JUVENTUDE AÇAO POLÍTICA Ebook
JUVENTUDE AÇAO POLÍTICA Ebook
JUVENTUDE AÇAO POLÍTICA Ebook
TAMO JUNT@!
Juventude e Ação Política: Tamo Junt@
ISBN: 978-65-81137-00-7
COORDENAÇÃO DA SISTEMATIZAÇÃO
Tatiana Klix
EDIÇÃO E REDAÇÃO
Patrícia H. Freitas
TEXTOS E RELATORIAS
Daniela Silva
Patrícia H. Freitas
Selli Rosa
Tatiana Klix
Daniel Martins Mamede
Wendell Carvalho
REVISÃO
Daniela Silva
Tatiana Klix
FOTOS
Daniela Silva
Harrison Lopes
Luã dos Santos Silva
Tatiany Carvalho
Maurício Mateus Santos
Belém: Belém:
Alexandre Ferreira, Amanda Rafaela, Caio Lima, Cibele Aviz, Daniel Thaylor, Deize Francisco Batista e Harrison Lopes
Vitória Silva, Denis Santos, Ellen Santos, Emily Marques, Evellyn Marques, Ewerton
Araújo, Fernando Gatinho, Gabriel Victor, Gleidicilene Mendes, Jean Marcos, Jéssica Fortaleza:
Cuentro, Jéssica Luane Silva, Juliane Santos, Kauan Brício, Klebson Williams, Lilian Daniel Martins Mamede e Wendell Carvalho
Cristina, Luan Enrique, Maria Nielly, Mariana Kalli, Mônica Ribeiro, Natacha Angel,
Pedro Enrique, Plácida Ribeiro, Raissa Silva, Renan Santos, Ruan Renato Braga, Tamires Salvador:
Santana, Vanessa Pantoja, Vitória de Jesus, Williams Lucas Soares, Raíssa das Neves, Daniela Silva
Vitória Castelhanno
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS:
Fortaleza:
João Victor Viana Alencar; Jamaira da Silva Oliveira; Sol dos Santos Duarte; Brena
Belém:
Emanuela Gomes; Rodrigo Lima Veiga; Jefferson Masac; Gabriela Alves Gondim; Laura
Lar Fabiano de Cristo – Casa de José
Ferreira; Thais Freire de Souza; Isaque Moreira Paula; Geovanna Silva da Costa; Antonio
Espaço Cultural Nossa Biblioteca
Jucelino Freitas de Castro Junior; João Samir Mendes Silva; Misael Pereira Arruda; Luan
Projeto Cine Clube Terra Firme
da Silva Nunes; Denise Costa; Luann Pimenta Brito Alencar; Maria Adeilana S Lima;
Jardel Hudson Albuquerque Gomes; Luan Moreira Marques; Victor Breno Araujo dos
Santos; Ruan Gabriel Pereira Lima; Pedro Ângelo Pereira Mesquista; Atyla Souza Rocha; Fortaleza:
Bianca Neres; Victor Oliveira de Sousa; Jonas da Silva Peixoto; Vitória Gabriela Gomes Instituto Cuca
Sotero; Francisco Lucas Barbosa de Menezes Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a
Juventude da Prefeitura Municipal de Fortaleza
Salvador: Salvador:
Adriele Gomes Paiva; Alan Santos Silva; Ana Cristina de S. Bahia; Beatriz Oliveira Sena; Biblioteca Zeferinas
Bruna Mota dos Santos; Bruna Santana de Melo; Ítalo Silva dos Santos; Ivanildo Lima Colégio Estadual Norma Ribeiro
Alexandrino; Jefferson de Carvalho; Luã dos Santos Silva; Lucas Pires dos Santos; Luís Projeto Avançar - Santa Casa de Misericórdia
Roberto dos Santos; Maurício Mateus Santos; Péricles A. De Souza; Ruan Silva Santos;
Suzana da Anunciação; Wendell Oliveira dos Santos
APOIO:
Itaú Social
Instituto Singularidades
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SUMARIO
6Introdução
7 Capítulo 1
Encontros e percursos
15
Capítulo 2
O que temos em comum?
19 Capítulo 3
Reflexões e aprendizados
39
Capítulo 4
Periféricos engajados
50
Capítulo 5
Desafios e recomendações
54
Capítulo 6
Inspirações
56 Anexos
Contribuir para que jovens exerçam participação polí- Este e-book apresenta nossa jornada até a constru-
tica e apoiá-lxs a interferir no cenário político atual, ção da metodologia Tamo Junt@, que procura res-
seja em contexto local e/ou mais amplo. Esse objetivo ponder a essas questões e foi criada para e junto com
ambicioso reuniu o que chamamos de equipe Tamo jovens. Assim como o nosso objetivo, também foi ne-
INTRODUCAO
Junt@, formada por cinco pessoas com atuações cessário ser ambicioso na atuação. O projeto teve três
diversas relacionadas a juventudes em diferentes ter- etapas: a construção de referenciais metodológicos
ritórios brasileiros: Belém(PA), Fortaleza(CE), Salva- para realização de oficinas, a facilitação de processos
~
ventudes em Curso, promovida pela Fundação Itaú Aqui apresentamos a sistematização de todo esse
Social, em parceria com o Instituto Singularidades, em processo, começando pelo nosso encontro até a des-
São Paulo, e foi provocada pelo desafio que então nos crição das ações práticas realizadas pelxs participan-
foi proposto: desenvolver uma prática inovadora que tes das oficinas que organizamos nas periferias de
fortaleça as juventudes relacionada a um dos temas Belém, Fortaleza e Salvador. Também compartilhamos
debatidos no curso. nossas dificuldades durante esse percurso e como
fizemos para superá-las.
Após uma imersão de trocas e reflexões sobre ques-
tões relevantes para as juventudes periféricas, apoiar Muito além de fornecer um passo a passo para a par-
sua participação política foi a ação que nos motivou a ticipação, os relatos e materiais compartilhados nesta
criar um projeto e trabalhar nele a muitas mãos, a sistematização têm o propósito de inspirar a constru-
partir de diferentes territórios. ção de novas ações políticas por jovens de diferentes
realidades e territórios. Acreditamos que as histórias e
Como poderíamos estar juntos dxs jovens e potenciali- intervenções já construídas podem se tornar uma fer-
zar sua participação, sem interferir em seu protagonis- ramenta potente de educação de jovem para jovem.
mo? Como deveríamos colaborar para a realização de
ações concretas, que também possam inspirar outras
práticas e intervenções? E como faríamos para facilitar
que a educação política aconteça entre pares? TAMO JUNT@!
6
´
CAPITULO 1
ENCONTROS e PERCURSOS
ENCONTROS e PERCURSOS
8
ENCONTROS e PERCURSOS
“Pessoal, recebi uma notícia maravilhosa! Estou tão feliz! Passei na
seleção do Itaú Social.”
O sentimento de isolamento manifesta-se, com frequência, em ativistas, educadorxs
Foi assim que Daniela disparou a notícia de que havia sido selecionada para a e gestorxs sociais, que têm raras oportunidades de intercâmbio, principalmente pela
primeira jornada formativa Juventudes em Curso, da Fundação Itaú Social. insuficiência de recursos em suas organizações (Itaú Social, 2019). Por isso, a jorna-
da formativa proposta pelo programa era uma oportunidade valiosa de aprofundar as
Mesmo sendo doutoranda em uma das mais reconhecidas faculdades de Comu- questões que todxs participantes selecionadxs vivem em seus respectivos contextos
nicação do Brasil e carregando uma considerável bagagem profissional, a de atuação, de construir conhecimentos e cocriar novas práticas, a partir do diálogo
baiana Daniela Silva (Salvador) tinha certeza de que esta formação promoveria e das trocas de experiências.
um diferencial em sua carreira.
