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Titulo
Cohen Egler, Tamara Tania - Autor/a Autor(es)
Repensando la experiencia urbana de América Latina: cuestiones, conceptos y En:
valores
Buenos Aires Lugar
CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales Editorial/Editor
2000 Fecha
Colección
Sociologia Urbana; Ciudades; Temas
Capítulo de Libro Tipo de documento
http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/gt/20100930071528/11egler.pdf URL
Reconocimiento-No comercial-Sin obras derivadas 2.0 Genérica Licencia
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/deed.es
E
m poucas palavras, a reflexão que procuro trazer apóia-se na constatação
de que, no presente, o espaço, como objeto de estudos, é sobretudo um
conjunto de idéias que conduzem à compreensão de diferentes formas de
produção, representação e apropriação da materialidade. Espaço é uma categoria
abstrata que se constitui em ferramenta teórica, permitindo-nos observar e
analisar a concretude do processo social.
Para participar do desafio representado pela compreensão do espaço, o
estudo proposto tem por objetivo refletir sobre a importância do pensamento na
produção e na apropriação das formas físicas e aparentes das cidades. Pensar é
associar idéias que permitem a construção de um objeto, idéias que permitem a
compreensão do mundo. É nesse movimento de pensar e agir, apreendido por
Hannah Arendt (1993, 1994), que se constrói o conhecimento sobre os objetos e
que são formados valores que movem a ação social. Tal movimento é composto
de dois elementos, um cognitivo, articulado prioritariamente à produção do
espaço, outro configurado por sentimentos, vinculado, sobretudo, à apropriação
do espaço.
* Arquiteta, Mestre em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ), Doutora em Ciências Humanas pela
Universidade de São Paulo. Proferssora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pesquisadora CNPq. Editora do Prêmio Möbius na América Latina
(multimídia).
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Idéias e espaço
O pensamento nos permite iluminar a realidade para agir sobre ela e
transformá-la. Podemos pensar o espaço como um processo que, em sua
totalidade, se apresenta como um rosa. Em cada momento histórico, encontramos
uma compreensão predominante do processo espacial, constituindo-se em uma
descoberta a decomposição analítica possível da sua totalidade, em que cada
camada de pétalas representa uma parcela de conhecimento sobre o espaço.
Na metáfora da rosa, os elementos que formam o pensar, em cada camada de
pétalas, correspondem a orientações analíticas que conduzem à compreensão de
faces da totalidade, sempre inacessível e infinita. Pensar o espaço é, portanto,
compreender, a cada momento, as formas que realizam seus elementos
constitutivos, onde a história do pensamento avança na tarefa de precisar a natureza
dos conceitos que iluminam a compreensão (Arendt, 1993; Santos, 1996).
As camadas especializadas de conhecimento são, portanto, orientações que
conduzem à compreensão possível de um objeto complexo. Essas camadas não
são excludentes. Ao contrário, em cada momento histórico, existem formas em
disputa, mas também complementares, de perceber, conceber e interagir. A
importância das idéias, em articulação ou confronto, está diretamente associada à
capacidade de produzir e transformar a vida urbana. Assim, a cada período,
emerge um conjunto de idéias que estrutura e apóia ações transformadoras.
O pensar antecede o agir. Essa relação pode ser lida em diferentes escalas, no
indivíduo, na família, na comunidade, na cidade. Em cada escala, são construídas
relações que conduzem à especificidade da formação dos seres sociais que
compõem a totalidade histórica. Estamos, portanto, diante, mais uma vez, de dois
processos: um primeiro, de natureza espacial, compreendido em suas diferentes
escalas, e um segundo, temporal, compreendido nos diferentes momentos
históricos, transformadores de idéias e ações.
Isso quer dizer que cada relação espaço-temporal corresponde a uma
diferente forma de pensar, compreender e transformar a vida urbana. Interessa
reconhecer, portanto, os movimentos históricos que conduzem e alimentam a
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espaço é esse objeto reflexivo que resulta de ações que (re)produzem objetos e
expressam (des)afetos. Entender como se realizam as trocas de objetos e emoções
entre os homens pode nos conduzir ao entendimento da natureza das relações
espaciais, ao mesmo tempo em que a compreensão dessas relações é
indispensável à compreensão da realidade social.
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Cultura da exclusão
A exclusão é a experiência que se opõe à interação. Interagir é fazer junto;
excluir é eliminar a oportunidade da troca, é impedir a participação. Na cidade, o
processo de exclusão deve ser lido como aquele que expulsa segmentos da
população das possibilidades do encontro. O estudo do processo de exclusão na
cidade industrial, e particularmente na América Latina, esteve dedicado à análise
do processo de produção do espaço urbano.
A cidade informal, ilegal, constitui um dos objetos mais relevantes dos
estudos dirigidos à compreensão do processo de produção da cidade capitalista.
Nesses estudos, encontramos explicações vinculadas à desigualdade da renda, à
estrutura de salários, às formas de inserção no mercado de trabalho, aos
rendimentos fundiários. Tais estudos privilegiaram elementos do processo
espacial resultantes da produção material, quer seja em um olhar analítico que
valoriza os elementos da produção de mercadorias em geral, quer seja em uma
orientação que acentua a produção do marco construído.
Porém, foram raros os estudos que valorizaram as formas culturais da
exclusão social, cuja compreensão depende da análise das representações que
conduzem (e reproduzem) a ação social que elimina a interação. Na história,
encontramos idéias e ideários que legitimaram a ação social excludente,
configuradora das cidades brasileiras. Da senzala aos mocambos e favelas,
tivemos o acompanhamento e a presença de representações sociais que
orientaram e sedimentaram a formação do espaço da exclusão. Aos trabalhadores
não cabia estar (e ser) no centro dos acontecimentos – o mocambo ao fundo da
Casa Grande, a favela fora da cidade ou o mais escondida possível. Formas
espaciais distintas que revelam as formas sociais assumidas historicamente pela
exclusão social, como idéia e sentimento.
Interagir é fazer junto; excluir é eliminar do espaço de ação coletiva.
Podemos observar dimensões da vida cotidiana através desses conteúdos
orientadores de relações espaço-temporais. A exclusão decorre de relações sociais
culturalmente orientadas que hierarquizam classes, segmentos e grupos sociais,
externalizando os dominados do centro dos acontecimentos, das arenas de
decisão.
Podemos ir além e mostrar como a exclusão tem sua origem no conjunto de
idéias que dominam formas de pensar e de produzir a materialidade. O espaço é
o cenário onde as relações de exclusão são apresentadas e representadas. Quando
Sônia Ferraz (1999) faz a análise dessas relações, desvenda os caminhos
invisíveis que tornam claros os processos simbólicos da exclusão social, que vão
além da localização do cortiço ou da favela na estrutura urbana.
Os processos de exclusão podem ser reconhecidos em diferentes escalas do
social: da relação institucional à familiar e afetiva. O movimento dos homens
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