Reanimacao Neonatal
Reanimacao Neonatal
Reanimacao Neonatal
SUMMARY
One of the biggest dilemmas for the neonatologists is when not initiate or withdraw the
resuscitation in extreme preterm newborn babies, in newborns who do not show signs of
life at birth (apparent death) and newborns with severe malformations.
The bioethics does not make the distinction between not initiating and withdrawing
(interrupting is morally the same as not initiating). It’s ethically superior to withdraw the
therapy than not initiating it (if the therapy is not initiated, the patient will never benefit
from it).
For the extreme preterm newborns the decision of not initiating the resuscitation in the
labor room must be based on the knowledge of the viability limit of the service, as well as
the degree of the sequels. Efforts must be continually searched for the improvement of the
surviving of these newborns and above all the quality of life of these extreme preterm
infants. The involvement of the parents is important to avoid conflicts related to
resuscitation. Most of the time, what the parents mean by “Do whatever you can for my
baby” is to make everything right, and many times the most loving attitude is to withdraw
the resuscitation. The family must feel we are helping them in the most compassionate way.
For such newborns, we suggest the following recommendations
-Newborn < = 23 weeks of gestation: should not be resuscitated; the care must be
restricted to comfort (minimal handling, gentle monitoring, and
temperature maintenance)
-RN between 24-25 weeks of gestation: the management can be modulated depending on:
-Response to initial resuscitation and stabilization
-If admitted in Neonatal ICU: the ventilatory assistance is restricted to nasal CPAP
The continuous support will depend on the condition and prognosis of the newborn, which
must be discussed in a clear and exhaustive way with the family, so that the final decision
must be made together.
Permeando estes temas vamos abordar a importante participação dos pais na tomada
de decisão. De posse destes conhecimentos, vamos elaborar diretrizes para estas
diferentes situações que deparamos na sala de parto.
-Limite de viabilidade
R N < 10 0 0 g ano d e 2 0 0 0
100
T a x a s d e S o b 88,88
r e v iv ê n c ia / 100
H M IB 100 100 100
ID A D E GESTA CIO N A L
90
80
77,77 76,19
80 70,22
70 66,66
70
60
60
50
50
40
30
20 11,11
10 0
0 0 0
0
< 23 sem 24 sem 25 sem 26 sem 27 sem 28 sem 29 sem 30 sem 31 sem
R N < 10 0 0 g ano d e 2 0 0 0
100 T a x a s d e M o r t a lid a d e / H M I B
90
80
70
60 49,42
50 36,78
40
30
20 9,21 13,14
10
0
Mortalidade Geral R < 1000g Mortalidade Neonatal > 500g
-Preditores da Sobrevivência:
Semana/ Autor 22 23 24 25 26 27 28
21
Allen e cl22 0% 0% 15% 55% 79%
Kramer e cl23 19% 48% 74% 75% 71%
Hack e cl24 0% 4% 7% 40% 62% 77% 83%
Lefebvre25 33% 71% 84%
Kilpatrick26 43% 74% 83%
Fanaroff e cl27 25% 47% 68% 83% 84% 91%
Battin e cl28 0% 5% 45% 60% 81% 88% 87%
El-Metwally20 1,8 0% 23:25% 24% 68%
Wood29 1% 34% 49% 76%
Hack e cl16 <=23:15- 54% 59% 71%
18%
Prognóstico
O impacto do surfactante na morbilidade os RN pré-termos extremos tem sido
insignificante, tanto usado profilático, como resgate e independente do número de doses30.
A morbidade é inversamente relacionada ao peso de nascimento e idade gestacional;
para estes RN pré-termos extremos, espera-se que aproximadamente 50 – 60% sejam
normais no follow-up, 40 – 50% com algum grau de deficiência, variando de deficiência
moderada (20 – 30%) a severa (20%) e crianças com significante risco de dificuldades no
aprendizado na idade escolar30.
Embora a proporção destes RN com severa deficiência tem sido mantida constante,
especula-se que o tipo de deficiência esteja mudando. Dados da literatura acenam que a
severa deficiência visual, mais do que a paralisia cerebral compreende a mais alta
percentagem de severa deficiência nos RN com idade gestacional entre 23 e 2533.
Analisando a prevalência de PC em nações industrializadas fora dos EUA, Bhusan e
34
cl relatam aumento da incidência de paralisia cerebral na Suécia, Japão, Finlândia,
Austrália com a significante diminuição da mortalidade destes RN, havendo apenas
declínio na Suíça. A prevalência da paralisia cerebral aumentou nos Estados Unidos, de
1,69 para 2,3/1000 nascidos vivos, de 1960 a 1986, um aumento de mais de 20%.
Os RN pré-termos extremos apresentam risco de paralisia cerebral
(predominantemente na forma espástica) que é 70 vezes maior em relação ao RN de peso
normal. A paralisia cerebral espástica é a segunda grande seqüela mais prevalente entre os
RN pré-termos extremos nascidos nos anos 9035.
Na tabela a seguir a morbidade dos RN pré-termos extremos (< 800g, < 26 semanas)
publicada no ano 2000 por Hack e Fanaroff132.
Seqüelas
Comparando RN com peso ao nascer entre 500 – 749g em dois períodos (1990 –
1992: 114 RN e 1993 – 1995: 112 RN), em Cleveland, Ohio, Hack e Fanaroff 32
observaram que entre os dois períodos, a sobrevivência foi a mesma (43% x 38%), mas a
taxa de displasia broncopulmonar aumentou significativamente (41% para 63%), a taxa de
função cognitiva subnormal com 20 meses de idade corrigida, aumentou
significativamente (20% x 48%), com uma tendência a um aumento da taxa de paralisia
cerebral (10% x 16%) e deficiente desenvolvimento neurocomportamental Estes autores
concluem que, com os atuais métodos de cuidados, melhores limites de viabilidade têm
sido alcançados, mas tem sido de grande preocupação a mortalidade neonatal e os déficits
neurocomportamentais.