9
ENCONTROS e PERCURSOS
Assim como a pesquisadora, os cearenses Daniel Mamede e Wendell Saraiva Foi durante o laboratório de práticas, realizado nos quatro últimos dias da formação,
(Fortaleza), a gaúcha Tatiana Klix (residente em SP) e o paraense Harrison que os percursos individuais, suas próprias referências, formações, vivências, iniciati-
Lopes (Belém), todxs profissionais reconhecidos por suas trajetórias, vibraram vas sociais e culturais conectaram-se. “Entre os fazeres que mais me motivam está a
pelo êxito, mesmo sem conhecer previamente todos os passos da aventura que mediação de conversas e facilitação de workshops para jovens refletirem sobre sua
iniciariam algumas semanas depois, na jornada proposta e apoiada pelo Ju- educação e criarem soluções para suas escolas”, revelava Tatiana. “Elaborar proje-
ventudes em Curso: tos e poder ajudar de alguma forma em iniciativas que revolucionam diretamente a
vida de centenas e até milhares de jovens nos últimos anos, foi uma experiência que
# dez dias de imersão em São Paulo, com aulas expositivas dialogadas, deba- mudou meu conceito sobre educação, cultura, liderança, força de vontade e perseve
tes entre participantes, muitas leituras; rança”, admitia Wendell.
#vivências em organizações sociais das periferias de São Paulo que atuam com A partir de reflexões como essas, somadas aos conteúdos trabalhados durante o
jovens; Juventudes em Curso:
# laboratório de práticas, que gerariam ações e projetos coletivos realizados #questões sobre identidade e (des)pertencimento – família, territórios e direito à
pelxs participantes. cidade;
DANIELA SILVA HARRISON LOPES TATIANA KLIX DANIEL MAMEDE WENDELL SARAIVA
Sou jornalista e pesquisadora, mestra Sou educomunicador, vídeomaker e Sou jornalista e trabalho com conteú- Tenho 28 anos, me formei em Direito e Sou advogado, militante do movimen-
em Desenvolvimento e Gestão Social fotógrafo, e atualmente atuo como dos e projetos na área de educação sou militante das políticas públicas de to estudantil e das políticas públicas
(UFBA) e doutoranda em Comunica- educador social no Lar Fabiano de desde 2010. Atualmente, sou diretora Juventude, Cultura e Direitos Huma- de juventude. Sou conselheiro munici-
ção e Cultura Contemporâneas Cristo, preparando para o mundo do do Porvir (www.porvir.org), uma inicia- nos. Estou cursando mestrado em pal de Juventude de Fortaleza e tra-
(UFBA), onde investigo as competên- trabalho adolescentes e jovens, públi- tiva de comunicação e mobilização que Ciências Políticas pela Universidade de balho na Coordenadoria de Desenvol-
cias comunicacionais mobilizadas co com quem trabalho desde 2005. produz conteúdos e promove ativida- Lisboa e sou diretor de Promoção de vimento da Juventude da Prefeitura
pelos jovens para a participação Realizo produções audiovisuais e des formativas para inspirar e apoiar Direitos Humanos e Cultura do Institu- Municipal de Fortaleza junto à Unida-
política (bolsista CNPQ e integrante oficinas com jovens na periferia de educadores a promoverem inovações to Cuca (https://juventude.fortale- de de Gestão do Projeto de Fortaleci-
do GP: CP-Redes). Belém, pelo Coletivo Tela Firme, além que tornem a escola mais conectada za.ce.gov.br/rede-cuca?fbclid=IwA- mento de Inclusão Social e Redes de
Nos últimos 15 anos, fui consultora do de outras cidades do Pará, Maranhão com as expectativas dos jovens e R2c3742KJyetlpuSkVXQnX3bVaZAKQ Atenção - Proredes/Fortaleza. Sou
UNICEF, Instituto Inspirare, Instituto e Amapá. Codirigi o documentário O qualificada para prepará-los para os stORMlomC-6In2E_NzSnSaywE4PQ). pós-graduado em Processo Civil (UNI-
SEB, LABi - Laboratório de Inovação sol não é quadrado (ht- desafios contemporâneos. Sou cofun- FOR) e estou cursando pós-graduação
Educacional, Fundação Telefônica tps://www.youtube.com/watch?- dadora do Quero na Escola (https://- em Direito Público: Direito Constitucio-
Vivo, Fundação José Silveira, entre v=aOg0iy9BGbo), que retrata a reali- queronaescola.com.br/) e integro o nal, Administrativo e Tributário (Uni-
outras instituições, sempre com foco dade de adolescentes privados de comitê consultivo da Associação de versidade Estácio de Sá - ESTÁCIO).
na garantia dos direitos infanto-juve- liberdade, resultado de minha atuação Jornalistas de Educação (Jeduca).
nis, além do apoio à educação pública no sistema socioeducativo paraense. 11
de qualidade.
ENCONTROS e PERCURSOS
10:30 AM 85%
MOTIVAÇÕES
User
online
+ INSPIRAÇÕES
#contexto político e social atual
#fragilidade dos processos formativos escolares
@daniel_mamede:
Com este trabalho, quero fazer com que cada vez mais jovens tenham a #confiança no potencial de transformação dos jovens
oportunidade de serem protagonistas da própria história.
@dani_silva: DERAM
Reconhecer e fortalecer o protagonismo das juventudes é também asse-
gurar direitos fundamentais para toda a sociedade. ORIGEM
@tati_klix: À PROPOSTA
Em um momento em que a própria democracia está sendo questionada, é
essencial ampliar espaços de participação, levar jovens para fora da escola
e apoiá-los a refletirem e agirem para garantir direitos.
@wendell_saraiva:
A conscientização política dos jovens, aliada a políticas de acessibilidades
educacionais, culturais e sociais revolucionará nossa sociedade e traduzirá fortalecer a formação política entre pares (de jovem para jovem) a
a base do futuro deste país. partir de conteúdos, metodologias e temáticas emergidas das juventu-
des, para potencializar a sua incidência sobre as políticas públicas, de
@harrison_lopes: modo a garantir os direitos dxs jovens e seu protagonismo.
O engajamento social resulta em conquistas consideráveis para a constru-
ção de políticas públicas. Por isso é importante trabalhar o tema partici-
pação com as juventudes das periferias.
12
ENCONTROS e PERCURSOS
Como objetivo geral, estabeleceram que o projeto Tamo-
Junt@ deveria contribuir para a participação política de
jovens e apoiá-lxs para interferir no cenário político atual,
seja em contexto local e/ou mais amplo.
Como objetivos específicos, definiram que seria necessário:
#Potencializar ações de participação política protagoniza-
das por jovens.
#Construir guia formativo para educação política de jovem
para jovem que seja útil e inspirador para qualquer território
nacional.
E para alcançarem seus objetivos, elencaram três atividades:
1. Realização de oficinas com jovens de 14 a 29 anos de ter-
ritórios vulneráveis das cidades de Belém, Fortaleza, Salva-
dor para mapear, debater, ampliar repertório e implementar
ações de participação política.
2. Realização de pelo menos uma ação política protago-
nizada pelxs jovens a partir das discussões ocorridas durante
as oficinas.
3. Sistematização de um Guia com as metodologias criadas,
para subsidiar encontros formativos entre pares (de jovem
para jovem).
Com o trajeto planejado durante os últimos quatro dias do
curso, cada participante retornou à sua cidade de origem e
deu início a uma nova etapa de sua jornada formativa.
Pesquisaram o referencial teórico, construíram instrumentais
a serem utilizados, organizaram um encontro para validar os
instrumentais construídos, articularam parcerias em cada
território, mobilizaram jovens e, finalmente, realizaram as
três oficinas, que serão detalhadas no capítulo 3.
13
ENCONTROS e PERCURSOS
Como referencial teórico e metodológico, utilizaram textos, vídeos e apresentações organizados para o circuito formativo e disponibilizados em
um arquivo digital. Especialmente duas publicações do Itaú Social deram base ao curso:
www.itausocial.org.br/
wp-content/uploads/2019/02/
Juventudes_em_curso_Livro_
Digital.pdf
www.itausocial.org.br/wp-content/
uploads/2018/05/07-revistanovos-
fluxos-segundaedicao_
1510162706.pdf
14
´
CAPITULO 2
O QUE TEMOS EM COMUM?
