Favela Nova Brasília VS Brasil
Favela Nova Brasília VS Brasil
Favela Nova Brasília VS Brasil
Direito
Salatiel da Glória
Itaúna – MG
2023
Emilly Guedes Esteves
Salatiel da Glória
Itaúna
2023
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Sumário
1.INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 4
2.HISTÓRICO ....................................................................................................................................... 5
3.PERSPECTIVAS NO DIREITO INTERNO BRASILEIRO .......................................................... 8
4.PROCESSO PERANTE A CORTE CIDH ................................................................................... 13
5.DIREITOS VIOLADOS ................................................................................................................... 19
6.DA CONDENAÇÃO ........................................................................................................................ 21
7.A SENTENÇA.................................................................................................................................. 22
8.CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 26
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 27
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1.INTRODUÇÃO
O Caso Favela Nova Brasília versus Brasil, trata-se de duas incursões policiais
ocorridas nos dias 18 de outubro de 1994 e 08 de maio de 1995. Em ambas as
operações tiveram como resultado a morte de 13 homens cada. O Estado Brasileiro
foi acusado de violar os direitos humanos, como o direito à vida e a integridade
pessoal, tendo em vista que sua ação, por intermédio da força policial utilizada para
frear o tráfico de drogas, resultou na morte de 26 homens e em 3 abusos sexuais, nos
anos de 1994 e 1995.
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2.HISTÓRICO
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Pouco mais de seis meses depois, na manhã de 8 de maio de 1995, um grupo
de 14 policiais civis entrou na Favela Nova Brasília, com o apoio de dois helicópteros,
em operação que supostamente tinha como objetivo deter um carregamento de armas
que seria entregue a traficantes da comunidade. Segundo testemunhas, houve um
tiroteio entre policiais e os supostos traficantes. E de forma semelhante ao caso
anterior, como resultado da incursão, três agentes do Estado foram feridos e 13
homens da comunidade foram mortos, sendo dois deles menores de idade. Eles foram
levados ao Hospital Getúlio Vargas, mas já chegaram ao local sem vida. A vítima mais
jovem tinha 17 anos e a mais velha 25, sendo que a maioria tinha 20 anos ou menos.
Os corpos tinham de um a dez ferimentos por bala. As mortes também foram
registradas como “autos de resistência com morte dos opositores”.
Levantamento Histórico
O surgimento das grandes favelas no Rio de Janeiro remonta o início do Brasil
Republicano, quando o então presidente Rodrigo Alves iniciou por volta de 1903 um
projeto de reurbanização de áreas da cidade, mais precisamente o centro e a região
portuária. O objetivo principal dessa conduta era transformar a capital em um lugar
mais agradável aos olhos de quem desembarcasse no solo brasileiro, recriando uma
pequena Europa nos trópicos.
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sociedade esquecida e desacreditada pelo poder Estatal. Dessa forma, podemos
inferir que as comunidades marginalizadas brasileiras surgiram como forma de
sobrevivência sobre as vistas de um Estado omisso e que o povo não teve outro auxilio
a não ser aquele que advinha daqueles que estavam em condições semelhantes.
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3.PERSPECTIVAS NO DIREITO INTERNO BRASILEIRO
De acordo com a prova nos autos, não houve nenhuma atuação processual
relevante entre 1995 e 2002. Em 27 de agosto de 2002, os autos do IP No 52/94
(iniciado pela DETAA) foram renumerados com o nº 141/02 pela Corregedoria Interna
da Polícia Civil (COINPOL).
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Investigação sobre a incursão policial de 8 de maio de 1995
Quanto a investigação da segunda operação policial realizada na Favela Nova
Brasília em 8 de maio de 1995, a Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos contra
Estabelecimentos Financeiros (DRRFCEF) da Polícia Civil do Rio foi a responsável
por iniciar a investigação. Na mesma data, dois membros que participaram da
operação registraram boletim de ocorrência, qualificando os fatos como “tráfico de
drogas, grupo armado e resistência seguida de morte” e informando os nomes dos
policiais que participaram da incursão.
