Proposta Textual 2 - 2024
Proposta Textual 2 - 2024
Proposta Textual 2 - 2024
TEXTO 1
Em que medida a tolerância da sociedade à crença do “bandido bom, bandido morto” agrava o
problema da violência policial?
Agrava muitíssimo. Mais do que isso: essa crença é o combustível da “cultura da violência”, assim
como das práticas estimuladas por este ethos corporativo. Na medida em que o suspeito é definido
como inimigo a ser eliminado, a ideia (falsa) de que estamos numa guerra acaba sendo evocada para
justificar tanto as mortes provocadas pela ação policial, quanto as mortes de policiais, que são
inúmeras e poderiam ser evitadas, se a vida (de todos) fosse a prioridade das políticas de segurança.
Contudo, essa crença que confunde justiça com vingança é alimentada por alguns programas de rádio
e TV, e nunca foi sistematicamente combatida, porque a segurança até hoje não entrou na agenda
pública para valer. Em outras palavras, a mudança da arquitetura institucional da segurança pública,
que herdamos da ditadura, ainda não se tornou uma questão prioritária para o conjunto da sociedade
e dos agentes públicos. Infelizmente, segurança entra na pauta somente nas crises, quando vozes
compreensivelmente indignadas clamam por vingança e políticos demagogos e oportunistas, de
direita e esquerda, advogam penas mais duras, surfando na onda, como se fazer o mesmo com mais
intensidade pudesse produzir resultados diferentes.
Fonte: Luiz Eduardo Soares, em entrevista à GZH Porto Alegre / Estacionamos na barbárie.
TEXTO 2
(…) não podemos falar em violência policial sem falarmos sobre o racismo que está intrinsecamente
relacionado com o alto número de vítimas da letalidade policial no país.
As ações violentas da polícia são legitimadas primeiramente pelo Estado e também pelo racismo
estrutural em que a sociedade brasileira se encontra desde a abolição da escravatura. A composição
“raça, classe e território” é carta-branca para uma ação violenta contra a população negra.
Pesquisas como “Periferia, racismo e violência”, do Datafavela em parceria com a CUFA (Central Única
das Favelas), apontam que apenas 5% dos brasileiros acreditam que a polícia não seja racista. A
pesquisa ainda revela que 42% de pessoas negras e pobres dizem já terem sido desrespeitadas pela
polícia – esse número em pessoas brancas periféricas cai para 34%. Ademais, 35% de pessoas negras
e pobres relatam já terem sido agredidos verbalmente e 19% já foram agredidos fisicamente pela
polícia.
No ano de 2019, o número de pessoas que perderam suas vidas nas mãos de policiais resultou no total
de 5.804, número crescente em relação ao ano anterior. O site jornalístico G1 possui uma plataforma
– o Monitor da Violência – onde se é possível analisar as taxas de mortes de pessoas ocasionadas por
policiais civis e militares nos estados brasileiros, exceto o estado de Goiás, que não divulga os
números.
Fonte: NASCIMENTO, Stephany. Violência policial: Letalidade e Vitimização.
TEXTO 3
Brasil: Cumpra sentenças sobre violência policial
Corte Interamericana ordena melhores investigações e supervisão da polícia
O governo brasileiro deveria cumprir duas novas decisões da Corte Interamericana de Direitos
Humanos que consideraram o Brasil responsável por graves violações de direitos cometidas pela
polícia, disse hoje a Human Rights Watch.
As decisões publicadas em 14 de março de 2024, em casos envolvendo mortes decorrentes de ação
policial nos estados de São Paulo e Paraná, chegam em meio a incursões da polícia paulista que
deixaram ao menos 45 pessoas mortas no último mês e meio na Baixada Santista. O Brasil ainda não
cumpriu integralmente outra decisão da Corte de seis anos atrás sobre mortes pela polícia.
“As decisões da Corte Interamericana são sobre casos que aconteceram há mais de 20 anos, mas o
problema do uso ilegal da força letal pela polícia continua até hoje”, disse César Muñoz, diretor da
Human Rights Watch no Brasil. “As autoridades brasileiras deveriam adotar medidas imediatas para
cumprir as decisões da Corte e dar um fim aos abusos policiais, que prejudicam a segurança pública
e impactam gravemente as comunidades e a própria força policial.”
