CARTAGO
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Cartago - Partes I e II
Parte I
Cartago era uma colónia fenícia, fundada por tírios no século IX a.C.
Pouco depois acabaria por tomar o lugar da sua metrópole no
Mediterrâneo Ocidental, pois esta via-se debilitada devido às
circunstâncias políticas geradas pelos grandes Impérios Orientais.
Até ao início das Guerras Púnicas, Cartago desenvolveu-se fortemente,
atingindo o auge entre os séculos V e III a.C.. Para isso lutou em África
(númidas e berberes), na Sicília ( colónias gregas), na Sardenha e
Córsega (etruscos), na Hispânia e foz do Ródano, golfo de Leão
(colonos gregos da Fócida). O poderio cartaginês era mercantil:
matérias- primas da Hispânia e sul da Bretanha (Cornualha),
incidindo principalmente no estanho, matéria primordial num mundo
em que o bronze era ainda bastante importante, assim, adquirindo,
directamente ou, como era talvez mais usual, de forma indirecta
através dos povos proto-históricos peninsulares, produtos autóctones
ou oriundos das respectivas relações atlânticas entre a Bretanha, Gália
e Hispânia (*),não com o apoio do já desaparecido reino de Tartessos
dos tempos fenícios, mas através das linhas milenares de intercâmbio
interno ; produtos preciosos do Sudão (escravos, marfim, ouro), da
África atlântica, do Saara, do rio Níger – de salientar a expedição, até
ao coração da África negra, de Hanão em 525 a.C. (Guiné e
Camarões). Esta vocação marítima e comercial não significa atraso
agrícola, bem pelo contrário, as apuradas técnicas de cultivo foram
posteriormente adoptadas pelos romanos – livros de Magão.
Cartago era uma oligarquia, uma república aristocrática, governada
por um Senado de mercadores, dirigido pelas grandes famílias que
tiranicamente se apoia nas classes mais baixas para chegar ao poder
(os Barcas).
A religião, a cultura e a arte cartaginesa são uma síntese do
fundamento fenício e de influências libícas, helénicas e egípcias (saítas
e persas).
Pode-se, então dizer que Cartago nas vésperas das hostilidades com
Roma tinha uma civilização superior à dos seus inimigos, quanto ao
bem-estar quotidiano, ao conhecimento científico e ao cosmopolitismo
cultural.
NOTA:
Políbio (210 / 128 a.C.) foi um político e historiador grego. Nasceu e
morreu em Megalópolis (Arcádia). Por entre as suas obras destaca-se
Historia, que relata, em quarenta livros, todo o período desde o início
da Primeira Guerra Púnica até ao fim da Terceira. Esta obra marcou a
evolução da ciência histórica. Os livros I e II tratam das ocorrências do
espaço de tempo decorrido entre 264 / 221 a.C. (do início da Primeira
ao começo da Segunda guerra entre Roma e Cartago). O III começa
onde acabou o II e vai até à batalha de Canas. O IV e V não referem as
Guerras Púnicas. Dos restantes livros só nos restam fragmentos. O
método de Políbio é de cariz científico. Era um viajante, fala do que
viu, nomeadamente da Hispânia, prima pela imparcialidade e está
mais próximo dos acontecimentos. Não floreia a obra com passagens
míticas ou anedóticas desnecessárias para o rigor histórico. A única
lacuna da obra é a pobreza de estilo, na arte da escrita. Concluindo:
mais credível que Tito Lívio, mas menos agradável de ler.
perfeitamente operacional. Todavia a guerra arrasta-se até 256 a.C., a
que não é alheio o desprezo da mentalidade rural dos italianos pelas
campanhas navais, sendo de salientar apenas a vitória romana em
Tíndaris, devido à superioridade numérica das suas forças, perdem
apenas 8 barcos. Então surge no espírito romano o desejo de “...passar
a África e transportar para lá o teatro da guerra...” (Políbio, I, 26), a
missão é preparada com um ano de antecedência. Dessa missão é
encarregue o cônsul M. A. Régulo. A guerra começa a ser travada em
solo africano no ano de 256 a.C. Antes do desembarque, teve lugar a
batalha naval de Ecnomo, perto de Aspis, saldando-se por uma vitória
romana, na narração de Políbio, plena de incongruências, refere-se que
de 330 barcos oriundos de Óstia 24 foram afundados e dos 350 púnicos,
30 foram ao fundo e 64 apresados. Esta derrota dificultou a defesa
cartaginesa, assim, o desembarque em África foi realizado “...sem
problemas e fizeram o cerco a Clipeia.” (Polibio, I, 29), transformada
em centro de operações, pois a estação estava demasiado avançada. Os
cartagineses deparavam-se com revoltas númidas e dificuldades de
abastecer a metrópole. Entretanto, os soldados do Tibre haviam
