Uma Abordagem Integrada Da Endometriose

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Uma abordagem integrada

da Endometriose
UFRB
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

REITOR
Paulo Gabriel Soledade Nacif

VICE-REITOR
Silvio Luiz Oliveira Soglia

SUPERINTENDENTE
Sérgio Augusto Soares Mattos

CONSELHO EDITORIAL
Alessandra Cristina Silva Valentim
Carlos Alfredo Lopes de Carvalho
Fábio Santos de Oliveira
Ósia Alexandrina Vasconcelos Duran Passos
Rosineide Pereira Mubarack Garcia
Sérgio Augusto Soares Mattos (presidente)

SUPLENTES
Ana Cristina Vello Loyola Dantas
Geovana Paz Monteiro
Jeane Saskya Campos Tavares

EDITORA FILIADA À
Djanilson Barbosa dos Santos
Izabel Aparecida Soares
Luiz Antonio Favero Filho
Marcilio Delan Baliza Fernandes
Neuma Maria Moresco Ritt.
Rodrigo Patera Barcelos
Samára Santos Sampaio
Suzymeire Baroni.

Uma abordagem integrada


da Endometriose

Cruz das Almas – Bahia


2012
Copyrigth©2012 by Djanilson Barbosa dos Santos, Izabel Aparecida Soares, Luiz
Antonio Favero Filho, Marcilio Delan Baliza Fernandes, Neuma Maria Moresco
Ritt, Rodrigo Patera Barcelos e Samára Santos Sampaio e Suzymeire Baroni.

Direitos para esta edição cedidos à EDUFRB


Capa: Leandro Buchner
Projeto gráfico e editoração eletrônica: Tag Comunicação
Revisão, normatização técnica: Tag Comunicação
Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme decreto nº 1.825, de 20 de dezem-
bro de 1907.

A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou


parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.

A154 Uma abordagem integrada da endometriose/ Djanilson


Barbosa Santos [et al]. – Cruz das Almas/BA : UFRB, 2012.
120 p.

ISBN 978-85-61346-32-4

1. Endometriose I. Santos, Djanilson Barbosa II. Soares, Izabel Aparecida


III. Fávero Filho, Luiz Antonio IV. Fernandes, Marcilio Delan Baliza V. Ritt,
Neuma Maria Moresco VI. Barcelos, Rodrigo Patera VII. Sampaio, Samára
Santos VIII. Baroni, Suzymeire.
CDD 618.1

Campus Universitário
Rua Rui Barbosa, nº 710 – Centro
44380-000 Cruz das Almas – BA
Tel.: (75)3621-1293
[email protected]
Sumário

Apresentação......................................................................................07

1. Endometriose..................................................................................09

1.1 Aspectos Gerais.......................................................................................... 09


1.2 Infertilidade Feminina e a Endometriose............................................... 15
1.3 Considerações ............................................................................................ 17

2. Etiopatogenia..................................................................................24

2.1 Descrição das etiopatogenias................................................................... 25


2.1.1 Teoria da metaplasia celômica ..................................................................... 25
2.1.2. Teoria da Indução ........................................................................................ 26
2.1.3 Teoria dos restos embrionários ................................................................... 27
2.1.4 Teoria da extensão direta .............................................................................. 28
2.1.5 Teoria das metástases linfáticas e vasculares ............................................. 29
2.1.6 Teoria da Transplantação, implantação do tecido endometrial ou
menstruação retrograde.......................................................................................... 30
2.2 Considerações ............................................................................................ 34

3. Epidemiologia da Endometriose ...................................................40

3.1 Prevalência e incidência............................................................................. 40


3.2 Fatores de Risco......................................................................................... 47
3.3 Considerações............................................................................................. 55

4. Fisiopatologia da Endometriose ....................................................62

4.1 Função dos hormônios na endometriose...............................................67


4.2 A Importância do útero na endometriose..............................................71
4.3 Comportamento alimentar e qualidade de vida poderiam ter um
papel na endometriose?...................................................................................74
4.4 Considerações ............................................................................................75

5. Aspectos Genéticos da Endometriose .......................................... 79

5.1 Endometriose e genética...........................................................................80


5.2 Hereditariedade..........................................................................................80
5.3 Abordagens na análise genética...............................................................82
5.4 Genes candidatos.......................................................................................83
5.5 Considerações.............................................................................................88

6. Tratamento Farmacológico da Endometriose.............................. 92

6.1 Progestinas e combinações de estrogênio-progestinas........................93


6.1.1 Via oral.............................................................................................................94
6.1.2 Via Intramuscular e Subcutânea...................................................................96
6.1.3 Via intrauterina...............................................................................................98
6.2 Análogos de GnRH: agonistas e antagonistas.....................................102
6.3 Danazol e Gestrinona..............................................................................105
6.3.1 Danazol..........................................................................................................105
6.3.2 Gestrinona.....................................................................................................106
6.4 Drogas Alternativas.................................................................................107
6.4.1 Os inibidores de aromatase.........................................................................108
6.4.2 Imunomoduladores e anti-inflamatórios..................................................109
6.5 Considerações finais................................................................................109
Apresentação | 7 |
Apresentação

A endometriose é uma das doenças mais complexas e miste-


riosas para a mulher, e em consequência para seus familiares. Consi-
derada como a doença das teorias, é causada pela presença de tecido
semelhante ao endométrio, não neoplásico, fora da cavidade uterina,
mantendo sua estrutura histológica e função conservada. Sua impor-
tância está no fato de incidir sobre 5% a 15% das mulheres em idade
fértil e de 20% a 40% das mulheres com dificuldade para engravidar.
Em uma primeira análise, tem-se como uma moléstia insidiosa, pro-
gressiva, podendo ser “destruidora” em suas consequências. Dados
ainda revelam que de 30% a 50% das mulheres com endometriose,
são inférteis. Estima-se que o número de mulheres com endometriose
seja de sete milhões nos EUA e de mais de 70 milhões no mundo.
Em países industrializados, já é considerada como uma das principais
causas de hospitalização ginecológica, sendo uma das doenças mais
estudadas em ginecologia. Esta afecção é considerada um importante
problema de saúde pública.
O livro Uma Abordagem integrada da Endometriose foi escrito com
o intuito de unir informações dos estudos nas áreas de Fisiologia,
Genética, Epidemiologia juntamente com dados recentes dos possí-
veis tratamentos. É uma abordagem que, no decorrer dos capítulos,
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através das diversas bibliografias utilizadas, foi possível explanar sobre


os primeiros indícios dos casos de endometriose, o surgimento das di-
ferentes teorias, sintomas, tratamentos clínicos e cirúrgicos, a relação
dos hormônios e endometriose, a identificação de fatores de risco e
fatores de proteção para o desenvolvimento da endometriose, além
de uma melhor caracterização da população acometida e a relação dos
genes candidatos para a endometriose.
Endometriose | 9 |
1. Endometriose

Izabel Aparecida Soares


Neuma Maria Moresco Ritt

1.1 Aspectos Gerais

Um erro de eliminação do tecido endometrial? Como poderia


o tecido endometrial estar na cavidade do útero?
Endometriose é o termo usado para designar a presença de
tecido endometrial ectópico, ou seja, presença e crescimento de glân-
dulas e estroma fora da cavidade uterina. (GIUDICE e KAO, 2004;
YANG et al., 2004; SHARPE-TIMMS, 2001). É uma doença gineco-
lógica comum, crônica, benigna, porém agressiva que afeta de 10 a
15% das mulheres em idade reprodutiva (YANG et al., 2004).
O tecido endometrial ectópico é, normalmente, funcionante
e sensível aos hormônios e drogas de maneira similar ao endométrio
situado no local original. A diferença entre a localização do tecido está
na bioquímica e funcionalmente em numerosas vias, receptividade a
esteróides, potencial invasivo e proliferativo (VINATIER et al., 2001;
NAP et al., 2004; ULUKUS et al. 2006). Sendo assim, está sujeito às
alterações que se manifestam no decurso do ciclo sexual feminino e
o sangramento das lesões endometrióticas parece contribuir para de-
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sencadeamento de reação imunológica local, inflamação e formação


de adesões fibróticas, que podem ser responsáveis pela sintomatologia
nas mulheres portadoras da doença (ARYA e SHAW, 2005).
Em geral, os sinais clínicos e sintomas da endometriose são
dismenorréia (dor pélvica durante a menstruação), dispaneuria (dor
durante o ato sexual), dor pélvica crônica, irregularidades menstruais e
infertilidade (ARYA e SHAW, 2005; WU et al., 2005). Outros sintomas
podem estar relacionados à doença, tais como: dor durante a ovulação
e fadiga crônica (KENEDY et al., 2005). Em aproximadamente 4%
dos casos há queixa de disúria, causada pelo envolvimento da bexi-
ga (HASSA et al., 2005), sendo que 3 a 34% das mulheres afetadas
apresentam sintomas relacionados ao trato gastrointestinal (GUSTO-
FSON et al., 2006). No entanto, muitas pacientes podem ser assinto-
máticas (NAP et al., 2004).
Os locais mais frequentes das lesões endometrióticas são o
peritônio e os órgãos pélvicos – principalmente ovários –, seguidos
pelo septo reto-vaginal. Menos de 12% das lesões localizam-se em re-
giões extra-pélvicas, com maior frequência nos tratos gastrointestinais
(sigmóide, reto, área ileocecal e apêndice) e urinário. (VERCELLINI
et al., 2007; ARRUDA et al., 2003; ABRÃO, et al., 2006; PODGAEC
et al., 2008). Raramente, pode acometer outras partes do corpo, como
pulmões, tórax, pericárdio e cérebro. Sua distribuição é variável, des-
de poucas regiões afetadas e lesões pequenas, até implantes difusos e
profundos envolvendo extensas áreas e órgãos pélvicos, além da for-
mação de cistos endometrióticos (endometriomas) e de aderências, as
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quais causam distorção da anatomia pélvica (KENNED et al., 2005;
BARLOW e KENNEDY, 2005).
Devido à variabilidade dos sintomas e à definição diagnóstica,
que requer abordagem cirúrgica, a incidência exata da endometriose é
desconhecida e difícil de ser determinada (PROWSE et al., 2005). To-
davia, acredita-se que aproximadamente 15% da população feminina
em idade reprodutiva sejam afetadas pela doença, sendo que 30 a 40%
das mulheres inférteis apresentam endometriose. Tem sido também
identificada como causa de dor pélvica e abdominal em 15 a 32% dos
casos submetidos a diagnóstico laparoscópico. Nas pacientes com en-
dometriose que apresentam dor pélvica, infertilidade ou ambas, a fre-
quência é de 35-50% (HASSA et al., 2005; GIUDICE e KAO, 2004).
A prevalência da doença é estimada em sete milhões nos EUA e de
mais de 70 milhões no mundo (VERCELLINI et al., 2007).
Alguns fatores de riscos estão associados ao aparecimento
da doença como: ciclos menstruais curtos e longa duração do fluxo
menstrual. Do mesmo modo, sugere-se que pacientes nulíparas ou
com menarca precoce apresentem um maior risco para desenvolver a
doença (DARROW et al., 1993; MISSMER e CRAMER, 2003). Tam-
bém foi relatada uma tendência poligênica e multifatorial para a endo-
metriose, sendo estimado maior risco (5 a 8%) para mulheres com his-
tórico familiar da doença, em parentes de primeiro grau (BISCHOFF
e SIMPSON, 2004), bem como uma concordância maior entre irmãs
gêmeas (HADFIELD et al., 1997).
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O diagnóstico inicial da endometriose é realizado pela histó-


ria clínica da paciente. Contudo, estabelecer o diagnóstico da endo-
metriose, somente com base na sintomatologia é uma tarefa bastan-
te difícil, pois pode variar desde ausência completa de sintomas até
dor pélvica incapacitante durante o período menstrual e infertilidade
(VIRCELLINI et al., 1991).
Além do que, a gravidade da doença nem sempre está rela-
cionada ao quadro clínico, podendo haver um intervalo de anos entre
o aparecimento de sintomas e o diagnóstico definitivo (KENNEDY
et al., 2005). Mesmo utilizando as imagens de ultra-sonografia, res-
sonância magnética e dosagem das glicoproteínas séricas CA-125 e
CA19-9, devido à maior concentração desses marcadores no endo-
métrio ectópico quando comparado ao endométrio normal, são úteis
somente para detecção de endometriomas ovarianos e implantes en-
dometrióticos extrapélvicos, respectivamente (SPACZYNSKI e DU-
LEBA, 2003; ARYA e SHAW, 2005). O procedimento padrão para
determinação da localização, classificação, extensão e tipo das lesões
é a laparoscopia, mesmo que algumas lesões não sejam reconhecidas
devido ao pequeno tamanho, ou por estarem atrás de estruturas de
adesão (BROSENS et al., 2004). Entretanto, por enquanto, não exis-
te diagnóstico confiável que não utilize esse método cirúrgico (SPA-
CZYNSKI e DULEBA, 2003; BARLOW e KENNEDY, 2005).
A dificuldade de se chegar ao diagnóstico e encontrar alívio
para o sofrimento físico, tornam a endometriose uma doença de im-
pacto negativo na vida da mulher, alterando seu rendimento profissio-
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nal, suas relações familiares, afetivas e sexuais, reduzindo sua qualidade
de vida e principalmente sua autoestima (JONES, 1988; KENNEDY,
1991; CHRISTIAN, 1993; DAMARIO e ROCK, 1995; DENNY,
2004; MARQUES et al., 2004; HUNTINGTON e GILMOUR, 2005).
A fim de fornecer uma forma padronizada de registro dos
dados patológicos, a American Society for Reproductive Medicine
(1997) organizou e propos a classificação da endometriose em quatro
estágios; grau I (mínima, de 1 a 5 pontos), II (leve, de 6 a 15 pontos),
III (moderada, de 16 a 40 pontos) ou IV (severa, mais de 40 pontos).
Ainda de acordo com os critérios da Sociedade Americana, o formu-
lário de classificação da endometriose inclui o registro de informações
sobre a morfologia da doença, recomendando fotografias coloridas
para documentação. As lesões devem ser categorizadas como: lesões
vermelhas, lesões brancas e lesões negras. A porcentagem de envol-
vimento da superfície em cada tipo de lesão deve ser documentada.
Além disso, para aumentar a precisão do sistema de pontuação, um
endometrioma ovariano deve ser confirmado por histologia ou pela
presença de: (a) tamanho do cisto < 12 cm; (b) adesão à parede lateral
pélvica; (c) lesões de endometriose na superfície ovariana; (d) fluido
persistente, espesso, cor de chocolate. Este método ajuda a avaliar a
severidade da doença e quantificar o volume das lesões, além de au-
xiliar na avaliação da resposta das pacientes ao tratamento (ARYA e
SHAW, 2005; KENNEDY et al., 2005). Mesmo sendo esse método de
classificação mundialmente aceito (ABRÃO et al., 2003), é provável
que outros fatores associados à endometriose, que contribuem para a
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infertilidade, sejam incluídos na classificação, permitindo uma previ-


são mais precisa de gravidez (BIRMINGHAM, 2006).
Embora a endometriose seja uma das alterações ginecológi-
cas mais estudadas, sua etiologia e origem ainda não foram esclare-
cidas. A teoria mais aceita para explicá-la é a teoria da implantação
de Sampson (1927). Prediz que o tecido endometrial liberado duran-
te a menstruação sofre refluxo através das tubas uterinas, adere-se
e prolifera em locais ectópicos da cavidade peritoneal. Entretanto,
as teorias da metaplasia do epitélio celômico, da indução, dos res-
tos embrionários, da imunidade celular alterada e da metástase das
lesões, também têm sido consideradas (WITZ, 1999; GIUDICE e
KAO, 2004).
O uso de drogas como análgésicos, pílulas contraceptivas orais
e análogos de GnRH, cirurgia ou ambos têm sido utilizados como tra-
tamento (MOUNSEY et al., 2006). Ainda que nenhuma terapia tenha
se demonstrado eficaz, as lesões são erradicadas com sucesso através
de procedimentos cirúrgicos, como eletrocauterização e destruição a
laser. Em 47% dos casos, há recorrência das lesões (ESFANDIARI et
al., 2007; MARCOUX et al., 1997). Para casos mais severos, a histe-
rectomia pode ser indicada, mas a taxa de recorrência recidiva nessas
pacientes é de 5 a 10% (ARYA e SHAW, 2005).
Em suma, a endometriose, mesmo sendo muito estudada nos
dias atuais, permanece rotulada como doença enigmática e de etiolo-
gia incerta.
Endometriose | 15 |
1.2 Infertilidade Feminina e a Endometriose