O QUE TEMOS EM COMUM?
FORTALEZA, CEARÁ.
Wendell Saraiva e Daniel Mamede, realizaram suas
ações em Fortaleza. As oficinas ocorreram em maio e
agosto.
BELÉM, PARÁ.
Harrison Lopes fez uma maratona de cinco dias em
Belém, para realizar as oficinas e participar das ações SALVADOR, BAHIA.
protagonizadas pelxs jovens. Daniela Silva trabalhou com as juventudes
de Salvador, organizando e facilitando as
oficinas e, algumas semanas depois,
apoiando o sarau realizado pelxs
participantes.
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O QUE TEMOS EM COMUM?
Arenoso, Bairro da Paz e Calabar são comunidades periféricas de Salvador, onde a maioria da população é pobre,
negra e estigmatizada por viver em uma área associada (pela mídia) à violência e ao tráfico. É aí que vivem as cinco
moças e os doze rapazes que participaram das oficinas facilitadas por Daniela Silva.
Todxs destacam a discriminação sofrida pela maioria dxs moradorxs dessas regiões, que já enfrentam a deficiência
de infraestrutura básica e de serviços de qualidade em saúde, educação, transporte público e segurança.
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O QUE TEMOS EM COMUM?
Outra característica que têm em comum é o fato de participarem de algum coleti- Os grupos do Pará também têm em comum o fato de residirem em territórios peri-
vo de jovens ou projeto social como grêmio estudantil, biblioteca comunitária ou féricos. A maioria vem do bairro mais populoso de Belém: o Guamá, que é marca-
cursinho preparatório para o mercado de trabalho. Esta inserção lhes confere um do pela vulnerabilidade social, por precárias condições de vida e ainda sofre com
bom nível de articulação e empoderamento, percebido em diversas discussões o estigma de ser “violento” e “perigoso”. A outra parte vem do bairro vizinho, de
durante a oficina. Terra Firme. A falta de infraestrutura e o descaso do poder público são realidades
Em Belém, onde Harrison Lopes organizou oficinas com dois grupos de jovens por ali também.
atendidos pelo Lar Fabiano de Cristo – Casa de José, notou-se uma diferença Em Fortaleza, foram convidadxs jovens de diferentes contextos: vinculadxs à
entre eles. Um dos grupos contou com 16 adolescentes que ainda tinham pouca Diretoria de Promoção de Direitos Humanos da Rede Cuca, integrantes do movi-
vivência em espaços coletivos, o que pode justificar a maior timidez e insegurança mento estudantil e comunicadorxs ativistas, além de moradorxs do bairro Mondu-
demonstrada durante suas falas, inicialmente. O outro reuniu 19 jovens − alguns bim. Essa composição diversa representa o mosaico formado pela população
se conheciam e outrxs estavam juntxs pela primeira vez, mas a maioria tinha juvenil do município: pessoas com diferentes sonhos, cores e identidades que
experiência com algum tipo de ação social. Nessa turma, bastante alegre e extro- constituem, juntas, um importante grupo social. Os territórios atendidos pela
vertida, as reflexões foram mais espontâneas. Esse resultado é um dado interes- Rede Cuca - Barra do Ceará, Mondubim e Jangurussu - onde boa parte dessxs
sante, que vem reforçar o que a equipe de educadorxs já identificava: a impor- jovens produzem e participam da vida comunitária, são locais com os menores IDH
tância de oferecer à juventude oportunidades de participação e ação política e maior índice de homicídio juvenil da Capital cearense.
para estimular o pensamento crítico e a expressão.
18
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CAPITULO 3
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
Após três meses de pesquisas, mapeamentos, construção colaborativa de instrumentais e encontros virtuais, a equipe Tamo Junt@ estava pronta para realizar as
ações planejadas. A metodologia era uma só, mas cada facilitador(a) colocou seu próprio “tempero”, de acordo com as realidades locais. O objetivo comum foi de-
bater política e participação com jovens de periferias urbanas e incentivar o ativismo político. Para isso, planejaram duas oficinas:
OFICINA 1
Participação Política das Juventudes: teorias e práticas
Carga horária: 8h
Objetivo geral: Apoiar xs jovens no processo de reflexão sobre participação política e compreender, a partir
da perspectiva delxs, os tensionamentos teóricos e as vivências práticas das juventudes, as influências e
motivações, sistematizando e garantindo a gestão do conhecimento cocriado.
Objetivos específicos:
# Compreender, a partir da perspectiva dx jovem, o que é participação política
# Mapear as diferentes práticas políticas idealizadas e/ou realizadas pelxs jovens
# Ampliar repertório dxs participantes
OFICINA 2
Mão na Massa: Juventudes planejam Prática Política para vivência em um território
Carga horária: 4h
Objetivo geral: Apoiar jovens participantes no planejamento de uma ação política coletiva.
20
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS
Neste capítulo, vamos contar como tudo aconteceu, mostrando o “caminho das 2. Depois de acertados o local e a equipe, foi o momento de mapear participantes.
pedras”, para você se inspirar em sua própria jornada. Uma boa estratégia é sempre convidar um número maior de pessoas, considerando
que podem acontecer imprevistos e ausências de última hora. Também é importante
1. A equipe Tamo Junt@ começou planejando em que territórios e espaços físicos garantir diversidade e algum engajamento prévio com o tema tratado, neste caso, a
poderia realizar as oficinas e com quem contaria para a facilitação e o registro das participação política. Se houver pessoas de diferentes comunidades, como ocorreu
atividades. Importante: uma pessoa sozinha não consegue fazer as duas tarefas. O em Salvador e Belém, é interessante considerar o contexto territorial para garantir o
ideal é ter pelo menos três: uma para facilitar, uma para fazer o registro de imagens transporte e a segurança dxs jovens.
e outra para fazer o registro das falas. Foi isso que aconteceu nas oficinas de
Salvador e Belém.
É o processo de propor, organizar e conduzir Existem várias formas de registrar: gravando Pesquisar jovens de acordo com idade,
as atividades de uma oficina. Deve ser feito áudios, gravando vídeos, fotografando ou gênero, escolaridade, local de moradia, par-
por pessoas com experiência. escrevendo tudo o que acontece. ticipação comunitária e política, envolvimento 21
em projetos e ongs.
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS
3. Após a confirmação da lista de participantes, foi enviado um
cadastro online para todxs responderem e se inscreverem até quatro
dias antes das oficinas. Com isso, pode-se analisar o perfil das pes-
soas inscritas e fazer ajustes na metodologia, se for necessário.
Oficina 1: Oficina 2:
•Acolhimento •Acolhimento
•Mapeamento das percepções e práticas •Memória didática
•Ampliação de repertório •Planejamento de ações
22
•Memória didática •Avaliação
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS
Número de oficinas 5 2 2
Duração
quatro tardes e três duas manhãs e uma duas manhãs e
manhãs tarde uma tarde
23
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS
Pensar POLÍTICA, fazer POLÍTICA
Considerando esses contextos das juventudes, a equipe preparou os ambientes das oficinas de maneira amistosa e acolhedora. Foram oferecidos deliciosos cafés da manhã ou
almoços, dependendo do horário de início de cada oficina. Dinâmicas para descontração e integração dos grupos, varais com fotos de jovens influentes no Brasil e no mundo,
uma playlist animada e decoração bem colorida fizeram parte das boas-vindas.
1 3
2 4
1. Bruna Melo - Nós da periferia, que temos direito às cotas nas universidades, somos tratados como os ladrões, os ruins. A gente acaba se revoltando, porque a gente vê
diariamente a mídia tachando de traficante e marginal um trabalhador negro, só porque ele mora em comunidade pobre.
