Tempo Do Cumprimento Das Obrigações
Tempo Do Cumprimento Das Obrigações
Tempo Do Cumprimento Das Obrigações
Na nossa lei civil a matéria das obrigações constitui objecto do Livro II do Código
Civil, que se estende desde o artigo 397.° do CC, ao artigo 1250° do CC, abrangendo
assim mais de um terço, dos preceitos (2334 artigos de todo o diploma. Em
consonância, com o previsto art.º 397º do CC, Obrigação é o vínculo jurídico por
virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação.
A presente pesquisa, versa Tempo do cumprimento das Obrigações, e que está em
assento é o prazo da prestação.
Na presente objectivou-se á:
São estes tópicos que farão manchete desta pesquisa cujo para sua elaboração usou-se
o método hermenêutico e consulta bibliográfica. Portanto o objectivo, método e técnica
foram pensados e ajustados da forma mais racional e lógica possível, para que as
análises e discussões alvitradas alcançassem plenamente os fins cuidadosamente
propostos, com o intento de que a totalidade destes elementos pudesse contribuir com
relação a um melhor entendimento académico sobre o Tempo do cumprimento das
Obrigações
Conceito de obrigações
De acordo com João de Matos1 “o Direito das obrigações é o conjunto das normas
jurídicas reguladoras das relações de crédito, sendo estas as relações jurídicas em que ao
direito subjectivo atribuído a um dos sujeitos corresponde um dever.” O direito das
obrigações é o conjunto das normas jurídicas reguladoras das relações de crédito, sendo
estas as relações jurídicas em que ao direito subjectivo atribuído a um dos sujeitos
corresponde um dever de prestar especificadamente imposto a determinada pessoa. É o
dever de prestar, a que uma pessoa fica adstrita, no interesse de outra, que distingue a
relação obrigacional de outros tipos próximos de relações (nomeadamente dos direitos
reais, dos direitos de autor, dos direitos de personalidade e também dos direitos
potestativos2 em geral).
Segundo Gagliano 3
A matéria das obrigações constitui objecto do Livro II do Código Civil, que se estende
desde o artigo 397.° ao artigo 1250°, abrangendo assim mais de um terço, dos preceitos
(2334 artigos de todo o diploma. Em consonância, com o previsto art.º 397º do CC,
Obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma prestação.
Conforme refere o artigo 762° n.º 1 CC, o devedor cumpre a obrigação quando realiza
a prestação a que esta vinculado. O cumprimento pode ser definido como a realização
1
João de Matos Antunes Varella, das obrigações em Geral, vol I, 2 ed, Almeida, 2000, p,45
2
Os direitos potestativos (como o direito de resolução, de anulação ou de denúncia de um contrato)
distinguem-se, porém, dos direitos subjectivos propriamente ditos (entre os quais figuram os direitos de
crédito) também quanto ao lado activo da relação, pois são fundamentalmente direitos tendentes a uma
modificação jurídica: Manuel DE ANDRADE, Teoria geral ¿a relação jurídica, I, 1960
3
Gagliano e Filho, Novo curso de direito civil - Obrigações, vol. IV, 2005, pág. 12.
da prestação devida. Com a satisfação do interesse do credor, extingue-se a obrigação,
com a consequente libertação do devedor. O regime do cumprimento das obrigações
obedece principalmente a três princípios gerais que têm referência na lei: o princípio da
pontualidade, da integralidade e da Boa-fé.4
Princípio da pontualidade
O princípio da pontualidade5 consagrado no artigo 406° n.º 1 CC, que estipula que o
contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode modificar-se ou extinguir-se por
mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei. Deste princípio
resulta a proibição de qualquer alteração à prestação devida. O devedor tem o dever de
prestar a coisa ou o facto exactamente nos mesmos termos em que se vinculou, não
podendo o credor ser constrangido a receber do devedor coisa ou serviço diferente,
mesmo que possuam um valor monetário superior à prestação devida.6
Princípio da Integralidade
4
Delgado, Do Contrato-Promessa, pág. 199 e ss.
5
N visão de Domingues de Andrade (1996) Do princípio da pontualidade resulta também a irrelevância
da situação económica do devedor, não podendo o devedor, com esse fundamento, solicitar a redução da
sua prestação ou a obtenção de outro benefício. Dos artigos 601° e 604° CC consta que mesmo em caso
de insuficiência, o património do devedor continua a responder integralmente pelas dívidas assumidas,
apenas se excluindo da penhora certos bens que se destinam à satisfação de necessidades imprescindíveis
(ver artigos 822° e 823° Código de Processo Civil.
6
V. Prata, Dicionário, pág. 893
7
Quem nessa situação incorre em mora é o devedor, cfr. Bastos, Notas, volume III, pág. 216.
A regra geral é que só pode haver uma prestação em partes no caso de um acordo
entre os contraentes nesse sentido.8 É o que ocorre nas obrigações fraccionadas (artigo
781° CC)9, Como a venda a prestações prevista no artigo 934° CC.