A infertilidade, segundo Bankowski et al. (2006), é definida


como a falência de um casal em idade reprodutiva para conceber de-
pois de no mínimo 12 meses de coito regular, sem contracepção. Mu-
lheres com diagnóstico de endometriose, de 5 a 25% possuem falta de
ovulação ou dificuldade para ovular. Além disso, 25 a 50% de mulhe-
res inférteis apresentam endometriose e 30 a 50% de mulheres com
endometriose são inférteis (D’ HOOGHE et al., 2003). Vale ressaltar
que sintomas característicos da endometriose como, a dismenorreia,
dispaneuria, dor pélvica não cíclica e infertilidade, podem ser devido
a uma inflamação peritoneal local, ocasionada pelos implantes endo-
metriais ectópicos (LEBOVIC et al., 2001) que sofreram sangramento
cíclico (ARYA e SHAW, 2005).
A associação da infertilidade com a endometriose pode estar
relacionada a alguns fatores como: distorção da anatomia pélvica de-
vido às adesões endometrióticas o que poderia prejudicar a liberação
do oócito ou inibição do seu transporte; função peritoneal alterada em
pacientes com endometriose, devido ao aumento do volume do fluído
peritoneal; aumento da concentração de macrófagos ativados, prosta-
glandinas, interleucina 1 (IL-1) TNF (tumor necrosis factor) e proteases.
Essas alterações causariam efeitos adversos no oócito, espermatozói-
de e embrião (BIRMINGHAM, 2006); a anormalidade na expressão
de moléculas endometriais, resultando em falhas na implantação em-
brionária (KAO et al., 2003). Essa consideração apóia-se no fato de
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que a expressão da integrina αVβ3, importante durante o período de


receptividade uterina ao embrião, está ausente no endométrio tópico
das mulheres afetadas pela patologia (VERNET-TOMÁS et al., 2006),
além do que, os altos níveis de óxido nítrico endotelial encontrados
nessas mulheres podem ser responsáveis por efeitos citotóxicos, que
tornam o útero menos receptivo ao embrião (KHORRAM e LES-
SEY, 2002), L-selectina em mulheres com endometriose durante a
fase de implantação, ou seja, o blastocisto não é capaz de encontrar
o local apropriado para aderir ao endométrio levando a uma falha
ou defeito no processo de implantação ao útero (GENBACEV et al.,
2003), fase lútea deficiente em mulheres portadoras de endometriose.
Quando a ovulação ocorre, apresentam insuficiência de corpo lúteo.
O folículo transforma-se após a ovulação em corpo lúteo com a fun-
ção principal de secretar o hormônio chamado de progesterona. O
hormônio progesterona auxilia na maduração e transformações do
endométrio e é indispensável no início da gravidez. A associação de
deficiência de corpo lúteo, aumento nas prostaglandinas e a diminui-
ção da progesterona trazem não só dificuldade para engravidar, como
para a manutenção da gravidez caso ela ocorra (ABRAO et al., 2006).
Entretanto, as várias questões fisiopatológicas e terapêuticas
a respeito da associação endometriose-infertilidade permanecem não
esclarecidas até o momento. É sabido que essa moléstia, associada a
danos tubários e/ou ovarianos, tem correlação evidente com infer-
tilidade. No entanto, uma questão clássica do tema parece começar
a ser solucionada, ou seja, a questão se a endometriose é uma causa
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de infertilidade em qualquer estágio e não um mero fator coexistente
(ABRAO e DIAS JR, 2008).

1.3 Considerações

A prevalência da dor, a demora no diagnóstico e a infertilidade


são características marcantes no quadro da endometriose. Acredita-
-se que estudos prospectivos, levando-se em conta fatores biológicos,
ambientais, sociais, culturais e psicológicos, são de importância fun-
damental na mediação da doença. A endometriose permanece cercada
de mitos, pouco conhecida e compreendida pelas próprias mulheres.
A demora no diagnóstico pode significar a cronicidade da doença,
independente do estadiamento da doença e de suas complicações. É
possível afirmar que todas as mulheres acometidas têm uma história
pessoal com a endometriose, seja pela dor ou pela infertilidade.

Sou o resultado, infelizmente comum em mulheres da minha idade, do sério com-


prometimento na vida pessoal da doença endometriose.
Quadro provocado pela demora no diagnóstico.
Demora, talvez, pela falta de conhecimento dos profissionais (médicos-ginecologis-
tas), do que é a endometriose e suas consequências. Finalmente, fui diagnosticada
como portadora de endometriose só aos meus 25 anos, porém as dores insuportá-
veis tiveram início na minha primeira menstruação.
As pessoas diziam que essa dor era normal e que, quando eu tivesse um filho
tudo passaria.
Ledo engano! Tive uma gravidez de risco, necessitei ficar de repouso, fazer uso de
muitas medicações antiabortivas e analgésicas.
Tive que ouvir no sexto mês de gestação que poderia não ver meu filho vivo.
Mas, meu filho nasceu de oito meses, pélvico, com alguns probleminhas pela posi-
ção que ele se gerou. Foi um guerreiro, pois enquanto meu útero contraía e os focos
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de endometriose menstruavam, ele permaneceu quietinho. Ele já sabia o quanto


me faria feliz!
Após a gravidez, as dores pioraram, tornaram-se incapacitantes.  Fiz uma
verdadeira via sacra nos ambulatórios médicos, porém, cinco anos se passaram
quando fui submetida à primeira viodeolaparoscopia (no total foram quatro).
Diagnóstico: “Endometriose proliferativa com comprometimento em praticamente
todos os órgãos próximos ao útero”. Vivi uma luta intensa, muita medicação,
menopausa induzida, ganho de peso. Mas, depois de um breve tempo as dores
estavam de volta.
No final, a endometriose me venceu, talvez por eu não saber absolutamente nada
do que sei hoje sobre a doença. O derradeiro final foi uma Histerectomia total.
Se estou curada? Ainda não sei, mas meu filho está se tornando um homem. Hoje
aos 17 anos, lindo e feliz me enche de orgulho (TOLEDO, PR, 2011).

Referências

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Etiopatogenia | 24 |

2. Etiopatogenia

Izabel Aparecida Soares


Suzymeire Baroni

A endometriose é uma das alterações ginecológica mais es-


tudada e, embora, com mais de cem anos de estudos científicos, sua
etiologia e origem ainda não foram esclarecidas. Este desconhecimen-
to resulta numa proliferação de teorias que, no entanto, se mostram
incapazes de explicar todas as formas de aparecimento e manifesta-
ção da doença. As implicações deste desconhecimento são ainda mais
graves, uma vez que implica o aparecimento de múltiplas propostas
terapêuticas, algumas das quais sem fundamento científico adequado
e, na maior parte dos casos, totalmente ineficazes para a resolução do
problema das doentes.
Alguns aspectos da doença continuam sendo alvo de pesquisa,
tendo em vista que ao se entender o motivo do desenvolvimento do
foco de endometriose, seria possível direcionar esforços para melho-
rar o diagnóstico e tratamento.
Segundo revisão de Knapp (1999), com dados históricos so-
bre a doença, credita-se a primeira descrição ao médico alemão Daniel
Shroen, em 1690, e Rokitansky, em 1869. A descrição foi baseada em
material de necropsia, já sugerindo ser esta uma doença comum que
Etiopatogenia | 25 |
acometia mulheres sexualmente maduras. Porém, somente em 1927,
Sampson caracterizou a endometriose como é conhecida atualmente,
elaborando a hipótese etiológica mais aceita, a teoria da transplantação.
Esta seção tem por objetivo descrever as várias teorias pro-
postas e relacionar, quando possível, com os locais de acometimentos
da doença.

2.1 Descrição das etiopatogenias

2.1.1 Teoria da metaplasia celômica

A teoria da metaplasia celômica, primeiramente proposta por


Iwanoff e Meyer (RIDLEY, 1968), sugere que o epitélio celômico pos-
sa se transformar, por metaplasia, em tecido do tipo endométrio. Tal
teoria tem sua base em estudos embriológicos datados por Gruenwald
na década de 40, nos quais demonstrou uma origem comum para os
canais mullerianos, o epitélio de superfície do ovário e o peritoneu
pélvico (RIDLEY, 1968). A base da sustentação desta teoria reside na
ocorrência de endometriose em qualquer local da cavidade abdominal
como: endometriose na cavidade torácica, classicamente atribuída a
um processo de metaplasia do epitélio pleural (VAN SCHIL et al.,
1996; JUBANYIK e COMITÉ, 1997; COIMBRA et al., 2000); endo-
metriose na ausência da menstruação ou pré-púbere (CLARK, 1948);
e, sobretudo, a rara ocorrência em homens (OLIKER e HARRIS,
1971; PINKERT et al., 1979; SCHRODT et al., 1980).
Etiopatogenia | 26 |

Entretanto, as discordâncias de alguns autores devem ser consi-


deradas, como o fato que a endometriose ocorre (na maioria dos casos)
quando o endométrio está presente. Sendo assim, os homens seriam
poupados da doença, pois esta ocorreria em qualquer lugar onde os te-
cidos são derivados de epitélio celômico e a frequência de endometriose
seria maior com a idade, se a metaplasia celômica fosse semelhante à
metaplasia comum (VINATIER et al., 2001; NAP et al., 2004).
Dessa forma, a aceitação desta teoria na patogênese da endome-
triose não é consensual devido à fragilidade de sustentação da mesma.

2.1.2. Teoria da Indução

A Teoria da Indução tem sido alvo de objeção quando descrita


de forma independente da teoria metaplasia celômica, isto porque são
consideradas complementares na explicação para o desenvolvimen-
to das lesões endometriais (WITZ, 1999). Uma só teoria nomeada
por indução da metaplasia celômica contemplaria facilmente a abran-
gência da proposta sem, no entanto, depreciar no seu conteúdo. Não
obstante, alguns autores continuam a apresentar isoladamente a teoria
da indução. A fundamentação desta teoria prediz que fatores imu-
nológicos e bioquímicos são os responsáveis pela indução de células
indiferenciadas em tecido endometrial (LEVANDER e NORMANN,
1955). Tais pesquisadores, em estudo experimental, implantaram no
tecido celular subcutâneo de coelhas, estimuladas com gonadotrofi-
nas, secções da parede uterina obtidas de coelhas grávidas, com endo-
Etiopatogenia | 27 |
métrio fresco ou previamente desnaturado. Ao analisarem os cortes
histológicos do material, foi possível identificar a presença de células
com características de endométrio e formações císticas, sendo a rea-
ção tecidular mais pronunciada no caso do endométrio. Este fato le-
vou os autores a concluírem que, mais do que as células endometriais
viáveis, seriam os produtos de secreção endometrial que estariam na
origem do desenvolvimento da endometriose.
Outro estudo semelhante feito por Merril (1966), que consis-
tiu na implantação de filtros microporosos no fundo de saco de Dou-
glas, no retroperitoneo ou no tecido celular subcutâneo de coelhas
contendo miométrio, gordura ou tecido endometrial. Através de cor-
tes histológicos, o autor observou que formações císticas revestidas
por células com características semelhantes as do endométrio, foram
vistas apenas no tecido adjacente aos filtros contendo tecido endome-
trial. Contudo, a presença de glândulas ou estroma endometrial, dois
componentes habituais das lesões de endometriose, não foi passível
de demonstração no tecido estudado.

2.1.3 Teoria dos restos embrionários

Teoria baseada na existência de células originárias do ducto de


Muller, com potencial desenvolvimento em endométrio funcionante.
Foi proposta no final do final do século XIX, quando Von Recklin-
ghausen, e pouco tempo depois Russel, faz os primeiros relatos da pre-
sença de tecido semelhante ao endometrial fora da cavidade uterina,
Etiopatogenia | 28 |

tendo ambos os autores defendido que, em presença de determinados


estímulos, restos celulares de origem mulleriana poderiam sofrer uma
diferenciação em tecido endometrial (WITZ, 1999; SELI, et al., 2003).
Segundo Russel, a presença de glândulas uterinas e tecido in-
terglandular em cortes histológicos de ovários normais teriam origi-
nado, de acordo com a sua conclusão, de reminiscentes dos canais de
Muller. Essa teoria é questionada quando se observa a distribuição
anatômica da endometriose não relacionada com as vias dos ductos
de Muller (NAP et al., 2004). Outro fato é a rara ocorrência de endo-
metriose em homens (OLIKER e HARRIS, 1971; PINKERT et al.,
1979; SCHRODT et al., 1980), constituindo um argumento impor-
tante para os defensores deste modelo, embora mesmo nestes casos
outras possibilidades etiopatogênicas se possam admitir, como é o
caso da metaplasia celômica.

2.1.4 Teoria da extensão direta

Teoria proposta por Cullen em 1908. Pressupõe que a progres-


são direta do endométrio eutópico através da musculatura uterina, re-
sultaria no desenvolvimento da endometriose (SELI et al., 2003). Cullen
constatou que em 55 de 56 casos estudados existia uma continuidade
direta de elementos glandulares característicos de epitélio endometrial,
em localização ectópica ao endométrio. A semelhança entre este meca-
nismo etiopatogênico proposto para explicar o desenvolvimento das
lesões de endometriose, e o já então descrito para a adenomiose esteve
Etiopatogenia | 29 |
na base da designação inicial de adenomiose externa (SELI et al., 2003).
No entanto, a questão que se colocou foi à falta da legitimidade da
aplicação desta teoria ao desenvolvimento da endometriose. Apesar do
reconhecimento da capacidade de crescimento, por um mecanismo de
extensão direta, de implantes de endometriose já estabelecidos, nunca
foi possível demonstrar que este mecanismo seja o responsável pelo
estabelecimento inicial dos referidos implantes endometrióticos.

2.1.5 Teoria das metástases linfáticas e vasculares

Halban (1924), baseado na observação de lesões de endome-


triose no espaço retroperitoneal, e em localizações não diretamente
adjacentes ao tecido peritoneal, propõe a teoria das metástases lin-
fáticas e vasculares. Tal teoria justifica a hipótese da disseminação de
tecido endometrial através do sistema linfático (WITZ, 1999; SELI et
al., 2003). Em 1925, Sampson acrescenta a possibilidade da via hema-
togénea para a ocorrência dessa disseminação, sustentando a sua pro-
posta na demonstração da presença de tecido endometrial nas veias
uterinas de uma doente com adenomiose (SELI et al., 2003). Tecido
endometrial encontrado no sistema linfático em 6,5% das peças ope-
ratórias de linfadenectomia pélvica fundamenta ainda mais esse tipo
de evidência (JAVERT, 1949).
Etiopatogenia | 30 |

2.1.6 Teoria da Transplantação, implantação do tecido


endometrial ou menstruação retrograde

Teoria mais aceita para explicar a origem da endometriose. Foi


proposta por Sampson (1927). Postula que o tecido endometrial, libe-
rado durante a menstruação, sofre refluxo através das tubas uterinas,
adere-se e prolifera em locais ectópicos da cavidade peritoneal (BRO-
SENS, 1993). Vários fatores corroboram com essa teoria como: o fluxo
menstrual retrógrado que ocorre em 90% das mulheres (HALME et
al., 1984); a presença de células epiteliais endometriais viáveis no fluído
peritonial (KRUITWAGEN et al., 1991), ou seja, células endometriais
têm características de adesão, implantação, crescimento e angiogênese
(VIGANO et al., 2004); e a associação entre fluxo menstrual obstruído
e endometriose (OLIVE e HENDERSON, 1987). A fim de comprovar
as premissas, estudos realizados por Halme et al. (1984) e de Liu e Hi-
tchcock (1986) demonstraram a veracidade da primeira premissa, atra-
vés da identificação do fenômeno da menstruação retrógrada em pro-
cedimentos cirúrgicos pélvicos, realizados durante o período menstrual.
A demonstração da viabilidade das células endometriais regur-
gitadas foi apresentada com cultura bem sucedida dessas células, ob-
tidas diretamente do sangue catamenial, (KEETTEL e STEIN, 1951)
ou do líquido peritoneal (BEYTH et al., 1975; NAGEL et al., 1984;
MUNGYER et al., 1987; KRUITWAGEN et al., 1991). A sustentação
mais definitiva desta teoria foi obtida com a demonstração de que as
Etiopatogenia | 31 |
células endometriais, uma vez na cavidade peritoneal, eram capazes
de se implantar e originar lesões de endometriose (SELI et al., 2003).
Todavia, vale evidenciar que apenas o refluxo tubário não é su-
ficiente para estabelecer a patologia, pois 90% das mulheres possuem
menstruação retrograda, sendo de 10 a 15% as que desenvolvem en-
dometriose. Desta forma, após a disseminação das células menstruais,
alguns estágios são necessários para a evolução da doença e sua manu-
tenção tais como:

»» Escape imunológico:
A capacidade de células endometriais ectópicas de neutrali-
zar a resposta imune local, foi sugerida como sendo um mecanismo
de escape, possivelmente devido a defeitos no sistema de vigilância
imunológica e supressão de células do sistema imune (LEBOVIC et
al., 2001; SIRISTATIDES et al., 2006). Mulheres com endometriose
têm apresentado algumas alterações na modificação da expressão de
antígenos do sistema HLA (human lymphocyte antigen) de classe I,
que são relevantes no reconhecimento imune (SEMINO et al., 1995),
a diminuição da atividade NK (natural Killer) e citotoxicidade contra
células endometriais ectópicas (OOTERLYNCK et al., 1991), a secre-
ção de fatores como o TGF-β (transforming growth factor) e prosta-
glandina E2 que inibe as funções dos linfócitos (HIRATA et al., 1994).

