Educomunicacao No Semiárido
Educomunicacao No Semiárido
Educomunicacao No Semiárido
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FICHA TÉCNICA
Instituto Regional da Pequena Publicação
Agropecuária Apropriada (Irpaa)
Textos
Diretoria Álvaro Luiz Alves da Silva
Haroldo Schistek – Presidente Érica Daiane da Costa Silva
João Mendes de Sena – Vice Presidente Gisele Ferreira Ramos
Adilson Ribeiro dos Santos - Tesoureiro Karine Pereira da Silva
Refaisa – Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido - Secretária
Revisão
Conselho Fiscal Conselho Editorial - Irpaa
AMEFAS - Associação Comunitária Mantenedora da Escola Família Agrícola de Sobradinho Projeto Bem Diverso
Ednalva dos Santos
Luís Araújo de Castro Projeto Gráfico e Ilustrações
Coordenação Colegiada Imburanatec Design
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dos de mídia. Pouco ou quase nada vemos das demais regiões
INTRODUÇÃO e por vezes o Nordeste, o Norte, o Centro Oeste e o Sul ainda
saltam aos nossos olhos e ouvidos de forma caricaturada, car-
regada de preconceitos e equívocos. Ou seja, as regiões bra-
sileiras e toda sua diversidade são colocadas no caldeirão da
unificação de um país, que em nada é único, pelo contrário, é
amplamente pluri.
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Ao compormos o disputado cenário de incidên- diversas entidades interagem nessa compreensão
cia política, hoje apostamos no campo da educo- da educomunicação como campo de intervenção
municação, que nada mais é do que uma relação social a partir do fortalecimento dos laços, identi-
mútua entre educação e comunicação, formando dades e autonomia dos povos, gerando imagens,
sujeitos críticos e ativos no exercício de uma cida- sons, vozes e conhecimento. Esses elementos
dania que busca transformar para melhor a socie- apontam um novo caminhar, protagonizado pelos/
dade. A educomunicação promove uma visão crí- as sujeitos que vivem, convivem e bebem nas fon-
tica da educação e da comunicação hegemônica, tes da sabedoria da natureza, das ancestralidades
ao mesmo tempo em que desperta nas pessoas as dos povos originários, quilombolas, de Fundo de
diversas possibilidades de produzir conteúdos por Pasto, pescadores/as, da ciência contextualizada,
meio de elementos como as novas tecnologias da contribuindo para ampliar a visão de mundo.
comunicação, de informação e da arte, valorizan-
Portanto, anunciar a Convivência com o Semiári-
do todos os saberes no campo do conhecimento
do, considerando-a como um caminho essencial
formal ou não formal.
para o Bem Viver, é, também, dar voz aos seus
Assim, a educomunicação vem para ampliar as principais atores, os povos, as comunidades, as
perspectivas dessa inserção social das vozes de jo- organizações populares. A educomunicação con-
vens, crianças, mulheres e homens das periferias tribui para ressignificar nosso lugar de fala, o Se-
viabilizar o Semiárido, a partir da compreensão Então, mais do que compreender a comunicação da cidade e do campo dessa região semiárida, an- miárido, que por séculos foi silenciado.
do próprio clima. como um direito, é preciso entender que o direito tes silenciadas, ocultas ou à margem da socieda-
Propomos a você viajar conosco “Entre as Caatin-
à comunicação antecede os demais. Como requerer de. Falar do seu local, pensar a partir da própria
Nessa caminhada, a comunicação e a educação po- gas e as águas”, para conhecer experiências vivas
o direito à terra, água, moradia, educação, sem ter a realidade, intervir a partir das necessidades laten-
pular foram formas de resistência do povo ao con- de educomunicação no Sertão do São Francisco.
liberdade e as condições de comunicar? Infelizmen- tes e não impostas, são ações que emergem como
trapor essa narrativa de combate ao clima, questio- um campo de produção e disseminação de sabe-
te essa compreensão ainda é restrita a uma parcela
nando o estereótipo e anunciando para o mundo res contextualizados, que incidem na elaboração
da população e será necessário um movimento de
um Semiárido que é muito mais que clima, é cultura, de políticas públicas apropriadas.
massa para alardear para os quatro cantos do país
resistência, fortaleza, sabedoria popular, pertenci-
esse direito, que além de negado, é invisibilizado. No Território Sertão do São Francisco, o Irpaa e
mento, ciência, diversidade e empoderamento.