O caso do Paraná trata-se da morte pela polícia militar de Antonio Tavares Pereira, integrante do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e ferimentos em ao menos 69 outras pessoas
em 2 de maio de 2000. A polícia havia bloqueado uma rodovia perto de Campo Largo para impedir que
cerca de 1.500 trabalhadores rurais participassem de uma marcha pela reforma agrária em Curitiba.
Os policiais usaram armas letais e menos letais contra o grupo. O Ministério Público Militar não
apresentou denúncia; o Ministério Público do estado apresentou, mas o tribunal determinou o
arquivamento da ação.
O segundo caso envolve uma emboscada por ao menos 53 policiais, em 5 de março de 2002, que
matou 12 suspeitos em uma rodovia próxima à Sorocaba, no estado de São Paulo. Dois informantes
da polícia teriam persuadido os homens a roubar um avião com dinheiro, que na verdade não existia,
e os homens estavam a caminho do aeroporto. A polícia militar disparou centenas de tiros durante a
operação, conhecida como “Castelinho”. Um policial ficou levemente ferido. A promotoria disse que o
objetivo da operação era matar os suspeitos e denunciou os 53 policiais militares por homicídio, mas
o tribunal os absolveu alegando que tinham agido em legítima defesa.
A Corte Interamericana observou falhas graves nas investigações policiais em ambos os casos e disse
que o Brasil deveria garantir investigações independentes. No caso Castelinho, a Corte constatou que
“as autoridades policiais e judiciais atuaram com tamanho grau de negligência na preservação e coleta
dos elementos de prova, que leva o Tribunal à conclusão de que buscavam impedir a investigação dos
fatos e procurar que a execução extrajudicial de 12 pessoas no âmbito de uma operação policial
permanecesse em absoluta impunidade.”
No caso Tavares Pereira, a Corte ordenou ao Brasil que garanta que a justiça militar não tenha
competência em relação a crimes cometidos contra civis pela polícia militar. No caso Castelinho, a
Corte determinou ao Brasil que garanta ao ministério público de São Paulo os recursos necessários
para investigar mortes cometidas por policiais militares e civis; forneça aos órgãos de controle interno
e externo da polícia as gravações das câmeras corporais e de geolocalização dos policiais; e remova
temporariamente da sua função ostensiva todo agente policial envolvido em morte.
As sentenças foram publicadas em um momento em que a polícia continua realizando incursões letais
na Baixada Santista, no estado de São Paulo. Em 2023, 28 pessoas foram mortas na Baixada Santista
durante os 40 dias da operação Escudo, iniciada após o homicídio de um policial. A Human Rights
Watch identificou falhas significativas na investigação inicial das mortes causadas pela polícia.
Desde a morte de outro policial em 2 de fevereiro de 2024, a polícia tem feito novas incursões em
comunidades da região, matando ao menos 45 pessoas no âmbito da operação até o momento.
A Human Rights Watch escutou as declarações de familiares e testemunhas de mortes recentes,
algumas na presença da ouvidoria da polícia e de outras organizações da sociedade civil durante
visitas a comunidades afetadas. A Human Rights Watch encontrou fortes indícios de uso ilegal da força
em alguns casos e recebeu denúncias críveis de intimidação, ameaças, adulteração de provas e outras
ações da polícia para obstruir as investigações.
A polícia brasileira matou 6.381 pessoas em 2023, a grande maioria delas negras. Embora algumas
mortes sejam em legítima defesa, muitas resultam do uso ilegal da força. A Human Rights Watch
documentou dezenas de casos em que a polícia não conduziu investigações adequadas, inclusive não
visitando o local dos fatos; e que a análise forense não seguiu os parâmetros internacionais.
Disponível em: https://www.hrw.org/pt/news/2024/03/15/brazil-comply-rulings-police-violence Acesso em : 18 mar. 2024.
TEXTO 4