Artigo Justiça de Transição Brasil Espanha

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O ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO E A JUSTIA DE TRANSIO:

PANORAMA GERAL E COMPARAES ENTRE A REDEMOCRATIZAO


NO BRASIL E ESPANHA

Renata de Assis Calsing1


Jlio Edstron S. Santos2

Thaize Calimerio Gomes3

RESUMO
O presente artigo visa demonstrar os conceitos fundamentais sobre a Justia de
Transio, com uma anlise uma comparativa entre o Brasil e Espanha, tratando desde o
regime autoritrio vivenciado pelos dois pases at a transio democrtica, e por fim, a
sua aplicao nas duas naes estudadas. Ressalta-se, que o trabalho buscou comparar o
mbito geral transicional e apresentar as diferenas na aplicao da Justia Transicional.
A pesquisa tem base qualitativa, onde se busca interpretar o processo de
redemocratizao nos dois pases baseando-se em livros histricos e documento
jurdicos da poca, buscando saber, realmente, os dois lados da histria, contada por
estudiosos brasileiro e espanhis.
Palavras-chave: Estado Democrtico Direito; Justia de Transio, Lei de Anistia.

1. INTRODUO

A Justia de Transio tem tido sua importncia para pases que passaram de um
regime autoritrio para um estgio democrtico, nos Estados que passaram por regimes
de exceo o papel priomordial da Justia de Transio compreender os fatos
1 Professora Titular do Curso de Direito do UDF. Doutora em Direito pela
Universidade de Paris I, Pantheon-Sorbonne. Mestre e Bacharel em Direito pelo
Centro Universitrio de Braslia, UNICEUB. Professora Associada do PPGD do
UniCEUB. Analista de Finanas e Controle da Controladoria Geral da Uniao.

2 Professor dos cursos de graduaao em Direito e Relaes Internacionais e


especializaao da UCB/DF. Doutorando em Direito pelo UniCEUB. Mestre em Direito
Internacional Econmico pela UCB/DF. Membro dos grupos de pesquisa NEPATS Ncleo de Estudos e Pesquisas Avanadas do Terceiro Setor da UCB/DF, Polticas
Pblicas e Juspositivismo, Jusmoralismo e Justia Poltica do UNICEUB.

3 Graduada em direito pela Universidade Catlica de Braslia, membro do


grupo pesquisa Ncleo de Estudos e Pesquisas Avanadas do Terceiro Setor
da UCB/DF
1

ocorridos no passado, para que se possa ultrapassar os momentos experimentados pelo


autoritrismo.
Neste trabalho busca-se comparar em um recorte da histria jurdica dos regimes
autoritrios no Brasil e na Espanha com o intuito de se destacar que em cada pas se
aplica a Justia de Transio com suas particularidades distintas.
Notando-se, desde logo que o instrumento transicional no tem um modelo
nico a ser seguido, sendo assim, os pilares transicionais reparao s vtimas,
fornecimento da verdade e construo da memria, restabelecimento da igualdade
perante a lei e a reforma das instituies so aplicados de maneira diferente em cada
um dos Estados comparados.
Tambm se percebeu que as ditaduras do sculo passado fizeram inmeras
vtimas, diretamente ou indiretamente, e muitas delas ainda no obtiveram respostas do
Estado, seja da forma de reparao, memria, punio aos agentes do Estado
perpetradores dos direitos humanos ou uma reforma democrtica institucional no pas
que evite novas violaes estatais.
Em busca dessas respostas, o estudo sobre a Justia de Transio no Brasil e
Espanha pode ajudar a se compreender os mecanismos jurdicos, sociais e polticos que
podem auxiliar a obteno de uma superao sustentvel dos regimes de exceo que
ainda existem no mundo.
Para o desenvolvimento deste artigo, se analisou o conceito dos Direitos
Humanos e como eles se comportam em relao as violaes perpetradas pelos regimes
autoritrios.
Realiza-se, no primeiro captulo, uma breve comparao dos regimes autoritrios
sofridos pelo Brasil (1964-1985) e pela Espanha (1939-1976), onde percebemos que
tanto o Brasil quanto a Espanha, atravs dos seus agentes, violaram sistematicamente os
direitos de parcela dos seus cidados.
No segundo captulo, h a comparao da transio democrtica entre os dois
pases e se constata que ambos resolveram anistiar os crimes do passado, porm, o
Brasil no se esqueceu totalmente; a ADPF n 153 protocolada pela Ordem dos
Advogados do Brasil questionou a constitucionalidade da Lei de Anistia, onde defendia
a reviso da lei, porm, sem sucesso, j que o Supremo Tribunal Federal foi contra a
reviso por sete votos a dois.
Atualmente h medidas polticas pblicas para se reconciliar nacionalmente
como, por exemplo, a Comisso Nacional da Verdade, Comisso Especial de Mortos e
2

Desaparecidos Polticos, Comisso de Anistia e o projeto Direito, Memria e Verdade.


J a Espanha, resolveu instituir a poltica do total esquecimento, onde no h uma
preocupao em se reconciliar com a sociedade devido que os crimes contra a
humanidade praticados na Guerra Civil e no Franquismo aconteceram num passado
remoto.
Depois se analisou a elaborao dos conceitos da Justia de Transio e como foi
o seu processo em cada pas pesquisado. Consta tambm a aplicao da Justia
Transicional mediante seus quatro pilares. Salienta-se que em cada pilar, foi realizada
uma comparao de como os pases os aplicam, e quando no, inclusive demonstrando
as principais justificativas dos porqus o pas resolveu se abstiver.
No ltimo tpico se abordou a Comisso da Verdade, onde o Brasil empreendeu
uma em 18 de novembro de 2011 com validade de dois anos, e em 10 de dezembro de
2014 o seu relatrio final foi divulgado. J a Espanha, at hoje no se tem uma
Comisso da Verdade, onde atravs dela se busca a verdade e a memria.
As problemticas abordadas so: como ocorre a aplicao da Justia de
Transio atravs dos seus pilares? Qual a dificuldade de cada pas em cumpri-los?
Isto ocorre por conta do seu ordenamento jurdico interno ou pela falta de polticas
pblicas?
Em resposta a essa problemtica, o trabalho aborda o posicionamento a ser
adotado de acordo com rgos internacionais, como a Anistia Internacional e a
Organizao das Naes Unidas, que defendem que um ordenamento jurdico interno
deve caminhar em concordncia com as obrigaes externas ratificados pelos pases,
pois um tratado internacional deve ser ratificado por boa-f, afinal, ratificar um tratado
internacional sendo que um ordenamento jurdico interno impede de aplica-lo no se
constitui efetivamente boa-f do pas que o ratificou.
Ressalta-se que a pesquisa tem base qualitativa e de natureza terica, onde se
busca interpretar o processo transicional baseando-se em livros histricos e jurdicos,
sobre o processo transicional e sua aplicao nos pases em anlise comparativa.
2. DIREITOS HUMANOS E AS SUAS VIOLAES POR REGIMES DE
EXEO
Os