Os fatores preditores de anormalidades neurológicas nos RN <1000g ao nascer
foram as anormalidades severas na ultra-sonografia craniana e a displasia
broncopulmonar36. Vohr e cl37 resumiram dados para a Rede de Pesquisa Neonatal dos
Estados Unidos: a incidência de paralisia cerebral nos RN abaixo de 1000g ao nascer foi
duas vezes maior em relação ao RN com peso ao nascer entre 1000-1500g e a taxa de
desabilidade foi de 49% na idade dentre 18-22 meses de vida, que é o dobro da encontrada
na outra faixa ponderal assinalada.
Saigal e cl 38 relataram que os RN com peso ao nascer abaixo de 1000g, na idade
escolar (8 anos) necessitaram de quase 5 vezes mais de educação especial em relação aos
RN a termo. Os RN de extremo baixo peso, na adolescência, apresentaram pior
performance, particularmente em matemática39.
Grunau e cl40 relataram semelhantes taxas de desabilidades nos RN com peso ao
nascer inferior a 800g, sendo as mais freqüentes anormalidades, a precária coordenação
motora, problemas na capacidade de escrever, problemas na matemática (sem problemas na
leitura). Os autores atribuem estes problemas às disfunções de integração e mielinização
das conexões, característico de lesão cortical (consulte Margotto PR41).
Neste RN, certas anormalidades identificadas nas primeiras semanas de vida são
altamente preditivas de paralisia cerebral. A hiperecogenicidade periventricular e a
dilatação ventricular são indicadores de lesão da substância branca, estando associadas a
um risco de 15 vezes mais de paralisia cerebral. Entre os fatores associados temos, a
infecção intra-uterina, morte de um gêmeo, descolamento de placenta, acidose intraparto,
acidose neonatal, hipotiroxinemia, sepses, hipotensão, doença da membrana hialina,
ventilação mecânica, hipocapnia, pneumotórax, doença pulmonar crônica. Entre os fatores
associados com diminuição do risco figuram esteróide pré-natal, sulfato de magnésio, pré-
eclâmpsia, restrição do crescimento intra-uterino35.
Hussain e cl42 reviram o prognóstico dos RN com idade gestacional entre 22-
27semanas que foram ativamente reanimados em 3 Centros Perinatais terciários em
Connecticut. Dos 405 RN estudados, 278 (69%) tiveram alta hospitalar. Não houve
sobreviventes por 3 dias na idade gestacional de 22 semanas. O prognóstico desfavorável
(hemorragia peri/intraventricular >=2, leucomalácia periventricular, retinopatia da
prematuridade >=estágio 3, enterocolite necrosante >=estágio 2 e severa displasia
broncopulmonar na idade gestacional pós-concepção de 36 semanas) foi relatado em 85%
dos RN entre 23 e 24 semanas de idade gestacional. Com 25 semanas de idade gestacional,
30% dos RN tiveram alta com prognóstico favorável. Na idade gestacional de 26 e 27
semanas, 43% e 61%,respectivamente, escaparam de um prognóstico desfavorável, além de
apresentarem uma taxa de 85% de sobrevivência.
Lorenz e cl43 compararam as taxas de sobrevivência e de paralisia cerebral em RN
com idade gestacional entre 23-26 semanas entre um Centro Neonatal dos Estados Unidos
(Nova Jersey) e um Centro Neonatal da Holanda. Os autores relataram que a aplicação mais
agressiva de cuidados intensivos nos Estados Unidos resultou em 24,5 sobreviventes
adicionais/1000 nascidos vivos, mas um adicional de 6,7 casos de paralisa cerebral por
1000 nascidos vivos. A incidência de cesariana é muito maior em cada idade gestacional
nos RN de Nova Jersey em comparação com a Holanda (nenhum RN de 23 e 24 semanas
na Holanda nasceu de cesariana). Estes dados mostram que os obstetras de Nova Jersey
tinham uma abordagem mais agressiva, dado à visão mais otimista com relação a estes RN
extremamente prematuros. A proporção de assistência ventilatória foi muito diferente entre
os 2 grupos, enquanto que apenas 20% das mortes ocorreram sem ventilação, em Nova
Jersey, na idade gestacional de 23 semanas, na Holanda, 100% destes bebês receberam
cuidados apenas por conforto e não ventilação mecânica, evidenciando uma abordagem
menos agressiva nestes bebês com esta idade gestacional. Assim, a sobrevivência foi muito
maior em Nova Jersey. Na Holanda não houve sobreviventes na idade gestacional 23 e 24
semanas, em 1983, época em que foram levantados estes dados. O follow-up evidencia
aumento de paralisia cerebral de 4x maior em Nova Jersey, em comparação com a Holanda.
Portanto o estudo de follow-up nos faz compreender todo o contexto dos nossos
esforços para abaixar este limite de viabilidade.
O´Shea44 apresentou os seguintes dados de prognósticos para os RN pré-termos
extremos, por ocasião do 3o Simpósio Internacional de Neonatologia do Rio de Janeiro:
A sobrevivência com 22 semanas é rara.
Com 23 semanas, a probabilidade de sobrevivência livre de deficiência: 3,31% (1/10 a
1/5).
Com 25 semanas, a probabilidade de sobrevivência livre de deficiência: 33-75% (1/2 a
2/3).
Segundo Lefebvre e cl 25, para cada intervalo semanal de 24 a 28 semanas de gestação,
a incidência de normalidade foi de 44%, 41%, 76% e 72%, respectivamente.
