Abordagem Sindrômica Das DSTs
Abordagem Sindrômica Das DSTs
Abordagem Sindrômica Das DSTs
ÚLCERAS GENITAIS
1) Herpes Genital
Agente etiológico: Herpes simplex vírus. O tipo 2 (HSV-2) geralmente causa as lesões genitais. Vírus permanece
no estado latente nos gânglios linfáticos
Epidemiologia: é a DST ulcerativa mais frequente
Período de incubação: 3 a 14 dias
Fisiopatologia: a primo-infecção geralmente é assintomática e o vírus permanece latente no tecido neural
(gânglios sensoriais) por toda a vida, podendo recorrer (reativação do vírus) após traumatismos, estresse,
antibioticoterapia prolongada
Transmissão: ocorre através do contato sexual e orogenital (contato direto com lesões ou objetos
contaminados). O contágio ocorre quando há solução de continuidade (vírus não penetra pele/mucosa
íntegra). Além disso, a transmissão pode ocorrer na ausência de lesões ativas, na fase prodrômica
Características: inicia com vesículas agrupadas que se rompem e evoluem para múltiplas úlceras dolorosas,
fundo limpo, base eritematosa. Presença de linfoadenopatia dolorosa bilateral que não fistuliza. Pode ser
acompanhada de pródromos, como febre, mal estar, sensibilidade local, formigamento e prurido. Na infecção
recorrente o quadro clínico é menos intenso
Tratamento: medidas de higiene local para evitar infecção secundária e analgésicos para alívio da dor. O
tratamento é feito com antivirais sistêmicos:
Primoinfecção: aciclovir 400mg, 8/8h, VO, 7 a 10 dias
Recorrência: tratamento por 5 dias
2) Linfogranuloma Venéreo
Agente etiológico: Chlamydia trachomatis (cepas L1, L2 e L3)
Período de incubação: 4 a 21 dias
Características: úlcera única, indolor, que desaparece espontaneamente. Presença de linfoadenopatia
dolorosa que fistuliza em bico de regador (múltiplos orifícios)
Tratamento: doxiciclina, VO, 12/12h, 100mg, 14 a 21 dias
3) Donovanose
Agente etiológico: Klebsiella granulomatis (Calymmatobacterium granulomatis)
Características: úlcera crônica (duração > 4 semanas), indolor, profunda
Exames complementares: biópsia da lesão que evidencia corpúsculo de Donovan
Diagnóstico diferencial: câncer
Tratamento: doxicilina, 100mg, VO, 12/12h, 21 dias ou até desaparecimento das lesões
4) Cancro Mole
Agente etiológico: Haemophilus ducreyi
Características: múltiplas úlceras dolorosas, fundo sujo (necrótico), secreção fétida. Presença de
linfoadenopatia que fistuliza por um único orifício
Tratamento: azitromicina 1g, VO, dose única
5) Sifilis
Agente etiológico: Treponema pallidum (espiroqueta anaeróbia)
Transmissão: contato direto, contato com objetos contaminados, hemotransfusão, transmissão vertical
Classificação:
Sífilis Recente (< 1 ano) Sífilis Tardia (>1 ano)
Primária Secundária Latente Recente Latente Tardia Terciária
Formas clínicas:
Primária Secundária Latente Terciária
Cancro duro Lesões cutâneo-mucosas não Ausência de sinais Pele e órgãos internos
ulceradas simétricas e sintomas (cardíacas principalmente)
Úlcera única, indolor, Condiloma plano: lesões pápulo- Lesões cutâneo-mucosas
fundo limpo, liso e hipertróficas ulceradas (tubérculos ou
brilhante Roséola: manchas eritematosas gomas)
Linfoadenopatia Sifilides: pápulas eritemato- Tabes dorsalis (destruição do
indolor unilateral acastanhadas corno posterior da medula)
Madarose e alopécia Aneurisma aórtico
Placas mucosas Artropatia de Charcot
Cancro desaparece Lesões surgem 4 a 8 semanas após Pode durar de 3 a 25% dos pacientes não tratados
espontaneamente após desaparecimento do cancro duro 20 anos evoluem para sífilis terciária
10 dias (até 4 semanas), Lesões desaparecem após 2 a 6
sem deixar cicatriz semanas (entra na fase latente)
VDRL pode estar Elevação dos títulos de VDRL Declínio do VDRL Declínio do VDRL
negativo. Diagnóstico
com campo escuro
Obs: a neurossífilis pode ocorrer em qualquer fase da doença (não deve ser confundida com sífilis terciária)
Exames complementares:
Campo escuro: é o exame padrão ouro para diagnóstico de sífilis primária. É coletado material das lesões
ulceradas e avaliado no microscópio
Testes sorológicos treponêmicos: detecta anticorpos contra a espiroqueta (são exames mais específicos).
São os primeiros exames a positivar (tornam-se reativos na 1ª semana após o contágio). São utilizados para
confirmação de testes não treponêicos positivos. Podem permanecer positivos para toda a vida (mesmo
após tratamento eficaz). Exemplos: FTA-Abs, teste rápido (imunocromatografia) ou TPHA (hemaglutinação)
Testes sorológicos não treponêmicos (VDRL): são mais sensíveis e são utilizados para controle de cura.