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descobrindo e experimentando fazer educomunicação nas co-
NAS VEREDAS DA CAATINGA, munidades recaatingueiras, no sertão da Bahia. Jovens entre 14
a 26 anos estão percebendo a importância de ter acesso a uma
A EDUCOMUNICAÇÃO comunicação que viabilize as iniciativas e experiências políticas,
Jovens da Caatinga sociais e culturais das suas comunidades.
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ta? É uma planta que se espalha pelo chão e tem vens e adolescentes das comunidades de Alfava-
um espinho seco que gruda na roupa, na pele e ca e Baraúna. A jovem Roseane Santos participou
não solta com facilidade, chegando a incomodar. dessa edição e com alegria explica o motivo de ter
A mesma coisa acontece com o Carrapicho Virtu- iniciado sua trajetória no coletivo: “Ele de alguma
al, quando gruda nas pessoas, já era… ele provo- forma ajuda a mudar o olhar das pessoas para nos-
ca, incomoda, mas isso tudo com a intenção de so Salitre (...) mostra nossa realidade”.
problematizar as questões ligadas ao Salitre, ao
Com o entusiasmo da juventude e o acesso à inter-
Semiárido.
net nas comunidades rurais do Vale do Salitre, em
Em 2015, a semente do Carrapicho fez brotar a 2016, ao ser contemplado com o prêmio de Inova-
segunda edição do informativo produzido por jo- ção Comunitária Outra Parada, da Brazil Founda-
tion, nasce no Facebook a página do Carrapicho
Virtual. Com a conquista desse prêmio, a juventu-
de participou de oficinas de produção de vídeo,
presso comunitário. Na suas folhas estavam escri- fruto do sonho e da pesquisa-ação na conclusão
tas as notícias do cotidiano do Vale do Salitre, re- do curso de graduação em Comunicação Social,
gião que carrega o nome de um afluente do Velho em 2010, da jornalista Érica Daiane da Costa Silva,
Chico. Com essa iniciativa, o Carrapicho foi seme- que acredita na educomunicação como estratégia
ando transformação no solo fértil do Salitre. de formação de pessoas críticas e com poder de
transformação social.
Aproveitando que estamos falando de terra, de
fertilidade, você sabia que carrapicho é uma plan- Em 2010, o Carrapicho nasce como um jornal im-
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fotografias, texto para o novo canal de comunicação do Salitre, sempre devemos valorizar e cuidar de comunicação, no cinema popular, eventos culturais
do Salitre, o Carrapicho Virtual. toda a riqueza do Salitre”, diz a jovem educomuni- em todo canto do Semiárido. Além da página no
cadora Arice Carine Ribeiro dos Santos, da comu- Facebook, esse coletivo organiza sessões de cine-
A jovem Eulina Pereira, da comunidade de Baraúna,
nidade de Sobrado. É com orgulho que ela diz que ma ao ar livre nas comunidades. Debaixo do céu
destaca: “no início, eu não tinha motivação (para par-
a juventude do Carrapicho vem contribuindo para estrelado do Semiárido, a turma projeta o filme na
ticipar do Carrapicho Virtual), mas fui vendo a garra
valorização do Salitre. parede de igrejas, associações, escola ou em um
de Daiane, as inscrições do projeto sendo aceitas com
telão improvisado com lona branca e, aos poucos,
sucesso”. É o reconhecimento e valorização da atua- Vou contar um segredo para você, leitor/a; quando
as pessoas da comunidade vão chegando com sua
ção do coletivo que até hoje mantém a juventude en- Arice entrou no Carrapicho, era uma jovem tímida,
cadeira ou banco de madeira para assistir a uma
gajada no projeto e na vida comunitária. Eulina ainda curiosa, falava pouco e baixinho. Hoje é uma co-
produção cinematográfica brasileira escolhida
destaca que o processo formativo adquirido no coleti- municadora ativa. Confira na página do Carrapicho
pelo grupo.