Direitos

Humanos,

em

sua

construo

histrica,

representam

emblematicamente a luta e ao social pela busca da efetivao da dignidade humana,


3

entretanto, pode-se dizer que os direitos humanos fundamentais so essenciais para a


existncia humana e desta maneira so reconhecidos em cada Constituio. Ou como
demonstra Piovesan construindo o rol de Direitos relativos aos direitos humanos, qual
seja preservar valores inerentes a dignidade da pessoa humana(2009, 251).
Com o intuito de relativizar a soberania Estatal, que foi utilizada como gide
para a violao de direitos humanos fundamentais criou-se aps a Segunda Guerra
Mundial a Organizao das Naes Unidas (ONU), com o objetivo de promover a paz,
cooperao e segurana internacional, condenando agresses externas que viessem a
acontecer contra a integridade territorial e poltica de seus membros (PIOVESAN,
2009).
Ao ocorrer um cenrio de atrocidades, massacres e extermnio de pessoas
compreende-se a necessidade de proteo dos direitos humanos fundamentais,
evidenciando-se a necessidade de responsabilizao do Estado, quando esse se
apresenta omisso no que tange defender os direitos inerentes pessoa humana, os
direitos humanos (HIDAKA, 2003).
Portanto, os direitos humanos fundamentais impem que em cenrios de
atrocidades, como no caso das ditaduras, importante se efetivar o acesso verdade e
proceder reparao s vtimas de tais violaes, que vai alm do que um pedido oficial
de desculpas do Estado.
2.1 A DITADURA E SUAS VIOLAES AOS DIREITOS HUMANOS
As violaes dos direitos humanos cometidos pelos agentes do Estado, durante
uma ditadura militar, so consideradas pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos
crimes contra humanidade e so imprescritveis, no anistiveis e extraditveis, como
demonstram Gomes e Mazzuoli (2011), com base na jurisprudncia pacfica da Corte
interamericana de Direitos Humanos.
Portanto, estas violaes de tais direitos mesmo sendo praticadas em um s
indivduo, acabam ofendendo e lesionando toda a Humanidade (CALDAS, 2013, p.
120).
Diante disso, a aplicabilidade da Justia de Transio tem sua relevncia no
apenas para as vtimas de tais violaes, mas para a humanidade, pois ela tambm
parte interessada no processo transicional de um Estado que viveu um perodo de

exceo, pois assim, serve de aprendizado para que a humanidade no recaia no mesmo
erro.
Neste sentido, todos os continentes experimentaram no sculo passado algum
tipo de ditadura, causando repercusses polticas, jurdicas e sociais atualmente. Como
exemplo, demonstraremos como ocorreram os regimes autoritrios no Brasil e na
Espanha e principalmente as principais repercusses jurdicas e polticas destes eventos.
2.2.1

O CHORO DE JANGO: A DITADURA MILITAR BRASILEIRA


A ltima Ditadura Militar no Brasil teve incio em 31 de maro de 1964 com o

afastamento do Presidente da Repblica, Joo Goulart (Jango). Os militares desferiram


um golpe de estado no dia 1 de abril do mesmo ano, alegando que Jango estava
transformando o Brasil em um pas comunista, porque alm de manter ralaes com
partidos de esquerda, o presidente prometia implantar um conjunto de mudanas que
inclua a reforma agrria, tributria e eleitoral, tal como demonstra Elio Gaspari (2002).
Em sntese, se pode afirmar que o golpe de estado foi fruto de uma tenso ideolgica
entre o capitalismo e o socialismo que estavam presentes naquele momento histrico,
causando a chamada guerra fria.
Em uma ao poltica o ex-presidente Juscelino Kubitschek tentou convencer
Jango a romper relaes com os movimentos de esquerda para tentar acalmar as Foras
Armadas, mas suas tentativas foram infrutferas (GASPARI, 2002).
Uma das histrias da poca que ilustra o que aconteceu foi o famoso telefonema
que Jango recebeu do General Amauri Kruel onde pediu que o presidente rompesse com
a esquerda e que demitisse os ministros da Justia, Abelardo Jurema, e o da Casa Civil,
Darcy Ribeiro e Jango respondeu: "General, eu no abandono os meus amigos. Se essas
so as suas condies, eu no as examino. Prefiro ficar com as minhas origens. O senhor
que fique com as suas convices. Ponha as tropas na rua e traia abertamente".
(GASPARI, 2002, p. 88).
No pice de desespero ao ver o que estava ocorrendo no pas, Jango, se ps a
chorar. Sob ameaa de ser preso, numa folha de caderno, Jango, pediu asilo ao Uruguai.
(GASPARI, 2002). Como consequncia o general Castello Branco foi eleito pelo
Congresso Nacional em 15 de abril do mesmo ano como presidente do Brasil.

Em um pronunciamento nao Castello Branco, alegou defender a


democracia, porm, ao comear seu governo assumiu uma posio autoritria onde
estabeleceu eleies indiretas para presidente e dissolveu os partidos polticos.
Vrios parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados,
cidados tiveram seus direitos polticos e constitucionais cancelados, se consolidando
uma ditadura civil militar no Brasil.
A ditadura no Brasil prolongou-se at 1985, foram 21 anos de represso poltica.
Estima-se que houve 437 mortos e desaparecidos polticos no Brasil e no exterior,
conforme demonstra o Relatrio da Comisso Nacional da Verdade divulgado em 10 de
dezembro de 2014.
Os brasileiros tiveram diversos direitos violados no perodo da ditadura, um
deles foi liberdade de expresso, onde os governantes no permitiam a manifestao
do povo e nem mesmo dos meios de comunicao.
Em sntese, estas violaes so notadas em uma frase que os militantes ao serem
presos viam na entrada da sua carceragem: Contra a ptria, no h direitos (BASSO,
2007, p. 42).
2.2.1.1