Foi concedido aos policiais envolvidos “promoção por ato de valentia” a todos
os agentes envolvidos na operação e ainda naquele mês dezenove policiais foram
ouvidos como testemunha e afirmaram, em termos gerais, ter havido um confronto
com forte fogo cruzado e a apreensão de drogas e armas.
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4.PROCESSO PERANTE A CORTE CIDH
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da Religião – ISER, se uni ao CEJIL, e se torna co-peticionário nas duas ações já
impetradas na Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre os crimes e
abusos cometidos por policiais nas operações realizadas na favela Nova Brasília nos
anos de 1994 e 1995.
O processo na Corte
Diante da inércia do governo brasileiro em avançar no cumprimento das
recomendações apresentadas, a CIDH decide remeter o caso à Corte Interamericana
de Direitos Humanos em maio de 2015, solicitando ao Tribunal que declarasse a
responsabilidade internacional do Brasil pelas violações constantes do relatório de
mérito de 2011, e que ordenasse ao Estado o cumprimento das mesmas
recomendações incluídas no relatório.
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O Brasil só reconheceu a competência da Corte em 10 de dezembro 1998,
fixando ali um marco temporal para as apurações do Tribunal, que só poderia se
manifestar sobre fatos posteriores àquela data. O estabelecimento do marco temporal,
não impediu que a Corte prosseguisse com a apuração e julgamento das violações
decorrentes da omissão do Estado na apuração dos crimes relacionados às ações
peticionadas pela CIDH, mais especificamente “as ações e omissões estatais” que
ocorreram ou continuaram ocorrendo após o Brasil reconhecer a competência da
Corte, tais como a “forma inadequada como foram realizadas as investigações”, que
tinham o objetivo de responsabilizar as vítimas falecidas e não verificar a legitimidade
do uso da força letal; o descumprimento da devida diligência e de prazo razoável na
investigação e punição dos responsáveis pelas 26 mortes e pelos atos de tortura e
violência sexual; e a omissão na reabertura das investigações pela tortura e violência
sexual, que permitiu que a ação penal prescrevesse.
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só deveria analisar os fatos alegados em relação às vítimas cujo os representantes
apresentassem procurações dos familiares.
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Quinta exceção preliminar – o Brasil alegou incompetência ratione materiae quanto às
alegadas violações de direitos previstos na Convenção Interamericana para Prevenir
e Punir a Tortura. O Estado alegou que o artigo 8 do tratado prevê que um caso só
poderá ser submetido a instâncias internacionais depois de haver esgotado os
recursos internos e que, portanto, a Corte só poderia analisar as violações na medida
em que o Estado expressamente reconhecesse sua competência contenciosa. Na
mesma exceção, o Brasil também apontou incompetência ratione materiae quanto à
Convenção de Belém do Pará, afirmando que o artigo 12 do tratado autorizaria
somente a Comissão Interamericana a analisar violações.
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5.DIREITOS VIOLADOS
Quanto as três jovens que sofreram violência sexual, foi enfatizado que elas
apenas foram examinadas um mês depois do ocorrido, assim, qualquer vestígio de
violência já havia desaparecido de seus corpos, e que, por mais de 20 anos, não foi
realizada nenhuma diligência para investigar e punir os responsáveis. Eles solicitaram
a responsabilização do Brasil pela violação dos artigos 5, 8 e 25, em relação com os
artigos 1.1 e 2, da Convenção Americana; dos artigos 1, 6 e 8 da Convenção
Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura; e do artigo 7 da Convenção de Belém
do Pará. Em relação à C.S.S e J.F.C., que eram menores de idade à época, apontaram
também violação do artigo 19 da Convenção Americana.
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base nisso, solicitou que o Estado fosse considerado responsável pela violação do
artigo 5.1 da Convenção, em relação com o artigo.