Princípio de Boa-fé
O princípio da Boa-fé encontra-se referido no artigo 762° n.º 2 CC. Desta norma
resulta que para se considerar verificado o cumprimento da obrigação não basta a
realização da prestação devida em termos formais, sendo antes necessário o respeito dos
ditames da boa-fé, quer por parte de quem executa, quer por parte de quem exige a
obrigação. Fazem parte destes deveres o dever de protecção, informação e lealdade.
Princípio da concretização
10
Segundo Gomes “O princípio da concretização significa que a vinculação do
devedor deve ser concretizada numa conduta real e efectiva.” A lei prevê vários
pressupostos para o cumprimento efectivo: capacidades das partes, disponibilidade das
coisas dadas em prestação, legitimidade, lugar e tempo do cumprimento. Para que o
cumprimento da obrigação possa efectivamente ocorrer haverá que respeitar toda a
disciplina específica que regula o seu modo de realização.
8
Mas existem algumas excepções: O credor terá que aceitar o pagamento parcial no caso da imputação do
cumprimento prevista no artigo 784° n.º 2 CC, no caso de pluralidade de fiadores, que gozem do
benefício da divisão (artigo 649° CC) e ainda quando exista compensação com divida de menor montante
(artigo 847° n.º 2 CC).
9
O inadimplemento do devedor, quebrando a relação de confiança em que assenta o plano de pagamento
escalonado no tempo, justifica a perda do benefício do prazo quanto a todas as prestações previstas para o
futuro.
10
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil, op. cit., p. 268
11
Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, Direito das obrigações, volume II, Transmissão e extinção das
obrigações, não cumprimento e garantias de crédito, 3.a edição, Coimbra 2005 [citado: Leitão, Direito
das obrigações, volume II, pág. 244];
Do ponto legal, distingue-se dois modelos de obrigações: a) Obrigações Puras12 -; b)
Obrigações em Prazo13. Mas os artigos 777° e ss. CC determinam tanto a pagabilidade
como o vencimento da divida.
A regra geral é a de as obrigações não terem prazo certo estipulado, sendo, portanto,
obrigações puras. Neste caso o credor tem o direito de exigir a todo o tempo o
cumprimento da obrigação, assim como o devedor pode a todo o tempo exonerar-se dela
(artigo 777° n.º 1 CC). Neste caso o devedor apenas entra em mora com a exigência do
cumprimento pelo credor, nos termos do artigo 805° n.º 1 CC.
Factor Objectivo
Está previsto no artigo 778° n.º 1 do CC, que esclarece que quando se estipula que o
devedor cumprirá quando puder, o credor só pode exigir o cumprimento se demonstrar
que o devedor tem a possibilidade de cumprir. Não podendo fazer essa demonstração, o
12
As obrigações puras são aquelas cujo cumprimento pode ser exigido ou realizado a todo o tempo.
13
As Obrigações em prazo são aquelas em que a exigibilidade do cumprimento ou a possibilidade da
sua realização é diferida para um momento posterior.
14
Leitão, Direito das obrigações, volume II, pág. 157.
credor apenas poderá, após a morte do devedor, exigir dos seus herdeiros que realizem a
prestação, sem prejuízo da limitação da sua responsabilidade aos bens da herança, nos
termos do artigo 2071° CC.
Factor subjectivo
O segundo caso encontra-se previsto no artigo 778° n.º 2 CC, estabelecendo a lei que,
se o prazo for deixado ao arbítrio do devedor caso em que ele paga quando lhe apetece,
a prestação só pode ser exigida dos seus herdeiros, após o seu falecimento.
Benefício do prazo
Em caso de atribuição do benefício ao devedor, este pode perder esse benefício, caso a
sua situação patrimonial se altere ou pratique algum acto considerado imputável com a
confiança do credor que determinou que lhe fosse concedido o prazo para pagamento. O
artigo 780°, 1° parte CC estabelece que, não obstante a estipulação de prazo a favor do
devedor, o credor pode exigir o cumprimento imediato da obrigação, se o devedor se
tornar insolvente, ainda que a insolvência não tenha sido judicialmente declarada. A Lei
15
Abílio Neto, Código Civil anotado, 11.° edição, Lisboa 1997 [citado por Neto, CC anotado, pág 309.]
exige a verificação de uma efectiva situação de insolvência, não bastando o justo receio
da mesma.
Noutros casos, como no mútuo oneroso consagrado no artigo 1147° do CC, a lei
estabelece a atribuição do benefício a ambas as partes. No caso de o benefício do prazo
ser atribuído a ambas as partes, em princípio nenhuma delas poderia antecipar o
cumprimento, mas no caso do mútuo o legislador admite que o mutuário possa antecipar
o cumprimento desde que ofereça os juros por inteiro nos termos do artigo 1147° do
CC.
A perda do benefício do prazo é, no entanto, pessoal, pelo que não se estende aos
coobrigados do devedor, nem aos terceiros que garantiram o cumprimento da obrigação
nos termos do artigo 782° CC. A perda do benefício tem carácter pessoal. Assim, no
caso de perda do benefício do prazo, o credor poderá exigir ao devedor o cumprimento
imediato da obrigação, mas terá de esperar o seu vencimento normal para exigir aos co-
devedores ou a terceiros garantes da obrigação.
