Fichamento Torto Arado

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Fichamento - Torto arado

97 1 Os currículos

Belonísia não se dá bem com a escola, nada lhe é interessante. Aprofessora fala de coisas que ela,
Belonísia, não conhece. Fala de um mundo que não é o seu. Fala de histórias em que Belonísia não se vê,
não vê seu pai, não vê o seu lugar. Imagina que para Belonisia isso poderia ser interessante. Que a irmã
tinha vontade de aprender assuntos de escola. Ela não. Nisso podemos ver que o currículo escolar, para
Bibiana, era insípido, alheio. Não era o seu mundo. ?Como aprender, ou querer aprender dessa maneira.
Belonísia queria o currículo de seu pai, de sua mãe. Queria aprender, e fazer, coisas concretas, reais.
Queria trabalhar na terra, queria produzir algo. Ou, então, queria ajudar a mãe em tarefas caseiras. O
seu mundo era a casa , com suas necessidades, era a lavoura, com seus milagres e descobertas. Tendo o
pai e a mãe como seus professores.

107 - Os tipos de memórias

A gramática do mundo de Belonísia (que não fala, pois teve a língua cortada) tem outros alfabetos. É
sinestésica. Belonísia lê o mundo através de todos os seus sentidos. Neste momento (página 107) O
OLFATO É QUEM DITA - NARRA - o entorno de Belonísia. O cheiro do gibão de Tobias, cheiro acre, em
curtição, dá a Belonísia, num sentido naturalista, a presença do homem, do macho. Da memsa forma
quando ela observa Tobias conversando com outras mulherres, sente que seu corpo lhe envia
mensagens, sente o seu cheiro. Novamente em tom naturalista, o odor do corpo denuncia o cio da
fêmea, e ela sente seu corpo tremer.

109 - Pedido de casamento e a visão do local

Tobias pede Belonisia em casamento*. Ela aceita. Interessantre de ver como os sentidos de Belonísia
captam os detalhes, pobres e relaxados, do barraco onde mora Tobias. A cada olhar da personagem vê-
se que o barraco esta às moscas. Nada está arrumado. Nada tem graça ou agradda à Belonísia.
Pressente-se muito trabalho para ela. E, por que não, desgostos. O homem que era tão trabalhador para
a fazenda, nada fazia para si. Como seria tratada Belonísia, neste espaço DELE?

106 De quem é a mulher ? QUEM É O SEU DONO?

Benlonísia compreende que a a mulher tem dono. Antes, que estava na casa paterna, era a Belonísia do
Zeca Chapéu Grande, seu pai. Agora, que está morando com Tobias, é a Belonísia do Tobias. Belonísia
sente-se como se tivesse sido comprada. E Tobias, aos poucos, vai se tornando pior. Reclama de tudo e
atribui seus erros ou esquecimentos a Belonísia. É bom lembrar que na casa do pai não havia maus-
tratos, Zeca Chapéu Grande e Salu viviam em harmonia, tanto entre o casal quanto com as filhas e a
sogra.
119 /a mulher do campo

Os sofrimentos das mulheres no campo, dentro da realidade de Torto arado. Maria Cabocla, vizinha de
Belonísia, serve como mote para as reflexões sobre os sofrimentos femininos: parir, trabalhar, saciar as
vontades dos homens e, sempre, sofrer calada. O homem, marido ou companheiro, serve como
antagonista. Não raras as vezes pertubado pelo álcool, a cachaça, que dá valentia e covardia aos machos.

127 O Torto arado

Belonísia, tempos de pois de cortado a sua l´ngua, lembra do ocorrido e que mais tarde, quando estava
cicatrizando o corte, tentou falar. Escolheu a palavra arado por achá-la bonita. Ouvia seu pai pronunciar.
Parecia uma palavra cheia de boas recordações. Mas o que agora saiu da boca de Belonísia foi uma
aberração, um arado deformado que cultivaria a terra. Um torto arado. A pronúncia defeituosa dá à
Belonísia um sentimento de frustração. vê-se perdida, como todos os que moram ali, sem futuro, sem
conforto, sem ser dono de nada. Apenas com a certeza de que nada ali lhes pertence, tudo é dos
senhores. Resta-lhes a cova a esperar. Todo esse sofrimento produziu em Belonísia um sentimento de
repulsa contra as injustiças e sofrimentos. Por isso não suportaria os maus-tratos de Tobias. Observa-se
aí, o nascimento de uma nova personagem, forjada pelo agruras e pela dor.

