Reformas No Conselho de Segurança Da ONU
Reformas No Conselho de Segurança Da ONU
Reformas No Conselho de Segurança Da ONU
AS REFORMAS DO CONSELHO DE
SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS:
HISTÓRIA E PERSPECTIVAS
RESUMO
Este artigo procura expor as tentativas de reforma do Conselho de
Segurança da Organização das Nações Unidas (CSNU), listando e anali-
sando-as. Para isso, faz-se necessário explicar como se dá o funciona-
mento do CSNU, inserindo-o no seu contexto histórico e ainda analisar
como se deram as etapas de formação deste Conselho, sua estrutura bá-
sica e funcionamento, para, com isso, expor as propostas de reforma. O
artigo também mostrará a participação do Brasil tanto no próprio Con-
selho de Segurança assim como promotor de um movimento de refor-
ma e as ações como defensor da expansão de assentos permanentes do
CSNU.
ABSTRACT
This article aims to expose the efforts of reform of the United Na-
tions Security Council (UNSC), listing and analyzing them. To that end, it
is necessary to explain how the UNSC functions, inserting it in its histo-
rical context and also analyzing how the steps for its formation, its basic
structure and functioning occurred, in order to expose the proposals for
the reform. The article will also show the participation of Brazil both
in the Security Council itself and as a promoter of a reform movement
and its actions as a defender of an expansion of permanent seats in the
UNSC.
INTRODUÇÃO
A
pós o fim da Guerra Fria, o mundo passou por mudanças pro-
fundas que alteraram a forma de relacionar-se e de pensar de
diversos países da sociedade internacional. Isso é mais clara-
mente refletido em órgãos multilaterais de alta representati-
vidade no cenário internacional, como, por exemplo, a Organização das
Nações Unidas e seus órgãos.
Com a Queda do Muro de Berlim, caíram também barreiras políti-
cas que impediam uma maior interação entre os países; assim, foi possí-
vel descongelar as ações de diversos órgãos internacionais que estavam
limitados devido à bipolaridade que imperava. Isso se nota quando se
vê o número de resoluções emitidas pelo Conselho de Segurança da ONU
(CSNU) antes e durante a década de 1990.
A partir desse momento, volta a surgir um importante ator da so-
ciedade internacional: o Conselho de Segurança da ONU. Representando
as maiores potências mundiais, o CSNU detém a responsabilidade e a
capacidade de tomada de decisões que envolvam a proteção e manuten-
ção da paz mundial.
Neste ponto, vale citar Bull: “...as grandes potências têm certos di-
reitos e obrigações especiais, concebidos por seus povos e por sua lide-
rança, que são reconhecidos pelos outros estados.” (BULL: 2002, p. 231).
Na teoria da Sociedade Internacional de Bull (também classificada como
parte da Escola Inglesa), tem-se a ideia de que uma das instituições da
ordem internacional é a responsabilidade das grandes potências com a
manutenção dessa ordem.
Bull caracteriza a ordem internacional como: “[...] um padrão de
atividades que sustenta os objetivos elementares ou primárias da so-
ciedade dos estados, ou sociedade internacional.” (BULL: 2012, p. 13).
E a Sociedade Internacional, por sua vez, existe: “[...] quando um grupo
de estados, conscientes de certos valores e interesses comuns, formam
uma sociedade, no sentido de se considerarem ligados, no seu relaciona-
mento, por um conjunto comum de regras, e participam de instituições
comuns.” (BULL: 2012, p. 19).
A partir desse pressuposto, tendo a Sociedade Internacional como
esse grupo de Estados que interagem e partilham valores, existe um gru-
po de potências: “é como se existisse um clube fechado com uma regra
estrita para admissão de sócios.” (BULL: 2002, p. 229). Bull não está se
referindo aqui ao Conselho de Segurança: ele está demonstrando que,
na sociedade internacional, as grandes potências e sua a responsabili-
dade na manutenção da ordem e são, naturalmente, uma comunidade
de poder.
A
pós a Segunda Guerra Mundial, foi assinada em São Francisco,
em 26 de junho de 1945, a Carta das Nações Unidas, com o tér-
mino da Conferência das Nações Unidas sobre Organização In-
ternacional, entrando em vigor a 24 de Outubro daquele mes-
mo ano; esta Carta deu origem à Organização das Nações Unidas (ONU),
que, de acordo com seu preâmbulo, visava: “praticar a tolerância e viver
em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças
para manter a paz e a segurança internacionais” (UNIC: 2001, p. 3).
No Artigo 7 da Carta, é criado o Conselho de Segurança como um
dos seis órgãos principais da ONU, e é sua responsabilidade manter a
paz e a segurança internacionais.
Hoje o CSNU é composto por cinco membros permanentes (EUA,
França, Reino Unido, China e Rússia) e dez membros eletivos (atualmen-
te são eles: Argentina, Azerbaidjão, Austrália, Guatemala, Luxemburgo,
Marrocos, Paquistão, Coreia do Sul, Ruanda e Togo).
Os membros permanentes foram estabelecidos desde a fundação
do Conselho e são estes já citados. Porém, os membros não-permanentes
(ou eletivos) são eleitos por um período de dois anos pela Assembleia
Geral da ONU e, ao votar, os países devem ter em vista “...em primeiro
lugar, a contribuição dos Membros das Nações Unidas para a manuten-
ção da paz e da segurança internacionais e para os outros propósitos
da Organização e também a distribuição geográfica eqüitativa.” (UNIC:
2001, p. 17).
E
m primeiro lugar, é necessário esclarecer que houve e há dife-
rentes propostas e ideias para a execução de uma reforma no
Conselho de Segurança da ONU. Segundo, isto não é tema re-
cente; embora tenha ganhado fôlego com o descongelamento
do CSNU após a Guerra Fria, este é um assunto que nasceu praticamente
junto com o próprio Conselho de Segurança.