»» Mecanismos de adesão:
Quanto aos mecanismos de adesão, moléculas como integri-
nas e caderinas são as principais mediadoras da adesão célula-célula
Etiopatogenia | 32 |

e célula-matriz celular, sendo sua expressão importante para adesão


inicial de tecidos que sofreram descamação (BELIARD et al., 1997).
As células endometriais devem ter maior capacidade para estabelecer
interações célula-célula e entre células e matriz extracelular nos locais
onde se implantam. O tecido endometriótico, sendo capaz de expressar
diferentes integrinas, pode explicar a habilidade desse tecido em aderir
ao peritônio, uma vez que essas moléculas servem como receptoras de
laminina, fibronectina, colágeno tipo I e IV e vibronectina (REGIDOR
et al., 1998). Algumas moléculas de adesão como integrinas (α2β1, α3β1,
α4β1 e α5β1) e E-caderina são expressas em lesões endometrióticas,
podendo estar associada com a doença (WITZ, 2003).
A expressão aumentada de moléculas de adesão, como ICAM-
1, em mulheres acometidas pela endometriose, também auxilia na elu-
cidação desse fenômeno (MATALLIOTAKIS et al., 2001).

»» Mecanismos de invasão
Após a fixação, as células que formam a lesão devem ser hábeis
para invadir o tecido ao qual se ligaram. O mecanismo de invasão pelo
tecido ectópico é dependente de metaloprotease da matriz (MMPS).
As MMPs têm funções importantes no controle de mudanças cíclicas
do endométrio, na proliferação e inibição de crescimento, sendo regu-
ladas pelo estrógeno e progesterona (RODGERS et al., 1994). Logo,
o aumento da expressão de metaloproteinases, como MMP-2, e a ex-
pressão reduzida de seus inibidores, como TIMP-3, sugerem maior
atividade proteolítica e, consequentemente, maior potencial invasivo
Etiopatogenia | 33 |
de células endometriais em pacientes com endometriose (CHUNG et
al., 2002; COX et al., 2001).

»» Mecanismos de apoptose
O mecanismo de apoptose elimina as células senescentes da
camada funcional do endométrio uterino, durante a fase secretora tar-
dia do ciclo menstrual, substituindo-as por células novas durante a
fase proliferativa do ciclo. Porém, em mulheres com endometriose a
porcentagem de células que passam por apoptose é menor, eviden-
ciando que algumas células podem continuar a manifestar atividades
fisiológicas errôneas (DMOWSKI et al., 2001). A resistência a apopto-
se devido à desregulação entre moléculas pró-apoptóticas menos ex-
pressas, como a p53, e moléculas anti-apoptóticas, como Bcl-2, mais
expressas, pode explicar a persistência das lesões endometrióticas fora
da cavidade uterina (BRAUN et al., 2007; JONES et al., 1998).

»» Neovascularização
O ambiente peritoneal é altamente angiogênico e o aumento
na atividade e nas quantidades de VEGF-A (vascular endothelial gro-
wth factor), principal molécula envolvida, expressa nos implantes en-
dometrióticos, foi demonstrado no fluído peritoneal e no endométrio
de mulheres com endometriose (DONNEZ et al., 1998; VIGANO et
al., 2004).

»» Proliferação das células ectópicas


A aromatase é uma enzima que catalisa a biosíntese de estró-
geno. Em cistos endometrióticos e implantes endometriais extra-ova-
Etiopatogenia | 34 |

rianos, foi identificada a expressão aumentada de aromatase, sendo


possível que esta expressão elevada esteja envolvida na patogênese da
doença, pois é um estímulo de crescimento independente do ovário
(ZEITOUN e BULUN, 1999). A proliferação dos implantes endome-
triais é favorecida pelos hormônios esteróides e fatores de crescimen-
to específicos (TAYLOR et al., 2001). Exemplos de fatores que inten-
sificam o crescimento celular incluem FGF, EGF, TGF-α, TGF-β e
TNF- α (HAMMOND et al., 1993).

2.2 Considerações

Apesar da extensa literatura sobre a determinação da origem


da endometriose, sua etiologia permanece desconhecida.
Embora a teoria do fluxo retrógrado seja a mais aceita, diver-
sos autores sugerem uma origem diferente para cada um dos três tipos
de endometriose: a endometriose ovárica, endometriose profunda ou
de septo rectovaginal e a endometriose peritoneal.
Pensando em Von Recklinghausen, no final do século XIX,
ou mesmo em Cullen por volta de 1908, podemos perceber que essa
doença merece ter sua etiopatologia conhecida e determinada para
que as dúvidas possam ser elucidadas.
Conhecer a origem de uma disfunção pode fazer a grande di-
ferença no processo da busca pela cura e, então, de um possível trata-
mento preventivo.
Etiopatogenia | 35 |
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Epidemiologia da Endometriose | 40 |

3. Epidemiologia da
Endometriose

Djanilson Barbosa dos Santos

A endometriose representa uma doença ginecológica mais pre-


valente e mais pesquisada nos dias atuais? Esta é uma questão comum
que atualmente tem sido formulada, tendo em vista a quantidade de si-
tuações clínicas em que há suspeita da doença, de confirmações obtidas
durante procedimentos cirúrgicos ou mesmo achados casuais durante
cirurgias por outras indicações. É certo que tal assertiva tem justificativa
no fato de o diagnóstico da endometriose ser mais preciso e acessível
aos pacientes, graças ao desenvolvimento tecnológico do equipamento
laparoscópico, para a realização da laparoscopia, que se tornou proce-
dimento de indicação amplo e seguro. No entanto, diversas questões
ainda permanecem sem resposta definitiva, principalmente na identifi-
cação de fatores de risco e fatores de proteção para o desenvolvimento
da endometriose, além de uma melhor caracterização da população aco-
metida, conforme será discutido no próximo capítulo.

3.1 Prevalência e incidência

Endometriose representa uma afecção ginecológica comum,


atingindo de 5% a 15% das mulheres no período reprodutivo, e 3%
Epidemiologia da Endometriose | 41 |
a 5% na fase pós-menopausa (VIGANO et al., 2004). Estima-se que
o número de mulheres com endometriose seja de sete milhões nos
Estados Unidos da América e de mais de 70 milhões no mundo (VI-
NATIER et al., 2001). Em países industrializados, é uma das principais
causas de hospitalização ginecológica (VERCELLINI et al., 2007).
Duas situações demonstram a relevância da endometriose, en-
volvendo número de casos diagnosticados: esta afecção representa a
terceira principal causa de internação ginecológica nos Estados Unidos
entre mulheres de 15 a 44 anos (atrás apenas de moléstia inflamatória
pélvica e de cistos de ovário benignos) e foi listada como diagnóstico
em 0,6% de todas as mulheres atendidas em serviços americanos de
urgência, e 7,9% das internações ginecológicas (exceto relacionadas
à gestação) (VELEBIL et al., 1995; ESKENAZI e WARNER, 1997).
A endometriose atinge em torno de seis milhões de brasileiras,
15% das mulheres entre 15 e 45 anos de idade possuem essa doen-
ça. Esse percentual sobe para até 70% quando a mulher apresenta
histórico de infertilidade. Mulheres com endometriose têm 20 vezes
mais chances de serem inférteis. Sua associação com dor pélvica crô-
nica (DPC) pode ocorrer em 70 a 90% dos casos. Pode também ser
encontrada em 2 a 43% dos pacientes assintomáticos, submetidos à
videolaparoscopia por outras razões (PASSOS et al., 2006).
Pode-se lembrar que a incidência de uma doença é o percen-
tual de novos casos que são detectados numa população hígida, em
determinada unidade de tempo (por exemplo, um ano), e a preva-
lência é o percentual de pessoas numa população em determinado
Epidemiologia da Endometriose | 42 |

tempo, acometida pela doença (abrangendo, portanto, casos novos e


já detectados previamente). Desta forma, percebe-se que o cálculo da
incidência e da prevalência depende de dados populacionais consis-
tentes sobre o diagnóstico das diversas doenças.
No caso específico da endometriose, estes dados são espe-
cialmente difíceis de serem obtidos, tendo em vista que seu diagnós-
tico definitivo depende de um exame histológico e, nesta situação, de
procedimento invasivo, fato que somente está disponível e indicado
pontualmente. Além disso, não existe relação direta entre a presença
da doença e a sintomatologia apresentada pela paciente, o que cer-
tamente impede o diagnóstico em portadoras assintomáticas (VER-
CELLINI et al., 2007).
A ausência de método diagnóstico não cirúrgico que confirme
a presença da doença, e a dificuldade na obtenção de conhecimentos
sobre a epidemiologia da endometriose repercute consideravelmente
sobre a opção quanto à melhor forma de tratamento, se apenas clínico
ou cirúrgico (JACOBSON et al., 2009). Já que é inviável o rastreamen-
to de uma população através da realização indiscriminada de proce-
dimentos cirúrgicos, estudos que relacionam a prevalência da endo-
metriose e seus fatores de risco têm sido baseados apenas em casos
diagnosticados cirurgicamente, porém, tais estudos apresentam alta
taxa de vieses, já que um grande número de casos é perdido (ESKE-
NAZI e WARNER, 1997; ESKENAZI et al., 2001).
Os primeiros estudos epidemiológicos sobre a prevalência da en-
dometriose na população geral e em idade reprodutiva, datam dos anos
Epidemiologia da Endometriose | 43 |
40 e 50 e mostram, até hoje, variabilidade de 1 a 50% dos casos (CAN-
DIANI et al., 1991). Nos anos 70, antes da utilização da cirurgia vídeola-
paroscópica, encontravam-se apenas pacientes diagnosticadas com a do-
ença em estágios mais graves, e os estudos epidemiológicos eram restritos
a pacientes submetidas à laparotomia (WYKES et al., 2004).
Assim, com outros tópicos relativos à endometriose, como
etiopatogenia e tratamento, a epidemiologia desta doença apresenta
dados conflitantes e inconclusivos. A tentativa de identificação de fa-
tores de risco, a relação com informações sobe a vida reprodutiva
feminina, fatores genéticos e ambientais, em nenhum estudo mostra-
ram-se definitivos (ABRÃO et al., 1995).
Sendo assim, os dados existentes são imprecisos e variam de
acordo com o modo em que foi realizado o diagnóstico da doença,
conforme pode ser observado na Tabela 1. Vale ressaltar que mesmo
estudos com metodologias semelhantes apresentam resultados com
variação ampla, embora exista consenso que a endometriose encon-
tra-se presente em pelo menos 10% da população feminina em idade
reprodutiva (ESKENAZI e WARNER, 1997).
Epidemiologia da Endometriose | 44 |

Tabela 1. Prevalência de endometriose conforme a indicação cirúrgica


em diversos estudos clínicos

Pacientes com
Indicação Cirúrgica Pacientes
Endometriose
N N %
Anastomose tubária 1860 19 1
Laqueadura tubária 3060 61 2
Histerectomia vaginal 858 69 8
Histerectomia abdominal 5511 606 11
Laparoscopia diagnóstica por esterilidade 724 116 16
Laparoscopia terapêutica 2065 619 30
Laparoscopia diagnóstica (algia pélvica) 140 74 53

Fontes: Balasch et al. (1996); Damario e Rock (1995); West (1990).

Para analisar a população específica com suspeita clínica de


endometriose, Mathias et al. (1996) enviaram questionários validados
para 5.263 mulheres entre 18 e 50 anos, o resultado foi de 14,7% de
portadoras de dor pélvica crônica, sendo 61% sem causa definida e,
45% de diminuição da capacidade de trabalho devido à dor.
Houston et al. (1987) analisaram a população de mulheres
brancas de 15 a 49 anos, moradoras de Rochester, Minnesota, no
período de 1970 a 1979, encontrando incidência de endometriose
confirmada histologicamente em 160 novos casos diagnosticados em
100.000 mulheres/ano. Em perspectiva atual, é certo que todos os
estudos realizados antes de 1986 apresentariam resultados diferentes
se realizados após esta data, tendo em vista a mudança do diagnóstico
da endometriose, graças ao trabalho publicado por Jansen e Russell
Epidemiologia da Endometriose | 45 |
(1986), em que foram identificadas as lesões atípicas peritoniais da
doença não consideradas anteriormente.
O real perfil da paciente portadora de endometriose é im-
preciso, embora exista consenso que a doença está presente em pelo
menos 10% da população geral (BARBIERI, 1990; WEST, 1990;
ESKENAZI e WARNER, 1997), podendo alcançar 50% dos casos
em pacientes inférteis ou com dor pélvica crônica (HOUSTON et al.,
1987; DAMARIO e ROCK, 1995; MATORRAS et al., 1996; BALAS-
CH et al., 1996). Koninckx et al., (1991) demonstraram prevalência da
doença de 68% das mulheres com queixa de infertilidade, em 71%
com algia pélvica crônica e 84% em mulheres com ambas as queixas.
Esses números são difíceis de ser definidos por dois motivos
principais:

»» Não existe relação direta entre a presença da doença e o


sintoma descrito pela paciente. Assim, há mulheres com
muitos sintomas e que apresentam o diagnóstico da do-
ença em sua forma mais simples e há mulheres sem sinto-
mas, mas com a doença em seu grau mais avançado (VER-
CELLINI et al., 2007);

»» O diagnóstico definitivo ainda é obtido pela realização de


uma biópsia e, portanto, depende de um procedimento
cirúrgico invasivo para obtenção deste material. No entan-
to, a cirurgia somente é realizada em casos onde há forte
suspeita clínica de endometriose (ABRÃO et al., 2003).
A correta avaliação da incidência e da prevalência de endome-
triose ainda não é possível, mas a impressão obtida através dos diversos
Epidemiologia da Endometriose | 46 |

estudos – assim como da vivência clínica –, mostra que a prevalência


da patologia na população geral não é negligenciável, e provavelmente
é maior do que a descrita. É importante que se suspeite da presença da
endometriose em mulheres com quadro clínico de dismenorréia (dores
em cólicas de forte intensidade no período menstrual), dispareunia (dor
à relação sexual), irregularidade menstrual, disúria perimenstrual (dor
durante a micção no período menstrual), poliáciúria (aumento da fre-
quência miccional), urgência miccional e hematúria (emisão de sangue
através de uretra, acompanhado ou não pela urina), alterações intesti-
nais ou urinárias cíclicas e infertilidade, embora muitas destas pacientes
sejam assintomáticas (MATORRAS et al., 1996).
Historicamente, a frequência da endometriose tem sido descri-
ta somente em relação à prevalência em mulheres submetidas à hospi-
talização e outras pertencentes a grupos específicos. Na compilação de
dados, Houston (1984) demonstrou que a prevalência da endometriose,
avaliando-se casos submetidos a procedimentos cirúrgicos, tende a variar
amplamente de 0 a mais de 50% dos casos. Como esperado, esta tende a
ser maior em mulheres com antecedentes ginecológicos compatíveis com
manifestações clínicas da doença. Outros fatores que tendem a influen-
ciar as estimativas incluem o interesse do cirurgião perante a doença, o
tipo de cirurgia realizada (laparotomias e laparoscopias versus procedi-
mentos por via vaginal), critérios estritos de definição dos casos a serem
selecionados, e encaminhamento das pacientes para centros médicos de
referência (HOLT e WEISS, 2000; ZONDERVAN et al., 2002).
Epidemiologia da Endometriose | 47 |
O padrão da variação de incidência da endometriose ao longo
do tempo, é desconhecido, já que os casos populacionais, a longo
prazo, não são disponíveis. Estatísticas de mortalidade não são úteis,
neste caso, para estimar as tendências a longo prazo, já que a endome-
triose raramente é fatal (ZONDERVAN et al., 2002).