2. Jefferson de Carvalho - A mídia reforça o privilégio dos brancos.
3. Ana Cristina Bahia - O que a midia mostra é uma periferia que é marcada pelo crime, por ladrões e vagabundos.
4. Italo Silva dos Santos - Quando a gente fala em negro, a gente não fala somente da cor, fala também da pobreza, da periferia, de uma classe social que está lutando
para ser alguém. Quando houve a abolição da escravatura, não deram oportunidades para o nosso povo, apenas mandaram nos virar. Isso segue assim até hoje.
Com essas respostas e o sentimento de indignação que emergiu do grupo, a facilitadora deu início à fase de mapeamento das percepções dxs jovens baianos sobre partici-
pação política e das práticas políticas que já realizam. Pediu que elxs citassem, primeiro, quais ações políticas poderiam contribuir para discutir ou reverter esta situação de
25
injustiça que denunciaram.
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS Neste momento, a jovem Bruna Mota declamou uma poesia de sua autoria que
trata de feminismo, racismo e resistência. Seguem alguns trechos:
O QUE AS PESSOAS JOVENS PODEM FAZER? Nunca pedi aceitação
Grêmio estudantil, participação nas eleições, manifestações na rua em prol
Pois sei quem eu sou e nunca te pedi isso
de direitos, manifestações na internet, mobilizações de jovens para diversas Aprendi a ser forte
lutas, debates nas escolas motivando outros jovens a manifestarem suas Hoje sou leoa feroz e felina
opiniões, marchas, saraus, participação em palestras sobre educação, estu- [...]
dar mais sobre politica, participação em eventos políticos, grupos de teatro,
rodas de conversa, grupos de dança, movimentos de empoderamento, circu-
Sou mulher e negra
itos literários, batalhas de rap, slam. E luto duas vezes pela resistência
Aqui tá faltando dialogo
Eu te escuto e vocês nao me ouvem
No momento seguinte, Daniela solicitou que respondessem o que já fazem
Não me levem a mal mas se preto é questão de melanina escura
para mudar a realidade. Em post-its coloridos, elxs encheram o quadro Ah...me poupem
JOVENS EM AÇÃO, que foi pregado na parede:
O QUE EU FAÇO?
26
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS
Já em Belém, o facilitador preferiu iniciar o mapeamento com algumas perguntas #Não gosto de política;
desafiadoras:
#Pra mim política se refere a estar no meio de ladrões;
#Como vocês, jovens, compreendem o sentido da participação? #Acho que nunca uma pessoa vai votar de acordo com que essa pessoa pensa,
#O que vocês ouviram falar e o que entendem sobre política?
por que tem sempre um político que acaba pagando pelo voto dela;
#Como a política influencia na vida da juventude?
#Política deveria ser a forma da população se organizar para ajudar o outro;
A primeira turma, formada em sua maioria por adolescentes, mostrou-se desinteressa-
da e descrente em relação à política. Como reflexo da incipiente formação destxs #Política é sempre luta pelo poder.
jovens, suas respostas revelaram-se mais reativas e pouco propositivas, em sua maioria: #No horário político só fazem promessas.
#A população não se sente representada.
1 2 4
No segundo grupo de Belém, formado por jovens que já tiveram mais experiências de formação e ativismo, os posicionamentos foram mais maduros e, na maioria das vezes,
confiantes em relação à participação política:
1. Mariana Kalli: O que é decidido agora na política influencia o nosso amanhã. Por isso, jovens deveriam protagonizar mais.
2. Fernando Gatinho: A política é vista com maus olhos, devido aos inúmeros casos de corrupção e por isso há muito desinteresse de jovens sobre esse tema.
3. Emily Marques: Pessoas jovens estão entre as mais presentes na política. Ela nos envolve. Devemos mesmo protagonizar mais e buscar envolver a todos.
4.Lilian cristina: A política sempre está presente em nossa vida. 27
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS
Tanto em Salvador como em Belém, num processo de construção de conhecimento, a Na oficina de Salvador, o próximo passo do mapeamento foi conhecer as pessoas que
equipe de facilitação retomou as opiniões dxs jovens, valorizou-as e avançou, apro- motivam e que inspiram xs jovens a participar politicamente. Foram distribuídos for-
fundando a reflexão e discorrendo sobre as lutas das comunidades periféricas pela mulários (canvas ) com as seguintes questões para cada participante refletir e
sobrevivência e sobre a atual conjuntura política brasileira, em que os direitos consti- responder, individualmente:
tucionais estão sendo ameaçados e aumenta, a cada ano, o número de assassinatos
de jovens negrxs. Nestes diálogos entre educadorxs e educandxs, ficou claro o com- # Quem são as pessoas que me motivam a participar politicamente?
promisso da prática educativa Tamo Junt@ com a transformação social e com a luta (Explicação: são pessoas que falam sobre o assunto com você)
por sonhos possíveis. # Quem são as pessoas que me inspiram a participar politicamente?
Várias reflexões mais profundas surgiram, a partir deste momento, como, por (Explicação: são pessoas que não tem contato direto, mas que você admira, segue
exemplo, a de Luan Enrique (Belém): nas redes sociais, assiste no youtube ou conhece a história de vida... jovem e adulto)
QUEM ME INSPIRA
Canais do youtube: Brasil Paralelo, Paulo Kovers, Canal do Negão, Zumbis em Brasília,
Quadro em Branco; Trip TV; Cara Gente Branca
Personalidades: Taís Araújo, Lázaro Ramos, Monique Evelle (empreendedora), Raoni
Oliveira (jornalista, repórter e radialista), Ana Talita ( dançarina e feminista), Edilene
Alves (dançarina da Funceb), Projota, Emicida, o criador de Zumbis em Brasília, o Cauê
Moura (youtuber); Arthur do Val, youtuber do canal Mamãe Falei; Yuri Marçal, Vilma
Reis, Tia Má, Ilê Ayê, banda Baiana System, Daniela Mercury, Lua Blanco, GAB2, Mel
Frankowiack, Paulo Freire, Paulo Rogério (ativista do movimento negro, pesquisador e
empreendedor baiano), Barack Obama, Djonga, Baco Exu do blues, Francisco El
Hombre (banda de música) Kendrick Hamar, Beyoncé, Djamila Ribeiro, Angela Davis,
Ava Duvernay, Mano Brown, Rosa Parks, Martin Luther King, Michele Obama, Iza (can-
tora), Marienne de Castro, Renato Russo, Rihanna, Marielle Franco, Eliza Lucinda
Banda Natirutis (música Deixa o menino jogar); o filho do prefeito de Planaltina. 28
~
REFLEXOES E APRENDIZADOS
A conversa que tiveram sobre este momento de reflexão revelou que esse tipo de Neste momento, mobilizadxs que estavam pelas reflexões e trocas anteriores, foi
questionamento nunca havia sido feito por e para elxs. A atividade contribuiu mais fácil para xs jovens se posicionarem assertivamente, até expondo questões
para que as pessoas refletissem sobre quais valores de fato as sustentam; algu- íntimas, por se sentirem acolhidos e confortáveis dentro do grupo.
mas expressaram que muitas vezes valorizam mais as opiniões de quem está
distante, “só porque é famoso”, deixando de dar importância aos pais, amigxs e @Jefferson de Carvalho: Sou estudante de Cinema e quero fazer documentári-
professorxs, que são aquelxs que apoiam e motivam suas ações. os para mostrar a discriminação que sofrem as pessoas com deficiência, como
eu, e quero contribuir para mudar essa realidade.
@ Alan Santos Silva: Quero agradecer ao Grêmio Estudantil do Cenor que me
acolheu assim que eu entrei neste colégio; essas pessoas maravilhosas [que @Luã dos Santos Silva: Como negro e homossexual, o que me motiva é lutar
participam do grêmio] me acolheram, me amaram, me motivaram e mostraram contra o preconceito e a discriminação das classes baixas, do povo negro e dos
que eu podia ser homossexual e ficar bem. homossexuais.