tomado dois pontos estratégicos importantes: Aléria e Ólbia, na
Córsega e Sardenha, respectivamente. Régulo recusou a paz e acaba
derrotado e feito prisioneiro pelos mercenários púnicos liderados pelo
grego Xântipo, “...formado segundo a disciplina lacedemónia e que
conhecia a fundo a arte da guerra...”, em 255 a.C.. O exército romano
foi obrigado a reembarcar, durante a retirada teve, paradoxalmente, a
maior vitória da guerra junto do cabo Hermeu, segundo o último autor
citado, aquando desta batalha Roma tinha 350 navios, não menciona os
navios perdidos, e Cartago de 200 perdeu 114. A vantagem conseguida
foi perdida logo a seguir devido a uma tempestade ao largo de
Camarino “... de 364 navios não sobraram mais que 24.” (Políbio, I,
37) – tudo isto também em 255 a.C., ambos os antagonistas estavam
enfraquecidos. Vejamos algumas das incongruências contabilisticas
dos autores clássicos, nomeadamente de Políbio: em relação aos
romanos – em Hermeu tinham 350 barcos (não indicando os que foram
afundados), logo a seguir, no regresso, perderam 364?? na tempestade,
sobrando ainda 80 ou 24 (esta hesitação deve-se ao facto de J. Cousin,
baseado em Políbio, mencionar 80, enquanto que na bibliografia do
mesmo autor clássico que consultei, indica o número 24, aliás como
está citado acima), isto é estranho dado que na tempestade foram
perdidos barcos que aparentemente não existiam. Em relação à
contabilidade púnica – após Ecnomo possuíam 256 navios, devido às
perdas, mas começaram a batalha de Hermeu com apenas 200, que
terá acontecido aos outros 56? Claro que é muito subjectivo discutir
estes pormenores, mas de qualquer forma tem-se de salientar o facto
de trabalhar incidindo sobre os autores antigos sem recorrer a outras
fontes dada a falibilidade dos mesmos, devido quiçá a má interpretação
das fontes ou apenas a parcialidade patriótica, aliás como é
perfeitamente visível em Tito Lívio.
A 3ª fase (255-54 / 247 a.C.), é passada na Sicília ou ao seu largo, Roma
desiste de atacar África e opta pelas possessões púnicas no ocidente da
ilha. Uma guerra terrestre de cercos e bloqueios, em que os impasses
preponderaram – Cartago conquistou Drépano (esta vitória deu
grande glória ao almirante cartaginês Aderbal e desonra a P. C.
Pulcher) e Camarino, mas perdeu Panormo, resistindo em Lilibeu
liderados por Himílcone. Este clima de impasse, provado pelos factos
atrás referidos, foi quebrado por duas importantes vitórias navais
púnicas, devida em grande parte à maior experiência dos seus
almirantes face aos almirantes efémeros de Roma. ambas as derrotas,
uma com o cônsul P. Claudio outra com J. Pullus, foram frente ao
almirante Carthalão. Logo a seguir, mais uma tempestade na mesma
zona da anterior, em Camarino, arrasava completamente com a frota
romana, sobraram apenas dois barcos, acrescentando-se estas perdas
aos cerca de 600 / 700 navios perdidos em vinte e três anos de conflito.
Nesta fase aconteceu o pior período da guerra para Roma – 249 a.C., o
annus ater. Cartago, agora com superioridade a todos os níveis,
nomeadamente marítimo, mas com problemas internos, necessidades
do Tesouro e preferência de uma parte do Senado pelos lucros do
comércio ao prejuízo da guerra, foi incapaz de solucionar os problemas
em duas frentes, preferindo deixar a situação externa a balançar. Esta
atitude custou aos africanos a vitória e mudou o rumo da História.
Roma usando de todas as suas virtudes recompôs-se.
A 4ª fase (247 / 241 a.C.) adivinhava um fim próximo para os
antagonismos, ambas as potências davam provas de um total
esgotamento, aliás, no fim, Cartago mais que derrotada estava exausta
e o facto de permanecer independente demonstram que Roma estava
também ela de rastos. Na Sicília, entre o monte Heircté e o monte Érix,
acontecia daquela espécie de guerrilha, propícias à estagnação das
posições e à eternidade da guerra. Amílcar Barca (pai de Aníbal) líder
púnico dessa luta pelo cansaço não tinha os apoios que desejava da
metrópole devido aos motivos internos já referidos, por isso faltavam-
lhe meios, nomeadamente da armada, na maior parte desarmada.
Roma não podia fazer melhor, pois tinha uma grande lacuna a nível
naval, isso impedia-lhe o domínio da ilha. Assim, tinham ambos pontos
fracos. Roma foi a primeira a resolver os seus problemas, apoiada
financeiramente nos cidadãos ricos, conseguiu uma nova frota em 243 /
242 a.C. e “...colocam de novo as suas esperanças nos seus barcos.”