129 Mulheres geradoras de mãos de obra para seus senhores.

130 Bibiana visita os pais

Bibiana, agora com um filho, visita seus pais. /ela está mudada, perdera o viço, ficou ancuda e seus seiios
já demonstram ficarem muchos. Isso é Belonísia quem vê. há, ainda, uma diferenã mais sentida, Bibiana
já não compreende os sinais e gestos de Belonísia. a distância enfraquece o elo entre as duas irmãs.
Biibiana diz que está estudando e preende ser professora, Severo participava de reuniões no sindicato.

165 A liberdade escrava

Nester trecho a narradora fala de Zeca Chapéu Grande e de Donana, mãe de Zeca. /zeca nasceu 30 anos
após a assinatura da aolição dos escravos, mas isso não quer dizer que nasceu livre. Ou que sua mãe -
Donana - era livre. Os escravos que podiam trabalhar ficaram nas fazendas, após a abolição. Podiam
construir uma tapera, produziam uma rocinha para seu sustento, e o restante do tempo trabalhavam,
sem nada receber, para os donos da terra. Observa-se que Donana pariu Zeca no meio da plantação de
cana - um charco -, já que não lhe fora permitido faltar ao trabalho. E trabalhava vigiada por feitores.

169 Donana

Donana, avó de Belonísia e de Bibiana, era uma curadora do corpo de do espírito. Donana Chapéu
Grande - recebera esse apelido por usar o chapéu de seu finado marido - foi encaregada por Deus,
segundo o curador João do Lajedo , para uma missão aqui na terra, a de ser curador. Não podia fugir a
essa responsabilidade. Por isso aprende a fazer os chás, os unguentos, a saber trabalhar copm ervas e
raízes, bem como aprendeu as rezas e, também, a receber "encantados" espiritos. Esse dom foi
transmitido a Zeca, seu filho, a quem chamavam de Zeca Chapéu Grande. As atividades do curador têm
seu ápice no jarê.*

Jarê

Artigo

Discussão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Jarê é uma prática religiosa de matriz africana presente exclusivamente na região da Chapada
Diamantina (Bahia, Brasil).[1]

Ocorre notadamente em Iraquara, Lençóis, Mucugê, Palmeiras, dentre outras regiões que fazem parte
do mesmo território.[carece de fontes]

Caracteriza-se como vertente menos ortodoxa do candomblé, configurando amálgama resultante de


processo de fusão que implica elementos de cultos das nações bantu e nagô, aos quais se somam
aspectos do catolicismo rural, da umbanda e do espiritismo kardecista.[2][3]

Etimologia

Provavelmente, jarê é termo de origem iorubá significando “quase cair ao solo” ou “cortar através”.
Outra possibilidade é que seja a corruptela de "njale", palavra que designava uma cerimônia de
habitantes das atuais regiões da Nigéria e Benim[2].

O termo jarê é empregado tanto para designar a religião de modo geral como para se referir a suas
diversas ocasiões ritualísticas. Nesse sentido, diz-se tanto "gosto muito de jarê" como "o jarê de ontem
foi ótimo".[2]

Surgimento e desenvolvimento

Ao menos mais comprovadamente, é possível afirmar que surge e se consolida no interior da Bahia,
especificamente nas cidades de Lençóis e Andaraí na região da Chapada Diamantina, em meados do
século XIX. Seu surgimento vincula-se ao desenvolvimento da mineração nessa região, marcada pela
considerável afluência de mão de obra escrava, elemento que se somou a presença de africanos desde
os fins do século XVIII na atual cidade de Andaraí, que na época configura um quilombo. A partir dessas
cidades o jarê difundiu-se para áreas próximas que não tinham diamantes e eram marcadas pela
agricultura camponesa. Nesse processo de expansão, ocorrem transformações nos modos de realização
do culto. Com isso, identifica-se que os jarês em áreas mineradoras, realizados pela população
garimpeira de origens marcada pela escravidão, privilegiavam práticas de adoração de entidades que
remetiam à ancestralidade africana. De outro lado, sua expansão para áreas não mineradoras evidencia
práticas com maior vinculação ao catolicismo popular, com ênfase em rituais de cura.[2][3]