3.2 Fatores de Risco

Qual grupo de pacientes deve ser considerado de risco para en-


dometriose? Diversas teorias foram propostas no sentido de esclarecer
a patogênese da doença, convergindo-se para duas correntes principais
de hipóteses: a da metaplasia celônica (MEYER, 1919), onde ocorre-
ria transformação do epitélio ovariano ou do mesotélio peritoneal em
endométrio, e a do implante de células endometriais provenientes do
refluxo do sangue menstrual pelas trompas para a cavidade abdomi-
nal (SAMPSON, 1921), que ocorreria pela influência de um ambiente
hormonal favorável e de fatores imunológicos que não “varreriam” tais
células deste local impróprio (WEED e ARGUEMBOURG, 1980). A
importância destas considerações reside no sentido de se verificar em
quais grupos e situações poderiam ser identificados fatores de risco en-
volvidos no desenvolvimento da endometriose, principalmente quanto
a níveis estrogênicos elevados e distúrbios da imunidade.
No entanto, o principal problema desta identificação se con-
centra na seleção dos grupos a serem comparados. A identificação
de cirurgia e a confirmação laparoscópica da doença se concentram
em dois grupos principais: pacientes com dor pélvica e pacientes que
Epidemiologia da Endometriose | 48 |

procuram tratamentos para infertilidade. No primeiro grupo, este


diagnóstico é realizado nas mulheres que têm acesso a sistema de
saúde que permite o procedimento, fato que nem sempre é factível,
principalmente ao se considerar o atendimento médico terciário dis-
ponível em nosso meio. Neste tipo de avaliação, há interferência (viés)
do nível socioeconômico e da escolaridade da paciente e, em última
análise, da severidade dos sintomas, que impulsiona a paciente a pro-
curar o tratamento. Este aspecto pode ser observado pela distribuição
de pacientes atendidas no Setor de Endometriose do Departamento
de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), segundo seu grau de
instrução, onde se destaca grande porcentagem (53%) de mulheres
com segundo grau e nível universitário, se comparado ao universo
de pacientes carentes e de baixa escolaridade (ABRÃO et al., 1995),
apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 - Distribuição das pacientes do setor de endometriose do
HC-FMUSP segundo o grau de instrução

Grau de Instrução N %
Nenhum 4 1,91
Primeiro grau (completo ou em curso) 94 44,98
Segundo Grau (completo ou em curso) 59 28,23
Universitário (completo ou em curso) 52 24,88
Total 209 100,00

Fonte: Abrão et al., (1995).


Epidemiologia da Endometriose | 49 |
A endometriose não era reconhecida como entidade patológi-
ca até o século XVIII. Porém, desde sua descrição por Sampson, em
1921, o número de casos apresentados sobre a doença vem aumen-
tando significativamente, além dos estudos, ao longo dos anos, sobre
seu comportamento, etiopatogenia e técnicas diagnósticas e terapêu-
ticas (SAMPSON, 1921). No entanto, pouco ainda se sabe sobre esta
doença enigmática. Várias características pessoais foram sugeridas na
literatura como fatores de risco para endometriose, sendo alguns deles
descritos tanto como causas, quanto consequências da doença. Serão
descritos, a seguir, alguns destes fatores estudados:

»» Idade
A endometriose é uma doença rara antes da menarca, e tende
a diminuir após a menopausa (HEILIER et al., 2007; PARAZZINI
et al., 2004). A maioria dos estudos demonstra forte associação en-
tre endometriose e idade reprodutiva (MELIS et al., 1994), apesar de
existirem relatos de casos de endometriose em mulheres que nunca
menstruaram e, ou ainda de mulheres na menopausa. Observa-se um
declínio em sua incidência a partir dos 44 anos de idade. O risco de
doença em mulheres entre 45 e 49 anos é cerca de três vezes maior
quando comparado a mulheres entre 15 e 19 anos, provavelmente
pela ação hormonal estrogênica persistente por longo tempo (SIG-
NORELLO et al., 1997).
Bellelis et al. (2010) encontraram a média de idade de 33,2
anos, das 892 pacientes com endometriose, indo ao encontro do
Epidemiologia da Endometriose | 50 |

publicado na literatura (ARRUDA et al., 2003), tanto com relação à


mulheres inférteis quanto àquelas com queixas álgicas. Arruda et al.
(2003) demonstraram idade média de diagnóstico de endometriose
de 30 anos para mulheres inférteis, e de 33 anos para pacientes com
queixas álgicas.
Sangi-Haghpeykar e Poindexter (1995) evidenciaram razão de
chances (OR) de 2,0 em mulheres com mais de 36 anos para a ocor-
rência de endometriose, quando comparadas a um grupo de mulheres
mais jovens.
No passado, vários autores inferiram, de maneira incorreta,
a idade de maior risco da endometriose como sendo relacionada ao
momento do diagnóstico. No estudo realizado no Brasil, Arruda et al.
(2003) observaram atraso de 7 anos entre o início dos sintomas e a reali-
zação de diagnóstico definitivo para a doença, intervalo variando de 3,5
e 12,1 anos, dependendo da idade da paciente e da queixa clínica especí-
fica, se infertilidade ou dor. Sendo assim, o diagnóstico definitivo pode
ser protelado por vários anos, devido ao grande arsenal terapêutico que
temos a disposição e, que de forma indireta acaba por retardar a obten-
ção do diagnóstico definitivo da doença (KENNEDY et al., 1996).

»» Raça
O uso de variáveis como: raça e etnicidade nos estudos epi-
demiológicos, tem tido um papel instrumental na identificação e do-
cumentação dos padrões de saúde entre determinados grupos popu-
lacionais, no controle de presumíveis fatores de risco potencialmente
confundidores e na revelação de iniquidades em saúde.
Epidemiologia da Endometriose | 51 |
Alguns estudos demonstram que a grande maioria das pacientes
com endometriose são da raça branca (HEMMINGS et al., 2004). No
entanto, ainda não foi bem estabelecido se tal fato indica suscetibilida-
de racial ou apenas um viés. As associações encontradas nos estudos
são, em geral, realizadas de acordo com a idade de acometimento e
prevalência estimada da doença. Além disso, tais comparações não são
ajustadas em relação ao estado sócioeconômico destas mulheres, contri-
buindo ainda mais para estas diferenças. Normalmente, esta associação
é realizada somente em relação à admissão destas mulheres em serviços
públicos ou privados, o que no caso da endometriose não representa
padrão fidedigno para estratificar tais mulheres (HOUSTON, 1984).
Outros estudos ainda demonstram ocorrência comum da en-
dometriose em mulheres orientais, porém todos eles apresentam fa-
lhas em sua metodologia (MIYAZAWA, 1976). Sangi-Haghpeykar e
Poindexter (1995) demonstraram OR de 8,6 entre mulheres asiáticas
comparadas a mulheres brancas, em estudo controlado.
Bellelis et al. (2010) observaram uma predominância de mu-
lheres brancas acometidas pela endometriose e uma diferença impor-
tante entre as raças negra e amarela, em que a segunda representou
somente 4,6% do total de pacientes. A literatura demonstra taxas que
podem chegar até 97% de mulheres caucasianas acometidas pela do-
ença, e outras que demonstram uma predominância de mulheres japo-
nesas (KASHIMA et al., 2004; HEMMINGS et al., 2004).
Deve ser lembrado que a maioria dos estudos encontra diferen-
ças na prevalência entre as diversas raças, porém, estas não são estatis-
Epidemiologia da Endometriose | 52 |

ticamente significantes (STEFANSSON et al., 2002), o que leva a não


creditar diferenças raciais entre fatores de risco para a doença. Desta
forma, estudos populacionais comparativos ainda são necessários para
se confirmar o risco da doença embasado na raça da paciente.

»» Escolaridade
O nível educacional entre mulheres com endometriose tende
a ser mais elevado, assim como o nível socioeconômico (STEFANS-
SON et al., 2002; HEMMINGS et al., 2004). Concordante com a pri-
meira informação, tem-se no grupo de interesse 51,9% de mulheres
com nível universitário (BELLELIS et al., 2010). Talvez isto ocorra
devido ao viés de maior acesso a cuidados médicos e por maior pre-
ocupação com a saúde individual, em se tratando de dor pélvica ou
infertilidade (STEFANSSON et al., 2002; PARAZZINI et al., 2004).
Matorras et al. (1996) não relataram diferenças quanto ao nível socio-
econômico, comparando mulheres férteis com ou sem endometriose.

»» Estado civil
O estado civil vem recebendo pouca atenção quando compa-
rado aos demais fatores de risco para a ocorrência da endometriose.
Houston et al. (1987) relataram prevalência de 12% entre mulheres
solteiras. Sangi-Haghpeykar e Poindexter (1995) observaram 73% em
pacientes casadas em estudo comparativo de mulheres com endo-
metriose e controles. Tal associação apresenta relevância quando se
considera a ocorrência de gestações (mais frequentes em mulheres
com uniões estáveis) ou em relação ao papel do número de parceiros
sexuais (CALHAZ-JORGE et al., 2004).
Epidemiologia da Endometriose | 53 |
»» Características do ciclo menstrual
A maioria dos estudos epidemiológicos demonstra que idade
precoce da menarca, geralmente definida como inferior a 11 anos, au-
menta o risco para a doença (PARAZZINI et al., 2004; MOEN, 1993).
Vários estudos também associam o aumento do risco à presença de
ciclos menstruais mais curtos, definidos com duração menor que 27
dias (CANDIANI et al., 1991). Sangi-Haghpeykar e Poindexter (1995)
demonstraram maior risco para endometriose em mulheres com ci-
clos mais longos (30 dias ou mais), quando comparadas a mulheres
com ciclos mais curtos (10 a 14 dias) (OR=1,7). Matorras et al. (1996)
observaram maior proporção de mulheres com endometriose com
duração do ciclo igual ou inferior a 27 dias (OR=1,8).

»» Gestação
Em relação aos antecedentes obstétricos, a nuliparidade vem
sendo constantemente retratada como tendo forte associação com a
endometriose (KUOHUNG et al., 2002). Na realidade, não é possível
a determinação da nuliparidade como fator de risco para a doença, ou
se pacientes portadoras de endometriose têm uma maior dificuldade
em engravidar (VIGANÒ et al., 2004). Abortamentos parecem não
estar relacionados à endometriose ou ao seu risco (STEFANSSON et
al., 2002; PARAZZINI et al., 2004), sendo que no estudo de Bellelis
et al. (2010), há prevalência maior de nuligestas, nulíparas e pacientes
que nunca tiveram abortamentos.
Epidemiologia da Endometriose | 54 |

Do mesmo modo, a endometriose confere até 20 vezes mais


chances de infertilidade (VINATIER et al., 2001) e é interessante ob-
servar nos dados extraídos que cerca de 40% das pacientes são infér-
teis, primária ou secundariamente. Sabe-se, no entanto, que tais situa-
ções podem levar a uma maior exposição ao estrogênio, propiciando
condições mais favoráveis ao aparecimento desta enfermidade. Além
disso, pode-se observar associação com outras doenças estrogênio-
-dependentes, como o leiomioma uterino ou o câncer de endométrio
(HEMMINGS et al., 2004).

»» Tendência Familiar
A base genética e hereditária da endometriose é a cada dia mais
evidenciada. A identificação do fator familiar e genético revela-se, do
mesmo modo, difícil devido ao problema do diagnóstico invasivo da
endometriose. Até a década de 1960, a ideia da tendência familiar para
o desenvolvimento de endometriose era baseada apenas em relatos de
caso. Moen e Magnus (1993) entrevistaram 533 pacientes norueguesas
com endometriose confirmada cirurgicamente, e 149 pacientes com
pelve normal documentada através de esterilização tubária laparos-
cópica. Encontraram tendência estatisticamente significativa de ma-
nifestações sugestivas de endometriose em pacientes com histórico
familiar: 3,9% de mães e 4,8% irmãs afetadas pela doença no grupo
de pacientes com endometriose e somente 0,6% de irmãs de mulheres
do grupo de controle eram portadoras de endometriose. Este estudo
também relatou a existência de seis dentre oito gêmeas monozigóticas
(75%) que apresentaram endometriose documentada cirurgicamente.
Epidemiologia da Endometriose | 55 |
Kennedy et al. (1996) analisaram 230 pacientes portadoras de
endometriose e observaram 19 casos de mãe e filha portadoras, 16
pares de irmãs e um caso de irmãs gêmeas. Bellelis et al. (2010) ana-
lisaram 892 pacientes com endometriose e encontraram aproximada-
mente 5,3% das pacientes que relatavam antecedentes familiares de
primeiro grau, com história de endometriose. Ainda sem evidência
do modo exato de transmissão, foi observado que o risco genético
deve ser mais provavelmente devido a diversos genes (e não apenas a
um gene altamente penetrante), cada um responsável por um pequeno
incremento de risco.
Estudos encontraram riscos maiores de três a nove vezes para
irmãs e mães de mulheres com endometriose (KASHIMA et al., 2004;
TRELOAR et al., 1999), além de estudos com gêmeos mostrarem que
a concordância entre gêmeas monozigóticas é duas vezes maior que
a concordância entre dizigóticas (SANGI-HAGHPEYKAR e POIN-
DEXTER, 1995). Outros estudos foram publicados com resultados
semelhantes, concluindo-se que a história familiar da endometriose,
talvez possa ser explicada pela mesma herança genética, mas também
podem ocorrer similaridades no estilo de vida das pacientes que via-
bilizem tal fato.

3.3 Considerações

Os estudos epidemiológicos podem contribuir de maneira


significativa para a investigação de uma doença. Quando se estuda a
endometriose, o interesse foca-se em pacientes sintomáticas. Desta
Epidemiologia da Endometriose | 56 |

forma, sugere-se que a endometriose deva ser definida não somente


pela presença de endométrio ectópico, mas também pela evidência
de atividades das lesões ou alterações da fisiologia normal das mes-
mas. Independente de qual definição usar, há a necessidade de se es-
tabelecer quais fatores de risco poderiam ser importante, a fim de se
diagnosticar uma paciente com endometriose e avaliar se estes fatores
seriam suficientes para a seleção de um grupo controle adequado.
Apesar dos vários estudos existentes sobre a epidemiologia, e
o quadro clínico da doença, nenhum trouxe clareza no direcionamento
propedêutico e nem esclareceu as chances da paciente ser portadora da
doença. Assim, o conhecimento adequado das variações no compor-
tamento da doença, aliados a uma adequada abordagem clínica e uma
correta utilização dos métodos diagnósticos são fundamentais para se
alcançar adequada resposta terapêutica. Esta resposta pode fazer com
que, apesar da complexidade citada, a endometriose possa ser bem con-
trolada, permitindo à paciente uma boa qualidade de vida.

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Fisiopatologia da Endometriose | 62 |

4. Fisiopatologia da
Endometriose

Suzymeire Baroni
Rodrigo Patera Barcelos

A mulher apresenta uma característica peculiar dentro da raça


humana: a natureza a programou para gerar seus descendentes. Para
isso, sua anatomia e fisiologia foram desenhadas e geneticamente pro-
gramadas para essa função. Embora as fêmeas da raça humana se sin-
tam privilegiadas por acolherem o processo de formação de sua prole,
elas pagam um alto preço, fisiologicamente falando.
Desde a fase embrionária, a mulher já apresenta diferenciações
nas suas programações tanto genéticas como fisiológicas, que a prepa-
ram para seu futuro desempenho. A sequência de eventos genéticos
na formação dos gametas obedece um delicado e sutil mecanismo de
ligar e desligar genes. O perfeito caminho da síntese de proteínas, que
determinam as inúmeras fases, prepara o organismo da fêmea para
liberar seus gametas, que se fecundados formam o embrião o qual
deverá ser mantido íntegro até o nascimento.
Em seu celebre livro Menstruação: a sangria inútil (1996), o pro-
fessor Dr. Elsimar Coutinho, aborda com muita propriedade a evo-
lução da fisiologia dos processos formadores e mantenedores da fer-
Fisiopatologia da Endometriose | 63 |
tilidade da fêmea humana. Essa abordagem enfatiza a menstruação
como um fenômeno ligado implicitamente ao endométrio e mostra
como, no decorrer dos séculos, a mulher sofreu alterações profundas
nesse processo fisiológico.
Na pré-história, tempos que a espécie humana era puramente
uma raça coletora e nômade, a mulher raramente menstruava. Após
a menarca, que ocorria por volta dos 18 anos, a mulher era copulada
pelo homem e logo engravidava. Assim, as mulheres primitivas alter-
navam períodos de gestação e lactação sem menstruar (amenorréia) e
morriam por volta do 28 anos.
Com a evolução da organização social do Homo sapiens a situ-
ação da mulher mudou. O acasalamento obedecia regras, mas ainda
assim elas passavam grande parte de sua vida em gestação e amamen-
tação. A menstruação regular era reservada para as mulheres estéreis,
que por consequência eram repudiadas por seus maridos e se torna-
vam prostitutas.
Nos primeiros séculos, a medicina ainda engatinhava quando
Andrea Vesalius (1514-1564) detalhou o corpo humano (como nunca
havia sido anteriormente) em sua obra De Humanis Corporis Fabrica.
Vesalius descreveu corretamente o útero, e seus discípulos deram con-
tinuidade ao seu trabalho descrevendo os grandes lábios e a vagina.
Com o aperfeiçoamento do microscópio no século XVIII, as pesqui-
sas permitiram um conhecimento mais detalhado das alterações do
endométrio durante o ciclo menstrual. Mas, ainda assim, foi somente
Fisiopatologia da Endometriose | 64 |