vo é um aprendizado para além da comunicação, mo- uma produção dela, veja a segurança, o domínio
difica a forma de olhar da juventude. Em sintonia com dessa moça. Mas não fique só na produção dela, Vale ressaltar que muitos salitreiros e salitreiras nun-
Eulina, a também educomunicadora Manuela Ferreira veja a diversidade de produção presente na página ca foram ao cinema convencional. A proposta do
afirma: “Eu encontrei uma forma de me expressar ali e lembre-se de curtir a página dessa turma. O cres- coletivo é que após o filme, a comunidade partici-
(…) quando a gente começa a se interessar pela pela cimento não é uma exclusividade de Arice. pe de um bate-papo, iniciativa que ainda acontece
história do povo, quando você percebe que pode pro- de forma tímida, mas a juventude continua a insistir
É bonito de ver a evolução da juventude do Car-
tagonizar a própria história, você entende que é es- na proposta e dentro de um processo educativo,
rapicho, a confiança como eles e elas ocupam seu
sencial tá na luta”. essa realidade pode ser modificada. Só para deixar
lugar de fala. Mais bonito ainda é a percepção que
registrado e você ter dimensão dessa iniciativa, já
Essa transformação é vista no posicionamento das eles e elas têm do seu papel enquanto agente de
teve cinema popular que reunia mais de 100 pes-
jovens em relação à conscientização social e política, transformação social. “O que me motivou a fazer
soas. Imagina aí: jovens, crianças, adultos e idosos,
construção identitária enquanto jovem rural, o discur- parte do Carrapicho Virtual foi ver os jovens que já
todo mundo reunido no sábado à noite. Foi gente
so de pertencimento ao Vale do Salitre, região que participavam falando sobre juventude, sobre Sali-
sentada até em moto e na caminhonete para assis-
tem um histórico rico de luta e cultura. “O Carrapicho tre”, destaca Arice. Ao longo da caminhada, esses
tir ao filme e, com esse gesto, demonstrar o apoio
Virtual é um coletivo de jovens que sempre está pra- jovens vêm construindo o seu perfil de lideranças e
e a confiança da comunidade no trabalho dessa
ticando e reconhecendo os valores que o nosso lugar animadores/as sociais.
juventude.
tem (...) é ter o conhecimento da história, das culturas
Essa juventude fala do Salitre nas produções de
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sentando vídeos produzidos durante a execução
do projeto “Carrapicho: educomunicação e eco-
turismo com jovens do Vale do Salitre”, financia-
do novamente pela Brazil Foundation. Um dos
objetivos do projeto era despertar na juventude
o olhar para o turismo pedagógico como uma
alternativa de geração de renda. Além da Brazil
Foundation, o coletivo conta com a parceria do
Irpaa em diversos momentos, uma delas foi na in-
dicação da turma para integrar o projeto piloto
Jovens Comunicadores, ligado ao Pró-Semiárido,
projeto do Governo da Bahia.
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tado da Bahia, em Juazeiro, evento considerado o tude no tocante à educomunicação.
maior congresso brasileiro de comunicação. Esse UM BERÇO DE ARTE E
O acesso à internet de qualidade, a necessida-
ano, o Coletivo foi tema de documentário produ-
zido pela jornalista Anette Bento, produção patro-
de de agregar novos jovens ao projeto, a gera- CULTURA POPULAR NA BEIRA
ção de renda para juventude são alguns desses
cinada e veiculada pelo Canal Futura e foi também
desafios, mas acreditamos que a construção de
DO VELHO CHICO
objeto de estudo da dissertação de mestrado de
Érica Daiane, contando até com avaliação de um
políticas públicas que dialoguem com sua reali- Galeota Brincantes
dade no Semiárido, junto com a determinação e
dos maiores pesquisadores em educomunicação
sonhos desses jovens, causa grande revolução na
no Brasil, o professor Ismar de Oliveira Soares.