ENTENDIMENTO

DOS

DIREITOS

HUMANOS

NO

CASO

BRASILEIRO
A Comisso de Direitos Humanos das Naes Unidas defende o acesso
informao sob as violaes inerentes aos direitos humanos, cometidas por agentes
pblicos.
Neste sentido, as violaes praticadas durante a ditadura militar brasileira, no
podem se submetam a sigilo indeterminado, dificultando assim, o processo da Justia de
Transio no Brasil (CALDAS, 2013).
Tambm h que se notar que o direito fundamental a verdade se fortaleceu em
2011 quando foi promulgada a Lei de Acesso Informao, Lei Federal n.
12.527/2011, que tambm foi utilizada para dar suporte Comisso Nacional da
Verdade. Sendo que esta uma ao considerada uma medida de reparao incentivada
pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos, buscando assim resguardar o direito
memria das vtimas e da humanidade.
Avanando em 24 de fevereiro de 2009 a Comisso Interamericana dos Direitos
Humanos submeteu Corte demanda contra o Brasil referente s pessoas desaparecidas
6

na Guerrilha do Araguaia, enfatizando-se o valor histrico do caso e a incompatibilidade


da Lei de Anistia e dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil.
No caso em tela a Comisso afirmou a responsabilidade do Brasil pela deteno
arbitrria, tortura e desaparecimento forado de 70 pessoas pelo Exrcito brasileiro na
Guerrilha do Araguaia; a falta de devido processo legal para a punio dos envolvidos
nos desaparecimentos e execuo de pessoas; a falta de acesso a informao sobre os
desaparecidos e solicitou a responsabilizao pela violao dos direitos (MOURA,
2012).
Portanto, tratados ratificados pelo Brasil como o Pacto de So Jos da Costa
Rica , asseguram que o Brasil deve julgar casos de violao dos direitos humanos e
no os esquecer, mas sim mantendo-os presentes na memria nacional e repar-los.
2.2.2

UM

ROMNTICO

NACIONALISTA:

DITADURA

MILITAR

ESPANHOLA
Em 1931 a Espanha instaurou um governo com orientao comunista.
Similarmente ao Brasil, os militares espanhis, comandados por Francisco Franco,
planejaram e colocaram em prtica o golpe de estado por temor ao comunismo, o
famoso perigo vermelho que era apoiado pela antiga URSS (CUNHA, 2015).
Neste contexto, foi desferido um golpe de estado espanhol em julho de 1936.
Mas no foi fcil implantar o golpe. Diferentemente do Brasil, os militares espanhis
tiveram que enfrentar militares que defendiam a Repblica e trabalhadores que eram
contra o movimento de extrema-direita, dando incio assim, a Guerra Civil Espanhola 4,
que durou at 1939. (AUGUSTO, 2009).
O fim da Guerra Civil implicou para quem tinha tentando derrotar os franquistas
a morte, a priso ou o exlio: mais de 50.000 espanhis foram fuzilados pelos
vencedores entre 1939 e 1943; cerca de meio milho de pessoas cruzaram a fronteira e
ainda restavam em maio de 1940 cerca de 260.000 prisioneiros polticos (JULI, 2009).
Tratando-se de violaes dos direitos humanos, o caso espanhol no se difere do
brasileiro, no apenas os combatentes eram castigados, mas a represso tambm recaiu
4 Guerra travada entre a Repblica Espanhola (republicanos de esquerda)
que tinha o apoio da antiga URSS contra a Espanha Nacionalista (extremadireita) que tinha o apoio da Alemanha de Adolf Hitler e da Itlia de
Mussolini. Em 1939, a Espanha Nacionalista de Francisco Franco venceu o
conflito e instaurou o regime ditatorial franquista.
7

nas vivas, filhas ou irms dos presos, castigadas corporalmente, com a expulso,
execrao pblica, despojo dos seus bens e eliminao. (JULI, 2009).
Adotando a poltica de esquecimento, a Espanha decidiu optar pela impunidade das
agresses, torturas, prises ilegais e desaparecimentos forados existentes naquela
poca atravs da Lei de Anistia n. 46/1977, de 15 de outubro, onde foi aprovada por
93,3% do Parlamento, anistiando os crimes polticos anteriores a 15 de dezembro de
1976 (HOMEM; BRANDO, 2015).
2.2.2.1

ENTENDIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS NO CASO ESPANHOL


A Comisso de Direitos Humanos das Naes Unidas advertiu, nas observaes

finais do quinto relatrio peridico sobre a Espanha, que o Estado deveria derrogar a
Lei de Anistia de 1977 e adotar que os crimes de lesa-humanidade so imprescritveis e
tambm realizar a exumao e a identificao dos restos dos desaparecidos (SAZ,
2012).
Devendo assim, o Estado tomar as medidas legislativas necessrias para
assegurar o reconhecimento da aplicabilidade destes crimes pelos tribunais espanhis
(CASOS CERRADOS, HERIDAS ABIERTAS, 2012, traduo nossa).
A Anistia Internacional diante o documento pblico ESPAA: La obligacin de
investigar los crmenes del pasado y garantizar los derechos de las vctimas de
desaparicin forzada durante la Guerra Civil y el Franquismo; p. 28; de novembro de
2008, apela a Espanha a cumprir as obrigaes internacionais e rememora s
autoridades espanholas que um Estado no pode invocar as disposies de seu direito
interno para justificar o descumprimento de um tratado internacional, e que todo o
tratado em vigor deve ser realizado por boa-f. Portanto, o Estado espanhol seria
obrigado a respeitar o carter inalienvel de crimes contra a humanidade sob a lei
internacional e adaptar sua legislao nacional com as normas internacionais (CASOS
CERRADOS, HERIDAS ABIERTAS, 2012, traduo nossa).
Aquele documento da Anistia Internacional ainda chama a ateno tambm que
o costume internacional uma fonte de direito e que a existncia de crimes de direito
internacional, como os crimes cometidos durante a Guerra Civil de Franco. Por isto no
legitimo invocar o princpio da legalidade do direito interno para escapar do
cumprimento das obrigaes internacionais, como a no investigao de tais crimes.