A reconstrução da história das nagôs e do surgimento do jarê depende em grande parte dos relatos da
história oral, já que por muitas vezes essa religião de matriz africana era confrontada pelos poderes
constituídos, sofrendo perseguições policiais brutais e cerceamento por parte da Igreja Católica. Não é
possível garantir que o atual declínio do número de casas de culto de jarê se deve a esses fatores, no que
pesem também as transformações socioeconômicas pelas quais a região passou e que afetaram diversas
de suas esferas. É, contudo incontestável que num passado até bastante recente as casas de culto na
sede de uma única cidade como Lençóis podiam ser contadas às dezenas, enquanto hoje deve existir aí
menos da metade dessa quantidade, diversas delas construções deslocadas alguns quilômetros do
centro do município. Com todas as dificuldades encontradas para manter essa religião viva, ainda é
possível identificar inúmeros terreiros de jarê na Chapada Diamantina, sendo possível comprovar que
muitos adeptos continuam a praticá-lo.[carece de fontes]

Características

Prática religiosa desenvolvida sobretudo por pessoas escravizadas e libertas - provenientes das cidades
de Cachoeira e São Félix, ambas no estado da Bahia -, levadas à região da Chapada Diamantina em
decorrência da atividade garimpeira, fixando-se em cidades como Lençóis e Andaraí entre os séculos
XVIII e XIX. Ali tem início o culto do chamado jarê de nago, no qual se cultuavam exclusivamente os
orixás, divindades africanas.[1] Entretanto, dada a convivência com descendentes de indígenas que
habitavam a região, aos poucos certas entidades representativas da cultura indígena foram sendo
incorporadas ao jarê, delineando sua forma atual marcada, portanto, por diálogos culturais afro-
indígenas.[1] [4] Nesse circuito, constitui-se uma prática religiosa marcada pelo sincretismo de distintos
elementos culturais incluindo aspectos de cultos africanos, do catolicismo e espiritismo kardecista. Jarê é
um termo sob qual se abriga grande quantidade de crenças, cultos e rituais com características diversas,
desenvolvidas conforme necessidades e conveniências entre os praticantes.[2]

Cerimônias

De modo geral, os procedimentos rituais são conhecidos por grandes segmentos da população sendo
que as festividades contam com a presença de adultos, jovens e crianças. A duração das cerimônias é
variável, contudo, é incomum durar menos de cinco horas ou mais de dez horas seguidas no mesmo dia.
Podem estender-se ao longo de mais de um dia, no entanto, atualmente não é comum perdurarem por
mais de três dias consecutivos. Nas celebrações as pessoas sensíveis ao recebimento de entidades
podem chegar a receber (incorporar) diversas entidades, com isso, numa celebração com bastantes
participantes é possível que ocorre até cerca de uma centena de incorporações diferentes.[2][3]

Trabalhos e revistas

Trabalhos e revistas são as principais atividades realizadas em um terreiro de jarê.

A revista é uma consulta particular na qual o curador/pai-de-santo, com seu caboclo incorporado,
identifica naturezas e causas do problema vivido pelo paciente para então lhe propor um tratamento.
Cabe frisar que problema não é necessariamente uma enfermidade de ordem física, mas, em termos
mais amplos também corresponde a um estado percebido de aflição. Na cosmologia do jarê, o ser
humano interage com pessoas, espíritos e coisas sob as quais não detém controle e sabe muito pouco,
com isso, está em estado de vulnerabilidade ("corpo aberto") constante. Nessa perspectiva, doenças e
males que afligem as pessoas são encarados como fruto das relações que estabelecem tanto com outras
pessoas como com entidades sobrenaturais. A revista é quando a trajetória do enfermo é passada em
revista e objetiva identificar as causas do problema que foi gerado pela trama de relações em que o
paciente está enredado, logo, curar corresponde a uma redefinição do contexto de inter-relações em
que o paciente está inscrito. O fortalecimento do paciente é espécie de "fechar de corpo" que busca
assegurar-lhe uma posição menos vulnerável em relação ao mundo e aos outros. Além da possibilidade
de tratamento de uma doença, a principal preocupação do curador é identificar e caracterizar
relacionamentos conflituosos em que o paciente está emaranhado, assim, as narrativas do paciente são
essenciais no processo de revista em que ele aguarda que o caboclo, por meio do curador, especifique
quais ações e eventos o levaram a situação em que se encontra. Sob tal perspectiva se dá o significado
terapêutico da revista.[2][3]