Hack e cl45 evidenciaram, na idade escolar (média de 6,7anos) maior risco para
disfunção neurocomportamental e deficiente performance escolar nas crianças com peso ao
nascer abaixo de 750g. A grave deficiência neurosensorial (paralisia cerebral, cegueira,
surdez) ocorreu em 15% das crianças que pesavam <750g ao nascer versus 8% das crianças
que pesavam ao nascer 750-1499g e em nenhuma das crianças que nasceram a termo. Das
crianças com peso <750g ao nascer, 21% tiveram habilidades mentais subnormais, 45%
necessitaram de alguma educação especial no colégio, 25% tiveram desabilidade visual e
22% a 35% tiveram crescimento subnormal em peso, altura e perímetro cefálico. As
crianças que tiveram ultra-sonografia anormal tiveram odds ratio para retardo mental de 5,4
vezes e 15,2 vezes de paralisia cerebral. As crianças que tiveram dependência de oxigênio
na idade gestacional pós-concepção, o risco de retardo mental foi de 4,5 vezes e 4,3 vezes
para desabilidade visual. Com estes achados, os autores enfatizam a importância de
prevenir o nascimento de RN pré-termo extremo.
Na idade de 10-14 anos, Hack e cl46 evidenciaram maiores taxas de desabilidade e
especial cuidados de saúde para as crianças com peso ao nascer <750 gramas em
comparação com as crianças nascidas a termo: para atraso mental ou emocional (odds ratio
de 4,7); para restrições de atividades (odds ratio:5,1); para cegueira ou visão deficiente
(odds ratio:3,9); necessidade de uso de óculos (odds ratio:2,8); educação especial (odds
ratio:5,0); necessidade de aconselhamento (odds ratio:4,8) e para especial adaptação no
colégio (odds ratio:9,5). Os autores concluem que os pais e educadores necessitam de ser
informados sobre desabilidades e necessidade de cuidados especiais de saúde para as
crianças que nasceram com peso <750g.
Quanto à abordagem do aconselhamento aos pais quando o nascimento do prematuro
extremo é antecipado44:
-Provê a melhor estimativa de sobrevivência e taxas de deficiências.
-Informar dados da literatura
-Informar dados da experiência local
-Permitir aos pais expressar sobre desabilidades (interpretar: o que eles acham ter
uma criança deficiente em casa)
Doyle 47 avaliou deficiências neurosensoriais e desabilidades na idade de 14 anos de
88 RN que nasceram na Austrália com peso entre 500 a 999g, entre 1979 e 1980. A
paralisia cerebral ocorreu em 10%, a cegueira bilateral em 6%, surdez em 5%; 46%
tinham QI >1 DP abaixo da média do grupo controle (RN >2499g nascidos no mesmo
período). De forma geral, a desabilidade foi severa em 14%, moderada em 15%, leve
em 25% e nenhuma em 46%. No grupo controle, 2% apresentou desabilidade severa e
14% apresentou leve desabilidade. Interessante que os escore de desabilidade nas idades
de 2,5 e 8 anos significantemente predizem a desabilidade na idade de 14 anos
Emsley e cl33, comparando 2 períodos de 1984 e 1989, relataram aumento da
sobrevivência dos RN entre 23 e 25 semanas, mas, no entanto, a taxa de desabilidade
aumentou de 38% para 68%(muito deste aumento foi de leve desabilidade). Interessante
que a proporção de sobreviventes com paralisia cerebral não alterou significativamente
(21% versus 18%). Os autores relataram um aumento da cegueira devido a retinopatia
(4% para 18%), miopia (4% para 15%) e estrabismo (8% para 13%). O ultra-som
craniano e o escore CRIB foram altamente associados com morte. Um escore CRIB
elevado foi o fator mais fortemente associado com desabilidade.
Todo esforço deve ser feito para atrasar o nascimento prematuro. A chance de
sobrevivência melhora em torno de 2% a cada dia durante o período gestacional entre
23 e 26 semanas48.
Battin e cl28, do Children´s Hospital, Vancouver, Canadá, analisaram a taxa de
sobrevivências dos RN entre 23-28 semanas e o follow-up aos 18 meses de idade
corrigida para os RN de 23-25 semanas de idade gestacional nascidos entre 1991-1993,
época em que já estavam estabelecidos o esteróide pré-natal e o surfactante. Os
resultados foram comparados com o período de 1983-1989 (era pré-surfactante). Na
faixa de 23-25 semanas, a sobrevivência foi um pouco melhor (72% versus 65%-
p=0,006), mas a sobrevivência foi melhor entre 26-28semanas (86% versus 76%-
p=0,01), mas não entre 23-25 semanas (44 versus 44%-p=0,9), mesmo fazendo ajuste
para o sexo e gemelaridade. A incidência de deficiências maiores aos 18 meses
continuou sendo alta em ambos os períodos (36%). Entre 24-25 semanas, não houve
evidência de melhora na sobrevivência (53% versus 50%) ou melhora no follow-up aos
18 meses (grande deficiência: 32% versus 34%). Os autores concluem que as taxas de
sobrevivência melhoraram para os RN entre 26-28 semanas, mas as taxa de
sobrevivências e incidência de deficiências não melhoraram nos RN com idade
gestacional entre 23-25 semanas.
Whitifield e cl49 relataram que os RN com peso ao nascer <=800g, em relação aos
RN a termo, tiveram 3 vezes mais risco de apresentarem distúrbios no aprendizado
(47% versus 18%), sendo que 41% tiveram dificuldades em várias áreas do
aprendizado.
No estudo de Wood e cl29, na idade corrigida de aproximadamente 30 meses, cerca
de 50% dos RN de 25 semanas apresentaram déficits nas áreas de desenvolvimento
mental e psicomotor, função neurológica e sensorial e comunicação, sendo que 23%
tiveram severa desabilidade.