juventude do campo. Finalizamos essa nossa se-
Outra conquista importante, na opinião de Ma- gunda parada da viagem com a frase “Juventude
nuela, é a conscientização e valorização cultu- é Revolução”, como externou a educomunicadora
ral do lugar: “A gente tá sempre trabalhando a Manuela Ferreira.
questão do êxodo rural, da valorização da Ca-
Aproveitamos para pedir que se preparem, pois
atinga; saber que a gente é do Semiárido e le-
nossa próxima parada é cheia de sons, batuques e
vanta a nossa bandeira para quebrar alguns este-
brincadeiras bem às margens do Opara.
reótipos”. O acesso desses/as jovens ao ensino
superior também é um reflexo do seu envolvi-
mento com o Carrapicho Virtual. “Eu quero fazer
faculdade de Jornalismo, quero contribuir com
minha comunidade”, afirma Roseane, que deseja
seguir os passos de Érica Daiane.
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Bom, em Curaçá, o carrinho de mão usado para frutos da Galeota: as/os Brincantes. riais reciclados, foram chamando a atenção das/
diversas atividades é conhecido como galeota, dos pequenas/os e também atraindo a atenção e
Os/as Brincantes surgiram a partir da observação
uma palavra que em outros lugares dá nome a o apoio das/dos adultas/os.
de membros da Galeota que, ao animarem a po-
um tipo de embarcação. E foi Galeota das Artes
pulação de bairros de Curaçá com teatro, brin- E não há quem não se anime quando essa tur-
o nome escolhido para um grupo cultural criado
cadeiras de roda, cinema e shows; perceberam o minha se apresenta, seja nas ruas de Curaçá no
em 2013 por dois arte-educadores envolvidos
entusiasmo das crianças, que não só assistiam a mês de janeiro cantando e dançando o Reisado ou
com a valorização da cultura popular local. Ago-
tudo atentamente, mas cantavam e dançavam. quando o grupo é convidado a abrilhantar algum
ra você, leitor/a, vai conhecer um pouco um dos
evento no município ou em outro local.
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programa Minha Casa Minha Vida) se juntou aos jurídica, ela foi fundada por Fernando Antônio Fer- sido a valorização do Reisado, uma manifestação
membros do grupo, então agora os Brincantes não reira (Fernandinho) e Wilson Sena, que ainda per- popular que envolve música, dança, misturando
são mais apenas RDB (Rua de Baixo) e por isso che- manecem no grupo, que hoje envolve dez compo- elementos de expressões como ciranda, pau de
gou-se a um consenso de que o grupo se chama- nentes, a maioria jovens empenhados/as em ocu- fita, dança do boi e da burrinha, além da percus-
ria “Galeota Brincantes”, já que é uma iniciativa da par funções no grupo e manter um trabalho cul- são. O Reisado sempre foi uma tradição em Cura-
Galeota das Artes. tural no município, arrecadando inclusive recursos çá, conforme relataram as/os curaçaenses. Há tam-
para ajudar na manutenção da Galeota Brincantes. bém o Pastoril na noite de natal e a Marujada todo
As/os Brincantes podem ser acolhidas/os desde os
Os fundadores contam que uma das motivações dia 31 de dezembro; que se assemelham entre si,
primeiros anos de idade, mas à medida que vão
para criação da Galeota foi a Companhia Curaçá- embora cada uma com suas particularidades.
crescendo, um critério obrigatório garante sua par-
lica de Artes Livres, que apresentava espetáculos
ticipação: frequentar a escola e ser um/uma bom/ Porém, de uns anos para cá, na área urbana dos
nas comunidades entre os anos de 1999 a 2013.
