Artigo Justiça de Transição Brasil Espanha
Artigo Justiça de Transição Brasil Espanha
Artigo Justiça de Transição Brasil Espanha
RESUMO
O presente artigo visa demonstrar os conceitos fundamentais sobre a Justia de
Transio, com uma anlise uma comparativa entre o Brasil e Espanha, tratando desde o
regime autoritrio vivenciado pelos dois pases at a transio democrtica, e por fim, a
sua aplicao nas duas naes estudadas. Ressalta-se, que o trabalho buscou comparar o
mbito geral transicional e apresentar as diferenas na aplicao da Justia Transicional.
A pesquisa tem base qualitativa, onde se busca interpretar o processo de
redemocratizao nos dois pases baseando-se em livros histricos e documento
jurdicos da poca, buscando saber, realmente, os dois lados da histria, contada por
estudiosos brasileiro e espanhis.
Palavras-chave: Estado Democrtico Direito; Justia de Transio, Lei de Anistia.
1. INTRODUO
A Justia de Transio tem tido sua importncia para pases que passaram de um
regime autoritrio para um estgio democrtico, nos Estados que passaram por regimes
de exceo o papel priomordial da Justia de Transio compreender os fatos
1 Professora Titular do Curso de Direito do UDF. Doutora em Direito pela
Universidade de Paris I, Pantheon-Sorbonne. Mestre e Bacharel em Direito pelo
Centro Universitrio de Braslia, UNICEUB. Professora Associada do PPGD do
UniCEUB. Analista de Finanas e Controle da Controladoria Geral da Uniao.
Direitos
Humanos,
em
sua
construo
histrica,
representam
exceo, pois assim, serve de aprendizado para que a humanidade no recaia no mesmo
erro.
Neste sentido, todos os continentes experimentaram no sculo passado algum
tipo de ditadura, causando repercusses polticas, jurdicas e sociais atualmente. Como
exemplo, demonstraremos como ocorreram os regimes autoritrios no Brasil e na
Espanha e principalmente as principais repercusses jurdicas e polticas destes eventos.
2.2.1
ENTENDIMENTO
DOS
DIREITOS
HUMANOS
NO
CASO
BRASILEIRO
A Comisso de Direitos Humanos das Naes Unidas defende o acesso
informao sob as violaes inerentes aos direitos humanos, cometidas por agentes
pblicos.
Neste sentido, as violaes praticadas durante a ditadura militar brasileira, no
podem se submetam a sigilo indeterminado, dificultando assim, o processo da Justia de
Transio no Brasil (CALDAS, 2013).
Tambm h que se notar que o direito fundamental a verdade se fortaleceu em
2011 quando foi promulgada a Lei de Acesso Informao, Lei Federal n.
12.527/2011, que tambm foi utilizada para dar suporte Comisso Nacional da
Verdade. Sendo que esta uma ao considerada uma medida de reparao incentivada
pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos, buscando assim resguardar o direito
memria das vtimas e da humanidade.
Avanando em 24 de fevereiro de 2009 a Comisso Interamericana dos Direitos
Humanos submeteu Corte demanda contra o Brasil referente s pessoas desaparecidas
6
UM
ROMNTICO
NACIONALISTA:
DITADURA
MILITAR
ESPANHOLA
Em 1931 a Espanha instaurou um governo com orientao comunista.
Similarmente ao Brasil, os militares espanhis, comandados por Francisco Franco,
planejaram e colocaram em prtica o golpe de estado por temor ao comunismo, o
famoso perigo vermelho que era apoiado pela antiga URSS (CUNHA, 2015).
Neste contexto, foi desferido um golpe de estado espanhol em julho de 1936.
Mas no foi fcil implantar o golpe. Diferentemente do Brasil, os militares espanhis
tiveram que enfrentar militares que defendiam a Repblica e trabalhadores que eram
contra o movimento de extrema-direita, dando incio assim, a Guerra Civil Espanhola 4,
que durou at 1939. (AUGUSTO, 2009).
O fim da Guerra Civil implicou para quem tinha tentando derrotar os franquistas
a morte, a priso ou o exlio: mais de 50.000 espanhis foram fuzilados pelos
vencedores entre 1939 e 1943; cerca de meio milho de pessoas cruzaram a fronteira e
ainda restavam em maio de 1940 cerca de 260.000 prisioneiros polticos (JULI, 2009).
Tratando-se de violaes dos direitos humanos, o caso espanhol no se difere do
brasileiro, no apenas os combatentes eram castigados, mas a represso tambm recaiu
4 Guerra travada entre a Repblica Espanhola (republicanos de esquerda)
que tinha o apoio da antiga URSS contra a Espanha Nacionalista (extremadireita) que tinha o apoio da Alemanha de Adolf Hitler e da Itlia de
Mussolini. Em 1939, a Espanha Nacionalista de Francisco Franco venceu o
conflito e instaurou o regime ditatorial franquista.
7
nas vivas, filhas ou irms dos presos, castigadas corporalmente, com a expulso,
execrao pblica, despojo dos seus bens e eliminao. (JULI, 2009).
Adotando a poltica de esquecimento, a Espanha decidiu optar pela impunidade das
agresses, torturas, prises ilegais e desaparecimentos forados existentes naquela
poca atravs da Lei de Anistia n. 46/1977, de 15 de outubro, onde foi aprovada por
93,3% do Parlamento, anistiando os crimes polticos anteriores a 15 de dezembro de
1976 (HOMEM; BRANDO, 2015).
2.2.2.1
finais do quinto relatrio peridico sobre a Espanha, que o Estado deveria derrogar a
Lei de Anistia de 1977 e adotar que os crimes de lesa-humanidade so imprescritveis e
tambm realizar a exumao e a identificao dos restos dos desaparecidos (SAZ,
2012).