Peralta-Carcelen e cl50 relataram que na idade de 14 anos, os adolescentes que
pesaram ao nascer menos que 1000g eram 4,8 menores e 9,1Kg mais magros que os
adolescentes que tiveram peso ao nascer >=2500g. No entanto, a maturação sexual e a
composição corporal relativa foram semelhantes entre os dois grupos. Os autores
também encontraram idade óssea avançada no grupo de peso ao nascer <1000g,
explicando a menor estatura nestas crianças. Comentando este estudo, Hack 51 cita que o
uso do hormônio de crescimento nestas crianças não traz benefício, podendo, inclusive,
ser maléfico.
No estudo de Saigal e cl52, mais da metade das crianças entre 8-11 anos de idade que
nasceram com peso entre 500-1000g em quatro países, Canadá, Estados Unidos,
Holanda e Alemanha requereram educação especial e/ou repetição do grau. Assim,
dificuldades escolares nestes RN de extremo baixo peso constituem uma séria seqüela
em 4 paises estudados.
Há estudos que tem revisto a evolução dos RN pré-termos extremos que requereram
reanimação cardiopulmonar na sala de parto. Entre estes, citamos o estudo de Davis 53. Este
estudo incluiu 156 RN < 1000g: dos 25 RN < 501g ao nascer, nenhum sobreviveu; na faixa
ponderal de 500 a 750g, houve 62 RN; deste, 50 RN (57%) necessitaram de apenas suporte
ventilatório todos sobreviveram, mas nenhum dos 8 RN que recebeu massagem cardíaca
com ou sem epinefrina sobreviveu. Os autores concluem que a massagem cardíaca para os
RN <750gramas é totalmente infrutífera. Entre 751-1000g, houve 69 RN que requereram
massagem cardíaca por 1 a 15 minutos e todos sobreviveram, assim como 4 de 7 que
requereram epinefrina. Portanto, o uso de drogas na reanimação destes RN pré-termos
extremos é um fator de mau prognóstico em termos de sobrevida. O autor ainda cita que no
grupo de 500 e 700g, os RN que tiveram um Apgar de 0 e 3 no 5 o minuto, nenhum
sobreviveu. Davis acredita que “fazer tudo” para os RN <750g que não respondem aos
passos iniciais da reanimação (intubação e ventilação), deveriam receber apenas medidas de
conforto e suporte aos pais e outros membros da família, para que possam interagir com o
bebê nem que seja por pouco tempo.
No estudo de Vakrilova54, na Bulgária, 5 de 6 RN abaixo de 1000g que receberam
adrenalina ou massagem cardíaca, morreram (83,3%), sendo que 4 destes, tinham severa
hemorragia peri/intraventricular. Nos RN com peso ao nascer entre 1000 e 1499g, dos 8
com a mesma reanimação, 4 (50%) morreram e 2 sobreviveram com hemorragia
peri/intraventricular graus 3 e 4.
Sims e cl 55 relataram que dos 5 RN <=28 semanas que requereram uso de adrenalina
e atropina na reanimação, 3 morreram e 2 ficaram com seqüelas graves e questionam o uso
de drogas na reanimação destes RN. No entanto, o uso de adrenalina ou atropina na
reanimação dos RN com idade gestacional >= 33 semanas pode resultar em uma criança
normal. Estes autores relataram os seguintes fatores associados com prognóstico ruim na
sala de parto: prematuridade extrema, necessidade precoce ou repetida de reanimação com
adrenalina ou atropina ou ambos, ausência de uma causa evidente de colapso, necessitando
de reanimação e assistolia mais do que bradicardia. Na presença de qualquer um destes
fatores e especialmente se combinados, o neonatologista pode questionar o uso ou não da
adrenalina ou atropina ou ambos.
Rennie e cl48 relataram apenas 2 RN normais entre 11 RN de muito baixo peso que
requereram reanimação cardiopulmonar na sala de parto com drogas, massagem cardíaca
externa e adrenalina em Cambridge durante os anos de 1989 e 1993.
Finer e cl 56 relataram os resultados da reanimação cardiopulmonar na sala de parto
nos RN com peso ao nascer <1000gramas na Universidade da Califórnia, entre 1993 e
1996. Dos 19 RN que receberam reanimação cardiopulmonar na sala de parto, 15 (79%)
sobreviveram, sendo que 10 de13 tinham peso ao nascer <750gramas e 5 de 6 RN tinham
peso >=750g. Na idade média de 28 meses, dos 10 RN seguidos, 70% apresentaram
desenvolvimento neurocomportamental normal, incluindo 6 de 7 RN <750gramas. Os
autores concluem que é possível sobrevida sem seqüelas para os RN com peso ao nascer
<750gramas que receberam reanimação cardiopulmonar na sala de parto.
Finer e cl57 revisaram os dados da Rede Vermont Oxford com informações de mais
de 200 Unidades Neonatais, a respeito da reanimação cardiopulmonar (RCP) nos RN
<1000gramas, incluindo informações de massagem cardíacas e epinefrina. Os autores
relataram taxa de sobrevivência nos RN que receberam RCP na sala de parto de 23,9%
para os RN entre 401-500ge 16,7% para os que não receberam RCP. Para os RN entre 501-
1500g que receberam RCP, a taxa de sobrevivência foi de 63,3% e 87,9% para os que não
receberam RCP. Para os RN <1000g, a sobrevivência foi de 53,8% para os RN que
receberam RCP, versus 74,9% para os RN que não receberam RCP. A Hemorragia
peri/intraventricular de qualquer grau ocorreu mais frequentemente no grupo que recebeu
RCP (38% versus 21%). A hemorragia peri/intraventricular grau 3 e 4 ocorreram em 15,3%
nos RN que receberam RCP versus 4,9% nos RN que não necessitaram de RCP na sala de
parto. A leucomalácia periventricular cística ocorreu em 7,8% dos RN que receberam RCP
versus 3,9% nos RN que não necessitaram de RCP (p<0,001). Entre os sobreviventes, 50%
sobreviveram sem hemorragia peri/intraventricular severa versus 81,3% dos RN que não
necessitaram de RCP na sala de parto. Entre as limitações deste estudo, se destaca a falta de
informação do follow-up a longo prazo destes RN.