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6.DA CONDENAÇÃO
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7.A SENTENÇA
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• O Estado, no prazo de um ano contado a partir da notificação da sentença,
deverá estabelecer os mecanismos normativos necessários para que, na
hipótese de supostas mortes, tortura ou violência sexual decorrentes de
intervenção policial, em que prima facie policiais apareçam como possíveis
acusados, desde a notitia criminis se delegue a investigação a um órgão
independente e diferente da força pública envolvida no incidente, como uma
autoridade judicial ou o Ministério Público, assistido por pessoal policial, técnico
criminalístico e administrativo alheio ao órgão de segurança a que pertença o
possível acusado, ou acusados.
• O Estado deverá adotar as medidas necessárias para que o Estado do Rio
de Janeiro estabeleça metas e políticas de redução da letalidade e da violência
policial.
• O Estado deverá implementar, em prazo razoável, um programa ou curso
permanente e obrigatório sobre atendimento a mulheres vítimas de estupro,
destinado a todos os níveis hierárquicos das Polícias Civil e Militar do Rio de
Janeiro e a funcionários de atendimento de saúde. Como parte dessa
formação, deverão ser incluídas a presente sentença, a jurisprudência da Corte
Interamericana a respeito da violência sexual e tortura e as normas
internacionais em matéria de atendimento de vítimas e investigação desse tipo
de caso.
• O Estado deverá adotar as medidas legislativas ou de outra natureza
necessárias para permitir às vítimas de delitos ou a seus familiares participar
de maneira formal e efetiva da investigação de delitos conduzida pela polícia
ou pelo Ministério Público.
• O Estado deverá adotar as medidas necessárias para uniformizar a expressão
“lesão corporal ou homicídio decorrente de intervenção policial” nos relatórios
e investigações da polícia ou do Ministério Público em casos de mortes ou
lesões provocadas por ação policial. O conceito de “oposição” ou “resistência”
à ação policial deverá ser abolido.
• O Estado deverá pagar as quantias fixadas na sentença, a título de indenização
por dano imaterial, e pelo reembolso de custas e gastos.
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• O Estado deverá restituir ao Fundo de Assistência Jurídica às Vítimas, da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, a quantia desembolsada durante a
tramitação do presente caso.
• O Estado deverá, no prazo de um ano, contado a partir da notificação desta
sentença, apresentar ao Tribunal um relatório sobre as medidas adotadas para
seu cumprimento.
Cumprimento da Sentença
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• Dados da letalidade policial:
• Placa memorial:
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8.CONCLUSÃO
Esse caso reapresenta, não apenas o ocorrido nos anos de 1994 e 1995 na
favela Nova Brasília, mas sim, todo um contexto histórico de descriminalização e
negligência. Temos mais uma vez, o Estado inferiorizando as minorias e usando sua
autoridade para reprimir. O padrão de vítimas permanece o mesmo, negros, pobres,
socialmente descriminalizados e inferiorizados. Mais uma vez temos a negligência do
Estado em cumprir com o seu dever de proteger os bens públicos e além disso em
cumprir com o que lhe foi determinado pela Corte. Das designações feitas pela Corte
Internacional poucas foram realizadas, como exemplo temos a assistência psicológica
que deveria ser concedida aos familiares das vítimas e até o presente momento não
se concretizou. O caso permanece em aberto e até o ano de 2019 seu julgamento não
havia iniciado, alguns dos acusados já faleceram. A indolência do judiciário é mais
uma prova do quanto o Estado negligência seus cidadãos.
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REFERÊNCIAS
https://www.preparaenem.com/historiadobrasil/modernizacaoexpulsaoreurbani
zacao-rio-janeiro.htm
https://reubrasil.jor.br/caso-favela-nova-brasilia-versus-brasil/amp/
https://myrnamack.org.gt/biografia-helen-mack-chang/
https://www.oas.org/pt/CIDH/jsForm/?File=/pt/cidh/mandato/que.asp
https://www.gov.br/mdh/ptbr/navegueportemas/atuacaointernacional/sentenca
sdacorteinteramericana/copy_of_FavelaNovaBrasiliaSentenca.pdf
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