(Políbio, I, 59), Roma nunca tinha tido uma frota tão boa. O fim desta
guerra extenuante chega em 241 a.C., quando a armada romana
liderada por Lutácio Catulo, nas ilhas Égates consegue derrotar as
forças púnicas, não sendo esta das piores catástrofes da guerra, foi-o
devido ao esgotamento total de Cartago. O tratado de paz, um
primeiro não foi ratificado pelo povo de Roma, elaborado de forma a
pôr a ex-colónia de Tiro K.O. durante longos anos: renunciava às ilhas
Lipari e a Sicília, não podia recrutar mercenários em Itália e aos
aliados romanos e era obrigada a pagar 3 200 talentos em dez anos,
acrescentados (devido a protestos púnicos devido a abusos romanos)
mais tarde de 1200 talentos suplementares e a perda da Córsega e
Sardenha em 238 a.C. (espécie de pagamento da neutralidade romana
nos problemas internos de Cartago), Roma aproveitava, assim, as
revoltas internas de Cartago não para a eliminar de vez, algo de que se
viria a arrepender, mas sim para extorquir-lhes mais riquezas que,
apesar de tudo, a sua frota mercante continuava a gerar. Cartago
perdia ingloriamente, mas o desejo de desforra continuava bem
presente. Desde Políbio que é normal atribuir a vitória romana à
firmeza do Senado e às virtudes morais do seu povo, pois nenhum
romano se salientou, de facto valeu a Roma a sua força colectiva e os
erros e hesitações púnicas.
Consequências
Cartago - Parte IV
Parte IV
O prólogo hispânico
NOTA:
Para estudar a Segunda Guerra Púnica, pelo menos, é imprescindível
consultar a obra de Tito Lívio (Pádua 60 a.C. / 17 d.C.), Ab Urbe
condita, isto apesar de o seu método historiográfico não usar do rigor
científico e de propagandear descaradamente os valores romanos,
nomeadamente os mais antigos. Uma história repleta de sentimento e
parcialidade patriota e de apologia dos heróis. Por vezes o incorrecto
uso das fontes – uma delas é Fábio, historiador contemporâneo da
Segunda Guerra Púnica, que o próprio Tito Lívio menciona (T.
L.,XXII, 7) – dá ao texto um sentido mais épico que histórico. É
necessário ter em conta todos estes parâmetros quando o estamos a
analisar.
*
Roma perdeu o ímpeto ofensivo que caracterizou a sua pronta
intervenção na Hispânia antes do início da marcha, agora a prioridade
é a defesa da Itália. Os próximos seis ou sete anos de guerra serão de
sucessivas vitórias púnicas, ao auge do seu poderio, cerca de 212 a.C.,
acontecerá uma progressiva e lenta quebra do rendimento do seu
exército, por motivos que serão explanados adiante, até à derrota
definitiva em 201 a.C., na batalha de Zama.
A primeira batalha na península itálica, com P. C. Cipião, foi a norte
do rio Pó, no rio Tessino, em Dezembro de 218 a.C.. Antes da batalha,
Tito Lívio põe os antagonistas a fazerem discursos e refere o terror dos
romanos face aos maus presságios: “...tinha entrado um lobo no
acampamento (...) que saiu incólume (...); um enxame de abelhas tinha
pousado numa árvore sobre a tenda do general.” (Tito Lívio, XXI, 46),
este apontamento, entre outros, confirma o que se disse acima (página
8) sobre as características da obra deste autor. Os cartagineses
venceram, “...superior em cavalaria e por isso os campos descobertos,
como são os que ficam entre o Pó e os Alpes, não convinham aos
romanos para fazer a guerra.” (Tito Lívio, XXI, 47). De registar o acto
heróico de um dos filhos de P. C. Cipião, salvou o pai depois de este ter
sido ferido, “Era este o jovem nas mãos de quem está a glória de ter
terminado esta mesma guerra, chamado o Africano por causa da
brilhante vitória sobre Aníbal e os cartagineses.” (Tito Lívio, XXI, 46)
– era o nascimento do glorioso herói romano. O que resta do exército
de Roma some durante a noite.
No mesmo mês teve lugar a segunda batalha itálica, agora a sul do Pó,
junto do rio Trébia. “Aníbal chega perto dos seus inimigos depois de
ter atravessado o Pó.” (Polibio, III, 66), também tomou pacificamente
Clastídio, para resolver os problemas de víveres, pois o exército havia
aumentado com a chegada de auxiliares gauleses. T. S. Longo estava
na Sicília lutando contra os cartagineses, com as complicações na vale
do Pó, saiu da Sicília, “...tendo partido com o seu exército para o rio
Trébia, junta-se ao seu colega.” (Tito Lívio, XXI, 51), que, entretanto,
fortificara a área. A astúcia púnica, atitude que compensou o défice
numérico, resultou e os romanos foram derrotados. (Tito Lívio, XXI,
53 a 56; Políbio, III, 68 e 69). “Espalhou-se em Roma uma tal
consternação com esta derrota, que já se suponha que o inimigo
chegaria às portas de Roma para a pôr a saque...” (Tito Lívio, XXI,
57).