Jankov e cl 58, da Universidade de Toronto, relataram favorável prognóstico
neurológico nos RN com peso ao nascer <=750g que receberam reanimação
cardiopulmonar (ventilação por pressão positiva via tubo endotraqueal e massagem
cardíaca) na sala de parto, no período entre 1990-1996. Esta reanimação foi administrada
em 16 RN (4 RN receberam massagem cardíaca e 12 receberam também adrenalina); 7 RN
morreram (43,7%) e 8 de 9 sobreviventes eram livre de anormalidades severas do
desenvolvimento neurológico no follow-up de 2 anos. Os RN que receberam reanimação
cardiopulmonar na sala de parto e que tinham um Apgar <=5 no 5 o minuto e que
apresentaram atraso para o início da respiração espontânea, tiveram um prognóstico muito
ruim.
Conclusões definitivas do valor da reanimação cardiopulmonar na sala de parto para
os RN pré-termos extremos são limitadas devido ao pequeno número de pacientes em todos
os estudos, limitando o poder da análise estatística. A validade da combinação de dados dos
estudos é questionada pelas definições variáveis de reanimação cardiopulmonar na sala de
parto, critérios de inclusão inconsistentes (peso, idade gestacional) e diferentes opiniões
sobre a reanimação na margem da viabilidade da vida58.
Os neonatologistas são criticados por supertratar RN prematuros extremos que
morrem a despeito de cuidados invasivos. O não início da reanimação na sala de parto tem
sido recomendado para minimizar o supertratamento. Utilizando um questionário para
avaliar decisões na sala de parto e mortalidade para os RN entre 23-26 semanas de idade
gestacional nascidos nos Hospitais da Universidade do Norte da Carolina entre 1994-1995,
Doron e cl 59 evidenciaram: 31 de 41 RN entre 23-26 semanas foram reanimados, dos quais
24 morreram antes da alta (entubação e/ou reanimação cardiopulmonar na sala de parto). A
decisão para reanimar foi baseada no peso maior, estimativa de sobrevivência >10%, maior
idade gestacional e incerteza prognóstica.
Na Austrália, Oei e cl 60, também através de questionário, avaliaram que a maioria
dos médicos reanima os RN com idade gestacional >=24semanas ou peso ao nascer
>500gramas.
Munro e cl 61, citam que na Austrália, a reanimação ao nascer foi restrita aos RN
>=23semanas e a grande maioria dos neonatologistas australianos concorda com esta
diretriz.
Segundo Cummings e cl62 em Connecticut e Rhode Island, através de um
questionário, evidenciaram que a maioria dos neonatologistas não reanima RN <=22
semanas de idade gestascional e reanimam aqueles com idade gestacional >=25 semanas, a
despeito do desejo ao contrário dos pais.
Leeuw e cl 63 analisaram as respostas de um questionário enviado a grandes Centros
Neonatais de 11 países europeus. O questionário consistia na avaliação da opção do
tratamento de um RN fictício de 560 gramas ao nascer, idade gestacional de 23 semanas
com Apgar de 1 no primeiro minuto e que poucos dias após o nascimento evoluiu com
piora das condições clínicas, uma grande hemorragia peri/intraventricular unilateral com
dilatação ventricular e com comprometimento do parênquima cerebral, estando o RN na
UTI Neonatal Os autores concluíram com a análise das respostas, que inexiste uma
conduta médica estabelecida para conduzir o RN com viabilidade boderline. A conduta
médica vai depender da maturidade e experiência do profissional envolvido (os médicos
com 6 - 15 anos foram mais favoráveis a limitar os cuidados intensivos do que os mais
jovens), dos valores morais, religiosos, culturais e da legislação vigente no país (a decisão
de terminar com a vida propositalmente ocorreu com exclusividade na França e Holanda).
Embora o limite de viabilidade fetal continua a diminuir, há um consenso geral que
23-24 semanas de gestação é o limite abaixo do qual as medidas heróicas de reanimação
são fúteis. Os dados obtidos de sobrevivência da literatura autorizam a agressiva
reanimação para os RN >= 24 semanas. Para os RN <24 semanas de idade gestacional, são
recomendas avaliações para determinar o início ou a suspensão do suporte. A decisão
crítica para não iniciar ou suspender o tratamento deveria ser baseado não exclusivamente
na idade gestacional ou no peso ao nascer, mas devem constituir uma decisão baseada na
condição do RN ao nascer, dados específicos de sobrevivência do Hospital e das
preferências dos pais 20.
A justificativa da não intervenção para um RN com questionável viabilidade de vida
que eventualmente poderia ser saudável, para reduzir a incidência de disabilidade na
população, permanece como um tema de debate ético20.
Segundo Goldsmith e cl 3 do Departamento de Pediatria e Neonatologia Ochsner
Medical Foundation, New Orleans RN com idade gestacional <22semanas não são
reanimados; na idade gestacional de 23 semanas, a sobrevida é possível, mas é muito
improvável; na idade gestacional de 24 semanas todos são reanimados a menos que
apresentam malformações letais e a família é informada a respeito das taxas de
sobrevivência e as complicações agudas e as possíveis seqüelas a longo prazo.