3. DO ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO


Alcana-se o Estado Democrtico de Direito por meio da garantia da
participao cidad, da democratizao das relaes sociais e transparncia s aes
estatais, alm da maior presena estatal onde antes no havia (CALDAS, 2013, p 51).
Entende-se que a democracia a institucionalizao da liberdade e regime
poltico da maioria associada aos direitos das minorias, e um fenmeno social e
histrico. necessrio promover e aceitar a luta cotidiana para aperfeioar e radicalizar
a democracia existente (ABRO e GENRO, 2013), pois a democracia de um Estado
deve estar sempre em mutao para aperfeio-la, de modo, que os cidados sejam os
mais beneficiados com o Estado Democrtico de Direito.
Assim, o entendimento atual que a democracia um procedimento continuo de
construo de direitos humanos fundamentais com a participao popular calcado nos
princpios majoritrios e de respeito as minorias.
3.1 TRANSIO DEMOCRTICA NO BRASIL
Aps um passado de forte represso poltica sob luz da ditadura militar, onde se
estendeu de 1964 at 1985, o Relatrio da Comisso Nacional da Verdade estima-se 191
mortos, onde 33 corpos foram localizados, 210 desaparecidos; 6.591 militares foram
perseguidos pela ditadura e apontam 377 agentes responsveis pela represso.
Ao advir o trmino do tempo de exceo poltica brasileira, iniciou-se um
perodo de transio para um Estado Democrtico, que apesar de j ter uma ordem
constitucional h mais de 25 anos, ainda hoje luta para avanar na Justia de Transio
(CALDAS, 2013).
A transio democrtica no Brasil foi consolidada gradativamente, sob a
representao poltica e a participao da sociedade na esfera pblica. Caracterizou-se
pela transio do regime militar para um estado de direitos sociais e polticos, com os
movimentos sociais e a promulgao da Lei de Anistia (SANTOS, 2011).
O processo transicional democrtico brasileiro foi marcado por duas etapas:
substituio de regras institucionais com a tentativa de diminuir a represso poltica e o

reestabelecimento de direitos individuais e coletivos que ainda se encontra em


construo legislativa e pragmtica (SANTOS, 2011).
3.2 TRANSIO DEMOCRTICA NA ESPANHA
Assim como o Brasil, a Espanha tambm realizou um processo de transio
entre um regime autoritrio para o democrtico, porm com especificidades prprias.
No final dos anos 70, a Espanha era tida como exemplo de um pas no qual a transio
democrtica obteve xito. Ela teve uma transio democrtica negociada entre as
antigas elites e as novas elites, sob influncia do Partido Social Espanhol (PSOE)
(SANTOS, 2011).
Ao contrrio do Brasil, na construo da nova democracia, houve a construo
de uma liderana forte para poder garantir o consenso entre as partes, quem exerceu
essa funo foi Adolf Suarz, primeiro ministro da poca, onde garantiu o referendo
popular e a promulgao da Constituio de 1978.
Esta negociao entre os conservadores e as novas elites foi de cunho essencial
para que o Estado no se dissolvesse, assim, implementando uma reforma gradativa,
pacfica e ordenada na Espanha como demonstra Santos (2011).
3.3 DAS ANISTIAS: TENTATIVA DO ESQUECIMENTO; LEI N 6.683/79: A
LEI DE ANISTIA BRASILEIRA
A palavra anistia vem da palavra grega amnestia, que significa
esquecimento. Portanto, a anistia provoca esquecimento dos crimes, isto , como se os
crimes nunca tivessem sido praticados, so perdoados e esquecidos (SWENSSON
JUNIOR, 2007).
O processo transicional brasileiro foi controlado pelo regime autoritrio, e o que
proporcionou isso foi a Lei de Anistia promulgada em 15 de agosto de 1979, onde
garantiu a proteo dos militares contra um futuro julgamento por causa das violaes
dos direitos humanos (ABRO, PAYNE e TORELLY, 2011), e tambm a libertao dos
presos polticos, porm restritiva, pois no liberou os acusados de crimes de sangue,
nem permitiu que os funcionrios pblicos demitidos recuperassem seus direitos
(AGUILAR, 2011).
Jessie Jane Vieira de Sousa, presa poltica da poca, descreve a emoo de
receber a notcia, em sua cela, da promulgao da Lei de Anistia: Fao questo de
10

registrar aquela emoo to solitariamente vivida naquele lugar do qual, na ocasio, me


parecia que nunca sairia [...] (SOUSA, 2011, p. 194).
Aps 30 anos da Lei de Anistia brasileira, ela no parece se encaixar bem no
momento em que o Brasil vive, pois nos ltimos dois anos sugiram fortes
questionamentos, pois vem investigando e reparando, e o mais essencial, tem discutido
a possibilidade de processar judicialmente os perpetradores dos direitos humanos
(ABRO, PAYNE e TORELLY, 2011).
Porm, apesar da Lei de Anistia no se encaixar com o atual posicionamento do
Brasil, o Supremo Tribunal Federal, rejeitou a ao da Ordem dos Advogados do Brasil
que atravs da ADPF n 153 contestava a constitucionalidade da Lei de Anistia, e por
sete votos a dois, decidiu em 29 de abril de 2010, que a lei vlida para todos os crimes
cometidos pelos agentes do Estado.
Neste contexto h que se notar que a anistia brasileira foi um movimento
negociado por diversos seguimentos que possibilitou o avano da transio democrtica,
favorecendo os militares que estavam no poder, bem como os exilados polticos e
insurgentes que haviam praticado crimes comuns
3.3.1

LEI N 46/1977: LEI DE ANISTIA ESPANHOLA, DA LIBERDADE


IMPUNIDADE

A Lei de Anistia espanhola foi aprovada em 15 de outubro de 1977 e apesar de


natureza de ponto final, ao contrrio do Brasil ela no foi aprovada pelo regime
militar. A lei permitiu a libertao dos presos polticos e que muitos exilados
retornassem ao pas. (AGUILAR, 2011).
A grande questo na Lei de Anistia espanhola, que de uma lei de liberdade,
ela se passou a ser uma lei de impunidade, pois o Estado Espanhol alega que no
investiga os crimes contra a humanidade cometidos na Guerra Civil e na Ditadura
Franquista porque seria incompatvel com a sua Lei de Anistia.
Consequentemente, a Anistia Internacional tenta convencer a Espanha, que a Lei
de Anistia no um obstculo para a investigao de graves violaes dos direitos
humanos e que as leis internas tm que andar conjuntamente com suas obrigaes
internacionais (CASOS CERRADOS, HERIDAS ABIERTAS, 2012, traduo nossa).
4. JUSTIA DE TRANSIO
11