no século XX que a atividade cíclica do útero foi estudada por pesqui-


sadores alemães (HITSCHMANN e MONATSSCHR, 1908).
Em 1909, os termos proliferativo e secretório foram usados
pela primeira vez (ALLEN, 1927) para explicar as fases pré e pós-
-ovulatórias do endométrio. O conhecimento dos hormônios trouxe
uma perspectiva relevante do ciclo do endométrio e suas patologias.
O entendimento sobre a fisiologia reprodutiva da mulher deve-se ba-
sicamente a esse ciclo e sua dinâmica frente à ação hormonal.
No século XX, a mulher conquistou um lugar de valor na so-
ciedade humana e, com isso, pode decidir sobre seu corpo, no que diz
respeito a engravidar ou não. Métodos anticonceptivos trouxeram uma
nova perspectiva para o crescimento populacional, além de proporcio-
nar à mulher um melhor desempenho na vida sexual, visto que o temor
de uma gravidez indesejada estava afastado. Com isso, a menstruação
passou a ser um evento bem comum na vida da mulher moderna.
A menstruação é uma hemorragia uterina provocada pela des-
camação da camada funcional do endométrio advinda da queda dos
níveis dos hormônios ovarianos. O processo contrátil que expulsa a
camada funcional do endométrio ocorre pela ação do miométrio. O
evento menstrual é reconhecido pelo seu caráter hemorrágico de du-
ração auto-limitada (cerca de 5 a 7 dias) e que se repete periodicamen-
te em intervalos de 28 dias em caso de não concepção (AGAJANO-
VA et al., 2011; BIANCO et al., 2010; BUMS e SCHENKEN, 1999;
CHEESMAN et al., 1982; VALLE, 2002).
Fisiopatologia da Endometriose | 65 |
O insucesso reprodutivo se repetirá quando a mulher for infértil,
ou se abstiver voluntária ou involuntariamente de manter contato sexual,
ou tiver relações com homens inférteis ou, sendo fértil, recorra a méto-
dos artificiais contraceptivos. Esse insucesso resultará na menstruação.
O útero, neste aspecto, torna-se um órgão cíclico que varia
conforme as informações hormonais. Esse tecido, nas mulheres do
século XXI, possui uma dinâmica diferente das mulheres ancestrais
e com essa nova dinâmica, muitas patologias catameniais surgiram e
trouxeram outras limitações para as mulheres.
O endométrio, na sua fase proliferativa, se caracteriza pela sua
reepitelização e pela renovação da camada funcional, reconstrução do
tecido conjuntivo das artérias espiraladas e das glândulas. Essa fase é
concomitante ao desenvolvimento dos folículos ovarianos, e por isso
também chamada de fase estrogênica (CHEESMAN et al., 1982).
Nesta fase, o mecanismo de sinalização celular é fundamental,
já que células da base das glândulas se proliferam, revitalizam o epitélio
do útero e potencializam as novas glândulas que vão acumular glicogê-
nio semelhante às células do estroma endometrial. Por volta da época
da ovulação, o endométrio está totalmente restaurado à espera da ovu-
lação. Mas, qual mulher do século XXI está disposta a manter seu endo-
métrio hora proliferando para ser nidado e hora mantido pela gestação?
Vivencia-se uma nova era da resposta celular do endométrio
frente à mulher que pode dominar seu ciclo ovulatório. Desta forma,
o endométrio estimulado pela progesterona entra na fase secretória,
onde há um aumento em seu espessamento, fruto das secreções ricas
Fisiopatologia da Endometriose | 66 |

em glicogênio e como não ocorreu a nidação essa fase é seguida pela


fase menstrual. Pode-se, assim, concluir que a mulher do século XX
e XXI passa a maior parte de sua vida menstruando, desde sua me-
narca, que ocorre mais cedo, até sua menopausa. A interrupção da
menstruação, em mulheres normais, só ocorre pela gestação seguida
de amamentação ou se houver interferência via terapia hormonal que
estimule períodos de amenorréia
Historicamente a mulher trocou a gestação pela menstruação
e, com isso, houve uma alteração na programação biológica do orga-
nismo da fêmea. Por conta dessa alteração no ciclo uterino e ovariano,
algumas doenças surgiram.
Doença catamenial, bem explicada pelo doutor Elsimar Cou-
tinho, se refere à várias patologias que se manifestam durante a mens-
truação. Essas patologias são provocadas pelas alterações imunológi-
cas, hemodinâmicas e metabólicas que ocorrem no período menstrual
ou onde o processo menstrual potencializa doenças pré-existentes.
A endometriose é considerada uma doença catamenial, visto
que ela está intimamente ligada à dinâmica do endométrio. Essa pato-
logia é definida pela presença de tecido endometrial fora da cavidade
uterina, que tem as mesmas características teciduais e fisiológicas do
endométrio original, sendo altamente responsivo a ação hormonal e um
potencializador de esterilidade (BUMS e SCHENKEN, 1999; COUTI-
NHO, 1996; CHEESMAN et al.,1982; MUSE e WILSON,1982).
Há discussões sobre a histogênese do tecido endometrial fora
da cavidade uterina. Uma teoria (Teoria da Deslocação ou Menstru-
Fisiopatologia da Endometriose | 67 |
ação retrograda) preconiza que o fluxo menstrual escapa do útero
através das tubas uterinas e penetra na cavidade peritoneal. Outra,
propõe que células epiteliais do peritônio se diferenciam em células
endometriais (Teoria Metaplásica), e uma terceira proposta, teoriza
que a endometriose tem origem na disseminação linfática de células
endometriais no período menstrual (YANEZ, 2008).
Independentemente da origem destas células fora do útero,
uma coisa é fundamental na sua fisiopatologia: esse tecido sofre todas
as mudanças cíclicas do endométrio na cavidade uterina, isto porque
o tecido endometrial ectópico possui células com receptores de mem-
brana para os hormônios que se fazem presentes durante o ciclo ova-
riano e, desta forma, sua fisiologia se assemelha ao endométrio que
está dentro da cavidade uterina.

4.1 Função dos hormônios na endometriose

A fisiologia do endométrio se relaciona intimamente com a regu-


lação endócrina. O hormônio luteinizante (LH) e o folículo estimulante
(FSH) são glicoproteínas cuja função é regular os processos reprodutivos
e secreção dos esteróides sexuais pelo ovário, no caso da mulher. A se-
creção destes dois hormônios, por sua vez, é estimulada por um único
hormônio que é produzido no hipotálamo, hormônio liberador de gona-
dotrofinas (GnRH) (FOX, 2007; AIRES, 2008; SILVERTHORN, 2010).
Fisiopatologia da Endometriose | 68 |

O GnRH é um decapeptídeo sintetizado ao nível do núcleo ar-


queado e na área pré-óptica do hipotálamo, sendo posteriormente trans-
portado até a iminência mediana e armazenado em grânulos de secreção.
Anteriormente a puberdade, o GnRH tem secreção contínua
e não consegue estimular a secreção de gonadotrofinas pela hipófi-
se. Na puberdade, pela maturação do sistema límbico, a secreção do
GnRH se torna pulsátil modulada por influências inibitórias (dopami-
nérgicas) e excitatórias (noradrenérgicas).
O GnRH chega à adeno-hipófise através dos vasos do sistema
porta-hipofisário e se liga a receptores de membrana dos gonadotró-
fos. Esta sinalização gera segundos mensageiros (cálcio-calmodulina,
fosfatilinositol e derivados) estimulando a exocitose dos grânulos de
gonadotrofinas presentes na adeno-hipófise (AIRES, 2008; CUNHA-
-FILHO et al., 2001).
Da mesma forma, a secreção de LH e FSH ocorre de maneira
pulsátil após a puberdade, nas diferentes condições da vida reprodu-
tiva. O padrão pulsátil destes dois hormônios é mantido e regulado
pela secreção, também pulsátil, do GnRH (SILVERTHORN, 2010).
Interessante aqui, é ressaltar o motivo da terapia com GnRH
nos casos de endometriose. O mecanismo down-regulation, onde a se-
creção pulsátil do GnRH mantém a sensibilidade dos gonadotrófos,
assegura a secreção de gonadotrofinas. Mas, se a frequência de pulsos
de GnRH é muito alta, bem como sua concentração elevada, os re-
ceptores de GnRH dos gonadotrófos são inibidos e dessensiblizados,
diminuindo a secreção de LH e FSH. Desta maneira, a terapia usando
Fisiopatologia da Endometriose | 69 |
GnRH, ou análogos em altas concentrações, em mulheres portadoras
de endometriose, levam a uma baixa taxa de hormônios sexuais, que
têm ação trófica sobre o endométrio uterino e o ectópico.
Os mecanismos envolvidos na geração destes pulsos não es-
tão ainda bem estabelecidos, mas há uma hipótese de um “gerador de
pulsos de GnRH” no hipotálamo, que parece contar com neurônios
que funcionam como marca-passo. Discute-se se o pico de GnRH e
gonadotrofinas é consequência de uma aumento de amplitude, ou de
frequência, ou de ambos (SILVERTHORN, 2010).
Os hormônios progesterona e estrogênio (hormônios ovaria-
nos) são bem conhecidos das mulheres durante sua vida reprodutiva.
Os ginecologistas mais cuidadosos sempre pedem dosagens desses
hormônios, pelo menos a cada dois anos em mulheres jovens. Esses
hormônios em dosagens ideais revelam o equilíbrio da adeno-hipófise
e, consequentemente, do hipotálamo, já que os hormônios gonado-
tróficos (FSH e LH) têm ação direta sobre os ovários.
A secreção cíclica sincronizada de hormônios ovarianos e go-
nadotrofinas tem funções como: induzir o crescimento do folículo e
a ovulação, aumentar a receptividade sexual no período ovulatório e
preparar o sistema reprodutor feminino para a gestação. Isso inclui
o preparo do útero para a implantação do embrião a ser fecundado
(GARTNER e HIATT, 2007).
Estudos já feitos sugerem que alterações hormonais estejam
relacionadas ao aparecimento de tecido endometrial ectópico (fora do
Fisiopatologia da Endometriose | 70 |

útero). Essa correlação foi observada na anormalidade de secreção


de progestorena, estrogênio e alterações da formação do corpo lúteo.
Outros autores (MIO et al., 1992; MOON et al., 1993) fazem
correlação da endometriose com galactorréia, síndrome do folículo
não roto (óvulo não é eliminado do ovário) além da secreção anô-
mola do LH.
Um estudo de Aghajanova et al. (2011) revela nos seus resulta-
dos, que receptores TSHR (Thyroid-Stimulating Hormone Receptor)
e receptores de hormônios tireoidianos estão relacionados com a en-
dometriose humana e consequente esterilidade.
O organismo da mulher está programado geneticamente para
a reprodução, e todo o aparato hormonal que regula as mais delicadas
etapas do ciclo devem estar em homeostasia, com controle de retroali-
mentação negativa e positiva em sincronia com todo o organismo. Na
grande maioria, as mulheres pouco conhecem seu próprio corpo, não
percebem mudanças sutis que podem estar associadas a patologias,
como a endometriose.
Mulheres que se interessam em conhecer o funcionamento
dos mecanismos hormonais de seu ciclo, e o que esperar de cada etapa
têm melhores chances de detectarem diferenças e alterações no seu
ciclo menstrual ao longo dos anos férteis. Achar comum sangramen-
tos abundantes, dores que a incapacitam por um ou dois dias e ciclos
irregulares é postergar a busca de terapia, que certamente evitaria a
infertilidade e neoplasias futuras.
Fisiopatologia da Endometriose | 71 |
4.2 A Importância do útero na endometriose

Há uma ideia errada relacionada ao útero. Muitas mulheres


ainda acreditam que o útero tem como função principal conter o feto
no período gestacional. Outras, ainda pensam que o útero tem relação
com a libido ou a possibilidade do coito. Mas, hoje se sabe que a di-
nâmica uterina e seus eventos no ciclo ovulatório possuem um papel
fundamental no equilíbrio da vida da mulher.
O útero é um órgão basicamente muscular e glandular. Ele
possui duas camadas que podem ser classificadas de fora para dentro
respectivamente como: miométrio e endométrio. Ele está subdividido
em três partes: fundo (região bem acima), corpo e cervix – que toda
mulher conhece como colo do útero. O miométrio é composto por
uma musculatura bem espessa que permite sua extensibilidade duran-
te o período gestacional. O endométrio, por sua vez, é uma camada
mais delgada com a presença de glândulas e que é responsiva a ação
dos hormônios ovarianos, estrógenos e progesterona (GARTNER e
HIATT, 2007).
Deste modo, essa camada endometrial é chamada de camada
funcional, já que ela tem características cíclicas hormônio-dependentes.
Na preparação para uma fecundação, o ciclo ovariano ocorre
em sincronia com o ciclo uterino que é dependente do estrogênio e
da progesterona que estão sendo liberados pelo corpo lúteo. Caso não
haja fecundação do óvulo, o corpo lúteo regride diminuindo assim a
liberação de progesterona e estrógeno. A diminuição desses hormô-
Fisiopatologia da Endometriose | 72 |

nios provoca alterações vasculares que induzem a isquemia (espasmos


das arteríolas do endométrio) e necrose do tecido uterino. A desca-
mação deste revestimento, acompanhada de sangue, constitui a mens-
truação, cujo fluxo dura de cinco a sete dias, como dito anteriormente.
Após o período de ovulação, o útero entra numa fase chamada
de secretória que se caracteriza pela atividade das glândulas secretó-
rias do endométrio, que se tornam tortuosas pelo formato espiralado
das arteríolas endometriais e pela condição edematosa do endométrio.
Durante essa fase, o endométrio pode atingir 5 a 6 mm. Essa caracte-
rística secretória é mantida pela progesterona e estrógeno produzidos
pelo corpo lúteo. Caso haja fecundação, o endométrio sofre alterações
que permitem a implantação do embrião, chamado de decidualização;
caso não ocorra implantação do embrião, ele vai necrosar e ocorrerá
a menstruação.
Como dito anteriormente, as mulheres do século XXI mens-
truam praticamente a maior parte de sua vida reprodutiva. Desta for-
ma, o útero passa por esse processo cíclico a cada trinta dias, 12 vezes
por ano e sabe-se por quantos anos em mulheres jovens.
Mas, para mulheres portadoras de endometriose surge um
questionamento comum: como relacionar o útero a endometriose?
A resposta dessa pergunta é o que caracteriza a patologia, visto que a
endometriose, como o nome já diz, tem relação total com a camada
funcional do útero (endométrio).
Ao se implantar na cavidade peritonea, o organismo preco-
niza uma reação de defesa com processo inflamatório já que, para o
Fisiopatologia da Endometriose | 73 |
sistema imunológico, o tecido endometrial fora do útero é tido como
invasor. Desta forma há recrutamento de macrófagos, células NK, ci-
tocinas e linfócitos o que determinam os processos de dores pélvicas,
dismenorréia e infertilidade.
Para o mecanismo de evolução da endometriose tem-se pro-
posto cinco etapas, que consistem em adesão, invasão, recrutamento,
angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) e proliferação.
Para que esse tecido se prolifere, o processo de angiogênese
é muito importante. Embora ainda se desconheça de que maneira os
hormônios sexuais regulam a angiogênese endometrial, os estudos se
focam nos receptores de estrógenos nas células endoteliais, receptores
α e β. A angiogênese é um processo de crescimento complexo e mul-
tifatorial que permite a evolução e o sustento das células endometrió-
ticas, ou seja, serão esses novos vasos que trarão nutrientes para esse
tecido (GARAI et al., 2006).
Outro fato curioso nos achados científicos, é um alto índice
de substâncias oxigênio-reativas (SOR), ou seja, de radicais livres (RL)
no líquido peritoneal de portadoras de endometriose (ISHIKAWA et
al., 1999). A fonte principal de RL provém da reação de Fenton, que
converte H2O2 e O2 em radicais hidroxila, catalizada pelo ferro do flu-
ído peritoneal pélvico daquelas mulheres que apresentaram considerá-
vel quantidade de hemácias e, por conseguinte, grande quantidade de
hemoproteínas e ferro responsáveis pela formação de peróxidos nos
tecidos. Esse aumento de RL leva a um precoce envelhecimento dos
oócitos e, possivelmente, infertilidade em portadoras de endometriose.
Fisiopatologia da Endometriose | 74 |

O endométrio ectópico de mulheres portadoras da patolo-


gia, ainda expressa genes anti-apoptóticos; Bcl-2 (genes que inibem a
morte celular programada), o que potencializa o processo de prolife-
ração de células endometrióticas e menos morte celular. Esse evento
pode sugerir o aparecimento de neoplasias associadas à endometriose.
Pode-se ainda questionar se os desreguladores endócrinos têm
papel significativo na fisiopatologia da endometriose. Estudos sobre
essa hipótese estão em andamento e, certamente, há uma correlação
importante no processo de proliferação do endométrio ectópico. Essas
substâncias têm a propriedade de mimetizar, bloquear ou modular a res-
posta endócrina através da interação delas com os receptores hormo-
nais (pesticidas, fungicidas, dioxinas, hidrocarbonetos aromáticos, bisfe-
nol A, fitoestrogênios, metais pesados, estrogênios sintéticos e outros).
Vivencia-se uma era de mulheres engajadas no trabalho, com
uma alimentação imprópria, cheia de conservantes, corantes, acidulan-
tes que levam o organismo à alterações fisiológicas significativas. Po-
deria esse ser um fator importante na fisiopatologia da endometriose?