boa estudante. Para os familiares das crianças, a municípios, os grupos de Reisado praticamen-
participação no grupo é um importante incentivo Nesse intervalo, a prefeitura de Curaçá lançou tam- te não existem. Assim, as/os Brincantes têm ga-
para que na escola o resultado também seja positi- bém a Caravana da Cultura, contemplando os bair- nhado a atenção das famílias, especialmente no
vo. Uma das integrantes revela que o grupo contri- ros e área rural do município, ação que também mês de janeiro, quando saem nas ruas visitando
bui para “tirar as crianças da rua” e fala também da motivou a criação da Galeota. Uma das ideias ini- as casas em média uma vez por semana. A cada
satisfação de participar de eventos fora, conhecer ciais do grupo foi a criação de células culturais na saída, o Reisado visita entre três e quatro casas,
outros lugares. cidade, porém por não contar com maiores apoios, das 18h às 21h. Cada família que recebe o grupo
originou-se o trabalho apenas com as crianças da serve também um lanche, momento que as crian-
Os bairros de Curaçá não possuem praças e isso dei-
Rua de Baixo. A iniciativa conta com apoio da Rá- ças não esquecem de relatar com muitos risos. No
xa um vazio que pode ser preenchido com os ensaios
dio Comunitária Curaçá FM, da paróquia local e encerramento do mês tem sido realizado encontro
do grupo no espaço cedido por um morador da ci-
da prefeitura. Hoje a Galeota realiza shows e aluga com outros grupos, especialmente do interior do
dade para ser a sede da Galeota Brincantes. Com
equipamentos adquiridos ao longo desses anos e município.
características de um ateliê, a sede, localizada na Rua
parte do recurso é revertido para a manutenção
de Baixo, é utilizada também para produzir quadros, Para Fernandinho e Wilson Sena, a cultura popu-
da sede e assim viabilizar a experiência dos/das
artesanato de material reciclado, instrumentos musi- lar encara o desafio de concorrer com a chamada
Brincantes.
cais, cenários para espetáculos, etc. cultura de massa, que hoje leva a maior parte da
A atividade principal da Galeota Brincantes tem população a consumir produtos culturais mais dis-
A Galeota das Artes não dispõe de personalidade
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tantes do que surge espontaneamente do meio do culturais também bastante fortes em Curaçá. A zada para a Convivência com o Semiárido. Falando se programar para ir ao município durante o mês
povo, sem fins lucrativos. Falando nisso, outro de- Galeota Brincantes é formada por maioria de me- nisso, a escola formal, por sua vez, reconhece o de janeiro e acompanhá-los nas noites animadas
safio é a captação de recursos para manutenção do ninas, que, junto com os meninos, se lançam no trabalho desenvolvido hoje pela Galeota na for- por essa tradição.
grupo, que vem sendo feito com o acesso a editais Reisado e, mais recentemente, na dança afro, mo- mação humana das crianças e adolescentes Brin-
O Reisado é uma das manifestações culturais
públicos e com o percentual de doação do grupo dalidade que apresentam com satisfação e orgu- cantes. Os fundadores nos contam que é comum
oriundas do povo negro, que, apesar da situação
Galeota das Artes, além dos apoios institucionais, lho. serem chamados às escolas para acompanhar o
histórica de escravizados, sempre resistiu e mante-
especialmente quando se trata da apresentação comportamento de integrantes da Galeota Brin-
O mais novo desafio que o grupo passa a enfren- ve viva suas raízes culturais, mesclando a essência
do grupo em outros municípios. cantes, assim como estes/as costumam considerar
tar é a produção de hortaliças e plantas ornamen- africana com a dos povos originários que habita-
os conselhos e recomendações de membros da
As/os Brincantes têm hoje uma média de 60 par- tais, além dos planos de intensificar o trabalho ram o sertão banhado pelo Rio Opara, que há sé-
Galeota das Artes no sentido de melhorar o com-
ticipantes. Há jovens que estão ali desde o início, com reciclagem, valorizando ainda mais aspectos culos mata a sede do povo ribeirinho.
portamento em casa ou na escola.
mas há também aqueles e aquelas que já passaram da educação ambiental, alimentação saudável e
E se você ainda tem sede de informação sobre
a ocupar outros espaços no município, a exemplo assim contribuindo com o fortalecimento das ex- Este trabalho já rendeu à Galeota das Artes uma
essas experiências tão ricas em nossa região, siga
das fanfarras e das quadrilhas juninas, expressões periências não-formais de educação contextuali- moção honrosa aprovada pela Câmara Legislativa
navegando com a gente, agora rio acima, para sa-
de município, bem como o reconhecimento públi-
ber que tem mais jovens envolvidos/as com a cul-
co por parte do Conselho Tutelar. É consenso que
tura popular em nossa região, usando a arte e a
se trata de um trabalho social que envolve arte,
educação para formar pessoas e assim contribuir
educação, cultura, valorização da identidade e for-
com um mundo mais colorido, onde a criatividade
talecimento do pertencimento à Curaçá que, em
nos permite viajar das mais variadas formas.
tupi-guarani, significa Paus Trançados.