Durante meio ano, os púnicos deambulam entre o Pó e a zona a
montante do rio Tibre, atacando cidades como Placência e Victúmulos
e tendo recontros de menor importância com T. S. Longo. Nas
vésperas da maior vitória púnica até então, Aníbal dominava a Gália
Cisalpina e o seu objectivo era, agora, a Itália central. Prevendo esse
desejo, os novos cônsules eleitos, C. S. Gémino e C. Flamínio,
decidiram defender os acessos à Itália central, onde contavam com
aliados mais fieis que os gauleses e com um terreno menos propício à
cavalaria cartaginesa. Adivinhava-se um embate entre as tropas de
Aníbal e de Flamínio, este novo cônsul, eleito pelo partido democrático,
não gozava de muito reconhecimento, “...renovou-se o ódio contra C.
Flamínio...” (Tito Lívio, XXII, 1).
Essa grande vitória teve lugar em 21 de Junho de 217 a.C., no lago
Trasímeno, a 200 Km de Roma. Mais uma vez a astúcia de Aníbal deu
excelentes resultados, “...já tinham chegado a um lugar próprio para
uma cilada, onde o lago Trasímeno se aproxima mais dos montes de
Cortona.”, acampa num descampado, “...oculta...” a infantaria ligeira
e a cavalaria. Flamínio e as suas forças, “...sem ter explorado o
terreno...”, dispõem-se para a batalha, sem saber “...da emboscada que
estava na retaguarda e sobre a cabeça.”, a luta foi tão intensa que os
combatentes nem sentiram um tremor de terra. O descalabro romano
foi total, depois da seguinte acusação “Aqui está o que matou as nossas
legiões...”, o cônsul C. Flamínio foi assassinado. Morreram 15000
romanos e 2500 mercenários púnicos. O horror que a notícia provocou
em Roma, mais visível no comportamento das mulheres, aumentou
com a perda de 4000 cavaleiros na Ombria face a Aníbal. Esta
hecatombe de 217a.C., gerou uma crise política, obrigando a república
a recorrer “...a um remédio que já à muito não era empregado nem
desejado, a nomeação de um ditador...”, esse cargo coube a Q. Fábio
Máximo. (Tito Lívio, XXII, 4 a 8).
Roma era já ali. Mas, na verdade, a cidade eterna era de difícil
conquista, pois tinha uma forte “entourage” de colónias que a
protegiam, estava bem fortificada (aos púnicos faltava material de
cerco) e, apesar de terem sido destruídos o equivalente a dois exércitos
consulares, restava ainda as forças da Hispânia e de C. S. Gémino
“...receando já pelas muralhas da sua pátria, para não deixara cidade
em tão grande perigo, tomou o caminho da cidade.” (Tito Lívio, XXII,
9). Por isso, o exército cartaginês optou por deambular pelo norte e
centro, entre as costas tirrena e adriática da península em busca do
mar e dos reforços que não chegavam – os romanos tentavam
empurrá-los sempre para longe da sua cidade – a fim de afastar as
populações da área da causa romana, mas uma das estratégias de Q.
Fábio Máximo era fortalecer a coesão da confederação romana,
dificultando os objectivos púnicos. A conjuntura (exposta no relatório)
militar, política e até religiosa que se seguiu (Tito Lívio, XXII, 9 a 43)
serviu de preparação para a grande batalha de Canas, notabilizada
“...com a derrota dos romanos.” (Tito Lívio, XXII, 43).
Na Hispânia, os dois primeiros anos de guerra (Tito Lívio, XXI, 59 a
61; XXII, 19 a 23), não tão negativos para os romanos como na Itália,
foram passados a tentar impedir o abastecimento de Aníbal pela
retaguarda, visto que directamente por mar era impossível dada a
superioridade naval de Roma e o facto de Aníbal não ter um porto em
seu domínio, como veremos esta estratégia iria trazer ao exército
cartaginês na Itália consequências negativas irrecuperáveis. Os Cipiões
dominavam a costa desde a foz do Ródano até à foz do Ebro. Mais uma
nota referente à cultura e mentalidades da época: depois de tomarem
uma praça hispânica, saquearam-na, mas os seus bens eram pobres,
“...mobílias toscas e escravos baratos...” (Tito Lívio, XXI, 60).
*
Em Agosto de 216 a.C., junto da aldeia de Canas, teve lugar a maior
derrota romana de toda a guerra, aquela pela qual Aníbal é ainda
estudado nas academias militares. O relato da batalha (Tito Lívio,
XXII, 44 a 50) e as consequências próximas (Tito Lívio, XXII, 50 a 61)
é uma sucessão de catástrofes romanas, atingindo o auge do
masoquismo aquando da contabilidade das perdas: “...morreram
45500 soldados de infantaria e uma porção aproximadamente igual de
cidadãos e aliados (...) ficaram prisioneiros naquele combate 3000
soldados de infantaria e 1500 de cavalaria.” (Tito Lívio, XXII, 49). As
contas actuais são mais contidas, cerca de 40000 soldados romanos e
6000 mercenários, maioritariamente gauleses, mortos e prisioneiros.