4.3 Comportamento alimentar e qualidade de vida poderiam ter


um papel na endometriose?

A correlação entre os desreguladores endócrinos e a endo-


metriose ainda é um enigma. O mecanismo exato de ação dos desre-
guladores endócrinos ainda não foi totalmente esclarecido, mas acre-
dita-se que essas substâncias possam levar à modificação epigenética
Fisiopatologia da Endometriose | 75 |
e resultar em expressão gênica alterada. Estudos epidemiológicos e
experi­mentais serão necessários para esclarecer o papel dos desregu-
ladores endócrinos na fisiopatologia da endometriose.

4.4 Considerações

Ao se trabalhar conteúdo sobre o ciclo ovariano em sala de aula


são comuns os relatos sobre a matéria. Não são poucas as meninas que
apresentam disfunções sintomáticas sugerindo que algo não está bem.
Esta é a nova mulher que passa da adolescência para a fase
adulta. Mulheres que, na sua melhor fase reprodutiva, já revelam in-
dícios de disfunções. Disfunções essas, que tiram o equilíbrio que a
natureza programou, impossibilitam uma vida normal e uma gravidez
planejada. A fisiopatologia dessa doença catemenial está intimamente
relacionada ao metabolismo endócrino feminino.
O aparato reprodutor feminino possui uma regulação endó-
crina delicada e precisa. O organismo deve estar em harmonia, obe-
decendo aos níveis estabelecidos geneticamente. Qualquer erro, qual-
quer alteração traz alterações homeostáticas e deve ser encarado com
cuidado pelos médicos e pela própria mulher.
Há muitas perguntas a serem respondidas. Desafios para mé-
dicos e pesquisadores, possibilidades, dúvidas.
A endometriose é uma doença? Ou uma condição?
A endometriose tem origem hormonal? Ambiental? Emocional?
Tantas perguntas e ainda muitas hipóteses.
Fisiopatologia da Endometriose | 76 |

Só se pode afirmar que ela não obedece à fisiologia normal da


fêmea humana. Cabe à mulher contemporânea conhecer seu corpo,
os pequenos detalhes, aprender a distinguir disfunções sutis de cada
ciclo menstrual e também aos pesquisadores e médicos entender os
processos que levam ao estabelecimento desse novo inimigo da mu-
lher do século XXI.

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Aspectos Genéticos da Endometriose | 79 |
5. Aspectos Genéticos da
Endometriose

Marcilio Delan Baliza Fernandes

O estudo dos genes é relativamente recente para a ciência, e


apenas em 1998 surgiu o conceito de doença genômica. Contudo, asso-
ciação entre polimorfismos genéticos e doença clínica é reconhecida há
mais tempo, a exemplo da relação de um grupo sanguíneo com câncer
gastrointestinal descrito nos anos de 1950. Com o advento de novas fer-
ramentas biotecnológicas no estudo das ciências biomédicas, um novo
campo de pesquisas se abriu. As primeiras investigações diretas sobre
o DNA estão, sem dúvida, na lista dos mais impactantes. Esse cenário
gerou uma série de mudanças na área da genética em todo o mundo,
possibilitando um novo horizonte de pesquisa, diagnóstico, tratamento
e, consequentemente, melhoria na qualidade de vida das pessoas.
Atualmente, o conhecimento “ômico” deixou de ser apenas
estrutural, de geração de dados sobre a estrutura do DNA, mas tam-
bém relacionado à função e regulação dos genes. Por outro lado, o
conhecimento epigenético também tem possibilitado esclarecer as
possíveis relações existentes entre a expressão de genes e a influência
Aspectos Genéticos da Endometriose | 80 |

de efeitos ambientais na sua regulação. Assim, principalmente para as


doenças consideradas multifatoriais, a exemplo da endometriose, é de
suma importância conhecer as possíveis causas que levam ao processo
de adoecimento. Esse entendimento amplo perpassa pelo conheci-
mento do genoma, transcriptoma, proteoma e epigenoma. Somente
assim se terá um entendimento detalhado dos mecanismos de instala-
ção e progressão das doenças.

5.1 Endometriose e genética

A endometriose é uma doença comum que pode resultar em


um vasto número de problemas ginecológicos, incluindo dor pélvica e
infertilidade. Apesar das crescentes evidências que indicam um com-
ponente genético influnciando essa condição ginecológica, a etiologia
e patogenia básica da endometriose permanecem pouco conhecidas.
O risco observado de 5 a 8% para parentes de primeiro grau desen-
volverem a doença, é mais consistente com efeitos poligênicos/multi-
fatoriais do que para um simples gene mutante. O aumento da gravi-
dade da doença em casos familiares corrobora com a ideia de herança
poligênica (BISCHOFF e SIMPSON, 2004a).

5.2 Hereditariedade

Muitos aspectos da função reprodutiva feminina são influen-


ciados por fatores genéticos. A endometriose, além de afetar a ferti-
lidade feminina, também apresenta relação com o câncer de ovário.
Aspectos Genéticos da Endometriose | 81 |
A coexistência frequente de câncer do ovário e endometriose tem
sido relatada, demonstrando uma estreita relação entre essas doenças
(PROWSE et al., 2006). Entretanto, a endometriose é uma doença
benígna e não está associada com um aumento geral na incidência de
câncer (SOMIGLIANA et al., 2006). Além disso, fatores de risco co-
muns podem predispor a ambas as doenças, ou lesões de endometrio-
se podem sofrer eventos mutacionais somáticos e tornarem-se lesões
precursoras de câncer (ZHAO et al., 2006).
Para muitas dessas condições, a procura por marcadores ge-
néticos persiste, sem ainda terem sido identificados, até o momento,
genes como fortes candidatos (TEMPFER et al., 2009). Além disso,
vários estudos têm indicado tendência familiar para endometriose.
Dados relatados de estudos de base populacional demonstram que o
risco de irmãs de mulheres afetadas é maior do que para primas, por
exemplo. Mulheres com mãe ou irmãs afetadas são mais propensas
em ter endometriose grave do que moderada ou leve. Quanto maior
a proporção de familiares afetados, maior será a probabilidade de que
o probando tenha endometriose severa (BISCHOFF e SIMPSON,
2004a; BISCHOFF e SIMPSON, 2004b).
Estudos com gêmeos também tem demonstrado relação ge-
nética no risco de develvolver endometriose, como exemplo: o estudo
australiano que descreve a relação do risco de afetados versus preva-
lência na população de 3,58 para gêmeos monozigóticos e 2,32 para
gêmeos dizigóticos (TEMPFER et al., 2009).
Aspectos Genéticos da Endometriose | 82 |

5.3 Abordagens na análise genética

A base genética das doenças pode ser elucidada de manei-


ras diferentes. Uma delas é fazer a varredura de todo o genoma para
identificar marcadores de interesse. Outra maneira é investigar genes
candiatos específicos. A análise de todo o genoma visa identificar regi-
ões cromossômicas compartilhadas por indivíduos relacionados com
a predisposição à doença. Em estudos de ligação, tem sido relatado
uma possível região no braço longo do cromossomo 10 relacionada
com susceptibilidade (TREALOR et al., 2007; TEMPFER et al., 2009).
Além disso, análise de ligação em famílias com três ou mais mem-
bros afetados tem sugerido que pode haver um ou mais loci de alta
penetrância de susceptibilidade para endometriose no cromossomo
7 (ZONDERVAN et al., 2007). Porém, faltam estudos de associação
genética com indivíduos sem parentesco.
O fato dessa doença apresentar característica complexa, indica
que vários fatores genéticos podem vir a ter um efeito adicional. Além
disso, a etnia também funciona como uma importante fonte de varia-
ção. Associações genéticas são muitas vezes inconsistentes entre dife-
rentes etnias, que pode ser explicado devido as diferentes frequências
de alelos polimórficos. Com isso, associação de uma doença genética
em determinada etnia específica pode não ser válida para indivíduos
de outra etnia (TEMPFER et al., 2009).
Aspectos Genéticos da Endometriose | 83 |
5.4 Genes candidatos

Numerosos estudos têm tentado identificar genes de suscep-


tibilidade para doenças tais como síndrome dos ovários policísticos,
miomas, câncer, endometriose, que afetam a fertilidade feminina, bem
como para doenças cardiológicas, imunológicas, dentre outras, em todo
o mundo. Na endometriose, a procura por polimorfismos de suscepti-
bilidade incidiu principalmente sobre genes envolvidos na inflamação,
regulação de esteróides sexuais, metabolismo, síntese, detoxificação,
função vascular e remodelação tecidual (TEMPFER et al., 2009).
Trabalhos realizados em Taiwan, relataram que polimorfismo
no promotor do gene, que expressa o Fator Transformador de Cresci-
mento beta 1 (TGF-β1), no gene do receptor β da Interleucuna 2 (IL-
2) e no promotor do gene da Interleucina 10 (IL-10), tem relacionado
susceptibilidade a endometriose. Entretanto, em estudos realizados
na população holandesa, polimorfismo no TGF-β1 não foi associa-
do a susceptibilidade para endometriose. Outros dois polimorfismos,
na região promotora do gene da IL-10, foram investigados em mu-
lheres japonesas, mas não parecem influenciar, nesta população, na
susceptibilidade a endometriose. Polimorfismos em genes de outras
interleucinas, como IL-1β, IL-4, IL-6 e IL-8, bem como em seus re-
ceptores, não mostraram associação consistente com susceptibilidade
a endometriose. Alguns estudos têm investigado uma possível relação
entre polimorfismos no gene do Fator de Necrose Tumoral (TNF) e
aumento do risco para o desenvolvimento de endometriose. Os resul-
Aspectos Genéticos da Endometriose | 84 |

tados mostraram que polimorfismos encontrados na região promoto-


ra desse gene parecem não influenciar neste aumento em mulheres da
Coréia e Taiwan. Da mesma forma, estudos na população autraliana
que investigaram associação entre susceptibilidade e endometriose,
avaliando polimorfismos no promotor e regiões codificantes do gene
TNF, também não encontraram associação. Genes relacionados ao
complexo de histocompatibilidade (MHC), como os antígenos leuco-
citários humano (HLA), envolvidos nos processos de sinaliação celu-
lar – como ativação de células T – foram avaliados em mulheres com
endometriose. Na população chinesa, o genótipo HLA-B foi descri-
to como associado com susceptibilidade a endometriose, o que não
foi visto para o genótipo HLA-B. Em mulheres japonesas, os alelos
HLA-DRB1*1403 e HLA-DQB1*0301 têm sido associados ao au-
mento do risco para endometriose. Enquanto os alelos HLA-DPB1,
parecem não afetar a susceptibilidade (TEMPFER et al., 2009). En-
tretanto, estudos na população polonesa não encontraram associação
entre susceptibilidade para endometriose, quando avaliados os alelos
HLA-DRB1. (ROSZKOWSKI et al., 2005).
Investigações sobre a influência de polimorfismos em genes
que codificam hormônios sexuais e reguladores hormonais, na popu-
lação da Europa e da Ásia, têm demonstrado resultados controver-
sos. Avaliando o polimorfismo no comprimento dos fragmentos de
restrição (RFLP) do gene receptor de estrogênio (ESR1), com XbaI
e PvuII, não foram encontradas associações com endometriose em
uma população coreana, mas parecem afetar a susceptibilidade para
Aspectos Genéticos da Endometriose | 85 |
endometriose em mulheres de Taiwan, gregas e italianas, bem como,
parecem influenciar a severidade da doença, mas não a susceptibilida-
de, em mulheres alemãs e egípcias. Outro estudo mostrou que a pre-
sença do polimorfismo +331G/A, em receptores de progesterona,
está associado com a diminuição do risco de endometriose profunda
(KAAM et al., 2007; TEMPFER et al., 2009).
O microssatélite CAG, encontrado no gene que codifica re-
ceptor de andrógeno, tem sido associado a um aumento do risco de
miomas uterinos, bem como, associação com susceptibilidade a en-
dometriose em mulheres de Taiwan. Entretanto, um estudo italiano
não encontrou associação entre o comprimento da repetição CAG e
susceptibilidade a endometriose (TEMPFER et al., 2009).
Genes que codificam enzimas de detoxificação, a exemplo do
CYP1A1 e CYP1B1, envolvidos no metabolismo do estrogênio, não
foram associados com susceptibilidade a andometriose nas popula-
ções austríaca, indiana, chinesa e japonesa. No entanto, estudos na
Grécia e no Reino Unido indicaram que o RFLP MspI (6235T / C)
no gene CYP1A1, pode influenciar a susceptibilidade à endometriose,
quando associada com o gene da glutationa-S-transferase, variante
GSTM1 que apresenta atividade nula por deleção. Polimorfismos em
genes que codificam enzimas envolvidas no metabolismo do estrogê-
nio (COMT), ou fase I de detoxificação, também foram investigados,
mas não conseguiram demonstrar um efeito na susceptibilidade a en-
dometriose (TEMPFER et al., 2009).
Aspectos Genéticos da Endometriose | 86 |

Os genes GSTM1, GSTP1, GSTT1, NAT1 e NAT2 que co-


dificam enzimas de fase II de detoxificação também foram avaliados.
Deleções de efeito nulo no gene da glutationa-S-transferase (GSTM1),
foram associados ao aumento do risco de endometriose em mulheres
francesa, russa, indiana, chinesa e de Taiwan. Essas deleções não mos-
traram associação entre susceptibilidade e endometriose em mulheres
coreanas, japonesas e australianas, embora o estudo australiano tenha
indicado que a deleção homozigótica do GSTM1, com efeito nulo,
pode predispor a lesões endometriais malignas (TEMPFER et al., 2009).
Em função da endometriose apresentar algumas das caracte-
rísticas observadas em células malignas, como a vascularização e inva-
são local, o polimorfismo em vários genes envolvidos no crescimento
vascular e celular tem sido investigado quanto a uma possível influ-
ência na endometriose. O Fator de Crescimento Endotelial Vascular
(VEGF) tem a função de intermediar a permeabilidade vascular e an-
giogênese, sendo conhecida por ser uma molécula chave na patogêne-
se da endometriose. Três polimorfismos do gene VEGF foram ava-
liados em mulheres com endometriose. O polimorfismo 405G/C tem
sido associado com susceptibilidade à endometriose em mulheres do
sul da Índia e com susceptibilidade à endometriose em estágio avan-
çado em mulheres coreanas. Em contraste, o polimorfismo 2460C/T
não parece afetar a susceptibilidade para endometriose em qualquer
uma destas populações, mas pode influenciar o risco de endometriose
em mulheres de Taiwan (TEMPFER et al., 2009).
Aspectos Genéticos da Endometriose | 87 |
Vários outros genes estão descritos na literatura científica, de-
monstrando correlação com susceptibilidade à endometriose. A Ta-
bela 1 mostra outros genes que apresentaram resultados positivos e
negativos com relação à susceptibilidade na endometriose.
Outra abordagem, avaliar se a sensibilidade mutagênica deter-
minada pela medida de quebras da cromátide, induzidas pela bleomi-
cina em linfócitos periféricos, pode prever o risco de desenvolvimento
da endometriose, demonstrou que o número médio de cromátides
quebradas por células, foi significantemente maior em pacientes com
endometriose do que nos controles. Esse fato aumenta a evidência
de que endometriose, como nas neoplasias, pode requerer alterações
genéticas somáticas para o seu desenvolvimento (LIN et al., 2003).
Tabela 1: Genes candidatos a marcadores de susceptibilidade à
endometriose.

Associação com susceptibilidade


Genes (lócus, proteína e função) para endometriose
Positiva Negativa
mulheres do
GALT (9p13, Galactose 1 fosfato mulheres norte
Reino Unido,
transferase, metabolismo da galactose americanas
chinesas
PPARG (3p25, Receptor γ ativado dos
mulheres
proliferadores peroxissomais, fator de mulheres alemãs
japonesas
transcrição)
ACE (17q23.3, enzima conversora de
mulheres
angiotensina I, mediadora da homeostase
taiwanesas
vascular)
AHSG (3q27, alfa 2-Heremans Schmidt mulheres
glicoproteína, desenvolvimento de tecidos) coreanas
continua
Aspectos Genéticos da Endometriose | 88 |

continuação
Associação com susceptibilidade
Genes (lócus, proteína e função) para endometriose
Positiva Negativa
MMP (11q22.3, Metaloproteinase, mulheres mulheres italianas,
remodelação do tecido) chinesas chinesas (norte
da China)
STAT6 (12q13, sinal de transdução e mulheres do
ativador de transcrição, genes envolvidos em sul da Índia
transformações malignas)
KRAS (12p12.1, Sarcoma de Kirsten viral, mulheres
proto-oncogene) australianas
PTEN (10q23.3, fosfato e homólogos de mulheres
tensina, Supressor de tumor) australianas
NAT2 (8p22, N-acetiltransferase 2, mulheres mulheres
detoxificação de fase II) francesas, Reino japonesas e do
Unido, russas sul da Índia
COMT (22q11.21, catecol-o-metil mulheres
transferase, biossíntese de esteróides, australianas e
metabolismo de estrogênio) taiwanesas

Fonte: Tempfer et al., (2009).