Dentre os planos atuais para Reforma do CSNU, podemos destacar
as Nações G4. Na década de 1990, Japão e Alemanha tornaram-se fortes
protagonistas na luta por assentos permanentes para eles, por alta par-
ticipação na Guerra do Golfo e “em 1992, Japão e Alemanha tinham se
tornado, respectivamente, o segundo e o terceiro maiores contribuido-
res para o orçamento regular da ONU.” (FREIESLEBEN: 2008, p. 2).
Em 2004, pela semelhança de seus ideias, unem-se a Alemanha e
Japão, Brasil e Índia, surgindo o G4. A proposta do grupo é aumentar
a legitimidade e credibilidade do Conselho de Segurança aumentando
sua representatividade; o grupo ainda alarga o conceito de segurança,
unindo-o a “desenvolvimento”. Japão e Alemanha iniciam sua campanha
devido à quantidade de sua contribuição para a organização, a Índia en-
tra no pleito utilizando-se do argumento de ter a segunda maior popula-
ção do mundo e o Brasil afirma sua importância por ser o maior país em
território, população e economia na América do Sul.
Vale citar que “o plano do G4 não estenderia o veto para os novos
membros permanentes até que [houvesse] uma revisão de todo o plano
quinze anos após sua implementação.”7 (COX: 2009, p. 106). Este é o úni-
co ponto no qual o G4 parece ter alguma flexibilidade nas negociações,
não abrindo mão de sua proposta da criação de novos assentos perma-
nentes, visando obter o veto somente na revisão que se seguirá.
7 Texto original: “The G4 plan would not extend the veto to the new permanent
members until a review of the entire plan as implemented fifteen years after such
implementation.” (Tradução livre)
8 Texto original: “The African Union itself would select the states for the African per-
manent seats.” (tradução livre)
9 Texto original: “...if a veto is cast in any matter, the Council “should explain the reason
for doing so” and publish the explanation to the United Nations as a whole.” (tradução
livre)
AS REFORMAS E PERSPECTIVAS
A
partir de tudo que já foi exposto, é possível notar que a refor-
ma do Conselho de Segurança da ONU envolve diversas pers-
pectivas para sua realização. Assim, é possível afirmar que não
há um único tipo de reforma do CSNU, mas, antes, há uma série
de possibilidades de reforma que trazem à tona diferentes temas e opor-
tunidades, defendidas por diferentes atores.
Pode-se ver, então, essa Grande Reforma, subdividida em algumas
possibilidades: reforma na agenda, reforma na distribuição de cadeiras
permanentes e não-permanentes, esta fortemente ligada à reforma do
poder de veto; e uma reforma nos processos administrativos do Conse-
lho, hipótese na qual iremos nos focar.
A reforma nos processos administrativos do CSNU parece ser a re-
forma mais possível e provável. Em todas as propostas para mudança na
distribuição de assentos do CSNU, estavam incluídos temas concernen-
tes à metologia de trabalho do CSNU.
Por ser esse um ponto em comum, pode ser que essa reforma seja
de fato implementada caso haja uma articulação mais forte dos países
do G4, UfC e Consenso Elzwini; pois embora haja a proposta do S5 para
que ocorra essa reforma, os principais grupos contendentes não adotam
esse ponto como o principal para que ocorra a reforma. Portanto, seria
interessante que todos decidissem iniciar seus planos de reforma pe-
los processos administrativos do Conselho, como maior transparência,
substituindo reuniões fechadas por mesas abertas onde os não-mem-
bros possam participar, mesmo que de forma limitada – algo que não
seria má ideia.
O possível impasse nessa questão, porém, estaria no fato de que,
embora França e Reino Unido pareçam estar num meio termo, “... China,
Rússia e Estados Unidos são fervorosamente opostos a quaisquer regras
que governariam como o Conselho conduz suas atividades.”10 (FREIES-
LEBEN: 2008, p. 18). Isso seria mais um problema político do que ne-
cessariamente metodológico, porque, neste caso, os membros perma-
nentes do Conselho de Segurança não teriam poder de veto: a decisão
seria tomada pela Assembleia Geral; daí o problema ser mais político,
pois muitos países não iriam querer gerar descontentamento nas gran-
des potências.
10 Texto original: “...China, Russia and the United States are fervently opposed to any
rules that would govern how the Council conducts its dealings.” (tradução livre)
O
governo brasileiro sempre foi participante ativo das discus-
sões a respeito da reforma do Conselho de Segurança. Note-se
que desde de 1949 o Brasil tem sido o primeiro país a se pro-
nunciar nos Debates Gerais das reuniões ordinárias da Assem-
bleia Geral da ONU:
CONCLUSÃO: PERSPECTIVAS
Ora, como se pôde perceber, embora muito se fale de uma reforma
no Conselho de Segurança da ONU, há múltiplas perspectivas para en-
tender essa reforma, diferentes propostas e proponentes. É importante
destacar que, para que haja uma reforma no CSNU, deve-se proceder da
seguinte forma:
14 Texto original: “ At most, only two potential powers, amicable to the current
permanent members, should be considered for permanent membership. Brazil and
Nigeria are good candidates.” (tradução livre)
15 Tendo sido eleito, na sua história, para os biênios: 1946 – 1947, 1951 – 1952,
1954 – 1955, 1963 – 1964, 1967 – 1968, 1988 – 1989, 1993 – 1994, 1998 – 1999,
2004 – 2005, 2010 – 2011.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECARD, Danielly Silva Ramos. Relações exteriores do Brasil con-
temporâneo. Petrópolis: Vozes, 2009. (Coleção Relações Internacionais).