A batalha foi em terreno aberto, sem possibilidades de surpresas como
no lago Trasímeno, a frente romana, bastante mais ampla, rodeou os
cartagineses de uma tal forma que se chegou a pensar numa vitória de
Roma, mas nos flancos a cavalaria púnica venceu a sua congénere
oposta e, rodeou, por sua vez a infantaria romana viu-se encurralada
entre a cavalaria e infantaria púnicas e dissolveu-se no caos. Este é um
clássico exemplo da manobra de duplo envolvimento, forma de uma
força inferior derrotar uma superior em terreno aberto. Ambos os
cônsules morreram e Tito Lívio coloca na boca de um deles, L. Emílio,
a prioridade que se seguia: “Vai, comunica oficialmente aos senadores,
que fortifiquem a cidade de Roma e a reforcem de tropas antes do
inimigo chegar (...) perseguiu-os (...) ao cônsul cobriram-no de
dardos...” (XXII, 49).
A Aníbal restava fazer opções. Uma era atacar Roma – “...Maarbal,
general de cavalaria, diz: (...) dentro de cinco dias banquetear-te-ás
vencedor no Capitólio...” (Tito Lívio, XXII, 51) –, mas ele achou o seu
exército incapaz de fazê-lo, optou, então, mais uma vez, agora com
mais sucesso, chegar a si os aliados de Roma. Na sequência de Canas
algumas cidades, entre as quais Cápua, a segunda cidade da Itália e
um centro industrial, desertaram da aliança de Roma, “...o tempo dos
campanienses chegou, não apenas de tomar posse dos territórios
tirados pelos romanos injustamente, mas para se tornarem mestres de
toda a Itália...” (Tito Lívio, XXIII, 6). Todavia não era suficiente,
Aníbal sabia que enquanto a cidade inimiga tivesse um sistema de
alianças a apoiá-la nunca conseguiria, apesar dos êxitos militares,
derrotá-la.
*
O aspecto mais visível em Roma de desespero, mas, também de
esperança, foi o contínuo trabalho do Senado, Tito Lívio dá um
exemplo desta dicotomia: depois de um discurso inflamado, apologia
das virtudes romanas, em plena Cúria Hostília, a audiência
“...levantou-se logo uma gritaria de lágrimas da multidão que estava
no comício, e estendidas as mãos para o Senado, pedindo que lhes
restituíssem os filhos...” (XXII, 59 e 60). Q. Fábio Máximo foi eleito
cônsul e chefe do reduzido exército romano. Levou a cabo a sua
estratégia de fatigar o adversário, apoiando-se nas cidades aliadas que
não haviam desertado para o lado de Aníbal, protegendo-as de
possíveis ataques. Aníbal dificilmente levaria a cabo um cerco, pois o
seu exército estava também debilitado e receava, que a meio de tal,
surgisse Q. Fábio Máximo. Assim, Aníbal estava encurralado, apesar
da sua superioridade militar aparente, no meio da Itália, sem
conquistar a Campânia, sem acesso ao mar e sem reforços de África ou
de Hispânia. Pode-se concluir desta situação que os púnicos perderam
a guerra devido ao facto de Roma não ter entrado em colapso após
Canas.
No plano diplomático, Aníbal foi mais feliz. Fez um acordo com Filipe
V, rei da Macedónia. “A luta entre os dois povos mais poderosos da
Terra concentraram a atenção de todos os reis, mas principalmente de
Filipe, rei da Macedónia, vizinho da Itália, só o mar Jónico os
separava.” (Tito Lívio, XXIII,33). A permanência romana na Ilíria, a
aliança com Apolónia ou Epidamnos que aconteceram, como vimos, no
intervalo entre as guerras cartaginesas, não eram da simpatia de Filipe
que queria expulsar de lá os romanos, dominando ele essa zona, com o
apoio cartaginês, que suponha prováveis vencedores da guerra, em
troca dava o apoio de tropas terrestres em solo italiano, desde que
transportadas por barcos púnicos. Este pacto top secret foi descoberto
por Roma, pois uma armada romana surpreendeu os embaixadores do
outro lado do Adriático. O Senado, um dos principais responsáveis
pela vitória final, rapidamente soube deste pacto e entrou logo em
acção enviando para a Ilíria uma armada, impossibilitando o
transporte das tropas. Mais uma vez a marinha romana mostrava a
sua inequívoca superioridade.
Segundo J. Cousin (pág. 60), o comportamento dos antagonistas em
termos marítimos foi bastante desequilibrado entre eles. Os romanos
começaram a guerra com 240 barcos (20 massaliotas), entre 214 / 209
a.C., varia entre os 215 e os 235. Segundo os números dúbios dos
autores antigos, construíram em 218 / 217 a.C. 60 navios, em 214 a.C.