5.5 Considerações

O esclarecimento da etiologia genética da endometriose é de


suma importância, com implicações para o diagnóstico, identifica-
ção de indivíduos em risco e desenvolvimento de alvos terapêuticos.
Vários estudos existentes sobre polimorfismo genético, associado a
endometriose, realizados até o momento, evidenciaram que a maio-
ria dos polimorfismos analisados não estão associados a esta doença.
Aspectos Genéticos da Endometriose | 89 |
Esse fato pode ser explicado pelo limitado número de estudos sobre o
tema ou pelo fato de muitos dos resultados obtidos terem sido contra-
ditórios. A título de exemplo, estudos associando polimorfismos em
genes que codificam mediadores inflamatórios e proteínas envolvidas
na atividade de hormônios sexuais apresentaram resultados inconsis-
tentes, relacionados com associação de susceptibilidade a endometrio-
se, apesar do grande número de polimorfismos encontrados.
Polimorfismos, que em genes específicos, codificam proteí-
nas envolvidas na função vascular e na remodelação de tecidos e sua
relação com endometriose, também foram avaliados, sem evidências
consistentes desta associação. Além desses, genes envolvidos na trans-
dução de sinal, regulação do crescimento celular, apoptose e metabo-
lismo de galactose não evidenciaram associação consistente na sus-
ceptibilidade a endometriose.
Obviamente, a ausência de indícios de uma associação entre
um determinado polimorfismo e endometriose, não descarta a pos-
sibilidade que esse gene, ou outros polimorfismos neste gene, possa
ter envolvimento com a etiologia da doença. As evidências mais só-
lidas até o momento, associando polimorfismos específicos para en-
dometriose, foram encontradas em estudos que investigam enzimas
de detoxificação de fase II. Essas investigações demonstraram que
variantes da glutationa-S-transferase, GSTM1 e GSTT1, possuem as-
sociação entre polimorfismos e endometriose, com 29% de aumento
no risco para endometriose em portadores de deleção com atividade
nula em GSTT1.
Aspectos Genéticos da Endometriose | 90 |

Novas abordagens permitirão a identificação de polimorfis-


mos com forte ligação de susceptibilidade à endometriose, podendo
auxiliar no desenvolvimento de novas drogas ou esquemas terapêuti-
cos, Além disso, a descoberta de genes que infuenciam a resposta ao
tratamento poderá permitir acompanhamento individualizado a ser
adaptado em função do genótipo do paciente.

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Tratamento Farmacológico da Endometriose | 92 |

6. Tratamento Farmacológico da
Endometriose

Luiz Antonio Favero Filho


Samára Santos Sampaio

A endometriose é uma doença crônica inflamatória depen-


dente de estrogênio (GIUDICE, 2010), que em alguns casos pode ser
efetivamente curada através de procedimento cirúrgico (SHAKIBA et
al., 2008), sendo que esta foi a única alternativa terapêutica por mui-
tos anos. Entretanto, nas duas últimas décadas, tornou-se progressi-
vamente evidente que a gravidade da doença não está correlacionada
com a frequência e severidade dos sintomas (VERCELLINI et al.,
2006), fazendo com que a abordagem terapêutica tenha se focado
mais nas queixas das pacientes do que na extirpação das lesões endo-
metrióticas (VERCELLINI et al., 2003a).
No entanto, as duas posições ainda coexistem. Por um lado,
alguns afirmam que o tratamento definitivo da endometriose deve se
dá pela erradicação cirúrgica; por outro lado, outros focam o trata-
mento na utilização dos resultados da investigação que sejam impor-
tantes às pacientes, principalmente os relacionados ao alívio da dor
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 93 |
e possibilidades de gravidez (REDWINE et al., 2000; FARQUHAR,
2000).
Esta seção tem por objetivo discutir os princípios gerais em
que se baseiam as estratégias de tratamento farmacológico, descreven-
do os tipos mais utilizados de drogas, além de identificar alternativas
hormonais e tratamentos não hormonais em desenvolvimento que
podem ser disponibilizados no futuro.

6.1 Progestinas e combinações de estrogênio-progestinas

Tem-se demonstrado que os hormônios utilizados na terapia


médica da endometriose não são redutores teciduais (PRENTICE,
2001). Na restauração da ovulação e dos níveis fisiológicos de estro-
gênio, o endométrio, tanto eutrópico quanto ectópico, retomam suas
atividades metabólicas. Visto que o tratamento farmacológico é sin-
tomático, e o retorno da dor é regra quando o tratamento é suspenso
(VERCELLINI et al., 1997), as drogas que podem ser administradas
por longos períodos de tempo devem ser identificadas.
Como a terapia medicamentosa para endometriose, frequen-
temente deve ser seguida por anos, agentes que devem ser suspensos
após alguns meses, seja pela baixa tolerabilidade, severos efeitos cola-
terais a nível de metabolismo ou alto custo, não beneficiam mulheres
com endometriose sintomática. As características de progestógenos
e contraceptivos orais combinados (COCs) tornam esses agentes a
escolha farmacológica ideal.
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 94 |

6.1.1 Via oral

»» A pílula anticoncepcional
Por muitos anos, os COCs têm sido amplamente utilizados na
prática clínica para redução de dor pélvica e dismenorréia associada
à endometriose. Apesar de sua eficácia ser reconhecida pela maioria
dos médicos ginecologistas, apenas um número limitado de estudos
formais quantificaram os seus efeitos, ou os compararam com os de
outras drogas (VERCELLINI et al., 1993; PARAZZINI et al., 2000).
Os COCs utilizados ciclicamente são a única alternativa te-
rapêutica para a endometriose que permitem o sangramento mensal
uterino (menstruação), visto que a dismenorréia é a queixa mais fre-
quente e mais grave em mulheres com esta doença. O sintoma pode,
portanto, não desaparecer completamente durante a administração
de um COC. Estudos recentes demonstram que mulheres com pro-
blemas relacionados à menstrução, durante a utilização cíclica de um
COC, podem se beneficiar de uma mudança para administração con-
tínua (SULAK et al., 1997; SULAK et al., 2002; COFFEE et al., 2007).
Embora a eliminação do intervalo de sete dias seja recomen-
dada por vários especialistas (DULEBA et al., 1996), não existem da-
dos específicos sobre as mulheres com endometriose. Quando o uso
cíclico de COCs não resolve a dor associada à menstruação, a ad-
ministração contínua pode se constituir numa opção simples, eficaz,
segura e bem tolerada para o tratamento de longo prazo em mulheres
que não querem ter filhos. Muitos médicos consideram o tratamento
farmacológico com COCs como o de melhor custo/benefício.
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 95 |
»» Acetato de noretisterona
O acetato de noretisterona (ou acetato de noretisterona,
NETA) é uma progestina forte derivada de 19-nortestosterona.
Sua eficácia foi estudada por Muneyyirci-Delale e Karacan (1998),
em 52 mulheres com endometriose sintomática e confirmada por
laparoscopia.O acetato de noretisterona foi utilizado no início do ci-
clo menstrual na dose diária de 5 mg,que foi aumentada em 2,5 mg até
20 mg/dia, a fim de alcançar a amenorréia.O tratamento foi continu-
ado por 6 meses a mais de um ano. A dismenorréia regrediuem 92%
dos indivíduos e a dor pélvica crônica em 89% indivíduos. No finaldo
tratamento, 94% das mulheres tinham pouco ou nenhum sintoma.
Este progestógeno oferece várias vantagens para o tratamento
de longo prazo da endometriose: permite um bom controle do san-
gramento uterino comparado com outros compostos, tem um efeito
positivo sobre o metabolismo de cálcio, produzindo aumento da den-
sidade mineral óssea maior do que o produzido pelo alendronato, e
não tem efeitos negativos sobre o perfil das lipoproteínas em baixas
dosages (RIIS et al., 2002). A administração contínua de NETA para
tratar a endometriose está aprovada nos Estados Unidos da América
pelo Food and Drug Administration (FDA). Ele é encontrado à venda
no Brasil em associação com outros hormônios.

»» Acetato de ciproterona
O acetato de ciproterona (CPA) é um derivado da 17-hidroxi-
progesterona com propriedades antiandrogénicas e anti-gonadotrópi-
cas. Foi primeiramente utilizado no tratamento de endometriose por
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 96 |

Fedele et al. (1989a) na dose de 27 mg/dia. Estudos demonstraram


redução da dismenorréia em pacientes que o utilizaram. Também
foi relatado melhora na qualidade de vida, do perfil psicológico e da
satisfação sexual (VERCELLINI et al., 2002). Recomenda-se o uso do
acetato de ciproterona quando os efeitos subjetivos e metabólicos de
estrógenos devem ser evitados, ou em mulheres indispostas a utilizar
contraceptivos em virtude de objeções culturais ou religiosas.

6.1.2 Via Intramuscular e Subcutânea

O acetato de medroxiprogesterona (AMPD) na fórmula inje-


tável (depósito) tem sido amplamente avaliado para fins contracepti-
vos, sendo utilizado por aproximadamente 12 milhões de mulheres ao
redor do mundo (KAUNITZ, 1994). A modalidade de administração
é extremamente conveniente e consiste em uma injeção intramuscu-
lar única de 150 mg a cada 3 meses. O aumento de risco de câncer
de mama em usuárias de AMPD não é maior do que em usuárias de
COCs (SKEGG et al., 1995). A literatura sugere que a desmineraliza-
ção óssea secundária ao hipoestrogenismo pode desenvolver-se em
usuárias crônicas (CUNDY et al., 1991; SCHOLES et al., 2002; CLA-
RK et al., 2004; SHAARAWY et al., 2006).
Resultados do primeiro estudo formal sobre o uso de AMPD
em pacientes com endometriose, foram publicados em 1996 (VER-
CELLINI et al., 1996). Um grupo que utilizou AMPD foi comparado
com um grupo que utilizou uma combinação de contraceptivo oral
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 97 |
monofásico e danazol (50 mg/dia). Após um ano de tratamento, 72%
das mulheres que utilizaram AMPD estavam satisfeitas, em compara-
ção com 57% das mulheres que receberam o COC associado com da-
nazol. Uma redução significativa dos sintomas de dor, avaliados com
uma escala visual analógica e uma multidimensional, foi observada em
ambos os grupos. Entretanto, as pacientes no grupo do COC asso-
ciado ao danazol queixaram-se de uma maior frequência e severida-
de da dismenorreia, que é uma consequência lógica da administração
cíclica. Ambos os tratamentos induziram uma redução significativa
similar dos níveis séricos da fração HDL do colesterol, enquanto que
um aumento na fração LDL do colesterol foi observado somente em
indivíduos que utilizaram o COC associado ao danazol. A incidên-
cia de efeitos colaterais foi maior em usuárias de AMPD, no qual a
média de atraso na aparência de um ciclo menstrual regular após a
suspensão, foi de sete meses a um ano. Mais recentemente, a eficácia
do AMPD como terapia para endometriose foi confirmada em dois
estudos (CROSIGNANI, 2006a; SCHLAFF et al., 2006).
O AMPD é uma alternativa eficaz, segura e extremamente eco-
nômica para o tratamento de endometriose sintomática. No entanto,
por causa de algumas de suas características, as candidatas para o trata-
mento devem ser selecionadas com cuidado. Na verdade, uma demora
prolongada na retomada da ovulação é uma contraindicação para o uso
de AMPD, em mulheres que querem engravidar em um futuro próxi-
mo. Além disso, hemorragias uterinas podem ser prolongadas, repe-
tidas e incômodas para corrigir. Em geral, o tratamento não pode ser
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 98 |

interrompido no caso de efeitos colaterais, tornando o manejo clínico


complicado quando estes são graves ou mal toleráveis. Sua indicação de
escolha é a endometriose sintomática residual após a cirurgia definitiva.
Em tais circunstâncias, não há problemas sobre a concepção futura ou
sangramento uterino irregular, e o uso de AMPD permite supressão
simples e bem tolerada de focos persistentes após operações não radi-
cais, sem a necessidade de optar por uma administração diária de medi-
camentos ou cirurgia adicional (VERCELLINI et al., 2011).

6.1.3 Via intrauterina

O levonorgestrel é um progestógeno potente com atividade


androgênica e antiestrogênica no endométrio. Um dispositivo intrau-
terino liberando 20 µg por dia de levonorgestrel (DIU-LNG), uma
progestina derivada da 19-nortestosterona, pode induzir a amenorréia
de maneiras diferentes, em comparação com os tratamentos padrão, e
gerar alívio da dor menstrual. De fato, a administração local de levo-
norgestrel tem um profundo efeito sobre o endométrio, que se torna
atrófico e inativo, embora a ovulação não seja geralmente suprimida
(SALMI et al., 1998).
A identificação de alternativas seguras e eficazes para prolongar
o tratamento constitui um elemento essencial para a pesquisa clínica
atual sobre a endometriose sintomática. Neste sentido, a possibilidade
de apontar a ação terapêutica de drogas em órgãos específicos, redu-
zindo o impacto metabólico geral é um assunto de grande interesse.
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 99 |
O dispositivo intrauterino de levonorgestrel tem sido usado em pa-
cientes com lesões endometrióticas no peritôneo, na superfície ova-
riana e retovaginal, e também como uma medida pós-operatória. O
estudo de Lockhat et al. (2005) avaliou três anos de utilização do dis-
positivo intrauterino e demonstrou que, num período de 12 meses,
67,6% das mulheres se adaptaram com a utilização do mesmo, por-
centual que foi reduzido para 61,8% após dois anos, e 55,9% após três
anos. Das que descontinuaram o uso, 33% o fizeram por ocorrência
de sangramentos irregulares, na sua grande maioria, nos seis meses
iniciais do tratamento. Dor pélvica (20,6%) e ganho de peso (8,8%)
foram, respectivamente, a segunda e terceiras causas mais comuns
para a solicitação de retirada do DIU. Outro estudo demonstrou que
após seis meses de tratamento, a proporção de pacientes que relata-
ram dor menstrual severa ou moderada reduziu de 96% para 50%
(LOCKHAT et al., 2004).
Outro estudo avaliou o uso do DIU-LNG após cirurgia lapa-
roscópica para endometriose, em comparação com mulheres tratadas
somente com a cirurgia. Na avaliação de 12 meses, a amenorréia foi
relatada por 28% das pacientes que utilizaram o DIU-LNG, a hipo-
menorréia foi relatada por 50% das mulheres e o fluxo normal foi
relatado por 22% das mulheres. Além disso, dispareunia e dor não
menstrual foram reduzidos em maior grau com o uso pós-operatório
de DIU-LNG. Aos 12 meses, 75% das mulheres no grupo de cirurgia
mais DIU-LNG, estavam satisfeitas ou muito satisfeitas em compara-
ção com 50% no grupo somente cirurgia. A inserção do dispositivo
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 100 |

após a cirurgia conservadora para a endometriose pode constituir um


tratamento inovador, eficaz, seguro e conveniente para a redução do
risco de recorrência da dismenorréia (VERCELLINI et al., 2003b).
Outro trabalho de Petta et al. (2005) demonstrou que, tanto o
DIU-LNG quanto um análogo do GnRH, são efetivos no tratamento
da dor pélvica crônica, sem diferença significante entre os grupos. No
entanto, destacou que o DIU-LNG tem as vantagens de não provocar
hipoestrogenismo, além de requerer apenas uma intervenção médica
para sua introdução a cada cinco anos.
O uso de um DIU-LNG em mulheres com endometriose,
confere várias vantagens sobre outras terapias convencionais sistê-
micas (não é necessária a administração repetida, a contracepção é
eficaz e, possivelmente, ocorre menor incidência de efeitos colaterais)
e pode aumentar a adesão à terapêutica durante tratamentos de longa
duração. Embora possa ser um tratamento mais caro no início, os
custos acumulados ao final do tratamento podem ser menores do que
os de outros medicamentos. As mulheres devem ser informadas de
que durante os primeiros 3 e 4 meses de uso, os principais transtornos
menstruais são esperados, incluindo manchas menstruais, sangramen-
to prolongado ou contínuo e até mesmo menorragia. Após o primeiro
ano de uso, poucas mulheres relatam sangramento intermenstrual e
cerca de 20 a 30% são amenorrêicas. Isso é relevante visto que disme-
norréia é o sintoma mais frequente em pacientes com endometriose.
A administração intrauterina de levonorgestrel, com uma possível dis-
tribuição direta a tecidos pélvicos, pode implicar numa concentração
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 101 |
local maior que seus níveis plasmáticos. Isto poderia se traduzir em
uma eficácia superior com poucos efeitos adversos, também devido à
ausência do efeito de primeira passagem hepática após administração
oral da droga. Baseado sobre a dose de droga administrada, as con-
sequências metabólicas do DIU-LNG deve ser menos pronunciada
do que os de outros métodos contraceptivos. Entretanto, um efeito
secundário geral não pode ser excluído, visto que ocorre a absorção
uterina de levonorgestrel (VERCELLINI et al., 2011).
A taxa de expulsão do dispositivo é superior a 5% e o risco de
infecção pélvica é de cerca de 1,5%. Assim, o perfil recomendado das
pacientes é de mulheres que já deram a luz, sem história de doença in-
flamatória pélvica. Mulheres que ainda não deram a luz não devem ser
excluídas do tratamento com o levonorgestrel, mas o uso do DIU em
úteros menores pode estar associado com cólicas uterinas aumentadas.
Isso pode ser particularmente preocupante em pacientes com disme-
norréia severa associada com endometriose (SHULMAN et al., 2004).
Por último, há poucas informações disponíveis sobre o risco
de formação de endometrioma durante longos períodos de tratamen-
to. De fato, foi demonstrado que o desenvolvimento de cistos ovaria-
nos de endometriose está associado à ovulação (JAIN e DALTON,
1999), no entanto, o DIU-LNG geralmente não inibe a ovulação, ex-
ceto nos primeiros meses após a inserção. Teoricamente, isso pode
constituir uma desvantagem específica do DIU-LNG em comparação
com outras formas de tratamento com progestinas (VERCELLINI et
al., 2005). Ensaios comparativos também são necessários para confir-
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 102 |

mar o efeito sobre os sintomas da dor orgânica e verificar se os bons


resultados observados são mantidos durante todo o período de cinco
anos de eficácia. Estudos também demonstram que a utilização do
DIU de levonorgestrel para o tratamento da endometriose retovagi-
nal, também é eficaz (FEDELE et al., 2001).