O Comitê de Bioética do Departamento de Pediatria da Universidade de Pádua 64
elaborou, em 2004, recomendações para reanimação dos RN pré-termos extremos na sala
de parto, a partir de dados disponíveis, como o limite de viabilidade, sobrevivência,
prognóstico e aspectos éticos. As recomendações foram:
-22 semanas: o cuidado deve ser restringir a apenas ao conforto
-23 semanas: na presença de sinais vitais detectáveis, entubar, suporte respiratório,
reavaliação das condições neonatais
-24 semanas: entubação, suporte ventilatório, reanimação cardiopulmonar
Segundo Pinkerton e cl 65, os RN < 22-23 semanas não deveriam ser reanimados; de
23-25 semanas reanimar na dependência da avaliação na sala de parto; se sucesso, o RN é
levado a UTI Neonatal. A suspensão do tratamento é recomendada se ocorrer severa
descompensação. Os pais devem ser continuamente informados a respeito da morbidade
associada a prematuridade extrema.
Segundo Allen e cl22 RN <22 semanas não devem ser reanimados; apenas 2% e 21%
dos RN com idades gestacionais respectivas <22 semanas e 23 semanas sobrevivem sem
anormalidades na ultra-sonografia craniana. A reanimação agressiva deve ocorrer para o
RN >=25semanas. Entre 23-24 semanas, devemos ouvir os pais.
O Comitê de Feto e RN da Sociedade Canadense de Pediatria 66 publicou em 1994
recomendações para os médicos, pais e outros membros da família a respeito do manuseio
de um provável nascimento de um RN com idade gestacional <= 26 semanas:
A) –idade gestacional < 22 semanas: inviáveis
–idade gestacional de 22 semanas: raramente viáveis
Para este grupo de RN não está indicado o tratamento ativo e sim o
cuidado que visa conforto. As mães são não candidatas à cesariana
B) -idade gestacional de 23-24 semanas: o prognóstico destes bebês é
muito variável. Discutir com os pais. O início ou não da reanimação
vai depender das condições de nascimento. Avaliar os riscos
potenciais da cesariana e os benefícios limitados para o RN.
C) –idade gestacional de 25-26 semanas: muito destes RN sobrevivem e
a maioria não apresenta desabilidade. A cesariana, quando indicada e
a reanimação são recomendadas.
Nas recomendações do American College of Emergency Physicians 67 consta não
iniciar a reanimação na sala de parto para os RN com idade gestacional confirmada <23
semanas, com peso ao nascer <400g, e os RN que se apresentam com anencefalia ou
trissomia 13 ou 18 confirmadas. Os dados disponíveis atualmente indicam que a
reanimação dos RN com qualquer uma destas condições é improvável resultar em
sobrevivência ou sobrevivência sem anormalidades neurológicas. No entanto, a informação
pré-natal pode ser incompleta ou errônea. Em caso de dúvida, iniciar a reanimação e
descontinuar a reanimação se necessária, após melhor avaliação destas condições. Iniciar a
reanimação nestes casos não significa que é mandatório a manutenção do suporte
O Comitê de Fetos e Recém-Nascidos da Academia Americana de Pediatria 68 acha
apropriado não reanimar os RN com idade gestacional inferior a 23 semanas e/ou peso ao
nascer de 400g. Os pais devem se informados que decisões sobre a viabilidade e o
manuseio neonatal discutidas antes do nascimento podem ser alteradas na sala de parto na
dependência das condições de nascimento dos bebês, da avaliação da idade gestacional e da
resposta do bebê às medidas iniciais de reanimação e estabilização. A decisão de continuar
o suporte requer freqüentes avaliações da condição e do prognóstico e sempre envolvendo
os pais.
Segundo Keenan69, nos Estados Unidos não há registro de nenhum caso contra
médicos que interromperam as medidas de reanimação. Existem sim alguns casos contra
médicos que prolongaram demasiadamente as medidas de reanimação. Não há Conselhos
Médicos nos Estados Unidos que obriga os médicos a reanimar em todas as situações.
O Conselho de Ética da Dinamarca, em 1994, colocou a idade gestacional de 24
semanas como o menor limite em que o tratamento é recomendado70.
Na dúvida da idade gestacional, a reanimação deve ser realizada, pois o retardo do
procedimento pode agravar a morbimortalidade. Na verdade, a sala de parto não é o local
mais adequado para a tomada de decisão se deve ou não ser iniciada a reanimação.
Quando se tem diagnosticado no pré-natal malformação letal ou idade gestacional <22-
23 semanas, dê ao bebê a dignidade de uma morte tranqüila, talvez nos braços dos pais
sem a interferência da equipe de reanimação. Agora, se o diagnóstico no pré-natal não foi
estabelecido, a reanimação vigorosa parece prudente até a avaliação dos resultados para
uma tomada de decisão mais criteriosa. Dê ao bebê o benefício da dúvida4.
Em nosso meio não existem recomendações específicas elaboradas por Comitês de
Bioética quanto à idade gestacional mínima ou a presença de anomalias congênitas, para
não se iniciar os procedimentos de reanimação na sala de parto71.
Os Serviços Neonatais devem analisar os dados de sobrevivência e se possível, de
prognósticos de acordo com o peso e idade gestacional e comparar com os dados
disponíveis da literatura, para que sejam elaboradas recomendações próprias para cada
Serviço.
A partir de dados de uma maternidade pública de São Paulo, sugere-se que o limite
de viabilidade esteja em torno de 25 semanas. Após a análise dos resultados de sobrevida
nos anos 1993, 1995 e 1997, os autores concluíram que todos os esforços devem ser feitos
na assistência ao parto e reanimação na sala de parto nos RN > de 27 semanas de idade
gestacional. Para os RN com idade gestacional entre 25-27semanas, analisar a presença de
outros fatores antes do início de uma reanimação mais agressiva71.
Segundo Oselka6, a Sociedade de Pediatria de São Paulo recomenda não reanimar os
RN com idade gestacional <23 semanas (não é apropriadamente ético); entre 24-25
semanas de idade gestacional, respeitar a decisão da família e >= 26 semanas, reanimar
sempre.