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Contar histórias para cativar crianças e adolescen- A primeira apresentação aconteceu no colégio Ju-
COM VOCÊS, tes e levá-los ao mundo dos livros foi o caminho tahy Magalhães e logo depois o grupo extrapolou
encontrado por Willian Fernando Silva, um pro- os muros da escola e começou a levar cores, ale-
UM NOVO ATO DE CONTAR fessor de Língua Portuguesa, Literatura e Artes gria, fantasia para outras escolas e espaços cultu-
HISTÓRIAS que viu na contação de histórias uma saída para rais das cidades de Juazeiro e Petrolina - PE e tudo
melhorar a leitura dos/das estudantes do colégio de forma voluntária. Com o grande envolvimento
Trupe Novo Ato estadual Jutahy Magalhães. “Não só incentivar a dos/das estudantes, Willian começou a montar tur-
leitura com histórias clássicas, como as de Cha- mas para realizar oficinas de contação de histórias.
peuzinho Vermelho ou Cinderela, mas através do “O mais interessante é que a gente contava histó-
Estou chegando minha gente nosso território, do nosso lugar, contar história da- rias, lendas, não somente no aniversário da cida-
Pra falar para a maioria qui, trabalhar a educação a partir do lúdico peda- de, no dia da água, do rio (…), a gente começou
gógico”, explica Willian. a falar isso o ano todo”, relata. O diretor da Tru-
Um pouco dessa cidade que é cheia de energia!
pe acredita que essa atitude fez o grupo se tornar
Que tem um passado de glória e um futuro de alegria Em 2012, nasce o grupo de contadores e conta-
uma referência na arte de contar história.
Juazeiro é o nome dela e falo com muito prazer doras de história Trupe Novo Ato, formado pe-
Onde tem gente lutadora, que faz por merecer los/as estudantes do Colégio Estadual Jutahy É, amigo/a… a propósito, depois de tanta viagem,
Magalhães. O grupo cria novas formas de contar já posso chamar você de amigo/a, né? Imagine aí,
Aqui tem muito artista, cheios de riquezas
as lendas do Rio São Francisco e belezas do Vale o pátio da escola cheio de crianças conversando,
Artesanato, agricultura, tudo vem da natureza!
do São Francisco através da arte, da leitura, da brincando, aquela zuada e, de repente, o silêncio
E através da mão do homem, tudo se transforma em beleza oralidade, da música, da percussão corporal, da paira no ar… um grupo de adolescente surge com
Com vocês a Trupe Novo Ato” dança, do cordel, do teatro, buscando fortalecer um sorriso no rosto, roupas coloridas, alegres e co-
- Eduardo Almeida e valorizar a cultura local e trabalhar o sentimento meça soltar os primeiros versos e, com gestos, mo-
de pertencimento dessas crianças e adolescentes vimentos, música, prende o olhar atento e curioso
e de quem assiste à história contada pelo grupo. das crianças e, com essa energia, envolve e intera-
“É um grupo com significado. Não é contar a his- ge com a plateia. “É arte, é cultura, é criança cres-
tória pela história, mas uma história que fala do cendo sadia. É boca sorrindo a viver, morder a vida
lugar, identificação do território, da identidade”, sem tirar pedaço, com os pés firmados, a sustentar
defende Willian. o chão”, definem os versos que fazem parte de
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pressão a gente coloca a performance”, relata
o diretor. Mas para quem demonstra interesse
e não tem uma boa dicção, uma entonação na
voz, a Trupe trabalha com jogos teatrais, jogos
de preparação. Ah, a Trupe lembra que quem
deseja ser contador e contadora precisa ler
muito texto e trabalhar bem a interpretação,
pois as histórias serão contadas e recontadas,
tudo de forma muito espontânea e única.