Detecta anticorpos IgM e IgG contra a cardiolipina (é comum o achado de resultados falso-positivos, pois os
anticorpos estão presentes em outras situações). Torna-se reativo a partir da 2ª semana após surgimento
do cancro duro. Quando não tratada, ocorre redução dos títulos após o primeiro ano (fase latente tardia e
terciária). Quando tratada, ocorre negativação dos títulos 9 a 12 meses após tratamento (em alguns casos o
VDRL pode persistir detectável em títulos baixos por toda a vida, mesmo que a sífilis tenha sido
adequadamente tratada, indicando cicatriz sorológica). Efeito prozona: em soros com altos títulos de
anticorpos (decorrente do excesso de treponemas), a aglutinação pode não ocorrer nas diluições iniciais,
gerando um resultado aparentemente negativo (para evitar esse fenômeno é importante realizar sempre a
diluição do soro)
VDRL FTA-Abs Interpretação
- - Não é sífilis, janela imunológica ou sífilis primária
- + Sífilis primária ou sífilis curada
+ - Falso positivo
+ + Sífilis
Diagnóstico:
Sífilis primária: campo escuro (sorologias podem estar negativas)
Outras formas clínicas: teste não treponêmico reagente + teste treponêmico reagente
Gestante: um exame reagente (treponêmico ou não) autoriza a administração da primeira dose do
antibiótico. As próximas doses só devem ser feitas após confirmação com resultado de exame diferente
positivo
Controle de cura: deve ser feito com VDRL de 3/3 meses (ou mensal se gestante). Após o tratamento, os títulos
de VDRL devem diminuir. Não existe imunidade adquirida contra a sífilis, pois o nível de anticorpos declina, o
que significa que uma pessoa pode se reinfectar inúmeras vezes
Tratamento: é feito com penicilina G benzatina IM (alternativa: ceftriaxona ou doxaciclina)
Sífilis primária ou secundária: 1 dose (2,4 milhões UI, metade em cada glúteo)
Sífilis terciária ou latente de duração indeterminada: 3 doses (intervalo semanal entre as doses – 3 semanas
de tratamento)
URETRITE
Conceito: corrimento uretral (na mulher pode ocorrer tanto uretrite quanto cervicite)
Etiologia: Neisseria gonorrhoeae (diplococo gram negativo intracelular) e Chlamydia trachomatis (bactéria
gram negativa, anaeróbia, intracelular obrigatória)
Fisiopatologia: transmissão sexual. Acomete epitélio glandular
Clínica: descarga uretral mucopurulenta, dirúria e prurido uretral
Tratamento:
Gonorreia: dose única de ceftriaxona IM 500mg. Antigamente era utilizado ciprofloxacino para tratamento
do gonococo (não é mais utilizado devido desenvolvimento de resistência)
Clamídia: azitromicina VO 1g dose única. Alternativa: doxiciclina 100mg VO 12/12h por 7 dias
Diagnóstico sindrômico de acordo com o MS: pode ser feito através da bacterioscopia
Presença de diplococos gram negativos intracelulares: tratar clamídia e gonorreia
Ausência de diplococos gram negativos intracelulares: tratar clamídia
Bacterioscopia não disponível: tratar clamídia e gonorreia
VERRUGA GENITAL
1) Condiloma Acuminado
Etiologia: os papiloma vírus humano (HPV) fazem parte de um grupo de DNA vírus. O condiloma é causado
pelo HPV de baixo risco (baixo potencial oncogênico: 6 e 11)
Transmissão: a via sexual é a modalidade de contágio mais comum (o contágio pode ocorrer mesmo sem na
ausência de penetração). A transmissão vertical é rara (não é necessária a presença de lesões no trato genital
inferior para haver transmissão, não sendo necessária a indicação de cesariana nesses casos)
Período de incubação: varia de 3 semanas à 8 meses
Manifestações clínicas: lesões vegetantes com alta carga viral (crista de galo)
Prognóstico: é uma doença benigna que não evolui para carcinoma e pode ser curada espontaneamente
Tratamento: apesar da remissão espontânea, o tratamento do condiloma é indicado por questões estéticas e
para prevenir transmissão (possui alta carga viral)
Cirúrgico (eletrocauterização, criocauterização, excisão com bisturi ou CAF): ideal para lesões extensas.
Deve ser feito em centro cirúrgico, com aplicação de anestesia
Químico (ácido tricloroacético – ATA): pode ser feito ambulatorialmente. É doloroso. Deve ser aplicado
semanalmente. Ideal para lesões pequenas. Pode ser realizado em gestantes
Imunomoduladores (imiquimode): pode ser utilizado em domicílio. É mais caro e tem baixa eficácia
Prevenção: atualmente está disponível a vacina quadrivalente, que confere imunização contra os sorotipos 6,
11, 16 e 18. Ela é recomendada para mulheres (9 a 14 anos) e homens (11 a 14 anos), de preferência antes do
início da atividade sexual (não é contra indicada para mulheres que já iniciaram a atividade sexual). Devem ser
feitas 2 doses: 0 e 6 meses