A justia de transio instrumento capaz de levar uma sociedade que sofreu


violaes aos direitos humanos a um tempo de paz. Podendo ainda ser entendida como
um conjunto de mecanismos, judiciais ou no, para enfrentar a herana de violncias do
passado, atribuindo responsabilidades, e ainda garantindo o direito memria e
verdade, com o intuito de garantir que tais atrocidades do passado no voltem a se
repetir (SOARES, 2010).
Nos regimes autoritrios as violaes dos direitos humanos eram constantes e
acobertadas pelos regimes ditatoriais, opositores do regime eram caados, torturados e
mortos ou simplesmente desapareciam sem as famlias saberem do paradeiro. (GOMES
e MAZZUOLI, 2011).
Para a constituio da paz sustentvel aps um perodo de conflito, violncia em
massa ou violao sistemtica dos direitos humanos, surgiu a Justia de Transio com
o objetivo de processar os perpetradores, revelar a verdade sobre crimes passados,
providenciar reparaes s vtimas, reformar as instituies perpetradoras de abuso e
promover reconciliao (ZYL, 2011).
imprescindvel frisar que, a Justia de Transio tem quatro pilares
transicionais que sero minudenciados mais frente, so eles: reparao s vtimas,
fornecimento da verdade e construo da memria, restabelecimento da igualdade
perante a lei e a reforma das instituies perpetradoras dos crimes contra os Direitos
Humanos. Esses pilares tambm servem de base para a redemocratizao aps o perodo
autoritrio (ABRO e TORELLY, 2010).
Destarte, que a aplicao da Justia de Transio direciona-se para a preservao
mnima de um Estado de Direito, que se identifica fundamentalmente com a
manuteno da paz (SABADELL, SIMON e DIMOULIS, 2014).
E consenso na doutrina internacional que no h um modelo nico para o
processo de justia de transio. Revela-se como um processo peculiar, no qual cada
pas, cada sociedade, precisa encontrar seu caminho para lidar com o legado de
violncia do passado e implementar mecanismos que garantam a efetividade do direito
memria e verdade. (SOARES, 2010)
um desafio poltico e tico lidar com os legados dos regimes ditatoriais e que
muitas sociedades enfrentam durante a transio para a democracia. Justamente por ser
um grande desafio, alguns governos optam pela anistia ou pelo esquecimento, porm, o
passado nunca vai embora, pois sempre restam lembranas e memrias mesmo quando
fazem esforos para esquec-lo (BRITO, 2009).
12

A reconciliao no a bno da ignorncia, mas o perdo da cincia. Em vez


da punio dos torturadores, a transio deve se pautar por uma mudana poltica
fundamental que tentaram impedir: um pas que no mate e torture seus filhos como
inimigos, em nome da segurana nacional de ontem, ou em nome da segurana pblica
de hoje (SABADELL, SIMON e DIMOULIS, 2014).
4.1.1

PROCESSO TRANSICIONAL BRASILEIRO

Uma forte influncia do regime ditatorial foi o que caracterizou o processo


transicional brasileiro (ABRO e TORELLY, 2013). E por no ser nada simples, a
Justia de Transio no Brasil transcorre com transtornos e dificuldades (CALDAS,
2013).
No Brasil ocorreu uma transio sob controle, pois os militares aceitaram apenas
uma transio que seria lenta, gradual e segura (ABRO e TORELLY, 2013),
concluindo assim, que os militares apenas aceitaram uma transio em que de certa
forma eles saberiam a sua trajetria.
O regime ficou numa posio de retaguarda e orientou uma conciliao com a
maior parte da oposio. A partir dessa conciliao, o regime tentou impor um conceito
de perdo onde os ofensores perdoariam os ofendidos e isto limitou a tentativa de
reconciliao, pois o regime tentou transformar a anistia em esquecimento (ABRO e
TORELLY, 2013).
Com evidncia de que muitos desaparecimentos e mortes foram causados pelos
militares, a sociedade pressionava por uma investigao aos casos, o que fez levar o
Judicirio ampliar a abrangncia da lei, logo, a anistia ampla, geral e irrestrita aos
ofendidos, passou a ser para ambos os lados, para os ofendidos e ofensores (ABRO e
TORELLY, 2013)
O processo transicional brasileiro ainda est distante do fim, porm, esforos
tm sido feitos e observados pela comunidade internacional como a implementao de
polticas pblicas com a tentativa de aplicar justia, reparao e memria , e o fato do
Brasil ter aderido jurisdio americana dos direitos humanos, confere maior garantia e
cobrana para a efetiva concluso da Justia de Transio (CALDAS, 2013).
4.1.2

PROCESSO TRANSICIONAL ESPANHOL

13

O processo transicional espanhol foi caracterizado pelas regras que seriam mais
importantes para o novo cenrio democrtico, e foram aprovadas por consenso entre os
franquistas e as principais foras da oposio (AGUILAR, 2011). Assim como no
Brasil, houve uma conciliao entre os reformistas franquistas e a oposio, para ento
os franquistas impor as condies de impunidade, como, alis, estende-se at hoje.
Houve um acordo implcito em relao a certas regras restritas (HOLMES,
1998, apud AGUILAR, 2011), que tornou o passado ditatorial em um assunto proibido
em debate poltico (AGUILAR, 2011).
Um dos principais acordos do processo transicional espanhol, foi a premissa de
nunca mais, que diferentemente do Brasil no se refere ditadura vivida, nem aos
seus crimes, mas Guerra Civil antecedente dela. Essa diferena crucial; os cidados
brasileiros focaram na rejeio da ditadura, enquanto os espanhis focaram no conflito
poltico em que ambos os lados cometeram crimes (AGUILAR, 2011).
Por tanto, observa-se uma grande diferena no processo transicional espanhol
em comparao com o processo transicional brasileiro em um quesito: enquanto o Brasil
vem implementado polticas pblicas a fim de tentar garantir justia, reparao e
memria, na Espanha, no se tem articulado medidas polticas nem tcnicas para
superar o regime de exceo (NARANJO E OCAA, 2013, p. 218, traduo nossa)
4.2 OS PILARES DA JUSTIA DE TRANSIO
A Justia de Transio tem quatro pilares transicionais, so eles: reparao s
vtimas, fornecimento da verdade e construo da memria, restabelecimento da
igualdade perante a lei e a reforma das instituies perpetradoras dos crimes contra os
Direitos Humanos. Esses pilares tambm servem de base para a redemocratizao aps
o perodo autoritrio (ABRO e TORELLY, 2010).
Os pilares da Justia de Transio, acima de tudo, visam a recomposio do
Estado e da sociedade, chamando cada indivduo a retomar o controle de sua vida,
resgatando uma cidadania consciente, em que cada cidado protagonista de sua
prpria histria (SALES, 2003).
4.2.1