@Mauricio Mateus Santos: Acho muito bom que tenho pessoas jovens, perto de @Bruna Mota dos Santos: A minha causa é o feminismo, eu quero trabalhar pelo
mim, que são empoderadas e que me dão este exemplo. Eu fico pensando empoderamento de mulheres, não só por mim e por minha mãe, mas por muitas
também no poder das redes sociais em influenciar. outras mulheres que também sofrem com violências, estupro e discriminação.
Quero questionar o lugar de privilegio dos homens que é naturalizado, consider-
Ficou explícito que o universo de influência da maioria destxs jovens periféricos é ado normal.
amplo e marcado por artistas, músicos, youtubers, além de intelectuais, feminis-
tas, políticos e empreendedorxs negrxs. Tal fato sinaliza a importância de se @Suzana da Anunciação: o que me motiva a participar politicamente é a empa-
verem representadxs por pessoas negras que são reconhecidas na sociedade, tia, porque se tiver alguém na politica que sempre pensar no outro, isso vai
pela mídia e em espaços de poder e de formação de opinião. Daniela lembrou afetar positivamente outras pessoas. O que eu quero fazer é conscientizar
que há poucos anos era muito difícil no Brasil o reconhecimento público de jovens da periferia a ocupar espaços, principalmente aqueles que são consider-
tantas personalidades negras, destacando que houve um avanço. Ela também ados espaços de brancos.
ressaltou a importância de terem reconhecido, entre os seus pares, gente jovem
que influencia e motiva mais até do que pessoas adultas. @Mauricio Mateus Santos: Eu quero desconstruir esses estereótipos contra o povo
negro, a criminalização do povo preto, o racismo que faz com que a gente tenha
No momento final da etapa de mapeamento, a educadora lançou a seguinte medo de andar na rua, no shopping, por medo de ser preso por qualquer coisa.
questão:
@Ivanildo Lima Alexandrino: Quero lutar contra a lgbtfobia; esse colégio aqui
O que te mobiliza a participar politicamente? Qual tema, qual já foi muito machista e preconceituoso. Eu que sou gay era tratado como
menina; as pessoas gays apanhavam aqui.
experiência pessoal ou vivência motiva vocês a se posicionarem
politicamente? @Luis Roberto dos Santos: Eu gostaria de contribuir para que o povo sofresse
menos racismo, mostrar que todo mundo é igual, independente de cor, gênero etc.
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
AMPLIANDO O REPERTÓRIO Em Belém, o facilitador trabalhou com dois textos:
Nesta etapa da oficina, a equipe programou atividades para ampliar os Juventude em/in A participação dos jovens
formação”, nº03, do brasileiros: um mosaico de
repertórios dxs participantes, a partir da leitura de textos ou da apre- Observatório da formas participativas.
sentação de pesquisas e conceitos teóricos sobre participação política. Juventude – UFMG Cadernos temáticos Juven-
tude Brasileira e Ensino
Em Fortaleza, Wendell Carvalho e Daniel Mamede decidiram apresentar http://observatorio- Médio, caderno 11, UFMG.
uma apresentação ppt. com dados estatísticos sobre a juventude e a dajuventude.ufm-
http://observatoriodaju-
cidade (IDH de Fortaleza, população jovem do município, índice de homi- g.br/publication/fan-
ventude.ufmg.br/publica-
cídio juvenil etc), com o objetivo de subsidiar as percepções dxs partici- zine-juventudes/
tion/colecao-ca-
pantes. Em seguida, entregaram os artigos “Rede Cuca: uma rede de dernos-tematicos-juventud
cidadania” e “A cidadania dos coletivos culturais do Jangurussu”, es-e-participacao-politica
ambos escritos por Daniel, para a Universidade de Lisboa, como textos
bases para discussão de temas como cidadania, ativismo e militância.
As duas turmas se dividiram em grupos para ler, debater e sintetizar suas principais refle-
Segue a reflexão de um(a) participante: xões, a partir dos artigos.
“Por que os jovens desconfiam da democracia? Porque vivemos Esta é a síntese dos debates das turmas da manhã e da tarde:
em uma democracia/ditadura. Aquilo que é dito, não é seguido.
#Consumismo - Atualmente a sociedade vê as juventudes como problema, como pessoas
Direitos presentes na constituição não são garantidos pelo
imediatistas e consumistas. Isso acontece porque somos induzidos pelas mídias e pela
Estado. Aqui, por exemplo, os jovens dividem-se entre facções, própria sociedade; nós só queremos ser tratados como iguais.
pois não é garantido direito à habitação e ao lazer. Não podemos #Educação - A maioria dxs jovens não consegue avançar nos estudos, por isso não conse-
ficar divididos, necessitamos nos organizar.” gue trabalho. Não há perspectiva de futuro na escola; os traficantes aproveitam e acabam
formando marginais.
Em Salvador, Daniela também usou uma apresentação ppt. de referên- #JuventudePresente - se a juventude é o futuro do Brasil, nós, jovens, temos que esperar o
cia, com dados e indicadores nacionais e locais sobre juventudes, concei- nosso futuro chegar para sermos alguém? Por que acham que nós não temos responsabili-
tos relacionados à participação política, informações e exemplos de dade, hoje, com as nossas vidas? É só ter confiança, que demosntramos que somos respon-
atuação política dos jovens nos diferentes momentos políticos do país, sáveis.
desde a década de 1960 aos dias atuais. #Discriminação - Xs jovens atualmente são tratados como perigosos e rebeldes, são discri-
minados em shoppings e pelo seu jeito de falar, de se vestir e se comportar.
#Política - Xs jovens desconfiam das políticas, mas estão nos movimentos, à frente das
manifestações sociais, espalhados por todo o país. Participar e ter voz é também ser empo-
derado. 30
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
Aqui está um exemplo de como a metodologia Tamo Junt@ pode ser O jovem no Brasil nunca é levado a sério
adaptada, de acordo com os contextos e grupos. Para responder à per- Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério, não é sério
gunta “O que é ser jovem no Brasil?” a música Não é Sério, cantada por Eu sempre quis falar nunca tive chance
Charlie Brown Jr. e Negra Li, foi utilizada nas oficinas de Belém e de
E tudo que eu queria estava fora do meu alcance
Salvador, de maneiras diferentes. (trecho da música Não é Sério, cantada por Charlie Brown Jr. e Negra Li)
Em Belém, foi durante a leitura do texto “Juventude em/informação”. O Daniela, em Salvador, usou a mesma música com um momento performático que introduziu
facilitador pediu para cada jovem fazer a leitura individual e, em segui- a etapa de ampliação de repertório. Após o almoço, criou uma dinâmica para receber as
da, realizarem a leitura coletiva, dessa vez ouvindo a música. Depois, pessoas na sala: elas entravam andando lentamente por um corredor de cadeiras, que
estimulou a reflexão, a partir da letra da canção. tinham frases pregadas em seus encostos: Jovens não se interessam por nada; Jovem tem a
cabeça no mundo da lua; Política não é coisa de jovem; Jovem é aborrescente com mais
idade; Jovem é cabeça vazia, Jovem só pensa em si, Jovem só se interessa por fake news;
Jovem sabe de nada.
Esta caminhada tinha como pano de fundo a música cantada por Charlie Brown e Negra
Li. As frases nas cadeiras reforçavam os conceitos negativos sobre jovens expressos na
canção “Não é Sério”. A facilitadora pediu que xs educandos expressassem o que sentiram
ao ler as frases e ouvir a música. Seus sentimentos foram escritos em post-its e colados em
um quadro. Os resultados, embora expressos de forma diferente, mostraram muita recipro-
cidade entre o que pensam e sentem as juventudes das periferias de Belém e de Salvador:
BELÉM SALVADOR
Reflexões: Reflexões:
A grande mídia deveria mostrar a nossa realidade, Injustiçada, revoltada, chateada e agredida.
mostrar os jovens de forma também positiva, Grande incômodo.
fazendo ações em benefício da comunidade. Me sinto excluído.