Devendo assim, o Estado tomar as medidas legislativas necessrias para
assegurar o reconhecimento da aplicabilidade destes crimes pelos tribunais espanhis
(CASOS CERRADOS, HERIDAS ABIERTAS, 2012, traduo nossa).
A Anistia Internacional diante o documento pblico ESPAA: La obligacin de
investigar los crmenes del pasado y garantizar los derechos de las vctimas de
desaparicin forzada durante la Guerra Civil y el Franquismo; p. 28; de novembro de
2008, apela a Espanha a cumprir as obrigaes internacionais e rememora s
autoridades espanholas que um Estado no pode invocar as disposies de seu direito
interno para justificar o descumprimento de um tratado internacional, e que todo o
tratado em vigor deve ser realizado por boa-f. Portanto, o Estado espanhol seria
obrigado a respeitar o carter inalienvel de crimes contra a humanidade sob a lei
internacional e adaptar sua legislao nacional com as normas internacionais (CASOS
CERRADOS, HERIDAS ABIERTAS, 2012, traduo nossa).
Aquele documento da Anistia Internacional ainda chama a ateno tambm que
o costume internacional uma fonte de direito e que a existncia de crimes de direito
internacional, como os crimes cometidos durante a Guerra Civil de Franco. Por isto no
legitimo invocar o princpio da legalidade do direito interno para escapar do
cumprimento das obrigaes internacionais, como a no investigao de tais crimes.
13
O processo transicional espanhol foi caracterizado pelas regras que seriam mais
importantes para o novo cenrio democrtico, e foram aprovadas por consenso entre os
franquistas e as principais foras da oposio (AGUILAR, 2011). Assim como no
Brasil, houve uma conciliao entre os reformistas franquistas e a oposio, para ento
os franquistas impor as condies de impunidade, como, alis, estende-se at hoje.
Houve um acordo implcito em relao a certas regras restritas (HOLMES,
1998, apud AGUILAR, 2011), que tornou o passado ditatorial em um assunto proibido
em debate poltico (AGUILAR, 2011).
Um dos principais acordos do processo transicional espanhol, foi a premissa de
nunca mais, que diferentemente do Brasil no se refere ditadura vivida, nem aos
seus crimes, mas Guerra Civil antecedente dela. Essa diferena crucial; os cidados
brasileiros focaram na rejeio da ditadura, enquanto os espanhis focaram no conflito
poltico em que ambos os lados cometeram crimes (AGUILAR, 2011).
Por tanto, observa-se uma grande diferena no processo transicional espanhol
em comparao com o processo transicional brasileiro em um quesito: enquanto o Brasil
vem implementado polticas pblicas a fim de tentar garantir justia, reparao e
memria, na Espanha, no se tem articulado medidas polticas nem tcnicas para
superar o regime de exceo (NARANJO E OCAA, 2013, p. 218, traduo nossa)
4.2 OS PILARES DA JUSTIA DE TRANSIO
A Justia de Transio tem quatro pilares transicionais, so eles: reparao s
vtimas, fornecimento da verdade e construo da memria, restabelecimento da
igualdade perante a lei e a reforma das instituies perpetradoras dos crimes contra os
Direitos Humanos. Esses pilares tambm servem de base para a redemocratizao aps
o perodo autoritrio (ABRO e TORELLY, 2010).
Os pilares da Justia de Transio, acima de tudo, visam a recomposio do
Estado e da sociedade, chamando cada indivduo a retomar o controle de sua vida,
resgatando uma cidadania consciente, em que cada cidado protagonista de sua
prpria histria (SALES, 2003).
4.2.1
REPARAO S VTIMAS
14
A REPARAO NO BRASIL
A reparao no Brasil comeou com a promulgao da Lei n 9.140 de 1995, que
reconheceu como mortas pessoas que desapareceram no regime autoritrio por conta de
sua participao ou acusao em movimentos revolucionrios. Graas a essa lei, os
familiares das vtimas conseguiram atestado de bito e as vtimas foram reconhecidas
oficialmente como mortas (SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS).
A reparao no Brasil tem tido uma implantao gradativa e o seu processo teve
incio ainda durante a ditadura militar desde a promulgao da lei de anistia (lei n
6.683/79), que alm de conceder perdo aos crimes polticos h medidas de reparao,
como a restituio de direitos polticos e a reintegrao ao trabalho a servidores
pblicos civis e militares que foram afastados arbitrariamente (ABRO E TORELLY,
2011).
Com a promulgao da Constituio de 1988, o direito reparao tornou-se
uma garantia constitucional previsto no artigo 8 do Ato das Disposies
Constitucionais Transitrias.
Pode-se afirmar que existe no Brasil a implantao de uma rica variedade de
medidas de reparao, individuais e coletivas, materiais e simblicas. (ABRO e
TORELLY, 2011, p. 222-223). Porm, apesar do Brasil est em avano na reparao s
vtimas, no tem especificado os responsveis pelas violaes dos direitos humanos
15
16
17
18
4.2.3.1
REFERNCIAS
24
25
26
HOMEM, Antnio Pedro Barbas; BRANDO, Cludio (Org.). Do Direito Natural aos
Direitos Humanos. Coimbra: Edies Almedina S.a, 2015.
MOURA, Luiza Diamantino. O Direito Memria e a Corte Interamericana de
Direitos Humanos: uma anlise do caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do
Araguaia) versus Brasil. In: mbito Jurdico, Rio Grande, XV, n. 102, jul 2012.
Disponvel
em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12035&revista_caderno=16>. Acesso em fev
2016.
27