No estudo de Batton e cl9, a ausência de comprometimento fetal teve importante
impacto no prognóstico dos RN pré-termos extremos no limite de viabilidade. Assim, na
experiência dos autores, RN com idade gestacional de 23 semanas sem comprometimento
fetal, como anomalia congênita grave, sepses congênita, infecção intra-uterina crônica,
exposição a drogas, anemia congênita, severa restrição do crescimento intra-uterino,
sofrimento fetal importante e depressão cardiorespiratória ao nascer, não têm um
prognóstico pior do que os bebês nascidos com 24-25 semanas de idade gestacional. Assim,
as informações pré-natais são importantes na decisão do estabelecimento da idade
gestacional abaixo da qual não se reanima na sala de parto.
O manuseio obstétrico influencia significativamente o prognóstico dos RN pré-termos
extremos. Os obstetras devem estar conscientes de que suas decisões têm grande efeito nos
resultados neonatais destes RN. Embora se tenha registrado aumento do índice de
cesariana, especula-se o maior interesse dos obstetras nestes RN pré-termos extremos, mas
são necessários mais estudos para demonstrar a eficácia da cesariana sobre o parto normal,
como via preferencial de nascimentos destes RN10.
Na Unidade de Neonatologia do HRAS/SES/DF, os RN com idades gestacionais
>=26semanas devem sempre ser reanimados e quando admitidos na UTI Neonatal são
submetidos a toda intervenção disponível (ventilação convencional, ventilação de alta
freqüência, óxido nítrico, nutrição parenteral, drogas vasoativas, etc). Os RN com idade
gestacional <=23 semanas não devem ser reanimados, sendo proporcionado a eles
cuidados relacionados ao conforto (manuseio cuidadoso, manutenção da temperatura
neutra, monitorização gentil dos sinais vitais). Para os RN entre 24-25 semanas, o
manuseio pode ser alterado dependendo da condição do bebê ao nascimento e da resposta
às medidas iniciais de reanimação e de estabilização; a extensão da continuação do suporte
vai depender das freqüentes reavaliações das condições e prognóstico do bebê. A
assistência ventilatória que estes bebês recebem se ingressarem na UTI Neonatal se
retringirá apenas ao CPAP nasal.
-Custos
Embora nossos Serviços não realizam custos para a sobrevivência dos RN pré-
termos extremos, vejamos quanto custa no primeiro ano de vida um RN pré-termo
extremo e quando se gasta para produzir um pré-termo extremo sobrevivente.
Estudo realizado por Rogowski76, no estado da Califórnia durante 1986 e 1987,
analisando os custos para o tratamento dos RN de muito baixo peso, relataram os seguintes
valores:
Duas filosofias influenciam a decisão sobre o não tratamento dos RN com severas
anomalias congênitas. Uma é a filosofia da doença orientada, em que a morte é o extremo
negativo da vida e a vida é tudo que importa. Esta filosofia demanda agressiva terapia para
o paciente, além de desumanizar o paciente e agravar o sofrimento. A outra filosofia é a
pessoa orientada, colocando a qualidade de vida como objetivo primário. Esta filosofia
protege as pessoas da indignidade do tratamento sem efeito ou da crueldade da doença.
Alguns tipos comprometidos de vida são piores do que a morte. Na opção da melhor
filosofia, a família e a equipe médica são os melhores julgadores87.
Princípios a serem considerados quando se estuda Bioética: autonomia, beneficência
e justiça (tratar igualmente e não desperdiçar recursos). Em cima desses princípios devemos
discutir nossos posicionamentos.
Autonomia: o respeito pela autonomia é o princípio ético que obriga ao médico a
esclarecer ao paciente os benefícios e os malefícios de uma prática clínica, mas deixando o
julgamento por parte do paciente88; é o respeito àquilo que o paciente deseja; ele teria
liberdade para decidir sobre o seu destino. No caso do RN malformado, quem decide por
ele são os pais. Após o nascimento, com o esclarecimento da situação, temos que
considerar que a mãe no puerpério não está em condições emocionais de decidir e muito
menos o pai diante da gravidade e emoção a que é submetido ao saber das malformações do
seu RN. Estas decisões necessitam um esclarecimento detalhado, muita compreensão para
que ambos possam decidir esclarecidamente. Devemos conversar quantas vezes forem
necessárias e qualquer decisão só pode ser tomada com a autorização dos pais. O
atendimento dessa criança não envolve exclusivamente o médico, mas toda a equipe de
saúde, pois freqüentemente nos esquecemos que existem pessoas que não lidam
diretamente com o RN, mas que trabalham dentro da Unidade e que sofrem em função do
próprio quadro do malformado e do sofrimento de sua família. Há necessidade de
entendimento e participação de todos. Em situações em que a família deseja manutenção do
suporte à vida conflitando com a opinião da equipe multiprofissional, recomenda-se que os
pais recebam apoio, informações e esclarecimentos necessários, para que o assunto seja
retomado em outra oportunidade. E todas essas conversas devem ser anotadas no
prontuário. O Comitê de Ética da Sociedade de Pediatria de São Paulo entende que o
registro dos acontecimentos e decisões não implica que o paciente ou seu responsável tenha
que necessariamente assinar os documentos (é importante que haja testemunhas), isso para
evitar constrangimentos. No entanto, o que se verifica é que nem sempre os pais decidem, e
que nos relacionamentos existem interferências, e que os Comitês de Ética são de extrema
importância, e os Hospitais devem contar com eles, pois devem ser consultados face aos
problemas que afligem a equipe, pelos dilemas éticos 6,89.
Em matéria de Ética nem sempre se consegue unanimidade.