Os jovens não são levados a sério por que a Não me sinto reconhecido.
sociedade acha que eles não têm Não me identifico com nenhuma das frases.
responsabilidades; Ser jovem é ser livre; Os jovens É como se o meu esforço na valesse nada.
têm liberdade quanto têm autonomia financeira; A
liberdade do jovem periférico é limitada; O governo
deveria investir mais em escolas; A criminalidade
aborda os jovens que estão dentro da escola,
imagina aqueles que estão fora da escola.
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REFLEXOES E APRENDIZADOS A dinâmica foi breve, mas gerou um impacto surpreendente entre xs educandxs.
“Quando você vê outras pessoas pensando de maneira parecida com você e mos-
COMO É SER JOVEM NAS PERIFERIAS? trando que já viveu as mesmas violências, você vê que não está sozinha”, comentou
Bruna Melo, moradora do Calabar. “Eu também me surpreendi, porque não imagi-
Para responder a esta questão, foram utilizadas diferentes metodologias em Sal- nava que outras pessoas teriam passado por situações semelhantes”, confirmou
vador e em Belém. Luís Roberto dos Santos, estudante do Cenor, na comunidade do Arenoso.
O objetivo era o mesmo nesta etapa da oficina: ampliar o repertório sobre Enquanto isso, em Belém, o facilitador perguntou diretamente aos jovens como é
como vivem e o que enfrentam os jovens periféricos. viver na periferia. E ouviu que é enfrentar diariamente o preconceito racial, a into-
lerância religiosa, abordagens policiais diferentes entre brancos e pretos; enfrentar
Para atingi-lo, Daniela utilizou outra dinâmica: convidou os jovens para ficarem em homicídios de jovens, homofobia, tráfico de drogas e conflitos familiares. Proble-
fila, em dois grupos, de frente um para o outro, cada um de um lado de uma fita mas muito semelhantes aos relatados pelxs participantes baianos, o que confirma
adesiva pregada no chão. Em seguida, ela fez perguntas e pediu que cada pessoa a viabilidade da metodologia construída pela equipe Tamo Junt@ para ser utiliza-
desse um passo à frente para cada resposta afirmativa. Havia 14 jovens na sala. da junto a grupos de juventudes periféricas em qualquer cidade brasileira.
#Quem aqui tem entre 15 e 24 anos? Mas ser jovem nas periferias também é ser resistência, como escreveu a jovem Ma-
14 pessoas deram um passo à frente. riana Kali, que fez uma poesia a partir das reflexões com os colegas de Belém:
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
COMO PARTICIPAR POLITICAMENTE? safzai, ganhadora de um prêmio Nobel da Paz, por sua luta pelo direito à educação
de meninas em seu país.
Depois de mapear as percepções e práticas das juventudes e começar a ampliar A educadora então pediu que todxs se reunissem em dois grandes grupos para
seus repertórios, as oficinas foram sendo dirigidas para o momento de pensar em planejar uma ação política a ser realizada coletivamente. Este momento aconteceu
ações concretas. Em Salvador, Daniela prosseguiu com a exposição dialogada sobre na OFICINA 2, quando Daniela, Harrison, Wendell e Daniel, em seus respectivos
os conceitos de participação, de democracia e de política. “Participação é um direi- contextos, apresentaram às turmas de jovens o instrumental Canvas, disponibiliza-
to assegurado nos regimes democráticos para cada cidadão e cidadã participar da do pela Fundação Itaú Social, para o planejamento das intervenções práticas.
vida política. Só existe democracia se houver participação”, concluiu a educadora,
lembrando que há várias formas de participar e que precisamos garantir nossa Em Fortaleza, xs jovens planejaram uma oficina de produção de placas com mate-
participação na construção das políticas e das leis. rial reciclado e um sarau com microfone aberto a quem quisesse se manifestar.
A jovem Bruna Melo contou ao grupo que se filiou a um partido político, porque Em Belém, as duas turmas (manhã e tarde) se uniram para planejar e organizar a
acredita que assim “poderá fiscalizar o que está acontecendo e trabalhar para que Ação Coletiva da Juventude Tamo Junto, que foi realizada na praça Benedito Mon-
o errado não aconteça”. Ela ouviu comentários de apoio dxs colegas, que visivel- teiro, no bairro Guamá, no sábado 15 de junho, das 9h às 11h.
mente se animaram com sua atitude. Daniela finalizou a apresentação com exem-
plos de ativistas jovens que estão influenciando políticas nacionais e internacio- Em Salvador, os jovens das comunidades do Arenoso, do Bairro da Paz e do Cala-
nais, como a empreendedora baiana Monique Evelle e a paquistanesa Malala You- bar, decidiram organizar um sarau na sede do projeto Avançar, no Bairro da Paz, no
sábado 6 de julho, das 14h às 18h.
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
DINÂMICAS UTILIZADAS
# MUITO PRAZER
Objetivo: Apresentação rápida dos nomes de participantes
Como fazer: Reunir os participantes em uma roda (pode estar de pé ou sentados, de-
pendendo das condições físicas do grupo); cada pessoa deve se apresentar falando
seu nome e fazendo um gesto que a represente; em seguida, todas as demais repetem
o nome e o gesto da pessoa que se apresentou.
# O NOVELO
Objetivo: Apresentar as pessoas de uma forma inusitada.
Como fazer: O grupo se posiciona em círculo. Casa pessoa que vai se apresentar
segura um novelo, enquanto fala seu nome e apresenta três fatos interessantes sobre
sua vida, mas uma das informações é falsa. Em seguida, a pessoa joga o novelo para
outra e fica segurando uma das pontas. A pessoa que recebe o novelo deverá adivin-
har qual das informações é falsa e, em seguida, se apresentar da mesma forma. Ao
final, todos estarão apresentados, integrados e o novelo formará uma rede.
Quando usar: no momento inicial de um trabalho com um grupo de pessoas que não se
conhecem.
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
Como fazer: Distribuir canetas e post-its ou papéis em forma de passarinho (logo do Como fazer: 1) O facilitador esconde objetos (pode ser uma barrinha de chocolate ou
twitter) para os participantes escreverem com que sentimento estão chegando na cereal), de preferência em uma área ao ar livre, durante um intervalo ou antes de ini-
oficina. Depois de escreverem, cada jovem prega o papel em um quadro ou outro tipo ciar a oficina. 2) O facilitador pede que sejam formadas duplas de pessoas que não se
de suporte. conhecem ou que convivem pouco. 3) Uma das pessoas tem os olhos vendados. A outra
será seu guia. Cada par tem a tarefa de encontrar um objeto escondido pelo facilita-
Ferramentas necessárias: canetas e papéis coloridos. dor. O número de objetos escondidos equivale ao número de duplas. 4) Somente a
pessoa que está “cega” poderá procurar o objeto, enquanto a sua “guia” a orienta
Quando usar: No início de uma reunião ou oficina. com palavras.
Ferramentas necessárias:
uma máscara ou pano que
sirva como venda; objetos
para esconder.
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REFLEXOES E APRENDIZADOS
Como fazer: Os participantes devem elaborar uma playlist com suas músicas favori- Como fazer: As pessoas são posicionadas de frente uma para a outra, em duplas.
tas, que tenham marcado suas vidas de alguma forma. Depois pedir para cada um Um da dupla segura o cabo com as duas mãos próximas, enquanto o outro com as
tocar apenas um trecho da música escolhida. Ao final, fazer uma reflexão coletiva mãos separadas (deixando as mão do primeiro, entre as suas). O mesmo posiciona-
sobre as letras e ritmos escolhidos, destacando a diversidade cultural que temos no mento deve ser feito com os pés com a posição invertida em relação às mãos. Ao ser
Brasil e a valorização das expressões populares locais. dado o comando, a dupla vai agachar e depois se levantar. Este exercício trará difi-
culdade e exigirá colaboração, todos devem segurar o cabo de vassoura e imprimir
Ferramentas necessárias: equipamento de som e caixas amplificadoras. força, caso contrário, irão cair. Cada dupla deve fazer dez agachamentos.