Já o trabalho é um ritual de cura prescrito a um ou mais pacientes/clientes, aberto a quem queira


presenciar. É realizado no período noturno, procedendo até o amanhecer do dia seguinte. Os trabalhos
configuram reuniões festivas em que podem estar presentes desde membros regulares do terreiro até
espectadores que vêm para conhecer o jarê.[3]

Pai-de-santo/Curador

A autoridade máxima do jarê está concentrada nas mãos do pai ou mãe-de-santo, mais popularmente
caracterizados como curadores, sendo válido destacar que as mulheres raramente alcançam essa
posição[3].Acredita-se que os caboclos forçam o indivíduo a tornar-se curador, causando-lhe uma série
de desventuras até que se decida a acatar o destino. Assim, a carreira de curador não é entendida como
uma escolha, mas como uma obrigação da qual o indivíduo não pode se livrar. Os curadores são tidos
como mediadores entre o mundo dos seres humanos e o dos espíritos, sendo possuídos por entidades
para desempenharem seu papel terapêutico. Sua carreira inicia-se quando começa a apresentar
alterações comportamentais interpretadas como sinais da interferência dos caboclos. Ao se consultar
com um curador, a presença de espíritos que exigem que ele mesmo se torne um curador poderá ser
confirmada. Ao aceitar aquilo que é apresentado como um destino (tornar-se um curador) seus próprios
problemas serão solucionados. Recusar corresponde ao prolongamento dos problemas que o levaram
até o curador. Ao decidir tornar-se curador, o indivíduo passará por cerimônia de cura e de assentamento
de seus guias em que o pai-de-santo lhe conferirá autoridade para que exerça também a função de
curador de jarê. Nessa perspectiva, tornar-se curador é algo pré-destinado, parte-se do princípio de que
os poderes são concedidos ao curador, com isso, nessa concepção o pai-de-santo/curador não necessita
passar por um longo processo de aprendizagem formal entre mestre e discípulo, a sua condição de
tornar-se curador e desempenhar suas funções não encontra abrigo na ideia de acúmulo progressivo de
conhecimentos - esotéricos, mágicos, terapêuticos -, mas sim num destino que lhe foi imposto por forças
superiores que o conduzirão.[3]

Organização

As funções, direitos e deveres são distribuídos dentre os poucos indivíduos do terreiro. O curador e seu
auxiliar são os responsáveis pela grande parte das atividades de manutenção do terreiro, sendo
praticamente inexistente um processo de burocratização. O culto do jarê pressupõe margem
considerável de liberdade de iniciativa e ação, logo não se constitui como um grupo de complexa
organização interna, não é delimitado por códigos de conduta ou uma estrutura fixa e estável. Isso não
corresponde a uma fragmentação e individualização, mas configura traços de uma prática religiosa
"aberta", marcada pela fluidez das crenças e ações em decorrência da experiência sociocultural
específica de seus participantes[3].

Jarê na literatura brasileira

Referências ao jarê são encontradas no romance Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, vencedor dos
prêmios Oceanos e Jabuti de 2020 na categoria Romance Literário e o Prêmio LeYa em 2018.[5] Zeca
Chapéu Grande, pai das narradoras, exerce a função de curador de jarê em sua comunidade, sendo
procurado para curar males do corpo e do espírito com rezas e raízes.

Ligações externas

Curandeiros do jarê (2010), documentário de Camila Dutervil, Fernanda Sindinger, Marcelo Abreu Góis e
Uira Meneses.

Referências

«Em busca da tradição do jarê». FAPERJ. Consultado em 1 de abril de 2021

BANAGGIA, Gabriel (2015). As forças do Jarê: religião de matriz africana da Chapada Diamantina. Rio de
Janeiro: Garamond. ISBN 978-85-7617-410-3

Alves, Paulo César & Rabelo, Míriam Cristna (2015). «O jarê: religião e terapia no candomblé de
caboclo» (PDF). ENCONTRO DE ESTUDOS MULTIDISCIPLINARES EM CULTURA, 5, 2009, Salvador. Anais....
João Pessoa: UFPB

Parés, Luis Nicolau (2018). «Religiosidades». In: Schwarcz, Lilia Moritz & Gomes, Flávio dos Santos.
Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Compahia das Letras

«Roda Viva entrevista Itamar Vieira Junior nesta segunda – Rascunho». 10 de fevereiro de 2021.
Consultado em 28 de julho de 2021

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