100 e em 208 a.C. 20. A supremacia naval de Roma não permite a
Cartago abastecer Aníbal, mas permite, por seu lado, enviar uma
armada a Hispânia, à Ilíria e abastecer-se a ela própria, por outro
lado, o exagero de frentes de combate não permite, apesar da
hegemonia, uma total vigilância, assim, a defesa de Lilibeu, da
Calábria, de Siracusa, Tarento, Brundísio, Sardenha, Ligúria
(desembarque de Magão em 205 a.C.) fica debilitada; a ofensiva de
Cipião, o africano a Útica em 203 a.C. é feita com forças reduzidas; a
vigilância das Baleares e Cartagena é deficitária, pois a armada fica-se
por Tarragona; os chefes militares no mar são os mesmos que em terra
e efémeros. Mas, mesmo com estas anomalias romanas, Cartago não
tem a força para constituir uma forte força naval, ou por causa da
desmobilização do fim do conflito anterior, ou devido à política
comercial na Hispânia, ou à difícil recruta de uma população nómada
(causa do mercenarismo). Eis, no fundo, as causas de as vitórias
terrestres de Aníbal não terem correspondido a uma vitória final.
Antes de regressar a Itália vejamos a situação na Hispânia. Os
romanos comandados pelos Cipiões consolidaram a sua situação em
África, entre 215 / 213 a.C., tomando Sagunto, Urso, Cástulo e
conquistando posições na zona argentífera da Sierra Morena, “Em
Roma, onde essa novidade foi anunciada pelas cartas dos Cipiões,
comemorou-se menos a vitória que a impossibilidade de Asdrúbal
chegar a Itália. (Tito Lívio, XXIII, 29). Em 212 a.C. os púnicos
respondem com três exércitos, comandados, cada um, por Asdrúbal,
Magão e Giscão. Em 211 a.C. os Cipiões são isolados e, traídos pelas
forças indígenas, são derrotados e mortos, uma pequena parte da
Hispânia romana é salva por L. Márcio (Tito Lívio, XXV). C. Fabião
refere menções contraditórias em relação ao ocidente peninsular em
Políbio (fragmento livro X) e em Tito Lívio (XXVI, 19), por motivos
explanados no relatório só pode confirmar esta informação em Tito
Lívio. Pelo que parece, Polibio refere que no Inverno de 210 a.C.,
Magão se instalou junto dos Cónios, o filho de Giscão, Asdrúbal na foz
do Tejo e Asdrúbal Barca na Carpetânia, sul da Meseta Central –
todos longe da área de combate, presença talvez devida a instabilidades
regionais. Tito Lívio refere Magão a norte de Cástulo, Asdrúbal Barca
perto de Sagunto (?? – era dominada pelos romanos) e Asdrúbal, filho
de Giscão, perto de Gades. Pelos motivos já referidos Políbio é mais
fiável. O actual território português não foi directamente atingido pelo
esforço de guerra, mas parece ter havido uma ruptura nas relações
com o sul.
Após a morte de Hierão II, o governo popular que lhe sucede
abandona a aliança com Roma, como o fez pouco tempo antes Cápua,
“...a aliança com Roma tinha sido rompida...” (Tito Lívio, XXIV, 6).
Roma não conseguiu renovar a aliança, faz, então, um bloqueio a
Siracusa, que Cartago tentou impedir com uma força expedicionária
comandada por Himílcone e uma armada de 55 barcos sob a ordem de
Bomílcar, chegaram a ocupar Agrigento, mas face à superioridade
romana regressaram a África. As esperanças de Aníbal puder contar
com a Sicília terminaram.
De regresso a Itália. No Inverno de 212 / 213 a.C., Tarento, o maior
porto da península, abre as portas aos púnicos, que ficam mesmo assim
sem acesso ao mar, pois na cidadela ainda resiste a guarnição romana
(Tito Lívio, XXV). Mas, toma outras cidades costeiras, como por
exemplo Metaponto. Têm, finalmente, acesso ao mar, mas de pouco
lhes serviria, pois, tirando a excepção de Locros em 215 a.C., nunca
receberam reforços, e quando estiveram mais perto de receberem
(Asdrúbal e Magão) foi via Alpes e não via Mediterrâneo. Em Tarento,
sem apoio, pois as esquadras romanas, como vimos, estavam com
excesso de trabalho (Ilíria, Hispânia, Sicília), cai a resistência, a
armada púnica mexe-se sem problemas no sul da Itália. Umas segunda
e terceira tentativas de Bomílcar socorrer Siracusa, não surtiram efeito
e Siracusa cai em 212 a.C., após três anos de cerco, às mãos de C.
Marcelo.
A presença de Roma em demasiadas frentes fragilizam-na, boa ocasião
para reforçar Aníbal, apesar do seu papel medíocre na Sicília a
armada púnica podia agora transportar as forças macedónias do
irrequieto Filipe V. Mas os romanos prevendo essa situação fazem um
acordo com a Etólia (Tito Lívio, XXVI), que entrou logo em guerra
com a Macedónia, ajudada por uma frota romana de 25 barcos. Filipe
V foi obrigado a concentrar as suas forças na luta grega, prejudicando
as ambições de Aníbal. Bomilcar podia facilmente destruir os 25
barcos e transportar os reforços, mas faltava ao almirante espírito de
ofensiva, contentando-se em bloquear Tarento.
