo "palatino", classe alta da Baixa Mesopotâmia e o surgimento de outras
organizações sociais.
"[...] sistema de tributos in natura e "corvéias" - trabalhos forçados, por tempo limitado, para
obras públicas, serviços para o grupo dirigente e serviço militar - imposto à população, e
destacamentos militares recrutados entre os dependentes do templo [...]" (FLAMARION,
2012, p. 44)
Ascensão dos chefes, as vezes assumindo título de rei. Terras reais mais extensas que
santuários e militares a mando da realeza. Templos ocupavam apenas metade do solo arável,
restante era dividido em terras do palácio, terras comunais e propriedade privada incipiente.
Vendas de terras a indivíduos que nem sempre representavam o estado.
Economia tinha duas estruturas básicas: modo de produção palatino, templos e palácios
controlavam terras próprias e redistribuíam impostos; e o modo de produção doméstico ou
aldeão, comunidades familiares possuíam a terra e utilizavam o esforço comunal para
organizar a irrigação. Propriedade privada pouco importante, podendo ter desaparecido
temporariamente na Dinastia de Ur. Templos e complexos palaciais controlavam terras
próprias e possuíam mão-de-obra dependente.
"[...] o do santuário da deusa Baba - o segundo em importância da cidade de Lagash, que tinha
uma vintena de templos -, possuidor de 4 465 hectares de terra, nos quais trabalhavam 1 200
indivíduos, sob a supervisão de um sacerdote administrador, um intendente, um inspetor e
grande número de capatazes e escribas. [...]" (FLAMARION, 2012, p. 45)
Uma parte da terra era cultivada diretamente para o templo, o resto era dividido em "terras de
labor" e "campos de subsistência". Templos complexos com diversas atividades, como
comércio e empréstimos. Trabalhadores eram de diversas origens, escravidão predominava em
atividades como tecelagem e serviço doméstico.
"[...] lavradores dependentes (gurush), agora na sua imensa maioria instalados em terras
estatais, já não recebiam lotes de subsistência e, sim, somente rações: trabalhavam em tempo
integral para o Estado, e suas rações, ao que parece, eram pequenas demais para que pudessem
constituir família. [...]" (FLAMARION, 2012, p. 46)
Uso da escrita na administração de templos e palácios. Comunidades aldeãs pouco conhecidas.
Aparecimento das comunidades em contratos de venda de porções de terra comunal.
Interpretação desses contratos como venda sob coação política ou resultado da usura.
Comerciantes (damgar) eram funcionários a serviço de palácios e templos, recebiam produtos
para trocar no exterior e faziam negócios por conta própria. Funcionários compravam terras e
realizavam empreendimentos próprios, às vezes, financiados por empréstimos dos templos.
O II milênio a.C.
Três tipos de propriedades sobre q terra: As extensas terras reais; os domínios dos templos; as
propriedades privadas. Desenvolvimento da propriedade e atividades privadas da época.
Mercadores subordinados ao estado na Babilônia, fazendo negócios a proveito próprio e
praticando empréstimo com juros. Direito privado expresso na atividade legislativa, reis
anulavam dívidas e escravidão por dívidas Divisão dos setores das terras reais: A parte
administrada pelo palácio (lavradores dependentes e pessoas que cumpriam a corvéia real;
Lotes arrendados, ou confiados a colonos; Porções concedidas a soldados e funcionários em
troca de serviço.
"[...] os escravos eram raramente empregados no trabalho agrícola, mas com maior frequência,
nas oficinas artesanais e no serviço doméstico. [...]" (FLAMARION, 2012, p. 49)
"[...] A mão-de-obra agrícola compreendia lavradores dependentes (ishshakku) e também
assalariados alugados por dia, em especial para a colheita, tanto nas terras do rei quanto nas de
particulares." (FLAMARION, 2012, p. 49)
Sociedade dividida em três: homem livre com direitos; homem livre de status inferior;
escravos. Direitos deveres e privilégios variam por grupo. Desenvolvimento das transações
mercantis e divisão social do trabalho. Heterogeneidade regional. Cidade de Sippar
apresentava muitas famílias ricas sem conexões com templos e governo real, dedicadas à
agricultura e comércio exterior. Ganhos comerciais investidos na compra de terras e
importação de escravos.
Segunda metade do II milênio desconhecida, imigração de povos revitalizaram estruturas
comunitárias. Santuários com muitas terras sob controle real.
"[...]Os reis cassitas doaram extensos apanágios a seus parentes, a chefes militares e a
funcionários do palácio, isentando-os de corvéias e impostos, como sabemos por monumentos
inscritos de pedra (kudurru). [...]" (FLAMARION, 2012, p. 50)
O I milênio a.C.
Baixa Mesopotâmia em influência indireta dos assírios, sendo governada por eles depois.
Babilônia, Sippar, Nippur, Uruk faziam parte de um grupo de cidades privilegiadas. Templos
assírios sob controle estatal, famílias camponesas deveriam pagar taxas ao governador e a
aldeia ao rei. Porém, muitas cidades tinham privilégios fiscais, conservando suas próprias leis.
Numerosas guerras aumentaram a escravidão. Escravidão ainda era aspecto secundário das
relações de produção.
Império Neobabilônico foi sucessor do domínio assírico. Templos tinham grandes aspectos
econômicos durante a última fase da história. O dízimo real atingia todas as terras, inclusive as
dos templos, causando oposição sacerdotal ao rei Nabonido devido à falta de gerência do
Estado na economia dos santuários. Propriedades do palácio importantes, mas menos
conhecidas.
"Os domínios dos templos eram em grande proporção arrendados a pequenos parceiros, que
entregavam parte da colheita (erreshu), ou a pessoas de posses (os arrendatários ikkaru) [...]"
(FLAMARION, 2012, p. 51)
Dominação de terra para exploração, seja por meio de escravos ou trabalhadores. Alimentos
roupas e prata em troca de trabalho.
"A importância social dos complexos dos santuários era tanta que se pode falar de uma
espécie de "sociedade dos templos", muito estratificada, dentro da sociedade babilônica
global. [...]" (FLAMARION, 2012, p. 52)
Sociedade essa, habitada por indivíduos consagrados divindades, os mar bani, ocupando o
topo da sociedade mesopotâmica. Templos podiam controlar grandes oficinas artesanais e o
comércio exterior durante o Império Neobabilônico. Investimento no comércio, posse de
terras e atuação como bancos por parte das firmas privadas.
"No período persa não houve grandes mudanças estruturais, mas com a introdução da moeda
cunhada deu-se, ao que parece, um empobrecimento ainda maior dos camponeses de menos
recursos." (FLAMARION, 2012, p. 53)
Comunidades corporativas na agricultura mesopotâmica se manteve relevante mesmo depois
do II milênio. Comunidades fracas individualmente, mas indestrutíveis coletivamente.
Palavras chaves: agricultura, enchentes, invasões, povos