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riferia, com intuito de formar uma rede de comu- sas regiões da cidade, durante os sábados, com a
COMUNICANDO TAMBÉM nicadoras e comunicadores populares feita por e colaboração de mediadores de diversas áreas e de
para a periferia. forma voluntária. A verba arrecadada foi utilizada
NA PERIFERIA na aquisição de materiais didáticos, alimentação,
“A gente sentia que os blogs e os meios de co-
transporte e remuneração de um coordenador pe-
#SouPeriferia municação da cidade se voltavam muito para o
dagógico e um coordenador de logística.
centro, enquanto as grandes atrações e as perife-
rias ficavam meio só como local de denúncia, pra Um dos cuidados do #SouPeriferia era trabalhar
apresentação de questões de cunho político: “ah, com formadores/as que representassem esses jo-
tal rua tá precisando disso”, e não falavam da pe- vens. “Pensamos em comunicadores que fossem
riferia em sua essência”, explica Fernando Pereira, negros, comunicadores LGBT, que participassem
um dos sete idealizadores/as do projeto #SouPeri- das questões políticas da cidade, que visassem as
feria. O primeiro passo para formar a rede de co- periferias e não somente os centros; então teve
municadores e comunicadoras populares foi tra- todo um pensamento sobre quem seria a frente
balhar a formação de 25 jovens das zonas norte dessas formações”, argumenta Fernando.
e oeste de Petrolina, no campo da comunicação
A primeira temática da formação foi pensada para
popular, associada aos direitos humanos.
compreender a periferia. “A gente começou a estudar
Para fomentar essa ação de formação, foi criada o que a gente vive na periferia, aí fomos tirando mui-
uma vaquinha online na plataforma de crowdfun- tas desconstruções dentro da gente mesmo, sabe?
ding Benfeitoria, com a meta de arrecadar R$ 10 Foi percebendo umas construções que a sociedade
mil. O valor arrecado proporcionou a realização de tinha feito da gente e que a gente reverbera também
20 encontros para contribuir na formação da ga- esse pensamento, de que a periferia é só lugar ruim,
lera, visando a criação e difusão de conteúdos e onde a única coisa que tem é buraco, lama e esgoto”,
Chegamos nas periferias das zonas norte e oeste de Petroli-
meios de comunicação popular e teatro para for- lembra Ialli Emanuele Faria.
na. Você já parou para pensar nas diversas histórias incríveis
talecer as identidades das referidas periferias da
que existem nas periferias? Essas histórias não costumam Ela reconhece que a periferia é carente de políti-
cidade.
aparecer nos ditos grandes veículos de comunicação e para cas públicas, mas “a periferia não é só isso, a gen-
contrapor essa realidade, em 2018 nasce o projeto #SouPe- A formação acontecia de forma itinerante entre es- te se diverte também”. A jovem complementa: “A
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gente poderia começar a pensar em como comu-
nicar esses eventos, para a periferia entender que
tem coisas artísticas e crescer”, destaca a comuni-
cadora popular.
Fundo de Pasto Desenvolvimento (PNUD), com que atendam as demandas da região e Opara
Termo que designa o modo de vida das comunidades tradicionais do sertão da Bahia,
recursos do Fundo Mundial para o garantam a permanência do Nome que os povos originários davam ao Rio São Francisco antes do
onde a caprinovinocultura é a base da economia a partir da criação dos animais em Meio Ambiente (GEF). povo na terra prometida - colonizador Américo Vespúcio batizá-lo com este nome no dia 04 de outubro
áreas coletivas. As relações de parentesco e compadrio, as manifestações culturais o Semiárido brasileiro. de 1501, data em que, na religião católica, celebra-se o dia de São Francisco
e religiosas também caracterizam esse modo de vida. Assim, o termo não significa de Assis.
www.bemdiverso.org.br
apenas a denominação de um espaço geográfico mas sim uma identidade de um www.irpaa.org
povo com seu território simbólico.
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