6.2 Análogos de GnRH: agonistas e antagonistas

O hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) é um deca-


peptídeo, que é liberado de forma pulsátil nos capilares da circulação
porta-hipofisária. Ele liga-se seletivamente aos receptores altamente es-
pecíficos nas células gonadotróficas pituitárias anteriores, e ativa vias de
sinalização intracelular que regulam a produção e liberação do hormô-
nio folículo estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH) (JANS-
SENS et al., 2000). Nas últimas três décadas, vários análogos estruturais
foram sintetizados, incluindo os agonistas e antagonistas. Os análogos
agonistas têm uma maior afinidade para o receptor, do que o GnRH em
si, e produzem um aumento imediato na secreção de LH e FSH, que é
consistentemente seguida por um estado de inibição da secreção de go-
nadotrofinas e esteróides sexuais, um exemplo típico da regulação dos
receptores. O efeito final desses compostos é determinar uma condição
hipoestrogênica semelhante ao da menopausa (GUILLEMIN, 2005).
Nos anos mais recentes, análogos de GnRH com atividade antagonista
têm sido desenvolvidos. A vantagem óbvia desses compostos é que eles
produzem uma diminuição imediata nas gonadotrofinas circulantes e
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 103 |
nos níveis dos esteróides gonadais, são facilmente reversíveis e não são
precedidos pelo aumento observado com os agonistas.
Os agonistas GnRH têm funcionado muito bem na redução
dos sintomas da dor associada à endometriose, incluindo dismenor-
réia, dispareunia e dor pélvica não-menstrual (OLIVE, 2004; BAT-
ZER, 2006). No entanto, recentemente, um estudo meta-analítico
(DAVIS et al., 2007) demonstrou que há pouca ou nenhuma diferença
entre agonistas de GnRH e outros tratamentos farmacológicos para
a endometriose. Apesar de pouca ou nenhuma diferença quanto à
eficácia terapêutica, existem diferenças relacionadas aos efeitos cola-
terais (DAVIS et al., 2007; PRENTICE et al., 2007). A este respeito,
vale ressaltar que a administração de agonistas de GnRH não pode ser
estendida por mais de seis meses, já que seu uso prolongado expõe
mulheres para os efeitos do hipoestrogenismo, tais como: a redução
na densidade óssea (PICKERSGILL, 1998; BEDAIWY e CASPER,
2006). Além disso, sintomas de deficiência estrogênica, como altera-
ções emocionais, insônia, perda da libido e secura vaginal, normal-
mente ocorrem durante o tratamento (BATZER, 2006).
O entusiasmo inicial em torno do advento dos agonistas de
GnRH na prática clínica foi reduzido quando surgiram evidências de
que o tratamento não era capaz de erradicar a doença. De fato, assim
como outras alternativas terapêuticas disponíveis, os agonistas GnRH
representam um supressor de sintomas, mas não uma terapia curativa,
sendo que os sintomas de dor normalmente retomam após suspensão
do seu uso. No geral, apesar de sua eficácia bem reconhecida, agonis-
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 104 |

tas de GnRH não representam a primeira linha de tratamento médico


para curar a endometriose associada à dor pélvica. Como os agonis-
tas de GnRH inibem a secreção de gonadotropinas, ocorre prejuízo
da função ovariana. Como consequência, a ocorrência de gravidez
durante o seu uso é extremamente rara. Assim, por um lado, agonistas
de GnRH são capazes de efetivamente suprimir a doença, mas, por ou-
tro lado, seu uso não é recomendado em mulheres tentando engravidar
(VERCELLINI et al., 2011).
Enquantos os agonistas de GnRH estão no mercado há mais de
duas décadas, os antagonistas só se tornaram disponíveis recentemente
(HUIRNE e LAMBALK, 2001). Este atraso foi em razão de que os pri-
meiros antagonistas tinham o efeito colateral da liberação de histamina
pelos mastócitos, sendo que o desenvolvimento de drogas sem estes
efeitos adversos demorou diversos anos. Com base em suas proprie-
dades farmacológicas, espera-se que os benefícios dos antagonistas do
GnRH sobre a endometriose sejam semelhantes aos observados com
os agonistas de GnRH. Entretanto, poucos são os dados clínicos dis-
poníveis que garantam tal expectativa. Atualmente, dá-se preferência
aos agonistas de GnRH em detrimento aos antagonistas, visto que não
existem dados que demonstrem que os antagonistas são mais eficazes.
Além disso, os agonistas estão disponíveis em formulações farmacêu-
ticas de longa duração (depósitos), gerando uma maior adesão ao tra-
tamento. Finalmente, é importante destacar que o custo do tratamento
com agonistas é bem menor do que com antagonistas. Mulheres gestan-
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 105 |
tes, lactantes e com hipersensibilidade a análogos de GnRH não devem
utilizar estes medicamentos (VERCELLINI et al., 2011).

6.3 Danazol e Gestrinona

Danazol e gestrinona são duas drogas que receberam mui-


ta atenção no passado. Embora a origem farmacológica desses dois
agentes seja diferente, eles compartilham um perfil de efeitos colate-
rais similares, caracterizados por atividade androgênica. A disponibili-
dade de alternativas, que são igualmente eficazes e mais toleráveis, tem
limitado a sua utilização.

6.3.1 Danazol

O danazol é um agente oral androgênico que induz a amenor-


réia com a supressão do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, acompa-
nhado de níveis séricos aumentados de andrógenos e de níveis dimi-
nuídos de estrogênio. A sua lógica terapêutica é a de interferir com a
atividade cíclica ovariana, o que inviabilizaria os mecanismos patoló-
gicos que levam ao desenvolvimento de sintomas de endometriose
associada à dor (CROSIGNANI et al., 2006b).
O danazol representava o padrão de tratamento na década de
1980. Vários estudos demonstraram sua eficácia na redução da dor as-
sociada à endometriose (TELIMAA et al., 1987; HENZL et al., 1988;
FRASER et al., 1991; ROTONDI et al., 2002), fato confirmado por
uma revisão meta-analítica (SELAK et al., 2001). No entanto, de for-
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 106 |

ma semelhante a outros tratamentos supressivos, os sintomas geral-


mente retornavam após a interrupção de seu uso. Além disso, o uso
de danazol está associado com notáveis efeitos androgênicos/anabo-
lizantes. Os efeitos colaterais mais comuns incluem ganho de peso, re-
tenção de líquidos, atrofia da mama, acne, pele oleosa, ondas de calor
e hirsutismo (CROSIGNANI et al., 2006b). Este perfil farmacológico
tem um efeito negativo sobre a adesão terapêutica. Os efeitos colate-
rais dos análogos de GnRH são melhor tolerados do que os efeitos
androgênicos e anabolizantes do danazol (ROTONDI et al., 2002).
Doses de 800 mg/dia são frequentemente utilizadas na Amé-
rica do Norte, enquanto que na Europa e Austrália, comumente são
prescritas doses de 600 mg/dia. Aparentemente, a ausência de mens-
truação é um melhor indicador de resposta terapêutica do que a dose
da droga. Uma estratégia prática para o uso de danazol é iniciar o tra-
tamento com uma dose de 400 mg/dia (200 mg duas vezes ao dia) e
aumentar a dose, se necessário, até a obtenção de um quadro de ame-
norréia. No Brasil, ele é encontrado na forma de cápsulas de 100mg
e 200mg. Pacientes gestantes, lactantes, com sangramento genital de
origem desconhecida, com disfunção hepática grave e com hiper-
sensibilidade ao fármaco, não devem fazer uso deste medicamento
(CROSIGNANI et al., 2006b; ROTONDI et al., 2002).

6.3.2 Gestrinona

A gestrinona é um derivado da 19-nortestosterona com pro-


priedades androgênicas, antiprogestagênicas, antiestrogênicas e anti-
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 107 |
gonadotróficas. Ela bloqueia o desenvolvimento folicular e a produ-
ção de estradiol, liga-se ao receptor de androgênio como um análogo
e exibe os efeitos agonistas e antagonistas após a ligação aos recepto-
res de progesterona (SURREY, 2006). Tem se mostrado uma opção
eficaz para o tratamento de dor associada à endometriose.
O alívio dos sintomas da dor é semelhante ao observado com o
uso de danazol ou de análogos de GnRH (FEDELE et al., 1989b; GES-
TRINONE ITALIAN STUDY GROUP, 1996). No entanto, como
mencionado acima, a sua utilização é limitada pela sua baixa tolerabili-
dade. Os principais efeitos colaterais incluem diminuição da fração de
alta densidade de lipoproteína do colesterol (HDL), aumento da fração
de baixa densidade de lipoproteína do colesterol (LDL), ganho de peso,
hirsutismo, seborréia e acne. A sua dose recomendada é de 2,5 mg duas
vezes na semana. É contraindicado seu uso durante a gravidez, em vir-
tude do risco de masculinização do feto (SURREY, 2006).

6.4 Drogas Alternativas

Muitos especialistas sustentam que o desenvolvimento de tra-


tamentos não-hormonais para prevenir ou tratar a endometriose e
sintomas associados é uma prioridade e que tais tratamentos deveriam
reduzir a dor e os problemas relacionados à fertilidade sem supressão
da ovulação, permitindo a opção de uma gestação normal e segura du-
rante o tratamento. Eles também recomendam a avaliação de drogas
que interferem com a inflamação, fibrose e angiogênese (ROGERS et
al., 2009).
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 108 |

A busca de drogas que causem destruição dos implantes pél-


vicos pode causar um alto risco de danos à mucosa normal, com con-
seqüências no padrão menstrual, na fertilidade e sobre a possibilidade
de futuras gestações (NOEL et al., 2010).

6.4.1 Os inibidores de aromatase

A aromatase é uma enzima do citocromo P450 que catalisa a eta-


pa limitante na biossíntese de estrogênio, isto é, a conversão de andro-
gênios para estrogênios (SELI et al., 2003). A endometriose e os implan-
tes endometrióticos extraovarianos expressam altos níveis de aromatase.
Assim, a expressão da aromatase no tecido endometriótico pode estar
envolvida nos mecanismos patogênicos desta doença, promovendo a so-
brevivência e o crescimento das lesões (BULUN et al., 1998).
Os novos inibidores da aromatase podem ser divididos em dois
grupos: inibidores esteroidais irreversíveis da síntese de estrogênio, que
competem no local de ligação do substrato; e inibidores reversíveis não-
-esteroidais, que interferem com a enzima citocromo P450. O anastro-
zol e letrozol são inibidores de aromatase não esteroidais, exemestane e
formestane são inibidores esteroidais (SELI et al., 2003).
Dois estudos observacionais avaliaram o efeito de inibidores
de aromatase combinado com progestina (AILAWADI et al., 2004),
ou um contraceptivo oral (AMSTERDAN et al, 2005) em mulheres na
pré-menopausa com endometriose resistente ao tratamento cirúrgi-
co ou farmacológico. Ambos os estudos mostraram efeitos benéficos
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 109 |
dos tratamentos sobre sintomas da doença, sem efeitos colaterais pe-
sados. O único estudo randomizado publicado (SOYSAL et al., 2004)
avaliou a eficácia clínica do uso de uma combinação de um inibidor
de aromatase, associado a um análogo do GnRH comparado com o
uso isolado de um análogo do GnRH, durante 6 meses em um cenário
pós-operatório, em 80 pacientes com endometriose severa. Vinte e
quatro meses após o final da experiência, a combinação do inibidor de
aromatase com o análogo do GnRH, foi capaz de reduzir os sintomas
de dor a um grau maior do que o análogo do GnRH sozinho, sem
efeitos deletérios sobre a densidade mineral óssea ou sobre a qualida-
de de vida. De qualquer forma, faltam ainda maiores dados científicos
para comprovar a eficácia terapêutica deste grupo medicamentoso.

6.4.2 Imunomoduladores e anti-inflamatórios

Dois diferentes tipos de imunomoduladores têm sido utiliza-


dos para o tratamento da endometriose: agentes que aumentam a ação
citolítica do sistema imune e agentes que reduzem o componente in-
flamatório da doença. Não existem dados disponíveis que sustentem
a utilização destes grupos de drogas como terapêutica essencial para o
tratamento da endometriose (VERCELLINI et al., 2011).

6.5 Considerações finais

O tratamento medicamentoso da endometriose deve estar base-


ado nas diferentes características dos pacientes, bem como no objetivo
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 110 |

terapêutico específico identificado. É indicado em mulheres que não


pretendem engravidar no curto prazo, já que as terapias disponíveis ge-
ralmente inibem a ovulação. O tratamento é apenas sintomático, já que
a doença não é curada, mas apenas temporariamente suprimida.
O arsenal terapêutico disponível atualmente para o tratamento
da endometriose faz com que dois principais objetivos terapêuticos
possam ser atingidos: alívio da dor por períodos prolongados e pre-
venção da progressão da doença durante o intervalo entre a cirurgia
conservativa e tentativa de engravidar.
De acordo com as opções terapêuticas disponíveis atualmen-
te, pode-se considerar que o tratamento da endometriose com contra-
ceptivos orais combinados, ou com progestinas é a opção mais segura,
eficaz e bem tolerada. Trata-se também da opção mais econômica e
que pode ser utilizada por longo período de tempo. Além disso, exis-
tem poucas alternativas farmacológicas de longa duração comparadas
a estas drogas. Apesar da grande quantidade de dados que demons-
trem que as progestinas e os COCs podem beneficiar a maioria das
pacientes com sintomas ou com endometriose recorrente, estas me-
dicações continuam sendo vistas com ceticismo e, muitas vezes, não
são nem mencionadas entre as alternativas terapêuticas efetivas. As
progestinas e os COCs são taxados de ineficazes, baseado no fato de
que parte das mulheres tratadas não responde à terapia. Nem todas
as mulheres que utilizarem progestinas terão alívio da dor ou ficarão
satisfeitas com o tratamento e muitas acabarão por serem submetidas
a um procedimento cirúrgico. Contudo, pelo menos dois terços delas
Tratamento Farmacológico da Endometriose | 111 |
podem melhorar substancialmente sua qualidade de vida, controlando
a doença com poucos efeitos colaterais relacionados à doença ou ao
tratamento (VERCELLINI et al., 2011).
Em outros casos, a intervenção cirúrgica acaba sendo necessá-
ria. Não se trata de desconsiderar esta opção, mas sim deixá-la como
última escolha, visto todo o impacto que um procedimento deste tipo
pode causar nas pacientes, sem contar que na maior parte das mulhe-
res que não pretende engravidar, a endometriose pode ser controlada
de uma forma não invasiva.

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Formato: 14 x 21 cm
Mancha: 11,3 x 15,7 cm
Tipologia: Garamond
Papel: Pólen 80 g/m² (miolo)
Cartão Supremo 250g/m² (capa)
Gráfica: Imprima Soluções Gráficas Ltda.
Tiragem: 500 exemplares

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