REPARAO S VTIMAS

14

Segundo o Direito Internacional, os estados tm o dever de reparar s vtimas de


graves violaes dos direitos humanos. Essa reparao pode adotar diferentes formas:
ajuda material, assistncia psicolgica e medidas simblicas monumentos, memoriais
e dias de comemorao nacionais (ZYL, 2011).
Entretanto, a reparao s vtimas um tanto complexa, pois tero de resolver se
possvel ou desejvel aplicar diferentes formas de reparao devido a tipos e graus de
tortura que a vtima sofreu ou tambm levar em conta sua condio econmica. Cada
deciso tomada tem significativas implicaes morais, polticas e econmicas (ZYL,
2011).
Deve-se buscar uma reparao justa, por isso h tantos tipos de reparaes, pois
cada vtima sofreu de uma forma diferente, sendo assim, as reparaes devem seguir o
sofrimento de cada vtima.
4.2.1.1

A REPARAO NO BRASIL
A reparao no Brasil comeou com a promulgao da Lei n 9.140 de 1995, que

reconheceu como mortas pessoas que desapareceram no regime autoritrio por conta de
sua participao ou acusao em movimentos revolucionrios. Graas a essa lei, os
familiares das vtimas conseguiram atestado de bito e as vtimas foram reconhecidas
oficialmente como mortas (SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS).
A reparao no Brasil tem tido uma implantao gradativa e o seu processo teve
incio ainda durante a ditadura militar desde a promulgao da lei de anistia (lei n
6.683/79), que alm de conceder perdo aos crimes polticos h medidas de reparao,
como a restituio de direitos polticos e a reintegrao ao trabalho a servidores
pblicos civis e militares que foram afastados arbitrariamente (ABRO E TORELLY,
2011).
Com a promulgao da Constituio de 1988, o direito reparao tornou-se
uma garantia constitucional previsto no artigo 8 do Ato das Disposies
Constitucionais Transitrias.
Pode-se afirmar que existe no Brasil a implantao de uma rica variedade de
medidas de reparao, individuais e coletivas, materiais e simblicas. (ABRO e
TORELLY, 2011, p. 222-223). Porm, apesar do Brasil est em avano na reparao s
vtimas, no tem especificado os responsveis pelas violaes dos direitos humanos

15

(BOHOSLAVSKY; TORELLY, 2012) e havendo ainda episdios que continuam sem


explicao (ARAUJO; SILVA; SOUSA, 2013).
4.2.1.2

O TEMPO PASSA E A IMPUNIDADE PERMANECE: O PROBLEMA DA


REPARAO NA ESPANHA
Ao contrrio do Brasil, as vtimas das violaes dos direitos humanos no

obtiveram nenhum reconhecimento oficial, no foram reparados de modo algum e no


se tem restabelecido nenhuma Comisso da Verdade ou organismo similar na Espanha
(NARANJO e OCAA, 2013, traduo nossa).
Em 2000, houve a criao da Associao para a Recuperao da Memria
Histrica, que seria a responsvel pelos processos de exumao das valas comuns de
republicanos assassinados pelos franquistas, mas logo surgiu as restries impostas pela
lei de anistia sobre a possibilidade de rever o passado e reparar as vtimas (AGUILAR,
2011).
Diversos espanhis foram deportados ou fugiram do pas no regime franquista,
logo, seus filhos e netos nascidos foram da Espanha no eram espanhis e nem tinham
direito a tal, mas um decreto constitudo em 2007, conhecida como a Lei de Memria
Histrica, permitiu a requisio da nacionalidade espanhola, reconhecendo assim, a
injustia criada pelo exlio de muitos espanhis durante a Guerra Civil e da ditadura
franquista, porm sem poderes para investigaes ou reparao (AGUILAR, 2011).
O descaso espanhol to grande, que no h sequer um debate sobre a
imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade ou sobre a obrigao a oferecer uma
reparao a todas as vtimas das violaes dos direitos humanos durante a Guerra Civil
e da Ditadura Franquista (AGUILAR, 2011).
notrio, que a Espanha decidiu colocar uma pedra em cima dos crimes contra
a humanidade cometidos na Guerra Civil e na Ditadura Franquista, e usa a lei de anistia
em vigor no pas para se calar diante das atrocidades cometidas no passado (ZYL,
2011).
4.2.2

FORNECIMENTO DA VERDADE E CONSTRUO DA MEMRIA

Estabelecer e reconhecer oficialmente a verdade histria sobre um regime


ditatorial satisfaz as vtimas e permite que a vida poltica e social adquira fundamentos

16

sadios; facilita a reconciliao e educa as futuras geraes com base na verdade


histrica (SABADELL, SIMON e DIMOULIS, 2014).
A verdade essencial para uma reconstruo da democracia, pois no h
reconstruo democrtica e nem projetos para o futuro (SWENSSON JUNIOR, 2007),
sem que o novo Estado antes resolva as feridas do passado que ainda ficaram abertas.
Como medidas para a consagrao de tal princpio, exige-se a criao de Comisso de
Anistia, cujas atribuies lhe permitam a anlise dos arquivos, revelando-se, assim, a
verdade dos fatos (REMGIO, 2009).
importante no somente dar amplo conhecimento ao fato de que ocorreram
violaes dos direitos humanos, mas tambm que os governos, os cidados e os
perpetradores reconheam a injustia de tais abusos (ZYL, 2011).
4.2.2.1

O AVANO DA VERDADE E MEMRIA NO BRASIL


Os dois principais projetos de memria brasileira so Direito Memria e

Verdade, da Secretaria dos Direitos Humanos, e o projeto Marcas da Memria, da


Comisso de Anistia do Ministrio da Justia (ABRO e TORELLY, 2011).
Os mais ricos acervos de arquivos da ditadura militar brasileira, se encontram
sob posse das comisses de reparao e tm colaborado para a construo da verdade
histrica, apesar que restam abertura de arquivos das Foras Armadas e a localizao
dos restos mortais dos desaparecidos polticos. (ABRO e TORELLY, 2011).
Importante ressaltar, que se no fosse as comisses de reparaes criadas pelo
governo Fernando Henrique Cardoso, no teramos informaes disponveis sobre a
represso sofrida. A iniciativa do governo Lula em criar a Comisso Nacional da
Verdade uma etapa imprescindvel para o processo de revelao e conhecimento da
histria (ABRO e TORELLY, 2011).
Destarte, as medidas tomadas pelos governos conforme dito alhures,
contriburam para o avano do fornecimento da verdade e construo da memria, onde
se faz um passo importante para uma eventual punio aos perpetradores dos direitos
humanos.
4.2.2.2