Em 212 /211 a.C., Aníbal estava em dificuldades por falta de apoio,
ocupado no sul, perdeu Cápua (Tito Lívio, XXVI) e foi obrigado a
lutar apenas para preservar os terrenos conquistados. Mas, até a sul ia
perdendo terrenos, em 209 a.C., Fábio Máximo ocupa, graças a uma
traição, Tarento (Tito Lívio, XXVII). A tentativa desesperada de
Aníbal recuperar Cápua patenteiam bem as suas dificuldades, sem
possibilidades de cercar a cidade, dirige-se para Roma na esperança
que os romanos o seguissem, debilitando a defesa de Cápua. A
manobra de diversão não resultou e Aníbal fixa-se no Brútio até 203
a.C.. A forte esforço romano de recruta estava a dar resultados,
disponha de 25 legiões, o equivalente a 200000 soldados.
Quando abandonamos a Hispânia, esta era dominada pelos púnicos,
esta situação podia libertar tropas para reforçar Aníbal. Todavia, o
Senado, desejoso de uma política mais activa, entregara em 210 a.C., o
comando procônsular de Hispânia a P. C. Cipião de apenas 25 anos,
filho do anterior chefe que morrera lutando Asdrúbal (Tito Lívio,
XXVI). Os romanos perceberam que só vencendo aqui derrotariam de
vez Aníbal. Cipião em 206 a.C. com a rendição de Gades expulsara
para sempre os púnicos da Hispânia e afirmava o domínio romano.
logo em 209 a.C., num golpe de mestre, conquistava Cartagena, pouco
depois dominava a Sierra Morena, sustento da guerra. Em três anos de
campanhas ciclónicas o levante e sul da Ibéria era romano. Asdrúbal
após uma disputa com Cipião, em Bécula, no ano de 208 a.C.,
conseguiu esgueirar-se para norte com três exércitos e elefantes (Tito
Lívio, XXVII). Apesar dos sucessos não foi evitado o principal perigo
para Roma – a possível ajuda a Aníbal. Asdrúbal em 207 a.C. já está
no norte da Itália, auxiliado por gauleses, o objectivo é juntar os
exércitos dos dois irmãos. A inquietação em Roma é grande, os
emissários púnicos são capturados e Roma fica a par de tudo. Dois
exércitos cônsulares são organizados, cada um para um dos dois
inimigos. Ao exército de M. Lívio Salinator, o adversário de Asdrúbal,
junta-se no rio Metauro, C. Cláudio Néro, o suposto adversário de
Aníbal, que conseguiu ir com uma parte do exército dirigir-se para
norte. Assim, os dois exércitos juntos, arrasam Asdrúbal na batalha do
rio Metauro, a última grande batalha em Itália.
Aníbal inactivo no Brútio perdia a última esperança, Cipião derrota a
resistência hispano-púnica na batalha de Ilipa, Magão é obrigado a
sair da Hispânia. Assim, Cartago privada das minas e tropas
hispânicas, perdia a iniciativa e a vantagem.
*
Cipião estava-se a tornar no herói da guerra. Partiu para a Macedónia,
onde em 205 a.C. obrigou Filipe V a aceitar a Paz, Cartago perdia o
seu principal apoio (Tito Lívio, XXVI). No mesmo ano foi candidato a
cônsul, no seu programa previa um desembarque em África, esta
hipótese de guerra ofensiva e uma provável vitória definitiva rápida,
foi do agrado do povo. Cipião foi eleito. Mas, este programa não
passou sem resistência, Fábio Máximo pretendia uma Paz de
compromisso, deixando a Cartago as suas possessões africanas. Cipião
com uma visão mais imperialista pretendia, além de expulsar Aníbal
da Itália, eliminar Cartago como grande potência.
O Senado entregou-lhe a província da Sicília com autorização de
passar a África, no entanto teve sérias dificuldades em organizar e pôr
de pé a sua expedição (Tito Lívio, XXVII).
A perspectiva de uma invasão inquietou Cartago, o seu Senado acaba
por tomar algumas atitudes desesperadas: apoia Magão numa terceira
invasão a Itália e apoia directamente Aníbal. Mas, os resultados são
medíocres, Magão limitado à Ligúria acaba por ser derrotado e Aníbal
não sai do Brútio, acaba derrotado pelo cônsul Semprónio em Crotona.
Na conjuntura das alianças entre Cipião e os outros povos africanos
(ver relatório), Roma perde um apoio importante, o de Syphax, o
principal príncipe númida, mas conta ainda com Massinissa.
Em 204 a.C. Cipião desembarca em África. A missão correu mal e os
romanos acabam encurralados numa pequena península rochosa
(Castro Cornélio) pressionados por tropas púnicas e númidas
(Syphax). Cartago podia ter destruído aqui esta força expedicionária,
mas dada a conjuntura geral preferiu negociar. Esta atitude permitiu a
Cipião viver a belle époque de 203 a.C., em Abril derrotou os
africanos, em Junho aprisionou Syphax, era o fim do apoio númida a
Cartago, Massinissa recuperou os territórios que Syphax lhe tinha
tirado.