Beneficência: (analisa risco x benefício) é o princípio da ética que obriga os
médicos a oferecer aos pacientes um resultado favorável, oferecendo maior benefício com a
atividade clínica do que o mal esperado Este é o princípio mais antigo da ética médica e
está descrito desde a história antiga, em textos hipocráticos até a contemporânea bioética 88;
significa buscarmos o melhor interesse para o nosso paciente, e aí entra a questão da
qualidade de vida que estas crianças irão apresentar. Isso é colocado como justificativa
para a interrupção de tratamento e que, embora não façamos, inclui a administração de
drogas para a interrupção da vida 89.
Justiça: significa tratar igualmente e não desperdiçar recursos. Isso é de extrema
importância para nós (as nossas UTI Neonatais exigem recursos; estamos em um país onde
a mortalidade por miséria é ainda importante, e que os recursos não são distribuídos
igualmente entre a nossa população)89.
Os médicos não necessitam manter a vida de todo RN severamente deficiente, mas
cabe aos pais e aos médicos a decisão final que deve ser feita na base da melhor predição da
longetividade e qualidade de vida3.
Antes de determinar que malformação específica é incompatível com a vida, é
importante que se encontre os seguintes requisitos para a não intervenção3:
-anomalia ou padrão de malformação facilmente reconhecida
-prognóstico letal ou sobrevivência vegetativa
-diagnóstico laboratorial rapidamente disponível: cariótipo, ultra-sonografia,
tomografia e assim por diante.
-um simples defeito requerendo correção heróica ou medidas terapêuticas para
garantir sobrevida, como por exemplo, agenesia renal.
São exemplo de distúrbios identificáveis ou defeitos específicos estruturais
incompatíveis com a via (Lista de Jones)3:
-Hidranencefalia
-Holoprosencefalia
-Anencefalia
-Trissomia do 18
-Trissomia do 13
-Triploidia
-Agenesia Renal Bilateral
-Sirenomelia
-Síndromes de membros curtos:
-acondrogêneses tipo 1a e 1b
-acondrogêneses-hipocondorgênes tipo II
-fibrocondrogenias
-displasia tanatofórica
-osteogêneses imperfeita
Citado por Goldsmith e cl3, o Dr. Kenneth Lyons Jones, Chefe da Divisão de
Dismorfologia e Teratologia, na Universidade da Califórnia, em San Diego frisa que os
médicos devem estar aptos a responder a duas perguntas mais freqüentemente realizadas
pelos pais dos recém-nascidos malformados: qual é o prognóstico e qual é o risco de
recorrência. Segundo Jones, a sala de parto não é o local ideal para fazer um cuidadoso
exame físico do recém-nascido na tomada de decisão se tem ou não uma condição
incompatível com a vida.O foco da sala de parto deve ser a reanimação. Tão logo o RN
esteja estabilizado na UTI Neonatal, o exame físico cuidadoso possibilitará identificar o
distúrbio ou os defeitos estruturais. Os médicos devem apresentar aos pais fortes
argumentos relacionados a condição letal da criança.
Segundo Keenan69, quanto a decisões na sala de parto sobre os RN malformados, é
difícil tomar decisões na sala de parto; existem malformações, como a trissomia do 13,
onde o diagnóstico seguro pode ser feito na sala de parto, possibilitando agir mesmo sem a
confirmação citogenética. Agir significa discutir com a família, não promover reanimações
extensas, devido ao limitado benefício desta reanimação para o bebê. Se houver dúvidas,
estender o tratamento intensivo e esperar a confirmação citogenética.
Quanto aos diagnósticos pré-natais, estes não devem servir para decisão de não
tratamento ou interrupção da gestação, pois tais diagnósticos podem ser falhos. Devemos
considerar que temos que esgotar todos os recursos na definição do diagnóstico, antes de se
tomar qualquer atitude: ouvir outros especialistas, outros profissionais é importante.
Qualquer decisão só poderá ser tomada em função da certeza do diagnóstico que se
apresenta89.
Quanto ao papel dos Comitês de Ética: devem ser estabelecidos os Comitês de
Ética e estes devem ser a expressão do pensamento da comunidade que se serve do
Hospital, pois não é apenas uma pessoa que poderá tomar a decisão. A diversidade sócio-
cultural, econômica e de opinião encontrada na comunidade que o Hospital atende, faz com
que esses Comitês devam ter médicos, enfermeiras, assistentes sociais, psicólogos,
administradores de entidades de saúde, religiosos, representantes do Conselho de Medicina,
advogados e no que se relaciona a malformações e incapacidades, é muito importante que
tenha portadores de deficiências nesse Comitê. Temos que ter indivíduos que representem a
diversidade de nossas comunidades. Uma das funções mais importantes dos Comitês de
Ética é capacitar a comunidade a discutir os temas éticos. É aí que devem ser levados todos
os dilemas, sofrimentos e dificuldades que temos para lidar com as questões discutidas. Em
função disso é que seremos obrigados a nos posicionar com relação a esses temas éticos,
para que possamos errar menos e optarmos por um mundo mais tolerante89.
Com base nestes conhecimentos, são as seguintes recomendações para a
Reanimação Neonatal para os RN pré-termos extremos, RN em morte aparente e RN com
malformações graves:
- RN < = 23 semanas de gestação: não devem ser reanimados; os cuidados
se restringem ao conforto (manuseio mínimo, monitorização gentil,
manutenção da temperatura).
-RN entre 24-25 semanas de gestação: o manuseio pode ser alterado na
dependência de: -condição ao nascimento
-resposta à reanimação inicial e a estabilização
-se ingressar na UTI Neonatal: a assistência
ventilatória se restringirá ao CPAP nasal
A extensão contínua do suporte vai depender das
condições e prognóstico do bebê, que devem ser
discutidas de forma clara e exaustiva com a
família e a decisão final deve ser obtida em
conjunto.
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Paulo R. Margotto
AOS 5-D-205-70660-054
Brasília, DF
/ 061-2333614 / 061-99868953