MEMRIAS ESQUECIDAS, FERIDAS ABERTAS: VERDADE E


MEMRIA NA ESPANHA

17

A sociedade espanhola indiferente questo da verdade e justia por no haver


qualquer poltica de responsabilizao dos perpetradores dos direitos humanos (BRITO,
2009).
Pelo o que se conhece, no h at os dias de hoje, nenhum reconhecimento
oficial do Estado pelas violaes dos direitos humanos no regime franquista
(NARANJO e OCAN, 2013, p. 213). Isto , ao contrrio do Brasil, a Espanha no se
tem mostrado muito disposta em fazer os ajustes de contas com as vtimas do
franquismo.
Do mesmo modo do Brasil, na Espanha, foi instituda uma lei de anistia, porm
com uma forte poltica do esquecimento. H atualmente um forte movimento atuando a
favor da recuperao da memria e testemunhando o fato de que o passado no vai
embora (BRITO, 2009). No se tem como pensar no futuro, sem antes resolver os
conflitos do passado.
Por anos terra do esquecimento, h agora uma investigao das estimadas 130
mil execues realizadas pelo regime de Franco, e existem novas demandas para que
haja reconhecimento e compensao (BRITO, 2009, p. 75), mas lembrando que no
so investigaes feitas pelo Estado, mas sim por organizaes em prol da causa.
Porm, em 2011, a Espanha comeou a investigar o desaparecimento de bebs no
regime de Franco:
Prodded by grieving parents, Spanish judges are investigating hundreds of
charges that infants were abducted and sold for adoption over a 40-year period.
What may have begun as political retaliation for leftist families during the
dictatorship of Gen. Francisco Franco appears to have mutated into a
trafficking business in which doctors, nurses and even nuns colluded with
criminal networks (THE NEW YORK TIMES, 2011)

Um dos fatos que dificulta a reconstruo da memria e verdade no caso


espanhol, que a ditadura franquista foi muito longa e aconteceu num passado remoto,
portanto, os repressores e as vtimas j podem estarem mortos, e os registros e arquivos
podem ter sido destrudos (BRITO, 2009).
Mas em 2007, como dito no tpico anterior, foi instituda a Lei de Memria
Histrica um passo importante para a construo da memria na Espanha com a
inteno de que suas medidas contribuam para o conhecimento da histria e da memria
democrtica.
4.2.3

RESTABELECIMENTO DA IGUALDADE PERANTE A LEI

18

O restabelecimento da igualdade perante a lei, se constitui na obrigao de


investigar, processar e punir os crimes do regime, mas especialmente aqueles cujas
obrigaes assumidas em compromissos internacionais e as diretrizes constitucionais
revestem de especial (ABRO e TORELLY, 2010).

4.2.3.1

ENFRENTANDO OS OBSTCULOS: JUSTIA E ESTADO DE DIREITO


NO BRASIL
A obrigao de investigar, processar e punir os crimes do regime, tm-se

atualmente os maiores obstculos. (ABRO e TORELLY, 2011, p. 226).


Destarte, diante das obrigaes assumidas pelo Brasil, a Comisso de Anistia do
Ministrio da Justia promoveu a Audincia Pblica Limites e Possibilidades para a
Responsabilizao Jurdica dos Agentes Violadores de Direitos Humanos durante o
Estado de Exceo do Brasil. Foi a primeira vez que o Brasil tratou oficialmente do
tema. A discusso do tema excitou a rearticulao social e aes pr-aplicao de
medidas de justia transicional (ABRO e TORELLY, 2011).
4.2.3.2

A INRCIA: JUSTIA E ESTADO DE DIREITO NA ESPANHA


Ao contrrio do Brasil, a anistia espanhola no caminhou em conjunto com

comisses da verdade, fato que aumentaria o respeito aos direitos humanos e do


funcionamento da democracia (OLSEN, PAYNE e REITER, 2010, apud AGUILAR,
2011).
Sendo assim, a falta de medidas polticas espanholas para esclarecer a verdade,
tem permitido o direito de consolidar uma cultura de impunidade sobre as violaes dos
direitos humanos no regime franquista, sob qual, no h sentimento de culpa alguma do
Estado (AGUILAR, 2011).
Os valores conservadores predominaram o Judicirio espanhol, e o fato de no
existir estas polticas pblicas, explica a recusa do Judicirio em invalidar os
julgamentos injustos sobre as violaes do franquismo e em realizar inquritos judiciais
em busca da verdade (AGUILAR, 2011).
19

Porm, alguns argumentam que h uma srie de acordos internacionais


assinados pela Espanha que obrigam, ou pelo menos permitem, o pas a investigar
crimes considerados imprescritveis, e que a Lei de Anistia no deveria ser aplicada a
crimes contra a humanidade. (CHINCHN e VICENTE, 2010, apud AGUILAR,
2011, p. 422).

5. COMISSES DA VERDADE E SUA BUSCA INCESSANTE VERDADE


E MEMRIA
A primeira Comisso da Verdade que se conhece foi instalada na Uganda em
1974, sob o governo de Idi Amin Dada 5, e teve como objetivo investigar os
desaparecidos durante seus primeiros anos no poder e tambm responder s crticas
contra o seu regime (SALES, 2012). Logo ento, no demorou para que surgisse
dezenas de Comisses da Verdade espalhadas pelo mundo.
As Comisses da Verdade do voz no espao pblico s vtimas e seus
testemunhos podem contribuir para contestar as mentiras oficiais e os mitos
relacionados s violaes dos direitos humanos (ZYL, 2011). Um julgamento com
testemunho das vtimas ou seus familiares de suma relevncia, afinal, olhar nos olhos
de uma pessoa que sofreu com o regime ditatorial de forma direta ou indiretamente
melhorar as possibilidades de confrontar os fatos histricos, pois seria fcil para os
perpetradores mentir diante as comisses se no tivesse ningum para confront-los.
Dar voz s vtimas pode ajudar a diminuir seus sentimentos de sofrimento e raiva. Para
estabelecer a paz que a Justia de Transio almeja precisa ouvir a voz de quem sofreu
com os regimes ditatoriais, afinal, paz sem voz no paz, medo6.
O passado autoritrio silenciou as vozes que no se calaram. A Comisso da
Verdade pretende resgatar narrativas de resistncias. Torn-la pblica, registrando a
outra histria no contada pela censura, dando voz aos silenciados pela fora e
5 Idi Amin Dada foi um ditador militar e o terceiro presidente de Uganda entre 1971 e 1979. O
governo de Amin ficou caracterizado por violaes dos direitos humanos, represso poltica,
perseguio tnica, assassinados, nepotismo, corrupo e m gesto econmica. O nmero de
mortos durante seu regime ditatorial estimado entre cem mil e quinhentos mil. Disponvel
em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Idi_Amin> Acesso em: 28 set. 2015.
6 Trecho da msica A Minha Alma (A paz que eu no quero) de O Rappa, que foi inspirada nos
conflitos do Estado do Rio de Janeiro.
20