Quando usar: Pode servir como disparadora para debates sobre culturas e identi- Ferramentas necessárias: um cabo de vassoura para cada dupla de pessoas
dades.
Quando usar: Em momentos em que o grupo estiver sem energia, como após o
almoço, por exemplo.
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CAPITULO 4
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PERIFERICOS ENGAJADOS
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PERIFERICOS ENGAJADOS
GRAFITE TAMBÉM É POLÍTICA
Entre as intervenções realizadas pela Juventude TamoJunt@, em Belém, seis painéis grafitados no muro da entrada do Lar Fabiano de Cristo – a entidade parceira
do projeto – foi uma das mais belas. Aconteceu no último dia das oficinas e pode ser considerada mais uma prática dxs jovens, embora não tenha sido organizada
por elxs.
O arte-educador Marcelo de Jesus, morador do bairro Guamá, foi o facilitador da oficina de grafite, que teve como tema “cidadania e participação”. O desafio era
materializar em imagens o conceito de cidadania. Depois de um momento de reflexão sobre o assunto com xs jovens, as imagens foram planejadas para serem grafit-
adas cada uma por um grupo.
O resultado final foi surpreendente:
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Em cores vibrantes, os seis painéis retratam a diversidade das juventudes e expressam várias questões enfrentadas por elas nas periferias das cidades como a violência,
a criminalidade, o racismo e a intolerância. Mas esta ação deixou também uma lição de união, resistência e luta por direitos como educação e comunicação.
Na opinião de participantes, foi importante olhar para dentro das suas realidades, para saírem dali com uma sensação de pertencimento e convictos de que não desis-
tirão de lutar por melhores condições de vida. A pintura em equipe foi, segundo elxs, um exercício de respeito à opinião das outras pessoas.
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Todos reconheceram a importância da ação e enalteceram o trabalho coletivo desenvolvido em
tão pouco tempo pelxs jovens. “É necessário fortalecer essa identidade de comunidade perifé-
rica; ações como essa deveriam acontecer mais vezes para que a juventude se envolva e não
veja a violência e a marginalidade como projeção de futuro, mas sim o trabalho e a luta conjun-
ta em prol da comunidade”, ressaltou o sr. Raimundo, representante do Espaço Cultural Nossa
Biblioteca.
Grupos e duplas de dança se alternaram em ritmo intenso e com variados estilos musicais, cha-
mando a atenção da população para a diversidade das juventudes, suas atitudes e seus modos
de ser, gostar e vestir.
Jogos de tabuleiros (dama, xadrez), além de baralho e dominó também foram atrativos tanto
para os jovens quanto para os adultos.
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SARAU TAMO JUNT@
O Sarau Tamo Juntxs, organizado pelxs jovens baianos aconteceu no dia 6 de julho, quatro dias depois do feriado em que a Bahia comemora a data de sua Indepen-
dência de Portugal, conquistada com muita luta, quase um ano depois do famoso grito às margens do Ipiranga. E a luta por autonomia e direitos do povo negro conti-
nua até hoje em Salvador, a cidade com a maior população negra do Brasil. É por isso que o evento foi marcado por manifestos contra o racismo, a violência e a discri-
minação da população periférica e majoritariamente negra.
Espero que o sarau ajude a desconstruir pensamentos preconceituosos. Temos de valorizar todo
mundo e continuar dando voz para as pessoas dizerem o que pensam.
(Mauricio Mateus Santos, Coletivo Tamo Junt@)
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A apresentação foi de Luã dos Santos e Bruna Melo, ele morador da comunidade do Arenoso e ela do Calabar. Estavam pela primeira vez no Bairro da Paz, outra área periférica de
Salvador, também conhecida na mídia por ser um local “violento e berço da criminalidade”. É o bairro onde moram quatro dos jovens que participaram das oficinas realizadas no
Colégio Norma Ribeiro, no Arenoso.
“Fazer o sarau aqui significou a desconstrução do meu próprio preconceito em relação ao Bairro da Paz. Pude ver quanta cultura e
talentos tem nessa comunidade. O projeto Tamo Junt@ também me fez perceber que eu tinha uma visão estereotipada de política.
Descobri que podemos fazer política no nosso dia-a-dia, reivindicando direitos, não aceitando as injustiças”, refletiu Luã dos Santos. 47
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PERIFERICOS ENGAJADOS
Graças às redes sociais, à divulgação pelo carro de som, que anunciou um spot criado pelxs jovens e ao infalível boca-a-boca, o evento reuniu pessoas de vários bairros perifé-
ricos de Salvador. Isso contribuiu para a riqueza e diversidade das apresentações de dança, música e poesia.
O grupo Black Dance criou coreografias inusitadas com passos jamaicanos e o ritmo baiano.
Ednei William, jovem de 15 anos, artista, poeta e morador do Trombogy, ficou sabendo do sarau e foi até lá acompanhado de sua mãe, Rosângela, negra e doméstica, que o
incentiva a ler os clássicos desde criança e vibrou com o sucesso que o filho fez, ao declamar poesias de sua autoria, num manifesto contra o racismo e a homofobia.
Ítalo Santos, morador do Arenoso que participa do Coletivo Tamo Junt@, se apresentou no sarau, cantando, dançando e performando músicas que denunciam a violência e a
discriminação.
Lorena Araújo dos Reis, moradora do Calabar, disse que foi ao sarau porque se sentiu desafiada a conhecer o Bairro da Paz, do qual sempre ouviu notícias negativas na televi-
são. “Fiquei feliz e acho que esse projeto poderia ser levado para outros bairros também”, afirmou a jovem que declamou Me Chamam Negra, o poema da poeta afro-peruana
Victória Santa Cruz, que marca a luta das mulheres negras.
Negra, sim, negra sou.
De hoje em diante eu não quero alisar meu cabelo.
E vou rir daqueles que por evitar algum dissabor,
Não me chamam de negra, mas de gente de cor.
E que cor é essa?
Negra! E como soa lindo! E que ritmo tem! Negro Soul!
“Estou muito inspirada pela arte feita pela juventude neste sarau. Vi que há muita gente pensando igual e talvez até tenhamos motivado outrxs jovens que vieram assistir.”
Adriele Gomes Paiva, Coletivo Tamo JUnt@
A organização das atividades práticas foi um processo educativo que fortaleceu a autoestima das pessoas e a sua união em seus respectivos coletivos. Foi desafiador, houve
desencontros, imprevistos, cansaço, mas tudo foi superado pelos resultados alcançados, tanto na intervenção na Praça do Guamá, quanto no sarau do Bairro da Paz.
Em Salvador, o grupo de jovens ficou tão motivado com o sucesso das oficinas que decidiu continuar atuando junto politicamente, criando o Coletivo Tamo Junt@, para realizar
outros saraus nas periferias da cidade. A experiência adquirida neste primeiro evento lhes deu segurança para encarar os próximos desafios. “Não imaginava que seria tão bom.
Cada pessoa que se expressou aqui por meio da poesia, do rap, me mostrou que não estamos sós e que há várias formas de fazer política, de questionarmos o racismo, o machis-
mo e outras formas de intolerância. O que fizemos não foi em vão, porque pode estar influenciando outras pessoas, como as crianças que estiveram aqui”, resume Ítalo Santos.
PLANEJAMENTO
METODOLOGIA
OFICINAS OFICINAS
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DESAFIOS E RECOMENDACOES
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Ao longo de todo o processo, imprevistos e mudanças ocorreram em termos de cronograma, ajustes de carga horária das atividades, programação, entre outros. E xs
responsáveis por cada território assumiram o compromisso de tentar manter um padrão básico das referências pactuadas.