Aníbal prepara-se, 36 anos depois, para regressar a África, juntamente
com os seus 20000 homens, no Outono de 203 a.C.. Ao chegar levanta o
seu quartel de Inverno em Hadrumeto.
Dá-se, então lugar à diplomacia, em 202 a.C. Cartago aceita um
tratado de Paz humilhante: devia entregar os prisioneiros e desertores
romanos; evacuar a Itália, a Gália e as ilhas situadas entre a Itália e
África; renunciar à Hispânia; reduzir a sua frota; pagar uma
indemnização de 5000 talentos e abastecer o exército romano até à
consolidação da Paz.
Cartago ao aceitar estas condições deixava de ser uma potência
mediterrânica e passava a sê-lo apenas em África. Entretanto, as
intrigas senatoriais em Roma retardaram a ratificação do acordo, isto
deu tempo para o originar de um sentimento de desforra no espírito
púnico: juntamente com o regresso de Aníbal que deu força ao partido
da guerra em Cartago, o clima interno, de crescente escassez, era
propício a uma revolta. O clima tenso de guerra, encontrou um
pretexto para explodir num ataque a um comboio de reabastecimento
romano. A guerra recomeça, “Já não é só a África ou a Itália, é o
Universo inteiro que será a recompensa do vencedor.” (Tito Lívio),
XXX, 32).
Aníbal reúne em pleno deserto a menos de 100 Kms de Cartago, um
exército de 40000 / 50000 soldados de valor desigual, falta-lhe pela
primeira vez a cavalaria, tenta substitui-la por 100 elefantes. A batalha
começou em Zama, em Outubro de 202 a.C.. Os romanos tinham agora
a primazia na cavalaria. Aníbal colocou os elefantes em linha em frente
da infantaria e fê-los avançar como se trata-se de uma carga de
cavalaria. Mas, Cipião ao saber isso já tinha premeditado um plano, os
romanos mudaram instantaneamente de formação fazendo os elefantes
passarem pelas suas fileiras. Aníbal dependia deste primeiro ataque,
depois foi a debandada, Cipião usando muitas das tácticas de Aníbal,
fez a tradicional manobra de flanqueamento da infantaria pela
cavalaria, e venceu tão estrondosamente que fez lembrar as vitórias
iniciais de Aníbal.
Cartago rendeu-se, o novo acordo de Paz muito semelhante ao
anterior, foi agravado nalgumas questões, agora a ex-potência só podia
fazer guerra em África, com um pequeno exército, e com autorização
de Roma – era uma verdadeira cidade vassalo. O tratado foi ratificado
em Roma no ano de 201 a.C..
A Itália estava destruída, nomeadamente o sul, mas, no entanto, Roma
preparava-se para dominar o mundo.
As consequências
Cartago - Parte V
Parte V
Causas e desenvolvimento
A Terceira Guerra Púnica (149 / 146) foi curta, vistosa, mas de pouca
importância, sem o heroísmo dos conflitos anteriores, digamos que foi
desnecessária. Foi sem dúvida marcada e aí reside a sua importância,
pela destruição total e definitiva de Cartago.
Apesar de todas as penalidades e impedimentos, Cartago recuperou
economicamente, no meio do século II a.C. estava de novo florescente.
Isto não cabia bem aos senadores, pois Roma tinha adquirido uma
faixa de terra fértil em África, e muitos senadores haviam lá investido.
Cartago comerciava os mesmos produtos e era-lhes realmente inata a
capacidade de comerciar, muito melhor que a romana.
Assim, uma facção senatorial liderada por Cato, o velho agitava Roma
contra Cartago – não gostavam do seu progresso económico, meio
caminho para ambições mais altas. Mas, o mais importante, sem
dúvida é que Cartago estava a prejudicar os interesses mercantis de
Roma. Portanto, conduzidos por um homem conservador de grande
reputação, cheio de virtudes romanas, Roma facilmente cedeu ao seu
slogan “Carthago delenda est!”, que zumbia constantemente em Roma.
Roma precisava de um pretexto para atacar África e acalmar os
senadores, nomeadamente Cato. Cartago era constantemente atacada
pelas tribos vizinhas protegidas por Roma. Cartago não se atrevia a
atravessar a fronteira imposta por Roma. Mas, os danos iam ficando
cada vez mais graves – Cartago resolveu defender-se. Passou a
fronteira e atacou os maus vizinhos. O tratado de 201 a.C. tinha sido
violado.
Um descendente de Cipião, o africano, Scipio Aemilianus, típico da
nova geração de políticos romanos – ambicioso, culto, bem educado –
foi encarregue de atacar Cartago. Três anos após o início da guerra,
decorridos de uma forma louca, podendo-se até falar de anti-semitismo
romano, dadas as raízes púnicas, os cartagineses resistiam loucamente.
Após a entrada dos romanos em Cartago houve ainda uma semana de
guerra urbana.
No fim Cartago foi arrasada até aos alicerces, queimada, os habitantes
escravizados e a terra de Cartago considerada maldita, ninguém podia
mais viver lá, uma das lendas refere que a terra foi salgada para a
tornar inabitável. Eis o peso de Aníbal.