revelando os documentos sigilosos dos regimes ditatoriais (SABADELL, SIMON e


DIMOULIS, 2014).
5.1 LEI N 12.528/11: A COMISSO NACIONAL DA VERDADE - DIREITO
MEMRIA E VERDADE HISTRICA E A PROMOO DA
RECONCILIAO NACIONAL
O projeto de lei que previa a instalao da Comisso Nacional da Verdade foi
proposto pelo Programa Nacional de Direitos Humanos em dezembro de 2009. O
projeto foi encaminhado ao Congresso em 2010 aps uma negociao entre as reas dos
Direitos Humanos, Justia e Defesa. O projeto foi para votao em 21 de setembro de
2011 e aprovado por 351 votos favorveis e teve 42 contrrios e 11 abstenes
(JORNAL ESTADO, 2011).
Ao alcance da Justia de Transio, o Brasil destacou-se por diversos sinais
positivos, mas talvez, um dos maiores foi a Comisso Nacional da Verdade, que foi
empreendida pelo Brasil em 18 de novembro de 2011. Tem por finalidade analisar e
esclarecer casos de violao dos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988 e com
durao prevista de 02 anos (CALDAS, 2013).
Aps dois anos e sete meses de audincias pblicas, foi entregue seu relatrio
final em 10 de dezembro de 2014 com 4.328 pginas, onde aponta que 377 agentes do
Estado foram responsveis diretamente ou indiretamente pela prtica de tortura e
assassinatos durante a ditadura militar, resultando 210 desaparecidos e 191 mortos, e
apenas 33 corpos foram localizados. Foram perseguidos 6.591 militares pela ditadura
(COMISSO NACIONAL DA VERDADE)7.
imprescindvel frisar que a Comisso Nacional da Verdade no tem carter
jurisdicional ou persecutrio, nem indenizatrio, mas sim o esclarecimento dos fatos e
das circunstncias em que ocorreram as violaes de direitos humanos, bem como a
identificao de seus autores, e a colaborao para que seja prestada a assistncia s
vtimas dessas violaes. (CALDAS, 2013, p. 133).
5.2 A AUSNCIA DE UMA COMISSO DA VERDADE ESPANHOLA
7 Confira na ntegra o relatrio final da Comissao Nacional da Verdade.
Disponvel em: <http://www.cnv.gov.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=571. Acessado em 26 de outubro de
15.
21

Dessemelhante ao Brasil, na Espanha no houve nenhuma poltica pblica para a


criao de uma Comisso da Verdade, tanto, que um Comit das Organizao das
Naes Unidas ONU, convidou Espanha criar uma Comisso da Verdade com
especialistas independentes encarregados de determinar a verdade sobre as violaes
aos direitos humanos ocorridas no passado (DUQUE, 2013).
Um grupo de juristas e ativistas dos direitos humanos, tambm pedem a
implementao de uma Comisso da Verdade na Espanha para apurar os crimes
cometidos pela ditadura franquista (SIMAS, 2013), porm, at os dias de hoje em vo.
Uma Comisso da Verdade poderia auxiliar a esclarecer as dezenas de milhares
de execues durante os primeiros anos da ditadura. No uma questo de reescrever os
livros de histria, mas de investigar as principais violaes dos direitos humanos que
ocorreram na Espanha na ditadura franquista (AGUILAR, 2011).
Com o objetivo de promover a reparao das vtimas, promover a reconciliao
social e estabelecer a verdade sobre o passado (NARANJO e OCAA, 2013, p. 213,
traduo nossa), a instaurao de uma Comisso da Verdade espanhola seria de cunho
essencial para o avano da Justia de Transio no pas, mas a Espanha tem se mostrado
decida a esquecer o perodo de exceo, e assim, dificultado a construo da memria e
a reparao s vtimas.
CONCLUSO
Constata-se que a Justia de Transio e seu processo tem em sua aplicao
limites de acordo coma discricionariedade de cada Estado que a aplica. Conforme em
experincia comportada pelo modelo brasileiro e espanhol, podemos identificar que a
aplicao da Justia de Transicional intrnseca, ou seja, ambos os modelos a aplicaram
de forma peculiarmente: no modelo brasileiro houve uma aplicabilidade com maior
efetividade do que o modelo espanhol, j que o Brasil, promoveu medidas polticas
pblicas para aplicar os pilares transicionais, enquanto a Espanha, se abstm alegando
empecilhos mediante seu ordenamento jurdico interno.
Uma das medidas polticas pblicas promovida pelo Brasil foi a Comisso
Nacional da Verdade onde possibilitou o resgate memria e a constituio da verdade,
pois a finalidade da Comisso foi esclarecer os casos das violaes dos direitos
humanos praticados no regime militar trazendo a verdade s vtimas e familiares.
22

Enquanto isso, a Espanha resiste a implementao de tal Comisso em seu Estado,


alegando que confrontaria a Lei de Anistia em vigor no pas.
notrio, que a Espanha no est muito preocupada em acertar as contas com a
sociedade e nem se reconciliar nacionalmente, porm, as vozes das vtimas e familiares
no foram silenciadas, aps anos dos crimes cometidos, ainda buscam incansavelmente
por justia, pois, a sociedade espanhola tem incansavelmente clamado por justia, e
desta forma investigaes tm sido realizadas sem a presena do Estado, e tem-se
recorrido a rgos internacionais.
O ordenamento jurdico espanhol tem sido o alicerce de refgio para o no
reconhecimento de crimes praticados durante o regime autoritrio, evitando assim
discutir sobre uma possvel reparao ou punio dos perpetradores, e negando assim, o
direito memria e justia. Porm, a Espanha tem tratados ratificados no que tange
aos direitos humanos, e por isso, a Anistia Internacional e a Organizao das Naes
Unidas apelam para que o Estado espanhol cumpra esses tratados e aceite que a
Comisso da Verdade possa reescrever as linhas de sua histria, permitindo assim que
possam prestar contas com a sociedade, pois memrias esquecidas reflete a feridas
abertas.

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