Entre as aprendizagens, a certeza de que xs jovens superam qualquer expectativa de quem idealiza ações para e com elxs. Em Salvador, por exemplo, o grupo de
jovens que participou das oficinas decidiu se tornar um Coletivo, que já se reuniu para programar um novo sarau para o mês de setembro de 2019 e anunciou que
outras ações serão realizadas em seguida.
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DESAFIOS E RECOMENDACOES
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DESAFIOS: Recomendações:
# Manter engajamento da equipe e # Criar rotinas de contato contínuo da equipe coordenadora para planejar, monitorar, avaliar e ajustar as ações
compartilhar responsabilidades e decisões # Durante a mobilização dxs jovens, atentar para garantir uma diversidade de participantes e que estejam engajados
# Garantir uma diversidade de participantes com a proposta
e que estejam engajados com a proposta # Mobilizar uma quantidade maior de jovens do que o planejado para a atividade; garantir inscrição prévia dos jovens
# Flexibilidade para ajustar a metodologia (sugestão: formulário on-line); analisar o perfil dos inscritos e ajustar a metodologia, caso necessário
nos diferentes territórios, sem perder a # Considerar o contexto territorial e dxs participantes
essência # Registrar todas as atividades em fotos, vídeos e relatorias
# Manter o engajamento das cidades # Sistematizar todo o processo e resultados. Dependendo do contexto, a mesma pessoa pode ficar responsável pelos
distintas, garantindo o cronograma registros textuais e pela sistematização, que envolve a escrita e a edição final. Outra opção é um(a) profissional cuidar da
pactuado edição final, a partir dos registros feitos pelxs participantes do processo.
# Após sistematização de toda a iniciativa, apresentá-la para os grupos envolvidos; estimular a avaliação e o uso crítico;
disseminá-la para outros grupos de jovens, organizações e órgãos que trabalham com e para jovens, além de parceiros.
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CAPITULO 6
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INSPIRACOES E REFERENCIAS
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INSPIRACOES E REFERENCIAS
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PUBLICAÇÕES: VIDEOCLIPES:
Caderno de Inspirações - https://www.itausocial.org.br/wp-con- Não é Sério, com Charlie Brown Jr. e Negra Li.
tent/uploads/2019/02/Juventudes_em_curso_Livro_Digital.pdf Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1pwozTNLHro
MAMEDE, Daniel Martins. A cidadania dos coletivos do Cuca Jangu- Os Miseráveis. Videopoema de Sérgio Vaz.
russu. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas/Universidade Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-IGoohG8vnI-
de Lisboa. Lisboa, 2019. https://www.youtube.com/watch?v=-IGoohG8vnI
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ANEXOS
ANEXOS
POESIAS
QUEREM CALAR A NOSSA VOZ SOU NEGRA
(Jessica Cuentro, Fortaleza, CE) (Bruna Mota, Salvador, BA)
Querem calar a nossa voz, nos colocando barreiras e dizem: Clara demais para ser aceita em rodas culturais Mas aceitariam mesmo se fosse Zumbi e
“isso é o melhor, não se preocupe o parlamento tem planos Escura demais para sofrer racismo Dandara
para vocês”. Nunca pedi aceitação Os pretos sao reis
Querem calar a nossa voz, a violência mata todos os dias Pois sei quem eu sou e nunca te pedi isso As pretas soberanas e rainhas
homens e mulheres de valor, mas somos tipo pantera-negra, Aprendi a ser forte Essa pele que tu conhece e habita
não temos medo do pior. Hoje sou leoa feroz e felina Nao e so sua também e minha
Querem calar a nossa voz, eles dizem tantas coisas e prome- Nao se limite a pensar nem ajudar Ainda sofrendo assedio
tem tanto, que nos deixam com aquele aperto se é sim ou não. Achando que negra so tem melanina Dá revolta e nao tedio
Minha mãe diz: “você vai prosperar, vai mudar o mundo ao seu Sou negra, sou negra Dos caras que falam por eu ser mulher
redor, é só saber sonhar que o caminho nos fortalece”. Mas muitos me negam Eu tenho mais do que um privilegio
Querem calar nossa voz, e quando vamos para rua ainda Sou reflexo dos meus ancestrais Mulheres sejam tupi-guarani
dizem: “pensem bem antes de agir”, mas assim como nós E das correntes que corriam presas nas pernas Nao se iludam com o som do caiote
sabemos, eles sabem ou pelo menos as gerações passadas E hoje nas mãos Eles querem pedir desculpa
dizem: “cuidado com as voltas que o mundo dá”. E quanto dos meus que morreram Mas o instinto agressor sempre fala mais forte
Querem calar nossa voz, se tem alguém que zela por nós, sei Pela viatura e eram inocentes Em quantos lutaram pelos seus direitos
que não é polícia, mas sim nossas mães com um olhar de amor Me diga quem construiu essa loja de igualdade E do nada a mesma sumiu
sincero. Eu quero falar com a gerente Mulheres somos mais do que mulheres
Querem calar nossa voz, somos heróis e mulheres-maravilhas, Só de nascer vivo todo dia pela mesma existência Somos a independência e nao estou falando do
corremos pelos nossos sonhos e direitos até o fim. Sou mulher e negra Brasil
Por que é tão difícil entender que é nosso, cuidamos mesmo, E luto duas vezes pela resistência\ Racistas nao passarão e que todas nos conti-
pronto e acabou. Aqui tá faltando dialogo nuemos de pé
Mas o esquema é outro, não é o medo da reforma e pavor de Eu te escuto e vocês nao me ouvem Para quem se acha justo, fé
suas consequências. Ouvi dizer que existe paraíso na terra, só Nao me levem a mal mas se preto é questão de melani- Para quem tem respeito com seu próximo, axé
precisa lutar por ele. na escura
Há...me poupem
Pra quem faz discurso repetido
Eu indico apenas vergonha na cara
Vocês falam da minha cor de pele 57
ANEXOS
POESIAS E passava o tempo, alisar meu cabelo
e sempre amargurada Não quero
ME CHAMAM NEGRA (VICTORIA SANTA CRUZ) Continuava levando nas minhas costas E vou rir daqueles,
(poema declamado por Lorena Araújo dos Reis, Salvador, BA) minha pesada carga que por evitar – segundo eles –
Tinha sete anos apenas, E como pesava!… que por evitar-nos algum disabor
apenas sete anos, Alisei o cabelo, Chamam aos negros de gente de cor
Que sete anos! Passei pó na cara, E de que cor!
Não chegava nem a cinco! e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra NEGRA
De repente umas vozes na rua Negra! Negra! Negra! Negra! E como soa lindo!
me gritaram Negra! Negra! Negra! Neeegra! NEGRO
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Até que um dia que retrocedia , retrocedia e que ia cair E que ritmo tem!
“Por acaso sou negra?” – me disse Negra! Negra! Negra! Negra! Negro Negro Negro Negro
SIM! Negra! Negra! Negra! Negra! Negro Negro Negro Negro
“Que coisa é ser negra?” Negra! Negra! Negra! Negra! Negro Negro Negro Negro
Negra! Negra! Negra! Negra! Negro Negro Negro
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia. E daí? Afinal
Negra! E daí? Afinal compreendi
E me senti negra, Negra! AFINAL
Negra! Sim Já não retrocedo
Como eles diziam Negra! AFINAL
Negra! Sou E avanço segura
E retrocedi Negra! AFINAL
Negra! Negra Avanço e espero
Como eles queriam Negra! AFINAL
Negra! Negra sou E bendigo aos céus porque quis Deus
E odiei meus cabelos e meus lábios grossos Negra! que negro azeviche fosse minha cor
e mirei apenada minha carne tostada Sim E já compreendi
E retrocedi Negra! AFINAL
Negra! Sou Já tenho a chave!
E retrocedi . . . Negra! NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
Negra! Negra! Neeegra! Negra! NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra sou NEGRO NEGRO
Negra! Negra! Negra! Negra! De hoje em diante não quero Negra sou! 58
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