Neste caso, o credor poderá exigir dele a substituição ou o reforço da garantia ou,
quando tal não suceda, o cumprimento imediato da obrigação nos termos do artigo 701°
n.º 2, 2. parte e 678° CC.
Nos termos do artigo 778 do CC, Se a obrigação puder ser liquidada em duas ou mais
prestações, a falta de realização de uma delas importa o vencimento de todas.
De acordo com o disposto no artigo 804° n.º 1 CC, a Mora do devedor consiste na
situação em que a prestação, embora ainda possível, ao foi realizada a tempo devido,
por facto imputável ao devedor. Exige-se para que ocorra a mora que a prestação ainda
seja possível, senão teríamos antes uma situação de impossibilidade definitiva de
cumprimento conforme o previsto nos artigos 790° ou 801° CC, ou de incumprimento
definitivo (artigo 798° CC) e que a não realização da prestação seja imputável ao
devedor, caso contrario a hipótese é antes de impossibilidade temporária (artigo 792°
CC).
Para ocorrer uma situação de mora, é necessário que ainda seja realizar a prestação em
data futura. Por esse motivo, em certo tipo de obrigações não se admite a ocorrência de
mora, levando a violação do vínculo obrigacional directamente ao incumprimento
definitivo. O artigo 808° CC determina que “se o credor, em consequência da mora,
perder o interesse que tinha na prestação, ou esta não for realiza da dentro do prazo que
razoavelmente for fixado pelo credor, considera-se para todos os efeitos não cumprida a
obrigação”, sendo a perda do interesse na prestação apreciada objectivamente.
Há, porém, casos em que a mora do devedor depende apenas de factores objectivos,
tornando-se irrelevante a existência ou não de interpelação pelo credor. O artigo 805°
n.º 2 CC refere estes casos: a) a obrigação ter prazo certo 17; b) a obrigação provier de
facto ilícito18; C) o devedor impedir a interpelação 19; d) o devedor declarar que não
tenciona cumprir a obrigação.
17
Se a obrigação tiver prazo certo, a interpelação torna-se desnecessária uma vez que, nos termos do
artigo 805° n.º 2 alínea a) CC, o decurso do prazo acarreta, só por si, o vencimento da obrigação É
evidente que mesmo tendo estabelecido prazo, se tivermos perante as denominadas obrigações de
colocação, o simples decurso desse prazo não basta para constituir o devedor em mora, na medida em que
o cumprimento pressupõe uma actividade do credor, que tem de se deslocar ao local em que deveria
receber a obrigação.
18
Existe igualmente mora, nos termos do artigo 805° n.º 2 alínea b) CC se a obrigação provier de facto
ilícito, contando-se, assim, a mora desde a data da prática do acto ilícito.
19
Finalmente, pode ocorrer a situação de o devedor impedir a interpelação, evitando por exemplo receber
a comunicação que o credor lhe dirige. Nessa altura, para evitar que o devedor beneficie com o seu
comportamento incorrecto, o artigo 805° n.º 2 alínea c) CC determina que o devedor se considera
interpelado na data em que normalmente o teria sido.
Extinção da Mora do devedor
A situação da mora do devedor pode ser extinta em virtude da verificação de uma das
seguintes três hipóteses: a) acordo entre as partes; b) purgação da mora ou
transformação da mora em incumprimento definitivo.
Chegado a este ponto conclui-se que, o que está em assento no que tange o tempo do
cumprimento das obrigações, é o prazo da prestação. Por sua vez a Doutrina distingue
dois momentos: “a) Momento em que o devedor pode cumprir a obrigação forçando o
credo a receber a prestação, sob pena de o credor entrar em mora; b) Momento em que o
credor pode exigir do devedor a realização da prestação, sob pena de o devedor entrar
em mora.” E do ponto legal, distingue-se dois modelos de obrigações: a) Obrigações
Puras -; b) Obrigações em Prazo. Mas os artigos 777° e ss. CC determinam tanto a
pagabilidade como o vencimento da divida.
Mas a regra geral é a de as obrigações não terem prazo certo estipulado, sendo,
portanto, obrigações puras. Neste caso o credor tem o direito de exigir a todo o tempo o
cumprimento da obrigação, assim como o devedor pode a todo o tempo exonerar-se dela
(artigo 777° n.º 1 CC). Neste caso o devedor apenas entra em mora com a exigência do
cumprimento pelo credor, nos termos do artigo 805° n.º 1 CC. Pode, porém, acontecer
que as partes ou a Lei tenham estabelecido um prazo de cumprimento (artigo 777° n.º 1
proémio). Nesse caso, está-se perante obrigações com prazo certo, as quais se
caracterizam por o decurso do prazo constituir o devedor em mora (cfr. artigo 805° n.º 2
alínea a) CC.
Legislação
Obras literárias
Luís M. T. M. L. (2005), Direito das obrigações, volume II, Transmissão e extinção das
obrigações, não cumprimento e garantias de crédito, 3.a edição, Coimbra.
Monteiro, W. de B. (2001), Curso de Direito Civil: parte geral. 38 ed. São Paulo:
Saraiva.